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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO........................................................................................................02
2 CONTEXTO DA OBRA...........................................................................................02
3 REPRODUÇÃO DA IMAGEM.................................................................................04
4 ANÁLISE DO DOCUMENTO..................................................................................04
4.1 Cores...................................................................................................................05
4.2 Expressões.........................................................................................................06
4.3 Caracterizações..................................................................................................06
4.4 Simbologias........................................................................................................08
5 CONCLUSÃO.........................................................................................................09
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS..........................................................................10
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1. INTRODUÇÃO

O presente trabalho tem por objetivo apresentar uma análise iconográfica


referente a uma obra artística do medieval, no caso uma iluminura, explorando os
pormenores de seus simbolismos, buscando compreender o significado e sua
relação com o contexto histórico de sua produção.
A iluminura a ser analisada se encontra em um manuscrito do séc. XIII do
Decreto de Graciano, um documento extremamente importante para a
sistematização do Direito Canônico e suas características de discussão e
construção.
Tal documento foi escrito no séc XII pelo monge, teólogo e jurista italiano
Graciano, produção notável pela proposta e a forma como atendeu a mesma; o
nome original do documento, Concordia discordantium canonum, ou em português,
Concordância das discordâncias dos cânones, revela tanto o caráter dialético quanto
sintético em harmonizar as leis e cânones da Igreja Católica.
Para a produção de sua obra, Graciano reuniu diversas fontes, desde
definições doutrinárias, textos da Bíblia, até documentos de legislação eclesiástica,
secular e definições do direito romano. Essa característica de união será necessária
para compreendermos o contexto da época e da imagem a ser analisada.
Em relação à figura adotada para estudo, o artista e copista do
manuscrito no qual ela se encontra é desconhecido, sabendo-se que se trata de
uma cópia produzida em território francês.

2. CONTEXTO DA OBRA

O contexto sócio-político do período analisado se encontrava em uma


relativa crise. Enquanto o crescimento das organizações feudais se faziam
presentes no interior da Europa, os efeitos da reforma Gregoriana também eram
sentidos.
Sobre isso, o medievalista brasileiro Hilário Franco Júnior explica que:

A retomada da política gelasiana veio com Gregório VII, que em 1075


proclamava o ideal teocrático da Igreja: “Só ele [o papa] pode dispor das
insígnias imperiais; o papa é o único cujos pés devem ser beijados por
todos os príncipes; ele não pode ser julgado por ninguém”. (FRANCO JR.,
2001).
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Sobre isso, Hilário também afirma que:

[...] São Bernardo, em 1152, com o peso de seu prestígio, reforçava a ideia
lançando a teoria dos dois gládios: “O gládio espiritual e o gládio material
pertencem, um e outro, à Igreja. Mas o segundo deve ser manejado a favor
da Igreja e o primeiro pela própria Igreja”. Praticando tais ideias, Inocêncio
III (1198-1216) levou a Igreja ao seu auge político. (FRANCO JR., 2004).

Esse momento da Idade Média central encontra tensões entre a


autoridade imperial e a eclesiástica. Sobre isso, Hilário também escreve que “[...]
sabemos que os poderes universalistas (Igreja e Império) estavam em choque
constante, porque pela própria natureza do que reivindicavam — a herança do
Império Romano — somente um deles poderia ter sucesso.”(FRANCO JR., 2004).
Essa crise entre os poderes, a qual figurava nas estruturas sócio-políticas da
época, é de grande proveito para que possamos compreender os significados
presentes na iluminura a ser examinada.
Ao refletirmos sobre a já mencionada qualidade dialética e harmônica
do Decreto Graciano, podemos contemplar ao mesmo tempo uma reafirmação da
autoridade papal em harmonia com a autoridade imperial e real. Essa simultânea
união e diferenciação serão percebidas ao averiguarmos as metáforas construídas
na imagem.
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3. REPRODUÇÃO DA IMAGEM

4. ANÁLISE DO DOCUMENTO
A iconografia a ser analisada, como já mencionado, se encontra em um
manuscrito do Decreto de Graciano do século XIII, atualmente preservado na
Biblioteca Nacional de Paris.
Antes de um estudo mais aprofundado em relação aos detalhes e
símbolos presente na miniatura, podemos ver claramente o estilo e temática

1
Imagem disponível em: <http://www.wga.hu/framex-e.html?file=html/zgothic/miniatur/1251-
300/2french/81french.html&find=Christ+> (página acessada em 16/05/2016).
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predominante na arte medieval. Representações sem perspectiva tridimensional,


imbuídas com um viés religioso, representando não a realidade última, mas a
simbolizando.
Sobre isso, o medievalista francês Jean-Claude Schmidt escreve sobre o
conceito de Imago no medievo, dizendo que:

De fato, em se tratando da Cristandade Medieval, a noção de “imagem”


parece ser de uma singular fecundidade mesmo que compreendamos
pouco todos os sentidos correlatos do termo latino imago. Esta noção está,
com efeito, no centro da concepção medieval de mundo e do homem: ela
remete não somente a objetos figurados (retábulos, esculturas, vitrais,
miniaturas etc.), mas também às imagens da linguagem, metáforas,
alegorias, similitudines, das obras literárias ou da pregação. (SCHMIDT,
2002).

A figura apresenta três personagens distintos acompanhados de


simbologias próprias, ambiente e cores específicas. No centro, encontra-se em
destaque Jesus Cristo, entregando uma espada para uma figura Real à sua direita e
uma chave para uma curiosa representação Papal à sua esquerda.
Como foi dito anteriormente, ao mesmo tempo em que o Decreto
Graciano possui um viés conciliador, buscando harmonizar ideias distintas, e que o
contexto histórico do período apresentava diversas crises entre o poder da Igreja e o
Poder Civil dos Reis, percebemos a ideia da síntese nesta iluminura, onde ambos os
poderes tem a mesma origem e validação, ambos confiados pela divindade, ainda
que existam mais afinidades entre o poder Supremo e a autoridade eclesiástica,
como analisamos nos olhares.
Para aprofundarmos nossa análise, esta será dividida em quatro âmbitos
de apreciação distintos: cores, expressões, caracterizações e símbolos.

4.1. Cores

Em relação às cores presentes na figura, as variações mais perceptíveis


estão presentes nos fundos, sendo que cada um dos personagens retratados possuí
fundos distintos de cores distintas.
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A figura central, Jesus Cristo, é sobreposta em um fundo dourado,


possuindo um simbolismo recorrente e comum tanto de glória quanto remetendo ao
divino, ao sagrado.
A representação do Rei, que remete a própria idealização da instituição
monárquica medieval, é sobreposta em um fundo decorado vermelho. A figura
eclesiástica, São Pedro, o Papado, possui um fundo azulado e decorado da mesma
forma que o anterior.

4.2. Expressões

Ao analisarmos as expressões presentes em cada uma das figuras


representadas, observamos posturas e expressões distintas. A centralidade da
figura se encontra em Cristo, o qual por sua vez é retratado com numa postura firme
e ereta de frente para o observador, relembrando os ícones do Christus Pantocrator,
os quais afirmam tanto a soberania quanto impassibilidade da figura divina.
São com tais representações de poder, glória e autoridade que Cristo
confere aos outros dois personagens objetos simbólicos referentes às suas funções.
Ambas as figuras, enquanto recebem os símbolos de autoridade das mãos de
Cristo, voltam seus corpos e olhares em sua direção, com sinais de reverência no
olhar e nas mãos, fazendo com que o próprio observador retorne seu foco ao centro
da imagem.
É curioso também notarmos que enquanto ambas as representações, do
poder Real e eclesiástico, fitam o olhar em Jesus Cristo, o mesmo somente
concentra seu olhar na figura eclesiástica. Sobre esse simbolismo, uma análise mais
profunda será feita no transcorrer do trabalho.

4.3. Caracterizações

Cada um dos personagens apresenta em sua caracterização diferentes


símbolos, transmitindo ideias e conceitos sobre o que a própria iluminura busca
representar e informar.
Em relação à representação de Cristo não há muito que comentar, pois
mantém o padrão característico das representações do mesmo, tanto no Ocidente
quanto no Oriente, mantendo as características principais que até hoje configuram
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em nosso imaginário. Externamente às características físicas, podemos ressaltar a


auréola, que evoca a ideia de santidade, também muito comum em relação a
imagens do gênero.
A figura do rei ou imperador é também caracterizada tradicionalmente,
com feições coradas, e caracterizado principalmente por sua coroa.
Porém, a última figura apresenta as características mais interessantes,
pois representa o poder eclesiástico não apenas como o papa, mas como o legado a
qual todos os papas remetem. É curioso notar que, além da auréola denotando
santidade, tal figura se encontre imbuída de características judias, tanto nos
contornos faciais quanto no chapéu cônico, comum entre os judeus do medievo e
abundante nas representações iconográficas do período. A iconografia remete a São
Pedro, que na crença Católico-Romana foi o primeiro Papa, e assim como Jesus e
os demais apóstolos, judeus. Portanto ao representar o poder eclesiástico não
apenas por meio da instituição papal, mas daquele que foi o primeiro e do qual todos
os seguintes cumprem o legado pode indicar que não necessariamente o indivíduo,
mas a função que tal papel executava e simbolizava era maior.
Por último, em relação à simbologia, é digna de nota a curiosa transição
presente nos pés de cada uma das personagens, sendo que os pés de São Pedro
estão cobertos por sua túnica, os de Jesus descalços e descobertos, com a ponta de
um deles saltando a área do desenho, e os do Rei estão calçados e graúdos, ao
ponto de ambos tomarem o espaço da moldura decorativa.
Isso pode ser explicado tanto do ponto de vista do sagrado quanto do
profano, sendo que pés calçados poderiam ser sinais de nobreza, enquanto pés
descalços não apenas de simplicidade, mas de santidade, como expresso no livro
bíblico do Êxodo no chamado de Moisés:

Vendo o SENHOR que ele se voltava para ver, Deus, do meio da sarça, o
chamou e disse: Moisés! Moisés! Ele respondeu: Eis-me aqui! Deus
continuou: Não te chegues para cá; tira as sandálias dos pés, porque o
lugar em que estás é terra santa. (Livro do Êxodo, capítulo 3, versículos 4-
5. Tradução Almeida Revista e Atualizada. Grifo nosso).

Em relação à figura Papal, podemos também encontrar alguns exemplos


bíblicos em que pés cobertos remetam a reverência em relação à divindade, como
no caso dos Serafins no livro do Profeta Isaías:
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No ano da morte do rei Uzias, eu vi o Senhor assentado sobre um alto e


sublime trono, e as abas de suas vestes enchiam o templo. Serafins
estavam por cima dele; cada um tinha seis asas: com duas cobria o rosto,
com duas cobria os seus pés e com duas voava.
E clamavam uns para os outros, dizendo: Santo, santo, santo é o SENHOR
dos Exércitos; toda a terra está cheia da sua glória.
(Livro do Profeta Isaías, capítulo 6, versículos 1-3. Tradução Almeida
Revista e Atualizada. Grifo nosso).

4.4. Simbologias

Se tratando da simbologia de forma mais explícita, tanto o ato da entrega


dos objetos por parte de Cristo quanto à metáfora que os objetos representam são
extremamente importantes para compreender o significado principal da iluminura.
O próprio ato de Cristo conceder artefatos para cada uma das
personagens é um símbolo importante, pois ambos os objetos representam poderes
e autoridades distintas, e quando tais categorias são aplicadas na realidade, indicam
que tem origem divina.
A figura do Rei recebe uma espada, que representa tanto o poder militar
quanto a autoridade monárquica, mas, além disso, possui raízes também bíblicas.
São Paulo, em sua Epístola aos Romanos, ao escrever sobre o poder das
autoridades civis afirma:

Toda alma esteja sujeita às autoridades superiores; porque não há


autoridade que não venha de Deus; e as que existem foram ordenadas por
Deus. Por isso quem resiste à autoridade resiste à ordenação de Deus; e os
que resistem trarão sobre si mesmos a condenação. Porque os magistrados
não são motivo de temor para os que fazem o bem, mas para os que fazem
o mal. Queres tu, pois, não temer a autoridade? Faze o bem, e terás louvor
dela; porquanto ela é ministro de Deus para teu bem. Mas, se fizeres o mal,
teme, pois não traz debalde a espada; porque é ministro de Deus, e
vingador em ira contra aquele que pratica o mal. Pelo que é necessário que
lhe estejais sujeitos, não somente por causa da ira, mas também por causa
da consciência. Por esta razão também pagais tributo; porque são ministros
de Deus, para atenderem a isso mesmo. Dai a cada um o que lhe é devido:
a quem tributo, tributo; a quem imposto, imposto; a quem temor, temor; a
quem honra, honra.
(Epístola de São Paulo aos Romanos, capítulo 13, versículos 1-7. Tradução
Almeida Revista e Atualizada. Grifo nosso).
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Temos aqui tanto o símbolo da espada como sinal de poder e justiça,


como as atitudes que os Cristãos deveriam ter em relação às autoridades
constituídas.
No caso da figura de São Pedro e de sua representação Papal, ele
recebe uma chave, símbolo comum no Cristianismo referente à seguinte passagem
do Evangelho Segundo São Mateus:

Disse-lhe Jesus: Bem-aventurado és tu, Simão Barjonas, porque não foi


carne e sangue que to revelou, mas meu Pai, que está nos céus. Pois
também eu te digo que tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a
minha igreja, e as portas do Hades não prevalecerão contra ela; dar-te-ei
as chaves do reino dos céus; o que ligares, pois, na terra será ligado nos
céus, e o que desligares na terra será desligado nos céus.
(Evangelho segundo São Mateus, capítulo 16, versículos 17-19. Versão
Almeida Revista e Atualizada. Grifo Nosso).

Os versos apresentados são os mesmos que o Catolicismo Romano usa


para defesa de sua doutrina do Papado.

5. CONCLUSÃO

Após toda a análise realizada, devemos nos lembrar de que, como foi dito
anteriormente, ao mesmo tempo em que o Decreto Graciano possui um viés
conciliador, buscando harmonizar ideias distintas, e que o contexto histórico do
período apresentava diversas crises entre o poder da Igreja e o Poder Civil dos Reis,
percebemos a ideia da síntese na iluminura estudada, onde ambos os poderes tem
a mesma origem e validação, ambos confiados pela divindade, ainda que existam
mais afinidades entre o poder divino e a autoridade eclesiástica, como analisamos
nos olhares.
Podemos então concluir que a imagem representa a efervescência
política do período em que foi produzida e, ao seguir a mentalidade condutora da
obra em que se encontra e do meio intelectual que ela influenciou, usou da própria
arte característica dos veículos de propagação de ideias para ao mesmo tempo
reforçar as concepções políticas daquela civilização enquanto buscava harmonizar
mentalidades destoantes.
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REFERÊNCIAS BILIOGRÁFICAS

ROESLER, C. A Estabilização do Direito Canônico e o Decreto de Graciano.


[Editorial]. Revista Sequência, n. 49, p. 9-32, dez., 2004

FRANCO JR, H. A Idade Média: nascimento do ocidente. 2°ed. São Paulo:


Brasiliense, 2001.

SCHMIDT, J. Imagens. In: LE GOFF, J. (Org.). Dicionário temático do ocidente


medieval. Bauru: EDUSC, 2002.

BÍBLIA. Português. Bíblia de Estudo de Genebra. Tradução por João Ferreira de


Almeida Revista Atualizada. 2. ed. São Paulo: Editora Cultura Cristã, 2009.

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