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Estado, Governo e Administração são termos que andam juntos e muitas vezes confundidos,
embora expressem conceitos diversos nos vários aspectos em que se apresentam.
1.2. Poderes do Estado – não são poderes da ADMINISTRAÇÃO, são os poderes decorrentes
dos elementos principais do Estado: PODER EXECUTIVO, LEGISLATIVO e JUDICIÁRIO, são os
elementos orgânicos ou estruturais do Estado. A tripartição de Montesquieu é adotada no
texto constitucional.
1.3. Funções do Estado (típica e atípica) – são decorrentes dos poderes. FUNÇÃO é o
exercício de uma atividade em nome e interesse de outrem. FUNÇÃO PÚBLICA é o exercício
de atividade em nome e interesse do POVO, essa função pode ser:
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1.3.1. Função Legislativa – consiste na elaboração de leis. É a função legiferante. É uma
função abstrata. É uma função geral com repercussão erga omnis. É a única função que
inova o ordenamento jurídico.
1.3.3. Função Executiva – é a função exercida pelo Poder Executivo. É uma função concreta.
É uma função direta. Não inova o ordenamento jurídico, pois, não revoga o atual
estabelecendo um novo (MEDIDA PROVISÓRIA é uma função atípica). É uma função
capaz de ser revista, não produz coisa julgada. COISA JULGADA ADMINISTRATIVA não é
uma verdadeira coisa julgada, é a imutabilidade dentro da administração, ou seja,
dentro de um processo administrativo não há possibilidade de revisão dentro da própria
administração, mas nada impede que seja revista pelo Poder Judiciário.
1.3.4. Função de Governo – (CESPE gosta de CELSO ANTONIO) é uma função estabelecida
por CELSO ANTONIO. Existem algumas funções que não podem ser enquadradas em
nenhuma das acima. EXEMPLO: quando o Estado declara guerra. É a função que regula
a atuação superior do Estado. A função administrativa se preocupa com as questões
rotineiras ou costumeiras. A função de governo fica além das atividades meramente
rotineiras. EXEMPLOS: declaração de estado de defesa ou de estado de sítio, iniciativa
de lei, sanção e veto do presidente, declaração de guerra, celebração de paz. Note-se
que há divergência sobre essa classificação.
GOVERNO X ADMINISTRAÇÃO
Vale registrar a lúcida lição do Prof. HELY LOPES MEIRELLES sobre a diferença entre Governo e
Administração:
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“Comparativamente, podemos dizer que governo é atividade política e discricionária; administração
é atividade neutra, normalmente vinculada à lei ou à norma técnica. Governo é conduta independente; administração
é conduta hierarquizada. O Governo comanda com responsabilidade constitucional e política, mas sem
responsabilidade profissional pela execução; a Administração executa sem responsabilidade constitucional ou
política, mas com responsabilidade técnica e legal pela execução. A Administração é o instrumental de que dispõe
o Estado para pôr em prática as opções políticas do Governo. Isto não quer dizer que a Administração não tenha poder
de decisão. Tem. Mas o tem somente na área de suas atribuições e nos limites legais de sua competência executiva, só
podendo opinar e decidir sobre assuntos jurídicos, técnicos, financeiros, ou de conveniência e oportunidade
administrativas, sem qualquer faculdade de opção política sobre a matéria.
Em breve síntese, o Estado é composto de Poderes, que representam uma divisão estrutural
interna, destinada à execução de certas funções estatais. Esses poderes do Estado, segundo a
clássica tripartição de Montesquieu, são o Legislativo, o Executivo e o Judiciário. A nossa
Constituição estabelece expressamente que são Poderes da União, independentes e
harmônicos entre si, o Legislativo, o Executivo e o Judiciário (CF, art. 2º), bem assim veda que
haja deliberação sobre Emenda à Constituição tendente a abolir a separação dos Poderes (CF,
art. 60, §4º, III).
A Constituição atribui a cada um dos Poderes do Estado determinada função típica: ao
Legislativo é atribuída a função normativa, de elaboração de leis (função legislativa); ao
Executivo, a função de dar execução, diante de casos concretos, à lei (função administrativa);
ao Judiciário, a função de aplicar a lei (função jurisdicional).
Entretanto, no Brasil, não há exclusividade no exercício dessas funções, não há um rígida,
absoluta, divisão dos Poderes, mas sim preponderância na realização desta ou daquela
função. Assim, embora os Poderes tenham funções precípuas (funções típicas), a própria
Constituição autoriza que também desempenhem funções que normalmente pertenceriam a
Poder diverso (funções atípicas). São as chamadas ressalvas (ou exceções) ao princípio da
separação dos Poderes.
No âmbito do Direito Administrativo, a expressão Governo tem sido utilizada para designar o
conjunto de Poderes e órgãos constitucionais responsáveis pela função política do Estado. O
Governo tem a incumbência de zelar pela direção suprema e geral do Estado, determinar seus
objetivos, estabelecer suas diretrizes, visando à unidade da soberania estatal.
A noção de Administração Pública pode ser visualizada em sentido amplo ou restrito.
No seu sentido amplo, a expressão abrange tanto os órgãos governamentais (Governo), aos
quais cabe traçar os planos e diretrizes de ação, quanto os órgãos administrativos,
subordinados, de execução (Administração Pública em sentido estrito), aos quais incumbe
executar os planos governamentais.
A Administração Pública em sentido amplo, portanto, compreende tanto a função política, que
estabelece as diretrizes governamentais, quanto a função executiva, que as executa. Já o
conceito de Administração Pública em sentido estrito – que deve ser utilizado nesse resumo -
não alcança a função política de Governo, de fixação de planos e diretrizes governamentais,
mas tão-somente a função propriamente administrativa, de execução de atividades
administrativas.
Em sentido formal (subjetivo ou orgânico), conceitua-se Administração Pública como o
conjunto de agentes, órgãos e pessoas jurídicas destinadas à execução das atividades
administrativas. Neste sentido, a Administração Pública corresponde a todo o aparelhamento
de que dispõe o Estado para a consecução das políticas traçadas para o Governo.
Em sentido material (objetivo ou funcional), a expressão administração pública (em minúsculo
mesmo) consiste na atividade administrativa executada pelo Estado por meio de seus órgãos
e entidades.
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Segundo Celso Antônio Bandeira de Mello, função administrativa é a função que o Estado, ou
quem lhes faça as vezes, exerce na intimidade de uma estrutura e regime hierárquicos e que
no sistema constitucional brasileiro se caracteriza pelo fato de ser desempenhada mediante
comportamentos infralegais ou, excepcionalmente, infraconstitucionais, submissos todos a
controle da legalidade pelo Poder Judiciário.
Os poderes do Estado, na clássica tripartição de Montesquieu, são o Legislativo, o
Executivo e o Judiciário, a cada um deles correspondendo uma função que lhe é atribuída com
precipuidade. Assim, a função precípua do Poder Legislativo é a elaboração da lei (função
normativa), a função precípua do Poder Executivo é a aplicação da lei num ato individual e
concreto (função administrativa) e a função precípua do Poder Judiciário é a aplicação coativa
das leis em substituição aos litigantes (função jurisdicional).
Importa salientar, contudo, que, a despeito de a teoria tripartite ser a mais difundida, há
juristas de peso que entendem diversamente. Com efeito, Kelsen sustenta que as funções
estatais são apenas duas, a de criar o direito (legislar) e a de executar o direito (o que tanto é
feito pela Administração quanto pela Jurisdição). A nível nacional, Oswaldo Aranha Bandeira de
Melo entende que existem apenas as funções administrativa (legislar e executar: programação
e realização de objetivos públicos) e jurisdicional.
A expressão "administração pública", em nosso direito, é utilizada para designar o
conjunto de entidades e órgãos a serviço do Estado, incumbidos da função administrativa
(sentido subjetivo) e, também, a função do Estado agindo in concreto para a satisfação de
seus fins de conservação, de bem-estar individual dos cidadãos e de progresso social, ou seja,
a própria função administrativa (sentido objetivo).
Assim, em sentido objetivo ou material, administração pública (ou função
administrativa) pode ser definida como a atividade concreta e imediata que o Estado
desenvolve, sob regime jurídico de direito público, para a consecução dos interesses coletivos.
A administração pública, para alguns, é utilizada em sentido amplo, compreendendo a
função política (GOVERNO), que traça as diretrizes governamentais e a função administrativa
propriamente dita (ADMINISTRAÇÃO), que as executa.
É certo que não há uma separação precisa entre esses dois tipos de função (a política –
ou de governo – e a administrativa). Sob o ponto de vista do conteúdo, não se distinguem,
pois em ambas as hipóteses há aplicação concreta da lei. No item seguinte, porém, tentar-se-á
traçar o alcance de cada uma dessas expressões.
É interessante lembrar, por fim, que a administração pública é objeto de estudo do direito
administrativo, enquanto o Governo é objeto de estudo do direito constitucional.
Esquematicamente:
MARIA SYLVIA ZANELLA DI PIETRO ensina que, basicamente, são dois os sentidos em que se utiliza mais
comumente a expressão “ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA”:
• sentido subjetivo, formal ou orgânico: designa os entes que exercem a atividade administrativa;
compreende pessoas jurídicas (entidades), órgãos e agentes públicos incumbidos de exercer uma
das funções em que se triparte a atividade estatal: a função administrativa. Resumindo: leva em
conta os sujeitos da administração. Neste sentido deve ser grafada com as inicias maiúsculas:
Administração Pública.
• sentido objetivo, material ou funcional: designa a natureza da atividade exercida pelos referidos
entes; nesse sentido, a Administração Pública é a própria função administrativa que incumbe,
predominantemente, ao Poder Executivo. Corresponde ao conjunto de funções ou atividades
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administrativas, que são públicas, consistentes em realizar concreta, direta e imediatamente os fins
constitucionalmente atribuídos ao Estado, por isso mesmo denominadas atividades finalísticas da
Administração Pública. Assim, a “nomeação de um servidor público, aprovado em virtude de
concurso público”, p. ex., não é uma atividade finalística da Administração Pública, em seu sentido
material, mas sim uma atividade-meio da Administração 1. No sentido objetivo, material ou
funcional a expressão deve ser grafada com as iniciais minúsculas: administração pública.
Neste sentido: SARMENTO, Daniel (org.). Interesses públicos versus interesses privados.
Rio: Lumen Juris, 2005. Abaixo segue um resumo do artigo de Daniel Sarmento, publicado na
obra citada e intitulado “Interesses Públicos vs. Interesses Privados na Perspectiva da Teoria e
da Filosofia Constitucional”.
Principais trechos do artigo:
“Mas não é só. Talvez a mais séria objeção dogmática ao princípio da supremacia do
interesse público sobre o particular seja a de que ele não é compatível com o
princípio da proporcionalidade, que constitui importantíssimo parâmetro para
aferição da constitucionalidade das restrições aos direitos fundamentais.” (p. 99)
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“Portanto, a solução para a colisão entre direitos fundamentais e interesses
públicos não é singela. A busca da solução constitucionalmente adequada deve
respeitar os chamados ‘limites dos limites’ dos direitos fundamentais, e certamente
não passa por qualquer princípio de supremacia do interesse público. Aceitar que a
solução destes conflitos se dê através da aplicação do princípio em referência seria,
para usar a famosa expressão de Dworkin, não levar a sério os direitos
fundamentais. E pode-se dizer tudo da Constituição de 1988, menos que ela não
tenha levado a sério estes direitos.” (p. 109).
Alice González Borges, em importante artigo sobre o tema (“Supremacia do Interesse Público: Desconstrução ou
Reconstrução?”), ao invés da “desconstrução” propugnada pelos críticos, sugere uma “reconstrução”.
Diz a autora:
“Mas agora surge de outra parte uma nova espécie de ataque, até então inimaginável. De repente, uma plêiade
de jovens e conceituados juristas , - animados, força é que se diga, pela mais cristalina e louvável das intenções, -
ergue-se na defesa da eficácia e efetividade dos direitos fundamentais, em salutar movimento em prol da
constitucionalização do direito. Para tanto, resolve congregar forças para desconstruir (sic) o princípio da
supremacia do interesse público, como sendo a base de um autoritarismo retrógrado, ultrapassado e reacionário
do direito administrativo.”
“É preciso não confundir a supremacia do interesse público – alicerce das estruturas democráticas, pilar do
regime jurídico-administrativo – com as suas manipulações e desvirtuamentos em prol do autoritarismo
retrógrado e reacionário de certas autoridades administrativas”.
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dos interesses, arrecadar corretamente, contratar com licitação, obediência ao
procedimento de desapropriação.
O STF já se pronunciou pela impossibilidade de transação ou renúncia pela Administração,
que não esteja configurada em lei.
A continuidade pode ser dividida, nos seguintes tópicos, para facilitar a análise:
Atente-se para a mudança de posicionamento do STF, no julgamento dos processos MI 670, MI 708 e MI 712, a
respeito da eficácia do mandado de injunção e do exercício do direito de greve pelos servidores públicos civis, no
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Legalidade (finalidade, razoabilidade, proporcionalidade, motivação e responsabilidade do Estado); controle
administrativo ou tutela; isonomia ou igualdade dos administrados em face da Administração; publicidade;
inalienabilidade dos direitos concernentes a interesses públicos; controle jurisdicional dos atos administrativos.
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sentido de, “reconhecendo a falta de norma regulamentadora do direito de greve no serviço público, remover o
obstáculo criado por essa omissão e, supletivamente, tornar viável o exercício do direito consagrado no artigo 37,
VII da Constituição do Brasil”.
O STF, no julgamento ocorrido em outubro/2007, propôs a solução para a omissão legislativa com a aplicação
da Lei nº 7.783, de 28/06/89 (lei que regula a greve no setor privado), no que couber.
CLÁUSULAS EXORBITANTES
É uma faculdade e pode constituir-se em:
EXIGÊNCIA DE a) caução em dinheiro ou títulos da dívida pública.
GARANTIA b) seguro-garantia
c) fiança bancária
a) modificação do projeto ou das especificações
ALTERAÇÃO
b) modificação do valor contratual, por acréscimo ou diminuição quantitativa de
UNILATERAL
seu objeto.
a) inadimplemento. b) desaparecimento do sujeito, insolvência ou
RESCISÂO UNILATERAL comprometimento da execução. c) interesse público. d) caso fortuito ou força
maior.
FISCALIZAÇÃO Prerrogativa no Poder Público, dando ensejo à rescisão unilateral.
APLICAÇÃO DE a) advertência b) multa c) suspensão temporária e impedimento de contratados
PENALIDADE d) declaração de inidoneidade.
Por obediência ao princípio da legalidade, é prerrogativa a anulação de seus atos
ANULAÇÃO (autotutela)
diante de ilegalidade.
RETOMADA DO OBJETO Artigo 80 (Lei 8.666/93), princípio da continuidade do serviço público.
RESTRIÇÕES AO USO Não há rescisão unilateral pelo particular. Ele não pode interromper a
DA “EXCEPTIO NON execução do contrato, em decorrência dos princípios da continuidade do
ADIMPLENTI serviço público e da supremacia do interesse público sobre o interesse
CONTRACTUS” particular. (a jurisprudência tem minorado a aplicação desse preceito).
MUTABILIDADE
ÁLEA ORDINÁRIA Risco que todo empresário corre, como resultado da própria flutuação do
EMPRESARIAL mercado; sendo previsível, por ele responde o particular.
Atendimento ao interesse público.
ALTERAÇÃO UNILATERAL
Administração Restabelecida.
Ato de autoridade não relacionado
ÁLEA ADMINISTRATIVA FATO DO PRÍNCIPE
diretamente.
Ato de autoridade que incide diretamente
FATO DA ADMINISTRAÇÃO
sobre o contrato.
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Circunstâncias externas ao contrato e à vontade das partes, imprevisíveis,
ÁLEA ECONÔMICA excepcionais, inevitáveis, que causam desequilíbrio muito grande no contrato,
dando lugar à aplicação da teoria da imprevisão.
Como ensina Celso Antônio, reversão é uma conseqüência da extinção da concessão. Segundo o autor,
“reversão é a passagem ao poder concedente dos bens do concessionário aplicados ao serviço, uma vez
extinta a concessão (art. 35, § 2.º)”.
Lei 8987/95 (artigo 6o.) fala sobre a concessão de serviços públicos essenciais afirma que
NÃO haverá descontinuidade do serviço no caso de interrupção (“corte”) por
falta de pagamento, desde que precedida de prévia comunicação. Serve para evitar
a falência da prestadora do serviço. STJ vem dando algumas decisões de que mesmo
nesses casos não é possível cortar o serviço público essencial (EXEMPLO: prestação de
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energia elétrica). Quando a supremacia (hospitais) justificar, o Judiciário já não aplicava o
dispositivo legal.
AUTOTUTELA x TUTELA
Autotutela corresponde ao controle que um órgão ou uma entidade realiza sobre os seus próprios atos. É um
controle interno e que tem por fundamento a hierarquia e a subordinação.
A tutela, por sua vez, corresponde a um controle exercido por uma entidade sobre outra. Seria, neste aspecto,
um controle externo. É o controle exercido pela entidades políticas sobre as entidades que compõem a adm. pub.
indireta. É um controle finalístico (supervisão ministerial). Não há relação de hierarquia ou subordinação, mas
sim uma relação de vinculação.
ATENÇÃO: P/ MSZP a inversão do ônus da prova é um efeito da presunção de veracidade dos atos
administrativos.
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permite o cumprimento de todas as exigências do procedimento, conjunto de atos
com contraditório e ampla defesa;
O ato da administração pode ser controlado pela própria administração (autotutela) ou pelo
Poder Judiciário, ou seja, mesmo com a presunção NÃO se afasta o controle (presunção
iuris tantum). Produção de efeitos: EX TUNC (anulação = ilegalidade) e EX NUNC
(revogação = conveniência e oportunidade). EXEMPLO: pessoa nomeada sem concurso
público. Até a declaração de nulidade o ato produzirá todos os seus efeitos.
CUIDADO: princípio da legalidade significa dizer que a conduta do administrador tem que
estar EXPRESSAMENTE prevista em lei? NÃO é só isso; o que está expresso em lei é
legalidade, mas nem sempre a lei estabelece tudo, ou fala em tudo, EXEMPLO: atos
discricionários, nos quais o administrador faz um juízo de conveniência e oportunidade
(MARIA SYLVIA fala em EQUIDADE e JUSTIÇA, também).
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CONCURSO: os 05 princípios previstos no caput do artigo 37, modificado pela EC/16 =
LIMPE. CUIDADO: concurso adora trocar a IMPESSOALIDADE por ISONOMIA (pegadinha). Mas
DIÓGENES GASPARINI afirma que o conteúdo entre os dois princípios é o mesmo ou seja, que a
impessoalidade no fundo se confunde com a isonomia.
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A doutrina faz uma distinção:
“A função legislativa liga-se aos fenômenos de formação do Direito, enquanto as outras duas, administrativa e
jurisdicional, se prendem à fase de sua realização. Legislar (editar o Direito Positivo), administrar (aplicar a lei de
ofício) e julgar (aplicar a lei contenciosamente) são três fases da atividade estatal, que se completam e que a
esgotam em extensão.”
Como ensina Antonio Carlos Cintra do Amaral, “Penso que quando o saudoso jurista brasileiro formulou essa
definição teve por objetivo distinguir a função administrativa da função jurisdicional. O administrador age de
ofício. O juiz, por provocação das partes.”
Observe-se, ainda com a ESAF, que “a observância da legalidade alcança os atos legislativos materiais,
ainda que não formais”4-5.
4
Auditor do Tesouro Municipal/Prefeitura do Recife/2003-ESAF.
5
Conforme ensina o Prof. Hely Lopes Meirelles, “Lei, em sentido formal e material, é a norma geral e abstrata de conduta
aprovada pelo Legislativo e sancionada pelo Executivo; em sentido material, apenas, é toda norma editada pelo Poder Público,
especialmente os decretos regulamentares expedidos pelo Executivo. Lei em sentido restrito e próprio é, portanto, unicamente, a
norma legislativa, e, em sentido amplo e impróprio, é toda imposição geral do Estado, provinda de qualquer órgão de seus Poderes,
sobre a matéria de sua competência normativa”.
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DIÓGENES GASPARINI: o conteúdo da impessoalidade nada mais é do que a isonomia.
Observações:
1. Como ensina Pietro, a primeira vez que esse princípio aparece com esse nome
(impessoalidade) foi na CF/88.
2. Segundo Hely Lopes, a impessoalidade nada mais é do que o clássico princípio
da finalidade.
Sendo assim, registre-se, com a ESAF, que o princípio da impessoalidade “pode
significar finalidade ou isonomia” 6
6
Prova de Auditor do Tesouro Municipal/Recife/2003-ESAF
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Embora não se confunda com a moral comum, comportamentos ofensivos a esta
podem implicar ofensa ao princípio da moralidade administrativa (Manoel de
Oliveira Franco Sobrinho, citado por MSZP).
ATENÇÃO: De acordo com o art. 61, parágrafo único, a Adm. tem até o 5º dia útil
do mês seguinte ao da assinatura do contrato p/ providenciar a publicação, para
que esta ocorra em até 20 dias daquela data. P/ Marçal os 20d são contados a
partir do 5ºd útil, mas há entendimento no sentido de que começam a contar a
partir da data em que for providenciada a publicação.
Só p/ lembrar:
1. Ofensa ao direito de certidão é atacada por via de MS.
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2. O Superior Tribunal de Justiça, recentemente, decidiu que o mandado de segurança é o meio hábil para
buscar extrair cópia integral de autos de processo administrativo.
3. Conforme Hely, a publicidade não é elemento formativo do ato, mas sim requisito ou condição para
eficácia e moralidade do ato.
11. PRINCÍPIO DA EFICIÊNCIA (artigo 37, caput) – foi introduzido pela EC/19,
ganhando roupagem de princípio constitucional. Entretanto, mesmo antes disso a
administração deveria ser eficiente, o que não existia era o princípio expresso na CF, mas
na Lei 8987/95 (Lei de delegação de serviço público), artigo 6o já previa o princípio.
* Lembrar que p/ fins de perda do cargo, neste caso (CF, art. 169, § 3º, II),
são considerados servidores não estáveis aqueles admitidos na
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Possui regras específicas para cada tipo de servidor. Há alguns casos de categorias que já estão
regulamentadas na forma determinada pela CF.
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administração direta, autárquica e fundacional sem concurso público de
provas ou de provas e títulos após o dia 5 de outubro de 1983 (art. 33, da
Emenda Constitucional nº 19/98)
Em que pese todas as conseqüências teóricas, a DOUTRINA afirma que não há como
verificar na prática o conceito de eficiência que é fluido demais, em decorrências das
dificuldades das administrações públicas.
A grande maioria da doutrina (CELSO ANTONIO e MARIA SYLVIA) entende que o princípio é
autônomo, consistindo na necessidade de o administrador buscar a finalidade pública
(maior que o mero interesse público, está relacionado à legalidade), obedecendo a
vontade maior da LEI, obediência ao ESPÍRITO DA LEI.
O ato que não atende a esse princípio é INVÁLIDO, nos termos da Lei 9784/99 (Lei de
Processo Administrativo – LER), artigo 3o., XIII.
Sobre a distinção entre interesse público primário e secundário, vale conferir a lição de BARCHET:
“Bem, o que é interesse público primário? É o interesse público propriamente dito, que se diferencia do
denominado interesse público secundário.
Por interesse público primário entende-se os interesses da própria coletividade, ou, para certa doutrina, os
interesses dos membros da coletividade, justamente pelo fato de a ela pertencerem. Sem adentrarmos nos
pormenores destes diferentes pontos de vista, vamos apenas enunciá-los: num primeiro entendimento, o interesse
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AUDITOR FISCAL-SEFAZ-CE-2007-ESAF
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público primário corresponde ao conjunto de interesses de que é titular a própria coletividade, globalmente
considerada; num segundo, tais interesses têm por titulares os membros desta coletividade, justamente pelo fato de
a integrarem.
Enfim, o interesse público primário refere-se aos interesses da coletividade, considerem-nos interesses
pertencentes ao grupo social como um todo, ou a cada um de seus membros, individualmente, por integrarem o
grupo social. Podemos citar, como exemplos de interesses públicos primários, um meio-ambiente equilibrado, um
eficiente serviço de água, uma adequada estrutura de ensino fundamental etc.
O interesse público secundário, por sua vez, corresponde ao conjunto de interesses que a Administração possui na
sua condição de pessoa jurídica, a exemplo de uma empresa ou de uma associação civil. São, sinteticamente,
interesses relacionados à formação e manutenção do seu patrimônio e à composição de seu quadro de pessoal. A
aquisição de um imóvel, a contratação de um empregado público, a celebração de um contrato de prestação de
serviços de vigilância patrimonial, são alguns exemplos de interesses públicos secundários.
Podemos trabalhar a matéria da seguinte forma: todos os interesses que justificam a existência da Administração
são interesses públicos primários. São os interesses da coletividade, cuja consecução é a razão de existir da
Administração. Para que a Administração possa atuar na satisfação de tais interesses, ela precisa de um certo
aparelhamento material e humano, e tal aparelhamento corresponde justamente aos interesses públicos
secundários.
Mais um exemplo: um eficiente atendimento na área da saúde é um exemplo de interesse público primário; os
imóveis, móveis, equipamentos que a Administração precisa adquirir para prestar o serviço constituem exemplo de
interesse público secundário.”
ATENÇÃO: 1. Segundo o STF, no caso da divisão p/ calcular o número de vagas reservadas p/ deficientes
gerar número fracionário, deve haver aproximação p/ cima independentemente do decimal ser igual ou
superior a 0,5.
2. Ainda segundo o STF, é legítimo o edital de um concurso com apenas 2 vagas que NÃO reserva vagas p/
deficiente. Entendeu a Corte Suprema que reservar uma vaga, ou seja, cinqüenta por cento das vagas
existentes, implicaria majoração indevida dos percentuais legalmente estabelecidos (MS 26310/DF, rel. Min.
Marco Aurélio, 20.09.2007.).
3. Segundo o STJ, a ordem de convocação deve ser alternada: chama um não-deficiente, outro deficiente e
assim sucessivamente.
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uma igualdade material, mas jurídico-formal. Mas não deve ser entendido como um
princípio absoluto, que seja capaz de se converter em obstáculo ao bom e eficaz
desempenho da atividade administrativa
Desdobramentos do princípio:
• Direito a recurso; mesmo que não exista previsão expressa para o caso
específico, a regra geral é o cabimento.
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STJ- Súmula nº 343: “É obrigatória a presença de advogado em todas as fases do processo
administrativo disciplinar”.
ATENÇÃO!!!
RECENTE DECISÃO DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL-STF - DJ 29/06/07
CONTROLE JUDICIAL DA DISCRICIONARIEDADE ADMINISTRATIVA
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Noções de Processo Civil
RAZOABILIDADE está ligada à congruência lógica entre as situações concretas e as
decisões administrativas e judiciais, ou seja, deve haver uma relação de adequação entre
o fato e a atuação concreta da Administração e dos órgãos jurisdicionais. Podem ser
consideradas como sinônimas: RAZOABILIDADE e PROPORCIONALIDADE, mas, para quem
faz diferenciação:
• PROPORCIONALIDADE: comparação entre duas VARIÁVEIS: meio e fim;
• RAZOABILIDADE: representa um padrão de avaliação geral (não se estabelece
comparação).
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Não devemos esquecer que a motivação não se confunde com os motivos do ato administrativo. Motivo é a
situação de fato ou de direito que autoriza ou determina a edição do ato administrativo. Motivação é a
explanação ou exteriorização do motivo. São os “considerandos do ato”.
DESCENTRALIZAÇÃO DESCONCENTRAÇÃO
Distribuir dentro da mesma pessoa jurídica,
Distribuição para outras pessoas: jurídicas da
ou seja, distribuir o serviço dentro da própria
administração, particulares ou entes políticos
pessoa jurídica.
Nova pessoa jurídica Mesma pessoa jurídica
Não há hierarquia, não relação de poder, o que
Há hierarquia
existe é controle e fiscalização.
relação de vinculação relação de subordinação
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b) DESCENTRALIZAÇÃO POR DELEGAÇÃO: há transferência somente da execução do
serviço, a administração mantém a titularidade do serviço. Pode ser feita por meio de
LEI ou de CONTRATO. Recebem por lei: empresa pública e sociedade de
economia mista (CONCESSIONÁRIAS DE SERVIÇOS PÚBLICOS). A delegação por
contrato pode-se fazer por: CONCESSÃO ou PERMISSÃO, que é feita para os
particulares (concessionárias e permissionárias de serviço público) (Lei
8987/95 = CONCESSIONÁRIAS COMUNS e Lei 11079/04 = CONCESSIONÁRIAS
ESPECIAIS e as PPP) (PERMISSIONÁRIAS DA LEI 8987/95).
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Já para o setor não-exclusivo ou competitivo do Estado a propriedade ideal é a pública não-estatal. Não é a
propriedade estatal porque aí não se exerce o poder de Estado. Não é, por outro lado, a propriedade privada, porque
se trata de um tipo de serviço por definição subsidiado. A propriedade pública não-estatal torna mais fácil e direto o
controle social, através da participação nos conselhos de administração dos diversos segmentos envolvidos, ao
mesmo tempo que favorece a parceria entre sociedade e Estado. As organizações nesse setor gozam de uma
autonomia administrativa muito maior do que aquela possível dentro do aparelho do Estado. Em compensação seus
dirigentes são chamados a assumir uma responsabilidade maior, em conjunto com a sociedade, na gestão da
instituição.
No setor de produção de bens e serviços para o mercado a eficiência é também o princípio administrativo básico e a
administração gerencial, a mais indicada. Em termos de propriedade, dada a possibilidade de coordenação via
mercado, a propriedade privada é a regra. A propriedade estatal só se justifica quando não existem capitais privados
disponíveis - o que não é mais o caso no Brasil - ou então quando existe um monopólio natural. Mesmo nesse caso,
entretanto, a gestão privada tenderá a ser a mais adequada, desde que acompanhada por um seguro sistema de
regulação.
6- OBJETIVOS
A definição dos objetivos e estratégias da reforma do aparelho do Estado apresentada a seguir decorre do diagnóstico
e dos pressupostos teóricos que presidiram a análise anterior.
Dada a crise do Estado e o irrealismo da proposta neoliberal do Estado mínimo, é necessário reconstruir o Estado, de
forma que ele não apenas garanta a propriedade e os contratos, mas também exerça seu papel complementar ao
mercado na coordenação da economia e na busca da redução das desigualdades sociais.
Reformar o Estado significa melhorar não apenas a organização e o pessoal do Estado, mas também suas finanças e
todo o seu sistema institucional-legal, de forma a permitir que o mesmo tenha uma relação harmoniosa e positiva com
a sociedade civil.
A reforma do Estado permitirá que seu núcleo estratégico tome decisões mais corretas e efetivas, e que seus serviços
- tanto os exclusivos, que funcionam diretamente sob seu comando, quanto os competitivos, que estarão apenas
indiretamente subordinados na medida que se transformem em organizações públicas não-estatais - operem muito
mais eficientemente.
Reformar o aparelho do Estado significa garantir a esse aparelho maior governança, ou seja, maior capacidade de
governar, maior condição de implementar as leis e políticas públicas. Significa tornar muito mais eficientes as
atividades exclusivas de Estado, através da transformação das autarquias em "agências autônomas", e tornar também
muito mais eficientes os serviços sociais competitivos ao transformá-los em organizações públicas não-estatais de um
tipo especial: as "organizações sociais".
Na reforma do aparelho do Estado podemos distinguir alguns objetivos globais e objetivos específicos para seus
quatro setores.
6.1 Objetivos Globais
6.2 Objetivos para o Núcleo Estratégico
6.3 Objetivos para as Atividades Exclusivas
6.4 Objetivos para os Serviços Não-Exclusivos
6.5 Objetivos para a Produção para o Mercado
Página 25
• Aumentar a efetividade do núcleo estratégico, de forma que os objetivos democraticamente
acordados sejam adequada e efetivamente alcançados;
• Para isso, modernizar a administração burocrática, que no núcleo estratégico ainda se justifica
pela sua segurança e efetividade, através de uma política de profissionalização do serviço público, ou
seja, de uma política de carreiras, de concursos públicos anuais, de programas de educação
continuada permanentes, de uma efetiva administração salarial, ao mesmo tempo que se introduz no
sistema burocrático uma cultura gerencial baseada na avaliação do desempenho;
• Dotar o núcleo estratégico de capacidade gerencial para definir e supervisionar os contratos
de gestão com as agências autônomas, responsáveis pelas atividades exclusivas de Estado, e com
as organizações sociais, responsáveis pelos serviços não-exclusivos do Estado realizados em
parceria com a sociedade.
Volta ao início
Página 26
Não crática cial
Estatal
NÚCLEO ESTRATÉGICO X X X
ATIVIDADES EXCLUSIVAS X X
ADMINISTRAÇÃO
ADMINISTRAÇÃO
DIRET COLABORADORES OUTROS
INDIRETA
A
3o. SETOR- Estão ao
o.
1 SETOR o.
2 SETOR lado da
administração
Autarquias
Agências reguladoras e
Serviços sociais
Conselhos profissionais MERCADO autônomos
(exceto a OAB que é um
órgão sui generis)
ENTE FEDERATIVO
Fundações Organizações Sociais
Consórcios públicos
Órgãos Organizações da
(são de direito público e
Cargos Sociedade civil de
podem ser de direito Delegatários,
Funções interesse público - OSCIP
privado) concessionários,
Agentes
Empresas públicas permissionários e Parcerias público privadas
(direito privado) autorizatários – PPP (têm fins lucrativos)
Sociedades de economia
mista Entidades de apoio
(direito privado)
ATENÇÃO:
Página 27
Sendo assim, os consórcios públicos com personalidade jurídica de direito privado NÃO integram a
Adm. Pub.
O consórcio público com personalidade jurídica de direito público é constituído de uma associação
pública.
VISÃO GERENCIAL
1O. SETOR: entes federativos
2O. SETOR: iniciativa privada com fins lucrativos
3o. SETOR: iniciativa privada SEM fins lucrativos
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I - sua função social e formas de fiscalização pelo Estado e pela
sociedade; (EC 19, de 1998)
II - a sujeição ao regime jurídico próprio das empresas privadas, inclusive
quanto aos direitos e obrigações civis, comerciais, trabalhistas e
tributários; (Emenda Constitucional nº 19, de 1998)
§ 2º - As empresas públicas e as sociedades de economia mista não
poderão gozar de privilégios fiscais não extensivos às do setor privado.
Por fim, importantíssimo registrar que, no julgamento da Ação Cautelar 1550-2, em 06/02/2007, a Segunda
Turma do STF, por votação unânime, reconheceu, do mesmo modo, a uma SOCIEDADE DE ECONOMIA
MISTA estadual prestadora de serviço público (Companhia de Águas e Esgotos de Rondônia - CAERD), o
direito à imunidade recíproca de que tratam a alínea “a” do inciso VI do art. 150 da Constituição, e o § 2º
desse artigo. É verdade que se trata de juízo cautelar, mas cabe ressaltar que o voto do relator, Min. Gilmar
Mendes, é bastante contundente ao afirmar que o acórdão do TJ de Rondônia, contra o qual foi ajuizada a
cautelar em comento, ao deixar de reconhecer a imunidade à CAERD “parece claramente afrontar
jurisprudência desta Corte firmada no julgamento do RE n° 407.099-5/RS, 2ª Turma, Rel. Min. Carlos
Velloso, DJ 6.8.2004”.
O voto do relator conclui concedendo a cautelar, porque, segundo ele, no caso apreciado, “a Companhia de
Águas e Esgotos do Estado de Rondônia – CAERD é sociedade de economia mista prestadora do serviço
público obrigatório de saneamento básico (abastecimento de água e esgotos sanitários) e, portanto, de
acordo com a jurisprudência deste Tribunal, está abrangida pela imunidade tributária prevista no art.
150, inciso VI, ‘a’, da Constituição”.
Página 29
papel. Redefinir o papel do Estado seria, segundo a lógica governamental, fazer com que ele
abandonasse a responsabilidade direta pelo "desenvolvimento econômico e social pela via da
produção de bens e serviços para fortalecer-se na função de promotor e regulador desse
desenvolvimento". Em termos mais claros, para o PDRAE, "reformar o Estado significa
transferir para o setor privado as atividades que podem ser controladas pelo mercado".
(1995:17)
Neste sentido, cabe questionar o limite e as bases que regulamentam tais
transferências, sabendo que todo o processo de reforma delineado no plano está pautado e
intimamente marcado pela busca por eficiência, busca que vai ao encontro das duas
dimensões da reforma: a política e a administrativa.
Em termos de reforma política, a transferência da atuação estatal para o setor privado
vai corresponder à necessidade de gerar maior capacidade de governo ("governança"), a partir
da limitação dos custos e do dimensionamento a áreas "exclusivamente" estatais, bem como
pretende corresponder a um aumento da legitimidade para governar ("governabilidade") à
medida que há a valorização da participação social em várias instâncias do processo de
reforma e há também o objetivo de melhorar a qualidade dos serviços "tendo o cidadão como
beneficiário". (1995:21)
Já em se tratando de reforma administrativa (estrito senso), o principal marco de
renovação seria a proposta de implementar um novo "paradigma" de organização
administrativa, a saber, a Administração Pública gerencial, que vem introduzir a perspectiva do
desenvolvimento de uma cultura gerencial nas organizações estatais.
Ora, analisando os impactos e mesmo o grau de novidade/ ruptura com o modelo de
gestão burocrático até então e ainda hoje adotado pela Administração Pública, o "modelo"
gerencial visualizado pelo PDRAE como alternativa reformadora possui, em grande medida,
apenas dois pilares "revolucionários": "em suma, afirma-se que a administração pública deve
ser permeável à maior participação dos agentes privados e/ou das organizações da sociedade
civil e deslocar a ênfase dos procedimentos (meios) para os resultados (fins)". (1995:22, grifos
nossos)
Diante da análise, por outro lado, sobre a necessidade do plano de romper com a
Administração Pública burocrática, descobre-se que tal tentativa de superação não é recente.
O embate com o modelo de gestão burocrático, no nível de "reforma" do Estado brasileiro, tem
sua origem, segundo o próprio PDRAE, no Decreto-Lei 200, de 25.2.1967 que já determinava
princípios de racionalidade administrativa, os quais seriam, em outras palavras, a eficiência
mesma, que hoje toma ares de jargão técnico-gerencial inusitado.
Igualmente criado para tentar promover a eficiência no setor público, há que se falar
de outro precedente que foi o Programa Nacional de Desburocratização, lançado no início dos
anos 80 também com vistas à reformulação da estrutura estatal burocrática.
O PDRAE fez questão de colocar em evidência tal embasamento histórico justamente
para conformar a noção de processo de reforma, que, em grande medida, fora interrompido,
segundo ele, pela Constituição Federal de 88.
Página 30
setorização do Estado de modo a redimensionar o próprio Estado, sua crise e as formas de
resolução dessa crise.
O Estado passa, então, a ser entendido, segundo o plano, como uma espécie de
amálgama das seguintes esferas de atuação: o primeiro setor que seria o núcleo estratégico; o
segundo que representaria o setor de atividades exclusivas do Estado; o terceiro, por sua vez,
seria o setor de atuação simultânea do Estado e da sociedade civil, setor este que engloba as
entidades de utilidade pública, as associações civis sem fins lucrativos, as organizações não-
governamentais e as entidades da Administração Indireta que estão envolvidas com as esferas
em que o Estado não atua privativamente, mas que têm um caráter essencialmente público e,
finalmente, o quarto e último setor seria o menos característico em termos de intervenção
"exclusiva e/ou necessária" do Estado, já que trata da produção de bens para o mercado. A
reforma direcionada no PDRAE perpassa o entendimento que se tem sobre justamente o quão
necessária e mesmo eficiente é a atuação estatal em cada um desses setores.
QUARTO SETOR
ATENÇÃO: Veja o comentário do Prof. Dirley da Cunha Júnior (Juiz Federal e Professor do
JusPodivm) sobre o quarto setor, em resposta à consulta via e-mail:
“Quanto ao quarto setor, os Administrativistas ainda não vem dele tratando, pois é tema mais ligado à
economia, ainda que com reflexos no Direito. Segundo os economistas, o tal quarto setor compreende
toda atividade desempenhada no âmbito da chamada economia informal, envolvendo atividades de
agentes públicos com fins particulares (corrupção, por ex.) e de particulares com fins particulares,
porém ilícitos (pirataria, caixa dois, etc).”
Página 31
(entendido como quarto setor), movimentos específicos de transferência da responsabilidade
direta do Estado pela prestação de serviços e pela produção de bens para a iniciativa privada.
O movimento ocorrido, em relação à esfera do público não-estatal, se deu no sentido
de institucionalizar como "Organizações Sociais", no seio do Direito Administrativo, os entes da
sociedade organizada sem fins lucrativos, atuantes no "terceiro setor", o que foi proposto a
partir da possibilidade de tais entidades receberem esta qualificação jurídica, em conformidade
com um processo de "publicização" previsto na Lei n.º 9.637/98.
Noutro sentido, o movimento perpetuado junto ao chamado quarto setor se deu
através da privatização de empresas estatais, que passaram para o domínio de entes do
mercado.
Aprofundando a análise sob uma perspectiva global, quando foi considerado, no
PDRAE, que a reforma do Estado é tarefa para o conjunto da sociedade, tendo em vista que o
papel do Estado, a partir da reforma, seria tão somente o de promover e regular o
desenvolvimento econômico e social, a lógica governamental abria a discussão, junto à
sociedade, de que os atores no processo de reforma não se restringem aos setores exclusivos
do Estado, ou seja, a responsabilidade deve passar a ser compartilhada (e note-se que
compartilhar é diferente de compartimentalizar) com a sociedade e com o mercado.
Na mesma medida em que o Estado restringe sua atuação direta ao seu aparelho
(núcleo estratégico + atividades exclusivas), cada vez mais a sociedade civil é chamada a
fazer "parcerias" com o Estado, tomando para si os outros dois setores e tendo como apoio
estatal o nível de promoção, regulação e fiscalização desses.
Eis que neste ponto reside o maior risco à luz da realidade brasileira: o risco de a
reforma do Estado não significar uma reestruturação positiva de todos os setores, mas acabar
se transformando em uma precarização das relações Estado-sociedade, o que pode ocasionar
a aproximação da proposta trazida pelo PDRAE com os marcos de um Estado mínimo
excludente diante de um mercado avassalador, afrontando diretamente boa parte dos mais
importantes princípios constitucionais da Carta de 88.
É, pois, no envolvimento da sociedade civil que se encontra justamente uma das
propostas mais audaciosas quanto à reestruturação do Estado. Senão vejamos o exemplo dos
processos de publicização e de criação de organizações sociais. Tais processos,
interdependentes entre si, representam o direcionamento prático da saída da intervenção
direta estatal do setor de serviços não exclusivos, também chamado de terceiro setor, de
maneira a transferir para a sociedade organizada (a saber, organizações públicas não-estatais
e privadas sem fins lucrativos) a prestação de serviços como saúde, educação, produção
científica e tecnológica, proteção ao meio ambiente e produção cultural.
Há, neste sentido, a problemática de serem as organizações sociais (com a perspectiva
de mudanças de fundo na forma atual de prestação desses serviços públicos não-estatais) um
âmbito de relação Estado-sociedade muito incipiente ainda na realidade brasileira. É óbvia e
forçosamente porque se está chamando a sociedade organizada a comprometer-se ativamente
com o público não-estatal que se tem a necessidade de tornar o mais claro e fundamentado
possível tal figura jurídico-institucional para que se evitem distorções e enganos prejudiciais à
sua implementação, ainda mais se se considerar, por exemplo, que cabe à sociedade (um dos
pontos cruciais da Lei n.º 9.637/98) parcela significativa na representação do Conselho de
Administração das organizações sociais, que é o seu órgão máximo de deliberação
institucional.
O risco de um desvirtuamento do instituto das organizações sociais está previsto até
mesmo no PDRAE (1995:74): ou se respeitam as condições descritas em lei, como, por
exemplo, a forma de composição de seus conselhos de administração ou se fica à mercê da
possibilidade de "privatização ou feudalização dessas entidades".
Sob uma lógica político-econômica de relação custo-benefício, somente se justifica tal
nível de risco na medida ele esteja embasado por uma dimensão ideológica mas incisiva. Ora,
toda a perspectiva de transferência lançada pelo Plano Diretor (como uma política que vise a
Página 32
obedecer a demanda por maior eficiência) é, em grande medida, um marco ideológico da
adoção do "paradigma" da Administração Pública Gerencial.
Faz-se necessário esclarecer aqui que a Administração Pública Gerencial trata-se de um
"paradigma" de gestão que apregoa ser capaz de superar (algo bastante questionável) o
modelo burocrático segundo os moldes da administração do setor privado, através da
mudança nos mecanismos de controle (dos processos aos resultados) e da focalização estrita
nos índices de eficiência e desempenho, entre outros.
Neste sentido, a Emenda Constitucional n. 19, de 04.06.98 eleva à condição de
princípio constitucional a eficiência, que passa a fazer parte do caput do art. 37 como um dos
princípios que regem a Administração Pública brasileira. Isto ocorre fundamentalmente na
medida que tal Emenda conforma as diretrizes governamentais de implementação do modelo
gerencial na Administração Pública, assim como perfaz toda a "Reforma Administrativa"
propriamente dita da Constituição de 88.
Ilustra muito bem tal espectro de discussão a inserção no corpo constitucional, em
nível programático ainda, da avaliação de desempenho dos servidores públicos a relativizar o
instituto da estabilidade e a inserção do contrato de gestão para o estabelecimento de um
controle de resultados (o cumprimento das metas será aferido ao final do prazo estipulado e
não tanto ao longo dos processos).
Uma vez considerada a dimensão das mudanças propostas no Plano Diretor e o
pressuposto ideológico que o rege, cumpre problematizá-los para que possamos chegar a uma
resposta que delimite a série de questões ensejadas pelo título deste tópico: a transferência
para a iniciativa privada e/ou para a iniciativa "pública-não estatal" torna a atuação das áreas
transferidas mais eficiente? Ou será tudo uma mera lógica de redução indiscriminada de
custos para o setor público? A eficiência pode ser tomada como um princípio absoluto, até
mesmo em detrimento, por exemplo, dos princípios da dignidade da pessoa humana e da
prestação contínua e efetivamente pública dos serviços públicos? Aquilo que é mais eficiente é
necessariamente mais público e mais democrático?
É possível começar a questionar a partir a noção de ser o aparato estatal burocrático,
"por definição", ineficiente como o pressupõe (implícita e genericamente) o Plano Diretor. É
bastante sintomático, neste sentido, praticamente inexistir, no discurso governamental, sequer
a cogitação de se buscar um aprimoramento do aparato estatal na prestação de serviços
sociais da forma como é feita hoje.
Tal ausência denota a unicidade político-ideológica (no sentido da via de minimização
do Estado) da proposta de substituição completa ("transferência") da prestação pelo Estado
para a prestação pela iniciativa de entidades privadas sem fins lucrativos. Cabe, portanto,
perguntar pelo fundamento da crença de ser a ineficiência característica sine qua non de toda
e qualquer organização estatal, comparativamente à esfera privada, quando se fala de
prestação de serviços sociais e produção para o mercado. Assim como cabe também o
questionamento acerca de ser realmente possível ou não remodelar, tendo em vista a
eficiência, as organizações estatais prescindindo dos mecanismos burocráticos. Ora, eis aqui o
que BURSZTYN (1998:156) chama de "substituição do ‘fetichismo do planejamento’ pelo
‘fetichismo do mercado’ "...
A reforma do Estado, segundo a concepção neoliberal implícita no PDRAE, pode ser
relativizada de acordo com a abordagem de PRZEWORSKI, segundo a qual, "a complacência
neoclássica no que diz respeito aos mercados é indefensável: os mercados simplesmente não
alocam eficientemente." Já que "mesmo quando os governos só dispõem da mesma
informação de que dispõe a economia privada, certas intervenções do governo levariam, sem
sombra de dúvida, a um aumento do bem-estar. Portanto, o Estado tem um papel positivo a
desempenhar". (1998:44, grifos nossos)
Assim, mais do que isso e sem, a priori, prescindir da atuação estatal direta no âmbito
das atividades não-exclusivas, tem-se que
"A reforma do Estado deve ser concebida em termos de mecanismos institucionais
pelos quais os governos possam controlar o comportamento dos agentes econômicos privados,
Página 33
e os cidadãos possam controlar os governos. A questão quanto a se um Estado neoliberal é ou
não é superior a um Estado intervencionista não pode ser resolvida em termos gerais, uma vez
que a qualidade da intervenção estatal depende de um desenho institucional específico.
Porém, o Estado neoliberal é, pelo menos, um parâmetro pelo qual se pode aferir a qualidade
da intervenção estatal: como as alocações do mercado não são eficientes, desaparelhar o
Estado não é um objetivo racional de reforma do Estado". (PRZEWORSKI, 1998: 68, grifos
nossos)
As discussões a respeito da transferência dos serviços sociais do Estado para a
sociedade civil denotam fundamentalmente, além da preocupação com um desvirtuamento
institucional das O.S., a insegurança quanto à possibilidade de serem elas (as organizações
sociais), desde sua concepção, uma espécie de "privatização dissimulada". Na realidade
brasileira, tanto a preocupação, quanto a insegurança, são amplamente justificáveis em se
tratando de "engenharia política" de manutenção das desigualdades sociais e de manutenção
do conformismo perante o Estado, haja vista a peculiaridade política brasileira que foi o
populismo...
A possibilidade de que as O.S. sejam somente mais um instrumento de "engenharia
política" bastante criativo e "maquiavélico" (no sentido vulgar e pejorativo da expressão) de
privatizar a prestação dos serviços sociais é percebida por FREITAS (1998:103), de modo a
deixar em aberto que,
"Por tudo, se se configurar o desvirtuamento, o modelo federal poderá ter produzido
um modo afrontoso de contornar exigências oriundas dos próprios princípios norteadores dos
contratos de gestão, bem como terá ofendido regras nucleares de preservação do patrimônio
público".
Ora, grande parte da população brasileira, de certo modo, nunca teve uma efetivação
abrangente dos direitos sociais como educação e saúde (apesar de estarem conformados na
Constituição de 88 como "deveres do Estado") e os rumos que o Plano Diretor denota vão no
sentido de restringir o próprio conceito de cidadania (haja vista a noção, pautada sob marcos
neoliberais, de cidadão-cliente), bem como no sentido de minimizar as bases de proteção
social garantidas direta e universalmente pelo Estado.
Tal insegurança encontra respaldo, segundo BURSZTYN (1998), no fato de nunca ter
havido no Brasil uma abrangência universal do Estado de Bem-Estar, vez que uma ampla
camada da população sempre esteve marginalizada em relação a qualquer amparo público. O
grau de expectativa e de legitimidade em relação ao Estado, para o autor em questão, é muito
reduzido na sociedade brasileira.
Consequência disso é que a crise do Estado aqui não se reveste de "caráter de
desencanto" (o que acontece com os países de Welfare State). A crise no Brasil seria, neste
sentido para BURSZTYN, um
"(...) misto de falta de políticas de bem-estar universalizadas, paralelamente a uma
perda de efetividade dos poucos instrumentos de políticas sociais, junto às reduzidas parcelas
da população que a elas tinham acesso. Ao invés de saturação, do envelhecimento do W.S., o
Brasil vive uma atrofia precoce do seu desenvolvimento." (1998:153, grifos nossos)
Se o Brasil vive uma "atrofia precoce" do desenvolvimento da teia de proteção social, a
qual, no modelo do W.S., fora constituída visando a condições mais equânimes (não
necessariamente mais igualitárias) de vida, ainda mais sintomática que tal atrofia no referente
à garantia de direitos sociais é a própria involução ideológica da noção de cidadania, que, na
realidade brasileira, vai se delineando fora do fundamento democrático da universalização
dessa condição.
De crucial significado no cerne da linha de ação conformada pelo Plano Diretor e em
conflito com uma perspectiva mais democrática de reestruturação estatal, bastante polêmico é
o conceito de cidadão-cliente. O embate entre esfera de maximização dos interesses
econômicos e um nível mínimo de respeito à cidadania estabelecida nos moldes do regime
democrático da Carta de 88, em BURSZTYN, está dimensionado de modo a visualizar que
Página 34
"A busca de maiores resultados econômicos, no curto prazo, acabou levando a uma
formidável negligência com o caráter público da prestação de certos serviços públicos. (...)
Paralelamente ao surgimento do conceito "cliente" como o objeto da busca de satisfação,
ocorre também uma perversa redução no universo desses beneficiários: a exclusão de uma
parte dos usuários - aqueles que não constituíam um mercado, no sentido econômico do termo
- da categoria de clientes". (1998:156/157, grifos nossos)
Não há como se falar em eficiência na e da atuação estatal, sem antes retomar a
própria razão de ser dela mesma: a transferência de setores significativos do âmbito estatal
para a iniciativa privada e/ou para a sociedade organizada gera um vácuo de legitimidade
sobre aqueles que requerem do Estado não somente uma regulação estrita do mercado, mas
também uma sociedade mais equânime.
ADIN X OS
DICA: Ficar atento ao julgamento da ADI 1923, na qual vários dispositivos da Lei 9637/98 (Lei das
Organizações Sociais) estão sendo questionados. A medida cautelar foi indeferida, por maioria, em ago/2007,
por ausência de periculum in mora. Alguns ministros, no entanto, já manifestaram entendimento pela
inconstitucionalidade do inc. XXIV, art. 24, da Lei 8.666/93, que dispensa a OS de participar de licitação com o
fito de ser contratada pelo Poder Público para a prestação de serviços contemplados no respectivo contrato de
gestão.
“O Tribunal, por maioria de votos, indeferiu a cautelar, vencidos o Senhor Ministro Joaquim Barbosa, que
deferia a cautelar para suspender a eficácia dos artigos 5º, 11 a 15 e 20 da Lei nº 9.637/98, e do inciso XXIV do
artigo 24 da Lei nº 8.666/93, com a redação dada pelo artigo 1º da Lei nº 9.648/98; o Senhor Ministro Marco
Aurélio, que também deferia a cautelar para suspender os efeitos dos artigos 1º, 5º, 11 a 15, 17 e 20 da Lei nº
9.637/98, bem como do inciso XXIV do artigo 24 da Lei nº 8.666/93, na redação do artigo 1º da Lei nº 9.648/98;
e o Senhor Ministro Ricardo Lewandowski, que deferia a cautelar somente com relação ao inciso XXIV do
artigo 24 da Lei 8.666/93, na redação do artigo 1º da Lei nº 9.648/98. Votou a Presidente, Ministra Ellen
Gracie. Reformulou o voto proferido anteriormente o Senhor Ministro Eros Grau, que lavrará o acórdão. Com
relação ao artigo 1º da Lei nº 9.637/98, os Senhores Ministros Sepúlveda Pertence e Néri da Silveira
acompanhavam o Relator somente em relação à prestação dos serviços de saúde. Os Senhores Ministros
Joaquim Barbosa e Gilmar Mendes não votaram relativamente ao artigo 1º da Lei nº 9.637/98 por sucederem aos
Senhores Ministros Moreira Alves e Néri da Silveira que já haviam votado quanto a esse artigo. Não
participaram do julgamento a Senhora Ministra Cármen Lúcia e o Senhor Ministro Carlos Britto por sucederem,
respectivamente, aos Senhores Ministros Nelson Jobim e Ilmar Galvão (Relator).
- Plenário, 01.08.2007.
- Acórdão, DJ 21.09.2007”
5.3.1 Conceito
São pessoas jurídicas de direito privado. Servem para prestação de serviços públicos não-
exclusivos do Estado, que estão elencados na lei de sua instituição (pesquisa, saúde, ensino
e outros). Seu fundamento Legal: Lei 9.637/98, que é a sua lei de instituição.
O poder público tem que dar a prestação de serviço público para elas por meio de CONTRATO
DE GESTÃO (não há mais conceito, porque tudo que se cria de novo coloca-se esse nome;
antes era sempre que se se trata de um contrato celebrado entre dois entes públicos;
entretanto, depois da reforma de 1995, com o estabelecimento do Estado mínimo, passou-se a
estabelecer vários contratos de gestão entre o poder público e o particular, estabelecendo
uma relação PÚBLICO-PARTICULAR).
5.3.3 Licitação
Como recebe dinheiro público, está submetida ao controle do tribunal de contas. Entretanto,
não estão submetidas às regras de licitação (artigo 24, XXIV, Lei 8.666), por dispensa expressa
da lei. OBS: o art. 17, lei 9637/98 prevê que nas contratações de obras ou serviços, com
terceiros, a OS deverá obedecer regulamento que ela estabelecer, sempre que a contratação
envolver dinheiro público. É evidente que a doutrina critica firmemente a lei. Há divergência:
MARÇAL JUSTEN FILHO: o dispositivo não pode ser interpretado assim de maneira tão geral; o
contrato da administração para a organização social DEVE ser feita a licitação; entretanto, há
um contrato maior (contrato mãe) que permite a celebração de vários outros contratos
(contratos secundários) não demandam a realização de licitação. EM SUMA: o contrato-mãe
deve ser objeto de licitação, mas os contratos secundários estão livres da licitação.
CONCURSO: aplicação do texto frio da lei, ou seja, NÃO CABE A LICITAÇÃO, É CASO DE
DISPENSA. A doutrina que interpreta e vai um pouco mais longe. Entretanto, em questão
objetiva marcar o texto da lei. Se for discursiva, deve relatar a divergência doutrinária.
5.3.4 Características
Essa pessoa de direito privado será para sempre ORGANIZAÇÃO SOCIAL – OS? É um título
temporário porque é um status decorrente do contrato.
A doutrina chama a organização social de ENTE FANTASMA. A organização para ser registrada
como tal tem que primeiro assinar o contrato, assim mesmo sem a sua constituição como
pessoa jurídica deve assinar o contrato, já que é condição para o registro da pessoa jurídica a
celebração do contrato. PRIMEIRO: assina o contrato; SEGUNDO: registra.
OS - Crítica
Página 36
“...fica muito nítida a intenção do legislador de instituir um mecanismo de fuga ao
regime jurídico de direito público a que se submete a Administração Pública. O fato
de a organização social absorver a atividade exercida por ente estatal e utilizar o
patrimônio público e os servidores públicos antes a serviço desse mesmo ente, que
resulta extinto, não deixa dúvidas de que, sob a roupagem de entidade privada, o
real objetivo é o de mascarar uma situação que, sob todos os aspectos, estaria
sujeita ao direito público”
5.4.1 Conceito
São as OSCIP’s. Pessoas jurídicas de direito privado que servem para a prestação de serviços
públicos*, mas a lista é um pouco diferente. Fundamento Legal é Lei Federal 9790/99,
que estabelece a lista dos serviços que podem ser prestados.
* ATENÇÃO: P/ MSZP, A OSCIP NÃO PRESTA SERVIÇO PÚBLICO. Veja o que ela
diz:
Tem que ser uma pessoa jurídica que já exista há pelo menos um ano no prazo que
antecede o contrato. Durante a vigência do termo torna-se uma OSCIP.
Ë um TERMO DE PARCERIA que tem natureza contratual (MARÇAL JUSTEN FILHO), por meio
do qual recebe recursos financeiros. A pessoa jurídica presta um serviço e em troca recebe
dinheiro. O termo de parceria é para cumprimento de um PLANO DE MODERNIZAÇÃO
(necessidade temporária).
Não recebem dotação orçamentária, bens ou servidores públicos. O dinheiro que recebe é
feito por depósito bancário.
5.4.3 Crítica
O órgão público algumas vezes não está precisando de plano de modernização, mas somente
de contratação de outros servidores. Mas fazer concurso dá muito trabalho, então a
administração ao invés de fazer concurso, acaba elaborando um falso plano de modernização
com o conseqüente termo de parceria. Entretanto, na verdade, o intuito é burlar ou fraudar a
exigência de concurso público. E o poder público não se responsabiliza pelos trabalhadores,
por enquanto a Justiça do Trabalho não está se preocupando com o assunto.
QUADRO COMPARATIVO
Página 37
OSCIP X OS
1. o objetivo é muito amplo, abrangendo 1. o objetivo é restrito às hipóteses
até benemerência social; previstas taxativamente na lei;
2. não há traspasse de servidores 2. o quadro diretivo é composto por
públicos; agentes públicos;
3. a atribuição do qualificativo de oscip é 3. a atribuição do qualificativo de os é ato
ato vinculado; discricionário;
4. vínculo com o Estado por meio do 4. vínculo com Estado por meio do
termo de parceria; contrato de gestão;
5. atua ao lado do Estado, realmente 5. tende a absorver a atividade pública.
cooperando com este; 6. presta serviço público de natureza
6. exerce atividade de natureza privada. social.
ADMINISTRAÇÃO INDIRETA
A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA INDIRETA está permeada pela idéia de descentralização (quando o
poder público destaca um serviço público que lhe é próprio para transferi-lo a outra entidade
com personalidade jurídica própria). Entretanto, por vezes, o Estado sai do seu campo de
atuação e invade a esfera privada, atuando em atividade reservada essencialmente à
iniciativa privada, trata-se de atividade de INTERVENÇÃO, compreendendo: INTERVENÇÃO
INDIRETA (regulamentação e fiscalização da atividade econômica de natureza privada) e
INTERVENÇÃO DIRETA (atuação direta no domínio econômico, por meio de empresas). O
Estado pode exercê-la em regime de monopólio ou em regime de competição com a iniciativa
privada, conforme determine o interesse público ou as razões de segurança.
Sendo assim, as empresas que exercem atividade econômica (EMPRESA PÚBLICA e
SOCIEDADE DE ECONOMIA MISTA) não poderiam ser consideradas como entidades da
ADMINISTRAÇÃO INDIRETA, uma vez que essa atividade NÃO pertence ao Estado. Entretanto,
o legislador (DL 200/67) as incluiu nesse rol, fazendo com que se conclua o sentido dado à
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA foi como SUJEITO (sentido subjetivo) e não como ATIVIDADE
(sentido objetivo).
Desta forma, a ADMINISTRAÇÃO INDIRETA significa o conjunto de pessoas jurídicas, de direito
público ou privado, criadas por lei, para o desempenho de atividades assumidas pelo Estado,
como serviços públicos ou a título de intervenção do domínio econômico.
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5) EMPRESAS CONCESSIONÁRIAS E PERMISSIONÁRIAS DE SERVIÇOS PÚBLICOS: pessoas
jurídicas de Direito Privado que prestam atividades econômicas (públicas ou privadas),
mas que faltam um dos requisitos essenciais para que sejam consideradas empresas
públicas ou sociedades de economia mista; em geral, prestam serviços públicos
comerciais e industriais do Estado.
De acordo com a nova redação do art. 41 do CC/2002, são pessoas jurídicas de DIREITO
PÚBLICO INTERNO:
• UNIÃO;
• ESTADOS, DISTRITO FEDERAL E TERRITÓRIOS;
• MUNICÍPIOS;
• AUTARQUIAS, inclusive as associações públicas
• DEMAIS ENTIDADES DE CARÁTER PÚBLICO CRIADAS POR LEI.
Salvo disposição em contrário, as pessoas jurídicas de direito público, a que se tenha dado
estrutura de direito privado, regem-se, no que couber, quanto ao seu funcionamento, pelas
normas do Código Civil.
REGIME COMUM entre as pessoas jurídicas públicas e privadas INSTITUÍDAS PELO ESTADO:
1) Personalidade jurídica própria, com seu próprio patrimônio e receita, demonstrando sua
capacidade de auto-administração;
2) Sua criação é sempre feita por lei (na verdade, a autarquia é criada por lei. Por outro
lado, lei autoriza a criação de empresa pública, sociedade de economia mista e
fundação).
3) Sua finalidade essencial NÃO é o lucro e sim a consecução do interesse público;
4) Não tem liberdade de fixação ou de modificação de seus próprios fins, o que só pode ser
determinado por lei;
5) Não pode se extinguir pela sua própria vontade, somente por lei.
6) A todas se aplica o controle positivo do Estado.
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USO ESPECIAL e nessa condição NÃO podem ser onerados ou alienados
livremente, enquanto afetados pela finalidade.
AUTARQUIAS – são pessoas jurídicas de direito público, são CRIADAS por lei, está submetida
ao regime de direito público:
• LICITAÇÃO
• CONCURSO PÚBLICO
• PRERROGATIVAS PROCESSUAIS
FUNDAÇÕES – instituídas pelo poder público são pessoas jurídicas de direito público
(embora existam fundações de direito privado). As fundações são AUTORIZADAS por
lei, ou seja, a lei autoriza a criação da fundação, também estão submetidas ao regime
de direito público:
• LICITAÇÃO
• CONCURSO PÚBLICO
• PRERROGATIVAS PROCESSUAIS
• LICITAÇÃO – a CF diz que elas podem ter dois objetivos: a) prestam serviços públicos e
b) exploram atividade econômica. A doutrina não é pacífica nesse assunto, mas,
atualmente, tem prevalecido o entendimento de que se for PRESTADORA DE SERVIÇOS
PÚBLICOS é obrigatória a licitação. Se exploram atividade econômica, vai depender: se
o objeto estiver relacionado com a atividade fim, DISPENSA-SE a licitação; se o objeto
estiver relacionado com a atividade meio, é IMPRESCINDÍVEL a licitação.
• CONCURSO PÚBLICO
• PRERROGATIVAS PROCESSUAIS
ATENÇÃO!!!
Meus amigos, “todo dia” a ESAF pergunta isso: É possível uma empresa pública federal ter apenas a União como
sócia??? SIM, É POSSÍVEL. Veja algumas afirmações da ESAF sobre o tema:
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“Admite-se, na esfera federal, uma empresa pública, sob a forma de sociedade anônima, com um único sócio”
(PROCURADOR DA FAZENDA NACIONAL/2002/ESAF)
“É possível, na esfera federal, uma empresa pública ser organizada sob a forma de sociedade anônima, sendo
a União Federal a sua única proprietária” (PROCURADOR DE FORTALEZA/2002/ESAF)
“É possível, na esfera federal, uma empresa pública ser organizada sob a forma de sociedade anônima, sendo
a União Federal a sua única acionista.” (AFRF/2005/ESAF)
“É possível a constituição de uma empresa pública federal, regida pelo direito privado, tendo a União Federal
a totalidade de seu capital social” (ANALISTA DE FINANÇAS E CONTROLE-AFC-STN/2005/ESAF)
É a lição de FÁBIO ULHOA COELHO ao interpretar o art. 2.º, da Nova Lei de Falências (Lei 11.101/05),
“A Lei prevê, no art. 2.º, a exclusão completa e absoluta dessas sociedades. Em relação às hipóteses
albergadas no inciso I, isso é verdade desde logo. A sociedade de economia mista e a empresa pública
não estão em nenhuma hipótese sujeitas à falência, nem podem pleitear a recuperação judicial.”
AGÊNCIAS REGULADORAS – são autarquias em regime especial, que são criadas para
finalidade especial, possuindo algumas características que as diferenciam das autarquias
acima:
Prioriza a aplicação das flexibilidades das normas As facilidades de gestão a serem concebidas para a APF
de gestão da APF12. terão as AEs como piloto, uma vez que demonstram maior
aptidão para os compromissos que as flexibilidades
requererão.
Organiza e focaliza os esforços de melhoria As equipes da entidade terão um roteiro claro de ações para
empreendidos pelas equipes. aperfeiçoar o desempenho da entidade, uma vez que o
modelo AE supõe a utilização de práticas e instrumentais
consagrados por organizações de vanguarda.
Habilita a reivindicar vantagens adicionais na A condição de AE, à vista das credenciais trazidas por suas
regulamentação de sua gestão. práticas (contrato de gestão, resultados, transparência),
constitui-se em argumento perante os órgãos normatizadores
e controladores.
Confere poder de negociação junto aos órgãos As AEs, mediante a demonstração de resultados e
responsáveis pelas áreas de orçamento, finanças e desempenho, adquirem trunfos de convencimento na
de controle da APF partilha orçamentária.
ARTIGO
5. Organizações Sociais: uma proposta de "publicização"
Amparada nos marcos do Estado Democrático de Direito, a noção de que o público
representa uma esfera mais ampla que o estatal perpassa toda a discussão a respeito do
terceiro setor, bem como determina, em grande medida, alguns pontos cruciais no processo de
"reforma" do Estado, como a conformação de uma necessária participação social mais ativa no
nível de defesa dos interesses públicos e, a partir disso, uma menor "dependência" (?) da
sociedade civil em relação à estrita atuação estatal na prestação dos serviços sociais.
Pretendendo estar representada em sentido diverso ao programa de privatização
implementado nos últimos anos e como que adotando um foco de análise mais amplo, a
proposta de transferir o papel de prestador de serviços sociais para organizações sem fins
lucrativos da sociedade civil, através da noção de publicização, reflete fundamentalmente a
perspectiva paradigmática de consolidação do espaço público não-estatal e a concomitante
solução alternativa encontrada pelo PDRAE de restringir o nível de atuação do Estado ao papel
de promotor e regulador no que foi chamado terceiro setor através do instituto das
organizações sociais.
O que está previsto no PDRAE, em termos práticos, é a institucionalização dessa
transferência, donde a necessidade de um Programa Nacional de Publicização (PNP). Se as
organizações sociais (já reguladas pela Lei 9.637/98) são o instituto que vinculará tal "parceria"
entre Estado e sociedade organizada, o PNP (ainda a ser criado mediante decreto do Poder
12
APF – Administração Pública Federal.
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Executivo ( vide o art. 20 da referida Lei) será o programa que viabilizará a "saída" do Estado
(no referente à atuação direta) do setor de atividades não-exclusivas, à medida que se
pretende ampliado o espaço da sociedade organizada.
A abordagem realizada no PDRAE é bastante sintomática em se tratando do objetivo da
criação de organizações sociais e mesmo da publicização. Esse objetivo seria
"(...) permitir a descentralização de atividades no setor de prestação de serviços não-
exclusivos, nos quais não existe o exercício do poder de Estado, a partir do pressuposto que
esses serviços serão mais eficientemente realizados se, mantendo o financiamento do
Estado, forem realizados pelo setor público não-estatal." (1995:74, grifos nossos)
Ora, neste sentido, a "descentralização" dimensionada no PDRAE, abrangendo o
conceito de publicização, seria a "absorção" de atividades e serviços até então realizados por
autarquias e fundações ("entidades ou órgãos públicos da União") pelas entidades de utilidade
pública qualificadas como O.S., o que corresponderia, portanto, a não só reduzir a atuação da
Administração Pública Indireta, mas também a promover, simultânea e predominantemente, a
atuação da sociedade civil organizada (o que está claro nos objetivos do Plano Diretor,
inclusive pelo termo "absorção" da Lei em análise).
Neste sentido, em face do questionamento a respeito de "se deverá sempre ocorrer a
extinção de uma entidade pública para que surja em seu lugar uma organização social, a qual
assuma o serviço por ela prestado", claro é que teoricamente nada impede que as O.S. atuem
paralelamente a órgãos e entidades estatais na prestação de serviços sociais e em atividades
de interesse coletivo. Ou seja, "apesar de as organizações sociais terem sido concebidas com o
objetivo de substituírem entidades da Administração Indireta (...), elas não são, pois,
necessariamente, sucessoras de entidades públicas extintas." (SANTOS; PEDROSA, 1998:14,
grifo nosso)
Já, em termos de implementação prática, segundo as autoras supracitadas,
"(...) dificilmente, uma entidade será qualificada como organização social sem que haja
extinção de órgão ou entidade pública da mesma área de atuação, devido à escassez de
recursos de que dispõe a administração pública. Seria utópico imaginar que as organizações
sociais venham a representar um mero acréscimo na oferta de serviços naquelas áreas de
atuação específica de que nos fala a lei." (1998:14, grifos nossos)
Se é utópica a perspectiva de que as organizações sociais estão sendo criadas para
atuarem de forma complementar à atuação estatal e se só a substituição desta por aquela é o
que o governo pretende com o PNP, tem-se que há um impasse diante da Constituição Federal
de 88, o qual, nos termos de MELLO, coloca a seguinte questão:
"(...) os serviços trespassáveis a organizações sociais são serviços públicos
insuscetíveis de serem dados em concessão ou permissão. Logo, como sua prestação se
constitui em "dever do Estado", conforme os artigos citados (arts. 205, 206 e 208), este tem
que prestá-los diretamente. Não pode eximir-se de desempenhá-los, motivo pelo qual lhe é
vedado esquivar-se deles e, pois, dos deveres constitucionais aludidos pela via transversa de
"adjudicá-los" a organizações sociais. Segue que estas só poderiam existir
complementarmente, ou seja, sem que o Estado se demita de encargos que a Constituição lhe
irrogou." (1999:159, grifo sublinhado nosso)
O motivo de tal transferência inconstitucional (a publicização) para a sociedade
organizada das atividades públicas não exclusivamente estatais, que são desempenhadas pelo
Estado, no modelo de reforma brasileiro, é a perspectiva de que o Estado não consegue
atender eficientemente às demandas da sociedade, prestando serviços sociais (espaço por
excelência do público não-estatal) desprovido de mecanismos dinâmicos de gestão e de uma
ampla participação social.
Interessante, neste âmbito, perceber o quão veemente é a crença e reiterado é o
discurso do governo de que, por definição, a prestação de serviços e a produção de bens pelo
Estado é menos eficiente que a realizada pela iniciativa privada.
Segundo CHAUÍ (1999),
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"A Reforma tem um pressuposto ideológico básico: o mercado é portador de
racionalidade sócio-política e agente principal do bem-estar da República. Esse pressuposto
leva a colocar direitos sociais (como a saúde, a educação e a cultura) no setor de serviços
definidos pelo mercado. Dessa maneira, a Reforma encolhe o espaço público democrático dos
direitos e amplia o espaço privado não só ali onde isso é previsível ( nas atividades ligadas à
produção econômica), mas também onde não é admissível, no campo dos direitos sociais
conquistados." (Grifos sublinhados nossos)
O problema que se pode depreender desse tipo de "ideologia" política é justamente o
dimensionamento de até que ponto a eficiência (em termos exclusivamente econômicos)
prepondera sobre os interesses sociais (públicos por excelência), até que ponto esses
interesses públicos são precarizados e relativizados no embate com o conceito de publicização,
o qual está conformado para uma cidadania que pressupõe vínculo de clientela neoliberal com
o Estado.
Ora, faz-se necessário questionar aqui o papel do Estado no processo de publicização
diante do necessário caráter universal da prestação de serviços públicos, do princípio da
continuidade na prestação deles e do princípio da subsidiariedade, a partir dos quais há que se
assegurar a atuação estatal complementar em caso de insuficiência na prestação pelas O.S.
dos serviços sociais.
Em que pesem o princípio da eficiência (ênfase nos resultados) e a relação estrita de
cidadão-cliente, a retomada da subsidiariedade é exigência primordial para a "saída" do Estado
do nível de responsabilidade direta por essa prestação, primordial em face justamente do
objetivo do próprio PDRAE de efetivamente reformar o Estado para fortalecê-lo e não para
minimizá-lo.
Não obstante a necessária subsidiariedade e muito além dela, maior deve ser a
preocupação social (mais que o mero controle social estrito senso) com relação às O.S. no
tocante ao fato de o governo transferir a prestação de serviços sociais para a esfera privada
(sem fins lucrativos), sem assegurar que seja ela universal (novamente a discussão acerca do
conceito de cidadão-cliente), donde a contraposição mesma entre a rentabilidade dos serviços
públicos privatizados e princípio da universalização do atendimento denotada por BURSZTYN
(1998:157).
Boa parte dos estudiosos de Direito Administrativo tem se preocupado seriamente com
tal transferência, a mensurar por suas críticas ao modelo federal. Dimensionando
sinteticamente os principais questionamentos neste sentido, DI PIETRO considera que
"Embora a medida provisória [a atual Lei 9.637/98] não diga expressamente, é
evidente e resulta nela implícito que as organizações sociais vão absorver atividades hoje
desempenhadas por órgãos ou entidades estatais, com as seguintes consequências: o órgão
ou entidade estatal será extinto; suas instalações, abrangendo bens móveis e imóveis, serão
cedidos à organização social; o serviço que era público passará a ser prestado como atividade
privada. Dependendo da extensão que a medida venha a alcançar na prática, o Estado,
paulatinamente, deixará de prestar determinados serviços públicos na área social, limitando-se
a incentivar a iniciativa privada, por meio dessa nova forma de parceria. Em muitos casos,
poderá esbarrar em óbices constitucionais." (1999:312, grifos nossos)
Ora, aprofundando tais questionamentos, diante da transformação ensejada pela Lei
n.º 9.637/98 de "serviços públicos" em "atividade privada" e diante da limitação da atuação
estatal ao nível de incentivo da iniciativa privada (processos denotados por DI PIETRO que
serão consolidados "paulatinamente"), quem são os clientes do Estado para os quais as O.S.
devem prestar eficientemente serviços sociais e em que medida os "não-clientes" estão
excluídos dessa prestação? Seria cidadão-cliente, segundo a lógica do PDRAE, todo aquele que
usa os serviços da "empresa" na qual o Estado está se transformando?
Dimensionada a partir de um pressuposto excludente de conformação da cidadania
como clientela (dado que submetida a parâmetros neoliberais), a reforma brasileira do Estado
coloca em xeque a própria base de legitimação social deste Estado, porque "onde (...) acima
da estrutura textual e legitimatória do Estado ainda se faz valer uma superestrutura
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consistente de inclusão/ exclusão, o ‘estado constitucional’, que só se pode fundamentar e
justificar como Estado universal, ainda não está realizado. A constituição exclui a si mesma do
nexo de legitimidade democrática." (MULLER, 1998:99/100, grifos nossos)
Em termos de legitimidade das mudanças que têm sido feitas na Constituição de 88
para viabilizar tais mecanismos de redução do aparato estatal, sem assegurar a universalidade
na prestação dos serviços sociais que estão envolvidos com o instituto das organizações
sociais, é possível questionar também o que MULLER considera como a "degeneração em
‘povo’-ícone", já que "a exclusão deslegitima. Na exclusão o povo ativo, o povo como instância
de atribuição e o povo-destinatário degeneram em ‘povo’-ícone." (1998:105, grifo nosso)
A degeneração em "povo apenas para fazer constar do preâmbulo da Constituição",
especialmente na realidade brasileira, corresponderia a um quadro institucional em que "por
um lado a maior parte da população é ‘integrada’ na condição de obrigada, acusada,
demandada, por outro ela não é integrada na condição de demandante, de titular de direitos"
(MULLER, 1998:95, grifos nossos). Donde a "identificação da reivindicação de direitos de
cidadania por parte de subcidadãos excluídos e subintegrados, na maior parte das vezes, com
subversão". (1998:96, grifos nossos)
A análise da publicização, a partir desta problemática, vai ao encontro do respaldo que
tal "processo" recebe de toda a lógica de um governo em específico. Qual reforma do Estado
em face da premência da mera rolagem de juros da dívida pública no atual caso brasileiro? –
Eis uma base de questionamento já a ser tratada desde as diretrizes do PDRAE e mesmo sobre
o próprio conceito de publicização.
O corte de verbas recorrente na saúde e na educação públicas, por exemplo, depõe
contra a maior parte dos argumentos de serem as O.S. instrumentos mais democráticos e
capazes de atender melhor a um número maior de pessoas. Pergunta-se: se a perspectiva
governamental é reduzir o repasse de recursos financeiros para esse setor, como ampliar a
prestação de tais serviços sociais, sem implicar a mera privatização diante da cobrança de
taxas, mensalidades ou quaisquer outras formas de faticamente restringir a universalidade
desses serviços?
Assim, o PNP, para MELLO (1999:157), representaria um "título paradoxal", já que, a
priori, o termo publicizar não abre espaço para se interpretar uma transferência para a esfera
privada, ainda que essa esfera privada seja sem fins lucrativos.
Segundo DI PIETRO,
"Embora o Plano Diretor fale em publicização e a própria Lei 9.637, logo na ementa,
fale em Programa Nacional de Publicização para definir a forma como se substituirá uma
entidade pública por uma entidade particular qualificada como organização social, não há
qualquer dúvida quanto a tratar-se de um dos muitos instrumentos de privatização de que o
Governo vem se utilizando para diminuir o tamanho do aparelhamento da Administração
Pública. A atividade prestada muda a sua natureza; o regime jurídico, que era público, passa a
ser de direito privado, parcialmente derrogado por normas publicísticas; a entidade pública é
substituída por uma entidade privada." (1999:313, grifo nosso)
Neste ponto, cabe questionar ainda em que medida transferir para o regime de direito
privado implica tornar mais pública a Administração Indireta? O público não-estatal, como
fundamento estruturante das O.S., implica, muito além de transferência de serviços sociais,
conformação de níveis mais amplos de participação e controle social, o que, por sua vez,
pressupõe uma noção de cidadania mais ativa e comprometida com um nível de coletivo que
não depende passivamente do estatal, o que resultou muito mal instrumentalizado a partir da
Lei n.º 9.637/98.
Sobre serem as Organizações Sociais uma proposta de efetivamente tornar mais
pública a prestação dos serviços sociais, faz-se necessário reavaliar a pergunta inicial deste
tópico a partir de uma segunda pergunta: o que seria publicizar? Tornar público o que já é
estatal parece, à primeira vista, um contra-senso ou ainda um pleonasmo, mas há que se
considerar, como anterior e repetidamente já dimensionado, a existência de uma esfera de
público que transcende os limites do estatal.
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Em grande medida, o problema passa a ser até que ponto transferir do público-estatal algumas
atividades (as ditas não exclusivas do Estado) para o público não-estatal representaria uma via
de prestação de tais atividades e serviços mais pública. Correndo o risco de ser um pouco
tautológica, seria perguntar se há um público mais público que o outro, donde ser o Programa
Nacional de Publicização um título "paradoxal"...
No Estado Democrático de Direito, a distinção entre público e privado só é percebida
em limites bem tênues e, em HABERMAS (1995), chega a ser uma perspectiva procedimental,
delimitada na lógica do modelo discursivo de democracia. A publicização não significaria, neste
sentido, uma transição de algo que fosse menos para mais público estrito senso, porque tal
questão só pode ser solucionada na via de processo, no quantum de participação social
agregado (se é que é possível mensurá-lo).
A tomada do espaço público pela sociedade civil e mesmo a indistinção fluida entre
público e privado a partir da ampliação e evolução na aquisição de direitos pelos indivíduos,
numa releitura da proposta governamental de publicização, só são efetivamente indícios de
concretização da diretriz constitucional de "instituir um Estado Democrático" (vide preâmbulo
da Constituição Federal de 1988) na medida estrita da ampliação do exercício da cidadania.
Publicizar deve implicar, mais que qualquer outra coisa, nível de incremento da
participação social em um efetivo exercício da condição de cidadão, sob pena de não
corresponder o nome à realidade, pena essa que se coloca sob a égide do desafio de
implementar um Estado "reformado" que seja essencialmente democrático.
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reformar o Estado para a contenção de custos da Administração Pública, apenas aderindo à
imposição, geradora de extremas desigualdades sociais, da panacéia do mercado.
Neste sentido, à implementação ainda por vir do instituto das organizações sociais
colocam-se alguns complexos desafios, para o Estado e para a sociedade, na medida em que
tais entidades deverão, antes de mais nada, ser uma construção de ambos os atores, em uma
interação ampla e ainda incipiente na realidade sócio-política brasileira.
Ao Estado, cabe tentar resolver a problemática da desconfiança da sociedade em face
da "novidade" do instrumento, cabe atentar para o risco do patrimonialismo, da privatização
ou mesmo da "feudalização" das O.S., quando da absorção de autarquias e fundações públicas
pelas entidades civis sem fins lucrativos e principalmente cabe ao Estado o dever de fornecer
mecanismos compensatórios para que os excluídos participem também (donde não ser
possível imaginar a completa substituição da prestação de serviços sociais feita pelo Estado
pela prestação feita pelas O.S.), tendo em vista a noção de que o Estado não pode se eximir da
sua responsabilidade junto a toda a sociedade de garantir, minimamente, os direitos
conquistados constitucionalmente.
Por outro lado, os desafios colocados à sociedade são justamente crer na eficácia do
instituto; controlar a atuação dos envolvidos, para garantir a condição de espaço público
(ainda que não-estatal) e evitar a "promiscuidade" nos processos, donde caber à esfera social
também, se necessário for, resistir à privatização dos serviços sociais camuflada sobre a noção
de "publicização".
Tais desafios, em linhas gerais, conformam o meio como deverão ser tratados os
muitos problemas e riscos do instituto das organizações sociais. Diante do arranjo jurídico ( em
vários pontos da Lei 9.637/98, inadequado); do controle social mal instrumentalizado; do
desmonte do setor público (praticamente o que se tem hoje com isso é o Estado deixando de
ser até mesmo subsidiário no nível de garantia dos direitos sociais, como saúde e educação);
do risco da substituição da prestação dos serviços sociais básicos por sua venda; do ceticismo
do governo quanto à eficiente prestação estatal de serviços e das muitas soluções artificiais
consideradas sob a ótica estrita dos interesses do mercado e não da sociedade como um todo,
desponta como caminho basilar de aprimoramento do modelo proposto o necessário
conhecimento da realidade brasileira e das políticas públicas na interlocução entre Estado e
sociedade. E conhecer melhor para poder exercer um controle mais consciente, para avaliar
ganhos e perdas com o processo, para responsabilizar a esfera política (da qual a sociedade é
"principal") em termos de compromisso com os interesses dos cidadãos, para efetivamente
reformar o Estado e não para comprimi-lo.
Registrados alguns questionamentos quanto a todas essas arestas conflituosas e
fundamentais, já se pode retornar à dimensão das organizações sociais no espaço de
reformulação das relações Estado-sociedade. Em se visando realmente à construção, a partir
da proposta de reforma do Estado que se tem hoje, do Estado Democrático de Direito no Brasil,
para um público não-estatal que implique maior e mais efetiva cidadania, eis que aqui se
colocam as organizações sociais: aqui e para toda a sociedade, elas estão dimensionadas
como e na condição de desafio, por sua vez, à própria democracia brasileira.
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