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Sociedade:. Ecumênica:. do Triângulo: e da Rosa:. Dourada:.

Fraternidade:. Espiritualista:. do Cruzeiro:. do Sul:.


Templo Xangô Quatro Luas:.

Umbanda I

Dissertação Sobre a Linha da Quimbanda - I

“Na verdade, a Quimbanda resulta num território carregado


por certa importância, ao qual interessa à própria Umbanda
demarcar em suas fronteiras e defendê-lo com certa atenção
dispensada.”

Embora pareça constituir um agrupamento desorganizado, com inclinações voltadas somente aos aspectos
mais obscuros e deturpados (fundamentados segundo as concepções individuais de cada um), concentrando em
sua estrutura numerosos elementos dispersos, a Linha da Quimbanda se articula nas Esferas Espirituais e naquela
Física com certa maestria, mesmo a despeito das inúmeras comparações equivocadas, das afirmações distorcidas,
das superstições excessivas e das verdades irrefutáveis quanto ao aspecto negro de um dos seus principais
segmentos.
Originário do Banto, grupo de línguas e dialetos negro-africanos, o termo Quimbanda deriva do quimbundo
kimbanda, e em realidade designava ao mesmo tempo um Sacerdote e curandeiro que lidava com as práticas
rituais e de cura. Essa era também a denominação utilizada para se referir ao Ganga, o “Feiticeiro”, no sentido de
Curandeiro ou chefe espiritual Banto, não tendo inicialmente, nenhuma relação direta com a reconhecida Linha
de práticas maléficas ou com o aspecto negativo abarcado nos dias atuais.1
A Quimbanda original de descendência africana cultuava os Tatás, termo Sacerdotal utilizado para designar
as Almas dos Ancestrais ou Chefes das Nações africanas. Esses são equivalentes aos “Mestres” do Catimbó (o
Culto ou Linha da Jurema), apresentando-se inclusive investidos de denominações e roupagens diversas. Essa é
ainda hoje a titulatura adotada para os Chefes de Terreiro da Nação Angola, sendo que esses Tatás ou Mestres
Feiticeiros eram também denominados Ngangas (lê-se ungangas) tendo sido, quando encarnados no plano físico,
Sacerdotes bantos adoradores dos Npungu (lê-se Umpungu) ou Espíritos Ancestrais.
No século passados o culto dos Gangas foi associado àquele dos Encantados (denominação dada então aos
Mestres da Jurema) em suas reminiscências indígenas, donde deriva o aspecto mais puro do Catimbó e a possível
agregação inicial da Quimbanda (sem nenhuma conotação negra) à esse culto em particular, unindo mais tarde

1O Quimbundo é um dialeto Banto originário de Angola e das regiões próximas a Luanda. Existem rumores que o termo
Quimbanda poderia ter derivado do vocábulo kibanda, dialeto do povo Basanga, sediados no antigo Zaire, designando então
um conjunto de Espíritos maléficos.
1
elementos místicos tradicionais à outros provenientes da cultura Yorubá, donde derivam suas poucas relações
com os Orixás.2
Ao interno desse contexto ancestral, é lícito afirmar que as bases do Catimbó (Jurema) surgem muito antes
do aparecimento da Umbanda, e talvez contemporaneamente aos primeiros Candomblés no final do século
XVIII ou mesmo antes. Isso nos leva a um conhecido argumento, vez ou outra lançado em aberto, de que os
Espíritos que ora atuam como Caboclos e Pretos-Velhos já faziam suas incursões incorporativas ao plano da
matéria, muito antes do surgimento da Umbanda.3
Partindo desse segmento, é muito provável que os Espíritos Doutrinários da Umbanda, que pouco depois
assumiriam a roupagem astral de Caboclos e Pretos-Velhos, tenham baseado suas roupagens nas manifestações
dos Espíritos do Catimbó, já que existem claras diferenças nos processos de manifestação dos Caboclos ao
interno da Umbanda e do Culto da Jurema, onde prevaleceram as antigas práticas curativas indígenas na forma
mais pura do culto, hoje dificilmente encontrado.
Na direção oposta, a Umbanda “astralizou” em grande parte seus rituais, “embranquecendo e
espiritificando” sua doutrina ao extirpar as relações com as práticas africanas, como se os Pretos-Velhos, os
próprios Orixás, as mirongas e seus fundamentos constituidores, os Pontos Riscados, as Curimbas (Pontos
Cantados) e diferentes outros elementos não descendessem diretamente dos cultos de matriz africana, sobretudo
da Nação Angola de onde derivam grande parte das correlações.
Os primeiros escritores e Dirigentes da Umbanda são os grandes responsáveis pelo coroamento da carreira
de Èxú Orixá como Divindade infernal e dos próprios Exus Guias como Demônios, já que foram esses autores
que criaram todas as divergências existentes e determinaram as relações diretas dos Exus com o mal,
estabelecendo relações, Linhagens e cruzamentos, cada qual segundo suas convicções.
Dentre os maiores e infelizes absurdos, a conhecida correlação dos nomes dos Exus com os demônios da
Goecia, verdadeira estigma para os primeiros, foi estabelecida e reforçada pelos próprios escritores de Umbanda,
não sendo como se chega a pensar, uma criação da Quimbanda e de suas Linhagens.4
É somente então que Lúcifer, enquanto Força Obscura passa oficialmente a fazer parte do contexto da
Umbanda, assim como Belzebu, dando surgimento ao lado do Exu das Sete Encruzilhadas ao conhecido
“Maioral” ou Comando Supremo Inferior, criando-se a designação “Exu Rei” e “Exu Mor”, a qual seria em
realidade, a manifestação Trina desse mesmo Comando.

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A adjunção do termo “Tatá”, que se traduz por “pai maior” pela Umbanda, fora um dos motivos responsáveis pela
confusão existente entre as denominações “Exu Caveira” e “Tatá Caveira”, tratando-se em realidade da mesma Linha de
atuação. Tatá caveira, traduzido segundo seu significado seria então: O Pai ou “maior dos Caveiras”, motivo pelo qual é
representado sentado sobre um trono de ossos. Como Linhagem, dos “Tatá Caveira”, existe apenas na Quimbanda, mas não
na Umbanda, onde temos apenas a Legião de Exu Caveira e dos Sete Caveiras. João Caveira, por sua vez, resulta numa
Legião de descendência direta da Quimbanda de Lei, ou seja, a “Linha dos Caveiras” (a mesma dos Tatá Caveira), não tendo
a Quimbanda de Lei relações diretas com a Quimbanda Negra ou “Da Esquerda”, como veremos mais adiante.
2 Tais fatos tornariam verídicas as afirmações de velhos Catimbozeiros que alegavam incorporar esses Espíritos anos antes

do aparecimento da Umbanda. De fato, existem relatos de manifestações do Sr. Caboclo Cobra Coral ou de Pai Tomé
Curandeiro que ressalem ao ano de 1870 ao interno de antigos Catimbós.
3Tais fatos tornariam verídicas as afirmações de velhos Catimbozeiros que alegavam incorporar esses Espíritos anos antes
do aparecimento da Umbanda. De fato, existem relatos de manifestações do Sr. Caboclo Cobra Coral ou de Pai Tomé
Curandeiro que ressalem ao ano de 1870 ao interno de antigos Catimbós.
4 O fato deve-se a Aluizio Fontenele, escritor Umbandista que na década de 40 teve a infeliz ideia de associar a Umbanda
com outros segmentos esotéricos do passado, sendo o primeiro autor a comparar por conta própria os Exus de Umbanda
com os Demônios da tradição judaica, largamente empregados em rituais cerimoniais de Magia Negra na Europa. Foi aqui
que teve início a verdadeira “demonização” dos Exus por dentro da própria Umbanda, como se já não fosse suficiente as
alegações e comparações feitas externamente pelos expoentes dos segmentos cristão e Espírita. Seja como for e passados
setenta anos, esse é ainda hoje o maior erro reportado aos Exus e suas Linhagens.

2
Vemos então Inteligências perigosas e pertencentes à Alta Escuridão como Surgath, Sagathana e Syrach
serem associados respectivamente aos Exus Veludo, Calunga e das Sete Portas, prolongado-se a lista com mais
de cinquenta definições da mesma natureza, como por exemplo a associação de Lilith, Demônio feminino com a
Pomba-Gira (considerada uma só Entidade) passando essa então a ser reconhecida como “mulher de sete Exus”.
Findando por ser aceito ao longo dos anos (tornando-se oficial em relação à Quimbanda) essa é a pior
dentre todas as conceituações errôneas que foram geradas, refletindo negativamente a tal ponto, que atualmente
a própria Quimbanda e Templos declaradamente ditos de Magia Negra se valem dessa associação, sendo que
muitos textos contrários à Umbanda fundamentam e afirmam a natureza demoníaca dos Exus baseados nessa
associação absolutamente prejudicial.
Conclusão nas Esferas Astrais: as Inteligências sombrias a que de fato pertencem tais nomenclaturas,
antiquíssimas, aliás, e pertencentes ao contexto da antiga tradição cabalística hebraica, findaram por gerar
egrégoras de associação, manipuladas por sua vez por outras Inteligências, sendo hoje de fato atraídas energética
e espiritualmente ao interno dos Templos que as tomam por manifestações de Exus, onde então podem operar
por meio de sua esfera obscura, fazendo-se assim atuantes por intermédio de Inteligências secundárias que lhes
servem de sustentação. Esse aspecto puramente espiritual é deveras problemático, uma vez que tais Inteligências
existem há milênios e já se encontravam organizados juntamente com suas Legiões muito antes do advento da
Umbanda.
Assim, na mediada em que as concepções cristãs acerca da religião dos Orixás iam se formulando e as
influências do Espiritismo kardecista, também orientadas em torno dos valores éticos, concepções e imposições
absorvidas dos conceitos cristãos foram sendo envolvidas, a figura de Èxú projetou-se cada vez mais em direção
ao mal, sendo obrigada pela própria imposição religiosa e sincrética dos seguidores da Umbanda a revestir para si
a figura do Demônio.
Na sua alegação que somente o Bem deveria existir; que todas as coisas existem em razão do Bem e que o
Mal se encontra limitado e deve ser combatido a todo custo, numa visão nada esotérica, fora da realidade,
excessivamente cristã, mascarada pelos moldes da Caridade a que sempre apela como foco central de sua
doutrina, a Umbanda contribui largamente para a criação da Quimbanda.
Ali, os Exus considerados “Espíritos atrasados” na velha visão rotuladora, e em contraste evidente com os
Pretos-Velhos e Caboclos, então considerados seres de elevada evolução, foram empurrados cada vez mais para
o lado que deveria permanecer “escondido” da Umbanda. Em sua tentativa de embranquecimento e na
formulação cristão que obrigatoriamente deveria seguir as regras daquilo que era considerado aceito em matéria
de espiritualidade, os Exus passaram a ser agrupados em uma hierarquia relegada ao que havia de mais inferior e
infernal, quando a realidade nunca se apresentou dessa forma.
Toda essa agregação de elementos dispersos e inverídicos resultou na confusão vigente, uma vez que no
período inicial das manifestações dos Exus ao interno da Umbanda, esses eram conhecidos como “Mestres”,
atuando também em trabalhos de cura, como no caso dos Exus Tiriri e Tranca-Ruas das Almas que já aparecem
como “feiticeiros curandeiros” desde meados de 1890.
O termo Èxú descende do Yorubá, sendo traduzido por “esfera” e só pode ter chegado a Umbanda por
intermédio das influências associativas com outros cultos semelhantes. Algumas das próprias nomenclaturas
ainda hoje aceitas sofreram a influência do Candomblé, uma vez que nomes como Exu Lalú, Exu Lonàn, Exu
Marabô, Exu Alebá, Exu Maré, Exu Má-Canjira e outros, guardam conotações diretas com os ditos Èxús Barás,
porções diferenciadas do arquétipo original de Èxú Orixá, sendo que a multiplicidade do mesmo em suas
duzentas e uma manifestações, também permitiu a associação direta e as diferentes aparições dos Exus da
Umbanda.
Certo é que a própria Corrente Astral da Umbanda valeu-se de toda uma série de referências associativas na
elaboração e estruturação da sua Doutrina como a vemos atualmente, devendo grande parte dessas alterações ser
3
creditadas aos próprios Dirigentes e autores desde o início de sua estruturação. A Quimbanda por sua vez, de um
culto mágico ritual de descendência africana direta, passou com o tempo a designar uma Linha de atuação ligada
fortemente à Magia Negra, agregando as nomenclaturas dos Exus da Umbanda à sua estrutura, mas também
criando outras que refletiam sua condição sombria.
É no período de transição que nomes de Exus relevantes como Barra Verde, Lua Nova, Galha Negra, Sete
Pedreiras, Pedra Branca, Sete Cachoeiras, Barra Mansa, Caninana, Brasa Viva, Sete Léguas, Rompe Aço, Cipó de
Fogo, Cobra Verde e outros são perdidos, cedendo lugar a denominações como Lord da Morte, Exu Carniça,
Exu Matança, Tranca Tudo, Sete Facadas e outros que deixavam entrever suas naturezas espirituais.
Quanto ao Catimbó (Jurema), esse abarcou gradualmente não somente os Exus da Umbanda como também
os Mestres da Quimbanda, preservando esses últimos, contudo, seu caráter essencial como curadores e
mandingueiros, já que ao interno da Linha da Jurema os expoentes da Quimbanda atuam como “Mestres
Quimbandeiros”, conservando inclusive suas nomenclaturas e formas de trabalho completamente dissociadas do
contexto Negro de algumas Linhas de atuação. A Umbanda, por sua vez, tratou de agregar também os Mestres
Feiticeiros da Jurema, convertendo-os em Exus, ao passo que as conhecidas “Mestras Juremeiras” foram
gradualmente transformadas nas Pombas-Giras.
De fato, as primeiras manifestações dessas Entidades da forma como as conhecemos se deu ao interno da
Jurema. Mestras como Maria Luziara, Maria do Cais, Maria Navalha, Júlia Galega, Marianinha e outras revelam o
arquétipo livre, feiticeiro e boêmio que em seguida seria absorvido pelas Pombas-Giras. Mas as Mestras
Juremeiras também se apresentam como Velhas Curandeiras e Mandingueiras, como nos casos de Mestra Tiana,
Velha Chica Feiticeira, Maria do Balaio e Negra Luanda, expressando um arquétipo muito semelhante às Pretas-
Velhas da Umbanda, nesse caso.
Ocorre que na Jurema não existem “roupagens” básicas de manifestação como vemos na Umbanda, ou seja,
os Seres Espirituais que atuam por meio dos processos de incorporação estão de fato revestidos de suas capas
arquetípicas originais e sem alterações, contrário aos Caboclos, Pretos-Velhos e, por vezes, Exus e Pombas-
Giras, os quais devem obedecer aos Princípios encerrados no conceito das roupagens arquetípicas vinculadas às
Vibrações Originais.
Dessa forma, é verossímil a afirmação que a Linha da Jurema preservou em sua estrutura as antigas bases
da Quimbanda e seus Mestres, desprovidas de elementos excessivamente contrastantes e direcionados ao Mal,
fazendo distinção bem clara entre esses e os denominados Exus da Umbanda.
Esse fato pode lançar alguma luz em relação aos aspectos espirituais que, observados como um todo,
consideramos corrompidos sem ao menos termos tido o cuidado de analisá-los antes mesmo de disseminarmos
opiniões e emitirmos julgamentos precipitados, uma vez que ao de lá da compreensão comum, o argumento
necessita ser tratado com cautela, sem que as próprias convicções e inclinações de cunho religioso se oponham
de maneira acirrada à frente.
Inicialmente devemos conceber a existência de quatro manifestações ou derivações distintas daquilo que
denominamos Quimbanda, de modo a estabelecer uma linha de compreensão que permita diferenciar seus
próprios direcionamentos. Primeiramente temos a “Quimbanda Negra”, Esquerda Pura, ou seja, voltada às
práticas obscuras e onde se situam os “Quimbandeiros” reconhecidos como Espíritos aguerridos e inclines às
manifestações e práticas da Magia Negra. Essa não constitui uma Linha de Trabalhos vinculada à Corrente Astral
da Umbanda, mas se apresenta de certa forma como sua opositora e ao mesmo tempo equilibradora direta nas
paragens Espirituais.
Em seguida temos a “Quimbanda de Lei”, também denominada “Da Direita” ou simplesmente “Linha da
Quimbanda”. Essa é a Linha de Trabalhos que possui estreita afinidade com a Umbanda, ou seja, que abarca os
Espíritos em processo de retificação que deixaram a Quimbanda Negra propriamente dita ou outros segmentos
sombrios.
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Arrolados em processos de ajustes os mais diversificados, assumem sempre a condição de Transitantes e
Estacionários, sendo esses reconhecidos mais precisamente como “Exus Pagãos”, numa alusão puramente
simbólica ao fato de não terem sido “batizados”, isso é, confirmados dentro da Lei nas fileiras efetivas da
Corrente Astral da Umbanda.
Essa é a Linha autêntica que se ramifica em Sete Legiões distintas e que agrega as quarenta e nove Falanges
reconhecidas como “Povos” ou “Reinos” da Quimbanda, os quais atuam largamente ao interno das Legiões da
Umbanda e em concordância com seu plano evolutivo como Entidades de suporte, saneamento e ajuste
imediato.
Segue então a terceira manifestação reconhecida nos ditos “Mestres Quimbandeiros”, atuantes ao interno da
Linha da Jurema e que não se encontram atrelados aos processos de Magia obscura a que se vinculam os
primeiros, evocando para si o contexto impresso no termo originário Banto como curandeiros e feiticeiros. Esse
Grupamento, via de regra, não atua efetivamente ao interno das fileiras da Umbanda como Linha individualizada
(já que pertence ao Culto da Jurema), mas pode ser evocado em diferentes processos isoladamente.
A quarta derivação, por sua vez, nos remete aos “Velhos Quimbandeiros”; esses atuantes ao interno da
Umbanda e constituidores inclusive de uma Linhagem específica, aquela de São Cipriano, sediada ao interno da
Linha das Almas e cujo mentor é Pai Cambinda. Essa constitui uma Linha de Trabalhos poderosa e mística,
presente desde o início da Umbanda e pouco comentada em razão de seu próprio caráter esotérico.
Seus expoentes se encontram versados nas mais diferentes técnicas de desmanche e neutralização de
processos de Baixa Magia em qualquer uma de suas diferenciações. Aqui estão sediados Pretos-Velhos antigos
como Pai Elesbão do Congo, Pai Cipriano Quimbandeiro, Pai André do Cruzeiro, Vovó Cambinda das Almas,
Vovô Crispiniano da Calunga, Pai Firmino das Almas, Velho Lourenço da Cachoeira, Vovô Julião do Cruzeiro,
Tia Inácia da Calunga, Pai Antonio Quimbandeiro, Tia Benedita da Calunga, Vovô Anselmo, dentre outros.
Espiritualmente, a Quimbanda Pura, “Da Esquerda”, reconhecida como faixa de atuação pretensamente
maléfica, não se articula como um segmento ou Linha de Trabalhos da Umbanda, como comumente alegado,
ainda que constitua sua contraparte direta, ou seja, sua “harmonia contrária” no Plano das Sombras.
Todavia, não se opõe aos Princípios dessa última, uma vez que a Esquerda Pura e Ajustadora, representada
diretamente pela Quimbanda Autêntica, possui estreitas relações com o plano evolucional da própria Umbanda,
especialmente em relação aos Espíritos ditos Estacionários e seus processos de ajuste evolutivo.
Os Espíritos compositores da Quimbanda Pura, hierarquicamente afetos às Hostes e Legiões das Sombras,
ainda que inclines ao Mal, não se manifestam, contudo, como obsessores inconscientes daquilo que executam.
Contrário ao comumente aceito, esses Espíritos também desempenham seu papel fundamental para o Plano da
Evolução como legítimos impulsionadores da humanidade por intermédio do aspecto negativo, inferior e
agressivo da Lei.
Pela Lei das Afinidades, onde a máxima “O semelhante atrai o semelhante” constitui afirmação inegável,
esses Seres Espirituais pelo peso das correntes energéticas a que estão sujeitos, por meio da Lei de Ação e Reação
se apresentam como “punidores” ou ajustadores diretos e indiretos de todos aqueles que transviaram das Leis
espirituais, das disciplinas morais, do aprendizado e da reforma, individual ou coletivamente.
À sombra dos nomes dos Exus de Lei e Autênticos; membros da Esquerda Pura, os Exus da Quimbanda
como executores da Justiça Divina em seu aspecto reacionário direto e paralisador, conhecedoras do fascínio que
todos os aspectos da materialidade desequilibrada ou exagerada exercem sobre todos os indivíduos, seja a nível
profissional, financeiro, sentimental, emocional, moral e sexual, não podem atuar sob hipótese alguma como
Guias reconhecidos, uma vez que constituem as Legiões Justiciadoras dos Planos Inferiores e para os próprios
Planos Inferiores e afins.
Na Quimbanda Pura as práticas magísticas não se encontram sob nenhuma restrição ética. Aqui todos os
pedidos e vontades, sejam benéficos ou maléficos podem ser atendidos, sem exceção alguma e conforme os
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direcionamentos que lhe deram seus operadores espirituais. Mesmo as manifestações atreladas aos aspectos mais
baixos e rejeitados da moralidade encontram um vasto campo em que se manifestarem. Toda transgressão de
natureza sexual, inclinações vingativas, imoralidade e obtenção de toda sorte de favores e poderes por meios
ilícitos e degradantes podem ser manipulados.
Tudo é possível na Quimbanda Pura. Matar, impelir ao suicídio, inverter a sexualidade, obter o amor de
quem quer que seja irresponsavelmente, arruinar famílias inteiras, levar o indivíduo a perda total de seus bens e
de seus valores; interferir diretamente em todos os aspectos da existência, enveredar uma pessoa nos caminhos
sem retorno dos vícios e da luxúria mais desequilibrada. Se é para o bem unicamente de quem procura, não são
impostos limites, sendo as relações estabelecidas através de pactos que podem envolver inúmeras possibilidades e
terem um custo espiritual e pessoal bastante elevado.
Assassinos, enganadores, bandidos de toda sorte, corruptores, contrabandistas, malandros aproveitadores,
enfim, pessoas com índole questionável constituem os “tipos” preferidos pelos Espíritos atuantes na Quimbanda
Pura e esses se encontram atrelados uns aos outros unicamente pela Lei das Afinidades manifesta em seus mais
diferentes graus.
No mesmo segmento, os Espíritos femininos que se manifestam também à sombra das Pombas-Giras de
Umbanda carregam consigo a centelha de todas as dissolutezas. Atuam por meio de processos de natureza sexual
verídicos, onde instauram a relação direta entre si, o mediador e o escolhido, tudo pela Lei das Afinidades.
Escolhem o caminho dos desregramentos, da sexualidade desenfreada, dos gostos exacerbados pelas práticas
mais estranhas, fazendo questão de deixarem claros os seus intentos. No campo das questões de cunho
emocional e sentimental são habilíssimas em suas movimentações, conhecendo com maestria os processos de
manipulação das diferentes correntes energéticas em seus níveis frequenciais mais diversos.5
Tanto os Exus da Quimbanda Pura quanto aqueles da Quimbanda de Lei são reconhecidos pelo aspecto
central de suas personalidades: a capacidade de penetrar no mais profundo do indivíduo. De fato e sem
exagerações, quando atuantes por meio de aparelhos treinados, tudo sabem, não existindo segredos que não se
façam descobertos diante dos mesmos.
Aqui encontramos uma contradição. Embora seja dito que a mentira é premissa dos Espíritos levianos e
traiçoeiros, as Entidades atuantes na Quimbanda fazem questão de exporem todas as verdades por mais
dolorosas e absurdas que sejam. A experiência com um Espírito autêntico de Quimbanda é assustadoramente
reveladora e desconstrutora, seja para você, seja para as verdades e aspectos que abarcam.
São cinicamente astutos e ardilosos. Espantadoramente conhecem inúmeras fórmulas e magias, alcançando
um resultado muitas vezes surpreendente mesmo quando atuantes pelo aspecto benéfico, se assim podemos nos
referir. Jamais fazem distinção entre aqueles a quem devem prestar qualquer “favor”. Todavia, por afinidade
energética, preferem a presença de pessoas com índole semelhante. Mesmo nos processos de incorporação ao
interno dos Templos de Umbanda, quando são chamados para atuarem em diferentes processos, esses Espíritos
sempre escolhem os aparelhos mediúnicos pela afinidade direta com sua energia.
Em razão das esferas de atuação que movimentam, dos pactos que instauram com outros Espíritos, dos
fluídos e energias que desprendem na execução de suas manipulações magísticas, da necessidade de manterem o
tônus vibratório de seus próprios Corpos Espirituais por meio dos elementos densos desprendidos das bebidas,
do fumo, das relações sexuais, de diferentes substâncias alucinógenas, do sangue e dos fluídos corporais, esses
Espíritos jamais “trabalham” sem pagamento.

5 Mediadores mais velhos devem se recordar da novela Carmem, transmitida pela extinta Rede Manchete no início dos anos
noventa, onde o pacto com uma Pomba-Gira de Quimbanda se tornou o tema central da trama. A fins de comparação, os
mediadores poderão recorrer aos vídeos sediados no Youtube “Carmem – O pacto com a Pomba-Gira”, pois são bastante
elucidativos.
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São inteligentes, já que o pagamento instaura uma relação direta; um aspecto promissório; uma “troca” de
favores; uma relação de dependência entre Espírito e indivíduo. Na mesma direção, o não cumprimento dos
acordos eclode em sanções graves e punições agressivas. As afinidades obscuras, egoístas e sombrias instauram
as relações; a Lei permite porque ativará seu aspecto punitivo e retificador. Com a Quimbanda Pura não existe
Caridade. Essa palavra é desconhecida. Existe apenas a necessidade e a vontade. Aqui os fins sempre justificam
os meios, por mais hediondos que sejam.
Tanto a Quimbanda Pura, Esquerda Absoluta, quanto aquela “De Lei” têm o poder de romper com as
tradições. Quebram as normas; colocam as regras e leis em questionamento e promovem qualquer mudança que
esteja ao seu alcance. Tudo aquilo que ultrapassa os limites e contraria a moral, a ordem, o socialmente aceito, a
Quimbanda movimenta. Dessa forma, não é de se estranhar que sejam considerados Espíritos perigosos,
temidos e dos quais devemos manter certa distancia cautelosa por pura precaução.
Gerando uma aura sinistra em torno de si, o que finda por ser ressaltado pela tendência rotuladora dos
próprios adeptos da Umbanda (muitos excessivamente cristianizados e com um olhar focado apenas em uma
direção), o que passa a ser ressaltado pela falta de conhecimento acerca dos argumentos que apresenta e seu
envolvimento direto com o Plano das Sombras, a Quimbanda provoca distanciamento, receio, curiosidade e
preconceito, sendo muito raro encontrar um Templo que lide com suas manifestações mais puras e desprovidas
das já conhecidas vinculações com os ritos de descendência africanista, mas sobretudo com a Umbanda.
Na mesma direção, não devemos deixar de aludir às crendices espetaculosas e permeadas por alegações
fantasiosas, como a insistente afirmação da presença de Lúcifer e Beelzébu como Supremos Senhores da Linha
que atua por dentro das fileiras da Umbanda; a correlação já ultrapassada dos seus Exus (Quimbandeiros) com os
Demônios da Goécia; aos excessos deliberados que aprova; à sua própria conceituação sobre Bem e Mal e seu
forte apelo ritual, aliado muitas vezes a um sensacionalismo barato, corrupto e mercantilista, levados a cabo por
indivíduos escusos e que se valem dos desejos mais atordoados daqueles que lhes procuram.
Em se tratando das conceituações carecidas de um maior cunho elucidativo e estabelecidas pelos adeptos da
Umbanda, erroneamente todo Terreiro que inicia suas Giras após a meia-noite, que utiliza velas negras,
miniaturas de caixões, bonecos de tecido ou cera, realiza sacrifícios animais e alega praticar aquilo que
denominam Mal, passa a ser rotulado ingenuamente como Quimbanda.
À exceção dos sacrifícios, a Umbanda em seu contexto magístico se vale, em muitas ocasiões, dos mesmos
elementos adotados pela Quimbanda, ainda que manipulados em polaridades e fins contrários, porém
possuidores do mesmo significado. Na verdade, a Quimbanda resulta num território carregado por certa
importância e que interessa à própria Umbanda demarcar em suas fronteiras e defendê-lo com certa atenção
dispensada.
Isso, não somente a fim de sustentar sua imagem de Doutrina voltada apenas à prática do bem e da
caridade, mas também em razão dos processos que abarca em relação aos sistemas de evolução com que se
encontra largamente envolvida e por meio dos quais são beneficiados milhares de seres encarnados e
desencarnados, sejam pertencentes ao Plano da Luz ou àquele das Sombras.
Existem, no entanto, interesses bem maiores entre a Umbanda e a Quimbanda, os quais beneficiam
diferentes segmentos e Forças Espirituais, especialmente em se tratando das Hostes de Evolução. Se de fato
existe um segmento de natureza espiritual em que a máxima “Nada se perde, mas sim, se aproveita”, pode ser
aplicada, esse segmento é a Umbanda, ou antes, a Confraria dos Dragões do Oriente, ao interno da qual se
encontra sediada e que, como sabemos, é muito maior e complexa em se tratando de seu aspecto puramente
Astral, ou seja, relativo às Esferas Espirituais.
Nesse processo, em realidade, por mais que estejamos sendo beneficiados enquanto mediadores pelos
aspectos ajustadores da Lei, somos apenas contempladores daquilo que desconhecemos. Muita coisa se encontra
escondida por detrás de tudo isso. Muita coisa mesmo, sendo lícito calarmos diante de certas argumentações,
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especialmente porque tudo aquilo que nos foi imposto como crença, não somente em relação à Umbanda, mas
abrangendo um todo em matéria de religião e religiosidade, pode ter sido o que era necessário sabermos
enquanto criaturas encarnadas, ainda que a realidade em muitos pontos seja absolutamente diversa.
Mas o processo foi bem elaborado ao longo dos dois últimos milênios. As convicções inflamadas que foram
prescritas pelas Inteligências Espirituais e absorvidas por nossos Espíritos de maneira pungente foram muito
bem aplicadas. Melhor mesmo é você continuar a acreditar na autenticidade absoluta do livre arbítrio, da
liberdade e da evolução segundo os modelos que te foram ensinados e repassados.
As afirmações acima não devem provocar nenhuma exclamação ou abrir lacunas desnecessárias, sendo
preciso que um mediador interessado nas diferentes vertentes do conhecimento espiritual deixe de lado as
tendências ao pieguismo crítico e rotulador, procurando compreender, ao invés de rechaçar certos ensinamentos,
tratando-os como primitivos, hediondos, trevosos e lúgubres, interessando-se de fato pelo propósito das
manipulações em que os mesmos são empregados.
Assim, bonecos, caixões em miniatura, velas em formato de pênis, fitas negras, caveiras de gesso, aranhas,
morcegos, escorpiões, serpentes, restos de caixões e pregos oriundos dos mesmos, mortalhas, terra de cemitério,
ossos de animais e tantos outros “suportes magísticos” de simbolismo e natureza vibratória mais densa e
erroneamente creditados apenas ao contexto da Quimbanda, não devem se converter em elementos de crítica,
rejeição ou espanto algum, devendo-se conhecer primeiramente a sua utilização nos processos de “desmanche”,
mesmo em relação à Umbanda, para que em seguida opiniões sensatas sejam emitidas com conhecimento de
causa.
Mas em se tratando da Quimbanda Pura, da Esquerda, poucos são os que de fato tiveram a oportunidade de
conhecer um Terreiro autêntico, genuinamente controlado por expoentes da Escuridão, por antigos feiticeiros
africanos (os Gangas) e onde os Exus de Quimbanda (não confundir com aqueles da Umbanda), muito exigentes
quanto ao gosto, procedência e refinamento dos materiais que manipulam, num verdadeiro processo de
“tomada” de seus Cavalos produzem toda sorte de fenômenos.
Veem-se então orientações onde os mediadores quase sempre envoltos num estado de transe complexo (a
Quimbanda alcança esses resultados), muito próximo da possessão e com alterações visíveis de suas consciências
sobem em tábuas cravejadas de pregos, rolam em cacos de vidro, envolvem o corpo com arame farpado e
espinheiros, sentam gargalhando em montículos de brasas vivas sem se queimarem, engolem diferentes objetos
cortantes, atravessam punhais de um lado ao outro do peito de seus aparelhos e trespassam-lhes as mãos com
pedaços de arame, ao mesmo tempo em que consomem sangue com cachaça e comem carne crua, quase sempre
obtida dos sacrifícios que executam ali mesmo, na frente de todos os presentes, degolando o animal com os
próprios dentes e sorvendo-lhe os fluídos ainda quentes.
Essa é a Quimbanda Negra e Pura; aquela que utiliza sangue humano e cadavérico em suas operações; que
abre sepulturas e caixões para depositar ali seus enfeitiçamentos; que esconde fotos e objetos pessoais de suas
vítimas dentro dos restos mortais recém sepultados; que conhece os segredos autênticos do enfeitiçamento pelo
sapo e pela serpente; que utiliza fluídos corporais de toda espécie, pertençam esses aos vivos ou aos mortos; que
não conhece certos escrúpulos, que desrespeita o sagrado, profana altares e segue a índole nefasta encerrada na
natureza de seus verdadeiros praticantes, fazendo pouca importância se os pedidos que estão prestes a atender
resultam em bem ou mal, desde que os “acordos”, pagos sempre em condensadores, sustentadores e
catalisadores energéticos sejam mantidos. Isso é Quimbanda Autêntica, negra e rara.
Mas a “Lei da Esquerda” é sábia e encontra em todos esses processos uma forma de ajustar débitos, de
sanar comprometimentos sérios que muitas vezes somente podem ser resgatados pela “queda” de seus próprios
praticantes. Pela exposição gradual às mortificações físicas levadas a cabo pelos Seres Espirituais atuantes (alguns
deles encarregados somente de tais processos); o esgotamento da energia vital, o chafurdar cada vez mais
profundo nas Esferas Inferiores e a implacável reação ajustadora da Lei, que tolhe ao Espírito e ao aparelho seus
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créditos e o direito de reclame, a conscientização vai sendo alcançada, mesmo que a despeito de muito sacrifício
por parte dos Guardiões e quase sempre após o desencarne do indivíduo.
No entanto, o contraste evidente surge quando vemos os Exus de Umbanda executarem muitas das ações
acima, especialmente se a situação com que estão lidando no momento requerer a ativação e a manipulação de
cargas violentas, determinadas pelo impacto que provocam nas Esferas Física e Astral, a colocarem um fim
definitivo em demandas pesadas, consideradas indestrutíveis e inquebrantáveis, como trabalhos de morte por
feitiçaria, maldições que acometem famílias e que se estendem por gerações, malefícios que se tornam incuráveis,
ruína reportada em todos os aspectos da vida do vitimado, suicídios e homicídios impelidos por intermédio de
práticas obscuras.
A esse propósito, devemos reconhecer sem melindres que os Exus de Umbanda fazem aquilo que é
necessário e não o que consideramos certo ou que se encaixa dentro das convicções pessoais de cada um. Diante
de um processo de desmanche, nossa opinião e menos ainda, o nosso sentimentalismo religioso, ético e às vezes
moral, conta de fato. Faz-se aquilo que deve ser feito. Como nos dizem os próprios Exus: “Sua convicção não
penetra na Magia e não faz sapo coaxar. Sua razão como o galo muito alto canta, mas não conseguirá te salvar se
um nó em um prego eu der”.
É então que surgem por parte dos mediadores supostamente mais “evangelizados”, as indagações e
interferências cansativas a respeito do modo como são conduzimos determinados trabalhos, como opinar sobre
qual Linhagem poderia ter sido evocada; se havia a necessidade da utilização desse ou daquele material; se os
procedimentos não poderiam ser menos agressivos e mais “espiritualizados” e assim sucessivamente, numa
tentativa de relegar certos processos ao plano das manifestações grosseiras, não sem antes tentar, pelas velhas e
batidas argumentações, impor seus pontos de vista individuais, sempre circundados pela extensa luz que emanam
enquanto mediadores. No dizer dos próprios Exus: “Dá-me um coco e eu só posso te fazer ver o que tem
dentro quebrando-o ao chão ou te escondendo dentro dele”. Quem quiser que compreenda.
A Quimbanda tanto em sua ramificação da “Esquerda Pura” como da “Direita”, resulta numa Linha
autêntica, organizada e estruturada, estando inclusive abarcada pelas Hostes de Evolução, afirmação adversa ao
que se poderia supor, especialmente pelo fato da sua inclinação espiritual seguir uma tendência contrária ao que
se consideraria um processo de natureza evolutiva.
Assim, devemos também deixar de acreditar que a Lei existe apenas em razão do Bem e unicamente pelos
seus propósitos e rogativas, lançando por terra a tendência a crer que somente um lado é beneficiado pela Lei
Maior, quando o argumento é a transição do Plano das Sombras para aquele da Luz. “Se a Lei é justa, não pode ter
dois pesos nem tampouco duas medidas, ainda que as partes pesadas se apresentem diferentes apenas em suas vestes. Um esquadro
não pode ter um lado maior ou menor que o outro.” (Sr. Exu caveira).
Muito contrariamente, podemos afirmar com absoluta convicção que a Escuridão é muito mais amada pela
Luz que a própria Luz. E aqui não estamos falando apenas em Misericórdia Divina e muito menos na capacidade
da Luz em reconhecer a necessidade de estender o auxílio aos “pecadores” e suas quedas. Falamos também de
reconhecimento e sustentação de interesses de ambas as partes envolvidas.
Dessa forma, para iniciarmos a compreender essas relações, sobretudo no que diz respeito à Quimbanda,
que se revela como nosso foco nesse presente estudo, devemos conceber a existência de suas diferentes
ramificações, estejam abarcadas ou não pela Umbanda e atuando ou não por intermédio das práticas sombrias,
diferenciando cada uma delas segundo suas manifestações e processos que envolvem. Caso contrário,
incorreremos no erro da rotulação e da ignorância espiritual, tomando uma ânfora apenas pelo seu aspecto
externo e não pelo seu conteúdo interno. “Vinhos mais velhos em odres novos”, já diziam os antigos.
Uma “Linha” pode ser compreendida como um agrupamento de Espíritos reunidos em suas afinidades e
intentos, estando sob a égide de um Comando hierárquico e de Inteligências que lhe ditam o direcionamento e
estruturam seus processos, sejam esses quais forem, pertençam ao Plano da Luz ou da Escuridão. A Quimbanda
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Autêntica (Esquerda Pura) também se desdobra em sete segmentos distintos. A Quimbanda de Lei ou da Direita,
também denominada “Umbanda Menor” expressa Sete Legiões assim como a Umbanda. Contudo, pela regra, os
Orixás não se apresentam como Patronos em nenhuma das duas ramificações.
Símile ao sistema estrutural apresentado pela Umbanda, a Quimbanda estabelece um comando para cada
uma das suas Legiões, as quais inclusive se desdobram em Falanges, comumente denominados “Povos” ou
“Reinos”, donde temos Sete Reinos da Quimbanda Pura e quarenta e nove Povos ou Falanges da Quimbanda de
Lei. Ambas Expressam uma Trindade Mística na qual se fundamentam seus princípios e que denominam
“Maioral”. Possuem um Stema específico, ou seja, um Brasão composto por símbolos bastante expressivos e que
nos revelam ocultamente uma relação estabelecida muito mais com o plano evolutivo da Lei que com aquele da
Escuridão em si.
Detentora de um conhecimento magístico surpreendente, sobretudo em relação às Aligações e composições
entre os diferentes elementos empregados, seus partidários espirituais conseguem manipular determinadas
energias com certa maestria, compondo e decompondo diferentes substâncias energéticas e alcançando um efeito
rápido e preciso em suas movimentações, famosas por lograrem o resultado almejado, desde que as partes
interessadas honrem seus “contratos”.
A Quimbanda Autêntica apresenta um sistema semelhante ao dos Pontos Riscados da Umbanda, valendo-se
inclusive de sinais cabalísticos e assinaturas negras. Estabelece “pactos”, embora esses não visem a Alma do
pactuante, como ingenuamente se crê. No entanto, da mesma forma que a Umbanda e outros segmentos
doutrinários e religiosos erram gravemente ao estabelecerem apenas o comando da Luz, refutando a presença, a
autoridade, o poder e o domínio do Mal em nossa Esfera; exaltando o “antagonismo” e não o equilíbrio
resultante de necessidades e consequências, a Quimbanda erra quando exalta a ação e a reação negativas (obtidas
através de seus mecanismos) apenas como implicações decorrentes de seus processos, não se importando, de
fato, com o direcionamento de todas as partes envolvidas.
A ignorância da credibilidade em um conflito eterno entre trevas e Luz deve ser abolida da mente, assim
como a ideia inocente de que a Luz triunfará sobre a Escuridão, que todo o Mal será lançado no Abismo e que a
Terra será livre de todo pecado e maldade, uma vez que todas as influências Obscuras e malignas reconhecidas
nos Demônios e demais Forças contrárias serão derrotadas.
Porventura, mesmo constituindo uma alegoria revestida de um certo fundamento esotérico, não devemos
nos esquecer que Lúcifer ainda é o “Portador da Luz”; que Satanás é um “Anjo”, ainda que caído, e que não
podemos lidar com a questão do Mal, apenas fazendo de conta que esse se encontra submetido ao poder divino
e que para tanto, basta destruí-lo por meio de palavras e imprecações.
Na mesma direção, não devemos cometer o pecado pernicioso da pretensão e da vaidade espiritual,
alegando que para não sermos atacados pela Escuridão, basta apenas um Espírito vigilante e que se distancia dos
elementos fomentadores de qualquer forma de malignidade. Cuidado! O Mal se apresenta sob muitas facetas e
uma delas reluz como a Luz mais fulgurante, capaz de enganar até o homem mais sábio. Em matéria de
conhecimento espiritual, sensato é aquele que não se afirma em nada e que se crê propenso a tudo. “Tu me
mostras o conteúdo de um grande saco; eu te mostro o conteúdo de um grande saco”, reza a expressão oculta.
Como no Plano da Lei nada é desperdiçado, sobretudo em se tratando de Espíritos com intenções de
retificação, ao invés de proceder com severos processos de natureza punitiva e privativa, as Hostes de Evolução
dão preferência ao “trabalho em campo”. É assim que permitem lenta e gradualmente, num processo bastante
delicado e que envolve inúmeras questões, a inserção e a “conscientização espiritual”, acima de tudo, dos
Espíritos em condições debitórias severas, negando a “danação eterna” como forma de expurgação, o que não
consideram de fato, eficaz.
Esse é um dos processos arquitetados pela Corrente Astral da Umbanda e que causou opiniões divergentes
nas próprias Esferas Espirituais. Em um dado momento do tempo e diante das circunstâncias que se

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apresentavam para milhões de Espíritos sediados nas Paragens Umbralinas e Inferiores, não deixando de
mencionar aqueles que se encontravam encarnados e na condição de Estacionados, decidiu colocar em prática
absoluta, especialmente em se tratando de Espíritos desencarnados, as máximas “Ama teu próximo como a ti
mesmo”; “Faze aos outros o que gostaria que fizessem a ti”; “Perdoe para ser perdoado” e “Ame o ladrão e não
o seu crime”.
Não é necessário dizer que a Escuridão se voltou com toda a sua Força contra tais processos e desde então
tem intimado Espíritos dotados de astúcia e sagaz inteligência, infiltrando-os ao interno de Terreiros em dois
grupamentos distintos: aqueles que incitam Grupos e mediadores despreparados a toda sorte de desajustes,
denegrindo o nome e a condição da própria Umbanda; e aqueles destinados aos Terreiros coerentes, gerando
toda uma série de desajustes ao interno dos mesmos, na tentativa de desarmonizar seus processos e destruir seus
Dirigentes por todos os meios que estejam ao seu alcance.
Esse é um dos motivos pelos quais os Guias Espirituais exortam os Dirigentes a procederem com regras
disciplinares rígidas e muitas vezes inflexíveis, na tentativa de impossibilitarem tais incursões e articulações. É
também o motivo pelo qual agregam partidários legítimos da Escuridão, solicitando sua proteção direta numa
conciliação bastante eficaz e inteligente.
Desconhecedores das realidades espirituais que se descortinam, muitos mediadores em sua ignorância de
conhecimento preferem encarar o conjunto de regras e as imposições de Guias e Dirigentes de uma maneira
incoerente, julgando-as desnecessárias e até excessivas. No entanto, a Espiritualidade não de seixa conduzir em
nenhum instante pelas rogativas pessoas e individuais de qualquer mediador, os quais, estando insatisfeitos,
podem sempre se valer do livre arbítrio e da Lei das Afinidades quando descontentes com a Casa em que estão.
De fato, um dos maiores problemas dos mediadores é aquele de falar demais, conhecer de menos e
melindrar em excesso! Na sua condição, já parou para observar como a Umbanda, suas Linhagens, Falanges,
Plano evolutivo, Exus, Quimbanda, Linhas de Trabalho, Guias, regras, Entidades Estacionárias, Transitantes, Lei
da Esquerda, Lei da Direita, métodos de movimentação, processos de retificação, de socorro imediato, de
auxílio, de desmanche de demandas pesadas, de expurgo, de relações kármicas entre Guias e mediadores, de
doutrinação, de desenvolvimento e conscientização de mediadores, de manipulação direta com outras vidas e
problemas externos advindos de seus pacientes em geral, sejam esses encarnados ou desencarnados é complexo e
estafante, para que opiniões descabidas, conclusões precipitadas, melindres impostos no momento errado e
manhas, muitas manhas sejam externadas por meio do egoísmo descabido de alguns mediadores que querem
apenas ser o centro das atenções ou chamarem toda ela para si? Pense nisso “antes de ficar tocando seus dedos
no mel”. Para finalizar, valendo-se dos dizeres de um ditado de Exu: “Recorde-se que a abelha quis que seu
veneno fosse mortal. Então Exu providenciou para que o veneno fosse primeiro mortal para ela mesma”.

Continua - Dissertação Sobre a Linha da Quimbanda – II

Flávio Juliano:.
Dirigente

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