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Um dia na vida simples de Salomão Grande

KLEIN, Jailson. Um dia na vida simples de Salomão Grande. Campo Grande, MS:
Life Editora, 2012. 262 p.

Francisco Miguel de Moura Júnior1

Jailson de Sousa Silva, pseudônimo Jailson Klein, nasceu em 17 de abril de 1970


em Santo Antônio de Lisboa (PI). Têm publicados os livros Invisíveis Pensamentos
(2003), antologia de contos em parceria com o escritor Robert Ball, e Rodeador
Literário (2007), antologia de prosa e versos. Formado em Letras (Português e
Lingüística) pela USP. Reside em São Bernardo do Campo (SP).
O romance de estréia de Jailson, Um dia na vida simples de Salomão Grande,
conta a história dos três anos que antecedem a maioridade do capiau Salomão Grande.
Data que coincide com a emancipação do povoado Rodeador, desmembrado do
município de Picos (PI) em 09 de abril de 1964, alterando seu topônimo para Santo
Antônio de Lisboa (PI).
Salomão, ou simplesmente Saló, é um dos dez filhos de Salustiano e Madalena,
todos com nomes bíblicos, dado pela mãe, e sobrenome inventado pelo pai que entendia
“(...) que pra ser gente nessa vida devia de se começar com um sobrenome pomposo”
(pág. 176). Salustiano registrou, então, todos os filhos com o sobrenome “Grande”.
O jovem Saló almejava apenas três coisas na vida: um rádio a pilha, uma roupa
da moda e uma namorada da cidade (Jandira de Antão). Por trás desses desejos simples,
a trama nos revela conflitos existenciais complexos. A maioridade que representava o
começo e o fim de um ciclo: “São outros tempos pra mim e pro Rodeador”, pensava
Salomão (pág. 15), simbolizava também um basta às suas angústias.
Três anos, três desejos e muitos acontecimentos na vida de Salomão. A mudança
de Ezequiel para São Paulo, a fuga de Zacarias após ter matado Teoberto Medeiros em
vingança ao assassinato de Jacó, Isaias sempre distraído nas leituras, o casamento de
Josué e das irmãs Judite, Ester e Sara deixaram um vazio e muita saudade: “Tenho
saudade desse tempo, todo mundo dentro de casa, gente pra lá, pra cá.” (pág. 113), só
interrompidos pelos seus sonhos.
Jailson faz um tributo à sua terra, à sua gente. Faz história e ficção. O próprio
autor explica em nota:
Esta é uma obra de ficção. As principais personagens do
romance foram criadas livremente por mim e não representam
intencionalmente nenhuma pessoa real. Apesar disso, muitos
moradores reais do povoado da época em que se passa a trama
tiveram seus nomes citados, mas a menção intenciona
unicamente buscar na vida real mais um elemento de
reconstituição histórica do período retratado, sem que tenha
sido proferido qualquer juízo de valor sobre essas pessoas, seja
sobre seus caráteres, seja a respeito de suas vidas particulares.
(grifo nosso)

1
Francisco Miguel de Moura Júnior. Graduado em Direito (UFPI). Pós-graduado em Direito Eleitoral
(UNISUL/SC), Direito e Direito Processual do Trabalho (UNIDERP/MS), Pós-graduando em Formação
de Professores para a Educação Superior Jurídica (UNIDERP/MS) e graduando em Ciências Contábeis
(FAP Teresina).
Mas o que existe de real e o que há de ficção no romance? São apenas memórias
do autor ou de alguma das personagens? Pouco importa. O leitor descobrirá a visão
romanesca da vida simples do trabalhador rural piauiense, seu modo de falar, sua
cultura, o lento amadurecimento do protagonista rumo à superação de seus anseios. Pura
ficção. Mas, também encontrará o real, a emancipação da terra natal do autor: “São
outros tempos pra mim e pro Rodeador, que também vai ter nome novo: Santo Antônio.
Pai nunca vai dizer esse nome na vida dele, ia ser Rodeador pro resto da vida. (pág. 15)
A narrativa se constrói em cores nostálgicas, não só quanto ao espaço, mas
também em relação ao tempo, revelando uma época marcante na vida do autor como
pano de fundo, fazendo, por vezes, referências às minúcias do cotidiano:
Pode ser que Deus me castigue pelo mau agradecimento, por
causa de que de noite vou até quebrar a tigela de minha calça
Tropical (...)”; “(...) só se Josué estivesse aqui pra ler as horas
no seu relógio Seiko (...) (pág. 15); “Chegar na cidade, na
frente das moças, todo arrumado, calça de tergal marrom,
camisa xadrez, feitas por tia Firmina, e sapatos, ah, era muito
pra um matuto da serra como eu.”(pág. 18); “Pra beber tinha
Ki-Suco pra mulheres e meninos, e cachaça pura, queimado de
Pitu com Cortezano, São João da Barra, pros cabras machos,
assim do meu porte.” (pág. 187). (grifo nosso)
É preciso cautela ao apreciar esse ponto para não incorrermos no risco de dar
mais importância do que a própria trama nos oferece. Ademais, o pormenor somente
adquire significação se cotejado com os demais elementos encontrados numa
macroanálise total da obra, fato que foge aos objetivos dessa resenha.
Jailson constrói um romance monofônico, com muitas personagens secundárias,
e monta o enredo de forma a permitir a coexistência de duas formas de ação: a externa e
a interna. A ação interna se passa no consciente e subconsciente de Salomão e se
sobrepõe à externa, ainda que repleta de fatos reais ou não, mas verossímil ao mundo
ficcional posto pelo autor, tanto que reconhece em nota: “Tomei a liberdade de alterar
a cronologia de alguns poucos eventos no romance, com o propósito de melhor
concatená-los no plano geral da trama narrativa.” Resumindo: a ação externa pode até
não ser verdadeiro perante os fatos históricos, mas são verdadeiros perante o mundo
reinventado pelo autor, portanto, necessários.
A trama tem uma aparente intensidade em razão dos sucessivos cortes no qual o
ficcionista transita do presente para o passado, do real para a fantasia da personagem.
Essas passagens são construídas para preservar a densidade dramática. Assim, o
romance escrito em 19 (dezenove) capítulos, alterna entre dois planos cronologicamente
simétricos: presente e passado. Nos dois planos, contudo, prevalece o nível de
relacionamento social do protagonista; a percepção de um mundo complexo a partir de
sua existência simples.
O romance destaca apenas um aspecto: a maioridade do personagem central –
Salomão, que coincide com a emancipação do município onde reside. Assim, toda
atenção do leitor será canalizada para essa data, que simboliza transformação. Desse
modo, o universo humano e o contexto sócio-político, importantes para a
contextualização da trama, tornam-se mero pano de fundo para as passagens saudosistas
da personagem central, o que sugere as intenções memorialistas do autor.

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