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KLEIN, Jailson. Um dia na vida simples de Salomão Grande. Campo Grande, MS:
Life Editora, 2012. 262 p.
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Francisco Miguel de Moura Júnior. Graduado em Direito (UFPI). Pós-graduado em Direito Eleitoral
(UNISUL/SC), Direito e Direito Processual do Trabalho (UNIDERP/MS), Pós-graduando em Formação
de Professores para a Educação Superior Jurídica (UNIDERP/MS) e graduando em Ciências Contábeis
(FAP Teresina).
Mas o que existe de real e o que há de ficção no romance? São apenas memórias
do autor ou de alguma das personagens? Pouco importa. O leitor descobrirá a visão
romanesca da vida simples do trabalhador rural piauiense, seu modo de falar, sua
cultura, o lento amadurecimento do protagonista rumo à superação de seus anseios. Pura
ficção. Mas, também encontrará o real, a emancipação da terra natal do autor: “São
outros tempos pra mim e pro Rodeador, que também vai ter nome novo: Santo Antônio.
Pai nunca vai dizer esse nome na vida dele, ia ser Rodeador pro resto da vida. (pág. 15)
A narrativa se constrói em cores nostálgicas, não só quanto ao espaço, mas
também em relação ao tempo, revelando uma época marcante na vida do autor como
pano de fundo, fazendo, por vezes, referências às minúcias do cotidiano:
Pode ser que Deus me castigue pelo mau agradecimento, por
causa de que de noite vou até quebrar a tigela de minha calça
Tropical (...)”; “(...) só se Josué estivesse aqui pra ler as horas
no seu relógio Seiko (...) (pág. 15); “Chegar na cidade, na
frente das moças, todo arrumado, calça de tergal marrom,
camisa xadrez, feitas por tia Firmina, e sapatos, ah, era muito
pra um matuto da serra como eu.”(pág. 18); “Pra beber tinha
Ki-Suco pra mulheres e meninos, e cachaça pura, queimado de
Pitu com Cortezano, São João da Barra, pros cabras machos,
assim do meu porte.” (pág. 187). (grifo nosso)
É preciso cautela ao apreciar esse ponto para não incorrermos no risco de dar
mais importância do que a própria trama nos oferece. Ademais, o pormenor somente
adquire significação se cotejado com os demais elementos encontrados numa
macroanálise total da obra, fato que foge aos objetivos dessa resenha.
Jailson constrói um romance monofônico, com muitas personagens secundárias,
e monta o enredo de forma a permitir a coexistência de duas formas de ação: a externa e
a interna. A ação interna se passa no consciente e subconsciente de Salomão e se
sobrepõe à externa, ainda que repleta de fatos reais ou não, mas verossímil ao mundo
ficcional posto pelo autor, tanto que reconhece em nota: “Tomei a liberdade de alterar
a cronologia de alguns poucos eventos no romance, com o propósito de melhor
concatená-los no plano geral da trama narrativa.” Resumindo: a ação externa pode até
não ser verdadeiro perante os fatos históricos, mas são verdadeiros perante o mundo
reinventado pelo autor, portanto, necessários.
A trama tem uma aparente intensidade em razão dos sucessivos cortes no qual o
ficcionista transita do presente para o passado, do real para a fantasia da personagem.
Essas passagens são construídas para preservar a densidade dramática. Assim, o
romance escrito em 19 (dezenove) capítulos, alterna entre dois planos cronologicamente
simétricos: presente e passado. Nos dois planos, contudo, prevalece o nível de
relacionamento social do protagonista; a percepção de um mundo complexo a partir de
sua existência simples.
O romance destaca apenas um aspecto: a maioridade do personagem central –
Salomão, que coincide com a emancipação do município onde reside. Assim, toda
atenção do leitor será canalizada para essa data, que simboliza transformação. Desse
modo, o universo humano e o contexto sócio-político, importantes para a
contextualização da trama, tornam-se mero pano de fundo para as passagens saudosistas
da personagem central, o que sugere as intenções memorialistas do autor.