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Sonetos

e
contos
do
macabro
Ψ

JERRY
DANDRIDGE
2017
A Mansão da
meia noite

Os acontecimentos sobrenaturais às vezes são


taxados de simples quimera. Algo que não se dar
valor algum. Mas a experiência e o estudo de homens
sábios, provou que realmente existe algo além do
materialismo*. Um paciente da qual colhi uma
excêntrica História, agora jaz morto. Pelo que
constatei, uma enfermidade aguda assolou seu
intelecto, o tornando um vegetal. Mas antes disso,
esse paciente foi um célebre homem da ciência. E o
que mais me causava remorso era saber que um dia
esse homem, foi meu amigo. De aparência austríaca,
cabelo Penteado de lado, e olhos cinzas, como um
coiote do Oeste. não pude acreditar que meu amigo,
jazia em uma cela suja de um asilo para loucos.
Devo-e-i

1
admitir que em minha primeira análise, o achei caso
perdido. Mas havia em seu olhar algum resquício de
sanidade. Conversamos algumas vezes, até arrancar
dele uma louca confissão. Quiçá ser realmente
loucura de sua mente delirante. Ou talvez seja
verdade. Não podemos de maneira alguma duvidar do
sobrenatural. E quem seria deus se não houvesse o
culto sobrenatural a ele? Por isso escrevo agora o
relato de meu paciente, e sobretudo amigo:

“Era uma noite de 1845. Como era de costume


em sua família, e suponho ser em outras; o
primogênito regressaria mais uma vez ao lar; para
poder entrar em comunhão. E foi nessa fatídica
noite de dezembro, que nosso amigo passava com sua
carruagem por uma estrada inóspita. A neve cobria
quase toda a tíbia dos cavalos, e o cocheiro tremia
de frio, mesmo com um casaco de urso.

Nosso amigo estava bem aquecido dentro de sua


carruagem, (que posso comprovar ser uma das mais
sofisticadas que já vi). Folheava um livro de
poemas de Coleridge*, O velho marinheiro. Viajaria

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a noite toda por dentro da imensa floresta que
circundava Londres. Sua família era muito
excêntrica, tal como nosso amigo. E haviam
adquirido um costume um tanto gótico de vida. Não
digo que viviam como no conto de Horace Walpole*,
mas circulou boatos de pessoas influentes que a mãe
de nosso amigo, era descendente de uma antiga bruxa
de Salem.

Não digo que esses pormenores vão justificar


os acontecimentos a seguir, mas acho puramente
lógico que alucinações são criadas por
superstições. E ele nasceu no meio disso. Uma mãe
que supostamente vendera a alma ao diabo, um pai
alcoólatra que violentou sua filha, e de casos
terríveis de assassinato. Não achem que nosso amigo
chegou na mansão de sua família, pois o inverno
estava violento nesse ano, e mais que sua carruagem
fosse sofisticada, a natureza sempre ganha. O
cocheiro abruptamente para, quando uma nevasca
hedionda se joga sobre a carruagem. O vento
uivava como lobos, e a floresta encolhia-se,
entrelaçando seus galhos anémicos e quebradiços.

Parecia que a carruagem padecera sobre o


solo. Os cavalos foram em imediato ceifados pela

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morte. Caindo um em cima do outro. O cocheiro, que
era corpulento, ficou de olhos esbugalhados ao ver
tamanha violência que a natureza causara aos
animais. Nosso amigo estava inquieto desde o começo
da viagem, e piorou mais ao ver que não estava em
movimento. Abriu a janelinha, e um hálito gélido o
acaricio a face. Pôs a cabeça para fora e brandiu:
- O que diabos estar acontecendo? – Perguntou. – O
cocheiro demorou a responder, pois estava em estado
de letargia total.

-Desculpe-me senhor, mas acho que não


sairemos daqui até o amanhecer.

- O que estar dizendo homem. Perdeu as


faculdades mentais? Como assim não sairemos daqui?

- Os cavalos morrerão de frio, meu senhor.


Devo lhe informar que tinha lhe dito, que essa
empreitada logo no inverno não acabaria bem.

-Ora homem, eu tinha calculado tudo, como


saberia que essa nevasca aconteceria. – Nosso
amigo, que daqui em diante vou chamá-lo de
Manfred*, será atacado brutalmente por coisas que
até agora faz-me ter calafrios. Manfred, muito
observador, deduziu que o cocheiro estava ébrio, e

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que por isso seria o causador de tanto infortúnio.
Como qualquer nobre, andava sempre armado.

Trazia com ele uma pistola de duelo, muito


bonita à propósito, pois era ladeada de pedras
preciosas. O cocheiro pensou em se aquecer dentro
da carruagem. Porém, Manfred estava esfaimado e com
frio. Queria encontrar um local para passar a
noite. Uma taberna, uma vila de camponeses.
Qualquer lugar a onde pudesse ter fogo, conhaque, e
um bom prato de sopa quente.

-Eu me recuso a sair daqui. –Disse ferozmente


o cocheiro. Estava com o aspecto fractal. Como se
uma hora fosse ele, e em outra fosse um possesso
pelo demônio.

-Você estar despedido. Entendeu seu javali?


Se quiserdes morrer aqui, ficai, mas eu não vou me
submeter a um mero empregado.

-Já aguentei demais suas injúrias. Ouviu seu


idiota. Trabalho para o senhor desde que é uma
criancinha de colo. Sempre foi um menino
desobediente e perverso. Lembro-me muito bem o que
seu pai lhe deu ao completar quatorze anos; uma
rameira leitosa. – O rosto do cocheiro ficou roxo,

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e uma leve tontura o fez padecer no chão. Estava
lânguido, nada mais o importava. Apenas que o ser
repulsivo de mão esqueléticas e olhos de fogo, o
levasse de uma vez por todas. – E sabe quem era a
rameira? –Perguntou ainda em seu último linear de
força. –Manfred não o olhou nos olhos, pois sabia
de quem estava falando. –Era minha filha, e você
sabia. Sabia e continuo aquele ato horrendo.

-Você deixou que acontecesse, então não me


diga que foi culpa minha. Ela já era rameira a
muito tempo. – Decerto, o ímpeto do pobre homem
foi estrangular Manfred, mas o coitado já estava
exaurido de suas forças físicas, e padeceu com o
rosto na neve. Manferd olhou mais uma vez o criado
antes de desferir um tiro certeiro em seu cocuruto.
Cabelo e miolos se misturarão na neve branca.
Tingindo o chão de um escarlate vivo e quente. Para
ter certeza da morte, disparou de novo, fazendo a
cabeça explodir por completo.

-Pobre homem, que descanse em paz. –


Mesmo estando na carruagem boa parte da viagem,
sentia uma dormência lhe recair sobre todo o

corpo. Estava fadado ao mesmo destino do


cocheiro, se não encontrasse logo um abrigo.

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Ψ

Adentrando a floresta densa e escura, tentou não


tropeçar em alguma pedra escondida na neve. Até uma
simples depressão poderia fazê-lo cair feio no
chão. Por isso tomou bastante cuidado. Procurando
sempre alguma trilha que o levasse para fora
daquela floresta. Entre uma andada e outra
percebeu algo. Ou alguém. Não estava com
discernimento de observação apurado, e era provável
que fosse um simples galho; que às vezes nos prega
alguma peça, nos fazendo ver algo que não é. A neve
em demasia e a escuridão, incentivava a Imaginação
a voar solta.

Deu uma longa olhadela; deixando os olhos


entreabertos. Queria ter certeza que não era uma
aparição, (algo que definitivamente ele não
acreditava até agora), caminhou alguns passos.

Havia uma cavidade entre duas árvores que se


entrelaçavam como dois apaixonados. Desse nicho,
existia uma trilha que serpenteava até desaparecer
em uma elevação. Por estar familiarizado com
mansões, deduziu que naquele topo residia uma.

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Começou a andar até o topo. Chegando em seu cume,
desabou por um instante, como se tivesse chegado ao
topo de uma íngreme e terrível montanha. Arqueou a
cabeça e viu que porventura suas indagações estavam
corretas. Levantou-se e continuou seu trajeto a uma
antiga propriedade. Como ele me descrevera, a
mansão era quase colonial. Havia um enorme muro que
rodeava toda a extensão da propriedade. Cobria
quase 10 hectares de terra. Nunca havia notado. Era
bem lógico. Já que só viajava por essa estrada no
natal. E sempre a noite. A lua cortou a escuridão
revelando um enorme portão. Galhos secos circundava
aquele portão enferrujado, porém muito resistente.
Um enorme arco pendia das duas extremidades do
muro.

Manfred tentou ler uma Inscrição que estava


entalhada no arco, mas a visibilidade era terrível.
Percebeu apenas um brasão. Entalhado nele havia um
elmo, e acima dele um dragão enroscado. Por ser um
homem de sapiência elevada, deduziu ser de uma
família nobre e muito antiga. Quase escandinavos,
pensou. Ia desistir de entrar, pois pensava que o
Portão estava selado.

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Sorte a dele que antes de se virar para buscar
outro abrigo, o portão abre-se como em um passe de
mágica. Um som apavorante de dobradiças
enferrujadas gera um calafrio quase sobrenatural em
Manfred. Ele vira-se lentamente, e ver o portão
meio aberto, o convidando a pernoita naquela
mansão, que mais se assemelhava a uma boca
demoníaca. Manfred andejou para dentro da
propriedade. Uma quietude opressora atacou o
coração de nosso amigo. Atacou de uma forma da qual
não posso descrever em palavras. Sua face mudou de
uma forma, que por um instante pensei que eu que
estava louco. Não sendo muito habituado com a
botânica, devo admitir que meu amigo explicou de
forma científica os nomes das árvores que
circundavam o território. Dentre elas a fagus, que
posteriormente descobrir ser a faia. Uma belíssima
árvore. Troncos longos e folhas amareladas. Mas o
clima temperado do Sul às deixou rústicas e de
aparência fantasmagórica. Manfred locomoveu-se tão
rapidamente, que nem percebera o cemitério da
família a alguns metrôs da casa. A casa era rodeada
de lodo e trepadeiras. Janelas tão escuras, que nem
a luz da noite dava possibilidade de ver algo.
Tijolos amarelados e de aparência desgastada. Não

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quis ponderar muita coisa, seu desejo era entrar na
mansão. Subindo a escadaria, uma leve brisa oprimiu
o coração já latente de nosso amigo. Olhou por cima
do ombro, mas não viu nada. Continuou até chegar na
porta principal. A porta principal era de uma cor
escura. Era como se ela tivesse sido queimada e
depois pintada. Mas não era queimadura, era um
enegrecido vivo. Bate na porta, mas apenas houvesse
ecos reverberando de dentro para fora. Tenta uma
segunda vez. O som do silencio é sua única
resposta.

-Não vou ficar aqui fora. Se a porta estiver


aberta entrarei. Depois deixou algumas libras. –
Nesse intuito, rodou a pesada maçaneta, e sem muito
esforço a porta abriu-se com um rangido.

-Olá!!! Alguém em casa?!!!- Vociferou. Nada, apenas


silencio continuo. Não dava para ver nada. Uma
escuridão cortava o ar. Tateou com as mãos o
invisível, a procura de apoio. Lembrou subitamente
que guardava com ele uma caixa de fósforo. Meteu a
mão no bolso e retirou uma pequena caixa. A luz
fraca deu um pouco de visibilidade a Manfred, que
pôde finalmente andar com mais segurança. Em seu
lado esquerdo havia uma cômoda com uma vela em

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cima. A pegou e a acendeu em seguida. Agora via
perfeitamente a mansão. Tinha certeza que não era
habitável, pois o lugar estava em ruínas.

Uma tapeçaria persa cobria a entrada principal


para o andar de cima. Duas escadas que davam no
mesmo lugar, se contorciam como cobras. E abaixo
delas, duas portas. Em seu lado direito havia uma
lareira velha e coberta de teias de aranha. Nela
também havia gravado o brasão da família. A mansão
parecia desabitada. Nem um vestígio de um ser vivo.
Algo havia ocorrido, e Manfred mesmo sendo
corajoso, só queria dormir. Ele acabara de matar um
homem, e nem uma ponta de remorso o abatia. Quando
ele me contara do empregado, e que o matara sem nem
uma compaixão, vir que sua sanidade mental estava
no fim. Ele tornara-se um sádico.

-Alguém ai?!!! -Brandiu uma segunda vez.


Simplesmente nada. Desistiu de encontrar alguém, e
resolveu procurar um aposento para se alojar.

Sem pensar muito Manfred sobe às escadas que dão


para o andar de cima. A luz bruxuleante causava
oscilava de um lado para outro. Uma vez aqui, outra
acola. Escutou um adejar passar por sua cabeça.
Deveria ser morcegos. Um local ideal para esses

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sanguessugas da noite. Percorreu um corredor
exíguo, onde pede perceber algumas pinturas
arabescas. Mas não só do oriente médio. Também
pinturas italianas e francesas.

La madona parecia idêntica, mas tenho minhas


dúvidas que a pouco luz o confundiu. No meio de
tantos quartos, Manfred achou um; que curiosamente
tinha o brasão da família. Rodou a maçaneta e a
tranca abriu. Um odor emanou do aposento, fazendo
Manfred tossi. Retirou algumas teias de aranha e
entrou no misterioso quarto. Era sucinto, porém
aconchegante. Havia no cômodo: uma cama, uma
pequena escrivaninha de carvalho, uma poltrona e
alguns adereços. Tinha uma miríada de papéis sobre
a escrivaninha. Alguns, bem amarelados. Encostou a
vela, e começou a vasculhar os documentos. Algumas
anotações sem sentidos, cartas para diversas
pessoas, e mais alguns manuscritos, que diz nosso
amigo ser de algum tratado mágico. Revistou uma
gaveta, e lá encontrou um livro. Não um livro
normal, mas um diário. Folhando aquele livro, entre
às páginas 15 e 16 encontrou anotações bem
estranhas. Posso dizer que as anotações que serão
mostradas a seguir, são legítimas, pois quando

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encontram nosso amigo ele o agarrava fortemente
junto ao tórax.

O que se segui são essas palavras:

Carta direcionada a madame Klaus. 1813

Nosso querido irmão chegou da França. Napoleão estar em guerra feroz contra
nossa pátria. Ele foi ferido, mas não é nada para se preocupar. Ele me disse que
quando travava batalha contra o exército napoleônico, foi ferido, e ficou em
estado de choque dentro uma floresta perto de malta. Estava com frio, e seu
ferimento no fígado estava necrosando. Ele me disse que angelicamente um
soldado russo o ajudou. Não sei como nosso irmão sobreviveu tanto, mas tenho lá
minhas dúvidas. Os noruegueses são muito resistentes. Ele apenas lembra-se
que o soldado o levou a uma cabana, e lá cuidou dele. Usando unguentos e ervas
medicinais. Não sei se o homem era realmente um soldado, mas assim mesmo
agradeço a ele. Depois que nosso irmão chegou em casa, contou-me que por um
acaso do destino ajudara esse homem. Disse que foi em uma noite. Estava de
vigia, e viu que alguns homens tentavam tirar a vida desse pobre homem.
Usavam estacas de madeira. Armamentos realmente rústicos. Acabou com a
vida dos malfeitores e ajudou o pobre coitado. Esse rapaz agradeceu ao meu
irmão, e disse que estava em débito com ele. Após aquele dia esse sujeito sumiu.

Com carinho Alaster.

A segunda anotação denota mais o sobrenatural:

9 de junho de 1830

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Não sei o que ele trouxe da guerra, mas meu irmão não era mais ele. Sua
aparência estar mudando cada vez mais. Olhos esbranquiçados, pela pálida, e
boca avermelhada. O que é mais estranho é sua repulsa a luz do dia. O que mais
me impactou, e mostrou que meu irmão estava doente, foi que ao tentarmos velá-lo
para fora, um simples toco do raio solar o feriu violentamente. Uma bolha
enorme formou-se em sua pele. Pagamos os melhores médicos do país, mas todos
diziam que ele estava com uma doença misteriosa. Da qual a luz do sol era sua
inimiga. Alguns meses se passaram, e logo notei que meu irmão estava exercendo
uma influência hipnótica sobre todos na casa. De papai até minha filha mais
nova. Devo salientar que era o seu olho. Aquele olho que mais se assemelhava a
de uma coruja. Termino mais um dia sem saber o que acontecerá amanhã. Mais
um dia encoberto em trevas.

Não conseguir mais informações devido ao diário


estar desfragmentado. Eu poderia simplesmente
repudiar aquela narrativa fantasiosa. Poderia taxa-
la de conto do Sr. Poe*. Mas tudo deve ser
estudado, antes de tirarmos conclusões acadêmicas.
Posteriormente escreverei um pequeno tratado a
respeito desse caso. Voltemos ao nosso amigo:
Depois de ler boa parte dos manuscritos, Manfred
resolveu olhar o estado da cama. Esses contos dos
irmãos Green* o dera sono. Tinha encontrado mais
umas três velas. Era o suficiente para uma noite. A
cama não estava tão empoeirada. Algumas aranhas,
fuligem e pó do teto. Não demorou muito e a cama já

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estava pronta. Achava-se extenuado, e não demorou
muito para cair nela. De pouco em pouco seus olhos
pesaram, até que o sono o embalasse como um bebê.
Seria ótimo se fosse só isso. Amanheceria um belo
dia. Com pássaros cantando, e neve caindo, trazendo
o maravilho outono. Não que nosso amigo iria se
importar com pássaros e flores. Mas seria muito
melhor. Dá um sobressalto da cama quando sua
audição capta passos no assoalho. Esses passos
proviam do térreo. Como se mais de uma pessoa
descesse e subisse rapidamente as escadas. Pegou o
revólver e mirou em direção a porta. A mão tremia
igual a de um velho. Transpirava mesmo com o frio.

-Olá!! Tem alguém aí? -Perguntou. -Se vocês acham


que sou ladrão não se preocupem. Sou um nobre
inglês, quase um visconde. Tenho muitas terras e
dinheiro. Se me deixarem ficar aqui, serei muito
grato. E serão recompensando devidamente. – Pensou
que tinham outorgado sua estada ali. Mas não ouvido
nada. Nem uma palavra de negação ou aprovação.
Levantou-se e foi lentamente até a porta. Pousou o
ouvido sobre a porta. Esperava sussurros ou coisa
do tipo. Uma quietude anormal pairou sobre o
recinto. Pensou ter ouvido coisas e dirigiu-se de
volta a cama. Não caminhou muito, e ouviu novamente

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os passos. Virou-se rapidamente com arma em punho.
Já tinha perdido a paciência.

-Olha já disse que sou um nobre. Não precisa


fazer isso. Vou sair e me apresentar. Saiu
cautelosamente do quarto com a arma na mão. Olhou
de um lado a outro.

-O que estar acontecendo nessa casa. Alguém!!!! –


Berrou desta vez para ver o que acontecia. Uma
risota aguda estremeceu por fim as faculdades
mentais do nosso amigo. Estava a ponto de explodir.
O escárnio infantil continuo. Agora sabia que não
era um adulto, e sim uma criança. Provavelmente uma
menina.

-Criança não tenha medo. venha para a luz. -


Realmente agora nosso amigo estava vendo algo. No
fim do corredor podia perceber uma silhueta de
estatura mediana. Uma das janelas refletia uma
fraca luz sobre a pessoa. Viu, ou imaginou ver
olhos vermelhos. Morcegos? Indagou-se.

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-Quem é você? Estar sozinha querida? – Tentou
conversa com a silhueta.

- O senhor quer ver minha família. Eles o aguardam


com muita expectativa.

-Venha para mais perto para que eu possa vê-la.

Achou ter visto passos, mas a silhueta continuava


imóvel. Quase desabou no chão quando uma pequena
mão fria o acariciou. Sem sombra de dúvida era uma
garota. Aparentava ter entre dez a doze anos.
Cabelos louros, mas curto. Olhos verdes, e pele
embranquecida. Analiso para ter certeza que a
menina não estava morta. Ela sorriu para Manfred, e
viu sobre seu pescoço um colar que cintilou a luz
da vela.

-Onde estar os responsáveis, minha querida.

- Segure minha mão. Vou mostre-lhe. Mostrarei de


tudo um pouco. – Manfred que não desconfiava de
nada, e inocentemente agarrou a mão da garota que o
puxou escada abaixo. Ela o guiou por entre entradas
que não havia percebido até agora. Algumas cortinas
esvoaçavam sobre a brisa gélida. Sentiu a adejar

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sobre seu cabelo, mas desta vez não olhou. Estava
curioso para descobrir a onde a garota o levaria.
Não demorou muito, e a menina soltou sua mão.
Parecia que tinha sido hipnotizado, pois quando
olhou a sua volta, percebeu que encontrava-se em um
cômodo totalmente diferente da mansão.

-Já passa da meia noite. -disse a pequena.

-O que tem de importante nisso querida?

- Você não estar ouvindo? Os lobos uivam perante o


lago negro. Fazem sua reverência ao deus pagão da
carne. Você não gosta da carne?

-Querida onde estar os seus pais? Eu quero falar


com eles.

-É claro. É só descer as escadas. - Estava em uma


antiga biblioteca. Não via nem uma escada.

-É algum tipo de brincadeira.

-Não. Nunca brincamos. Veja, olhe com mais atenção.


-Manfred olhou mais uma vez, e viu aquilo que não
tinha visto. Uma das estantes se abriu, revelando
uma passagem secreta.

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-O que isso significa? – Perguntou. Não houve
resposta. -Garotinha eu lhe pergun..............

Manfred não conseguiu concluir a frase. Sua mão


estava ensanguentada. Os caninos da garota estavam
cravados em sua pele. Ele agitou a mão, contudo a
pequena sanguessuga não despregava dele.

Deu um urro quando a garota fixou mais fundo


seus dentes. Ele me descrevera que a garota estava
com os olhos vermelhos, o rosto esverdeado, e seus
dentes, digo toda a fileira da frente, eram
pontiagudos como de uma piranha. Deu um soco para
ver se a garota caia, mas ela parecia um cão
selvagem. Deu outro e nada. Não queria fazer isso,
só que era a única alternativa. Engatilhou o
revólver e mirou na garota. Miolos se espalharam
pelo chão, e a garota caiu sem vida. Olhou para mão
ensanguenta e não pensou duas vezes antes de sair
dali. Quando começou seu trajeto de volta ouviu o
adejar forte, mais tão forte que tampou os ouvidos.
Teria explodido os tímpanos. Percebeu subitamente
que ao seu redor havia uma presença. Não uma, mais
várias. A vale cairá sobre seus pés, e a escuridão
o consumira por completo. Ouvia-se o grulhar de

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pessoas ao seu redor, e isso o fez engatilhar
novamente a arma.

-Quem estar aí? -Perguntou com o coração


palpitando. - Meteu a mão no bolso e pegou a caixa
de fósforo. O fogo cintilante emanou fumaça e uma
luz amarelada. Manfred não fazia ideia de como
estava de novo na sala central. E piorando ainda
mais, não havia ninguém com ele. Já se sentia-se um
louco. Tinha ouvido falar que determinadas casas
guardam impressões dos antigos inquilinos. Seria
verdade? Realmente o poder da mente, em parceria
com o medo causa isso? Provavelmente não ficaria
para ver isso. Correu até a porta na esperança de
escapar dos devaneios de sua mente insana. Virou a
maçaneta, mas uma força invisível de alguma forma
não a fazia abrir.

-Para onde vai gentil nobre? – Interpelou uma voz.


Por um breve, e quase imperceptível instante
Manfred ficou imóvel. Não queria vira-se. A cólera
o atacava de todas as formas possíveis. Cedo ou
tarde encararia os seus temores. Resolveu vira-se.
Pensaria que ao vira-se tudo voltaria ao normal. A
justeza de seu relato a partir disso é incerta. Por
isso dei ao luxo de pôr minhas próprias palavras.

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Não sou admirar de contos de terror, mas admito que
já li alguns. De certa forma ajudou-me na alegoria
do monstro que meu amigo descreve para mim.
Propriamente dito, ou especificamente. O que ele
viu beirava algo sobrenatural e quase profano.
Quando olhou em sua frente, ao invés de ver nada,
encontrou perante ele um homem. Estava despido.
Mas isso não era o total fato hediondo. Seu corpo
estava em estado anatômico. Ou seja, toda pela não
existia. Apenas nervos e um acarminado residia em
seu corpo. Os olhos tão vermelhos quanto a da
garotinha, e dentes afiados como navalha.

-Devo ter exalado algum poro que entorpecer os


sentidos da consciência. Fazendo então que veja
alucinações. -Disse, um tanto combalido.

-Isso mesmo. Sou apenas ilusão. Deixe-me chegar


mais perto. -falou a criatura, que pôs a caminha ao
encontro de nosso amigo. Ele sentiu o hálito gelado
do ser. Como também sua mão. Como alucinações tinha
uma presença tão forte? Perguntou-se. Deixou
inconscientemente seu pescoço pender para o lado,
deixando a jugular sem proteção. Os olhos do
demônio brilharam ao ver aquela cena. Sua boca

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abriu como a de um crocodilo, pronto a atacar a
presa. Mas algo o fez retroceder. Sentiu uma
queimação. Havia no pescoço de Manfred uma cruz de
prata. Um objeto de família. Manfred recobrou a
consciência, e viu que não era nem uma ilusão.
Arrancou a cruz do pescoço e a direcionou. Seu alvo
se contorceu de dor. Brandiu de ódio. ouviu uma
agitação, como se uma manada de elefantes viesse em
sua direção . Era obvio que nosso infortunado amigo
não ficaria para ver o que aconteceria. Correu
escada acima. Voltando ao seu aposento, onde tentou
dormir, usou de tudo para bloquear a porta. A
escrivaninha, a cama, a estante de livro, e por
último um busto de mármore de lord Byron. Se ouviu
gritos hediondos e diversas pancadas na porta.
Verificou quantas janelas tinham no quarto. Contara
apenas uma. E a única estava selada com tábuas.
Agora entendia o motivo de pouco visibilidade. Era
meia noite ou mais. Será que sobreviveria a essa
noite? Passou a madruga de olhos pregados. O
barulho era ininterrupto, mas parecia que a porta
estava bem selada. Sabe aquele leve sono que
pensamos estar acordados? Mas na verdade dormimos
profundamente? Bem, isso aconteceu com Manfred, que
pulou desesperadamente do chão frio. Olhou de um

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lado para o outro, parecia tudo em ordem. Examinou
a janela; queria ver se conseguiria escapar por
ela. Por sorte, a madeira estava podre. E puxar uma
tábua, duas veio a baixo. Arrancou o resto e se viu
livre. Olhou pela janela, e seus olhos
lacrimejaram. Já estava amanhecendo. O Deus sol
irradiava luzes sobre sua pele. Uma brisa fresca
tocava seu rosto. Era como um poema romântico de
Kate. Tudo parecia calma e jovial. Parecia que seus
temores tinham acabado. Antes é claro, queria saber
se havia algum monstro de vigia ainda. Retirou tudo
de frente da porta. Contou até três. Depois a abriu
subitamente, comprovando seu terror. O vampiro
jogou-se sobre Manfred, que caiu fortemente no
chão. Na queda, a cruz caiu de um lado e o revólver
do outro. Estava à deriva. Contemplava a face da
morte. Era o seu fim. Se não fosse é claro o sol.
Algo estranho, mais muito lógico, aconteceu. Algo
que pensei que nunca ouviria de meu amigo
materialista. O vampiro pôs a mão no peito, e de
repente sua cabeça começou a latejar. Latejava de
uma forma que explodiu. Como se seu cérebro não
suporta-se mais seu crânio. Manfred desvencilhou-se
antes que se queimasse. Pois em seguida o corpo
entrou em combustão espontânea. Cinzas sobrevoaram

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o rosto de Manfred. Ele ficou um bom tempo parado,
até recobrar a consciência. Pegou instintivamente o
diário que lera. Não foi difícil para ele descer.
Havia uma escadaria feita de trepadeiras, que o
conduziu são e salvo até ao chão. Ele andou não sei
quantas horas. Porém pelo estado que foi
encontrado, foi deduzido mais ou menos duas horas.
O acharam perto de um moinho, a alguns quilômetros
de um vilarejo muito antigo. Após ele relatar esse
estranho caso, foi levado a polícia. Lá taxado de
louco, foi mandado para cá, onde faleceu essa
manhã. A morte vermelha veio busca-lo. O enterramos
aqui mesmo no cemitério da propriedade. Se tudo
isso foi verdade, não tem a mínima importância
agora. Ele descansará em paz. Não conseguir contado
com a família ainda, esperarei respostas.

The London gazete


29 de dezembro de 1845

Foi registrado hoje, na manhã de natal um caso um


tanto peculiar. Em um certo centro psiquiátrico, da
qual ficara em sigilo, houve um assassinato de um
médico muito prestigiado. Um Lord, muito amado por
nossa rainha Vitória. O corpo do jovem prodígio de

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26 anos, foi encontrado em estado deplorável: O
guarda que estava de ronda foi chamado exatamente
às três da madrugada. Ele disse que passava pelo
hospital quando presenciou a chegada do coveiro.
Quando o pobre homem recobrou o fôlego, disse ao
policial que alguém tinha sido morto no cemitério.
Sem hesitar adentrou a propriedade, e viu a cena
grotesca: O médico jazia morto ao pé de uma lápide
quebrada ao meio. Olhos esbugalhados, face
esbranquiçada, e garganta estraçalhada. Era um
crime hediondo. A terra tinha sido revirada,
pegadas firmes podiam ser vistas indo para a rua. O
coveiro disse ter visto um homem que trajava roupas
fúnebres. Olhos vermelhos, afirmou mais de uma vez
ao policial. Ele tinha olhos vermelhos.

FIM

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