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BRACHT, V.

Cultura Corporal, Cultura de Movimento ou Cultura Corporal de


Movimento? In: SOUZA JÚNIOR, M. Educação Física Escolar: teoria e política curricular,
saberes escolares e proposta pedagógica. Recife: EDUPE, 2005. p. 97-106.

Cultura corporal, cultura de movimento ou cultura corporal de movimento?

Valter Bracht
Recife/ Fevereiro/2004

Introdução
Como o tema está formulado na forma de pergunta, vou respondê-la, em tom um
pouco provocativo, da seguinte forma: cultura corporal, cultura de movimento ou cultura
corporal de movimento? Em princípio, qualquer um, desde que cultura, ou seja, desde que
se coloque o peso maior neste conceito. Com isso quero na verdade dizer, que o conceito
que, no meu entendimento, indica uma construção nova de nosso “objeto” é o de cultura. É
ele que melhor expressa a ressignificação mais importante e a necessária desnaturalização
do nosso objeto, que melhor reflete a sua contextualização sócio-histórica.

Com isso não quero dizer que é absolutamente indiferente a utilização da expressão
corpo ou movimento ou as duas. Mas, hoje, as palavras ou expressões corpo, movimento,
motricidade (atividade física – como é mais utilizada no âmbito das ciências naturais na
nossa área) embora possam ser vinculadas à epistemologias diversas, isoladamente não
permitem definir com a clareza necessária a vinculação com a cultura. Tanto a expressão
corpo como movimento exigem tratamento conceitual, no bojo do qual podem assumir um
significado que transcenda ou não sua conotação biológico-naturalista, e também, um
tratamento demarcatório (definições).

É preciso abrir um parênteses para dizer que falo da perspectiva da EF e não de


outro campo ou disciplina qualquer, seja, das ciências estabelecidas ou de uma presumível
ciência da motricidade humana. Portanto, a pergunta é pela melhor forma de nominar e
caracterizar o objeto desta prática social que vimos chamando de EF, que para mim se
caracteriza como uma forma de intervenção pedagógica a partir e com diferentes práticas
corporais de movimento.

Assim sendo, além do trato conceitual sempre cabe uma questão demarcatória, seja
quando utilizamos a expressão corpo(ral) ou a expressão movimento. Se a EF trata da
cultura corporal, quais são as práticas humanas aí abarcadas? Se a EF trata da cultura de
movimento, quais são as práticas humanas aí abarcadas?

Algumas tentativas de demarcação já foram feitas (todas elas parciais). Eu mesmo


disse que a EF vem tematizando, historicamente, as práticas corporais de movimento
construídas pelo homem e realizadas no âmbito do mundo do não trabalho – excluindo
portanto aquelas ligadas diretamente ao trabalho e à reprodução1.

Kunz (1994, p.68) por sua vez e com base em Dietrich e Landau, afirma que a
Cultura de Movimento compreende “todas as atividades do movimento humano, tanto no
esporte como em atividades extra-esporte (ou no sentido amplo do esporte) e que
pertencem ao mundo do ‘se – movimentar’ humano, o que o homem por este meio produz
ou cria, de acordo com sua conduta, seu comportamento, e mesmo as resistências que se
oferecem a essas condutas e ações”.

Oliveira (1998), prefere a expressão corporalidade, pois entende que a expressão


cultura de movimento ou cultura corporal de movimento está muito centrada na questão
motriz. Para o autor a corporalidade é o conjunto de práticas corporais do homem, sua
expressão criativa, seu reconhecimento consciente e sua possibilidade de comunicação e
interação na busca da humanização das relações dos homens entre si e com a natureza. A
corporalidade se consubstancia na prática social a partir das relações de linguagem, poder e
trabalho, estruturantes da sociedade.

1
Tenho clareza da precariedade dessa e de qualquer demarcação (definição).
Me parece que, embora possamos colocar novas necessidades de demarcação 2,
definições como a esboçada por Kunz (1994) cumprem bem a função de indicar de qual ou
quais fenômenos tratamos na EF.

Excurso sobre as razões para utilizar o termo cultura para designar o objeto da EF

Uma das razões para utilizar o termo cultura é a de que ela força uma redefinição da
relação da Educação Física com a Natureza e com seu conhecimento fundamentador. É
preciso superar um certo “naturalismo” presente historicamente na nossa área. Tudo na
nossa área era (em parte ainda é) considerado natural: o corpo é algo da natureza, as
ciências que nos fundamentam são as da natureza, a própria existência e/ou necessidade da
Educação Física é natural. Entender nosso saber como uma dimensão da cultura não
elimina sua dimensão natural mas a redimensiona e abre nossa área para outros saberes,
outras ciências (outras interpretações) e amplia nossa visão dos saberes a serem tratados.
Uma das consequências é ver as atividades físicas ou as práticas corporais (que
perfazem nossa cultura corporal, de movimento ou corporal de movimento) como
construções históricas, portanto não mera consequência da ordem natural, com sentidos e
significados advindos dos diferentes contextos onde são/foram construídos pelo homem.
Assim, por exemplo, a corrida como realizada no esporte atletismo, não é uma
manifestação apenas biológica do corpo, mas uma construção histórica com um
determinado significado social. Mas qual seu significado? Este significado é imutável?
Podemos alterá-lo, atribuir novos? Estas questões passam então a ser objeto também de
nossas aulas, pois temos a atribuição de propiciar aos nossos alunos que se apropriem dessa
manifestação cultural ( no seu sentido amplo), mas não apenas de forma a repeti-la e, sim,
de forma a permitir que participem dessa construção, para o que é fundamental que a
compreendam, que aprendam também a construir cultura (corporal, de movimento ou
corporal de movimento).
Outro ponto importante é que, sendo a transmissão da cultura aquilo que justifica o
empreendimento educativo (Forquin, 1993), se a Educação Física pretender se aliar ao

2
As definições nos levam a um eterno regresso, pois, nas definições aparecem novos termos que reclamam,
por sua vez, novas definições. Na verdade, as definições são instrumentos úteis apenas para uma delimitação
provisória dos fenômenos que queremos compreender e/ou explicar.
esforço educativo e se afirmar enquanto componente curricular (pelo menos na forma
dominante atual de disciplina), ela precisa identificar a parcela da cultura, portanto o saber
ou os saberes que será sua tarefa tratar. A corporeidade (o corporal) e a movimentalidade (o
movimento), embora elementos antropológicos fundamentais, por si só não justificam a
Educação Física enquanto disciplina. Indicam para a educação temas fundamentais, que
necessariamente precisam ser considerados pela teoria pedagógica. Quando trabalhamos
com o conceito de cultura corporal de movimento (minha preferência), a movimentalidade
e a corporeidade estão ali presentes de uma determinada forma, diferente da Matemática,
do Português3, da Educação Artística. As manifestações da cultura corporal de movimento
significam (no sentido de conferir significado) historicamente a corporeidade e a
movimentalidade – são expressões concretas, históricas, modos de viver, de experenciar, de
entender o corpo e o movimento e as nossas relações com o contexto – nós construímos,
conformamos, confirmamos e reformamos sentidos e significados nas práticas corporais.
Quando reivindicamos uma especificidade para a Educação Física enquanto disciplina do
currículo escolar a partir do conceito de cultural corporal de movimento, não buscamos o
seu isolamento, mas sim dizer qual sua contribuição específica para a tarefa geral da escola.
É absolutamente necessário que a Educação Física esteja aberta a dar sua contribuição para
a tarefa geral da escola, e isso também, a partir de outras formas de organização curricular
que não a da forma de disciplinas (currículo por atividades, por projetos, etc.).

A história social dos conceitos e o objeto da Educação Física

Volto-me assim, para a questão para mim mais importante que é a conceitual. Uma
das críticas que se faz à expressão cultura corporal (o problema estaria no corporal) é a de
que ela não contempla a especificidade da EF que seria o movimento. Outra, endereçada
por Kunz (1994) ao Coletivo de Autores (1992), é a de que a expressão corporal seria
redundante, pois toda cultura é, em última instância corporal, além de indicar uma
vinculação maior a uma visão mecanicista (das ciências naturais) de nosso objeto. É nesta
objeção ao termo corporal que gostaria de me concentrar.

3
Nogueira (2003) lembra que toda educação é corporal e que a leitura também é incorporada.
Para discutir esta questão queria iniciar pela tese da importância da história dos
conceitos. Vou valer-me inicialmente das idéias de Gumbrecht (1998) em A modernização
dos sentidos. Segundo o autor, as histórias de determinados conceitos podem ser escritas
tanto com uma motivação predominantemente sócio-histórica (como contribuições ao
projeto da história das mentalidades) quanto com o interesse mais filosófico de esclarecer
as implicações veladas e recuperar o potencial semântico esquecido de noções no uso
sistemático e corrente. A tentativa de enfatizar a segunda dessas duas funções pode ser
rotulada de função genealógica da história conceitual.

Parece-me que no caso dos conceitos de corpo, corporeidade, motricidade,


movimento e atividade física nós encontramos já algumas iniciativas nesse sentido; talvez a
maior produção se concentre no conceito de corpo. Uma genealogia da história destes
conceitos seria muito importante para nós, já que os conceitos de corpo, movimento,
atividade física, saúde constituem como que o edifício da Educação Física moderna e cuja
semântica ressoa o universo simbólico de instituições como a médica, que por sua vez
vincula-se à paisagem cognitiva (Najmanovich, 1998) da ciência objetiva e à hegemonia
política desta perspectiva.

Assim, é importante perceber a vinculação da semântica dos conceitos com a


situação epistemológica da época, porque as instituições, que na sociedade moderna dão
constância, conferem permanência temporal às ações, às práticas humanas, constroem
universos simbólicos legitimadores tendo como pano de fundo tal situação epistemológica
ou uma determinada paisagem cognitiva. Por sua vez, esta mantém vínculos com o
momento sócio-histórico em cujas correlações de força estão ancoradas as visões
hegemônicas ou legítimas.

Gostaria de dar um exemplo da importância da história dos conceitos a partir dos


termos corpo e atividade física. Por muito tempo a Educação Física era vista como prática
onde um corpo realizava ou era levado a realizar atividade física com vistas à saúde. A
noção de corpo portanto, estava associado à noção de físico, algo do mundo físico. Nesta
visão, o corpo é a dimensão físico-biológica do homem. Não é necessário caracterizar isso
aqui novamente: trata-se da visão moderna (cartesiana) de corpo. Dentro da perspectiva da
história dos conceitos importa perguntar como chegamos a ela?

Borheim (1999) observa que a cultura ocidental se assenta numa separação


originária em dois mundos: o dos deuses e o dos homens, portanto superior e inferior.
Segundo o autor, na cultura judaico-cristã a separação é mais radical, na greco-românica
menos acentuada no início (p.53). Na cultura grega há uma proximidade maior entre
homens e deuses. Na Grécia por exemplo, o processo de imitação dos deuses começa já
pelo corpo humano, pelo corpo do atleta. Borheim (1996, p.54) cita o exemplo do

conceito de physis, de natureza, mormente no pensamento dos jônios pré-


socráticos. O que o define é precisamente sua unidade: a physis abarca
tudo o que existe, da pedra ao deus, passando pela alma e pela ação
humana, e alcançando até mesmo a palavra do filósofo; tudo é
manifestação da natureza, e é por aí que se entende também o conceito de
verdade; além disso, a natureza manifesta-se como realidade dinâmica, o
que, ainda na decadência, vai permitir aos estóicos compará-la a um
grande animal vivo.

Mas mesmo na Grécia, como observa o autor, “já cedo, ou tarde, a antiga separação
viria cobrar o troco”. Com a doutrina de Platão, “nosso filósofo estabelece um verdadeiro
abismo entre os homens e as coisas divinas”.

Qual o preço que teríamos que pagar para superar a separação originária, que a
partir dos Gregos vai constituir a cultura ocidental em cuja base estão a diferenciação entre
Homem (cultura) e Natureza, e seus correspondentes sujeito-objeto e corpo-mente
(espírito)? O que seria uma superação da separação/distinção originária? Seria
reconciliação, ou retorno a uma unidade primeva?
O entendimento moderno de corpo e os consequentes entendimentos de movimento
ou atividade física vão sofrer inflexões ou ser rivalizados a partir de perspectivas teóricas
que afetam não diretamente a visão de corpo, mas as bases desse entendimento ou
conhecimento, vale dizer dos seus princípios epistemológicos. É interessante observar pelo
menos dois desses movimentos: o da fenomenologia com M.-Ponty por exemplo, e mais
recentemente a biologia do conhecimento de Humberto Maturana.

Chauí (1995, p.241ss.), em seu Convite à Filosofia, discorrendo sobre a nova


ontologia, aquela que tenta superar o realismo e o idealismo, mostra como M. Ponty,
identificado junto com Heidegger como um dos autores que constroi essa nova ontologia,
confere ao corpo um significado muito distinto do das ciências naturais. Em texto brilhante
ela diz:
Visível-vidente, táctil-tocante, sonoro-ouvinte/falante, meu corpo se vê
vendo, se toca tocando, se escuta escutando e falando. Meu corpo não é
coisa, não é máquina, não é feixe de ossos, músculos e sangue, não é uma
rede de causas e efeitos, não é um receptáculo para a alma ou para uma
consciência: é meu modo fundamental de ser e de estar no mundo, de me
relacionar com ele e dele se relacionar comigo. Meu corpo é um sensível
que se sente e se sente, que se sabe sentir e se sentindo. É uma
interioridade exteriorizada e uma exterioridade interiorizada. É esse ser
ou a essência do meu corpo. Meu corpo tem, como todos os entes, numa
dimensão metafísica ou ontológica.(p.244)

E agora, para ilustrar, também uma pequena citação de Maturana (1998, p.18):

O humano se constitui no entrelaçamento do emocional com o racional. O


racional se constitui nas coerências operacionais dos sistemas
argumentativos que construímos na linguagem, para defender ou justificar
nossas ações. Normalmente vivemos nossos argumentos racionais sem
fazer referência às emoções em que se fundam, porque não sabemos que
eles e todas as nossas ações têm um fundamento emocional, e
acreditamos que tal condição seria uma limitação ao nosso ser racional.
Mas o fundamento emocional do racional é uma limitação? Não! Ao
contrário é sua condição de possibilidade.

E assim, como afirma Gumbrecht (1998, p.164), “simultaneamente a essa


metamorfose na auto-referência da alma humana de um observador para um criador de
realidades, o corpo humano passou a ser arrastado para a cena da criação da realidade”. Ou,
se os corpos foram considerados inimigos do sujeito, hoje é possível falar, como quer
Deleuze (apud Doel, 2001, p. 81), que “o corpo não é mais o obstáculo que separa o
pensamento de si próprio, aquilo que tem que ser superado para se chegar ao pensamento.
É, ao contrário, aquilo no qual o pensamento mergulha, a fim de chegar ao impensado, isto
é, à vida”.

Então a construção de um novo ou realmente novos universos simbólicos de


justificação que reconfiguram a EF se dá com base em novas paisagens cognitivas.
Acontece que, ao que tudo indica, superada a hegemonia da ciência mecanicista, com suas
promessas de certeza, desembocamos numa paisagem cognitiva onde convivem e rivalizam
diferentes perspectivas, inclusive não só no campo racional (e suas redifinições) como entre
racional e não-racional (para evitar o irracional). Neste contexto é importante não esquecer
e analisar as relações entre o epistemológico e o histórico, ou seja, em que medida e como
estão relacionados os desenvolvimentos societários atuais como a globalização, o
capitalismo financeiro mundial, o Estado mínimo neo-liberal etc. e os novos princípios
epistemológicos propalados e assumidos no plano acadêmico, com seus princípios de
pluralismo, incerteza, deflação do conceito de verdade, etc.4

De qualquer forma, um universo simbólico de justificação da EF pode e está sendo


construído, tendo como carro chefe a idéia do movimentar-se humano como manifestação
cultural, portanto não mais como habitante do mundo natural (dos objetos que não podem
ser sujeitos históricos e sim parte da natureza a ser conhecida, modificada, manipulada,
enfim, dominada pela razão), mas como habitante do universo simbólico. E mais, temos
reivindicado ao corpo a posição não mais de mero objeto, mas a de sujeito, ou indo mais
longe, reivindicamos uma nova relação sujeito e objeto5, reivindica-se a superação da
diferenciação ou como se diz, desta dicotomia. Mas o que isso significa? Seria a volta à
unidade primordial, à indiferenciação?6 Seria suficiente para tanto, a construção de novas
metáforas, como a de “sujeito encarnado” (Najmanovich, 2001) ou corpo encarnado, corpo
sujeito, cyborg, corpo obra de arte?

Volto a perguntar: teríamos também um preço a pagar por um possível retorno à


uma unidade primordial, assim como pagamos pela separação originária? (natureza-cultura;
corpo-mente; sujeito-objeto) Como ficaria neste contexto a concepção de sujeito do
iluminismo, aquele capaz de julgamento crítico porque constituído de autonomia frente ao
real, ao objeto?

Quais as novas metáforas que permitem visualizar um novo tipo de relação entre
corpo e mente (natureza e cultura)? Eagleton (1998, p.75) observa que o corpo é criativo, e
se dispuséssemos de uma linguagem que captasse de modo adequado essa criatividade
corporal talvez nunca tivéssemos precisado do discurso da alma” (mudar a linguagem é
parte do processo de mudar o mundo, dizia Paulo Freire).

E mais: como reagir a uma provocação como a de Tomaz T. da Silva (2000, p.11):
Segundo este autor, a pergunta não é mais, quem é o sujeito mas, queremos, ainda, ser
sujeitos? Quem precisa de sujeito? Quem tem nostalgia do sujeito, e, mais radicalmente,
talvez, quem vem depois do sujeito?

Fiz esse pequeno percurso para, voltando à pergunta da mesa, dizer que,
conceitualmente o problema está longe de estar resolvido se usarmos ou deixarmos de usar

4
É preciso ter cuidado para não se deixar seduzir por uma perspectiva internalista do desenvolvimento da
racionalidade, ou das racionalidades.
5
Ghiraldelli Jr (2001) referindo-se à posição de Richard Rorty acerca da dicotomia “realidade versus ficção”,
lembra que o mesmo “abandona” a dicotomia, e não faz a opção por um dos lados desta, pois, se assim fosse,
a dicotomia seria mantida.
6
Doel (2001, p. 97) expressando a posição fundamentada no desconstrucionismo e na esquizoanálise, refere-
se a esta questão da seguinte forma: “A desestabilização em movimento que atravessa o (lugar do) sujeito não
a expressão corpo ou a expressão movimento7 ou mesmo ambos. O problema é mais
fundamental. Está ancorado nas bases da cultura ocidental, ele afeta as bases de todo o
nosso conhecimento – atualiza os limites da nossa paisagem cognitiva atual. Não me parece
colocada, no momento, outra solução do que entender corpo e os movimentos que realiza
como contendo, como expressando a ambiguidade (até o momento incontornável) sujeito-
objeto (natureza-cultura) – ambiguidade presente na formulação de Bourdieu de que o
sujeito de quem falamos é esse objeto para quem existem objetos. O corpo é um
personagem histórico com dupla “personalidade”.

Referências

BORNHEIM, G. Crise da idéia de crise. In: NOVAES, A. (Org.). A crise da razão. Rio de
Janeiro: MINC-Funarte/Companhia das Letras, 1999, p. 47-66.

CHAUÍ, M. Convite à filosofia. São Paulo: Ática, 1995.

COLETIVO DE AUTORES. Metodologia do ensino da educação física. São Paulo:


Cortez, 1992.

DOEL, M. Corpos sem órgãos: esquizoanálise e descontrução. In: SILVA, T.T. da (Org.).
Nunca fomos humanos: nos rastros do sujeito. Belo Horizonte: Autêntica, 2001, p. 77-
110.

EAGLETON, T. As ilusões do pós-modernismo. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1998.

FORQUIN, J.-C. Escola e cultura: as bases sociais e epistemológicas do conhecimento


escolar. Porto Alegre: Artes Médicas, 1993.

nos faz retornar a uma visão amorfa, indiferenciada ou homegênea (um estado de confusão empírica). Em vez
disso, ela nos leva para além do molar e do molecular, em direção à alteridade e à singularidade”.
7
Kunz (1994) também compartilha dessa visão e por isso mesmo, faz um grande esforço para desenvolver
uma concepção de movimento coerente com sua visão de educação.
GUMBRECHT, H. U. Modernização dos sentidos. São Paulo: Editora 34, 1998.

KUNZ, E. Transformação didático-pedagógica do esporte. Ijuí: Unijuí, 1994.

MATURANA, H. Emoções e linguagem na educação e na política. Belo Horizone:


Editora UFMG, 1998.

NAJMANOVICH, D. O sujeito encarnado; questões para pesquisa no/do cotidiano. Rio


de Janeiro: DP&A, 2001.

NOGUEIRA, Q.W. C. Quando a cultura se torna corpo: observações sobre o trato


pedagógico com a cultura corporal nas aulas de Educação Física. Uberlândia, 2003
(mimeo.)

OLIVEIRA, M. A. T. de. Existe espaço para o ensino da Educação Física na escola básica?
Pensar a prática. Goiânia, 2: 1-23, jun./jul.,1998.

SILVA, T. T. da. (Org.). Antropologia do ciborgue; as vertigens do pós-humano. Belo


Horizonte: Autêntica, 2000.
Cultura corporal, cultura de movimento ou cultura corporal de movimento?

Valter Bracht
Recife/Fevereiro/2004

Texto para encarte de jornal


A pergunta que constitui o tema acima indica por um lado, que estamos indagando
pelo “objeto” da Educação Física e, por outro, indica também que devemos tratar desse
objeto como pertencente ao universo da cultura; que devemos “escolher” entre três
possibilidades, todas elas preconizando que se utilize para tanto o termo cultura. De forma
provocativa podemos também responder, que qualquer uma das alternativas ou
denominações é apropriada, já que o que importa é preservarmos a noção de que temos na
Educação Física como responsabilidade própria, tratar de uma dimensão da cultura: se
corporal, de movimento ou corporal de movimento é de só menos importância, desde que
cultura.
Porque é importante entendermos o nosso “objeto” (conhecimento, saber do qual
tratamos em nossas aulas), como pertencente ao mundo da cultura? Uma das razões é a
necessidade de superarmos um certo “naturalismo” presente historicamente em nossa área.
Na Educação Física tudo é (era) tratado como natural: o corpo é natureza, as ciências que
nos fundamentam são as da natureza, a própria existência da Educação Física seria natural,
o competir é natural, etc. Não que devamos simplesmente negar nossa participação na
natureza, trata-se antes de ressignificar nossa relação com ela. Entender nosso saber como
uma dimensão da cultura abre nossa área para outros saberes, outras ciências que não as da
natureza e amplia também, nossa visão dos saberes a serem tratados pela Educação Física.
Uma das consequências é ver as atividades físicas ou as práticas corporais (que perfazem
nossa cultura corporal, de movimento ou corporal de movimento) como construções
históricas, portanto não mera consequência da ordem natural, com sentidos e significados
advindos dos diferentes contextos onde são/foram construídos pelo homem. Assim, por
exemplo, a corrida como realizada no esporte atletismo, não é uma manifestação apenas
biológica do corpo, mas uma construção histórica com um determinado significado social.
Mas qual seu significado? Este significado é imutável? Podemos alterá-lo, atribuir novos?
Estas questões passam então a ser objeto também de nossas aulas, pois temos a atribuição
de propiciar aos nossos alunos que se apropriem dessa manifestação cultural ( no seu
sentido amplo), mas não apenas de forma a repeti-la e, sim, de forma a permitir que
participem dessa construção, para o que é fundamental que a compreendam, que aprendam
também a construir cultura (corporal, de movimento ou corporal de movimento).
Mas, não faria diferença falar de cultura corporal, de movimento ou corporal de
movimento? Sim e não! Chamo a atenção para o fato de que não se trata de mera
adequação da palavra ao nosso “objeto” , mas sim, de uma construção teórico-conceitual:
as palavras não possuem um sentido/significado inerentes. Tanto a palavra corpo quanto a
palavra movimento podem assumir diferentes significados em diferentes construções
teóricas. Dessa forma, o mais importante é desenvolver uma teoria da Educação Física em
que se trate explicitamente do entendimento de corpo e de movimento em que a mesma se
baseia ou propõe. Um exercício importante é recuperar a história dos conceitos, por
exemplo, do conceito de corpo. Mas isso é tema para uma conversa mais longa ... como na
palestra.

Dados do autor para o livro:


Valter Bracht
Doktor der Philosophie – Universidade de Oldenburg – República Federal da Alemanha
Prof. Titular do Centro de Educação Física e Desportos da Universidade Federal do Espírito
Santo

Graduação: Licenciado em Educação Física pela Universidade Federal do Paraná


Mestre em Educação Física pela Universidade Federal de Santa Maria/RS
Doutor em Ciência Desportiva pela Universidade de Oldenburg – RFA
Universidade Federal do Espírito Santo
Ministra as disciplinas de Introdução à Pesquisa e Educação Física Escolar
Coordenador do Laboratório de Estudos em Educação Física – LESEF (CEFD/UFES)
Membro do Colégio Brasileiro de Ciências do Esporte.
E.mail: vbracht@starmedia.com

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