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Numa terra árida e desértica sucumbia um menino sentado por aquelas bandas

inóspitas, suas mãos pretas não pela cor de sua pele, mas pela cor da sujeira que
carregava, revelavam que há dias não repousara em água. Seus pés eram descalços e
rachados pelo calor inebriante que molestava aquele lugar, exausto de tanto caminhar,
fraco de tanto procurar. A solução era esperar, precisava de água, precisava de
comida. A história é a seguinte: sua mãe o abandonara, pois não havia mais o que lhe
dar de comer ou beber, em sua extrema pobreza e desespero resolvera arrancar a
própria vida, deu ao seu filho veneno para que não o deixasse sozinho sofrendo aquela
vida tão difícil. O menino, porém, mais astuto desviou-se da má fé de sua mãe fingindo
acatar a escolha que lhe era imposta. Por mais que tivesse tentado não foi bem
sucedido na tentativa de salvar sua mãe, a viu morrer, a viu deixar a vida, a viu sendo
fraca e covarde. Teria ela sido tão fraca? Teria ela desistido assim tão fácil? Não amava
seu filho por que então decidira matar-se? É o que dizem por aí às vezes a morte é a
única solução encontrada pelos desesperados em aplacar tão grande dor.

O menino de tão novo, fraco e sem ferramentas jamais poderia enterrar sua mãe, a
deixou por lá mesmo, mais tarde viria um abutre ou um animal faminto qualquer para
devorá-la, até mesmo os vermes e decompositores se esbaldariam com tamanhos
destroços. O garoto andava errante pelo meio do nada, quando achava água era poça
lamacenta que bebia, sua sede não resistia. No canto da barriga era uma sensação
estranha, nem entendia direito porque tanto incomodava, parecia uma bola que
queria sair, pensou esconder um bicho faminto que corroia suas vísceras, sua carne,
seus restos. Nessa hora nem pra encontrar umas folhas que fosse de árvores, sua mãe
tinha o costume de lhe dar entre o longo espaço do almoço e do jantar na esperança
que disfarçasse a fome. Às vezes, escondido o menino brincando com a terra metia pra
dentro um bocado daquela terra, mastigava que parecia uma delícia. Foi o que fez
enquanto andava nem sabia mesmo pra onde, parou por um instante e arrebatou do
solo um pouquinho da terra seca que conseguiu escavar com as unhas, engoliu sem
nem mesmo mastigar como de costume. Não demorou a ter ânsia de vômito, apesar
de que não tinha bem o que vomitar, já havia pelo menos três dias que não se
alimentava com uma fruta que fosse.

Eu sinceramente penso que ele vai morrer, não deve durar muito com dantesca
sofreguidão, mas até que gosto desse menino. Não sei bem explicar, no entanto há
algo nele que me encanta, não quero que ele morra. Seria pedir demais a Deus, aos
anjos, aos cosmos que o suscitassem vida? Sabe?! É que ele tem uma força, uma garra,
uma sede de viver, seria interessante e muito generoso se tudo enfim melhorasse, se
tudo enfim se transformasse, se sua vida se tornasse outra. Será que posso ajudá-lo?
Teria essa possibilidade, adentraria essa história tão enfaticamente?! Ah, não posso
me envolver tanto, tenho um mau costume de atrapalhar as histórias, preciso deixá-lo
morrer, essa é a ordem da vida, é o destino!
Caía noite sombria e furiosa sobre o céu negro acinzentado, pichado por estrelas
brilhosas que na verdade se envergonhavam detrás das nuvens que apareciam
subitamente. Ventania ventosa que ventava fortemente irrompia um frio
estremecendo seu magro corpo, ou do que lhe sobrara, a terra fumegante dera lugar
ao gélido poder das temperaturas baixas e sobre si mesmo se enroscava e se revirava
perto de um cacto qualquer que encontrara. Deduzi que a morte lhe roubaria um beijo
ali mesmo, seus olhos fecharam-se, mas não era o fim. Pouco conseguiu dormir
acordou expelindo sangue em tossidas que me lembravam de cachorros morrendo. Lá
tão longe um filete de luz sobrevinha, com certeza era o sol que o menino maldizia a
cada manhã, já que lhe parecia maltratar o corpo, rasgavam-lhe seus lombos
abruptamente e torturava seus pés inchados de bolhas.

Ai! Realmente só um milagre, esse menino tinha que ser encontrado, mas como? Ele
está no meio do nada, só anda, nem mesmo sabe pra que lado deve ir, aliás, para onde
ir? A quem procurar? Teria ainda alguma família? Minha cabeça está fervilhando de
dúvidas. Quero ajudar esse pequeno, queria de repente dar um banho nele, está tão
sujo, tão ferido, com tanta fome. Suas roupas parecem grudar-lhe ao corpo, creio que
não saiba reconhecer nem mesmo as letras, se é que já foi à escola um dia.

Seu pai eu menosprezo, um dia saiu de casa e não mais voltou, depois ouviram dizer
que estava vivendo numa cidade e tinha outra família, outros dizem que estava
trabalhando numa fábrica. Abrira mão dos seus votos de fidelidade, e não quisera
explicar os motivos, talvez estando presente a situação do seu filho seria outra, mas
não creio que tenha o menino como seu filho. Ah! Se eu o encontrasse diria grandes
verdades na cara dele, afinal um pai é pai em qualquer lugar, já que foi ter um filho
agora que dê conta dele.

O moleque vagava, por sorte encontrou um ribeiro, a água era melhor pra se beber,
descia rasgando sua garganta, pois estava muito quente devido o sol que reinava e
imperava a sua força estrondosa natural de calor. Lavou seu rosto para diminuir a
quantidade de sujeira que tampava sua feição e sentou, depois tirou seus trapos
velhos e ficou nu, como quem vem ao mundo, como quem vive pela primeira vez.
Banhou-se! As águas lavavam seu corpo frágil, fluía sobre sua pele o vapor que subia
do rio. Sentiu a vida, algo o abraçava, mas não sabia o que era apenas parecia calor.
Mergulhou a cabeça e ergueu-se, por outra vez fez o mesmo e repetiu como num rito,
depois de olhos abertos apenas flutuou sobre as águas, gostava muito de relaxar dessa
maneira. O rio era o seu prazer, mas há tempos não encontrava rios por ali, tudo era
deserto e seco como sua barriga. Pela primeira vez chorou! Não que ele não houvesse
chorado antes, mas os motivos que agora o levavam a chorar não eram firmados nas
meninices de seu coração. Amargamente chorou, até que suas lágrimas cessassem, até
que sua flácida alma pudesse achar apenas um motivo de alegria que fosse. Mas lhe
restava uma lembrança, só uma lembrança, foi o suficiente para que tanta angústia
acabasse.

Lembrou-se de um dia como aquele ensolarado e escaldante um amigo que tinha,


costumavam brincar na terra atrás da casa depois de carregarem baldes d’água para
cozinha. No entanto, às vezes, quando entediados deitavam no chão, olhavam para o
céu e observavam a simetria das nuvens, olhavam minuciosamente o formato do
vapor das águas no céu e então, apontando com seus dedos decodificavam o que
poderia ser cada uma delas. Por não conhecerem muitos objetos ou animais
costumavam inventar nomes utópicos para os seres, alguns eram como a mistura de
pássaros e cachorro, dinossauros de laços, montanhas com fogo. Criavam histórias
bizarras com seus seres fantasmagóricos e por um instante viajavam, iam além do que
seus pés podiam ir e adentravam lugares diversos sem saírem do solo em que
deitavam, até o momento que suas mães lhes chamassem.

Um dia desses, pensaram sobre como era o céu, seu amigo já tinha ouvido falar por aí
que quando as pessoas morrem vão para lá, revelou essa informação para o menino
que ficou feliz, queria muito saber como era aquele lugar que parecia lindo, todo
azulado e brilhoso, parecia ter coisas gostosas para se comer, parecia não faltar nada
naquele lugar. Com ar de quem está em paz desejou ardentemente estar no céu,
queria conhecer tanta beleza. Passou-se algum tempo quando recebeu a notícia de
que seu amigo havia ido para o céu, ficou um pouco triste, julgou a atitude de seu
amigo muito feia e malvada em deixá-lo sozinho, invés de levá-lo para conhecer o céu
e nem seu amigo tinha ido se despedir dele, isso o deixou magoado por dias, mas até
que esqueceu e seguiu sua brevidade.

Agora, porém, se alegrava, pois aquela lembrança acalentara sua alma,


provavelmente sua mãe tinha ido para o céu, por isso, não acordava, foi o que ele
pensou. Talvez um dia fosse encontrar seu amigo e sua mãe lá, não podia esperar pra
ver este dia. Eu acredito que ainda esteja longe, o moleque parece tão vivo depois que
tomou tal banho, seus olhos brilham vida, ele só precisa comer, já conseguiu se nutrir,
acho que ainda consiga caminhar por um tempo, ou pelo menos alguém vá encontrá-
lo, não vejo a hora de ver esse menino com outra vida, quero vê-lo ser feliz, quero ver
a alegria de fato irradiar sobre seu rosto. Mas acho que está cansado! Não quer
levantar, a fadiga parece lhe roubar enfim as forças ele precisa dormir.

Ainda nu naquele rio olhou para o céu, havia passado horas, o sol começava se pôr,
novamente aos poucos escurecia, de longe, bem longe podia ver a lua sendo
desenhada, tinha dificuldade em imaginar como seria o céu a noite, sem todas aquelas
nuvens, apenas com as cintilantes estrelas, ainda sim, pensava ser um lugar belo e
único. Olhou para baixo, avistou o horizonte que se formava no longínquo beijo do
firmamento com a terra, sentiu um arrepio lhe subir à espinha, uma tênue brisa que
emergia das águas lhe envolvia enfim.
Espero que ele não morra, está estranho, tudo estranho, ele sofre, cospe algumas
vezes, sente falta de ar, o que há? Não sei direito, pouco consigo ver. De longe vejo um
menino morrendo e nada posso fazer, quero ajudá-lo, mas como poderia? Que não
seja assim, que ele seja salvo, alguém o ajude, por favor, eu suplico! Ele sente arder
todo seu ser, eu sinto arder toda minha alma. Ele geme de dores, eu me agonio de
angústias. Ele avista aos poucos a morte que se aproxima, será assim? Tão simples, tão
mortal, tão destruidor?! Não consigo aceitar, não sei se posso crer meus olhos não
querem ver a iminência que se encete. Ela (a morte) se aproxima sorrateiramente e lhe
encara face a face. Ele (o menino) sorri para ela como se fosse sua amiga conhecida,
não a teme. Eu choro, enquanto ele ri. Eu grito enquanto ele calmamente é beijado
pela morte, levemente seu corpo cai. Meus olhos assistem, peço que minha visão não
me engane perfidamente, meus ouvidos se aguçam e algo ele fala, sua voz fraca e
rouca quase num suspiro diz: “o céu”! Seus olhos fecham, os meus junto com os seus.
Agora minha dor é maior que a sua. Ele lá e eu aqui. Ele morre e eu vivo, será?
Agonizo-me! Morro junto com ele. Seu corpo boia e as águas o levam para algum
lugar, que pena não queria que fosse assim.

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