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A) INTRODUÇÃO AO TRIMESTRE
Naquela ocasião, vimos que o mote “pare de sofrer” que alguns têm adicionado ao
Evangelho de Jesus Cristo não corresponde à realidade bíblica. Muito pelo contrário, as
Escrituras mostram-nos, com absoluta clareza, que ao justo, ao salvo está destinado
viver neste mundo sob o impacto de aflições e de sofrimentos, aflições e sofrimentos,
entretanto, que não são para comparar com a glória que será revelada a todos quantos
crerem em Jesus e permanecerem fiéis até o fim (Rm.8:18).
Por isso, aliás, de forma muito feliz, escolheu-se como subtítulo do tema deste
trimestre Salmo 34:19, onde Davi canta ao Senhor após ter passado por um dos
momentos mais angustiantes de sua vida, quando foi levado até Gate, a terra de Golias,
até a presença do rei Abimeleque, quando teve de se fazer de doido para não morrer.
Naquela oportunidade, Davi aprendeu uma lição que lhe seria valiosíssima em todo o
restante de sua vida, qual seja, a de que o Senhor nem sempre livra o justo DA aflição,
mas que Se faz companheiro, amigo e protetor NA aflição. Por isso, não podemos
esperar que a salvação em Cristo Jesus nos livre dos problemas desta vida, nem
tampouco das dificuldades, mas, sim, que venha a estar conosco para que, em tais
situações, sejamos vencedores e instrumentos para a glorificação do nome do Senhor.
A capa da revista deste trimestre traz-nos uma armadura típica dos soldados
romanos dos dias apostólicos, armadura esta que foi utilizada pelo apóstolo Paulo para
figurar a verdadeira batalha espiritual que se trava entre os salvos e as hostes espirituais
da maldade.
Por isso, o Senhor coloca à nossa disposição toda uma armadura, para que
sejamos vitoriosos neste embate contra o mal, a saber: o cinturão da verdade (que não
se encontra na ilustração), as couraça da justiça, os calçados na preparação do
evangelho da paz (que também não se encontra na ilustração), o escudo da fé, o
capacete da salvação e a espada do Espírito, que é a Palavra de Deus.
Todas estas armas, por fim, para poder ser bem utilizadas, dependem do “preparo
espiritual” do soldado, que é dado mediante a oração e a vigilância perseverantes.
Sem que estejamos com estas armaduras, jamais poderemos
vencer as inevitáveis aflições desta vida, como haveremos de verificar ao longo do
trimestre letivo.
Após uma lição introdutória, em que verificaremos que as aflições são inevitáveis na
vida do crente enquanto estiver neste mundo, analisaremos diferentes situações aflitivas.
Num primeiro bloco, que ocupa as duas primeiras lições, trataremos de “dramas
biológicos”, quais seja, a enfermidade (lição 2) e a morte (lição 3).
O quarto bloco fala-nos dos “dramas materiais”, onde serão estudadas a angústia
das dívidas (lição 9) e a perda dos bens terrenos (lição 10).
O sexto e último bloco, por fim, trará o estudo a respeito das condições necessárias
para a vitória sobre as aflições, ocasião em que aprenderemos sobre a verdadeira
motivação do crente (lição 13) e sobre a vida plena nas aflições (lição 14).
INTRODUÇÃO
– Damos início a mais um trimestre letivo, trimestre este em que estudaremos como
vencer as aflições desta vida, quase que um complemento do primeiro trimestre deste
ano, quando verificamos o que é a verdadeira prosperidade bíblica, prosperidade esta
que não significa, em absoluto, imunidade contra as dificuldades desta vida.
– Quando verificamos o que o Senhor disse ao primeiro casal, por ocasião da sua queda,
a respeito do que significava a salvação, que Deus solenemente prometia providenciar
ao homem, bem percebemos que não se poderia, mesmo, conceber uma salvação que
livrasse o homem das agruras desta vida.
– O Senhor, no juízo que fez sobre o primeiro casal, foi bem claro ao afirmar que a
salvação representaria o restabelecimento entre a amizade entre Deus e o homem,
impossibilitada por causa do pecado, o que representaria, “ipso facto”, a inimizade com
a serpente, ou seja, com o maligno (Gn.3:15).
– Jesus, mesmo, disse que, neste sentido, não tinha vindo para trazer paz para a terra,
mas, bem ao contrário, trouxera divisão e conflito, uma verdadeira guerra (Mt.10:34-36;
Lc.12:49-53), uma vez que a Sua vinda trouxe a possibilidade de salvação e resgate do
homem que, livre do maligno, passou a ser inimigo deste que, com todas as suas hostes
espirituais (Ef.6:12), tenta, de todas as formas, impedir que o salvo persevere até o fim e
alcance a glorificação.
– Este conflito, trazido pela salvação em Cristo Jesus, começa em nós mesmos, uma vez
que, com a salvação, nosso espírito é vivificado e, assim, passamos a dominar sobre a
natureza pecaminosa, a carne, que continua em nosso interior. Passa a existir, assim,
uma luta entre a carne e o espírito em nosso interior (Gl.5:16,17), luta incessante e que
somente findará quando passarmos para a eternidade.
– Esta constante luta, que se inicia no próprio interior do salvo em Cristo Jesus, é a
própria origem das aflições. “Aflição”, diz o Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa,
é “estado daquele que está aflito; sentimento de persistente dor física ou moral;
ânsia, agonia, angústia; profundo sofrimento”. Vem da palavra latina “afflictio,onis”,
cujo significado é “aflição, inquietação, opressão”. A raiz da palavra é “-flig-”, que
tem o sentido primordial de “bater, chocar, golpear”, mostrando, assim, que toda
“aflição” é um golpe, um ataque, algo que abala a estabilidade de alguém.
– Nas Suas últimas instruções, o Senhor Jesus foi claríssimo ao dizer que, neste mundo,
nós teríamos aflições (Jo.16:33). O Senhor poderia ter dito que, neste mundo, os salvos
seriam abençoados, curados, batizados com o Espírito Santo, mas, como Ele é a
verdade, a única coisa que nos garantiu, com absoluta certeza e de modo geral, é que os
salvos teriam aflições. Nem todos são curados, nem todos são batizados com o Espírito
Santo, mas, certamente, desde o instante em que recebemos a Cristo como nosso único e
suficiente Senhor e Salvador, passaremos a ter aflições neste mundo, visto que nos
tornamos inimigos do mundo e amigos de Deus.
– Por isso, o próprio Senhor Jesus disse que quando tudo estivesse bem em nossas
vidas, quando todos estivessem a dizer bem de nós, seria um momento para pararmos e
refletirmos sobre a nossa vida espiritual, pois isto será um sinal de que as coisas não
andam bem, visto que estaremos sendo tratados como os falsos profetas (Lc.6:26).
– Não estamos aqui a dizer que os salvos em Cristo Jesus devem ser masoquistas, ou
seja, desejarem sofrer, quererem o sofrimento. Jesus disse-nos que as aflições são
inevitáveis, não que devem ser desejáveis. Nenhum crente gosta de sofrer, nenhum
crente tem prazer na aflição, na angústia ou no sofrimento, mas não deve se esquecer
que, enquanto estiver neste mundo, não podemos esperar senão aflições, angústias e
sofrimentos. É uma realidade da qual não podemos escapar.
– Dizer que a salvação nos faz imunes a todo e qualquer sofrimento é uma
mentira e, como toda mentira, algo proveniente diretamente as hostes espirituais da
maldade, cujo chefe é o próprio pai da mentira (Jo.8:44). Somente haveremos de ficar
livres das aflições deste tempo presente quando nos encontrarmos com o Senhor nos
ares, quando, então, na glorificação, não mais teremos de sofrer.
– Não bastasse esta realidade de que a salvação não elimina as aflições desta vida
terrena, temos, também, de compreender que, com o pecado, toda a terra se tornou
maldita (Gn.3:17-19), maldição esta que a criação geme, aguardando a sua redenção
(Rm.8:19-22), redenção esta, entretanto, que somente advirá no reino milenial de Cristo.
– Deste modo, não há como esperarmos que se construa um “paraíso terrestre”, pois a
terra se encontra maldita pelo pecado e, deste modo, não pode nos trazer benesses nem
estar ao nosso lado em nosso embate espiritual. Pelo contrário, o próprio Deus a pôs a
terra como um adversário a se contrapor aos interesses humanos.
– A salvação não nos tira deste mundo. Apesar de salvos, disse-nos o Senhor Jesus,
continuamos neste mundo (Jo.17:11) e, inclusive, o Senhor não pede para que dele
sejamos tirados (Jo.17:15), sinal de que teremos de enfrentar todas as adversidades
existentes por causa da entrada do pecado.
– Embora resgatados do pecado, somos mantidos nesta terra que, para os salvos, passa a
ser, de modo consciente, “a terra de aflição e de angústia, donde vem a leoa, o leão, o
basilisco e a áspide ardente voadora”, cujos tesouros não nos pode aproveitar em coisa
alguma (Is.30:6). Mas é necessário que, para nosso próprio bem, aqui continuemos, para
que alcancemos a varão perfeito, a medida da estatura completa de Cristo (Ef.4:13).
– Diante da realidade de que, neste mundo, teremos aflições, precisamos verificar como
elas são apresentadas nas Escrituras Sagradas, a fim de que possamos enfrentá-las
corretamente, vez que o Senhor nos garante a vitória sobre elas, garantia esta que está
bem demonstrada na Sua própria vitória sobre este mundo (Jo.16:33).
– A vida do justo sobre a face da Terra é uma sucessão de aflições. Como costumava
dizer o saudoso pastor Walter Marques de Melo (1933-2012), “depois de uma
tempestade, vem outra tempestade” na vida do cristão. O apóstolo Paulo disse que a
vida do crente é “de fé em fé” (Rm.1:17), algo que somente é possível precisamente
porque, a cada instante de nossas vidas, temos de confiar em Deus para superar as
dificuldades e obstáculos que diuturnamente se apresentam em nossa caminhada rumo
ao céu.
– As aflições não são poucas. Diz a Bíblia que são muitas. Por isso, ainda mais quando
estamos a atravessar o período que Jesus denomina de “princípio de dores” (Mt.24:8),
ou seja, o tempo que já prenuncia o pior período da história humana, não é para
estarmos atrás de “sombra e água fresca”, mas, sim, tempo de termos consciência de
que atravessamos um período extremamente difícil, em que servir a Deus será cada dia
mais difícil e angustiante.
– No entanto, o Senhor também inspirou Davi para dizer que, apesar de serem muitas as
aflições do justo, o Senhor o livra de todas. Aleluia! Deus está conosco para nos garantir
o livramento. Jamais teremos de suportar sofrimentos, angústias ou adversidades
maiores que as que podemos suportar. O Senhor está conosco e tem condições de nos
manter libertos do pecado e do mal, garantindo que todas as dificuldades sempre
contribuirão para o nosso bem espiritual (Rm.8:28).
– Desta realidade, aliás, dá-nos testemunho o apóstolo Paulo, que, ao falar de todas as
suas aflições para o seu filho na fé, Timóteo, disse, sem qualquer dúvida, que o Senhor
o havia livrado de todas elas (II Tm.3:11) e, por isso mesmo, concitava aquele jovem
obreiro a não ter medo, mas, antes, assumir que, como evangelista que era, deveria
igualmente sofrer aflições em sua peregrinação terrena (II Tm.2:3; 4:5).
– O justo não fica imune às aflições, mas, se se mantiver justo, ou seja, se se mantiver
obediente ao Senhor, temente a Deus e guardador da Sua Palavra, certamente será
liberto das dificuldades, será vencedor nos embates contra o maligno, porque o Senhor
assim o prometeu. Por isso, o salmista podia dizer: “Olha para a minha aflição e livra-
me, pois não me esqueci da tua lei” (Sl.119:153). Crê nisto, amado(a) irmão(ã)? Se sua
fé não é suficiente para crer nesta promessa, ore como os discípulos do Senhor:
“Acrescenta-nos a fé” (Lc.17:5 “in fine”). E, muitas vezes, a fé é aumentada através da
aflição, como vemos no caso de Israel (Ex.4:31).
– No momento de júbilo e glória, Davi é lembrado, no salmo que era entoado enquanto
se levava a arca a Jerusalém, que tinha passado por muitas aflições, mas que estava
naquela situação favorável por causa exclusivamente da mão do Senhor. As aflições
permitem-nos revigorar a memória e lembrar quem somos e que, sem o Senhor, nada
podemos fazer (Jo.15:5 “in fine”). É precisamente o que diz o salmista no Sl.119,
quando afirma que foi bom ter sido afligido, pois isto fez com que ele guardasse a
Palavra e aprendesse os Seus estatutos (Sl.119:67,71). Não é por outra razão, também,
que o escritor aos hebreus rememora àqueles crentes, que estavam titubeantes quanto ao
prosseguimento na jornada da fé, do seu passado de grande combate de aflições
(Hb.10:32).
– Por isso, aliás, o Senhor mandou que Israel celebrasse anualmente a páscoa com ervas
amargas e pães asmos, símbolo da aflição que passaram no Egito (Nm.9:11; Dt.16:3),
para que, na Terra Prometida, jamais viessem a se esquecer que tinham sido escravos no
Egito (Dt.24:18,22), lembrança, inclusive, que os levaria a ter um tratamento digno ao
órfão, à viúva e ao estrangeiro. Na nova aliança, não é diferente, pois temos sempre de
comemorar a morte do Senhor, para nos lembrarmos das Suas aflições, aflições estas
que nos deram a salvação (Lc.22:19; I Co.11:24,25).
– A aflição, muitas vezes, é o remédio usado por Deus para levar os homens ao
arrependimento de seus pecados e à conversão (I Rs.8:35; Sl.25:18). Por intermédio
da aflição, o Senhor faz-nos lembrar dos compromissos que com Ele assumimos e, deste
modo, afigura-se como uma oportunidade que temos de nos arrepender e de voltarmos
aos Seus pés (Sl.38:18).
– Esta é a razão pela qual Moisés, em seu salmo, pede ao Senhor que nos alegre pelos
dias em que fomos afligidos (Sal.90:15), pois as aflições revelam a fidelidade do
Senhor, ou seja, o Seu compromisso de nos fazer o melhor (Sl.119:75). Que jamais
caiamos na mesma situação dos ninivitas que, por sua grande impiedade, não seriam
mais afligidos pelo Senhor (Na.1:12) e, por causa disto, foram inteiramente destruídos.
Que Deus nos guarde, amados irmãos!
– As aflições apresentam-se, também, como uma forma de nos levar nossa mente e
coração ao exemplo de Jesus. Quando o Senhor nos disse que, no mundo, teríamos
aflições, também disse que para que tivéssemos bom ânimo porque Ele havia vencido o
mundo (Jo.16:33).
– Através das aflições desta vida, somos levados a observar, com mais cuidado, o
exemplo de Jesus e isto só nos faz bem em nossa vida espiritual, visto que devemos,
neste mundo, olhar para Jesus, autor e consumador da nossa fé (Hb.12:2). As aflições
não permitem que nos distraiamos e percamos o foco de nossa vida espiritual, o que é
uma grande bênção para todos os que estão caminhando para o céu.
– Quando somos afligidos, a fim de ganharmos forças para vencermos, temos de olhar
para o Senhor Jesus e, assim, lembrando que Ele venceu o mundo, adquirimos o
necessário bom ânimo para também enfrentarmos as dificuldades e, por conseguinte,
pela graça de Deus, vencê-las em nome do Senhor.
– Neste passo, aliás, as aflições fazem-nos sentir que, realmente, vivemos, já neste
mundo, em comunhão com o Senhor, pois passamos a participar, inclusive, das Suas
aflições (Fp.3:10; Cl.1:24). Ao sofrermos como Ele sofreu, temos mais um alento: a de
que também seremos glorificados, como Ele foi glorificado (Rm.8:17). Por isso, os
apóstolos se regozijaram quando se viram dignos de sofrer afronta pelo nome de Jesus
(At.5:41), algo que também ocorreu com Paulo (Cl.1:24) e que deve também ocorrer
conosco, como nos ensina o apóstolo Pedro (I Pe.4:13).
– Diante de um colorido cada vez mais intenso do mundo, com suas atrações, as aflições
permitem-nos lembrar que tudo aqui é ilusão, que este mundo é um mundo de ilusões e
que a verdade está reservada para nós no lar celestial para onde estamos caminhando.
Não fossem as aflições desta vida, certamente seríamos seduzidos por este mundo e
perderíamos a nossa salvação.
– Um exemplo disso temos na vida de José. O Senhor fê-lo passar por muitas aflições
no Egito para que, quando se tornasse governador daquela terra, não a desejasse. Assim
é que, ao ter seu segundo filho, José deu-lhe o nome de “Efraim”, que significa
“aumento”, “crescimento”, porque reconheceu que Deus o fizera crescer na terra da sua
aflição (Gn.41:52), mas agora governador do Egito, nem por isso passou a desejar
aquele lar, a ponto de ter feito seus irmãos jurarem que levariam seus restos mortais
para a terra de Canaã (Gn.50:25). As aflições têm o condão de nos fazer desprender das
coisas desta vida e foi esta uma das razões pelas quais sobreveio a aflição sobre Israel
no Egito, para que os israelitas tivessem o mesmo sentimento que José tivera (Ex.3:17).
– Mas as aflições também nos permitem desfrutar do consolo divino. Assim como
nós sofremos as aflições, também, por causa delas, temos acesso à consolação divina (II
Co.1:5-7). São as aflições que nos permitem sentir a companhia de Deus, a Sua
presença em nós através d’Aquele que sempre está ao nosso lado, o Espírito Santo. São
as aflições que nos permitem experimentar que Jesus cumpriu a Sua promessa de não
nos deixar órfãos (Jo.14:18).
– Ao passarmos pelas aflições desta vida, temos a oportunidade de olhar para Cristo e
vê-l’O não só como autor e consumador da nossa fé, mas como alguém que também
participou de todas as aflições deste mundo e foi vencedor e que, portanto, nos entende,
nos compreende e nos ajuda a superar todas as dificuldades. Esta experiência da
companhia e da presença do Senhor junto a nós nesta peregrinação terrena é sentida,
ainda na antiga aliança, pelo salmista (Sl.22:24; 31:7; 106:44).
– Por esta razão, o apóstolo Pedro disse que, ao percebermos a aproximação do diabo
que, como leão, vem bramando buscando a quem possa tragar, devemos resistir-lhe
firmes na fé, sabendo que as mesmas aflições se cumprem entre os irmãos no mundo (II
Pe.5:9).
– Esta vigilância não só nos faz ficar alerta com relação ao inimigo, como também nos
traz a consciência de que somos o corpo de Cristo e que, portanto, tudo que estamos a
passar é também algo que os demais irmãos estão a sofrer. As aflições, desta maneira,
produzem em nós um sentimento de fraternidade, de amor fraternal, que é um
sentimento fundamental para que tenhamos crescimento espiritual, visto que só há como
crescermos espiritualmente quando os crentes mutuamente se ajudam e se relacionam.
– Assim que o homem ingressa neste mundo, passa ele por aflições, uma vez que o
pecado entrou neste mundo (Rm.5:12) e o homem não foi feito para pecar. Antes
mesmo que o ser humano venha a respirar o ar deste planeta, ele já sente “o cheiro de
morte” exalado pelo sistema maligno que acorrenta a humanidade(II Co.2:16) e passa
por aflições e dificuldades em virtude do pecado. Basta vermos a escalada satânica em
prol do assassinato de seres humanos antes mesmo de seu nascimento, como a
destruição de ovos (por meio das “pílulas do dia seguinte”), de embriões humanos
(através da permissão de pesquisas com células-tronco embrionárias) ou de fetos
(através do aborto), sem falar nas más formações a que todos estamos sujeitos uma vez
concebidos.
– O primeiro drama, pois, que se apresenta ao ser humano é o que poderíamos chamar
de “dramas biológicos”. Feitos para viver eternamente e ter saúde perfeita, por causa do
pecado, nosso tempo de vida torna-se “tempo que falta para morrer”, pois somos
destinados ao pó de onde fomos tirados (Gn.3:19). Destarte, vivemos sempre sob o
problema existencial da morte, que nos causa, à evidência, aflição, já que não foi para
morrermos que fomos criados. É tanta esta angústia trazida que houve filósofos,
inclusive, que entenderam que a este problema existencial se circunscrevia toda a
humanidade (os filósofos chamados “existencialistas”, como Martin Heidegger e Jean
Paul Sartre).
– Ao lado desta aflição que é a certeza da morte física, temos, também, a dura realidade
das enfermidades, que nos acometem ao longo de nossa existência, tanto a justos como
a injustos. A enfermidade, que nos faz sentir a proximidade da morte física, apresenta-
se, pois, como outro drama biológico, que nos traz aflições.
– Não é, entretanto, a morte física a única consequência que temos em virtude do
pecado. O próprio Deus disse ao primeiro casal que haveria um relacionamento nada
fraterno entre os seres humanos, visto que eles estavam alijados do amor, que é o
próprio Deus (I Jo.4:8).
– Ao lado desta violência social, que causa traumas, cada vez mais intensos e
frequentes, eis que estamos no “princípio de dores”, onde esta violência aumenta
consideravelmente (Mt.10:35,36; 24:5,6; II Tm.3:1-4), temos, também, como resultado
a desigualdade social, a injustiça na distribuição da riqueza produzida, gerando a
exclusão social, a extrema carência de recursos materiais para a própria sobrevivência,
fazendo com que muitos se aflijam grandemente apenas para conseguir sobreviver a
cada dia, excluídos estes que são apresentados, na lei de Moisés, na figura das viúvas,
dos órfãos e dos estrangeiros.
– Cada uma destas aflições sempre estudadas durante este trimestre letivo, dificuldades
grandes que temos de enfrentar a cada dia mas que, estando em Cristo, venceremos pela
Sua graça.