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1.

A) INTRODUÇÃO AO TRIMESTRE

Iniciamos mais um trimestre letivo da Escola Bíblica Dominical, triImestre


“temático”, visto que estaremos a analisar as aflições desta vida terrena, que serve como
que complemento para o tema do primeiro trimestre, em que estivemos a verificar,
como os amados irmãos se recordam, a falácia da “teologia da prosperidade”.

Naquela ocasião, vimos que o mote “pare de sofrer” que alguns têm adicionado ao
Evangelho de Jesus Cristo não corresponde à realidade bíblica. Muito pelo contrário, as
Escrituras mostram-nos, com absoluta clareza, que ao justo, ao salvo está destinado
viver neste mundo sob o impacto de aflições e de sofrimentos, aflições e sofrimentos,
entretanto, que não são para comparar com a glória que será revelada a todos quantos
crerem em Jesus e permanecerem fiéis até o fim (Rm.8:18).

Por isso, aliás, de forma muito feliz, escolheu-se como subtítulo do tema deste
trimestre Salmo 34:19, onde Davi canta ao Senhor após ter passado por um dos
momentos mais angustiantes de sua vida, quando foi levado até Gate, a terra de Golias,
até a presença do rei Abimeleque, quando teve de se fazer de doido para não morrer.

Naquela oportunidade, Davi aprendeu uma lição que lhe seria valiosíssima em todo o
restante de sua vida, qual seja, a de que o Senhor nem sempre livra o justo DA aflição,
mas que Se faz companheiro, amigo e protetor NA aflição. Por isso, não podemos
esperar que a salvação em Cristo Jesus nos livre dos problemas desta vida, nem
tampouco das dificuldades, mas, sim, que venha a estar conosco para que, em tais
situações, sejamos vencedores e instrumentos para a glorificação do nome do Senhor.

A capa da revista deste trimestre traz-nos uma armadura típica dos soldados
romanos dos dias apostólicos, armadura esta que foi utilizada pelo apóstolo Paulo para
figurar a verdadeira batalha espiritual que se trava entre os salvos e as hostes espirituais
da maldade.

Em Ef.6:10-18, Paulo mostra a realidade de nossa peregrinação terrena, qual seja, a


de uma vida em que, apesar de estarmos em comunhão com o Senhor e, na verdade, por
causa disto, nos encontramos em intermitente conflito contra o diabo e seus anjos,
batalha esta que, inclusive, se estende tanto para o mundo, que se encontra no maligno
(I Jo.5:19), como para o nosso próprio interior, uma vez que, enquanto não passarmos
para a eternidade, livres ainda não estamos do “corpo desta morte”, ou seja, da natureza
pecaminosa, da carne, que quer nos fazer pender para a morte (Rm.7:18-24; Gl.5:16,17).

Por isso, o Senhor coloca à nossa disposição toda uma armadura, para que
sejamos vitoriosos neste embate contra o mal, a saber: o cinturão da verdade (que não
se encontra na ilustração), as couraça da justiça, os calçados na preparação do
evangelho da paz (que também não se encontra na ilustração), o escudo da fé, o
capacete da salvação e a espada do Espírito, que é a Palavra de Deus.

Todas estas armas, por fim, para poder ser bem utilizadas, dependem do “preparo
espiritual” do soldado, que é dado mediante a oração e a vigilância perseverantes.
Sem que estejamos com estas armaduras, jamais poderemos
vencer as inevitáveis aflições desta vida, como haveremos de verificar ao longo do
trimestre letivo.

Após uma lição introdutória, em que verificaremos que as aflições são inevitáveis na
vida do crente enquanto estiver neste mundo, analisaremos diferentes situações aflitivas.
Num primeiro bloco, que ocupa as duas primeiras lições, trataremos de “dramas
biológicos”, quais seja, a enfermidade (lição 2) e a morte (lição 3).

Em seguida, num segundo bloco, trataremos dos “dramas sociais”, quando


analisaremos os traumas da violência social (lição 4), as aflições da viuvez (lição 5) e a
carência econômica (lição 6).

Num terceiro bloco, estudaremos os “dramas familiares”, a saber: a divisão


espiritual no lar (lição 7) e a rebeldia dos filhos (lição 8).

O quarto bloco fala-nos dos “dramas materiais”, onde serão estudadas a angústia
das dívidas (lição 9) e a perda dos bens terrenos (lição 10).

O quinto bloco tratará dos “dramas de relacionamento”, quando estaremos a


meditar sobre a inveja (lição 11) e as dores do abandono (lição 12).

O sexto e último bloco, por fim, trará o estudo a respeito das condições necessárias
para a vitória sobre as aflições, ocasião em que aprenderemos sobre a verdadeira
motivação do crente (lição 13) e sobre a vida plena nas aflições (lição 14).

O comentarista deste trimestre é o pastor Eliezer de Lira e Silva, que já há


alguns anos comenta as Lições Bíblicas, pastor auxiliar nas Assembleias de Deus em
Curitiba/PR.

1. B) LIÇÃO 1 – NO MUNDO TEREIS AFLIÇÕES

Jesus só nos deu uma certeza em nossa vida terrena: as aflições.

INTRODUÇÃO

– Neste trimestre, estudaremos como vencer as aflições desta vida terrena.

– Jesus só nos deixou uma certeza em nossa vida terrena: as aflições.

I – A SALVAÇÃO NÃO ELIMINA AS AFLIÇÕES DA VIDA TERRENA

– Damos início a mais um trimestre letivo, trimestre este em que estudaremos como
vencer as aflições desta vida, quase que um complemento do primeiro trimestre deste
ano, quando verificamos o que é a verdadeira prosperidade bíblica, prosperidade esta
que não significa, em absoluto, imunidade contra as dificuldades desta vida.

– Quando verificamos o que o Senhor disse ao primeiro casal, por ocasião da sua queda,
a respeito do que significava a salvação, que Deus solenemente prometia providenciar
ao homem, bem percebemos que não se poderia, mesmo, conceber uma salvação que
livrasse o homem das agruras desta vida.

– O Senhor, no juízo que fez sobre o primeiro casal, foi bem claro ao afirmar que a
salvação representaria o restabelecimento entre a amizade entre Deus e o homem,
impossibilitada por causa do pecado, o que representaria, “ipso facto”, a inimizade com
a serpente, ou seja, com o maligno (Gn.3:15).

– A salvação implicaria em se pôr “inimizade entre o ser humano e a serpente”, ou seja,


o homem passaria a ser inimigo do diabo e, por conseguinte, inimigo do mundo, já que,
quem é amigo de Deus se torna inimigo do mundo (Tg.4:4). Por isso, o Senhor Jesus
disse que nada tinha com o príncipe deste mundo (Jo.14:30) e, se somos participantes da
natureza divina (I Pe.1:4), igualmente nada temos com ele, até porque o mundo está no
maligno (I Jo.5:19).

– Surge, pois, em virtude da salvação na pessoa de Jesus Cristo, uma dissociação,


um conflito entre o salvo e o maligno, circunstância esta que, de pronto, nos leva a
uma vida de conflito, de embate espiritual, uma luta contínua, intensa e incessante, o
que, por si só, impede que tenhamos sossego, tranquilidade ou uma situação de quietude
enquanto peregrinarmos nesta Terra.

– Jesus, mesmo, disse que, neste sentido, não tinha vindo para trazer paz para a terra,
mas, bem ao contrário, trouxera divisão e conflito, uma verdadeira guerra (Mt.10:34-36;
Lc.12:49-53), uma vez que a Sua vinda trouxe a possibilidade de salvação e resgate do
homem que, livre do maligno, passou a ser inimigo deste que, com todas as suas hostes
espirituais (Ef.6:12), tenta, de todas as formas, impedir que o salvo persevere até o fim e
alcance a glorificação.

– Este conflito, trazido pela salvação em Cristo Jesus, começa em nós mesmos, uma vez
que, com a salvação, nosso espírito é vivificado e, assim, passamos a dominar sobre a
natureza pecaminosa, a carne, que continua em nosso interior. Passa a existir, assim,
uma luta entre a carne e o espírito em nosso interior (Gl.5:16,17), luta incessante e que
somente findará quando passarmos para a eternidade.

– Esta constante luta, que se inicia no próprio interior do salvo em Cristo Jesus, é a
própria origem das aflições. “Aflição”, diz o Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa,
é “estado daquele que está aflito; sentimento de persistente dor física ou moral;
ânsia, agonia, angústia; profundo sofrimento”. Vem da palavra latina “afflictio,onis”,
cujo significado é “aflição, inquietação, opressão”. A raiz da palavra é “-flig-”, que
tem o sentido primordial de “bater, chocar, golpear”, mostrando, assim, que toda
“aflição” é um golpe, um ataque, algo que abala a estabilidade de alguém.

– Na maior parte das vezes, no Antigo Testamento, a palavra “aflição”, na Versão


Almeida Revista e Corrigida, é tradução da palavra hebraica “ ‘oniy” (‫)עני‬, cujo
significado é “problema”, “pobreza”, “miséria”. Já a palavra “aflições”, nas duas
vezes em que aparece nesta versão no Antigo Testamento, é tradução, em Sl.34:19 de
“ra’” (‫)רע‬, cujo significado é “mal, maligno, adversidade” (também traduzida por
“aflição” em outras passagens, como Sl.107:39) e em Sl.132:1, de “ ‘anah” (‫)ענה‬, cujo
significado é “aquilo que abate, humilha, intimida, amedronta” (em Hc.3:7, há uma
variação desta palavra traduzida por “aflição”, a saber, “ ‘aven” – ‫)אןז‬.
– Notamos, pois, que, no Antigo Testamento, a ideia de “aflição” está vinculada,
precisamente à ideia de um confronto, de uma oposição, de algo que se põe contra
alguém e que lhe traz abatimento, opressão e adversidade.

– Em o Novo Testamento, a palavra “aflição” ou “aflições” é tradução de duas palavras


gregas. A primeira, usada, v.g., em Mt.24:21 e em Jo.16:33, é “thlipsis” (θλιψις), cujo
significado é de “tribulação”, “aquilo que mói, que tritura”; a outra é “pathema”
(πάθεμα), usada, v.g., em Rm.8:18, com algumas variações, cujo significado é de
“sofrimento”. Ambas as palavras falam-nos, pois, de algo que se apresenta contra cada
um de nós, que nos constrange, que nos abate, que nos faz sofrer.

– Nas Suas últimas instruções, o Senhor Jesus foi claríssimo ao dizer que, neste mundo,
nós teríamos aflições (Jo.16:33). O Senhor poderia ter dito que, neste mundo, os salvos
seriam abençoados, curados, batizados com o Espírito Santo, mas, como Ele é a
verdade, a única coisa que nos garantiu, com absoluta certeza e de modo geral, é que os
salvos teriam aflições. Nem todos são curados, nem todos são batizados com o Espírito
Santo, mas, certamente, desde o instante em que recebemos a Cristo como nosso único e
suficiente Senhor e Salvador, passaremos a ter aflições neste mundo, visto que nos
tornamos inimigos do mundo e amigos de Deus.

– Por isso, o próprio Senhor Jesus disse que quando tudo estivesse bem em nossas
vidas, quando todos estivessem a dizer bem de nós, seria um momento para pararmos e
refletirmos sobre a nossa vida espiritual, pois isto será um sinal de que as coisas não
andam bem, visto que estaremos sendo tratados como os falsos profetas (Lc.6:26).

– Não estamos aqui a dizer que os salvos em Cristo Jesus devem ser masoquistas, ou
seja, desejarem sofrer, quererem o sofrimento. Jesus disse-nos que as aflições são
inevitáveis, não que devem ser desejáveis. Nenhum crente gosta de sofrer, nenhum
crente tem prazer na aflição, na angústia ou no sofrimento, mas não deve se esquecer
que, enquanto estiver neste mundo, não podemos esperar senão aflições, angústias e
sofrimentos. É uma realidade da qual não podemos escapar.

– Dizer que a salvação nos faz imunes a todo e qualquer sofrimento é uma
mentira e, como toda mentira, algo proveniente diretamente as hostes espirituais da
maldade, cujo chefe é o próprio pai da mentira (Jo.8:44). Somente haveremos de ficar
livres das aflições deste tempo presente quando nos encontrarmos com o Senhor nos
ares, quando, então, na glorificação, não mais teremos de sofrer.

– Não bastasse esta realidade de que a salvação não elimina as aflições desta vida
terrena, temos, também, de compreender que, com o pecado, toda a terra se tornou
maldita (Gn.3:17-19), maldição esta que a criação geme, aguardando a sua redenção
(Rm.8:19-22), redenção esta, entretanto, que somente advirá no reino milenial de Cristo.

– Deste modo, não há como esperarmos que se construa um “paraíso terrestre”, pois a
terra se encontra maldita pelo pecado e, deste modo, não pode nos trazer benesses nem
estar ao nosso lado em nosso embate espiritual. Pelo contrário, o próprio Deus a pôs a
terra como um adversário a se contrapor aos interesses humanos.

– A salvação não nos tira deste mundo. Apesar de salvos, disse-nos o Senhor Jesus,
continuamos neste mundo (Jo.17:11) e, inclusive, o Senhor não pede para que dele
sejamos tirados (Jo.17:15), sinal de que teremos de enfrentar todas as adversidades
existentes por causa da entrada do pecado.

– Embora resgatados do pecado, somos mantidos nesta terra que, para os salvos, passa a
ser, de modo consciente, “a terra de aflição e de angústia, donde vem a leoa, o leão, o
basilisco e a áspide ardente voadora”, cujos tesouros não nos pode aproveitar em coisa
alguma (Is.30:6). Mas é necessário que, para nosso próprio bem, aqui continuemos, para
que alcancemos a varão perfeito, a medida da estatura completa de Cristo (Ef.4:13).

II – O PAPEL DAS AFLIÇÕES DESTE TEMPO PRESENTE EM NOSSA VIDA


ESPIRITUAL

– Diante da realidade de que, neste mundo, teremos aflições, precisamos verificar como
elas são apresentadas nas Escrituras Sagradas, a fim de que possamos enfrentá-las
corretamente, vez que o Senhor nos garante a vitória sobre elas, garantia esta que está
bem demonstrada na Sua própria vitória sobre este mundo (Jo.16:33).

– A primeira vez que a Versão Almeida Revista e Corrigida fala em “aflições” é no


Sl.34:19, quando Davi afirma que “muitas são as aflições do justo, mas o Senhor o livra
de todas”. Devemos entender, nesta passagem que, como já dito na introdução supra, foi
proferida pelo salmista num momento extremamente angustiante de sua vida, não há
como fugirmos de muitas aflições.

– A vida do justo sobre a face da Terra é uma sucessão de aflições. Como costumava
dizer o saudoso pastor Walter Marques de Melo (1933-2012), “depois de uma
tempestade, vem outra tempestade” na vida do cristão. O apóstolo Paulo disse que a
vida do crente é “de fé em fé” (Rm.1:17), algo que somente é possível precisamente
porque, a cada instante de nossas vidas, temos de confiar em Deus para superar as
dificuldades e obstáculos que diuturnamente se apresentam em nossa caminhada rumo
ao céu.

– As aflições não são poucas. Diz a Bíblia que são muitas. Por isso, ainda mais quando
estamos a atravessar o período que Jesus denomina de “princípio de dores” (Mt.24:8),
ou seja, o tempo que já prenuncia o pior período da história humana, não é para
estarmos atrás de “sombra e água fresca”, mas, sim, tempo de termos consciência de
que atravessamos um período extremamente difícil, em que servir a Deus será cada dia
mais difícil e angustiante.

– No entanto, o Senhor também inspirou Davi para dizer que, apesar de serem muitas as
aflições do justo, o Senhor o livra de todas. Aleluia! Deus está conosco para nos garantir
o livramento. Jamais teremos de suportar sofrimentos, angústias ou adversidades
maiores que as que podemos suportar. O Senhor está conosco e tem condições de nos
manter libertos do pecado e do mal, garantindo que todas as dificuldades sempre
contribuirão para o nosso bem espiritual (Rm.8:28).

– Desta realidade, aliás, dá-nos testemunho o apóstolo Paulo, que, ao falar de todas as
suas aflições para o seu filho na fé, Timóteo, disse, sem qualquer dúvida, que o Senhor
o havia livrado de todas elas (II Tm.3:11) e, por isso mesmo, concitava aquele jovem
obreiro a não ter medo, mas, antes, assumir que, como evangelista que era, deveria
igualmente sofrer aflições em sua peregrinação terrena (II Tm.2:3; 4:5).
– O justo não fica imune às aflições, mas, se se mantiver justo, ou seja, se se mantiver
obediente ao Senhor, temente a Deus e guardador da Sua Palavra, certamente será
liberto das dificuldades, será vencedor nos embates contra o maligno, porque o Senhor
assim o prometeu. Por isso, o salmista podia dizer: “Olha para a minha aflição e livra-
me, pois não me esqueci da tua lei” (Sl.119:153). Crê nisto, amado(a) irmão(ã)? Se sua
fé não é suficiente para crer nesta promessa, ore como os discípulos do Senhor:
“Acrescenta-nos a fé” (Lc.17:5 “in fine”). E, muitas vezes, a fé é aumentada através da
aflição, como vemos no caso de Israel (Ex.4:31).

– No Sl.132:1, o salmista, na vinda da arca para Jerusalém, num momento de júbilo e de


alegria, inicia seu cântico com uma assertiva até certo ponto intrigante: “Lembra-Te,
Senhor, de Davi e de todas as suas aflições”. Mesmo num instante grandioso em que o
rei Davi levava a arca para Jerusalém, voltando a fazer o povo de Israel a pôr no centro
de sua vida o culto ao Senhor, depois de tantos anos de menosprezo, o salmista (que
bem pode ter sido o próprio Davi), pede ao Senhor que Se lembrasse de Davi e de todas
as suas aflições.

– As aflições, como se percebe, têm um caráter pedagógico importantíssimo, qual


seja, o de impedir que o homem, nos momentos felizes de sua vida sobre a face da
Terra, entenda que é um deus, que é dotado de poderes extraordinários, que independe
de Deus. Este sentimento, insuflado no gênero humano pelo próprio Satanás (Gn.3:4,5),
é uma das grandes armadilhas que fazem com o que o homem venha a se perder
eternamente.

– No momento de júbilo e glória, Davi é lembrado, no salmo que era entoado enquanto
se levava a arca a Jerusalém, que tinha passado por muitas aflições, mas que estava
naquela situação favorável por causa exclusivamente da mão do Senhor. As aflições
permitem-nos revigorar a memória e lembrar quem somos e que, sem o Senhor, nada
podemos fazer (Jo.15:5 “in fine”). É precisamente o que diz o salmista no Sl.119,
quando afirma que foi bom ter sido afligido, pois isto fez com que ele guardasse a
Palavra e aprendesse os Seus estatutos (Sl.119:67,71). Não é por outra razão, também,
que o escritor aos hebreus rememora àqueles crentes, que estavam titubeantes quanto ao
prosseguimento na jornada da fé, do seu passado de grande combate de aflições
(Hb.10:32).

– Por isso, aliás, o Senhor mandou que Israel celebrasse anualmente a páscoa com ervas
amargas e pães asmos, símbolo da aflição que passaram no Egito (Nm.9:11; Dt.16:3),
para que, na Terra Prometida, jamais viessem a se esquecer que tinham sido escravos no
Egito (Dt.24:18,22), lembrança, inclusive, que os levaria a ter um tratamento digno ao
órfão, à viúva e ao estrangeiro. Na nova aliança, não é diferente, pois temos sempre de
comemorar a morte do Senhor, para nos lembrarmos das Suas aflições, aflições estas
que nos deram a salvação (Lc.22:19; I Co.11:24,25).

– A aflição, muitas vezes, é o remédio usado por Deus para levar os homens ao
arrependimento de seus pecados e à conversão (I Rs.8:35; Sl.25:18). Por intermédio
da aflição, o Senhor faz-nos lembrar dos compromissos que com Ele assumimos e, deste
modo, afigura-se como uma oportunidade que temos de nos arrepender e de voltarmos
aos Seus pés (Sl.38:18).
– Esta é a razão pela qual Moisés, em seu salmo, pede ao Senhor que nos alegre pelos
dias em que fomos afligidos (Sal.90:15), pois as aflições revelam a fidelidade do
Senhor, ou seja, o Seu compromisso de nos fazer o melhor (Sl.119:75). Que jamais
caiamos na mesma situação dos ninivitas que, por sua grande impiedade, não seriam
mais afligidos pelo Senhor (Na.1:12) e, por causa disto, foram inteiramente destruídos.
Que Deus nos guarde, amados irmãos!

– As aflições apresentam-se, também, como uma forma de nos levar nossa mente e
coração ao exemplo de Jesus. Quando o Senhor nos disse que, no mundo, teríamos
aflições, também disse que para que tivéssemos bom ânimo porque Ele havia vencido o
mundo (Jo.16:33).

– Através das aflições desta vida, somos levados a observar, com mais cuidado, o
exemplo de Jesus e isto só nos faz bem em nossa vida espiritual, visto que devemos,
neste mundo, olhar para Jesus, autor e consumador da nossa fé (Hb.12:2). As aflições
não permitem que nos distraiamos e percamos o foco de nossa vida espiritual, o que é
uma grande bênção para todos os que estão caminhando para o céu.

– Quando somos afligidos, a fim de ganharmos forças para vencermos, temos de olhar
para o Senhor Jesus e, assim, lembrando que Ele venceu o mundo, adquirimos o
necessário bom ânimo para também enfrentarmos as dificuldades e, por conseguinte,
pela graça de Deus, vencê-las em nome do Senhor.

– Neste passo, aliás, as aflições fazem-nos sentir que, realmente, vivemos, já neste
mundo, em comunhão com o Senhor, pois passamos a participar, inclusive, das Suas
aflições (Fp.3:10; Cl.1:24). Ao sofrermos como Ele sofreu, temos mais um alento: a de
que também seremos glorificados, como Ele foi glorificado (Rm.8:17). Por isso, os
apóstolos se regozijaram quando se viram dignos de sofrer afronta pelo nome de Jesus
(At.5:41), algo que também ocorreu com Paulo (Cl.1:24) e que deve também ocorrer
conosco, como nos ensina o apóstolo Pedro (I Pe.4:13).

– As aflições, ainda, promovem o desencantamento do mundo e introduzem o anelo


pelo lar celestial. O apóstolo Paulo diz que as aflições deste tempo presente não são
para comparar com a glória que em nós há de ser revelada (Rm.8:18). Assim, quando
sofremos neste mundo, deixamos de tê-lo como algo atraente, algo desejável e
começamos a entender que, neste mundo, nada há de tão bom que nos permita trocá-lo
por aquilo que o Senhor Jesus tem nos prometido.

– Diante de um colorido cada vez mais intenso do mundo, com suas atrações, as aflições
permitem-nos lembrar que tudo aqui é ilusão, que este mundo é um mundo de ilusões e
que a verdade está reservada para nós no lar celestial para onde estamos caminhando.
Não fossem as aflições desta vida, certamente seríamos seduzidos por este mundo e
perderíamos a nossa salvação.

– Um exemplo disso temos na vida de José. O Senhor fê-lo passar por muitas aflições
no Egito para que, quando se tornasse governador daquela terra, não a desejasse. Assim
é que, ao ter seu segundo filho, José deu-lhe o nome de “Efraim”, que significa
“aumento”, “crescimento”, porque reconheceu que Deus o fizera crescer na terra da sua
aflição (Gn.41:52), mas agora governador do Egito, nem por isso passou a desejar
aquele lar, a ponto de ter feito seus irmãos jurarem que levariam seus restos mortais
para a terra de Canaã (Gn.50:25). As aflições têm o condão de nos fazer desprender das
coisas desta vida e foi esta uma das razões pelas quais sobreveio a aflição sobre Israel
no Egito, para que os israelitas tivessem o mesmo sentimento que José tivera (Ex.3:17).

– Mas as aflições também nos permitem desfrutar do consolo divino. Assim como
nós sofremos as aflições, também, por causa delas, temos acesso à consolação divina (II
Co.1:5-7). São as aflições que nos permitem sentir a companhia de Deus, a Sua
presença em nós através d’Aquele que sempre está ao nosso lado, o Espírito Santo. São
as aflições que nos permitem experimentar que Jesus cumpriu a Sua promessa de não
nos deixar órfãos (Jo.14:18).

– As aflições permitem-nos, também, lembrar da humanidade de Cristo Jesus e, deste


modo, fazer-nos com que nos aproximemos mais ainda d’Ele, compreendendo que tudo
que passamos, Ele também passou, com o fim de ser o Príncipe da nossa salvação
(Hb.2:10).

– Ao passarmos pelas aflições desta vida, temos a oportunidade de olhar para Cristo e
vê-l’O não só como autor e consumador da nossa fé, mas como alguém que também
participou de todas as aflições deste mundo e foi vencedor e que, portanto, nos entende,
nos compreende e nos ajuda a superar todas as dificuldades. Esta experiência da
companhia e da presença do Senhor junto a nós nesta peregrinação terrena é sentida,
ainda na antiga aliança, pelo salmista (Sl.22:24; 31:7; 106:44).

– As aflições permitem-nos sentir a humanidade de Cristo, o que nos é fundamental pois


é como homem que o Senhor Jesus é nosso mediador diante do Pai (I Tm.2:5). Pelas
aflições, desfrutamos daquela comunhão direta com o Senhor e a experimentar a Sua
intercessão diante do Pai. Por isso, aliás, não têm razão alguma os romanistas quando
dizem que é preciso requerer a intercessão de santos ou de Maria, como “ajuda” a
chegarmos a Cristo, visto que as aflições nos fazem conformes à morte do Senhor, nos
aproximam d’Ele, pois Ele não é um inacessível e alguém que não nos pode entender,
visto que, nas aflições, Ele é coparticipante de tudo quanto estamos a sofrer, pois Ele
tudo padeceu para este mesmo fim. Aleluia!

– As aflições, ainda, fornecem autoridade aos ministros na casa do Senhor. Pedro


identificou o presbítero como aquele que era “testemunha das aflições de Cristo e
participante da glória que se há de revelar” (I Pe.5:1). Um obreiro é, antes de mais nada,
alguém que foi devidamente experimentado nas aflições, para, através delas, mostrar o
seu testemunho, que se constituirá em sinal de sua autoridade diante dos irmãos.

– Um dos grandes problemas que encontramos nas igrejas locais, na atualidade, é a


presença de obreiros que ainda não experimentaram as aflições deste mundo, que não
foram devidamente provados para, então, ser aprovados para o ministério, como, aliás,
exige a Palavra de Deus (I Tm.3:10). Hoje em dia, há um sem número de neófitos, ou
seja, pessoas que são espiritualmente imaturas, novatos, que ainda não foram
devidamente provados pelas aflições deste mundo, a fim de que demonstrem o seu
testemunho e, desta maneira, tenham condições de estar à frente do rebanho do Senhor.
É preciso sermos purificados e provados na fornalha da aflição (Is.48:10)!

– As aflições, por fim, também permitem o desenvolvimento da nossa vigilância


espiritual. São elas que nos permitem perceber que o maligno está a nos enfrentar, que
estamos numa batalha espiritual e que, portanto, não podemos pestanejar, não podemos
dormir, pois corremos risco de sermos mortos se assim agirmos.

– Por esta razão, o apóstolo Pedro disse que, ao percebermos a aproximação do diabo
que, como leão, vem bramando buscando a quem possa tragar, devemos resistir-lhe
firmes na fé, sabendo que as mesmas aflições se cumprem entre os irmãos no mundo (II
Pe.5:9).

– Esta vigilância não só nos faz ficar alerta com relação ao inimigo, como também nos
traz a consciência de que somos o corpo de Cristo e que, portanto, tudo que estamos a
passar é também algo que os demais irmãos estão a sofrer. As aflições, desta maneira,
produzem em nós um sentimento de fraternidade, de amor fraternal, que é um
sentimento fundamental para que tenhamos crescimento espiritual, visto que só há como
crescermos espiritualmente quando os crentes mutuamente se ajudam e se relacionam.

– Este crescimento espiritual, inclusive, decorre da própria aflição do irmão, pois,


quando o vemos suportar todas as adversidades com fidelidade e paciência, isto também
nos encoraja a seguirmos um tal exemplo, temos um fortificante espiritual para as
nossas próprias vidas, como, aliás, os tessalonicenses produziram no apóstolo Paulo (II
Ts.1:4).

III – AS AFLIÇÕES DESTE TEMPO PRESENTE

– Assim que o homem ingressa neste mundo, passa ele por aflições, uma vez que o
pecado entrou neste mundo (Rm.5:12) e o homem não foi feito para pecar. Antes
mesmo que o ser humano venha a respirar o ar deste planeta, ele já sente “o cheiro de
morte” exalado pelo sistema maligno que acorrenta a humanidade(II Co.2:16) e passa
por aflições e dificuldades em virtude do pecado. Basta vermos a escalada satânica em
prol do assassinato de seres humanos antes mesmo de seu nascimento, como a
destruição de ovos (por meio das “pílulas do dia seguinte”), de embriões humanos
(através da permissão de pesquisas com células-tronco embrionárias) ou de fetos
(através do aborto), sem falar nas más formações a que todos estamos sujeitos uma vez
concebidos.

– O primeiro drama, pois, que se apresenta ao ser humano é o que poderíamos chamar
de “dramas biológicos”. Feitos para viver eternamente e ter saúde perfeita, por causa do
pecado, nosso tempo de vida torna-se “tempo que falta para morrer”, pois somos
destinados ao pó de onde fomos tirados (Gn.3:19). Destarte, vivemos sempre sob o
problema existencial da morte, que nos causa, à evidência, aflição, já que não foi para
morrermos que fomos criados. É tanta esta angústia trazida que houve filósofos,
inclusive, que entenderam que a este problema existencial se circunscrevia toda a
humanidade (os filósofos chamados “existencialistas”, como Martin Heidegger e Jean
Paul Sartre).

– Ao lado desta aflição que é a certeza da morte física, temos, também, a dura realidade
das enfermidades, que nos acometem ao longo de nossa existência, tanto a justos como
a injustos. A enfermidade, que nos faz sentir a proximidade da morte física, apresenta-
se, pois, como outro drama biológico, que nos traz aflições.
– Não é, entretanto, a morte física a única consequência que temos em virtude do
pecado. O próprio Deus disse ao primeiro casal que haveria um relacionamento nada
fraterno entre os seres humanos, visto que eles estavam alijados do amor, que é o
próprio Deus (I Jo.4:8).

– Por isso, em razão do pecado, os homens odeiam-se mutuamente, pensam somente em


si próprios, são egoístas e, como se verificou logo no limiar da história da humanidade
decaída, não pensam duas vezes em eliminar o seu irmão (Gn.4:8). Por isso, logo o
homem se vê afligido, também, pela violência social, pelo conflituoso relacionamento
com o próximo, que faz gerar um sem número de barbaridades, como inimizades,
porfias, emulações, iras, pelejas, dissensões, homicídios, parte das chamadas “obras da
carne”, descritas exemplificativamente pelo apóstolo Paulo em Gl.5:19-21.

– Ao lado desta violência social, que causa traumas, cada vez mais intensos e
frequentes, eis que estamos no “princípio de dores”, onde esta violência aumenta
consideravelmente (Mt.10:35,36; 24:5,6; II Tm.3:1-4), temos, também, como resultado
a desigualdade social, a injustiça na distribuição da riqueza produzida, gerando a
exclusão social, a extrema carência de recursos materiais para a própria sobrevivência,
fazendo com que muitos se aflijam grandemente apenas para conseguir sobreviver a
cada dia, excluídos estes que são apresentados, na lei de Moisés, na figura das viúvas,
dos órfãos e dos estrangeiros.

– Nesta mesma linha, há de se acrescentar a estes fatores criadores de aflições a angústia


decorrente das dívidas, que já eram fator de desestabilização das pessoas na antiguidade,
quando elas, inclusive, perdiam a liberdade por causa do inadimplemento de suas
obrigações civis, como também a perda dos bens terrenos, notadamente quando se
coloca nestes bens a sua esperança e confiança.

– O pecado, também, ingressa como uma motoniveladora de alta capacidade de


destruição sobre a família, esta obra-prima de Deus, que, por ser uma criação divina, é
alvo especial das hostes espirituais da maldade que comandam o sistema maligno
mundano. Assim, às aflições já existentes se somam a questão da divisão espiritual no
lar e a rebeldia dos filhos.

– Como se isto fosse pouco, em decorrência deste egocentrismo decorrente do pecado,


ainda se tem o problema terrível da inveja, que causou, aliás, o primeiro homicídio da
humanidade e cujo efeito deletério é tanto que a própria Bíblia diz que se trata de
“podridão dos ossos” (Pv.14:30).

– Cada uma destas aflições sempre estudadas durante este trimestre letivo, dificuldades
grandes que temos de enfrentar a cada dia mas que, estando em Cristo, venceremos pela
Sua graça.

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