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EMENTA
Estudo do pensamento pedagógico e da prática metodológica do ensino da Educação Física como
componente curricular da educação básica e do ensino médio. Estudo das abordagens político-
pedagógicas da Educação Física e suas interfaces com o campo do Planejamento e da metodologia
do ensino. Analisa propostas metodológicas produzidas nesta área e suas possibilidades de
materialização na vida escolar.
JUSTIFICATIVA
Ao abordar os fundamentos teórico-filosóficos e metodológico-pedagógicos do ensino da Educação
Física, o componente curricular apresenta as bases para a observação, a crítica sistemática, bem
como para a intervenção político-pedagógica no âmbito escolar, em articulação, tanto com os
componentes curriculares da área pedagógica, bem como com os estágios curriculares do curso de
graduação em Educação Física, necessários à qualificação do estudante para o exercício da
profissão docente.
OBJETIVOS
GERAL
Compreender, refletir, analisar e utilizar em caráter introdutório, as bases metodológicas do
ensino da Educação Física Escolar na educação básica e o ensino médio.
ESPECÍFICOS
1. Estudar as diferentes abordagens pedagógicas da educação física e suas respectivas
matrizes teórico-metodológicas.
2. Refletir sobre a educação física como componente curricular à luz das metodologias
propostas, seus limites e possibilidades em um projeto crítico de educação.
3. Conhecer experiências sistematizadas de ensino da Educação Física e refletir sobre suas
contribuições no campo da didática da Educação Física.
O que é Metodologia?
A Lógica, como parte da Filosofia, trata do estudo dos princípios, das diretrizes e das regras
do “bem pensar” lógico, do “pensamento correto” dos pontos de vista filosófico e científico.
1) Conhecer, desvendar e compreender as lógicas racionais que regem cada método, visando a sua
classificação, de acordo com características lógicas e epistemológicas2.
Entretanto, vale lembrar aqui que nem todo ser humano consegue alcançar ao longo de sua vida
e por diversos motivos, como a própria falta de educação filosófica, o devido conhecimento
crítico, da sua própria concepção de mundo, tornando-se assim, de alguma forma, alienado por
desconhecer a “essência” das coisas que, de fato, dão sentido e significado àquilo que se pensa e
1
Importante lembrar aqui que para a filosofia, o termo conhecimento diz respeito originalmente, à propriedade
natural de todo ser vivo para “internalizar”, processar e responder aos estímulos da realidade externa e orgânica (do
ser) por meio de mecanismos sensoriais e perceptivos destinados à aprendizagem e adaptação a essa mesma
realidade para garantir, em última instância, a sobrevivência da espécie. Na escala dos seres vivos, somente o ser
humano tornou-se capaz de transformar esta propriedade natural em um processo autoconsciente do qual derivaram
o saber comum e os níveis de consciência filosófica e científica, todos estes, produtores da cultura humana.
2
A epistemologia faz parte da Filosofia. Do grego “episteme”, aborda e classifica as teorias ou abordagens de
conhecimento criadas para conhecimento da realidade natural e social, nos âmbitos da Filosofia e da Ciência.
Exemplos de abordagens filosóficas: Religião, Positivismo, Liberalismo, Neoliberalismo, Anarquismo e Socialismo.
Exemplos de abordagens científicas: Positivismo, Estruturalismo, Materialismo dialético, Fenomenologia e
Psicanálise. Os métodos nas ciências ainda podem ser divididos pela natureza da pesquisa, seja esta qualitativa ou
quantitativa.
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se faz cotidianamente, tanto do ponto de vista moral (dos costumes humanos) quanto ético
(associado às relações e resultados alcançados no mundo do trabalho).
Dessa forma e fundamentada nos dois pontos acima citados, a Metodologia dedica-se ao
estudo da concepção, lógica, princípios e estrutura dos Métodos criados pela humanidade como
“caminhos” para a realização de ações racionais, moral e eticamente fundamentadas, destinadas a:
c) Decifrar enigmas ou mistérios dos fenômenos naturais por meio da prática da pesquisa
em todos os âmbitos da ciência.
“O método tem como fim disciplinar o espírito, excluir de suas investigações o capricho e o acaso,
adaptar o esforço a empregar segundo as exigências do objeto, determinar os meios de investigação
e a ordem da pesquisa. Ele é, pois, fator de segurança e economia. Mas não é o suficiente a si
mesmo, e Descartes exagera a importância do método, quando diz que as inteligências diferem
apenas pelos métodos que utilizam. O método, ao contrário, exige, para ser fecundo inteligência e
talento. Ele lhes dá a potência, mas não os substitui jamais” 3.
Tal como apresentado no item anterior, todo bom trabalho metodológico começa com o
reconhecimento de uma dada concepção social de mundo a qual proporcionará os fundamentos
essenciais para iniciar o caminho de sua construção e implementação tanto na esfera da filosofia, da
ciência quanto da educação.
Nesse sentido, uma concepção social de mundo, constitui o que chamamos tradicionalmente
de uma filosofia. Contudo, a expressão possui um significado mais amplo do que o termo filosofia 5.
3
Do método em geral. Noção do método. Disponível em:
<http://www.consciencia.org/cursofilosofiajolivet7.shtml>. Acesso: 10 abr. 2015.
4
Fonte: “LEFEBVRE, H. Marxismo. São Paulo: L&PM, 2010.
5
Lefebvre, Henri. Le marxisme. París: Presses Universitaires de France, 1955.
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É uma representação simbólica de uma dada realidade que inclui a identificação e descrição
crítica dos conceitos, valores (princípios), ideologias e outras formas de conhecimento e práticas
sociais, inseridos e condicionados historicamente pela cultura.
Toda concepção de mundo tem a sua gênese nos processos de interação social, heterônoma e
autônoma, do sujeito nos seus diferentes contextos de vida onde constrói, desde seu senso comum
até a sua consciência filosófica, caso este tipo de consciência seja adquirida e ampliada pela
educação por meio do estudo, reflexão sistemática e a práxis dos conhecimentos religiosos,
científicos e/ou filosóficos adquiridos.
A concepção cristã:
Fundada no idealismo filosófico, foi formulada com a máxima clareza e o máximo rigor
pelos grandes teólogos católicos, onde reduzida a sua essência, a mesma defini-se através da
conceituação de uma hierarquia estática de seres de atos, de “valores”, de “formas” e de pessoas.
No topo desta escala, ergue-se o Ser Supremo, o Espírito Puro, o Senhor Deus.
Esta concepção, que tenta proporcionar uma visão conjunta do universo, foi enunciada em
toda a sua amplitude e em todo o seu rigor na Idade Média. Concepção medieval do mundo que,
ainda hoje, se apresenta como válida em várias doutrinas ou correntes teológicas associadas à igreja
católica ou a grupos protestantes.
A orientação pedagógica provocada por esta concepção ao longo da história foi responsável,
dentre outros aspectos pela criação de escolas e até universidades administradas pela Igreja.
Pautadas sempre por uma educação moral associada a preceitos religiosos cristãos estes foram
agrupados com o tempo de forma indissociável a três grandes princípios sociais: família, tradição e
propriedade.
6
Idem, 1955.
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Estes três princípios relacionam-se ideologicamente com os interesses e valores constituídos
em cada modo de produção, tanto na idade média quanto na modernidade de orientação
burguesa/liberal uma vez que a igreja também tem propriedades e negócios, inclusive bancos no
Vaticano da atualidade. Mecanismos estes, necessários à sobrevivência dessa instituição.
Entretanto, desde o século XX, segmentos da igreja que não aderiam às vertentes das igrejas
protestantes (evangélica) nem de orientação espírita, e que decidiram lutar por reformas por dentro
dela, originaram uma vertente progressista denominada Teologia da Libertação. Frades defensores
dessa teologia no Brasil como Frei Betto e Leonardo Boof chegaram a ser penalizados pelo
Vaticano por contrariar deliberações tradicionais da igreja em relação à forma como deveriam ser
tratados os segmentos historicamente marginalizados da sociedade.
Por outro lado, na atualidade, escolas de ensino infantil e fundamental administradas por
ordens religiosas, vêm atualizando os seus currículos de acordo com as exigências do Ministério da
Educação e utilizando-se de propostas construtivistas de orientação piagetiana, porem sem abrir
mão dos preceitos religiosos que defendem: família, tradição e propriedade.
Situação esta, que também pode ser encontrada em escolas de orientação Evangélica, com a
diferença de que estas seguem os seus próprios fundamentos e práticas religiosas. E, no que diz
respeito à Educação Física, esta tem reproduzido nessas escolas o ensinamento de valores
religiosos, por meio do estabelecimento muito claro de uma relação dicotomizada de corpo e alma
ou espírito, onde o corpo deve ser ensinado, em termos gerais, a se disciplinar em harmonia com a
alma para resistir aos “pecados e às tentações da carne”.
As Comunidades Eclesiais de Base (CEB) são comunidades inclusivistas ligadas principalmente à Igreja Católica que,
incentivadas pela Teologia da Libertação após o Concílio Vaticano II (1962-1965) se espalharam principalmente nos
anos 1970 e 80 no Brasil e na América Latina. Consistem em comunidades reunidas geralmente em função da
proximidade territorial e de carências e misérias em comum, compostas principalmente por membros insatisfeitos das
classes populares e despossuídos, vinculadas a uma igreja ou a uma comunidade com fortes vínculos, cujo objetivo é a
leitura bíblica em articulação com a vida, com a realidade política e social em que vivem e com as misérias cotidianas
com que se deparam na matriz ordinária de suas vidas comunitárias. Utilizando o método ver-julgar-agir buscam olhar
a realidade em que vivem (ver), julgá-la com os olhos da fé (julgar) buscando nunca perder de vista o dom da tolerância
e o dom da caridade [...] para encontrar caminhos de ação e contemplação, mesmo que impulsionados por este mesmo
juízo prático ou teórico à luz da fé (agir).
Durante quase quatro séculos, até os nossos dias, inúmeros “pensadores” formularam ou
reafirmaram, com múltiplas nuanças, tal concepção. Entretanto, nada acrescentaram aos seus traços
fundamentais:
a) O indivíduo é indivisível (não se divide) por natureza. Age por interesse de acordo com
a sua conveniência, pois a natureza e a sociedade exigem luta pela sobrevivência dos
mais aptos. Daí que a competição, isto é a prática da conquista de metas que não podem
ser alcançadas por todos, por motivos diversos, constitui o “motor” do desenvolvimento
individual e social.
Concepção de Indivíduo: Individualista – O ser humano é por natureza indivisível. Não se divide
e, portanto, não compartilha, aprende a agir por conveniência, sendo a competição o “motor”, o
estímulo para o desenvolvimento pessoal e a sobrevivência.
Felicidade: Conquista de direitos e bens de consumo por meio do próprio esforço pessoal numa
sociedade desigual e competitiva por natureza, para satisfação de aspirações pessoais e
profissionais. Suas expressões radicais encontram-se no narcisismo (culto do eu) e na corpolatria
(culto ao corpo).
Por esse motivo central, este tipo de educação sempre foi pautada por abordagens
metodológicas de tipo conteudista, cientificamente neutras no que diz respeito à formação política
Historicamente, vale lembrar aqui, que a educação orientada pela concepção de mundo
individualista, nunca teve interesse formal para que as classes subalternas tivessem acesso a
educação escolarizada durante muitos séculos, motivo pelo qual, em países como o Brasil, este
direito foi resultado de muita luta da classe trabalhadora principalmente organizada em sindicatos
de trabalhadores. Portanto, a Educação pública para as camadas subalternas, nunca foi resultado de
uma concessão do Estado capitalista/burguês. Ela foi e continua a ser fruto de conquistas dos
movimentos populares que até os dias atuais continuam a lutar por qualidade da educação pública
por meio da valorização efetiva do educador, de uma educação emancipatória para os estudantes,
vagas para todos e todas e superação da contínua precarização das instalações das unidades
escolares em todo o país em praticamente todos os níveis de ensino.
Esta concepção recusa estabelecer uma hierarquia exterior aos indivíduos (metafísica 7): de
outro lado, porém, não se encerra como o individualismo, na consciência do indivíduo e no exame
desta consciência isolada. A dialética materialista toma consciência de realidades que escapam ao
exame de consciência individualista: são as realidades naturais (a natureza, o mundo exterior) –
sociais (o trabalho, a convivência humana etc.).
Tampouco admite a hipótese de uma harmonia espontânea nas realidades natural e social
uma vez que constata e denuncia as contradições, conflitos e antagonismos entre os seres humanos e
a sociedade decorrentes da prática da concepção individualista de mundo.
Por exemplo, os interesses individuais (privados) podem opor-se, e opõem-se amiúde, aos
interesses comuns. Objetivamente: as paixões dos indivíduos e, sobretudo, as de certos grupos ou
classe (por conseguinte, os seus interesses) nem sempre se conciliam espontaneamente com a razão,
com o conhecimento, a ciência e a necessidade de superação de condicionamentos econômicos e
sociais que somente contribuem com a perpetuação de privilégios de classe, da pobreza e a
impossibilidade da inclusão social e econômica da grande maioria
Portanto, para esta concepção, em termos gerais, não existe a harmonia que os grandes
individualistas, como Rousseau, julgaram descobrir entre o ser humano e natureza. Esta harmonia é
fruto e criação de interesses de classe, pois na realidade, o ser humano luta contra a natureza e não
deve permanecer passivamente ao nível dela, mas deve contemplá-la para conhecê-la, vencê-la,
dominá-la por meio do mundo do trabalho, da técnica e do conhecimento cientifico, para
sobreviver.
Entretanto a luta contra a natureza não se reflete diretamente na sociedade, pois esta
concepção pode ser transformada por uma prática solidária, equitativa de desenvolvimento social
para todos e todas, sem privilégios e distinções sociais de qualquer natureza para alguns, em
detrimento da grande maioria, daí que a concepção de mundo emancipatória é BIOCENTRICA.
Mundo organizado e estruturado por meio do planejamento mundial da economia e da produção
com preservação total do meio ambiente para viabilizar distribuição equitativa de bens e serviços
para todos e todas, sem distinções, cuja finalidade é colocar fim a todo tipo de exploração;
superação total da pobreza e iguais oportunidades para conquista da felicidade.
7
O termo “metafísica” assume para o materialismo dialético, um sentido pejorativo que comporta uma crítica ao
significado “clássico” desta palavra.
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Alteridade: Do latim Alter [amigo] - Estado ou qualidade do reconhecimento do outro, do distinto
ou diferente. Oposto do individualismo constitui a práxis de colocar-se no lugar do outro durante
as relações interpessoais respeitando e valorizando as diferenças individuais, econômicas e
socioculturais. Parte do pressuposto dialético de que todo ser humano e histórico e interdependente
dos outros para desenvolver-se como tal. Sem a alteridade é impossível exercer a cidadania crítica e
participativa orientada para refletir e construir o mundo para além da exploração capitalista por
meio de relações efetivamente democráticas, pacíficas e construtivas.
Na prática esta vertente avança muito lentamente, devido a fatores tais como:
1. A resistência política a sua prática por parte da Educação oficial e a classe dominante que
continuam a não estar interessadas em que as classes populares possam se formar
criticamente para que estas possam desempenhar um papel fundamental na transformação
econômica e política da sociedade e das pessoas.
8
MUÑOZ PALAFOX, G. H. Sentido/significado da Educação Física no mundo contemporâneo e suas implicações na
Formação profissional. Anais. X Congresso sobre Questões Curriculares e VI Colóquio Luso-Brasileiro de Currículo,
realizado na cidade de Belo Horizonte, 2012.