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Uma Melodia Punk Sobre A Reforma Prisional1

A Punk's Song About Prison Reform


2
James E. Robertson
(Trad. Thiago Pádua)

Resumo: O presente artigo critica as reformas prisionais da perspectiva de um


“Jailhouse Punk” – que nas prisões americanas é um detento que assume o papel
“feminino” submisso na subcultura prisional. A vida institucional de um Punk revela
um sistema de opressão de gênero que funciona largamente à margem do Estado de
Direito. Seguindo-se à introdução, a Parte 2 examina o local da dominação masculina: a
prisão subterrânea. A Parte 3, por sua vez, demonstra que três atributos de gênero do
legalismo liberal impedem o escrutínio judicial da prisão subterrânea. A Parte 4
examina a política do estupro prisional, bem como dois pertinentes instrumentos
legislativos federais, o “Prison Litigation Reform Act” de 1996, e o “Prison Rape
Elimination Act”, de 2003. A Parte 4 observa a “segunda” Constituição de George
Fletcher como uma espécie de guia. Ela acolhe valores públicos similares àqueles
alcançados pela jurisprudência feminista. Tais valores podem informar um novo regime
prisional, de um tipo que impeça a opressão através do meio social vinculado à virtude
cívica. Conclui-se na sequência.
Palavras-Chave: Estupro prisional; Reforma das Prisões; Leis e Casos Judiciais;
Abstract: This article critiques prison reform from the perspective of a "jailhouse
punk"-a male inmate who assumes a submissive "female" role in the inmate subculture.
A punk's institutional life reveals an oppressive gender system that functions largely

1
Publicado originalmente pelo autor James E. Robertson, com o título “A Punk Song About Prison
Reform”, na “Pace Law Review, 527, (2004). Autorização para tradução e publicação concedida em 21
de setembro de 2015. Tradução realizada por Thiago Aguiar de Pádua, ex-assessor de ministro do STF,
doutorando e mestre em Direito (UniCEUB), Pesquisador do Centro Brasileiro de Estudos
Constitucionais (CBEC) e Bolsista Capes. Advogado e Professor. E-mail: tsapadua@gmail.com. As
notas do tradutor são inseridas em nota de rodapé precedidas da referência NT em negrito. Tradução
realizada a partir da reorientação do paradigma da equivalência para o paradigma da contextualização,
especialmente com base nos estudos de Yves Gambier e Gregory Rabassa. Agradeço à leitura prévia da
tradução por Bruno Amaral Machado, Rafael Arcuri e Miguel Bezerra, e todas as valiosas sugestões que
fizeram. Foi publicada uma versão anterior (ligeiramente diferente da atual) no livro “Quotidianos”.
Cfr. BIZZOTTO, Alexandre; SILVA, Denival Francisco da; OLIVEIRA, Tiago Felipe. (Org).
QUOTIDIANUS: A Criminalização nossa de cada dia. Foz do Iguaçu: Intelecto, 2016.
2
James E. Robertson é Bachelor of Arts (Phi, Beta Kappa magna cum laude pela Faculdade de Direito da
Washington University, 1972), Juris Doctorate (Faculdade de Direito da Washington University, 1975),
Master of Arts em Justiça Criminal (California State University, 1979), Master of Law, LL.M (Keble
College, Oxford, 1988); é ainda professor da disciplina “Corrections”, especializado em Direitos dos
Prisioneiros e Penalogia no Departamento de Sociologia e Correções da Universidade de Minnesota, e
desde 2002 é o editor chefe do “Criminal Law Bulletin”. Este artigo foi dedicado à memória de Stephen
Donaldson e à “Stop Prisioner Rape”, organização de direitos humanos que ele liderou. NT: Por sua
vez, a presente tradução é dedicada ao GEPeC – Grupo de Estudos e Pesquisas Criminais, nas pessoas
de Denival Francisco da Silva, Tiago Felipe de Oliveira, Alexandre Bizzotto, Andreia de Brito
Rodrigues, Bartira Miranda Santos, Juliana Matos e Júlia Faipher em razão de sua vanguarda acadêmica
e humanista, e pela escolha simbólica do tema “Sistema Punitivo: Mais Amor, Por Favor”, para o X
Simpósio Crítico de Ciências Penais ocorrido em Goiânia, em setembro de 2015, que reflete, em parte,
a simbologia da dedicatória original.

1
apart from the rule of law. Following the introduction to the Article, Part II examines
the site of masculine domination, the subterranean prison. Part III demonstrates that
three gendered attributes of liberal legalism impair judicial scrutiny of the subterranean
prison. Part IV examines the politics of prison rape and two pertinent federal laws, the
Prison Litigation Reform Act of 1996 and the Prison Rape Elimination Act of 2003.
Part V looks to George Fletcher's "second" constitution for guidance. It embraces public
values similar to those advanced by feminist jurisprudence. These values can inform a
new prison regime, one that counters gender oppression through a milieu grounded in
civic virtue. Concluding remarks follow Part V.
Keywords: Prison Rape; Prison Reform; Law and Judicial Acts;

1. Introdução
“Ultimamente não há a questão do estupro
prisional. Há apenas a questão prisional”.3

Em seu ensaio autobiográfico, “A Punk’s Song”, Stephen Donaldson


(“Donny the punk”) recorda sua terrível provação nas entranhas da capital da nação.4
Inúmeras dúzias de detentos o estupraram impiedosamente durante sua primeira noite
na cadeia do Distrito de Columbia.5 Seus carcereiros pareciam estar em nenhum lugar
para serem encontrados.6 Quando foi solto, na sequência, ao invés de enfrentar violência
sexual, Donny se tornou a mulherzinha de quatro fuzileiros brancos.7 Ele descreveu sua
relação como se segue: “eles me forneciam proteção, e coisas como selos e salgados, e
em retribuição queriam sexo oral ... e bunda (na cadeia chamada de xoxota) (...)”8
Donny se transformou num “Punk” – um detento tipicamente heterossexual que assume
o papel submisso de fêmea, na parte mais baixa da hierarquia prisional de gênero.9
A partir da perspectiva dos Punks, como Donny, qual seria o estado da
arte da reforma prisional? Enquanto os manuais oficiais da prisão sugerem a existência
de uma prisão ordeira e legalista, por outro lado, uma perspectiva Punk aponta que um
sistema de opressão de gênero se infiltra na vida institucional, e funciona largamente à
margem do Estado de Direito.

3
Cfr. TUCKER, Donald (pseudônimo de Stephen Donaldson), no livro “A Punk’s Song: View From
the Inside, in: “Male Rape: A Casebook of Sexual Aggressions 58, 72” (Anthony M. Scacco Jr., ed.
1982).
4
Op. Cit. Loc. Cit.
5
Op. Cit. p. 59-61.
6
Op. Cit. Loc. Cit.
7
Op. Cit. p. 63-64.
8
Op. Cit. p. 64.
9
Cfr. CORBETT, James; WILLIAM K., Bentley. Prison Slang, 1992, p. 60 (definindo “Punk”); confira-
se também: DUMOND, Robert W. The Sexual Assault of Male Inmates in Incarcerated Settings.
Inter. J. Soc, vol. 20, 1992, p. 135 (delineando o papel da hierarquia prisional dos detentos e o papel do
Punk). Os Punks são distinguidos das “bichas” (fag’s), que seriam “homossexuais de verdade”. Já se
disse que os Punks “são feitos” enquanto os “veados” são “nascidos”.

2
É irônico que pesquisadores10 outsiders tenham ignorado prisioneiros e
particularmente prisioneiros como Donny.11 Na prisão, os criminosos se transformam
em outsiders: eles experimentam exclusão da sociedade civil.12 Como o Justice Stevens
lamentou, os “prisioneiros são verdadeiramente os exilados da sociedade.
Desprivilegiados, desprezados e temidos... [e] levados para fora da visão pública, os
prisioneiros são seguramente uma minoria discreta e insular”.13
Este artigo utiliza um modelo analítico afiliado à teoria jurídica
feminista. A construção social de gênero, um dos pontos centrais da teoria jurídica
feminista14, ocorre toda vez que um detento é “desvestido” de seu status de “homem” e
é “transformado” em uma “menina”. Prisões masculinas propiciam laboratório para o
estudo de gênero e de sua reprodução da dominação masculina.
Métodos legais feministas examinam instituições de uma perspectiva
informada pela opressão.15 Assim como Davies e Seuffert sustentaram, “membros de
grupos oprimidos que se engajam em lutas contra seus opressores produzem um
conhecimento mais ‘verdadeiro’ do que aqueles membros de grupos opressores. Isto se
dá porque, em ordem a sobreviver, os grupos oprimidos precisam compreender as
dimensões do discurso e da prática opressivos, assim como a sua própria posição
neles”.16 Punks se qualificam como um grupo oprimido. Como detentos, eles pertencem


10
Cfr. MATSUDA, Mari J.. Public Response to Racist Speech: Considering the Victim’s Story, Mich.
L. Ver., vol. 87, 1989, p. 2320-2324 (descrevendo a jurisprudência outsider como “o uso pragmático do
Direito como ferramenta de mudança social, e núcleo aspiracional do Direito como o sonho humano de
uma existência pacífica”).
11
Cfr. SABO, Don; et all. Gender and the Politics of Punishment, In: Prision Masculinities, 2001, p. 3
(observando que as feministas “curiosamente tem sido silentes sobre os homens nas prisões”).
Entretanto, as feministas não estão sozinhas em sua negligência sobre o gênero nas prisões. Os
criminologistas largamente têm ficado distantes do assunto, e os pesquisadores de gênero tem lutado
para ganhar respeitabilidade acadêmica. Cfr. TEWKSBURRY, Richard; WEST, Angela. Research on
Sex in Prison During the Late 1980’s and Early 1990’s, Prison J., vol. 80, 2000, p. 368p. 64.
12
Howard Becker, o primeiro a empregar o termo “outsiders” em seu livro de mesmo nome. Cfr.
BECKER, Howard S. Outsiders, 1966, p. 33. Ele utilizou o termo para se referir que pessoas
consideradas desviadas foram excluídas da corrente principal da vida social. Becker indicou que o novo
status de alguém pode se transformar no seu principal status, o qual apagaria todos os seus status
anteriormente possuídos. Confira-se também: GOFFMAN, Erving. Stigma: Notes on the Management
of Spoiled Identity, 1963, p. 3-8 (arguindo que a negativa de respeito e consideração afetam sua
identidade pública).
13
Caso “Hudson v. Palmer, 468 U.S 517, 557 (1984) (Juiz Stevens, dissentindo).
14
Cfr. VOJDIK, Valorie K. Gender Outlaws: Challenging Masculinity in Traditionally Male
Institutions, Berkeley Womens L.J, vol. 17, 2002, p. 68. Procurando redefinir o dilema
igualdade/diferença, acadêmicas do feminismo se focaram no gênero como uma construção social,
criticando os Tribunais por misturar sexo, gênero e orientação sexual, postulando para que as Cortes
desagreguem sexo e gênero. Navegando na teoria feminista pós-moderna, algumas tem arguido que o
“sexo” se refere as características físicas e biológicas, distinguindo homens de mulheres, enquanto o
“gênero” usualmente se refere aos atributos culturais ou a características atitudinais que são associadas
as categorias biológicas de homens e mulheres. Sob esta distinção, gênero se refere aqueles
comportamentos socialmente construídos, ambos descritivos e normativos, que correspondem as
categorias de homens e mulheres em nossa sociedade.
15
Cfr. BARTLETT, Katharine T. Feminist Legal Methods, Harvard Law Review, vol. 103, 1990, p.
829-872 (sustentando que “a experiência de ser uma vítima, de outro modo, revela a verdade sobre a
realidade que as não-vítimas não enxergam”); SCALES, Ann. Feminist Legal Methods: Not So
Scary, UCLA Women’s L.J, vol. 2, 1992, p. 27-28 (descrevendo o “método olhando direto ao ponto”).
16
Cfr. SEUFFERT, Nan; DAVIES, Margaret. Knowledge, Identity and the Politics of Law. Hastings
Women’s L.J, vol. 11, 2000, p. 259-270.

3
ao “grupo menos simpático de ‘outsiders’ em nossa jurisprudência constitucional”.17 E
quando um detento é “transformado” em um Punk, seus próprios companheiros de
prisão o marcam com o sinal de ignominia.18
A segunda parte deste artigo examina o local da dominação masculina: a
prisão subterrânea. Neste meio social, Donny encontra um sistema de gênero que
constrói certos detentos como “homens de verdade”, e outros como “meninas”,
privilegiando a masculinidade.
A terceira parte examina a Constituição Punk. Sua ênfase no
individualismo e autonomia refletem valores masculinos.19 Em retorno, os atributos de
gênero de um legalismo liberal – contrato social, liberdade negativa e individualismo
liberal – encontram vocalização na Constituição Punk, dificultando o escrutínio judicial
da prisão subterrânea.
A quarta parte é endereçada ao Congresso e a sua curiosa relação com os
Punks. Como detentos, os Punks deveriam esperar uma recepção hostil. Depois de tudo,
em 1996 o Congresso promulgou o “Prision Litigation Act”20, que só fez agravar os
problemas dos Punks, impondo severos obstáculos entre eles e a ação judicial
aliviadora.21 Por outro lado, os Punks deveriam ser os arautos da passagem para o
“Prision Rape Elimination Act”22, de 2003. Uma coalisão diversificada, que incluiu
conservadores e evangélicos, realizou um lobby de sucesso para sua aprovação.23 Um
comentarista descreveu a legislação como “um perfeito complemento à agenda
conservadoramente compassiva [do Presidente Bush].24 As provisões do ato
reconheceram que o estupro prisional não é parte da pena pelo cometimento do crime, e
determinou inúmeras contramedidas.25
A quinta parte do artigo observa a “segunda” Constituição de Fletcher
como guia orientador.26 Sua norma fundamental sobre tratamento igualitário e respeito


17
KARLAN, Pamela S. Bringing Compassion Into the Province of Judging: Justice Blackmun and
the Outsiders, N. D. L. Rev. vol. 71, 1995, p. 173-176.
18
ALLEN, Harry E; e Outros. Corrections in America: An Introduction, 10ª ed., 2004, p. 247
(descrevendo os Punks como “desajustados” da estrutura social prisional).
19
Veja-se as notas n. 14 e 15 acima, e as demais que acompanham o texto (discutindo a teoria jurídica
feminista).
20
Prison Litigation Reform Act of 1995, Pub. L. Nº. 104-134, 110 Stat. 1321, 1996.
21
Confira-se as notas nº 202-206, abaixo, e as demais que acompanham o texto (discutindo os
componentes do Ato).
22
Cfr. The Prison Rape Elimination Act of 2003, Pub. L. nº. 108-179, 117 Stat. 972, 2003. O
Presidente Bush sancionou a Lei em 4 de setembro de 2003. Cfr. Stop Prissoner Rape, Press Release:
Prison Rape Elimination Act Becomes Federal Law (4 de setembro de 2003), disponível em:
<http://www.spr.org/en/pressrelease/2003/0904.html>, acesso em 17 de setembro de 2003.
23
Confira-se o discurso do Congressista Frank R. Wolf, em 29 de junho de 2002, em:
<http://www.house.gov/wolf/news/2002/07-29-prisonrapetestify.html>, acesso em 01 de dezembro de
2002 (listando os grupos que apoiaram o Prison Rape Elimination Act).
24
Cfr. LEHRER, Eli. The Most-Silent Crime. Nat’l Ver (on line), 29 de abril de 2003, disponível em:
<http://www.nationalreview.com/comment/comment-lehrer042903.asp>, acesso em 10 de fevereiro de
2003.
25
Confira-se as notas nº 203-207, abaixo, e as demais que acompanham o texto (discutindo os
componentes do Prison Rape Elimination Act).
26
Cfr. FLETCHER, George P. Our Secret Constitution, 2001.

4
incorporam valores públicos feministas.27 Estes valores podem informar um novo
regime prisional, um que se oponha à opressão de gênero através de valores sociais
aterrados na virtude cívica. Conclui-se com as considerações finais.

2. Uma Prisão Punk


Os anos que separam a primeira noite de Donny da prisão em 1973 e sua
morte em decorrência da AIDS28 em 1996 atravessa uma era de reformas prisionais. Em
1973 a doutrina do “hands off”29 entrou em colapso, abrindo as prisões para a crescente
ansiedade do judiciário federal sobre o estado deplorável das cadeias e prisões
nacionais.30 Um ano depois, no caso “Wolff v. McDonnel” (1974), a Suprema Corte
declarou que “não há uma ‘cortina de ferro’ estendida entre a Constituição e as prisões
do país”.31 Em 1996, o Congresso ressuscitou parte daquela “cortina de ferro”, ao
aprovar o “Prision Litigation Reform Act”.


27
Confira-se as notas nº 236-256, abaixo, e as demais que acompanham o texto (examinando a “segunda”
Constituição).
28
Cfr. Stop Prissoner Rape, Press Release: Stephen Donaldson, 49 – Led Reform Movement Against
Jailhouse Rape (19 de julho de 1996), disponível em: <http://www.spr.org/en/doc_96_sprobit.html>,
acesso em 29 de agosto de 2003.
29
A doutrina do “hands off” constituiu-se em uma política criada por Juízes do Judiciário Federal,
direcionada para que o judiciário federal não acolhesse os pleitos dos prisioneiros. Três eram as
justificações para a doutrina do “hands off”: (1) falta de expertise dos juízes em matérias prisionais; (2)
a intervenção judicial poderia minar a autoridade dos funcionários da prisão, e, (3) questões atreladas ao
federalismo caracterizariam inapropriadas as interferências nas prisões estaduais. Cfr.: Caso Bethea v.
Crouse, 417 F. 2d 504, 505-06 (10th Cir. 1969) (“Nós temos consistentemente aderido à então
chamada política do ‘hands off’”); Caso Douglas v. Sigler, 386 F. 2d 684, 688 (8th Cir. 1967) (“As
Cortes não irão interferir na conduta, gerenciamento e controle disciplinar deste tipo de instituição,
exceto em casos extremos”); Caso United States ex rel. Yaris v. Shaughnessy, 112 F. Supp. 143, 144
(S.D.N.Y, 1953) (“É impensável que o judiciário deveria assumir o controle das ... prisões”); Caso
Garcia v. Steele, 193 F. 2d 276, 278 (8th Cir. 1951) (“As Cortes não possuem o poder de supervisão
sobre a conduta de várias instituições”); Note: Beyond the Ken of the Courts: A Critique of Judicial
Refusal to Review the Complaints of Convicts, Yale Law Journal, vol. 72, p. 506-507, 1963
(examinando as justificações da doutrina); Note: Constitutional Rights of Prisoners: The Developing
Law, U. Pa. L. Ver. Vol. 110, p. 985-87, 1962 (“As Cortes tem sido tão influenciadas pelo dogma da
independências das autoridades prisionais que a intervenção judicial tem sido limitada a situações
extremas”).
30
Entre outras coisas, Branham e Krantz atribuíram o colapso da doutrina do “hands off” a: (1)
advogados comprometidos com a reforma prisional; (2) rebeliões e outros distúrbios que iluminaram o
mal causado aos detentos, e, (3) O comprometimento da Suprema Corte em proteger grupos
minoritários com pouco poder. Cfr. BRANHAM, Lynn S.; KRANTZ, Sheldon. Cases and Materials
on the Law of Sentencing, Corrections and Prisoners Rights. 5ª ed., 1997, p. 283. As Cortes
Federais inferiores logo abandonaram a doutrina do “hands off”, expandindo os direitos dos presos. Cfr.
Caso Woodhouse v. Virginia, 487 F. 2d 889, 890 (4th Cir. 1973) (determinando que os detentos
merecem proteção em um ataque recíproco entre detentos); Caso Thomas v. Brierley, 481 F. 2d 660,
661 (3th Cir. 1973) (determinando que é proibida a discriminação racial); Caso Fitzke v. Shappell,
468 F.2d 1072 (6th Cir. 1972) (determinando que os detentos merecem receber cuidadoso médicos);
Caso Corby v. Conboy, 457 F.2d 251 (2th Cir. 1972) (determinando que os detentos merecem acesso
aos Tribunais); Caso Walker v. Blackwell, 411 F. 2d 23, 24-25 (5th Cir. 1968) (determinando que os
detentos merecem o direito da liberdade religiosa); Caso Wright v. McMann, 387 F. 2d 519, 526-27
(2th Cir. 1967) (determinando que os detentos possuíam proteção contra condições de segregação
degradantes).
31
Caso Wolff v. McDonnel, 418 U.S. 539, 555-56, (1974).

5
Hoje, uma introdução oficial à vida do detento na prisão será um manual
preparado por seus guardas. Michigan, por exemplo, endereça 42 tópicos em 38
páginas.32 O conteúdo desses tópicos espelha 4 décadas de litigância33 e inúmeras regras
emitidas pela Suprema Corte.34 O manual do detento descreve uma prisão segura, justa,
limpa e humana.35
Manuais dos detentos, entretanto, nada dizem sobre a prisão subterrânea.
Esta prisão existe logo abaixo da superfície de ordem, mantida pelos funcionários da
custódia. Assim como os bairros decadentes do centro da cidade, alguém pode encontrar
gangues poderosas baseadas na raça, na etnicidade e geografia.36 Os negros geralmente
em maior número que os brancos.37 A despeito da cor da pele, a maioria dos seus
residentes são jovens38, analfabetos39 e empobrecidos40. Uma próspera e ilícita
economia de tráfico de variadas drogas, violência e corrupção dos carcereiros.41
Escassos oficiais de correção acomodam desejos dos detentos em troca da aparência de


32
Mich. Dept of Corr., Prisoner Guidebook, 1999.
33
Cfr. FEELEY, Macolm M.; RUBIN, Edward L. Judicial Policy Making in the Modern State, 1998,
p. 30-51 (fornecendo uma visão geral das decisões das Cortes sobre os prisioneiros).
34
Cfr. Caso Sandin v. Conner, 515 U.S. 472, 483-85 (1995) (determinando que os procedimentos de
segurança devem iniciar-se quando as sanções disciplinares são “dramaticamente apartadas das
condições básicas impostas na sentença”, ou impõe “dificuldades significantes e atípicas”); Caso
Thornburgh v. Abbott, 490. U. S. 401, 419 (1989) (determinando que os detentos possuem um direito
limitado a receber publicações); Caso O’Lone v. Estate of Shabazz, 482 U.S 342, 350-52 (1987)
(determinando que os detentos possuem um direito limitado de liberdade religiosa); Caso Turner v.
Safley, 482 U.S. 78, 91 (1987) (determinando que os detentos possuem um direito limitado de enviar e
receber correspondência); Caso Hudson v. Palmer, 468 U.S. 517, 530 (1984) (determinando que os
detentos possuem um direito limitado à privacidade); Caso Vitek v. Jones 445 U.S 480, 487-88 (1980)
(determinando que a transferência involuntária dos detentos para hospitais psiquiátricos “implica um
direito de liberdade protegido pela cláusula do Devido Processo Legal”); Caso Bounds v. Smith, 430
U.S 817, 828-29 (1977) (determinando que os detentos possuem um direito de significativo acesso aos
Tribunais).
35
Cfr. Mich. Dept. of Corr., Prisoner Guidebook, 1999; Mass. Dept of Corr., Facilities, M.C.I
Concord. Inmate Orientation Handbook, 1998; Mont. State Prison, A Guide to Adjustment, 1998;
Neb. Dept. of. Corr. Serv., Rules and Regulations, 1998; N.H State Prison, Manual for the
Guidance of Inmates, 1998; N. D. Dept of Corr., & Rehab, Prison Div. Inmate Handbook, 1998;
Pa Dept of Corr., Inmate Handbook, 2003.
36
Cfr. PELZ, Mary E. Gangs, In: Encyclopedia of American Prisoners 213, 215 (Marilyn D. McShane
& Frank D. Williams III eds., 1996) (examinando as gangues na prisão).
37
Cfr. Bureau of Justice Statistics, U. S. Dept of Justice, Bull, nº NCJ 200248, Prisoners in 2002
9(2003) (relatando que os negros compõem 45% das prisões estaduais e federais, enquanto os brancos
compõem 34,2%), disponível em: <http:///www.ojp.usdoj.gov/bjs/pub/pdf/p02.pdf>.
38
Bureau of Justice Statistics, Sourcebook of Criminal Justice Statistcs, 2002 500 tbl 6.27 (2003)
(relatando que 66% dos prisioneiros em 2002 eram menores de 35 anos), disponível em:
<http://www.albany.edu/dourcebook/1995/pdf/t627.pdf>.
39
Cfr. ROBERTSON, James E. Psycological Injury and the Prison Litigation Reform Act: A “not
exactly” equal Protection Analysis, 37 Harv. J. on Legis, 2000 (“cinquenta por cento abandonaram a
escola antes da 5ª série, e como aproximadamente metade deles, pode ser constituída por analfabetos
funcionais”).
40
Op. Cit. p. 133 (“daquelas pessoas que estavam livres um ano ou mais antes de serem presas,
cinquenta por cento possuía patrimônio menor do que U$ 10.000 e noventa por cento relatou que
possuía menos de U$ 3.000”).
41
Cfr. KALINICH, David P. Contraband, In: Encyclopedia of American Prisons (Marilyn D.
McShane & Frank D. Williams III eds., 1996) (examinando o contrabando e a economia subterrânea na
prisão).

6
ordem.42 Sobreviver com alguma dignidade nesta monstruosa jaula de macacos
geralmente requer alguma complacência com o uso da violência.43
O detento ideal da prisão subterrânea encarna a hipermasculinidade – a
exaltação da masculinidade, expressada através do individualismo radical, violência e a
vontade de dominação.44 A hipermasculinidade é relacional, e construída por sua
oposição à feminilidade.45 Como observado por Vojdik, “o gênero não é um
substantivo; gênero é um verbo – um processo, uma prática, uma ferramenta para
demarcar e forçar os limites de gênero com as estruturas sociais, tais como o local de
trabalho, o estado e outras instituições”.46
Se tornar um Punk é um processo de construção social imposta aos
detentos fracos ou do tipo naïv. Quando um outro detento heterossexual é coagido a
assumir um papel feminino, ele é “transformado”. Seus colegas de cela a partir de então
o chamarão de Punk ou de “Transformado de Penitenciária”.47 Para deter os ataques de
outros detentos, um Punk pode se tornar a “esposa” de outro, e então praticar tarefas de
esposa, domésticas e sexuais, em troca de proteção.48 Entretanto, a demarcação entre os
papéis de “esposa” e de “escravo” é construída sob o fio da navalha, literal e
figurativamente; ele pode ser repetidamente vendido para apostadores em troca de seus
serviços, e viver sob constante ameaça de violência; ele deve esquecer o seu lugar na
hierarquia de gênero prisional.49

42
CLOWARD, Richard A. Social Control in the Prison, In: Theoretical Studies in the Social
Organization of the Prison, 1960, p. 35-41 (Identificando três padrões informais de acomodação
social: sobre bens e serviços, informação e status).
43
KEVE, Paul W. Prison Life and Human Worth, 1974, p. 54 (descrevendo as prisões americanas
como “selvas pouco controladas”); SILBERMAN, Matthew. A World of Violence: Corrections in
America, 1995, p. 2 (descrevendo a vida contemporânea na prisão como “um mundo de violência em
que a fraqueza é evitada e a força é reverenciada”); ROBERTSON, James E. Surviving
Incarceration: Constitutional Protection from Inmate Violence, Drake L. Ver., vol. 35, 1985, p.
101-106 (sustentando que “o medo da violência é a ‘língua franca’ da prisão contemporânea”);
SCHARF, Peter. Empty Bars: Violence and the Crisis of Meaning in Prison, In: Prison Violence in
America, 2ª ed. (Michael Braswell et all eds), 1994, p. 27-28 (observando que “estupros, surras,
esfaqueamentos e mortes são ocorrências comuns em muitas prisões”); TOCH, Hans. Study and
Reducing Stress, In: The Pains of Imprisonment, (Robert Johnson & Hans Toch eds., 1982, p. 25,41
(descrevendo as prisões como “armazéns humanos com um submundo selvagem”).
44
Cfr. HOLMBERG, Carl Bryan. The Culture of Transgression: Initiations into the Homosociality of
a Midwestern State Prison, In: Prison Masculinities, (Don Sabo e outros. Eds.), 2001, p. 89
(descrevendo o relacionamento social entre homens nas prisões como “reverenciadoras da
masculinidade, levando-a ao extremo da hipermasculinidade”); RIDEAU, Wilbert; SINCLAIR, Billy.
Prison: The Sexual Jungle, In: Male Rape: A casebook of Sexual Aggressions (Anthony M. Scacco
Jr. Ed), 1982, p. 3, 5 (descrevendo a prisão como “hipermasculina”).
45
Confira-se a nota n. 61, abaixo, e a discussão no texto (Descrevendo como a ausência de relações
heterossexuais conduzem os homens a questionar a sua masculinidade).
46
Cfr. Valorie K.Vojdik, nota n. 14, acima, p. 90.
47
Cfr. James Corbett e Bentley William K., nota n. 9, acima, p. 60 (definindo “transformar uma pessoa”
como “mudar os hábitos sexuais das pessoas de heterossexuais para homossexuais”); Wilbert Rideau e
Billy Sinclair, nota n. 44, acima, p. 5 (descrevendo um “transformado” como “uma vítima masculina
despida de seu status de homem”).
48
Cfr. Stephen “Donny” Donaldson. A Million Jockers, Punks, and Queens, In: Prison Masculinities,
(Don Sabo e outros. Eds.), 2001, p. 118-120 (descrevendo o “papel de esposa”).
49
Cfr. Caso Pugh v. Locke, 406 F Supp. 318 (M. D Ala., 1976). NT: O referido caso trouxe a seguinte
afirmação fática: “Outros efeitos da falta de classificação [dos detentos] são múltiplas. Presos violentos
não são isolados a partir daqueles que são jovens, passivos ou fracos. Consequentemente, os últimos
presos são repetidamente vitimados por aqueles que são mais fortes e mais agressivos. O depoimento

7
A “Transformação” de um novo detento assegura a continuação de um
sistema hierárquico de gênero perante toda a comunidade prisional masculina. O
violento se torna um “Pitcher”, um papel masculino que concede status elevado.50 Em
contraste, o “Papai”, “o amiguinho ou padrinho enfraquece os detentos inexperientes
na gratificação sexual”.51 Ele ocupa um papel menos heterossexual porque não utiliza a
força. Os papeis inferiores distinguem os detentos gays dos Punks. Os primeiros seriam
as “bichas” (fags) – os detentos “naturalmente” gays; e as “rainhas” (queens), que
publicamente se comportam de maneira feminina.52 Abaixo deles está o Punk.53
A hierarquia descrita acima, expressa e reproduz o poder de
relacionamento entre detentos masculinos. Como escrito por Foucault, “[p]oder
significa relação hierárquica, mais ou menos organizada, em um conjunto de relações
coordenadas”.54 O poder relacional na prisão privilegia os atributos da
hipermasculinidade, através da construção de vários papéis masculinos e femininos, que
acabam por subordinar o segundo. Consequentemente, uma observação de um
comentarista sobre o gênero fora das prisões se aplica ao gênero nas prisões: “Gênero é
mais do que um papel e diferenças características atribuídas ao sexo biológico; ele é
uma experiência estrutural de relações de poder reproduzidas através da ideologia”.55
A relação simbiótica entre masculinidade e dominação é originada em
mundos culturais ocupados por detentos antes e durante o encarceramento.56 A
população de detentos largamente reflete normas ocidentais, as quais instruem os
homens de que a masculinidade deve ser agressivamente adquirida pelo controle das


mostra que roubo, estupro, extorsão, roubo e assalto são ocorrências diárias entre a população geral
da prisão. Ao invés de enfrentar este perigo constante, alguns detentos voluntariamente submetem-se às
condições desumanas de prisão nas celas de isolamento. Incapacidades físicas e emocionais que
requerem atenção especial passam despercebidas (...) Um detento de 20 anos de idade, após relatar
que foi considerado por especialistas médicos possuir a mente de uma criança de cinco anos,
testemunhou que ele foi estuprado por um grupo de detentos na primeira noite que passou em uma
prisão do Alabama. Na segunda noite ele estava quase sendo estrangulado por outros dois presos, que
então decidiram que poderiam usá-lo para fazer algum lucro, vendendo seu corpo para outros
detentos”. (Trad. livre).
50
Cfr. Dumond, nota n. 9, acima, p. 139, tabela 2.
51
Op. Cit. Loc. Cit.
52
Op. Cit. Loc. Cit.
53
Op. Cit. Loc. Cit.
54
FOUCAULT, Michel. The Confession of the Flesh, In: Power/Knowledge: Selected Interviews &
Other Writings (Colin Gordon Ed.), 1980, p. 194-198.
55
BENDER, Leslie. Gender Equality in the Legal Procession: Sex Discrimination or Gender
Inequality? Fordham Law Review, vol. 57, 1989, p. 941-948.
56
Donald Clemmer observou que todos os detentos experimentam “encarcerização”, um processo de
assimilação e de socialização na subcultura prisional. Cfr. CLEMMER, Donald. The Prison
Community, In: Correctional Contexts (James W. Marquart & Jonathan R. Sorensen Eds.), 1997, p.
109-111. Posteriormente, Gresham M. Sykes complementou que a “encarcerização” funciona para
diminuir a privação da liberdade, de bens e serviços, de relacionamentos heterossexuais, da autonomia e
da segurança. Cfr. SYKES, Gresham M. The Society of Captives, 1958, p. 65-83. John Irwin e Donald
Cressey desafiaram a tese de Gresham Sykes sobre a privação da liberdade, arguindo que a composição
normativa da subcultura dos detentos era importada para a prisão pelos próprios detentos e refletiria
suas experiências pré-prisionais. Cfr. IRWIN, John; CRESSEY, Donald R. Thieves, Convicts and
Inmate Culture. 10 Soc. Probs, 1962, p. 142-155.

8
pessoas e dos recursos.57 E ainda, muito da população prisional foi criada em classes
subculturais pobres que iguala agressividade e dominação como virtudes masculinas.58
O aprisionamento alimenta ainda mais a necessidade de afirmação da
masculinidade através da subjugação dos detentos, no desenvolvimento de uma
emasculação.59 O que Sykes chama de “dores do aprisionamento” – privação da
liberdade, da autonomia, dos bens e serviços, segurança pessoal e o contato com
companhias heterossexuais femininas – representa “um conjunto de ataques ou ameaças
que são diretamente apontadas contra os fundamentos do ser dos detentos [como um
homem]”.60 Perante todos, a falta de relacionamento heterossexual priva os detentos da
referência para definição da masculinidade e experimenta o status e o poder que isso
confere.61 Adicionalmente, as muitas regras dos agentes penitenciários e carcereiros que
determinam quando comer, dormir ou participar de qualquer maneira da vida diária na
prisão representa uma profunda ameaça à autoimagem do prisioneiro porque elas
reduzem o prisioneiro ao status de dependência, fraqueza e necessidade: a sua
infância.62

3. Uma Constituição Punk


O sistema de gênero que oprime os Punks prosperou em meio aos casos
da reforma prisional das quatro últimas décadas.63 A culpa parcialmente repousa no
legalismo liberal64, o qual inúmeras feministas acadêmicas têm descrito como

57
LIPMAN-BLUMEN, Jean. Gender Roles and Power, 1984, p. 55; Confira-se também: NEWTON,
Carolyn. Gender Theory and Prison Sociology: Using Theories of Masculinity to Interpret the
Sociology of Prisons for Men, Howard J. Crim Just, vol. 33, 1993, p. 193-198 (observando que “o
ideal de poder e dominação … são partes da definição de masculinidade”.
58
Cfr. LOCKWOOD, Daniel. Prison Sexual Violence, 1980, p. 105 (atribuindo largamente a violência
sexual na prisão a uma subcultura de violência das classes baixas, a qual é dominada pelos negros que
igualam poder e dominação à masculinidade); WOODEN, Wayne S.; PARKER, Jay. Men Behind
Bars, 1982, p. 14-15 (“os valores estruturais das subculturas das classes baixas, encontradas na
prisão, referem-se ao seu background étnico, coloca uma ênfase extremada na manutenção e proteção
de sua virilidade e masculinidade - o seu machismo”).
59
Cfr. Sykes, nota n. 56, acima, p. 65-79 (arguindo que as dificuldades da prisão levam o detento a
questionar sua competência como um homem adulto); WRIGHT, Kevin N. The Violent and
Victimized in a Male Prison, In: Prison Violence in America, 2ª ed. (Michael C. Braswell e outros,
Eds.), 1994, p. 103-119) (observando que “a literatura sugere que a violência prisional é relacionada à
ameaça que o encarceramento impõe a identidade individual, e particularmente ao senso de
masculinidade”).
60
Cfr. Sykes, nota n. 56, acima, p. 65-79
61
Op. Cit. Loc., p. 71-72. “Uma sociedade composta exclusivamente por homens tende a gerar ansiedade
em seus membros acerca de sua masculinidade... O detento é retirado de seu mundo das mulheres, o
qual, por sua própria polaridade, atribui muito do significado ao universo masculino. Como a maioria
dos homens, o detento precisa procurar por sua identidade não apenas em si mesmo, mas também na
imagem de si mesmo que é refletida pelos olhos dos outros; e desde que parte metade significante de
sua audiência é negada a ele, a autoimagem do detento corre o perigo de estar metade esvaziada,
fraturada, monocromática sem os matizes de sua realidade.
62
Op. Cit. Loc., p. 75.
63
Cfr. notas n. 144 e 148, abaixo, e a discussão no texto (citando casos e discutindo reforma prisional
através de decretos e medidas judiciais).
64
Cfr. WETLAUFER, Gerald B. Systems of Belief in Modern American Law: A view from century’s
End, 49 Am. U. L. Rev., 1, 1999, para uma descrição do liberalismo: (1) o universo social é composto
por indivíduos que são essencialmente independentes e autônomas umas das outras, e, deve ser

9
“masculino”.65 Como explicado por McClain, “o liberalismo tem sido enxergado como
inextricavelmente masculino em seu modo de separar atomístico, estabelecendo
indivíduos concorrentes em um sistema legal que permite seus próprios interesses, e
para protege-los de outras interferências com seus direitos de fazer”.66 O legalismo
liberal contém três constructos – o contrato social, as liberdades negativas e o
individualismo bilateral que sustentam a Constituição Punk. De acordo com Peller, os
constructos sociais “nos dizem o que a Constituição significava para os pais
Fundadores, e quais os objetivos manifestos de seus entendimentos nós deveríamos
tomar como relevantes”.67 Examinando o impacto destes constructos nos Punks,
explica-se o motivo de a hierarquia de gênero continuar largamente à margem do Estado
de Direito.

3. 1. Contrato Social
Indivíduos auto interessados, mas que não possuem escolha a não ser
viverem juntos, podem alcançar a segurança e ainda preservarem sua autonomia?68


compreendido como pré-existente à sociedade e ao estado; (2) liberdade e autonomia devem ser os
primeiros princípios com os quais devemos trabalhar; (3) sobre os direitos mais básicos, liberdades e
liberações que aqueles indivíduos devem possuir está o direito de propriedade, e, num universo
particular, o direito de escolher livremente; (4) o papel adequado do Estado é proteger os direitos destes
indivíduos, e promover mecanismos para a mediação de seus desejos conflitantes. Op Cit, p. 9; confira-
se também: CUMMINGS, Scott. Affirmative Action and Rhetoric of Individual Rights: Reclaiming
Liberalism as a “Color-Conscious” Theory, Harv. BlackLetter L. J, vol. 13, 1997, p. 183-190
(descrevendo os pilares do liberalismo); TURLEY, Jonathan. Introduction: The Hitchhiker’s Guide
to CLS, Unger and Deep Thought, Nw. U. L. Rev, vol. 81, 1987, p. 593-602 (descrevendo os
componentes gerais do liberalismo).
65
Cfr. MCCLAIN, Linda C. Atomistic Man Revisited: Liberalism, Connection, and Feminist
Jurisprudence, 65 S. Cal. L. Rev, 1992, p. 1171-1173 (“Um dos pontos principais da jurisprudência
feminista tem criticado o Direito Americano, e a jurisprudência liberal e a filosofia política na qual se
diz que ela é atrelada, como masculino”); RHODE, Deborah L. Feminist Critical Theories, 42 Stan.
L. Ver. 1990, p. 617-628 (observando que a teoria feminista crítica enxergam os conceitos do legalismo
liberal como “constructos peculiarmente masculinos”); SHERRY, Suzana. Civic Virtue and the
Feminine Voice in Constitutional Adjudication, 72 Va. L. Rev., 1986, p. 543 (“Enquanto a visão
masculina é paralela à teoria liberal pluralista, a visão feminina é mais próxima da teoria republicana
clássica, representada de várias maneiras por Aristóteles, Machiavel e Jefferson”); WEST, Robin.
Jurisprudence and Gender, 55 U. Chi. L. Rev. 1988, p. 1, 2 (sustentando que o legalismo liberal ... é
essencialmente ... e irremediavelmente masculino”); MACKINNON, Catharine A. Toward a Feminist
Theory of State, 1989, p. 238 (“Da perspectiva feminista, a jurisprudência da supremacia masculina
deixa eretas qualidades valorosas do ponto de vista masculino”); KARST, Kenneth L. Woman’s
Constitution, Duke L. J., 1984, p. 447-486 (“Os Homens que escreveram a Constituição em
1787desenharam um modelo para governar a sociedade, da forma como isso era concebido por
homens e implementado por homens”); Confira-se, de uma maneira geral, PRUITT, Lisa R. A Survey
of Feminist Jurisprudence, 16 U. Ark. Little Rock L. J, 1994, p. 183-184 (observando que a
jurisprudência feminista, de um modo geral, geralmente “evitam a teoria, preferindo ao invés disso
focar-se na realidade prática das relações e experiências femininas”).
66
Cfr. McClain, nota n. 65, acima, p. 1173.
67
Cfr. PELLER, Gary. The Metaphysics of American Law, 73 Cal. L. Rev, 1985, p. 1151-1174.
68
Cfr. DALTON, Clare. Na Essay in the Deconstruction of Contract Doctrine, 94 Yale L.J, 1985, p.
997-1006 (“A obsessão do liberalismo com, e sua inabilidade para resolver, a tensão entre o sujeito e
os outros, sugere que nossas histórias sobre os políticos e a política pública e o Direito será
organizada através de dualidades que reflitam esta tensão básica”); West, nota n. 65, acima, p. 7 (“A
separação física do outro vincula não apenas a minha liberdade, mas também minha vulnerabilidade.

10
Locke e os pais Fundadores enxergaram o contrato social como a resposta: uma
autoridade política deveria policiar um corpo político, mas os membros de tal corpo
político reteriam seus direitos naturais.69
Locke não mostrou nenhuma simpatia pelos criminosos, descrevendo-os
como tendo “declarado guerra contra o homem comum, e portando podem ser
destruídos como um leão ou um tigre, um daqueles animais selvagens, e com os quais o
homem não pode ter nem sociedade e nem segurança...”.70 Sua caracterização dos
criminosos deve ter parecido verdade para os juízes do Estado da Virginia durante o
período da Reconstrução, os quais foram encarregados de controlar jovens homens
negros. No caso “Ruffin v. Virginia”71 (1871), a Corte de Apelações do Commonwealth
descreveu os detentos como “escravos do Estado”72, tendo sustentado sua morte civil
(civiliter mortuus)73, e os detentos tiveram confiscados os seus direitos constitucionais.
Enquanto as Cortes repudiaram há muito tempo atrás a doutrina dos
“escravos do Estado”, a contradição liberal entre a busca individualista e as demandas
de segurança ainda modelam o direito prisional.74 A Suprema Corte geralmente
caracteriza os detentos como Hobbes descreveu os indivíduos em “estado de natureza”,
onde eles possuem um voraz apetite pelo que lhes dá prazer.75 Por exemplo, no caso
“Block v. Rutherford”76 (1984), a Suprema Corte manteve uma política prisional
proibindo contatos nas visitas.77 Falando em nome da Corte, o Presidente Burger
fundamentou seu raciocínio no sentido de que mesmo sendo baixos os riscos, os
detentos eram “propensos à violência, fugas ou tráfico de drogas”.78 Similarmente, no
caso “Hudson v. Palmer”79 (1984), a Corte descreveu os detentos como “antissociais ...
e geralmente violentos”.80 Empregando terminologia hobbesiana, a Corte temeu que
aquele “estado de natureza” pudesse “tomar curso” se as buscas nas celas fossem


Qualquer outra individualidade, separada e discreta – porque ele é “o outro” – é a fonte de perigo
para mim e uma ameaça à minha autonomia”).
69
Cfr. LOCKE, John. Second Treatise of Government (C.B Macpherson ed., Hackett Co.), 1980
(1690), p. 11; Confira-se também Karst, nota n. 65, acima, p. 486 (Caracterizando a elaboração da
Constituição como um caso “implacavelmente contratual”).
70
Cfr. Locke, nota n. 69, acima, p. 11.
71
62 Va. 790 (1871).
72
Op. Cit. p. 796.
73
Op. Cit. Loc. Cit.
74
KENNEDY, Duncan. The Structure of Blackstone’s Commentaries, 28 Buff. L. Rev. 205, 1979, p.
205-212 (Descrevendo o período do home liberal, sobre autonomia e segurança como as “contradições
fundamentais” do pensamento liberal); confira-se também COLEMAN, Jules L.; LETTER, Brian.
Determinacy, Objectivity, and Authority, 142 U. Pa. L. Rev., 1993, p. 549-574 (Asseverando que não
há contradição alguma no pensamento liberal, mas apenas uma questão dos limites da “coerção
legitimada”).
75
Cfr. HOBBES, Thomas. Leviathan (C. B MacPherson ed., Penguin Books), 1968 (1651), p. 185-86
(descrevendo o estado do ser humano em “estado da natureza” como um “medo continuado e perigo
por morte violenta; e a vida do homem como solitária, pobre, suja, bruta e curta”).
76
468 U.S. 576 (1984).
77
Op. Cit. p. 585-89.
78
Op. Cit. p. 586; confira-se ainda o caso Farmer v. Brennan, 511 U.S. 825, 833 (1994) (“As pessoas
encarceradas tem demonstrado propensos a conduta geralmente violenta e antisocialidade criminal”)
(citando o caso Hudson v. Palmer, 468 U.S 517, 526 (1984)).
79
468 U.S. 517 (1984).
80
Op. Cit. p. 526.

11
submetidas ao escrutínio da 4ª Emenda Constitucional.81 Cortes inferiores também
empregaram terminologias e razões similares.82
Por outro lado, a Suprema Corte observa os carcereiros, oficiais da
correção, sob diferentes luzes.83 Eles se tornaram profissionais “treinados”84 exercendo
julgamento ponderado85, e com “expertise”86 aos quais se deve conceder deferência.87 A
Corte tem falhado sobre o fato de que os guardas constroem papéis de gênero prisionais
da mesma forma que os detentos.88 Eles também acreditam que “homens de verdade”
devem lutar contra seus algozes e advertem aos detentos ameaçados a agirem neste
sentido.89 Por sua vez, oficiais carcereiros algumas vezes deixarão passar violações
disciplinares cometidas em nome da autodefesa.90 Se potenciais Punks não entram em
combate, os carcereiros podem decidir que eles “devem ser gays”91, e por isso indignos
de proteção.92


81
Op. Cit. Loc. Cit.; confira-se de uma maneira geral a Emenda n. 4 à Constituição Americana (proibindo
apreensões e buscas não razoáveis).
82
Cfr. caso Burrell v. Hampshire County, 307 F. 3d 1, 7 (1st Cir. 2002) (descrevendo os detentos
como sendo “propensos a conduta geralmente violenta e antisocialidade criminal”) (citando Farmer v.
Brennan, 511 U.S 825, 833-34 (1994)); caso Garret v. Statman, 254 F. 3d 946, 949 (10th Cir. 2002);
caso Skinner v. Uphoff, 234 F. Supp. 2d 1208, 1214 (D. Wyo. 2002); caso Wells v. Jefferson County
Sheriff’s Dep’t, 159 F. Supp. 2d 1002, 1010 (S.D Ohio 2001).
83
Cfr. MACPHERSON, C. B. The Political Theory of Possessive Individualism: Hobbes to Locke,
1962 (examinando os atributos do homem liberal atomístico).
84
Caso Bell v. Wolfish, 441 U.S. 520, 548 (1979) (citando o caso Pell v. Procunier, 417 U.S 817, 827
(1974)).
85
Caso O’Lone v. Estate of Shabazz, 482 U.S. 342, 349 (1987).
86
Caso Pell v. Procunier, 417 U.S 817, 827 (1974).
87
Caso Turner v. Safley, 482 U.S. 78, 89 (1987) (abarcando uma atitude de deferência dirigida às ações
dos funcionários da prisão porque “tal padrão é necessário se os administradores da prisão ..., e não os
Tribunais, são quem devem fazer os julgamentos difíceis sobre as operações institucionais”) (citando o
caso Jones v. N.C Prisoners Labor Union, 433 U.S. 119, 128 (1977); caso Block v. Rutherford, 468
U.S 576, 589 (1984) (criticando o julgamento do tribunal inferior por substituir a “administradores
experientes” à noção de administração prisional adequada); caso N.C Prisoners Labor Union v Jones,
433 U.S. 119, 126 (1977) (invocando uma política de “ampla deferência às decisões dos
administradores das prisões”); caso Pell v. Procunier, 417 U.S 817, 827 (1974) (sustentando que os
“Tribunais ordinariamente devem deferir aos especialistas o julgamento de tais matérias”).
88
Cfr. Lockwood, nota n. 58, acima, p. 53 (observando que os funcionários da prisão advêm de “origens
culturais” similares, e pertencem à mesma comunidade prisional).
89
Cfr. BOWKER, Lee H. Prison Victimization, 1980, p. 13 (observando que alguns oficiais da correção
“dizem a eles para brigarem”); Lockwood, nota n. 58, acima, p. 53 (observando que “os funcionários da
prisão apoiam normas de resposta masculina contra a intimidação”; e que eles também encorajam os
provocados a enfrentar seus atormentadores); Sliberman, nota n. 43, acima, p. 19 (repetindo que “os
carcereiros frequentemente emprestam apoio a respostas agressivas”); WEISS, Carl; FRIAR, David
James. Terror in the Prisons: Homosexual Rape and Why Society Condones It, 1974, p. 25
(sustentando que os carcereiros dizem aos detentos para “pegar uma faca e cortar os prisioneiros
responsáveis por seu estupro”); Wooden & Parker, nota n. 58, acima, p. 203 (citando um carcereiro que
disse que “o cara [preso] tem que estar disposto a arranjar um cano ou um tubo e defender a si
mesmo”); EIGENBERG, Helen M. Rape in Male Prisons: Examining the Relationship Between
Correctional Officers Attitudes Toward Rape and Their Willingness to Respond to Acts of Rape,
In: Prison Violence in America (Michael C. Braswell e outros Eds., 2ª ed.), 1994, p. 145-159
(observando que os carcereiros “parecem oferecer pouca assistência aos detentos, exceto o velho
conselho de outro: lute ou foda (fight or fuck)”;
90
Cfr. Lockwood, nota n. 58, acima, p. 53 (observando que os carcereiros algumas vezes “fazem acordos
privados para ignorar uma briga que seja realizada em nome da sobrevivência”).
91
Cfr. Human Rights Watch, No Scape: Male Rape in U.S. Prisons, parte VIII (2001), disponível
em:<http://www.hrw.org/reports/2001/prison/report.html>, acesso em: 27 de janeiro de 2003(doravante

12
3. 2. Liberdade Negativa
Os pais Fundadores criaram direitos contra o governo93, fazendo do “Bill
of Rights” uma “carta de liberdades negativas, ao invés de positivas”94. Teóricos liberais
previram zonas de autonomia95, nas quais alguém pudesse buscar fins privados através
do judicioso uso do capital.96
A maioria dos detentos vai para a prisão com pouco capital, de qualquer
espécie. Cerca de metade de todos os detentos livres um ano ou mais antes de sua
detenção possuía menos do que U$10,000, e aproximadamente vinte por cento
reportaram possuir menos de U$ 3,000.97 Um terço não possuía qualquer tipo de
emprego ao tempo da prisão, e outros vinte por cento possuía apenas empregos de
tempo parcial.98 Metade deles largou a escola antes do ensino médio, e a típica função


referido como “Sem Saída” (No Escape): Defendente J.M, um agente de segurança no posto de
Sargento, veio a investigar uma série das últimas alegações. O defendente J.M se recusou a entrevistar o
detento que testemunhou, dizendo que ele estava mentindo sobre o fato de ter sofrido abuso sexual.
Após o queixoso protestar veementemente de que ele estaria dizendo a verdade, o defendente J.M fez
comentários de que “ele deveria ser gay” por “deixar que eles o fizessem chupar uma rola”. Op cit. loc.
cit.
92
Caso LaMarca v. Turner, 995 F. 2d 1526, 1532 (11th Cir. 1993) (“Quando alertados sobre perigos
específicos, os carcereiros geralmente trancam o outro lado, ao invés de proteger os detentos. Ao invés
de oferecer ajuda, os carcereiros sugerem que os detentos lidem com seus problemas “como homens”,
isto é, que use força física contra o detento agressor”); caso Young v. Quinlan, 960 F.2d 351, 354 (3th
Cir. 1992) (sustentando que um carcereiro alegadamente disse ao queixoso que a “proteção não era um
dos seus deveres, e que o queixoso deveria aprender a se cuidar, pois carcereiros como Lewisburg não
gostam de bebes chorões”).
93
Cfr. BANDES, Susan. The Negative Constitution: A Critique, 88 Mich. L. Rev. 2271, 2273, 1990
(“Tradicionalmente, as proteções Constitucionais têm sido vistas largamente como mandamentos
proibitórios contra o poder governamental, ao invés de deveres positivos com os quais o governo deve
se comprometer”); COX, Archibald. The Supreme Court, 1965 Term – Foreword: Constitutional
Adjudication and the Promotion of Human Rights, 80 Harv. L. Rev. 91, 93, 1966 (observando que
“a declaração de Direitos original era essencialmente negative”, e que “os cidadãos não possuíam
postulações contra o governo, exceto o de serem deixados em paz”).
94
Caso Jackson v. City of Joliet, 715. F.2d 1200, 1203 (7th Cir. 1983); confira-se também: BERLIN,
Isaiah. Two Concepts of Liberty, In: Four Essays on Liberty 118, 123-24, 1969 (examinando como
“os filósofos políticos ingleses clássicos” definiram a Liberdade); cfr. KEKES, John. Against
Liberalism, 1997, p. 7-8 (definindo os direitos positivos e negativos).
95
Cfr. ABRAHAM, David. Are Rights the Right Thing?, 25 Conn. L. Rev. 947, 948, 1993 (“Esses
Direitos significam a garantia de uma zona de autonomia para a autorealização”); (revendo Mary Ann
Glendon, Rights Talk: The Impoverishment of Political Discourse, 1991); mas confira-se ainda:
GARET, Ronald R. Communality and Existence: The Rights of Groups, 56 S. Cal. L. Rev. 1001,
1008, 1983) (contendendo que muitas provisões textuais da Constituição abarcam “a coletividade”,
assim como o direito de reunião na Primeira Emenda).
96
Cfr. ROSENFELD, Michel. Contract and Justice: The Relation Between Classical Contract Law
and Social Contract Theory, 70 Iowa L. Rev. 769, 788, 1985 (“Na visão lockeana do paradigma
libertário, o equilíbrio entre Direitos individuais e bem estar individual é mantido pela obrigatoriedade
do direito natural de propriedade. Tal direito natural garantiria uma grande medida de autonomia
individual...”); confira-se, ainda, LUSTING, Andrew B. Natural Law, Property, and Justice: The
General Justification of Property in John Locke, 19 J. Religious Ethics 1, 1991 (referindo-se ao
papel central da propriedade no conceito lockeano de Direito).
97
Cfr. REIMAN, Jeffrey. The Rich Get Richer and the Poor Get Prison: Ideology, Class, And
Criminal Justice, (5ª ed.), 2000, p. 101-36 (discutindo a situação socioeconômica dos detentos).
98
Op. Cit, p. 9 (discutindo a questão trabalhista dos detentos).

13
dos detentos está atrelada aos anos iniciais99 do ensino fundamental.100 Três-quartos não
possui habilidades de leitura superiores ao ensino fundamental; metade deles é
constituída por analfabetos funcionais.101 Cerca de 10% da população carcerária sofre
algum tipo de doença mental séria, e aproximadamente entre 15% e 40% experimenta
algum tipo de doença mental moderada.102 O abuso de substâncias (lícitas ou ilícitas)
beira os 80%.103
Enquanto a Suprema Corte, no caso “DeShaney v. Winnebago County
Department of Social Services”104 (1989) reconheceu que os estados devem assumir
“alguma espécie de responsabilidade” pela “segurança e bem-estar geral dos
internos”105, esta “alguma responsabilidade” significa pouca responsabilidade no
desenho das “liberdades negativas”. No caso “Rhodes v. Chapman”106 (1981), a
Suprema Corte determinou que os detentos não possuíam o direito a reabilitação, e de
tal maneira, não precisavam ser educados, treinados ou de qualquer forma preparados
para a vida fora ou dentro da prisão.107 Sequencialmente, nos casos “Wilson v. Seiter”108
(1991) e “Farmer v. Brennan”109 (1994), a Suprema Corte se recusou a estabelecer um
padrão afirmativo e proativo aos funcionários da prisão sobre como eles deveriam
proceder para assegurar o bem-estar dos detentos. Para as Cortes Wilson e Farmer110 a
8ª Emenda Constitucional111 ditou um padrão mínimo de cuidado: os carcereiros
deveriam responder a um alto risco à integridade do preso apenas se tiverem
conhecimento do risco atual.112
Antes do caso Rhodes, as Cortes Federais inferiores estavam mais
dispostas a assumir uma maior responsabilidade afirmativa em favor do bem-estar dos

99
NT: a observação original referia-se inicialmente à “11th grade” (referente a metade dos detentos que
abandonam a escola) e a dois ou três ou níveis abaixo disso (das funções dos detentos típicos). Utilizou-
se referência de conversão relativamente equivalente, em razão das diferenças entres os níveis e séries
dos sistemas brasileiro e americano: Junior High School: 7th, 8th, 9th; Senior High School: 10th, 11th e
12th.
100
Cfr. MATOSKY, John. Illiterate Inmates and the Right of Meaningful Access to the Courts, 7
B.U. Pub. Int. L.J. 295, 302, 1998, (relatando que o típico detento de 25 anos abandonou a escola nos
anos iniciais do ensino fundamental).
101
Cfr. EISENBERG, Howard B. Rethinking Prisoner Civil Rights Cases and the Provision of
Counsel, 17 S. Ill. U. L. Rev. 417, 442, 1993 (discutindo as barreiras que os detentos enfrentam para
acessar os arquivos e ter que agir por si mesmo).
102
Cfr. OGLOFF, James R. P; e outros. Mental Health Services in Jails and Prisons: Legal, Clinical,
and Policy Issues, Law & Pyschol. Rev., vol. 18, 1994, p. 109, (discutindo a situação mental dos
detentos).
103
Cfr. BLANCHARD, Charles. Drugs, Crime, Prison, and Treatment, Spectrum, vol. 72, 1999, p. 26,
(discutindo o abuso de substâncias entorpecentes entre os detentos).
104
Caso DeShaney v. Winnebago County Dep't of Soc. Servs., 489 U.S. 189 (1989).
105
Op. Cit. p. 200.
106
452 U.S. 337 (1981).
107
Op. Cit. p. 348.
108
501 U.S. 294 (1991).
109
511 U.S. 825 (1994).
110
NT: No Direito Norte-Americano costuma-se identificar a Suprema Corte à figura de seu presidente
ou à algum caso específico que ela tenha julgado, pois reflete a percepção de determinada composição
do Tribunal ou a força e influência de seu presidente. Em ambos os casos (Wilson, 1991, e Farmer,
1994), a Corte era presidida pelo Chief Justice William Rehnquist.
111
Cfr. Emenda nº 8 à Constituição Americana (proibindo punições cruéis e não usuais, em sua parte
relevante).
112
Cfr. caso Farmer, 511 U.S. p. 842-43; e caso Wilson, 501 U.S. p. 300.

14
detentos.113 Muitas delas foram ao ponto de reconhecer que as condições prisionais
contribuiriam para a reincidência e infligiriam punição cruel e não usual.114 Por este
motivo, a Corte Distrital, no caso Laaman v. Helgemoe115 (1976) sustentou que as
condições de confinamento em uma prisão de New Hampshire tornaram “provável a
degeneração e improvável o auto aperfeiçoamento”, e desta maneira não serviriam para
os propósitos penalmente válidos, violando a 8ª Emenda.116
A seu turno, no caso Bounds v. Smith117 (1977), a Suprema Corte obrigou
os estados a assistirem afirmativamente os detentos em obter acesso aos Tribunais de
maneira “adequada, efetiva e significativa”.118 Redigindo a opinião da Suprema Corte,
o Justice Marshall sustentou que um “acesso significativo” poderia ser alcançado
através do fornecimento de biblioteca jurídica para os peticionários por conta própria.119
A Corte então deu um passo além do caso Johnson v. Avery120 (1969), que permitiu aos
detentos assistirem uns aos outros na preparação de petições de habeas corpus.121
Hoje em dia, todavia, os Punks encontram uma Suprema Corte
comprometida com as liberdades negativas. No caso Lewis v. Casey122 (1996), a
linguagem discursiva do Tribunal dirigiu-se a limitar “os Estados ... a permitir que o
prisioneiro possa ter acesso as queixas, e, uma vez no Tribunal, a litigar
efetivamente”.123 O Justice Antonin Scalia, escrevendo pela maioria da Corte, concluiu
que o peticionamento dos detentos carecia de fundamento, a menos que eles
demonstrassem ofensa atual, inerente ao impedimento do acesso aos Tribunais.124


113
Para uma discussão sobre o papel central ocupado pelos Cortes Federais inferiores, cfr. COHEN, Fred.
The Discovery of Prison Reform, 21 Buff. L. Rev. 855, 1972; FAIR, Daryl R. The Lower Federal
Courts as Constitution-Makers: The Case of Prison Conditions, 7 Am. J. Crim. L. 119 (1979);
FEELEY Malcolm M.; HANSON, Roger A. The Impact of Intervention on Prisons and Jails: A
Framework for Analysis and Review of the Literature, In Courts, Corrections, and the Constitution
12 (John D. Dilulio, Jr. ed., 1990); Harvard Center for Criminal Justice, Judicial Intervention in
Prison Discipline, 63 J. Crim. L. Criminology & Police SCI. 200 (1972); FIELDBERG, Michael S.
Comment, Confronting Conditions of Confinement: An Expanded Role for Courts in Prison
Reform, 12 Harv. C.R.-C.L. L. Rev. 367 (1977); Decency e Fairness: An Emerging Judicial Role in
Prison Reform, 57 VA. L. REV. 841 (1971).
114
Cfr. caso Laaman v. Helgemoe, 437 F. Supp. 269, 323 (D.N.H. 1977) (determinando que as
condições provocadoras de degeneração são violações à 8ª Emenda); caso Pugh v. Locke, 406 F. Supp.
318, 330 (M.D. Ala. 1976) (reconhecendo que condições prisionais degradantes infligem punição cruel
e não usual), após, com as modificações, cfr. o caso Newman v. Alabama, 559 F.2d 283 (5th Cir.
1977), e o caso Alabama v. Pugh, 438 U.S. 781 (1978); o caso Holt v. Sarver, 309 F. Supp. 362, 379
(E.D. Ark. 1970) (reconhecendo que condições prisionais “que militam contra a reforma e a
reabilitação” infligem punição cruel e não usual).
115
437 F. Supp. 269.
116
Op. Cit. p. 316. Cfr. caso Gregg v. Georgia, 428 U.S. 153, 183 (1976) (observando que “a sanção
imposta não pode ser tão extremada e não possuir justificação penalógica, a ponto de infligir
sofrimento gratuito”).
117
Caso Bounds v. Smith, 430 U.S. 817 (1977). O tribunal, no caso Wolff v. McDonnell, 418 U.S. 539
(1974), estendeu aos detentos o direito de assistirem uns aos outros para preparar ações postuladoras de
Direitos civis.
118
Caso Bounds, 430 U.S. p. 822.
119
Op. Cit. p. 820-21.
120
393 U.S. 483 (1969).
121
Op. Cit. p. 487.
122
518 U.S. 343 (1996).
123
Op. Cit. p. 343, 354.
124
Op. Cit. p. 351.

15
Alguns dos peticionários foram trancafiados125 e assim tiveram negado o uso da
biblioteca jurídica da prisão.126

3. 3. Individualismo Bilateral
Para os pais Fundadores, a individualidade autodefinida, autoemancipada
e autointeressada representaria a condição humana.127 Autônoma e racional128, ela
aproveita a escolha de ação129 e assim possui “a propalada independência do sujeito
deontológico”.130 A partir desta perspectiva, explica Carter, a vitimização é bilateral e
individualizante porque é definida em termos de “atos individuais concretos praticados
por transgressores identificáveis”.131 De acordo com isso, “uma vítima é alguém
ofendida por qualquer outra pessoa... e não a sociedade como um todo (...)”.132
Na prisão hipermasculina, oficiais carcereiros e detentos igualmente
acolhem o individualismo bilateral ao atribuir reponsabilidade pela situação dos Punks.
Um Punk procurando ajuda receberá a resposta de que deve ser um “homem” e brigar
com seus atormentadores.133 Consequentemente, se ele falhar na briga, a culpa recairá
no Punk: ele “escolheu” ser um Punk, revelando sua fraqueza não masculina.134


125
Cfr. BENTLEY & CORBETT, nota n. 9, acima, p. 11, (definindo a “tranca” como o confinamento dos
detentos em suas celas ou unidades celulares).
126
Cfr. caso Lewis, 518 U.S. p. 354.
127
Cfr. MACPHERSON, supra note 83 (examinando os atributos do homem liberal atomista).
128
Cfr. HOLLAND, Robert A. A Theory of Establishment Clause Adjudication: Individualism,
Social Contract, and the Significance of Coercion in Identifying Threats to Religious Liberty, 80
Cal. L. Rev. 1595, 1632 (1992) (observando que o individualismo liberal constrói o ser humano como
autônomo e racional).
129
Cfr. MOUSOURAKIS, George. Character, Choice, and Criminal Responsibility, In: 1998
Universite Laval Les Cahiers De Droit, 39 C. de D. 51, 57 (1998) (“o conceito de voluntarismo pode
ser interpretado de forma a denotar tanto a habilidade de um agente de controlar a sua conduta
externa, isto é, de agir em um senso estrito, quanto à capacidade de um agente de determinar
livremente o curso de sua ação, isto é, de atribuir efeito à sua escolha ou ação”).
130
SANDEL, Michael A. Liberalism and the Limits of Justice (2d ed.), 1989, p. 11; cfr. também
ADDIS, Adeno. Individualism, Communitarianism, and the Rights of Ethnic Minorities, 67 Notre
Dame L. Rev. 615, 633 (1992) (observando que o individualismo “acolhe a presunção iluminista” de
uma identidade individual pré-social, universal e estável); Alexis de Tocqueville escreveu que o
“individualismo” “[existe no caráter americano como] um sentimento maduro e calmo que dispõe cada
cidadão à separar-se da massa de seus companheiros...; ele, disposto a deixar a sociedade em geral,
para si mesmo”. Alexis de Tocqueville, Democracy In America (Henry Reeve text, rev. by Francis
Bowen Vantage Books) 1945 (1835), p. 104. Tocqueville atribuiu o individualismo Americano não à
qualidades inatas, mas a uma sociedade democrática e igualitária que “intoxicou as pessoas como seu
novo poder”. Ao invés de reconhecer seu débito para com essa sociedade, “eles adquiriram o hábito de
sempre considerarem permanecerem sozinhos”. Op. Cit. p. 98-100.
131
CARTER, Stephen L. When Victims Happen To Be Black, 97 Yale L.J. 420, 421, 1988; confira-se
também FEINBERG, Joel. Harm to Others 1984, p. 118-25, (discutindo a causa no conceito liberal de
danos).
132
Cfr. Carter, nota n. 131, acima, p. 421.
133
Cfr. notas n. 89-92 e discussões do texto (discutindo as atitudes dos carcereiros acerca do
aconselhamento para que os detentos usem a força para lidar com seus atormentadores).
134
Cfr. notas n. supra notes 91-92 e discussões do texto (discutindo as atitudes dos carcereiros
relacionadas aos detentos que falham em lutar com seus atormentadores).

16
Individualismo bilateral também tem influenciado a Suprema Corte na
aplicação da 8ª Emenda às condições prisionais. No caso Farmer v. Brennan135 (1994) a
Corte requereu do peticionário, um transexual em estado pré-operatório que havia sido
estuprado por seus colegas de cela, que estabelecesse “uma ofensa suficientemente
séria”, e bilateralmente atribuiu aquela ofensa a uma indiferença deliberadamente
individual, um estado mental ligado ao intento136 criminoso.137 Como observado
posteriormente por uma Corte inferior, a indiferença deliberada requer que “[o próprio
defendente, pessoalmente] conheça maneiras de reduzir o perigo, mas conscientemente
decline em agir, ou que ele [pessoalmente] conheça meios de reduzir o perigo mas
imprudentemente deixe de agir”.138
O estupro de Eugene Langston ilustra como este modelo causal exclui de
remédios Constitucionais os perigos rapidamente evitáveis. O detento Langston
testemunhou um assassinato de gangues enquanto estava encarcerado na notória prisão
Joilet, no estado de Illinois.139 Pelos quatro anos seguintes ele cumpriu sua pena no
seguro (protective custody).140 Então ele atacou um guarda, o que acabou o conduzindo
para um confinamento na solitária (disciplinary segregation).141 Os carcereiros violaram
a política prisional ao colocarem-no junto com um colega na cela, pois a unidade
possuía celas vazias.142 Além disso, seu companheiro de cela possuía histórico de
violência sexual contra prisioneiros, e logo ele aumentou sua reputação ao estuprar
Langston.143 Ele entrou com uma queixa, mas não obteve êxito. Os defensores que o
auxiliaram no requerimento alegaram desconhecer o histórico de violência sexual do
ofensor, mesmo com um dos defensores tendo dito antes a Langston, “droga, eles são
estúpidos, eles sabem que não deveriam ter colocado você e aquele garoto juntos na
mesma cela...”.144


135
511 U.S. 825 (1994).
136
Op. Cit. p. 832-40 (citando o caso Wilson v. Seiter, 501 U.S. 294, 298 (1991)).
137
NT: Utilizamos a expressão “intento criminal” para nos referirmos à expressão constante do texto
original: “recklessness”, por ausência de tradução exata. Este último termo refere-se a uma área
problemática do direito criminal, desde que não há uma definição estrita do termo no próprio idioma
original, que se refere a capacidade – objetiva ou subjetiva de compreensão do evento criminoso, ligada
a algumas utilizações caso-a-caso pelos tribunais, como o caso Cunninhham (1957), o caso Caldwell
(1982) e caso RvG (2003). Cfr. Law Teacher. “Provide a Critical Evaluation of the Current Definition
of Reckless”. Disponível em: <www.lawteacher.net>, acesso em 23.09.2015.
138
Caso Hale v. Tallapoosa County, 50 F.3d 1579, 1583 (11th Cir. 1995).
139
Caso Langston v. Peters, 100 F.3d 1235, 1236 (7th Cir. 1996).
140
Cfr. Op. Cit. p. 1236. Cfr. FIELDS, Charles B. Protective Custody, In: Encyclopedia of American
Prisons (Marilyn D. McShane & Frank D. Williams III eds.), 1996, p. 373: “O uso da custódia
protetiva (CP) é uma das maneiras de os administradores das prisões tentarem isolar e proteger
aqueles detentos que geralmente são vitimados. A custódia protetiva é um alojamento restrito que
geralmente é constituído por celas de segurança máxima, dotadas de maiores configurações prisionais.
Na maioria dos casos há um número bastante limitado de celas disponíveis. A CP geralmente é referida
como ‘uma prisão dentro de outra prisão’”. Op. Cit. Loc. Cit. NT: O termo brasileiro equivalente é
“seguro”, Segundo a linguagem prisional corrente.
141
Caso Langston, 100 F.3d, p. 1236.
142
Cfr. Op. Cit. p. 1238.
143
Cfr. Op. Cit. p. 1239.
144
Cfr. Op. Cit. p. 1238, n. 2.

17
4. Punks e Congresso
Em 1996 e 2003 o Congresso promulgou legislação expressamente
direcionada aos direitos dos prisioneiros. Não obstante, os objetivos destes estatutos
diferiam grandemente. O Congresso aprovou o primeiro ato para estrangular o
movimento de reforma prisional. Posteriormente, ele trabalhou uma legislação para
avançar em uma das metas pendentes do movimento de reforma prisional: a redução do
estupro prisional.

4. 1. O “Prision Litigation Reform Act” de 1996


Seguindo-se ao desaparecimento da doutrina do “hands-off”, Cortes
Federais inferiores assumiram o controle de numerosas prisões estaduais.145 Direitos e
remédios tornaram-se entrelaçados assim que os Juízes Federais fizeram uma leitura
aberta e finalística da linguagem contida na 8ª Emenda, com vistas a reformar a
“totalidade” das condições prisionais.146 Aplicando ordens de injunção abrangentes, e
decretos de consentimento, os Juízes assumiram funções gerenciais.147
Consequentemente, as cortes ordenaram a reforma prisional, que “adquiriu amplitude e
detalhamento apenas através dos recentes papéis das Cortes em desmantelar a
segregação nas escolas públicas da nação”.148
Tendo abandonado “a tradição herdada” de adjudicação passiva149,
Cortes Federais inferiores eventualmente se depararam com uma variante daquilo que


145
Cfr. caso Ruiz v. Estelle, 503 F. Supp. 1265, (S.D. Tex. 1980) (ordenando um maior alívio do sistema
no Texas), modificado: 650 F.2d 555 (5th Cir. 1981), revertido em parte: 666 F.2d 854 (5th Cir.
1982): revertido e modificado em parte: 679 F.2d 1115 (5th Cir. 1982); caso Newman v. Alabama,
559 F.2d 283, 289-90 (5th Cir. 1977) (ordenando um maior alívio do sistema no Alabama), revertido
em parte: caso Alabama v. Pugh, 438 U.S. 781 (1978); caso Palmigiano v. Garrahy, 443 F. Supp.
956, 986-89 (D.R.I. 1977) (apoiando um maior alívio do sistema em Rhode Island), alterado: 599 F.2d
17 (1st Cir. 1979); 887 F.2d 258 (1st Cir. 1989); caso Holt v. Sarver, 309 F. Supp. 362, 382-85 (E.D.
Ark. 1970) (ordenando um maior alívio do sistema no Arkansas), 442 F.2d 304 (8th Cir. 1971).
146
Cfr. caso Battle v. Anderson, 564 F.2d 388, 401 (10th Cir. 1977) (determinando que a superlotação e
outras questões menores justificavam um julgamento ao requerente); caso Williams v. Edwards, 547
F.2d 1206, 1211 (5th Cir. 1977) (determinando que o desenvolvimento prisional, como um todo,
infligia uma violação Constitucional); caso Gates v. Collier, 501 F.2d 1291, 1309 (5th Cir. 1974)
(determinando que a totalidade das circunstancias infligiam punições cruéis e não usuais).
147
Cfr. RESNIK, Judith. Managerial Judges, 96 Harv. L. Rev., 1982, p. 374-77. Muitos Juízes Federais
abandonaram suas antigas atitudes; eles deixaram para trás sua pose relativamente desinteressada para
adotar uma mais ativa “ação gerencial”. Em números crescents, os juízes não apenas estão analisando as
questões de mérito… mas também estão se encontrando com as partes nos seus gabinentes para
encorajar a configuração das disputas e para supervisionar a preparação dos casos. Op Cit. Loc. Cit; cfr.
também CHAYES, Abram. The Role of the Judge in Public Law Adjudication, 89 Harv. L. Rev.
1281, 1284 (1976) (descrevendo o juiz de julgamento como “o criador e gerenciador de complexas
formas de alívio permanente”); FISS, Owen M. The Supreme Court, 1978 Term - Foreword: The
Forms of Justice, 93 Harv. L. Rev. 1 (1978) (descrevendo as “formas estruturais” das prisões e de
outras instituições).
148
FEELEY, Malcolm M.; HANSON, Roger A. The Impact of Intervention on Prisons and Jails: A
Framework for Analysis and Review of the Literature, In: Courts, Corrections, and the
Constitution (John D. DiIulio, Jr. ed.,), 1990, p. 12-13.
149
Roscoe Pound descreveu que a aproximação tradicional sobre a tomada de decisão judicial como um
“processo de decidir” a “disputa” e “declarar” o que o Direito deveria ser no futuro. POUND, Roscoe.
The Theory of Judicial Decision, 36 Harv. L. Rev. 940, 941 (1923).

18
Bickel denominou de “dificuldade contramajoritária”.150 Ele argumentou que os
Tribunais se tornam “instituições desviantes” quando eles frustram a vontade da
maioria, ou se engajam em funções historicamente exercidas por oficiais eleitos.151 De
acordo com esses argumentos, os casos de reformas prisionais ultrapassaram a linha:
representantes eleitos e oficiais federais, e não as Cortes, é que deveriam ditar a
reestruturação das instituições penais.
O “Prision Litigation Reform Act” de 1996 (PLRA)152 foi feito para
prevalecer sobre os decretos receitados e sobre os processos dos detentos. Os advogados
desta legislação se queixaram de juízes153 “mariquinhas”154 que avidamente
governavam as cadeias e as prisões.155 Eles reservaram suas críticas mais ácidas para os
escritores dos writs156, caracterizando-os como litigantes recreativos que inundavam as
pautas do poder judiciário federal com pedidos frívolos.157 O Ato foi apoiado por uma
ampla maioria na Câmara dos Deputados e no Senado.158
O PLRA impôs significativos custos de oportunidade para os Punks
como futuros litigantes.159 O início dos procedimentos judiciais foi condicionado à


150
BICKEL, Alexander. The Least Dangerous Branch, 1978, p. 16.
151
Op. Cip. p. 18. Mas confira-se também: DAHL Robert H. Democracy and its Critics, 1989, p. 190
(concluindo que “a maioria dos ministros da Suprema Corte nunca permanecem por muito tempo das
visões da maioria dos legisladores Congresso”); FRIEDMAN, Barry. Dialogue and Judicial Review,
91 Mich. L. Rev. 577, 577-616 (1993) (questionando como as Cortes são Contramajoritárias).
152
Cfr. Prison Litigation Reform Act of 1995, Pub. L. No. 104-34, 110 Stat. 1321 (1996).
153
Caso Benjamin v. Jacobson, 935 F. Supp. 332, 340 (S.D.N.Y. 1996) (“O eixo da crítica que
promoveu o ato legislativo foi o fato de que os Tribunais Federais estavam excedendo a sua autoridade,
e estavam criando prisões de mariquinhas”).
154
NT: A expressão original, “mollycoddling Judges”, não encontra tradução exata para o idioma
português, e segundo o dicionário Merriam-Webster, é um substantivo, cuja origem remonta a Molly,
apelido utilizada para Maria (Mary), e a expressão “mollycoddle” se refere a tratar alguém com
excessiva moleza, sensibilidade ou atenção do que supostamente seria apropriado, razão pela qual, por
se tratar de referência textual pejorativa, utilizou-se o relativamente equivalente termo português:
Mariquinha.
155
Cfr.141 Cong. Rec. S14419 (27 de setembro de 1995) (pronunciamento do Senador Abraham) (“A
administração da prisão não mais será anulada por Juízes Federais por questões mínimas de um futuro
indefinido”) reimpresso em: Legislative History of the Prison Litigation Reform Act Of 1996, Pub.
L. No. 104-134, at doc. 15 (1997) (Bernard D. Reems, Jr. & William H. Manz eds., 1997) [doravante
referido como Legislative History of the Prison Litigation Reform Act of 1996].
156
Cfr. o caso Johnson v. Avery, 393 U.S. 483, 490 (1969) (sustentando que os elaboradores das
petições iniciais dos writs, isto é, aqueles detentos que preparam os processos por conta própria,
merecem proteção constitucional na ausência de outros meios de acessar os Tribunais).
157
Cfr. 141 Cong. Rec. S14418 (27 de setembro de 1995) (discurso do senador Hatch) (Instando por uma
legislação que “traga alívio no Sistema de Justiça dos Direitos Civis, sobrecarregado por pedidos
frívolos de prisioneiros), reimpresso em: Legislative History of the Prison Litigation Reform Act of
1996, nota n. 155, acima, p. 15; caso Kincade v. Sparkman 117 F.3d 949, 951 (6th Cir. 1997) (“O
texto do ‘Prison Litigation Reform Act’, em si mesmo reflete que desde o primeiro resumo, o seu
principal objetivo foi o de frenar os litígios por condições prisionais”).
158
Cfr. Legislative History of the Prison Litigation Reform Act of 1996, nota n. 155, acima, p. vii
(sustentando que a Câmara dos Deputados e o Senado aprovaram o relatório da conferência que
continha o Ato, respectivamente, por 399 votos contra 25, e 89 contra 11 votos).
159
O Estatuto, segundo Schlanger, tornou até mesmo [difícil] “levar (aos) e vencer nos tribunais os casos
constitucionalmente meritórios”. Cfr. SCHLANGER, Margo. Inmate Litigation, 116 Harv. L. Rev.
1555, 1563 (2003).

19
exaustão dos pedidos administrativos na prisão160, representando uma “degradação no
status cerimonial” para os Punks.161 A participação nos processos de reclamação inicial
passara a exigir que eles “saíssem do armário”, isto é, que fossem oficialmente
identificados como “tornados” homossexuais que ocupavam um papel de gênero
feminino. Ainda, o Punk como um reclamante também teria que identificar os seus
agressores, e assim se tornar um “dedo duro”162, um desdenhoso status por si mesmo.163
Ao final do dia, os remédios administrativos da prisão poderiam não fornecer ao Punk
uma adequada resposta, especialmente se eles procuravam indenização por danos.164
O Punk deveria proceder “in forma pauperis”, pois o PLRA acabou
impondo severos obstáculos adicionais. O Punk hipossuficiente seria responsável ainda
por recolher uma taxa de depósito.165 Se seu caso fosse recusado por ser frívolo, ele
poderia perder um tempo importante de sua pena.166 A menos que ele tenha um pedido
bastante alto, um Punk experimentaria severas dificuldades com uma consultoria
jurídica em razão das restrições relativas a taxas judiciárias para os honorários de
sucumbência.167 O valor de seu requerimento, além disso, também poderia ser
descontado em razão do quanto se segue: (1) se o PLRA efetivamente impedisse os
danos de uma violência sexual, a menos que ele estivesse acompanhado de danos
físicos; 168 (2) no julgamento, o sexo consensual de sua parte também estaria em

160
Cfr. 42 U.S.C. § 1997e (a) (2002). No caso Porter v. Nussle, 534 U.S. 516 (2002), a Corte sustentou
que a exaustão de prévios requerimentos administrativos se aplica ao demandante que se queixa de erros
sistémicos ou de um exemplo isolado de irregularidades.
161
Um “status cerimonial degradante” é “qualquer trabalho comunicativo entre pessoas, em que a
identidade pública de uma delas é transformada em alguma coisa que é observada como mais baixa no
regime local dos tipos sociais”. Cfr. GARFINKEL, Harold. Conditions of Successful Degradation
Ceremonies, In: Symbolic Interaction 205 (Jerome G. Manis & Bernard N. Meltzer eds., 1967).
162
Confira-se a Parte II do Relatório “No ESCAPE”, citado acima: “Geralmente eles (os sistemas de
reclamação) tendem a ser atormentados pela falta de confidencialidade, o que pode expor o detento
denunciante à retaliação por outros presos, e a um preconceito contra testemunhos prisionais, bem
como a uma falha em investigar seriamente as alegações dos prisioneiros. As queixas são
frequentemente negadas com respostas repetitivas que mostram muito pouca atenção individualizada
para o problema subjacente”. Op. Cit. Loc. Cit. Um “dedo duro” ou um “rato”, é um informante. Cfr.
BENTLEY & CORBETT, nota n. 9, acima, p. 36, (definindo um “dedo duro”).
163
Cfr. caso Comstrock v. McCrary, 273 F.3d 693, 699 n.2 (6th Cir. 2001) (“Ser etiquetado como
‘dedo duro’ era temido porque poderia fazer do detento um alvo para o ataques de outros presos”); cfr.
também o caso Alberti v. Heard, 600 F. Supp. 443, 450 (S.D. Tex. 1984) (“aparenta-se que os
detentos possuem um ‘código não escrito’ de silêncio que resulta no fato de a maioria dos atos de
violência passarem desapercebidos”); caso Grubbs v. Bradley, 552 F. Supp. 1052, 1078 (M.D. Tenn.
1982) (“A evidência é absolutamente clara de que o código interno [de silêncio] existe, e que ele
impede a comunicação de um grande número de episódios de ameaça ou violência”); caso Pugh v.
Locke, 406 F. Supp. 318, 325 (M.D. Ala. 1976) (“Um preceito cardeal da subcultura prisional é o de
que nenhum detento deve entregar outro detento aos agentes carcerários”).
164
Cfr. caso Booth v. Churner, 532 U.S 731 (2001) (decidindo que o requisito de prévio esgotamento
dos requerimento administrativo se aplicada "independentemente do auxílio oferecido através dos
procedimentos administrativos”);
165
Cfr. 28 U.S.C. § 1915(b) (2000).
166
Cfr. 18 U.S.C. § 3624(b) (2000) (permitindo aos Tribunais que revogasem parte de um bom tempo da
pena para aqueles reclamantes utilizadores dos dados confinados em prisões federais, quando o
queixoso utilizar tais dados com fins maliciosos de assediar ou realizar falso testemunho).
167
Cfr. 42 U.S.C. § 1997e (d) (2004).
168
A maioria dos Tribunais ordenou que o assédio sexual não representa causa de ação quando estiver
ausente violência física. Cfr. caso McFadden v. Lucas, 713 F.2d 143, 146 (5th Cir. 1983) (ordenando
que a ausencia de violencia física evita a violação à 8ª Emenda); confira-se ainda o caso Wilson v.
Horn, 971 F. Supp. 943, 948 (E.D. Pa. 1997) (determinando que o assédio por meio de violência

20
causa;169 (3) para ter sucesso no julgamento ele deveria provar uma indiferença
deliberada170, que é “um estado mental altamente culpável”; 171 e (4) se ele perdesse o
julgamento, o PLRA ainda determinava que ele teria que arcar com os custos judiciais
do acusado.172

4.2. O “Prision Rape Elimination Act” de 2003.


A aprovação do “Prision Rape Elimination Act”, de 2003 (PREA)173 foi
anunciado em 2002 sob protestos dirigidos em um anúncio televisivo. Um jornal
descreveu o anúncio da maneira seguinte:
“Um porta-voz da 7-UP distribui latas de refrigerante para os
prisioneiros. Quando ele acidentalmente deixa cair uma delas, ele
brinca fingindo que não vai apanhá-la, sugerindo que se ele abaixar
implicaria o risco de ser estuprado. Algum tempo depois na
propaganda, uma cela de prisão é fechada, trancafiando o porta-voz
junto com outro detento em uma cama, que se recusa a tirar os braços
174
ao redor dele”.

A controvérsia girou em torno da incerteza de se saber quando um


homem estuprado na prisão deveria ser considerado como uma vítima legítima. Em uma
pesquisa realizada em 1994, metade dos entrevistados concordou com a afirmação de


verbal fica aquém de uma violação constitucional). Também não se temerá um “estado de agressão
sexual” como requerimento reconhecível em alguns Tribunais. Cfr. caso Wilson v. Yaklich, 148 F.3d
596, 600-602 (6th Cir. 1998) (Seja qual tenha sido o medo legitimado dos queixosos, nós acreditamos,
entretanto, que é o próprio ataque, razoavelmente evitável, ao invés de qualquer medo dele, que dá
origem a uma postulação compensatória sob a o pálio da Oitava Emenda) (citando o caso Babcock v.
White, 102 F.3d 267, 272 (7th Cir. 1996)); (cfr. ainda o caso Babcock v. White, 102 F.3d 267, 272
(7th Cir. 1996) (“De uma maneira simplificada, o requerente Babcock alega, não a falha de prevenção
da ofensa, ... mas a falha em prevenir a exposição ao risco dela. Isso não concede a Babcock direito a
compensação monetária”); mas confira-se ainda o caso LaMarca v. Turner, 995 F.2d 1526, 1535
(11th Cir. 1993) (concluindo que o “sofrimento e a dor desnecessárias” infligem uma violação à 8ª
Emenda quando os detentos experimentam “exposição constante, injustificada e não razoável à
violência”); Caso Mooreman v. Sargent, 991 F.2d 472, 474 (8th Cir. 1993) (indicando que uma
violação à Oitava Emenda pode ocorrer quando são verificadas agressões sexuais com uma frequência
suficiente para deixar os presos com receio razoável sobre sua segurança).
169
Cfr. o caso Anderson v. Redman, 429 F. Supp. 1105, 1117 (D. Del. 1977) (“No exato momento em
que um detento alcança a destinação de sua classificação inicial , seja ela máxima , média ou mínima, é
difícil discernir a atividade homossexual não consensual, pois a resistência da maior parte das vítimas
não consensuais foi quebrada neste momento”); ROBERTSON, James E. A Clean Heart and an
Empty Head: The Supreme Court and Sexual Terrorism in Prison, 81 N.C. L. Rev. 433, 444
(2003) (“Técnicas coercitivas, tais como extorquir sexo em troca de dívidas vencidas, ou pela proteção
de colegas de cela leva a maioria das vítimas a entregar os seus corpos em silêncio e, sob seus olhos,
vergonhosamente”).
170
Cfr. o cas Farmer v. Brennan, 511 U.S. 825, 832-40 (1994).
171
Cfr. Schlanger, nota n. 159, acima, p. 1606.
172
Cfr. FED. R. CIv. P. 54(d)(1) (“custos outros que não com os honorários dos advogados deveram ser
destinados, evidentemente, para a parte vencedora, a menos que o Tribunal decida de outra maneira”).
173
Cfr. “The Prison Rape Elimination Act of 2003”, Pub. L. No. 108-79, 117 Stat. 972 (2003).
174
Cfr. QUTB, Sabrina; STEMPLE, Lara. Selling a Soft Drink, Surviving Hard Time: Just What Part
Of Prison Rape do you Find Amusing? S.F. CHRON., June 9, 2002, at D2, disponível em:
<http://www.sfgate.com/cgi-bin/article-cgi?file=HRonicle/archive/2002/06/09/IN181350.dtl>, acesso
em 23 de outubro de 2003.

21
que “a sociedade aceita o estupro prisional como parte do preço que os criminosos
pagam pelo cometimento de suas más ações”. 175 O preço era alto para os Punks:
alcançar o status de vítima concedia “uma poderosa alavanca moral”, mas por outro
lado enfraquecia os homens que procuravam reparação.176
A organização que uma vez fora dirigida por Donny “the Punk”, “Stop
Prisioners Rape”, liderou cerca de 100 grupos na denúncia contra o anúncio da 7-UP.177
Executivos da companhia logo cancelaram a campanha promocional. 178
Narrativas de vitimização ocuparam por muito tempo o lugar central no
movimento contra os estupros prisionais. Donny, a proeminente figura do movimento,
recontou bastante a sua vitimização.179 No ano anterior, a comissão sobre o PREA no
Senado ouviu o relatório “Sem Saída”180, oriundo de um grupo de observação das
violações dos direitos humanos (Human Rights Watch), no qual mais da metade do
relatório era dedicado a reproduzir doze casos e vários em primeira pessoa acerca de
agressões sexuais.181 Um mês antes de o Congresso votar o PREA, à organização “Stop
Prisioner Rape” apresentou no capitólio o “Histórias de Sobreviventes” narrando
inúmeras histórias de pessoas que sobreviveram à estupros prisionais.182


175
Cfr. DUMOND, Robert W. The Impact and Recovery of Prison Rape, disponível em:
<http://www.spr.org/pdf/Dumond.pdf>, acesso em 25 de abril de 2003. Cilminando na campanha
comercial da 7-UP descrita acima, a mídia geralmente pinta uma imagem dos estupros nas prisões
masculinas como uma punição merecida e esperada. Cfr. MANN, Christopher D.; CRONAN, John P.
Forecasting Sexual Abuse in Prison: The Prison Subculture of Masculinity as a Backdrop for
Deliberate Indifference, 92 J. Crim. L. & Criminology 127, 185 n.383 (2001-02) (citando o retrado
pintado pela mídia dos estupros prisionais); MARINER, Joanne. Body and Soul: The Trauma of
Prison Rape, In: Building Violence (John P. May ed.), 2000, p. 125-126. (“a julgar pela mídia popular,
o estupro é aceitável como um lugar comum sobre o encarceramento, e tanto é assim que quando surge
uma discussão sobre as prisões, parece ser sempre obrigatória alguma piadinha referindo-se ao estupro);
LEWIN, Tamar. Little Sympathy or Remedy for Inmates Who Are Raped, N.Y. TIMES, Apr. 15,
2001, e outros (“o detento masculino estuprado possui um local estabelecido na mitologia da prisão,
em que as referências ao confinamento geralmente se fazem acompanhar de piadinhas tão velhas
quanto a independência, acerca da violência sexual na cadeia”).
176
Cfr. AMATO, Joseph A. Victims and Values: a History and a Theory of Suffering, 1990, p. 159.
177
Cfr. Qutb e Stemple, nota n. 174, acima.
178
Cfr. Op. Cit. Loc. Cit..
179
Cfr. Stop Prisoner Rape, Stephen Donaldson: Classic Writing By and About the Former SPR
President, disponível em: <http://www.spr.org/en/stephendonaldson/stephendonaldson.html> (acesso
em 6 de Junho de 2003) (listando quase todos os ensaios e editoriais de Donaldson).
180
Mais proeminentemente as três series sobre o estupro prisional que foram transmitidas pela rede
nacional de transmissão de notícias “World News Tonight”. Cfr. “Nowhere to Hide”, (transmitida pela
ABC News em 16 de abril de 2001), disponível em:
<http://abcnews.go.com/sections/wnt/WorldNewsTonight/wnt010416_prisonrapel_feature.html>,
acesso em 5 bde junho de 2003; cfr. “Time Bombs”, (transmitida pela ABC News, em 16 de abril de
2001),
disponível<http://www.abcnews.go.com/sections/wn/WorldNewsTonight/wnt010416_prisonrape1_feat
ure.html>, acesso em 5 de junho de 2003); cfr. “Preventing Inmate Rape”, (transmitido pela ABC
News em 16 de abril de 2001) disponível em:
<http://abcnews.go.com/sections/wn/WorldNewsTonight/wnt010417_prisonrape2feature.html>, acesso
em 5 de junho de 2003.
181
Cfr. o relatório “No ESCAPE”, nota n. 91, acvima.
182
Stop Prisoner Rape, Press Release: Survivors of Prison Rape Speak at Capitol for First Time,
disponível em: <http://www.spr.org/en/pressreleases/2003/0624.html> (disponível em: 15 de outubro de
2003).

22
Os empreendedores morais183, entretanto, permaneceram na vanguarda
da coalização, advogando uma ação do Congresso.184 Em 2001, o grupo “Stop Prisioner
Rape” acolhe Lara Stemple como sua diretora.185 Diferente de Donny “the Punk”, ela
não fora vítima de estupro ou uma ex-presidiária.186 Ao invés disso, ela era uma ativista
dos Direitos Humanos como uma estudante do curso de Direito de Harvard.187 Após a
sua graduação, ela trabalhou como advogada no Centro de Direitos Reprodutivos.188
Michel J. Horowitz, outro empreendedor moral, apadrinhou o “Prision
Rape Elimination Act”. Ele participou da administração de Ronald Reagan como
Procurador Geral da Secretaria de Orçamento e Gestão.189 Posteriormente, como
afiliado ao Hudson Institute, ele foi descrito como “um veterano de guerras políticas
sobre questões de direitos humanos, tais como perseguição religiosa, o genocídio no
Sudão e o tráfico internacional de pessoas para fins sexuais...”.190 Em 2001, Horowitz
começou a costurar uma coalização pedindo por uma resposta Federal acerca dos
estupros nas prisões.191
Ele teria desafiado seguidas vezes Charles Colson para trazer os
evangélicos para sua coalização.192 Colson, um ex-conselheiro do presidente Richard
Nixon, cumpriu pena em um presidio federal por conta de sua participação no caso
Watergate193, tendo deixado a prisão como um evangélico e empreendedor moral
comprometido com a reforma das prisões.194 Colson logo fundaria uma organização que

183
NT: A expressão original, “Moral entrepreneurs” ou “empreendedores morais” é utilizada por Richard
Posner, e representa um “paladino moral”, diferente do “moralista acadêmico”, que procura alterar os
limites do altruísmo, mesclando apelos de interesses próprios com apelos emocionais, ensinando a amar
quem eles amam ou a odiar a quem eles odeiam, procurando despertar sentimento de comunhão ou de
distanciamento. POSNER, Richard. The Problematic of Moral and Legal Theory, Harvard Law
Review, vol. 111, 1998, p. 1667; POSNER, Richard. A Problemática da Teoria Moral e Jurídica.
São Paulo: Martins Fontes, 2012, p. 65.
184
Cfr., por todos, POSNER, Richard. The Problematics of Moral and Legal Theory, 111 Harv. L.
Rev. 1637, 1666-67 (1998) (observando que os “empreendedores morais” fornecem uma crítica retórica
e qualidades organizacionais necessárias para convencer outras pessoas autointeressadas a agirem
desapaixonadamente).
185
Cfr. Stop Prisoner Rape, Stop Prisoner Rape: A Brief History, disponível em:
<http://www.spr.org/en/history.html>, acesso em 6 de junho de 2003.
186
Op. Cit. Loc. Cit.
187
Cfr. Press Release, Center for Reproductive Rights, Lara Stemple Joins the Center for
Reproductive Rights, (Nov. 8, 1999), Disponível em:
<http:/www.reproductiverights.org/pr_99_1108stemp.html>, de 8 de novembro de 1999.
188
Op. Cit. Loc. Cit.
189
Cfr. Biografia on Line de Michael J. Horowitz, disponível em:
<http://pewforum.org/events/0509/horowitzbio.htm>, de maio de 1999.
190
MORSE, Anne. Brutality Behind Bars, World On The Web, Feb. 16, 2001, disponível
em:<http://www.worldmag.com/world/issue/02-03-01/national-3.asp>, acesso em: 7 de junho de 2003;
confira-se também: CROMARTIE, Michael. The Jew Who Is Saving Christians, Christianity Today,
Mar. 1, 1999, disponível em: <http://www.ctlibrary.confct/1999/marl/9t3050.html>, acesso em 25 de
abril de 2004. (Descrevendo a crusada de Horowitz pelo “International Freedom Religious Act”, de
1998).
191
Cfr. BEANE, Becky. Congress Passes Prison Rape Elimination Act, Prison Fellowship Ministries,
disponível em: <http://www.pfm.org/Content/ContentGroups/PrisonFel-
lowship/Publications/Jubileel/CongressPassesPrisonRapeEliminationAct.htm>, acesso em: 6 de junho
de 2004.
192
Op. Cit. Loc. Cit.
193
Cfr. COLSON, Charles E. Born Again, 1996.
194
Op. Cit. Loc. Cit.

23
expressaria suas visões reformistas e religiosas, a “Prision Fellowship Ministries”.195 A
revista Christianity Today posteriormente viria a premiar Colson por “construir uma
ponte entre a fé evangélica e o ativismo social”.196 Seu trabalho em favor do programa
“Prision Fellowship Ministries” lhe garantiu o Prêmio “Templeton Prize” de um milhão
de dólares em 1993 pelo progresso da religião.197
Colson aceitou o chamado de ajuda feito por Horowitz. Um voluntário da
organização (Prision Fellowship Ministries) ajudou a rascunhar a lei.198 Colson
anunciou a proposta legislativa, através de mais de 1 milhão de estações de rádio que
promoviam seus comentários diários, para cerca de 3 milhões de pessoas.199 No
Capitólio ele descreveu a legislação proposta como um “teste ácido sobre como nossa
sociedade trata os oprimidos e demonstrará que mesmo os direitos dos criminosos
devem ser protegidos”.200 O website da “Prision Fellowship” informou que “milhões”
responderam ao peticionarem para o Congresso com pedido de que fosse aprovada a
legislação sobre o estupro dos prisioneiros.201
Adicionalmente, um dos pilares do pensamento conservador, a “National
Review”, circulou uma série de artigos escritos por Eli Lehrer sobre o estupro nas
prisões. Lehrer descreveu os estupros prisionais como “epidêmicos” que representariam
“uma marca negra na reputação sobre os direitos humanos da América”.202 Em
contraste ao tratamento diferencial concedido aos administradores prisionais203 por parte
da Suprema Corte, Lehrer considerou-os “cumplices na epidemia de estupros
prisionais”.204 Por outro lado, ele rejeitou a “solução da esquerda” de “expansão dos
direitos dos prisioneiros”.205
Em julho de 2003, o Senado e a Câmara dos Deputados aprovaram à
unanimidade o PREA.206 Ele determinou o seguinte: (1) pesquisas anuais com a
finalidade de identificar as causas do estupro;207 (2) audiências públicas;208 (3) a criação
de uma câmara de compensação financeira para os funcionários locais e estaduais dos


195
Op. Cit. Loc. Cit.
196
ZOBA, Wendy Murray. The Legacy of Prisoner 23226, Christianity Today, July 9, 2001 (citando o
Congressista Asa Hutchinson).
197
Cfr. nota n. 193, acima.
198
Cfr. nota n. 191, acima.
199
Cfr. Press Release, Prison Fellowship Ministries, Will Our Society Support Human Dignity?
Discurso de Colson por ocasião do “Prison Rape Reduction Act of 2002”, disponível em:
<http://www.pfm.org/Content/ContentGroups/BreakPoint/Other_Content/ColsonsPage/20028/WillOurS
ocietySupportHumanDignity_.htm>, acesso em 12 de junho de 2002.
200
Op. Cit. Loc. Cit.
201
Cfr. nota n. 191, acima.
202
LEHRER, Eli. No Joke, NAT'L REV. ONLINE, June 20, 2002, disponível em:
<http://www.nationalreview.com/comment/comment-lehrer062002.asp>, acesso em: 05 de junho de
2003 [doravante referido como: No Joke].
203
Cfr. nota n. 87, acima (citando casos judiciais).
204
Cfr. LEHRER, Eli. Hell Behind Bars: The Crime That Dare Not Speak Its Name, NAT'L REV.,
Feb. 5. 2001, disponível em:
<http://www.findarticles.com/cfdls/m1282/2_53/69388675/pllarticle.jhtml>, acesso em: 25 de abril de
2004 (descrevendo o estupro como uma “ferramenta administrativa”).
205
Cfr. No Joke, nota n. 202, acima.
206
Cfr. nota n. 191, acima.
207
Cfr. “The Prison Rape Elimination Act of 2003”, Pub. L. No. 108-79, §4, 117Stat. 972 (2003).
208
Op. Cit. Loc. Cit.

24
centros de correção para auxiliar nos esforços em conter os estupros nas prisões;209 (4)
subvenções para as jurisdições locais e estaduais;210 e, (5) a criação de uma comissão
para estudar o estupro prisional e estabelecer questões de padrões voluntários
endereçados a prevenção do estupro, ao tratamento das vítimas e processo dos
agressores.211
O PREA trata do medo amplamente compartilhado por homens, e que
transcende a distância social entre os detentos e os legisladores do sexo masculino.
Conforme observado por Sabo, nenhum medo comum é mais “sombrio e secreto do que
aquele albergado por homens heterossexuais de ‘serem violados’ à força por um macho
mais dominante...”.212 Entre os brancos este medo ganha uma dimensão adicional em
sua perspectiva racial: vários estudos apontam que afro-americanos cometem a maioria
dos estupros prisionais e os brancos são suas vítimas usuais.213
A resposta do PREA a este “medo mais sombrio e secreto” ocorre a partir
das mensagens a seguir. Sua mensagem mais alta – que o estupro prisional não é parte
da pena – direciona-se àqueles que acreditam que o estupro prisional é apenas o preço
que os criminosos pagam por seus maus feitos.214 Ao definir os Punks e outros detentos
estuprados como vítimas legitimadas, dirige-se contra o mito que busca atribuir parcela
de culpa a própria vítima.215 Por fim, apesar de anos de retórica política exaltando o
endurecimento contra os ofensores216, a aprovação da Lei pelo Congresso significa que
ele não é indiferente aos apelos de todos os detentos.


209
Op. Cit. § 5.
210
Op. Cit. § 6.
211
Op. Cit. § 7. Os Estados não são obrigados a acolher os padrões da comissão, mas eles irão perder o
direito às verbas federais que recebem para operacionalizar suas prisões (trad. livre).
212
Cfr. Sabo e outros, nota n. 11, acima, p. 15.
213
Cfr. No Escape, nota n. 91, acima, na Parte IV (dispondo a partir de correspondência e entrevistas com
os detentos, indicando que os brancos são “desproporcionalmente alvejados”; e que os abusos de negros
sobre os brancos parecem ser mais comuns”); LOCKWOOD, nota n. 58, acima, p. 104-105 (relatando
que entre os detentos de Nova Iorque, jovens e pobres afro-americanos compunham cerca de 80% dos
detentos sexualmente agressivos); CARROLL, Leo. Humanitarian Reform and Biracial Sexual
Assault in a Maximum Security Prison, In: Male Rape: A Casebook Of Sexual Aggressions 121,
122-23 (Anthony M. Scacco, Jr. ed., 1982) (relatando que entrevistas com os detentos informantes de
uma prisão revelou que pelo menos 75% das agressões sexuais são de agressores negros contra vítimas
brancas); STRUCKMAN-JOHNSON, Cindy; STRUCKMAN-JOHNSON, David. Sexual Coercion
Rates in Seven Midwestern Prison Facilities for Men, 80 PRISON J. 379, 386 (2000) (observando
que os negros compunham cerca de 74% dos perpetradores e os brancos 60% das vítimas); mas em
sentido contrário, confira-se também TEWKSBURY, Richard. Fear of Sexual Assault in Prison
Inmates, 69 Prison J. 62, (concluindo que a altura e o peso seriam os únicos fatores significantes na
previsão de receio do estupro prisional).
214
Cfr. Dumond, nota n. 175, acima, e discussão no texto (encontrando os dados informativos de que
50% dos entrevistados acretitam que a sociedade aceita o estupro prisional como parte da pena);
HASSINE, Victor. Life Without Parole 136 (Thomas J. Bernard et al. eds., Roxbury Publ'g Co. 2d ed.
1999) (observando que “alguns funcionários da cadeia enxergam o estupro prisional como parte do
risco da pena que os foras da lei assumem ao cometerem os seus crimes”).
215
Eigenberg encontrou o percentual de 16% de guardas entrevistados em uma cadeia, que acreditavam
que os detentos gays mereciam ser estuprados. Cfr. EIGENBERG, Helen M. Correctional Officers'
Definitions of Rape in Male Prisons, 28 J. CRIM. JUST. 435, 437-38 (2000).
216
Allen e outros, nota n. 18, acima, p. 53 (descrevendo o recrudescimento das leis criminais dos anos
1990).

25
Como outras legislações simbólicas, o PREA pode ter um impacto
217
limitado. Uma determinação da Lei proíbe a distribuição e a implementação de
padrões preventivos do estupro prisional que “imponham substancial aumento de
custos”.218 Esta provisão irá construir um muro financeiro entre a Lei e muitas
condições de confinamento associadas a altos índices de estupro, tal como a
superlotação, dormitórios sobrepostos (“barracas”), alta concentração de ofensores
aprisionados por cometimento de crimes violentos.219 Mais do que isso, “barbeiragem”
considerável pode ocorrer na implementação dos padrões. Branham sustentou que os
auditores “encobrem” violações aparentes dos padrões da Associação Americana de
Correções, e algumas vezes etiquetam os relatórios como “incompletos ou
equivocados”.220

5. O Futuro Punk
Os frágeis na prisão não herdam a terra, particularmente se eles são
socialmente construídos como “meninas”. Enquanto o PREA pode atenuar a opressão
de gênero, ele falha em repudiar o ethos masculino na prisão e na constituição Punk. A
esperança Punk de um futuro melhor está em qualquer outro lugar.

5.1. A Prisão e a “Primeira” Constituição


Sherry observou que a Revolução Americana foi lutada em nome de uma
“visão republicana”, segundo a qual “a função primária do governo é ordenar valores e
definir virtudes, e desse modo educar seus cidadãos em serem virtuosos”.221 Os pais
Fundadores, de Acordo com Sherry, acreditaram que a virtude pública deveria manter a
liberdade viva.222 Entretanto, a experiência em governar a nova república conduziu a
uma desconfiança sobre o corpo político.223 O novo governo de 1787 deveria ser


217
Cfr. TUSHNET, Mark; YACKLE Larry. Symbolic Statutes and Real Laws: The Pathologies of the
Antiterrorism and Effective Death Penalty Act and the Prison Litigation Reform Act, 47 DUKE
L.J. 1, 4 (1997) (asseverando que “a dificuldade fundamental é que a dimensão simbólica e expressiva
dos estatutos, tipicamente, interferem sobre quaisquer finalidades instrumentais que eles possuem”).
218
Cfr. The Prison Rape Elimination Act of 2003, Pub. L. No. 108-79, § 8(a)(3), 117 Stat. 972 (2003).
219
Cfr. Cindy Struckman-Johnson & David Struckman-Johnson, nota n. 213, acima, p. 389 (sustentando
que 5 fatores distinguiram as prisões com altos índices de estupros daquelas com baixos índices: (1)
superpopulação, aliada a reduzido número de funcionários; (2) atitude permissiva e ambígua dos
funcionários da prisão sobre o estupro prisional; (3) dormitórios conjuntos (barracas) que resulta na
moradia de ofensores violentos com detentos vulneráveis; (4) conflito racional; (5) alta concentração de
ofensores aprisionados por crimes violentos.
220
Cfr. Branham & Krantz, nota n. 30, acima, p. 13.
221
Cfr. Sherry, nota n. 65, acima, p. 552.
222
Op. Cit. p. 556. Sherry observa uma contradição interna no republicanismo cívico dos pais
Fundadores. A noção de bem comum mantida por uma cidadania virtuosa era, entretanto, recheada de
contradições. O republicanismo sustentou que a verdadeira liberdade somente poderia ser mantida
através da segurança da propriedade privada. Ainda, a propriedade traria riqueza, a qual quando
concentrada nas mãos de alguns poucos, seria destrutiva da liberdade e da segurança.
223
Op. Cit. p. 557-58.

26
fundado em uma premissa diferente, uma individualidade atomística e
autointeressada.224
O punitivismo evoluiu em uma trajetória similar. Uma “aproximação
comum ao punitivismo” prevaleceu nas colônias americanas do século XVII.225 As
sanções prediletas deveriam reunir o ofensor com a sua comunidade através da
confissão e do arrependimento.226 Os colonos acreditaram que nenhuma grande
distância social separavam o “ofensor” do “não ofensor”; todas as pessoas teriam
nascido para pecar, tornando o crime uma parte inevitável da vida social.227
“A desordem turbulenta” nas cidades que cresciam rapidamente na nação
no início do século XIX, minaram a confiança pública nos mecanismos de controle
social mais comuns.228 O aprisionamento logo se tornou a sanção normativa para os
crimes mais sérios.229 Por volta de 1833, Beaumont e Tocqueville falaram de uma
“monomania do sistema penitenciário, que para eles parece ser o remédio para todos
os males da sociedade”.230
Os fundadores da penitenciaria previram uma “instituição total”231, não
muito diferente do Leviathan de Hobbes. Na prática, eles tiveram a coisa um pouco
diferente: “em algumas instituições há praticamente o controle total dos detentos em
sua vida diária na população carcerária, e os funcionários da custódia apenas
controlam as paredes”.232 Na moderna prisão subterrânea, o poder dos detentos


224
Op. Cit. p. 559-60.
225
HIRSCH, Adam J. The Rise of the Penitentiary 33 (1992); cfr. também ROTHMAN, David J.
Discovery of the Asylum 50 (1971) (observando que as punições da época “presumiam uma sociedade
em que a reputação era tida como um elemento importante no controle social…”).
226
Cfr. FRIEDMAN, Lawrence M. Crime and Punishment in American History 39 (1993)
(examinando o punitivismo na américa colonial); e ainda, HIRSCH, nota n. 225, acima, p. 33.
227
Cfr. ROTHMAN, nota n. 225, acima, p. 17 (examinando a visão colonialista sobre o crime).
228
Cfr. WALKER, Samuel. Popular Justice 57 (1980).
229
Cfr. SHERMAN, Michael; HAWKINS, Gordon. Imprisonment In America 75 (1981) (observando
que “os sistemas prisionais de Auburn e da Pennsylvania fundiu as noções de aprisionamento e punição
na década de 1820”).
230
Cfr. BEAUMONT, Gustave DE; TOCQUEVILLE, Alexis de, On The Penitentiary System In The
United States And Its Application In France 80 (Herman R. Lantz ed., S. Ill. Univ. Press 1964)
(1833).
231
GOFFMAN, Erving, ASYLUMS 6 (1961). Goffman utilizou inicialmente o conceito de instituição
total descrevendo-a da maneira seguinte: “O componente central das instituições totais podem ser
descritas como uma ruptura das barreiras que separam as três esferas da vida. Primeiro, todos os
aspectos da vida são conduzidos no mesmo local e sobre a mesma e singular autoridade. Segundo,
cada fase das atividades de seus membros é realizada em companhia de um grande número de outras
pessoas, todas as quais tratadas da mesma maneira, e solicitadas a realizar o mesmo tratamento
conjunto. Terceiro, todas as fases das atividades diárias são rigorosamente programadas. E finalmente,
todas as inúmeras atividades obrigadas são erigidas conjuntamente na forma de um plano racional,
propositalmente designado para alcançar os objetivos oficiais da instituição” Op. Cit., Loc Cit.
232
BUFFUM, Peter C. Homosexuality in Prisons 6 (1972); cfr. também SELKE, William L. Prisons In
Crisis 72 (1993) (“Em larga medida, os condenados sempre comandaram a prisão e continuam a fazer
isso hoje em dia, especialmente devido aos níveis de superlotação e de carência de funcionários”);
CRESSEY, Donald R. Foreword to John Irwin, Prisons in Turmoil, p. vii (1980) (“Em algumas
instituições contemporâneas eles têm afastado as paredes, levando detentos à intimidar, estuprar,
mutilar e matar uns aos outros com uma frequência alarmante”).

27
geralmente balança por causa da supervisão intermitente233, a falta de espaço
defensivo234, e, guardas corruptíveis e em pequeno número.235
A prisão e o legalismo liberal da Constituição vieram a compartilhar
muito em comum. O legalismo liberal separou os indivíduos da sociedade em um
sentido epistemológico, enquanto a prisão isolou ofensores com uma as paredes da
prisão. O legalismo liberal defende a vida privada, e a prisão esconde o ofensor da visão
pública. O legalismo liberal atribui a ação ao ofensor, enquanto a prisão pune em nome
da culpabilidade. A privação da commodity liberal mais valorosa, a liberdade, fornece
para a prisão o seu estoque.

5.2. A Prisão e a “Segunda” Constituição


Em “Nossa Constituição Secreta”, Fletcher sustenta que a guerra civil
americana gerou o nascimento da “Segunda Constituição Americana”.236 Enquanto a
“primeira” Constituição abraçou o legalismo liberal e seus elementos constitutivos do
contrato social, das liberdades negativas e da ofensa bilateral237, a “segunda”
Constituição representou os ideais republicanos de “nacionalidade orgânica, igualdade
entre todas as pessoas, e democracia popular”.238 Tragicamente a Suprema Corte
suprimiu a “segunda” Constituição239 nos “Slaughter House Cases”.240
A “segunda” Constituição de Fletcher contém elementos de
jurisprudência feminista. Ao cobrar do governo um “papel ativo na proteção e
asseguramento da autonomia de seus cidadãos”241, esta Constituição abraça a liberdade
positiva advogada por Robin West242. Além disso, igualdade de tratamento e respeito243,


233
Cfr. ZUPAN, Linda L. Jails, Reforms, and the New Generation Philosophy, 4-5 (1991) (discutindo
a supervisão intermitente, na qual a vigilância dos detentos ocorre em bases excepcionais).
234
Cfr. FLYNN, Edith. The Ecology of Prison Violence, In: Prison Violence 115, 123 (Albert K. Cohen
et al. eds., 1976). As prisões não são particularmente designadas para facilitar intervenção efetiva dos
funcionários, sempre quando a vida e a segurança dos detentos ou dos guardas se encontre ameaçada
(...) A violência e o comportamento destrutivos ocorrentes em dormitórios, locais para esportes ou ao
final de longos corredores, pode ser observada, embora não impedida pelos guardas sem que estes se
coloquem em situação de perigo (...) A fala de visibilidade e as grandes distâncias envolvidas
geralmente torna impossível a identificação daqueles responsáveis pelos ataques ou comportamentos
desviantes. Op. Cit. Loc. Cit.
235
Cfr. BKAUR, Robert B.; KRATCOSKI, Peter C. Correctional Officers: Career Opportunities, In:
Encyclopedia of American Prisons 122, 123 (Marilyn D. McShane & Frank D. Williams III eds.,
1996) (observando que existem cerca de 500 mil funcionários do Sistema carcerário, e
aproximadamente um milhão e meio de detentos).
236
Cfr. FLETCHER, nota n. 26, acima, p. 2.
237
Cfr. notas n. 68-141, acima, (descrevendo as implicações do contrato social, dos Direitos negativos, e
do dano bilateral).
238
Op. Cit. Loc. Cit.
239
Cfr. FLETCHER, nota n. 26, acima, p. 119-40 (recontando os chamados “Slaughter-House Cases”, em
que o Tribunal assegurou que as imunidades e privilégios da cláusula da 14ª Emenda não compõem
uma Carta de Direitos aplicável aos Estados porque sua referência aos “cidadãos” aplicar-se-ia somente
às ações praticadas pelo governo federal).
240
83 US. (16 Wall) 36, 109 (1872).
241
Cfr. FLETCHER, nota n. 26, acima, p. 110.
242
Cfr. WEST, Robin. Progressive Constitutionalism 267-70 (1994) (discutindo a Liberdade sob a qual
ela denomina de “constitucionalismo progressivo”).

28
como normas fundamentais da “segunda’ Constituição, seguramente incorporam a
noção de Linda McClain sobre o “cuidado” como valor público244, e a crença de Nicola
Lacey de que “relacionamentos respeitosos” nutrem a sociedade civil.245
Alcançar igualdade de tratamento e o respeito na prisão envolve mais do
que implementar a cláusula de Igualdade.246 Isso também acarreta agir virtuosamente.
“Virtude”, observou Elizabeth Loder, “induz uma pessoa a agir bem e desenvolver seu
caráter de maneira frutífera”.247 Instilar a virtude nos detentos não é uma novidade: em
seu aclamado livro, “Laboratories of Virtue”, Michael Meranze descreveu as origens da
penitenciária na Filadélfia e o seu princípio fundador: nutrir a virtude cívica nos
detentos.248
John Wozniak, Jody Sundt e Francis Cullen tem advogado um regime
prisional que persiga este velho objetivo. Eles preveem um “meio social prisional
virtuoso”.249 Todas as atividades dos detentos, como trabalhos na prisão e serviços
comunitários” deveriam ser direcionados a “retribuir as vítimas e a comunidade”250,
bem como forneceria aos detentos uma “oportunidade de serem virtuosos”.251 A
ociosidade deveria ser banida em favor de uma ampla gama de programas, incluindo o
trabalho prenhe de significados.252 Os próprios detentos deveriam possuir uma
“obrigação”, não para “re-ofender”, mas sim para, através daqueles fins poder se
inscreverem em programas de reabilitação ligados à “pesquisa criminológica e
princípios de intervenção correcional efetiva”.253 Pessoas virtuosas, isto é, “pessoas de
bem da comunidade”, deveriam ser os mentores dos detentos, e de qualquer maneira
servirem de modelo.254
John Wozniak, Jody Sundt e Francis Cullen alegam que o trabalho
voluntário prisional está baseado no fato de que as comunidades prisionais gozam de
atributos similares a sua “virtude prisional”.255 Por exemplo, o pré-lançamento de seu
programa no Texas forneceu trabalho aos detentos, grupos de apoio, aconselhamento


243
Cfr. FLETCHER, nota n. 26, acima, p. 91-111 (descrevendo a “mensagem igualitária de Gettysburg”,
observando que a igualdade floresce em um ambiente de simpatia mútua e de identificação recíproca”).
244
Cfr. MCCLAIN, Linda. Care as a Public Value: Linking Responsibility, Resources, and
Republicanism, 76 Chi.-Kent. L. Rev. 1673 (1998) (examinando o papel do cuidado na vida pública).
245
Cfr. LACEY, Nicola. Unspeakable Subjects, Impossible Rights: Sexuality, Integrity and Criminal
Law, 11 Can. J.L. & Juris. 47, 64 (1998) (“Esta relação inevitável de interdependência gera a ideia de
uma autonomia atomística não-essencial. Sem relações mantenedoras de respeito, não podemos realizar
nossa pessoalidade”).
246
Cfr. Emenda n. 14 à Constituição Americana. (Proibindo, em sua parte relevante, a negação de igual
proteção perante a lei).
247
Cfr. LODER, Reed Elizabeth. Propter Honoris Respectum: Integrity and Epistemic Passion, 77
Notre Dame L. Rev. 841, 846 (2002).
248
Cfr. MERANZE, Michael. Laboratories of Virtue (1996).
249
Cfr. CULLEN, Francis T. e outros. The Virtuous Prison: Toward a Restorative Rehabilitation, In:
Contemporary Issues In Criminal Justice 265, 278 (Henry N. Pontell & David Shichor eds., 2001).
250
Op. Cit. Loc. Cit.
251
Op. Cit. p 280.
252
Op. Cit. Loc. Cit.
253
Op. Cit. Loc. Cit.
254
Op. Cit. Loc. Cit.
255
Op. Cit., p. 282.

29
contra o abuso de drogas, e habilidades de sobrevivência.256 Dia e noite programando
detentos imersos no programa em um ambiente terapêutico, que previne a sua
participação na prisão subterrânea.257

Conclusão
Em sua história seminal sobre a penitenciária Stateville, de Illinois,
James Jacobs asseverou que o governo na prisão evoluiu de um modelo autoritário para
um modelo burocrático.258 Ele observou que esta transformação ocorreu em conjunto
com “desdobramento da sociedade de massa”, na qual grupos marginalizados
“pressionou por admissão no principal grupo social”.259
Mas o “desdobramento da sociedade de massa” foi ultrapassado pela
hierarquia de gênero prisional. Ao invés de gozar os direitos integrais de cidadania, os
Punks possuem uma Constituição que não experimentou reconstrução: eles podem ser
comprados e vendidos ao bel prazer dos “homens de verdade”.
Os Punks precisam da “segunda” Constituição de Fletcher. Sua proteção
começa com a implementação da norma fundamental desta Constituição: respeito e
igualdade de tratamento. Embora respeitáveis, os relacionamentos virtuosos entre os
detentos podem parecer um objetivo romântico, mas “não há substitutivo para o
pensamento humanístico como uma ação contra fática de melhoramento nas questões
prisionais... Essa é a função intrinsicamente compatível com o impacto, a credibilidade
e a reforma”.260

*
* *

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256
Op. Cit. Loc. Cit.; confira-se, ainda, EISENBERG, Michael; TRUSTY, Brittani. Overview of the
interchange freedom initiative: the faith-based prison program within the Texas department of
corrections (2002); JOHNSON, Byron R. The Innerchange Freedom Initiative (2003).
257
Cfr. JOHNSON, nota n. 256, acima, p. 4 (descrevendo o ambiente “inter-fé”). Um estudo da
Universidade da Pensilvânia descobriu taxas de detenção e reincidência significativamente menores
entre os egressos do programa do que seus colegas do grupo de controle. Confira-se Op. Cit., p. 22
(Encontrando uma taxa de prisão de 17.3% para os graduados, e 35% para o grupo de controle, e uma
taxa de 8% para reincidência de graduados, comparado a taxa de 20.3% para o grupo de controle em um
período de 1 a dois anos de libertação).
258
JACOBS, James B. Stateville (1977).
259
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