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EUGEN VON BOHM-BAWERK

Teoria Positiva
do Capital

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Tradução de Luiz João Baraúna

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1986

NOVA

CULTURAL

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Índice

VOLUME 11

Excurso I - Esclarecimentos Mais Detalhados e Provas para a Regra da Maior


Produtividade dos Métodos Indiretos de Produção Capitalista 7

Excurso 11 - Relação de Freqüência Entre as Invenções Novas que Prolon­


gam o Período de Produção Vigente e as que o Encurtam............... 37

Excurso III - Certas Objeções Metodológicas Contra a Minha Tese da Maior


Produtividade dos Métodos Indiretos de Produção mais Longos......... 49

Excurso IV - Papel que Desempenha a "Escolha Sábia" ("Selection") na Re­


gra de Maior Produtividade de Métodos Indiretos de Produção mais Longos 63

Ex<;.urso V - Sobre a Questão, se "Produzir com mais Capital per Capita"


E a Mesma Coisa que "Produzir com Métodos de Produção Indiretos mais
Longos" 77

Excurso VI - Resposta às Objeções do Dr. Robert Meyer Contra a Minha


Crítica à Teoria da Exploração.·................................................... 99

Excurso VII - Teoria do Valor dos Bens Complementares (Teoria da Alocação) 105

Excurso VIII - O valor de Bens Produtivos e a Relação Entre o Valor e os


Custos...... 131

Excurso IX - Posição do "Sofrimento do Trabalho" (Disutility) no Sistema


da Teoria do Valor.................................................................. 155

Excurso X - "Comensurabilidade" de Grandezas do ~entimento 163


~ ...., ~'r-
.- ~ .-". "-::.

=-, = :\1 - Motivação de Atos Econômicos Presentes por Necessidades

~ _~"'::-ê5 . 179

=:<":~5::J XII - Relação do "Terceiro Motivo" da Superioridade de Valor de

3ens Presentes com os Dois Primeiros Motivos 195

.4., Bortkiewics _ 197

B) Fisher 210

1) § 4 de Fisher e seu Apêndice Matemático.............. 210

2) § 5 de Fisher......... ... .. .... .. .. .. .. .. . .. .. .. ... ... .. .. .. .. .. ... .. .. .. .. ... . 218

3) § 6 de Fisher _ 225

4) § 7 de Fisher.................................................................. 230

5) O encadeamento proposto pelo próprio Fisher para os motivos da

superioridade de valor.. 234

Excurso XIII - Relativo à Evolução Histórico-DoutrinaI do Sistema dos Bens

Duráveis no Quadro da Teoria do Capital. Algumas Glosas Críticas às Teorias

do Juro de Cassei e Landry 249

Excurso XIV - Relativo à Grandeza do Fundo Inicial Necessário para se Adotar

um Período de Produção de Determinada Duração......................... 269

EXCURSO I

Esclarecimentos Mais Detalhados e Provas para a Regra da Maior


Produtividade dos Métodos Indiretos de Produção Capitalista

(Para a Seção I do Livro Segundo da Teoria Positiva)


o conjunto de fatos que fundamenta a regra mencionada no título deste Excur­
so e por mim já apresentado na primeira edição desta obra quase com as mesmas
palavras, 1 nesse meio tempo foi objeto de múltiplas dúvidas e impugnações.
Puseram-se em dúvida os fatos, em sua qualidade de fatos, por mim afirmados.
Declararam insuficiente o material comprobatório aduzido em abono dos mesmos
e fizeram referência a certos outros fatos, cuja existência os autores se consideraram
autorizados a interpretar como argumentos ou provas contra os fatos afirmados por
mim.
Considero absolutamente bem-vindo o aparecimento dessas objeções. Se mi­
nha tese da produtividade maior dos métodos indiretos de produção capitalista for
correta, ela enuncia um fato de importância fundamental para nossa ciência; fato
que, para a formação e a explicação dos fenômenos da Economia Política, talvez
seja de importância similar à que tem a célebre "lei da produtividade decrescente
do solo". Questões factuais desse gênero não admitem incerteza durante muito tem­
po. Se dúvidas com relação a elas são possíveis - e que são possíveis demonstra-o
justamente a experiência mais recente -, então devem ser solucionadas, quanto
antes tanto melhor. Aliás, confesso de público que seu aparecimento constitui gran­
de surpresa para mim. Ao formular a tese, agora posta em dúvida, não tinha a míni­
ma idéia de que com ela estaria enunciando algum conhecimento novo ou de difícil
descoberta; ao contrário, acreditava estar apenas dando uma formulação literária
mais acertada e sobretudo mais isenta de pressupostos, em relação à fórmula antiga
da "produtividade do capital", a uma experiência positiva, por si evidente, que é fa­
miliar tanto ao prático quanto à Ciência Econômica. Todavia, uma vez que tais dú­
vidas surgiram, elas me impõem a grata obrigação de uma pesquisa ainda mais

1 Só alterei pouquíssímas palavras, na linha de uma formulação ainda mais diligente e cuidadosa: quanto ao ccn:2úcc
propriamente dito. não houve nenhuma mudança.
8 TEORIA POSITIVA DO CAPITAL

profunda, que só pode vir a beneficiar tanto a clareza quanto também o acerto de
minha tese, da qual deduzo tantas e tão importantes conclusões. 2
Meus críticos levantaram a questão a respeito das provas nas quais fundamen­
taria minha tese. Mas a questão de como consigo provar minha tese tem de ser per­
cebida convenientemente pela outra, saber o que tenho a demonstrar como sendo
minha tese. Uma explicação mais precisa do conteúdo e do alcance de minha tese
não somente constituirá uma preparação que ajudará a aclarar a questão das pro­
vas, mas ao mesmo tempo proporcionará a desejada oportunidade de solucionar
já, como que a meio caminho, uma série de supostas contraprovas, que não ha­
viam sido dirigidas contra o conteúdo real de minha tese, mas apenas contra algo
que erroneamente se havia considerado como tal; efetivamente parece que, de to­
das as interpretações errôneas que, devido à natureza do assunto, eram de todo mal
imagináveis, nenhuma foi poupada amim e à minha tese. O leitor terá logo oportu­
nidade de julgar até que ponto isso ocorreu com ou sem culpa minha.

A. Esclarecimentos

A tese por mim enunciada afirma que uma adoção ou seu prolongamento, sa­
biamente escolhidos,3 de métodos indiretos de produção que levam tempo, via de
regra 4 levam a um resultado técnico maior, isto é, a obter mais ou melhores pro­
dutos com o mesmo dispêndio de forças produtivas originárias. 5 Antes de expor
com maior precisão o conteúdo positivo incluído nessa afirmação, considero opor­
tuno antecipar algumas observações negativas.
Antes de tudo, minha tese não quer dizer que, literalmente e sem exceção algu­
ma, qualquer prolongamento de qualquer método de produção necessariamente
acarrete maior produtividade; que um método de produção, só por ser mais longo,
mesmo que escolhido cegamente ou até de forma inadequada, necessariamente
também tenha que ser mais produtivo. Pelo contrário, minha tese restringe esse efei­
to expressamente a prolongamentos "sabiamente escolhidos~ e além disso deixa aberta
a possibilidade para a ocorrência de exceções, pois afirma que o citado efeito ocorre
apenas "via de regra", ou, como me expressei na primeira edição, "em geral". Ex­
presso de forma antitética: nem todo método mais longo é melhor, mas entre os
métodos mais longos há regularmente os que também são melhores. Isso tem co­
mo efeito prático o seguinte: aquele que quiser e puder prolongar seus métodos
de produção nunca precisa temer que;' assim fazendo, não os estaria também me­
Ihorando. 6
Eis por que, se alguém pretendeu que, para demonstrar minha tese, eu deveria
ter provado que todo método de produção mais longo - portanto, também um
método não sabiamente escolhido! - aumenta a produtividade, ou se alguém adu­
ziu exemplos individuais ou engendrou exemplos nos quais determinado prolonga­
mento (não sabiamente escolhido) não torna mais produtivo determinado processo
de produção individual, e considerou a possibilidade ou a existência de tais casos

2 Fiz uma primeira tentativa nessa linha em outra ocasião, fora do contexto da presente obra, em meus três estudos sobre
"Einige slriltige Fragen der Kapitalstheorie'" (publicados no ano de 1899 na Zeltschrift fuer Volkswirtschaft. Sozialpolitik
und Verwaltung, e em 1900 em livro independente), sobretudo no primeiro e em uma parte do segundo desses estudos.
A exposição que segue incorporará uma parte de minha exposição de então - algumas coisas textualmente, outras reela­
boradas -, mas além disso desenvolverá alguns pontos de vista novos, aos quais fui levado pelo curso da discussão literária
subseqüente.
3 Ver Teoria Positiva do Capital. São Paulo, Nova Cultural, 1986. v.l, p. 38, 109, 143.

4 Ver Teoria Positiva do CapItal. v.l,p. 112, 111.

5 Ver Teoria Positiva do Capital. v.l,p. 109

6 Esse efeito positivo será ainda explicado mais adiante com exatidão completa.

EXCURSO 1 9

como prova contra minha tese,7 tudo isso assenta em um entendimento errôneo
desta última. 8
Além disso, minha tese de modo algum significa que um aumento da produti­
vidade só possa ser obtido prolongando os métodos indiretos de pródução ou que
um progresso técnico só seja possível com um tal prolongamento. Ao contrário, sa­
lientei expressamente que muitas vezes uma invenção bem-sucedida pode fazer sur­
gir também um método de produção melhor e também mais curto. 9 O que minha
tese afirma não é que o prolongamento dos processos de produção seja o único
caminho que leva a aumentar a produtividade, mas apenas que tal prolongamento
representa um caminho que normalmente garante uma produtividade maior. Por
isso, novamente se interpretou erroneamente minha tese ao se objetar, como su­
posta prova contra minha afirmação, a existência de um ou até de muitos casos nos
quais se pode obter um produto maior por meio de métodos de produção mais
curtos. lO
Não preciso sequer explicar que é um equívoco ainda mais grosseiro, de todo
alheio ao assunto, apontar-me, em tom de contraprova, casos em que se trata de
um encurtamento do tempo de trabalho requerido para fabricar um produto, por­
tanto, recte, de uma diminuição da quantidade de trabalho, medida em termos de
tempo. E, no entanto, em meio ao zelo polêmico, até essa confusão ocorreu a cer­
tos autores, inclusive a autores muito conceituados. ll

7 Landry, por exemplo (L'lntérêt du Capital, p. 286), me lança em forma de dúvida a pergunta se todo aperfeiçoamento

ou toda multiplicação dos instrumentos de produção tem de cobrir seus custos, e acredita poder demonstar essa objeção

e o meu erro com o seguinte exempio: se alguém retirou a água de seu terreno colocando tubos de drenagem, uma dupli­

cação subseqüente dos tubos ou o fato de ele quadruplicar, decuplicar ou centuplicar os tubos de drenagens dificilmente

cobrirá sequer os custos de tal aumento de despesa! Também Effertz deturpa minha tese ao reproduzi-la nestes termos:

"M. de Bohm-Bawerk prétend que l'augmentation de la durée de la production augmente toujours la productivité".' (An­

tagonismes Économiques. Paris, 1906, p. 106.)

8 Na primeira edição de minha obra talvez eu tenha feito menos do que teria sido aconselhável para evitar expressamente

essa interpretação errônea. É verdade que não deixei de salientar expressamente, em algumas ocasiões, que minha tese
se limita a métodos de produção "sabiamente escolhidos", porém não repeti expressamente sempre de novo essa restrição
em todas as ocasiões, e sobretudo não o fiz no caso de citações ou formulações resumidas de minha tese (como, por exem­
plo, na 1? ed., p. 97, 274). Assim, um leitor menos avisado, que se fixasse apenas no teor de uma única passagem, e
não no contexto global, podia cair nessa interpretação errônea. Evidentemente, isso significava atribuir-me uma opinião
tão manifestamente errônea, diria quase absurda, que o simples excesso do suposto erro poderia ter chamado a atenção
e ter levado a um reexame mais cuidadoso. Que, porém, essa interpretação errônea tenha podido ocorrer ou perdurar
mesmo depois de .minhas exposições totalmente explícitas constantes nos estudos sobre "Einige strittige Fragen der Kapitals­
theorie" é realmente difícil entender. Mostra apenas quão pouco valor muitos críticos atribuem a uma reprodução correta
das opiniões por eles impugnadas, quando afinal é óbvio que para uma ~'c,ússão cientificamente fecunda das opiniões
a primeira condição básica é a reprodução correta das mesmas, 8 Cjue do contrário a crítica, com excessiva facilidade, baixa
ao nível de uma rixa inútil. Mais adiante ainda inlJestiy-arei especificamente - face a uma tentativa de interpretação inteli~
gente de I. Fisher, mas que leva ao erro - que influência o requisito dos métodos indiretos de produção "sabiamente esco­

lhidos" exerce sobre o caráter de minha regra; ver adiante o Excurso IV.

9 Ver Teoria Positiva do Capital. v. I, p. 112, nota 8.

10 Incorreu nesse erro, por exemplo, B. Bleicher, de maneira bem cuidadosa e reticente, ao escrever, em sua recensão de
minha obra: "Tem-se (... ) quase a impressão de que, segundo Bohm, todo e cada progresso têcnico determinaria um dis­
pêndio maior de tempo e de capital", e objeta, a seguir, a esta minha "aparente opinião", que "de forma alguma é absoluta­
mente necessário que se torne mais longa a duração do processo de produção, se quisermos que este se torne mais produtivo".
("Gegenwart und Zukunft in der Wirtschaft". In: Jahrb. f. Nat. Oek. un Statistik. Nova série. v. 20, 1890, p. 346.) Outros
críticos, menos cuidadosos, levantaram a mesma objeção de maneira menos excrupulosa: por exemplo Schade em sua
crítica - aliás, muito pouco escrupulosa - à minha teoria, nos Anna/en des deutschen Reiches, ano 39, 1906, p.
269: "Juntamente com a duração do período de produção - afirma Bohm-Bawek - aumenta a quantidade do produto.
Nem seu novo estudo conseguiu convencer-nos disso. Pois o progresso da ciência natural possibilita um aproveitamento
mais racional das forças naturais e com freqüência suficiente indica o caminho para produzir, em tempo mais curto do
que até agora a mesma ou maior quantidade de bens de qualidade igual". Similarmente Effertz. Antagonismes Économi·
ques, p. 410. Quanto a Lexis. ver adiante.
11 Foi Rodbertus que colocou o germe dessa confusão. quando. em uma descrição da natureza dos métodos de produção
capitalista - aliás, perfeitamente correta do ponto de vista objetivo -, introduziu a expressão equívoca de que tal "via

, "Bohm-Bawerk pretende que o aumento da duração da produção aumenta sempre a produtividade". (N. do T.)
10 TEORIA POSITIVA DO CAPITAL

Depois dessas observações negativas, esclarecendo o que minha tese não quer
dizer, procurarei agora, com a máxima clareza possível, ilustrar o que ela afirma po­
sitivamente, e qual o alcance desse seu conteúdo positivo.
Todos os métodos de produção hoje usuais, ou que concorrem com os usuais
para substituí-los, uma vez devem ter sido imaginados ou descobertos; por conse­
guinte, todos eles se baseiam em "invenções" antigas ou novas. Além disso, todos
eles - excetuado, talvez, o ato de colher amoras silvestres ou ajuntar lenha no ma­
to - estão ligados a um método indireto qualquer, no sentido por mim descrito,
método este que ora é apenas curto - como é o caso da confecção de anzóis para
pescar -, ora é de duração considerável - como o caso da construção de ferrovias
para o transporte de bens ou da instalação de cabos submarinos para o intercâmbio
de mensagens comerciais.
Evidentemente, até certo ponto é questão de mera casualidade se métodos de
produção inventados mais tarde exigem um método mais breve ou um mais longo
do que os anteriormente em uso e suplantados por eles, ou, em outros termos, se
invenções novas envolvem um encurtamento ou um prolongamento do período de
produção até então vigente no mesmo ramo de produção. De qualquer modo, não
há como estabelecer uma lei fixa a respeito disso: não há possibilidade de enqua­
drar de antemão em normas fixas os sucessos do gênio inventivo, nem no tocante
ao principal - a saber, o grau do aumento de produtividade do novo método ­
nem no que concerne a circunstâncias secundárias, como é a duração do método
indireto de produção determinado pelo novo método. Na prática, sem dúvida de­
paramos com grande número de casos dos dois tipos. Houve e continua havendo
muitas invenções novas que, em relação ao modo de produção usual até então,
envolvem um prolongamento do período de produção. São como mais adiante ve­
remos, e também comprovaremos, aquelas invenções cujo aproveitamento envolve
uma necessidade de capital maior do que o então existente. Há também muitas in­
venções que, em relação ao método antes usual, se distinguem ao mesmo tempo
pela dupla vantagem, a saber, a de proporcionar mais produto, e isto depois de um
período médio de espera mais breve do que o até então vigente.
Também sobre a relação de freqüência recíproca dos dois tipos de invenções
não há como fazer um pronunciamento seguro. Creio que somente de modo bem
geral se pode afirmar com segurança - sem que, porém, dessa afirmação dependa
algo de essencial para minha tese - que as invenções vantajosas, que envolvem
um prolongamento do período de produção, são as mais numerosas e até as muito
mais numerosas. Essa minha convicção radica em diversos motivos. Por um lado,
a evidência mostra que um número extraordinariamente elevado de invenções im­
portantes e de longo alcance demanda a criação de grandes investimentos de capi­
tal, de longa duração e estáveis, portanto aquele tipo principal de um "trabalho feito
anteriormente" e que prepara de longa data o resultado final da produção. Por outro

indireta" conduz "mais rapidamente" ao objetivo. (Das Kapita/, p. 236.) A ulterior especificação, acrescentada a esse enun­
ciado, naturalmente só o justifica no sentido de que através da via indireta se encurta o tempo de trabalho necessário ("'evi­
dentemente, o trabalho indireto (... ) e o trabalho direto (...) somados têm de produzir uma quantidade maior de utilidade
do que se o trabalho indireto tivesse sido também trabalho direto"). Contudo, a expressão "mais rapidamente", que não
é expressamente explicada. em virtude de seu duplo sentido, convida fortemente a confusões, nas quais de fato muitos
autores posteriores caíram. Isso aconteceu de modo particularmente craso, por exemplo, com B. Stolzmann, que, ao para­
frasear os dizeres de Rodbertus que acabamos de citar, diz que "'uma via indireta sensata sempre leva, no global, mais rapi­
damente" ao objetivo, querendo colocar essa proposição, correta para o encurtamento do tempo de trabalho, como uma
suposta prova contra a ocorrência de um prolongamento do período de produção. (Sozial~ Kategorie. Berlim, 1896, p.
325 et seq.) Além disso. Lexis; ver a recensão. altamente instrutiva para nossa questão, feita por ele do livro de Wicksell
sobre Wert. Kapita/ und Rente, publicada no Schmollers Jahrbuch, v. XIX, p. 332 et seqs.• bem como minha resposta deta­
lhada em "Einige strittige Fragen der Kapitalstheorie~ p. 19 et seqs., e no Excurso 11, que segue.
EXCCRSC :
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c­ lado, por menos possível que seja calcular o que o gênio inventivo é capaz de cc:"'.­
seguir no caso individual, a longo prazo e de acordo com a lei dos grandes núrnerc5
~-~
não pode deixar de exercer influência o simples fato de que é muito mais fác:: ­
e, portanto, pode-se conseguir com muito mais facilidade e freqüência - atender.
"'­
C5
mediante o processo de uma nova invenção, à única exigência de conseguir urn
produto maior do que atender ao mesmo tempo a duas exigêpcias, isto é, a de conse­
r,:. guir o produto maior por meio de um método mais curto. E exatamente a mesma
1:':: coisa que ocorre neste outro caso: é muito mais fácil construir locomotivas ou ma­
c:' quinário para navios, mais forte, quando as máquinas mais fortes podem ao mes­
f;_=
mo tempo ter um peso próprio maior, do que solucionar o problema de construir
máquinas mais fortes com peso menor. Com efeito, foi a dificuldade de resolver es­
.... 'Ç
te último problema que fez malograrem durante tanto tempo os esforços no sentido
=,.,-
de construir uma aeronave dirigívelJ12
:X
Entretanto, como já afirmei, minha tese em nada depende da prova de deter­
:~
minada relação de freqüência entre invenções "que prolongam" e invenções "que
~:
encurtam". Para mim é suficiente constatar o que a evidência ensina e, quanto saiba.
,ê- ainda não foi posto em dúvida por ninguém até hoje, a saber, que houve e há um
I:,,"
grande número de invenções cujo aproveitamento está associado a um prolonga­
mento dos processos de produção anteriormente em uso.
E agora, antecipando, tenho de expor uma idéia de§tinada a encontrar sua apli­
~ ,02 ­ cação principal em outras partes da teoria do capital. E que o aproveitamento de
todas as invenções tecnicamente vantajosas e que estão associadas a algum méto­
~:
do indireto que leva tempo, demanda também uma condição material prévia. Quem
.€ ­ quiser vincular suas provas produtivas correntes (trabalho e recursos do solo) a pro­
cessos de produção que só podem trazer seus frutos maduros após decorrido um
~"" período intermediário mais ou menos longo, já deve estar provido de outra fonte
J.: para atender às necessidades de bens desse período intermediário. Em outras pala­
vras, precisa-se, de uma forma ou outra, de estoques de meios de subsistência para
o período intermediário, durante o qual ainda não estão disponíveis os frutos do
E:'
processo de produção demorado a ser adotado. E naturalmente se precisará de es­
toques tanto maiores de meios de subsistência, quanto mais longos forem os méto­
dos de produção que se adotarem. Na vida comercial comum, costuma-se exprimir
r_ esse fato banal dizendo que o aproveitamento de certas invenções associadas a lon­
gos preparativos demanda muito "capital" - expressão que não é nem totalmente
correta nem totalmente incorreta, mas sobre a qual já demos a explicação mais exa­
'c
ta em outro Jugar. 13
Em relação a essa condição material prévia há uma diferença profunda e reple­
('-
ta de conseqüências entre as invenções que encurtam o período de produção e as
r: que o prolongam. Para as primeiras, essa condição prévia sempre já está cumprida
de antemão; sua falta não pode nem impedir nem retardar consideravelmente o
aproveitamento da respectiva invenção. Com efeito, se já anteriormente estava real­
mente em curso uma produção que representava um método indireto ainda mais

IT""­
·4'­

c."
~: 12 Um terceiro argumento - que, aliás, não se estriba apenas em avaliações de medição visual dificilmente conrroiá':el.5
e em considerações gerais de probabilidade, mas em fatos estatisticamente controláveis - resultará do nexo - a ser de­
monstrado mais adiante - existente entre o penado médio de produção e a quantidade de capital existente em uma eco­
p nomia nacional. O aumento do capital nacional per capita da população, que pode ser observado em todas as economias
~<-= nacionais que prosperam do ponto de vista da técnica da produção, é um fato concludente para um prolongamento cres­
cente do período médio de produção. - Isoladamente têm aparecido afirmações exatamente opostas sobre este tema em
geral: por exemplo, em Horace White e em Lexis. É altamente instrutivo examinar o motivo das obscuridades e equí,,:ocos
't2-" aos quais essas afirmações devem a sua existência; todavia, para não misturar pesquisas em número excessivo. quero ocupar­
me desse assunto em um Excurso especial (lI).
13 Ver Teoria Positiva do Capital. v.I. Livro Segundo, Seção m, p. 123 et seqs.
12 TEORIA POSITIVA DO CAPITAL

longo, necessariamente deve haver na respectiva economia ou na economia da na­


ção também os necessários estoques de meios de subsistência, até para um método
de produção indireto mais longo, e tanto mais para o método de produção mais
breve, exigido pela nova invenção. Por ess,e lado, portanto, o aproveitamento desta
última não depara com obstáculo algum. E possível, por outro lado, que esse apro­
veitamento seja retardado por outros fatores, durante determinado período, mode­
rado, em virtude de certas dificuldades nunca totalmente ausentes no caso da
implantação de um novo processo; por exemplo, a manutenção do segredo sobre
o novo processo ou sua patenteação, o desconhecimento ou indolência dos empre­ -,
sários, o interesse de aproveitar ainda por algum tempo equipamentos antigos, mas
ainda bem conservados, e outroS.]4 Contudo, após um período de transição relati­
vamente breve, suficiente para superar essas "resistências de atrito", a nova invenção
estará implantada em toda a linha e estará completamente suplantado o processo
antigo, inferior tanto em produtividade quanto em rapidez. Ao contrário, o obstácu­
lo de uma "falta de capital", de eliminação muito mais lenta e mais difícil superação,
não pode desempenhar e não desempenhará aqui pape! algum, desde que o al­
cance da invenção e de sua dupla vantagem - a de acarretar um produto maior
com uma exigência de capital menor - seja conhecido e reconhecido.]5
A isso associa-se uma outra conseqüência, altamente relevante para o nosso
tema. A economia da nação nunca acumula em estoque invenções vantajosas que
encurtam o período da produção. Sejam estas poucas ou muitas, elas não se acu­
mulam. A seu aparecimento segue sempre seu aproveitamento imediato, aliás, seu
aproveitamento total, até o fim. Decorrido o período de transição relativamente bre­
;
, ve que for suficiente para superar as "resistências de atrito" acima referidas, elas ocu­
ij pam de forma tão exclusiva e generalizada o lugar dos métodos de produção mais
antigos, que simplesmente já não resta margem alguma para sua "nova introdução".
I O aproveitamento dessas invenções já pertence ao estado de conservação, não mais
j ao progresso. Se quisermos que haja nova oportunidade para progresso a partir desta
fonte, é necessário que ocorram novas invenções. Se elas permanecem em estado
1
"estacionário" em relação aos conhecimentos da técnica de produção, por um perío­
1 do longo, então será inteiramente a oportunidade de a respectiva economia da na­
ção aumentar, pelo emprego de uma invenção que encurte o tempo, a produtividade

i
1
do processo de produção anterior. A consecução de maiores resultados de produ­
ção por meio de métodos de produção que encurtam o tempo é, como atualmente
se gosta tanto de dizer, um fenômeno "dinâmico", e não "estático", na Economia Polí­
tica. Aliás, maiores resultados deles decorrentes - gostaria de observar isto de pas­
:i
...i
1 J

1 14 Este último elemento exercerá um papel sobretudo quando o novo método é mais breve que o antigo, mas tem de ser

~ adotado em uma direção bem diferente, de sorte que os equipamentos antigos simplesmente não são aproveitáveis para
o novo processo. Nesse caso, se o novo processo fosse adotado repentinamente e em toda linha, de uma vez só, em lugar
1 1
do antigo, no primeiro momento, a despeito do encurtamento do processo, seria necessário um aumento de recursos a
.1
investir, uma vez que os recursos já investidos estariam amarrados nos equipamentos antigos e a aquisição de equipamen­
tos diferentes e novos, além dos velhos, demandaria uma vinculação de recursos adicionais. Todavia, com o desgaste su­
J cessivo dos equipamentos velhos, os reCUrsos que de outra forma teriam sido empregados para substituir os eqUipamentos
velhos desgastados podem ser investidos no novo processo, para o qual devem ser suficientes e sobrar, na pressuposição
que fizemos de que o processo novo representa um método mais curto que o antigo. Apresentei explicações ainda mais
precisas sobre eSSe tema em minhas "Strittige Fragen", p. 31 et seqs., para onde remeto os leitores que desejarem dados
ainda mais precisos.
15 É possível que uma "falta de capital" individual desempenhe um papel, enquanto o inventor, por um lado, não quiser 3
abrir mão de seu conhecimento e, por outro lado, não conseguir inspirar plena confiança na rentabilidade de sua invenção.
Sem dúvida, é possível que, não sendo ele mesmo capitalista, depare com muitas dificuldades para ele mesmo conseguir
capitais necessários para aproveitar sua invenção: como é sabido, este é um destino freqüentemente reservado aos investi­
dores! Entretanto, se quisermos ser exatos, trata-se, no caso, de dificuldades individuais de crédito, que não têm absoluta­
mente nada a ver com a outra questão de se há ou não, dentro da economia nacional, o capital necessário para aproveitar
um método reconhecido como vantajoso e disponível aos empresários da produção para ser utilizado.
EXCURSO I 13

z: -_ê­ sagem, e à guisa de antecipação - se relacionam muito mais com ganhos pessoais
~-== :<=:
de empresários ou decorrentes da conjuntura do que com a taxa normal de juros
:-:-.:::3 de capital propriamente' dita.
C~~:::1
Bem outro é o caso de invenções vantajosas ligadas a um prolongamento do
ê'::-:­ período de produção até agora usual. Para aproveitá-las, não basta que seu conhe­
~:: :~-
cimento se tenha tornado patrimônio comum e que esteja superada toda indolência
-_ :2. e inércia que se oponha ao aproveitamento das mesmas; requer-se, além disso, que
s= :-~e
o estoque de meios de subsistência da respectiva economia de uma nação tenha
r.::~2-
acusado um aumento tal que ofereça cobertura também para o tempo de espera
-:-. ::'5
maior. Ora, como mostramos em seu devido lugar, o estoque de meios de subsis­
':: . .::".­
tência da economia de uma nação só cresce pelo caminho lento e paulatino da pou­
~_:§.o pança. Em contrapartida, é muito extenso o número dos métodos excogitados há
:~~::0
muito ou há pouco tempo, e que envolvem um prolongamento do método de pro­
dução usual. e que, portanto, para chegarem à execução, rivalizam entre si para ob­
2:?:::. ter recursos do fundo de subsistência. Eis por que as invenções que prolongam o
período de produção não conquistam sem mais seu campo de aplicação natural
pleno na primeira investida, mas somente conseguem ser aproveitadas, na prática,
à medida e ao ritmo que, concorrendo junto com todas as outras invenções que
:: 35'J
demandam um prolongamento do período de produção, conseguirem conquistar
uma ,parcela da "cobertura de capital" existente na economia da nação.
E natural que nessa concorrência o que decide não é a prioridade temporal
da invenção, mas o grau de aumento de produtividade que ela oferece. Os capitais
~~e~
existentes são antes de tudo aplicados nos empregos mais lucrativos, independen­
temente de se estes estão ligados a uma invenção feita há cem anos, ou há dez
-=-.::~5
anos, ou que acaba de ser feita agora. Empregos menos lucrativos - peJo menos
l:~ :,
quando se age com intenção consciente - só se permitem na ocasião e na medida
-:-. ::::: em que chegam para cobertura, quando, com o estoque de capital disponível, já
C-::::::3 se tiver atendido a todas as camadas de oportunidades de emprego mais rentáveis.
~::='J
Com isso, ocorre regularmente que também as oportunidades de emprego que se
baseiam em uma e mesma invenção diferem muito entre si no que concerne à pro­
"':-::­
:: -.::­ dutividade. O mesmo princípio de drenagem, por exemplo, talvez dobre o produto
C:::2
de um dia de trabalho num terreno particularmente apropriado para sua aplicação,
portanto talvez aumente de 100% o resultado, ao passo que em outro terreno talvez
[2 -:e o aumento seja de apenas 50%, e em um terceiro apenas de 20%, e assim por
diante. No caso de um terreno, apropriado para sua aplicação, mesmo com apenas
uma vantagem mínima, possivelmente aumente a produtividade de apenas 12%.
Da mesma forma, há ferrovias construídas e projetadas, instalações fabris, instala­
ções de energia, construções de canais e similares, com todos os graus possíveis
-~ :",'
de rentabilidade, desde 50 até 1 %.
~:.: : =~= Assim repete-se o fato de que, em dado momento, aguardam aproveitamento
não só invenções novas, recém-descobertas, mas de toda idade, muitas vezes tam­
-=-~ :: bém da idade mais veneranda, invenções estas que a geração atual já há muito não
r.=..--=:--
encara como "invenção", ao menos no tocante às camadas menos lucrativas de seu
:-::-: :~:
campo de aplicação. Sem dúvida, as aplicações mais pertinentes das invenções mais
?- -:. ~ brilhantes sempre conquistarão para si, com suficiente rapidez, sua parcela do esto­
que de capital da economia da nação, por mais escasso que este seja; contudo, vão-se
acumulando um sem-número de invenções que favorecem bem menos a produtivi­
'E- :~: dade, bem como uma infinidade ainda maior de oportunidades de emprego menos
~~'.;- ­ produtivas até das idéias inventivas mais eficazes. Sobre restos não utilizados de anos
r . -=:~--
s..: __ =.- de invenções antigas e antiqüíssimas acumulam-se camadas provenientes dos anos
mais recentes e recentíssimos, à espera de serem aproveitadas. Tudo isso acaba
14 TEORIA POSITNA DO CAPITAL

somando-se numa quantidade tão grande que nem mesmo os recursos da nação
mais rica nem de longe são suficientes para efetivar na prática todos esses prolonga­
mentos vantajosos da produção oferecidos pelo estado dos conhecimentos técnicos.
Não podemos deixar-nos iludir sobre essa situação pelo fato de os capitalistas
muitas vezes recearem aplicar seus capitais crescentes à taxa de juros atualmente
em vigor ou pelo fato de muitos desses empregos parecerem não-rentáveis do pon­
to de vista econômico, porque a vantagem de produção a eles associada não cobre
a despesa de juros à taxa usuaL Na realidade, o que existe aqui não é, de modo
algum, excesso de capital e falta de oportunidades remuneradoras de aplicação; pe­
lo contrário, a situação é esta: o capital disponível é insuficiente para aproveitar to­
dos os métodos indiretos e vantajosos de produção; em conseqüência disto, dentre
as muitas oportunidades de aplicação vantajosas escolhem-se sempre apenas as mais
vantajosas, e o grau de vantagem até onde a seleção e o aproveitamento pode ser
feito com o capital existente determina a respectiva taxa de juros a partir da insufi­
ciência do capitaL
Da mesma forma que, em se tratando dos níveis dos nossos cursos d'água, não
se costuma considerar como ponto zero a ausência total de água - que poderia
ser designado como ponto zero absoluto -, mas determinado ponto mais alto, mais
ou menos o que corresponde ao nível normal da água, exatamente assim é preciso
distinguir, também na questão da rentabilidade de métodos indiretos de produção,
um duplo ponto zero. Primeiramente, um ponto zero relativo, que já inclui em si
a taxa de juros usual, de sorte que, portanto, uma aplicação que proporciona o juro
usual, mas nada mais do que isso, designa o ponto zero, ao passo que essas aplica­
çôes, que proporcionem, sim, um juro, mas inferior ao costumeiro, são considera­
das como abaixo de zero e passam por "não-rentáveis". Ao lado deste, há, porém,
em segundo lugar, também um ponto zero absoluto, localizado onde o prolonga­
mento do método de produção realmente não rende nada em absoluto, isto é, on­
de, empregando-se o método de produção mais longo, com cada unidade de meios
produtivos (por exemplo, com cada dia de trabalho), não se obtém absolutamente
nenhum acréscimo de produto em relação ao método mais curto. Ora. entre os dois
pontos zero há uma zona extraordinariamente larga, na qual um prolongamento do rs
método de produção ajuda a conseBuir um aumento de produto, mas este aumen­
to é inferior à taxa de juros usual. E evidente que, para a questão do aumento da
produtividade técnica - a única que está em discussão aqui -, toda essa vasta
zona ainda tem de ser somada aos "métodos indiretos de produção vantajosos'. Apenas
não são tão vantajosos como os que foram escolhidos pelo escasso capital para se­
rem aproveitados antes; por essa razão, por ora ainda ficam de lado, pois, para apro­
veitar sua pequena vantagem ter-se-ia de arrancar um capital de uma aplicação ainda
mais lucrativa. Contudo, tais métodos de produção ainda esperam pelo seu apro­
veitamento e, como demonstra a experiência, pouco a pouco chegam a ser apro­
veitados, na medida em que aumenta o estoque de capital da sociedade e - segundo
a bela e expressiva comparação de Turgot - a taxa decrescente de juros, que é
ao mesmo tempo "o efeito e o indicador da abundância do capital" (l'effet et l'indice
de J'abondance des capitaux), os faz emergir do mar da não-rentabilidade (relativa).
Na realidade, dificilmente podemos fazer uma idéia exagerada da infinidade dos
prolongamentos de produção vantajosos conhecidos em dado momento e só não
executados por falta de "capital". 16 Ao se tentar obter uma visão geral não se deve
pensar somente nas "invenções" propriamente ditas que dão na vista e que ainda

16 Ver, acima, a observação à página 11 deste Excurso. """


EXCLRSC :

ç--
"­ não encontraram seu aproveitamento pleno - se bem que somente esse grupo . é
~.:? ­

::-::5 represente uma quantidade poderosa e ponderável, sobretudo pelo volume de ex'­
gências quanto a investimentos de capital: pensemos, por exemplo, na colossal r.e­
S-..35
cessidade de investimento que provocou e continua a provocar apenas meia dúz'a
~r::2
de idéias inventivas dos últimos cem ou cento e cinqüenta anos, como a invenção
IC.-' ­
das máquinas a vapor, das ferrovias, do telégrafo, incluindo os cabos submarinos.
X~2

c·::; do telefone, da transmissão de energia elétrica e similares. Acontece que, além das
inúmeras invenções novas, que exigem um adiantamento maior de trabalho ante­
-;-.2­
r ::;­
riormente realizado, há um número ainda maior de vantagens de produção há mui­
~_~2
to vulgarizadas, há muito sequer consideradas como "invenções", apesar de elas nem
de longe ainda terem esgotado seu campo de aplicação possível. Muitas delas são
~_=-:s
de natureza tão especial que só podem encontrar aplicação em determinados seto­
~ ~~
res de produção, como, por exemplo, a adubação artificial ou as instalações de dre­
5~~
nagem na agricultura. Mas muitas outras são de natureza geral, podendo, pelo menos
com adaptações apropriadas, ser transferidas com proveito para os mais diversos
:-.Ê:o
ramos de produção - fato do qual mais adiante ainda terei oportunidade de fazer
k:--:a
r.?:.~s
uma aplicação especial ao nosso tema. A esses tipos mais gerais pertence, por exem­
plo, o princípio da condução, que encontra as mais diferentes aplicações nas diver­
~c:.so
sas formas de condução de água potável, condução de forças hidráulicas, condução
..:"'" de água salgada, condução de gás, fios telegráficos e telefônicos, transmissão de
.'- .::-.
energia elétrica etc.; o tipo da instalação de segurança, representado pelas cercas,
",;,~,=)
sebes e estacas dos campos, pelos muros, grades etc. em fábricas e oficinas, pelas
1':':3­
fechaduras de porta contra assaltos, pelas trancas em cofres das lojas, pelas caixas­
~ê:-::­

('2:-:­
fortes e similares, pelos diques, pára-raios, extintores de incêndio, os aparelhos de
,,-. '::;'­
-~­
alarme etc., destinados à proteção contra as forças da natureza; além disso, o tipo
dos locais e recipientes para conservação, suscetíveis de construção tão diferente,
como celeiros, cocheiras e armazéns dos agricultores, depósitos, adegas, almoxari­
:-'.'C J5
fados da indústria e do comércio atacadista, armários, lojas, caixas, garrafas, fras­
l'~:-.:e
quinhos etc. do varejista, do farmacêutico; os tão numerosos tipos de máquinas e
I :.:; ~3
instrumentos mais simples: alavancas, roldanas, parafusos, manivelas, transmissões,
te :'0
foles, ventiladores etc.
~_2:--~­
Seria fácil prolongar a lista ao infinito, mas quero apenas mencionar ainda um
~c :'e. tipo que admite a aplicação mais universal, apresenta a relação mais clara e mais
'.?:::a
direta com um prolongamento do período de produção e ao mesmo tempo é o
>e::"".a::
que menos tem em si da natureza de uma invenção: é simplesmente a fabricação
ré :::.2­
mais resistente de quaisquer instrumentos de produção, edifícios, máquinas, instru­
a=~:'­
mentos, trilhos, dormentes etc. E verdade que todos os instrumentos de produção,
a..--.:a sem exceção, podem ser fabricados com grau diferente de durabilidade, determina­
a::~:'­
c--~­
do ou pela escolha de um material de durabilidade diferente (madeira mole, madei­
ra dura; telhas, pedras de cantaria; ferro fundido, ferro forjado, aço Bessemer l ) ou
~_~.:,r)
pela diferença de cuidado na fabricação. Nesse caso, a fabricação mais durável nor­
~_'" 2.
malmente acarreta um dispêndio maior de unidades de meios produtivos, por exemplo
r -=~:2
dias de trabalho. Ela encerrará uma vantagem técnica de produção, em nosso senti­
L::', ?
do, enquanto 1? o aumento de durabilidade for maior do que o aumento de meios
oi .=.= 5
: -.~,)
:",',2
17 "Enquanto". como digo no texto, e disse também. de forma textualmente igual, em minhas "Strittige Fragen", p. 24 er
~_ -. ='ê:
St:~., evidentemente não significa de modo algum "sempre": assim como em minha opinião nem todo prolongamento àe
um método de produção tem necessariamente de aumentar a produtividade dele, tampouco pensei ou penso que toda
construção mais resistente de um instrumento sempre e necessariamente tem de ir aliada a uma vantagem técnica da
prodUÇão. Não obstante. esta última opinião me foi falsamente atribuída mais de uma vez; entre outros. por Landry (1ntérêr
du Capital. p. 2.H3: "... cette construction plus soignée ne peut manquer d'accroí'tre le produit"; afirmação semelhante tam­
bém na p. 286). Ver agora também minhas explicações na nova Seção 11, introduzida no Livro Segundo da Teoria Positiva
v. I, p. 117 et seqs.
16 TEORIA POSITNA DO CAPITAL

produtivos a serem necessariamente sacrificados para esse fim. Se, por exemplo,
uma máquina, de construção menos sólida, custar 100 dias de trabalho e durar 5 ::~~_ ::l
~5' ~
anos, e a de construção mais sólida custar 150 dias de trabalho e durar 10 anos,
é evidente que a construção mais sólida significa um método de produção tecnica­
mente mais vantajoso, pois no primeiro caso o dia de trabalho é remunerado com
5 x100
365 = 1825 , pres taçoes
- d'"
lanas de serVIço
' da maquma.
' , e no segun do com

10 {S5 65 = 24,33 prestações diárias de serviço. Mas é igualmente claro que a


construção mais resistente significa um prolongamento do método de produção. Com
efeito, durando a produção de cinco anos, as unidades de trabalho investidas na
fabricação da máquina realizam seus serviços produtivos, em média, já 2 1/2 anos
após terminar a fabricação da máquina, ao passo que no caso de uma produção
que dura dez anos isso só acontece cinco anos após o término da máquina. 3::rrO
Contra essa minha avaliação generosa da margem que sempre permanece aberta, ,,:,'aSl
mesmo sem invenções, a prolongamentos de produção vantajosos, há bem pouco :t:'n

o Prof. Taussig, com o qual aliás me alegro muitíssimo em concordar no tocante . :,F.rr!
a muitos pontos de vista, levantou a seguinte objeção, estribada num motivo inte­
ressante: se, diz ele, pressupusermos que os conhecimentos técnicos estão estacio­
nários (condition in which the arts are stationary) , não se pode, sem ser inconseqüente,
supor que um aumento de capital se possa também traduzir num aumento de ou­ é-ai
tros instrumentos, melhores do que os já utilizados até agora, pois a passagem para -=-.-':3
outros intrumentos melhores seria já uma decorrência "do progresso e da invenção" :cé =J
(improuement and inuention); ao contrário, segundo ele, só se pode levar em conta :,.::r= J

aquelas oportunidades de aumento de produtividade que resultam de um aumento


ou de uma multiplicação exatamente dos mesmos instrumentos que existiam até
agora. Quanto à medida em que é possível ainda obter um acréscimo de produto
de um simples acúmulo de instrumentos antigos (old-fashíoned toolsl, Taussig acre­
dita poder considerá-Ia muito reduzida - tão reduzida que, em sua opinião, a não
ser que novas invenções abram novas oportunidades de emprego, já um aumento
relativamente pequeno do capital existente na economia da nação esgotaria total­ - -~ .
mente essa medida e faria com que fossem nulas as oportunidades abertas para
prolongamentos vantajosos da produção,18
Gostaria de começar observando que, segundo me parece, a diferença entre -~-]

a colocação do Prof. Taussig e a minha é mais puramente quantitativa do que es­


sencial. Com efeito, quanto às outras conclusões que penso tirar de minhas teses
acima desenvolvidas, nada há de essencial que dependa de ser amplo ou restrito
esse campo de oportunidades abertas, mas não cobertas pelo estoque de capital
existente na economia nacional - desde que exista; ora, sua existência também
não é negada por Taussig. 19 Aliás, quanto saiba, dessa divergência apenas quanti­
tativa ele não tirou nenhuma outra conclusão contra os fundamentos de minha teo­
ria, Mesmo assim, creio que a verdade objetiva me impõe o dever de complementar -,=-5

minhas exposições anteriores, salientando especialmente aqueles pressupostos que,


em meu entender, contrariam a concepção de Taussig.
Creio que Taussig deixa totalmente fora de consideração uma parte do campo
existente, e quanto à outra parte, atribui-lhe dimensões excessivamente reduzidas.
-.:::...s
18 TAUSSIG. "Capital, Interest and Diminishing Returns". In: Quarter/y Journa/ of econamics. v. XXii, maio de 1908, 'p.

333 et seq., sobretudo p. 355-360.

19 Na citada obra, à p. 355, ele apenas supõe que o emprego de capital que aumentou simpiesmente para multiplicar os

- 'â:
:::-~ _"':'::11
instrumentos "antigos", "muito em breve" levaria a um estado em que não haveria mais nenhum outro aumento de produti­
vidade.

'~

I
E:';C:;;:::::

Supõe precipitadamente que um estado estacionário dos conhecimentos Cc :02::,.::::


_:::.: :::l
de produção só admite uma cópia absolutamente exata dos instrumentos já e;;;S:2:'.'
~~ : : s. teso Na realidade não é assim. Com efeito, a verdade é que sempre já se conhe:2:':'
- --":?­
muitas coisas, que até agora apenas não se conseguiu executar porque o cálc.:.::
: : :':1
econômico não o permitiu. Os técnicos sempre já conhecem certos instrumemcô
ou qualidades tecnicamente exímias de instrumentos, cuja fabricação e aproveito­
: : "'1 mento efetivos no momento são obstaculizados pela ~falta de capital" - ou. paro
exprimir a coisa de maneira como ela costuma entrar nos motivos dos práticos -.
_.2 G por sua rentabilidade ainda por demais reduzida, comparada com a taxa de juros
_ ::n vigente. Nenhum empresário dotado de conhecimentos técnicos e comerciais de[­
::: = :'.a
xará de ter clareza sobre o fato de que uma fábrica instalada em um sistema mode­
é :::'.:::lS
lar, se funcionar racionalmente, tem que ter uma estrutura diferente, devendo ser
.:._=3.0 mais capitalista se o juro do capital, em vez de ser 1% for de 5%; e nenhum deles
tampouco terá receio de efetuar tal mudança em sua fábrica - mesmo não
êc,,:-:a. se alterando o estado atual de conhecimentos técnicos e sem ter de esperar por no­
:: :"::0
vas invenções -, caso a taxa vigente de juros baixar para 1 %. Há bastante aperfei­
:·:=':'.::e çoamentos técnicos que hoje se conhecem e cuja introdução prática o empresário.
c-.:e­ após fazer cuidadosamente o cálculo, só deixa de efetuar agora porque eles só ren­
:õ:=. :'0­ deriam 2 ou 3%, ao passo que a taxa de juros em vigor ainda é de 4 ou 5%. E.
;·_2:,:e. para citar, a título de exemplo, apenas algumas das possibilidades mais palpáveis
C2 ::)'1­ e mais gerais, há sempre alguma oportunidade aberta para, por meio de uma cons­
":". :: =.:a trução mais resistente e mais durável de uma fábrica, pela escolha de um período
E - : ~o·
de alternância mais longo para o abate das florestas das quais se extrai a madeira
:::: :-'.ta
para construção etc., conseguir, à custa do montante e da duração do investimento
:""'2-.:0
de capital, uma vantagem técnica que anteriormente, sendo a taxa de juros mais
'::': =.!é alta, teria sido uma vantagem apenas técnica, mas não econômica. Em suma, mes­
':: .:.·..::0 mo não havendo novas invenções, há margem não somente para copiar servilmen­
c :::re­ te o antigo, mas também para fabricar instrumentos de qualidade que de fato não
3. "",-ao
se haviam fabricado até agora.
.::-=-_~:-:to
Pois bem, parece-me que Taussig simplesmente não levou em conta esse setor,
:: :::cl· que é melhor ilustrado como sendo a' diferença de qualidade dos equipamentos,
~ :: =.ra
qualidade esta da qual desfrutam hoje realmente as fábricas mais bem montadas,
em comparação com aqueles equipamentos que já hoje se lhes poderia racional­
': 2:'.:re mente dar e se lhes daria efetivamente, sem o acréscimo de novas invenções, caso
deixasse de existir a pressão da atual escassez de capital e da correspondente taxa
't--== 25­
: : :2ôes de juros.
':'2 ô::-.:o
No que tange à avaliação da margem dentro da qual mesmo uma imitação ser­
: ::::::al
vi] e exata com multiplicação de instrumentos já existentes pudesse levar a um au­
t=-:-. ~-2:l1
mento de produtividade técnicas,20 recomendo considerar as seguintes simples
c_~~.~:
ponderações, confrontando-as: quão poucas são, por um lado, as empresas que,
1.:: :20­
mesmo no país mais rico do mundo, atingiram o auge em termos do equipamento
r_~=--.:ar
mais perfeito possível no atual estágio da técnica, e, por outro lado, quão grande
é, portanto, a quantidade de capital que, mesmo nos países mais ricos, seria ainda
== : "J.e. preciso investir para assimilar, até a última das empresas mais atrasadas, o equipa­
C:::':.:Jo
mento de todo o trabalho nacional às empresas-modelo mais avançadas! E que di­
·_':-..:.a5. ferença existe, além disso, no tocante ao equipamento médio, entre essas nações
mais ricas e as economias nacionais medianamente abastadas, e sobretudo as mais
. ~: ~ :)

20 Não posso salientar demais que, para a questão aqui em pauta, trata-se apenas de uma produtividade técnica maior
t-=: :=.:- :'5 por unidade de meios produtivos, por exemplo, por dia de trabalho, e não de rentabilidade econômica, que já pressupõe
~ : -: :--> a taxa de juros vigente. Ver supra, p. 14 deste Excurso.
-~ ~- -~--

18 TEORIA POSITIVA DO CAPITAL

atrasadas! Poderá alguém pensar, por exemplo, que o aumento de uma simples fra­

ção no atual estoque de capital da Rússia poderia ser suficiente para elevar todo :: '::'1

o equipamento da economia nacional russa em todos os ramos da produção e do

comércio, ao nível das empresas modelares mais avançadas da Inglaterra ou da Bél­

gica? Não é plenamente manifesto que isso exigiria antes uma multiplicação do es­

toque de capital original? E, para ao menos mencionar uma cifra concreta, que pode

servir para ilustrar as grandezas aqui em pauta: para o fim de 1905 calculou-se o

investimento em capital nas ferrovias construídas até então em aproximadamente

182 275 bilhões de marcos. Justamente essa invenção, que já tem quase um século

de idade e é altamente eficiente do ponto de vista técnico, já está relativamente avan­

çada em seu aproveitamento; não obstante, será que alguém ousaria afirmar que

com isso já se construiu a quarta parte, ou mesmo apenas a décima parte, das fer­

rovias que, agindo racionalmente, se deverão construir e se construirão de fato na

economia mundial, na medida em que o capital crescente e a taxa de juros decres­

cente o permitirem?21

Resumamos os elementos importantes para nosso tema.


Os métodos inventados no decurso da evolução do espírito humano para me­
lhorar tecnicamente a produção de bens estão, ao menos em grande parte,22 as­
sociados a um prolongamento dos métodos de produção anteriormente em uso.
Na medida em que isso ocorre, a execução efetiva de tais prolongamentos, mesmo
que já estejam superadas todas as demais dificuldades que obstam à inovação, está
ainda condicionada pelo outro pressuposto, isto é, que o estoque disponível de meios
de subsistência tenha atingido um montante suficiente para cobrir o tempo de espe­
ra prolongado. Pela experiência sabemos que o montante efetivo do estoque de meios
de subsistência acumulado, mesmo nas nações mais ricas, e tanto mais nas menos
abastadas, está muito aquém do montante que seria necessário para o aproveita­
mento exaustivo de todos os prolongamentos da produção tecnicamente vantajo­
sos e conhecidos em determinado momento. Por isso, sempre se aproveitará
efetivamente apenas uma parte, aliás, pelo caminho da seleção, a parte mais lucrati­
va dos prolongamentos da produção possíveis, de acordo com o estágio dos co­
nhecimentos técnicos. Enquanto isso os prolongamentos da produção restante, que,
embora tecnicamente ainda vantajosos, o são menos do que os prolongamentos
a eles preferidos, têm de esperar para ver se e quando um aumento de capital acu­ ="-12
mulado permitirá também sua execução. Daqui resulta que todo aquele que no pre­ -_:"JJ
sente - e também em qualquer momento, ao menos com base na experiência de
que dispomos - tiver a condição material para adotar um método de produção
prolongado, a saber, um capital suficiente para isto,. dispõe de uma oportunidade, ~:?
sempre aberta, de conseguir uma produtividade técnica maior pelo prolongamento :,,1.'::::l
de um processo de produção atualmente em vigor. Tais oportunidades estão aber­
tas a qualquer um. Para isso não é preciso ser mesmo inventor de métodos de pro­
dução "sabiamente escolhidos" nem esperar por tal invenção: as respectivas invenções'
já estão disponíveis em estoques; elas são acessíveis a todo aquele que conhecer

21 É possível que nesse ínterim sobrevenha outra invenção, mais eficiente, em lugar das ferrovias, e que a ulteríor divulga­
ção destas seja obstaculizada ou impedida; contudo, nesse caso o aproveitamento dessa nova invenção também exigirá .c ....
um investimento de capital; e de modo algum há certeza de que este possa ser menor. Sei perfeitamente que, para o tema 1:. -:-iiI1Il
discutido contra Taussig, não posso levar em conta a necessidade de investimento no caso de invenções novas; mas natu· "--~.~

ralrnente tampouco se pode levar em conta nenhum obstáculo para o esgotamento dos métodos velhos por invenções ~!

novas. Aliás, quase ousaria externar a seguinte suspeita: será que talvez, por ser visivelmente baixa a avaliação de Taussig, ~

não entrou em jogo uma preocupação por tal obstaculização violenta, preocupaçâo esta inadmissível neste contexto, mas ~-:::lII!!

involuntária e inconsciente? Já na denominação old fashioned too1s nos soa involuntariamente aos ouvidos uma idéia de ~e7JZ

utilidade e aplicabilidade diminuídas, idéia esta da qual é tão necessário quanto difícil libertar-se totalmente, na questão "'-'olI
que nos ocupa.
2Z Como observei acima, poderia afirmar sem escrúpulos: "na maioria dos casos". Contento· me com a formulação do tex~ =--I!. li
to, porque para meu tema é importante apenas que minha afirmação tenha essa extensão.
EXCURSO I 19

os métodos de produção de sua profissão na medida apropriada para um empresá­


rc- rio da produção, e só esperam, em grande quantidade, por quem lhes possibilite
c: a execução efetiva, por dispor de um capital adicional.
c: Além disso, tais oportunidades estão espalhadas em número elevadíssimo em
r
112.- todo o vasto campo da produção. Sem dúvida, não é estritamente necessário que
e~­ em cada momento, cada ramo de produção e cada estágio de um ramo de produ­
C2 ção ofereça tal oportunidade; mas é extremamente provável que essa oportunidade
: ::; exista; em todo caso, isso é muito mais provável que o contrário. Pois, por um lado,
r:.:2 sabemos que mesmo invenções e vantagens de produção mais antigas costumam
~::' acumular-se com suas oportunidades de emprego menos lucrativas; por isso, teria
~-- de ser um puro acaso a eventualidade de determinado ramo de produção nunca
[:':2 ter sido atingido, nem em tempos antigos nem em época recente, por alguma in­
t€:'- venção associada a um prolongamento do processo de produção, ou então - o
~.a que também seria contrário a toda probabilidade - que invenções ocorridas, desse
"'E,5- gênero, já tivessem sido todas elas exaustivamente aproveitadas até o ponto zero
de sua rentabilidade técnica, ainda que nesse meio tempo a escassez de capital na
respectiva economia nacional certamente nunca tivesse desaparecido inteiramente.
r..e - Por outro lado, como também já observamos, certas invenções, e sobretudo certas
:5- vantagens de produção generalizadas, têm uma aplicabilidade tão geral que admi­
1S':). tem uma adaptação a quase cada ramo de produção, que seria, não digo a priori,
l":.O impensável, mas um acaso extremamente raro determinado ramo de produção não
?s:á ser atingido por nenhum desses tipos gerais. Acredito, de fato, e aqui está a prova
~GS prática mais simples para o que digo, que não há um único empresário de produ­
~'-2­ ção, com competência em qualquer ramo, que hesite em aperfeiçoar o sistema da
ff:JS sua fábrica 23 caso se lhe coloque à disposição capital à vontade.
~.:.s Assim sendo, todo aquele que tem condições de prolongar processos de pro­
:::a­ dução tem também condições de obter maiores resultados técnicos. Tem essas con­
c:-C)­ dições, como disse acima, "no presente e tam\;>ém em qualquer momento, ao menos
tará com base na experiência de que dispomos". E verdade que, com o aumento paula­
rc::- tino do capital nacional,24 as velhas oportunidades vão sendo aproveitadas, uma
:0­ camada depois da outra, e vão desaparecendo. Mas também o espírito inventiva
:"":2. não pára, e dentre as novas invenções que sobrevêm, uma grande parte é do tipo
r.:os daquelas cuja execução demanda um prolongamento dos métodos de produção
iK"j­ anteriormente em uso, e estas acrescentam nova§ camadas ao estoque que vai di­
F2­ minuindo, de modo que este nunca se esgota. E um processo similar àquele em
<! :::e que o sol de verão de cada ano vai roendo constantemente, em sua extremidade
l';.ãO inferior, as massas de gelo das geleiras que deslizam para o vale em virtude de sua
c:'2. força de gravidade, ao passo que nas regiões de neve gelada, localizadas bem nos
e:cto picos, sobrevêm sempre novas camadas de neve, fazendo com que a geleira, no
1':..0 r­ todo, se mantenha como um fenômeno permanente. 25
FO­ Será que isso continuará e terá de continuar da mesma forma também no futu­
ç5es ro, indefinidamente? - Não vejo motivo algum para anunciar que isso terá um fim
e:er próximo, ou mesmo um fim dentro de um prazo que, para finalidades práticas, seja

~. -_sa­
23 Não somente em ampliar, permanecendo igual a instalação - o que seria bem outra coisa!
i."'-ç~
;: ~~-:-.a
24Também em razão do aparecimento de invenções que encurtam o período de produção, invenções estas que liberam'
i - ~:,_.
novamente, para a execução de outros prolongamentos da produção, tanto do estoque de meios de subsistência quanto,
e:-,; :-as para sua própria execução, necessitam menos do que os processos de produção por elas suplantados. Considero supérfluo
salientar especificamente que o efeito mencionado no texto, de um aumento do capital nacional, vale apenas para um
a~'S
c. ""':"_~
aumento relativo per capita da população, e não também para um aumento absoluto do capital, que não ultrapassa o au­
:.i::z ::e mento da população.
25 Aqui está o ponto que, segundo me parece. faz com que Taussig e eu concordemos novamente. É verdade que para
~é-"""'"3J
ele o estoque acumulado de prolongamentos da produção, conhecidos como tecnicamente vantajosos, é bem menor do
:: :21(­
que para mim, porém, se não me eq-uivoco, ele também é de opinião que esse estoque na prática não chega a esgotar-se,
20 TEüRlA POSITIVA DO CAPITAL

previsível. Sem dúvida, o processo não pode prolongar-se literalmente até o infini­

tO. 26 Além disso, é certo que, como já observei bem de início,27 há uma tendência

para um abrandamento sucessivo do fenômeno, para uma diminuição sucessiva dos

aumentos de produtividade associados a prolongamentos do período de produção

sempre continuados. Entre outras coisas - quero agora acrescentar -, também

porque, progredindo muito o prolongamento dos processos de produção, começa

a atuar um motivo extremamente simples de natureza matemática, fazendo com que

as oportunidades para novos prolongamentos vantajosos da produção necessaria­

mente se têm de tornar paulatinamente menos numerosos, ao menos relativamen­

te. Com efeito, quanto maior já for o período de produção em que se pára na técnica

de produção, tanto mais avança para frente o marco delimitador que separa as no­

:,-'=::
vas invenções em invenções que "prolongam" o período de produção e as que o
"encurtam"; a margem para estas últimas torna-se cada vez maior, a margem para
as primeiras cada vez menor, e isso não pode, com o tempo e na grande média
global, deixar de influir sobre a relação de freqüência entre as duas: essa relação
se alterará a favor das invenções que encurtam. 28 Por exemplo, caso se pare, em
algum ramo de produção, num período de produção de três anos, um novo méto­
do de produção inventado e de produtividade brilhante, que exigir um período de
quatro anos, pertencerá à categoria das invenções que prolongam o período de pro­
dução. Se, porém, já se tivesse parado num período de produção de seis anos, exa­
tamente a mesma nova invenção brilhante já teria pertenddo à categoria das invenções
que encurtam o período de produção. No primeiro caso teria ajudado a aumentar
ainda mais a montanha dos prolongamentos de produção vantajosos em aberto;
no segundo caso não somente não lhe acrescenta nada, senão que ajuda a dimi­
nuir essa montanha, na medida em que sua introdução libera capital, que pode ser
empregado para o aproveitamento de outros prolongamentos da produção quais­ -~

quer que aguardam sua efetiva execuçã0 29


Entretanto, penso que seria mais ousado aquele que afirmasse esgotamento dos
prolongamentos de produção vantajosos para algum momento previsível e pratica­
mente próximo para a humanidade que desenvolve atividades econômicas30 do
que aquele que, como eu, conta não com uma continuidade infinita da nossa regra,

já que antes de se esgotar sempre recebe uma complementação mediante novas invenções, que também determinam um

prolongamento do período de produção. Ora, uma vez que para minha teoria é totalmente indiferente se esse estoque,

disponí\lel para ser utilizado, é praticamente inesgotável por este ou aquele mütivo - desde que de fato seja, na prática,

inesgotável -, essa djferença de opmião, puramente quantitativa, só nos separa provisoriamente em um ponto que é irrele­

vante para a essência da teoria.

26 Fisher observa, d~ modo perfeitamente correto, que "a terra limitada nunca pode ter um produto ilimitado" e que, por­

tanto, mesmo que continuem sem fim os aumentos de produtividade, estes não podem chegar a um máximo infinito, senão

que apenas - mais ou menos à guisa de progressões assintóticas - poderiam aproximar-se infinitivamente de um máximo

finito. (Rale o[ fnterest. p. 67.) Esta úlltma fórmula seria perfeitamente conciliável, do ponto de vista matemáltco, com mi­
nha opinião de que os aumentos de produtividade apresentam uma tendência sucessivamente decrescente. Não obstante,

não me sinto inclinado nem tenho interesse teórico em afirmar uma continuidade "infinita" de atuação de minha regra,

nem mesmo nesse sentido, física e matematicamente possível.

27 Ver Teoría Positíva. v. I, p. 111 et seqs

28 Com isso naturalmente não se quer dizer que as invenç6es que encurtam o período de produção passem logo a consti­

tuir a maioria - o que considero totalmente improvável para um futuro muito longínquo -, mas de imediato, mesmo

permanecendo sempre minoria, apenas se tornam uma minoria percentua[mente maior.

Z9 Ver acima, nota 24 deste Excurso. A idéia desenvolvida no texto, se invertida. é apropriada para demonstrar como é

inadequada a suposição de que a tendência da evoluçao possa, em caráter duradouro, mover·se na linha de um encurta­

mento sempre maior dos períodos de produção; ver a exposição mais precisa sobre o assunto no Excurso n.

30Como, por exemplo, Landry. L'Intérêt du Capital, p. 290 et seg.: "( ...l iI est vraisemblable qu'au-dessus d'une certaine
durée d'attente proche de celle des productions effectiuement organisées iI n'y a plus d'allongement qui augmente le produit
de l'unité de capital". t:l

(J "É verossímil que acima de certa duraçao de espera próxima da das produções efetivamente organizadas já não há pro·
longamento que aumente o produto por unidade de capilar. (N. do Ed.)

j
---1 _

2::\C'_::.3:

mas com uma continuidade indeterminada, ou pelo menos ainda não Ce:-r.?~:=.::=.
: -.:':1i­
~. ::~:-icla
por um limite previsível. Apesar de as nações ricas já terem percorrido urr. ::-2::'-::
considerável no caminho dos prolongamentos crescentes de aumento de proCJç?::
'.'.=. ::os
a experiência até agora não nos mostrou nenhum limite desse gênero. Em mt.::::::
c·:: ..:ção
ramos de produção, como na mineração, no setor dos aperfeiçoamento agríco:a:
C::-.:em
em todo o setor da construção e da comunicação, já faz gerações que se executa
:::-:-.2ça
trabalho e apesar disso percebemos incessantemente que um investimento ainda
C:-:-. ::ue
'ê. ~.:-'3.:-:a­
maior de trabalho executado anteriormente é reconhecido como tecnicamente ain­
da mais compensador. A economia florestaL que oferece ao mesmo tempo o para­
'.=.:-:-.en­
i :-" :~.:ca
digma mais simples e mais transparente, e também o paradigma de um prolongamento
~ =.:õ :',0­
rendoso do período de produção que mais se presta ao cálculo numérico, mostra
::; :·..:e o
casos nos quais o prolongamento do período de produção para séculos, até ao limite
extremo do crescimento das plantas de longa vida, ainda vem acompanhado de
~:-:-. ?ara
uma produtividade técnica maior. 31 Além disso, como já mostrei em outra oportu­
e :-:-2dia
nidade,32 é da própria natureza que todos os métodos de produção mais engenho­
:--2=.ção
sos, pelo fato de significarem um "aprisionamento" de forças naturais mais prestimosas.
c.:--" em
c :-:-.2to­
basicamente têm que desembocar em métodos indiretos, e nada indica que a partir
de determinado limite, próximo na prática, dentre a infinidade de combinações de
~:::::: de
, :2 ']:0­
métodos indiretos imagináveis, justamente as combinações mais demoradas, as mais
~c ~ 2xa­
ricas, tenham de estar excluídas de toda participação nos progressos ulteriormente
atingíveis. Por que motivo deveriam todos os futuros inventores bem-sucedidos ficar
r.2L".çães
confinados à zona das combinações menos ricas e não acertar nenhuma das possi­
t.::-:-.-":1tar
bilidades que constituem toda a abundância incalculável daquelas localizadas além
I =.:-2:'1:0:
desse limite? Totalmente ousada parece-me a segura suposição de certos autores,
l =. ::::TI1­
de que, a partir de determinado ponto, a regra da maior produtividade técnica dos
:>::':2 ser métodos de produção mais longos deva até converter-se em seu oposto, e que, pa­
L :..:ais­
ra além desse ponto, um ulterior prolongamento dos métodos de produção tenha
de levar a uma diminuição da produtividade por unidade dos meios de produção. 33
e:'.:: ::lOS
Não consigo entender em que argumentos probatórios, externos ou internos, essa
. =,?L:ca­
suposição possa estribar-se.
cz.::· do Contudo, posso tranqüilamente atribuir ao campo das conjeturas tudo aquilo
Sê :2gra, que vai além da nossa experiência. Baseio minha teoria não em estruturas técnicas
incertas de um futuro imprevisível qualquer, mas com minhas conclusões me man­
~::-=-::um
tenho dentro dos fatos a nós acessíveis. Minha tarefa consiste em explicar aqueles
!i5i' 2:-::-que, fenômenos econômicos que nos cercam como fatos; para isso não preciso procurar
~ - -=. =-:ijca.
='_" ~ :'"":"e!e~
provas no futuro. Basta que a produção capitalista no passado, no presente e no
futuro próximo previsível apresente o caráter por mim afirmado e seja regida pela
oi ~_.,:_ JQT­
regra da maior produtividade de métodos de produção prolongados. Desses fatos
m--.:: ~·:1ão
:l..L- -~Ximo

certos, acessíveis a nosso conhecimento, resultam certos efeitos para a estrutura dos
íc::- :::-:-.mí­ nossos fenômenos econômicos hodiernos que pretendo explicar - entre outros,

ic :':~:l.te.
!!Ir" .-.':' ~2-gra,
como demonstro em meu livro, o aparecimento e a grandeza do juro do capital.
Caso em algum momento futuro esses fatos técnicos sofressem uma alteração fun­
damental e, por exemplo, desaparecesse totalmente a até hoje nunca desaparecida
JI.?: .:. ::nsti­
i!J:i::, ~.2-5mo
zona de prolongamentos da produção vantajosos em aberto, em virtude de uma
abundância crescente de capital, tais mudanças certamente não deixariam de exer­
~.:: :::-:10 é
~ ~-.':;Jrta­
1
:ê:1aine
W"""-2
.. " =,:xluit 31 Como se sabe, a rentabilidade econômica acompanha um prolongamento do período entre a plantação de florestas e
seu abate enquanto o aumento anual de madeira na árvore ainda representar percentagem maior da quantidade de madei­
ra nela concretizada do que a taxa de juros vigente. Ao contrário, o aumento da produtividade técnica - caso as plantas
já não exijam cuidados correntes - continua enquanto a madeira ainda aumentar na planta em fase de envelhecimento.
32 Ver Teoria Positiva. p. 35 et seqs.
~.b: -. ~ ;Jro­
33 Por exemplo. Landry. Dp. cit., p. 290 et seq. e p. 291, nota 1.
,..

22 TEORIA POSITIVA DO CAPITAL

cer uma influência profunda também no fenômeno dos juros da respectiva época.
Caberá então à teoria daquela época conciliar os fenômenos alterados da sua épo­
ca com as alterações de natureza real ocorridas nesse meio tempo. Acontece, po­
rém, que tais evoluções hipotéticas futuras obviamente nada têm a ver com a
explicação que me cabe dar do hodierno estado das coisas. 34
Na linha de todas essas explicações desejo agora que minha tese seja entendi­
da no sentido de que a adoção sabiamente escolhida e o prolongamento de méto­
dos de produção normalmente levam a aumentar a produtividade técnica. Ou então, __ r:=:.

para adotar uma formulação ainda menos suscetível de ser entendida erroneamen­
te e que ao mesmo tempo indica o caminho para uma contraprova que esclarece
o assunto com particular clareza, detemo-nos hoje em métodos de produção que,
se tiverem sido escolhidos racionalmente, são tecnicamente os melhores que possa­
mos conseguir, com o fundo de subsistência nacional de que dispomos; acontece
que eles não são ao mesmo tempo os métodos tecnicamente melhores de que te­
mos conhecimento. Conhecemos regularmente -- ou literalmente em todos os ra­
mos de produção, ou pelo menos em muitíssimos deles -- métodos tecnicamente
ainda melhores, que são, porém, ao mesmo tempo métodos de duração mais lon­
ga e, portanto, não poderão ser executados enquanto o aumento do fundo de sub­
sistência não possibilitar adotar tais métodos de produção mais longos. Essa defasagem
permanente 3S entre nosso conhecimento técnico e a execução é propriedade ex­
clusiva dos métodos de produção mais longos que os atuais - pelo simples motivo
de que todos os métodos mais curtos, que seriam mais vantajosos também do pon­
to de vista técnico, já teriam assegurado sua preferência e execução, mesmo sem
o aumento do fundo material de subsistência.
E agora vejamos a contrapartida que ilustra o assunto: sempre que somos obri­
gados a encurtar os métodos de produção indiretos até agora usuais, necessaria­
mente recaímos em métodos de produção tecnicamente menos produtivos, se nosso
método de produção atual era realmente racional e se não houver invenções novas
que gerem outras condições de produtividade. Com efeito, se com um método mais
curto conhecido se conseguisse tanto ou até mais produto do que com o método
atual, mais longo, já anteriormente se teria tido de escolher aquele método, como
sendo mais racional, e não este último, pois no mínimo aquele método mais curto
teria sido mais vantajoso por ser menor a despesa de juros para o período de inves­
timento, que seria menor. Todos os métodos mais curtos pelos quais se passou por
cima ou que foram abandonados devem ter sido tecnicamente piores do que aque­
les mais longos, em favor dos quais eles foram preteridos: do contrário, não teria
sido racional preteri-los ou abandoná-los; conseqüentemente, toda volta a eles deve
necessariamente representar uma volta a métodos tecnicamente piores. 36

34 Na primeira edição desta obra não trateí expressamente da questão dos limites temporais da regra do aumento de pro­
dutividade dos métodos indiretos de produção mais longos. Que, porém, já na época não me ocorreu a idéia de que essa
regra tenha uma extensão literalmente infinita, ou a de tirar conclusões de uma suposição outra que a de que os "limites"
para a sua ação sâo imprevisíveis "na prática", e em todo caso ainda não foram atingidos na prática, resulta de pronuncia­
mentos ocasionais como o seguinte: "'A demanda (de bens presentes) é praticamente ilimitada; no mínimo vai até o ponto
em que for possível aumentar o resultado da produção pelo prolongamento do processo de produção; e esse limite, mesmo
no caso da nação mais rica, está ainda bem além do estado de posse do momento". 1~ ed., p. 353
35 Em oposição aos períodos mais curtos de transição, necessários para a implantação plena de toda inovação técnica,
simplesmente pelo fato de ser nova; ver acima, p. 12 et seqs. e minhas "Strittige Fragen", p. 29 e 32.
36 Naturalmente, nunca se retoma voluntariamente a métodos tecnicamente inferiores sem ser obrigado a fazê-lo pela si­
tuação; é por isso que acima empreguei esta expressão: quantas vezes "'formos obrígados" a encurtar os métodos indiretos
de produção. Esta necessidade pode ocorrer, em caráter geral, quando o patrimônio nacional acumulado sofrer uma dimi­
nuição geral considerável, por qualquer motivo que seja; em caráter parcial, em ramos de produção isolados, quando em
outros ramos de produção surgirem novas oportunidades de investimento altamente rentáveis e ao mesmo tempo exigentes
em seu âmbito. Em virtude disso uma parte maior dos fundos nacionais é canalizada para eSSes ramos de produção agora
mais rentáveis, sobrando para os demaIS apenas uma parte menor. Nesse caso, a mudança se opera e se regula sob a

,i

J
i
E:'C'K~=

.;:= :ea. Podemos, pois, exprimir nossas idéias também na fórmula que segue: :-'.2'.': :-.::­
L:: 2;10­ vendo progresso no estado de nosso conhecimento técnico, prolongamentos rcc.e·
'c.;: ;10­ nais dos processos de produção vigentes regularmente levam a uma produti\'icc::e
C::-:; a técnica maior, ao passo que encurtamentos levam necessariamente a uma dim:n'~:­
ção da produtividade técnica.
,-c';::-.di­ "Não havendo progresso", disse eu; isso me leva a uma última idéia, que tam­
" --:-.2to­ bém só posso abordar à guisa de antecipação, mas que tem de ser expressa a firr:
L ';:-.cão. de complementar com ela, mediante comparação, uma afirmação anterior, também
t~~.2Tl­ ela feita à guisa de antecipação. A existência das oportunidades para prolongamen­
s:.::rece tos vantajosos da produção e ameaça de resultados menores no caso de abreviação
~: :~e. do período de produção constituem fatos de natureza estática. São também fatos
==:""a­
c::-.cece
que pertencem ao estado de conservação das economias nacionais. Não é a persis­
tência desses fatos que supõe alterações dinâmicas do estado vigente, mas inversa­
e _'" :e· mente, é seu desaparecimento que pressuporia tais alterações. Um encurtamento
)~-=~~a­ do período de produção sem prejuízo para o produto só é possível por motivo e
:.=: :-:-.2:J te em decorrência de uma nova invenção que encurta o período de produção. Uma
:::." .:n­ vez esgotada esta última, ou seja, uma vez que ela se tiver imposto generalizada­
c.;: ,,'..10­ mente em lugar do processo antes em uso, no novo estado de conservação passa
~;;.::;em a valer novamente de imediato a regra de que um encurtamento do período de
.cc'" ex- produção só é possível às expensas da produtividade. Essa regra só deixa de valer
: :-:-.::-.-:\'q sempre que e enquanto ocorrerem novas invenções que encurtam o período de
cc =cn­ produção e as alterações da técnica de produção, determinadas por essas novas in­
,,2m venções, ainda não estiverem implantadas totalmente. Em sentido inverso, a opor­
tunidade para prolongamentos vantajosos da produção só poderia desaparecer em
~:~ :·::ri­ virtude do fato dinâmico de um aumento poderoso dos estoques de capital. Mesmo
:2""cr:a­ que nosso conhecimento não se enriqueça com absolutamente nenhuma invenção
;..c ~. :,550 nova que envolva prolongamentos da produção, o atual estoque de oportunidades
;-;; :-.,::·;as deste gênero, ainda não aproveitadas, poderia continuar a permanecer inesgotado
cc :-:1àis para sempre - mesmo que tal estoque fosse tão pequeno quanto pensa Taussig
:-:-.2 c: do -, caso não ocorresse uma alteração dinâmica em outro fator, a saber, caso não
: :.:::-no
, ocorresse um aumento do estoque de capital, não só em termos absolutos, mas
~" :~!10 também em termos relativos, em relação ao número de habitantes, aumento este
l~-.·.es- (de capital) cujos excedentes relativos teriam que ser suficientes para desencalhar
~: - ;Jor todo esse estoque de oportunidades ainda não aproveitadas. Na realidade atuam
'''' CC'J.e­ incessantemente alterações dinâmicas nos dois lados da relação: constantemente se
,~e :eria fazem novas invenções que prolongam e outras que encurtam o período de produ­
,E" ceve ção, e o estoque de capital se altera constantemente, tanto em termos absolutos co­
mo em termos relativos. Essas alterações dinâmicas mudam constantemente a
intensidade de nosso fenômeno, enfraquecem-no ou reforçam-no alternadamente,
sem nunca fazê-lo desaparecer dentro de nossa experiência totalY Seria, porém, no
!'!""".: ::: :JrQ­ estado de conservação que sua existência estaria mais segura: como afirmei acima,
:...:: =_'" -2ssa ele é um fenômeno estático. 38
-..:c -,:es'"
:':- _-:ia­
~--=:: : ::::l.to

::r:'"~ -':;5"110

influência de uma taxa de juros crescente. Sem dúvida, muitas vezes, mesmo diminuindo o estoque de capital, uma deterio·
~: -~ :-.::a. ração decisiva da empresa é retardada por novas invenções; o que se diz no texto aparecerá com tanto mais clareza quando
o empobrecimento de uma nação vai de mãos dadas com sua decadência cultural.
E: .: :~ .=. si­ 37 A fim de eliminar expressamente um equívoco, aliás só possível a uma análise superficial, observo que uma impossibili­
C~ - :_~e:os dade passageira de encontrar alguma aplicação lucrativa para determinados capitais em determinadas situações não é iné­
1:'" _ -=. ~~:Tti­ dita na experiência até agora. Contudo, a razão de tal fenómeno visivelmente sempre esteve apenas em alguma dificuldade
=_=--:: em passageira, de natureza pessoal ou concreta, e nunca em uma pletora efetiva geral de capital em relação às oportunidades
:-: -2'_;e~Tes de aplicação em aberto. Ver também a exposição acima. p. 13 et seq.
L_-=~: -=Jora 38 Evidentemente, não se poderá ampliar o conceito de "estático" ou "estacionário" de modo tão estranho e contraditório
P-'; _ ,2 ~:;'::J a como o fez Bortkiewitsch em seu zelo polêmico. Partindo da conhecida afirmação de Clark de que o juro do capital só
24 TEORIA POSITNA DO CAPITAL

E enquanto anteriormente tive oportunidade de dizer que os ganhos e aumen­


tos de produtividade relacionados com as invenções "dinâmicas" que encurtam o
período de produção têm mais a ver com os ganhos pessoais dos empresários e
com os ganhos devidos à conjuntura do que com os juros propriamente ditos,39
agora me cabe, à guisa de comparação, salientar que os ganhos e prejuízos conexos
com o nosso fenômeno estático estão intimamente relacionados com a taxa normal
dos juros propriamente ditos, juros estes que constituem também eles um fenôme­
no estático na nossa economia nacional. Mas tudo isso é mostrado com clareza ain­
da maior em outras partes desta obra. 40

-- - -:::..,­
-".- ­ -
::

B. Provas
Tem-se perguntado que provas posso aduzir para demonstrar ser correta minha
tese da produtividade maior de métodos de produção mais longos. Presumo e es­
pero que várias de minhas exposições anteriores, embora primariamente destina­
das a esclarecer minhas afirmações, tenham propiciado ao leitor, já a caminho, muito
ensejo e material para confrontar minhas afirmações com os fatos a ele familiares;

__---
-: -= .­=. .~
'::l

pode ser adequadamente explicado como um fenômeno estMico a partir de razões está.ticas, esforça-se ele - contra a
explicação do juro, dada por mim, a qual, entre outras coísas, parte também da maior produtividade dos métodos indiretos
de produção mais longos - por construir a objeção de que O fenômeno '"só parece aplicável a uma sociedade que est~
progredindo, e não também a uma que está estagnada~. Pois - assim argumenta ele -, a coexistência de métodos de
produção de graus de produtividade diferentes, pressuposta (na suposição dele!) em meu raciocínio, "indica um progresso
técnico que se realiza no presente ou teve lugar em epóca anterior". (Jahrbuch de Schmoller, v. XXX, p. 962.) As palavras
por mjm colocadas em grifo não admitem nenhum outro sentido, no contexto do argumento, senão que Bortkiewitsch
só reconhece como "estacionário" o estado de uma sociedade, se realmente ela não faz progressos no presente nem os
fez jamais no passado. Entretanto, é óbvio que tal restrição do conceito de "estacionário'" não somente é totalmente arbitrária
e inteiramente inusitada, senão que, além disso, priva o conceito de toda e qualquer justificativa de existência, uma vez
que, nesse sen·tido, a partir dos dias de Adão e Eva, simplesmente não seria mais imaginável um estado estacionário; da
mesma forma como jamais poderia haver alguma "lebre sentada" se. ao atribuirmos esse predicado, não nos contentásse­
mos com o fato de a lebre estar sentada realmente, mas além disso exigíssemos que também anteriormente ela não se
tivesse movimentadQ! Ora, é fácil de ver que com essa concepção Bortkiewitsch acaba também com seu próprio argumen­
to, pois na Unha dela também o próprio juro só poderia existir em uma sociedade "em progresso", uma vez que todo juro - - -:.«
no mínimo pressupõe a existência de um capital, e este, se não agora, pelo menos anteriormente deve ter sido produzido -~ - - j
por um "progresso" na formação do capital'
39 Ver supra, p. 12 et seq.

411 No caso de leitores que se interessarem por detalhes teóricos. solicito além disso que consultem, para toda esta seçâo

o Estudo I de minhas "Strittige Fragen". Em particular quero remeter a certas exposições, não repetidas aqui, sobre a exten­
são em que preciso afirmar e provar minha regra, para poder basear as conclusões que dela tiro em minha teoria (v.I,
p. 56 et seqs.). Para exposições em detalhe permito-me também chamar a atenção para os Excursos li e IV, que seguem.
Finalmente, quanto à obra de Cassei (Nalure and Neressity of fnteresl. 19031. que, aliás, é prevalentemente dirigida contra =~ ::-.=~
mim, e que considero como um dos enriquecimentos mais interessantes da literatura mais recente sobre o capitaL embora
---~;
nela ressalte uma visível faita de reflexão atenta e imparcial, talvez não seja supérfluo observar ainda, a título de orientação,
que quanto ao estado dos fatos discutidos no presente Excurso, manifestamente Casse! tem quase exatamente a mesma
posição que eu, ainda que utilize uma terminologia diferente. Atribui ao termo ~perrodo de produção" um sentido bem
diferente do meu, e aborda a parte mais importante daquilo que denomino a adoção de métodos indiretos de produção
tecnicamente vantajosos e mais longos, isto é, a construção de produtos intermediários de duração longa, como máquinas,
ferrovias, canais, reservatórios de água e simila:-es, sob a denominação de "substituição do uso do capital por outros fatores
de produção" (p. 122 el seq.). Mas tudo o que ele na realidade afirma sobre a possibilidade '·praticamente ilimitada" (p.
108) de tais aplicações de capital iemicamente vantajosas. sobre a insuficiência constante do supp/y of waiting existente,
sobre o papel da taxa de juros na escolha das aplicações de capital efetivamente viáveis, dentre o númerO muito maior
das aplicações desse gênero apenas possíveis, e especialmente sobre isto, a saber, que muitos destes últimos, com baixa
da taxa de juros, se transformam imediatamente de "possibilidades técnicas~ em "vantagens econômicas" e atingem a reali­
zação efetiva, e que, no ca:;;o de desaparecer totalmente o juro, não existiria "absolutamente nenhum limite determinável"
(absolute/y no ascertainable !im;ts) para a extensão do desejo de waiting derivante de tais possibilidades (p. 121): tudo isso
certamente significa um reconheeímento pleno e, ao mesmo tempo, uma avaliação muito generosa da mencionada ampla
zona de aperfeiçoamentos da produção em aberto, afirmada também por mim. Em várias de suas colocações, Cassei é
até um pouco mais apodítico e vai mais longe do que eu quando, partindo de tais considerações, considera a idéia do
desaparecimento total do juro como um "absurdo absoluto" (p. 109). exprimindo a opinião de que "não merece considera­
:::c ....::-5ã::
ção séria, para qualquer período futuro que seja" (p. 123). um atendimento completo da demanda desse gênero, com :.:-_.:: 1
a qual se deve contar no caso da ausência de juros
EXCURSO I 25

~ ~ ::.·..:men­ além disso. ousaria esperar que essas demonstrações feitas ao longo do discurso
E- :_:-:am o sejam até certo ponto consideradas satisfatórias pelo leitor. Todavia, o problema das
l::~'";;:§.C:os e provas foi colocado com clareza e diretamente, devendo, portanto, ser por mim so­
!~ ~~ :':toS. 39 lucionado de maneira não menos clara e direta.
~;; :::c:exos Que é, então, que apresentei e tenho a apresentar como prova propriamente
~'.=. -. :>rmal dita de minha tese?
l~ :,":-.':>me­ Primeiramente, meia dúzia, ou talvez até uma dúzia inteira de exemplos típicos
:: .:..~ ~zc. ain­ concretos de escola, para provar que por vias indiretas se consegue mais do que
pela via direta: o exemplo da obtenção de água por meio de baldes e, por processo
mais longo, por meio de canalizações; o exemplo da extração de pedras para cons­
trução a partir da rocha, por meio de uma cunha de ferro e um martelo e, em pro­
cesso ainda mais longo, pela preparação de explosivos; o exemplo da fabricação
de óculos com lentes de vidro e equipamentos de aço; o exemplo da iniciativa de
:~~:=. ~.:nha processos vegetativos pela semeadura artificial; o exemplo da pesca com anzol ou
=;;_~.: e es­ com barco e rede; o exemplo da extração de madeira, com machado de pedra e .
:estina­
:-:~ com machado de aço; o exemplo do coser com máquinas de costura, do transporte
"_- :-:. muito por ferrovias e assim por diante. 41 Com esses exemplos adotei o caminho de uma
lê C =.:-:-'Jares; demonstração concreta, empírica. Certamente não de modo tão rigoroso e exausti­
vo como o desejou um de meus críticos. Lexis, com efeito, exigiu que a prova con­
creta a ser aduzida fosse dada "para todas as espécies de produção de bens materiais
;.,[ .:: -= - :Dnrra a em especiaF.42 Essa exigência certamente não estou disposto nem tenho possibili­
-.::-:.:::: .:-.J.iretos dade de cumpri-la, e isso pelos mais diversos motivos, externos e internos. Primei­
:c..,: :.::,õ: :·..:e está
:'" :õ -é:~~os de
ramente, já porque uma demonstração de tal envergadura teria sido uma
c..:..:. _- :'Jgresso monstruosidade prática. Pois há muitos milhares de tipos diversos de bens mate­
.::-' .:.._~ :;a;avras riais, e para a produção de cada bem individual há numerosas nuanças no processo
=_,,;: ~':-_~~2·J,.itsch
, :-"-';:-';"':::-:2 "":e~ os técnico: a tentativa de demonstrar que em cada artigo um processo mais longo é
~:--i:-:';; ::~:,jrráría tecnicamente mais produtivo do que as espécies de processos mais curtos haveria
.:.::::~-:-::. ..,;~a vez
~: -:.~: :-ário: da
sem dúvida de encher vários grossos volumes de uma obra de Tecnologia, mas não
:: . :: :: -.:':::-i:ásse­ poderia ser convenientemente encaixada em uma obra de Economia Política. Aliás,
r--::--.;: -=::: íão se mesmo para o tecnólogo seria difícil atender literalmente a esse desejo. Pois não
y-::-: ::':-;".lmen­
é de modo algum fácil e seguro determinar, para cada processo técnico de produ­
.~~:: =:-/ :~~:==/:J~~d~ ção individual, essa grandeza que denominamos "período médio de produção". Da
formação dela fazem parte, muitas vezes, parcelas e partículas incontáveis de servi­
: :., ,,:e '2çao. ços, que procedem dos mais diversos estágios de atividades preparatórias ou coo­
L: _ :-.: ::"2 s. exten­ perantes indiretamente; e com relação a elas muitas vezes é tão difícil constatar quão
- - -, :~:c'a Ivl.
: _-:: 32guem. longe distam temporalmente do término da fabricação do produto, de cujo processo
~---: : _. ~:G contra de produção se trata, quanto constatar com que parcela quantitativa participam da
E -:::: -.=. 2~bora
r:_ : :-:: ::-_""~:ação,
formação da média. Lá onde, portanto, não estão em jogo diferenças grandes, per­
~--i:-.~ ::: :-:1esma ceptíveis já à primeira vista, no tocante à duração dos pE:ríodos de produção, muitas
:- _~ ""'-::'0 bem vezes e com facilidade pode malograr, ante a dificuldade que acabamos de apontar,
rr~:'~ :,:: ::-:d.ução
=- :: - : -:-.~quJnas,
a prova de que determinado processo de produção é também o "mais longo".43
.ll :':+ = _=:5 ratores Felizmente, porém, o complexo tipo de demonstração exigido por Lexis, além
c<-" _-.:eda" (p.
i'- _ .:: - =2X:stente, de ser inexeqüível, é também supérfluo. Não quero sequer falar do fato de que de
r~-: ~._::C) maior forma alguma enunciei minha tese como uma "lei" rigorosa que hão padece de ex­
.:....:::-:~ .: :.:TI baixa
;~ .,; =.=-- =
..;:~_ a reali­
r_:", :;2~inável"
: ~: ~ :"j do isso 41 Ver supra, em toda parte no Livro Primeiro, Seção n, e no Livro segundo, Seção I.
.,--;- =: -."~a ampla 42 Jahrbuch de SchmolIer. v. XIX. p. 334.

,..:':.=: ''''' Cassei é 43 Tirou-se também um argumento à parte, de ordem metodológica, contra minha tese, da insuficiência da duração dos

:r~. :~:= " idéia do períodos de produção para medições precisas. Para não desviar-me demais do tema nesse contexto, deixo também essa

--:.~.,;.:-::: :Jnsidera­ discussão para um Excurso especial (1Il). Em ocasião anterior eu já havia tomado posição contra o citado argumento, no

:'-=-::'S-= =,,ª,-.2fo. com Estudo 11 de minhas "Strittige Fragen", intitulado "O todo e as partes do processo de produção baseado na divisão do traba­

lho; a teorização com grandezas desconhecidas", em particular nas Seções 1 e 4 do mencionado Estudo.

26 TEORIA POSITNA DO CAPITAL

ceções, mas apenas como uma regra muito generalizada, razão pela qual a exigên­
cia de demonstrar empiricamente sua validade para todos os tipos de produção de
bens materiais exige propriamente de mim que prove até mais do que aquilo que
afirmei. Mas não quero insistir nisso, já que realmente considero quase universal
a validade da minha regra, mesmo que não precise afirmar isso para as conclusões
a serem por mim tiradas. Em contrapartida, importa lembrar outra coisa. Mesmo
lá onde se trata de uma demonstração empírica de leis propriamente ditas e mais
exigentes, não é nem necessário nem usual - e isso em todas as ciências - verifi­
car individualmente e sem exceção todos os casos submetidos à lei. Basta, e tem
de bastar, a verificação da regra -com base em um número suficiente de casos típi­
cos, desde que ao mesmo tempo se tenha condições de tornar plausível que se tra­
ta realmente de casos típicos, isto é, desde que se consiga mostrar que é provável, '1_, _"TI
por motivos intrínsecos, que também os casos não explicitamente pesquisados não =_L·~.'
apresentam, no tocante ao aspecto decisivo, um comportamento diferente do dos :::±Lf::.d.­
casos aduzidos à guisa de exemplo. E a maneira mais simples de conseguí-\o é pes­

quisar os motivos que nos casos típicos geraram o resultado em questão, revelando­

se então que o alcance desses motivo,s não está limitado aos casos específicos do

exemplo, mas são de natureza geral. E natural que também uma tal regra, que se 7""3:õ 2:
demonstrou ser intrinsecamente provável, possa ser derrubada a qualquer momen­ ~ ::e.i

to por uma contraprova positiva. Mas enquanto não se aduzir tal contraprova, tem­ -w.:..::Je

se o direito de considerar como verdadeira a regra afirmada em tais condições, mesmo :J~

sem ter efetuado especificamente a demonstração de experiência empírica para ca­ -':r-l\;
da caso individual. Por exemplo, não há dúvida de que temos o direito de enunciar - - , ­~
o princípio de que a velocidade da água corrente tende a aumentar juntamente com r: ~: i
a intensidade do declive, mesmo que não se tenha antes medido em concreto os :-:r. ....~
declives de todas as correntes de água da terra e sua velocidade; basta ter feito posi­ :0_-::'

tivamente a verificação em determinado número de casos, ter adquirido a convic­

ção de que têm validade geral as causas que estão à base desse fenômeno e que

até agora esta convicção não tenha sido anulada por contraprovas práticas. Ou en­
=':. ~oí!!
tão, para aduzir também um exemplo tirado de nossa própria ciência: não creio que -~-,

os numerosíssimos adeptos da "lei dos custos", desenvolvida já por Adam Smith, :;..: T::À
estejam inclinados a só considerar como completa uma verificação empírica sufi­ :-1:r"" :3
ciente da mesma, depois que se tiver conseguido, literalmente para cada ramo da
produção de bens materiais em especial, a comprovação empírica de que o preço
"natural" ou "normal" do respectivo produto coincide com a soma total dos juros _ J":' lIi

e salários despendidos em todos os estágios da produção que cooperam em sua


totalidade, ou, como dizem outros, do "trabalho e abstínence" - pois tal comprova­ -,-::,~

ção toparia com dificuldades bem semelhantes às que ocorrem em nosso caso. 44 :J
Pois bem, penso que - e este é um segundo elemento da demonstração, que
já acrescentei à minha tese nas explicações que precedem - aduzi razões dignas
de consideração para a probabilidade interna da regra por mim afirmada. Pesquisei,
em uma investigação explícita, ilustrada também por exemplos, as causas dessa re­
gra e tenho por certo havê-Ias encontrado num elemento que certamente não é
peculiar apenas aos casos escolhidos à guisa de exemplo, senão que é de aplicação
e alcance muito geral. Enxerguei - e nisso concordo tanto com Menger45 quanto
com Rodbertus46 - a importância dos métodos indiretos de produção capitalista
no fato de submetermos a nosso poder, antecipadamente, condições ou causas na­
turais mais remotas do resultado da produção - o qual almejamos como meta ­

.. Ver também o Excurso III que segue.

45 Grundsaetze der Volkswirtschaftslehre. Viena. 1871, p. 28 et seq.

.::.:--:"'.......-:'11

46 Por exemplo, Das Kapital, p. 236 el seq.


= 7"3!!CiiiI
- -.:' j
EXCURSO I 27
2:~:gên­
~;30 de e nos assegurarmos sua ajuda para executar a ulterior obra da produção: "Cada via
'-_o: que indireta" - afirmei eu - "significa o aproveitamento de uma força auxiliar que é
~:-.:·.2rsal mais forte ou mais hábil do que a mão humana; cada prolongamento da via indire­
-.c.:.:sões ta significa um aumento das forças auxiliares, que passam a servir ao homem, e
~·12smo um desvio de uma parte do ônus da produção, do trabalho humano, escasso e dis­
;; " :-:1ais pendioso, para as forças da natureza, de que dispomos em superabundância",47
- ·.eriJi­ Apresentei e apresento, porém, ainda uma terceira prova para minha tese. Ela
:: e tem de modo algum é, do ponto de vista do conteúdo, uma tese nova, que ainda preci­
!:SC5 típi­ se de confirmação ou prova, senão que do ponto de vista do conteúdo coincide
,'" 5e tra­ com outra proposição, para a qual já há muito tempo temos tanto a demonstração
l'-·.ável, empírica plena quanto o reconhecimento da teoria, aliás por parte das mais diversas
.::5 não correntes teóricas, a saber, com a proposição da assim chamada "produtividade do
, :: dos capital".
,: é pes­ Se despirmos essa proposição de todos os significados secundários minuciosos
oe~:O:ldo­ que costumam ser introduzidos nela pelos teóricos da produtividade, permanece
~:-.c:s do como esqueleto nu de fatos o seguinte: o trabalho é tanto mais produtivo quanto
. C·...:2 se mais estiver equipadQ com recursos capitalistas. Estas últimas palavras são expres­
~.::-:1en­ sas pelas diversas escolas em variantes um tanto diferentes. Os teóricos da produti­
'.::. cem­ vidade e os adeptos de outras teorias ligadas aos juros costumam dizer: "(00') com
. :-:-.25mo quanto mais recursos capitalistas o trabalho tiver sido equipado pelo capitalista que
:: :::20 ca­ forma ou recebe capital", ao passo que os teóricos socialistas, por seu turno, dizem:
12-.::-,ciar "com quanto mais recursos capitalistas o próprio trabalho se tiver equipado".48 Quan­
~_ce com to ao fato, porém, de que o trabalho nacional é mais produtivo se for secundado
:::eco os por um capital de 50 florins por cabeça do que se não for secundado por capital
,:-:c ;Josi­ algum, e é ainda mais produtivo se o capital for de 500 florins, e ainda mais se
~ c c:-,,'ic­ o capital for de 5 ·000 ou de 10 000 florins - quanto a esse fato, penso não haver
;c e que dúvida alguma, nem por parte de um prático da técnica da produção ou do comér­
J.l en­ cio, nem por parte de um teórico de qualquer corrente que seja. Presumo que nem
:-e:: que mesmo Lexis tenha dúvida quanto a isso. A questão, portanto, só pode ser esta:
r. 5:-:1ith. se tenho ou não razão ao afirmar que o produzir com auxílio de um capital maior
c::: sufi­ por cabeça é a mesma coisa que adotar métodos de produção mais longos no sen­
~:-:-.o da tido acima explicado de minha teoria.
: ;Jreço Ora, penso que isso é uma coisa de clareza até axiomática, e ao mesmo tempo,
t c 5 .''.lras uma vez perfeitamente entendida, uma ajuda tão importante para imaginarmos to­
e~. sua do o resto que gostaria de pedir a todo leitor benévolo que não deixe de fazer ele
c.;Jrova­ mesmo sua própria comprovação, de forma independente.
c ::OSO.44 Que é propriamente o "capital"? Ele é - como se costuma designá-lo numa
ç~:. que definição que, embora não sendo totalmente correta pelos cânones escolares, no
~ ::gnas mínimo é bem acertada, grosso modo - "trabalho executado anteriormente".49 Um
~;;~uisei, capital pequeno representa evidentemente pouco trabalho executado anteriormen­
cessa re­ te, e um capital grande representa muito trabalho executado anteriormente; um ca­
tê' :-:ão é pital de 50 florins, por exemplo, se o salário anual comum do trabalho for de 300
ç.::ação florins, só poderá representar, na melhor das hipóteses, um sexto de um ano de
" C'.lanto trabalho, 50 ao passo que um capital de 500 florins ou de 5 000 florins, nas mes­
2::·:ralista
i:.:sas na­
:":':2ta ­ 47 Teoria Positiva do Capital. v. 1, p. 38.
48 Por exemplo, Rodbertus. Das Kapital. p. 250 et seq .• 264 et seq. Duehring. Cursus der Notional·und SozioJoekonomie.
Berlim, 1873. p. 183.

49 Para ser mais preciso deve-se dizer: força produtiva acumulada, adiantada, que pode ser nâo só trabalho. mas também

força natural de valor ou recurso do solo; ver Teoria Positiva. v.l, p. 127.

se Provavelmente ainda muito menos, pois por um lado entra em jogo em grande parte um trabalho qualificado mais bem

,emunerado, e por outro lado o valor dos bens de capital disponíveis de forma alguma pode ser reduzido exclusivamente

a trabalho, respectivamente a salários, senão que em parcela considerável contém outrossim juros incorridos, lucros, ga­

lhos de monopólio e similares. Aliás, aqui se trata apenas de números proporcionais indicados à guisa de exemplo.

28 TEORIA POSITIVA DO CAPITAL

mas condições, há de representar mais do que todo um ano de trabalho, respectiva­


mente muitos anos de trabalho.
Ora, os bens de consumo maduros de que o povo precisa e que consome du­
rante cada ano são naturalmente produzidos mediante uma cooperação do traba­ ~:'~ :
lho antigo, disponível em forma de capital, com o trabalho novo corrente que sobrevem ~
durante o ano presente. Por exemplo, as roupas que o povo deseja e compra no : =r':::"'IT:
ano corrente sã-o produzidas por uma cooperação dos alfaiates - e talvez também
dos tecelões -que trabalham no ano corrente com o trabalho passado dos agricul­
tores, fiandeiros, tecelões, mineiros, construtores de máquinas etc., trabalho este la­
tente no tecido, no fio, na lã, nos teares, nas máquinas de costura, no carvão etc.
que aí estão. Sem en~rar em detalhes sobre as possíveis divisões do trabalho antigo
e acumulado de acordo com os respectivos anos de execução, e em problemas si­
milares,51 parece-me evidente que, caso se disponha de pouco "trabalho antigo, o
trabalho antigo e o novo têm que mesclar-se, nessa cooperação, numa relação em
que predomina o trabalho novo corrente. Igualmente óbvio é que, em conseqüên­ -=r:
cia, é impossível que seja longo o tempo de espera médio que decorre entre a apli­ -..::::: .:_~

cação do trabalho e a colheita de seus frutos maduros para o consumo. Se, do trabalho,
cujos frutos desfrutamos no ano corrente, apenas uma parte - que em todo caso :-: ...:::.-~
, -
é inferior a 1/652 - remonta a um ano anterior, e o resto do trabalho pertence ao
~

período corrente, manifestamente o tempo médio de espera não pode ser senão ; :~~=5:
de um ano. Ao contrário, se o estoque de capital existente for de 500 ou de 5 000 ":'-,~ ~:,.-:ç:

florins per capita - portanto, atendo-nos ao número proporciona! acima suposto,


representar 1 2/3 ou 16 2/3 de anos-trabalho "antigo 53 -, é evidente que o tra­
balho antigo coopera na fabricação dos produtos que amadurecem no ano corrente
numa proporção bem diferente, isto é, muito maior, com o trabalho novo; a isso
corresponde, com a mesma evidência, um tempo de espera médio muito mais lon­
go do que no primeiro caso.
Ou então, se quisermos recorrer a uma analogia a fim de tornar a coisa ainda
mais clara para a imaginação: se de determinado ponto de partida enviarmos conti­ -:-,,->21
nuamente, em determinados intervalos iguais, por exemplo, a cada hora, mensa­ :; :':'=>,;3
geiros para determinado ponto, é evidente que o número de mensageiros que .:.~=;S:l
estiverem ao mesmo tempo a caminho nos dará uma expressão exata do compri­ -: :,=:::;:"
mento do caminho entre o ponto de partida e o ponto de destino. Se, por exemplo,
ao mesmo tempo estiverem a caminho seis mensageiros, é óbvio que o caminho
não pode ser de mais de seis horas, ao passo que, se o caminho tiver o comprimen­
to de 20 horas, o primeiro mensageiro atinge o ponto final apenas no momento
em que o mensageiro n? 21 deixar o ponto de partida, de modo que estarão a
caminho, simultaneamente, não menos do que 20 mensageiros. Pois bem: uma eco­ ;;-::"'- ..3;:.:
nomia nacional envia diariamente um dia nacional de trabalho ou, se quisermos -~: -:,1
calcular com uma unidade maior, envia mensalmente um mês-trabalho para o ponto­
objetivo da fabricação de bens maduros para o consumo. A quantidade de capital
existente indica quantos desses meses-trabalho estão ao mesmo tempo "a caminho".
Trata-se de trabalho já executado como tal, mas que ainda não atingiu a meta final
da maturidade para o consumo. Se, pois, tendo-se um capital de 50 florins por ca­
beça, não tivermos ao mesmo tempo a caminho mais do que dois meses-trabalho,
• ':~"'3

,::-- ..- ="11


51 Quanto a esse tema, ver a seção relativa à formação do capita\, v.I às p. 129 et seqs. supra, bem como certas exposi­

ções sobre a relação entre o fundo de subsistência e o período de produção, que se encontram em minha TeOria Positiva.

52 O capital disponível, que representa 1/6 de ano-trabalho, em caso algum é totalmente consumido no ano corrente, país

em parte ele certamente inclui também capitais fixos que sobram para anos subseqüentes

53 A rigor, também esses números deveriam ser diminuídos até porque, quanto mais antigas forem as reservas de capital

existentes, tanto maior é a parcela que em seu valor têm os juros empregados e tanto menor é a parcela do trabalho des­

pendido, Contudo, podemos desprezar essas nuanças sutis sem prejuízo para o tema que nos cabe ilustrar.

EXCURSO I 29

2'O:Jectiva- :S50 indica, de maneira inequívoca, uma duração média mais curta dos métodos
:::e produção adotados, do que se, sendo o estoque de capital dez ou cem vezes
s: :-rle du­ :naior, forem 20 ou 200 os meses-trabalho que se encontram simultaneamente no
:: -= rraba­ estado de produtos intermediários ainda não maduros para o consumo.
;;.:"=,revem Acredito que isso seja evidente. Se o for, é também evidente que tenho e tive
: :":"::Jra no o direito de aduzir o fato notório da produtividade maior do trabalho equipado com
z :imbém 'Jm capital maior, com toda a notoriedade que caracteriza esse fato - também co­
r;; agricul­ mo material comprobatório para minha tese, idêntica, do ponto de vista do conteú­
.: 2ste la­ do - da produtividade maior dos métodos indiretos de produção mais longos; é
c.~· .. ão etc. evidente que pude sentir-me autorizado a invocar globalmente, em favor de minha
:-.: antigo tese, "a experiência unânime de toda a técnica de produção", bem como aduzir que
:.';: :nas si­ -os fatos pertinentes da experiência são universalmente conhecidos e familiares a
:::"".::go", o cada um", que a referida lei empírica está "sobejamente" comprovada e "é confirma­
:.::;ão em da com certeza total pela experiência diária". 54
-'Oeqüên­ Pará o observador que reflete sobre os fatos, porém, estes oferecem ainda vá­
=-.;: a apli­ rias outras demonstrações. Elas precisam apenas ser extraídas deles, por meio de
: =-abalho, uma espécie de operação de raciocínio, ou talvez, para falar mais corretamente, de
:: :ti caso operação da imaginação, da qual não pode dispensar-se ninguém que queira ocupar­
:-:';::"".ce ,ao se com os problemas do capital, com alguma chance de compreendê-los; ou seja,
"..;:r senão é preciso ser capaz de imaginar correta e plasticamente os fatos que se ajustam a
:.;: :, 000 uma suposição expressa com palavras - aliás. não somente o lado da imagem,
: 'O ":;Josto, sobre o qual o olhar cai automaticamente, mas também o lado inverso.
:_2otra­ A uma dessas operações de raciocínio já acenei acima, apontando que o "ter
: : -=!Tente de esperar" é o único traço do processo de produção capitalista que fundamenta
.:. a isso e explica a notória dependência dos trabalhadores em relação aos capitalistas. 55
:-:-.::'s lon- Creio poder deixar o desenvolvimento mais preciso dessa idéia, sem outros comen­
tários, à reflexão do próprio leitor; ele terá condições de relacionar também os diver­
r;;:: ainda sos graus da dependência (que, por exemplo, para o trabalhador de empresas
~.:'O conti­ fortemente capitalistas é incomparavelmente maior do que de empresas nas quais
~, :-:-:ensa­ a posição de empresário já pode ser ocupada com um capital mínimo) com uma
".~s que duração diferente do tempo de espera necessário; também não se deixará iludir,
: :ompri­ no caso, sabendo que o motivo decisivo das diferenças aqui existentes não pode
2:':2mplo, ser procurado nas dificuldades técnicas maiores, associadas a uma desenvolvida di­
:::r':1inho visão do trabalho, na incapacidade técnica dos trabalhadores, de a mesma pessoa,
~_;J::men­ por exemplo, construir máquinas e criar ovelhas, pois esta dificuldade poderia ser
:-:- :mento eliminada mediante uma hábil organização de grupos maiores de trabalhadores que
2'O:arão a se associassem em vista de uma atividade comunitária; acontece que mesmo a or­
_:::a eco­ ganização mais hábil não é capaz de solucionar o problerr.a do ter de esperar, se
:_.sermos não houver um estoque de meios de subsistência!56

: : oonto­

.:.;: capital

c:::::inho".
54 Quanto saiba, contra o valor concludente desse argumento - que apresentei pela primeira Ve2 em minhas "Strittige
Fragen" - se têm levantado, na literatura publicada desde então, objeções por parte de dois autores (Fetter e Schade),
'-..;::a final sendo que um terceiro (Landry) fez uma observação um pouco menos clara contra ele, que, porém, provavelmente teve
-.'O :lor ca­ também a intenção de manifestar um ceticismo -da parte de seu autor. Ultimamente também Davenport endossou as obje­
;-=-~oalho, ções formuladas por Fetter. De vez que dificilmente existe outra questão mais apropriada para servir como pedra de toque
para aferir se alguém raciocina com clareza em Economia Política, e sobretudo se às expressões que utiliza correspondem
idéias corretas e de acordo com a realidade - requisito da máxima importância em toda a teoria do capital -, quero
conv\dar também meus leitores a refletir com precisão absoluta sobre o substrato ideológico das referidas objeções. Fá-Io-ei
em um Exeurso próprio (VI
:-:::-:=.~ 02xposi­ 55Ver Teoria Positiva do Capital. v. I, p. 109 et seqs.
i-: -: .:::':JsitiUQ. 56 Quanto saiba, nenhum de meus críticos se ocupou com esse argumento, aliás já apresentado, em sua concepção bási­
::-:-'::-:2. pOIS ca. na primeira edição de minha obra - devendo~se isso, talvez, ao temor e à aversão, hoje tão difundidos, contra tudo
o que se pareça a uma argumentaçao de tipo "'dedutivo". Mesmo assim. penso que não seria injusto exigir daqueles críticos
-. '-' :ô :apital que não querem reconhecer nos métodos indiretos de produção que "levam tempo" a característica da produção capitalista,
"-,C0 des· que procurem eles mesmos refletir sobre como poderia continuar a subsistir essa notória dependência dos trabalhadores,
se eliminássemos essa característica de "levar tempo", que é por eles contestada
30 TEORIA POSITIVA DO CAPITAL

Quero a seguir orientar para mais uma demonstração. Quero novamente partir :::2. :: ":'i
de um fato notório da vida econômica prática, do qual não receio que algum de :;;~~~,~~~
meus críticos esteja propenso a duvidar, seja da sua realidade, seja da sua notorie­
dade. Com efeito, quando em uma economia nacional o estoque existente de capi­
tal aumenta em relação à população, por experiência sabemos que, embora não
ocorra a impossibilidade absoluta de encontrar alguma aplicação razoável para o ca­
pital aumentado, conforme o caso, surge, eventualmente, a impossibilidade de en­
contrar uma aplicação tão lucrativa quanto a que tinham os capitais antigos até agora
existentes; conforme as circunstâncias, os novos capitais têm de contentar-se com
oportunidades de emprego menos vantajosas, que até agora se recusavam aprovei­
tar; essa necessidade tem um nexo recíproco - familiar tanto aos práticos quanto,
desde Turgot, à Ciência - com uma concomitante baixa da taxa de juros: aplica­ :::2:=:<_~ :li
ções até agora não-rentáveis, que antes estavam abaixo do nível da taxa vigente ':: .~ :li
de juros, sobem, com a baixa desta, acima da superfície.57
Quanto a isso também não pode haver mal-entendidos: tal baixa da taxa de
juros, como fenômeno que acompanha o aumento de um capital nacional, ocorre
com tanto mais certeza quanto mais estagnada estiver a técnica de produção. Inven­
ções lucrativas que surgissem em grande número poderiam teoricamente absorver
o aumento de capital, mesmo sem baixar a taxa de juros, podendo até fazer esta
"~,,~.a
última disparar para as alturas, ao passo que, se não houver progresso técnico, a T' ~i:'~-'.;:;i
baixa da taxa de juros costuma ser inevitável. Podemos, pois, sem controvérsia, par­ :::..,: ~ ::li
tir das seguintes suposições reais: quando permanece estacionária a técnica de'pro­
~ =""9..1]
dução e aumenta o capital per capita da população, pela experiência sabemos que ~=i,r:. -: :_. j
o capital crescente, se bem que não costume permanecer absolutamente inaprovei­
tável, costuma ser obrigado a encontrar sua aplicação em oportunidades de aplica­
ção menos lucrativas, havendo simultaneamente uma baixa da taxa de juros.
Que significa isso na realidade? Que evento real há por detrás da frase "Capital i:-ó :-:: J
que aumenta procura e encontra sua aplicação em oportunidades menos lucrativas"?
Antes de tudo, não se pode pensar que as novas oportunidades de aplicação =-,-""'JI
.:.- ,::-:::ll
aproveitadas sejam ou possam ser simplesmente oportunidades de aplicação adi­
cionais - como se todos os processos de produção existentes permanecessem em
curso sem alteração e sem diminuição, e além deles tivessem início outros proces­
-- =::"'3
sos adicionais, com novas oportunidades de aplicação. Pois para tais processos de
:: =.?:
produção puramente adicionais se precisaria, entre outras coisas, também de traba­
lhadores adicionais, e pelo nosso ponto de partida real - aumento do capital per
capita da população - não dispomos desse acréscimo de trabalhadores. Seria per­
feitamente adequado imaginar que isso acontecesse, no caso de uma outra suposi­ ---""-.:.:M

i
ção real, que, porém, pela experiência, justamente não costuma levar a uma baixa
taxa de juros e a uma canalização do investimento de capital para oportunidades
de aplicação até agora não-rentáveis; seria a pressuposição de a população aumen­ . ~~,03

tar e o capital crescer na mesma proporção com ela, mas não crescer per capita. I' ;::-''''_.• '''-:C:

Nessa hipótese, sim, poderia ocorrer que todos os processos de produção atual­
mente vigentes contin uassem a funcionar totalmente inalterados, e além deles os :-' =-~
...:::: ~

novos habitantes adotassem, com o novo capital, os mesmos processos de produ­ .•.:...."

ção como processos de produção adicionais. Teríamos então uma simples adição ~
ou multiplicação, e não uma mudança qualitativa da situação antiga: o dobro de _,::2
pessoas, com o dobro de capital, poderia executar o dobro de processos de produ­ ".:--:-..?'!

ção idênticos.

...,
I:.:::....:::...:J
-..::.:"::::::;;;::J!Il
57 TURGor. Réfiexion. § 89.
EXCURSOI 31

Ao contrário, nosso ponto de partida real pressupõe que aumente apenas o ca­
ê-:';: partir pital; a hipótese é, portanto, ou que o capital aumenta, enquanto a população per­
=_~_:n de manece igual - e este é o caso mais simples ao qual se assemelham plenamente
= =-_J:orie­ as demais variantes, quanto a seu efeito -, ou então que os dois aumentam, mas
'" :::.;: capi­ o capital o faz em proporção superior à população, ou, finalmente, que, permane­
~:::~" não cendo estável (ou até diminuindo) o capital, a população diminui (respectivamente,
;: -=.:-=. o ca­ diminui em proporção menor). Uma vez que, como dissemos, as duas últimas va­
c.;: ::::2 en­ riantes se assemelham totalmente à primeira suposição mais simples quanto a seu
; =:2 agora efeito - penso não ser necessário provar formalmente também isso -, na ulterior
c.:--~ com
análise de nosso caso quero partir da forma mais simples do mesmo, isto é, aumen­
:-: =:=,!Ovei­ to do capital, permanecendo igual a população, sendo que esse suposição, como
:~ ::..:anto,
dissemos, não coloca à ilossa disposição trabalhadores adicionais para novos pro­
C~ cplica­
cessos de produção adicionais além dos já existentes, que continuam em andamen­
o..:::.:gente to sem alteração e sem redução. 58 Não podemos, portanto, imaginar o processo real
que se esconde atrás da fórmula da "procura de oportunidades de aplicação menos
:= :-=-xa de rentáveis por parte do capital que aumenta" sob a imagem de algum aumento do
,.=._ :>corre atual volume de produção - todas as empresas somadas não ocuparão depois nem
:â::: ~:lven­ mais nem menos trabalhadores do que antes -, senão que devemos pensar em
= =~sorver uma mudança dos processos de produção até agora vigentes.
~=22! esta Uma mudança em que sentido? Na linha das possibilidades, poderia ser uma
:2:=-.:CO, a mudança nos objetivos da produção, ou então uma mudança somente nos méto­
>o2's_c. par­ dos de produção. Nossas pressuposições não oferecem nenhuma base para pensar
e-=: :epro­ em alguma alteração importante ou sequer predominante nos objetivos da produ­
iE:C"_:S que ção, ou seja, no sentido de que as pessoas agora se voltariam para outros tipos de
=-_='J!ovei­ bens de consumo, passando a desejá-los e a produzi-los. E sabido que os tipos de
=.;: -"plica­ bens produzidos, mesmo quando ocorrem fortes mudanças dinâmicas, costumam
: :-...:.~os. alterar-se relativamente pouco numa economia nacional, além do que, aliás, excluí­
;.c -C apitaI mos de nossas suposições reais todas as outras alterações dinâmicas que não sejam
L:C:O:: \; as"? o aumento do estoque de capital. Por isso, preferencialmente só poderemos pensar
=::~cação em simples mudanças no método da produção. Casual e esporadicamente é até
:'=':3:> adi­ possível que sejam fabricados alguns tipos completamente novos de bens materiais,
~S3-2:-:1 em mas no essencial as pessoas continuarão a produzir os mesmos bens materiais que
C~ :::-oces­ até agora, apenas segundo um método de produção diferente. 59
>:-=~sos de E agora me aproximo do ponto a partir do qual resultam conclusões interessan­
: ::::.;: :raba­
:.=.;: _:cl per
S2C:c per­
58 Por precaução, quero, de passagem, perguntar também, à guisa de hipótese, se o aumento do capital não poderia ter
t:-= s-Jposi­
como efeito típico o de, "através do aumento da oportunidade de trabalho". utilizar uma percentagem maior da população

l."":":" oaixa - sem que esta aumente -, por exemplo, diminuindo o número dos desempregados ou intensificando o trabalho executa­

,-_:-:::ades do por mulheres e por crianças etc., de sorte que, por essa via, sem sair de nossa hipótese, mesmo sem dispor de mais

pessoas, poderíamos dispor de mais trabalhadores para a produção adicional. A isso cabe contrapor o seguinte. Primeira­

~: =_men­ mente, a experiência nos mostra que o que ocorre não é esse efeito típico, mas antes bem o contrário. O percentual dos
:;.,:- ::: :pita. tecnicamente assim chamados "desempregados" dificilmente é menor nas complexas relações macrocapitalistas das nações
ricas do que em economias nacionais carentes de capital, e com toda a certeza, inversamente, a percentagem de trabalha­
Ç3: ctual­ dores produtivos ativos é decididamente menor em países ricos de capital - devido à proibição do trabalho de mulheres
r: :,,_25 os e crianças, que mais pesa na referida percentagem. Por exemplo, segundo os últimos recenseamentos conhecidos, na Áus­
=..;: o!odu­ tria se contaram 51,5% da popuiação total como "ativos". ao passo que na Alemanha. bem mais rica, apenas 42,7%; na
Inglaterra e no País de Gales. 44,5%; nos Países Baixos, 37,8%; na Itália, mais pobre, novamente 53,2%, Em segundo
é 3::iição lugar, no caso de um aumento do número dos "que trabalham" em razâo dessa fonte, sempre ainda poderia tratar-se ape­
::: -:::0 de nas de poucos percentuais ou frações de percentuais, ao passo que o aumento relativo de capital pode também representar
muitos percentuais, e nesse caso com certeza náo pode ser compensado por aquele aumento muito menor. Aliás, quanto
c.;: o:-odu­ saiba, essa afirmação, que foi por mim aventada apenas por precaução, e foi por mim mesmo descartada de antemão,

até hoje ainda não foi feita por mais ninguém.

50 Análises muito boas e ciaras sobre o fato de que toda mudança da reiação entre capital e trabalho acarreta uma altera­

çào de todo o processo de produção, respectivamente dos métodos de produção em sua totalidade, encontram-se no estu­

do - que nesse ponto é brilhante - de Clark, Distribution Df Wealth. p, 159 et seq. 170, 174 et seq .. 186 et seq_ Quanto

à estabilidade das metas da produção. ver também Schumpeter. Wesen und Hauptinhalt der theoretischen Nationaloeko­

nomie_ Leipzig, 1908, p, 127 et seq_ e 569 et seq_

32 TEOR1A POSITIVA DO CAP1TAL

tes para nosso tema. Que propriedades deve necessariamente apresentar o novo
método de produção adotado, em relação ao antigo, para que em virtude da mu­
dança no estoque de capital e das conseqüências resultantes dessa mudança se pos­
sa inverter a relação de rentabilidade dos dois métodos de produção? Com efeito,
o método de produção agora adotado não é uma invenção nova, por estarmos su­
pondo que a técnica de produção está estacionária: ele já era conhecido antes, e
por isso, para ser anteriormente preterido a favor do método de produção antes em
uso, deve ter sido menos rentável do que este último, na antiga situação. Na situa­
ção atual, porém, para que o novo método de produção seja preferido ao antigo,
é inversamente ele que deve ser o mais rentável E essa inversão deve ser explicável
a partir de um fenômeno concomitante característico da abundância de capital que
J1!1I>Z ":-'1:":;:
aumentou, sendo natural termos de pensar, em primeira linha, na baixa da taxa
!li" :-~':J_
de juros, que por experiência sabemos costuma estar associada ao aumento de ca­
pita1. 6D Teremos, pois, de perguntar: em que situação pode acontecer que um mé­
todo de produção até agora menos rentável se transforme em método mais rentável,
simplesmente em virtude de uma baixa da taxa de juros?
Um economista matemático saberia, sem muito esforço, englobar todos os da­
dos pertinentes numa fórmula matemática simples. Quero procurar deduzir essa fór­
mula, com um pouco mais de palavras, mas talvez também de maneira mais
compreensível para muitos leitores, de uma explicação baseada apenas em exem­
plos numéricos. Suponhamos que com o processo de produção até agora usual -::..-- :-'-:-:3
tenha sido possível, com o dispêndio de 1 000 dias-trabalho,61 produzir 1 000 uni­
:':'=':'~ Ji.
dades de uma espécie qualquer de produto e que o dispêndio de trabalho tenha
em média antecedido de dois anos o término da fabricação do produto final madu­ -:; ...:: ,:",::­
ro. Se até agora o salário tivesse sido de 1 florim por dia e a taxa de juros de 5%,
o dispêndio total da produção, pelo processo antigo, teria sido, para 1 000 unidades
-- =.:: -~'
de produto, de 1 000 florins de salário mais 100 florins de juros de capital (juros
sobre 1 000 florins durante dois anos), no total, portanto, de 1 100 florins. Supo­
nhamos que agora ocorra como fenômeno concomitante de um aumento relativo
do capital, uma baixa da taxa de juros para 4%. Que características deverá então
apresentar um método de produção, para poder atender ao mesmo tempo à dupla
exigência, isto é, de ser o menos rentável a uma taxa de juros de 5%, e o mais
rentável a 4%?
Vejamos. Poderá um método de produção que com 1 000 dias-trabalho pro­
:~.:.: ~ ~31
duz também ele apenas 1 000 unidades de produto, ser agora o mais rentável? Sem
: -: ':-=:J
dúvida! mas sob uma condição: já que l1ão poupa nada em salário, em relação ao - ~ ~ ]
método antigo, deveria, para ser mais rentável, poupar em juros, e para isso seu
período médio de produção teria que ser mais curto que no processo antigo. Se, =-=.,-_::ll
por exemplo, o tempo médio de espera for de apenas 1 1/2 ano, em vez de 2 anos,
como anteriormente, os custos do novo processo serão assim calculados, para fabri­
car 1 000 unidades do produto: 1 000 florins de salário, além de 4% de juros sobre
1 000 florins durante 1 1/2 ano = 60 florins, portanto, no total, 1060 florins, en­ - ""::::"'::""-=-cI
quanto os custos do método antigo seriam calculados, considerando a baixa da ta­ _0-',':"';; :::;-~

xa de juros, também em 1 000 florins de salário, além de 4 % de juros sobre 1 000

60 Em segunda linha, também num aumento de salário, correlativo à baixá da taxa de juros. Todavia, o leitor 108:0 se con­ _--..:. -='>..l­
vencerá de que nossa argumentação, por um lado, nâo precisa levar em conta essa segunda alteração, apenas presumida, :.-:: :< ':CI
e, por outro, a argumentaçâo também nâo é atrapalhada por ela: nosso raciocínio é acertado em qualquer caso, quer a

baixa do juro acarrete ou não um aumento do salário.

61 Para simplificar o exemplo. prescindo dos valiosos serviços do solo: suponhamos que a produçao se realize em terrenos

que não proporcionam renda!

EXCURSO [ 33

[~=.: o novo florins para dois anos = 80 florins, portanto, no total, em 1 080 florins. 62 Por con­
[=~ da mu­
seguinte, o primeiro dos dois processos seria. agora, na realidade, o mais rentável.
r.:::=. se pos­ Todavia, é igualmente claro, à primeira vista, que não foi só agora que ele se tornou
o mais rentável, mas já antes deve ter sido o mais rentável. Pois, sendo a taxa vigente
=~:-:l efeito, de juros 5%, as despesas teriam sido de 1 000 florins de salário, além de 5% de
,...=.:-:nos su­
::::: =.ntes, e juros sobre 1 000 florins durante 1 1/2 ano = 75 florins; portanto, no total, apenas
c :::1tes em 1 075 florins, em comparação com 1 100 florins no caso do método de produção
; :"a situa­ efetivamente empregado até agora. Portanto, é impossível que um processo que apre­
=.::: antigo, senta a mesma produtividade técnica por unidade de meios de produção (dia de
r 2xplicável
trabalho) atenda ao mesmo tempo às duas condições estipuladas.
c=';J:tal que Da mesma forma, isso é impossível com um proceso cuja produtividade técnica
:-:.=. da taxa por unidade de meios de produção fosse ainda menor do que no caso do processo
~:-.:J de ca­
de produção até agora em uso. Com efeito, também nesse caso seria, sim, pensável
E ·Jm mé­
que ele superasse em rentabilidade o processo anteriormente utilizado; todavia, uma
~ ~entável,
vez que no caso a unidade de produto está onerada de salário maior, esta só pode­
ria ser compensada por uma economia ainda maior nos juros; esta, porém, pressu­
'=:::5 os da­
poria um encurtamento tanto maior do período de produção, e um tal processo,
t::- 25sa fór­
com a taxa de juros mais alta, vigente antes, necessariamente teria sido já anterior­
r:2:~a mais mente o mais rentável. 63
2:-:-' ex~m­
Por isso, a necessária "inversão" da relação de rentabilidade só pode ocorrer no
c=~a usual terceiro caso imaginável, isto é, a favor de um processo de produção que ultrapassa
:. ~:OO uni­ em produtividade técnica o realmente utilizado até agora, isto é, com a mesma quan­
:"::--.0 tenha tidade de unidades de meios de produção produz uma quantidade maior de unida­
c.=-: madu­ des de produto. Que tal processo mais produtivo possa agora ser também o mais
C5 ::ie 5%, rentável, não há necessidade de explicar. Mas poderá ele - e como? - ao mesmo
- :"::1idades tempo atender à segunda condição, a saber, que, apesar de sua produtividade téc­
t: .~=.: Ouros
nica maior, anteriormente era o processo menos rentável? Muito simples! Anterior­
:::-5. Supo­ mente ele estava onerado com uma cota de salário menor por unidade de produto,
e ,elativo devido à sua produtividade maior. Para que essa vantagem perdesse sua eficácia,
.-~,á então
e no balanço global pudesse ocorrer a predominância de uma desvantagem, era
x ~ dupla necessário que a despesa de juros para o salário adiantado superasse um montante
~ o mais
ainda superior à economia feita com salário; ora, isso é possível e ocorre no caso
de processos de produção de período de produção correspondentemente mais lon­
:·=-.:,0 pro­ go. Traduzamos isso em cifras para o nosso exemplo. Suponhamos que, além do
i·.,:':') Sem processo realmente em uso, já antes se tenha conhecido outro, que teria permitido
r~.::ção ao produzir, com 1 000 dias-trabalho, 1 020 unidades de produto, ou, o que é o mes­
ê :550 seu
mo, 1 000 unidades de produto com aproximadamente 980 (precisamente 980,39)
dias-trabalho, mas com um tempo de espera médio mais longo de 2 1/2 anos. Os
L·::30. Se,
:-2 2 anos,
~ =-,a fabri­
C-:::5 sobre :)2 Se em decorrência da baixa da taxa de juros o salário tivesse subido, os números absolutos mudariam, mas nâo a pro­
porção. Pois o aumento do salário influiria uniformemente sobre os dois cálculos de custos, tanto no item dos dispêndios
~= ":1S. en­ com salários quanto no item "montante do capital", do qual é preciso computar juros para o tempo médio de espera. A
L'. =- da ta­ única diferença entre os dois cálculos de custos continuaria a ser a seguinte: sobre o mesmo capital incidem, no caso do
:laVO processo, juros durante apenas 1 1/2 ano, ao passo que no caso do processo antigo os juros incidem durante 2 anos.
C:2 1 000
Esta é a razão pela qual no cálculo numérico de nossos exemplos podem prescindir da suposição de um concomitante
2umento de salário.

'3 Por exemplo, um processo que com 1 000 dias-trabalho só produz 980 unidades do produto demandaria, para produ­

zir 1 000 unidades do produto, aproximadamente 1 020 dias-trabalho, portanto um gasto com salários de 1 020 florins.

Se quisermos que, não obstante, seu custo total seja inferior a 1 080 florins (custo do processo até agora em uso, com

:r :.;:: se Con­ "ma taxa de juros de 4%), os juros exigidos para o capital adiantado de 1 020 florins deveriam ser inferiores ao montante
~~ : ~2sumida,
de 60 florins. Essa condição ainda não seria atendida por um processo com tempo médio de espera de 1 1/2 ano, mas
"!': :::.~: quer a
o seria, por exemplo, por um processo com um tempo de espera de 1 1/4 ano. Esse processo, porém, já com uma taxa
de juros de 5%, teria exigido custos de apenas 1 083,75 florins (1 020 florins de salários + 63,75 florins de juros de 5%
;E ~ ~ :errenos
durante 1 1/4 ano), em comparação com 1 100 florins de custo do processo efetivamente usado até agora.
34 TEORIA POSITIVA DO CAPITAL

custos desse processo, sendo a taxa de juros vigente 5%, teriam sido os seguintes:
despesa com salários para 1 000 unidades de produto, 980 florins; despesa com
juros sobre 980 florins para 2 1/2 anos a 5%, 122,5 florins; no total, portanto, 1 102,5
florins, ou seja, 2,5 flprins a mais do que pelo proceso efetivamente usual. Entretan­ -:r- _.~ c =",,"':"'3
to, sendo a taxa de juros vigente de 4 %, os custos do referido processo são os se­ ~:::;-= (
guintes: 980 florins de despesa com salários + 98 florins de despesa de juros sobre iLfT::: -:: - : ==-'
980 florins por 2 1/2 anos a 4%, portanto, no total, 1 078 florins, ou seja, 2 florins c -:::..~ ~.::)
a menos do que exigiria o processo até agora usual com taxa de juros de 4%.
Encontramos, portanto, na realidade, o tipo procurado -- aliás, o único possí­
vel - do método de produção cuja rentabilidade "se inverte"; ele deve ser tecnica­
mente mais produtivo do que o método de produção até agora usual, mas ao mesmo =_::c-.=- .::...: =:;
tempo deve ser mais demorado do que este. Naturalmente, não se pode sem mais EC: :': :: _ --=:1
inverter essa proposição e pretender afirmar, digamos, que todo método de produ­ L,ic::.: ~: -:.:ri
ção que seja ao mesmo tempo mais produtivo e mais demorado esteja justamente =-=C,=,:: -:: :,"_~j
passando por uma inversão: métodos que, sendo de menor monta o aumento de
produtividade técnica, são bem mais demorados. permanecerão os menos rentá­
veis, dentro de' certo limite, também com uma taxa de juros mais baixa, ao passo
que métodos que, sendo significativo o aumento de produtividade, demandam apenas
um prolongamento insignificante do período de produção, terão sido mais rentáveis
mesmo já com uma taxa de juros mais elevada 64 Pode-se, porém, afirmar, como
me exprimi, que todo método de produção cuja rentabilidade se inverte deve ao :e:; . C =__- =="..::.:J
mesmo tempo ser mais produtivo e mais demorad0 65 X: 2:..-~=' -:-. ::~5
Do que ficou dito quero agora tirar duas aplicações. Primeiramente, quero cha­ -:r:: ..;: ~ =:2-:1
mar a atenção para o fato - que de qualquer forma não deixa de ser interessante ~ =-_...: --=~--::~ ::c
- de que as assim chamadas "oportunidades de aplicação menos vantajosas" que, :bt=-:~_'~ ---.-- ~
como se diz na linguagem vulgar, o capital que aumentou é obrigado a procurar
quando a técnica de produção está estagnada, são e na verdade têm de ser, na
maioria predominante dos casos, oportunidades de produção tecnicamente mais van­
tajosas, cuja vantagem técnica só havia sido anteriormente suplantada pela desvan­
tagem do ônus de uma taxa de juros maior, devido à circunstância secundária do
período de produção mais longo. . -::~.,:.:=..:s: -~~.li
Em segundo lugar, gostaria de tirar para meu tema a conclusão final anunciada :-:=- >.: ~ :=.:-.: d
desde o início. Quem não quiser negar o fato, comprovado pela experiência, de que ':::1-: : _-= :. -_:='::..1
o capital que aumenta, permanecendo estacionária a população e também a técni­ --:: _=:-: :i
ca de produção, procura e encontra oportunidades de aplicação menos lucrativas, :: '=:--õ': -õ -õ: ==.:-:1
pelo que dissemos tem também de supor e admitir que, nas condições menciona­ :2-: : =:: :=.'.::..;;;;a
das, deve haver'métodos de produção tecnicamente mais produtivos com período -õ :: - .-::: :20
de produção mais longo, os quais estão à disposição para serem aproveitados pelo =,_=-,: .~:: =1.
capital que está aumentando; em outras palavras, tem de reconhecer a existência,
por mim afirmada, da zona de prolongamentos da produção mais rentáveis, e isto
independente de invenções novas.
Entretanto, esse reforço direto dos motivos de convicção para meu tema não - ..--õ: :-õ~ ::3
é a única vantagem, nem a principal, em função da qual ousei apresentar aos leito­ :i-::=...::.õ-::JI
res uma exposição detalhada tão longa e - quanto a isso não tenho nenhuma ilu­
são - para a maioria deles também tão enfadonha. O que me interessava era expor,

64 Para ser bem preciso, a relação pode ser ass!m formulada, o prolongamento do tempo de espera no caso do método =..:.:::--;::-:: :"~

~~ :.=-.=:-:: :-':~:
"invertido" tem de estar para com a maior produtividade deste numa relação tal que esta última, no caso de a taxa de
"'"':_'3: --="--.:: ~:jm
juros ser maior, tem de ser mais que compensada pelo ônus maior de juros, ao passo que, no caso de a taxa de juros
ser menor, não é totalmente compensada.
65 Mantendo nossa pressuposição de aumento do capital. Se o capital diminuir e a taxa de juros aumentar, nem preciso
afirmar que aconteceria exatamente o oposto. A série da inversão manteria métodos de produção tecnicamente menos
produtivos com período de produção mais curto, que antes eram os menos rentáveis devído a sua produtividade menor,
mas que no caso de aumentar a taxa de juros se tornam os mais rentáveis devido aos juros menores.
EXCURSO I 35
-õ ,,~;'Jintes:
:õ::~"a com não só em termos gerais, mas, com base num exemplo concreto, um assunto como
:-:= : 102,5 o que precisa e ao mesmo tempo exige que se acrescente correta e claramente às
:... =-:-.rretan­ fórmulas gerais, que constantemente estão na boca, o conteúdo dos fatos por elas
:: ".~:: os se­ designados. Considero que uma das falhas mais sensíveis na discussão havida até
":':-~õ sobre agora em torno dos problemas do capital reside no fato de a maioria dos participan­
:.:: 2 florins tes estar tão pouco habituada e treinada para cumprir esse dever, a rigor tão eviden­
:-õ ::2 4%. te, de um raciocínio correto, pois afinal é evidente que, se alguém diz uma coisa,
:.-:::::, possí­ antes de tudo é preciso que ele mesmo saiba claramente e explique com clareza
5-2: :ecnica­ o que diz. Mas, ao passo que não há quase nenhum autor que escreva sobre os
:;: ::: :nesmo problemas do capital e que não opere ocasionalmente com essas fórmulas corren­
:'" S2:n mais tes do aumento absoluto e relativo do capital, da abertura de oportunidade e de
c :2 ;Jrodu­ aplicação mais lucrativas, da passagem compulsória para oportunidades menos lu­
l '..:.õ:amente crativas e similares, inversamente não há quase um único autor que repute necessá­
=_:-::2nto de rio acompanhar essas fórmulas com uma descrição detalhada e correta dos fatos
:.;: -:: õ rentá­ reais cobertos por elas. Isso obviamente porque eles mesmos não encontram nessas
..=: :::: passo fórmulas absolutamente nada que não seja claro ou necessite de explicação. Na ver­
C::::-. apenas dade, a clareza aparente não é afinal outra coisa senão apenas a famigerada clareza
c..." :2:"táveis àas águas pouco profundas. Aliás, dentre as raras tentativas nessa linha, que alguns
~.::: como autores individuais foram obrigados a fazer em determinadas ocasiões, boa parte
:':2 ::eve ao delas ainda caiu no erro: obviamente, devido ao menosprezo das exigências que es-'
sa tarefa impõe, não tanto à força de raciocínio dos autores, mas à exatidão, ao es­
. :: .2:0 cha­ forço e à atenção deles. Somente isso explica certos deslizes que saltam aos olhos
.:-:e:2ssante e que neste campo têm sido cometidos por pesquisadores aliás cuidadosos e pers­
2:,,3S que, picazes. 66 Se, com esse único exemplo elaborado com precisão. eu tiver consegui­
:: :: 70curar do estimular para uma vigilância e um cuidado maiores do que os usuais, estimaria
r: ::2 ser, na que isso é o mais valioso ganho. não somente para nosso tema em pauta, mas tam­
I:", ~- Jis uan­ bém para todo o nosso assunto.
~.:: ::esvan­ Em favor de nosso tema tenho. finalmente, a acrescentar mais um último moti­
c:-:':ária do vo afirmativo de convicção, que a rigor é apenas um argumentum ad hominem,
eficaz somente para quem é adepto de determinada concepção, aliás bem difundi­
~ 3:_:iciada da. NO'caso de alguém que adere à opinião - em qualquer de suas variantes ­
:"'.~:: de que de que a natureza do capital tem algo a ver com uma demora de tempo (abstinen­
t02::-. 3. técni­ ce, waiting, delay, defasagem de tempo entre o presente e o futuro, e similares),
J>5 .:.::::ativas, ;Jarece estranho e contraditório que se oponha ao fato de eu caracterizar a produ­
s ::-.2:Jciona­ ;ão capitalista como uma adoção de métodos indiretos de produção demorados,
:c::-. "Jeríodo 2 à minha teoria das vantagens de utilizar períodos de produção mais longos; por
12::::=8S pelo ::>utro lado, quem - como o fazem tantos - em sua própria exposição da teoria
G e:·.:srência, do capital associa idéias da teoria da produtividade a idéias da teoria da abstinência,
1i·.2's e isto ele mesmo invoca de um só fôlego uma "produtividade maior" que só se pode con­
"eguir à custa de uma "demora temporal": e se tais autores, apesar disso, impugnam
~_ :2::la não ::linha tese da produtividade maior dos métodos de produção mais longos, não es­
te"'::':,s leito­ :ão fazendo outra coisa - assim me parece - senão impugnar justamente a ex­
E-:-:jma ilu­ "Jressão mais clara daquilo que eles mesmos também estão ensinando, ainda que
:c 2:3 expor, ::e maneira menos clara.

c'~ Exemplos particularmente instrutivos se encontram, em meu entender, em Lexis, Landry, Fetter e, em escala menor,
i :"~: =:::l método
o"" Schade. Sobre Lexis terei ocasião de pronunciar·me com precisão no Excurso Il, e sobre Felter e Schade, no Excurso
::=.: :-<= a taxa de ~05S0 tema é diretamente abordado mais de perto por Landry. Não posso deixar de reconhecer expressamente nesse
.. , ,,-,.a de Juros
=_:Dr, sempre engenhoso e cativante, um dos poucos dentre aqueles que sentiram claramente a necessidade de pesquisar
:cmteúdo que está por detrás das fórmulas, e uedicaram bastante empenho a esse trabalho. Todavia, ele não foi feliz
~ - 2::1 preciso
!K~_-~-~e menos
,- sua tarefa - sem dúvida, pelo fato de não ter·se empenhado o suficiente, por haver subestimado as dificuldades. Acre·
: --::' poder abster-me de um a crítica detalhada. Penso que o que estS dito no texto acima contém orientação suficiente
L-:"·- ::=.:::e menor,
:,ê.:c que os leítores que se interessam pelas afirmações de Landry, analisando-as com espírito crítico e atento, detectem,
- ~rno sem comentário específico de minha parte. os pontos em q·ue o próprio autor contradiz a si mesmo ou aos fatos.
o =o.me sobretudo ãs páginas 285·288 de sua obra L'Intérêt du Capital.
EXCURSO II

Relação de Freqüência Entre as Invenções Novas que Prolongam


o Período de Produção Vigente e as que o Encurtam

(Para a Seção I do Livro Segundo da Teoria Positiva)

Na página 10 do Excurso I observei - sem daí deduzir conclusões essenciais


:Jara minha teoria - que aquelas invenções que envolvem um prolongamento do
:>erÍodo de produção até agora em uso são certamente mais numerosas - conside­
,avelmente mais numerosas - do que as que acarretam um encurtamento do pe­
:-:odo de produção vigente. Em contrapartida, alguns autores têm afirmado exatamente
') contrário. Para Horace White, por exemplo, o encurtamento dos processos de pro­
:ução constitui o traço mais marcante e característico do mundo industrial moder­
:'.0. acreditando ele que os dois métodos de produção, os que prolongam e os que
encurtam, dominam juntos o mundo, "mas com uma predominância a favor dos
':;:timos", os que encurtam o período de produção.! E Lexis é ainda mais incisivo
em suas afirmações. Atribui a minha teoria a suposição de que os progressos técni­
=::lS. por levarem ao emprego de máquinas cada vez mais aperfeiçoadas e recorre­
,em a trabalhos preparatórios cada vez mais complexos, via de regra envolvem um
::rolongamento do período de produção, e contesta essa suposição nos seguintes
:ennos: "Gostaria, porém, de afirmar que, desde o início do desenvolvimento cultu­
~l. a tendência do progresso técnico tem caminhado, com sucesso crescente, no
õentido de diminuir, sim, o número de trabalhadores que nas diversas empresas cor­
,esponde a um mesmo capital, mas ao mesmo tempo com um encurtamento do
:e,Íodo de produção". 2

.":.·"ical Science Quarterly. v. VII, março de 1892, p. 143.


_':~,buch de Schmoller, v. XIX, p. 334. Externamente poderia parecer que também Cassei se associe aos ?lutores acima
:--:2 :'05. com uma afirmação até bem decidida:"We may state at once, that there seems to be a general tendency in the
c :~::ion of shortening the periods of production" (Nature and Necessity of lnterest, p. 125.) Acontece que essa afirmação
-.§.: ~l2ve, na boca de Cassei, ter o significado que se deveria pressumir com base em seu teor, pois o autor costuma muitas
. -:=::02 5 utilizar uma terminologia divergente e especial. Por um lado, não entende por "período de produção", via de regra,
:::: __ .J que nós outros entendemos nessa controvérsia, mas - considero isso diretamente desnorteante e lamentável ­
'="'-05 a duração dos diversos estágios de trabalho ou das frações do processo de produção em sua totalidade, ou o tempo
-= :~::. -::qual o empresário tem de Íazer uma despesa em seu "processos de produção'" (op. cil., p. 123 et seq.); e, por outro
.c::: 3.oorda uma parte notável e im-portante dos métodos indiretos de produção que levam tempo, isto é, a construção
-:. =- _:::':zação de meios produtivos de longa duração, como máquinas, instalações fabris e similares, não sob o termo waiting
: ':'aduction, mas sob o termo, terminologicamente oposto, de waiting for consumption (cf. p. 121, nota 6 da Teoria Posi­
!). Considerando que, afora isso, Cassei expressa posições que, do ponto de vista do conteúdo objetivo, são plena­
-"::-~i acertadas sobre nOS50 tema (ver acima, Excurso I, p. 24, nota 40), prefiro não supor que com a afirmação supra
'.::' pretendeu confessar-se partidário da opinião de White e Lexis.

37
38 TEORIA POSITNA DO CAPITAL

o sentido dessas palavras só pode ser o de que Lexis, sem negar a ocorrência =-::
de invenções que "prolongam" o período de produção, supõe uma predominância
tal das invenções que encurtam que do balanço das duas resulta um encurtamento
progressivo dos períodos de produção; e, já que além disso ele supõe que a ten­
dência nesse sentido já começou no início do desenvolvimento cultural e a partir
dali atuou "com sucesso crescente", na sua linha de pensamento os métodos de pro­
dução hoje em uso em todo caso devem ser em média mais curtos do que os prati­
cados no "início do desenvolvimento cultural".
Penso que o erro desse resultado final, que salta aos olhos, por si só é suficient~
para mostrar que devem ter ocorrido vários erros no raciocínio que a ele levou. E
verdade que não conhecemos por autópsia os métodos de produção utilizados no
início do desenvolvimento culturaL mas dispomos de informações bastante precisas
sobre as características dos mesmos, através dos conhecimentos histórico-culturais
e etnográficos que temos sobre eles, mesmo porque certas tribos incultas e atrasa­ =- = : ='-f-:
das ainda hoje conservam a situação reinante "no início do desenvolvimento cultu­ -~-'-:=t~

ral". Pois bem, creio que basta repetir de certa maneira mais popular e mais clara
a questão ora em discussão, para convencer imediatamente o leitor de que Lexis
se deve ter equivocado no tocante aos resultados reais da evolução histórica havida
até hoje. Basta-me perguntar: nossos métodos de suprimento econômico do século ':'_02
XX apresentam mais semelhanças ou mais diferenças com um sistema de "viver ~·"'~~~:1
da mão para a boca" do que os métodos de suprimento dos hodiernos negros do : _" :'ÕI
Sul ou das tribos germânicas do tempo de Tácito ou mesmo da época dos carolín­
gios? Não é porventura evidente, à primeira vista, que os primitivos métodos de
produção dos tempos em que não havia capital ou este era escasso ao menos na
grande média, só podem ter proporcionado seus precários resultados bem imedia­
tamente. da mão para a boca? E porventura as grandes quantidades de "trabalho
executado anteriormente", que estão presentes nos vultosos investimentos de capital
das na~ões ricas e tecnicamente avançadas, e que em grande parte foram "executa­
dos anteriormente" não só para meses ou anos, mas muitas vezes para decênios
e às vezes para séculos, não obrigam inequivocamente a adotar métodos um pouco
mais longos, que hoje levam da mão que trabalha para a boca que consome? Con­
seqüentemente, não será evidente, à primeira vista, mesmo sem uma reflexão pre­
cisa sobre a situação, a nível de princípio, que é impossível que os intervalos de tempo
da produção primitiva, já de início tão pequenos, se tenham encurtado ainda mais,
em medida sempre "crescente", através de alguns milênios?
O próprio Lexis não teria deixado de perceber a evidente improbabilidade des­
se resultado, se tivesse examinado clara e explicitamente os fatos nos quais o mes­
mo devia manifestar-se. Contudo, certos traços da sua argumentação permitem ver
sem dificuldade que, no decurso global desta, o autor sofreu a influência de deter­
minadas idéias obscuras e confusas, que em parte o induziram a confusões e em
parte o impediram de enxergar certas contradições que lhe escaparam.
Antes de tudo, já de saída Lexis começou por não entender os fatos nos quais : '':''.i- = 2
se insere o tema principal da discussão, a saber, o encurtamento do período de pro­ : : --=::'-J
dução, com tanta clareza quanto seria necessária para poder evitar de todo o perigo
de confundir este encurtamento com o encurtamento de outras grandezas de tem­
po, que exercem um papel no decurso da produção. Por exemplo, ele computa sem
mais é1 favor de sua tese o "ganho de tempo" que se "tem conseguido, no decurso
de nosso século, em todos os setores da produção e do comércio, em decorrência
dos novos meios de transporte".3 Não há dúvida de que esse "ganho de tempo", em

3 op. cito p. 334.


EXCURSOIl 39

: :;2:1cia certo sentido, é incontestável e significativo, a saber, no sentido de que com nossos
-:-~:1cia modernos meios de transporte, este último se faz com rapidez incomparavelmente
-:":-:-.ento maior do que sem eles, assim, por ferrovia o transporte se faz mais rapidamente
..;: " ten­ do que por rodovia. Entretanto, em se tratando do tempo médio de espera envolvi­
" :Jartir do nas atividades dedicadas ao transporte de mercadorias, certamente não se po­
õ :,:; pro­ de, por outro lado, esquecer a contrapartida dos tempos de espera extraordinariamente
: 5 ;n-ati- longos, exigidos pelos estágios preparatórios do transporte por ferrovia, da constru­
ção das ferrovias, da fabricação das locomotivas e dos vagões, incluindo as condi­
_':ent~ ções prévias para estas, a saber, as fábricas de máquinas e suas instalações e também
':;', :)'.1. E a extração de carvão para mover as locomotivas, e assim por diante. Concluir dire­
:,,::,3 no tamente, do fato de que se trafega com mais rapidez pela ferrovia pronta, para um
:= ~ ecisas encurtamento de todo o "período de produção" em questão, significa, portanto, co­
-: _.:·.1rais meter o mesmo erro que se cometeria, em se tratando da fabricação de roupas,
.;: ,,:,asa­ ao concluir, do fato de que com máquina de costura se cose mais rapidamente, que
:: :ultu­ o método indireto de fabricação é mais curto, quando na realidade é mais longo;
',,5 clara significa confundir a duração do estágio final de um processo com a duração do
T •
: _,:; LeX1S processo inteiro. Contra esse erro já adverti explicitamente antes, no decurso da Teoria
:" :-_covida Positiva 4
:: 32culo Além disso, em seu raciocínio Lexis confunde os dois conceitos basicamente
:,:; -\'iver diferentes de "tempo de espera" e "tempo de trabalho"_ Por exemplo, para explicar
..: :,':)3 do que os progressos na técnica de fabricação de máquinas não necessariamente pre­
~ ~c:wlín­ cisam vir acompanhados de um prolongamento do período de produção. pede que
-:: :')5 de ·se considere que a fabricação de uma máquina mais eficiente não precisa custar
:-_2 :-.:)Sna mais tempo do que a de uma máquina menos perfeita". Na verdade, para que o
-::-:-:edia- argumento seja cogente, ele evidentemente deve ter pensado no tempo de espera.
-,::,c:::alho Mas ele logo fundamenta e parafraseia essa afirmação com estas palavras, que se­
:.;: :apital guem de imediato: "O espírito inventivo descobriu uma forma nova e mais adequa­
-2:~eC1Jta­ da, mas a conformação do material segundo a mesma não precisa exigir mais trabalho
:,:;:ênios do que o que antes se precisava despender para o meio de produção menos pro­
i-=-_:Jouco dutivo". Eis que aqui o pensamento visivelmente derrapou para a categoria tempo
~,:;~Con­ de trabalho. 5
pre­
E'",';.'J Entretanto, a prova mais contundente de que Lexis esteve longe de ter uma
:empo
c,:; idéia clara do alcance de suas premissas e conclusões está na sua suposição de que
::" mais, o encurtamento sucessivo do período de produção, por ele afirmado, vai de mãos
dadas com uma "diminuição" do "número de trabalhadores que corresponde a um
:,,:e des­ capital igual"6 Eis aí a autocontradição evidente! Pois "a diminuição do número de
:5 : mes­ trabalhadores correspondente a um capital igual" significa dotar o trabalhador com
~ __:2m ver uma cota maior de capital, ou o aumento da cota de capital per capita; isso, por
:2 deter­ sua vez, significa - como exponho com todos os detalhes nos Excursos I e V e
:.,;< e em como, segundo entendo, é diretamente evidente - que na relação entre trabalho
corrente, presente, e trabalho antigo executado anteriormente, a relação entre o tra­
"_: 5 quais balho executado anteriormente e o trabalho corrente se altera em favor do primeiro;
c :::e pro­ portanto, para cada trabalhador ocupado no trabalho presente, se fez com que an­
I : :Jerigo Teriormente trabalhassem mais trabalhadores, ou então trabalhadores em número
~ :e tem­ :gual mas durante um tempo mais longo; em suma, significa que se prolongou a
;:-.::a sem duração média do método de produção. E, no entanto, Lexis supõe que o progres­
/ :ecurso
c:::ência
r:-_;:;o. em
c Ci. Teoria Positiva, v. I, p. lU et seqs.

, Quanto a isso, ver minha exposição mais detalhada nas "Strittige Fragen", p. 17 et seqs,

: -.".?f a citação verbal na Teoria Positiva. v. I~ p. 62.


40 TEORIA POSITIVA DO CAPITAL

so técnico revela esse sintoma inequívoco de períodos de produção prolongados,


"porém simultaneamente com encurtamento do período de produção"17
O que dissemos até aqui mostra com suficiente clareza que Lexis foi induzido
por considerações equívocas a emitir um juízo errôneo sobre a evolução havida até
hoje: desde o início do desenvolvimento cultural nossos métodos de produção cer­
tamente nem sempre foram encurtados mais ainda, pelo contrário, a evolução cer
tamente começou com um prolongamento dos métodos de produção.
Mesmo assim, porém, se poderia ainda perguntar se White e Lexis não teriam
talvez razão quanto ao futuro: isto é, se a esse processo de prolongamento não de­
verá talvez novamente seguir um processo de encurtamento, que, com o ulterior
::~
progresso da técnica, tenderia a reconduzir novamente a duração dos processos à
rol
dimensão das épocas primitivas e a aproximar novamente nossa produção, não no
tocante à produtividade de seus resultados, mas no tocante à duração de seus pro­
cessos, à produção momentânea e sem capital, o que naturalmente não iJoderia "

ocorrer sem que houvesse ao mesmo tempo uma nova diminuição do capital cons­
tituído por um "trabalho executado anteriormente".
Não se pode afirmar que tudo isso seja pura e simplesmente impensável; em
última análise isso depende de desenvolvimentos técnicos, e em relação a estes te­
mos todos os motivos para ser muito cautelosos com a palavra "impossível". Toda­
via, mesmo sem termos a faculdade de fazer profecias sobre o que a evolução técnica
nos pode trazer, podemos constatar que características especiais esta teria de, apre­
sentar para poder conduzir a esse resultado: e quem quiser pode, também, baseado
nestas nossas constatações, formular uma conjetura sobre a probabilidade ou im­
probabilidade de tal evento.
::_ .J
Naturalmente, o caminho que leva a esse evento teria de passar por um acú­
:..i::l!
mulo de invenções que encurtam, e, diria, de invenções autênticas que realmente
encurtam o perÍodo de produção, e não de invenções que só encurtam um estágio
individual do processo, e em compensação torna necessária a intervenção de ou­
~~
tros estágios, mais longos, como as ferrovias e as máquinas de costura, ou então
:~
de estágios que encurtam, sim, o tempo de trabalho, mas não o tempo médio de
espera, no sentido por mim explicado. E se o evento quiser ser um encurtamento
~i
contínuo, sempre crescente, do período de produção, naturalmente teriam que
:'ir:~
suceder-se, umas às outras, séries inteiras de invenções, com efeito encurtador cada
:Z::il
vez mais intenso.
Não cabe dúvida de que isso é possÍvel; mas é inegável que isso se torna tanto
mais difícil, e por isso também mais improvável, quanto mais avançado já estiver
o processo de encurtamento. Se um período de produção, que no estágio atual da
técnica leva três anos, tiver sido encurtado para dois anos, em virtude de uma in­ -
-.;r
,
,

venção que encurta, e se, a seguir, tiver sido encurtado para um ano em virtude
de uma segunda invenção desse gênero, e em virtude de uma terceira tiver sido ~ ~-11j

encurtado para meio ano, é claro que fica notavelmente limitada a margem ainda
aberta para outras invenções que encurtem. Certamente continua ainda a ser teori­
.::~ 1
~

camente possível que uma quarta, uma quinta e uma sexta invenções possam re­ ;::.~
duzir ainda mais o período, de meio ano para meio mês, para meia semana e mesmo

_.D

7 Schade, em Anna/en de, deutschen Reichs, 1906. p. 270, quer vir em auxílio de Lexis, afirmando que suas palavras
"o número de trabalhadores correspondente a um capital igual" teriam sido entendidas pelo autor como sendo "o número
de trabalhadores necessários para fabricar o mesmo item de capital". Não creio que Lexis tenha motivo:; para expressar
qualquer reconhecimento por uma tentativa de interpretaçâo que contradiz tanto ao teor quanto ao sentido da passagem
e.m questão. Em contraposição, Spiethoff afirma sem rodeios que "'as objeções levantadas por Lexis, se analisadas com
maior cuidado, se apresentam como interpretações errôneas". (Die Lehre vom Kapital, p. 47,)
EXCURSO II 41
: .. ;Jdos, para meio dia, mas isso se torna cada vez menos provável; em contrapartida, torna­
se cada vez mais provável o inverso, a saber, que uma invenção nova, que aumente
-:..Jzido a produtividade do trabalho, em comparação com o curto período de duração al­
~;..::a até cançado, não caia mais do lado das invenções "que encurtam", mas do lado das
:: _ ::OJ cer­
"que prolongam", e que, por conseguinte, a duração do período de um ramo de
.:::'::::J cer­ produção que já sofreu repetidos encurtamentos, se inverta em seu curso, no senti­
do de voltar a prolongar o período de produção. Isso é provável pela mesma razão
- ~:: :2riam evidente, em virtude da qual, no jogo de dados, é mais fácil e mais provável um
:: -~J de- lance de oito pontos ganhar nos lanches subseqüentes do que um lance de apenas
: _::2fior quatro ou três pontos: ou pelo mesmo motivo pelo qual, na extração sucessiva de
~: :" 350S à
vários números de uma roda da fortuna com 90 números, é mais provável que o
:'::: :-~o no
segundo número extraído seja inferior ao primeiro extraído, se o primeiro extraído
: ~';':3pro­
tiver sido o número 80, do que se o primeiro número extraído tivesse sido o núme­
~: ::::::::!eria
ro 10, o 5 ou o 2. 8 Conseqüentemente, um encurtamento progressivo dos perío­
':::::::. cons- dos de produção acabaria, mais cedo ou mais tarde, por colocar ele próprio um
limite a si mesmo, por meio de obstáculos crescentes, mesmo que - como pressu­
-3:::'.2:: em pusemos tacitamente até agora, neste raciocínio - todo sucesso de uma invenção
:: ",3:"S te­
c. ",- Toda­
que encurta significasse realmente já um encurtamento do período médio de pro­
dução efetivamente vigente na economia nacional.
;~: :.2cnica
Acontece, porém - e com isso abordo uma tendência contrária que é ainda
,::: =2 apre­
incomparavelmente mais importante -, que o efeito das invenções que encurtam
:: c :::3e.ado de modo algum vai tão longe; já antes ele encontra forças contrárias de outro gênero.
:::" ::'J im- As invenções que encurtam afetam inicialmente apenas determinado processo
de determinado ramo de produção. Nesse seu campo de atuação especial, na reali­
' . . :':: acú­
dade elas substituem um processo até agora mais longo pelo processo mais curto
:2.=.::nente recém-inventado. Com isso ficam liberados - como expus no devido lugar 9 ­
:...:': 23tágio montantes parciais daqueles meios de subsistência que até agora eram necessários
;;~: :e ou­
para dotar um método indireto mais longo, ou seja, segundo a concepção popular,
_ :...: 2ntão partes do "capital" até agora investido no respectivo ramo de produção. Que aconte­
j .e:io de
: ' :•
ce com essas parcelas de capital liberadas? Será que elas permanecerão para sem­
:_~'='::lento
pre ociosas? Certamente que não; procurarão uma aplicação rentável, em algum
:=::-.::::-:1 que ;Jonto da economia nacional em que ainda houver tais aplicações lucrativas. Ora,
~=C" cada :al aplicação se abre em todo ramo de produção que, em época antiga ou recente,
::ver sido atingido por alguma invenção vantajosa que prolongue o período de pro­
EC :~. c. tanto dução e que ainda não tiver sido aproveitada até o fim. O encurtamento de um
: ~ 2stiver ;Jrocesso de produção, uma vez bem-sucedido, abre uma oportunidade para execu­
êC ::::Jal da
:ar um prolongamento - que aumenta a produtividade e que até agora era inexe­
:,,"'::-:1a in­ :üível por falta de recursos - de outro processo de produção e, por conseguinte,
::::-. ·,:rtude :co balanço geral e na média, os métodos d~ produção adotados na respectiva eco­
! :::',2, sido
:1omia nacional não se tornam mais curtos. E possível, por exemplo, que o processo
~2::-. ainda :a fabricação do aço seja tão simplificado e encurtado, em razão de uma nova in­
ê. ~e, teori­
':enção, que a produção do aço demande a vinculação de um capital menor do
): 33am re­ :''Je até agora; nesse caso, porém, o capital de que se passa a dispor talvez procure
ê" :-:lesmo

. Contra essa comparação talvez se objete que no jogo de dados e na. roda da fortuna as chances não sofrem e não po­
:,;:Tl sofrer nenhuma influênc1a, ao passo que os técnicos Inventores asplram deliberadamente a um encurtamento do pe­
-':-:10 de produção, em razão do ganho nos juros, a ele associado. Tenho de reconhecê-lo, mas ao mesmo tempo importa
E : _::.: ?alavras -':-. êr em conta que o objetivo principal da invenção é melhorar a produtividade do trabalho, e que a importância dessa me­
.- :: : lúmero - :;ia costuma pesar muito mais para o resultado econômico global do que a duração do período de produção, de modo
: :-_= 2xpressar :;-2 os inventores normalmente não têm motivo para evitar um prolongamento não excessivo do período de produção.
~: :::;: 2.ssagem
=- ~ :Jualquer forma, esse fator não tem peso sufiCIente para inverter em sua direção o movimento das chances resultante
-=--=_~::::as com
:3 ;>robabilidade matemática, que ele quanto muito pode diminuir.
- =:"curso I, p. 19, nota 24, e p. 20
-------------~~---_ ..-_ .. _.... -----_.. _.

42 TEORIA POSITNA DO CAPITAL

:,.-:;- - --.:.. ­
e encontre aplicação em instalações de irrigação ou de drenagem para fins agríco­
las, ou para incrementar a adubação artificial, ou na fabricação de motores a gás
para artífices, ou para equipar hotéis com elevadores, e assim por diante, enquanto
em algumas dessas aplicações, mencionadas à guisa de exemplo, ou das inúmeras
outras não mencionadas, houver possibilidade de auferir alguma vantagem de pro­
dução associada a um prolongamento do método indireto de produção, que até
agora não pôde ser realizado somente por "falta de capital"; e enquanto ainda hou­
ver alguma dessas possibilidades, os encurtamentos de produção bem-sucedidos se
compensarão automaticamente com prolongamentos da produção por estes possi·
bilitados, e simplesmente não ocorrerá um encurtamento do período médio da pro­
dução nacionaL
- :~:
Presumo que tarto White como Lexis deixaram de levar em conta essa contra­
partida compensatória dos encurtamentos de produção bem-sucedidos, e por essa
razão, com excessiva precipitação, baseando-se no aumento de invenções que en­
curtam, afirmaram um crescente aumento do encurtamento do período de produ­
ção a nível nacionaL Não há dúvida de que, como observa Lexis muito corretamente,
"a técnica sempre procura encurtar o período de produção", e é certo que nesse seu
esforço ela consegue um êxito significativo e até "crescente", no sentido de que au­
menta sempre mais o número absoluto das invenções que encurtam (até porque
~"--'-~,~
também as chances para um encurtamento bem-sucedido aumentam tanto mais quan­
to maior for a duração que já tiverem atingido os métodos de produção efetivamen­ -" :c:.\­
te utilizados, e essa duração, ao contrário do que supõe Lexis, tem aumentado _-:T:- - :: ''":1
constantemente, desde o início do desenvolvimento cultural); acontece, porém, que
o efeito que todas essas invenções que encurtam poderiam ter exercido sobre a du­
ração do período médio de produção nacional foi e é até agora sempre totalmente
absorvido pejos novos prolongamentos postos em prática, possiblitados pelos recur­
sos poupados com os encurtamentos. Diria até que os métodos de produção sem­
pre foram, em média, ainda mais prolongados, na medida em que o aumento do
capital nacional (per capita da população) tem oferecido os recursos para isso. Efeti­
vamente, até agora o andamento da duração média do período de produção nacio­
nal não tem sido determinado pela relação numérica entre invenções que encurtam
e invenções que prolongam, mas - uma vez que nunca houve falta de invenções
que prolongam e que ainda não foram aproveitadas - sempre e apenas pelo an­
-
_"....,-=-
~.. -­
.=- :-r.::
damento da formação do capital nacionaL
Como deveriam ser as coisas, para que não pudesse mais ocorrer tal compen­
sação do efeito de encurtamentos da produção bem-sucedidos?
Também aqui se faz mister precaução e cuidado no julgar. Sem dúvida, seria
muito natural pensar que para isso bastaria tão-somente que as invenções que en­
curtam não tivessem sucesso apenas esporadicamente em alguns ramos de produ­
ção, mas em todos eles - o que certamente não estaria totalmente fora das
possibilidades da técnica. Poder-se-ia pensar que, nesse caso, em todos os ramos _:-=~---=--=

os processos até agora mais longos seriam de uma vez substituídos por processos
novos, mais curtos, não podendo então deixar de acontecer que também a média
da duração da produção nacional se encurtasse, mesmo porque nesse caso todos
os ramos de produção, sem exceção, liberariam excedentes de recursos investíveis,
para os quais pareceria já não haver ramos capazes de absorvê-los.
Contudo, essa idéia seria errônea, e com isso passo a abordar um ponto tão
importante quanto interessante do ponto de vista dos princípios.
Que significam afinal as palavras: "uma invenção que encurta é bem-sucedida"?
Simplesmente este fato: descobre-se um novo processo, que é mais curto e mais
vantajoso do que o processo efetivamente em uso até agora. Ora, isso de modo
EXCURSO II 43

al:jum é a mesma coisa que afirmar que o citado processo é "mais curto e mais
=-;rlco­ 'Jantajoso do que qualquer outro processo que se possa imaginar"; pois bem, é pre­
õs .:: gás cisamente em torno dessa diferença que versa toda a nossa questão. Ilustremos es­
- =~anto sa diferença e seu alcance prático por meio de um exemplo numérico.
. : -:-,eras Suponhamos que um processo até agora em uso para fabricar determinado pro­
":2 pro­
duto apresente um período de produção de três anos, e que ele remunere cada
=_2 até dia de trabalho despendido com 10 unidades do produto. Consegue-se agora fazer
.::" 'lou­ uma invenção bem-sucedida, que remunera o dia-trabalho com 12 unidades do pro­
.:::::JS se duto e além disso reduz o período de produção a um ano. O novo processo é mais
:::: :Jossi­ curto e mais vantajoso que o antigo, e por isso certamente será preferido ao anti­
::=. pro· gO.lO Mas já significará isso que ele será preferido a qualquer outro processo, e que
portanto justamente esse processo de um ano de duração, com a produtividade de
: : :'ltra­ 12 unidades de produto por dia-trabalho, será e permanecerá o que ocupará o lu­
: : r essa gar do processo suplantado?
.:: _2 en­ Isso estaria garantido se - e obviamente só então - o novo processo inventa­
: ::r:Jdu­ do fosse, em termos técnicos, absolutamente o melhor de que se tem conhecimen­
~-=.-:-.2nte,
to agora, após a invenção - isto é, se não se tivesse conhecimento de absolutamente
2==2 seu 'lenhuma variante do mesmo ou de outro processo, da quaL prolongando-se o pro­
:: _2 au­ cesso, se pudesse conseguir algo a mais, em termos de aumento do produto por
:: :rque dia-trabalho, mesmo que esse aumento fosse extremamente pequeno. Se, ao con­
:..s =.'-Jan­ trário, se tivesse conhecimento, com base nas novas conquistas da técnica, por exem­
:'. =-:'len­ plo, de uma variante do processo recentemente descoberto, a qual permitisse, com
:-.2 :-.:ado
um prolongamento do período de produção para dois anos, uma produção de 12.3
~- que
unidades por dia-trabalho, e de uma segunda variante, que. aumentando-se o pe­
,,2 :: du­ ríodo de produção para três anos, permitisse aumentar o rendimento do dia-trabalho
para 12,5 unidades do produto, imediatamente surgiria o problema de uma esco­
c:.::.-:-.ente
:: 5 ,2cur­ lha: será que, se em lugar do processo antigo (com período de produção de três
:2::: sem­ anos e 10 unidades do produto por dia-trabalho) - processo este a ser indubitavel­
:2-:0 do mente substituído -- se deve introduzir o novo processo inventado, com um perío­
5: E=:feti­
do de produção de um ano e 12 unidades de produto, ou a variante com período
~: -:acio­
:le dois anos e 12,3 unidades de produto, ou a variante com período de produção
~:-':..:rtam
de três anos e 12,5 unidades de produto por dia-trabalho? E poderia talvez concor­
,.2:-.ções rer com essas possibilidades ainda uma quarta: um processo com período de pro­
~-2_~ an- dução de dez anos e 12,6 unidades do produto por dia-trabalho, processo este do
qual já se tinha conhecimento ao tempo do processo antigo, mas que na época,
.: -:-.?en­ apesar de apresentar mais vantagem do ponto de vista técnico, não se podia pôr
em prática, em razão da "falta de capital".
:" seria Com base em que critério se haverá de optar? Quanto a isso não pode haver
:":2 en­ dúvida alguma: o que decidirá será a rentabilidade econômica; está é determinada
2 ':: :odu­
pela taxa de juros vigente, e esta, por sua vez, é apenas um sintoma de ação inter­
r:',:: das mediária da escassez ou abundância dos estoques de "capital" (rede: de meios de
subsistência) disponíveis na respectiva economia nacional em relação às oportuni­
~ ,::mos
r: :2SS0S dades existentes de prolongamentos da produção lucrativos. Se na economia na­
c ~édia
cional houver oportunidades suficientes para prolongamentos lucrativos da produção
~: ::Jdos para ocupar todo o "estoque de capital" disponível em aplicações que remuneram
.-.2 s:: '.-eis,
um retardamento de um ano do resultado de trabalho em uma proporção maior
do que na de 12 : 12,3 (= 100 : 102,5), e se em conseqüência se fixar uma taxa
::-::) tão
- Isso já aconteceria se o novo processo inventado apresentasse apenas a mesma vantageOl do ponto de vista técnico
c2::da"? 2 fosse mais curto; nesse caso a vantagem econômica decisiva já seria assegurada pela economia nos juros, em decorrência
::J encurtamento.
: 2 mais

~ :'lodo

44 TEORIA POSITIVA DO CAPITAL

de juros de mais de 2 1/2%. ter-se-á que escolher, em nosso ramo de produção


específico, o método de produção de um ano com a produtividade de 12 unidades
de produto: todas as variantes de duração mais longa são inexeqüíveis e não-rentáveis
devido à "falta de capital". Se as demais oportunidades disponíveis na economia na­
cional, de efetuar prolongamentos da produção de um ano com um aumento da
produtividade de 100 : 102,5, não fossem suficientes para ocupar todo o estoque
de capital da nação, mas este fosse absorvido pelo fato de se descer a oportunida­
des menos produtivas, que, porém, ainda permitissem um aumento de produtivi­ I.

dade maior do que na proporção de 12,3 : 12,5 (= 100 : 101,6), a taxa de juros
se fixaria entre 2 1/2 e 1,6%, e sob a influência dela se teria de escolher o método
de produção de dois anos com a produtividade de 12,3 unidades de produto, ao
passo que para os métodos de produção de duração mais longa novamente o capi­
tal seria "por demais escasso" e a taxa de juros seria "cara demais", e assim por
diante. II
Suponhamos agora que em nossa economia nacional da nova invenção que
encurta, com a escassez de capital correspondente, a taxa ôe juros vigente tivesse
sido de 4%, e que a invenção que encurta afete apenas um único ramo de produ­
ção, não muito amplo em comparação C0m a economia total: nesse caso temos --'
uma probabilidade infinitamente grande de que a liberação de capital nesse ramo
de produção não será suficiente para fazer a taxa de juros em toda a economia na­
cional descer abaixo de 2 1/2%. Em razão disso, na prática se introduzirá e se man­ -~,-<-2
terá por tempo indeterminado a invenção que encurta, em seu tipo original não
alterado (período de produção de um ano com 12 unidades de produção por dia­
trabalho). Em contrapartida, as variantes tecnicamente ainda melhores, conhecidas .: -~
mas de duração mais longa, permanecem excluídas por tempo indeterminado, em
razão da escassez de capital".
Que aconteceria, porém, se, na linha da hipótese a ser por nós investigada ­
certamente bem pouco provável, mas mesmo assim tecnicamente possível -, to­
_1
dos os ramos da produção fossem de uma vez afetados por invenções análogas que
i encurtam? A maneira mais simples de se concretizar essa hipótese seria a seguinte:
I todas as suposições que até agora formulamos para um ramo de produção se con­ r'''' .
1 cretizariam para todos os ramos de produção, de uma vez e de forma igual; conse­
1 qüentemente, um exército de invenções paralelas que e;1curtam permitiria encurtar,
1
i
em todos os ramos de produção. o período de produção atual, de (literalmente ou
j
I em média) três anos para (literalmente ou em média) um ano. e com isso permiti­
riam aumentar a produtividade do dia-trabalho. de 10 para 12 unidades do produ­
to, Paralelamente a isso. suponhamos que se tenha conhecimento agora de que em
todos os ramos de produção existem variantes do processo que permitem. em to­
dos eles. com um prolongamento para dois anos, conseguir uma produtividade diária
de 12,3 unidades do produto, com um prolongamento para três anos, uma produti­
vidade diária de 12,5 unidades do produto, e com um prolongamento para dez anos. -
_ =l
uma produtividade diária de 12,6 unidades do produto.
Se agora, analogamente ao que acontece no caso da invenção isolada que pro­ -- é -:3i
longa, se introduzisse absolutamente em todos os ramos de produção. o período ~ -:: ]

11 De propósito torno meu exemplo mais enfadonho lJelo fato de não invocar exclusivamente o estado da !axa cejuros
(o que seria plenamente suficiente para decidir sobre a rentabilidade dos diversos métodos de produção). mas introduzir
na argumentação também os motivos determinantes últimos da própria taxa de juros - ao menos in nuce. Assim proceco
para eliminar peja raiz uma objeção :Tluito querida a críticos superficiais. Com efeito, costuma-se com muita facilidaue le·
vantar a objeção de "círculo vicioso" se na fundamentação de uma teoria que ao final leva a explicar também o próprio
jur-o, se fizer referência ao juro - sem verificar com mais preCisão se essa referênCIa OCorreu em contexto que de fato justifi·
que a objeção de círculo vIcioso. Contra essa objeção quero preven:r-me a priori.

EXCURSO li 45

=:==ução de produção de um ano em lugar do de três anos até agora vigente, ficariam libera­
_-::iades dos 2/3 do capital total até agora investido na produção nacional. 12 Esses 2/3 ha­
':",cáveis veriam de procurar uma aplicação lucrativa, Pela suposição feita, para isso não teriam
==-=-,:a na- outras oportunidades senão os citados novos prolongamentos do período de pro­
-"'.TO da dução, com os aumentos de produtividade também mencionados. Teria agora de­
: ,,::TOque saparecido o motivo que anteriormente impossibilitava a concretização deles. Não
=:-:'Jnida­ há outras oportunidades de aplicação ainda mais remuneradoras e que rivalizem,
=:= Jutivi­ que poderiam atrair com prioridade melhor todo o capital da nação, e por essa ra­
': :2 juros zão também a alta taxa de juros, que anteriormente as excluía, baixa para um nível
= =-=-,étodo a ser agora novamente fixado. O novo equilíbrio surgirá quando os 2/3 liberados
=::"::0, ao do capital nacional tiverem encontrado sua aplicação por meio da introdução da
:" J capi­ variante mais longa de três anos (a de dois anos supriria e amarraria apenas um
::::::::0 por dos 2/3 liberados e continuaria a deixar pendente outro terçol), e em razão disso
a taxa de juros se tiver fixado em 1,6%. A variante de dez anos, de duração ainda
-=30 que mais longa e que remunera com um aumento de produtividade relativamente mui­
-:2 :'vesse to pequeno, continuará excluída devido à "falta de capital".
::" ;Jrodu­ O resultado final seria, portanto, que, apesar de um sucesso universal de inven­
:::: = Temos ções que encurtam o período de produção, o período de produção da sociedade
,,::::2 ramo como tal não teria sido encurtado, mas se teria fixado no nível até agora vigente
-, : :-:,:a na­ de três anos. O tipo original mais curto das invenções que encurtam teria sido então
" ::2 man­ novamente abandonado em favor de sua variante mais longa, ou - no caso ideal
:::'.al não de uma configuração totalmente "sem problema", que já representaria diretamente
,~ -:or dia­ o resultado final - teria sido completamente preterido; tudo isso, sob uma condi­
=-:".ecidas ção: que o novo processo inventado seja, sim, tecnicamente melhor que o até ago­
,,-::::10, em ra em uso, mas não seja tecnicamente o melhor imaginável, que simplesmente não
possa ser superado em produtividade técnica por nenhum processo mais longo, qual­
c;;:;ada -­ quer que seja ele.
:'.2. -. to­ Até onde costuma chegar, na realidade, o alcance de invenções bem-sucedidas
~.: ;as que que encurtam o período de produção? Somente até o modesto ponto de sobrepu­
" ::eguinte: jar tecnicamente o processo mais longo em uso, ou mais além, até o ponto máximo
~: ::e con­ absoluto, que domina tudo, até o ponto de sobrepujar tecnicamente qualquer pro­
_:: .. conse­ cesso mais longo imaginável? Creio que a experiência e a reflexão fazem com que
ê ~ :'.curtar, esta última hipótese se apresente de imediato como improvável. Antes podemos
L=-=-,ente ou enunciar a seguinte proposição, que talvez seja paradoxal na sua formulação, mas
::: :Jermiti- que logo se torna evidente, se explicado seu conteúdo objetivo: a regra da maior
:=' ;Jrodu­ produtividade técnica de métodos indiretos e mais longos de produção, tal como
c" :;ue em a expliquei, não suspende seu efeito por um momento sequer, nem mesmo em
,=-=-. em to­ relação a uma invenção que encurta; ela mantém sua validade, sem interrupção
e::::2 diária e sem abrandamento, mesmo no campo mais peculiar da invenção que encurta,
::: ::roduti­ a saber, naquele processo específico que acaba de nascer por intermédio dela.
:: ::2Z anos, Como imaginar isso? Quero mostrá-lo primeiro com base num exemplo, aliás,
intencionalmente um exemplo que um de meus opositores citou como tipo de uma
::: ::ue pro­ invenção que indubitavelmente encurta. 13 Ele diz respeito à extração do óleo. Até
= :Jeríodo agora o óleo era extraído pelo método indireto da pesca da baleia. ,Construíam-se
navios, estes eram equipados, tripulados e enviados para o oceano Artico para pes­
car baleias, de cuja gordura se extraía o óleo. Agora se faz a feliz descoberta de que
-.: ,_::, de juros
-;.~ ::ltrocluzir
..:.~: -:. 'Jrocedo
-, '''<Idade le, l::! Nessa inves1igação ao nível dos pricípios creio poder passar por cima das dificuldades de transição que retardam essa
-:-:: - J próprio "liberação", pois elas em nada alteram o resultado, mas apenas o prazo dentro do qual esse resultado ocorre.
,-;. _'" :ato justifj- 13 WHITE, H. Op. cit., p. 136. A exposição que segue no texto já foi por mim apresentada, em contexto semelhante, em
minhas "Strittige Fragen", p. 34 et seqs.
46 TEORIA POSITIVA DO CAPITAL

em casa, talvez a poucas milhas do local de consumo, se encontra o óleo pronto


no subsolo, em grande abundância, bastando apenas perfurar o lençol de petróleo.
Temos aí certamente um caso óbvio de uma simplificação do processo, que está
associada a um encurtamento considerável do período de produção, em relação ao _, _.,-=,:.-1:
processo complexo e longo da pesca da baleia.
No entanto, igualmente óbvio é também que o próprio aproveitamento dessa
invenção que encurta, desde o primeiro momento, é regido pela regra de que os
métodos indiretos de produção mais longos ajudam a conseguir um produto maior.
Ou será que o método mais direto de perfuração, isto é, empregando diretamente
a força humana, ou, na melhor das hipóteses, com pá e picareta, ou com broca
manual, é o mais produtivo? Porventura não é muito mais produtivo adotar o méto­
do indireto, construir uma broca acionada à máquina mecânica e acioná-Ia ou com ~r
--~ -~

uma máquina a vapor ou com energia hidráulica conduzida para o local, ou com - -~-~.
energia elétrica, conseguida mediante a conversão de uma energia hidráulica locali­
zada perto ou longe'? Ou então qual é o processo mais produtivo: transportar o pe­
tróleo extraído do local da perfuração para o local de consumo pelo método direto,
utilizando um veículo costumeiro que transita na estrada costumeira (cuja constru­
ção, aliás, já significa também ela um "método indireto"!), ou então, utilizando pri­
meiro muito trabalho já executado anteriormente, construir uma ferrovia, ou quem
sabe instalar um sistema de tubos, pelo qual o petróleo extraído é levado para a
cidade sem necessidade de carga e descarga'? Em suma, a despeito da invenção, - .. :: _.3
e no próprio campo da invenção, é manifesto que permanece verdadeira e atuante,
na prática, a regra de que métodos indiretos mais longos acarretam uma produtivi­
dade maior. 14
Ora, não temos absolutamente nenhum motivo para supor que outros casos
de invenções que encurtam o período de produção apresentem natureza diferente.
As comportas de nosso conhecimento técnico, por motivos que me empenhei em
expor com o máximo cuidado em outro lugar desta obra, 15 estão atopetadas de ci­
ma até em baixo de conhecimentos de vantagens de produção, adquiridos há mui­
to tempo ou recentemente, vantagens estas que poderiam ser colhidas através de
uma transformação dos métodos de produção, aliás em uso, recorrendo a mais ca­
pital e a outros métodos indiretos e longos, e que só não puderam até agora ser
efetivamente colhidas devido ao obstáculo da insuficiência de capital. Sem dúvida
é pensável, mas pouquíssimo provável, que um novo processo inventado, que en­
curta o período de produção em relação ao processo em uso até agora, tenha ca­
racterísticas tais que em todo o seu decurso não possua absolutamente nenhum ponto
"; =- - ,I.:
de partida técnico ao qual seja possível associar algum dos numerosos e variados
- -~-
tipos de prolongamentos vantajosos da produção que se pode associar a cada um
- =i::1

14 SCHADE. Op. cit, p. 270. Acredita ele dever objetar à minha exposição o seguinte comentário, à guisa de despacho
sumário: "Como se, ao se mudar o sistema de extração de petróleo, se tivesse começado adotando o método .mais primiti­
vo! A única coisa que pode estar em discussão é se, quando se começou a perfurar petróleo. de acordo com O estágio
da técnica de então, o petróleo foi extraído em período mais curto do que o óleo de baleia.~ Confesso que não consigo
perceber a lógica que une essas duas proposições entre si e com o tema em discussão. Justamente se, na época em que _ :.-a
se começou a perfurar para extrair petróleo, se deixou de usar os métodos mais primitivos, que certamente não eram então
desconhecidos, por exemplo a perfuração com enxada e picareta, e em vez disso logo se começou com um processo me
nos primitivo e mais longo, temos aí a melhor prova de que já no momento da invenção se estava diante não só de um
único processo possível mas de vários tipos diferentes de processos ou variantes de perfuração de petróleo, os quais apre­
sentam uma "duração" e uma produtividade diferentes, no sentido da minha concepção. O saber com qual dos métodos
da série completa - todos eles conhecidos ao mesmo tempo -, métodos estes que a técnica oferece como alternativas
opcionais, se começa realmente, e o saber se e quantas das variantes "mais pobres de capital" se há de preterir, tudo isso
é um fator para cuja decisão é decisivo saber até que ponto se dispõe de capital.Em todo caso, não é verdade que a única
coisa "'em discussão" seja saber se o primeiro processo utilizado para extrair petróleo do solo era mais curto do que o
empregado para obter o óleo de baleia' ­
15 Excurso I, p. 13 et seqs.
EXCURSO II 47

:: "J~onto dos processos hoje em uso. Diria que teria sido preciso, como no caso da Hidra de
=~:~óleo. Lema, não somente haver amputado uma cabeça, mas ter cauterizado o próprio
=":2 está local em que a cabeça assentava, e de tal maneira que ali não houvesse mais possi­
·~:õ=ao ao bilidade de crescer nova cabeça. Não bastaria que o novo método inventado fosse
mas curto do que o em uso até então, mas teria de ter a propriedade de, no ponto
- :: :iessa no qual ele uma vez encurtou, fazer desaparecer e fracassar todas as inumeráveis
-::" =.·Je os chances que prolongam o período de produção. Ora, até agora parece que não há
_:: :c, aior. exemplo de invenções que tenham essa peculiaridade. Mesmo as invenções que
:,,:,::-::ente encurtam e são as mais bem-sucedidas não constituem um non plus ultra de inven­
-:::-:-. ::Jroca ção, senão que logo abrem lugar a variantes que aperfeiçoam, para cuja concretiza­
':: : :néto­ ção, na maioria dos casos, de modo algum se precisa esperar por novas invenções,
': -:: J com mas apenas por acréscimo de novo capital, que possibilite sua implementação. 16
: j com Observamos diariamente que processos de invenção nova patenteados, que são uti­
.:': :ocali­ lizados em diversos estabelecimentos autorizados a empregá-los, de modo algum
::-:::~ o pe­
são incorporados em dispositivos de fábrica totalmente idênticos, senão que logo
: =: ::.reto, são alterados em seu equipamento técnico, em aspectos principais e secundários;
:õ : ::lstru­ lá onde uma fábrica usa energia a vapor, possivelmente uma outra usa energia hi­
'=::-.::0 pri­ dráulica transformada em eletricidade, uma terceira pode aperfeiçoar a energia hi­
: _ quem dráulica disponível mediante construções hidráulicas artificiais, tubulações, instalação
::_ ::lara a de reservatórios destinados a represar e coletar a água e instalações similares, que
-.2i)ção, por sua vez estarão ausentes em outras empresas; uma empresa pode inserir estei­
" :õ:..;ante, ras rolantes movidas eletricamente, entre as diversas partes de sua fábrica, quando
: :~::iutivi- uma outra se contenta com fazer o transporte com carroças puxadas por cavalos;
a própria fábrica pode ser construída com graus diferentes de solidez e durabilidade
_-=--:: ô casos (construção de madeira ou de pedra; escoadouros de água de tipo comum, ou ci­
': ::2~ente. mentados, ou feitos com blocos de pedra) e assim por diante; por outro íado, várias
=,,:-.~ei em outras melhorias, já hoje conhecidas de todos, possivelmente sejam por ora adiadas
~=:Õô de ci­ por todos para tempos futuros, em que a taxa de juros estiver mais baixa.
.: ' -2, mui­ Lá onde as coisas decorrem assim ou de maneira semelhante - e pessoalmen­
:õ-=-,,','és de te teria problema em citar um único exemplo em que as coisas decorram de outra
I :õ :-:-.ais ca­
forma -, na hidra do processo de produção logo cresce novamente a cabeça am­
2 :õ:ora ser putada. A técnica, que já tem novamente conhecimento de métodos melhores e
"":---: :iúvida mais longos, dá o estímulo para isso, sendo que o elemento alimentador é o capital
:: :::Je en­ liberado pelo encurtamento bem-sucedido e que procura aplicação no organismo
; :2:-.ha ca­ da economia. Se o elemento alimentador disponível não acarretasse crescimento
,:-._:-:", ponto orgânico, a técnica teria de impedi-lo decididamente: com efeito, todos os métodos
" '.criadas de produção mais longos, pelos quais o elemento alimentador poderia ser recebido
:õ : da um e processado, teriam de ser tecnicamente piores (ou, no mínimo, tecnicamente não
melhores) que aquele método encurtador que levou à SUe eliminação. E se o eJe­
s..:: :,,: :-2spacho
:nento alimentador, rejeitado em um ponto, não fosse avidamente acolhido e utili­
.=: ~ ::0..5 prim:ti­ zado pelo organismo em outro ponto, para produzir um novo crescimento, cada um
.estágio :ios inúmeros ramos de produção e cada um dos inúmeros processos de produção
-:. - c:onsigo
. ~--:: - :.:: 2m que
:eria de estar coroado por tal invenção categoricamente encurtadora e de caráter
-,~ ~ ,:::'":'::l
então :onclusivo: em parte alguma a técnica já não teria conhecimento de algum proces­
o:- :+ = :e:;so me­ 50 mais longo que sobrepujasse a última invenção em prod utividade!
~ - ~ = ~S ce um
- ~ =. _ô,is apre­
~_ :: ~ :-:1étodos
r - ~ :.?~nativas - ::'ssa proposição não contradiz ao afirmado na página 41, a saber, que toda invenção encurtadora libera capital e que,
~~-. :-Jdo isso __ ~ conseguinte, imediatamente depois do sucesso de uma invenção encurtaciora, deve haver capital disponível para um
ib:~ :'_2 a única -".:) prolongamento. Pois o novo prolongamento do processo que acaba de ser encurtado pode ser menos lucrativo do
=-_:-:: :0 que o : _-2 outros prolongamentos possíveis de outros processos de produção. Nesse caso, naturalmente o capital liberado será
". ":ldicado por estes últimos, sendo que o primeiro, na mesma linha que outros prolongamentos que oferecem lucro igual,
-: ~ :J8de ser concretizado quando houver um aumento positivo do capital da nação
48 TEORIA POSITIVA DO CAPITAL

Que as coisas possam evoluir dessa forma, repito, é possível. Tal evolução, e
só ela, poderia, por motivos do desenvolvimento técnico,17 levar a um novo encur­
tamento duradouro e progressivo do período médio da produção nacionaL A pro­
babilidade de ocorrer esse tipo de evolução depende da probabilidade da ocorrência
das condições às quais ela está vinculada. Elaborar com toda a clareza essas condi­
ções, face às vagas conjeturas de White e de Lexis, foi a tarefa - de modo algum
supérflua, segundo me parece - que me propus no presente Excurso.

_.e-~ c..~
?-:...:-...:~id.

j=zr;:: ~.~
J!!,- ~-4 d"

' . :; :SCJ
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3.:.2 : . =':-'í
:-~ -::: -":1

=> -~-...,
-~=: '~

-f~ -= -= ~.s..= :
- ': -,';~" -- - -­

17 Em contraposição a motivos do lado do acúmulo de capital: uma nação que voltasse a empobrecer naturalmente seria
obrigada a tornar a adotar métodos de produção mais curtos, mas em compensação inferiores do ponto de vista técnico
EXCURSO III
.:ção. e
:-.: 2ncur­
=. :~ pro­
L': :::ência
õ=.õ condi­
::::: 31gum

Certas Objeções Metodológicas Contra a Minha Tese da Maior


Produtividade dos Métodos Indiretos de Produção Mais Longos

(Para a Seção I do Livro Segundo da Teoria Positiva e para


as p. 24 et seq. do Excurso I)

Na discussão literária em torno da tese acima citada, objeções de caráter meto­


dológico ou pertinentes à teoria do conhecimento têm desempenhado um papel
talvez não muito claro, mas que sem dúvida não deixam de ter influência. Elas fo­
ram levantadas primeiro por Lexis, mais tarde por r. Fischer, não sem variantes inte­
ressantes, sendo além disso ulteriormente divulgadas por muitos outros, simplesmente
através de citações de aprovação, sem que tais autores tenham feito uma exposição
própria. Todas elas partem da dificuldade ou impossibilidade de determinar com pre­
cisão a duração dos períodos médios de produção, aos quais se refere minha tese,
e com base nesse ponto de partida procuram despertar ceticismo contra a citada
tese como tal, apenas com algumas diferenças de detalhe. Vejamos primeiro o que
diz Lexis.
Exprimindo o conteúdo de minha tese em termos matemáticos como o "princí­
pio do nexo funcional entre a duração do período de produção e a produtividade
do trabalho", levanta ele a seguir a questão da possibilidade de prová-lo e objeta.
nesse contexto, que não é "evidente como se poderia, com base na experiência,
obter a função p (o montante do produto do trabalho, com determinada duração
do período de produção) para os diversos setores da produção, tanto mais que em
cada produção é preciso começar com a produção dos meios de produção (e por
que não também com a produção dos instrumentos que serviram para a fabricação
dos instrumentos utilizados?)". 1
Rapidamente e com facilidade nos entederemos acerca dos fatos que estão à
Jase dessa objeção. Pois não tenho problema algum em admitir - como já insinuei
:\0 texto de meu livro - que na prática realmente esbarramos com grandes dificul­
dades - na maioria dos casos, até com dificuldades insuperáveis - para determi­
:lar com exatidão o "período médio de produção" ou o "período médio de espera"2

Jahrbuch de Schmoller. v XIX, p. 334.


- Quanto ao sentido desses dois conceitos e a relação entre eles, ver Teoria Positiva do Capital. v.I, p. 115 et seq,

r.~ _-;. -:-:ente seria


, ~:a técnico. 49
50 TEORIA POSITIVA DO CAPITAL

que corresponde a determinado processo de produção. Lexis está coberto de razão:


não se pode, no caso, levar em conta apenas os dados do último estágio da produ­
ção - provavelmente fáceis de serem analisados -, no qual o respectivo bem de
consumo é fabricado, mas se deve também incluir no cálculo da média as cotas de
trabalho que beneficiam esse bem de consumo - dos meios de produção despen­
didos em sua fabricação, juntamente com seus respectivos períodos de tempo; e
para se poder, por sua vez. fazer isso com precisão, impõe-se remontar também aos
dados e cotas análogas dos meios de produção empregados para produzir esses
meios de produção e. além disso, remontar aos meios de produção que serviram
para produzir os primeiros meios de produção, e assim por diante - e após percor­
rermos alguns passos nesse itinerário de investigação, os dados ainda mais remotos
continuarão a escapar à comprovação. Quem ousaria ainda pretender determinar
com exatidão que fração do tempo de trabalho que se empregou na fabricação de
determinado marteh deve ser atribuída à confecção de um casaco de tecido cosido
com uma máquina de costura, casaco este cuja fabricação se utilizou um martelo,
martelo este em cuja fabricação houve a cooperação daquele primeiro martelo'? Por
conseguinte, na realidade e na prática, nunca se poderá falar - ou pelo menos
isso só será possível nos mais raros casos de exceção - de uma medição a poste­
riori exata desse período médio de produção.
Em contrapartida, creio que, na maioria dos casos, tecnólogos experientes cer­
tamente conseguem uma idéia apenas provisória e aproximativa da duração do pe­
ríodo médio de produção. Com efeito, as contribuições muito remotas e que se perdem
totalmente na escuridão do tempo, via de regra também perdem rapidamente im­
portância de acordo com o seu grau de distância (se, por exemplo, nosso martelo
-;~
coopera na fabricação de 10 000 outros martelos, e um destes últimos colabora na
~',-;~~ -di
fabricação de 10 000 máquinas de costura, e uma máquina de costura coopera na
"~:;:; -;";""j:: ~~':',.:::J
fabricação de 10 000 casacos, é apenas de um bilíonésímo a minúscula parcela que
~ -'-~~;::.:"~:'
entra no cálculo de produção de um casaco, de um dia de trabalho que talvez tenha
custado a fabricação daquele martelo); por isso, tais contribuições só influirão sobre
a média em medida insignificante, ao passo que a grandeza da referida média de­
-',::-". :.od:
pende sobretudo da grandeza e da distribuição, a ser avaliada com precisão sofrível,
das contribuições de trabalho prestadas nos últimos anos. Além disso, quanto à to­
talidade de todos os produtos somados, o período médio de produção pode ser
,':'::'r'~", .,~
determinado ainda de outro modo - aliás, também aqui, com uma segurança muito
=-~ :-,C1l
aproximativa. Com efeito, na medida em que - conforme mostrei em minha Teo­
ria Positiva, em outro context0 3 - a duração do tempo médio de espera, que os ::r,.:, : -: ::JJ!

produtores de uma nação podem impor-se, é determinada pelo montante do "fun­


do de subsistência" nacional - que coincide aproximadamente com a soma do ca­
pital e dos bens de consumo existentes na nação - e uma vez que, além disso, "3'
:::::~" ~',,::--: i
na prática a margem que esse montante permite para o prolongamento dos perío­
dos de produção costuma ser plenamente aproveitada, pode-se, partindo do mon­
tante da riqueza da nação, fornecido pelas estatísticas, tirar certa conclusão - sem
dúvida cautelosa - sobre a duração média dos períodos de produção em um país
(que, naturalmente, por motivos técnicos é muito diferente para as diversas espécies
de produtos). Todavia, os dois tipos de conhecimentos - como também admito
de muito bom grado -, em razão da pouca atenção que se tem dispensado a esse
aspecto do problema. até agora só podem ser considerados adquiridos em grau bem :~, ::It'·- ..:::;

reduzido. lir ~I'!~:~':,~, ,i


lilllI~II\'I~II~'l:1iII! --:i1!III
:1~:".:.iIIIiICit.,'JCliIJ
Imw' "]rr,"':::l;L,,~J'''b;<IIl:t:iiilll
i !' ~ :::'
M111 11

3 Na 2~ ed. alemã. p. 337·345 lil~ 't'~


EXCURSO li! 51
=,2 ra7iío: Pois bem, que é que se pode concluir dessa situação, para nosso problema?
:.': ::Jrodu­ Certamente se poderia concluir dela uma reserva bem séria contra a possibili­
:jem de
dade de demonstrar empiricamente minha tese, se esta afirmasse alguma determi­
, ::ltasde
nada relação numérica entre a duração do período de produção e a grandeza do
::2spen­
produto do trabalho: se, por exemplo, eu tivesse elaborado o esquema numéric0 4
:~ :-:1pO; e
muitas vezes utilizado em meu livro com a intenção e a pretensão de que em deter­
~:2maos
minado ramo da produção ou na média de todos eles, em determinado momento
_:::r esses
realmente se pode conseguir, com período de produção de um ano, um resultado
'aviram
de 350 unidades de produto ou de valor, com período de dois anos, um de 450,
:' ;Jercor­
com período de produção de três anos, um de 530 etc., ou então, também, se mes­
" :emotos mo sem afirmar a ocorrência de determinaGas cifras absolutas, eu tivesse afirmado
,2:aminar
a existência de alguma determinada relação numérica entre a duração do período
-.::::.cão de
de produção e o montante do produto; se, por exemplo, eu tivesse afirmado que,
:: ~osido
dobrando o período de produção, dobra também o produto, ou então não dobra,
:. -:'lartelo,
mas aumenta pela metade, ou de um quarto, ou de alguma outra determinada cota
::-:2 lo? Por
ou número proporcional. Quero de muito bom grado reconhecer que realmente se­
:.: menos
ria difícil imaginar, para uma afirmação destas ou semelhante, uma prova pela ex­
: :: poste­
periência, sem antes constatar numericamente tanto as durações concretas dos
períodos quanto os números indicadores do produto dos mesmos; exatamente as­
~",~_tes cer­
sim como, por exemplo, o princípio de que a intensidade da luz diminui ao quadra­
;i:: do'pe­
do com o aumento da distância, por via empírica só pode ser demonstrado se depois
x perdem
que se tiver condição de medir efetivamente e com precisão tanto intensidades con­
C:-.2:lte im­
::retas da luz quanto distâncias concretas."
;: martelo
Ocorre que não afirmei nada de semelhante. Pelo contrário. com o máximo de
:: .=-::Jora na
ênfase imaginável rejeitei tal interpretação de minha tese e do esquema utilizado pa­
c ::Dera na
ra sua explicação. Esclareci expressamente que nesse campo não há possibilidade
a:-::'2Ia que
:Je estabelecer nenhuma espécie de cifras determinadas: nem cifras determinadas
L-.2Z t8nha
absolutas nem cifras relativas. A única determinação numérica afirmada por minha
L:-~O sobre
:2se é a de que um prolongamento de um período de produção leva a algum au­
r2dia de­
mento de resultado, (, se bem que esse aumento de resultado seja de grandeza su­
ã:: 50frível, ::essivamente decrescente.;
lk:o à ta­
Cabe agora perguntar se também para convencer-se dessa tese com base na
l ::;:Jde ser
experiência não há outro meio senão basear-se em um conhecimento positivo exa­
~::a muito
:0 da duração numérica dos períodos de produção correspondentes aos diversos
r:~~a. Teo­
:pos de processos técnicos e dos produtos do trabalho que se pode consegUir com
r-=-. que os
2les.
t.:: :0 "fun­
Lexis parece supô-lo, pois conhecia todas estas minhas explicações expressas,
,r.C do ca­
,2 ~o entanto persistiu em formular sua objeção. Se, porém, supôs isso, em todo
J-2:-:1 disso,
:350 não se preocupou ulteriormente em fundamentar esta sua suposição; ele ape­
C::5 perío­
~,as "atirou" sua objeção, mas não a explicitou. E isso vale também - é preciso que
:: ::0 mon­
ã:: -sem
1:". 'j m país
t= espécies ',·'er, po~ exemplo. Teoria Positiva. Na 1 ~ ed. alem~, p. 402 et seqs
':ertamente não todas, mas um número sU7iciente delas, para dai: se poder deduzir com alguma segurança uma lei em
'r admito
: ':1ca
'-::: a esse . Tecria Positiua do Capital. v.l. p. 112.
::-:-au bem - 2ste último complemento restritivo já não e~1tra em questão aqui, uma vez que Lexis cer:amente não pretenderá contes­
..::.;" a restrição expressa por ele. Aliás, é de admirar que te:1ha surgido também a seguinte varicmte: um autor crítico, sem
: -,vidar de minha tese básica de que prolongando os métodos indiretos de produção se pode conseguir aumentos de pro
: Jtividade, põe em dúvida apenas a cláusula restritiva aposta à mesma, referente à· tendência à diminuição desse aumento
=-' produtividade. (Prol. MACVANE, em seu estudo, "Bbhm·Bawerk on Value and Wages". In: Quarter1v Journal of Econo·
- cs. Outubro de 1890. p. 24 et seqs., sobretudo p. 35 et seqs) PelSO que essa variante na realidade lão signi:ica outra
: _.sa senão a suposição de que as árvores crescem até o céu Ver também minha réplica no Quartp.r!v JOllrna/. Janeiro
_é 1896, p. 143 et seqs
52 TEORIA POSITIVA DO CAPITAL

o diga abertamente uma vez no interesse de nossa ciência - para muitas outras obje­
ções metodológicos que hoje com tanto grado e tão facilmente se entremeiam nos
mais diversos campos da teoria econômica. Há um tipo dessas objeções que gosta­
ria de qualificar de "discussões metodológicas". Em vez de solucionar um problema
teórico de natureza concreta em seu próprio terreno, com os argumentos objetivos
pertinentes, entremeia-se uma objeção de caráter metodológico e dessa forma se
procura desviar a discussão para outro campo, que costuma ser bem amplo. Con­
forme o caso, isso pode ser plenamente justificado e até inevitável, creio, porém,
não ser injusto exigir que em tal caso aquele que levanta a objeção metodológica
no mínimo diga com precisão por que e contra o que a formula - que ele mesmo
mostre o fio metodológico até 0 ponto em que e com tanta clareza que se possa
ver exatamente o tipo e o ponto em que a objeção metodológica incide na argu­
mentação objetiva para cuja contestação ela é formulada. Simplesmente lançar um
escrúpulo metodológico, que não se explicita, se não que com ele em geral apenas
se suscita uma postura de ceticismo contra uma proposição que se ataca - sem - -:. -':. - -­
---- - - ,
dúvida não com a intenção do semper aliquid haeret, mas muitas vezes com esse
resultado -, considero isso um procedimento pouco digno de imitação e ao mes­
mo tempo como uma inversão indevida do ônus de provar: quem formula uma ~ - - -~

objeção metodológica no mínimo tem o dever de deixar claro aonde quer chegar
com seu raciocínio, e não exigir do outro que se aventure a esmo para dentro do
oceano de discussões metodológicas e nesse oceano procure cada conjetura possí­
vel e lute contra ela.
Teria' ficado muito grato a Lexis, portanto, se ele de alguma forma tivesse reve­
lado também os motivos intermediários por q~e haveria de ser indispensável, para
a demonstração de minha tese - apesar de ela não ter nenhum conteúdo numéri­
co determinado -, uma definição numérica das durações dos períodos que ocor­
rem na prática. Na falta dessa indicação por parte de Lexis, no interesse da questão
quero acomodar-me e excepcionalmente também adotar o método de inverter o
ônus da prova: quero, portanto, de minha parte, tentar expor que é possível convencer­ ------
se empiricamente de minha tese, mesmo sem efetuar medições numéricas exatas, -
e até possível atingir essa convicção por mais de um caminho epistemológico de
natureza inteiramente empírica.
Antes de tudo, é fácil ver que se pode chegar ao juízo simples de que o resulta­
do de produção de um método indireto mais longo sobrepuja o de um mais curto,
já com base em avaliações puramente comparativas, sem qualquer medição real
das respectivas durações dos períodos e das cifras indicadoras do resultado. Tam­
bém nesse caso ocorre exatamente o que acontece no exemplo análogo acima adu­
zido, do juíw sobre as intensidades luminosas. Se eu quisesse verificar por via empírica
a tese numericamente especializada de que a intensidade da luz diminui ao quadra­
do à medida em que aumenta a distância; que, portanto, dobrando a distância, a - ~ - - -­
------
intensidade luminosa é de apenas um quarto, e triplicando a distância ela é de ape­
nas um nono, e assim por diante, eu teria certamente que poder medir exatamente
tanto as distâncias quanto também as intensidades luminosas, utilizando eventual­
mente aparelhos fotométricos especiais. Se, porém, se tratar de verificar a tese sim­
ples de que, aumentando a distância, a intensidade luminosa diminui, sem que se
diga em que proporção, nesse caso a verificação empírica dessa tese é feita por qual­
quer pessoa que, transitando à noite pela rua, primeiro tem de chegar mais perto
da luminária da rua para poder ler uma carta. Ela não precisa saber a quantos pas­
sos de distância da fonte luminosa está aqui, onde consegue ler a carta, e a quantos
passos da fonte luminosa estava antes, no ponto em que ainda não conseguia ler
a.carta; tampouco ela precisa saber a quantas "velas normais" a intensidade lumino­
EXCURSO III :J2

sa corresponde no caso: e todavia tanto para ela como para qualquer outra pessoa
.: _=-3.S obje­ é evidente que agora sua distância da-fonte luminosa é menor e que essa distância
~'":3.m nos
menor corresponde uma intensidade luminosa maior.
; :..>2 gosta­
Pois bem, da mesmíssima forma, em se tratando de nossa questão, em inúme­
r. ;=~:)blema
ros casos é absolutamente evidente que certos métodos produtivos são mais demo­
c, : "::jetivos rados que outros. mas também mais produtivos. Para julgar que a pesca com anzol
Sê. :xma se requer mais preparação e proporciona maior resultado que o simples recolher pei­
r::::J Con­ xes atirados pelas ondas na praia, e que a pesca com rede, por sua vez, é mais
'E.: porém,
demorada e mais prod utiva do que a pesca com anzol, na verdade não se precisa
le=:::ológica nem ter um conhecimento numérico de quantas horas, dias ou meses exigem os
2.ê mesmo trabalhos preparatórios da confecção do anzol, da construção dos barcos de pesca,
lE 52 possa
da confecção das redes e assim por diante, nem de uma estatística de produção
C2 :-'.a argu­ numericamente exata desses diversos tipos de processos. Basta a simples medição
e .3.:1çar um visual para ensinar-nos, aqui e em inúmeros outros casos, pertinentes aos mais di­
te:?. apenas versos ramos de produção, em casos que também são suficientemente numerosos
303 - sem para permitir ver uma tendência típica no sentido de que o prolongamento dos pe­
~ oom esse
ríodos de prod ução favorece um aumento do resultado da produção.
o '" ao mes­ Este último conhecimento pode ser obtido também mediante uma segunda via
~~la uma
de conhecimento, independente da anterior, e que apresenta uma peculiaridade par­
C,,:,?; chegar
ticularmente interessante do ponto de vista metodológico. Com efeito, enquanto a
~ :2nt~0 do
primeira via do conhecimento, que acabamos de apresentar, embora sem pressu­
Í'"=:..:~a possí­
por uma medição exata, pressupõe, no mínimo, a formação de um juízo comparati­
vo, por mais rude que seja, sobre grandezas que se referem ao processo produtivo
t',ê5se reve­ inteiro, a sua duração e a sua produtividade, a segunda via de conhecimento não
rs§.\el. para exige nem sequer tal conhecimento aproximativo das referidas grandezas globais:
J~o, numéri­
não se precisa, literalmente, ter sequer uma idéia, nem da duração total do período
)'5 c.'Je ocor­
de produção, nem da grandeza do produto que nele se pode em média obter com
! :.:: questão
uma unidade de trabalho por vez. para se poder juntar comprovações empíricas to­
i.2 ::-,:;erter o talmente confiáveis de que, em conformidade com minha tese, mediante um pro­
~. oJ:1vencer­
longamento do período global, se pode também obter um aumento do produto.
~03.5 exatas,
Essa afirmação talvez pareça estranha, mas é absolutamente manifesto que ela
T: : :ógico de é correta. Também aqui, a melhor maneira de demonstrar isso é recorrer a uma
analogia. Um riacho serpenteia em numerosas curvas através de um vale que apre­
Li2 J resulta­ senta um declive suave, até derramar-se na planície. Um proprietário de terra, que
I ~.a:s curto, gostaria de colocar em movimento um moinho, mas para isso o declive atual do
[2 ::cào real riacho não é suficiente, encurta as curvas do riacho, no trecho que passa pelo seu
l-=.'::~ Tam­ terreno, dando ao riacho um leito novo e retificado nesse trecho de seu curso, con­
I 3::;:-]a adu­
seguindo assim, nesse trecho, um declive maior, suficiente para movimentar o moi­
'.=3 empírica nho. Nessas circunstâncias, duas coisas são claras como a luz do sol. Primeiro, é
: 3::; quadra­ de todo evidente que, só com base nesse fato, se pode afirmar e saber com confiabi­
:.5tància, a lidade completa que também o curso total do riacho foi encurtado, mesmo que não
:!2 2 de ape­ se tivesse a mínima idéia do comprimento total desse curso - mesmo que, por exem­
2'.3.tamente plo, esse curso nunca tivesse sido medido, não tivesse jamais sido assinalado em
L eventual­ nenhum mapa geográfico; e até mesmo nem sequer se soubesse onde o riacho nasce!
r 3. tese sim­ Nem mesmo é necessário que se saiba de quanto o curso do riacho foi encurtado
se::: que se naquele trecho: se de 300 ou de 600 metros, ou de qualquer montante que seja,
±:3. ;:lar qual­ desde que se saiba ou se veja que o curso foi encurtado nesse trecho, evidentemen­
r '":".ais perto te sem com isso afetar o comprimento do curso superior e do curso inferior; sabe-se
[:" 3.:-'. toS pas­
também que em sua totalidade o curso foi encurtado. Em segundo lugar, não é me­
'" 3. quantos nos claro que o declive do riacho, no global, foi aumentado. Se o declive de um
J:-'5eguia ler trecho foi aumentado e no curso superior e no inferior permanceram inalterados
a:ê lumino-
54 TEORIA POSITIVA DO CAPITAL

o comprimento e a distância vertical, portanto os elementos do declive, é claro que


deve ter sido aumentado o declive total, resultante da média de duas grandezas par­
ciais inalteradas e de uma que se tornou maior; também aqui, para emitir esse juízo,
não se requer nem a mínima idéia concreta da grandeza absoluta do declive que _ 1

o riacho apresentava, antes ou depois.


Pois bem, exatamente esta é a situação da questão que nos ocupa. Mesmo que
só se enxergue uma parte do processo total de trabalho, via de regra é totalmente
claro em que sentido determinadas alterações técnicas que se fazem nessa parte de­
vem influenciar o processo global. Se, por exemplo, na alfaiataria o trabalho manual
de um contingente maior de oficiais for substituído pelo trabalho mecânico de um
contingente menor de oficiais, ou, para falar mais corretamente, se a atividade de
alguns oficiais de alfaiate que trabalhavam no último estágio do processo global que
leva a produzir roupas for substituída pela atividade de vários mineiros, trabalhado­
res em indústria siderúrgica, construtores de máquinas e similares que trabalham !ilü:n
direta e indiretamente na fabricação de máquinas de costura, portanto em um está­ -"é!:
gio de produção bem anterior, é, sem mais. evidente que em virtude dessa altera­ ":"'UT
ção necessariamente foi prolongado o tempo médio de espera do processo produtivo ~. =
global da produção de roupas. Mesmo que não tenhamos absolutamente nenhuma -;lt{ 1
idéia - nem tenhamos nenhuma preocupação de tê-la - sobre quão longo é o
período de produção constituído globalmente pelas atividades - que se mesclam _ :JiL
. ...
umas às outras - dos agricultores que produzem a lã bruta, dos fiandeiros que con­ '~
feccionam o fio, dos tecelões que com o fio fabricam o tecido, dos construtores de
máquinas que produzem as máquinas de fiação e os teares, dos trabalhadores de
construção que produzem os edifícios de fábricas, dos inúmeros outros trabalhado­
res que produzem os instrumentos e materiais auxiliares necessários, finalmente dos .:lii 1
alfaiates que confeccionam as roupas prontas, é claro como um axioma que a subs­ ::;;~

tituição de tais trabalhadores que trabalhavam imediatamente antes da fabricação


do produto final pronto para o consumo, e portanto trabalhavam com um tempo
de espera mais breve, por outros trabalhadores que têm de trabalhar em estágios
técnicos anteriores, portanto com um tempo de espera mais longo, é claro que tal
substituição tem de fazer aumentar. no global, o tempo médio de espera. Similar­
mente, é também claro que, se a citada mudança tiver provocado um aumento da :l!II!!!!li
produtividade do trabalho dentro da parte na qual ocorreu, deve ter aumentado :l!Ii!!
também a produtividade média do trabalho no processo produtivo global. Mesmo
que aquilo que conseguimos observar seja apenas que se poupou trabalho na parte
atingida pela mudança - por exemplo, pelo fato de a atividade de cada três oficiais
de alfaiate, que se tornaram dispensáveis, é compensada pela atividade de cada
dois trabalhadores ocupados na produção de máquinas de costura - já é claro que
a parte que se tornou mais produtiva, junto com as partes que permaneceram inal­ ':::::DI!
teradas - qualquer que seja o grau de produtividade absoluta delas -, tem de cons­ 3'liI'
tituir uma média de produtividade maior do que antes. "5!lIIi
Ora, a experiência não deixa de oferecer abundante material de prova similar, íil!!!!!Jl
a partir do qual se podem reconhecer. da maneira indireta mas inequívoca que aca­ "'T'iíi!!!l
bamos de descrever, prolongamentos do processo de produção e aumentos da mé­ '"'lIII!I
dia de produtividade como suas seqüelas, sendo que a abundância desse material
permite convencer-nos por via empírica de que realmente prolongamentos do pe­
ríodo de produção, no sentido da tese por mim afirmada, costumam ou não levar
a maiores resultados na produção, sem que para isso seja necessário conhecer e
':­
medir diretamente, por um lado - o que não é possível, na realidade -, os perío­
dos de produção em sua totalidade, e, por outro lado, as cifras médias indicadoras
d~ produtividade e ligadas aos citados períodos de produção. Por conseguinte, não ' 'CHIlIlI''
EXCURSO 1II 55

:::: que -.3Via justificativa para levantar contra minha tese o citado escrúpulo ligado à teoria
"::.:::s par­ =a conhecimento - mesmo prescindindo do fato de que minha tese se baseia ain­
,.o :·.lízo, :3. em numerosos outros fundamentos, diversos da verificação empírica direta, aliás
_."" que :: Cmica atingida pelo citado escrúpulo.
De maneira geral, I. Fisher endossa as afirmações de Lexis com uma citação
-.: que =e aprovação." Não obstante, porém, em um parágrafo de sua obra The Rate of
:::-:-.2nte "::erest - parágrafo que no Indice vem intitulado "Crítica do Conceito de um Período
::::':2 de­ '.lédio de Produção Definido por Bohm-Bawerk" - objeta em particular que esse
-ô.:1ual ~eu conceito carece de uma definição suficiente para servir de base para as condu­
:2 um o ::es que pretendo basear nele 9

: ; :::=2 de Fisher começa por citar a explicação numérica que na página 114 et seq. do
. ::::. que t2Xto dei sobre meu conceito do tempo médio de espera, respectivamente do "pe­
:::.::ado­ :'ado médio de produção",1O e constata que a média que tenho em mente é a as­
::::: ..-,am :m chamada "média aritmétic'a ponderada" dos matemáticos (weighted arithmetical
_-. 2stá­ ·-·:ean). Diz, porém, que há ainda muitos outros métodos de tirar uma média; há,
ô. ::.[era­ ::; or exemplo, médias aritméticas, geométricas e "harmônicas", as quais muitas vezes
:: :.ltivo ,e distinguem essencialmente da média empregada por mim; entre outras coisas,
,- -.uma :::) mesmo exemplo numérico no qual eu chego a uma média de 5,6 anos de tem­
-;: é o ::; a de espera, eu atribuiria a média geométrica obtida de O anos. E por isso Fisher
:."",:lam :::redita dever primeiro ainda fazer-me esta pergunta: por que motivo considero que
:_"" con­ : método correto para tirar uma média é o método por mim utilizado?!!
~: >.?s d'e Também a Fisher eu teria sido muito grato se tivesse revelado os motivos inter­
:::""sde -.ediários pelos quais nessas suas afirmações e perguntas baseia a objeção que le­
':::.--:::do­ . ô.nta sobre a "carência de definição" (Iack of sufficient definite ness) de meu conceito
,-:"" dos =2 tempo médio de espera. De minha parte devo confessar abertamente que não
, ::: O'.lbs­ : :::nsigo ver nenhum nexo entre o tema que pretende provar seus argumentos. Com
:::::3ção ""ce:to, que tem a ver a multiplicidade dos conceitos de média existentes com a defi­
- :""mpo - .ção ou indefinição de meu conceito de média se, como é efetivamente o caso,
"" ::§gios ~.l não me limito a simplesmente mencionar uma denominação de sentido poliva­
: _e tal ."":1\e, mas assinalei como sendo meu conceito de média, de maneira totalmente
::.-..-:'Iar­ -equívoca, determinado conceito de média, e o defini com explicações numéricas
.2.--:0 da ::;:ecisas que juntei à denominação? Porventura não assinalei meu conceito com tanta
r""".rado ::;,ecisão e clareza que o próprio Fisher nem por um momento sequer teve dúvida
'-12smo :2 que minha média é uma "média aritmética ponderada"? E porventura a própria
,.:: ::;,arte ::; agunta de Fisher, interrogando por que considero meu tipo de cálculo de média
O' : : :tiais : ":arreto", não pressupõe que esse meu conceito de média está perfeitamente de­
="" :ada : -.do?
~::::: que Se assim é, ter-se-ia podido talvez duvidar se é materialmente correto meu prin­
;::-:1al­ :':;io enunciado com precisão, mas certamente não se poderia pôr em dúvida o
:"" :ons- ::::0 de ele ser bem definido. No máximo ter-se-ia podido dU'Jidar se aquele nexo
~e.j entre produtividade e duração média do período, afirmado por minha tese, se
:~'lar, . "",ifica exatamente para a média por mim assinalada. Fisher poderia ter tentado
,_""aca- -23ar que existe tal nexo real para alguma grandeza a ser designada como tempo
::" mé­ ---2dio de espera, ou poderia ter tentado explicar que existe, sim, tal nexo real, mas
c:- "terial - ~o para a média aritmética ponderada por mim assinalada e sim para alguma ou­
; :::: pe­
~: .evar
:-"":er e - - ê Rate of Interest, p. 58, nota 3
~ :; erío­ :e Cit, p. 56
::- :'ore a relação entre os dois conceitos, ver Teoria PositivQ, Op. cit" v.J. p. 115.
c::::oras . .'.e may ask. why particular method of averaging which B6hm·Bawerk employs is assumed by him to be the corree!
:t"". :lão -,- Op. cit., p. 56.
--
56 TEORIA POSITIVA DO CAPITAL

tra média, por exemplo a geométrica ou a harmônica. Mas estão simplesmente au­
sentes em Fisher objeções ou argumentos desse tipo Pelo contrário, explicou
expressamente que nenhuma objeção tem a opor contra minha proposição "de que,
quanto mais longe for esse período médio de produção, tanto maior é também o
produto"; 12 ora, ele não poderia fazer tal concessão material simultaneamente a fa­
vor de vários "sentidos" diversos, sentidos estes divergentes de minha proposição,
entre si quanto ao conteúdo, como também não poderia fazê-la em branco, em fa­
vor de algum sentido indeterminado qualquer. senão que só poderia fazê-la em fa­
vor de uma proposição que tem um sentido definido. 13
Que se pretende afinal, nesse contexto, com a estranha pergunta por que con­
sidero "correto" (correct) justamente meu método de calcular a média? A melhor
maneira de mostrar que essa pergunta nada tem a ver com o problema da "defini­
ção" de meu conceito é recorrer a uma analogia. Há um princípio da física que
diz que a intensidade da luz decresce em progressão geométrica juntamente com
a distância da fonte luminosa, e que o decréscimo ocorre na proporção do quadra­
do em relação à distância. Ora, também aqui não há somente essa progressão, mas
muitos outros tipos de "progressões" - provavelmente, não menos do que há tipos
de "médias". Também aqui há, por exemplo. "progressões geométricas" e "aritméti­
cas" e dentro de cada uma dessas espécies há por sua vez, um sem-número de va­
riedades. Pois bem: pretender-se-á porventura exigir também do físico que primeiro
diga por que utilizou exatamente essa progressão e não algum outro tipo qualquer
de "progressão" em seu princípio. antes de querer reconhecer seu princípio como
"suficientemente definido"? Porventura isso não significaria manifestamente confun­
dir a questão da correção material de um princípio com a questão de sua definição
precisa? Além disso, não será uma forma estranha de perguntar pela correção ma­
terial pedir ao autor que explique por que não afirmou algo diferente daquilo que
quis afirmar, somente porque esse algo diferente tem uma denominação semelhan­
te') Será que, para não ser censurado por falta de clareza, realmente terei primeiro
de explicar por que motivo os fatos que me levam a formular minha tese não me
parecem se adequar a uma outra tese que lá assinala um tempo médio de espera
de zero anos, quando na linha de minha tese o que ocorre é um tempo médio de
espera de 5,6 anos?
Cada coisa em seu lugar: de bom grado tenho respondido e continuo a respon­
der a argumentos levantados contra a correção material de minha tese; mas que
esses argumentos sejam apresentados com a indicação clara do que pretendem provar.
Devo, porém, insistir em que, por se cometer confusão ao apresentar argumentos,
não se confunda nem se altere também o objetivo da demonstração, e que, sob
a influência incontrolada de argumentos explicitados apenas pela metade, que na
melhor das hipóteses só poderiam ter a ver com a correção de minha tese, não se
desperte um ceticismo injustificado contra a clareza e a precisão da mesma.
Mas Fisher tem ainda outros motivos - quiçá melhores - para levantar tal ob­
jeção Com efeito - continua ele -, mesmo que a questão de uma "formulação
correta" do tempo médio de espera estivesse satisfatoriamente solucionada para um
artigo individual. tem-se de continuar a perguntar de que maneira se devem combi­

12 P 58 associada à p. 55: "passing QVef the second stEp (t;J€ proposltion tildt the longer th15 average production period.

the greater will be the prüduct) to which no objection [S offpred..."

13 Se não se hesitar entre d:versos tipos de :nédia. mas se tiver em mente um único deerminado tipo da mesma, semp'~

há que decidir univacamente a questão de qual dentre dois períodos C~ produç50 comparados represpnti'l a média mais

longa, mesmo em CdSD5 casuistic.Jmente complicarios c:)mo os que Fisher descreve no Apêndice ao capo IV, § 2 (p 352)

A .questão da rentabilidade econômica maior cu menor. para a qual o exemplo engenhosamente excogitjjUU por Fisher

sem dúvida abre u:na casuística interessante, faz parte ue uma problemática diferente

EXCURSO!ll 57
-~~.reau-
::ar entre si os tempos médios diversos dos artigos 14 para encontrar o tempo mé­
~':;:Jlicou
~:o comum a eles. Ora, nessa pergunta haveriam de aflorar, aliás em medida bem
~ que,
-~>?
:-:lais intensa, todas as dificuldades, bem conhecidas, suscitadas pela construção de
2:~::-ém o .:m número-índice adequado.
,õ'::2 a fa
.~:= Jsição,
Isso certamente é verdade se nos propusermos a tarefa de construir o período
:nédio de produção de toda a economia nacional à guisa de mosaico, com os perío­
:: 2m fa­
ios de produção anteriormente determinados para todos os diversos tipos indivi­
"=2m fa­ ::uais de bens: mas quem se proporá tal tarefa, e quem terá necessidade de propor-se
a tarefa dessa forma? E sobretudo qual será, afinal, o fio da argumentação de Fis­
~ _2 con­
~er. fio este que ele, infelizmente, de novo deixa de apresentar? Afinal, o item a
.:... :-:lelhor
ser provado deve ser a "carência de definição" dé meu "conceito" do período médio
: = -jefini­ de produção nacional. Ora, que tem a ver a precisão de um conceito com as dificul­
:'õ:a que
,õ-.:2 com dades de determinada maneira de calcular - aliás desnecessária e não-prática ­
~lma grandeza concreta englobada por esse conceito? O conceito do tempo médio
: :'-ladra­
de espera da produção global da nação não é em nada menos claro ou mais com­
õõ~o. mas
~ .-3. tipos
p!exo dQ que o conceito do tempo médio de espera de um ramo individual de pro­
"o.::Iméti­ dução. E uma média do mesmo tipo, se excetuarmos o fato de a abrangência ser
maior: da mesmíssima forma como - creio que também aqui o modo mais breve
::: Je va­
; :=::meiro de esclarecer tudo é uma analogia - o conceito do "peso específico da terra" é exa­
tamente tão claro e simples quanto o conceito do peso específico médio de um martelo
=.:alqlfer ou de uma escrivaninha. Em concreto, certamente é possível que seja muito mais
:: : como
fácil obter-se o. peso específico de um martelo, constituído de um cabo de madeira
~ ~ Jnfun­
~,õc:nição
e uma cabeça de ferro, do que o peso específico médio da terra inteira. porém ob­
,õ :~o ma­ viamente isso não tem absolutamente nada a ver com a precisão dos dois concei­
:: _:.0 que
tos. Aliás, observe-se de passagem: para se chegar ao conceito do peso específico
.,: -:-2Ihan­ médio da terra inteira, ninguém achará necessário ou adequado primeiro fazer a
:=:;meiro volta por todas as diversas pequenas médias resultantes dos inúmeros corpos ter­
restres constituídos de materiais de pesos diferentes: ninguém exigirá que. antes de
""3.0 me
:,õ 2spera se poder reconhecer o conceito da média global como "suficientemente claro", se
tenha de mostrar um método correto e utilizável de compor a grande média da terra
r:- ~ :::0 de
inteira com as pequenas médias, a serem anteriormente obtidas, de todos os diver­
sos martelos, escrivaninhas, máquinas, casas etc" bem como de todos os demais
ê :<spon­
corpos compostos, da superfície e do interior da terra. Pelo contrário, constrói-se
:-::'5que
o conceito da média diretamente a partir de seus elementos e na prática, como é
:-:-. :Jrovar.
sabido, se encontrou o peso específico médio da terra, bem conhecido, por uma
'- -:-.2ntos.
via bem diversa do que seria uma combinação, à guisa de mosaico. dos pesos espe­
:: _2. sob
cíficos de todos os elementos, os quais, aliás. eles mesmos já representam uma mé­
::Je na
dia composta de muitos elementos!
2 :-ão se
:~3..
Por conseguinte, tudo leva a crer - infelizmente, também aqui tenho que limitar­
me a meras conjeturas - que Fisher, em sua objeção formulada sem precisão, con­
:.::: :al ob­
funde duas coisas essencialmente diversas, na medida em que, partindo das dificul­
-:-:-.:lação dades - que de fato existem em altíssimo grau - de medir na prática a duração
:=,,::a um
concreta do período médio de produção sociaL pretendeu poder deduzir uma obje­
:-. :ombi­ ção contra a precisão do conceito desse período médio de produção social: confun­
diu dificuldade de medição com imprecisão conceituaL duas coisas que em nosso
caso têm tão pouco a ver entre si quanto, por exemplo, a precisão do simplicíssimo
- ~ - ='~riod,
conceito da "distância entre dois corpos celestes" tem a ver com as dificuldades
,j 32mpre talvez bem grandes - de medir praticamente esta distância. 15
::: ~ maiS
_ c 352)
- fisher 14"In what manner is it proposed to combine the production periods of different articles" Op. cit., p. 57.
L')Bortkiewitsch incorre visivelmente na mesma confusão ao repetir os argumentos céticos de seus predecessores nos se
guintes termos "que a duração do período de produção é um conceito vago" (Jahrbuch de Schmoller. 1906. p. 951.)
58 TEORIA POSITIVA DO CAPITAL

Entretanto, será talvez que essas dificuldades práticas de medição - cuja exis­
tência e grandeza novamente reconheço com a máxima honestidade - bastam pa­
ra que meu conceito do período médio de produção seja cientificamente
inaproveitável? Possivelmente também Fisher tinha em mente a idéia - que já tive­
ram em mente vários outros autores, sobretudo Lexis, por ele citado com endosso
- de que sobre fatores cuja grandeza não se conhece e não se tem condição de
medir não há como basear nenhuma explicação teórica confiável; ou será que tal­
vez o que ele queria dizer era apenas isto (ou então, também isto), ao afirmar que
meu conceito carece de uma precisão suficiente "para constituir um fundamento para
as conclusões que nele pretendo basear"?
Também nesse caso, Fisher teria facilitado a mim e aos leitores a avaliação de
suas objeções se, ao invés da afirmação genérica de que minhas conclusões care­
cem de "fundamento suficiente", tivesse mencionado alguma determinada conclu­
são individual, e com base nela tivesse mostrado como e por que ela não é
concludente, por faltar a citada precisão. Teriam então necessariamente aparecido
os elos intermediários de sua argumentação. que na atual infelizmente não apare­
cem. Devido a isso, novamente eu seria obrigado a aventurar-me a esmo no ocea­
no das discussões metodológicas para guerrear contra objeções apenas conjeturais
ou no máximo insinuadas.
Acontece que já empreendi alhures 1t esta campanha, sob o título "A Teoriza­
ção com Grandezas Desconhecidas", levado por uma formulação um pouco mais
clara - aliás, não muito -, dada por Lexis à mesma objeção. Uma vez que discus­ -- --=. -~

sões metodológicas de per si extravasam o objetivo da presente obra, posso permitir­


me, neste contexto, uma simples remessa às minhas exposições mais precisas feitas
na época. Gostaria apenas de acrescentar um argumento para ilystrar o assunto de
maneira popular, uma espécie de argumentum ad hominem. E a ponderação de
que nenhum teórico, qualquer que seja a corrente teórica à qual está filiado, é capaz :- -.:: :: :~
de, na prática, evitar de teorizar com grandezas desconhecidas e não medidas. Con­
sideremos, por exemplo, a doutrina sobre o preço, cuja abordagem sem dúvida não =--: -~:
pode faltar em nenhum sistema teórico. A maioria dos autores de Economia Política
ensina um nexo entre o preço dos bens e os custos de produção. Ao fazerem-no,
na maioria dos casos não se limitam a referir-se de maneira bem superficial aos "custos
em dinheiro" do último estágio de produção, mas acrescentam uma análise apro­
fundada dos custos de produção, pela qual estes devem ser entendidos ou como
sendo os salários e juros despendidos em todos os estágios da produção somados, - --.:::::
ou então como sendo as parcelas de trabalho (quantidade de trabalho ou penosida­
de do trabalho) e de sacrifícios de espera ou de abstenção, despendidas em todos
os estágios de produção somados.
Entretanto, quem afinal tem condição de conhecer ou medir efetivamente as
grandezas aqui invocadas? Quem será capaz de indicar ou comprovar a posteriori
quanto, na história concatenada da produção de um bem, se gastou em salários
e quanto em juros, para fabricar o referido bem? Quem tivesse de dizer isto, teria
antes de conhecer exatamente os mesmos dados cuja impossibilidade de averigua­
ção acabamos de apontar como sendo o obstáculo que impede uma medição a
posteriori exata dos períodos médios de produção. Para poder fornecer a soma dos
salários contidos no montante global "custos em dinheiro do último estágio de pro­
dução", tal pessoa teria antes de tudo que conhecer o montante de todas as parcelas
de trabalho que se teve de despender até as etapas preparatórias mais longínqüas.

16 "Einige strittige Fragen der Kapitalstheorie". Estudo 11, sobretudo Seção 4 deste Estudo
EXCURSO III 59

portanto para a produção dos meios de produção do produto acabado, e além disso
~ 2xis­ para os próprios meios de produção destes últimos, e novamente para os meios
:~:-:-: pa­
de produção destes e assim por diante, devendo também conhecer a fração dessas
:::-:2nte parcelas que beneficia a unidade do produto acabado, e finalmente também - dis­
~ ::ve­ so não quero sequer falar -- o montante dos respectivos salários; e para poder ob­
: - :')SSO
ter a somatória dos juros incorridos, deveria além disso conhecer a distância temporal
~~:J de na qual todas essas parcelas e frações individuais foram despendidas, distância esta
:'_2 tal- para a qual incidem pagamentos de juros, que o preço do produto acabado tem
:- ~~ ::Jue de remunerar. Pois bem, se conhecessemos esses dados, teríamos em mãos tam­
-: = ;Jara bém os dados para a medição exata do período médio de produção! Quem então
explica o conceito dos custos decisivos para determinar o preço de modo tal que
~=~o de neles computam os incômodos e agruras subjetivos do trabalho, bem como os sa­
2;; ::are­ crifícios subjetivos impostos pela abstenção ou pela espera, invoca grandezas cuja
:::1clu­ apuração e somatória é evidentemente ainda menos exeqüíveL Quem, ao contrá­
:-.ão é rio,' como os socialistas, afirma que o único elemento decisivo é o dispêndio de
::~2cido quantidades de trabalho, certamente depara apenas com a metade das dificuldades
::;:;are­ que acabo de apontar, porém já essa metade basta para tornar impossível uma me­
:: :xea­ dição exata a posteriori.
:2:urais E até aqueles que absolutamente nada querem ensinar sobre o nexo entre os
preços dos bens e os custos de produção, mas se limitam ao item mais elementar
_~ :J~tza­
de todas as doutrinas sobre o preço, a saber, a lei da "oferta e procura", topariam
:::: :nais com o maior problema ao terem de prestar contas sobre seu ou nosso conhecimen­
::;;cus­ to da intensidade concreta desses fatores, pois querer saber a abrangência concreta
:2~:,ütir­
da procura por um bem, em intensidade e extensão, significaria pretender ter um
::;; :2itas conhecimento concreto do estado, altamente indivídual, das tendências, das neces­
_-::0 de sidades e do poder de compra de inúmeras pessoas individuais! Não obstante, ne­
o:ão de nhum teórico verá problema em exprimir as relações típicas entre a grandeza do
~ ::3.paz preço de mercado e o estado da oferta e procura em uma das conhecidas fórmulas
.;; Con­ de lei, e em atribuir a essas fórmulas de lei um valor real para a explicação, mesmo
-.:'::ião que não tenha noção alguma de quantos são os interessados em comprar e os inte­
:=: :lítica ressados em vender que aparecem em um mercado concreto qualquer e que cifras
:':::-:-.-no, de preço estão interiormente decididos a manter na procura e na oferta, em caso
; -:..:stos extremo! Conhecer as relações típicas que existem entre determinadas grandezas
-2 ':;Jro­ em geral e conhecer os dados concretos que as referidas grandezas apresentam de
_ ::omo caso para caso, são duas coisas totalmente diferentes, sendo que o conhecimento
-::-..:::os, - teórico - do primeiro tipo de modo algum está sempre ligado a um conheci­
- : ;;:da­ mento, de caso para caso, dos dados concretos do segundo tipo. Ao se tratar de
:- ::Jdos suas próprias exposições teóricas, nenhum teórico "esqueceu" isso nem se deixou
confundir por isso; e no entanto justamente esse "esquecimento", sempre evitado
,: -.:2 as com êxito quando se trata de defender a própria causa, constitui um elemento tácito
:õ:-:;riori naqueles raciocínios vagos que, partindo de uma falta de conhecimento de dados
;; ~~rios positivos, tentam deduzir uma postura de ceticismo contra a correção ou a confiabi­
:: :eria lidade de conhecimentos teóricos. 17
,': ~:;ua­
::: :30 a
-~ dos
:::,:: oro­
: ~~='elas Quanto à relação entre "dados- e "teoria", ver também minhas "Strittige Fragen-, p. 75 et seqs. A concepção quase lei­
C-::: üas , ga. que está tão difundida sobre esse tema, seria muito beneficiada por uma discussão a nível de princípios. Talvez leve
a uma discussão desse gênero o livro de Schumpeter, publicado recentemente, Das Wesen und der Hauptinhalt der theore­
:~schen Nationaloekonomie, 1908, que toma posiçao também quanto a esse problema, aliás de maneira peculiar ao autor:
;Jerspicaz, altamente estimulante e com um radicalismo que ataca energicamente qualquer confusão, mas não isento de
Jma série de exageros.
60 TEORIA POSITIVA DO CAPITAL

Finalmente, Fisher acrescenta um comentário cético a uma observação feita oca­


sionalmente por mim nos seguintes termos: "Aliás, é muitíssimo provável que nos
dois casos dados como exemplo alguma fração de um dia de trabalho já tenha sido
despendida há séculos: todavia, em razão de sua insignificância, dificilmente ela po­
de influir na média, e por isso pode ser desprezada, na maioria dos casos."18 Fis­
her pergunta, em tom de dúvida, o que me dá a certeza de que as contribuições
provenientes de um passado longínqüo são, devido à sua insignificância, "grandezas
que podem ser desprezadas", e acredita que se deveria ter provado essa afirmação
de que é sempre decrescente a grandeza dos elos mais remotos da série mate­
mática. 19
Antes de tudo observo que não pensei em enunciar uma afirmação de valida­
de geral deste ou de semelhante conteúdo. Conforme o leitor pode deduzir do teor
e do contexto de minha observação, para mim se tratava apenas de suposições à
guisa de exemplo, cuja ocorrência efetiva expressamente pressupus não para todos
os casos, mas tão-somente para "a maioria dos casos". Ora, que as contribuições
remotíssimas, separadas do presente por uma longa série de elos e, conseqüente
mente, por uma longa distância temporal. na maioria dos casos representam real­
mente apenas frações insignificantes do dispêndio total para o produto final, creio
que, para demonstrar isso, se pode aduzir. como motivo de convicção perfeitamen­
te suficiente, e até como uma espécie de "prova", considerações como a que um
. -\.
pouco antes aduzi, a título de exemplo, no tocante à contribuição do martelo ­
que dista apenas quatro elos - na fabricação do casaco de tecido. Que em vários
outros casos de outro gênero a situação é outra e que, por exemplo, em se tratando
da despesa global incorrida para formar uma plantação de pinheiros que boje tem
a idade de cem anos, os trabalhos de reflorestamento executados há cem anos atrás
não representam uma parcela insignificante, mas provavelmente a parte principal,
quanto a isso nem eu nutro a mínima dúvida. __ "J

Mas isso não é o principal; a coisa principal é, de novo, aonde o autor quer
chegar com essa objeção cética, mesmo que ela fosse plenamente fundada. Qual
dos elos de minhas conclusões teóricas seria abalado se mesmo as contribuições
mais remotas nunca constituíssem uma "quantidade desprezível"?
Pois bem, para minha teoria é totalmente indiferente se as contribuições remo­
tas são ou não uma grandeza que se pode desprezar. Essa diferença só tem efeito
no campo da medição ou avaliação prática de durações de períodos concretos: ca­
so se possa desprezar as contribuições prestadas em data que se perde na escuridão -31
de um passado remoto, poder-se-á calcular ou ao menos avaliar o tempo de espera
médio que decorre em determinado processo de produção, com muito mais facili­
dade do que se tivermos que estender o cálculo e a medição também aos elos re
motos e remotíssimos, E é só isso. Essas dificuldades práticas só afetariam alguma
de minhas conclusões teóricas se o conhecimento de relações típicas gerais, existen­
tes entre determinadas grandezas, equivalesse a um conhecimento das cifras reais
que essas grandezas apresentam no caso individual. Que isso são duas coisas dife­
rentes, procurei mostrá-lo anteriormente. Não é claro se é a isso que Fisher quer
chegar com seu argumento cético, ou se a conclusão que pretende tirar é outra.
Infelizmente, também aqui ele se limita a suscitar uma dúvida a respeito de alguma
circunstância real qualquer, e nesse ponto interrompe sucintamente seu argumento;

18 Ver Teoria Positiva do Capital v. I, p. 114.

19_ "Such an assertion as to the convergence of the mathematical series in question should recelve substantlation" The Ra­

te of fnterest, p. 58.
EXCURSO!lI 61

: ~: :2ita oca­ a respeito de onde ou de que maneira a citada dúvida possa ter uma importância
~"~. Jue nos para a estrutura de minhas teorias, Fisher não dá nem sequer uma indicação.
:: :2:,.ha sido Gostaria de encerrar este Excurso com duas observações. Muito leitor há de
'''-:2elapo­ encarar como dispêndio desnecessário de trabalho polêmico em torno de detalhes
:::õ:S.-l~ Fis­ o fato de eu haver respondido a umas poucas linhas de observações, apenas atira­
:: -2'ouições das no papel por Lexis e Fisher, com quase outras tantas páginas de exposições
: -;:~andezas pormenorizadas e muitas vezes sutis. Entretanto, por mais paradoxal que isso pare­
õ:: ::.':!"mação ça, tive de ser tão explícito exatamente porque meus opositores foram tão sucintos.
õ~:e mate­ Se meus opositores tivessem explicitado seus argumentos céticos com tanta clareza
e exatidão que tivesse ficado bem claro o ponto no qual a objeção deles ataca meus
:: ::2 valida­ raciocínios teóricos, também eu teria podido limitar-me a analisar esse ponto indivi­
: _:::: do teor duai preciso, e provavelmente teria podido obter clareza com muito mais facilidade
,_:= :sições à e brevidade. Acontece que o fato de essas objeções céticas serem vagas faz com
:: :=':~a todos que elas sejam duplamente perigosas e de difícil refutação. Duplamente perigosas
: - ::. Duições porque semeiam essa espécie de desconfiança vaga que, como sabemos por expe­
: -.s2qüente­ riência, é tão fácil de despertar e tão difícil de erradicar de novo, e para a qual vale
~'-:2Om real­ com tanta propriedade o dito do aliquid haeret; duplamente difíceis de refutar por­
: '~. al. creio que a refutação, para ser segura, tem de esgotar todas as possibilidades que não
:,,:-:2:tamen­ foram explicitadas e tem de responder a argumentos apenas presumidos. A esse
: ': aue um trabalho penoso quis e precisei submeter-me num caso-amostra, esperando que is­
--:-.a;te-Io ­ so venha a beneficiar não só esse caso, mas todo um tipo de polêmica científica.
l2 ,,:':1 vários Efetivamente, com toda a certeza também no futuro se levantarão objeções da or­
: õ" :,atando dem da teoria do conhecimento ou de natureza metodológica, e será preciso solucioná­
_" :-'.oje tem las objetivamente; todavia, considero que para todos os que colaboram na busca
-::-. ::~os atrás da verdade seria um grande progresso e uma grande facilitação se os autores de
:~ :J:'ncipaJ, tais objeções futuramente sentissem a obrigação de assinalar, no mínimo de manei­
ra reconhecível, o ponto de partida e o ponto de chegada e, se necessário, também
::..::cr quer os elos intermediários essenciais de seu raciocínio.
l:::::a. Qual Finalmente, uma vez que coincidiu que, na discussão desse "caso-amostra", tive
: -2'ouições de dirigir minhas réplicas polêmicas sobretudo contra I. Fisher, não gostaria de dei­
xar de expressar aqui o reconhecimento explícito de que exatamente nele vejo um
::-S2S remo­ dos opositores mais leais - na medida em que nossas concepções se opõem, o
=- -:2:':1 efeito que felizmente não ocorre no tocante a muitas questões importantes -, bem como
:-'.::2ms: ca­ um escritor que se distingue em grau particularmente elevado pelas seguintes virtu­
2: 2scuridão des habituais: profundidade, exatidão e precisão de raciocínio. Por outro lado, não
': ::2 espera me parece haver nenhum argumento mais forte para provar a natureza periculosa­
, :-::-.20:5 facili­ mente sedutora das impressões céticas acima descritas do que o fato de mesmo um
c:s elos re­ autor de qualidades tão exímias não haver conseguido acautelar-se suficientemente
ê--:- alguma contra elas.
cs existen­
:.2as reais
.: :sas dife­
Fõ:'.er quer
-::: é outra.
:::2 alguma
:::-;:Jmento;

The Ra·
EXCURSO IV

Papel que Desempenha a "Escolha Sábia" ("Selection") na

Regra da Maior Produtividade de Métodos Indiretos de

Produção mais Longos

(Para a Seção I do Livro Segundo da Teoria Positiva e para a p. 9, nota 8 do


Excurso I)

o Prof. I. Fisher adotou, em relação a minha tese da maior produtividade de


métodos indiretos de produção mais longos, uma postura que não é totalmente cla­
ra. No texto de seu livro registra como "segundo passo", no itinerário que me leva
a supor uma "superioridade técnica" dos bens presentes em relação aos futuros, o
princípio de que "quanto mais longo for o período médio de produção, tanto maior
o produto",l e declara expressamente não querer levantar nenhuma objeção con­
tra este "segundo passo".2 Essa afirmação talvez levasse a esperar que Fisher tives­
se a intenção de concordar com esse princípio, no sentido em que o enunciei e
comentei explicitamente. Na realidade, porém, em uma nota justamente aposta a
essa declaração de concordância remete a um Apêndice,3 no qual dá a minha te­
se uma outra interpretação, muito menos ampla do que aquela que eu mesmo ha­
via dado. Eis por que sou obrigado a considerar também Fisher, a despeito de sua
declaração formal de concordância comigo, como um autor que contesta material­
mente minha tese da maior produtividade dos métodos indiretos de produção que
levam tempo; aliás, a nossa divergência de opinião versa principalmente em torno
do ponto caracterizado no título do presente Excurso.
Para deixar a margem mínima possível de fontes de erros nesta matéria que
tanto convida a equívocos, quero citar aqui os pronunciamentos de Fisher em seu
teor completo.

"That long processes (assuming their length to be measurable) are more productive
than short processes is, as Bohm-Bawerk says, a general fact, not a necessary truth. The
reason lies in selection. It is not true that, of ali possible productive processes, the longest

1 FI5HER. I. The Rale of lnterest. p. 55

2 "Passing ave r lhe second step. lo which no objeclion is offered .!'. Op. cit" p. 58.

3 Op. cit., Apêndice ao Capo IV, § 3, p. 353 el seqs.

63
64 TEORIA POSITIVA DO CAPITAL

are the most productive: but it is true that. of ali productive processes actually employed
the longest are also the most productive. No one will select a long way unless it is at
the same time the a better way. Ali the long but unproductive processes are weeded
out. The following illustration will make the process clear".
"Suppose that by means of 100 days' labour invested to-day we can obtain a product
01 100 units one year hence ar 01 250 two years hence, of 50 three years hence, of
300 four years hence, of 250 five years hence. of 320 six years hence. of 100 seven
years hence. 01 300 eight years hence etc. - a series which we take quite at random.
Out of this series of choices there will be eliminated those of 3, 5, 7. and 8 years, for
each of these is outclassed by preceding choices. Thus, the 5-year period yielding 250
will be overshadowed by the 4-year period yielding 300: for this prospective returno being
not only larger but earlier. will have a higher present value Elirninating, then. these ineli­
gible cases. we have left. to choose fram. the 1. 2, 4, and 6 year periods. Of these. that
one will be chosen of which the return will have the highest present value: and the pre­
sent value will depend on lhe rate 01 inlerest'.4

Fisher mostra a seguir, com base em uma ilustração gráfica, que, a uma taxa
de juros de 5%, a escolha que assegura o maior valor no presente é a do período
de produção de quatro anos, com o resultado de 300 unidades; a uma taxa de ju~
ros de 2% é a escolha do período de seis anos como resultado de 320 unidades;
à taxa de juros de 10% é a escolha do período de dez anos com o resultado .de -.r:!r~~
250 unidades, mas que a escolha nunca pode ser a do período de três, cinco, sete :~:-~
ou oito anos.
Onde está o ponto em que nossas duas opiniões divergem entre si? Para deixar :'" =r:
:.,;: =r":
isso claro, precisamos antes de tudo examinar qual é o sentido possível e intenc:onado
por uma afirmação de Fisher, cujo sentido ainda não é suficientemente unívoco.
~~':I,:-:O
apesar de todo o e'llpenho no sentido de falar claro. Trata-se da afirmação negativa
~ 'iw2"/Ii!
de que não é verdade (lue, de todos os processos de produção "possíveis", "os mais
longos" são os mais prudutivos. Se com isso Fisher não quisesse negar outra coisa ;:".,;<:
senão aquilo que eu mesmo neguei acima, à página 8 et seq. do Excurso l, a saber,
:::.e -.
que nem todos os métoJos indiretos de produção mais longos, só pelo fato de se­
::..-: ..I
rem mais longos, têm necessariamente de ser também mais produtivos, estaríamos
em perfeita concordância. Para exprimir-nos com a clareza absoluta que se impõe ~ :-.:
aqui: via de regra, a duração de determinado período não é representada cada vez
:li :D
apenas por um único método de produção, que seria o único possível, senão que
c~
dentre as inúmeras combinações técnicas possíveis costumará haver uma pluralida­
de ou multiplicidade de métodos que representam a mesma duração média, a des­
peito de toda a diversidade individual e também de toda a diversidade no tocante
ao resultado. Assim como' para atingir a meta de uma caminhada, que pode ser
T:~ d
:i:L. :JJ

4 "'Que os processos longos (supondo-se que sua duraçao possa ser mec1iud) são mais produtivos do q'J€ os proc~ssos ; "'"...s::r
cu'ins, é, no dizer de Bohm-Bawerk, um fato genérico, nâo urna verdade necessária. O motivo está na escolho Não é
-:'" :::7ilI:
verdade que, dentre todos os processos de produção possíveis, os mais longos sejam os mais produtivos; mas é verdade
que, dentre lodos os processos de produção efetivamente empregados, os mais longos são também os mais produtivos. ":"':'r-:"'It:
Ninguém escolherá um caminho longo se este não for ao mesmo tempo um caminho melhoL Todos os processos longos
mas improdutivos são eliminados. A ilustração que segue esclarecerá esse procedimento".
"Suponhamos que com o trabalho de 100 dias. mvestido hoje. possamos obter um produto de 100 unidades daqui a
um ano, ou de 250 daqui a dois anos. de 50 daqui a três anos, de 300 daqui a quatro anos, de 250 daqui a cinco anos.
de 320 daqui a seis anos, de 100 daqui a sete anos, de 300 uaqui a oito anos etc. - série esta que adotamos bem a
esmo. Dentre essa série de opções serão eliminadas as de 3, 5, 7 e 8 anos, pois cada uma delas é descartada por opções
anteriores. Assim sendo. o período de 5 anos, que produz 250, será sobrepujado pelo período de 4 anos Que produz 300, \1Il!'" iIl
uma vez que esse resultado prospectivo, por ser nào somente maior, mas também ser obtido antes, terá um valor maior ~"":J!ai~
no presente. Havendo, pois, eliminado esses casos que não podem ser escolhidos, restam, para nossa escolha, os períodos ."...",.
de 1, 2, 4 e 6 anos. Dentre estes, escolher-se-á aquele cujo resultado tiver o maior valor no presente; ora, o valor no pre­ "..,~
sente dependerá da, taxa de juros". (N. do T.I .~,~
EXCURSOIV 65
,-- :.ed ::~:ngida, em via absolutamente reta, em uma hora, é possível trilhar numerosos ca­
,,' -:,0 aI :-:linhos. indiretos diferentes de duração igual, por exemplo de cinco horas, exata­
.'. ~2::ed :-:lente da mesma forma pode haver, e de fato sempre haverá, toda uma série de
:-:létodos de produção bons e maus, antiquados e modernos, adequados e inade­
:': :::::iuct
-:-:e. of quados, efetivamente executados e rejeitados, por serem impraticáveis ou talvez até
,o2ven mesmo absurdos. Esses métodos, em última análise, entram todos eles em questão
:"-.:iom. como "possíveis" e, na somatória dos elementos dos quais se compõem, represen­
." ,,:,0. for tam uma mesma duração média igual de cinco anos. Ora, seria certamente errôneo
c -; 250 afirmar que todos os métodos de produção de cinco anos de duração, mesmo os
:::- :ceing mais inadequados, só pelo fato de serem "os mais longos", têm de suplantar em pro­
:2,~ 'neli­ dutividade todos os métodos de produção possíveis de duração mais curta. Pelo
:,o',o.lhat contrário, é perfeitamente possível, por exemplo, que haja três diferentes métodos
t ::2 pre­ de duração de cinco anos, dentre os quais um, com 100 dias-trabalho, permita ob­
ter um produto de 300, o segundo, menos adequado, apenas um produto de 200,
e um terceiro, ainda menos adequado, apenas um produto de 20, ao passo que
-= taxa
dentre os métodos de produção "possíveis" de quatro anos de duração talvez se en­
'::,/odo
contre ao mesmo tempo um que com 100 dias-trabalho permita conseguir uma pro­
,", ::::e ju­
dução de 280 unidades do produto.
r::::ades;
Com as mais diversas explicações, diretas e indiretas, afirmativas e negativas,
_~=::::o"de
procurei defender-me contra a exigência injusta - que aliás não tem estado total­
'::. sete
mente ausente 5 - de enunciar minha regra da maior produtividade dos métodos
de produção mais longos naquele sentido inadmissível. Reivindiquei a propriedade
l= ::::eixar
de proporcionar um produto maior do que processos de produção mais curtos,6
'.:.Jnado
não para "todos", mas somente para certos métodos de produção mais longos, "es­
_-.:',oco,
colhidos sabiamente" ou "com habilidade", com o que também eu atribui certo pape!
:"'2;ativa
à "seleção". Logo veremos se esse papel é exatamente o mesmo que lhe atribui Fis­
=:: mais her. Salientei também( expressamente, que nem todo método de produção mais
:== coisa longo necessariamente tem de ser melhor do que qualquer método mais curto, e
. "' saber, que não é somente um método de produção mais longo que pode ser melhor do
e= ::e se­
que um mais curt0 7 Falando positivamente, precisei o conteúdo e o alcance da re­
.:=:-'"amos gra por mim afirmada - aliás, explicando expressamente que no caso não se trata
~ ::Tlpõe
de uma lei estritamente científica, mas apenas de uma regra empírica, se bem que
,:o.=::a vez
"de aplicação extremamente vasta, provavelmente até universal"8 - com as seguin­
::"'~:J que
tes proposições: "Há sempre ocasiões para conseguir um produto maior por meio
;. ..;~alida­
de um prolongamento do método indireto de produção" e "Métodos de produção
2. a des­
mais curtos não costumam ser os mais produtivos dentre todos os imagináveis, sen­
: ::·cante
do que costuma haver métodos indiretos de produção mais longos que são ainda
: =::e ser mais produtivos do que eles".9 Ou então, para expressá-lo agora naquela formula­
ção que, em comparação com os pronunciamentos de Fisher, com mais clareza des­
taca o ponto importante no caso: "Entre os métodos de produção conhecidos, dado
:: --:.:essos o respectivo estágio de nossos conhecimentos sobre as técnicas de produção e que,
-:: :\ao é portanto, estão à escolha se não houver uma nova invenção, via de regra o melhor
~" 2rdade
= =:Jtivos.
método de produção mais longo que se conhece é tecnicamente mais produtivo
é::::' .ongos do que o melhor método de produção conhecido dentre os mais curtos."
:,:-::: :aqul a
Será que Fisher. em seus pronunciamentos sobre o assunto, desejará admitir
- -:J anos,
::.- =:: Dem a
, ::. opções
'--:Jz300. Ver acima, Excurso l, p. 8 et seqs.

~ major Positiue Theorie. 2? ed. p. 11, 86, 91.

ê-ríodos "Strittige Fragen", p. 7, 39: e já na Positiue Theorie, 2" ed. p. 91. nota L

-:0 pre- "Strittige Fragen", p 38.

"Strittige Fragen", p 38 .

.~
66 TEORIA POSITIVA DO CAPITAL

o que acabo de dizer? Receio que não! E verdade que isso ainda não resulta com
clareza de sua frase negativa, pois esta, como mostrei, de per si admitiria também
uma interpretação ainda conciliável com minha concepção. Mas essa conclusão me
parece resultar daquelas afirmações de Fisher que se destinam a delimitar e explicar
positivamente o âmbito de sua concepção. Primeiramente, já o teor de sua conces­
são positiva é por demais restrito, ao limitar a validade do princípio da maior produ­
tividade dos processos de produção mais longos aos "efetivamente empregados"
(actual/y employed; é o próprio Fisher que destaca especialmente com grifo essas
palavras restritivas'). Ao contrário, de minha parte tenho de enfatizar ao máximo
que essa regra vai além dos processos efetivamente empregados, pois a todo mo­
mento se conhece uma grande quantidade de métodos de produção mais longos
e tecnicamente mais produtivos, que - devido à insuficiência do capital disponível
à economia nacional, ou, no que se manifesta sintomaticamente essa insuficiência,
devido ao fato de a taxa de juros vigente no país ser excessivamente alta, da qual
esses métodos não conseguiriam se livrar para a duração prolongada da produção -::.- - - ­

apesar de sua maior produtividade técnica - na realidade não podem ser empre­ -
gados e portanto não devem, no sentido de Fisher, ser enumerados entre os ac­
tual/y emplayed, mas entre os "passible" processes. Segundo a ilustração feita pelo
próprio Fisher, por exemplo um processo de produção de seis anos com uma pro­
dutividade de 320 unidades do produto, sendo a taxa de juros de 5%, embora tec­
nicamente supere o processo de produção de quatro anos, que tem uma produtividade
de 300 unidades, não poderia ser efetivamente empregado, só podendo entrar em
questão como processo "possível".
Em segundo lugar, a conclusão supra resulta também da configuração das ci­
fras ilustrativas que Fisher dá a sua tese. Com efeito. deliberadamente ele coloca
as cifras que expressam a produtividade dos processos de produção de duração di­
ferente "totalmente a esmo" (quite at rondam). e o faz - casualmente ou de propó­
sito - de tal maneira que em todo caso contradizem a minha concepção sobre o
estado típico dos fatos. Pois em sua lista - que. note-se bem, pretende representar - ~ -.: ~
uma lista dos métodos de produção "possíveis". genericamente suscetíveis de esco­
-:' -:.
lha (series af chaices) -, ao número de produtividade de 320 unidades do produ­
to, que ele supõe atingível num processo de produção de seis anos, faz seguir os
números mais baixos de produtividade, de apenas 100 e 300, como sendo aqueles
cujo alcance é possível, ampliando-se o processo para a duração de sete, respecti­
vamente oito anos. Por conseguinte, em seu exemplo, destinado a ilustrar o alcance
de sua tese, exclui positivamente, mediante as cifras que escolhe para o exemplo,
a possibilidade de se obter um aumento da produtividade, prolongando o período
de produção de seis para sete ou oito anos. Se Fisher supusesse, como eu, que
essa possibilidade está aberta a cada momento, ou ao menos dentro de uma perfei­
ta regularidade, naturalmente teria podido escolher de outra forma os números de -,-=.:---e
seu ~xemplo e não poderia ter colocado os mesmos totalmente at rondam. - ':.--:.~';'5i!
E verdade que também segundo minha concepção há uma margem muito grande
para casualidade realmente não sujeita a nenhuma regra, e que portanto pode ser
ilustrada também por números escolhidos cegamente. Com efeito, prescindindo dos
números bem concretos sobre cuja grandeza naturalmente nunca será possível esta­
belecer de antemão regras gerais, é coisa sempre de puro acaso sem regra, como
muitos métodos de produção diferentes, seja de mesma duração temporal, seja de
duração diferente, se tornam e permanecem conhecidos no decurso do tempo, e
em que relação de produtividade estão entre si os métodos de produção que não
estão ou não estão mais à altura dos conhecimentos técnicos, que, por serem ex­
cessivamente pouco produtivos, há muito foram praticamente eliminados, ou, por
EXCURsorv 67
~;::5..::ta com
não serem práticos, n,em sequer foram adotados, e no entanto são conhecidos e,
o':: ~ambém
portanto, "possíveis". E bem possível que métodos de produção que eram inade­
o.:.:":5ao me
quados por natureza ou se tornaram inadequados por invenções posteriores melho­
c:- ,:: explicar
i":':: conces­
res, na maior confusão dos números indicadores de produtividade pertençam ora
ê-c:- produ­
aos períodos de produção mais longos, ora aos mais curtos. Uma única coisa tenho
que excetuar dessa casualidade sem regra: a saber, que os melhores métodos de
o, ;;:-~gados"
produção de duração diferente, que se tornaram acessíveis em razão do nível atingi­
;~IO essas
do pelos conhecimentos técnicos, tendem a aumentar de produtividade à medida
~c :náximo
~ ~Jdo mo­
que aumenta essa duração - isto, não como necessidade abstrata, mas como re­
gu~aridade empírica que se tornou bem plausível em razão de considerações perti­
::':::5 longos
I ::5Doníve!
nentes à técnica da produção. Se o melhor método de produção de seis anos, do
5:..:~~iência, qual temos conhecimento de acordo com nosso hodierno nível global dos conheci­
1:.::. da qual
mentos técnicos, permite obter 320 unidades de produto com cada 100 dias-trabalho,
I :;:-odução não é regra típica, mas exceção extremamente improvável, que o mesmo nível geral
s,.::,empre­ atingido por nosso conhecimento técnico não revele absolutamente nenhuma for­
ma de aumentar ainda um pouco mais a produtividade por meio de modificação
rc::e os ac­
ainda mais capitalista de elos individuais do citado processo de produção, por meio
J ~e:ta pelo
1 "::TIa pro­
de emprego ainda maior de máquinas que poupam trabalho humano, por meio
de dotação ainda mais durável e mais dispendiosa do capital fixo utilizado etc. ­
r.-::-ora tec­
x::..:r:vidade modificações estas que envolveriam um prolongamento do processo de produção,
de seis para sete ou oito anos -, em vez de, como querem ilustrar os números dos
2:-::rar em
exemplos dados por Fisher, mesmo o método de produção de sete ou oito anos
tecnicamente mais bem escolhido, ficar aquém da produtividade do melhor método
;2:: das ci­
de seis anos. A linha dos números indicadores da produtividade dos processos de
t.2 coloca
produção em cada caso melhores, possibilitados por determinado estágio do co­
i:..:.:-c.ção di­
nhecimento técnico, não poderá ser. como no esquema de Fisher, uma linha inter­
:2 propó­
rompida, que sobe e desce irregularmente, senão que terá que expressar um aumento
k sobre o
constante; em contrapartida, a massa dos demais processos possíveis, que não são
e;:,:-esentar
os Tí.elhores, pode sim apresentar números de produtividade que se cruzam de for­
5 =e esco­
ma inteiramente casual e irregular. Meu esquema, muitas vezes utilizado em meu
e: produ­ Iivm,lO não pretende ser o esquema de todos os métodos de produção possíveis,
: s23uir os
mas apenas o esquema dos melhores processos de produção possíveis pertencen­
Ic aqueles tes a cada duração da produção; por isso, ele mostra somente a linha superior as­
,e5pecti­
cendente, Também o esquema de Fisher apresenta para cada duração de produção
e alcance apenas um único número indicador de produtividade; se com isso ele também ti­
<'xemplo,
vesse pretendido designar os números de produtividade melhores possíveis de caso
c ;Jeríodo
para caso, seu esquema seria inadequado tanto em relação as minhas concepções
J 2'.l. que
quanto em relação aos fatos. Todavia, como esquema de todos os processos de
c.':: ;::>erfei­
produção simplesmente possíveis, ele seria além disso incompleto em grau extre­
~.2ros de
mamente improvável, uma vez que cada duração de produção sempre só pode ser
I.::~.
representada por vários ou muitos métodos diferentes de produção. Poder-se-ia ela­
te ~ande
borar um esquema típico correto e ao mesmo tempo completo de todos os proces­
.-;. Cl?e ser sos de produção possíveis, colocando at rondam, debaixo de cada número de meu
:::-::::0 dos esquema dos melhores métodos de produção possíveis, quantos números se quiser
s-:·.ei esta­
e escolhidos à vontade, os quais, naturalmente, apenas devem ser todos inferiores
~. como
às cifras de produtividade do melhor método possível de duração igual.
~. 52ja de
Vejamos agora o que e quanto a "escolha" (selection) tem a ver com a regra
r.:: :TIpO, e
:;:..:e não
e:-2m ex­
. ['J. por
"', Ver, por exemplo, a p. 402 da primeira edicão (alemã) e a p. 400 da seRunda
68 TEORlA POSITNA DO CAPITAL

da maior produtividade dos métodos indiretos de produção mais longos, segundo


nossas duas opiniões.
Se esüver interpretando corretamente as afirmações de Fisher sobre esse pon­
to,u ele vê a coisa assim: simplesmente não existe aqui uma regra objetiva basea­
da em motivos naturais, pertinentes à técnica de produção; o que existe é apenas
a aparência de tal regra, a qual nos é ilusoriamente sugerida por uma escolha;' que
na verdade é feita apenas por nós mesmos. Na verdade, opina Fisher, os processos
de produção mais longos muitas vezes só apresentam um produto igual - ou até
menor - ao dos processos mais curtos: acontece que naturalmente não os esco­
lhemos para adotá-los na prática. "pois ninguém escolherá um caminho mais longo
se este não for ao mesmo tempo um caminho melhor". Assim é que todos os casos
que não se ajustam à pretendida "regra" são eliminados (weeded out) por uma "es­
colha" feita por nós, desaparecem de consideração, restando como casos efetiva­
mente concretizados apenas aqueles que se ajustam à "regra". Se tudo se reduzisse
a isso, na realidade a regra supostamente observada não se basearia em dados ob­
jetivos e naturais quaisquer, senão que a regra seria criada apenas por nós mesmos,
mediante a escolha feita por nós: para sermos mais corretos, seria nossa própria
escolha que nos faria crer na existência de tal regra. "The reason (of the general
faet that long processes are more productive than short processes) lies in selection".12
Esse modo de entender diverge do meu em um ponto bem essencial e de prin­
cípio: Fisher nega a existência de uma regra objetiva fundada já nos fatos pertinen­
tes à técnica de produção. e eu afirmo a experiência de ta! regra objetiva. Segundo
Fisher, existe apenas a aparência de uma regra. sendo ela apenas conseqüência de
uma escolha feita e gerada por essa escolha. ao passo que, segundo minha tese,
a regularidade já se inscreve nos fatos, que existem antes e independentemente de
nossa escolha; Fisher reconhece apenas uma regularidade nos processos de produ­
ção efetivamente escolhidos, ao passo que eu afirmo uma regularidade nos proces­
sos de produção que se abrem à escolha.
Depois de tantos erros, mesmo da parte de autores tão claros como Lexis e Fis­
her, preciso conseguir urna clareza da qual não se possa fugir, e isso a qualquer
preço, mesmo que seja o de uma exposição ainda mais monótona. Peço excusas

11 Já que o próprio ProL Fisher, em seu Prefácio (p_ \/rlIJ. informa a seus leitores que o capítulo de sua obra dedicado
a minha teoria dos juros foi objeto de troca de idéias por carta entre nós, antes da publicação de sua ourel, creio que também
eu, sem cometer indiscrição, posso referir-me a essa correspondência privada, na medida em que isso for desejável ou
até indispensável para esclarecer o problema científico. Isso me parece acontecer exatamente aqui, onde dificilmente se
consegue uma compreensão plena do atual texto de Fisher sem um comentário haurido da história da origem do mesmo.
Com efeito, originalmente, em um parágrafo especial. Fisher havia expressamente impugnado como "contendo erros" mi~
nha propos,ção da maior produtividade dos métodos indlIetos de produção mais longos Quando. por bondade dele, tive
ocasião de examinar o respectivo capítulo, pouco antes de sua impressão, pude, por correspondência, remeter para algu­
mas passagens de minha Teoria Positiva do Capital, e sobretudo de mínhas "Strittige Fragen", que explicam meus próprios
pontos de vista. O fato de Fisher não ter levado em conta essas passagens me indicava d. probabilidade de que a contesta­
çào dessa proposição por parte de Fisher se devia essencialmente ao futo de ele nào h?lver entendido corretamente minhas
posições, e de que talvez simp(~smente não existisse uma divergência material de opinião entre nós. Em virtude de uma
casuahdade peculiar, Fisher de fato até ali ainda não havia tomado conhecimento do conteúdo de minhas "Strittige Fragen",
mas, após esse esclarecimento, visivelmente também teve a lmpressao de que nossas concepções coincidiam no essencial.
Diante dessa mudança de convicção, eliminou de sua exposição o tom polêmico, que no original era intencional: suprimír
o parágrafo de seu texto dedicado a contestar minha proposição, declarando expressamente, ao contrário, que "não levan­
tava nenhuma objeção" contra ela. e também omitiu uma ou outra expressão que precisava melhor sua tese para fins polê­
micos. Agora, porém, a análise atenta de seu "Apêndice"', que permaneceu, me revela que nossas opiniões continuam a
não coincidir no ponto que para mim é o mais essencial. Para a interpretação ·1e seu texto, que na nova redação foi excessI­
vamente abreviado e se tornou um pouco ohscuro Quanto a seu alcance, par ~ce-me que várias nuanças omItidas do texto
original conservam seu valor, na medida em que sua omissão não foi motivada por uma mudança da própria opinião de
Fisher, mas apenas no tato de ele presumir que podia dispensar-se de defender polemicamente seu ponto de vista.
12 Ainda nais drástica é a formulação no texto original intencion?lao por Fisher: "lt is true only in the sense that those long
processes which fail to be more productive than shorter processes are intentiona!ly discarded ... 1t is this weeding out which
giyes rise to the illusion that there is some natural conneetion between the lenghth of the processes and its productivitv": -ti
EXCURsorv 69

52;undo por ter antes de preparar o terreno para o conhecimento que nos interessa, recor­
rendo a uma comparação tirada de um setor estranho.
2552 pon­ A densa rede ferroviária da Alemanha oferece numerosas variantes diferentes
C'.:: Jasea­ de ligação ferroviária entre Hamburgo e Frankfurt-am-Main, Uma delas é certamente
, € ::penas a mais curta. Que ela o é - qualquer que ela seja -, eis um fato sem dúvida pura­
C ~ .~.a, que mente objetivo, no atual estado da rede ferroviária. Em número igualmente grande
i =~::essos certamente existem variantes para a ligação ferroviária entre Hamburgo e Munique.
i-JU até Também entre elas há alguma que é mais curta, e também isso é um fato puramen­
IC =: 5 esco­ te objetivo. Se agora compararmos a distância das ligações entre Hamburgo e Frankfurt
r:-. :::5 longo com a distância das ligações entre Hamburgo e Munique, certamente não se pode­
:':' :5 casos rá afirmar como "regra", com base nas condições reais, que todas as conexões ferro­
y ..::na "es­ viárias existentes entre Hamburgo e Munique são mais longas do que todas as variantes
;..: 5 efetiva­ de conexão entre Hamburgo e Frankfurt. Se, por exemplo, alguém viaja de Ham­
.: ~eduzisse burgo para Frankfurt passando por Stettin, Koenigsberg, São Petersburgo, Varsóvia,
::::dos ob­ Berlim e Dresden, essa linha seguramente é bem mais longa do que se alguém via­
~ :-:lesmos, jar de Hamburgo para Munique passando por Goettingen e Wuerzburg. Entretanto,
S"ê própria poder-se-á constatar e afirmar objetivamente que a ligação mais curta para Muni­
lc-. 2general que é mais longa do que a ligação mais curta para Frankfurt. E o caráter objetivo
;;.;: :ection", 12 dessa constatação não mudará nem mesmo se a expressarmos dizendo que a liga­
L 2 ::ie prin­ ção mais bem escolhida entre Hamburgo e Munique - mais bem escolhida, entenda­
):õ ::Jertinen­ se, do ponto de vista da brevidade, pois existem ainda outros critérios de escolha,
~ ~egundo como a beleza do ponto de vista da paisagem rural, o passar por pontos intermediá­
~c::':2ncia de rios de interesse, a comodidade dos vagões etc. - é mais longa do que a ligaçã9
rr:'.lla tese, mais bem escolhida, sob o mesmo ponto de vista, entre Hamburgo e Frankfurt. E
!2~lente de claro que podemos constatar um aumento da distância das ligações "mais bem es­
~ ::e produ­ colhidas" não só porque se escolhem efetivamente essas ligações, senão que a rela­
r:" proces­ ção numérica crescente existe nos fatos, antes e independentemente de qualquer
escolha. A escolha já depara com essa relação numérica crescente e não é a esco­
~:xis e Fis­ lha que dá origem a esta última.
:: qualquer De maneira análoga, poder-se-ia agora investigar a relação de distância entre
2';':' excusas
Hamburgo e uma outra série de pontos, por exemplo Milão, Florença e Roma. Tam­
bém aqui certamente chegaríamos novamente a uma observação real de uma série
que aumenta constantemente; e também aqui, certamente não no sentido de que
I.." : :'a dedicado todas as variantes de conexões entre Hamburgo e Roma teriam que ser mais longas
::-,;: _ ':;:Je também do que todas as variantes de ligações entre Hamburgo e Florença, e estas, por sua
-:- .:!esejável ou
co::: :"::cilmente se vez, teriam de ser mais longas do que todas as variantes de conexões existentes en­
r~:""; -:-. do mesmo Ire Hamburgo e Milão, e assim por diante, mas sim no sentido de que a via mais
r.;.::;-_::o erros" mi­ curta, ou seja, a via "mais bem escolhida do ponto de vista da brevidade", entre Ham­
lCc:ede dele, tive
.,-<:er para algu· Durgo e Roma, é mais longa do que a via mais curta Hamburgo-Florença, e esta
I r -:-;eus próprios é mais longa do que a via mais curta Hamburgo-Milão, esta é mais longa do que
h.:: :..:2 a contesta­
rr.::~~ente minhas
a via mais curta Hamburgo-Munique etc. E é novamente óbvio que essa série cres­
" .-:ude de uma :ente, respectivamente decrescente, está absolutamente fundada nas condições ob­
, -S::-::tige Fragen", letivas existentes e não se deve apenas ao fato de os viajantes escolherem efetivamente
:ti2..-:":. :10 essencial.
E":"c::ial: suprimir ::eterminadas rotas comparadas entre si: a citada série crescente das ligações mais
c.. : . . 2 -não levan­ :urtas existe objetivamente, quaisquer que sejam as ligações que efetivamente se
1!5ê' "ara fins polê­
IIII~"':~ :ontinuam a
escolher para utilizar.
!'!':_~;~G foi excessi­ De modo bem análogo se agrupam os fatos na questão que nos ocupa. Há
: - ocas do texto :lúmeras variantes de métodos de produção possíveis, que levam à fabricação de
7:'::'""';' opinião de
ç':'-~: ::::e vista ::eterminada espécie de produto. Elas se graduam, por um lado, de acordo com
"'"' "',,: those long "ua duração e, por outro, de acordo com sua produtividade, sendo que regular­
Ii€~ :.:".; out which
c "'3 :~oductivity~
-:'.ente cada grau de duração é representado por vários ou muitos graus de produti­
70 TEORIA POSITNA DO CAPITAL

vidade. Entretanto, naturalmente sempre haverá necessariamente, entre todos os


métodos de produção ou variantes de métodos de produçªo que pertencem a um
e mesmo tipo de duração, algum que é o mais produtivo. E possível, por exemplo,
que a determinado estado do conhecimento e das possibilidades técnicas, dentre
dez métodos de produção diferentes, conhecidos e de duração igual de um ano,
I

o mais produtivo seja aquele que com 100 dias-trabalho permite fabricar 300 uni­
dades de determinada espécie de produto. Teríamos aqui um fato inteiramente ob­
jetivo da ordem da técnica de produção, o qual sob aspecto algum P..ressupõe uma
-
__ -
.c:-..-~-::::
-
escolha, e muito menos a execução efetiva de uma escolha feita. E verdade que ---
-:::::'~

se a pessoa tiver motivo para pôr em prática justamente um dos métodos de produ­
ção de um ano de duração, seguramente só escolherá o que for melhor; todavia,
a circunstância de que, com determinado estado do conhecimento e da capacidade
técnicos, entre todos os processos de produção de um ano que se conhecem, um
é o mais produtivo do ponto de vista técnico, e este possibilita uma produção de
300 unidades; essa circunstância, como fato objetivo pertinente à técnica de produ­
ção, existe anteriormente a qualquer escolha e independentemente dela.
Exatamente da mesma forma, se for o mesmo o estado do conhecimento e - . . . _.._-=-":::
da capacidade técnicos, entre todos os métodos de produção de dois anos, que
possivelmente podem ser empregados para fabricar a mesma espécie de produto, -- -- --- ;:..::.
-- - -
algum deles é objetivamente o mais produtivo; e o mesmo acontece entre os méto­
dos de produção de três anos, os de quatro, os de cinco, e assim por diante.
Ora, se os fatos são tais - e penso que realmente o são - que o método de
produção objetivamente mais produtivo entre os de um ano, no mencionado esta­ =-::~=-;: =....--:: ~

do do conhecimento e da capacidade técnicos, é suplantado pelo objetivamente mais =i~:~ =_1


produtivo dentre os métodos de produção de dois anos, e este, por sua vez, é su­
plantado pelo melhor método conhecido de três anos de duração, e este é sobrepu­ -- ,..,~-
C- _..::._
--
jado pelo melhor método de produção conhecido de quatro anos, e assim por diante,
daqui resulta uma regra da produtividade crescente dos melhores métodos de pro­
dução possíveis, que se estriba numa base exclusivamente objetiva e tem validade
antes e independentemente de qualquer escolha, tanto quanto acontece com a re­
gra objetiva de que as vias de ligação mais curtas entre Hamburgo, de um lado,
e Frankfurt, Munique, Milão, Florença e Roma, de outro, aumentam na seqüência :: ="":Õ:-:-. ~
mencionada. Não é o fato de se fazer uma escolha que introduz uma graduação ,,~;_:'":::õ j

num material primitivo de possibilidades de escolha, senão que o material primitivo ~':;=_~_2-_:-::

já revela uma graduação natural e regular, ao menos em certas zonas, aliás exata­
mente nas mais importantes para se fazer a escolha. Ora, isso é obscurecido pela
interpretação dada por Fisher.
Quero agora procurar mostrar, no campo de nossa própria ciência, de que ma­ .­ = .::; = '.'
neira essa interpretação de Fisher é falha e onde está a falha; procurarei fazê-lo com
aquela clareza que é exigida pela complexidade maior e mais interessante do assun­
to. A melhor forma de fazê-lo é partir de fenômenos econômicos paralelos e afins.
Com efeito, há na vida econômica numerosas leis exatamente da mesma natureza
e que em particular também apresentam exatamente a mesma relação - mal en­ - ­ -- - ­-

-
-'

tendida por Fisher - com uma "escolha", sendo que esta última também desempe­
nha um papel em todas as leis econômicas. Comecemos pelo exemplo mais trivial,
por ser o melhor.
Com relação a todas as espécies de bens que não têm o caráter de bens "livres",
normalmente damos maior valor a uma quantidade maior deles do que a uma quan­
tidade menor; por exemplo, dois dólares terão para nós valor maior do que um dó­
lar, e três dólares terão valor maior do que dois; ou, então, sempre daremos maior
valor a três hectares de terra cultivável fértil do que a dois hectares, e a dois hectares
EXCURSO IV 71
::::-e :odos os atribuiremos maior valor do que a um. Por quê? Se nos dermos ao trabalho de ana­
",:-cem a um :isar os motivos dessa verdade extremamente trivial, deparamos com o engrena­
::.=: exemplo, mento entre duas circunstâncias regulares, uma subjetiva e outra objetiva. A
r.~c=.s. dentre circunstância subjetiva consiste em uma escolha que fazemos. Toda ação que se guia
:e 'Jm ano, pelo princípio da economicidade se baseia no fato de, entre todos os empregos ob­
e::.:" 300 uni­ Jetivamente possíveis de nossos bens, escolhermos os que nos são mais úteis e os
~:-:lente ob­ atendermos com o estoque de bens de que dispomos, de acordo com a hierarquia
~"-":'Jõe uma de sua utilidade. E os raciocínios que fazemos na avaliação dos bens incluem justa­
;.e:~ade que mente essa escolha. Não poderia haver nenhuma lei sobre o valor, e em particular
c:: :::eprodu­ não poderia haver a lei da utilidade marginal se entre os empregos possíveis dos
r. =: todavia, bens não fizéssemos a escolha dos melhores possíveis, ou pelo menos não nos es­
~ =i:;Jacidade forçássemos por fazer corretamente tal escolha. Avaliamos cada quantidade de bens
-.-'.ec:em, um que deve ser submetida a nosso juízo de valor, com base no melhor emprego ­
:::'::ução de aliás ainda não concretizado13 - que lhe pudermos dar. Por esse critério avaliamos
:.i: '::e produ­ aquele um dólar ou aquele um hectare de terra de que dispomos, e com base no
... -:::::-:: mesmo critério pesamos também, na avaliação dos dois dólares e dos dois hectares,
r-.,õ :~::Jento e a utilidade maior que podemos auferir dessa quantidade maior, e assim por diante.
~ i::;os, que Este é o efeito da escolha. Ela faz com que, entre todas as possibilidades de empre­
:,õ produto, go para uma unidade (dólar ou hectare), todas as menos importantes 14 desapare­
,:::-,õ os méto­ çam da consideração e sobre apenas o emprego mais importante (desde que ainda
:: ':::ante. não concretizado), e, da mesma forma, entre todas as possibilidades de emprego
; :-:-:étodo de para duas unidades (dólares ou hectares), todos os empregos menos importantes
~: -.=.do esta­ desapareçam da consideração e, de novo, apenas sobre o emprego mais importante
~:-.e:;te mais (desde que não concretizado), e assim por diante. Em suma, a escolha faz com que,
;i: ·,ez. é su­ em se tratando de comparar o valor de quantidades diferentes de bens, só perma­
E 2 ::obrepu­ neçam no âmbito da consideração os cumes das possibilidades de emprego em aberto
r: :::::Jr diante, para cada quantidade. Tudo aquilo que está abaixo dos cumes fica excluído pelo
,:'::: de pro­ princípio da seleção.
::- ,alidade Isso era necessário para fazer com que haja uma formação regular do valor pa­
:e:Jmare­ ra cada objeto, considerado em si mesmo. Todavia, para que os valores assim for­
:'" -"::TI lado, mados de uma série de objetos, ordenados de acordo com determinado princípio,
e ~eqüência possam apresentar entre si uma relação regular, tem de entrar em jogo ainda uma
: ;:-=.duação segunda lei, que é de natureza totalmente objetiva. Com efeito, para que - o que
:3: :ximitivo realmente acontece - o valor da respectiva quantidade maior de unidades sempre
:': :é.s exata­ seja maior do que o valor de um número menor de unidades, para que, em série
::-2::do pela sempre crescente, o valor de dois dólares, de dois hectares, de dois dias de trabalho
sempre se revele maior do que o valor de um dólar, um hectare, um dia de traba­
C,õ :ue ma­ lho, e o valor de três unidades de tais bens, por sua vez, seja superior ao valor de
:::.z2~io com duas unidades, e assim por diante, é necessário que com o melhor emprego que
E =.~ assun­ se pode dar a duas unidades - emprego este que justamente se tem em vista ao
,: =" e afins. fazer a avaliação - se consiga mais do que com o melhor emprego de uma só
".=. :-:atureza unidade, e com o melhor emprego de três unidades, por sua vez, se consiga mais
- :TIal en­ do que com o melhor emprego de duas unidades, e assim por diante. Ora, isso
l :e::empe­ é um fato puramente objetivo e, caso se trate da avaliação de meios de produção,
r:-. :,:':: trivial, como terra cultivável, dias de trabalho e similares, um fato da ordem da técnica de
produção. Não precisaremos absolutamente preocupar-nos com motivos da ordem
lõ<:: -livres", da história natural ou da técnica da produção, os quais tornam explicável ou plausí­
__ -'--.2: quan­
i_2 :..;m dó­
13 Como sabe todo aquele que conhece a teoria da utilidade marginal, ele coincide com O último e menos importante
:-:-.::: maior dos empregos atendidos.
L:: '-.2ctares :4 Isto é, dos que estão enquadrados na utilidade marginaL
72 TEORIA POSITIVA DO CAPITAL

vel que, em paridade de condições. se pode colher mais de dois hectares de terra .-- -- - :..
----- --
cultivável do que de um, e que com dois dias de trabalho se pode obter mais pro­
duto do que com um.
Note-se bem: pode-se obter, e de modo algum necessariamente se tem de ob­
ter. Pois também aqui há inúmeras oportunidades de emprego diferentes. respecti­ -- - -- - -
vamente -- em se tratando de meios de produção - métodos de produção diferentes:
há os que são adequados e os que são inadequados, os que são antiquados e os
que estão de acordo com o estágio da técnica: e também aqui há de acontecer mui­ - -- - ::.­

tas vezes que, em se adotando um método de produção menos adequado, talvez


superado, de dois hectares de terra se obtenha menos produto do que se pode ob­
ter de um hectare. utilizando-o da maneira mais adequada. Mas as cifras irregulares
indicadoras de produtividade dos métodos inadequados ou menos adequados ­
e aqui o weed out de Fisher desempenha realmente o seu papel - são eliminadas,
no caso de avaliações comparativas. pelo fato de sempre se basear a avaliação de
cada objeto na possibilidade de emprego ou no método de produção mais bem es­
colhido, no sentido acima explicado, ou seja. no "cume":para ficarmos na imagem
acima utilizada. Ora, o fato de os "cumes" pertencentes a quantidades desiguais se
tornarem sempre tanto maiores, dentro da mesma série, quanto maiores forem as
quantidades avaliadas. eis uma lei puramenre técnica que não tem absolutamente
nada a ver com uma escolha e muito menos é uma lei destituída de fundamento
natural ou técnico e se deva à ação de uma "seleção", Não creio que alguém se sen­
tisse tentado a interpretar também essa -regra" como um efeito exclusivo da se/ec­
tion, de acordo com a fórmula final de Fisher. Pelo contrário, a regra do valor cada
vez maior de quantidades maiores da mesma espécie de bens l :, se baseia visivel­
mente em duas premissas. Primeiro, na premissa de que avaliamos cada bem e ca­
da quantidade de bens de acordo com aquele emprego que teríamos de escolher
para concretizar, pelo princípio da economicidade. dentre todos os modos de utili­
zação possíveis. ou seja, pelo emprego mais bem escolhido: nessa primeira premis­
sa atua efetivamente a escolha. Em segundo lugar. a mencionada regra se baseia
na premissa de que o melhor emprego existente - e portanto aberto à escolha -.
da quantidade maior de bens é sempre melhor do que o melhor emprego existente
da quantidade menor. Essa premissa não tem absolutamente nada a ver com uma
escolha. Ou ela existe como uma regra natural ou técnica, ou ela simplesmente não
existe. Se - o que sem dúvida dificilmente conseguiríamos imaginar por contradi­
zer a toda a experiência - mesmo o mais adequado emprego de uma quantidade
maior de bens não permitisse obter maior resultado do que se pode conseguir com
uma quantidade menor, mas apenas o mesmo resultado, ou até menor. nesse caso
também não teria cumprimento a regra de que a quantidades maiores sempre se -- - - - --
-
atribui valor maior do que a quantidades menores. E nesse caso nem mesmo a es­
colha das melhores oportunidades de emprego respectivas seria capaz de fazer-nos
crer na aparência de tal regra.
Como já dissemos, nossa vida econômica apresenta uma série de regularida­
des ou leis baseadas na intervenção de uma "escolha" - característica para qual­
quer atividade econômica - em um conjunto efetivo de possibilidades de escolha,
sendo esse conjunto já regularmente graduado em alguma direção. A título de exemplo
cito a lei da utilidade marginal e do valor da unidade de bens, que decrescem à
medida que aumenta o estoque de bens, lei esta cuja validade tem como pressu­

lS Penso que leitores sofrivelmente atentos perceberão, mesmo sem comentário, que essa regra pode coexistir sem contra­
dição com a outra regra. baseada na experiência, de que, aumentando a quantidade, em paridade de condições o valor
da- unidade tende a ser menor.
EXCURSO IV 73
E ~ ::e terra
posto, além da escolha do respectivo emprego mais econômico, também a existên­
. --:" 3is pro­ cia da lei objetiva de Gossen sobre a diminuição do prazer; se isto, que atualmente
é uma exceção no caso de algumas poucas espécies de necessidades - por exem­
:,õ--:"de ob­ plo, no da paixão de colecionar - ou para os primeiríssimos estágios de uma satis­
:' ~2specti­ fação ainda insuficiente - por exemplo, no caso do prazer sentido por uma pessoa
, ::::2rentes: que sofre de sede ao sorver as primeiras gotas -, se aplicasse de modo generaliza­
_::::os e os do e o desejo de prazer aumentasse regularmente à medida que se desfruta do pra­
;;".::er mui­ zer, ao invés de diminuir, nesse caso certamente também a avaliação de uma unidade
'=::'J. talvez
pertencente a um estoque maior ocorreria de modo bem diferente do que pela lei
E -::ode ob­ da utilidade marginal decrescente. Penso, além disso, que a validade da lei dos cus­
~2gulares
tos se funda numa base combinada de modo semelhante; o mesmo vale com rela­
::: ..;ados ­
E-_':"'.inadas, ção à lei de Gresham sobre a expulsão da moeda boa pela moeda má, com relação
à regra empírica do efeito da divisão do trabalho na redução dos custos, à teoria
,::.ação de
da renda fundiária dos terrenos mais férteis 16 e dos terrenos mais bem localizados,
ê.~ Dem es­
bem como com relação à importante lei da "produtividade decrescente do solo". Es­
cc: :magem
pecialmente esta última constitui uma contrapartida tão exata e por isso tão instruti­
:" ô:guais se va para minha regra da maior produtividade dos métodos de produção mais longos
~ô :orem ãS
que faço questão de ainda ilustrar expressamente sua estrutura análoga, apesar de
c _-':Tamente
todo o risco de prolixidade.
- - ::amento
l~ -~. se sen­
Como é sabido, a lei da assim chamada "produtividade decrescente do solo"
significa que, empregando-se mais capital e trabalho em determinado terreno, via
: ::a se/ec­ de regra pode-se aumentar o resultado a ser obtido do terreno, mas - a menos
-alor cada
que sobrevenham nesse meio tempo novas invenções e descobertas de aperfeiçoa­
~a visivel­
mento das técnicas agrícolas - o aumento do resultado ocorre em uma proporção
l ::-2m e ca­
menor do que o aumento dos gastos; significa que, por exemplo, se 10 trabalhado­
:" 2scolher res conseguem produzir 1 000 quintais de trigo em determinada área, caso se iden­
i::-ô de utili­ tifique o cultivo da terra, dobrando o número de trabalhadores para 20, só se consegue
!~:: premis­
obter um aumento inferior ao dobro, por exemplo, apenas um aumento para 1 800
:: ô2 baseia quintais, e triplicando o número de trabalhadores, para 30, só se consegue, tam­
"ô::olha ­ bém aqui, um aumento menor, por exemplo, para 2 SOO quintais, e assim por diante.
~::- existente
Esse "pode-se" vale exatamente no mesmo sentido bem nuançado no qual, se­
f. ::Dm uma
gundo minha regra, "pode-se" via de regra conseguir uma produtividade maior pro­
:::-:2nte não longando o método indireto de produção. Nos dois casos, o "pode-se" significa, por
,~ .::ontradi­
um lado, mais do que uma simples possibilidade casual, cuja ocorrência ou não­
:_antidade ocorrência não seria mais certa do que o resultado de dados no jogo - significa
~;:Jir com
uma possibilidade assegurada, com cuja concretização se pode contar,17 caso se
lesse caso proceda racionalmente. Contudo, essa "possibilidade assegurada" está, de um lado,
:'-e~pre se
tão longe de uma simples casualidade quanto, de outro, de um "necessariamente
,ô~o a es­
ter de ser"; pois essa possibilidade pode vir a ser sempre perdida por culpa própria,
, :3zer-nos mediante um ato irracional ou menos racional. Assim sendo, nos dois casos essa
regra peculiar se baseia na ação de uma escolha racional dentre uma série de possi­
.0. :ularida­
bilidades objetivas de escolha, série esta já regularmente graduada. Certamente a
:;~a qual­ lei da produtividade decrescente do solo não poderia aparecer se as pessoas ado­
E 2scolha,
E -exemplo
::::-escem à 1(, Com efeito, essa pressupõe 1) que os proprietários dos terrenos escolham a utilização reconhecida no momento como

a mais adequada (cultivam seus terrenos da maneira no momento usual no país). e 2) que. utilizando os terrenos da maneI­
::: ;Jressu­ ra mais adequada, os mais férteis proporcionam um produto maior do que os menos férteis. Evidentemente, o fenômeno
da renda fundiária e as leis típicas de sua grandeza desaparecenam se faltasse nem que fosse um desses dois pressupostos
- portanto, se o dono do terreno mais fértil utilizar sua terra de forma inadequada ou contrária ao bom senso. ou se não
:::- :~ --:-. contra­ fosse um fato objetivamente certo que, havendo uma utilização tecnicamente à altura, o terreno mais fértii produz mais
= ;:-::-5 o valor do que o menos fértil
17 Evidentemente, com aquele risco que nunca falta, mesmo nas instituições que na prática são "mais seguras~. e CUJa con­
sideração - não preciso sequer afirmá-lo - é uma questão bem diferente
74 TEORIA POSITIVA DO CAPITAL

tassem seus métodos de produção baseadas apenas em um cego "quase", ou se pro­


positadamente escolhessem métodos piores do que aquele que em cada caso é o
melhor e é acessível a seu conhecimento e sua capacidade. Essa lei não pode dis­
pensar a colaboração de uma escolha racional. Mas tampouco a escolha sozinha
bastaria para gerar essa regularidade peculiar. A escolha pode selecionar em cada
caso o melhor método que se pode adotar, com determinada combinação de for­ rlé :':2: :.'
ças produtivas, de acordo com o estado atingido pela capacidade produtiva, mas J2õõ"'õ -:-:.2 - J
não é capaz de determinar as cifras indicadoras da produtividade desse método;
ela pode escolher os "cumes", mas não é capaz de determinar a altura deles Os
"cumes" têm a altura antes da escolha e independentemente dela. E se o melhor
método hoje acessíveL de acordo com o hodierno estágio do conhecimento, para
ocupar 10. 20. 30, 40, 50 trabalhadores em determinada área de terra, leva a pro­
duzir 1 000, 1 800, 2 500, 3 100, 3 600 quintais de trigo, essa graduação regular
tem motivos objetivos, naturais, de ordem da técnica de produção. que têm de ser
aduzidos para explicar a regularidade e que, como é sabido, são efetivamente adu­
zidos pela química agrícola,. As invenções têm alterado o ponto de partida da série,
e continuarão a alterá-lo. E possível que há cem anos o ponto de partida da série
tenha sido mais baixo - em lugar de 1 000, talvez somente 500 -, ao passo que ~:':;ê C'" :2:-:~ :
dentro de mais cem anos talvez será de 2 000. Entretanto, em todas as épocas das =. '"J~efe~2:-. ~ :: ::
quais possuímos experiências e observações que nos foram transmitidas se pôde
observar que, sem que a técnica evolua, simplesmente utilizando os métodos mais
racionais conhecidos na época, aumentando o dispêndio na agricultura se pode con­ -=_ .... ~:Jta:~ =~ ~ =
seguir um aumento graduado e peculiarmente decrescente da produtividade do so­ J: J;2:-':]2 -:;
lo, fenômeno que o fator escolha, considerado sozinho, é totalmente insuficiente para :2:;"'Õ"':::?::C:
explicar. ::':;:2r",:,.::?' ~:~
Não menos certo é que, de acordo com as experiências de todos os tempos : :2:aç2C :-: ~s
dos quais temos conhecimento, um aumento do capital disponível aos trabalhado­ 2:'õ2 a5D':;::: ;;
res - isto é, como procurei ilustrar alhures, uma mescla maior de trabalho "anterior" :".a. Da :-:.C::::
com trabalho corrente - ou a adoção de métodos de produção que remuneram
em média mais tarde o dispêndio de trabalho, permitem auferir vantagens no resul­
tado da produção; o fato de tais vantagens serem acessíveis. eis um fato pertinente :'2.-a o s:?- :2
à técnica de produção; o fato de não se deixar perder as vantagens acessíveis. eis ? ";'00 c;:'.. :a:-::

uma coisa que depende de uma escolha racional. :,:; 5 ano:' :,:0--::.
Contudo, a analogia na estrutura dos fatos que acabamos de comparar se am­ ::'5ponce: ? -?;
plia com mais um traço interessante, pelo fato de nos dois campos de fenômenos ~2:n:ca c.2 ;::-:~

comparados se efetuar uma dupla escolha: uma "pré-escolha" preparatória e u'ma :':;:ltes ce :2-.5
"escolha principar. A que aqui denomino "pré-escolha" seleciona. entre todos os mé­ :,-?guintes :2 :-:-,
todos pertencentes a um e mesmo tipo de produção, o melhor de caso para caso; =:..;e dif:c'l:c',2 -:"
ela identifica, portanto, o melhor entre os métodos de um ano de duração, o me­ -= ,:;ríodo =:-? ::::
lhor entre os de dois anos, o melhor entre os de três anos etc., ou, no campo da ~ :"', dep",:- -=2:-!
"produtividade decrescente do solo", o melhor, entre os métodos de trabalho pouco Entre 2:'::.'::
intensivos, com os quais se faz com que determinada área de terra seja cultivada :::odutl\:ca:,:;
por apenas 10 trabalhadores, e a seguir o melhor método entre os mais intensivos, ~ 'pré-eõ:::a'
que na mesma área de terra emprega 20 trabalhadores, e assim por diante. Essa -.a expl'::a;~:
pré-escolha, por exemplo, haveria de excluir todos os métodos de cultivo agrícola :;:nClpa,. :~:-:
com os quais, empregando-se 10 trabalhadores, se poderia obter, na citada área ::las não :: ?:a
de terra, menos de 1 000 quintais de trigo e identificaria como representante desse :':2 maio: ::: =1
grau de intensidade, para ser objeto da escolha principal, apenas o melhor método
que permite obter, com a citada combinação de forças produtivas, 1 000 quintais;
analogamente, a escolha eliminaria do próximo grau de intensidade todos os méto­
dos que com 20 trabalhadores permitem conseguir menos de 1 800 quintais de tri­
EXCURSOIV 75

:=..: se pro­ go. No campo dos métodos de produção de natureza capitalista de intensidade
::=:: :aso é o 'I diferente a pré-escolha eliminaria, por exemplo, todos os processos de produção
de um ano com produtividade inferior a 300 unidades do produto por 100 dias­

i
~:= :ode dis­
: -~ sozinha trabalho, todos os processos de dois anos com uma produtividade inferior a 320
-:::- 2m cada unidades, e assim por diante.
.=:=~= de for­ Há depois uma segunda escolha, bem diferente, cuja função é determinar qual
,:_::·,a. mas desses "melhores" métodos de produção deve ser escolhido para ser efetivamente
-1t
,~" ==létodo:
~,
adotado. Enquanto a pré-escolha identifica em cada caso o melhor representante
~.= :=21es. Os de cada tipo de produção, a escolha principal seleciona, entre os tipos de produção
~ : melhor assim representados, o melhor tipo nas circunstâncias efetivas. Ela decide sobre o
:-" - :0. para grau da intensidade de operação e sobre o grau de "capitalismo" a ser utilizado. Nes­
2.3. a pro­ sa "escolha principal" atuam também outras considerações. diferentes das pertinen­
=:: ~: regular tes à técnica de produção. Enquanto as considerações sobre a técnica de produção
: ':~:-:l de ser asseguram ao melhor representante de cada tipo uma primazia absoluta com rela­
:-.':::lte adu­ ção aos representantes menos bons do mesmo tipo, e enquanto é certo, por exem­
:::.= ia série. plo (excetuando-se o caso de um erro ou de obstáculos de ordem inteiramente
:::.= da série individual). que um método que com vinte trabalhadores produz em determinada
: :::sso que área de terra 1 800 quintais de trigo, quaisquer que sejam os preços do trigo, tem
, ~:Jcas das a preferência absoluta com relação a um outro método que, com as mesmas forças
:ú se põde produtivas (portanto 20 trabalhadores), só consegue um produto de 1 600 quintais,
~:: ::os mais permanece completamente aberta a questão se é mais vantajoso produzir 1 800
i-2 :ode con­ quintais de trigo empregando 20 trabalhadores (o melhor representante do segun­
.:~::2 do so­ do grau de intenSidade) ou 1 000 quintais empregando 10 trabalhadores (o melhor
=' ::2:1te para representante do primeiro grau de intensidade). E sabido que não existe nenhuma
preferência absoluta, do ponto de vista da técnica de produção, de um método de
" :=" tempos operação mais intensivo com relação a um menos intensivo, ou vice-versa. mas sob
-=-.==alhado­ esse aspecto, entre outros fatores o preço dos produtos exerce uma influência deci­
~ : -::nterior" siva. Da mesma forma, o grau superior de produtividade gera, dentro do mesmo
:-2:--:uneram grau de capitalismo, uma preferência absoluta, mas de modo algum a gera entre
: -, ::0 resul­ graus diferentes do mesmo; 500 unidades dentro de 5 anos, sempre e qualquer que
:= : 2:tinente seja o grau de preocupação com o futuro, terão uma preferência certa com relação
:,::,,,\'eis, eis a 400 unidades dentro de 5 anos, mas já é outra questão se 500 unidades dentro
:ie 5 anos têm a preferência com relação a 400 unidades dentro de 4 anos, e para
:: .=:-::: se am­ :esponder a essa questão há que levar em conta, além de considerações sobre a
:.:::rômenos :écnica de produção, também as ponderações relacionadas com as avaliações dife­
::=:-:a e u'ma :entes de bens presentes e bens futuros, ponderações estas que Fisher resume nos
: : :,5 os mé­ seguintes termos, que não são incorretos se atendermos ao resultado prático, mas
- ::::a caso; J,ue dificilmente caraetelizam bem o nexo causal existente: escolher-se-á sempre aquele
-'=:::J. o me­ "Jeríodo de produção cujo resultado tiver o maior valor no presente e este, segundo
::=::.mpo da 2ie, dependerá da taxa de juroS. 18
:: ::.:-.0 pouco Entre essas duas "escolhas", na dedução e explicação de minha regra da maior
: :: :ultivada ::I:odutividade dos métodos indiretos de produção mais longos, somente a primeira,
~:-.:2nsivos,
~ ·pré-escolha", desempenha um papel- aliás o mesmo que desempenha também
: :::-.te. Essa :la explicação da lei da produtividade decrescente do solo. A segunda, a "escolha
:.. := agrícola o:incipal", também desempenha uma função dentro de minha teoria global do juro,
, :::::da área :-:las não para a dedução de minha premissa de ordem da técnica de produção,
:-::::-.te desse ::a maior produtividade técnica de métodos indiretos de produção mais longos, mas
"-- :: método
.: : quintais;
:: ~ :JS méto­ . Com efeito, creio que a verdade é o inverso: a taxa de juros, a taxa de mercado na relação de troca entre bens presen­
-.;:~
e bens futuros, deriva da relação entre as avaliações dos dois tipos de bens e não domina primariamente essa relação
.-::::5 de tri­
76 TEORIA POSI1lVA DO CAPITAL

somente na dedução de ulteriores conclusões a partír dessa premissa.


Talvez devamos agora ser gratos a Fjsher pelo fato de, devido a sua objeção
cética, ter-nos obrigado a pesquisar uma vez ex professo e em profundidade a rela­
ção - de altíssimo interesse, do ponto de vista dos princípios, e certamente não
de entendimento fácil - que a "escolha" tem com a origem de certas regras ou leis
empíricas de nossa vida econômica. A exposição e a ilustração que o próprio fisher
faz desse tema certamente confunde, como terá ficado claro com o que acabamos
de expor. Antes de tudo, ela suprime de todo justamente a função principal caracte­
rística da "pré-escolha" - isto é, a seleção dos métodos de produção que de caso
para caso são os melhores entre os vários ou muitos que pertencem ao mesmo tipo.
Pelo fato de, em seu esquema dos processos de produção possíveis, ela afirmar de ~:=, .... ::=al
antemão que cada tipo é representado por um único método, silencia ou suprime :: a :\fê~[J
exatamente os casos ,Tlais numerosos e típicos de uma "pré-escolha", que elimina
incondicionalmente certos métodos por motivos puramente de ordem da técnica
de produção; em lugar disso, desloca o campo de tal pré-escolha para um setor
em que ela também pode, teoricamente, ocorrer. mas no qual, na realidade. acon­
tece muito mais raramente e não como tipo, mas antes como exceção, ou seja, para
o campo da decisão entre vários tipos de produção diferentes.
Além disso, Fisher necessariamente confunde o leitor do ponto de vista tático
e também dificulta o conhecimento do assunto - já de per si de difícil compreen­
são - pelo fato de, por um lado, reconhecer formalmente meu second step, des­
pertar a impressão de que a exposição dele coincide com o conteúdo de minha
regra, ao passo que, tanto na exposição dos fatos como em sua maneira de explicá­
los, na realidade está em contradição comigo.
Para finalizar. creio que Fisher induz em erro também do ponto de vista mate­
rial, pois os fatos não correspondem àquilo que ele supõe. Quanto a isso, penso
já ter convencido suficientemente os leitores em outra parte. Com o que acabo de
dizer, porém, penso haver-lhes facilitado a aceitação confiante das razões anterior­
mente apresentadas. Refletindo sobre outros casos análogos, nos quais o princípio
da seleção invocado por Fisher também desempenha um papel, e sobretudo refle­
tindo sobre a lei da produtividade decrescente do solo, lei que apresenta um parale­
lismo exato com minha regra, espero que os leitores adquiram a certeza de que a
escolha sozinha não é capaz de criar todas essas leis e de que o reconhecimento
de uma influência da escolha não nos isenta da necessidade de admitir a presença,
nas possibilidades de escolha, de outras leis objetivas, baseadas em razões naturais
ou técnicas, sendo que nossa escolha apenas atua sobre as mencionadas possibili­
dades de escolha.
=-\CURSO V
_:: objeção
:::::2 a rela­
;--2 :1 te não
C::5 ou leis
~-:: ~~o Fisher
; :::abamos
:::::. caracte­
[_c" de caso
,c"smo tipo.
~ ::c'rmar de Sobre a Questão, se "Produzir com mais Capital per Capita"
:: _ 5uprime E a Mesma Coisa que "Produzir com Métodos de Produção
:_2 elimina Indiretos mais longos"
:a técnica
-:: -.:m setor
::::e. acon
_ 5eía. para
(Para a Seção I do Livro Segundo da Teoria Positiva e para a
.5ta tático p. 29, nota 54 do Excurso I)
::mpreen­
c 5tep, des­ A concludência das provas que, no tocante ao tema acima, apresentei, primei­
: ::2 minha :0 em minhas "Strittige Fragen" e agora reproduzi antes no Excurso I, à página 27
• :2 explicá­ c"t seqs .. tem sido posta em dúvida, no decurso dos últimos anos, por vários auto­
~2S. que têm fundamentado seu ponto de vista ora mais pormenorizadamente, ora
.5ta mate­ -:lenos. Entre os pronunciamentos pertinentes destaca-se o estudo do Prof. Fetter
550. penso sobre "The Rundabout Process in the Interest Theory".l em todo caso pela manei­
:c" acabo de ~3. relativamente pormenorizada como aborda a matéria, bem como pelo visível de­
;.2 5 anterior­
sejo do au10r de empreender uma pesquisa sólida e aprofundada sobre o ponto
; : ;Jrincípio em litígio. E obviamente a essas propriedades características que ele deve certa au­
·c":-.:do refle­ :CJridade, conquistada rapidamente: multiplicam-se as citações de adesão, sendo que
I _ -:l parale­ ::lesmo autores tão perspicazes e cuidadosos como I. Fisher e Davenport não hesi­
lê': :::e que a :3.ram em expressar sua adesão aos raciocínios críticos de Fetter, em termos breves
:r :-.2cimento -:las calorosos e sem reservas 2 Apesar disso - ou melhor, justamente por isso -,
::. ;Jresença. :2nho de pedir aos leitores que não se poupem o trabalho de uma revisão crítica
Cc" 5 naturais :lrópria e bem precisa dessa questão controversa, a qual, melhor que qualquer ou­
:':5 possibili :ra, me parece ser típica para ilustrar tanto as exigências quanto os perigos do racio­
:fnio teórico nesse campo da pesquisa.
A argumentação de Fetter culmina em quatro objeções formuladas em forma
Je pontos; duas delas, aliás, me parecem simplesmente não atingir o tema em dis­
:ussão. Quero começar antecipando algumas poucas observações sobre as quatro
objeções.
A primeira delas é a seguinte: "Na concepção de Bohm-Bawerk o fator Nature­
za não é parte integrante do capital; entretanto. se os fatores naturais, o solo fértil

Quarter/y Journa/ 01 Econornics. v.XVII, novembro de 1902, p. 163 et seqs.


- FISHER The Rale ol Inlerest, p. 58; DAVENPORT Value aed Distribution. Chicago, 1908, p. 207 et seqs., sobretudo
= 207, nota 15. Confesso que não me teria sido muito fácil formar uma idéia de todo clara da posição de Davenport em
~2jação a nosso problema partindo exclusivamente de seu texto. Por esse motIvo. na exposição que segue me abstive de
- cluir também os pronunciamentos de Davenport; ater-me-eí simplesmente a Fetter, cujo ponto de vista, a julgar pela nota
::::lma citada, deve representar também a posiçao de Davenport, ao menos no essencial.

77
78 TEORIA POSITIVA DO CAPITAL

e as forças naturais não forem igualmente grandes per capita (as greatper capital,
também a produtividade técnica do capital que aumentou pode ser menor do que
antes. Por isso. sua (de Bohm-Bawerk) conclusão só pode ser convincente caso se
acrescente a cláusula de que também o montante e a influência dos fatores naturais
devem aumentar relativamente. Em um caso extremo imaginável, o estoque maior
de capital poderia, com sua influência técnica, ser mais do que compensado por
uma dotação com fatores naturais diminuída em relação ao número de cabeças"3
Não consigo ver que nexo possa haver entre o conteúdo dessa afirmação e o -
tema caracterizado pelo título do respectivo parágrafo ("Failure of the Argument to -,­
Identify Increase of Capital and Roundaboutness"). Mesmo prescindindo disso, po­
rém, o que Fetter apresenta aqui é simplesmente um fato absolutamente in conteste
e até evidente, aliás, de uma forma que induz em erro e ao mesmo tempo de modo
equivocado no tom de uma objeção. Com efeito. é na realidade totalmente óbvio
que, se fizermos com que um capital maior coopere com uma área menor de terra
ou com um terreno pior. o resultado global da cooperação entre os dois fatores pos­
sivelmente seja menor do que antes. e não maior Mas é igualmente claro que não
se pode simplesmente testar a produtividade de um dos fatores com base na varia­
ção do produto global de dois fatores. se os dois sofrerem alteração. Se um capital
maior é tecnicamente mais produtivo do que um capital menor -- e este é o único
problema com o qual o argumento de Fetter poderia ter um nexo -, isso se com­
prova, evidentemente, no fato de com um capital maior se obter, em paridade de
circunstâncias. mais produto do que com um capital menor - portanto, no fato de
num terreno bom se conseguir mais com um capital maior do que com um menor
e de, num terreno mau, se conseguir mais com um capital maior do que com um
menor E que essa maneira logicamente correta de comprovação depõe a favor de
minha tese e não contra ela, o próprio Fetter dificilmente porá em dúvida. Aliás,
é possível que com seu postulado de que a dotação natural necessariamente deve
ter permanecido "de grandeza igual", Fetter originalmente não tenha querido expres­
sar outra coisa senão essa máxima totalmente correta e de todo óbvia. Acontece.
porém, que desse trilho correto e lógico ele se deixou desencaminhar por uma frase
inexata, ou melhor. incorreta, na medida em que precipitada e erroneamente quali­
fica e interpreta a diminuição do produto comum de dois fatores como sendo a di­
minuição da produtividade de um deles. como uma diminuição da "produtividade
técnica do capital que aumentou". Essa inexatidão de expressão leva a uma aloca­
ção errônea. Erroneamente alocam-se ao capital diferenças na produtividade do fa­
tor Natureza, que, como eu preferiria exprimir, alocam-se a determinado método
de produção diferenças na qualidad~ de forças produtivas originárias, da produção
por métodos indiretos mais longos. E um grande enigma saber como Fetter, umas
linhas depois, pôde chegar a transformar o postulado posto no início, de uma dota­
ção natural "de grandeza igual': no postulado de uma dotação natural "proporcio­
nalmente aumentada" (increasing proportionally); um postulado ou uma cláusula
desse gênero não encontra base alguma nem nos fatos nem nas afirmações prece­
dentes do próprio Fetter, e nem sequer em seus erros; esse postulado é errôneo - -:. - -'­
em todos os sentidos.
Uma segunda objeção culmina na censura de que contradigo meu próprio con­
ceito de capital pelo fato de, por um lado, excluir a terra de meu conceito de capital
e, por outro, afirmar que, não obstante, o capital é "força natural valiosa ou recurso
do solo" acumulados. 4 Essa objeção talvez tenha seu pleno interesse para o proble­
:: ::J:':
- -'~

" Op. cito p. 169.


40 p cit.. p. 170 et seq.
EXCURSO V 79

·~ .="r capital, ma da formulação mais correta do conceito de capital, mas também dificilmente apre­
:C:-.Jr do que senta algum nexo com o tema em discussão, a saber, se produzir com capitais maiores
=,,:-:e caso se é a mesma coisa que produzir com métodos indiretos mais longos. Por isso, omito
:: ~es naturais aqui expô-la e discuti-Ia com maior precisão, e também para sua refutação restrinjo­
:;:::: :: ue maior me a fazer a seguinte observação sucinta: com razões igualmente válidas ou igual­
,:: e~sado por mente infundadas, Fetter poderia ter levantado a objeção paralela de que por um
ce cabeças"3 lado excluo o trabalho do conceito de capital e por outro lado digo que o capital
~::-:-:ação e o
é também "trabalho executado anteriormente e acumulado'!
.':'.:::;ument to Somente a terceira objeção atinge realmente o tema em discussão. Ela se rela­
.c:: -:.Jisso, po­ ciona com o fato - que não só admito candidamente, mas que até saliento bem
-:e ::lconteste expressamente - de que o valor dos bens de capital não se reduz inteira e exclusi­
,:::; de modo vamente a salários, senão que em grande parte encerra também juros acumulados,
l.~2:lte óbvio lucros, ganhos de monopólio e similares.s Fetter consideraria plausível concluir de
,e - Jr de terra um capital maior per capita para uma duração maior do período de produção, caso
,s ~:: :ores pos­ sempre se pudesse reduzir o valor do capital inteira e exclusivamente ao trabalho.
::',:J que não
:: ::oe na varia­ "Se pudéssemos sempre reduzir o valor do capital a trabalho, e se duas somas de
5e..:m capital capital fossem proporcionais ao trabalho nelas investido, nesse caso a duração do perío­
do de produção seria. em média, o quociente da divisão do valor do capital pelo valor
õs:e é o único de um ano-trabalho. Todavia, toda unidade de capital que representa as outras fontes
SS) se com­
do capital perturba e falsifica essa proporção. Se 150 dos 300 florins de capital consisti­
. :: :;ridade de rem em juros acumulados, o capital representa um período de produção de apenas meio
I:: :10 fato de ano: se 250 dos 300 florins de capital consistirem em juros acumulados, o período de
::-..:m menor produção seria de apenas 1/6 de um ano, exatamente tanto quanto se o capital fosse
C_2 com um apenas de 50 florins, que no entanto se devem inteiramente a trabalho".
>:'" 3 favor de
:: .:>.da. Aliás, Por isso, Fetter só admitiria minha conclusão de que um aumento do capital
::::-.ente deve é a mesma coisa que um prolongamento do método de produção, com a cláusula
_e:.:::o expres­ -:.Je que o aumento represente exclusivamente trabalho e não juros acumulados ou
,':: .-\contece, ]anh,os de monopólio".6 .
:: :: :.lma frase E certo que o Prof. fetter não controlou os cálculos com o lápis na mão ao
~:-e:lte quali­ :Jrojetar essas objeções. E impossível que ele tenha testado numericamente quer
:: sendo a di­ a correção da idéia que fez do conteúdo de minha tese, quer o alcance de suas
=:: :::utividade ::róprias afirmações, pois todo cálculo feito com clareza confirma minha concepção
':: ·...::na aloca­ e refuta a dele. Além disso, porém, no ponto de partida de tudo está um entendi­
: . :ade do fa­ :":'lento errôneo de minha doutrina.
:- :::~ método Com efeito, Fetter quer atribuir-me algo que simplesmente não afirmei e que,
c:: produção :Jelo contrário, eu mesmo considero errôneo, e baseia nessa minha suposta afirma­
: =2 ,,-er, umas ;ão conclusões que se destinam a levar meu raciocínio ad absurdum, as quais, po­
c".lma dota­ :ém, na realidade contradizem tanto meu raciocínio quanto os fatos. Com efeito,
~= -:Jroporcio­ ::bsolutamente nada tenho a ver com a idéia, a mim atribuída por Fetter, de que
_:':'.a cláusula 3 partir da relação numérica do valor do capital com o montante do salário do ano­
-:- ::;ôes prece­ ::abalho se pode sem mais calcular como quociente a duração absoluta do período
: :::: é errôneo :::2 produção. Peço ao leitor que leia, no contexto e com atenção, minhas afirma­
;5es pertinentes nas páginas 27 et seqs. do Excurso 1. Dar-se-á conta de que me
_ ::::Sprio con­ aostive, com o máximo cuidado - e o fiz bem deliberadamente -, de, a partir de
'e ::: de capital
éS:: JU recurso
;:::::-:: o proble- .'er acíma, Excurso 1. p. 27, nota 50. Para comodidade do leitor, cito minhas próprias atirmaçoes - que na época es
~::. am à disposição de Fetter em minhas "Strittige Fragen" - não por este último escrito. mas pelo texto da 3 ~ edição da
~~.JríQ Positiva, que se encontra nas mãos do leitor, respectivamente pelo texto do Excurso I. De propósito não alterei em
- :::'a o teor das respectivas passagens.
:Jp cit., p. 170.
80 TEORIA POSITNA DO CAPITAL

minhas suposições numéricas, a título de exemplo, sobre a grandeza dos capitais


e sobre a grandeza do salário, calcular quaisquer números fixos para a duração dos
respectivos períodos de produção; limito-me antes a sempre tirar conclusões ape­
nas no tocante à proporção das durações dos períodos de produção e mesmo as­
sim sem mencionar números fixos para essa proporção. Limito-me sempre a dizer
que a uma das suposições comparadas corresponde cada vez um tempo de espera
- ou uma duração dos métodos de produção adotados - "mais longo", e à outra
corresponde um tempo de espera "mais curto"; não digo, no caso, nem qual é a - - -= ':'~

duração absoluta dos respectivos tempos de espera, nem digo de quanto a duração
de um tempo de espera ultrapassa a do outro. nas questões dadas: no máximo digo
que sua duração será "muito" maior. 7 - - -:-1
Fiz tudo isso por boas razões e me admiro que Fetter não as tenha visto, a des­
peito de uma observação minha que tão facilmente lhe poderia ter indicado o cami­
nho correto, a saber, de que não quis entrar n uma análise mais pormenorizada dos
"detalhes sobre as possíveis classificações do trabalho antigo acumulado, por anos.
e similares". Efetivamente, para a formação da média do tempo de espera nem todo
trabalho "executado anteriormente" tem o mesmo valor. mas anos mais antigos au­ . -::.. _:
mentam mais esse valor do que anos mais recentes. Se trabalho presente e trabalho
executado anteriormente se mesclarem em partes iguais, ou seja, um ano-trabalho
presente coopera com um ano-trabalho executado anteriormente - ano este incor­
porado em bens de capital quaisquer-o nesse caso o tempo médio de espera será
muito mais curto se o trabalho executado anteriormente houver sido totalmente fei­
to no ano anterior, do que se, por exemplo. ele se distribuir pelos últimos 26 anos
e em média já tiver sido executado, digamos. há 13 anos. Para determinar exata­
mente de quanto é menor a duração média do tempo de espera do primeiro caso
em comparação com o do segundo, haveria ainda que fazer suposições mais preci­
sas para saber em que momento do ano presente ficam prontos, em média, os pro­
dutos maduros para o consumo, e quanto dista. em relação a esse "ficar pronto".
o trabalho presente, executado nesse ano; todavia. mesmo sem um cálculo exato.
já com uma simples inspeção visual se verá que o tempo médio de espera, no se­
gundo caso, aumentará não apenas o dobro - logo se verá por que motivo desta­
co justamente esta cifra -, mas o aumento será de um múltiplo muito maior que
este. 8
E qual será o montante do capital que corresponderia às duas hipóteses') No
______ -2

7 ""( .. ) e a isso corresponde, evidentemente, um tempo médio de espera muito mais longo do que no primeiro caso" (p
31); " (... ) isso denota, de maneira inequívoca, uma duração média menor dos métodos de produção adotados, do que
se etc." Ip. 31)
S Será um múitip]o entre sete vezes e treze vezes. Se supusermos que os bens de consumo produzidos no ano corrente
ficam prontos cada vez imediatamente após o emprego do trabalho presente neles despendido, e uniformemente durante - • .=
o ano ínteiro, e portanto, em média fjcam prontos no meio do ano, teremos, como tempo médio de espera para o processo

de produção em sua totalidade, no primeiro caso, ~ ou seja. meio ano (tempo médio de espera no caso do ano

de trabalho executado no ano anterior, 1 ano; no ano corrente, O; médIa global dos dois anos de trabalho 1/2), e no

segundo caso. f . ou seja, 6 1/2 anos. portanto 13 vezes mais do que no primeiro caso. Ao contrário, se supusermos.
numa hipótese extrema, que todos os bens de consumo produzidos no ano corrente só ficam prontos no último dia do
ano. e portanto também o trabalho executado no ano corrente distar ainda em média meio ano do térmmo do produto,~

teremos como conseqüência. para o primeiro caso, a fórmula ] ]/2 + ]/2 = 1 ano. e para o segundo, a fórmula
2
131/2 + 1 1/2 ~ 7 anos (Quanto ã relação entre "tempo médio de espera" e "período de produção", ver minha observa­
2 ~:::-_~,::

ção à p. 115 da Teoria Positiva do Capital. v.I :---~r---:2: "


EXCURSO V 81

:: :::" capitais primeiro caso, se o capital for representado por um ano-trabalho executado no ano
_~~ção dos anterior, se o salário for de 300 florins, o valor do capital também será em torno
r_" ::,es ape­ de 300 florins: mais precisamente, 300 florins mais os juros de aproximadamente
-""mo as­ um ano sobre esse montante. portanto, se a taxa de juros for de 5%, em torno de
'-::~2 a dizer 315 florins. Ao contrário, no segundo caso, se o capital representar um ano-trabalho
::: ::2 espera despendido em média já há 13 anos. o valor do capital deveria, nas mesmas condi­
:" " à outra ções, ser aproximadamente o dobro. isto é, 600 florins, pois tal seria o aumento
:- Jual é a do gasto original com salários. de 300 florins. no decurso de 13 anos, com juros
c ~ 3uração compostos de 5%.
: ~<';10 digo Por aí se vê que e por que nem de longe eu poderia afirmar alguma daquelas
proporções numéricas simples sugeridas por Fetter - sem que fique claro se o faz
-. ~:J. a des­ em meu nome ou em nome próprio. Não é verdade que o tempo médio de espera
c:::::ocami­ é um quociente resultante do montante total do capital em relação ao montante
'. : ~zada dos do salário anual (esse quociente. no segundo caso do exemplo, daria o montante
::: ':::or anos. de dois anos, partindo da divisão 600 : 300, ao passo que o tempo médio de espe­
r" :'em todo ra tem de ser efetivamente. nesse caso do exemplo, de no mínimo sete anos), nem
. ,,-::gos au· é verdade que o tempo médio de espera seja um quociente entre as parcelas do
['" '" :rabalho capital que devem ser reduzidas a salários (em contraposição aos juros) e o salário
:- :-:rabalho anual (esse quociente, no mesmo caso do exemplo, daria o montante de um ano,
",,,Te incor­ partindo da divisão de 300 : 300, em comparação com o tempo de espera efetivo
, ",,:lera será de no mínimo sete anos). Da mesma forma, evitei deliberadamente afirmar que um
t=~ente fei­ aumento do capital tenha de prolongar o período de produção na mesma medida,
r:::" 26 anos que, por exemplo. a uma duplicação do capital deva corresponder também uma
rr.ar exata­ duplicação do período de produção - pois. no nosso exemplo, à duplIcação do
r:-.eiro caso capital, de aproximadamente 300 para 600 florins, corresponde, nas circunstâncias
:= --r.ais preci­ especiais do caso. um prolongamento duas vezes maior do tempo médio de espera,
ª Cc. os pro­
~::: c~ pronto".
mas no mínimo sete vezes maior.
As mesmas considerações e combinações projetam luz também sobre o que
é:::~lo exato. aqui deve interessar-nos mais de perto; isto é, sobre o caráter concludente de minha
~",a. no se­ argumentação e a não-procedência da objeção de Fetter. primeiro no que se refere
r: :'\0 desta­ ao papel dos juros acumulados. Fetter está disposto a admitir que um aumento do
:: :-:-,aior que capital em razão da quantidade de trabalho executado anteriormente e nele embuti­
do também denota um prolongamento do período de produção; mas ele afirma
:-::: =leses? No que um aumento do capital em razão dos juros acumulados não admite tal imerpre­
Tação edesenvoJve e ilustra isso com base no seguinte exemplo por ele inventado.
Se o valor do capital for de apenas 1/6 do salário de um ano-trabalho (portanto,
: - -.:ro caso" (p por exemplo, apenas de 50 florins no caso de o salário de um ano ser de 300 flo­
,,::e :los. do que rins), o período de produção seria seis vezes mais curto do que se o valor do capital
3no corrente
equivalesse ao salário de um ano inteiro (portanto ao montante de 300 florins) e
--.;;: -.2nte durante o valor desse capital representasse somente trabalho;9 entretanto, segundo Fetter,
,::-:: :::.-3 o processo se o valor do capital atingir o mesmo montante de 300 florms. destes porém apenas
~.:: :q50 do ano ::>0 florins forem devidos ao trabalho e 250 se deverem a juros acumulados, nesse
caso o período de produção também seria seis vezes mais curto do que no último
-"C -.: 1/21. e no
caso analisado, e não seria mais longo do que se o capital tivesse sido de apenas
.- ~::: ::upusermos, ::>0 florins e se fosse devido exclusivamente ao trabalho.
:'::rirno dia do
Temos aí um cálculo completamente errado. O cálculo correto é antes o seguin­
:lo produto: ,e: se, como supõe Fetter, sobre um dispêndio de salários de 50 florins inciderem
~~_-:'J. a fórmula

.:: - -- :lha observa- - Aproximar-nas-íamos o máximo dessa pressuposição - literalmente quase impossível - se supusermos que o trabalho
2Xecutado anteriormente incorporado no capital provém de um período tão tardio do ano anterior que até o momento
::,::""esente não há que computar nenhum montante significativo de juros!
82 TEORIA POSITIVA DO CAPITAL

juros de 250 florins e, portanto, o dispêndio original com salários tiver sextuplicado
em razão dos juros acumulados, atingindo 300 florins, esse dispêndio com salários
em todo caso deve ter ocorrido muitíssimo antes - em média já no mínimo trinta
anos atrás, se, por exemplo, a taxa de juros fosse de 5%. 10 Por conseguinte, o ca­
pital de 300 florins. do qual 250 se devem a juros acumulados, representa 1/6
de ano-trabalho que tem em média a "idade" de 30 anos. Ora, da cooperação de
1/6 de ano-trabalho de 30 anos de "idade" com o ano-trabalho presente do traba­
lhador munido com esse capital, de modo algum resulta, como calcula Fetter, o
mesmo tempo médio de espera de aproximadamente 1/6 de ano, como acontece =-;: :_.=.:
no caso de um capital de apenas 50 florins, mas um tempo médio de espera muitas
vezes mais longo - e também consideravelmente maior (e não, como pensa Fetter,
um período seis vezes mais curto) do que no caso de um capital de 300 florins que
contivesse apenas salários e nada de juros acumulados. ll - '::. - - - 3li
Conseqüentemente, o exemplo, se bem calculado, não somente confirma que -- ---.
-._- --­
um aumento de capital devido ao acúmulo de juros também denota a ocorrência
de um prolongamento do tempo de espera, mas até revela uma influência particu­
larmente potenciada desse tipo, Podemos ilustrar da seguinte maneira mais geral
as razões muito claras nas quais se baseia essa influência: se o componente de juros
de um capital aumentado crescer numa proporção maior do que a quantidade de
trabalho incorporada no capital, isso é um sintoma de que não só o trabalho execu­
tado anteriormente se mistura com o trabalho presente numa proporção maior (o
sintoma de um prolongamento do período de produção admitido por Fetter), mas
também que é, em média, mais antigo o trabalho executado anteriormente e que
entra na mistura, e portanto pesa ainda mais no aumento da média de espera. Por
conseguinte, a presença de componentes de juros no capital aumentado, longe de
diminuir a força de meu argumento - a saber, de que um capital aumentado de­
nota um período de produção que foi prolongado -, pelo contrário reforça ainda
mais a validade do argumento.
Ao expor meu argumento, na oportunidade eu havia deixado de fazer valer tam­
bém esse efeito reforçador do componente dos juros, pois se o fizesse teria sido obri­
gado - como o demonstra esta exposição - a introduzir em minha ilustração outras
suposições numéricas complexas e cálculos relativos à idade do trabalho executado - - --.
anteriormente, e isso em detrimento da brevidade e da clareza de uma argumenta­
ção que, em minha convicção, já era suficientemente clara, mesmo sem o mencio­
nado reforço. Por isso, referi-me a essa complexidade reforçadora apenas em uma >: - :-'1
nota, observando que "podemos desprezar essas nuanças sutis, em detrimento para
o tema que nos cabe ilustrar": 12 no próprio texto, contentei-me em pressupor que
as quantidades de trabalho contidas nos capitais aumentados crescem em medida

10 De acordo com as tabelas de juros, estes duplicam a cada 13 anos!


11 Com efeito, o cálculo dá, para a cooperação de 1/6 de ano de trabalho, executado há trinta anos atrás, como um ano - ::-:5
de trabalho presente: íl/6 x 30 + 1 x O) : 7/6 = 5: 7/6 ~ 30: 7 = 4 217 anos. O cálculo análogo para uma cooperação
de 1/6 de ano de trabalho, realizado no ano anterior, com um ano de trabalho realizado no ano corrente teria dado como
resultado (1/6x 1 + 1 x O) : 7/6 = 1/6 . 7/6 ~ 1/7. portanto exatamente 30 vezes menos l Finalmente, para a coopera­
ç50 de um ano de trabalho realizado inteiramente no ano anterior. com um ano de trabalho executado no ano corrente,
teríamos (1 X 1 + 1 xO): 2 ~ 1: 2 = 1/2. E do confronto entre as três cifras resulta o seguinte: a um aumento de capital:
de 50 para 300 florins, aumento este devido exclusivamente ao aumento do trabalho incorporado, corresponde, nas supo-­ - '-",--~

sições do exemplo, um prolongamento do tempo de espera, de 1/7 para 1/2 ano. Ao contrário, a um aumento igual do
capital, de 50 para 300 florins, mas devido a juros acumulados, corre~ponde, nas mesmas suposições, um prolongamento
ainda muito maior do tempo médio de espera, de 1/7 para 4 2/7 anos! - Alterações nas suposições mais precisas de
cálculo (ver supra, nota 8 da p. 80 do presente Excurso) podem alterar as cifras concretas, mas em princfpio não o resultado ~,,'.....a

que enunciei acima, no texto.


12 p. 28, noto 53 do Excurso I
EXCURSO V 83

L:;llicado exatamente proporcionaJ13 e que, portanto, permanece igual a proporção em que


r: salários salários e juros entram na mistura - e fiz isso em termos cuidadosa e corretamente
a-:-. o trinta escolhidos, que em toda parte deixam margem também à referida complexidade
[1:2. o ca­ reforçadora. 14 Agora, porém, gostaria de constatar expressamente que teria tido
ió2:1ta 1/6 motivo justo para pressupor a presença de uma cota ascendente do componente
~ção de juros em um montante aumentado do capital da nação. Pois é manifesto que há
':::> traba­ a máxima probabilidade, e até certo ponto até uma necessidade matemática de que
I ::etter, o acúmulos de trabalho executados anteriormente contenham trabalho tanto mais an­
econtece tigo quanto maior for o acúmulo. Para ilustrar isso de maneira realista: se o acúmulo
!Ta muitas englobar apenas um ano de trabalho nacional executado anteriormente, no caso
nsa Fetter, extremo se poderia imaginar que esse ano de trabalho consistisse exclusivamente
Icr:ns que de trabalho feito no ano anterior. Se, porém, o acúmulo englobar três anos de tra­
balho nacional, mantendo-se a mesma suposição extrema. o acúmulo teria de con­
r.ema que ter, além de trabalho do ano anterior, no mínimo também trabalho do penúltimo
lC::mência e do antepenúltimo ano, e portanto trabalho que, em média, é mais antigo do que
lê particu­ no primeiro caso. 15 Naturalmente, a isso corresponderá um acréscimo especial de
!"leiS geral valor de capital em virtude de juros acumulados, e com a mesma naturalidade tam­
E de juros bém um prolongamento maior do tempo médio de espera do que se o aumento
i;::ciade de de trabalho executado anteriormente tivesse contido apenas trabalho da mesma idade.
t-..J execu­ Ora, a argumentação de Fetter desconhece totalmente e por princípio esse papel
I :-:1aior(o do elemento juros.
~er), mas Fetter ignorou também - em pontos decisivos, se bem que não de modo tão
,,:e e que básico - o papel que em nossa questão desempenham os ganhos de monopólio
mera. Por possivelmente contidos no capital. Com efeito, um aumento do valor do capital que
'>::mge de se devesse exclusivamente a ganhos de monopólio auferidos, na realidade não de­
r.:ado de­ notaria um prolongamento do método de produção adotado, e sob esse aspecto
>,;a ainda a objeção de Fetter não erra aqui tão basicamente quanto errou no tocante ao com­
ponente juros. Erra, porém, em outros pontos essenciais.
'.der tam­ Antes de tudo, Fetter dá à sua objeção uma formulação incorreta, que vai mui­
I s'do obri­ to além de seu justo alcance. Estabelece a fórmula de que "um aumento do capital
ç.ão outras só significa um prolongamento do processo de produção (is identical with a more
executado roundabout process) se o aumento representar apenas trabalho e não (juros acu­
l'Sumenta­ mulados ou) ganhos de monopólio". E uma formulação falsa. Para ser correta, a
c cnencio­ fórmula final deve ser justamente invertida: o "apenas" deve referir-se aos ganhos
s em uma de monopólio e o "não" deve referir-se ao trabalho. A form ulação correta terá de
lento para ser esta: "Um aumento do capital só não significará um prolongamento do processo
,'..;por que de produção quando o aumento representar apenas ganhos de monopólio e não
r:-: medida trabalho". Na hipótese de o capital, num momento anterior, representar quatro anos­

:3 Atente-se para as palavras "na mesma relação" e "mantendo o número proporcional acima suposto", à p. 27, e a seguir
a. referência a "números proporcionais a título de exemplo", à p. 27, nota 50.
A Observe-se a expressão "no caso extremo" à p. 27 et seq., em conexão com as notas, as quais expõem que e por que
'::-:-.J um ano :lão é possível atingir esse máximo.
:...:. :Joperação :5 Um item concreto e individual de capital certamente bem pode representar até mais do que um ano-trabalho executa­
r2. :3do como ~o no ano anterior, isto é, os anos inteiros de trabalho realizado no ano anterior por mais de um trabalhador. Todavia,
~ :: coopera­ :lOSSO argumento só tem a ver com o capital nacional total, respectivamente com os "anos-trabalho nacional"'. Não preciso
.=. - : corrente, sequer observar que a suposição, extremamente drástica do texto, de que um ano-trabalho nacional acumulado no capital
'-' :e capital,: i :ia nação consista exclusivamente em trabalho executado no ano anterior é possível do ponto de vista matemático, mas
r':-:: .1as supo­ J.ificilmente o é do ponto de vista econômico, pois para a continuação sucessiva da produção e para a manutenção do
"'-.:0 igual do 2stoque de capital existente é necessária uma mistura harmônica dos diversos anos de trabalho. Uma reflexão precisa sobre
:r:.: :Jgamento 25se elemento facilmente levará o leitor a convencer-se da procedência do argumento de que acúmulos maiores de traba­
2.~ ;:: :-ecisas de ~:,o em média devem ser também acúmulos de trabalho mais antigo, mesmo para o caso normal da composição do capital
,,õ: : resultado ~ue é usual na prática. Aliás, leitores que desejarem refletir mais sobre esse tema farão bem em ter sempre presentes tam­
"')ém as exposições sobre as condições típicas de composição do capital, que se encontram na seção sobre "a teoria da
'ormação do capital".
84 TEORIA POSITIVA DO CAPITAL

trabalho e, conseqüentemente, um montante de capital de 1 200 florins, e poste­


riormente aumentar para 2 100 florins, sendo que desse montante se deva reduzir
1 800 florins a seis anos-trabalho executados anteriormente e incorporados no ca­
pital, e 300 florins se devam a ganhos de monopólio (quanto aos juros, cujo papel . - - - - - -­
já esclarecemos anteriormente, deixemo-los aqui totalmente de lado), é claro que - - - - - --

- e isso não poderá ser contestado nem mesmo com base na própria argumenta­
ção de Fetter - essa situação denota um prolongamento do tempo médio de espe­
ra, se bem que o aumento do capital não represente apenas "trabalho". Em
contrapartida, se o capital de 1 200 aume:1tasse para 1 SOO florins, mas de modo
que, como antes, o capital aumentado incorpore apenas quatro anos-trabalho, e o
aumento para 1 500 florins se deva apenas a um maior ganho de monopólio, nesse
caso não haveria a registrar nenhum prolongamento do tempo médio de espera
em relação à força produtiva elementar trabalho, mas somente porque aqui todo
o aumento se deve exclusivamente a ganho de monopólio e absolutamente nenhu­
ma parcela do mesmo se deve a trabalho executado anteriormente. Creio que isso
está claro.
Mas há que atender ainda ao seguinte. Invertendo-se a fórmula - com a qual
concordo inteiramente, após essa inversão - é evidente que se reduz substancial­
mente o fato no qual Fetter pensa poder fundamentar seu contra-argumento. Que
o estoque de capital de uma economia nacional - e note-se que em toda a nossa
discussão está em pauta somente esse "capital social", como gostaria de sublinhar
expressamente e foi muito bem observado também pelo próprio Fetter 1ó - aumen­ .: ~ = : =-o':
te apenas em virtude de ganhos de monopólio, eis um pressuposto já à primeira
vista muito mais restrito e muito mais excepcional do que o outro pressuposto, a -:---:. - - -­
saber, que o capital da economia nacional aumente também em virtude de ganhos
de monopólio, além de outros aumentos. E provavelmente a maioria dos colegas
de especialidade estaria disposta a reconhecer comigo, apenas com base nessa pon­
deração e sem outra investigação ulterior, que minha argumentação vale no míni­
mo para todos os aumentos normais de capital até agora observados na realidade.
Pois se hoje o "estoque de capital per capita" é maior na economia nacional austrÍa­
ca do que na russa, é melhor na alemã do que na austríaca e na inglesa é maior
do que na alemã, ninguém pretenderá arriscar-se a afirmar efetivamente que em
algum desses casos a diferença de grandezas se deva apenas a maiores ganhos de
monopólio incorporados ao capitaL da mesma forma que o aumento histórico pau­ ---- - ---
latino do estoque de capital dentro de cada uma dessas economias nacionais jamais --- - ---
foi um aumento devido exclusivamente a ganhos de monopólio. Poderia, portanto,
conforme disse, conseguir com muita facilidade o reconhecimento de que minha -- - -.. ­ ~

argumentação é correta para os casos normais, sendo que o contra-argumento de .--:::..""; --~

Fetter só a invalidaria em casos excepcionais e que fogem à normalidade.


Todavia, não preciso nem mesmo dar-me por satisfeito com esse reêo(lhecimento.
Se levarmos até o fim nossa reflexão sobre o tema, veremos antes qué"G contra­ - '. '":. - .:: ­
argumento de Fetter não pode invalidar min ha argumentação nem sequer em ca­
sos excepcionais que fogem da normalidade. Isso por dois motivos. Primeiramente,
há fortes razões para afirmar que a situação de um aumento do valor de troca de :-'.:::= - ­
- - - --- .
- - - -- .
todo um estoque de capital de uma economia nacional, exclusivamente em razão
de aumentos de valor devidos a ganhos de monopólio, não somente não pode ocorrer
como exceção rara, mas em princípio simplesmente não pode acontecer, pois, den­
tro de tal totalidade, aumentos do valor de troca de uma parte sempre têm que le-

- -~ - -;~

Ib·Por exemplo, op. cit., p. 166.


EXCURSO v 85

:: =SIe­ var a reduções proporcionais do valor de troca de outra parte do todo, respectivamente,
r~=Jzir
impulsos uniformes para aumentar o valor de troca têm de permanecer sem efeito
-_: ca­ em razão de compensação recíproca. Mais adiante ainda terei ocasião de explicitar
i ::3Del melhor esse raciocínio, em face de outro contra-argumento de Fetter - o mais inte­
'- :ue ressante do ponto de vista teórico -, e por isso o interrompo aqui, a fim de evitar
~.·2:: Ia­
repetições.
, -:o s;>e­ Em segundo lugar, mesmo que aumentos do valor total de um capital social
- em inalterado em sua estrutura e em seu montante fossem possíveis simplesmente em
~_'Jc.c
virtude de ganhos de monopólio, casos desse gênero seriam incapazes de perturbar
r~ = 2 C
o curso de minha argumentação, pois não teriam nexo algum com o tema da mes­
- 255-2
ma. Também aqui posso dispensar-me de aduzir uma demonstração especial, pois
2 :::;2~a
também ela resultará automaticamente da apreciação da última objeção de Fetter
que ainda resta e que passarei a examinar agora.
r-i-r' r:~-
Como já mencionei, em meu entender essa objeção é dentre todas a que mais
'-.:-:0 :SSO
interesse apresenta do ponto de vista da teoria. Com êxito ou não, ela em todo caso
suscita importantes questões de princípio, de cujo equacionamento sem dúvida se
:: :''';c_ pode haurir mais proveito para a compreensão de nossos difíceis problemas do que
te- c:c:­ da correção de equívocos superficiais ou de erros de cálculo.
[ Que Fetter constrói seu argumento em duas etapas. Na primeira prepara seu argu­
t -_ :Jssa
mento principal com uma observação introdutória do seguinte teor: acredita ele cons­
c---.:~_~ar
tatar que no decurso de minha argumentação confundo duas concepções do termo
t:":-:1en­ e do conceito "capital". Primeiro digo que o trabalho é tanto mais produtivo "quanto
é:-:1e:ra maiores forem os recursos de capital com que tiver dotado". Esse modo de falar,
c ~~,), G segundo ele, desperta a idéia de um número ou quantidade fisicamente maior de
:::::-.hos
bens de capital. Todavia, imediatamente depois emprego o "conceito de valor" do
:: ~<;;G~ capital,17 ao dizer, na ilustração da mesma proposição, que o trabalho nacional é
lê. ~ :):".­
:nais produtivo se estiver lastreado em um capital de 50 florins per capita do que
se não estiver lastreado em nenhum capital, e ainda mais produtivo se o capital for
:ie 500, 5 000 ou 10 000 florins per sopita. Segundo Fetter, porém, as duas coisas
C:=':'2
:...,;~~.::.-
:1ão precisam andar de mãos dadas. E verdade que uma quantidade maior de ins­
I --=-_~~<::-
Irumentos, ou, o que é a mesma coisa para nossa questão, instrumentos mais per­
'eitos, denotam inequivocamente uma produtividade técnica maior. Mas um valor
r... -: -:?:-;­
:-:1aior de capital não necessariamente tem o mesmo efeito. De fato, segundo Fetter,
r. : 5 :-f
2 também possível, sobretudo para as condições da economia nacional em sua to­
=~= ;:=-" :3!idade - a qual minha argumentação sempre tem em mira, segundo ele -, que
'-=.:--:~::
: capital da economia nacional só tenha aumentado de valor pelo fato de conter
-'.lm elemento maior de valores raros". Segundo ele, poderia no caso extremo acon­
:,ecer que um montante maior de valor de capital contenha até uma quantidade menor
~-:-~:. =~
:e meios de produção do que antes, ou meios de produção de eficiência técnica
-~---
-:'.enor do que antes. Conclui então Fetter - e aqui temos a primeira etapa de sua
------:,.­
: ':ejeção - que errei ao supor que um trabalho nacionallastreado em um valor maior
.... - -­
"'­ -~-
:-:0 capital tem de ser mais produtivo também do ponto de vista técnico. 18
Fetter estende aqui sua polêmica contra várias suposições e conclusões que não
:.~J minhas. A idéia que ele tem do curso de minha argumentação é tão pouco
',,-,'O_'=' _~

: ::teta que me opõe, em tom de objeção, fatos em relação aos quais não só con­
- :-~=
: :~:io inteiramente com ele, mas que, justamente na linha de minha argumentação,
=.:-:'.:-:-~

~ =--=­
'- _::: '":.­

--" "alue expression (op. cit, p. 166); value concept of capital Ip. 168-169).

:: c:t.. p. 165-167. Que este é o pivô da objeção de Fetter. depreende-se do fato de ele a ter dirigido contra a "primei·

:--:::7:issa~ de meu raciocínio, contra o "princípio geral de que o capital é produtivo",


86 TEORIA POSITIVA DO CAPITAL

de modo algum podem apresentar comportamento diverso daquele que realmente


apresentam. Quero procurar esclarecer isso na devida ordem.
Antes de tudo, Fetter entende erroneamente o papel das cifras de dinheiro que
aduzo em meu exemplo, a título de ilustração. Estas de modo algum constituem
o sinal de que passo para um "sentido" (sense) ou conceito diferente de capital e
muito menos para o "conceito de valor do capital". o qual sempre contesto da ma­
neira mais enérgica. 1') Ao contrário. quando falo de um "capital maior", em todo o
decurso de minha argumentação sempre e uniformemente só tenho em mira uma
quantidade maior ou melhor de bens de capital. Quando, porém - como o exigia
o objetivo que perseguia -, quis exprimir e ilustrar graus diferentes apresentados
por essas grandezas. para isso precisei de algum recurso de expressão que envolva
grandeza, aliás um que permitisse exprimir. de maneira uniforme e numericamente.
tanto a idéia de um "mais" quanto a de um "melhor"; para esse fim dispunha das
somas de valor. representadas por quantidades reais de bens, de grandezas diferen­
tes, as quais não somente constituem um recurso de expressão de per si plenamen­
te adequado. que todos utilizam para o mesmo fim e portanto são um recurso de
expressão perfeitamente compreensível a todos. mas constituem até o' único recur­
so d§ expressão abrangente e possível.
E estranho que me veja obrigado a dizer isso contra o Prof. Fetter. que, como
partidário do "conceito de valor do capital". deve estar ainda muito mais convencido
disso do que eu mesmo. Inegavelmente, o capital da nação é uma soma dos mais
heterogêneos bens de capital concretos. Ora. para somar precisa-se de um denomi­
nador comum. Sabe Fetter, no mínimo tão bem quanto eu. que esse denominador
comum não pode ser o número de unidades - pois nesse caso uma máquina a
vapor contaria exatamente tanto quanto uma lima ou uma furadeira manual -, nem
pode ser o comprimento ou a largura ou a medida cúbica dos bens de capital, ou
seu peso ou qualquer outra unidade física de medição; o único denominador co­
mum que se pode utilizar sem cair no absurdo. o único do qual se pode predicar
tanto um "mais" como um "melhor" é o valor. Eis porque mesmo autores que real­ ,,
mente têm em mira um conceito de capital diferente. um autêntico "conceito de va­
lor do capital", como, por exemplo, Clark, não conseguiram ilustrar uma dotação
com mais ou melhores bens de capital de outra forma senão supondo um capital
de mais "dólares per capita";20 e se eu convidasse o próprio Praf. Fetter a propor
uma outra expressão 'que permita ilustrar, numa cifra abrangente, grandezas reais
e diferentes de capital per capita. provavelmente nem ele teria outra saída. 21 En­ - -~

tretanto, creio ter deixado suficientemente claro, em minhas exposições sobre o conceito

tLl Ver Teoria Positiva do Capital. v.l. Livro Primeiro. Seção [[I, p. 80 et seqs
2()CLARK Olstribution of Weolth. p. 174 et seqs.: ele efetua sua grande pesquisa de pnncípio sobre a "produtividade do
capital" com base num exemplo no qual. para ele - repetindo a própria expressão de Fetter. op. Clt., p. 166 -, Q greater
ua!ue expression de . . 100000 dólares per capita~ sem problema stonds for a greater number ar better quailtl) of phl/slca!
agents; de maneira absolutamente explícita ele explica e interpreta a diminujção da cota de dinheiro per capita, de 100 000
dollars per man para half a hundred lousand dollars per man, como um pioramento efetivo da dotação com instrumentos
reais da produção. o qual leva a uma diminUIção do produto. Idem em Oistríbution. p. 159 e em muitas outras passagens
21 Não li sua excelente obra Principies procurando averiguar especificamente se em alguma parte ele mesmo efetua a equi­
paraçâo ilustrativa - que objeta faltar em minha obra - entre "mais florins ou dólares per capita" e "mais ou melhores
instrumentos per capita": impliCitamente. ela certamente r~sulta, por exemplo, do confronto entre as p. 115 e 169. onde,
por um lado, o capital é definido como sendo economics wea/th expressed in terms of the general unit of ua/l1e e, por .,
outro, é apresentado como efeito geral de uma poupança que aumenta o investimento de capital to rQise the efflciency
of prodl1ction. Talvez alguém pudesse pensar que eu expressaria os aumentos graduais da dotação real de capital, se bem
que de uma forma um tanto mais complexa e monótona, também dizendo que cada trabalhador, que anteriormente dispu­
nha de apenas um exemplar de cada espécie de itens de capital. passa depois a dispor de dez, respectivamente de cem
exemplares. Mas teríamos aqui uma forma absolutamente inadequada de ilustrar, Pois, como sabe muito bem o próprio
Fetter (Roundabout Processo p. 166). e como o expôs magistralmente em particular Clark (Oistnbution. p. 159 et seq . 17D).
um aumento de capital se expressa muito mais numa melhoria qualitativa da dotação de capital do que num acúmulo
quantitativo de itens iguais. o qual muitas vezes representaria para O trabalhador mais embaraço do que vantagem
EXCURSO V 87

cc: capital e particularmente às páginas 86 et seqs. de meu texto, que a medição


~ :: soma de bens de capital, de acordo com o montante de seu valor, é coisa bem
::'2rente de abandonar a idéia de bens de capital e adotar um "conceito de valor"
::: capital.
Em minha pena. portanto, as cifras crescentes expressas em dinheiro, de 50 flo­
',5, 500 florins, 5 000 florins etc. per capita, não significavam que eu estava aban­
:: Jnando, mas apenas ilustrando - aliás, de uma forma perfeitamente adequada
ê _ - a suposição real - introduzida desde o início em minha argumentação e manti­
:::: cegamente em todo o seu decurso - de que "o trabalho está lastreado em mais
-"cursos capitalistas". Se alguma dúvida tivesse ainda podido persistir sobre isso, de­
. eria ter sido eliminada pelo comentário explicativo que acompanha as cifras em
::nheiro, utilizadas para fins ilustrativos. pois imediatamente traduzi as cifras maiores
'" ~ dinheiro em quantidades maiores de forças produtivas concretizadas, e portanto
~-:::-..,: '-a mesma suposição de estoques reais e maiores de capital. para cuja ilustração
~ :,:cabara de introduzir as cifras indicadoras de valores.
~~ ~ _':: Acontece que Fetter não só me acusa de adotar o "conceito de valor" do capital.
::.Je expressamente contesto, mas além disso me impinge um uso tão exagerado
:::2sse conceito que não ocorreu nem sequer aos partidários reais do mesmo. Pare­
ce acusar-me de haver estabelecido um teorema, de validade geral e absolutamente
'2m exceção, no tocante às relações do valor do capital com a duração dos perío­
::'JS de produção, de um lado, e com a produtividade da produção, de outro. Argu­
lenta como se em algum lugar eu tivesse afirmado o princípio geral de que um
-:lontante maior de valor tenha que representar. em todas as circunstâncias, mesmo
'~as mais excepcionais, um capital real maior, tempos de espera mais longos e pro­
-2~ :::utividade maior - pois do contrário não teria podido lançar em meu rosto, em
~ :='-:...;. : Jm de objeção. o caso dos ganhos de monopólio ou dos valores raros como sendo
r - ~-
.:m caso em que um valor maior não precisa vir acompanhado de um período de
E ::.car :Jrodução mais longo"2 e de uma produtividade maior, e não poderia ter deduzido
~ :",al­ =Jue não tem cabimento uma conclusão que (na suposição dele!) tirei."
:'" ':a­ Na verdade, nada é mais alheio à minha intenção do que pretender estabelecer
:~::cão ~al teorema de ordem geral. Pejo contrário, era e continua sendo para mim plena­
::::::ta] mente claro que, do lado da evolução do valor dos bens de capital. pode haver
I::: ;Jor causas específicas que não têm absolutamente nada a ver com a grandeza real do
; :",ais capital, com sua produtividade técnica e com o período de produção por ele repre­
. :'n­ sentado. Por isso, é evidente que em parte alguma enunciei, nem explícita nem im­
.: C2'to 0licitamente. o referido teorema, que considero falso. De modo explícito, naturalmente
:lão o enunciei de modo algum: e o que eu implicitamente tencionava dizer - e
tinha de tencionar dizer -, ao utilizar minhas cifras em dinheiro para fins ilustrati­
- o =""' :io vos, também não inclui o referido teorema, mas o exclui: trata-se da cláusula "em
_-~-õ :::rer
paridade de circunstâncias", absolutamente óbvia em toda ilustração, da ausência
- . ~ cal
'00 de compexidades especiais, que obstaculizam o objetivo de ilustrar.
:..-:::~!Os A coisa é muito simples e natura!. Por que motivo Fetter não me impingiu tam­
~-..:~2ns.

:: :: ";:=Jui­
bém o teorema geral de que todo capital que representa um número maior de flo­
:-.,; -.'Jres rins, em todas as circunstâncias, portanto também no caso de alteração do valor
cede. do dinheiro, tem de representar um capital real maior, com produtividade maior e
'" .;: por
~. ~'1cy
métodos indiretos de produção mais longos? Porque era por demais evidente que
~-::: :::'em eu só podia e queria ilustrar um capital real maior, com base em número maior de
-..;. : ::,pu­
:-:: :em

_l Ver acima, p. 79 et seqs

cJ "The conc!uslon he draws therefore is no! theoretícaily sound- Op. cit., p. 167.

88 TEORIA POSITIVA DO CAPITAL

florins, na suposição tácita de o valor do dinDeiro não sofrer alteração, sob a cláusu­
la implícita de "paridade de circunstâncias" E óbvio que o objetivo ilustrativo exige
essa cláusula restritiva, e por isso todo leitor que esteja disposto a penetrar na inten­
ção evidente do autor há de subentendê-Ia, mesmo que ela não tenha sido expres­
samente enunciada. Nem Clark considerou necessário acrescentar expressamente
a cláusula de que se supõe não ter havido alteração do valor do dinheiro, quanto
para fins ilustrativos indica as cifras de "100 000 dólares por pessoa" e "50 000 dó­
lares por pessoa"; ele confiou. com razão. na evidência dessa cláusula, que resulta
do contexto.
Exatamente o mesmo acontece, em relação ao nosso tema, também com a ocor­
rência de valores raros especiais - no caso de se poder imaginar que esse fenôme·
no se torne universal, afetando todo o estoque de capital da economia nacionaL
Se o valor em dinheiro cair para a metade. é manifesto que um capital de "100 flo­
rins per capita" ilustra não um capital maior. mas apenas um capital real igual àque­
le que antes estava representado por "50 florins per capita"; e se a ocorrência de
formações de preços em decorrência de monopólio ou de valores raros dobrarem
em média o valor dos bens de capital existentes - suposta sempre a possibilidade --.:;- -- --:. -- -::;
._~

de tal processo -, é igualmente óbvio que uma expressão de valor de "100 florins
per capita", após essa mudança, ilustra. também aqui, não um capital maior, mas
apenas um capital real igual àquele que. antes dessa alteração, estava representado
pela expressão de valor de "50 florins per capita". Por isso, quem, como eu ou Clark,
ou quem quer que seja, quiser ilustrar capitais reais maiores por meio de somas de
valores maiores, evidentemente deverá excluir de sua suposição os dois incidentes
impeditivos - juntamente com todos os demais incidentes eventualmente imaginá­
veis - e ter em mente, expressa ou tacitamente. a cláusula "em paridade de cir­
cunstâncias". Limitei-me a fazer isso tacitamente. pois para mim não havia nenhum
motivo especial para destacar expressamente o óbvió?4 Muito menos havia essa ne­
cessidade em relação aos valores raros: com efeito, se, como ainda espero mostrar
mais adiante, é simplesmente impossível que ocorra todo o caso suposto por Fetter,
certamente não precisava excluir, mediante uma cláusula expressa, sua ocorrência,
já de per si impensável!
Mas ainda permanece em aberto uma questão: será que eu não deveria ter es­ - ~";:-:I
tabelecido esse teorema geral de um nexo universal da soma de valor com a produ­ ::=-~:J
tividade e com a duração do período de produção - teorema que, na realidade,
não estabeleci -, para poder deduzir minha ulterior argumentação em favor da iden­
tidade do "produzir com mais capital per capita" com o produzir mediante métodos
de produção indiretos mais longos? - A análise dessa questão nos revelará tam­
bém o segundo equívoco, mais profundo, em que Fetter se encontra no tocante a
toda a estrutura lógica de minha argumentação.
Entre quais idéias quer minha argumentação estabelecer um nexo? Entre a no­ - - --- -
- .
-
tória "produtividade do capital". tão amplamente reconhecida, de um lado, e o pro­ ~

longamento dos métodos de produção indiretos, do outro. Minha argumentação


pretende ser uma espécie de argumentum ad hominem em relação a todos aqueles
teóricos das mais diversas correntes que, em qualquer versão que seja, acreditam
na "produtividade do capital", mostrando-lhes que, se quiserem ser conseqüentes.
têm de admitir também a produtividade dos métodos de produção indiretos mais
longos. 25

24 Para partidários efetivos do verdadeiro "conceito de valor", que vêem a essência do capital no próprio valor, teria sido
antes necessário discutir expressamente casos de incongruência entre "grandeza do valor" e "grandeza do capital",1
25 Sob esse aspecto, também Fetter viu muito bem o caráter de minha argumentação, ao falar, à p. 164 et seq., do agree·
EXCURSO V 89
.:. _.::: -= -­ Para esse fim, naturalmente eu tinha de mostrar que os casos típicos nos quais,
~. -::"'.--":: ó'2.:Jundo a opinião dommante, ocorre o "fato notório da produtividade maior do
-:: -~.::--
::,::oalho dotado de capital maior", isto é, os casos nos quais ocorre uma produtivi­
- -::>_~:--:::-
:::de maior da produção, produtividade esta que se explica como decorrência de
::-~~::.~-~-::::
c __ ::.:-.­ _::1a nova cooperação, respectivamente maior, de capital, se apresentam ao mes­
-:~o tempo como casos de métodos de produção indiretos prolongados. Ao contrá­
- :'. não interessam à minha argumentação casos nos quais não ocorre esse fato:
I~~ =-.;:~ __ ~::
ó Sbvio que a prova que me cabe dar de uma coincidência entre os casos de méto­
::os de produção indiretos prolongados e aqueles casos de produtividade aumenta­
.:-- :.
= ~-::~"~:-:-.2-
=cc:-~
::a. os quais a opinião vigente considera como casos de produtividade maior efetivada,
:aracterística do emprego de capitais maiores, não tem absolutamente nada a ver
- ::':~(::-1C.~
::Jm casos em que simplesmente não ocorre uma produtividade maior que deva
: - __ !I_; :lC­
ó'er assim interpretada.
r-::. à~U2~ Pois bem: a que lado pertence o produzir com -mais capital per capita", no sen­
~'=-.:'a C2 ::do por mim intencionado e explicado, isto é. o produzir com uma dotação de capi­
:::: ::"are,-. :21\ que representà um montante de valor maior, pelo fato de constar de mais bens
:;"~_ ::.:-=.aC2 ::e capital ou de bens de capital melhores? Sem dúvida, pertence ao primeiro lado:
L_ ~Lorins
2 o caso clássico da produtividade. Segundo a opinião de todos, ele leva a um au­
:::. :;, ma;; :nento real da produtividade, e, no entender jambém de todos, esse aumento deve
,.2 ó'2:ltaac
ó'2r atribuído ao emprego de capital maior. E por isso que eu tinha de apresentar
: ..: Clark. :: "todo mundo", também para esse caso. meu argumentum ad hominem, demons­
":~asde :rando que esse caso de aumento indiscutível de produtividade é idêntico ao caso
:~.::Jentes
ie períodos de produção prolongados.
E:-:;aginá­ Em contrapartida, a que lado pertence o produzir com "mais capital per capita",
I
~::~ de cir­ :lO sentido de Fetter, a saber, o produzir com uma dotação de capital que representa
" ..enhum 'Jm montante maior de valor, não por constar de mais bens de capital ou bens de
c 2ssa ne- :::apital melhores, mas simplesmente em razão da ocorrência de valores raros espe­
~: _:ostrar

ciais? Ele pertence ao segundo lado, com toda a certeza: não é um caso de produti­
:- _. Fetter.
vidade. A produtividade técnica da produção nacional em nada aumenta pelo fato
.: : ,rência.
de as mesmas máquinas, instrumentos, matérias-primas etc., possuídos pela nação,
sofrerem um aumento de seu valor global em razão da ocorrência de valores raros
1=-':: ter es­ - sempre supondo possível ta! ocorrência; isso, da mesma forma como a produ­
r. " produ­ ção nacional não se torna mais produtiva pelo fato de, em razão de uma baixa do
,.,:'didade, dinheiro para a metade de seu valor, o estoque de capital, inalterado do ponto de
:,. 3a iden­ vista material. exprimir-se agora numa soma de dinheiro duas vezes maior. Sei que
2 :clétodos
concordo inteiramente com Fetter quanto às duas coisas. Pois bem, justamente por
2.::rá tam­ isso tais casos de aumentos exóticos ou nominais de valor do capital nacional sim­
:xante a plesmente não afetam meu problema. Ninguém é de opinião que estes sejam casos
de produtividade do capital, e por isso também meu argumentum ad hominem na­
-:Te a no­
da tem a ver com eles. Minha argumentação não apresenta lacuna nem falha lógica
: 20.pro­ pelo fato de não poder interpretar também esses pseudo casos de um "maior" em­
~.2ntação
prego de capital como casos de métodos de produção indiretos prolongados. Muito
:5 aqueles pelo contrário, ela estaria comprometida se essa interpretação conseguisse isso; e
::=,editam aqui se revela toda a profundidade do equívoco de que é vítima Fetter no que can­
.c~üentes, cerne à verdadeira natureza da questão.
',:':os mais Fetter como que inverte o fronte natural da prova: elementos que reforçam e
corroboram minha argumentação, ele os joga contra mim à guisa de objeções. Objeta­

~.::;. teria sido


ment de minha tese with the old proposrtion that capital is produtiue. e ao caracterizar com as palavras que seguem o inte­
:,,~Ital"1
resse que tenho no êxito da comprovação desse agreement: "He (isto é, Bóhm-Bawerk) wlll gam for the one (proposition)
:.-: ~ do agree-
ali the authority and bellef that atlaches to the other among economic students".
90 TEORIA POSiTIVA DO CAPITAL

me. em tom de refutação, que à ocorrência de ganhos de monopólio no valor do


capital não corresponde um prolongamento do período de produção - se bem que
ao mesmo tempo saiba perfeitamente que a ocorrência de tais ganhos de monopó
lio ou de valores raros não vem acompanhada de nenhum aumento de produtivi­
dade técnica. Na verdade. seria ao contrário uma refutação ou no mínimo um sério
problema para minha argumentação se também para esse caso se pudesse provar
um prolongamento dos métodos de produção indiretos. pois então estaríamos diante
de um caso de prolongamento de métodos de produção indiretos. no qual falharia
a afirmada identidade com os casos de aumento de produtividade de capitais au
mentados l Numa segunda ocasião. Fetter. ao inverso. deduz que minha conclusão
é falha. exatamente do fato de aumentos de valores raros não envolverem um au­
mento de produtividade técnica, embora ao mesmo tempo saiba perfeitamente ­
e ele mesmo tenha até objetado - que tampouco envolvem prolongamento do
tempo de espera. Naturalmente, nada poderia ter sido mais fatal para mim do que
poder-se efetuar também para esse caso a prova - de que Fetter sente falta -- do
aumento de produtividade técnica, pois então teríamos um caso de "aumento de
produtividade do capital aumentado", que eu não teria conseguido explicar como
um caso de prolongamento de métodos de produção indiretos. Na realidade. é an­
tes manifesto que as duas coisas que Fetter. pela ordem. me objeta. depõem a meu
favor: uma argumentação que visa provar um paralelismo entre a adoção de méto­
dos de produção indiretos mais longos e a ocorrência do fenômeno da produtivida­
de do capital só pode levar vantagem se. em casos nos quais notoriamente não há
aumento da produtividade, também não há prolongamento do tempo de espera.
e vice-versa!

Mas tudo isso foi apenas uma etapa introdutória para a objeção de Fetter; sobre
ela se baseia sua objeção principal. ainda mais forte. Ela culmina na objeção de um
"círculo vicioso".

"O argumento" - diz textualmente Fetter - "encerra um círculo vicioso ilusório. por
já inciuir nele a taxa de juros (by implying the rate of interest). Quando se utiliza um
conceito de valor varia o 'montante de capital' que corresponde a um dado produto anual,
juntamente com a taxa de desconto à qual se efetua a capitalização Se a taxa de JUros
vigente for de 20%, um produto an ual avaliado em 10 envolve uma capitalização de
50; no entanto, se a taxa de juros cair para 1%. o mesmo produto envolve uma capitali­
zação de 500?é Por isso. dos dois componentes do princípio de que um capital maior
significa uma produtividade maior num método indireto mais longo. a primeira parte
é insustentável se não for complementada por uma cláusula, a saber. sob condição de
que a taxa de juros tenha permanecido a mesma. Acontece que é justamente a mudan­
ça da taxa de juros que ele (a saber. Bohm-Bawerk) tenta explicar com uma mudança
na produtividade técnica?7

Vejo nessa cadeia de conclusões um exemplo clássico e altamente instrutivo desses


erros dialéticos que provêm do fato de o concludente juntar palavras sem ter pre­
sentes, com a clareza. a figelidade e a totalidade necessárias, os fatos que as pala­
vras pretendem identificar. E assim que simplesmente se juntam externamente palavras

26 A cifra correta é 1 000; mas a cifra obviamente errada não tem importância para o caso
27 Op. Clt.. p. 169
EXCURSO v 91
cujos respectivos conteúdos se contradizem entre si. O exemplo é duplamente ins­
~rutivo por ocorrer com teóricos tão perspicazes e cuidadosos com Fetter e I. Fisher.
Incluo imediatamente Fisher. pois este não só aprova globalmente a exposição de
Fetter com uma citação de aprovação, mas também porque em suas próprias obras
::eu reforço a essa dialética ilusória que está à base da objeção de Fetter. .
A conclusão falsa está na opinião de que uma alteração da taxa de juros pode
:~fluir simultaneamente e no mesmo sentido no valor de troca de todos os tipos
::2 bens e que. conseqüentemente, um estoque de bens de uma economia nacional
:lteira. que permaneceu inalterado em sua composição real. pode aumentar ou di­
:-:1ínuir na soma total de seu valor de troca, de acordo com as oscilações da taxa
::2 juros.
Faz aproximadamente sessenta anos que J. Stuart Mil! coroou sua exposição.
:30 evidente quanto brilhante, sobre o conceito do valor de troca dos bens. com
..:ma das comparações mais claras que já se utilizou em nossa ciência:

"É tão impossível que coisas trocadas umas pelas outras caiam todas de preço ou su­
bam todas quanto é imrossívei que. de doze apostadores de corrida. cada um deles ul­
trapasse os demais. ou que. de 100 árvores. cada uma sobrepuje as demais".

Mil! tinha na época motivo para recordar essa verdade evidente àqueles que
::netendiam deduzir um aumento do valor de troca de todos os bens, de um au­
:nento do salário, já que, segundo ele, o trabalho e o salário constituem um elemen­
:J na produção de todos os bens. Ele lhes mostrou, de maneira essencialmente correta,
cão só a impossibilidade do resultado, mas também o ponto no qual se introduziu
"ürrateiramente o erro em sua conclusão. apontando-lhes a reciprocidade que ­
30 menos no caso de o resultado da produção não se alterar - tem de haver entre
ôalários altos e lucros e juros baixos. Se não nos esquecermos de levar em conta
2sse reverso do aumento dos salários, não chegaremos ao resultado de que um au­
:-:lento dos salários acarreta um aumento do valor de todos os bens. mas antes ao
:esultado, bem diferente, de que, em se tratando de bens em cujos custos de fabri­
cação - falando popularmente - entram salários e juros. nas proporções corres­
')ondentes à média da economia nacional, o valor de troca deles permanece mais
~u menos inalterado. ao passo que, em se tratando de bens em cujos custos de
'abricação os salários do trabalho entram em percentual acima da média. seu valor
:le troca aumenta. e em se tratando de bens em cuja fabricação o trabalho aumen­
~ado entra abaixo da média, seu valor de troca há de baixar.
Ao que parece, já faz tanto tempo que sabemos isso, e o sabemos como um
:ato tão pacífico que tivemos tempo para esquecê-lo novamente. Pois é material­
mente o mesmo erro, já combatido tão vitoriosamente por Mill, que ressuscita agora
'1ovamente em Fisher e Fetter - apenas com a variante de que associam um au­
mento geral do valor de todos os bens não a um aumento do salário. mas a urna
oaixa da taxa de juros e com mais uma variante. a saber, que colocam em primeiro
plano não a propriedade que a taxa de juros tem de influenciar o montante dos
custos, mas a outra propriedade dela. de servir como regulador da capitalização.
Fisher parte da afirmação de que o preço de cada bem é igual ao valor descon­
tado dos serviços futuros dele esperados, e a isso associa a conclusão de que, per­
manecendo inalterado o valor desses serviços, um aumento ou uma queda da taxa
de juros necessariamente acarreta uma queda ou um aumento do valor de todos
os bens 28 Um esclarecimento que segue um pouco mais adiante 29 permite ver que

" The Rate of Interest p 225.


29 Op cit. p. 227.
92 TEORIA POSITNA DO CAPITAL

Fisher não pensa aqui em queda e aumento iguais de todos os bens, mas numa
influência em grau menor sobre os elos da cadeia mais próximos ao serviço final
maduro para o consumo, e numa influência em grau maior sobre os elos mais dis­ :-:. • . J

tantes do mesmo, mas visivelmente pensa numa influência simultânea sobre todos
os elos, no mesmo sentido - o que é uma impossibilidade lógica, pensarmos em
termos de valor de troca real. Com efeito, a essência da suposta alteração da taxa
de juros está numa mudança da condição de troca entre serviços temporalmente
distantes e serviços temporalmente próximos: um aumento da taxa de juros signifi­
ca uma influência mais forte dos §erviços próximos e uma influência mais fraca dos
serviços distantes, e vice-versa. E evidente, portanto, que, aumentando a taxa de
juros, bens que incorporam prevalentemente serviços próximos hão de aumentar
sua influência proporcional em relação a bens que incorporam sobretudo serviços
distantes, e vice-versa. Por conseguinte, alterando devidamente o que anteriormen­ ~_.

te ficou dito soare o salário, se poderá e deverá dizer mais ou menos p seguinte:
se houver um aumento da taxa de juros, permanecerá inalterado o valor de troca =_-=:..
de bens que incorporam serviços próximos e distantes em mistura mais ou menos
média: em contrapartida, no caso de bens em cuja utilidade estiverem fortemente
representados, em medida superior à média, serviços muito distantes, seu valor de
troca há de cair, e, ao contrário, no caso de bens em cuja utilidade estiverem forte­
mente representados, em medida inferior à média, serviços distantes, seu valor de
troca real há de aumentar.
Que Fisher, em sua afirmação, deve também ter pensado no valor de troca real
- ou pelo menos tinha de fazê-lo -, resulta do fato de ele elaborar sua definição ::::::1
básica do conceito de ualue com base na condição de troca em relação a bens de :~

qualquer espécie que seja, e não exclusivamente em relação ao dinheiro,30 e do fa­


to de em todo caso haver deixado de comentar expressamente que o simultâneo
aumento do valor de troca de todos os bens, respectivamente a diminuição de seu
valor de troca, pressupostos no raciocínio dele, são um aumento ou uma diminui­
ção do valor apenas aparentes e nominais, aumento ou diminuição estes que, se­
gundo ele, só ocorrem em relação a determinada espécie de bens, escolhida como
critério de preço, sendo que naturalmente a causa da alteração deveria estar do la­
do desta última esp'écie de bens e também deveria ter sido especialmente explicada
por Fisher. Por outro lado, se Fisher tivesse pessoalmente estado atento a esse con­
flito lógico, dificilmente teria dado sua adesão sem reservas à argumentação de Fet­
ter, que encerra o mesmo conflito lógico em medida ainda maior.
Efetivamente, também a objeção de Fetter, que acima reproduzimos textualmente,
pressupõe que o estoque do capital nacional, realmente inalterado e não aumenta­
do em sua produtividade técnica, só pode aumentar em seu valor capitalizado, dez.
vezes (recte, vinte vezes), em razão de uma redução da taxa de juros, de 20 para
1 %.31 Que em sua argumentação não se trata de itens de capital isolados - para
os quais isso seria possível e correto -, mas do estoque inteiro da economia nacio­
nal, sabemo-lo pelo repetido reconhecimento, por parte dele, de que em nossa dis­

30 Natu.e of Capital and /ncome, p. 13-15. "The value 01 a certain amount 01 one kind 01 wealth is the quantity 01 some
olher kind for which it would be exchanged (.. .)' lp. 13). Uma página adiante, numa tabela ilustrativa, o valor não vem
expresso em dinheiro mas em alqueires de trigo, e na p. 15 vem a observação de que a expressão lhe value 01 wealth
é uma incomplete phrase enquanto não se tiver acrescentado em que tipos de outros bens se quer medi~la, se em ouro
ou em algum oulTo artigo qualquer.

31 Com efeito, pelo lato de Fetter me objetar que de um aumento do montante do capital só se pode concluir para um

aumento de produtividade se não se alterar a taxa de juros, ele deve considerar possível que, alterando-se a taxa de juros,

..

o montante de valor do capital pode aumentar, sem que aumente sua produtividade real; que, portanto, em outras paJil­
vras, alterações na taxa de juros podem acarretar uma alteração do valor do capital, mesmo que a quantidade real e a
produt,vidade do capital não se alterem.
EXCURSO V 93
:-.uma cussão se trata sempre exclusivamente de toda a economia nacional Não há 32

c final nenhum indício que permita concluir que o referido aumento generalizado do valor
L" dis­ seria apenas nominal, provocado por uma baixa correspondente do critério de me­
:odos dição; aliás, com tal interpretação a objeção como tal perderia toda a sua força, Per­
ç" em manece, portanto, a afirmação da impossibilidade lógica de que aumente
lê taxa simultaneamente de vinte vezes o valor de troca de todos os bens que têm valor
:r:1ente de capital, ao passo que só seria logicamente possível e acertada a proposição, bem
s~3nifi­ diferente, de que a redução da taxa de juros altera a relação de troca dos bens "capi­
C~ dos talizados" dentro da massa global, de que permanece inalterado o valor de troca
~;,:a de de bens cuja utilidade tem deterrninada composição média - sendo eles como um
r:entar eixo em torno do qual ocorre uma rotação -, de que aumentam de valor bens
!:-:'cos de determinada composição extrema e de que diminuem de valor bens que apre­
ir:1en­ sentam a composição extrema oposta. 33
;":":1te: Contudo, Fetter ainda radicaliza o conflito lógico com um acréscimo que está
; ::-oca ausente em Fisher. Este último havia inserido em seu raciocínio a cláusula: "desde
'..e'1OS que permaneça inalterado o valor dos serviços futuros esperados". Pode-se deixar
:-:-:ente em suspenso a questão se e em que sentido essa pressuposição de Fisher é possí­
,:::J:- de ':el, ou então se aquelas alterações de valor que resultam como conseqüência ne­
! :::Jrte­ :essária de uma alteração da taxa de juros não deveriam talvez elas mesmas atingir,
L::- de em suas ulteriores conseqüências, também o valor dos próprios serviços futuros. Mas
fetter insere em seu raciocínio uma suposição ainda muito mais preocupante. Subs­
:e. real titui a cláusula fisheriana do valor inalterado dos serviços dos respectivos bens de
L'"::ção capital por uma cláusula do valor inalterado de seu produto anual;34 e o critério de
!:-.S de capitalização escolhido - de um "produto anual", de 10 deduz-se, com uma taxa
co fa­ de juros de 20%, um valor de capital de 50 - revela que por "produto anual" não
Ir'
~~:1eo é possível que se entenda um produto bruto, que poderia coincidir com o valor dos
[e seu serviços anuais do respectivo estoque de capital, mas que o mesmo deve represen­
r.'nui­ tar já o produto líquido do capital. Por conseguinte, Fetter supõe, de um fôlego, que
.12. se­ um estoque de capital realmente inalterado, com produtividade técnica inalterada,
c::Jmo baixando a taxa de juros de 20 para 1%, gera o mesmo produto líquido que até
co la­ agora; e isso, note-se bem, vale, segundo ele, não somente para algum item de ca­
!::ada pital concreto individual qualquer - o que seria perfeitamente possível afirmar,
! :on­ supondo-se condições especiais que fixem de antemão o produto líquido -, mas
e fet­ para todo o estoque de capital da economia nacional, já que só este está em ques­
tão em toda a discussão. Mas que estranha "baixa da taxa de juros" é esta que, na
:.ente, disputa entre capital e trabalho, deixa simplesmente tudo como estava, que ao capi­
12'1ta­ tal realmente inalterado atribui como produto líquido exatamente o mesmo que an­
c. dez. tes? Pois a taxa de juros não é apenas um ponto de referência para a capitalização,
I ;:1ara mas tem também, e antes de tudo, uma importância real para a distribuição do pro­
;:lara
lc.cio­
G dis­ " Op. dt .. p. 166 e 168 na nota. Sob certo aspecto Fetter chega até a exagerar esse reconhedmento.
33 Por precaução quero, de passagem, posicionar-me ante a objeção possível de que não ~,e trata do estoque de todos
os bens tou! court, mas somente do estoque de todos os bens de capital, conceito este que para mim é no mínimo bem
:nais restrito. A isso, porém, cabe responder duas coisas, Primeiramente, também os bens de capital incluem somente bens
:'~ s::ne da composição de todo diversa, de sorte que também para o número mais restrito deles seria impossível a mudança unifor­
2: ·"em me de valor pressuposta por Fetter. Em segundo lugar, o motivo que Fetter indica para a mudança de valor é totalmente
; _2Girh :miversal, de maneira que, se for válido, deveria valer pura e simplesmente para todos os bens - o que é um,a impossibili­
~ :uro dade do ponto de vista da lógica. Com efeito, é óbvio que o mesmo tipo de capitalização, bem como o fato de ela ser
::1fluencíada pela taxa de juros, se observa não somente no caso dos "'meios de produção produzidos", mas basicamente
IC...=' um Também no das espécies de bens excluídas de meu conceito de capital, isto é, no caso da terra e dos bens de consumo
.:: :...~os, - cuja utilidade é de duração mais curta ou mais longa. Em relação a Fisher, esse ponto não tem importância alguma,
'" oala· pois, como se sabe, ele engloba em seu conceito de capital todos os bens sem distinção.
:.:.::: e a 34 "'( ... ) an annual product valued at ten supports a capitalisation of fifty: but if the interest faHs to 1 per cent, the same
product supports five hundred". Op. cit., p. 169.
94 TEORIA POSITIVA DO CAPITAL

duto nacional: alterações da taxa de juros significam, exatamente como as altera­


ções do salário, uma mudança do critério de distribuição entre capital e trabalho.
Portanto, uma "baixa da taxa de juros" que deixa inalterada a parte do capital
inalteradoJ5 é, na verdade, uma "alteração do critério de distribuição", que não é
uma alteração do critério de distribuição, - uma palavra utilizada abusivamente,
uma contradictio in adiecto, uma impossibilidade lógica -- exatamente como o au­
mento paralelo e simultâneo do valor de troca de todos os bens de capital. que no
caso teriam de sobrepujar-se reciprocamente em valor, na trocai
E com base em tais pressuposições Fetter constrói seu ponto de vista, a partir
do qual a minha argumentação se lhe apresenta como um círculo vicioso: será que
se precisa de uma prova mais forte para o acerto e também para a necessidade de
minha advertência e de meu pedido, sempre de novo repetidos de decênios para
cá, no sentido de que, em se tratando dos raciocínios tão infinitamente difíceis da
teoria do capital, se faça o máximo possível para que todas as idéias introduzidas
nesses raciocínios tenham uma clareza plástica total, e no sentido de que se evite
uma dedução dialética partindo de palavras cujo conteúdo é vago ou confuso para
a inteligência? Justamente pesquisadores como Fisher e Fetter - disso estou con­
vencido - certamente têm quanto a isso o mesmo pensamento que eu, ao nível
dos princípios, e por isso me perdoarão a coragem de ter urgido a validade desse
legítimo princípio também em relação a eles.

Posso ser bem mais breve em relação a uma tentativa de refutação de


Schade 36
Schade opõe a meu "pretenso axioma-'- a seguinte pergunta:

"Como se há de proceder, se a meta (o número máximo de produtos de consumo


da mesma espécie - de acordo com o conhecimento do momento sobre a situação)
está apenas a determinada distância e no entanto se quer ocupar o máximo possível
de mensageiros (meses de trabalho. capitais)? Faz-se com que eles marchem simulta­
neamente e por caminhos paralelos em direção à meta 38 Aumenta-se o capital para
que este, por caminhos paralelos. ajude a conseguir um suprimento maior de bens de
consumo, isto é, aumentam-se as empresas mantendo o melhor processo então existen­
te e a correspondente duração do período. Se, em conseqüência dos progressos da téc­
nica, ainda se conseguir encurtar o penodo. pode-se fundar tanto mais empresas paralelas.
Portanto, o número dos mensageiros. a quantidade do capital existente, não dá nenhu­
ma informação sobre a duração dos períodos"39

Schade empenhou-se pouquíssimo no sentido de elaborar o conteúdo objetivo


para as expressões que emprega. Investiga os efeitos de um aumento do capital e,
note-se bem, de um aumento per capita, pois esta é a pressuposição de meu racio­
cínio, contestado por ele, e também ele mesmo, algumas linhas mais adiante, inclui
expressamente no campo de aplicação de sua argumentação o caso de uma popu­
_. -=....,

Nem preciso observar que, aumentando realmente o estoque de capital, seria conciliável um montante global inaltera­

3,::;'
do da parcela de capital com uma mudança real nas condições de distribuição ou com uma baixa real da taxa de juros;

ao contrário. se o estoque de capital permanecer realmente inalterado. naturalmente isso nâo é possíveL

36 Bohm-Bawerks Zinstheorie und seine Stellung zur Produktivitaetstheorie". In: Annalen des deutschen Reíches. Ano 39,

1906. p. 225-238 e 263-289. O artigo inteiro ofereceria ampla matéria para correções de todo tipo; fixo-me exclusivamente

no ponto abordado no texto. pois ele diz respeito a um tema importante e pouco analisado na literatura económíca, sendo

que a dlscussao sobre o referido ponto sempre pode ser útil para esclarecer o mencionado tema.

37 Ver acima, Excurso L p. 27 et seqs

18 '"'A meta não é pensada como um ponto individual, senão que jnclui muitos pontos de uma linha reta que corre parale­

lamente à reta na qual estão localizados os pontos de partida". (Observação de Schade.)

39 Op. cH, p. 271.


EXCURSO V 95

to:: - -= . _ôção que permanece numericamente estacionária 4ü Pois bem, ele quer ver o efeito
~cpico de tal aumento de capital no fato de que não são os métodos de produção
::;ue sofrem prolongamento, mas que se aumenta o número de métodos de produ­
ção paralelos de duração igual.
Mas que significa esse modo de falar? Inicialmente Schade explica que por ele
2ntende o aumento das "empresas" (Betríebe ou Unternehmungen) nas quais se pro­
duz, mantendo o processo e a duração do período então em uso. Nessa explicação
~á ainda um vestígio de duplicidade de sentido gramatical, a qual, é bem verdade,
desaparece de imediato se inquirirmos o sentido, mas que de qualquer forma possi­
~ilitou a Schade fugir ao uso daquelas expressões na verdade adequadas e inequí­
,,-ocas que necessariamente teriam logo revelado a autocontradição em que incorre.
Com efeito. do ponto de vista puramente formal. a expressão "aumento das empre·
~ =-= sas" (Fermehrung der Betriebe) poderia também significar um processo pelo qual,
c =.:.~ sem qualquer alteração no âmbito global da produção nacional, simplesmente se
10-. _~,:: aumentaria o número das unidades de produção. com simultânea redução de sua
grandeza média. Se, por exemplo, numa economia nacional existem 10 000 000
de trabalhadores produtivos. até agora distribuídos em SOO 000 empresas indepen­
:- .::::. dentes, entendendo-se a expressão em seu sentido puramente verbal se poderia
t-:: ::-:: obter um "aumento das empresas", distribuindo os mesmos 10 000 000 de traba­
lhadores produtivos pelo dobro de empresas independentes, e em conseqüência
diminuindo a grandeza média da unidade de produção, reduzindo o número médio
de 20 trabalhadores ocupados numa empresa para, em média, 10 trabalhadores.
Tal processo seria possível, dentro das pressuposições da discussão, sem qualquer
contradição, ou ao menos sem contradição básica. Mas é natural que Schade não
pode ter pensado nisso, pois tal pressuposição seria totalmente indiferente para o
tema em discussão. Afinal, não se compreenderia como é possível "ocupar" plena­
mente um capital que aumentou - digamos, por exemplo, que tenha duplicado
"::"-:: .-: per capita - fazendo trabalhar o mesmo número de trabalhadores da mesma for­
ma que até agora, apenas distribuindo-os em um número maior de pequenos gru­
pos - da mesma forma como certamente não se conseguirá encontrar emprego
-. ­ para o dobro de espingardas, dispondo do mesmo número de soldados a equipar
com espingardas, em um número duplo de companhias, constituídas da metade
C .-:_
de soldados. Além disso, seria contra toda a experiência supor que o efeito típico
:- ­ de um aumento de capital per capita possa consistir em redução do porte das uni­
dades de produção, portanto em retrocesso de uma empresa grande para uma em­
presa pequena'
.: ~ -. ­ Porisso. Schade certamente pensou e deve ter pensado no outro sentido, mais
::=:. 2. forte, das expressões que empregou: por "aumento das 'empresas" entendeu não
ê:_ ~- um simples aumento das unidades de produção, mas um aumento da extensão global
do processo produtivo, associado ou não a um aumento do número de unidades
': -: -.1­ de produção. Precisando mais: entende dizer que em todas as empresas, considera­
das em conjunto, as manipulações do processo de produção em uso são feitas da
maneira até agora em uso, mas em número maior do que até agora, umas ao lado
das outras; isso, por sua vez, significa - para utilizar finalmente o termo correto.
evitado por Schade -, empregando, em todas as empresas, consideradas em seu
conjunto, mais pessoas. mais trabalhadores do que até agora, mas da maneira até
agora em uso. Ora, isso contradiz frontalmente as suposições das quais Schade par­
:u. pois ele supõe que a população não aumentou, tendo aumentado o capital per

? 271, último parágrafo: "quer se trate de um aumento ou de um estado estacionário da população",


96 TEORIA POSITIVA DO CAPITAL

: '::P:[Q. Donde então tirar o dobro de trabalhadores para ocupar um capital que du­
::;::ou. se a população não aumentou? E se a tivéssemos, que seria do aumento
'::2 capital per capita? Por conseguinte, o argumento de Schade, se levado Jogica­
Tente até o fim, desemboca numa dupla impossibilidade lógica: que um aumento
co capital per capita deveria levar a ocupar mais cabeças do que as que existem,
e que o mesmo aumento per capita, em virtude do aumento de cabeças - tiradaS -'
do ar - não pode significar um aumento per capita. 41
Finalmente, encontro em Landry42 o seguinte comentário à minha compara­
ção do número de mensageiros que se encontram simultaneamente a caminho da
meta:

"La comparaison n'est pas immédiatement probante. parce que le cas des bâteaux 43
est trop simple: les bâteaux partent pour accomplir un trajet qui est toujors le même;
les mois ou les années de travail que la société dépense n'arriveront pas tous à destina­
tion - come dirait Bohm-Bawerk - dans le même temps"44

Não sei com certeza até onde Landry tencionava chegar com sua observação
cética de que minha comparação não é "diretamente concludente". Pretenderá du­
vidar da própria força probatória de meu raciocínio. ou teria apenas desejado que
o exemplo escolhido, "excessivamente simples". fosse estruturado de modo que uma
complexidade ocorrente na vida econômica prática se espelhe com fidelidade total
num exemplo igualmente complexo? Considerei supérfluo fazê-lo. Com efeito, da
grandeza do capital nacional em sua totalidade, respectivamente do número dos "me­
ses de trabalho nacional" acumulados no capital nacional em sua totalidade, nada
concluo para a duração dos métodos de prod ução individuais de ramos de produ­
ção individuais, mas apenas para a duração da média de todos os métodos de pro­
dução individuais adotados 45 Ora, essa média é uma só, e por isso pude, em meu
exemplo, contar tranqüilamente apenas com uma distância (justamente a média)
da meta da produção. Naturalmente, nada seria mais fácil do que reproduzir fiel­
mente, também no exemplo, a complexidade, enfatizada por Landry, existente nos
fenômenos da vida econômica real. Nesse caso, em nosso exemplo bastaria que
a cada hora fizéssemos partir não cada vez um mensageiro para uma e mesma me­
ta, mas, por exemplo, cada vez dez mensageiros para dez metas localizadas a distân­
cias diferentes; nesse caso, o número de mensageiros que estão simultaneamente
a caminho de cada uma dessas dez metas espelharia a distância dessa meta indivi­
duai (que não nos interessa) e a soma de todos os mensageiros que se encontram
simultaneamente a caminho, dividida por dez. espelharia a distância média (que nos
interessa) daquelas dez metas de produção, ou seja, a "duração média dos métodos

Não preciso esclarecer que. mesmo no caso de uma população que aumenta, só poderia ter aplicação um aumento
'-11
do capital proporcional à população. mas não o "aumento per caplte" na linha das 'déias de Schade: tampouco preciso
esclarecer que. para o objetivo visado por sua argumentação. seria insuficiente também a informação de que a falta do ~ - ­
número de trabalhadores pode ser compensada. digamos. pelo aproveitamento de pessoas até agora desocupadas ou pelo :"-"=1-': ::DJ
prolongamento do tempo de serviço a:é agora usual. Quanto a isso, ver também as exposições no Excurso L p. 31. nota ~ ......-:;'cr:
58. Aliás. não há nenhuma base para afirmar que o próprio Schade tenha incluído este ou outros detalhes no quadro -;--;~~

de suas considerações ~~--;.


'2 Untérét du Capital. p. 281, nota. ~~
43 Landrj' traduz meus Boten {mensageiros) por bâteaux (Boote = barcos!) - um equívoco de ordem língüística, aliás
~-r9
totalmente inofensivo para o problema em pauta.
:;,t~

44 ~A comparação não é imediatamente concludente, porque o caso dos navios é excessivamente simples: os barcos par­

1em para realizar um trajeto que é sempre o mesmo: os meses ou anos de trabalho que a sociedade aespende não chegam
~:
,odos ao destino -- como dirio Bbhm-Bawerk - ao mesmo tempo". IN. do TI
:'F õiE'-: -;
45 Ver supra. Excurso l. p. 28, "(.) Se I... ) não estiverem a caminho. ao mesmo tempo. mais do que dois meses de traba­

lho. isso denota lnequiv_ocamente uma duração média menor dos métodos de produção adotados (. .. )"

EXCURSO V 97
i..-= __ ­
:Jrodução adotados". Aquilo que no exemplo simplificado é representado pelos
- .::.eros proporcionais de seis e de vinte mensageiros que se encontram simulta­
:.:- =~- -e':.:nente a caminho seria então representado pelos números, multiplicados por dez,
:~ :JO e de 200 mensageiros que se encontram simultaneamente a caminho, núme­
",.:=-:: -: ~ estes que, ao final, se reduzem também eles à mesma média.
)Jo caso de Landry pretender não somente contestar essa configuração técnica
compração - que aliás considero supérflua ~, mas ter em mente uma dúvida
-d: acerca do car~ter concludente do meu raciocínio, devo dizer que em todo caso
-"J me deu oportunidade de conhecer a natureza de sua objeção 4b

li =_ t

"::: :- - :'

E _ .. _
E

~ ~_2-

-= -=:- -=. ­

:-_~: ~

c::. ­
-- . - -':::
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::-.2~:e

:~=.\':-
c.~:-a.m

_~ ~lOS

§:C ::05

::. _-:-.enro
: ::-':::C1S0 ":''::-Penso Já ter de refutar uma polêmIca, sem dúvida direta, de Landry, em sua ohra mais antiga L'UtUlté Socia/e, Paris,
'Õ.:a do :901, p. 218-224, pois ela está superada pela tomada de posição um tanto diferente em sua obra posterior, podendo-se
; c_ ;>elo supor que o próprio Landry já não pretende manter suas posições de então, extremamente contestáveis. Afora os aqUI
~ _ nota
dtscutidos, não ten-ho deparado, na literatura econômica, até agora publicada, com outros vestígios de uma reflexão crítica
::Jadro
,ndependente da tese defendida no presente Excurso. Em particular, não creio que CasseI. Das Recht ou! den volien Arbeit,
sertrag. p. 104, tenha querido polemizar contra essa tese É verdade que de per si apresenta um tom bem polêmico a tese
a:lí·.expressa, de que "de modo algum se pode dizer que se possa considerar o aumento de capitaf como uma forma de
=::: aliás ;>rolongamento do período de produção'". Mas Cassei fundamenta essa tese com um exemplo no qual pressupõe que a
população e o capital aumentam "de modo totalmente igual" de 1%, exemplo este que, portanto, não pode ter absoluta,
"::5 par­ mente nenhum-a referência à mjnha tese, que pressupõe de maneira absolutamente expressa um aumento de capital per
:-.2gam capi-lD. De vez que'é impossível que isso tenha escapado a Casse!' é mais plausível supor que seu pronunciamento, apesar
de seu teor categórit:o, vise alguma outra afirmação ~ talvez a de que nem todo aumento de capitaL e particularmente
c~ "aba· ;1ão um aumento- apenas absoluto, necessariamente significa um prolongamento do período de produção -, proposição
esta com a qual naturalmente concordaria inteiramente
:::':CURSO VI

Resposta às Objeções do Dr. Robert Meyer Contra a Minha

Crítica à Teoria da Exploração

Para a p. 96, nota 7 da Teoria Positiva)

Num volumoso Apêndice de sua obra Das Wesen des Einkommens (p. 270
:o.té 298), o Dr. Meyer levantou uma série de objeções críticas contra certas afirma­
;ões feitas por mim no decurso de minha crítica da teoria da exploração de Rodber­
:-..1S. (Geschichte und Kritik der Kapitalzínstheorien, p. 391 et seqs.; 2° ed.; p. 466
"t seqs., 4? ed.; p. 345 et seqs.) De per si o tema da controvérsia não é de muita
:nportância, pois se trata do acerto ou não de uma apresentação numérica feita
::or mim apenas a título de exemplo; todavia, o tema adquire importância científica
:leio fato de a referida crítica não ser propriamente o objetivo da crítica do Dr. Me­
~'er, mas servir-lhe apenas como ponto de partida para desenvolver nela algumas
'déias positivas de significado geral a nível de princípio. Assim sendo, posso permitir-me
:esponder um pouco mais detalhadamente, tanto mais que o DI. Meyer muito gen­
:ilmente me solicitou explicações.
Devo começar reconhecendo com gratidão que o Dr. Meyer se empenhou mui­
:íssimo e com o máximo de consciência por penetrar no espírito de minha pesquisa
e por manter-se isento de interpretações errôneas de minhas palavras, que teriam
ampliado de maneira supérflua e estéril o status controversiae. Somente em um ponto
ele incorreu numa interpretação errônea, a despeito de todo o cuidado que teve
- infelizmente esse ponto era bem decisivo, cuja interpretação errônea fez com que
ele entendesse mal todo o resto. Observo logo que essa interpretação errônea foi
motivada por uma expressão passível de várias interpretações e que utilizei sem uma
explicação mais precisa; apesar disso, porém, devo declinar toda responsabilidade
por tal interpretação, já que expressamente e repetidas vezes (páginas 393, 394, 2~
ed.; p. 468, 4~ ed.; p. 347 et seq.) eu havia remetido à minha Teoria Positiva, que
só agora segue, para explicar o assunto com mais precisão.
Vamos, pois, ao assunto. Eu havia objetado aos socialistas em geral e em parti­
cular a Rodbertus, que deram uma interpretação contestável ao princípio, em si mesmo
inconstestável, de que a todo trabalhador cabe o vaJor pleno de seu produto. Com
efeito, se é verdade que na esteira desse princípio se pode exigir ou que o trabalha­
dor receba agora o valor presente pleno de seu produto, ou que receba no futuro
o valor total futuro do mesmo, os citados autores exigem que o trabalhador receba
já agora o valor futuro total de seu produto. E procurei, por meio de um exemplo

99
100 TEORIA POSITIVA DO CAPITAL

numérico, ilustrar o erro latente nessa falsa interpretação do "direito ao produto total
do trabalho". Para isso utilizei o exemplo de uma máquina que é fabricada despen­
dendo cinco anos-trabalho sucessivos e. uma vez pronta. tem um valor de mercado
de 5 500 florins. Lancei então a pergunta: qual é o valor do produto parcial fabrica­
do no primeiro ano de trabalho, e portanto qual é o salário parcial natural para o
primeiro ano de trabalho'? Respondi a essa pergunta, primeiro em formulação ne­
gativa, afirmando que o valor desse produto não pode ser de 1 100 florins, como
facilmente se poderia pensar, pois 1 100 florins representam o quinto do valor da
máquina pronta. quando no primeiro ano de trabalho só está fabricada a quinta
parte de uma máquina que só ficará pronta dentro de mais quatro anos e que é
menos devido à diferença existente entre o valor de bens presentes e· bens futuros.
Como cifra positiva indicadora do valor do produto do primeiro ano apontei o mon­
tante de 1 100 florins, pressupondo uma diferença de avaliação (vulgarmente de­
nominada "taxa de juros". a qual Meyer, utilizando uma expressão plenamente correta.
mas menos pop:..dar, denomina "diferencial de tempo") de 5% ao ano, deixando a
justificativa dessa colocação para uma exposição futura.
Mais tarde investiguei com base em que critério cinco trabalhadores que traba­
lham em conjunto e no regime de divisão do trabalho na fabricação da máquina
deveriam repartir entre si o produto de 5 500 fiorins, chegando ao seguinte resulta­
do: se a distribuição ocorrer somente no fim do período total de produção, os traba­
lhadores individuais não podem receber o mesmo montante, senão que os
trabalhadores dos primeiros estágios. que têm que esperar mais tempo pela sua re­
muneração, têm mais a receber, ao passo que aqueles dos estágios posteriores têm
a receber um montante correspondente menor: supondo uma diferença de valor
de 5% entre bens presentes e bens futuros (vulgarmente, uma taxa de juros de 5%),
,,-. :afirmei que a distribuição deve ocorrer de acordo com o seguinte critério:

"O trabalhador que primeiro começou a trabalhar e que tem de aguardar sua remu·
neração ainda quatro anos após seu primeiro ano de trabalho, recebe, no fim do
qulóto ano 1 200
osêgundo. que tem de aguardar três anos. . 1 150
QJeiceiro. que aguarda dois anos 1 100
J, quarto, que aguarda um ano ,..... . 1 050
.0 último, que recebe seu salário imediatamente após o término
de seu trabalho ..... ........... .. . 1 000
Total .... 5500"
':'
Uma vez que - tomando por base um diferencial de tempo de 5% e despre­
zando os juros dos juros - 1 200 florins daqui a quatro anos valem tanto quanto
1 000 florins presentes, justifica-se não somente a avaliação provisória feita ante­
riormente, na qual eu havia equiparado o produto do primeiro ano de trabalho a
um montante de 1 000 florins presentes, mas também minha outra afirmação ­ -' -'
que já não preciso desenvolver aqui - de que, no caso do exemplo, caso cada
trabalhador receba seu salário imediatamente após a prestação de seu serviço, o
salário justo e natural é o montante de 1 000 florins e não o de 1 100 florins.
Até aqui minhas afirmações fluem coerentemente. Pois bem: Meyer me objeta
- para irmos de imediato ao ponto principal - que a avaliação do produto parcial
do primeiro ano, de 1 000 florins presentes, contradiz a meus próprios pressupos­
tos. Segundo ele, pela minha própria suposição o trabalhador processa 1/5 de uma
máquina que estará pronta dentro de quatro anos e que valerá então'& 500 florins;
todavia, o valor presente de tal máquina inteira, supondo-se um diferencial de tem­
EXCURSO VJ 101

:la de 5%, não é, segundo Meyer, de 5 000, mas apenas de 4 583,3 florins, e 1/5
:lisso não é 1 000, mas apenas 916,6 florins. Segundo Meyer, essa contradição vem
:lo fato de em meu exemplo eu calcular ao mesmo tempo com duas taxas de juros
diferentes, ou seja, ao calcular as parcelas devidas aos trabalhadores, calculo real­
:nente com uma taxa de juros de 5%, ao passo que ao calcular o aumento progres­
s'vo do valor da máquina, opero com uma taxa de apenas 2,5%: pois para que
:) valor inicial da máquina, de 5 000 florins, possa, dentro de quatro anos, aumen­
:ar para 5 500 florins, a taxa de juros deve ser de 2,5%, de acordo com a seguinte
{órmula:
. 100 x 500
Taxa de Juros (p) = 5 000 x 4 (numero
' d e anos ) e
p = 50 000 : 20 000 = 2.5
A primeira impressão que se tem dessa argumentação. apresentada com clare­
za e segurança, é certamente a de que ela é cogente do ponto de vista lógico e
:natemático. E, no entanto, todo esse aparato de com provação erra o alvo em razão
de uma única palavra erroneamente interpretada: em razão do inofen?ivo termo "quinta
parte", ao qual Meyer dá uma interpretação um pouco diferente do sentido que o
:erm9 possuía na linha da minha teoria.
E que, ao medir as parcelas devidas a várias pessoas que colaboram numa obra
coletiva, há que distinguir com precisão entre o ponto de vista técnico ou físico e
~
o:) econômico. Quando um Thorwaldsen, juntamente com um canteiro comum que

:) ajuda a talhar grosseiramente o bloco de mármore, cria uma maravilhosa estátua


do valor de 10 000 táleres, a contribuição física do canteiro na produção da estátua
;;:­
facilmente pode ter sido tão grande ou até maior do que a do artista; do ponto de
vista econômico, porém, certamente se deve atribuir a este último a parcela maior. 1
Tomando por base certo ponto de vista técnico aproximativo, o trabalhador do pri­
meiro ano de nosso exemplo, pelo fato de haver contribuído com um de cinco tur­
nos anuais, realizou exatamente 115 da obra; é nesse sentido aproximativo que
empreguei, em meu exemplo, a palavra "quinto", o que também procurei insinuar
.: (à p. 392, 2~ ed.; p. 468, 4~ ed.; p. 346) ao falar de um "quinto do trabalho técni·
I.

.- co". Do ponto de vista econômico, porém, o trabalhador do primeiro ano realiza mais
do que um quinto, pois seu turno anual é o de maior valor e o mais produtivo.
Assim como bens presentes têm mais valor do que bens futuros, da mesma forma
I. trabalho presente tem mais valor do que trabalho futuro e se, por exemplo, a má­
quina for fabricada no qüinqüênio de 1909 até 1913 inclusive, o turno de trabalho
de 1909 vale mais do que o turno de 1910 e este, por sua vez, vale mais do que
o de 1911, e assim por diante. Eis por que também na alocação econômica se atri­
bui aos diversos turnos uma cota de grandeza diferente do produto: aos primeiros
turnos, e antes de todos, ao primeiro, se atribui mais do que 115, e <:lOS posteriores,
menos do que 115.
Essa alocação diferente se expressa, por um lado; numa avaliação diversa dos
produtos parciais fabricados nos diferentes turnos anuais e, por outro, no pagamen­
to de um salário de grandeza diferente aos colaboradores. Naturalmente, as respec­
tivas cifras se alteram conforme se efetuar o cálculo anticipando ou postnumerando,
portanto conforme se fizer, por exemplo, as contas em florins do ano de 1909 ou

~ Ver a teoria do "Valor de Bens Complementares" em minha Teoria Positiva do Capital (sobretudo à p. 187 das duas pri­
meiras edições) e também as exposições de Wieser - brilhantes, nessa parte - na obra Natuerlicher Wert. Viena, 1889.
p. 70 el seqs., 85 et seq.
102 TEORIA POSITIVA DO CAPITAL

em florins de 1913. Se fizermos o cálculo postnumerando. de acordo com o esque­


ma por mim estabelecido acima, no ano de 1913 o trabalhador do primeiro turno
terá de receber, pelo trabalho que prestou no ano de 1909. 1 200 florins, o traba­
lhador da segundo turno. 1 150, o terceiro. 1 100, o quarto, 1 050 e o quinto, 1 100.
Se fizermos o cálculo anticipando - na prática, isso ocorreria assim: no ano de 1909
contratam-se os trabalhadores para o serviço a ser prestado nos anos 1909/13 e
se lhes paga antecipadamente o salário correspondente ao trabalho a ser prestado
somente nos anos futuros -, sem dúvida se teria de pagar, se o pagamento for
feito no fim de 1909, a soma calculada por Meyer, de 4583,3 florins, como sendo
o valor total do produto a ser distribuído, valor total este referido ao momento atua!:
todavia, a distribuição dessa soma não se faria de modo que cada trabalhador rece­
besse um quinto, portanto 916,6 florins, como pensa Meyer. senão de modo que
o primeiro trabalhador receba 1 000 florins. o segundo, apenas 958,33, o terceiro,
916,66, o quarto, 875 e o quinto, 833,33 florins 2
Acontece que normalmente não se calcula nem anticipando nem postnume­
rondo, mas de modo contínuo: pagam-se os trabalhadores em prestações, imedia­
tamente após a realização de cada prestação de serviço Nesse caso, de que maneira
se expressa a remuneração desigual dos trabalhadores? - A resposta é tão parado­
xal quanto simples: no pagamento do mesmo montante de salário: cada um recebe
um salário anual de 1 000 florins, mas aquele que trabalhou no turno de maior va­
lor, o de 1909, recebe 1 000 florins de 1909, o trabalhador que prestou serviço so­
mente no turno de 1910, recebe apenas florins de 1910, e assim por diante.
Acredito que com esse esclarecimento se resolvem todas as objeções. Se atribuí
ao produto parcial produzido no primeiro ano um valor de 1 000 florins, não pre­
tendi afirmar que o valor da máquina inteira, referido ao momento anterior. seria
de 5 000 florins - pois disso teria sem dúvida resultado uma percentagem anual
de aumento de apenas 2,5%, e não de 5% -, senão que minha intenção era afir­
mar que o valor antecipado da máquina inteira é de apenas 4 583.3 florins. porém
a contribuiçªo econômica do primeiro turno anual para essa soma é mais do que
um quinto. E verdade que não expliquei isso expressamente e de bom grado: reco­
nheço que minha expressão "quinta parte", apesar do acréscimo, uma vez feito. da
palavrinha "técnico". era de molde a induzir muito fortemente à interpretação dada
pela Dr. Meyer. Todavia. penso que também o Dr. Meyer, de seu lado. há de reco­
nhecer, com igual prontidão, que eu não podia introduzir em meu exemplo essa
distinção tão sutil quanto importante. sêm ao mesmo tempo dar ao referido exem­
plo configuração que, para o estado de minhas exposições de então. seria tremen­
damente prolixa e difícil, e que fiz o máximo possível para evitar interpretações

;: Essas cifras foram calculadas exatamente pela mesma fónrU]d peja qual Meyer (op. cit., p. 277) calculou o \.!alor Total
da máquma em 4 583.3 florins. Essa fórmula nào é totalmente exata. por não levar em conta os Juros dos jLros. mas foi
deliberadamente escolhida por Meyer porque tambérr. eu. nas exposições feitas em meu voluIT,€ I e por ele criticadas, havia
desp:-ezado os juros dos jur()~ Na. suposiç50 de um ddcr8ncial de tempo de 5%, pi'lra SP.rem plenamente corretas as respec­
tivas cifras seriam as seguintes:
Valor presente de uma máqUina que dentro de quatro anos valerá 5 500 florins 4 524.85 florins
Será u seguinte a distrlbuiçao dessa soma, se essl2 valor for distribuído aos trabalhadores no final do primeiro ano de trabalho:

para o trabalhador do primeiro ano 995.36 florins


para o trabalhador do segundo ano 947.96 florins
para o trabalhador do terceiro ano. 90Z.8Z f10nns
para o trabalhador do quar:o ano 859.82 florins
para o trabalhador do quinto ano 818.88 florins
Total 4 524.84 florins

(Cálculo pelas tabelas dos juros compostos de Spitzer. p.120)


EXCURSO VI 103

",rrôneas. ao dizer expressamente e repetidas vezes que uma explicação completa


só seria possível ao apresentar minha Teoria Positiva.
Naturalmente. junto com a premissa caem por terra também as conclusões que
o Dr. Mayer tirou de meu pretenso erro: cai por terra, em particular. a idéia de que
em minha doutrinô haveria uma contradição entre o princípio "salário igual para
trabalho igual" e este outro "a cada trabalhador o total de seu produto': caem por
:~-: :<::.: =: terra também as conclusões positivas e de princípio de Meyer no tocante à grandeza
i: - - - - - . . . do salário justo e natural. Quanto a este último ponto, quero ainda observar, bem
sucintamente, que Meyer, com base em seu ponto de vista errôneo, é levado a atri­
- ::. - :::.
~
buir aos turnos de trabalho realizados mais tarde uma produtividade sempre maior
iOp. cit .. p. 280 et seqs.), quando na verdôde não há nada mais certo do que o
. ~ - ~._o::: :nverso, a saber, que o trabalho presente tem mais valor e é mais pro::lutivo do que
o trabalho futuro.

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EXCURSO VII

Teoria do Valor dos Bens Complementares (Teoria da Alocação)

(Para as p. 183 et seqs. da Teoria Positiva)

A teoria do valor dos bens complementares e a teoria da alocação, nela incluí­


da, é um elo intermediário indispensável, como que a chave lógica para qualquer
teoria da distribuição. Uma vez que na rica evolução teórica dos últimos vinte anos
justamente o problema da distribuição tem ocupado absolutamente o primeiro pla­
no do interesse, seria de esperar que o mesmo interesse tivesse beneficiado também
a teoria da alocação e tivesse suscitado uma elaboração particularmente intensa dos
problemas tão importantes quanto difíceis que a caracterizam. Todavia, a realidade
foi diferente.
Os teóricos de nosso tempo podem ser divididos em quatro grupos, muito de­
siguais em número, no que concerne a sua posição diante do problema da aloca­
ç.ão. Um primeiro grupo, que conta com muitos representantes, sobretudo entre os
teóricos americanos, considera o problema da alocação resolvido, sem discutir mui­
to sobre ele, e aplica as idéias da teoria da alocação, já com confiança inteiramente
segura, à execução da teoria da distribuição. O representante mais expressivo desse
grupo é J. B. Clark, cuja teoria da distribuição é, na verdade, uma única grande teo­
ria da alocação aplicada. 1
Um segundo grupo, também ele representado por numerosos autores, prescin­
de de uma discussão do problema da alocação exatamente pelo motivo oposto: es­
tá tão profundamente convencido da insolubilidade do mesmo que se contenta em
expressar essa sua convicção em tom de evidência, sem considerar necessário indi­
car pormenorizadamente os motivos. 2
Um terceiro grupo, constituído por número bem menor de autores, dá-se ao
trabalho de apontar, mais ou menos detalhadamente, os motivos de sua postura,
também de negação cética. 3

1 Cf. SCHUMPETER. Wesen und Houptinholt der tneoretischen Notionoloekonomie. leipzig. 1908, p. 244.
2Por exemplo, SCHOENBERG. "Arbeilslohn" In: Handwoerterbuch der Staotswlssenschaften. 2· ed., v. I, p. 882: "(.. )
pois é impossível determinar que parcela cabe ao desempenho individual das diversas forças produtivas no resultado glo­
bar. Posição similar em PIERSTORFE "Unlernehmergewinn". No mesmo Handwoerterbuch, 3~ ed., v. VIII. p. 97; e em
muitos outros autores
3 Por exemplo, CASSEL. Recht ouf den vollen Arbeitsertrag Goettingen, 1900, p. 11 et seqs.; L1EFMANN. Ertrag und
Einkommen. Jena, 1907, p. 31 et seqs.; STOLZMANN. Zweck in der Volkswirtschaft. Berlim, 1909, p. 741 et seqs.

105
106 TEORIA POSITIVA DO CAPITAL

Finalmente. são extremamente poucos os que se empenharam em resolver po­


sitivamente o problema da alocação. discutindo-o pormenorizadamente. Para todo
o longo período decorrido entre a publicação da 1 a e da 3 a edição de minha obra
11889 até 1909), só seria capaz de citar dois autores que o fizeram: Wieser. cuja
análise clássica do problema da alocação foi publicada exatamente junto com a pri­
meira edição da Teoria Positiua do Capital. e Schumpeter, que tratou do mesmo
tema. recentemente. em duas publicações que se sucederam rapidamente. I
Não preciso confrontar-me explicitamente com os autores que duvidam da pos­
sibilidade de solucionar o problema da alocação O que há a dizer sobre eles. disse
o Wieser. de modo tão insuperavelmente claro e convjncente que não posso fazer
coisa melhor do que remeter para o que ele escreveu. E verdade que discordo dele.
como ainda se verá mais adiante. em nOSSél concepção sobre o conteúdo do proble­
ma da alocação. quanto a uma nuança pequena mas não destituída de importân­
cia. Falando com mais precisão. parece-me que Wieser confunde duas concepções
do problema da alocação. ao passo que eu tenciono defender como minha apenas
uma delas. a mais modesta. a menos ampla. :\aturalmente. as exposições mais am­
plas de Wieser beneficiam tanto mais e com tanto mais segurança a minha: no "mais"
que Wieser tenta provar está incluído - aliás de maneira absolutamente indubitável
- o "menos" que eu afirmo.
Invoco. portanto. as exposições. bem conhecidas a todo especialista. feitas por
Wieser às páginas 70-76 de sua obra Natuerlicher Wert para djzer que a praxe eco­
nômica não somente é capaz de solucionar o problema da alocação para seus obje­
tivos. mas também precisa resolvê-lo e de fato o resolve: reporto-me além disso às
páginas 73-75 e às páginas 78-79. para dizer em que sentido se deve entender o
problema da alocação do ponto de vista econômico. em contraposição ao proble­
ma da alocação sob o ponto de vista "físico" e sob o "mora!"."

:; Wesen un Hauptinha/t der theorelischen Nationaloekonomie 190;;'-;. p 213 et seqs., sobretudo 243 et seqs.: e
"Bemerkungen ueber das ZurechnungsprabIem". In: Ze:tschrift fuer Sozio/politik und Verwo/tung. v. 18. 1909. p.
79 et seqs, Talvez se devesse mendonar neste contexto também KRAUS (Zur Theone des ~\/ertes, 1901). que não apresentou
nenhuma tentativa de solução própria, mas contribuiu com algumas observações críticas boas e fecundas (p. 105 et seqs.J.
Bem recentemente - entre a redação e a impressão do presente Excurso - apareceram ainda algumas contribuições dig­
nas de menção de AFTALlüN. "Lxs Trais Notions de la Productivlté" In. Rel'ue d'Économle Politlque. Ano 25.1911. So­
bretudo capo li e III da Parte Primeira. p. 151 et seqs.; e de BRODA "Di e Loesungen des ZurechnungsprabIems" In: Zeitschrift
fuer Volksucirtschoft etc .. V. 20. 1911. p. 353 et seqs
') Podemos reunir nesta nota algumas das frases mais marcantes de \.,I,jieser. se bem que não goste de isolá-las do contexto
totaL muito mais convicente, no qual seu autor as apresentou. 't.) Na prática nmguém se contenta em dizer que o produto
é de\"ido a todos os fatores de produção em conjunto, senão que cada um entende e pratica. se bem que com perfeição
maior ou menor. a arte da distribuição do produto. Um bom comerciante tem·de saber e sabe o que lhe rende um jornaleiro.
o que lhe rende um bom trabalhador. qual a rentabilidade de uma máquina, com que custo deve contar para a matéria­
prima. que rendimento lhe traz este terreno e qual aquele. Se não o soubesse, teria condição de comparar de maneira
global as despesas e o resultado da produção. e não teria absolutamente nenhuma informação, se o resultado ficou aquém
dos gastos." - Por que motivo, em determinado momento, todos os empresários que operam em determinado ramo de
fabricação passam do trabalho manual para o uso de máquinas. que anteriormente não consideravam rentável? Por que
motivo nesta terra se pratica em toda parte a agricultura mais intensivamente do que naquela? (... ) Quanto mais a produção
progride. com tanto mais exatidão se desenvolve seu cálculo e tanto mais se desenvolve a arte da distribuição do produto
A 'economia-modelo' calcula tudo. Entretanto, mesmo o agricultor mais bronco. mesmo o rude selvícula calcula, ainda que
com imprecisão e aproximativamente. Também ele pode, se bem que muito imperfeitamente. executar o processo para
o qual os instintos e a confiança o dotaram por natureza. O camponês que mora isolado na montanha diz para si mesmo
;.1'
que este campo vale mais do que aquele. o que só pode fazer se entender a arte de distinguir o produto do campo daquele
dos trabalhadores que colaboram, dos lnstrumentos e materiais." (. .. ) "A segunda dificuldade consiste em colocar correta"
mente o problema". A maioria dos autores "considera a questão por demais elevada e assim transforma aquilo que ao ho­
mem simples é uma coisa simples e natural em um enigma de sofística minuciosa. do qual a seguir afirmam, com razão,
que ele não tem solução, Querem saber que parte do produto comum, do ponto de vista físico. cada fator produziu. ou
de que parte do efeito cada fator foi a causa física. Ora, não há possibilidade de se saber isso. ( ) Se quisermos encontrar
a regra da distribuiçao do produto usada na prática, temos de colocar a questão de maneira bem diferente, temos de colocá­
la no sentido da prática. temos de colocá-Ia com simplicidade..." A uma excelente analogia com a alocação jurídica e do
Direito penal segue esta frase: "Também no caso da distribuição do resultado produtivo não se trata de uma explicação
càusal completa, mas de uma alocação adequadamente restritiva, só que não em perspectiva jurídica. mas econômica."
EXCURSOVU 107

De meu próprio ponto de vista, a essa remissão global gostaria de acrescentar


"menas ainda uma reserva e um reforço que visa a esclareceI', Em primeiro lugaL
2~ pessoalmente gostaria que se evitasse sempre a expressão "repartição do produ­
to", várias vezes empregada por WieSCL para, em lugar dela. utilizando outra expres­
são. também muitas vezes empregada por Wieser, falar sempre apenas de uma
""identificação da cota do produto devida a cada um dos fatores individuais", e ex­
pressões similares: logo se evidenciará o motivo dessa nuança. E gostaria també_m
r ­
i:- - ­
de, em meu próprio nome, salientar com a máxima clareza e decisão que a questao
!. ~ ~ -:: ­ a ser solucionada no problema da alocação do ponto de vista econômico - a sa­
c':. _ ~2L que cota de um produto comum se deve à colaboração de um {ator individual
_ ':-2 modo algum se identifica com o outro problema. isto é, que cot~ d? p.ro...dut9
::. . -2 ser atribuída, "por ·justiça". ao respectivo fataL no processo de dlstnbUlçao. E
.2::clade que, pela própria natureza da coisa, a grandeza das cotas do produto a se­
:'2m alocadas do ponto de vista econômico não pode ser algo totalmente indireren­
:e para o juízo no tocante ao problema da justiça, senão que. pelo contrário. para
"' emitir tal juizo, também essa grandeza deve ser levada em conta de uma forma ou
ce outra, por ser ela u ma premissa, além de outras, de natureza real e importante.
talvez até muito importante. Entretanto, de modo algum a resposta às duas ques­
tões precisa coincidiL Ao afirmar-se que à colaboração de um fator se deve econo­
micamente determinada cota do produto comum. de forma alguma está definido
também que necessariamente a esse fator se deve, em nome da justiça, alocar jus­
tamente a mesma cota, sendo perfeitamente possível que, em razão da influência
de outras considerações, também elas importantes para o problema da justiça. a
"cota justa" seja diferente da "cota a ser alocada do ponto de vista econômico"." Is­
so poderá ocorrer com facilidade e freqüência sobretudo em casos em que, devido
a formações do tipo monopólio, se aglomeram grandes quantidades de fatores de
produção em unidades fechadas. Assim corno de um "estoque fechado" de bens
pode depender muitíssimo mais do que a utilidade marginal da unidade multiplica­
da pelo número de unidades contidas no estoque,' da mesma forma é possível que
:;...;.­ se deva alocar a um estoque compacto de fatores de produção, como "dependente"
dele, uma cota muito maior do produto, do que aquela que se teria de alocar à
mesma quantidade do mesmo fator de produção se ela se tivesse apresentado em
pequenas quantidades parciais concorrentes: e não é absolutamente óbvio que nes­
se caso o juízo do ponto de vista da justiça deva coincidir cegamente com o juízo
sobre a alocação emitida para uma cota maioL s

(. .. ) "Como exemplo de que a alocação neste sentido é admissível e exeqtií'veL ap12nas UJIl caso. Dois campos. um fértil
e outro pobre, os dois Cl:ltívados exatamente com os mesmos meios, proporcionam produtos cesigLais. A que fater se
deve atribJir a produtividade maior da terra r:1elhor: à semente. ao adubo, ao aradu. ao trabalho - que estão presç:>ntç:>s
tanto num caso como no outro -, ou antes à própria terra e a sua maior fertilidade? Ninguém terá dúvida sobre a decisão.
nem há de chocar-se com o fato de que também a produtividade maior supra não teria podido ser atingida sem cereal
para semeadura. arlubo. arado e trabalho. Tomando as coisas como são na realidade, da posse da terra melhor depende
mais e tanto mais quanto a referida produtividade maior representa'~
--- () Mais adiante tr;:waremos conhecim12nto com um fenô:neno cuja conseqüência necessária é até a seguín:e: Já onde ele
ocorre. as "cotas justas" si11plesmente não podem coincidir com as "cotas a serem alocadas": isso acontece quando as cotas
a serem alocad?ls se sobrepõem totalmente ou em parte Aliás, este é um ponto no qual a opinião de Wieser difere es.sen­
cialmente da minha.
7 Cf. Teorin Positiva do Capital v. 1. p. 173
.s Se Wieser. aiém de explicações repetidas e bem explícítas de que. re~olv~ndo-se o problema da alocação econômica
por ele pesquisado. nem por ;550 fica solucionado o problema da distribuição "justa" (por exemp!rJ. p. 79. 93 e mu'tas outras
passagens), não obstante numa passagem (p. 76) tira conseq'jências no tocante ao julgamento moral das atuais condições
de rlistrihuição. à "'iustificação" de certas graduações na remuneração, à defesa contra objeções de "arbitrariedade" e ·'in.'usti­
ça"; ~sso sem dúvida não signif:ca, nem mesmo na linha dele, uma confusão entre os do!s problemas diferentes. mas apenas
umêl referência ao fato - inE\.;itáve: e inerente à natureza das coisas - de que ta:nbém nâo se pode ignorar as condições
da alocação econômica na emissão de juízos morais como premis::ias de natureza objeth:a. Estou cOllvencino de que a maioria
na:; afirmações - e justamente as mais decisivas - sobre a insoJubilldade do problema da alocação se baseia simplesmente
108 TEORIA POSITIVA DO CAPITAL

Em contraposição, o problema da alocação econômica revela sua importância to de lC -,


lhor. (. -~
direta antes de tudo para a avaliação dos fatores complementares e individuais da segund:
produção e, na medida em que na avaliação subjetiva dos mesmos se baseia tam­ especia. ­
bém a formação de seu preço, e nesta, por sua vez, a distribuição efetiva do produ­ inseri de ~-:
to, o problema da alocação econômica revela sua importância também na explicação "Cor..:: s
teórica das condições efetivas da distribuição. '! resulta:-.::~ ­
Eis por que, se de um lado posso dar com reconhecimento minha adesão qua­ total da :-2
se plena às afirmações de Wieser. na medida em que elas se referem à natureza mente. ::~ ..
do problema da alocação sob o prisma econômico, sendo total essa adesão no que ao fina~. :.:
tange à afirmação da possibilidade da solução desse problema, lamento dever cons­ todos c" :<
ção, ne.:: :J
tatar que entre nossos pontos de vista sobre a solução positiva correta do problema
existe uma divergência que, embora talvez não seja muito profunda, de qualquer
modo é séria. Depois de um período de vinte anos, em que nossas duas opiniões A fon:" :i
se defrontaram sem nenhum comentário, quero agora tentar esclarecer os pontos ce ~ a f0:-.:2
de divergência. itálico: "issc :.,
Contra minha tentativa de solução, que. contin uando a construir sobre certos um axiorn~ =...
fundamentos lançados por Carl Menger. publiquei primeiro no ano de 188.6 em à soma dos
meu estudo sobre a teoria do valor econômico dos bens 11 ) e a partir dati incorpo­ mulado a:-:2~
rei. sem alteração, em minha Teoria Positiva do Capital. Wieser formulou uma série vale ao pr: :: ~
de objeções Algumas delas contestam que minha tentativa de solução seja correta, marginar- :"
ao passo que outras afirmam que ela é insuficiente. ra o qual \i:2~
A objeção principal refere-se ao seguinte ponto: bém para..:--::
Tanto Menger como eu, com base em nossa concepção do problema, aloca­ transferir c ::..:'
mos a cada um de vários elementos complementares. e isso como base para sua se garanTe :-:-.i
avaliação, a totalidade do prod uto resultante que deixaria de existir na falta do cita­ des, difere:-:e
do elemento complementar. Isso leva a uma conseqüência que Wieser acredita de­ na 172 ce :-.
ver qualificar como logicamente conh·aditó!ia. A exposição dele, dirigida contra Menger garante c':-.: J
~ se bem que, do ponto de vista material, suas afirmações me atinjam da mesma vivência - ::
forma ~, é a seguinte: ção + o ::::-~
Assim co:-.::
"Suponhamos que, utilizando-se o mais racional plano de produção, três elementos equivale ~:: J
produtivos, conjugados, prometem um produto cujo valor é de 10 unidades de valor. valor da 5:-:­
Caso se utilizassem os mesmos três elementos de outra forma, combinados com outros cinco veze5
grupos, eles na verdade aumentariam seu produto, mas contradiz ao pressuposto do Aliás ......
mais racional plano de produção afirmar que também eles poderiam aumentar o produ­
ao dizer, ~ :J
de bens s?::
numa confusão equívoca dos diversos problemas aqui em pauta. Por exemplo. a palavra de Mil!. citada com freqüência. deve "ca~: _,i
de que a tentatIva de distinguir as parcelas que cabem às duas condições igualmente necessárias para um efeito na produ­
ção do mesmo. equivaleria à tentativa "de determinar que metade de uma tesoura contribui mais para cortar. ou qual do
çando pe~:: :
fatores 5 e 6 contribui mais para o produto de 30" (Grundsaelze. v. I, capo I. § 3). essa palavra de Mil!. digo, foi escrita. proporc:c ::
como resulta do contexto. apenas com vistas ao problema da alocação física; MiI1 simplesmente desconhecia o problema da nece55:,
da alocação econômica, que só foi claramente formulado em conexão com a teoria da utilidade marginal. Também o modo
de falar de Casse} !T!0stra claramente que, ao emitir seus categóricos juízos de rejeição, ora tem em mente o problema do, infeb::-:-.i
da alocação física ("E e continua sendo impossível uma distribuição de um produto resultante de fatores absolutamente desvios c'~~~
necessários do ponto de uista técnico. com base no nexo causal existente entre produto e jator de produção"; op. cit .. p.
19). ora tem em vista o problema da "justiça distributiva" ("no essenciaL o problema da distribuição justa é impossíve]"';
"soma C2 ==.
op. Clt .. p. 24. Quanto a isso, ver ainda p. 11. 12. 15. 20. 25). Da mesma forma Liefmann - que em suas ambiciosas
construções de modo algum gosta de amarrar-se com preocupaçoes pedantes em relação a detalhes - parte da suposição
de que a teoria da alocação, por ele contestada com as mais fortes expressões, tenta solucionar o problema "da alocação
11 Natuer :--i- ,,~
lu~la aos fatores de produção" (Erlrag und Einkommen. p. 35.)
Y E possível que Cassei de modo algum tencionasse protestar contra essa concepçao e contra esse serviço da teoria da ,mo exen:-;:: .
taçao, o :..:::- ­
alocaçao. Talvez se deva interpretar nesse sentido sua reiterada adesão a certas idéias de nossa teoria da alocação (por
exemplo, às p. 18 e 21) em conexão com a observação de que aqui estariam em ação apenas os mesmos elementos que
Bem lC" - ::
compler.ê.--::"'- 5:
atuam também nos fatores de força de oferta e procura Ipor exemplo. à p. 24 el seqsi e que determinam a distribuição
50. 60 " _.
"vigente" e "tradicional" (por exemplo, à p. 24 et seqs.). De qualquer forma, porém, nesse caso ter-se-ia desejado que o
com o ~:.:.; 3-':
autor expressasse seus pontos de vista com mais clareza; contra eles, aliás. haveria que lembrar muitas coisas em detalhe.
12 Natuc
10 Foi nessa forma que Wieser conheceu minha tentativa de solução ao redigir sua obra Natuerlicher Wert.
EXCURSO VII 109

- -- to de 10 unidades de valor, pois do contrário a combinação escolhida não seria a me­


lhor. (... ) Suponhamos que esses três elementos, utilizados de outra forma que não
segundo o melhor plano - que exige que eles sejam combinados entre si num grupo
especial -, proporcionem um produto de 9 unidades, pelo fato de cada um deles ser
inserido em um grupo diferente e seu produto aumentasse de 3 unidades".
"Como se calcularia o valor de cada um deles segundo Menger? A partir do produto
resultante no caso de perda. Esse resultado é, de início, de la unidades - o produto
total da melhor combinação, rompida -, sendo, porém, que dessas 10, 6 entram nova­
mente, devido a outra utilização dos dois elementos excedentes, que não se perderam:
ao finaL portanto. o produto é de 4. igual para cada um dos três bens. Isso daria, para
todos os três juntos, o valor de 12, o que, porém é impossível, pois. na melhor utiliza­
ção, não proporcionam mais do que o produto 10".11

r- ~~~ A fonte de nossa divergência de opinião e ao mesmo tempo - assim me pare­


ce - a fonte de um erro da parte de Wieser está na pequena frase destacada "1
itálico: "isso daria, para todos os três juntos, o valor de 12". Wieser considera como
-=: .. - ~
um axioma que o valor de uma soma de bens ("todos os três juntos") deve ser igual
à soma dos valores individuais de seus elementos. Ou então. como ele já havia for­
mulado antes em outra passagem de seu livro: ·Um estoque tem um valor que equi­
:-= ~:ç vale ao produto da multiplic?ção do número de unidades pela respectiva utilidade
~-:~~ marginal". 12 Isso é um erro. E errado tanto para um estoque de bens iguais - pa­
ra o qual Wieser havia originalmente desenvolvido o suposto axioma - como tam­
bém para um estoque de bens complementares desiguais. para o qual quer agora
transferir o axioma geral lá obtido. E errado lá. pois com "vários bens Juntos" não
se garante mais vezes uma e mesma utilidade, mas várias satisfações de necessida·
des, diferentes e via de regra de importância desigual. Como expus antes, na pági­
::: =-2­ na 172 de minha Teoria Positiva: com cinco sacos de cereal "juntos", o colono não
::- ;2": garante cinco vezes o prazer de manter papagaios. mas com eles garante sua sobre­
E:'~.a vivência + a conservação de sua saúde + a obtanção de carne para sua alimenta­
ção + o prazer de desfrutar de aguardente de trigo + o prazer de manter papagaios.
Assim como a soma dessas satisfações de necessidades, em sua importância, não
,'O=: _~:::

equivale ao prazer, cinco vezes somado, de manter papagaios, da mesma forma o


: _~:;s
valor da soma de cinco sacos de cereal não equivale ao valor individual, somado
-- ::::> cinco vezes, de um saco de cereal.
Aliás, Wieser tem perfeita consciência disso em certa passagem de seu livro,
ao dizer, à página 21 et seqs, que "de vez em quando" também estoques maiores
de bens são avaliados como "um todo único e indivisível". Nesse caso, quem avalia
deve "calcular conjuntamente a soma total de utilidades que pode esperar, come­
çando pela maior utilidade que os bens do estoque podem, conforme sua espécie,
proporcionar, até chegar à utilidade marginal, fixada pela grandeza do estoque e
da necessídade, sendo que a soma de todas essas utilidades lhe dá o valor". Contu­
do, infelizmente Wieser se deixa desviar dessa visão correta e envereda por certos
desvios dialéticos, aos quais chega através da construção do bizarro conceito de uma
"soma de todas as partes", que seria diferente do "todo umficado", sendo que a gran-
~ ::::3

o
II Natueriicher Wert. p. 81 et seqs. caso, cun~truído contra Menger. se transposto para a hipótese utilizada por mim co·
,mo exemplo, à p. 184 et seqs. de minha Teoria Positiva, assumiria a seguinTe configuração: segundo minha orien­
taçào. o bem A. na qualidade de bem complementar. teria de ser avaliado em 100 - (20 + 30). portanto em 50; o bem
--~ Bem 100 - (lO + 30). portanto em 60; e o bem C em 100 - (10 +20). portanJo em 70. Como. porém. todo o grupo
complementar só vale 100. é impossível ~ assim argumenta Wieser --- que os três elementos que o compõem valham
50, 60 e 70, o que somado daria 180. Parece que Davenport está realmente propenso a concordar em nome próprio
-.:: -;: com o silogismo de Wieser (Va/ue and Distribution. p. 471) ao qual de início apenas faz referência Ip. 360).
]2 Natuerlicher Wert, p. 24

".. ,,,,.-,,~,~. '''~''r'' "'''''lf''''"'''''''''~~


110 TEORIA POSITIVA DO CAPITAL

deza de seu valor diferiria da grandeza do valor do todo unido tanto "quanto a resis­
tência de todas as varas individuais (difere) da resistência do feixe completo de
varas".13 Sua argumentação é a seguinte:
Wieser acaba de desenvolver sua conhecida lei da utilidade marginal com base
no exemplo de um pobre que diariamente recebe dois pedaços de pão: de um de­
les ele precisa para matar sua fome extrema e do outro para garantir o atendimento
daquele grau de necessidade de alimentação que se faz sentir tão logo se mata a
fome extrema, que Wieser denomima o grau 2 da escala de utilidades, ou, sucinta­
mente. "grau de utilidade 2". Depois de explicar que nesse caso um de dois pães
iguais tem de ter o valor do grau de utilidade 2. que é sua utilidade marginal. ele
prossegue:

"Mas isso ainda não basta. Dentre dois bens. não é somente um que tem o valor do
grau de utilidade 2. mas cada qual deies. qualquer que se escoiha. Nenhum dos dois
pedaços de pão. em nosso exemplo. enquanto o dono ainda possuir os dois juntos, tem
o valor que cabe à satisfação da fome extrema. pois enquanto o dono ainda possuir
os dois juntos. simp lesmente não está exposto a esse perigo extremo. Ele pode dar cada
um dos dois. qualquer que seja, enquanto conservar o outro. sem perder a cobertura
para o caso extremo. Ora, se cada um dos dois pedaços tem o valor do grau de utilida­ =
de 2. os dois juntos têm o dobro desse l'aior. E três pedaços têm o triplo do valor do -- .':':::'-:

grau de utilidade. e quatro pedaços têm o ouádruplo do valor do grau 4 - e um esto­


que tem um valor equivalente ao produto da multiplicação do número de unidades (ou
do número de quantidades parciais) pela respectiva utilidade marginal"

No meio dessa argumentação, que de um começo plenamente correto conduz. ---~ = =-~
segundo me parece, a um final incorreto. há uma proposição de natureza dialética,
na qual as palavras parecem funcionar, mas a própria coisa não funciona mais. Trata-se
da conclusão dialética de que, se cada um de dois pedaços tem o valor do grau
de utilidade 2. os dois juntos têm de ter "o dobro desse valor". Isso parece ser uma
conclusão cogente do ponto de vista lógico e matemático, mas é uma pseudo con­
clusão, que se evidencia no momento em que no lugar da palavra "valor" se coloca
o sentido dessa palavra. No espírito da doutrina com um a Wieser e a mim, a qual
também o próprio Wieser formula, e bem expressamente, em várias passagens (por
exemplo em Ueber den Ursprung und d/e Hauptgesetze des wírtschaftlichen Wer­
tes, p. 127), a ocorrência do valor está ligada à dependência de alguma utilidade.
e a grandeza do valor está ligada à importância da utilidade dependente. Se colo­ - ~,:

carmos esse conteúdo objetivo das palavras utilizadas no silogismo de Wieser, obte­ - '. -.
mos uma proposição que tem mais ou menos o seguinte teor ou ao menos o seguinte
sentido: "Se de cada um dos dois pedaços depende uma utilidade do grau 2, dos
dois pedaços juntos depende o dobro da utilidade desse grau". Testado à luz desse
conteúdo objetivo, o referido silogismo enganoso logo se comprova falso. Com efei­
to, dos dois pedaços juntos de modo algum depende, no caso do exemplo, o dobro
do efeito de utilidade do grau 2, mas, com toda a clareza, uma utilidade do grau
2 e uma utilidade do grau 1. 14

U Natuerlicher Wert. p. 23
14 Numa situação diferente não há dúvida de que poderia casuisticamente ser correta a palavra de Wieser, isto é, numa
situação na qual o estoque de bens existentes tivesse como contrapartida uma série de necessidades ou utilidades, das
quais tivessem a mesma importância. Por exemplo, se houvesse uma terceira unidade de bens e lhe correspondesse uma
terceira utilidade, que não tivesse um grau de utilidade menor do que a segunda, mas o mesmo grau de utilidade que
esta, nesse caso. seria muito bem possível e correto duas unidades juntas, das quais dependeriam realmente duas utilidades
do mesmo grau (o 2?), terem esse valor duas vezes. Mas isso já não valeria mais para todas as três juntas e muito menos
para o estoque inteira, para o qual Wieser continua sua conclusão. Ultimamente, Brada ("Die Loesungen des Zurechnungs­
EXCURSO VII 111

:'. resis­ Se, porém. formos em busca da última raiz do erro que escapou a Wieser. parece­
r= 2to de me que ela está no seguinte. Wieser tem toda a razão em afirmar que cada unidade
do estoque, por exemplo. cada um dos cinco sacos de cereal de meu exemplo do
: =:-'l base colono. tantas vezes utilizado. é avaliado como "última unidade". pela utilidade mar­
:~..:m de­ ginal; há que admitir também que esse tipo de avaliação, em certo sentido. é simul­
l - :':mento
taneamente aplicado a todas as unidades individuais do estoque. Todavia - e isso
~"" :-'lata a parece não haver sido suficientemente considerado por Wieser -. esse tipo de ava­
_ ~~cinta­ liação, apesar de sua simultaneidade, só pode ser sempre uma avaliação alternativa
==5 pães e nunca cumulativa. Cada um dos cinco sacos pode alternativamente ser avaliado
c.;:-.al. ele como "último". porque justamente enquanto pode ser alternativamente reservado
ao atendimento do quinto e último grupo de necessidades; mas nunca será possível
que todos os cinco sacos sejam avaliados cumulativamente como "últimos" sacos,
. ?lor do pois é impossível que todos os cinco sacos possam ser cumulativamente reservados
::)s dois ao atendimento do último grupo de necessidades, o que determina o valor. O saco
._ - :)s. tem
:: õ :Jossuir
A só pode ser o "últimd' sob a condição de que ao atendimento dos quatro grupos
t-ô ::?; cada de necessidades mais importantes sejam destinados os sacos B, C, D e E; por sua
: :: ::ertura vez, o saco B só pode ser o "último" sàb a condição - inconciliável com a condição
_:" ~itilida­ anterior - de que ao atendimento dos quatro grupos de necessidades mais impor­
. ?:ar do tantes se destinem os sacos A, C. D e E. e assim por diante. Ou então. para adotar­
~ _~ esto­ mos também aqui uma fórmula dialética, mas de uma dialética correta: de cinco
:õ::es (ou sacos de um estoque, certamente cada um deles pode. alternativamente. ser classi­
ficado como "último". ou seja, pode ser alternativamente o último. mas um estoque
de cinco sacos nunca pode constar simultaneamente de cinco "últimos" sacos, se­
:: :::i:lduz. não que sempre só poderá constar de um último, um penúltimo. um antepenúltimo
:::'.lética. e assim por diante; exatamente da mesma forma que, de cinco homens. cada um
~ -:-,ata-se deles pode alternativamente ser colocado. uma vez que lado a lado, como o último
" :: J grau da esquerda. mas nunca é possível que todos os cinco figurem cumulativamente
: o"', uma como os últimos da esquerda. Antes da disposição definitiva pode existir para cada
'.:: J can­ um, "ao mesmo tempo". mas apenas "alternativamente". a possibilidade de ser classi­
o"" =oloca ficado como o último da esquerda. mas não existe. em qualquer momento que se­
::- :; qual ja. a possibilidade de todos os cinco serem efetivamente colocados ao mesmo tempo
s",-~ (por como o último da esquerda. 15
r-~': Wer­ A esse caráter alternativo da avaliação pela "utilidade marginal" contradiz a cu­
. :'8ade. mulação, praticada por Wieser, dos valores avaliados em base alternativa. Se Wie­
:::'" colo- ser levar objetivamente a sério sua palavra "juntos"; se, portanto. ao falar do valor
~:. obte- que têm "os dois bens juntos" e "todos os três juntos"; se perguntar realmente o que
~;luinte a posse conjunta e simultânea de todos os dois ou de todos os três bens garante.
:_ 2. dos em termos de utilidade para o bem-estar. não pode somar cifras válidas só alternati­
~ _.:: desse vamente. cifras que se excluem mutuamente em sua possibilidade de concretização
> ::1 efei- e que nunca poderão concretizar-se "juntas". Do ponto de vista puramente aritméti­
:: :iobro

:: = grau

probJems" In: Zeitschrift fuer Volkswirtschoft etc.. v. 20. p. 378 et seqs.) se esforçou por construir mais outras situações
casuísticas às quais se aplicaria a fórmula de Wieser. Não há dúvida de que existem tais situações e algumas delas podem
até ser bem importantes na prática. Se, porém. Broda (p. 374 et seqs.) parece supor que Wieser. ao formular seu princípio.
só teve em vista situações desse gênero e apenas não formulou essa sua opinião com perfeição absoluta, e em conseqüên­
cia não a defendeu com clareza suficiente contra interpretações errôneas. a isso há que objetar que o próprio Wieser desen­
numa volve sua fórmula com base numa situação de que parte. mas para a qual ela não serve. nem casuisticamente. e que além
::: =:?s. das disso nada há nele que permita depreender que pretende reivindicar para sua fórmula apenas uma validade casuística limi­
,- :--:~~2 uma tada e nào uma validade ao nível dos princípios: finalmente. há que objetar que Wieser em todo caso tira de seu princípio.
- :.:.-.:e que formulado de maneira geral, conseqüências que vão além dessas peculiaridades casuísticas.
.:.~ _. :-dades lS Essencialmente a mesma objeção foi formulada contra Wieser já por Kraus. o qual afirma que este comete um "equívo­
.~ ~enos
co", pois. sem perceber. em lugar da interpretação disjuntiva das palavras "cada bem" coloca a interpretação conjuntiva,
--_~:.Jngs­
"" em lugar d"" um quilibet (qualquer um) coloca um unusquisque (cada um) Zur Theorie des Wertes, p. 108 et seqs
112 TEORIA POSITIVA DO CAPITAL

co. não cabe dúvida de que se pode somar tais cifras que têm validade alternativa­ do;: :;
mente: não se pode, porém, alimentar a ilusão de com isso obter mais do que uma tos ­
soma de cifras, vazia e puramente aritmética, que não é uma verdadeira soma de ah:-o-::
valor: o sentido objetivo que estava por detrás de cada uma dessas cifras a1ternati­ mc~ ::
'ias individuais é excluído pela cumulação, inadmissível do ponto de vista objetivo. o ""o =
E exatamente como se, numa loteria com 1 000 bilhetes e um prêmio de 100 000 QL;:- ==
florins, cada bilhete tivesse a possibilidade de ganhar 100 000 florins: não há dúvi­ Q"
1 _
0'0'
"

da de que se pode no caso fazer a brincadeira aritmética de adicionar numerica­ 202 ~ 0­


mente as mil possibilidades de ganhar, obtendo-se assim a soma de 100 milhões
de florins: mas é óbvio que essa cifra não tem mais o sentido de designar uma soma
de ganho exeqüível e possível, pois é claro que mais do que 100000 florins não
é possível ganhar efetivamente!
Justamente por isso não se pode tirar de somas numéricas imaginárias desse
tipo - mesmo que queiramos arquitetá-las de forma puramente aritmética - quais­
quer conclusões_objetivas para setores nos quais o "juntos" realmente precisa ser
tomado a sério. E uma presunção inadmissível e destituída de qualquer fundamen­
to objetivo pretender que a pseudo "soma do valor total", resultante da adição nu­
mérica dos valores individuais alternativos, se calculada de maneira correta. deva
necessariamente coincidir com o verdadeiro valor total - a ser calculado com base
em princípios bem diferentes - do grupo fechado de bens, que constitui uma uni­
dade real. Ora, é exatamente essa presunção inadmissível que Wieser comete com
sua maneira de tirar conclusões objetivas para a teoria dos bens complementares,
partindc das mencionadas pseudo-somas do valor total.
Se há algo que é um valor total autêntico no sentido objetivo e mais rigoroso
da palavra é o valor que um grupo fechado de bens complementares deriva da co­ ~ =- - .-:?
laboração conjunta dos mesmos. Ora, Wieser sabe muito bem - já citei acima a
exposição que sobre isso faz à página 21 et seqs. de Natuerlicher Wert - que, no
caso de verdadeiras avaliações do valor total, aplicadas a um "todo unificado", o va­
lor global do todo de forma alguma precisa coincidir com a soma númerica dos va­
lores individuais (alternativos), respectivamente - no caso de unidades de bens iguais
contidas no estoque - com o valor individual multiplicado pelo número de unida-' -'
des. Por isso, na citada passagem. muito corretamente ele se abstém de, a partir
da não-coincidência do valor global (aqui maior) do todo com a soma numérica
das suas partes, tirar quaisquer conclusões contra o acerto do valor individual atri­ -~ :::.i
buído a cada unidade individual. Exatamente com a mesma coisa com a qual ele
Já - com razão - não se escandalizou, quer escandalizar-se aqui, em se tratando
dos bens complementares. O verdadeiro valor global do grupo complementar não
pode, por motivos exatamente da mesma natureza que se verificam no caso do "es­
toque fechado", coincidir com a soma numérica dos valores individuais alternativos
de suas partes integrantes. 1b E, apesar disso, Wieser exige aqui tal coincidência. co­
mo se fosse uma necessidade lógica, e da não-coincidência quer deduzir uma pro­
va contra a correção dos cálculos de valor que Menger e eu fizemos. Na hipótese
de um valor individual de 4 para cada uma das três unidades - assim pensa ele
- "isso daria, para todos os três juntos, o valor de 12, o que, porém, é impossível, - ,~

pois na melhor utilização não proporcionam mais do que o produto 10".


Ora, o que por esse motivo realmente não seria possível, seria apenas que to-

k Que a discrepância ocorre aqui no sentido oposto - o valor total de um estoque fechado de bens não complementa­
res é sempre maior, e o de um grupo fechado de bells complementares é sempre menor do qlJe a SOme numérica dos
valores individuais alternativos - se explica muito simplesmente pejo feto de que de cada unidade não complementar
depende - respectivamente, com ela se perde - apenas ao menor utilidade marginal, ao passo que de cada unidade com­
plementar depende além disso toda a vantagem da cooperação.
EXCURSO VII 113

:::2mativa­ dos os três bens fossem cumulativamente avaliados cada um em 4 e, portanto, "jun­
:: :ue uma tos", no verdadeiro sentido da palavra, em 12. Mas de modo algum é isso que se
~:: 30ma de afirma. Menger e eu afirmamos que o verdadeiro valor total do grupo é 10 e atribuí­
-= o "lternati­ mos a cada uma das três unidades, no sentido de minhas exposições anteriores,
3::: objetivo. o valor individual 4, "uniformemente", sim, mas apenas "alternativamente". Pois se­
cC: 100000 gundo minha doutrina - que nesse ponto certamente coincide com a concepção
!:':: ~á dúvi­ de Menger - esse valor só cabe a cada elemento porque e na medida em que
:- ··..;merica­ ele entra em questão como "unidade final" do grupo, como o elemento cujo desa­
l: : milhões parecimento faria desaparecer o grupo, e cUJa presença complementaria e fecharia
:- _:-:la soma o grupo. Essa função, porém, nunca pode caber cumulativamente a todos os ele­
i : : :-:ns não mentos, mas sempre apenas alternativamente a um elemento, aliás a qualquer um
deles; exatamente da mesma forma que um estoque de cinco sacos de cereal não
. ~~GS desse pode constar de cinco últimos sacos ou uma ala de cinco homens não pode constar
::: - quais­ de cinco últimos da esquerda, assim também não é possível que, de vários elemen­
:::2cisa ser tos de um grupo, todos eles saiam por primeiro do grupo, fazendo-o desaparecer,
: _::damen­ ou todos entrem nele por último, completando o grupo, Sob a mesma condição,
::::cão nu­ sob a qual determinado elemento do grupo entra em questão como unidade final,
::-:-2:~. deva os demais elementos só podem entrar em questão e ser avaliados como parcelas
: :Jm base de um grupo não fechado - e é realmente assim que são avaliados, tanto pela
_. .:ma uni­ minha teoria quanto também na vida prática: sob a condição sob a qual o bem A,
:: -:-.21e com por ser "unidade final" no caso do exemplo, vale 4, as duas outras unidades, como
'c: ::-.2ntares, parcelas, valem cada uma delas apenas 3, e vice-versa, E naturalmente há, sem
contradição, lugar para esses valores individuais alternativos no valor total de 10.
::0 ~igoroso Finalmente. comprovemos tudo isso ainda com base nos fatos, que sempre ainda
':::. a da co­ convencem mais do que até a melhor dialética. Na suposição que fizemos, isto é,
'.:c: 3:::ima a de que três unidade complementares (não-substituíveis) têm capacidade de pro­
-, q.ue, no porcionar, unidas, uma utilidade de 10, e cada um isoladamente só pode propor­
=::::o.ova­ cionar uma utilidade de 3, qual será a avaliação dada por qualquer administrador
:-::: dos va­ racional a uma dessas unidades? Seguramente não lhe atribuirá o valor de um mon­
: : -2:lS iguais tante "médio" entre 3 e 4, portanto não dará o valor de 3 1/3 a cada uma delas.
: :':<2 unida-' como postula Wieser. l7 Isso se comprovará fazendo a seguinte pergunta: a que pre­
:c:, a partir ço mínimo ele estaria disposto a vender, em caso extremo, uma unidade individual
:: :-.Jmérica pertencente ao grupo que possui e a que preço máximo estaria disposto a comprar,
:'::ual atri­ em caso extremo, uma unidade individual para o grupo a ser ainda adqUirido? Se
- :: qual eJe ele já possuir o grupo, colocará à venda uma unidade do mesmo por nada menos
3", :ratando de 4, pois no caso de vendê-Ia só lhe sobraria uma utilidade de 6, em vez da utilida­
:--c::-,tar não de total 10, que antes lhe estava assegurada. Aliás, exigirá no mínimo 4 por cada
:::::. do es­ uma das três unidades no caso de receber oferta de compra apenas para uma de­
:::.:: :nativos las. Se, porém, já vendeu uma das unidades do grupo ou, o que praticamente dá
.:';;:-,cia, co­ no mesmo, se já tiver, para uma das unidades, uma proposta de compra segura
:: _:-:1a pro­ com o preço de 4, já estará disposto a vender as outras duas unidades pelo preço
-;:: '-: jpótese mínimo de 3 cada uma - além de exigir um acréscimo mínimo, que ainda seria
- :: e :lsa ele necessário como ganho pela troca, para superar o ponto morto e provocar um estí­
"':";Jossível. mulo para a troca. Portanto, ele dá a cada unidade considerada alternativamente
como unidade final a avaliação de 4, mas a seguir avalia em 3 as duas outras unida­
-::: que to­ des, como parcelas isoladas do grupo rompido. Estaria disposto a vender duas uni­

- - :::'2menta­ J7 É verdade que Wieser não menciona nenhuma cifra exata; acredito, porém, poder concluir para a cifra de 3 1,/3 como
.:: - _---:-.érica dos sendo coerente com seu pensamento, baseado na combinação ddS UUdS jJàssagens que seguem: "Dessa forma, a alocação
: = -:--.::;Iementar da contribuição produtiva atribui a cada bem de produção uma parcela média. É razoável calcular a contribuição produtiva
..= - - ~ade com· e conseqüentemente o valor, exatamente da mesma forma, com essa grandeza média'" (Natuerlicher Wert, p. 92); e esta
outra: "A soma de todas as contribuições p~odutivas esgota exalo nenle o valor do produto total" (op. cit., p. 87).
F
__ ..... TEORIA POSITIVA DO CAPITAL

dades juntas, no mínimo, por 7, ao passo que as três juntas só estaria disposto a são cs ~
vendê-las no mínimo por 10 (sendo que, também aqui, de nada importa se a uni­ linha.:,;
dade se deve à proposta de compra de um e mesmo interessado na compra, ou interes.s.:
à concorrência de várias propostas de compra separadas, que porém só seriam aceitas que se
ou rejeitadas cumulativamente). No entanto, a cifra de 3 1/3, indicada por Wieser
Wie~e~
para uma unidade, não poderia desempenhar nenhuma função na prática, nem
se objeti\a
teria por que desempenhá-Ia. O mesmo vale - nem preciso dizê-lo - no caso da
tifica exa2.-~
compra das unidades individuais para o grupo.
de repre~2,
Por conseguinte, Wieser se equivoca ao afirmar que a avaliação dos bens pro­
to ponto 2:1
dutivos complementares com base naquela "grandeza média" tem "um sentido cor­
havê-lo :2::
reta" e que "esse modo de calcular" é o "único conveniente na prática". Pelo contrário,
ainda ma:s i
esse modo de calcular só é inofensivo quando permanecer "imprático", enquanto
las que CC5C1
for puramente platônico. Assim, por exemplo, é possível que um comerciante que
da avaL:.c~c
possui aquele grupo, em seus registros contábeis lance não somente o valor do gru­ dade de ~211
po inteiro - o que é plenamente correto - com 10, mas também, se sentir a ne­
sua ausê:-.c-..
cessidade de ainda destacar especialmente as unidades individuais em seu balanço,
costume.:-:-: Y.
lance mesmo assim para cada unidade individual o valor de 3 1/3, se assim lhe proporc'.c:-.é'.I
aprouver. Mas, em todo caso, agiria mal se de alguma forma, se guiasse, na prática, moment: .:.
por essa avaliação contábil. Por exemplo, seria obviamente errado - e acarretaria diatamer.:2
uma perda real - se por acaso vendesse tal unidade pelo preço de 3 2/3, que
mando c>cr
ultrapassa aquela avaliação contábil e portanto pareceria ser um preço compensa­
combina~:'5
dor. Mesmo como meio de controle para a produção, da qual Wieser também fala les isolac':.:-:l
expressamente, essa avaliação nâo seria uma orientaçâo correta, levando a erro. Su­
que um e.=-:rJ
ponhamos, por exemplo, a hipótese de. estar em questão uma nova possibilidade AeB-c5
de produção, na qual uma das três unidades pudesse ser empregada Gomo uma ponham: ~ ,
utilidade de 3 2/3. A avaliação de apenas 3 1/3, deduzida, conforme a orientação C, que H-2 :.
de Wieser, do emprego complementar, não impediria nesse caso dar ao bem o em­ do, terie. ::; 31
prego de 32/3, que tem valor maior em comparação com essa avaliação. Entre­ ou seja. a' .:::.i
tanto, isso naturalmente seria de novo um erro, pois, pelo fato de romper-se o grupo
e a utilica:::e
complementar, perder-se-ia uma utilidade de 4, que não estaria suficientemente com­ essa ava':;:}:;
pensada pelo acréscimo da nova utilidade de 3 2/3. Na realidade, não seria aquela estou ab:;:J
grandeza média equilibrada, que Wieser denomina "contribuição produtiva" (p. 90) cer, no ca~::l
- grandeza esta que foi obrigado a arquitetar por força de uma suposta necessida­
de lógica de uma dialética errônea -, mas a "parcela" total "que depende da coope­
ração do bem produtivo individual" do produto, que é decisiva para a avaliação
(subjetiva) deste último.
18Op. cir : ,;2.
197eoria ,=:=:.-~~,.:..
Foi sem dúvida a mesma suposta necessidade lógica - que parecia não permi­ aprovaçãc := :.:: :a!
tir nenhuma outra saída possível - que sugeriu a Wieser duas outras afirmações corda zelos-::._~ ~1
que considero objetivamente errôneas e que em meu entender contradizem ao mesmo havia con:2E::=-=-=
751 et seqs .!....n
tempo o próprio espírito da teoria wieseriana. A primeira delas é por Wieser formu­ tantas Ve2.e:3· : l
lada como nova objeção contra Menger e contra mim. O nosso erro - acredita de um bec:-. :.=
de que mê.~:-: ;iI
ele - está em aferir o valor de bens produtivos complementares supondo a falta na econoc_:: ~a
ou a perda deles. destituída, =, ""'"
um juízo - ::.~ l
dessas fi:.;: =--'35
para fins ::é :~~
"A hipótese normal e decisiva com base na qual se afere o valor de um bem não é ou baixas ;'~::- ..e
a de sua perda, mas a de sua posse pacífica e de seu uso adequado. (...) Toda combina­ ou se, err. . _;-=-.- z
ção produtiva só revela o efeito pleno de seus elementos quando a posse é pacífica e uma idéie 3-:':'!:'"~ 1
uma prop:~ :li!
portanto não tenho condições de averiguar o valor - que recebo e do qual desfruto tocante à c:€'2t;i
quando possuo (o bem) pacificamente - se supuser dissolução da combinação e me item mas s..:- ; i
perguntar o que tenho realmente dos bens tais como estão à minha disposição. O que emcompf-_~

um "enfu;.;: :~--:iE
decide sobre o valor são os empregos produtivos que estão em primeiro linha, os que
EXCURSO VII 115

I':c ::::'sposto a são os melhores e diretamente intencionados e não os empregos que estão em segunda
~C:-:3 se a uni­
linha, os que se concretizam somente no caso excepcional de um transtorno. (. ..) O que
a ::J:npra, ou interessa não é a parcela de produto que se perde com a perde de um bem, mas aquela
que se obtém com sua posse". 18
x--:":::m aceitas
1c ::<Jr Wieser Wieser não percebeu que a essa antítese dialética nãoJcorresponde uma antíte­
i ::,:ética, nem
se objetiva. O que se perde, ao perder um bem, sempre e necessariamente se iden­
~ :10 caso da
tifica exatamente com o que se obtém com sua posse. Trata-se apenas de duas formas
de representação ou ilustração para a mesma coisa. Confesso que me sinto até cer­
C JS ::Jens pro­
to ponto embaraçado em formular isso de modo ainda mais claro do que acredito
n x:ltido cor­
havê-lo feito ao explicar a minha linha-mestra. 19 Mas talvez seja possível aumentar
A:: ~J contrário,
ainda mais a evidência se tentarmos projetar para um e mesmo caso as duas fórmu­
co'. enquanto
las que costumamos utilizar, de modo apenas alternativo, de acordo com a natureza
TIerc:ante que
da avaliação a ser feita na ocasião. Com efeito, costumamos - como tive oportuni­
~ '::::or do gru­
dade de dizer - avaliar bens, que já possuímos, pelo prejuízo que sofreríamos com
;.e sentir a ne­
sua ausência, ao passo que, em se tratando de bens que ainda desejamos adquirir,
'l xli balanço,
costumamos avaliá-los pelo aumento de utilidade que sua aquisição e posse nos
. x assim lhe proporcionam. Acompanhemos agora um e mesmo juízo de valor exatamente no
&"2. na prática,
momento da aquisição do respectivo bem - desde o momento que precede ime­
- " acarretaria diatamente a aquisição até o momento que segue imediatamente a ela. To­
lE 3 2/3, que
mando por base o exemplo wieseriano dos três bens complementares que,
;0 compensa­ combinados, são capazes de proporcionar uma utilidade total de 10, e cada um de­
r também fala les isoladamente é capaz de proporcionar uma utilidade isolada de 3, suponhamos
cc a erro. Su­ que um administrador já possua dois desses bens complementares - denominemo-los
I DJ'ssibilidade
A e B - os quais, portanto, lhe garantem, isoladamente, uma utilidade de 6, e su­
l~ como uma ponhamos que se lhe apresente uma oportunidade de comprar a terceira unidade
2 ~ orientação
C, que lhe falta. Isso o leva a calcular o valor que esse bem, no caso de ser adquiri­
;y;, bem o em­
do, teria para ele em sua economia. Sem dúvida há de avaliar esse valor em 4,
tlação. Entre­ ou seja, a diferença entre a utilidade de 6, que já lhe está assegurada sem esse bem
)€:"-5€ o grupo
e a utilidade de 10, que pode conseguir em conseqüência do acréscimo desse bem;
Ii2'T1ente com­ essa avaliação se expressará, na prática, no fato de que ele - pelo menos nisso
o seria aquela estou absolutamente certo da adesão também de Wieser - estará disposto a ofere­
:L::::':a- (p. 90) cer, no caso extremo, um preço até 4 pela aquisição. Também não cabe dúvida de
~ :)ecessida­
\'::" ::::a coope­
ê ~ avaliação

18 Op. cit., p. 82-84.


Teoria Positiva, vJ, p. 171 no texto e na nota 22. Stolzmann. que com infeliz pertinácia sempre costuma dispensar sua
::z :lão permi­ 19
aprovação aos teóricos da utilidade marginal justamente pelos erros que eventualmente cometem. também nesse caso con­
as afirmações corda zelosamente com Wieser e Komorzynski iDer Wert in der isolierten Wirtschaft, 1889, p. 95 et seqs.), o qual também
havia contestado a determinação do valor com base na perda de utilidade (Zweck in der Vokswirtschaft. p. 734 et seqs.,
ao mesmo
E:.":".
751 et seqs.). Ainda por cima enfeita os argumentos deles com a imagem drástica de que a "economia teria de enfurecer-se
~·:'?ser formu­ tantas vezes' (p. 735) quantas quisesse medir o valor de um bem com base nas mudanças que tivessem de advir da perda
'C - acredita de um bem para a satisfação das necessidades e para o plano econômico. Dificilmente Stolzmann teve consciência clara
de que mesmo uma economia no estado de conservação não é uma economia petrificada e inerte, senão que mesmo
p::):ldo a falta na economia mais estável ocorre uma entrada e saída constante de bens econômicos e, se essa entrada e saída não forem
destituídas de sentido e de plano, mas regidas racionalmente do ponto de vista econômico, somos obrigados a formar
um juízo - por mais sumário que seja, em razão do caráter costumeiro de tais juízos - sobre os efeitos de cada uma
dessas mudanças sobre nosso bem~estar; finalmente, há que lembrar que costumamos emitir nossos juízos de valor não
para fins de demonstração, mas justamente com vistas a tais alterações possíveis em nosso estoque de bens (aquisições
L::-:-. 'Jem não é ou baixas por venda, desgaste e eventos similares). Quando reflito se devo adquirir determinado bem para minha casa
T:::·':::a combina­ ou se. em lugar disso, talvez deva gastar o dinheiro para outros artigos, ou se devo guardá-lo, sempre tenho que formar
il50ê .2 pacífica e uma idéia sobre diversas variantes do plano possível de satisfação de necessidades; e se' o próprio Stolzmann recebesse
uma proposta de compra de um item qualquer de seu patrimônio, dificilmente poderia tomar uma decisão racional no
) =..lal desfruto tocante à aceitação ou à recusa da mesma sem comparar o estado atual da satisfação de duas necessidades com o referido
r.:~~ação e me item mas sem o preço da compra com o estado hipotético da satisfação de suas necessidades sem o referido item mas,
po:::-s:ção. O que em compensação, com o preço da compra; portanto. sem executar justamente aquela operação que ele caracteriza como
um "enfurecer-se da economia"!
c .:.:-.ha, os que
116 TEORIA POSITIVA DO CAPITAL

que essa avaliação se funda na consideração do "que se obtém com a posse do


bem C, como também na consideração "do emprego produtivo que é o melhor
e o diretamente intencionado". isto é. do emprego complementar, e certamente não
com base em um emprego que "está" apenas "em segunda lin ha" e a ser concretiza­
do "apenas no caso excepcional de um transtorno".
Suponhamos agora que nosso administrador de fato adquira o bem C por um
preço qualquer que não atinge plenamente a avaliação de 4 - pois a compra de­
verá comportar ainda uma vantagem - e que ele, no momento subseqüente à aqui­
sição e antes que possa ocorrer qualquer alteração na situação, se pergunte novamente
pelo vapor que o bem C tem para ele nessa situação. Não pode haver dúvida algu­
ma de que agora ele avaliará esse valor exatamente com a mesma cifra e exatamen­
te pelo mesmo motivo que o avaliou um momento antes, com vistas à aquisição
que tencionava fazer. Ele certamente dispõe agora. no bem C, da mesma condição
da obtenção de uma diferença de valor de 4, da mesma condição da adoção do
melhor emprego produtivo tencionado. com a qual havia um momento antes ava­
liado o bem em 4 e havia desejado adquiri-lo exatamente para esse emprego. Nada
mudou, a não ser a forma gramatical verbal na qual se deve agora expressar o mes­
mo juízo sobre o valor. Antes nosso administrador deu ao bem o valor de 4, em
vista do aumento de utilidade de 4, que desejava conseguir com a aquisição do
bem; agora ele o avalia pelo mesmo acréscimo de utilidade de 4, que ele agora
garantiu com a' posse pacífica do bem. Por sua vez, este é exatamente o mesmo
acréscimo de utilidade que ele haveria de perder caso anulasse a aquisição, caso
vendesse a um outro interessado o bem do qual está de posse, ou caso o utilizasse
para qualquer outro fim, ou caso viesse a perdê-lo, por qualquer infelicidade. A re­
presentação da perda não é outra coisa senão o raciocínio mais natural para verifi­
car o que a posse garante, e de modo algum é a introdução de um novo critério
objetivo de avaliação. Wieser comete um equívoco ao imputar a mim e a Menger
a afirmação de que. em nossa concepção, os "empregos que estão em segunda li­
nha e que só se concretizam no caso excepcional de um transtorno decidem sobre
o valor" (p. 83), ou que nós "supomos um processo da economia diferente daquele
sobre o qual se estrutura a economia" (p. 89). Pelo contrário, a avaliação de 4 baseia-se
totalmente na concretização do "melhor" emprego produtivo planejado. A avaliação
com base na utilidade que está em segunda linha - no exemplo seria a utilidade
de 3 - só haveria de ocorrer, na linha de minha doutrina com respeito ao bem
C, se entrasse em questão não somente a falta do bem C, mas também, e antes,
a falta de outro elemento do grupo complementar. Se, por exemplo, do grupo com­
plementar adquirido, fosse vendido o bem A - aliás; certamente por um preço tam­
bém ele não inferior a 4 -, nesse caso o bem C teria de ser avaliado em 3, pela
sua utilidade subsidiária. Todavia, nesse caso essa redução do valor não seria de
forma alguma conseqüência de se calcular o valor do bem C pela perda de utilida­
de que se deveria à falta imaginada dele, mas seria conseqüência de uma alteração
ocorrida na situação, alteração esta que teria ocorrido em virtude de outra falta, a
saber, a falta real do bem A
Entretanto, Wieser é obrigado a recorrer ainda a um segundo artifício, contestá­
vel e, em meu entender, contrário aos princípios, pela própria doutrina dele. Com
efeito, ele mesmo vê, com toda a clareza, que da cooperação de um bem produtivo
complementar individual depende real e exatamente tanto da utilidade marginal quan­
to supomos Menger e eu, e mais do que ele mesmo coloca como base para a ava­
liação do bem produtivo. Com isso ele se sente obrigado a abandonar basicamente
o princípio de que o valor de um bem é medido com base na grandeza da utilidade
que dele depende; explica ele que a "contribuição produtiva" - assim a denomina
EXCURSO VII 117

-::: ~,e do - decisiva para a formação do valor é "por princ:pio menor do que a parcela que
~ -:-.elhor depende da co laboração."2u
~'::-.:enão Acredito que com isso Wieser abandonou uma idéia que não somente constitui
c- :~etiza- um pilar de toda a teoria da utilidade margil)aL mas que ele mesmo não pode dis­
pensar como fundamento de sua doutrina. E verdade que Wieser evitou enunciá-lo
C ;::Jr um como princípio fundamental de modo tão explícito como o fizeram Menger e eu
l:-;::~a de­ e os demais representantes da teoria da utilidade marginal. Mas também ele não
::,:: ~ aqui­ pôde evitar, na esteira de suas exposições e explicações, relacionar a formação do
~: . :::Tlente valor dos bens com a utilidade que deles depende 21 e, o que é o mais decisivo, não
~':3 algu­ há nenhuma outra idéia pela qual seja possível relacionar a grandeza do valor com
~.:::"'men­ a grandeza da utilidade marginal. Admitindo-se, como o faz Wieser, muito acerta­
2.:..::sição damente, que a utilidade marginal é a "menor utilidade ainda permitida no respecti­
:: :--:dição vo caso". essa idéia sozinha ainda não contém uma razão suficiente pela qual essa
c: ;ão do menor utilidade permitida deva determinar também o valor de exemplares de bens
:.-.:es ava­ que são efetivamente destinados e utilizados para proporcionar não sua utilidade,
?';.: \fada mas uma outra, maior. Ainda falta um elo lógico intermediário para ligar também
iC:' :) mes­ essa utilidade a esses bens; ora, esse elo intermediário indispensável não pode ser
.:,:: ·t em outra coisa senão a idéia, não formulada por Wieser como tese, mas de qualquer
L,,;ão do forma empregada na fundamentação de seu princípio, de que a referida menor uti­
E.e agora lidade permitida é aquela que de fato depende do dispor do bem a ser avaliado.
-c ~esmo O próprio Wieser não deixa de ter escrúpulos quanto à sua construção,22 mas
~i:. caso acredita encontrar uma desculpa e um fundamento para ela no "fato universalmen­
I _ ::::zasse te conhecido de que todo elemento produtivo constitui o fundamento não só para
~::e A re­ seu próprio valor, mas sempre também para o valor dos demais fatores da produ­
iC.~:: '.erifi­ ção".23 f\i a medida em que isso ocorrer - tal é manifestamente o raciocínio de Wie­
.: ::-'tério ser -, uma parte da utilidade que depende de um bem complementar é desviada
c \fenger para a formação do valor dos demais elementos complementares, e portanto ela
2:: "::-.da li­ mesma não pode beneficiar também a formação do valor do bem respectivo. Se,
i,;;-:- 50bre em nosso exemplo, da colaboração do bem C, depende uma utilidade de 4 e se.
E ::2quele em razão dessa sua colaboração complementar, o valor dos bens A e B também
f :: 25eia-se aumentam algo acima de 3 - valor este que já teriam tido como unidades isoladas
2.2::ação -. manifestamente acredita Wieser que o fundamento da formação do valor do
i _ :':dade bem C não pode mais ser a utilidade total e dependente 4 - da qual, segundo
:: ::J bem ele, saiu uma cota para a avaliação dos bens A e B -, mas apenas o resto que
,:: Jntes, permanece após a dedução dessa cota.
,_:: :: com­ O fato de o acréscimo da unidade final de um grupo complementar ser capaz
f,':::J tam­ de aumentar também o valor dos demais elementos do mesmo - que, por exem­
r:-. '3. pela plo, o fato de se achar a segunda luva pertecente a um par confere um valor tam­
; ,e:ia de bém à luva que até agora não tinha utilidade - foi observado com muito acerto
:'::..lTílida­ por Wieser; no entanto, está errada sua interpretação. O fato de um bem, em razão
3.:2ração de sua colaboração. aumentar também a utilidade e o valor de outros bens não jus­
:=. ~=!ta, a

: : :1lestá­ 2u Natuer!icher Wert. p. 90


21 Por exemplo Ursprung und Hauptgesetze des wirtschaftlichen Wertes. p. 127: '·Sente·se que de um bem individual que
t.'::. Com se possui depende o mais impor:ante desejo que pode ser satisfeito por um bem dessa espécie. No caso de se possuir
:~: ':utivo duas unidades. n~o se pode sentir que de uma unidade individual depende o mais importante desejo". "Em relação aos
bens, as pessoas se comportam como egoístas que só apreciam o amigo na necessidace, justamente quando têm necessi­
:-.::. quan­ dade dele. Por isso. em sua avaliação só têm valor bens econômicos de cuja posse sentem que de fato depende efetivamen­
~:: '" ava­ te a satisfação de suas necessidades". (Artigo "Grenznutzen", na 2~ ed. do Handwoerterbuch der Stactswissensch.often de
~:2:Tlente Conrad-Lexis. v. IV. p. 777. coluna 1.)

22 "O processo de Menger é sem dúvida mais simples e mais claro. A distinção que temos de fazer entre 'contribuição' (Bei­

_<:dade trag) e 'cooperaçào' IMit'llIrkl1ng) de um fator parece rebuscada e contraditára". (Natuerlicher Wert. p. 90)
e:-.Jmina 23 Ibid. p. 90
118 TEORIA POSITIVA DO CAPITi\L

tifica uma dedução para sua própria avaliação, mas um título para a mesma Por
que motivo, por exemplo, um elevador que o proprietário da casa coloca gratuita­
mente à disposição de seus inquilinos tem, apesar disso, um valor para o dono da
casa? Ou então, donde vem o valor de um freio automático em bom funcionamen­
to para vagões ferroviários, o valor de uma estrada de acesso para uma mina ou
o valor de um local ou de um direito de patente que geram monopólio de venda?
A utilidade de todos esses bens complementares esgota-se totalmente no fato de
aumentarem a utilidade e o valor de outros bens - no fato de as moradias com
elevador gratuito serem alugadas a preço mais alto. as mercadorias monopolizadas
serem vendidas a preço mais alto, os vagões providos de bons dispositivos de frena­
gem terem desempenho melhor e mais seguro. Por conseguinte, nesses exemplos
toda a utilidade de um bem se reduz ao fato de aumentar a utilidade e o valor de
outros bens complementares, e se porventura isso representasse realmente uma de­
dução para o valor do primeiro bem, como pensa Wieser, simplesmente não sobra­
ria valor algum para ele mesmo - o que contradiz tanto aos fatos quanto à idéia
fundamental, comum a nós todos, da teoria da utilidade marginal.
A verdade é que toda utilidade que depende efetivamente de um bem benefi­
cia sua avaliação, sendo que não faz e não pode fazer diferença alguma, no caso,
se essa utilidade, que depende dele, é uma utilidade direta para a satisfação das
necessidades, ou é uma utilidade indireta que de uma forma ou de outra perpassa :" - -~

ou atinge outros bens. Um bem é importante para meu bem-estar também quando
e porque dependo dele, se e quando obtenho de outros bens, em termos de utilida­
de: também essa utilidade alheia é nesse caso uma utilidade que devo a ele, utilida­
de que, portanto. deve ser alocada também a ele. Se Wieser se deixou desviar desse
dado, é claro que também aqui só o fez movido pela idéia errônea de ter de evitar
uma suposta contradição lógica, que consistiria em ter de atribuir imediatamente =- ~I

a mesma utilidade a vários bens e alocá-la ao mesmo tempo a eles como sendo
seu valor. No entanto, como me esforcei por demonstrá.-Io já. acima, isso não é ne­
nhuma contradição. A verdade é que efetivamente devemos ao mesmo tempo a
várias condições indispensáveis de uma utilidade essa mesma utilidade: e de fato
se aloca a todas elas o valor. "ao mesmo tempo, mas obviamente apenas de manei­
ra alternativa, do modo que já expliquei difusamente. A melhor prova disso reside
no fato - certamente admitido também por Wieser - de que o possuidor de nos­
so grupo complementar não estará disposto a desfazer-se da posse de nenhum dos
três bens A, B. e C por um preço abaixo de 4. Cada um deles vale 4 para ele, de
modo igual e ao mesmo tempo, enquanto possuir os dois outros bens. Evidente­
mente, só em sentido alternativo, nunca cumulativo; em se tratando de dois desses
bens juntos, estará disposto a vendê-los já por 7 e todos os três juntos por 10.
Talvez me seja lícito ousar presumir que Wieser, que tanto e tão elogiavelmente
fez para distinguir os diversos problemas que confluem sob a denominação de alo­
cação, tenha sido levado a adotar essa postura no tocante à nossa questão contro­
- :3
versa em virtude de um pequeno resquício de obscuridade que pode ter sobrado,
mesmo no caso dele. Com efeito, a "alocação" econômica do produto, que determi­
na o valor subjetivo dos bens produtivos, é algo bem diferente da "adjudicação" dis­
tributiva real, da distribuição real do produto entre os fatores que contribuem para
sua obtenção, e por isso também é regida por condições lógicas bem diferentes das
que regem estas. Pois bem, Wieser certamente não ignorou totalmente essa distin­
ção, mas também não a fez de maneira suficientemente limpa e clara. Com efeito,
considera também a alocação como uma autêntica "distribuição", embora se realize
a enas em pensamento e ocasionalmente também lhe dá expressamente essa de­
EXCURSO VlI 119

-~ '~a. Por nominação: 24 por isso de antemão a subordina a um postulado lógico proveniente
:::.~ a ;:~atuita­ da idéia de distribuição, que de modo algum é um postulado lógico para nosso ver­
ê : ::::mo da dadeiro problema da alocação Com efeito, uma e mesma cota do produto natural­
i- : : :~amen­ mente só pode ser efetivamente distribuída uma vez, e portanto as cotas efetivamente
r:: :-:~::la ou distribuídas, se forem simplesmente somadas umas às outras, de fato. sempre têm
: > ',enda? de dar como resultado a cifra do produto total, nem mais nem menos. O que na
" .. : :ato de distribuição real é produto do gado mantido pelo agricultor não pode. com nenhu­
c:a::::3.S com ma partícula, ser ao mesmo tempo produto do solo ou do trabalho agrícola, e vice­
:- : -.: Jlizadas versa. Em contrapartida, os Juízos que estão à base do valor subjetivo - o fato de
.:,:::2 frena­ que não se conseguiria certa parte do produto sem a colaboração de um elemento
(, ",emplos complementar individual e, sob esse aspecto, ela é "devida" ao elemento que cola­
.. alor de bora ~- podem muito bem interferir um no outro e sobrepor-se: a mesma parte do
- :,,_ma de­ produto pode, nesse sentido, ser "devida" e alocada ao mesmo tempo a vários ele­
" -?-:·sobra­ mentos. 2', Ora, as avaliações subjetivas dos bens produtivos só têm a ver com Juí­
,~--- à idéia zos de alocação desse gênero: deles derivam, da maneira que se conhece e somente
mediante um processo secundário e como resultantes que correm entre as avalia­
oenefi­ ções, os preços dos bens produtivos, e mediante esses preços decorrem, finalmen­
:-. a '-. o caso, te, as cotas de distribuição efetivas, estas sim regidas pelo postulado wieseriano.
:-.:,':::ão das Em outras palavras, o problema da alocação econômica distingue-se não só
-.:::: ::erpassa do problema da distribuição justa, do qual Wieser com razão o diferenciou tão ex­
:~- :uando pressamente, mas também se distingue do problema da distribuição pura e simples,
:' :::"utilida­ do qual. infelizmente, Wieser não o separou com tanta clareza - talvez pelo fato
: " -". utilida­ de haver desenvolvido as leis de seu "Valor Natural" sob a hipótese de uma econo­
,'" ,·.ar desse mia sem comércio e por isso não se viu na necessidade de elaborar o processo da
:,,: ::: 2 evitar distribuição efetiva com clareza tal que necessariamente tenha sido obrigado a ver
" ::::::amente a diferença entre as cotas realmente distribuídas e as alocadas para efeito da avalia­
:: --: sendo ção subjetiva. E verdade que a distribuição efetiva - na medida em que é influen­
s: -?-o é ne­ ciada por fatores econômicos - se explica totalmente a partir dos juízos de alocação
:e:npo a que determinam as avaliações subjetivas: acontece, porém, que ela deve ser expli­
.-:; ~ de fato cada a partir deles em duas etapas. As cotas alocadas não coincidem diretamente
~" :::e manei­ com as cotas realmente distribuídas - ou só coincid,em em condições casuísticas
:::"~J reside bem especiais -, senão que primeiro explicam e determinam apenas a grandeza
.:::::::e nos­ das avaliações subjetivas feitas dos bens produtivos - avaliações estas com as quais
-" - 'C.um dos na realidade coincidem completamente; entretanto, é só em uma segunda etapa,
-.: a:a ele, de subseqüente, que as cotas efetivas de distribuição decorrem como resultantes das
." ::·.:dente­ avaliações subjetivas determinadas pela alocação. 20
: :::::s desses
: ~ ::or 10.
24 Por exemplo Notuerlicher Wert. p. 85 na nota: cf. também SCHUMPETER Bemerkungen. p. 91 et seqs.

';- ::·.21mente 25 Talvez Wieser tivesse podido encontrar em sua brilhante analogia com a alocação jurídico-penal (Natuerlicher Wert, p.

:::?-: de alo­ 74) também a característica de que o resultado total de um delito pode ser alocado ao mesmo tempo, e de maneira plena­
mente lógica, a vários réus. por exemplo ao autor e ao fautor do crime.
:s:~: contro­
26 A situação casuística na qual as cotas efetivas de distribuição coincidem totalmente. ou pelo menos quase totalmente.
:~: ~c;.brado, com as cotas "alocadas" é aquela de uma concorrência forte e ao mesmo tempo dispersa. É por esse motivo que Clark,
: _" ::etermi­ em sua teoria da distribuição. desenvolvida por ele justamente na hipótese de uma concorrência totalmente livre, pôde

~ : a:.3.o" dis­
chegar a resultados tão acertados, conquanto também ele não explique "em duas etapas", mas conclui diretamente da alo­
cação para a distribUição. Também em minha obra há de se encontrar várias exposições que explicam como, no caso de
:-: _2m para concorrência em massa, livre e dispersa, o efeito limitador das avaliações subjetivas baseadas em juízos de alocação se
aproxima de um efeIto diretamente determínante. Ver, por exemplo no v.I, a exposição à p. 185 et seqs. e. no tocante
=~:e:ltes das
à formação da taxa de Juros de mercado, à p. 371 et. seqs. - Salvo engano meu, temos a mesma distinção de princípio
~ ,,,a distin­ entre as cotas "alocadas" e as efetivamente distribuídas, respectivamente da superposição parcial das cotas do produto total
=- =:-:1 efeito, a serem alocadas aos diversos fatores, também naquilo que Aftalion, em suas observações sobre o problema da alocação
- tão interessantes quanto perspicazes - registra e caracteriza como um "leve erro no cálculo da alocação" (!égere erreur
,-a "2 realize dons le coleul de l'imputotion). "Les Trois Nolions de la Productivité" In: Reuue d'Économie Politique Ano 25. 1911. p.
:-:~ 2ssa de- 160 et seqs. No caso. Aftalion constatou tudo aquilo que existe de real e que há que observar em relação a esse fenômeno,
120 TEORIA POSITIVA DO CAPITAL

Um leve perigo de confundir a "alocação" com uma "distribuição" de cotas do este ::-'~.;:~
produto talvez esteja sempre presente à primeira denominação. 27 Certamente isso ~l~:: :,
não pode constituir motivo suficiente para banir totalmente do uso científico o con­ "segu:"'_::::
ceito, plenamente adequado e até muito feliz - desde que devidamente explica­ soluçi§.:: ~ _~
do - e o termo alocação. Contudo, tenho aqui um motivo a mais para ater-me ção rei: ..
à fomulação sistemática externa sob a qual até agora tenho tratado dos problemas e qUE :i:~';:
aqui em pauta. Com efeito, prefiro tratá-los sob o título geral de uma "teoria do va­ em te=-:-:;
lor dos bens complementares". Por um lado, essa formulação é a que melhor corres­ cos c:"'. ::_S<
ponde à extensão externa do problema a resolver - o qual, além da alocação do ~ :-<" -
produto aos bens produtivos complementares, deve incluir também, como um caso sub~t:::...'·- .;:
coordenado, as condições de bens de consumo complementares que agem em con­ "un:ci:::" '
junto - e, por outro, ela não deixa margem para a mínima dúvida sobre que tipo de \'ê::~
de "alocação" tenho em mente ao empregar essa expressão, Finalmente, essa for­ nida ?:5
mulação permite identificar o objetivo de minha pesquisa com tanta clareza que é situaç~: ::l
fácil verificar se os resultados de minha investigação contêm realmente uma solução tar. C02 :-: J
satisfatória da tarefa empreendida. de tc.:ô _-~
Isso me leva à segunda série das objeções de Wieser. Uma primeira série havia juízo :.;:--:­
posto em dúvida o acerto de minhas afirmações (e das de Menger); a ela procurei fórn;'..:=- "7;
responder com a exposição feita até aqui. Uma segunda série põe em dúvida a sufi­ indec5:: ':
ciência de minha tentativa de solução, Em uma nota minuciosa de seu livro, 28que e me~=-:-.::!
Wieser dedica a minha abordagem do problema, já de início exprime a opinião de coni'..::"':_~;
que, ao lado de outras tentativas de solução que não ultrapassam o nível de simples sem:~" i::
referências, também minha exposição, se bem que mais detalhada, "quer apenas se. 02 ::::::-:::
apontar a direção na qual se deve procurar a solução do problema"; e conclui sua por e:'~,,--:-1
nota constatando que minhas observações "não dão nenhuma solução para o pro­ outrê, _=-"
blema da alocação", Os motivos que o levam a esse parecer são sugeridos com duas po~tc ::" ::i
perguntas céticas que ele opõe às minhas exposições, reproduzidas em extrato, Contra da p:ôô2
a parte de minha exposição na qual aloquei "ao ou aos elementos não-substituíveis" esse. _::::
o resto do produto total que sobra, após deduzir as despesas fixas, para os elemen­ cor.-:p.';: =-:-_.
tos substituíveis do grupo complementar,29 dirige-me a primeira pergunta com dú­ intes~::. ::i
vida: "Que acontece quando confluem vários bens insubstituíveis?" de c:::-:::::­
Pois bem, nesse caso o problema se resolve simplesmente pelo esquema dos este :: ô~
casos "primeiro" e "segundo" de minha exposição,3o o qual prevê expressamente o ves~e : = ..
caso da confluência de vários elementos não-substituíveis no mesmo grupo. Aliás, ria ce :::,
a essa altura preenchi também formalmente a lacuna erroneamente presumida por fin a 1:-:-. " -.']
Wieser, com um parágrafo que enuncia expressamente aquela indicação, parágrafo rae:o:"',=-_:":':!
sumi:. ::=:
de \'ê::~
Q-"
do c:;_:-::'.
e o fez com cuidado e precisão magistrais, mas, ao que me parece, sem oferecer uma explicação propriamente dita e sobre­ var ê~ ::_,
tudo acertada, pois esses desvíos só se apresentam como "erros" caso se parta do ponto de vista - errôneo! - de que
as cotas alocadas devem necessariamente coincidir em princípio com as cotas dístribuídas. Se quisermos ser corretos, s6 É e:c.~:: ~I
se poderá afirmar que no caso de concorrência em massa, totalmente livre e dispersa, existe uma tendência e uma identida­ na c-=- "J
de aproximada entre as cotas alocadas e as distribuídas. Também isso representa um núcleo bastante considerável e correto Slm:::_2ô--:-,·
da "teoria da distribuição da produtividade marginal", vigorosamente e com razão desenvolvida na teoria mais recente, que
merece a mais cuidadosa elaboração também no futuro. SOb~2 _:-:1
27 Ao que parece, o termo inglês imputation está menos sujeito a essa ambigüidade. a acace=-:-:
28 Natuerlicher Wert, p, 84 et seqs.

29 Trata-se de minhas afirmações feitas acima, no texto de minha Teoria Positiva, v.l, das páginas 184 a 188, Seção n,

Abstenho-me de citar aqui de novo textualmente seu teor, mas devo pedir ao benévolo leitor que tenha sempre presente

esse texto no juízo que fizer sobre essa controvérsia. O mesmo vale em relação às outras passagens do texto aduzidas a seguir.

30 Ver Teoria Positiva, v.l, p, 184 et seqs. 3: )~_ - ~1!

Soz:: :.~ :- f _

ago:-~ =? ~ ":
a A nota faz sentido, levando-se em conta que em alemão o termo para imputação é Zurechnung e para distribuição Zu­ 32 ?=-:-::. : -''::-:1
teilung. (N, do T)
EXCURSO VII 121
, :::::5 do 'este inserido na Teoria Positiva, no final da página 187. 31
:" -.:e isso Mas será que o "expediente" previsto por aqueles dois esquemas "primeiro" e
c: :: con­ "segundo" oferece também uma solução efetiva dos problemas que demandam tal
E ":':;Jlica­ solução? Acredito poder afirmar que sim. Em minha opinião, ele oferece uma solu­
i: :::e[-me ção real, ao mesmo tempo correta e suficiente, dos problemas existentes no caso
1:-: :.emas e que carecem de solução: ao mesmo tempo ela oferece mais e mais corretamente,
r::: :'J va­ em termos de solução, do que oferece a abordagem dos mesmos casos esquemáti­
c ~ :: ::Jrres­ cos analisados pelo próprio Wieser.
iC::;§.O do Meu esquema "primeiro" diz que cada um de vários bens complementares não­
t _~. caso
substituíveis e também não-suscetíveis de outro emprego deve ser avaliado como
: ,,~. con­ "unidade fina!", pelo valor global do grupo inteiro, mas como "parcela" é destituído
! :.:e tipo de valor. Eis uma solução definida para um problema que exige uma solução defi­
,,':;:;(3 for­ nida. Pois nossa experiência real nos mostra que, se analisarmos corretamente a
::.:::: :::oue é situação que nos leva a avaliar uma unidade individual de um grupo complemen­
i: :;:: :ução tar, de modo algum nos comportamos com perplexidade ou hesitação na avaliação
de tais unidades individuais, senão que, de acordo com a situação, emitimos um
ê-:-." ~avia juízo bem definido - exatamente o expresso por minha fórmula. O fato de minha
i -=~::::urei fórmula prever a possibilidade de uma dupla avaliação não a torna indefinida ou
,=:: c sufi­ indecisa, pois ela não prevê a possibilidade de duas avaliações divergentes para uma
-.-=-::=-que e mesma conjuntura, mas cada vez determinada avaliação para cada uma de duas
f:.:-.§.o de conjunturas diferentes. A situação real que estimula o ato concreto de avaliação fixa
ré: :;:-:1ples sempre ao mesmo tempo determinada conjuntura à qual a avaliação deve aplicar­
':' ::;Jenas se, e para essa conjuntura minha fórmula dá uma solução precisa e clara. Quem,
-:-::.'':: sua por exemplo, possui duas unidades de bens, A e B, que, cooperando uma com a
c=. J pro­ outra, lhe propiciam um produto total de 100 unidades de valor e recebe uma pro­
:::::: ~uas posta de compra de bem A, para orientar sua decisão se e a que preço deve desfazer-se
c C'J:ltra da posse desse bem A, terá de formar um juízo sobre o valor desse bem e basear
s:-::..':l)eÍs" esse juízo sobre o fato de que o bem A é para ele a unidade final de um grupo
".e:-:1en­ complementar que sem ele se desfaz; e, de acordo com isso, atribuir-lhe-à o valor
::::~. dú- integral de 100 unidades e não há de vendê-lo abaixo desse preço. Se a proposta
de compra ocorresse não para o bem A, mas para o bem B, o fato faria com que
E:-:-.'" dos este fosse caracterizado como unidade final e avaliado com base nele. Se ele só ti­
c:",te o vesse o bem A, haveria de avaliá-lo corretamente como destituído de valor e have­
>: .-\ li ás, ria de considerar vantagem se conseguisse o preço mínimo pelo mesmo. E se,
~.:'" por finalmente, lhe surgisse uma oportunidade de adquirir o bem B que lhe falta, agiria
}.::.:-brafo racionalmente e poderia oferecer por ele até o preço de 100 unidades de valor. Em
suma, cada situação que aparece gera determinada conjuntura e suscita um juízo
de valor claro e correspondente à referida conjuntura.
Que acontece, porém, se nosso administrador possui duas unidades e de mo­
do algum pensa em desfazer-se da posse de uma delas, mas antes tenciona conser­
=- ~.,: 50bre­ ,:;:ar as duas juntas e utilizá-Ias juntas para conseguir a utilidade complementar delas?
: - :2 que
E claro que neste caso a situação prática não caracteriza uma conjuntura definida
. : - --:'"":::::;5. só
r.=. :Õ::"".:ida­ na qual ele teria de avaliar determinada unidade individual, mas também a situação
~~ -:: .,; .: Jrreto
:--~:" -.:~. que
simplesmente não lhe dá nenhum motivo prático para formar-se um juízo de valor
sobre uma das duas unidades. E se não obstante o fizer, será um juízo puramente
acadêmico e não um juízo definido destinado a orientar um ato tencionado. 32 Na­
i:~ :2;ão lI.
;:=-.,:: -=-:-2sente
cc; .=. seguir
31Muito corretamente já Schumpeter ("Bemerkungen ueber das Zurechnung sproblem-. In: Zeitschriftfuer Vo/kswirtschaft,
Sozialpolitik und Verwaltung. v. 18, 1909, p. 124 et seqs.) deu a mesma resposta à objeção de Wieser. Da mesma forma.
agora, BRaDA. op. cit., p. 363.
~: _ ;;;0 Zu· 32 Para orientá-lo em sua decisão, já firme no sentido de manter e empregar as duas unidades unificadas, deve ter servido
um juízo anterior - também ele emitido absolutamente na linha de minha fórmula - de que as duas unidades, emprega­
122 TEORIA POSITIVA DO CAPITAL

tura1mente ele pode emitir tal juízo puramente acadêmico, nesse caso deve também
no mínimo encarar, de igualmente acadêmico o fato do isolamento dos bens até
agora unidos, da dissolução do grupo, e então chegará também aqui, exatamente
de acordo com minha fórmula, ao juízo de valor acadêmico de que essa unidade
que dissolve o grupo em virtude de seu suposto isolamento ou de sua saída do gru­
po vale 100 como unidade final, a outra sobra após a pressuposta dissolução do
grupo não vale nada, por ser parcela isolada. Se ele - o que aliás não teria direta­
mente conseqüências práticas prejudicadas - formar seu juízo acadêmico de mo­
do diferente, por exemplo avaliando cada um dos bens igualmente em 50, ou um
em 75 e outro em 25, teríamos também aqui um juízo acadêmico falso. Prova disso
é que aquele que assim avaliasse teria de precaver-se para não ser cobrado a sério
por essa avaliação, numa ocasião prática que porventura aparecesse posteriormen­
te, por exemplo ao chegar uma proposta de compra de 80 unidades de valor por .-:: :~

uma das duas unidades; e prova disso é também o fato de que, se ele perder uma
das duas unidades - por exemplo, em razão de um incêndio -, certamente sen­
tirá que empobreceu não de 50 ou 70 unidades de valor, mas de 100.
Por conseguinte, penso poder reivindicar que minha fórmula representa o es­
pelho explicativo para os processos reais da vida prática e fornece uma resposta cla­
ra e de solução para todos os problemas levantados pela vida real.
O mesmo não acontece com Wieser. Dá ele a seguinte orientação para o caso
analisado no esquema "primeiro": :: .õ::-:t
:J
"Suponhamos que a vida de um caçador dependa de ele matar, com o último cartu­ ~ ~._:-J
cho que possui, um animal selvagem que o ameaça. Se o tiro errar o alvo, tudo está
perdido. A espingarda e o cartucho juntos têm aqui um valor que pode ser calculado
com exatidão. Seu valor, em conjunto, é igual ao valor do acerto do tiro, nada mais
nada menos. Em contrapartida, não há maneira alguma de se calcular o valor da espin­
garda e do cartucho considerados isoladamente. São duas incógnitas, as quais só existe
uma equação. Se as denominarmos x e y e se supusermos que o resultado favorável
é igual a 100, tudo o que podemos definir sobre o valor deles está contido na equação
x + y = 100"33

Constato duas coisas. A fórmula de Wieser não consegue aqui dar nenhuma
solução definida; além disso, o mínimo de afirmação positiva que ela contém exclui
exatamente a solução correta: se x e y têm de repartir-se, de acordo com algum
critério qualquer, na soma de 100, para cada um dos dois está excluído que seu
valor possa conseguir a cifra integral de 100. Precisamente esta é a verdadeira solu­
ção. Se faltar apenas um dos dois, se, por exemplo, o cartucho que o caçador quer
colocar na espingarda cair no mato, "tudo está perdido". O valor de cada um dos
dois bens "é igual ao valor do acerto do tiro, nada mais nada menos".
Acredito não ser necessário comentar tão minuciosamente meu esquema "se­
gundo". Quem se tiver dado ao trabalho de acompanhar a exposição sobre o esque­ =- =_2
ma "primeiro" com seu próprio raciocínio crítico terá condições, mesmo sem orientação
especial, de comprovar, mediante um raciocínio bem análogo, que minha fórmula
"segunda" fornece, para cada situação que se enquadrar nela, uma solução definida
e ao mesmo tempo correta, que corresponde ao comportamento que se observa
efetivamente nas pessoas. Em contrapartida, meu comentário à tentativa de solu­
ção concorrente de Wieser tem de ser um pouco nuançado. Antecipo que o exem­

das e avaliadas como unidade fechada, têm um valor de 100, ao passo que como parcelas isoladas fora do grupo fechado
não têm valor algum, razão pela qual se deve racionalmente optar pelo emprego como unidade fechada.
33 Natuerlícher Wert, p. 85.
EXCURSO VII 123
'.," :::mbém pIo concreto com base no qual Wieser trava sua polêmica contra a concepção de
:" :2r1S até Menger e a minha - o exemplo, já tão discutido por nós, dos três bens A, B e C,
;:::·.=.:::mente dos quais cada um gera, isoladamente, uma utilidade de 3, e os três unidos geram
R...::--,ídade uma utilidade total complementar de 10 - apresenta uma situação que justamente
[::=. ::io gru­ se enquadra no esquema "segundo" (vários bens não-substituíveis, mas que isolados
~:_ção do
podem ter outro emprego). E verdade que Wieser dá uma solução definida para
t2:--.=. direta­ esse caso, como vimos: avalia cada um dos três bens precisamente em 3 1/3 uni­
:..:: ::.e mo­ dades de valor. 34 Mas também já nos convencemos de que essa solução é errô­
::"_JU um
nea; ela contradiz o agir real das pessoas, o qual, para orientar-se corretamente,
F~=·.a disso exige uma avaliação de 4 unidades de valor por bem. 35 E, finalmente, impõe-se
2:::': a sério
mais uma observação. Creio que o modo de Wieser tratar o caso "segundo" não
;;:,,:-::,rmen­ é conseqüente em relação ao seu modo de tratar o caso "primeiro". Ao que parece,
E ·.::.or por
no caso "segundo" os três elementos do grupo têm para com o excedente de 1, que
~=::'2r uma
depende do emprego complementar - excedente este que a utilidade complementar
r..2:':!e sen­ total de 10 deixa sobrar em relação à utilidade de 9, atingível no caso de emprego
[
isolado dos elementos - , exatamente a mesma relação lógica e real que no caso
5-2:-:.:C o es­ "primeiro" os elementos do grupo têm com a utilidade total a ser conseguida com
~-: : 5ta ela­ o emprego complementar deles; pois bem, por que motivo Wieser, em um dos ca­
sos, falou de uma equação com várias incógnitas, que não forneceria bases sufi­
.::-:: 'J caso cientes para uma distribuição e para um cálculo preciso do valor e, no outro caso,
distribuiu e avaliou com precisão, se as bases aqui também são poucas?
Depois do caso em que concorrem vários bens não-substituíveis a crítica de Wieser
~-:-. c cartu­ à minha teoria se volta ainda para o caso em que confluem no mesmo grupo vários
:; :"':::0 está
ou muitos bens "substituíveis" e à minha tentativa de solução como caso "terceiro"
?= :=.:cuJado
-.=::'3mais opõe o seguinte comentário cético:
cc c=. espin­
2:., ;::' existe "Porventura também não confluem sempre mais de um e mesmo muitos dos bens
tc '?',orável 'substituíveis'? O valor deles, que na prática é determinado em cada caso recorrendo
-='2cJação a seu outro emprego e avaliação, já que o outro emprego sempre ocorre ele mesmo
em combinação com bens complementares, deve teoricamente sempre ser primeiro des­
vinculado da combinação - entretanto, como é possível isso senão conhecendo-se a
-.2:-:JlUma regra da distribuição?"36
I2~. exclui
:-:-. algum Se entendo bem essa objeção, ela denuncia uma espécie de explicação em cír­
:: ::...;e seu culo vicioso. Segundo Wieser, minha explicação não resolve o problema. Para ava­
::2~ê. solu­ liar os elementos de um grupo complementar me baseio, segundo ele, na avaliação
:<:::r quer dos elementos de outro grupo complementar, no qual, porém, existe o mesmo pro­
[.: .' '71 dos
blema, que também aqui ainda carece de sua solução teórica.
Penso que Wieser se equivoca também aqui. O problema que realmente se tem
"_,,:-:-la "se­ de colocar encontra sua solução teórica plena. A explicação teórica oferece tudo
: : -2sque­ o que se pode exigir. de uma explicação teórica e termina em "dados" cuja ulterior
c:t-2ntação explicação já não cabe mais à teoria econômica.
c :5rmula Introduzamos em nosso exemplo, tantas vezes utilizado, primeiro a "substitutibi­
c =-2Íinida dade" do elemento A do grupo, supondo que exista um bem AI totalmente igual
E c:serva
:-2 solu­
34 É verdade que ele não afirma expressamente essa cifra, mas ela segura necessariamente as premissas do caso, as quais
: : -2xem­ exigem para os três bens um valor absolutamente igual, em conexão com o postulado de Wieser de que a soma desses
três valores individuais iguais tem que esgotar exatamente o valor total de 10. Ver também acima, p. 113, nota 17. Aliás,
se essa minha interpretação estivesse errada e se Wieser considerasse que também esse caso é "insolúvel" e que é impossí­
vel fazer uma avaliação precisa, eu haveria de retratar a crítica especial desenvolvida no texto, mas em compensação natu­
'-:: ',chado
ralmente teria de repetir integralmente também aqui a crítica desenvolvida para o caso "primeiro".
35 Ver supra, p 113 et seqs. do presente Excurso.
36 Op. cit., p. 84 na nota.
124 TEORIA POSITIVA DO CAPITAL

ao bem A, sendo que AI, por ser utilizado da maneira mais racional num grupo
complementar, é capaz de gerar, juntamente com dOIS outros bens, D e E, uma
utilidade de 8 unidades de valor Que este é o emprego mais racional dos três bens
AI, D e E, bem como a grandeza da utilidade dali resultante, eis uma suposição
de natureza real, um "dado" exatamente do mesmo gênero que a primeira suposi­
ção que o próprio Wieser coloca à base de seu exemplo, de que o emprego mais
racional dos bens A, B e C é seu emprego complementar, e de que utilidade dali
resultante é uma utilidade de 10 unidades. Este "dado" é um dado da técnica de
produção, o qual não exige nem admite explicação por parte da teoria econômi­
ca - da mesma forma como a teoria econômica não estaria chamada ou obrigada
a explicar, no exemplo do colono com os cinco sacos de cereal, que e por que.
entre as necessidades do colono, a necessidade de aguardente de cereal vem de­
pois da necessidade de alimentação com carne e que importância se atribui à satis­
fação de cada uma dessas duas necessidades,
Pois bem, eis outro dado da técnica de produção: no caso de dissolver-se o
grupo A j , D e E, algum emprego dos bens D e E tem de ser o segundo mais ra­
cional, assim como que utilidade ou aumento de utilidade se pode conseguir desse
segundo emprego mais racional, Suponhamos. por exemplo, que os bens D e E.
como verdadeiros bens complementares, de todo isolados simplesmente nâo sir­
vam para nada, que, unificados num grupo de dois elementos, D e E, juntos só
possam gerar uma utilidade de 4; mas que, se. na falta de outro bem flutuante ­
com o qual possam novamente ser unificados para formar um grupo de três ele­
mentos -, forem acrescentados, como quarto elemento. a outros grupos de três
elementos, jd existentes. um deles seja capaz de aumentar o produto de tal grupo
de três elementos. de 2.3 unidades. e o outro. de 2.2 unidades.
Dentro desses pressupostos. de natureza perfeitamente real, resolve-se totalmente
e com clareza, tanto "na prática" como na "teoria", o problema do valor de um exem­
plar da espécie de bens A Se a situação for tal que o dono do bem A tem ocasião
de avaliá-lo como "unidade finar do grupo complementar A + B + C, não o ava­
liará em 4 unidades de valor. como no caso da "insubstitutibilidade" do mesmo, mas
apenas em 3.5: agird assim. baseado na ponderação de que. no caso de perdê-lo,
garantiria para si a conservação da utilidade complementar total desse grupo, no
montante de 10. retirando o exemplar substituível AI de seu emprego complemen­
tar, e de que com a dissolução deste último sofreria apenas um prejuízo de utilidade
de 8 - (2,3 + 2,2) = 3,5 unidades de valor. Essa obtenção do "valor de substitui­
ção"3? de um exemplar A com 3,5 ocorre claramente a partir da situação indicada
e não pressupõe nenhuma outra "distribuição" problemática de outro gênero: nem
para a prática nem para a teoria, se esta for o espelho fiel da prática e explicar os
atos práticos a partir dos motivos, juízos e situações que estão à base deles,
Ao contrário, se a situação fosse tal que o dono do bem A tivesse ocasião de
avaliá-lo não como unidade final do grupo A, B, C, mas como parcela isolada, a ,;:
-
- ,
~

avaliação não se alteraria, permanecendo em 3, com base na utilidade que o bem


A é capaz de proporcionar isoladamente. pela hipótese do exemplo. Pois para subs­
tituir o bem A nesta sua última função nunca poderia racionalmente entrar em questão
o desvio do possível substituto A 2 de um emprego que garante a utilidade maior .:.. =- :3
de 3,5 e por isso não pode ocorrer a avaliação com base no "valor de substituição".
Por conseguinte, no caso contemplado a avaliação do bem A não oscilaria entre
4 e 3, como no caso da sua substitutibilidade. mas entre 3,5 (como unidade final)

37 Ver no texto da Teoria Positiua, v.I. p. 185 et seqs., em "Terceiro", ponto 1.


EXCURSO VII 125

_- .. ~grupo e 3 (como parcela); ou então, para sermos mais corretos na expressão, não seria
_ ~ ~. uma a aualiação que oscilaria, senão que. de acordo com a oscilação ou a alteração da
~: ' :~.25 bens situação, a avaliação seria ou de 3,5 ou de 3, mas em qualquer caso sempre de
[" ': , .. Dosição modo claro e definido.
- é ~:: 5Jposi­ Finalmente, se para a possível substituição não entrasse em questão somente
C:-:::C:'::D mais uma única unidade AI, mas centenas ou milhares de exemplares iguais, seria ex­
__ - ~~-=e dali tremamente provável - exatamente como expus em meu texto sobre o caso "ter­
:': :~'::':ca de ceiro", ponto 2, e não preciso repetir aqui - que também as cifras indicadoras da
':- ': .:;: ::nomi­ 'ltilidade dos numerosos empregos em aberto para esses muitos exemplares de bens
: .. .: ~rigada não estariam separadas entre si por distâncias grandes e abruptas, mas apresenta­
'" é :::Jr que, riam uma seqüência gradual quase contínua e isso teria como conseqüência ­
:é ' : . 2m de­ também aqui. pelo motivo exatamente indicado no texto - que a margem, sem­
:=-.:: ... 3 satis­ pre existente, em princípio, entre a avaliação como unidade final e a avaliação co­
mo parcela, se reduziria a uma grandeza "totalmente insignificante" e que, portanto,
: ": .', 2r-se o não entraria mais em questão. na prática, Aqui temos um ponto em que - repetin­
-:.::. "':laisra­ do um termo utilizado por Wieser em sentido menos adequado - a prática na rea­
-'é':: .. 'r desse lidade é capaz de "resolver mais facilmente" o probema do que a teoria, Na teoria
'::é:-~ D e E, pura e matematicamente exata, também em relação aos bens substituíveis sempre
.,: -.::.:; :lão sir­ haverá ainda uma diferença de avaliação. conforme esses bens tiveram de ser ava­
. '::ltos só liados como unidade final ou como parcelas. Com efeito, ao nível da teoria sempre
: ..:.:ante­ é decisivo saber se é possibilitado ou baldado aquele emprego complementar espe­
: '::é .::"ês ele­ cial que estava primariamente destinado para a unidade a ser avaliada; isso sempre
-.. ::':: ~ de três aumenta ou diminui de um número as ocasiões de necessidade que se contrapõem
'::é :::. grupo ao número disponível de unidades dos bens e por isso sempre desloca também de
um número. para cima ou para baixo, o "último emprego" que entra em questão
:'.c: .::: :ô.:mente para a utilidade marginal. Se, porém, os dois empregos que entram alternativamen­
'::é .. :-:-:exem­ te em questão para a posição de "último simplesmente não se diferenciarem no
,'é- xasião tocante à sua importância - o que pode muito bem ocorrer - , ou a diferença
__ "~.::oava­ entre eles for de grandeza que praticamente não entra em questão - o que acon­
-':;'-:0. mas tece com muita freqüência - , nesse caso também as avaliações como unidade fi­
.::.:; :::2rde-Jo, nal e como parcela coincidem na prática e os bens substituíveis que têm essa
.s-= ~=..;po, no propriedade recebem, como me expressei, um "valor e um preço fixos" e "indepen­
.::: :-.:::Jlemen­ dentes da concretização do emprego complementar individual". Não consigo ver por
: .::.:; ~::lidade que essa explicação deixaria algo sem definição ou sem solução.
r .::.:; ::Jbstitui­ Finalmente, se a mesma situação ocorrer ao mesmo tempo com vários ou mui­
,: ~: ::ldicada tos elementos substituíveis de um grupo, ela se amplia e se torna a mais complexa,
=-~--.':;:::J: nem porém a natureza do problema não se altera; nem por isso a situação terá algum
.:; .:;~?licar os elemento novo que impeça a solução teórica precisa da mesma .
"'" .::.:; .2S. Eis por que em toda a linha não posso considerar como procedente a objeção
oi: : :3::ião de de insuficiência que Wieser levantou contra minha tentativa de solução. Entendo,
:':::::Jiada, a sim, perfeitamente porque motivo Wieser, partindo de seu ponto de vista uma vez
=':: .. 20bem escolhido, tinha de chegar gradualmente a todas as suas objeções: tudo está em
: :: ::: :o:a subs­ função de um e mesmo primeiro erro. Trata-se do erro de que em meu caso "pri­
:- .:;:C. questão meiro', confluindo vários bens insubstituíveis, segundo Wieser seria impossível uma
':~::~2 maior alocação e uma avaliação definidas, de que aqui só haveria uma equação com duas
.: .. .:: ::::tuição'. incógnitas. Se realmente não houvesse possibilidade de dar uma solução definida
"-.::::'a entre ao caso "primeiro", realmente o mesmo aconteceria com o caso "segundo" e tam·
-- :::je final) bém com o "terceiro', pois os casos "segundo" e "terceiro" também encerram o pro­
blema existente no caso "primeiro", se bem que em extensão quantitativamente
menor - no caso "segundo", o problema é limitado ao excedente que a utilidade
126 TEORIA POSITIVA DO CAPITAL

complementar deixa em relação ao emprego subsidiário dos elementos do grupo,3S'


ce ','.. _
e no caso "terceiro" o problema é limitado à diferença infinitesimal -, que na práti­ se:-.:: =
ca é totalmente insignificante na maioria dos casos, mas em teoria tem de ser levada
em conta - entre a avaliação como unidade final e como parcela, O preconceito
de Wieser está em ele considerar logicamente inadmissíveis juízos de alocação que
se sobrepõem total ou parcialmente e que alocam uma mesma parcela do produto
a vários fatores como dependentes deles e que conseqüentemente levam a avalia­
ções bem determinadas; em razão disso, Wieser vai em busca de uma alocação de
outro gênero, de uma "distribuição" do valor total - obtida diretamente já na etapa
da alocação - em cotas puramente justapostas e somadas, que juntas completam
e esgotam exatamente o valor total. Ora, temos aí certamente uma quadratura do
círculo, que Wieser não conseguiu encontrar e que não havia necessidade de en­
contrar para resolver todos os problemas que nos vêm realmente dos fatos: a expli­
cação da avaliação subjetiva dos bens produtivos nos vem totalmente dos juízos de
alocação acima descritos, que conforme as circunstâncias se sobrepõem; quanto à
explicação, também ela necessária, da distribuição efetiva dos resultados da produ­
ção, que é feita por meio da formação dos preços dos bens produtivos, também
a conseguimos totalmente mediante a segunda etapa de nossa explicação de dois
estágios: ela nos manda procurar a resultante a partir das mesmas avaliações subje­
tivas dos bens produtivos que a primeira etapa de nossa explicação deduziu dos
juízos de alocação que se sobrepõem, E simplesmente não existe aqui um terceiro
problema que tenha algum interesse para nós.
Como resu ltado destas longas discussões, penso poder defender a opinião de
que as idéias e considerações que apresentei para minha teoria do valor dos bens
complementares, inspirando-me em idéias básicas de Menger, contêm todos os ele­
mentos de uma solução ao mesmo tempo adequada e completa dos problemas a
serem aqui levantados, O fato de ter-me aqui confrontado tão pormenorizadamente
com os pontos de vista divergentes de Wieser deve-se a um grande número de ra­
zões: primeiramente à importância básica, depois à notória e extrema complexidade
' •. _. ..:'1
desse assunto, até agora tão precariamente estudado, e não em último lugar ao fato
de ter de defender meu ponto de vista diante de um pesquisador do gabarito de
-:::.
;:.,-.

_ . - .
....IiI

Wieser. Tenho a impressão de que. no tocante a problemas atinentes à alocação,

só tinha o direito de exigir dos leitores que divirjam do juízo do altamente beneméri­

to autor da teoria da alocação depois de mostrar-lhes claramente e de maneira irre­

torquível essa necessidade de divergir. -~.: "


Baseando-me no que disse em relação a Wieser, posso ser tanto mais sucinto
na apresentação de certas complementações às quais me leva também à recentíssi­
ma discussão dos mesmos problemas por parte de Schumpeter. A exposição de
Schumpeter, em grande parte cheia de méritos, contém uma crítica pormenorizada
da teoria da alocação de Wieser,:19 uma crítica igualmente detalhada de minha ten­
tativa de soluçã0 40 e, finalmente. a tentativa de solução do próprio autor. 41
Considero basicamente acertada a crítica de Schumpeter à teoria da alocação
- :_ ."1::
:: :: .:"'~

- _':-~--II!

:-::-.:: - ..;]I
:..:....-: - .Jl:J
38 Em nosso 8xempio, tantas vezes utilizado, é o excedente de 1, flue sobra da utilidade complementar total 10, em rela­
ção à soma dos empregos subsidiários dos três elementos do grupo, no montante 3 para cada um e que, portanto, totalizam 9.
39 "Bemerkungen ueber das Zurechnungsproblem". In: Zeitschrift fuer Volkswirtschaft, Soziaipolitik und Verwaltung. v. 18,
--::. :~
1909, p. 79 et seqs., especialmente p. 86·112. -';:::'::s;;:".:.a:
40 Ibid, p. 112·132
4l' Wesen und Hauptinhalt der theoretischen Nationa/oekonomie. 1908, p. 243·259. Aliás. também aqui são espalhadas
várias observações críticas sobre a teoria de Wieser e a minha.
EXCURSO VII 127

~õ :0 grupo,38 ~ de Wieser; ela já antecipa uma parte importante das objeções que também eu apre­
=~2 na práti­
sento contra a concepção de Wieser nas páginas precedentes. 42
:::2 õer levada
Ao contrário, parece-me que a crítica de Schumpeter à minha própria tentativa
de solução é sensivelmente prejudicada por dois equívocos bem perturbadores dos
= -:: :-econceito quais Schumpeter é vítima e aos quais se junta ainda certo objetivo, que reforça
:2 ::.:::cção que
r=2:: :::0 produto o equívoco.
: ~.::::1 a avalia­
O primeiro equívoco está em Schumpeter me atribuir, não digo uma adesão
t-:: ,,:ocação de explícita, mas uma simpatia inegável, manifestada pelo conteúdo geral de minha
,~-:2 .'á na etapa
doutrina, pelo conceito global de Wieser sobre o valor e por seu modo de avaliar
t~ :::õ ::ompletam
o valor total de estoques, multiplicando o número dos itens do estoque pela utilida­
,ê :: ..:"iratura do
de marginal 43 Portanto, ele considera como opinião minha exatamente aquilo que
:~õi:ade de en­ na exposição precedente, dirigida contra Wieser, contesto com mais insistência e
': õ c::':::Js: a expli­ que eu havia rejeitado já muito tempo antes, não certamente em forma polêmica
~:2 ::::s juízos de
- para o que não havia motivo naquela época -, mas sem dúvida de modo basi­
~ :2-:-.: quanto à
camente não menos claro e explícito. Essa minha exposição mais antiga havia sido
por mim publicada, pela primeira vez, no ano de 1886, no estudo "Grundzuege
~: >, da pro~u­
:_=.:5. tambem
der Theorie des Wirtschaftlichen Gueterwerts",44 e agora a incorporei, sem altera­
[: _::::: ~ão de dois ções essenciais, no texto da terceira edição de minha Teoria Positiua;45 como, po­
!~. ::.~::.~ções subje­ rém, nesse meio tempo eu não havia publicado nas duas primeiras edições desta
:~::: :eduziu dos
obra - nas quais reproduzi a doutrina sobre o valor apenas em extrato brevíssimo,
!:: _. ·..:m terceiro
indispensável para a apresentação da teoria do capital -, o erro de Schumpeter
se explica pelo fato dele ter tido em mente apenas aquele extrato, tendo perdido
!-:: - ::. opinião de ge vista minha exposição mais aritiga, diametralmente contrária à interpretação dele..
, '. ::. :':- dos bens E verdade que talvez ele não devesse, mesmo com base no extrato abreviado, imputar­
~- :::::::05 os ele­ me aquela opinião, tão contrária à minha concepção. 46 Mas aqui ajudou, como ele­
mento sedutor, aquele erro objetivo ao qual me referi acima. Com efeito, é manifes­
:::: õ -:::-::Jblemas a
2 - ::: :-:zadamente
to que Schumpeter considera erroneamente os conceitos de "utilidade total" e "utilidade
, - ~ :-:ero de ra­ marginal" como dois conceitos que necessariamente se excluem, como se uma coi­
ê :::::: :-:-:plexidade
sa que é uma "utilidade marginal" não pudesse ao mesmo tempo ser uma "utilidade
-:- : : ._;ar ao fato total". Imbuído dessa opinião preconcebida, interpreta aquelas afirmações nas quais
avalio unidades maiores - por exemplo, um "saco de trigo" ou um casaco de inverno
:: :abarito de
':2: ~ alocação,
- pela "utilidade marginal", como uma prova de que não tenciono levar em conta
:~ -:2 "='eneméri­
o fato de que dentro de uma unidade maior desse gênero podem ocorrer empre­
:~ :-.::.neira irre­
gos, respectivamente satisfações de necessidades, que sobrepujam a importância do
último emprego, assegurado pela menor unidade, por exemplo pelo último quilogra­

:-:-.::':S sucinto
É- ~ :-ecentíssi­
~- 2 <:::Cisição de 42 Sobretudo a crítica ao conceito do valor total de Wieser, uma anticrític.:> à defesa da alocação com base na utilidade
=:: :--:- en orizada "dependente" total e a explicação da concepção wieseriana sobre o problema da alocação como um problema de "distribui­
ção". Aliás, o próprio Schumpeter já tem quanto a isso um precursor em Kraus (Zur Theorie des Wertes. 1901, p. 105
~- :2 :-:-::nha ten­ et seqs.), o qual elaborou alguns dos pontos assinalados até com mais precisão e mais clareza. Da mesma forma, desde
::: ::...: :or. ~j então. também ENGLAENDER. Zur Theorie des Produktivkapitalzinses. 1908. p. 107 et seqs.; e nos últimos dias BRODA.
Op. cit., passim.

:-::. :::. alocação 43 Bemerkungen, p. 123: "Ele (Bbhm~Bawerk) não afirma expressamente tal (conceito de valor total como Wieser), mas

sem dúvida escreve como se o aceitasse". (Segundo ele) muitas de minhas frases "no mínimo se aproximam da hipótese
do conceito de valor total de Wieser"; entre outras coisas, em meu exemplo do colono que possui cinco sacos de cereal,
pergunto (na suposição dele!) "sempre apenas pelo valor de um saco".

44Jahrbuecher de Conrad. Nova série, v. 13, 1886, p. 1 et seqs.: refiro-me especialmente à exposição à p. 15 et seqs.

sobre o valor de estoques maiores de bens, que em quantidade menores não têm valor e são gratuitos, e a segvir às p.
34~37, que tratam diretamente da avaliação de estoques.
'::3. 10. em rela 45 Ver Teoria Positiva, v.l, p. 157 et seqs. e p. 171 et seqs.
E- : : -2:-"" ~:J. totalizam 9
46 Entre outras coisas, porque também aquele extrato conciso, em determinada passagem, referindo-se à "avaliação de
,~ .• ::tung. v. 18,
uma quantidade de bens maior como todo único" orientava no sentido de somar a importância das diversas e numerosas
necessidades concretas, que dependem do dispor de tal objeto, na avaliação deste último e porque, nessa ocasião, o extrato
até citava explicitamente as exposições mais pormenorizadas existentes nos Grundzuege à p. 34 et seqs.: ver à p. 164 da
. : ~ ,": espalhadas 1~ e p. 164 et seqs. da 2~ ed. [alemã].
128 TEORIA POSITNA DO CAPITAL

ma de trigo. Sem dúvida, Schumpeter nãer teria podido cair neste outro equívoco mini':=.
se já tivesse conseguido clareza sobre um fato que eu desde então tivera igualmente cipa: ,
ocasião de fazer objeto de exposição explícita em relação a tais equívocos, a saber, nos ~;
o fato de que também uma "utilidade total" pode ser uma utilidade marginal no sig­ mer.::
nificado mais autêntico e mais literal da palavra. A utilidade pela qual se avaliam ele. C:
"três sacos de trigo" de um estoque de cinco sacos é, indubitavelmente, uma utilidade mer.:'"
total - como demonstro expressamente acima (p. 138 et seqs.) -, a qual engloba elim::-.'::
empregos de importância desigual e crescente; mas também não há dúvida de que jeti\:c:-:­
é ao mesmo tempo uma verdadeira utilidade marginal, pois ela não é a utilidade mine.:'
marginal de três sacos quaisquer, mas a utilidade total dos "últimos três sacos", que
engloba os grupos de necessidades menos importantes, com os números indicado­
res de menor importância 1, 2 e 3. Analogamente - para tirarmos um exemplo
também do tema dos bens complementares -, toda utilidade de um grupo com­
plementar é seguramente uma "utilidade total" num sentido legítimo dessa palavra.
No caso de se possuir, por exemplo, 100 grupos A, B, C, certamente·um desses
grupos é avaliado pela utilidade total do último grupo, por ser esta sua utilidade mar­
ginal; e no caso de se submeter à avaliação dez desses grupos como unidade fecha­
da, para essa avaliação é decisiva uma utilidade total, que merece essa denominação
em duplo sentido e que ao mesmo tempo é com certeza uma verdadeira utilidade
marginal, a saber, a utilidade dos últimos 10 grupos dos 100 disponíveis!
O segundo equívoco perturbador está em Schumpeter imputar-me que, na ex­
plicação do valor dos bens produtivos, não levo em conta todos os empregos pro­
dutivos nos quais eles colaboram, senão que excluo "um ou alguns deles" como
destituídos de influência. E sumamente provável que ele aluda aqui àquelas afirma­
ções em que eu havia dito que bens de produção ou bens-custos substituíveis e dis­
poníveis em exemplares numerosos encerram um "preço e um valor fixos",
independentes da concretização ou não do emprego complementar individualY
Na verdade, porém, conforme acabo de comentar bem explicitamente, e con­
forme já antes se podia depreender do contexto, com clareza suficiente,48 em prin­
cípio não excluo nem um único dos empregos produtivos em aberto de tal influência
sobre a formação do valor. Minha afirmação, mal interpretada por Schumpeter, não
queria propriamente dizer outra coisa senão isto: a influência - que em princípio
existe - de um emprego complementar individual, sob certas condições casuísti­
cas, pode na prática tornar-se insensível e irrelevante - fato este confirmado indu­
bitavelmente pela experiência real, fato que o próprio Schumpeter não se nega a
reconhecer. 49
Ora, esses equívocos formam uma trama tão indecifrável na crítica de Schum­
peter à minha tentativa de solução que dificilmente é possível constatar com clareza
se ainda restaria algo - e o quê - das objeções críticas se delas fossem eliminados
todos os pressupostos equívocos juntamente com todas as conseqüências deles de­
correntes. Por isso, creio poder dispensar a mim e meus leitores do trabalho de uma
anticrítica que desça a pormenores, tanto mais que Schumpeter, com todos os equí­
- - '"',€c:'='--I
vocos, tem consciência de estar muito próximo, do ponto de vista do conteúdo, de

47 A objeção de Schumpeter, não muito clara, tem sua formulação relativamente mais clara em Wesen und Hauptinhalt,
p. 251 e 252. comparada com a p. 253. Sobretudo a afirmação, que se encontra à p. 252, de que a concepção que ele
me atribui "ignora o aumento de valor, que é a conseqüência de uma nova possibilldade de emprego para um bem de
produção·, só pode ser entendida nessa linha. A mesma objeção, mesclada a várias argumentações deduzidas da primeira (- - ;-=.­
interpretação errônea acima citada, está materialmente contida também em Bemerkungen. p. 127-131 :'.:(T-;;: -:s
48 Ver v.l, p. 185 et seqs. (sobretudo na nota 41 da p. 186) da Teoria Positiva e p. 124 et seqs. do presente Excurso.
49 "I ...) pode, pois, acontecer que C.) o novo emprego quase não exerça nenhuma influência (.. ) Mas isso não vale de
modo geral - se bem que na prática valha quase sempre - nem vale à guisa de princípio·. (Wesen und Houp'inha/t, p. 254)
EXCURSO VII 129

:; ~::"o equívoco minha tentativa de solução, 50 e que menciona expressamente como "diferença prin­
:~. 2~a igualmente cipal" entre a solução dele e a minha, um daqueles pontos nos quais de fato só
,-:., ::os, a saber, nos separa o equívoco por parte dele. 51 Pelo mesmo motivo acredito dever, no mo­
:-:-. :::-ginal no sig­ mento, abster-me de qualquer discussão da tentativa de solução apresentada por
: 21 se avaliam ele. Com efeito, também a exposição de Schumpeter52 não é para mim suficiente·
[:~.lma utilidade mente clara para poder julgar com segurança se sua fórmula de solução, após a
- a. qual en·globa eliminação de tudo o que não passa de interpretações equívocas, ainda diverge ob­
.f:. :::::',ida de que jetivamente da minha, ou se as diferenças que sobram são meras diferenças de ter­
:~:; é a utilidade minologia. 53
; ~2S sacos", que
l:-:-.2~as indicado­
::'0 :..:m exemplo
_:-:-. grupo com­
tC :::2ssa palavra.
:;:::-.:2·um desses
La..l::lidade mar­
e .1:-.'dade fecha­
SEi: :::enominação
ca.:::e:ra utilidade
;ç: :; :-.\·eis!
r-:-:-.e que, na ex­
P3 ;:: :-:-:preg,~s pro­
c.::-'O :1eles como
:; ~:,-,elas afirma­
L.:'S~:uíveis e dis­
L.:-:-. " alor fixos",
;:=-~ ::1dividual. 47
::a.:-:-:ente, e con­
:'<2:-~:e..;s em prin­
) :2 :al influência
3-::-. Jmpeter, não
;.12 em princípio
c. :::ões casuísti­
:c -.~~mado indu­
~ :-.~a se nega a

r"::: a. de Schum­
ta.::::- com clareza
5S-ê:-:-, eliminados
iª :-.::as deles de­
::"ê,ealho de uma 50 Bemerkungen, p. 131: "Tudo se reduz a isso: requer-se apenas uma pequena correção, uma expressão um pouco dife­
r ::;ios os equí­ rente, para colocar a coisa em ordem".
Wesen und Hauptinhalt, p. 253, nota L

c:; :anteúdo, de 51
52 Sobretudo nas p. 256~258 de Wesen und Hauptinha/t.

53 Para a eventualidade de outros entrarem também na discussão de detalhes, anoto sucintamente - a fim de prevenir
ulteriores equívocos acerca de alguns pontos salientes - qual a minha opinião, sem fundamentá-Ia. Entre outras coisas,
considero acertada a afirmação de Schumpeter de que as "funções do valor" dos bens de produção ~estão plenamente
..""'" - "cd Hauptinha/t, definidas" (Wesen, p. 251), mesmo fora do caso de concorrência livre e plenamente atuante, e também a afirmação de
_~ =:: ccepção que ele que a diferença entre bens substituíveis e não-substituíveis não é "fundamental"' (Bomerkunsen. p. 130). Par~ce-me dever­
~-::.:: -;ara um bem de se contestar incondicionalmente alguns dos comentários dele sobre o motivo de não se levar em conta bens-livres (Bemer­
~,_:~~ ~ ~~das da primeira kungen, p. 99) e sobre a negação da utilidade dos mesmos (ibid. p. 108): vale o mesmo acerca de toda a sua exposição
sobre "pseudo~utilidade marginal" (ibid. p. 127~130), sobre a construção de um casO no qual o administrador prático teria
:: ::-25ente Excurso. "obrigatoriamente" de agir de maneira pouco econômica (p. 128) e sobre a opinião de que diferenças de qualidade suprem
~.~.:.~ :550 não vale de totalmente a divisibilidade física nas questões aqui em discussão (p. 129). Quanto a este último ponto. consulte· se também
r o '-=:_p;inhalt, p. 254.) o Excurso VIlI que segue, sobretudo à p.. 133 et seqs.
EXCURSO VIII

o Valor de Bens Produtivos e a Relação Entre o Valor e os Custos

(Para a Seção I, Subseção VII do Livro Terceiro, p. 189 et seqs.


da Teoria Positiva)

A relação entre o valor e os custos sempre tem oferecido matéria inesgotável


para controvérsias científicas. Também eu já tive ocasião, repetidas vezes, de partici­
par delas, sendo que na maioria dos casos isso aconteceu fora do âmbito desta obra,
em vários escritos especialmente destinados ao esclarecimento de problemas con­
troversos. 1 Não tenciono aqui voltar novamente aos pontos já discutidos nesses es­
critos. Todavia, em relação à exposição dogmática do assunto que incorporei no
texto de minha Teoria Positiva ventilaram-se desde então questões que em parte
são novas e em parte foram apresentadas de uma forma e em uma direção tão no­
vas, em relação a de antes, que também elas podem ser consideradas novas. Duas
delas, que me parecem apresentar interesse maior para a teoria, serão discutidas
a seguir. A primeira diz respeito à suposição, inserida em minha exposição, de que
os mesmos bens de produção podem servir para gerar produtos de utilidade margi­
nal e valor diferentes e, a segunda, se refere ao nexo causal que se supõe haver
entre o valor dos produtos e o valor dos bens de produção.
Ao expor como se determina o valor dos bens de produção que admitem em­
pregos diferentes, eu havia pressuposto como possível e até como típica a situação
em que produtos de espécie diferente, que podem ser fabricados com a mesma es­
pécie e quantidade de bens de produção, podem, nos diversos setores de necessi­
dades para as quais servem, apresentar utilidade marginal e valor desiguais; para
essa situação elaborei a fórmula de que o valor da unidade de meios de produção
é regido pela utilidade marginal e o valor de seu produto de menor valor. 2 Ora,
contra essa colocação se objetou que, se a economia for conduzida de forma racio­
nal, essa situação pressuposta simplesmente não pode ocorrer. Pois se, de acordo
com o princípio da economicidade, se dispuser da posse dos bens de tal modo que

1 Ver em particular meus estudos "Zwischenworl zur Wertlheorie" e "Werl, Kosten und Grenznulzen". In: Jahrbuecher fuer

National Oekonomie de Conrad. Nova série, v. 21 e Série 3, v. 3, bem como "Der !etzte Masstab des Gueterwerles". In:

Zeilschrijt fuer Volksw., Sozialpolitik und Verwa/tung. v. 3 (1894).

2 Ver no v.l o texto de minha Teoria Positiva. p. 193 et seqs.

131
132 TEORIA POSITIVA DO CAPITAL

ela assegura um máximo de utilidade, se deverá - assim se objetou - distribuir


esta utilidade pelos diversos empregos em quantidades tais que a unidade de bens
em toda parte .tenha a mesma utilidade marginal. 3 Contra a observação - inseri­
da para justificar minha suposição efetiva e ilustrada com o exemplo da estufa do se:-.2 ~ ;
quarto - de que em diversos setores de necessidades a escala da utilidade que ;:Jc~:: :: ~~
se pode conseguir com outros exemplares de bens não decresce de forma contínua,
mas abrupta,4 objetou -se que a ocorrência de diferenças de qualidade: analoga­ :-:-'.2. :::~

mente ao que acontece com qualquer divisibilidade dos bens, deve conduzir, tam­
bém aqui, a uma seqüência gradual absolutamente contínua das necessidades
dependentes e conseqüentemente a um nivelamento total das utilidades marginais
dependentes:
"Ninguém escolhe entre as possibilidades de ter uma ou duas estufas em seu quarto.
Acontece que entre a pequena estufa de ferro, na qual podemos aquecer também nos­
sa refeição, e o aquecimento central com chaminés de efeito decorativo, há uma série
infinita de maneiras possíveis de satisfazer a necessidade de aquecimento, uma série que
podemos tranqüilamente entender como contínua. (... ) Nesse caso, porém, a referida
lei tem validade geral e todas as utilidades marginais de todos os tipos de emprego dos
bens têm de ser iguais - todos os valores de quantidades bem pequenas de bens de­
vem ser iguais entre Si".5

Antes mesmo de verificar se essa objeção é realmente correta, gostaria de constatar


de antemão uma coisa: ainda que a objeção fosse plenamente fundada em tudo
o que é real, ela não afetaria nenhuma idéia essencial de minha teoria, mas no má­
ximo a forma externa em que é apresentada. Pelo contrário, as idéias essenciais de .-.--._-
... ..::. _:- -.
-,
minha teoria apenas receberiam uma expressão ainda mais precisa e mais rigorosa.
Com efeito, o caso dos bens de produção que admitem empregos variados se resol­ - _.
--:;. ­
veria então exatamente pela simplicíssima fórm ula segundo a qual eu já antes havia
desenvolvido o valor dos bens de produção suscetíveis de uma única maneira de
uso; da situação e da exposição desapareceria tudo o que pudesse despertar se­ .- ===--::
quer a aparência de que, na relação dos bens de produção com seus produtos, o
valor dos bens de produção poderia ser o elemento determinante e o valor dos pro­
dutos o elemento determinado.
Isso aconteceria da maneira seguinte. Suponhamos, por um momento, que tu­
do o que é real se comporte de fato exatamente da forma como Schumpeter deseja
supor: que exista no tocante a todas as espécies de bens uma divisibilidade perfeita
e infinita e que a importância dos movimentos concretos de necessidade, a serem
satisfeitos cada vez com uma partícula mínima dos bens, decresça em todos os seto­ ---_._--­
- - - - -.­
res de necessidades na forma de uma linha ou curva totalmente contínua. Na hipó­
tese de a situação ser esta, eu teria de adaptar a apresentação de minha doutrina
da maneira que segue:
Se quiser agir racionalmente, um indivíduo que administra terá d.e dispor de

3 SCHUMPETER. "Bemerkungen ueber das Zurechnungsproblem". In: Zeitschrift fuer Volkswirtschaft. v. 18, p. 128: "Se

eu der a um bem, vários empregos, por acaso as utilidades marginais não devem ser iguais em todos eles? E por acaso

suas unidades nao devem produzir em todos eles a mesma utilidade marginaL se é que meu patrimônio tem de proporcionar~
----
- - - - ..
~--

me o máximo de utilidade? Sem dúvida. pois se assim não fosse eu estaria satisfazendo mais algumas necessidades do
_:: - ---- -< ~
que outras, estaria deixando de satisfazer certos desejos, que são exatamente tão intensos quanto outros, e portanto estaria

::-~
obtendo uma utilidade menor do que aquela que tenho possibilidade de conseguir" É verdade que Schumpeter me faz

essa objeção em um contexto diferente, ainda mais específico, isto é, ao fazer uma crítica de minha doutrina sobre o valor
~~. ==~~
dos bens complementares: entretanto, a objeção deve em teoria valer plenamente também - e até elT! primeiríssima linha

- contra minhas exposições sobre o valor de bens de produção suscetíveis de empregos múltiplos.

4 Também aqui. ver Teoria Positiva do Capital v. I, p 193.

5 SCHUMPETER. "Bemerkungen". Op. cito p. 129.

EXCURSO Vlll 133

::s::-:buir seu estoque total de meios de produção de serventia múltipla de tal modo que an­
! :'2 bens tes de tudo fabrique tantos exemplares - respectivamente garanta a fabricação dos
- ::-"seri­ mesmos - ou quantidades parciais daquelas espécies de bens de consumo que
es:.;:a do servem para os tipos de necessidades mais importantes, quantos forem necessários
:'=:2 que para a satisfação dos desejos mais importantes dentro desses tipos de necessidades
c:: :-,.::nua, - portanto, utilizando nosso esquema apresentado à página 165 do texto do volu­
~-:3]oga­ me I, por exemplo, para satisfazer às necessidades concretas que apresentam o nú­
L..::.:. tam­ mero de importância 10. Se com a fabricação dos exemplares (quantidade.s parciais)
E:~~:iades de bens de consumo necessários para isso ainda não se esgotar o estoque de uni­
r:-.~:ginais dades de meios de produção, assegurar-se-á a satisfação das necessidades que têm
a importância 9, o que acontecerá da maneira seguinte: daquelas espécies de bens
e_ :~arto.
dos quais já foram fabricados "primeiros exemplares" para satisfazer necessidades
r.:-2~ nos­ concretas do grau de utilidade 10, fabricar-se-ão ainda "segundos exemplares" para
_-:-:~série satisfazer as necessidades concretas mais importantes depois das primeiras e daque­
3 3-2:-.2 que las espécies de bens cujo círculo de necessidades simplesmente não apresenta ne­
=. ~éerida nhuma necessidade mais importante que a do grau de importância 9, fabricar-se-á
C~2:jO dos cada vez um "primeiro exemplar" para a satisfação justamente dessas necessidades.
Ê :-e~~5 de- Se o estoque de meios de produção ainda então não se esgotar, assegurar-se-ão
paritariamente "terceiros exemplares" da primeira espécie de bens "segundos exem­
plares" da segunda e "primeiros exemplares" daquelas espécies de bens cujo círculo
::::-'iStatar
! de necessidades apresentar como necessidade concreta mais importante uma do
tudo
2:-:-: grau de importância 8, e assim por diante. Pois bem, em algum nível de importân­

I
~ :-',0 má- cia das necessidades a prover terminará e deverá terminar finalmente o estoque de
~~::ais de meios de produção. Suponhamos que isso aconteça no grau de importância 4, de
, orosa. sorte que cada vez o último exemplar fabricado em cada espécie de bens atenda
s s.2 :-esol- a uma necessidade da importância 4 e não disponha mais de meios de produção

~
r_:-2.S._ havia
':':""'.2:,a de
suficientes para produzir ainda outros exemplares de bens, com os quais se poderia
descer até a satisfação de necessidades do grau de importância 3: nesse caso uma
~",:-:ar se­ unidade de meios de produção será avaliada em 4, com base na utilidade marginal
c·=:_ :os, o (paritária) e no valor que tem a "última" unidade de bens fabricável com ela. Pois
,~ :::5 pro- da perda de uma unidade de meios de produção dependeria a posse a menos de
um bem de consumo de utilidade marginal 4, e dessa dependeria a perda da satis­
c ::Je tu­ fação de uma necessidade de importância 4.
~.;;;:- ":eseJa Com tal apresentação de minha doutrina eu certamente não teria abandonado
i", "J2rfeita absolutamente nada dos princípios da mesma. Sem dúvida teria desaparecido da
~ ::: serem exposição a referência ao valor de um "produto do menor valor" - já que, nas su­
~ ::5 seto- posições reais feitas, todos os produtos provenientes do mesmo bem de produção
\a hipó­ teriam de ter exatamente o mesmo valor -, mas teria permanecido a referência
I ::: ::Jtrina a um "emprego do menor valor" ou a uma "satisfação de neceSSidade", os quais eram
o elemento propriamente impulsor e atuante também na fórmula do "produto do
:: s:cor de menor valor". Ter-se-ia, digamos assim, apenas saltado uma etapa intermediária, su­
pérflua na situação concreta, e em compensação os elos atuantes da argumentação
estariam mais diretamente ligados entre si. De qualquer forma, também nessa hipó­
:28: "Se tese estaria expressa com clareza igual a idéia básica de minha tese, dé que o valor
-=- :::::- aCljSO
:---:: ::-cionar­ dos bens de produção é formado com base na lei da utilidade marginal e deriva
':~'; :e:es do da utilidade marginal proporcionada por seus produtos.
':-.::::-~: estaria
:- ="=Ô-';- '""!le faz
Entretanto, tinha e tenho muitos motivos para não amarrar minha exposição
=-: :~,:; '.J vdlur à hipótese de uma situação tão idealizada e que pressupõe a existência de um equ;­
";',-,:: - 3 linha líbrio total e eterno.
Primeiramente, já porque, mesmo dentro de uma organização plenamente ra­
cional, em muitas espécies de bens ocorrem constante e inevitavelmente, por [!,oti­
134 TEORIA POSITIVA DO CAPITAL

vos técnicos. distâncias na escala da utilidade que se pode obter com outros exemplares
de bens. As diferenças de qualidade às quais alude Schumpeter em relação a meu
exemplo das estufas de quarto não são capazes de impedir isso. A influência dessas
diferenças permite, sim, reduzir alguma coisa a uma seqüência gradual contínua e
que decresce de maneira b,em paulatina, mas não tudo e particularmente não aqui­
lo que aqui está em jogo. E sim, uma observação e uma idéia correta, que lá onde :i
entram em jogo. de alguma forma. diferenças de qualidade na escolha daquele tipo
de qualidade no qual se deseja adquirir um bem de consumo procurado, se pode
e se deve. agindo racionalmente. dispor de tal modo dos meios de aquisição (di­
nheiro ou forças produtivas) disponíveis para isso. que a última unidade de meios
de aquisição gera o mesmo acréscimo de utilidade em todos os tipos de emprego.
Se, por exemplo, existirem estufas de quarto de 80 graus diferentes de qualidade.
cujo preço de aquisição, entre 20 e 100 florins. varia de cadà vez de um florim,
certamente se pode e se deve. agindo racionalmente, adotar aquela escolha na qual
o último florim acrescentado ao preço de aquisição, por exemplo o 71?, em virtu­
de da melhoria de qualidade em relação ao tipo que se pode conseguir com 70
florins, proporcione exatamente tanto aumento de vantagem ou comodidade quan­
to é o aumento de utilidade ou a utilidade marginal que a respectiva pessoa. de 1
acordo com suas condições patrimoniais e de renda, pode conseguir. com um flo­
rim, em todos os demais setores de necessidades. Entretanto. isso de modo algum
impede que a unidade fechada do bem."estufa" - na qual têm de juntar-se 71 de
tais unidades de dinheiro ou de bens de produção - como unidade fechada do
bem represente, nesse caso, uma utilidade marginal que ultrapassa de muito e abrup­
tamente a utilidade da última melhoria de qualidade, respectivamente o correspon­
dente múltiplo dessa utilidade. Com efeito, da unidade fechada do bem "estufa"
depende, em cumulação inseparável. caso se possua apenas uma única dessas uni­
dades, não somente a comodidade da última melhoria de qualidade, devida ao dis­
pêndio do 71 0 florim, mas dela dependem, além dessa comodidade, todos os serviços
de utilidade mais importantes que a estufa como um todo presta, serviços estes que
vão gradualmente até a conservação da saúde e talvez até da vida. Por isso - co­
mo sabe muito bem justamente Schumpeter - a utilidade total que depende do
dispor da unidade de bem "estufa" é muito mais do que o correspondente a 71 ve­
zes o acréscimo de utilidade da última melhoria de qualidade, e portanto também
pode ser muito mais do que a utilidade marginal que geram 71 florins - em con­
junto ou separados - em olltros setores de emprego nos quais as condições técni­
cas não exigem uma confluência de unidades do bem de tão vasta gama de serviços.
Em outras palavras, a utilidade total que depende da única estufa - que, no caso
de exemplares únicos, coincide com a "utilidade marginal" dos mesmos (ver no v.l,
texto da Teoria Positiva, p.169 e 173) - acusará distâncias abruptas em relação à
utilidade marginal assegurada em outros setores de emprego pelo último produto,
conseguido com o mesmo dispêndio de 71 florins: a estufa representará um produ­
to "de maior valor", em relação ao qual de modo algum é supérflua ou até inade­
quada a relação a um produto de valor menor ou do menor valor, fabricável com
a mesma quantidade de meios de produção. Quem em sua economia tiver de ad­
quirir ou substituir tal estufa, disporá de seu estoque de meios de produção literal­
mente de modo tal que 71 unidades6 do mesmo sejam utilizadas para fabricar um
produto de valor maior e o resto do estoque seja ao mesmo tempo utilizado em

6 Ou pelo menos 70, se em relação à 71~ unidade quisermos fazer valer a concepção de Schumpeter. de que ela só ser­
ve para conseguir a última melhoria de qualidade, a do menor valor.
EXCURSO VIII 135

~:'" :-:'plares outros setores de emprego para fabricar outros produtos, de valor menor, os quais
c-=:"meu :1a realidade proporcionam a menor utilidade marginal; e em tal situação, aquele
: : ê: jessas que organiza o valor dos bens de produção basicamente pelo valor de seus produ­
c:-:~nua é lOS tem não somente o direito, mas também o dever de exprimir a necessária deter­
! - ~J aqui­ minação adicional de que a organização ocorra com base no valor do "menor valor"
._~ .~ onde dos produtos para cuja fabricação ainda é suficiente o estoque de bens de produção.
:::: _>?]e tipo Além disso, no caso de muitas espécies de bens, as diferenças de qualidade
.: ~e pode aduzidas por Schumpeter não exercem absolutamente nenhum papel, ou pelo me­
~õ~30 (di­ nos nenhum papel que tenha alguma relevância. Por exemplo, campainhas de por­
: =~ meios ta de entrada, pára-raios, livros de conteúdo científico e similares costumam ser
~ "":".prego. produzidos em certa qualidade única que garanta sua função, sendo, porém, então
=_:::;dade, utilizados indistintamente, na mesma qualidade, por pessoas que estão em condi- .
_-:-- ~lorim, ções patrimoniais bem desiguais, n~s quais a utilidade marginal da unidade de di­
L:-:: :--a qual nheiro é de resto muito diferente. E natural que nesse caso não possa ocorrer a
i ,,"';1 virtu­ coincidência, pressuposta por Schumpeter, de uma "última melhoria da qualidade"
: . : ::Jm 70 com a utilidade marginal da unidade de meios de aquisição.
:ê: =2 quan­ Um segundo motivo básico que tive para não basear min ha exposição na hipó­
;:2 õ:30a. de tese do nivelamento permanente e completo de todas as utilidades marginais e do
:: - ~m fio­ valor de todos os produtos reside no fato seguinte: há também outros motivos. dife­
: =: algum rentes da causa de natureza técnica que acabamos de expor, em virtude dos quais
a,:-,,2 71 de constantemente ocorrem numerosas perturbações do referido nivelamento total e con­
r.;:::-.ada do seqüentemente introduzem a ocasião e a necessidade de empregar uma parte dos
=: -2 abrup­ meios de produção disponíveis primeiro para a fabricação de produtos de valor maior.
:: :cespon­ Não quero de modo algum dizer que tais situações podem ter surgido em razão
€~ -estufa" de medidas falhas e antieconômicas adotadas no passado. Quero abstrair disso, porque
:"õ5as uni­ minha própria dedução da lei dos custos, como também de toda a lei da utilidade
'.: == ao dis­ marginal, parte do pressuposto de uma administração econômica dos estoques de
; : 5 5erviços bens disponíveis: aliás, a rigor esse pressuposto só obrigaria a supor um comporta­
~5 ~ ,,:es que mento econômico do administrador agora, na situação dada e com o efeito para
~~: - co­ o futuro, e não também a excluir como hipótese todo erro num passado anterior.
''''=~:lde do Todavia. mesmo que a administração seja constantemente econômica e correta, o
-:~ ': 71 ve­ equílibrio no suprimento é constantemente perturbado: em parte porque, mesmo
'.:: :jmbém com uma administração correta das forças produtivas, a abundância do produto pode
- ~:;) con­ ser desarmônica em diversos setores da produção, devido a influências externas in­
l:.~ :25 técni­ controláveis - como, por exemplo, em razão do resultado desigual da colheita no
:: '" "",rviços. caso de diversas espécies de frutas; em parte porque toda alteração no estado das
_i :-,0 caso necessidades - por exemplo, toda ocorrência de uma doença - perturba a har­
.2!' no v.l, monia ada'ptada ao estado antigo das necessidades; e findmente, e de maneira bem
~ !'2:ação à generalizada, porque mesmo na economia mais constante, o suprimento de bens
:.:: =roduto. está em uma movimentação contínua. pois o consumo e o desgaste sempre abrem
_~. produ­ lacunas nos estoques de bens organizados; estas sem dúvida são sempre de novo
':::2 inade­ preenchidas pela produção ou por novas compras de reposição, mas no caso é tec­
~'::~·.el com nicamente impossível uma coincidência quantitativa e temporal plenamente exata
:. i:r de ad­ entre a falta e a reposição. A deterioração e o consumo nunca avançam tão paulati­
_: ~c literal­ na e paritariamente em todos os setores de bens, que sempre corroam exatamente
:=:':-:car um só o último resto dos estoques de bens e em toda parte abram apenas as lacunas
=:'.Ll.do em menos profundas da mesma utilidade marginal no estoque de bens; pelo contrário,
as lacunas abertas são ora superficiais ora profundas. conforme dispuser o acaso
ou a Natureza. Não há dúvida de que nesses casos nos apressamos de imediato
:: _-:<: ~.a. só ser- em preencher novamente as lacunas abertas mediante nossas medidas econômi­
cas. Aliás, primeiro atacamos as mais profundas, que penetram em regiões de maior
136 TEORIA POSITIVA DO CAPITAL

valor do estoque de bens. Todavia, o que conseguimos com nosso esforço não é ri0 9 Te:-..".:
impedir uma perturbação da harmonia obtida, mas restabelecer novamente a har­ lido, Pê:::' "~
monia perdida. O equilíbrio de uma economia viva não deve ser colocado em pa­ a título :~ .­
ralelo com o equilíbrio de uma pessoa que está tranqüilamente parada, mas deve que ui:"::.:::.'
ser comparado ao equilíbrio de uma pessoa andando, que a cada passo abandona - ou p2 : :
e perde o que até agora era uma situação de equilíbrio para readquiri-la e perdê-la ta, e pc:
, ­
novamente com o próximo passo. encaaeC'::- ~
Sendo essa a situação, seria até um erro metodológico, uma espécie de hyste· ção é ,C': :_
ron próteron,7 eu adotar como ponto de partida preestabelecido para a teoria uma com bC':o" -.
situação que só vem a ocorrer como resultado dos atos econômicos a serem expli­ ção a e."O I
cados por essa mesma teoria. A maioria de nossos atos econômicos e sobretudo ua, quC'::-::
aqueles que envolvem uma disposição sobre nossos meios de aquisição ou os nos­ direta ~'::' :;
sos meios de produção é provocada por uma prévia ou até prevista perturbação com ao : ,,"
do suprimento harmônico de bens e é orientada por juízos de valor que pressu­ os me o=-:· : ~
põem a existência dessas perturbações, a existência da falta de bens provocada pelo fone PC'::::' _
consumo e fatores similares. Se meu casaco de inverno estiver gasto ou mo tiverem "rege" C, ::. 'ê
roubado, o motivo que me levará a utilizar meus recursos, sobretudo e antes de acres­ de mi-:.::. c.
centar algo à cobertura de bens em outros setores de necessidades, para repor meu ela: pa:::. ~s
indispensável casaco de inverno, não será certamente um juízo de valor que deter­ e a seç_.: :
mine o equilíbrio da cobertura de bens em todos os setores de necessidade em vista enqua;:::::. ­
do resultado, a ser obtido antes com a compra do casaco de inverno, de que minha hipote:::::. ;-:-J
necessidade de vestir seja então satisfeita até o mesmo nível das demais espécies zão, aC2.:":''':J
de necessidades mediante um casaco de inverno de qualidade correspondente; se­ existen:eo -.i
ria impossível que tal juízo de valor visando ao equilíbrio da satisfação e da utilidade Cc:: .. :
marginal pudesse constituir um fundamento para a aquisição do casaco de inverno, prope:o: ::
que tem caráter preferencial; na verdade, o que me estimula e leva a essa aquisição mesmc :_"
preferencial do casaco é obviamente a ponderação oposta de que, no tocante à es­ eu meo;-:-:
pécie de bens "casaco de inverno", estou menos bem suprido do que no tocante e indire:::. --:.'
às outras espécies, de que meus meios de aquisição, aplicados para esse fim, me nor \/c..C:·
proporcionam um acréscimo maior de utilidade do que se fossem utilizados para utilidacé -.
aumentar os estoques de outras espécies de bens, em suma, de que a utilidade mar­ mesmc :,,:-:
ginal e o valor do casaco de inverno que me falta são maiores do que a utilidade A B e :_ :
marginal e o valor de outros bens, que poderia adquirir com o mesmo gasto e acres­ um \:c..C: :J
centar a meu estoque de bens. Da mesma forma, o faminto certamente não com­ substit:..:: ~ Ci
prará os víveres necessários baseado na ponderação de que já não precisará deles pna U" .. :::':
quando tiver saciado sua fome, mas com base na consideração oposta, fundada prod~:c ::.:'-]
na situação atual de que necessita deles para poder saciar a fome. Portanto, o nive­ :\ ê :,,::.,
lamento completo de todas as utilidades marginais é certamente a meta, mas não mo n~c 2'':':
o ponto de partida para aqueles atos econômicos que visam a restabelecer nova­ à águê :~ s
mente o equilíbrio perdido do suprimento e também não é o ponto de partida real afirmê ::_"
para aquelas avaliações dos bens que orientam esses atos a serem executados antes 8
Na realidade, tais irregularidades na graduação das utilidades marginais ocor­
rem na vida econômica real com freqüência extraordinariamente grande, por esta
ou aquela das razões apresentadas, que atuam em caráter constante ou temporá­ Ei"S -'c "-,
nos cc. ::-:-::::- ~:

em:-E_=~~: ::::
ao \.G.::~ :-:: -: -:~
purar:-:.::::-:.-: - -~­
~a.·: ~_.,: ::._~­
7 Colocação do último corno primeiro. (N. do T)
Er.1 e:-: -: - :':..: -=
8 Aliás, possivelmente para uma outra série de avaliações, destinadas a orientar uma série posterior de atos econômicos,
de S:~ __ - -:-::-.:-­
destinados à execução da primeira série, já pressuposta por eles. Disso ainda falaremos majs adiante.

EXCURSO VIll 137


c não é
~:':Jrço ri0 9 Tenho, porém, ao mesmo tempo ainda um terceiro motivo, particularmente vá­
F. :: :-.'?:lte
a har­ lido, para não prescindir dessas discrepâncias ocorrentes na realidade, nem mesmo
: : :=':::0 em pa­ a título de mera hipótese. Pois os casos de existência de produtos de valor maior,
é=. ::: =. mas deve que ultrapassam o montante de seus custos. são justamente aqueles que oferecem
t.:::':': abandona - ou pelo menos parecem oferecer - o fundamento mais forte à concepção opos­
c:- -=. e perdê-la ta, e por mim contestada, da lei dos custos. Pois são casos inegáveis nos quais o
encadeamento causal entre o valor dos produtos e o valor de seus bens de produ­
::~:e de hyste­ ção é tal que o valor dos produtos, inicialmente de valor maior, tem que ajustar-se
;:: =. :'?oria uma com base no valor de seus bens de produção, o qual é relativamente fixo em rela­
:: :'erem expli­ ção a eles. Conforme tive ocasião de expor na página 195 et seq. da Teoria Positi­
::' 2 :,obretudo va, quando refletimos sobre quanto vale para nós um produto de utilidade marginal
c ~: :::.'J os nos­ direta maior, temos de dizer: vale exatamente tanto quanto os meios de produção
i::: :::e:l:urbação com os quais poderíamos fabricar novamente o produto em cada momento. São
:::: :::..:e pressu­ os mesmos casos que despertam uma impressão tão forte, quase irresistivelmente
ir :::.::: :ada pejo forte para uma observação superficial, de que "em definitivo" não é a utilidade que
[ - ::-::J tiverem "rege" o valor dos produtos, mas os custos. Ora, se eu queria convencer do acerto
c_- :~:' de acres­ de minha tese tinha de esclarecer esses casos que aparentemente conflitam com
ê-=' ,e:::lor meu ela; para esse fim, naturalmente tinha de reconhecer e mostrar a existência deles
L: r :~e deter­ e a seguir procurar mostrar que e como, apesar da aparência em contrário, eles se
,: =.::e em vista enquadram em minha maneira de explicar; todavia, de modo algum podia abstrair
C2 :..ie minha hipoteticamente deles. Tal procedimento me teria infalivelmente, e com toda a ra­
:-:- ::.:' espécies zão, acarretado a censura de suprimir, com suposições hipotéticas, fatos sem dúvida
c: : : - :ente; se­ existentes na realidade, quando estes ameaçam tomar-se incômodos para minha tese.
'2 :: =. :Jtilidade
Contudo, quem quiser refletir sobre o problema até o fim provavelmente estará
:::: :e :nvemo, propenso a opor-me ainda outra pergunta cética: será que não contradigo a mim
~:':' =. =. q uisição
mesmo quando em casos desse gênero falo de produtos de "valor maior" e a seguir
c: ::::::'.te à es­ eu mesmo afirmo que eles são avaliados apenas com o montante de seus custos
t :.::: TOcante
e indiretamente com base na utilidade marginal do bem de produção afim do me­
",:':'2 -:m, me
nor valor? Posso porventura continuar a falar da estufa de meu exemplo, com a
~--=::: os para utilidade marginal direta de 200. como sendo um produto "de valor maior", se ao
C.::::::e mar­ mesmo tempo demonstro, no v.I, à página 194 et seq. que os diversos produtos
e =''':Iilidade A, B e C, fabr1cáveis com a mesma quantidade de meios de produção, não têm
[:::'c::: e acres­ um valor diferente, mas que também "um exemplar C, devido à oportunidade de
ce :.~o Com- substituição proporcionada pela produção, não vale 200, de acordo com sua pró­
E::: õ:::á deles pria utilidade marginal, mas apenas 100, de acordo com a utilidade marginal do
:=.= :Jndada produto afim A, que é o do menor valor?"
:::C:::. o nive­ Na realidade também aqui não há nenhuma contradição, da mesma forma co­
:: ~âS nao mo não existe no caso do moleiro de meu texto (página 158, v.I), que, em relação
:_2 :::2: nova­ à água de seu riacho, dispõe '3.0 mesmo tempo de dois juízos de valor: um, no qual
::: ::::-::da real afirma que a água "tem valor" e outro, no qual afirma que a água "não tem valor".
.i::::::: õ antes. 8
~ :=.::' Ocor­
:e :::or esta
l. :2 :'1porá­ 9 Elas são as mais marcadas num setor que aliás ultrapassa o campo puramente interno da economia e já atinge fenôme­
nos da troca e do valor de troca. isto é, na discrepância, extremamente freqüente, do valor de troca de muitos produtos
em relaçê.o ao valor de troca de outros bens que têm com eles "'afinidade de produção" e ao mesmo tempo em relação
ao valor de troca de meus '"bens de produção" ou "custos", Todavia, os fenômenos análogos ocorreriam também no âmbito
puramente interno da economia, desde que houvesse campo para isso numa produção própria suficientemente diversifica­
da, o que aliás não é fácil acontecer no sister:na da divisão do trabalho no caso de uma economia individual, mas ocorrera
em economias coletiyas de grande porte, por exemplo naquelas organizadas em base socialista. Contra o "ponto de partida"
- ~:: ~- JmICOS,
de Schumpeter, ver agora também as colocações claras e perspicazes de MAYER, Hans. "Eine neue Grundlegung der theo­
retischen Nationalekonomie". In: Zeitschrift fuer Volkswirtschaft, Soziaipolitik und Verwaitung. v. 20 (1911), p. 189 et seqs.
138 TEORIA POSITNA DO CAPITAL

Assim como lá eram conciliáveis os juízos de valor aparentemente contraditórios,


por se referirem a uma situação diferente - isto é, a quantidades diferentes do mes­
mo bem, submetidas à avaliação como unidade -, da mesma forma também aqui
eles são entre si conciliáveis, por se referirem a pressuposições reais diferentes, nas
quais o avaliador baseia sua avaliação. A avaliação com base nos "custos" é uma
avaliação condicional, fundada no fato - como que antecipado com base numa
expectativa fundada - de que o bem a ser avaliado, que em si é de valor maior,
no caso de necessidade pode ser novamente e em tempo fabricado por um ato de
produção, ou então pode ser substituído. Mentalmente a avaliação com base nos
custos considera já efetuada a substituição, novamente satisfeita a necessidade de
valor maior e descontada a falta no processo de substituição da quantidade consu­
mida de meios de produção na nova produção; e, depois de tomadas todas essas
medidas, ela calculá onde ocorrerá em última linha a falta, chegando então à falta
do produto de outra espécie mais facilmente dispensável, que, aliás, ter-se-ia podi­ 3_~":::; ::..
do produzir com a mesma quantidade de meios de produção. ::::3:: :: j
Essa maneira de fazer uma idéia sobre o que propriamente depende, no tocan­
te a nosso bem-estar, da posse ou não-posse de um bem passível de reprodução,
é para a maioria das situações práticas e dos objetivos a maneira apropriada, razoá­
vel e portanto natural e lícita, e por isso é também utilizada na prática, justamente
nessas situações. Por exemplo, ela é a maneira absolutamente indicada ao se anali­
sar para quais fins o bem a ser avaliado pode ser utilizado e para quais não, por
estar abaixo do nível do valor, e se e a que preço ele pode ser vendido, se e com ;=-::~ :~
que prejuízo ele pode ser dado de presente, e assim por diante. Todavia, esse modo :2 -:~:.j
de calcular de forma alguma é o único lícito para todas as situações e finalidades.
Sobretudo ele não é admissível onde a substituição em tempo por meio da produ­
ção não for garantida - é por isso que vemos que em tais situações a avaliação
com base nos custos não tem aplicação na prática, perde sua validade, passando-se
então a aplicar-se a avaliação com base na utilidade marginal direta superior. A ava­
liação com base nos custos é também ilógica e inadmissível toda vez que se trata
de orientar e tomar a própria decisão sobre se um bem suscetível de reprodução
pode e deve ser reproduzido de fato, portanto ao projetarmos a ordem de nossa
produção, ao tomarmos disposições sobre nossos meios de produção ou de aquisi­ ,::;.:2 1
ção. Quando reflito se, em determinado caso, devo assegurar a substituição de um -.
bem mediante o emprego da quantidade necessária de bens de produção, certa­
mente não posso partir da suposição de que essa substituição já está garantida; e
quando, para orientar essa minha decisão, tenho de imaginar as conseqüências que
a não-substituição do respectivo bem acarretaria para meu bem-estar, certamente
não posso avaliar as conseqüências da não-substituição perguntando de que teria
de privar-me no caso de ter efetuado a substituição. Ora, é exatamente isso que
faz a avaliação com base nos custos, a qual, portanto, seria aqui totalmente ilógica,
e de fato não é empregada por ninguém nesse caso. Se o fosse, ela teria de colocar­
nos na situação do burro de Buridan. Pois se de antemão não déssemos mais valor
ao bem cuja aquisição ou reaquisição está em pauta, mas apenas lhe déssemos o
mesmo valor que aos bens que teríamos de sacrificar para adquiri-lo, faltaria aquele
mínimo de vantagem, aquele mínimo de ganho de valor que seria capaz de fazer­
nos decidir pela aquisição. Não teríamos nenhum motivo para optar pela execução
de um ato que em termos de valor nos custa tanto quanto nos rende.
Na realidade, em tal situação é perfeitamente correto conscientizar-nos de que
da aquisição do respectivo bem - por exemplo, da substituição da única estufa,
necessária no quarto, ou do único casaco de inverno em nosso guarda-roupa ­
depende mais, para nosso bem-estar, do que da aquisição do produto mais dispen­
sável, que de outra forma -ainda poderíamos adquirir com o mesmo gasto e cuja
utilidade marginal e valor determina o valor dos próprios meios de substituição. Em
EXCURSO \1::

r~? ::iitórios,
I:~:: ::io mes­
outras palavras, nessa situação, para orientar essa decisão, muito logicamente e:1"::::­
t~.c2m aqui mos o juízo acerca do "valor maior" da única estufa ou do único casaco de invernc.
2~~-.:es, nas e justamente esse valor maior dá o toque necessário para tomar a decisão.
;::::- é uma Portanto, de fato temos e fazemos dois juízos de valor diferentes sobre nossos
C?::2 numa bens sucetíveis de qualquer reprodução. Cada um desses juízos é por nós emitido
i? :~ maior, condicionalmente, e para cada um deles a condição ou pressuposição é diferente,
. -::-. ato de Avaliamos pelos custos se a substituição mediante nova produção puder ser consi­
-:-. case nos derada como garantida, e com base na utilidade marginal direta maior se não se
~5::::iade de
puder ou ainda não se puder considerar garantida essa substituição. E precisamos
<:::2 consu­
desses dois juízos de valor diferentes para nos orientarmos corretamente em cada
t: =as essas
uma das diferentes situações que podem desafiar nosso agir. Se só dispuséssemos
r. :~::: à falta de um único juízo de valor inalterável, que não fosse capaz de adaptar-se às nuan­
~-a podi­
ças da situação, teríamos necessariamente de proceder erroneamente em uma das
situações possíveis, exatamente da mesma forma que o moleiro de nosso exemplo.
. -.: IOcan­ caso o bem "água" só dispusesse de um único juízo de valor possível. Não há con­
?:: ~Jdução,
tradição alguma, senão que é indispensável, do ponto de vista racional e prático,
~=?. razoá­
emitirmos juízos de valor diferentes quando as pressuposições são diferentes.
'l...:::amente
,: ::2 anali­
5 :-.ão. por
Impõe-se um cuidado todo especial na constatação e na interpretação das rela­
::2 2 com
ções causais existentes entre o valor dos produtos e o valor ou "custos" de seus meios
'::::2 modo
de produção. Quase cada palavra que se é obrigado a empregar na discussão des­
é:?.:::iades.
sas relações está sob o signo da ambigüidade. Por isso, aqui é ainda maior do que
c:: ::Jrodu­
?·.~:jação
alhures o perigo de equívocos dialéticos e interpretações errôneas confundirem as
idéias e de afinal se disputar em torno de palavras. Essa controvérsia apresenta, po­
s::?:-:do-se
rém, uma peculiaridade especial: aqui a confusão pode ser gerada não só pelo fato
c ::0.. ava­
de os conceitos serem imprecisos e não críticos, mas também pelo defeito oposto,
:2 ::2 trata
isto é, por um rigor hipercrítico, em virtude do qual inoportunamente se começa
;:~:;c:ução
a interpretar o conceito de causalidade em sentido mais exigente do que o que com­
=2 nossa porta a investigação feita. Procuremos antes de tudo, com sobriedade e imparciali­
c" aquisi­ dade, ter clareza sobre a natureza das questões em pauta.
ê: ::ie um
Que o valor dos produtos e o de seus bens-custos estão ligados entre si por
~:, certa­
um laço de natureza causal, parece-me ser uma convicção generalizada de todos
~.::.--.::da; e
os que participam da controvérsia. Ninguém nega que há uma tendência a certa
'"::as que
harmonia entre a grandeza do valor de ambos, como ninguém considera puramen­
7:.?::Jente te c-asual essa harmonia. Temos, portanto, um entendimento geral de que existe aqui
C":2 teria
algum nexo causal; as opiniões só divergem quando se trata de saber de que tipo
.::::0 que
de nexo causal se trata e em que sentido ele atua. 10
E:5gica,
::; :ocar­
i:::5 \:alor
52:-:-:0S o
a ::quele n
10 Naturalmente, só aqueles que querem excluir pura e simplesmente o conceito de "causa de nosso esforço de conheci­
::" :azer­ mento, conseqüentemente cuererão negar qualquer nexo causal também em nosso caso especial. Contudo, acredito não
precisar ocupar-se mais de pt..'rto com essa posição geral da teoria do conhecimento, pois, independentemente do que se
:-:2c'lção pensar sobre a realidade da le' da causalidade, indiscutivelmente não há como escapar à hipótese da existência de um
nexo causal - nem em nosso~ ato.s práticos nem na explicação teórica dos fenômenos que nos cercam. Aliás, mesmo
aqueles que pretendem elimin~r por princípio a idéia da causalidade, esta acaba entrando sorrateiramente de novo em
=2 que seu pensamento, de uma forma ou -1.e outra, no momento em que quiserem fazer teoria; o que se elimina é mais a palavra.
I ~::IUfa, mas não propriamente a cOisa Quando, por exemplo, Schumpeter, sob a reconhecida influência de certa corrente da teoria
:'_:Ja ­ do conhecimento, proveniente do âmbito das Ciências Naturais, pretende subtrair-se totalmente aos conceitos de causa
e efeito, pretendendo substituí-los pelo "conceito funcional mais perteito", haurido da Matemática (Wesen und Hauptinhalt.
::::;Jen­ p. XVI, 47, 58 etc.), mas a seguir fala de "interdependências claramente definidas" e de uma "determinação necessária­
: ~ cuja de certas grandezas e quantidades econômicas (por exemplo, à p. 34), qúer-me parecer que a idéia da "necessidade- "
:~C Em da "determinação" afinal só pode ser um produto do conceito de causalidade, abandonada apenas na aparência - a não
ser que se trate, eventualmente, de necessidades apenas formais do processo de pensamento, as quais, porém. por 5ua
140 TEORIA POSlTIVA DO CAPITAL

Na época mais antiga predominava, como é sabido, a opinião de que a causali­ J


dade parte do lado dos bens de produção. Aliás, essa opinião se consolidou, inicial­
mente, em circunstâncias que eram pouco favoráveis para identificar o núcleo da
controvérsia a nível dos princípios. O fato de os autores não haverem analisado as
sutilezas do problema da causalidade, mas falarem com certa ingenuidade da "cau­
sa" e da "dependência" do valor, mais ou menos no mesmo sentido em que tam­
bém se costuma usar esses termos nos racioCÍnios da prática, não significou muito,
pois, conforme veremos, também esse uso lingüístico ingênuo tem um sentido bom
e justificado. Também não perturbou muito o fato de que então - na época dos
clássicos - com a denominação de "valor" se entendia sempre apenas o valor de --.
troca objetivo ou preço dos bens, pois, embora o valor subjetivo e o preço de forma
alguma se identifiquem, a relação causa! corre na mesma direção dos dois: é inegá­
vel que a controvérsia exige para a relação causal entre o preço dos produtos e o
preço de seus bens-custos a mesma decisão que é exigida para a relação entre os
:l;;l
valores subjetivos das duas partes. Ao contrário, a colocação dos problemas foi sen­
sivelmente prejudicada pela circustância de que simplesmente não se dirigiu a in­
vestigação e a afirmação para o valor (ou preço) dos bens-custos em relação ao
valor dos produtos, mas para o conceito global "custos", sendo que além disso Ri­ :<11
cardo explicou o conceito desses custos, que determinam o valor, de tal maneira
que o valor dos bens-custos ficou totalmente em segundo plano: o que Ricardo ca­
racteriza como a "causa" e o "regulador definitivo" do valor dos produtos é a quanti­
dade do trabalho-custo necessário para a fabricação de um produto e não a soma
do valor de troca representada pelo trabalho despendido II Se Ricardo já tivesse
elaborado o problema da maneira como ele está hoje no primeiro plano de interes
se, não se pode em absoluto prever com segurança que também teria atribuído ao

vez nada. poderiam acrescentar a nosso conhecimento dos fenômenos. E se Schumpeter, em conexão com isso. apresenta
a conhecida opinião de que qualquer "explicação" não passa, afinal. de uma "descrição" (por exemplo, à p. 48: "Portanto.
o que a teoria nos oferece é apenas uma descrição"), a distinção, eliminada em seu aspecto formal, reaparece novomente
e de imediato em seu conteúdo, quando Schumpeter. em outra passagem (p. 42), não obstante é obrigaco a constatar
uma "grande diferença entre a teoria e a descrição". Entendida cum grana sa/is a primeira afirmação, certamente tem um
sentido bom e profundo, porém se não abanaoni'lrmos o granum soNs necessário não é possível eliminar toda distinção
entre "explicar" e "descrever", senão que é obrigado a estabelecer de novo uma diferença essencial que permanece - qual~
quer que seja a terminologia u~ilizada -, distinguindo dois tipos de "descrições": descnções que são apenas descrições e
outras descrições que, para fajar claramente, apeSDr de todas a::i reservas :"\0 tocante à teoria do tipo da teoria do conheCI­
mento, têm ao mesmo tempo um valor de explicação. Duvido muito seriamente de que, utilizando corretamente a termino­
logia presumidamente mais correta, q:Je leva em conta os referidos escrúpulos de ordem da teoria do conhecimento, se
ate:1de melhor õos objetivos de nOS::ià pesquisa. Em minha opinião, esses escrúpulos e problemas generalíssimos da ordem
da teoria do conhecimento pertencem à parte final do edifício doutrinaI positivo em sua totalidade, constituindo seu pano
de fundo, devendo ser ali discutidos de uma vez por todas. e não é conveniente arrastá-los i'ltravés de todos os detalhes
das diversas ciências espeCIalizadas. Em nosso processo de explicação concreto podemos operar tranqüilamente com cau­
sas e efeitos e distinguir uma simples descrição de uma explicação efetiva - até porque, por nosso tipo de raciocínio, sim­
plesmente não podemos agir de outra forma, e também porque do contrário perderíamos critérios indispensáveis para a
justeza de nosso raciocínio. Isso, por sua vez, me leva a apontar um perigo positivo que me parece estar associado justamen­
te ao uso, presumidamente superior, da terminologia cética: ela enfraquece nosso sentimento de responsabilidade em rela­
ção ao pensamento rigorosamente correto, na medida em que confunde o sinal de reconhecer toda uma série de incontestáveis
falhas de raciocínio. O "cfrculo vicioso", a petitio principú perdem seus limites lógicos se já não se distinguir causas e efeitos
- entre os quais deve ocorrer o movimento causal em determinada direçao -, mas apenas interdependências recíprocas:
e o conhecido erro de superficialismo, a. saber, de em vez de uma explicação de fatos apresentar apenas a referência à
realidade dos mesmos, pode encontrar uma excusa no pretexto de que qualquer explicação não passa de uma simples
descrição. Esses perigos não são mera fantasia, Por exemplo, ainda terei oportunidade de mostrar, com base num exemplo
concreto, que um eminentíssimo teórico de nossa matéria, induzido pelo emprego do conceito matemático de função, foi
levado a preocupar-se menos do que era justo com os perigos da exp licação em círculo vicioso.
11 Por exemplo: "i...) it is the cost of production which u/timate/v regulates price" 'The value oI com is regulated by the
quantlty of labour bestowed on its production. C,)" Principies. Capo 11, "On Rent".

a Literalmente: com um grao de sal, isto é, com as devidas reservas. (N. do T)


EXCLK:3C: .

: : -~ 3 causa]j­ valor dos bens de produção o mesmo efeito causador sobre o valor dos pc:::: __:>
;;.- : :'.1. inicial­ que atribui aos "custos". Pelo menos em se tratando de um caso especial deSSe: ::-­
:: : :- :Jcleo da blema. ele defende exatamente a opinião oposta. já que. concordando esse:'.c?.­
- ':-.3i:sado as mente com as conhecidas e categóricas afirmações de A. Smith, também ele defe::::2
=:':::2 da "cau­ a opinião de que o alto preço dos cereais não é o "efeito" da renda da terra. me"
~:--- :;ue tam­ a "causa" da mesma. e portanto. nesse caso especial, deduz causalmente o valo:
:-- : : JU muito. e o preço do bem de produção "recurso do solo" do valor e do preço de seu produ­
=- ~.:o:-::do bom to "cereal". 12
- = ~'Joca dos Mais tarde. como se sabe, mudaram as opiniões sobre o conteúdo da assim
r'o~ :' valor de chamada "lei dos custos" Passando por uma evolução paulatina, não isenta de osci­
i:~:: 3e forma lações pouco claras, acabou-se por afirmar - pelo menos fora do círculo dos socia­
; c: o é inegá­ listas - uma coincidência dos preços dos bens. não mais com as quantidades de
; :::::utos e o trabalho latentes nos bens, mas com a soma de valor representada pelos elementos
~'o:~: entre os dos custos. Com isso o conceito de custos se transformou, de um conceito técnico.
'~---33 foi sen­ que era de Ricardo, para um conceito de valor. No que concerne. porém, à relação
'" ::<giu a in­ causal entre custos e valor do produto, de início a afirmação, que se tornara tradicio­
:::- ~.:o lação ao nal em virtude da doutrina clássica, de que a função de "causa" caberia aos custos.
:~ -:-. ::isso Ri­ passou desapercebidamente também para o conceito transformado de custos e se
:2 :::. ;naneira manteve para ele ainda durante algum tempo, se bem que as condições do proble­
;2 ::o. :ardo ca­ ma em todo caso já fossem agora de certo modo diferentes do que eram para o
:" ~ 3 quanti- conceito de custos de Ricardo; pois a afirmação de que circustâncias técnicas quais­
E -~:a soma quer podem influir causalmente sobre o valor dos produtos representa certamente
cC :·á tivesse uma posição lógica diferente de afirmar que o valor dos bens-custos estão para o
-: ::2 interes­ valor de seus produtos como a causa está para o efeito. Todavia, enquanto os auto­
:: ::::::uído ao res não se conscientizaram expressamente dessa nova colocação do problema, a
concepção antiga pôde ainda manter-se ingenuamente até certo ponto; depois des­
sa conscientização, porém. a manutenção dessa concepção antiga teria obrigado a
ensinar que o valor dos bens de produção seria por princípio o elemento primário
:~- ~::, apresenta
:: :: ~3, -Portanto. e o valor dos produtos o elemento derivado; a uma tal afirmação. como se com­
:-..: :-,;::c:. lovamente preende, já não havia ninguém que pudesse e quisesse aderir. Como retardatário
t, ;:::: ~ c. constatar isolado entra ainda Dietze! na nova fase da colocação do problema. Com efeito, mes­
:~::-::-"::-:'~e tem um

:;.r.:.- '::a distinção mo depois da consciente transformação do conceito dos "custos" em uma soma do
:'::-::-",:e - qua!­ valor, ele ainda fez a tentativa de atribuir aos custos uma influência definitiva e de­
iL~- - .::: :2scrições e
"~: -:: '::J conheci­
terminante sobre o valor de seus produtos. na linha da tradição clássica; U mas ao
:::.:=--.;. - >:: a termino­ defender essa concepção foi obrigado a fazer afirmações que não eram conciliáveis
- - - -:: ::mento, se nem entre si nem com o próprio tema J4 e que, quanto saiba, nessa forma já não
=-" - c; da ordem
's-:-_ -::: seu pano encontraram outros adeptos.
.: : ., :5 detalhes Assim sendo, das três concepções imagináveis no tocante à relação causal, de­
",.c-'::-~2 com cau­
:,:: -::: ::::fnio, sim­
sapareceu da disputa a primeira opinião - inicialmente favorecida em decorrência
:::""",:",::- ~§·.els para a de uma colocação obscura do problema -, de que a prioridade causal estaria com
~: : -=:::: .lustamen­ o valor dos bens produtivos; e desde então as opiniões se agrupam apenas em tor­
s.:=: .::,:::e em rela­
"~ : ~ -: 'JntestávelS
_:.~ :::_~::'5 e efeitos
:,.,: - : ::~ :-ecíprocas;
.... :.~ :: :-,;:~erência à 12 Ib,d.: "Com is not high because a rent is paid, but a rent is paid beca use com is high". (.) "11 the high pnce of com

2 .:~ _ ~.c. simples were the effect, and not the cause 01 renl. (.)"

.,:?..:-: - -:-:-. exemplo 13 No estudo sobre "Die klassische Werttheorie und die Theorie vom Grenznutzen". In.: Jahurbuecher de Conrad. Nova

:~ 'cnção, loi série, v. 20 (1890). p. 561 et seqs.

14 Com efeito, Dietzel afirma que o valor dos bens de produção e o valor dos bens de consumo "se condicionam mutua­

, -~~ - oc2d by the mente", dizendo que cada um é a causa do outro, que "'o valor do produto (aparece) como causa do valor do bem co?

produção" e que "o valor do bem de produção aparece como causa do valor do produto". ("Zur klassischen Wert - U1:::

Preistheorie". In: Jahurbuecher de Conrad. Série 3. v. 1 (1891), p. 694.) Quanto às objeções lógicas contra essa pos:çãc

- que, além do mais. dificilmente seria capaz de fundamentar uma posição privilegiada dús custos como causa deter:T1l

nante "definitiva" do valor dos bens -. ver meu estudo sobre "Wert, Kosten und Grenznulzen". Ibid. Série 3. v. 3 (1892

p. 321 et seqs., sobretudo p 359 et seqs. e 366.


. _ :::õ ::":c5 outras poslçoes imagmaveis. Da maneira seguinte. A idéia da teoria
::: "'::-.::=ade marginal havia sugerido procurar a prioridade causal no lado da utilida­
oe cios oens e do valor dos bens de consumo, determinado pela utilidade marginal.
Jevons havia apresentado essa idéia de maneira um tanto impetuosa e sem c1áusu­
.cõ." voltando ela nos escritos dos teóricos austríacos do valor marginal, não sem
Jma série de explicações e restrições que tinham a finalidade de defendê-la contra
certos equívocos naturais. 16 Entretanto, os adversários dessa concepção já não afir­
mavam, como antes, o contrário, isto é, uma prioridade causal dos bens-custos, mas
a paridade causal plena nos dois lados da relação. Em favor dessa concepção rei­
vindicam o fato de que ela é defensável somente se quisermos dar importância ao
cunho científico das idéias e das expressões usadas. Os custos de produção e a utili­
dade marginal se determinam reciprocamente, e não um após o outro, na forma -- -- -- - -- _._.~

de algum encadeamento causal qualquer. "Com a mesma seriedade podemos dis­


cutir se numa tesoura a lâmina que corta um pedaço de papel é a superior ou a -= -- _. - .
_.-= - '- ';j

inferior, ou se o valor é determinado pela utilidade ou pelos custos de produção.


Se segurarmos com firmeza uma lâmina da tesoura e a operação de corte for efe­
tuada movimentando a segunda lâmina, certamente podemos dizer, tranqüilamen­
te e com poucas palavras, que o corte é feito pela segunda; mas essa afirmação
não é totalmente precisa e só pode ser desculpada enquanto insistir em ser uma
explicação apenas popular e não uma explicação rigorosamente científica daquilo - ::I
que aconteceu na realidade". Segundo os adversários, a opinião de Jevons e dos
teóricos austríacos do valor marginal insiste, com um modo de falar não menos uni­
lateral e mais popular do que cientificamente correto, em uma prioridade da utilida­
de, assim como a concepção clássica mais antiga havia reivindicado uma prioridade
dos custos. Naquela concepção superficial e popular, para o movimento do preço
dentro de períodos curtos está em primeiro plano mais a procura, a "utilidade", ao
passo que para períodos mais longos mais a oferta, os "custos". Ao contrário, para
uma investigação científica refletida e aprofundada sobre as causas causantes, sim­
plesmente não há nenhuma prioridade, mas paridade total.!7
O exímio erudito que apresentou essas concepções infelizmente se ateve em
sua exposição àquela formulação externa do problema sob a qual este entrou ini­ :.. - - - 3

cialmente em nossa ciência e desde então geralmente tem sido discutido: com efei­
to, fiel à maneira tradicional de falar, ele coloca "utilidade" e "custos" um diante do :...:: - -­
outro, como rivais que disputam a prioridade causal, que ele acaba por negar aos - ::"'-:: - -­
dois, em sua decisão. Ao contrário, não baseou sua pesquisa, ao menos externa­
mente, na aperfeiçoada colocação do problema que em pronunciamentos isolados
já aparece em Jevons 18 e encontrou sua formulação explícita com os teóricos aus­ •

--- j

tríacos do valor marginal, 19 isto é, que se deve pesquisar a relação causal entre o

15 Nas suas conhecidas e freqüentemente ciladas afirmações: "Value depends entirely upon utility". Principies 2" ed., p.

1 "Its value (o valor do trabalho) must be determined by the value of the produce, not the value of the produce by that

of lhe labour~ Ibid. p. 179. Cf. sobretudo também o desenvolvimento, muitas vezes citado, do nexo causal entre cosi e

value, na p. 178 el seqs.

16 Fui levado a isso sobretudo pela controvérsia iniciada por Dietzel, bem como pela ambigüidade do conceito de custos,

conceito que recentemente foi enriquecido pela interpretação como disutifity cost; cf. meu estudo anteriormente citado "Wert,

Kosten und Grenznutzen", bem como o artigo sobre o "Letzter Masstab des Gueterwerts". In: Zeitschrifl fuer Volkswirlschaft,

Sozia!politik und Verwallung. v. 3 (1894), p. 185 el seqs .. sobretudo 191 el seqs.

17 MARSHALL. Principies of Política! Economy. 4° ed., na tradução alemã de 1905, segundo a qual cito aqui e a seguir.
·'0 -:J

p. 360 et seqs., 481. 482, 485 et seqs. Resumi as numerosas afirmações de Marshall sobre nosso tema, aqui dispersas,

em parte textualmente e em parte pelo sentido. Uma vez que Marshall é um representante exímio e ao mesmo tempo típico
-- ;-::'
dos pontos de vista aqui reproduzidos, acredito poder dispensar-me totalmente de aduzir outros autores.

18 Por exemplo, na afirmação citada acima, ã p. 176, nota 15. de que o valor do trabalho é determinado pelo valor do

produto, e não o valor do produto pelo do trabalho


,~

19 Por exemplo, já em MENGER. C Grundsaetze. p. 124.

EXCURSO VIII 143

, :::2'0 da teoria valor dos produtos, de um lado, e o valor dos bens de produção, do outro. É possí­
1=: J da utilida­ vel que Marshall tenha tido razões bem fortes para tratar o problema utilizando ain·
t: =:::2 marginal. da a terminologia antiga, tanto mais que o próprio Jevons, contra o qual sobretudo
;,= " sem cláusu­ se dirigiu, se movimentou predominantemente dentro da velha terminologia de uti­
r~:-.::L não sem lidade e custos, Acontece que o termo-chave "custos" é em si tão indeterminado
~-=ê-la contra e ambíguo que não temos sequer a possibilidade de formar um juízo claro sobre
~:~J já não afir­ o sentido, muito menos sobre a justificativa da decisão de Marshall, antes de haver­
e-.::-custos, mas mos desentranhado desse termo ambíguo aquilo que interessa e deve interessar em
:: :-.:epção rei­ nossa controvérsia,
~:-:-::ortância ao Em meu estudo sobre o "Critério Último do Valor dos Bens" afirmei que a pala­
x::.:ção e a utili­ vra "custos" tem no mínimo três significados, objetivamente de todo diversos, para
) ";:;J, na forma os quais se reivindica, por parte de diferentes defensores da "lei dos custos", a coin­
e ;:Kldemos dis­ cidência empírica dos preços dos bens com os "custos", Esses três significados são
i sJDerior ou a a tal ponto objetivamente diferentes que no caso não se trata de três interpretações
:: :~ produção. diversas da mesma situação, afirmada em comum, mas da afirmação de três situa­
'€ :orte for efe­ ções objetivamente diversas, De todos aqueles que concordam na fórmula verbal
::::::Iqüilamen­ de que os valores dos bens ao final acabam coincidindo com os "custos", uns afir­
2s::a afirmação mam materialmente uma coincidência do valor dos bens com a quantidade do tra­
t:" 2:11 ser uma balho a ser despendido para a produção dos bens, outros afirmam uma coincidência
,-::":ca daquilo com a grandeza do sofrimento (disutility) que o trabalho e outros sacrifícios pessoais
~ ~ 2\;Ons e dos (waiting, abstinence) a serem feitos na produção de bens impõem aos produtores e
l~: r:1enos uni­ um terceiro grupo afirma uma coincidencia com o valor dos meios de produção
:a:::e da utilida­ a serem despendidos. 20 Ora, são três situações inteiramente diversas, que em par­
l:-:-:: ;Jrioridade te têm de excluir-se mutuamente e em parte no mínimo podem excluir-se, 21
1.:' ~:J do preço Ora, é óbvio que uma discussão sobre a origem causal de uma coincidência
. --::Ldade", ao só tem um sentido razoável entre aqueles que no caso têm em vista a mesma coin­
c::-:rário, para cidência real; do contrário se argumenta mutuamente com equívocos permanentes,
'::;~S:1ntes, sim­ Não tenho nenhuma delegação para interpretar autenticamente o pensamento de
Marshall. Mas já que também Marshall emite julgamento sobre minha conceituação,
e S2 ateve em desejo, a fim de limpar o terreno para a controvérsia, no mínimo deixar bem clara
5:2 entrou íní­ a opinião com a qual entro nela; talvez possa presumir que ela seja também a opi­
t::::< com efei­ nião da maioria dos outros teóricos austríacos do valor marginal, se bem que tam­
:....:-:- :::liante do bém no caso deles não tenha delegação alguma para falar. Desejo, portanto, assentar
p,: ~ :legar aos o seguinte:
>2:-.:S externa­ Meus pronunciamentos sobre as relações causais nas quais se funda a validade
2-::JS isolados da "lei dos custos", não têm absolutamente nenhuma relação com aquela (pretendi­
; :2 :Sricos aus­ da) variante da lei dos custos que afirma uma coincidência do valor dos bens com
:::..;sa] entre o a quantidade do trabalho despendido na produção, Não teria sentido para mim aderir
a alguma opinião sobre os motivos mais íntimos dessa coincidência, pois nego essa
própria coincidência como fato.
-- ,.= es.· 2" ed., p.
Minhas opiniões desenvolvidas na Subseção VII da doutrina sobre o valor, acerca
." =c::'uce by lhal da causalidade existente entre "valor e custos", também não têm nenhuma relação
== -:;-=. entre cost e com aquela variante da lei dos custos que afirma uma coincidência do valor dos
:-: - :-2:J de custos,
,-" - ., ,"ado "Wert,
,e- . -: ~su.:irtschQft,
LU Op. cit., p. 191 et seqs. Não dou aqui importância à distinção, salientada pelo autor em muitas passagens. entre o mé­

--- =:"-. e a seguir, todo "sincrônico" e o "histórico" de calcular os sacrifícios na produção, avaliados com base em seu valor, pois a longo prazo

C.O o:c' dispersas, não há diferença objetiva entre esses dois métodos de cálculo: a coincidência dos preços dos bens com os "custos de produ­

0:::;:-: :-empo típico ção em dinheiro" para o empresário (método de cálculo sincrôriico) e com os juros e salários sucessivamente despendidos

';r~ ~ durante todo o decurso da produção, abrangendo os diversos estágios da divisão do trabalho, juros e salários, aos quais

ê:: ::-::.0 valor do se reduzem. no método histórico de cálculo, os custos em dinheiro despendidos pelo empresário do último estágio de pro­

dução. não se excluem reciprocamente, mas antes se incluem., Cf. "Letzter Masstab", p. 195 et seqs.

21 "Letzter Masstab", p. 197 et seqs., 205.

. . . . . ._ . _ - - - - - - - - - "

144 TEORIA POSITIVA DO CAPITAL

bens com a grandeza dos sacrifícios, em termos de sofrimento pessoal ou incômodo


(disuti/ity), a serem feitos na produção dos bens. Pronunciei-me a respeito dessa
variante em outra subseção de meu texto, a VIII. Recapitulando, digo que de modo
algum nego totalmente a realidade de tal coincidência, porém só a encontro efetiva­
da numa extensão muito menor e em condições muito mais excepcionais do que
supõem aqueles que nela querem basear uma "lei dos custos" de validade geral.
Há realmente aqui uma regra interessante e digna de nota, mas ela se aplica em
casos muito menos numerosos e - eis o que aqui interessa particularmente - em
parte em casos diferentes daqueles englobados pela grande regra empírica da coin­
cidência permanente entre os preços dos bens reproduzíveis à vontade e os custos
de produção dos mesmos: a regra de que falo não é objetivamente a grande e po­
pular regra dos custos, tão conhecida a todos os teóricos e práticos e tão credencia­
da do ponto de vista empírico. E, em decorrência do conteúdo e do caráter bem
diferentes das duas regras, também não é de modo algum idêntica a relação causal
entre os elementos essencialmente diversos, que atuam em uma e em outra. Por
isso, o que ensino sobre a relação causal naquela que denomino a lei dos custos
não pretende e não pode sem mais valer para a relação causal entre os fatores com­
pletamente diferentes que atuam na law of disutility.
O que ensino sobre a prioridade causal da utilidade marginal em relação aos
custos ou, formulando melhor, o que ensino, ao dizer que o valor dos bens-custos
deriva ele mesmo - por intermédio do valor de seus produtos - de uma utilidade
marginal, s.ó se refere àquela terceira variante da lei dos custos que afirma uma coin­
cidência do valor dos produtos com o valor dos bens-custos dos mesmos. Somente
entre aqueles que concordam no tocante ao fato de tal coincidência, pode surgir a
outra pergunta sobre de que espécie é o nexo causal que, na opinião de todos, exis­
te entre os valores dos produtos e o dos bens de produção - se, como afirmo eu,
de um lado, a saber, o valor dos produtos tem aqui prioridade causal ou se, como
parece afirmar Marshall, caso seus pronunciamentos possam ao menos ser referi­
dos a esse tema, reina paridade causal plena.
Contudo, antes de se poder discutir com utilidade essa questão, temos de cui­
dar que, devido à ambigüidade de um segundo termo, que aqui desempenha inevi­
tavelmente uma função, não argumentemos mutuamente com equívocos. Trata-s'e
da palavra "causa", Em que sentido se poderá qualificar uma circunstância individual
- seja ela a "utilidade marginal", sejam os "custos" - como "a causa" ou a razão
última ou definitiva que determina o valor dos bens e sua grandeza.
Quanto a isso, já em ocasião anterior me pronunciei com toda a clareza
desejáveF2 e me alegro por ter encontrado, ao menos para essa minha formulação
do problema, a adesão plena também de autores que em princípio são meus adver­
sários. 23 Escrevia eu na ocasião:

"Tal afirmação nunca pode ter o sentido de que com ela se estaria mencionando lite­
ralmente o último elo da cadeia de causas e efeitos que conduz ao valor dos bens. É
antes evidente que tanto a 'utilidade marginal' como os 'custos' são apenas, e só podem
ser, elos dessa cadeia causal; elos que por sua vez são eles mesmos determinados por
muitas outras circustâncias que estão ainda mais longe; a utilidade marginal, por exém­
pio, como acabei de dizer, é determinada pelas relações entre a necessidade e o esto­
que; a necessidade, por sua vez, por vários elementos de natureza fisiológica, moral,
-- =,~
_--,,"---f
22 "Wert, Koslen und Grenznulzen" In: Jahrbuecher de Conrad. Série 3, v. 1II (1892), p. 353 et seqs.

..~
23 Por exemplo, SCHARLING. Grenznulzenlheorie und Grenzwertlehre 11. In: Jahrbuecher de Conrad. Série 3, v. 27, p.

158 et seqs .. 163.

EXCURSO VIII 145


'ncômodo cultural e histórica; o estoque, por fatos da Natureza, da técnica de produção, da evolu­
r",õ::>eito dessa ção intelectual, da organização da sociedade, das condições jurídicas e. da propriedade
~~e de modo etc. De maneira totalmente análoga, também os 'custos' de forma alguma são um fato
: :: :". LIa efetiva­ último, senão que por sua vez são determinados, entre outras coisas, por exemplo, pela
~: -.a:5 do que riqueza natural em condições de produção, pela fertilidade do solo e similares, e pelo
a.: :::ade geral. estado da técnica de produção; este, por seu turno, (é determinado) pelo grau de de­
~ aplica em senvolvimento intelectual, pela grandeza da força de trabalho e da vontade de trabalhar
c"nte - em dos produtores; esta, por sua vez, em parte pela propensão natural, em parte pela edu­
:~.:a da coin­ cação e formação; esta, por seu turno, pela organização da sociedade e da administra­
ção, pelo estado da formação geral e profissional etc., quase sem fim".
:'" " os custos "Quando, com uma assim chamada lei do valor, se diz que uma circunstância deter­
:-:-ande e po­ mina o valor, isso só significa que se está mencionando um elo central intermediário
~-: :redencia­ particularmente destacado da cadeia causal praticamente infinita que conduz ao valor
~ :3.ráter bem dos bens como efeito final; isto é, aquele elo no qual se unifica, pela última vez, como
"'.3cão causal que no ponto focal de uma lente convergente, o efeito de todas as múltiplas causas reais
:~. ~utra. Por e determinantes ainda mais remotas. Ilustremos isso com o exemplo da utilidade margi­
ÍE. :::os custos nal: a grandeza do valor dos bens é determinada - se nosso modo de pensar for corre­
; :3:ores com­ to - primeiro com base na importância da 'necessidade dependente', e esta é
ulteriormente determinada como sendo a 'última necessidade ainda atendida' ou como
- ~ e .ação aos sendo a 'utilidade marginal'. Nesta temos pela última vez reunido em um todo único o
efeito de todas as complexas circunstâncias que influenciam indiretamente o valor - gos'
'Õ :ens-custos
to, moda, condições de produção etc., etc.: todas estas e milhares de outras circunstân­
~~.a utilidade cias influenciam o valor pelo fato de antes terem influenciado a utilidade marginal.
l.= ·-.lma coin­ Entretanto, se retrocedermos mais um passo, já não podemos mencionar uma, mas de­
l:õ Somente vemos mencionar no mínimo duas causas determinantes - a necessidade e o estoque
p·:'::e surgir a -, e se retrocedermos aindam mais, talvez mencionaremos dez, vinte ou cem causas
E :: :::os, exis­ coordenadas que determinam o valor". 24
c: :i:rmo eu,
: _ õe. como o leitor atento observará que nesta passagem, exatamente como Marshall, falo
:: õ õer referi­ de fatores "coordenados", de causas determinantes do valor que atuam paritariamente,
e talvez se perguntará, não sem surpresa, onde então haveria ainda nesse caso uma
diferença entre nossas duas concepções. Ela está numa diferença à primeira vista
E~.:5 de cui­
bem insignificante na denominação dos elementos aos quais reconhecemos a posi­
I:: "nha inevi­
ção de causas de atuação paritária do valor dos bens. As duas causas parciais do
~=:5 Trata-s'e valor dos bens que realmente atuam paritariamente e em conjunto denomino-as
::=. :ndividual "necessidade" e "estoque", ou "necessidade" e "cobertura". A esses fatores pode-se
:' ::.; a razão
na realidade aplicar com pleno acerto a comparação de Marshall das duas lâminas
da tesoura. Pessoalmente vou ainda um passo mais longe. Admito ainda de bom
::: =. a clareza grado que nesse caso - no que concerne aos preços constantes dos bens - não
l .~:rmulação
se deve pensar apenas na cobertura direta com bens de consumo já prontos, mas
~.":JS adver­ também na cobertura indireta com bens-custos e forças produtivas existentes. Há
que pensar, além disso, também na capacidade técnica de desempenho dos bens
na produção e na satisfação das necessidades, pois evidentemente não é indiferen­
c::-.ando lite­
[' ::·::s bens. É te que quantidade de bens, do ponto de vista técnico ou fisiológico, é necessária
; 2 só podem para satisfazer uma necessidade, que quantidade de carvão, por exemplo, de acor­
O::-::-.ados por do com o estado da técnica de calefação, é necessária para gerar uma temperatura
-=. :lor exem­ agradável no quarto, e tampouco é indiferente que quantidade de bens de consu­
ê:2 e o esto­
~';=a. moral.
24 Exagerando~se no empenho de enumerar absolutamente todos os elementos de alguma forma capazes de exercer in­
fluência, é sabido que se chega a um conceito de causa extremamente amplo, em virtude do qual se chega a caracterizar
~,-~ 3. v. 27, p. "o estado global do mundo na última partícula de tempo" como a causa do estado do mundo ocorrente na partícula de
tempo subseqüente. É manifesto que em nossa controvérsia nada temos a ver com esse conceito de causa de abrangência.
total. Aliás, nenhum dos autores que participaram dessa controvérsia jamais fez referência a ele.
-_ _ - - - ­
...

146 TEORIA POSITIVA DO CAPITAL

mo se pode produzir, de .acordo com o estágio atingido pela técnica de produção,


com determinado estoque de bens de produção. Por isso, gostaria de dizer: causas
determinantes do valor dos bens, totalmente coordenadas, são, por um lado, o es­
tado das necessidades que exigem satisfação, de acordo com sua quantidade e im­
portância, e, por outro lado, o estado dos meios diretos e indiretos de cobertura,
~ •• -=..: - ­ .
de acordo com seu número e produtividade técnica: ou, em última linha e em cará­
ter durável, o estado das necessidades de um lado e o estado das forças produtivas
disponíveis, do outro.
No reconhecimento da paridade desses dois elementos gostaria de ir até o pon­
to de renunciar totalmente a reivindicar uma prioridade causal das necessidades em
face dos meios de cobertura, com base no argumento de que é das necessidades
que parte o impulso no sentido de conseguir meios de cobertura e de que, por exem­
plo, a extensão e a urgência das necessidades de alimentação da população influencia
causalmente a quantidade de cereais que é cultivada. Não reivindico esse argumento :..J
porque ele me parece ter força apenas para as relações de quantidade em que são
produzidas as diversas espécies individuais de bens ou para os empregos definidos
segundo os quais é distribuído nosso fundo original de forças produtivas, e não pa­
rece valer para a própria grandeza desse fundo, que em última linha é decisiva. An­
tes considero o estado das necessidades da população, por um lado, e, por outro,
o estado da dotação disponível a essa ~opulação - dotação em termos das forças : =-: =- '"
produtivas elementares Natureza e trabalho - como grandezas definidas para cada
momento e que estão em pé de paridade causal plena no tocante à influência sobre
o valor dos bens. .
Será que agora é possível - e com isso chego ao ponto propriamente canden­
te da controvérsia - substituir esse par causal realmente paritário pelo par de con­ :',=---~j'~

ceitos "utilidade marginal" e "custos" em contraposição igual?25 Com toda a certeza,


não! Pois a necessidade (ou a demanda) representa apenas uma metade do com­
-':..-:
plexo das causas do valor dos bens: a utilidade marginal é, da maneira como acima
explicamos, uma causa intermediária do valor dos bens. na qual já estão incorpora­
das e atuam conjuntamente as duas metades. A utilidade marginal resulta ela mes­
ma da relação entre necessidade e cobertura. Coisa análoga vale também dos custos,
se por eles entendermos - no único sentido que pode entrar em questão para nos­
sa controvérsia - a soma de valor representada pelos bens-custos; o quanto valem
os bens de produção a serem empregados para a produção de um bem de consu­
mo, isso de modo algum depende só da. oferta de bens de produção, só de sua
quantidade e produtividade técnica, mas também, e muito, da necessidade em rela­
ção a eles, que é indicada pela necessidade em relação a seus produtos e parte
do estado das necessidades a serem atendidas. Portanto, também a "soma dos cus­ ~ - --~
tos" não é o representante de uma metade do complexo de causas do valor dos
bens, senão que também ela é um elo intermediário ou central da cadeia causal,
no qual já se juntaram, como que no ponto focal de uma lente convergente, tam­
bém os efeitos das duas metades; também ela é uma resultante da cobertura e da _'=.. - _.....::

necessidade, da oferta e da procura. - :~

Daqui se depreende, primeiro, o seguinte: em todo caso não se aplica a com­

25 Para Marshall, as grandezas às quais, com base na analogia das lâminas da tesoura, ele atribui paridade causal plena
na determinação do valor dos bens, são às vezes a utilidade e os custos (p. 360). às vezes a utilidade marginal e os custos
(por exemplo. p. 485: "O princípio dos custos de produção e o princípio da utilidade marginal são sem dúvida partes inte­
grantes correlatas da lei da oferta e da procura, que governa tudo" etc.) e. finalmente. também a oferta e a procura (ibid.),
ou então os custos de produção e a procura (p. 360 et seqs.). Naturalmente, não tenho absolutamente nada a objetar contra
a. substituição equivalente de necessidade e cobertura por oferta e procura. Quanto a outras substituições, parecem-me
.,-~

estar nas objeções a serem expostas no texto.


~":C":~.3=

C" J:odução, paração das duas lâminas da tesoura à relação causal que tem com o \"alo: :: c'" :::: .
::22:: causas dutos, de um lado, a utilidade marginal e, de outro, a soma dos custos Ce"a:::2--:2
r:-.. ,:do. o es­ esses dois elementos não representam cada um uma metade do complexo de :::_'
'"=:::::de e im­ sas que geram o valor dos produtos, senão que o mesmo complexo total de caLS""
:" ::J bertura, que atua sobre esse valor dos bens está também por detrás de cada um dos cC:ô
E: " em cará­ Mas com isso o objeto da questão ainda não está totalmente resolvido, pois mesm:
:::.õ ::yodutivas assim ainda seria imaginável certa paridade entre os dois, que naturalmente teria
de ser uma paridade de tipo diferente daquela que Marshall nos descreve - se é
~ :: 2'-:é o pon- , que ele está falando das mesmas coisas das quais falei eu.
~~-5::::ades em Efetivamente, poder-se-ia ainda imaginar o seguinte: dentro do que dissemos
r" :essidades até aqui poderia muito bem ocorrer que os dois ou até todos os três fenômenos
I'Ó' :lor exem­ - a utilidade marginal, os custos e o valor - sejam a conseqüência comum de
~:' ':1fluencia uma e mesma terceira (ou quarta) causa; que as mesmas causas últimas que fazem
;,.:; :::-gumento com que a utilidade marginal e o valor de um bem de consumo sejam altos, tam­
! ,,:":,: que são bém façam com que o valor dos respectivos bens produtivos seja alto. Esta é real­
~.: ô definidos mente minha opinião, conforme se depreende de minhas afirmações acima citadas.
~. 2 :1ão pa­ Em meu entender, das relações acima descritas entre condições de necessidade e
C2 :s:va. An­ condições de cobertura, a serem entendidas em sentido amplo, deriva tanto a utili­
t ::or outro, dade marginal como o valor dos produtos, e também o valor dos bens de produ­
cs ~as forças ção. E se assim for, nossa última pergunta deve ser esta: será que nesta junção causal
2.S :J ara cada os referidos elementos estão um ao lado do outro ou um atrás do outro? Todos eles
,--2 :".c:a sobre são efeitos decorrentes de certas causas primárias, mas será que cada um deles pro­
vém da mesma fonte original. independentemente do outro ou apenas por inter­
?-:2 :anden­ médio do outro? Assim como vários netos, descendentes dos mesmos avós, estão
::::: de con­ paritariamente uns ao lado dos outros no mesmo elo, ou assim como o filho e o
e2'- a certeza, neto - dos quais o segundo só descende dos avós por intermédio do primeiro ­
}::2 :::0 com­ estão um atrás do outro na árvore genealógica?
e:::::) acima Para a pergunta assim formulada, que certamente tem um bom sentido, creio
c.-.:orpora­ que a respota correta seja esta: o valor dos bens de produção não está ao lado do
":.:.3 ela mes­ valor dos produtos, mas está causalmente atrás do mesmo. Ele deriva, através do
r. :::::-s custos, valor dos produtos - que constitui um elo intermediário indispensável -, dos fatos
2i,: ;:lara nos· últimos que determinam o valor. Creio que essa concepção se impõe a todo aquele
U::':-.:O valem que concorda comigo acerca de uma das idéias mais simples e mais incontestes de
"' :::e consu­ nossa ciência, a saber, que as pessoas só avaliam os bens como meios em função
:. ,,:: de sua de seus objetivos. Acredito não precisar aduzir argumento algum para provar que
::::" em rela­ na relação meios-objetivo é o objetivo que comunica sua importância ao meio, e
L:::ô e parte não vice-versa. Entendemos imediatamente que um náufrago atribuirá um alto va­
r:- a :::os cus­ Iar a um cinto salva-vida quando e porque dá um alto valor a sua vida, cuja salva­
k.alor dos ção espera do cinto; mas ninguém suporá o inverso: que o náufrago haveria de atribuir
C2.a causal, alto valor a sua vida em função do cinto salva-vida. Certamente há uma conexão
r;2:".:e. tam­ causal entre a importância do objetivo e a importância do meio, mas é igualmente
:<2~'_lra e da certo que a relação não é tal que atribuímos alto valor a um fim por ser importante
para nós o meio para atingi-lo,26 senão que o meio se torna importante para nós
L:::' a com­

26 Questão totalmente diferente é o fato de que, para objetivos correspondentémente importantes, só estamos dispostos
ê=' "csal plena a empregar, respectivamente a sacrificar, meios cuja importância para nós já está definida em razão de outros objetivos
r;- -.::. .;; -'.)5 custos importantes. que também eles dependem desses meios. Tal importância de um meio, já definida, poderá fazer com que
i:.".:.= ::artes inte~ só se escolham objetivos de determinado grau de importância para serem concretizados através do referido meio, mas nun·
= c,:: c,a (ibid.), ca poderá causar a própria importância do objetivo. É verdade que uma dialética superficial pode inventar expressões quI'-'·
i2 :: ::. 2:ar contra obscurecem esse fato. Ela pode, por exemplo, invocar o fato - que é real - de que a importância definida de um meio
::a,,::~ : ::':-ecem-me (por exemplo, a preciosidade de um material raro da Natureza) impede que um objetivo sem importância seja concretizado
pelo emprego do mesmo, e faz com que um objetivo correspondentemente importante venha a ocupar o lugar da última
148 TEORIA POSITIVA DO CAPITAL

::: =~ =~2 C ';;n é importante para nós. Também é claro que não se pode falar de uma
;Jâí.cade dos dois: que é para nós importante o meio que apreciamos somente por
causa de seu objetivo, é pura conseqüência do fato de antes ser importante para
nós o objetivo. Acredito que dificilmente preciso temer ser contradito no tocante a
tudo isso. Entretanto, quem concordou comigo até aqui terá de continuar a concor­
dar também com respeito ao ponto controverso propriamente dito, a avaliação dos
bens de produção. Se é certo que também os bens de produção são bens, é igual­
mente certo que são por nós avaliados apenas como meios em função de nossos -;:.-.;:.-- ...,
objetivos humanos de bem-estar, e não menos certo é que eles haurem sua impor­
tância ou seu valor da importância de seu objetivo final, portanto da importância
das necessidades cuja satisfação nos permitem. Somente que no caso deles a cone­
xão causal, respectivamente teleológica,27 que os liga a seu objetivo final, tem eta­
pas intermediárias. O objetivo final só é atingido mediante causas intermediárias,
em cuja produção reside o fim próximo dos bens de produção. O objetivo final em
função do qual valorizamos um campo de trigo é a satisfação de nossa necessidade
de alimentação. O fim próximo, porém, ao qual ele serve, o único pelo qual ele
pode atingir esse objetivo final, é a produção de trigo; por sua vez, o objetivo próxi­
mo deste é, analogamente, a preparação de farinha, cujo fim próximo, por sua vez,
é o preparo do pão; e finalmente o objetivo deste é o objetivo final de toda a série
inteira, isto é, a satisfação da necessidade de alimentação. Ora, se existe entre a im­
portância do fim e a importância do meio uma ligação causal, e se esta é tal que
a importância do fim determina a importância do meio, parece-me que em última
análise simplesmente não se pode négar que na formação do valor cabe uma prio­
ridade causal ao valor dos bens mais próximos ao objetivo final - a fonte do valor
-, portanto primeiro aos bens de consumo e, de modo geral, aos produtos, em
relação a seus respectivos meios de produção. Esse valor está entre a fonte do valor
e os bens de produção, e mais perto da fonte. O juízo de que o alcance de determi­
nado objetivo da vida depende de um elo longínquo da cadeia, não pode atingir
este último se antes não tiver sido formulado para todos os elos mais próximos da
cadeia de causas.
Assim sendo, creio que não é um modo de falar abusivo e não-científico ­
o qual, "se refletirmos", não possamos adotar -, senão que é absolutamente correto
dizer que o valor dos bens de ordens mais remotas depende do valor dos bens de
ordens mais próximas. ou então que ele decorre deste último. É efetiva e logica­
mente correto basearmos nosso juízo sobre o valor de um bem de produção no juí­
zo sobre o valor de seu produto. Esse é um fundamento sempre racional, e conforme
as circunstâncias também um fundamento em si mesmo suficiente. Desde que saiba­
mos como fato que determinado produto tem valor para nós, isso basta para poder­
mos com plena segurança deduzir o outro juízo, de que também têm valor para nós
os meios de produção dos quais depende a consecução do produto que tem valor.

utlljdade que determina o valor, a utilidade "'marginal"; ela poderá tentar interpretar isso dialeticamente de molde a parecer
que o valor do meio "determina a importância do objetivo que dele depende". Mas é só jogando com a ambigüidade que
essa maneira de raciocinar poderia dar a impressão de que a importância do meio exerce influência sobre a importância
de um objetivo. Na verdade, uma mudança na importância de um meio (por exemplo, pelo fato de aumentar a quantidade
do material da Natureza, até agora raro) em nada altera a importância de qualquer um dos fins passíveis de serem concreti­
zados por esse meio; o que faz é apenas com que outro, dentre os fins cuja importância permaneceu inalterada, ocupe
o lugar do último fim, dependente do citado meio ou capaz de ser concretizado por ele; e mesmo essa ordem de prioridade,
como é fácil ver, não é primariamente causada peja importância do meio, mas pela importância definida dos outros objeti­
vos, que concorrem pelo mesmo meio, de sorte que é sempre a importância dos fins que influencia a importância dos
meios, e nunca vice-versa. Em contrapartida, sempre se poderá observar que uma alteração na importância dos objetivos
produz uma alteração real e imediata na importância dos meios que servem aos respectivos fins.
27 "Todo nexo teleológico é ao mesmo tempo um nexo causal". PAULSEN. Einleitung in die Phi/osophie. Berlim. 1892,
p. 224.
EXCURSO VIII 149
~ ~e uma \lão há necessidade de, para fundamentar esse juízo, em cada caso percorrer re­
'r:'2~te por Troativamente a corrente causal inteira até indentificar a necessidade de dependente
'3.:-",e para a ser satisfeita pelo último produto finaL Deixamos de fazê-lo em inúmeros casos
) ::,cante a :lOS quais seria por demais incômodo e complexo decompor a cadeia causal inteira,
r::: concor­ sobretudo quando, em razão de fenômenos de troca, tal processo nos levaria a en­
L::cão dos [rar nos círculos de necessidades de outras pessoas. Muitas vezes sabemos por sin­
-:õ ~ igual­ tomas inequívocos - por exemplo pela existência de um preço de mercado - que
:::2 ~ossos determinado produto intermediário tem valor, e pela grandeza precisa do valor des­
SLc 'mpor­ se produto determinamos que valor devemos atribuir aos meios de produção dos
r.:::<xtância quais depende a obtenção desses produtos intermediários - de maneira semelhante
ir.2's:: cone­ como o matemático que opera com logaritmos pode, em número incontável de ve­
L Tem eta­ zes, simplesmente limitar-se a consultar os logaritmos na tabela logarítmica, ao invés
r~ ê ciárias, de desenvolvê-los a partir de seus elementos.
,«: ~::--,al em Todas essas idéias podem ser também testadas na prática, em todos os senti­
e-c2ss:dade dos Há uma série de exemplos nos quais a dependência, por mim afirmada, do
c :;üal ele ..'alar dos meios de produção em relação ao valor de seus produtos aparece da ma­
:':'.::: próxi­ :teira mais evidente, e, por outro lado, não há um único caso que, se analisado com
G~ süa vez,
cuidado. se possa aduzir como prova do contrário ou mesmo apenas como prova
)o::: c a série
de uma relação paritária entre os dois; pode surgir uma aparência transitória de que
2:-'.::-e a im­ sso ocorre, mas essa aparência não resiste muito tempo a uma análise cuidadosa.
1 -2 :al que
Vejamos antes alguns exemplos flagrantes do primeiro tipo. Máquinas de fabri­
e~ última car gelo certamente perderão seu valor se o gelo perder o seu. e isso por causas
:.:~a prio­ que não surgiram nas máquinas de fabricação de gelo nem passaram por elas e
tE :::=, valor :tem afetaram de algum modo a necessidade de gelo, senão que se localizam bem
C:'::CJS, em especificamente na etapa intermediária "valor do gelo"; por exemplo, no caso de'
iIe :::::: valor se dispor constantemente e em abundância de gelo natural, por haverem surgido
€ :::e:ermi­ extensas áreas de água parada, que resultaram de uma regulagem efetuada em al­
Do::: e aringir ;um rio e que favorecem a formação natural de gelo. Ou então. para aduzir tam­
b:~os da :,ém aqui o exemplo muito utilizado e altamente ilustrativo do vinho e do vinhedo
:e Johannisberg: todas as circunstâncias que reduzem o valor e que atuarem inde­
e:-,:::~:co
;Jendentemente do valor do vinho de Johannisberg. após haverem afetado o valor
",:2 c:::rreto :lo produto vinho, diminuindo-o. não deixarão de ter uma outra conseqüência, isto
JrS ':2:;5 de 2. influenciar também, no mesmo sentido, o valor dos vinhedos de Johannisberg:
l 2 . ::Jgica­
f
~' "Tias de modo algum ocorrerá o inverso. Se, por exemplo, em virtude de um movi­
;.e: -,ajuí­ ~
"Tiento de abstinência, de caráter religioso ou higiênico, ou de uma proibição oficial
, :: -.:arme ~
~ :le consumir vinho, ou de uma mudança da moda ou do gosto, desaparecer uma
C;:..>:o saiba­ :~
::>arte essencial da procura do vinho em geral, ou do vinho do Reno em especial.
a:-:õ :::ader­ :~: seguramente o valor do vinho de Johannisberg baixará, e essa baixa certamente
r ::c,a nós se propagará como fenômeno conseqüente também para o valor dos vinhedos de
t",':-:-: '.'alor. Johannisberg. Ao contrário, se por exemplo, em decorrência de um sucesso legisla­
:ivo dos reformadores do direito de posse da terra cuja renda apresenta fortíssimo
r:·c,:: .:. ;: E'irecer caráter de monopólio, os vinhedos de Johannisberg fossem sujeitos a um imposto
0.;-_ ==:2 que de 80% sobre seu produto líquido, sem dúvida baixaria o valor dos vinhedos, mas
;. ~- -= : :-:àncla
r.:. : _::-.::::iacie
2 igualmente indubitável que essa baixa não atingiria o valor do vinho de Johannisberg.
E!""'::- : : -,:reti­ Em outros casos - muito freqüentes, como de bom grado admito - causas
tE-~:, ocupe
=~ =, : c,::ade, que atuam do lado dos bens de produção hão de ao final influenciar o valor de
; :'_~:~ :'ojeti­ ambos - dos produtos e dos bens de produção - no mesmo sentido; e foram
c(: ~- ::3. dos sobretudo os casos desse tipo que em época mais antiga despertaram a impressão
:-e:ivQs
I :.-:,:: :
quase irresistível de que a prioridade causal cabe aos custos e que em época mais
~- - :592, recente, perdendo terreno essa opinião insustentável, levam vários autores a pelo
menos defender a posição de paridade total dos dois. Penso aqui em dois grupos
150 TEORIA POSITIVA DO CAPITAL

fortes e importantes de casos: o primeiro é aquele em que um aumento dê quanti­ Q~" ~:


dade em que determinados bens de produção estão disponíveis, por exemplo a des­ antes ~:-:-:~
coberta de jazidas novas e particularmente produtivas de um mineral, dá o impulso mente: =­
para um barateamento generalizado tanto desse mineral quanto dos produtos com náve:5 " :: =
ele fabricados (por exemplo tanto do cobre quanto dos vasos de cobre. baixelas, do pc=~~ ::
fios etc.): e o segundo é aquele em que um aperfeiçoamento da técnica de produ­ acomec,,: ::
ção gera uma "redução dos custos de produção", descrevendo com mais precisão anos. ,,~ ::­
- o que é agora imprescindível para nossos fins - que a mesma quantidade de o seu ~~=::_

bens de produção. por exemplo de matérias-primas e de trabalho, pode agora ser a ac~::-.. :'~
transformada numa quantidade maior de produtos acabados ou, o que significa a '2<e ::2:- ~::-:: -::
mesma coisa, expresso de outra forma, que uma quantidade já menor de bens de
produção pode ser transformada na mesma quantidade de produtos, o que por sua C05 C2-~':~

vez atua no sentido do barateamento dos produtos exatamente da mesma forma sup::r." -::
que o aumento da quantidade disponível dos bens de produção. marg::-~. -: ~

Todavia, de propósito falei acima de "causas que atuam do lado dos bens de Tam'c2:-:- ~õ:
produção" e não de "causas que atuam do lado do valor dos bens de produção". \21[;12:-.:2 -,~
Com efeito, parece-me que, mesmo que o impulso causal tenha partido de circuns­ do :-:-:c: -. =- :-·5
tâncias pertinentes ao lado dos bens de produção, o encadeamento causal ulterior
é tal que o valor dos bens de produção no mesmo não ocorre antes do valor dos Te :nG~:: =- =:;
produtos, mas depois dele. A freqüência maior de um meio de produção é (indire­ reperc_",,~ J
tamente) Cqusa do valor menor do produto. mas, não obstante, o valor menor dos xado ==" :Jl
meios de r-kodução, que também decorre indiretamente da freqüência maior, não sobre J. 'C':
é causa, mas conseqüência do valor menor do produto. O encadeamento é, pois, :nver:=,,:-. =" j
o seguinte: o aumento da quantidade de cobre leva a uma quantidade maior de rio -fc_~.::~ :
produtos de cobre; esta leva a uma satisfação mais intensa das necessidades que ..;::~" :,
existem em relação a produtos dessa espécie: com isso o lugar da "necessidade de­ direta 2:-:- :::
pendente" é tomado por uma necessidade menos importante e com isso se reduz caso r. 'C:" ~
a utilidade marginal e o valor dos produtos de cobre e também, finalmente, a utili­ limitac:,:" ~ ;
dade marginal e o valor do bem de produção cobre, decorrentes da utilidade margi­ rado - ::: =:
nal e do valor dos produtos de cobre. Entretanto, o aumento da quantidade de cobre por r.==.. c~
não pode, por si só e independentemente dos efeitos conseqüênciais e intermediá­ - d:S":-:-=s
rios descritos, atuar sobre o valor do cobre. O aumento da quantidade não desvalo­ traçãc ::: ~=::J
riza de imediato e incondicionalmente, mas apenas se tiver sido um aumento em mos -;::-:~ =.
relação à necessidade; e sobre o estado da satisfação e nossas necessidades o au­
mento da quantidade dos bens de produção atua somente por intermédio de um
aumento da quantidade de produtos. A desvalorização atinge os bens de produção,
':05 - : _~ =- - :.i
que aumentaram de quantidade, não já em razão do fato técnico do aumento dos alr.G3. c;:~:o - =.:
mesmos, mas apenas do lado oposto, isto é, da diminuição das necessidades de­ CO 5'....i;:~-i - _ "
Ir pendentes, causada pela maior quantidade de produtos. Se, por algum motivo qual­ COr:5:..::-:-. ::--:: ­
: _"" : -: :
;:JrO-:·...:::-~

S quer (por exemplo, em conseqüência de um aumento paralelo e casual da


necessidade, digamos, de cabos elétricos), apesar desse aumento de quantidade,
no'.c.::-o_o_-: :'
;-es 5:;'.-:-::::5-:- .J
cpes::::-:.: =_-~
não ocorrer uma redução das necessidades dependentes, também não ocorre a re­ cér:. ;J:::-'=': -_-~
dução do valor dos bens de produção. 28 de 5'...;c =~:.:_--::
me~:2 -~:~- :.%
fluê:-.:-=. :=-~ ::.':
essa ::-_: _~- =-_=­
2'7D';:-;:-';:--:'3
a ex;:::.:.::.:~: :-!.

28 Isso não impede que a baixa do valor e do preço provavelmente se produza antes nos mercados de cobre bruto, nos r_a',,:~ =-~~- :~!Ij
quais primeiro se faz notar mecanicamente o aumento da oferta, do que nos mercados de produtos acabados de cobre, C': ~-:--= ;-~-:.: :')
Com efeito, como já o reconheceu com muito acerto Menger (Grundsaetze, p. 124 até 126), o valor dos bens "de ordem r:la5 -::2 ,~.-;: :i
superior", pela lógica, não se orienta pelo valor que têm no presente os respectivos bens de "ordem inferior", mas pelo valor
previsível que os mesmos bens provavelmente terão r:,aquele período futuro no qual pode ser efetuada a transformação
dos bens de produção de hoje em produtos acabados. E possível que nesse meio tempo o suprimento com produtos acaba·
..,

-'

EXCURSO VIII 151

",-:: da quanti­ Que isso não é apenas uma sucessão dialética na exposição do processo, mas
,:~",:-:-.plo a des­ antes uma sucessão verdadeiramente causal no acontecer reaL pode ser perfeita­
L :§ o impulso mente comprovado naqueles casos, não freqüentes mas de qualquer forma imagi­
5 =~:::utos com náveis e documentáveis a partir da realidade, nos quais uma intervenção artificial
c ~ =~'" baixelas, do poder público detém a parte retrocedente do movimento. Por exemplo, pode
:-::: de produ­ acontecer que o poder público, por lei ou por contrato não rescindível de muitos
-. -::::: precisão anos, se obrigue a comprar a produtores privados de certos bens produtivos todo
:: _:::" tidade de o seu produto a determinado preço (digamos toda a safra de folhas de fumo para
::: : ='" agora ser a administração monopolizada pelo Estado). Na hipótese de o produto dobrar e de
=-'" significa a ele ser transformado em quantidade dupla de produtos acabados, a primeira parte
-:-. : ~ ::::e bens de do processo causal se efetua de modo perfeitamente normal: o aumento da oferta
: ::Je por sua dos bens de produção leva a um aumento da oferta dos produtos. esta leva a um
; -.",:::na forma suprimento maior dos consumidores, este conduz a uma diminuição da utilidade
marginal e esta deve levar a uma baixa do valor e do preço dos produtos acabados.
:: :::::5 bens de Também este último elo ainda pode muito bem ocorrer no caso do exemplo; prova­
; :,: ;:Jrodução". velmente não - em razão de motivos fiscais manifestos - pelo fato de o detentor
[::: de circuns­ do monopólio do fumo fazer baixar seus preços internos de monopólio, mas pelo
, : ::..:::al ulterior fato de este, para não ter de impedir que os preços internos baixem, jogar uma par­
:'5 :::: valor dos te maior dos produtos de fumo no mercado externo, a preços diminuídos. Mas a
:_:~J é (indire­ repercussão retroativa sobre o valor dos bens de produção é coibida: o preço rebai­
ê:'~ :-nenor dos xado dos produtos de fumo vendidos ao exterior não terá a mínima repercussão
':.:: :-naior, não sobre o valor e o preço dos terrenos utilizados no país para a cultura do fumo, dos
~-'::".:O é, pois, inventários econômicos etc., pois a fixação artificial do valor do produto intermediá­
c=.:", maior de rio "folhas de fumo" coíbe a repercussão retroativa, e aliás só esta. 29
:",::::::::ades que Aliás, com esse exemplo posso argumentar de maneira ainda mais breve e mais
,,:2::::idade de­ direta em favor de minha tese. Alteremos o exemplo, supondo - o que aliás é o
:- .::::0 se reduz caso mais freqüente na prática - que as áreas em que se pode cultivar fumo sejam
L -:-.2:1te, a utili­ limitadas e que além disso o preço pago pelo Estado possa ser periodicamente alte­
c_:a.de margi­ rado - por exemplo a cada vinte anos. Suponhamos que os plantadores de fumo,
:=:::e de cobre por motivos que não têm absolutamente nada a ver com condições econômicas
50 '" .:-: rermediá­ - digamos, por meio de uma pressão política de seus deputados sobre a adminis­
" :"~o desvalo­ tração pública -, consigam impor um aumento do preço de compra para os próxi­
:: ::..:mento em .mos vinte anos. Poderá alguém duvidar de que, nesse caso, esse aumento do preço
~:: :a.des o au­
~ª::::o de um
::; :2 produção,
dos - que ainda se caracteriza pela escassez - mantenha e necessariamente tenha de manter também seu valor por ora
j =-_mento dos ainda aproximadamente no patamar antigo. Entretanto, a previsão de que, decorrido um período de produção, em virtude
[-2::::idades de­ do suprimento mais abundante, ocorrente até ali, diminuirá a utilidade marginal e o valor dos produtos acabados para os
consumídores - e conseqüentemente também seu preço -, muito logicamen~e gerará uma redução da intensidade da
:: :-:::otivo qual­ procura que os produtores de produtos de cobre desenvolvem no mercado de cobre bruto e que eles calculam com base
I -2 :asual da no valor futuro pressuposto para seus produtos, e consequentemente fará baixar o preço da matéria-prima. Se os produto­
["" ':Jantidade, res soubessem com certeza que nesse meio tempo é de se esperar um aumento da necessidade e se, conseqüentemente,
apesar do aumento da oferta, pressupusessem um valor e um preço inalteradamente elevado dos produtos de cobre, tam­
~: Xorre a re­ bém para o futuro, racionalmente fariam concorrência pelo aumento de estoques de cobre bruto, sem diminUIr a itensidade
de sua procura, e não ocorreria nem sequer uma baixa passageira do preço do cobre bruto. Aliás, também a tática mera­
mente mecânica do mercado sempre exerce 'alguma influência; todavia, esta é bem passageira; pode talvez retardar a in­
fluência das causas determinantes que atuam nos grandes traços da SItuação do mercado, mas não é capaz de impedir
essa influência.
29 De maneira similar atuam prêmios de exportação concedidos pelo governo - tais como os conhecidos prêmios para
a exportação de açúcar, só recentemente abolidos em decorrência da convenção de Bruxelas -, os quais geram para um
produto um adicional fixo sobre o preço no mercado mundial. Como é sabido, o aumento maciço do cultivo de beterraba
.:-:: :: ::e bruto, nos havia anteriormente levado a um aumento maciço da produção de açúcar e esta levara a uma superprodução crítica e
::':':::='::'5 de cobre a uma grande biaxa do preço do açúcar no mercado mundial (nomeadamente no país consumidor que é a Inglaterra!).
=:0 c~c,s "de ordem mas deixara de ocorrer a influência da alteração de valor sobre o bem de produção "beterraba para fabricação de açúcar"
!""":~. -:-.35pelo valor - com cujo aumento necessariamente começou tecnicamente e, por lei natural, o aumento da produção de açúcar -,
~:.:. ::. ::ansformaçâo pois o adicional artificial de preço, criado pelo prêmio de exportação concedido pelo governo, coibiu essa influência. aliás
..: - :~:,::iutos acaba- justamente apenas a influência sobre esse setor da alteração global.
=:.::,,~~, POSITIVA DO CAPITAL

:2~:: ::~C' conseqüência um aumento do valor dos terrenos credenciados para o


: _,::\C :::2 fumo, aumento este que se manifestará no aumento da renda de arren­
C:::-:-.2:1to que se pode conseguir durante os próximos vinte anos e de que o enca­
C23:T-ento causal visivelmente conduz do valor do produto fumo para o valor do
:2'":1 de produção terra e serviços da terra, ao passo que de maneira alguma há
::Jmo imaginar um efeito paritário do valor da terra sobre o valor do produto?
Ou então, cito os conhecidos fenômenos referentes ao valor e ao preço, provo­
cados pela legislação referente ao imposto incidente sobre produtos alcoólicos, vi­
gente em alguns países do continente europeu, O imposto sobre produtos alcoólicos
é cobrado, em alguns países, em duas taxas diferentes; um "contigente" fixo, que
na maioria dos casos não esgota totalmente a necessidade total da economia nacio­
nal, paga uma taxa menor e o resto da produção paga a taxa maior, e o direito
de produzir "álcool de contingente" é concebido a certos locais de produção, de acordo
com determinado critério, Naturalmente, o "álcool de contigente" consegue um pre­
ço maior que o "álcool fora do contigente", sendo que a diferença de preço pode
ir até o montante total da diferença entre as duas taxas tributárias. E com a mesma
naturalidade aumenta consideravelmente o valor daqueles locais de produção, da­
quelas fábricas de álcool e daquelas propriedades rurais ligadas a uma destilaria agrí­
cola, dotados que estão de um "contigente" maior; também aqui é clara a dependência
do valor da propriedade rural privilegiada para com a grandeza do preço do álcool
de contigente, da mesma forma como é manifesto, inversamente, que o valor das pro­
priedades agrícolas privilegiadas não pode exercer nenhum efeito sobre o valor do
álcool de contigente. Não se pode dizer que o valor do álcool de contingente se
basearia tanto no valor das propriedades agrícolas privilegiadas quanto este se ba­
seia no valor do álcool de contigente (relação esta que Marshall ilustra em seu exemplo
das bolas que se apóiam mutuamente; op, cit., p. 484), senão que cada um apenas
fornece a base, mas sem receber nenhuma base. E o mesmo vale sem dúvida tam­
- ... _..
,- -::;­
bém da cadeia causal: introdução de taxas protecionistas maiores para a agricultura, --~--'----- _.
aumento do preço dos cereais e do gado, aumento do valor das propriedades fun­
diárias - mas não vice-versa! A concessão, no caso de certas propriedades fundiá­
rias, de privilégios pessoais a seus donos - por exemplo o direito de usar um título
de nobreza ou a concessão de direitos privilegiados de voto -, pode sem dúvida
aumentar o valor dessas propriedades, mas certamente não o valor dos cereais, pro­
duto do solo!
Em suma, creio que de modo algum os antigos empregavam uma expressão
corriqueira irrefletida e não-científica ao dizerem que os terrenos proporcionam uma
renda elevada porque o preço dos cereais é elevado; pejo contrário, penso que a
.'
I fórmula recentemente posta em circulação, que afirma a influência recíproca plena­
-.'.2:-":. :-.: ::""­

mente paritária, apesar da aparência que ostenta, de ser cientificamente mais exata.

I na verdade é o modo de não falar menos profundo, mais superficial - pelo menos
se quis referir-se ao tema do qual venho tratando, isto é. à relação causal entre o
valor dos produtos e o valor dos bens de produção dos mesmos 30
- -~ - = ~:..

_ =: =::':cÕ -- :::. __ ~

30 Davenport descreveu bastante bem o nexo causal existente, nos seguintes termos: "Human needs and their relative in­
tensity being assumed, the vaJue-causaJ sequence runs from reJative scarcity of agents to relative scarcity of products; from
relative scarcity of products to high exchange power of products - high value. relativeIy high price; Irom relativeIy high
price of products to relatively high remuneration of agentes; from relatively high remuneration of agents to relativeIy high
present worth of agents" (Value and Distribution. p. 569 et seqs.; de maneira bem similar. p. 350 et seqs.. onde acrescenta
ainda o seguinte: "On the supply side. the primary term of the causal series is the instrumental goods and powers - but
not these goods and powers in their ualue aspecf'.) - A célebre cadeia causal de Jevons ("Cost of production determines
:~.-.:~:
supply. Supply determines final degree of utility. Final degree of utility determines value" Theory of Politieal Economy. -c:;­

2~ ed .. p. 179) é falha em razão da duplicidade ou até triplictdade de sentidos da palavra "custos". que pode significar
tanto certos fatos técnicos ocorrentes do lado dos bens-custos quanto a soma de valor total dos bens-custos a serem empre­
gados, quanto também, finalmente. custos "pessoais': enquadráveis na disutifity. A mesma ambigüidade do termo passou
EXCURSO VIII 153

l: :: :')5 para o Essa crítica não precisa necessariamente atingir a Marshall, ou pelo menos não
!- =:: de arren­ precisa atingi-lo totalmente, na medida em que, como já observei acima, ele evitou
oC ='-:2 o enca­ centrar sua colocação do problema particularmente na relação entre os ualores dos
~= = \alor do dois lados e, em sua fórmula de paridade, se contentou com a antiga e menos pre­
-= =;uma há cisa contraposição entre "utilidade" e "custos"; pois ainda há interpretações imaginá­
:: :~oduto? veis nas quais essas palavras-chaves designam fatores que efetivamente estão em
::"'=CJ. provo­ relação de paridade entre si. ,lI Todavia, dificilmente se poderá deixar de objetar a
=:::S!icos, vi­ Marshall o fato de não ter visto com clareza suficiente as diversas ramificações do
_:: o 3lcoólicos problema em cuja discussão entra, bem como o fato de ele haver especificamente
!:-='" ::xo, que oposto sua fórmula de paridade, em tom de contra-afirmação justificativa, mesmo
: - : :-:-:'a nacio­ em relação a autores cujas afirmações se referiram especialmente à relação de ualor
:: '" o direito entre produtos e bens de produçã0 32 Da mesma forma, parece-me que Marshall
;.~: :::2 acordo revela um forte desconhecimento da problemática científica ao afirmar que também
~ ;_2 um pre­ as concepções defendidas por mim e por outros teóricos austríacos do valor margi­
" ::",ço pode nal, ao contrário da "despreocupação" e do unilateralismo ricardiano, o qual salien­
:= ---:3 mesma tou com exclusividade excessiva as causas do preço duráuel. consideram de forma
c:: ::.-:ção, da­ excessivamente unilateral "as causas de alterações momentâneas e de oscilações de
c'" ,,=aria agrí­ valor de curta duração",B Pois de modo algum nós consideramos os "estoques" co­
: =",=,endência mo "fixos", como supõe Marshall ao descrever os dois unilateralismos 34 Muito pe­
E::' '::0 álcool lo contrário, o problema cuja análise nos mereceu a censura de Marshall resultou
". =..:~ das pro­ justamente ao investigarmos a influência conformadora e modificadora exercida cons­
,=", : '.-alor do tantemente pela produção sobre a diferença de grandeza desses "estoques", e ao nos
:-:-gente se empenharmos em pesquisar até sua última raiz o mecanismo dessa coincidência
:: ",,,:e se ba­ entre o valor dos produtos e o valor de seus bens-custos, coincidência esta que é
~_ exemplo a condição para que se estabeleça determinado preço relativamente constante, Por­
.:: .-::-:-: apenas tanto, se Marshall nos censurou por supormos estoques "fixos", foi por havermos
: >da tam­ d~monstrado a flexibilidade e a mobilidade dos estoq ues, sempre influenciados pela
c =. =~:cultura, produção; e se ele nos censurou por considerarmos unilateralmente as oscilações
~'" '::-=.des fun­ de valor de curta duração, foi precisamente por havermos pesquisado as condições
i.::::",,, fundiá­ dos preços constantes'
,",=:.: m título
.x:-:-: dúvida

cc:::c:: ais. pro­

:": ",:':pressão
;: :-",m uma também para i;1 polêmica que Marshall (op. cit., p. 483 et seqs.) conduz contra essa afirmação de Jevons. Em contrapartida.

:.;:-,,0 que a posso remeter à minha distinção clara entre as "condições técnicas de produção" e a "'soma de valor", feita em meu artigo

"Wert. Kosten und Grenznutzen", p. 354 et seqs, e p. 360.

;::::3 plena­ :11 Por exemplo, se as identifjcarmos com "procura" e "oferta", ou com "necessidade" e "cobertura", ou então se sob o termo

; - 3:5 exata. custos entendermos não o valor dos bens-custos. mas apenas os últimos fatos técnicos ocorrentes da parte dos bens de

produção, fatos estes que influenciam a abundância do estoque de bens a ser cont:eguido por meio da produção (ver supra,

:".= :T1enos p. 188 et seqs.); além disso, se nos referirmos ao segundo dos significados acima (p. 178 et seqs.) apresentados do termo

:_,,= entre o custos (= sacrifício pessoal)

:12 Ver o Apêndice de Marshall ao capítulo 14 do LIVro Quinto, p. 486 (os dois últimos parágrafos). Talvez não seja supér­

fluo observar que também os autores aqui incluídos por Marshall em sua crítica tinham, sim, que apresentar uma parte
de suas respectivas afirmações, atendendo à situação tática de então, sob os termos "'utilidade e custos" ou "valor e custos".
mas que não deixaram de, no decurso dessas duas pesquisas, formular o problema da maneira como eu mesmo o estou
aqui apresentando a meus leitores. Sob esse aspecto, permito-me remeter sobretudo a meus artigos sobre o "Letzter Mass­
tab des Gueterwerts" e sobre "Wert, Kosten und Grenznutzen" e, neste último, especialmente as exposições às p. 354 et
- -,õ ::- :"21ative in­ seqs. e 360. Ali já se encontrará desenvolvida com clareza total a posição de que produtos e bens de produção del.rem
: - = .: :..:cts:
trom seu valor conjuntamente a certas "'causas terceiras", mas que a posição dos dois no encadeamento causal . . não (ê) paritária".
~ -, =:"'ely high pejo contrário "a derivação do valor. em última análise, dos mesmos fatos causadores, para os meios de produção, só ocor­
., ".eiy high re através do valor dos produtos" (op. cit., p. 360). - Se, como também aconteceu, se tentou refutar a opinião, a mim
. - .::-= :::rescenta atribuída. de que a causa do valor dos bens de produção está no valor de seus produtos, argumentando que os bens de
2:5 - but produção, por motivos que ocorrem neles mesmos, têm de ter valor. e que a causa de seu valor não pode ser atribuída
:-?:ermines a outros bens, devo observar que, como se depreende~do que expus, esse argumento de modo algum contradiz minha
- :.:: -=conomy.
opinião real, mas apenas uma formulação e interpretaçâo extremada da mesma. contra a qual minhas explicações, apre'
=:cê significar
sentadas com suficiente clareza, deve-riam ter me protegido
~ :-': --:: -:-: empre­
33 Op, clt, p. 486, em conexão com p. 360 et seqs.
.;:--:: passou
," P 360 .
EXCURSO IX

Posição do "Sofrimento do Trabalho" (Disutility) no Sistema


da Teoria do Valor

(Para as p. 196 et seqs. da Teoria Positiva)

Um grupo numeroso e respeitável de autores julgou dever atribuir, no sistema


da teoria do valor, uma posição muito mais importante e mais central a um conjun­
to de fatos que eu utilizei apenas como material para construir um "caso excepcio­
nal". Esses autores partem, no caso, de uma idéia que de per si está plenamente
na linha da teoria da utilidade marginal, que foi também enunciada pelos próprios
fundadores dessa teoria e contra cuja precisão não há objeção alguma. Com efeito,
tanto Gossen quanto Jevons já observaram que, analogamente ao que acontece
com a continuação e repetição de atos de prazer iguais, onde o prazer associado.
ao consumo tende sempre a diminuir, também no caso de continuação e repetição
de esforços de trabalho costuma aumentar sempre mais o desprazer associado ao
esforço do trabalho. Disso tiraram a conclusão, perfeitamente correta, de que tem
de chegar um ponto para além do qual uma continuação do prosseguimento do
trabalho proporcionaria ao trabalhador mais desprazer do que o prazer que ele po­
deria auferir do produto do prolongamento do período de trabalho; pois todo au­
mento de produto que o trabalhador conseguir mediante uma nova hora de trabalho
acrescentada à sua obra do dia produz, pela lei do aumento do sofrimento do traba­
lho, um sacrifício pessoal cada vez maior. Por isso, o trabalhador "livre" interromperá
seu trabalho no ponto em que um ulterior prosseguimento do mesmo geraria mais
sofrimento do que o prazer gerado pelo aumento de bens a ser ganho com a conti­
nuação do trabalho. E assim fazendo, o sofrimento inerente à última fração do pe­
ríodo de trabalho se equilibra exatamente com a utilidade da última unidade de bens
produzida justamente por aquela última fração de trabalho. Ocorre nesse ponto, co­
mo diz Jevons, a final equivalence of labour and utility.) E no mesmo ponto de in­
terseção entre a curva descendente da utilidade e a curva ascendente do sofrimento
do trabalho se fixa também o valor da unidade do produto: sua grandeza coincide

. The Theory of Polítical Economy. 2 a ed .. p. 192.

155

~

;-~
156 TEORIA POSITIVA DO CAPITAL

tanto com a grandeza da utilidade marginal quanto com a grandeza (igual a esta sos é r.:o::.:r
últim,a, apenas que negativa) do sofrimento marginal (a final disutility). 2 Edge" ::-J
E significativo que o próprio Jevons, que já havia desenvolvido essa idéia com casos::" i
plena clareza, não reconheceu nisso motivo para ver no "sofrimento marginal" um mente .. ,
norm:: ,,~
rival equiparado à "utilidade marginal" na sistemática de sua teoria do valor, senão
deve~ ~:::
que julgou dever ater-se à sua conhecida afirmação de que value depends entirely
mede :,,~
upon utility 3 Entretanto, muitos dos autores posteriores pensaram dever tirar a con­
seqüência evitada por ele. Quem fez isso, com predileção, foram sobretudo teóricos temp: .:: J
ingleses e americanos; desde então há que distinguir até certo ponto uma ala aus­ uma "2':---:
tríaca e uma ala anglo-americana na teoria da utilidade marginal. A primeira, em­ para ::.::_"
bora constate certos "casos de exceção", crê que encontra a solução unicamente rem cs ::
:-\ .sÔo:
no princípio da utilidade marginal, ao passo que a segunda atribui aos dois princí­
pios. da utilidade marg;nal e da disuti/ity, na teoria geral do valor, uma posição si­ Que. ::e .. ~
lho) t.~ _~
métrica e por vezes até atribuem à disutility uma posição superior.
A tese da simetria completa parece-me estar representada, com pureza típica ce ve:::.J
perfeita, por Edgeworth,4 e a tese da superioridade sistemática da disutility por E issc ~.:'.:
Clark, que, recorrendo a um raciocínio dialético bem complexo de muitos elos, co­ nado ::"
loca como "critério último' ou "última unidade" do valor, o "sofrimento suportado mente ::..:-:;
pela sociedade na última unidade de tempo do trabalho diário".5 Ao que me pare­ teríar.-:.::s <
ce, entre os defensores de uma posição simétrica da disutility há que enquadrar tam­ a lin~.õõ ::.:::
bém todos os numerosos autores que atribuem aos "custos" uma influência paritária ACO-:::2>"
sobre o valor e conseqüentemente vêem o real cost como uma sombra de "sacrifí­ nar. .:0.. _:J
cios pessoais", de "esforços", "incômodos" e "sacrifícios de abstenção" e aos quais per­ cence:-.:"
tence, entre outros, também Marshall. 6 Até onde vai, afinal, a divergência entre as últir..ê_ ::..1
duas alas? de ap:::::;;.
Essa divergência não precisa ser muito profunda, se eliminarmos determinado - pa~::. S<
equívoco, cometido com freqüência mas não inevitável, do qual ainda terei ocasião de grê:-,:~
de falar especificamente. No caso favorável, a diferença pode ser muito mais de for­ cente =2 J
tamb2~. ::.
mulação do que propriamente de conteúdo. Talvez a melhor maneira de ilustrar isso
será expor por que motivo eu prefiro a formulação "não simétrica" da ala austríaca, ao n;\12. j
cobe::_~::
embora também eu reconheça sem reservas a lei do aumento do sofrimento do tra­
balho, que constitui o fundamento da formulação oposta. do ,·a.:~ ­
Com efeito, essa lei só pode levar à coincidência entre valor, utilidade marginal exerr::::.: ,
e sofrimento marginal se, além disso, admitirmos como premissa real que o traba­ dár:a ':::: e
dete~~.- =.
lhador, como afirma Jevons, é "livre". E isso deveria, nesse caso, significar que o
trabalhador tem o poder de dimensionar, totalmente de acordo com a sua própria bém:::~.::.
conveniência, a medida de desempenho que ele quiser assumir, de acordo com mas es::'.:
a duração ou a intensidade do trabalho, que ele tem o poder de interromper seu na ut:.:.::::.:
E~ ~
serviço diário a qualquer hora, quarto de hora ou minuto que quiser, ou prolongá­
já é s~~_:"_>i
lo até qualquer limite que queira. Ora, esse pressuposto efetivo em minha opinião
só ocorre numa minoria bem reduzida de casos, conforme já apontei em minha Teoria a uL::::.õõ:.
Positiva (página 197 et seqs.). Sem dúvida, pode-se discutir se essa minoria de ca­ dete:-:-.::-::l
marg::-::
utilicic:::'2 ~
do [;:.:0'0:-:
2GOSSEN, Entwicklung der Cesetze des menschlichen Verkehrs, Reimpressão de 1889. p, 36 et seqs,. JEVONS Op, cit.. duçãc ­
p. 184 et seqs.: cf. também minha exposição um pouco mais detalhada sobre o mesmo assunto em meu estudo sobre
o "Letzter Masstab des Gueterwerts" In Zeitschrift fuer Volksumtschaft etc v 1II, p. 197·201

"dos :_'0::
) Op cit" p.l é ape:-.~: .
4 Ver seu artigo "Pro f Bbhm-Bawerk on the Ultimate Standard oI. Va lu e", In, Economic Journal. Setembro de 1894, p

518 el seqs .. e ainda suas observações subseqüentes sobre o mesmo tema. op. cit.. dezembro de 1894, p 724 et seqs.

s Distribution of Wealth, p. 392-395 Concepção similar encontra·se já, muito tempo antes, em seu artigo sobre "The Ulti·

mate Standard of Valee" In: Yale Reuiew, Novembro de 1892 Passim,

6 PrincipIes. 4~ ed., na tradução alemã, p. 180 et seqs., 352.

EXCURSOIX 157

::...;ct a esta sos é realmente tão pequena, como penso eu, se, como opina, por exemplo, o Prof.
Edgeworth,7 ela engloba grupos um pouco mais numerosos e mais importantes de
;~ :::éia com casos de aplicação. Todavia, ninguém pretenderá afirmar que essa mobilidade total·
:=~ ;::Ial" um mente livre do tempo de trabalho e do incômodo do trabalho representa o caso
'.=.~:. senão normal em nossa situação econômica vigente; pois bem, já por isso penso não se
,~ :5 entirely dever tratá·la como um caso normal na teoria do valor; que o valor dos bens se
r :.~=: a con­ mede pela grandeza do sofrimento suportado na última e mais penosa unidade de
L.:: ~ teóricos tempo do trabalho do dia não é um princípio da teoria geral do valor, mas apenas
1:-.= ala aus­ uma regra parcial - muito interessante e em todo caso digna de registro -, válida
r-:-:2ira, em­ para aquele grupo de casos, mais ou menos restrito, nos quais precisamente ocor­
:..--::camente rem os pressupostos reais da referida coincidência. .
; :: ~ 's princí­ A isso há que acrescentar uma segunda observação, Mesmo aqueles casos em
: :: :,sição si· que, devido à livre mobilidade do tempo de trabalho (ou da intensidade do traba­
lho) há uma coincidência entre utilidade marginal e sofrimento marginal, permane­
: _~2za típica ce verdade que o valor dos bens é medido pela utilidade marginal dos mesmos.
:s~,~:!ity por E isso não só é correto, mas também já está em si mesmo suficientemente determi­
::: 5 ,,]os, co­ nado. Se falássemos não da "utilidade marginal", mas apenas da "utilidade", certa­
:: s...;portado mente ainda seria necessária uma complementação, uma determinação mais precisa;
_" ~e pare­ teríamos de indicar ainda um segundo elemento, cujo ponto de interseção com
r_=drar tam­ a linha descendente da utilidade produz e identifica determinado grau de utilidade,
~:= paritária Acontece. porém, que essa determinação já a temos no elemento "utilidade margi­
c :::" "sacrifí­ nal". A utilidade marginal já é um ponto de interseção, o ponto no qual a linha des­
)oS : dais per­ cendente da utilidade cruza a linha da cobertura de bens: a utilidade marginal é a
::.? entre as última utilidade coberta. E essa determinação permanece de pé também no campo
de aplicação da regra da final disutility, Pois essa regra, por sua vez, contém apenas
:2:2:minado - para seu campo de aplicação limitado - uma causa determinante secundária
",,2: ocasião de grandeza da cobertura. A cobertura vai até ao ponto em que o aumento decres­
:-. ::'5 de for­ cente de utilidade da cobertura aumentada ainda supera o sofrimento crescente, Mas
! :. ...;strar isso também aqui o valor se fixa no ponto de interseção entre necessidade e cobertura,
iê :::Jstríaca, ao nível da utilidade marginal. As causas secundárias mais remotas pejas quais a
~:o do tra­ cobertura vai exatamente até aqui ou até lá não fazem parte, no caso, da teoria geral
do valor - da lei geral do valor -, da mesma forma como dela não faz parte, por
':2 :narginaJ exemplo, a discussão sobre os monopólios, que também ilustra uma causa secun­
: _,: o traba­ dária da extensão da cobertura; e isso, não somente porque as respectivas causas
=:êr que o determinantes atuam apenas num campo de aplicação particular limitado, mas tam­
5:':c própria bém porque já são causas secundárias, que não se somam à utilidade marginal,
:-::::do com mas estão por trás dela, e portanto já estão, de certo modo, incluídas e consideradas
~:~per seu
na utilidade marginal.
'- :::ro]ongá­ Em razão disso, creio que, se formos lógicos, para formular a lei geral do valor
~;.:: opinião
já é suficiente o princípio da utilidade marginal e que a ulterior coincidência entre
"__";~a Teoria a utilidade marginal e o sofrimento marginal fornece apenas o material para uma
. :::-:a de ca­ determinação adicional particular, que tem validade dentro da lei geral da utilidade
marginal; mais ou menos da mesma forma que também a ulterior coincidência da
utilidade marginal de um produto com a utilidade marginal dos bens de produção
do mesmo, respectivamente com a utilidade marginal dos demais bens afins na pro­
:- :: ::5 Op. di, dução - coincidência na qual reside o essencial da assim chamada "lei" empírica
'Ó _ "C .do sobre
"dos custos" - não dever ser apresentada na lei geral do valor, mas também ela
é apenas uma determinação adicional particular, que vale para determinado campo
:, 1894, p.
• :~ et seqs.
:., 'ihe Ulti·
- Cf nosso debate sobre o assunto em Economic Journal v IV (1894), p 518 et seqs. e 719 et seqs.
158 TEORIA POSITIVA DO CAPITAL

de aplicação mais restrito, dentro da lei geral da utilidade marginal. béIT. :: ._


Se, porém, como penso eu, o princípio da utilidade marginal se cumpre total­ casos =-c -c:
mente e em sua pureza naqueles casos nos quais utilidade e sofrimento se nivelam
com inteira liberdade, como posso, não obstante, falar de "casos de exceção" - co entre:: :::­
mo fiz em meu texto -, nos casos em que a medição do valor é feita com base que:: = --:o
no "sofrimento gerado pelo trabalho"? A resposta é muito simples Os casos que eu nós ._..--:=
tinha em vista naquele contexto são outros casos; são casos em que o sofrimento dois ::-:: -::
do trabalho e a utilidade marginal justamente não se nivelam, senão que neles, con­ Pro: ==;-:0
forme explicitamente indiquei como característica da situação, "o sofrimento é me­ me:-::i: - ~:
nor do que a utilidade marginal positiva do bem".8 Com efeito, o nivelamento exato que~::.:: ::
entre os dois depende da condição técnica de que todas as grandezas a coincidirem Ut::~2::=~ ...,
entre si sejam divisíveis ao infinito. Tanto o período de trabalho como seu produto t:\"c =-= _­
deveriam ser passíveis de ser decompostos em partículas infinitamente pequenas,
para que tanto a linha ascendente do sofrimento do trabalho quanto a linha descen­
dente da utilidade corram de maneira totalmente igual, sem saltos, e se possa inter­ ......-,
L.t:: -~ - - :- . . . ­
romper à vontade as duas exatamente no ponto de interseção, qualquer que este
seja. Se, porém, em um ou no outro. ou tanto em um como no outro, não houver ... _.. _.
,........., ;::1 .... -
~ -
- ::.

essa divisibilidade completa, se for possível graduar o tempo de trabalho ou o pro­


duto do trabalho, ou os dois, apenas em saltos, em unidades maiores, nesse caso
o término de uma unidade técnica não coincide - ou então ele só coincide em
virtude de um acaso totalmente excepcional - com o ponto de interseção exato ",c..::-=_
entre utilidade e sofrimento, o esforço do trabalho tem de ser interrompido num ponto
em que a última unidade de bens adquirida com ele ainda gera uma utilidade maior
do que o sofrimento associado ao esforço. na medida em que a próxima unidade
completa, que poderia ser ganha mediante outro prolongamento do esforço, já pro­ -""~~---:..'
:::~ - _ . .=-'
duziria uma utilidade menor, que não mais compensaria o sofrimento desse esfor­
ço. Nesses casos não há coincidência entre utilidade marginal e sofrimento marginal,
e o valor dos bens, que necessariamente tem de separar-se de uma dessas duas
grandezas desiguais, segue - de acordo com a idéia condutora de toda a nossa .'::: -- - -­
teoria do valor - a menor das duas. portanto o sofrimento do trabalho, que é infe­
rior à utilidade marginal positiva. No caso de nosso exemplo (do cartão de ingresso
para a festa da coroação). avalio o cartão de ingresso pelo incômodo que me custa­
ria solicitá-lo, incômodo este que é em algum grau inferior ao prazer positivo de par­
ticipar da festa, pois aqui não há um equilíbrio exato entre o incômodo e o prazer;
com efeito, não é tornando minha requisição do cartão de ingresso um pouquinho
mais trabalhosa ou moralmente mais penosa que consigo acrescentar a meu prazer
de participar da festa da coroação exatamente aquela parcelazinha insignificante que
faria eqUilibrarem-se exatamente as duas parcelazinhas acrescentadas dos dois la­
dos, ao prazer e ao peso. Em casos que apresentam esta ou semelhante característi­
ca, portanto, o valor dos respectivos bens não se mede efetivamente pela sua utilidade :'02 ==-_~-=-
marginal positiva, e por isso foi necessário abrir uma rubrica de exceção para tais :--.c... :: :.:;
casos relacionados com a fórmula da utilidade marginal. Todavia, a explicação que
acabo de dar sobre as premissas efetivas desses casos de exceção há de mostrar prc:_.::- J
com clareza ainda maior que eu tinha boas razões para caracterizá-los como casos
excepcionais bem raros e de importância mínima. Pois em boa parte dos casos ­
e provavelmente também em sua parte maior e mais importante - nos quais o pe­
ríodo de trabalho e o sofrimento do trabalho se movimentam com liberdade total,
a utilidade marginal e o sofrimento marginal coincidem exatamente, e então tam­

.< Ver Teoria Posltiua, vI, p. 197


,~

EXCURSO IX 159
bém o valor dos bens é aferido pela utilidade marginal: tais casos não são, pois.
~~~ :otal- casos de exceção. mas justamente casos em que se cumpre a lei da utilidade marginal.
-.elam E agora retorno à pergunta anteriormente formulada: até onde vai a diferença
c - co­ entre a opinião que acabo de expor e as opiniões de Edgeworth ou de Clark? Creio
[~. base que a diferença não é de modo algum grande. Salvo engano meu, não há entre
~ ='Je eu nós uma diferença de princípio. senão que nossa divergência versa apenas sobre
!é'":-~ento dois pontos bastante secundários. Por um lado, diferimos - como já constatou o
!."::" con­ Prof. Edgeworth. muito corretamente'! - na "avaliação de quantidades que simples­
t= 2 me· mente não admitem uma medição exata". isto é. no juízo aproximativo sobre a fre­
-== exato qüência dos casos em que se verificam os pressupostos para uma coincidência entre
~.
=:=iirem utilidade marginal e sofrimento marginal. e conseqüentemente para a aplicação efe­
::::Jduto tiva de uma law of disutility: Edgeworth considera que tais casos são bem mais nu­
: =..ienas, merosos do que penso eu. Contudo. mesmo assim concordamos plenamente em
l :::2scen­ duas coisas: que esses casos em qualquer hipótese representam apenas uma fração
s.,~ :nter­ de todos os casos e que afora esses casos o valor se mede exclusiuamente pela utili­

~'je este dade marginal. e que mesmo nesses casos o valor se mede também pela utilidade

:: :-:ouver marginal, com a qual o valor deve coincidir, tanto quanto com o sofrimento margi­

:_ J pro­ nal de grandeza igual. Em segundo lugar. diferimos também sobre que formulação
,.,.,2 caso é mais adequada para esse fato. conhecido e reconhecido pelas duas partes. Quan­
:::::::e em to a mim parece que atende melhor a este fato afirmar que para a teoria geral do
?::: exato valor o único critério do valor dos bens é a utilidade marginal, dizendo que a coinci­
;~. ponto dência condicional. verificada em uma parte dos casos. entre a utilidade marginal

ce ~aior e o sofrimento marginal, é uma regra parcial subordinada e secundária; Edgeworth

..:'.:dade parece preferir proclamar essa coincidência como o tipo geral e ideal, do qual é lo­

-:'á pro­ go obrigado a admitir numerosas e importantes exceções. Quanto à própria coisa.

;..,e esfor­ porém, não precisamos divergir. nem nos casos em que a utilidade marginal é o
~'~'ginal, único critério possível, nem naqueles em que, além disso, ocorre sua coincidência
í;Õ"., duas com o sofrimento marginal; essa divergência atinge mais a sistemática do que o con­
i :ó :Jossa teúdo da doutrina dele e da minha.
L.::: 2 infe­ Isso vale até em relação a Clark, que. aliás, do ponto de vista sistemático, me
, .-.;resso parece haver atirado bem inadequadamente além do alvo, quando, partindo do mes­
":"".2 custa­ mo fato. postula para a disuti/ity a posição de único "critério último do valor dos
'::: :::e par­ bens". Com efeito, não consigo ver que essa excentricidade sistemática tenha exerci­
: : ')razer; do alguma influência prática sobre o conteúdo objetivo das doutrinas de Clark. Pois
:_~uinho ele constrói sua brilhante "teoria da distribuição" totalmente sobre a idéia da final
E_ prazer productiuity, cujo princípio atuante é por sua vez totalmente o princípio da utilidade
:'=::'.:e que marginal, o princípio da "utilidade decrescente". produzida por quantidades crescen­
S :::ois 1a­ tes. Com efeito, somente post festum - para assim falarmos -, depois de, nos pri­
co: ::::erísti­ meiros 23 capítulos de sua obra sobre The Distribution of Wealth, haver terminado
i .,;::1idade de construir sua teoria da distribuição, Clark introduz, em um 24? capítulo adicio­
:: :óra tais naI. a disutility como the ultimate unit of ualue, mas - assim me parece - sem
c;30 que de alguma forma abandonar o princípio de que a base de seu raciocínio é a final
, ~.ostrar productiuity e a final utility. Se este último capítulo não tivesse sido escrito. dificil­
~.::: casos mente se sentiria falta dele. Ele não reforça nem enfraquece a cogência da teoria
:::~.,os ­ da distribuição que antecede. Não lhe acrescentra novos fundamentos dos quais de­
::ó., o pe­ penderia a firmeza da mesma e por isso esta não pode ser afetada em nada se,
c:.2 total, como acredito. falharem as complexas construções dialéticas desse capítulo 24. E
·.:3J tam· se não posso endossar totalmente e em todos os pontos a brilhante teoria da distri­

., Economic Journal. v. IV (setembro de 1894). p. 519


-

160 TEORIA POSITNA DO CAPITAL

buição de Clark - se bem que com ela concorde em grande parte -, a nossa ma­ englobo
neira divergente de abordar a disutility não partilha em absolutamente nada dessas Ela po:",
diferenças, pois Clark baseia sua teoria geral da distribuição, exatamente como eu, nopól:c :
na utilidade marginal positiva, e quanto àqueles detalhes em que a disutility real­ "repro::: ....:
mente chega a exercer uma influência determinante, também eu, tanto quanto ele, pios - :
estou plenamente disposto a atribuí-los a essa influência da disutility l0 da grar.:
Contudo, bem outra seria a situação, se os defensores da law of disutility ­ grand22
da "lei" segundo a qual o valor se fixa no ponto de interseção da utility dos bens passa;",,=­
e da disutility do trabalho que produz os bens - pensassem que com ela indicam A 2",
ou interpretam o verdadeiro conteúdo da grande lei empírica dos custos, da great ra me:, _
Ricardian law of cost. Isso não seria mais uma sistemática contestável, mas um gra­ parte:::: õ
ve erro objetivo. Uma coisa é dizer que. dentro de determinados pressuspostos, o vo ,- ..=­
valor dos bens tende a nivelar-se com o "sofrimento marginal" do trabalho de pro­ mer;:,: ~-2:

dução e outra coisa, bem diferente, é afiPllar que - sendo outros os pressupostos em ;J2-""
- o valor (e o preço) dôs bens tende a igualar-se, nesse sentido do termo, ao valor e 0"-'2 :.',
(e ao preço) dos bens de produção ou ·custos" empregados para a produção dos
..:::.. -­
mesmos. O fato de o trabalhador. que é totalmente livre em seu fazer e em seu me:--.:: :"
deixar de fazer, interromper seu trabalho no ponto em que o sentimento crescente ];m::a:a ­
de desprazer não seria mais compensado pela utilidade descrescente do produto seja ::-.:'"
de horas de serviço subseqüentes e ainda mais penosas para ele, absolutamente nica. ,,­
nada tem a ver com o fato, assinalado por Ricardo, de que "em paridade de circuns­ sim :::-:-:
tâncias"ll um bem cuja fabricação custa o dobro de trabalho costuma também ter que. r?""!
o dobro de valor, e com o fato comprovado pela experiência - fato cujo conteúdo ligar::: : 1
na essência coincide com o anterior e que rege toda a nossa práxis econômica ­ freC~: :"
de que o valor e o preço dos bens reproduzíveis à vontade, por muito tempo, se cer'a -2,
medem pela soma de seus custos de produção. Não estamos aqui diante de uma gUrT.a :,
e mesma lei, cuja expressão popular e econômica em dinheiro seria o nivelamento facr:::::§.
entre as somas do preço e as somas dos custos e cujo significado mais profundo, cor.:::-- _31
escondido atrás da figura do dinheiro. seria o nivelamento entre o prazer marginal xão :::-:-.
e o sofrimento marginal; mas antes deparamos com duas leis totalmente diferentes pie:--.:::-:-e
entre si no tocante ao conteúdo e à abrangência. co'r.:.:21
0.:-:-:2:;
Procurei convencer os leitores disso, com o máximo de ênfase e de clareza pos­
síveis, num trabalho anterior. isto é, em meu estudo sobre o "Letzter Masstab des
,.....,--
-__ ",,!G: _ -­ _ I:

Gueterwerts"; ao que parece, minha tentativa até agora ainda não surtiu todo o efei­
to por mim desejado. Por isso, gostaria de reforçar aqui minhas afirmações de então
com algumas observações adicionais; antes disso, porém, quero lembrar, e em for­
ma condensada, os fatos cogentes que já então apresentei expressamente. Antes
de tudo, afirmei que já o caJTlpo de aplicação das duas leis é totalmente diverso.
O campo de aplicação da lei empírica dos custos é, de modo geral, bem mais am­
plo. Ele engloba com certeza - para citar um único exemplo - também tais bens ::: '. =-::­
cuja produção, pelo tipo de SUa fabricação, ocorre com tempo de trabalho fixo e
salário fixo pago por tempo de serviço, onde, portanto, simplesmente não há mar­
gem para a utilidade do produto depender da final disutility da última fração de tra­
balho. Ao mesmo tempo, o campo de aplicação muito mais restrito da law of disutility

lU Entre outras coisas. certamente não deixarei de atribuir à influência da disutWty certas diferenças no montante do salá­
rio para ocupações que impõem um grau inusitadamente grande ou pequeno de sacnfício ou incômoco. como também
lhe atribuo a diferença de preço entre os produtos desses diversos setores de trabalho; cf. meu arllgo sobre o "Letzter Md,~S~ - - :~ :--:1
tab des Gueterwerts", p. 203 et seqs e minhas observaçães sobre o mesmo tema no Economic Journal. Dezembro de 1894, -.;:-_::--: - ~

p. 722 et seqs.
11 Essa cláusula destina-se a levar em conta as conhecidas "modificações", desenvolvida.~ nas Seções IV e V de seu capí­
. tulo "On Vatue", que requerem um investimento de capital de porte diferente Ou de duração desigual
----

EXCURSOIX 161

- :: :1ossa ma­ engloba, por sua vez, casos que não estão enquadrados na clássica lei dos custos.
!-:-:: -ada dessas Ela pode abranger - e para isso aduzi exemplos - os mais evidentes bens de mo­
-:-.-::-:2 como eu, nopólio, ao passo que a clássica lei dos custos, como se sabe, só se aplica aos bens
:: :s :.<tility real­ "reproduzíveis à vontade".12 São até pensáveis - e também para isso aduzi exem­
::' -. :uanto ele, plos - casos em que a coincidência do valor dos bens com os custos, no sentido
da grande lei empírica dos custos, até exclui uma coincidência simultânea com a
l : : i:sutility ­ grandeza do sofrimento do trabalho, e isso não apenas casualmente e em caráter
_::._ dos bens passageiro, mas necessariamente e em caráter permanente. 13
": -:- e!a indicam A esses argumentos, aduzidos já naquela ocasião, gostaria de acrescentar ago­
c_õ::s. da great ra mais um, ainda que consciente de que ele só pode ter força cogente para uma
.", -:- 3.S um gra· parte dos colegas de especialidade - para estes, sim, um valor cogente bem decisi­
)~ 2õõJSpostos, o vo -, a saber, para aqueles que têm receptividade para certa espécie de pensa­
:=: ::~o de pro­ mento teórico e cuja adesão mais me interessa. Trata-se de uma experiência apenas
c = =~2SSUpostos em pensamento, de um teste feito com base em uma situação apenas imaginada
:2~ -:-. o. ao valor e que diverge de nossa realidade empírica,
: c:c:::1ução dos Suponhamos que nosso trabalho decorra sem ser acompanhado por um senti­
:::C2: e em seu mento de prazer ou de desprazer. Suponhamos que nossa força de trabalho seja
,2 -:C crescente limitada - como de fato é -, mas que ela se esgote - sem que o esgotamento
"':2 :0 produto seja antes anunciado por sentimentos de fadiga - de maneira inteiramente mecâ­
=:=o!utamente nica, em determinado ponto, por exemplo na décima hora dl? trabalho do dia, as­
':::2 ie circuns­ sim como pára mecanicamente um relógio cuja corda acabou. E absolutamente certo
-:-: :ambém ter que, nessa hipótese, simplesmente não há como falar de uma Jaw of disutility, que
. c.c conteúdo ligaria o valor dos bens à grandeza do sofrimento do trabalho suportado na última
'2:c:-,ômica­ fração de tempo, Mas não menos certo é que a verdadeira lei dos custos permane­
,_:c tempo, se ceria inequivocamente de pé em sua existência e em sua atuação. Sem dúvida al­
.:: ::-:e de uma guma, continuar-se-ia a observar que, em paridade de circunstâncias, bens cuja
c ~'_elamento fabricação custa o dobro de trabalho também têm o dobro de valor; e também se
-::= ;:Jrofundo, continuaria a observar que o valor de bens reproduzíveis à vontade está em cone­
::::(2: marginal xão com a soma do valor de seus bens-custos: as duas coisas, porque permanecem
2 -:2 diferentes plenamente em vigência, sem alteração, aqueles motivos que também hoje geram
coincidência da utilidade marginal dos diversos bens "de produção afim" entre si.
,,- = : .e.reza pos­ O imperativo da economicidade continuaria a exigir que se destine o meio de pro­
o: ~<::.sstab des dução trabalho, disponível em quantidade limitada, pela ordem, aos empregos mijis
~ - ::;:;0 o efei­ compensadores e que é o último emprego, a saber, o menos remunerador, aquele
::: ~ ,:; =de então para o qual ainda é suficiente a cobertura limitada e escassa, que determina tanto
c':::: 2 em for­ a utilidade marginal do produto como também a utilidade marginal do trabalho me­
:-.2:-.te. Antes diante o qual se pode conseguir o produto. E da mesma forma continuará a ser
-:- 2::2 diverso. inadmissível, por ser antieconômico, aplicar a ramos individuais de produção tal quan­
t'2::-. :nais am­ tidade de trabalho - já escasso - que o valor dos respectivos produtos seja inferior
I: ~::-. tais bens ao valor de seu bem-custo, e em compensação privar outros ramos de produção
:::: ::.:'10 fixo e da necessária cobertura ao ponto de seus produtos apresentarem um valor superior
= -.?: :Jhá mar· ao do bem-custo, por ser um valor de coisa escassa. Em suma, mesmo estando
:'::: c30 de tra­ inteiramente ausente o elemento "sofrimento do trabalho", os mesmos motivos ca­
c ... -c: disutility racterísticos, decorrentes do princípio de nivelamento que constituem o conteúdo

., -:e do salá· 12 "Letzter Masstab". p. 206 et seqs. E verdade que a coincidência do valor do produto com o valor dos bens-custos ocorre
::--:-eJ também
também em bens de monopólio. na medida em que o produto monopolizado transmite seu valor elevado também a seu
t:---:: ·:.....-~:zrer Mass­
fator d~ produção monopolizado (por exemplo, o vinho de Johannisberg o transmite aos vinhedos de Johannisberg). En­
:: C:ó - c-c de 1894,
tretanto, não ocorre aqui aquele ajuste do valor do produto de acordo com o valor dos bens-custos (de utilização múltipla).
que ocorre no caso dos bens "reproduzíveis à vontade" e que precisamente constitui o conteúdo característico da lei dos
:::'2 seu capí- custos, tanto da cláSSICa como da empírica
13 'Letzer Masstab", p. 205 et seqs.


f
-------- J
EXCL::;;
162 TEORIA POSITIVA DO CAPITAL

da verdadeira lei empírica dos custos. A quem admite isso - e creio não precisar
temer que o negue alguém que refletir efetivamente sobre a hipótese - é impossí­
vel que deixe de convencer-se de que a disutility não pode ser o princípio eficaz
da lei empírica dos custos, que esta e a law of disutility são duas regras totalmente
independentes uma da outra.
Assim sendo, a sistemática logicamente correta da teoria do valor parece-me
ser a seguinte. Como ponto de partida da teoria do valor dos bens há que colocar
o princípio generalíssimo de que a grandeza do valor dos bens se mede pela gran­
deza do ganho de bem-estar que depende dos mesmos. Esse princípio generalíssi­
mo deve ser assim desdobrado: o ganho de bem-estar dependente, na maioria
absolutamente dominante dos casos, consiste numa utilidade marginaJ14 positiva
dos bens e. numa pequena minoria casuística de casos, consiste em evitar um sofri­ "ComE
mento inerente à aquisição e inferior à utilidade marginal. Dentro da lei da utilidade
marginal há que estabdecer então duas regras parciais secundárias, que se cruzam
em seu campo de aplicação, a saber, a de que a utilidade marginal que determina
o valor dos bens tende, em determinadas condições, a além disso nivelar-se com
o sofrimento inerente à aquisição dos mesmos (/aw of disutility) e a de que, em de­
terminadas outras condições, ela tende a nivelar-se, através do valor dos bens-custos, (Para p
com a utilidade marginal e o valor de todos os bens "de produção afim" (lei dos
custos propriamente dita). As duas regras parciais, das quais a segunda é de longe C:1
a mais importante, deixam margem ainda para um conjunto considerável de casos sentar: Cl
que não obedecem a nenhuma das duas e nos quais a utilidade marginal é não chen G;
somente um motivo determinante atuante, mas ao mesmo tempo o único. objeçc-e
Ao que parece, esses dados ainda' não foram observados com suficiente clareza das se:!
pela ala anglo-americana da teoria da utilidade marginal, ou pelo menos não são gado ê i
expostos com clareza suficiente e de maneira suficientemente explícita. Durante al­ breve -:-,.
gum tempo as duas leis essencialmente distintas, da disutility e dos custos empíri­ A:1
cos, eram até confundidas entre si - confusão cujo germe foi lançado já por Adam maçã :x
Smith, com sua conhecida afirmação de que é o toi1 and trouble do trabalho que e fina:::"'
constitui os custos propriamente ditos e o "preço real" dos bens. Não quero aqui segu:-:::E
discutir em detalhe [" se e até que ponto essa confusão perdura ainda hoje. Não há mire""- !
dúvida de que já se lançaram os fundamentos para um equacionamento dos con­ cada 1::1

.-
trastes que ameaçavam separar a ala austríaca da anglo-americana. As posições do

Prof. Edgeworth, por exemplo, pelo menos hoje já não parecem diferir das minhas
em princípio, mas apenas em uma avaliação quantitativa do campo de aplicação
do 0-':2
ele, ~?

.. da law of disutility](' - se é que um dia a divergência entre nós dois foi além des­
se ponto. Não há cOmo negar. porém, que mesmo em obras recentíssimas não es­
tem C:"
o prazeI
Oq
tão totalmente ausenles os sintomas de uma imprecisão que perdura e em todo caso não pJC
é bem raro chegar-se com toda a clareza ao seguinte reconhecimento decisivo: que sas re~
se fale somente de conceitos diferentes de custos - o que geralmente costuma ocorrer uma::a
-, mas também, com precisão de clareza, de leis dos custos diferentes e paralelas
e se chegue a delimitar claramente o conteúdo, o mecanismo e o campo de aplica­
da de
d
ses, ê.:l
ção das mesmas. Se prosseguir a discussão em torno desse tema, talvez se consiga difere:-::
eliminar inteiramente a divisão entre as duas alas da moderna teoria do valor, a cláus-.:~
qual em meu entender é totalmente supérflua.

1,1 Esse termo deve seI entendido no sentido ilustrado na nota :'8 da p 199 da Teoria Positiva. v.L
", Sobre toda a questão da confusão. ver meu estudo sobre o "Letzter Masstab". p. 207 et seqs. I ZU" :-<-,
I,. "For lhese reasons I submi! that the part played by disutility is greater than Professor Bohm-Bawerk allows; while I admit 2 Ve~ -.; :-,-~

that. upon what may be called lhe general Ricardian assumption of a fixed quantity of labour distributed among different

industries 50 as to secure equal remunerarion for equal amounts of labour, the explanation given by Professor Bohm-Bawerk

would be correcl - utility, without disutility. would be the ultimate standard:' (EDGEWORTH. In: Economic Journal Se­

tembro de 1894. p. 521.)

EXCURSO X
- - ~ ~ precisar
" - 2 impossí­
::- - :''Jio eficaz
[:"":=: :~talmente

l. :;: :; arece-me
__ ~ :;'~o2 colocar
e:;~ 'Je\a gran­
~ :; ;2neralíssi­
:~ ~a maioria
~- :=.~" positiva
". ::=~ um sofri­ "Comensurabilidade" de Grandezas do Sentimento
:-= :a utilidade
::: _~ se cruzam
.;: _~ :::etermina
c' -2,ar-se com
:-2 :; .:e. em de­
c: :-2:lS-custos, (Para página 233 et seqs.)
, :=' :-c.- (lei dos
: ::= 2 de longe Contra meus enunciados sobre esse tema - enunciados que eu já havia apre­
::-~.-2. de casos sentado em teor quase idêntiçp em meus Grundzuege der Theorie des wirtschaftli·
r a: ;:>al é não chen Gueterwerts (1886) - Cuhellevantou recentemente (em 1907) uma série de
:: _:-::co. objeções que enumero entre as contribuições mais esmeradas e mais bem pensa­
:'::.-2:-,te clareza das sobre esse tema extraordinariamente complexo; em razão disso, sinto-me obri­
__.-2 •. :s não são
gado a analisá-Ias com cuidado um pouco maior do que seria possível fazê-lo numa
== Jurante al­ breve nota de rodapé ao próprio texto.
: _s:as empíri­ A meu exemplo ilustrativo - do menino que seguramente não quer trocar sua
:; i 'Jor Adam maçã por menos de sete ameixas, que hesita em relê-ção a uma oferta de sete ameixas
::: ,.::-:=oalho que e finalmente troca a maçã por oito ameixas -, Cuhel objeta em primeiro lugar o
~:: :uero aqui seguinte: precisamente na linha da lei da utilidade marginal, no caso de se consu­
;. :-. :.'02 Não há mirem sete ou oito ameixas uma atrás da outra, o prazer haurido no consumo de
:-2-:: dos con­ cada ameixa não permanece igual, mas em cada ameixa sucessiva se torna menor
to_: :),Jsições do do que o prazer desfrutado nas ameixas anteriores: conseqüentemente, segundo
=-_: :as minhas ele, o prazer desfrutado no consumo das sete ou das oito ameixas de modo algum
:: :2 aplicação tem de ser - como pressuporia meu raciocínio - sete ou oito vezes maior do que
5 '::. além des­ o prazer haurido no consumo de uma ameixa, sobretudo no consumo da primeira. 1
s.s.:-c.cs não es­ O que há de real nessa objeção está correto; todavia, seu alcance naturalmente
a -2:-C. todo caso não pode, já do ponto de vista puramente externo, ser maior do que o das premis­
: :;2:isivo: que sas reais nela estabelecidas, sendo certo, em todo caso, que estas cobrem apenas
c~.::na ocorrer
uma parte dos casos abrangidos pela minha hip..9tese original, totalmente desprovi­
::-2: e paralelas da de cláusulas. Por conseguinte, a objeção de Cuhel impõe, na melhor das hipóte­
-:-:: J de aplica­ ses, apenas uma diferenciação casuística na apresentação de meu exemplo,
i'. -22 se consiga diferenciação à qual já atendi, no texto de minha Teoria Positiva, inserindo algumas
r.:= ::0 valor, a cláusulas restritivas, 2 mas que agora quero fazer com toda a clareza.

1 Zur Lehre von den Beduerfnissen. § 264 e 268 el seqs


;.vhile I admlt 2 Ver Teoria Positiva, v.I, p. 214 el seqs .
.. ,: ,-,--'Ong different
"''',,: 3'Ohm-Bawerk
;': - : ~ : .Journal. Se-

163
164 TEORIA POSITIVA DO CAPITAL

Com efeito, dentro da hipótese - aventada a título de exemplo e destituída métc:: :


de maiores detalhes - da troca das ameixas, tal como a apresentei no ano de 1886, a ur:'::::
podem ocorrer os seguintes casos diferentes: dele5 o~
Primeiro caso: o menino tenciona consumir as sete ou oito ameixas, a receber a urr.:: ;
em troca, uma imediatamente após a outra. mas sabe que nesse caso elas produ­ seja ,c='
zem um prazer decrescente ~ leva isso em conta ao fazer o cálculo que determina de C­
sua decisão. A objeção de Cuhel vale para esse caso, em seu alcance externo; e me G-=~
o aicance interno da objeção é em todo caso ta! que aqui não se pode tirar nenhu­ ses 0_
ma conclusão direta de que o prazer proporcionado pelo consumo de uma maçã :< ::
supera de determinado múltiplo o prazer (que é desigual!) proporcionado por uma uma -=:,
ameixa. Se o alcance interno da objeção vai no caso ainda mais longe, e se significa réplÚ
algo para o cerne de minha argumentação, eis um detalhe que ainda teremos oca­ "pelo ::
sião de examinar. segu:'-:"
Segundo caso: o menino não tenciona consumir as ameixas, a receber em tro­ bem :3
ca, uma imediatamente após a outra, mas em intervalos tais que não entra em bem-.:'o:
ação a lei gosseniana do decréscimo do prazer: seja porque isso é ditado pelas pró­ tado ::~
prias circunstâncias secundárias externas na hipótese em questão - por exemplo, soa. -2::
porque em troca de sua maçã o menino adquire apenas o direito de, em sete dias bem--25:
diferentes, apanhar da ameixeira do vizinho, à sua escolha, cada vez uma ameixa depc:: :
madura -, seja porque, embora adquirindo as sete ameixas todas de uma vez, se terrr.::--. ::
propõe expressamente consumi-las a intervalos maiores para desfrutar do prazer pleno. o be:--:-- :
Note-se de passagem que tal hipótese de modo algum conteria algo de particular­ teso :-2:-::
mente improvável ou de exótico. Pelo contrário, agindo de maneira semelhante, to­ aqu: ~"
da dona-de-casa que compra um pacote de cinco quilos de café, no cálculo que
fizer do valor do mesmo, sem dúvida não pensará em utilizar toda essa quantidade
de café de uma só vez, para uma única refeição a ser saturada com o prazer do em 5-2_
café, mas contará com o fato de que os cinco quilos de café serão utilizados econo­ taçãc::.,
micamente em numerosas porções que satisfarão sempre de novo, e sem decrésci­ inte:--.õ':::'
cobr:- ...;
mo do prazer, a necessidade de café, que sempre se repete periodicamente nos
equ:·,::.'
costumeiros intervalos entre o café da manhã e o jantar. Esse caso, já d9 ponto de vista
puramente externo, simplesmente não é atingido pela objeção de Cuhel até agora um \::::
discutida. sim :::_<
Terceiro caso: o menino simplesmente não reflete mais detidamente sobre se com C5
esta: ,.§;
pretende consumir as ameixas a intervalos ou uma imediatamente atrás da outra,
tia" C-2 :
pois a experiência do "decréscimo do prazer" lhe é ou totalmente desconhecida ou
pelo menos não é por ele conscientizada durante seu processo de reflexão; e na ção :: c·:
falta de tal distinção, supõe sem mais, em seu julgamente ingênuo - se bem que grar-::. -2;
talvez errôneo -, ser igualo prazer derivante de cada uma das seJe ameixas. Salta do r.c:
aos olhos que também esse caso não é atingido pela objeção de Cuhel; sua impor­ vez C::~
tância para toda essa controvérsia ainda será examinada com maiores detalhes mais ume :-:
adiante. répl:c::'5
Contudo, C~hel, com cautela digna de elogios, já previu a possibilidade destas meLC:: ::
con·_:".J
ou semelhantes réplicas, tomando ele mesmo posição diante de uma delas - a
que corresponde ao nosso "segundo caso" - nos seguintes termos: poder-se-ia "ob­ me5:--:--."l
jetar não ser necessário medir o estado de bem-estar, depois de consumir uma ma­ fenc:::3
çã, com o estado de bem-estar, depois de consumir ameixas uma imediatamente ça e:--.::C
após a outra, mas com o estado de bem-estar depois de ameixas consumidas a in­ ma:--.-2:
tervalos maiores". "Entretanto" - assim prossegue ele, refutando a réplica de sua naCC-25
ele:_ :-:
própria autoria - "essa objeção demonstra ser improcedente se considerarmos que
não dispomos de meio algum para certificar se são iguais entre si os estados de bem­ a De:- ]
estar depois de uma ameixa consumida em dias diferentes. Mesmo utilizando esse se C-2.'

-,

EXCURSO x 165

: ::2::t:tuída método, portanto, falta aquela premissa da qual depende toda medição, isto é, que
: ::2 1886, a unidade de medição esteja disponível em tantos exemplares iguais, que a partir
deles se possa compor uma grandeza que seja igual à grandeza a ser medida ou
, ~ :eceber a uma grandeza auxiliar cuja relação de medida para com a grandeza a ser medida
seja_conhecida"(§ 266). Apresentarei minha própria resposta a essa argumentação
2 ~:: ;Jrodu­
, ::2:ermina de Cuhel um pouco mais adiante, num contexto mais amplo; d~ momento limito­
2<emo; e me apenas a destacar em itálico, ao reproduzir os raciocínios de Cuhel, aquelas fra­
:::::: :tenhu­ ses ou palavras que me parecem ser de interesse para resolver a controvérsia.
_-:-a maçã Mas Cuhel formula ainda uma segunda réplica - e também aqui, dentro de
:: :::or uma uma previsão bem correta, pois de fato pretendo endossar também essa segunda
, ::2 ::ignifica réplica: não em seu teor mas em seu cerne. "Um outro método" -- afirma ele ­
"pelo qual se pode esperar conseguir medir os estados de bem-estar consiste no
'":2:-:-:0S oca­
seguinte: se tivermos que determinar o estado de bem-estar após desfrutar de um
:~2: em tro­ bem B", detecta-se primeiro uma série de bens em relação aos quais os estados de
bem-estar são inteiramente iguais. Se. por exemplo. tivermos constatado que o es­
': 2:ttra em
c: :::e]as pró­
tado de bem-estar após tomar uma garrafa de vinho, no caso de determinada pes­
soa, em determinado momento e em determinado lugar, é igual ao estado de
c::: 2:~"mplo,
bem-estar após ler determinado livro ou após consumir determinado alimento ou
::-:- ::ete dias
;:-:-?, ameixa depois de fumar determinado cachimbo ou após usar determinada gravata ou de­
terminada faca ou determinado tinteiro, parece que, se o estado de bem-estar após
'- :-. c vez, se
o bem B n for igual à soma dos estados de bem-estar após esses sete bens diferen­
::-~2r pleno.
tes, tem de ser sete vezes maior do que o estado de bem-estar após um deles, pois
.: ::: crticular­
aq ui não há a interferência perturbadora da primeira lei de Gossen" (§ 267).
:2.~3.nte, to­
::~.:ulo que
Mas também contra esse método Cuhel elenca toda uma série de razões que
::~antidade
em seu entender o tornam "imprestáver. Entre outras coisas assinala que a consta­
:: :::,:azer do
tação de diversos itens de bens que constituem objeto de estados de bem-estar de
c:::::: econo­
intensidade igual "levaria muito tempo" e que dificilmente se teria condição de des­
:::-:- :iecrésci­ cobrir um número suficientemente grande de tais bens para com eles "compor" o
2:-:-.ente nos equivalente de estados de bem-estar muito intensos, correspondente, digamos, a
c:') de vista
um valor dos bens de algumas centenas de milhares de coroas; argumenta outros­
!'e: até agora
sim que durante o período que se precisa para comparar um estado de bem-estar
com os estados de bem-estar após muitos outros bens, esse primeiro estado de bem­
:-.:2 ::obre se estar já pode ter sofrido alteração e, por conseguinte, não se tem "nenhuma garan­
~:: :::a outra,
tia" de que sua grandeza não se modificou; assinala, outrossim, que também a rela­
c~~.ecida ou
ção dos estados de bem-estar entre si, após vários bens, está sujeita a oscilações
::2:0.:30; e na grandes e repentinas, pois uma igualdade dos estados, constatada para determina­
::2 ::Jem que do momento, já pode novamente haver desaparecido depois de algumas horas, tal­
r2:xas. Salta vez até já depois de alguns minutos, razão pela qual pode ter-se tornado necessária
~. ::..:a impor­
uma nova constatação, e assim por diante. Resume ele a influência de todas essas
l,:::a:hes mais réplicas nos seguintes termos: "a medição de estados de bem -estar, mesmo pelo
método que acabamos de expor, é praticamente inexeqüível, pois tomando-se em
c.:?,:::e destas conjunto v§rias unidades de estados não é possível provar a igualdade plena das
ê ::elas - a
mesmas". Cuhel acha que esse seu resultado "contradiz abertamente" a opinião de­
:2>se-ia "ob­ fendida por mim,"de que se pode determinar numericamente a grandeza da diferen­
1..: :Jma ma­
ça entre a intensidade de duas necessidades". Em seu entender não há "absolutamente
:2 ::atamente maneira de certificar" que relação de intensidade "ocorre na realidade". As determi­
;_:-:-.'das a in­ nações numéricas realmente ocorrentes dos estados de bem-estar têm antes, segundo
§:::::a de sua ele, uma natureza diferente, para a qual é adequado não o termo "medir", mas antes
[",::::mos que a denominação "graduar" (skalieren); em sua opinião, trata-se de um método que
L:::: de bem­ se deve pôr em paralelo com a determinação numérica dos graus de dureza dos
c_2ndo esse

i
~-----------
i
166 TEORIA POSITIVA DO CAPITAL

minerais mediante a conhecida escala de dureza de Mohs (de dez graus), método por mirr: _
com o qual, apesar da expressão em números, não se consegue constatar outra como cc:-.s.
coisa senão que a dureza a determinar é igual a uma outra, adotada com o padrão, valor ecc:- ::
ou que é maior.; qüência_:-:,
Penso que Cuhel, a despeito do grande cuidado e da circunspecção que em­ explicar :-.3,
pregou nessa argumentação, errou no ponto decisivo. E isso se deve ao fato de não Evic,,-:
haver diagnosticado com clareza suficiente o tema que é objeto de controvérsia en­ denomi:-~
tre nós dois; além disso, não se ateve com coerência a seus próprios conceitos e damem: :.
conseqüentemente exagerou as exigências para a prova que me compete fornecer, necessitê ::
de uma forma que não corresponde nem à natureza do objeto controvertido nem so, poré:-:-.
aos conceitos expressos por ele mesmo sobre o assunto no decurso do debate. revê a ~::::"
O ponto em torno do qual versa o debate é o tipo de "determinação numérica" restrito " :-:,
que se expressa nos juízos por nós feitos acerca da diferença de intensidades de duais cc:- =-~
sentimentos. Cuhel distingue aqui, em primeiríssima linha, e muito acertadamente, mas ser. c:<
entre uma "medição" e uma simples comparação ou mesmo "graduação" (skalíe­ rigorosa, ? .
ren). "Na comparação entre duas grandezas, cada uma delas serve como critério deixou c" :
de medição para a outra, ao passo que, no caso da medição das mesmas, as duas Ao :::3:
têm um terceiro padrão de medição, que lhes é comum, isto é, a respectiva unidade requisite :..-:
de medição ou de peso, respectivamente um múltiplo da mesma. Em se tratando res" que: J
da comparação entre duas grandezas que não são iguais por acaso, basta indicar medida ~§
qual das duas é maior do que a outra; todavia, a comparação não apura de quanto cia no se:-.j
ela é maior; ao contrário, no caso de medição é preciso determinar numericamente te não ;'.é. :
a que produto da unidade de medição é igual a grandeza a ser medida, pois medir basta 'c's=-.;
significa encontrar um número que indica quantas vezes uma grandeza, que se su­ Esse prçc~:
põe ser uma unidade, está contida na grandeza a ser medida". E a essa primeira da por C_:I
definição estrita da medição acrescenta, como requisito igualmente rigoroso para nas ".lrr:c;-::
a possibilidade de tal medição, que "exista uma unidade de medição que esteja dis­ cometa :'.1
ponível em tantos exemplares totalmente iguais e que permanecem iguais, que com quanto se:.;
elas se possa compor uma grandeza que seja igual à grandeza a ser medida". (§ 262, poníver -..
alínea 1). " a mesrr." j
Contudo, em suas exposições subseqüentes, Cuhel chega a dar uma interpreta­ fa de a\L.3
ção bem ampla, sob os aspectos mais diversos, desse conceito de medição. Afirma se trata ce
"não" ser "essencial poder aplicar mecanicamente um padrão de medição concreto a analos:,,_
à grandeza a ser medida, como se faz, no caso de medições de comprimento, com tras, tar.:2:.5
o metro e a trena"; admite também uma "medição indireta"; afirma não ser necessá­ tas" po~ -.:
rio sequer "perceber simultaneamente~o padrão de medição, podendo-se também do estac:
medir com um "padrão imaginário" como, por exemplo, quando queremos determi­ de mill:~2
nar a altura de uma casa, havendo deixado o metro em casa. Segundo ele, costu­ Err. ~2!
.
t
mamos denominar tal método de "estimativa", que, porém, constitui também ela uma
a~utêntica medição "no sentido mais amplo", sentido mais amplo ao qual o pr9prio
dades C02 ~
dade CC"""
.
t Cuhel declara querer ater-se. Nesse contexto, para o conceito de medição Cuhel
se contenta com um simples "procurar indicar" - em contraposição ao "encontrar"
anteriormente exigido - o múltiplove abre mão também do requisito da "exatidão"
mediçâ::: :"1
o próp:-:: I
tameme c..
(§ 262, alínea 2) 4 E, finalmente, Cu hei ainda observa expressamente num pará­ circunfe~~~
grafo (274) extensivo tanto à "medição" como à "graduação" (skalieren), que a ocor­ na, tar:-::::é
rência de "erros" não afeta a utilidade dessas determinações para fins de explicação extensâ::: _
teórica. "Pois" - assim se expressa, estribando-se numa afirmação semelhante feita dir dis:?:- J
"prova~- J'

3 Op, cit. § 264-273


4 o autor se expressa de modo simíJar também no § 263. última alínea. onde afirma que também um "grau muito menor s§ 26~ _--.

de 'exatidão" não constitui obstáculo para reconhecer determinado método como uma verdadeira medição cio de ~ ~ ~-
.... _._ __..__.... _-----_.
....

EXCURSO X 167
__ :ilétodo por mim, à qual adere plenamente - "uma determinação incorreta do estado tem
E::õ.:,,~ outra como conseqüência, com a mesma necessidade, uma determinação incorreta do
~. :: ;:ladrão, valor econônomico, quanto uma determinação correta do estado tem como conse­
qüência uma determinação correta do valor e a Ciência Econômica tem por tarefa
ã: cueem­ explicar não somente as avaliações corretas, mas também as incorretas".
::::::' de não Evidentemente, esse abrandamento das exigências para aquilo que ainda se quer
:c-: ·.é~sia en­ denominar "medição" pode e deve acarretar conseqüências também para um abran­
:::: :-.ceitos e damento das exigências no tocante às características dos instrumentos de ~que se
~:" ::Jrnecer, necessita como r~quisito indispensável para uma "medição" desse gênero. E curio­
.,,:-::cio nem so, porém, que Cuhel não tenha pensado em tirar essas conseqüências. Ele não
:: :ebate. revê a lista de exigências estabelecidas de início para a medição no sentido mais
: :-...:mérica" restrito e rigoroso do termo, para verificar se e como os diversos requisitos indivi­
-.~:ades de duais contidos se abrandam em relação a uma medição no sentido mais amplo,
:..:::::amente, mas sempre me opõe polemicamente essa lista inalterada, em sua formulação_mais
;~: - I:skalie­ rigorosa. Por isso temos antes de tudo de efetuar a revisão que o próprio Cu heI
;:-:-:: critério deixou de fazer, e o faremos baseando-nos em suas própria colocações.
:::~ as duas Ao fazermos isso, teremos antes de tudo de abrandar sensivelmente o próprio
:'.:: :.midade requisito de que a unidade de medição deve "estar disponível em tantos... exempla­
~~ ~atando res" que com eles se possa "compor" uma grandeza equivalente à grandeza a ser
'ê~:G indicar medida. Já para a medição no sentido mais restrito seria difícil manter essa exigên­
=. :2 quanto cia no sentido literal. Para medir uma vara de 10 metros de comprimento certamen­
:-2~camente te não há necessidade de que existam dez varas de metro, senão que obviamente
, := eis medir basta "dispor" de uma única vara de metro, que se aplica dez vezes à citada vara.
. c·..:e se su­ Esse prQcedimento está plenamente dentro dos parâmetros da "estimativa" reconheci­
;s:: ;:lrimeira da por Cuhel e se baseia num padrão nem sequer percebido como presente, mas ape­
;'::~JSO para nas "imaginado"! Com certeza podemos estimar o comprimento da cauda de um
'" -2s:eja dis­ cometa ou a distância entre duas estrelas com base em "diâmetros da Lua", con­
::.5. cue com quanto seja igualmente certo que essa unidade de medição só está realmente "dis­
ió-·(§ 262, ponível" num único exemplar. Em nossa imaginação, de certo modo decalcamos
a mesma única Lua "disponível", tantas vezes quanto for necessário para nossa tare­
=.-.Terpreta­ fa de avaliar: por que motivo não se poderá então fazer coisa análoga também quando
iç~=. Afirma se trata de av.aliar intensidades? Por que razão, contradizendo aqui tão frontalmente
~:: concreto a analogia, Cuhel insiste em que devem existir efetivamente, umas ao lado das ou­
<..-2:1to, com tras, tantas coisas diferentes do mesmo grau de estado e que devam "ser descober­
i<T :1ecessá­ tas" por nós através de reflexão, para podermos compor até as maiores grandezas
-~-2 Também do estado a serem avaliadas, por exemplo grandezas de valor de algumas centenas
t:: ~ :ietermi­ de milhares de coroas, com elementos de tipo completamente diferente?
; -2:e. costu­ Em relação a mim, Cuhel insiste também em que na composição de várias uni­
É:-:-. ela uma dades de estado (respectivamente de intensidade), se deve p0der demonstrar a "igual­
c J prgprio dade completa" das mesmas. 5 Também isso é rigor exagerado. Pois para uma
=-;~J Cuhel medição rL!dimentar e sobretudo para uma medição apenas aproximativa - que
i --2·:-.contrar" o próprio Cuhel também declara reconhecer como uma autêntica medição - cer­
lê -exatidão" tamente basta uma igualdade apenas aproximativa. Certamente podemos medir a
:-...:m pará­ circunferência de uma árvore grossa ou a largura de um prado, na falta de uma tre­
:":2 a ocor­ na, também com uma vara de vime encurvada e dobrável, dando-lhe talvez uma
~ '-2x;:llicação extensão um pouco diferente em cada aplicação; e nada mais comum do que me­
~':--.Gnte feita dir distância em passos, sendo que no caso naturalmente nem de longe se pode
"provar" ou "garantir" igualdade plena de todos os passos individuais - nomeada­

_:0 menor 5 § 267, última frase; ver ainda citação acima à p, 208; ver também a expressão "totalmente iguais" ("ganz gleich") no iní­
CIO do § 267
168 TEORIA POSITIVA DO CAPITAL

mente quando o terreno a pisar não for totalmente uniforme ou quando para a me­ que e:":"::
dição se utilizam os passos de pessoas diferentes -, por exemplo quando, por ocasião lo erre::
de um treinamento em campo, um oficial manda medir a distância entre dois obje­ Q_-o::"]
tos localizados em direção exatamente oposta ao ponto em que estão localizadas as fórr. _"'
suas tropas e, para poupar tempo, não manda que a distância total a ser medida se des·.. =
seja percorrida por um e mesmo homem, senão que cada um dos dois trechos opostos é ineX2:~
seja percorrido por um soldado diferente. Dessa forma obtém-se uma medição ine­ tre vá;;: s
xata, uma medição com "limites de erro", erro de cuja existência e grandeza nós mes­ várias :::
mos podemos ou não tomar consciência; mas apesar disso o processo permanece mentE:-§
sempre uma medição e essa circunstância certamente não transforl1}a a natureza Não SE :::-i
do processo numa "graduação" (skalieren). Como sabe muito bem Cu heI, há, de o grei... :E
um lado, uma "medição" executada com precisão, uma medição feita com impreci­ trata-sE ~
são, e uma "medição" meramente aproximativa, e, de outro, um "graduar" (skalie­ vaçôES E:
ren) executado com precisão, um skalieren executado com imprecisão e um skalieren sultaé.c :.
puramente aproximativo;6 mas em todo caso a inexatidão de um processo não po­ imagi:-.~:ê'
de transformá-lo de uma medição em um skalieren, tampouco como,inversamen­ pense :~
te, a exatidão de um processo não transformaria de um skalieren numa medição. cução :2
Por isso, de modo algum uma deficiência no requisito da igualdade "completa" da ll_ :=-'
unidade de medição torna impossível qualquer medição, como quer objetar Cuhel; deterr...:-.i
para uma medição podemos e devemos contentar-nos com a exigência de uma igual­ distân:=
dade "aproximativa" das unidades de medição utilizadas, sendo que os desvios em é esse :..5
relação à igualdade "completa" podem no caso concreto ser bem significativos, sem ciados ::.:
que isso tenha outra conseqüência que a medição ser altamente imprecisa, já que dição :_l
o processo continua sendo, por sua natureza, uma medição. recor.E: <:
Entretanto, há ainda outro aspecto sob o Slual merece ser analisada em particu­ tem fi. =5
lar a exigência repetidamente colocada por Cuhel de que é preciso "demonstrar", subje:'·. :.
"garantir" ou, de uma forma ou outra, "certificar" objetivamente determinada carac­ separe ::
terística da unidade de medição. Qual será a conseqüência se as unidades de medi­ para 'ss:
ção não forem objetivamente iguais - nem plenamente nem mesmo gardes ::.
aproximativamente iguais -, mas forem consideradas iguais, mesmo que erronea­ de e1..-O::1
mente, pelo que mede ou avalia? Porventura tal processo deixa de ser um "procurar avalie: :.~
indicar a que múltiplo da unidade de medição é igual a grandeza a ser determina­ exem::.:.
da"?7 Certamente que não! Mesmo então o processo continua sendo uma verda­ tâncie :<!
deira medição, uma procura do múltiplo de uma unidade de medição, tornando-se ção CES.5
apenas uma medição errgnea, defeituosa, a qual, porém - também aqui, segundo se err.::~
a própria afirmação de Cuhel -, para efeito dos objetivos de explicação teórica e iguaL c.:"
peculiar no caso, que entram em questão em toda a presente controvérsia, vale exa­ desig . . . =..:.:
tamente tanto quanto uma medição correta, exata. Permanecendo em nosso exem­ pect:\c
plo, suponhamos que o oficial, em virtude de um sério descuido, simplesmente não gran c E':':
haja levado em conta o fato de que um dos dois trechos da distância a medir era te cas: i
em subida e a outra em plano, e que além disso os dois soldados que mandou me­ será '.2,
dir os dois trechos eram de estatura bem desigual: nesse caso é manifesto que co­ opere;§.1
meteu um erro grave e injustificável, considerando iguais os diversos passos que servem ~::'
como unidades de medição, e conseqüentemente efetuando uma medição bem er­ Ioga, :-.=.
rada da distância; mas o fato é que a mediu, não se podendo dizer que simples­ rar" -::
mente a "graduou" (skaliert). E essa medição errônea, justamente por ser defeituo­ agir :::E !
sa, serve para explicar, de maneira perfeitamente correta, por exemplo o fato de nos '<.:

6 Ver éUHEL. Op. cit., § 274.

7·CUHEL. Op. cit., § 262; ver também acima, p. 209.

EXCURSO x 169
L :: - .:.: para a me­
que a tropa do oficial atira bem fora do verdadeiro alvo, por se haver feito um cálcu­
l::- .:.:. por ocasião
lo errado da distância de tiro.
.:: ~ - :~2 dois obje­
~ ~:~.: localizadas
Quem atentar para o alcance de todos esses detalhes e considerar novamente
as fórmulas genéricas que Cuhel me objeta, se convencerá formalmente de que ele
:::::: :: ser medida
se desvia do tema em pauta. Objeta-me que a medição de estados de bem-estar
::: _5 ~~ :::hos opostos
é inexeqüível na prática, por não ser possível demonstrar a igualdade completa en­
.- :: :-:-.edição ine­
~:: - :2Za nós mes­
tre vários estados e porque "não há absolutamente como certificar qual dentre as
.:~ 55::: permanece
várias condições numéricas ocorre na realídade".8 Acontece, porém, que simples­
~::: :.-:-.:: a natureza
mente não é este o objeto em discussão - nem para mim nem para ele mesmo.
~- ~..:nel, há, de Não se trata de determinar, com todas as garantias de correção e exatidão objetiva,
o grau de intensidade que ocorre na realidade entre dois septimentos ou estados;
'" ::: :::::Jm impreci­
.:::: ::.lar" (skalie­ trata-se apenas, como o diz de maneira muito mais correta Cuhel em várias obser­
~ -: ~"::T1 skalieren vações esparsas, de simplesmente "procurar indicar", operação que pode ser o re­
.:::::: :::~5S0 não po­ sultado de uma simples avaliação subjetiva, de um operar com padrões simplesmente
-= - :::::wersamen­
imaginários, sem pretensão de exatidão e até sem pretensão de~ser correta! Ora,
- - _:-:la medição. penso qu~ absolutamente nenhuma das objeções levantadas por Cuhel obsta à exe­
C~ -:::omple1a" da
cução de tal operação, caracterizado também em meu texto como tal.
l~: ::::::.:etar Cuhel;
Ilustremos isso mais uma vez com a máxima clareza, com base no exemplo da
:::: :2 uma igual­ determinação de distâncias, Nosso oficial. com sua tropa, vê surgir o inimigo a certa
distância. Não tem absolutamente condições para "certificar" com objetividade qual
L~ ::: 5 desvios em
c:;-.::cativos, sem é essa distân_cia "na realidade". Faltam-lhe para isso todos os rigorosos requisitos enun­
:"'-::::2cisa, já que
ciados por Cuhel. Falta-lhe o número suficiente de "exemplares" da unidade de me­
dição que sejam "comprovadamente" e "completamente" iguais; não pode sequer
~S,::::: em particu­ recorrer ao sucedâneo imperfeito que é a medição por passos, operação que já não
:.5::: -:::emonstrar", tem mais a possibilidade de mandar executar. E no entanto tem de formar um juízo
r.:~ :::-.::lada carac­ subjetivo, por mais falho que seja, sobre a grandeza numérica da distância que o
~. :::::es de medi­ separa do inimigo, porque precisa mandar sua tropa disparar sobre ele e porque
para isso tem de determinar se seus soldados devem regular a "mira" de suas espin­
E :.2m mesmo
~ : : ~ue erronea­
gardas para a distância de 400 ou de 800 ou de 1 200 passos etc, Nessa situação
~: ..:m "procurar
de emergência, mesmo sem quaisquer garantias e provas, é obrigado a procurar
~ 52: determina­
avaliar de alguma forma o múltiplo de passos que o separa do inimigo; fá-lo-á, por
::- ::::: uma verda­ exemplo, aplicando mentalmente o padrão meramente imaginário - digamos a dis­
.: ~::: tornando-se tância de cada 100 passos - ao terreno que separa as duas tropas, fazendo aplica­
,~ ::~ui, segundo ção desse padrão tantas e tantas vezes sucessivamente e, na medida do possível,
se empenhará e deverá empenhar-se em aplicar essa medida cada vez de maneira
:::: ::::::::ão teórica e
c, ~:sia, vale exa­ igual, ainda que na realidade essas unidades de medição possam ser extremamente
~::-. :losso exem­
desiguais, por exemplo em decorrência da avaliação incorreta dos efeitos da pers­
pectiva. Em qualquer caso, porém, ocorrerá como fato um juízo numérico sobre a
:-:-.::::2smente não
grandeza da distância; esse fato há de influenciar como motivo o agir - no presen­
L ::? a medir era
te caso, a operação de atirar por parte dos soldados -, sendo que o acerto do juízo
: -~ :-nandou me­
::::-.::2sto que co­ será verificado, na melhor das hipóteses, só posteriormente, pelo resultado da
ê..:.5::::,s que servem operação,
Na vida econômica encontramo-nos constantemente numa situação bem aná­
r:-.~ :::ção bem er­
loga, na qual somos obrigados a agir. Também nós temos continuamente que "ati­
;;;)2: ::;ue simples­
:.:::: ser defeituo­ rar" - digamos assim -, e para isso temos constantemente de mirar, se não quisermos
agir de forma totalmente desplanejada, mas agir economicamente; ora, esse mirar,
~::-. p:o o fato de
nos inúmeros casos em que se trata de conseguir um prazer ou evitar um desprazer

8 CUHEL Op. cit, § 267 no final e § 273


-:-::'ORIA POSITIVA DO CAPITAL

- concedendo de bom grado aos anti-hedonistas que além destes há outros objeti- . ameixas. :=.:
,'05 - . se quisermos agir racionalmente, deverá ser orientado por um juízo subjetivo mente a;;::
sobre a grandeza (intensidade e duração) de um prazer ou desprazer. No caso, com se assetT.e.-i
muita freqüência a situação pode ser tal que é suficiente uma simples comparação, fluência c::
um juízo sobre se duas grandezas de prazer são iguais ou se uma delas é maior e ciente de::a
eventualmente qual é a maior - por exemplo, isso ocorre quando se trata de deci­ com base -.=.
dir sobre duas utilizações que se excluem mutuamente, no caso de um e mesmo pIo, tornê. : :,1
bem. Mas talvez, com a mesma freqüência, e até com maior freqüência - procurei na med:çê-:
apontar exemplos para isso em meu texto -, não seja suficiente um juízo tão im­ um pinhe:~:
preciso para nossos objetivos práticos, da mesma forma como não bastaria para nosso sete grar.=~
oficial instruir seus soldados sobre a operação de atirar o juízo de que, de duas colu­ mentam :_:1
nas inimigas que está vendo, uma está mais distante que a outra. Muitíssimas vezes nosso me:-..:-.
a situação prática nos obriga a determinar numericamente nosso agir, a somar em é igual à ;~=.':
determinadas grandezas os meios ou bens que proporcionam prazer ou confrontá­ mo de se:2
los entre si em determinados múltiplos, sendo que essa determinação numérica de Dese: 3
nosso agir exige, se quisermos que este último não seja puramente arbitrário, que de o pró:::-:
antes se formem juízos numéricos sobre o grau de intensidade de alegrias a serem quer recc:-. ~.•
desejadas ou a serem sacrificadas em favor delas. Precisamos de tais juízos se qui­ nações cc: ~
sermos agir racionalmente; e formamos tais juízos porque temos necessidades de­ mo grau c_e
les. Formamo-los, incorretamente ou corretamente, e talvez com muito mais freqüência com a es:=..".o
incorretamente do que corretamente, sem aparelhos de medição objetivos garanti­ ser chatT.ê.oa
damente corretos, e até sem qualquer aparelhagem externa objetiva, baseados ape­ de durezê : J
nas em avaliações vagas - subjetivas, quiçá extremamente enganadoras e não apresenta : ;
controladas - da intensidade de impressões da esfera sentimental, impressões que ele é ma:: ::
na melhor das hipóteses experimentamos parcialmente no momento, mas que re­ dureza. C:.:-.:
produzimos prevalentemente apenas em nossa imaginação, talvez com análise cor­ ricas da C':~2:
reta, talvez com análise incorreta, e talvez até sem nenhuma análise de elementos derada co:-:-. J
que também influenciam o acerto de tais avaliações sobre graus de intensidade, co­ quando C.22l
mo os fenômenos da perspectiva influenciam as estimativas que fazemos das di­ gundo, 'ss: :
mensões de comprimento ou de altura. v
sebo, mas ::;J
Em minha opinião, é aqui que se deve inserir a referência de Cuhel ao prazer impossíve. :i
gradualmente decrescente que pode advir do consumo de um número maior de maior do :,,;
ameixas - e não entre os argumentos contra a possiblidade de uma "medição". Se No c.e i
nosso menino - que iguala o prazer derivante de uma maçã ao prazer proveniente to. Entreia~.:~
do consumo de sete ameixas - de maneira ingênua simplesmente não pensa na nem qualc_i
possibilidade de uma diferença de prazer ligada ao consumo de cada ameixa iguala za, e o te,:e:
o prazer de consumir uma maçã à soma de sete prazeres por ele considerados iguais, justamente ;J
derivantes de cada ameixa, ou seja, a sete vezes o tal prazer considerado individual­ dos" (skae-:
mente; ao fazer isso, age de maneira análoga à de alguém que, no caso de um pi­ considera:: :
nheiro de 10 metros de altura - cuja altura quer avaliar a olho nu .....:..., aplica à árvore,
mentalmente e a olho, uma vez depois da outra, uma grandeza que avalia em um
tão duro c_,
e o 1? g,a_
metro, sem sequer refletir se, levando-se em conta os efeitos da perspectiva, aquilo razão -C_2
que parece ser igual é realmente igual. E se a seguir nosso menino levar em conta za, à SOlT.:: :
a possibilidade do decréscimo de prazer e, ao formar seu juízo numérico, imaginar de dureza ::.
expressamente que o prazer derivante do consumo de cada ameixa tem aquela gran­ - de que:
deza que se consegue obter desfrutando plenamente e distribuindo sabiamente as
quantidades a serem consumidas de uma só vez, nesse caso assemelha-se àquele
que, ao avaliar alturas, elimina cautelosamente do cálculo os efeitos enganadores 9 "Concors:;- : ~ :
da perspectiva, mudando sucessivamente, por exemplo, o ponto a partir do qual zeres menC-::-2: ;;.:
ele mesmo olha. Finalmente, se nosso menino avaliar o prazer derivante do consu­ entender _ ..
também Ué' ; : ­
mo de uma maçã igualando-o à soma dos prazeres derivantes do consumo de sete 10 Op. Clt.
EXCURSO x 171
i :: ..:~os objeti­ ameixas, sabendo expressamente que elas devem ser consumidas uma imediata­
: ._:2::) subjetivo mente após a outra e portanto proporcionam um prazer decrescente, nesse caso
, .:: caso, com se assemelha àquele que efetua a avaliação da altura a olho, sofrendo, sim, a in­
~ :::::-:1paração, fluência dos efeitos enganadores da perspectiva, mas em contrapartida está cons­
i",=.õ é maior e ciente desses efeitos enganadores e por isso também corrige o resultado, medido
lê ::-=.:a de deci­
com base na ingênua impressão dos sentidos - assemelha-se àquele que, por exem­
! _:-:-. e mesmo
plo, toma consciência de que cada "metro" mais alto, aplicado igualmente com base
'c =. - procurei na medição visual sem controle, na verdade cobre mais de um metro e sabe que
"':": ..:'zo tão im­ um pinheiro que mede sete "metros visuais" não corrigidos não é igual à soma de
2:- =. :Jara nosso
sete grandezas parciais iguais, mas à de sete grandezas parciais desiguais e que au­
_ :.:: '::luas colu­ mentam sucessivamente. Analogamente, o conteúdo material do juízo emitido por
_.:'õs:mas vezes nosso menino em tal caso será de que o prazer haurido do consumo de uma maçã
=- =somar em é igual à grandeza somada de sete prazeres desiguais entre si, derivantes do consu­
r :: _ confrontá­
mo de sete ameixas.
,: -..:mérica de Desejo agQIa salientar com ênfase que também um tal juízo -- cuja possibjlida­
2O:c:rrário, que de o própr:io Cuhel admite expressamente 9 vai bem além daquilo que Cuhel
-v
1E~.cs a serem quer reconhecer em nosso debate. Com efeito, Cuhel ensina que "todas as determi­
~ ...:'zos se qui­
nações dos estados a despeito de se expressarem em números estão apenas no mes­
c.::ss:dades de­ mo grau que as determinações numéricas da dureza dos minerais", as quais se obtêm
r:-:=.:s freqüência com a escala de dureza de dez graus de Mohs e as quais, segundo ele, só podem
~o<:::':os garanti­
ser chamadas de skalieren e não de "medição". Descreve ele o alcance dessa escala
c2Oseados ape­ de dureza com muito acerto, dizendo que ela "nos possibilita indicar se um mineral
-.2O:êlras e não apresenta o segundo, o terceiro, o quarto grau etc. de pureza, respectivamente, se
r:-::::essões que ele é mais duro que um mineral do segundo, do terceiro, do quarto grau etc. de
[ :-:-.a~ ~ue re­ dureza. Contudo, não se pode qualificar como medições tais determinações numé­
;:-. c:1ahse cor­ ricas da dureza, por não se conseguir indicar a qual múltiplo de uma dureza, consi­
: :.:: elementos derada como unidade de dureza, são iguais as durezas a serem medidas. Com efeito,
::.:::,:s:dade, co­ quando dizemos que o sebo apresenta o primeiro grau de dureza e o gesso o se­
t22:-:-.os das di­ gundo, isso de modo algum significa que o gesso é duas vezes mais duro que o
sebo, mas apenas que ele é em certo grau mais duro, sendo, porém, absolutamente
:-.2. ao prazer impossível certificar se a dureza dele é 1 1/2, ou duas vezes ou 2 1/2 ou 3 vezes
r.':::8 maior de maior do que a do sebo".lO
i --:-:e dição". Se No que concerne à escala de dureza de Mohs, isso é de fato inteiramente corre­
E: :Jfoveniente to. Entretanto, justamente porque o segundo grau de dureza não constitui o "duplo"
- §.J pensa na nem qualquer outro múltiplo certo ou sequer presumido do primeiro grau de dure­
=.:-:-.eixa iguala za, e o terceiro grau de dureza não é um múltiplo do primeiro e do segundo etc.,
c':::c::10s iguais, justamente por isso não se pode de modo algum somar os graus de dureza "escala­
~::: ::1dividual­ dos" (skalierten) dos minerais. Não se pode - em nenhum sentido que possa ser
:.esc de um pi­ considerado válido - afirmar que um mineral do 8? grau de dureza é exatamente
::= ..::a à árvore, tão duro quanto três minerais somados que possuem respectivam,5!nte o 5?, o 2?
~·.cl:a em um e oI? grau de dureza. Certamente não se pode dizer - e nisso Cuhel tem plena
p'-2:::va, aquilo razão - que a dureza de um mineral do 8? grau de dureza equivale, em sua dure­
e'. cf em conta za, à soma da dureza de quatro minerais de dureza igual, por exemplo, do 2?vgrau
~:::êl. imaginar de dureza, pois tal juízo seria idêntico à afirmação - rejeitada com razão por Cuhel
1": c:;uela gran­ - de que o mineral do grau de dureza 8 é quatro vezes mais duro que um mineral
sc::amente as
2::-.c-se àquele
, .:::,.ganadores
"Concordamos plenamente com B6hm-Bawerk quando afirma que o juízo 'deve versar estritamente sobre quantos pra­

:;J
;:cClir do qual zeres menores equivalem a um prazer maior'; todavia, com a palavra 'quando' (wie viel) não necessariamente se precisa

L.:':: do consu­ entender (... ) uma soma de várias grandezas iguais que, como se sabe, se denominam produto, mas se pode entender

:ambém uma soma de várias grandezas desiguais" (Op. cit., § 268).

15"::-:10 de sete :0 Op. cito § 272.

172 TEORIA POSITIVA DO CAPITAL

do 2° grau de dureza; ora, por motivo inteiramente análogo, tampouco se pode No ;;:--:::
dizer que a dureza de um mineral de um grau de dureza superior seja igual a qual­ supõe o õ;;~
quer soma de durezas menores desiguais de outros minerais. Pois também a soma respone;; _:
de grandezas desiguais pressupõe em última análise uma relação com alguma gran­ sobre a c:.­
deza igual considerada como padrão, grandeza que é representada - ou pelo me­ ato psíq~=J
nos se supõe sê-lo - nas grandezas desiguais em número desigual. Deve estar reta ou ':- ==.
determinada ou poder ser determinada a mútua relação de grandeza entre duas ou sidade c _-.
várias grandezas desiguais - com base em alguma unidade de medição comum o proceõõ = :
a elas - para que seja possível juntá-las numa soma, e portanto para se poder dizer e odes;; =
algo sobre a relação de grandeza dessa soma com uma outra grandeza. Só posso sentime:-::
juntar as grandezas desiguais 7 e 5 em uma soma e só posso constatar que esta Ore ..:-Ó~
é igual à grandeza simples 12 ou a uma outra soma, de 8 mais 4, porque tenho intérpre:;; :'
condição de comparar cada uma dessas grandezas com a unidade comum "1" e não ter.: -;;
medi-las por ela. Se as grandezas 7 e 5 não tivessem nenhuma relação fixa de gran­ deverie c:': 2
deza entre si, nunca se poderia dizer até onde vai a soma delas ou qu~ grandeza sentime:-:=s
essa soma atinge: a obtenção de múltiplos, o multiplicar, operação que Cuhel con­ "Se :_~
sidera tão diferente da operação de somar, não difere basicamente da adição, da jas inte:-õ:'
operação de somar, sendo o multiplicador apenas uma subespécie casuística da adição, sentam: _'"
da soma; trata-se de multiplicar e somar várias grandezas iguais entre si. Mas mes­ nos pro:: ===
mo ao somar grandezas desiguais é preciso poder julgar o grau da desigualdade; porcioPê.:: =
e também para isso há necessidade de tomar como referência alguma grandeza últi­ ao sac:e= ",fi
ma e igual, que sirva como unidade, grandeza que deve estar presente no mínimo disporr.c õ :;
na imaginação. A adição de grandezas desiguais já pressupõe, por assim dizer, que timentoõ :. "
tenha previamente ocorrido uma adição de grandezas iguais (isto é, o julgamento um deleõ ;;
sobre a grandeza das grandezas que são entre si desiguais em relação à grandeza valor IT'.ê..==
da unidade igual contida em todas elas). Onde uma das duas operações for possí­ um é UI.. õ2
vel, por essa mesma razão é possível também a outra; e onde uma das duas é im­ tivamer.:;; Si
possível, por esse motivo é impossível também a outra. Isso vale igualmente para (tem Ve:C= ­
graus de dureza e para intensidades do sentimento, mas com o resultado oposto. efetiva tc:- ~
Na determinação da dureza é impossível a obtenção de múltiplos, mas impossível tivamer.:;; ::
é também a adição de graus de dureza desiguais. Em contrapartida, vno caso das ção do ;;õ::.:
intensidades do sentimento e dos "estados", como reconhece o próprio Cuhel, é pos­ de gran::;;=.=:
sível adicionar grandezas desiguais, e por isso também não pode ser impossível so­ meio d;; =-:
mar grandezas iguais ou, o que dá no mesmo, determinar um múltiplo de uma de valo: =c
grandeza; e justamente por isso não há como colocar a determinação numérica dos tas de s-::. ::
estados e das intensidades de sentimento em pé de igualdade com o skalieren pela zir dessê. :: =.
escala de dureza, mas se deve diferenciá-las. Trata-se de uma espécie de determina­ totalme:-~;;
ção numérica que vai além do skalieren e se enquadra naquele tipo mais rico de intensicê. =;;
determinação que reivindiquei em minhas exposições, aliás com formulação sufi­ não terr. :-;;
cientemente cuidadosa, como me parece. 11 em vár:ê.õ =

11 No caso, pouco importa se Cuhel tem razão ao afirmar. à guisa de complemento, que "na realidade, para a emissão
de Juízos economicos corretos e para 'uma deCIsão racionar em coisas de economia. é plenamente suficiente saber se a operaçõ>õ ~
soma de um número maior de prazeres menores, embora desiguais entre si. é maior ou menor do que um único prazer
de seu :=-:­
maior", e que por isso o juízo sobre quantas vezes um prazer maior de determinada espécie supera um prazer menor de
R
valor 5U: -=-'
outra espécie é totalmente supérfluo para o administrador prá.tico e para a teoria econômÍca" (§ 268), Creio que também e grande::::: _..
nessa afirmação éuhel não tem plena razão. pois pode haver situações casuístlcas - se bem que raras - que para serem numénc.:: ::::
deedidas requerem uma avaliação que visa diretamente à ootenção de determinado múltiplo. Sem dúvida, na grande maioria lc Op. c:
dos casos pode ser suficiente um juízo de grandeza sobre uma soma de grandezas desiguais. porém. pelos motivos apresen­ l':lSecc-:: _
tados no texto, acredito poder considerar também esses casos como favoráveis à minha tese. Entretanto, para distinguir o sintoIT.:= -: -õ _
também externamente entre a operação direta com um múltiplo e a operação indireta - múltiplo que creio poder ver ção"';eà::
em qualquer adição - e para que nada haja a desejar quanto ao cuidado na formulação, na presente reprodução de mi­ tion to a~ ~- .- =:
nhas doutrmas, publicadas em sua essênCia Já em 1886 nos' Grundzuege", à avaliação direta de múltiplos acrescentei outras lha! aloc2 :Cc­
EXCURSO X 173
_:: 3e pode No entanto, resta ainda uma questão a discutir. Toda a minha exposição pres­
; --:=.: a qual­ supõe o seguinte encadeamento no curso do processo de motivação, ao qual cor­
,~C::-:-. a soma responde um encadeamento análogo no curso da explicação teórica: o julgamento
::_; _:-:la gran­ sobre a grandeza (intensidade e duração) de determinado prazer ou desprazer é um
:: _ :;elo me­ ato psíquico específico. A intensidade (e a duração) do sentimento, constatada (cor­
=
-2';e estar reta ou incorretamente) por esse ato psíquico específico, confere orientação e inten­
'-::--2 juas ou sidade a um desejo despertado; e o desejo, finalmente, motiva nosso agir. Analisando
,:~: comum o processo de trás para frente, o agir teria, portanto, de ser explicado por um desejo
,,' -:: : :er dizer e o desejo, com sua intensidade, por um julgamento anterior sobre grandezas de
;:::: Só posso sentimento.
::=,,- ~ue esta Ora, tem-se afirmado com freqüência - e também Cuhel se fez até certo ponto
:-: ::.:e tenho intérprete desse ponto de vista - que a referência a intensidades de sentimento
::: -=-.'.:m "1" e não tem nenhuma serventia para explicar intensidades de desejos, pois o que se
c,=. je gran­ deveria fazer é o inverso: da intensidade do desejo concluir para a intensidade dos
:: _ -2, .:;randeza sentimentos.
" =:.:hel con­ "Se quisermos determinar" - afirma CuheP2 - "qual de dois sentimentos cu­
e=. =.::::ção, da jas intensidades, respectivamente valores, distam apenas pouco entre si ou apre­
:'::=. :a adição, sentam qualidades totalmente heterogêneas - como. por exemplo, o prazer que
'.las mes­ nos proporciona um banho frio num dia quente de verão e aquele que nos é pro­
:-2 s:ualdade; porcionado pela audição de uma sinfonia de Beethoven, ou aquele que sentimos
;:-=.:deza últi­ ao saciar uma fome intensa - é mais forte, respectivamente tem valor maior, não
'" :--.J mírimo dispomos para isso de nenhum outro meio senão determinar para qual desses sen­
:- :::'zer, que timentos a vontade se decide num caso concreto no qual só é possível concretizar
:--::gamento um deles, e daí concluir que esse sentimento é o mais intenso, respectivamente tem
c ~ grandeza valor maior. Da mesma forma, para saber qual de dois sentimentos - dos quais
ê -2 3 :or possí­ um é um sentimento de prazer e o outro de dor, quando suas intensidades, respec­
='3 :Jas é im­ tivamente seus valores, não apresentam muita diferença entre si - é mais intenso
ê:-:-.ente para (tem valor maior), não há outro meio senão concluir a partir da direção da decisão
~-:=.:o oposto. efetiva tomada pela vontade da pessoa. Portanto, a relação de intensidade (respec­
ê3 ::-:lpossível tivamente de valor) dos sentimentos não constitui um meio para conhecer a condi­
".:: caso das ção do estado dos desejos por ela despertados, senão que, inversamente, é a relação
C _:--.21. é pos' de grandeza dos estados desses desejos que em muitíssimos casos constitui o único
~.-:::5sível so­ meio de que dispomos para determingr a relação de.intensidade (respectivamente
r:.~.: de uma de valor) dos sentimentos em pauta". Cuhel, que acredita poder aduzir como avalis­
:. _:-:-:érica dos tas de sua posição, entre outros, também Wieser, Jevons e Bain,13 pretende dedu­
;':: :eren pela zir dessa posição, como aplicação prática, que a Economia Política deveria renunciar
:-2 :etermina­ totalmente a deduzir, para fins de explicação, a intensidade dos desejos a partir de
:-:-=,'5 rico de intensidades do sentimento - procedimento do qual, segundo ele, simplesmente
~ --::ação sufi­ não tem necessidade de seu ponto de vista científico e que além disso a envolveria
em várias questões ainda controvertidas no âmbito da ciência invocada, a saber,

._-. : :::'3 a emissão


: -:::-:2 saber se a operações que :3,10 "no mínImo muito semelhantes" (ver página 214 da Teoria PositiuQ. v,l). Aliás. também éuheL partindo
_- Jníco prazer -=le seu ponto de vista, chega às mesmas conclusões que eu no tocante à Justificação e à utilidade científica da. teoria do
- menor de
-: -::':2:'
;:alor subjetivo. Mesmo que a "determinação numérica", a nós acessível, da dinâmica entre intensidades de sentimentos
., cue também 2 grandezas de estado tivesse apenas o caráter de uma simples comparação e skalieren. na opinião dele tal determinação
- :: _.e para serem 'LUmérica bastaria para produzir e fundamentar aquela avaliação dos bens que cabe à teoria do valor er:onômico explicar.
~ -:: ;:'~:lde maioria " Op. Clt, § 259
-- - ~ - '. ~s apresen­ ". Se com a razão ou não, não quero discutir. De Wieser (p. 180. nota 1) cita esta frase "Basta que possamos indicar
:.-- :~;a distinguir D sintoma pelo qual se conhecem os graus de importância. Importa a Insistência com a qual se deseja que ocorra a satisfa­
:_-:: :"2.:::' poder ver ção": e à p. 185, nota 1. cita a frase de Bain. aduzida por Jevons (Politica/ Economl,.'. p. 14): ··h is only an identical proposi
-':::·:::.lção de mi­ tion to affirm Ihat lhe grealest of two pleasures, ar what appears such, sways the resulting action: for it is this resulting dction
-=- :~-õ~::entei outras that alone determines which is the greater".
TEORIA POSITIVA DO CAPITAL

a Psicologia -, não devendo a Economia Política, em sua explicação do fenômeno vérT. =3


:::0 ·,aior. ir além do "desejo de utilizar" bens. 14 Se. ':::.:­
Tenho plena consciência de que aqui tocamos num ponto ainda obscuro da dec:::~­
Psicologia, mas, por boas razões, que já aprese~ntei em outra ocasião,15 não gosta­ do C~:-.
ria de fugir dele da forma recomendada por Cuhel. Prefiro - plenamente cons­ ante:~
., .
:
ciente de estar fazendo, como "não especialista", uma invasão na área da Psicologia Ja 0::'S2:
- juntar algumas experiências e observações, se bem que de um leigo em Psicolo­ em ~::.:j
gia, quve em meu entender, depõem a favor de meu ponto de vista e militam contra só cs :
o de Cuhel; aliás, gostaria, além disso, de observar que essa questão controversa inte:-,,:
tem de ser analisada ao nível dos princípios e dificilmente poderia admitir respostas de J=~::.2
diferentes para setores parciais giferentes do sentimento e do desejo, como parece o Mê::2
supor ou pelo menos admitir Cuhel. E nc~­
Primeiramente alguns detalhes. tir c -2 "':
Um magnífico raio ilumina por um momento o céu tempestuoso à noite, a esc ::'.:
mostrando-me um espetáculo da Natureza que. para mim, acarreta um grande pra­ do C~ ]
zer estético. Pois bem, por que caminho terei tomado consciência de que meu pra­ na 0::=5
zer foi "grande"? Será que realmente foi apenas pelo fato de o referido prazer despertar nític:=
um desejo de intensidade correspondente? E que desejo terá sido este? Um desejo
que eu teria tido durante o próprio momento do prazer e cujo objeto seria o prazer repe:~ ,

presente na ocasião? Acontece que aquilo que já se possui não pode mais ser obje­ tido -:=
to de desejo. 10 Ou teria sido um desejo que só sobrevém após passar o momento qua:s :2
de prazer passageiro? Mas também nesse caso ele não poderia ter por objeto aquele corrê"~
prazer, mas apenas uma repetição do mesmo; acontece que o prazer a ser repetido ha\'e~ -:
é diferente do primeiro; além disso, como sabemos por experiência, em muitíssimos
casos ele é menos intenso; por conseguinte, a intensidade do desejo repetido não pene =<
seria critério de aferição adequado para medir a intensidade do primeiro prazer, já mer.::=~

passado. dos. ,.:,::


E de que maneira teremos chegado àquele princípio, tão confiável e tão bem seus ê'"
baseado na experiência, de que a repetição de atos de prazer. na maioria dos casos, fonte ::i
acarreta uma diminuição do prazer gerado por eles? Será que a intensidade do de­ efet\ :=:-1
sejo repetido, que temporalmente está entre o primeiro ato de prazer e o repetido, mas 3<

é o índice para medir a intensidade do primeiro prazer ou do prazer repetido?17 Se conc"j


for o índice para aferir este último, como seria possível chegar ao fenômeno da "de­ difiCl::::i

cepção"? Se a fonte para conhecermos a intensidade de um prazer desejado for só impl.:;-"

exclusivamente a intensidade do desejo antecedente ao cumprimento, como pode­ de se:-j


ríamos perceber a diferença que vai entre a intensidade do prazer concretizado e já CO-:2

a do prazer esperado - em desfavor deste último -, a que corresponde a intensi­ sent:-:-.02

dade do nosso desejo, diferença na qual justamente reside a essência da "decep­

ção"? E qual seria a fonte para conhecermos a intensidade de sentimentos que não tens::.'::
foram precedidos por nenhum desejo que possa servir de índice de intensidade, de d2~
sentimentos que sobrevieram de surpresa - como, por exemplo, o prazer que ad- riame-:
e a :'::-:­
ser cc:'.:
14 Op. cit., § 256 et seqs. e 68 et seqs.; ver Teoria Positiva. p. 208. Supc~
15 Teoria PositIVa. p. 208·212.
lo MEINONG. Psychologisch·ethische Untersllchllngen wr Werttheorie Graz, 1S94, p. 15 er seqs.: "Não posso desejar

dor ~2J
uma coisa que já tenho, mas apenas uma coisa que não tenho'. EHRENFELS. System der Werttheorie. v. I. 1897. p. 26: ta de :
"Normalmente só se pode desejar um estado de sentimento não presente'
da \'c-::
17 Para evitar qUijlquer equívoco, quero salientar expressamente que não tenciono endossar nenhuma dessas suposições.

segundo as quais as intensidades dos desejos são simplesmente relacionadas com a:' intensidades de sentimentos atuais. jo e c::,
Devo apenas apresentá-las pela ordem, para poder examinar todo o conteúdo pos-.;Ível da argumentação adversária, que dese.-c '

pretende que as intensidades do desejo são a única fonte de conhecimento para conhecer a intensidade de sentimentos

atuais. Quanto às minhas próprias concepções, ainda terei ocasião para apr~sentá-las com mais precisão em outro contex­

sar c", ::
to_ Ver abaixo. o Excurso XI. 50 52-:
I

EXCURSO X 175
, :,,:-:ômeno vém da audição de um canto polifônico que ouço soar repentinamente na floresta?
Se. para fugir a essa conseqüência, apesar do que acabamos de dizer, quiséssemos
c :õcuro da decidir-nos a tomar como índice de intensidade adequado para aferir a intensidade
:-.~O gosta­ do desejo repetido, não o prazer subseqüente repetido, mas o primeiro prazer, que
"':-.:e cons­ antecedeu, haveríamos de contradizer da mesma forma a outros fatos. Pois, como
t ?õ:cologia já observei. é um fato notório que, em se tratando de repetições de atos de prazer,
!:-:- Psicolo­ em razão do prazer menor que por experiência sabemos advir deles. via de regra
'2:-:-1 contra só os desejamos com intensidade correspondentemente menor, e portanto essa
:: :-. :roversa intensidade seria um critério totalmente errôneo para medir o primeiro sentimento
ê:' ~espostas de prazer, que é maior e já passou. Por exemplo, há anos atrás escalei uma vez
1'":-. J parece o Matterhorn e lembro-me bem vivamente haver sentido na ocasião um grande prazer.
E no entanto, desde então - e ainda hoje -, não tenho o mínimo desejo de repe­
tir a escalada. Conseqüentemente, a ausência de intensidade do desejo de repetir
.:: à noite, a escalada - ou talvez a intensidade até negativa - deveria, como índice adequa·
[:::::·.de pra­ do de intensidade, referido ao primeiro ato de prazer, já passado, levar a negar que
2 :-:-.eu pra­ na ocasião tive um prazer. o que é contradito pela minha recordação perfeitamente
':' :espertar nítida.
L -:. desejo A esta altura se poderia tentar objetar o seguinte: o fato de eu hoje não desejar
-.:: J prazer repetir a escalada do Matterhorn não significa que não desejo se repita o prazer sen­
:3 3er obje­ tido na primeira vez, mas apenas que, devido à mudança das circunstâncias nas
-:-.Jmento quais teria de repetir a escalada (por exemplo, em razão do cansaço maior em de­
12:: aquele corrência de minha idade, que aumentou nesse meio tempo, ou em razão de não
2~ ~epetido haver mais o "encanto da novidade" e similares), hoje não poderia mais esperar dela
~. _::'ssimos o mesmo prazer, mas apenas um prazer menor, que considero não valer mais a
:,,::do não pena desejar; indubitavelmente, porém, desejaria - se isto fosse possível - experi­
: ::-"azer, já mentar de novo, exatamente como naquela ocasião, os sentimentos então vivencia·
~.
dos. Admitamos isso sem problema. Entretanto, em primeiro lugar, tanto Cuhel como
" :30 bem i'
-!ffl
seus avalistas não se referem à intensidade de um desejo vazio e platônico, como
~
.: :: 3 casos, i fonte de conhecimento de intensidade de sentimento, mas a "decisões da vontade
::2 do de­ i#' efetivamente tomadas" e constatáveis na prática, ou até a "atos resultantes" das mes­
: ~epetido,
2:::0')17 Se ~
, mas (Bain). Em segundo lugar, a medição da intensidade de desejos platônicos não
concretizados certamente não toparia com dificuldades menos numerosas nem com
~

~-: da "de­ j dificuldades diferentes daquelas que levaram os defensores das concepções por mim
ê: J for só impugnadas a duvidar da possibilidade de uma percepção direta de intensidades
c: pode­ de sentimento; e em terceiro lugar, o próprio raciocínio que acaba de ser objetado
=-2::zado e já contém vários elementos que pressupõem um juízo direto sobre intensidade de
! :: ::1tensi­ sentimento e não o deduzem das intensidades de desejos.
r:: -decep­ Penso, portanto, que a hipótese de que só podemos tomar consciência da in­
~3 :Cle não tensidade dos nossos sentimentos pelo caminho indireto da aferição da intensidade
[" :-.õ:dade. de desejos a eles associados, não somente não facilita a tarefa de explicar satisfato­
,: :Cle ad­ riamente os fenômenos com que deparamos, senão que, ao contrário, a dificulta
e a torna artificial, sem que haja necessidade disso. Essa minha afirmação parece
ser confirmada por inúmeros exemplos, dentre os quais quero reduzir apenas alguns.
Suponhamos que nos submetemos a um tratamento dentário que nos acarreta muita
=::: desejar
dor. Será que efetivamente percebemos o fato de que o tratamento nos causa mui­
.c-. p. 26: ta dor, somente de maneira indireta, na medida em que provocamos uma "decisão
~ ': _-: Jsições,
da vontade", pelo fato de que nosso desejo de fugir à dor sobrepuja um outro dese­
- =~ atuais jo e com isso demonstra sua "intensidade" maior? Que aconteceria então se aquele
: .::-~§;:!a.
que desejo não vencer, se nos decidíssemos suportar tranqüilamente o tratamento, ape­
~ :-::-: :-nentos
_ :ontex sar da dor? Nesse caso, na melhor das hipóteses, ficamos sabendo apenas que nos­
so sentimento de dor é menos intenso do que, por exemplo, os sentimentos
176 TEORIA POSITIVA DO CAPITAL

,'encedores da vergonha, da consideração de evitar futuras dores de dente e simila­ práticê, - ~,


res. que nos detiveram de gritar ou pular e fugir do tratamento doloroso: de modo mento =~.,;
algum. porém, podemos saber. a partir disso, que foi "intenso" o próprio sentimento fatos 2 ~ E ~ =­
subjacente menos intenso. E no entanto sabe disso todo aquele que experimenta caráter ;:: ~:;
esse sentimento nas mãos do dentista, Porventura não é infinitamente mais plausí­ toem".::
vel e ao mesmo tempo infinitamente mais simples supor que somos capazes de per­ - ou c,-=~
ceber e julgar a intensidade de nossos sentimentos diretamente, já que os feítame:"~~ ;
experimentamos diretamente? Ou então, citando outro exemplo: cada um de nós cepção ::~:
é capaz de, com objetividade histórica não perturbada pela intervenção de nenhum dos de~-:: :.
desejo, constatar, a partir da sua recordação, se determinados sentimentos experi­ Ta>.~: ,
mentados no passado foram fortes ou fracos em termos absolutos e qual deles foi fazer qL':'::
o mais forte. Lembro-me com muita exatidão, por exemplo, que determinado ata­ ra espec~..::
que de "lumbago" que sofri no ano de 1894, em termos absolutos foi muito dolori­ extremê':"-:::
do e foi bem mais dolorido que ataques semelhantes que tive antes e depois. Onde ner, pc:2 =2
estariam aí os "desejos", cuja intensidade seria o único critério para indicar-me a in­ de preo:_::,
tensidade dos respectivos sentimentos? Hoje não há nenhum desejo que interfira 'estímuc =..
nesse juízo retrospectivo; e, em todo caso, há muito tempo esqueci totalmente se zasdes-::-:
na época houve desejos - e quais seriam estes desejos, aliás estéreis - de escapar bem di:2:2:"
daquelas dores violentas que concorreram com algum outro desejo e o venceram. com ek:~:
Se hoje guardo em minha lembrança algo no tocante àquelas vivências - e não mam does:"".
há dúvida alguma de que guardo algo na lembrança -, não se trata de uma lem­ panhaé:s ::
brança retrospectiva sobre o estado e a relação de intensidade de meus desejos de graus e~:=2·
então, mas simplesmente uma lembrança retrospectiva de impressões de sentimen­ zer. Alé ':". :'
to experimentadas na época; e se consigo reproduzir em minha memória tais im­ exatas e ::1
pressões passadas, juntamente com a determinação de suas intensidades, bém ele, :2
necessariamente devo também ser capaz de, na mesma determinação, tomar cons­ sidades :. ~ s
ciência delas como foram originalmente. Ou então, ainda para recorrer a outro exem­ e objeti\'.:. .,:",
plo: muitos psicólogos 18 supõem - e esta suposição parece-me confirmar-se plena~
mente também por experiências pessoais- haver sentimentos sem desejos, ou pe­
lo menos sem desejos conscientes, que seriam provados com outros desejos em
relação ao predominante. Posso, por exemplo, ao ouvir uma música sublime, regalar­
vantajoso ~-::-,
me no prazer mais puro, sem ter nenhum outro desejo. Além disso, a intensidade menos O L.:-, ::
do desejo pode estar em desarmonia com a intensidade do sentimento que a pro­ 21 É man;:<;::

voca; o estado de "resignaçãd', por exemplo, caracteriza-se por uma pouca intensi­ casos nos:: _:: :
fato de nãc ~.;. : :
dade do desejo, sem que necessariamente os sentimentos tenham que ser fracos cepTível a -: ~ ~: ~
ou estar embotados. 19 ser capaze~ : ~ :
Em suma, ao que me parece, a tese de que baseamos nosso juízo sobre a in­ impercep~~-. ~ =.
alto, posse 5.:~ ;..:­
. tensidade de nossos próprios sentimentos,20 nas decisões tomadas pela vontade na cOJl".paraçê.:.
ções de g:c:- :-õ.::::=

í ]8 Por exemplo, EHRENFELS. System der Werttheorie. I. p. 13.

]9 EHRENFELS Op. cit, 14. Abstenho·me de acumular exemplos ilustrativos e sobretudo de desenvolvê-Ins mais de!a­

lhadamente e de esgotar por mteiro o conteúdo de argumentação dos mesmos, pois não sendo especialista no assunto

mo. De re:',::
formamos _- _
sentimentc:', - ::._
da com bc~~ r::.
que em fJ':':::: ~:
um juízo he~ -: - .
não pretendo aqui elaborar um capítulo da Psicologia, mas apenas justificar o ponto de vista que, com base em minha
o qual p05~':: - - ­
própria análise dos fatos da experiência a mim acessíveis, considero oportuno esposar como economista político, em se
interna de :: - -.
tratando de uma questão relevante para a Economia Política e ainda não definitivamente equacionada peja Psicologia espe­ cidade dE :: -, ,.
cializada.
de estar aS5: : ::.:
20 Que para terceiros a relação das intensidades de sentimentos de outras pessoas só se manif~std por meio das decisoes
termos ab:. ~-­
da vontade adotadas por elas na prática, e que a decisâo da vontade pode servir COJl".O base extrínseca para conhecer
não preclsc =:­
a relação entre intensidades de sentimentos. evidentemente são questões totalmente diferentes: a decisão da vontade po­
da insufic:ª - ~ -= :
deria servir como ta! base de conhecimento ( mas não única!) mesmo quando, como creio poder supor. no caso de uma
não tira a c: - ~-:; ~
escolha consciente entre desejos, a decisão de nossa vontade é precedida por um juízo, formado independentemente, que des de sec: -, -­
a fundamenta, sobre as grandezas dos sentimentos em questãc·. Se um comerciante calcula a rentabilidade da compra de
de nossa '. :-~::"
<:afé em duas praças diferentes, por exemplo em Hamburgo cu em Trieste, e no caso decide encomendar o café em Trieste,
acima (p. ::: ,
certamente também essa decisão poderá servir como fundamento extremo para saber que o comerciante considerou mais me haver _-::
EXCURSO X 177
f: óC 5:mila· prática, não passa de uma idéia paradoxal que inverte o curso efetivo do encadea­
::óC :nado mento causal - uma idéia que de modo algum está bem fundamentada nos
2-::-:Iento fatos 21 e talvez deva o atrativo que exerce sobre alguns autores exatamente a seu
:: óC :::nenta caráter paradoxal, bem como à sua utilidade para tirar conclusões céticas, hoje mui·
':: o "J lausí­
to em moda. Quanto a mim, não vejo nenhuma razão suficiente para dispensar-me
~, ::e per­
- ou dispensar minha teoria sobre o valor - da fundamentação mais precisa, per­
§ ::Je os feitamente possível, e da elaboração daquela argumentação, ainda exigida pela ce>n­
[- =e nós cepção tradicional sobre a relação entre intensidades dos sentimentos e intensidade
E -2:1hum dos desejos.
:: 5 experi­ Talvez alguns especialistas estranhem o fato de neste Excurso eu haver evitado
L =2les foi fazer qualquer referência à conhecida "lei psicológica básica" e à abundante hteraiu­
~:- ::':0 ata.­ ra especializada dedicada à mesma. Na verdade, no caso dessas pesquisas - aliás
L:: :::olori­ extremamente interessantes - que levaram a estabelecer as leis de Weber e de Fech­
":5 Onde ner, parece-me tratar-se de questões essencialmente distintas daquelas que tinham
c--:-.e a in­ de preocupar-nos no presente Excurso, Nelas trata-se de determinar grandezas para
; ~:l terfira 'estímulos sensorais e sensações, ao passo que aqui se trata de determinar grande­
L-:-ente se zas de sentimentos de prazer e de desprazer, Ora, estes podem percorrer caminhos
:~ 25capar
bem diferentes, mesmo quando são despertados por estímulos sensoriais, Sabe-se,
"-':-.=eram. com efeito, que mesmo estímulos e sensações desse gênero, que de per si costu­
; - e não mam despertar sentimentos de prazer, em seu aumento de forma alguma são acom­
_-:-.a lem­ panhados por um aumento paralelo do sentimento de prazer e que, pelo contrário,
=-':52.ios de graus extremos dos estímulo sempre costumam despertar sentimentos de despra­
5-'::".timen­ zer. Além do mais, as pesquisas de Fechner versam sobre o problema das medições
~::: :ais im­ exatas e objetivamente corretas das intensidades das sensações, problema que, tam­
2:"5:dades, bém ele, de per si, não entra em questão no caso de nosso tema análogo das inten­
'-:-.::' cons­ sidades dos sentimentos. Não afirmei serem exeqüíveis na prática medições exatas
_=-J exem­ e objetivamente corretas de intensidades dos sentimentos; o que afirmei foi simples­
:--52 plena~
:':5. ou pe­
[25eios em
-:. ;egalar­
vantajoso encomendar o café em Trieste, mas de modo algum ela terá sido o fundamento propriamente dito - e muito
r.:2 :1sidade menos o único - para ele mesmo saber isso, pois é evidente que ele hauriu anteriormente esse conhecimento de seu cálculo!
C":2 a pro­ 21 É manifesto que pouca serventia têm os dados da experiência que Cuhel pretende deduzir. em abono de sua tese, dos
casos nos quais a vontade tem de tomar uma decisao entre dois sentimentos de intensidade aproximadamente iguaL O
1::: :ntensi­ fato de não se poder constatar uma diferença entre essas instâncias - diferença que não existe ou pelo menos não é per­
52, fracos ceptível a nossos orgãos - obviamente não constitui uma prova contra a suposição de que os referidos órgãos podem
ser capazes de constatar e transmitir à nossa consciência as próprias grandezas entre as quais existe a referida diferença
imperceptível. Quando sou obrigado a decidir qual dentre dois pinheiros, de altura mais ou menos igual, considero o mais
;.: :,e a in­ alto, posso até sentir perplexidade em formar um juízo seguro sobre a direção e a grandeza da diferença, baseado numa
',: -.:ade na comparação visuaL e, no entanto, seria erro manifesto supor que a fonte da qual tiro meu juízo sobre a grandeza e as rela­
ções de grandeza dos dois pinheiros não é a inspeção visual, mas minha decisão, em última análise tomada por mim mes­
mo. De resto, se observarmos com cuidado, mesmo nos casos aduzidos por Cuhel, poderemos sempre constatar ou que
formamos um juízo antecedente à decisão da vontade, juízo que versa expressamente sobre a diferença de grandeza dos
sentimentos rivalizantes - e nesse caso a deCisão da vontade, a nós imposta pelas circunstâncias, em última análise é toma­
da com base na arbitrariedade conscientemente subjetiva (talvez por meio de um "cara ou coroa" popu!ar!) -. ou então
~ ~ "-:-.àis deta­
que em nossa consciência encontramos um juízo antecedente sobre uma diferença mínima de grandeza (quiça também
i.~: - J assunto
um juízo hesitante, mas no qual, justamente no momento da decisão da vontade, uma das opiniões venceu), juízo sobre
::-- -2.:11 minha
o qual posteriormente se baseou a decisão da vontade. Em nenhum desses casos a decisão da vontade teria sido a fonte
em se
• ;:::J,
interna de conhecimento para nosso juízo sobre 6. grandeza. Também não pode haver dúvida alguma de que nossa incapa­
:::::::;iaespe­ cidade de constatar uma diferença (imperceptível ou simplesmente inexistente) entre as grandezas de dois sentimentos po­
de estar associada a uma incapacidade total para constatar se as grandezas ,çomparadas eram grandes ou pequenavs em
'::::3 decisões
termos absolutos - o que evidentemente também depõe contra a tese de CuheJ. Finalmente, sei muito bem que Cuhel
- :: :onhecer não precisa admitir que toda a argumentaç~o contrária acima aduzida por mim vale especificamente para ele, Com efeito,
:, .: -.:ade po­
da insuficiência da percepção interna para o conhecimento de diferenças imperceptíveis de sentimentos ele pessoalmente
',: :'::3: de uma
não tira a conseqüência genera\izante de que a percepção interna é insuficiente como fonte de conhecimento de intensida­
jE-- o:: -.2:1te. que
des de sentimentos em todos os casos de que para conhecermos estas últimas dependeríamos por princípio das decisões
:: :.:: :::nprél de
de nossa vontade na prática. Todavia, com isso Cuhel chega a uma solução dupla numa questão que. como já mencionei
.::-: ~ ~:;l Trieste,
acima {p. 192 et seqs.J. me parece não somente admitir, mas exigir necessariamente uma única solução - e nisso parece­
:-.':;<:)U mais
me haver uma violação quase ainda mais grave dos princípios que regem a pesquisa.
178 TEORIA POSITIVA DO CAPITAL

mente a realidade de procedimentos que têm por conteúdo uma avaliação subjeti­
va de intensidades dos sentimentos, por mais falha e inexata que ela seja. Em razão
disso, os fatos e os argumentos são totalmente diferentes num caso e no outro. As­
sim como não seria justo eu invocar, por exemplo, a validade da lei de Fechner co­
mo argumento para as teses que defendo, da mesma forma não preciso considerar
como válidas contra as minhas teses, que são totalmente diferentes, objeções levan­
tadas contra a plena validade da referida lei.

MotÚ'ai
Futura5

(Para as

Fc.5­
a com~"'!

sideraç~c
motiva~-,
E::-. ;
ção he:J
"dime:-.s~
deterrr:::-"
do praz<:1
na, er:-. ::
fatores ::ê
explicaç~
da em :Ci
mente :a
saber. C..l
mo "fo:':c
paralela 2
chegar:-:-.<
De o.
nhuma e
umpr~
uma ar'_'"':l
grandeza
reduçé.c c

1 BENTfC ~.',i
HEL. Le-'" ,,­
"uma I,.'EZ :_OE
sentim~:-:::
EXCURSO XI

ê;~:: subjeti­
.~ ::m razão
;: :Jtro. As­
:-<: ::mer co­
e ::Jnsiderar
E: ::2S levan-

Motivação de Atos Econômicos Presentes por Necessidades


Futuras

(Para as p. 270 et seqs. da Teoria Positiva)

Foi somente por meio de Bentham que entrou na teoria da Economia Pol í tica
a complexíssima questão sobre que tipo de processos psíquicos intermediários a con­
sideração de sofrimentos e alegrias futuras ou de necessidades futuras é capaz de
motivar-nos a adotar medidas econômicas no presente.
Em sua teoria do valor, em geral de natureza psicológica e baseada na concep­
ção hedonista, Bentham afirmara que cada prazer tem uma dimension of value, uma
"dimensão de valor", havendo enumerado uma lista de sete fatores que servem para
determinar a dimensão dessa grandeza. Entre eles - além e depois da intensidade,
do prazer, de sua duração e da probabilidade da ocorrência do mesmo - mencio­
na, em quarto lugar, a distância cronológica da ocorrência do prazer (os outros três
fatores determinantes não precisam interessar-nos aqui). O autor não acrescenta uma
explicação ou fundamentação psicológica dessa afirmação; esta é antes apresenta­
da em tom de uma afirmação real, que Bentham procura tornar plausível simples­
mente baseando-a em outro fato, também ele considerado conhecido e pacífico, a
saber, que também o valor de somas de dinheiro, que podem ser consideradas co­
mo "fonte geral e conseqüentemente representantes do prazer", sofre uma redução
paralela à grandeza da taxa de juros, no caso de estar longe o momento em que
chegarmos a dispor delas. 1
De qualquer forma, com essas afirmações Bentham não havia fornecido ne­
nhuma elaboração psicológica que mostrasse de que maneira a consideração de
um prazer futuro pode motivar atos presentes; o que fez foi simplesmente enunciar
uma afirmação efetiva, de conteúdo por assim dizer quantitativo, isto é, de que a
grandeza do valor, e portanto a força de motivação de um prazer futuro, sofre uma
redução correspondente a sua distância no tempo. Esse espaço delimitado por Ben-

. 3ENTHAM. Principies. Capo IV Cf. KRAUS Zur Theorie des Wertes. elne Benthamstudle. p 23 et seqs. 29: e éu­
~::L Lehre uon den Beduerfnissen. § 404. Cuhel apontou com razão o círculo viCIOSO que há nessa maneira de explicar

I
-_::la vez que é o valor menor de somas de dinheiro futuras no presente que deveria ser explicado pelo valor menor de
::.:':irimentos futuros. e não inversamente".

~
179

--------------------
:~I~' TEORlA POSITIVA DO CAPITAL

tham foi preenchido por autores posteriores, que fizeram afirmações cujo conteúdo praz<:: =.
vai além. vave.-"
Fê-lo antes de tudo Jevons. que tem um significado especial para esse proble­ rem ::~~
ma, por ser um autor que escreve sobre Economia Política e sobre Psicologia. 5 flo;~~"
ape~~;
Baseando-se visivelmente e também declaradamente em Bentham - não interes­
mu~ =:
sando aqui se, ao fazê-lo, tencionava apenas expor mais detalhadamente uma dou­
mer::~ .­
trina já intuída por Bentham ou se tencionava conscientemente complementá-la Z tame :_
-, introduz a idéia intermediária de que já no presente ocorre um verdadeiro ato var'", ~:
do sentimento, que corresponde ao ato do sentimento futuro, um present anticipa­ de p,,;Ôo:
ted feeling, "um sentimento presente antecipado", cuja intensidade, no seu enten­ mu;:: ::
der, é inferior à intensidade do sentimento futuro correspondente, na mesma inte~; ~
proporção em que este último for mais longínquo no tempo. Por conseguinte, a for­ a r"':~:
ça de motivação de um sentimento ainda futuro é explicada dizendo que dele deri­ ma~."-:

va um sentimento atual já presente, que produziria a motivação, sendo que a redução ter,;:::::
pre.,~- :"
do valor atribuído ao sentimento futuro e da força de motivação baseada nesse va­
case; ~ .
lor é atribuída ao fato de que a intensidade do sentimento presente antecipado é e r,Ê.: ::
ser em cada caso inferior à intensidade da própria necessidade futura "antecipada" -Pe:; _.;
- inferior em uma porcentagem proporcional à distância no tempo.:i A essa con· ção ::" :
cepção, na escassa literatura sobre Economia Política que entra na análise desses rale.: ::
problemas, aderiram plenamente Sax 4 e Lujo Brentano,5 sendo que isoladamente a i::-o: -:
ela é ainda defendida também na Psicologia especializada mais recente. 6 pric.= ~

f
l
Considero essa concepção totalmente insatisfatória e inaceitável. Quero expor
os fatos e motivos que me levaram a esse parecer, primeiro reproduzindo-os exata­
mente com as mesmas palavras com as quais já na primeira edição da Teoria Positi­
va me pronunciei sobre essa questão.
soír~.·. ­
CU''''- :2

ume:'"
ou -.Ê.:
( 'Quando Jevons - escrevia eu na ocasião! - chama de present antecipated fee·

ling. 'sentimento presente antecipado', o fenômeno psíquico que nos impulsiona a pro­

pnc=~'
se e- ­
exc:: 3'
f
ver a necessidades futuras e a avaliar bens futuros (Polítical Economy, 2 a ed., p. 37),

usa uma expressão muito favorável para induzir em erros. Com eíeito, há que distinguir

tm:e::
:

,
,

no.,;~;

1
duas coisas basicamente diferentes, que Jevons me parece não haver distinguido devi­

damente. Uma coisa é imaginarmos mentalmente um prazer íuturo (ou um sofrimento

futuro) e com base nessa representação avaliarmos a intensidade presumível do mes­

mo, e coisa totalmente diferente é afirmar que nessa própria representação mental senti­

Se - :
pu;, ~ e
pe::~- ~,
erT.::~-2
mos um prazer, uma 'alegria antecipada' presente e real. Um exemplo: Tenciono
co~ -"
empreender uma viagem à Itália. Baseado em experiências pessoais ou em descrições
trá r: : ::
ouvidas ou lidas, imagino mentalmente os prazeres da viagem e faço uma avaliação tão
sot:r~ ~;
elevada da intensidade dos mesmos que a sua consecução me parece valer um sacrifí­
co~. :::~,
cio de 500 florins. Acontece que, ao descrever os futuros prazeres da viagem, nasce tam­
-A:: --,

bém uma alegria antecipada, presente e real: o pensar na viagem produz em mim um
nor:- ::;
cia - ~
soír -~­
lOC ::.
2 Já Cuhel, op. cit., p. 293, assinalou corretamente a existência de uma nuança quI'! diferencia as duas formulações.
Im::; -]
-' JEVONS PolíUcal Econorny. 2' ed. p. 37
4 Grundlegung p. 178 et seqs., 314, cer:e- "
S Versuch emer Theorie der BedlJerfnisse, p. 9 e1 seqs .. 35 et seqs. Aqui Brentano deriva do "sofrimentu e da alegria futu
ros", "necessidades presentes" com sensações de desprazer e de prazer produzidas no present12 e atribui a estas últImas Ullla SOe.~ ~­
intensidade que. embora seja inferior à intensidade da própria sensação futura esperada, de acordo com a distância desta
última no tempo. para produzir um ato de provimento tem de superar a intensIdade total de todas as pDssibílidades de
prazer presentes e concorrentes que deve sobrepujar. Com essa equiparaçao da força de motivaçã.o e dd tntensidade dos
p. : -.;, ,
sentimentos presentes Rantecipados"', Brentano embarca manifestamente na concepção de Jevons-Sax rec:, ,
I, Por exemplo, por KREIBIG. Psychologische Grundlegung eines Syslems der Werttheorle. 1902. p. 91 et seqs. Não cabe
aqui definir se a mesma construçao esteve presente, por exemplo, em Meinong. quando este afirma que a observação da
me ~ ==
vida diáTla mostra, em seu entender, que "'a distância do objeto em relaçao ao presente. portanto o adiamento para o futuro,
de ::-~
dimmui a intensidade do sentimento'~ Psychologisch-ethische Untersuchungen zur Weruheone, 1894. p. 51 a e:- :---:
7 P 216. nota 91. da Teoria Pos:tlVa do Capital. v I rrit?~_::: ~
EXCURSO XI 181

::'Jnteúdo prazer atual, mas um prazer que em todo caso tem uma intensidade bem diferente, pro­
vavelmente muitíssimo inferior à das alegrias da própria viagem; se estas últimas vale­
""õõ2 proble­ rem para mim 500 florins, a alegria antecipada talvez não valha para mim mais do que
, ='õ:ologia. 5 florins, o que se pode comprovar, por exemplo, pelo fato de eu estar disposto a gastar
- ~:: :nteres­ apenas isso, e não mais, para comprar uma descrição da viagem que me introduza no
:2 _:,!a dou­ mundo de imaginações que me dá prazer. Pois bem, a cifra concreta é no caso total­
mente indiferente. Simplesmente não há como determinar uma relação de grandeza cons­
:0:: :-:-.entá-la 2
tante ou regular entre 'alegria principal' e 'alegria antecipada', senão que a referida relação
r::=.:eiro ato varia ao máximo, de acordo com as pessoas, as disposições e as circunstâncias. No caso
:-: ::nticipa­ de pessoas sonhadoras e dotadas de muita fantasia, por exemplo, que costumam excitar-se
: õ,:o'' ; enten­ muito com sua própria imaginação, as 'alegrias antecipadas' podem ocorrer com relativa
- =. mesma intensidade, ao passo que, em se tratando de pessoas bem sóbrias e que trabalham com
:-_:-.:e. a for­ a razão, ao contrário, tais 'alegrias antecipadas' podem ocorrer com intensidade extre­
:,:0 :,:ole deri­ mamente baixa. Para nossas finalidades basta constatar duas coisas: primeiro, que a in­
:2 =. :edução tensidade da alegria principal futura, imaginada. e a da alegria antecipada, sentida no
::=. :-esse va­ presente, constituem duas grandezas diferentes: e segundo. que na grande maioria dos
.-:,:o:::pado é casos a intensidade da alegria antecipada é muitíssimo menor do que a alegria principal,
e não apenas uns pontos percentuais menor-o
-=.-:2:ipada" "Pergunta-se agora: de qual dessas duas intensidades se trata, no caso de nossa avalia­
.:... 2ssa con­ ção de bens futuros e da tomada de nossas decisões econômicas - que ocorre em pa­
,=..õ2 desses ralelo com a referida avaliação -, com vistas a pro\'er a necessidades futuras? Quanto
.:::::amente a isso não pode pairar dúvida alguma: o fator determinante é a intensidade da alegria
r:.:: principal futura, avaliada com base na imaginação (respectivamente a intensidade do
L2"O expor sofrimento futuro a afastar). A um bem que me serve para satisfazer uma necessidade
:: :: - JS exata­ cuja intensidade, com base na razão. avalio em 100. atribuirei também um valor de 100,
lo:::: o::: Positi­ e não de 1, mesmo que, na consideração aLUa i e antecipada da mesma, sinta apenas
uma alegria antecipada atual de intensidade 1. Da mesma forma, ao escolher se devo
ou não prover a determinada necessidade futura ou a qual dentre várias devo dar a
prioridade, procurarei tomar a decisão. com a máxima imparcialidade possível, com ba­
" : .= :;ted fee­ se em minha avaliação racional do prazer futuro. e não com base no grau de minha
;'" :: -.a a pro­ excitação sentimental de agora. (Que não raro permitimos que nosso juízo claro seja
I ~:: p.37), turbado por este último fator. e portanto este exerce uma influência indireta sobre as
: _'" ::stinguir nossas decisões, eis um fenômen o que nada tem a ver com o que acabo de afirmar.)
~-;_::io devi­ Se - o que acredito não ocorrer - ainda houvesse alguma dúvida acerca do que ex­
~ õ :'rimento pus, ela pode ser eliminada apontando o seguinte fato notório e comprovado pela ex­
:- ~. :0 mes­ periência: sonhadores entusiáticos, nos quais as imaginações de eventos futuros produzem
-~-::al senti- emoções sentimentais muito vivas no presente, de modo algum costumam ser os que
Tenciono com mais eficiência atendem economicamente a seus interesses futuros; bem pelo con­
- :2scrições trário. quem o faz são as pessoas que calculam friamente, cujo juízo sóbrio e racional
=. . =..:ação tão sobre as situações futuras pouco ou nada é influenciado por emoções sentimentais con­
E: ':::1 sacrifí­ comitantes".
:- -. =.sce tam­ "Acontece que Jevons confundiu basicamente essas coisas. Para ele nossos atos eco­
~:- :nim um nômicos são motivados por 'sentimentos presentes', cuja intensidade. conforme a distân­
cia no tempo, fica alguns pontos percentuais aquém da intensidade das alegrias e
sofrimentos futuros e portanto devem ter para com estes últimos uma relação de 95 :
100, quando na verdade não há nada mais certo do que o seguinte: é verdade que
-- ~ .ações imaginamos - aliás antecipadamente - sentimentos de intensidade semelhante, mas
certamente não os sentimos como present feeling. Da maneira ainda mais forte, Sax
-:: :: -:::;ria futu­ - que endossou a posição de Jevons nessa matéria, obviamente sem verificá-la pes­
"o _ '_:-"as uma soalmente - desenvolveu ainda mais o mesmo equívoco. Sax fala de um 'pré-sentir'
desta
~·~-_:ia
- a ser bem distinguido do simples 'pré-saber' - as necessidades futuras ((3rundlegung,
" : ,cades de
'o - , cade dos
p. 178 et seqs.), partindo desses pré·sentimentos constrói até 'necessidades presentes'
reais e 'sensações de necessidades' reais, apenas com a diferença de que estas, confor­
\ão cabe me a distância no tempo, seriam um pouco menos intensas do que a própria necessida­
da
:;:-:::1
de correspondente e direta do presente (p. 314), Dificilmente Sax terá levado em conta
a enormidade de suplícios que teríamos de aturar constantemente se tivéssemos real­
mente que sentir em nossa previsão, e com uma intensidade bem pouco menor, todas

~
j
182 TEORIA POSITIVA DO CAPITAL

as necessidades e sofrimentos futuros contra os quais nos defendemos mediante a


previsão". 8 do c:..
proz,;"
Hoje, se atendermos ao enfoque mais abrangente que nesse meio tempo se inte:E::1
tem dispensado ao mesmo tema na mais moderna teoria psicológica do valor, pen­ me:-::2
so que não podemos contentar-nos simplesmente com as colocações que acaba­ me:-.:::"
mos de reproduzir, mas considero-as como uma introdução perfeitamente adequada ou 2:-:-::
ao problema, na medida em que elas já dirigem a atenção tanto para os mais rele­ g05::: :l
vantes grupos de fatos a serem considerados nessa questão quanto para as mais er:1 ::::1
importantes possibilidades de entender que rivalizam entre si: partindo dessa base por x:
será possível chegar com facilidade a essa visão mais abrangente, hoje necessária. me:-.:2.
De imediato gostaria de separar, com a maior nitidez possível, fatos de um lado core::;
e interpretações ou elaborações de outro, e em primeiro lugar falar exclusivamente pre::-2:-:
daquilo que pode ser considerado como fato incontestável; além disso, a fim de ex­ atos ::~
cluir com segurança aquela influência perturbadora que, a partir da controvérsia so'
ainda não solucionada do hedonismo, poderia eventualmente afetar a pesquisa que cor 5:
aqui nos ocupa, gostaria de limitar as investigações de antemão àqueles casos nos giCê s.:
quais se trata de necessidades de natureza hedonística, portanto de necessidades ria ê...~~
em cuja satisfação procuramos concientemente obter ou aumentar um estado de ser.. 2'1
prazer, afastar ou amenizar um estado de desprazer; gostaria de limitá-las de certo teú:.:: !

modo ao grande campo hedonístico que, mesmo na opinião dos anti-hedonistas, ser.::.:":)
sem qualquer dúvida existe dentro de todo esforço humano e sobretudo dentro do te fê:.j
esforço econômico. nas ::~
Como fatos relevantes para nosso problema, dentro dos quais há que procurar sorrE j
uma solução psicológica satisfatória, parece-me que, em parte em virtude da con­ prc. ::::
corrência unânime ou pelo menos prevalecente dos psicólogos e em parte - e so­ bre : .~
bretudo - por uma observação atenta, externa e interna, do real, podemos assentar
com segurança os seguintes pontos incontestáveis:
1. Da consideração de sentimentos de prazer a serem por nós conseguidos no
futuro ou de sentimentos de desprazer que nos ameaçam no futuro derivam, de
uma forma ou de outra, avaliações e motivações que ocorrem já no presente.
2. A respectiva grandeza do valor ou a respectiva força de motivação apresenta
um nexo funcional com a intensidade do prazer ou do desprazer futuros. Ela não
é, porém, igual à mencionada intensidade, ou o é apenas casualmente e em caráter
excepcional; normalmente ela é meIJor do que seria caso se tratasse de sentimentos
de prazer e de desprazer presentes. E um derivado da intensidade original, apresen­
tando alguma diferença em relação a esta (aliás, de modo algum se trata de uma
diferença constante), mas de qualquer forma é um evidente derivado da referida
..-z intensidade original: quanto mais intenso for, em paridade de circunstâncias (igual
distância no tempo, consideração igualmente clara, temperamento igual e simila­
I
res), o prazer - ou desprazer - futuro, tanto maior será também sua grandeza de
S valor e sua força de motivação no presente. 9
: _2 :;.~-il
-.-~-~-~~

8 Muito acertadamente, Kraus (op. cit., p. 78) con)ecturou que na época eu ainda não conhecia as colocações origina
de Bentham; conseqüentemente, eu só podia basear-me no extrato para reprodução que elas haviam enviado para a Eco­
nomia Política, aliás na forma em que esse extrato apareceu na literatura da Economia Política. De resto, parece-me que
mesmo o conhecimento do original não teria podido alterar nada na crítica feita a Jevons e Sax. Bem estranha parece-me
a segurança ingênua com a qual Brenúmo, vinte anos depoís do aparecimento desta crítica, e sem se preocupar o mínimo
com a mesma, volta a apresentar as idéias nela refutadas: será que dá tão pouco valor aos fatos e argumentos por mim
aduzjdos ou será que é tão omisso no cuidado em rever o que ele afirma? Ver adiante também as considerações que faço -~- '.::
no fjnal do presente Excurso.
9 Presumo - sem ter plena certeza disso - que também Meinong, op. cit., p. 51, pretendeu reconhecer exatamente a - -- --,:
mesma coisa como fato confirmado pela experiência ao afírmar serem perfeitamente possíveis "nexos regulares" entre "ava­
liações presentes", após o que, assim prossegue: "Também a observação da vida diária de que a distância do objeto em
EXCURSO XI 183
::':~l€ a 3. Além disso, é certo em todo caso que somos capazes de formar, de um mo­
do ou de outro, um juízo sobre a grande intensidade de um sentimento futuro de
prazer ou desprazer. Trata-se no caso de um ato psicológico pertinente ao campo
7".::0 se intelectual e não ao campo do sentimento, ou no mínimo não pertence exclusiva­
.: :len­ mente a este último; é um juízo sobre sentimentos, sem ser ele mesmo um senti­
c:'aba­ mento. Sou capaz, por exemplo, de formar em mim um juízo racional - correto
2:uada ou errôneo - de que qualquer desprazer que me ameace em uma escalada peri­
1:.5' rele­ gosa de montanha - digamos o desprazer acarretado por uma fratura da perna
i5 'Tlais em conseqüência de uma queda, pelos maus tratos inevitáveis ao membro ferido
s.:: Dase por ocasião do complicado transporte para o vale e similares - superaria notavel­
255ária. mente, em intensidade, outros sentimentos de desprazer dos quais guardo uma re­
.:-:-: lado cordação do passado e superaria também consideravelmente sentimentos de prazer
:':-:-:i?nte presentes que percebo como atuais. Tais juízos baseiam-se em imaginações (ou em­
t :2 ex­ atos psicológicos parecidos com imaginações - a palavra pouco interessa no ca­
~::.érsia so!), cujo objeto podem ser tanto sentimentos passados como sentimentos futuros,
que
:.5.3. com suas intensidades. Dada a contraditória incerteza reinante na doutrina psicoló­
5<:5 nos gica, sobretudo no tocante à classificação dos atos psíquicos elementares, não ousa­
,':::ades ria afirmar categoricamente que nesse ponto tenho a adesão de todos os psicólogos
c:::o de sem exceção. No mínimo, porém, a ocorrência de "juízos sobre o valor", com o con­
fi? :erto teúdo que acabei de descrever, e de "representações" cujo objeto é constituído por
:; :-::stas, sentimentos, é um conceito muito difundido na literatura psicológica e perfeitamen­
r::-o do te familiar a ela,lO e acredito em todo caso que uma análise das experiências inter­
nas próprias, emancipada da literatura especializada. não pode deixar dúvida alguma
:::urar sobre tal ocorrência. 11 Podemos, pois, considerar como fato suficientemente com­
::: :on­ provado que possuímos juízos, baseados em "representações de sentimentos'; so­
- i? so­ bre a intensidade de sentimentos de prazer e de desprazer futuros, mas essas avaliações
~-52ntar

fC,JS no
relação ao presente. portanto o adiamento para o futuro, diminui a força do sentimento, sem mudar a previsão, nada perde
c~. de com isso de sua validade".
;e'~,e. 10 Assim, por exemplo, Ehrenfels, op. cit .. I. 26. fala de -representações de um prazer ou desprazer que não sentimos real­
mente no presente" - acrescenta, contudo, que tais representações "sempre serão representações abstratas e impróprias
r"Esenta ou indiretas". Na p. 35 fala de "representações teJeoJógicas de prazer e desprazer", à p. 56 diz que "representamos", com
::~:: não plasticidade e vivacidade maior ou menor, 'la impressão básica" que esperamos de uma execução iminente de uma sinfonia
:cráter de Beethoven. No escrito "Von der Wertdefinition zum Motivationsgesetze" (Archiu fuer systematische Philosophie. v. 11),
o mesmo autor, polemizando com Meinong, afirma, à p. 113, que "os respectivos sentimentos de valor" poderiam "ser
".entos não concretizados ou sentidos, mas apenas representados ou arquitetados". Nas p. 114 e 115 menciona repetidas vezes
p:-esen­ "a construção de somas de intensidade na representação e intensidades de sentimento apenas imaginadas". Na p. 117
:2 :lma do mesmo escrito Ehrenfels levanta até o problema sobre como chegamos a conhecer o valor e sua grandeza e, além da
"experimentação psicológica" baseada na "concretização" de sentimentos, vê um segundo caminho possível no fato de que
r'::i?rida a experimentação é. segundo ele, substituída pela "reflexão" e "com base em experiências antecedentes (, .. ) construímos
:;: 'gual e comparamos, na imaginação os dois estados de sentimento. sem concretizá-los em nós" De modo particularmente explí­
cito Jodl (Lehrbuch der Psychologie. Stuttgart, 1896) distingue "representações de sentimento", que não constituem um
5:'Tlila­ sentir real, mas apenas representações, "cujo conteúdo é formado por sentimentos"; opõe-n"'1S como fenômenos "secundá­
:22a de rios" aos ':.!enômenos primários", sendo que para ete estes últimos são as "excitações sentimentais" reais (p. 141, 147; cf.
também p. 719 e 726). A especialistas não preciso aqui chamar a atenção para o fato de que a representação de sentimen'
tos, dos quais falamos eu e os autores de Psicologia aqui citados, é a 19o totalmente diverso da representação - também
ela muitíssimo discutida e até ainda muito mais e de modo mais explícito na literatura psicológica - de objetos ou eventos
que agirão no futuro despertando sentimentos (como "hipótese objetiva de sentimento"). Afirmo até que o ponto saliente
nos problemas que aqui me interessam é saber se a representação da "hipótese de sentimento" futura, por mais fjel e viva
:.::' : :-_;ina que seja, seria capaz de produzir urna avaliação e motivação presentes, se literalmente não fosse além da hipótese de senti­
2::: ;; Eco­ mento objetiva; e saber se o essencial da situação futura a ser representada, para a motivação, não é justamente sua peça
::::--.2 que final pessoal, isto é, o próprio sentimento, com sua intensidade previsível, sentimento para cuja origem a "hipótese de senti­
:<::..--=::e-me mento" real constitui apenas ocasião. Quando imagino, com a maior exatidão possível, os fatos dos quais advirâ uma neces­
= --:-.::Iimo sidade futura, mas excluo da representação o prazer a esperar ou o desprazer a evitar mediante a satisfação da necessidade,
~ ::~ mIm exc1Ulndo também a intensidade do referido prazer ou desprazer, duvído seriamente de que tal série limitada de representa­
, =_2 faço ções seja capaz de produzir em princípio alguma força de motivação. (Evidentemente, questão bem diferente é se a repre­
sentação dos sentimentos futuros, já despertada uma ou mais vezes, não pode mais tarde ser dispensada em virtude de
C=-2:-:le a um "processo" psicológico "de abreviação" - como costuma ocorrer com cada "hábito" --, respectivamente, se ela precisa
:---:-.:: -ava­ ser repetida de maneira expressa em cada caso individual.)
::- 2:J em 11 Cf também CUHEL Op. cito p. 28
184 TEORIA POSIT1VA DO CAPITAL

sobre a intensidade, fundadas em juízos, sem dúvida podem diferir - e na maioria


dos casos diferem realmente - da intensidade efetiva com a qual os referidos senti­
mentos de fato ocorrem no futuro.
- -::
4. Finalmente, não há divergência alguma de opinião ou dúvida de que a re­
presentação, mais ou menos viva, de estados futuros geradores de prazer ou des­
prazer costuma atuar já no presente, produzindo algum sentimento. Ocorrem, já no
-- -~~
presente, sentimentos reais de prazer e de desprazer que acompanham as referidas
representações. A representação e expectativa ardentes de um estado de prazer fu­
turo desperta um sentimento de prazer presente do tipo daquele que na citação su­
- ::. - - ;.
pra caracterizei como "alegria antecipada"; e a representação e a expectativa opostas
de um estado sentimental futuro indesejado suscita um sentimento de desprazer pre­
sente que, de acordo com o grau de certeza com a qual a ocorrência futura do sen­
timento principal desagradável é esperada, se costuma denominar "preocupação"
ou "temor".12 A intensidade desses ·sentimentos antecipados" atuais costuma ser
menor 13 - aliás, notavelmente menor. e não apenas menor de alguns graus per­
centuais, ou mesmo de um numero considerável de graus percentuais - do que
a intensidade do sentimento principal que lhes está à base, podendo até chegar a
ser totalmente imperceptível, de sorte que se pode com alguma razão duvidar se
tais sentimentos antecipados presentes necessariamente têm de ocorrer em cada caso
de um desejo e de um ato voltado para sentimentos principais futuros. Ehrenfels
aduziu uma série de exemplos muito bons de que mesmo desejos e atos que têm
por objetivo consciente afastar um mal tão grande como o que se costuma conside­
rar a perda da vida, por parte de pessoas por hábito familiarizadas com os respecti­
vos perigos de vida - como pedreiros. marceneiros, alpinistas, muitas pessoas
empregadas em fábricas, em navios e na estrada de ferro -, podem ser executados
::. .1:
sem nenhuma emoção perceptível do sentimento, estando o autor propenso a con­
cluir daí que esses sentimentos concomitantes até "poderiam atingir a intensidade
zero, isto é, poderiam desaparecer inteiramente". 14 Com isso ele confirma a obser­
vação já feita acima, de que é possivel prover eficientemente, e talvez até da manei­
ra mais eficiente, a interesses futuros com base em "cálculos frios", de uma "avaliação
racional sóbria das situações futuras", que "pouco ou nada é influenciada por excita­
ções sentimentais concomitantes". Para ressaltar bem claramente o ponto saliente
com base em um ou outro dos inúmeros exemplos que se oferecem: quando, por
ocasião de excursões pelas montanhas, chego a uma encosta mais íngreme e mais
coberta de neve, ou a uma encosta de geleira, na qual o pé necessariamente escor­
rega se não estiver provido de equipamentos, costumo ou colocar as guarnições :: ~ ':'_::J
de aço para subir ou encarregar o guia de talhar com a picareta para gelo os de­ ~::.-=--= ~
graus restantes na encosta congeiada. A não ser que se trate de escarpas tão íngre­
mes que permanecem perigosas mesmo com esses recursos artificiais, as duas coisas
ocorrem sem a mínima emoção sentimental desagradável, se bem que com o obje­ ::=~~~

tivo perfeitamente consciente de que o que se quer evitar com isto é escorregar ou _7: ...

cair no precipício, o que de outra forma seria inevitável. Coisa similar acontece quanto
à costumeira operação de "prender-se à corda" quando se pisa sobre geleiras cheias
de fendas. E coisa semelhante vale também quanto a numerosas operações que
cada um de nós executa no dia a dia. Quando, em um rígido dia de neve, resolvo
vestir o casaco de inverno quente e me passa pela cabeça a idéia de que, se vestir

12 CUHEL Op. cit. § 25.


13 CUHEL Op. cit., § 27
14 Op cit p. 15 et seqs
EXCURSO Xl 185

- =. :Tlaioria roupa leve, correria o risco de contrair uma pneumonia, não é necessâno que a
-=:-.:: :·s senti­ esse pensamento se associe alguma emoção sentimental perceptível, da mesma forma
como quando, ao comer peixe, não estou preocupado em evitar engolir espinhas,
::~ ::~e a re­ ou quando desço com cuidado uma escada em espiral íngreme.
;:'::2~' au des­ Ora, penso que nessa característica, que propositadamente destaquei com ên­
::::-:-2:Tl. já no fase e que se pode observar no grupo de fatos apresentados no ponto 4, pode-se
[ =.õ ~eferidas primeiramente basear com segurança uma conclusão negativa, que também tirei
:~ :J~azer fu­ em minha citação acima reproduzida, a saber: essa espécie de "sentimentos anteci­
ê :.:ação su­ pados", sentidos como realmente presentes, cuja existência está comprovada com
~: .. a opostas certeza plena como sendo um fenômeno freqüente, mas que talvez não ocorra ne­
~õ~ ~azer pre­ cessariamente e absolutamente em todos os casos, não pode ser aqueie fenômeno
[- ~~a do sen­ psíquico no qual se baseia o valor e a força de motivação dos sentimentos princi·
r~ =::Jpação" pais futuros. Pois esses sentimentos principais mantêm seu valor e sua força de mo­
c: õ:'Jma ser tivação mesmo nos casos em que os "sentimentos antecipados" da espécie descrita
:õ ;;aus per­ e deles derivados simplesmente não ocorreram em concreto, ou pelo menos não
" - do que em um grau constatávei e perceptível; e sobretudo a grandeza do valor e o corres­
ê:~ chegar a pondente grau da força de motivação proveniente do sentimento principal têm tão
: :: _',idar se pouca relação com a intensidade do sentimento antecipado que se tem de renun­
~. cada caso ciar a atribuir a esta última intensidade qualquer papei na explicação do valor e da
:~ ::hrenfels força de motivação dos sentimentos de prazer e de desprazer futuros. Com efeito,
Cõ Jue têm entre outras coisas se poderá observar que, no caso de conflito de um sentimento
:::- ::c'onside­ principal futuro com um outro sentimento presente. vence o primeiro, desde que
: : õ ~espeeti­ sua intensidade seja considerada bem maior e ainda que a intensidade do "senti­
l:aõ Jessoas mento antecipado", dele derivado, possa ser consideravelmente menor do que a in­
~ ~:':e~utados tensidade do sentimento presente concorrente e sobrepujado. Quando, por exemplo,
:~:-.SJ a con­ a correia das guarnições de aço colocadas nos sapatos me aperta um pouco e a
- :e:lsidade dor que sinto me causa desprazer, haverei de suportar como mal menor esse des­
~a a obser­ prazer em consideração ao perigo de vida a evitar - perigo que existiria se tirasse
:~ ::a manei­ as guarnições -, ainda que, ao considerar racionalmente o perigo de vida, de mo­
.. :: ·:L·aliação do algum tenha ocorrido em mim - ou pelo menos não em grau notável - um
.a :: Cf excita­ "sentimento antecipado" que se deva caracterizar como sentimento de desprazer pre­
:-:c saliente sente. Poder-se-á outrossim observar casos nos quais, de dois sentimentos futuros
c'_l:.:ldo, por conflitantes entre si, entre cuja concretização há que optar, cada um dos dois des­
r~:-:-.e e mais perta um sentimento antecipado, mas no caso vence aquele sentimento principal
-=-.~:-.:e escor­ cuja sensação antecipada foi a menos tntensa. Quando, por exemplo, na qualidade
~ ;~arnições de alpinista, numa situação crítica, na qual um movimento inadequado me acarre­
;~:C! os de­ taria perigo de vida, vejo aproximar-se de meu corpo um verme inofensivo mas que
.as :30 íngre­ me repugna, e a representação de um contato corporal com o mesmo desperta em
; ::..: as coisas mim um sentimento antecipado e bem vivo dessa repugnância que me ameaça,
:::-:-: o obje­ apesar disso nada farei para evitar o verme, mesmo que a representação do perigo
;,:: ::egar ou de vida provocado por um movimento for apreendida apenas a nível da inteligên­
. :~ ce quanto cia, sem ser acompanhado de nenhuma emoção perceptível de sentimento.
.-::':.3.S cheias Resta agora colocar ainda uma última questão de fato: será que, além da espé­
,,~a;ões que cie de "sentimentos antecipados' 15 que acabo de descrever - os quais, pelo ex­
e.2. resolvo
_-::. se vestir :::, Quero observar de passagem - 58' bem que isso já não diga respeito ao assunto em pauta - que os citados sentimen­
!os antecipados, que podem ser despertados pela representação de sentimentos principais futuros. têm uma contrapartida
;Jlenamente congruente em sentimentos presentes que podem Ser despertados peja representação de emoções sentimen­
tais já passadas. Ao recordar-m~ de algum prazer ou desprazer passado, a e~sa recordação pode associar-se- uma emoção'
sentimental, cuja intensidade, porém. também ela não tem nenhuma relaçào precisa com a intensidade do sentimento prin­
cipal passado, podendo, mesmo que os sentimentos principais sejam muito intensos, reduzir-se a zero. ou pelo menos não
ser sequer perceptível (grau este que não conseguimos mais distinguir da ausência pura e Simples de qualquer emoção
sentimental).
186 TEORIA POSITIVA DO CAPITAL

posto, não podem com segurança ser suscitadores e portadores da força de motivação uma C:-:::J
dos sentimentos principais futuros - não há realmente outra espécie de verdadei­ senta:::=.s
ros sentimentos presentes, que sejam despertados pela expectativa de sentimentos tativa5 :~
futuros, e aos quais se possa atribuir, com razão mais fundamentada, a explicação nenhL::":'"..
da grandeza do valor e da força de motivação desses mesmos sentimentos futuros? fosse :~::
Penso que diversos psicólogos operam com essa suposição; entretanto, eu pes­ P,,:
soalmente não tenho podido encontrar nem verificar, em minha própria percepção, obrige.~-:'
a existência de tais sentimentos presentes. Como verdadeiros sentimentos, eles em me a::-2'.'
todo caso teriam de ter alguma intensidade. Ora, com a mesma certeza com que real E =.:
afirmo ser capaz de distinguir e verificar, em minha percepção interna: 1) a intensi­ C -~
- ,
dade com a qual um sentimento se faz efetivamente presente ao se concretizar; 2) cipac::,
a intensidade que atribuímos, mediante um juízo, a um sentimento (passado ou fu­ moti\=.;l
turo) apenas representado no momento, como sendo a intensidade que oCClHeu c\uíde. =.
ou ocorrerá por ocasiã8 da concretização do mesmo (trata-se, no caso, da intensi­ cuja '.:-:~'
dade de um sentimento representado, avaliada mediante um juízo); e 3) a intensi­ cente.C2:
dade de um "sentimento antecipado" presente do tipo descrito, despertado pela fatos :.=.
representação de um prazer ou um desprazer futuros - com a mesma certeza me valor 2 i
declaro incapaz de descobrir ou constatar, em minha percepção interna, mais outro por r.:: 5:
sentimento real e presente, derivado de um prazer futuro ou de sua representação, futurc:'
dotado de outro - um quarto! - grau de intensidade, ou pelo menos um senti­ T- ..:
mento presente de grau de intensidade tal que a partir dele se pudesse com natura­ um C:':'"
lidade explicar a avaliação empírica e a força de motivação de sentimentos futuros.
sidaCE :i
Afirmei há pouco: penso que diversos psicólogos operam com essa suposição. inter\E:--'
Com efeito, confesso abertamente que seus pronunciamentos sobre a matéria não have;'=.
são tão claros e transparentes que eu possa atrever-me a atribuir-lhes com certeza avo;.:'::':
plena determinada opinião, precisa e formulada de maneira totalmente isenta de to ca":53
ambigüidade. Talvez - provavelmente - uma boa parte dessa minha incerteza se vaçãc :i,
deva a mim mesmo, sobretudo à falta de familiaridade profissional com todas as
preser.:€
nuanças da terminologia por eles utilizada. Entretanto, não gostaria de debitar tudo moti\2.;,
a mim mesmo. Não quero empreender crítica psicológica de detalhe, pois esta po­ exclu<:::l
deria facilmente ser refutada como crítica proveniente de um não especialista em
prese:-.:i
Psicologia. Quero apenas fazer duas observações de natureza geral a fim de esclare­ O:,
cer minha posição na matéria. Antes de tudo, teria esperado e desejado que as ela­
rio ir.::>]
borações propostas por psicólogos sempre fossem nitidamente delimitadas e
distinguidas, por explicações bem explícitas e sem hesitações, de todos os demais parec" ~
mentE]
grupos de fatos que acabei de citar, sobre os quais possivelmente também se pode­
conte. 'J
ria fundar uma construção diferente - expectativa que infelizmente só em casos
de to:::)
muito raros se cumpre plenamente, mas em geral ela é sensivelmente frustrada. Se­
gunda observação: o fato de a respectiva terminologia especializada dispor de ex­
pressões como lustbetonte Vorstel/ung, Gefuehlsdispositionen, affective logic, fee/ing
como "embodied meaning", felt meaning e similares, e de ela se servir de bom gra­ Ih E55= ::-=
bucr. :~. ~
do e com abundância dessas expressões, talvez se deva interpretar como sintoma 1: D:'.~:~"
de que existem na realidade fenômenos psíquicos cujas nuanças peculiares só pos­ a rr.e:;."":"".= "J
defec oc : 1
sam ser expressas justamente por meio da composição, e do "nuançamento", tam­ mer.:-E :-:-:C
bém ela peculiar, das citadas denominações; de que, portanto, estas sejam impO::::'-·L
denominações perfeitamente corretas para uma coisa perfeitamente correta. Toda­ tuali:::c:~ ::
para ~~:.:...;
via, por outro lado, é natural supor que denominações, que, digamos assim, com rem ::'.-:=
cada pé procuram sua fundamentação em outro setor dos eventos da esfera psico­ nurr. -:-lll
tosC_=:'--:1
lógica, oferecem também uma tentação bem perigosa de se ficar balançando entre enlr~ :_~

afirmações imprecisas, podendo-se abusar delas à guisa de refúgios cômodos para decc-~-J

uma argumentação vaga. Repito: não pretendo aqui radicalizar em nada, fazendo pOC-2 .::.-~
nô!"T"":: ~ !
EXCURSO Xl 187
! :" cnotivação
E ::e uerdadei­
uma critica precisa de quaisquer tentativas concretas de elaboração psicológica apre­
[", :ô2:ltimentos sentadas na literatura psicológica. Quero apenas esclarecer que entre todas as ten­
t c explicação tativas de elaboração psicológica com que tenho travado conhecimento, não encontrei
,.e -:~ 5 futuros? nenhuma que me aparecesse formulada com tanta precisão e ao mesmo tempo
::.=. -. ::J. eu pes­ fosse tão satisfatória que pessoalmente possa aderir a ela sem reservas.
~ c ;Jercepção,
Pelo contrário, o exame que eu mesmo fiz dos fatos e dos problemas parece
E~::S. eles em obrigar-me a aceitar o seguinte dilema no tocante às possibilidades de solução, não
r.2:3 com que me atrevendo a apresentar uma dessas possibilidades como sendo a única solução
c : a intensi­ real e adequada:
C:~. c~etizar; 2) Considero positivamente excluída a possibilidade de que os "sentimentos ante­
J.C.ssdo ou fu­ cipados" descritos sejam, com sua intensidade, portadores do valor e da força de
2 :-..:e ocorreu motivação dos sentimentos futuros. Considero igualmente como positivamente ex­
&:' :ia intensi­ cluída a hipótese de Jevons-Sax de que há sentimentos antecipados e presentes
.:: 3 a intensi­ cuja intensidade seja inferior à dos sentimentos principais futuros apenas numa por­
~e:1ado pela centagem correspondente à distância no tempo. Pelo contrário, creio que todos os
':'". c certeza me fatos da experiência indicam com segurança que uma influência decisiva sobre o
r:: cnais outro valor e a força de motivação de sentimentos futuros em todo caso só é exercida
r,,::~esentação,
por nossa opinião judiciosa acerca da presumível intensidade desses sentimentos
ée:ô um senti­ futuros.
i<2 e:xn natura­
Todavia, dentro desse quadro, que pessoalmente considero certo, ainda resta
l"~. :05 futuros. um último dilema. Com efeito, o referido juízo racional sobre uma presumível inten­
5.:Ôc suposição. sidade do sentimento futuro ou poderia produzir a motivação diretamente, sem que
2. :-:-:atéria não
intervenha nenhum outro elemento intermediário - caso em que evidentemente
?s ccm certeza haveria que considerar possivel a tese de que juízos podem agir diretamente sobre
2-:2 isenta de a vontade, sem intervenção de sentimentos presentes. 16 Ou, então, o encadeamen­
:=.~.certeza se
to causal, em todo caso existente, que conduz do referido juízo racional para a moti­
cc:-:-: todas as vação da vontade, tem ainda um elemento intermediário do tipo de um sentimento
e :ebitar tudo presente: nesse caso, porém, esse elemento intermediário e o tipo mais preciso de
:: :'5 esta po­
motivação intermediária ainda estaria por ser descorberto, pois estão seguramente
~2cjalista em
excluídos, pelos fatos e objeções acima apresentados, aqueles tipos de sentimentos
~. :e esclare­ presentes aos quais até agora se quis atribuir esse papel.
ce c'Jeaseia­ O fato de até agora não se haver conseguido descobrir tal elemento intermediá­
c.2 ~:TIitadas e
rio incontestável, nem comprovar sua existência e maneira de atuar, ainda não me
:: cs os demais parece fundar um direito inegável de considerar a segunda alternativa como total­
:.,?:-:-: se pode­ mente impossível e afirmar que ela está simplesmente excluída,17 se levarmos em
~ s: em casos
conta os fortes motivos que levam muitos psicólogos a acreditar numa derivação
~·..:strada. Se­
de todos os fenômenos da vontade de fenômenos da esfera do sentimento. Vejo
:.:Ô:Jor de ex­
,,:gic, feeling
~ :e bom gra­ I" Essa possibilidade é basicamente negada por muitos psicólogos - de forma bem incisiva, por exemplo, por JODL Leh·
buch der Psychologie, p. 726.
:'C~.o sintoma
17 Diverge dessa opinião Cuhel, que indo aqui mais longe do que eu, recusa categoricamente a segunda alternativa com
..:c,es só pos­ a mesma firmeza com que afirma positivamente a prímeira, op. cit., § 28. De resto, parece-me que Cuhel, no essencial,
::~.ento", tam- defende o ponto de vísta já esposado por mjm na primeira edição, com algumas diferenças mínimas e em parte simples­
mente fictícias. Não tenciono acompanhar Cuhel em todos esses getalhes; quero apenas, para evitar um equívoco mais
2s:as sejam importante, fazer expressamente uma única observação. No § 63, Cuhel trava comigo uma polêmica mais longa, na even­
:e ~ela. Toda­ tualidade de eu defender que "a simples representação de um prazer futuro ou de um sofrimento futuro seria suficiente
para produzir um desejo de dispor no presente"; quer ele retificar essa tese afirmando que para isso em todo caso se reque­
:ô :::ôsím, com rem ainda outros "juízos existenciais", sobretudo o juízo ou a convicção, por parte da respectiva pessoa, ~de que ela terá.
: 2:ô:'era psico­ num momento futuro qualquer, um desejo de utilizar os respectivos meios de satisfação", Não creio que tenha havido mui­
---: c:ldo entre tos outros leitores de meu livro que tenham duvidado de que a "avaliação racional das situações futuras" - da qual falei,
entre outras coisas - contém, além de "simples representações", também verdadeiros juízos e de que "em nossa avaliação
::=:-.odos para de bens futuros e na paralela tomada de nossas decisões econômicas de prover a neceSSidades futuras" certamente não
.:::::. fazendo pode faltar o ponto de tal "juízo" sobre se num momento futuro previsivelmente teremos um desejo de utilizar os bens eco­
nômicos a serem avaliados!
lc,3 TEORIA POSITIVA DO CAPITAL
pode:- C_
aqui, portanto, uma questão ainda em aberto, um problema parcial não resolvido of ane:=
e que portanto precisa de solução, mas que, para felicidade da Ciência Econômica, ra n~: ~:
só me parece necessitar de solução para o cumprimento pleno da tarefa científica da cc:-::-.;:
dos psicólogos, ao passo que para os objetivos de explicação específicos dos pes­ ocas:~:
quisadores de EcoflOmia Política não interessa em nada de que maneira os psicólo­ de dê :,
gos possam preencher a lacuna entre sua explicação e os referidos fatos, um te:::..
suficientemente comprovados. Todos os raciocínios que tenho de apresentar para
explicar o valor maior de bens presentes e também para explicar b fenômeno do
vaçãc =­
juro do capital estão suficientemente comprovados, desde que eu consiga ancorá­ se até ::j
los com certeza suficiente no fato, suficientemente comprovado como fato, de que moti.. : ::J
a avaliação e a força de motivação de sentimentos futuros é intermediada peja opi­ nos é:='J
nião que formamos acerca da intensidade previsível desses sentimentos futuros. Quais­ serva:- ::.1
quer que sejam as características destes detalhes psicológicos mais íntimos dessa a co;s:::: (
intermediação, nada muda no curso das explicações ligadas ao fato dessa interme­ te abe:-:::::
diação. está9: :::
Possivelmente alguns críticos, que gostariam simplesmente que nós, da Econo­ mas ê:".:e
mia Política, deixássemos de falar quando se trata de questões psicológicas, consi­ jos, a::~-:
derarão particularmente ousadas e indevidas as incursões que neste Excurso fizemos simples:-:­
no campo da Psicologia. Por isso, para justificar ainda mais as razões pelas quais aind:: :-::-.i
nós, da Economia Política, justamente nas questões psicológicas aqui em debate, certa:-:-.~
procuramos a orientação por conta própria, ao invés de basear-nos numa "doutrina conté:-::-..
reinante" e abalizada, a nós oferecida pela Psicologia especializada, quero, para fina­ tudios: ::
lizar, acrescentar alguns apontamentos característicos, que mostram claramente que tre o ;:,'::5
no caso simplesmente não existe uma "doutrina reinante" abalizada. Com efeito, en­
próv:::·
quanto nós procuramos informações mais precisas sobre quais das funções psíqui­ ção. r::s
cas elementares e em que encadeamento as funções do imaginar, do julgar, do sentir E-.. c.
e do desejar se relacionam entre si. ainda se continua a discutir, no âmbito da psico­ també:-::­
logia especializada, sobre a questão, absolutamente básica, de se todas essas fun­ plexô.s :",
ções - e quais delas - devem ser distinguidas umas das outras como funções sar u:-:"::
autônomas. Um moderno Compêndio de Psicologia ~- e talvez justamente um "Com­ Econc:-::­
pêndio" tipo manual de instrução, que tem por objetivo fornecer uma "exposição um m::-:­
global do estado atual", de tipo geral e facilmente compreensível, da disciplina perti­ discu::::~:
nente, constitua no caso uma fonte de informação ainda mais instrutiva do que as trina ::::::
próprias monografias de pesquisa - diz-nos que, no tocante à questão de se o de­ juízos ;:O'.:
sejo se deve entender apenas como uma forma determinada do sentir, "os psicólo­ Refiro-:-:
gos de hoje não concordam entre si. como não concordam a respeito da distinção [:'.:2 ~
entre imaginar e julgar; e h.á um número notável de tentativas no sentido de reduzir, queSl?':: ::
mediante alguma análise, o desejo a simples elementos do sentimento ou até da que (;:os:
imaginação". E como defensores de tais teses estranhas citam-se nomes como Wundt, recUSê~-::
Franz Brentano, Ehrenfels, Kuelpe e Ebbinghaus. 1B Além disso, no tocante ao fe­ ra do:: "
nômeno da "intensidade", que desempenha um papel tão relevante em toda a teo­ adeq'G::::
ria do valor, tanto do ponto de vista econômico quanto psicológico, além de opiniões tos fu:_~
que em toda linha relacionam da maneira mais íntima a grandeza do valor com in­ med:c"õ
tensidade do sentimento e até com diferenças entre intensidades de sentimentos, de­ canse c _
paramos com opiniões que só atribuem intensidade a uma parte dos sentimentos que prese r . :e
fundamentam o valor, opiniões que simplesmente negam gualquer intensidade 19 :\:: ::
ao desejo, bem como ao "amor e ódio" e finalmente também opíniões que atribuem

2(i UR~":"
2] \\':~.":'.: =-~
18 WITASEK. Grund/inien der Psychologie. C0010 v. 115 da Biblioteca FiI(Jsófico. L.eipzig. 1908. p. 80 22 Vê'i._:
19 BRENTANO. Franz. sesundo EHRENFELS Werttheorie. L p. 274 e 11. p. 221
EXCURSO XI 189

:". ~:: resolvido poder de determinar as grandezas do valor a certas "formas de afetividade" (jorms
ê ::: ::onômica,
of affectivity), sem levar absolutamente em conta sua própria intensidade. 20 Isso pa­
ra não falarmos das intermináveis divergências de opinião a respeito do problema
!:" '".: 3. científica
t:::: 5 dos pes­
da comensurabilidade das intensidades do sentimento, já mencionadas em outra
~ :JS psicólo­
ocasião! E enquanto o supracitado compêndio dedica 217 páginas à primeira meta­
f~:-.::os fatos,
de da parte especial - A Psicologia da Vida Intelectual -, só consegue dedicar
f"" 5e !1tar para
um total de 51 páginas à segunda "metade" - A Psicologia da Vida Sentimental
t2- :::meno do -, à qual cabe tratar dos sentimentos e desejos, incluindo a doutrina sobre a moti­
.:-5:;a ancorá­ vação. Eis como o autor justifica esta "desproporção": a pesquisa científica dedicou­
;:::0. de que
se até agora à vida intelectual em medida muito maior do que à vida sentimental,
iê:::3. pela opi­ motivo pelo qual é natural que neste campo se disponha de resultados muito me­
:..:-_ros. Quais­ nos acabados do que naquele; além disso, porém, o autor sente-se obrigado a ob­
E:-=~os dessa
servar que mesmo naquele reduzido número de páginas terá que dominar "a referência
:,;: 553. interme­ a coisas que hoje ainda constituem problema, bem como outras questões totalmen­
te abertas". Particularmente quanto à doutrina sobre o sentimento, afirma que, "no
:5 ::a Econo­ estágio atual da Psicologia, não se deve falar propriamente da teoria do sentimento,
mas antes de várias teorias do sentimento"; no que concerne à Psicologia dos dese­
é·;-.:as, consi­
;.=: ..:rso fizemos
jos, afirma que, "na medida em que ela pretende oferecer resultados seguros ou
~:5 ;:elas quais
simplesmente apresentar rigoroso caráter científico, ela está hoje em seus inícios,
ainda mais que a Psicologia dos sentimentos".21 O mesmo Compêndio - o que
.:. 2m debate,
.:-:-:: -doutrina certamente não causa estranheza, se atendermos ao que acima foi exposto - não
contém uma linha sequer sobre aqueles problemas especiais com que depara o es­
2r: Dara fina­
tudioso de Economia Política que, como eu, tem de elaborar a relação existente en­
::::~ente que
tre o presente e o futuro na Economia. Em tais circunstâncias, lançar mão dos recursos
::-:- efeito, en­
próprios, mesmo que isso seja recurso de diletante, na verdade não é uma usurpa­
-: :es psíqui­
ção, mas uma necessidade!
J;3.r. do sentir
Evidentemente, já tive oportunidade de observar várias vezes, de passagem, que
:::: ::ia psico­
também os estudiosos de Economia Política que abordaram essas questões com­
L:: 5 essas fun­
plexas nem sempre demonstraram mão habilidosa. Entretanto, talvez deva dispen­
e:-:-') funções
--2.1m "Com­ sar uma referência mais do que simplesmente ocasional a um pesquisador de
Economia Política altamente conceituado, que só bem recentemente, portanto em
::: '"2xposição
um momento em que já pôde dispor da visão completa da literatura produzida pela
~::;;i:na perti­
discussão levada a efeito até agora, apareceu em plena forma como teórico da dou­
:'. ::::10 que as
trina sobre as necessidades, e que nesse contexto não deixou de tomar posição, com
c :e se o de·
juízos expressos com muita autoridade, também sobre os problemas aqui debatidos.
:- -::S psicólo­
Refiro-me a Lujo Brentano.
; :3. distinção
Infelizmente, sou obrigado a considerar justamente a intervenção dele nessas
:: :e reduzir,
questões, muito mais como causadora de confusão do que tomo benéfica. Penso
::: ')u até da
que desde o ínicio Brentano não conseguiu encontrar o caminho da clareza por
:: --:-.0 Wundt,
recusar-se a fazer uma distinção que dificilmente se pode dispensar, a distinção cla­
:': :::lte ao fe­ ra dos fatos com os quais temos de lidar nesses problemas. Ele considera "não­
-. :::da a teo­
adequado" distinguir entre necessidades presentes e futuras, porque mesmo even­
::-. :e opiniões tos futuros "produzem determinado desejo e um agir a ele correspondente só na
" ::.J:" com in­
medida em que despertam sentimentos de desprazer e de prazer no presente", e
::--:-.entos, de­ conseqüentemente "também sofrimento e alegria futuros provêm de necessidades
::::-:-.entos que presen tes". 22
:" :2:-:sidade 19
Não quero dizer se sobretudo o primeiro desses dois princípios, que constitui
c _" atribuem

'" URBAN. Va!uation, Its Nature and Laws, p 120 et seqs.

" WITASEK. Op. cit, p. 315 et seqs .. 343·349

22 Versuch einer Theorie der Beduerfnlsse. Munique. 1908. p 9.

~9D TEORIA POSITIVA DO CAPITAL


pess: c.
o ponto de partida para todo o resto, é realmente tão indubitável quanto supõe Bren­ ras: 2õ:i
tano, pois já acima tomamos conhecimento de fatos que levam a duvidar. 23 Toda­ mas '_:;
via, mesmo que o referido princípio fosse realmente de todo indubitável, é evidente lida:::'2 : :
que aquilo que denomino necessidade futura, por exemplo a necessidade de ali­ de e ::'5
mentação para o dia de amanhã, é um fenômeno psíquico totalmente diferente da­ algL.2 :-::
quela "necessidade presente" que Brentano se permite derivar desta última e afirma do 12',3
ser uma "necessidade" presente "de prover ao futuro".24 O fato de se falar do segun­ a ne:25
do desses dois fenômenos na teoria das necessidades não isenta de maneira algu­ da :":2:.
ma da necessidade de tomar conhecimento também da existência da primeira;25 e tenr.:: .:
sobretudo quando o ponto que propriamente interessa no problema consiste justo a pI"::-:
em explicar de que maneira necessidades futuras se transformam em "presentes", mes:":-.:
respectivamente como podem despertar motivações presentes a seu próprio favor, em ~"'.~
é uma má preparação para uma investigação clara desse tema simplesmente'elimi­
nar como "não-adequada" a distinção entre necessidades presentes e futuras. o fo~:::.~
Na verdade, também no próprio Brentano a natureza das coisas acaba demons­ sidac:", 5
trando ser mais forte do que o propósito um tanto teimoso do sistematizador, e quando tes- ':: ~
ele em determinada ocasião é levado pelo contexto a expor descritivamente o que des5ê ;,
entende propriamente ao falar de "prover ao futuro", a categoria rejeitada das "ne­ das :-.2:
cessidades futuras" se introduz involuntariamente também em sua própria exposi­ esta!' '::->
ção,26 Contudo, é só excepcionalmente, como que contra a vontade e por engano zerO. ê· _
que lhe escapa essa expressão clara e precisa. Normalmente a substitui, por princí­ mime ~i
pio, pela expressão vaga e confusa de uma provisão "para o futuro':..- com a qual, um 52'"
porém, do ponto de vista do conteúdo, só pode querer denominar as necessidades come 5-<
futuras! - e insiste em que, no sistema das necessidades, o lugar das necessidades des C2 :
futuras seja ocupado exclusivamente pela expressão, por ele preferida e de modo dade::='
algum plenamente equivalente, "necessidades presentes de prover". evide:-.:'
Isso tem toda uma série de conseqüências não muito corretas e geradoras de a de:::~
confusão. Com efeito, as necessidades futuras que exigem ser por nós levadas em talvez ':-:
r''':mta em nossa administração econômica com vistas ao futuro pertencem aos mais zer -re~
diversos tipos de necessidades objetivas: são necessidades de alimentação futuras, da ne:e
necessidades de vestir futuras, necessidades de moradia futuras, necessidades de É:.a
educação futuras, necessidades de viagens futuras para banhos etc. Naturalmente, blema J
ao dar-lhes a forma de representação de "necessidades presentes", Brentano tem pela Sê-:
de despi-Ias desse seu caráter específico: o que realmente sinto hoje em função da ça" :c_
necessidade de alimentação do amanhã ou do ano próximo não é fome, não é ne­ moti\.:
cessidade de alimentação. Por isso, registra-as sob o título de "necessidade de pro­ ximicc:
ver ao futuro, como uma necessidade especial sui generis e a seguir cataloga essa saber. :J
espésie de necessidade ao lado e entre as demais espécies de necessidades objeti­ se há ::
vas. E compreensível que isso leve a resultados bem bizarros. Com efeito, uma vez .\'e j
que a tarefa primordial de uma economia racional não consiste em remediar a pos­

teriori males efetivamente sentidos já anteriormente, mas em conseguir previamen­

te meios de cobertura para as necessidades que se prevê ocorrerem no futuro, os O.'

a :.:
itens de necessidades objetivas nos quais se decompõe a necessidade global de uma, de a:': _"
ne(2~~

311 .. _
2S -E e ~ :o
para ~::-.:. ;:-.:.
2::1 et seqs. do ~re5ente Excurso
P. 184 para ;e-­
24 Op. cit., p. 30. 2YC :0-:
25 Ou será que 8rentano rejeita a categoria da~ "necessidades futuras" pelo fato de, por serem futuras, ainda não "existi­ men:: :~

rem", e portanto si:nplesmente não "existirem"? ~e:'se caso, porém, tampouco teria podido falar de "'sofrimento e alegria é de- : - ­
futuros" e sobretudo não teria podido enuncia.r o pm l-fpio genérico de que "também o futuro" pode "causar" sentimentos 300é
de desprazer e de prazer' Ibid .. p. 9. 31 P ::
26 '"Ela (a necessidade de prover o futuro) (... ) destaca-si ~
medida tanto maior quanto mais a cultura aumenta, e tam
'11 32 Oé
bém com a possibilidade crescente de prever necessidades futuras e adotar medidas para sua satis/ação." Op. dI., p. 31
~-,:,,~, ..;.r"~=:- _ :,-:";,,__

EXCURSO XI 191
pessoa, a ser provida, contêm elas mesmas, em sua maior parte, necessidades futu­
: s ~:Jõe Bren­ ras; estas não estão fora dos quadros de necessidades objetivas como algo estranho,
.-.:~r.23 Toda­ mas justamente dentro deles, por serem seu conteúdo principal. No entanto, a riva­
E_ é evidente
lidade que Brentano estabelece entre a presumida espécie sui generis de necessida­
",:::::3e de ali­ de e as demais espécies de necessidades objetivas lembra fortemente um duelo que
:::erente da­ alguém travaria consigo mesmo. Por isso, não é de admirar que Brentano tenha si­
t~.a e afirma
do levado, com essa rivalidade tão bizarra, a afirmações estranhas como esta: que
ia: :io segun­ a necessidade de "prover ao futuro" é colocada, pela maioria das pessoas, depois
r.3~eira algu­
da necessidade de divertir-se (!) e antes da necessidade de cura (1),27 e depois se
;:~meira;2s e
tenha visto obrigado a salientar, como se fosse uma peculiaridade digna de nota,
c: ~siste justo a prioridade, muito compreensível, que as necessidades futuras conseguem co'nquistar,
~_ -:Jresentes",
mesmo fora dessa hierarquia maravilhosa, prioridade que, segundo ele, ocorre mesmo
)~::prio favor, em relação a outras espécies de necessidades, hierarquicamente mais importantes. 28
;:-:-~!1te elimi­
Merece, além disso, observar-se que a concepção e a terminologia de Brentano
E ::.:turas.
o forçam a entender até a simples garantia ou cobertura para a satisfação de neces­
10:3 demons­ sidades como uma satisfação efetiva de necessidades. Pois as "necessidades presen­
kr. e quando tes" por ele arquitetadas reduzem-se apenas a um "prover", um garantir: a ocorrência
r..~!1te o que
dessa garantia já constitui, portanto, o cumprimento pleno do conteúdo das referi­
a:::a das "ne­ das necessidades, o "prazer" que representa sua satisfação. 29 A simples "garantia de
:;::-:a exposi­ estar protegido contra a ameaça de uma carência no futuro" já proporciona "pra­
~ ;: ·:::,r engano
zer",30 a simples perspectiva do preso de ser libertado dentro de dez anos, do fa­
[: ;:lor princí­ minto que aguarda um alimento que lhe foi prometido para amanhã, lhes proporciona
:::::n a qual, um sentimento de prazer no presente, que, segundo Brentano, se deve entender
~,:; :::essidades como sendo o respectivo ato adequado de satisfazer as correspondentes necessida­
:,:;:::essidades des de provimento. Naturalmente, sua consideração exige além disso também a ver­
I ~ de modo
dadeira satisfação das respectivas necessidades futuras propriamente ditas - às quais,
evidentemente, Brentano não quer dar essa denominação. Faz menção delas sob
~radoras de a denominação de ocorrência "rear' e próxima "do prazer",31 expressão esta na qual
; .,:·;adas em talvez soe involuntariamente a sensação de que o que merece o predicado de pra­
E~. aos mais
zer "real" não é a "satisfação" da "necessidade de garantir", mas somente a satisfação
~;§.o futuras, da n~cessidade real propriamente dita.
~s::iades de E também com essa concepção e essa terminologia que Brentano aborda o pro­
a:-~ralmente, blema que nos ocupa. Pergunta pela "medida de bem-estar" que é "proporcionada
n"r-.:ano tem pela satisfação das necessidades". Ela depende obviamente de dois fatores: da "for­
:. ::.mção da ça" (ou intensidade) com a qual é sentido o bem-estar e de sua duração. Como
oê. "õo é ne­ motivo determinante da intensidade da sensação de prazer, Brentano registra a "pro­
lc:::e de pro­ ximidade do prazer no tempo", expressando-se nos seguintes termos: "E importante
a:=.loga essa saber, para a intensidade das sensações de prazer, se eles ocorrem no presente ou
~a:::es objeti­ Se há que esperá-las somente no futuro?"32
t::. uma vez Nesse contexto Brentano confunde até gramaticalmente os dois fenômenos do
",::ar a pos­
.::-euiamen­
c :~lturo, os 27 Op. cit., p. 30: "6. Depois da necessídade de divertir-se. no caso da maioria das pessoas. vem. em ordem de urgência.

:':3: de uma a necessidade de prouer ao futuro ..." "7. A necessidade de cura, embora de certo modo seja um complemento da necessida­

de absoluta de sobreviver, não obstante é muito menos sentida do que todas as necessidades anteriormente citadas" (p.

31). Ver também v.1. Teoria PosillUa. p 162, nota 14

28 "Ela leva então" (isto é, quando aumenta a cultura e a possibilidade de prever necessidades futuras e de adotar medidas

para satisfazê-Ias) "não somente a limitar o gasto para satisfazer a necessidade de diversão, mas também a limitar o gasto

para ganhar a subsistência. impondo-se também como freio ao domínio cego do instinto sexual"' Op, cit., p. 31.

29 Cf. também a definição de satisfação de necessidade feita por Brentano na p. 4: "Denomina-se necessidade todo senti­

=- ::: -:ão "existi­


mento de desprazer. assocíado ao desejo de eliminá-lo. elimínando a carência que o produz; e a eliminação da carência

:--.,:-:: e alegria
é denominada satisfação da necessidade. fruição, prazer"

_~::.- - ~,;"-',timentos
lO Op. cit, p. 10.

11 P 36.

.:: _- 2"-'.:a. e tam 12 Op. cito p. 35 É meu o itálico na palavrinha "elas"

_: ::r., p. 31
192 TEORIA POSITIVA DO CAPITAL

prazer: o do presente e o do futuro. Não observa que seu princípio condutor só tem adminisr:-~ (
sentido se as sensações de prazer do início da frase forem sensações de prazer abso­ 000 mare:>s
lutamente presentes e as do fim da frase não forem "elas" - como afirma erronea­ enquanto :J
mente Brentano -, mas outras sensações de prazer, que pertencem ao futuro. Com tano, essa. :
efeito, se Brentano já no início da frase realmente estivesse pensando nas mesmas digna de :-.::J
sensações de prazer que "há que esperar somente no futuro", sua frase levaria à mons­ se bem: S2'S
truosidade de afirmar que as sensações de prazer ocorrentes no futuro sofrem uma menta nc :i
diminuição em relação a sua própria intensidade, que são menos intensas do que dos, no va
elas mesmas - o que Brentano obviamente não pode haver tencionado afirmar; sível e plc~5
o que ele tenciona afirmar é manifestamente bem outra coisa, a saber, que certas por si sóá
sensações de prazer presentes, na suposição de Brentano produzidas antecipada­ serem reS2C'
mente, têm uma intensidade menor do que aquelas outras sensações, futuras, pelÇls o milioná:-: J
quai~ são produzidas. cos, um;:::3
E possível que no caso se trate apenas de uma falta fatal de habilidade estilísti­ consegu:~ Só
ca, incorrida casualmente por um autor que normalmente é tão versado na forma. milhão.'""' =
Entretanto, dificilmente a pena se teria deixado levar com tanta facilidade ao erro so opost::: ;
se também na cabeça não tivesse havido certa confusão, se Brentano não estivesse nunciar. :-.:::
excessivamente propenso a supor que as necessidades presentes sentidas antecipa­ apreciadc 3.
damente representam plenamente as necessidades presentes e as substituem e so­ recursos::: : 1
bretudo se, nessa sua opinião preconcebida, não tivesse atribuído às necessidades falta -. ::;,
presentes, que representam as futuras, ainda certas outras propriedades, em virtude que a te::::=,
das quais elas se tornaram, para ele, muito mais semelhantes aos sentidos futuros presente: ::
por elas representados do que o são na realidade; semelhança que facilitou a con­ guel lhe ::~:
fusão entre uns e outros, por parte do autor. Numa palavra, a pena de Brentano prios pra.z2~
dificilmente se teria deixado levar tão facilmente ao erro se o autor não tivesse trans­ o dinheirc ~
formado erroneamente as necessidades presentes, sentidas antecipadamente, em ainda ma::::l
sósias das necessidades futuras, também no tocante à intensidade atribuída às pri­ mendigo 3:
meiras. a renúnc:c õ
É nesse ponto que interfere novamente aquele pressuposto tão simplório e con­ aos qua:3 S<
trário a toda a experiência, que foi uma vez expresso por Jevons e por Sax, que InfeLz:-:l
o enunciaram sem autocontrole e sem serem advertidos criticamente por outros; pírica. ALi5
é, porém, estranho que Brentano o repita hoje, com a mesma segurança ingênua, prazeres e:J
depois de feita a citada advertência crítica: ele atribuiu às necessidades presentes vos - (C3:-,
por ele arquitetadas basicamente a mesma intensidade de sensação presente que desfrutar. :(
têm as necessidades futuras que as prevêem, apenas com uma diferença percentual da com: 3.5
pro rata tempo ris. Em outras palavras, Brentano postula a existência de intensida­ os tipos:''?
des de sentimentos presentes, que teriam toda 'a força de motivação que cabe aos com tante ~
respectivos sentimentos futuros. cisão é s:::-:;
Que tal suposição faria com que nossa vida econômica diária, no que tange nas um p-:::,
a prover às necessidades do futuro, fosse povoada de um sem-número de senti­ alternat·;c
mentos de prazer e de desprazer os mais intensos - dos quais, alías, feliz ou infeliz­ tanto, Br,?:-:1
mente, na realidade não percebemos nenhum traço -, já o observei acima (p. 179) nas quais :,
em relação a Sax, de forma bem genérica. Em se tratando, porém, da formulação maior do :;
específica de Brentano, há algo mais a objetar. por ele sc~
Brentano dá-nos a seguinte orientação: "Todo aquele que guarda um bem, em fação da :-e
lugar de desfrutar dele no presente, mostra com isso que a antecipação de um pra­ do canse;:.
zer a ser esperado no futuro, ou o afastamento de uma desvantagem futura, lhe ainda o p:-a
proporciona um prazer presente maior do que se desfrutasse do bem no presen­
te'~33 Reflitamos um pouco sobre isso. Imaginemos um milionário em marcos, que
:\4 Cf t,,,,,o,,­ =
proporei'": - .:: - -,
3:·)' P 9 et seqs. Os itállcos são meus. lugar (Ce • - , ..
EXCURSO XI 193

:: - ::.ltor só tem administra com competência, que eufere de seu milhão uma renda anual de 40
, : -= ;Jrazer abso­ 000 marcos e se contenta em consumir cada ano essa renda em prazer presente,
, =':-.r:-:-:a erronea­ enquanto o principal de 1 milhão é por ele "guardado" para o futuro. Segundo Bren­
: ::: '·.lturo. Com tano, essa abstenção no tocante ao prazer presente tem a seguinte conseqüência
::: :-'.as mesmas digna de nota: ela não só não reduz esse prazer presente, mas até o aumenta. Note­
€ .-=:·.3.na à mons­ se bem: segundo a construção de Brentano, o que aumenta, por efeito do adia­
t_ r: ",ofrem uma mento no tempo, não é o prazer global, que pode ser auferido desses bens soma­
.-:-=:-'.",as do que dos, no presente e no futuro conjuntamente - o que seria perfeitamente compreen­
c ::-'. 3.do afirmar: sível e plausível -, mas apenas a parte do prazer dos bens desfrutada no presente,
;.õ::",r. que certas por si só já aumenta pelo fato de se subtraírem bens de consumo ao presente e
::::'" antecipada­ serem reservados para o futuro. Com efeito, Brentano explica-nos textualmente que
€ õ '~turas, pelas o milionário já no presente aufere do "guardar", do não-consumir o milhão de mar­
cos, um prazer que é ainda maior que todos os prazeres presentes que teria podido
t: ~ ::::ade estilísti­ conseguir se consumisse imediatamente para seu prazer toda a importância de 1
::-",::::8 na forma. milhão. 34 E agora completamos o quadro, lançando um olhar também para o ca­
::::~::ade ao erro so oposto, para o pobre coitado que está a definhar de fome, que é obrigado a re­
c:: -.ão estivesse nunciar, no presente, aos prazeres, ardentissimamente desejados e por ele altamente
E-:::as antecipa­ apreciados, e a deixar de satisfazer suas necessidades porque tem de guardar os
õ_:õ:'tuem e so­ recursos com os quais poderia conceder-se esses prazeres - dos quais sente muita
~õ :-.ecessidades falta -, digamos para pagar o aluguel de moradia do próximo trimestre. Acontece
':::,:;õ. em virtude que a teoria de Brentano garante também a ele os mais abundantes prazeres no
:;'''':-.:'dos futuros presente: com efeito, também o "guardar" o montante necessário para pagar o alu­
'" '::::litou a con­ guellhe proporciona prazeres no presente, que são ainda maiores do que os pró­
"-:: :::e Brentano prios prazeres ardentissimamente desejados de que teria podido desfrutar gastando
:-':::: :\'esse trans­ o dinheiro que guardou! O definhar, já no presente que o provoca, proporciona prazer
::-'::.:amente, em ainda maior do que o saciar a fome! Portanto, trate-se de um milionário ou de um
':' :r:~uída às pri­ mendigo, simplesmente não se consegue ficar privado de prazer no presente, pois
a renúncia sempre proporciona ao presente prazeres ainda maiores do que aqueles
! õ:-:-. :Jlório e con­ aos quais se tentou renunciar!
; '" :J'or Sax, que Infelizmente, isto é apenas construção teórica de Brentano, e não realidade em­
[",-:':; por outros; pírica. Aliás, uma construção teórica que, como é fácil convencer-se, do lado dos
~":':::lça ingênua, prazeres calcula com dupla escrita. Normalmente - e acredito que com bons moti­
'.::.:es presentes vos - costuma-se entender as coisas assim: no uso dos bens tem-se a opção entre
;~: :Jresente que desfrutar, com eles, um prazer presente ou um prazer futuro, mas a decisão é toma­
~"':-.ça percentual da com base na grandeza que se atribui ao prazer - sem querermos negar todos
é:::: :ie intensida­ os tipos de erros e equívocos que justamente nessa espécie de escolha interferem
;.'::: :ue cabe aos com tanta facilidade, freqüência e intensidade. Aliás, em caso de necessidade, a de­
cisão é simples: basta que o balanço do prazer, no caso de uso alternativo, seja ape­
::: :lO que tange nas um pouco (apenas o perceptível) mais favorável do que no caso do outro uso
'.:" --:-.ero de senti­ alternativo, para se optar pelo uso que, no global, proporciona maior prazer. Entre­
ê.õ :eliz ou infeliz­ tanto, Brentano permite optar pelo uso em favor do futuro apenas em condições
,: ::::'ma (p. 179) nas quais o prazer total derivante para ele for necessariamente mais que duas vezes
t. ::a formulação maior do que o prazer derivante da satisfação de uma necessidade presente, a ser
por ele sobrepujada. Pois pressupõe que já o prazer presente, proveniente da satis­
~:::: um bem, em fação da necessidade presente de prover, é maior do que o prazer que se teria podi­
:::;ão de um pra­ do conseguir consumindo o bem no presente e além disso acresce naturalmente
:=;2:TI futura, lhe ainda o prazer "real" a ser conseguido a seu tempo, o qual, por sua vez (de acordo
:-="Y] no presen­
-=:-:-: marcos, que
:14 Cf. também a passagem paralela na nota à [J, lO, plenamente concordante 100 marcos capitalll..ados por alguém "lhe
proporcionam no presente um prazer maior do que se os empregasse para atender às necessidades citadas em primeiro
lugar (de alimentação, vestuário, moradIa, lazer diversão)"
19-+ TEORIA POSITIVA DO CAPITAL

com a p. 35 et seqs.), também tem de ser maior do que o antecipado, com um


desconto pro rata temporis de prazer do prover dele derivado. Por conseguinte, em
Brentano a motivação em favor do ato de prover pressupõe que de seu lado há
dois prazeres, dos quais cada um por si só já é maior do que aquele prazer presente
ao qual serão preferidos. Onde será que Brentano - que entrou na pesquisa da
teoria das necessidades com a bandeira de um "pesquisador realista" (p. 3) - des­
cobriu ou vivenciou os fatos que teriam podido fornecer-lhe o fundamento para to­
das essas afirmações e construções?
Receio que o desenvolvimento desse setor da teoria dificilmente consiga en­
contrar nas idéias de Brentano um ponto de partida para dar proseguimento a uma
investigação fecunda; pelo contrário, o melhor a fazer é considerar a abordagem
dele como uma página de erro - aliás, erro bastante póstumo. O melhor é simples­ Relação (
mente virar essa página. de Bens J

{Para as p
A ·-co-­
dos mé:= :.'
- aliás. = ~
e gerar.-: _~

conseq-:';~-:
o conju:-::
coincice e~
teorias :::::: ;
pouco cce1
pital; a!L:
explícitc =_
que o e:-;
Até me;;:-.(
interpre::::;;
com "v=:­
juro do c:::;
nômicc· ==
ção ao ~<:
que es;;~ 2:.:
tores. cC eJ
..
'~ feiçoaccõ ]
entende:- j
palpá\12: -.'
o mon:ô.:-.J
nada ae ::::
gar pró::::- c

J Ver a. ::-­
1 RODc~=- .
EXCURSO XII
::::J. com um
:-_~2guinte, em
:'" ~eu lado há
: ~::z€r presente
~:: ;Jesquisa da
• := 3) - des­
C-2:1to para to­

::2 :onsiga en­


_.:-:-:ento a uma
: :: abordagem
!--""Jf é simples-
Relação da "Terceira Causa" da Superioridade de Valor
de Bens Presentes com os Dois Primeiros Motivos

(Para as p. 283 et seqs.)

A "terceira causa" por mim aduzida pretende provar que a produtividade maior
dos métodos de produção indiretos que levam tempo constitui um motivo parcial
- aliás, o mais poderoso entre várias causas parciais que cooperam no mesmo sentido
e geram uma superioridade de valor dos bens presentes em relação aos futuros e.
conseqüentemente. o fenômeno do juro do capital. Como expus repetidas vezes,
o conjunto original de fatos ao qual me reporto ao deduzir esta minha terceira causa
coincide em conteúdo com os mesmos fatos nos quais as outroras tão difundidas
teorias da produtividade, evidentemente dando a esses fatos uma interpretação um
pouco diferente, baseavam, com exclusividade absoluta, a explicação do juro do ca­
pital; aliás, o reconhecimento dos referidos fatos constitui também um pressuposto,
explícito ou implícito, das teorias rivais do uso e da abstinência: 1 trata-se do fato de
que o emprego ou a utilização de capital acarreta resultados produtivos maiores.
Até mesmo na teoria socialista do juro - evidentemente, dando também ela uma
interpretação diferente dos fatos -, a produtividade maior da produção que opera
com "produtos intermediários" desempenha determinado papel na explicação do
juro do capital, na medida em que, segundo Rodbertus, a primeira condição "eco­
nômica" para que haja renda reside numa produtividade maiàr do trabalho em rela­
ção ao mínimo indispensável para a manuntenção do próprio trabalhador, sendo
que esse aumento da produtividade do trabalho deve ser atribuído, entre outros fa­
tores, ao emprego de métodos de produção melhores e de instrumentos mais aper­
feiçoados, por conseguinte às vantagens técnicas do método de produção "capitalista",
entendendo-se a palavra nesse sentido. 2 Assim sendo, e dado o notório nexo ­
palpável na vida prática - que existe entre o grau de produtividade do capital e
o montante da renda necessária para a utilização do mesmo, certamente não há
nada de admirar que também minha teoria do juro atribua aos citados fatos um lu­
gar próprio e eminente na explicação do fenômeno do juro; pelo contrário, muito

Ver a productlUeness and prospectlUeness do capitaL de MarshL'l111


'RODBERTU5 50zio!e Fragen. p. 77 el seqs, Das Kapilo/ p 2:,6 el seqs

195
196 TEORIA POSITIVA DO CAPITAL

mais estranho seria - e, digamos, para a maioria dos autores isso teria sido at~ de ex<'~:.
impensável - uma teoria do juro excluir totalmente a produtividade maior dos mé­ ating:é:
todos de produção capitalista do rol dos fatores que dão origem ao juro. 3 totalrr:<' :;
Ocorre, porém, que a teoria do capital é rica em surpresas; uma das mais estra­ profw::::
nhas e ao mesmo tempo mais interessantes é que, nos últimos anos, vários pesqui­ a pre5_"J
sadores renomados, e que se distinguem justamente pela perspicácia teórica, têm procu,,,
dirigido sua crítica precisamente contra esta parte de minha explicação dos juros. do ca;::::::
lrving Fisher e Bortkiewicz concordam em negar qualquer justificativa à existência que cc:-.'
de minha "terceira causa", Sem negar os fatos aos quais me refiro,4 Bortkiewicz acre­ devia:,
dita dever negar "que esse fato possa contribuir para a explicação do juro do capi­ E:-:-,J
tal";5 Fisher, por sua vez, afirma que a superioridade de valor dos bens presentes em aI:~~
em relação aos futuros, por mim demonstrada - e com razão, quanto ao resultado gerar;. -:J
-, "não tem absolutamente nada a ver com o pressuposto da produtividade maior ciam 5",
dos métodos de produção indiretos mais longos".6 Conseqüentemente, os dois au­ maçõ..::õ
tores excluem totalmente a maior produtividade dos métodos de produção capita­ esforç"·s
lista do rol dos fatores que dão origem ao juro do capital e ambos se empenham ta err: ,,;::
em demonstrar que só um erro de raciocínio pode ter-me levado a atribuir a esse no toe,,:,:
fato da técnica da produção um lugar na mencionada lista de fatores; na verdade, cura "::3':]
segundo eles, aquilo que em minhas argumentações atribuo à "terceira causa" co­ do co,.:"
mo sendo seu efeito específico em favor da superioridade de valor dos bens presen­ deame:-:l
tes, seria sempre apenas um efeito do primeiro ou do segundo motivo por mim prias :é~'.
aduzidos. "gene,;:.:
O fato de nessas objeções não se haver questionado a verdade ou inverdade rizei cc::'
dos fatos, mas sim o acerto ou não de modos de argumentar, imprimiu a toda a Bortk..::.o.:
polêmica um cunho especial. Ela se tornou inusitadamente abstrata e inusitadamente va da :.:1
difícil. Tal como ela se desenvolveu, considero-a talvez como o mais penoso episó­ chega ;;:
dio em nossa caminhada, já em si mesma tão trabalhosa. Em parte isso se deveu nhadc :­
ao próprio assunto. Discussões sobre o acerto formal no raciocinar, conduzidas num empe:-::-}l
terreno que apresenta, como se sabe, a maior complexidade de conteúdo: eis uma das oC:-2>
situação capaz de pôr à prova, de antemão, qualquer espécie de perspicácia polê­ muita5 '.'
mica e até mesmo de sutileza polêmica, Mas também os que participaram desta con­ da a é~~
trovérsia fizeram sua parte. Não sei se toda esta polêmica teria sido possível sem bém e:-:-:
certo prazer em fazer dialética artificial e em recorrer a paradoxos sutis; de qualquer anter.: ~-i!
forma, essas características estiveram tão presentes nesta polêmica que um de meus
opositores não consegue esconder ele mesmo a impressão de que será acusado
de estar lutando com "razões escolásticas",? embora ele pessoalmente acredite não A) Bom
estar fazendo outra coisa senão colocar "escolástica contra escolástica".
Deixo aos leitores a tarefa de emitir mais adiante um juízo sobre isso. Mas de 1:-. :-.
antemão creio poder permitir-me uma observação. Acredito que nenhum leitor, e do pa:;:
',,"

também nenhum de meus opositores, tem a mínima dúvida de que, se hoje de re­ nas r..;
pente o fato da produtividade maior dos métodos de produção capitalista deixasse

J CL, por exemplo, Landry: ''(.) enfm il est trop évident qu'il faut que la productivité du capital tienne une place dans
une théorie de ['intérêt". L'/ntérêt du Capital. p. 85. nota 1. E .:...:..:
4 No Excurso IV me detive detalhadamente na análise da relação eXIstente entre o pensamento de Fisher, um tanto obs­
cura, com minha tese da produtividade maior dos métodos de produção indiretos mais longos. Em todo caso, Fisher não
:e-­
nega o fato como tal, se bem que atribua a "regularidade" com a qual ele ocorre a uma causa um pouco diferente da aduzi­
da por mim. Bortkjewicz oscila - como Infelizmente faz com muita freqüência em outros casos - no tocante aos fatos,
mostrando bastante indecisâo e reservas, mantendo-se entre uma posição de reconhecimento e de negação dos mesmos,
mas ao final. ao desenvolver a sua objeção, declara expressamente querer ao menos "supor verdadeiros" os fatos afirmados R P~2:~: : :::
9 "02: :~_.::-:::
por mim. "Der KardinaIfehler der B6hm·Bawerkschen Zínstheorie" In: Jahrbuch de Schmoller v. XXX, 1906, p. 951.
lU Q_o-­
5 Op. cit, p. 951.
6 "The resuI! (... ) has nothíng whatever to do with tha! assumptíon (that longer methods of production lead generaIIy to
ape:-.:::: _
a greater output") Rate of interest, p. 62 edíç:i, :::
11 O :o~
7 BORTKIEWICZ. Op cit, p. 958
EXCURSO XII 197

~2 :'~c sido até de exercer influência, também o fenômeno do juro do capital seria necessariamente
r~:':::)[ dos mé­ atingido em seu nervo vital e, mesmo que talvez não fosse fadado a desaparecer
:' '~..:.ro. 3 totalmente, no mínimo seria com certeza necessariamente e de novo atingido muito
~ mais estra­ profundamente em seu âmbito e dimensão. Ora, se assim é, penso que dificilmente
~~os pesqui­ a presunção é de que quem tem de recorrer a "razões escolásticas" é aquele que
ê :eórica, têm procura demonstrar um nexo natural entre o referido fato e o fenômeno do juro
;Z= dos juros. do capital; muito mais plausível é a presunção de que é a refutação do referido nexo
'ê à existência que obriga a recorrer a raciocínios artificiais. Mas tudo isso se comprovará em seu
r.::-;::ewicz acre­ devido lugar.
I ~·.lIo do capi­ Embora Fisher e Bortkiewicz concordem em certo ponto dos resultados, isto é,
re:-,s presentes em afirmar que minha "terceira causa" deve ser eliminada da lista dos motivos que
c ~o resultado geram uma superioridade de valor dos bens presentes, os dois autores se diferen­
t-;:::iade maior ciam sensivelmente nos detalhes, e ainda mais no espírito que impregna suas afir­
[E os dois au­ mações. Fisher, qualquer que seja o juízo que se queira fazer sobre seus resultados,
l<::..:.ção capita­ esforça-se por empreender uma crítica produtiva ampla e profunda. Não-se conten­
x empenham ta em apresentar objeções, senão que procura, por sua vez, extrair algo delas, e,
c::r'.buir a esse no toçante àqueles pontos em relação aos quais levantou dúvidas, ele mesmo pro­
s. :la verdade, cura esclarecê-Ias. O resultado é que o autor não quer abrir mão de muita coisa
<.:-3 causa" co­ do conteúdo da doutrina impugnada, e mais pretende modificar apenas o enca­
5 :-ens presen­ deamento das idéias aduzidas para a solução do problema do juro do que as pró­
:::'.-0 por mim prias idéias: faz uma tentativa interessantíssima, sob todos os aspectos, de lograr aquela
"generalização mais feliz" e simplificadora que eu mesmo, em meu prefácio, caracte­
:'..1 inverdade rizei como sendo o'objetivo de minha elaboração subseqüente da teoria do juro. 8
r:~_:u a toda a Bortkiewicz, ao contrário, visivelmente assumiu como tarefa apenas a parte negati­
r~..:.sitadamente va da crítica, fazendo-o, aliás, com um exclusivismo tal que seu modo de agir quase
;:02:l0S0 episó­ chega a lembrar o de um advogado que move um processo contra alguém, empe­
~ :s.so se deveu nhado mais em acumular objeções do que em esclarecê-Ias. Em todo caso,
l~_::uzidas num empenhou-se muito menos naquilo que acabo de qualificar de "extrair algo a partir
..<':do: eis uma das objeções" do que na construção positiva das mesmas e, segundo me parece,
~jcácia polê­ muitas vezes também do que teria sido desejável para a fecundidade da crítica. Da­
R.."Tl desta con­ da a diferença de caráter das colocações críticas dos dois autores, separo-as tam­
: JOssíve! sem bém em minha exposição e resposta; começarei pelas colocações de Bortkiewicz,
ts:' de qualquer anteriores também do ponto de vista cronólogico.
.02 Jm de meus
! será acusado
t.2 acredite não A) Bortkiewicz
:":3­
"€ :550. Mas de Inicialmente, Bortkiewicz9 reproduz a argumentação que-eu havia apresenta­
?:-:i-.um leitor, e do para provar a superioridade de valor dos meios produtivos presentes, nas pági­
. 5<? hoje de re­ nas 274 et seqs. da 2~ edição de minha obra,lO na seguinte exposição resumida:
a:: >Ta deixasse
"Ele (Bohm-Bawerk) compara vários produtores entre si, 11 sendo que o primeiro deles
dispõe de determinada quantidade de meios de produção no presente, o segundo da
ff::.- - " "Jne place dans mesma quantidade de meios de produção um ano depois, o terceiro dois anos depois,
e assim por diante. A produtividade maior dos métodos de produção que demandam
~ 2: - -=.:-.
um tanto obs~
-:.:: ::3.50, Fisher não
tempo mais longo expressa-se no fato de que os diversos produtores conseguirão apre- .
~," : C~'ente da aduzi~
- : ~:":ante aos fatos,
-~';::.~~,=, dos mesmos,
~,:,' -: fatos afirmados
8 Prefácio à terceira edição. v. I. p. 12.

9 "Der Kardinallehler der B6hm~Bawerkschen Zinstheorie". In: Jahrbuch de Schmoller. v. XXX. 1906. p. 951 et seqs.

'" 1906. p. 95L


lU Quanto ao conteúdo. ela coincide com as exposições às p. 454 et seqs. da 3~ edição (nesta edição. p. 283 et seqs.l;

- :- ~ad generally to apenas os anos são aqui alterados. de modo que o ano de 1909 representa o presente, ao passo que nas duas primeiras

edições o presente era representado pelo ano de 1888..

II O itálico é meu.

198 TEORIA POSITIVA DO CAPITAL

sentar no mesmo momento quantidades de produto diferentes, sendo que o primeiro Bortk",·:
sempre levará vantagem sobre o segundo, o segundo sobre o terceiro e assim por dian­ bal, as co::::
te, Isso é exposto sistematicamente na Teoria Positiva do Capital como segue: reprod uzic::
çãO,16 A 5,,;.
QUADRO 1
"AtÉ': :
"Um mês de trabalho do ano de base ;::::.:-i
destit~:::::
não cL: õ-2
nuaIT -~~

1888 1889 1890 1891 esta ::~:--:-.


, limite, .~ :
1888 100 - - - a em Pê_:="
a '5
'- -o'"
\~
~ ~ o
1889
1890
200
280
100
200
- -

100
-

-
"O
...aCl.,
com : ~ ='
num,,: = :
::l '" U
"O '<:'­ 1891 350 280 200 100 a ·0::: -;
a '" S 1892 400 350 280 200 "O vão a:ª­
5. a 'g
~ a
... U
1893 440 400 350 280 ''""
"O
que c::':
é, nc ':~ :
~
Cl., '" 1894 470 440 400 350 ~
"O
'i:; aque.':: :.
1895 500 470 440 400 ::l
poss"=:_::i
ano ~.:: ~,j
parec.::-
Infelizmente, Bortkiewicz introduz aqui confusão na polêmica, já desde o início,
trabalhando com uma suposição contrária ao texto, que não constitui a melhor re­ QUADRe ~

comendação para o seu rigor crítico e cuja origem é para mim totalmente enigmáti­
ca, Atribui-me na citada passagem a comparação entre "diversos" produtores, Em
contraposição, constato que em meu texto não há sequer o mínimo indício para
essa suposição; pelo contrário, repetidas vezes e bem expressamente explico que
a comparação vale para meios de produção de anos diferentes, meios que estão
à disposição de "uma e mesma pessoa", de um e mesmo "indivíduo", 12 sendo que
a identidade da pessoa para a qual é feita a comparação de valor dos produtos dife­
rentes a serem obtidos constitui até um ponto decisivo em minha argumentação, 13
Esse erro é ainda mais inexplicável pelo fato de Bortkiewicz, mesmo no decorrer
de suas colocações polêmicas, até citar, textualmente, 14 a passagem na qual, com
máximo de ênfase lógica e com o máximo de clareza nas palavras referi a compara­
ção efetuada a "uma e mesma pessoa", Se o autor tivesse exercido um pouco de
autocontro!e no tocante à sua objeção deveria ter atentado para o fato de sua supo­
sição contrariar meu texto,
... Posteriormente, no decurso de sua polêmica, Bortkiewicz volta repetidas vezes
à mesma suposição errônea,15 Assim sendo, penso simplesmente não precisar mais
tocar, em minha resposta, em todos os argumentos polêmicos baseados, quanto
ao conteúdo, na referida suposição, por serem destituídos de interesse, sentindo-me
obrigado a ocupar-me apenas com aquela parte da argumentação de Bortkiewicz
que, do ponto de vista do conteúdo, independe desse equívoco, ainda que o mes­ -52 :::
mo tenha interferido em sua 'exposição, Felizmente, é a essa parte que pertence a de :;~: J
objeção de longe mais interessante que Bortkiewicz levantou e que despertou aten­ que ê :J
ção e consideração também por parte de outros teóricos,
~:~ê~~
do \~ê:;
12 2~ edição, p, 278-281: 3" edição, p. 458 e 462: nesta edição, p. 286 el seqs
13 ~Para uma e mesma pessoa. em um e mesmo momento, a quantidade maior sempre tem indubitavelmente o valor maior
te, a:É :.l
qual.quer que seja o l/alar absoluto de uma maquia ou de um florim. uma coisa em todo caso é certa. a sab",'!"" que para raçã': ~j
mim dois florins ou duas maquias que eu possuo hoje \'}alem mais do que um florim ou uma maquia que eu possuo hoje"
(2 a edição. p. 278: 3~ edição, p, 485: nesta edição, p. 286)
14 Op. cit .. p, 953. lo Elas sã.:: :-:=.~~,
lS Por exemplo à p. 953 el seqs .. 959 el seqs. - gel.Vat-.~-· ::. ::
EXCURSO XII 199

. _~ = Drimeiro Bortkiewicz formula assim sua objeção: primeiro reproduz, em longa citação ver­
~" - ~or dian­ bal, as colocações explicativas e de argumentação que acrescentei à tabela, acima
::-0:..:: _c reproduzida, e constantes nas páginas 276 a 278 do texto de minha segunda edi­
ção. 16 A seguir prossegue assim:

"Até aqui vai o texto de B6hm-Bawerk. Antes de tudo, a tabela dele, que serve de
base para as colocações acima, exige uma correção que à primeira vista pode parecer
destituída de importância, mas que logo demonstra ser fundamental. Von B6hm-Bawerk
não diz se devemos imaginar que as séries de números em cada coluna da tabela conti­
nuam indefinidamente ou se elas são interrompidas. Naturalmente, temos que adotar
esta última suposição, pois o prolongamento do período de produção tem de ter um
limite, já por motivos de ordem física. Uma vez que. para o problema de princípio aqui
.s em pauta, evidentemente pouco importa concluirmos as séries com o 7°, com o 8° ou
~ com o 20° ano, temos de supor que no máximo a produção pode demandar aquele
2
o.,
número de anos até o qual vai a tabela de B6hm-Bawerk. No caso, são 7.
"Ora, não se pode supor que os planos dos diversos produtores para o futuro não
.g vão além de 7 anos, contados a partir do presente (1888). Por exemplo, também aquele
''""
"'=l
que dispõe de um mês de trabalho somente no ano de 1889 contará no presente, isto
"l é. no ano de 1888, com poder conseguir 500 unidades do produto do ano de 1896;
~ aquele que só no ano de 1890 terá à disposição um mês de trabalho, considerará a
possibilidade de no ano de 1896 poder fabricar 470 unidades do produto, e 500 no
ano de 1897, e assim por diante. Com a complementação que as considerações supra
parecem exigir, a tabela assumirá a seguinte configuração modificada:
:';:::2 O início,
= =. :-:oelhor re­ QUADRO 2
2-.:2 enigmáti­
-: :..::ores. Em "Um mês de trabalho do ano de
:-.2:cio para
:<2 2x~lico que
::: :,Jue estão 1888 1889 1890 1891
= 52ndo que
=- =: 2Utos dife­ 1888 100
~_:-:'.entação.13 'o"
"'=l 1889 200 100
~'"
1890 280 200 100
': -. J decorrer o .::: 1891 350 280 200 100
- =. :)ual, com e<§
c::
1892 400 350 280 200 ~o
":-. :: compara­ "l
<:>,0 1893 440 400 350 280 ...<:>,
_""':'". pouco de " U 1894 470 440 400 350
''""
:::l '"
: :2 5ua supo­ o o
"'=l
.~
1895 500 470 440 400 "'=l
~ \~ 1896 500 470 440 ~
... 'i:;
"2:: 2::das vezes '~" 1897 500 470 :::l
: :::ecisar mais 1898 500
,,:::: JS. quanto
2 :2:ttindo-me
::2 30rtkiewicz
:=. :'.1e o mes­ "Se agora compararmos entre si os resultados da produção provenientes de um mês
~_2 ~ertence a de trabalho do ano de 1888 com um mês do ano de 1889 etc., já não se poderá dizer
.';::::211ou aten­ que a quantidade mais antiga de meios de produção coloca à disposição, para cada con­
junto imaginável de necessidades em favor do qual ela pode ser utilizada, mais meios
de satisfação do que a mais recente, aumento do qual devesse resultar um aumento
do valor. Com efeito, 100 é maior do que O, 200 é maior do que 100 e assim por dian­
::- \':alar maior:
te, até 500 que é maior do que 470. Entretanto, no caso, por exemplo, de uma compa­
°;0:2[" que para ração entre o mês de trabalho do ano de 1888 e o de 1889, acresce ainda (para 1896),
. :Jüssuo hOJe"

i,) Elas são idênticas à passagem "Uebersetzen wir etc." da p. 457 até ) Vv'ie immer man auch das Beisplel variieren mag
- gewahrC à p. 459 da terceira edição (nesta edição. p. 284 até 286)
200 TEORIA POSITIVA DO CAPITAL

°
de um lado, e, do outro, 500, Por conseguinte, o resultado ao qual se chega dessa
forma seria um non liquet, pois nada se sabe sobre as relações de valor entre os bens
tabela de'. 2
que se i:-.=':
de consumo distantes entre si no tempo, pregos p~='
"Tem-se, porém, a liberdade de fazer as comparações de outra forma, isto é, descen­ de procL,;;i
do diagonalmente, Nesse caso se chega sempre a quantidades iguais de produto, que que pla:-. =:0
porém ocorrem em tempos diferentes, A questão é se essas diferenças de tempo acarre­ a vanta;e:'!
tam alguma diferença para a medição do valor; é claro que a resposta a essa pergunta longos. =:'5
depende de se reconhecer ou não os motivos que segundo B6hm-Bawerk geram uma
diferença de valor entre bens de consumo presentes e futuros, Em outras palavras, so­ sos me:cõ ;
mos levados a recorrer aos dois primeiros motivos do juro do capitaL desta ve;: 5
"Não há por que estranhar que assim seja, Pois os meios de produção, segundo a problerr.ê' i
teoria da utilidade marginal, recebem seu valor do valor dos bens de consumo para cuja . A 1.2J
fabricação servem; se, portanto, temos meios de produção disponíveis em tempos cjife­ Bortkie\'.~::1
rentes, é natural supor que só podem ocorrer diferenças de valor entre eles na medida afirmati\ :::-:
em que os bens de consumo deles resultantes são fabricados em tempos diferentes, Se, missa 52:-=
porém, for the sake of argument (para efeito de argumentação), eliminarmos o tempo mia nac::-.
como fator determinante do valor para os bens de consumo, esse elemento perde seu do estoc..:i:
significado como fator determinante do valor também para os bens de produção, Entende­ produçã': :
se isso de imediato se efetuarmos a comparação entre as respectivas quantidades de
produto conforme acima, isto é, descendo em diagonais, e só en:~:2
"Também é fácil convencer-se da mesma coisa se compararmos entre si números que tocante ê j
estão cada vez na mesma horjzontaL Pois nesse caso os desvios para mais e os desvios ver a u!.. :
para menos se equilibrariam, E exatamente com base nesse princípio que B6hm-Bawerk qual te!.. -;
faz suas comparações, e ele só chega a um resultado diferente porque, procedendo de indireto ~ :l
forma arbitrária e inadequada para o problema, interrompe as séries de números a se­ de proà..:;~
rem comparadas entre si. Ele faz coincidir o ponto final dos mais longos dentre os perío­ do que :-.~
dos de produção em questão, como ponto final do período de tempo abrangido pelo não pOG2:1'
plano econômico do produtor, sem indicar os motivos para isso", micos. :-:-:=.:
emprego 2
o ponto basilar em torno do qual tem de girar a argumentação e a contra­ admiss:c2 .
argumentação é muito acertadamente caracterizado nas palavras iniciais e nas pala­ afirma: c:. a
vras finais dessa longa exposição polêmica. Trata-se da justificativa e do sentido da exemplc J
"interrupçã9" das séries de números que são inseridas na comparação em forma 1889) c::-::
de tabela. E óbvio que não se pode continuar a comparação literalmente até o infi­ se pode :1
nito, pois em algum ponto haverá que interrompê-Ia. Também é evidente que para de vista :21
a discussão ao nível dos princípios é totalmente indiferente o comprimento absoluto quantiGa ::t
das séries de números comparados, e que per si "não importa em nada" interrom­ cante à C;~,
per as séries com o 7?, o 8? ou o 20? ano; contudo, é certamente de importância tocante a:
decisiva - e até aqui Bortkiewicz ainda colocou o problema bem corretamente ­
de temp:::
saber se supomos que o último ano comparado, qualquer que seja o número abso­ fato uma 5
luto que ele apresentar, em relação a oytros pressupostos, ainda está dentro de de­
seria POõ"1
terminado limite ou já está fora dele. E aqui que Bortkiewicz e eu divergimos.
penden:.:::-:
Bortkiewicz quer que o 7? ano, com o qual concluo minha comparação na ta­
favoráve: '?
bela, seja também o limite máximo até o qual se pode continuar a fazer um prolon· ou de\'::':::
gamento dos métodos de produção indiretos,17 e insiste em que a comparação na
menor 02
produto :~
17 É manifesto que Bortkiewicz pensa aqui até numa impossibilidade física de um prolongamento maior dos métodos de Em:-2:;
produção indiretos, pois indica como produto atingível com produção de oito anos de duração a grandeza zero. Todavia,
para nosso problema é importante apenas se como 7? ano já se atinge ou não o limite da produtividade maior de ulteriores neira ale..:;
prolongamentos da produção, limite que em todo caso ainda ocorre antes de acontecer a impossibiiidade física. Natural­ de proC:-:.. .;;

mente, a imposição de Bortkiewicz, que vai mais longe, inclui a que vai menos longe. O próprio Bortkiewicz afirma isso

numa passagem posterior - não mais contida na citação supra --, pois para todos os períodos de produção de duração
dade de.,
superior a sete anos coloca como produto não zero, mas sempre 500 (que é igual ao produto de sete anos de duração. ção do :::::"

a mais longa que ainda proporciona uma produtividade maior P 955), Contudo, para o nosso problema é indiferente
minha Ie~
colocar zero ou 500; o essencial é supor ou não a ocorrência de um aumento dos resultados da produção ainda além
do sétimo ano. argume:-::::::
~~~~1~

EXCURSO XII 201

c '"'" chega dessa tabela deve ser continuada para além desse limite extremo. Em outras palavras, quer
:'_':: 2:1tre os bens que se introduzam na comparação da tabela cifras de avaliação provenientes de em­
pregos produtivos nos quais já não se observa a produtividade maior de processos
-= .,,:0 é, descen­ de produção mais longos. Isso. por sua vez, significa o seguinte: ele quer pressupor
; :~ ::roduto, que que planos de produção e empregos produtivos que já não apresentam a seu favor
, :~ tempo acarre­ a vantagem da produtividade maior, característica de métodos de produção mais
2 = essa pergunta
E:'., ~:~: geram uma
longos, assumam o papel dos planos e empregos decisivos para a avaliação de nos­
i- -:=." ;:>alavras, so­
sos meios de produção. Ora. estamos aqui diante de uma premissa acerca da qual
2:.. desta vez sou eu que tenho o direito de afirmar que ela "não é adequada para o
:::_;~:. segundo a problema" e que conflita com as condições nas quais o problema deve ser investigado.
c - ;_:DO para cuja .A melhor maneira de eu fazer entender que não é adequada a premissa de
= ~:-:. tempos dite­ Bortkiewicz para investigar o ponto controvertido entre nós dois, consiste em expor
:-~ ~,2S na medida afirmativamente para que tipo de investigação ela é adequada. Com efeito, essa pre­
):5 :::'ferentes. Se, missa seria perfeitamente adeq uada para ilustrar uma situação na qual uma econo­
::-=':-:7\OS o tempo mia nacional está tão saturada de bens presentes que não há nenhuma insuficiência
2-~:,to perde seu
do estoque de bens presentes que impeça algum prolongamento dos métodos de
r:.::: ..:;ão. Entende­ produção indiretos que ainda podem levar a um aumento do produto. Então sim,
~s :'-,antidades de
e só então, poderíamos racionalmente adotar planos de produção e medidas no
s: :1úmeros que
:-~ tocante a nossos meios de produção nos quais empregamos estes últimos para pro­
:-:, =.:s e os desvios ver a um conjunto de necessidades que ultrapassa o período de tempo dentro do
:-_~ 3ühm-Bawerk qual tem validade o princípio da maior produtividade dos métodos de produção
~ ::~ocedendo de indiretos; nesse caso, sim, poderíamos também deduzir nossa avaliação dos meios
:~ :;;J,meros a se­ de produção de tais empregos que entrariam seriamente em questão - pois é sabi­
:5 :211tre os perío­ do que nunca avaliamos nossos bens com base em empregos que simplesmente
~.: =.:rangido pelo não podem entrar em questão. por estarem excluídos como irracionais e antieconô­
micos, mas sim, de acordo com a lei da utilidade marginal, com base no último
emprego economicamente admissível. mas que sempre deve ser economicamente
~':~::: e a contra­ admissível. Nesta hipótese, de fato chegaríamos exatamente àquilo que Bortkiewicz
::~.=:s e nas pala­ afirma: avaliaríamos duas quantidades não-simultâneas de meios de produção (por
i <: :::0 sentido da
exemplo, um mês de trabalho do ano de 1888 e um mês de trabalho do ano de
~:3.0 em forma
1889) como meios para conseguir a mesma quantidade máxima do produto que
t-- 2:1te até o infi­ se pode obter com o método de produção mais longo ainda vantajoso do ponto
\'-. :2:1te que para de vista técnico, caso este em que uma eventual diferença na avaliação das duas
r:-:2:1t0 absoluto quantidades de meios de produção já não poderia provir de uma diferença no to­
:_=:::a" interrom­ cante à quantidade de produto a ser obtida com eles, mas apenas da diferença no
E :::2 importância
tocante ao período de tempo - quantidade de produto esta para a qual o período
c::: ::etamente ­
de tempo colocaria à nossa disposição uma quantidade igual. Nessa hipótese, de
i ::: :-:úmero abso­
fato uma superioridade de valor do bem de produção mais velho (o presente) só
~~ :::entro de de­
seria possível se meu "primeiro motivo" ou meu "segundo motivo" fundassem inde­
!-_ ::::vergimos.
pendentemente tal superioridade - portanto se, em razão de uma relação mais des­
>'-:;Jaração na ta­
favorável entre necessidade e cobertura, devida a razões diferentes e independentes,
~r um prolon­
ou devido à influência dos motivos psicológicos que fundamentam uma avaliação
I ::: :-nparação na
menor de um futuro mais longínquo, preferíssemos obter a mesma quantidade de
produto já um ano antes.
- õ " dos métodos de
:
, -,,- -2.Za zero. Todavia
Entretanto, leitores atentos dificilmente terão deixado de notar que eu de ma­
;~::;:;,,:: ----:oior de ulteriore~ neira alguma afirmo que minha tese - de que a produtividade maior de métodos
" : _co:e física, Natural­ de produção indiretos mais longos confere aos meios de produção uma superiori­
: =.:.__ -::~\.Vicz afirma isso
dade de valor em relação aos bens de produção futuros - é válida para uma situa­
có :Jção de duração
:::
:"" ~~::: 3nos de duração, ção do tipo que acabamos de descrever. Pelo contrário, fundamento e demonstro
: :: -:: 2:na é indiferente minha tese com base na premissa que desde o início coloquei no centro de minha
::'=. ::~: :'"Jção ainda além
argumentação e que posteriormente repeti com a ênfase máxima em cada ocasião
202 TEORIA POSITIVA DO CAPITAL
ções que:~
que se me apresentava - a saber, no pressuposto de que o estoque de bens pre­ da refer:c:'": ;
sentes não é suficiente para o aproveitamento exaustivo de todos os prolongamen­ longos E~
tos de produção possíveis e que ainda permitem obter quantidade maior de produto. mico feit: :
Já na primeira edição. para explicar a origem do ágio sobre bens presentes, recorri dade qL:.2
expressamente a esta razão intermediária, a saber, esse efeito provém necessaria­ conscie:Y2 ~
mente do fato de a procura de bens presentes superar numericamente a oferta dos dos mes~:'
mesmos; e a fundamentação que já na época dei para esse fato que se observa remotas "2
em cada economia nacional foi a seguinte: aumento =.
longe, cc~
"A ofelia é (...), mesmo na nação mais rica, limitada pelo estoque de bens que no replanta~_ -:
momento compõem o patrimônio da nação. Ao contrário. a procura é praticamente ili­ senvolvir:-.2 .
mitada: no mínimo ela vai até o ponto em que, prolongando o processo de produção, um sécu:::
ainda é possível aumentar a quantidade de produto; ora, esse limite, mesmo na nação de duraç~:
mais rica, ainda ultrapassa de muito o estoque atualmente existente"18 Nenhum :é":
senvolV":r:-.2 :
Pois bem: se assim é, que significa a eXlgencia, colocada por Bortkiewicz, de mento C2 :­
que eu efetue a comparação relativa ao valor, com base na suposição de que as Mas:: :
destinações produtivas das quais ainda derivam avaliações decisivas de nossos meios de prod''':';~
de produção ultrapassam a zona da produtividade maior de métodos de produção precisa 52: :
indiretos mais longos? Não significa outra coisa senão exigir de mim que comprove nada zo:-.'":
minha tese supondo premissas para as quais não a formulei; significa exigir de mim por umc -_
que primeiro exclua, pelas circunstâncias secundárias supostas, a atuação de uma de Bort;';:,:',;
causa aduzida por mim e, a seguir, que mesmo assim teste positivamente a sua ação; formulaç~ :
ou então, para falar diretamente, significa exigir de mim que investigue e comprove ainda nê.: ,
a influência da existência de oportunidades inexploradas para prolongamentos da Mas :- ~
produção tecnicamente produtivos sobre a superioridade de valor de bens presen­ ção série" =.
tes, pressupondo que não existem mais oportunidades inexploradas desse gênero!!'! porque 52.::
Conseqüentemente quando, em minha pesquisa, me cabia verificar se a exis­ meus trÊ" ­
tência de oportunidades ainda inexploradas para prolongamentos da produção tec­ plesmen:2 .
nicamente produtivos pode e deve ter influência, e que influência, sobre a origem
do juro, não só não procedi "arbitrariamente", nem "de maneira inadequada para
o problema"; pelo contrário, fiz aquilo que a natureza do problema me impunha, 211 Escolhe C",
introduzindo nas premissas o fator a ser verificado e, em decorrência, "interrompen­ algumas c,:: . ­
vidade me ­
do" inevitavelmente minhas séries de números, ao supor que o limite da zona da necessídaC:,;. ::
maior produtividade não está aquém, mas além do ponto de interrupção. Efetiva­ de: o far r;· ­
cálculo ec
mente, o período de tempo para cujas necessidades dirigimos planejadamente nos­ exemplo
sa preocupação de prover - destinando nossos meios de produção a sua satisfação m('l \/ez ar::
- e cujas necessidades, portanto, podem exercer uma influência sobre as avalia- estes que
no tempc
21 Talvez"';
média de :-~
julguei es~'-::
I,'"' 1 a edição. p 3S:i: 3 d ed. p 540 et seqs.: nesta ed . p .331 el )cqs Quanto a isso. vel aInda líllnhdS explicações e do meu te"::
esclarecImentos postE:'nores. extremamente explícitos_ em minhas 'Stnltlgl' Fragefl" (sobretudo d p 25 et seqs, e 40 et seqs.) Positiva ;:: - ~ '.::
e agora também no Excurso 1. p, 19 et seqs diversos 5":::::-":;
específico~ :oÕ : .
'l) Aliás. Bortklí?U.. . ICL vc.\tou postenormente mais uma vez a esse estranho postulado ml'todológ1co, Com efeito. quer exi­

gIr. como "pedra de toque" para aferir se é correta Lima teona que vê no Juro do capItal não um "ganho extru passageiro".
no caso C2 ::: ~­
mas. como acontece com minha teoria. "um tipo de renda de existência permanente". que ela consiga comprovar-se tam­ período C2 :.,:;-=
e a primE::::-:: - -::.
bém "quando a duraçao dos período::. de produção é tecnicamente compulsória, dI:? sorte que não há possibilidade de esco­
lha entre métodos diferentes" Op cit .. p 970 t?t st?qs Quanto ao resultado. temos aqui novamente a seguinte bem reme:::-:
gl ante de _- -­
o fato, por mim aduzido. da diferença de produti\..'idade dE: métodos de duração diferente, tem de comprovar que capaz
clt' dar origem ao JUro mesmo quando o falo como tal simplesmente não existe. Já que só é tecnicamente possível um do clara~.::­
úniCO método. com uma única duração! Tenho, porém. a satisfação de acrescentar que essa afirmação posterior de Bortklf:! com n.>s'";::
\,.I..il(2 é apresentada em conexão com sua opinião - que já conhecemos - de que o conhecimento simultâneo de vimos até o que
ínfluêrlC!c: .~-;
métodos de produção de produtil.!idade dIferente contradiz à suposição de uma condição "estática" da sociedade. única
uma pre~~
condição que. segundo ele. pode dar origem a uma renda estática, partindo-se dessa premissa. realmente seria conseqüen
te colocar o referido postulado: contudo. a premissa em si mesma certamente é falsa! (Ver supra, Excurso L p 23. nota 38)
EXCURSO XII 203
ções que fazemos dos bens de produção, em parte alguma e nunca se estende além
::-2ns pre­ da referida zona de produtividade maior de métodos de produção indiretos mais
'::-:.: :'.gamen­ longos. Em parte alguma e nunca se conseguirá observar que, num cálculo econô­
:- :::.c: ::>roduto. mico feito conscientemente, fazemos um investimento em função de uma necessi­
~-:.c:5. recorri dade que se situa além dessa zona 20 Em parte alguma observaremos que
-:- -2cessaria­ conscientemente empreguemos meios de produção de modo tal que os resultados
:: .': : : :erta dos dos mesmos beneficiem apenas um conjunto de necessidades temporalmente mais
l.c: '.c: observa remotas se o adiamento do resultado não prometer ser ainda remunerado por um
aumento quantitativo do mesmo. Se for o caso, olhamos para longe, e até muito
longe, com nossos planos de produção para o futuro - por exemplo, no caso de
'" ~.c:·-.O que no replantar uma parte da floresta de carvalhos que foi derrubada, cujo período de de­
7::- :c::nente ili­ senvolvimento para abate for de 100 anos, nosso olhar abrange nada menos de
: :c :Jrodução. um século inteiro: todavia, nunca vamos além do ponto em que o último acréscimo
,~-: :ia nação
de duração não venha acompanhado de um acréscimo de produtividade maior.
Nenhum reflorestador racional estenderá para além de 200 anos o período de de­
senvolvimento de uma espécie de árvore que encontra o limite natural de seu au­
::: ~-::2wicz, de mento de madeira com 200 anos!21
~: :::2 que as Mas por que será que nunca ultrapassamos a referida zona. com nossos planos
- : : 550S meios de produção sérios? Tenho plena consciência de que também essa pergunta ainda
C2 ::>rodução
precisa ser colocada e respondida. Com efeito. se não ultrapassássemos a mencio­
~ _2 comprove
nada zona somente porque sempre seríamos impedidos de fazê-lo, por natureza,
.,:,cc de mim por uma outra de minhas "três causas". ainda haveria que falar sobre a exigência
ic::f::-, de uma de Bortkiewicz; é verdade que nesse caso esta seria de certo modo falha em sua
::.c: :: sua ação: formulação, mas do ponto de vista do conteúdo ainda permaneceria algo nela que
" .c: comprove ainda não está plenamente solucionado pelo que foi dito até agora.
". c.'::-:12ntos da Mas não é isso o que ocorre Deixamos de estender nossos planos de produ­
, :2:',5 presen­ ção sérios além da zona dos prolongamentos da produção vantajosos, não somente
:2: 52 gênero l !'! porque sejamos impedidos de fazê-lo. por natureza, já em razão de um outro dos
'. c::~ se a exis­ meus três motivos; portanto, não somente porque, por motivos psicológicos, sim­
;::::: ::: ução tec­ plesmente não levamos em conta, ou não mais levamos em conta com intensidade
e :~2 a origem
C2'::'Jada para
-2:-npunha, (li) Escolho essa expressa0 para com ela exclUIr de imediato uma objeçao equívoca que se pretend;sse deduzir do fato de

- :2:-Yompen­ algumas de nOSSd~ instituiçoes ecunômicas benetlcarem wn:bém um período que está c('rtamente alem da zona de p~odu!,
vidade malOf. Se hOJe instalo em meu jardim oanco Cc ,)edra. ele pode talvez durar 2 000 anos e atender alllda a
:2 ::3 zona da
UIT',

necessidade do 4? milênio depois do nascimento de Cnsto Acontece que não instalei o banco em função dessa necessida­
~:: c~o. Efetiva­ de: O fato de o efeito do bõnco estender-se a esse conlun;r) de necessidades é um efeito secu ndário Indiferent(' para meu
~:::::~ente nos­ cálculo econômIco, pOIS o plano de produção não fOI decldido nem de qualquer forma modificado em funçao disso (por
exemplo. na execução técnica do banco). Em nossa qut'sTao. porém. o que naturalmente interessa é simplesmente se algu
: 5 _:: satisfação ma veL aplicamos meios de pro'Jução em função de um ODjetlvO situado para além da zona de produtividade maior. meios
: : :::-2 as avalia­ estes que não teríamos s.ido obrigados a aplicar Imedlatamente do mesmo modo em função de objetivos mais próximos
no tempo.
'!] Talvez nao seja :nteiramente supérfluo observar aquI. a título de esclarecimento, o seguinte: é verdade que a duraçao

média do períoc!íJ de produção ('m uma economia naCional abrange apenas um número reduzido de anos (eu mesmo
julguei estimá-Ia em apenas dez anos. mesmo no caso de "riqueza extraordinária de uma nação" - por exemplo. à p. 331
-_ "plicaçoe'J e do meu texto!); entretanto. essa média se compc)e - como não deix('i de obsen.'ar em diversas passagens de minha Teorlo
c ·~o et seqs,) Positiva (por exemplo à p. 141. 37R et seqs.J - de períodos específicos de duração muito diferente. de acordo com os
diversos setores de produção. conforme as condlçc5es específicas de cada um deles: além disso. mesmo esses períodos
:0. quer ex i­
específicos de produção rarament(' ou nunca são períodos "preenchidos uniformemente" (ver Teoria Positiua, p. 115). ora
passageiro", no caso de distribuição não unlforme dos Investimentos sucessivos. mesmo que a média seja reduzida. pode ha\/er um
_. -.: :-')var se tam período de tempo bem longo. em termos absoluto~, entre o emprego dos diversos investimentos aplicados sucessiv'amente
- ; :,de de esco­ e a primeira necessidade satisfeita por eles. sendo que tais investimentos parciais em função de satisfação de necessidaries
'-:e ex.igência: bem remotas (que podem distar. por exemplo. muitos decênios ou até um século inteiro) ainda continuam a ser parte inte
- ,- que é capaz gIante de um processo de produção situado dentro da zona da produtividade maior Se Bortkiewicz se tivesse conscientiza
'Jossível um do claramente disso. teria refletido mais. antes de fazer com que os produtores. em seus cálculos de avaliação, "contem"
~:' de Bortk.ie com resultados (op. ci! . p. 954) que só teriam condição de conseguir num período situado para além do limite extremo
20 de vários até o qual chega o efeito do prolongamento dos métodos de produçao indiretos: sob esse aspecto. talvez tenha exercido
- .:>dade. única influênCia prejudicial o fato de ele haver adotado para seu exemplo - a despeito de tratar-se apenas de um exemplo ­
::: conseqüen­ umcl premissa num~rica excessivamente baixa. em Virtude da qual. para 80rtkiewicz. o referido limite já é atingido em sete anos
c :!3 nota 38,)
204 TEORIA POSITIVA DO CAPITAL

suficiente, necessidades ainda mais remotas, ou porque -- é assim que distingo à diante, até :: 1
página 291 de minha Teoria Positiva minha "primeira causa" da "terceira causa" ­ que admite :-:-;
uma "diferença nas condições de suprimento, derivante de outra causa", já nos obri­ lor, dentre ~= =
garia a restringir nossa atividade produtiva, com exclusividade absoluta, aos perío­ frontar ent"e s
dos de necessidades mais próximos no tempo. Na verdade, às páginas 290 et seqs. hipótese er:-: ::.
de minha Teoria Positiva empenhei-me em mostrar, por uma contra-argumentação, que se pOCê :;
que, mesmo que os dois outros motivos por natureza não atuassem de modo al­ algum asse~--=­
gum, o mero fato da produtividade maior de métodos de produção indiretos mais valor - o c...:e
longos, pela influência que se lhe atribui, teria de gerar alterações tais no equilíbrio de gravidc2e .
vigente das condições de suprimento e das avaliações e adaptação tal das medidas mas isso r. ê. =
produtivas à situação alterada que só isso seria suficiente para resultar uma superio­ ra. 24 Para c=:-:"'
ridade de valor dos bens presentes em relação aos futuros; essa demonstração, co­ o procedil..e-:
mo me parece, me dá o direito de considerar meu terceiro motivo como um fator' deve-se ve:-:~:
cuja ação não depende nem das causas psicológicas de uma subavaliação de ne­ de necessfc::::i,
cessidades futuras nem de uma "diferença de condições de suprimento devida a ou­ ra cada urr: :: =
tra causa" (primeiro motivo). versos em::;,?:
Mas tudo isso será examinado e demonstrado especificamente com a máxima faça tanto':-:: ­
exatidão em outro contexto. Com efeito, a mesma objeção retoma, quanto a meu Mas hé. =:
conteúdo, também em I. Fisher; aliás, devido à argumentação menos tortuosa e mais zer o confrc·:-.~t
transparente que caracteriza esse autor, retoma em formulação mais clara e menos corda certc:-:-e
obscurecida por acréscimos dialéticos acessórios que tantas vezes e tão seriamente das necess'c.=.;
embaraçam o caminho reto da descoberta da verdade. Portanto, ao tratar de I. Fis­ bém em q....:"
her, voltaremos a deparar com o cerne da questão controvertida, interessante do e a cobertu,:: I
ponto de vista dos princípios, em um contexto mais adequado para esclarecê-lo. cimos ou C:-:-.~
Aqui continuarei por ora a desembaraçar o caminho de um cipoal dialético em que É óbvio qL:" 5
o problema principal foi envolvido especialmente por Bortkiewicz. pleno das :-.":'
Em sua polêmica acima reproduzida, Bortkiewicz acredita que "há liberdade de versa: não se !

fazer" as comparações da tabela de maneira diferente da minha, "isto é, descendo vamente cC ~


em diagonaf;22 nesse caso se obtêm sempre quantidades iguais de produto, porém centar ao c_:
em tempos diferentes. Não há dúvida de que "há liberdade" para isso, como se ex­ assim os f~:5':
prime Bortkiewicz, com lógica um tanto velada; afinal, por que não seria lícito com­ minado gn':;:·J
parar entre si os dados registrados na linha diagonal? Mas é igualmente certo que, mente ofe,,,::,.
se o objetivo da comparação for verificar o valor, não há liberdade de comparar demonstra, ::
apenas em diagonal: é preciso nesse caso comparar na diagonal e na horizontal. tipo de erre ~
Pois a linha diagonal apresenta apenas os resultados úteis que as unidades de meios' . de, em de5:::·.~
de produção, disponíveis em tempos diferentes e a serem comparadas no tocante se faz o cc :-.:';1
a seu valor, têm condição de produzir se for idêntico o tipo de utilização técnica Compc,el
das mesmas. Por exemplo, a linha diagonal que no diagrama de Bortkiewicz mostra com o vaio, :J
em toda parte o número 350, assinala exclusivamente os resultados úteis que os na!". Come :A
meses de trabalho comparados produziriam num período de produção de três anos, os mesmos -:1
se a utilização técnica dos meios de produção for idêntica; a linha diagonal que em ou nos do'5 .Z2
toda parte apresenta o número 500 mostra os resultados úteis num período de pro­
dução de sete anos, se a utilização for a mesma. Ora, as unidades de meios de pro­
dução, pelo pressuposto que está à base de toda a pesquisa e sem dúvida corresponde 23 No sentic: =:: --=",
" Aliás, Bcc:·,.::
também à vida real, admitem empregos diferentes, entre os quais se pode optar que ele afirr;..:: :: -:
livremente; assim, em nosso exemplo, se quisermos "interromper" no 7? ano, cada valor dos be:-_~ :-.: :-'
mês de trabalho admite no mínimo oito modos de emprego diferentes (para produ­ mente entre 3 ,: -: a
mo procede:-:-:::~ :~.l
ção no momento, para produção de duração de um ano, de dois anos e assim por tivéssemos c -.: ::: :Tj
bensdeco-.3 .. - :
de consume -.: ~: ":-l
lo fato de se~.: - -:::r
22'Ver supra, p 199, bem como o diagrama ali reproduzido, modificado na linha de Bortkiewicz. a Fisher. c;'c, ":C',,;
EXCURSO XII 205

::: _-:: :::stingo à diante, até a produção em período de sete anos). Contudo, o ualor de um bem
:-:::=. :ausa" ­ que admite modos de emprego diferentes deriva sempre do emprego de maior va­
;c _? :10S obri­ lor, dentre todos aqueles entre os quais há opção. 23 Se, portanto quisermos con­
L:='. ::os perío­ frontar entre si os valores de vários desses bens, há que assegurar que em qualquer
=.: :';J et seqs. hipótese em cada um dos bens comparados se introduza o emprego de maior valor
=-:;- .::-:tentação, que se pode fazer opcionalmente dele. Ora, a comparação "em diagonal" de modo
r. ::'-:: :nodo al­ algum assegura isso. Ela pode talvez incluir casualmente todos os empregos de maior
- ::,etos mais valor - o que ocorrerá se casualmente todos os bens confrontados tiverem seu centro
::: -.:: equilíbrio de gravidade econômico no mesmo dentre os oito modos de emprego opcionais;
E. ::':'-: medidas mas isso não acontece necessariamente e nem é provável que por natureza ocor­
:- _ :--.3. superio­ ra 24 Para comparar o valor de maneira correta e com base segura, há que adotar
: :: :- õ::-ação. co­ o procedimento seguido por mim nas páginas 288-290 da Teoria Positiua. Primeiro
c:: :--.::: um fator deve-se verificar qual, dentre os empregos opcionais que podem atender ao grupo
.::.=.:::ão de ne­ de necessidades consideradas pelo administrador. é o melhor, o de maior valor, pa­
::: ::'2-. ida a ou­ ra cada um dos bens comparados, devendo-se a seguir confrontar entre si esses di­
versos empregos de maior valor; ora, essa operação exige que a comparação se
c::::. a máxima faça tanto na diagonal como na horizontal.
::: _=':1to a meu Mas há outra maneira, talvez mais clara. para evidenciar que é inadmissível fa­
:::::·...:osa e mais zer o confronto apenas "em diagonal", quando se compara o valor. Bortkiewicz con­
; : : .:,-,a e menos corda certamente comigo em que o valor deriva sempre da relação entre o estado
~::: "eriamente das necessidades e o da cobertura disponível para as mesmas; concordamos tam­
:::::3, de r. Fis­ bém em que, no caso, evidentemente se deve confrontar entre si as necessidades
~ :-::'2ssante do e a cobertura da forma como estas se contrapõem entre si na realidade, sem acrés­
::: 2 "clarecê-lo. cimos ou omissões arbitrárias do lado das necessidades ou do lado da cobertura.
:.:,-:~:::::o em que É óbvio que se falsearia a situação e o resultado, se quiséssemos opor ao estado
pleno das necessidades, digamos, apenas a metade dos meios de cobertura, ou vice­
t-?":cerdade de versa: não se pode nem deixar de considerar uma necessidade que pertence efeti­
;::::: 2. descendo vamente ao grupo de necessidades que existe cobertura, nem inversamente, acres­
~::: ::·.lto, porém centar ao grupo de necessidades uma necessidade não contida nele, contrariando
s....:. ::omo se ex­ assim os fatos; e também do lado dos meios de cobertura, confrontados com deter­
~r..3 lícito com­ minado grupo de necessidades, não se pode nem ignorar uma cobertura efetiva­
"'-.:2 certo que, mente oferecida por eles, nem forjar uma cobertura inexistente. Ora, podemos
i", :2 comparar demonstrar que na comparação do valor "em diagonal" se comete justamente esse
" -=. horizontal. tipo de erro e isso de forma unilateral, inconseqüente e destituída de imparcialida­
C:::::2S de meios" de, em desfavor de uma das duas quantidades de meios de produção entre as quais
~:3" :10 tocante se faz o confronto.
t . .:::::ção técnica Comparemos, por exemplo, o valor de um mês de trabalho do ano de 1888
r_-::2',~'icz mostra com o valor de um mês de trabalho do ano de 1889, utilizando o "método diago­
::: ,,:::eis que os nal". Como observa com muito acerto Bortkiewicz, toparemos então sempre com
Z::: :ie três anos, os mesmos números: portanto, por exemplo, nos dois lados com o número 470,
:3;:::':1al que em ou nos dois lados com o número 500. Mas quando deparamos nos dois lados com
;:-2~odo de pro­
'" -:.2ios de pro­
.::::: :::orresponde 23 No sentido da regra exposta no texto, à p. lí9 et seqs., e esclarecida para prevenir mal-entendidos.
24 Aliás, Bortkiewicz recusa-se também a admitir esse fato, recorrendo a um silogismo inconcludente. Com efeito, eis o
:" :"--2 pode optar que ele afirma à p. 955: "Se os meios de produção, de acordo com a teoria da utilidade marginal. recebem seu valor do
=:: -o ano, cada valor dos bens de consumo para cuja. produção servem; se. portanto. tivermos meios de produção que distam temporal­
mente entre si, é plausível su por que só podem ocorrer diferenças de valor entre eles na medida em que os bens de consu­
:"': para produ­ mo procedentes deles forem fabricados em termos diferentes" Na verdade. porém. só seria "plausível supor"' isso se não
-:-. ::" e assim por tivéssemos a possibilidade de escolher livremente a duração do período de produção e com ela também a quantidade dos
bens de consumo que podemos conseguir. Somente se o período de produção fosse rígida mente determinado, os bens
de consumo provenientes de meios Je produção disponíveis em momentos não simultâ.neos só poderiam distinguir-se "pe­
lo fato de serem fabricados em tempos diferentes" Aliás, quanto a isso. ver também as exposições feitas adiante em relação
a Fisher, que repete esse erro de Bortkiell,.licz
~: ~ -:-EORIA POSITIVA DO CAPITAL

o número 470? Quando no caso do mês de trabalho do ano de 1889 - o qual se acs::-,::
só no ano de 1895 é capaz de apresentar a quantidade de produto 470 atingível cia!. c;..:~
rioriciê=~
num período de produção de seis anos - acrescentarmos também as necessidades segu:,= =
do ano de 1895, ou seja, quando supusermos que o indivíduo que avalia inclui dapr2:':',;
no âmbito de sua análise econômica em todo caso também as necessidades do ano men:2 =
de 1896. Ora, nessa hipótese, como poderemos fazer que o mesmo indivíduo, quando cia!. c= :
faz a avaliação comparativa do mês de trabalho do ano de 1888, pare na considera­ proc,-=~ =
ção das necessidades do ano de 1894 e na quantidade de produto 470, que este ço (]'-~ ~.
mês de trabalho é capaz de produzir, num período de produção de seis anos, para
as necessidades do ano de 1894? Ou uma coisa ou outra! Quanto às necessidades À bas2 =
do ano de 1895, ou elas entram ou não entram no âmbito da análise econômica maneira '.",'
que influencia a avaliação e, portanto, ou fazem ou não fazem parte do estado de ele, meu 2,,:::
necessidades" decisivo e a calcular. Se entram, evidentemente também devem ser todos de ::=j
incluídas na avaliação do mês de trabalho do ano de 1888 e não se pode, ao com­ gos (os P~2"-2
parar o valor, esquecer que para essas necessidades se pode auferir de um mês Em comr=.:: =
de trabalho de 1888, em período de produção de sete anos, uma quantidade de meu eSC'..:2-:
500, portanto mais do que do mês de trabalho de 1889. Ou então não entram; quantidá~2
e nesse caso também não entram para o mês de trabalho de 1889 nem se pode, período é" ;
para esse mês, falar da quantidade de produto 470, que ele só teria condição de tanto que:-.~,
produzir para um período que não comporta necessidades econômicas dignas de ções dife~':;:-l
consideração; se, ao contrário, as últimas necessidades incluídas na análise são as que a ca..;,,=.
do ano de 1894, vê-se que a quantidade máxima de produto que se pode contra­ isto é, a ;::.~.-w
por a este grupo de necessidades mediante o mês de trabalho de 1889 é apenas longa.
a quantidade de 440, que é menor e se pode conseguir em período de produção Entre:=':l
de cinco anos. Pode-se supor à vontade qualquer grupo de necessidades como sendo "supon h e:':', J
a última considerada por um indivíduo, em seus cálculos econômicos e sobre o va­ mas é o :.:.- :
lor; contudo, este "último" grupo sempre só pode ser um e não dois diferentes ao si mesmc. ",
mesmo tempo. Acontece que a comparação "diagonal" conta ao mesmo tempo com ele. núm,:;~:
dois grupos últimos diferentes, o que é ilógico e contraditório. 25 a "pecuj:a:-.2'
Outro silogismo, destinado a refutar minha concepção da influência indepen­ nhuma p:"s
dente de minha "terceira causa", é assim formulado por Bortkiewicz: 26 duração ;::~21
ma forme :.
"Somos assim reconduzidos em especial à 'primeira causa' do juro do capital, aduzido anos, ter:=. J
por Bohm-Bawerk; que no caso se trata justamente dessa 'primeira causa' e não de al­ compara::s
guma 'terceira' causa qualquer independente, depreende-se muito claramente da con­ no resu!Ia:: J
sideração do caso especial cuja peculariedade consiste em não haver possibilidade de período c" ;
escolha quanto à duração do período de produção. Suponhamos, por exemplo, que anos) e c:-:
no esquema de Bohm-Bawerk um período de produção de 7 anos seja indicado pelas contrário, :::-:
condições da técnica. Nessa hipótese todos os números da tabela que são menores que
500 teriam que ser substituídos por O e uma comparação, por exemplo, entre o mês Bortkie\~= ;
de trabalho de 1888 e o de 1889 daria. até o exercício econômico de 1894, O dos dois terceiro r..::
lados, para o exercício econômico de 1895 daria, de um lado, 500 e do outro, O, e para de escol~.=. "
todos os exercícios econômicos posteriores daria 500 nos dois lados". ferente - :-.C
"Ora, se efetuarmos a comparação da maneira errônea cara a Bohm-Bawerk, isto é, de prodü;sc
rioridade =.;::
Em S-2:j
25 Nessa parte da argumentação de Bortkiewicz vinga-se também sua estranha suposição, acima já apontada. de que em por BOrt~:2·.
minhas tabelas a comparaçao se faz entre as avaliações de produtores diferentes. Pois. se de fato se tratasse da avaliação ta, para c':;:1
de pessoas diferentes. pelo menos nã.o estaria o priori excluído que cada um pudesse conSiderar e levar em conta. COlllO
"último': um outro ano de necessidades diferente. enquanto a contradição denunciada no texto talvez tivesse de tornar-se
patente também para Bortklewicz caso ele tit'esse tomado consciência suficientemente clara do fato de que se trata de com­
parações de valor feitas do ponto de vista de uma e mesma pessoa 27 Op_ c:r -= -::--;
Ll) lnfelizmente sou novamente obrigado a citar textualmente. pois. como logo se verá. toda a maneira de conclUIr se equi­
2H É isso =._.:
libra sobre as palavras caso-exe:-:~-= :
EXCURSO XJl 207

,~~:. - o qual se abstraírmos dos exercícios econômicos de 1896, 1897 etc., também nesse caso espe­
C ..: - J atingível
cial, que ao mesmo tempo pode ser considerado como caso-limite, se constata a supe­
rioridade de valor da quantidade de meios de produção mais antiga, afirmada por ele,
~ -," cessidades segundo o esquema geral, sendo que este resultado é obtido bem independentemente
,_" ::',alia inclui da premissa de que períodos de produção mais longos são mais produtivos. Ora, justa­
,-,,:::::;es do ano mente o fato de o raciocínio de Bohm-Bawerk ser aplicável também a esse caso espe­
=-,' ::':0, quando cial, do qual está excluído tudo o que diz respeito à duração diferente dos períodos de
" -,:: considera­ produção, é uma prova de que a referida argumentação não é capaz de prestar o servi­
: ":-=1. que este ço que está destinado a prestar segundo Bohm-Bawerk"27
~,,~ anos, para

~ ~ :~2cessidades À base desse raciocínio de Bortkiewicz, um tanto complicado e apresentado de


~_o" econômica maneira visivelmente sinuosa, deve estar a seguinte maneira de concluir: segundo
<: :::: -estado de ele, meu esquema pretende ilustrar que a suposição da produtividade maior de mé­
c..,::-, devem ser todos de produção indiretos mais longos garante aos meios de produção mais anti­
:::: .::.e. ao com­ gos (os presentes) uma superioridade de valor em relação aos mais novos (os futuros).
e:"~ :;e um mês Em contraposição a isso, quer demonstrar, com base num "caso-exemplo", que pelo
:: ':3.:1tidade de meu esquema se obtém o mesmo resultado, a saber, a superioridade de valor da
~:: :-.ão entram; quantidade de meios de produção mais antigos, mesmo quand0 28 a duração do
;; :-,2:11 se pode, período de produção é ditada compulsoriamente pelas condições da técnica, por­
c,:: c::mdição de tanto quando está totalmente excluída qualquer influência da escolha entre dura­
:-__ c3.~ dignas de ções diferentes do período de produção, donde se infere, finalmente, segundo ele,
1: :::-:álise são as que a causa geradora da superioridade de valor não pode ser a aduzida por mim,
x :Jode contra­ isto é, a produtividade maior dos métodos de produção indiretos de duração mais
~ ~:39 é apenas longa,
:::: ::e produção Entretanto, primeiramente o "caso-exemplo" forjado por Bortkiewicz - diz ele:
c"õ como sendo "suponhamos, por exemplo" - na verdade simplesmente não é um caso-exemplo,
Co 2 sobre o va­ mas é o único caso, cuidadosamente procurado, que não refuta positivamente, por
:~ :;:Íerentes ao si mesmo, sua argumentação, Qualquer outro número diferente do escolhido por
o~,:: Tempo com ele, número com base no qual ele tivesse pretendido testar, a título de exemplo,
a "peculiariedade de que no tocante à duração do período de produção não há ne­
,,:~:-,:::a indepen­ nhuma possibilidade de escolha", tê-lo-ia deixado em maus lençóis, Com qualquer
duração prédeterminada da produção de menos de sete anos, exatamente da mes­
ma forma que com qualquer duração prédeterminada da produção de mais de sete
.: ::':?ital, aduzido anos, teria ocorrido igualdade do resultado da produção para os meses de trabalho
': _o':' e não de al­ comparados de 1888 e 1889: com qualquer duração teria ocorrido uma igualdade
ê~:-:-:ente da con­ no resultado efetivo da produção (por exemplo, de 200 unidades do produto, em
:c :: c:sibilidade de período de produção de um ano, de 470 unidades do produto em período de seis
~ :': exemplo, que anos) e com qualquer duração mais longa, uma igualdade no resultado zero. Ao
E .::-dicado pelas contrário, portanto, com qualquer outro número que não fossoe sete, escolhido por
~.~:: menores que
Bortkiewicz supostamente como "exemplo", ter-se-ia comprovado a relevância de meu
r:::: ,c. entre o mês
I ~~.::)~. O dos dois
terceiro motivo: se o introduzirmos - respectivamente se introduzirmos a liberdade
:: :: .::ro, O, e para de escolha entre períodos de produção de duração diferente e de produtividade di­
s ferente - no pressuposto, resulta a superioridade da quantidade mais antiga de meios
::-:--3awerk, isto é, de produção, demonstrada em meu esquema; se o excluirmos, em lugar da supe­
rioridade aparece igualdade!
Em segundo lugar, depende de que exigências a maneira de concluir utilizada
= 'c :-"da, de que em
por Bortkiewicz coloca com respeito às premissas lógicas da mesma: por acaso bas­
::-~~~'2 da avaliação ta, para demonstrar a irrelevância de minha terceira causa, aduzir "instâncias negati­
.,;:-:-: conta, como
- . .,;:3:3e de tornar-se
_..:: ~2 trata de com­
" Op. cit .. p. 956
~'" É isso que o autor tenciona afirmar com a expressão "co-aplicabilidade do raciocínio de Bbhm-Bawerk'·. aplicada ao
- -_ :: :)ncJUlf se equi-
caso-exemplo.
208 TEORIA POSITNA DO CAPITAL

vas" nas quais a superioridade de valor de bens presentes ocorre mesmo sem minha Apenas:
terceira causa? Seria a mesma lógica que pretender afirmar que a chuva não tem que minha l~
absolutamente nada a ver com o fato de as estradas ficarem molhadas, por haver mo tempo D'
casos em que as estradas ficam molhadas mesmo sem chuva - por exemplo, quando Quanto saiba
a administração rodoviária manda molhá-Ias. Minha tese não pretende afirmar que essencial pa:ê
minha terceira causa seja o único motivo possível de uma superioridade de valor sos prodUIc~;::
de bens presentes; se afirmasse isso, é claro que até instâncias negativas seriam sufi­ ocorrerá is...."C.
cientes para abalar esse motivo; a verdade é que prevejo três causas, independen­ alteradas se :1
tes entre si, para a mencionada superioridade de valor, e assim sendo é óbvio que ao mesmo :2l
a superioridade de valor pode ocorrer também já por força de uma das duas outras missa conce;::>1
causas, sem qualquer cooperação da terceira. Bortkiewicz simplesmente não teria vez ter perc.ói
precisado dar-se ao trabalho de ir em busca de um caso desse gênero, inventando. minhas colo:..
artificialmente seu "caso especial". Pelo contrário, em meu próprio texto teria encon­ como come::1
trado o reconhecimento repetido e expresso de que é muito grande o número de método de pr
tais casos; mencionei toda uma série - aliás uma série que de forma algullia é exaus­ não someme
tiva - de situações típicas, das quais cada uma abrange um sem-número de casos dos diferen:2:5
individuais e todas elas têm em comum o fato de serem capazes de gerar uma su­ da situação ":J
perioridade de valor dos bens presentes mesmo sem a colaboração da "terceira catí­ Finalme:"1
sa".29 Por isso, mesmo na linha de minha teoria, naturalmente não há da falta crô:-.x
absolutamente nada a estranhar se num caso concreto, mesmo após eliminar a ter­ conjecturas S(
ceira causa, pelas pressuposições efetivas do caso relativas a uma superioridade de realmente e. J
valor do mês mais antigo de meios de produção, não é de estranhar, digo, se, após em sua totiGd
a referida eliminação, a situação resultante for tal, pelos pressupostos, que o mês kiewicz exdc.:.:
mais antigo de meios de produção produzir, para o grupo de necessidades a serem desse termo. I
providas, 500 unidades do produto, enquanto o mês mais recente de trabalho com­ xar marger:-. ,
parado não produz absolutamente nada! Para poder tirar uma conclusão correta para de modo a~?J
sua tese, isto é, para a irrelevância de minha terceira causa, Bortkiewicz precisaria como parece
ter estabelecido e provado uma premissa diferente e muito mais exigente: precisaria trata de uma j
ter provado que a cooperação, supostamente irrelevante, da terceira causa, pode são plenamer
ser dispensada não somente em outro caso, no qual a superioridade de valor dos conceito desc
bens presentes casualmente já está assegurada pelas características casuais normais co, mas os ....
do caso, senão que se pode eliminá-la em todos os casos em que supostamente Bortkiewic:z ;:J
influencia, sem alterar o resultado; ora, o que se prova é exatamente o contrário, não precisa::.a
como ficou demonstrado na alínea "primeiramente", supra. talhadameme
Por conseguinte, salta aos olhos que Bortkiewicz se equivocou nas exigências dadeiro Cê.p
lógicas de sua maneira de concluir, e penso ter o direito de observar que dificilmen­ subsistênc:a. l
te ele mesmo teria podido deixar de perceber a inconcludência de seu argumento guagem p()?~
se tivesse procurado denominar os elementos lógicos do mesmo com termos claros os casos e:-:-:
e diretos. Se tivesse utilizado palavras diretas e destituídas de floreios, certamente Quamo 2
nunca teria ousado afirmar que um único caso em que a superioridade de valor do tal em ~'J
de bens presentes se verifica mesmo sem a cooperação de minha terceira causa;
já autoriza a concluir que essa terceira causa não é capaz de gerar tal superioridade
de valor. Só mesmo toda a ambigüidade do "caso especial" apresentado como "caso~ 30 Op. cit.. p, ,:.c,.
31 Elas corres:.:-,:a;
exemplo" e toda a nebulosidade dos modos de falar utilizados mais adiante por Bort­ 32 Op. cit., p':.c"'-­
kiewicz, quando fala da "co-aplicabilidade" de meu raciocínio, segundo a qual este 33 Op. cit.. P ':.c o
"não é capaz de prestar o serviço que pela minha teoria está destinado a prestar", 34 Ver,
por ex2--::M
Além disso. c>c-=.s':lI
para poder apresentar seu silogismo sem chocar, mesmo que apenas formalmente! correta, tamc~- :::
2? edição. j.J ";='::'
35 Do contrá=-: C:: ..1!l
outra coisa 32-_~: :-r
ce contraste .::- :=---õ.
29 Ver Teoria Posítiva. p. 276 et seqs., a capacidade de as duas primeiras causas, independentemente da terceira, gerarem contrário cer:::=.-:-~
a superioridade de valor dos bens presentes está formulada de modo particularmente explícito nas pt'ginas 278 e 294. acima citade. ,;: :: '=:'
EXCURSO XII 209
~:-:-. = sem minha Apenas de passagem gostaria de notar que Bortkiewicz supõe erroneamente
=:-. ";':a não tem que minha teoria pressupõe por princípio que necessariamente se aplicam ao mes­
c:~s. Dor haver mo tempo métodos de produção diferentes, de graus de produtividade diferente 3ü
"-2:-:-;Jlo. quando Quanto saiba, postulo apenas que há opção entre métodos diferentes, não sendo
".:" afirmar que essencial para mim que tais métodos diferentes sempre sejam utilizados por diver­
'C:~=ie de valor sos produtores ao mesmo tempo, paralelamente. Sem dúvida, na prática sempre
:-. ~õ õeriam sufi­ ocorrerá isso, pois é absolutamente improvável que um método que em condições
::: ::-.::1ependen­ alteradas se recomenda como melhor seja de repente adotado em toda a linha e
[: = 2 óbvio que ao mesmo tempo por todos os produtores; entretanto, isso não constitui uma pre­
=~5 duas outras missa conceptualmente necessária para minhas conclusões. Bortkiewicz poderia tal­
:'~-.:e não teria vez ter percebido sem dificuldade também isso, se tivesse tido presentes, por exemplo,
ê ~= ::lventando minhas colocações às páginas 414-424 da segunda edição,31 nas quais a Tabela III
:'0::= :eria encon­ como comentário a ela acrescentado pressupõe e ilustra o predomínio de um único
[" = '1úmero de método de produção, como sendo o melhor, ao passo que a Tabela IV pressupõe
C.c.::na é exaus­ não somente como possível, mas até como necessária, a coexistência de dois méto­
r:::;-.ero de casos dos diferentes, mas coloca isso expressamente como uma peculiaridade de escolha
E ::,,:-ar uma su­ da situação bem específica exemplificada na Tabela IV.
C~- -:erceira caLí­ Finalmente, Bortkiewicz se volta ainda, numa longa polêmica, contra a "tese
1" ,,:-::e não há da falta crônica de capita!",32 que me é atribuída, e se entrega a toda uma série de
's ~ ~:ninar a ter­ conjecturas sobre o que não posso ter entendido por "falta de capita!", sobre o que
L:~,::::oridade de realmente entendi com esse termo e o que deveria ter entendido com ele. Rejeito
r. ::go. se, após em sua totalidade, tanto a polêmica como as conjecturas. Pois, curiosamente, Bort­
i::: 5. que o mês kiewicz exclui de suas conjecturas precisamente a interpretação que eu mesmo dei
5::e.:::es a serem desse termo, e o dei, aliás, de maneira tão clara e explícita que me parece não dei­
,:: ::e.balho com­ xar margem a equívoco. Aliás, no que tange à própria expressão "falta de capital",
si:: correta para de modo algum ela é um termo preciso de minha própria teoria, cunhado por mim,
[t2·.·::cz precisaria como parece supor Bortkiewicz;33 pelo contrário, repetidas vezes expliquei que se
;"':-.:e: precisaria trata de uma expressão usual na linguagem vulgar, mas de per si não é uma expres­
é:? ::ausa, pode são plenamente correta; expliquei que, para aquelas questões nas quais o referido
C~ =e valor dos conceito desempenha uma função, o que interessa não é o capital no sentido técni­
C2.ô'Jais normais co, mas os meios de subsistência. 34 Mas essa diferença formal - provavelmente
E õ.:oostamente Bortkiewicz passou por cima dela 35 e em todo caso a ignorou - de per si ainda
::".:2 o contrário, não precisaria ter significado muito, porque na maneira por mim explicada mais de­
talhadamente (Teoria Positiva, p. 124 et seqs.; 2? ed. p. 99 et seqs.) também o ver­
l -e.5 exigências dadeiro capital constitui uma parte, e bem decisiva, do estoque de meios de
. ::..:e dificilmen­ subsistência, razão pela qual, após ter advertido que essa expressão corrente na lin­
::-2': argumento guagem popular não é totalmente correta, eu mesmo me permiti utilizá-Ia em todos
C':"'. :ermos claros os casos em que me parece não se exigir maior precisão.
!: =5. certamente Quanto ao conteúdo propriamente dito, entendi por "falta de capita!" um esta­
'r=e.de de valor do tal em que o estoque de meios de subsistência de que dispõe uma economia
t :,,:-ceira causa;
1:. 5·.:oerioridade
~: =~omo "caso­ 30 Op. cit.. p. 960, 964, 970.

31 Elas correspondem às páginas 607·617 da 3~ edição e às páginas 367·374 desta edição.

c:e.:lte por Bort­ 32 Op. cit., p. 964·970

=- == a qual este 33 Op. cit., p. 965 et seqs.

'.e.2a a prestar", 34 Ver, por exemplo, Teoria Positiva. 2° edição. p. 92, nota 1; p. 100 et seqs., p. 429; "Strittige Fragen", p. 25, nota L

Além disso, ocasionalmente expressei essa minha reserva pessoal contra uma expressão que não considero inteiramente

a5 :,:;rmalmente! correta, também colocando-a vez por outra entre aspas dentro de minha própria exposição (por exemplo, Teoria Positiva,

2~ edição. p. 429 e "Strittige Fragen". p. 25). .

35 Do contrário, ele não teria podido (p. 965) basear sua crítica na constatação de que\ "para mim, capital não significa

outra coisa senão bens que servem à finalidade de continuar a produção ulterior" (já que também a seguir sempre estabele­

ce contraste entre o fator de produção capital e os outros dois fatores de produção, que são a terra e o trabalho) e do

. --: ::::. ~.;:~ceira, gerarem contrário certamente também não teria tido o direito de, sendo leal, silenciar em absoluto, em sua polêmica, minha reserva

'" :, ~ c.as 278 e 294. acima citada e com certeza não totalmente indiferente para a interpretação de meu pensamento acerca da "falta de capital"!

210 TEORIA POSITIVA DO CAPITAL

nacional não é suficiente para executar todos os prolongamentos da produção tec­


nicamente vantajosos e em aberto, de sorte que se impõe escolher, dentre as inú­ trada nas cêJ
meras oportunidades de emprego compensadoras, as mais compensadoras, escolha maneira Ú;-J
que necessariamente acarreta um ágio sobre os bens presentes. Essa idéia atravessa mente soe a
como um cordão vermelho meu livro inteiro, de maneira que não há propriamente a um proc..:1'
necessidade de éitar passagens concretas em seu abono; mesmo assim, remeto ex­ nada a ve~ r
pressamente aos enunciados da página 112, nota 9 (página 92 da 2? edição), que Ao ap,~
já prenunciam o tema, e à posterior exposição sobre o "mercado de meios de sub­ servar de ::;:~
sistência em geral" em minha 'Teoria Positiva (páginas 336-356 da 2? edição, 525-544 ros da qu~
da 3~ edição, 322-332 desta edição), além das exposições bem detalhadas em mi­ a tendênc'c a
nhas "Strittige Fragen" (sobretudo à págma 25 et seqs.). Uma vez que justamente quer hipót2Sl
essa minha concepção efetiva não foi apreendida por Bortkiewiez em sua polêmica, a superior.:::a
pouca utilidade teria em entrar mais detalhadamente nela; insisto, isso sim, em números ::-o:.i
dissociar-me em absoluto daquelas concepções - em meu entender nem felizes' sultado se :.1::
nem claras - que o próprio Bortkiewicz apresenta acerca do tema "falta de capital" longos nãc fi
nas páginas 966 a 970 de seu estudo, concepções que, em sua pressuposição, de­ produtividê :::.
veriam "racionalmente" ter sido também as minhas. centes (po, ~
tação mate~
de investirT.21
B) Irving Fisher ção uma ::!l

I. Fisher36 estrutura sua crítica em uma seqüência de pontos bem ordenados "Su;Y'"'1
que favorece muitíssimo a clareza e a transparência da argumentação. Com muito cessas :2
prazer sigo o exemplo dele, tanto mais que há raciocínios que conduzem através utilidac2s
de 18E-~.
desta matéria extremamente difícil e emaranhada, os quais, embora de modo al­
gum sejam idênticos, são parecidos e se cruzam, o que representa um convite ex­
tremamente tentador para confundi-los entre si. Acredito que a maneira mais segura QUADRO ~.
de escapar a essa confusão é procurar não visualizar coisas demais de uma vez só,
mas procurar acompanhar cada um dos respectivos raciocínios separadamente até Um mês c-:::
o fim.
Fisher expõe sua crítica à minha doutrina por etapas, em quatro parágrafos (§
4-7) do capítulo IV, que trata da "B6hm-Bawerks Theory". Primeiro quero acompanhá­
lo exatamente nessas etapas críticas; depois, numa quinta etapa, acrescentada por Para o exerc~
mim, quero tentar acompanhar os assunto também em seu aspecto positivo e, em econômico do
especial, com uma crítica à própria tentativa de solução apontada por Fisher, acla­
rar plenamente o alcance das idéias utilizadas por ele e por mim. 188~
1889
1) § 4 de Fisher e seu Apêndice Matemático 189C
189:
etc
Como Bortkiewicz, também Fisher aborda primeiro, em sua crítica, as tabelas
apresentadas na minha Teoria às páginas 288-289 (na 2~ edição, páginas 281-285).
Considera "correto o resultado" delas, mas acredita que incorro "em erro, atribuindo
"QU2~21
qualquer parcela que seja desse resultado ao fato de os processos mais longos se­
que a :::=:
rem os mais produtivos". Com efeito, em minhas tabelas já pressuponho a existência
ximac:: ::;I
de um ou de dois outros motivos de uma superioridade de valor dos bens presentes da séri-2 ~
(cobertura relativamente maior do futuro ou subavaliação do futuro em razão da essa pc: ."
perspectiva), podendo-se demonstrar, segundo ele, que são estes elementos, e so­ cessaT.:::-":.
mente eles, que sempre geram a superioridade de valor dos bens presentes, mos­ supos:ç~:..
na prir:-:-::::J

36 Rate of interest. Nova York, 1907. :~7 Op. cít..


3" Op. cit .. -.~.:"" - o
.11;

EXCURSO XII 211


r:.:::ução tec­
e:-.::-e as inú­ trada nas tabelas. Repetindo enfaticamente essa idéia, afirma que esse resultado de
:;cas. escolha maneira alguma - como teria afirmado eu - "necessariamente tem de ocorrer so­
É".~ atravessa mente sob a condição de que métodos de produção indiretos mais longos levam
lr:;priamente a um produto maior", senão que o mencionado resultado "não tem absolutamente
t ~emeto ex­ nada a ver com essa premissa".37
€ ::::ção), que Ao apresentar a anunciada demonstração desta tese, afirma - aliás quero ob­
N,:OS de sub­ servar de imediato, de maneira perfeitamente correta - que, desde que os núme­
;.ãc. 525-544 ros da quarta coluna de minhas tabelas ("utilidade marginal reduzida") apresentem
lo2::as em mi­ a tendência a decrescer ali indicada (5, 3,8, 3, 2,2 etc.), necessariamente e em qual­
e 'ustamente quer hipótese se obtém como resultado final da comparação estabelecida na tabela
L.~ polêmica, a superioridade de valor do mês de trabalho mais antigo, quaisquer que sejam os
:ôs<o sim, em números indicadores de produtividade colocados na segunda coluna; o referido re­
r :-,em felizes sultado se obteria até mesmo se a produtividade dos processos de produção mais
t=. de capital" longos não fosse crescente, mas decrescente, e até se os números indicadores da
l;y)sição, de­ produtividade inicialmente fossem crescentes e depois fossem novamente decres­
centes (por exemplo, 100, 200, 230, 200, 100 etc.). E num anexo intitulado "Refu­
tação matemática da afirmação de Bohm-Bawerk acerca do motivo da superioridade
de investimentos de trabalho presentes em relação a futuros", dá a essa argumenta­
ção uma formulação algébrica de validade geral.

~. :)rdenados "Suponhamos" - diz ele aqui38 - "que os produtos que se pode obter mediante pro­
l Com muito cessos de um ano, dois anos. três anos etc. de duração sejam Pl, Pz, P3 etc. e que as
l.22m através utilidades marginais reduzidas em virtude da perspectiva sejam, começando com o ano
::e modo al­ de 1888, U1 , Uz, U3 etc.; nessa hipótese veremos que
~. convite ex­
a :-:"ais segura QUADRO 3
::~ma vez só,
~:::~mente até Um mês de trabalho

;:.::rágrafos (§ Disponível no ano de 1888 Disponível no ano de 1889


: :.<:ompanhá­ ,. Unidades I Utilidade marginal Soma do
~entada por Para o exerCIClO do reduzida pela valor do Utilidade I Valor
Unidades I marginal
J<: ~:tvo e, em econômico de produto j
perspectiva produto total
r ~:~her, acla­
1888 Pl Uj Pj Uj Uj
1889 Pz U2 P2 Uz Pl Uz Pl Uz
1890 P3 U3 P3 U3 Pz U3 Pz U3
1891 P4 U4 P4 U4 P~ U4 P3 U4
etc. etc. etc. etc. etc. etc etc.
c.::. as tabelas
r..::s 281-285).
::-:. atribuindo
z:s longos se­ "Queremos agora mostrar que o trabalho disponível no ano de 1888 vale mais do
,.: .:: existência que o trabalho do ano de 1889, desde que u 1 > Uz > U3 > U4 etc., isto é, que o má­
ximo da primeira série de pu, que se refere a 1888, é maior do que o máximo da segun­
1lE:-.~ presentes
da série, relativa a 1889 (naturalmente, na hipótese de que existam máximos). Para efetuar
,,::J razão da essa prova, procuramos o máximo da segunda série. Digamos que este seja P3 U4' Ne­
'r..emos, e 50­ cessariamente este é menor do que P3 U3 na primeira série; com efeito, já que, pela
Es.2ntes, mos- suposição, u4 < U3, segue que P3 U4 < P3 u3. Ou seja, necessariamente deve haver
na primeira série um termo (term) que é maior do que o termo máximo na segunda

.<7 op. cit., p. 61 et seqs.

:JK Op cit., "Apêndice ao Capítulo IV", § 4, p. 354 et seqs.

------------------------ ----

212 TEORIA POSITIVA DO CAPITAL

série. A fortíorí o termo máximo da primeira série deve ser maior do que o termo máxi­ fica mol:-.~
mo da segunda série. Em outras palavras, o valor para 1888 supera o valor para 1889, Mas ::
desde que as utilidades marginais decresçam, não importando se as produtividades au­ de nOSSê .
mentem ou não". O q~<
Não me surpreende em absoluto que essa argumentação, apresentada com tanto se gêne~:
brilhantismo, tenha podido despertar, tanto no próprio autor como em tantos leito­ nem me:-_:
res, a impressão de uma argumentação absolutamente sólida e plenamente cogen­ ção inde;::­
te. 39 E no entanto ela tem seu ponto fraco. cia da 5:":::>
Primeiro quero demonstrar isso clara e diretamente pelo resultado e depois fa­ virtude :::'3
rei seguir o comentário que explica detalhadamente o erro. Ou seja, invertendo o possíve: '::i
processo, utilizarei inteiramente a meu favor o aparato lógico que Fisher utilizou contra dutivida:::2
mim. Com a mesma prova algébrica com a qual Fisher parece demonstrar de forma mente ê -.­
tão cogente que é incorreta minha tese sobre o motivo da superioridade de valor a objeta~ (
do mês de trabalho mais antigo, quero, ao contrário, demonstrar que ela é correta. premissês
Utilizarei as fórmulas e os raciocínios de Fisher, palavra por palavra, número por nada de ::
número, alterando apenas a premissa da hipótese. Não coloco nenhuma premissa parte só ;
no tocante à grandeza da utilidade marginal (UI' U 2 etc.); pressuponho apenas que Eme.?l
(em conformidade com minha tese) o produto de um período de produção mais mativarr:021
longo sempre é maior do que o de um período de produção mais curto - que, parte de ;
portanto, P2 > PI, P'l > P2, P4 > P3 etc. Continuo agora a forma de concluir de refutada J
Fisher, copiando-a palavra por palavra: "Procuremos o máximo da segunda série. Apêndi:o::
Suponhamos que este seja P3 U 4 . Este é necessariamente menor do que P4 U4 na conclusã::J
primeira série; com efeito, uma vez que, pela suposição, P3 < P4' segue que P3 U4 determ~:-..:l
< P4 U 4 · Isso significa que na primeira série há necessariamente um termo que é mais lo:..?
maior do que o maior elemento na segunda série. A fortiori, o maior elemento na não ad:ê:1
primeira série deve superar o termo máximo na segunda série. Em outras palavras, tado PO'::i
o valor para 1888 supera o valor para 1889, desde que os números indicadores causas s:.r
da produtividade sejam crescentes, não importando se as utilidades marginais de­ vimente c
crescem ou não". Eis aí demonstrada, palavra por palavra, minha tese. car moll--.a
E agora comentemos esse resultado, talvez um tanto surpreendente. Fisher a estraca
equivocou-se quanto ao alcance das premissas por ele utilizadas; erroneamente su­ em inqo
geriu, a si e aos leitores, que as conclusões que seguem de suas premissas refutam mas toca:
minha argumentação e até o conteúdo de minha teoria, ao passo que na realidade etapa 5;:-::
- a despeito de toda a impressão de serem concludentes - não fazem senão ar­ Fisher se
rombar uma porta aberta. Com efeito, sua argumentação, conduzida de maneira mais resn
irrepreensível, não prova outra coisa senão o fato, em si mesmo de todo evidente várias eXJ
e nunca contestado - o que não é surpresa para ninguém -, de que, mesmo que de sua 2:l
já existe e atua um dos dois outros motivos por mim aduzidos da superioridade de se trata:.!
valor de bens presentes, automaticamente está garantida a ocorrência dessa supe­ mática- j
rioridade de valor, não importando se além disso sobrevém ou não o terceiro moti­ presen~e:

vo: se os u, na linha do primeiro motivo, ou do segundo, ou dos dois motivos juntos, do a id2~i
decresce continuamente de grandeza, só por isso já é perfeitamente natural que te­ incomest
nha que ocorrer uma superioridade do valor dos bens presentes, não importando verdaé2
- na linha do terceiro motivo - se além disso crescem ou não também os núme­ mo eu ::
ros indicadores da produtividade de métodos de produção mais longos. Exatamen­ M""
te da mesma forma que, se o pavimento da estrada for molhado artificialmente, ele em si f:.2
isso :12.:)

39 Eis, por exemplo, o que escreve Sanger em uma recensão da obra de Fisher: ~lts is doubtful how far this theory (referindo­

se à minha teoria) has been held by economists: but the refutation of this in a uery short appendix is uery forcible~ Economic 40Por 2.'_= '""J

Journal. Março de 1908. p. 67 dois 0'''':'=: ~

EXCURSO XII 213

=_" :, tenno máxi­ fica molhado, não importando se além disso chove ou não.
. . ~Dr para 1889, Mas que alcance tem essa constatação, tão correta quanto evidente, no âmbito
:::-:':·..ltividades au­ de nossa controvérsia?
O que Fisher teria podido afirmar legitimamente aqui seria que casos-teste des­
"':-.2da com tanto se gênero, justamente por isso não podem - ou pelo menos não podem sem mais
: ';::-:1 tantos leito­ nem menos - ser adequados para, com base neles, testar afirmativamente a atua­
e:-.:::-:1ente cogen­ ção independente do terceiro motivo. Há que admitir sem hesitar que, da ocorrên­
cia da superioridade de valor, supondo-se estas circustâncias concomitantes - em
==-=::; e depois fa­ virtude das quais tal superioridade já está de antemão garantida -, de fato não é
E ::. invertendo o possível deduzir nenhuma prova contundente a favor da afirmada influência da pro­
•. -2~ utilizou contra dutividade maior, pelo menos enquanto não se adaptar ou se aprimorar devida­
:::: -,strar de forma mente a verificação do ponto de vista metodológico. 40 Se Fisher se tivesse limitado
:·::-:::iade de valor a objetar que aquela parte de minha exposição que já havia incorporado em suas
c_e ela é correta. premissas a ação do primeiro motivo ou do segundo, por si só ainda não provou
i".:ê. número por nada de decisivo no tocante à influência independente do terceiro motivo, de minha
e:-;"."Jma premissa parte só poderia concordar plenamente com ele.
C-.:10 apenas que Entretanto, uma coisa é dizer que determinada afirmação ainda não está afir­
l.:: :Jrodução mais mativamente provada com determinada exposição (ou melhor, com determinada
l~S curto - que, parte de uma exposição) e outra é dizer que a própria afirmação é falsa ou está
r.:: :::e concluir de refutada. A argumentação da primeira etapa de Fisher, e particularmente a do seu
==. segunda série. Apêndice Matemático, não contém absolutamente nada que possa autorizar uma
r =::; que P4 U4 na conclusão no segundo sentido apontado. Com efeito, para provar ou refutar que
> segue que P3 U4 determinado fato (em nosso caso a produtividade maior de métodos de produção
! :;':-:1 termo que é mais longos) pode ou não ser uma causa independente de determinado resultado
E:::Jr elemento na não adianta afirmar - e é só isso que se afirma na "primeira etapa" - que o resul­
r:-. :utras palavras, tado pode ocorrer também sem o referido fato, no caso de atuarem também outras
::-.2~OS indicadores causas suficientes do mesmo resultado - a afirmação de que a chuva molha o pa­
C25 marginais de­ vimento da estrada certamente não é refutada provando que o pavimento pode fi­
r:= lese. car molhado também sem chuva, se a administração rodoviária molhar artificialmente
c2:1dente. Fisher a estrada -; a verdade é que a maneira de verificar a ocorrência supra consiste
.:::-:-oneamente su­ em inquirir se o resultado ocorre ou deixa de ocorrer quando o fato é colocado,
1:~emissas refutam mas todas as demais causas que entram em questão são excluídas. Ora, a primeira
; :::.;.;.e na realidade etapa simplesmente não se ocupa com essa verificação. E no entanto, em vez de
c ~m senão ar­ Fisher se conscientizar claramente - e também seus leitores - do alcance muito
t·"-:::::ia de maneira mais restrito de sua primeira etapa, faz o contrário: introduz nessa primeira etapa
I :e todo evidente várias expressões que necessariamente dão a impressão que atribui já a essa parte
, =. ".le. mesmo que de sua exposição valor de refutação contra minhas doutrinas; nomeadamente em
i 5·..;perioridade de se tratando do seu Apêndice, dá-lhe o pretencioso título de uma "Refutação Mate­
:-ê:-.c:a dessa supe­ mática" de minha afirmação sobre o motivo da superioridade de valor do trabalho
ã:: () terceiro moti­ presente: assim sendo, não é de admirar que também em seus leitores tenha surgi­
C...5 motivos juntos, do a idéia, tão fortemente errônea, de que a lógica ali desenvolvida - na realidade
r.:':: :1atural que te­ incontestável - refutaria efetivamente alguma das minhas afirmações, quando na
; :-:ão importando verdade ela constata apenas uma verdade totalmente inofensiva, que tanto ele co­
rz.:-:-,Oém os núme­ mo eu concordamos em reconhecer.
t :-.;os. Exatamen­ Mas será que a primeira etapa de Fisher, embora sem refutar minha afirmação
~::cialmente, ele em si mesma, não refuta ao menos algo do que eu disse para prová-Ia? - Também
isso não ocorre. Pois o leitor atento há de notar o seguinte. Antes de tudo, para

. õ: :c..s theory (referindo·


. ; -.. forcible" Economic 40 Por exemplo, testando diferenças de grau na superioridade de valor. resultantes do acréscimo do terceiro motivo aos
dois outros, e similares.
214 TEORIA POSITIVA DO CAPITAL

evidenciar numericamente meu princípio, formulado e demonstrado primeiro em que aCê::


termos gerais (p. 277 et seqs. da 2~ edição, p. 285 et seq. desta edição), não aduzi aumer:::
somente aquele exemplo da tabela, contra o qual Fisher objeta que ele já pressupõe o efeito :::,:
como atuantes os dois outros motivos da superioridade do valor; pelo contrário, disse nui no~::~

repetidas vezes e expressamente (p. 280-283) que a comparação em forma de ta­


bela necessariamente leva ao mesmo resultado, "qualquer que seja o estado das ava­
liações subjetivas" e "quaisquer que sejam os possíveis números indicadores da QUA:CC=
quantidade de produto e do valor da unidade nos diversos anos", e desafiei o leitor
a efetuar qualquer alteração que quisesse nos números (p. 280). Acontece que a
experiência com Fisher mostra que certamente teria sido mais prudente, de minha
parte, não somente apresentar tais tipos diferentes de comprovação de modogené­
rico e apenas teoricamente, mas efetuá-los eu mesmo minuciosamente, com cifras,
incorporando nelas também casos em que a utilidade marginal não decresce de modo Para J
eC!J:,";"!
contínuo, mas aumenta, ou varia de outra forma: isso sem dúvida teria matado a
objeção da "primeira etapa" de Fisher já antes de ela nascer. Todavia, é óbvio que
para a coisa em si mesma não pode fazer diferença alguma se uma idéia aduzida
como prova é apresentada no texto com muitos ou poucos detalhes: a exposição
se torna mais ampla, mas a lógica como tal não muda nem se torna melhor pelo
fato de os exemplos numéricos comprovativos e aduzidos para provar serem efeti­
vamente apresentados no texto em todos os seus detalhes; o que é decisivo é que
eles - não importando quem os calcula detalhadamente e onde o faz - dêem
o resultado afirmado pelo autor - e este é realmente o caso, como nos convence­
remos explicitamente dentro em breve.
Mas, além disso, eu só no início introduzi no referido exemplo da tabela, que
constitui objeto da impugnação de Fisher, a cooperação - de que ele sente falta
- dos "dois primeiros motivos" (p. 281-283), eliminando-a sucessivamente no de­
curso de minha exposição (a partir da p. 284 da 2~ edição). Fiz as duas coisas por QUA.: cc =

motivos expressamente explicados. Incluí aquela cooperação, inicialmente, nas pre­ Um :--.~;'

missas de minha ilustração, para que esta fosse de certo modo "correspondente ao
real" (p. 284). Uma vez que na vida real também o "primeiro" e o "segundo motivo"
sempre atuam, fiz com que a influência deles entrasse, de início, também nos nú­
meros indicadores da utilidade marginal; eles foram escolhidos a título de exemplo Para"
e constituem uma série decrescente; com isso, para mim a prova dos números tem eCC.~1

uma força bem ilustrativa nessa sua parte inicial - devo salientar estas palavras -,
mas não uma força de prova. Todavia, tive consciência plena e explícita desse fato
(p. 284), bem como do fato de no início "já haver introduzido na hipótese como
atuantes" aquelas duas outras causas que geram um aumento de valor, e por isso,
quanto à demonstração propriamente dita de que o meu "terceiro motivo" é inde­
pendente dos dois outros motivos, só a apresentei na parte final de minha exposi­
ção, na qual eliminei novamente da suposição a colaboração inicial dos dois outros
motivos (p. 284-286). Por conseguinte, em minha intenção, aquela parte de uma
parte de minha exposição, contra a qual Fisher dirige as objeções da sua "primeira
etapa", não precisava e não precisa ter nenhum ônus de prova. 41
Acrescentamos agora, para os leitores, a fim de eliminar qualquer possibilidade
de dúvida, algumas tabelas a título de exemplo, traduzidas em números e do tipo A:-:-:.
gentes -:'
41 Por essa razão. também na presente 4~ edição de meu livro mantive basicamente inalterado o curso de minha exposi­
o mês :::'"
ção, embora tivesse sido fácil para mim anular de antemão a objeção de Físher analisada até aqui. escolhendo um exemplo pelo :l§...:=
numérico diferente para a apresentação da tabela. Efetuei apenas uma leve alteração estilística na formulação. para assegu­ contrê ~
rar que não permaneça sequer a aparência - no caso de esta ter existido anteriormente - de que a parte de minhas
ilustrações numéricas que opera com a premissa de uma utilidade marginal derivante de outras causas exigiria não somente
E ê.~
ilustrar o que já disse anteriormente, mas também aduzir novas provas e que vão mais longe, do ponto de vista objetivo. dele ê ,;;

EXCURSO XII 215

t': ::-:meiro em I
que acabamos de expor. Na Tabela I que segue, ilustramos o efeito supondo um
;2.:' . não aduzi ~'Õ aumento constante da utilidade marginal, de 5 até 5, 7, e na Tabela 11 ilustramos
:",.? pressupõe j o efeito de uma utilidade marginal que de início aumenta de 5 até 8 e depois dimi­
:::-.:rário, disse ;~ nui novamente até 4.
r :yma de ta­ ~;
,$
E5-.2:::0 das ava­ f
=- :::::adores da ;i;.(

QUADRO 4 TABELA I

c2õdiei o leitor
'-:: ~:tece que a Um mês de trabalho
12-.:2. de minha
é2 ~odo gené­ Disponível no ano de 1888
Disponível no ano de 1889

:-::2 com cifras, produz


produz
C"2õ{:e de modo Para o exercício
:2:-:a matado a econômico de Unidades Soma Unidades Soma
Utilidade Utilidade
do do do do
::: 2 óbvio que produto
marginal
valor produto marginal
valor
ê. ::::éia aduzida
E5 a exposição 1888
100
S.U SOO - 5,0 -
c.:: :-:telhor pelo w 1889
200
5 1
1 020 100
5,1 510

~.
r. =-:- õerem efeti­ " 1890
280
5.2 1456
200
5,2 1 040
-
!1 1891
280
5,3
~

, :::2:isivo é que 350


:l.,) 1 S55 1484

: ~az - dêem 1892


400
5.4 2 160
350
5.4 1890

, -.: õ convence- 1893


440
5.5 2420
400
5.5 2200

l'
'.ito
1894
470
CJ'J 2632
440
5.6 2464

1895
500
2850
470
5,7 2679

::::': tabela, que i


:l.1

2 2:2 sente falta


.:':~ente no de­
:"::':õ coisas por QUADRO 5 TABELA !f
r2-.:e. nas pre­ Um mês de trabalho
~2 õ:Jondente ao
e;~'1do motivo" Disponível no ano de 1888
Disponível no ano de 1889

;".-.:ém nos nú­ produz


produz
-_: de exemplo Para o exercício
:õ :-.:Jmeros tem econômico de Unidades Soma Unidades Soma
Utilidade Utilidade
do marginal do do do
;-:-::õ palavras -, produto valor produto
marginal
valor
l'::::::a desse fato
-.:-.Jótese como
1888
100
') 500
- 5
-
-:::: e por isso, I
1889
200
6
1 200
100
6
600

- ::'\'0" é inde- J
1890
280
7
1960
200
7
1400

=:-:".::1ha exposi- Í
1891
350
8
2800
280
8
2240

::: ::: õ dois outros !.' 1892


400
7
2800
350
7
2450

ê: : :':rte de uma t 1893


440
6
2640
400
6
2400

:::' õJa "primeira 1894


470
5
2350
440
5
2200

1895
500
4
2000
470
4
1880

;2~ :Jossibilidade
":".2:0S e do tipo Ambas as tabelas, como era de se esperar, não obstante suas suposições diver­
gentes no tocante à evolução da utilidade marginal, apresentam concordemente para
o mês de trabalho mais antigo, o de 1888, valores máximos maiores (destacados

.:~ mmha exposi­


-,: -.do um exemplo pelo itálico) do que para o mês de trabalho mais recente, de 1889: 2 850 e 2 800,

-- _ :::;30. para assegu­ contra 2 679 e 2 450.

__ ':. ::: ;Jarte de minhas


,...=~ :.:!a não somente
E agora ainda um terceiro exemplo de comprovação. Quero tomar por base
-':e vista objetivo dele a seguinte variante: a utilidade marginal, no global, mostra tendência a decres­
216 TEORIA POSITIVA DO CAPITAL

cer. mas não de modo contínuo e sim bruscamente em intervalos. Suponhamos,


QUA::)=-=:
por exemplo, que a utilidade marginal seja, para os dois primeiros anos, 5; para Um r.-..~:

os dois anos seguintes, 4, e a partir do 5? ano decresça para zero. Essa variante refle­

tiria, por exemplo, em grandes traços, o efeito que em minha Teoria Positiva 42 atri­

buo à consideração que se tem pela incerteza da vida. Num primeiro período, mais
Para o ,o'J
próximo, esse fator não exerce absolutamente nenhum efeito de redução do valor; econom
num segundo período, um pouco mais longínquo, faz diminuir um pouco o valor
e num terceiro período, o mais longínquo, para o qual excluímos totalmeJ1te a possi­
bilidade de a pessoa ainda estar viva, ele elimina totalmente o valor. E claro que
para uma investigação geral não tem importância o número de anos que atribuímos
a cada um desses três períodos, bem como o número e a rapidez dos saltos bruscos.
Façamos agora a comparação de valor para esse tipo. Aliás, desta vez, para com- ,
pletar a prova contra Fisher, quero, bem de acordo com sua própria orientação, fa­
zer a comparação de valor também para todos aqueles casos alternativos que podem
ocorrer no tocante à produtividade de processos de produção mais longos: portan­
to, para o caso de produtividade crescente (segundo meu esquema usual; Tabela
III), para o caso de a produtividade permanecer invariável (por exemplo, com cada
vez 300 unidades de produto por mês de trabalho; Tabela IV), para produtividade QC.-\=: =- =:'
decrescente (diminuindo, de 100 unidades do produto, na produção para o mo­ Um :-:-.~:
mento, para 90 unidades, em período de produção de um ano, para 80 em perío­
do de produção de dois anos etc., até 30 unidades, em período ae produção de
sete anos; Tabela V) e finalmente para o caso de no início a produtividade aumen­
tar e depois novamente diminuir (com a série 100, 200, 300, 200, 100 etc.; Tabela VI).
Para: l
ecor-:r
QUADRO 6 TABELA 1I1
Um mês de trabalho
Disponível no ano de 1888 Disponível no ano de 1889
produz produz
Para o exercício
econômico de Unidades Soma Unidades Soma
Utilidade Utilidade do
do do do marginal
produto marginal valor valor
produto

1888 100 5 500 - 5 -


1889 200 5 1000 100 5 500
1890 280 4 1 120 200 4 800
1891 350 4 1 400 280 4 1 120
QUA.=:=-. =:
1892 400 O - 350 O -
1893 440 O -
400 O -­ Um :-:-.~;
1894 470 O - 440 O -
1895 500 O - 470 O -

Para : ~
Que é que nos mostram essas tabelas? Mostram-nos que os valores máximos econ:,n
(destacados pelo itálico) para os meses de trabalho comparados, de 1888 e 1889,
são desiguais, favorecendo o mês de trabalho mais antigo somente na primeira das
quatro tabelas (III), ao passo que em todas as outras três são iguais. Indicam, por­
tanto, que sendo idênticas as premissas no tocante à grandeza da utilidade margi­
nal, a superioridade do valor do mês de trabalho mais antigo se verificou naquele
caso em que se manteve como suposição, na linha de minha tese, a produtividade
maior dos métodos de produção mais longos e que não se observou a superiorida­
de de valor naqueles casos em que a mencionada produtividade maior foi elimina­

'2 P 280 et seqs (2' edição. p. 270).


-
EXCURSO XII 217

~ -:J:mhamos, QUADRO 7 TABELA IV


; i::"", ::'5. 5; para Um mês de trabalho
G '. ~ante refle­
Disponível no ano de 1888 Disponível no ano de 1889
: .-:: :s:riua42 atri­ produz produz
:: :=2:-'odo, mais Para o exercício

[_::~:: do valor; econômico de


Unidades Soma Unidades Soma
Utilidade Utilidade
:=::..:.co o valor do marginal do do do
produto valor marginal
~-:-2;:Le a possi­
produto valor
:::- ::: claro que 1888 300 5 1 500 5
:: -,: atribuímos 1889 300 5 1 500 300 5 1 500
, ~::.~:Js bruscos. 1890 300 4 1200 300 4 1 200
'.2::, oara com­ 1891 300 4 1 200 300 4 1200
:: :-:2~tação, fa­ 1892 300 O
300 O
, :: = :,ue podem 1893
300 O
300 O
~ :-.;:J5: portan­ 1894
300 O
300 O
:: _5~al; Tabela 1895
300 O 300 O
::=.::, com cada
: ~:=:-::,Jutividade QUADRO 8 TABELA V
ã:: ;Jara o mo­ Um mês de trabalho
i: 3 =, em perío­
E :::~odução de
.',=::=e aumen­ Disponível no ano de 1888 Disponível no ano de 1889
~:: : Tabela VI). produz produz
Para o exercício
econômico de Unidades Soma Unidades Soma
Utilidade Utilidade
do marginal do do marginal do
produto valor produto valor

l>~ de 1889 1888 100 5 500 - 5 -

r 1889 90 5 450 100 5 500


1890 80 4 320 90 4 360
1te;,
Soma 1891 70 4 280 80 4 320
r<'J,
do 1892 60 O O 70 O O
valor
1893 50 O O 60 O O
1894 40 O O 50 O O
500 1895 30 O O 40 O O
800
1 120
QUADRO 9 TABELA VI
Um mês de trabalho

Disponível no ano de 1888 Disponível no ano de 1889


produz produz
Para o exercício
.':: ~25 máximos econômico de Unidades Soma Unidades Soma
~338 e 1889, Utilidade Utilidade
do marginal do do marginal do
'" .:J"imeira das produto valor produto valor
::-, :icam, por­
1888 100 5 500 - 5 -
=_::Gde margi­ 1889 200 5 1000 100 5 500
-:=':::)u naquele 1890 300 4 1200 200 4 800
:= ~'Jdutividade 1891 200 4 800 300 4 1 200
'i: =,-,periorida­
,::- :oi elimina-
1892
1893
100
100
O
O
-
-
. 200
100
O
O
O
O
1894 100 O - 100 O O
189.') 100 O - 100 O O
218 TEORIA POSITIVA DO CAPITAL
QUADRe
da das premissas. Em outras palavras, as quatro últimas tabelas demonstram
exatamente aquilo que Fisher pretendeu refutar com seu raciocínio baseado em pre­ Um m~o -­
missas insuficientes, a saber, a relevância de meu terceiro motivo para a ocorrência
da superioridade do valor. 43
Eu poderia construir muitos outros exemplos de tabelas, com cifras sempre di­ Pa:"!
ferentes e que confirmariam que minha tese é correta. Mas há um caminho mais
breve e mais simples para isso. Trata-se da via algébrica, que o próprio Fisher me
indicou com seu exemplo. Já no início antecipei essa prova algébrica, podendo agora
voltar novamente a ela com tanto mais razão, depois de todos esses esclarecimentos
e demonstrações especiais. Ela ilustra, de uma forma que tem validade geral, que,
quaisquer que sejam os u, isto é, as utilidades marginais, o mês de trabalho mai~
antigo sempre tem de apre'>entar um valor maior do produto do que o mês de tra­
balho mais recente, desde que, de acordo com minha tese, aumentem constante­
mente os números indicadores da produtividade de métodos de produção mais longos.
Naturalmente, sei muito bem que Fisher tem a levantar, contra muita coisa que
acabo de dizer aqui e disse anteriormente, outras objeções, além das levantadas em
sua "primeira etapa"; em particular, sei que contra a inversão que acabo de fazer
de sua demonstração algébrica tem pronto mais um argumento, que necessariamente
terá de introduzir-nos profundamente nas últimas sutilezas de um problema que já grandezc. -.i
em si é bem difícil e sutil. Mas isso diz respeito somente a essas outras etapas poste­ unidade,: ~~
riores de sua crítica global, cujo fundamento examinaremos na devida ordem e no importa:~ =' :
devido lugar. Aqui, o que me interessava era apenas defender-me, digamos assim, mo, isto 2. e
contra uma espécie de assalto lógico que, a meu ver, Fisher tentou na primeira eta­ bens pre':~,
pa, tirando já nela conclusões precipitadas e antecipadas. 44 Ser§. ::: j
dutividac.:: ~
2) § 5 de Físher indepen é':::-i
dos oUI~=': ;
Nessa sua "segunda etapa", Fisher emprega o seguinte método de refutação, res­ ao que c.::!
pectivamente sua maneira de concluir. Elimina totalmente da suposição de minhas se encar.2;i
tabelas, fornecidas a título de exemplo, a influência dos dois "primeiros motivos" o precisão ::" I
que é feito supondo que o número indicador da "utilidade marginal reduzida" seja flita clarc.::-.':
plenamente igual para todos os anos, a saber, 5. Com isso chega ao Quadro lO. um pm;::
Fisher comenta esse quadro primeiro nos seguintes termos: Cor:-. ".-:
silogísticc. ­
"Os números que aparecem nas colunas indicadoras do valor são aqui absolutamente festo qU2 '"
iguais para 1888 e 1889; por isso, também o máximo da primeira coluna, se é que aqui não pUé2~ ;
há um máximo, deve ser igual ao máximo da segunda coluna".
caso de 2':--':;
A seguir complementa numericamente essa tabela - complementação que é é um me::'.'
exc/usiL':; -.- i
interessante e ao mesmo tempo coincide com o real. Com efeito, observa, com ple­
no acerto, que mesmo em minha hipótese da produtividade maior de métodos de valência . =-:
produção mais longos o produto de uma unidade de trabalho nunca pode aumen­ temos ac'~
tar até o infinito, senão que no máximo pode aproximar-se assintoticamente de uma trata-se é"
deparar ~ : :

43 Talvez alguém possa pensar que os números desse exemplo representariam apenas um caso excepcional raro e elabo­ ~5 Ver ac: - ~ =-,
4b É clare -=_~ ::
rado de modo particularmente artificial. Seria um erro_ Com efeito, o que interessa não são as cifras concretas, mas o tipo;
ora, a ocorrência de um tipo de utilidade marginal que não decresce de forma contínua. mas permanece estacionária duto, se..--.:::: =-:­
da argu::-",,--;:.~
por algum tempo ou por longo tempo. e só decresce em períodos mais remotos. é tão freqüente quanto importante. Com
efeito, em todas as pessoas que poupam o principal de seu patrimônio para o futuro, os fatores do primeiro e do segundo 47 Op. CC "
4H É assl"":"" :_~
motivo se mesclam e se compensam de tal forma que. no que tange precisamente a esses dois motivos, deles resultaria
para um futuro próximo, ou pelo menos não excessivamente remoto - isto é, na medida em que não for excessivamente as etapas
"lhe fac' .
improvável que ainda estejam vivas -, equjualência entre os bens presentes e os futuros, conforme expus em minha Teoria
will mar:J>;: -: :-­
Positiua, p. 283, nota 23, bem como na p. 319 et seqs. No caso de tais pessoas e ce tais situações. somente o acréscimo
da prefer~- - :: :.
do terceiro motivo é um elemento decisivo para que ocorra superioridade de bens presentes sobre os futuros
"os dois :::- - .:. ~
44 O leitor atento não terá dificuldade em reconhecer nela, apesar da mudança nas circunstâncias secundárias e na for­
mulação dialética, o mesmo disparate lógico que tivemos de constatar acima, à p. .195_et seqs., contra Bortkiewicz
EXCURSO XII 219

QUADRO 10 TABELA VII


ê5 :2monstram
~c:..::::o em pre­ Um mês de trabalho
~:: :::xorrência
Disponível no ano de 1888 Disponível no ano de 1889
produz produz
:~::': ':empre di­ Para o exercício
- ::::-:-.inho mais econômico de Unidades Soma Unidades Soma
é:::-.: Fisher me Utilidade Utilidade
do do do do
marginal marginal
. :: : ::2ndo agora produto valor produto valor
2'::õõ,ecimentos 1888 100 5 500 - 5 -

::: =i' geral, que, 1889 200 5 1000 100 5 500


[2 :::-::'::lalho mais 1890 280 5 1 400 200 5 1 000
_i' :: :':lês de tra­ 1891 350 5 1 750 280 5 1400
r:i' :-:-. constante­ 1892 400 5 2000 350 5 1 750
ç~:: :':lais longos. 1893 440 5 2200 400 5 2000
- _c::: coisa que 1894 470 5 2350 440 5 2200
:"i'.antadas em 1895 500 5 2500 470 5 2350
, :: :::::0 de fazer 2500
=-i' :2,:sariamente
::: :.2ma que já
grandeza máxima finita. 45 Se, por exemplo, esse máximo finito da série for 1 000
ê': i':apas poste­
unidades do produto, Fisher acredita poder concluir que "um mês de trabalho, não
.::::: :::>rdem e no
importando se está disponível no ano de 1888 ou 1889, terá o mesmo valor máxi­
::;:::mos assim,
mo, isto é, exatamente 1 000,46 e não existirá nenhuma 'superioridade técnica' dos
- ': ::rimeira eta­
bens presentes em relação aos futuros, qualquer que ela seja".47
Será que essas afirmações contêm uma refutação de minha tese de que a pro­
dutividade maior dos métodos de produção capitalista constitui um terceiro motivo
independente da superioridade de valor dos bens presentes, motivo este diferente
dos outros dois? Obviamente é esta a convicção de Fisher. Contudo, similarmente
__ :i':·.ltação, res­
ao que acontece na "primeira etapa", também aqui é mais a impressão global que
5- :~: de minhas
se encarrega de gerar essa convicção, como se o autor tivesse pensado em unir com
.= :: ': motivos" o
precisão pedante um elo ao outro de seu silogismo, até ver-se que o último elo con­
ê' :2:uzida" seja
f1ita claramente com minha tese. E, no entanto, também aqui teria sido muito útil
:::: Quadro 10. um pouco de pedantismo da parte dele.
Com efeito, se fizermos, em lugar de Fisher, a tentativa de completar sua cadeia
silogística ~ que ele mesmo mais insinua do que explicitamente efetua ~, é mani­
==,:olutamente festo que ela pressupõe o seguinte elo lógico intermediário: se meu terceiro motivo
.-:: ,'" é que aqui
não puder ser responsabilizado pela superioridade de valor dos bens presentes no
caso de estarem ausentes os dois outros motivos, isso é uma prova de que ele não
-:-i'-:ação que é é um motivo autônomo, existente além deles, senão que o efeito deve ser atribuído
exclusivamente aos dois outros motivos. 48 Em outros termos, Fisher postula a equi­
com ple­
:":i' :'.a..
::2 :':létodos de valência lógica entre "sem mim, não" e "exclusivamente por causa de mim". Ora,
:::: :::Jde aumen­ temos aqui novamente uma pseudo-conclusão, tirada de premissas insuficientes; aliás,
:-=~2:1te de uma trata-se de uma pseudo-conclusão baseada num protótipo com que costumamos
deparar a cada passo no descuidado modo de pensar e de falar do dia d dia, mas

::.: raro e elabo­ ~5 Ver acima. Excurso I. p. 20. nota 26.

-- ~~~:c.~, mas o tipo: 4b É claro que. ao falar de '·1 he same maximum value", Fisher deveria ter Indicado a cifra 5 000 (1 000 unidades de pro­

:~~- .:: - -;ó-:e estacionária duto, sendo 5 a utilidade marginal reduzida) e não 1000. Entretanto. isso não tem nenhuma importância para o curso

~::·ortante. Com da argumentação.

_. - -:: :-:::' e do segundo 47 Op cit., p. 66 et seqs.

: ~ :::2ies resultaria, 4H É assim que Físher caracteriza" repetidas vezes e com a máxima clareza seu tema. que permanece o mesmo em todas

- ~cessivamente as elapas "( .. 1 thal these elemenls, and these alone, produce the advanlage of present over lhe luture goods· (p. 62):

~ -::~ minha Teoria "lhe facl is Ihal lhe only reason (para a superioridade de valor do mês de trabalho presente) is Ihal to-days investment

- -ê -.:2 o acréscimo will mature earlier...'· (p. 70-71); a assim chamada superioridade técnica deriva "toda a sua força" ("derives aI! it5 force'")

. _ :'-.lTOS. da preferência de um prazer anterior em relação a um prazer posterior: o pretenso "terceiro motivo" não é outra coisa senão

: _- =i::"ias e na for­ "os dois primeiros motivos em forma disfarçada" ("is only the first two circunstances in disguise", p. 71).

-~ 3cntkiewicz.
22C' TEORIA POSITIVA DO CAPITAL

:lem por isso ele deixa de constituir o tipo de uma forma de pensar descuidada e ser um :-:-. =~',
;ncorreta. primeiro, :-:- ::
Vejamos primeiro um exemplo. Um convalescente, em sua primeira saída de pendente ::::
casa, passeia por uma rua, na qual se quebra um pedaço de moldura do teto de mente de :-:-.':
uma casa, e a moldura que cai o mata. Não há dúvida de que a pessoa não teria autôno~:: :: =
sido morta se tivesse adiado sua saída de casa - saída que talvez tenha ocorrido que dispe==.
cedo demais ou prematuramente, levando-se em conta seu estado de convalescên­ Estra- '-."
cia; ora, nada mais natural, para o modo de pensar e falar vulgar, do que tecer o nha tese 0 =::
seguinte comentário ao fato: "o que matou o homem foi exclusivamente sua teimo­ dentes e :_ô::i
sia; se, como}odos aconselhavam, ele tivesse adiado sua saída de casa, hoje ainda correspo:-. ::"
estaria vivo". E claro que esse comentário é objetivo e logicamente falso, no tocante dada sitL;e::~:
à palavra "exclusivamente". lncorrendo num exagero dialético, em vez de afirmar que dificado;e 'ô =:
a saída prematura de casa exerceu sobre o efeito uma influência indispensável para de valor:: =,
este último, afirma uma coisa bem diferente, a saber, que a saída de casa, sozinha, Faça:-:- =ô
produziu todo o efeito. Igualmente óbvio é que o fato de a saída prematura de casa sível, de :::,,,,
ser indispensável para a ocorrência do acontecido não constitui fundamento lógico e seguncc :-:-:
sufiente para negar à queda da moldura a função de uma causa no mínimo paritá­ anos - ,:" ~
ria e independente do ocorrido, juntamente com a saída prematura: com toda cer­ do prod:..::= ::
teza, não se pode dizer que a pedra que caiu seja apenas "uma outra forma da saída subseqüe:-.:"s
prematura" do convalescente. deria à s':_,,:.
Pois bem, a argumentação de Fisher baseia-se exatamente no mesmo exagero cessidade e ~
dialético, cometendo o mesmo salto lógico. Quero primeiro preparar ainda melhor uma forte ,e::
a compreensão disso, com um segundo exemplo, que pela sua característica se apro­ sado. AIÉ:-:-. .::J
xima ainda mais de nosso caso. Suponhamos que um canhão de assédio dispare, sário pare:: 5­
mediante uma carga de pólvora, granadas explosivas com carga de melinita contra o indivíó: 3
as trincheiras inimigas. As granadas que acertam e que ao acertarem explodem, pro­ temente :...:e
duzem um considerável efeito de tiro. Perguntemos agora pelas causas desse efeito ano anor:-:-::..
de tiro. Ninguém há de duvidar de que nesse caso a carga de melinita das grana­ se nivele ~ .:.
das, juntamente com a carga de pólvora do canhão - que teria dado o impulso partimos" ::>
às granadas e, mesmo sem a explosão, já teria produzido determinado efeito de tiro, turbados e =:
se bem que menor - tem de ser qualificada paritariamente como uma causa par­ está assoe:::',
cial autônoma do efeito de tiro efetivamente ocorrido, e que a enumeração das cau­ rem erro:-.e:::­
sas parciais desse efeito de tiro evidentemente seria incorreta e incompleta se sagem c;...:"
quiséssemos mencionar apenas a carga de pólvora do canhão. E nesse juízo certa­ concepçce, :
mente ninguém quererá deixar-se enganar pela objeção dialética de que sem a car­ Veja:-:-.=~.
ga de pólvora a granada simplesmente não teria explodido na trincheira inimiga, dos dois -:::-­
e portanto o referido efeito de tiro teria deixado de ocorrer, concluindo supostamen­ "terceiro ~. =:::
te daí que todo o efeito de tiro deva ser atribuído exclusivamente à carga de pólvo­ esqueme ::e::;
ra, alegando que a pretensa segunda causa independente - a "carga de rnelinita" dução ir: é';,e:
- seria apenas "a primeira causa disfarçada". ríodo de ::,=.::
Ora, exatamente tão insuficiente e enganadora é a premissa de Fisher em rela­ porém rr:'''-:2:
ção à conclusão que tira dela. Mesmo que fosse realmente verdade que simples­ diferente ,,_:
mente não pode haver uma influência de meu terceiro motivo sem que ao mesmo período:'e ~l
tempo ou antes atue um dos dois outros motivos - disso falaremos ainda, ao tra­ mendadc :: =1
tarmos da "quarta etapa" de Fisher -, de forma alguma seguiria disso que meu ter­ de escol:--.~ e
ceiro motivo não é uma "causa independente" da superioridade do valor de bens determir'i"c::
presentes e que ele pode estar ausente numa enumeração correta e completa ­ um proc...::=
como a que eu empreendi - dos motivos parciais da referida ocorrência. Também
aqui a demonstração de Fisher é errônea. Na melhor das hipóteses ela poderia pro­
var que os dois primeiros motivos são indispensáveis, mas de modo algum é capaz
de provar que o terceiro motivo não tem influência: este ainda pode continuar a "1') Op Clt. -:: -­
EXCURSO XII 221

~ [23cuidada e ser um motivo parcial tão atuante e tão autônomo do efeito total quanto os dois
primeiros motivos - exatamente como a moldura caída foi uma causa parcial inde­
'--2,~:: saída de pendente da morte do convalescente, juntamente com sua saída prematura e exata­
: _-:: -::0 teto de mente da mesma forma que a carga de melinita da granada foi uma causa parcial
.c =: =: =:: não teria autônoma do efeito de tiro ocorrido, juntamente com a carga de pólvora do canhão
:-:~,,-,3. ocorrido que disparou as granadas,
:2 =:::walescên­ Estranha-me realmente que Fisher, em seu diligente empenho de testar se mi­
: = :ue tecer o nha tese é correta, tenha efetuado, pela ordem, várias verificações falsas e inconclu­
.:: -:2 sua teimo­ dentes e justamente não lhe ocorreu fazer a mais natural de todas, que realmente
'ê;o:: ~oje ainda corresponde ao caso: ou seja. investigar se o acréscimo de meu terceiro motivo a
::.0 = :lO tocante dada situação, respectivamente sua não presença, exerce ou não uma influência mo­
: :2 ?firmar que dificadora sobre a ocorrência - respectivamente sobre o grau - da superioridade
==::: -: :lsável para de valor dos bens presentes.
: =::3a. sozinha, Façamos essa comprovação com base num exemplo isento, na medida do pos­
c::-:-,:::ura de casa sível, de todas as fontes de erro. Suponhamos que o estado dos fatores do "primeiro
=::.:-:-:ento lógico e segundo motivo" seja tal, por sua natureza, que dele resulte para os primeiros quatro
~,::-:;mo paritá­ anos - de 1888 até 1891 - um estado estável da utilidade marginal da unidade
=:::TI toda cer­ do produto, de 5, para o ano de 1892, uma utilidade marginal de 8 e para os anos
, ' : ::na da saída subseqüentes, novamente, uma utilidade marginal de 5, Essa hipótese correspon­
deria à situação seguinte: alguém, em virtude das condições externas, tem uma ne­
~,-:;;:TlO exagero cessidade e uma renda estáveis, porém essa renda. num ano no meio da série, sofre
:: ::,:lda melhor uma forte redução pelo fato de no referido ano vencer uma dívida contraída no pas­
t2~3~ca se apro­ sado. Além disso, quero supor que a renda estável atinge apenas o mínimo neces­
::0;;2:J.io dispare, sário para a sobrevivência. Com esse traço excluo que nos anos mais bem providos
~21;nita contra o indivíduo adote medidas de poupança para o pagamento da dívida, conseqüen·
-:'.:J:odem, pro­ temente que as condições de suprimento dos anos normais se nivelem com as do
l:-::;; iesse efeito ano anormal, que em decorrência também a utilidade marginal da unidade de bens
:.:-::: das grana­ se nivele e, finalmente, por um lado, se suspenda novamente a premissa da qual
::::') o impulso partimos e, por outro, em virtude da introdução de efeitos secundários sejam per­
== 2:eito de tiro, turbados e obscurecidos os efeitos primários de determinada situação, com o que
~~:-,G causa par· está associado também certo perigo de efeitos resultantes do processo global a se­
.,:;:::.cão das cau­ rem erroneamente considerados como causas do processo. Aliás, seja dito de pas­
-~ompleta se sagem que justamente esse erro parece haver influenciado funestamente as
..: ;;02 ,iuízo certa­ concepções de Fisher sobre nosso tema .
, :, _e sem a car­ Vejamos, portanto, como ficam as coisas se for considerado como fixo o estado
- =~,eira inimiga, dos dois "primeiros motivos", da maneira descrita, variando os dados referentes ao
: = oJpostamen­ "terceiro motivo": suponhamos primeiro, na Tabela I que segue, e na linha de meu
::::;0. de pólvo­ esquema permanente, que ocorra tanto a produtividade maior de métodos de pro­
:-;:::. de rnelinita", dução indiretos mais longos quanto a liberdade total de escolha no tocante ao pe­
ríodo de produção adotado; na Tabela II demos como excluída a produtividade maior,
:=o~er em rela­ porém mantendo-se a liberdade de escolha entre métodos de produção de duração
[2 :ue simples­ diferente (supondo um produto de 300 unidades, que permanece igual para cada
:..:e ao mesmo período de produção); e, finalmente, na Tabela III (na linha de uma proposta reco­
:3 :::":lda, ao tra­ mendada por Bortkiewicz49 ), suponhamos que esteja também excluída a liberdade
=-= :Je meu ter­ de escolha e que, em virtude de condições técnicas, se esteja obrigado a adotar
c.â:or de bens determinada duração do período de produção, por exemplo de cinco anos, com
~ -: completa ­ um produto de 300 unidades.
r~~,:::a. Também
..::::' ;Joderia pro­
: ::,;um é capaz
:·:-:continuar a ,y Op. cit., p. 956.
222 TEORIA POSITIVA DO CAPITAL

CL'ADRO 11 TABELA I
Se 3
Um mês de trabalho obriga,::"':
um de e:~
Disponível no ano de 1888 Disponível no ano de 1889
produz produz
meiro e::.;
Para o exercício 1 500, .:: 1
econômico de Unidades
Utilidade
Soma Unidades Utilidade Soma ao passe
do do do do mero ::-:..i
marginal valor marginal valor
produto produto indicac=~
1888 100 5 500 - 5 - las esp.::j
1889 200 5 1 000 100 5 500 OCs.?:
1890 280 5 1400 200 5 1 000 tivos·. .:: ~
1891 350 5 1 750 280 5 1400 balho P:-2
1892 400 8 3200 350 5 2800 valor ê-::J
1893 440 5 2200 400 5 2000' Tabela L
1894 470 5 2350 440 5 2200 ríodo C2 .
1895 500 5 2500 470 5 2350 ora supe::­
dade ce '\
quando. ~
QUADRO 12 TABELA II produt:·.:l
Um mês de trabalho vo e nêc i
ca a su:: 1
Disponível no ano de 1888 Disponível no ano de 1889 não são (
produz produz poderr. ;.
Para o exercício
econômico de Unidades Utilidade Soma Unidades Soma
perior.c::(
do Utilidade aos ma:s
do marginal do marginal do
produto valor produto valor Ka:..J
via, ao ::1
1888 300 5 1500 ~

5 -
já tamc-2;
1889 300 5 1 500 300 5 1500
-, possC'
1890 300 5 1500 300 5 1500
1891 300 1500 1500
gina 2::,
5 300 5
1892 300 8 2400 300 8 2400 estado c:
1893 300 5 1500 300 5 1 500 sariame:-:l
1894 300 5 1500 300 5 1 500 clusiva:-:-e
1895 300 5 1500 300 5 1500 de proCJl
meira a;::r
contra-o:'
QUADRO 13 TABELA III demos 2JI
se ide:".:ii
Um mês de trabalho vimos S2'l
Disponível no ano de 1888 Disponível no ano de 1889 Co:::
produz produz gunda s21
Para o exercício quer q:':2
econômico de Unidades Utilidade Soma Unidades Soma em grc-::l
do do Utilidade do
marginal do marginal
produto valor produto valor de trab::
termo CJ
1888 - 5 - - 5 -
um P :-:-.~
1889 - 5 - - 5 - P aume:-.1
1890 -
5 - - 5 - mente ...::1
1891 - 5 ~-
-
5 - res que]
1892 - 8 - - 8 -
P3 U.; Cê !
1893 300 5 1500 - 5 -
1894 - 5 - 300 5 1 500
1895 - 5 - - 5 -
50 Ver :::_:~:.
EXCURSO XII 223

Se, alterando as premissas da Tabela m, pressupuséssemos como estritamente


obrigatório um período de produção de três ou um de quatro anos, em lugar de
um de cinco anos, resultaria (na hipótese de um produto de 300 unidades), no pri­
11':' de 1889 meiro caso, para o mês de trabalho de 1888, um número indicador do valor, de
i.Z
1 500, e para o mês de trabalho de 1889 um número indicador do valor, de 2 400,
Soma ao passo que no segundo caso teríamos, para o mês de trabalho de 1888, um nú­
IC"
'l.ê_
do mero indicador do valor, de 2 400, e para o mês de trabalho de 1889 um número
valor indicador do valor, de 1 500, o que se pode ver facilmente mesmo sem fazer tabe­
las especiais.
500 Observamos, portanto, o seguinte: sendo igualo estado dos dois "primeiros mo­
1000 tivos", e nos pressupostos da Tabela I, temos superioridade de valor do mês de tra­
1400 balho presente (o mais antigo); nos pressupostos da Tabela 11, temos igualdade de
:; 800 valor entre o mês de trabalho mais antigo e o mais recente; nos pressupostos da
2000 Tabela m, de acordo com a variação da suposição concreta sobre a duração do pe­
2200 ríodo de produção a ser obrigatoriamente adotado. temos ora igualdade de vé;llor.
2350 ora superioridade de valor do mês de trabalho mais antigo, ora também superiori­
dade de valor do mês de trabalho mais recente. Disso se infere com evidência que,
quando, nas pressuposições da Tabela I, ocorre a superioridade de valor dos meios
produtivos presentes, isso se deve necessariamente à atuação de meu terceiro moti­
vo e não à atuação dos dois primeiros motivos - os quais, sendo totalmente idênti­
ca a sua própria ação, nas pressuposições alteradas no tocante ao terceiro motivo,
I!::' de 1889 não são capazes de gerar a referida superioridade de valor, ou pelo menos não a
iLZ podem gerar constantemente, e conforme as circunstâncias podem até gerar a su­
Soma
perioridade de valor oposta, isto é, dos bens produtivos mais recentes em relação
":t' do aos mais antigos.
P:d, valor Naturalmente, também essas demonstrações poderiam ser multiplicadas. Toda­
via, ao invés de acumular outros exemplos - aliás, podemos considerar como tal
1500 I já também a demonstração feita acima. nas Tabelas ma VI da página 216 et seqs.
1 500
1500
i -, posso novamente voltar à minha demonstração algébrica, formulada acima (pá­
gina 211) de maneira bem geral, com seu resultado, a saber, qualquer que seja o
2400
estado dos dois primeiros motivos (da utilidade marginal u), tem de ocorrer neces­

I
1500 sariamente a superioridade de valor do mês de trabalho mais antigo, bastando ex­
1500 clusivamente para isso que os p (números indicadores da produtividade de métodos
1500 de produção indiretos mais longos) aumentem de modo contínuo. Em minha pri­
meira apresentação dessa prova tive de fazer ainda uma ressalva, em razão de uma
contra-objeção que eu ainda teria de esperar da parte de Fisher. 50 A esta altura po­
demos examinar também o fundamento dessa contra-objeção, pois seu conteúdo
se identifica com a objeção da "segunda etapa" de Fisher, que nesse meio tempo
.vimos ser uma pseudoconclusão.
il:~,_, de 1889 Com efeito, minha demonstração algébrica argumenta assim: o máximo da se­
lU gunda série (as cifras indicadoras do valor para o ano de trabalho de 1889), qual­
quer que seja o termo em que ele possa cair, deve necessariamente ser sobrepujado,
Soma em grandeza, pelo máximo da primeira série (cifras indicadoras do valor para o ano
iCE do
rr<J}
valor
de trabalho de 1888), porque esta, pelas pressuposições feitas, tem de conter um
termo que representa o produto da multiplicação de um u de grandeza igual por
um p maior. Contra isso a argumentação de Fisher tende a objetar o seguinte. Se
p aumentar continuamente, a segunda série só pode ter um máximo - respectiva­
mente um termo anterior da série só pode ser maior do que os elementos posterio­
res que lhe seguem - se os u decrescerem a partir de certo ponto: o elemento
P3 U 4 da segunda série, por exemplo, só pode ter um máximo - portanto, só po­

1500
,
50 Ver supra. p. 217
224 TEORIA POSITIVA DO CAPITAL

de ser maior do que o termo subseqüente P4 U 5 da mesma série - se U 5 for me· gamento. ~:-:l
nor do que u 4, já que o outro fator dos produtos comparados, isto é, P4, é maior igual.
do que P3' Por conseguinte, a presença de um máximo final no decurso da segun­ As d..:::~
da série já pressupõe, segundo Fisher, um decréscimo dos u, ou seja, a presença No caso. :: "
de um dos dois "primeiros motivos" - o que constituiria uma prova de que a supe­ B funda-~~ :
rioridade de valor não se deve à produtividade maior dos métodos de produção lugar de p::~
indiretos mais longos, mas exclusivamente aos dois primeiros motivos. 51 ferida me.'~ :J
Ora, isso é exatamente a mesma pseudoconclusão que atribuir a morte do con­ e a molé',,:::::,
valescente exclusivamente à sua saída prematura de casa, ou atribuir o efeito de melinita éG..~ ,
tiro da granada carregada com melinita exclusivamente à carga de pólvora do ca­ de acorde c:
nhão: é uma confusão entre o "sem mim, não" e o "exclusivamente por causa de sa reflexãc J
mim". ou então, para exprimir-nos em linguagem bem escolar, uma confusão e.ntre caso conc:-~1
uma oposição apenas contrária e uma oposição contraditória. As possibilidades não se as CO!.::'.;,
s" esgotam nas duas alternativas -seguintes: um efeito só pode ocorrer ou sem que' em aber:':: "
surja determinado fato ou exclusivamente em virtude desse fato; se assim fosse real­ três quin:::~
mente, da não-ocorrência da primeira alternativa se poderia sem mais concluir para como me:::','
a ocorrência da segunda. A verdade é que existe também a terceira possibilidade: Viena CO""-:;'
que um efeito não possa ocorrer sem que surja determinado fato, mas nem por isso em Vien:: ::;
ele ocorre exclusivamente em virtude desse fato, podendo ser gerado por esse fato base no ::-2:
em conjunto com um outro fato que ainda sobrevém; ora, as conclusões precipita­ mais do ::":2
das de Fisher pulam tranqüilamente por cima dessa terceira possibilidade. tivo deci~:·. ::
Não quero, porém, responder à dialética abstrata com a qual meu insigne opo­ mento \":2:-';
nente opera contra mim, apenas com outra dialética abstrata - se bem que, como me prop:::-;:-:
espero, com dialética abstrata correta; quero expor a questão ao leitor também de com ba~" -.'
um modo mais concreto, que facilite o seu julgamento. Suponhamos que me ofere­ Ore.. :: ;
çam um crédito - denominemo-lo crédito A - que me dá o direito de adquirir, da quar::::::'3
à vontade, ou três quintais de trigo numa propriedade rural argentina ou dois quin­ em nosSê '::'1
tais de trigo em Viena, onde moro. Oferecem-me também um segundo crédito, que quantida:::~ ,
me daria o direito de adquirir três quintais de trigo em Viena. Sem dúvida, darei damos ". ::.5
mais valor ao crédito 13, preferindo adquirir este a adquidr o crédito A. E por quê? abatidas. ::: J
Quero responder a essa pergunta, primeiro, com dialética unilateral conscientemen­ lhe atrib-..:~~~
te errônea, e o farei sucessivamente em sentido oposto, com o mesmo modo de ou só c,,:--.c
concluir. anos. pc~~ j
Primeira resposta: Somente porque prefiro Viena como lugar de pagamento. que hoi" :~l
Pois, se para mim fosse totalmente indiferente receber três quintais de trigo em Vie­ resta de ~ =~
na ou na Argentina, também os dois créditos teriam o mesmo valor em minha ava­ a floreScê :-:-,.
liação. deira. e l:: :-"i
Segunda resposta: Somente porque o crédito 13 me proporciona. para Viena, ser emV~;i
uma quantidade maior do que o cheque A, e eu prefiro a quantidade maior à quan­ com a ".2~:
tidade menor. Pois. se os dois créditos me oferecessem, para Viena, a mesma quan­ exerce u::-::
tidade de trigo - por exemplo, se também o crédito B só me proporcionasse dois o vinho '.~J
quintais de trigo, ou se também o crédito A me proporcionasse três quintais de trigo por Fisn~:
em Viena - ou então se, por algum motivo qualquer, eu não preferisse a quanti­ exclusi\'ê::-."
dade maior - por exemplo, porque em Viena só consigo um emprego útil para
dois quintais de trigo, e um terceiro quintal seria para mim totalmente inaplicável 3) § 6 02 .=-j
e destituído de utilidade -, nesse caso, apesar de preferir Viena como lugar de pa-
Nes:~ ;::
nando ::~ y.
SI Fisher não expôs detalhadamente essa contra-objeção em suas pubiicações, mas a insinuou de maneira suficientemen" to no e:,'..:::l i
te inteligível para entendidos, mediante as cláusulas, expressas reiteradamente. "if there be a maxlfnum" (op_ cit p. 66).
"Qssuming of course that maxima exist" (p_ 355). Aliás. o Praf. Fisher teve a gentileza de orientar-me sobre essa sua concep­ que à~.22
ção, por ocasião de uma correspondência epistolar entre nós dois. Ver acima. Excurso IV, p. 68. nota 11. produto ::,;,

EXCURSO XII 225

.:: ~,
for me· gamento, em minha avaliação também aqui os dois créditos teriam valor inteiramente
é maior igual.
s: =" segun­ As duas conclusões são falsas, por ser unilateral a dialética que lhes está à base.
= ;:>resença No caso, a verdade bem evidente é a seguinte: a superioridade de valor do crédito
'=_easupe­ B funda-se na ocorrência paritária dos dois motivos, a saber, prefiro Viena como
:" :rodução lugar de pagamento, e o crédito B me oferece para esssa praça de pagamento pre­
>~ ferida mais do que o crédito A - exatamente da mesma forma que a saída de casa
'::-:edocon­ e a moldura que caiu, respectivamente a carga de pólvora do canhã9 e a carga de
: : efeito de melinita das granadas foram causas paritárias dos efeitos em questão. E possível que,
: .. :ra do ca­ de acordo com a natureza peculiar da ocasião em que é feita nossa análise, em nos­
:.: r causa de sa reflexão ocupe o primeiro lugar ora um dos dois motivos, ora o outro e que, no
)_c~são entre caso concreto, o motivo "decisivo" seja ora um, ora outro dos dois. Por exemplo,
c_=ades não se as condições fossem tais que, dentro das duas alternativas que o crédito A deixa
. : _ sem que em aberto, eu desse a preferência à primeira delas. e portanto desse mais valor a
L:". :osse real­ três quintais de trigo na Argentina do que a dois em Viena, nesse caso apareceria
c:: :-:ciuir para como motivo decisivo para a superioridade de valor do crédito B a preferência de
r::.: ~s:bilidade: Viena como praça de pagamento: prefiro o crédito B porque prefiro os três quintais
-,,:-:-: por isso em Viena aos três quintais na Argentina, que eu teria escolhido e adquirido com
;:: : r esse fato base no crédito A. Ao contrário, se já dois quintais em Viena ~lessem para mim
[.,:s :Jrecipita­ mais do que três quintais na Argentina, em minha reflexão se destacaria como mo­
(==::e. tivo decisivo a superioridade quantitativa que o crédito B tem para o lugar de paga­
i -.~'gne opo­ mento Viena: prefiro o crédito B porque prefiro os três quintais em Viena, que ele
=-:-. =ue. como me proporciona, aos dois quintais em Viena. que eu teria escolhido e adquirido
ir :=':-:lbém de com base no crédito A. Espero que isso seja suficientemente claro.
:_" :-:le ofere­ Ora, o que acontece com a diferença de lugar. de um lado, e com o aumento
: =2 adquirir. da quantidade para o lugar preferido, de outro. exatamente a mesma coisa ocorre,
: _ ::ois quin­ em nossa questão, com a mera diferença de tempo, de um lado, e o aumento da
.: ::édito, que quantidade do produto para o período de tempo preferido, do outro. Por que motivo
: >:da, darei damos mais valor a uma floresta de cem anos. na qual as árvores ainda não foram
~_ ~ por quê? abatidas, do que a uma de oitenta anos, nas mesmas condições? Certamente não
cs::entemen­ lhe atribuiríamos valor maior se para nós fosse totalmente indiferente obter já hoje
=-=: modo de ou só dentro de vinte anos a quantidade de madeira contida na floresta de 100
anos, pois decorridos os vinte anos mencionados, terá cem anos também a floresta
2 .= :gamento. que hoje tem oitenta. Ora, com a mesma certeza também não atribuiríamos à flo­
~.;O em Vie­ resta de 100 anos mais valor, se já hoje ela não contivesse mais madeira do que
r:-. r:-.:nha ava­ a floresta mais nova, de 80 anos, ou seja, se, em razão de sua quantidade de ma­
deira, ela não "fosse tecnicamente superior" à floresta mais nova, podendo, pois,
, :e.ra Viena, ser empregada opcionalmente num período anterior, por exémplo no presente. E
~ ::or à quan­ com a mesma certeza, na avaliação superior de um vinho velho bem conservado,
:-.,,~ma quan­ exerce uma influência - que não pode s~mplesmente se negada - o fato de que
,c:: ::iasse dois o vinho velho é melhor do que o novo! E um equívoco dialético a tentativa, feita
":-.:e.:s de trigo por Fisher, de atribuir a superioridade técnica dos meios produtivos mais antigos
:_õ~e a quanti­ exclusivamente a fatores determinantes de outro gênero.
r2;c útil para
-.:2 ':-laplicável 3) § 6 de Fisher
:..:gar de pa­
Neste parágrafo Fisher tenta ilustrar ainda mais sua pressumida refutação, alter­
nando as premissas reais de minhas tabelas freqüentemente utilizadas, em um pon­
-~ ~..:!icientemen­ to no qual acredita poder mudá-las para ser fiel à realidade: pensa ele, com efeito,
·c cit .. p. 66).
~ ~~~ sua concep- que às vezes, a partir de determinado ponto, diminui novamente a quantidade de
produto que se pode conseguir prolongando ainda mais o período de produção.
226 TEORIA POSITIVA DO CAPITAL
dos no ane
Operando com essa suposição, chega ao diagrama seguinte: value in 1~
- portamc,
QUADRO 14 as forças ;:::1
anos, que 21
Produto de um mês de trabalho disponível deixar de ê:J
no ano de ção ainda;
Para o exercício
econômico de 1890 1891 1892 pressupos:;1
1888 1889
refutação e
1888 100 - - - - posiciona:-_ :i
1889 200 100 - - - de um fu:-_j
1890 280 200 100 - -
c: todos os ;:':-t
1891 350 280 200 100 - ::>
i5: da prodL:~-.l
1892 400 350 280 200 100 Ql
o..
, moeu teree:.'"
1893 440 400 350 280 200 <1l
'J> de fato. pe:-r
1894 470 440 400 350 280 o..
o mente cor.:
1895 500 470 440 400 350 .,
~ dade tota: :.
1896 490 500 470 440 400 o não porqc.:e
o..
1897 480 490 500 470 440 c:
te, ao lace : :
1898 460 480 490 500 470 Õ
terceiro r.::~
1899 430 460 480 490 500
460 480 490
Fisher - : I
jl)()(J 410 430
"exclusiL'c ....
tão erraca ~
melhor e :-:-.
Se nessa hipótese excluirmos, como no § anterior, a atuação dos dois primeiros deu des;:.:: -,'
motivos, fazendo com que a utilidade marginal da unidade de produto seja cons­ to pela r.: :,'
tantemente 5, chega-se a uma tabela que apresenta como "cifras indicadoras do va­ Fisher: ":\:~
lor" as cifras da presente tabela multiplicadas por 5, sendo que como valor máximo lescente. e::J
para todos os cinco meses de trabalho comparados, de 1888 a 1892, aparece uni­ xistente c ;J
formemente 2 500 como cifra indicadora do valor. Fisher acompanha esse resultado a conco~::c!
com o seguinte comentário textual: Inec,-2
her terrr:::-.a
"Nossa conclusão é a de que, se eliminarmos os dois primeiros motivos, eliminamos já tirada ;::<J
totalmente também a superioridade dos bens presentes em relação aos futuros, e que
portanto se demonstra inexistente o pretenso terceiro motivo da superioridade técnica".52

Quanto a isso, tenho a observar o seguinte: rnc. e,s:;i


Primeiramente, não creio que Fisher tenha base para aduzir a vida real para ar:c ~~
demonstrar que, aumentando a duração do período de produção, a quantidade de pré2:-::-ê
produto obtida com a unidade de meios de produção tende positivamente a dimi­ tra: ::::-.J
nuir de novo a partir de determinado ponto.53 Mas não pretendo insistir nisso, pois a:é -= =:
para as conclusões de Fisher basta apenas que cesse de ocorrer, a partir de um mo­ arr..=:..J'
a:-::ô ~
mento qualquer, um ulterior aumento da quantidade de produto - possibilidade
que em princípio admiti sem mais, se bem que a considero muito remota. 54
Se, porém - como certamente se pode fazer numa hipótese aduzida a título
de exemplo -, supusermos que o ponto-limite de mudança já está tão próximo
que ele ocorre com uma duração da produção de sete anos e com uma quantidade
de produto de 500 unidades e se, em conexão com essa circustância, supusermos
também - como faz Fisher - que, de acordo com os planos de produção adota­
52 Op. cit, p 69 70 -.,:- -:;. =- _:... :c
.')] Sobre isso, ver meu Excu rso I, p. 2l.
54 Também quanto a ísso, ver meu Excurso I, p. 19-21
EXCURSO XII 227

dos no ano de 1888 que estão à base das avaliações do ano de 1888, do present
value in 1888,55 já se pode adotar medidas efetivas extensivas até o ano de 1899
- portanto até muito além da referida zona de sete anos, podendo-se investir todas
as forças produtivas disponíveis nos processos de produção mais longos, de sete
anos, que ainda comportam uma produtividade maior, e portanto não se precisa
deixar de aproveitar nem uma única oportunidade para prolongamentos da produ­
ção ainda mais produtivos - nesse caso, essa hipótese acaba dando na mesma
-- pressuposição real na qual também Bortkiewicz baseou uma das suas tentativas de
l!.
refutação e que já comentei expressamente acima. nas páginas 199 et seqs.
posicionando-me contra o autor, Em suma, trata-se da pressuposição da existência
de um fundo de subsistência suficiente para se aproveitar plena e exaustivamente
c::::, todos os prolongamentos da produção possíveis ainda associados a um aumento
da produtividade; ora, simplesmente não afirmei. de modo algum, a influência de
§: m.eu terceiro motivo no caso dessa hipótese. que até agora nunca se concretizou
~ de fato, permanecendo apenas literalmente "imaginável". Portanto, concordo inteira­
g. mente com Fisher em que, se os pressupostos reais forem estes, haverá uma igual­
~ dade total de valor entre os meses de trabalho de 1888 e os de 1892; isso, porém,
o não porque o "terceiro motivo" não possa em princípio ser um motivo independen­
g.
Õ te, ao lado dos dois primeiros motivos. mas porque nessas condições concretas esse
terceiro motivo simplesmente não atua. Y' Ao contrário, a maneira de concluir de
Fisher - o qual, de um "sem os dois primeiros motivos", não conclui para um efeito
"exclusivamente em decorrência dos dois primeiros motivos" - é aqui exatamente
tão errada quanto o foi na cadeia final do parágrafo anterior; digo mais: a maneira
melhor e mais contundente de reduzi-la ao absurdo é a formulação que Fisher lhe
:.:' ;:Jrimeiros deu dessa vez. Procuremos apenas aplicar ao caso-exemplo do convalescente mor­
G seja cons­ to pela moldura que caiu do teto a maneira de concluir copiada textualmente de
:cras do va­ Fisher: "Nossa conclusão é a de que. se eliminarmos a saída prematura do conva­
L':: r máximo lescente, eliminamos também seu acidente mortal, e que portanto se demonstra ine­
a;:arece uni­ xistente o pretenso segundo motivo da queda da moldura"! Quem estaria disposto
>::-.2 resultado a concordar com essa conclusão de Fisher?
Incorrem exatamente no mesmo disparate lógico as reflexões com as quais Fis­
her termina seu § 6 e com as quais desemboca em uma conclusão também falsa,
e~minamos já tirada por Bortkiewicz;57
'-:-..:ros, e que
0::2 técnica", 52 "Efetivamente, o único motivo pelo qual alguém pode preferir o produto de um mês
de trabalho investido hoje, ao produto de um mês de trabalho investido no ano próxi­
mo, está em que o investimento de hoje amadurece antes do que o investimento do
CO: real para ano próximo. Ao se plantar uma árvore frutífera que trará frutos dentro de quatro anos,
l~:-,tidade de preferiremos um trabalho hoje disponível para tal planta:;ão a uma quantidade igual de
le~te a dimi­ trabalho disponível somente no ano que vem; e isso porque, se a plantação for adiada
Z :lisso, pois até o ano que vem, também o fruto será adiado de um ano, já que nesse caso ele só
r:e um mo­ amadurece dentro de cinco anos contados a partir do presente e não dentro de quatro
anos. Nada se altera nesse fato ,essencial, se se fala da possibilidade de uma série de
p.::,:,sibilidade maneiras de investir diferentes. E verdade que um mês de trabalho presente pode ser
!:-:lota. 54 empregado para plantar árvores que crescem lentamente ou para plantar árvores que
zda a título crescem rapidamente; mas o mesmo vale para um mês de trabalho do ano que vem.
t20 próximo A assim chamada 'superioridade técnica dos bens presentes em relação aos futuros' de­
I:;uantidade
s:.Jpusermos
!'..:ção adota- 55FI5HER. Op. cil.. p. 70

56Se, ao contrário, supusermos que o fundo de su bsistência é insuficiente, chegamos à variante analisada no § 7 de Fis­

her, na qual ocorre imediatamente uma superioridade de valor do mês de trabalho mais antigo; ver abaixo.
57 Ver supra, p. 205, nota 24.
-:: =''\1.-\ POSITIVA DO CAPITAL

:-',2: :Dda a sua força da superioridade do prazer anterior em relação ao posterior, prove­ é O me:~:~
-2:-'.:2 de cada processo de produção. O pretenso 'terceiro motivo' dessa superioridade não é ~:-:-_(
:::'='0 oens presentes não é outra coisa senão os dois primeiros motivos disfarçados". C,H E se?
nossa e5-:::J
A isso replico simplesmente: é ou não é verdade que, mesmo no exemplo de - no se:-.:
F;sher. temos sempre a dupla opção, a saber, conseguir, com o mês de trabalho em 188'1 •
mais antigo, ou o mesmo número de frutos para um momento anterior ou também go ecor.::'!
mais frutos para o mesmo momento, como se conseguiria com um mês de trabalho quantid,,:::_
disponível no ano próximo? E se temos esta dupla opção, em nome de que lei da maior de:J
Lógica teremos de, à guisa de condenados, olhar sempre apenas para a primeira velho cC:"}
alternativa e fechar hermeticamente os olhos para a segunda, como se ela sequer cer. É r.::: ·.a
existisse? Fisher teria razão se houvesse uma lei que nos obrigasse a sempre fazer, sa de !T.~:':'"
no tocante a forças produtivas, um uso exatamente paralelo de nosso direito de op.­ parágrai::: ::
ção entre as diversas possibilidades de emprego que nossos meios produtivos admi­ trar seu -:-2
tem; teria razão se, de acordo com o lema de Mefisto de que "no primeiro temos houver ::=.:{
liberdade e no segundo somos escravos", tivéssemos, sim, condição de escolher se de grav:é::.:
queremos empregar indeterminado mês de trabalho numa produção momentânea tunidade ;J.;
ou numa de um ano, ou numa de dois anos, três anos etc., mas quando, em se bre a for.:-:a
tratando de um mês de trabalho presente, nos tivéssemos decidido por determina­ forma m.:.=:
da produção, por exemplo de três anos, também em face de um mês de trabalho a mold~'21
do ano próximo fossemos obrigados a decidir-nos pelo mesmo emprego num pe­ ra da que i,
ríodo de produção de três anos; nesse caso, realmente, se o mês de trabalho pre­ da prema:J.
sente tem uma superioridade de valor em relação ao do ano próximo, tê-la-ia segurame:lJ
"exclusivamente porque" preferimos a fruição anterior (de uma quantidade igual do ca da 'SI.:;:"4
produto) à fruição posterior.
Ocorre que nossa liberdade de escolha vai além; não precisamos optar parale­
60 Para U~. :::=,:;
lamente, podemos optar também divergindo ou convergindo. Podemos encarar a um moti\": :~ ;:r.
possibilidade de utilizar forças produtivas não-simultâneas também como meios pa­ sem que :.:: ~
então, cas: - _-;:
ra o mesmo objetivo, para satisfazer as necessidades de um e mesmo período de des sem!y~ ~~-.=
tempo e nesse caso, naturalmente, elas só podem servir com empregos diferentes: razão suf.:...:::-:::: j
é natural que ~ara o conjunto de necessidades do ano de 1892 o mês de trabalho não se a:...:::" -;:I
algo que õ.':, 1
de 1888 só pode servir em período de produção de quatro anos, e o mês de traba­ "'motivo :J:-::-:'"
lho disponível em 1889 só em produção de três anos de duração. E no caso de verdadei~c=:-_2-c
tal escolha convergente em favor de um e mesmo objetivo - escolha com que de­ pentinan:>2:-:';- :H!
mais !onQ=: : ~~
paramos inúmeras vezes na vida ou ao menos encaramos em nossos juízos de valor ma, p. 19~ :::1
como sendo a melhor opção disponível -, ocorre uma "superioridade técnica"59 também ;o:õ:."
dialética j: 2 --= ~...;:
das forças produtivas mais antigas sobre as mais recentes, que não pode ser negada necessida.:::2 ':.3
por nenhuma dialética e que, por sua vez, exerce uma influência de forma alguma CreIo ter ::-=-=.: ~
tranqüilos. ;:3:3
puramente dialética, mas extremamente real sobre a avalição dos meios de produ­ quais se p::.;: :':!
ção "mais antigos": quando um madeireiro derruba simultaneamente uma floresta são deco~2 -:,;:: j
de 100 anos e uma de oitenta, dará mais valor à de cem anos simplesmente porque aperfeiço::== .:._-!
ela tem mais madeira; e quando tomamos uma parte de nosso vinho como "velho" ~~t:~~~ãUo =~~ ;~~
e uma outra como recente, daremos mais valor ao velho simplesmente porque ele motivo. e :~ -,-=:Oi.:
o da eco:"",::":""_.,:, :
totaimentE .- :..:-;a
das máqu:~=-= ::: I
5H Op. cit., p. 70-71. Físher repete o mesmo sofisma também ao longo de sua exposição positiva, de forma extraordinaria­ guerra de =-~~ ':'l~
mente sedutora, ao demonstrar. à p. 89 et seqs., que a time preference em favor de um bem de capital mais antigo em de assédi:: :~­
relação a um mais recente se basela no fato de a . . renda" proveniente daquele (com a palavra "renda". em sua terminologia. atingir aiv:.:: -:w
Fisher entende os serviços de utilidade finais e prontos para o consumo, prestados pero bem de capital) se torna disponí\iel atingido; =< ~, :i
mais cedo. Também esse pnncípio, apesar de aparentar a certeza de um axioma, só pode ser aceito cum grano salis. Com baterias 1'";,:='_: .~"::
deito, também aqui - de modo análogo ao que acontece com o que está dito acima. no texto - não Se pode esquecer que na pré: :::::-1:
de que não há nada que nos obrigue a auferir do bem de capital mais antIgo serviços de utilidade prontos mais cedo para modo de c., - õ­
o consumo; podemos. por escolha nossa, adotando um caminho mais longo, auferir dele também outros serviços de utdl portanto - _- .:. J
dade -. e mais maduros - para o mesmo momento, e a time preference pode basear-se 'também nissQ ser uma p:-- =-=a
SY Em certo momento (p. 72) Fisher denomina essa superioridade técnica de "ilusão" (delusion)! do que co::- =' ,
EXCURSO XII 229

C': ':2~jOr, prove­ é O melhor dos dois, porque ele é superior ao mais novo em qualídade. Isso é ou
:..c: <:Jerioridade não é uma superioridade técnica real?
"" = ~':arçados", 5H E se Fisher quisesse eventualmente replicar-nos que a própria convergência de
nossa escolha seria apenas uma conseqüência da ação dos dois primeiros motivos
:: 2~emplo de - no sentido de só considerarmos que o emprego do mês de trabalho disponível
'O ::e trabalho em 1889, em produção de três anos, em favor do ano de 1892, é o melhor empre­
::: :u também go economicamente possível para o mesmo, se por natureza dermos mais valor à
:~ ~ ::2 trabalho quantidade menor de produto, atingível no ano de 1892, do que a uma quantidade
, =2 que lei da maior de produto, atingível no ano de 1893 -, saudaremos essa objeção como um
k:::: a primeira velh9 conhecido nosso, cuja dialética enganadora já tivemos ocasião de reconhe­
~2 ela sequer cer. E novamente a confusão do "sem mim, não" com um "exclusivamente por cau­
~ '02:-:1pre fazer, sa de mim". Admitamos - se bem que ainda teremos de falar disso no próximo
: =:~eito de op­ parágrafo de Fisher - que meios de produção não-simultâneos só podem encon­
c ::-:::vos admi­ trar seu "centro de gravidade econômico no mesmo conjunto de necessidades se
::-:":',eiro temos houver fatos do primeiro ou do segundo motivo que façam com que esse centro
::2 escolher se de gravidade fique mais próximo do presente; acontece que isso apenas cria a opor­
: :":':Jmentânea tunidade para que a "superioridade técnica" possa exercer sua própria influência so­
~_:::ido, em se bre a formação do valor, mas não cria essa influência como tal: exatamente da mesma
::':: determina­ forma que a saída prematura do convalescente apenas criou a oportunidade para
l.2 'O::e trabalho a moldura do teto cair sobre sua cabeça, e no entanto nem por isso a ação causado­
:~2;0 num pe­ ra da queda da moldura pode ser simplesmente reduzida à ação causadora da saí­
E ~abalho pre­ da prematura do convalescente. Já procurei mostrar acima, por meio de tabelas
':\::-:10, tê-Ia-ia seguramente incontestáveis, que permanece margem para uma influência específi­
t::::deigual do ca da "superioridade técnica" e de quanto é essa margem. 60

'''' =;:Jtar parale­ 60 Para um raciocínio não viciado por sutilezas artificiais, nunca poderia ter havido dúvida de que "receber mais" constitui
::":" ='S encarar a um motivo de preferência diferente de "receber antes". De per si, cada um desses dois motivos poderia muito bem ocorrer
=-:-.J meios pa­ sem que ocorra o outro (por exemplo, caso sempre se tivesse necessariamente de escolher "de maneira convergente" ou.
então, caso nunca fosse possível escolher de forma convergente). hipótese em que a ausência de uma das duas possibilida­
-:-. = período de des sempre teria um peso bem sensível no efeito prático, no alcance e no grau da superioridade ocorrente; vejo nisso uma
"C= =s diferentes: razão suficiente para convencer todo aquele que, não se deixando vitimar por uma óptica dialética que falseia as coisas,
::.5 de trabalho não se auto-impede de ver as coisas como são, de que a ausência da alternativa do "receber mais" elimina da situação
algo que ainda não estava contido na outra alternativa, a do "receber antes", e portanto deve ter estado presente como
; :-.ês de traba­ "motivo próprio", independente do outro. E por essa razão parece-me que a refutação mais cabal e fácil de Fisher reside
~ :iO caso de verdadeiramente naquele simples argumentum ad hominem ao qual acenei no início da controvérsia, a saber, que se re­
pentinamente desaparecesse como fato a produtividade maior dos métodos capitalistas de produção indiretos de duração
,2 ::Jm que de­ ~ais lon!=Ja, o fenômeno do juro certamente não poderia continuar a existir em sua extensão e intensidade atuais (ver aci­
":20S de valor ma, p 196 do presente Excurso), Desde então todo o meu trabalho consistiu propriamente apenas em ainda demonstrar,
também positivamente e em detalhe, no intuito de tranqüilizar aqueles que enxergam as coisas como são, que a óptica
c::::e técnica"59 dialética pela qual Bortkiewicz e Fisher pretendem obrigar'nos a olhar as coisas é uma óptica que falseia, e queoa pretensa
:·::e ser negada necessidade lógica que obrigaria a adotar sua concepção, em última análise, radica em toda parte apenas num sofisma.
::: ~:na alguma Creio ter trazido essa tranqüilidade em medida suficiente. Para leitores que não obstante ainda não estiyessem plenamente
tranqüilos, gostaria de recomendar a sua consideração para efeito de controle, dentre as muitas situações análogas nas
:'<Õ::s de produ­ quais se pode observar uma confusão semelhante entre dois motivos na verdade independentes da superioridade - confu­
t2-::na floresta são decorrente de uma escolha -, particularmente as duas seguintes. Suponhamos que se invente uma máquina de navio
aperfeiçoada que, em relação às máquinas até agora em uso, assegura uma destas duas vantagens, entre as quais se pode
5:-,2:1te porque opfar: ou atingir maior velocidade com o mesmo consumo de carvão ou manter a mesma velocidade com menor consumo
c :::)mo "velho" de carvão. Provavelmente os navios de passageiros darão preferência à nova máquina sobre a antiga em razão do primeiro
!:-.:2 porque ele motivo, e os navios de carga farão o mesmo em razão do segundo motivo. Porventura, nesse caso, o segundo motivo,
o da economia de carvão. se reduz sem mais ao primeiro, o da velocidade, pelo fato de que, se a velocidade fosse algo
totalmente indiferente, o motivo da economia de carvão também não atuaria. porque nesse caso também não se faria uso
das máquinas a vapor mais econômicas, mas só se navegaria à vela? Ou então, eis outra situação: como se sabe, numa
- "-:: ~xtraordinaria- guerra de assédio nos empenhamos por avançar cada vez mais com as baterias de assédio, pois, sob o aspecto da técnica
-= - ais antigo ~m
de assédio, têm mais valor as baterias que estiverem mais avançadas. Por quê? Pelo fato de elas permitirem optar entre
"- ~ .: _.;; terminologia, atingir alvos importantes e mais afastados, localizados mais para dentro do território sitiado e que ainda não podem ser
_ :,-,2: -=- ~:1a disponív~l atingidos pelas baterias não avançadas, ou então atingir alvos mais próximos, que já estão dentro do alcance de tiro das
- _-, :~.::"'O solis Com baterias mais recuadas, com mais força e eficácia maior do que com estas últimas. Porventura essa segunda vantag~m' ­
~: ::()de esquecer que na prática certamente é com muita freqüência decisiva - pode ser convertida no primeiro motivo, argumentando ao
:J:5 cedo para modo de Fisher: já que a única diferença entre as baterias avançadas e as recuadas está na posição avançada das primeiras,
, ,::",,~,,'iç()'::Í Li", utdi- portanto numa primazia em termos de localização no espaço, o único motivo de uma preferência pelas primeiras só pode
ser uma primazia em termos de localização no espaço, isto é, no fato de com elas se poder atingir objetos mais afastados
do que com as baterias mais recuadas?
230 TEORIA POSITIVA DO CAPITAL

4) § 7 de Fisher I.'re'.~. ::-"'


t;\E, e=-:-.
Para comprovar a "independência" de meu terceiro motivo em relação aos dois bu: 2.: "1
primeiros motivos, entre outras coisas eu havia também pressuposto uma situação depe:-. ::l
na qual a ação dos dois primeiros motivos inicialmente está totalmente excluída; se que "':=-:-.,
em tal situação começar a atuar única e exclusivamente o terceiro motivo, expliquei im'e~~:::l
que este produz como seu efeito conseqüencial uma "diferença nas condições de sec::':e-.J
suprimento", donde julguei poder concluir que essa terceira causa "não somente está re~~ ?=:­
longe de ter de derivar sua própria força e ação de uma diferença nas condições por'.e-"]
de suprimento devida a uma outra causa, senão que, ao contrário, ela mesma é a :=-:-.::"'."
capaz de, se necessário, gerar tal diferença". 61 de'. ,::~::.
Fisher reproduz essa minha exposição em tradução verbal e só raramente em ali e'.':::"'~
tradução um pouco mais livre, não apresentando nenhuma objeção contra minha de :-:-: :=':-.'
descrição do andamento efetivo das coisas, mas acompanhando a conclusão que só ':)~=. a
tirei com o seguinte comentário crítico: meu argumento significa, no entender dele, ne:ê.~ -:""1
que se os dois outros fatos geradores do juro estiverem ausentes, voltam novamen­ ção ::-,::.J
te a ocorrer em virtude da escolha de métodos de produção indiretos. "Em outras de;e~ ..:..
palavras, a superioridade técnica dos bens presentes produz o juro, gerando nova­ a aç~: :
mente os dois outros motivos. Ora, isso equivale a reconhecer que a 'superioridade tra~ ::::.
técnica' depende de fato, no tocante à sua força, desses dois outros motivos, e não do :'f:::\
é 'independente"'.62
Antes de tudo, parece-me que aqui Fisher joga um tanto com as palavras, colo­ ~<::'5
cando e interpretando as palavras de modo diferente daquele em que eu havia co­ fato 2. a
locado e interpretado em minha exposição, e conseqüentemente alterando um pouco cleo =-:-.~
o objeto da polêmica. Com efeito, ignora o teor verbal acima citado de meu argu­ voc2.~ ::'é
mento, com o qual reivindico a independência indubitável de meu terceiro motivo a me~=-:-.i

"em relação a uma diferença nas condições de suprimento, derivante de outra cau· depe:- ':é
~a". Teria sido simplesmente impossível contestar meu argumento nesse teor verbal. mo!:'.,: ~
Fisher certamente não tenciona afirmar que, dentro dos pressupostos por mim apre­ sobre:_ :i
sentados, a ação de meu terceiro motivo ainda "dependeria" de haver ou de associar-se valor. :a
necessariamente uma diferença nas condições de suprimento, derivante de outra cone: :..
causa - que, por exemplo, deveria ainda ocorrer ou associar-se um dos casos típi­ do cC~:-:J
cos da situação de emergência momentânea, dentre os que enumerei sob o título
de "Primeiro Motivo" (em razão de uma má colheita de um dano por incêndio, de
desemprego e similares) ou de "carreira em ascensão" (por exemplo, no caso de prin­ :-..=: j
cipiantes numa carreira científica ou artística). Portanto, Fisher responde em tom po­
lêmico, propriamente a uma coisa um pouco diferente daquela que eu havia afirmado
na respectiva passagem; e se, mesmo apesar de seu cuidado grande e digno de
conhecimento, pôde deixar-se levar a esse erro de argumentar fora das premissas
de minha tese, foi porque, em razão de um infeliz acaso, reproduziu em tradução
um pouco mais livre, dentro de sua citação - que no resto é verbal - a passagem
ca- c': ~
decisiva no caso, omitindo justamente as palavras características. 63
meme ..l
Entretanto, mesmo se considerarmos a relação do terceiro motivo não com uma cobe'.-.,.!;
diferença nas condições de suprimento, proveniente de outra causa - diferença da que 2.'0
qual eu havia falado -, mas com a diferença nas condições de suprimento criada de u=-:- .:;
pelo próprio terceiro motivo, parece-me que Fisher, jogando um tanto com as pala­
F:~
nece~~,:':.:"

duçã': ::­
61 Ver Teona Positiua. 2~ ed. alemã, p. 285 et seqs. São as mesmas afirmações que se encontram agora nas p. 290 et
seqs desta edição; solicito aos leitores que leiam novamente as referidas páginas
62 Op. cit., p. 72.

63 Com efeito, Fjsher traduz minhas palavras "de uma diferença derivante de outra causa" com as palavras "from any such

difference", que não coincidem com as minhas, nem quanto ao teor nem quanto ao sentido.
64 O.C
EXCURSO XII 231
vras, altera o sentido aliás normalmente usual - e que em todo caso também eu
tive em mente - da palavra "dependente" quando, no encadeamento causal, atri­
IÇ~': aos dois bui ao "terceiro motivo" o papel de um elemento "dependente". Porventura uma causa
.:-:-? situação depende de seu efeito? Ou não é antes o efeito que depende de sua causa? Será
! ",:~:~uída; se que uma causa "deve" sua força a seu efeito - assim eu coloquei a questão - ou,
c.: expliquei inversamente, não é o efeito que deriva de sua causa sua própria existência, e con­
::.::-,::::ções de seqüentemente também a existência de todos os seus efeitos conseqüentes ulterio­
;..: :-::ente está res? Porventura o taco de bilhar "deve" sua força de propulsão à bola impelida, ou
a.õ :ondições porventura não é esta que, inversamente, "deve" sua força de propulsão ao taco que
~ : :-:lesma é a impele? Em minha argumentação interessava-me obviamente excluir uma idéia
da qual previa que se poderia formular uma objeção contra minhas exposições até
::=::-:lente em ali apresentadas nas tabelas; essa objeção de fato foi levantada pelo próprio Fisher
:: :-::ra min ha de maneira extremamente impressionante, a saber, que minhas tabelas precedentes
J:-~ :.'J.são que só provariam uma superioridade de valor dos meios de produção presentes porque
r::2:-:der dele, nelas "introduzi, já em ação", além da produtividade maior dos métodos de produ­
r, :'lovamen­ ção indiretos mais longos, também os dois primeiros motivos, ou pelo menos um
I, -::m outras deles. Ao contrário, eu quis mostrar - e de fato mostrei - que, para que ocorra
!:"?:-do nova­ a ação do terceiro motivo, não é necessário que existam previamente aquelas ou­
;;.;.::2:ioridade tras circustâncias das quais havia tratado sob o título de "Primeiro Motivo" e "Segun­
c :',os, e não do Motivo"; e nesse sentido certamente afirmei com razão a "independência" de meu
terceiro motivo.
c...?,'"as, colo­ Mas é possível que isto pareça uma discussão em torno de palavras, como de
.: ~ navia co­ fato é, até certo ponto, Por isso, é melhor acompanharmos a coisa até aquele nú­
~.:-"m pouco cleo mais central no qual já não há lugar para escapatórias ou interpretações equí­
[2 :-:-,eu argu­ vocas de palavras, mas só se pode ter ou não ter razão. Para esse efeito, aceitamos
r::2~0 motivo a mesma interpretação exigentíssima à qual Fisher quer agora restringir o termo "in­
i", :Jutra cau­ dependente": o que afirmo é que, mesmo nesse sentido mais extremo, meu terceiro
E :2or verbal. motivo é "independente". Efetivamente, ele é independente do primeiro motivo (e
c :-:lim apre­ sobretudo do segundo) também na medida em que o efeito da superioridade de
::2 associar-se valor, causada por ele, não necessariamente tem de passar por uma diferença das
c:,:: de outra condições de suprimento, produzida por ele. A esse ponto nos leva o ulterior curso
,: 5 :asos típi­ do contra-argumento de Fisher, cuja citação, iniciada acima, continuo agora.
'- 500 o título
--.:endio, de "(. .. ) O fato essencial é o de que sua presença (a presença da superioridade técnica)
.::a~o de prin­ não produz o juro se os dois outros (motivos) estiverem ausentes. Em suma, a 'superio­
, 2:-:-, tom po­ ridade técnica' dos bens presentes é uma ilusão (delusion), é o único caminho pelo qual
<:~,r:? afirmado a existência de processos de produção de duração longa influi sobre o juro é o supri·
menta superabundante do futuro e o suprimento precário do presente, na medida que
" " digno de com isso os bens presentes passam a adquirir um 'valor de artigo raro. 64
25 :Jremissas
e:-::' tradução
Isso é um erro objetivo. Ao contrário, quero mostrar que a "superioridade técni­
, ê ;Jassagem
ca" dos bens presentes é capaz de gerar uma superioridade de valor, respectiva­
mente um juro, mesmo que seja constante a proporção entre a necessidade e a
. ~': .:om uma
'cobertura no presente e no futuro - donde se infere automaticamente que a força
:::'erença da que ela tem de dar origem ao juro, mesmo no sentido de Fisher, não "depende'
:r:,,:":ro criada
de um suprimento precário do presente, gerado como efeito intermediário.
C:~ as pala­
Forjemos um caso-exemplo apropriado para expor isso. O exemplo terá de 52,
necessariamente um tanto casuístico, pois a produtividade maior de métodos 2e ;:,:­
dução indiretos de duração mais longa por natureza sempre tem certa tendência,
;' " -=, p, 290 et

-~ -':"'::Tl any such


64 Op, cit" p, 72,
------------------------------- -----------~

232 TEORIA POSITIVA DO CAPITAL

se a administração econômica for correta, a ter como conseqüência também um duto ~:~
suprimento mais abundante dos períodos futuros mais longínquos, para os quais jus­ 960 C::-.:'
tamente produz seus frutos mais abundantes 65 Por isso, para não obstante se po­ bertu~ê. ::
der supor constância nas condições de suprimento, temos de introduzir no exemplo da u<::::
alguma premissa casuística que, pelo seu tipo e intensidade, compense a mencio­ Q.:::­
nada tendência. Se então se demonstrar que, a despeito da constância das condi­ trado,-::
ções de suprimento, a produtividade maior dos processos de produção indiretos mais certezê. ::,
longos acarreta uma superioridade de valor dos meios de produção mais antigos, que ::C:-.3:
isso confirma que o próprio suprimento mais abundante de períodos futuros - que so de ::_0:
normalmente a acompanha - só pode ser um efeito conseqüencial secundário e não :-.~ -,
não, como afirma Fisher, a causa indispensável e propriamente geradora da supe­ propcõc::
rioridade de valor. porqU2 ;:.
Voltemos ao exemplo apresentado acima às páginas 221 et seqs., que preçisa, junto ê.: ~
para o presente objetivo, apenas ser um pouco modificado. Imaginemos um admi­ compê.~::J

nistrador que vive na base do mínimo necessário para a subsistência, o qual, com produ:: ::
uma necessidade em geral constante, ganha anualmente seu mínimo para a subsis­ propo'c:'
tência. de 2 400 unidades de produto, utilizando sua força de trabalho no período produz::::
de produção de um ano, que lhe é possível de acordo com seus meios, produzindo do po~ ::!~
200 unidades de produto por mês de trabalho, sendo que a utilidade marginal da nôm'c: õ
unidade de produto é constantemente 5. Suponhamos que essa constância de su­ um "SV::-J
primento seja agora ameaçada para um exercício econômico individual, por exem­ encon::::~
plo o de 1892, pelo fato de nesse exercício ocorrer um aumento da necessidade perme.:-_",c
de 960 unidades de produto - por exemplo, porque vence uma dívida desse mon­ com :33:
tante, ou então por efeito da necessidade prevista de nesse ano assumir passageira­ como .ê..:_-:
mente no suprimento um membro da família, incapaz de obter renda, e cujo sustento cessos :0:
até agora era provido por outra fonte ou por razões similares - de tal modo que, dos bt:::-.s
se o ganho continuasse a ser de 2 400 unidades de produto, a utilidade marginal futuros ­
subiria de 5 para 8. Suponhamos agora que a esta altura nosso administrador rece­ um o'''::::
ba, de um vizinho qualquer, a oferta bem-vinda de trocar um ano de trabalho no sa ef:c:o:-'
presente por um ano de trabalho no futuro. O vizinho propõe-lhe trabalhar no ano E ~~
de 1890 para nosso administrador, sob a condição de que este, em compensação, e a U".':: ~
trabalhe para o vizinho no ano de 1891. Essa proposta abre a seguinte possibilida­ so exer:-:J
de. Normalmente, nosso administrador teria empregado seu tri'lbalho de 1891, em ria. cc:-::
produção de um ano, para satisfazer as necessidades de 1892. Essa cobertura fica impec:::õ.
agora eliminada, porque no ano de 1891 trabalhará para o vizinho. Se, porém, em no exe::':
compensação fizer o vizinho trabalhar no ano de 1890 para as necessidades do ano te aco:-:~
de 1892, isso pode ocorrer em produção de dois anos, com uma produção de 280 baixa, :2
unidades de produto por mês, portanto com a produção de 3 360 unidades de pro­ maior: C)
S.::::
bS Assinalo de passagem que nunca se teria podIdo travar toda essa estranha controvérsia sobre a independência do ter
e que.:: '_
ceira motivo se, por um lado, os dois outros motivos não estivessem sempre, digamos assim. onipresentes na realidade
empírica e se, por outro lado, além disso, o próprio terceiro motivo não produzisse sempre certos efeitos retroatIvos sobre
o estado da abundàncía do suprimento, portanto sobre fatos do "primeiro motivo" Em decorrência disso. a realidade empíri­ De
1111
ca sempre mostra uma coexistência dos fatos e efeitos de todos os três motivos, com o que, conseqüentemente, fica frustrado um -,
aquele teste de independência, que consistiria em observar que na prática ou no experimento empírico o terceiro motivo prodc' ,: ~
produz os efeitos a ele atribuídos também quando estão total e indiscutivelmente excluídos todos os fatos passíveis de se­ presrô:: ~ :
rem associados ao primeiro e ao segundo motivos. Para decifrar os nexos causais eXIstentes, somos antes obrigados a desis­ nece::::: =::,~~
tir de uma via de demonstração empírica pura - via que simplesmente não admitiria divergências de opinião, mas infelizmente prodi...·­
é impossível no caso - e adotar a via de uma argumentação dialética, que infelizmente costuma deixar margem bem am­ dese :~- __
pla a obscuridades e confusões e, além disso, em seu penoso trabalho de convencer, é obrigada a arrostar aqui com mais de 2 :,:
um impecilho muito incômodo, pois justamente a maneira de argumentar que mais se aproxima da prova empírica ­ perío:: ~ ~ -__,
denominá-la-ia via da "experimentação de idéias" - força a forjar hipóteses rebuscadas e complicadas. Com efeito, para pesq-_' --­
identíficar com pureza o modo de atuar do terceiro motivo - mesmo que seja apenas a título de exemplo - há que avaliar çao e - - ~ . .:
e eliminar artificialmente, por meio de suposições especiais, as influências onipresentes dos dois outros motivos. Eis por nec€s:: -::
que é natural o caráter seletivo do exemplo aduzido acima no texto e de outros exemplos afins, utilizados por mim preer.::
~

EXCURSO XII 233


t ~=':-:lbém um duto por ano de trabalho; nesse caso, após a cobertura da necessidade extra de
:: c" quais jus­ 960 unidades de produto, à necessidade normal corresponderia novamente a co­
te se po­
:-::~=.:-: bertura costumeira de 2 400 unidades, donde também para a utilidade marginal
i:" :-. Jexemplo da unidade resultaria o antigo montante de 5. 66
[5-= 3. mencio­ Qual a conclusão disso para nosso problema? Acompanhemos nosso adminis­
=:::: ::as condi­ trador na reflexão que faz sobre se deve ou não aceitar a oferta que lhe é feita. Com
=- ::,etos mais certeza, aceitá-la-á cheio de alegria e com isso em tudo manifestará primeiramente
:- ::::5 antigos, que considera o ano de trabalho mais antigo, que lhe é oferecido, como mais valio­
:'~":~D5 - que so do que o ano de trabalho mais recente, a ser trocado por este. E por quê? Aqui
~ :',mdário e não há nenhuma possibilidade de escapatórias dialéticas: seguramente, aceitará a
l: ~3. da supe­ proposta única e exclusivamente em razão da "superioridade técnica" da mesma,
porque ela produz mais para o conjunto de necessidades do ano de 1892 - con­
e..:e precisa, junto ao qual em todo caso teria sido aplicado cada um dos dois anos de trabalho
te" um admi­ comparados na mencionada situação -, porque lhe assegura 3 360 unidades de
: qual, com produto contra apenas 2 400 unidades que o ano de trabalho 1891 teria podido
ç: :::~3 a subsis­ proporcionar. E essa superioridade de valor do ano de trabalho mais antigo é aqui
c :-.D período produzida pela superioridade técnica. sem que esse efeito tivesse que ser produzi­
; ::roduzindo do por alguma diferença nas condições de suprimento dos diversos exercícios eco­
~ ~.3rginal da nômicos, por algum "suprimento mais abunóante" do período mais longínquo e por
2:-.cla de su­ um "suprimento precário" do mais próximo. Já que as condições de suprimento, que
=_ ::lor exem­ encontram seu expoente na utilidade marg:nal e no valor da unidade de produto,
-~cessidade permaneceram inalteradas, e a utilidade marginal. de 5, permaneceu constante. E
= ::'2sse mon­ com isso confirma-se novamente que o suprimento precário do presente não é ­
t: :: assageira­ como afirma Fisher - o "único caminho" pelo qual a produtividade maior dos pro­
C":'J sustento cessos de produção de duração mais longa pode gerar uma superioridade de valor
L :":':CJdo que, dos bens presentes; comprova-se que o suprimento mais abundante de períodos
=::2 marginal futuros - que normalmente tende a advir da referida produtividade maior - é apenas
E3.dor rece­ um outro fenômeno conseqüencial concomitante da mesma causa, mas não a cau­
! :::-3balho no sa eficiente propriamente dita da superioridade de valor.
c ..-.3, no ano E há mais do que isso. A tendência a um suprimento mais abundante do futuro
: --:-::lensação, e a uma redução da utilidade marginal dali decorrente se faz sentir também em nos­
2 :: Dssibilida­ so exemplo; somente que o peso dessa tendência é alterado pela tendência contrá­
:~ :891, em ria, concomitante a ela e resultante do suposto aumento da necessidade, Ela é
c : 2rtura fica impedida. por essa tendência contrária, de reduzir a utilidade marginal da unidade
. ::-Jrém, em no exercício econômico de 1892 abaixo do nível 5, o que de outra forma certamen­
1-="::25 do ano te aconteceria, e só pode fazer-se sentir no fato de que ela faz a utilidade marginal
LC3.0 de 280 baixar de 8 - nível este que a utilidade marginal teria, não fosse a produtividade
2.=:25 de pro­ maior do período de produção prolongado para dois anos - até o nível de 5.
Suponhamos agora por um momento que esse efeito redutor não ocorresse
:':-::- _~-.cla do ter­ ~ que a utilidade marginal - sob o efeito do aumento da necessidade - não so­
--, - s realidade
-. _ :::::\/05 :'lobre
:: ---:::: =.=.:::ie empíri­ Do ponto de vista material. conseguir-se-ia exatamente o mesmo resultado se a oferta do vizinho não fosse de trocar
(,1,
.::--,::: ~·:a frustrado um mês de trabalho de 1890 por um de 1891. mas 2 400 Unidades de produto do ano de 1891 por 2 400 unidades de
-.-;-:-?:ro motivo
produto do ano de 11592 Nesse caso, nosso administrador podem viver no ano de 1891 dos produtos de 1891 a ele em·
:-: : .:.~~~·;eis de se­ prestados: teria assim liberado seu próprio ano de trabalho de 1890 - com o qual. do contrário, teria tido de prover às
:': -:.= :05 a desis­ necessidades do ano de 1891 - e poderia, com ele, em período de produção de dois anos, fabricar 3 360 unidades de
: -;~ . .1felizmente produto para as necessidades do ano de 1892, podendo com estas pagar, no ano de 1892, o empréstimo de 2 400 unida·
~ :-~.:-;-; bem am­ des e com as 960 unidades restantes cobrir a necessidade extraordinária, ao passo que para atender à necessidade normal
";::- = com mais de 2400 unidades disporia dos frutos do ano de trabalho de 1891, que na modalidade antiga teria sido Inveslido num
:. 2~pírlca ­ período de produção de um ano. Espero que nenhum leitor estranhe o fato de eu basicamente não levar em conta. nesta
- -?:elto, para pesquisa a nível dos princípios, as dificuldades técnicas que sem dúvida obstariam a tais alterações do processo de produ­
-.:: ~ue avaliar ção e particularmente à demarcação precisa de anos de trabalho inteiros (no tocante à "continuação da produção", sempre
- ". ~s. Eis por necessária!. A consideração dessas dificuldades não faria outra coisa senão tornar o exemplo pesado e diftcultar a com­
:t': -: =:::::r mim.
preensão do mesmo, e. em contrapartida, em nada conseguiria afetar o princípio como tal

----- ~~~~~~~-
234 TEORIA POSITIVA DO CAPITAL

fresse redução, permanecendo em 8. Que aconteçeria nesse caso com a superiori­


aqui ape~.;
dade de valor do ano de trabalho mais antigo? - E manifesto que ela não somente
continuaria a existir, mas até existiria em grau maior. Pois é natural que 3 360 uni­ parte. tc:-::i
dades representam, se cada uma delas valer 8, uma soma de valor maior do que a estru::":3
3 360 unidades a um valor individual de 5 por unidade;67 com a mesma evidên­ incorric: :
cia, o ano de trabalho mais antigo teria mais valor como portador da soma de valor podem õ-<-'
maior do que como portador da soma de valor menor; e se já como portador da
Se 2:":1
bém eL _J
soma menor o ano de trabalho mais antigo era superior ao ano de trabalho mais
recente, a diferença de valor a favor dele teria que aumentar ainda mais, se tivesse tinta, oJX:'C
que ser avaliado como portador de uma soma de valor ainda maior. Ora, isso com­ no cen:::-: '
aos fut-..:::~
prova que o aumento das condições de cobertura do período mais tardio- cuja
porém, ::J
produção, aliás, está também ela na tendência da produtividade maior dos métodos
em um ~"l
de produção indiretos de duração mais longa - não somente está longe de ser a
os períc::::l
causa propriamente eficiente da superioridade de valor, mas, pelo contrário, reduz
compar:::::.
essa superioridade. Por conseguinte, Fisher - similarmente ao que fez Carver,68 em
percorre ~
situação afim - não somente confundiu simplesmente um mero fenômeno conco­ O ..,-~
mitante com a causa, mas até considerou erroneamente como sendo a causa pro­
de valo: :,
priamente eficiente da superioridade de valor um fenômeno concomitante que age
preferê~. :.<
contra o efeito específico da superioridade de valor, reduzindo-o. 69
Mas tudo isso se tornará ainda mais claro e patente quando, concluindo o pre­ her)" c~.:':
A~~
sente Excurso, no parágrafo que segue eu comparar com a minha a tendência do
para o ::~
próprio Fisher, de expor ordenadamente o encadeamento dos fatos que produzem
a superioridade de valor dos bens presentes em relação aos futuros. tal de r2-'
tempo. ::::=.
5) O encadeamento proposto pelo próprio Fisher para os motivos da ríodos r..~
superioridade de valor
for par:::..l
grande :::::;
A exposição da teoria do próprio Fisher sobre o juro ocupa várias centenas de sente, ;:: ~
páginas ge sua obra sobre The Rate of Interest, elaborada com perspicácia e profun­ - corre3:J
didade. E extremamente difícil apresentar um apanhado dela que seja ao mesmo de mar::::',
tempo breve e fiel: em parte devido à estrutura peculiar de sua doutrina, que se cial, o ;:-.:­
desdobra gradualmente;70 em parte porque, ao contrário, esta não se articula nu­ e tamb'2:-:1
ma exposição das causas-princípio, que dão origem ao juro, e na exposição das causas meu -3e;-.1
do montante da taxa de juros, de sorte que se é obrigado a extrair muito do que bém té~ '.
diz respeito aos princípios, da exposição específica sobre o montante da taxa de ju­ mula u=-:-::
ros (é característico que o próprio título da obra de Fisher seja The Rate of Interest!); que. se;;:":'l
(p. 103 '
e em parte, finalmente, porque Fisher cunhou uma terminologia totalmente singular
cialme~.:2
e original, cuja utilização num apanhado só seria possível se acompanhada de lon­
gos comentários, tanto mais que às vezes até mesmo expressões técnicas usuais são acordo :::1
por ele empregadas com um significado diferente do usual. 71 Portanto, apresento
72 "This: -, =
Rale of '-->'-,".i
67 É uma questão à parte - que analisei em meu texto da Teoria Positiva, nesta edição, p. 287, nota 32 -: para essa - no :.==:;--,:
comparação cabe uma simples multiplicação do número de unidades pela utilidade marginal. De qualquer forma, a primei­ sua "ap;C:'';--.3
ra soma é maior do que a segunda, mesmo que não a obtenhamos por multiplicação. mas - calculando o valor total se difertõ- = := :.
de um estoque unitário, método este aqui mais adequado - por adição dos elementos de uma série crescente a partir do cone..::::: =i.
da base S. pressão ::,; ~--= :
68 Ver minha obra Geschichte und Kritik, 4" ed., p. 496 et seqs .• sobretudo p. 501 et seqs. comou:-:-:: ~-;
69 Para leitores atentos das p. 294 et seqs. da minha Teoria Positiva é supérfluo observar especialmente que não há con­ la Scie~::: ­
tradição em atribuir a uma circunstância. que de per si seria apta a constituir ela mesma um motivo da superioridade de mente :-,::: --~
valor, um efeito redutor em relação a outro motivo, heterogêneo. da superioridade de valor. 71P. SS
70 Esta é apresentada em três etapas sucessivas, denominadas first, second e third approximation, introduzindo pressu­ 74 É ve,=e:s
postos reais cada vez mais complexos. renda :-.-:: :';-',:
71 Como acontece, por exemplo, com a palavra income. Eis alguns termos totalmente inovadores, empregados por Fis­ como f:""_:- :~
her: size e time·shape of lhe income stream. qualte:-:-:s =.
mente ;::- =-_""":
EXCURSO XII 235
s":;Jeriori­
I ,,"::nente
aqui apenas um extrato - desvinculado tanto da ordem de exposição quanto, em
:-50 uni­ parte, também da terminologia de Fisher - daquilo que me parece ser como que
J~ :::0 que
a estrutura básica de sua teoria sobre o juro, esperando que desta vez eu· não tenha
ê 2';idên­
incorrido, pelo menos no essencial, em equívocos e imprecisões, que dificilmente
:: ::2 valor podem ser inteiramente evitados num caso como este.
Jr":.::::or da
Se entendi bem, Fisher se baseia mais ou menos nos mesmos fatos que tam­
a_:"".::I mais bém eu utilizo para explicar o fenômeno do juro, porém ordena-os de maneira dis­
~ üvesse
tinta, operando uma generalização diferente. Exatamente como eu, também ele coloca
~SSD com­
no centro da teoria do juro a superioridade de valor dos bens presentes em relação
e: - cuja aos futuros, superioridade que ele denomina time preference. 72 No que concerne,
; :-:-.2todos porém, aos meus três motivos dessa superioridade de valor, funde-os propriamente
~ :::2 ser a
em um único motivo, isto é, na diferença das condições de suprimento, no fato de
l.:-.:. reduz os períodos econômicos presentes (ou mais próximos ao presente) disporem de meios
~.2r.08 em
comparativamente menos abundantes para satisfazer a necessidade. O raciocínio dele
r_= :::onco­ percorre as seguintes etapas.
:ê..:sa pro­ O ponto de partida é o princípio, que já conhecemos, de que a superioridade
E '::;'Je age
de valor dos bens presentes em relação aos futuros se reduz propriamente a uma
preferência dada a utilidades (denominadas "renda", in come na terminologia de Fis­
1'::::o pre­ herJ73 anteriores em relação a utilidades posteriores.
c-2:'.cia do A possibilidade de ocorrer ou não tal superioridade de valor da renda madura
para o consumo presente (ou, generalizando, "anterior") depende "da corrente to­
~~:duzem
tal de renda futura" de uma pessoa, ou seja, da quantidade e da distribuição, no
tempo, da renda com a qual se conta, da "abundância relativa" da mesma nos pe­
ríodos mais próximos e nos mais longínquos. Se a renda de um período mais remoto
for particularmente abundante, seu proprietário estaria propenso a sacrificar uma
grande parte da mesma em troca de uma parte relativamente menor de renda pre­
sente. (p. 92). Esse princípio - como observa Fisher (p. 93), certamente com razão
!:"".:2:1aS de
- corresponde ao princípio da teoria geral sobre o preço, segundo a qual a utilida­
I 2 ;Jrofun­
de marginal de cada artigo depende da quantidade do respectivo artigo. No essen­
K mesmo
cial, o princípio corresponde também como observa Fisher em outro lugar (p. 98)
tê. que se
e também aqui com razão - ao meu "primeiro motivo".74 Os fatos pertinentes a
l'!::::ula nu­
meu "segundo motivo" (previsão, autodomínio, brevidade e incerteza da vida) tam­
CêS causas
bém têm validade para Fisher, mas ele engloba a influência deles sobretudo na fór­
:::: :::io que
tc.:,a de ju­ mula um tanto misteriosa de que essa influência só atua sobre a "forma da função",
que, segundo ele, exprime a dependência da time preference em relação à renda.
f :~:erest!);
(p. 103). Na opinião dele, a time preference depende, para cada indivíduo, essen­
:2 s::1gular
cialmente de sua renda, sendo que apenas a forma dessa dependência varia de
Cê de 10n­
acordo com as circustâncias supra mencionadas (p. 109). Em meu entender, o que
....s..:ais são
ê:;'esento
72 "This 'time-preference' (namely the preference for present over future goods) is the central fact In the theory of interesf'
Rate Df lnterest, p. 88. Considerando essa identidade da idéia básica e uma concordância - também ela bastante ampla
:=ara essa - no tocante aos fatos nos quais nós dois baseamos em última análise a explicação do juro, o próprio Fisher qualifica
: --:: 3. primei­ sua "apresentação da teoria do juro" como uma "forma" da "teoria do ágio" elaborada por mim; mas, segundo ele, a sua
. eior totai se diferencia da minha sobretudo pela exclusão da "'superioridade técnica dos bens presentes" e pela introdução explícita
~::"=::-_:2 a partir do conceito de "renda" de Fisher. P. 87 et seqs. Em uma pequena publicação posterior, que só me chegou durante a im­
pressão desta obra. Fisher introduz a denominação de impatience theory para sua própria teoria, mas continua a caracterizá-la
como uma simples ·'modificação da teoria do ágio de B6hm-Bawerk··. "The ImpatienceTheory of Interesf· Extrato da Revis~
_-: - §: há con­ ta Scientia. In: Riuista di Scienza, v. IX, 1911. p. 386. Quanto ao conteúdo. também essa publicação posterior eslá inteira·
:"dade de mente na linha da obra principal anterior sobre The Rate aÍ In teres!.
73 P 89
_.:.-:::: pressu- 74 É verdade que Fisher afirma essa identificação somente quanto à influência da time-shape. isto é, da distribuição da
renda no tempo, além da qual menciona também a grandeza absoluta (size). a "composição'· e a "probabilidade' da renda.
~~=::3 por Fis­ como motivos determinantes dã time-preference. Entretanto, a renda é a tal ponto o motivo determinante decísivo pelo
qual tem de passar. em todo caso, a ação mais indireta dos demais motivos determinantes que acredito pode passar total­
mente por cima destes últimos, em minha exposição, voltada apenas para_os aspectos principais.
. ,.~ ,~ORlA POSITNA DO CAPITAL

:=:3C..e~ pretende dizer na verdade com isso pode ser dito de forma muito mais sim­ diferem2 -j
:: ..;03 e natural dizendo, por exemplo, que a forte time preference do esbanjador irre­ se fixe. ::::::-i
:::.;0:::::0 advém do fato de ele, por subestimar a necessidade do futuro, em razão da do. Se. ·c?::'
~(úa àe previsão ou da pouca força de vontade, considera a relação cobertura­ shape) 22 :
:-:2cessidade no futuro como muito mais favorável do que na realidade é, e conse­ autodor:-:'-.,;
qüentemente imagina - ainda que erroneamente - haver um suprimento supera­ cado. o c~S
bundante no futuro e um suprimento precário no presente. 75 De qualquer forma, e pelo ~~:::
ao raciocinar assim, Fisher reduz também meu segundo motivo à fórmula geral de distribu:ç ~::­
um suprimento mais abundante ou menos abundante no presente e no futuro. monize c:::-:­
Entretanto, essa distribuição, no tempo, da corrente total de renda de uma pes­ rate pe33:: a
soa no presente e no futuro, da qual depende tão basicamente a time preférence, nas 50(;."
é ela mesma influenciada essencialmente pelo modo de agir do próprio indivíduo. a fim C2
A distribuição, no tempo, da renda que um indivíduo pode auferir para si do patri­ Isso teré. __
mônio de bens de que dispõe, não lhe é ditada rigidamente ou de maneira inalterá­ presem2
vel de fora, mas é o próprio indivíduo que sempre pode escolher entre maneiras do indi\:::-.:
diferentes de distribuí-la: ele dispõe de um sem-número de "opções". Os meios de uma pe33::"
executar tal escolha são o contrair e dar empréstimos, a compra e venda e simples­ de emV2::::
mente o variar o modo de utilizar os bens disponíveis: pode-se escolher entre "gas­ cado, pc 3·;
tar" e "investir" e também entre investir a prazo mais curto e a prazo mais longo, ou seja. :'::'
entre formas de produção diferentes, que produzem a corrente de seus frutos em mos de32:~
períodos de tempo desiguais. 76 Quem, por exemplo, dispõe de um patrimônio que, Este ~ (
na forma natural em que se encontra até agora, não lhe traria nenhuma renda nos cativo c.,;.;o
primeiros anos, mas em anos posteriores lhe proporcionaria uma renda abundante somente ::
(como, por exemplo, a posse de uma floresta formada há pouco tempo), tem con­ O pc:'.1
dições de transformar essa corrente de renda irregular em uma corrente de renda presentes J
regular, tomando empréstimos nos primeiros anos e pagando os empréstimos nos grau da 3-':;:
anos posteriores. pessoais ::03
Aliás, a escolha entre as diversas correntes de renda abertas à "opção" é sempre a taxa Cê. 31
feita com base no critério da utilidade máxima (the maximum desiderability) , sendo e para o :::1
que o juízo sobre qual das correntes de renda abertas à opção é a most desirable de merCê.J,:
tem de harmonizar-se com os princípios que regem a taxa de juros. 77 Eis por que pessoa] c:::-:­
sempre se opta por aquela corrente que, de acordo com a taxa de juros do merca­ e efeito 2 'j
do, representa o máximo de valor presente. 78 "A escolha depende - como salien­ de prefe~2:J
ta Fisher com letras espacejadas - da. taxa de juros~ 79 Oco:-:-"
Acontece que a execução dessas operações tem, entre outros, também o efeito Fisher. é=. :
de fazer com que o grau da time preference - que originalmente pode ser muito mente c.':""
ou veno.",- ,
lo que FsC."
cia do j . .:~::
75 Essa construção é insinuada por Fisher. por exemplo na p_ 103. nota 2. É por ela que talvez se explique também a se­
suprime:,.:::
guinte contradição aparente de Fjsher: na p. 88 afirma que a time-preference é mais ou menos o mesmo que aquilo que

eu denomino "subavaliação do futuro por efeito da perspectiva". mas na p. 98 declara que a dependência da time-preJerence

com relação à distribuição da renda no tampo se identifica praticamente com meu primeiro motivo.

76 Fisher iluslra isso. (p. 139 et seqs.) com base no exemplo do proprietário de um terreno, que pode opcionalmente utili~
80 Op. Cit C

zar o mesmo como mina de exp/oràção, como campo de cultivo ou como terreno para florestas. No primeiro caso (mantendo­
81 P 131:,~:
se a premissa de que o minério já está aberto e seu veio mais rico fica próximo à superfície), de início ele teria a "renda"
et seqs.. ;:0:. ~~ .:
mais abundante; mais tarde, à medida que se for esgotando o minério, terá uma renda cada vez menor; e ao final, depois
ainda a ~)-_:".--:..::::
de inteiramente esgotada a mina, já não terá renda alguma_ No caso de utilização do terreno para fins agrícolas, teria uma
pela qua: - o ,<
renda sempre igual durante todo o período da utilização; no caso de utilizar o terreno para o cultivo de florestas, nos primei­
com a lir.:--.:: :--:
ros anos após a plantação, não conseguiria renda alguma, e, em compensação, nos períodos posteriores, auferiria uma renda
,'2 P 93.
crescente. Manifestamente, este é o ponto e esta é a forma em que Fisher toma conhecimento dos fatos conexos com a
8.1 F 13C 2: 00;:'
diferença de duração do período de produção, portanto de meu "terceiro motivo", e os insere em sua construção teórica.
84 "The r,O:2 :. :J
77 Op. cito p. 139.
lhe c hara:Cô ~
78 "C ..) lhe choice among the oplions will simply depend on lhe one which gives lhe maximum present value reckoned
ar selling- ::- ~.::;
aI lhe markel rale of interesl". P 140.
85 ''Ihe "CC.2.C~'"
79 P 145. shape of ::2 -::;
EXCURSO XI! 237

:-:lais sim­ diferente "de acordo com os temperamentos diferentes" dos diversos indivíduos ­
t::::-3dor irre­ se fixe, para todos os indivíduos, no mesmo nível, isto é, na taxa de juros de merca­
,:~. ,azão da do. Se, para algum indivíduo, de acordo com a "distribuição temporal" inicial (time­
~ = :::J bertura­ shape) de sua corrente de renda e de acordo com seu grau individual de previsão,
[,:: ~. e conse­ autodomínio e similares, a taxa pessoal da time preference divergir da taxa de mer­
r-:;-:o supera­ cado, o próprio indivíduo, mediante operações de tomar ou conceder émpréstimos
1:,.: :..:er forma, e pelo fato de simplesmente escolher entre as "opções" de que dispõe, ajustará a
r ~.3 geral de distribuição de sua renda no tempo de tal modo que a sua preference-rate se har­
E - : futuro. monize com a interest-rate do mercado. Aqueles que inicialmente têm uma preference­
l :2 dma pes­ rate pessoal mais alta (por exemplo, de 10%, quando a taxa de mercado é de ape­
[2 ."::'eference, nas 5%) venderão uma parte de sua renda futura, relativamente mais abundante,
ir: ::ldiVíduo. a fim de obterem um aumento de sua renda presente, relativamente mais escassa.
C:: 'O: do patri­ Isso terá por efeito aumentar o valor da renda futura e diminuir o valor da renda
C':~;ê. \nalterá­ presente. Esse processo se prolongará até o ponto em que a preference-rate pessoal
;--=:-2 maneiras do indivíduo se iguale novamente à taxa de juros de mercado. "Em outras palavras,
::::'0 meios de uma pessoa cuja preference-rate ultrapassa a taxa de juros, operará como tomador
:::: e simples­ de empréstimo até o ponto em que as duas taxas se igualem".80 Essa taxa de mer­
-.,::, e:ltre "gas­ cado, por sua vez, tem de fixar-se no ponto no qual o mercado atinge o equilíbrio,
r: :-:-:ais longo, ou seja, no ponto em que houver um equilíbrio exato (cancel) entre os emprésti­
;.õ _'O :rutos em mos desejados e os concedidos (the loans and borrowings). 81
~=-::-:-.ônio que, Este é o pensamento de Fisher. Cabe agora perguntar: qual é o fio lógico expli­
c.:: ,enda nos cativo que percorre esse raciocínio que, na intenção de Fisher, deve explicar não
::3 3bundante somente o montante do juro, mas também a existência do juro?82
tem con­ O ponto a explicar é a superioridade de valor (time preference) que os bens
~:-:e de renda presentes obtêm em relação aos futuros. Fisher afirma com toda a clareza que o
r:,~'Olimos nos grau da superioridade de valor no mercado é determinado casualmente pelas taxas
pessoais de preferência dos diversos indivíduos. Segundo ele, para cada indivíduo
~;~:- é sempre a taxa da superioridade de valor no mercado é um fato dado e relativamente fixo,
r::~'ry), sendo e para o processo no qual ele tem de fazer concordar sua taxa pessoal com a taxa
I""es: desirable de mercado, a taxa de juros do mercado se lhe apresenta como causa e sua taxa
- :::5 por que pessoal como efeito. "Todavia, para a sociedade como um todo, a seqüência de causa
::: 'O ::::0 merca­ e efeito é a oposta". Para a sociedade, a taxa de juros é determinada pelas taxas
- : ::TlO salien­ de preferência dos indíviduos. 83
Ocorre que a taxa de preferência pessoal de cada indivíduo depende, segundo
.:-:-: é:T1 o efeito Fisher, da natureza de sua corrente de renda, ou seja, de como esta é definitiva­
~::2 ser muito mente alterada e fixada pelo processo de tomar ou dar empréstimos, de comprar
ou vender. 9A Portanto, se nessa referência à "natureza da renda" interpolarmos aqui­
lo que Fisher afirmou sobre ela no início,85 em última análise ele explica a existên­
cia do juro a partir do suprimento relativamente mais escasso do presente e do
c : _-: ~3.;nbém a se­ suprimento relativamente mais abundante dos períodos econômicos futuros, ou se­
" : _2 aquilo que
_....: _.: '-e-preference

~ - 31mente utili­ 80 Op. cit., p. 119; de maneira geral. p. 117 et seqs .. com exempios ilustrativos detalhados.
:: ~::: ::mantendo­ 81 P 131-133 § 3; p. 150 § 5. Fisher apresenta um resumo completo em pontos, para a first approximation, na p. 132
'Õ -õ :~:-ja a "renda" et seqs., para a second approximation na p. 150. A third approximaUon. que além desses elementos só leva em conta
-õ: .::::: ~jnaJ. depois ainda a "incerteza" da renda, não tem absolutamente nenhum interesse para nossa questão, ao nível dos princípios - razão
=: :: ~-':: :~5. teria uma pela qual, na exposição das duas primeiras etapas da doutrina fisheriana, já excluí dela todos os detalhes não relacionaoios
- --Õ:~:=3. nos primei­ com a linha principal da explicação.
82 p. 93
~ ::: _.:"",;:::-:-:a uma renda
:: :lexos com a 83 P 130 et seqs.
. ::: - - :::-:..:ção teórica 84 'The rate of time-preference of each individual for present income, as compared with remate income. depends upon
lhe character of his income-slream. as final/y modified and determined by the very act of borrowing ar lending. buying
.:::>..l e reckoned ar sel/ing". P 132.
85 'The time-preference depends on the relative abundance of the early and remote income or what we may call the-time­
shape of the income stream". P 92; ver também supra, p. 235.
23S TEORIA POSITIVA DO CAPITAL

ia. de como é esse suprimento entre as pessoas individuais após a execução de to­ nhecer:-. :'
'das as operações de equalização exigidas para que haja concordância entre as taxas bem cc:-:-,
de preferência individual e a taxa de juros' do mercado. 86 Es:::.:
Ora, por diversas razões ponderáveis penso ser insustentável essa maneira de AL~-.-:-:
.apresentar o nexo existente entre os fatos que levam à superioridade dos bens pre­ valor rc.:::.:
sentes. dessa c:'~:-:
À primeira vista, pareceria ser uma idéia de simplicidade imponente reduzir to­ da esr:-..::-_
dos os motivos da superioridade de valor a um motivo único, que seria a diferença valor c: 5
na relação necessidade-cobertura; e certamente é uma construção ao mesmo tem­ exige C2 :
po engenhosa e, a despeito de toda a aparência de paradoxo, correta, fazer, por casso:: :
exemplo, desembocar também a influência de um espírito esbanjador numa escas­ de be:-:5 5
sez do suprimento no presente, ainda que esta seja apenas imaginada pela pessoa. corresL': :l
Todavia, a uma análise mais precisa, essa idéia de simplicidade imponente se revela de exÊ:-:-.::
demasiadamente simples para poder satisfazer plenamente. Com efeito, ela preten­ ainda:; :'5
de afirmar ou demais ou de menos. Afirma de menos, se a invocarmos de forma possib::: ::i
apenas bem geral, sem determinar com precisão uma forma concreta e definida à L':: ~
qual a referida "relação necessidade-cobertura" deve ter-se ajustado. Nesse caso, a que 1 c...::
idéia é verdadeira, mas não diz nada, por ser um truísmo vazio. Pois para todo aquele de Fi:':-.2~
que - como fazemos tanto Fisher quanto eu - deduz a grandeza do valor dos e conS2'::;
bens da relação necessidade-cobertura é por demais evidente que diferenças no va­ vável c..:i
lor pressupõem uma diferença na relação necessidade-cobertura, e dificilmente a que U"- í
explicação da diferença de valor dê um passo real à frente afirmando que diferenças o pad~ê:_
de valor entre bens presentes e futuros geralmente se devem a diferenças na relação que elê J
necessidade-cobertura, que a circustância que deve exercer influência sobre a rela­ mento 25
ção de valor entre bens presentes e futuros deve, qe uma forma ou de outra, in­ o do S"::)1
fluenciar também a relação necessidade-cobertura. E certo, em todo caso, que não tal de~:J
se esgota nessa afirmação. a questão dos motivos da superioridade de valor dos bens "relaç~: ~
presentes; mas é por detrás dessa primeira constatação geral - que praticamente porcio:-.~

não passa de uma simples repetição do problema, com palavras diferentes - que total C2 2
surge a questão dos motivos concretos reais que influenciam as condições de ne­ que e~ 1
cessidade e cobertura de tal modo que daí resulta constantemente uma superiorida­ comp::...'?J
de dos bens presentes. E aqui essa unidade - na qual, sem dúvida, desemboca e a ut~::,
novamente tudo, no estágio do efeito final - tem de dividir-se numa pluralidade de va:c~
de motivos parciais específicos e concretos. ções C2 !
Ou então, como dizíamos, o referido princípio pretende afirmar mais do a que 2 qul;.:ai
mencionada evidência geral; pretende privilegiar uma forma bem precisa da relação das cc:-.:
necessidade-cobertura como sendo a única possível da qual derivaria uma superio­ utilidace
ridade de valor dos bens presentes; é realmente isso o que Fisher tem em mente de me..:-::J
com seu princípio. Postula que a única constelação possível da relação necessidade­ tal do ;
cobertura, da qual possa derivar uma mais-valia de valor dos bens presentes, é um abunc::....
suprimento relativamente mais escasso de bens de consumo no presente. Entretan­ 6 por:­
to, um recurso tão preciso às condições de necessidade e cobertura afirma demais: a utilCêc
ele não tem fundamento na realidade; e, pelo fato de Fisher ainda acrescentar, em será r..?)1
sua explicação, o detalhe de que o mencionado suprimento escasso do presente em re.i:.;:
deve necessariamente ter resultado da execução das "opções" niveladoras que co­ de 9 ::::1
do pá:::-i
contrá:-.c
Pc:s
,'"Ib No resumo feito para a second approxlmation já não se acentua expressamente que é decisiva para a taxa de preferên­
cia pessoal a condição de suprimento depOIS de efetuadas todas as operações de ajuste; diz-se aqui simplesmente que
8?P2:~~
"Each individuars preference rate depends upon hls Income·stream" Ip. 150. § 2). Contudo, o contexto em sua globalidade 88 t\c .-:~-,
nâo deixa dúvida de que também aqui o autor pretende afirmar aquela corrente de renda definitiva que é a "dele", após
as miro-_~~...,
efetuar a escolha entre as opções disponíveis.
_.----_.,,_._-_ _-----­

EXCURSO XII 239

=:~;30 de to· nhecemos, a isso acresce ainda a objeção de uma confusão entre causa e efeito,
E ~:'"2 as taxas bem como a de cometer um círculo vicioso na explicação.
Esclareçamos isso pela ordem.
ê -:-.aneira de Afirmo primeiramente que, embora seja correto afirmar que toda diferença de
c::: Jens pre­ valor radica necessariamente numà diferença na relação necessidade-cobertura, dentro
dessa afirmação dada Fisher fabricou para si um padrão excessivamente unilateral
~.:" ~2duzir to­ da estrutura que essa relação deveria ter para fundamentar uma superioridade de
:.:: :: diferença valor dos bens presentes. No pensamento dele, uma mais-valia dos bens presentes
:-:-.2smo tem­ exige de forma inteiramente apodítica que o suprimento do presente seja mais es­
,:=. :azer, por casso do que no futuro e que conseqüentemente a utilidade marginal da unidade
. -. "::cla escas­ de bens seja necessariamente maior no presente do que no futuro. Ora, isso não
~ ::2.a pessoa.
corresponde à realidade; já demonstrei isso aduzindo provas em contrário, a título
02:....:2 se revela de exemplo em outro contexto, que a isso me deu ocasião. 87 Mesmo assim, porém,
~: 2la preten­ ainda gostaria de elucidar por que o padrão de Fisher é unilateral e a que outras
-:-::: de forma possibilidades ele fecha a porta.
ê " 2efinida à Um quintal de trigo, num ano de boa safra, normalmente terá menos valor do
:""sse caso, a que 1 quintal de trigo num ano de safra menos boa. Por quê? Na linha do padrão
r=. :)::.10 aquele de Fisher, certamente porque o suprimento no ano de safra menos boa é escasso
::: ,,'alor dos e conseqüentemente é alta a utilidade marginal de 1 quintal. Todavia, é muito pro­
~--:' . . cas no va­
vável que dois quintais de trigo, mesmo num ano de boa safra, yalham mais do
=::~'lmente a que um quintal de trigo num ano de safra menos boa. Por quê? E manifesto que
~ _" diferenças o padrão de Fisher não serve para explicar essa diferença de valor, na medida em
ç:::: :La relação que ela ocorrer na realidade. Nesse caso, a mais-valia não ocorre no lado do supri­
= :: :Dre a rela­ mento escasso da utilidade marginal alta da unidade de bens, mas no lado oposto,
: :" outra, in­ o do suprim~nto abundante e do valor seguramente menor da unidade de "1 quin­
c.::s). que não tal de trigo". E manifesto que o motivo está antes numa alteração bem diferente da
\=.:::x dos bens "relação entre necessidade e cobertura", a saber, no fato de 2 quintais de trigo pro­
! :::aticamente
porcionarem à necessidade de trigo mais cobertura do que 1 quintal: a utilidade
'-" . . . :e5 - que total de 2 quintais de trigo é maior do que a utilidade total de 1 quintal. E, ao passo
r~;:3es de ne­ que em nossa primeira comparação a diferença de valor entre os diversos quintais
lê ~'Jperiorida­
comparados era tanto maior quanto mais variassem as condições de suprimento
ê: :esemboca
e a utilidade marginal da unidade, no segundo caso, ao contrário, a superioridade
r." ;>luralidade de valor dos "2 quintais" será tanto maior quanto menor for a diferença nas condi­
ções de suprimento e no montante da utilidade marginal da unidade: o valor dos
rr ,,:5 do a que 2 quintais sobrepujará tanto mais o valor de 1 quintal quanto menos a melhoria
:-...õ? da relação das condições de suprimento decorrente da quantidade maior e a diminuição da
I_:-::a superio­ utilidade marginal reduzirem o valor total dos 2 quintais. Se, por exemplo, a utilida­
12:-:-. em mente
de marginal de 1 quintal do estoque escasso for 5 e a utilidade marginal de 1 quin­
: -2cessidade­ o tal do estoque mais abundante for apenas 3, o valor de 2 quintais do estoque
'';;::2:'.tes, é um abundante superará o valor do quintal do estoque esçasso na proporção de apenas
:-:2 Entretan­ 6 por 5. Ao contrário, se for menor a diferença na abundância do suprimento e se
0.::-:-.a demais: a utilidade marginal da unidade do estoque mais abundante baixar apenas para 4,5,
c"scentar, em será maior a diferença de valor em favor dos 2 quintais do estoque mais abundante,
c :0 presente em relação ao quintal do estoque mais escasso; será maior, digamos, na proporção
~.:: : ~as que co­
de 9 por 5. 88 Isso mostra que, em casos desse gênero, a "abundância" no sentido
do padrão de Fisher não é causa que dá origem à diferença de valor, mas, pelo
contrário, é uma causa que reduz essa diferença.
Pois bem, o caminho pelo qual meios de produção presentes, em virtude da
, .,., de preferên·
: -: .2smente que
87 P. 232 et seqs. do presente Excurso
- ._ 3 ~lob~.Hda~e
88 No tocante à exatidão das cifras e à aplicação da multiplicação para obtenção do valor de quantidades maiores, ver
:.~ 00 dele, apos
as minhas múltiplas reservas. por exemplo à p. 234 et seqs. do presente Excurso, e à p. 287 do texto de minha Teoria Positiva
.2-.+0 TEORIA POSITIVA DO CAPI,'AL

produtividade maior de processos de produção mais longos, obtém uma superiori­ duz ,e
dade de valor sobre meios de produção futuros não passa por aqueles motivos, em não 2..
razão dos quais 1 quintal de um estoque mais escasso vale mais do que 1 quintal meios
de um estoque mais abundante, mas por aqueles outros motivos em razão dos quais A su;>E
2 quintais valem mais do que 1 quintaL Se um mês de trabalho do ano de 1888, que as
com um processo de produção de três anos, puder ser transformado em 350 uni­ refer..j~
dades de produto para o ano de 1891, e se um mês de trabalho do ano de 1889 em 7c:.
só puder ser transformado em 280 unidades de produto para o mesmo conjunto gero'.;
de necessidades do ano de 1891, e se ao mesmo tempo as duas coisas forem os totaL;)j
melhores empregos que em todo caso seriam dados aos respectivos meses de tra­ e 35'="
balho, a superioridade de valor do mês de trabalho mais antigo se baseia no- fato ma: a
de ele proporcionar, para o mesmo conjunto de necessidades, mais meios de co­ tra~,3':O
:...1,
bertura do que o mês de trabalho mais recente, a saber, 350 unidades de produto A i(

contra 280, O fato de no caso a utilidade marginal de uma de 350 unidades de ca~s:_

produto poder ser OI' tornar-se menor do que a utilidade marginal de uma de ape­ feitê ::x
nas 280 unidades de produto é uma circunstância secundária que seguramente não ver :~,5i
é essencial para a ocorrência da referida superioridade de valor, mas, ao contrário, pre5<::~

é adequada para apenas diminuir e abrandar a superioridade de valor. Portanto, exc:'': i


não há como enquadrar à força esse fato no padrão de Fisher, no qual a referida na, ,,:)
circunstância, que aqui obviamente só pode atuar como elemento redutor, teria de clu:::::: .j
estar,presente como causa da superioridade de valor. senc :J
E verdade que Fisher fez uma tentativa de enquadrar à força também essa cir­ funLC"
cunstância em seu padrão; mas ao fazê-lo, apresenta uma argumentação que me ele,,",,!
obriga a formular contra Fisher minha segunda objeção, a saber, a de confundir causa
com efeito, sim~,~
Efetivamente, o fato de podermos, por escolha própria, adotando uma das muitas desC':::<
"opções" sempre disponíveis, transformar um bem presente em um número maior trOCê o
de unidades de produto futuras não deixa de gerar certos efeitos secundários ­ que 3..?
muito bem observados e descritos por Fisher - que têm a característica de equili­ ma:s al
brar e nivelar. Quem age racionalmente sempre escolhe, dentre os vários ou muitos se s;.;~
empregos possíveis para um bem de que dispõe, aquele que proporcionar o resul­ mu~,c:

tado de maior valor, Ora, na medida em que a unidade de produto tem, num pe­ nãc :21
ríodo posterior, um valor tão grande que o número maior de unidades futuras de eX:3:2:'}
produto - pelas quais se pode optar - vale ainda mais do que o número menor im'2:':e
de unidades, que se obteria optando em favor do presente ou de um período futuro se a3 :1
no mínimo mais próximo ao presente, tem-se um motivo para estender a opção Cnê5S21
em favor do futuro sempre mais longe, ou seja, para subtrair do estoque total dispo­ pe.:: ::I
nível de bens sempre mais exemplares do serviço ao presente e ao futuro próximo isso :::~
- no qual só seriam capazes de proporcionar um número menor de unidades, de vale e
valor total menor - e aplicá-los ao serviço de um futuro mais longínquo, para o Orê ,2
qual são capazes de proporcionar um número maior de unidades, com valor total COns.::i
ainda maior. Naturalmente, por efeito da diminuição sucessiva da cobertura no pre­ a re:êçi
sente e do aumento da cobertura no futuro, necessariamente a utilidade marginal nexc :;
e o valor da unidade de bens tem de aumentar sucessivamente no presente e dimi­ o fe~,:=1
nuir sucessivamente no futuro; e finalmente chegará o ponto em que o número me­ eXê:::S
nor de unidades com utilidade maior no primeiro caso e o número maior de unidades cia c:: :
com utilidade e valor individual menor no segundo representam a mesma soma ginê: j
de valor, ponto em que se equilibrarão as opções pelo presente e pelo futuro.
Por conseguinte, também por esse caminho se gera uma diferença nas condi­
ções de suprimento do presente e do futuro, diferença ligada a uma diferença da e:-:::~ ::: :"11
utilidade e do valor da unidade de bens; conseqüentemente, também aqui se pro- te :::: -_:-1
EXCURSO XlI 241

p",::ori­
duz realmente, ao final, aquela situação pressuposta pelo padrão de Fisher. Este
'C5 em
não é, porém, o ponto no qual começa o processo da superioridade de valor de
c ":::Jtal
meios de produção presentes em relação a futuros, mas o ponto no qual ele cessa.
~ ::uais
A superioridade de valor já estava presente antes e tinha que estar presente já antes
~ ~ :388, que as medidas niveladoras - seguramente geradas por ele - pudessem levar ao
5·~ uni­ referido resultado final. Todavia, o impulso que teve a força de transferir as opções
E 1889 em favor do futuro para além do ponto de utilidade marginal igual e que já antes
)~.:~.mto gerou a superioridade de valor dos bens presentes provém do seguinte conjunto
!'!",,:TIos totalmente heterogêneo de motivos: duas unidades de bens valem mais do que uma
:" tra­
e 350 valem mais do que 280, e conseqüentemente um bem que se pode transfor­
:-. = fato
mar em 350 unidades de produto tem de valer mais do que um bem só permite
. :2 co­
transformar-se em apenas 280 unidades do mesmo produto.
:~:duto Há duas maneiras de comprovar que essa minha explicação do encadeamento
~:25 de causal é a que corresponde aos fatos. A primeira dessas duas comprovações já foi
c" ape­ feita por mim. Com efeito, pelo fato de, no exemplo aduzido à página 233, eu ha­
~:-,:2nao ver inserido entre as premissas do exemplo o pressuposto de que o suprimento no
::-::-ário, presente e no futuro mais próximo é o mínimo indispensável para a subsistência,
t;:anto, excluí a execução de opções niveladoras entre o presente - que nada tem a desti­
~é2rida nar ao futuro - e o futuro; e o resultado foi este: com isso de modo algum foi ex­
:""a de cluída a superioridade de valor do bem presente sobre o bem futuro, mas ela ocorreu,
sendo até conciliável com uma igualdade da utilidade marginal no presente e no
2 55a cír­ futuro!89 Donde se infere que a causa da superioridade de valor não pode estar nos
:":2 me elementos que faltam ao exemplo dado.
[; . causa Ao que me parece, uma segunda comprovação está contida na consideração
simples que farei a seguir. O que são, afinal, em sua essência, essas "opções" acima
:::: :-:luitas descritas, pelas quais subtraímos algo do suprimento de bens do presente para em
r: :naior troca obtermos uma "renda" mais abundante no futuro? São verdadeiras poupanças
!ê:-::JS ­ que se faz ao proceder assim. E quanto maior extensão se der a essas opções, tanto
:2 2quili­ mais abundante é a poupança que se faz, tanto maior é a quantidade de bens que
"_ :nuitos se subtrai ao serviço do presente e se transfere para o serviço do futuro. Ora, todo
r = resu/­ mundo concorda em que a abundância da poupança é um fator que certamente
:- _:TI pe­ não tem como ulterior conseqüência aumentar a taxa de juros ou sequer gerar a
~..:~as de existência do juro, senão que, pelo contrário, tende a diminuir sua dimensão. Ora,
'C :-:lenor invertendo as coisas em sua argumentação, Fisher apresenta-se de um modo como
é: :uturo se as medidas de poupança, pelo fato de tirarem do presente em favor do futuro,
ê::Jpção criassem a causa do juro, e como se uma intensificação das medidas de poupança,
2: :iispo­ pelo fato de provocar um despojamento ou "suprimento menor" do presente, por
=~óximo isso mesmo devesse gerar, à guisa de efeito conseqüente, uma diferença maior de
:; :2S. de valor entre bens presentes e futuros, portanto um aumento da dimensão do juro!
c :::Iara o Ora, é óbvio que não é assim, nem pode ser; o que ocorre é que Fisher, repetindo
-ê,j~ total conscientemente um erro já cometido por Carver, entendeu de maneira errônea

II
:: :-:0 pre­ a relação causal existente entre duas séries de fatos que efetivamente apresentam
~êrginal nexo causal entre si. Se já existir, como fato, superioridade dos bens presentes ou
:'" " dimi­ o fenômeno dos juros, ocorrem, como efeitos, medidas de poupança que, se forem
":".2~O me­ exatos o cálculo e o procedimento econômicos, devem ir tão longe que a abundân­
_:-:dades cia do suprimento no presente e no futuro aumenta, e o montante da utilidade mar­

I
"':"ê soma ginal da unidade de bens no presente e no futuro diminui - da forma em que o
: ..::uro.
,ê5 condí­
89 Ver supra, p. 234 et seqs. Naturalmente, resultado semelhante ocorreria também se o motivo que impede uma troca
,~2:Jça da entre os bens a serem aplicados a serviço dos períodos mais próximos e dos mais remotos não forma redução de suprimen­
._, 5e pro- to ao mínimo para a subsistência, mas qualquer outro motivo de natureza factual.
242 TEORIA POSITIVA DO CAPITAL

SUê': '.22
descrevi detalhadamente na página 385 de minha Teoria Positiva. E quanto mais
alto for o juro como fato dado, tanto mais as medidas de poupança teriam de conti­ cace: ::1
mcõ ::i
nuar até um aumento tanto maior das condições de suprimento, no caso de se pro­
115 -~
ceder de maneira perfeitamente econômica. Mas a execução efetiva dessas medidas
ie poupança tem então o efeito de abrandar e reduzir o fenômeno do juro - de inc: .. =l
uma forma sobejamente conhecida com base na experiência e suficientemente ex­ tacc ::
plicada também pela minha teoria 91J a pc:::::
Pois bem, Carver e Fisher, levados pela ligação inseparável entre os dois fatos, se :-.=...."':1
a reõ:..;,Í!
incorreram em erro no que concerne ao nexo causal, e consideraram erroneamente
como causa do juro aquilo que é um efeito dele - aliás, trata-se até de um fator
VOCê': ~
que, entre as suas conseqüências, tem justamente o efeito de abrandar' o juro.
emp~::J
Posicionando-me contra Carver, já ilustrei isso alhures e penso havê-lo feito de for­
não :2"~
ma suficientemente deté:lhada e clara,91 podendo fazer valer também aqui, contra
de \":5'ta
Fisher, o que escrevi na ocasião. Parece-me, porém, que além disso cabe para os
dois autores também a seguinte consideração. O erro comum aos dois é um erro
Fishe~ 1
da mesma estrutura lógica de alguém que quisesse ver a causa da origem de dife­
F:.sl
penc~ (
renças locais de preço nos negócios de arbitragem, gerados pelo aproveitamento
dessas diferenças. Ver-se-á que também esses dois fenômenos sempre andam jun­ E, no <!.
tos. Lá onde surgem diferenças locais de preço, não deixarão de ocorrer negócios cioso. o
de arbitragem; e quanto maiores forem as diferenças de preço, tanto mais se intensi­ do p:".rr
tent~ .,
ficarão os negócios de arbitragem. Contudo, é óbvio que seria totalmente errado
existe '.1
entender essa coexistência como se a causa das diferenças de preço estivesse nos
Supo:;r
negócios de arbitragem, e a causa do montante das diferenças de preço estivesse
na intensidade dos negócios de arbitragem. A verdade é outra: é muito fácil ver que estar:..L'â
sabe~ :3
a existência anterior da diferença de preço é a causa e a ocorrência de negócios
de arbitragem é a conseqüência, aliás uma conseqüência capaz de gerar, por rea­ não c'.."
ção, um abrandamento do fenômeno causador da mesma, se bem que incapaz de . pria. :2'1
suprimi-lo totalmente. Exatamente da mesma forma, na questão que nos ocupa, reco:-:ct
o juro, como fato já existente, gera aquele conjunto de medidas de poupança que se noõ (
próp:.~
levam a poupança ainda para além do ponto de utilidade marginal igual no presen­
dete:.:-j
te e no futuro, na medida em que continuam a subtrair ao presente meios de aten­
pela .::)
dimento às necessidades, até que o valor de uma soma menor de bens seja igual
blerr.e: ,
ao valor de um número de unidades de bens futuros, número este aumentado no
deSSe::: ,
montante correspondente à taxa de juros; e a adoção dessas medidas de poupança
ajuda, por reação, a reduzir paulatinamente o montante do juro - ou seja, da dife­ speC:,-::?1
rença inicial de valor entre bens presentes e futuros -, sem ser capaz de eliminar O:::l
inteiramente o fenômeno da diferença de valor. Ora, Fisher e Carver vêem erronea­ da tG..':C
mente a causa que dá origem à deSigualdade em fatores que, pelo contrário, agem finic?- ~
no sentido de abrandar essa desigualdade, sendo apenas incapazes de fazê-la desa­ pence:-:l
parecer totalmente. Afirrr.e: ~
Com essa falta de clareza a respeito dos nexos causais realmente existentes, .não e ace:-.3I
temp: à
é de admirar que, finalmente, a argumentação de Fisher ainda desemboque num
dete~:-:-.:J
círculo vicioso na explicação - e aqui está minha terceira objeção. Efetivamente,
perfe:c.I
há um círculo vicioso quando, por ordem, Fisher explica: a taxa de juros da socie­
opçc~::
dade é determinàda pelas taxas de preferência (the rates of time preference) do in­
via. ê.,;;
divíduo (por exemplo, à página 131); essa taxa individual de time preference, por
oferta. e
é, se;~.,
Enquanto os estoques crescentes de meios para a subsistência, que naturalmente são aumentados em virtude de cada
'1(1

poupança, permitem levar o aproveitamento dos prolongamentos vantajosos da produção disponíveis a um ponto mais
profundo da escala descendente do aumento da produtividade. Cf. Teoria Positiva, p. 473 et seqs. 92 O; "
91 Geschichte und Kritik. 4" ed., p. 502 et seqs.
EXCURSO XII 243

sua vez, "depende" do "caráter da corrente de renda", na forma por ele suposta para
=·~a.~to mais
cada indivíduo, depois da execução daquelas operações de tomar e dar emprésti­
i::-:-. de conti­ mos, de comprar e vender (p. 132) que têm por efeito (de acordo com a página
õ-:: ::e se pro­
118) "ajustar" a time-shape da corrente de renda de tal modo que a preference-rate
~c.:3 medidas
individual se harmonize com a taxa de juros. Nesse raciocínio, o juro nos é apresen­
:: .''jro - de
-.:2:nente ex­ tado como sendo uma resultante, e a formação dessa resultante nos é explicada
a partir daquelas características dos componentes, que estes assumiram depois de
se harmonizarem com a resultante. Ora, isso não significa outra coisa senão que
::3 :iois fatos,
a resultante encontra a sua explicação em si mesma.
~:~eamente
::2 um fator Aliás, o próprio Fisher percebeu perfeitamente que seu tipo de explicação pro­
-::iar o juro. voca a objeção de círculo vicioso, e num parágrafo especial (§ 5 do capo VIII)
; ~e:to de for­ empenhou-se seriamente em defender-se de antemão contra ela. Mas a tentativa
não teve sucesso, em meu entender. Pelo contrário, sua defesa revela-nos pontos
=-::ui. contra de vista extremamente contestáveis sobre a natureza de uma explicação para qual
:.a.:€ para os
,~ é um erro
Fisher foi seduzido pela sua maneira matemática de pensar e tratar o tema.
Fisher reconhece abertamente que (em sua argumentação) "a taxa de juros de­
~€"1 de dife­
pende de uma série de fatores que em última análise dependem da taxa de juros".
::: ':eitamento
E, no entanto, segundo ele, essa cadeia de conclusões não constitui um círculo vi­
! ::':idam jun­
cioso, como pareceria, já que segundo ele o último passo não é a simples inversão
~2~ negócios
do primeiro (for the iast step is not the inuerse of the first). 92 Passa então Fisher a
'::.:3 :3e intensi­
tentar mostrar, com base num exemplo tirado do campo da Matemática, quando
~.2:;te errado
~xiste um círculo vicioso real e quando existe um círculo vicioso apenas aparente.
é~\'esse nos
Suponhamos que queremos saber a estatura de um pai, quando sabemos que a
ê:: estivesse
estatura dele é o triplo da de seu filho. Mas para saber a estatura do pai temos de
~:J ver que
saber também algo sobre a do filho. Pois bem, se não nos informar nada mais, se­
:':2 negócios
não que a estatura do filho se distingue da estatura do pai pelo dobro de sua pró­
~~. por rea­
pria, certamente o problema é "em círculo vicioso e insolúvel", pois a segunda frase
€ ':;capaz de
reconduz à primeira, sendo apenas uma inversão disfarçada da primeira. Contudo,
~ :-.os ocupa,
se nos dizem que a estatura do filho se distingue da do pai "pelo quádruplo de sua
)<Jança que própria estatura, menos quatro pés", parece - mas não é verdade - que se estaria
:.: -.0 presen­
determinando em círculo vicioso a estatura do pai pela do filho e a estatura do filho
~:5 de aten­
pela do pai; na realidade, porém, segundo Fisher, temos aqui uma solução do pro­
h5 :3eja igual
blema: o pai tem seis pés de estatura, o filho tem dois. "O simples fato de cada uma
:r:-.2ntado no dessas duas grandezas ser especificada por meio de uma relação com a outra (is
!€ ;:>oupança specified in terms of the other) ainda não denota um círculo vicioso".
:;e'.a.. da dife­
Ora, Fisher pensa que exatamente a mesma coisa ocorre com sua explicação
: :':2 eliminar da taxa de juros. Também aqui considera que o "problema" está suficientemente "de­
e:-:-: erronea­ finido", pois também aqui, segundo ele, há tantas gmndezas determinantes e "inde­
[::-ário. agem pendentes" entre si (determining conditions) quantas são as grandezas "desconhecidas".
hzê-Ia desa­ Afirma então, numa exposição mais longa - e de maneira perfeitamente correta
e acertada -, que existe sempre uma única taxa de juros, a qual atende ao mesmo
:Se '1 tes,não tempo às duas condições, a saber, que todos os indivíduos orientem sua opção por
It-:Jque num determinadas correntes de renda com base na referida taxa, e que se equilibrem
fe-tvamente, perfeitamente entre si a procura e a oferta de empréstimos, produzidas por essas
os da socie­ opções. A cada taxa de juros corresponde determinado estado das "opções"; toda­
Er:ce) do in­
via, a uma única taxa de juros corresponde um estado tal das opções, no qual a
f,::"'ence, por oferta e a procura de empréstimos se equilibram perfeitamente no mercado, e esta
é, segundo ele, "a taxa de juros específica que soluciona o problema" (the particular
""'--:-_-=~ de cada
c - ;:::O:lto mais
920p. ci!., p. 147.

--~-~------------- _.-­
244 TEORIA POSITIVA DO CAPITAL

rate of interest, which wil/ solve the problem). Por exemplo, no caso de uma taxa círCL':. :
de juros de 5% é possível que as opções produzidas por essa taxa de juros sejam não :=,
tais que a procura de empréstimos seja inferior à oferta; por sua vez, no caso de um? ~2
uma taxa de juros de 4%, é possível que as opções provocadas por essa taxa de a tex:
juros sejam tais que a oferta de empréstimos seja inferior à sua procura; somente é OL::-~
a uma taxa de juros determinada e média, por exemplo de 4 1/2%, podem ocorrer
forIT.:: ~
simultaneamente as duas coisas, a saber, que as opções provocadas por essa taxa C~

de juros tenham simultaneamente a propriedade de "equilibrar" exatamente o mercado. pro::',,:::


Tudo isso seria muito bonito se a "solução" da matemática e a solução causal de proc:2:
"problemas" fossem a mesma coisa, ou ao menos fossem duas coisas afins. Aconte­ juro:: =
ce que a descoberta de determinada grandeza que se ajusta a determinadaspremis­ jeit? 2 S
sas diferentes e a explicação da referida grandeza são duas coisas completamente juros. ;
diferentes. No exemplo de Fisher, do pai e do filho, a "solução do problema" dada ção s:i
por ele consiste em ficarmos sabendo que o pai tem seis pés de estatura. Mas não feita:-:-.'
ficamos sabendo absolutamente nada sobre por que a estatura dele é de seis pés. a ice:-.:
Não há a mínima relação causal entre a estatura do pai e a estatura do filho. Mas, se :C2:­
mesmo lá onde há nexos causais, a solução matemática - a qual sempre conclui
fad:-:-2
simplesmente do conhecido para o desconhecido - pode concluir tanto do efeito o P:::J
para a causa quanto da causa para o efeito. Se me derem dois dados, a saber, a são ::-:

capacidade volumétrica de uma piscina e o número de dias necessários para enchê-Ia atin;=
de água proveniente de uma fonte, com eles sou capaz de calcular a abundância são ~
da fonte; esta última está "perfeitamente definida" pelos dados conhecidos. Aqui,
tores ;
portanto, a grandeza da causa está perfeitamente definida por dados relativos à gran­ sas ::'2

deza do efeito. Inversamente, se eu conhecesse a abundância da fonte e o tempo ou ~~~

am'::~~
necessário para encher a piscina, naturalmente seria capaz de concluir, por cálculo,

para a capacidade volumétrica e de enchimento da piscina, portanto da grandeza um ::::


da causa para a grandeza do efeito. A definição precisa é neutra em relação ao pro­ mo '-::-:

blema da casualidade, não tendo absolutamente nada a ver com ele. das :-:-.i

Por isso mesmo, a "definição precisa" de um "problema" não significa ainda de paz,:: 5
modo algum que se esteja de posse de uma solução causal adequada do problema nos :::'
em pauta e sobretudo não significa em absoluto uma garantia de que a explicação forr:-:::.
esteja isenta de círculo vicioso. Mesmo em se tratando de um problema matemático aUIT.2~

preciso, pode-se raciocinar em círculo vicioso. Parece-me que foi exatamente este out:'::s
o erro cometido por Fisher. Não há dúvida de que há uma única taxa de juros pos­ bor:: Si
sível que corresponde àquele estado das opções que "equilibra" exatamente o mer­ terr:-::-",
cado: o problema está definido, do ponto de vista matemático. Mas essa definição do '-::1
matemática não diz absolutamente nada sobre que tipo de influência causal existe
arb;,::,,3'
entre os mencionados fatos. Essa interpretação causal ainda tem de ser feita de for­ po ::'J
ma independente. No caso do pai e do filho, fomos obrigados a dizer que não há relé;:
absolutamente nenhum nexo causal real entre a estatura de um e de outro; no caso

da fonte e do enchimento da piscina, no qual há uma interdependência matemátic.

perfeitamente paritária entre os três dados - a abundância da fonte, o tempo ne­

cessário para encher a piscina e a dimensão do espaço enchido com água -, foi br~ --~

co:-: __
muito fácil ver que a causa deve ser procurada na abundância da fonte e o efeito
ne:" :::'-,
deve ser procurado no enchimento da piscina. Assim sendo, mesmo estando preci­ e :- ~ :--õ
samente definida a taxa de juros que coexiste com determinado estado das opções C~-~ ::: ~:::~

Ó c':,,:
e o equilíbrio do mercado, ainda existe margem para uma interpretação do nexo a:...:.,;; : = ::.~
causal realmente existente entre causa e efeito e, conseqüentemente, ainda existe,
;,--:-­
infelizmente, margem para divergências nessa interpretação, e sobretudo ainda há
margem também para um círculo vicioso. A "definição precisa" não imuniza - co­
mo parece pensar Fisher - contra um círculo vicioso real na explicação. Ora, esse
-~-----_ .. _­
EXCURSO XII 245

: :-2 :Jma taxa círculo vicioso existe efetivamente no instante em que Fisher explica a taxa de juros
:-2~,OS sejam não como uma resultante das preference-rate originárias dos indivíduos, mas como
~ :-.:) caso de uma resultante das preference-rate (dos indivíduos) resultantes, harmonizadas com
r -2s.sa taxa de a taxa de mercado e com base na taxa de mercado; pois isso, na realidade, não
[_~ somente é outra coisa senão explicar a formação da taxa de juros a partir da taxa de juros
:·:·:2m ocorrer formada, ou seja, explicar a resultante a partir da resultante. 93
,-=: essa taxa
r Cabe finalmente citar ainda outro traço peculiar à maneira de Fisher tratar o
l.:-2 =: mercado. problema do juro, que também pode ter contribuído para falsear toda a visão do
".::~: causal de problema. Com efeito, Fisher não separa, como fiz eu, a explicação da origem do
-=""'::-.5 Aconte­ juro do capital da explicação da taxa de juros, mas intencional e expressamente re­
c-::: as premis­ jeita essa separação, limitando sua exposição aos fatores que determinam a taxa de
c :-:-.~letamente juros; é que, em seu entender, "a definição da taxa de juros inclui também a defini­
r: ::."ema" dada ção sobre se a taxa necessariamente deve ser sempre superior a zero".94 Isso é per­
~=-_,=. Mas não feitamente correto, se entendido cum grano salis. Entretanto, esse método dificulta
€ :e seis pés. a identificação clara dos fatores que dão origem ao juro, pois estes de modo algum
=:: :':Iho. Mas, se identificam com os fatores que determinam a taxa de juros, ao contrário do que
"":-:-.:Jre conclui facilmente se poderia pensar à luz de uma análise superficial e ao contrário do que
::::-.:'0 do efeito o próprio Fisher talvez tenha imaginado, Todos os fatores que dão origem ao juro
::: 5 a saber, a são indiscutivelmente também fatores determinantes da taxa de juros efetivamente
S -: ::_!Cl enchê-la atingida, mas, inversamente, nem todos os fatores determinantes da taxa de juros
~ 30undância são também fatores que dão origem ao juro; pelo contrário, eles podem até ser fa­
[-2::00S. Aqui, tores (superados l) que impedem a ocorrência do juro. Ao perguntarmos pelas cau­
E.=.:::VOS à gran­ sas de uma inundação, certamente não se poderá enumerar entre elas as represas
r:-2 e o tempo ou reservatórios de água, introduzidos no leito do rio para evitar ou pelo menos
c :Jor cálculo, amenizar enchentes, ou outro elemento conexo com estes; e no entanto eles são
,: ~3 grandeza um fator determinante da altura da enchente que acaba ocorrendo. Eles atuam co­
--2::;ão ao pro­ mo um obstáculo contra a ocorrência da inundação, isto é, contra a ultrapassagem
2.~
das massas de água levadas pelo rio por sobre suas margens; e embora sejam inca­
::- :':.::a ainda de pazes de impedir inteiramente essa ultrapassagem no caso determinado, pelo me­
:c :0 problema nos atuam suavizando a dimensão da enchente. Pois bem, exatamente da mesma
forma, além das verdadeiras causas da origem - que são aquelas que geram ou
12 :: explicação
:-::: :-:1atemático aumentam a superioridade dos bens presentes sobre os futuros -, existem também
~.:::?mente este outras circunstâncias que, pelo contrário, tendem a reduzir essa superioridade, em­
c :2 juros pos­ bora sejam fracas demais para suprimi-Ia inteiramente; são sem dúvida fatores de­
a:-:-.2nte o mer­ terminantes da taxa de juros, e no entanto indiscutivelmente não são causas da origem
.:: ::sa definição do juro. Têm para com a existência do juro a mesma relação que os negócios de
l.:: :c.usal existe arbitragem têm para com a existência de diferenças locais de preço, ou que o "esca­
s;.:;, :eita de for­ po" que regula o movimento do relógio tem com o movimento do maquinismo do
~, .J.ue não há relógio.
: ...::ro: no caso
c:: :-:1atemátic. '),1 Justamente a ilustração do próprio Fisher apresenta alguns traços que quase evidenciam o que na verdade ocorre. Se,
Fisher, por exemplo, demons!Oa Ip. 148: ver supra, p. 244) que, ocorrendo determinados fatos originários (correntes de
E :. tempo ne­
renda e taxas de preferência individuais no início), a taxa de juros de 5% não pode ser aquela na qual o mercado se equili­
:-:- água -, foi bra. então quais podem ser as forças em virtude das quais a taxa de juros é reduzida daquele nível que não é possível.
c :-.:e e o efeito como definitivo, para o nível necessário e possível como definitivo de 4 1/2%? Porventura não é claro que essa alteração
necessária só pode ser produzida pelo estado de forças originárias que ainda está em busca do equilíbrIo do mercado.
-2s:ando preci­ e não pelo estado de forças que resulta ao final, depois de totalmente atingido o equilíbrio do mercado'l Pois é evidente
,:::: =ias opções que a causa de uma alteração necessária nunca pode ser um estado que só pode ocorrer depois de efetuada a mudança'l
O procedimento de Fisher em nossa questão parece-me oferecer um exemplo muito instrutivo dos perigos metodológicos
:.::::ão do nexo que podem resultar da preponderância de uma análise matemático-formalística e sobretudo do fato de se privilegiar a "idéia
E ?::tda existe, de função" em relação à "idéia de causalidade" Tal atitude é um engodo para a pessoa tranqüilizar-se prematuramente
'-_:0 ainda há num ponto em que apenas se chegou a constatar uma "interdependência claramente definida", e anestesia a vigilância que
se deve ter contra os erros. ainda Possíl./eis a esta altura, na interpretação causal dos fatos conexos. Quanto a isso, ver
_=-=-. ...::tiza - co­ o Excurso VIII, p. 140, nota 10.
, - ~., Ora, esse "" Op. Clt. p. 93
246 TEORIA POSITIVA DO CAPITAL

me:-::~ J
Ora, Fisher, ao tratar do problema, não separou de forma clara e explícita os
fatores determinantes da origem do juro dos fatores que determinam a taxa de ju­ prin::: ::
de :::,,5
ros, e por isso foi mais fácil escapar-lhe à atenção o fato de que aquele indiscutível
entre :5
fator determinante do juro que reside nas medidas de poupança, geradas pela pró­
rios. :..;
pria existência do juro,95 e que com sua ação tende a abrandar o fenômeno do ju­
a qL::=.
ro, não é um fator da origem do juro!
den::-: :
que :-:-.€
Assim, pois, não obstante reconhecer que a argumentação de Fisher impõe o
maior respeito em razão de sua coesão e profundidade, contra ela tive de levantar
toda uma série de objeções das mais sérias. A despeito destas considero a teoria
de Fisher uma das mais significativas realizações no campo da teoria do capital e
uma tentativa muito interessante de apresentar em generalização diferente e ainda
mais simples os fatos nos quais assenta a "teoria do ágio" do juro. Contudo, pelas
razões que expus em detalhe, não posso considerar bem-sucedida essa tentativa e
penso que, em comparação com ela, a concepção por mim defendida merece no
mínimo a preferência relativa.
E para finalizar, ainda uma observação.
Facilmente eu teria podido vulgarizar toda a contravérsia travada por Fisher e
Bortkiewicz. Com efeito, do ponto de vista formal, ela gira propriamente apenas em
torno de um detalhe, a saber, se o "terceiro motivo" por mim aduzido, cuja influên­
cia efetiva sobre o fenômeno do juro não é contestada, ou pelo menos não o é ex­
pressamente,96 é um motivo independente para além do "primeiro motivo", ou é um
mero motivo parcial dentro do "primeiro motivo". Portanto, trata-se diretamente ape­
nas de uma simples questão de nomenclatura.
Ora, eu poderia muito bem ter-me limitado simplesmente a fazer as seguintes
constatações: que tal questão de nomenclatura tem de per si uma importância me­
ramente secundária; que eu mesmo, por iniciativa própria, considerei, de per si, per­
feitamente discutível agrupar os motivos de tal modo que o primeiro deles se funda
com o terceiro,97 que, demais a mais, eu tinha formalmente razão ao dispor os mo­
tivos da forma que o fiz, pois meu terceiro motivo está indiscutivelmente fora de
meu primeiro motivo, na medida em que explicara que meu terceiro motivo consis­
te nas diferenças de condições de suprimento, decorrentes "de outra causa"98 - de­
talhe este que parece, aliás, haver escapado a meus dois adversários. Todavia, essa
abordagem formalística da controvérsia teria desviado a atenção e a discussão das
divergências objetivas muito mais profundas que desempenham um papel na moti­
vação do ponto de vista formalmente divergentes de meus opositores. Essas diver­
gências objetivas, uma vez presentes no pensamento da teoria econômica, certamente
teriam levado, mais cedo ou mais tarde, também a conclusões de maior relevância,
razão pela qual preferi abordá-las já na primeira ocasião que se me ofereceu e submetê­
las ao julgamento daqueles colegas de especialidade que se interessem pelos últi­
mos fundamentos teóricos do juro do capital. Acontece aqui o mesmo que ocorre
em determinadas lides jurídicas, nas quais o objetivo reclamado é uma bagatela,
mas nos "considerandos" o julgamento é feito acerca das questões jurídicas de princí­
pio, da máxima importância: é uma bagatela, se o "terceiro motivo" é extrinseca­

l)5 Respectivamente, naquela parte das medidas de poupança que é provocada justamente pela existêncía do juro; outra
parte das medidas de poupança seria adotada mesmo sem o juro - como é sobejamente conhecido e foi salientado com
freqüência suficiente (por exemplo por Carver e Landry).
96 Ver supra. p. 196. sobretudo nota 4.

97 Ver a nota à p. 290 da minha Teoria Positiva. presente já nas duas primeíras edições

98 Teoria Positiva. 2' ed., p. 286; ver supra, p'. 230 do presente Excurso.

___ u_~_"'" .. "" """,,, .. - -'-"'""""O.....~ _

EXCURSO XII 247

<::':'J:ícita os mente independente do primeiro ou se deve ser arrolado como subitem do item
:~~a de ju­
principal "primeiro motivo"; entretanto, é da máxima importância, para a evolução
:"'. ::::scutível de nosso pensamento sobre o problema do juro do capital, saber se o nexo causal
~5 ;:leIa pró­
entre os fatos que cercam o fenômeno do j4ro é aquele que supõem meus adversá­
:"'.2:"'.J do ju­
rios, ou aquele que eu penso dever supor. E por isso que não fugi a uma discussão,
a qual, uma vez que decidi entrar nela, me obrigou a inserir quase um novo livro
dentro da presente obra; inserção esta, aliás - disto tenho perfeita consciência -,
que merecerá o reconhecimento de pouquíssimos leitores.
._.mpãe o
:2 :evantar
2~:: a teoria
:::: capital e
':"'.:2 e ainda
':_:::0. pelas
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: _'=. :nfluên­
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L.e:lte ape­

~ 5eguintes
j'-~:"'.cia me­
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!~:-:: fora de
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~-5as diver­
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: ;:2)OS últi­
:-..:" ocorre
i2.. :-agatela,
~ :::e princí­
extrínseca­

:ê : : --..:ro: outra
r 3: .,:-.:ado com
EXCURSO XIII

Relativo à Evolução Histórico-DoutrinaI do Sistema dos

Bens duráveis no Quadro da Teoria do Capital. Algumas Glosas

Críticas às Teorias do Juro de CasseI e Landry

(Para as p. 117 et seqs. e 293 et seqs. da Teoria Positiva)

A idéia de que a fabricação de bens mais duráveis, analogamente ao que ocor­


re com os fatos de técnica da produção conhecidos sob a denominação básica de
"produtividade do capital", exerce uma influência causal sobre a origem e a taxa de
juros do capital penetrou na teoria moderna do capital através das etapas que seguem.
O primeiro que viu e analisou tal conexão foi Rae; aliás, partindo das condições
da técnica de produção ocorrentes na fabricação de tipos mais duráveis da mesma
espécie de bens, só o fez até concluir para a necessidade de uma baixa da taxa de
juros quando se passa a fabricar tais tipos mais duráveis. Com efeito, Rae vê com
muito acerto que a fabricação de um tipo mais durável de uma espécie de bens
remunera o dispêndio adicional de trabalho. via de regra exigido por ela, somente
em um período posterior e vê, também aqui com perfeito acerto, que, para remune­
rar com o mesmo percentual de ganho o referido dispêndio adicional de trabalho
para um período intermediário cada vez mais longo, a produtividade de ulteriores
acréscimos de trabalho teria de crescer numa progressão geométrica, respectivamente
o mesmo acréscimo em duração do respectivo bem teria de ser produzido por um
acréscimo decrescente de trabalho em progressão geométrica - o que, segundo ele,
é impossível a longo prazo. 1 E justamente por isso que, em seu entender, a fabri­
cação de tipos mais duráveis tem necessariamente de acarretar a diminuição do per­
centuah:le rentabilidade. Entretanto, Rae ainda não chegou a ir além dessa constatação,
que aliás não deixa de ser importante e de conter germes fecundos. Em particular,
ele ainda não aplica essa idéia para explicar a origem do juro do capital: deduz dela
_não propriamente uma causa da existência do juro,2 mas antes apenas um elemen­
to regulador da taxa de juros - aliás um fator que impede o juro de manter-se num
patamar mais elevado. Em decorrência, não dá destaque ao aspecto vantajoso, e
favorável ao suprimento do juro, da relação técnico-produtiva existente entre o au­
mento dos gastos de produção e o aumento da durabilidade (o aumento da durabi­
lidade desproporcional em relação ao aumento dos gastos); ao contrário, destaca
'0 aspecto negativo, desfavorável à manuntenção durável de uma taxa de juros mais

1Cf. minha Geschichte und Kntik. 4~ ed, p. 285.


2Quanto aos conceitos nos quais Rae procurou basear sua explicação propriamente dita do juro do capital, ver minha
Geschichte und Kritik. 4~ ed., p. 294 et seqs

249
-:-=:OR!A POSITIVA DO CAPITAL

:: •• G peio fato de não ser possível um acréscimo igual de duração por meio de um das. Têr -:,1
a::réscimo adicional de trabalho que decresce em progressão geométrica). Como que dãc :3
é sabido. as idéias de Rae, até o momento de sua redescoberta literária por Mixter tambérT. " .
lem 1897), não tiveram influência nenhuma sobre a evolução ulterior. riormer,:i'
O próximo passo foi dado por mim, quando, no primeiro de meus três estudos Na:~:-a
sobre Algumas Questões Controversas da Teoria do Capital (1899), à página 24 mariami'-:4
et seqs., vi na fabricação mais demorada de bens de produção uma forma de pro­ tivo, de\i':-.
longar métodos de produção indiretos demorados, e conseqüentemente a inseri na obra, a õ,,:

série daqueles fatos de técnica de produção que exercem um influência causal so­

bre todo o fenômeno do juro, tanto sobre a origem dele como sobre sua taxa; ao

fazê-lo, não deixei de formular - sucintamente, mas também com clareza - a pre­

missa técnico-produtiva da referida influência. dizendo que "o aumento de duraç,ão

é maior do que o aumento dos meios de produção a despender, aumento este ne­ Cassi'o

cessário para esse fim". A maneira mais concisa de caracterizar o estágio doutrinai ria gera, =:

alcançado com esse passo talvez consista em dizer que com isso se compreendeu
contra a:.:.
apenas uma parte do fenômeno, isto é, apenas os fenômenos ocorrentes nos bens
de produção duráveis: mas essa parte foi plenamente aplicada às outras tarefas de
do ele. G =r
ra" (p. SS'
explicação da teoria do capital. Propositadamente passo aqui por cima da explica­ que eu r.i':
ção do juro a partir de bens de consumo duráveis, explicação que já apresentei na liosa co r. :
Teoria Positiva do Capital (1889), pois ela não revela uma influência que, partindo o probler.~
do fenômeno dos bens de consumo duráveis, explicaria a origem do fenômeno do seI dá u:-:-a
juro em geral; pelo contrário, apenas aplica a teoria geral do juro do capital, basea­ é pago p2.:
da num complexo diferente de causas, para explicar os fenômenos específicos do lista; e fL;:-.::
juro ocorrentes em bens de consumo duráveis: os fenômenos ocorrentes em bens ma únicc :
de consumo duráveis não têm aqui o papel de explicar (juntamente com outras causas um e meS:-::l
parciais), senão que figuram exclusivamente como fenômenos explicados. Tampouco segundo i':-i
cabe mencionar, nesse quadro global de evolução doutrinaI, as abordagens que a preço pc;:
teoria mais antiga do uso apresentou sobre o tema dos bens duráveis: isso, em parte paga G P:2:
pelo mesmo motivo, em parte por que tais abordagens desembocam em caminhos juro é a 25:=
totalmente diferentes, aliás errôneos. do capi:c '
Depois de mim, o próximo passo foi dado por Cassei (Das Recht aufden voIlen Cor.:: ~
Arbeitsertrag, 1900; e Nature and Necessity of Interest, 1903) e, mais ou menos tradicior.ê.:-:
ao mesmo tempo e da mesma forma, por Landry (L'Utilité Sociale, 1901; e L'Intérêt conceituê':,
du Capital, 1904). Os dois autores, introduzindo os bens de consumo duráveis, es­ de autores
tendem a análise à totalidade dos bens duráveis, e os dois enquadram todo esse foram cC:-.õ:
grupo mais amplo de fenômenos entre as causas da origem do juro do capital; Cas­ nativame:-:;
selo faz qualificando (Nature, p. 96 et seqs.) o waiting for consumption of durable, so, aliás. :"j
goods como primeiro e mais importante (most important) setor de toda a demand a cada L:-:-.~
for waiting, sendo que o juro se origina do fato de este último sobrepujar o supply mente !Lr.':
of waiting; e Landry o faz (L'Intérêt, p. 91 et seqs. e 146) enumerando como sexta ser levaé:s
das causas, em virtude das quais o capital recebe um juro, "a possibilidade de pro­ do não e'~.~
duzir bens de consumo duráveis, aos quais se atribui mais valor do que a bens con­ tência de ::...'
sumíveis cuja fabricação demanda o mesmo dispêndio".3 Assim sendo, os dois de "uso .::
autores têm o mérito de haver efetuado uma generalização, que era necessária. Em incluído err:
minha opinião, porém, o mérito dos dois fica diminuído pelo fato de terem feito siderar c: r:­
retroceder a solução do problema, ao desdobrarem os fios de explicação que par­ das temê::;
tem das referidas causas da origem do juro, em si mesmas corretamente caracteriza­

4 CasseI 2-:' -; "


faz Lanc~-_ :._
1 Cito aqui apenas as obras mais tardias dos dois autores. já que as de publicação anterior foram por eles superadas sob as duas ­
todos os aspectos - a Hás também na própria avaliação deles. ~ Op. c;[ -.:::
_"'"....._ ... ·=='"-"'"~=7""'=C_.·.,,·"'.,._.,C"'--_~~·· .g""......,.....=_"".~., . ".,~ ..,',:,"'''''~.'--- __ .­
~~--_

EXCURSO XIII 251


[-= :: :e um das, Têm eles razão em acrescentar uma nova causa parcial, mas falham na explicação
Como que dão tanto às causas parciais antigas quanto às novas, e com isso deterioram
:: :: ~ ~lixter também a explicação global a partir das outras causas parciais já conhecidas ante~
riormente,
.~:, 25tudos Naturalmente, não posso emitir esse juízo sem fundamentá~lo pelo menos su~
:: é.;na 24 mariamente; por isso, antecipo aqui algumas análises que, pelo seu conteúdo obje~
-:-~::. =:e pro~
tivo, deveriam encontrar seu lugar propriamente na outra parte principal da minha
:: .--:seri na obra, a saber, na História e Crítica das Teorias do Juro,
:::.'.,;sal so~
E :e.xa; ao
z - a pre~
:-= ::uração
!::: 2ste ne~ Cassei parte do pressuposto de que "a teoria do juro é apenas um lado da teo­
[ ::::>utrinal ria geral do preço" (p. 62), e conseqüentemente o juro é um preço - afirmação
:-.:: ~ 2endeu contra a qual certamente não se pode, de per si, objetar nada - e portanto, segun­
'-': :-.::>s bens do ele, o problema do juro deve ser tratado como "um problema de oferta e procu­
; :,,-~efas de ra" (p. 55) - e também contra isso evidentemente não há nada a objetar, se bem
c::. 2xplica~ que eu mesmo não consiga ver nesse dado, bastante óbvio, uma conquista tão va­
1'"252:itei na liosa como o fazem Cassei e Landry.4 A questão central na qual está contido todo
~. "Jartindo o problema é naturalmente esta: "A troco de que se paga juro?" A essa questão Cas­
t::-=-eno do se! dá uma dupla resposta bem singular. Responde ao mesmo tempo que o juro
c::. .. basea~
é pago pelo "uso do capital" e que ele é pago por uma "espera" (waiting) do capita­
c:::cos do lista; e funde essas duas respostas, aparentemente discrepantes e contraditórias, nu­
,5 2m bens ma única, comentando que as duas denominações designam uma e mesma coisa,
~~s causas
um e mesmo objeto, que apenas é visto, pelas duas partes, de dois lados diferentes:
_"-::1pOUCO segundo ele, a espera é o sacrifício em troca do qual o capitalista é indenizado pelo
;.;: -.5 que a preço pago no juro, e o uso do capital é a vantagem em troca da qual o mutuário
: 2m parte paga o preço que consiste no juro; do lado da oferta, o objeto pelo qual se paga
: :e.minhos juro é a espera, e do lado da procura esse objeto (objetivamente idêntico) é o uso
do capita1. 5
r:: 2 "1 vollen Como se sabe, tanto o waiting quanto o "uso do capital" têm sido considerados
c''': menos tradicionalmente como o tão procurado suporte do juro, por parte de certas teorias
_2 :"''Intérêt conceituadas e amplamente difundidas; até agora, porém - pelo menos por parte
L.:-é.',eis, es­ de autores que fizeram questão de falar com clareza -, nunca esses dois fatores
: :::·do esse foram considerados suporte do juro do capital, cumulativamente, mas sempre alter­
::.:: ::a1: Cas­ nativamente, ou seja, fatores de explicação que se excluem mutuamente; sobre is­
:-- durable, so, aliás, falaremos mais adiante, Todavia. sabe-se também que, de há muito tempo,
"- iemand a cada uma das duas mencionadas teorias se tem levantado, de forma minuciosa­
~ J supply mente fundamentada e em todo caso com argumentos que até certo ponto devem
:c~,o sexta
ser levados a sério, a objeção de que o suporte autônomo do juro por elas postula­
;':::2 de pro­ do não existe na verdade; tem-se-lhes objetado que não há como demonstrar a exis­
~ C2ns con­
tência de alguma "abstinência" ou alguma "espera", nem qualquer espécie imaginável
:c os dois de "uso do capital" que seja um elemento de tal forma autônomo e já não esteja
?5s3.ria, Em incluído em outro fator remunerado pelo preço dos bens, de sorte que se possa con­
:.;::-em feito siderar como remuneração específica desse elemento, o juro, no sentido das referi­
c ::ue par­ das tentativas de explicação; pelo contrário, tem-se objetado que todas as tentativas
::::.:-3cteriza­

4 Cassel·enaltece esse dado como Q "fundamento de uma teoria científica do jurá' (op. cit., p. 55) e, similarmente ao que

faz Landr~J (do qual ainda falaremos adiante), atribui a máxima importâ.ncia à esquematização de toda a matéria segundo

: : _-::: ~adas 50b


as duas categorias oferta e procura.

S Op. cit.. p. 37, 48, 63, 67 e muitas outras passagens.

252 TEORIA POSITIVA DO CAPITAL

de tabricar esse algo autônomo a partir de ou juntamente com outros fatores em o conee.::::
questão acabam num equívoco cálculo duplo ou em especulações místicas total­ incorre 2:-:-.
mente irreais. Sobretudo no que concerne ao "uso do capital", as diferentes interpre­ conee:l::: :."
tações dadas a esse conceito foram examinadas criticamente, sendo exaustivamente abstratc. .::.-=
testadas as possíveis vicissitudes que possam ocorrer na relação do pretenso "mero advert:== :
uso" com o valor dos próprios bens e com os de seus serviços; e uma vez que não eliminé.-:=:::
se conseguiu demonstrar uma saída satisfatória - em nenhuma direção - do labi­ a expre:::s~{
rinto lógico ao qual se é conduzido pela hipótese do "mero uso", acabou-se fazendo que se :::::~
aos eventuais defensores futuros da teoria do uso independente do capital o apelo que to== :"
no sentido de "afinal demonstrarem positivamente a existência desse 'uso durável' com o::: =_=
diferente do consumo, uso pela qual supostamente se paga o juro, e de dizer com ou use. =.-=
muita clareza em que consiste propriamente tal uso". 6 do va]c~- ­
Sendo essa a situação, para um autor que no ano de 1903 quisesse retornar dos be:-.:::- : :
a essas idéias e doutrinas antigas certamente haveria algum motivo para não fazê-lã - o il::-: ':J
sem apresentar alguns esclarecimentos e sem discuti-las: seja para mostrar que e o preçe :':
por que não considerava procedentes as referidas objeções levantadas já contra as porver.:_~

formulações antiga.s da teoria da abstinência e do uso, seja para expor os motivos zias e c.::: :::.'"
pelos quais considerava não estar exposta a essas objeções, em particular, sua for­ e dú\'·:c.=.::: '2
mulação nova e modificada, seja, finalmente, para em todo caso atender ao apelo a crítieê :-.=-'
no sentido de falar com maior clareza. Infelizmente, Cassei não se sentiu obrigado a qual C:=~-,
a entrar em nenhuma dessas discussões nem a dar nenhum desses esclarecimen­ por ele .:-'.'
tos; contenta-se, basicamente, em reqfirmar, com ingenuidade e cheio de confian­ A:::~1
ça, as antigas teses postas em dúvida. E verdade que lhes acrescentou também alguns lhas iCé:.=.-~
elementos novos - e talvez tenha pensado que com isso havia criado uma situação surpree:-. :2
tão modificada que as antigas objeções já não o atingiriam; acontece que seus no­ tal"; ses..::-::
vos acréscimos não mudaram nada no essencial, estando ainda mais longe de me­ nominc.::02
lhorar algo na situação; não somente não eliminam nenhuma das objeções que já Mas es:::·= a
militavam contra a doutrina antiga, mas, pelo contrário, às objeções antigas acres­ não fo::-:-.:::'5
centam ainda outras novas. ditório. :-:-.=
O primeiro acréscimo de Cassei consiste em explicar que o pretenso uso do por ur:e ::~
capital "consiste no uso de certa quantidade de vaiar durante determinado tempo". Noter:e:::::: :>
Parece quase que com essa afirma..Ç:ão Cassei pensou haver realmente atendido ao prio are ::.::?
apelo de falar com mais clareza. E certo, pelo menos, que coloca essa afirmação e o de _s=::
diretamente em conexão com a pergunta expressamente formulada: "In what con­ os do:::: C.=
sists the use of capital?", e com a intenção manifesta de eliminar a "imprecisão" da mente :::::::.=
referida expressão, notada e lamentada por ele mesmo (p. 45); acredita até poder var de ::: =-=.5
enaltecer expressamente sua fase explicativa - cuja autoria atribui a Turgot,7 afir­ disso :2:-:-. :
mação não totalmente incontestável - dizendo que ela "nunca foi posteriormente um u::::: ': 1
superada em clareza e precisão" (p. 20 et seqs.). por pc,-2 j
Mas será que realmente o conceito problemático de uso do capital ganhou algo para ' '::-:-. :,::
em clareza e plasticidade pelo fato de, a partir de agora, em lugar de uso de bens do nc.:":~=":
concretos se falar de uso do vaiar dos mesmos? Sera que, pelo contrário, com isso transfe~2-.=
o:=~'2
de SLê::: ::"'"1
6 Quanto ao fator "abstinência" do qual o waiting se distingue apenas por ser uma terminologia melhor - ver a exposição ele fo:-=:~
detalhada em minha Geschichte und Kritik der Kapitalzinstheorien. 4' ed., p. 241 el seqs quanto à variante especial do desv::-.·:_.=o!
wailing, ver também as p. 481 el seqs. (em relação a Marshall). p. 482 el seqs quanto ao fator "uso do capital", cf. ibid ..
p. 172 et seqs, bem como Teoria Posiliva, 2' ed. alemã. p. 302 el seqs., sobretudo 311 (nesta edição. p. 302 el seqs ..
tranSI2:-:::-.:
respectivamente 307J

7 No que concerne à autoria de Turgot, em outra oportunidade (Teoria Positiva, 4~ edição, p. 22 na nota) já observei que

CasseI. em sua tradução. corrigiu arbitrariamente o texto de Turgot num detalhe que de modo algum é indiferente, justa·

mente para o ponto em controvérsia: traduz o plural ualeurs de Turgot - plural que ocorre, por exemplo. também nas b Tec-, c:··

expressões valeurs mobilieres. ualeus accumulées, ualeurs produites etc. - pelo singular value, palavra que no mínimo 9 "It " oc'" :

tem sentldo diferente. des:"",,' ,­


"~?j'. _=>O""'"""".,.=-'"=_,. ~.~~. -~..,.~- ~ ..

EXCURSO XIII 253

:; :=.-ores em o conceito não se tornou ainda mais místico? Porventura esse modo de falar não
~:::::as total­ incorre em todas as capciosidades e confusões às quais conduz o misticismo de um
::~: :nterpre­ conceito de capital desvinculado dos bens de capital e orientado para uma soma
:_:::::-,amente abstrata de valor - capciosidades e confusões para as quais a crítica também havia
::~:-.::o "mero advertido bem explicitamente,8 sendo que CasseI também aqui nada fez para
-.~ cue não eliminá-Ias ou evitá-las? Que coisa ou que processo haveremos de imaginar com
o:: - 'do labi­ a expressão "uso do valor"? E se já estamos à procura de um conteúdo palpável
é..-::2 fazendo que se possa atribuir ao referido conjunto de palavras, porventura não é verdade
;-:3.: o apelo que toda tentativa desse gênero clama formalmente por um confronto explicativo
-_:: J durável' com os outros conceitos portadores - certamente legítimos - do termo utilização
:2 :::'zer com ou uso; clama por uma explicação e ordenação da relação existente entre o "uso
do valor" - pelo qual supostamente se paga o juro líquido do capital - e o "uso
ê:::2 retornar dos bens" ou seus "serviços", pelos quais se paga ora - no caso de bens duráveis
c -~o fazê-lo - o juro bruto, que inclui o juro líquido. ora - no caso de bens consumíveis ­
,cõ:::-ar que e o preço de compra dos próprios bens. o qual não inclui um juro líquido? Em suma,
; •§. contra as porventura toda tentativa real desse gênero. que não se contenta com palavras va­
'é :::: motivos zias e altissonantes, não desemboca compulsoriamente em todas aquelas questões
'-_:c.:-. sua for­ e dúvidas e sobretudo naquelas alternativas e dilemas fatais que já há muito tempo
e2: ao apelo a crítica havia levantado contra o "mero uso do capital" independente, crítica com
:::..: obrigado a qual CasseI acredita não precisar preocupar-se em razão do termo "uso do valor"
$c:3.recimen­ por ele inventado e acrescentado?
) ::2 confian­ A segunda inovação que Cassei acrescenta ao material antigo, comum às ve­
::-:-2m alguns lhas idéias da teoria da abstinência, de um lado. e da teoria do uso, de outro, é a
~::-.3. situação surpreendente explicação que dá para a identidade do waiting com o "uso do capi­
c.":2 seus no· tal"; segundo ele, os dois são uma e mesma coisa, tratando-se apenas de duas de­
C:-;8 de me­ nominações sinônimas, de acordo com o ponto de vista pelo qual a coisa é encarada.
e;5es que já Mas essa afirmação pode ser uma verdade científica? Por acaso é possível - se
c::;as acres- não formos violentos com relação às palavras e não lhes dermos um sentido contra­
ditório, mas o sentido que têm na linguagem usual - afirmar que o ato de esperar
'<':-.::0 uso do por um prazer se identifica materialmente com o ato de usar ou utilizar um capital?
~"",.:.o tempo". Notemos bem: o próprio ato de esperar teria de ser materialmente idêntico ao pró­
. =.:endido ao prio ato de usar, não bastando, por exemplo, que um e outro - o ato de esperar
SE. afirmação e o de usar - se refiram a um terceiro objeto qualquer, que seria o mesmo para
~-,;:hat con­ os dois. Certamente esta última alternativa seria muito bem possível; aliás, é exata·
::::ecisão" da mente isso que ocorre efetivamente em minha concepção, como gostaria de obser­
:2 até poder var de passagem: efetivamente, o credor abre mão de um prazer presente e em troca
-:-..::got, 7 afir­ disso tem direito a uma remuneração, e por seu turno o devedor obtém realmente
:-:::2::ormente um uso e por isso concorda em pagar uma remuneração. Entretanto, o não-uso
por parte do credor, de um lado, e o uso do devedor, de outro, ambos se projetam
;=':lhou algo 'para um terceiro objeto comum, isto é, para os bens (presentes) emprestados, sen­ \
t
_::0 de bens do naturalmente justo que esses bens constituem o objeto verdadeiro e próprio da
transferência, cujo equivalente (parcial) é o juro.

I
~=. com isso
Ocorre que é justamente isso que CasseI pretende negar. Com efeito, o pivô
de suas argumentações é que a "espera", por ele forjada, e o "uso do valor", por
exposição
.", ~ 3. ele forjado, têm uma existência autônoma e constituem um objeto autônomo ­ I
• -" especial do desvinculado dos bens e do uso dos bens - e até o objeto propriamente dito da I

I
:cc.:al-. cf ibid ..
~: :·JiJ2etseqs.,
transferência;9 ele não diz que a "espera" e o "uso" se referem a um terceiro objeto,
:: :: Clservei que
.:. :: :2:'2nte, justa­
.- - :ômbém nas 8 TeOria Positiva. 2? ed. alemã, p. 61 et seqs.: mais detalhadamente, agora, nesta edição. p. 80 et seqs. I
,-:: .:: _-:. iO mínimo 9 "It is stated C.) lhat interest is the price paid for an independent and elementary factor of productlon (essas palavras são
destacadas em itálico pelo próprio CasseI) which may be called either waitlng ar use of capital" Op cit.. p. 67
i

I
~ -:-::JR:-'; POSITIVA DO CAPITAL

2:2::'.a:-r.ente transferido e remunerado no juro - terceiro objeto que em parte aI· aos r",:2
':'~:-:1a menciona ou descreve -; pelo contrário, com a máxima ênfase possível afiro
deria . .::
::'.2: que esses dois atos são o objeto transferido e são uma e mesma coisa, coisa e da S~i
:::êntica. E com isso nos impõe efetivamente a difícil tarefa de modificar e remanejar bilida'::2
não a:~,
de tal forma nosso conceito de "espera por,um prazer" que esse acaba coincidindo
com nosso conceito de "uso" e vice-versa. E difícil não lembrar aqui do Polônio, de aliás. :-:2
Shakespeare, com sua nuvem, que representa um camelo, mas ao mesmo tempo elem2:-:i
"pro\'a :
representa também uma doninha e uma baleia!
CasseI chegou até a tentar uma demonstração formal, que pretende forçar nos­ blemá:::c
sa fantasia rebelde a convencer-se, através de uma conclusão lógica, da existência uso. e:-.'
dialét::J
da referida identidade, difícil de se entender. Parte da afirmação de que sua concei­
tuação do "uso do capital" - aceita já por Turgot e ratificada por Menger - define ontolé::i
rado ~-;
este último como uma' "grandeza aritmética".
mentc c
ser pe::l
"Disso se infere diretamente que o uso do capital é uma grandeza bidimensional, uma D;~,
vez que sua medida constitui determinada soma de valor multiplicada pelo tempo de vigente
uso Cthe measure of it being a certain sum of value into the time of use'). Ora, está é
a mesma medida que a medida para o waiting; e em conseqüência disso podemos con· e se e:.;r
cluir que a espera e o uso do capital designam uma e mesma coisa ('and consequently do utr.:-.ê
we may infer that waiting and use of capital denote lhe same thing')".lO de Cass
mas a...~:i
Mas porventura isso não é uma dialética visivelmente precipitada e precária? nal. c:::
Mesmo que se tratasse de duas coisas que existissem efetiva e indubitavelmente, expos:;z
o fato de se poder aplicar o mesmo padrão de medição ou a mesma fórmula mate­ no cas:)
mática às duas dificilmente seria uma prova plenamente válida para sua identidade pecta ::1
material - sobretudo se, como acontece aqui, são tão fortes os motivos intrínsecos o da 7:
que depõem contra a possibilidade da identidade entre elas. Ocorre que, no caso, pect·,:s
de modo algum se trata de "fatores elementares" de existência indubitável; a verda­ nomas
de é que a existência das duas coisas é apenas postulada por hipóteses para expli­ dessa :,
cação, aliás por hipóteses que, na concepção até hoje vigente sobre a matéria, têm - Pc.s
sido consideradas rivalizantes entre si, hipóteses explicativas que se excluem reci­ dele :-.:
procamente. E uma vez que as duas hipóteses tinham por escopo explicar o juro seI. c?s
do capital - o qual é ele mesmo "bidimensional", isto é, aumenta com a grandeza ,oferta. i
da soma de capital e do tempo de aplicação da mesma - é muito natural, e sim­ ra, ec: :i
plesmente não pode ser diferente, que também cada um dos dois motivos de expli­ defer:s J'
cação invocados seja necessariamente "bidimensional", pois do contrário já seria claro posiç§:
de antemão que ele não pode ser o verdadeiro motivo explicativo. E é igualmente P-2:1
parc:a~ :J
natural que isso vale não somente para a "abstinência" e para o "uso", mas também
para todos os outros suportes do juro, postulados pelas mais diversas e contraditó­
rias teorias do juro; vale também para o "trabalho de poupar", também para a "ex­ l1l)~c"a
ploração" e também para minha diferença de valor entre o presente e o futuro. maJ-2-:-= ,- =
-e-~. ~~
Assim sendo, parece-me bem fundado conceber a questão da seguinte forma: fato, e, .: '"J
Se CasseI tiver outros motivos - e motivos autônomos - para afirmar que existe, 12 hi. ~ _-::.--=
como fator de produção elementar e autônomo, de um lado, o waiting e, de outro, mISSê.:: -::- -­
do ff'- ~ -"'-­
um "uso do valor", bem como para afirmar que as coisas designadas com esses ter­ dist:r-.:::. _ .
mos, e realmente existentes, são materialmente idênticas entre si, é possível e ne­ preçc. -:::-.....;:
cessário que esses outros motivos sejam evidentes. Acontece que Cassei se equivoca, pago" ..
troce" : :-~
se pensar que esses outros motivos - no caso de existirem - encontram o mínimo preçc -:::<:.
reforço ou mesmo um substitutivo na aplicabilidade da mesma fórmula matemática dadE:~-.o ":'';
que :-2': --:::~
do V"·
prod·_:~. -=
111 Op. cito p. 48
~~ __
. '~'~C''''''''''<=d>'-''"'"''~''''''~'"''-'-<~C'''''''''_~ ' ~~.".~",,-~.­ =~~-­

EXCURSO XlII 255

aos referidos motivos explicativos postulados, pois com o mesmo argumento se po­
~~ ": 3.rte al­ deria, da mesma forma, pretender provar a realidade de uma "exploração" efetuada
c:~<':el afir­
e da sua coincidência básica com a "abstinência" e com o "uso do capita!"! A aplica­
:: ::3.. coisa bilidade da mesma fórmula matemática a motivos de explicação do juro postulados
, ~-::~anejar não acrescenta absolutamente nada a nosso conhecimento real sobre os mesmos;
: :-~:idindo aliás, nem sobre a sua existência real nem sobre a pretensa identidade dos referidos
?: ~ :::1io, de elementos postulados; 11 e se, não obstante, CasseI tiVesse pensado que, com essa
:5--:-~: tempo
"prova da identidade" teria contribuído em algo para provar a existência real do pro­
blemático "uso do capital" ou, pior ainda, para explicar e descrever a natureza desse
, :: ~;ar nos­ uso, envolvido numa obscuridade tão mística, estaria sendo vítima de um equívoco
c -:::.;:stência dialético semelhante ao dos escolásticos medievais com sua famosa "demonstração
:: _=- concei­ ontológica", através da qual, partindo do conceito do mais perfeito dos seres, elabo­
c - define rado por eles mesmos, concluíram para a existência real dele, baseados no argu­
mento de que, se este ser não existisse efetivamente, faltaria ainda algo para ele
ser perfeitoJ12
-õ::-.al. uma Disse há pouco que a teoria da abstinência e a teoria do uso, na concepção
::~:2mpo,d~ vigente até agora, eram consideradas hipóteses explicativas que rivalizam entre si
_·,a. esta e
e se excluem reciprocamente. Isso me leva a outra questão de ordem histórico­
C':2 n lOS con­
c:-::equentiy doutrinaI, que simplesmente não posso deixar de mencionar diante das afirmações
de CasseI. Com efeito, Cassei pretende não só fundir ele mesmo essas duas teorias,
mas afirmar que essa fusão já foi operada no decurso da própria evolução doutri­
- ' . ? naI. CasseI me censura, com palavras um tanto duras, por minha interpretação e
. '" :Jrecana. exposição presumidamente unilaterais das teorias mais antigas, em virtude das quais,
~-:c·.:elmente,
no caso de afirmações específicas de certos autores que abordaram apenas um as­
r:-.·.lla mate­ pecto do problema do juro - por exemplo apenas o aspecto da oferta ou apenas
c::entidade o da procura -, eu teria considerado erroneamente as abordagens parciais dos res­

r;: ::-.-:rínsecos
pectivos autores como sendo sua posição completa ou como sendo "teorias autô-.

'...2 :10 caso,


nomas" dos mesmos (p. 56). Uma vez que Cassel certamente não quis excetuar

'.2~ a verda­
dessa censura geral minha posição em relação à teoria da abstinência e à do uso

~ ::cara expli­
- pois é sobretudo pela defesa destas que ele se bate -, é claro que a censura

r 3.:éria, têm dele no caso significa que, em se tratando da síntese, expressamente feita por Cas­

:"':.Jem reci­ se!, das idéias das duas teorias, segundo as quais o waiting explicaria o aspecto da

=;: .::ar o juro .oferta, latente no problema do juro, e o uso do capital explicaria o aspecto da procu­
c. c grandeza ra, eu deveria ter visto essa síntese como presente, pelo menos em espírito, já nos
~:-_~aL e sim­
defensores mais antigos das referidas teorias e deveria tê-lo expresso em minha ex­
~. ::: de expli­
posição histórico-doutrinaI.
. §. ::eria claro
Penso que, se Cassei tivesse examinado o assunto com um pouco mais de im­

é;'Jalmente parcialidade e de cuidado, não teria podido fazer-me essa exigência. Com efeito,

r.C:: também
2 : Jntraditó­
..... ":ara a "ex- 11 Um esclarecimento para que o fato de eu denominar "elemento postulado" também o waiting não dê azo a nenhum

2'J futuro. mal-entendido: é claro que não há a menor dúvida de que realmente ocorre LIma ''espera''; mas é uma hipótese contestável

- e não um fato - a possibilidade de receber essa "espera" como um elemento autônomo. existente ao lado de outros

;-_:-'18 forma: fatores, como supõem Casse! e a teoria da abstinência.

a: :: ue existe, 12 Há outra passagem na qual Casse! revela uma propensão censurável ao tirar conclusões dialéticas baseadas em pr~­

missas endossadas precipitadamente, por suporem provado aquilo que ainda carece de prova. Rejeita minha concepção

;- 2.' de outro,
do fenômeno do juro como sendo uma troca entre bens presentes e futuros, qualificando-a de "retrocesso" manifesto (most

c:-:-. esses ter­ distinct/y a step backwards), com a seguinte argumentação_ "Se a teoria do juro é apenas um aspecto da teoria geral do

lo: :::::vel e ne­ preço. naturalmente temos de procurar formular nosso problema de tal modo que o juro possa ser visto como um preço.

pago por determinado objeto, e ta! transação deveria, portanto, ser descrita como uma compra ou [}enda e não como uma

: ~ equivoca, troca" (p. 62 et seqs.). Mas será que tudo aquilo que Cassei pretende aqui deduzir do conceito do preço e da teoria do

1::-:- o mínimo preço está realmente contido por natureza nesses conceitos? Porventura também no comércio de troca não aparecem ver­

dadeiros "preços"? E, caso Casse! quisesse enfatizar que só se pode pagar um "preço" por um "objeto" independente, será

c. :-:-:atemática que realmente com a teoria do preço só se explicam preços autônomos e não também partes do preço. partes lrltegrantes

do preço ou diferenças de preço - como por exemplo, as diferenças entre o preço da mesma mercadoria no local de

~.

produção e no local de venda?

I
256 TEORIA POSITIVA DO CAPITAL

constato que todos os defensores da teoria do uso que elaboram com alguma clare­
za a idéia do uso autônomo do capital e não se limitaram simplesmente a utilizar, já .. :::._0
em caráter ocasional e sem comentário, a expressão polivalente de use Df capital, 13
que :e5
colocaram seu "uso do capital" não somente - como faz Cassei - do lado da "pro­
téú"
cura", mas também, de maneira clara e explícita, do lado da "oferta". Os seruices pro­ SOp2~.:::j
ductifs de Say, a Kapitalnutzung (uso do capital) de Hermann, a Kapitaluerfuegung e - es
(dispor do capital) de Menger, são, exatamente da mesma forma que a "abstinência" car.-:::-.:-,C
de Senior, partes integrantes dos gastos da produção e, como tais, seguramente são tati,,'c ::""
um fator da "oferta". Sobretudo Herman e Menger explicam com a máxima clareza san::: :::
que o uso do capital é um "bem econômico" propriamente dito, que deve ser cedido ele :C·.-2
pelo capitalista e remunerado no preço. 14 Ora, essa posição é certamente inconci­ prec:5.c·.~
liável com o conjunto característico de idéias da teoria da abstinência ou do waitiTJg. desr':·...:~j
Os dois grupos de teorias destacam os sacrifícios da produção que figuram do lado
da oferta, e os dois destacam também outros elementos últimos. Os defensores da que :=~
teoria da abstinência, não conseguindo encontrar um elemento sacrifício que faça do '-c.::
parte do universo dos bens, recorrem, para chegar até esses elementos, ao sacrifício misre:-: :'5
pessoal do waiting, o qual subordina - com ou sem razão - como segundo sacri­ no te: c.co
fício elementar ao sofrimento pessoal inerente ao trabalho. Ao contrário, a teoria do wair'r; <
uso encontra já no universo dos bens, além dos bens-coisas, ainda um outro bem são -~=J
econômico, objetivamente existente, transferível e passível de troca, no "uso do ca­ aos C:J~
pital" - um bem que pertence ao capitalista, em troca de cuja cessão ou sacrifício idên::: :~
deseja e recebe o juro. Eis por que certamente não é por acaso que justamente aquele
teórico que, dentre todos os defensores da teoria do uso, elaborou os conceitos dela
com mais clareza e consciência, teórico que é citado pelo próprio Cassei como um
eminente representante da "escola do uso", a ponto de esta "culminar" nele e que,
segundo CasseI, desenvolveu a mesma concepção correta da natureza do "uso do o :!
capital" que coincidiria também com a de Turgot e Cassei: 15 certamente não é por juro c.: (
acaso, dizíamos que justamente Carl Menger mencionou de maneira expressa tam­ do jL:~=
bém a teoria da abstinência em sua exposição e a rejeitou pura e simplesmente co­ mas c.:-.Ji
mo "errônea".16 Se assim é, teria eu realmente devido e podido introjetar as idéias algu::-. c.s
de Cassei na história da doutrina econômica. 17 .~-t
Lanc.:-: ê
os Cê::'::a
ta de "_'"'l
13 Como o fazem. por exemplo, Marshall ou Sidgwjck (ver a minha Geschíchte und Kritik, 4~ ed., p. 496) e como o fize­
ram também, an~s deles. inúmeros outros autores que aderem às mais diversas teorías do juro (ver ibid., p. 222 na nota)

dm:c·3:.
14 Ver meus extratos de Hermann (ibid .. p. 180 el seqs.) e Menger (p. 193), documentados com citações literais o ún:c: .:

15 CASSEL Op, Clt, p. 47-48

16 Grundsaetze. p. 133 na nota. p. 152. Pode~se encontrar uma rejeição suficientemente clara da teoria da abstinência tam­

caçã: 2 i
bém em Knies, que certamente foi também ele um partidário característico da teoria do uso. Ele liquida a teoria da abstinên­ con5:::""

cia com as seguintes palavras: "A quem ocorreria a idéia de fundamentar o preço de venda que alguém recebe dos
tos lã:: :'i
compradores por suas frutas, seus livros, sapatos etc., dizendo que ele renuncia ao 'uso pessoa!' de seus bens e tem o direito
de exigir uma remuneração pela sua privação '" Der Kredit. Segunda parte, Berlim, 1879, p. 35 et seqs. de 52:: c.::
17 No intuito de não deixar nenhum germe para ulteriores mal-entendídos, gostaria de ~motar ainda o seguinte. Segundo esse cs:Jll
a concepção claramente expressa dos adeptos da teoria do uso, o uso objetivo do capital é o bem que é uendído por al­ lacu:-;c 'j
guém e comprado por outro, portanto ele tem de ser mencionado do lado tanto da oferta quanto da procura. Naturalmente,
mesmo assim há também uma "renúncia", da qual fala, por exemplo, também Hermann em algumas passagens citadas exige _:rJ
textualmente por mim (op. cit., p. 245), isto é, a "renúncia ao uso pessoal" do capital cedido para uso de outrem. Nisso ma:s ::..:
não há, porém, absolutamente nenhuma propensão ou alusão ao conteúdo conceptual específico da teoria da abstinência;
o que há é apenas a expressão da verdade banal de que tem de haver uma renúncia da parte da própria pessoa que transfe­
macc -:J'I
re uma coisa a outrem mediante troca. Do contrário, poder-se-ia e dever-se-ia explicar todo ato de troca e também toda mOI:.:5 I
compra a vista, pela ÕÓteoria da abstinência": pois se vendo hoje meu cavalo de equitação por 500 florins a vista, com estes me:"::e ?'l
500 florins faço com que seja remunerada também minha "renúncia" ao cavalo, minha "não-fruição" das vantagens a auferir

dele. Todavia. vê-se facilmente que aqui se trata apenas daquela renúncia ao objeto a ser transferido - renúncia indissociá­

vel de qualquer ato comercial remunerado - e não de um objeto específico, tão independente como o que se empenha­

ram em inventar a teoria da abstinência e Cassei; portanto, trata-se de uma "renúncia" do tipo daquela que ocorre também

em minha concepção (cf supra, p, 253), impugnada por Cassei, e não de um sacrifício elementar e autônomo de produ· 18:-.- . . _ _ .:I

ção, cuja existência tenho de negar por motivos que Cassei infelizmente parece ignorar 19 0-:: _o: ~

<-'--""-"'"""'--'_'''''''~'=-'''>_-'''''''4~'_'_-'?"~~''''="''''_ _''<'''~~-~''-'_'

EXCURSO XIIl 257


C_:-:1a clare­ Resumindo meu pensamento: CasseI reconduz a explicaçã.o do juro a vias que
!:~ c utilizar, já haviam sido, sim, familiares a uma geração mais antiga de nossa ciência, mas
=,: capital, 13 que desde então foram abandonadas por uma grande parte dos especialistas na ma­
~== da "pro­ téria, que assim procederam com plena circunspeção e por motivos críticos bem
;e~_':ces pro­ sopesados, considerando tais caminhos como inadequados para o objetivo visado;
l~ :?1uegung e - eis aí o ponto decisivo - Cassel pretende impor-nos uma volta ingênua aos
'c. :--stinência" caminhos conscientemente abandonados. na medida em que não faz nenhuma ten­
rã:-:1ente são tativa perceptível no sentido de superar e eliminar pedras críticas de tropeço, anali­
K::-::a clareza sando criticamente tais elementos. Por outro lado, a novidade, com cujo acréscimo
E ~r cedido ele talvez tenha pensado criar uma situação tão modificada que simplesmente não
':"',:2 inconci­ precisava mais preocupar-se com a crítica do antigo, consiste apenas em palavras,
[ ::::::> waiting. destituídas de força de solução; aliás. palavras bem perigosas, que jogam dialetica­
P-::1 do lado mente com o difícil problema, e portanto são mais aptas para induzir em erro do
i"':1sores da que para encontrar uma solução. Uma palavra desse gênero é o misterioso "uso
c:::, que faça do valor", e um jogo dialético desse gênero é a prova de identidade, ainda mais
ê:) sacrifício misteriosa, na qual todos os escrúpulos que se acumulam em tanta quantidade, tanto
c--'::1do sacri­ no tocante à existência e à natureza de cada um dos dois elementos problemáticos
~ c teoria do waiting e "uso do valor" quanto no tocante à relação mútua existente entre os dois,
r::;utro bem são "liquidados" com uma simples afirmação, a saber: o fato de se poder aplicar
. -'-150 do ca­ aos dois a mesma fórmula matemática já é suficiente para demonstrar que são seres
c '': sacrifício idênticos!
r:<2:1te aquele
>'".:eitos dela
e, :omo um
-,ele e que,
I ::::::> -uso do o conjunto original de idéias com as quais Landry compõe sua explicação do
te :1ão é por juro do capital não se distingue muito das idéias com as quais opera minha teoria
ç~essa tam­ do juro. O que nos separa não são tanto diferenças quanto aos pontos de partida,
IE'smente co­ mas antes diferenças no encadeamento e na disposição das idéias. Mesmo assim,
~ as idéias algumas dessas diferenças são suficientemente sérias.
Atribuo pouca importância à disposição externa da matéria - disposição à qual
Landry atribui importância tão grande - nestas duas questões principais: por que
os capitais recebem juro e por que exigem juro?18 Certo é que toda teoria comple­
ta do juro deve dispor de uma resposta instrutiva para essas duas questões. Pode-se
~ .:: ::)mo o fize­
: ~22 na nota).
duvidar, porém, se a divisão do problema do juro nessas duas questões constitui
a; ::.;-~ ~:eralS. o único caminho possível, ou mesmo o mais adequado, para solucioná-lo. Na expli­
cação é preciso não somente separar, mas também unir novamente; por outro lado,
'ê. -:':S::lência tam­
tE =:- -:. :a abstínên­ considerando-se que muitos fatos - e fatos decisivos -- atuam sobre os dois aspec­
!c-_-:: -:-. recebe dos ,tos tão nitidamente separados por Landry, há bons motivos para duvidar se a linha
~..-_:; -= :em o direito de separação traçada por ele oferece a divisão orgânica mais feliz da matéria. Sob
c:
;,,:.,;- __ =--.:>2. Segundo esse aspecto, parece-me extremamente característico que Landry, para evitar uma
ô ' 'ecd'do por al­ lacuna objetiva, se vê obrigado a enumerar, entre os motivos pelos quais o capital
::::. ~<c.Iuralmente,
=.==.=.::::::ens citadas
exige um juro, em quinto lugar, o fato de o capital poder receber um juro; 19 há
=--= :';rrem. Nisso mais: todo observador imparcial vê à primeira vista que, por exemplo, a assim cha­
r,:: :~ abstinência;
It::-.=-:?' Jue transfe­
mada "produ1:ividade do capital", fator que Landry coloca simplesmente do lado dos
c:o, ô ",;"bém toda motivos pelos quais o capital recebe um juro, para um proprietário de capital certa­
~ . -~--:a. com estes mente pode também constituir um motivo para exigir um juro pelo seu capital, no
.~- 3:::-2nS a auferir
~ ~ - ;a indissociá­
=_~ ~ empenha-
L--::: :.: ~ITe também
.:- :-,co de produ- 18 L'!ntérêt du Capital. p. 40.
19 Op. cit, p. 145,

c
t
~
258 TEORIA POSITIVA DO CAPITAL

caso de emprestá-lo! Mas tudo isso é secundário: em última análise, pode-se chegar
à verdade plena do conteúdo a ser explicado, tanto com uma como outra ordena­
ção externa da matéria.
Quanto ao conteúdo material da explicação, nossas duas teorias concordam bas­
tante numa boa extensão. A diferença maior e propriamente característica parece
estar na construção de elos intermediários por meio dos quais deduzimos o fenô­
meno do juro de certos fatos que tanto Landry como eu concordamos em tomar
como ponto de partida - a saber, a "produtividade do capita!", que ele menciona C.:';:
como quarto motivo para a "obtenção do juro", e a produção vantajosa de bens de
consumo duráveis, que ele cita como sexto motivo. 20 Landry rejeita ou' pelo me­ tc:-:­
nos põe em dúvida minha teoria dos "métodos de produção indiretos vantajosos",
não aceitando também o fato de eu fazer a explicação passar por uma diferença
de valor entre bens presentes e futuros;21 em seu lugar, introduz um outro elo ex­
plicativo, mais breve, destinado a criar uma ligação direta entre os mencionados fa­
tos básicos e o juro do capital,22 ao passo que para mim esse elo denota falta de
clareza no pensamento, além de ser objetivamente errado e contraditório em si mesmo. C21
Vejamos primeiro a "produtividade do capita!". Landry coloca o problema do
juro de forma perfeitamente correta, ao afirmar que é preciso explicar a diferença e =
de valor, o écart, que, no caso de produção de longa duração, existe entre o valor
dos bens de capital (bens de produção) empregados e o valor do produto dos mes­

mos. Há ampla concordância entre nós dois também quanto aos pontos de partida P ·-·'
• ­ «;

da teoria do valor. Landry ensina a teoria do valor, centrada na utilidade marginal

(utiJité-limite) , e ensina também a lei dos custos na linha da mesma concepção ­

inserida na teoria da utilidade marginal - em que eu apresento a referida lei. Final­ r.. :=

mente, concorda comigo também na premissa - de extrema importância para toda


p~:.(

a teoria do capital - de que o valor dos bens de produção deriva do valor de seus
produtos. Mas nossa discordância começa, por assim dizer, no meio dessa frase.
Enquanto para mim vale sem ressalvas o princípio de que o valor dos bens de S:. :;
produção equivale basicamente à utilidade marginal e ao valor dos produtos que
se pode produzir com eles, Landry acrescenta à premissa maior análoga ("un bien
productif vaut nécessairemente les utilités qu'i! procure"23) a seguinte cláusula limi­
tativa e que fnnda uma exceção: "quand ces utilités doivent être perçues tout de C so
suite"24 (p. 74). Ao contrário, se essas utilidades forem obtidas apenas mais tarde, pc:"
na opinião de Landry pode também ocorrer coisa diferente, ou seja, pode ocorrer p,,:::
que o valor do bem de produçâo não seja totalmente equivalente à utilidade pro­ ];.,,5
porcionada pelo mesmo. "Pois" - sublinho esse "pois" digno de nota - "uma utili­ \'2_ 1
dade varia (varie) de acordo com o momento em que dela desfrutamos, e o fato G:SJ
do adiantamento temporal de um prazer, de uma alteração na distribuição de nos­ 1.::: .
sas rendas em favor do futuro, pode diminuir a soma de nosso bem-estar ('peut di­ ç.?c.
minuer la somme de notre bien-être')". rr: ­
Temos aqui, segundo entendo, um funesto desvio lógico; se ele escapa facil­ pc:i
mente à atenção do leitor, é só porque'Landry nâo percorreu ele mesmo, cQm c\a- e-::;
cc:.s
C2 5

op. cit., p. 146.


o ','2
2C
21Op. cit., p. 197 et seqs.; sobretudo p. 200 et seqs., 211, 217,219,222 et seqs. Uma anticrítica exaustiva - lanto aqui

como alhures - levar-me-ia longe demais. Em passagens esparsas de meu Ilvro toquei em alguns pontos, de acordo com
li,,'"
as oportunidades que se me ofereciam. .
22"II faut dane em regle générale faire découler directement i'intérét de la productivité du capitai".' Op. cit., p. 217.
23 "Um bem de produção vale necessariamente aquilo que valem as utilidades que ele proporciona". (N. do T) -- -:,
~II
24 "Quando essas utilidades forem obtidas imediatamente". IN. do T) :::

:.: :,~

, "Como regra geral, portanto, há que derivar o juro diretamente da produtividade do capital" (N do T)
..- ~..~.~' -~_="--,"",OZ~·"'"-'==_"",=oc= __·",,,"",,-_._ _o ",-~,~~=.;~_. ---~

EXCURSO Xlii 259

?-ô< chegar
reza, elo por elo, o caminho que conduz à conclusão errônea por ele tencionada,
t::ê.::rdena­ mas propriamente só indicou a direção em que os leitores, convidados pelo seu "pois",
devem prosseguir até tirarem a conclusão. Na verdade, não tem justificativa alguma
c::am bas­ o referido "pois", pois da idéia introduzida por essa partícula não segue absoluta­
~:c. parece mente nada que possa servir direta ou indiretamente de fundamento para a conclu­
1::5 o fenô­ são de Landry, a saber, que o valor dos bens de produção é inferior ao valor dos
; 2;TI tomar
produtos proporcionados pelos mesmos. Reflitamos sóbria e corretamente sobre as
? ;no2nciona alternativas possíveis no caso. De duas, uma: pelo fato de a utilidade proporcionada

c,:o bens de pelo bem de produção ser transferida para o futuro, ela se torna menor ou não se
l: ;Jo2lo me­ torna menor, realmente, ou pejo menos em nossa opinião. Se não se torna menor,
l. c::1tajosos", naturalmente cai por terra - também na opinião de Landry - aquele motivo pelo
12 ::Jerença qual devam ser menores a utilidade marginal e o valor do bem de produção que
l:::-O elo ex­
a produz. Ou, então, a referida utilidade se torna menor - é justamente esta a su­
:'::-lados fa­ posição na qual Landry baseia todo o seu raciocínio - e nesse caso é claro que

K:::ê falta de a única conclusão legítima decorrente dessas premissas é a de que diminui a utilida­
':":. s: mesmo. de marginal e o valor dos produtos gerados pelo bem de produção e que propor­
Irc:lema do ciona essa utilidade menor e que certamente diminui também a utilidade marginal
:: diferença e o valor do bem de produção, mas apenas em medida igual à da diminuição do
~::-o2 o valor produto; não segue, porém, que as duas grandezas se separam, que o valor do pro­
cc dos mes­ duto gerado conserve inalterada sua grandeza m, ao passo que o valor do bem de
15 ':02 partida produção baixaria para m - n, como ilustra numericamente Landry, algumas li­
ce marginal nhas mais adiante.
Será que preciso ilustrar com clareza ainda maior esse fato simples? Suponha­
>:-.::o2pção­
éc lei. Final­ mos que um bem de produção proporcione um produto ou uma quantidade de
:::: para toda produto p. Se isso ocorrer sem perda de tempo, ou seja, por meio de uma produc­
:a.<Jr de seus tion instantanée, não há - também segundo Landry - nenhuma circustância que
:::o2ssa frase. afete o valor do produto ou do bem de produção; os dois permanecem iguais entre
C::J5 bens de si; se o valor do produto for m, também o valor do bem de produção é m.
r·dutos que Se, porém, o bem de produção gerar a mesma quantidade de produto p so­
ísc. ,·un bien mente depois de algum tempo, fica menor, de acordo com a suposição de Landry
::.á:Jsula limi­ - com a qual concordo totalmente, se bem que em parte por outros motivos 25 - ,
ç-.;o2s tout de a som me de notre bien-être que podemos conseguir com a referida quantidade de
s :c,ais tarde, produto. Se, porém, tomarmos a sério essa diminuição da utilidade proporcionada
p-:.de ocorrer pelos produtos, naturalmente ela deve manifestar-se também na avaliação desses
c:dade pro­ mesmos produtos: uma quantidade p de produto, a qual, se tivesse estado disponí­
- 'uma utili­ vel no momento, teria tido um valor de m; se, diminuindo sua utilidade, só se tornar
~:J5. e o fato
disponível no futuro, naturalmente não poderá valer m, mas apenas m menos algu­
[·cão de nos­ ma coisa, por exemplo apenas m - n; e, naturalmente, também o bem de produ­
~r rpeut di­ ção, que proporciona essa utilidade menor de m - n, valerá não m, mas apenas
m - n, valor este que também Landry lhe atribui, com muito acerto. Não obstante,
escapa facil­ porém, como se vê com facilidade, isso ainda não produz nem explica nenhum écart
cqm cla­
:C.J.
entre o valor do produto e o valor do seu bem de produção, já que nesse caso os
dois valem m - n. O écart só ocorreria se: ou o valor do bem de produção, a título
de sua utilidade ser adiada para o futuro, diminuísse para m - n, mas apesar disso
o valor de seu produto - no qual o mesmo título, porém, é correto em primeira
~-:.:=. - tanto aqui
linha - não diminuísse, permanecendo m, o que, porém, 'contradiz o pressuposto
:.=: ~cordo com

, : : p. 217. 25 Com efeito. Landry coloca sua explicação na linha de Carver e, como ele, deduz a dimin uição da utilidade marginal
. :0 T) t,
dos bens transferidos para o futuro, do aumento do suprimento que ocorre quando, sob o incentivo da existência do juro '.k:
do capital, entra a expansão racional da poupança. Landry vê nessa redução da utilidade marginal dos bens transferidos

para o futuro (mediante a poupança) o sacrifice capita/istique propriamente dito, que em sua teoria do juro desempenha
um papel semelhante ao que ocupa na teoria de Carver. Quanto a esta última, ver minha Geschichte und Kritik, 4' ed.,
~
p. 497 et seqs. Aqui, porém, posso deixar totalmente de lado essa parte de nossas divergências de opinião; a exposição
no texto independe totalmente delas.

I
-. ~=?_~-:.. ?OSITIVA 00 CAPITAL

pc:'
",,_'.:::::-2ôôêr:1eme tomado como ponto de partida por Landry; ou então se o valor do to. c:
:::::: ::..::c. pela pressuposição, diminuísse para m - n, mas o -valor do bem de pro­ ne ~:
:_c§~ ci:minuísse ainda mais, por exemplo para m - 2n - mas tal hipótese não pc ::i
:,,~ ;,e:1huma base nem nos fatos nem no raciocínio do próprio Landry. pre'3
A isso Landry talvez queira objetar que só se estará propenso a empregar um Vê.::
':;e:n de produção para uma produção que leva tempo, se com ela se obtiver mais de ::
;:;roduto do que se poderia obter do mesmo bem de produção com uma produção

:nstantânea. Por isso, não se pode - como eu acabo de fazer - comparar dos dois o ô,,~

lados a mesma quantidade p de produto; pelo contrário, no caso de uma produção po: Si
que leva tempo, se deve contar com um produto maior. Perfeitamente de acordo! no: ;
Acontece que, se pensarmos e calcularmos corretamente, mesmo assim o que mu­ Viê~j
da são apenas os símbolos numéricos que aparecem no cálculo, mas nada mvda mes"l'
no resultado propriame'1te dito. Façamos novamente o cálculo, de modo correto Po: ~5
e claro. Do mesmo bem de produção podemos, opcionalmente, obter, em produ­ ser:-: :
ção momentânea, a quantidade p de produto, com o valor m, ou então, em produ­ no ,,3
ção que leva tempo, uma quantidade maior de produto, p + q, a qual, portanto, cio:-:a
se também ela estivesse disponível no momento, deveria ter um valor maior do que as c:~
a quantidadep de produto - portanto, digamos, o valor m + n. Mas se for correta de ,,:~
a afirmação de Landry de que o adiamento para o futuro tem o efeito de diminuir reL =­
o valor do bem, a quantidade de produto p + q, como quantidade futura de bens, tOCê:1,
não pode reivindicar o mesmo valor pleno m + n - valor este que teria como aC:ê:1
quantidade de bens disponível no momento -, senão que deve necessariamente des::.=
sofrer uma diminuição de valor - por exemplo uma diminuição correspondente
à grandeza n, devendo, pois, seu valor baixar para m; e, naturalmente, o mesmo :~
valor reduzido m será também o valor do bem de produção. Por conseguinte, tam­ mas:
bém aqui não ocorre o écart entre os dois, afirmado por Landry: esse écart só po­ aiC2~
deria vir a ocorrer se, contrariando às premissas e incorrendo em contradição, dos ­
pretendessemos supor que o efeito de redução do valor, proveniente do fato de se de se:
adiar para o futuro a fruição dos bens, passa, sim, ao bem de produção que está à -12
em segunda linha, mas simplesmente não ocorre no produto que está em primeira dos ::1
linha e que proporciona o prazer diminuído, e pretendessemos supor que sua utili­ a L::::'
dade e seu valor não diminuem mas permanecem m + n; se isso, porém, "aconte­ gas::~
cesse, não haveria como explicar por que motivo, se a utilidade, apesar do adiamento, dac2'
não diminui, o valor do bem de produção que proporciona essa utilidade não dimi-, bler:-:a
nuída diminuiria de m + n para m.
Como afirmei acima, Landry não esclareceu tudo isso; em parte porque apre­ pare.":
senta toda a sua argumentação apenas um tanto em esboço, sem explicitar muito; nee, t
mas sobretudo porque, para designar os números de unidades e as grandezas de rios ::J
valor do produto - que é preciso distinguir bem um do outro -, não utiliza, como lor.;:)
acabo de fazer por boas razões, dois símbolos diferentes (p para a quantidade do
produto e m para o valor do mesmo), mas um único símbolo, m; assim fazendo, me:-:l
Landry encobre muitas ambigüidades e, em todo caso, se desobriga de falar com de ~:
aquela clareza que só pode provir do confronto explícito e comparativo entre as duas po: 2:
grandezas. Assim, por exemplo, não há absolutamente nada a objetar a estas pala­ - . :.:J
vras de Landry (que continuam a citação acima transcrita: "Pour avoir un surcroft esr: :'1
de revenu de m dans l'avenir, souvent nous ne consentirons à céder dans le présent de 2:1
que m - n")26 se - como insinua a expressão "aumento de renda" - entendermos
da::"

'26 "Para termos um acréscimo de renda m no futuro, muitas vezes só consentíremos. no presente, em ceder m - n"' (N
do T)
EXCURSO XIII 2ó:

por m e por m - n, quantidades de bens, números de unidades de bens. Entretan­


c -- to, com as palavras subseqüentes "l'instrument productif qui donnera m pourra ainsi
ne valoir que m - n",27 Landry desvia a interpretação do símbolo m para o cam­
po do valor e dessa forma deduz, de premissas que só são corretas para outra inter­
pretação do símbolo m, uma conclusão - falsa - em favor de uma diferença de
IC -
valor. Mais adiante ainda terei oportunidade de falar de um terceiro motivo da faltq
........ .: .:
de clareza por parte do autor. ;
.- -,~-
Ao afirmar acima que Landry se desobriga de falar com clareza, quero dizer
,r- -
- -=. ­
o seguinte. Landry fala de uma "diminuição" da utilidade. Essa idéia encerra em si,
por seu próprio conceito, uma comparação: a utilidade "diminuída" tem de ser "me­
C~: : nor" em comparação com alguma outra grandeza qualquer. Aqui, por exemplo, ob­
viamente em comparação com aquela utilidade que teria sido proporcionada pela
mesma quantidade de bens se esta tivesse estado disponível sem adiamento no tempo.
~1_ + -= Por isso, não é possível mostrar concretamente a ocorrência de uma "diminuição",
r:·=_ sem de certo modo traçar as coordenadas em relação às quais se alterou a posição
r:·: _. no espaço, ocorrendo então determinada "diminuição" da utilidade, se esta for rela­
~----
cionada comas mencionadas coordenadas. Ora, se Landry, sem fixar exatamente
.as coordenadas, dá um valor de m ou de m + n a um produto qualquer, pelo fato
de ele não fazer a referida relação comparativa não se vê se a "diminuição" já ocor­
~ - - ­
reu ou não, no cálculo de seu valor; permanece, portanto, certa falta de clareza, no
L~ ~
tocante aos pressupostos, que - como também veremos ainda mais claramente
adiante - favorece extremamente a possibilidade de descaminhos que passaram
desapercebidos tanto ao autor como aos leitores.
E~- -
A idéia de que o valor dos bens de produção deriva do valor de seus produtos,
mas não precisa equivaler a ele se houver uma defasagem de tempo, é como que
a idéia-chave para toda a teoria' de Landry. Ele a introduz - nos termos acima cita­
dos - primeiro para o caso dos "instrumentos de produção raros", não suscetíveis
...-':: :--:: de serem aumentados à vontade, os quais, devido à sua raridade, não obedecem
- - .-- à "lei dos custos" e a seguir a estende também aos bens de produção sujeitos à lei
-:--::.:--.= dos custos. Entende por "custos" - inteiramente de acordo com minha posição ­
a utilidade marginal dos outros produtos que se podem produzir com os mesmos
c -:,,­ gastos de produção, aliás (p. 163) a utilidade marginal do produto "de menor utili­
~--
dade" que se pode produzir com o mesmo dispêndio. Partindo dessa base, o pro­
blema do juro, na medida em que está conexo com a produtividade do capital, recebe
para Landry o seguinte aspecto: com os mesmos bens de produção produ~m-se
c==-::- paralelamente bens de consumo para uso imediato, por meio da produção instantâ­
nea, e, por meio de métodos de produção que levam tempo, produtos intermediá­
-: ...... :::
rios que só proporcionam utilidade para o consumo dentro de um p'eríodo mais
longo. Pela lei dos custos, o preço dos mencionados bens de produção se fixa ao
nível da utilidade marginal dos outros produtos que se podem conseguir sem adia­
~- .= = mento de tempo; suponhamos, por exemplo, que esta seja m. No entanto, a utilida­
de marginal e também o preço dos produtos que só se podem conseguir mais tarde,
por exemplo dentro de três anos, permanecem maiores - por exemplo m + n­
-, caso esses bens "não sejam prÇlduzidos em quantidade excessiva" (p. 88); e o
'r-- -'­
estoque total dos respectivos meios de produção é repartido entre os dois setores
E:~--
de emprego de modo tal que a diferença entre m e m + n não é eliminada, a utili­
~.:5
dade marginal dos produtos que se podem conseguir de imediato e dos que só se

'27 "Assim o instrumento de produção que produzirá m poderá valer apenas m - n". (N do T)
262 TEORIA POSITIVA DO CAPITAL

podem obter mais tarde não é nivelada para uma grandeza média entre m e m +
ar';>
n, que seria, digamos, m'. E por quê? Aqui entra novamente o leimotiv de Landry,
com o qual acredita poder explicar bem diretamente a existência da diferença: "por­ le":aJ
que o adiamento para o futuro, na maioria dos casos, diminui a soma total do nosso deza
bem-estar" (diminue par lui-même la somme totale de notre bién-être"), e conse­
qüentemente na maioria dos casos não convém "gastar m' para obter m' daqui a se :::
três anos" (p. 81). cO::-:l
Volto, porém, a perguntar: onde fica, nesse cálculo, o efeito que o adiamento m -
no tempo tem, no sentido de reduzir o valor daqueles produtos que efetivamente na ::;
proporcionam a utilidade diminuída pelo adiamento? Afinal, Landry toma ou não lor. ::
a sério sua afirmação sobre a diminuição da utilidade? E se a toma a sério ~ como espel
temos evidentemente que supor -, onde e como calculou essa diminuição nos pro­ ve! ::1
dutos que têm de ser atingidos por essa diminuição? Há de se entender que a ex­ da~~i
pressão do valor m + n - com a qual ele conta -, vale antes ou depois de se prcó
levar em conta a dedução em razão da "diminuição da utilidade"? Se a dedução cor:-:
ainda não tivesse sido levada em conta, naturalmente ainda se deveria considerá-la de :C
e incluí-la no cálculo, pois não podemos deixar de levar a sério uma afirmação de oc :0
,'2.:':31
Landry; ele não tem o direito de afirmar uma diminuição da utilidade e fazer o cál­
culo como se não a tivesse afirmado. Nesse caso, porém, da expressão de valor p,eç:>
não diminuída, m + n, ainda teríamos de subtrair o efeito da diminuição, que o r:às 5.l

próprio Landry calculou como sendo n (para o bem de produção), e com isso tería­ se COf

mos, para o valor do produto, a mesma grandeza m que para o bem de produção e::-:;:,,,
ou bem-custo; e a diferença entre os dois, que Landry quer explicar "diretamente­ =a =:""1
com sua forma de concluir, não somente não estaria explicada, mas até teria desa­ ;=1'C:::...o
parecido da pressuposição.
Ou, então, a dedução do valor já foi levada em conta. Talvez, ou até provavel­
mente, dentro do raciocínio de Landry, teríamos de imaginar isso da maneira se­
guinte: em virtude da "produtividade do capital~ os métodos de produção com capitai
proporcionam um produto maior, p + q, do que aquele que se poderia conseguir
com produção instantânea. Esse produto maior, se não tivesse a desvantagem do
adiamento no tempo, teria, em paridade das demais circustâncias, o valor maior
m + n em relação ao valor m, que é o da quantidade menor de produto p, a quai
se poderia conseguir com produção instantânea. Em virtude da referida desvanta­
gem, porém, o valor m + n deveria diminuir para m. Acontece que a esse efeito ---3
redutor do valor, que é decorrência do adiamento no tempo, se contrapõe, por sua ~=.;~: ;
::'::-::~-:::J
vez, como elemento que tem o efeito oposto de aumentar o valor, a "raridade", que
Landry introduz, mediante a cláusula supracitada - de que "não se pode produzir­
tais bens "em quantidade excessiva"28 -, como causa e condição do afirmado au­
mento do valor e que na realidade, pelo seu gênero, certamente poderia ter o efeitc
de equilibrar ou compensar novamente o efeito de redução do valor, próprio do
':. <_ :: --:: .t::
tos CJ
28 "C'est à la condition qu'on ne produise pas en trop grande quantité les biens d'origine capitalistique, C.. ) Si on en produit

na, ::=:1
une quantité plus grande, (... ) le prix baissera et iI n'y aura plus de plus-value- , Ip. 88). Landry introduz cláusuias bem no ;:-.~

semelhantes, referentes à raridade, também em suas outras explicações, a partir da "pseudoprodutividade" ("se ces produc­
do a::....::
tions ne sont pas trop développées-, b p. 89, 146) e da produção de bens de consumo de durabilidade longa ("si on ne les
produi! pas en trop grande quantité", , p. 91; cláusula similar às p. 96, 99, 146) proc_::
va, -::5.;;
m2~~J

LI "É sob condição de os bens de origem capitalista não serem produzidos em quantidade excessiva r..,) Caso seia maior p,-CS ::,
a quantidade produzida, (.) o preço baixará. e já não haverá mais-valia". IN. do T) siçãc J
iJ "Se essas produções não forem excessivamente desenvolvidas" (N. do T)
es',)~:='
c "Se não forem produzidos em quantidades excessivamente grandes". (N. do T.)

SUêS

EXCURSO XIII 253


~~ + adiantamento no tempo, de modo que o valor do produto, mesmo depois de 5e
':-.:::ry, levar em conta a diminuição decorrente do adiantamento, poderia manter a gran­
-por­ deza de m + n.
-.J550
Entretanto, se for essa a suposição da qual temos de partir, na linha de Landry,
:C:15e­ se o produto que se pode obter de um bem de produção, ainda depois da dedução
~~'Ji a compensatória da redução do valor, em decorrência do aóiamento, tem o valor de
m + n, que outro motivo poderia ainda haver para computar pela segunda vez,
-:-.ento na transferência desse valor do produto para o bem de produção, a redução do va­
:-:-:ente
_ :1ão lor, de qualquer forma já computada? Ou então se quisermos adaptar o racioCÍnio
especificamente à validade da lei dos custos, suposta por Landry: como seria possí­
:'Jmo vel que nesse caso o estoque de bens de produção seja repartido entre as duas mo­
;·5 pro­ dalidades de emprego de tal modo que permaneça a diferença entre os valores dos
, :: ex­
produtos, m e m + n? Não seria totalmente antieconômico, na produção de bens
::e se com utilidade adiada, parar já numa utilidade marginal de m + n (por exemplo
:::.;ção de 105) - utilidade marginal que, note-se bem, ainda continuaria a ser m + n
:.e~á-la
-.3- de ou 105 mesmo depois de se ter levado plenamente em conta e compensado a des,
;~~=ál- vantagem inerente ao adiamento - e, ainda por cima, na outra modalidade de em­
prego descer até uma utilidade marginal de m (por exemplo de 100)? Porventura
; ".alor não seria um pecado contra a Economia numa modalidade de emprego contentar­
::..:e o se com uma utilidade de 100, enquanto ampliando-se a segunda modalidade de
: :2na­ emprego, embora talvez não se conseguindo uma utilidade plena de 105 (em razão
)~:'·Jção
da diminuição da "raridade" dos respectivos produtos por causa da ampliação da
~"e:cte" produção!), ainda se poderia em todo caso conseguir mais do que 100, portanto
~ ::2sa­ sucessivamente 104, 103, 102 etc. de utilidade efetiva, já não onerada por nenhu­
ma dedução? Porventura o processo de transferência de unidades de bens de pro­
[",êxel­
dução, do tipo de emprego menos compensador para o tipo de emprego mais
,,~? se­
compensador, não deveria prolongar-se até o ponto em que a unidade do produto
: :apitaI proporciona a mesma utilidade marginal e o mesmo valor dos dois lados, mediante
r.seguir a regulagem das quantidades e dos valores dos dois lados? Em outras palavras, nes­
~:-:c do sas circustâncias não deveria necessariamente ocorrer exatamente aquele fenôme­
, -aior no cuja não ocorrência Landry pretende fundamentar e explicar, isto é, o' nivelamento,
? J.ual
a "equalização" das utilidades marginais inicialmente diferentes?
5". ,nta­ Lamento muito ter de dizer que Landry não dá absolutamente nenhuma expli­
e efeito cação para o écart, ou seja, a diferença de valor entre produtos e bens de produção,
C'=~ sua diferença na qual reside o problema do juro, mas apenas aparenta externamente
[2- que
dar tal explicação, alterando contraditoriamente os pressupostos reais dos quais par­
.: :"lzir" te; lamento muito ter de dizer que ele ora toma a sério, ora não toma a sério sua
~::::: au­
afirmação de que a utilidade diminui em razão de adiamento no tempo. Lembra-se
e 2:eito dessa afirmação toda vez que fala do valor dos bens de produção e esquece-a ­
r:~'J do ou pelo menos deixa de levá-la em conta - toda vez que faJa do valor dos produ­
tos. Considera simultaneamente a utilidade adiada como diminuída, como peque­
nà, para com isso reduzir o valor dos bens de produção que a proporcionam. E
ê.~ -:: -: :'Jit
~.~ =:~ :2:11
no mesmo instante considera novamente como não reduzida e grande, em virtude
do aduzido requisito da raridade, a mesma utilidade adiada - proporcionada pelos
produtos fabricados com os bens de produção -, para poder então novamente ele­
var essa mesma utilidade acima do valor dos outros produtos fabricados com os
mesmos bens de produção, e conseqüentemente também acima do valor dos pró­
- :'.)1"
prios bens de produção, valor que justamente acabara de reduzir mediante a supo­
sição oposta de uma utilidade diminuída dos produtos dos mesmos. Cria assim o
espaço para a diferença de valor - que pretende explicar -, simplesmente com
suas próprias premissas contraditórias, e apenas encobre essas contradições com

I
-:::::;.:.~. :;OS:TlI.;A DO CAPITAL

: . "- _ :::a obscuridade, que continua a dominar toda a sua exposição. Evita todo ços
" ::::.:a:c:uer cálculo exato e completo do valor, constantemente salta passos interme­ aos
=:~~os 'essenciais desse cálculo e sobretudo silencia totalmente sobre os efeitos que re,a
:e:n. para o cálculo, a ocorrência simultânea dos dois postulados por ele afirmados ha',­
e que agem um contra o outro, a saber, o do adiamento, que faz o valor diminuir, dL:.ri
e a raridade, que faz o valor aumentar. o ·.c
Quem opera com uma idéia explicativa que traz a contradição em sua própria não
raiz dificilmente consegue explicar as coisas detalhadamente mediante um sistema
completo sem casualmente ter de tocar também em detalhes nos quais já não é· 50:"!
mais possível esconder a contradição, pois esta se torna patente. Quero aduzir duas ape
provas disso, tiradas da doutrina de Landry. A primeira é oferecida por aqueles ca­ toó
sos nos quais entra em jogo o que Landry denomina sacrifice capitalistique. De acorpo ç~
com a explicação que o próprio autor dá desse conceito, e também como dá a en­ lo~.
tender sua adesão incondicional à idêntica doutrina de Carver,29 Landry pressupõe Pe!"t
que, para uma parte dos capitalistas - aliás exatamente aquela parte cuja existên­ do '(
cia é decisiva para a origem e a taxa de juros do capita)3D -, o adiamento acarre­ de,
ta um sacrifício real em termos de utilidade. Esse sacrifício ocorre pelo fato de o
capitalista, atraído pelo juro, poupar tanto que o período futuro, em favor do qual
ele poupa, fica mais bem suprido, em comparação com o estado das necessidades,
do que o período presente, do qual são deduzidos os meios de cobertura; isso, pela
lei da utilidade marginal, leva a uma diminuição da utilidade marginal das impor­ d::J
tâncias poupadas e transferidas para um período mais bem suprido, e conseqüente­ ue
mente a um sacrifício positivo de utilidade, sacrifício que, segundo Carver e Landry, qL:e
tem de ser compensado pelo juro: o juro é necessário para, mediante um aumento prc<
da quantidade, assegurar ao capitalista um acréscimo de utilidade igual à utilidade mE:­
que perdeu em razão da transferência não vantajosa do que poupou para um pe­ ncs
ríodo mais bem provido, de sorte que a utilidade da quantidade que aumentou na c::X
medida correspondente ao juro, no limite da poupança, equivalha exatamente à pe:::::
utilidade marginal da quantidade de bens menor no presente. Cabe, porém, per­ d'~:-i
guntar: como demonstrar que o acréscimo do juro é necessário para produzir ape­ e :L
nas a igualdade da utilidade marginal para os bens derivantes do investimento de CE:OS
capital e ao mesmo tempo reivindicar para os mesmos uma "utilité-Iimite supérieu­

re" (p. 80) e uma "plus-value"?


a::-.::l
A segunda prova é fornecida pela explicação que Landry dá especificamente SE :::l

para o juro que advém da produção de bens de consumo de longa duração. For­ IT:c...;
mula assim suas premissas para este.caso: a produção de bens de consumo de lon­ e.C: !
ga duração rende um juro se e porque esses bens ("biens"; tenho razões para
pC~'

salientar esta palavra!) são mais úteis e mais valiosos (plus utiles, como diz Landry çc :,
à p. 91, plus appréciés, como diz à p. 146) do que os bens não duráveis apropria­

dos para o consumo imediato e que têm o mesmo custo de produção e se - é

justamente isso que permite afirmar essa utilidade e esse valor maiores - "se pro­

duzir apenas determinada quantidade desses bens duráveis". Todavia, uma vez que,

no caso dos bens de consumo duráveis - como são, por exemplo, pianos ou casas

de moradia -, a obtenção do juro na maioria das vezes ocorre mediante locação

dos mesmos, mediante aproveitamento dos "serviços" prestados por eles, Landry

_ -.i
é levado a incluir em sua análise tambérp o valor e o preço desses serviços. As afir­
~

maçõs dele a respeito são as seguintes. A página 163 exige, para a "soma dos servi­

29L'lntérêt du Capital, p. 53 el seqs., p. 57 na nota, 144 et seqs., 151,229 e outras; ver também supra, p. 259, nota 25.
JUOp. cit., p. 84 et seqs., 96; CARVER "The Place of Abstinence in the Theory of lnteresf' In: Quarterly Journal of Eco·
nomics. Outubro de 1893, p. 49·53
EXCURSO XiI; ).:;:;

~.-:""3 LOdo ços", que o uso do hem de longa duração - l?or exemplo a casa - proporcionará
:_:erme­ aos seus moradores 31 exatamente a mesma superioridade de utilidade marginal, em
e::05 que relação aos bens de consumo não duráveis fabricáveis com os mesmos custos, que
ri_ .. ,ados havia reivindicado, nas passagens acima citadas, para os próprios bens de consumo
c:::::::luir, duráveis. Se já isso permite concluir que Landry, com muito acerto, considera que
o valor do próprio bem é idêntico ao valor da soma de seus serviços, e certamente
ê ;:rópria não lhe é inferior, o próprio autor elimina qualquer dúvida a respeito, com outra
r. 5:Stema afirmação à página 195, na qual, citando e aderindo ao pronunciamento que fiz
.§. :lão é sobre a questão, diz ser um "fato inegável que o preço de um bem representa não
.:.," duas apenas o valor desse bem em si - se assim se puder dizer -, mas também o de
1'_2.es ca­ todas as utilidades que se pode auferir desse bem". Portanto, segundo essas afirma­
).:: êcordo ções, todos os serviços de um bem durável, em termos de utilidade marginal e va­
,::á a en­ lor, não têm valor superior ao do próprio bem durável, não têm primazia sobre ele.
!é255:..lpÕe Pergunto agora: como explicar, dentro da linha de raciocínio de Landry, o juro líqui­
:. ex:stên­ do de que esses bens não obstante são portadores? Pois à medida que se desfruta
!C êcarre­ de todos os serviços, que evidentemente não podem proporcionar ao proprietário
fê:: de o mais do que o valor total que têm, o bem como tal, com todo o seu valor, se conso­
r :::J qual me em virtude de seu desgaste sucessivo; e se o valor consumido equivaler ao valor
s:::ades, trazido, portanto se o "desgaste" equivaler ao ."rendimento bruto", como pode sobrar
'.55::>. pela um rendimento líquido, que indubitavelmente é e tem de ser o juro propriamente
~ ::-:·"por­ dito do capital? No caso dos bens de produção, Landry havia pelo menos criado
;.: ::':ente­ um pretexto dialético para levar adiante sua conclusão, com a afirmação - se bem
E •. :>:ldry, que errônea - de que o valor dos bens de produção é inferior ao valor de seus
ê"::-:1ento produtos de utilidade adiada: os bens de produção sacrificados na produção valem
..::'~:::ade menos do que as utilidades definitivas proporcionadas por eles, ou seja, valem ape­
ê pe­
"::-:--1 nas m, contra o m + n proporcionado. Ocorre que aqui o próprio Landry eliminou
>ê -.:::IU na a possibilidade de concluir dessa forma. Se as utilidades a serem proporcionadas
:n-:2 'ite à pelo bem de consumo durável valem m + n, também o próprio bem de consumo
r,§ :-:--.. per­ durável vale m + n; e se ele mesmo é sacrificante, com todo o seu valor, para ­
:..:z-" ape­ e durante - a obtenção de todas as referidas utilidades, onde fica a diferença ne­
~2:-,:O de cessária para que haja o juro líquido?32
s-.~ér;·eu- Procuremos, porém, esgotar todas as possibilidades lógicas: talvez se pudesse
ainda querer encontrar uma saída na linha de Landry, alegando que nessa questão
::ê::.ente se deve distinguir entre "valor" e "preço" e que os "preços" podem aqui evoluir de
~~:: For­ maneira diferente dos "valores". Efetivamente, Landry faz uma vez a afirmação (também
;c ::e lon­ ela materialmente incorreta, em meu entender) de que o preço dos bens duráveis
i:€5 para pode ser inferior à sua "utilidade marginal" e portanto também seu valor, caso o pre­
iz :...andry ço fosse pago antes da obtenção da utilidade (p. 96); e com isso se poderia - ao
ê::ropria­
E 32 - é
- -5-2 pro­ 31" e'est que le coút de cette maison, e'est à dire J'utilité limite du moins utile des biens non durabJes qu'on créerait à la
l·.v.que, pJace, est inférieur à la som me des utilités que la jouissance de la maison procurera aux habítants de celle-cí ..."o
32 'Note-se, de passagem, a contradição bem evidente entre a p. 95, onde Landry atribui aos bens de consumo duráveis
·:..:casas um preço que é apenas igual à utilidade marginal dos bens de conSumo consumíveis que se podem obter com os mesmos
2 .:cação custos, e a p. 146, onde, faiando dos mesmos bens duráveis, afirma que "seront plus appréciés que les biens non durables
; =-'cndry dont la création exige les mêmes dépenses". a Quanto à possibilidade de escapar a essa contradição, recorrendo, por exemplo,
a urna distinção entre preço e valor, ver ainda o que continuo a expor, no texto
~ .-\5 afir­
c.:~ 32r\'i­

é que o custo dessa casa, isto é, a utilidade marginal do menos útil dos bens não duráveis, que se produziria em
a "( ... )
seu lugar, é inferior à soma das utilidades que o uso da casa proporcionará aos habitantes desta última ..." (N. do 1.) Op.
cit., p. 163. A palavrinha "não" (non durables) foi omitida por Landry, em razão de um erro tipográfico que prejudica o
r:::. -: :. ..z.s sentido, mas é manifesto que todo o contexto a exige

(] "Serão mais valorIzados do que os bens não duráveis cuja produção demanda os mesmos gastos". (N. do 1.)
-::::=,:0:"-'. POSITIVA DO CAPITAL

:-:-.~:-.JÔ :10 plano dialético - abrir ainda a seguinte possibilidade: a utilidade margi­

-.": ;; o 'valor" de todos os serviços de um bem durável não seriam superiores à C.


i
..:::::::ade marginal e ao valor desse bem em si mesmo, mas o preço deles poderia CO
C~
S2f superior ao preço dele, caso no próprio bem o preço seja inferior ao valor, sem
que essa inferioridade ocorra, porém, nos serviços; e nesse caso o preço maior des­

':as últimas poderia ainda, após efetuada a amortização, deixar margem para um

juro líquido no montante da diferença do preço. \ ;::'0

Mas, primeiramente, esse expediente haveria de levar a um enigma novo e cer­


tamente insolúvel, a saber: por que razão meios de bem-estar de valor completa­
mente igual, que proporcionam até uma utilidade idêntica, haveriam de ter preços
désiguais? Em segundo lugar, o suposto fato da diferença de preço justamente não
ocorrer como fato. Com efeito, o próprio bem e todos os seus serviços têm normal­
mente um e mesmo preço. Isso se evidencia de imediato, desde que, como o exige
qualquer comparação correta, dos dois lados se pressuponham circunstâncias secun­
dárias iguais e sobretudo se excluam diferenças que perturbem a comparação, dife­ ce
renças que de modo algum estão nas mercadorias a serem comparadas, mas no
bem-preço, como, por exemplo, a diferença de tipos de moeda utilizados p,ara pa­
gar o preço, ou também a diferença das condições de pagamento do preço. E mani­
festo que, se for correta, a comparação exige uma premissa igual: ou, por exemplo, o:..
que tanto o preço de compra do próprio bem quanto o preço de compra dos servi­
ços proporcionados por ele (digamos, o aluguel de 20 anos, no caso de um piano)
sejam ambos pagos a vista no momento do fe.chamento do contrato ou então que,
inversamente, tanto o preço de compra do próprio bem quanto o aluguel de seus
T~-=_~
serviços sejam pagos numa longa série de prestações anuais. No primeiro caso, nor­

malmente a soma paga (adiantadamente) pelo a.luguel de todos os serviços com

certeza baixará, coincidindo com o preço de compra a vista do próprio bem e, no

segundo, a soma total paga em prestações pela compra do próprio bem não será

inferior à soma dos aluguéis pagos sucessivamente. Entretanto, naturalmente não

se pode considerar como "preços iguais" números de unidades de bens-preços desi­

guais e também não cifras de preços iguais com condições de pagamento desiguais,

e vice-versa. 100 florins pagos a vista e 100 florins pagos em vinte prestações anuais

iguais não são preços iguais, mas preços muito desiguais, e vice-versa. O pagamen­

to de um preço maior, escalonado através de muitos anos, pode materialmente re­

: presentrar um preço igual ao que é o pagamento a vista de um preço menor.


Penso que isso é diretamente claro e evidente. Ocorre que essa evidência, con­
quanto não seja explicitamente negada por Landry, é na realidade menosprezada
por ele, pelo fato de ele considerar simplesmente as cifras mecânicas indicadoras
do preço, e a partir delas argumentar para o campo do valor, na medida em que,
de acordo com a modalidade de pagamento, ora supõe que o montante do preço
atinge a grandeza da utilidade marginal e do valor do bem vendido, ora supõe que c;;
ele é inferior a essa grandeza. Como se, para a relação do preço de uma mercadoria
com a utilidade marginal e seu valor subjetivo, pudesse fazer alguma diferença re­ cc!':
presentar externamente um preço, materialmente idêntico, em uma ou em outra
dentre várias modalidades de pagamento equivalentes! Como se fosse lícito supor
que uma casa só poderia ser paga por sua utilidade marginal e por seu valor pleno
se for vendida em prestações, ao passo que no caso de venda a vista devesse sem­
pre ser vendida abaixo de sua utilidade marginal e de seu valor!
Isso me leva a apontar um terceiro motivo da desconcertante falta de clareza,

das constantes ambigüidades dialéticas que caracterizam a argumentação de Landry.

Afinal, o problema do juro. em toda a linha, tem a ver com bens que atravessam

o tempo e cuja relação com a economia humana é influenciada e alterada, durante


,,:,,;,~,,-,,~,,,,-,_.?,,,----~~~~."

EXCURSO XIlI 267

:~ :":"".argi­ essa travessia, por toda uma série de fatos internos e externos, também eles sujeitos
e:-.: ,es à a alteração durante a travessia. Por essa razão, não somente se quisermos explicar
; :;.: :eria corretamente os fenômenos conexos com essas alterações no tempo, mas também
~~::-. sem
caracterizar correta e claramente os fatos dos quais falamos, precisamos como que
.ê..::- ::ies­ estender sobre todo o material uma rede de determinações temporais cuidadosas,
:;~ um
que nos oriente. Não se pode falar pura e simplesmente de "100 florins", não se
pode falar pura e simplesmente do "valor", da "utilidade marginal", do "preçó de
i<. : 2 cer­ um produto, mas antes devemos especificar se estamos falando de florins ou de bens
~:":"".;:Jjeta­ presentes ou futuros, se, em se tratando de bens futuros, estamos entendendo seu
,,': :::-eços valor avaliado no presente ou 'no futuro, valor que será contemporâneo à existência
""~.:2 não
ou disponibilidade física do bem no devido momento; temos também de especificar
: :-.: 'mal­ se estamos pensando na avaliação atual de uma utilidade marginal futura ou na
e : exige avaliação da mesma utilidade marginal a ser feita a seu tempo, em um futuro próxi­
:c.~ õ-2cun­
mo ao presente; da mesma forma, temos de especificar se, no caso de condições
t;~:. dife­ de troca, estamos pensando na troca de bens futuros por bens presentes, ou por
c :":"".'05 no
bens-preços contemporâneos ao "bem futurd' e outras coisas mais.
:=_::':3. pa­ Ora, Landry não faz isso, nem quer fazê-lo. Prefere jogar a seu bel-prazer com esses
I. :: ::Jani­
conceitos e grandezas diferentes. Utilizando a mesma denominação de utilité limite
~'.2 ::Jplo,
ou valeur, introduz em seu cálculo ora uma, ora outra dessas grandezas; introduz,
c: s servi­ por exemplo, a grandeza menor (o valor menor de bens futuros no presente) para
L:". :J~ano)
explicar que o bem de produção e a parte principal do bem durável vale menos,
r.~: que, e para explicar por que um prazo para consumo ao qual se atribui um valor tão
!. :e seus pequeno não é preferido a um consumo instantâneo ao qual também se atribui um
[.::'5:. nor­
valor tão pequeno; e a seguir, para explicar o écart e o juro, introduz novamente
i:.;:S com a grandeza maior (ou seja, o valor presente que terão, no respectivo momento futu­
IIE:":"" e. no
ro - que pouco a pouco se tornou presente -, os respectivos bens, de acordo
-~:: será
com o atual estado das necessidades, de acordo com o conhecimento que se tem
delas e com a avaliação que delas se faz, com base nos bens contemporâneos, que
~"~.:e não
E';: S desi­
eram "futuros" e agora se tornaram também eles presentes). Ou então, na última
é2 :;uais, passagem comentada, na qual Landry afirma que o "preço" dos bens duráveis é in­
Í€'s 3.:luais
ferior à sua "utilidade marginal", chega ao ponto de mudar sua maneira de analisar,
X:;3.men­ dentro de uma e mesma frase: o preço atual e pago com bens presentes não é con­
r..2:'.:e re­ traposto à avaliação presente da utilidade marginal futura (caso este em que natu­
ralmente teria necessariamente resultado igualdade completa entre preço e utilidade
:":"".2::or.
r::::::.. con­ marginal, e não desigualdade!), mas - e isso é feito sem um comentário claro, que
deveria ter advertido para a inadmissibilidade dessa estranha composição - àquela
D-=::2zada
avaliação da utilidade marginal futura que ocorrerá, em condições diferentes, num
c~doras
futuro aproximado do presente. Vale o mesmo, analogamente, quanto à negação
I 2:":"". que,
- ou, pelo menos, ao reconhecimento apenas com ressalvas - de meu princípi9
=: preço de que o valor dos bens de produção coincide com o valor de seus produtos. E
u:::e que
natural, como expliquei expressamente, que meu princípio compara entre si coisas
1oo2:-::3.doria
~-2~,ça re­
correlatas e do mesmo gênero: compara, por exemplo, o valor atual dos bens de
produção com o valor atual dos produtos futuros dos mesmos. Landry chega à sua
t:":"". outra
negação dialética desse princípio somente porque - também aqui, sem um comen­
c::::: ~upor
tário que o esclareça - calcula com critério diferente o valor, em cada uma das
i":: ;:Jleno
E:~.S-2 sem­
duas grandezas, a saber: no caso dos bens de produção, aplica seu atual valor de
presente, ao passo que no caso dos produtos não aplica seu atual valor de presente,
mas o antigo, que se apresenta em condições completamente diferentes!
~ ::areza,
Em suma, Landry não leva em conta, antes suprime todas essas distinções, tão
iE :"'andry.
tT::: essam
essenciais para a clareza das premissas reais e para a conseqüência na argumenta­
~. :Jrante ção. E as suprime até deliberada e sistematicamente. Pois se atendesse a elas, a ló­

---- ---- -----


::=?~.;. POSITIVA DO CAPITAL E:x:c:;

~ Jorigaria inevitavelmente - a ele e a sua explicação - a entrar naqueles

:::c--
e3::-::1hos que propositadamente quer abandonar, a saber: explicar a matéria recor­

~2:-.6o à idéia da diferença de valor entre bens presentes e futuros, que está no cen­

::-:,6e minha teoria do juro. Ora, o que Landry quer é exatamente eliminar esse

eGr.1inho indireto, que reputa supérfluo e falho: o objetivo de seu livro é contrapor

à minha explicação "indireta" uma explicação "direta" do juro, partindo da produtivi­

dade do capital; a eliminação de meu modo de entender as coisas é o progresso

que Landry pretende trazer, progresso para o qual ele quer oferecer "o guia seguro

que faltou até agora", em sua opinião. 33 Essa sua aversão chega ao ponto de, mes­

mo onde apresenta a seus leitores minha doutrina, à guisa de simples exposição,

reformulá-la involuntariamente em termos de sua própria terminologia confusa e,

com isso, naturalmente deturpando-a quase ao ponto de torná-Ia incom­ Re1ari.


preensível. 34
Adotai
Em meu modo de entender, a "explicação direta" que Landry apresenta para

o fenômeno do juro é uma ilusão, à, qual ele mesmo foi induzido - e pretende

induzir-nos - por um sistema de ambigüidades dialéticas. Se em cada passagem

em que Landry empregou uma expressão obscura, confusa ou ambígua introduzir­

mos nos silogismos dele uma posição definida, clara e unívoca, o efeito será ou uma

contradição flagrante ou então uma pura recapitulação, que nada explica, dos pró­ (Para a

prios fatos a serem explicados, e nunca será uma verdadeira explicação: onde o en­

cadeamento das idéias pretende explicar alguma coisa, constata-se que no decurso ),:

do silogismo o autor alterou o sentido de termos homônimos e que foi só em virtu­ não 2S~
de dessa alteração de sentido que ele conseguiu deixar a impressão ilusória de que bens :: ~(

é concludente a idéia aduzida para explicar as coisas. 35 de ir<e:c

man:';:21
ra o ce '1
dos :,::::1
sem 2S:;

), =,
gios C':: ,
O neC2:;';;
pron:: _!l
caso. 2:-:1
ra a r.:ê...~
.n P. 340.
duçãc 6•
:14 Com efeito, na versão que apresenta de minhã doutrina, a diferença de valor entre bens presentes e futuros, tão enfati­ a SUbS~d
camente marcada, se transforma exatamente no oposto, a saber, em uma equivalência de valor, sendo os bens presentes e le\'a::: i
apenas "preferidos" aos bens futuros de valor equivalente (coísa bem difícil de se entender, na hipótese de haver equivalên­
porta~. :Ci,
cia de valor l ) "lI [aut un intérêl. di! Bõhm-Bawerk, parGe qu'un bien présent, à valeur éga/e, esl préfére à un bien futur"
o (ap. cit, p. 187; formulação similar, e ainda mais explícita, à p. 197 et seqs. Em compensação, há passagens posteriores nute:1çX:
que são mais corretas).
]5 Em relação a Landry, tenho estado na mesma sit~ação na Qual tantas vezes e com tanta facilidade se encontra um ex­
positor crítico, mesmo em relação aos autores mais destacados, a saber: a ocasião impõe o dever de assinalar, com certo
unilateralismo, com toda a ênfase e precisão possíveiS, exatamente os pontos fracos existentes na doutrina de um pensador
exímio, ou pelo menos aquilo que se considera como sendo seus pontos fracos. Naturalmente, essa crítica pode ir acompa­
nhada do mais alto apreço e reconhecimento pela obra científica global do respectivo autor. A esse propósito, não gostaria
de deixar de assinalar que dificilmente eu teria exigido de mim mesmo e de meus leitores um cuidado e um detalhamento cada. -.<2
tão grandes na crítica às posições de Landry, que considero errôneas, se não valorizasse tanto quanto de fato valorizo a trabe:;".:::
importância científica desse autor engenhoso e brilhante.
tidac.:: ;:r
pare e ~
a"Ele tem de render um juro, afirma Bõhm-Bawerk, pois um bem presente, de valor igual, é preferido a um bem futuro".
(N. do T)
.. """=.-"~~,--""""."-~ ..~;~.:;;:,,~~~,...,,.,,,,-,,,,=-.. ,,-"" ~

EXCURSO XIV

::-~ :.aqueles
:,,:.2~.a recor­
o2~é. :lO cen­
2 ::-:-.::iar esse
: .2 :ontrapor
=::: ;:::rodutivi­
? : :;rogresso
: ;-...:a seguro
:-:: de. mes­
e;: exposição,
~_::: :onfusa e,
Relativo à Grandeza do Fundo Inicial Necessário para se
:.é-:a incom­
Adotar um Período de Produção .de Determinada Duração
f:'2~nta para
- pretende2
,=a ;:assagem
r-a ::itroduzir­
: ~~ ou uma
(Para a p. 328)
:.:.:.a. dos pró­
,: :1de o en­
':2 :-.0 decurso No caso de se adotar um período de produção de um ano, e se esse período
:. S:: 2m virtu­ não estiver dividido em outros estágios, de sorte que da produção resultam novos
rr.:=-é;:a de que bens prontos para o consumo só depois de decorrido o ano inteiro, é manifesto que
de início deve haver um fundo de subsistência que contenha o necessário para a
manutenção dos trabalhadores durante o ano inteiro e que já deve estar pronto pa­
ra o consumo. Se o fundo de subsistência for S, e o necessário para a manutenção
dos trabalhadores durante o ano for J, temos, no caso de produção de um aliO,
sem estágios,

S = J.
No caso de se adotar uma produção de dois anos de duração, com dois está­
gios de um ano cada, requer-se que no início do período de produção esteja pronto
o necessário para a manutenção dos trabalhadores durante um ano inteiro, e esteja
pronto pela metade o necessário para a manutenção durante mais um ano. Nesse
caso, em cada ano os trabalhadores consomem a quantidade pronta necessária pa­
ra a manutenção de um ano, os trabalhadores do segundo estágio terminam a pro­
dução da quantidade que estava pronta pela metade - com o que fica assegurada
-:. - _- _.:-::. :ão enfati­
a subsistência para () ano próximo - e os trabalhadores do primeiro estágio iniciam ,,
e levam até a metade a produção da quantidade necessária para um novo ano. Aqui,

I
:<:. :'~ :0::-.-:: ;Jresentes
.:.:: - ~ .2: 2:::]uiva\ên­ portanto, se equipararmos a quantidade pronta pela metade, necessária para a ma­
~-.2"'';:' ~ _ - :-:en futur"
~_::,,=.-;""::'"5 ?osteriores
nutençã'o de um ano, à quantidade necessária para a manutenção durante meio ano,
!. =.:: ~- ::-,:;a um ex­
S = 1 1/2J. r
=:E- ~...=~ :Qm certo ~

r'-::. :,:;: _-:-. ?ensador ~

Analogamente, para uma produção de três anos, com três estágios de um ano
~
T': =- :<.:.:: ::- acompa­
-:r:,:~ -: -~c gostaria
- ..:",==:hamento
cada, necessita-se de uma quantidade totalmente pronta para a manutenção dos
-- -. ~:orizo a trabalhadores durante um ano, de uma quantidade pronta em 2/3 e de uma quan­
tidade pronta em 1/3. Nesse caso, em cada ano se consome a quantidade pronta
para a manutenção durante um ano, os trabalhadores do terceiro estágio terminam
·C::: - ':-e!Tl futuro".

2m

~::::R:.-'\ POSITrVA DO CAPITAL

A:-.?.:'
::-.:e::-ameme a produção da quantidade pronta em 2/3, os trabalhadores do segun­
:'::. estágio levam até 2/3 a produção pronta em 1/3 e os trabalhadores do primeiro de me:: ::
2s:ágio começam a produção de uma nova quantidade necessária para a manuten­ 1/2 J - ­
çã.o durante mais um ano, deixando-a pronta em 1/3 - com isso, no fim do ano
se recompõe o status quo ante e fica assegurado o suprimento sem solução de con­
tinuidade. Aqui, portanto,

S = 1 J + 2/3 J + 1/3 J = 2 J.
(1/2 - ~
.Analogamente, no caso de produção em período de quatro anos, com estágios
de um ano cada, S deve ser igual a e assir :.(
Ta::-.:":
(1 + 3/4 + 1/2 +'1/4) J = 21/2J; um fu:.::
do que =.
no caso de produção em período de cinco anos, S deve ser igual a
Se .02':
(1 + 4/5 + 3/5 + 2/5 + 1/5) J = 3 J; feitame:-.:2
subsis:2:-. j
no caso de produção em período de seis anos, S deve ser igual a períoc:: :é
têncic. :02::-.
(1 + 5/6 + 4/6 + 3/6 + 2/6 + 1/6) J = 3 1/2 J; de pro:. .... '"
Positil::' e.
a mais :::.
nC? caso de produção em período de sete anos, S deve ser igual a

(1 + 6/7 + 5/7 + 4/7 + 3/7 + 2/7 + 1/7) J = 4 J;


no caso de produção em período de dez anos, S deve ser igual a

(1 + 9/10 + 8/10 + 7/10 + 6/10 + 5/10 + 4/10 + 3/10 + 2/10 + 1/10)


J = 51/2 J.

Se examinarmos com mais precisão essas séries de números, facilmente desco­


briremos a lei que lhes está à base: cada período de produção requer um fundo
de meios de subsistência que contenha a cobertura para meio ano a mais do que
a metade do período de produção.
Continuemos agora a pesquisa, supondo uma divisão diferente dos estágios de
produção - digamos, por exemplo, que os estágios sejam de meio ano -, sendo
totalmente indiferente se o trabalho é executado com. ou sem divisão do trabalho,
sendo essencial apenas que a cada meio ano a produção global forneça bens pron­
tos para'o consumo. Para levar adiante uma produção de um ano de duração, com
estágios de meio ano, precisa-se, para meio ano - durante o qual ainda não se
produzem novos bens prontos para o consumo -, de quantidade total pronta para
satisfazer a necessidade; para um segundo meio ano, precisa-se de uma quantidad",
pronta apenas pela metade. Nesse caso, durante cada semestre se consome a cota
pronta, os trabalhadores do segundo estágio terminam a fabricação da cota que es­
tava pronta pela metade e os trabalhadores do primeiro estágio começam a fabrica­
ção de uma nova cota e a fabricam até a metade - e com isso se recompõe o
status quo. Portanto,

S é igual a 1/2 J + 1/2x1/2 J = 1/2 J + 1/4 J = 3/4 J.


___ ._.~=""""."",~::.··,~="=o,= ~~~~

EXCURSO XIV 271

:: = õ2gun­ Analogamente, no caso de produção de dois anos de duração, com estágios


[ :::-.:-:ieiro de meio ano, precisa-se de
~.:::~.·~Ien­

.~ :: ano 1/2 J + 1/2x3/4 J + 1/2x1/2 J + 1/2x1/4 J = (1/2 + 3/8 + 1/4 + 1/8) J


~= :2 con- = 11/4 J.

No caso de produção de três anos de duração, precisa-se d'e

(1/2 + 1/2x5/6 + 1/2x4/6 + 1/2x3/6 + 1/2x2/6 + 1/2x1/6 1/2


~ 2õ:3g10S + 5/12 + 4/12 + 3/12 + 2/12 + 1/12) J = 1 3/4 J.,
e assim por diante.
Também aqui a lei de base é clara: havendo estágios de meio ano, requer-se
um fundo de subsistência que contenha cobertura para um quarto de ano a mais
do que a metade do período de produção
Se levássemos a pesquisa ainda mais adiante, constataríamos, de maneira per­
feitamente análoga, que no caso de os estágios serem de um trimestre, o fundo de
subsistência deve conter cobertura para 1/8 de ano, a mais do que a metade do
período de produção; e no caso de os estágios serem mensais, o fundo de subsis­
tência tem de conter cobertura para meio mês a mais do que a metade do período
de produção. E isso leva à formulação geral apresentada à página 328, da Teoria
Positiva, a saber, que o fundo de subsistência deve ser suficiente para meio estágio
a mais do que para a metade do período de produção.

10)

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