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1.2 Perdas
No setor setor florestal podem ocorrer grandes perdas ocasionadas por doenças. Estima-
se que as doenças reduzem em até 60% a produção de eucalipto. Atualmente no Brasil, uma das
piores é a murcha de ceratocistis causada pelo fungo Ceratocystis fimbriata que está atacando de
Norte a Sul do país. A redução de produtividade é de cerca de 58% e além de diminuir
produtividade, afeta a madeira reduzindo a produção de celulose entre 10% a 14%. Outra grave
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doença no campo e viveiro é a murcha bacteriana, causada pela bactéria Ralstonia solanacearum
que tem sido constatada em plantios realizados em áreas recém-desmatadas e resultaram em até
25% de mortalidade. Em 1987, cerca de um milhão de mudas de eucalipto foram dizimadas pela
doença em Monte Dourado (PA).
Quando se discutem perdas, o primeiro pensamento dirige-se às perdas causadas na
produção. É importante, porém, mencionar que na classificação de perdas devem ser
consideradas aquelas de níveis econômico e social.
Verifica-se que os danos causados pelos patógenos são bastante diversos e
significativos, permitindo a separação destes em vários níveis.
Dano potencial se refere ao dano que pode ocorrer na ausência de medidas de controle,
enquanto dano real se refere ao dano que já ocorreu ou que ainda está ocorrendo e divide-se em
dois grupos: dano indireto e dano direto. Danos indiretos compreendem os efeitos econômicos e
sociais das doenças de plantas que estão além do impacto agronômico imediato, podendo
ocasionar danos ao nível do produtor, da comunidade rural, do consumidor, do Estado e do
ambiente. Danos diretos são os que incidem na quantidade ou qualidade do produto ou, ainda,
na capacidade futura de produção, dividindo-se em dois grupos: danos primários e danos
secundários. Danos primários são os danos de pré e pós-colheita de produtos vegetais devidos
às doenças. Esses danos podem ser na quantidade ou na qualidade do produto, fatores que tem
importância variável dependendo do tipo de produto e do poder de compra dos consumidores.
Devem ser incluídos também os prejuízos representados pelos custos do controle das doenças e
pela necessidade, em algumas situações, do plantio de culturas ou variedades menos rentáveis.
Danos secundários são os danos na capacidade futura de produção causadas pelas doenças,
sendo comuns quando o patógeno é veiculado pelo solo ou disseminado por órgãos de
propagação vegetativa de seu hospedeiro. Exemplos destes vários tipos de perdas são
representados na Tabela 1.1.
É fundamental reduzir todos os tipos de perdas decorrentes das doenças. Para isso, entre
as atividades inerentes à agricultura, são indispensáveis os princípios fitopatológicos. Para que
estes princípios sejam aplicados com sucesso, faz-se necessário o conhecimento do complexo da
doença-planta, conhecimento este encampado em Patologia Florestal. Serão discutidos aspectos
conceituais básicos e aplicados, visando, em última análise, ao manejo de doenças de plantas.
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2 - DEFINIÇÕES E HISTÓRIA DA FITOPATOLOGIA
Fitopatologia é uma palavra de origem grega (phyton = planta, vegetal; pathos = doença e
logos = estudo, tratado) e indica a ciência que estuda as doenças das plantas, abrangendo todos
os seus aspectos, desde a diagnose, sintomatologia, etiologia, epidemiologia, até o seu controle.
Como definir doenças de plantas? O conceito de doenças de plantas é controvertido e,
praticamente, não há consenso quanto à sua definição. Algumas definições clássicas,
encontradas na literatura, servem para ilustrar a imprecisão do conceito de doença de planta,
entre as quais destacamos:
Kühn (1858): “As doenças de plantas devem ser atribuídas a mudanças anormais nos seus
processos fisiológicos, decorrentes de distúrbios na atividade normal de seus órgãos”.
Whetzel (1935) Um processo biológico contínuo onde ocorre interferência em processos
fisiológicos da planta, levando-a a um desempenho anormal e prejudicial em suas funções vitais,
causado por um agente infeccioso em uma relação de parasitismo.
Gaümann (1946): “Doença de planta é um processo dinâmico, no qual hospedeiro e
patógeno, em íntima relação com o ambiente, se influenciam mutuamente, do que resultam
modificações morfológicas e fisiológicas ”.
Walker (1950): “Plantas doentes são caracterizadas por mudanças na sua estrutura ou
processos fisiológicos acarretadas por ambiente desfavorável ou por algum agente parasitário”.
Stakman & Harrar (1957): “Doença de planta é uma desordem fisiológica ou anormalidade
estrutural deletéria à planta ou para alguma de suas partes ou produtos, ou que reduza seu valor
econômico”.
Horsfall & Diamond (1959): “Doença não é uma condição (...). Condição é um complexo de
sintomas (...). Doença não é o patógeno (...).Doença não é o mesmo que injúria (...). Doença
resulta de irritação contínua e injúria de irritação momentânea (...). Doença é um processo de mal
funcionamento que resulta em algum sofrimento para a planta”.
Agrios (1988) Qualquer mal funcionamento de tecidos do hospedeiro causada pela irritação
contínua por um agente patogênico ou fator ambiental e que resulta no desenvolvimento de
sintomas.
Um ponto importante em algumas definições – “irritação contínua” – é comumente utilizado
para distinguir doença (causada por um agente patogênico) e injúria (causada por insetos ou
ferimentos mecânicos, por exemplo).
Na caracterização de doenças, os sintomas são muito importantes. Plantas doentes
apresentam sintomas e, comumente, sinais.
Considera-se sintoma a expressão ou manifestação visual de uma anormalidade fisiológica
ou morfológica de uma planta (hospedeiro) resultante de uma doença. Os sintomas podem ser
internos ou externos e macroscópicos ou microscópicos. Sinais também são observados em
muitas doenças, eles são quaisquer estruturas ou partes do patógeno presentes no tecido
doente. Os mais comuns incluem estruturas vegetativas e reprodutivas de patógenos, como
micélio, esporos, corpos de frutificação (picnídios, peritécios), cistos de nematoides, etc. O estudo
do conjunto composto de sintomas e sinais é denominado sintomatologia.
• Patógeno = agente biótico ou infeccioso: Qualquer organismo ou unidade biológica capaz de
multiplicar-se na planta, de modo a causar doença. Podem ser fungos, bactérias, nematóides,
vírus, micoplasmas, espiroplasmas, protozoários ou plantas parasíticas
• Hospedeiro: Planta que é atacada por um patógeno, em uma relação de parasitismo
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2.2 Sintomas comuns associados a doenças de plantas
(veja também livro Clonagem e doenças do eucalipto)
Anasarca - extravasamento de conteúdo celular, que resulta em áreas de aspecto encharcado
Cancro - lesões necróticas, formando depressões nos tecidos corticais dos caules, tubérculos e
raízes.
Clorose – ausência parcial ou total da coloração verde normal. Os órgãos afetados podem se
tornar verde-amarelos, amarelados ou mesmo esbranquiçados.
Mancha – mais comum em folhas, mas também pode ocorrer flores, frutos ou ramos; resulta da
morte dos tecidos, que tornam secos e pardos. Dependendo da doença, as manchas foliares têm
formas variadas, podendo ser irregulares, angulares, circulares etc
Mosaico – áreas cloróticas intercaladas com áreas de verde mais escuro, observadas
principalmente em folhas.
Pústula – pequena mancha necrótica (geralmente menor do que 1 cm), com elevação da
epiderme, que se rompe por força da produção e exposição de esporos fúngicos.
Tombamento (ou “damping- off”) – tombamento e morte de mudas, resultante de podridão dos
tecidos tenros da base se seu caulículo. Se a podridão ocorrer antes da emergência da planta,
havendo redução no estande de semeadura, diz-se que houve “tombamento em pré-
emergência”.
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2.4 HISTÓRIA DA PATOLOGIA FLORESTAL NO BRASIL
Enquanto 1874 é considerado o marco inicial da Patologia Florestal no mundo, com os
trabalhos do pai desta especialidade, o alemão Robert Hartig, estabelecendo a associação do
apodrecimento da árvore com a presença de estrutura fúngica, o início das atividades de
Patologia Florestal no Brasil deu-se na década de 1960. Nessa época, o serviço Florestal do
estado de São Paulo contava com a pesquisadora Luiza Cardoso May como responsável pelo
problemas de Patologia Florestal. L.C. May publicou revisões de leitura sobre doenças de Pinus
ssp., dando ênfase àquelas que já ocorriam no Sudeste e no Sul do Brasil, com informações
sobre a distribuição, importância, sintomatologia e tecendo comentários sobre a situação dessas
doenças em nosso País, na ocasião. Em várias de suas publicações, procurou alertar o público
para o perigo de se introduzir no Brasil doenças importantes de Pinus ssp., a partir de outros
países. Esses trabalhos de L.C May encontram-se publicados principalmente na revista
Silvicultura em São Paulo, no período de 1962 a 1967. Em décadas anteriores, a Patologia
Florestal brasileira contou com contribuições, esporádicas, de fitopatologistas do setor agrícola.
Micologistas brasileiros como A. P Viegas e A. Chaves Batista descreveram muitos fungos
patógenos em essências florestais nativas.
A primeira instituição de ensino no Brasil a tratar de Patologia Florestal como área de
Engenharia Florestal e especialidade de Fitopatologia de maneira efetiva, foi a Universidade
Federal de Viçosa. Dentre as escolas de Florestas mais antigas do País a da UFV sempre
contou, desde a sua criação, com um ou mais profissionais com dedicação exclusiva ao ensino,
pesquisa e extensão nessa área. Uma grande contribuição para a área foi o estabelecimento do
Setor de Patologia Florestal, do PRODEPEF, do convênio FAO/IBDF, em Viçosa, MG, e tinha
basicamente os seguintes objetivos:
a) Realizar levantamentos de doenças florestais no País.
b) Iniciar programas de pesquisas sobre as doenças florestais selecionadas como
economicamente mais importantes;
c) Treinar pessoal técnico, ou, em outras palavras, criar patologistas florestais, a curto
prazo, para dar continuidade as pesquisas iniciadas.
A liderança técnica desse Setor, de 1973 a 1976, ficou a cargo do perito da FAO em
Patologia Florestal, o americano Charles S. Hodges, a quem a Patologia Florestal brasileira deve
muito pelo conhecimento e entusiasmo sobre a área que conseguiu transmitir a Francisco Alves
Ferreira e Acelino Couto Alfenas, engenheiros Florestais contratados em 1974 e 1975 para se
tornarem patologista florestais, como mencionado acima. Os objetivos, há pouco abordados,
foram cumpridos, e, na atualidade, A. C. Alfenas atua como professor de Patologia Florestal na
UFV, onde, além das atividade de didáticas, pesquisa e extensão na área, dedica-se à formação
de patologistas florestais a nível de pós-graduação.
Outra instituição brasileira com setor de Patologia Florestal idôneo é a Escola Superior de
Agricultura Luiz Queiroz - ESALQ, em Piracicaba, SP. Até os ano 90, essa instituição e a UFV
eram os dois únicos centros de ensino que abrigam setores destinados a treinamento de
patologistas florestais no Brasil, a nível de pós-graduação.
Nesse histórico de Patologia Florestal no Brasil não inclui o desenvolvimento de estudos
sobre doenças da seringueira. O estudo dessas doenças teve início em 1940, no Instituto
Agronômico do Norte, desvinculado do rótulo de estudo de doenças florestais e do objetivo
filosófico de desenvolvimento da Patologia Florestal brasileira, mas hoje as doenças da
seringueira é um rico acervo didático-científico desta área.
A Patologia Florestal brasileira, até o momento, encontra-se voltada totalmente para as
doenças fúngicas. A falta de estudos sobre as doenças florestais no Brasil, causadas por
nematoides, bactérias, vírus, viroides, micoplasmas, espiroplasmas e outro agentes
fitopatogênicos é creditada por F. A. Ferreira (1989) à escassez de patologistas florestais.
Existem, hoje, 56 cursos de Engenharia Florestal no Brasil, onde existe, ao menos, um
docente envolvido com a Patologia Florestal, porém apenas cinco instituições oferecem pós-
graduação em Fitopatologia, e nem todas tem linha de pesquisa em Patologia Florestal.
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2.5 EXEMPLOS DE DOENÇAS IMPORTANTES
Há vários de doenças que ocorreram em diferentes lugares do mundo e causaram perdas
vultosas. Serão comentadas algumas que tiveram ou têm reflexos sobre a agricultura.
Tristeza dos citros (causada pelo closterovirus Citrus tristeza vírus CVT)
Essa doença originou-se na África do Sul e foi constatada em 1930 na Argentina e
Uruguai. Em 1937, foi encontrada no Vale do Paraíba, SP, e, em menos de 10 anos, destruiu
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aproximadamente cerca de nove milhões de árvores cítricas no Estado de São Paulo. Fato
importante relacionado a essa doença foi o desenvolvimento de controle por meio de “proteção
cruzada”, que consiste em utilizar estirpes fracas do vírus para proteger plantas da infecção por
estirpes fortes.
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