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Erasmo Thomas More _Os Pensadoés _ Erasmo Thomas More “Tudo 0 que fazem os homens es Si chao de loucura. $30 loucos tralan- do com loucos: Por conseguinie, se howwer uma unica cabeca que preten- Ga opor obsiculo 3 torrente da mult Gio, 6 the axxo dar um conselho: Ge, 2 Exempla de Timao, se retire pa- ma um deseo, a fim de gozar 3 vonta- edos frutos de sus sabedaria.”” EBASMO: Flogio da Loucura “€ a Loucura que forma as cida- des paces a cla € que subsistem 03 g0- vemos, 3 religido, os Conselhos, 0s tri bbunais; e @ mesmo licita asseverar qué -zvids humana no pass, afinal, de uma ‘Sptcie de divertimento di Loucura,'” ERASMO: Elogio da Loucura “O firm das instituigdes socials na Unpia ¢ de prover antes de tudo as ne- \cessidades do consumo publica e indi- sideal; e deixar a cada um o maior tempo possive! para libertar-se da scrvie din do corpo, cultivar livremente oes ypitto, desenvolvendo suas faculdades pelo extudo das ciéncias € das letras, £ nese desenvolvimento compiéto que eles poem a Verdadeira iclicidade.”" THOMAS MORE: A Utopia Os Pensadorés CIP- Brasil. Catalogagdo-na-Publieaya0 ‘Camara Brasileira do Livro, SP $4-1005 Erasmo de Rotterdam. apr; 1466-1536, Elogio da loucura / Erasmo de Rotterdam ; traducao € notas dle Pay: fo M- Oliveira A utopia J Thomas Mote | tradueso 2 notas de Luis de Andrade. — 3. ed. — Sio Paulo': Abril Cultural. 1984. (Qs pensadores) Inclu} vide ¢ obra de Erasmo. c More, Bibliografia. Satire: latina medicval © moderna 3. Unopias 4. Oliveira, Paulo M. HL. More, Thomas, Santa, 1478-1535. U1, Andrade. Luis de. IV. Ti tufo: Elogio da Toucurs. V. Titulo: A utopia. VI. Sé cpp-321,07 2877.05 indices para catiloge sistemiticn: 1, Periodo moderno + Satira : Literatura latina 877.04 2. Satta : Periado moderno : Literatura fatina 87.04 3. Utopias: Ciéncis politica 321.07 ERASMO DE ROTTERDAM ELOGIO DA LOUCURA ‘Tradupaoe notas de Paulo M. Oliveira THOMAS MORE A UTOPIA Trilugio e noms dé Luis de Andrade 1984 EDITOR: VICTOR CIVITA ‘Titules originals: ‘Testo de Erasmo: oun, Ad Est, Stutetine Laws ‘Texto de More: De Optio Reipublicae Star, Deque Nowa hesula Utopia © Copyright desta edigao, Abril S.A. Cultoral, ‘Sig Paulo, 1972-2 wdigdn, 1980-3." edigdo, 184 Traitugdes picasa sob licens da Ds Giosa Industriag Grifieas §.4., Sa0 Punto. Direites exelusivos sobre “Erasme Vide Obra! “Tomy Mere — Vida ¢ Obra", Abn S.A. Culrural, $a Paulo ERASMO VIDA E OBRA Consultoria! José Américo Motta Pessanha Humanismo, 4(Be nag the dei, Addo, ném um lugar prédeterminado, nem quaisquer prerrogativas, 4 fim de que voce possa tomd-los € possui-los através de sua prépria deciséo e de sua propria escolha." Assim Deus fala na Oracso Sobre a Dignidacde do Homem, do pensa- dor italiane Pico della Mirandola (1463-1494), Naquelas palayras es- td apresentado uns dos temas centrais do humanism renascentista: liberdade do homem, que © toma um ser capaz de criar seu proprio projeto de vida. Movimento fiteriria e filoséfice originade na Itélia — na segunda metade do século XIV — e depois difundido em outros paises da Euro- pa. 0 humanismo constituiu um dos fatores fundamentais do surgi- mento da cultura moderna, Nascido nas cidades e comunas que, na época, lutavam por sua autonomia, 0 humanismo repudiou a ordem ea hierarquia césmicas contidas na visaa de munde medieval e res- guardadas pelo Impirio (0 Sacra Império Romano-Germanico), pela Igreja pelo. feudalisme. Dentro dessa ordem hierarquica 0 homem ocupava lugar insignificante © inalterdvel, imersa num mundo que era Visto Como OGasido para lenlagdes © pecado. Em contraposigao & mentalidade medieval, os humanistas exaltarda a dignidade do ho- mem, prociamando que sua liberdade pode ¢ deve ser exercida tanto om relagio 4 natureza quanto & sociedadle. Como aspect do, Renasci- mento, 0 humanismo reintegra a homem na natureza e na historia, reinterpretando-o em fungao dessas coordenadas. liberdade e dignidade do homem O temo “humanismio” @ derivads de Humanitas, que no tempo de Cicero (106-43 a.C.} designava a educagae do homem enquanto considerada em Sua condi¢ao prapriamente humana, corresponden- do ao sentido da palavra grega paideia: a educagdo por meio de disci plinas liberais, relativas.a atividades exclusivas ao homem e que o dis- tinguiam dos animais. A autanomia do ser humana é buscada pelos humanistas da Renasceri¢a por meio de uma volta a Antiguidade, a Vill ERASMO| seus modelos ¢ a suas diretrizes pedagégicas. As chamadas "humani dads! — poética, retérica, histéria, ética e politica — passam dese mado a constituir, soly a inspiracso dos antigos, a hase de uma educa- G80 destinada a preparar 6 homem para 6 exercicia de sua liberdade. Liberdade e capacidade humana de atuar sobre © mundo sao temas fundamentais dos humanistas, aparecendo nao apenas em Pico della Miraxdola, como também em Gianozzo Manetti (1396-1459), em Massilio Ficino (1433-1499), @ ressurginda nos humanistas. tranceses posteriores, como Charles Bouillé (1475-c. 1553). Mais tarde & que ay especulacoes marcaclas pela exaliagao da capacidade humana se- F40 contrabalancadas pela nota de ceticismo que © humanismo assu- miu no pensamento de Montaigne (1533-1592), de Pierre Charron (1541-1903) e de Francisco Sanchez (1552-1581). ‘Outro fundamento do humanismo renascentista foi_a convicgio de que 9 mundo natural ¢ @ reine do homem. Esse naturalismo condu- ziu, paralelamente a afirmativa do valor espiritual do homem, que o toma livre, a exaltacao de valor do corpa ede seus prazetes. Opon- de-se a0 ascetismo medieval, hurmanistas italianos, como Lorenzo Valla (1407-1457), retemam as teses do epicurismo antigo de que o bem 6 0 prazer e de que a virtude consiste num cdleulo de prazeres Em-nome do hedonismo, Valla inclusive recusa a superioridade relic gtosa da vida monéstica: os verdadeiros seguidores de Cristo seriam 6s que dedicam suas atividades a Deus, pertencam ou nao a ordens religiosas. © combate ao ascetismo © 4 vida mondstica é empreendi- do também por Gianozzo Manetti, Coluccio Salutati (1331-1406) @ Poggio Bracciolini (1380-1459). A afirmagao da naturalidade do ho- mem leva ainda es humanistas 2 proclamar a superioridade da vida ativa sobre a contemplativa ¢ da filosofia moral sobre a fisica ¢ a me- taffsica, “A filosofia moral 6, por assim dizer, o nosso territério” , es- creve Leonardo Bruni (c. 1370-1444). A mesma idéia € defendida por Matteo Patmier (1406-1475) @ por Bartolomeo de Sacchi (1421-1481). Nesse sentide & que © humanismo abriu caminho para 2 obra de Maquiavel (1469-1536) — em muitos aspecids consideraco humanista. © sctorno & Antiguidade, que inspira 0 humanismo. renascentis- ta, confere-Ihe agudo senso de historicidade, de que carecia a cultura medieval, construida em funcso do ideal de intemporalidade. A defo- sa da elogiéncia dos antigos, por exemplo, resultou para os humanis- tas num esforga de recuperagao da linguagem genuina da época clas+ sia @ num laborioso empenho para restaurd-la de sob as deforma- Ges sofridas no decorrer da dade Média. Qs humanistas redesco- brem a perspectiva histérica, fazendo na plano da temporalidade uma mudanga correspondente 4 descoberta, ao nivel da espaco, da perspectiva Sptica pela pintura renascentista A rejeicdo do ascetismo e das filigranas teolégicas nao significcu a adogao, pelos humanisias, de uma posigao necessariamente anti-re- ligiosa ou anticristé. O que fazem € rediscutir temas religiosos, coro a providencia de Deus e a natureza ¢ o destino da alma, com 0 abjeti- vo de defender a liberdade humana e a capacidade do homem ce agir sobre o mundo © modificé-lo de acordo com suas nevessidades, Por outro lado, no exame de problemas religiosos, deram preferénc a @ dois temas que pareciam, na época, os mais importantes: a funcao Numa prise VIDAEQBRA IX civil da religido ea toleréncia religiosa. A primeira associava-se ao na- turalismo: na obra Sobre a Dignidade e a Exceléncia do Homem, Gia- nnozze Manetti defende a tese de que a Biblia nao contém apenas uma proclamagae da felicidade celeste, mas encerraria também uma mensagem © Um programa relatives a felicidade terrena. Por isso mes- mo 6 que para Manetti, como para Valla e outros, a fungao fundamen- tal da religido seria relativa a vida civil ¢ 4 atividade politica. ‘A tolerancia:religiosa. constitui outro traco tipico do humanismo renascentista. Nos séculos posteriores — XVI ¢ XVI — a tolerancia re- sultard de guertas celigiosas que acaberdo por determinar a cocxistén- cia pacifica de varios credos, que todavia permanecem distanciados & inredutivels. A tolerancia preconizada pelos humanistas era de outro tipo, pois era sustentada pela convicgéo de que haveria. uma unidade fundamental subjacent as diversas religides. Isso implicava ainda a intrinseca identidade entre filosafia © religiao. Perguntava Leonardo Bruni: "Sao Paulo ensinou algo rhais do que fai pensado por Plataot"’ Seguindo a linhagem da Patristica — a doutrina dos primeiros padres da_Igreja —, os humanistas Consideravam que o Eristianigns teria le- vado a sua plenitude a satsecioria expressa pelos fildsofes antigos: a RazSo (logos) grega seria uma antecipagio da Verbo (Logos) que se encarna em Cristo. © retorno 3s origens significava, assim, para o hu- manismo da Renascenca, a possibilidade de conciliar dilerentes con- copgées filosdticas (como pretende Pico della Mirandola com o plato: nismo € © aristotelismo) ¢ ainda harmonizé-las com a Cabala, a ma- pia, a Patristica @ a Escoldstica. Com isso, poder-se-ia retornar as fon- tes de diversas correntes filasdficas © recuperar a paz religiosa que fo- ra destocada pelas disputas tebldgieas A tolerdncia rcligiosa, susten- jada por argumentos que ja entao exprimem @ despontar da mentali- dade moderna, ressurge como um dos ideais do humanismo de Eras- mo de Rotterdam ¢ de Thomas Mare. espiritual Em agosto de 1495, um feade agostiniana, vindo: de Cambrai, chegou a Paris com 0 objetivo de obier a titulo de doutor em tcolo: gia. Thha sido contemplada com uma holsa de estudos, mas os esti- péndios, embora recebides com regularidade, oram 140 parcas que foi obrigado a alojar-se na domus pauperum de colégio Montaigu, Si- tuado no Quartier Latin, sobre a colina de Sainte Genevieve, o ed cio era triste e sombrio, os dormitérins sujas, as paredes nuas ¢ gela- das. As releigoes eram péssimas: freqdentemente os ovos © a came eram servidos quase estragados ¢ 0 vinho mais parecta Vinagre- Tudo isso poderia contli- tos religiosos eclodem. Em fevereiro @ culto catdlico é olicialmente ahclido, os mosteitos so expropriados, cerram-se as portas da univer sidade. Erasmo @ obrigado a partir. Refugia-se na cidade de Fribuge e Guntinua a escrever: A Amdvel Conededlia da Igreja, uma nova tradu- cav do Ecclesiastes ¢ quatro volumes sobre a arte da pregacao, dedi- €acas ao bispo. Fisher, clue logo ‘depois seria condenado & morte per io aceitar a autoridade de Henrique VIll em materia religiosa. ‘A Saude, entrelanto, esté abalada. O reumatismo e as dores de 6 fémago sao insuportivels. Mas o remedio contra os males do corpe € do espirita continua & mao: escrever. E viajar também, Projeta voltar 3 terra natal, para onde:é chamado insistentemente pelo bispo de Bra- bante. Vai antes, contudo, para Basiléia, onde deveria esperar 0 dege- {o da primavera, Alguns fidis o retin por mais algum tempo e cuicam dele carinhosamente. Visita a tipagratia de Frobenius para supervisio- nara edicso do Ecclesiastes « escreve ainda um Comentiria ao Sal- inu XI¥, que hé muito tempo prometera a um amigo humilde chana- do Eschentelder, Foi o ltime trabalho. Em junho de 1536 Erasmo esta 140 fraco que jd nde consegue ler, ¢. um més depois, exatamente no dia 12 de julho, pronuncia as ale timas palaveas de sua vida, Lieve God {em holandés; Bom Deus), e exala a tltimo suspiro. Deixava como heranga a tdéia de que a fazao dove combater todos og fanatismose que acima de fodos os valores deve estar o homem, sobretude enquanto ser de inteligéncia livre. 1465 (2) — Erasmo: nasce em Rotterdfam. filha natural Uo padre Roger Geert & Margered, 1g ee BeASaHiO’s PULIIGE Contra ws Casunsaciores le Plucis © Servi Pein 3 Tealogia Platonica, Nasce Maquiavel VIDAEOBRA = XVIL 1475 — Enrra na Escola dos trios da Vidi em Comum, em Deventer. E edl- lado 0 Vocibutirio escrito por Johannes Reuchlin 1481 — EF instauirada 4 Inquisigao na Espanta. 1484 — Falecem os pais; os tutores 0 envinm pata Hertagenbosch. Mavsilio Ficino traciuz Plotina. Nasce Zwinglio. 1486 — Savonarola inicia sua pregacao om Florenga 1487 — ingress no conventa de Steyn, Pica della Mirandola € candenade pelopapa. 1490 — Leievie dBtaples publica Inremlugde A Metatisica de Aristarefes, 1492 — Ordena padre, trabatha com 0 bispo de Cambrai 1494 — Chega'a Paris, 1497 — Passa a viver em Oxford, junta aos humiénistis ingles. Leonarcde da Vinei pinta A Géva, 1500 — Vala 4 Paris, edita os Adagios «passa os cinco anos seguintes entre a Franca & as Paises Baixo 1505 — Quira vez em Londns, 1506 — Visja pela luilia, Reuchlin publica Rurdincrtos da Lingwa Hebraic, 1507 — Tiabalhie com 0 euitar ¢ tipograto Aldo Maninzio. 1809 — Passela por varias eldades stalianas, principalmente Roma & Napo- fess ro'omna @ Inglaterra, onde excreve O Elogio da Laucura, 1511 — Vaiia Paris para publicar © Elagio e volta a firn ele leeionar em Carn: brie, 1514 — Vive on Basitéia, 1515 — Holbein desenha llustragdes jira © Flogin. Francisco | ascende ao tron francés & guerreia.na tala 1516 — Publica o Novo Testamente: cont comentirias, © Edueagio do Prin cipe Cristao, Pomponazzi escreve Tratado cla Imortalicade da Alia, Arie 10, 6 Orlando Funeso. # Maquiavel rerdige © Principe, 1517 — Edita a Questio da Paz, volta 4 Inglaterra e nox quai anos sein tes vive em varias cielades da Brabante, 1519 — Interviiny em taver de Lutero, mas, 0 mesmo reine, inpedle ap Cagao de seus eseritos por Frebenius, 1520 — f solicitado por Francisco |e Henrique Vill a-dar parecer salee late. ranisiro, 1522 — E instado pelo papa Adriane IVa tomar particla contra Lateran, A In quisigao choga 205 Paisos Baixos. 1524 — Publica Sobre v:Livee-Arbitro. 1529— Beixa Baviléia para viver ent Friburgo. 1530 — Edita Do. quo. s¢ Deve Fazer para Restsurar a Concérdia da Iareia, 0 que suscita W ira de Luter, Eserove a ullinias des Colimain, 1535 — Fala-se de sua clevacio ao cardinalato, 1536 — Em 2 de fevereiro Eraseno redige testamente. ¢ falece na passage de Toate (ede julio. ili Bibliografia Deyrowin RB: Eragon, his Gite and Character, as Shawn in bis Ceneespens denert Lonelees, 1873, 2 valunes Aut, B.S. [ee Age of Erasmus, Oxford, 1914, PRESERVED SMITH: The Age of the Reformation, 1920. PRESERVED SMITH: Erasmus. a Sturly.of his Life, Ideals and? Place in History, Nova York, 1923. Hubineis. J: Erasmus, Nova York, 1924 Rivauinr Avcustin, Lrasme, oa Fensée, REigicuse et son ution (/24i21), Fer fis, 1926, : Rexalinrr Aline Hauste! He kes Débuts de (Age Marderne. ia Rénaissanc et la Réfoxme, Paris, 1929. XxVu ERASMO Aug Py S.cEraimus, Lectures and Wayfaring Sketches; Oxlord, 1934 ReNauort, Aucusin. Eudes Erasmiennes (1521/29), Paris, 1939. Boia, Lous. Autour d'brasme, Etudes sur fe Christianisme des Humanistes Ca- tholiques, Paris. 1955) . Kase, Warn L Praisees of Folly — Brasmus, Rabelais and Shakespeare, Cam- bridge, Massacluvetts, 1963 Ooms, Richaky: The Histary of Scepticism from. Erasmus to Descartes, Nove York, 1964. Zone: Srress Erasmo de Roterdkia, Livraria Civilizagae Editora, Porto, 1970. ERASMO DE ROTTERDAM ELOGIO DA LOUCURA ERASMO A THOMAS MORE, SAUDE, Achando-me, dias atras. de regresso da Italia Inglaterra, a fim de nao gastar todo © tempo da viagem em insipidas fabulas, preferi recrear-me, ora volvendo © espirito aos nossos comuns estudos, ora recordando os doutissimos ¢€ ao mesmo tempo. dulcissimos amigos que deixara ao partir. E foste tu, meu caro More, © primeiro a aparecer aos meus olhos, pois que malgrado tanta distancia, eu via ¢ falava contigo com o mesmo prazer que costumava ter em Lua presenga e que juro ndo ter experimentado maior em minha vida. Nao désejando, naquele intervalo, passar por indolente. ¢ nao me parecendo as circunstancias adequadas aos pensamentos sérios. julguei conveniente divertir-me com um elogio da Loucura. Por que essa inspiragao'? — perguntar-me- 4s. Pelo seguinte: a principio, dominou-me essa fantasia por causa do teu gentil sobrenome, tao parecido com a Moria? quan- to realmente estas longe dela ¢, decerto, ainda mais longe do conceito que em geral dela se faz. Em seguida, lisonjeou-me a idéia de que essa engenhosa pilhéria pudesse merecer a tua apro: vacado, se é verdade que divertimentos tao artificiais; nao me \ Quae. Pallas isthue 1ibé misit im mentem. Homero introduz Palas, que vai sugerindo, a Penélope ca Ulisses; ora urna coisa, ora outca. + Loucura. em grezo. 4 ERASMO parecendo plebeus, naturalmente, nem de todo insulsos, te pos- sam deleitar®, permitindo que, como um novo Demécrito, obser- ves ¢ ridicularizes os acontecimentos da vida humana. Mas assim como, pela exceléncia do génio e de talentos, estas acima da maioria dos homens, assim também, pela rara suavidade do costume e pela singular afabilidade, sabes ¢ gostas, sempre ¢ em toda parte. de habituar-te a todos e a todos parecer amavel grato. Por Conseguinte. gostaras agora nao so de aceilar de bom grado esta minha pequena arenga, como um presente do teu bom amigo, mas também de coloca-la sob 0 teu patrocinio, como coisa sagrada para ti e, na verdade, mais tua do que minha. Ja prevejo que nao faltarao detratores para insurgir-se contra cla, acusando-a de frivolidade indigna de um tedlogo, de satira inde- cente para a moderacdo crist@, em suma, clamando e cacare- jando contra o fato de eu ter ressuscitado a antiga comédia* c, qual novo Luciano ®, ter magoado a todos sem piedadc. Mas os que se desgostarem com a ligeireza do argumento e com 6 seu ridicule devem ficar avisados de que nao sou cu 0 seu autor, pois que com o seu. uso se familiarizaram numerosos gran homens. Com efeito, muitos séculos antes, Homero escreveu a sua Batraquiomaquia, Virgilio cantou 0 mosquito € a amoreira, e Ovidio, a nogueira: Policrates chegou a fazer o clogio de Bus ris, mais tarde impugnado e corrigido por Isdcrates; Glauco enalteceu a injustiga, o filésofo Favorino louvou Tersites ¢ a 4 Ao subinacteadafalsoconde devia perder a cabega em testemunha da Verdade. ‘Thomax More. com. mesmo dinimc intréy da gota. disse a um dos guardas, com aguele sku mesmo estilo de bono da me a subir, que ao descer ndo te derei mais inodanodo + Criada por Susarido de Megara. Tao desabusada’que citava‘os nomes das pessoas, sem que a Icio proibisse. A antiga comédia sucedew a satira entre 9s latinos. ico de Samos. autor do. Didloga dos Mortos, Tao satirice que nia per: (ranguile, nio podendo dar um passo por causa, a: “Amigo. aj © Luciano, reté

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