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Lucas Honorato
Uma crítica comum aos textos, diz respeito ao fundamento epistemológico e ideológico
dos debates da Geografia Política nos clássicos. Da influência da perspectiva de Ratzel.
Ressaltemos o contexto da escrita dos textos pelo autor: consolidação dos Estados-nação;
guerras entre os Estados e corridas imperialistas/colonialistas, oriundas dos processos tensos
de formação dos Estados-nação; dificuldade da unificação alemã; noção de riqueza atrelada à
acumulação de recursos; organicismo/evolucionismo darwinista como paradigma. Nesta linha
é que compreende o Estado como um “organismo”, que representa a união do povo com o solo
(base material). União que se estrutura de forma visceral onde ambos se tornam um só
organismo Estado-solo-povo. É o solo quem dá coerência material ao Estado, sendo a política
as relações do Estado com o povo, ou seja, a capacidade do povo de fazer-se coeso para
facilitar ou “frear” o desenvolvimento do Estado. Política dizendo respeito à capacidade de
mobilização. Este todo orgânico como que atravessado pelo sentido do espaço (lucidez acerca
dos recursos disponíveis ao povo coeso ou das limitações ao seu desenvolvimento). Buscava,
então, leis gerais (Lei do Desenvolvimento dos Estados) e tipologias, compreendendo como
natural o movimento de expansão das sociedades para seu desenvolvimento (espaço vital). A
noção de estoque de recursos entra em voga. Mas, todo este movimento visto como natural
das sociedades, contudo, não determinado. É que o autor aponta a tensão constante entre o
substrato material (referenciado no solo) e o espaço vital, que leva a mobilidade, e a
perspectiva [e estratégias] do pertencimento (através dos ícones, símbolos e representações do
discurso de nação, da necessidade do povo de conhecer seu solo – intimamente ligado as
formas de organização dos fluxos –, etc.), do enraizamento, que “freia” o movimento. Ratzel
não apenas trata de um tipo específico de territorialidade vinculada com uma identidade
também específica (nação), como a naturaliza, personificando o povo na figura dos espaços do
Estado. Estado como mediador da relação do povo com o espaço. Não apreende as subdivisões
ou contradições internas do Estado. Fixa-se a territorialidade do Estado como a única possível,
mutável apenas pelo uso da força (abertura-fechamento), numa Geografia Política
unidimensional, tendo o Estado como único detentor do poder e o fato político como
expressão do exclusivamente do mesmo. Poder confundindo-se como soberania do nacional.
Conjuntamente, o solo como que “coisificando” o que concebemos hoje como território,
confundindo a projeção espacial do poder com os objetos geográficos materiais. Não o
território que contêm os objetos geográficos matérias (como o rio, a montanha e a várzea), mas
que é estes. Território se confundindo com terreno e limitando à perspectiva do recurso,
normalmente e naturalmente do Estado [territorialismo]. Mesmo assim, é um legado aos
posteriores debates sobre Geografia Política vários de seus temas e perspectivas, como o
“olhar comparativo”, a tensão “abertura-fechamento”, o tema da mobilidade e da gestão dos
fluxos.