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Geografia Política

Profª Juliana Nunes

Lucas Honorato

Partindo dos textos de referência “O território: sobre espaço e poder, autonomia e


desenvolvimento” e “’Território’ da divergência (e da confusão) em torno das imprecisas
fronteiras de um conceito fundamental”, ambos do Prof. Marcelo Lopes de Souza; “O território
e a territorialidade: contribuições de Claude Raffestin” de Ana Rúbia Galvão et. alli.; e
“Território e territorialidade na perspectiva de Robert David Sack” de Ivonete Terezinha Plein
et. alli.; cabe responder ao exercício proposto (“diferencie e relacione as abordagens de
Friedrich Ratzel, Robert Sack, Claude Raffestin, e Marcelo Lopes de Souza, apontando seus
limites e possibilidades”) de forma sintética. Serão eixos as diferentes concepções de política,
território e poder.

Uma crítica comum aos textos, diz respeito ao fundamento epistemológico e ideológico
dos debates da Geografia Política nos clássicos. Da influência da perspectiva de Ratzel.
Ressaltemos o contexto da escrita dos textos pelo autor: consolidação dos Estados-nação;
guerras entre os Estados e corridas imperialistas/colonialistas, oriundas dos processos tensos
de formação dos Estados-nação; dificuldade da unificação alemã; noção de riqueza atrelada à
acumulação de recursos; organicismo/evolucionismo darwinista como paradigma. Nesta linha
é que compreende o Estado como um “organismo”, que representa a união do povo com o solo
(base material). União que se estrutura de forma visceral onde ambos se tornam um só
organismo Estado-solo-povo. É o solo quem dá coerência material ao Estado, sendo a política
as relações do Estado com o povo, ou seja, a capacidade do povo de fazer-se coeso para
facilitar ou “frear” o desenvolvimento do Estado. Política dizendo respeito à capacidade de
mobilização. Este todo orgânico como que atravessado pelo sentido do espaço (lucidez acerca
dos recursos disponíveis ao povo coeso ou das limitações ao seu desenvolvimento). Buscava,
então, leis gerais (Lei do Desenvolvimento dos Estados) e tipologias, compreendendo como
natural o movimento de expansão das sociedades para seu desenvolvimento (espaço vital). A
noção de estoque de recursos entra em voga. Mas, todo este movimento visto como natural
das sociedades, contudo, não determinado. É que o autor aponta a tensão constante entre o
substrato material (referenciado no solo) e o espaço vital, que leva a mobilidade, e a
perspectiva [e estratégias] do pertencimento (através dos ícones, símbolos e representações do
discurso de nação, da necessidade do povo de conhecer seu solo – intimamente ligado as
formas de organização dos fluxos –, etc.), do enraizamento, que “freia” o movimento. Ratzel
não apenas trata de um tipo específico de territorialidade vinculada com uma identidade
também específica (nação), como a naturaliza, personificando o povo na figura dos espaços do
Estado. Estado como mediador da relação do povo com o espaço. Não apreende as subdivisões
ou contradições internas do Estado. Fixa-se a territorialidade do Estado como a única possível,
mutável apenas pelo uso da força (abertura-fechamento), numa Geografia Política
unidimensional, tendo o Estado como único detentor do poder e o fato político como
expressão do exclusivamente do mesmo. Poder confundindo-se como soberania do nacional.
Conjuntamente, o solo como que “coisificando” o que concebemos hoje como território,
confundindo a projeção espacial do poder com os objetos geográficos materiais. Não o
território que contêm os objetos geográficos matérias (como o rio, a montanha e a várzea), mas
que é estes. Território se confundindo com terreno e limitando à perspectiva do recurso,
normalmente e naturalmente do Estado [territorialismo]. Mesmo assim, é um legado aos
posteriores debates sobre Geografia Política vários de seus temas e perspectivas, como o
“olhar comparativo”, a tensão “abertura-fechamento”, o tema da mobilidade e da gestão dos
fluxos.

Raffestin amplia esta concepção. Compreende que o espaço é anterior ao território.


Este é uma produção a partir do espaço, sendo formado pelas relações de poder. Diferencia o
Poder do poder. Reconhecendo o primeiro como a soberania do Estado, ou seja, os fins que
garantem a sujeição dos cidadãos ao Estado, sendo visível, maciço e identificável.
Diferentemente, o poder é mais influente, não se pode ver, mas se manifesta em cada
comunicação entre os polos, sendo multidimensional, relacional, difuso e dissimétrico. É
resultado da combinação de energia (“força”) e informação (“saber”), implicando em
capacidades diferentes de obtenção de um fim de dominação dos homens e das coisas. Energia
e informação como recursos a serem mobilizados para os fins (gestão dos trunfos – população,
território e recursos). Aceita que numa relação, um desses trunfos pode ser privilegiado, mas
que normalmente são mobilizados ao mesmo tempo em diversos graus. Assim, existem
disputas determinadas como um “jogo de soma nula”, onde uns ganham e outros perdem
(numa perspectiva de dominação por supressão do outro, de dominação imperial), e o “jogo de
soma não nula”, onde os acordos garantem que nenhum dos polos perca tudo, mas também
nem ganha tudo (numa perspectiva de dominação consensual). Surge o território como o
espaço (“matéria-prima”) modificado pelo trabalho, assim tornado território, tomado por
relações sociais dissimétricas de comunicação entre polos, que revelam relações de poder.
Território como produção. Territorialidade como produto dessas relações. Eis que a política
emerge como “epifenômeno” das relações de troca, ou seja, como fenômeno secundário.
Como que desdobrado um poder e um território ainda que fortemente atrelados às bases
materiais, mediados pelas relações de produção. Política, poder e território como que
respondendo prioritariamente ao modo de produção, numa visão marcadamente economicista
dos conceitos.

Sack amplia mais ainda o conceito. Buscando diferenciar a territorialidade humana da


territorialidade animal, sendo a primeira vinculada à agressividade e ao instinto. Compreende
as relações de território (e, subentende-se, poder) como difusas e inerentes às práticas relações
humanas. Segundo o autor, sempre que limites definirem áreas de acesso a recursos ou poder,
essas áreas se tornam territórios (sempre perpassados por relações de poder). Assim, o
território figura-se como instrumento e estratégia geográfica de controle de pessoas e coisas
através do controle de áreas. E, como produto de estratégias, demandando esforços de
manutenção e gestão. São relações de assimetria de poder que implicam comportamentos e
práticas diferenciados e que definem e implicam em limites/restrições de acesso a áreas. Nesta
perspectiva, os limites territoriais clarificam os regimes de alteridade e de separação de usos
no/do espaço. A necessidade de estabelecer áreas diferenciadas se desdobrando na
necessidade de classificação das áreas diferenciadas, atravessadas pelos regimes de controle e
restrição de acessos. Contudo, a territorialidade humana, seja de exclusão ou inclusão, não
necessariamente se dá por forças e condições físicas bem marcadas, mas vinculadas ao
“conteúdo” territorial dos diferentes espaços. Ou seja, a territorialidade como as práticas e
comportamentos que ativam limites de acesso a espaços, que podem ser mobilizadas ou
desmobilizadas conforme as estratégias dos grupos. E o território como as áreas de acesso a
recursos, marcadas por restrições, mesmo não sendo estes limites físicos necessariamente.
Acaba que a generalização do conceito de território o situa muito próximo à noção de
obstáculo epistemológico, invocando, em alguns momentos, territorialidades que extrapolam
os limites da Geografia Política. Ao mesmo tempo, a perspectiva da territorialidade humana se
vincula extremamente à noção de propriedade da cultura ocidental, onde território e
propriedade tendem a não distinguirem-se. Ao olharmos por este viés, cabe a crítica da
insistência na vinculação do território ou do regime de territorialidade a base material em si, ao
substrato.

Numa de tendência mais consensual, Souza aborda o processo de territorialização


como o processo que envolve exercício de relações de poder e a projeção dessas relações no
espaço. Desta forma, busca desvincular o conceito de território de seu substrato material,
contudo, assume que como projeção espacial de relações de poder, o território não pode ser
compreendido e investigado descolado do aspecto material do espaço social. Em síntese: são
relações de poder delimitadas e operantes sobre um substrato referencial. Assim, o território
embora sendo também uma manifestação das relações sociais e da espacialidade, não é
material em si, mas se materializa. O território emerge como um “campo de forças”, posto que
intangível como relação social que é. Poder sendo a capacidade de estabelecer normas e
sanções, mesmo assim, multidimensional e multifocal, calcado em relações assimétricas.
Destarte, as relações, mesmo assimétricas, podem assumir as formas de heteronomia ou
autonomia, dependendo da forma com que as normas e sanções que regem o exercício do
poder são socialmente construídas. Significa inclusive abrir ainda mais a perspectiva da
Geografia Política a política que se exerce nas diferentes e diversas relações em suas
características de particulares regimes de territorialidade.

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