Académique Documents
Professionnel Documents
Culture Documents
2, 2311 (2014)
www.sbfisica.org.br
M. Cattani e A. Vannucci1
Instituto de Fı́sica, Universidade de São Paulo, 05508-090, São Paulo, SP, Brasil
Recebido em 8/10/13; Aceito em 23/11/13; Publicado em 23/5/2014
Este artigo foi escrito para mostrar aos alunos de graduação em fı́sica e engenharia como estimar as correntes
de Foucault. Inicialmente fazemos uma breve análise das condições de contorno entre dois meios com diferentes
parâmetros ε, µ e σ, que devem ser obedecidas tanto por campos eletromagnéticos estáticos quanto dependentes
do tempo. Em seguida, usando as equações de Maxwell calculamos as “correntes de Foucault”, ou eddy currents,
que surgem em um condutor plano metálico (paramagnético ou diamagnético) quando sobre ele é aplicado um
campo magnético B (t) variável no tempo, gerado por um solenoide longo de seção reta circular.
Palavras-chave: Foucault, Eddy current, freio magnético, levitação magnética.
This paper was written to show to undergraduate students of Physics and Engineering how to estimate the
Foucault or eddy currents, in conductors. We begin with a brief discussion about the boundary conditions at
the interface of two different medias with respective parameters ε, µ and σ, which must be satisfied by both
static and time dependent electromagnetic fields. Afterwards, using the Maxwell equations, we calculate the
eddy currents which are induced in a plane metallic conductor (either paramagnetic or diamagnetic) when a
time variable magnetic field B (t) produced by a long solenoid of circular cross section is applied upon it.
Keywords: Foucault, Eddy current, magnetic brake, magnetic levitation.
3. Correntes de Foucault
Figura 2 - Ilustração mostrando a formação das correntes concêntricas de Foucault à medida que aproximamos o solenóide do condutor
plano (vide a e b) [11]. São também mostradas as linhas de campo magnético geradas pelas correntes de Foucault em oposição (vide c)
ao campo externo aplicado, de acordo com a lei de Lenz.
Correntes de Foucault: Aspectos básicos 2311-5
1 ∂Hc
Ec = − n̂ . (23)
σ ∂z
Como Hc = H// e− δ ei( δ − ωt) , a expressão acima
z z
1 ( )
(1 − i) n̂ × H// e− δ ei( δ − ωt) .
z z
Ec ≈ (24)
δσ
Pegando a parte real desta Eq. (24) e levando em
conta que n̂ × H// = H// φ̂, onde φ̂ é o versor tangente
definido no sistema de coordenadas polares [5], temos
1
H// e− δ sin (ω t) φ̂.
z
Ec ≈ (25)
δσ
Na Fig. 2 o versor φ̂ é tangente às circunferências
desenhadas no plano paralelo à superfı́cie do condutor.
Assim, as densidades de corrente de Foucault Jc no
plano condutor são dadas, usando a Eq. (25), por
1
H// e− δ sin (ω t) φ̂,
z
Jc = σEc = (26)
δ
de onde constata-se que as correntes de Foucault são
induzidas no interior do condutor em uma camada
metálica de espessura ∼ δ, e que elas circulam em torno
do eixo de simetria do solenóide em circunferências Figura 3 - Esquemas [11] mostrando a diminuição exponencial
concêntricas com raios ρ (vide Fig. 2). exp(–z/δ) da intensidade da corrente de Foucault ou eddy cur-
rents à medida que a profundidade z cresce. A distância δ =
(2/µσω)1/2 é chamada de depth penetration, ou simplemente skin
4. Força do plano condutor sobre um depth [3].
solenóide A densidade de corrente Jc está confinada numa
região delgada de espessura δ sob a superfı́cie do condu-
Supondo agora que a base do solenóide (vide Fig. 2) tor, que é equivalente a uma corrente superficial eficaz
esteja a uma altura h da superfı́cie metálica, o campo κef
H// gerado pela corrente que circula por ele, num ponto
ρ distante do eixo z de simetria do solenoide, será repre- ∫∞
sentado porH// (h, ρ). Assim, a Eq. (26) fica escrita κef = Jc dz = n̂ × H// . (28)
como 0
2311-6 Cattani e Vannucci
Vemos então que um bom condutor, para frequên- as condições de contorno) a um caso magnetostático
cias altas, se comporta praticamente como um condu- (como já discutido).
tor perfeito, com a densidade superficial de corrente κ Landau & Lifschitz chegam a essas mesmas con-
substituı́da por uma corrente superficial equivalente que clusões colocando δ → ∞ na Eq. (31) e resolvendo
está, na realidade, distribuı́da em uma camada muito a equação ∇2 H = 0 [6].
delgada, mas finita, sob a superfı́cie [12, 13]. Essa aproximação magnetostática é levada em conta
As correntes de Foucault causam dissipação de ener- em artigos onde correntes de Foucault são criadas em
gia do campo eletromagnético, em forma de calor, pelo pelı́culas de metal liquido de Ga In Sn [16,17].
efeito Joule. O valor médio da potência Joule dissipada
é dada por Apêndice B - Campo magnético gerado
∫ pelas correntes de Foucault
P = < Jc · Ec > dV = As correntes de Foucault se distribuem sobre a placa
∫ condutora de acordo com a Eq. (24), ou seja
1 2
σ < E2c > dV = |κef , | (29)
2δσ
1
H// (h, ρ) e− δ sin (ω t) φ̂.
z
onde os sı́mbolos lógicos < ... > indicam uma média no Jc = σEc = (33)
δ
tempo. A Eq. (29) mostra que a grandeza 1/δσ tem o
papel de uma resistência superficial do meio condutor. Como elas estão contidas numa profundidade δ e
A força Fz entre a placa e o solenóide pode ser estimada distribuı́das em anéis infinitesimais concêntricos com
por [4, 14] raio ρ, os elementos de corrente dI (ρ, t) nesses anéis
(espiras de raio ρ) são dadas por (omitindo a parte tem-
∫
1 poral)
Fz = B 2 (h, ρ) dS, (30)
2µ (S) //
dI(h, ρ) ≈ Jc δ dρ = H// (h, ρ) dρ. (34)
onde B// (h,ρ) = µ H // (h,ρ) e a integral é sobre uma
superfı́cie (S) da placa; lembrando ainda que a força Esses elementos de correntes dI geram uma contri-
por unidade de área é igual à densidade de energia buição dH para o campo magnético no centro da espira
magnética. externa, que está a uma altura h da placa, dado por
Mais detalhes sobre eddy currents e skindepth para [18]
condutores bons e pobres (não metais) podem ser vistos
1 ρ2
nas Refs. [14] e [15], além de aplicações práticas tais dH(h, ρ) = dI(h, ρ) 3/2
. (35)
2π (h2 + ρ2 )
como, por exemplo, levitação magnética [15], frenagem
e detecção de metais [11-14]. Assim, levando em conta esta Eq. (35), no centro
da espira externa há um campo H(h) gerado pelas cor-
Apêndice A - Aproximação magne- rentes de Foucault
tostática ∫
H(h) = dH(h, ρ) =
Supondo µ ≈ µo , tem-se que no caso geral H ( r , t) obe-
⇀
∫
dece à Eq. (19) 1 ρ2
3/2
dI(h, ρ) =
2π (h2 + ρ2 )
∂H 2iH ∫
∇2 H = µ0 σ = iµ0 σωH = 2 , (31) ρ2
∂t δ H// (h, ρ) dρ. (36)
3/2
onde ∇2 é o operador laplaciano. De acordo com o que (h2 + ρ2 )
foi discutido, o campo magnético Hc (z, t) dentro da Agora, levando em conta o resultado obtido no
placa condutora é dado por Apêndice C
Hc (z, t) = HS e− δ ei( δ − ωt) ,
z z
(32) µ0 m hρ
H// (h, ρ) = ,
onde HS = HS (z = 0) é o campo na superfı́cie da 2π (h2 + ρ2 )5/2
placa. De acordo com esta Eq. (32), quando a espes- teremos, usando a Eq. (36)
sura da placa d for tal que δ >> d, o módulo do campo
no interior da placa permanece praticamente constante. ∫∞
Isto ocorre, por exemplo, para campos estáticos quando µ0 m dρ µ0 m
H(h) = 2h ρ3 = 2 24πh
3
. (37)
ω → 0, pois δ = (2/µσω)1/2 → ∞. Nessas condições, (2π) (h2 + ρ2 )
4
(2π)
0
o efeito da movimentação de cargas livres no condutor
pode ser desprezado. Assim, ab initio, poderı́amos as- Finalmente, como o campo H(R) no centro da es-
sumir que κ = 0, que seria semelhante (pelo menos para pira externa que tem raio R é dado por H(R) =
Correntes de Foucault: Aspectos básicos 2311-7
( )3
H(h) R3 1 R
= 3
= . (38)
H(R) 24πh 24π h
Consideremos uma espira isolada com N fios percorri- Figura 4 - Campos resultantes no interior e no exterior do “con-
dutor perfeito” devido à superposição dos campos magnéticos
dos por uma corrente I. Se a área de sua seção reta dipolares criados pelos dipolos m e mim [18].
éA = A k̂, o seu momento de dipolo magnético será
m = N IA [1-6]. O campo magnético gerado por essa Note na Fig. 4 o campo magnético normal à su-
espira num ponto P muito longe do seu centro é dado, perfı́cie H⊥ = 0, na interface entre os dois meios. Le-
numa “aproximação dipolar”, por [3-5] vando em conta que no nosso caso m está apontado
perpendicularmente para baixo e o mim perpendicu-
larmente para cima, o campo tangencial H|| é dado,
µ0 m cos θ usando a Eq. (39), por
Hr (r, θ) = ,
2π r3
(39) µ0 m cos θ sin θ
H// (r, θ) = 2Hθ (r, θ) cos θ = . (41)
µ0 m sin θ 2π r3
Hθ (r, θ) = . Suponhamos agora que a base do solenóide esteja
4π r3
a uma altura h da superfı́cie metálica. Nesta situação,
Os campos são calculados em um sistema de coorde- campo H// gerado por ele num ponto com coordenadas
nadas com origem do centro O da seção reta da espira, (h, ρ) na superfı́cie do metal, onde ρ é a distância do
sendo r a distância de P ao centro O. O momento de ponto ao eixo de simetria do solenóide, é dado por
dipolo magnético m está orientado ao longo do eixo z
µ0 m hρ
perpendicular ao plano da espira e o ângulo θ é formado H// (h, ρ) = , (42)
entre r e o eixo z. As Eqs. (39) valem somente para 2π (h + ρ2 )5/2
2
distâncias muito maiores que o diâmetro da espira. tendo-se considerado na Eq. (41) que r = (h2 + ρ2 )1/2 ,
Supondo que essa espira esteja próxima de um sinθ = ρ/r e cosθ = h/r.
“condutor perfeito” plano, estimaremos, numa primeira
aproximação, o campo H// (h, ρ) usando o “método de Agradecimento
imagens”. No caso geral, sendo I a corrente elétrica
real no vácuo, a corrente Iim imagem criada num meio Os autores agradecem a bibliotecária Virginia de Paiva
com permeabilidade magnética µ, pode ser expressa por por sua valiosa ajuda na obtenção de textos que foram
[15, 20] utilizados como referência neste artigo.
µ−1 Nota
Iim = I. (40)
µ+1
Nos livros, checar as cidades das editoras. Enviar as
Assumindo que um “condutor perfeito” se asseme- cidades que faltam.
lha a um material diamagnético perfeito, como um su-
percondutor [15], podemos fazer µ→ 0 na Eq. (40) re- Referências
sultando Iim = −I. Obtemos assim o dipolo magnético
imagem mim = −m. Na Fig. 4 vemos a configuração [1] D. Halliday e R. Resnick, Fı́sica 3 (Livros Técnicos e
dos campos magnéticos dos dipolos m e mim . Cientı́ficos, 1978).
2311-8 Cattani e Vannucci
[2] R.A. Serway, Fı́sica 3 (Livros Técnicos e Cientı́ficos, [11] Google, Eddy currents: see images.
1992).
[12] http://en.wikipedia.org/wiki/Skin_effect#
[3] J.R. Reitz, F.J. Milfordand, R. W. Christy, Fundamen-
CITEREFHayt1981
tos da Teoria Eletromagnética (Campus, 1982).
[4] J.A. Stratton, Electromagnetic Theory (McGraw-Hill, [13] http://en.wikipedia.org/wiki/Eddy_current
1941).
[14] B. Novak and S. Pekarek, Rev. Sci. Instrum. 41, 369
[5] J.D. Jackson, Eletrodinâmica Clássica (Guanabara (1970).
Dois, 1983).
[6] L.D. Landau and E.M. Lifchitz, Théorie du Champ [15] M.D. Simon, L.O. Heflinger and A.K. Geim, Am. J.
(Éditions de La Paix, 1963). Phys. 69, 702 (2001).
[7] L.D. Landau, E.M. Lifchitz and L.P. Pitaevskii, Elec- [16] P. Hammond, The Institution of Electrical Engineers
trodynamics of Continuous Media (Elsevier, 1984). (Monograph No. 379, May 1960).
[8] K. Huang, Statistical Mechanics (John Wiley & Sons,
[17] http://en.wikipedia.org/wiki/Method_of_images
1963).
[9] M. Cattani, http://publica-sbi.if.usp.br/PDFs/ [18] F.W. Sears, Fı́sica (Livro Técnico e Cientı́fico, 1956),
pd1671.pdf, Boltzmann Transport Equation and the Tomo II.
Electrical and Thermal Conductivities of Metallic
[19] J. Burguette and A.M. Miranda, Magnetohydrodyna-
Bulks (2012).
mics 48, 69 (2012).
[10] M. Cattani, http://publica-sbi.if.usp.br/PDFs/
pd1672.pdf, Electrical Conductivity of Very Thin Me- [20] Y. Fautrelle and A.D. Sneyd, Eur. J. Mech. B Fluids
tallic Films (2012). 24, 91 (2005).