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PONTÃO DE AUDIOVISUAL

Rapsódia Ausente

PARA VER, ENTENDER E FAZER CINEMA

APOSTILA DE TÉCNICA CINEMATOGRÁFICA


2ª Parte - Volume I – O Roteiro Cinematográfico

ORIENTAÇÕES DO PROJETO PONTÃO DE CULTURA RAPSÓDIA AUSENTE VISANDO A


QUALIFICAÇÃO E CAPACITAÇÃO DOS PARTICIPANTES PARA A PRODUÇÃO DIGITAL.

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Rapsódia Ausente

OFICINAS DE EXPERIMENTAÇÃO
APOSTILAS DE TÉCNICA CINEMATOGRÁFICA
(2ª PARTE)

INTRODUÇÃO

Esta segunda parte é mais técnica e há uma razoável minúcia de


informação, orientando você a cumprir determinadas funções técnicas dentro da
realização de um filme. Aqui você encontrará desde um curso relâmpago de como
escrever roteiros para cinema até uma coleção das planilhas técnicas básicas que
uma produção precisa, passando pela assistência de direção, captação de som
direto, decupagem, edição e a assistência de câmera.
Esta apostila faz parte do material de apoio às oficinas do projeto
Rapsódia Ausente e é fruto do trabalho de nossas equipes de oficinistas em dois
projetos.
De forma clara e sucinta, mas sem a pretensão de ser soberana, a
primeira parte orienta, informa e auxilia na formação de jovens realizadores e a
segunda dá as bases para formar roteiristas e técnicos de cinema.
Mas é na prática concreta de uma produção que este trabalho didático se
completa. Por isto, precisa ser colocado em prática por você ou por seu grupo de
amigos. E mais: a apostila vai permitir a você conhecer as muitas funções
técnicas ou artísticas dentro de um filme e talvez escolher uma delas, pois a
vantagem de uma produção cinematográfica é esta: há lugar para todos, do
narcisista ao introspectivo.
Mas deixamos uma lacuna: não se chegou ao atrevimento e à pretensão
de ensinar você a ser um diretor de cinema, pois tenho plena convicção de que
isto é impossível de se colocar no papel. Não existe bula que ensine alguém a ser
artista e não há como se formar diretores a partir de lições teóricas. Somente a
prática do set dirá se alguém está talhado para a direção e será resolvendo os
problemas de mise-en-scène, por tentativa e erro, que se construirá uma
promessa de carreira.
Portanto, os oficinistas do projeto Caravana Holiday, projeto de inclusão
audiovisual em atividade desde 2001 e que deu origem ao Pontão de Audiovisual
Rapsódia Ausente, se dedicaram nesta apostila a tarefa menos espinhosa, embora
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muito trabalhosa: a de estabelecer e destrinchar de forma sucinta e de fácil


entendimento, todos os parâmetros e passos para se chegar ao final de uma
produção.
Faça bom proveito e esteja à vontade pelo site
www.animatographo.org.br/rapsodiaausente ou pelo skype “rapsodia ausente”
para tirar dúvidas ou dar sugestões para a melhoria deste trabalho de equipe que
ora iniciamos.
Nos orientou nesse trabalho o repúdio coletivo às mistificações nas artes
industriais. Acreditamos, com sinceridade, que todo mundo pode tudo.

FLÁVIO CÂNDIDO
coordenador

As equipes dos projetos Caravana Holiday e Rapsódia Ausente, co-autores


destas apostilas.

CLEUMO SEGOND
DANIELA ALMEIDA
DAVY ALEXANDRISKY
EDUARDO SANCHEZ
FLÁVIO CÂNDIDO
LUCIA SEIXAS
MARCELO PAES DE CARVALHO
MARCELO RIBEIRO
MÁRCIO GUIMARÃES
MÁRCIO AZEVEDO
MAURO DUQUE ESTRADA
SANIN CHERQUES (in memoriam)
SILVIA ANDUEZA
RONALD

Texto final e revisão


FLÁVIO CÂNDIDO

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APOSTILA DE ROTEIRO CINEMATOGRÁFICO

TODO FILME PRECISA DE UM ROTEIRO

Não é de todo verdade este axioma. Você pode realizar um filme


inteiramente baseado na improvisação. Do que você não pode fugir,
mesmo, é da afirmação cartesiana "penso, logo existo".
Um filme, antes de ser rodado, tem que ser pensado no
ARGUMENTO CINEMATOGRÁFICO. Mas no que consiste o argumento
cinematográfico? Argumento (ou tema) é a IDÉIA na qual se baseia a
vontade de filmar. Tanto pode ser uma frase solta, um poema, uma
fotografia, uma piada, a história da vida de alguém, a livre expressão
artística de seu autor, um romance de sucesso, uma reportagem de jornal,
um conto de autor desconhecido ou um texto em prosa escrito
objetivamente para virar roteiro de cinema.
Portanto, do argumento ninguém pode fugir. Mas se você quer
realizar um filme de ficção, não se arrisque a fazê-lo sem antes escrever
também o ROTEIRO CINEMATOGRÁFICO ou chamar alguém para escrevê-
lo. Este mandamento óbvio da realização deve ser levado em conta por
você como se fosse uma verdade absoluta, pois produzir filmes é
dispendioso e um realizador não pode tatear o insondável quando não há
recursos financeiros inesgotáveis a seu dispor para experimentalismos.
Neste volume de nossa Apostila mostraremos alguns passos que
devem ser dados para que essa peça literária utilitária saia da idéia para o
papel e se transforme no mapa para o percurso artístico que você decidir
seguir.
Importante: não se esqueça de registrar todos os seus argumentos
e roteiros na BIBLIOTECA NACIONAL (www.bn.br). Proteja o seu direito
autoral.
Ainda não há uma norma técnica brasileira consolidada para o
roteiro cinematográfico no país. A grosso modo, você pode escrever um
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roteiro do jeito que bem entender, mas há uma praxe cinematográfica em


vigor em cada época e será sempre melhor seguir essa praxe para não ter
que se explicar depois.
Recentemente, alguns concursos estabeleceram certos padrões de
fonte, margem e espaço entre linhas para que pudessem ser cumpridas
certas normas dos concursos. Em geral pedem corpo 12, espaçamento 1,5
linhas e fonte Times New Roman. Mas isto não precisa valer para você
escrever o seu.
Assim, será mais importante aprender uma técnica nova não vai
atrapalhar sua vida e não custa nada anotar algumas sugestões que muito
lhe auxiliarão na hora de filmar. Você poderá também adquirir softwares de
roteiro que são práticos, mas engessam você a formatos pré-determinados.
A técnica para escrever roteiros é muito simples. São algumas
poucas dicas, alguns cuidados estilísticos que se deve tomar, muita
imaginação e saber os limites dos meios de produção de cinema de que
você dispõe.
Escrever roteiros para cinema no Brasil, de uma forma geral, é isto:
saber os limites da produção e contornar as dificuldades com criatividade.
Nas poucas páginas desta apostila de roteiro você terá o arcabouço
principal para escrever, mas só a experiência de escrever e ver produzido o
seu roteiro é que lhe dará capacidade plena de transformar idéias em
roteiros de cinema cada vez melhores.

O TRATAMENTO CINEMATOGRÁFICO

Uma vez escolhido o argumento que se quer transformar em filme,


não se deve passar imediatamente ao roteiro. Antes, é preciso escrever o
TRATAMENTO CINEMATOGRÁFICO, que é um passo que vai agilizar a
escritura do roteiro final.

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O tratamento cinematográfico é uma peça literária em prosa dotada


de dois itens: O PERFIL FÍSICO E PSICOLÓGICO DOS PERSONAGENS
PRINCIPAIS e o TRATAMENTO PROPRIAMENTE DITO. Para um longa-
metragem, estas duas peças juntas não devem ultrapassar 20 páginas em
espaço simples e corpo 12. Se for um curta, não ultrapasse cinco páginas.
O tratamento cinematográfico se escreve como se o filme já
estivesse pronto e, por isto, tem que ser escrito no TEMPO PRESENTE,
como se você fosse um locutor esportivo narrando as cenas do filme no
exato instante em que elas aparecem na tela, desta forma: "Eduardo e
Helena descem do carro e entram na casa abandonada. Eduardo pega as
chaves no bolso, mas antes que possa utilizá-las, Helena empurra a porta
com os pés. A porta se abre sem resistência."
Tanto no tratamento quanto no roteiro, esqueça o rigor de estilo de
não repetir a mesma palavra em linhas próximas. Repita à vontade, pois a
informação tem ser objetiva: um carro é um carro o tempo inteiro em um
roteiro e não faz sentido quando for falar do carro na linha seguinte
substituir a palavra carro por automóvel, bólido, veículo automotor, etc..
No tratamento não há diálogos entre personagens, mas pode haver
a indicação de algumas falas importantes para a compreensão da trama,
mas sem fugir ao texto corrido. Assim: "Helena encontra Eduardo sentado
no sofá empoeirado e diz ao irmão que eles precisam sair daquela casa".
Importante: evite adjetivos e elimine expressões subjetivas no
tratamento (tanto quanto no roteiro). Evite também falar de movimentos
de câmera, embora em alguns casos isto possa ser importante para o
desenvolvimento da cena. Quando estivermos falando do roteiro
propriamente dito entraremos em detalhes sobre isto.
Ao escrever o tratamento você já estará dando à sua narrativa uma
forma cinematográfica. Sem se preocupar com questões pertinentes à
produção cinematográfica e sem se fixar nos detalhes técnicos que um
roteiro exige, você poderá desenvolver melhor a trama, corrigir suas
incongruências ou mudar sua direção. Com isso chega-se ao final da trama
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mais rapidamente, pois não há necessidade de entrar em detalhes cênicos


ou citar personagens pouco importantes para sua conclusão.
Ao final do tratamento, você terá rapidamente a visão de conjunto
da sua obra, já não mais como uma simples idéia ou sob a forma de um
poema ou reportagem, mas como uma peça literária para cinema. É
importante também que você não tome seu tratamento cinematográfico
como um mapa sem variantes, pois, se for preciso, ele pode e deve ser
mudado. Ele é um pré-roteiro com início, meio e fim e que servirá de
bússola, lhe dando a medida das idéias e das coisas que você quer ver na
tela.

A ESCALETA

Um passo intermediário entre o argumento e o roteiro pode ser a


composição da escaleta que é uma espécie de “mapa do caminho” do
roteiro. Oriunda da literatura de best-sellers, a escaleta no cinema tem a
grande vantagem de agilizar a organização das cenas mais ou menos
encadeadas por locação e/ou participação dos personagens, podendo estas
cenas, inclusive, serem identificadas visualmente pelas diversas cores de
lápis marca-texto.
Isto, por exemplo, permite ao roteirista desvendar rapidamente
onde está pesando mais uma locação ou a presença de um personagem na
trama. Assim, reordenar cenas fica bem mais fácil e o roteiro ganha
organicidade. Para roteiristas profissionais é peça fundamental.
Particularmente, não uso escaleta. Ela engessa a criatividade e a
fluência narrativa de quem está realmente criando uma história. É um
passo desnecessário para escrever roteiros que não sejam de encomenda
ou não tenham uma abordagem comercial ou data para entrega. Como
nunca passei por esta situação, prefiro dar ao meu cérebro e talento de

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escritor a tarefa sutil e obrigatória de organizar narrativamente o roteiro


através do tratamento cinematográfico.
Quanto à escaleta, não é de todo dispensável ao final das contas,
pois gosto de utilizá-la depois de pronto o roteiro, para que ela organize o
plano de filmagem, este sim, necessitado de um projeto visualmente claro
e direto.

ESCREVENDO O ROTEIRO CINEMATOGRÁFICO

Pronto o tratamento ou a escaleta você pode passar à tarefa maior:


o roteiro cinematográfico. Existem dois modelos de roteiro tradicionalmente
mais utilizados e que representam duas escolas diferentes: o roteiro
francês (ou sonoro) e o roteiro americano. Ambos têm vantagens e
desvantagens. Vai depender de você e de seu estilo a escolha de qual deles
utilizar.
O modelo francês tem a vantagem de permitir uma definição mais
clara das ações e, fisicamente, uma melhor inserção dos diálogos na cena.
Para o montador, por exemplo, é de grande valia. Porém, é de escritura
mais cansativa e pode ser complicado para leitura dos atores, que não
estão acostumados a esse modelo (a grande maioria).
Esse formato de roteiro, como não poderia deixar de ser, repete
historicamente a importância que o roteirista tem no cinema francês, pois
sua escritura já sinaliza o filme que será realizado, pois ali tem o momento
certo das falas e da ação. Exagerando, o diretor é quase dispensável.
O modelo americano, apesar de menos detalhado tecnicamente, é
mais ágil como peça de trabalho e muito mais simples na hora de escrever.
Esse modelo repete a hierarquia do cinema industrial norte-americano,
onde o roteirista é apenas um escritor de filmes e em nada, ou quase nada,
pode interferir na sua realização, cabendo ao produtor ou ao diretor as
decisões do estilo a ser seguido.

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Para os atores é muito melhor a leitura do formato americano, que é


muito próximo do modelo de escritura de uma peça de teatro. Porém,
apesar de toda agilidade, por vezes, o roteiro americano resulta em
frustração para o roteirista, pois muitos detalhes importantes pensados ou
indicados pelo roteirista poderão ser deixados de lado pelo diretor na hora
de filmar.
De toda forma, uma coisa é certa: se é você mesmo quem vai dirigir
o filme, siga qualquer modelo. Quando falo em modelo, falo evidentemente
em formato técnico e não em doutrina de forma e conteúdo.
Existem modelos de software de roteiros já prontos que podem ser
adquiridos pela internet. Existem também alguns livros de como escrever
roteiros e outros que são roteiros de filmes publicados. Tudo será útil no
seu aprendizado. No decorrer deste ano, nas ações do Projeto Rapsódia
Ausente, poderemos trocar informações e dar orientações técnicas sobre
roteiros e outros itens da realização cinematográfica.
Mas você não precisa de muita coisa para começar a escrever, nem
tampouco pagar um software sofisticado. Você pode utilizar o editor de
texto de seu computador, uma máquina de escrever ou até mesmo lápis e
papel.
Uma observação importante: comece o seu aprendizado fazendo
adaptações de contos e crônicas. Um escritor já formado (e publicado) tem
melhor domínio de narrativa, sabe descrever personagens e apresenta a
você uma história estruturada com começo, meio e fim.
Você não vai precisar de autorização dos autores se for apenas um
trabalho sem intenções mercadológicas. Mas se você tiver, melhor. Estes
exercícios e a análise comparativa entre seu roteiro e o texto que você
adaptou vão ser importantes para escrever os seus próprios roteiros. O
próprio autor do conto ou da crônica será o melhor interlocutor para essas
análises. Por isso a vantagem de ter a adaptação autorizada, com a
ressalva de que não poderá ser publicado nem transformado em filme sem
o consentimento formal do autor.
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OS FORMATOS USUAIS DE ROTEIRO

Assim, devidamente acertados, vamos a exemplos dos dois modelos


que tradicionalmente são utilizados no Brasil.
Em ambos os modelos, para cada cena a ser descrita, existe um
cabeçalho de informações técnicas que não podem faltar. O cabeçalho traz
as informações básicas da cena:
1) O número da cena: na ordem cronológica da trama,
preferencialmente em algarismos arábicos;

2) o cenário: informa o cenário aonde irá se desenvolver a cena.


Caso a câmera se movimente e penetre outros cenários e condições de luz,
deverá ser informado que será um PLANO SEQÜÊNCIA;

3) as condições básicas de fotografia:


INT - interior
EXT - exterior
NOT - noturna
DIA - diurna

Logo abaixo do cabeçalho vai uma descrição sucinta da cena. Alguns


autores (poucos, na verdade) acrescentam também um “título” da
SEQÜÊNCIA, que é o CONJUNTO DE CENAS de uma mesma situação
dramática ou cenográfica, que serão assim identificadas no BOLETIM DE
CONTINUIDADE. Mas isto é uma questão de estilo. Crie o seu sem ferir a
boa técnica.

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O ROTEIRO FRANCÊS (ou sonoro)

É quase um "roteiro de montagem", pois até mesmo uma estimativa


de tempo da cena (minutagem) é possível informar, bem como o PLANO
DECUPADO e o movimento de câmera.
É ideal, por exemplo, para roteiros "de ferro", em que o roteirista
amarra todas as variáveis da cena e o diretor torna-se apenas como um
técnico bem mandado.
É útil também quando a cena é desenvolvida de uma maneira
"científica", onde toda a equipe e elenco precisam estar afinados para os
tempos de fala, movimentos de câmera e principalmente para o
desenvolvimento da trama e onde não há espaço para improvisações.
Esse modelo era muito utilizado em programas nos primórdios da
TV em que a edição de imagens era imediata, como no teleteatro ao vivo,
em que até a MÚSICA e os RUÍDOS DE SALA tinham que estar prontos
para entrar na trilha sonora no momento certo, bem como as entradas de
atores em cena. Ainda hoje, é o modelo utilizado nas SUÍTES dos
telejornais.
Normalmente, o modelo francês de roteiro se apresenta dividido em
DUAS COLUNAS, onde na primeira coluna estão as ações dos personagens
em cena e na segunda as falas e sons pertinentes às ações. O número de
colunas pode ser aumentado em pelo menos mais duas, de acordo com as
informações técnicas que se queira acrescentar, como por exemplo,
MINUTAGEM (tempo da cena) e DECUPAGEM (enquadramento).
No exemplo abaixo, colocamos duas cenas da seqüência da visita de
Eduardo e Helena à casa abandonada. Existem cenas antes e existirão
cenas a seguir, mas a numeração começa aonde terminou a última cena
da seqüência anterior, pois a numeração das cenas não pode ser
interrompida ou repetida, para não causar muitos transtornos ao
montador.

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ROTEIRO CINEMATOGRÁFICO – EXEMPLO 1

SEQÜÊNCIA: O AEROPORTO
Helena encontra Eduardo no aeroporto.
CENA 44 AEROPORTO (desembarque) INT / DIA
Helena se aproxima de Eduardo, que chega
sem bagagem. Helena
- Onde está sua bagagem?

Eduardo
- Não pretendo passar a noite aqui,
Helena.

Helena
- Então é melhor a gente se apressar...
SEQÜÊNCIA: A VISITA À CASA ABANDONADA
Helena e Eduardo retornam à casa onde passaram a infância.
CENA 45 CASA ABANDONADA INT / DIA
Helena retorna do segundo andar da casa e encontra Eduardo na sala.
Helena desce a escada, que range aos seus
pés e encontra Eduardo sentado no sofá
empoeirado da sala.
Helena anda na direção da porta sem se deter
ao falar com Eduardo. Helena:
Eduardo nada responde. Somente acompanha - Precisamos sair dessa casa imunda!
com os olhos o movimento de Helena pela
sala.
Helena deixa a casa.
Eduardo levanta-se lentamente e murmura.
Eduardo:
- Isso aqui não vale quase nada...
CENA 46 RUA DA CASA ABANDONADA EXT / DIA
Helena deixa a casa e chega sozinha à calçada.
Helena ganha a rua e olha para o céu azul. O
sol brilha intensamente. Aliviada, ela suspira
e segue firme na direção do carro.

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O ROTEIRO AMERICANO

Seu formato lembra muito o de uma peça de teatro. Escrito em


texto corrido, sem se deter em informações técnicas de som e imagem, ele
permite a fluência da escritura e da leitura.
Para distingüir os diálogos da ação, você precisa apenas estabelecer
uma tabulação diferente para os diálogos. Se preferir, coloque em caixa
alta os nomes dos personagens, pois isso facilita a visualização do elenco
necessário na cena.
Importante: para o modelo americano, para efeito de minutagem,
ou seja, para saber quanto tempo de filme tem seu roteiro, leve em
consideração que cada PÁGINA de roteiro equivale a aproximadamente UM
MINUTO de filme na tela.
Isto, é claro, se for escrito dentro da técnica usual (sem firulas
estilísticas, 32 linhas, 72 toques, fonte corpo 12, espaço duplo) e for
rodado em ritmo "natural", isto é, sem longas pausas nem lentíssimos
movimentos de câmera.
Apesar de ser apenas uma estimativa, essa proporção
página/minuto é muito importante para você dimensionar o filme.

ROTEIRO CINEMATOGRÁFICO – EXEMPLO 2

CENA 44 AEROPORTO (desembarque) INT / DIA


Na área de desembarque do aeroporto, Helena se aproxima de Eduardo, que
chega sem bagagem.

CENA 45 CASA ABANDONADA (sala) INT / DIA


Helena desce a escada, que range aos seus pés e encontra Eduardo sentado no
sofá empoeirado da sala. Helena anda na direção da porta sem se deter ao falar
com Eduardo.

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HELENA
- Precisamos sair dessa casa imunda!

Eduardo nada responde. Somente acompanha com os olhos o movimento de


Helena pela sala. Helena deixa a casa. Eduardo levanta-se lentamente e
murmura.

EDUARDO
- Isso aqui não vale quase nada...

CENA 46 RUA DA CASA ABANDONADA INT / DIA


Helena ganha a rua e olha para o céu azul. O sol brilha intensamente. Aliviada, ela
suspira e segue firme na direção do carro.

ALGUMAS DICAS IMPORTANTES

Vamos dar aqui algumas dicas técnicas para você levar em conta
nos seus roteiros:
• Sempre que um personagem aparecer pela primeira vez no
roteiro, escreva o seu nome em CAIXA ALTA (letras maiúsculas). Isso será
importante quando você quiser mudar a posição de uma cena onde o
personagem aparece, tanto para evitar repetir visualmente a apresentação
do personagem quanto para colocar em cena um personagem que ainda
não foi devidamente "apresentado" ao espectador.
• Escreva um filme para o orçamento que ele promete. Saiba de
antemão com o produtor do quanto poderá dispor a produção para então
soltar sua imaginação no papel. Perseguições de helicóptero, cenas de
grandes festas ou cenas de batalha representam um grande peso no
orçamento e normalmente estão fora de um roteiro de produção
independente.

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• Do mesmo modo, não coloque no roteiro cenas que a produção


não poderá realizar tecnicamente. Converse com o diretor ou com a equipe
técnica habilitada a esse respeito. De nada adianta criar uma cena realista
em que dois personagens conversam enquanto fogem de uma grande
explosão, se não há dinheiro nem condições técnicas para realizá-la. A
mesma cena pode ter uma alternativa técnica e artística brilhante. Cabe a
você, ao diretor e ao produtor chegar a esse acordo.
• Lembre-se: o momento mais fácil e mais barato de uma mudança
é no roteiro. Gasta-se somente tempo e trabalho mental.
• Evite expressões subjetivas que não representem informação de
ação para os personagens. Isso pode causar confusão ou interferir
negativamente no trabalho dos atores.
• Seja o mais conciso que você puder na descrição da cena. Por
exemplo, ao invés de escrever "Helena saiu da casa e olhando para o dia
lindo, suspira no fundo da alma, como se um grande peso se lhe tivesse
saído dos ombros", escreva assim: "Helena sai da casa e olha para o céu
azul. O sol brilha intensamente. Aliviada, Helena suspira fundo."
• Não jogue todas as suas idéias nas primeiras páginas. Distribua as
situações dramáticas e cômicas no decorrer do texto.
• Dose as ações físicas dos personagens. Se for um filme com
alguma ação, procure entrar com mais ação do meio para o fim do roteiro.
• Os personagens precisam ter um comportamento coerente com
seu perfil físico e psicológico. Qualquer contradição precisa ser bem pesada
e ter uma explicação dramática convincente.
• Não exagere nas vinhetas ou bordões (recursos visuais ou sonoros
que identificam o personagem ou situações), pois isto pode cansar o
espectador antes do fim.
• Comece a assistir filmes com olhar de escritor e você verá em que
situação o roteirista apresentou os personagens principais (protagonistas e
antagonistas), onde a situação-chave se estabelece na trama, onde
acontece o clímax, que personagens tem bordões, etc.
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• Nos roteiros clássicos de longa-metragem (entre 90 e 120


páginas) um conflito sempre fica estabelecido antes da 30ª página.
• Para o mesmo caso, o desfecho precisa entrar em resolução
dramática no mais tardar a um quarto do final do roteiro.
• Um roteiro de curta-metragem não pode perder muito tempo em
apresentações. Vá direto ao assunto e seja o mais sintético que você
puder.
• Os personagens em um curta já nascem "prontos". Trabalhe com
ícones e clichês que sejam facilmente decodificados pelo espectador, mas
tome o cuidado para não cair em estereótipos banais.
• Hoje em dia os curtas-metragens quase nunca ultrapassam 15
minutos (ou 15 páginas do modelo americano). Portanto, não recheie o seu
curta de personagens e nunca exagere no conflito se ele não puder ser
resolvido rapidamente na trama.
• Evite entrar em muitos detalhes de cenografia e figurino quando
eles não são particularmente importantes para o desenvolvimento da cena.
Evite descrições muito detalhadas do cenário. Elas serão feitas na ANÁLISE
TÉCNICA.
• Deixe para o cenógrafo ou para o diretor de arte a função de
transformar uma informação simples de roteiro, como "a mesa do
escritório de Eduardo está entulhada de coisas", em informação
cinematográfica e visual pertinente na hora de ser montado o cenário
"escritório de Eduardo".
• É gasto inútil de tempo escrever na descrição da cena que "o
cinzeiro de prata está sobre a mesa de trabalho" se o cinzeiro não tem uma
função dramática na trama, como, por exemplo, quando o cinzeiro é
importante para desvendar algum mistério.
• Não faça a DECUPAGEM das cenas, que é a escolha dos
MOVIMENTOS e ÂNGULOS de câmera e dos ENQUADRAMENTOS. Isto é
função do diretor do filme e do diretor de fotografia.

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• Enfim, escreva um roteiro flat, sem muitos floreios, para que a


criação cinematográfica se estabeleça no decorrer da preparação e durante
a filmagem.

PARA ADAPTAÇÕES LITERÁRIAS

Neste particular, existe uma regra básica a seguir: não se pode


perder a essência do texto.
Depois de uma exibição de filme adaptado de obra literária, é muito
comum ouvir alguém comentar "ah, o livro é muito melhor!". Ouvir o
contrário é mais raro. Tanto uma quanto outra comparação é um equívoco
sem tamanho, porque filme não é literatura.
No romance, colocar uma trama no papel depende quase que
exclusivamente do talento do escritor e – se for o caso – de alguma
pesquisa. Escrever para o cinema é equilibrar-se em dezenas variáveis e as
principais delas são o orçamento e as condições técnicas de produção.
Ao adaptar um romance volumoso, por exemplo, o roteirista vai
precisar reduzir personagens, fundir ou omitir situações dramáticas,
reescrever diálogos para tirar a "literatice", criar ou transformar cenários...
Enfim, vai precisar "meter a tesoura".
Em relação aos contos e ao poemas acontece o contrário. Sua
imaginação vai precisar trabalhar mais e "complementar" a criação do
autor com mais personagens, tramas paralelas e situações, que,
entretanto, precisam guardar uma relação consangüínea com o conto ou
poema, ou seja, sua criação precisa ter o mesmo DNA da obra original.
Experimente fazer algumas pequenas adaptações de contos,
levando em conta que uma obra só pode ser oficialmente adaptada para o
cinema com autorização expressa do autor.
Um bom exercício é assistir filmes adaptados e só depois ler o texto
original e vice-versa.

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Outro bom exercício é "adaptar" um trecho ou uma cena de um


romance que já foi adaptado para o cinema e comparar a sua adaptação
com a do roteirista do filme.

CONCLUSÕES

É claro que há muitos segredos a desvendar e técnica a apurar,


pequenos macetes e truques que você vai aprendendo sozinho seja com a
experiência, seja ao assistir filmes com olhos de escritor ou na discussão
crítica do texto com outros roteiristas. E principalmente levando à tela os
seus roteiros.
Porém, o recurso mais difícil do roteirista não é possível transmitir a
ninguém, pois cada um deve trazer consigo: o TALENTO para escrever.
Talento este que não precisa ser sinônimo de brilhantismo. Se for, melhor.
Se não, mãos à obra e escreva e apure sua técnica. Um bom roteiro é uma
base segura para um bom filme. Mas é apenas a base.

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