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Rapsódia Ausente
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PONTÃO DE AUDIOVISUAL
Rapsódia Ausente
OFICINAS DE EXPERIMENTAÇÃO
APOSTILA DE REALIZAÇÃO CINEMATOGRÁFICA
INTRODUÇÃO
FLÁVIO CÂNDIDO
coordenador
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Rapsódia Ausente
O grande dia chegou! Chegou a sua hora de atuar por trás de uma
câmera. Depois de muitos meses de preparação você vai rodar o primeiro
plano de seu tão sonhado filme (não esqueça de levar champanhe para
comemorar).
Aqui neste volume nos preocupamos em cobrir as questões centrais
que envolvem a realização de um filme de ficção, pois o documentário vai
exigir uma menor concentração temporal e uma necessidade menos crucial
no trato pessoal e um muito maior espírito científico, de saber o que é
bom, o que é dispensável e que poderá vir a ser útil no futuro na sala de
edição.
Digo isto porque a grande missão do documentarista é saber
controlar a dispersão (do tempo e da equipe) que a realização de um
documentário provoca e manter o foco no objeto. O ficcionista, por sua
vez, tem como missão controlar a ansiedade da equipe e do elenco (e dele
próprio). É um domador no centro do picadeiro com a missão de chegar ao
fim do espetáculo sem ter sido devorado pelos leões. Um condutor de bigas
que, ao iniciar-se a corrida, tem as carreiras de cavalos em total
desarranjo. Sua missão primordial é, ao longo da corrida, colocar todas as
carreiras com o mesmo e enérgico passo e na mesma direção.
A princípio temos que observar alguns parâmetros para que uma
filmagem de um filme de ficção transcorra sem muitos sobressaltos. São
pré-requisitos quase óbvios, mas que o realizador precisa estar atento.
Senão, vejamos:
1) Se a direção de arte (objetos, figurino e cenografia) tem tudo
acertado e disponível;
2) se os equipamentos escolhidos são de boa qualidade;
3) se a equipe estiver motivada;
4) se o elenco estiver em sintonia com o diretor e a produção;
5) se o serviço de alimentação é de boa qualidade;
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DIRIGINDO UM FILME
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esforços. Seja exigente quando isto requerer, sem ofender a ninguém. Sua
polidez, entretanto, nunca deve sobrepor-se às exigências da produção e
às necessidades estéticas e técnicas de sua obra. Lembre-se que se alguma
coisa der errada, a culpa será somente sua e ônus cairá sobre seu colo.
Por outro lado, abandonando essa aura romântica, existem também
diretores de cinema que simplesmente colocam sua técnica a serviço do
roteiro. Isso não os torna necessariamente piores que os outros. É uma
questão de estilo, mas no cinema independente a característica principal do
diretor é como foi narrado nos parágrafos anteriores.
Particularmente, penso que é impossível encarar-se o cinema
independente burocraticamente. Com todas as dificuldades que o cineasta
brasileiro enfrenta para colocar um filme na lata, se não houver paixão –
tesão mesmo – fica impossível realizar qualquer coisa por aqui.
Por falar em estilo, não se esqueça: cada um tem o seu!
Quanto à formação técnica, é possível, em certa medida, ensinar a
qualquer um as técnicas básicas de filmar, que são extremamente simples:
existem algumas pequenas observações técnicas a anotar, conhecer a
decupagem clássica e as lentes, domínio de campo, coisas que algumas
páginas de uma apostila e alguns exercícios em vídeo doméstico
consolidam como ponto de partida para o ofício de diretor de cinema.
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Mas tais diretores, com certeza, tem nas mãos gordos orçamentos e
prestígio pessoal que lhes permite assim agirem. Lembre-se, no entanto,
que você e um realizador independente, um artista bastante vulnerável e
que precisa da colaboração de todos para que o filme saia a contento.
Às vezes, é necessário um ou outro trabalho de preparação de
atores em determinado nível do casting, mas jamais entre o grupo de
atores principais. Preparação de atores só deve admitir nos casos de
adestramento, como, por exemplo, equitação, esgrima, artes marciais, tiro
e outras atividades que precisam do concurso de um especialista ou
quando é necessário preparar não-atores ou crianças para atuar.
Ainda assim, no caso de não-atores e crianças a medida pode ser
inócua, quando não limitadora da criatividade, pois o que há de melhor em
trabalhar com não-atores é tirar proveito de sua “pureza” e deixar correr
livres o instinto e a intuição de cada um.
Como trabalho somente com filmes de pequena envergadura,
prefiro trabalhar diretamente também com figurantes, função geralmente
delegada ao assistente de direção. Esse importante grupo de sua obra se
sentirá mais motivado se você, o diretor, falar com eles no set. Mais do que
uma referência, o diretor é uma liderança. Lembre-se sempre disto.
Tecnicamente falando, o diretor pouco experiente começa sempre
em desvantagem em relação ao elenco, pois atores tem muito mais cancha
dramática que os diretores. Atores estão sempre trabalhando, exercitando-
se, enquanto o diretor passa anos tentando fazer um filme. Por isso, tente
aprender com eles o que eles tem para oferecer em benefício do
personagem e do filme.
Oriente-os conforme suas próprias convicções e intenções do
roteiro, mas deixe sempre espaço para as intervenções dos atores,
cuidando sempre para que um ator não se sobreponha a outro em cena,
pois isto gera desgaste.
A mise-en-scène é um trabalho de colaboração e a não ser que você
esteja muito convicto sobre a abordagem em uma determinada cena, não
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utilize despoticamente seu poder de diretor. A última palavra deve ser sua,
mas esta palavra não pode ser uma ordem seca e irracional. Explique ao
ator porque você quer aquela cena “assim e não assado”.
Lembre-se sempre disto: seu elenco, desde o ator principal ao mais
simples figurante é que dará vida – de verdade – ao seu filme. O trabalho
junto ao elenco e que poderá fazer de seu filme um bom ou mau produto.
PRATICANDO SEMPRE
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O SOM (DIRETO)
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muito caro para você, além do risco de o ator não estar disponível para
trabalhar em estúdio e terem pouca cancha em dublagem.
Até bem pouco tempo, para captação dos diálogos utilizávamos
sempre gravadores analógicos de fitas magnéticas e independentes da
câmera, pois são dotados de um cristal (o Nagra é o mais famoso e era o
mais usado) para que seja mantido o sincronismo determinado no som da
claquete mecânica. Mas isso já faz parte do passado.
Assim como aconteceria com a imagem na primeira década do
século 21, a popularização do som digital provocou uma revolução no som
do cinema a partir dos anos 1990. Graças à globalização – ela nos traz
vantagens também! – nos últimos anos nada do que tem lá fora deixa de
ter aqui dentro. Tudo está muito mais barato e fácil de importar. Antes, ter
um microfone direcional Sennheiser era para poucos. Um lapela sem fio de
qualidade?... nem pensar! Hoje, em quase todo lugar tem. Assim, o técnico
de som brasileiro tem à disposição equipamentos de ótima qualidade a
baixíssimo custo. E temos ainda os genéricos de boa qualidade de origem
chinesa, como os ótimos microfones direcionais da Yoga, uma das
melhores relações custo x benefício do mercado.
Somando-se a tudo isto, nossos técnicos também melhoraram
bastante. Há uma nova geração nascida nas universidades que vem
trazendo qualidade ao som do filme brasileiro como jamais vimos,
abandonando de vez a era do empirismo e caminhando na direção da
engenharia de som.
Mas se você não tem dinheiro para bancar um sistema de captação
de som direto independente com gravador de oito canais, claquete
eletrônica gerando o timecode e uma grande equipe de som, é
perfeitamente possível utilizar uma claquete comum e captar os diálogos
pela unidade sonora das câmeras digitais mais modernas através da
conexão XLR da pequena, mas poderosa unidade sonora da câmera.
Dois bons microfonistas, dois microfones direcionais em duas varas
boom com zepelim e “cachorrão” e também cabos de boa qualidade vão
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dar a você a resposta necessária para ter um excelente som direto. Não vai
ser nenhuma maravilha detalhista como um gravador Sound Devices 788T
te daria, mas vai cumprir muito bem o papel principal, que é tornar
inteligível e claro aquele diálogo maravilhoso que está no roteiro.
É muito importante durante a filmagem a captação de SOM SÓ, que
é a gravação do ambiente sonoro e da miríade de sons que uma locação
possui. A imagem não irá valer (se o som estiver sendo feito na própria
câmera), mas toda a equipe deve ficar em silêncio como se mais um take
estivesse sendo rodado. Se for na mesa de som, a necessidade do silêncio
será o mesmo. Em quaisquer dos casos não esqueça de gerar um time
code para não complicar a vida dos editores de imagem e som.