Vous êtes sur la page 1sur 14

PONTÃO DE AUDIOVISUAL

Rapsódia Ausente

PARA VER, ENTENDER E FAZER CINEMA

APOSTILA DE REALIZAÇÃO CINEMATOGRÁFICA


1ª Parte - Volume III – Tempo de filmar

ORIENTAÇÕES DO PROJETO PONTÃO DE CULTURA RAPSÓDIA AUSENTE VISANDO A


QUALIFICAÇÃO E CAPACITAÇÃO DOS PARTICIPANTES PARA A PRODUÇÃO DIGITAL.

1
PONTÃO DE AUDIOVISUAL

Rapsódia Ausente

OFICINAS DE EXPERIMENTAÇÃO
APOSTILA DE REALIZAÇÃO CINEMATOGRÁFICA

INTRODUÇÃO

Esta apostila faz parte do material de apoio às oficinas do projeto


Rapsódia Ausente e é fruto do trabalho de nossa equipe de oficinistas.
Está dividida em duas partes. A primeira parte está dividida em quatro
volumes que percorrem o trajeto de um filme desde sua idéia até sua finalização.
É quase um bate-papo. Não pretende ser nenhum manual, mas sinaliza de forma
didática e rápida, os caminhos a percorrer em uma produção cinematográfica de
baixo orçamento. A segunda parte é mais técnica e há uma razoável minúcia de
informação, orientando você a cumprir determinadas funções técnicas dentro da
realização de um filme. Aqui você encontrará desde um curso de como escrever
roteiros para cinema até uma coleção das planilhas técnicas básicas que uma
produção precisa, passando pela assistência de direção, captação de som direto,
decupagem, edição e a assistência de câmera.
De forma clara e sucinta, mas sem a pretensão de ser soberana, a
primeira parte orienta, informa e auxilia na formação de jovens realizadores e a
segunda dá as bases para formar roteiristas e técnicos de cinema.
Mas é na prática concreta de uma produção que este trabalho didático se
completa. Por isto, precisa ser colocado em prática por você ou por seu grupo de
amigos. E mais: a apostila vai permitir a você conhecer as muitas funções
técnicas ou artísticas dentro de um filme e talvez escolher uma delas, pois a
vantagem de uma produção cinematográfica é esta: há lugar para todos, do
narcisista ao introspectivo.
Mas deixamos uma lacuna: não se chegou ao atrevimento e à pretensão
de ensinar você a ser um diretor de cinema, pois tenho plena convicção de que
isto é impossível de se colocar no papel. Não existe bula que ensine alguém a ser
artista e não há como se formar diretores a partir de lições teóricas. Somente a
prática do set dirá se alguém está talhado para a direção e será resolvendo os
problemas de mise-en-scène, por tentativa e erro, que se construirá uma
promessa de carreira.
Portanto, os oficinistas do projeto Caravana Holiday, projeto de inclusão
audiovisual em atividade desde 2001 e que deu origem ao Pontão de Audiovisual
Rapsódia Ausente, se dedicaram nesta apostila à tarefa menos espinhosa, embora
muito trabalhosa: a de estabelecer e destrinchar de forma sucinta e de fácil
entendimento, todos os parâmetros e passos para se chegar ao final de uma
produção.
Faça bom proveito e esteja à vontade pelo minisite do projeto no endereço
www.animatographo.org.br/rapsodiaausente ou pelo skype “rapsodia ausente”
para participar e tirar dúvidas ou dar sugestões para a melhoria deste trabalho de
equipe que ora iniciamos.
Nos orientou nesse trabalho o repúdio coletivo às mistificações nas artes
industriais. Acreditamos, com sinceridade, que todo mundo pode tudo.

FLÁVIO CÂNDIDO
coordenador
2
PONTÃO DE AUDIOVISUAL

Rapsódia Ausente

LUZ, CÂMERA, AÇÃO!

O grande dia chegou! Chegou a sua hora de atuar por trás de uma
câmera. Depois de muitos meses de preparação você vai rodar o primeiro
plano de seu tão sonhado filme (não esqueça de levar champanhe para
comemorar).
Aqui neste volume nos preocupamos em cobrir as questões centrais
que envolvem a realização de um filme de ficção, pois o documentário vai
exigir uma menor concentração temporal e uma necessidade menos crucial
no trato pessoal e um muito maior espírito científico, de saber o que é
bom, o que é dispensável e que poderá vir a ser útil no futuro na sala de
edição.
Digo isto porque a grande missão do documentarista é saber
controlar a dispersão (do tempo e da equipe) que a realização de um
documentário provoca e manter o foco no objeto. O ficcionista, por sua
vez, tem como missão controlar a ansiedade da equipe e do elenco (e dele
próprio). É um domador no centro do picadeiro com a missão de chegar ao
fim do espetáculo sem ter sido devorado pelos leões. Um condutor de bigas
que, ao iniciar-se a corrida, tem as carreiras de cavalos em total
desarranjo. Sua missão primordial é, ao longo da corrida, colocar todas as
carreiras com o mesmo e enérgico passo e na mesma direção.
A princípio temos que observar alguns parâmetros para que uma
filmagem de um filme de ficção transcorra sem muitos sobressaltos. São
pré-requisitos quase óbvios, mas que o realizador precisa estar atento.
Senão, vejamos:
1) Se a direção de arte (objetos, figurino e cenografia) tem tudo
acertado e disponível;
2) se os equipamentos escolhidos são de boa qualidade;
3) se a equipe estiver motivada;
4) se o elenco estiver em sintonia com o diretor e a produção;
5) se o serviço de alimentação é de boa qualidade;
3
PONTÃO DE AUDIOVISUAL

Rapsódia Ausente

6) se houve um trabalho de produção executiva límpido e claro, sem


contas a acertar ou insatisfações pessoais;
7) Se a preparação foi bem feita (de um modo geral);
8) se o dinheiro foi bem aplicado na preparação e está devidamente
garantido para as filmagens.

A filmagem, com certeza, será um prazer e com a boa vontade de


todos, qualquer contratempo será superado. O set de filmagem é o melhor
lugar do mundo para se viver. Não existem doenças, mal-estar, dor de
barriga ou dor de cotovelo que um bom dia de filmagem não cure.
Na 2ª parte destas apostilas (as de técnica) você terá acesso a
algumas informações importantes. Está lá o essencial que você precisa
saber para colocar a câmera no set e como marcar o posicionamento dos
atores em relação a ela.
Porém, aqui neste 3º volume (da 1ª Parte – Apostilas de Realização
Cinematográfica) você terá dicas da importância do trato pessoal gentil,
bem-humorado e colaborativo com equipe e elenco. Num esquema de
produção artesanal como é o filme independente, é fundamental que o bom
clima reine sobre todas as coisas. E o diretor tem papel fundamental nisto.
Embora só a prática desenvolva o estilo e torne as coisas mais
fáceis, penso que nas semanas de filmagem, tão importante quanto a
técnica de dirigir é a capacidade do diretor de administrar egos, sonhos e
frustrações no microcosmo do set de filmagem.

DIRIGINDO UM FILME

Tendo sensibilidade e critério estético apurado, acho perfeitamente


possível um diretor realizar um filme bem conduzido por detrás das
câmeras mesmo nada sabendo de lentes, eixos e enquadramentos. Se ele
puder contar com o concurso de um bom diretor de fotografia, um

4
PONTÃO DE AUDIOVISUAL

Rapsódia Ausente

assistente de direção dedicado e de uma atenta continuísta, sua tarefa será


diminuída, embora boa parte do que se quer de um diretor esteja no
domínio de lentes, movimentos de câmera e enquadramentos.
No Brasil, o glamour (a aura) de um diretor de cinema é prejudicado
pelas condições econômicas de nossa indústria cultural. Sempre buscando
patrocinadores e negociando contratos e até mesmo o custo da
alimentação da equipe, o cineasta brasileiro nunca está desconectado da
produção como seria desejável para um artista.
Deste modo, coloca-se uma questão grave à nossa frente: como
ensinar alguém a ter sensibilidade e intuição? Como ensinar a criar? O
diretor de cinema, penso eu, já nasce feito e, como um desenhista, só
precisa apurar sua técnica através da prática e do estudo constante.
Eticamente precisa se elevar. Esteticamente precisa apurar-se, alcançando
a autonomia artística pela melhoria de seu patrimônio intelectual e pela
observação diuturna da natureza humana.
Preocupo-me, aqui, muito mais em fomentar o espírito do cineasta,
do que ter a pretensão de ensinar alguém a sê-lo. Portanto, de início, para
norteá-lo em sua formação intelectual, vão aqui sete ações das quais não
poderá escapar o candidato à cineasta:
1) Assistir a todos os tipos e gêneros de filmes, sem preconceitos,
pois você sempre terá algo a aprender com outros cineastas, tanto
pelos acertos quanto pelos erros;
2) Manter-se atualizado e informado, via imprensa, internet,
entrevistas de TV, programas de making of e cursos de extensão,
especialização e informação;
3) Não renegar técnicas antigas porque não se encaixam no seu
estilo de ver o mundo nem rechaçar o novo porque você não gosta
da moda de linguagem em voga;
4) Ler tudo sobre cinema, desde simples resenhas críticas a
sofisticados livros sobre as técnicas de fotografar;

5
PONTÃO DE AUDIOVISUAL

Rapsódia Ausente

5) Desenvolver consciência histórica assistindo aos filmes


primordiais que deram sentido à arte cinematográfica no mundo;
6) Conhecer profundamente a cinematografia brasileira, uma das
mais ricas e antigas do mundo;
7) Exercitar a consciência crítica, pois nenhuma obra está isenta
das intenções políticas e morais de seu realizador, sejam
reprováveis ou não.

Quanto à estrutura espiritual, alguns requisitos são rigorosamente


indispensáveis na alma do cineasta e deles não se pode abrir mão. O
primeiro deles é a CAPACIDADE DE LIDERANÇA. O segundo, a SEDE DE
SABER. O terceiro, a CONCENTRAÇÃO total no sonho de realizar. O quarto,
e o mais importante, a GENEROSIDADE no trato com as pessoas que
formam sua equipe e elenco.
Um diretor de cinema, mais do que um artista com domínio de uma
técnica, é um administrador de almas e egos, principalmente dos atores e
dos demais diretores envolvidos na criação do filme. Uma equipe de
filmagem é um caldeirão de vaidades e carências.
Muito do trabalho do diretor de cinema independente, por mais
estranho que isso possa parecer, é administrar pessoas. Aquele que
consegue colocar todo o seu charme e sensibilidade a serviço do filme em
todas as suas instâncias, já tem meio caminho andado para ser um bom
realizador. Não que isso garanta um bom filme, mas o clima do set é
essencial para que uma boa obra se realize em todo o seu potencial.
No contato com a equipe e principalmente com o elenco, ele precisa
estar sempre motivado e motivando. Seu bom humor deve contagiar a
tudo e a todos, garantindo assim a realização num moral alto, mantendo
todo o grupo em fraterna colaboração.
Isto não significa, porém, ser leniente com erros e mancadas graves
da equipe, principalmente as de produção e de arte, que podem subjugar
seus interesses e intenções estéticas e colocar a perder todos os seus
6
PONTÃO DE AUDIOVISUAL

Rapsódia Ausente

esforços. Seja exigente quando isto requerer, sem ofender a ninguém. Sua
polidez, entretanto, nunca deve sobrepor-se às exigências da produção e
às necessidades estéticas e técnicas de sua obra. Lembre-se que se alguma
coisa der errada, a culpa será somente sua e ônus cairá sobre seu colo.
Por outro lado, abandonando essa aura romântica, existem também
diretores de cinema que simplesmente colocam sua técnica a serviço do
roteiro. Isso não os torna necessariamente piores que os outros. É uma
questão de estilo, mas no cinema independente a característica principal do
diretor é como foi narrado nos parágrafos anteriores.
Particularmente, penso que é impossível encarar-se o cinema
independente burocraticamente. Com todas as dificuldades que o cineasta
brasileiro enfrenta para colocar um filme na lata, se não houver paixão –
tesão mesmo – fica impossível realizar qualquer coisa por aqui.
Por falar em estilo, não se esqueça: cada um tem o seu!
Quanto à formação técnica, é possível, em certa medida, ensinar a
qualquer um as técnicas básicas de filmar, que são extremamente simples:
existem algumas pequenas observações técnicas a anotar, conhecer a
decupagem clássica e as lentes, domínio de campo, coisas que algumas
páginas de uma apostila e alguns exercícios em vídeo doméstico
consolidam como ponto de partida para o ofício de diretor de cinema.

TRABALHANDO COM OS ATORES

O segredo de um bom diretor está no trato com os atores. Uma


coisa difícil de “ensinar” é como lidar com o elenco, pois isto é uma
capacidade inerente à personalidade de cada um. Atores exigem e
precisam de atenção especial e constante e dê a esta situação a maior
importância possível, pois o resultado de seu filme (de ficção) depende
visceralmente deles. Na maior parte do tempo o contato com atores é

7
PONTÃO DE AUDIOVISUAL

Rapsódia Ausente

positivo. São pessoas maravilhosas e na maioria das vezes, generosas,


com grande capacidade de doação. Porém, não abuse.
Atores são exibicionistas por imposição profissional e você precisa
tirar o máximo proveito desta característica e deixar portas e janelas da
criatividade sempre abertas. Na maioria das vezes o filme só tem a ganhar.
Por outro lado, você não pode deixar que se extrapole. Carências pessoais
podem evoluir para exigências banais só para testar até onde vai a
generosidade da produção e a atenção do diretor. A busca de um close
significativo, por exemplo, pode criar situações embaraçosas e força-lo a
tomar medidas cinedramáticas desnecessárias.
Não esqueça de programar ENSAIOS com os elencos principal e
secundário durante a preparação. Isto será importante para estreitar laços
e buscar cumplicidades tanto entre você e o elenco quanto entre os
próprios atores que vão contracenar no set.
Tecnicamente, o mais importante dos ensaios preparatórios é
assistir à criação do personagem pelo ator e corrigir desvios,
inconsistências e dúvidas suas e do elenco. Será a chance também de ouvir
pela primeira vez os diálogos que, em parte fatalmente sofrerão correções.
Uma observação importante: se você escolheu o cinema ficcional,
nunca se prive da direção de atores. Diretor de cinema que entrega o
elenco para um diretor de atores, não é um cineasta na plenitude, é um
diretor inseguro tentando se livrar de um filme.
O contato direto com os atores no set de filmagem é o lado mais
rico desta atividade e é na conversa com eles, no jogo de cena na vida real
(um ator é ator o tempo todo!) e nos ensaios, que o personagem nasce de
verdade e as relações pessoais se intensificam. E as relações pessoais são
muito importantes para o rendimento do elenco.
É claro que há mitos e verdades a respeito de diretores que
infernizam seus atores para obter o que há de mais recôndito em suas
emoções. Fazem assim porque o roteiro exige muito mais do que técnicas
de interpretação.
8
PONTÃO DE AUDIOVISUAL

Rapsódia Ausente

Mas tais diretores, com certeza, tem nas mãos gordos orçamentos e
prestígio pessoal que lhes permite assim agirem. Lembre-se, no entanto,
que você e um realizador independente, um artista bastante vulnerável e
que precisa da colaboração de todos para que o filme saia a contento.
Às vezes, é necessário um ou outro trabalho de preparação de
atores em determinado nível do casting, mas jamais entre o grupo de
atores principais. Preparação de atores só deve admitir nos casos de
adestramento, como, por exemplo, equitação, esgrima, artes marciais, tiro
e outras atividades que precisam do concurso de um especialista ou
quando é necessário preparar não-atores ou crianças para atuar.
Ainda assim, no caso de não-atores e crianças a medida pode ser
inócua, quando não limitadora da criatividade, pois o que há de melhor em
trabalhar com não-atores é tirar proveito de sua “pureza” e deixar correr
livres o instinto e a intuição de cada um.
Como trabalho somente com filmes de pequena envergadura,
prefiro trabalhar diretamente também com figurantes, função geralmente
delegada ao assistente de direção. Esse importante grupo de sua obra se
sentirá mais motivado se você, o diretor, falar com eles no set. Mais do que
uma referência, o diretor é uma liderança. Lembre-se sempre disto.
Tecnicamente falando, o diretor pouco experiente começa sempre
em desvantagem em relação ao elenco, pois atores tem muito mais cancha
dramática que os diretores. Atores estão sempre trabalhando, exercitando-
se, enquanto o diretor passa anos tentando fazer um filme. Por isso, tente
aprender com eles o que eles tem para oferecer em benefício do
personagem e do filme.
Oriente-os conforme suas próprias convicções e intenções do
roteiro, mas deixe sempre espaço para as intervenções dos atores,
cuidando sempre para que um ator não se sobreponha a outro em cena,
pois isto gera desgaste.
A mise-en-scène é um trabalho de colaboração e a não ser que você
esteja muito convicto sobre a abordagem em uma determinada cena, não
9
PONTÃO DE AUDIOVISUAL

Rapsódia Ausente

utilize despoticamente seu poder de diretor. A última palavra deve ser sua,
mas esta palavra não pode ser uma ordem seca e irracional. Explique ao
ator porque você quer aquela cena “assim e não assado”.
Lembre-se sempre disto: seu elenco, desde o ator principal ao mais
simples figurante é que dará vida – de verdade – ao seu filme. O trabalho
junto ao elenco e que poderá fazer de seu filme um bom ou mau produto.

PRATICANDO SEMPRE

A prática pura e simples não garante que alguém, um dia, irá se


tornar um bom cineasta. Ou ainda, nada garante que você, mesmo depois
de dez filmes realizados com qualidade, não fará de seu 11º filme um
desastre. Tomando emprestada uma frase de Mário Quintana quanto ao
ofício dos escritores, para o diretor de cinema, "a experiência é como um
carro com os faróis voltados para trás".
Há diretores de cinema que em seu primeiro filme, maravilham e
surpreendem o mundo e nunca mais se acertam. Outros fazem dezenas de
filmes e não se impõem jamais como profissionais ou artesãos. Nada disto
dá para prever se vai acontecer com você. Só o tempo, a sorte e o talento
de cada um poderá dizer.
Mas uma coisa é certa: a qualidade e o refinamento só virão com a
prática. Necessário é, portanto, praticar bastante para que a técnica vá
sendo apurada.
Anote aí um outro desafio que você terá pela frente: é muito mais
difícil realizar o segundo do que o primeiro filme, por mais estranho que
isso possa parecer. É fácil de explicar, porém. Na primeira obra
cinematográfica o nível das cobranças e exigências formais é pequeno.
Todo erro é perdoável e a tolerância é maior.
Uma vez transformado em cineasta, você será cobrado
imediatamente para realizar seu segundo trabalho. E você, mais do que

10
PONTÃO DE AUDIOVISUAL

Rapsódia Ausente

ninguém, será infinitamente mais exigente consigo mesmo com o quê e


como filmar.
Toda a paixão e energia canalizadas para a realização do primeiro
filme, são santas. Para o segundo, entretanto, só estes dois aspectos não
bastam, pois também será preciso um foco mais preciso, ou seja, você se
torna um profissional com uma carreira a gerenciar e construir.

A CAPTAÇÃO DE IMAGEM (HD)

A escolha da câmera tem que ser ponto pacífico a esta altura do


campeonato. Falamos sobre isto no 2º volume desta Apostila de
Realização. Seja qual for sua escolha de marca e modelo, necessariamente
a câmera precisa ser HD, para que a finalização se dê sem sobressaltos e
com qualidade para exibição em cinema e TV.
Preferencialmente, grave em NTSC, que é para você não ter
problemas mais tarde, na hora de finalizar seu filme, pois historicamente a
tecnologia dos EUA é a que está mais fortemente presente nos
equipamentos de cinema e TV que operam no Brasil (não nade contra a
corrente teconológica).
Importante, embora não essencial: a captação de imagens deve ser
em 24p ou 24a (na verdade, 23,976 fps), ou seja, em sistema
PROGRESSIVO (com a letra “p” nas especificações de sinal e velocidade) e
não entrelaçado (com a letra “i” nas especificações de sinal e velocidade,
assim: 1080i). O sistema progressivo dará a “cara de cinema” que você
com certeza vai querer para o seu filme.
Porém, já vi resultados bem satisfatórios de transfer para 35mm de
filmes captados em 30 frames por segundo entrelaçados (na verdade
29,970 fps) ou em 25 fps em sistema PAL (no caso da câmera Z1). Mas
ainda assim o filme fica com cara de “vídeo”. Você não precisa saber muito

11
PONTÃO DE AUDIOVISUAL

Rapsódia Ausente

mais do que isto sobre o entrelaçado ou progressivo. Seu diretor de


fotografia é que tem essa responsabilidade. Mas a decisão será conjunta.
E na hora de “bater o martelo” consulte quem sabe de verdade e
dispense os curiosos e palpiteiros. Os técnicos geralmente tem suas
preferências por este ou por aquele sistema. Ouça a todos, peça para ver
os resultados em tela grande, compare e decida junto com seu diretor de
fotografia e o diretor de arte a melhor forma de captar as imagens, cores e
cenários de seu filme. Não esqueça de consultar também o laboratório de
finalização, pois ele será essencial em suas escolhas.
É importante também levar para o set um sistema de projeção em
HD para ver o copião do material filmado durante o dia em tela grande,
para evitar decepções mais tarde.
Evite improvisações e fuja o quanto puder da famosa e fatal
afirmação: “isso a gente resolve na ilha!”. Será dor de cabeça na certa
para o editor e muitas vezes não haverá solução mágica que salve uma
captação realizada sem os devidos cuidados técnicos.
Nesta área não há espaço para falhas e improvisações. E lembre-se:
toda decisão técnica é também uma decisão estética e de custo.

O SOM (DIRETO)

Nem pense em fazer som guia na captação de diálogos e ruídos na


sua produção. A não ser em condições muito precárias e incontornáveis de
captação dos diálogos – como dentro de uma usina siderúrgica em
funcionamento –, o som direto precisa ser sua opção PRIMORDIAL.
Embora o som direto reduza o ritmo de sua filmagem, aumentando
o número de dias para cumprir o plano de produção, nada de ter a
trabalheira de fazer dublagem depois. Além de representar uma queda
substancial na interpretação do ator e no resultado da cena, isso vai custar

12
PONTÃO DE AUDIOVISUAL

Rapsódia Ausente

muito caro para você, além do risco de o ator não estar disponível para
trabalhar em estúdio e terem pouca cancha em dublagem.
Até bem pouco tempo, para captação dos diálogos utilizávamos
sempre gravadores analógicos de fitas magnéticas e independentes da
câmera, pois são dotados de um cristal (o Nagra é o mais famoso e era o
mais usado) para que seja mantido o sincronismo determinado no som da
claquete mecânica. Mas isso já faz parte do passado.
Assim como aconteceria com a imagem na primeira década do
século 21, a popularização do som digital provocou uma revolução no som
do cinema a partir dos anos 1990. Graças à globalização – ela nos traz
vantagens também! – nos últimos anos nada do que tem lá fora deixa de
ter aqui dentro. Tudo está muito mais barato e fácil de importar. Antes, ter
um microfone direcional Sennheiser era para poucos. Um lapela sem fio de
qualidade?... nem pensar! Hoje, em quase todo lugar tem. Assim, o técnico
de som brasileiro tem à disposição equipamentos de ótima qualidade a
baixíssimo custo. E temos ainda os genéricos de boa qualidade de origem
chinesa, como os ótimos microfones direcionais da Yoga, uma das
melhores relações custo x benefício do mercado.
Somando-se a tudo isto, nossos técnicos também melhoraram
bastante. Há uma nova geração nascida nas universidades que vem
trazendo qualidade ao som do filme brasileiro como jamais vimos,
abandonando de vez a era do empirismo e caminhando na direção da
engenharia de som.
Mas se você não tem dinheiro para bancar um sistema de captação
de som direto independente com gravador de oito canais, claquete
eletrônica gerando o timecode e uma grande equipe de som, é
perfeitamente possível utilizar uma claquete comum e captar os diálogos
pela unidade sonora das câmeras digitais mais modernas através da
conexão XLR da pequena, mas poderosa unidade sonora da câmera.
Dois bons microfonistas, dois microfones direcionais em duas varas
boom com zepelim e “cachorrão” e também cabos de boa qualidade vão
13
PONTÃO DE AUDIOVISUAL

Rapsódia Ausente

dar a você a resposta necessária para ter um excelente som direto. Não vai
ser nenhuma maravilha detalhista como um gravador Sound Devices 788T
te daria, mas vai cumprir muito bem o papel principal, que é tornar
inteligível e claro aquele diálogo maravilhoso que está no roteiro.
É muito importante durante a filmagem a captação de SOM SÓ, que
é a gravação do ambiente sonoro e da miríade de sons que uma locação
possui. A imagem não irá valer (se o som estiver sendo feito na própria
câmera), mas toda a equipe deve ficar em silêncio como se mais um take
estivesse sendo rodado. Se for na mesa de som, a necessidade do silêncio
será o mesmo. Em quaisquer dos casos não esqueça de gerar um time
code para não complicar a vida dos editores de imagem e som.

PONTÃO DE CULTURA AUDIOVISUAL RAPSÓDIA AUSENTE


EQUIPE DE OFICINISTAS E ARTICULISTAS
CLEUMO SEGOND
DANIELA ALMEIDA
DAVY ALEXANDRISKY
EDUARDO SANCHEZ
FLÁVIO CÂNDIDO
FRED BORBA
LUCIA SEIXAS
LULA GONZAGA
MARCELO PAES DE CARVALHO
MARCELO RIBEIRO
MARVIO CIRIBELLI
MÁRCIO GUIMARÃES
MAURO DUQUE ESTRADA
SILVIA ANDUEZA

Texto final e revisão


FLÁVIO CÂNDIDO
14

Vous aimerez peut-être aussi