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Nos finais do século XIX e inícios do século XX, este conceito desenvolveu-se com a
formação de monopólios de capital nos países mais ricos e desenvolvidos, uma vez que nestes
a acumulação de capitais tinha atingido proporções gigantescas, originando um “excedente de
capitais”. Como forma de originar lucro, foi utilizado como fonte de investimento através da
sua exportação para países menos desenvolvidos, que depois retornaria ao país exportador
sob a forma de juros e de outros lucros não financeiros, como a obtenção de matérias primas
mais baratas, com uma taxa de lucro máxima.
A exportação de capital acentuou as desigualdades entre os países, uma vez que os
mais ricos investiam nos mais pobres, impondo sobre eles um modelo de organização
específico, para além de se aproveitarem do facto de este constituir um mercado garantido de
obtenção de matérias primas mais baratas e de escoamento de produtos a um preço mais
baixo, gerando dependência política, económica e social. No entanto, ao contrário dos países
mais ricos que comercializavam entre si, conseguindo estabelecer facilmente relações
comerciais, os mais pobres não tinham o mesmo acesso e ficavam dependentes do comércio
com os mais ricos. Para além disso, com o programa de exportação de capitais, os países
exportadores acabavam por enriquecer às custas dos importadores. O mesmo é comprovado
pelo livro de História Moderna: O Imperialismo que refere que “ (…) Na época do Imperialismo,
os capitalistas (…) tratavam de exportar fundamentalmente o excedente dos seus capitais para
os países pouco desenvolvidos industrialmente, onde o emprego desse capital lhes
proporcionava grandes lucros. Os capitais são também exportados para as colónias, assim
como para os países independentes.”
Este originou um novo tipo de imperialismo, próprio dos inícios do século XX, uma vez
que, ao investirem nesses países, os países exportadores procuravam controlar o seu governo,
impondo um modelo de organização política e social, provocando uma mudança de paradigma
nas relações políticas. Assim, nas vésperas da 1ºGuerra Mundial o mundo encontrava-se sob o
controlo político das potências europeias, que entre os finais do século XX e 1910, tentaram
expandir o seu domínio e administração a vários outros territórios no globo, especialmente em
África e na Ásia, mas também na América e Oceânia, num movimento conhecido por
Imperialismo.
O Imperialismo, tal como é afirmado por Lenine, 1916, é uma “fase superior do
capitalismo” que vigorou entre os finais do século XIX e inícios do século XX. Ao contrário do
que acontecia com o Imperialismo antigo, no qual a metrópole recolhia os recursos da Colónia,
nesta versão mais moderna do conceito era a Metrópole que enviava os seus recursos
financeiros, isto é, o excedente da capital para as colónias como forma de investimento, para
tentar extrair lucro, mas também para satisfazer as suas necessidades económicas. Tal como
foi referido anteriormente, para além da exportação de capitais para as colónias, a metrópole
impôs também a sua vontade e forma de organização política, de forma autoritária e
supranacional. Estas zonas foram ocupadas e transformadas em províncias dependentes da
metrópole a nível político, económico e militar, e serviam de mercado de obtenção de
matérias primas baratas e de exportação de produtos industriais e de capital. O mesmo é
afirmado por Hobson, 1903:
Os ingleses eram o maior investidor de capitais nos Impérios coloniais. O Reino Unido
concentra grande parte das exportações de capitais nos seus territórios coloniais. Já a França
era o segundo maior exportador de capitais e foi paulatinamente oferecendo bens a outros
países, sem receber a compensação merecida (só exportava 8,9% para as colónias e o resto
para outros países independentes). Verifica-se aqui a distinção entre imperialismo e
colonialismo. As relações internacionais eram dominadas pela tentativa de alguns países
exercerem influência sobre outros e assim exportar o seu capital (no início do século XX eram
consideradas potências aquelas que mais exportavam).
Não era necessário que fosse uma relação colonial (China, Império Otomano e América
Latina pediam empréstimos aos grandes centros financeiros de Londres e Paris, sendo países
independentes). Então, o imperialismo do século XX não está associado à criação de colónias
(países como Portugal têm impérios coloniais mas não são imperialistas; países como os EUA
não têm impérios coloniais mas são imperialistas). Esta relação podia ser feita entre dois
países independentes, ou seja, não está associado à posse de colónias.
No início do séc. XX, a exploração de capitais podia ser feita de duas formas:
investimento direto ou investimento indireto. O investimento direto era feito diretamente por
empresas que se instalam no exterior (as multinacionais). Se os mercados não fossem
fechados seria mais fácil aumentar a produção dentro já do país instalado. O capital em
excesso torna-se produtivo num mercado fechado. Já o investimento indireto (ou de carteira)
é feito normalmente por bancos (acionistas), que aplicam o investimento e compram dívidas
públicas (empréstimos públicos feitos a governos). Essas dívidas condicionam muito a política
dos países importadores, conduzindo, muitas vezes, a situações de ruturas de pagamentos,
expondo um determinado país com menos capacidade de pagamento a um ataque ao seu
orgulho.
Por ser o país mais industrializado e com maior nível de exportação de capitais, tinha
uma posição contra a guerra, dependendo do mercado livre e sem barreiras (era contra o
protecionismo). O seu domínio hegemónico assentava em bases navais para que pudesse
exercer um controlo do comércio e das próprias rotas de acesso, evitando, simultaneamente a
concorrência. Até porque “[a]Inglaterra era fortemente rica e possuía um vasto império
ultramarino. (…) [a]s suas indústrias eram responsáveis por uma grande parte do comércio
mundial. A sua posição global era garantida por uma marinha colossal. (…)”, tal como já
afirmava Norman Stone, no livro Primeira Guerra Mundial.
Deste modo, a Inglaterra tinha interesse em ter uma rede marítima mundial e o
controlo das regiões mais populosas, como a da Índia. Desde meados do século XIX que a
Inglaterra controlava grande parte da Índia.
“ (…) A marinha de guerra foi sempre a alavanca mais importante da burguesia inglesa para a
conquista colonial. A sua frota tornava possível o transporte de quantas tropas eram
necessárias para as guerras coloniais e as expedições de castigo. A burguesia inglesa
esforçava-se para que a sua marinha de guerra fosse a mais forte do mundo.”, in História
Moderna: O Imperialismo (página 107).
Para além da India e do Egito, bem como as regiões circundantes destas duas áreas, e a África
Oriental exerceram controlo a União Sul Africana. O Reino Unido exportava maioritariamente
para as colónias e para os EUA.
2.2 França:
França era também uma grande potência imperialista e exportadora de capitais, e os
territórios sob a sua administração centravam-se na África Ocidental e na Indochina. Em África,
os territórios dividiam-se entre a África Ocidental Francesa e a África Equatorial Francesa, no
entanto, as suas colónias mais rentáveis era a Indochina, Congo e Costa de Marfim. Detinha
ainda territórios no Mar Vermelho, Madagáscar e Polinésia Francesa.
No entanto, apesar do seu grande território colonial, apenas 4% do capital africano era
exportado para as colónias. Para além disso, como os seus interesses colidiam com os Ingleses,
após a tentativa de expansão para o Nilo e da construção de linhas férreas num ponto de
interseção com o Império Britânico, as suas pretensões imperialistas em África abrandaram,
pois, o seu poderio militar era muito inferior ao Inglês. No entanto, tal não impedia França de
se tornar o 2º maior exportador de capital, dedicando os seus investimentos a territórios
europeus, como Portugal, Espanha, mas sobretudo a Rússia. Esta exportava capitais
maioritariamente para os países europeus, especialmente a Rússia,
2.3 Alemanha:
A Alemanha era a potência colonial mais próxima da Inglaterra, ainda que bastante recente e
sem um grande território colonial. Apesar do seu desenvolvimento tardio, mas rápido,
afirmou-se como um Grande concorrente à Marinha Inglesa. Este seu desenvolvimento foi
fruto da unificação do país, a formação de um mercado interno unificado, a anexação da
alsácia e de uma parte da Lorena, o reforço inegável da exploração da classe operária e a
aplicação das últimas técnicas e das novidades científicas
Na época imperialista, a Alemanha passou a controlar colónias em África, mas não foi
exportadora de capitais, pois queria garantir a proteção dos seus investimentos nas colónias. A
Alemanha constitui, então, um exemplo de uma nação que não era um império colonial, mas
que era uma nação imperialista. O império alemão não tinha qualquer objetivo colonialista.
Aspirava ser uma potência naval e possuir um domínio industrial, colidindo com as pretensões
inglesas,
Enquanto outras potências exportavam capitais, a Alemanha não se podia dar a esse luxo
(devido à necessidade de recuperar esse desfasamento face às potências imperialistas). Ainda
assim, começa a exportar capitais, fazer empréstimos a outros Estados e bancos estrangeiros.
A Inglaterra tinha uma política de não entrar em alianças, mas França e Alemanha
começavam a criar sistema de alianças defensivas/ofensivas. As potências estavam
organizadas em mercados fechados efetuavam e alianças com estados médios. Mais tarde
(1904), os ingleses resolvem desequilibrar os pratos da balança e aliar-se à França, formando a
Entente Cordiale. Após chocarem, os interesses coloniais tornaram-se num convénio de
interesses contra terceiros. Estavam traçados os dados geopolíticos que causaram a 1ªG.M..
Ao nível das Colónias, a Alemanha tinha territórios na África Ocidental Alemã /camarões e
togo), África Oriental Alemã, Sudoeste Africano Alemão, bases na china e ilhas no Pacífico
Tropical. Tal como a França, exportava capitais para a Europa, o que acentuava as suas
rivalidades.
Para além disso, o grande problema do Império Russo era o facto de não ter acesso a um mar
navegável. Tinha apenas acesso ao Mar Báltico, mas este encontrava-se gelado. De resto,
grande parte do seu território era marcado por uma grande planície gelada, ou seja, não podia
ser uma potência naval por causa do clima. A única hipótese era navegar mais a sul no Pacífico
até chegar à China, especialmente na zona da Manchúria, mas cruzava-se com as pretensões
japonesas de chegar à China. O Mar Báltico estava gelado ou dominado pelos ingleses, o Mar
Cáspio era interior e não tinha benefícios e o Mar Negro estava ocupado pelo Otomano, e mais
a baixo cruzava-se com as pretensões inglesas. A única opção mesmo era chegar à China, o que
originou uma guerra com o Japão (Guerra Russo-Japonesa) nos inícios do século XX, vencida
pelo Japão e a Rúsia saiu economicamente debilitada. No entanto, com receio da Alemanha e
com uma dívida a França graças à importação de capital, estas formaram uma aliança, à qual,
mais tarde, se juntou Inglaterra. A Rússia era muito importante para a política europeia pois,
face a uma guerra contra a Alemanha, esta aliança poderia facilmente vencer pois par além de
uma fronte ocidental, com a Rússia tinha também uma fronte oriental.
Foi criada uma capital, São Petersburgo, a partir da qual se iniciou a expansão para
Ocidente e depois para Oriente. A Rússia detinha já o Mar Negro, a zona do Cáucaso,
Cazaquistão, Turquestão, tendo, depois, conseguido atingir o Oceano Pacífico.
Mas, nesta época imperialista, a Rússia começou a ver-se impedida pela Inglaterra na
sua intenção de se expandir para o sul da Ásia, o que levou a choques entre as duas potências.
As questões relacionadas com o petróleo começam já a ser dominantes (russos e ingleses
tinham interesses no Golfo Pérsico). É importante referir que a Rússia tinha uma aliança com
França, que por sua vez, tinha uma aliança com a Inglaterra.
2.6 Japão:
O Japão cresce nos princípios do século XX e tinha feito uma expansão continental com a
ocupação da China e da Coreia, em busca de minério e de novas áreas de exportação, de modo
a fazer concorrência com a Europa. Não tinha acesso a matérias-primas necessárias à
industrialização, como o carvão, ferro e borracha. Tratava-se, também, de uma potência semi-
imperialista sem império colonial. No século XIX fechou-se ao comércio europeu, evoluindo de
forma autónoma para evitar cair numa espécie de colónia. Assim, tem um papel fulcral nas
guerras e na política mundial do século XX. Esteve quase na órbita do Imperialismo Ocidental,
mas as frotas americanas entraram no Japão na década de 1950, invadindo os seus portos.
A modernização japonesa foi personificada pelo imperador Mutsu-Hito, que lançou o país
numa era de progresso: o período/dinastia Meiji (era das luzes), que se estendeu de 1868 a
1912. Em poucos anos, o Japão, de país agrícola e atrasado, converteu-se numa potência
imperialista militar e competitiva, com uma enorme base industrial e com interesses na Ásia. O
impulso industrializador ficou a dever-se, sobretudo, ao Estado que promoveu a entrada de
capitais e técnicos estrangeiros, adquiriu no estrangeiro os equipamentos necessários à
modernização, financiou a criação de novas indústrias, às quais concedeu exclusivos e outros
privilégios e promoveu a construção de uma rede ferroviária. Esta abertura ao capitalismo
colidiu com o feudalismo japonês, formando um capitalismo híbrido no qual se alicerçou o seu
desenvolvimento. Houve o aumento da produtividade agrícola que conduziu a um excedente
da produção, que fez aumentar o lucro e riqueza, que foi depois transferido para a industria.
2.7 EUA:
Até à Guerra Civil (1865) os EUA eram um país pouco desenvolvido, agrícola e
exportador de matérias primas, dependendo bastante da importação de capitais europeus,
maioritariamente ingleses. Esta Guerra opôs 2 classes nos EUA, o norte que queria
industrializar e exportar os produtos, de acordo com uma pauta protecionista, e o sul que
queria comercializar com a Europa e importar e exportar livremente, sendo a favor do livre
cambismo. Esta Guerra foi vencida pelo Norte, pelo que se tornou um país protecionista por
excelência, e com uma grande industrialização sustentada pelos capitais ingleses, sofreu um
crescimento muito rápido, conseguindo ultrapassar a produção inglesa e alemã em alguns
aspetos.
“Os capitalistas norte-americanos (…) tinham um interesse especial em ver [Cuba] ocupada
pelo seu governo. Os EUA começaram a preparar a guerra contra a Espanha. Decidiram
aproveitar-se do movimento de libertação nacional que se propagava a Cuba, e ao mesmo
tempo, a outra colónia espanhola, as Filipinas. (…) Em 1898 o Congresso dos EUA declarou
guerra à Espanha (…) esta guerra revelou a todos a debilidade e o estado de desagregação
interna da monarquia espanhola, que sofreu rápida derrota e teve de se resignar a pedir a
paz.” -História Moderna: O Imperialismo
Até 1914 era importadora de capital, tendo uma balança negativam, mas depois tornou-se
exportadora de capitais e um país imperialista.
Desde a guerra franco-prussiana de 1870-1871 e até 1914, nenhum conflito grave perturbou a
paz na Europa, embora ela tenha estado sempre ameaçada. O fenómeno imperialista foi
acompanhado de graves tensões e rivalidades económicas e políticas. Décadas de
imperialismo e colonialismo originaram acesas disputas territoriais. Havendo interesses de
conflitos, era fundamental que existisse uma guerra. Um dos principais fatores da eclosão do
primeiro grande conflito mundial foi o choque imperialista entre as grandes potências
europeias, ou seja, a disputa por mercados consumidores e fornecedores.
O principal antagonismo era entre os impérios britânico e alemão. O Reino Unido era a
força hegemónica do mundo e a Alemanha era o seu principal desafiador. A poderosa indústria
alemã necessitava de acesso às matérias-primas e do controlo dos novos mercados para
exportação da enorme quantidade dos seus produtos. O caminho da afirmação internacional
alemã passava pela construção de uma marinha mercantil e de uma marinha de guerra. As
duas principais rivais imperialistas travavam uma corrida ao armamento naval. Para contrariar
a Alemanha, a Inglaterra tinha de entrar na futura Aliança entre a França e a Rússia. Mas a
Inglaterra tinha problemas com a Rússia por esta estar a expandir-se para sul na Ásia,
ameaçando invadir a Índia. Para além disto, Rússia e Inglaterra já tinham olhos na Pérsia
devido ao petróleo e ambas estavam em situação territorial estratégica. Para além disso, a
instalação da Alemanha no Sudeste Africano contrariava as pretensões inglesas e acentuava a
rivalidade. No entanto, nenhuma destas potências estava interessada numa guerra,
especialmente o Reino Unido pois apesar de ter uma balança comercial negativa, resultante do
elevado número de importações, esta era anulada pela balança de capitais, uma vez que por
causa da taxa de juros, a Inglaterra recebia mais capitais dos que os que exportava, bem como
os outros serviços, pelo que a sua balança de pagamentos continuava a ser positiva. Se
acontecesse uma guerra, esta situação investia-se, uma vez que se tornava impossível a
recolha dos rendimentos que as outras nações lhe deviam. A Alemanha também não queria
guerra porque não tinha tanto interesse nas colónias. Assim, surgiu a opção da realização de
acordos para resolver os conflitos em África. Entre estes destacam-se dois acordos secretos de
divisão colonial, o Tratado Anglo-Alemão de 1989. Este previa a partilha de Angola,
Moçambique e Timor, já que devido às dificuldades financeiras de Portugal, provavelmente,
este país se veria obrigado a empenhar as colónias para resolver a crise. Ou seja, o empréstimo
era dado a Portugal sob hipoteca. Os alemães pretendiam ligar à África Oriental Alemã à África
Sudoeste Alemã, mas dependia do governo português efetivar este acordo. Este foi sujeito a
revisão em 1912, uma vez que o governo português voltou a pedir um empréstimo. Caso
deixasse de liquidar a dívida, o acordo era ativado. A guerra acabaria por impedir esta divisão
das colónias portuguesas.
A segunda maior rivalidade era entre o império francês e o império alemão. A oposição da
França à Alemanha explica-se, por um lado, pela disputa da Alsácia e Lorena, território perdido
para a Alemanha em 1871, e, por outro, pelo desenvolvimento do novo Império Alemão que
retirou à França parte da preponderância económica que este detinha sobre a Europa. Em
contrapartida, a França contrariou as pretensões germânicas em África e conseguiu dominar
grande parte do Norte do continente. Estes dois impérios (francês e alemão) eram vizinhos,
enfrentaram-se ao longo da história, e, em 1781, a Alemanha destroçara a França. Por isso, a
França só esperava uma boa oportunidade para ripostar. Como não podia fazer isso sozinha,
procurava aliados: qualquer tensão entre a Alemanha e um outro país era favorável às
expectativas da França. Para evitar uma desforra da França, a Alemanha decidiu isolá-la
recorrendo a um sistema de alianças. Começou por afastar dois potenciais aliados da França:
Áustria e Rússia. De facto, em 1882, até se havia assinado um tratado formal de aliança entre a
Alemanha e a Áustria-Hungria. Assim, a França passava a não ter aliados na retaguarda da
Alemanha. Contudo, a França começou a fazer empréstimos à Rússia, o que levou à mudança
de aliança da Rússia. Por outro lado, a Rússia até tinha interesses em derrotar o Império
Austro-Húngaro, formando-se assim a Aliança Franco-Russa.
Aliás, a terceira maior rivalidade decorria entre os impérios austríaco e russo. Os interesses
destes dois gigantes continentais confrontavam-se nos Balcãs. Aqui residia o Império
Otomano, já muito debilitado, e graças à sua proximidade geográfica, o Império Austro-
Hungaro seria um candidato para ficar com os territórios. No entanto, a Russia também estava
interessada, por finalmente conseguiria uma saída para o mar Negro e para o Mediterrâneo.
Para além disso, tinha ainda um pacto de amizade firmado para defender a causa da Sérvia,
apoiada pelo Montenegro, contra a pretensão do Império Austro-Húngaro relativamente ao
território da Bósnia-Herzegovina, também disputado pelos sérvios. Também, a França e o
Reino Unido queriam resolver as suas disputas coloniais em África e na Ásia para que
pudessem conjuntamente enfrentar o perigo alemão e fizeram um pacto com o nome francês
“entente cordiale” (entendimento cordial).
Estas três rivalidades foram cruciais para o desencadear de um conflito europeu generalizado.
As rivalidades políticas entre os impérios provocaram uma corrida ao armamento, a formação
de grandes blocos político-militares e à assinatura de pactos militares secretos, mas também
acordos económicos e políticos. Ficou conhecida como Tríplice Entente a coalizão militar
constituída na primeira década do século XX, onde os Impérios Britânico, Russo e República
Francesa se uniram para fazer frente à política expansionista de outro bloco, a Tríplice Aliança
(constituída pelos Impérios Alemão, Italiano e Austro-Húngaro), formado em 1882.
Estas políticas expansionistas formaram então um grande bloco de países aliados no centro da
Europa. Cada uma das nações garantia apoio às demais no caso de algum ataque de duas ou
mais potências sobre uma das partes. O objetivo principal era construir uma barreira político-
militar que isolasse a França na Europa Ocidental.
Porém, o acordo entre a Alemanha e a Itália neste ponto era bem específico, afirmando que o
seu apoio não se estenderia na defesa contra um ataque vindo do Reino Unido. Por ocasião da
guerra, a Itália seria convencida a unir-se à Entente a partir de um tratado feito com a
Inglaterra.
Quando se formaram estes dois sistemas de aliados, a pressão mundial subiu e intensificou-se.
Cada sistema de alianças tinham tinha elementos que queriam derrotar algum elemento do
outro sistema, e bastava um pequeno conflito entre dois elementos para que se
desencadeasse uma situação perigosa– todas as nações de cada aliança envolver-se-iam. A
Guerra foi desencadeada pelo sistema de alianças como o efeito dominó:
A faísca que incendiou a Europa ocorreu na Bósnia. Tratava-se de uma província do Império
Otomano cedida ao cuidado do Império Austríaco, que, em 1908, decidiu anexar esse
território. Consta que a maioria da população da Bósnia eram Sérvios e a Sérvia considerava a
Bósnia como seu espaço vital. A anexação austríaca da Bósnia criou uma alta tensão com a
Sérvia e também com a Rússia. Em 1912 começa uma Guerra entre os países balcânicos. O
nacionalismo da Sérvia serviu de causa imediata para o início da I Guerra Mundial. O império
austro-húngaro englobava uma diversidade de culturas, sendo que o seu ponto fraco residia
na fronteira como os Balcãs. Em 1914, o arquiduque Francisco Fernando, futuro imperador da
Áustria-Hungria, visitava Sarajevo, a capital da Bósnia. Nesse dia, um jovem nacionalista sérvio
assassinou o arquiduque. Este atentado foi considerado pela Áustria-Hungria como um ato de
Guerra, o que levou o imperador Francisco José da Áustria-Hungria a declarar guerra à Sérvia.
A Rússia, por sua vez, declarou guerra à Áustria-Hungria, invocando a defesa dos povos
eslavos. A Alemanha, ligada por um pacto militar à Áustria-Hungria, declarou guerra à Rússia.
Também declarou guerra à França, que já estava em mobilização. Logo, o Reino Unido
declarou guerra à Alemanha, também por esta violar a neutralidade da Bélgica, etc. Em poucos
dias todas as grandes potências europeias estavam em guerra; a única que se proclamou
formalmente neutral foi a Itália. Mas, um ano depois, a Itália passou para o lado das potências
centrais, britânicos e franceses. A Tríplice Entente foi apoiada pela Sérvia, Bélgica, Japão,
Roménia, Portugal, Grécia, China. A Tripla Aliança recebeu a ajuda do Império Otomano, da
Bulgária. Era o fim da paz armada e o início da 1ª Guerra Mundial.
A IGM era um fenómeno inevitável. Este conflito já se esperava desde a última década do
século XIX, com a escalada armamentista. Só não tinha acontecido antes, porque havia um
interesse em que se contivesse uma guerra que traria a destruição e que impediria a
transferência de capital para as colónias.
Geografia do Petróleo e o Império Otomano
Império Otomano
O Império Otomano englobava toda a bacia do Mediterrâneo até à Argélia e do Danúbio (zona
dos Balcãs) e juntamente com o Império Persa, possuía várias zonas do Médio Oriente, com
povoações muito diferentes a nível étnico e cultural. Começou a decair com a entrada da
concorrência ocidental (Inglaterra e França) no Mediterrâneo. No século XIX, vivia na
eminência de desagregação, mas manteve-se devido à incerteza de países rivais.
A sua estrutura era muito diferente dos outros impérios. A partir do século XIX, houve um
grande fluxo de capitais estrangeiros destinados ao império otomano, nomeadamente
provenientes da Grã-Bretanha e da França - empréstimos para tentar modernizar-se. Em
1830/40, conheceu um grande número de reformas políticas e económicas, mas não tiveram
grande efeito, pois não conseguiu modernizar-se rapidamente e ficou preso numa espiral de
dívidas e empréstimos. Como não os conseguia pagar, foi concedendo as suas zonas. Assim,
com o investimento alemão, houve uma tentativa de uma linha de ferro entre Bagdad e Bahn,
mas foi concedida aos alemães, que construíram uma que ligava Berlim a Bagdad, no golfo
Pérsico, e foi construído com fundos do Deutsch Bank. Este causou um grande
descontentamento e consequente oposição por parte de Inglaterra e França pois a construção
do mesmo só iria aumentar o poderio alemão e, consequentemente, ameaçar a hegemonia
britânica na região. É que o caminho-de-ferro tinha como vantagem a possibilidade de
transportar grandes e várias mercadorias e garantir a influência alemã da Arábia. No fundo,
era uma espécie de autoestrada de comunicações e interesses, como se comprova no livro da
História Moderna: O Imperialismo: “ (…) O caminho-de-ferro de Bagdade devia facilitar as
conquistas que os imperialistas alemães se propunham efetuar para Leste. Depressa a Turquia
se viu submetida à total influência alemã”.
O Petróleo era bastante importante, não como material energético por excelência para
alimentar a potência industrial, uma vez que o carvão só foi abandonado na década de 60, mas
porque era fundamental para o funcionamento das marinhas de guerra, a arma por excelência
na primeira metade do século XX, isto porque os navios alimentados a petróleo eram mais
rápidos, disponibilizavam mais espaço livre para carga e artilharia e porque tinha mais
autonomia, o que era uma grande vantagem em caso de guerra. No entanto, das grandes
potências, só os Estados Unidos da América e a Rússia tinham acesso à produção de petróleo,
sendo que este primeiro detinha 60% da produção mundial, o restante sendo dividido pela
Alemanha, com 1/5, e por outros territórios, como o México, India e Roménia com pequenas
quantidades, e sob o domínio inglês e holandês.
Havia ainda petróleo no Império Persa, região dividida pelo Reino Unido, que queria controlar
as regiões próximas à India e ao Egito, e a Rússia, que queria ter acesso a um mar quente em
zonas europeias. Este foi descoberto pela empresa do D’Arcy e foi nacionalizada pelo Governo,
tendo sido criada a companhia Anglo-Persian.
Portugal não estava interessado a entrar na Guerra , mas foi obrigado com receio de perder as
suas colónias, uma vez que se entrasse do lado da Alemanha e perdesse, Inglaterra ficava com
as suas colónias, e se não participasse e a Alemanha vencesse, esta ficava com as colónias,
pelo que acabou por entrar em 1914 no lado do Reino Unido, com a invasão dos Alemães a
esses territórios. A tríplice entente necessitava também do apoio da Grécia e da Itália (que
apesar do seu pacto com a Alemanha, este viu-se anulado pela entrada do Reino Unido) e
guiados pela promessa de novos territórios estes entraram.
Já a Frente Balcânica era dominada pelas potências centrais (Alemanha e Áustria-Hungria) pelo
que as forças aliadas não tiveram grande êxito, no entanto, ainda se foram aguentando.
Adicionalmente, a Rússia pretendia uma larga fatia do Império Otomano. Os ingleses tentaram
levar os russos a apoiar um ataque a Constantinopla. De resto, a Inglaterra chegou a efetuar
um ataque à zona dos estreitos, mas não obteve sucesso, pois o Império Otomano estava bem
preparado para poder responder aos ataques. Contudo, conseguem convencer algumas
dinastias árabes a fazerem uma revolta contra os otomanos, sob a promessa de que toda a
área árabe iria ser unificada sob a dinastia Hachemita. Então, em 1916 inicia-se a revolta árabe
no Império Otomano, promovida pela Inglaterra.
Além destas frentes, a guerra travava-se também a nível aéreo e naval, com várias inovações
tecnológicas, numa primeira fase os zepelins, até terem sido criadas armas antiaéreas para os
combater, e os caças e outros aviões de guerra.
Entretanto, na Rússia a situação estava cada vez mais complicada e só em 1917 conheceu duas
revoluções. A primeira, a Revolução de Fevereiro, foi contra o regime czarista, causada pela
insatisfação geral com o esforço de guerra e proclamou a República, mas não alterou a
situação na frente. Dito de outro modo, a Rússia, a partir dessa revolta, praticamente não
combatia, o que se transformou num problema grave para os franceses e britânicos que
tinham, a partir de 1917, de defrontar-se sozinhos com o todo-poderoso exército alemão. A
Revolução Bolchevique de Outubro de 1917 começou com Lenine que, estando na Finlândia e
ao analisar a situação da Rússia, achou que estava na hora de tomar o poder e por isso
regressou e criou um comité revolucionário junto do soviete de Petrogado, presidido por
Trotsky. Na noite de 25 de Outubro, o II Congresso dos Sovietes, dominado pelos bolcheviques,
legalizou a revolução e designou para governar o país um Conselho dos Comissários do Povo,
presidido por Lenine. O partido de Lenine vencia então a luta interna.
Esta revolução levou imediatamente à retirada definitiva tanto da aliança quanto do conflito
mundial, através do Tratado de Brest-Litovsk, assinado a 3 de Março de 1918. Este tratado foi
feito com a Alemanha e forçou a Rússia a abandonar a Polónia e os Países Bálticos e a evacuar
as suas tropas da Ucrânia e da Finlândia, reconhecendo a sua independência. No fundo,
declarava um acordo de paz separada com a Alemanha. Desaparecia, então, a frente oriental.
Logo depois, o país seria tomado por uma onda revolucionária na qual emergirá um novo ente
que herdará as fronteiras do antigo império, a União Soviética.
Para os alemães, era uma questão de tempo até que a guerra estivesse ganha: a Inglaterra
estava sem marinha de guerra, a França estava a perder força; e a Rússia encontrava-se
inativa. O novo tipo de combate (numa única frente) dificultou ainda mais a situação militar
franco-britânica, mas foi também a razão formal para os EUA declararem guerra à Alemanha. A
revolução Russa viria a favorecer os Impérios Centrais e a entrada dos Estados Unidos viria a
favorecer a Entente.
O momento crucial na resolução da Guerra aconteceu em abril de 1917, quando os
EUA entraram na guerra a favor de Triple Entente, mudando substancialmente o rumo dos
conflitos e originando um grande alcance político que alterava até então os dados da guerra.
Os EUA apresentavam um grande crescimento industrial e não tinham necessidades
comerciais externas. A principal razão para a entrada americana na guerra foi o bloqueio
alemão à marinha inglesa, o qual fez com que a economia inglesa estagnasse. As
transferências de capitais ingleses (mas também franceses) para os EUA começaram a dissipar-
se, os países em guerra começaram a depender cada vez mais de terceiros e os interesses
norte-americanos viam-se ameaçados, transformando-se em credores das potências
europeias. A indústria americana passou a depender muito da exportação das matérias-primas
europeias e, com a guerra, não se faziam as transferências de capital de que os EUA
necessitavam, pelo que a indústria americana estava a estagnar
Se antes até lucravam com a guerra, pois conseguiam aumentar as exportações para a Europa
(cereais, petróleo, borracha, aço, medicamentos, etc.), fornecer empréstimos e torná-la
dependente e por isso consideraram-se neutros (1914), a partir de 1917 sentiram que
deveriam intervir e tentar defender os seus interesses. Com a chegada de tropas americanas
houve o fecho de muitos mercados na América do Sul e na Alemanha, o que fez com que a
Alemanha não conseguisse resolver a guerra para o seu lado. A entrada dos EUA ao lado da
Tríplice Entente traz uma nova energia à guerra e conduz os aliados ao sucesso, forçando os
países da Aliança a assinarem a rendição. Fortalecidos, os países da Entente conseguiriam
romper o imobilismo em que se encontrava a disputa.
Chegaram dois milhões de soldados, apoiados por uma enorme capacidade económico-
financeira e pela produção industrial. Essa força foi decisiva. As ofensivas alemãs pararam e,
em novembro de 1918, a Alemanha capitulou. A 1ª Guerra Mundial acabou.
No entanto, venceram a guerra devido a três fatores: Expansão territorial até início do século
XX (constituíam um dos maiores territórios do mundo e o maior império do Mundo, com
especial destaque para o Canal do Panamá); força económica: novas e maiores oportunidades
de crescimento económico (liberalismo económico, território rico em recursos naturais e
mineiros, revolução Industrial ampliada no novo mundo, investimento na ciência e na
tecnologia e culto da inovação prática). Este crescimento teve uma paragem durante a Guerra
Civil, devido a razões económicas (o Norte necessitava dos escravos para as suas fábricas e o
Sul queria-os para trabalhos na agricultura) e reformas no sistema social/progressismo (para
diminuir desigualdades, como investimentos públicos, educação para todos ou igualdade entre
homens e mulheres); e o Isolacionismo: política externa eficaz e útil (Doutrina Monroe –
potências europeias não interferiam no território norte-americano e vice-versa).
“A Grande Guerra e o modo como ela termina anunciam o declínio da Europa. (…) a Europa
(…) foi materialmente devastada e quase toda sangrada e empobrecida pelo conflito militar.
(…) [N]a economia mundial o papel da Europa diminuiu, em proveito (…) dos EUA (…).”, Jacques
Nére, História Universal: O mundo contemporâneo.
Em termos demográficos, a I Guerra Mundial ultrapassou todas as guerras anteriores (em
termos mais destrutivos), sendo catastrófica e destruindo toda ou quase toda a capacidade
militar efetiva, com cerca de 13 milhões de mortes, fome, epidemias a diminuição da mão de
obra.
Houve ainda a queda dos 4 impérios ( Russo, Alemão, Austro-Hungaro e Otomano) e várias
alterações geopolíticas, permitindo a proliferação de estados nação, agora libertos da
opressão imperial e com a tão desejada independência política, mas também sociais, com a
mobilização da mão de obra feminina, por exemplo.
Isto provocou a inversão da situação até aí vivida, uma vez que as potencias europeias, em vez
de exportadoras e tornaram-se importadoras de alimentos, mercadorias, mas também capital,
o que beneficou especialmente os Estados Unidos da América. No final da Guerra, os
investimentos dos EUA na Europa continuaram, especialmente para a Alemanha. Algumas
multinacionais americanas começavam a expandir-se nesta altura (exemplos da IBM, General
Motors e Ford, que eram os grandes produtores de automóveis e aparelhos mecânicos nos
EUA) e instalaram-se nos países europeus.
Por outro lado, em termos de comércio internacional, a estrutura alterou-se. O dólar passou a
ser a moeda forte, suplantando as moedas europeias, uma vez que com a falta de ouro nos
cofres europeus, as suas moedas tiveram que abandonar o Padrão de ouro. Isto reforçou o
papel dos Estados Unidos da América na política mundial, que começaram a envolver-se cada
vez mais nos assuntos europeus.
Em 1920, deu-se uma crise de recessão devido à adaptação à Paz, que era algo que afetava
toda a Europa.
“A Grande Guerra e o modo como ela termina anunciam o declínio da Europa. (…) a Europa (…)
foi materialmente devastada e quase toda sangrada e empobrecida pelo conflito militar. (…) na
economia mundial o papel da Europa diminuiu, em proveito (…) dos EUA (…) Uma potência
extraeuropeia, os EUA, exerceu a influência decisiva no fim do conflito e, em grande parte,
impôs conceções e métodos novos para a elaboração dos tratados de paz.”
1919 e 192º foram anos de grande agitação a nível político, uma vez que as classes
trabalhadoras queriam ser recompensadas pelo esforço material e humano da guerra. Assim,
inspiradas pelas Revoluções Russas, nas quais, pela primeira vez, as classes operárias
conquistaram o poder, vários países europeus começaram a olhar para a Rússia como o
Modelo a seguir.
Na Rússia, o partido com mais poder era o Partido Social Democrata Russo, constituído por
duas fações, uma mais radical, os Bolcheviques, que defendiam que o Partido não deveria
esperar mas, pelo contrário, conquistar logo o poder, e os mencheviques, que eram menos
radicais e defendiam que se deveria esperar por uma Revolução Burguesa. O primeiro grupo,
como defendia a retirada imediata da Guerra, ganhou importância nos Sovietes e originou a
Revolução de Outubro, que acabou com o Governo Provisório de Kerensky e designou para
governar um Conselho de Comissários do Povo presidido por Lenine e Trotsky. No entanto, em
1918 iniciou-se uma Guerra Civil que opunha os bolcheviques (exército vermelho) aos
mencheviques (exército branco), estes últimos apoiados pelos europeus.
Realizou-se ainda uma Conferencia de Paz, em Paris, em 1919, presidida pelos representantes
das potencias vencedoras, mas dirigido pelo Conselho dos 3, isto é, França, com Clemenceau, o
Reino Unido com Lloyd George e os EUA, com o Presidente Wilson, que pretendia estabelecer
uma nova ordem internacional e no qual foram assinados vários acordos com os países
derrotados. Entre os tratados, (Saint-Germain-en-Laye -Austria; Sevres-Otomano; Trianon-
Hungria;Neuilly-sur-Seine-Bulgária) destaca-se o Tratado de Versalhes (Paris), assinado em
1919 com a Alemanha, que continha imposições de carater militar, territorial, económico e
politico. Entre estas destaca-se a perda de alguns territórios, como a Alsácia e a Lorena, bem
como a divisão das suas colónias pelas potencias vencedoras, a desmilitarização de algumas
zonas, a redução do armamento e do exército, e pesadas indemnizações e reparações de
guerra a outros países, e provocou a Diktat (humilhação) da Alemanha.
Quanto aos outros tratados, de uma forma geral, foram impostos o reconhecimento da
independência de alguns dos seus territórios, bem como a cedência de territórios a outros
países, a limitação do exército, a proibição da reunião com o reicht alemão, e o pagamento de
pesadas indemnizações e compensações económicas.
Ainda na Conferencia de Paz foi estabelecida a Mensagem dos 14 Pontos, redigida pelo
Presidente Wilson. Esta estabeleceu uma política de diplomacia transparente entre os estados,
que determinava o fim dos assuntos secretos, o fim das barreiras económicas, o principio de
liberdade e das nacionalidades, bem como o direito de autodeterminação dos povos e a
criação de um organismo internacional, a Sociedade das Nações. Este era um organismo com o
fim de salvaguardar a paz e integridade internacional e nele participavam os Países vencedores
da Guerra e outros estados Neutros, no entanto, não foi bem-sucedido e não conseguiu evitar
a eclosão da 2ºGuerra Mundial. O seu fracasso resultou da não concordância com os Estados
Unidos da América com a política colonial e condenação dos estados derrotados, o que
resultou na sua não adesão, o facto de muitos países se virem insatisfeitos com as resoluções
da Guerra, como a Itália, o facto de várias minorias continuarem subjugadas, a não
participação dos países não vencedores e o não cumprimento das cláusulas, e o facto de os
países derrotados, e da Russia, não poderem participar.
No entanto, as cláusulas aplicadas aos países derrotados mereceram a reprovação dos Estados
Unidos, ao contrário da França que incentivava o cumprimento deste tratado pela Alemanha e,
juntamente com a insatisfação de outros países com as resoluções de Guerra, as divergências
entre os países começaram a aumentar..
Os EUA, não tão afetados pela guerra, graças à sua entrada tardia e ao facto de não ter
acontecido no seu território, sofreu menos as consequências, no entanto, tendo em conta que
a crise financeira da Europa os poderia afetar, intervieram com o empréstimo de quantias
avultadas para incentivar a recuperação económica dos países europeus.
Neste sentido, foi criado em Agosto de 1924 o Plano Dawes, um plano provisório de ajuda
económica direcionado à Alemanha da pós-Primeira Guerra Mundial, com o intuito de que
esta pudesse reerguer a sua economia e pagar as dívidas e reparações a ela impostas. Este
plano tinha como objetivo resolver o problema do não cumprimento por parte dos alemães
das dívidas acordadas em Versalhes. Este plano manteve a quantia a ser paga pelo país, mas
com pagamentos anuais mais reduzidos e espaçados, dando tempo ao país de acumular os
valores devidos.
Com uma moeda forte e o seu novo papel de credora dos países Europeus, bem como um
valor alto das exportações de alimentos, armas e matérias primas durante o período de
Guerra, os Estados Unidos conseguiram canalizar cerca de metade dos stocks mundiais de
ouro, bem como acumular capital nos cofres do Estado, pelo que estes ultrapassaram a
hegemonia europeia e viram a sua economia reforçada no panorama mundial. A esta alia-se o
seu vasto mercado interno, poder de compra razoável e uma situação industrial produtiva,
cada vez mais estandardizada, assente nos métodos de racionalização do trabalho, como o
Fordismo e o Taylorismo.
Enquanto a Europa se erguia com grande dificuldade dos escombros da guerra e tentava
recuperar do caos, tanto a nível económico como político e social, os EUA arrancavam para um
tempo de intensificação do seu desenvolvimento industrial e viviam um período de grande
prosperidade económica. Esta prosperidade era marcada pelo signo da organização racional
das empresas. Algumas multinacionais americanas começavam a expandir-se nesta altura
(exemplos da IBM, General Motors e Ford) e localizaram-se nos países europeus, o que
fomentou a crescente ligação entre a economia europeia e o capital americano.
Por sua vez, a economia dos Estados Unidos da América no pós guerra ultrapassou a Europeia.
Além disso, os EUA possuíam um vasto mercado interno, com um poder de compra razoável,
que absorve a maior parte da produção e havia uma grande abundância de capitais devido à
especulação bolsista, baseada na crescente produção industrial e na cada vez maior
importância do dólar. A aplicação de novos métodos de racionalização do trabalho como o
taylorismo, o fordismo e a estandardização contribuíram também para a grande prosperidade
e avanço dos Estados Unidos.
A década de 20 do século XX foi, nos EUA, sinónimo de prosperidade. De facto, à medida que a
produção crescia, aumentava o consumo interno. Assim, confiantes no futuro, os EUA
toraram-se numa sociedade de consumo em que, incentivados pela publicidade, os indivíduos
lançaram-se na compra de bens como carros, casas, eletrodomésticos, recorrendo ao crédito
fácil e barato processado pelos bancos, e até na compra de ações de empresas guiados pelo
desejo de enriquecimento fácil. Assim, a Bolsa de Wall Street, antigamente apenas reservada
às elites, generalizou-se à sociedade de massas, o que fazia a especulação crescer, uma vez
que estas que estas se tornaram, supostamente, muito mais valiosas do que eram na verdade.
No entanto, para alguns historiadores, não é claro que os EUA sejam, no período entre as duas
guerras mundiais, a área económica dominante, e que se possa afirmar que Europa é
dependente dos EUA. O que se verifica é uma interdependência, com os capitais americanos a
fluírem para a Europa, e com os juros pagos pelos empréstimos a serem reinvestidos, em
grande parte, no reforço da economia americana, sustentando, ainda, a especulação bolsista
de Wall Street. Confirma-se assim, que na segunda metade da década de 20 viveu-se um clima
de acalmia económica na Europa. Nos EUA, a “era da prosperidade” levava os norte-
americanos a consumir desenfreadamente. Contudo, essa prosperidade era frágil.
5.2- A recessão da década de 1930: a crise bolsista nos EUA (1929) e a sua
transformação em recessão mundial
A perda de poder da Europa para os EUA foi uma das consequências da I Guerra Mundial,
especialmente no mercado de exportação de capitais. Os EUA, no período pós guerra,
tornaram-se credores dos países europeus, investindo o seu dinheiro na recuperação da
economia dos países europeus, especialmente no caso da Alemanha, que com o dinheiro
americano, viu a sua industria crescer.
Por sua vez, a crise da bolsa resultou da especulação bolsista. As cotações das acções da bolsa,
cada vez mais altas, não correspondiam à situação real das empresas. A facilidade de recurso
ao crédito mantinha os cidadãos na ilusão de uma prosperidade interminável. Os bancos
estimulavam esta especulação bolsita, pois concediam créditos ao consumo privado de forma
pouco criteriosa e a pessoas que não possuíam capacidade de endividamento. Tratava-se do
recurso ao crédito para aplicação na compra de acções. Ora, quanto mais se consumia, mais os
bancos emprestavam, numa espiral que só podia conduzir a um fim – a rutura do sistema
financeiro e, consequentemente, produtivo. Com a concessão de crédito pouco criteriosa, os
bancos começaram a perder muito dinheiro, o que somado ao desemprego crónico que já se
verificava nos Estados Unidos da América, as pessoas, já sem poder económico, não
conseguiam paras as suas dívidas aos bancos e como tal, deixaram de consumir, o que num
sociedade consumista que privilegiava a produção de massas, levou à falência de muitas
empresas, porque havia muita oferta mas pouca procura e numa tentativa desenfreada de
incentivar o consumo, recorram à diminuição abrupta dos preços, isto é, a deflação. Esta
situação, no entanto, diminuía os lucros, acentuava o desemprego, o que por sua vez,levou ao
desemprego e à consequente diminuição do poder de compra, bem como a falência de muitas
empresas que anteriormente tinham o valor das suas ações muito altas, isto é,
sobrevalorizadas. Assim, começaram a surgir, nos mercados bolsistas, grandes quantidades de
ordens de venda dessas ações e, perante a queda contínua dos preços, no dia 24 de outubro
(Quinta Feira negra) não havia compradores para a quantidade de títulos disponíveis. Foi o
crash de Wall Street, que se repercutiu sobre todos os sectores da economia.
Perante esta descrença no sistema financeiro, os grandes banqueiros injetaram capital outrora
investido em território alemão e nos outros países europeus para suprir a desvalorização das
ações, adquirindo ações a um preço mais elevado do que aquele a que estavam a ser vendidas,
propagando-se a crise à Europa-
Porém, no dia 29 de Outubro (terça-feira negra), o mesmo voltou a suceder, mas desta vez os
grandes banqueiros nada podiam fazer para atenuar a queda. A desgraça abateu-se sobre os
EUA: muitas fortunas «virtuais» esfumaram-se em poucas horas, de um momento para o outro
muitos foram os que se viram sem nada. Face a este crash bolsista, rapidamente se revelaram
as consequências provocadas pelo mesmo.
O crescimento per capita entre 1913 e 1929 diminuiu, tanto nos EUA como na Europa, mas
ainda era positivo. Na década de 30, nos países europeus este aumentou, ao contrário do que
aconteceu nos EUA, em que o pib per capita era negativo. Assim, é possível comprovar que
apesar da crise ter afetado a maioria dos países capitalistas, afetou-os de maneira diferente,
tal como se sucedeu no Japão e nos EUA, onde se verificou um forte crescimento económico.
No caso dos japoneses, graças à elevada população agrícola que mascarava o desemprego, e
na URSS por não ser um país capitalista, mas comunista, que se encontrava isolado do
comércio internacional. Pelo contrário, para se recuperar da Guerra, recorreu ao sistema de
planificação e direção económica, que possibilitou o aumento da exportação de capitais.
é, em média, inferior ao crescimento verificado nos anos 30. Os EUA correspondem ao país
que mais ilustra a ideia de recessão. Este é um período de forte crescimento para japonenses e
soviéticos. O facto dos japonenses disporem de uma população agrícola bastante maior
mascarava o desemprego existente. A URSS foi a que melhor escapou à crise, havendo até um
crescimento da sua economia. Isto deveu-se ao facto de ser um país comunista e, assim, estar
arredada do sistema capitalista, e graças à planificação e direção económica promovida pelo
próprio estado soviético (a exportação de capitais aumentou bastante).
Apesar de numa fase inicial se terem guiado por uma política de retorno ao protecionismo, em
que se tentaram reduzir as despesas do Estado, através de políticas como reduções às
importações e o aumento dos impostos, isto é, medidas deflacionistas que diminuíram a
capacidade de compra da população que continuavam sem poder de compra e portanto, não
surtiram o efeito desejado. Após esta primeira etapa, os Estados Unidos da América guiaram-
se pelo modelo intervencionista de John Keynes, posto em prática pelo presidente americano
Franklin Roosevelt, que se seguiu a Hoover, num modelo de intervenção conhecido como New
Deal. Entre as medidas instituídas destaca-se o investimento em despesas militares e numa
política de obras públicas financiada pelo Estado para criar o emprego, a desvalorização do
dólar para subir os preços e a regulação da produção para evitar uma nova crise deste género
bem como medidas de caráter social. Para além disso, abriu a economia aos mercados
exteriores. Apesar destas medidas, até 1938 os EUA não viram o seu PNB aumentar, e a sua
economia só melhorou com a entrada na 2º guerra Mundial.
O fascismo surgiu primeiro em Itália, em 1919. Este país não ficou feliz com a sua
participação na Primeira Guerra Mundial, pois gastou imensos recursos e não obteve
compensações significativas. Nomeadamente a expansão territorial italiana que ficou aquém
do esperado e desejado. A não satisfação das suas reivindicações na Conferência de Paz em
1919, deram à população uma “vitória incompleta”. A Itália atravessava então uma grave crise
moral e económica (posteriormente agravada pela recessão). Nesta situação, a maioria da
população estava recetiva a uma solução radical. Foi Benito Mussolini que tomou o poder em
1922. Foi o primeiro regime fascista a ser implementado definitivamente. Este movimento só
pôde ser implantado, porque encontrou uma ampla base social de apoio e condições propícias
ao seu desenvolvimento.
Deste modo, os regimes totalitários afirmavam sem quaisquer reservas o seu carácter
militarista e imperialista. Assim, em particular a Alemanha, a Itália e o Japão marcaram os anos
30 pelas sistemáticas agressões à nova ordem internacional, inviabilizando todas as intenções
de paz e de cooperação entre os estados-membros da Sociedade das Nações.
Para os alemães, as fronteiras definidas pelo Tratado de Versalhes forneciam ainda mais
motivos para a existência de um nacionalismo xenófobo. Alguns alemães encaravam
desfavoravelmente a separação entre os Austríacos de língua alemã e a Alemanha, bem como
o domínio dos checos sobre alemães que se seguiu à queda da monarquia dos Habsburgo e à
criação da Checoslováquia.
A base do capitalismo alemão era uma base nacional. O desejo de Hitler consistia em expandir
os domínios territoriais da Alemanha e ampliar, desta forma, a obtenção de poder e recursos
materiais (principalmente matérias-primas). A primeira condição da agressão hitleriana foi o
renascimento da indústria metalúrgica e química de guerra na Alemanha. Estes objetivos
militaristas e expansionistas também estavam presentes, no final da década de 1930, na Itália
fascista de Mussolini e no Japão.
A Itália entrou num processo de conquistas coloniais na década de 30. Em Outubro de 1935, a
Itália (cujos militares estavam instalados na Somália e na Eritreia) afirmou seu imperialismo
invadindo a Etiópia, país independente situado no nordeste da África e que constituía o único
Estado que ainda não tinha sido dividido. Este é o ponto de viragem na política mundial
estando na base da IIGM. A Inglaterra (que controlava o Nilo) não aceitava que a França
controlasse a Etiópia, pois isso iria pôr em causa o seu próprio controlo, e por isso, a SDN
determinou que seus Estados membros restringissem o comércio com a Itália.
Tal proibição, no entanto, não chegou a afetar a Itália, porque nações fortes como os Estados
Unidos e a Alemanha - que não faziam parte da SDN - continuaram a vender-lhe matérias-
primas essenciais, como petróleo e carvão. A conquista da Etiópia pela Itália, consumada em
1936, provou ao mundo que a SDN era incapaz de assegurar a paz mundial. A Alemanha alia-
se aos transalpinos e celebrava então um pacto com Mussolini (Eixo Roma-Berlim), onde foram
anexadas várias regiões que permitiam regular o comércio e a política externa de países como
a Áustria e a Checoslováquia. O "Eixo Roma-Berlim" tornou-se uma aliança militar em 1939
com o Pacto de Aço. Foi um acordo entre os governos da Itália fascista e da Alemanha nazista,
firmado em 1939, que estabelecia uma aliança em caso de ameaças internacionais, bem como
ajuda imediata e suporte militar em caso de guerra e colaboração na produção bélica e no
campo militar. Além disso, nenhuma das partes poderia firmar paz sem o consentimento da
outra. As anexações territoriais da Áustria e da região checa dos Sudetas foram realizadas pela
Alemanha em 1938. Posteriormente, em 1939 Mussolini anexa a Albânia.
A expansão japonesa interferia também na política europeia. A Alemanha afirma com o Japão
um pacto anticomunista em 1936 (Pacto Anti-Komintern), cujo objetivo era combater o
expansionismo do comunismo soviético. Em caso de ataque da URSS contra a Alemanha ou o
Japão, os dois últimos comprometiam-se a efetuar consultas acerca das medidas a serem
tomadas para proteger os seus interesses comuns. Também concordaram que nenhum dos
dois concluiria tratados políticos com a URSS. Esta aproximação do Japão à Alemanha deve-se,
essencialmente, à viragem da política japonesa para uma direção mais nacionalista e
autoritária. Em 1937, a Itália aderiu a este pacto. Após ter firmado com a Alemanha o Pacto do
Aço, integra os seus objetivos militares em 1940, com o Pacto Tripartite. Através deste,
formalizou a aliança conhecida como Eixo Roma-Berlim-Tóquio. Foi idealizado por Hitler para
intimidar os EUA e tentar mantê-lo como país neutro durante a guerra. Porém, na prática
acabou legitimando a entrada americana no conflito europeu, quando este declarou guerra ao
Japão, após o ataque japonês a Pearl Harbor.
Perante o desrespeito das normas dos tratados de paz e dos termos do pacto da SDN, as
democracias ocidentais reagiram muito passivamente. A SDN manifestou uma atitude
displicente em relação aos países que violaram as cláusulas do seu pacto. O Reino
Unido e a França não impediram Hitler de atuar logo em 1938 porque ambos não estavam
preparados para a guerra. A nível económico, financeiro e industrial eram muito mais fracos
do que a Alemanha. Também, sem o apoio dos EUA, os exércitos francês e inglês tinham
poucas probabilidades de resistir perante as forças armadas de Hitler.
O último obstáculo à guerra foi a posição da URSS. A França já tinha tentado fazer a Guerra e
em 1934 ofereceu um lugar à Rússia na SDN. Esta ao início pensou em aceitar o lugar, mas
depois mudou de opinião por causa da Polónia (um novo país criado na sequência dos tratados
e que ninguém queria), pois achava que tinha sido criada numa área que já tinha influência (só
aceitaria se tivesse livre acesso ao território em questão). A França não quis sacrificar a aliança
com a Polónia e a URSS desistiu do seu possível lugar na SDN e da sua aliança com a França.
“Os Tratados de Versalhes não resolveram as contradições entre concorrentes Capitalistas (…).
Os beneficiários do estatuto de 1919 pretenderam conservá-lo[s], mas a Alemanha, a Itália e o
Japão uniram-se para destruí-lo[s]. Um tratado entre potências capitalistas consagra
simplesmente uma repartição do mundo em função de uma relação de forças e assim traz em
si o germe de uma outra guerra por uma nova repartição do mundo, logo que a relação de
forças de altera.”
“Era imprescindível para o sucesso dos Nazis e para a eventual aceitação de Hitler por parte
dos Alemães, no que diz respeito à política externa, que o povo alemão acreditasse que os seus
infortúnios económicos e políticos eram uma consequência da imposição e da aplicação do
Tratado de Versalhes por parte dos predadores estrangeiros. Poucos alemães sentiam qualquer
«culpabilidade» especial em relação à Primeira Guerra Mundial e não sentiam que as suas
dolorosas consequências, encarnadas no Tratado de Versalhes, representassem um castigo
justificado.” - R.A.C. Parker, História da 2ª Guerra Mundial.
Este desenrolou-se em duas fases, sendo que a primeira durou até 1942 e foi marcada pelo
avanço dos países do Eixo, isto é, a Alemanha, Itália e Japão. O seu avanço resultou do facto de
que estavam mais preparados para a guerra, com o reforço da sua industria militar, mas
também porque já tinham iniciado o seu processo de expansão, pelo que as suas tropas já
estavam preparadas. Foi uma guerra de movimento assente em exércitos motorizados e
dependentes do petróleo.
Nos primeiros meses de guerra, assistiu-se ao avanço imparável dos alemães por quase toda a
Europa. Em menos de um ano, a Europa continental caiu sob o poder alemão, tão rápida e
poderosa foi a sua ofensiva militar. Pela primeira vez é utilizada em larga escala a estratégia da
Guerra Relâmpago (blitzrieg). Durante a II Guerra Mundial, existiam duas grandes frentes. A
frente oriental iniciou-se com bombardeamentos maciços realizados pela aviação (luffwaffle) a
Varsóvia (primeira capital europeia a conhecer as agruras do bombardeio aéreo). Os alemães
tencionavam conquistar o território polaco rapidamente, antes que as chuvas de outono
tornassem os movimentos mais difíceis e que os franceses pudessem atacar a oeste.
Os comandantes polacos esperavam poder resistir aos ataques alemães até que a ofensiva
francesa, com a qual contavam, fizesse recuar as tropas alemãs. Face a esta invasão, a
Inglaterra e a França enviam ultimatos, exigindo a retirada imediata das forças alemãs do
território polaco - dando-lhes um prazo de vinte quatro horas - findo os quais
automaticamente se declarariam em guerra com a Alemanha. A 3 de Setembro, chegam à
Chancelaria alemã as declarações de guerra. Apesar dos esforços, os polacos não têm
condições de deter a poderosa máquina militar germânica. Em apenas três semanas, a Polónia
caiu em poder dos alemães, acabando por se render incondicionalmente.
A Frente Ocidental foi a segunda maior frente e mais importante durante a II Guerra Mundial.
Em abril de 1940, capitulavam a Dinamarca e a Noruega; em maio, deu-se a invasão da
Holanda e da Bélgica, por onde se processou a entrada em França, cuja capital cedeu ao
avanço triunfante dos alemães, em meados de junho. Em pouco mais de um mês,
praticamente todo o território francês estava ocupado pelos nazis.
Em junho de 1941, a guerra sofreu, pois, uma mudança radical. Hitler rompe o pacto germano-
soviética e as forças armadas deram início à invasão da URSS. Os alemães não estavam
interessados em conquistar grandes cidades russas, queriam apenas alcançar grandes zonas
petrolíferas dentro do território para assim controlarem o petróleo russo. Era uma região
estratégica, pois dava ligação ao Mar Cáspio e ao Médio Oriente. Se chegassem a esta zona,
teriam praticamente tudo sob controlo.
Face a esta invasão, os russos sabiam que tinham algum tempo até que os alemães
chegassem, e por isso prepararam tudo (transferiram grande parte das suas unidades
industriais para as zonas circundantes, centrando a sua defesa na zona do Mar Cáspio, em
Estalinegrado, onde estavam as reservas petrolíferas..A 17 de Julho de 1942 deu-se a Batalha
de Estalinegrado. O exército alemão promove investidas sobre o Cáucaso para ganhar mais
território. No entanto, vêem-se cercados pelos soviéticos e rendem-se em Estalinegrado. Esta
batalha constitui assim o primeiro ponto de viragem nesta guerra, colocando em causa a
hegemonia alemã consolidada até à altura.
Entretanto, em 1942, a Líbia e o Egito caem em poder dos alemães. A guerra no Mediterrâneo
intensificava-se com a ocupação do Norte de África pelos exércitos nazis, com o objetivo de
defender o Sul da Europa de uma possível invasão por parte da resistência aliada, que acabou
por suceder. Quando os EUA entraram em Guerra, desembarcaram em África e obrigaram a
Alemanha a recuar. Os alemães recuaram tanto que acabar por se dispersar de África,
regressando à Guerra na Europa. Até 1942 não havia praticamente coordenação nenhuma
entre os aliados. A partir deste momento os soviéticos exigiram que os americanos abrissem
frentes na Europa. No final de 1942, a guerra estendia-se a todo o mundo.
Todavia, a partir de 1943, começa a derrocada do Eixo. Os alemães são derrotados no Norte de
África por tropas americanas e inglesas, iniciando-se a invasão aliada da Sicília, que foi
reconquistada em julho desse ano. Em julho de 1944, os aliados entraram em Roma.
No Mediterrâneo, o avanço dos alemães contava com o apoio dos exércitos de Mussolini e
com a ascensão, por toda a Península Balcânica, de regimes conservadores. Muitos deles, sob
pressão de Hitler, integraram também o Eixo Berlim-Roma-Tóquio, entretanto constituído
pelas potências totalitárias. Portanto, sem sólidos apoios no Sul da Europa, a força aérea
inglesa, obrigada a utilizar as bases no Egito e na Líbia, encontrava grandes dificuldades em
suster a iminente entrada dos Alemães no Norte de África.
Outro ponto de viragem, agora no Pacífico foi a orientação do Japão para a conquista dos
territórios do Sudoeste Asiático sob a influencia das potencias europeias ou dos EUA. Com
estas invasões, os EUA deixaram de comercializar petróleo com o Japão e na sequencia disto,
os japoneses destruíram a frota americana no ataque a Pearl Harbour. Este ataque assinala o
momento que provocou o envolvimento imediato dos EUA no conflito, ao lado das
democracias europeias. O Japão invadiu o Havai por forma a estes não se conseguirem
defender; assim, os japoneses poderiam ocupar os territórios asiáticos pertencentes à
Holanda, França, Inglaterra e Portugal.
A participação norte-americana na guerra era, até então, indireta já que preparavam os seus
exércitos e armamentos nas suas bases localizadas em pontos estratégicos do planetaO
conflito estendia-se, agora, ao Pacífico e ao continente asiático, onde os japoneses, graças às
suas ofensivas militares, vinham edificando um poderoso império que era governado por um
autoritário imperador e que lhes assegurava o controlo de ricas fontes de matérias-primas
essenciais para a sua indústria e, ao mesmo tempo, o domínio de importantes áreas
estratégicas que se estendiam da Manchúria até à Oceânia. Perante o ataque ao aliado
asiático, Hitler declara guerra aos EUA.
O contra-ataque americano fez-se em duas frentes: contra o Japão, mas também contra as
potências do Eixo-Roma-Berlim, apoiando os europeus. Para tirar os exércitos alemães da
Rússia e distribui-los pela Europa, os EUA foram fazendo desembarques na costa africana,
tendo derrotado os alemães no Norte de África em 1943, e mais tarde, a Itália.
O primeiro dos acordos firmados entre a Rússia (Josef Stalin), os EUA (Franklin Roosevelt) e a
Inglaterra (Winston Churchill) ocorreram no ano de 1943, em Teerão. Além de lançarem bases
quanto às definições de partilhas, decidiu-se que as forças anglo-americanas interviriam
conjuntamente com as forças orientais soviéticas na França, completando o cerco de pressão à
Alemanha (dia D). Deliberou-se ainda sobre a divisão da Alemanha e as fronteiras da Polónia
ao terminar a guerra, além de se formularem propostas de paz com a colaboração de todas as
nações. Os Estados Unidos e o Reino Unido reconheceram, ainda, a fronteira soviética no
Ocidente, com a anexação da Estónia, da Letónia, da Lituânia e do Leste da Polónia.
Numa fase inicial, os americanos queriam que os soviéticos declarassem guerra ao Japão. Para
facilitar a ocupação do terreno nipónico, pretendiam esta intervenção já em 1945., e apesar do
tratado de não agressão que a URSS tinha com o Japão, iniciaram a conquista da Coreia, mas
os EUA não queriam que fosse a URSS a chegar ao Japão e conquistá-lo, No final da
conferência, os americanos tinham completamente preparada a bomba atómica. Por esta
razão recuaram nas suas pretensões para com os soviéticos. Perante a resistência já irracional
dos japoneses, os americanos, numa demonstração da sua força como superpotência, lançam
em agosto de 1945 bombas atómicas em Hiroshima e Nagasaki. Ao Japão nada mais lhe
restava senão render-se. A 17 de agosto de 1945, o Japão (última nação da aliança do Eixo a
render-se) assinou a sua rendição incondicional. As armas nucleares eram usadas na guerra.
Terminava, portanto, a Segunda Guerra Mundial. Os EUA ocuparam o Japão e metade da
Coreia, ficando com o Sul, e a URSS ficou com o Norte da Coreia.
Com o fim da I GM, as potências mundiais aproveitaram para consolidar as suas ocupações e
previa-se que este período de entendimento e Paz estava para durar. O período entre guerras
foi, aliás, uma época de apogeu para as potências coloniais (representavam cerca de 42% do
planeta). Foi nesta altura que a SDN fez mais considerações relativas às colónias: havia
impérios que iam ser dissolvidos e havia que integrar as suas colónias como mandatos noutros
impérios, nos vencedores. Portanto, para as potências com territórios coloniais, a crise colonial
havia terminado.
No final da IGM, a Europa perdeu o estatuto de centro do poder mundial. Portanto, era de
prever que tivessem existido perturbações nos impérios coloniais. As colónias começaram a
obter um maior poder reivindicativo. As colónias foram, de uma certa forma, industrializadas e
começaram a produzir. As potências europeias travaram guerras nas colónias, usando grandes
quantidades de recursos materiais. De resto, as metrópoles fizeram grandes requisições de
tropas coloniais. Estando as condições políticas das colónias mudadas, o carácter nacionalista
das mesmas foi desenvolvido, o que fez com que estas se opusessem ao retorno ao status quo
existente antes da guerra.
Mas a II Guerra Mundial foi muito mais séria - a crise foi definitiva. A correlação de forças
entre a metrópole e as colónias alterou-se profundamente, pois algumas metrópoles e
colónias foram ocupadas pelo inimigo. Com o final da IIGM, origina-se o colapso material dos
países europeus. Como não tinha liquidez para a manutenção dos impérios coloniais,
dependiam das exportações americanas. A perda de importância das outrora potências
mundiais, que agora estavam arruinadas, causou o fim desses impérios coloniais. Isto levou à
reconfiguração dos territórios a nível geográfico. Neste processo decorre o surgimento de
novos países.
As potências europeias que outrora tinham muito poder no panorama internacional, estavam
agora completamente falidas e decadentes. Por isso, tornou-se difícil manter as áreas de
influência que estes detinham antes da guerra. Todos os países beligerantes acabaram a
guerra destruídos e arruinados, numa escala muito maior que a IGM. O grande problema era
descobrir como é que a recessão do pós-guerra podia ser evitada.
Inglaterra e URSS tentaram negociar o crédito. Nas suas cimeiras com os EUA, discutiram-se a
recuperação europeia e o pós-guerra. Entre 1945 e 1947 verificou-se que a Europa necessitaria
muito mais de créditos a curto prazo e que os americanos não se interessavam com muitos
acordos bilaterais. Recorde-se que os EUA tentavam evitar uma recessão, pois isso teria um
forte impacto sobre a sua economia. Os EUA necessitavam cada vez mais da Europa como
mercado. Mas, com a IGM, aprenderam que uma potência colonial não poderia sobreviver
num espaço económico fechado.
Os EUA verificaram que já não lhes interessavam acordos bilaterais devido ao que aconteceu
depois da I GM. Preocupados com a recessão e com as necessidades de reconstrução da
Europa, os EUA fizeram uma grande pressão para que os acordos fossem feitos multinacional e
não bilateralmente, Isso implicaria naturalmente uma abertura da Europa e dos mercados
coloniais (um prolongamento dos espaços económicos nacionais). Portanto, era necessário
levar os países europeus a encontrarem empresas para gerir estes fluxos de capitais
americanos.
Com a derrota do Eixo, vieram ao de cima os antagonismos ideológicos que tinham sido
esquecidos durante a IIGM. Designou-se por Guerra Fria o ambiente de tensão que
caracterizou as relações entre os governos americanos e soviéticos, desde o final da IIGM em
1945 até à dissolução da URSS em 1991. Diz-se guerra fria porque os países se abstiveram de
recorrer diretamente às armas. Utilizavam formas de propaganda ideológica, faziam corridas
ao armamento, organizavam ações de espionagem, etc…
Os EUA, fazendo uso da sua posição de força, obrigaram os estados europeus a organizarem-se
de uma forma multinacional (ou multilateral). Defendiam um regime político democrático-
liberal e uma economia inspirada no modelo capitalista. Por seu turno, a URSS estava numa
posição de força político-militar. Defendia um regime socialista do centralismo democrático e
uma economia coletivizada e planificada. Além disso, tinha uma força político-militar muito
forte. Devido ao facto de os Estados Unidos não quererem acordos bilaterais e como sabia que
lhe iriam pedir contrapartidas político-militares enormes e que se fosse originado um grande
investimento nos países ocupados por eles, isso iria acarretar problemas, a URSS não estava
disposta a negociar com os EUA e criou uma enorme barreira entre os estados soviético e
americano.
É importante referir que ainda o fim da guerra estava longe de todas as previsões, já as forças
democráticas ocidentais representadas pela Inglaterra e EUA revelavam as suas preocupações
relativamente à definição do novo quadro geopolítico do mundo pós-guerra, perante os sinais
expansionistas evidenciados por Estaline.
As sucessivas conferências realizadas à medida que a derrota do Eixo se ia confirmando como
uma questão de tempo, apesar dos acordos conseguidos, não conseguiam esconder a divisão
do mundo em áreas de influência antagónicas, tanto quanto o eram os interesses
geoestratégicos e políticos das novas potências aliadas.
Em 1947 entram em vigor os Tratados de Paz elaborados ainda durante a IIGM. O novo
traçado da Europa não conseguiu esconder a divisão do velho continente em duas áreas
perfeitamente delimitadas, dois blocos (ideológicos, políticos e económicos) antagónicos: a
ocidente, uma Europa atlântica destruída, incapaz de rivalizar com as duas novas
superpotências, e reconstruída graças às ajudas económicas dos EUA (que abandonam a sua
política isolacionista e reforçam o seu papel no cenário político mundial) em cuja esfera de
influência acabará por cair; a leste uma Europa também destruída, liberta da ocupação nazi
graças à ação do Exército Vermelho e onde governos comunistas ascendem ao poder.
Para coordenar os fundos do Plano Marshall, organizou-se uma conferência em Paris, tentando
organizar os fundos americanos para a reconstrução europeia. O Plano Marshall não só
contribuiu para a recuperação dos países da Europa ocidental, como também reforçou os laços
entre os mesmos. Os EUA também beneficiaram da sua implementação: contiveram o avanço
comunista e conseguiram incluir na sua área de influência uma Europa dependente e em
recuperação, consumidora dos excedentes da sua próspera indústria.
Estaline enviou uma grande delegação a Paris para discutir a participação soviética. Depois
retirou-a e proibiu os países sob sua alçada de aceitar a ajuda, que era oferecida a qualquer
país que a solicitasse, Estaline reagiu ao Plano Marshall reforçando o seu domínio onde quer
que fosse possível. Criou o Kominform (Secretariado de Informação Comunista, 1947: tinha
como objetivos promover a troca de informações e dirigir a ação dos partidos comunistas sob
orientação soviética, assim como exercer um maior controlo sobre os países de Leste,
reforçando a hegemonia soviética nessa parte da Europa), bloqueou a zona ocidental da
cidade de Berlim e formou o COMECON (Conselho para Assistência Económica Mútua, 1949.
Decorrente do Plano Molotov, procurava constituir uma resposta direta ao Plano Marshall:
procurava promover a cooperação económica do Leste europeu e exercer um controlo
económico mais apertado sobre os países satélites).
Entre 1945 e 1949, os EUA apareceram como uma potência “super imperialista” numa época
de necessidade e de carência económica e produtiva. Por outro lado, viam agora nascer um
novo rival económico e ideológico, capaz de contaminar a Europa que se encontrava em
ruínas, e, por isso, havia uma grande preocupação em conter o avanço da esfera soviética.
Com o Plano Marshall, os EUA conseguiriam ver quais os países que poderiam servir de aliados
e também encontrar destinos de exportação de capital. Os americanos não podiam abdicar da
economia japonesa e foi, então, criado o Plano Dodge, com as mesmas características do
Marshall, para desenvolver o Japão e para exportar o capital americano.
Entretanto, a Conferência de Ialta permitiu decidir o que iria acontecer aos impérios coloniais.
É aqui que vemos a hegemonia dos Estados Unidos e da URSS. As directrizes afirmadas nesta
reunião determinaram boa parte da ordem durante a Guerra Fria, precisando as zonas de
influência e ação dos blocos antagónicos, capitalista e socialista. O anticolonialismo foi a
política adotada pelas potências após a IIGM, em 1945, porque era inadmissível que países
como França e Inglaterra, oprimissem colónias africanas e asiáticas, quando juntas lutaram
contra o nazi-fascismo. Essa prática foi amplamente apoiada pelos EUA e pela URSS
(interessados em áreas de influência), movidos pela Guerra Fria.
Os Estados Unidos eram a potência mais anticolonial, pois desejavam abrir os mercados
coloniais e conquistar novos mercados, quebrando a barreira protecionista imposta pelas
metrópoles. Eram contra a colonização, favoreciam a autodeterminação dos povos.
Concederam a independência às Filipinas, Porto Rico e Cuba, fruto da sua política anticolonial.
Os Governos de Nixon e Roosevelt praticaram e fizeram cumprir medidas descolonizadoras. No
entanto, na prática também esta posição não foi permanente, havendo mesmo situações em
que punham o anticolonialismo de lado. Em situações de países que eram seus aliados e não
tinha problemas com a abertura do seu mercado colonial (Inglaterra, França e Portugal), foi
permitida a manutenção dos seus impérios coloniais, pois estes não estavam fechados aos
capitais americanos e alinhavam-se com a política americana. Tornavam-se, portanto,
favoráveis à existência de impérios coloniais. Mas esta posição americana não foi permanente
nem intransigente.
A URSS ocupava também uma política anticolonial, mas ao mesmo tempo não queria estragar
as relações que tinha com os outros países. Nos anos 20 tinha discutido a questão colonial, e
uma maneira de dar resposta às guerras civis dentro do seu território era levar a corrente
comunista a esses governos, pelo que a URSS apoiou também partidos comunistas aquando
das eleições em países asiáticos. No entanto, caso houvesse outros movimentos com maior
hipótese de sucesso, era esses que a URSS apoiava. Os soviéticos tinham o facto de outros
países não terem a situação política definida para não fazerem muita pressão anticolonial.
Eram países com colónias, mas que hesitavam sobre o que fazer em termos de blocos. Um dos
exemplos é a Itália. Neste contexto, os soviéticos não queriam tomar uma postura anticolonial,
para não empurrar os países para fora da sua área de influência.
Outras organizações anticolonialistas passam pela Liga Árabe. Alguns territórios árabes que
estavam entregues a potências europeias sob forma de mandatos, passaram a ter
independências fictícias – a maioria sob o poder de Inglaterra. A Inglaterra teve a ideia de
formar uma organização para integrar esses estados “livres”
Em terceiro lugar, há o caso da OUA (Organização da Unidade Africana) criada em 1963, mas
não foi um acelerador da descolonização. Os novos estados africanos, quando foram
declarados independentes, decidiram manter as fronteiras que haviam sido definidas pelas
potências que as exploraram até aí. Isto aconteceu, porque caso mudassem as fronteiras, iriam
desencadear um conjunto de conflitos entre os países africanos. Alguns deles acederam à
independência com maiores territórios, mas, para evitar esses conflitos, a OUA declarou que
as fronteiras coloniais seriam respeitadas e mantidas.
Por fim, o Movimento dos Não Alinhados. Foi um fenómeno acentuado nos anos 50 e
desenvolveu encontros regulares para servir de contrapesa às mais poderosas metrópoles. A
sua criação remonta à Revolução Russa: muitas das populações asiáticas que tinham sido
conquistadas pelos bolcheviques decidiram organizar uma assembleia – Congresso do Médio
Oriente – em 1920. Isto deu origem a outras reuniões e congressos que viriam a motivar o
MNA. Este era formado por estados asiáticos e africanos, por países recém-emancipados da
dominação colonial e que tinham em vista a denúncia e condenação do colonialismo. Mas
muitos dos Estados ainda não eram independentes. Quando se deu a independência de muitos
desses, criou-se um esboço para a primeira conferência: Asian Relations Conference, na Nova
Deli, mesmo antes da independência da Índia. Importa ressalvar que aquele dito Movimento
dos Não Alinhados surgiu em 1955, na Conferência de Bandung, com estados, como já referi,
independentes.
Como uma das consequências da II Guerra Mundial foram o fim dos Impérios
Coloniais, iniciou-se assim a época das descolonizações. Estas descolonizações formais foram
constituídas por 3 vagas:
A Índia era um território complexo, com muita diversidade cultural, política e económica.
Em meados do século XIX, praticamente todo o território indiano estava sob administração
inglesa, uns sob administração direta e outros através do Rajput (os Rajás governavam mas
atendiam à Inglaterra). Era uma manta de retalhos fiscalizada pelos ingleses, pois estes
controlavam a política externa e o essencial da política interna. Quase metade do rendimento
líquido indiano era canalizado para a Inglaterra. O mercado estava protegido por ela.
Antes da I Guerra Mundial, o governo Inglês até chegou a fazer algumas concessões às regiões
indianas, como a participação de conselheiros locais nos conselhos governativos. Mas isto era
compensado com o aumento de impostos sobre a população. Como não houve uma grande
abertura política, o partido reorganizou-se e passou a ter uma implantação popular enorme.
Depois da Guerra, apareceu uma terceira corrente, a de Ghandi, que consistia em usar a
tradição indiana para se conseguir alcançar a modernidade. Ghandi começou a lançou famosas
campanhas de dinamização popular que eram uma tentativa do partido ganhar apoio popular
e pressionar os ingleses para obter concessões políticas. O seu objetivo era tornar a Índia
numa nação independente. Para tal, efectuou campanhas de rebeldia, em que deixaria de
pagar impostos, sendo esta a principal fonte de rendimento dos ingleses. As elites locais iam
criando uma burguesia nacional. Mas isto era insuficiente para que as metrópoles fizessem
concessões políticas.
O Partido do Congresso reorganizou-se e passou a ter uma orientação popular muito maior,
começando a fazer pressão sob a administração inglesa para lhes concederem poderes
políticos.
O conflito entre estes dois Estados persiste na atualidade, sobretudo, motivado pela disputa
do território de Caxemira, pois a Índia queria anexar esta região, mas o Paquistão não
concordava (o Rajá escolheu a Índia, mas 75% da população do Estado era muçulmana,
querendo, portanto, integrar o Paquistão). Este conflito vai estar na origem de 4 Guerras Indo
Paquistanesas entre a Índia e o Paquistão, que só foram apaziguados pela ONU. Uma das
razões que levaram a estas guerras foi o facto de se encontrarem em jogo potências nucleares,
que criaram conflitos que se estendem até ao século XXI.
Colónia holandesa desde o século XVII, o vasto arquipélago indonésio foi ocupado pelos
japoneses durante a II GM, dada a sua riqueza em matérias-primas. O Japão teve um grande
efeito dissolvente na Ásia colonial e queria estimular o nacionalismo local, de modo a que a
região indiana se pudesse desligar das antigas metrópoles. Para tal, conseguiu o apoio de
homens importantes (pertencentes a algumas elites) com a promessa de independência –
1945. Aparecia como libertador do colonialismo ocidental, embora tenha feito recrutamento
de capital humano para força de trabalho e de guerra.
Os holandeses haviam criado uma burguesia nas ilhas, composta maioritariamente por
muçulmanos. Também formou um movimento – Sarekat Islam; o nacionalismo foi influenciado
pela URSS – Partido Comunista Indonésio, que evoluiu para o Partido Nacional, fundado por
homens influentes: Hattar e Sukarno.
Os laços de união entre a Holanda e a Insulíndia encontravam-se num ponto tal por esta altura
que, dois dias depois da capitulação do Japão, os nipónicos não cumpriram a promessa, pelo
que a Indonésia alcançou a independência sozinha e instaurou a república em agosto de 1945.
Depois, os japoneses tentaram recuperar algumas ilhas, mas já que eram independentes, os
indonésios não o permitiram. No entanto, acabaram por ceder-lhe algumas ilhas para que
tivessem acesso a matérias-primas.
Claro que a potência colonial não aceitava de bom grado esta situação. Argumentando que a
ocupação japonesa não lhe fizera perder os direitos na região, a Holanda protestou e
empreendeu uma série de negociações que conduziram, em julho de 1946, à conferência de
Malino, onde foram lançadas as bases de uma Indonésia federal e aliada da Holanda. Mais
tarde, a Holanda reconheceu a independência dos povos indonésios, aceitou a criação de um
Estado federal soberano, sob a direção de um soberano holandês. Em 1947 a Holanda realiza o
policiamento do território e o objetivo dos ataques holandeses, que resultam no controlo de
dois terços de Java, era o controlo das zonas petrolíferas de Sumatra, reocupando o território,
em 1950.
Entre estes territórios e a Birmânia, estava um outro que nenhuma das potências havia
ocupado: o Sião (actual Tailândia), que serviu de “tampão” entre uma zona e outra.
A ocupação japonesa podia também ter impedido o Movimento Nacional VNKD que,
como não conseguiu o apoio do Japão para alcançar as suas reivindicações, juntou-se à URSS
que apoiou os “rebeldes”. A URSS, que já tinha expandido a sua política soviética por parte da
Ásia na Mongólia (1924), na Coreia do Norte (1948) e na China (1949, onde arranjou um
agradável parceria com Mao Tsé-Tung), vê agora a possibilidade de estender o comunismo
aliando-se a Ho Chi Minh na conquista da independência neste território do Sudeste Asiático.
Após o Japão ter reconhecido a derrota na guerra em 1945, a França retoma a soberania do
território, mas defronta-se com uma forte oposição liderada pelo comunista Ho Chi Minh, que
declara o território vietnamita independente no mesmo ano. De resto, os EUA, juntamente
com as forças francesas, apoiaram o Movimento que, em 1945, declarou a independência e a
República do Vietname.
No entanto, este partido era instável, uma vez que provocada a unificação indesejada de
outros territórios circundantes, que continuavam a ser colónias francesas, no entanto, a
França não aceitou. . Os EUA, que sempre se declararam anticolonialistas, não queriam que o
Movimento Nacionalista invadisse a área colonial francesa, e tudo fizeram para que isso não
acontecesse. Mas tal não aconteceu. Houve uma violenta guerra civil entre 1946 e 1954 (a
Guerra da Indochina). Aliás, as políticas dos franceses e dos vietnamitas eram inconciliáveis, já
que a França queria restabelecer o regime colonial. Os EUA intervieram e envolveram-se na
Guerra, pelo lado da França, não querendo igualmente a independência do Vietname. Já os
vietnamitas eram representados pelos nacionalistas (apoiados por chineses e soviéticos). A
guerra foi perdida pelos franceses e mais tarde realizou-se uma conferencia que originou 4
países distintos: o Vietname do Norte, que seria independente e com o apoio da China e dos
Soviéticos, e o do Sul, dirigido pelos EUA e pelo antigo imperador; e ainda Laos e Camboja
Esta guerra terminou quando os EUA uma conferência internacional em Genebra em 1954. O
território do Vietname, marcado pelas elevadas divergências ideológicas, dividiu-se
oficialmente em duas zonas distintas: Vietname do Sul, que seria regido pelos EUA e liderado
pelo antigo imperador Bao Dai; e Vietname do Norte, que seria independente, controlado
pelos nacionalistas e chefiado até 1969 pelo comunista Ho Chi Minh. A Indochina via assim
nascer três novas nações: o Vietname, o Laos e o Camboja (estes dois últimos ficaram
neutros). Após a Conferencia a guerra continuou, mas agora sem os franceses, ou seja, o
Vietname contra os EUA, no entanto estes últimos não conseguiam sustentar o Vietname do
Sul e abandonaram o território, que depois se uniu com o Vietname do Norte.
A descolonização da Ásia durou de 1947 até 1954, e foi a partir destes conflitos houve
uma crescente preocupação da ONU em intervir nas seguintes descolonizações.
A partir do séc. XVI, a Coreia foi alvo de incursões estrangeiras: China, Japão, Rússia e
potências ocidentais. A partir do séc. XX, o Japão tornou-se dono da península da Coreia,
anexando-a definitivamente em 1910. Como resposta a este ato, formou-se, em seguida, uma
resistência nacionalista contra a ocupação japonesa.
Durante a 2ªG.M., essa resistência foi liderada por comunistas, com o apoio da URSS.
Isso fez com que os aliados aprovassem e apoiassem a Independência da Coreia. Quando o
Japão abandonou a Coreia, em 1945, os americanos pretendiam que os soviéticos declarassem
guerra à China, o que levou à sua instalação na Manchúria. Os dois grandes vencedores, os
EUA e a URSS, optaram por ocupar e dividir a Coreia até que fossem realizadas eleições e o
povo decidisse livremente o seu destino. Cada parte da Coreia realizou eleições. No território
controlado pelos soviéticos venceu o partido comunista, enquanto no Sul, controlado pelos
norte-americanos, venceram os liberais. O pretexto era garantir a liberdade da Coreia,
eliminando-se por completo a presença japonesa.
O acordo era que, depois das eleições, as tropas soviéticas e americanas retirar-se-iam.
As forças de ocupação da URSS saíram em janeiro de 1949, deixando ao governo do norte um
significativo arsenal de armas. No entanto, os americanos permaneceram no território, pelo
que os norte-coreanos exigiram a retirada dos norte-americanos do território sul. Como estes
não o fizeram, iniciou-se uma campanha militar. Três dias depois, os norte-coreanos
conseguiram ocupar Seul, capital do sul.
A URSS pensou que os EUA não iam defender a Coreia do Sul, porque o secretário de
Estado da administração Truman tinha definido, no início de janeiro de 1950, as zonas de
defesa da política da contenção, ou seja, Estaline concluiu que os norte-americanos iriam
deixar essas zonas ao domínio soviético. Mas, contrariamente ao que o líder soviético tinha
pensado, Truman autorizou as suas tropas a apoiar a Coreia do Sul. Apesar disso, a ação militar
teve limites. O presidente norte-americano estava preparado para conter o avanço comunista,
mas não estava pronto para uma guerra atómica.
Até à I Guerra Mundial, grande parte do Médio Oriente estava sob o poder do Império
Otomano. Era uma divisão administrativa do Império Otomano, sendo gerida por governantes
locais e organizada em províncias cujas delimitações físicas eram mutáveis. Para os europeus é
uma expressão que representa a zona intermediária entre o Próximo Oriente (península
balcânica) e o Extremo Oriente (Coreias, Japão e China). Ao longo dos anos, o Império
Otomano perdeu alguns territórios e dividiu-se devido às potências imperialistas,
nomeadamente a França e a Inglaterra. Nas vésperas da IGM, este império englobava uma
parte maioritariamente de língua turca e compreendia todas as regiões árabes. A Alemanha
era a potência com mais influência na política otomana. Portanto, era inevitável que o Império
Otomano entrasse na IGM ao lado da Alemanha. Isso acabou por trazer várias complicações.
Os ingleses também estavam interessados em zonas do Império Otomano uma vez que este
tinha petróleo e estava perto do canal do Suez.
Os ingleses (instalados no Egito desde o século XIX), para abrir uma frente militar na guerra,
pensaram nas elites árabes que se manifestavam contra a independência do Império
Otomano. Os aliados exploraram esta situação e, em 1916, é organizada a Revolta Árabe
contra o Império Otomano. Os ingleses convenceram o xerife Sharif Hussein e os Hashemitas
para organizar, fomentar e dirigir uma revolta dentro do próprio Império Otomano, com a
promessa de que no final da guerra toda aquela zona seria um califado árabe. Era a primeira
promessa inglesa para levar os árabes a lutar contra os otomanos. Os otomanos acabaram por
ser expulsos.
O movimento sionista ganhou novo alento, em 1917, com a Declaração de Balfour, mediante a
qual o governo britânico apoiava o estabelecimento de um território judeu autónomo na
Palestina. Com isto, a Inglaterra procurava ganhar mais apoio para a IGM. No entanto, nenhum
destes acordos era compatível com os outros.
A solução foi cumprir o que era possível (com base no Tratado de Versalhes), por
forma a manter todos os envolvidos satisfeitos. No final da IGM, do acordo Sykes-Picot, surgiu
a criação de pequenos estados, ao invés de duas grandes zonas: a Inglaterra ficava com o
Iraque (englobava duas grandes reservas de petróleo, uma a norte [curda] e outra a sul [xiita],
o que levou ao estabelecimento de uma fronteira com a Turquia) e com a Transjordânia.
Dentro da zona francesa, os ingleses tinham prometido o reino árabe. A Síria ficou sob
administração francesa, tal como o Líbano (novo Estado criado e que mesclava bastantes
religiões).
A região entre a Península do Sinai, o Líbano, a Síria e a Transjordânia era uma zona
bastante problemática. Entre 1919 e 1920, criou-se a Palestina, que ficou com o estatuto de
mandato da SDN, confiado aos ingleses. Na Arábia Saudita, os saudis derrubaram os axumitas
no final dos anos 20.
Com isto, a criação de um grande Império Árabe foi anulada. Para manter todos
contentes, os Ingleses cederam o reino da Transjordânia e o Iraque aos filhos do Xerife de
Meca, família Hussein. A Inglaterra esperava que estas dinastias ficassem pró-inglesas,
juntamente com as dinastias da Arábia, que foram mais tarde substituídas pela família Saud.
Optaram, então, por criar dois Estados, um para os árabes e outros para os sionistas, o
que pôs fim ao mandato britânico. Esta solução política foi muito difícil de pôr em prática: a
zona árabe ficava separada em dois territórios no meio de todo o território judaico. Esta
solução não era aceite por ninguém – os árabes não queriam a divisão da Palestina e judeus
não queriam a coexistência com um Estado árabe. (Zona Árabe – actual Cisjordânia + território
conhecido Faixa de Gaza).
Os árabes palestinianos não aceitaram esta votação, dado que não estavam lá representados e
dado que uma grande parte do território iria ficar sob domínio dos emigrantes. O clima de
tensão política multiplicou-se e os Estados árabes, que entretanto foram criados, declararam
guerra ao futuro Estado de Israel. Isto originou a primeira guerra israelo-árabe, em 1948.
A guerra não foi justa para ambas as partes, já que os sionistas tinham o apoio dos EUA
e possuíam treino militar profissional, enquanto as tropas árabes eram muito mais fracas em
armamento e inteligência militar.
Desta guerra resultou um fenómeno irreversível e que é algo em vigor ainda hoje:
expulsão da população árabe do território da Palestina. Cerca de 700 mil palestinianos árabes
foram recambiados para campos de refugiados.
Segue-se uma série de guerras de curta duração, a Guerra do Suez, em 1957; a Guerra
dos Seis Dias, em 1967; a Guerra do Yon Kipur, em 1973, em que os exércitos israelitas
impõem pesadas derrotas aos desorganizados e mal preparados exércitos árabes e
acrescentam novas áreas ao Estado de Israel.
Os ingleses ocuparam o Egito em 1882, como estratégia para chegar à Índia. Depois da
Guerra, e dada a situação inglesa, a Inglaterra teve de fazer concessões aos egípcios, a nível
político. O movimento nacionalista egípcio ganhou a maioria da assembleia legislativa local.
Perante o exílio do líder do partido, o país levantou-se na primeira revolta da sua história
moderna. As constantes rebeliões por todo o país levaram a Grã-Bretanha a proclamar,
unilateralmente, a independência do Egipto, em 1922. Declarou-se terminado o protectorado
e deu a independência nominal ao país. Foi criado um reino, governado pelo Rei Fuad I.
Em 1952, a Inglaterra já não tinha a Índia, mas o controlo do Canal do Suez continuava a ser
importante, já que era por lá que passava o petróleo vindo do Médio Oriente. Os Ingleses já
não tinham possibilidades para manter o Canal, mas fizeram uma proposta ao Egito para
continuar a controlá-lo. Em 1956 os ingleses deram a independência ao Sudão, e criaram um
governo controlado por eles, pois além do Sudão ser muito importante por causa do Nilo que
percorre o Sudão até aos Grandes Lagos, foi uma forma de pressionar e de prejudicar o Egipto.
Nasser aumentou muito a sua base de apoio, porque tinha uma visão de
desenvolvimento do país. Levou a cabo uma reforma agrária, projecto que fez com que a junta
militar ganhasse muita popularidade entre os nacionais e, até mesmo, estrangeiros. Em 1957,
dá-se a Crise do Suez e isto foi o que deu mais visão a Nasser para o projecto de
desenvolvimento do país. Nasser queria melhorar a agricultura e desenvolver a Indústria. A
agricultura egípcia estava muito dependente das cheias do Nilo e também a Indústria poderia
vir a depender muito do rio, através da criação de electricidade gerada por uma barragem. Era
para essa infraestrutura que Nasser precisava de adquirir recursos e empréstimos – podia
pedir ajuda à Inglaterra, mas isso não seria fácil de obter dignamente. Os ingleses estavam de
saída, mas não queriam perder as suas posições no Médio Oriente. Influenciaram os
americanos a não emprestarem capital aos egípcios.
Além disso, também a França queria ver o Egito derrotado, já que o país dava apoio
aos Movimentos pela independência da Argélia. Havia também um grupo de irmãos
muçulmanos que queriam derrubar Nasser, e a Inglaterra sabia que o apoio destes dois seria
indispensável.
Para tentar derrubar Nasser, Inglaterra planeou uma ofensiva militar coordenada. O plano era
Israel fazer um ataque preventivo ao Sinal (Estado Egípcio) e formar um corpo expedicionário
franco-britânico; depois, com o pretexto de proteger o Canal, os franceses e ingleses
ocupariam o Suez. Israel invadiu, então, o Estado egípcio do Sinai e, três dias depois, os
franceses e os ingleses invadiram e ocuparam o controlo do Canal do Suez – 1956. Isto gerou
uma guerra política sem precedentes, a Crise do Suez.
Em 1957, dá-se a Crise do Suez e isto foi o que deu mais visão a Nasser para o projecto de
desenvolvimento do país. A tentativa de forçar o Egito a assinar um ultimato fracassou. Como
tal, os britânicos resolveram bombardear os campos aéreos egípcios. Os EUA viriam a entrar
nestes conflitos como aliados do Egito, já que não lhes convinha ser contra os árabes devido à
sua posição relativamente ao Médio Oriente. Confrontados com a possibilidade de os
soviéticos apoiarem os egípcios, os EUA patrocinaram o debate de uma resolução pacífica. Por
outro lado, aos ingleses não convinha entrar numa guerra nuclear com os EUA. O cessar-fogo
tornara-se inevitável pelo desgaste das forças britânicas. A 5 de Novembro os combates
cessaram, e no ano seguinte (1957) o primeiro-ministro inglês abandonava as suas funções,
perante uma derrota inequívoca. A Inglaterra e França perderam a sua influência, sendo
humilhados com a expulsão do Egito. Foi o fim da influência europeia no Médio Oriente,
consolidando a influência de Nasser. Israel ficou totalmente associado ao bloco ocidental,
havendo um aumento da influência dos EUA e da URSS.
Depois desta crise, Nasser saiu como herói dos árabes. Isto deu-lhes a esperança novamente
da criação de um grande Império Árabe no Médio Oriente, englobando agora o Egito (principal
país árabe).
A luta dos egípcios foi determinante para a descolonização do mundo africano, uma vez que
serviu de exemplo para países como o Sudão, que rapidamente se empenhou na conquista da
independência (1956).
A região da África do Norte vai desde Marrocos ao Egito. O Magrebe corresponde à parte
ocidental da África do Norte enquanto o Mashrek é o oriente. Marrocos e Tunísia eram
protetorados, o Egito era um condomínio e a Argélia era uma colónia.
A Argélia era a única colónia francesa – o resto eram protectorados. A França dizia que o
território argelino era uma extensão mediterrânica do território francês, tendo em conta o
clima e as condições idênticas.
Entre as duas guerras, esta região foi administrada sem grandes problemas (com a exceção do
Egito). Nos anos de 1930 havia já uma burguesia argelina, um Partido Popular Argelino
(apoiado pela URSS) e movimentos independentes (liderados por Messali Hadj e Ferhat
Abbas).
Com a colonização, a Argélia criou duas grandes cidades que baseavam a sua economia no
comércio de exportação: Argel e Oran. A FLN começou a tentar fechar as fronteiras ao exército
francês – começou a guerrilhar em finais de 1954: nesta altura, já a Tunísia e Marrocos
estavam em ambiente de guerrilha e os franceses resolveram escolher apenas um território.
Dado que a Argélia era a mais importante, a França decidiu desistir de Marrocos e da Tunísia,
concedendo-lhes a independência em 1956. É que os Franceses não podiam aguentar três
frentes militares.
. Os franceses tinham um grande interesse pelo facto de terem sido descobertas grandes
reservas de petróleo e gás natural na zona saariana da Argélia. Portanto, não estavam
dispostos a abdicar da Argélia sem as devidas contrapartidas.
A partir de 1954 (até 1962), os franceses começam uma guerra anticolonial na Argélia
(primeira grande guerra colonial em África, uma das mais violentas). A Argélia é, deste modo,
obrigada a enfrentar uma guerra prolongada de libertação em virtude da resistência dos
colonos franceses, que dominam as suas melhores terras.
A FLN tinha o apoio do Nasser e resolveu levar a guerra para as duas principais cidades: Argel e
Oran. Fizeram isto estrategicamente, para que os colonos (os franceses) não se pudessem
esconder nas cidades.
De Gaulle achava que a França tinha um problema com a imposição de poder. Foi à Argélia,
onde achavam também que ele era melhor hipótese para a satisfação dos interesses tantos
franceses quanto argelinos.. Nesta altura, a situação era caótica, tanto na Argélia como na
França. De Gaulle teve que ceder a algumas reivindicações da FLN, chegando a dar-lhes a
independência. O partido FLN venceu o MNA e, depois de muitos conflitos, a França teve que
reconhecer a independência da Argélia.
A independência foi negociada e concedida em 1962, sob algumas condições impostas por De
Gaulle: a França manteria as bases militares na Argélia – maioritariamente no Sahara e, sendo
a Argélia rica em gás natural, a França manteria o acesso aos depósitos. A Argélia tornou-se
independente e 10 anos depois nacionalizou o petróleo.
O continente africano possuía um grande peso nos impérios coloniais, pois praticamente todo
o território estava sob domínio colonial, especialmente a África Subsariana, que nos anos 60
continuava com territórios coloniais, ao contrário da África Ocidental que já tinha tido a sua
independência.
Entre os anos 60 e 70 sobrava apenas a África Austral por causa dos investimentos mineiros e
de uma comunidade europeia grande, como é o caso do Congo, Angola e África do Sul.
Durante a época colonial, o nível de investimento dos impérios coloniais era relativamente
baixo. Mas as áreas mineiras poderiam dar uma taxa de lucro superior a uma renda.
Em 1971, a situação de África era semelhante à de 1964. Ainda assim, foi na África Austral que
se deu a terceira fase das descolonizações. A situação não estava normalizada nas colónias
portugueses, na Rodésia e na África do Sul. Os territórios da África Austral são considerados
mais desenvolvidos. Eram zonas onde havia zonas mineiras, grandes investimentos externos,
população europeia e industrialização. Como suscitavam mais interesses e as metrópoles não
estavam dispostas a abdicar deles, existiram grandes obstáculos a um processo de
independência pacífico. Este foi, portanto, mais complexo e mais tardio do que os restantes
países de África.
À medida que era atribuída a independência a outros territórios africanos, na África Austral a
internacionalização de outros conflitos levou ao combate das presenças coloniais. A guerra
colonial dos portugueses com Angola, Moçambique e Guiné durou vários anos. Igualmente
surgiram conflitos desta índole na Rodésia e movimentos de guerrilha na África do Sul. De
resto, nos regimes brancos (português e sul-africano) havia uma maior dificuldade política em
os dissolverem. A superioridade militar dos governos coloniais manifestava-se, apesar de as
colónias não terem capacidade para alterar o status quo.
8- A emergência da China
A China localiza-se no Extremo Oriente e já no século XX era um território independente, mas
com dependência económica de outros países. Tinha uma elevada densidade populacional
baseada numa agricultura intensa, pelo que era maioritariamente um país agrícola, ainda que
a sua agricultura fosse de alto rendimento, e exportável para os países do Ocidente.
Até ao século XVI a China era um país fechado, com maioria camponesa mas uma pequena
elite nas cidades. O inicio do contacto com os povos europeus deu-se no século XVI,
destacando-se, por exemplo, o seu contacto com os portugueses. Numa fase inicial, a sua
abertura ao comércio europeu não trouxe grandes alterações ao quotidiano chinês, no
entanto, com a chegada dos ingleses o seu equilíbrio alterou-se, uma vez que estes tentaram
introduzir o comércio em massa do ópio, no qual os chineses não estavam interessados. Por
razões comerciais e para proteger a sua balança comercial relativamente excedentária, a China
impôs barreiras à importação de produtos europeus, mas os ingleses forçaram militarmente a
China a abrir os seus portos à importação de mercadorias, gerando assim as duas Guerras do
Ópio. No entanto, face à obrigação inglesa, deu-se uma revolta camponesa em 1850, a de
Taiping, que debilitou a China face aos países ocidentais. Estes eram bastante tradicionais, face
às dificuldades na modernização, começaram a pedir empréstimos aos ocidentais, até caírem
em dependência.
Ao mesmo tempo, a China não podia cobrar impostos, necessitando de pedir empréstimos aos
europeus. Ficava então com uma dívida, entrando num ciclo. Ao mesmo tempo, a Rússia e o
Japão foram entrando em áreas nortenhas da China e começaram a ganhar poder, o que
provocou um grande descontentamento, levando à guerra russo-japonesa em disputa do
território. A China atuava, portanto, como sujeito passivo. Embora a China não tivesse sido
uma colónia, ela esteve sob a influência do exterior durante parte do século XIX e XX.
Mesmo com esta “conquista” e com o enfraquecimento dos imperialistas após a IGM, a China
continuava a não resistir ao interesse dos estrangeiros, principalmente dos japoneses (cuja
posição imperialista saiu favorecida da guerra) e britânicos. Quase toda a interferência exterior
ainda se mantinha. Com isso, os membros do Kuo-Min-Tan tiveram de enfrentar a insatisfação
dos chefes militares e do Partido Comunista Chinês, então criado sob a influência da Revolução
Russa..
Foi neste contexto que se deu o Protesto Estudantil em Pequim, em 1919, onde estudantes
universitários chineses protestaram contra as resoluções do Tratado de Versalhes, que atribuía
terras chinesas ao Japão e concedia antigos territórios alemães na região aos japoneses. Esta
manifestação iniciou a revolução cultural na China, ou seja, a modernidade.
Destacou-se Chen Tu-hsiu que tentou modernizar e democratizar e se converteu na voz dos
movimentos reformistas chineses. Este era um membro do PC Chinês, que era mais aberto a
acontecimentos fora da China. Este pediu apoio ao Governo Soviético, que enviou conselheiros
militares e tentou reorganizar a República Chinesa do Sul, apoiando o Kuo Min Tang. Até 1927,
unificou toda a China do Sul e Centro e eliminou a maior parte do PC chinês. Destacou-se
Tchang Kai Chek, que se seguiu a Sun Yat Sem na liderança do partido nacionalista. Pelo
contrário, os dirigentes do PC Chines optaram pela adoção de uma nova estratégia e em vez de
se apoiarem na classe urbana, apoiaram-se nos camponeses, a verdadeira força trabalhadora
da China. Este foi liderado por Mao Tse Tung, que criou ma República nas regiões rurais.
Na década de 30, o Kuo Min Tang procedeu a um conjunto de medidas para incentivar a
modernização e democratização, tais como a abertura a capitais estrangeiros, a criação de
industrias no litoral, sem mexer na agricultura nem nos camponeses. Esta modernização não
incidiu na agricultura, e por essa razão não obteve o apoio da grande messa: os camponeses, o
que poderá ter sido uma das razões para o fracasso desta tentativa de modernização. Nesta
altura, limpou as bases do PC, que foram obrigados a entrar na clandestinidade e a procurar
refúgio nas montanhas do Sul da China onde organizaram diversas células de intervenção local.
Ao longo dos anos, a população chinesa foi aumentando cada vez mais, mas a maioria era
composta por camponeses. A população camponesa era a que sustentava todo o país, toda a
superestrutura política chinesa, através de altos impostos. Aproveitando-se do plano falhado
do Kuo Min Tang e do facto de se ter afastado das cidades, aproximando-se do plano rural.
Entre 1931 e 1937 deu-se a Invasão Japonesa, e neste período de Guerra, o Governo de
Nankim fez tréguas com o PC Chines para combater a invasão japonesa. Juntos, com o apoio
dos EUA e da URSS combateram com os japoneses. Neste período de tréguas, o PC Chines
começou a expandir-se no território Chines e no fim da Guerra, estava implantado em toda a
China, beneficiando do Governo de Nankim. No entanto, o Kuo Min Tang tinha o apoio dos
EUA e da URSS e deu-se uma nova guerra civil entre os dois, mas que foi vencida pelo PC, que
em 1949 unificou toda a China e iniciou uma segunda fase de modernização do país, agora
com o apoio soviético
Em 1949, a China continental foi unificada sob a República Popular da China, sendo dominada
pelo PCC. Mao Tsé-Tung tornou-se presidente em 1954. Já a Ilha Formosa formou a República
da China, sob o controlo do Kuo-Min-Tan.. A China possuía, então, um regime misto.
Apesar das influencias no modelo da URSS, o socialismo chinês tina algumas diferenças, que
dificultavam a modernização chinesa. Entre estes destaca-se o facto da base de apoio do PCC
ser o campo, enquanto no Partido Comunista Soviético a base da modernização são as cidades.
Deste modo era necessário um investimento nos campos, na agricultura e não propriamente
nas cidades, pois não era aí que a grande massa se concentrava. Portanto, existiam diferenças
na base de apoio e a China dispunha de uma margem de manobra mais pequena que os
russos. Ainda assim, na maioria dos aspetos, tentou seguir o modelo soviético, mas com os
condicionalismos chineses que acabam por caracterizar o maoísmo.
Para além disso, procedeu a uma reforma agrária, pautada pela justa distribuição das terras,
em vez da coletivização, tal como se sucedeu no socialismo soviético. Para continuar o
processo de modernização era necessário capital, no entanto os chineses não queriam ficar
dependentes dos créditos soviéticos, mas também não podiam arrecadar capital através da
asfixia da base camponesa, que constitua o sistema de suporte do partido. O partido dividiu-se
entre os que apoiavam a asfixia económica dos camponeses, defendido por Mao, e os que
defendiam a necessidade de pedir empréstimos à URSS, guiado por Deng Xiao Ping. Optou-se
por seguir a linha de Mao, em que se deu o afastamento entre o modelo socialista chines e a
URSS.
A partir de 1958 (até 1962), a China revolucionária começou a seguir um caminho próprio,
reforçando a justificativa da "origem camponesa" da revolução. Também conhecido como
"Grande Salto em Frente", um programa nacional de coletivização económica que procurava
tornar a China numa das potências mundiais, estipulando grandes objetivos de produção e
investindo no fabrico de aço. Era o lançamento de uma nova política, tendo em vista o
redobrar de esforços, para que a China alcançasse grandes níveis de produtividade.
A agricultura foi coletivizada e os excedentes foram extraídos dos camponeses. Houve assim
uma alteração da direção dos caminhos da revolução, que deslocou o centro dos
investimentos do Estado para o campo e não mais para as indústrias de base localizadas nas
cidades. Um dos objetivos era unir a produção agrícola e industrial, ao instalar equipamentos
industriais em áreas rurais. Dessa forma, o Grande Salto pretendia superar a divisão entre
campo e cidade.
Entre 1975 e 1978, após a morte de Mao, a sua fação mais radical perdeu o poder e pelo
contrário, em 1978, Deng Xiaoping tomou as rédeas do PCC. A partir daí, iniciou-se uma
política de internacionalização. É Deng Xiaoping que põe em prática as reformas económicas
que fariam da China o país com maior crescimento económico do planeta. Dentro dessas
reformas destacam-se as quatro modernizações (nos sectores da agricultura, indústria e
comércio, ciência e tecnologia e na área militar), e deu continuidade ao Governo de Nankin,
isto é, ao Kuo Min Tang, que se tinha instalado na Ilha Formosa.
Durante o seu governo, a China passou por uma grande abertura diplomática. Em 1979,
procurou atrair investimentos estrangeiros. Deng criou diversas Zonas Económicas Especiais,
onde empresas estrangeiras se podiam instalar, desde que tenham parceria com empresas
chinesas. Vários setores da economia chinesa abriram-se ao exterior,
Em suma, as reformas económicas de Xiaoping foram feitas de baixo para cima: primeiro as
mudanças foram testadas nos municípios e nas províncias; só depois a reforma foi implantada,
gradualmente, em todo o país. Apesar da abertura aos capitais estrangeiros, havendo uma
ligeira abertura ao capitalismo, mantiveram-se algumas das linhas ideológicas do socialismo,
pelo se manteve o controlo político do PC Chinês.Assim, permitiu modernizar a China mas sem
perder o poder político.