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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ

CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS E LETRAS (CCHL)

DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS SOCIAIS

DISCIPLINA: HUMANIDADES, CIÊNCIAS SOCIAIS E CIDADANIA 2017.2

PROFESSORA: DRA. ROSSANA MARIA MARINHO ALBUQUERQUE

CRONICAMENTE INVIÁVEL – SÉRGIO BIANCHI

LAÍS ALEXANDRA ROCHA VIEIRA

LEONARDO PINTO MIRANDA

JOZIVALDO NERES DE NOVAES

MATHEUS DA SILVA ARAÚJO

PAULO GILSON CARVALHO JUNIOR

TERESINA – PI

2017
LAÍS ALEXANDRA ROCHA VIEIRA

LEONARDO PINTO MIRANDA

JOZIVALDO NERES DE NOVAES

MATHEUS DA SILVA ARAÚJO

PAULO GILSON CARVALHO JUNIOR

CRONICAMENTE INVIÁVEL – SÉRGIO BIANCHI

Trabalho final apresentado à disciplina Humanidades,


ciências sociais e cidadania ofertada ao curso de
Bacharelado em Engenharia Cartográfica e de
Agrimensura da Universidade Federal do Piauí, como
parte do requisito básico avaliativo para disciplina.

Docente: Prof. Dra. Rossana Maria Marinho


Albuquerque

TERESINA – PI

2017
1. Introdução
O Brasil vive atualmente um caos que basicamente é mascarado através de
nossos grandes eventos, carnavais dentre outros que nos mostram como brasileiros
cordiais e organizados para quem nos vê por fora. Porém somente um pensamento
crítico e menos egoísta poderá verificar a verdadeira realidade.

O filme Cronicamente Inviável é um filme brasileiro de 2000 que foi escrito por
Sérgio Bianchi juntamente com Beatriz Bracher que relata trechos de histórias de
personagens que vivem no meio do caos da sociedade. Ele conta como personagens
principais os atores: Cecil Thiré (Luiz), Betty Gofman (Maria Alice), Daniel Dantas
(Carlos), Dan Stulbach (Adam), Umberto Magnani (Alfredo), Dina Paes (Amanda),
bem como outros como Zezeh Barbosa interpretando a empregada Josilene dentre
outros.

Em face disso, a disciplina de Humanidades, ciências sociais e cidadania,


contribui para o pensamento crítico do aluno com respeito à cidadania bem como as
relações sociais e como elas podem nos afetar de certa forma. Assim, foram estudados
ao decorrer da disciplina, autores com visões diferentes e levantado discussões sobre
como isso pode afetar o Brasil e como o aluno pode construir um pensamento crítico
para ajudar a sociedade.

Assim, esse trabalho visa analisar o filme em questão com relação aos textos
estudados como forma de avaliação da disciplina, bem como elaborar um pensamento
crítico que englobasse não somente uma visão de um autor apenas, mas de vários
autores que discorreram sobre esses assuntos. Logo, durante o trabalho será destacado
cenas e/ou características que visem realizar essa correlação entre textos e o filme
Cronicamente Inviável.
2. “Cronicamente Inviável” de Sérgio Bianchi
Inicialmente o filme traz um desafio através de uma primeira cena intrigante
quando um rapaz queima uma caixa de marimbondo, onde nos confronta a explicar que
o filme consiste em algo semelhante a “cutucar” o expectador e o fazer refletir a
respeito da situação atual do nosso país. O filme mexe com o brasileiro como um todo,
demonstrando as formas de como um país com seu “jeito cordial” tem se comportado
frente a situações como desigualdade social, racismo, autoritarismo, uso de
entorpecentes dentre outros fatores. Logo o filme se mantém confrontante com a
situação atual.

O filme conta basicamente com seis protagonistas que encaram diferentes


situações e mostra a dificuldade de sobrevivência deles no meio da situação brasileira
de caos que atinge todos independente de sua posição social. Esses protagonistas são o
Alfredo, Amanda, Adam, Carlos, Luiz e Maria Alice.

Esse trabalho visa correlacionar esse filme com a literatura estudada no decorrer
da disciplina. Logo, irá se explicitar a seguir a visão de cada protagonista com essa
correlação.

2.1 Carlos e Maria Alice


Carlos, interpretado pelo autor Daniel Dantas é um economista que pensa na
racionalidade juntamente com o andar do capitalismo. Já Maria Alice, sua esposa,
interpretada por Betty Goffman é uma mulher de classe média alta que pensa na
desigualdade social e se compadece das injustiças que decorrem dela. O filme por
diversas vezes relata cenas onde os dois de certa forma de debatem em suas ideias, já
que Maria Alice tenta “driblar” a desigualdade social e a sua culpa e seu marido Carlos
já aceita e continua no ritmo da sociedade atual. A seguir, de acordo com a análise de
algumas cenas, será realizado a correlação entre elas e os textos estudados.

Em uma cena, o patrão Carlos encontra uma de suas camisas sem um botão, e
fica indignado com a “audácia” da empregada de não ter verificado os botões das suas
camisas. Assim, ele reclama com Josilene e a ensina previamente a colocar um botão de
uma camisa como se estivesse ensinando a um analfabeto ou uma criança. Em todo o
momento ela se manteve constrangida e quieta. Isso revela, de certa forma uma
caracterização de uma pobreza política, onde uma empregada que é destratada e se
mantém em uma forma de dominação calada, sem reivindicar seus direitos. Pedro Demo
caracteriza uma situação como essa como pobreza política, onde o cidadão é opresso
por seus patrões ou seus líderes políticos e se mantém constante e constrangido. Assim,
estando em sua “caixinha” como já discutido em sala. Logo, o cidadão perde seus
direitos que tanto reivindicam. Isso pode ainda ser caracterizado na cena onde Josilene é
flagrada com um rapaz na cama de Maria Alice em sua ausência. Nessa cena a
empregada se sente de certa forma constrangida e enfatiza que ela trabalha não para
sacanear, mas pela amizade da família da Josilene e ter trabalhado para a família dela
sempre. Josilene, como o filme retrata, é a empregada do casal. Ela é filha da
empregada da mãe de Maria Alice. Logo, o emprego de Josilene vem de sua geração. O
filme destaca em várias partes sobre a família de Josilene a frase “trabalharam quase de
graça”, pois os seus empregos dependiam dessa família. Logo, como Pedro Demo
(2001) diz:

“Um povo politicamente pobre, por exemplo, é aquele que não


conquistou ainda seu espaço próprio de autodeterminação, e que, por
isso, sobrevive na dependência, como periferia de um grande centro,
como perdedor oficial no comércio internacional, como sucursal de
potências externas, como recebedor passivo de tecnologias e
investimentos.” (pag. 22).
Correlacionando a cena com o texto, vemos que a empregada vem de uma
geração politicamente pobre que não conseguiu conquistar seu espaço e que vive
atualmente em uma dependência, como cada empregado dependia dessa família para
sua sobrevivência.

Outra cena, mostra a empregada desfilando na Avenida e o narrador diz: “Para


que serve então depois de adulta se fantasiar de outro e prata e desfilar em uma rua
fechada quase como um curral gladiada por camarotes onde continuam a estar seus
senhores. O que resta para a Josilene são alguns segundos de glória, o suficiente para
sentir e se convencer de que a dominação é importante. Não porque ela gosta de ser
dominada, mas por uma cumplicidade diante do prazer de dominar. A esperança de um
dia ser de alguma forma senhor faz com que seja suportável a dominação”.
(Cronicamente Inviável, 2000 34:00 min). Pedro Demo (2001), já diz:

“É uma pobreza política lancinante não reivindicar direitos, mas os


pedir, os suplicas, os esperar passivamente. É pobreza política entender
o Estado como patrão ou tutela, aceitar o centro como mais importante
que a base, ver o serviço público como caridade governamental,
conceber o mandante como possuidor de autoridade própria.” (pag. 22).
Mais à frente ele ainda diz:
“É politicamente pobre o cidadão que somente reclama, mas não se
organiza para reagir, não se associa para reivindicar, não se congrega
para influir. Nossa pobreza política é fantástica: a massa de jovens que
não completa o 1° grau, embora seja este um direito constitucional
estabelecido há décadas, sem falar na prevalência do analfabetismo; o
pequeno produtor rural que não alcança acesso à terra. O trabalhador
que não se sindicaliza e não consegue efetivar seus direitos, mesmo
aqueles pretensamente garantidos em lei, e que não amadurece a ideia
do trabalho como direito; o idoso e o aposentado que não reagem à
marginalização social, vivem das sobras e da piedade, que não se
organizam para se defender; as mulheres que não enfrentam a condição
secular de trabalhador e cidadão de segunda categoria.” (pag. 23)
Assim, caracterizamos mais uma vez essa situação como pobreza política, onde
a realidade de submissão e dependência da empregada diante de seus patrões são
mascaradas em uma tentativa de minimização através de um dia desfilando na avenida,
em uma tentativa de um dia conseguir ser senhor. Algo que não mudará se o cidadão
não buscar mudanças e largar sua pobreza política. Como Demo diz que é necessário
reivindicar seus direitos. A ação contra uma submissão assim se torna essencial caso o
atuante deseje sair de uma pobreza política. O problema é que não é somente um caso.
Como Demos diz que os jovens não conseguem completar o 1° grau, o grande índice de
analfabetismo, a condição do empregado que não é enfrentada e confrontada. Logo,
uma atitude deve ser tomada.

Em outra cena, o casal se encontra dentro do carro e Carlos diz: “A culpa não é
só dos empregados. É todo um modelo de organização instaurado. Todo indo e voltado
para um único objetivo que é o de gerar confusão suficiente para que não se possa fazer
mais nada... A imobilidade gerada pela confusão e pela bagunça é o que possibilita
nossa principal atividade que é o trambique”. E ele ainda diz mais: “No Brasil qualquer
um é trambiqueiro., todo mundo é trambiqueiro. Quem não é trambiqueiro morre de
fome. Eu não tenho culpa se as leis, o governo, se tudo foi construído para
institucionalizar o trambique. Agora eu sou obrigado por lei a pagar quilos de impostos.
Se eu por acaso procuro não pagá-los e escondê-los exatamente atrás dessa bagunça que
não foi eu quem criei, chamam a mim de trambiqueiro. Alice, meu tataravô fazia isso.
Todo mundo faz isso. É UMA QUESTÃO DE SOBREVIVÊNCIA”. (Cronicamente
Inviável, 2000 34:50 min). Assim, baseando no texto do DaMatta, podemos caracterizar
juntamente com o trecho:

“Por tudo isso, não há no Brasil quem não conheça a malandragem, que não é
só um tipo de ação concreta situada entre a lei e a plena desonestidade, mas
também, é sobretudo, é uma possibilidade de proceder socialmente, um modo
tipicamente brasileiro de cumprir ordens absurdas, uma forma ou estilo de
conciliar ordens impossíveis de serem cumpridas com situações específicas, e
– também – um modo ambíguo de burlar as leis e as normas sociais mais
gerais” (DaMatta, 2001 p.105)

Logo, Carlos quer explicitar e mascarar a situação do “jeitinho brasileiro” como


uma forma de sobrevivência quando ele diz que quem não é trambiqueiro morre de
fome. Então, o Brasil como DaMatta e Carlos identificam, constituem de um país onde
há um jeito denominado “jeitinho brasileiro” que mascara uma malandragem que não
passa nada mais nada menos de um trambique (como Carlos caracteriza), onde todos
cometem o mesmo erro. DaMatta afirma que todos conhecem a malandragem e que não
somente a corrupção, mas o modo de agir socialmente também pode ser caracterizado.
Então, o brasileiro busca sempre burlar essas leis e regras buscando sempre seu
benefício próprio. E como já discutido em sala, vê-se boa parte dos brasileiros, que se
escondem em sua “caixinha” e debaixo do pano chamado “jeitinho brasileiro” e se
acostuma com os erros e com a mascarização deles e, de certa forma, deixa, de se
preocupar com suas atitudes, pois já que tudo “se dá um jeito”.

Outra caracterização do jeitinho brasileiro é quando vemos o momento em que a


Maria Alice dá drogas para as crianças, brinquedos, roupas. Quando as crianças
começam a brigar ela observa e discursa: “Todo mundo diz que caridade não é
revolucionária. Para mim não tem problema nenhum em ser caridosa. O problema é essa
tendência não liberal onde achar que a grande revolução do mundo é não fazer nada.
Tolerar a desigualdade, Bobagem. O estado tem que ter o seu papel. Ele tem que dar é
crack para as crianças de rua já que vão morrer de frio, umidade, coceira, que sejam
com felicidade. Completamente entorpecidas”. Esse discurso relata claramente uma
tentativa de esconder o remorso de uma vida economicamente tranquila com atos de
caridade e com um discurso “politicamente correto”. Ela acredita assim que amenizará a
tensão social que é causada pela miséria da sociedade. Um discurso um pouco
exagerado, mas que demonstra uma pobreza política também. Além de se caracterizar
como pobreza política, onde ela acredita que essa “caridade” que ela está praticando vai
ajudar de certa forma as crianças, também caracteriza como a forma “malandra” do
brasileiro de resolver as desigualdades sociais, onde na verdade, não há uma esperança
de mudança da sociedade já que a mesma diz que eles vão morrer de frio, umidade e
coceira. Logo, volta-se a questão da estagnação da sociedade que não faz nada enquanto
as coisas acontecem.
Outra cena relevante é quando, em um jantar, em um diálogo entre Maria Alice e
Luiz sobre morar no exterior e que o novo garçom do restaurante diz seu discurso:
“Cada um entende os fatos do jeito que pode. Se vocês vão ficar aqui, tenham a
dignidade de assumir o ressentimento de quem oprime e não de quem é oprimido”. E
em sequencia a isso ela solta aquela frase: “quem você pensa que é para falar assim?”.
Como DaMatta diz:

“Pois não é de outro modo que os informantes interpretam o ‘sabe com quem
está falando?’ nunca tomam a expressão como a atualização de valores e
princípios estruturais de nossa sociedade, mas sempre como a manifestação
de traços pessoaos indesejáveis. Nesse sentido, o ‘sabe com quem está
falando?’ seria o racismo e o autoritarismo: algo que ocorre entre nós por
acaso, sendo dependente apenas de um ‘sistema’ implantado pelos grupos
que detêm o poder.” (DaMatta, 1997 p.185)

Logo, por mais que ela defenda a posição e queira ser a favor da igualdade
social, nesse momento ela se mostra arrogante diante da colocação do rapaz, que é um
mero garçom enquanto ela é de um nível “superior” a ele. Assim, expressa, através
dessa atitude, um ar de superioridade sobre o rapaz.

2.2 Amanda
Amanda, interpretada pela atriz Dira Paes, é uma mulher bem-sucedida, gerente
de um restaurante, de origem pobre e incorpora a ética e os costumes burgueses. Apesar
de todo sofrimento que a personagem passou na infância, nascida na região Centro-
Oeste, em Mato Grosso, mestiça, de origem negra, branca, indígena e derivados, a
mesma sofreu exploração infantil, mas nunca perdeu a fé nas crenças e lendas que lá lhe
ensinaram.

Passando para a fase adulta consegue se tornar uma mulher poderosa, gerente de
restaurante que se acha superior aos seus inferiores, como mostra a cena em que ela está
ensinando Adam a maneira como se portar a mesa, quando ela diz “o mais importante é
corrigir garçons novos que chegam a São Paulo convencidos que já sabem de tudo” e
quando com um tom ameaçador diz “Você é novo aqui”.

Exemplificando assim citações incluídas no texto de Roberto DaMatta – “Você


sabe com quem está falando?” Um ensaio sobre a distinção entre indivíduo e pessoa no
Brasil, como a de Alexis de Tocqueville.
"Nas comunidades aristocráticas, onde um pequeno número de pessoas
dirige tudo, o convívio social entre os homens obedece a regras
convencionais estabelecidas. Todos conhecem ou pensam conhecer
exatamente as marcas de respeito ou atenção que devem demonstrar, e
presume-se que ninguém ignore a ciência da etiqueta. E continua o
genial observador social francês: "Os costumes e praxes estabelecidos
pela primeira classe da sociedade servem de modelo a todas as outras,
cada uma das quais, por sua vez, estabelece seu código próprio, a que
todos os seus membros são obrigados a obedecer". (DaMatta, 1997,
pag.188)

Continuando o filme também se nota que Amanda cresceu na vida também


através de atos ilícitos, como mostra a cena em que ela está negociando uma criança que
está para nascer, e no final onde ela pede para ser entregue uma encomenda com
urgência, onde o filme não relata bem o que é esta encomenda, mas parece ser algo
ilícito. Assim estas ações mostram que mesmo depois de tudo que ela sofreu, ela
também se beneficia do “famoso jeitinho brasileiro”.
Como cita o texto Roberto DaMatta: O que faz o brasil, Brasil?: A malandragem
se tornou navegação social nacional, onde o malandro é o profissional que tem a arte de
sobreviver nas situações mais difíceis. Tornando-se um modo brasileiro de viver, e as
vezes sobreviver, num sistema em que a casa nem sempre fala com a rua e as leis
formais da vida pública nada tem a ver com as boas regras da moralidade costumeira
que governam nossa honra, o respeito e sobretudo, a lealdade que devemos aos amigos,
aos parentes e aos compadres.
Mostrando um pouco como as ideias dominantes passam a determinar a vida das
pessoas comuns em seu comportamento cotidiano, formando uma hierarquia moral que
separa s homens e as mulheres em seres de primeira e de segunda classe, se tornando
todas vítimas indefesas da concepção que nos domina sem que possamos esboçar
reação.

2.3 Alfredo

A realidade social de várias regiões do Brasil como Bahia, Rio de Janeiro e


Rondônia é relatada pelo personagem Alfredo, interpretado pelo ator Umberto Magnani,
no qual mostra a desordem das ruas aonde o lixo é o fator de permanência e
desequilíbrio no convívio de indivíduos que são relacionados interpessoalmente com o
preconceito e a política, lixo este que é literalmente mostrado e metaforicamente
comparado às ações da sociedade que o personagem se atenta em analisar, a opressão do
Carnaval, a devastação das florestas, a impunidade. No evento do Carnaval observa-se
que a câmera do documentário mostra os ricos, protegidos pelo cordão de isolamento e
os pobres, apanhando da polícia, para não ultrapassarem o mesmo cordão. “Algo
parecido com a micarina em alguns lugares”. A concepção de que o carnaval seria uma
festa democrática, em que as classes sociais se relacionariam em condições de igualdade
é drasticamente refutada: a imagem dos policiais batendo nos pobres, para que não
invadam o espaço dos ricos mostra claramente este paradoxo.
Alfredo chega a comentar que “o carnaval é a típica dominação do povo pela
felicidade”. As cenas em torno do carnaval convidam a enxergarmos o que Da Matta
dialoga a respeito da relação de permissividade e exploração, enquanto substrato de
herança colonial sobre a miséria: meninas pobres (maioria negras) dançando ao som dos
trios elétricos, para deleite de ricos e estrangeiros (loiros, de olhos claros). Pela forma
enraizada de consciência de superioridade os ricos exploram estas situações. Os pobres
entorpecidos pela “dominação via felicidade”, a que se refere Alfredo – parecem
cumprir, satisfeitos, sua “função”: entreter os ricos, seja pela música, pela comida ou
pela permissividade sexual.
Ao analisar a indiferença do cotidiano da sociedade bahiana o pesquisador
reflete que “a felicidade é uma perfeita forma de dominação autoritária”, pois segundo o
mesmo a forma de trocas de poder relacionado à força de trabalho é custeada pela
dominação sistêmica colonialista, como aborda Da Matta em sua obra “sabe com quem
está falando” que retrata além de outras categorias, a lógica da ideologia da submissão
burguesa, legitimada pela tradição cultural em que a população está embebecida
socialmente, e pela forma que esta classe “detentora” do poder classifica e assujeita os
outros, como por exemplo, a indústria cultural, moda, selecionada pela mesma.
Outra reflexão em que o pesquisador faz é sobre a questão de civilização, a sua
ausência, cogitando que se ela não existe então obviamente há a barbárie. O personagem
argumenta esta assertiva quando observa um índio sendo espancado por dois policiais
que imaginariamente seria um delinquente ou traficante, neste ínterim o pesquisador faz
uma sequência de ideia: “O que é mais importante explicar a realidade ou convencer”?
Criando assim um diálogo frustrante para os fins desejados, pois talvez nada irá mudar.
Descobre-se, no final, que Alfredo faz parte de uma rede de tráfico de órgãos
humanos e que suas pesquisas são pagas pelo crime, porque “escrever livros não enche
o bolso de ninguém” diz o personagem. Nesta parte observamos que qualquer atitude
isenta de interesses individuais e, conseqüentemente, qualquer possibilidade de
conciliação entre as classes, serão “cronicamente inviáveis”.
2.4 Adam
Adam, interpretado pelo ator Dan Stulbach,

2.5 Luis
Luiz, interpretado pelo ator Cecil Thire, o rico dono do restaurante Pellegrino’s
emprega migrantes como garçons – para depois envolvê-los em suas aventuras sexuais.
É um homem refinado que acredita na civilidade e nas boas maneiras como forma de se
resolverem os problemas. Diz que "Contradição social é uma mera questão de estilo de
vida”. Trata com cinismo a situação brasileira, primeiro ao falar que as injustiças sociais
e as crianças mendigas na rua acabaram sendo motivo de orgulho por serem coisas
típicas do nosso Brasil, assim como o futebol o café, a mulata.

E segundo ao dizer que para diminuir a contradição social devíamos ao invés de


fazer 3 refeições diárias, fazer apenas 1, pois assim a diferença entre aqueles que não
comem nada, e aqueles que comem bastante diminuiria para 1. Para ele é melhor agir
assim do que lutar pela contra a fome, pela cidadania.

Luiz é o típico brasileiro retratado no texto de DaMatta, do qual o autor indica


ser, digamos, o influenciador de toda corrupção e problemas do Brasil. Aquele que
aceita, e usa como justificativa que o povo brasileiro merece ser tachado de corrupto ou
miserável pois está em suas raízes ser como tal, e que não há muito o que se fazer.

É um homem que acredita nos ideais pregados pela sociedade, pela minoria
dominante para subjugar os demais, tal como ele faz com quem ele "emprega" em seu
estabelecimento. No fim ele é mesmo o resultado de uma sociedade hipócrita, tornando-
se um cidadão medíocre, mas isso não tem nada a ver com " raízes" brasileiras, mas
com caráter individual e a insistência do brasileiro em tomar para si que tudo que nos
acontece de ruim, mazelas, injustiças, nos é dado e deve ser "agradecido" e visto como
nosso.
3. Conclusão

Com esse filme, que é um tanto quanto obrigatório, podemos perceber várias
visões do grande conflito que há no Brasil. Um conflito social causado pela
desigualdade social, onde o mais pobre não corre atrás de seus direitos e se mantém de
forma coagida pelos opressores que se dizem “superiores”, onde há um lugar hipócrita
que se diz cordial, mas que em suas atitudes revelam outra coisa, pode ser aliado aos
textos estudados onde os autores podem contribuir em um alerta para a sociedade de
querer e buscar uma mudança. Mudança essa que não será instantânea, mas que precisa
de uma atitude. Uma mudança que busca extinguir ou minimizar a pobreza política e
assim amenizar os impactos causados pela desigualdade social.

Assim, o filme deixa não revela uma solução, mas revela uma problemática e
deixa um ponto de interrogação. Ponto esse que DaMatta e Demo são conseguem
explorar em suas obras onde podemos correlacionar as cenas mais conflitantes (que se
mantiveram em sua maioria) com os problemas citados e relatados por esses autores.
Desse modo, podemos compreender um pouco mais a situação do nosso país e buscar
formar um pensamento crítico que somente será o começo para uma mudança social
através de nós, que somos o povo.
4. Referências

DAMATTA, Roberto. Carnavais, malandros e heróis: para uma sociologia do dilema


brasileiro. 6ª edição. Rio de Janeiro: Rocco, 1997

DAMATTA, Roberto. O que faz o brasil, Brasil?. Rio de Janeiro: Rocco, 2001

DEMO, Pedro. Pobreza Política: Polêmicas do nosso tempo. 6. Edição. Campinas, São
Paulo: Autores Associados, 2001.

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