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TERESINA – PI
2017
LAÍS ALEXANDRA ROCHA VIEIRA
TERESINA – PI
2017
1. Introdução
O Brasil vive atualmente um caos que basicamente é mascarado através de
nossos grandes eventos, carnavais dentre outros que nos mostram como brasileiros
cordiais e organizados para quem nos vê por fora. Porém somente um pensamento
crítico e menos egoísta poderá verificar a verdadeira realidade.
O filme Cronicamente Inviável é um filme brasileiro de 2000 que foi escrito por
Sérgio Bianchi juntamente com Beatriz Bracher que relata trechos de histórias de
personagens que vivem no meio do caos da sociedade. Ele conta como personagens
principais os atores: Cecil Thiré (Luiz), Betty Gofman (Maria Alice), Daniel Dantas
(Carlos), Dan Stulbach (Adam), Umberto Magnani (Alfredo), Dina Paes (Amanda),
bem como outros como Zezeh Barbosa interpretando a empregada Josilene dentre
outros.
Assim, esse trabalho visa analisar o filme em questão com relação aos textos
estudados como forma de avaliação da disciplina, bem como elaborar um pensamento
crítico que englobasse não somente uma visão de um autor apenas, mas de vários
autores que discorreram sobre esses assuntos. Logo, durante o trabalho será destacado
cenas e/ou características que visem realizar essa correlação entre textos e o filme
Cronicamente Inviável.
2. “Cronicamente Inviável” de Sérgio Bianchi
Inicialmente o filme traz um desafio através de uma primeira cena intrigante
quando um rapaz queima uma caixa de marimbondo, onde nos confronta a explicar que
o filme consiste em algo semelhante a “cutucar” o expectador e o fazer refletir a
respeito da situação atual do nosso país. O filme mexe com o brasileiro como um todo,
demonstrando as formas de como um país com seu “jeito cordial” tem se comportado
frente a situações como desigualdade social, racismo, autoritarismo, uso de
entorpecentes dentre outros fatores. Logo o filme se mantém confrontante com a
situação atual.
Esse trabalho visa correlacionar esse filme com a literatura estudada no decorrer
da disciplina. Logo, irá se explicitar a seguir a visão de cada protagonista com essa
correlação.
Em uma cena, o patrão Carlos encontra uma de suas camisas sem um botão, e
fica indignado com a “audácia” da empregada de não ter verificado os botões das suas
camisas. Assim, ele reclama com Josilene e a ensina previamente a colocar um botão de
uma camisa como se estivesse ensinando a um analfabeto ou uma criança. Em todo o
momento ela se manteve constrangida e quieta. Isso revela, de certa forma uma
caracterização de uma pobreza política, onde uma empregada que é destratada e se
mantém em uma forma de dominação calada, sem reivindicar seus direitos. Pedro Demo
caracteriza uma situação como essa como pobreza política, onde o cidadão é opresso
por seus patrões ou seus líderes políticos e se mantém constante e constrangido. Assim,
estando em sua “caixinha” como já discutido em sala. Logo, o cidadão perde seus
direitos que tanto reivindicam. Isso pode ainda ser caracterizado na cena onde Josilene é
flagrada com um rapaz na cama de Maria Alice em sua ausência. Nessa cena a
empregada se sente de certa forma constrangida e enfatiza que ela trabalha não para
sacanear, mas pela amizade da família da Josilene e ter trabalhado para a família dela
sempre. Josilene, como o filme retrata, é a empregada do casal. Ela é filha da
empregada da mãe de Maria Alice. Logo, o emprego de Josilene vem de sua geração. O
filme destaca em várias partes sobre a família de Josilene a frase “trabalharam quase de
graça”, pois os seus empregos dependiam dessa família. Logo, como Pedro Demo
(2001) diz:
Em outra cena, o casal se encontra dentro do carro e Carlos diz: “A culpa não é
só dos empregados. É todo um modelo de organização instaurado. Todo indo e voltado
para um único objetivo que é o de gerar confusão suficiente para que não se possa fazer
mais nada... A imobilidade gerada pela confusão e pela bagunça é o que possibilita
nossa principal atividade que é o trambique”. E ele ainda diz mais: “No Brasil qualquer
um é trambiqueiro., todo mundo é trambiqueiro. Quem não é trambiqueiro morre de
fome. Eu não tenho culpa se as leis, o governo, se tudo foi construído para
institucionalizar o trambique. Agora eu sou obrigado por lei a pagar quilos de impostos.
Se eu por acaso procuro não pagá-los e escondê-los exatamente atrás dessa bagunça que
não foi eu quem criei, chamam a mim de trambiqueiro. Alice, meu tataravô fazia isso.
Todo mundo faz isso. É UMA QUESTÃO DE SOBREVIVÊNCIA”. (Cronicamente
Inviável, 2000 34:50 min). Assim, baseando no texto do DaMatta, podemos caracterizar
juntamente com o trecho:
“Por tudo isso, não há no Brasil quem não conheça a malandragem, que não é
só um tipo de ação concreta situada entre a lei e a plena desonestidade, mas
também, é sobretudo, é uma possibilidade de proceder socialmente, um modo
tipicamente brasileiro de cumprir ordens absurdas, uma forma ou estilo de
conciliar ordens impossíveis de serem cumpridas com situações específicas, e
– também – um modo ambíguo de burlar as leis e as normas sociais mais
gerais” (DaMatta, 2001 p.105)
“Pois não é de outro modo que os informantes interpretam o ‘sabe com quem
está falando?’ nunca tomam a expressão como a atualização de valores e
princípios estruturais de nossa sociedade, mas sempre como a manifestação
de traços pessoaos indesejáveis. Nesse sentido, o ‘sabe com quem está
falando?’ seria o racismo e o autoritarismo: algo que ocorre entre nós por
acaso, sendo dependente apenas de um ‘sistema’ implantado pelos grupos
que detêm o poder.” (DaMatta, 1997 p.185)
Logo, por mais que ela defenda a posição e queira ser a favor da igualdade
social, nesse momento ela se mostra arrogante diante da colocação do rapaz, que é um
mero garçom enquanto ela é de um nível “superior” a ele. Assim, expressa, através
dessa atitude, um ar de superioridade sobre o rapaz.
2.2 Amanda
Amanda, interpretada pela atriz Dira Paes, é uma mulher bem-sucedida, gerente
de um restaurante, de origem pobre e incorpora a ética e os costumes burgueses. Apesar
de todo sofrimento que a personagem passou na infância, nascida na região Centro-
Oeste, em Mato Grosso, mestiça, de origem negra, branca, indígena e derivados, a
mesma sofreu exploração infantil, mas nunca perdeu a fé nas crenças e lendas que lá lhe
ensinaram.
Passando para a fase adulta consegue se tornar uma mulher poderosa, gerente de
restaurante que se acha superior aos seus inferiores, como mostra a cena em que ela está
ensinando Adam a maneira como se portar a mesa, quando ela diz “o mais importante é
corrigir garçons novos que chegam a São Paulo convencidos que já sabem de tudo” e
quando com um tom ameaçador diz “Você é novo aqui”.
2.3 Alfredo
2.5 Luis
Luiz, interpretado pelo ator Cecil Thire, o rico dono do restaurante Pellegrino’s
emprega migrantes como garçons – para depois envolvê-los em suas aventuras sexuais.
É um homem refinado que acredita na civilidade e nas boas maneiras como forma de se
resolverem os problemas. Diz que "Contradição social é uma mera questão de estilo de
vida”. Trata com cinismo a situação brasileira, primeiro ao falar que as injustiças sociais
e as crianças mendigas na rua acabaram sendo motivo de orgulho por serem coisas
típicas do nosso Brasil, assim como o futebol o café, a mulata.
É um homem que acredita nos ideais pregados pela sociedade, pela minoria
dominante para subjugar os demais, tal como ele faz com quem ele "emprega" em seu
estabelecimento. No fim ele é mesmo o resultado de uma sociedade hipócrita, tornando-
se um cidadão medíocre, mas isso não tem nada a ver com " raízes" brasileiras, mas
com caráter individual e a insistência do brasileiro em tomar para si que tudo que nos
acontece de ruim, mazelas, injustiças, nos é dado e deve ser "agradecido" e visto como
nosso.
3. Conclusão
Com esse filme, que é um tanto quanto obrigatório, podemos perceber várias
visões do grande conflito que há no Brasil. Um conflito social causado pela
desigualdade social, onde o mais pobre não corre atrás de seus direitos e se mantém de
forma coagida pelos opressores que se dizem “superiores”, onde há um lugar hipócrita
que se diz cordial, mas que em suas atitudes revelam outra coisa, pode ser aliado aos
textos estudados onde os autores podem contribuir em um alerta para a sociedade de
querer e buscar uma mudança. Mudança essa que não será instantânea, mas que precisa
de uma atitude. Uma mudança que busca extinguir ou minimizar a pobreza política e
assim amenizar os impactos causados pela desigualdade social.
Assim, o filme deixa não revela uma solução, mas revela uma problemática e
deixa um ponto de interrogação. Ponto esse que DaMatta e Demo são conseguem
explorar em suas obras onde podemos correlacionar as cenas mais conflitantes (que se
mantiveram em sua maioria) com os problemas citados e relatados por esses autores.
Desse modo, podemos compreender um pouco mais a situação do nosso país e buscar
formar um pensamento crítico que somente será o começo para uma mudança social
através de nós, que somos o povo.
4. Referências
DAMATTA, Roberto. O que faz o brasil, Brasil?. Rio de Janeiro: Rocco, 2001
DEMO, Pedro. Pobreza Política: Polêmicas do nosso tempo. 6. Edição. Campinas, São
Paulo: Autores Associados, 2001.