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“O futuro da Europa não pode ser uma questão de fé”

PONTO FINAL: De há uma década a esta parte, a União Europeia teve que se confrontar
com uma série de desafios e de problemas que, numa estrutura com outras características,
poderiam eventualmente ter redundado em problemas mais sérios, com consequências
que suplantam a esfera política propriamente dita. Depois das crises da dívida e da falta
de solidariedade a ela associada, depois do “Brexit” e de um sem fim de outros pequenos
terremotos, agora a independência unilateral da Catalunha. Pode a União Europeia
sobreviver sem máculas a todos estes abalos?

Victor Ângelo: Os últimos dez anos têm sido anos de grandes crises. Começou em 2008 com
a crise das dívidas soberanas, depois com o problema da solidariedade entre o Norte e o Sul,
ou seja, uma crise de fractura entre o espaço geopolítico da União Europeia do Norte e o do
Sul, com sérias críticas em relação aos países do Sul. Depois disso, em 2014, uma crise muito
grave com a Rússia, por causa da Ucrânia. Esta braço-de-ferro teve não só implicações
políticas muito grandes, mas também um impacto económico relativamente importante
para algumas economias dos países membros da União Europeia. Depois da crise com a
Rússia veio a crise do “Brexit”, em 2016. Tivemos 2008, 2014, 2016 e neste momento,
também e em certa medida – ainda não se percebe bem qual vai ser o impacto – a crise da
Catalunha. Ou seja, os últimos dez anos têm sido anos que têm posto à prova a unidade
europeia e, em certa medida, o projecto comum. Em Dezembro de 2017, qual é o balanço
que se pode fazer do projecto europeu? O balanço é, apesar de tudo, que a União tem
conseguido resistir a estes desafios. Estas crises foram crises muito profundas. São crises
que abalaram e abalam a estrutura da União Europeia. No entanto, o que existe neste
momento, quer em Bruxelas, quer nas principais capitais da União Europeia é, por um lado,
um grande optimismo em relação ao futuro, uma vontade de ultrapassar as dificuldades e,
em certa medida, muita confiança na ideia de que, no fundo, no fundo, as pessoas ainda
acreditam no projecto europeu.

Mas acreditam porquê? Pelo receio de um conflito armado, por exemplo? A Europa
sempre foi solo propício a guerras devastadoras. Se olharmos para os últimos 150 anos
não foram dois conflitos os que destroçaram o continente europeu, foram muitos mais. Ou
a liberdade, por exemplo, de movimentos dentro do espaço europeu continua a ser um
atractivo para muitos cidadãos europeus?

Os europeus olham à volta da Europa, para o espaço à volta da Europa e vêm que a Europa
continua a ser uma ilha de tranquilidade e um espaço de prosperidade. Estas duas questões
fazem com que as pessoas apostem positivamente na União Europeia. Os cidadãos da União
Europeia olham, por exemplo, para a Rússia e vêm as dificuldades que a Rússia atravessa e a
ameaça que a Rússia possa representar. Olham para a Turquia e ficam bastante inquietos
com a actual deriva anti-democrática que se está a viver na Turquia. Olham para os Balcãs,
fora da União Europeia, e vêm que a crise de há vinte anos dos Balcãs ainda não está
resolvida e que, possivelmente, poderá haver novos conflitos nos Balcãs. Olham para o
Médio Oriente, olham para o Norte de África e vêm problemas. Ou seja, quando se olha para
além das fronteiras imediatas da União Europeia vê-se um espaço de intranquilidade e as
pessoas sentem que a União Europeia lhes dá esse espaço de tranquilidade e, por outro
lado, continua a haver prosperidade. A verdade é que as economias europeias estão a
crescer novamente, os números deste ano do crescimento económico são muito positivos,
os números para os próximos dois anos também são bastante positivos. Havendo
tranquilidade e havendo prosperidade, penso que as pessoas que acreditam que este tipo
de União lhes é favorável, até porque se apercebem que os países por si próprios e sozinhos
representam muito pouco na cena política internacional perante nações como a China, os
Estados Unidos ou perante as economias emergentes, como por exemplo, a Índia. Só uma
união entre os europeus é que provavelmente permitirá entrar em competição com esses
grandes espaços económicos e políticos.

Falava da questão da instabilidade fora das fronteiras imediatas da Europa. Essa


instabilidade, de quando em vez, transborda para dentro do espaço europeu. A Europa
teve que gerir a crise de refugiados impulsionada pela guerra civil na Síria e há uma
presença, que apesar de ser por natureza sub-reptícia, deixa cada vez mais mossa na
“psyche” das populações europeias. Falo dos atentados terroristas. Que resposta pode a
União Europeia dar a este tipo de circunstâncias? A União Europeia sempre teve a fama de
se fechar aos outros e há duas décadas era comum esta concepção da União Europeia
como a guardiã e a soberana da “Fortaleza Europa”. A crise de refugiados obrigou mesmo,
por algumas ocasiões, à suspensão do Acordo de Schengen e há quem advogue o fecho das
fronteiras exteriores da União Europeia. É ou não uma solução?

Bom, há aqui duas ou três questões importantes que suscitou. Quando fiz a enumeração das
crises não a mencionei, não mencionei a crise de 2015 que foi a crise dos refugiados e da
chegada em massa de muitos candidatos à imigração. Essa também foi uma altura de grande
tensão na Europa. É uma crise, para lhe dizer a verdade, que na minha opinião não está
resolvida. Uma das grandes questões que se podem colocar em relação ao futuro da União
Europeia, e também sobre a estabilidade social de certos países europeus, é a seguinte: será
possível a União Europeia gerir o influxo de refugiados e de imigrantes? Será possível manter
a paz social quando as sociedades europeias, sobretudo nalguns países, como por exemplo a
França, a Alemanha e os países do centro da Europa, têm populações já em grande número
com uma matriz cultural inteiramente distinta. A proporção de pessoas vindas de fora é
relativamente elevada e estamos a falar de populações que têm uma cultura e têm um
modo de vida que não é totalmente igual ao modo de vida que era dominante nestas
sociedades. Ou seja, em que medida – e esta é a grande questão – a União Europeia vai
conseguir gerir o problema da imigração e o problema da diversidade dentro das sociedades
europeias. Se me perguntar a minha opinião sobre isso, eu diria que este é provavelmente o
desafio mais difícil de resolver. Todos os outros que eu mencionei, de uma maneira ou de
outra, serão resolvidos. O problema da diversidade e o problema da imigração em
sociedades que eram tradicionalmente, etnicamente homogéneas é um problema muito
sério e é um problema que pode abalar profundamente a paz social nestes países. É verdade
que há um discurso neste momento no sentido de se ser muito mais rigoroso no que
respeita às fronteiras exteriores da União Europeia. É verdade que se fala numa Europa que
faria mas controles e, em certa medida responderia à sua questão de ser uma “fortaleza”,
digamos assim. A verdade também é que, por um lado, vários países do mundo, os Estados
Unidos, a China impõem limitações muito grandes à entrada de imigrantes. Não é só a
Europa que se fecha em relação à imigração. A questão das fronteiras é uma questão
fundamental em muitos outros países, até em países onde esta questão é mais discreta,
como é o caso da Índia ou como a Austrália, em que imigração é extremamente controlada.
Eles provavelmente serão ainda mais “fortalezas” do que nós somos na Europa. No entanto,
este problema põe-se, até porque a Europa está na vizinhança de dois espaços geopolíticos
que têm um crescimento demográfico extremamente elevado – ou seja, a África e o Médio
Oriente – e onde o desenvolvimento económico não permite às gerações jovens encontrar
emprego. Estas pessoas precisarão de sobreviver e, provavelmente, a tendência vai
continuar a ser que eles olhem para a Europa como uma possibilidade de garantir emprego.
A pressão migratória vai continuar. Neste momento, para lhe dizer com toda a franqueza
aquilo que eu penso, ainda não há uma solução na União Europeia para resolver o problema
da imigração.

Uma outra questão que mais recentemente fez tremer a União Europeia foi a crise catalã.
Bruxelas sempre apostou muito no conceito da “Europa das regiões” rumo a uma desejada
federalização. A própria sede da União Europeia está num país profundamente fracturado.
A crise despoletada pela declaração unilateral de independência feita pelo Governo
catalão pode colocar em risco o processo paulatino de integração europeia? A reacção da
União Europeia à cisão anunciada pela Catalunha foi a de dizer que a Catalunha não tinha
espaço na União Europeia, depois de ter aberto as portas à eventual integração da Escócia
na sequência do Brexit. Dois pesos e duas medidas? Esta ambiguidade não pode ajudar a
fazer passar uma mensagem errada?

O discurso da União Europeia em relação à Catalunha precisa de ser intensificado e precisa


de ser clarificado. A situação na Catalunha é, apesar de tudo, muito diferente da situação na
Escócia. Na Escócia foi realizado um referendo com a aprovação do Governo central. Foi um
referendo que foi realizado com base nos parâmetros que são normais neste tipo de
eleições: com uma comissão eleitoral credível, com um processo aceite, aberto e visível e,
além disso, como referi, com a aprovação do Governo central. A Catalunha é uma questão
mais complicada, na medida em que o referendo, na realidade, teve muito pouca
credibilidade porque não foi feito segundo as normas habituais. Também é verdade o
seguinte: a União Europeia não pode começar a aceitar independências unilaterais. Porque
se começar a aceitar independências unilaterais, nós vamos entrar numa cascada de
independências na Europa porque a Europa é muito diversa. Mesmo na Catalunha, há uma
ou duas regiões na Catalunha, que se a Catalunha se declarar independente, eram capazes
elas próprias também de se declarar independentes, porque elas são diferentes do resto da
Catalunha. São tão diferentes que, por exemplo, não aceitam a intervenção do Governo de
Barcelona nos seus assuntos internos. São pequenas comunidades, é verdade, mas abrir a
porta a independências unilaterais é uma caixa de Pandora que na Europa levaria a crises
muito profundas em vários países. Não só na Bélgica, por exemplo, mas também em França,
com a questão da Córsega, com a questão da Bretanha. Levaria a questões também noutras
zonas da Europa: na Polónia, por exemplo, na Alemanha ou na Itália, que é um dos casos de
que se falaria bastante. É necessário ser-se bastante claro. Se a Catalunha quiser, de facto,
ser independente, tem que ser independente segundo um processo que siga as normas
habituais nestas coisas, mas a União Europeia não pode encorajar este tipo de declarações
de independência, não só unilaterais, mas também de independências que levariam a uma
fragmentação total do território europeu. Por outro lado, também é preciso ter em conta
que a União Europeia é uma união de estados e é normal que os estados procurem
preservar a sua integridade territorial. Foi o caso de Madrid, foi o caso do Governo espanhol.
Importa lembrar que o Governo espanhol é politicamente da mesma família de Jean Claude
Juncker e de Donald Tusk, ou seja, da família que domina as instituições europeias. Seria
muito difícil que as instituições europeias fossem contra um membro tão importante da
família política a que eles pertencem. Isso também é preciso dizê-lo porque não foi dito
claramente. A verdade é que, quer no caso da Escócia, quer no caso da Catalunha, o discurso
foi relativamente claro. Foi de que se essas regiões saírem do quadro nacional em que se
encontram terão que entrar num processo de adesão. Será certamente um processo de
adesão relativamente rápido, porque são regiões que já fazem parte do espaço geopolítico
europeu, mas têm, apesar de tudo, que seguir esse processo.

Com todos estes problemas, o “Brexit” prefigura-se quase como um mal menor, ainda que
seja um rombo considerável na dinâmica integracionista da União Europeia. A ideia de
manter um Estado-membro no seio da União com privilégios distintos e, ainda assim, com
algumas reticências ao próprio processo de integração, era insustentável a longo termo. O
“Brexit” era, de certa forma, um mal anunciado …

É verdade. Eu sou das pessoas que, em Bruxelas, defenderam que o “Brexit” era uma boa
ideia. Quando não se quer estar num clube, quando não se quer fazer parte de um projecto
comum e apenas se quer tirar proveito de algumas parcelas desse projecto, então tem de se
ser muito claro e é melhor não estar. É preciso dizer claramente a esse estado, a esse
governo que nessas condições, em principio, seria preferível um outro tipo de associação,
mas não fazer parte da União Europeia. A verdade é que a União Europeia sofreu um grande
abalo quando os resultados do referendo britânico foram conhecidos, mas conseguiu gerir
esse abalo, mantendo uma grande unidade entre os 27 países restantes na posição comum
em relação ao Reino Unido. Isso, por um lado. Por outro lado, também conseguiu fazer com
as negociações se centrassem em apenas duas ou três grandes questões. Em vez de se fazer
uma negociação com base num leque muito amplo de questões, concentraram-se em duas
ou três grandes questões, o que permite, por um lado focalizar as mentes e, por outro lado,
dar a impressão de que, se essas questões forem resolvidas, as outras questões são
questões relativamente secundárias e não terão um grande impacto na continuação do
projecto europeu. Penso que neste momento, o “Brexit” continua a ser um grande problema
para a Grã-Bretanha, é um problema muito secundário – comparado com outros problemas
que existem em Bruxelas – para a União Europeia. É um problema que precisa ser resolvido
e que a União Europeia vai procurar resolver, mas que não tem a importância, por exemplo,
do problema da relação com a Rússia ou a dimensão que tem o problema da imigração.

A questão das crises da dívida soberana aparentemente está resolvida, mas as aparências
podem, eventualmente, iludir. A economia portuguesa está a crescer, de facto, mas ainda
é cedo para perceber se a estabilidade está ou não alcançada. O mesmo se passa com a
Grécia, mas também com outros países, como a Itália ou a própria França. O fantasma da
dívida continua a pairar sobre a realidade europeia …

Sim, certamente. Portugal foi um bom exemplo, apesar de tudo, e conseguiu ultrapassar
grandes dificuldades orçamentais e das finanças públicas, mas existem outros países com
imensas dificuldades e com níveis de divida insustentáveis. O caso mais conhecido,
evidentemente, é o da Grécia, mas há vários outros países em risco. A Itália é um dos casos
flagrantes. A França, a própria França, é um mau aluno e é um mau exemplo em termos de
respeito pelos princípios comuns orçamentais e há ainda outros países. A Bélgica também
tem uma dívida pública bastante grande. A diferença, por exemplo, entre a Bélgica e
Portugal é que a Bélgica tem uma economia muito estruturada e uma economia muito forte,
com alicerces muito grandes, enquanto que em Portugal temos uma economia ainda
relativamente frágil e esta fragilidade faz com que o problema da dívida na Bélgica seja um
problema menor, digamos assim, ainda que os níveis da dívida sejam mais elevados do que
em Portugal. Isto significa o quê? Significa que certos países, nomeadamente Portugal,
precisam de olhar para a sua economia e de fazerem mais investimentos naquelas áreas
económicas que são promissoras e que podem fazer com que o país arranque e tenha uns
alicerces mais sólidos. O problema do crescimento económico continua a ser um problema
importante em vários países da União Europeia. O problema da solidariedade entre os
países também continua a ser um problema importante. O problema da dívida dos bancos, e
muito dos bancos europeus – nomeadamente, os bancos italianos, mas também alguns
bancos portugueses – estão muito fragilizados pelo crédito mal-parado. Na Itália essa é,
provavelmente a maior ameaça que existe ao sistema bancário italiano, a existência de
milhares de milhões de euros em crédito mal-parado. A questão bancária continua a ser
uma questão importante e é por isso que a nova presidência do Eurogrupo, que
provavelmente será da responsabilidade do Ministro português das Finanças, Mário
Centeno, vai ter grandes desafios pela frente e um dos grandes desafios é a estabilidade
financeira da Europa, é a questão das solidariedade entre os países europeus e é também a
questão do estabelecimento de um Fundo Monetário Europeu que permita rapidamente
intervir quando houver uma derrapagem orçamental.

É possível criar um instrumento desta natureza sem prejudicar os já existentes? Ou um


instrumento desta natureza já devia estar equacionado há trinta ou há quarente anos?

Pessoalmente, fui durante muitos anos contra a existência de um Fundo Monetário


Europeu, na medida em que existe o Fundo Monetário Internacional e a existência de um
Fundo Monetário Europeu viria enfraquecer o papel do Fundo Monetário Internacional, que
seria um fundo apenas para países subdesenvolvidos. Nós temos que evitar este tipo de
imagens das instituições internacionais: não podemos ter instituições internacionais para os
países subdesenvolvidos e outras para os países desenvolvidos. Devemos ter instituições
globais que permitam tratar todos os países da mesma maneira. No entanto, a realidade
geopolítica é o que ela é e, a verdade é, que na União Europeia existe uma vontade muito
grande neste momento de criar um Fundo Monetário para a Europa, com capitais europeus,
com regras europeias. A partir do momento em que os Estados estejam dispostos a
conceder fundos para que esse Fundo Monetário Europeu funcione e partir do momento em
que esse Fundo Monetário Europeu possa ser visto como uma autoridade independente e
tecnicamente competente, é possível aceitá-lo. A meu ver, ainda assim, não teria sido a
melhor opção. Mas vamos nessa direcção. Neste momento é muito evidente que nos
próximos anos se vai tentar estabelecer esse fundo.

A China tem tido um papel cada vez mais interventor em economias como a portuguesa,
como a grega ou como a economia de alguns países de leste. Ainda assim, assistimos ao
longo dos últimos tempos – com a aprovação recente de uma nova lei anti-dumping por
parte da União Europeia – a um endurecer da posição de Bruxelas em relação à República
Popular da China, sobretudo no que diz respeito ao trato comercial. No capítulo das
relações políticas, e no que toca a questões como os direitos humanos, a União Europeia
permanece pouco interventiva. Ainda assim, a tomada de posição de Bruxelas no que toca
ao direito comercial acaba por ser importante, dada a desigualdade de circunstâncias em
que operam os agentes chineses na Europa e os investidores europeus no Continente. O
que se pode esperar das relações entre a União Europeia e a China?

A relação entre a União Europeia e a China é uma relação muito complexa e deve ser vista a
partir de vários prismas. Um dos prismas é a relação entre a União Europeia e a Rússia, na
medida em que a relação que a União Europeia mantém com a Rússia é uma relação tensa, a
União Europeia tem toda a vantagem em ter uma relação mais positiva com a China, que é o
vizinho da Rússia. Isso, em certa medida, influencia bastante a maneira como a União
Europeia olha para o seu relacionamento político com a China. A esse nível, temos uma
atitude relativamente positiva de aprofundamento do relacionamento político, mas há
outros prismas e um deles é, nomeadamente, o prisma económico. Neste momento, os
investimentos chineses na União Europeia estão a disparar. Nos últimos dois ou três anos,
houve um crescimento aceleradíssimo do investimento chinês na União Europeia e não há
contrapartida do investimento europeu na China. Neste momento há uma estagnação dos
investimentos europeus na China, por provavelmente duas grandes razões: uma das razões
será porque a própria China já tem capitais suficientes e tem tecnologia para fazer os seus
próprios investimentos, mas, por outro lado, porque também existem na China grandes
barreiras ao investimento estrangeiro e, nomeadamente, ao investimento vindo da Europa.
Este é um ponto de uma certa contenção, de uma certa tensão entre as duas partes. Mas
para além da questão dos investimentos, o relacionamento da Europa com a China está
neste momento a ser complicado pelo facto de a China estar a investir fortemente nas suas
relações políticas com alguns países da Europa de Leste. Esta a tentar entrar na política
europeia através de países relativamente frágeis do ponto de vista económico, mas que
graças aos investimentos chineses passarão a adoptar posições favoráveis nos debates
europeus em relação à China. Isso, evidentemente, poderá provocar uma divisão das
posições políticas europeias no que diz respeito ao relacionamento com a China. Já
aconteceu isso recentemente, em que dois ou três países do leste europeu e também a
Grécia e até Portugal, se opuseram a que uma determinada posição em relação à China – e
que era uma posição relativamente clara – fosse adoptada. A União Europeia tem receio que
a China se aproveite com o relacionamento bilateral que mantém com os países europeus
para atenuar um determinado tipo de posições políticas em relação à China. No entanto, no
essencial, por causa da questão russa e por causa, também, de que a União Europeia vê na
China um dos grandes poderes – e um poder que é a favor da integração europeia – o
balanço do relacionamento da Europa com a China é positivo.

Acredita no futuro da Europa? Acredita que o desígnio por detrás do Acordo de Lisboa,
que é um acordo ambicioso, pode ser alcançado? Ou o Acordo de Lisboa está morto e
enterrado pelas circunstâncias que discutimos ao longo desta nossa conversa?

O futuro da Europa não pode ser uma questão de fé. Tem de ser uma questão de interesse.
E o interesse dos europeus é permanecerem unidos. Passam por uma União Europeia. Os
estados europeus, por si só, são muito frágeis e muito pequenos. Só unidos é que poderão
entrar em competição e poderão responder aos embates vindos de fora. Por isso, o projecto
europeu tem de continuar e tem de haver a ambição de o fazer continuar. Ou seja, o que
nós precisamos neste momento na Europa é de uma narrativa positiva em relação à
importância do projecto europeu. Nós precisamos na Europa de conseguir convencer os
cidadãos novamente que a União Europeia é fundamental para o seu bem-estar, para as
suas liberdades e para a sua segurança, do mesmo modo que os nossos antecessores
conseguiram convencer os cidadãos europeus que a União Europeia era fundamental para a
paz na Europa. Nós temos que lutar, de uma maneira bastante clara, junto da opinião
pública europeia para explicar claramente porque é que o projecto europeu continua a ser
um projecto válido e, provavelmente, a única opção para os cidadãos da Europa.

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