Os enfermeiros continuam a ser os profissionais de saúde que têm uma
maior proximidade com os idosos no seu domicílio.
Os recursos económicos e financeiros dos idosos, a dificuldade de mobilidade e
acessibilidade aos transportes públicos, o isolamento, muitas vezes agravado pela orografia da região, as doenças crónicas e a ocupação profissional das famílias, contribuem, para um número cada vez maior de pessoas idosas a necessitar de consulta de enfermagem ao domicílio. Por outro lado, a existência de cuidadores idosos é hoje um dado adquirido, cabendo geralmente ao cônjuge esse papel. Ser cuidador é uma atividade desgastante, que pode agravar-se no caso deste, não ter conhecimento, habilidade, ou apoio suficiente para a prestação dos cuidados, associado às dificuldades inerentes ao seu processo de envelhecimento. A realização da consulta de enfermagem no domicílio pressupõe a prestação de cuidados de forma continuada, orientados para a resolução dos problemas de saúde das pessoas, cuja complexidade não requer a sua institucionalização, mas que, pela sua situação de dependência global, transitória ou crónica as impede de se deslocarem ao centro de saúde. Implica cuidados de saúde globais e continuados ao indivíduo e família na sua própria habitação, cuja finalidade é promover, manter ou recuperar a saúde, maximizando o nível de independência ou minimizando os efeitos da deficiência ou da doença terminal. Deve ser efetuada de forma integrada, realçando o trabalho em equipa multidisciplinar com o objetivo de proporcionar a participação do idoso e família nos cuidados planeados, facilitando não só a adaptação às mudanças decorrentes do processo de envelhecimento, mas também a participação ativa do idoso no processo de auto cuidado, tornando-o responsável pela manutenção da saúde e bem-estar. Os enfermeiros continuam a ser os profissionais de saúde que têm uma maior proximidade com os idosos no seu habitat, e em consequência desta prestação de cuidados, poderemos obter ganhos em saúde para os indivíduos, família e comunidade, verificando-se uma diminuição do número de internamentos (diminuição dos custos) mantendo-se os idosos em casa, onde lhes é possível partilhar o espaço com a própria família.
A aposta em cuidados individualizados e de proximidade
Cuidar, reside na relação interpessoal do enfermeiro com a pessoa, ou do
enfermeiro com um grupo de pessoas, famílias ou comunidade. Esta interação leva à compreensão do outro na sua singularidade, permitindo estabelecer diferenças entre as pessoas e, assim, a prestarem-se cuidados de enfermagem de forma individualizada num processo interativo entre quem cuida e quem precisa dos nossos cuidados. Os Cuidados de Saúde Primários têm então, uma posição privilegiada e um papel fulcral na promoção da saúde, garantindo a continuidade da assistência no domicílio e deve pautar-se, pela acessibilidade universal, equidade e justiça social. Por outro lado, os cuidados de proximidade permitem uma maior humanização designadamente, nas respostas mais adequadas à complexidade dos problemas e necessidades das pessoas idosas, que integradas no seu meio familiar, conseguem expressar as suas preocupações sem receios e sem omissões.
A sobrecarga do cuidador
Mas, Cuidar do idoso no domicílio é, também, cuidar do cuidador, pois muitas
vezes, este também idoso necessita de conforto e apoio nos momentos de ansiedade, solidão e desamparo. A disponibilidade para ouvir, a competência para intervir e ajudar nos momentos adequados é fundamental, para que a família seja um agente ativo em todo este processo, pois como sabemos, um cuidador bem preparado é um elemento decisivo para a recuperação e a qualidade de vida do idoso e do próprio. No dia-a-dia, e na consulta de enfermagem ao domicílio, o Enfermeiro identifica a necessidade de cuidados do idoso, estabelece prioridades no cuidado, formula diagnósticos de enfermagem, planeia e executa intervenções dirigidas e personalizadas às características individuais, sociais e culturais das pessoas idosas e seus cuidadores, entenda-se cuidadores informais (Familiares, conjugue) estes, também alvo de cuidados.
O enfermeiro deve supervisionar e desenvolver intervenções que capacitem os
cuidadores para a prestação de cuidados globais ao idoso, de forma a não porem em risco a segurança da pessoa; instruindo sobre o que fazer, como e quando fazer; informando sobre a doença, as suas principais dificuldades, a gestão e adesão ao regime terapêutico, as redes locais de apoio, associações de ajuda, apoio social e económico, entre outras dificuldades expressas pelo idoso ou familiar. Mas não basta ensinar, é fundamental, instruir, treinar e posteriormente reavaliar a eficácia das intervenções, contribuindo deste modo para a manutenção da pessoa idosa, o mais funcional e autónoma possível no seu ambiente, e para que a família mantenha a sua função de suporte ao idoso. O cuidador necessita de apoio social, decisivo para manter o idoso no domicílio; apoio emocional, para diminuir a possibilidade de ansiedade, de frustração e os sentimentos de culpa; prevenindo muitas vezes estados de sobrecarga, baseada numa relação de empatia e confiança com o técnico de saúde.
Ganhar a aposta das visitas domiciliárias preventivas
Mas, teremos nós enfermeiros disponibilidade para prestar ao idoso e família a
atenção e ajuda necessária? Os recursos materiais e humanos permitem-nos disponibilizar o tempo necessário a cada família? Não privilegiamos a consulta de enfermagem curativa em detrimento da prevenção? Quantas vezes dizemos “lamento mas não posso ficar mais tempo….tenho outros doentes a visitar”. E nós o que sentimos? A maior parte das vezes, talvez frustração, outras porém, e na maioria das vezes, temos a consciência de que fizemos o melhor e o possível, pois apesar de todos os limites, os enfermeiros prestam um cuidado humano, de forma calorosa, com respeito, solidariedade, carinho, preocupando se com o outro, sentindo e vivenciando os seus problemas. Retomamos o caminho de volta e são outras famílias, outras histórias, outras dificuldades, ou talvez não… as dúvidas são as mesmas e os problemas por vezes semelhantes. O tratamento é diferente, pois os contextos variam, os apoios nem sempre existem, e muitas vezes são os técnicos de saúde os únicos a visitar quem está só. Os enfermeiros são profissionais de saúde com um papel prioritário no apoio aos idosos, doentes ou não, independentes ou não, com autonomia ou não. São profissionais determinantes, pois de forma sistematizada identificam os problemas dos idosos, atendendo às suas características biológicas, psicológicas, socioeconómicas, culturais e espirituais integrados num sistema maior, que é a família. A consulta de enfermagem ao domicílio, propicia uma aproximação com a realidade, constituindo também uma oportunidade de repensarmos e refletirmos neste fenómeno universal que é o envelhecimento, nas dificuldades inerentes a cada idoso e família e no tipo de apoio que poderemos prestar, de forma articulada e num ambiente de proximidade, tendo sempre em conta, a individualidade de cada pessoa, e a sua relação com os outros e com o meio envolvente. Só assim será possível detetar e avaliar com precisão as suas necessidades e as das suas famílias, e planear os cuidados a realizar.