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Os espaços públicos de acesso à internet

Marcelo Bechara* - 04 de junho de 2008


Fonte: Pesquisa Sobre o Uso das Tecnologias da Informação e da Comunicação 2007

As pessoas têm fome de informação. Isso não é algo novo há bastante tempo. Assim, o
que realmente importa é que nos mesmos moldes da falta de alimento, a falta de informação
conduz os que necessitam na busca de soluções que tragam algum tipo de satisfação.
O acesso à informação em locais coletivos é um fato antigo. Muitas comunidades em
localidades remotas compartilhavam o uso da televisão. Não era raro encontrar vizinhos
dividindo espaço em frente a um único aparelho instalado em ambientes abertos como praças
para todos aqueles que quisessem assistir aos programas mais populares da televisão aberta.
Muitas comunidades souberam se organizar a fim de transpor as barreiras da exclusão.
Os recentes números apresentados pelo Comitê Gestor da Internet no Brasil, através do seu
Centro de Estudo sobre as Tecnologias da Informação e da Comunicação, especialmente
sobre o uso e posse do computador, bem como de outras tecnologias convergentes, sinalizam
tendências que de uma certa forma já integram o senso comum dos que acompanham o setor,
mas que, sobretudo, possibilitam análises mais precisas e seguras.
Um das revelações mais importantes, diz respeito ao intenso uso de espaços públicos
para acesso à Internet, lembrando um pouco as antigas sessões televisivas comunitárias nas
praças e bairros do Brasil.
Os governos federal, estaduais e municipais, em todos os seus níveis de atuação já
assimilaram a cultura dos chamados telecentros, espaços públicos providos de computadores
conectados à Internet em banda larga, onde são realizadas atividades, por meio do uso das
TICs (Tecnologias da Informação e Comunicação), com o objetivo de promover a inclusão
digital e social das comunidades atendidas.
Os números demonstram um crescimento de 100% no último ano nesses ambientes de
acesso público gratuitos. Em alguns casos, são implantadas as cidades digitais, onde se
iluminam os municípios com o acesso à rede sem fio. Escolas, bibliotecas, prefeituras em todo
o país têm oferecido espaços para utilização pública. Em outro programa voltado para os
telecentros, o Governo Federal deverá implantar, até o final de 2008, pelo menos um
telecentro em cada município brasileiro.
Ainda neste cenário, o terceiro setor e a iniciativa privada, mormente o pequeno
empreendedor, vêm oferecendo possibilidades de acesso a preços razoáveis. Encontraram na
oferta de acesso ao público à rede mundial de computadores um bom negócio que acabou por
se multiplicar rapidamente em quase todo o país. Resultado: quase metade dos internautas
brasileiros acessam à Internet em locais públicos pagos. Nesse particular, as lanhouses têm
um papel fundamental, juntamente com cyber cafés e outros pontos de acesso.
Fenômeno importado da Coréia, a lanhouse é um conceito que trabalha a interação entre
usuários em rede. Sua concepção é intimamente ligada aos jogos eletrônicos, todavia,
atualmente bem mais ampla. Sua proliferação no começo da década nos grandes centros
passou por transformações significativas. Antes focadas em clientes mais elitizados de áreas
nobres e shopping centers, hoje, existem lanhouses espalhadas pelas periferias, aglomerados
e pelo interior do país. Em muitas comunidades pobres existem centenas desses espaços.
Conseqüentemente, leis foram publicadas a fim de organizar minimamente atividade em
alguns locais.
O sentimento de estimular o desenvolvimento desses ambientes nos parece conclusivo.
São numerosos os exemplos de favelas que incorporaram a cultura da Internet em suas
comunidades, justamente através das pequenas lanhouses. Os jovens em sua maioria (e de
baixa renda) passaram a utilizar com freqüência e-mails, participar de comunidades de
relacionamento, utilizar programas de mensagens instantâneas, promover pesquisas, etc.
Além da possibilidade de acesso ao conhecimento e a informação, grupos podem se
manifestar e se expressar contribuindo decisivamente na produção de conteúdos.
As regiões Norte e Nordeste do Brasil são as que demonstraram um maior crescimento no
uso dos espaços públicos pagos. Esses locais sobretudo são freqüentados por jovens de 10 a
24 anos, de menor nível de escolaridade (64% de nível fundamental). A renda dos usuários
desses locais é de até um salário mínimo em 78% dos entrevistados, o que mais uma vez
reitera o papel social dos pontos de acesso coletivo.
As lanhouses passaram a desempenhar importante papel na imersão de pessoas no espaço
cibernético, levando cidadãos há muito tempo isolados para um ambiente onde as fronteiras
são relativas e as dimensões proporcionam sensações de infinitude.
Certamente, políticas públicas e regulatórias e os fatos tecnológicos que surgem
diuturnamente fomentarão ainda mais o desenvolvimento de espaços públicos de Internet, na
medida em que a capacidade de acesso de melhor qualidade será ofertada em locais hoje
completamente desatendidos.
Contudo, um ponto que não pode deixar de ser observado diz respeito a alguns aspectos que
norteiam a própria Internet e que merecem atenção especial no acesso em locais públicos.
O primeiro deles diz respeito à segurança. Recentemente, o Tribunal de Justiça do Estado
de São Paulo condenou uma lanhouse daquele estado a indenizar em R$ 10 mil uma vítima de
difamação. A autora obteve na Justiça o IP de quem disparou e-mail ofensivo, sendo revelado
que a mensagem partiu de uma lanhouse. Insta ressaltar, que São Paulo é um dos estados
federados que impõe o cadastro de usuários, bem como a manutençãodos dados
preservados, nos termos da Lei Estadual nº 12.228, de 11 de janeiro de 2006.
Em Minas Gerais, o Tribunal de Justiça condenou uma lanhouse ao pagamento de três
salários mínimos por permitir a entrada de jovens para participarem de um game considerado
proibido para menores de dezoito anos, de acordo com a classificação estabelecida pelo
Ministério da Justiça, através da Portarianº 899, de 03 de outubro de 2001.
Esses exemplos levados ao Judiciário podem ser estendidos para a prática de tantas
outras condutas ilegais por parte de alguns proprietários e usuários desses locais, tais como
pornografia infantil, violação de direitos autorais e os delitos informáticos.
Assim sendo, todo crescimento bem vindo de inclusão não pode ser dissociado de elementos
essenciais para um bom funcionamento e uso da própria rede. Nesse sentido, políticas de
educação são essenciais para os agentes envolvidos a fim de que sejam garantidas, ou
melhor, incentivadas a criação de espaços comunitários de acesso à Internet, sem prejuízo do
exercício da cidadania, liberdade e segurança, princípios tão caros quando o que está em jogo
é a paz social.
Imperioso ressaltar, na última pesquisa, o crescimento vertiginoso na aquisição do
computador que há algum tempo é o bem de consumo mais desejado pelos brasileiros. A
presença mais marcante do computador, que já está em 24% dos domicílios do país, tem
como natural origem o aumento da renda, a desvalorização da moeda norte-americana frente
ao Real e a adoção de políticas eficientes que estimularam a produção e o varejo com
isenções tributárias.
Conseqüentemente, o acesso residencial à Internet cresceu, porém com menos vigor, o
que demonstra que ainda é um serviço caro, sobretudo no que tange à infra-estrutura e aos
serviços de telecomunicações. A banda larga, apesar de já ocupar a maior fatia da modalidade
de acesso, ainda é inacessível a grande parte dos usuários, sendo que muitos ainda navegam
na rede pelos métodos de conexão discada. O barateamento desse serviço é, logicamente, o
efeito catalisador que poderá impulsionar ainda mais os números apresentados.
É fato que infra-estrutura de banda larga ainda é um desafio. Recentes iniciativas do
Governo Federal foram adotadas no sentido de promover a universalização da banda larga
nos municípios ainda não atendidos, como, por exemplo, a alteração de metas de
universalização menos atraentes pela implantação de backhauls em todas as sedes
municipais até 2010.
Nesse caso, o Governo promoveu uma ampla negociação para a troca de metas de
universalização das empresas concessionárias de telefonia fixa, alterando a obrigação de
instalação de aproximadamente oito mil PST - Postos de Serviços de Telecomunicações no
país, pela construção de infra-estrutura adequada para levar a Internet de alta velocidade a
todos os municípios brasileiros.
Outrossim, não podemos afastar as novas possibilidades tecnológicas e novos terminais de
acesso à web, sobretudo os equipamentos portáteis. A introdução da tecnologia de terceira
geração da telefonia móvel, a possibilidade de acesso sem fio em grandes distâncias e todo o
processo de convergência tecnológica devem ser considerados como potencializadores do
processo de inclusão digital. O uso do telefone celular vem igualmente crescendo em
proporções flagrantes e sua evolução pode sinalizar no futuro sua utilização como importante
porta de acesso à Internet.
Aliado a tudo que foi dito, as soluções referidas no início deste artigo surgem de forma
contundente de modo a amenizar os obstáculos e as dificuldades de acesso.
Basta uma simples leitura dos números apresentados para notar o aumento expressivo do
acesso de pessoas ao computador e a Internet. Aqueles já foram utilizados pela maioria da
população brasileira, ou seja 53%, enquanto 41% já acessaram a grande rede. Portanto,
apesar do impacto das condições econômicas favoráveis diretamente nos domicílios, os
acessos públicos têm efetivamente contribuído para a inserção de parcela considerável e
importante da população brasileira no universo das novas tecnologias.
É verdade que em vários setores econômicos o crescimento da classe C trouxe um boom
de desenvolvimento, produção e crédito. Mas a sensação efetiva de que a qualidade do
consumo se materializa fortemente na busca de elementos fundamentais para a construção do
conhecimento na era digital, no contato com as ferramentas da sociedade contemporânea,
abre um horizonte mais animador. O crescimento da classe C se deve, objetivamente, à queda
no percentual dos que pertencem às classes D e E, uma importante conseqüência de políticas
públicas bem implementadas.
Os programas sociais aumentaram nos últimos anos, em seis milhões, o número de
pessoas na classe C, somente na região Nordeste do Brasil, que concentra boa parte da
população de baixa renda. O aumento do crédito ajudou a concretizar antigos objetos de
desejos da classe média. Entre os produtos mais cobiçados estão os artigos eletrônicos como
computadores e celulares.
A era da sociedade da informação é um estágio de desenvolvimento social caracterizado
pela capacidade de obter e compartilhar qualquer informação, instantaneamente, de qualquer
lugar e da maneira mais adequada. E é através da informação que o cidadão pode exercer
plenamente suas atividades, inclusive questionando e contribuindo para a construção de um
modelo verdadeiramente democrático.
Fica evidente que as dimensões e os desafios do Brasil não comportam soluções únicas e
centralizadas para a erradicação da exclusão digital. Contudo, as experiências bem sucedidas
demonstram que ações coordenadas dos diversos agentes públicos e privados são
indubitavelmente o melhor caminho. É assim que ampliamos os espaços da inclusão.
A Internet tem se mostrado como o mais amplo e eficiente ambiente de busca por informação
e produção colaborativa. Além do mais é um instrumento de convivência, entretenimento,
educação e prestação de serviços.
Com o uso crescente da Internet e a digitalização das mídias, assiste-se, nos últimos anos,
a uma convergência acelerada das telecomunicações e da comunicação permeadas pela
informação. Sejam em locais públicos ou privados, a informação estará cada vez mais
disponível, pronta para ser acessada ou mesmo concebida.
O crescimento vigoroso do acesso a alguma tecnologia de informação nas camadas
menos prestigiadas economicamente da nossa população, refletido de forma estampada nos
dados colhidos do ano de 2007, é mais do que uma conseqüência natural da capacidade
inventiva de nosso povo. É a crença num futuro melhor.

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Como citar este artigo:
BECHARA, Marcelo. Banda larga: Os espaços
públicos de acesso à internet. In: CGI.br (Comitê
Gestor da Internet no Brasil). Pesquisa sobre o uso
das tecnologias da informação e da comunicação
2007. São Paulo, 2008, pp. 47-50.

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