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DOUTORADO EM DIREITO
SÃO PAULO
2003
RESUMO
The main target of this work is to investigate the constitutional profile for
freedom of belief in Brazil, confirming the relation of the existing implication between
the principle of freedom of belief and the ruling for religious teaching in basic
education at public schools.
Considering that the principle of freedom of belief forbids any kind of bond and
subsidy to religious activities, we are trying to promote a contemplation on the
constitutional limits imposed on the legal discipline of religious teaching, with
emphasis on the regulating activity.
The constitutional decree for freedom of belief results in two organizing
principles, indispensable for the description and regulation of the issue, namely, state
laicity and the separation of the State from religion.
Spreading throughout the entire ruling system and consolidating the legal
regime for freedom of belief, laicity interlaces the different pertinent constitutional
rules and reflects on all the infra-constitutional material, setting frontiers and charging
positive and negative obligations to the State and to private people.
Thus it is proved that the rules for religious teaching must remain rigorously
obedient and harmonious with the limits and terms of state laicity. Therefore adoption
of the infra-constitutional rule that allowed public financing for religious teaching, as
well as state interference in this association (Law n. 9.475/1997), appears inevitably
unconstitutional.
RÉSUMÉ
La cible principale du présent travail est basée sur l´investigation des contours
constitutionnels de la liberté de croyance au Brésil, ce qui rend évident la relation de
l´implication existante entre le principe de liberté de croyance et l´observance de
l´enseignement religieux dans les écoles publiques de l´enseignement fondamental.
Si nous estimons que le principe de liberté et croyance défend toute forme
d´attache et de subvention aux activités de nature religieuse, nous recherchons à
favoriser une réflexion sur les limites constitutionnelles imposées à la discipline
juridique de l´enseignement religieux tout en insistant sur l´importance de l´activité
réglementaire.
INTRODUÇÃO 2
CAPÍTULO 1
A IGUALDADE DE TODAS AS RELIGIÕES E CRENÇAS PERANTE A LEI
5
CAPÍTULO 2
LIBERDADE DE CRENÇA
50
2
tributário, previdenciário, civil, penal, além do aporte teórico da hermenêutica, da
3
Dedicamos o Capítulo II para um exame da liberdade de crença como direito
crença.
estudos tópicos para demonstrar a tensão existente entre norma jurídica e fato social.
9.475/1997.
4
CAPÍTULO 1
difusão de uma mentalidade leiga – que alcançou sua plena afirmação no séc. XVIII,
reivindicando a primazia da razão sobre o mistério, e postulando uma concepção
1 Na sua obra clássica sobre o movimento Iluminista, o filósofo Ernest Cassirer demonstra a profunda
renovação que a idéia de religião logrou nas filosofias da época: a filosofia transcendental de I. Kant
refuta a explicação teológico-metafísica, e toma a investigação a partir da análise das faculdades do
conhecimento, isto é, trata a religião nos limites da simples razão; enquanto a filosofia de Rosseau
transpõe a religião para a análise da sociedade e a crítica das insti tuições políticas. v. Ernst
CASSIRER. A Filosofia do Iluminismo. Campinas: Editora da Unicamp, 1997, p. 189.
5
A busca por uma teoria racional do Estado colocou em xeque os postulados
Instala-se uma tensão entre norma jurídica e norma divina – a lei não mais
tomada como vontade de Deus, mas como construção humana, expressão da
vontade geral.
entre Estado e religião, denominado pela sociologia de Max Weber como separação
das esferas de valor . 4 Debruçando-se sobre esse fenômeno, assim se manifesta
Norberto Bobbio:
2
Considerada o marco intelectual do Iluminismo, a Enciclopédia foi planejada como uma descrição
dos vários ramos do conhecimento humano, e teve como principais protagonistas Diderot e
D’Alambert. Rousseau, Montesquieu e Voltaire, entre outros, figuraram como seus colaboradores. v.
Simon BLACKBURN. Dicionário Oxford de Filosofia. Rio de Janeiro: Zahar, 1997, p. 116.
3
Denis DIDEROT. Textes Choisis de L’Encyclopédie ou Dictionnaire Raisonné des Sciences, des
Arts et des Métiers . Introduction et Notes par Albert Soboul. Paris: Éditions Sociales, s.d., p. 249.
4
Max Weber designa o processo de modernização/secularização empregando o conceito de
separação das esferas de valor, seja a de valor religioso, político ou estético, passa a ser regida por
6
A história do relacionamento entre Estado e Igreja (do cristianismo
em diante) é rica em conflitos. Durante séculos foram propostos vários
tipos de soluções, classificadas das maneiras mais variadas. A
classificação que mais sintética nos parece a seguinte: 1) reductio ad unun.
Distingue-se conforme se trate da redução do Estado à Igreja (teocracia)
ou da Igreja ao Estado (cesaropapismo na época imperial, erastianismo
nos modernos Estados nacionais protestantes; 2) subordinação. Aqui
também
pretendaéquenecessário
o Estadodistinguir duas teorias
seja subordinado ou sistemas,
à Igreja conforme se
(teoria prevalentemente
seguida pela Igreja Católica, da potestas indirecta ou da potestas directiva
da Igreja sobre o Estado) ou que a Igreja seja subordinada ao Estado
(jurisdicionalismo e territorialismo, durante o período das monarquias
absolutistas); 3) coordenação. É o sistema fundado sobre relacionamentos
concordatários, que pressupõem o reconhecimento recíproco dos dois
poderes como ‘cada um, na própria ordem, independentes e soberanos’
(art. 7º da Constituição); 4) separação. Segundo o sistema do separatismo,
em voga, por exemplo, nos Estados Unidos, as igrejas são consideradas a
nível de associações privadas, às quais o Estado reconhece liberdade de
desenvolver a sua missão dentro dos limites da lei. 5
“Ninguém pode ser molestado por suas opiniões, incluindo as suas opiniões
religiosas, desde que a sua manifestação não perturbe a ordem pública estabelecida
uma normatização própria. v. Max WEBER. Economia e Sociedade. Brasília: Editora Universidade de
Brasília, 2000, p. 279.
5
Norberto BOBBIO. Teoria do Ordenamento Jurídico. 10. ed. Brasília: Universidade de Brasília, 1999,
p. 181.
7
pela lei”, acentuava o décimo artigo da Declaração Francesa dos Direitos do Homem
e do Cidadão.6
domínio:
6
Promulgada em 26 de Agosto de 1789, encontra-se em vigor, por força do Preâmbulo da
Constituição Francesa de 1958.
7
O termo puritanismo designa uma corrente do protestantismo inglês que atacava vigorosamente
e gestuália
certas facetas
religiosa.
da Igreja
v. George
Anglicana,
A. MATHER
exigindo base
e Larry
bíblica
A. NICHOLS.
para vestuário, uso de
Dicionário deinstrumentos de some
Religiões, Crenças
Ocultismo. São Paulo: Vida, 2000, p. 369.
8
A argumentação de John Locke progride no sentido de provar a noção de tolerância religiosa no
âmbito do governo civil. v. John LOCKE. Carta a Respeito da Tolerância. São Paulo: Instituição
Brasileira de Difusão Cultural, 1964, p. 48.
8
deveriam mais cautelosamente do que quaisquer outras conter-se dentro
de sua própria esfera. Porque, ao tentarem estender seu poder além das
questões religiosas, incorrem no risco de deixarem completamente de ser
acreditadas.9
caracterizada:
outras providencias”:
9
Alexander de TOCQUEVILLE. Democracia na América. São Paulo: Companhia Editora Nacional, Ed.
da Universidade de São Paulo, 1969, p. 272.
10
Hans KELSEN. A Democracia. São Paulo: Martins Fontes, 1993, p. 242.
9
art. 2 º . A todas as confissões religiosas pertence por igual a
faculdade de exercerem o seu culto, regerem-se segundo a sua fé e não
serem contrariadas nos actos particulares ou publicos, que interessem ao
exercício deste decreto.
Separação.
18:
Extratos do preâmbulo: “(...) Dom Pedro Primeiro, por graça de Deos (...) Em
nome da Santíssima Trindade.”
Art. 5 o . A Religião Catholica Apostolica Romana continuará a ser a Religião do Imperio. Todas as
outras Religiões serão permitidas com o seu culto doméstico, ou particular em casas para isso
destinadas, sem forma alguma exterior de Templo”.
Art. 102. O Imperador é o Chefe do Poder Executivo, e o exercita pelos seus Ministros de Estado.
São suas principaes atribuições:
10
II. Nomear Bispos, e prover os Benefícios Eclesiásticos.
XIV. Conceder, ou negar Beneplacito aos Decretos dos Concilios, e Letras Apostolicas, e quaesquer
outras Constituições Ecclesiasticas, que se não oppozerem á Constituição; e precedendo approvação
da Assembléa, se contiverem disposição geral.
Art. 103. O Imperador antes de ser acclamado prestará nas mãos do Presidente do Senado, reunidas
as duas Camaras,
integridade, o seguinte do
e indivisibilidade Juramento
Imperio; –observar,
Juro manter a Religião
e fazer Catholica
observar Apostolica
a Constituição Romana,
Politica a
da Nação
Brazileira, e mais Leis do Imperio, e prover ao bem geral do Brazil, quanto em mim couber.
Art. 141. Os conselheiros de Estado, antes de tomarem posse, prestarão juramento nas mãos do
Imperador de – manter a Religião Catholica Apostolica Romana; observar a Constituição, e as Leis;
ser fieis ao Imperador; aconselhal-O segundo suas consciencias, attendendo sómente ao bem da
Nação.
Art. 179. V. Ninguém póde ser perseguido por motivo de Religião, uma vez que respeite a do Estado,
e não offenda a Moral Pública.
Art. 72, § 3º. Todos os individuos e confissões religiosas podem exercer publica e livremente o seu
culto, associando-se para esse fim e adquirindo bens, observadas as disposições do direito commum.
§ 5º. Os cemiterios terão caracter secular e serão administrados pela autoridade municipal, ficando
livre a todos os cultos religiosos a pratica dos respectivos ritos em relação aos seus crente s, desde
que não offendam a moral publica e as leis. 11
§ 6º. Será leigo o ensino ministrado nos estabelecimentos publicos.
§ 7º. Nenhum culto ou igreja go zará de subvenção official, nem terá relações de dependencia ou
alliança com o Governo da União, ou o do Estados.
§ 28º. Por motivo de crença ou funcção religiosa, nenhum cidadão brazileiro poderá ser privado de
seus direitos civis e políticos nem eximir-se do cumprimento de qualquer dever civico.
§ 29º. Os que allegaram motivo de crença religiosa com o fim de se isentarem de qualquer onus que
as leis da Republica imponham aos cidadãos, e os que acceitarem condecorações ou titulos
nobiliarchicos estrangeiros perderão todos os direitos políticos.
11
Trata-se de norma que revogou a Lei de 1º de outubro de 1828, denominada Regimento das
Câmaras Municipais do Império (uma espécie de lei orgânica de todos os municípios, que vigeu até o
advento da Constituição de 1891). Por força do art. 66, § 2º, desta lei, a administração dos cemitérios
cabia à autoridade religiosa local.
11
Constituição de 16 de Julho de 1934
III. ter relação de alliança ou dependencia com qualquer culto ou igreja, sem prejuízo da collaboração
reciproca em prol do interesse colletivo;
Art. 113. 4) Por motivo de convicções philosophicas, politicas ou religiosas, ninguém será privado de
qualquer dos seus direitos, salvo o caso do art.111, letra b.
6) Sempre que solicitada, será permitida a assistencia religiosa nas expedições militares, nos
hospitaes, nas penitenciarias e em outros estabelecimentos officiaes, sem onus para os cofres
publicos, nem constrangimento ou coacção dos assistidos. Nas expedições militares a assistencia
religiosa só poderá ser exercida por sacerdotes brasileiros natos.
7) Os cemitérios terão caracter secular e serão administradas pela autoridade municipal, sendo livre a
todos os cultos religiosos a pratica dos respectivos ritos em relação aos seus crentes. As associações
religiosas poderão manter cemitérios particulares, sujeitos, porém, á fiscalização das autoridades
competentes. É-lhes prohibida a recusa de sepultura onde não houver cemiterio secular.
Art. 111. Perdem-se os direitos politicos: b) pela isenção de onus ou serviço que a lei imponha aos
brasileiros, quando obtida por motivo de convicção religiosa, philosophica ou politica.
Art. 113, 1. Todos são iguaes perante a lei. Não haverá privilégios, nem distincções, por motivo de
nascimento, sexo, raça, profissões proprias ou dos paes, classe social, riqueza, crenças religiosas ou
ideas politicas.
Art. 146. O casamento será civil e gratuita a sua celebração. O casamento perante ministro de
qualquer confissão religiosa, cujo rito não contrarie a ordem publica ou os bons costumes, produzirá,
todavia, os mesmos effeitos que o casamento civil, desde que, perante a autoridade civil, na
habilitação dos nubentes, na verificação dos impedimentos e no processo de opposição, sejam
observadas as disposições da lei civil e seja elle inscripto no Registro Civil. O registro será gratuito e
obrigatório. A lei estabelecerá penalidades para a transgressão dos preceitos legaes attinentes á
celebração do casamento.
Art. 153. O ensino religioso será de frequencia facultativa e ministrado de acôrdo com os principios da
confissão religiosa do alumno, manifestada pelos paes ou responsaveis, e constituirá materia dos
horarios nas escolas publicas primarias, secundarias, profissionaes e normaes.
12
Constituição de 10 de Novembro de 1937
Art. 122, item 4 - Todos os indivíduos e confissões religiosas podem exercer pública e livremente o
seu culto, associando-se para êsse fim e adquirindo bens, observadas as disposições do direito
comum, as exigências da ordem pública e dos bons costumes.
Item 5 - Os cemitérios terão caráter secular e serão administrados pela autoridade municipal.
Art.133. O ensino religioso poderá ser contemplado como matéria do curso ordinário das escolas
públicas primárias, normais e secundárias. Não poderá, porém, constituir objeto de obrigação dos
mestres ou professores, nem de frequência compulsória por parte dos alunos.
III - ter relação de aliança ou dependência com qualquer culto ou igreja, sem prejuízo da colaboração
recíproca em prol do interêsse coletivo.
Art. 141, § 7º. É inviolável a liberdade de consciência e de crença e assegurado o livre exercício dos
cultos religiosos, salvo o dos que contrariem a ordem pública ou os bons costumes. As associações
religiosas adquirirão personalidade jurídica na forma da lei civil.
§ 8º. Por motivo de convicção religiosa, filosófica ou política, ninguém será privado de nenhum dos
seus direitos, salvo se a invocar para se eximir de obrigação, encargo ou serviço impostos pela lei
aos brasileiros em geral, ou recusar os que ela estabelecer em substituição d aqueles deveres, a fim
de atender escusa de consciência.
§ 9º. Sem const rangimento dos favor ecidos, será prestada por brasileiro (art. 129, nos I e II)
assistência religiosa às fôrças armadas e, quando solicitada pelos interessados ou seus
representantes legais, também nos estabelecimentos de internação coletiva.
13
§ 10º. Os cemitérios terão caráte r secular e serão administrados pela autoridade municipal. É
permitido a tôdas as confissões religiosas praticar nêles os seus ritos. As associações religiosas
poderão, na forma da lei, manter cemitérios particulares.
Art. 163, § 1º. O casamento será civil, e gratuita a sua celebração. O casamento religioso equivalerá
ao civil se, observados os impedimentos e as prescrições da lei, assim o requerer o celebrante ou
qualquer interessado, contando que seja o ato inscrito no registro público.
§ 2º. O casamento religioso, celebrado sem as formalidades dêste artigo, terá efeitos civis, se a
requerimento do casal, fôr inscrito no registro público, mediante prévia habilitaçã o perante a
autoridade competente.
Art. 168, V - o ensino religioso constitui disciplina dos horários das escolas oficiais, é de matrícula
facultativa e será ministrado de acôrdo com a confissão religiosa do aluno, manifesta por êle, se fôr
capaz, ou pelo seu representante legal ou responsável.
Deus (...)”
Art 9º. À União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios é vedado:
Art. 20. É vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios:
Art.150, § 1º. Todos são iguais perante a lei, sem distinção de sexo, raça, trabalho, credo religioso e
convicções políticas. O preconceito de raça será punido pela lei.
§ 5º. É plena a liberdade de consciência e fica assegurado aos crentes o exercício dos cultos
religiosos, que não contrariem a ordem pública e os bons costumes.
§ 6º. Por motivo de crença religiosa, ou de convicção filosófica ou política, ninguém será privado de
qualquer dos seus direitos, salvo se a invocar para eximir-se de obrigação legal imposta a todos, caso
em que a lei poderá determinar a perda dos direitos incompatíveis com a escusa de consciência.
§ 7º. Sem constrangimento dos favorecidos, será prestada por brasileiros, nos têrmos da lei,
assistência religiosa às forças armadas e auxiliares e, quando solicitada pelos interessados ou seus
representantes legais, também nos estabelecimentos de internação coletiva.
Art.civil
ao 167,se§observados
2º. O casamento será civil e gratuita
os impedimentos a sua celebração.
e as prescrições O casamento
da lei, assim o requererreligioso equivalerá
o celebrante ou
qualquer interessado, contanto que seja o ato inscrito no registro público.
§ 3º. O casamento religioso celebrado sem as formalidades dêste artigo terá efeitos civis se, o
14
requerimento do casal, fôr inscrito no registro público, mediante prévia habilitação perante a
autoridade competente.
Art. 168, § 3º, IV- o ensino religioso, de matrícula facultativa, const ituirá disci plina dos horári os
normais das escolas oficias de grau primário e médio.
Deus (...)”
Art. 9º. À União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios é vedado:
Art. 19. É vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios:
Art. 153, § 1º. Todos são iguais perante a lei, sem distinção de sexo, raça, trabalho, credo religioso e
convicções políticas. Será punido pela lei o preconceito de raça.
§ 5º. É plena a liberdade de consciência e fica assegurado aos crentes o exercício dos cultos
religiosos, que não contrariem a ordem pública e os bons costumes.
§ 6º. Por motivo de crença religiosa, ou de convicção filosófica ou política, ninguém será privado de
qualquer dos seus direitos, salvo se o invocar para eximir-se de obrigação legal a todos imposta, caso
em que a lei poderá determinar a perda dos direitos incompatíveis com a escusa de consciência.
§ 7º. Sem caráter de obrigatoriedade, será prestada por brasileiros, nos termos da lei, assistência
religiosa às forças armadas e auxiliares e, nos estabelecimentos de internação coletiva, aos
interessados que a solicitarem, diretamente ou por intermédio de seus representantes legais.
Art. 175, § 2º. O casamento será civil e gratuita a sua celebração. O casamento religioso equivalerá
ao civil se, observados os impedimentos e as prescrições da lei, o ato for inscrito no registro público,
a requerimento do celebrante ou de qualquer interessado.
§ 3º. O casamento religioso celebrado sem as formalidades do parágrafo anterior terá efeitos civis, se,
a requerimento do casal, for inscrito no registro publico, mediante prévia habilitação perante a
autoridade competente.
Art. 176, § 3º, V – O ensino religioso, de matrícula facultativa, constituirá disciplina dos horários
normais das escolas oficiais de grau primário e médio.
Cabe consignar algumas observações, ainda que esquemáticas e breves.
15
Dispensável realçar que a Constituição do Império conferia ao Estado um
religião oficial, religião de Estado, como também porque limitava o culto das
o instituto da objeção de consciência (art. 72, § 29º, primeira parte), ressalvado que
12
Expressão que em sua acepção jurídica designa objetos ou condutas das quais a lei retirou o
caráter religioso, passando a ser qualificadas como civis (não-religiosas).
16
A Constituição de 1934 inaugurou a previsão de assistência religiosa nas
cofres públicos. Mantendo como regra a secularização dos cemitérios, aquela Carta
constitucional.
17
o: “sem distinção de (...) credo religioso (...)”.
forças armadas. Vale notar ainda que, na trilha de suas antecessoras, excetuando-
se a primeira Constituição republicana, referida Carta assegurava ampla liberdade
13
A Lei da Boa Razão, de agosto de 1769, prescrevia a adoção do Direito Romano como fonte
normativa subsidiária das Ordenações.
18
As Manoelinas dirigiram nosso direito cerca de noventa anos. E de mais
de dois séculos foi a vida do Código Filipino. Durante trezentos e trinta
anos, de 1500 a 1830, o combate ao crime e ao criminoso se fez, em
nossa terra, através das velhas leis de Portugal. 14
seguintes regras:
que previa a atuação de um Capelão que, “além de celebrar a missa aos domingos e
dias santos, instruíra a escravatura nos princípios da religião cristã”. 15
celebração ou culto de confissão religiosa que não fosse o oficial (art. 276); proibia a
14
Ruy Rebello PINHO. História do Direito Penal Brasileiro - Período Colonial . São Paulo: Editora da
Universidade de São Paulo, 1973, p. 19.
15
BAHIA. Secretaria da Cultura. Documentação Jurídica sobre o Negro no Brasil, 1800 – 1888 .
Francisco Sergio Mota Soares et. al . (org). Salvador: Empresa Gráfica da Bahia, 1989, p. 36.
19
zombaria contra o culto estabelecido pelo Império (art. 277) e criminalizava a
seus artigos convém destacar o tipo penal de curandeirismo (art. 156) e o delito de
espiritismo (art. 157).
16
Antonio
Janeiro: Ed.Bento RibeiroAnnotações
FARIA.
Jacinto dos Santos, Theorico-Praticas ao Código Civil Penal do Brasil. Rio de
v.I, 1929, pp. 307-310.
17
Ana Lúcia Pastore SCHRITZMEYR. Direito e Antropologia: Uma Historia de Encontros e
Desencontros – Julgamentos de Curandeirismo e Charlatarismo – (Brasil – 1900/1990) in Revista
Brasileira de Ciências Criminais. São Paulo: Revis tas dos Tribunais, n. 18, abr/jun, 1997, pp. 135 –
145.
20
subordinava o funcionamento dos “cultos africanos” à autorização concedida pela
poder”. 18 Quanto à finalidade, Dalmo de Abreu Dallari acrescenta ainda que “este
busca o bem comum de um certo povo, situado em determinado território”. 19
18
Geraldo ATALIBA. Lições de Teoria Geral do Estado. São Paulo: Instituto de Direito Público, 1976,
p. 67.
19
Dalmo de Abreu DALLARI. Elementos de Teoria Geral do Estado . 16. ed. São Paulo: Saraiva, 1991,
p. 91.
21
práticas que reúnem numa mesma comunidade moral, chamada igreja, todos
20
Émile DURKHEIM. As Formas Elementares da Vida Religiosa . São Paulo: Martins Fontes, 2000, p.
32.
21
Norberto BOBBIO, Nicola MATTEUCI e Gianfranco PASQUINO. Dicionário de Política . Brasília:
Universidade de Brasília, 1986, p. 121.
22
Todas as confissões religiosas são igualmente livres perante a lei.
As confissões religiosas diversas da Católica têm direito de organizarem-
se conforme os próprios estatutos, desde que não conflitem com o
ordenamento jurídico italiano. As suas relações com o Estado são
regulamentadas por lei na base de um entendimento com as respectivas
representações. (art. 8o )
22
Jose Joaquim Gomes CANOTILHO. Direito Constitucional e Teoria da Constituição. 3. ed. Coimbra:
Ed. Livraria Almedina, 1998, p. 159.
23
N. BOBBIO, N. MATTEUCCI e G. PASQUINO, Dicionário de Política, p.1.146.
23
Igreja no desempenho de tarefas que pertencem ao Estado, conforme seu
ordenamento interno. 24
discurso religioso, bem como pela separação das esferas de domínio do Estado e da
religião, de modo que ordenamento jurídico e ordenamento religioso mantém uma
24
Ibidem, mesma página.
24
O princípio laico consistir ia, assim, em uma importante regra, a saber: não ter
a pretensão de possuir a verdade mais do que qualquer outro possa ter a pretensão
militares de internação coletiva; o art. 150, inciso VI, alínea “b”, prescreve a
imunidade tributária de templos de qualquer culto, e o art. 226, § 2º, confere efeitos
civis ao casamento religioso.
25
Hans KELSEN, A Democracia, p. 242.
25
plano formal, a disciplina jurídica dessas matérias revela a preservação de um amplo
26
O procedimento de análise deste tipo de conflito encontra na obra de Norberto
26
Norberto BOBBIO, Teoria do Ordenamento Jurídico, p. 163.
27Bobbio divisa ordenamento como um contexto de normas hierarquizadas e articuladas entre si. O
autor considera ordenamento jurídico e sistema normativo como sinônimos. Norberto BOBBIO, Teoria
do Ordenamento Jurídico, pp. 20/75.
28
Ibidem, p. 164.
29
Ibidem, pp. 174-5.
27
Vale anotar que, no caso específico do sistema jurídico brasileiro, há apenas
uma hipótese, salvo melhor juízo, de um ato cuja ocorrência na seara estritamente
28
. a proibição de obstruir, impedir, tolher, perturbar ou estorvar o funcionamento de
. a proibição de realizar qualquer pacto, acordo ou união a qualquer título com culto
ou igreja.
“Não há negar-se que uma certa colaboração é possível, como reza o mesmo
dispositivo. Contudo, cabe à lei definir as modalidades desta cooperação”, dirão
30
Consciência
Celso Ribeiro
e deBASTOS
Crença ineRevista
Samantha MEYER-PFLUG.
de Direito DoeDireito
Constitucional Fundamental
Internacional . São Paulo:
à Liberdade
Revistasdedos
Tribunais, v. 36, jul/set, 2001, pp. 112-113.
31
“Normas que contêm esquemas gerais, um como que início de estruturação de instituições, órgãos
ou entidades”. v. José AFONSO DA SILVA. Aplicabilidade das Normas Constitucionais. 3. ed. São
Paulo: Malheiros, 1998, p. 123.
29
da separação Estado/religião e o princípio da laicidade estatal, sobre os quais já
fiéis, num determinado lugar, para adorar a Deus, fortalecer a comunhão cristã e
desenvolver o serviço cristão ( Epístola aos Efésios, 5, 30-33). Na linguagem comum,
além de significar templo, o termo também é empregado para designar uma
jurisprudência.
religiões, mas que terminou assumindo uma denotação circunscrita aos sacerdotes
do catolicismo.
32
Jónatas MACHADO. A Constituição e os Movimentos Religiosos Minoritários in Boletim da
Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra . Coimbra: Faculdade de Direito. v. LXXII, 1996, p.
218.
33
Ibidem, p. 265.
31
sacerdote, clérigo, padre”. 34 Se ainda assim pairassem dúvidas sobre a gênese
88, que poderia ter sido evitada, entre outros, com o empréstimo dos termos
empregados pela Lei dos Registros Públicos, a Lei 6.015/73, verbis:
que diz respeito à relação entre Estado e religião, a Constituição brasileira atribui à
República um estatuto jurídico inequívoco, induvidoso: uma República laica.
estados que exigem reconhecimento oficial para que uma determinada confissão
34
Aurélio Buarque de Holanda FERREIRA. Aurélio Século XXI – O Novo Dicionário Aurélio da Língua
Portuguesa. 3. ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1999, p. 714.
32
O Brasil alinha-se a esta segunda corrente, de sorte que inexiste, no sistema
Note-se que mesmo aqueles países como Dinamarca ou Itália, que deferem
privilégios a religiões oficiais, ou Irã, que toma os preceitos islâmicos como fonte
categorias abstratas, espirituais, temporais. Deste modo, delas não se pode exigir
33
em exame.
Porque ou
outras, errônea cada igrejaEéainda:
herege. ortodoxa
(...) para
todo osi poder
consigo
do mesma;
governo para as
civil diz
respeito tão só aos interesses civis dos homens, limitando-se ao cuidado
enquanto pertence a este mundo, nada tendo a ver com o mundo a vir. 35
Logo, não poderá discriminar nenhuma confissão com base na verdade ou falsidade
religiosa”. 36
35
John LOCKE, Carta a Respeito da Tolerância, pp. 12-20.
36
Cristobal Orrego SANCHEZ e Javier Saldaña SERRANO. Principios del Derecho y Libertad
Religiosa in Revista de Derecho da Universidad de Concepcion. Chile: Facultad de Ciencias Jurídicas
y Sociales, Ano LXVII, 1999, passim.
37
Jónatas MACHADO, A Constituição e os Movimentos Religiosos Minoritários, p. 229.
34
que reivindiquem a condição de associação religiosa, deverão ser considerados
como tal pelo Estado e pelos particulares, sem quaisquer restrições ao exercício e
oportunidades.
35
exercício dos cultos (no plural), além de garantir a proteção dos locais de culto e
Interessante observar que já nos idos dos anos sessenta do século passado,
perigo remoto de intolerância para com o culto das minorias, sobretudo se estas se
formam de elementos étnicos diversos”. 39
38
Paulo de Barros CARVALHO. Curso de Direito Tributário. 12. ed. São Paulo: Saraiva, 1999, p.183.
39
Aliomar BALEEIRO. Limitações Constitucionais ao Poder de Tributar. Rio de Janeiro: Forense,
1980, p. 182.
36
Não se deve ter dúvida quanto ao fato de que o sistema jurídico brasileiro
40
A tristemente famosa inquisição, o caso Jean Calas , o caso Dreyfus 41, o
continente africano, são apenas alguns exemplos dos frutos produzidos pelo germe
da intransigência religiosa.
crença e de culto.
40
Ocorrido em Toulouse em 1762, no qual o ancião Jean Calas, protestante, foi condenado à morte,
acusado de parricídio. O julgamento foi fortemente influenciado por católicos, com o argumento de
que os protestantes tinham o hábito de sacrificar os próprios filhos. O filho morto, Marc-Antonie, havia
cometido suicídio, conforme terminou comprovado. Jean Calas foi executado no dia 9 de julho de
1762. v. VOLTAIRE. Tratado sobre a Tolerância. São Paulo: Martins Fontes, 1993, passim.
41 Fato célebre ocorrido entre 1894 e 1914, na França, que decorreu da prisão de um militar francês,
judeu, Alfred Dreyfus, condenado e degregado injustamente sob a acusação de traição e venda de
segredos militares. O caso deu ensejo a manifestações anti-semitas na França, sendo que anos
depois o verdadeiro culpado acabou identificado, resultando na reabilitação de Dreyfus. v. Antonio
Carlos do Amaral AZEVEDO. Dicionário de Nomes, Termos e Conceitos Históricos . 2. ed. Rio de
Janeiro: Nova Fronteira, 1997, p. 152.
37
Um caso emblemático, julgado pela Suprema Corte norte-americana, Church
42
of The Lukumi Babalu Aye versus City of Hialeah , ilustra a transigência exigível do
denominada Santería (levada para os Estados Unidos no século XIX, por negros
cubanos), atribuiu ao sacrifício de animais um lugar destacado entre os seus ritos, a
que o Estado deve manter-se absolutamente neutro, não podendo discriminar entre
as diversas igrejas, quer para beneficiá-las, quer para prejudicá-las”.43
42
Church of the Lukumi Babalu Aye versus City of Hialeah/Florida (113 S. Ct. 2217, 1993), publicado
em JÀ, 1995-I-320.
43
Celso Ribeiro BASTOS. Curso de Direito Constitucional. 20. ed. São Paulo: Saraiva, 1999, p.192.
38
Comentando a possibilidade de colaboração entre Estado e religião, o autor
sublinha que, “No entanto, esta colaboração será sempre difícil, uma vez que deverá
44
Ibidem, p.192.
45
José AFONSO DA SILVA. Curso de Direito Constitucional Positivo. 9. ed. São Paulo: Malheiros,
1992, p. 174.
46
Aurélio Buarque de Holanda FERREIRA, op. cit., p. 915.
39
Recepcionando o sentido operado pelo vocabulário comum, a doutrina e a
igualdade da alma, calma, equilíbrio moral; eqüidade, espírito de justiça, enfim, justa
proporção”.48
“eqüidade na forma de participação no custeio” (art. 194, inciso V). Neste plano, o
vocábulo eqüidade assume a significação de justa proporção, de proporcionalidade,
lembrando o princípio constitucional da capacidade contributiva, segundo o qual,
“Sempre que possível, os impostos terão caráter pessoal e serão graduados
segundo a capacidade econômica do contribuinte (...)” (art. 145, § 1º).
47
v.g., José AFONSO DA SILVA, Curso de Direito Constitucional Positivo , p. 195; Celso Antonio
Bandeira
p. 15; Antonio Carlos Conteúdo
de MELLO. de AraújoJurídico
CINTRA, doAda
Princípio da Igualdade
Pellegrini . 3. ed.
GRINOVER São Paulo:
e Cândido Malheiros, 1993,
R. DINAMARCO.
Teoria Geral do Processo . 9. ed. São Paulo: Malheiros, 1992, p. 52; STF Recurso Extraordinário n.
82.520 – Rel. Cunha Peixoto - j. 04.11.75.
48
José Pedro MACHADO. Dicionário Etimológico da Língua Portuguesa . 6. ed. Lisboa: Livros
Horizonte, v. 2, 1990, p 521.
40
Não obstante esta especificidade, a eqüidade, a par da analogia e da
lacuna legal.
assertiva de Tércio Sampaio Ferraz Jr.: “O juízo por eqüidade, na falta de norma
positiva, é o recurso a uma espécie de intuição, no concreto, das exigências da
discricionário do juiz, visto que o art. 127, do Código de Processo Civil, determina
que “O juiz só decidirá por eqüidade nos casos previstos em lei”.
49
Tercio Sampaio FERRAZ JR. Introdução ao Estudo do Direito. São Paulo: Atlas, 1991, p. 277.
50
André Franco MONTORO. Introdução à Ciência do Direito. 24. ed. São Paulo: Revista dos
Tribunais, 1997, p. 143.
41
Demarcada a semântica dos vocábulos igualdade, isonomia e eqüidade, cabe
perante a lei. 51
51
Manoel Gonçalves FERREIRA FILHO. Curso de Direito Constitucional – de Acordo com a
Constituição de 1988. 20. ed. São Paulo: Saraiva, 1993, p. 276.
52
Norberto BOBBIO. Igualdade e Liberdade. Rio de Janeiro: Ediouro, 1996, p. 29.
53
Ibidem, mesma página.
42
econômicas entre os homens, porém, que se limitava a acentuar a regra
de plena nivelação de todos perante a lei (...) 54.
54
Anacleto de Oliveira FARIA. Do Princípio da Igualdade Jurídica . São Paulo: Revista dos Tribunais e
Ed. da Universidade de São Paulo, 1973, pp. 48/98.
55
Ibidem, mesma página.
43
discriminar; faculdade de distinguir ou discernir; discernimento; separação,
constituinte para indicar violação de direitos motivada por atributos da pessoa, seja a
srcem (art. 3°, IV); cor ou raça (arts. 3°, IV, 4°, VIII, 5°, XLII, e 7°, XXX); sexo (arts.
3°, IV, 5°, I, e 7°, XXX); idade (arts. 3°, IV, e 7°, XXX); estado civil (art. 7°, XXX),
porte de deficiência (arts. 7°, XXXI, 227, II); credo religioso (art. 5°, VIII); convicções
filosóficas ou políticas (art. 5°, VIII); tipo de trabalho (art. 7°, XXXII) ou natureza da
filiação (art. 227, § 6°), entre outros recolhidos na realidade social e reputados como
fontes de desigualação.
56
Aurélio Buarque de Holanda FERREIRA, op. cit., p. 596.
44
Assim, o preâmbulo da Constituição Federal consigna o repúdio ao
discriminação (de onde se poderia inferir que preconceito seria espécie do gênero
discriminação); o art. 4º, VIII, assinala a repulsa ao racismo no âmbito das relações
internacionais; o art. 5º, XLI, prescreve que a lei punirá qualquer forma de
discriminação atentatória dos direitos e garantias fundamentais; o mesmo art. 5º,
XLII, criminaliza a prática do racismo; o art. 7º, XXX, proíbe diferença de salários e
de critério de admissão por motivo de cor, entre outras motivações, e, finalmente, o
art. 227, que atribui ao Estado o dever de colocar a criança a salvo de toda forma de
discriminação e repudia o preconceito contra portadores de deficiência.
57
Trata-se de uma evidente impropriedade semântica, uma vez que o preconceito, uma categoria
psicológica, designa elementos volitivos e/ou afetivos situados na esfera da liberdade interior do
indivíduo,de
portanto, no regramento
terreno da subjetividade, da liberdade
jurídico - ao menos de opinião
no Estado e de pensamento,
Democrático sendobase
de Direito. Com insuscetível,
nesse
entendimento arriscamos afirmar que, ao empregar o termo preconceito, a voluntas legislatoris, a
vontade do legislador pretendeu significar discriminação, esta sim, uma conduta passível de sanção
estatal.
58
v. Celso Antonio Bandeira de MELLO, Conteúdo Jurídico do Princípio da Igualdade, passim.
45
Especificamente no tocante à proibição de discriminação fundada em credo
o
religioso, a Constituição Federal estatui no art. 5 , inciso VIII, que “ninguém será
internacional, não possui a força normativa dos tratados internacionais, mas nem por
isso ocupa lugar desimportante na galeria dos princípios que regem o direito
internacional. A este respeito anota, por exemplo, Saulo José Casali Bahia
59
Saulo José Casali BAHIA. Tratados Internacionais no Direito Brasileiro. Rio de Janeiro: Forense,
2000, p. 09.
60
Hildebrando ACCIOLY. Manual de Direito Internacional Público. 11. ed. São Paulo: Saraiva, 1995,
p.121.
46
Examinemos então o enunciado da Declaração para Eliminação de Todas as
Restringir quer dizer estreitar, limitar, delimitar, conter dentro de certos limites,
reduzir.
61
Aurélio Buarque de Holanda FERREIRA, op. cit., p. 1.628.
47
Os direitos consagrados e reconhecidos pela constituição
designam-se, por vezes, direitos fundamentais formalmente constitucionais,
porque eles são enunciados e protegidos por normas com valor
constitucional formal (normas que têm a forma constitucional). A
Constituição admite, porém, outros direitos fundamentais constantes das
leis e das regras aplicáveis de direito internacional. Em virtude de as
normas que os reconhecem e protegem não terem forma constitucional,
62
estes direitos são chamados direitos materialmente fundamentais.
o
De resto, o art. 6 da Declaração em comento enumera um catálogo de
direitos tutelados, muitos dos quais previstos na Constituição e na legislação
62
J. J. Gomes CANOTILHO, Direito Constitucional e Teoria da Constituição, p. 369.
63
Anacleto de Oliveira FARIA, op. cit ., p. 266.
48
Note-se que o reconhecimento deste dado da realidade, justifica a
quais figura o credo religioso, sob nenhum pretexto pode ser tomado como um plexo
49
CAPÍTULO 2
LIBERDADE DE CRENÇA
aspectos essenciais:
o primeiro diz respeito à liberdade de não crer, de ser indiferente, agnóstico, ateu,
donde decorre o direito de não-adesão a qualquer confissão religiosa;
64
Celso Ribeiro BASTOS. Dicionário de Direito Constitucional. São Paulo: Saraiva, 1994, p. 104.
65
Celso Ribeiro BASTOS e Samantha MEYER-PFLUG, Do Direito Fundamental à Liberdade de
Consciência e de Crença, p. 114.
50
o terceiro atina às medidas de proteção da liberdade de crença, de culto, de liturgia
51
advertindo para a característica de excepcionalidade das regras de direitos
boa medida, a conceituação dos direitos fundamentais pode ser revelada pela
atividade legislativa de regulação desses direitos, no dizer dos autores:
Arrematam os autores,
66
Lorenzo Martín-Retortillo BAQUER e Ignacio De Otto y PARDO. Derechos Fundamentales y
Constitución. Madri: Editorial Civitas, 1983, p. 125.
67
Ibidem, p. 126.
52
reguladora, isto é, qualquer direito constitucional possui o atributo do
53
descuida do anel que circunda o referido núcleo hermético, em termos de que a
rigidez do núcleo essencial não pode ser de tal forma entendida como proibição da
atividade reguladora, citando como exemplo o direito de greve, o qual encerra sim
conteúdo.
54
2.2 Liberdade de crença
O vocábuloNum
plurissignificativo. liberdade não comporta
primeiro momentouma única conceituação,
pode-se definir como é a
faculdade que cada pessoa possui de decidir ou agir segundo a sua
própria determinação. Sob o prisma social e jurídico, de outra parte, pode-
se conceituar como o poder de agir de cada pessoa dentro de uma
sociedade, segundo a sua própria determinação, desde que respeitados
os limites impostos pela lei. Também é possível concebê-la como a
faculdade de fazer tudo aquilo que não é proibido por lei. 68
(igual em quê?), bem como dos demais sujeitos da relação (igual a quem?). 69
68
Celso Ribeiro BASTOS. Direito de Recusa de Pacientes Submetidos a Tratamento Terapêutico às
Transfusões de Sangue, por Razões Científicas e Convicções Religiosas in Revista dos Tribunais .
São Paulo: Revista dos Tribunais, ano 90, v. 787, 2001, p. 501.
69
Norberto BOBBIO, Igualdade e Liberdade, pp.7-12.
70
Sobre ser controversa, vale assinalar que há autores que postulam a existência de uma quarta
geração de direitos, a exemplo de Paulo Bonavides, que refere “o direito à democracia, o direito à
informação e o direito ao pluralismo”. Paulo BONAVIDES. Curso de Direito Constitucional . 9. ed. São
Paulo: Malheiros, 2000, p. 525.
55
a primeira geração de direitos, dos direitos individuais, que derivou da Bill of Rigths
71
v. Manoel Gonçalves FERREIRA FILHO. Direitos Humanos Fundamentais. São Paulo: Saraiva,
1995, pp. 53-60.
72
Norberto BOBBIO. A Era dos Direitos. Rio de Janeiro: Campus, 1992, p.72.
56
Há mais, demarcando os conceitos de liberdade negativa e liberdade positiva,
Já a Liberdade negativa – consiste em fazer (ou não fazer) tudo o que as leis,
entendidas em sentido lato e não só em sentido técnico-jurídico, permitem ou não
proíbem (e, enquanto tal, permitem não fazer). 74
“Ninguém poderá ser submetido a medidas coercitivas que possam restringir sua
liberdade de ter ou de adotar uma religião ou crenças de sua escolha” (art. 18, item
2).
73
Norbeto BOBBIO, Igualdade e Liberdade, p. 51.
74
Ibidem, p. 49.
75
“a liberdade consiste na ausência de toda coação anormal, ilegítima e imoral”. v. José AFONSO DA
SILVA, Curso de Direito Constitucional Positivo, p. 211.
76
Promulgado pelo Decreto n. 592, de 06.07.1992.
57
A respeito do conteúdo descritivo do vocábulo coação, observa Miguel Reale
que
2.3 Crença
77
Miguel REALE. Lições Preliminares de Direito . 19. ed. São Paulo: Saraiva, 1991, pp. 69-71.
78
Aurélio Buarque de Holanda FERREIRA, op. cit., p. 576.
58
Tomado como constructo mental/afetivo, o fenômeno da crença inscreve-se
de crença, deve ser conjugada ainda com a asserção sociedade pluralista, inscrita
significado:
79
José AFONSO DA SILVA, Curso de Direito Constitucional Positivo , p. 210.
80
Ibidem, p. 163.
81
Simon BLACKBURN. Dicionário Oxford de Filosofia. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor Ltda, 1997,
p. 301.
59
consideração por parte do Estado, de modo uniforme, sem fazer nenhuma
distinção entre eles. 82
Vale anotar também uma construção pretoriana dos anos sessenta do século
passado, na qual o Supremo Tribunal Federal afasta a possibilidade de associação
82
Cristobal Orrego SANCHEZ e Javier Saldaña SERRANO, Principios del Derecho y Libertad
Religiosa, p.110.
83
Mircea ELIADE e Ioan P. COULIANO. Dicionário das Religiões . São Paulo: Martins Fontes, 1999,
passim.
60
No Brasil, para uma população estimada em 169.872.856 (cento e sessenta e
noventa e duas mil e quatrocentas e três) pessoas que declararam não possuir
religião, além de catalogar 25 diferentes denominações religiosas, assinalado que o
IBGE incluiu categorias genéricas, a exemplo de “outras religiões evangélicas”,
religiosa.
84
http: // www.ibge.gov.br. Acesso: 20 ago 2003. v. também Rubem César FERNANDES, Roberto da
MATTA et al. Brasil & EUA: Religião e Identidade Nacional. Rio de Janeiro: Graal, 1988, p. 40.
61
2.4 Normas de Direito Comparado
Estados confessionais
62
A palavra islã “deriva da raiz slm:aslama (submeter-se), significando
se submete (a Deus)”.85
suratas (palavra árabe que significa “o que abre ou inicia”), e é creditado a uma
(protestante) manifesta-se, não apenas pela tutela constitucional dos seus estatutos,
mas também, pelo emprego do termo dissidentes para classificar as demais
doutrinas religiosas, pelo que estas são consideradas “opositoras, discordantes,
divergentes”.88
Estados laicos
desfrutarão da liberdade de religião. Nenhuma religião será tida como oficial, e Igreja
e Estado manter-se-ão separados”.
Casos híbridos
64
confissões.
º
art. 7 . O
independentes Estado e a Igreja
e soberanos. Católica são
suas relações são,regulamentadas
cada um na própria esfera,
por pactos
Lateranenses, e as modificações dos pactos, aceitas pelas duas partes,
não requerem procedimento de revisão constitucional.
art. 8º. Todas as confissões religiosas são igualmente livres
perante a lei. As confissões religiosas diversas da Católica têm direito de
organizarem-se conforme os próprios estatutos, desde que não conflitem
com o ordenamento jurídico italiano. As suas relações com o Estado são
regulamentadas por lei na base de entendimentos com as respectivas
representações.
65
Constituição Federal Austríaca:
estatal, ou religião oficial, opera-se com a noção de religião reconhecida, sendo que
as não-reconhecidas são obrigadas a realizar seus cultos em espaços privados,
domiciliares.
Ensino religioso
66
ministrar aquela disciplina.
Ensino laico
67
Vale registrar, por fim, que a Carta dinamarqueza proíbe textualmente que um
em que estes sejam utilizados para suportar despesas de doutrina religiosa diversa
daquela do contribuinte.
68
contrariar ou negar vigência aos tratados internacionais, ou à lei federal (art. 105, III,
“a”).
Note-se ainda que o dispositivo do art. 109, inciso III, da Lei Fundamental,
atribui à Justiça Federal a competência para processar e julgar “as causas fundadas
89
Flávia PIOVESAN. Direitos Humanos e o Direito Constitucional Internacional. 3. ed. São Paulo: Max
Limonad, 1997, p. 79.
69
Invocando o princípio da máxima efetividade da norma constitucional, e,
90
Ibidem, p. 89.
70
Não padece dúvida, portanto, de que os tratados internacionais estão
situados, quando menos, no mesmo grau de hierarquia das leis de direito interno.
da Costa Rica92:
91
Promulgado pelo Decreto n. 592, de 6 de julho de 1992.
92
Promulgado pelo Decreto n. 678, de 6 de novembro de 1992.
71
4. Os pais, e quando for o caso os tutores, têm direito a que seus
filhos ou pupilos recebam a educação religiosa e moral que esteja acorde
com suas próprias convicções.
redação:
93
Promulgada pelo Decreto n. 65.810, de 8 de dezembro de 1969.
72
evidencia os principais contornos jurídicos da liberdade de crença, merecendo
da laicidade estatal;
94
“No direito subjetivo há sempre um bem e interesse, mas o direito não é esse bem ou interesse;
não se confunde com ele. No direito à vida, no direito de propriedade, no direito de legislar, o direito
não consiste propriamente na vida, na propriedade ou na legislação, objetivamente considerados,
mas numa relação entre esses bens e a pessoa. O bem ou interesse – isto é a vida, as coisas ou o
ato de legislar – são o ‘objeto’ do direito subjetivo”. v. André Franco MONTORO, Introdução à Ciência
do Direito, p. 448.
95 Convém assinalar a demarcação feita por José Afonso da Silva entre direitos e garantias: os
primeiros conformam disposições declaratórias que conferem existência legal aos direitos
reconhecidos, ao passo que as segundas contém disposições assecuratórias, em termos de que
limitam o poder estatal em favor dos interesses dos indivíduos, além de disponibilizarem medidas
administrativas e/ou judiciais para as hipóteses de violação ou ameaça de violação de direitos. v.
José AFONSO DA SILVA, Curso de Direito Constitucional Positivo, p. 360.
73
moral. Seu dever se limita a garantir as condições de igual liberdade
religiosa e moral. 96
face da promoção do fato religioso, o que não o impede de proteger o fato religioso.
confissãoart.religiosa
5 , VIII ou
– ninguém será privado
de convicção filosóficadeoudireitos
política,porsalvo
moti vo
se de
as
invocar para eximir-se de obrigação legal a todos imposta e recusar-se a
cumprir prestação alternativa, fixada em lei.
art. 15. É vedada a cassação de direitos políticos, cuja perda ou
suspensão só se dará nos casos de: IV – recusa de cumprir obrigação a
todos imposta ou prestação alternativa, nos termos do art. 5 o, VIII.
art. 143 - O serviço militar é obrigatório nos termos da lei.
§ 1º. Às Forças Armadas compete, na forma da lei, atribuir serviço
alternativo aos que, em tempo de paz, após alistados, alegarem imperativo
de consciência, entendendo-se como tal o decorrente de crença religiosa e
de convicção filosófica ou política, para se eximirem de atividades de
caráter essencialmente militar.
96
John RAWLS. Uma Teoria da Justiça. São Paulo: Martins Fontes, 1997, p. 231.
97
Celso Ribeiro BASTOS, Dicionário de Direito Constitucional, p. 104.
74
§ 2º. As mulheres e os eclesiásticos ficam isentos do serviço
militar obrigatório em tempo de paz, sujeitos, porém, a outros encargos
que a lei lhes atribuir.
75
também, sejam atendidas as aptidões do convocado.
políticos; objeção de consciência parcial atina àquela modalidade que reconhece tão
somente a motivação de natureza religiosa.98
Canadá (National Defense Act, 1952) e pelos Estados Unidos (Selective Service
Act, 24 de junho de 1948).
sistema jurídico brasileiro adota a objeção de consciência do tipo total, visto que
admite a invocação de motivações de natureza religiosa, filosófica ou política. Por
98
Alberto R. DALLA VIA. La Consciencia y el Derecho . Belgrano/Argentina: Fundación Editorial de
Belgrano, 1998, p. 184.
76
passagem de um constructo mental, uma atitude (na acepção da psicologia) para
crença.
habitual maestria:
99
Assinalada a devida ressalva de que o sistema constitucional brasileiro faz menção textual à
moralidade (arts. 5 o, LXIII; 14, § 9°e 37, caput), notadamente ao tratar dos princípios que norteiam a
administração pública.
77
interno porque moralmente eu sou obrigado não somente a conformar a
ação mas também a agir com pureza de intenção. 100
objetor.
100
Norberto BOBBIO. Direito e Estado no Pensamento de Emanuel Kant 3. ed. Brasília : Editora
Universidade de Brasília, 1995 , p. 57.
101
Norberto BOBBIO, Nicola MATTEUCI e Gianfranco PASQUINO, Dicionário de Política, p 335.
102
John RAWLS, Uma Teoria da Justiça, p. 408.
78
Prestigioso magistério de Maria Garcia divisa a desobediência civil nos
seguintes termos:
Ainda que esteja situada além do território no qual o presente trabalho almeja
transitar, cumpre dizer que a questão da objeção de consciência redefine e recoloca
os termos da antiga controvérsia entre direito natural e direito positivo, entre lei e
103
Maria GARCIA. Desobediência Civil – Direito Fundamental. São Paulo: Revista dos Tribunais,
1994, p. 257.
104
Norberto BOBBIO, Nicola MATTEUCI e Gianfranco PASQUINO, op. cit., p 335.
79
2.6.1 Objeção de consciência: registro de um caso apreciad o pelo Ministér io
da Educação e de um pedido de ausência justificada deferido pela
Justiça Eleitoral do Rio de Janeiro
Relator:
ortodoxos.
eleitoral De
de todo o exposto,
15 de novembrotenho por justificável
de 1986, em razão adaausência do pleito
fé religiosa que
professam os adventistas do sétimo dia e judeus ortodoxos, cabendo que
se lhes expeça a competente certidão. 105
105
José Torres PEREI RA JUNIOR. A Liberdade de Culto no Pleito de 15.11.86 in Revista de
Informação Legislativa. Brasília: Subsecretaria de Edições Técnicas do Senado Federal, ano 24, n. 94,
abr/jun 1987, pp. 253-262.
81
CAPÍTULO 3
circulação
liturgias”.
82
Veja-se o Texto Constitucional:
de Reunião”:
106
José AFONSO DA SILVA, Curso de Direito Constitucional Positivo, p. 242.
83
comunicação à autoridade policial, a fim de que esta lhe garanta, segundo
a prioridade do aviso, o direito contra qualquer que no mesmo dia, hora e
lugar, pretenda celebrar outro comício.
107
Fernando Dias Menezes de ALMEIDA. Liberdade de Reunião. São Paulo: Max Limonad, 2001, p.
166.
108
Ibidem, p. 167.
84
A liberdade de manifestação de pensamento tem seus ônus, tal
como o de o manifestante identificar-se, assumir claramente a autoria do
produto do pensamento manifestado, para sendo o caso, responder por
eventuais danos a terceiros. 109
Por último, mas não em último, cumpre registrar uma nota sobre o direito de
circulação, valendo-nos do magistério de José Afonso da Silva: “Direito à circulação
109
José AFONSO DA SILVA, Curso de Direito Constitucional Positivo, p. 222.
85
é manifestação característica da liberdade de locomoção: direito de ir, vir, ficar, parar,
estacionar”.110
Costa Rica:
110
Ibidem, p. 217.
86
art. 6 º. De acordo com o art. 1 o da presente Declaração, e sujeito
às disposições do § 3 o , do mesmo art. 1 o , o direito à liberdade de
pensamento, consciência, religião ou crença deve incluir, inter alia , as
seguintes liberdades: (a) Cultuar e reunir-se por motivos relacionados à
religião ou crença, e estabelecer e manter locais para estas finalidades; (b)
Estabelecer e manter apropriadas instituições de caridade ou humanitárias;
(c) Fazer adquirir ou utilizar na medida adequada os artigos e materiais
necessários relacionados
Escrever, emitir aos ritos
ou disseminar e costumes
publicações de religião
relevantes ou crença;
nestas áreas; (d)
(e)
Ensinar uma religião ou crença em locais apropriados; (f) Solicitar e
receber financiamentos voluntários e outras contribuições de indivíduos ou
instituições; (g) Treinar, apontar, eleger ou designar por sucessão líderes
apropriados de acordo com as exigências e padrões de cada religião ou
crença; (h) Observar dias de descanso e celebrar festas e cerimônias de
acordo com os preceitos de religião ou crença; (i) Estabelecer ou manter
comunicações com indivíduos ou comunidades sobre o tema de religião ou
crença a níveis nacional e internacional.
de reverências e honras a uma divindade. Via de regra o culto tem dois objetivos: o
primeiro refere-se à veneração a um ser sobrenatural, e o segundo relaciona-se com
empregados em um culto religioso, o que nos permite afirmar que a liturgia configura
87
o
consciência e de crença e ao livre exercício do culto religioso (art. 4 , alíneas “d” e
Atenção deve ser dedicada também à norma do art. 217, inciso I, do Código
de Processo Civil, cuja dicção é a seguinte: “Não se fará, porém, a citação, salvo
ampliar ainda mais os instrumentos de que o Estado pode dispor para manter os
cultos de quaisquer religiões ou crenças salvaguardados de investidas e violações
de direitos.
de liturgia, admite uma decomposição jurídica, menos com base em uma tipologia
que dela possa ser feita, e mais pela apreciação da normativa que a delimita,
protege e assegura as condições de possibilidade para sua manifestação.
88
de crença como direito fundamental, mas advertíamos para a dificuldade da
aos crentes o exercício dos cultos religiosos que não contrariem a ordem pública e
os bons costumes”.
89
social. 111
aos caprichos do grupo de poder capaz de impor sua interpretação do que fosse
“bons costumes”.
à lei, tomada como expressão da soberania popular, uma imperatividade sem a qual
o
Note-se que a Lei de Introdução ao Código Civil, em seu art. 2 , caput, fixa
uma regra elementar do princípio da legalidade (Constituição Federal, art. 5 o, XXXIX
111
Marcos Cláudio ACQUAVIVA. Dicionário Jurídico Brasileiro. 3. ed. São Paulo: Jurídica Brasileira,
1993, p. 245.
112
José AFONSO DA SILVA, op. cit., p. 110.
90
e XL): “a rt. 2 º. Não se destinando à vigência temporária, a lei terá vigor até que outra
a modifique ou revogue”.
Recurso Extraordinário
(convocado) n . 20829
– DJU de 29.01.53, – Rel. Abner de Vasconcelos
p. 01196);
2. O costume contra legem não pode ser fundamento de decisão
judicial, porque a lei só se revoga por outra lei. Recurso Extraordinário
conhecido e provido (STF - Recurso Extraordinário n o 58414 – Rel.
Evandro Lins – DJU de 02.03.66, p. 00534);
3. Jogo do bicho. Impos sibilidade de absolvição em razão do
costume. I - o sistema jurídico brasileiro não admite possa uma lei perecer
pelo desuso, porquanto, assentado no princípio da supremacia da lei
escrita (fonte principal do direito), sua obrigatoriedade só termina com sua
revogação por outra lei. Noutros termos, significa que não pode ter
existência jurídica o costume " contra legem ". II - Recurso provido por
ambas alíneas (STJ - Recurso Especial no 30705 – Rel. Adhemar Maciel –
DJU de 03.04.95, p. 08150).
tornam passíveis de ataque pela via do Recurso Especial (CF, art. 105, inciso III,
alínea “a”), quando não do Recurso Extraordinário (CF, art. 102, inciso III).
Com estas considerações pretendemos pôr em realce o fato de que, uma vez
91
A vinculação do culto e da liturgia ao poder de polícia administrativa
estar coletivo.
92
administrativas à liberdade e à propriedade’, e não mais sob o rótulo de
‘poder de polícia’. 113
coletivo”.114
polícia administrativa, mormente dos municípios, cujas leis e posturas devem ser
rigorosamente observados, sob pena da imposição de sanções passíveis de
113
Celso Antonio Bandeira de MELLO. Curso de Direito Administrativo. 13. ed. São Paulo: Malheiros,
2001, p. 687.
114
Ibidem, p. 696.
115
Hely Lopes MEIRELLES. Direito Municipal Brasileiro. 11. ed. São Paulo: Malheiros, 2000, p. 393.
93
restringir não o direito de liberdade de culto ou de liturgia, mas o exercício daquele
direito.
acima ou ao largo desta, mesmo porque, como diria Hely Lopes Meirelles, “Como
todo ato administrativo, o ato de polícia subordina-se ao ordenamento jurídico que
respectivamente.
116
Hely Lopes MEIRELLES. Direito Administrativo Brasileiro. 20. ed. São Paulo: Malheiros, 1995, p.
114.
94
próprios meios esses indivíduos acessariam ou não o culto e procurariam ou não a
assistência religiosa.
impedindo-o de constranger alguém a fazer alguma coisa que vulnere seus valores
religiosos, políticos ou ideológicos.
ainda que o indivíduo se encontre sob custódia do Estado, sob cuidados médicos ou
95
acesso à assistência religiosa e ao culto, poderíamos recordar que, por força do
dispositivo do art. 15, inciso III, da Lei Fundamental, a sentença penal condenatória
assistência religiosa nas entidades hospitalares públicas e privadas, bem como nos
estabelecimentos prisionais civis e militares”:
Federal”:
97
filantrópico e exercida gratuitamente.
religiosa às Forças Armadas (art. 141, § 9º), orientação esta acolhida ipsis literis pela
Constituição de Constituição de 1967 (art. 150, § 7º), e por sua sucessora, de 1969
(art. 150 § 7º).
98
A mesma Constituição fixa os objetivos a que se destinam as Forças Armadas,
composta por cidadãos conscientes dos seus direitos e deveres, pelo que não
vislumbramos plausibilidade na previsão legal do engajamento religioso como
requisito para a atividade militar.
art. 8 o), é um servidor militar remunerado pelo erário para fazer pregação religiosa
no seio da tropa.
proíbe a subvenção ou aliança entre Estado e religião (Constituição Federal, art. 19,
inciso I).
117
Hely Lopes MEIRELLES, Direito Administrativo Brasileiro, pp. 85-86.
100
exigências estranhas inclusive aos preceitos de direito internacional, conforme
aduzido adiante.
menciona o vocábulo eclesiásticos (art. 143, § 2°), o qual exibe uma denotação
focalizada nos sacerdotes do catolicismo, pelo que, tendo em mente o caráter laico
antigos, aquele que tratava dos assuntos religiosos e tinha o poder de oferecer
vitimas à divindade; aquele que distribui os dons sagrados ou divinos; ministros do
culto divino, da instrução religiosa e dos sacrifícios”.118
manifesta:
118
Aurélio Buarque de Holanda FERREIRA, op. cit., p. 1.795.
101
estabelecidas, desde que devidamente aprovados para o exercício de
suas funções pela autoridade religiosa competente.
secundários”.119
Em regra, portaria não atinge nem obriga aos particulares, conforme inclusive
já decidiu o Supremo Tribunal Federal, como também deve estar circunscrita aos
contornos da legalidade.
legais e, por decorrência, definindo as condições nas quais o direito pode ser
exercido.
A esse respeito, devemos atentar para a dicção do art. 5 o, inciso XIII, da Lei
Fundamental, segundo o qual, “é livre o exercício de qualquer trabalho, ofício ou
119
Hely Lopes MEIRELLES, Direito Administrativo Brasileiro, p. 167.
102
permanente, de ordem intelectual ou não, a qual envolve certos encargos ou
Regional
3.954/91 –doRel.
Trabalho da 3 Caldeira
José Maria Região––DJMG
2 Turma – Recurso Ordinário n
de 13.06.1992);
Não configura relação de emprego tutelada pela legislação
trabalhista o vínculo existente entre o autor, enquanto membro de
congregação religiosa, e o instituto reclamado, personificação civil e
jurídica daquela, eis que ausentes os elementos configuradores desta
relação, estando sujeitos aos ditames do Direito Canônico (Tribunal
Regional do Trabalho da 4 a Região – 5 a Turma – Recurso Ordinário n o
4.636/90 – Rel. Paulo José da Rocha – j. em 26.09.91)
Vínculo empregatício. Igreja. Falso sacerdócio. A Igreja, se e
enquanto organizada como pessoa jurídica de direito privado (Mitra, ou
sociedade civil análoga), em tese pode ser sujeito de contrato de emprego
quando beneficiária de trabalho humano produtivo, prestado sem ânimo
benevolente. É empregada a pessoa simples, que, sem qualquer formação
teológica e intitulada ‘obreiro cristão’, sob a máscara de um pseudo e
incipiente sacerdócio, trabalha exclusivamente para arrecadar donativos
em prol de Igreja (Tribunal Regional do Trabalho da 9a Região – 3 a Turma
– Recurso Ordinário no 1.329/92 – Rel. João Oreste Dalazen – j. 31.03.93
– DJPR de 30.07.93).
103
Postas as coisas nestes termos, inspirados nos termos primitivos da
profissão ou trabalho, foi equacionada pelo Direito Previdenciário por meio da Lei n.
104
Consagrada, Congregação ou Ordem Religiosa aos Trabalhadores Autônomos e dá
outras Providências”.
105
c) o ministro de confissão religiosa e o membro de instituto de
vida consagrada, de congregação ou de ordem religiosa, quando mantidos
pela entidade a que pertencem, salvo se filiados obrigatoriamente à
Previdência Social em razão de outra atividade ou a outro regime
previdenciário, militar ou civil, ainda que na condição de inativos;
106
emprega o vocábulo igreja, pretendendo significar religião, equiparando-o a culto
de liturgia.
Assim é que, seguindo uma trilha distinta da portaria em tela, a Carta Magna
não faz menção à doutrina religiosa, ou à religião legítima, tampouco à autoridade
Religiosa :
107
religião, vinculados por uma ética religiosa e cooperados para a consecução de
angariamento de adeptos.
108
III - confessionais, assim entendidas as que são instituídas por
grupos de pessoas físicas ou por uma ou mais pessoas jurídicas que
atendem a orientação confessional e ideologia específicas e ao disposto
no inciso anterior;
IV - filantrópicas, na forma da lei.
escola confessional tem seu raio de influência circunscrito aos convertidos, aos fiéis,
ou, no mínimo, aos simpatizantes de uma dada religião.
120
Nina Beatriz RANIERI. Educação Superior, Direito e Estado – Na Lei de Diretrizes e Bases (Lei n.
9.394/96). São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, Fapesp, 2000, p. 136.
109
se considerarmos o caso das universidades privadas confessionais cujos projetos
públicas,art. 213. Os
podendo ser recursos
dirigidos apúblicos
escolas serão destinados
comunitárias, às escolas
confessionais ou
filantrópicas, definidas em lei, que:
I - comprovem finalidade não-lucrativa e apliquem seus
excedentes financeiros em educação;
II - assegurem a destinação de seu patrimônio a outra escola
comunitária, filantrópica ou confessional, ou ao Poder Público, no caso de
encerramento de suas atividades.
§ 1º Os recursos de que trata este artigo poderão ser destinados a
bolsas de estudo para o ensino fundamental e médio, na forma da lei, para
os que demonstrarem insuficiência de recursos, quando houver falta de
vagas e cursos regulares da rede pública na localidade da residência do
educando, ficando o Poder Público obrigado a investir prioritariamente na
expansão de sua rede na localidade.
§ 2º As atividades universitárias de pesquisa e extensão poderão
receber apoio financeiro do Poder Público.
Será útil recordar que a própria Carta Política determina que “a distribuição
dos recursos assegurará prioridade ao atendimento das necessidades do ensino
obrigatório, nos termos do plano nacional de educação” (art. 212, § 2º).
111
Prosseguindo no exercício de taxinomia, passemos agora a enfrentar a noção
112
pelo Estatuto da Criança e do Adolescente.
pelo sistema jurídico com a mesma deferência dispensa da aos Ministros de Estado,
aos membros do Congresso Nacional, aos oficiais das forças armadas, aos
Penal Militar (art. 242) lhe asseguram o direito à prisão especial antes do trânsito em
julgado de sentença penal condenatória.
113
instituto de vida consagrada e de congregação ou ordem religiosa.
Casamento religioso
Será útil relembrar que no primeiro capítulo asseveramos que o Estado laico
caracteriza-se pela neutralidade estatal em face do fenômeno religioso, bem como
114
Walter Ceneviva leciona que “qualquer religião pode ser aceita desde que
O novo Código Civil disciplina o casamento religioso nos arts. 1.515 e 1.516.
anunciado no subtítulo devem ter início pelo resgate da Constituição de 1891, marco
jurídico na secularização dos cemitérios:
121
Walter CENEVIVA. Lei dos Registros Públicos Comentada. 9. ed. São Paulo: Saraiva, 1984, p.
138.
115
art. 113. item 7) Os cemiterios terão caracter secular e serão
administrados pela autoridade municipal, sendo livre a todos os cultos
religiosos a pratica dos respectivos ritos em relação aos seus crentes. As
associações religiosas poderão manter cemitérios particulares, sujeitos,
porém, a fiscalização das autoridades competentes. É-lhes prohibida a
recusa de sepultura onde não houver cemiterio secular.
seara constitucional, de modo que a Lei Suprema é silente não somente em relação
a ela, como também no tocante à funerais ou sepultamentos.
determina que:
116
(art. 77, caput).
cadáver (art. 211), e o vilipêndio a cadáver (art. 212). De sua parte, a Lei das
Contravenções Penais incrimina a inumação ou exumação de cadáver (art. 67).
cadáver para fins de estudos e pesquisas nas faculdades de medicina, desde que a
família não o reclame no prazo de 30 dias;
requintado.
122
Justino Adriano FARIAS DA SILVA. Tratado de Direito Funerário . Tomo II. São Paulo: Método
Editora, 2000, p. 723.
117
Importa registrar que o direito municipal, baseando-nos no exemplo da capital
118
serem contrariadas nos actos particulares ou publicos, que interessem o
exercicio deste decreto.
art. 3º A liberdade aqui instituida abrange não só os indivíduos nos
actos individuaes, sinão tambem as igrejas, associações e institutos em
que se acharem agremiados; cabendo a todos o pleno direito de se
constituirem e viverem collectivamente, segundo o seu credo e a sua
disciplina, sem intervenção do poder publico.
confissões religiosas.
um papel passivo, uma obrigação de não-fazer, enfim, uma abstenção: não imiscuir-
se em matéria de organização religiosa, de sorte que ficam estendidos para o plano
da organização religiosa os mesmos efeitos da autonomia assegurada no plano
123
Aurélio Buarque de Holanda FERREIRA, op. cit., p. 732.
119
Sob o aspecto de princípio organizativo, a separação Estado/religião obriga
termos:
124
Celso Ribeiro BASTOS e Samantha MEYER-PFLUG, Do Direito Fundamental à Liberdade de
Consciência e de Crença, p. 111.
120
As igrejas e demais comunidades religiosas inscritas podem com
autonomia fundar ou reconhecer igrejas ou comunidades religiosas de
âmbito regional ou local, institutos de vida consagrada e outros institutos
com a natureza de associações ou de fundações, para o exercício ou para
a manutenção das suas funções religiosas.
religiosa.
registro das pessoas jurídicas implica o reconhecimento, por parte do Estado, de sua
existência legal, a partir do que lhe é atribuída uma personalidade civil e reconhecida
sua capacidade para ser titular de direitos.
121
Todavia, ao vedar a interposição de embaraços ao funcionamento dos cultos
preceito específico (art. 19, I), por certo pretendeu o constituinte robustecer o
125
José AFONSO DA SILVA, Curso de Direito Constitucional Positivo, pp. 241-242.
122
A liberdade de associação, como visto, subordina-se a duas restrições
126
J. M. Othon SIDOU. Dicionário Jurídico – Academia Brasile ira de Letras Jurídicas. 2. ed. Rio de
Janeiro: Forense Universitária, 1991, p. 55.
127
Nelson NERY JUNIOR e Rosa Maria de ANDRADE NERY. Novo Código Civil e Legislação
Extravagante Anotados . São Paulo: Revista dos Tribunais, 2002, p. 36.
123
As associações que se fundarem para fins religiosos, moraes,
scientificos, artisticos, politicos, ou de simples recreio, poderão adquirir
individualidade jurídica, inscrevendo o contracto social no registro civil da
circumscripção onde estabelecerem sua sede.
unidas pela profissão de uma mesma crença ou religião, vinculadas por uma ética
religiosa e cooperados para a consecução de cultos, liturgias, cerimônias, ritos,
Cabe pôr em realce que a Lei n. 9.790, de 23 de março de 1999, que estatuiu
as denominadas “Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público – OSCIP’s”,
124
O regime imposto pelo novo Código Civil ampliou os pré-requisitos para a
128
Mircea ELIADE. O Sagrado e o Profano – A Essência das Religiões . São Paulo: Martins Fontes,
1992, p. 55.
125
O templo é, por excelência, o espaço físico, a edificação especialmente
Norma do art. 150, inciso VI, alínea “b”, da Carta Magna dispõe que:
129
Aliomar BALEEIRO, Limitações Constitucionais ao Poder de Tributar, p. 183.
126
semântica, todas as formas racionalmente possíveis de manifestação
organizada de religiosidade, por mais estrambóticas, extravagantes ou
exóticas que sejam. E as edificações onde se realizarem esses rituais
haverão de ser consideradas templos.130
Assistência Social”.
130
Paulo de BARROS CARVALHO, Curso de Direito Tributário, p. 183.
127
Interessante registrar ainda que a Lei n. 8.245, de 18 de outubro de 1991, a
Lei do Inquilinato, assegura a proteção locatícia dos imóveis utilizados por entidades
Convém pôr em realce ainda que, no caso do município de São Paulo, a Lei
Municipal n. 11.335, de 30 de dezembro de 1992, concede aos templos de qualquer
culto a isenção das taxas de conservação de vias e logradouros públicos, de
128
benefícios endereçados indistintamente a todas as confissões religiosas.
129
CAPÍTULO 4
direito.
pela exposição esquemática de alguns dos bens jurídicos tutelados pela liberdade
de crença.
materiais ou imateriais, aos quais se atribui especial valor, seja porque necessários
para a existência, o desenvolvimento e o bem-estar humano, seja porque dotados
130
sua inscrição ou não na galeria dos bens juridicamente protegidos.
de que oAlegislador
conceituação
elevamaterial de bem
à categoria jurídico
de bem implica
jurídico o reconhecimento
o que já na realidade
social se mostra como um valor. Esta circunstância é intrínseca à norma
constitucional, cuja virtude não é outra que a de retratar o que constitui os
fundamentos e os valores de uma determinada época. Não cria os valores
a que se refere, mas se limita a proclamá-los e dar-lhes um especial
tratamento jurídico.131
primeiro capítulo, que uma definição de liberdade pode ser localizada no capítulo
131
Luiz Regis PRADO. Bem Jurídico-Penal e Constituição. 2. ed. São Paulo: Revista dos Tribun ais,
1997, p. 76.
131
O princípio da separação, igualmente consignado no art. 19, I, da Constituição
Igualdade e liberdade
aplicação da lei, sem olvidar que também os particulares são destinatários da norma
da igualdade, pelo que são proibidos de usar a crença religiosa como fator de
discrímen.
sentido de que ninguém é obrigado a adotar uma crença ou religião senão por
vontade própria; de outra parte, todos são livres para exercer plenamente a
liberdade de crença, de culto, de liturgia e de organização religiosa.
132
consciência e devem agir em relação umas às outras com espírito de fraternidade”.
dignidade de que todos os humanos são portadores: “Age de tal maneira que trates
a humanidade, tanto na tua pessoa como na pessoa de outrem, sempre como um
Honra
132
Immanuel KANT. Fundamentação da Metafísica dos Costumes. Lisboa: Edições 70, s. d. , p. 68.
133
André Franco MONTORO, Introdução à Ciência do Direito, p. 442.
134
Celso Ribeiro BASTOS, Curso de Direito Constitucional , p. 195
133
No dizer de José Afonso da Silva, “A honra é o conjunto de qualidades que
próprio, a auto-estima.
o
Vale lembrar que a parte final do aludido art. 1 da Declaração Universal dos
Direitos Humanos, prescreve que a interação humana deve ser pautada pelo espírito
de fraternidade.
Convém assinalar também que o Código Penal incrimina o constrangimento
ilegal (CP, art. 146), consistente no ato que coage a vítima a não fazer o que a lei
135
José AFONSO DA SILVA, Curso de Direito Constitucional Positivo, p. 191.
136
Aurélio Buarque de Holanda FERREIRA, op. cit., p. 616.
134
4.2 Tolerância religiosa
A palavra
aquela paixão tolerância
intensa que movegeralmente
as pessoaséaocompreendida para contra
ódio e perseguição referir
aqueles tidos como errados. Mas para não misturar coisas diferentes, é
necessário distinguir os dois tipos de intolerância - a eclesiástica e a civil.
A intolerância eclesiástica consiste em considerar como falsa toda religião
que não seja a sua, e em proclamar esta religião como errática sem
quaisquer inibições ou medo, sem respeito para com os outros, e até
mesmo sem preocupação pela preservação da própria vida. (...) A
intolerância civil consiste em romper todas as relações, e perseguir, por
meios violentos, aqueles cujo modo de pensar acerca de Deus e sua
veneração seja diferente do seu próprio. 137
atitude, uma construção mental, cuja manifestação por meio de atos, de conduta,
seria então denominada intolerância civil.
moderno”.138
137
Denis DIDEROT. Political Writings. Cambridge: Cambridge University Press, 2001, p. 29.
138
Simon BLACKBURN, Dicionário Oxford de Filosofia, p. 390.
135
geralmente de ‘diferentes’, como, por exemplo, os homossexuais, os
loucos ou os deficientes.139
para com algo censurável por princípio, o que pressupõe a existência, decerto
não se pode olvidar que o sistema jurídico a ele se refere especificamente para
139
Norberto BOBBIO, A Era dos Direitos, p. 203.
140
Aurélio Buarque de Holanda FERREIRA, op. cit., p. 1.686.
136
indicar abstenção de hostilidades em relação à diversidade, à alteridade. Deste teor
o
é a norma do art. 3 da Lei 9.394/96, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação: “O
ensino será ministrado com base nos seguintes princípios: IV – respeito à liberdade
e apreço à tolerância”.
4.3 Tutela civil da libe rdade de crença, de culto, de litu rgia e de organização
religiosa
141
Promulgada pelo Decreto n. 65.810, de 8 de dezembro de 1969.
142
Promulgada pelo Decreto n. 63.223, de 6 de setembro de 1969.
137
Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem,
fica obrigado a repará-lo. Haverá obrigação de reparar o dano,
independentemente de culpa, nos casos especificados em lei, ou quando a
atividade normalmente desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua
natureza, riscos para os direitos de outrem.
143
Maria Helena DINIZ. Curso de Direito Civil Brasileiro – Responsabilidade Civil . v. 7, 8. ed. São
Paulo: Saraiva, 1994, p. 29.
138
ensino separados para pessoas ou grupos de pessoas; ou d) de impor a
qualquer pessoa ou grupo de pessoas condições incompatíveis com a
dignidade do homem.
nucleares (CF, art. 21, XXIII, “c”); Código Brasileiro do Ar, acidentes de trabalho (Lei
8.212/91) e o Código de Defesa do Consumidor.
144
Guilherme Couto de CASTRO. A Responsabilidade Civil Objetiva no Direito Brasileiro – O Papel
da Culpa em seu Contexto. Rio de Janeiro: Forense, 1997, p. 28.
139
Resta evidenciado, assim, que o referido Decreto n. 63.223/1968 introduziu
Acrescenta Maria Helena Diniz: “A vítima deverá apenas provar o nexo causal,
não se admitindo qualquer escusa subjetiva do imputado”. 146
Cumpre dizer preliminarmente que, a rigor, a ação será denominada ação civil
pública se proposta pelo Ministério Público, ou, ação coletiva, se intentada por
145
Silvio RODRIGUES. Direito Civil - Responsabilidade Civil. v. IV, 13. ed. São Paulo: Saraiva, 1993,
pp. 170-171.
146
Maria Helena DINIZ, Curso de Direito Civil Brasileiro – Responsabilidade Civil, p. 41.
140
qualquer das demais pessoas legitimadas, inclusive as associações civis (CF, art. 5 o,
147
Hugo Nigro MAZZILLI. A Defesa dos Interesses Difusos em Juízo. 10. ed. São Paulo: Saraiva,
1998, p. 4.
148
Rodolfo de Camargo MANCUSO. Interesses Difusos – Conceito e Legitimação para Agir . 4. ed.
São Paulo: Revistas dos Tribunais, 1997, p. 45.
141
Interesses coletivos: grupo determinável de pessoas, enlaçadas por relação jurídica,
Temos pois que objeto do interesse coletivo poderá ser a igualdade, a não-
149
Hans KELSEN. Teoria Pura do Direito. 4. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1994, p. 149.
150
André Franco MONTORO, Introdução à Ciência do Direito, p. 448.
142
previstas em lei, a Ação Civil Pública presta-se à defesa de qualquer outro interesse
liberdade de crença.
religiosa
passamos a aduzir.
racismo
151
Hugo Nigro MAZZILLI, A Defesa dos Interesses Difusos em Juízo , p. 42.
143
Pretório entendeu que a discriminação religiosa subsume-se na norma constitucional
irreversível (HC n. 82424 – Rel. Moreira Alves), visto que 7 ministros já votaram
contrariamente à concessão do Habeas Corpus .
Vale transcrever a norma do art. 5o, inciso XLII, da Lei Fundamental: “a prática
do racismo constitui crime inafiançável e imprescritível, sujeito à pena de reclusão,
nos termos da lei”.
152
Marly Pat FISHER. A Religião no Século XXI. Lisboa: Edições 70, 1999, p. 24.
144
que tal “prática” reflita o conteúdo nuclear da mencionada “ideologia racial”: uma
prática orientada por critério racial, ou étnico, que resulte em violação de direitos.
145
– mantidos por grupos humanos não muito distantes em sua aparência, os quais
146
A Lei de Abuso de Autoridade
Objeto jurídico
153
Gilberto Passos de FREITAS e Vladimir Passos de FREITAS. Abuso de Autoridade. 9. ed. São
Paulo: Revista dos Tribunais, 2000, p. 48.
154
Ibidem, mesma página.
147
Sujeitos
Sujeito passivo pode ser qualquer pessoa, um fiel, ministro religioso, etc.
Tipo objetivo
cometer atentado.
Tipo subjetivo
Trata-se de figura penal que exige intenção, dolo, não sendo admitida a
modalidade culposa.
Consumação e tentativa
148
Liberdade de culto. Tenda Espírita de Umbanda. Fechamento por
autoridade policial, sob o fundamento de prática de atos irregulares de seu
chefe. Inadmissibilidade. Caso de processamento criminal deste.
Segurança concedida. (RT 376/339 – TACivSP).
Sujeitos
Sujeito ativo pode ser qualquer pessoa, sendo que a vítima deve ser uma
Tipo objetivo
149
Tipo subjetivo
Consumação e tentativa
A injúria qualificada por preconceito religioso – art. 140, § 3°, do Código Penal
150
injúria, em sua forma simples e qualificada: a injúria decorrente de preconceito
Objeto jurídico
Dignidade, honra.
Sujeitos
Tipo objetivo
O verbo nuclear do tipo é injuriar, que tem o sentido de insultar, ultrajar, aviltar,
Tipo subjetivo
definido pela jurisprudência: “A injúria que atinge a honra subjetiva da pessoa exige
155
Heleno Cláudio FRAGOSO. Lições de Direito Penal. 7. ed. Rio de Janeiro: Forense, 1983, p. 185.
152
Rel. Ribeiro Machado – JUTACRIM 100/382. No mesmo sentido: JUTACRIM
86/138).
Consumação e tentativa
156
Eduardo Magalhães NORONHA. Direito Penal. v. I, 7. ed. São Paulo: Saraiva, 1971, p. 124.
157
Resolución de la Comision de Derechos Humanos n. 1999/82
153
O art. 20, da Lei n. 7.716, de 05 de janeiro de 1989
preconceito e discriminação.
Preconceito
caracterizado.
158
Aurélio Buarque de Holanda FERREIRA, op. cit., p. 1.381.
154
159
Segundo Maria Aparecida Silva Bento , preconceito encerra sempre um
160
conteúdo negativo, ruim; preconceito é uma atitude , sendo certo que tal atitude
161
Maria Aparecida Silva Bento enumera as notas características do
preconceito:
. um sentimento de superioridade;
159
Maria Aparecida Silva BENTO, Resgatanto Minha Bisavó: Discriminação no Trabalho nas Vozes
dos Trabalhadores Negros . Dissertação de Mestrado. Pontifícia Universidade Católica de São Paulo,
1992, p. 98.
160
Assinalado que, para a Psicologia, atitude (fenômeno mental e/ou afetivo) não se confunde com
conduta (ação).
161
Maria Aparecida Silva BENTO, op. cit ., p. 115.
155
Note-se que, embora seja condição suficiente, o preconceito não é condição
Assinale-se, por fim, que o direito penal, via de regra, não pune a mera
Discriminação religiosa
156
Ensino:
Objeto jurídico
Sujeitos
157
coletividade.
Tipo objetivo
Imperioso se faz observar, desde logo, que o presente dispositivo encerra tipo
penal aberto, cuja aplicação encontra-se na dependência da interpretação feita por
A respeito da incitação vale recordar também que o art. 20, item 1, do Pacto
158
por lei qualquer apologia do ódio nacional, racial ou religioso que constitua
Quanto à religião como fator de discrímen, vale lembrar que norma insculpida
no art. 5 o, XII, da Constituição Federal, proíbe a privação de direitos com base em
Tipo subjetivo
preconceito.
Consumação e tentativa
159
própria conduta, no sentido de que a ação, em si mesma, materializa o delito, esgota
potencialidade de lesão, a exemplo dos delitos capitulados nos arts. 147, 150, 233,
162
Trata-se de entendimento compartilhado por Fábio Medina Osório & Jairo Gilberto Schafer (RT
714/329); no mesmo sentido julgado do Tribunal de Justiça de São Paulo (Lex 202/312).
160
163
A Convenção para a Prevenção e a Repressão do Crime de Genocídio ,a
o
Lei do Genocídio (Lei n. 2.889, de 1 de outubro de 1956), bem como o Código
Penal Militar (art. 208), punem o assassinato de fiéis e a agressão física ou mental a
163
Promulgada pelo Decreto n. 30.822, de 06 de maio de 1952.
161
art. 408. Matar membros de um grupo nacional, étnico, religioso ou
pertencente a determinada raça, com o fim de destruição total ou parcial
desse grupo:
Pena - reclusão, de quinze a trinta anos.
Parágrafo único. Será punido com reclusão, de quatro a quinze
anos, quem, com o mesmo fim:
I - inflige lesões graves a membros do grupo;
capazesIIde- submete o agrupo
ocasionar a condições
eliminação de existência,
de todos físicas ou
os seus membros oumorais,
parte
deles;
III - força o grupo à sua dispersão;
IV - impõe medidas destinadas a impedir os nascimentos no seio
do grupo;
V - efetua coativamente a transferência de crianças do grupo para
outro grupo.
Judiciário brasileiro.
Cabe registrar que a Constituição Federal tutela o direito à saúde (art. 196),
sendo que a Organização Mundial de Saúde conceitua saúde não apenas como
que tal repercussão trouxe agravos significativos à saúde do ofendido podendo ser
de natureza biológica (úlcera gástrica, enfarte cardíaco, retocolite ulcerativa,
164
Enfermidade catalogada na Classificação Internacional de Doenças – CID-10, da Organização
Mundial de Saúde.
162
acidente vascular cerebral, etc.) ou sociais (perda de emprego, desestruturação
166
Perscrutando o aspecto processual, Norma Griselda Miotto aduz os
seguintes procedimentos básicos:
. custo do tratamento;
. prognóstico.
Código de Processo Civil, que tanto pode ser um Psiquiatra quanto um Psicólogo,
cujo laudo servirá de base para o dimensionamento e a conseqüente liquidação do
Processo Civil, art. 421), bem como juntar pareceres técnicos (inclusive referente à
165
Celeste Leite dos Santos Pereira GOMES; Maria Celeste Cordeiro Leite dos SANTOS e José
Américo dos SANTOS. Dano Psíquico. São Paulo: Ed. Oliveira Mendes, 1998, p. 15.
166
Norma Griselda MIOTTO, Daño Psiquico em el Fuero Civil in Revista Brasileira de Ciências
Criminais. São Paulo: Revista dos Tribunais, n. 20, 1997, p. 189-192.
163
matéria jurídica), os quais não possuem status de perícia, mas podem ser úteis na
164
CAPÍTULO 5
Considerações Preliminares
Miguel Reale, os três aspectos por meio dos quais a validade de uma norma jurídica
pode ser investigada.167
167
Miguel REALE, Lições Preliminares de Direito, p. 105.
168
Ibidem, p. 17.
169
Tercio Sampaio FERRAZ JR., Introdução do Estudo do Direito , p. 42.
165
elementos que contribuam para a construção de uma resposta razoável e
da laicidade estatal?
170
Ibidem, p. 34.
171
Miguel REALE. Fontes e Modelos do Direito – Para um Novo Paradigma Hermenêutico. São Paulo:
Saraiva, 1994, p. 32.
166
Deste modo iremos renunciar, nesta quadra, a fazer observações mais
172
Miguel REALE. Filosofia do Direito. 16. ed. São Paulo: Saraiva, 1994, p. 362.
173
Ives Gandra da SILVA MARTINS. Educação Religiosa nas Escolas Públicas – Inteligência do art.
210 da Constituição Federal – Opinião legal in Revista de Direito Civil, Imobiliário, Agrário e
Empresarial. São Paulo: Revista dos Tribunais, ano 20, v. 75, jan/mar, 1996, p. 122.
167
Preâmbulo, vocábulo derivado do latim pre ambulare (vir antes), é instituto do
“(...) Dom Pedro Primeiro, por graça de Deos (...) Em nome da Santíssima
Trindade.”
como um favor, concessão, benefício, enfim, mercê de Deus, pelo que o texto
sugere que a Constituição deve ser tomada como uma concessão divina;
168
o prólogo da Carta de 1934 aduz os seguintes termos: “(...) Nós, os
Prossegue o autor, “Há, pois, em toda regra um juízo de valor, cuja estrutura
mister é esclarecer, mesmo porque ele está no cerne da atividade do juiz ou do
advogado”.176
174
Celso Ribeiro BASTOS e Ives Gandra da SILVA MARTINS. Comentários à Constituição do Brasil.
São Paulo: Saraiva, v. 1, 1988, p. 410.
175
Miguel REALE, Lições Preliminares de Direito, p. 35.
176
Ibidem, p. 34.
170
Ora, forçoso é reconhecer que não se pode admitir que de um juízo de fato
possa ser inferida qualquer regra, não apenas porque a estrutura da norma jurídica
encerra um dever ser , e não um ser, como também porque o preâmbulo de qualquer
vetor, como diretriz para a atividade interpretativa, visto que “consagra declarações
principiológicas, de caráter geral (...) princípios de ordem material que informaram e
presidiram a todos os trabalhos constituintes”. 177
valores supremos.
podem ser equiparados a um juízo de fato que o constituinte houve por bem grafar
no preâmbulo, visto que, por se tratar precisamente de um juízo de fato, não possui
177
Celso Ribeiro BASTOS. Hermenêutica e Interpretação Constitucional . São Paulo: Celso Bastos
Editor, 1997, p. 81.
171
inidoneidade para elidir o caráter laico do Estado brasileiro – este sim direito positivo,
art.ocuparão
Deputados 79. À horaseus
do início da sessão, os Membros da Mesa e os
lugares.
§ 1º A Bíblia Sagrada deverá ficar, durante todo o tempo da
sessão, sobre a mesa, à disposição de quem dela quiser fazer uso.
§ 2º Achando-se presente na Casa pelo menos a décima parte do
número total de Deputados, desprezada a fração, o Presidente declarará
aberta a sessão, proferindo as seguintes palavras:
‘Sob a proteção de Deus e em nome do povo brasileiro,
iniciamos nossos trabalhos’.
179
Destarte, a Lei Suprema assegura aos parlamentares o uso da Tora , do
Talmude180, do Alcorão181, do Gohonzon182, da Bíblia, dos Brãhmanas 183, dos Textos
de Ifá 184, ou de qualquer outra literatura considerada sagrada ou profana, sem que
para isso tenha havido necessidade de disposição regimental sobre a matéria.
pelo povo brasileiro, seja as que possuem um corpo doutrinário, uma codificação,
seja as não-codificadas.
178
José AFONSO DA SILVA, Curso de Direito Constitucional Positivo, p. 466.
179
Escritura sagrada dos judeus. v. Mircea ELIADE e Ioan P. COULIANO, Dicionário das Religiões, p.
217.
180
Coletânea de comentários da literatura judaica. v. Mircea ELIADE e Ioan P. COULIANO, op. cit., p.
219.
181
Livro sagrado dos muçulmanos. v. Mircea ELIADE e Ioan P. COULIANO, op. cit., p. 193.
182
Texto sagrado dos budistas. v. George A. MATHER e Larry A. NICHOLS, Dicionário de Religiões
Crenças e Ocultismo, p. 66.
183
Textos sagrados dos hinduistas. v. Mircea ELIADE e Ioan P. COULIANO, op. cit., p. 175.
184
Escritos sagrados dos candomblecistas. v. J. Omosade AWOLALU. Yorubá Belif and Sacrifices
Rites. Senior Lecture Thesis. University of Oxford, 1979, p. 231.
173
precisamente pelo cidadão, na condição de cidadão e não de fiel, de sorte que
também há de ser preservado o direito daquele eleitor que não professa religião
alguma, mas que crê, ao votar, que a atuação do congressista estará voltada para
Quando mais não seja, a investidura no cargo para o qual foram eleitos
174
representam ofensa frontal e direta ao inciso 19, I, da Carta Magna, nomeadamente
devem ser levados a sério, forçoso será reconhecer que as normas regimentais
questionadas derivam de interesses e regras estranhas ao ordenamento jurídico
brasileiro.
185
Ronald DWORKIN. Levando os Direitos à Sério. São Paulo: Martins Fontes, 2002, pp. 282-286.
175
pela listagem respectiva, organizada em ordem alfabética do nome dos
parlamentares e por eles próprios registrada, em Plenário, mediante
digitação em sistema eletrônico, ou, quando este não tiver condições de
funcionamento, mediante assinatura em lista especial.
§ 2º Verificada a presença de pelo menos um quarto dos membros
da Assembléia, o Presidente abrirá a sessão, declarando: ‘Sob proteção
de Deus iniciamos os nossos trabalhos.
mínimo – de confessionalismo.
públicas
patrimônio público.
bem pertencente a uma pessoa jurídica de direito público, isto é, União, Estados,
Distrito Federal e Municípios, do qual derivam os bens de uso comum do povo, os
176
bens de uso especial (entre os quais as repartições públicas), e, os dominiais.
ambiente, que constitui direito de todos (art. 225); d) o patrimônio histórico e cultural.
186
Toshio MUKAI. Direito Administrativo Sistematizado. São Paulo: Saraiva, 1999, p. 185.
177
os quais podem fazer tudo o que a lei não proíbe, a Administração só pode
fazer o que a lei antecipadamente autorize.187
187
Celso Antônio Bandeira de MELLO, Curso de Direito Administrativo, p. 76.
188
Ibidem, p. 84.
178
possível a imposição de um gravame a todos os administrados que professem
religião diversa daquela contemplada no símbolo adotado, sem olvidar daqueles que
São Paulo:
Nas cédulas de 100, 50, 20, 10, 5 e 1 real, moeda corrente, pode-se ler a
179
empresarial.189
Federal emprega o termo “publicidade dos atos dos órgãos públicos”, por certo
pretendendo significar propaganda 190, dicção do art. 37, § 1°, da Lei Magna, é nítida
no que se refere aos princípios que devem nortear a propaganda dos atos estatais.
181
(data designada para o início da sessão legislativa do Congresso Nacional) recair
aquele termo pela linguagem comum, encontra plena correspondência com seu
aspecto semasiológico, sua significação normativa, visto que a Lei n. 662, de 06 de
abril de 1949, prevê que nos feriados nacionais serão permitidas apenas atividades
1o de janeiro, Ano-novo
12 de fevereiro, Carnaval
182
29 de março, Sexta-Feira Santa
21 de abril, Tiradentes
2 de Novembro, Finados
15 de Novembro, Proclamação da República
25 de Dezembro, Natal
brasileira.
183
Note-se que a indisfarçável predominância do ordenamento religioso nos
191
Jürgen HABERMAS. Direito e Democracia – Entre Facticidade e Validade . v. I Rio de Janeiro:
Tempo Brasileiro, 1997, p. 315.
192
Ibidem, pp. 316-317.
184
Por consideração à feliz metáfora da moldura, vale lembrar que Hans Kelsen
compara a interpretação à atividade do pintor, que pode e deve lançar mão de cores
Não será demais realçar que, por força de dispositivo da lei processual
Prossegue o autor:
193
Hans KELSEN, Teoria Pura do Direito, p. 390.
194
Código de Processo Civil, art. 126.
195
Carlos MAXIMILIANO. Hermenêutica e Interpretação do Direito. 18. ed. Rio de Janeiro: Forense,
2000, p. 79.
196
Ibidem, p. 103.
185
desviar-se conscientemente da lei, querer reformá-la ou inová-la
por pretendidas exigências de interesses, é atraiçoar a função do
magistrado. O juiz deve ficar pago com a sua nobre missão, e não ir mais
longe, passando a usurpar os domínios do legislador. Os dois poderes
estão divididos, e assim devem estar.197
197
Francesco FERRARA. Interpretação e Aplicação das Leis. Coimbra: Armênio Amado, 1978, p. 173.
198
Ibidem, p. 174.
186
CAPÍTULO 6
Embora seja ocioso, convém recordar que o art. 2 o, inciso I, da Lei Suprema,
187
mesma dignidade e da mesma força de lei (o direito constitucional é direito positivo),
sistêmica, visto como possuem “uma idoneidade irradiante, que lhes permite ‘ligar’
ou cimentar objectivamente todo o sistema constitucional”. 201
199
Sistema jurídico porque conforma um sistema dinâmico de normas; aberto porque suas normas
estão sempre abertas às concepções cambiantes de ‘verdade’ e de ‘justiça’; normativo porque sua
estruturação manifesta-se por meio de normas; regras e princípios porque suas normas se revelam
tanto por meio de princípios quanto de regras. v. J. J. Gomes CANOTILHO, Direito Constitucional e
Teoria da Constituição , op. cit ., p. 1.033.
200
FERRAZ JR. distingue standards jurídicos como “fórmulas interpretativas gerais que resultam de
valorações capazes de conferir certa uniformidade a conceitos vagos e ambíguos”; v. Tércio Sampaio
FERRAZ JR., op. cit ., p. 223.
201
J. J. Gomes CANOTILHO, op. cit ., p. 1.037.
202
H. Johann LAMBERT, Fragment einer Systematologie. In System und Klassifikation in
Wissenschat und Dokumentation. Meisenheim/Glan, A. Diemer, 1968, apud Tércio Sampaio FERRAZ
JR. op. cit ., p. 66.
188
uma totalidade ordenada, um conjunto de entes entre os quais
existe uma certa ordem. Para que se possa falar de uma ordem, é
necessário que os entes que a constituem não estej am somente em
relacionamento com o todo, mas também num relacionamento de
coerência entre si. Quando nos perguntamos se um ordenamento jurídico
constitui um sistema, nos perguntamos se as normas que o compõem
estão num relacionamento de coerência entre si, e em que condições é
203
possível esta relação.
sistema alopoiético:
Ao ressaltar tal crítica, Maria Garcia descortina sua adesão à teoria sistêmica
alopoiética, não fechada em si mesma, aberta ao meio ambiente, sujeita às
influências produzidas no exterior do sistema, capaz de administrar ordem e
203
Norberto BOBBIO, Teoria do Ordenamento Jurídico , p. 71.
204
Maria GARCIA, Desobediência Civil – Direito Fundamental, p. 100.
205
Ibidem, p. 102.
189
Retomando J. J. Gomes Canotilho, este refere outra espécie de norma
sucessivamente até que atinjam a forma de regras. Assim, como num vaso
comunicante com tráfego simultaneamente descendente e ascendente, temos:
206
J. J. Gomes CANOTILHO, op.cit., p. 1.037.
190
. princípios estruturantes – conformam os valores basilares;
poderíamos anotar inicialmente que a regra do ensino religioso, gravada no art. 210,
§ 1º, da Carta Magna, não existe isoladamente no sistema, desconectada de
191
quaisquer outra normas, autonômica.
consoante veremos adiante, pelo que não se pode admitir seja interpretada sem a
consideração do conteúdo jurídico daquele.
192
Decompondo o primeiro objetivo, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação
193
de Diretrizes e Bases da Educação emprega a locução sistemas de ensino ,
. educação profissional;
. educação superior;
. educação especial.
194
discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão.
o
art. 1 Regem-se pelas disposições desta Lei as ações de
adolescente, referentes
responsabilidade por ofensa
ao não-oferecimento
aos direitos assegurados
ou oferta irregular:
à criançaI -edoao
ensino obrigatório; III - de atendimento em creche e pré-escola às crianças
de 0 (zero) a 6 (seis) anos de idade; V - de programas suplementares de
oferta de material didático escolar, transporte e assistência à saúde do
educando do ensino fundamental;
VI - de serviço de assistência social visando à proteção à família, à
maternidade, à infância e à adolescência, bem como ao amparo às
crianças e adolescentes que dele necessitem;
Parágrafo único. As hipóteses previstas neste artigo não excluem
da proteção judicial outros interesses individuais, difusos ou coletivos,
próprios da infância e da adolescência, protegidos pela Constituição e pela
Lei.
art. 2º Considera-se criança, para os efeitos desta Lei, a pessoa
até 12 (doze) anos de idade incompletos, e adolescente aquela entre 12
(doze) e 18 (dezoito) anos de idade.
art. 16. O direito à liberdade compreende os seguintes aspectos:
207
José AFONSO DA SILVA, Curso de Direito Constitucional Positivo, p. 397.
195
I - ir, vir e estar nos logradouros públicos e espaços comunitários,
ressalvadas as restrições legais; II - opinião e expressão; III - crença e
culto religioso; IV - brincar, praticar esportes e divertir-se; V - participar da
vida familiar e comunitária, sem discriminação; VI - participar da vida
política, na forma da lei; VII - buscar refúgio, auxílio e orientação.
destaca que
liberdade de crença.
208
Nina Beatriz RANIERI, Educação Superior, Direito e Estado – Na Lei de Diretrizes e Bases (Lei n.
9394/96), p. 75.
197
No tocante especificamente à liberdade de crença, convém lembrar a
209
Promulgada pelo Decreto n. 99.710, de 21 de setembro de 1990.
198
6.3 Notas preliminares sobre o art. 210 , § 1º, da Constituição Federal
indicada por ele, por representante legal ou responsável (art. 168, V).
de grau primário e médio, de matrícula facultativa, (art. 168, § 3º, IV) e (art. 176, § 3º,
199
V), respectivamente.
médio.
210
Boris FAUSTO. Historia Concisa do Brasil .São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo,
Imprensa Oficial do Estado, 2001, p. 186.
200
Prosseguindo, importa realçar que, na redação atual, o preceptivo
religião”.
211
Anna Candida da Cunha FERRAZ. O Ensino Religioso nas Escolas Públicas: Exegese do § 1º do
art. 210 da CF de 05.10.1988 in Cadernos de Direito Constitucional e Ciência Política . São Paulo:
Revista dos Tribunais, v. 20, 1996, pp. 38-74.
212
Ibidem, p. 38.
201
Num primeiro exame, portanto, ensino religioso consubstancia uma função do
sua complementação para imprimir aos currículos uma característica regional”. 213
Não se pode olvidar também que o art. 208 da Norma Fundamental fixa os
213
Arnaldo NISKIER. LDB – A Nova Lei da Educação: Tudo Sobre a Lei de Diretrizes e Bases da
Educação Nacional. São Paulo: Rio de Janeiro: Consultor, 1996, p. 10.
202
O dever do Estado com a educação será efetivado mediante a garantia de:
Ora, mesmo uma leitura superficial do art. 210, § 1º, da Constituição Federal,
permite captar que trata-se de conteúdo constitucionalmente qualificado como não-
facultativa.
livre escolha, facultativo, ele não pode ser simultaneamente basilar, essencial,
principal.
203
Em suma, sendo facultativo, não é obrigatório, e, não sendo obrigatório, está
excluído dos conteúdos mínimos da formação básica comum a que se refere o caput
do art. 210, bem como das matrizes de conteúdo aludidas no art. 205 da Lei
Suprema, lembrando que no nosso vernáculo o adjetivo básico quer dizer “que serve
de base, basilar, fundamental, principal, essencial”. 214
seria razoável supor que o constituinte teria arquitetado uma formação básica para o
ensino público distinta daquela projetada para o setor privado.
para o trabalho.216
Assim é que a regra do ensino religioso tal como insculpida no art. 210, § 1º,
da Carta Política, encontra-se em perfeita harmonia com o princípio da liberdade de
214
Aurélio Buarque de Holanda FERREIRA, op. cit., p. 276.
215
Anna Candida da Cunha FERRAZ, op. cit., p. 38.
216
Nina Beatriz RANIERI, op. cit., p. 130.
204
coletiva e nas forças armadas, embora com ela não se confunda, permite aos
alunos/fiéis terem acesso, ainda que no horário normal das escolas, à instrução
religiosa, tanto quanto confere aos alunos não-fiéis o direito de não serem coagidos
217
Ives Gandra da SILVA MARTINS, Educação Religiosa nas Escolas Públicas – Inteligência do art.
210 da Constituição Federal – Opinião Legal, p. 117.
205
com efeito, o verbo ‘constituirá indica comando impositivo’, vale
dizer, na organização dos currículos mínimos do ensino fundamental,
deverá constar o ensino religioso. Destarte, no tocante a este conteúdo,
trata-se de norma auto-exeqüível.218
diferentes graus de eficácia, uma tese argumentativa que, segundo o autor, permite
concluir que haveriam normas constitucionais desprovidas de sanção – do que
resultaria a existência de normas constitucionais ineficazes.
aplicabilidade. 220
218
Anna Candida da Cunha FERRAZ, op. cit., p. 35.
219
Ibidem, p. 35.
220
Celso Ribeiro BASTOS, Curso de Direito Constitucional , p. 81.
221
Ibidem, mesma página.
222
Ibidem, mesma página.
206
Para Celso Bastos, “As normas-princípios são desde logo plenamente
aplicáveis e delas não se pode dizer que se espera um desenvolvimento por via de
legislação concretizadora”.223
o
Neste ponto, cumpre realçar que por força do dispositivo do art. 5 , § 1º, da
Prossegue o constitucionalista:
religiosa.
223
Ibidem, p. 92.
224
Ibidem, mesma página.
225
Anna Candida da Cunha FERRAZ, O Ensino Religioso nas Escolas Públicas: Exegese do § 1º do
art. 210 da CF de 05.10.1988, p. 35.
207
Estamos nos referindo, portanto, a uma norma eficaz desde a data da
norma em exame?
226
Conselho Nacional de Educação. Parecer n. 097/99, Conselheira Eunice R. Durham, aprovado em
06.04.1999.
208
Corroborando esse entendimento, Jónatas Machado assinala que o princípio
227
Jónatas MACHADO, A Constituição e os Movimentos Religiosos Minoritários, p. 229.
209
confissões religiosas, inclusive porque presume-se que a adesão de novos fiéis deve
228
Anna Candida da Cunha FERRAZ, O Ensino Religioso nas Escolas Públicas: Exegese do § 1º do
art. 210 da CF de 05.10.1988, p. 33.
229
Anna Candida da Cunha FERRAZ, op. cit., p. 33.
210
Restaria, neste ponto, indagar de um outro aspecto material do ensino
religioso?
211
Conforme acentua Anna Candida da Cunha Ferraz, é inadmissível que se
(art. 206, caput), bem como o meritório princípio arrolado no art. 3 o, inciso X, da Lei
230
Ibidem, p. 43.
212
de Diretrizes e Bases, por força do qual o ministério do ensino deve contemplar e
religioso:
213
Congresso Nacional aprovava a Lei n. 9.475/1997, alterando especificamente o
Na redação atual, a primeira observação a ser feita diz respeito ao status que
fora um dever jurídico, sem a qual o indivíduo estaria inabilitado para o exercício da
cidadania.
214
partir da data de sua promulgação, o Brasil passou a contar com dois tipos de
cidadãos: o cidadão perfeito, pleno, qual seja, aquele cuja formação contemplou a
formação prescindiu da catequese escolar, o que inclui todos os alunos das escolas
privadas, visto que destas não se exige a instrução religiosa.
formar cidadãos plenos, ao passo que o ensino público foi ressuscitado, agora na
condição de centro de excelência no preparo para o exercício da cidadania.
exercício da cidadania.
215
Dito de outro modo, à vista de uma suposta ineficiência das confissões
216
Por último, mas não em último, a lei em tela instituiu uma obrigação repelida
a lei determina que as con fissões religiosas serão, sim, ouvidas, não de viva voz,
mas por intermédio de um porta voz – uma entidade civil. Para supostamente
6.5 Notas sobre a imple mentação do ensin o relig ioso nos Est ados de São
217
com representação de todas as confissões para definição do conteúdo do ensino
religioso.
religioso.
2.000, que “Dispõe Sobre o Ensino Religioso Confessional nas Escolas da Rede
do Rio de Janeiro o Estudo dos Livros da Bíblia, integrando o Ensino Religioso nas
Escolas Públicas”, apresenta a seguinte redação:
231
Na trilha da norma estadual, o município do Rio de Janeiro aprovou a Lei Municipal n. 3.228, de 26
de abril de 2001, literalmente copiando os termos da norma estadual em comento.
219
Vale notar que, mesmo antes da edição da lei estadual que regulamenta o
ensino religioso, uma outra lei já determinava um dos seus conteúdos, isto é, o
Silva:
O hiato tantas vezes existente entre norma constitucional e o mundo dos fatos,
vale dizer, a “falta de correspondência entre o descrito e o prescrito pela Lei Maior e
232
José AFONSO DA SILVA, Aplicabilidade das Normas Constitucionais, p. 121.
233
Ibidem, mesma página.
220
o concretizado ou materializado no mundo empírico”, levaram Celso Bastos a
Celso Bastos adverte, no entanto, para o fato de que uma Constituição não se
cumpre espontaneamente e conclama o povo para assumir seu papel de agente
pesquisa.
nestes termos:
234
Celso Ribeiro BASTOS, Curso de Direito Constitucional, pp. 82-83.
235
Ibidem, p. 83.
236
Antonio Joaquim SEVERINO.Metodologia do Trabalho Cientifico . 22. ed. São Paulo: Cortez, 2002,
p.145.
221
de investigação passa a fazer parte de sua vida; 237 a temática deve ser
realmente uma problemática vivenciada pelo pesquisador, ela deve lhe
dizer respeito. Não, obviamente, num nível puramente sentimental, mas no
nível da avaliação da relevância e da significação dos problemas
abordados para o próprio pesquisador, em vista de sua relação com o
universo que o envolve. A escolha de um tema de pesquisa, bem como a
sua realização , necessariamente é um ato político. Também, neste âmbito,
238
não existe neutralidade.
consciência do autor.
Iluminismo já exortava:
desta forma, é possível sentir a diferença que existe entre tolerar uma religião e
aprová-la”. 239
237
A. M. M. CINTRA. Determinação do Tema de Pesquisa in Ciência da Informação. Brasília, 11 (2):
13-16, 1982 apud Antonio Joaquim SEVERINO, op. cit ., p.145.
238
Ibidem, p. 14.
239
Denis DIDEROT, Textes Choisis de L’Encyclopédie ou Dictionnaire Raisonné des Sciences, des
Arts et des Métiers, p. 249.
222
CONCLUSÕES
constitucionalmente tutelado.
223
4. Estado pode ser definido como a sociedade soberana, surgida com a
fiéis e templos.
crença, e de exercer todos os direitos outorgados aos fiéis, sem quaisquer tipos de
preferências e/ou discriminações.
225
negativa, a liberdade de crença assegura ao indivíduo o direito de exercer de modo
16. Ministro Religioso designa o indivíduo que dedica sua vida ao ofício
226
cultos, liturgias, cerimônias, ritos, práticas, deveres religiosos e angariamento de
adeptos.
pessoas jurídicas dá ensejo à sua existência legal, a partir do que lhe é atribuída
uma personalidade civil e reconhecida sua capacidade para ser titular de direitos.
isenção de taxas de limpeza pública e a proteção locatícia dos templos, bem como a
formação de escolas confessionais e de institutos teológic os, inscrevem-se entre os
direitos assegurados às associações religiosas.
227
degradante e a tolerância religiosa figuram entre os bens jurídicos tutelados pela
liberdade de crença.
termo encerra uma carga negativa, indicando uma condescendência com algo
censurável em princípio. Melhor seria o emprego do termo transigência religiosa,
matéria dos feriados são exemplos da tensão existente entre direitos e valores.
228
27. A Constituição consubstancia um sistema normativo formado por duas
designa o espaço que a escola pública abre para que estudantes, facultativamente,
229
32. O princípio da laicidade implica a neutralidade estatal na seara religiosa,
instituição religiosa mais próxima de sua escola ou de sua residência, escolhida por
eles ou pelos seus responsáveis, para que ali recebam a instrução religiosa que
35. De lege ferenda, vale notar que o regime jurídico da liberdade de crença
seria melhor delimitado com a regulamentação do art. 5o, inciso VI, da Carta Política,
que prevê a proteção dos locais de culto e suas liturgias, e também do art. 19, I, que
230
Estado e religião. O ideal seria a adoção de uma norma disciplin ando globalmente a
231
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