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2017­6­12 Internacionalize­se .:.

 O blog de Relações Internacionais do UNICURITIBA: Resenha de “O poder global e a nova geopolítica das nações”, de José …

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sábado, 30 de julho de 2011

Resenha de “O poder global e a nova geopolítica das nações”, de José Luís Fiori. São
Paulo: Boitempo Editorial, 2007.

George Wilson dos Santos Sturaro

Em O Poder Global e a Nova Geopolítica das Nações, José Luís Fiori tem o mérito de
aproximar  e,  em  alguns  pontos,  integrar  as  abordagens  histórico­materialista  e
estratégico­realista  das  Relações  Internacionais.  O  autor  maneja  o  encaixe  das
abordagens  concorrentes  numa  “teoria  da  acumulação  do  poder  e  da  riqueza”,  base
de  toda  elaboração  posterior,  que  irá  culminar  numa  “teoria  do  poder  global”.  Assim
fazendo, Fiori combina explanação histórica e determinação estrutural com análise de
conjuntura,  estratégia  e  tática,  preenchendo  espaços  vazios  da  Teoria  das  Relações
Internacionais.

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Fiori  parte  da  premissa  de  que  as  dimensões  política  e  econômica  determinam­se
reciprocamente,  sem  que  haja  hierarquia  ou  precedência  entre  elas.  Constata  isso
logo no Prefácio1 da  obra,  onde  resgata  a  discussão  entre  as  escolas  da  Economia
Política Internacional. Lá trava diálogo pontual com os principais teóricos do “sistema­
mundo”:  André  Gunder  Frank,  Immanuel  Wallerstein  e  Giovanni  Arrighi;  do
“imperialismo”, John Hobson, Rudolf Hilferding, Nicolai Bukharin e Vladimir Lenin; e da
“teoria  da  estabilidade  hegemônica”,  Charles  Kindleberger,  Robert  Gilpin  e  Robert
Cox.  Sociólogo  do  desenvolvimento  de  inspiração  estruturalista,  Fiori  situa­se  na
tradição  teórica  do  “sistema  mundial  moderno”;  entretanto,  situa­se  com  reservas,
diferindo,  como  se  verá  adiante,  dos  pensadores  expoentes  dessa  escola  em
pressupostos  e  diagnósticos  decisivos.  Depois  segue  em  retrospecto  o  curso  do
tempo da “longa duração” rumo às origens da “economia­mundo” de Fernand Braudel.
Retorna  até  o  momento  em  que  Karl  Marx  identifica  a  passagem  do  “modo  de
produção  feudal”  para  o  “modo  de  produção  capitalista”,  quando  então  se  formavam
os primeiros Estados nacionais, no interregno que vai do século XIII ao XVI. É nesse
período fulcral da história ocidental que o autor identifica o embrião da simbiose única
que,  criadora  do  “milagre  europeu”,  faria  da  Europa  o  centro  do  poder  e  da  riqueza
mundial  dos  séculos  seguintes:  a  união  do  poder  político  territorial  com  o  capital
privado.

Tal  simbiose  dará  à  luz  as  entidades  que  Fiori  denominou  “Estados­economias
nacionais”,  verdadeiras  máquinas  de  conquista  militar  e  expansão  econômica,  sobre
cuja potência e capacidades já haviam refletido Nicolau Maquiavel e Thomas Hobbes.
Conforme  o  autor,  serão  esses  Leviatãs,  governados  por  príncipes  associados  às
burguesias  nacionais,  que  irão  encarregar­se  da  tarefa  de  expandir  as  fronteiras
territoriais  e  incrementar  o  comércio  e  as  finanças  das  nações  da  Europa,  num
movimento  expansivo  e  inexorável  que  terá  abarcado  o  globo  todo  antes  do  fim  do
século  XIX.  Fiori  constata  que  o  impulso  e  o  dinamismo  dessa  expansão  vêm  da
competição militar e econômica entre os Estados. Dialogando com Von Clauzewitz, o
autor  constata,  ademais,  que  a  guerra  entra  na  arena  quando  os  capitais  sofrem
bloqueios, continuando a política “por outros meios”. Como bem observaram Charles
Tilly  e  Norbert  Elias,  com  quem  o  autor  igualmente  dialoga,  a  guerra  vem  a  se
constituir  no  traço  característico  da  história  do  sistema  internacional  e  em  elemento
dinamizador  do  próprio  “processo  civilizatório”.  O  dado  que  explica  a  perenidade  da
guerra e da competição econômica seria o que Fiori denomina “pressão competitiva”.

De acordo com Fiori, na medida em que toda relação de poder político é assimétrica e
está  baseada  num  “jogo  de  soma  zero”,  a  própria  relação  termina  por  exercer
“pressão  competitiva”  sobre  si  mesma.  Levada  ao  extremo  das  consequências,  a
“pressão competitiva” entre os Estados poderosos, em busca de maiores parcelas de
poder,  e  Estados  fracos,  em  defesa  de  sua  independência  e  sobrevivência,  torna­se
“pressão sistêmica”. Em decorrência da pressão do sistema, os Estados irão inevitável
e  incansavelmente  competir  pelas  posições  econômicas  e  políticas  de  seus
contendores.

Segundo  o  raciocínio  do  autor  temos  que:  a  “manutenção  do  poder”  leva  à
“acumulação  de  poder”,  e  esta,  à  “acumulação  de  riqueza”,  dado  que  o  núcleo  do
poder assenta­se sobre bases materiais. Essas bases poderiam ser obtidas à força ou
por  via  da  produção,  do  comércio  e  das  finanças,  ou  de  uma  combinação  de  meios
coercitivos e econômicos, o que tem sido mais comum ao longo da história, tal como o
demonstram  o  colonialismo  e  o  imperialismo.  Nesse  caso,  a  “pressão  competitiva”
faria com que as classes governantes e as classes capitalistas, ainda que motivadas
por  interesses  distintos  –  e  por  vezes  divergentes  –  somassem  esforços  no
incremento do poder nacional, projetando força e internacionalizando a economia.
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Para Fiori, nos tempos modernos, a conquista militar de territórios fiscais e coloniais
teria  dado  lugar  à  conquista  de  “territórios  econômicos  supranacionais”,  onde  os
“Estados­economias  nacionais”  impõem  suas  moedas  e  seus  capitais  privados
ocupam  posições  monopolistas  que  lhes  rendem  lucros  extraordinários.  Os  Estados
que  dessa  forma  se  conseguem  impor  tornam­se  “Estados­economias  imperiais”.  O
exemplo mais eloquente desse fenômeno de projeção imperial do poder nacional seria
os EUA. O “poder global” desse país estaria assentado, explica­nos o autor, sobre as
bases de um vasto “território econômico supranacional” que após o fim da Guerra Fria
passou  a  abarcar  todo  o  globo.  A  “globalização  econômica”  que  vem  avançando
desde as últimas décadas do século XX nada mais seria, continua o autor, do que a
expansão do “território econômico supranacional” dos EUA.

Isso fica claro se tivermos em conta os elementos que, conforme Fiori, constituem e
possibilitam  o  novo  surto  global  de  internacionalização  do  sistema  capitalista.  (1)  As
tecnologias  de  comunicação,  informação  e  logística  que  viabilizaram  a  formação  de
um  mercado  financeiro  global  operante  em  tempo  real  e  a  descentralização  dos
processos  produtivos  foram  desenvolvidas  nos  EUA.  (2)  As  multinacionais  dos  EUA
foram  as  pioneiras  do  processo  e  continuam  figurando  entre  os  maiores  e  mais
importantes  atores  da  globalização.  (3)  A  moeda  que  serve  de  referência  contábil  e
meio de pagamento do sistema financeiro internacional é o dólar norte­americano, sob
controle  de  autoridade  monetária  norte­americana.  (4)  Os  EUA  detêm  poder  de
decisão  de  última  instância  nos  principais  foros  e  regimes  internacionais  que
estabelecem  as  regras  e  procedimentos  de  acordo  com  os  quais  os  mercados  são
abertos, desregulamentados e privatizados.

Com  relação  à  estabilidade  do  sistema  internacional,  Fiori  defende  que  não  são  as
diferentes geometrias de poder (unilateral, bilateral, multilateral) que a garantem, mas
a  ameaça  de  um  grande  conflito  entre  as  potências  que  conformam  o  “núcleo
dominante” do sistema. Porém, ressalva que, mesmo que a potência hegemônica não
tenha rival a sua altura, a estabilidade sistêmica jamais se pereniza, pois a posição de
hegemonia é sempre transitória. Isso ocorre porque a potência hegemônica, no afã de
aumentar o seu poder, movida pelo imperativo da “competitividade sistêmica”, acaba
por se desvencilhar das regras e instituições que sustentavam sua supremacia, mas
que  depois  se  tornaram  constrangimentos.  Como  exemplo  desse  comportamento
“autodestrutivo”,  Fiori  menciona  os  EUA  e  a  crise  que  essa  potência  hegemônica
provocou  ao  invadir  o  Iraque  em  2003,  na  Segunda  Guerra  do  Golfo,  à  revelia  da
ONU. O decreto de falência do sistema de convertibilidade ouro­dólar de 1973 é outro
exemplo expressivo de rompimento com compromissos internacionais inconvenientes
citado pelo autor.

É  nesse  ponto  que  Fiori  se  afasta  de  Wallerstein  e  Arrighi,  a  eles  se  opondo
diametralmente.  Wallerstein  e  Arrighi  preveem  o  declínio  do  poder  dos  EUA  e,  em
sequência, o colapso do “sistema­mundo”. Por seu turno, tal como Paul Kennedy, Fiori
admite  que,  quando  perdem  posições  econômicas,  os  Estados  inevitavelmente
perdem parcela da capacidade de sustentar a supremacia militar. Todavia, ressalva o
autor, esse fato em nada altera o funcionamento do “sistema­mundo”, um sistema de
acumulação de poder e riqueza em constante expansão, dinamizado pela competição
econômica  e  pelo  conflito  armado,  marcado  pela  ascensão,  queda  e  sucessão  de
impérios e hegemonias.

Fiori prossegue a construção de seu “sistema mundial moderno” com a identificação
de três categorias de “Estados­economias nacionais” em posição inferior na hierarquia
internacional. São elas: (1) a dos Estados que se desenvolvem sob os auspícios das
potências  centrais  (“desenvolvimento  associado”);  (2)  a  dos  Estados  que  adotam  a

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estratégia  do  catch  up  (alcançar  o  líder);  e  (3)  a  dos  Estados  da  “periferia”,  que
fornecem insumos para as potências do “centro”.

Já  concluindo,  identifica  também  cinco  transformações  estruturais  e  de  longo  prazo
operantes  no  início  do  século  XXI:  (1)  a  expansão  do  sistema  internacional  com  a
integração  de  novos  Estados  soberanos;  (2)  o  deslocamento  do  eixo  articulador  da
economia  mundial  para  a  Ásia  (“eixo  sino­americano”);  (3)  o  crescimento  da
importância da China como centro articulador e “periferizador” da economia mundial;
(4) a consolidação do sistema monetário internacional do “dólar flexível”, a aceleração
da globalização e a expansão do “poder global” dos EUA; e (5) o assentamento de um
eixo geopolítico da competição entre EUA e China.

Num  balanço  geral,  a  teoria  de  Fiori,  crê  o  resenhista,  é  dotada  de  consistência,
coerência e rigor. Tem grande força explicativa, e a história contemporânea, com seus
desenvolvimentos recentes, é ponto a seu favor.

1  Com  27  páginas  (13­40),  o  Prefácio  desempenha  do  papel  de  marco  teórico  da
obra.

George Wilson dos Santos Sturaro é Mestre em Relações Internacionais pela UFRGS
e professor do Curso de Relações Internacionais do Centro Universitário Curitiba. E­
mail: gesturaro@hotmail.com

Artigo  publicado  na  Revista  do  Corpo  Discente  do  Programa  de  Pós­Graduação  em
História da UFRGS. 

Um comentário:

manuzinho 30 de julho de 2011 23:27

A Globalização das economias mundiais,principalmente as das potências hegemônicas mudou totalmente o cenário de
poder e força econômica das nações,ou seja,estamos diante de um novo panorama mundial onde uma super economia
centrada em um estado­nação,com uma moeda de comercialização mundial como é o caso do dólar americano,agrega um
conjunto  de  nações  onde  as  mesmas  se  tornam  presas  facéis  a  sua  economia  local  e  em  períodos  de  crises
econômicas,devido  a  forte  dependência  das  economias  das  mesmas,onde  se  deixam  envolver­se  neste  complexo  de
globalização,tornando  assim  muitas  vezes  volatéis  ao  capital  especulativo  americano.  A  relação  de  poder  e  força  das
nações  está  diretamente  relacionado  as  suas  riquezas  naturais,indústrialização  forte,tecnologias  de
ponta,desenvolvimentos de pesquisas e projetos e demais outros aspectos que fazem com que uma nação seja superior
em relação as outras,assim consiste em manter um conglomerado de alavancas de sustentação dos pilares de uma nação.
Para que haja uma sustentabilidade de toda esta estrutura de poder e força,montado por um estado­nação,a manutenção
desta  superioridade  e  poderio  sobre  os  demais  estados  depende  de  muitos  fatores  correlacionados  ao  seu
desenvolvimento econômico,esta foi a base primordial do imperialismo europeu do século passado e que após a segunda
guerra  mundial  os  países  vencedores  USA  e  URSS  impuseram  as  suas  forças  profundas  sobre  as  nações  de  poucas
relevâncias e expressões políticas econômicas,mas um fato curioso a ser observado é que a globalização econômica está
estreitando  os  laços  entre  as  nações  e  as  potências  mundiais  estão  diantes  de  circustâncias  cabulosas  que  jamais
esperavam  que  isto  fosse  acontecer,um  exemplo  disso  é  o  crescimento  exacerbado  da  China  e  dos  demais  países  dos
BRICs,inclusive o Brasil,que está despertando olhares da comunidade internacional,pois antes era visto como uma nação
desprezível e depouca importância para o mundo e agora é um exemplo de nação soberana e democrática,que preza os
pilares de democracia,liberdade de expressão,de imprensa e crescimento econômico com responsabilidade e sem intervir
na  soberania  dos  outros  países,resta  lamentar  e  aqui  analisar  que  as  intervenções  das  potências  mundiais  em  querer
demostrar  e  expandir  suas  forças  militares  sobre  as  outras  nações  desequilibra  e  fere  todo  este  contexto  de
globalização,alimentando as ações terroristas e pondo em risco a paz mundial.

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