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Transversal

Princípios básicos de
geoprocessamento para
seu uso em saneamento

Guia do profissional em treinamento Nível 2


Rede Nacional de Capacitação e Extensão Tecnológica em Saniamento Ambiental - ReCESA
Transversal

Princípios básicos de
geoprocessamento para
seu uso em saneamento

Guia do profissional em treinamento Nível 2


1ª. Edição 2ª. Edição revisada
Promoção Rede de Capacitação e Extensão Tecnológica Promoção Rede de Capacitação e Extensão Tecnológica
em Saneamento Ambiental – ReCESA em Saneamento Ambiental – ReCESA

Realização Núcleo Sudeste de Capacitação e Extensão Realização Núcleo Sudeste de Capacitação e Extensão
Tecnológica em Saneamento Ambiental – Nucase | Núcleo Tecnológica em Saneamento Ambiental – Nucase
Sul de Capacitação e Extensão Tecnológica em Saneamen-
to Ambiental – Nucasul | Núcleo Centro-Oeste de Capaci- Instituições integrantes do Nucase Universidade
tação e Extensão Tecnológica em Saneamento Ambiental Federal de Minas Gerais (líder) | Instituto Federal de Edu-
– Nureco | Núcleo Regional Nordeste – Nurene cação, Ciência e Tecnologia do Espírito Santo | Universida-
de Federal do Rio de Janeiro | Universidade de São Paulo |
Instituições integrantes do Nucase Universidade Universidade Federal de Viçosa | Universidade Federal de
Federal de Minas Gerais (líder) | Universidade Federal do Lavras
Espírito Santo | Universidade Federal do Rio de Janeiro |
Universidade Estadual de Campinas Financiamento Secretaria Nacional de Saneamento Am-
biental do Ministério das Cidades | CT- Hidro do Ministério
Instituições integrantes do Nucasul Universidade da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI)
Federal de Santa Catarina (líder)| Universidade Federal do
Rio Grande do Sul | Universidade do Vale do Rio dos Sinos Execução Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientí-
| Universidade de Caxias do Sul fico e Tecnológico – CNPq

Instituições integrantes do Nureco Universidade de Apoio organizacional Secretaria Nacional de Sanea-


Brasília (líder) | Universidade Federal de Mato Grosso do mento Ambiental – SNSA
Sul | Universidade Federal de Goiás
Comitê gestor da ReCESA
Instituições integrantes do Nurene Universidade
Federal da Bahia (líder) | Universidade Federal do Ceará | • Ministério das Cidades

Universidade Federal da Paraíba | Universidade Federal de • Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação


Pernambuco • Ministério do Meio Ambiente
• Agência Nacional de Águas
Financiamento Financiadora de Estudos e Projetos –
FINEP/ CT-Hidro do Ministério da Ciência e Tecnologia | • Ministério da Educação

Fundação Nacional de Saúde do Ministério da Saúde | Se- • Ministério da Integração Nacional


cretaria Nacional de Saneamento Ambiental do Ministério • Ministério da Saúde
das Cidades
• Fundação Nacional de Saúde – Funasa

Apoio organizacional Programa de Modernização do • Caixa Econômica Federal

Setor Saneamento – PMSS • Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico Social


• Núcleos Regionais – Nucase, Nurene, Nucasul
Transversal

Princípios básicos de
geoprocessamento para
seu uso em saneamento

Guia do profissional em treinamento Nível 2


1ª. Edição Schuery Amaral (Colaboradora) | Douglas Sathler (Con-
Conselho Editorial Temático SAA teudista) | João Gilberto de Souza Ribeiro (Conteudista) |
Valter Lúcio de Pádua – UFMG Izabel Cristina Chiodi de Freitas (Validadora)

Edumar Coelho – UFES


Créditos
Iene Christie Figueiredo – UFRJ
Consultoria pedagógica Cátedra da Unesco de Educa-
Bernardo Arantes do Nascimento Teixeira – UFSCAR
ção a Distância – FaE/UFMG
Juliane Corrêa | Sara Shirley Belo Lança
Conselho Editorial Temático SEE
Projeto gráfico Marco Severo | Rachel Barreto |
Carlos Augusto de Lemos Chernicharo – UFMG
Romero Ronconi
Ricardo Franci Gonçalves – UFES
Edson Aparecido Abdul Nour – UNICAMP
Isaac Volschan Júnior – UFRJ

Conselho Editorial Temático Temas Transversais


Léo Heller – UFMG
Emília Wanda Rutkowski – UNICAMP 2ª. Edição revisada
Sérvio Túlio Alves Cassini – UFES Profissionais que participaram da revisão deste
guia:
Profissionais que participaram da elaboração Consultores Ciro Lótfi Vaz (Conteudista) | Abadia Ribei-
deste guia ro da Silva Coutinho (Revisão gramatical) | Izabel Cristina
Consultores Brener Henrique Maia Rodrigues (Esta- Chiodi de Freitas (Validadora)
giário) | Carla Araújo Simões (Conteudista) | Christiny Diagramação C4 Comunicação e Design

É permitida a reprodução total ou parcial desta publicação, desde que citada a fonte.
Apresentação da ReCESA

A criação do Ministério das Cidades, em A ReCESA foi criada com o propósito de reu-
2003, trouxe para a agenda oficial do Estado nir um conjunto de instituições e entidades
os imensos desafios urbanos. Nesse contex- com o objetivo de coordenar o desenvolvi-
to, a então criada Secretaria Nacional de mento de propostas pedagógicas e de mate-
Saneamento Ambiental (SNSA) inaugurou rial didático, bem como promover ações de
um paradigma que busca tornar o sanea-
intercâmbio e de extensão tecnológica que
mento uma política pública, com sustenta-
levem em consideração as peculiaridades re-
bilidade institucional e ambiental, promotora
gionais e as diferentes políticas, técnicas e
de desenvolvimento e de redução das desi-
tecnologias, visando capacitar profissionais
gualdades sociais. Trata-se de uma concep-
para a operação, manutenção e gestão dos
ção de saneamento em que a técnica e a tec-
sistemas de saneamento.
nologia são colocadas a favor da prestação
de um serviço público e essencial.
Para a estruturação da ReCESA foram forma-

A missão da SNSA ganhou maior relevância dos núcleos regionais e um comitê gestor
e efetividade com a agenda do saneamento nacional. Cabe à SNSA, orientar, supervisio-
para o quadriênio 2007-2010, haja vista a nar e acompanhar todo o processo de estru-
decisão do Governo Federal de destinar, dos turação e funcionamento da Rede, bem como
recursos reservados ao Programa de Acele- coordenar o comitê gestor.
ração do Crescimento (PAC), 40 bilhões de
reais para investimentos em saneamento.
Por fim, cabe destacar que o projeto
ReCESA foi bastante desafiador para todos
Nesse novo cenário, a SNSA propõe ações nós, que constituímos, inicialmente, um gru-
em capacitação como um dos instrumentos po formado, predominantemente, por pro-
estratégicos para a modificação de paradig-
fissionais da engenharia, que compreendeu
mas, o alcance de melhorias de desempenho
a necessidade de agregar outros olhares e
e da qualidade na prestação dos serviços e
saberes, ainda que para isso tenha sido ne-
a integração de políticas setoriais. O proje-
cessário “contornar todos os meandros do
to de estruturação da Rede de Capacitação
rio, antes de chegar ao seu curso principal”.
e Extensão tecnológica em Saneamento
Ambiental (ReCESA) constituiu importante
iniciativa nessa direção. Adaptação da mensagem do comitê gestor da ReCESA
Os Núcleos

A ReCESA foi constituída através de Núcleos saneamento e entidades específicas do setor.


Regionais de Capacitação e Extensão Tecno-
lógica em Saneamento Ambiental, coordena-
Em julho de 2011 foi iniciado o segundo
dos por instituições de ensino superior (IES),
ciclo da rede e foram mantidos os núcleos
publicamente qualificadas, e tendo como
Nucasul, Nurene e Nucase, coordenados pela
coexecutoras outras IES. No sul foi constitu-
Universidade Federal do Rio Grande do Sul
ído o Nucasul, no nordeste o Nurene, no
(UFRGS), Federal de Pernambuco (UFPE) e
centro-oeste o Nureco e no sudeste Nuca-
Federal de Minas Gerais (UFMG), respectiva-
se, que tiveram como objetivo, em um pri-
meiro ciclo, o desenvolvimento de atividades mente. Foram mantidas também várias das

de capacitação para profissionais na área de universidades coexecutoras e muitos dos

saneamento, nos diversos estados do Bra- parceiros regionais ou locais. Não foi for-
sil. As Universidades que coordenaram esse mado neste ciclo o núcleo do centro-oeste
primeiro ciclo foram, no sul, a Universidade e continua sem formação de núcleo a região
Federal de Santa Catarina (UFSC), no nordes- norte do País.
te, a Universidade Federal da Bahia (UFBA),
no centro-oeste, a Universidade de Brasília
As principais atividades neste novo ciclo,
(UnB) e, no sudeste, a Universidade Federal
que deve se encerrar em julho de 2013, são:
de Minas Gerais (UFMG). Esse ciclo se iniciou
consolidação da proposta pedagógica da
em 2006 e se encerrou em 2009. O maior
ReCESA e dos recursos didáticos produzidos
legado deste primeiro ciclo foi o desenvol-
no primeiro ciclo; desenvolvimento de uma
vimento de uma pedagogia própria deno-
proposta e materiais didáticos para a edu-
minada PEDAGOGIA DO SANEAMENTO,
cação à distância; desenvolvimento de in-
centrada no mundo do trabalho e na cons-
trução e reconstrução de saberes teóricos e dicadores para avaliação da efetividade das

práticos. ações de capacitação; desenvolvimento de


um projeto para alfabetização profissional e
desenvolvimento de uma proposta para cer-
Atendendo aos requisitos de abrangência
tificação profissional.
temática e de capilaridade regional, as uni-
versidades que integraram os núcleos tive-
ram, sempre que possível, como parceiros, Adaptado da mensagem original dos coordenadores institu-

em seus estados, prestadores de serviços de cionais dos Núcleos.


Recursos didáticos
desenvolvidos

A coletânea de materiais didáticos produzidos pela


ReCESA no primeiro ciclo foi composta por 70 guias que
foram utilizados em oficinas de capacitação para profis-
sionais que atuam na área do saneamento. Esses mate-
riais didáticos versam sobre o manejo de águas pluviais
urbanas, sistemas de abastecimento de água, sistemas
de esgotamento sanitário, manejo dos resíduos sólidos
urbanos e os denominados temas transversais que tratam
de temas que perpassam todas as dimensões do sanea-
mento e áreas com interface direta como saúde pública,
educação ambiental, planejamento, meio ambiente, geo-
processamento e recursos hídricos.

Os guias dos profissionais em treinamento servi-


ram de apoio às 240 oficinas de capacitação realizadas
no primeiro ciclo que somaram cerca de 5.670 horas. Es-
sas oficinas de capacitação contaram com a participação
de, no mínimo, 4.000 profissionais em saneamento com
grau de escolaridade variando da semialfabetização ao
terceiro grau. Os guias têm uma identidade visual e uma
abordagem pedagógica que visa estabelecer o diálogo
e a troca de conhecimentos entre os profissionais em
treinamento e os instrutores. Para tanto, foram tomados
cuidados especiais com a forma de abordagem dos con-
teúdos, tipos de linguagem e recursos de interatividade.

Também foram desenvolvidas plataformas pedagógicas


como a mídia virtual chamada bacia hidrográfica virtu-
al (BHV) e minirredes de água e esgoto, ainda por serem
consolidadas.

Adaptação do texto original da Equipe da Central de Produção de Material

Didático (CPMD)
Apresentação da área
temática:
Temas transversais

A concepção da série sob a denominação de temas transversais partiu


do pressuposto que enxergar a integralidade do saneamento requer
abordar todos os seus componentes de uma forma conjunta, alte-
rando a lógica de setorização, pois vislumbrar o específico dificulta a
visão do todo. Os temas que compõem esta série foram definidos por
meio de um diagnóstico que permitiu levantar a oferta e qualificar
a demanda, realizado em 2005 pela SNSA, através do Programa de
Modernização do Setor Saneamento – PMSS.

Os temas abordados nesta série dedicada aos temas transversais


incluem: Qualificação de gestores públicos em saneamento; Princí-
pios básicos de geoprocessamento para seu uso em saneamento;
Saneamento básico integrado às comunidades rurais e populações
tradicionais; Lodo gerado durante o tratamento de água e esgoto;
Qualidade da água, padrões de potabilidade e controle da poluição;
Operação e manutenção de estações elevatórias de água e esgoto;
Formação de instrutores e monitores – Pedagogia do saneamento;
Capacitação e alfabetização para profissionais do saneamento.

Certamente há muitos outros temas importantes a serem abordados,


mas considera-se que este é um primeiro e importante passo para
que se tenha material didático, produzido no Brasil, destinado aos
profissionais da área de saneamento, que raramente têm oportuni-
dade de receber capacitação e atualização profissional.

Coordenadores da área temática temas transversais


Sumário

Introdução . ........................................................................................... 11

Princípios de cartografia ........................................................................ 13

A representação cartográfica da Terra . ........................................ 14

Sistema de coordenadas geográficas ........................................... 19

Sistemas de projeção ................................................................... 20

Escala . ......................................................................................... 23

Cartografia temática e digital ....................................................... 25

Elementos de identificação em mapas temáticos........................... 27

Geoprocessamento e suas aplicações..................................................... 29

Os recursos de geoprocessamento ........................................................ 33

Organização de bases de dados alfanumérica e cartográfica......... 34

Coleta ou aquisição de dados primários ou secundários .............. 35

Sensoriamento remoto e processamento digital de imagens........ .37

Tratamento de dados.................................................................... 45

Geoprocessamento e gestão de bacias hidrográficas.............................. 54

Geoprocessamento aplicado ao saneamento ......................................... 56

Saneamento básico ...................................................................... 58

Para saber mais...................................................................................... 90


Introdução

Caro Profissional,

Você já parou para pensar como o é feito o yy Recursos de geoprocessamento


planejamento do saneamento básico no seu yy Geoprocessamento e gestão de bacias
município? Muitas vezes adotamos medidas hidrográficas
que nem sempre são pensadas de maneira
yy Geoprocessamento aplicado ao sanea-
integrada à região, restringindo-se à reme-
mento
diação do problema. No Brasil, e em muitos
Propomos, neste guia, demonstrar como
outros países, a erradicação das carências
o geoprocessamento poderá ser utilizado
em abastecimento de água, a ampliação
por você na gestão do saneamento básico
das ações para que a população mais pobre
e como essa ferramenta poderá auxiliar no
não conviva mais com esgoto a céu aberto
planejamento desse setor no seu municí-
e inundações, e tenha acesso aos serviços
pio. Nesse sentido, são apresentados itens
de coleta e à disposição final adequada de
que discutem as aplicações do geoprocessa-
resíduos sólidos são questões sociais, am-
mento ao saneamento, a saber: saneamento
bientais e de saúde pública urgentes. O tema
básico; sistemas de abastecimento de água;
central da nossa oficina é o geoprocessa-
sistemas de coleta e tratamento de esgoto;
mento, que pode ser definido como sendo
manejo das águas pluviais; resíduos sólidos;
um conjunto de técnicas projetadas para
e saúde pública. O guia contém textos, ativi-
captura, gerenciamento, manipulação, aná-
dades, figuras e informações que serão utili-
lise, modelagem e representação de dados
zadas durante toda a oficina. Esperamos que
espacialmente referenciados, para resolver
ele seja útil a você como profissional res-
problemas de planejamento e gestão. Nes-
ponsável pela gestão em saneamento básico
ses quatro dias, vamos discutir como essa
e como cidadão preocupado com a preser-
ferramenta poderá nos auxiliar na gestão do
vação do meio ambiente e com a saúde da
saneamento básico.
população.

Vamos trocar experiências, esclarecer dúvi-


Desejamos-lhes bons estudos, muitas e fru-
das, relembrar o que já foi esquecido, apren-
tíferas trocas de experiências e debates que
der coisas novas e conhecer outras pessoas
lancem luzes ao seu cotidiano de trabalho no
que fazem trabalhos semelhantes.
planejamento do saneamento!

Discutiremos os seguintes conceitos-chave:


E, para iniciarmos, sugerimos que você faça
yy Princípios de cartografia a atividade a seguir, demonstrando seus co-
yy Geoprocessamento e suas aplicações nhecimentos prévios sobre o tema deste guia

Guia do profissional em treinamento - ReCESA 11


Atividade

O que é geoprocessamento?

Quais são os elementos que compõem essa ferramenta?

Para que serve o geoprocessamento e qual a sua importância para


a gestão em saneamento ambiental?

No seu trabalho você utiliza o geoprocessamento?

Como é a situação referente à existência de dados e informações


sobre abastecimento de água, esgotamento sanitário, resíduos só-
lidos e manejo de águas pluviais em seu município?

Como as ferramentas do geoprocessamento podem ajudar no pla-


nejamento e gerenciamento destes itens componentes do sanea-
mento ambiental em seu município?

Agora que realizamos a atividade inicial, vamos compreender a representação cartográfica


e apreender alguns conceitos relevantes da cartografia.

12 Transversal - Princípios básicos de geoprocessamento para seu uso em saneamento - Nível 2


Princípios de cartografia OBJETIVOS:
- Definir as
noções e os
conceitos sobre a
Para compreendermos e melhor utilizar as ferramentas do geopro-
cartografia.
cessamento é necessário introduzir os conceitos básicos de carto-
grafia. Dessa maneira, teremos a fundamentação teórica necessária
- Entender
para discutirmos não apenas um desenho, mas sim um mapa, com
os principais
todas as suas possibilidades funcionais e interpretativas, segundo as conceitos
exigências cartográficas necessárias e garantindo, com isso, consis- relacionados à
tência nas análises das informações produzidas. representação do
planeta.
Você já parou para pensar sobre a importância dos mapas no nos-
so dia a dia? Reflita e tente imaginar como os materiais cartográfi-
cos podem nos ajudar no desenvolvimento de nossas tarefas e mais
especificamente no saneamento. Certamente, o mapa nos auxilia a
melhor compreender o espaço ao nosso redor.

A cartografia é formada por um conjunto de técnicas que se desti-


nam a representar fatos e fenômenos observados na superfície da
Terra por meio de uma simbologia própria. Pode ser definida, tam-
bém, como um conjunto de estudos e operações científicas, artís-
ticas e técnicas, baseado nos resultados de observações diretas ou
de análise de documentação, com vistas à elaboração, preparação
e utilização de cartas, mapas planos e outras formas de expressão.

Por meio da cartografia, quaisquer levantamentos (ambientais, so-


cioeconômicos, educacionais, de saúde etc.) podem ser representa-
dos através de mapas temáticos, retratando sua dimensão espacial,
facilitando e tornando mais eficaz sua compreensão. Todo produto
cartográfico deve ser útil e válido para uma determinada aplicação,
em um determinado instante do tempo.

Guia do profissional em treinamento - ReCESA 13


A cartografia é a Ciência/Arte que se propõe a representar através
de mapas, cartas e outras formas gráficas (computação gráfica) os
diversos ramos do conhecimento do homem sobre a superfície e o
ambiente terrestre. Ciência quando se utiliza do apoio científico da
Astronomia, da Matemática, da Física, da Geodésia, da Estatística e
de outras ciências para alcançar exatidão satisfatória. Arte, quando
recorre às leis estéticas da simplicidade e da clareza, buscando atin-
gir o ideal artístico da beleza.

Vamos conhecer um pouco sobre a gênese de um mapa e as princi-


pais noções de cartografia, e entender a aplicabilidade dessa ferra-
menta no saneamento. Ao longo da oficina iremos identificar vários
usos que o geoprocessamento poderá ter no âmbito da gestão de
resíduos sólidos, no manejo das águas pluviais, coleta, tratamento e
distribuição das águas, coleta e tratamento de esgoto.

Contudo, Profissional, é necessário que haja um maior envolvimento


com os conceitos cartográficos para que possamos desenvolver um
trabalho melhor. Deste modo, o item a seguir mostrará quais são as
formas que o nosso planeta pode assumir nos estudos cartográficos.

A representação cartográfica da Terra

O formato e as dimensões do nosso planeta são temas que vêm


sendo pesquisados ao longo da história em várias partes do mun-
do. Muitas foram as interpretações e conceitos desenvolvidos para
definir qual a melhor representação da Terra. Sabe-se hoje, que a
Terra tem, na verdade, uma forma bastante complexa. Entretanto,
podemos simplificá-la para fins cartográficos sem que isto cause
prejuízos significativos.

14 Transversal - Princípios básicos de geoprocessamento para seu uso em saneamento - Nível 2


Geodésia é o nome dado à ciência que se propõe a compreender a
forma e as dimensões da Terra. Através da demarcação de pontos de
altitude, latitude e longitude de alta precisão, os métodos geodési-
cos delimitam o chamado apoio geodésico básico, dando suporte à
elaboração de mapas.

O Sistema Geodésico Brasileiro (SGB) é composto pelas redes


altimétricas, planimétricas e gravimétricas. A evolução do SGB pode
ser dividida em duas fases distintas: uma anterior e outra posterior
ao advento da tecnologia de observação de satélites artificiais com
fins de posicionamento. As formas de interesse para representação
cartográfica estão demonstradas na atividade a seguir.

Você sabia?

O Datum horizontal ou planimétrico é um sistema de refe-


rência padrão adotado por um país, uma região ou por todo o
planeta, em que são referenciadas as posições geográficas (lati-
tude / longitude ou coordenadas métricas). O Datum horizontal
deve ser formado pela escolha de um elipsoide de referência
específico, um ponto geodésico de origem e um azimute inicial
para referenciar as coordenadas e o sistema de coordenadas ge-
ográfico. A utilização de um Datum em um projeto cartográfico
deve acontecer em sintonia à especificidade de cada localidade
do planeta.

Guia do profissional em treinamento - ReCESA 15


Relacione a coluna dos conceitos com a coluna das imagens:

Superfície topográfica ou terrestre: é a forma real


da Terra, com todas as irregularidades (topos e vales)
resultantes do movimento das placas tectônicas, pro-
cessos erosivos etc.

Geoide: é uma generalização da forma da superfície


topográfica sendo a figura que mais se aproxima da
verdadeira forma do planeta, pois traduz bem o glo-
bo terrestre. É um modelo matemático de desenvolvi-
mento complexo, pois a sua forma exata depende de
características da superfície da Terra.

Elipsoide de revolução: é a forma matemática usa-


da para as representações cartográficas, a que confere
maior precisão na representação da Terra. É uma se-
mielipse rotacionada em seu eixo menor em 360º.

Plano: é a forma mais simplificada de todas servindo


apenas para a representação local até um raio aproxi-
mado de 50 km onde ainda é possível desconsiderar a
curvatura da Terra.

Esfera: é uma simplificação do geoide; é usada em


trabalhos que não demandam elevados níveis de pre-
cisão cartográfica.

16 Transversal - Princípios básicos de geoprocessamento para seu uso em saneamento - Nível 2


Ao longo do desenvolvimento das ciências geodésica e cartográfica, o elipsóide de revolução
passou a ser adotado como sendo o modelo matemático mais adequado para a representa-
ção da Terra. Todavia, face às características específicas de cada país, foram adotados elip-
soides com parâmetros diferenciados, na busca de se adequarem melhor à singularidade de
suas regiões específicas e produzirem resultados locais mais precisos.

Você sabia?

No Brasil, a tecnologia de observação por satélite possibilitou,


por exemplo, a expansão do SGB à região amazônica, o que per-
mitiu o mapeamento sistemático daquela área.

O South American Datum (SAD) foi estabelecido como o sistema


geodésico regional para a América do Sul, desde 1969.

O Sistema de Referência Geocêntrico para as Américas


(SIRGAS) tem como objetivo compatibilizar os sistemas geodé-
sicos dos países da América do Sul, promovendo a definição e
o estabelecimento de um referencial único, com precisão com-
patível com a tecnologia atual de posicionamento. A partir de
recomendações feitas na 7ª Conferência Cartográfica Regional
das Nações Unidas para as Américas, realizada em Nova Iorque
em 2001, a maioria dos países da América do Sul introduziu o
Sirgas como sistema de referência nacional.

Azimute: É o ângulo formado entre a direção Norte-


Sul e uma direção terrestre. O azimute é sempre
contado a partir do Norte, no sentido horário e varia
de 0° até 360°.

Guia do profissional em treinamento - ReCESA 17


Você sabia?

A palavra cartografia tem origem na língua portuguesa, tendo sido registrada pela pri-
meira vez em 1839 numa correspondência, indicando a ideia de um traçado de mapas
e cartas. Hoje entendemos cartografia como sendo a ciência e arte que permitem a re-
presentação geométrica, plana, simplificada e convencional da totalidade ou de parte da
superfície terrestre, apresentada nos mapas, cartas ou plantas.

Fonte: Atlas Geográfico Escolar, Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE, 2002.

Após lermos alguns conceitos sobre a forma do planeta, veremos como a informação no es-
paço poderá nos auxiliar a compreender um determinado contexto. Para isso vamos realizar
a seguinte atividade:

Atividade

Profissional, o mapa abaixo é um recorte do mapa Inundação e Pa-


vimentação 1998/2000 (IBGE, 2000). Com base nas informações
nele contidas explique a relação entre a porcentagem de ruas pa-
vimentadas e as ocorrências de inundações. Cite duas causas com
possíveis soluções para o problema.

Fonte: Atlas do Saneamento: http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/atlas_saneamento/

Figura 1: Mapa de inundação e pavimentação – 1988/2000.

18 Transversal - Princípios básicos de geoprocessamento para seu uso em saneamento - Nível 2


Na realização da atividade, vimos que um mapa contém muitas informações que podem
ser utilizadas para visualizarmos, por exemplo, a relação entre inundações e percentual de
áreas pavimentadas. Na sequência, vamos saber o que são as linhas imaginárias ao redor da
Terra. Você sabe por que existem essas linhas? Você conhece os conceitos de coordenada
geográfica, latitute, longitude e de hemisfério? Profissional, vamos saber como tudo isso
está relacionado ao geoprocessamento e ainda como poderá ser utilizado no nosso trabalho
enquanto gestor municipal.

Sistema de coordenadas geográficas

Para que cada elemento da superfície do planeta possa ser identificado e dotado de uma lo-
calização, foi criado um sistema de linhas imaginárias chamado de Sistema de Coordenadas
Geográficas. A coordenada geográfica de um ponto específico da superfície da Terra é obtida
pela interseção de um meridiano e um paralelo.

Nesse sistema os círculos imaginários chamados de paralelos nos indicam a latitude, que é
a distância, em graus, de um paralelo à linha do Equador. As latitudes variam de 0º (linha do
Equador) a 90º (polos), devendo ser indicada a posição no hemisfério Sul (S) ou no hemisfério
Norte (N). Os Meridianos são linhas imaginárias que cortam a Terra no sentido Norte – Sul,
ligando um polo ao outro. O Meridiano Greenwich (0º) é considerado o meridiano de origem
e a sua gradação vai até 180º tanto para Leste (E) quanto para Oeste (W).

Coordenada geográfica: corresponde a um


par de valores angulares medidos sobre um
sistema de coordenadas esféricas, definindo
a posição de um ponto na superfície terrestre.

Figura 2:Coordenadas geográficas.

Guia do profissional em treinamento - ReCESA 19


Você sabia?

A linguagem gráfica é uma das mais antigas e foi a primeira forma de linguagem escrita
utilizada pelo homem. Desde cedo, o homem da antiguidade sentiu a necessidade de se
posicionar no espaço para garantir a sobrevivência (onde estão os alimentos, a água, os
inimigos etc.). Informações como essas não podiam ser guardadas apenas na memória das
pessoas, de forma que começou a existir a descrição do espaço físico por meio de símbolos.

Na próxima atividade veremos alguns exemplos de coordenadas geográficas na superfície


do planeta.

Atividade

No recorte do mapa brasileiro de “Bacias Hidrográficas” (IBGE, 2000),


qual é a coordenada geográfica da cidade de Vitória (ES)? Encontre
também as coordenadas geográficas em outros mapas disponibi-
lizados pelos instrutores. Discuta com o grupo qual a importância
de sabermos a localização exata de um dado ponto na superfície do
planeta, discuta também os outros exemplos que nos foram dados.

estatistica/populacao/atlas_saneamento/
Fonte: Atlas do Saneamento: http://www.ibge.gov.br/home/

Figura 3: Recorte do mapa brasileiro de ba-


cias hidrográficas.

Sistemas de projeção

É relativamente fácil representar a superfície “esférica” da Terra em um “globo terrestre” uma


vez que as formas e as proporções entre a superfície real e o globo são conservadas. Mas
para desenhá-la sobre um plano para a confecção de um mapa ocorrem distorções variadas.
Podemos dizer que não existe nenhuma solução perfeita para resolver este problema, e isto

20 Transversal - Princípios básicos de geoprocessamento para seu uso em saneamento - Nível 2


pode ser rapidamente compreendido se tentarmos fazer coincidir a casca de uma laranja com
a superfície plana de uma mesa. Para fazer o contato total entre as duas superfícies, a casca
de laranja teria que ser deformada. Embora esta seja uma simplificação grosseira do proble-
ma das projeções cartográficas, ela expressa claramente a impossibilidade de uma projeção
livre de deformações.

Para ilustrar as dificuldades descritas anteriormente, vamos realizar a atividade a seguir:

Atividade: Embrulhando a bola

Em grupo, tente envolver uma bola com um jornal velho nas formas
de um cilindro, de um cone e de um plano. Após isso, o grupo irá
envolver toda a bola com o jornal e relatará o que aconteceu e quais
as dificuldades foram encontradas.

O sistema de projeção foi criado para representar os pontos da su-


perfície curva da Terra em uma superfície plana com o mínimo de
deformações. As superfícies de projeção podem ser planas, cilíndri-
cas ou cônicas, e ainda podem ser secantes ou tangentes à superfície
do elipsoide. É importante lembrar que qualquer projeção de uma
superfície curva para uma plana irá conter deformações, mesmo que
resguarde alguma propriedade, seja na forma, no comprimento ou
na área. Por exemplo, um sistema que conserve a distância, forço-
samente deformará as demais (área e forma) e vice-versa. Portanto,
um sistema de projeção atenderá a um objetivo específico e caberá
ao usuário definir e escolher qual a melhor opção.

Figura 4: Projeções.

Guia do profissional em treinamento - ReCESA 21


O ponto de tangência em todas as superfícies de projeção conferirá sempre a menor defor-
mação da representação. À medida que a representação se afaste deste ponto, maiores serão
as deformações. Quando as superfícies de projeção são secantes ao elipsoide, se tem dois
pontos de contato conferindo uma distribuição das deformações e ter-se-á, então, maior
precisão quanto maior for a aproximação dos pontos de tangência.

A Projeção Universal Transversa de Mercator (UTM)

Trata-se da projeção adotada no Mapeamento Sistemático Brasileiro e é um dos mais utili-


zados no mundo pela cartografia sistemática internacional. Isto se deve a algumas caracte-
rísticas, a saber:

yy a superfície de projeção é um cilindro cujo eixo é perpendicular ao eixo polar terrestre. É


uma projeção que mantém os ângulos e as formas das pequenas áreas;
yy o cilindro de projeção é secante ao elipsoide e de revolução, conferindo dois pontos de
contato onde há um menor nível de deformações em uma faixa de até 6º (faixa máxima
em que é permitido desconsiderar a curvatura da Terra);
yy por ser transverso mapeia praticamente todo o globo terrestre com exceção das calotas
polares;
yy o elipsoide é dividido em 60 faixas de 6º onde não há deformações (porções então
consideradas planas e subordinadas ao sistema de coordenadas planas cartesianas). A
vantagem é que é possível trabalhar com coordenadas métricas, facilitando os cálculos
a serem desenvolvidos. A desvantagem é que existem territórios que abrangem mais de
uma faixa. Nesse caso, o usuário pode decidir trabalhar com mais de uma faixa ou com
o sistema de coordenadas geográficas.

Figura 5: Esquema do sistema de coordenadas UTM.

22 Transversal - Princípios básicos de geoprocessamento para seu uso em saneamento - Nível 2


Concluída a atividade e desenvolvido o assunto relacionados ao sistema de projeção, vamos
entender a relação entre a superfície real e a cartográfica determinada pela escala.

Escala

Os mapas oferecem uma visão reduzida do espaço, sendo necessário indicar qual é o tama-
nho real da superfície representada no mapa. Essa informação é indicada pela escala que sig-
nifica a relação entre a medida de uma porção espacial representada no papel e sua medida
real na superfície terrestre.

As escalas podem ser maiores ou menores conforme a necessidade de se observar um espa-


ço com maior ou menor detalhamento. No planejamento do saneamento de um município,
podemos utilizar um mapa regional (menor escala) para vislumbrarmos as possíveis relações
com os municípios limítrofes; utilizamos também o mapa do próprio município para enten-
dermos a dinâmica municipal (maior escala) e ainda podemos utilizar um mapa de um bairro
específico e a planta de uma estação de tratamento de efluentes que terão escalas ainda
maiores. Assim quanto maior for a escala, maior será o nível de detalhamento de um mapa.

As escalas empregadas como referências de um mapa podem ser numéricas ou gráficas. As


escalas gráficas apresentam a vantagem da rápida compreensão, além de acompanhar qual-
quer tipo de ampliação ou redução que possam vir a serem feitas em meio digital ou através
de cópias xerográficas do desenho.

Veja o exemplo:

E = 1:5.000 (escala numérica) ou (escala gráfica).

Entre as escalas seguintes, qual pode ser considerada “maior”? E “menor”?


Por quê?

(A) 1:100 (B) 1:1.000 (C) 1:250.000

Guia do profissional em treinamento - ReCESA 23


Como interpretar uma escala?

E = 1:1.000 significa que o elemento representado é 1000 vezes menor do que o real.

E = 1:1 significa que o elemento está representado em tamanho natural.

E = 1:100 – o elemento é representado 100 vezes menor que o real.

Escalas mais empregadas:

yy 1:100, 1:200, 1:250, 1:500 – Ex.: desenho de edificações, terraplenagem.


yy 1:500, 1:1.000, 1:2.000 – Ex.: desenho de um aterro sanitário, sítio, vila, planta cadastral
urbana.
yy 1:5.000, 1:10.000 – Ex.: planta de cidades de pequeno ou médio porte, redes de dre-
nagem urbana. Acima disso: planta regional (região metropolitana, grandes cidades),
estadual, do país.

Atividade

Para os cálculos de escalas e distâncias nos mapas, usa-se uma


regra de três (pois é uma relação de proporção) que pode ser sim-
plificada pelo uso da seguinte fórmula:

D=d/E

Sendo:

D = valor na realidade (em cm);

d = valor medido no desenho (em cm);

E = escala

Ao consultarmos uma carta na escala 1:250.000 verificamos a exis-


tência de um canal medindo 1,2 cm. Qual é o seu tamanho real?

24 Transversal - Princípios básicos de geoprocessamento para seu uso em saneamento - Nível 2


Cartografia temática e digital

A cartografia temática está voltada para confecções de mapas a partir de um determinado


tema proposto, contando, atualmente, com os recursos da cartografia digital que foram bem
ampliados nas últimas três décadas.

Distinção entre mapas e cartas

Não existe uma diferença rígida entre os conceitos de mapa e carta. É, portanto, difícil esta-
belecer uma separação definitiva entre os significados dessas designações. A palavra mapa
teve origem na Idade Média, quando era empregada exclusivamente para designar as repre-
sentações terrestres. Depois do século XIV, os mapas marítimos passaram a ser denomina-
dos cartas, como, por exemplo, as chamadas “cartas de marear” dos Portugueses.

Posteriormente, o uso da palavra carta generalizou-se e passou a designar não só as cartas


marítimas, mas, também, uma série de outras modalidades de representação da superfície
da Terra, causando certa confusão.

Mapa

Definição simplificada: Representação dos aspetos geográficos, naturais ou artificiais da Ter-


ra destinada a fins culturais, ilustrativos ou científicos. Representação gráfica, em geral uma
superfície plana e numa determinada escala, com a representação de acidentes físicos e cul-
turais da superfície da Terra, ou de um planeta ou satélite. As posições dos acidentes devem
ser precisas, de acordo com um sistema de coordenadas. Serve, igualmente, para denominar
parte ou toda uma superfície da esfera celeste. O mapa, portanto, pode ou não ter caráter
científico especializado e é, frequentemente, construído em escala pequena, cobrindo um
território mais ou menos extenso.

Carta

Definição simplificada: Representação precisa da Terra, permitindo as medições de distân-


cias, direções e a localização de pontos. Representação dos aspetos naturais e artificiais da
Terra, destinada aos aspectos práticos da atividade humana, principalmente as avaliações
precisas das distâncias, direções e as localizações geográficas de pontos, áreas e detalhes.

Guia do profissional em treinamento - ReCESA 25


Representação plana, geralmente em escalas média ou grande, de uma superfície da Terra,
subdividida em folhas, de forma sistemática, obedecendo a um plano nacional ou internacio-
nal. Nome tradicionalmente empregado na designação do documento cartográfico de âmbito
naval. É empregado no Brasil, também como sinônimo de mapa em muitos casos. Assim, a
carta é comumente considerada como uma representação similar ao mapa, mas de caráter
especializado construído com uma finalidade específica e, geralmente, em escalas média ou
grande; de 1:100.000 ou maior.

Resumindo:

yy Carta: predomina até 1990.


yy Mapa: usado para diversas situações após o aparecimento da cartografia digital e dos
SIG’s, há indicações de que seja uma tendência atual.
yy Carta: maior rigor científico.
yy Mapa: ilustração (Cartografia temática).

Neste texto, a distinção entre mapa e carta é um tanto convencional e subordinada à ideia da
escala, notando-se, entretanto, certa preferência pelo uso da palavra mapa. Na realidade, o
mapa é apenas uma representação ilustrativa e pode perfeitamente incluir o caso particular da
carta como já acontece com os povos de língua inglesa. Entretanto, entre os engenheiros car-
tógrafos brasileiros observa-se o contrário, isto é, o predomínio do emprego da palavra carta.

Para efeitos deste guia estaremos adotando a designação de “MAPA”, para todos os produtos
que permitam a espacialização de elementos e fenômenos, em todos os seus aspectos tanto
os artificiais quanto os naturais.

Atividade

Em um mapa fornecido pelos instrutores identifique os seguintes ele-


mentos:

yy Título
yy Escala
yy Orientação
yy Legenda
yy Fonte
yy Autor
yy Sistema de Coordenadas Geográficas

26 Transversal - Princípios básicos de geoprocessamento para seu uso em saneamento - Nível 2


Elementos de identificação em mapas temáticos

Existem alguns elementos de identificação externa imprescindíveis em mapas temáticos. São


eles:

yy Título: O mapa temático expõe um tema que deverá ser declarado no título. O título,
além de dizer do que se trata, deve especificar o local e a data do estudo. Dessa forma,
ele deverá responder perguntas como “O que?”, “Onde?” e “Quando?”. No mapa ele deve
ser inserido na parte superior da folha e com destaque para rápida visualização ao leitor.
yy Escala: A escala é um elemento indispensável para a composição de qualquer mapa. É
através dela que podemos ter noção das proporções reais das feições representadas,
além de calcular distâncias, áreas etc. de acordo com as dimensões verdadeiras. Existem
dois tipos de escala: a escala numérica e a gráfica. A escala numérica é representada por
uma expressão numérica da proporção existente entre as dimensões que estão repre-
sentadas no desenho e as dimensões reais. Já a gráfica apresenta em barras o quanto
vale cada centímetro representado no mapa. As duas escalas podem compor um mapa,
podendo ser inseridas na parte inferior. Contudo, é preciso ficar atento a um detalhe:
a escala que não pode faltar em nenhum mapa, principalmente, que esteja em meio
digital, é a gráfica. Isto porque quando transformamos nossos mapas em figuras para
inseri-las em outros documentos, inevitavelmente as dimensões da folha do mapa ori-
ginal são ajustadas (ampliadas ou reduzidas). Com isso, o tamanho das feições também
é alterado proporcionalmente, alterando, portanto, a escala original. Para não perder
as informações de escala, a escala gráfica, por ser um “desenho” quando admitida nos
mapas, também sofre as alterações que todo o mapa sofreu e, com isso, as proporções
permanecem da maneira com que foram concebidas. Já para a escala numérica o mesmo
não ocorre. Por tratar-se de um número não há a referência das dimensões e, por isso,
as proporções são perdidas.
yy Orientação: A orientação (norte – sul – leste – oeste) indica as direções do mapeamen-
to. Normalmente, é indicada pelo símbolo da rosa dos ventos e é colocada na porção
superior do mapa. Além do símbolo, são partes integrantes da orientação do mapa as
coordenadas, sejam elas geográficas (lat/long) ou métricas (UTM). As coordenadas ge-
ográficas devem apresentar especificada a porção dos hemisférios compreendida pela
área do mapa (se norte ou sul – positivo ou negativo; se leste ou oeste – positivo ou ne-
gativo). Elas devem aparecer na parte externa da área do mapa e devem identificar, no
mínimo, quatro pares de coordenadas.

Guia do profissional em treinamento - ReCESA 27


yy Legenda: A legenda traduz as informações simbolizadas no mapa. Ela é de fundamental
importância para a compreensão do mapa pelo leitor. É importante apresentar as sim-
bologias adotadas por meio de uma hierarquia das formas geométricas (ponto, linha e
polígono). Além disso, existem algumas convenções adotadas para representar feições
admitidas na maioria dos mapas como, por exemplo, a hidrografia que sempre deve
aparecer na cor azul.
yy Fonte: A fonte consiste em informar ao leitor a origem das informações mapeadas.
Dessa forma, todas as bases cartográficas adquiridas ou que foram usadas como fontes
para extrair informações devem ser referenciadas, da maneira mais completa possível
(inclusive com data), no mapa. Essa informação facilitará pesquisas posteriores e as pró-
prias análises dos mapas gerados.
yy Autor, órgão ou instituição e data de elaboração: Junto à fonte, o autor responsá-
vel, bem como o órgão a que está subordinado e a data de elaboração do mapa devem
ser citados. Todas estas informações devem aparecer na parte inferior do mapa, nor-
malmente, à direita.
yy Sistema de Coordenadas Geográficas: A identificação do sistema de coordenadas
geográficas e Datum utilizado para confecção do mapa é de grande importância, pois é
a partir dessas informações que será possível ao leitor conhecer a correta distribuição e
localização geográfica dos elementos e fenômenos dispostos no mapa.

Profissional, o objetivo desta unidade foi entender os con-


ceitos clássicos de cartografia. A Terra apresenta diferen-
tes formas e cada uma delas irá depender de como serão
representadas com o objetivo de facilitar, e muito, a vida
de um cartógrafo e de outros profissionais. Vimos que as
características da superfície terrestre podem ser projeta-
das sobre um plano (mapa) e quais são as complicações
existentes. Além disso, foi possível discutir a utilização das
informações “endereçadas” no mapa com a utilização do
sistema de coordenadas. E por fim, foi possível compreen-
der a relação entre espaço real e plano de representação,
utilizando a escala. Assim, na próxima unidade, discutire-
mos sobre a importância do geoprocessamento e como
poderemos aplicar essas técnicas para auxiliar na resolu-
ção das principais demandas no saneamento básico.

28 Transversal - Princípios básicos de geoprocessamento para seu uso em saneamento - Nível 2


Geoprocessamento e OBJETIVO:

suas aplicações - Compreender


as possibilidades
de aplicação do
Profissional, sabemos das dificuldades no dia a dia da gestão urbana
geoprocessa-
e, principalmente, na gestão do saneamento básico. Este capítulo
mento e suas
tem a função de ajudar a compreender o que é geoprocessamento e principais
reforçar a importância estratégica da sua aplicação para tomada de características.
decisão de uma forma geral.

O geoprocessamento pode ser definido como um conjunto


de tecnologias voltado à coleta e tratamento de informações
espaciais para um objetivo específico. Assim, as atividades
que envolvem o geoprocessamento são executadas por
sistemas específicos para cada aplicação. Esses sistemas são
mais comumente tratados como Sistemas de Informação
Geográfica (SIG).

A representação e análise de dados espaciais disponíveis em meio


digital é uma ferramenta que proporciona um novo olhar sobre a su-
perfície terrestre gerando ganho nos conhecimentos e na produção
de novas informações acerca da realidade a ser estudada.

Guia do profissional em treinamento - ReCESA 29


Assim, o termo geoprocessamento, que surgiu com o sentido do processamento de dados
georreferenciados, ganhou o significado de implantar um processo que propicie um pro-
gresso, um avanço na grafia ou representação da Terra. Não é somente representar, mas
é associar a esse ato um novo olhar sobre o espaço, um ganho de informação. O vocábulo
“geoprocessamento” é conhecido, em outras línguas, por “geomatic”, termo guarda-chuva
que diz respeito a instrumentos e técnicas para a obtenção de dados espaciais, bem como
a teorias relativas à automação aplicada na obtenção de informações espaciais. Existe, em
português, o termo “geomática”, mas que é compreendido como associado somente à etapa
de aquisição e tratamento de dados, e não à análise.

O geoprocessamento, segundo a maioria dos autores da área, engloba processamento


digital de imagens, cartografia digital e os sistemas informativos geográficos (ou
sistemas de informação geográfica, ou mesmo sistema geográfico de informação). A carto-
grafia digital refere-se à automação de projetos, captação, organização e desenho de mapas;
enquanto que o sistema geográfico de informação refere-se à aquisição, armazenamento,
manipulação, análise e apresentação de dados georreferenciados, ou seja, um sistema de
processamento de informação espacial.

Por ser uma técnica de caráter multidisciplinar e transversal há uma variedade de usos e
aplicações, além da integração de diferentes temas e abordagens. Por esta razão, na maioria
das vezes, é um instrumento utilizado em situações estratégicas, posto o interesse cada vez
mais crescente de se conhecer o espaço geográfico e os fenômenos que ali se desenvolvem
sob diferentes aspectos. Dessa forma, o Geoprocessamento auxilia, especialmente, no pla-
nejamento e na gestão por permitir uma visão holística da realidade de forma sistematizada,
considerando as inter-relações dos diferentes componentes e entidades que a constitui.

O holismo significa que o homem é um ser indivisível, que não pode ser entendido
através de uma análise separada de suas diferentes partes.

Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Administra%C3%A7%C3%A3o_Hol%C3%ADstica

30 Transversal - Princípios básicos de geoprocessamento para seu uso em saneamento - Nível 2


Os Sistemas de Informação Geográfica (SIG) realizam o tratamento de dados geográficos e
armazenam a geometria e os atributos dos dados que estão georreferenciados - localizados
na superfície terrestre e representados numa projeção cartográfica. De modo geral, pode-se
dizer que um SIG tem os seguintes componentes: Interface com usuário; Entrada e integra-
ção de dados; Funções de processamento gráfico e de imagens; Visualização e plotagem;
Armazenamento e recuperação de dados (organização sob a forma de um banco de dados
geográficos).

Figura 6: Arquitetura de Sistemas de Informação Geográfica.

Esses componentes se relacionam de forma hierárquica. A interface homem-máquina define


como o sistema é operado e controlado. No nível intermediário, um SIG deve ter mecanis-
mos de processamento de dados espaciais (entrada, edição, análise, visualização e saída).
Internamente ao sistema, um banco de dados geográficos armazena e recupera os dados
espaciais.

Agora, vamos apontar alguns benefícios do Sistema de Informação Geográfica:

yy a criação de um banco de dados georreferenciado, estabelecendo uma fonte única que


relaciona todos os aspectos ambientais, sociais e econômicos;
yy a facilidade de atualização permanente das informações armazenadas, executada pelos
órgãos competentes, possibilitando ao mesmo tempo o acesso de interessados a con-
sultas e análises;
yy a possibilidade de manutenção automática da base cartográfica;
yy a flexibilidade para imediata reprodução de plantas cartográficas, cadastrais e de mapas
temáticos para todos os usuários, com igual nível de atualização e de confiabilidade;

Guia do profissional em treinamento - ReCESA 31


yy a viabilização de entrada de dados em grande quantidade e de naturezas diversas, for-
mando uma fonte inesgotável de consultas para fundamentar decisões dos gestores;
yy o processamento rápido e eficiente de todos os dados de origem e características diver-
sas, uma vez estabelecida a inter-relação entre todos os planos de informações, funda-
mentais na codificação espacial;
yy a produção imediata de mapas, em qualquer escala e delimitação arbitrada pelo usuário,
de qualquer área de interesse;
yy a identificação da posição geográfica com as respectivas coordenadas de todas as in-
formações armazenadas;
yy a possibilidade de seleção de cartas temáticas conforme interesse do usuário;
yy a possibilidade de agregação e desagregação de informações a partir de um lote, qua-
dra, bairro, setor, zona, bacia ou qualquer área desejada, de forma imediata e precisa, a
partir da estruturação adequada do banco de dados georreferenciados.

Promover intervenções sem refletir sobre possíveis consequências é negar o uso de ações
planejadas e atestar um conhecimento insatisfatório e superficial da realidade vigente. O
planejamento bem sucedido requer, prioritariamente, uma visão de conjunto com o conhe-
cimento do todo. Assim, o uso das técnicas de geoprocessamento permite obter um melhor
entendimento da integração dos constituintes de uma determinada realidade, além de possi-
bilitar a construção de cenários futuros e a simulação de paisagens antes que as intervenções
se concretizem. É, portanto, a oportunidade de aperfeiçoar e planejar ações uma vez que se
torna possível visualizar as possíveis alterações no território, de maneira mais efetiva, tendo
em vista o conhecimento de causa e consequência, alcançando, com isso, resultados mais
satisfatórios. É dessa forma que o geoprocessamento vem se destacando como uma impor-
tante ferramenta no auxílio à tomada de decisões.

32 Transversal - Princípios básicos de geoprocessamento para seu uso em saneamento - Nível 2


Os recursos de OBJETIVO:

geoprocessamento - Esclarecer as
etapas básicas
constituintes
Para usufruir de maneira adequada dos recursos do geoprocessa-
para o
mento, o desafio é mostrar as possibilidades existentes ressaltando
desenvolvimento
as potencialidades e limitações, de modo que o gestor, futuro usuá- de projetos
rio, possa ter autonomia e conhecimentos técnicos necessários para com aplicações
ajudar na tomada de decisões acerca da criação, do desenvolvimento do geopro-
e da finalização dos estudos em que a componente espacial está cessamento.
inserida.

O geoprocessamento, em termos práticos, é parte de um conjun-


to de tecnologias, que, trabalhando integradamente, ajuda a repre-
sentar, simular, planejar e gerenciar atividades humanas no espaço
geográfico. Neste tópico, trataremos com maior detalhamento cada
recurso que a ferramenta dispõe e suas respectivas possibilidades de
aplicação.

É importante definir os objetivos para o desenvolvimento dos pro-


jetos a serem elaborados. A definição desses objetivos para o uso
de ferramentas do geoprocessamento é tão importante quanto para
qualquer outro tipo de estudo. Colocar de maneira clara e objetiva
os motivos que levaram o usuário a optar por aplicar tais técnicas
exige, dele mesmo, esclarecimentos sobre as possíveis aplicações da
ferramenta, bem como suas limitações de uso. Além disso, torna-se
imprescindível o esclarecimento sobre qual produto cartográfico que
se almeja obter.

Guia do profissional em treinamento - ReCESA 33


Você sabia?

A expressão georreferenciamento não pode ser confundida com


a de geoprocessamento. São consideradas informações geor-
referenciadas aquelas que necessariamente apresentem co-
ordenadas (sejam elas geográficas ou métricas) e um sistema
de projeção cartográfica. Estes requisitos garantem a precisão
da localização de qualquer objeto que se queira mapear. Des-
sa forma, a expressão georeferenciamento pode ser entendida
como o procedimento usado em ambiente informatizado capaz
de atribuir adequadamente a localização geográfica de um dado
qualquer. Trata-se de apenas um dos procedimentos técnicos
utilizados em geoprocessamento. O geoprocessamento englo-
ba, portanto, vários outros recursos sendo um deles o de geor-
referenciamento.

Organização da base de dados alfanumérica e cartográfica

Organizar a base de dados alfanumérica e cartográfica significa construir e consolidar todos


os dados cartográficos e alfanuméricos (secundários ou não) até então adquiridos. O objetivo
é que, a partir de então, todas as informações levantadas e devidamente tratadas possam ser
representadas espacialmente. Tal representação se fará em diferentes camadas de feições
que irão associar o desenho cartográfico aos seus respectivos atributos.

Atributo: informação contida em uma base de


dados diretamente associada ao arquivo de dados
geográficos. São as características descritas do
elemento mapeado.

Na sequência vamos abordar os mecanismos existentes para coletar os dados e transformá-


-los em informação espacial para auxiliar na gestão urbana.

34 Transversal - Princípios básicos de geoprocessamento para seu uso em saneamento - Nível 2


Coleta ou aquisição de dados primários ou secundários

O levantamento dos dados é uma das etapas mais importantes de geoprocessamento. A


confiabilidade dos dados e a consistência de suas análises estão diretamente relacionadas à
aplicação de procedimentos de aquisição que respeitem condições tecnicamente aceitáveis.
Dessa forma, uma falha na aquisição ou um erro no dimensionamento da técnica a ser utili-
zada pode comprometer todo o trabalho.

Para iniciar qualquer aplicação de geoprocessamento é indispensável a existência de uma


base cartográfica a ser trabalhada. Apesar da grande dificuldade de aquisição de dados ve-
toriais (seja pelo alto custo na produção dessa informação, ou até mesmo pelo caráter es-
tratégico da mesma que impede a sua disseminação para o público externo) alguns dados já
se encontram disponíveis gratuitamente e em diferentes escalas (a maioria com baixo nível
de detalhamento) em sítios de instituições públicas nacionais (como o Ministério do Meio
Ambiente, Agência Nacional das Águas – ANA, IBGE, Companhia de Pesquisas de Recursos
Minerais – CPRM, Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária – EMBRAPA etc.) e estaduais
(em Minas Gerais: Instituto Mineiro de Gestão das Águas – IGAM, Fundação Estadual de Meio
Ambiente – FEAM, Sistema de informações digitais geográficas e georreferenciadas de Minas
Gerais – GeoMINAS, dentre outros). Nestes sítios, o usuário pode baixar as informações de
interesse e começar a montar a base cartográfica a ser trabalhada.

IBGE http://www.ibge.gov.br/home/
CPRM http://www.cprm.gov.br/
EMBRAPA http://www.embrapa.br/
IGAM http://www.igam.mg.gov.br/
FEAM http://www.feam.br/
GeoMINAS http://www.geominas.mg.gov.br/
ANA http://www.ana.gov.br/
MMA http://www.mma.gov.br/

Base cartográfica: conjunto de dados geográficos vetoriais


e, portanto, passível à manipulação (edição, simbolização etc.).

Caso o usuário não encontre nenhuma informação específica desejada em meio digital, res-
tam algumas outras opções para obtê-la: por meio da captura de dados via GPS (Global
Positioning System ou Sistema de Posicionamento Global); por meio de recursos de sensoria-
mento remoto a partir de imagens de satélite ou fotografias aéreas; por meio da vetorização
ou digitalização de figuras (fontes secundárias) já publicadas.

Guia do profissional em treinamento - ReCESA 35


GPS (Sistema de Posicionamento Global)

O GPS é constituído por três segmentos: o espacial (no qual se encontram 24 satélites em

Você sabia?

GPS – Global Positioning System – é um sistema de navegação por satélite criado e


controlado pelo Departamento de Defesa dos EUA (DOD – Department of Defense) para
fins militares, inicialmente. É capaz de determinar a posição do usuário em tempo real
a qualquer instante e em qualquer lugar do mundo. Para isso, basta que o aparelho
receptor capte os sinais emitidos de, pelo menos, 4 satélites que, uma vez codificados
e processados, poderão fornecer posições em 3 dimensões (X,Y, Z) e ainda a faixa
de fuso horário na qual se encontra o receptor, bem como informações de tempo e
velocidade.

órbita com cobertura em todo o globo terrestre); o controle em terra (constituído por uma
rede de estações de monitoramento localizadas por todo o planeta cuja principal função é
atualizar a mensagem de navegação transmitida pelos satélites); e o segmento do usuário,
formado por todos os receptores GPS e a comunidade.

Figura 7: Constelação de Figura 8: GPS de navegação.


satélites na órbita da Terra.
O sistema GPS é capaz de fornecer posições geográficas com baixa, média ou alta precisão
de acordo com o instrumental utilizado na coleta e processamento dos sinais, com objetivos
diversos. O GPS de navegação pode conferir precisão de 20 a 30 metros, aproximadamente,
dependendo das condições de trabalho. Já o GPS diferencial, permite que o usuário obtenha
resultados com precisão de alguns metros ou poucos milímetros, pelo processamento con-
tínuo de correções dos sinais e, consequentemente, redução substancial da maior parte dos
erros de posicionamento.

36 Transversal - Princípios básicos de geoprocessamento para seu uso em saneamento - Nível 2


Mas lembre-se: a precisão na captura desses dados bem como a escolha dos equipamen-
tos a serem utilizados deverá estar em sintonia com os objetivos do trabalho inicialmente
proposto.

Você sabia?

Os sinais dos satélites dificilmente penetram em vegetação muito densa, vales


estreitos, cavernas ou na água. Montanhas altas ou edifícios próximos também afetam
sua precisão. Isto significa que quanto menor for a interferência do ambiente físico,
maior será a qualidade na captação de sinais.

Atividade: Prática de GPS

Na área externa vamos manusear um aparelho GPS e procurar visu-


alizar as principais funções desse equipamento.

Sensoriamento remoto e processamento digital de imagens

Utilizando uma fotografia aérea desenhe em papel vegetal ou al-


gum outro papel transparente os seguintes itens:

yy Cursos d’água;
yy Vias (férreas, ruas, estradas etc.)
yy Áreas degradadas;
yy Zonas florestadas;
yy Cultivo temporário e permanente;
yy E outros elementos que julgar importante.

Crie uma simbologia e não se esqueça de fazer uma legenda, colo-


car escala, o título do seu mapa e outros elementos de pertinência
cartográfica.

Guia do profissional em treinamento - ReCESA 37


O sensoriamento remoto pode ser definido como sendo um conjunto de conhecimentos uti-
lizados para se obter informações acerca de objetos, áreas ou fenômenos, através da análise
dos dados adquiridos por sensores. Os sensores são associados a métodos que se utilizam
da energia eletromagnética como um meio de detectar e medir as características da superfí-
cie terrestre, através do registro de energia refletida, emitida ou retroespalhada.

Os olhos constituem um dos tipos mais comuns de sensoriamento remoto utilizados para
detectar a luz. Observar os objetos ao nosso redor, ouvir o barulho do mar, da buzina do
carro e sentir o calor do sol são algumas formas de sensoriamento remoto.

Os satélites carregam sensores que observam a superfície da Terra, os oceanos e a atmos-


fera, e ajudam na expressão dos elementos e fenômenos dispostos na superfície do planeta.
No sensoriamento remoto a transferência da informação dos objetos e feições terrestres
para o sensor remoto se dá através da interação da energia eletromagnética com os objetos
presentes na superfície. O sensor é o equipamento capaz de coletar a energia proveniente
do objeto, área ou fenômeno (alvo), converter esta energia em forma de sinal para registro e
apresentação sob uma forma adequada para o tratamento e a extração de informação.

A energia eletromagnética que incide sobre a superfície terrestre interage com os objetos
encontrados sobre a superfície da terra. Esses alvos possuem comportamentos diversifica-
dos, no que tange à radiação eletromagnética recebida, que pode ser refletida, absorvida
e transmitida em diferentes comprimentos de onda, de acordo com as suas características
bio-físico-químicas.

38 Transversal - Princípios básicos de geoprocessamento para seu uso em saneamento - Nível 2


É a partir do comportamento espectral diferenciado, ou da assinatura espectral própria de
cada objeto, por exemplo, da vegetação, da água ou do solo, que se torna possível distinguir
e identificar os alvos existentes na natureza.

Os sistemas de aquisição adquirem as informações observando e analisando as variações


espaciais, espectrais e temporais das radiações eletromagnéticas dos objetos.

A resolução espacial descreve o quanto de detalhes em uma imagem é visível para o sistema
visual humano. Um maior nível de detalhes perceptível na imagem é resultado de uma maior
resolução espacial. Em imagens geradas por sistemas de alta resolução pode-se observar
pequenos detalhes dos objetos, os quais não podem ser observados em imagens de baixa
resolução espacial. Assim, a habilidade de discriminar pequenos detalhes é uma forma de
descrever a resolução espacial. Quanto menor o objeto possível de ser visto com boa quali-
dade na imagem, melhor é a resolução espacial do sensor. A resolução espacial de imagens
adquiridas por sistemas sensores a bordo de satélites é dada em metros.

A coleção de imagens de uma mesma cena, obtidas por sensores com respostas espectrais
diferentes é chamada Imagem Multiespectral. A resolução espectral de uma imagem está rela-
cionada com a largura das bandas espectrais e com o número de canais usados. Uma imagem
colorida é, na realidade, um conjunto de três imagens obtidas por um sensor com respostas
espectrais diferentes. Três bandas de uma imagem podem formar uma imagem colorida utili-
zando o processo de composição colorida – R (vermelho), G (verde) e B (azul) – RGB.

Guia do profissional em treinamento - ReCESA 39


A resolução temporal é definida pelo intervalo de tempo medido entre uma aquisição e outra
de imagens. A resolução temporal adequada é importante para a identificação de processos
que se modificam dinamicamente (fluxo atmosférico, crescimento de culturas, uso da terra).
Quanto maior a frequência de obtenção de imagens (revisita) do mesmo local maior a reso-
lução temporal do sensor.

Por meio do aparato tecnológico que o sensoriamento remoto dispõe, torna-se possível fo-
tografar ou criar imagens de toda a superfície terrestre registrando seus componentes cons-
tituintes e suas diversas manifestações.

As fotografias aéreas são obtidas a partir de levantamento aerofotogramétrico em que uma


câmera apropriada ou sensores são acoplados às aeronaves que sobrevoam a localidade de
interesse. As fotografias aéreas conferem alta resolução e, uma vez, submetidas aos tra-
tamentos adequados (como correção de deformações de borda, por exemplo) permitem a
construção de bases cartográficas com elevado nível de detalhamento. Entretanto, a quali-
dade dos dados adquiridos irá variar de acordo com os tipos de sensores usados e com os
parâmetros de aquisição, tais como altura de voo, condições atmosféricas etc.

Figura 9: Levantamento Figura 10: Fotografia


aerofotogramétrico. aérea (2005/2006) da região leste
de Belo Horizonte.

Já as imagens de satélite são obtidas a partir de satélites que estão em órbita e que trans-
formam a energia refletida pelos alvos na superfície em informações sobre a natureza e/ou
condições desses alvos. A qualidade das imagens também depende das características dos
satélites e das condições atmosféricas no momento da criação da imagem. Satélites de alta
resolução como IKONOS II (4 m x 4 m) obtêm imagens com um maior nível de detalhamento
quando comparados com as imagens CBERS (20 m x 20 m).

40 Transversal - Princípios básicos de geoprocessamento para seu uso em saneamento - Nível 2


Os procedimentos de manipulação de imagens através de computadores são associados ao
termo “Processamento Digital de Imagens – PDI”. O objetivo do processamento digital de
imagens é melhorar o aspecto visual de certas feições estruturais presentes nas imagens
para ajudar a tarefa do analista e fornecer outros subsídios para a sua interpretação.

Depois de adquiridas, transmitidas e armazenadas, as imagens podem ser processadas.


Existem vários formatos de armazenamento (BMP, PCX, TIFF, GIF, JPEG etc.). As principais
áreas de aplicações do PDI geralmente requerem métodos capazes de realçar as informações
contidas nas imagens para a posterior interpretação e análise humana. A utilização de ima-
gens coletadas por satélites tais como, Landsat, SPOT, Ikonos e outros, tem sido uma valiosa
ferramenta para a extração dos dados em várias aplicações. A obtenção das informações
espectrais registradas pelos sistemas nas diferentes partes do espectro eletromagnético,
visando a identificação e discriminação dos alvos de interesse, depende principalmente da
qualidade da representação dos dados contidos nas imagens.

Atividade: Vamos comparar!

A partir das características citadas, identifique quais os satélites


que originaram as imagens, a seguir:
Fonte: http://www.cabecadecuia.com/imagem/materi
as/2eb58bcd12c4407f311ab392aa29c1ec.jpg

Satélite:................................

Resolução: ..........................

Figura 11: Imagem de satélite I.


Fonte: INPE – http://www.inpe.br/

Satélite:.......................................................

Resolução: ..................................................

Figura 12: Imagem de satélite II.

Guia do profissional em treinamento - ReCESA 41


Assim, a partir da interpretação dessas imagens torna-se possível construir uma base carto-
gráfica confiável a ser trabalhada. Veja as ilustrações de obtenção de dados a partir de uma
imagem de alta resolução:

ges/dc_inauguration_jan20_2009_dgl.jpg
Fonte: http://www.digitalglobe.com/downloads/featured_ima-
Figura 13: Imagem de alta resolução.

Figura 14: Vetorização das feições.

42 Transversal - Princípios básicos de geoprocessamento para seu uso em saneamento - Nível 2


Fonte: Grohmann (2008).
Figura 15: Modelo digital do terreno.

cartas/dec/SB-23-V-B-DEC.pdf
Fonte: Embrapa, http://www.aptidaoma.cnpm.embrapa.br/

Figura 16: Mapa de declividade.

Você sabia?

Podemos adquirir imagens de vários satélites pela internet gratuitamente. Sítios como
do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais – INPE (www.inpe.br) possibilitam que
quaisquer usuários façam download das imagens desejadas.

Guia do profissional em treinamento - ReCESA 43


Fontes secundárias

O usuário pode também lançar mão de outras fontes de dados já publicados e acessíveis ao
público externo. Caso o material esteja em papel (mapa analógico) é necessário capturá-lo
por scanner e disponibilizá-lo em meio digital. Nesse caso, a partir do georreferenciamento
do mapa “fonte”, é possível digitalizar as feições e armazená-las já como um dado cartográ-
fico e alfanumérico. As fontes secundárias em geral trazem dados populacionais e demográ-
ficos, informações compiladas por órgãos tais como: IBGE, Organização Mundial de Saúde,
Ministério das Cidades – que podem ser utilizados para fazer os mapas.

Você sabia?

Atenção ao padrão de exatidão cartográfica

O Padrão de Exatidão Cartográfica (PEC) estabelece um limite admissível de erro que um


mapa pode apresentar, segundo o seu padrão. Em planimetria, para mapas de padrão
“A”, ele é definido como 0,2 mm na escala do mapa, enquanto que em altimetria ele é
definido como metade do valor da curva de nível. Esse valor é de 0,5 mm na escala do
mapa para o padrão “B” e de 0,8 mm para o padrão “C”.

Significa dizer que se tivermos que digitalizar uma feição qualquer a partir de um
mapa na escala 1:100.000, para atendermos ao padrão cartográfico do tipo A (0,2
mm), poderemos alcançar um erro máximo de até 20 metros, em planimetria. Já em
altimetria, se um mapa apresentar curvas de nível com equidistância de 10 metros, o
erro pode chegar a até 5 metros, e um mapa com curvas de 50 em 50 metros pode
apresentar erro altimétrico de até 25 metros.

O responsável pelo mapeamento deverá avaliar se o erro que poderá ter é aceitável para a
sua aplicação ou não. Caso o estudo exija maior detalhamento e, portanto, maior exatidão,
caberá ao profissional utilizar outras bases cartográficas com um maior detalhamento e que
confira menor erro ao mapeamento que será realizado.

44 Transversal - Princípios básicos de geoprocessamento para seu uso em saneamento - Nível 2


Tratamento de dados

O tratamento das informações obtidas consiste em submetê-las a alguns procedimentos que


associará ao seu conjunto de atributos a componente espacial. Para isso, o usuário deverá
seguir algumas etapas importantes para trabalhar com a informação de maneira confiável e
de acordo com padrões cartográficos aceitáveis, a saber:

yy 1ª etapa: Georreferenciamento;
yy 2ª etapa: Vetorização (digitalização);
yy 3ª etapa: Edição do banco de dados associado.

O georreferenciamento consiste em atribuir à fonte onde serão extraídos os dados (imagens


de satélites, mapas topográficos escaneados etc.) e coordenadas (geográficas ou UTM) para
que seja obtida a sua localização geográfica precisa. Uma vez dispostas adequadamente, o
próximo passo requer extrair dessas fontes as informações pretendidas. Para isso, é preciso
iniciar o processo de vetorização ou digitalização, que nada mais é que desenhar em meio
digital as feições de interesse. Cada tema deverá ser vetorizado em camadas separadas para
organização dos dados e maior capacidade de manuseio das informações posteriormente.

Figura 17: Estruturação das camadas de informação.

Guia do profissional em treinamento - ReCESA 45


Plano de informação: conjunto de feições
geográficas similares que é organizado por assunto
(ex. solo, vias e rios) e se estende por toda a área
geográfica definida por um mapa. É também
conhecido por layers, camada de informação.

As informações separadas em camadas, também denominadas de


planos de informação ou layers (são todos sinônimos) é a maneira
mais adequada para organizá-las. A vantagem é que a composição
de mapas é enriquecida pelo número de combinações de informa-
ções que poderão ser feitas.

Vamos ao exemplo:

Precisamos digitalizar um mapa topográfico do IBGE para extrair in-


formações como a hidrografia, a topografia, estradas, e vegetação.
Para isso, deveremos criar arquivos diferentes para cada assunto. As
cartas topográficas do IBGE são encontradas em bibliotecas públicas,
nas universidades e podem ser adquiridas no sítio do IBGE, www.
ibge.gov.br.

46 Transversal - Princípios básicos de geoprocessamento para seu uso em saneamento - Nível 2


Fonte: IBGE – www.ibge.gov.br

Figura 18: Mapa topográfico.

Guia do profissional em treinamento - ReCESA 47


A distinção dos arquivos por tema vem acompanhada da atribuição da forma geométrica que
os dados receberão. Há três formas geométricas para representar um vetor: ponto (pontual),
linha (linear) e polígono (zonal). Observando o mapa podemos atribuir para o tema hidrogra-
fia (representada pelos cursos d’água) e as estradas a forma linear. Já a vegetação pode ser
representada por polígonos.

Com relação à topografia, temos duas feições representantes: as curvas de nível (linear) e os
pontos cotados (pontual). Como representar um mesmo tema com formas geométricas dife-
rentes? Basta criar arquivos diferentes para cada um deles. Se tivéssemos lagoas ou represas
representadas no mapa (zonais e não lineares como os cursos d’água), deveríamos proceder
da mesma forma, criando arquivos distintos.

E, por fim, a última etapa listada – edição de um banco de dados associado – consiste em
atribuir aos desenhos cartográficos as suas características. Essas informações, ou caracte-
rísticas das feições representadas são denominadas de atributos. Esses atributos são arma-
zenados em um banco de dados que está diretamente associado ao desenho. Portanto, se
quisermos saber qual o nome dos cursos d’água do nosso exemplo, é só consultar o banco
de dados que teremos a resposta. Ou ainda, se quisermos saber a que altitude determinada
sede está localizada, a informação estará também no banco de dados associado.

Você sabia?
A imensa coleção de dados hoje disponível é, na verdade, um labirinto de informações
que muitas vezes não significa ganho de conhecimento nas análises espaciais. Muitos
sistemas são, na verdade, “bando de dados” e não “banco de dados”.

yy Representação do relevo: Nas cartas topográficas o relevo é representado pelas


curvas de níveis e pontos cotados com altitudes referidas ao nível médio do mar (Datum
vertical). Portanto, é preciso esclarecer alguns conceitos relacionados à interpretação das
cartas topográficas, a saber:
• Ponto cotado: é a projeção ortogonal ou perpendicular de um ponto do terreno
no plano da carta com a indicação da sua altitude.
• Curvas de nível: são isolinhas de altitude, ou seja, linhas que representam to-
dos os pontos do terreno de mesma altitude. As curvas de nível constituem a
forma mais utilizada para representação do relevo nas cartas topográficas.
• Equidistância: é a separação entre curvas de nível consecutivas.
• Curvas de nível mestra: São as curvas de nível mais grossas e numeradas que
ocorrem de 5 em 5 curvas. A quinta curva é sempre a curva mestra nas cartas
topográficas.

48 Transversal - Princípios básicos de geoprocessamento para seu uso em saneamento - Nível 2


yy Obtendo altitudes: Se o ponto é cotado, basta ler o seu valor; se o ponto coincide com
a curva de nível mestra, basta ler a cota da curva; se o ponto coincide com uma curva de
nível intermediária, basta deduzir a cota da curva a partir da equidistância já definida.
yy Obtendo coordenadas UTM: Para encontrar a coordenada E, deve-se identificar o
valor da linha vertical da quadrícula UTM nas laterais do mapa (acima ou abaixo). Por
exemplo, 650.000 m ou 650 km. Já a coordenada N corresponde ao valor identificado
na linha horizontal da quadrícula (à esquerda ou à direita). Por exemplo, 7.850.000 m ou
7.850 km.
yy Obtendo comprimentos de distâncias: Para fazer a medição real da feição de in-
teresse que está representada no mapa, basta multiplicar o valor da feição no desenho
pelo denominador da escala do mapa. Por exemplo, se tivermos um objeto com 2,8 cm
no desenho e a escala do mapa for 1:50.000, temos: 2,8 x 50.000 = 140.000 cm ou 140
km.

Atividade

Obter as informações de altitude, coordenadas UTM, e distância em


mapas topográficos em pontos estabelecidos pelos instrutores.

Representação dos dados

Existem dois tipos de representação de uma feição ou componente em meio digital, utiliza-
dos em geoprocessamento: a vetorial e a matricial (raster). O formato vetorial é representado
por pontos, linhas ou polígonos, conforme vimos anteriormente, atribuindo uma configu-
ração bidimensional da feição representada. A eles estão associados seus atributos em um
banco de dados alfanumérico e suas coordenadas (um par para os pontos, pelo menos dois
pares para as linhas e três para os polígonos). Já os formatos matriciais ou rasterizados fa-
zem uso de células ou pixels em suas representações. As feições mapeadas são identificadas
por um agregado de pixels representativos de pontos, linhas ou polígonos. Para cada pixel
existe um valor atribuído, ou um índice.

Guia do profissional em treinamento - ReCESA 49


Para o vetor, quanto maior for o detalhamento necessário para representar uma feição, maior
será o número de vértices inserido no desenho e maior será o tamanho do arquivo digital
gerado. Contudo, em muitas situações, é possível digitalizar a mesma feição com um número
de vértices menor e respeitando todos os seus traçados constituintes. Esse é o procedimento
de generalização cartográfica aplicado em meio digital que respeita a geometria e os contor-
nos do desenho sem que haja vértices em excesso, obtendo arquivos menores com tempo
de processamento também menor.

Para o raster, quanto maior for a resolução de uma imagem (melhor definição), menor será
o tamanho das células (pixel) e maior será o arquivo digital gerado (pelo maior número de
pixels).

Álgebra de mapas: trata-se do cruzamento dos


planos de informações (layer) feito para obter
resultados referentes aos relacionamentos espaciais
entre as feições até então não percebidos em outras
formas de representação gráfica.

A escolha pela representação matricial dos planos de informação se dá, normalmente, pela
necessidade de, a posteriori, cruzar as informações e obter resultados com um maior ní-
vel de detalhamento possível, pixel a pixel. Sabendo que para cada pixel está atribuído um
valor associado às especificidades existentes em cada feição, inferimos um maior grau de
detalhamento desse tipo de representação quando comparado com vetor cuja capacidade de
generalização é maior, garantindo assim, resultados mais satisfatórios.

Contudo, resta ao usuário avaliar em cada situação qual o melhor formato a ser trabalhado
reconhecendo as especificidades inerentes a cada um, bem como suas limitações e vantagens.

50 Transversal - Princípios básicos de geoprocessamento para seu uso em saneamento - Nível 2


Atividade

Na tabela a seguir, marque “V” para Vetor e “M” para Matriz dentro dos parênteses.

Tabela 1: Vantagens e desvantagens da representação vetorial x matricial.

Características

Resolução ( ) ( )
Boa resolução e não há Perda de resolução.
distorções.

Relações espaciais ( ) ( )
entre os objetos Relação topológica entre Relacionamento espacial deve ser in-
os objetos disponíveis. ferido, pois não é explícito (o software
não entende que um conjunto de pixels
forma um polígono, por exemplo).

Armazenamento de ( ) ( )
atributos e associação Facilita associar atribu- A informação é atribuída a cada pixel
à um banco de dados tos a elementos gráficos constituinte da imagem.
bem como armazená-los
internamente.

Álgebra de mapas ( ) ( )
Possibilidade de cru- Facilidade no cruzamento pixel a pixel
zamento limitada dos com um nível de detalhamento maior
planos de informação. para os resultados. Representa melhor
os fenômenos com variação contínua no
espaço.

Escalas de trabalho ( ) ( )
Adequado tanto a gran- Mais adequado para pequenas escalas
des quanto a pequenas (1:25.000 e menores).
escalas.
Fonte: INPE (Noções básicas de geoprocessamento e modelagem de dados em SIG) – http://www.inpe.br/

Você sabia?
Podemos adquirir softwares livres gratuitamente pela internet,
como o spring, terra view (www.inpe.br), saga (http://www.la-
geop.ufrj.br/saga.php), dinâmica (www.csr.ufmg.br).

Guia do profissional em treinamento - ReCESA 51


Análises espaciais

As análises espaciais são admitidas a partir dos múltiplos cruzamentos de informações que
podem ser feitos para analisar os diferentes relacionamentos espaciais existentes entre elas,
podendo alcançar resultados dificilmente percebidos sob outras formas de representação
gráfica. Esses relacionamentos podem ser trabalhados nos Sistemas de Informação Geo-
gráfica. Alguns exemplos dos processos de análise espacial típicos de um SIG estão sendo
apresentados na tabela 2.

Tabela 2: Processos de análise espacial típicos de um SIG.

Análise Pergunta geral Exemplo


Condição “O que está...?” “Qual a população dessa cidade?”
Localização “Onde está...?” “Quais as áreas com declividades
acima de 20%?”
Tendência “O que mudou?” “Essa terra era produtiva 5 anos
atrás?”
Roteamento “Por onde ir?” “Qual o melhor caminho para o
metrô?”
Padrões “Qual o padrão...?” “Qual a distribuição da dengue
em Fortaleza?”
Modelos “O que acontece se...?” “Qual o impacto para as futuras
gerações se continuarmos a viver
nesse modelo insustentável, des-
matando, poluindo, desrespei-
tando os limites da natureza?”

A finalidade da análise espacial é a escolha de um modelo que possa explicitar o relacio-


namento espacial que se dá no fenômeno analisado. Os procedimentos iniciais da análise
incluem o conjunto de métodos genéricos de análise exploratória e a visualização dos dados,
em geral através de mapas. Essas técnicas permitem descrever a distribuição das variáveis
de estudo, identificar observações atípicas não só ao tipo de distribuição, mas também em
relação aos vizinhos, e buscar a existência de padrões na distribuição espacial.

52 Transversal - Princípios básicos de geoprocessamento para seu uso em saneamento - Nível 2


Tomemos um exemplo concreto para explicitar os conceitos sobre análise espacial. Para
tanto, vamos ao clássico exemplo sobre a cólera em Londres que marcou época porque o
“geoprocessamento” foi feito manualmente:

Em 1854, Londres estava sofrendo uma gra- lacrado, o que contribuiu e muito para debelar a
ve epidemia de cólera, doença da qual à épo- epidemia. Esse caso forneceu evidência empíri-
ca não se conhecia a forma de contaminação. ca para a hipótese (depois comprovada) de que
Numa situação onde haviam ocorrido mais de a cólera é transmitida por ingestão de água con-
500 mortes, o médico John Snow teve um “es- taminada. Esta é uma situação típica onde a re-
talo”: colocar no mapa da cidade a localização lação espacial entre os dados muito dificilmente
dos doentes de cólera e dos poços de água seria inferida pela simples listagem dos casos
(naquele tempo, a fonte principal de água dos de cólera e dos poços. O mapa do doutor Snow
habitantes da cidade). Com a espacialização passou para a História como um dos primeiros
dos dados, o doutor Snow percebeu que a exemplos que ilustram bem o poder explicativo
maioria dos casos estava concentrada em torno da análise espacial.
do poço da “Broad Street” e ordenou que fosse

Fonte: http://www.dpi.inpe.br/spring/portugues/tutorial/analise.html

Você sabia?
A cólera é uma doença causada pelo vibrião colérico (Vibrio cholerae), uma bactéria
em forma de vírgula ou bastonete, que se multiplica rapidamente no intestino humano
produzindo uma potente toxina que provoca diarreia intensa. Ela afeta apenas os seres
humanos e a sua veiculação é diretamente por ingestão oral, a partir da contaminação
da água por dejetos fecais de doentes.

Guia do profissional em treinamento - ReCESA 53


OBJETIVOS: Geoprocessamento e gestão
- Apresentar o de bacias hidrográficas
conceito de bacia
hidrográfica.
Bacia hidrográfica
- Discutir como
o geopro- Utilizando um mapa topográfico, delimite, em papel vegetal ou al-
essamento pode gum outro papel transparente, uma bacia hidrográfica e a sua res-
auxiliar na análise pectiva rede de drenagem.
ambiental e
gestão de bacias
Bacia hidrográfica é uma área natural cujos limites são definidos pe-
hidrográficas.
los pontos mais altos do relevo (divisores de água ou espigões dos
montes ou montanhas) e que tem função de reservatório de água e
sedimentos. Dentro da bacia, a água da chuva é drenada superficial-
mente por um curso de água principal até sua saída, no local mais
baixo do relevo, ou seja, na foz do curso de água.

A delimitação de cada bacia hidrográfica é feita em uma carta topo-


gráfica seguindo as linhas das cristas das elevações circundantes da
seção do curso d’água em estudo.

Atende apenas a fatores de ordem topográfica, define uma “linha


de divisão de águas”, que divide as precipitações que caem e que
encaminham o escoamento superficial resultante para um ou outro
sistema fluvial.

54 Transversal - Princípios básicos de geoprocessamento para seu uso em saneamento - Nível 2


A bacia hidrográfica é uma unidade espacial de análise que pode ser utilizada para conhecer
e avaliar os processos e interações numa visão sistêmica do meio ambiente. Esta abordagem
possibilita o estudo das interações ambientais entre fatores como substrato geológico, águas
subsuperficiais, atmosfera, clima, vegetação, uso e cobertura do solo e águas superficiais.

Figura 19: Bacia hidrográfica

Esse sistema pode ser acionado por um estímulo, a precipitação, e através de diversos fe-
nômenos do ciclo hidrológico, transforma essa precipitação em vazão. Esta transformação
depende de diversas características da bacia, tais como solo, vegetação, topografia, grau de
impermeabilização, entre outros. Os fenômenos que regem o comportamento desses siste-
mas são a infiltração, o escoamento superficial, percolação etc.

Sobrevoo na Bacia Hidrográfica Virtual (BHV)

O objetivo desta atividade é que você perceba a relação do uso e ocu-


pação do solo na bacia com a vazão do curso de água.

Discuta com os outros participantes da oficina.

Na gestão de bacias hidrográficas, o geoprocessamento se faz im-


portante para a divulgação de informações físicas da bacia, como
cursos d’água, vias, núcleos urbanos, condições dos canais de água,
além de facilitar o entendimento acerca das relações espaciais entre
os fenômenos geográficos que ocorrem nas bacias hidrográficas.

Guia do profissional em treinamento - ReCESA 55


OBJETIVO: Geoprocessamento aplicado
- Compreender ao saneamento
as aplicações
do geoproces-
Profissional, a análise dos serviços de saneamento poderá ser reali-
samento nas
zada com o entendimento dos processos físicos, sociais e econômi-
atividades de
saneamento cos que interagem com o mesmo. Esses processos serão simulados
básico em suas com base na utilização de modelos, com finalidade de se verificar
quatro dimensões o cenário e as estratégias de planejamento e desenvolvimento do
principais: setor.
abastecimento
de água, O geoprocessamento é capaz de manejar as funções inseridas no
esgotamento saneamento, em diversas regiões, de uma forma simples e eficien-
sanitário, manejo
te, permitindo economia de recursos, de tempo e mais precisão na
de águas pluviais
tomada de decisões. Esta ferramenta permite agregar dados de di-
e resíduos
ferentes fontes – imagens de satélite, mapas cadastrais, mapas to-
sólidos.
pográficos, mapas de solos etc. – e diferentes escalas com dados
descritivos. O resultado, geralmente, é apresentado sob a forma de
mapas temáticos com as informações desejadas.

Um dos maiores problemas enfrentados pelos responsáveis pelos


serviços de saneamento é a quase total inexistência de cadastro
técnico com informações sobre as diversas partes dos mesmos. Em
geral o monitoramento das atividades e o controle dos processos
também são falhos. A existência desse cadastro, juntamente com um
acompanhamento constante do processo de produção, com registro
de volumes, perdas e despesas, é o primeiro passo para uma con-
cepção de aplicação em geoprocessamento.

56 Transversal - Princípios básicos de geoprocessamento para seu uso em saneamento - Nível 2


Você sabia?

Em 5 de janeiro de 2007, o governo implementou a lei nº. 11.445, que estabelece


diretrizes nacionais para o saneamento básico, definido como: conjunto de serviços,
infraestruturas e instalações operacionais de:

a) abastecimento de água potável: constituído pelas atividades, infraestruturas e


instalações necessárias ao abastecimento público de água potável, desde a captação
até as ligações prediais e respectivos instrumentos de medição;
b) esgotamento sanitário: constituído pelas atividades, infraestruturas e instalações
operacionais de coleta, transporte, tratamento e disposição final adequados dos
esgotos sanitários, desde as ligações prediais até o seu lançamento final no meio
ambiente;
c) limpeza urbana e manejo de resíduos sólidos: conjunto de atividades,
infraestruturas e instalações operacionais de coleta, transporte, transbordo,
tratamento e destino final do lixo doméstico e do lixo originário da varrição e limpeza
de logradouros e vias públicas;
d) drenagem e manejo das águas pluviais urbanas: conjunto de atividades,
infraestruturas e instalações operacionais de drenagem urbana de águas pluviais,
de transporte, detenção ou retenção para o amortecimento de vazões de cheias,
tratamento e disposição final das águas pluviais drenadas nas áreas urbanas;

A aplicação de um SIG específico como auxílio na gestão dos dados relativos ao saneamento,
possibilita o melhor controle e entendimento de um grande número de variáveis. Além de for-
necer informação, o SIG também provê ferramentas para que o decisor realize análises, como
forma de buscar explicações para as ocorrências que geram problemas no setor de saneamento.

As ferramentas de geoprocessamento podem fazer o gerenciamento inteligente das informa-


ções dos sistemas de abastecimento de água, sistema de coleta e tratamento dos esgotos,
manejo de águas pluviais e resíduos sólidos. Suas funcionalidades permitem, além do cadas-
tramento de usuários e representação destes em mapas temáticos, operações como: simulação
de manobras de registro, rastreamento de fluxos, identificação e representação cartográfica de
redes e equipamentos e localização de obra e áreas de interesses. A análise das informações e
correlações espaciais, dos dados são visualizados através de mapas temáticos, tornado possível
a tomada de decisões importantes, como trocar tubulações e equipamentos antigos ou desgas-
tados ou definir quais registros serão fechados e que tipos de estabelecimentos serão afetados
no caso de vazamento de uma rede.

Guia do profissional em treinamento - ReCESA 57


Com a tecnologia SIG é possível, dentre outras ações, uma macrovisão da distribuição de
toda rede de abastecimento de água e esgoto, detecção de falhas nas redes, localização
dos maiores consumidores e seus dados cadastrais, áreas de maior arrecadação, os clientes
inadimplentes, as ligações cortadas, ligadas e suprimidas, dentre outras.

No setor de gerenciamento de resíduos sólidos, torna-se possível elaborar modelos de aná-


lise espacial em auxílio à tomada de decisões para a escolha de áreas para destinação dos
resíduos e tratamento, assim como de distritos e itinerários de coleta.

Em relação ao manejo de águas pluviais, as técnicas de geoprocessamento possibilitam,


através da representação dos dados e fenômenos ambientais e análise das relações espaciais
componentes do ciclo hidrológico, a previsão de áreas e eventos de risco, constituindo-se
em um ganho operacional às modelagens hidrológicas e no planejamento urbano-ambiental.

Saneamento básico

Apesar de existir um vínculo implícito entre as informações do setor de saneamento e a


localização espacial dos eventos, ainda são raros os sistemas que integram ferramentas de
análise geográfica com bancos de dados.

A implantação de um Sistema de Informações Geográficas no SNIS (Sistema Nacional de In-


formações sobre Saneamento) possibilita a espacialização dos dados trabalhados com vistas
a otimizar o processo de produção do conhecimento sobre o setor, melhorando assim a per-
cepção sobre a prestação de serviços de saneamento.

58 Transversal - Princípios básicos de geoprocessamento para seu uso em saneamento - Nível 2


Você sabia?

O Sistema Nacional de Informações sobre o Saneamento (SNIS) foi criado pelo Governo
Federal em 1996, sendo atualmente mantido pelo Ministério das Cidades. Seu objetivo
principal é o de coletar dados e indicadores relativos à prestação de serviços em saneamento,
a fim de tentar consolidar uma importante fonte de informações sobre o setor.

De acordo com a lei nº. 11.445, esse sistema de informações deve integrar-se ao Sistema
Nacional de Informações em Saneamento Básico (SINISA), cujos objetivos são:

I – coletar e sistematizar dados relativos às condições da prestação dos serviços públicos


de saneamento básico;
II – disponibilizar estatísticas, indicadores e outras informações relevantes para a
caracterização da demanda e da oferta de serviços públicos de saneamento básico;
III – permitir e facilitar o monitoramento e avaliação da eficiência e da eficácia da
prestação dos serviços de saneamento básico.

Através de consultas feitas diretamente do próprio banco de da-


dos do projeto e no banco de dados do SNIS, é possível atualizar-se
atributos que fazem parte da coleta de dados do Sistema. Para re-
presentação, foram selecionados alguns atributos, considerados de
maior impacto. Seriam dados mais representativos para os usuários
do sistema.

Desta forma foram selecionados os seguintes atributos:

yy Amostra dos municípios convidados: relação dos municípios


convidados a participar da coleta de dados para os anos de 2002
e 2003;
yy Municípios que responderam à coleta de dados: relação dos mu-
nicípios que atenderam à solicitação do SNIS e enviaram dados
referentes à coleta;
yy Tipo de serviço prestado: Tipo de serviço de saneamento pres-
tado naquele município;
yy I - 23 - Índice de atendimento urbano de água (percentual): ra-
zão da população urbana atendida com abastecimento de água,
pela população urbana do município atendido.

Guia do profissional em treinamento - ReCESA 59


Um dos produtos gerados foi um mapa mostrando o tipo de serviço prestado nos municípios
participantes do SNIS. Trata-se de uma informação importante e percebeu-se que um mapa
poderia auxiliar na interpretação deste dado, possibilitando o direcionamento de ações es-
pecíficas. A figura 20 mostra um dos mapas elaborados.

Fonte: Venturieri (2004).

Figura 20: Mapa referente a 2002, representando o


tipo de serviço prestado pelos municípios participantes.

60 Transversal - Princípios básicos de geoprocessamento para seu uso em saneamento - Nível 2


Sistemas de abastecimento de água

Atividade

A figura 21 apresenta um mapa contendo informações referentes


ao Sistema de Abastecimento de Água (SAA) do município de Sar-
zedo/MG.

Quais atributos, associados aos elementos dispostos no mapa, se-


riam importantes para a composição do banco de dados, tendo em
vista o gerenciamento do Sistema de Abastecimento de Água?

Delimite, em papel vegetal ou algum outro papel transparente, o


traçado que você considera mais apropriado para uma linha adu-
tora conduzindo água para a Sede Municipal de Sarzedo a partir do
Sistema Rio Manso. Justifique a escolha do traçado delimitado.

Fonte: Elaborado pelos autores (2011).

Figura 21: SAA de Sarzedo/MG – Pontos de captação, hipsometria,


hidrografia, mancha urbana e municipalidades.

Guia do profissional em treinamento - ReCESA 61


A utilização de aplicativos de geoprocessamento em Sistemas de Abastecimento de Água
fornece informações estruturadas aos tomadores de decisão, levando em consideração o fato
de que suas características georreferenciadas, integradas a sistemas de bancos de dados,
podem retratar adequadamente:

yy Espaços urbanos, representados pelas quadras, logradouros, faces de lotes e edificações


de interesse;
yy As redes de água, materializadas pelas suas tubulações e conexões;
yy As estruturas civis, aéreas ou subterrâneas que sustentam ou contém os elementos
componentes das redes de água;
yy Os pontos de conexões dos consumidores aos dutos;
yy Cadastro dos usuários;
yy Mananciais superficiais e subterrâneos;
yy Os equipamentos hidráulicos e mecânicos instalados na rede;
yy As conexões internas das estações elevatórias, reservatórios etc.
yy Informações altimétricas, como pontos cotados, curvas de nível etc.

As técnicas empregadas podem disponibilizar diversas ferramentas para consultas e produ-


ção de mapas e relatórios, abrangendo subsistemas como: Administração Cadastral da Base
de Dados; Planejamento da Expansão do Sistema; Acompanhamento da Construção; Apoio
às Atividades de Operação; Atendimento a Consumidores em situação de contingência; Ma-
nutenção; Patrimônio; Simulação e Análise de Rede; Administração de Recursos.

A implantação de Sistemas de Informação Geográfica no setor de Abastecimento de Água


permite a coleta, produção, atualização e disseminação de dados espacializados. Esses sis-
temas utilizam a capacidade de gerenciamento de um banco de dados, de modo a realizar
consultas e apresentar dados geográficos sob várias formas e aspectos, e também propor-
cionam ao usuário novas formas de apresentação que ajudam em:

yy Gerenciamento inteligente das informações cadastrais das redes de distribuição de água;


yy Atualização cadastral das novas implantações de loteamentos, bem como na ligação de
redes de distribuição de água;
yy Agilização de ações em interrupções de fornecimento d’água;
yy Geração de mapas ou outras informações para suporte a novos projetos.

62 Transversal - Princípios básicos de geoprocessamento para seu uso em saneamento - Nível 2


A partir dos mapas e de outras informações georreferenciadas de um Sistema de Informações
Geográficas o cadastro técnico das instituições responsáveis pelo Serviço de Abastecimento
de Água pode, por exemplo, identificar com mais eficiência ruas e localidades que neces-
sitam de reparos no sistema de água e esgoto, informando, inclusive, o material utilizado
na tubulação da área, gerar novos loteamentos e modificar quadras levantadas em campo,
atualizando o cadastro com mais agilidade.

Exemplo de aplicação prática I

O cadastramento das informações dos poços tubulares destinados ao abastecimento públi-


co, ou qualquer outra atividade, é uma necessidade para o bom gerenciamento operacional e
estratégico nas entidades responsáveis pelos sistemas de produção e tratamento das águas.

A Companhia de Águas e Esgotos do Rio Grande do Norte (CAERN) estabeleceu um projeto


de cooperação com o laboratório de Geomática da UFRN, no sentido de se estruturar um Sis-
tema de Informações Geográficas voltado para o gerenciamento das informações dos poços
tubulares da CAERN na cidade de Natal. O Sistema pôde estruturar níveis de informação em
uma base de dados contendo desde dados alfanuméricos, passando por fotos e mapas dos
poços georeferenciados, até a estruturação de relatórios e modelagens físico-ambientais das
águas subterrâneas.

Você sabia?

Cada vez mais os mananciais subterrâneos têm sido utilizados a fim de suprir
quantitativa e qualitativamente a demanda crescente deste tão precioso recurso
natural, a água. No Brasil, estima-se que existam mais de 200.000 poços tubulares em
atividade (irrigação, pecuária, abastecimento de indústrias, condomínios etc.), mas o
maior volume de água ainda é destinado ao abastecimento público. Os estados com
maior número de poços são: São Paulo, Bahia, Rio Grande do Sul, Ceará e Piauí. Em
algumas áreas, as águas subterrâneas são intensamente aproveitadas e constituem o
recurso mais importante de água doce. A crescente ocupação do espaço urbano nos
grandes centros e a diminuição das áreas verdes são dificuldades iminentes e requerem
dos gestores públicos empenho em superar as adversidades, conciliando crescimento
urbano e a oferta de áreas apropriadas a perfuração de novos poços.

IFonte: http://ambientes.ambientebrasil.com.br/agua/recursos_hidricos/aguas_subterraneas.html.

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O sistema implementado possui a capacidade de consultas e respostas através da análise
espacial que é talvez a fase mais prática, onde é possível obter-se respostas das mais diver-
sas, como por exemplo, onde estão os poços com pH > 5.0? Que poços contêm maiores ou
menores profundidades? Quais áreas são propícias à perfuração de novos poços a partir de
novas demandas? Entre outras.

Na figura a seguir, há um exemplo de consultas espaciais, realizadas no sistema e apresenta-


das em forma de mapa. No caso a busca foi por poços com determinada vazão (Quais poços
possuem vazão ≥ 150m3/h?). Esta consulta em um universo de cerca de 200 poços, com suas
respectivas informações, permite a agilidade na tomada de decisões e mesmo o planejamen-
to e modelagem para futuras ações na área.

Fonte: Cunha et al. (2007).

Figura 22: Poços com vazão ≥ 150m3/h na cidade de Natal/RN.

Os recursos disponibilizados pelo geoprocessamento permitem efetuar análises e simula-


ções de operação e manutenção em sistemas de abastecimento de água, além de possibilitar,
em um único ambiente, o intercâmbio de informações entre o cadastro técnico, responsável
pelas redes de infraestrutura, e o cadastro comercial, responsável pelas informações relativas
aos consumidores.

64 Transversal - Princípios básicos de geoprocessamento para seu uso em saneamento - Nível 2


Exemplo de aplicação prática II

Para interromper um determinado vazamento de água em um trecho da rede e promover


o seu reparo, deve-se rapidamente identificar a menor quantidade possível de registros a
serem fechados, evitando que a manobra atinja uma quantidade maior de usuários do que
o estritamente necessário, bem como perder tempo no fechamento de registros desneces-
sários.

Você sabia?

As perdas físicas são as perdas de água que ocorrem entre a captação de água bruta
e o cavalete do consumidor. Estas incluem as perdas na captação e adução de água
bruta; no tratamento; nos reservatórios (vazamentos e extravasamentos); nas adutoras,
subadutoras de água tratada e instalações de recalque; e nas redes de distribuição e
ramais prediais, até o cavalete.

O setor de Abastecimento de Água no Brasil vem apresentando ao longo das últimas


décadas altos índices de perdas de água, que devem ser combatidos através de um
conjunto de ações que incluam um melhor planejamento, operação e manutenção dos
elementos que o constituem. O índice de perdas de água no mundo apresenta variações
que vão de 7% (Singapura, Suíça e Alemanha) até valores entre 25% e 30% (Grã-Bretanha,
Taiwan e Hong Kong), com um valor médio de 17%, enquanto que no Brasil, a média fica
em torno de 35%.

Fonte: Werdine e Demarcus (2002).

O conceito de rede em ambiente SIG denota, na maioria das vezes, as informações associadas
aos serviços de utilidade pública, como abastecimento de água, gás, luz e telefonia. Cada
objeto geográfico (como por exemplo, tubulações, válvulas, ramais prediais, entre outros)
possui uma localização geográfica e está associado a um conjunto de atributos.

Os elementos da rede são armazenados em formato vetorial, com topologia arco-nó: os


atributos dos arcos incluem o sentido de fluxo em um determinado tempo e os atributos dos
nós a impedância. A topologia arco-nó constitui um grafo, formado por um par (N, A) onde N
é um conjunto de nós e A é um conjunto de arcos, armazenando informações sobre recursos
que fluem entre localizações geográficas distintas.

Guia do profissional em treinamento - ReCESA 65


Com a utilização de georredes em Sistemas de Informação Geográfica, as operações podem
ser simuladas através da abertura e fechamento de válvulas e/ou registros, em função dos
vazamentos da rede ou de operações de manutenção. A partir destas simulações é determi-
nado o conjunto de consumidores afetados com tal manobra.

Em informática, topologia de rede é a forma por meio da qual ela se


apresenta fisicamente, ou seja, como os elementos de rede (network
nodes) estão dispostos. A impedância se refere ao custo de percorrimento
por um segmento ou trecho específico.

A identificação das válvulas é feita através da análise de fluxo, utilizando-se como ponto de
partida o local sobre a rede onde ocorreu o vazamento, como indicado na figura 23, a partir
daí são percorridos todos os arcos e nós conectados a esse ponto, com o objetivo de identi-
ficar qual a quantidade mínima de nós que impedem o fluxo sobre o local indicado. A análise
também leva em consideração o refluxo, ou seja, a mudança de direção da água em conse-
quência do fechamento de um determinado trecho da rede, desta forma, são encontradas as
válvulas a serem fechadas.

O próximo passo é localizar quais são os usuários atingidos pelo fechamento das válvulas,
para isto é utilizado o recurso da análise espacial, onde são determinados quais ramais inter-
sectam o trecho da rede atingida pelo desabastecimento, Encontrados os ramais, o próximo
passo é fazer uma consulta à tabela dos consumidores relacionada com os ramais, a partir
daí, a entidade responsável pode imprimir a relação dos usuários afetados pela manobra.
Fonte: Barros Filho et al. (2004).

Figura 23: Identificação do local com avaria.

66 Transversal - Princípios básicos de geoprocessamento para seu uso em saneamento - Nível 2


Fonte: Barros Filho et al. (2004).
Figura 24: Identificação das válvulas a serem fechadas.

Fonte: Barros Filho et al. (2004).

Figura 25: Relação dos consumidores atingidos pelo desabastecimento.

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Sistemas de coleta e tratamento de esgoto

Atividade

Observe o recorte do mapa da rede de esgotamento sanitário de


Belo Horizonte e crie uma legenda com base nas informações grá-
ficas que compõem a figura.

Que tipo de informação cartográfica você considera essencial para


o bom gerenciamento dos Sistemas de Coleta e Tratamento de Es-
goto de seu município? Justifique sua resposta.

Figura 26: Rede de esgotamento sanitário de Belo


Horizonte.

68 Transversal - Princípios básicos de geoprocessamento para seu uso em saneamento - Nível 2


A utilização de Sistemas de Informação Geográfica na gestão de Estações de Tratamento de
Esgotos facilita o desempenho de funções correspondentes ao controle e monitoramento in-
tegrado de qualquer sistema de ETE. Tais funções podem ser: o registro dos resultados obti-
dos em medições e análises laboratoriais; a checagem e a comparação imediata dos resulta-
dos obtidos com as normas legais e os padrões de qualidade e lançamento; direta e completa
visão da eficiência de cada etapa individual de todo o sistema de tratamento – determinação
instantânea dos pontos onde o sistema apresenta problemas e/ou mau funcionamento etc.
Além disso, ainda pode-se elaborar e processar os resultados que foram obtidos num pe-
ríodo específico de tempo, permitindo assim a extração de tendências relativas à qualidade
do esgoto bruto e tratado, e a conexão entre a qualidade do esgoto bruto e tratado com
possíveis fontes de emissão de cargas poluidoras (Ex.: Uma indústria que lança seu efluente
na rede de esgoto doméstico).

Exemplo de aplicação prática I

Foi realizada uma análise acerca da inserção de um Sistema de Informação Geográfica para a
gestão do sistema de coleta e tratamento de esgotos do Rio Grande do Norte, visando a cria-
ção de mapas do estado contendo todas as estações de tratamento estudadas, com destaque
para atributos como eficiência, configuração (croqui do sistema), destino do efluente tratado,
concentrações, dentre outros parâmetros.

As figuras a seguir mostram uma das maiores utilidades do SIG, que é recuperar as infor-
mações das ETEs; nesse caso, com um clique consegue-se recuperar atributos como Nome,
Regional que está inserida, Valores médios dos parâmetros de qualidade das águas, bem
como a localização de cada ETE estudada e a eficiência dessas ETEs.

Estação de Tratamento de Efluentes (ETE) é uma


infraestrutura que trata as águas residuárias de origem
doméstica e/ou industrial, comumente chamadas de
esgotos sanitários ou despejos industriais, para depois
serem escoadas para o mar ou rio com um nível de
elementos aceitável através de um emissário, conforme a
legislação vigente para o corpo receptor.

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Fonte: Pires et al. (2010).
Figura 27: Mapa do Estado do Rio Grande do Norte com a
localização das ETEs.

Fonte: Pires et al. (2010).

Figura 28: Mapa temático da Eficiência Total Média de cada


estação de tratamento de esgoto estudado no Estado do Rio
Grande do Norte.

70 Transversal - Princípios básicos de geoprocessamento para seu uso em saneamento - Nível 2


Exemplo de aplicação prática II

Os Sistemas de Informação Geográfica contêm uma série de atributos que possibilitam a


compreensão das várias interfaces dos sistemas de tratamento de esgotos, desde a geração,
passando pelo afastamento, interceptação e tratamento, contemplando em cada etapa dados
como: volumes, localização, bacias de drenagem, pontos notáveis, entre outros.

Um SIG foi implementado para a análise da Região Metropolitana de São Paulo (RMSP), abran-
gendo os municípios que fazem parte do chamado “Sistema Principal de Esgotos”, ou seja,
cujas contribuições em termos de despejos, afluem as principais estações de tratamento de
esgotos da Região Metropolitana.

Para todos os municípios que integram as áreas de influência das ETEs dos sistemas Suzano,
São Miguel, Parque Novo Mundo, ABC e Barueri, pode-se visualizar:

yy Esquemas dos sistemas de afastamento (coletores-tronco principais, interceptores e


emissários) em formato gráfico vetorial;
yy Localização das estações de tratamento de esgotos e das estações elevatórias em for-
mato vetorial;
yy Arruamento (sistema viário) com a indicação das principais referências urbanas tais
como limites de distritos, toponímia de interesse como nome de bairros, principais cor-
pos d’água como lagos, córregos, rios etc.;
yy Limites administrativos entre os diversos municípios;
yy Dados gerenciais tais como população, volumes gerados de esgotos, volumes microme-
didos de água, número de economias de água e esgoto etc.;
yy Principais equipamentos sociais tais como escolas, creches, hospitais, clubes etc.;
yy Principais estabelecimentos comerciais, industriais e de serviços tais como fábricas,
shopping centers, mercados centrais, centros empresariais etc.

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Resíduos sólidos

Atividade

Quais dados espaciais seriam essenciais de estarem disponíveis em


um Sistema de Informações Geográficas para o tratamento e análise
de informações sobre os resíduos sólidos em seu município? Jus-
tifique sua resposta.

Os possíveis impactos causados na disposição dos resíduos sólidos


podem ser minimizados e gerenciados através de sua disposição e
tratamento adequados, considerando não somente técnicas para a
acomodação dos resíduos, mas um local adequado para se implan-
tar um empreendimento desse porte. A aplicação de técnicas de
geoprocessamento, para a seleção de áreas potenciais para instala-
ção desse empreendimento otimiza e agiliza o processo de seleção,
a partir da estruturação de um banco de dados georreferenciado,
que proporciona uma visão prática do território, auxiliando na lo-
calização das áreas mais favoráveis.

Exemplo de aplicação prática I

Em Canaã dos Carajás/PA, foi feito um Estudo de Viabilidade Ambiental para Implantação do
Aterro Sanitário. O objetivo do trabalho foi o de identificar áreas potencias para construção do
aterro municipal, utilizando técnicas de geoprocessamento para agilizar e facilitar a escolha.

O mapeamento para definição das áreas potenciais para implantação do Aterro Sanitário ba-
seou-se em uma análise integrada de critérios legais, ambientais e econômicos, utilizando-
-se práticas de geoprocessamento.

O mapeamento do município de Canaã dos Carajás, visando ao diagnóstico ambiental inicial,


foi realizado em duas etapas básicas, visando otimizar os trabalhos em função das informa-
ções disponíveis sobre a área de estudo: Mapeamento básico municipal das Zonas Restritivas
e Potenciais para instalação de aterro sanitário, e Mapeamento das Zonas Potenciais em es-
cala de semi detalhe.

Em uma primeira etapa dos trabalhos, foi realizado o mapeamento municipal em escala de
1:150.000 com os seguintes objetivos básicos: Identificação e exclusão, para fins de análise

72 Transversal - Princípios básicos de geoprocessamento para seu uso em saneamento - Nível 2


detalhada, das Zonas Restritivas do município, não recomendadas para implantação do ater-
ro sanitário a partir da análise e espacialização de algumas das principais variáveis restritivas
(técnicas, operacionais, legais, ambientais e socioeconômicas); Identificação no município
das Zonas Potenciais para instalação de aterro sanitário.

Com base na etapa anterior, foi realizado o mapeamento em escala de semi detalhe (1:50.000)
das zonas identificadas como potenciais para a implantação do aterro sanitário. Os objetivos
dessa segunda etapa foram a identificação e exclusão de áreas inadequadas dentro das Zo-
nas Potenciais a partir da análise detalhada e espacialização de variáveis restritivas.

Após a aplicação dos novos critérios de restrição para as áreas localizadas na Zona Potencial,
foi aplicado um procedimento de avaliação baseado em análise de multicritérios, tendo como
base os mapas temáticos.

Inicialmente, foram selecionados, baseada em consulta feita à equipe multidisciplinar de


uma empresa de consultoria ambiental contratada para elaboração do estudo, os temas mais
significativos para a implantação de um aterro sanitário. Para cada tema, foi dado um peso
segundo a sua significância relativa, formando um conjunto de parâmetros que representa
100% da condição ambiental local.

Você sabia?
A análise de multicritérios constitui um sistema de suporte à decisão baseado na
utilização/combinação de uma série de variáveis ou critérios segundo diferentes
métodos. O objetivo é promover a hierarquização das possibilidades ou alternativas de
resolução de um determinado problema, auxiliando o gestor na tomada de decisão. A
sua utilização está diretamente ligada ao fato de que certos problemas não podem ser
resolvidos apenas pela utilização de um único critério.

A aplicação da análise de multicritérios considerando a localização geográfica dos


fenômenos é realizada nas análises espaciais através da Álgebra de Mapas ou Álgebra
Cartográfica, a qual, simplificadamente, consiste no tratamento e cruzamento de
variáveis temáticas (solos, geologia, geomorfologia etc.) por planos de informação.

Para cada tema de avaliação foram criadas classes específicas com base nas características
técnicas de cada um. Para cada classe, foi atribuída uma nota, variando de 0 a 10, de acordo
com tais características. As notas mais baixas para uma determinada classe indicam que a
mesma apresenta menor potencial para a implantação de um aterro sanitário, enquanto que
as notas maiores indicam classes com características mais propícias à implantação do aterro.

Com base na metodologia apresentada, foram definidas seis áreas potenciais para a implan-
tação do aterro sanitário municipal.

Guia do profissional em treinamento - ReCESA 73


Fonte: Crespo (2006)
Figura 29: Áreas potenciais para a implantação do
aterro sanitário municipal de Canaã dos Carajás – PA.

Exemplo de aplicação prática II

Através do Programa de Correção das Deposições Irregulares e Reciclagem dos Resíduos da


Construção Civil, a Prefeitura de Belo Horizonte – por meio da SLU (Superintendência de Limpeza
Urbana) – não negligenciou a situação da cidade frente ao quadro do entulho.

O entulho passa a ter opções de deposição regularizada com a implantação do Programa por
meio de uma rede de equipamentos disponível ao município. Tal estrutura é composta por dois
tipos de equipamentos com funções distintas, mas complementares: as URPV (Unidades de Re-
cebimento de Pequenos Volumes) e as Usinas de Reciclagem. As URPV são unidades capazes de
concentrar o recebimento de entulho em pequenos volumes evitando os depósitos clandestinos
do material. O seu foco é atender os pequenos geradores e transportadores de entulho, como
os carroceiros. Distribuídas de maneira descentralizada por toda a cidade, estas unidades de-
vem encaminhar tudo o que puder ser reaproveitado às Usinas de Reciclagem, que por sua vez,
submete os materiais recebidos ao processo de reciclagem sempre quando for possível e viável.

74 Transversal - Princípios básicos de geoprocessamento para seu uso em saneamento - Nível 2


Em Belo Horizonte-MG foi feita uma pesquisa para diagnosticar a
adequação da rede de URPV instalada, sob o ponto de vista de seus
principais usuários (carroceiros) e, a partir de então, apresentar estu-
dos e proposições voltados à contribuição do seu melhor desempe-
nho. A pesquisa também indicou: Áreas suscetíveis ao recebimento
do entulho clandestino e que possam ser alvo de ações de preven-
ção; Áreas críticas, devido à vulnerabilidade de recebimento de en-
tulho clandestino e à exposição a riscos ambientais, definindo áreas
prioritárias a intervenções, de acordo com o grau de inadequação; e
Áreas ideais para a implantação de novas URPV, haja vista a demanda
crescente por novas instalações.

Foram, portanto, indicadas as áreas de maior propensão à ocorrência


de entulho clandestino, e dentre elas as consideradas críticas, tendo
em vista os riscos ambientais já existentes, além da indicação de
áreas ideais para instalação de novas unidades.

Selecionadas as variáveis de trabalho e atribuídos seus respectivos


pesos e notas, elas foram combinadas por Análise de Multicritérios.
A disposição dessas variáveis é feita em camadas de informações
distintas, às quais são atribuídos valores, segundo o grau de perti-
nência de cada uma delas, bem como de seus componentes de le-
genda por meio da análise hierárquica de pesos.

As figuras a seguir apresentam os produtos cartográficos elabora-


dos.

Guia do profissional em treinamento - ReCESA 75


Fonte: Simões (2009).

Figura 30: Mapa de propensão ao entulho clandestino para Belo


Horizonte – dezembro de 2008.

76 Transversal - Princípios básicos de geoprocessamento para seu uso em saneamento - Nível 2


Fonte: Simões (2009).

Figura 31: Mapa de alternativas locacionais para a instalação de novas URPV no


município de Belo Horizonte – dezembro de 2008.

Guia do profissional em treinamento - ReCESA 77


Manejo de águas pluviais

Atividade

A figura 32 apresenta os mapas de Declividade, Erodibilidade e Ero-


sividade da Bacia do Rio Itabirito/ MG.

Com auxílio de um papel vegetal ou algum outro papel transpa-


rente, elabore um mapa de risco à erosão para a Bacia Hidrográfica
do Rio Itabirito, a partir do cruzamento dos mapas de Declividade,
Erodibilidade e Erosividade apresentados a seguir.

Declividade é a relação entre a diferença de altura entre dois


pontos e a distância horizontal entre esses pontos.

Erodibilidade pode ser definida como sendo a razão de erosão


dos solos, ou a vulnerabilidade dos solos de sofrer erosão.

A erosividade das chuvas pode ser definida como a capacidade


potencial das mesmas em causar erosão.

Erosão é a destruição do solo e das rochas e seu transporte,


em geral feito pela água da chuva, pelo vento ou, ainda, pela
ação do gelo, quando expande o material no qual se infiltra a
água congelada. A erosão destrói as estruturas (areias, argilas,
óxidos e húmus) que compõem o solo. Estas são transportadas
para as partes mais baixas dos relevos e em geral vão assorear
cursos d’água.

78 Transversal - Princípios básicos de geoprocessamento para seu uso em saneamento - Nível 2


Fonte: Elaborado pelos autores (2011).

Figura 32: Mapas de declividade, erodibilidade e erosividade da bacia do Rio


Itabirito-MG.

Guia do profissional em treinamento - ReCESA 79


Exemplo de aplicação prática I

Os Sistemas de Informação Geográfica possuem grande potencial de utilização na gestão


das águas pluviais, provendo a esta uma base digital com informações georreferenciadas de
grande auxílio.

A implantação de um Sistema de Informações Geográficas no Plano Diretor de Drenagem


Urbana do Município de Belo Horizonte/MG atendeu aos seguintes objetivos:

yy Identificar as características da rede pluvial;


yy Identificar a capacidade de manipulação de grande número de dados gráficos e alfanu-
méricos, condizente com o tamanho da cidade de Belo Horizonte;
yy Apresentar um módulo de simples consulta à base de dados geográfica;
yy Ter a possibilidade de expansão para prover o acesso à base de dados geográfica, via
internet, a clientes remotos.
yy Ter funcionalidades específicas para o gerenciamento de sistemas de drenagem pluvial;
yy Ter um módulo para análise de bacias hidrográficas e geração de perfis tridimensionais.

O Cadastramento do Sistema de Microdrenagem resultou na inserção no SIG de uma série


de informações relativas aos dispositivos de microdrenagem superficial e microdrenagem
subterrânea, tais como:

yy Layout da rede de microdrenagem em conjunção com a macrodrenagem;


yy Bocas de lobos:
yy Descidas d’água em calha;
yy Descidas d’água em degrau;
yy Fotografias registrando dispositivos e situações encontradas em campo;
yy Meios-fios;
yy Sarjetas;
yy Poços de visita;
yy Redes de microdrenagem;
yy Vias com revestimento poliédrico;
yy Vias com revestimento de concreto;
yy Vias sem revestimento (terra).

80 Transversal - Princípios básicos de geoprocessamento para seu uso em saneamento - Nível 2


O Sistema de Informações Geográficas implantado mostrou ser importante para atender aos
objetivos originais do projeto, como a manutenção de dados cadastrais do sistema, mas
também para reiterar a importância do cadastro das obras públicas como um fator essencial
no gerenciamento dos diversos sistemas de infraestrutura, particularmente o Sistema de
Drenagem Urbana.

Exemplo de aplicação prática II

A utilização de ferramentas de geoprocessamento e Sistemas de Informação Geográfica para


sistemas de drenagem auxilia também na identificação de áreas de risco, suscetíveis à ocor-
rência de processos erosivos, inundações e movimentos de massa nas bacias de drenagem.

Em Juiz de Fora-MG, fez-se um estudo para aplicação de Modelagem de Suscetibilidade a


escorregamentos na Bacia de Drenagem Urbana do Córrego do Independência. Realizou-se
a análise da declividade do terreno com os limites das bacias hidrográficas da área Municipal
para verificar onde se encontram as áreas de maiores declividades das bacias de drenagem
com uso e ocupação urbana. O primeiro procedimento constou da criação de uma base car-
tográfica digital contendo os mapas de altimetria, a cobertura aerofotográfica e o arruamento
da bacia hidrográfica do Córrego Independência. O segundo procedimento foi o processa-
mento de alguns dos mapas contidos na base cartográfica para a geração do mapa de uso e
ocupação, o modelo digital de elevação, a carta de declividades e a compartimentação geo-
morfológica da área municipal.

Levando em consideração o interesse principal do estudo, a detecção de áreas susceptíveis


a escorregamentos, ou seja, identificadas como áreas críticas, foram definidas três classes
distintas de uso e ocupação: as áreas de “Mata Urbana”, as “Pastagens ou Loteamento não
Edificados” e as “Áreas de Uso e Ocupação Urbana”. Tais classes estão representadas através
do Mapa de “Uso e Ocupação da Bacia do Córrego Independência”.

O zoneamento de susceptibilidade a escorregamentos nas encostas da Bacia do Córrego In-


dependência foi criado a partir da análise das classes de susceptibilidade. As classes criadas
foram as seguintes: áreas estáveis, áreas de média instabilidade e áreas instáveis.

Guia do profissional em treinamento - ReCESA 81


Fonte: Zaidan e Fernandes (2009).

Figura 33: Mapa representativo das classes de uso e ocupação do


solo da área da Bacia do Córrego Independência.

Fonte: Zaidan e Fernandes (2009).

Figura 34: Representação do mapa de susceptibilidade a escorre-


gamentos nas encostas da Bacia do Córrego Independência.

82 Transversal - Princípios básicos de geoprocessamento para seu uso em saneamento - Nível 2


A título de exemplo, a figura 35 demonstra o resultado da utilização de técnicas de geopro-
cessamento para a avaliação de inundações e de movimentos de massa.Inserir ícone “ativi

Figura 35: Inundação e movimentos de massa (deslizamentos).

Atividade

O que é geoprocessamento?

Como é a situação referente à existência de dados e informações


sobre Abastecimento de Água, Esgotamento Sanitário, Resíduos
Sólidos e Manejo de Águas Pluviais em seu município?

Como as ferramentas do geoprocessamento podem ajudar no pla-


nejamento e gerenciamento destes itens componentes do sanea-
mento ambiental em seu município?

Guia do profissional em treinamento - ReCESA 83


Visão Sistêmica

As pessoas modelam todo o tempo, embora precisa se entender as capacidades humanas


não se pense nisso. A imagem do mundo ao que contam com a ajuda de alguns dispositi-
redor de todos, isto é, criada pelos olhos, é um vos adicionais como microscópios, telescópios,
modelo. Definitivamente é mais simples que o máquinas fotográficas, dispositivos de monitora-
mundo real, porém representa algumas de suas mento em longo prazo, imagens de satélite etc.
características importantes (pelo menos é o que
se pensa). O modelo é uma representação ou Deve ser enfatizado que todos os modelos são
abstração da realidade. incompletos, porque sempre são mais simples
que a realidade. Em outras palavras, algumas
O olho humano raramente pode distinguir ob- características do mundo real são ignoradas e/
jetos menores que 1 mm. Provavelmente por ou simplificadas no modelo. Apesar das limita-
essa razão são modelados objetos maiores e ções, os modelos são ferramentas essenciais
com menos detalhes. Por outro lado, se fosse de auxílio ao entendimento das interações dos
possível ver todos os detalhes a uma distância, processos físicos em geral e das variáveis do
por exemplo, de 5 km, o cérebro seria carregado saneamento em particular. Se o comportamento
com uma quantidade de informações enorme. A de um determinado processo físico é entendi-
habilidade do olho para focar em objetos indivi- do, fica mais fácil predizer seu comportamento
duais, enquanto a vizinhança sai um pouco do quando determinadas condições são variáveis.
foco, provavelmente explica a simplificação de Sendo constituído um modelo que leva em con-
uma imagem que o cérebro esteja analisando. ta as características essenciais dos objetos do
mundo real, e situações já ocorridas são repro-
Na escala temporal, as pessoas também só duzidas a contento pelo modelo, simulações de
registram eventos de duração apropriada. Os novos eventos que possam vir a ocorrer podem
movimentos lentos escapam da capacidade de ser realizadas, com possibilidade de que essas
resolução. Por exemplo, é difícil ver como uma simulações reproduzam adequadamente as si-
árvore cresce, tem-se que voltar para o mes- tuações do mundo real.
mo ponto de observação para ver a mudança.
Por outro lado, não se percebem os fenômenos Quando o desempenho do mundo real é com-
do mundo real se as dinâmicas temporais fo- preendido e seu comportamento é predito,
rem muito rápidas. No contexto hidrológico, é adquire-se informação adicional para controlar
comum utilizar-se de representações matemá- o sistema. Nesse contexto, os modelos podem
ticas (ou físicas) que modelam essa dinâmica ser usados para identificar os componentes
temporal. mais sensíveis que influenciam o comportamen-
to dos sistemas. Modificando esses compo-
Sempre que houver necessidade de se repre- nentes pode se conduzir o sistema eficazmente
sentar a realidade, em escala espaço-temporal, para um comportamento desejado.

84 Transversal - Princípios básicos de geoprocessamento para seu uso em saneamento - Nível 2


De qualquer forma, é necessário comparar per- nado por um estímulo, a precipitação, e através
manentemente os resultados do modelo com o de diversos fenômenos do ciclo hidrológico,
mundo real. Nesse quadro, a arte na construção transforma essa precipitação em vazão. Esta
de modelos é a escolha do nível certo de sim- transformação depende de diversas caracterís-
plificação que atende às metas de um determi- ticas da bacia, tais como solo, vegetação, topo-
nado estudo. grafia, grau de impermeabilização, entre outros.
Os fenômenos que regem o comportamento
Exemplificando os conceitos anteriores, tem-se desses sistemas são a infiltração, o escoamen-
uma bacia hidrográfica que é um sistema acio- to superficial, percolação etc.

O reencantamento da cartografia

As novas tecnologias de georeferenciamento, que também serviram a seus contemporâneos


associadas a processos participativos, têm per- romanos na produção de mapas de caminhos
mitido a distintas comunidades se reconhece- e no planejamento de cidades.
rem e a seus territórios, em um processo sim-
bólico onde os mapas são também a afirmação Após o colapso do Império Romano, os avan-
de sua existência. ços obtidos anteriormente foram abandonados
e a cartografia passou a ser instrumental para a
Na história das representações espaciais, os Igreja, como comenta John Noble Wilford: “Os
mapas começaram, não por acaso, como fic- mapas produzidos na Europa eram mais eclesi-
ção, um meio de se pensar o mundo a partir da ásticos que cartográficos, mais simbólicos que
crença e dos mitos, e não da geografia. Foi atra- realistas. Eles refletiam mais a doutrina cristã que
vés de um longo processo de observação do os fatos observáveis”. Muitas vezes, incluíam a
mundo, de elaboração de instrumentos e experi- localização do Paraíso, do Jardim do Éden.
ências, com o consequente crescimento da ca-
pacidade de medir altitudes e coordenadas, que A grande virada “realista”, ou “objetivista”, pare-
os mapas foram tornando-se mais “objetivos”. ce ter ocorrido com as demandas surgidas em
função das grandes navegações, quando pas-
Considera-se que a fundação da tradição car- sariam a ser essenciais mapas e cartas que ser-
tográfica científica ocidental seja derivada das vissem ao novo empreendimento.
teorias clássicas gregas a respeito da forma da
terra. O pensador greco-egípcio Claudius Ptolo- Até que ponto o desenvolvimento da cartografia
meu sistematizou, no século II a.c, as bases teó- possibilitou os chamados descobrimentos são
ricas para o desenvolvimento cartográfico, con- perguntas que continuam a ser feitas pelos his-
substanciadas nas obras Almagest e Geografia, toriadores.

Guia do profissional em treinamento - ReCESA 85


Parece ser evidente que uma nova era carto- por autodeclaração individual; identificação es-
gráfica consolidou-se, mais secular e científica, pecializada de indicadores e equipamentos so-
ao fim da Idade Média, com a recuperação dos ciais; e gerenciamento de bacias hidrográficas.
escritos de Claudius Ptolomeu e do trabalho de
projeção cartográfica para fins de navegação de A elaboração de mapas nesses contextos ou
Gerardus Mercator. com essas finalidades pressupõe, em larga
medida, a “racionalização técnico-científica” e a
Itália e Holanda firmaram-se como países cen- “objetividade”, uma vez que eles são utilizados
trais na elaboração e disseminação de mapas e, pelas agências governamentais responsáveis
a partir daí, cada Estado europeu com pretensão pela implantação de políticas públicas.
colonial fundou sua academia de cartografia.
As organizações da sociedade civil, os movi-
A evolução da cartografia ocidental é parte de mentos sociais e as comunidades interessadas
um movimento mais geral de “desencantamento utilizam-se desses mapas para melhor enca-
do mundo”, conceito weberiano de análise do minhar suas demandas e cumprir os requisi-
processo de modernização que levaria à dife- tos necessários à implementação de medidas
renciação técnica, à racionalização dos “domí- pelo Estado. Por exemplo, para dar início aos
nios essenciais à vida humana” – direito, religião, procedimentos para a criação de reservas ex-
ciência, política, economia e arte. trativistas ou de desenvolvimento sustentável, é
necessário que a população tradicional ou sua
A partir da segunda metade do século XX, os representação encaminhe ao Instituto Chico
avanços da aerofotogrametria, e, na década de Mendes uma solicitação formal, que deve incluir
1970, das Tecnologias de Informação Espacial a área pretendida. Assim, se essa área estiver
(TIES) e dos Sistemas de Informação Cartográ- devidamente descrita em um mapa, melhor para
fica (SIGs), seguidos pela popularização do uso o bom andamento dos procedimentos adminis-
de aparelhos receptores do Sistema de Posicio- trativos do poder público.
namento Global (GPS, Global Positioning Sys-
tem), reforçam essa tendência de “objetivação” No âmbito da reforma agrária, cada projeto de
dos mapas em seus diferentes usos. assentamento deve contar com um Plano de
Desenvolvimento do Assentamento (PDA), a
As experiências de mapeamento participativo ser elaborado pelos beneficiários, que poderão
no Brasil parecem seguir essa evolução e tra- contratar, livremente, assessoria técnica. O PDA
balham com perspectivas como delimitação de tem como um de seus componentes obrigató-
territórios/territorialidades identitárias; desenvol- rios a “organização espacial, incluindo plano de
vimento local; planos de manejo em Unidades parcelamento, se for o caso, e a localização co-
de Conservação e fora delas; etnozoneamento letiva das habitações”, que servirão para orientar
em terras indígenas e sua identificação e demar- o posterior serviço de medição e demarcação
cação; zoneamento em geral; educação am- topográfica.
biental; planos diretores urbanos; mapeamento

86 Transversal - Princípios básicos de geoprocessamento para seu uso em saneamento - Nível 2


Mapeamento participativo florestal comunitário no Ibama (Instituto Brasileiro
do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais), a
Em diferentes políticas públicas, as atividades FVPP tem atuado em projetos de assentamento
destacadas anteriormente pressupõem práticas do Incra (Instituto Nacional de Colonização e Re-
de mapeamento participativo em processos de forma Agrária), onde elaborou mapas para duas
disputas territoriais. áreas – uma de 600 hectares e outra de 900
hectares –, nos municípios de Pacajá e Anapu.
A atuação da Fundação Viver, Produzir e Pre-
servar (FVPP) de Altamira (PA) é um exemplo da Já no que se refere aos planos diretores mu-
eficácia dessa forma de atuação. A FVPP, uma nicipais, “o papel do laboratório foi de construir
organização não governamental criada pelo Mo- informações georreferenciadas sobre cada um
vimento de Defesa da Transamazônica e do Xin- desses municípios, tratando de temas como
gu (MDTX), instalou em 2004 um laboratório de mapas de solo, altitude, desmatamento, hidro-
georreferenciamento em sua sede. Com o labo- via, relevo, evolução da ocupação do território,
ratório e uma equipe técnica, essa ONG utilizou- mapeamento da área urbana, entre outros”.
-se de práticas de mapeamento participativo em
procedimentos de demarcação de Unidades de Outra forma de mapeamento, os chamados
Conservação, elaboração de Planos de Uso e “automapeamentos”, são também classificados
de Manejo e Planos Diretores Municipais. como participativos. Podem ser consideradas
práticas desse a elaboração de mapas nativos
O principal objetivo da FVPP tem sido o de for- ou indígenas, muitos destes decorrentes de re-
matar as demandas das comunidades em lin- leituras de pinturas ou peças de artes visuais por
guagem cartográfica e com isso fazer com que pesquisadores que consideram sua funcionali-
obtenham benefícios garantidos pela legislação dade e empregabilidade para as comunidades.
por meio de políticas públicas pró-populações
tradicionais. A maioria desses descreve o firmamento rela-
cionado a uma paisagem terrestre, à história e
Um exemplo é a criação do Mosaico de Unida- litologia de um povo, ou ainda, a seres bestiais
des de Conservação da Terra do Meio (Altami- e uma paisagem específica, situada em locais
ra) e da reserva extrativista Verde para Sempre identificados e representa-dos simbolicamente.
(Porto de Moz), onde a fundação teve relevante
papel utilizando-se de práticas de mapeamento Os automapeamentos que mais se destacam se
participativo. Foi responsável pela construção aproximam de “cópias” do conhecimento espa-
dos mapas (localização, caracterização ocupa- cial oral não cartografado. O chamado mapa da
cional, infraestrutura, produção, comercializa- cidade de Tenochtitlán (1524), onde a disputa
ção, conflitos existentes, organização local) para iconográfica entre astecas e espanhóis é repre-
diagnóstico socioeconômico da reserva. sentada, pode ser considerado um exemplo.
Ou, ainda, aqueles que somente são elaborados
No que tange à confecção de planos de manejo como mapas permanentes a partir do trabalho

Guia do profissional em treinamento - ReCESA 87


de antropólogos em uma situação de contato, As comunidades são os sujeitos dos mape-
de encontro ou conflito entre culturas, em que amentos e identificam-se, por exemplo, como
uma delas domina técnicas cartográficas. “Quilombolas da Ilha do Marajó”; “Mulheres do
Arumã do Baixo Rio Negro”; “Ribeirinhos e Arte-
Mapas desse tipo têm sido elaborados no Bra- sãos do Rio Japeri”; “Povos dos Faxinais”, “Ci-
sil por universidades ou ONGs que, a partir de pozeiros de Garuva”.
oficinas com contextos de disputas políticas de
afiliação identitária - não somente indígena - e A identidade acionada, a delimitação de quem
territorial, capacitam lideranças locais em mape- faz parte do grupo e, ainda, sua territorialidade,
amento e utilização de GPS. Os pesquisadores são muitas vezes objetivadas no processo de
e as lideranças combinam elementos simbóli- automapeamento. Trata-se aqui não da aplica-
cos e iconográficos com a moderna tecnologia ção de uma categoria censitária, populacional
de informação geográfica e, assim, produzem ou autoevidente na legislação e em políticas
os mapas. públicas (“pobres abaixo da linha de pobreza”,
“populações rurais e urbanas”, dentre outras),
O Projeto Nova Cartografia Social Amazônia mas de comunidades que buscam se fazer ver
(PNCSA) é a mais ampla articulação de experi- e se reconhecer em um contexto de disputas
ências dessa natureza no Brasil, tendo produzido simbólicas e também políticas’.
fascículos com mapas, além de livros e vídeos.
Nesse projeto, a elaboração de mapas realça o
Seu objetivo geral consiste em “mapear esforços equilíbrio entre a “representação icônica”, como
mobilizatórios, descrevendo-os e georreferen- um signo que estabelece semelhança (ou ana-
ciando-os, com base no que é considerado re- logia) com o objeto que busca representar, e a
levante pelas próprias comunidades mapeadas. “representação simbólica”, que guarda na arbi-
trariedade a relação com o que representa, com
Tal trabalho pressupõe o treinamento e a capaci- a utilização de letras, números ou sinais gráficos.
tação dos membros dessas próprias comunida-
des, que constituem os principais responsáveis A importância da representação icônica reside
pela seleção e escolha do que deverá constar na possibilidade de ser uma demonstração ine-
do fascículo e dos mapas produzidos. quívoca das características exclusivas do grupo
e de sua representação do território. Assim, uma
As oficinas de mapas realizadas nas próprias cruz pode representar um “cemitério” em um
aldeias e/ou comunidades, consoante uma mapa ou “ameaça de morte” em outro. O dese-
composição definida pelos representantes de- nho de um boi, um “conflito com o agronegó-
las mesmas, delimitam perímetros e consolidam cio” ou apenas uma “fazenda”. O significado do
as informações obtidas por meio da observação ícone é atribuído pela comunidade e lido pelos
direta e de diferentes tipos de relatos, contri- outros a partir de seu índice e de suas legendas.
buindo para dotar suas reivindicações de uma
descrição etnográfica precisa. O mesmo ocorre com o índice e as legendas de

88 Transversal - Princípios básicos de geoprocessamento para seu uso em saneamento - Nível 2


cada mapa, que são como um guia de leitura cídio”, “homicídio”, “casa queimada”, “dano à
da realidade local, realizado pela comunidade criação”, “roubo de criação” e “pistolagem”. A
envolvida com o mapeamento, em que é desta- listagem que agrega as “formas de violência”
cado o que merece ser destacado, escondido detalha o que é vivido como violência pelo gru-
o que não deve ser mostrado. po, classifican-do-a e plotando-a no território.

Lima & Chamo, em uma etnografia sobre o As comunidades, a partir do domínio de me-
mapeamento, explicitam esse processo: o pri- todologias e tecnologias e do apoio de pes-
meiro mapa elaborado foi submetido a nume- quisadores, têm dado visibilidade a si mesmas
rosas consultas junto aos representantes das e a seus territórios por meio de um processo
organizações indígenas. Complementações simbólico de constituição delas mesmas e dos
se fizeram necessária. Nesse ínterim as visitas mapas que as representam, em um contexto
à sede do PNCSA se amiudaram, bem como de disputas políticas territoriais. A representação
foram realizadas novas visitas a aldeias onde as cartográfica resultante é uma leitura particular da
informações foram consideradas insuficientes. realidade plotada em um mapa. Nesse sentido,
os “mapas são territórios”, e mais, são territórios
Além de acrescentarem informações relevantes, em disputa em uma verdadeira guerra simbólica
os indígenas escolheram e entregaram à equipe de mapas.
de pesquisa os desenhos, croquis ou imagens
a serem utilizados na simbologia do mapa. Em Como bem assinalam Acselrad e Coli, “se ação
razão disso, produziram também os ícones para política diz especificamente respeito à divisão do
as legendas. mundo social, podemos considerar que na po-
lítica de mapeamentos estabelece-se uma dis-
Dessa maneira são mostradas, em um mapa, puta entre distintas representações do espaço,
as “formas de violência”, como “ameaça contra ou seja, uma disputa cartográfica que articula-se
liderança”, “lesão corporal”, “tentativa de homi- às próprias disputas territoriais”.

Jornal Le Monde Diplomatique Brasil


Ano 2, Número 23, Junho/2009, p. 36 e 37
Mapas e Identidades
Artigo de Aurélio Vianna Jr. (Doutor em Antropologia social e,
desde 2004, Oficial da Fundaçao Ford no Brasil)

Chegamos ao fim da oficina.

Esperamos que os temas abordados tenham acrescentado informações úteis a você como
cidadão e como trabalhador. A seguir, estão as bibliografias utilizadas na elaboração deste
guia e que você poderá consultar caso queira aprofundar seus conhecimentos sobre “geo-
processamento”.

Guia do profissional em treinamento - ReCESA 89


Para saber mais...
ANDRADE, Luís Antônio de. Proposta Metodológica para a Confecção de Carta-Imagem de
Satélite. Artigo da Quadricon Com. e Rep. LTDA

BANKER, Mucio Piragibe Ribeiro de. Cartografia Noções Básicas DHN, 1965.

BARROS FILHO, Marcello Benigno B. de; M. DE SÁ, Lucilene Antunes C.; GOMES, Heber Pi-
mentel. Utilização de SIG no monitoramento de avarias em redes de abastecimento de água.
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João Pessoa (Brasil), 8 a 10 de novembro de 2004.

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ográfica no cadastramento e gerenciamento de informações dos poços da CAERN - Compa-
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GONÇALVES, Maria Carolina; DOS SANTOS, Geraldo Julião; RICCITELLI, Mônica; BÍSCARO, Luis
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Manuais Técnicos em Geociências no. 2 – Manual de Normas, Especificações e procedimentos


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Manuais Técnicos em Geociências no. 3 – Introdução à Interpretação Radargeológica. Fun-


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MELLO, Mauro Pereira de. Cadernos de Geociências, n. 1, Fundação IBGE, 1988.

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Federal de Viçosa-MG, 2009.

92 Transversal - Princípios básicos de geoprocessamento para seu uso em saneamento - Nível 2


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