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Graziela Zocal1
RESUMO
O presente texto tem como principal objetivo realizar uma análise bibliográfica sobre a
questão do Trabalho Infantil no Brasil com enfoque no surgimento e efetivação do Programa
de Erradicação do Trabalho Infantil (PETI). A fim de apresentar um panorama sobre a
legislação em torno da questão do trabalho infantil em nosso país, partiu-se de um
levantamento do aparato legal a partir das Constituições, Código de Menores, até o
surgimento do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). Posteriormente o PETI é
abordado através de uma análise sobre sua trajetória, incluindo a integração do PETI ao
Programa Bolsa Família, a partir da avaliação realizada pelo Fórum Nacional de Prevenção e
Erradicação do Trabalho Infantil (FNPETI).
1
Graduada em Serviço Social, pela Associação Educacional de Ensino Superior União das Faculdades dos
Grandes Lagos – UNILAGO, no ano de 2003. Pós Graduada no curso de Extensão Universitária na modalidade
de Especialização, pela Universidade de São Paulo, XIX Telecurso de Especialização na Área de Violência
Doméstica Contra Crianças e Adolescentes, concluído no ano de 2008. Pela Faculdade Católica de Uberlândia,
concluiu em 2012, o curso de Pós Graduação “Lato Sensu”, Trabalho Social com Famílias. Assistente Social do
Tribunal de Justiça de Minas Gerais, desde o ano de 2006, desenvolve suas atividades profissionais nas áreas de
Família e Criminal.
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INTRODUÇÃO
Para sobreviver, muitas famílias pobres brasileiras, necessitam inserir todos os seus
membros em atividades que gerem alguma renda, que ajude no orçamento familiar. As
crianças e adolescentes desde cedo trabalham, alguns na agricultura quando são da zona
rural, e em diversas atividades na zona urbana. Neste contexto, crianças e adolescentes
deixam de frequentar a escola, situação geradora de graves problemas sociais.
No Brasil, com a Constituição Federal de 1988, que procura, em seu artigo 227,
garantir proteção integral à criança e ao adolescente, inclusive responsabilizando a família e
toda a sociedade neste sentido; e com a promulgação do Estatuto da Criança e do
Adolescente (ECA) – Lei 8.089 de 13 de julho de 1990, muitas ações e reflexões passaram a
ocorrer em torno dos direitos das crianças e adolescentes.
A discussão pela erradicação do trabalho infantil ganhou maior densidade a partir dos
anos de 1992/1994, quando o Brasil começou a fazer parte do Programa Internacional de
Erradicação do Trabalho Infantil da Organização Internacional do Trabalho (OIT) e criou o
Fórum Nacional de Prevenção e Erradicação do Trabalho Infantil. (CARVALHO, 2008).
de fato para a erradicação do trabalho infantil, que surge como uma proposta de política
pública para resolutividade da questão, e tem como principal objetivo retirar crianças e
adolescentes de 07 a 14 anos de idade da situação de trabalho, com ações que envolvem a
jornada ampliada e incentivo financeiro para manutenção da criança na escola.
Com este propósito, o programa foi iniciado nos Estados Mato Grosso do Sul, onde
muitas crianças trabalham em carvoarias e viviam condições de extrema periculosidade.
Posteriormente o programa foi estendido para os Estados de Pernambuco, Bahia, Amazonas
e Goiás, e outros Estados aderiram posteriormente a esse processo. (CARVALHO, 2008).
Frente a esta problemática, o objetivo deste artigo é fazer uma análise bibliográfica
em torno do trabalho infantil no Brasil e dos eventos que levaram ao surgimento e efetivação
do PETI. Para isso, pretende-se partir de um levantamento dos aspectos legais em torno da
questão até a promulgação do ECA e seus benefícios; e da análise da trajetória do PETI,
situando os eventos que possibilitaram seu surgimento, os objetivos iniciais do programa,
sua unificação ao Bolsa Família e seus resultados a partir da avaliação do Fórum Nacional de
Prevenção e Erradicação do Trabalho Infantil (FNPETI).
14 anos para 12 anos. No art. 158, inciso X temos descrito: “proibição de trabalho a
menores de doze anos e de trabalho noturno a menores de dezoito anos, em indústrias
insalubres a estes e às mulheres”; e retirou a proibição da diferenciação de salário por
idade que constava na Constituição de 1946. Assim, a Constituição dos militares amplia a
faixa etária do trabalhador menor de idade e abre a possibilidade legal de salário inferior
ao mínimo ou estipulado por lei para o adulto.
Em 1969, uma Emenda Constitucional mantém as proibições das Constituições
anteriores: proíbe o trabalho aos menores de 12 anos e coloca a obrigatoriedade do
ensino público às crianças de 7 a 14 anos de idade. De acordo com Nogueira (1987, p.
150), a emenda Constitucional nº.1 de 17 de outubro de 1969, no seu art. 165, inciso X
autoriza o trabalho do menor a partir dos 12 anos (anteriormente vigorava a idade
mínima de 14 anos). Também a Consolidação das Leis de Trabalho, no capítulo IV trata da
proteção do menor, prevendo no art. 402 que se considera menor, para os efeitos dessa
lei, o trabalhador de 12 a 18 anos. Assim, a partir dos 12 anos de idade, o menor pode
vincular-se ao empregador mediante contrato de trabalho.
Historicamente, a criança e o adolescente no Brasil só apareciam na esfera pública
como o menor que cometeu uma transgressão à moral ou ao patrimônio. É interessante
perceber a dificuldade que muitos têm em superar a denominação de menores pelas de
criança e adolescente, ao se referir a problemas ou a soluções para essa faixa etária de zero
a dezoito anos.
O novo Código de Menores de 1979 surgiu com grandes promessas de melhor
proteção a criança e ao adolescente carente, abandonado e infrator, problemática
melindrosa, séria e prioritária que gerou muitas discussões, porém, entre os governantes
nunca foi enfrentada com a devida seriedade. A legislação não enfocava direitos e, baseada
no princípio da filantropia, deixava as crianças e adolescentes à mercê da boa vontade da
sociedade. Este novo Código manteve, portanto, o ideário segregacionista e culpabilizador da
criança.
A partir do movimento em torno da constituinte, é articulada a luta nacional pelos
direitos da criança, que foram garantidos no artigo 227 da Constituição de 1988, onde
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descreve várias determinações visando garantir melhor qualidade de vida e atenção para
a questão da infância e adolescência.
Esta conquista, somada à Convenção sobre o Direito da Criança da ONU, de
novembro de 1989, criaram as pré-condições para que o Brasil pudesse dispor de um
Estatuto da Criança e do Adolescente, o ECA. Estas medidas romperam com a estrutura
do Código de Menores de 1979, e, a partir de julho de 1990, através da lei 8.069 de 13 de
julho de 1990, foi permitido que o ordenamento jurídico brasileiro rompesse com a
doutrina da situação irregular e publicasse os direitos da criança e do adolescente.
Posteriormente, o ECA mudou as práticas de atendimento á infância e à juventude
no Brasil. A legislação promoveu a transição do modelo assistencialista, voltado apenas
para os jovens em conflito com a lei, para o de proteção integral, ao garantir a crianças e
adolescentes, sem qualquer tipo de discriminação, todos os direitos inerentes à pessoa
humana.
Conforme Campos (1990, p. 12), o ECA é resultado de uma luta de muitos anos da
sociedade civil organizada. A Convenção Internacional pelos Direitos da Criança e do
Adolescente - realizada em 20 de novembro de 1989, pela ONU, as Regras do Bejin, as Regras
Mínimas das Nações Unidas para os Jovens Privados de Liberdade e a Convenção 138 da OIT
foram alguns dos dispositivos que tiveram o conteúdo assimilado pelo referido Estatuto,
como o direito a educação, liberdade de expressão, cultura, direito inerente à vida, dentro
outros.
Aprovado em 13 de julho de 1990, e em vigor desde 12 de outubro do mesmo ano,
o ECA inspirou e impulsionou diversas ações que garantiram uma melhoria na qualidade
de vida das crianças e adolescentes, inclusive para o surgimento do Programa de
Erradicação do Trabalho Infantil, o PETI.
a participação neste tipo de trabalho é maior entre crianças e adolescentes negros ou pardos;
a participação das crianças decresce com o nível de renda das famílias onde estão inseridas; a
taxa de trabalho infantil é mais elevada na área rural do que na urbana; e no caso do Brasil
urbano-metropolitano, as taxas de participação são mais elevadas no Sul e no Sudeste do que
no Norte e no Nordeste (NOGUEIRA, 2001).
De acordo com Nogueira (2001, p. 102), esses são fatos evidenciados pelas taxas de
participação deste segmento na força de trabalho, distribuídos por idade, sexo, cor, domicilio
rural/urbano e nível de renda.
As causas que levam diversas crianças e adolescentes a iniciarem uma atividade de
trabalho precocemente são diversas, incluindo a baixa renda do núcleo familiar no qual estão
inseridos; a precariedade do sistema de ensino; as desigualdades impostas pelo sistema
econômico do país; além dos aspectos culturais e geográficos.
Não há dúvida que o grande problema consiste no fortalecimento e auxílio à própria
família, que é o fundamento primeiro da formação humana. A situação de vulnerabilidade e
risco social da família, na maioria das vezes permeada por conflitos e pobreza, gera a
condição da criança em situação de trabalho infantil, não sendo, entretanto, fator necessário
para esta situação.
Em nosso país, as ações que possibilitaram uma política pública específica para a
tentativa de erradicação do trabalho infantil foi inicialmente a inserção do Brasil no Programa
Internacional de Erradicação do Trabalho Infantil da OIT em 1992, e a criação do FNPETI em
1994.
Segundo Carvalho (2008, p.554), no segundo semestre de 1996, o FNPETI lançou um
conjunto de ações integradas, que traçou a implementação do PETI, orientado para o
combate às chamadas “piores formas” desse trabalho, ou seja, àquelas consideradas
perigosas, penosas, insalubres ou degradantes.
Iniciado no ano de 1996, o PETI começou a combater o trabalho infantil nas
carvoarias do Mato Grosso do Sul, onde, segundo um relatório do FNPETI, foram atendidas
1.500 crianças e adolescentes, que trabalhavam em fornos de carvão e na colheita de erva-
mate. Posteriormente, o programa foi estendido aos canaviais de Pernambuco, na região
sisaleira da Bahia, e ampliando-se para Amazonas e Goiás.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
Por tudo que foi apontado no presente texto, percebe-se que o PETI, atualmente
necessita de uma reestruturação a fim de que volte a atender as especificidades relacionadas
à questão do trabalho infantil. O próprio estudo realizado pelo FNPETI aponta algumas
recomendações a fim de contribuir na melhoria dos problemas apresentados na avaliação
sobre a integração do PETI ao PBF, como: introduzir o efetivo registro e a fiscalização do
trabalho infantil como condição de concessão de subsídios e financiamentos no âmbito da
agricultura familiar; priorização para definição de parâmetros pedagógicos para as ações
sócioeducativas e de convivência; apoiar fortemente as ações de fiscalização do trabalho
infantil; propor aperfeiçoamento na coleta de dados do CádÚnico; sendo que destas algumas
já foram iniciadas.
O FNPETI indica estas recomendações a fim de promover uma melhora na política de
erradicação do trabalho infantil, entretanto, não se pode deixar de apontar que as dimensões
do Brasil, que em suas diversas regiões apresenta diferenças culturais, também são um
dificultador para, por exemplo, a criação de diretrizes, talvez a política deva ser pensada em
âmbitos regionais, para que atenda as especificidades de cada região.
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REFERÊNCIAS
BRASIL, Constituição (1934). Constituição dos Estados Unidos do Brasil, Rio de Janeiro, Diário
Oficial da União, 1934.
BRASIL, Constituição (1946). Constituição dos Estados Unidos do Brasil, Rio de Janeiro, Diário
Oficial da União, 1946.
CARVALHO, J.M. Estatuto da criança e do adolescente. São Paulo: Juarez de Oliveira, 2000.
CARVALHO, Inaiá Maria Moreira de. O Trabalho Infantil no Brasil Contemporâneo. Caderno
Crh, Salvador, v. 21, n. 54, p.551-569, set/dez, 2008. Quadrimestral. Disponível em:
<http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0103-49792008000300010&script=sci_arttext>.
Acesso em: 25 jan. 2012.
CARVALHO, Inaiá Maria Moreira de. Algumas Lições do Programa de Erradicação do Trabalho
Infantil. São Paulo em Perspectiva, São Paulo, n., p.50-61, 18 abr. 2004. Trimestral.
Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/spp/v18n4/a07v18n4.pdf>. Acesso em: 28 maio.
2012.
NOTAS
1
Os objetivos do Bolsa Família são promover o acesso à rede de serviços públicos, em especial, de saúde,
educação e assistência social; combater a fome e promover a segurança alimentar e nutricional; estimular a
emancipação sustentada das famílias que vivem em situação de pobreza e estrema pobreza; combater a
pobreza; promover a intersetorialidade, a complementaridade e a sinergia das ações sociais do Poder Público
(FNPETI, 2007).
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De acordo com o Fórum Nacional de Prevenção e Erradicação do Trabalho Infantil no ano de 2006 o PETI
apresentava as seguintes características: O valor da bolsa passou a ser pago conforme o número de habitantes
do município, sendo que para aqueles com menos de 250 mil habitantes o valor é de R$25,00 para áreas rurais
e urbanas e R$40,00 reais para áreas urbanas com mais de 250 mil habitantes; Além da bolsa, a Secretaria
Nacional de Assistência Social repassava aos municípios um valor de R$20,00 por criança incluída na Jornada
Ampliada; A faixa etária das crianças e adolescentes atendidos passou a ser até 15 anos, além da inclusão de
crianças e adolescentes vítimas de exploração sexual comercial; Para ser incluídos no PETI, os municípios e
estados deveriam assinar uma Termo de Adesão, ter suas Comissões de Erradicação do Trabalho Infantil
formalmente criadas, instaladas e apresentar um Plano de Ação; As principais etapas eram: inscrição da família
no CádÚnico; matricula ou retorno nas crianças e adolescentes às aulas; seleção, capacitação e contratação de
monitores para trabalhar na Jornada Ampliada; estruturação do espaço físico para a execução da Jornada
Ampliada; encaminhamento do plano de ação, preenchido e assinado pelo gestor municipal; envio da
declaração emitida pela Comissão Municipal de Erradicação do Trabalho Infantil, atestando o cumprimento de
todas as etapas.
3
Atualmente a renda percapta é de R$ 70,00 (Setenta Reais).
4
Atualmente a renda percapta é de R$ 140,00 (Cento e Quarenta Reais).