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ROAVENTURA DE SOUSA SANTOS Se Deus Fosse um Activista dos Direitos Humanos 2013 ALMEDINA, INTRODUGAOQ. pIREITOS HUMANOS: UMA HEGEMONIA FRAGIL. A hegemonia global dos dircitos humanos como linguagem de dig- sidade humana ¢ hoje incontestivel.’ No entanto, esta hegemonia convive com uma realidade perturbadora. A grande maioria da populagio mundial no é sujeito de direitos humanos. E objecto de discursos de direitos humanos. Deve, pois, comegar por perguntar- se se 0 direitos humanos server eficazmente a luta dos exchuidos, dos explorados ¢ dos discriminados ou se, pelo contririo, a tornam suis dificil Por outras palavras, sera hegemonia de que goza hoje o discurso dos direitos humanos o resultado de uma vitéria hist6- rica ou, pelo contririo, de uma derrota histérica? Qualquer que seja aresposta dada a estas perguntas, a verdade é que, sendo os direitos humanosa linguagem hegeménica da dignidade humana, eles si0 incontornaveis, eos grupos sociais oprimidos nao podem deixar de perguntar se os direitos humanos, mesmo sendo parte da mesma hegemonia que consolida e legitima.a sua opressio, nio poderao ser usados para a subverter? Ou seja, poderio os direitos humanos ser usados de modo contra-hegeménico? Em caso afirmativo, de que ‘modo? Estas duas perguntas conduzem a duas outras. Por que ha tanto sofrimento humano injusto que nao é considerado uma vi lagio dos direitos humanos? Que outras linguagens de dignidade humana existem no mundo? &, se existem, sho ou nfo compativeis coma linguagem dos direitos humanos’ A busca de uma concepgao contra-hegem@nica dos direitos humanos deve comegar por uma hermenéutica de suspeita em eferindo-se difuso global da discurso dos direitos humanos como gramétice nagtosacal no periode pos guetta ra, Goodale afiema que "a googrfis cesta da transformagao socal stew uma mange series” (20 relagdo aos direitos humanos tal como sao convencionalmente entendidos ¢ defendidos, isto é, em relagto is concep. direitos humanos mais directamente vinculadas a sua matriz liberal cocldental®. A hermenéutica de suspeita que proponho deve muito 1 Ernest Bloch, quando este se interroga (1995 [1947]) sobre as raz0es pelas quais, a partir do século XVII, 0 conceito de utopia como medida de uma politica emancipadora foi sendo superado € substituido pelo conceito de direitos. Por que & que 0 conceito de utopia teve menos éxito que o conceito de direito e de direitos, como linguagem de emancipagao social?* Comecemos por reconhecer que os direitos o direito témuma genealogia dupla na modernidade ocidental. Por um lado, uma genealogia abissal. Concebo as versdes dominantes dla moder. niidade ocidental como construidas a partir de um pensamento abissal, um pensamento que dividiu abissalmente © mundo entre Sociedades metropolitanas e coloniais (Santos, 20076). Dividiu-o de tal modo que as realidades e priticas existentes do lado de la da linha, nas colonias, no podiam pér em causa a universalidade «las teorias ¢ das préticas que vigoravam na metrépole, do lado de <4 da linha, E, nesse sentido, eram invisiveis. Ora enquanto dis- curso de emancipagéo, os direitos humanos foram historicamente concebidos para vigorar apenas do lado de ca da linha abissal, nas Amati liberal eoncebyeos direitos humanos como dveitos ndiduasc pritegia os diteitos cvs e politicos. Sobre exta maiz desemolurantse outtas coneegars df icitos humans, nomeadamete 8 de tnspiragio marsst ou socials que reconhecea os ditetos eolectivose privilagiam os dineitos ccnnamicns » soere Sobre as diferentes concepgoes de Uicitos humans, set Santos 1908 2sOre 5 Santos, 20073; 3-40, * Mosn (2010) consider us diretos humacoscomo sendo atima wep, a grande amissao politica que emerge apss eo ‘orien sabre os iretoshumanesconserem en sguns aspects coms qu indo a defender hi cerca de duas décadas (Santor 1998 oodale (20094), 80 de tnd as outs, As suas nse edades metropolitanas. Tenho vindoa defender que esta linha ae oS produ excuses tadicas longe de tere cisined fom o fim do colonialismo histérico, continua sob outras formas (neocolonialismo, racismo, xenofobia, permanente estado de excepgto na relagio com alegados terrorists, trabalhadoresimi- grantes indocumentados, candidatos a asilo ou mesmo cidadaos Comuns vitimas de politicas de austeridade ditados pelo capital financeiro). O direito internacional ¢ as doutrinas convencionais dos direitos humanos tém sido usados como garantes dessa con- tinuidade. Mas, per outro lado, o direito e os direitos tém uma genealogia revoluciondria do lado de ca da linha. A revolugao americana ¢ a revolusio francesa foram ambas feitas em nome da lee do diveito, Ernest Bloch entende que a superioridade do conceito de direito em muito a ver com o individualismo burgués, com a sociedade burguesa que estava a surgir nesse momento, ¢ que, tendo ganko jéhegemonia econdmica, lutava pela hegemonia politica que se consolidou com as revolugées francesa e americana. O conceito de lei direito adequava-se bem a este individualismo burgués emergente, que tanto a teoria lberal como o capitalismo tinham porreferéncia. E, pois, ficil ser-se levadoa pensar quea hegemonia de que hoje gozam os direitos humanos tem raizes muito profun- ds, ¢ que 0 caminho entre entio e hoje fot um caminho linear de consagragio dos direitos humanos como principios reguladores de uma sociedade justa. Esta ideia de um consenso ha muito anun- ciado manifesta-se de virias formas e cada uma delasassenta numa ilusao. Porque largamente partilhadas, estas fluses constituem © senso comum dos direitas humanos convencionais, Distingo quatro iusses: a teleologia,o triunfalismo, a descontextualizagso €0 monolitismo* « Vira primeia formulagio desta osdes poe verse em Santos, 198: 264-327 bes constitu i", sendo legitimadas coms uma A ilusio teleologica consiste em ler a historia da frente para nis. Partir do consenso que existe hoje sobre os direitos humanos e sobre « bem incondictonal que isso significa c ler a historia pase sada como um caminhar linearmente orientado para conduzit a este resultado. A escotha dos percursores & crucial a este respeito, Nas palavras de Moyn: “estes sio passados utilizaveis:a construgio pos-tacto dos percursores * (2010: 12). Esta ilusto impede-nos de ver que o presente, tal como o passado, & contingente, que, em cada momento histérico, diferentes ideias estiveram em compe tigo e que a vitéria de uma delas, no caso os direitos humanos, é um resultado contingente que pode ser explicado « posteriori, mas que mio poderia ser deterministicamente previsto. A vitoria ist6rica dos direitos humanos traduciu-se muitas vezes num acto de violenta reconfigurae’ da perspectiva de outras concepgdes de dignidade humana, cram acgdes de opressio ou dominacao, foram reconfiguradas como avgbes emancipatérias ¢ libertadoras, se levadas 2 cabo em nome dos direitos humanos. A segunda ilusdo é 0 triunfatismo, a ideta de que a vitoria dos direitos humanos ¢ um bem humano incondicional. Assume que todas as outras gramaticas de dignidade humana que competiram com a dos direitos humanos cram inerentemente inferiores em termos éticos ou politicos. Esta nogto darwiniana no toma em conta um aspecto decisivo da modernidade ocidental hegeménica, de facto, o set verdadeiro génio historico: o ter sempre sabido complementar a forgs das ideias que servem os seus interesses com 2 forga bruta das armas que, estando supostamente a0 ser- vigo das ideias, é, na pritica, servida por elas. E, pois, necessirio io histérica: as mesmas acces que, vistas teoria que notem de submeter-sea negagso peluspriticasde direitos humanos que vcorrem em sev nome. Este & amber: o argumento central de Geodsle (2000), jortincia da abo que argumenta de mado para os diet humans, walla criticamente as razSes da superioridade ética e politica dos Gpeitos humanos, Os ideais de libertagio nacional ~ socialismo, nalismo — constituftam gramatic comunismo, revolugio € naci alternativas de dignidade humana e, em detern foram mesmo dominantes, Basta pensar que os movimen- wados tempos & cat hibertagio nacional contra o colonialismo do século XX, movimentos socialista e comunista, no invocara tal come st a gramitica dos direitos humanos para justifiear as suas casas fas suas Tutas." O facto de as outras gramaticas e linguagens de emancipasio social terem sido derrotadas pelos direitos humanos 56 poder ser considerado inerentemente positivo se se mostrar que os direitos humanos tém um mérito, enquanto Finguagem de emancipacio humana, que ndo se deduz apenas do facto de terem saido vencedores. Até que tal seja mostrado, o triunto dos direitos humanos pode scr considerado, para uns, um progresso, uma vité- ria histérica, e, para outros, um retrocesso, uma derrota historica Esta precaugao ajuda-nos a enfrentar a terceira ilusfo, a descon: textualizagio, F geralmente reconhecido que os direitos humanos, como linguagem emancipatéria, provtm do tluminismo do século XVI, da revolugao francesa da revolugio americana’.O que nor- malmente ndo ¢ referida ¢ que, desde entio até aos nossos dias, os direitos humanos foram usados, como discurso e como arma poli tica, em contextos muito distintos ¢ com objectivos contraditérios. Noséculo XVIII, por exemplo, os direitos humanos eram parte inte~ grante dos processos revolucionirios em curso, e foram uma das suas linguagens. Mas também foram usados para legitimar priticas que consideramus opressivas se ndo mesmo contra-revoluciontirias. Quando Napoledo chega ao Egipto, em 1798, explicow assim as hem mencionade por Moya (2010: 89-90) que serescenta que nem Gandhi, Sukarno oy Nasser vinam a doutsina dos dircitos humans como unt fnstrumento de fortalecimento ds tas argon os antecedentesda Rensscenga ox mesma do-medivalism suas acgbes 0s egipcios: “Povo do F dizer-vos que cu vim para destruir a vossa religio, Nao acrediveis neles, Dizei-lhes que eu vim restaurar 0s vossos direitos, punir og uusurpadores,¢ enguer averdadeira devocio de Maomé."’ fot assim que a invasdo do Egipto foi legitimada pelos invasores. O mesmo se podleria dizer de Robespierre, que fomentou o terror em nome do fervor beato e dos di jos durante a revolugto francesa? Depois das revolugées de 1848, os direitos humanos detxaram de ser parte do imaginitio revolucionério para passarema ser hostis a qualquer idefa de transformacio revolucioniria da sociedade. Mas a mesma hipocrisia (i constitutiva) de invocar os direitos Jhumanos para legitimar priticas que podem considerar-se vialagdo dos direitos humanos continuow ao longo do tiltimo século e meio eé hoje talvez mais evidente do que nunca, Quando, a partir de meados do século XIX, o discurso das direitos humanos se sepa- rou da tradigio revolucionaria, passou a ser coneebido como uma cie de olitica. Os direitos humanos foram subsuumidos no direito do. pto. Os nossos inimigos vio tos hum sgramtica despolitizada de transformagio social, ums esp. anti Estado € o Estado assumiu 0 monopdlio da produgao do direito e de administragio da justiga. Assim se explica que a revolu: * *Proclamagio de Napolede aos Egipcios,2 Julho 1798", 1975-116. Vista da perspectiva do “outro lado da links elo lad dos powosin {dos,a proclamagio de Napolesonio enganou ninguéra sobre s seus propesitos imperialists. Eis egipcio AL-Jabart uma testemunhs da invasto, dissectaa Proclama Ble [Na ossegue entio.com, algo ainda plore diz (que Deus the traga 2 perdigio!) "Eu sirvo maisa Deus que os Mamelucos..: Nio teabo dusidas que se trata de uma mente transtornada Ale um excesso de loucura..[Al-Jabarti mostra em detalhe os ertos gramaticals da Proclamacio, escrta, segundo ele, em Srabe corinico de baixs qualidade e o ponte por pont lea) conelul: “Conti é passivel que niohaja nenhums inversioe que averdadcira ja frase seja' Eu tenho mals tropas.e mais dinh €05'u. Assim, a sua fase Eu sirvo + Deus’ € apenas mais urna frase ¢ mais uma rmentira” (1998: 31), ara urna anal sigait sro que as Mamelu- funda sobre esta questo, veja-se Atendt, 1968 ¢ 1971 russa, 20 contririo das revolugdes francesa € americana, tenha {ido levada a cabo, ndo em nome do direito, mas contra 0 direito {antos, 1995: 104-107), Gradualmente, o discurso dominante dos direitos humanos passou 2 ser o da dignidade humana co: as liberais, com o desenvolvimento capitalista c suas liberal, social-democritico, dependente, a periférico, corporativo, estatal, nco- comas polit diferentes metamorfos. fordista, pos-fordista, for liberal, ete.) ¢ com 0 colonialismo igualmente metamorfoseado (neocolonialismo, colonialismo interno, racismo, trabalho andlogo ao trabalho escravo, xenofobia, islamofobia, politicas migratérias }, Temos, pois, de ter em mente que 6 mesmo repressivas, € discurso de direitos humanos signiicou colsas muito diferentes em diferentes contextos histéricos e tanto legitimou priticas revolucionérias como priticas contra-revolucionsrias. Hoje, nem podemos saber com certeza se os direitos bumanos do presente sfo uma heranga das revolugdes modernas ou das ruinas dessas revolugdes. Se tém por detris de si uma energia revolucionaria de emancipacio ou uma energia contra-revolucionétia, Aquaria ilusio é 0 monolitismo, Debrugo-me nesta ilusio com maior detalhe, tendo em vista o tema principal deste livro. Consiste em negar ou minim ar as tensBes ¢ até mesmo as contradiga ‘tos humanos. Basta recordar que a declaragéo da revolugao francesa dos direitos do homem ¢ ambi- valente ao falar de direitos do homem e do cidadao, Desde o inicio, osdircitos humanos cultivam a ambiguidade de eriar pertenca em duas grandes colectividades. Uma ¢ a colectividade supostamente inclusiva, a humanidade, dat os direitos humanos. A outra ¢ wma colectividade muito mais restrita, a colectividade dos cidadaos deum determinado Estado, Esta tensio tem deste e brado os direitos humanos. O objectivo de adoptar declaragoes internacionaise de regimes instituicdesinternacionais de direitos humanos visava geramtir minimos de dignidade aos individuos, empre € quando os direitos de pertenga a uma colectividade internas das teorias dos dit Ho assom- politica nao existissem ou fossem violados. Ao longo dos iiltimos duzentos anos, os direitos humanas foram sendo incorporados nas, constituigoes e nas priticas juridico-politicas de muitos paises e foram reconceptualizados como direitos de cidadania, directa- ‘mente garantidos pelo Estado e aplicados coercitivamente pelos tribunais: direitos civicos, politicos, sociais, econémicos eculturais, Masa verdade é que a efectividade da proteccio ampla dos direitos de cidadania foi sempre preciria na grande maioria dos paises. Ea jocagdo dos direitos humanos ocorreu sobretudo em situagdes de eros ou violagio particularmente grave dos direitos de cidada- nia."” Os direitos humanos surgem como o patamar mais baixo de incluso, um movimento descendente da comunidade mais densa de cidados para comunidade mais dilufda da humanidade. Como neoliberalismo eo seu ataque 20 Estado como garante dos direitos, em especial os direitos econdmicos e sociais, a comunidade dos cidadaos dilui-se a0 ponto de se tornar indistingnivel da comuni- dade humana e dos direitos de cidadania, tio trivializadas como direitos humanos. A prioridade concedida por Arendt (1951) aos direitos de cidadania sobre os dircitos humanos, antes prenhe de significado, desliza para o vazio normativo." Neste processo, os imi- gcantes, em especial os trabalhadores imigrantes indocumentados, descem ainda mais abaixo para “comunidade” dos sub-humanos. A outra tensio que ilustra a natureza iluséria do monolitismoé a tensdo entre direitos individuais e colectivos. & Declaragio Uni- versal dos Direitos Humanos das Nagées Us declaracdo universal do tikimo sé muitas outras, reconhece apenas dals sujeitos juridicos: 0 individuo € 0 Estado, Os povos so reconhecidos apenas na medida em que ' Bisso.6 que se passa hoje em muitos paises da Europa atingidos pela crise financeita ¢ econdmica da "Muito antes de Arend, em 1843, Mary referiu esta ambiguidade entre dicetos decidadania editeitos humsanos (I tener E ar-se que, quandoa Declaragio foi ‘adotada, existiam muitos povos, nagGes e comunidades que no tinham Estado. Assim, do ponto de vista das epistemologias do Sul, a Declaragio no pode deixar de ser considerada colonialista (Burke, 2010; Terretta, 2012)." Quando falamos de igualdade perante 4 lei, devemos ter em mente que, quando a Declaragio foiescrita, individuos de vastas regides do mundo nio eram iguais perante a lei por estarem sujeitos & dominagao colectiva, ¢ sob dominagio colectiva os direitos individuais nao oferecem qualquer © © monolitismo da Decleraglo Universal ¢ bem mats aparente que real mesmo dentro dos limites do “mundo cident ntaas dferengas deiner: petagio, tornadas piblicas desde o inicio, no liso da UNESCO de 1948, sobre pretagies da Declan (UNESCO, 1948), Os comentiios de Jacques Maritain, Harold Bashi, Yelhard de Chardin, Be 3 Decl slarmente elucidatios este respeito, Se a * Bastaterem: sdeto Croce e Salador om a6 realidades do mundo nfo-osidental, mesmo no que respeita ao “mundo ocidentl'ss normas que estabeleca estavant Jonge dese verdadesincontroncrss. 0 comentiro amatyode Laski éreweladon"Se 19m documento deste tipo se destin, sur una infludnel signiticado duradoures, € da maior importdnela recordar que as grandes declargdes da pastada sio uma hheranga muito especial da civiizaio aeidental, que eso profindamente rabutdas natradigio da bunguesia protestant, que éem sium aspecto sii Poder daclasse dia e que, emboraa expresso dessasdeclarages sea universal na forma, astentativas da sas coneretiagdo raramente tveram qualquer mpacteabaixo ve significado nas ‘asda classe rabathadora na maior parte das comunidades pitas em Aomivel da classe madi. ‘A iguahade perante ale’ note vsainds Parnosmegros dos ecados do Sul dos Estados Unidos. iberdade de associa fol onscguida pelos sindicatosma Gri Bretania apenas em 1871; ¢m Franca, slvo wm breve intervalo em 1848, apenas em IRB; na Aleman, apenas nos ulimos anos sdaerade Bismark, cainda assim parcalmente,¢, de um modo efectivo, nos Estados nidos apenas com a Lei Nacional das Relaghes Laborais em 1935; lei esta que se eRcontraneste momento em isco no Congress. Todos os di grandes docu: cos proclamados nos ton deste génery sto de ficto afrmagbes de uma apiragio,euja Satisfagio se enconiea limitada pela perspectiva da classe omsinante de qu comunidad ni 1s relagdes entre esas proclamagbes¢ os seterminidos em proteger” (1948 65) protecgdo. No tempo do individualismo burgués ¢ em plena vigén= cia da linha abissal, a Declaragao tornaya invisiveis as exclusdes do outro lado da linha abissal ram tempos em que o sexismo € 0 racismo eram parte do senso comum, a orientagdo sexual era tabu, a dominagto de classe uma questao interna de cada pais, ¢ © colonialismo era ainda forte como agente histérico, apesar da independéncia da india, Com o passar do tempo, sexismo, racismo, colonialismo, ¢ outras formas mais cruas da dominagio de classe ‘vieram a ser reconhecidos como dando azo a violacies dos direitos humanos. Em meados dos anos de 1960, as lutas anti-coloniais tornaram-se parte da agenda das Nacdes Unidas. Contudo, tal como era entendida nesse tempo, a auto-determinagio dizia apenas res- peito 20s povos suettos 20 colonialism europeu. Assim entendida, aauto-determinacio deixou de fora muitos povos sujeitos 3 coloni- zagio nio europeiae colonizagto interna, sendo os povos indigenas © exemplo mais dramatico. Mais de trinta anos teriam ainda de passar antes que o direito dos povos indigenas 8 auro-determinagio fosse reconhecido nas Nagdes Unidas pela Declaragao dos Dircitos dos Povos Indigenas, adoptada pela Assembleia Geral em 20078 E, antes dela, foram necessirias prolongadas negociagSes para que a Organizagio Mundial do Trabalho aprovasse em 1989.a Conven- gio 169 sobre os povos indigenas e tribais. Gradualmente estes documentos tornaram-se parte da legislacao dos diferentes paises. Sendo que 0s direitos colectivos nao fazem parte do cinone original dos direitos humanos, a tensio entre direitos individuais ecolectivos resulta da luca histérica dos grupos sociais que, sendo excluidos ou disetiminados enquanto grupo, nio podem ser ade~ quadamente protegidos pelos direitos humanos individuais. As lutas das mulheres, dos povos indigenas, afrodescendentes, vtimas doracismo, gays, lésbicas, ¢ minorias religiosas maream os Ultimos ® Disponivel em: harp saws os 2018, secdev/ompfi/documents/DRIDS pepe Aeedida em 18 Margo conhecimento de direitos colectivos, um amplamente contestado ¢ em constante mento sempr Feo de reversio. Nao existe necessarlamente uma contradigio rire direitos individuais ecolectivos, mais que nao seja pelo facto Ge existirem muitos tipos de direitos colectives, Por exemplo, podemos dstinguir dos tipos de direitos coectivos, os primérios lamos de direitos colectivos derivados quando, eos derivados. F por exemplo os traballsdores se auto-organizam em sindicatos e ponferem a estes o direito de repr ‘osempregadores. Falamos de direitos colectivos primarios quando ‘comunidade de individuos tem direitos para além dos direitos da sua organizacio, ou renuncia aos seus direitos individuals favor dos direitos da comunidade, Estes direitos podem ser exercidos sob duas formas, Na sua grande maioria sfo exercidos individual- meate, como quando um policia shik usa o turbante, uma médica 1é-los nas negociagdes com uma. Islamica usa o hijab, ou quando um membro de uma casta inferior na India, um afrodescendente brasileiro ou indigena beneficia das acgées afirmativas promovidas pelo Estado. Mas existem direitos que s6 podem ser exercidos colectivamente, como o direito a auto-determinagio. Os direitos colectivos existem para eliminar ouminorat a inseguranga ea injustica suportadas pelos indiv ue sao discriminados como witimas sisteméticas da opressto ape- nas por serem 0 que em 0 que fazem, Muito Ientamente, os direitos colectivos tém-se tornado parte da agenda politica, quer nacional quer internacional, De qualquer maneita,a ontradigfo ou tensio com as concepgbes mais indvidualists de direitos humanos c 0, € nao por f entes.* sempre pr * Qutradisnensto da slasio de monolitism & a questio das premissas cultura fetdentas dos direitos humans ¢ busca por uma concepgio intercultural de siretos humanos. Neste loro, estas questdess30 aborddas apenas no que respi 20 relasionamemto catze dincizos humanos ¢ wologia. sta dimensto morece w An-nain, 199 do era outros traballos, ser Santos, 20072, Ver tare hethard, 2002; Merry, 2004; Goodale, 2009, Ter presentes estas ilu ruir uma con cepgio e uma pritica contra-hegemonicas de direitos humano: sobretudo quando elas devem assentar num diilogo com outr concepgdes de dignidade humana ¢ outras priticasem sua de Para tornar mais claro o que tenho em mente, passo a definir o qu considero ser a versio hegs ss & crucial pars con ménica ou convencional dos direit humanos. Considero um entendimento convencional dos direit hhumanos como tendo as seguintes caracteristicas: os direitos si tuniversalmente vilidos independentemente do contexto sociall politico e cultural em que operam ¢ dos diferentes regimes direitos humanos existentes em diferentes regioes do mundo; 10 ROSS0 te npo, os direitos humanos sao a tinica gramtica clin _guagem de oposigdo disponivel para confrontar as “patologias d poder”, os violadores dos direitos humanos, por muito horrendog ‘que sejam os crimes por eles perpetrados, devem ser punidos d acordo com os direitos humanos; questionar os direitos huma= nos em termos das suas supostas limitagdes culturais e politicas contribui para perpetuar os males que os direitos humanos visamy combater; 0 fenémeno recorrente dos duplos critérios na avaliagio da observancia dos direitos humanos de modo algum compromete: a validade universal dos direitos humanos; partem de uma idei de dignidade humana que, por sua vez, assenta numa concepao de natureza humana como sendo individual, auto-sustentada qualitacivamente diferente da natureza no humana; a liberdad religiose sé pode ser assegurada na medida em que a esfera public ' Nosentido que agut the atribuo, comvencional signifi menos que hegeménica «mais do que dominant. Se eonsiderarmos o mundo como send a “audignel relevance", oentendienento dos direitos humans aut apresentado est I ser consensus ox de senso comum mas, por outroado, nfve dominaate no sentido de resltar de wana es 1 aso). Pa zadora imposigio coercitiva(embora por vere sea est muitas pessoas em todo-0 mundo esta conespgo a esta demasiado. ida para ser poset Intar contra cla ou & demasiada distante par que val) pena lata pores 4 premissa do secularismo; 0 que conta declaragies esteja livre de religit oe thireitas humanos ¢ definido p vyiolagio dos rg CO et notituighes multilaterals (tribunats e comiss6es) e -amentais (predominantemente baseadas organizagbes nao-gove oTEts global); as violagdes dos direitos humanos podem ser a fides adequadamente de acordo com indicadores quanitativos orrespeito pelos dire Sul global do que no Norte global. Sula de ee pedis amos team ve tes das respostas que apresentam a tums das quests mais impor- ames do nosso tempo. A perplexidade que cla suscita esté na base ddoimpulso paraa construgio de uma concepeio contra-hegeménica de direitos humanos proposta neste livro, A questio uma, porque é tos humanos é muito mais problemstico no intercultural pode formular-se deste modo: sea humanidade: {que a tantos principios diferentes sobrea dignidade humana ejus- tiga social, todos pretensamente snicos , por vezes, contraditotios entre! iz desta intert sti a constatagio, hoje cada vez mais inequivoca, de quea compreensio do mundoexcede em muito a compreensio ocidental do mundo ¢, portanto, a compreensio ocidental da universalidade dos direitos humanos. ‘Arresposta convencionala esta questio é que tal diversidade sé deve ser reconhecida na medida em que no contradiga os direitos hhumanos universais. Postulando a universalidade abstracta da con- cepgio de dignidade humana subjacente aos direitos humanos, esta resposta banaliza.a perplexidade inerente a questio, O facto de esta concepgio ser baseada em pressupostos acidentais é considerado j4 que o postulado da universalidade faz com que a dade dos direitos humanos nao interfira com o seu estatuto ontolégico.” Embora plenamente aceite pelo pensamento politico * Outi Ibumanos ndo ade shor o seivindicagbes morais nem rei question igcaconsiste em sdogar queosdiretos ieagbes de verdade. Sto ume sdemanda politica eo seu aplo global ago pressupte qualquer Faedamento moral hegemsnico, especialmente no Norte global, esta resposta red omundoao entendimento que o ocidente tem dele, ignorando trivializando deste modo experiéncias culturais ¢ politicas decish em paises do Sul global. Este ¢ o caso dos movimentos de resistén. cia contra a opressao, marginalizagio ¢ exclusio que tém vindo cemergir nas iitimas décadas e cujas hases ideoligicas pouco of nada tém a ver com as referéneias culturais ¢ politicas ocidemt ominantes ao longo do século vinte. Estes movimentos no fo mulam as suas demandas em termos de direitos huimanos, ¢, pel contririo, frequentemente formulam-nas de acordo com prinetpi que contradizem os prineipios dominantes dos direitos humanos Estes movimentos encontram-se frequentemente entaizados et identidades histéricas e culturais multisseculares, incluindo muit vvezes a militincia religiosa, Sem pretender ser exaustivo, mencioné apenas trés destes movimentos, com significados politicos mutt distintos: os movimentos indigenas, particularmente na Améric Latina; os movim amponeses em Africa ¢ na Asia; ¢ insurgéncia islimica. Apesar das enormes diferengas entve eles; estes movimentos comungam do facto de provirem de referénci politicas nao-ocidentais ¢ de se constituirem como resistencia, dominio ocidental ‘Ao pensamento convencional dos direitos humanos falta instrumentos tedricos e analiticos que the permitam posicionar- ‘com alguma credibitidade em relagio a estes moyimentos, ¢ pio ainda, no considera prioritirio fazé-lo, Tende a aplicar generica mente amesma receita abstracta dos direitos humanos, esperan dessa forma, que a natureza das kdeologias altermativas e unlvers simbilicos sejam reduzidos a especificidades locais sem qual impacto no cinone universal dos direitos humanos. ntos de subjacente universalmente selte. Este pontoe vigorasamente defendtdapor hare (201836). A quests por respondet o do porque deste apeto global agors ro-me nos desafios aos direitos humanos quando Nestelivro.ce : confrontados com os movimentos que reivindicam a presen da ona esfera publica, Bstesmovimentos, crescentemente glo- cologias politicas que os sustentam constituem uma esa da dignidade humana que rivaliza com a que nose muitas wezes a contradiz, Como referi religi balizad os ca smitica de del aos eos Ta : sepma, as concepgdes e priticas convencionals ou hegemonicas dos direitos humanos n20 0 capazes de enfrentar esses desafios nem Sequer imaginam que seja necesstio fazélo, $6 uma concepeo Gontra-hegemdnica de direitos humanos pode estar & altura dos Jesafios, como procurarei demonstrar ao longo deste livro.

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