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Francisco C. Alcântara1, Vanessa C. Rescia1, Maria A. Santos1,
Claudete J. Valduga1
¹Universidade Anhanguera de São Paulo – UNIAN-SP, Unidade Maria Cândida,
São Paulo, SP, Brasil.
RESUMO
Estudos de estabilidade dos fármacos e medicamentos compreendem uma etapa extremamente
importante do processo de pesquisa e desenvolvimento de novos medicamentos. Tais estudos são
necessários, primariamente, para garantir a segurança dos medicamentos quanto aos possíveis efeitos
indesejáveis que podem causar aos usuários e, também são uma ferramenta preditiva da etapa de
desenvolvimento farmacotécnico. Por isso, o objetivo deste trabalho foi apresentar um roteiro simples e
resumido para estudos de degradação forçada. São apresentados aqui os testes utilizados pela indústria
farmacêutica, seguindo critérios da ANVISA e órgãos reguladores internacionais, como hidrólise ácida e
básica, oxidação, fotodegradação, efeito da temperatura e temperatura em presença de umidade. Métodos
analíticos adequados permitem identificar e quantificar os produtos de degradação, fornecendo
informações extremamente úteis, sobre a via de degradação dos fármacos e medicamentos em estudo, e
quais alternativas farmacotécnicas, embalagens e logística são as mais adequadas para prolongar sua vida
útil. Um bom delineamento, configurado para atingir uma degradação máxima de 10-20%, pode ter um
impacto econômico muito grande, tanto para as indústrias, quanto para os governos, em termos de saúde
pública, e para o consumidor final.
ABSTRACT
Stability studies of drugs and medicines comprise an extremely important step in the research and
development process of new medicines. Such studies are needed, primarily, to ensure the safety of
medicines for the possible side effects that they may cause to users and are also a predictive tool in
pharmaceutics development stage. Therefore, the aim of this paper is to present a simple and summarized
script for forced degradation studies. Here we present those tests used by the pharmaceutical industry,
according to criteria of ANVISA and international regulatory agencies such as acidic and basic hydrolysis,
oxidation, photodegradation, effect of temperature and temperature in the presence of moisture.
Appropriate analytical methods allow qualifying and quantifying degradation products, providing extremely
useful information on the degradation pathway of drugs and medicines under study, and which
pharmacotechnical alternatives, packaging and logistics are the most appropriate to prolong their life. A
good design, configured to achieve maximum degradation rate of 10-20 %, can have a significant economic
impact, both for industries and for governments, in terms of public health - and for end consumers.
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fármaco e do medicamento (Blessy et al., 2013; determinação dos testes de degradação forçada
ICH Q1A(R2), 2003; Reynolds et al., 2002; Singh; nos fármacos. Eles podem ajudar a identificar seus
Bakshi, 2000). prováveis produtos de degradação e o
6. Desenvolver um método analítico adequado procedimento analítico a ser adotado no estudo
para indicar a estabilidade (Cione; Tonhi; Silva, de estabilidade, sendo que a natureza dos testes
2011, p. 25-36). depende do tipo de molécula a ser estudada
7. Compreender as propriedades físico-químicas (Brasil, 2012; Brasil, 2013).
das moléculas do fármaco (Brummer, 2011).
8. Gerar formulações mais estáveis (Blessy et al., Tabela 1. Principais diretrizes do ICH para estudos
2013). de degradação forçada.
9. Produzir um perfil de degradação semelhante Norma Protocolo
ao que seria observado em um estudo formal de
Stability Testing of New Drug
estabilidade, sob as condições preconizadas pelos ICH
Substances and Products (ICH Q1A(R2)
guias do ICH (ICH guidelines. 2014). Q1A(R2)
guideline, 2003)
10. Resolver problemas relacionados à
estabilidade (Brummer, 2011). Photostability Testing of New Drug
O objetivo deste trabalho é fornecer ICH Q1B Substances and Products (ICH Q1B
guideline, 1996)
orientações para o planejamento e execução de
experimentos preditivos de estabilidade para ICH Q1C
Stability Testing for New Dosage Form
fármacos e medicamentos em fase de (ICH Q1C guideline, 1996)
desenvolvimento, utilizando como ferramenta o Bracketing and Matrixing Designs for
teste de degradação forçada. Stability Testing of New Drug
ICH Q
Substances and Products (ICH Q1D
guideline, 2002)
LEGISLAÇÃO VIGENTE SOBRE Validation of Analytical Procedures:
ICH Q2B Methodology (ICH Q2B guideline,
TESTES DE DEGRADAÇÃO 2005)
FORÇADA ICH Impurities in New Drug Substances
Q3A(R2) (ICH Q3B(R2) guideline, 2006)
Estudos de degradação forçada estão descritos ICH Impurities in New Drug Products (ICH
em várias diretrizes internacionais. O ICH publicou Q3B(R2) Q3B(R2) guideline, 2006)
um conjunto de diretrizes que foram discutidas, Fonte: Adaptado de Klick et al., 2005; Hasija et al., 2013.
aprovadas e adotadas pelas autoridades
reguladoras norte-americana, européia e Os efeitos da temperatura, umidade,
japonesa (ICH guidelines, 2014). oxidação, incidência de luz e a susceptibilidade à
Na maioria dos casos, as diretrizes do ICH hidrólise em ampla faixa de pH, devem ser
só se aplicam aos pedidos de comercialização de incluídos; e quando não realizado algum dos
novos produtos, ou seja, eles não se aplicam à testes citados, deve-se apresentar uma
fase de estudos clínicos. No entanto, uma vez que justificativa técnica. A rota de degradação e o
as condições utilizadas para a degradação forçada desenvolvimento e validação dos métodos
são definidas apenas em termos gerais, é possível analíticos podem ser estabelecidos através da
aplicá-las para o desenvolvimento de métodos análise dos produtos de degradação gerados nos
analíticos que indiquem a estabilidade durante a testes, que podem ser feitos em apenas um lote
fase clínica. As mesmas condições de degradação (Brasil, 2012; Brasil, 2013).
podem, então, ser aplicadas ao medicamento, Quando demonstrado que alguns
durante o desenvolvimento e comercialização produtos de degradação não são formados sob as
(Singh; Bakshi, 2000; Kats, 2005). condições de estabilidade acelerada e de longa
As principais diretrizes do ICH aplicáveis a duração, não é necessário avaliá-los. As impurezas
estudos de degradação forçada são mostradas na de síntese, que não são produtos de degradação,
Tabela 1. não necessitam ser descritas no estudo de
A Agência Nacional de Vigilância Sanitária estabilidade, desde que se assegure que elas não
(ANVISA) na Resolução - RDC N° 45, de 09 de interfiram na identificação dos produtos de
agosto de 2012, no artigo 36, publicou a degradação (Brasil, 2012).
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íons metálicos. Caso alguma das condições não degradação não exceder o limite adequado
possa ser empregada devido às características observado em estudos de toxicidade.
intrínsecas à amostra, deve-se justificar
tecnicamente à ANVISA (Brasil, 2012; Brasil, Tabela 2. Relação entre dose máxima diária do
2013). fármaco e limites dos produtos de degradação
Preconiza-se também que os estudos de para notificação, identificação e qualificação na
degradação forçada devem promover degradação ANVISA.
superior a 10% (dez por cento) e inferior àquela Dose máxima 2
1 Limites
que levaria à degradação completa da amostra e diária
possa comprometer o teste. Solicita-se que nos Limites de ≤1g 0,1 %
casos em que a degradação for inferior a 10 %, a notificação >1g 0,05 %
empresa deve apresentar justificativa técnica
fundamentada (Brasil, 2013). 1 % ou 5 mg ITD, o
< 1 mg
Justifica-se a exigência do teste, pois os que for menor
resultados servirão de base para o 0,5 % ou 20 mg ITD,
Limites de > 1 mg-10 mg
desenvolvimento e validação da metodologia o que for menor
identificação
analítica dos produtos de degradação formados e 0,2 % ou 2 mg ITD,
para a análise crítica do perfil de degradação do > 10 mg-2 g
o que for menor
medicamento. Na análise crítica do perfil de
>2g 0,1 %
degradação deverá ser contemplada a verificação
da pureza do pico cromatográfico do fármaco no 1,0 % ou 50 mg ITD,
< 10 mg
medicamento e a avaliação dos fatores que o que for menor
podem interferir na estabilidade do medicamento 0,5 % ou 200 mg
(Brasil, 2013). > 10 mg a
Limites de ITD, o que for
100 mg
Os testes e os respectivos resultados dos qualificação menor
ensaios de degradação forçada deverão ser 0,2 % ou 3 mg ITD,
refeitos e reapresentados quando forem > 100 mg – 2 g
o que for menor
solicitadas ao órgão regulador alterações ou
>2g 0,15 %
inclusões na rota de síntese do fármaco; ou 1
mudanças quantitativas e qualitativas de Quantidade máxima do fármaco administrado por dia.
2
Limites dos produtos de degradação são expressos como a
excipiente na composição do medicamento. Na percentagem do fármaco ou como a ingestão total diária
existência de mais de um fabricante do fármaco, (ITD) de um produto de degradação.
os resultados de degradação forçada deverão ser Fonte: Adaptado da RDC 58/2013 da ANVISA (Brasil, 2013).
avaliados para cada fabricante (Brasil, 2013).
A necessidade de notificação, O fabricante do medicamento não será
identificação e qualificação dos produtos de dispensado de identificar os produtos de
degradação no decorrer do estudo de estabilidade degradação. Os limites de aceitação para cada
do medicamento deverá ser avaliada com base produto de degradação individual e o limite total
nas informações contidas na Tabela 2. de produtos de degradação deverão ser incluídos
Para a ANVISA, o produto de degradação nas especificações de liberação do medicamento
poderá ser considerado qualificado quando e do estudo de estabilidade e se superarem o
atender ao menos uma das seguintes condições limite de notificação também (Brasil, 2013).
(Brasil, 2013): A ANVISA poderá solicitar o inicio do
I - o produto de degradação for um metabólito monitoramento de determinados produtos de
significativo encontrado durante estudos em degradação para medicamentos registrados antes
humanos ou animais; desta resolução, caso existam evidências de
II - a quantidade observada e o limite de aceitação toxicidade ou perda de eficácia (Brasil, 2013).
proposto de um produto de degradação Esta Resolução se aplica aos registros de
estiverem adequadamente justificados em medicamentos ou inclusão de nova concentração
literatura científica ou compêndios oficiais; ou ou nova forma farmacêutica, bem como à
III - a quantidade observada e o limite de renovação de registro e às alterações pós-registro
aceitação proposto para um produto de de medicamentos. Os medicamentos já
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al., 2013). Ao se atingir uma taxa de degradação condições típicas de degradação, como variação
suficiente para realizar o estudo, as condições de da temperatura, umidade; e quando apropriado,
estresse são finalizadas. oxidação, fotólise e suscetibilidade à hidrólise por
O estudo de degradação forçada pode extensa variação dos valores de pH (Silva et al.,
servir como uma alternativa para monitorar o 2009). Na Tabela 3 são mostradas as condições de
produto, bem como para prever suas vias de estresse para fármacos e medicamentos na forma
degradação. Já que, não é viável o sólida ou em solução/suspensão (ICH, 2014;
acompanhamento em tempo real (estabilidade de Ngwa, 2010; Brummer, 2011; Blessy et al., 2013).
longa duração) devido à brevidade dos São descritas as condições gerais de degradação,
cronogramas de desenvolvimento, características sem especificar a solubilidade das amostras.
do processo, excipientes e outros fatores Porém, existem condições experimentais
ambientais (Ngwa, 2010; Brummer, 2011; Blessy adequadas para amostras solúveis e insolúveis em
et al., 2013). água. Na Tabela 4 são mostradas as condições
Usualmente, os experimentos de típicas de estresse para fármaco, medicamento e
degradação forçada são conduzidos com um lote matriz (somente os excipientes) solúveis em água,
do medicamento, comparando-se com o fármaco segundo o que preconiza o guia Q1A(R2) do ICH
isolado e os componentes da matriz, sob (ICH Q1A(R2), 2003; Baertschi, 2011).
Tabela 3. Condições típicas de estresse para fármacos e medicamentos, em seus diferentes estados
físicos/formas de apresentação, baseadas nos protocolos do ICH.
Fármaco Medicamento
Condição Exemplos
Solução/
Sólido Sólido Solução/ suspensão
suspensão
Ácido/Base 0,01 a 0,1 N - X - X
Tabela 4. Configuração de um estudo de degradação forçada para fármacos, medicamentos e matriz, solúveis
em água, seguindo condições preconizadas pelo ICH.
Volume da
Condição Adicionar Submeter à
solução estoque
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A Tabela 5 mostra uma configuração de que preconiza o guia do ICH - Q1A(R2), também
condições de estresse para estudos de amostras para o fármaco, o medicamento e a matriz
que sejam insolúveis em água, ainda seguindo o (Baertschi, 2011; ICH Q1A(R2), 2003).
Quantidade de
Condição Adicionar Submeter à
amostra
Temperatura ambiente
Controle 1 3 - 5 mg -
protegido da luz
*
Ácido 3 - 5 mg 1,5 – 2,5 mL de HCl 1N 50 °C/24 horas
*
Base 3 - 5 mg 1,5 – 2,5 mL de NaOH 1N 50 °C/24 horas
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assim o valor de pureza não for atingido, o Baertschi SW. Stress testing - A predictive tool:
método cromatográfico deve ser modificado, Pharmaceutical Stress testing Predicting Drug
alterando-se a rampa do gradiente do solvente Degradation. 2th ed. Informa healthcare, 2011.
orgânico, ajustando o pH da fase móvel ou 13-44 p.
alterando a fase estacionária.
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simples e fácil de ser implantado, são exposição à
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