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ANAIS DO SEXTO CONGRESSO LATINO-

AMERICANO DA CONSTRUÇÃO
METÁLICA (CONSTRUMETAL 2014)

02 a 04 setembro de 2014

EDUARDO DE MORAIS BARRETO CAMPELLO (Org)



Realização

Apoio

VI Congresso Latino-Americano da

Construção Metálica

ANAIS DO SEXTO CONGRESSO LATINO-


AMERICANO DA CONSTRUÇÃO

METÁLICA (CONSTRUMETAL 2014)

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DA CONSTRUÇÃO METÁLICA

SÃO PAULO

2014
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
(Maurício Amormino Júnior, CRB6/2422)

C749a
Congresso Latino-Americano da Construção Metálica (6. : 2014 :
São Paulo)
Anais do 6º Congresso Latino-Americano da Construção
Metálica (Construmetal) / VI Congresso Latino-Americano da
Construção Metálica, 02-04 setembro 2014, São Paulo, Brasil ;
organizador Eduardo de Morais Barreto Campello. – São Paulo:
ABCEM, 2014.
PDF

ISBN 978-85-68391-00-6

1. Aço - Estruturas - Congressos. 2. Construção metálica -


Congressos. I. Campello, Eduardo de Morais Barreto. II. Título.

CDD-624.1821

Foto de Capa:
Estação de metrô – Cidade Nova – Rio de Janeiro
Paulo Ricardo de Barros Mendes

Congresso Latino-Americano da Construção Metálica

Construmetal 2014

www.construmetal.com.br

ABCEM – Associação Brasileira da Construção Metálica

Av. Brig. Faria Lima, 1931 - 9º Andar - 01451.917 – São Paulo, SP – Brasil

www.abcem.org.br
VI Congresso Latino-Americano da

Construção Metálica

ANAIS DO SEXTO CONGRESSO LATINO-


AMERICANO DA CONSTRUÇÃO

METÁLICA (CONSTRUMETAL 2014)

02 a 04 setembro de 2014

EDUARDO DE MORAIS BARRETO CAMPELLO (Org)

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DA CONSTRUÇÃO METÁLICA

SÃO PAULO

2014
VI Congresso Latino-Americano da Construção Metálica
ANAIS DO
SEXTO CONGRESSO LATINO-AMERICANO
DA CONSTRUÇÃO METÁLICA
(CONSTRUMETAL 2014)
Índice:

Apresentação 1

Parte 1. Coberturas e Fechamentos – Materiais, Tecnologia e Projeto 3

ESTRUTURA PARA ENGRADAMENTO DE TELHADOS DE RESIDÊNCIAS COM 4


SISTEMA LIGHT STEEL FRAMING - Alexandre Kokke Santiago; Maíra Neves
Rodrigues; Francisco Carlos Rodrigues

OS SISTEMAS DE COBERTURAS E FECHAMENTOS QUE FORMAM A 17


MODERNA ARQUITETURA EM AÇO - Eduardo Munhoz de Lima Castro

Parte 2. Construções Leves Estruturadas em Aço 31

AVALIAÇÃO ESTRUTURAL DE PAINÉIS DE FACHADA LEVE PARA EDIFÍCIOS 32


DE MÚLTIPLOS PAVIMENTOS COM MODELAGEM NUMÉRICA - Thiago
Salaberga Barreiros; Alex Sander Clemente de Souza

ESTUDO TEÓRICO-EXPERIMENTAL SOBRE A ESTABILIDADE ESTRUTURAL 56


DE PAINÉIS DE CISALHAMENTO (“SHEAR WALL”) DO SISTEMA
CONSTRUTIVO LIGHT STEEL FRAMING - Sabrina Moreira Villela; Francisco
Carlos Rodrigues; Rodrigo Barreto Caldas

SISTEMAS MODULARES EM AÇO: A SOLUÇÃO PARA O PROBLEMA 71


HABITACIONAL - Mario Aparicio; Juan José Zubia Soldevilla; Estibaliz
Bengoetxea

Parte 3. Estruturas de Aço e Mistas de Aço e Concreto 87

AÇÕES DINÂMICAS PRODUZIDAS PELO VENTO NO PROJETO DE 88


ESTRUTURAS DE AÇO - Diogo Wellington Cappellesso dos Santos; Zacarias
Martin Chamberlain Pravia
ANÁLISE DE ELEMENTOS FINITOS PARA REFORÇOS ESTRUTURAIS 109
METÁLICOS EM PONTES FERROVIÁRIAS DE CONCRETO ARMADO - Carlos
Alberto Medeiros

ANÁLISE DINÂMICA DE ESTRUTURAS DE AÇO SUPORTES DE MÁQUINAS 129


ROTATIVAS - Rafael Marin Ferro; Walnório Graça; Ferreira Adenilcia Fernanda
Grobério Calenzani

ANÁLISE NUMÉRICA DO COMPORTAMENTO ESTRUTURAL DE 148


CONECTORES DE CISALHAMENTO TIPO CRESTBOND - Ciro Maestre Dutra;
Gustavo de Souza Veríssimo; José Carlos Lopes Ribeiro; José Luiz Rangel Paes

ANÁLISE ESTRUTURAL DA PROPAGAÇÃO MECÂNICA DE TRINCAS EM UMA 173


VIGA DA ESTRUTURA DO FORNO DE REAQUECIMENTO - Leonardo Carneiro
Vianna Schettini; Gabriel de Oliveira Ribeiro; Vicente Aleixo Pinheiro Ribeiro

AVALIAÇÃO DE MÉTODOS NUMÉRICOS DE ANÁLISE LINEAR DE 193


ESTABILIDADE PARA PERFIS DE AÇO FORMADOS A FRIO - Débora Coting
Braga; Eduardo M. B. Campello

CÁLCULO DOS DESLOCAMENTOS EM VIGAS DE AÇO COM ABERTURAS NA 212


ALMA - José Carlos Lopes Ribeiro; Gustavo de Souza Veríssimo; José Luiz
Rangel Paes; Ricardo Hallal Fakury

CONECTORES DE CISALHAMENTO CONSTITUÍDOS POR PARAFUSO E 222


REBITE TUBULAR COM ROSCA INTERNA EM PILARES MISTOS DE AÇO E
CONCRETO COM PERFIS FORMADOS A FRIO - Hermano de Sousa Cardoso;
Francisco Carlos Rodrigues; Ricardo Hallal Fakury; Rodrigo Barreto Caldas; Ivan
Candelma

FERRAMENTA COMPUTACIONAL PARA O LANÇAMENTO DE ESTRUTURAS E 243


PRÉ-DIMENSIONAMENTO DE SEUS ELEMENTOS ESTRUTURAIS EM AÇO -
Priscilla I. S. Ribeiro; Adenilcia F. G. Calenzani; Augusto Alvarenga; Walnório
Graça Ferreira

INTERVENÇÃO EM EDIFÍCIOS HISTÓRICOS COM A UTILIZAÇÃO DE 262


ESTRUTURA METÁLICA: ESTUDO DE CASO ARMAZÉM 09 – RECIFE/PE -
Bianca Mendes Carneiro Viniski; José Wanderley Pinto; Sérgio José Priori Jovino
Marques Filho

MODELO NUMÉRICO PARA AVALIAÇÃO DO COMPORTAMENTO DE VIGAS 280


ALVEOLARES MISTAS DE AÇO E CONCRETO - André Barbosa Gonçalves;
Giuliana de Angelo Ferrari; Washington Batista Vieira; José Luiz Rangel Paes;
Gustavo de Souza Veríssimo; José Carlos Lopes Ribeiro
O USO DAS PROPRIEDADES DE VIBRAÇÃO (PERÍODO NATURAL) PARA 297
AVALIAÇÃO DOS EFEITOS DE SEGUNDA ORDEM EM ESTRUTURAS DE AÇO
- Ricardo Ficanha; Zacarias Martin Chamberlain Pravia

OBTENÇÃO DE COEFICIENTES AERODINÂMICOS ATRAVÉS DE MECÂNICA 308


COMPUTACIONAL DE FLUIDOS PARA DETERMINAÇÃO DE AÇÕES EM
EDIFICAÇÕES DEVIDAS AO VENTO - Anderson Guerra; Zacarias M.
Chamberlain Pravia

Parte 4. Estruturas de Aço em Situação de Incêndio 328

DESEMPENHO DE EDIFÍCIO HABITACIONAL DE INTERESSE SOCIAL 329


INDUSTRIALIZADO EM AÇO EM SITUAÇÃO DE INCÊNDIO - Humberto Napoli
Bellei; Roberto Inaba; Mauri Resende Vargas

EQUIVALÊNCIA ENTRE INCÊNDIO-PADRÃO E CURVAS PARAMÉTRICAS 334


APLICADOS A ESTRUTURAS DE AÇO - Arthur Ribeiro Melão; Valdir Pignatta
Silva

ESTUDO TEÓRICO DA FLAMBAGEM DISTORCIONAL DE PERFIS U 354


ENRIJECIDO EM TEMPERATURA ELEVADA - Armando Aguiar de Souza Cruz
Neto; Possidonio Dantas de Almeida Neto; Rodrigo Barreto Caldas; Francisco
Carlos Rodrigues

VERIFICAÇÃO DA SEGURANÇA DE COLUNAS DE PÓRTICOS METÁLICOS 369


NÃO CONTRAVENTADOS EM SITUAÇÃO DE INCÊNDIO - Thiago Silva; Paulo
Vila Real; Nuno Lopes; Carlos Couto; Luciano Mendes Bezerra

Parte 5. Ligações – Concepção, Projeto e Elementos de Fixação 385

COMPARAÇÃO DA TAXA DE DEPOSIÇÃO E EFICIÊNCIA DE DEPOSIÇÃO 386


ENTRE OS CONSUMÍVEIS E71T-1C E ER70S-6 - Mauro Apolinário da Luz;
Jaime Casanova Soeiro Junior; Sérgio Duarte Brandi

DIAFRAGMAS EXTERNOS NAS LIGAÇÕES ENTRE VIGA DE SEÇÃO I E PILAR 397


TUBULAR DE SEÇÃO CIRCULAR - Felipe Botelho Coutinho; Macksuel Soares
Azevedo; Walnório Graça Ferreira

DIMENSIONAMENTO AUTOMATIZADO DE LIGAÇÕES VIGA-PILAR - Gustavo 410


Henrique Ferreira Cavalcante; José Denis Gomes Lima da Silva; Luciano Barbosa
dos Santos
DIMENSIONAMENTO ÓTIMO DE LIGAÇÕES SEMIRRÍGIDAS DE PÓRTICOS 432
DE AÇO – MODELO “PÓRTICO AUXILIAR” - Gines Arturo Santos Falcón;
Pascual Martí Montrull

RIGIDEZ DE LIGAÇÕES FLEXÍVEIS VIGA-COLUNA DO TIPO DUPLA 454


CANTONEIRA - Daniel Borges de Freitas; Fabio Goedel; Zacarias Martin
Chamberlain Pravia

Parte 6. Projeto – Arquitetura e Engenharia 472

DESENVOLVIMENTO DE DIRETRIZES PARA PROJETO DE EDIFICAÇÕES 473


PARA FINS DIDÁTICOS COM SISTEMA ESTRUTURAL CONSTRUTIVO
MODULAR EM AÇO - Maria Emília Penazzi; Alex Sander Clemente de Souza

IDENTIFICAÇÃO DE PRÁTICAS DE ENGENHARIA SIMULTÂNEA EM 488


EDIFÍCIOS ESTRUTURADOS EM AÇO - Silvia Scalzo Cardoso; Maria Alice
Gonzales

MANIFESTAÇÕES PATOLÓGICAS EM EDIFICAÇÕES COM ESTRUTURAS DE 502


AÇO EM PRESIDENTE PRUDENTE - Thais da Silva Santos; Nayra Yumi
Tsutsumoto; Cesar Fabiano Fioriti

POSSIBILIDADES DE LAYOUT COM ESTRUTURAS DE AÇO EM EDIFÍCIOS 515


RESIDENCIAIS VERTICAIS DE MÉDIO PADRÃO DE PRESIDENTE PRUDENTE
- Nayra Yumi Tsutsumoto; Thais da Silva Santos; Cesar Fabiano Fioriti

PROCESSO ITERATIVO DE DESIGN PARAMÉTRICO E ANÁLISE 532


ESTRUTURAL APLICADO AO DESENVOLVIMENTO DE ESTRUTURA PARA
TORRE DE ENERGIA EÓLICA - Marina Ferreira Borges; Ricardo Hallal Fakury;
Afonso Henrique Mascarenhas de Araújo

SUBSÍDIOS PARA O PROJETO ESTRUTURAL DE TORRES DE TRANSMISSÃO 547


DE ENERGIA - Vanessa Vanin; Zacarias Martin Chamberlain Pravia

TORRE DE TRANSMISSÃO: NOVO DESIGN E OS DESAFIOS DA INSERÇÃO 575


NO CONTEXTO URBANO - Karine Murta Elias; Ricardo Hallal Fakury; Carlos
Roberto Gontijo; Afonso Henrique Mascarenhas de Araújo
Parte 7. Proteção das Estruturas - Tratamento de Superfície e Pintura 585

AS VANTAGENS E APLICAÇÕES DO SISTEMA DUPLEX - Luiza Abdala 586

HIGH PERFORMANCE GREEN COATING - Ashraf Wassef


594
Apresentação

Realizado bianualmente pela ABCEM (Associação Brasileira da Construção Metálica) desde


2004, e contando com o apoio do CBCA (Centro Brasileiro da Construção do Aço), do Instituto
Aço Brasil, do AISC (American Institute of Steel Construction), da Alacero (Asociación Latino
Americana del Acero), do INDA (Instituto Nacional dos Distribuidores de Aço) e da AARS
(Associação do Aço do Rio Grande do Sul), o Congresso Latino-Americano da Construção
Metálica (CONSTRUMETAL) tem a finalidade de promover e divulgar os principais avanços
tecnológicos da indústria da construção em aço e também a sua importância e potencialidade
como solução de alta qualidade no contexto moderno da engenharia industrializada e
sustentável.

Já consagrado como o maior evento da construção metálica na América Latina, nessa sua sexta
edição o Construmetal contou pela primeira vez com um Comitê Tecnocientífico para
organizar as Sessões Tecnocientíficas. O objetivo foi conferir novo escopo às Sessões e com
isso prover aos meios técnico e científico latino-americanos ligados ao uso do aço como
material estrutural um fórum específico de alto nível para discussão e disseminação de novas
tecnologias relacionadas à área. O Comitê contou com a participação de renomados
pesquisadores de todo o Brasil, além do apoio institucional da Escola Politécnica da
Universidade de São Paulo – que, também pela primeira vez, foi apoiadora do congresso.

Curiosamente, até a presente data não existia na América Latina um congresso específico do
aço que fosse ao mesmo tempo técnico e científico, embora nos últimos anos as estruturas de
aço tenham ganhado enorme destaque e relevância no cenário subcontinental da engenharia
civil e da arquitetura. Na região, existem congressos tecnocientíficos consolidados (e até
mesmo já tradicionais) voltados ao uso do concreto como material estrutural, mas nenhum
que seja específico do aço com esse mesmo perfil. Assim, nessa sexta edição do Construmetal,
esperamos estar dando o primeiro passo na direção de preencher essa lacuna e fazer desse
“o” congresso tecnocientífico do aço (relacionado à construção civil) no Brasil e na América
Latina. Parabenizo a ABCEM por essa importante iniciativa. Agradeço à Catia Mac Cord, ao
Sidnei Palatnik e à Patrícia Davidsohn por toda a dedicação na organização do congresso. E
agradeço em especial o valiosíssimo esforço de todos os membros do Comitê Tecnocientífico,
sem os quais a organização desses Anais – e também das próprias Sessões – teria sido
impossível.

São Paulo, setembro de 2014.

Eduardo M. B. Campello, Prof. Dr.


Presidente da Comissão Organizadora e do Comitê Tecnocientífico do Construmetal 2014
Depto. de Engenharia de Estruturas e Geotécnica da Escola Politécnica da USP
VI Congresso Latino-Americano da Construção Metálica (Construmetal 2014)

São Paulo, 2 a 4 de setembro de 2014

Realização

ABCEM (Associação Brasileira da Construção Metálica)

Comissão Organizadora

Eduardo M. B. Campello (Escola Politécnica da USP) (Presidente)

Luiz Carlos Caggiano Santos (ABCEM)

Pedro Wellington G. N. Teixeira (Escola Politécnica da USP)

Valdir Pignatta e Silva (Escola Politécnica da USP)

Patrícia Davidsohn (ABCEM)

Catia Mac Cord (ABCEM)

Sidnei Palatnik (ABCEM)

Comitê Tecnocientífico

Alexandre Landesmann (UFRJ)

Arlene Maria Sarmanho Freitas (UFOP)

Bernardo Horowitz (UFPE)

Eduardo Batista (UFRJ)

Eduardo M. B. Campello (USP)

Fabio Domingos Pannoni (Gerdau)

Francisco Carlos Rodrigues (UFMG)

Jairo Fruchtengarten (KF Engenheiros Associados)

Jorge Munaiar Neto (USP/São Carlos)

Julio Fruchtengarten (USP)

Leandro Palermo (UNICAMP)

Maximiliano Malite (USP/São Carlos)

Pedro Wellington G. N. Teixeira (USP)

Ricardo A. M. Silveira (UFOP)

Ricardo Hallal Fakury (UFMG)

Rosaria Ono (USP)

Valdir Pignatta e Silva (USP)

Yopanan Rebello (YCON Formação Continuada)

Zacarias Chamberlain (UPF)

Congresso Latino-Americano da Construção Metálica



CONSTRUMETAL 2014

Contribuições Tecnocientíficas

Parte 1

– Coberturas e Fechamentos –

Materiais, Tecnologia e Projeto

Tema: Coberturas e Fechamentos – Materiais, Tecnologia e Projetos

ESTRUTURA PARA ENGRADAMENTO DE TELHADOS DE RESIDÊNCIAS COM SISTEMA


LIGHT STEEL FRAMING

Alexandre Kokke Santiago 1


Maíra Neves Rodrigues 2
Francisco Carlos Rodrigues 3

Resumo
A utilização de engradamentos metálicos para estruturação de telhados de edificações é
prática consagrada na construção civil brasileira, face às grandes vantagens deste material,
como leveza, versatilidade, capacidade de vencer grandes vãos, qualidade e disponibilidade de
matéria-prima. No caso específico de residências, nota-se a concorrência com estruturas de
madeira, que são cada vez menos comuns e mais onerosas pela menor disponibilidade de
matéria-prima aprovada. Percebe-se ainda que o emprego de estruturas de aço neste
segmento é marcado pelo uso de barras metálicas cortadas e soldadas in loco, em processo
artesanal, com baixa produtividade e qualidade, além de elevado desperdício. O presente
artigo demonstra a possibilidade de produção e utilização de engradamentos metálicos
montados no sistema Light Steel Framing (LSF) para uso em residências em alvenaria
convencional. A solução em LSF emprega aços galvanizados e permite que a estrutura de
cobertura seja pré-montada em indústria, com maior controle e produtividade, e depois
montada em canteiro com grande eficiência, rapidez, sem improvisações e com custo
competitivo. São apresentadas no artigo experiências práticas de utilização do sistema para
coberturas de residências, suas vantagens e limitações, além de ensaio realizado para
validação da solução frente às normas pertinentes.
Palavras-chave:
Engradamento metálico de telhados; Light Steel Framing (LSF), Estruturas metálicas

ROOF STRUCTURES FOR RESIDENTIAL CONSTRUTION USING LIGHT STEEL FRAMING

SYSTEM.

Abstract
The use of light steel roof framing in buildings is a common practice in the Brazilian civil
construction due to the great advantages of this material, such as lightness, versatility, large
spans, quality and availability of raw materials. Regarding specifically residential construction,

1
Arquiteto e Urbanista UFMG, MSc. Engenharia Civil UFOP, Professor Associado IET UNI-BH, Sócio da
Construseco Construtora, Belo Horizonte, MG
2
Arquiteta e Urbanista UFV, MSc. Engenharia de Estruturas UFMG, Professora Associada IET UNI-BH,
Gestora de P&D da Flasan, Belo Horizonte, MG
3
Professor Doutor, Professor Titular do Departamento de Engenharia de Estruturas da Escola de
Engenharia da UFMG, Belo Horizonte, MG
________________________________
* Contribuição técnica ao Construmetal 2014 – Congresso Latino-Americano da Construção
Metálica – 02 a 04 de setembro de 2014, São Paulo, SP, Brasil.
1
it can be observed the competition of wood structures, which are becoming less common and
more expensive due to the decreasing availability of approved raw materials. It can be noticed
that the use of steel structures for roof structures is marked by low quality and efficiency, as
well as high wastage due to the handcrafted process of cutting and welding pieces on site. This
paper demonstrates the possibility of producing and using Light Steel Framing (LSF) system for
roof structures of houses built in conventional masonry. LSF solution uses galvanized steel
allowing pre-assembly of the roof structure in the factory, with greater accuracy and
productivity, and then mounting it on construction site with efficiency, speed, competitive
costs and without improvisation. This article presents practical experiences of using this
system for residential roofs, its advantages and limitations, as well as performance test to
validate the solution for relevant Standards requirements.
Keywords:
Metal Roof Structure; Light Steel Framing (LSF); Metal structure

1 INTRODUÇÃO

A utilização de telhados aparentes, com os mais diversos tipos de telhas, é prática comum em
residências na arquitetura brasileira, desde as tradicionais casas coloniais até a arquitetura
contemporânea. Os sistemas tradicionais de engradamento para telhados de residências são
executados com estruturas de madeira, sejam elas compostas por tesouras que vencem o vão
livre dos espaços construídos ou apoiadas sobre lajes de concreto com uso de pontaletes.
Entretanto, em função do maior controle existente hoje sobre a produção e o manejo
adequados de madeira controlada e os aumentos recentes no custo da mão de obra, houve
grande acréscimo no custo final da utilização de estruturas de madeira em telhados.

As soluções de estruturas em aço para a execução de engradamentos metálicos são uma


alternativa bastante aceita no mercado da construção civil brasileira para substituição das
estruturas de madeira. As grandes vantagens do material, como leveza estrutural,
versatilidade, capacidade de vencer grandes vãos, facilidade de montagem e manuseio, além
da qualidade, disponibilidade e controle da matéria prima são pontos favoráveis a este tipo de
solução. Porém, percebe-se que a maioria das estruturas de aço montadas como
engradamentos metálicos são executadas a partir de barras metálicas cortadas e soldadas in
loco, em processo artesanal, com baixa produtividade e qualidade, além de elevado
desperdício.

O desenvolvimento das soluções construtivas em aço alcança sua melhor viabilidade técnica e
econômica quando passa a utilizar conceitos de industrialização. Há algumas experiências no
Brasil de sistemas de estruturas para telhados prontas, que entregam um produto beneficiado
que aumenta a produtividade ao tornar a instalação da estrutura na obra um processo de
montagem de elementos pré-montados e planejados de forma eficiente.

Uma destas experiências é o sistema Usiteto, desenvolvido pela Usiminas (Portal Metálica,
2014) [1], onde são utilizados perfis de aço formados a frio, compondo pilares e engradamento
do telhado para execução de cobertura de casas térreas de 36m² e 42m². Este sistema alia
peças industrializadas e padronizadas, com encaixes que permitem uma montagem rápida e
com grande precisão (Figura 1). Uma das desvantagens deste sistema é a utilização de pilares

2
metálicos, que poderiam ser suprimidos caso o telhado se apoiasse sobre as paredes de
alvenaria estrutural, tornando a solução mais econômica.

Figura 1 – Estrutura Usiteto

Fonte: Portal Metálica, 2014 [1]

A alternativa em aço para execução de estrutura de telhados proposta neste artigo utiliza o
sistema Light Steel Framing (LSF) buscando um conceito de solução que possa ser utilizado em
residências construídas em alvenaria estrutural convencional. A solução em LSF proposta
permite que a estrutura de cobertura seja pré-montada em indústria, onde há maior controle
e produtividade, e depois montada em canteiro com grande eficiência, rapidez e sem
improvisações, com custo competitivo, tornando-se assim uma solução bastante interessante
para diversos segmentos da construção civil. O sistema LSF permite diversas tipologias de
montagem diferentes, de acordo com a situação da obra, podendo tanto ser constituído de
tesouras convencionais quanto de painéis inclinados (Figura 2).

Figura 2 – Estruturas de telhado em Light Steel Framing

Fonte: Santiago, Terni, Pianheri, 2009 [2]

3
2 SOLUÇÃO DE ENGRADAMENTO METÁLICO EM LIGHT STEEL FRAMING

2.1 Sistema Light Steel Framing

O Light Steel Framing é um sistema construtivo, geralmente autoportante, composto por


vários componentes industrializados que possibilitam uma construção com grande rapidez de
execução e precisão.

O LSF se caracteriza por um esqueleto estrutural composto por perfis leves de aço galvanizado
formados a frio. Os perfis são utilizados na composição de painéis estruturais de paredes, vigas
de piso, treliças, tesouras de telhado, entre outros componentes. As montagens mais usuais de
LSF utilizam combinações de seções transversais “U” enrijecido (Ue) e “U” simples, mas há
sistemas de montagem que empregam apenas seções Ue (Figura 3). As seções dos perfis Ue
são, geralmente, 90x40x12 mm, 140x40x12 mm e 200x40x12 mm. Já os perfis U possuem
seções de 90x40 mm, 140x40 mm e 200x40 mm, padronizadas pela norma brasileira ABNT
NBR 6355:2012 [3]. Podem ser utilizados perfis com outras seções, como cantoneiras e perfis
cartola, em função de necessidades específicas de cada projeto ou aplicação do sistema
(Freitas, Santiago, Crasto, 2012) [4].

Figura 3 – Detalhes da montagem de estruturas de Light Steel Framing

Fonte: Flasan, 2014 [5]

A estrutura em LSF é montada a partir de perfis formados a frio em aço galvanizado estrutural
do tipo ZAR (Zincado de Alta Resistência), cobertura de galvanização 180 g/m² (Z180),
resistência ao escoamento (fy) mínima de 230 MPa, conforme requisitos da norma ABNT
NBR 15253:2005 [6]. A espessura da chapa de aço é geralmente igual a 0,80 mm, 0,95 mm ou
1,25 mm, sendo determinada de acordo com o cálculo estrutural. Todas as ligações entre
elementos de LSF são realizadas com parafusos estruturais autobrocantes, flangeados ou
sextavados, em quantidade também avaliada e definida em cálculo estrutural (Rodrigues,
2006) [7].

2.2 Solução de engradamento em LSF para telhados

Para avaliação da viabilidade do uso de engradamento de LSF em telhados, foi desenvolvido


em 2011 pela empresa Flasan Soluções para Construção a Seco, de Belo Horizonte, MG, um
projeto de estrutural para residências de 36m², com base no projeto arquitetônico da casa
padrão MG-80-I-2-36 da COHABMINAS (Companhia de Habitação de Minas Gerais), utilizada

4
como referência nos projetos habitacionais naquele período (COHABMINAS, 2007) [8]. Este
telhado possui 2 águas iguais, e foi pensado para uso de telhas cerâmicas, que tem sido a
tipologia mais adotada pelo órgão em seus projetos.

A solução de engradamento metálico de telhados utilizando o sistema Light Steel Framing


desenvolvida e avaliada neste artigo tomou como premissa básica o conceito de
industrialização dos elementos da estrutura, de modo a produzi-los em uma fábrica, onde são
pré-montados com grande precisão e controle, permitindo uma produtividade que
dificilmente é alcançada nas montagens em canteiro. As peças que compõem esta estrutura,
perfis e encaixes, são produzidos sob medida, de modo a facilitar o trabalho do montador na
fábrica e a minimizar o desperdício de matérias primas.

O sistema é composto por painéis inclinados que se apoiam nas paredes em alvenaria
estrutural na parte inferior, onde há também um beiral de 50 cm em todo o perímetro da
edificação. Na cumeeira, há um sistema de pontaletes também apoiados na alvenaria, que
suportam a extremidade superior do painel em uma viga central. Nesta viga há peças
metálicas de articulação onde a extremidade superior do painel inclinado é encaixada, de
maneira a absorver pequenas imperfeições na execução da alvenaria.

O sistema utiliza perfis tipo Ue com seção 90x40x12 mm para composição dos caibros do
painel inclinado, fixados entre si com parafusos autobrocantes galvanizados e com
espaçamento aproximado de 800 mm. Sobre eles são instalados perfis tipo cartola, também
em aço galvanizado, espaçados conforme a galga da telha cerâmica a ser utilizada. A cumeeira
central é fabricada com perfis caixa compostos por dois perfis Ue 140x40x12 mm e recebe as
peças de articulação, também em aço galvanizado (figura 4).

Figura 4 – Detalhes da montagem das peças padronizadas do telhado de LSF

Fonte: Flasan, 2011 [9]

Este modelo padronizado de telhados foi submetido a avaliação experimental de


carregamento no Laboratório de Análise Experimental de Estruturas, da Escola de Engenharia
da UFMG (Rodrigues, 2011) [10], onde foi avaliado seu comportamento e sua capacidade
portante frente as solicitações previstas. A descrição e os resultados deste ensaio constam no
item 3 deste artigo.

5
3 AVALIAÇÃO EXPERIMENTAL DO ENGRADAMENTO METÁLICO EM LSF

Com o objetivo de atestar o sistema de engradamento proposto, foi realizada pela empresa
Flasan, em parceria com o Laboratório de Análise Experimental de Estruturas da UFMG [10],
prova de carga em protótipo com área equivalente a 36 m², adotando como referência a casa
padrão da COHABMINAS. O ensaio verificou os deslocamentos limites e as forças resistentes
da cumeeira, dos caibros e das ripas e o comportamento das ligações entre caibros e
cumeeira.

A estrutura do engradamento ensaiado foi composta por viga da cumeeira em perfil caixa
formado por dois perfis Ue 140x40x12x0,95; Caibros em perfil Ue 90x40x12x0,80, sendo que
no apoio da cobertura da varanda, o caibro é constituído por um perfil caixa formado por dois
perfis Ue 90x40x12x0,80; Ripas em perfil Cartola Cr 20x25x10x0,50; e ligações feitas por
parafusos autrobrocantes e autoatarraxantes. Todos os perfis foram fabricados em aço
ZAR230.

A Figura 5 mostra em diagrama unifilar os apoios dos elementos do telhado na edificação,


sendo a cumeeira do telhado apoiada nos oitões e pontalete central, enquanto sete linhas de
caibros intermediários, com espaçamento de aproximadamente 815 mm, são apoiados nas
paredes laterais e na cumeeira e duas linhas apoiadas sobre os oitões.

Figura 5 - Diagrama do engradamento ensaiado

Fonte: Rodrigues, 2011 [10]

As medições dos descolamentos da cumeeira, caibros e ripas foram realizadas por relógios
comparadores, com campo de medida de 50 mm, como mostrado na Figura 6. A Figura 7
mostra os pontos de localização das medições. Nas posições R1 a R11 foram registrados os
deslocamentos dos caibros e cumeeira, enquanto nas posições R’1 a R’7 realizaram-se
medições para determinar os descolamentos das ripas.

6
Figura 6 – Instrumentação utilizada para medição de deslocamento.

Fonte: Rodrigues, 2011 [10]

Figura 7 – Posições dos relógios comparadores.

Fonte: Rodrigues, 2011 [10]

De acordo com a ABNT NBR 14762:2010 [11], os descolamentos limites de serviço são valores
práticos utilizados para verificação no dimensionamento e em ensaios com aplicação de cargas
de serviço, respeitando os Estados-Limites de Serviço (ELS) da estrutura estudada. No entanto,
no presente trabalho, o protótipo foi submetido também às ações de carga para Estado-Limite
Último (ELU), utilizando coeficiente de ponderação para combinações normais e peso próprio
de elementos construtivos industrializados com adições in loco, igual 1,4. Ou seja, a majoração
das ações permanentes ficou cerca de 40% acima das ações nominais. A Tabela 1 apresenta os
valores considerados para ELS e ELU neste ensaio.

7
Tabela 1 - Carregamentos adotados na projeção horizontal. Inclinação do telhado = 35%.
FG - Peso da Telha FQ2 -Sobrecarga
Dimensionamento FQ1 - Carga de Vento
encharcada (kgf/m²) (kgf/m²)
Estado Limite de Serviço 53,40 27,81 Desconsiderada por ser
Estado Limite Último γg=1,4 74,76 38,93 favorável à segurança.

Fonte: Rodrigues, 2011 [10]

Os parâmetros para avaliação dos deslocamentos limites dos elementos estruturais do telhado
e a combinação de carregamento foram definidos em acordo com o Anexo A da ABNT NBR
14762:2010 [11], como mostrado na Tabela 2.

Tabela 2: Deslocamentos Limites recomendados pela ABNT NBR 14762:2010 [11]


Deslocamentos Deslocamentos Combinação Combinação de
Descrição L (mm)
Limites Limites (mm) de cargas - ELS cargas - ELU
Viga de
L/250 3300 13,20
Cumeeira
Caibros –
L/180 2880 16,00 81,21 kgf/m² 113,69 kgf/m²
Seção Central
Caibros –
L/180 2246 12,48
Com balanço
Ripas L/180 815 4,53

Para aplicação do carregamento no protótipo foram utilizados sacos plásticos com 20 kg de


areia cada, pesados em balança digital calibrada. O carregamento para o Estado-Limite de
Serviço, determinado pelo peso próprio da telha e sobrecarga, foi de 81,21 kg/m², e para
Estado Limite Último, 113,69 kg/m²

Os deslocamentos foram medidos em 2 etapas em cada posição dos relógios comparadores,


sendo a Etapa 1 com carregamento para a condição de serviço e a Etapa 2 para a condição de
estado último.

Figura 8 - Carregamento de sacos com 20 kg de Figura 9 - Carregamento de sacos com 20 kg de

areia – Caibros e Cumeeira areia – Ripas

Fontes: Rodrigues, 2011 [10] Fontes: Rodrigues, 2011 [10]

8
Nas figuras 8 e 9, nota-se também as telhas de aço, que foram utilizadas para a distribuição
dos sacos com areia, sendo que seus pesos próprios foram desprezados durante os ensaios.

3.1 Resultados e Discussão

A Tabela 3 apresenta as médias dos deslocamentos verificados a partir das leituras realizadas
nos relógios comparadores posicionados conforme Figura 7, nas Etapas 1 e 2.

Tabela 3 – Deslocamentos encontrados nos ensaios para carregamento nas condições ELS e ELU
Deslocamentos Limites
Média dos Deslocamentos
Descrição recomendados pela ABNT
Registrados (mm)
NBR14762:2010 (mm)
Viga de Cumeeira 13,20 8,44
Caibros – Seção Central 16,00 16,39
Caibros – Seção com balanço 12,48 1,34
Ripas1 4,53 2,24
1
Os deslocamentos das ripas são relativos aos deslocamentos dos caibros.
Fonte: Rodrigues, 2011 [10]

Observa-se que os deslocamentos verificados nos ensaios da cumeeira, ripas e caibros na


seção com balanço, estão abaixo dos limites recomendados pela ABNT NBR 14762:2010 [11].
No entanto, verificou-se que o deslocamento limite do caibro da seção central foi de 16,39mm,
2,5% acima do valor permitido para estado-limite de serviço - 16mm. Entretanto, este valor foi
avaliado como irrelevante, pois o deslocamento encontrado também considera a condição de
estado-limite último, com sobrecarga 40% maior que o estado de serviço.

Durante a realização dos ensaios foi verificada a tendência da ocorrência da Flambagem


Lateral com Torção dos caibros. Portanto, adotou-se o emprego de um sistema de
contraventamento lateral dessas barras, utilizando bloqueadores em perfil Ue 90x40x12x0,80
nas extremidades e no centro do engradamento, unidos por fitas de aço com largura de 40mm
e espessura de 0,80mm instaladas na mesa inferior do perfil do caibro (Figuras 10 e 11).

Figura 10 - Bloqueador e fita para o travamento Figura 11 - Bloqueador e fita para o travamento

dos caibros. dos caibros.

Fontes: Rodrigues, 2011 [10] Fontes: Rodrigues, 2011 [10]

9
Quanto ao comportamento das ligações entre os caibros e a viga da cumeeira, durante as fases
de carregamento e descarregamento - com períodos de repouso da estrutura, não foi
observado nenhum tipo de colapso ou instabilidade das diversas ligações que compõem o
protótipo ensaiado.

Após os ensaios de carga, foram instaladas telhas em metade do protótipo a fim de confirmar
a eficiência do sistema de engradamento. Passados 4 meses da instalação das telhas foi
realizada outra verificação do comportamento estrutural dos principais componentes do
telhado e nenhuma alteração em relação aos ensaios anteriores foi observada.

4 APLICAÇÃO PILOTO DO TELHADO EM OBRA

A partir deste projeto padronizado para residências de 36 m², foi desenvolvido e aplicado em
obra na cidade de Betim, MG, em 2011, uma solução piloto de telhado para cobertura de
conjunto de 5 casas geminadas (área de 48 m² cada), com telhado em duas águas e telhas
cerâmicas.

Os conceitos de industrialização e montagem do sistema foram mantidos sem alterações em


relação ao projeto original para casa de 36 m², sendo modificado apenas o dimensionamento
dos elementos construtivos para se adaptarem ao aumento das dimensões da área a ser
coberta. Nesta obra os painéis foram enviados para a obra pré-montados e com ripas,
conforme previsto no projeto original (Figura 12). A única modificação necessária foi a criação
de uma linha de apoio intermediária para sustentação do painel, em função do crescimento do
vão a ser vencido.

Figura 12 – Instalação em canteiro de painéis pré-montados

Fonte: Flasan, 2011 [9]

A execução desta obra permitiu a validação em situação real da viabilidade dos conceitos de
montagem desenvolvidos em projeto. Pode ser percebido pela equipe de instalação que a
entrega na obra dos painéis pré-montados, já com as ripas fixadas, agilizou de maneira
perceptível o processo de instalação na obra. O prazo de execução do telhado foi considerado
satisfatório, ficando abaixo daquele esperado para a montagem de um telhado semelhante em
perfis soldados no local. Outro aspecto aprovado na obra real foi a solução de encaixes

10
reguláveis da cumeeira, que se mostrou satisfatoriamente eficiente, permitindo ajustar a
inclinação do telhado a situação da obra.

A grande dificuldade encontrada pelo sistema está na interface com a alvenaria convencional,
fruto das tolerâncias de execução e montagem consideradas em cada um dos sistemas.
Enquanto o sistema industrializado em aço possui grande precisão de fabricação, utilizando o
milímetro como unidade de referência, a alvenaria possui tolerâncias muito grandes, tanto nas
dimensões dos espaços quanto nos prumos e alinhamentos.

Neste sentido, o nivelamento da face superior da alvenaria, onde a estrutura do telhado se


apoiou, apresentou variações da ordem de 70 mm ao longo do conjunto de 5 casas (33 m), o
que é um valor muito elevado para o sistema em LSF, sendo necessário adotar solução
provisória para calçar o apoio dos caibros que posteriormente foram substituídos por
arremates de argamassa. Além disso, o comprimento do conjunto de 5 casas apresentou
diferença em relação ao projeto, sendo executado com 25 cm a mais que o previsto, o que
implicou na necessidade de instalação de um painel de complemento para compensar esta
diferença de medidas na estrutura de LSF do engradamento.

Apesar dos contratempos e necessidade de pequenos ajustes em obra, o sistema de


engradamento metálico pré-montado em LSF se mostrou uma solução eficiente do ponto de
vista de solução de montagem e ganho de agilidade e precisão para a obra. Os telhados foram
instalados com sucesso e as residências utilizadas pelos seus compradores de forma
satisfatória (Figura 13). As peças necessárias para a compensação de imprecisões na alvenaria
foram desenvolvidas com sucesso e incorporadas ao sistema do engradamento. É importante
ressaltar que, em situações onde se pretende utilizar este tipo de solução, a execução da
alvenaria deve ser acompanhada com maior rigor, para que exista vantagem ainda mais
significativa no uso do sistema pré-montado de estrutura para telhado.

Figura 13 – Telhado com estrutura instalada em obra e, posteriormente, com telhas

Fonte: Flasan, 2011 [9]

11
5 CONCLUSÕES

A utilização de telhados em Light Steel Framing oferece diversas vantagens diante de outras
soluções para coberturas residenciais. O sistema apresentado neste trabalho mostrou ser
econômico, leve, de fácil instalação, além de garantir maior durabilidade que os telhados de
madeira. Comparados aos outros sistemas de engradamento metálico, observa-se que o LSF
apresenta maior facilidade de montagem e fabricação, uma vez que elimina a utilização de
soldas. Além de apresentar uma estética mais agradável na composição da cobertura, sem a
necessidade de pintura.

Analisando os resultados encontrados nos testes de carga realizados no protótipo, conclui-se


que a solução adotada atende aos requisitos de estabilidade estrutural relativos aos perfis
para Light Steel Framing. Estes ensaios mostraram-se bastante eficientes como método prático
para avaliação de dimensionamento de telhados e foi decisivo na aprovação técnica da
concepção estrutural da cobertura.

A fase de implantação da solução em obra foi importante para confirmar a facilidade de


instalação dos painéis pré-montados. Verificou-se a necessidade de melhorar as interfaces
entre os sistemas construtivos de paredes e cobertura, uma vez que o conceito de
racionalização e padronização deve ser praticado nas diversas etapas da obra. Erros e
imprecisões na execução da alvenaria podem acarretar em atrasos na instalação dos
engradamentos e em soluções muitas vezes resolvidas em canteiro sem a avaliação e
planejamento ideais.

6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

1 Portal Metálica [homepage na internet]. Casas Industrializadas: Usiteto Usiminas. 2014.


[acesso em 05 mai 2014]. Disponível em: http://www.metalica.com.br/vvvvvv/casas-
industrializadas-usiteto-usiminas.

2 Santiago, A. K.; Terni, A. W.; Pianheri, J. Como Construir - Steel Framing - 05 Coberturas.
São Paulo: Téchne Revista de Tecnologia da Construção, v. 144, p. 77-80; 2009.

3 Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT). NBR 6355: Perfis estruturais de aço
formados a frio – Padronização. Rio de Janeiro: ABNT; 2012.

4 Freitas, A. M. S.; Santiago, A. K.; Crasto, R. C. M. Steel Framing: Arquitetura. 2ª edição. Rio
de Janeiro: Centro Brasileiro da Construção em Aço (CBCA); 2012.

5 Flasan Soluções para Construção a Seco [homepage na internet]. Portfólio de Obras; 2014.
[acesso em 05 mai 2014]. Disponível em: http://www.flasan.com.br.

6 Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT). NBR 15253: Perfis de aço formados a
frio, com revestimento metálico, para painéis reticulados em edificações - Requisitos gerais. Rio
de Janeiro: ABNT; 2005.

12
7 Rodrigues, F. C. Steel Framing: Engenharia. Rio de Janeiro: Centro Brasileiro da
Construção em Aço (CBCA); 2006.

8 Companhia de Habitação de Minas Gerais (COHABMINAS). Projetos Padronizados. 2007.


[acesso em 15 mai 2014]. Disponível em: http://www.cohab.mg.gov.br/mutuarios/plantas/.

9 Flasan Soluções para Construção a Seco. Projeto padronizado de engradamento metálico


para casa popular. Belo Horizonte; 2011.

10 Rodrigues, F. C. Relatório Técnico: Prova de Carga do engradamento Flasan em aço


galvanizado para cobertura de habitações de interesse social. Belo Horizonte: Fundação
Christiano Ottoni, Escola de Engenharia da UFMG; 2011.

11 Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT). NBR 14762: Dimensionamento de


estruturas de aço constituídas por perfis formados a frio. Rio de Janeiro: ABNT; 2010.

13
Tema: Coberturas e Fechamentos - Materiais, Tecnologia e Projetos

OS SISTEMAS DE COBERTURAS E FECHAMENTOS QUE FORMAM A MODERNA

ARQUITETURA EM AÇO*
­

Eduardo Munhoz de Lima Castro¹

Resumo
Ao se analisar um edifício apenas pelo sistema estrutural adotado, seja integralmente metálico
ou misto [aço e concreto], é comum encontrar estudos relevantes aos elementos estruturais
de composição do sistema: vigas, pilares, perfis, ligações, muitas vezes de forma bem
detalhada. Contudo, ao se tratar do fechamento da edificação, tanto para cobertura quanto
para as áreas laterais, o único acesso a informação se dá através de catálogos de fabricantes,
que por muitas vezes não possuem uma linguagem arquitetônica diante das necessidades mais
expressivas que o material possa produzir em compatibilidade com o projeto. Este trabalho
tem como objetivo mostrar as várias possibilidades de uso e emprego das chapas de aço
corrugadas trapezoidais, senoidais ou lisas, nas suas múltiplas formas, optando-se por
elementos produzidos no mercado nacional, aplicados de forma criativa, de forma a traduzir-
se em uma expressão plástica arquitetônica marcante com personalidade, funcionalidade,
viabilidade executiva e segura ao longo dos anos.

Palavras-chave: Arquitetura com aço; Sistemas de cobertura; Sistemas de fechamentos


laterais; Plasticidade e expressão em aço.

THE ROOFING AND CLADDING SYSTEMS THAT FORM THE MODERN ARCHITECTURE´S STEEL

Abstract
While analizing a building only by the way of it’s strucural system, be it entirely metallic or
mixed (steel and concrete), it’s common to find studies about the structural elements of the
system composition: beams, pillars, listings, connections, usually well detailed. However, when
dealing about the building’s closure, as for the coverage and lateral areas, the only access to
information is through catalogs of manufacturers, which most of the time lack an architectural
language before the most expressive needs that the material can produce in compatibility with
the project. This work’s main objective is to show the several possibilities of use and utility of
steel plates corrugated trapezoidally, sinusoidally or smoothly, on its multiple shapes, opting
for elements produced on the national market, applied on a creative way, in order to turn
them into a striking architectural artistic expression with personality, functionality and secure
business feasibility over the years.

Keywords: Steel architecture; Roofing systems; Cladding systems; Plasticity and steel
expression.

________________________________
* Contribuição técnica ao Construmetal 2014 – Congresso Latino-Americano da Construção
Metálica – 02 a 04 de setembro de 2014, São Paulo, SP, Brasil.
1
¹ Arquiteto e Urbanista formado pela Faculdade de Belas Artes de São Paulo em 1987. Especialista em
Administração de Marketing pela Fundação Armando Álvares Penteado - FAAP em 2003, Mestre pela
Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Presbiteriana Mackenzie em 2005. Professor
Universitário do curso de Arquitetura e Urbanismo e Design de Interiores das Faculdades Integradas
Alcântara Machado - FIAM e Faculdade de Artes Alcântara Machado – FAAM, São Paulo, SP; Consultor
de mercado.

2
1 INTRODUÇÃO

Resistente, durável, flexível e belo, o aço gera riquezas, propicia o desenvolvimento de novos
produtos, possibilita a modernização tecnológica e inspira a criatividade artística.

Aço é sinônimo de arquitetura moderna.

No século XX, este material inspirou arquitetos e engenheiros, combinando resistência e


eficiência com oportunidades de expressão escultural. Hoje, na era do pluralismo
arquitetônico e da inovação da engenharia, o aço está presente nos mais sofisticados e
modernos edifícios.

Parte disso se deve à evolução da metalurgia, análise estrutural, fabricação, montagem e


desenvolvimento de componentes construtivos que complementam e fecham a estrutura.

Os limites do aço são cada vez mais explorados, técnica e expressivamente gerando soluções
estéticas ricas, criativas e variadas.

Desde a implantação dos primeiros altos-fornos, em meados do Século XIX, o aço desempenha
um papel protagonista no desenvolvimento humano.

Com a possibilidade de sua produção em larga escala que propiciou o avanço da Revolução
Industrial em direção à descoberta de novas tecnologias aplicadas na agricultura, na indústria,
na construção, nos transportes, enfim, na vida cotidiana de todos. A siderurgia é a indústria de
base por excelência, já que o aço está presente em todas as outras atividades econômicas.

2 O AÇO COMO MATERIAL NA INDÚSTRIA DA CONSTRUÇÃO

 O aço é versátil
 O aço é adaptável e inovador
 O aço é moderno e fabricado em (e para) uma indústria de alta tecnologia
 O aço é usado em inúmeras aplicações
 O aço é infinitamente reciclável
 O aço é o material mais reciclado em todo o mundo
 O aço representa crescimento
 O aço é cultura

A falta de conhecimento sobre o emprego dos produtos provenientes do aço para construção
civil e arquitetura promove uma limitação espontânea de sua utilização, resultando na adoção
de edificações convencionais ou mistas que por muitas vezes ocasionam diversas patologias
após a conclusão da obra.

3
Projetar em aço, tomando-se como partido o conhecimento da tecnologia de construção a
seco, permite

o leveza estrutural,
o racionalização do canteiro,
o controle de custos e
o agilidade operacional.

Os materiais devem ser selecionados especialmente de forma a não comprometer o resultado


final do planejamento e do projeto, uma vez que as situações de aplicação são variáveis:

O conhecimento dos materiais empregados na construção é de vital importância para o projeto e


a construção na Engenharia Civil. Tanto os materiais da estrutura da edificação como aqueles
usados para o seu fechamento e acabamento têm essa importância vital. O colapso de uma
estrutura é, na verdade, colapso do material constituinte dessa estrutura, porque ou ele foi
incorretamente especificado ou não apresentou as propriedades previstas (Agopyan, 1995, p.75-
78)

Torna-se assim importante o conhecimento do comportamento dos materiais em todas as


etapas do processo construtivo, e conforme justifica Agopyan (1995, p.75-78) "[...]os materiais
empregados na indústria da construção civil são de grande variedade e a tendência é
diversificar ainda mais, pois novos materiais estão sendo introduzidos na construção, e
também estão ocorrendo junções de materiais tradicionais, gerando produtos com
comportamento específico, diferente daquele dos seus componentes isolados. Além de sua
variedade, os materiais chegam ao canteiro de obra em vários estágios de produção. Existem
produtos que a partir de constituintes básicos podem ser até produzidos no próprio canteiro,
como os concretos, outros são entregues na obra totalmente manufaturados. [...] Devido à
importância e à complexidade do assunto, procura-se aprimorar o estudo dos materiais de
construção, aplicando cada vez mais os conhecimentos científicos".

3 AÇO E A QUESTÃO SUSTENTÁVEL

A responsabilidade de construir com o objetivo de não agredir o meio ambiente é um desafio


para nosso século, e sendo assim, a industrialização da construção civil é uma premissa que
deve ser levada em consideração desde a concepção do projeto arquitetônico, promovendo
por meio das modernas tecnologias em pré-fabricação de materiais a configuração do
canteiro de obras para uma linha de montagem.

Essa premissa encontra fundamento no Relatório Brundtland, cujo documento intitulado de


Nosso Futuro Comum, publicado em 1987, elaborado pela Comissão Mundial sobre Meio
Ambiente e Desenvolvimento ressalta os riscos excessivos dos recursos naturais sobre a
capacidade de suporte dos ecossistemas e propõe o desenvolvimento sustentável como "[...]
aquele que atende as necessidades do presente, sem comprometer a capacidade das gerações

4
futuras de atender suas próprias necessidades"1.

Cada nova edificação impacta o meio, consumindo energia, recursos naturais, esgoto e água
tratada, aumentando a poluição. Cabe aos arquitetos, engenheiros, estudar as consequências
do empreendimento em longo prazo:

• Fazendo bons projetos arquitetônicos


• Incentivando novas tecnologias
• Otimizando o uso de energia
• Diminuindo os desperdícios
• Utilizando materiais recicláveis
• Inovando

Em edificações na qual o aço participa estruturalmente ou por meio de cobertura e


fechamento pode-se:

• Reformar a edificação ao invés de demolir


• Desmontar e reutilizar os componentes
• Desmontar reciclando o material

O Aço é um material 100% reciclável.

4 O USO DO AÇO E SUA CONTRIBUIÇÃO NA INDUSTRIALIZAÇÃO DOS PROJETOS DE


ARQUITETURA

A padronização das peças é um conceito muito importante, pois como todo sistema
industrializado ao valer-se da repetição, diminui seu custo em todo processo.

Com o aço obtém-se:

• Organização do canteiro de obra


• Alívio nas fundações
• Vãos livres maiores
• Racionalização de material e de mão de obra
• Menor prazo de execução
• Retorno financeiro mais rápido
• Garantia de níveis e prumos
• Redução de acidentes
• Facilidade de montagem e desmontagem
• Otimização de ampliações e reformas
• Compatibilidade com sistemas construtivos

1
Nações Unidas no Brasil. [homepage na internet]. A ONU e o meio ambiente [acesso em 11 mai 2014].
Disponível em: http:www.onu.org.br

5
O aço desponta-se como material que propicia um conceito elevado no processo de
industrialização, permitindo a pré-fabricação de sistemas construtivos, associando-se aos
conceitos de organização e produção em série.

É importante que o projeto em aço já comece a ser pensado com o conceito do material,
envolvendo a satisfação do cliente, a técnica, normas, o espaço construído, sua reciclagem e
sustentabilidade, o modelo de industrialização e montagem, sua execução, custos, materiais e
desempenhos além da estética

Um projeto de arquitetura deve levar em consideração os subsistemas que formarão a


proteção da edificação assim como os elementos que permitirão o conforto térmico do
conjunto da obra. Não basta apenas estudar a posição ideal de implantação da obra mas as
características dos elementos que poderão auxiliar no conforto:

5 NORMAS SOBRE OS PERFIS TRADICIONAIS DE MERCADO

De acordo com a Associação Brasileira de Normas Técnica - ABNT, desde abril de 2000 [figura
1] temos:

NBR 14514 - Telhas de aço



revestido de seção

trapezoidal

NBR 14513 - Telhas de aço


revestido de seção ondulada

Figura 1: Modelos de perfis corrugados e senoidais tradicionais


­
Foto: Eduardo Munhoz de Lima Castro, 2014
­

 Telhas Onduladas: denominadas de Chapas de Aço Revestidas Conformadas a Frio de


Perfil Senoidal (NBR 14513)
 Telhas Trapezoidais: denominadas de Chapas de Aço Revestidas Conformadas a Frio de
Perfil Trapezoidal (NBR 14514)

Desta forma, é extremamente recomendável que o responsável pela especificação, seja ele o
arquiteto, o projetista ou mesmo o comprador, observe os catálogos do fabricante, as
amostras e igualmente o atendimento às normas técnicas já mencionadas. Somente assim, a
garantia de qualidade de produto estará assegurada.

6
6 MATERIAIS – AS TELHAS E FEC
FECHAMENTOS
HAMENTOS EM AÇO

Nas últimas décadas, as telhas


telhas produzidas a partir de bobinas de aço revolucionaram
revol
revolucionaram
ucionaram de
maneira significativa a construção
construção civil no Brasil, representando, para os
os profissionais de
arquitetura e engenharia, excelente
excelente so
solução
lução para coberturas e fechamentos
fechamentos laterais das mais
variadas edificações.

Nota-se
se que a tendência marcante
marcante do uso do aço está na diminuição do peso
peso e da inclinação
telhas de aço em qualquer edificação representa uma
do telhado. O uso das telhas uma solução para
redução estruturais.
dução de custos estrutur ais.

Na medida em que o aço zinzincado


cado se apresenta como um material de grande durabilidade, alta
resistência mecânica, baixo custo
custo e versatilidade, propiciando a fabricação de produtos leves
de fácil manuseio, os fabri
fabricantes siste
cantes de sistemas fechamentos
metálicos de coberturas e fecham entos laterais
laterais,
o elegeram como sua maté
matéria
ria-prima
prima básica para a produção de telhas e compon
componentes.
entes.

6. 1 Características Gerais

utiliza
Fácil aplicação, rapidez, utiliza pouca mão de obra, geralmente são leves, fixadas
fixadas por parafusos
autoperfurantes;

Devido à sua geometria po


pode
de vvencer cobertura de grandes áreas
encer grandes vãos, possibilitando a cobertura
com poucas emendas – prop
propo
orciona
rciona baixo custo para estrutura;

As telhas de aço não quebram,


quebram, não trincam e são resistentes a corrosão;

Fornece
nece um aspecto moderno
moderno e atrativo ao telhado, com uma gama variada de cores. Quando
lateral pode ser disposta tanto na vertical, diagonal
usada como fechamento lateral diagonal ou horizontal e,
ainda, ser composta nos cantos
cantos com telhas multidobras.

6.2 Telhas Onduladas

No mercado Brasileiro são


o usualmente
usualmente empregadas em silos e coberturas de de galpões em arco.
co,, apresenta maior flexibilidade a esse tipo de obra – tem mais
Pelo perfil não conter vinco
vin
vinco,
resistência ao amassamento e a quebra. Fora do Brasil tem múltiplo uso. São ttelhas que não
tem trecho plano, sendo queque sua seção transversal é constituída por uma
uma curva senoidal
[figura 2].

Figura 2 : Perfil Senoidal


­
Fonte:
Fon te: Manual Técnico Telhas de Aço - ABCEM
­

7
Exemplo residencial sobre o emprego da telha ondulada:

Figura 3: Cobertura em Arco –


Residência do arquiteto Sergio
Parada, em Brasília – DF. Distingui-
se a cobertura de forma orgânica
que parece flutuar sobre as outras
formas, oferendo fluidez e
conforto térmico devido a
ventilação cruzada.

Fonte: Portal Arcoweb

Outro exemplo pode ser verificado na residência construída em Pindimar Bay – Austrália
[figura 4], projeto do arquiteto Alexander Kinross-Rowe, onde os revestimentos externos são
efetuados com telha ondulada, formando uma parede sanduíche termoisolante no método
construtivo a seco. A diferenciação das cores e o material em si permite baixa manutenção.

Figura 4: Residência com revestimento em telha ondulada.


­
Fonte: Lysaght
­

8
Figura 5: Residência com revestimento em telha ondulada disposta horizontalmente - Arquiteto: Greg
Jones, em Geelong, Victoria - Austrália.
Fonte: Lysaght

Na figura 5, a mesma telha fora disposta de modo horizontal, o que se percebe a


multiplicidade de possibilidades sobre os efeitos desse material. As cores ajudam a realizar
uma arquitetura mais impactante e o sistema construtivo a seco não permite que a residência
seja algo inacabado como vemos nos sistemas tradicionais, onde levantam-se as alvenarias e
os revestimentos finais externos são os últimos a ocorrer.

6.3 Telhas Trapezoidais

São telhas formadas por trechos horizontais e inclinados, formando o desenho de uma telha
grega.

Figura 6 : Perfil Trapezoidal


­
Fonte: Manual Técnico Telhas de Aço - ABCEM
­

9
As telhas trapezoidais apresentam a melhor concepção técnica de coberturas e fechamentos
no mercado nacional.

Possuem uma grande diversidade de tipos, em função da altura do trapézio, pode-se obter a
melhor performance de qualidade em relação ao projeto especificado. Sua utilização em
grandes obras industriais no início da década de 70 e em meados de 80 tornou-se um grande
precursor desse mercado.

Em alguns casos podem interagir no cálculo estrutural da edificação, e não somente como uma
utilização estética para os projetos arquitetônicos.

Obras industriais de grande porte utilizam telhas trapezoidais [figuras 7 e 8], pois possibilitam
a racionalização do tempo de construção (produtividade de execução).

As construções metálicas passaram a solicitar maiores desafios e necessidades, que não


existiam em décadas passadas. Assim as telhas trapezoidais passaram a figurar nos projetos e
obras de Shopping Center's e Residências, com grande apelo visual.

Figura 7: Perfil trapezoidal – Detalhe para a telha multidobra que envolve toda a lateral frontal da
cobertura - Entreposto Alfandegário Aurora Eadi – Sorocaba – SP – arquiteto Cláudio Libeskind
Fonte: CONSTRUCTALIA

10
Figura 8: Perfil trapezoidal – Detalhe para a telha multidobra que envolve toda disposta
horizontalmente, formando um novo revestimento de fachada, de baixa manutenção e de grande
impacto visual - Entreposto Alfandegário Aurora Eadi – Sorocaba – SP – arquiteto Cláudio Libeskind
Fonte: CONSTRUCTALIA

6.4 Simples ou "Singelas"

Telhas simples são destinadas ao método clássico de coberturas e fechamentos laterais


largamente utilizados no pais. Os perfis são produzidos de acordo com a necessidade do
projeto, em comprimentos máximos de 12 metros (o mesmo para as termo-acústicas).

6.5 Termoacústicas ou Termoisolantes

Os perfis são produzidos de acordo com a necessidade do projeto, em comprimentos máximos


de 12 metros (o mesmo para as termoisolantes).

 EVA Filme Aderido


 MEMBRANAS
 LÃ MINERAL (VIDRO OU ROCHA)
 EPS (ISOPOR)
 PUR (Poliuretano) / PIR (Poliisocianurato)

11
7 RESISTÊNCIA E PROTEÇÃO

Em todo o sistema de cobertura e em fechamentos laterais a água é o principal elemento que


se deve formar uma barreira. A água chega a edificação de duas formas:

 pelo meio interno – condensação


 pela meio externo - precipitação atmosférica (chuvas)

Portanto o sistema adotado deve ser suficientemente adequado a conter esses meios.

7.1 Condensação

A condensação ocorre pela diferença de gradiente externo com o interno, formando gotículas
que se depositam em pontos que favoreçam o empoçamento, escorram ou gotejam por algum
local onde é percebida. Como não é vista dependendo do material de contato pode ocorrer o
aparecimento de algas e fungos além de outros elementos que progressivamente possam
atacar o material especificado para a cobertura.

7. 2 Barreiras de proteção

As barreiras precisam ser criadas:

 Contra calor
 Contra umidade

As soluções variam em função:

 Clima
 Materiais disponíveis
 Cultura
 Função da edificação
 Vida útil projetada

As telhas deixaram de ser simples elementos de vedação: incorporam características


estruturais para resistir os carregamentos impostos pelo meio ambiente, sua montagem e a
estrutura de sustentação. Outras funções são: iluminação, acústica, isolamento térmico e a
própria vedação lateral (fechamento lateral).

Sistemas de cobertura e fechamento devem proporcionar:

 Resistência a força dos ventos


 Vencer os vãos
 Suportar seu peso e cargas variáveis
 Conforto acústico
 Conforto térmico
 Controle do fluxo e da passagem da água pluvial
 Dependendo da exigência construtiva devem ser resistentes ao fogo

12
CONCLUSÕES

Os materiais possuem comportamentos distintos e apresentam-se (atualmente) em maior


variedade. Mostram-se mais indicados para uma determinada solução do que para outra,
dependendo da forma, clima, partido, etc. Cabe ao projetista (arquiteto/engenheiro) verificar
em cada caso, o sistema e material que melhor se adapte as condições do projeto.

Com o surgimento de novos produtos para indústria da construção civil, gradativamente vem
se desenvolvendo uma nova maneira de erguer as edificações, seja para qual for seu uso
(comercial, industrial ou residencial).

Edificações industriais e comerciais partem de soluções semi prontas obtendo prazos, custos e
processo construtivo garantido.

Os fechamentos laterais anteriormente erguidos com alvenaria ou estrutura de madeira e


telhas de cimento amianto, cedem espaço aos perfis metálicos leves e às chapas corrugadas
trapezoidais ou senoidais, chamadas telhas de aço.

Dependendo do local aplicado e da arquitetura projetada possuem especificações de


composição bem singulares ao seu emprego. O mesmo acontece com a estrutura de
cobertura.

As estruturas de um modo geral passaram a ser mais esbeltas, assim como os materiais
empregados, tal como o aço e o concreto, passaram a ser mais resistentes.

A urbanização intensiva a partir da metade do século XX estimula a tendência da


racionalização na construção, permitindo prédios mais altos, grandes vãos livres entre apoios e
coberturas quase planas com grandes panos de água.

Com o abastecimento do mercado interno pelas companhias siderúrgicas com bobinas de aço
galvanizado, o mercado pode expandir o emprego desse material nos fechamentos e
coberturas, antes saturado pelas placas de cimento corrugado (telhas de fibrocimento)
permitindo opções arquitetônicas e ganhos de vãos de apoio.

As chapas finas metálicas corrugadas permitiram novas aplicações para o envólucro


arquitetônico.

13
REFERÊNCIAS

Associação Brasileira da Construção Metálica - ABCEM. Manual Técnico Telhas de Aço.[manual


técnico na internet]. Edição 1; 2009 [acesso em 11 mai 2014]. Disponível em:
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CUNHA, Lix. Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo. São Paulo: Pini: IPT;
1995. p.75-78.

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em 11 mai 2014]. Disponível em: http: www.arcoweb.com.br

CASTRO, Eduardo Munhoz de Lima. A versatilidade dos sistemas de coberturas e fechamentos


em aço, nos projetos de arquitetura. In: Construmetal 2008 - Congresso Latino Americano da
Construção Metálica. 2008 set. 9-11; São Paulo, Brasil. [acesso em 11 mai 2014]. Disponível
em: http:www.construmetal.com.br/2008

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Dissertação [Mestrado em Arquitetura e Urbanismo] - Faculdade de Arquitetura e Urbanismo
da Universidade Presbiteriana Mackenzie; 2005.

CASTRO, Eduardo Munhoz de Lima; BRUNA, Gilda Collet. A Sustentável leveza do aço:
contribuição uso do aço em sistemas de edificações a seco no Brasil. In: Anais do V Encontro
de Iniciação Científica E VIII Mostra de Pós-Graduação; 2004 set. 22-25; São Paulo, Brasil. São
Paulo: Universidade Presbiteriana Mackenzie; 2004, p. 3 - 9.

CONSTRUCTALIA. [homepage na internet]. Entreposto Alfandegário Aurora Eadi. [acesso em


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MARINGONI, Heloisa Martins. Princípios de arquitetura em aço. 2. ed. São Paulo: Perfis Gerdau
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Nações Unidas no Brasil. [homepage na internet]. A ONU e o meio ambiente [acesso em 11


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REBELLO, Yopanan Conrado Pereira. A concepção estrutural e a arquitetura. 3. ed. São Paulo:
Zigurate, 2003.

14
Congresso Latino-Americano da Construção Metálica

CONSTRUMETAL 2014

Contribuições Tecnocientíficas

Parte 2

– Construções Leves Estruturadas em Aço –
Tema: Construções leves estruturadas em aço

Avaliação estrutural de painéis de fachada leve para edifícios de múltiplos


pavimentos com modelagem numérica

Thiago Salaberga Barreiros¹


Alex Sander Clemente de Souza²

Resumo
Os elementos pré-fabricados para edificação são cada vez mais utilizados, dentre eles, as
fachadas leves de steel frame, a qual foi analisada para este artigo com ênfase no desempenho
estrutural global. A fachada analisada é formada por placas cimentícias na face externa e
chapa de gesso para drywall na face interna, analisando assim, os efeitos localizados e os
modos de falha de perfis leves de aço formados a frio por meio de modelagem numérica. A
análise estrutural foi realizada em painéis de fachada de um edifício com 126m de altura,
considerando: o peso próprio; a não-linearidade física e geométrica dos perfis; e as rajadas de
vento mais críticas de sobrepressão e sucção. Com os resultados obtidos, foi possível analisar
que os painéis sem bloqueadores fazem com que os montantes trabalhem individualmente,
sendo os montantes ancorados mais solicitados que os não ancorados e, que quando há
bloqueadores, os montantes ancorados são inicialmente mais solicitados, mas conforme o
carregamento aumenta, há uma alternância de solicitação entre os montantes. Além disso, foi
identificado que o painel com 3,75mm de espessura dos montantes e com uma linha de
bloqueadores apresentou maior capacidade de carregamento, menor quantidade de
instabilidades e menores deslocamentos horizontalmente no plano do painel e fora do plano
do painel do que os outros painéis analisados.

Palavras-chave: Fachada leve de steel frame, Desempenho estrutural, Método de


elementos finitos, Força do vento.

Structural evaluation of lightweight facade panels for buildings with multiple floors
with numerical modeling

Abstract
The prefabricated elements for construction are increasingly being used, including the
lightweight facades of steel frame, which was analyzed for this article with emphasis on overall
structural performance. This system consisted of light “profiles” of cold-formed steel, forming
a frame to which were fixed a cement board on the outer face and gypsum board (drywall) on
the inner face. A structural analysis was made of the façade of a building 126m high,
considering the following parameters: weight of the structure; the physical and geometric non-
linearity of the frame elements; and critical overpressure and suction of wind gusts. With the
results obtained, it was possible to observe that, when loaded, the panels without bracing
straps cause the studs to work individually and that anchored studs were more stressed than
________________________________
* Contribuição técnica ao Construmetal 2014 – Congresso Latino-Americano da Construção
Metálica – 02 a 04 de setembro de 2014, São Paulo, SP, Brasil.
1
non-anchored ones. With bracing straps present, however, the anchored studs were initially
more stressed, but as the load increased there was an alternation of stress among the studs. In
addition, it was identified that the 3.75mm thick panel and a line of bracing
straps between the studs of the frame presented a higher load capacity, a lower number of
instabilities and less horizontal movement both in and outside of the panel plane.

Keywords: light façade with steel frame, Structural performance, Finite elements method,
Gust of wind.

¹ Arquiteto e Urbanista, Mestre, Pesquisador, Laboratório de Componentes e Sistemas Construtivos, IPT


– Instituto de Pesquisas tecnológicas do Estado de São Paulo, São Paulo, São Paulo, Brasil.
² Engenheiro Civil, Doutor, Professor Associado, Departamento de Engenharia Civil, UFSCar –
Universidade Federal de São Carlos, São Carlos, São Paulo, Brasil.

2
1 INTRODUÇÃO

A demanda pela construção de edificações de serviço e comércio (hotéis e centros comerciais)


tem aumentado no Brasil, porém com prazos de execução cada vez mais curto e com falta de
terrenos vazios nos centros urbanos. Para solucionar estes problemas, o mercado optou por
duas soluções: a utilização de elementos pré-fabricados, os quais aumentam a velocidade de
execução; e a renovação de edifícios, que é mais rápida por reaproveitar parte da estrutura já
realizada.
Dentre os sistemas industrializados utilizados, neste artigo será abordado o sistema de
fachadas, que é responsável pela transição entre o meio externo e interno e, por isso,
influencia não apenas as funções estéticas, simbólicas e culturais, mas também o conforto
acústico e térmico, a estanqueidade, a insolação e a manutenção dos níveis de segurança e
privacidade dos usuários. Além dos requisitos técnicos, a fachada tem grande relevância na
questão financeira, podendo representar 20% do custo total da obra (Oliveira, 2009) [1], com
relação à execução e manutenção.
No Brasil o sistema de fachadas vem evoluindo de forma contínua. Atualmente são utilizados
diversos tipos de execução, desde a tradicional, com alvenaria de blocos e revestimento
aderido, até as industriais, divididas em: pesadas, formadas por painéis que podem ser de
concreto ou de GRC (Glass Reinforced Concrete); ou leves, formadas, por exemplo, por painéis
de placas cimentícias, de placas de vidro ou de placas metálicas compostas (alumínio, ou aço
inox).
Os painéis leves são preferencialmente escolhidos, sobretudo nas reformas de fachada, pois
não representam um grande adicional de carga para a fundação, as quais são inviáveis
economicamente de receber as devidas modificações, e como estas edificações normalmente
têm mais de 40 anos e estão localizadas nos grandes centros urbanos, não há espaço para os
equipamentos trabalharem.
Com isso, o objetivo deste artigo é analisar o comportamento estrutural de um subsistema de
fachada leve submetida à ação do vento. A fachada leve definida para o estudo é fabricada
com perfis leves de aço formados a frio com fechamentos em placas cimentícias do lado
externo e chapas de gesso para drywall do lado interno. Adicionalmente, tem-se como
objetivo apresentar uma metodologia de análise numérica mais refinada que seja possível
analisar o comportamento global dos painéis como também efeitos localizados nos elementos
constituintes. Com o modelo numérico, objetiva-se analisar os efeitos de algumas variáveis
(espessura dos perfis e quantidade de linhas de travamento lateral) no comportamento.
Para este artigo foram utilizadas as referências de Baságlia (2004)[2], Maiola (2004) [3] e
Oliveira (2009) [1], além de referencias normativas (ABNT NBR 6123:1988 [4], 6355:2012 [5],
10821:2011 [6] e 14762:2010[7]).

2 MATERIAIS E MÉTODOS
Para estabelecer um painel padrão para a análise estrutural foi realizado um pré-
dimensionamento no qual foram utilizados os procedimentos e as combinações de ações
estabelecidas na ABNT NBR 14762:2010 [7] e utilizados os perfis padronizados pela ABNT NBR
6355:2012 [5], além de informações mínimas de fixação do catálogo da Eternit® [8]. Foram
realizados cálculos de resistência para estabelecer: a distância máxima padrão entre apoios
das placas (montantes distantes entre si: 30cm, 40cm ou 60cm); a quantidade de parafusos de

3
fixação das placas; as dimensões dos perfis; e a quantidade de chumbadores na ligação entre
ancoragem e estrutura principal do edifício.
Chegou-se à conclusão que a configuração da Figura 1, com distância entre montantes de
40cm, seria a mais conveniente, pois este painel apresenta menor peso que o painel com 30cm
de distanciamento entre montantes, conforme Tabela 1, e é mais viável de encontrar uma
placa cimentícia que suporte a pressão do vento calculada, no item 2.1, do que o painel com
60cm de distanciamento entre montantes.
Figura 1 - Planta e vista do painel utilizado na simulação com 14 pontos de ancoragem

Fonte: Elaborado pelo próprio autor


Tabela 1 – Características dos painéis
Espaçamento entre Massa da estrutura Massa do painel Densidade superficial do
montantes (cm) (kg) (kg)* painel (kg/m²)
60 228,4 619,3 51,0

40 295,0 682,3 56,2


30 309,5 696,8 57,4
* Considerando: Placa cimentícia - 20,4 kg/m²; Chapa de gesso - 10,0 kg/m²; Lã de vidro com
12kg/m³ e preenchimento completo da largura do perfil (12,5cm e 15cm)
Fonte: Metalica, Knauf e Eterplac

4
2.1 Força devida ao vento

As solicitações mais importantes para a analise dos painéis de fachada são as forças devidas ao
vento. Estas forças podem ser calculadas segundo a ABNT NBR 6123:1988 [4]. No entanto,
neste trabalho foram utilizados os resultados dos picos dos coeficientes de pressão obtidos no
Túnel de Vento de Camada Limite Atmosférica do Centro de Metrologia de Fluidos (CMF) do
Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo S.A. – IPT. A seguir é apresentada
uma breve descrição do edifício, do ensaio e os resultados obtidos.
Para fazer a simulação da força do vento em fachada foi utilizado como exemplo um edifício de
uso misto, residencial e comercial, com 35 pavimentos (126m de altura) com formato
retangular escalonado, sendo as dimensões em planta: 15,45 m de largura e 44,65 m de
comprimento, na base do edifício, chegando a 13,85 m de largura e 13,85 m de comprimento,
no topo do edifício, onde estão a casa de máquinas e o reservatório. A Figura 2 apresenta a
fachada Leste e a Figura 3 apresenta a planta tipo de base do edifício.
Figura 2 – Fachada leste do Edifício

Fonte: Laboratório de Vazão – Centro de Metrologia de Fluidos - IPT (2012)


Figura 3 – Planta da base do edifício

Fonte: Laboratório de Vazão – Centro de Metrologia de Fluidos - IPT (2012)

Os valores de pico máximo e mínimo dos coeficientes de pressão encontrados são

representados nas Figuras 4 e 5.

5
Figura 4- Pico dos coeficientes máximos de pressão nas fachadas leste e oeste

Fonte: Laboratório de Vazão – Centro de Metrologia de Fluidos - IPT (2012)

Ao analisar estes dados, observa-se que o pico máximo de pressão é maior conforme aumenta
a altura do edifício, variando de aproximadamente 1,2 na base até 1,6 na proximidade do
topo.
Figura 5- Pico dos coeficientes mínimos de pressão nas fachadas leste e oeste

Fonte: Laboratório de Vazão – Centro de Metrologia de Fluidos - IPT (2012)

6
Já os picos mínimos do coeficiente de pressão ocorrem nos cantos, onde o edifício é mais largo
e mais alto, e no centro do edifício, provavelmente ocasionados por turbulências localizadas.
Neste trabalho foram utilizados os picos de coeficientes de pressão obtidos no ensaio de túnel
de vento, porém será admitida a velocidade básica do vento para a cidade de São Paulo de
acordo com o gráfico de isopletas da ABNT NBR 6123:1988 [4], considerando V0 = 45m/s.
Desta forma, a pressão de obstrução para a edificação pode ser calculada de acordo com a
ABNT NBR 6123:1988 [4], conforme cálculo a seguir:
V0 = 45m/s (São Paulo); S1 = 1,0; S2 = 1,18; S3 = 1,0
Vk = V0 .S1 .S2 .S3 = 53,1m/s (1)
q = 0,613 . Vk² = 1.728,42 N/m² (2)
Quando esta pressão dinâmica é aplicada junto aos picos de coeficientes de pressão obtidos
no ensaio de túnel de vento, obtém-se:
qk= q . ČP;min ou ĈP;max = 2.765,47 N/m² e 6.568,00 N/m² (3)
Onde:
ČP;min = pico de coeficiente de pressão mínimo = -3,8
ĈP;max = pico de coeficiente de pressão máximo = 1,6
Isto posto, as forças devidas ao vento que serão utilizadas neste artigo de sobrepressão e
sucção máximas exercidas no edifício para São Paulo são, respectivamente, 2.765,47 N/m² e
6.568,00 N/m².

2.2 Modelagem numérica

Neste estudo, buscou-se fazer uma investigação numérica simulando o comportamento


estrutural devido à ação do vento do painel de fachada leve do edifício supracitado. As
simulações foram realizadas por meio do programa ANSYS versão 13.0, com o Método dos
Elementos Finitos.

2.2.1 Variáveis analisadas

As opções de projeto analisadas nas simulações computacionais para o painel são mostradas
no Quadro 1.
Quadro 1 - Variáveis de projeto utilizadas nas simulações
Quantidade de linhas de Espessura dos perfis (mm)
estabilidade lateral Montantes Guias
0 3,75 3,00
1 2,00 2,00
2
Fonte: Elaborado pelo próprio autor
- quantidade de linhas de estabilidade lateral (bloqueadores) utilizadas: zero (Figura 1);
uma, no meio dos montantes (Figura 6); e duas, nos terços dos montantes (Figura 7).

7
Figura 6 – Painel com uma linha de travamento lateral

Fonte: Elaborado pelo próprio autor


Figura 7 – Painel com duas linhas de travamento lateral

Fonte: Elaborado pelo próprio autor


- espessura dos perfis utilizados: 3,75mm e 2,00mm para montantes e 3,00mm e
2,00mm para as guias.

2.2.2 Elemento finito utilizado

Em vários estudos já realizados com perfis metálicos formados a frio, as modelagens foram
realizadas em campo bidimensional utilizando elementos do tipo casca (Shell), como em
Maiola (2004) [3] e Baságlia (2004) [2], pois, com esta simplificação, reduz-se o número de
elementos utilizados na discretização e o tempo de processamento, obtendo-se resultados
satisfatórios.

8
A biblioteca do programa contém várias opções de elementos. Nas simulações, tanto os perfis
como as placas foram modelados como elemento SHELL 181 formado por um elemento de
casca com 6 graus de liberdade em cada nó e por 4 nós, conforme Figura 8.
Figura 8 – Elemento SHELL 181

Fonte: ANSYS (2013)

O elemento SHELL 181 quadrilateral é recomendado para elementos estruturais, seus


contornos podem ser curvos e os quatro vértices não precisam ser paralelos e nem coplanares,
pois o programa permite uma pequena torção. Este elemento contém características para a
não-linearidade geométrica e física, permitindo o uso do diagrama multilinear para
caracterizar os materiais utilizados: placa cimentícia e aço ASTM A36.

2.2.3 Critérios para análise não-linear do painel

Para representar as não-linearidades dos materiais, adotou-se o modelo de tensão x


deformação conforme Figura 9 e Figura 10, assim como o método de carregamento
incremental de Newton-Raphson.
Figura 9 – Gráfico de tensão x deformação do aço ASTM A36

Fonte: Elaborado pelo próprio autor no ANSYS

9
Figura 10 - Gráfico de tensão x deformação da placa cimentícia

Fonte: Elaborado pelo próprio autor no ANSYS


As características não lineares da placa cimentícia foram introduzidas no programa com duas
retas, sendo a primeira (vertical) gerada a partir do módulo de elasticidade da placa cimentícia,
a intersecção o ponto máximo de resistência à tração na flexão, e a segunda permitindo a
deformação da placa cimentícia, sem aumento significativo da resistência. Desta forma, foi
possível analisar o comportamento dos perfis metálicos mesmo após o rompimento da placa
cimentícia, pois a força do vento incidente na placa cimentícia foi transmitida aos perfis até o
estado limite último dos perfis.
As características dos materiais utilizados na simulação são apresentadas na Tabela 2.
Tabela 2 - Características dos materiais utilizados nas simulações
Coeficiente de

Resistência de
Resistência à

Resistência à

Resistência à
flexão (MPa)
escoamento

compressão
elasticidade
Módulo de
específica

tração na
Material

Poisson
(kg/m³)
Massa

tração
(MPa)

(MPa)

(MPa)
(GPa)

Aço -
7.850 0,26 450 280 200 NA
ASTMA361
Placa 20
1.700 0,3 NA NA 6 18
cimentícia2
NA – Não se aplica
1 Informações advindas da ASTM A36/A36 – 12 e MATWEB
2 Informações advindas dos catálogos técnicos da BRICKWALL, da ETERNIT e na ABNT NBR 15498:2007

2.2.4 Condições de contorno e de solicitações

Na concepção do modelo numérico, como a chapa de gesso para drywall não interfere na
solução estrutural do painel, apenas as placas cimentícias foram utilizadas na modelagem. Os
contatos entre superfícies de perfis e entre superfícies de perfis e placa cimentícia foram
realizados sem atrito.

10
Os modelos elaborados para a simulação foram realizados pela constituição de cada
componente: placa cimentícia, guia, montante e perfil de ancoragem. A Figura 11 apresenta os
componentes no painel modelado.
Figura 11- Perspectiva posterior do painel modelado
Ligação entre
Ligação entre montante e placa
montante e guia cimentícia
Ligação entre
montante e
ancoragem

Montante

Placa
cimentícia

Perfil de Guia
ancoragem

Fonte: Elaborado pelo próprio autor no ANSYS (2013)

2.2.4.1 Ligações da peça de ancoragem

A ligação entre o painel e a estrutura principal do edifício é realizada por peças de ancoragens
em “L” (Figura 12). As peças de ancoragem são fixadas à estrutura principal do edifício com 2
chumbadores, já a ligação dela com o montante é realizada com duas colunas de parafusos. Na
simulação, a fixação da peça de ancoragem à estrutura principal da edificação foi realizada
como suporte fixo em 2 pontos de cada peça de ancoragem, simulando os pontos onde serão
colocados os chumbadores, com restrição nos 6 graus de liberdade. Já as ligações entre perfis
de ancoragem e montantes foram realizadas por 2 arestas por peça de ancoragem e 2 arestas
no montante, limitando os 6 graus de liberdade (Figura 13).

11
Figura 12 – Planta esquemática das ligações do perfil de ancoragem

Concreto da viga/pilar da
estrutura principal do edifício
Chumbador

Chapa de gesso

Colunas de
parafusos Montante

Peça de ancoragem
Placa cimentícia

Fonte: Elaborado pelo próprio autor


Figura 13 – Ligações da peça de ancoragem utilizada na simulação

Montante
Arestas simulando a
ligação entre ancoragem
e montante

Áreas simulando a
ligação entre
ancoragem e
estrutura principal

Guia

Fonte: Elaborado pelo próprio autor no ANSYS (2013)

2.2.4.2 Ligação entre guia e montante

A ligação entre guia e montante é realizada com parafusos, sendo, em cada montante, 2 na

guia inferior e 2 na guia superior (Figura 14).

No modelo estudado estas ligações foram realizadas por áreas, iguais no montante e na guia,

com restrição de 5 graus de liberdade, 3 de translação e 2 de rotação, e deixando a rotação

perpendicular ao eixo do parafuso livre (Figura 15).

12

Figura 14 – Esquema de ligação entre montante e guia (corte)

Parafuso
Guia superior

Montante

Guia inferior

Fonte: Elaborado pelo próprio autor


Figura 15 – Ligação entre guia inferior e montante realizada na simulação

Fonte: Elaborado pelo próprio autor no ANSYS (2013)

2.2.4.3 Ligação entre placa cimentícia e perfis

A ligação entre placa cimentícia e montantes ou guias é realizada com parafusos, sendo, um
parafuso a cada 20cm no montante e um parafuso a cada 40cm na guia (Figura 16).
Na simulação estas ligações foram realizadas por áreas, iguais entre placa cimentícia e
montante/guia, com restrição de 5 graus de liberdade, 3 de translação e 2 de rotação, e
deixando a rotação perpendicular ao eixo do parafuso livre (Figura 17).

13
Figura 16 – Esquema da fixação da placa cimentícia

Chapa de gesso
Parafusos

Placa cimentícia

Fonte: Elaborado pelo próprio autor


Figura 17 - Ligação entre placa cimentícia e montantes na simulação

Fonte: Elaborado pelo próprio autor no ANSYS (2013)

2.2.4.4 Ligações dos bloqueadores

Os bloqueadores são trechos de guias cortados, dobrados e fixados aos montantes utilizados
para fazer o travamento lateral dos montantes. Neste estudo, utilizaram-se bloqueadores a
meia altura dos montantes e nos terços (Figura 18).

14
Figura 18 – Configuração dos bloqueadores a meia altura do montante (esquerda) e nos terços
(direita)

Fonte: Elaborado pelo próprio autor

Nas simulações, estes componentes foram simulados por meio de restrições dos graus de
liberdade de pequenas arestas dos montantes na parte da frente e de trás (Figura 19). Adotou-
se a ligação com restrição de 4 graus de liberdade, 2 de translação (Ux e Uy) e 2 de rotação
(ROTx e ROTz), deixando livre o deslocamento em Z e a rotação em Y.
Figura 19 – Arestas ligadas simulando bloqueadores

Arestas ligadas

Fonte: Elaborado pelo próprio autor

2.2.4.5 Carregamento

Foram considerados o peso próprio do painel e a solicitação da pressão de vento de sucção,


simulada por meio de incrementos de carga na forma de pressão normal uniformemente
distribuída na face externa da placa cimentícia. Adotou-se a força de sucção do vento por

15
considera-la mais rigorosa, já que o valor é maior e o lado comprimido dos montantes do
painel não terá a contribuição do contraventamento da placa cimentícia.

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Para facilitar a identificação dos painéis simulados, seguem as nomenclaturas e as descrições


de cada um no Quadro 2.
Quadro 2 – Identificação dos painéis
Massa densidade
Massa da
do superficial
Identificação Características estrutura
painel do painel
(Kg)
(Kg) (Kg/m²)
Painel sem bloqueadores e com montantes e
Painel 02 165,0 552,2 45,5
guias de 2,0mm de espessura
Painel com uma linha de bloqueadores e com
Painel 12 179,9 567,2 46,7
montantes e guias de 2,0mm de espessura
Painel com duas linhas de bloqueadores e com
Painel 22 187,4 574,7 47,3
montantes e guias de 2,0mm de espessura
Painel sem bloqueadores, com montantes de
Painel 03 3,75mm de espessura e guias de 3,0mm de 295,0 682,3 56,2
espessura
Painel com uma linha de bloqueadores,
Painel 13 montantes de 3,75mm de espessura e guias de 310,0 697,3 57,4
3,0mm de espessura
Painel com duas linhas de bloqueadores,
Painel 23 montantes de 3,75mm de espessura e guias de 317,5 704,8 58,1
3,0mm de espessura
Fonte: Elaborado pelo próprio autor

Inicialmente foi analisada a distribuição de carregamentos entre os montantes dos painéis e a


influência da presença de ancoragem e dos bloqueadores. De forma geral, os montantes
fixados as ancoragens tendem a ser mais solicitados. Com a inclusão dos bloqueadores, há
uma distribuição mais homogênea de carregamento entre os montantes. Nas figuras 20 e 21
são apresentadas as tensões médias de compressão nos montantes ancorados e sem
ancoragem em função da ação de vento aplicada.

16

Figura 20 – Tensão media dos montantes ancorados e sem ancoragem (livres) – painel sem
bloqueadores (Exemplo do painel 03)

Pressão (kPa)
10 15 20 25 30 35 40
-100
-150
Tensão (MPa)

-200
-250
-300
-350
ancorado livre
Fonte: Elaborado pelo próprio autor

Na Figura 20, pode-se verificar nos painéis sem bloqueadores que os montantes ancorados
apresentam maior carregamento que os montantes não ancorados.
Figura 21 - Tensão media dos montantes ancorados e sem ancoragem (livres) – painel com
bloqueadores (Exemplo do painel 22)
Pressão (kPa)
7 12 17 22 27 32 37
-160
-210
-260
Tensão (MPa)

-310
-360
-410
-460
Ancorado Livre

Fonte: Elaborado pelo próprio autor

Já na Figura 21, pode-se verificar nos painéis com bloqueadores que os montantes ancorados
apresentam maior carregamento inicialmente, mas com posterior distribuição do
carregamento entre todos os montantes.
A análise individual do painel 12, por exemplo, permite verificar a forma do deslocamento
global dos perfis (fora da escala real, aumentado em 6 vezes) conforme Figura 22. Dentre os
montantes analisados deste painel, o montante que sofreu maior tensão atuante de
compressão foi o montante 7, chegando a 429MPa na alma a meia altura do montante. Este
montante sofreu alguns tipos de instabilidades, como a flambagem lateral com torção (pressão
de vento de sucção de 18kPa, tensão correspondente de 318MPa, Figura 23) e a flambagem
local (pressão de vento de sucção de 27kPa, tensão correspondente de 330MPa, Figura 24),
além disso, sofreu distorção da seção na região da ancoragem (pressão de vento de sucção de

17
3kPa, tensão correspondente de 65MPa, Figura 25). Outro fator que influenciou o
comportamento dos montantes, principalmente na região tracionada, foi a ruptura da placa
cimentícia com pressão de vento de sucção de aproximadamente 14,8kPa, como pode ser
visto na Figura 26, onde são apresentadas as tensões de compressão e de tração da secção do
montante 2 e a tensão da placa cimentícia em função da pressão do vento.
Figura 22 – Deslocamento do painel for a da escala real (aumentado 6 vezes)

Fonte: Elaborado pelo próprio autor

Figura 23 - Flambagem lateral com torção (corte no meio do painel) (MPa)

Fonte: Elaborado pelo próprio autor

18
Figura 24 – Flambagem local (MPa)

Fonte: Elaborado pelo próprio autor


Figura 25 – Distorção do perfil

Fonte: Elaborado pelo próprio autor

Figura 26 - Comparação da ruptura da placa cimentícia com o comportamento do montante 2

400

300

Tensão (MPa)

200

100

0 5 10 15 20 25 30 35
40

Pressão (kPa)
comportamento de tração do montante 2

comportamento de compressão do montante 2

comportamento da placa cimentícia

ruptura da placa cimentícia

Fonte: Elaborado pelo próprio autor

19
Comparando os diversos resultados obtidos em cada painel é possível notar que as
características dos componentes interligados (principalmente características dos montantes,
inclusão e localização de bloqueadores e tipo de placa cimentícia) da fachada leve interferem
na rigidez e na resistência global do painel (Figura 27 a Figura 32).
Figura 27 – Comparação dos deslocamentos em Y
70

60

50
Pressão (kPa)

40
30
20
10
0
0
6 28 10 4 12 14

Deslocamento (cm)
painel 02 painel 03 painel 12 painel 13
painel 22 painel 23 limite de serviço
Fonte: Elaborado pelo próprio autor

O deslocamento fora do plano do painel (Y) foi maior no painel sem bloqueadores e com
menor espessura, diminuindo com o aumento da espessura. Porém, quando a estrutura
apresentava uma linha de bloqueadores no meio dos montantes, o deslocamento resultante
foi menor do que quando utilizada duas linhas de bloqueadores, isto porque quando há duas
linhas de bloqueadores, o meio do montante, região mais solicitada, está mais propensa a
sofrer instabilidades. Desta forma, o limite de serviço de deslocamento fora do plano do
painel, de acordo com ABNT NBR 10821:2011[6], deve ser H/175 (1,65cm), ocorreu
primeiramente no painel 02 (6,5kPa), e depois nos painéis 22 (7,5kPa), 03 (8,5kPa), 12
(11,0kPa), 23 (13,0kPa), e por fim no painel 13 (19,0kPa).
Figura 28 - Comparação deslocamentos em X
70
60
Pressão (kPa)

50
40
30
20
10
0
0 2 4 6 8
Deslocamento (cm)
painel 02 painel 03 painel 12 painel 13 painel 22 painel 23
Fonte: Elaborado pelo próprio autor

20
O deslocamento horizontal no plano do painel (X) do montante mais deslocado em cada painel
segue o mesmo raciocínio do deslocamento fora do plano do painel - quando sem
bloqueadores e com menor espessura, maior o deslocamento. Porém, inicialmente neste caso,
duas linhas de bloqueadores com montantes de 2mm de espessura sofrem deslocamento
menor do que quando o painel sem bloqueadores e com 3,75mm de espessura do montante,
ao contrário do deslocamento fora do plano do painel. Pode-se dizer também que quando há
uso de bloqueadores os montantes das extremidades sofrem maior deslocamento por não
estarem estabilizados lateralmente dos dois lados, caso dos painéis 12, 22 e 23, nos quais o
montante 1 sofreu maior deslocamento.
Figura 29 – Comparação da Tensão de compressão dos montantes mais solicitados
Pressão (kPa)
0 10 20 30 40 50 60
0

-100
Tensão (MPa)

-200

-300

-400

-500
painel 12 - montante 7 painel 22 - montante 2 painel 03 - montante 3
painel 13 - montante 2 painel 23 - montante 12 painel 02 - montante 3
Fonte: Elaborado pelo próprio autor

De forma geral, os montantes mais solicitados à compressão são os montantes mais próximos
da extremidade, excetuando-se os montantes 1 e 13, por terem a largura colaborante de
pressão menor. Quando há a utilização de bloqueadores, são os montantes 2 e 12 e, quando
não há bloqueadores, por serem mais solicitados os montantes ancorados, são os montante 3
e 11. A prevalência pelos montantes 2 e 3 é causada pelo maior distanciamento entre as almas
dos montantes (1cm a mais). A exceção é o painel 12 com o montante 7, o qual pode ter
recebido maior solicitação por se tratar do montante central do painel.

21
Figura 30 – Comparação da tensão equivalente de Von Misses das placas

18

16
Tensão (MPa)

14

12

10
0 5 10 15 20 25 30
Pressão (kPa)
painel 02 painel 12 painel 22 painel 03 painel 13 painel 23
Fonte: Elaborado pelo próprio autor

A placa cimentícia foi rompida com pressão maior nos painéis com maior espessura dos
montantes e uma linha de bloqueadores no meio do montante, e diminuindo com duas linhas
de bloqueadores e, por fim, sem bloqueadores. Desta forma, traçando-se uma linha horizontal
a 16MPa, percebe-se que a sequencia de pressão atuante é menor nos painéis 02, 22 e 12
depois nos painéis 03, 23 e 13.
Figura 31 – Comparação da tensão equivalente de Von Misses das guias

440
420
400
380
Tensão (MPa)

360
340
320
300
280
260
240
220
200
5 15 25 35 45 55 65

Pressão (kPa)
painel 02 painel 03 painel 12 painel 13 painel 22 painel 23

Fonte: Elaborado pelo próprio autor

Com relação às guias, as de 2mm de espessura se comportaram de forma parecida entre si


(painéis 02, 12 e 22), com início de escoamento próximo a 7kPa, e as de 3mm (painéis 03, 13 e
23) também tiveram comportamentos parecidos entre si, mas com início de escoamento
próximo a 14kPa. Os pontos de maior tensão das guias são: do lado externo, nos montantes
com ancoragens, lugar onde o perfil dobra (perfil ancorado mantem-se no mesmo lugar e os
não ancorados empurram a guia); e do lado interno, as dobras nos montante não ancorados
(efeito inverso), conforme Figura 32.

22
Figura 32 – Regiões de tensão máximas da guia

Fonte: Elaborado pelo próprio autor

4 CONCLUSÃO

De forma geral, observou-se que os montantes fixados às ancoragens tendem a ser mais
solicitados quando não há o uso de bloqueadores, mas, com a inclusão dos bloqueadores,
passa a existir uma distribuição mais homogênea de carregamento entre os montantes. Com
isso, quando o sistema estrutural de painéis não utiliza bloqueadores, é recomendável a
utilização de montantes ancorados com maior espessura, porém, esta mudança dificulta a
execução dos painéis, inclusive podendo gerar erros. Para que haja melhor distribuição das
solicitações entre os montantes com a mesma espessura de perfis, é aconselhável a utilização
de bloqueadores, inclusive para aumentar a rigidez da estrutura diminuindo os deslocamentos.
O deslocamento fora do plano do painel (Y) foi maior no painel sem bloqueadores e com
menor espessura, ou seja, no painel 02, diminuindo o deslocamento com o aumento da
espessura e o uso de bloqueadores. Porém, quando a estrutura apresentava uma linha de
bloqueadores no meio dos montantes, o deslocamento resultante foi menor do que quando
utilizada duas linhas de bloqueadores, isto porque quando há duas linhas de bloqueadores, o
meio do montante, região mais solicitada, está mais propensa a sofrer instabilidades. Desta
forma, o limite de serviço de deslocamento fora do plano do painel (1,65cm) ocorreu
primeiramente no painel 02 (6,5kPa), e depois nos painéis 22 (7,5kPa), 03 (8,5kPa), 12
(11,0kPa), 23 (13,0kPa), e por fim no painel 13 (19,0kPa). Pôde-se notar também que os
montantes não ancorados foram os que mais se deslocaram: painel 02 – montante 2; painel 12
– montante 4; painel 22 – montante 4; painel 03 – montante 2; painel 13 – montante 8; e
painel 23 – montante 12, já que nestes montantes as guias permitem um maior deslocamento
e os apoios dos montantes estão mais distantes (aproximadamente 14cm em cada ponta),
apenas nas guias, ao invés de estarem apoiados na ancoragem.
O deslocamento horizontal no plano do painel (X) dos montantes é maior quando o painel não
utiliza bloqueadores e tem espessura reduzida. Pode-se dizer também que quando há uso de
bloqueadores, os montantes das extremidades sofrem maior deslocamento por não estarem
estabilizados lateralmente dos dois lados, caso verificado nos painéis 12, 22 e 23, nos quais o
montante 1 sofreu maior deslocamento.
Como esperado, o comportamento das guias de 3,0mm superou os das guias de 2,0mm, as
quais iniciaram o escoamento muito próximo do limite de serviço calculado no item 2.1 deste
artigo. Os pontos de maior tensão das guias são: do lado externo, nos montantes com

23
ancoragens, lugar onde o perfil dobra (perfil ancorado mantem-se no mesmo lugar e os não
ancorados empurram a guia); e do lado interno, as dobras nos montante não ancorados (efeito
inverso).
Desta forma, tomando-se como base a análise global das fachadas leves simuladas e a
utilização apenas da deformação elástica dos materiais, pode-se concluir que os painéis 12 e
22 atendem às solicitações impostas, mas os painéis 03, 13 e 23 são os mais adequados a
serem utilizados, sendo o melhor desempenho estrutural do painel com uma linha de
bloqueadores no meio dos montantes e com espessura de 3,75mm. Com isso é possível
concluir que nem sempre uma estrutura mais pesada, comparando os painéis 23 (317,5kg) e
13 (310,0kg) por exemplo, tem um desempenho melhor. Os painéis com perfis de 2,0mm de
espessura foram prejudicados pelo desempenho da guia, a qual iniciou o escoamento muito
próximo do limite de serviço, 7kPa. Além disso, o painel 02 apresentou deslocamento fora do
plano do painel maior que 1,65cm, limite estabelecido pela ABNT NBR 10821:2011 [6], quando
aplicada a carga de serviço. Caso fosse utilizada guia com espessura de 3,0mm em todos os
painéis, tanto o painel 12, como o painel 23 também teriam potencial para atender aos
critérios de deformação e resistência dos materiais com melhores resultados.

REFERÊNCIAS

1 OLIVEIRA, L. A. Metodologia para desenvolvimento de projeto de fachadas Leves - Tese


(Doutorado) - Escola Politécnica da Universidade de São Paulo. Departamento de Engenharia
de Construção Civil -- São Paulo, 2009. 267 p.

2 BASÁGLIA, C. D, Sobre o Comportamento Estrutural de Terças de Aço Considerando a


Interação com as Telhas. Dissertação (Mestrado), Escola de Engenharia de São Carlos.
Universidade de São Paulo – São Carlos, 2004. 125p.

3 MAIOLA, C.H. (2004) Ligações parafusadas em chapas finas e perfis de aço formados a
frio. São Carlos. Tese (Doutorado) - Escola de Engenharia de São Carlos -Universidade de São
Paulo.

4 ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 6123: Forças devidas ao vento em


edificações. Rio de Janeiro, 1988. 80p.

5 ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 6355: Perfis estruturais de aço


formados a frio — Padronização. Rio de Janeiro, 2012. 36p.

6 ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 10821:Esquadrias externas para


edificações - Parte 1: Terminologia. São Paulo, 2011. 13p.

7 ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 14762:Dimensionamento de


estruturas de aço constituídas por perfis formados a frio. São Paulo, 2010. 87p.

8 ETERNIT® Eterplac – placa cimentícia - Catálogo técnico. Disponível em:


<http://www.eternit.com.br/userfiles/ETERPLAC_final%20060110.pdf> Acesso em maio 2013.

24
Tema: Construções Leves Estruturadas em Aço

Estudo teórico-experimental sobre a estabilidade estrutural de painéis de


cisalhamento (“Shear Wall”) do sistema construtivo Light Steel Framing *

Sabrina Moreira Villela¹


Francisco Carlos Rodrigues²
Rodrigo Barreto Caldas³

¹ Arquiteta e Urbanista, Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Estruturas, Escola


de Engenharia, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, M.G. - Brasil.
² Engenheiro Civil, Doutor em Engenharia Civil, Professor Titular do Departamento de Engenharia de
Estruturas e do Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Estruturas da Escola de Engenharia da
Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, M.G. – Brasil.
³ Engenheiro Civil, Doutor em Engenharia de Estruturas, Professor Adjunto do Departamento de
Engenharia de Estruturas e do Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Estruturas da
Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, M.G. – Brasil.

Resumo
Este artigo tem como objetivo um estudo teórico-experimental sobre a estabilidade estrutural
de painéis de cisalhamento, também conhecidos como “Shear Wall”, do sistema construtivo
Light Steel Framing (LSF). O LSF, que é também conhecido como sistema autoportante de
construção a seco estruturado em aço. Este vem se consolidando no mercado da construção
civil brasileira. Esse sistema é composto por painéis reticulados de perfis de aço galvanizado
formados a frio (PFF), configurando esse sistema autoportante. Fixadas ao reticulado metálico,
as placas de revestimento podem ser de Oriented Strand Board (OSB) ou placas cimentícias,
ambas com considerável resistência mecânica, ou ainda gesso acartonado, que possui apenas
a função de vedação. São propostos alguns modelos para a análise experimental e a
determinação das propriedades mecânicas do material OSB. Nas análises será verificado o
comportamento da placa de OSB como possível substituta das fitas de aço galvanizado
geralmente utilizadas como componentes do sistema de contraventamento dos painéis de
cisalhamento. Para isso, será observado também o comportamento dos parafusos
autoatarraxantes trabalhando em conjunto com as placas de OSB e o reticulado metálico,
caracterizando o denominado painel de cisalhamento.
Palavras-chave: Light Steel Framing; Painel de cisalhamento; Oriented Strand Board;
Contraventamento.

Theoretical and experimental study on the structural stability of Shear Wall on the Light Steel
Framing System

Abstract
This article aims to propose a theoretical and experimental study on the structural stability of
shear panels ("Shear Wall") of the Light Steel Framing (LSF) construction system. The LSF
construction system, which is also known as self-supporting system for the dry construction
structured by steel, has been consolidated in the Brazilian construction market. This system is
composed of panels assembled by galvanized cold formed steel profiles, configuring a self-
supporting system. The sheathing material can be oriented strand board (OSB) or cementitious
________________________________
* Contribuição técnica ao Construmetal 2014 – Congresso Latino-Americano da Construção
Metálica – 02 a 04 de setembro de 2014, São Paulo, SP, Brasil.
1
plates, both with considerable mechanical strength, or plasterboard, which has only sealing
function. Some models are proposed for experimental analysis and determination of the
mechanical properties of the material OSB. The analyzes will be checked the behavior of OSB
board as a possible replacement of galvanized steel strips usually used as components of the
bracing system of shear panels. This will be also observed the behavior of chipboard screws
working with OSB boards and the light-gauge steel studs, composing the so-called shear panel.

Keywords: Light Steel Framing; Shear Wall; Oriented Strand Board; Sheathing.

1 INTRODUÇÃO

De acordo com Bevilaqua [1] entre os anos de 1810 e 1860 os Estados Unidos
obtiveram um crescimento acelerado; as estimativas são de que a população americana se
multiplicou por dez. Em consequência, houve uma crescente demanda principalmente de
habitações em um curto espaço de tempo. Para responder a esta demanda buscou-se um
sistema rápido, produtivo e prático, conceitos oriundos da revolução industrial. Visto que
naquela época existiam grandes reservas florestais, recorreu-se à utilização da madeira como
matéria-prima. Assim surgiu o sistema construtivo denominado Wood Framing.
A costa leste dos Estados Unidos se transformou em um grande canteiro de obras
quando, em 1992, foi atingida pelo furacão Andrew, causando enorme destruição. Houve
então a necessidade de reconstruir rapidamente as áreas afetadas.
Durante a reconstrução observou-se que a substituição dos perfis de madeira
utilizados no sistema Wood Framing não era tão rápida quanto o desejado. O aço apresentou-
se como material que soma inúmeras vantagens construtivas, como elevada resistência,
elevada ductilidade, canteiro de obras menor, limpo e organizado, facilidade de reforço,
ampliação e rapidez de execução. A tecnologia dos perfis de aço galvanizado já era conhecida
na época; assim, os perfis de madeira começaram a ser trocados pelos perfis de aço, que
podiam ser substituídos rapidamente e possuíam boa relação resistência/peso. Incrementa-se,
então, o emprego do sistema denominado Light Stell Framing (LSF) na construção civil.
O sistema construtivo LSF resume-se a uma composição de painéis reticulados de aço
galvanizado em perfis formados a frio trabalhando em conjunto com placas de diferentes
materiais, tais como as placas cimentícias e as placas de tiras orientadas de madeira,
internacionalmente denominadas de Oriented Strand Board (OSB), resultando assim em uma
estrutura com função estrutural de construção a seco.
A construção metálica ainda atravessa um período de grande expansão no mundo e,
no Brasil, desde os anos oitenta esse mercado de estruturas tem crescido sensivelmente. Hoje
a estrutura metálica é uma solução técnica comprovadamente viável.
Dois conceitos relativos ao LSF colocados por Rodrigues [2]: Frame é o esqueleto
estrutural projetado para dar forma e suportar a edificação, sendo composto por elementos
leves, os perfis formados a frio (PFF); Framing é o processo pelo qual se unem e vinculam esses
elementos.

Segundo Rodrigues [2], o sistema estrutural total de um edifício pode ser dividido em
dois grupos de subsistemas, os verticais e os horizontais. Os subsistemas horizontais precisam
ser suportados pelos subsistemas verticais. Os subsistemas horizontais recebem e
transmitem, para os subsistemas verticais, as cargas de piso e teto através de flexão e as

2
cargas horizontais através de ação de diafragma dos painéis de cisalhamento
(internacionalmente denominados de "Shear Wall").
Os subsistemas verticais são os painéis que compõem paredes com ou sem função
estrutural. Paredes com função estrutural têm capacidade de transmitir tanto cargas verticais
quanto horizontais para a fundação da edificação; paredes sem função estrutural não tem tal
capacidade.
Para a fabricação dos perfis estruturais formados a frio do sistema LSF devem ser
empregadas bobinas de aço Zincado de Alta Resistência (ZAR), revestidas com zinco ou liga
alumínio-zinco pelo processo contínuo de imersão a quente. As massas mínimas de
revestimento são iguais a 150 g/m² (Alumínio-zinco por imersão a quente) e 275 g/m² (Zincado
por imersão a quente). As espessuras nominais das chapas mais utilizadas são 0,80mm,
0,95mm e 1,25mm. A resistência ao escoamento do aço deve ser de no mínimo 230 MPa.
Os perfis formados a frio vêm sendo muito utilizados como material de construção,
principalmente em edificações de até quatro pavimentos, pois são extremamente leves, têm
baixo custo relativo e satisfazem à tendência de industrialização e agilidade na execução. Os
subsistemas projetados para resistir às forças laterais nas edificações em LSF são comumente
paredes contraventadas por meio de fitas de aço galvanizadas ("Shear Wall" ou painel de
cisalhamento).
A estabilidade global de um edifício projetado segundo o sistema construtivo LSF é
geralmente de responsabilidade do contraventamento, que possui função de resistir apenas à
força axial de tração. Assim, torna-se necessário a instalação de placas e/ou contraventamento
em fitas de aço, para que esses esforços sejam transmitidos para a fundação da edificação.
Segundo Rodrigues [2] esse contraventamento pode ser feito por meio de fitas de aço
galvanizado. O tipo mais comum utilizado é o formato de "X". Quando esse formato não é
adequado devido, por exemplo, a alguma abertura, pode-se utilizar o contraventamento em
outros formatos, como em "K", "Ʌ" e "V".
De acordo com o manual do Consul Steel [3] o ângulo formado entre a fita de aço
utilizada no contraventamento e a guia inferior do painel deve estar entre 30° e 60°. Segundo
Schafer e Hiriyur [4] quanto menor for o ângulo menor será a força de tração na fita.
Segundo Bredel [5], pode-se considerar que no sistema LSF o painel que trabalha como
Shear Wall é engastado na parte inferior e livre na parte superior, servindo de apoio para a
laje. Logo, as ações laterais estão aplicadas na parte superior, oriundas da presença do
diafragma rígido (Figura 1). A força aplicada na guia superior é distribuída para as placas e
montantes através de parafusos autoatarraxantes. Ao receber os esforços, a guia inferior os
transmite para a fundação através do chumbador de ancoragem. Na maioria das vezes, a
ancoragem dos painéis à fundação, é feita com a peça estrutural denominada hold-down
(Figura 2). Este dispositivo é de extrema importância nos painéis de cisalhamento por oferecer
uma maior resistência ao movimento de tombamento do painel. A instalação do hold-down
deve ser nas extremidades de cada painel. Parafusos autoatarraxantes fixam este elemento ao
montante, na vertical, e o chumbador de ancoragem, na horizontal, fixa a guia inferior à
fundação.

3
Figura 1: Ações laterais e condições de contorno [5].

Figura 2: Sistema de ancoragem com hold-down (chumbador).

O sistema de contraventamento do Light Steel Framing com fitas (ou tiras) de aço
dispostas nas diagonais dos painéis de cisalhamento necessita de chapas de ligação,
denominadas de Chapas de Gusset, para permitir a união dessas diagonais às guias e aos
montantes que formam os cantos desses painéis. Como é necessária a superposição da fita
sobre a Chapa de Gusset, incluindo o emprego de parafusos do tipo HEX com cabeça
sextavada, forma-se uma saliência que impede o perfeito assentamento das placas de
revestimento sobre o reticulado metálico, sejam elas placas cimentícias ou placas de OSB. Este
problema pode ser resolvido com a execução de rebaixos nas placas de revestimento. No
entanto, estes ajustes não são coerentes com o Sistema Construtivo LSF, que tem por princípio
uma construção racional e rápida, com o mínimo de interferências de fabricação e montagem.
Como as placas de OSB são geralmente utilizadas como elementos de revestimento do
reticulado metálico, servindo de substrato para aplicação dos acabamentos das paredes, e por
serem consideradas pelos fabricantes como componentes estruturais, elas podem também ser
utilizadas em substituição às fitas e/ou perfis de contraventamento dos painéis de
cisalhamento para reduzir o custo da obra. Porém, ainda não existem metodologias de
dimensionamento e normas nacionais ou estrangeiras que fazem a regulamentação dessas
placas na função de contraventamento. Ocorre que essa substituição deve ser calculada e

4
analisada mais atentamente para realmente atender a essa função de resistir aos esforços
cortantes oriundos da força do vento ou outras ações horizontais.
Uma vez que não existem normas brasileiras para especificação e determinação dos
parâmetros de ensaio e das propriedades físicas e mecânicas necessárias para que o OSB possa
ter de fato uma função estrutural como componente do painel de cisalhamento, com os
resultados obtidos a partir do presente trabalho esperamos poder contribuir e servir como
base para o desenvolvimento dessas normas.

2 MATERIAIS E MÉTODOS

2.1 O painel de OSB

O material denominado de OSB surgiu no Canadá, na região dos grandes lagos,


conhecida pela abundância de Aspen (populus.pps), e pinus. O OSB é de alta tecnologia, ideal
para contraventamento e fechamento externo e interno de paredes, coberturas e lajes do
sistema LSF. Logo, começou a ser difundido como painéis estruturais de usos múltiplos, assim,
houve uma expansão da utilização desses painéis pelos Estados Unidos e acabou ganhando
notoriedade mundial.
As propriedades mecânicas do OSB se assemelham às da madeira sólida, pois não são
utilizados resíduos de serraria na sua produção. Sua resistência mecânica é devido ao método
de fabricação, que consiste na utilização de partículas (strands) de madeira distribuídas
aleatoriamente em três camadas. Essas são unidas por resina e prensadas sob altas
temperaturas. Esse método oferece excelentes resultados de resistência à flexão e módulo de
elasticidade, conforme citado por Mendes, Iwakiri, Matos, Keinert, Saldanha [6]. As madeiras
utilizadas na fabricação têm densidade em torno de 600 a 800 kg/m³, o que é característica de
madeiras macias de menor resistência mecânica.
Segundo Mendes, Iwakiri, Matos, Keinert, Saldanha [6], as dimensões nominais dessas
placas são de 120 cm de largura por 240 cm de comprimento, ou 160 cm de largura por 250
cm de comprimento. As espessuras usuais são: 11 mm, 13 mm, 15 mm e 18 mm.
Atualmente, as placas de OSB já são fabricadas no Brasil e o principal fabricante é a
empresa Louisiana Pacific (LP) Building Products, que possui desde Julho de 2011 a primeira
fábrica brasileira de OSB, anteriormente pertencente à empresa Masisa. Segundo o fabricante,
as principais vantagens de uso do LP OSB são:

 Alta resistência a impactos;


 Elevado conforto térmico devido à baixa condutibilidade do OSB;
 Elevado conforto acústico;
 Resistente à umidade;
 Garantia estrutural por 20 anos e contra cupins por 10 anos;
 Versátil: aceita diversos tipos de acabamentos;
 Rapidez de instalação;
 Produto ecologicamente correto;
 Assistência técnica garantida.

5
O Brasil ainda não possui normatização para as placas de OSB e nem selo de qualidade que as
certifique. Por isso, até o momento, a qualidade do produto é certificada com parâmetros
internacionais. O APA (Engineered Wood Association) é uma certificação internacional que
certifica a maioria das placas estruturais no mundo. Leva em consideração as propriedades
físico-mecânicas para serem utilizadas na construção de casas, conforme as normas de
construção do Canadá e dos Estados Unidos da América (EUA).

2.2 Ensaios

Considerando que não existem normas técnicas brasileiras pertinentes, para a


determinação das propriedades mecânicas das placas OSB fabricadas no Brasil, serão seguidas
as prescrições da American Society for Testing and Materials (ASTM). Para os ensaios de flexão
será considerada a norma ASTM D3043-00 [7] e para os ensaios de cisalhamento será utilizada
a norma ASTM D2719-13 [8] a exemplo do que foi feito por Dias, Santos, Lima, Szücs [9] e
Bastos [10]. As propriedades físicas serão determinadas por ensaios de flexão de três pontos
como especifica a norma (flexão com a amostra da placa na posição vertical; flexão com a
amostra da placa na posição horizontal); e ensaios de cisalhamento também de acordo com a
norma pertinente. Os ensaios serão realizados com corpos-de-prova retirados de placas de
OSB com 4 espessuras diferentes (9,5mm; 11,1mm; 15,1mm e 18,3mm).

2.2.1 Ensaios de flexão e de cisalhamento

Os corpos-de-prova para os ensaios de flexão das placas de OSB foram dimensionados


de acordo com a norma ASTM D3043-00 [7]. No total serão 48 corpos-de-prova submetidos ao
ensaio de flexão: 24 cortados na direção longitudinal da placa OSB e 24 cortados na direção
transversal da placa OSB.
Para realizar os ensaios, os corpos-de-prova devem ser bi-apoiados, conforme
estabelece a norma ASTM D3043-00 [7]. O vão e a distância entre os apoios depende da
espessura nominal do corpo de prova e se o mesmo foi cortado na direção longitudinal ou
transversal (Figuras 3 e 4).

Figura 3: Esquema dos ensaios de três pontos para os corpos-de-prova cortados na direção
longitudinal da placa de OSB.

6
Figura 4: Esquema dos ensaios de três pontos para os corpos-de-prova cortados na direção
transversal da placa de OSB.

Os corpos-de-prova foram organizados considerando espessuras, dimensões, direção


do corte e tipo do ensaio de flexão a ser realizado, como consta na Tabela 1.
Para determinar o módulo de elasticidade, são registradas as forças impostas e os
correspondentes deslocamentos verticais da seção central do corpo-de-prova, depois de
imposto o incremento de carga, de modo que as várias leituras de força e deflexão sejam
registradas.
Segundo Bodig & Jayne apud Dias, Santos, Lima, Szücs [9], o ensaio de cisalhamento ao
longo da espessura foi concebido de modo a submeter o corpo-de-prova a um estado puro de
tensões de cisalhamento no plano da placa. O dispositivo de ensaio transforma as forças de
tração aplicadas nas extremidades em esforços cisalhantes ao longo das arestas do painel
(Figura 5). A deformação é obtida posicionando um transdutor de deslocamento em cada uma
das faces do corpo-de-prova, coincidente com a direção de atuação das forças de tração. Estes
dados podem ser usados tanto para a determinação da deformação de cisalhamento do
painel, quanto do coeficiente de Poisson.

Tabela 1: Dimensões dos corpos-de-prova para os ensaios de flexão.

Dimensões dos corpos-de-prova para os ensaios de flexão


Quantidade de
Grupo e Tipo de
Subgrupo Comprimento Largura Corpos-de-
Espessura Ensaio
prova
H 3
L1 506 100
Grupo A V 3
t = 9,5mm H 3
T1 278 76
V 3
H 3
L2 582,8 100
Grupo B V 3
t = 11,1mm H 3
T2 316,4 88
V 3
H 3
L3 774,8 100
Grupo C V 3
t = 15,1mm H 3
T3 412,4 100
V 3
Grupo D L4 928,4 100 H 3

7
t = 18,3mm V 3
H 3
T4 498,2 100
V 3
Total de corpos-de-prova 48
onde:

L - para corpos-de-prova cortados na direção longitudinal da placa;

T - para corpos-de-prova cortados na direção transversal da placa;

H - para corpos-de-prova que serão ensaiados na posição horizontal;

V - para corpos-de-prova que serão ensaiados na posição vertical.

Figura 5: Esquema do ensaio de cisalhamento [9].

Ainda segundo Bodig & Jayne apud Dias, Santos, Lima, Szücs [9], este método
constitui-se num dos poucos métodos diretos de determinação do módulo de elasticidade ao
cisalhamento, tornando-se uma opção promissora. Devido ao complexo dispositivo de ensaio,
esse método tem sido pouco empregado, além do que este método requer corpos-de-prova
de grandes dimensões.
Os corpos-de-prova para os ensaios de cisalhamento nas placas de OSB foram
dimensionados de acordo com a norma ASTM D2719-13 [8]. Os corpos-de-prova submetidos
ao ensaio de cisalhamento são: 3 para cada espessura de placa de OSB, totalizando em 12
corpos-de-prova no total. Esse ensaio será realizado para determinação da resistência e da
rigidez ao cisalhamento. No corpo-de-prova, a área de cisalhamento deve ter no mínimo 610
mm de lado. Quando a espessura da chapa for menor que 12,7 mm, duas ou mais chapas
devem ser coladas para garantir no mínimo essa espessura, esse será o caso das chapas de
9,5mm e de 11,1mm. As quinas do corpo-de-prova devem ser arredondadas, com raio de
12,5mm. As extremidades do corpo de prova são enrijecidas através de guias de madeira
maciça coladas rigidamente em ambos os lados do corpo-de-prova, sendo necessárias para
receber a aplicação do carregamento.

8
2.2.2 Ensaios "push-out"

O termo push-out é usualmente empregado na literatura internacional para fazer


referência aos ensaios de cisalhamento direto, também chamados ensaios de deslizamento.
Neste trabalho, emprega-se o termo “ensaio push-out” por ser o termo comumente utilizado
internacionalmente.
Ao avaliar o desempenho de um conector de cisalhamento - no caso o parafuso
autoatarraxante fixando a placa de OSB no montante do reticulado metálico, duas
características são especialmente observadas: a capacidade resistente e a ductilidade. Ambas
podem ser conhecidas a partir da relação força×deslizamento, ou seja, a relação entre a força
de cisalhamento transmitida e o deslizamento relativo entre as superfícies de contato dos
elementos componentes de um sistema misto. Essa relação é expressa por uma curva, que
pode ser obtida por meio de ensaios em vigas de tamanho real ou, o que é mais comum, a
partir de ensaios de cisalhamento direto em modelos de tamanho reduzido, também
conhecidos como "ensaios push-out". Na Figura 6 pode-se observar a curva força-deslizamento
típica de um ensaio de estrutura mista de aço e concreto.

Figura 6: Curva força-deslizamento.

A partir da curva força-deslizamento é possível determinar a resistência característica


dos conectores ensaiados, bem como classificar seu comportamento quanto à ductilidade.
Para os parafusos autoatarraxantes fixando o OSB no reticulado metálico, essas características
ainda não foram determinadas experimentalmente e, portanto, não são padronizadas pelos
regulamentos vigentes.
O comportamento do conjunto formado pelos parafusos de ligação e as placas de OSB
fixadas no reticulado metálico do painel será verificado por meio de uma adaptação dos
ensaios de cisalhamento direto preconizado pelo Eurocode 4 [11] e realizado por Fuentes,
Fournely, Pitti, Bouchair [12] para a determinação do comportamento e da força resistente dos
conectores de cisalhamento empregados em ligações de treliças de madeira.
Nas Figuras 7 e 8 vê-se o esquema típico do Modelo 1 a ser ensaiado, com conectores
na região central placa de OSB e nas Figura 9 e 10 vê-se o esquema típico do Modelo 2 a ser
ensaiado, com conectores nas bordas da placa de OSB.

9
Figura 7: Vista em planta do Modelo 1 para o ensaio de “push-out”.

Figura 8: Vistas frontal e lateral do Modelo 1 para o ensaio de “push-out”.

Figura 9: Vista em planta do Modelo 2 para o ensaio de “push-out”.

10
Figura 10: Vistas frontal e lateral do Modelo 2 para o ensaio de push-out”.

2.2.3 Ensaios de painéis de cisalhamento - Carga lateral aplicada no plano do painel

O comportamento dos reticulados metálicos enrijecidos por placas de OSB, por


exemplo, depende de vários fatores, dentre os quais a interação das interfaces reticulado
metálico-vedação. Este é um parâmetro que influencia ativamente o comportamento do
conjunto e consequentemente o fator de enrijecimento global da estrutura.
A rigidez do painel é representada pela relação da carga horizontal aplicada
lateralmente no topo e no plano do painel e os deslocamentos laterais horizontais, também no
topo e no plano do painel.
Para a determinação da rigidez do painel, da força máxima de cisalhamento e dos
modos de falha do painel serão realizados ensaios em modelos de painéis contraventados
somente com placas de OSB. As Figuras 11 e 12 e a Tabela 2 apresentam os desenhos
esquemáticos e as dimensões dos painéis que serão ensaiados nesta pesquisa. Esses modelos
são de interesse prático para as edificações brasileiras - especialmente as residenciais. Note-se
que referidos modelos foram projetados em função do comprimento e altura do painel e em
função da espessura da placa de OSB utilizada, incluindo os espaçamentos entre os montantes
e entre parafusos, seguindo as metodologias empregadas pelo AISI [13] e em outras pesquisas,
tais como as de Tian, Wang, Lu [14]. Nessas pesquisas experimentais, os modelos foram
submetidos a cargas laterais no plano do painel, com o carregamento aplicado de modo
estático e monotônico.
Nos ensaios (Figura 12), a força lateral será aplicada por meio de um atuador
hidráulico posicionado na guia superior, e um transdutor de deslocamento será posicionado na
outra extremidade dessa guia superior para o registro dos respectivos deslocamentos
horizontais.

11
Figura 11: Painel de cisalhamento contraventado com placas de OSB.

Placa de reação

Figura 12: Esquema para o ensaio do painel de cisalhamento.

12
Tabela 2: Modelos de painéis de cisalhamento a serem ensaiados

Quantidade de Espessura do Montante


Modelo L x H (mm)
corpos-de-prova OSB (mm) (mm)
M1A 2 1200x2700 Ue
9,5
M1B 2 3600x2700 90x40x12x0.80
M2A 2 1200x2700 Ue
11,1
M2B 2 3600x2700 90x40x12x0.80
M3A 2 1200x2700 Ue
15,1
M3B 2 3600x2700 90x40x12x0.95

3 RESULTADOS E IMPACTOS TECNOLÓGICOS ESPERADOS

Devem resultar deste trabalho:


a. Propriedades mecânicas das placas de OSB fabricadas no Brasil, nas três direções da
placa, tais como: módulo de elasticidade longitudinal; módulo de elasticidade
transversal; coeficiente de Poisson; resistência à ruptura na compressão; resistência à
ruptura na tração; resistência ao cisalhamento e módulo de ruptura à flexão;
b. Comportamento do conjunto formado pelos parafusos de ligação e as placas de OSB
fixadas no reticulado metálico do painel, por meio da resposta de força aplicada versus
deslizamento, podendo, assim, determinar a resistência característica dos parafusos
autoatarraxantes ensaiados, bem como classificar seu comportamento quanto à
ductilidade quando conectados às placas de OSB e ao reticulado metálico do sistema
LSF;
c. Calibração da equação proposta por Vitor [15] ou proposição de outra equação que
seja mais adequada para a diagonal equivalente, com base nos resultados de ensaios
realizados no Brasil e com placas de OSB também fabricadas no Brasil, ou seja,
resultados de ensaios realizados na presente pesquisa.
Com essa calibração, a equação da diagonal equivalente terá validade para todos os
ângulos compreendidos entre 30o e 60o formados pela diagonal com o plano horizontal
e não só nestes limites. Essa diagonal com seção circular terá diâmetro equivalente
para proporcionar ao painel a mesma rigidez quando contraventado com o OSB.
d. Contribuição para a elaboração de norma técnica brasileira relacionada às placas de
OSB com função estrutural, inclusive como componente do painel de
contraventamento do Sistema Construtivo LSF;
A utilização do OSB no painel de cisalhamento, com base técnica e cientificamente
comprovada por meio da presente pesquisa, constitui uma contribuição inovadora da presente
pesquisa para a construção civil brasileira.
O impacto tecnológico esperado está diretamente relacionado à área de construção
civil onde as soluções no Sistema Light Steel Framing podem ser aplicadas.
Os resultados poderão ser utilizados diretamente no projeto de norma brasileira
relacionada às placas de OSB com função estrutural e na revisão da norma ABNT NBR
14762:2010 [16] - Dimensionamento de Estruturas de Aço Constituídas por Perfis Formados a
Frio, proporcionando a utilização conjunta mais racional dos perfis formados a frio com as

13
placas de OSB, principalmente como componentes do painel de contraventamento do Sistema
Construtivo LSF.

Agradecimentos
Os autores agradecem ao Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Estruturas
(PROPEEs) da Universidade Federal de Minas Gerais e ao apoio financeiro em forma de
fomento à pesquisa concedido pela FAPEMIG (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de
Minas Gerais) e pela CAPES (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior).

REFERÊNCIAS

1 Bevilaqua R. Estudo Comparativo do Desempenho Estrutural de Prédios Estruturados em


Pefis Formados a Frio Segundo os Sistemas Aporticado e Light Steel Framing. Belo
Horizonte. Dissertação [Mestrado em Engenharia de Estruturas] – Escola de Engenharia
da Universidade Federal de Minas Gerais; 2005.

2 Rodrigues FC. Manual de Construção em Aço. Steel Framing: Engenharia. Rio de Janeiro:
Centro Brasileiro da Construção em Aço (CBCA); 2006.

3 Consul Steel. Manual de Procedimiento: Construcción com Steel Frame. Buenos Aires;
2002.

4 Schafer BW, Hiriyur B. Analisys of Sheathed Cold-Formed Steel Wall Studs. Sixteenth
International Specialty Conference on Cold-Formed Steel Structures; 2002, 17-18 de
Outubro; Orlando, Florida, Estados Unidos; 2002.

5 Bredel DH. Performance Capabilities of Light-Frame Shear Walls Sheathed With Long OSB
Panels. Virginia. Dissertação [Mestrado em Engenharia Civil] – Polytechinic Institute and
State University; 2003.

6 Mendes LM, Iwakiri S, Matos JL, Keinert S, Saldanha LK. Pinus sp. Na Produção de Painéis
de Oriented Strand Board (OSB). Ciência Florestal, 12 (2); 2002. p. 135-145.

7 American Society for Testing and Materials - ASTM D3043-00 (Reapproved 2011).
Standard Test Methods for Structural Panels in Flexure. Estados Unidos; 2000.

8 American Society for Testing and Materials - ASTM D2719-13. Standard Test Methods for
Structural Panels in Shear Through-the-Thickness. Estados Unidos; 2013.

9 Dias GL, Santos AC, Lima AL, Szücs CA. Determinação de Propriedades Mecânicas do OSB.
IX Encontro Brasileiro em Madeiras e em Estruturas de Madeira; 2004, julho; Cuiabá, M.T.,
Brasil; 2004.

10 Bastos EF. Caracterização Física e Mecânica de Painel de OSB do Tipo FORM. Campinas.
Dissertação [Mestrado em Engenharia de Estruturas] – Faculdade de Engenharia Civil,
Arquitetura e Urbanismo da Universidade Estadual de Campinas; 2009.

14
11 EM 1994-1-1:2004. Eurocode 4: Design of Composite Steel and Concrete Structures, Part
1.1: General Rules and Rules for Buildings. European Committee for Standardization.
Brussels, Belgium; 2004.

12 Fuentes S, Fournely E, Pitti RM, Bouchair A. Impact of Semi-rigid of Hoint on Timber


Composite Truss Beam. Conference Proceedings of Society Experimental Merchanics
Series, v. 6; 2014.

13 American Iron and Steel Institute. Monotonic Tests of Cold-Formed Steel Shear Walls With
Openings. Marlboro, Estados Unidos; 1997.

14 Tian YS, Wang J, Lu TJ. Racking Strength and Stiffness of Cold-Formed Steel Wall Frames.
Journal of Constructional Steel Research, 60; 2004. p. 1069-1093.

15 Vitor RO. Modelagem Numérica de Diagonais Equivalentes em Painéis de Cisalhamento do


Sistema Light Steel Framing. Belo Horizonte. Dissertação [Mestrado em Engenharia de
Estruturas] - Escola de Engenharia da Universidade Federal de Minas Gerais; 2012.

16 Associação Brasileira de Normas Técnicas - ABNT NBR 14762:2010. Dimensionamento de


Estruturas de Aço Constituídas por Perfis Formados a Frio. Rio de Janeiro; 2010.

15
Tema: Construções Leves Estruturadas em Aço

SISTEMAS MODULARES EM AÇO:

A SOLUÇÃO PARA O PROBLEMA HABITACIONAL

Mario Aparicio1
2
Juan José Zubia Soldevilla
3
Estibaliz Bengoetxea

Resumo

No mundo inteiro, assim como no Brasil, existe um grande problema habitacional. Isto
acontece devido a várias circunstâncias: incremento da emigração das áreas rurais e mais
pobres às cidades, catástrofes naturais, dificuldades para desenvolver políticas de habitação
social. Todos estes problemas causam um enorme déficit habitacional desde há décadas. A
origem do nosso projeto está na inovação, na vontade de solucionar estes problemas
habitacionais, com a concepção e desenho de uma moradia simples e economicamente
viável, e, ao mesmo tempo, duradoura, de qualidade, rápida de fabricar, fácil de transportar
e montar. Uma moradia que garanta as necessidades básicas de uma família em qualquer
lugar do mundo. Este projeto inclui também a construção de outros prédios essenciais, como
escolas e hospitais. O sistema construtivo, feito todo em aço e calculado através de
programas específicos de cálculo de elementos finitos, é baseado num sistema viga-pilar,
com perfis de desenho patenteado, e painéis tipo sanduíche nas paredes e no teto, o que
permite ter um total conforto térmico e acústico. Os materiais de revestimento podem ser
diversos, sempre optando por aqueles que valorizem a moradia tanto em termos de conforto
interior, quanto em termos estéticos. Além do conforto, o sistema garante uma durabilidade,
equivalente à dos materiais tradicionais.

Palavras-chave: Problema habitacional; Sistemas construtivos; Soluções modulares;


Construção em aço.

1
Arquitecto superior por la Universidad Politécnica de Madrid (09/1993),habiendo ejercido su actividad
profesional por libre, desde entonces en Cantabria, Vizcaya y Madrid.
2 Arquitecto superior por la Universidad Politécnica de Madrid (07/1991), habiendo ejercido su
actividad profesional por libre, desde entonces en Cantabria, Vizcaya, Málaga y
Madrid.
3
Licenciada en LADE y Derecho por la Universidad Pública de Navarra (2008) y especialista en comercio
exterior
________________________________
* Contribuição técnica ao Construmetal 2014 – Congresso Latino-Americano da Construção
Metálica – 02 a 04 de setembro de 2014, São Paulo, SP, Brasil.
1
Tema: Construções Leves Estruturadas em Aço

SISTEMAS MODULARES EN ACERO:

LA SOLUCIÓN PARA EL PROBLEMA HABITACIONAL

Mario Aparicio
Juan José Zubia Soldevilla
Estibaliz Bengoetxea

Resumen

En el mundo entero, incluyendo Brasil, existe un gran problema habitacional. Existen varias
razones: incremento de la emigración de las áreas rurales y más pobres a las ciudades,
catástrofes naturales, dificultades para desarrollar políticas de vivienda social. Todos estos
problemas causan un enorme déficit habitacional desde hace décadas. El origen de nuestro
proyecto está en la innovación, en las ganas de solucionar estos problemas de vivienda, con
la concepción y desarrollo de una vivienda simple y económicamente viable, y, al mismo
tiempo, duradera, de calidad, rápida de fabricar, fácil de transportar y montar. Una vivienda
que garantice las necesidades básicas de una familia en cualquier lugar del mundo. Este
proyecto incluye también la construcción de otros edificios esenciales como escuelas y
hospitales. El sistema constructivo, es todo de acero y calculado a través de programas
específicos programas específicos de cálculo de elementos finitos, se basa en un sistema
viga-pilar, con perfiles de diseño patentado, y paneles tipo sándwich en las paredes y tejado,
lo que permite obtener un total confort térmico y acústico. Los materiales de revestimiento
pueden ser diversos, siempre optando por aquellos que valoricen la vivienda tanto a nivel de
confort interior, cuanto a nivel estético. Además del confort, el sistema garantiza un
durabilidad, equivalente a la de materiales tradicionales de la construcción.

Palabras clave: Problema habitacional; Sistemas constructivos; Soluciones modulares;


Construcción en acero.

________________________________
* Contribuição técnica ao Construmetal 2014 – Congresso Latino-Americano da Construção
Metálica – 02 a 04 de setembro de 2014, São Paulo, SP, Brasil.
2
1.INTRODUCCIÓN
El problema habitacional en los suburbios de grandes ciudades, de países en vías de desarrollo
y en países subdesarrollados es un problemas que la sociedad debe de afrontar con la
colaboración de diferentes actores (gobierno, instituciones, empresas). La falta de vivienda
produce problemas graves de carácter social, político y humano. Existe en el mundo una fuerte
necesidad de crear modelos de producción con capacidad de generar viviendas suficientes, en
condiciones razonables de economía, dignidad y durabilidad. Basándonos en principios de
sostenibilidad y conservación del medio natural hemos desarrollado unos sistemas de
viviendas adaptables a cualquier entorno y familia.

El proyecto que vamos a explicar a continuación se realiza a petición del Ayuntamiento de Kribi
para dar solución a la construcción de un mercado en la ciudad sustituyendo a un mercado que
recientemente sufrió un siniestro por incendio. Kribi es una ciudad costera del sur de Camerún
con una población estimada de 55.400 personas, desde el máximo respeto a su cultura y
medio natural.

Partiendo de la información recibida donde aparecen las zonas de implantación de puestos de


venta y sin conocimiento del entorno, se ha propuesto un conjunto que dé respuesta a las
necesidades planteadas.

Este planteamiento de intervención que sigue rigurosamente los principios comentados,


vamos a explicar los sistemas habitacionales basados en perfiles metálicos de acero y paneles
sándwich para otorgar una solución tanto para crear un nuevo mercado como para crear toda
una ciudad alrededor de éste, solucionando el problema habitacional y de falta de dotaciones
públicas de Kribi.

3
2.PROYECTO NUEVA CIUDAD EN KRIBI

2.1. URBANIZACIÓN

El desarrollo urbanístico de las ciudades siempre ha sido un desafío para los arquitectos y

autoridades, puesto que hay que adaptarlo al día a día de la población y adecuarlo a la cultura

de cada lugar y a su forma de vivir. Anchos viales suficientes para el tránsito, dando lugar a

situaciones que otorguen diversidad a esta nueva ciudad considerando la importancia de

espacios públicos abiertos en los que puedan surgir pequeños mercados y áreas de juego.

Consideramos también importante la implantación de espacios dotacionales como escuelas,

centros médicos, mercados, etc., que cubran las necesidades mínimas en función de la

densidad de su población.

Para desarrollar el Proyecto Kribi se han contemplado las siguientes variables de diseño:

- Diseño adecuados de las calles.

- Dotaciones mínimas por implantación.

- Tipologías de viviendas diversas para satisfacer a todos los modelos de familia.

- Creación de espacios verdes , de reunión y ocio.

- Integración socio-cultural de las viviendas.

- Consideración medio ambiental en todas las propuestas.

- Incorporación de las tecnologías de energías renovables.

- Mejoras en cuanto a sostenibilidad y ahorro energético.

- Accesibilidad económica a la vivienda familiar.

Las implantaciones urbanas ordenadas son necesarias para consolidar un crecimiento

equilibrado y sostenible.

Figura 1: ejemplo de implantación urbana

4
2.2. VIVIENDAS

Uno de los desafíos del mundo actual es crear viviendas suficientes, en condiciones razonables
de economía, dignidad y durabilidad.

Las viviendas propuestas en el proyecto son viviendas sencillas duraderas, de excelente calidad
y precio ajustado, debido a un exhaustivo control del proceso de producción, que minimiza los
costes y que consigue elementos fáciles de transportar y montar.

La vivienda está compuesta por unas estructura de acero galvanizado y plegado, con
cerramientos de fachadas y techos compuestos a partir de paneles sándwich que aportan al
conjunto un alto rendimiento térmico y acústico.

2.2.a- TIPOLOGÍA ESTRUCTURAL

La estructura que sustenta la vivienda se compone de un sistema viga-pilar a partir de distintos


perfiles conformados en frío de acero galvanizado en chapa plegada de acero de 2 mm de
espesor. Los perfiles estructurales tienen un diseño patentado propio, dando solución tanto a
la estructura como al alojamiento de las diferentes instalaciones de la vivienda.

El conjunto de la vivienda se anclará con tacos técnicos a una solera ya existente mediante una
placa de anclaje en la base de los pilares. El sistema estructural resultante es un sistema
articulado mediante atornillado de los diferentes elementos que lo componen.

Figura 2: Esquema sistema modular

5
El diseño de las estructura permite que el conjunto quede arriostrado en todas sus direcciones,
garantizando con el adecuado dimensionado la estabilidad de la construcción.

2.2.b- DISEÑO ESTRUCTURAL

Los pilares que soportan el conjunto están localizados en el perímetro de la edificación


formando parte del cerramiento y relacionados entre sí mediante un bastidor de base y otro
de cubierta que dan unidad estructural al conjunto.

La cubierta se resuelve a dos aguas a través de una viga de cumbre apoyada en el bastidor de
coronación, formando el resto de los faldones los propios paneles metálicos autoportantes.

2.2.c- MÉTODO DE CÁLCULO

Los cálculos de la estructura se llevan a cabo mediante programas específicos de cálculo de


elementos finitos, como el ANSYS. El cálculo de las acciones que actúan sobre la estructura se
ha realizado tomando como base las especificaciones del Código Técnico de la Edificación.

Para el cálculo de los esfuerzos (momentos flectores, esfuerzos cortantes y axiles) se han
utilizado las teorías de la mecánica, por tratarse de estructuras estáticamente determinadas. El
método de cálculo aplicado es de los Estados Límites, en que se pretende limitar que el efecto
de las acciones exteriores ponderadas por unos coeficientes, sea inferior a la respuesta de la
estructura, minorando la resistencias de los materiales. En los Estados Límites últimos se
comprueban los correspondientes a: equilibrio, agotamiento o rotura, adherencia, anclaje y
fatiga. En los Estados Límites de utilización. se comprueba: deformaciones(flechas) y
vibraciones.

Se emplea el método de compatibilidad de desplazamientos de los apoyos de las vigas sobre


los pilares, considerando éstos empotrados en la zapata.

Se han utilizado unos métodos especiales de dimensionado mediante programas de cálculo


por elementos finitos en tres dimensiones por métodos matriciales de rigidez, formando las
barras los elementos que definen la estructura: pilares, vigas brochales y nervios. Se establece
la compatibilidad de deformación en todos los nudos considerando seis grados de libertad y se
crea la hipótesis de indeformabilidad de cada plano de la vivienda.

La limitación de flecha activa establecida en general es de 1/500 de luz. El desplome total


límite en cuanto a desplazamientos horizontales es de 1/500 de la altura total.

2.2.d- BASTIDOR BASE

El perfil patentado "NVM0022" está formado en acero conformado en frío en chapa


galvanizada, perfil con la configuración determinada, que nos permite anclar la casa a la solera
de hormigón (ya existente) mediante tacos técnicos. El mismo perfil canaliza el sistema
eléctrico gracias a su configuración.

6
2.2.e- BASTIDOR CUBIERTA

Formado por perfiles conformados en frío en chapa galvanizada en su perímetro, el perfil


patentado "NVM0025", viga maestra en cumbre.

2.2.f- CERRAMIENTO Y TABIQUERÍA

La fachada y la tabiquería se componen de paneles desmontables tipo sándwich


machihembrados entre sí, acabados en chapa galvanizada, micro perfilado y prelacado en
poliéster silicona color RAL9002. El aislamiento es a base de poliuretano inyectado de densidad
40kg/m3, dando un espesor total de 60mm. La espuma de poliuretano tiene una baja
conductividad, con lo que se asegura el aislamiento y confort térmico. Son paneles ligeros,
entre 9-20kg/m2, lo que facilita su transporte, manipulación y montaje. Además, la
estanqueidad, tanto al aire como a la humedad, que se consigue con el sistema sándwich evita
la degradación del aislante y lo convierten en un material duradero.

En tabiquería, estos paneles van anclados mediante perfiles de aluminio lacado blanco sujetos
a piso y techo.

2.2.g- CUBIERTA

La cubierta con la configuración a dos aguas, está formada por panel sándwich especial para
cubiertas, machihembrados entre sí, acabados en chapa galvanizada, micro perfilado y
prelacado en poliéster silicona color rojo teja. El aislamiento es el mismo a base de poliuretano
inyectado, con sus extremos rematados.

2.2.h- CARPINTERÍA EXTERIOR E INTERIOR

La carpintería en cuanto a puertas de exterior e interior, está realizada en perfiles de acero


lacado blanco, con manilla y retenedor la exteriores y pomo las interiores. Las correderas y
acristalamiento con vidrio de 4 mm, con montaje de marco y contramarco, de medidas
aproximadas 1,05m de ancho por 1,20 m de alto. En los aseos se instalan ventanas realizadas
en el mismo material con una hoja batiente vertical y acristalamiento con vidrio de 4 mm, de
medidas aproximadas 0,60m de ancho x 1,20m de altura, cristal translucido con montaje de
marco y contramarco (contra-ventanas, mosquiteras y rejas opcionales).

2.2.i- TRANSPORTE Y MONTAJE

Es un sistema leve y fácil de transportar. Todo el proceso incluye la instalación de electricidad y


fontanería y es transportada en un KIT con todos los elementos necesarios.

El montaje es muy simple y rápido, una vivienda de 60m2 puede ser montada por un equipo de
3 personas en 180h.

7
2.3. TIPOS DE VIVIENDAS

Este sistema nos permite obtener varios modelos de viviendas modulares, adaptándose a las
necesidades de cada local y de las familias. Estos modelos ofrecen la posibilidad de ampliar o
disminuir el tamaño de las viviendas en función de sus habitantes.

 Hábitat 79 EVO

Figura 3: planta modelo Hábitat 79 EVO

Figura 4: iconográfico modelo Hábitat 79 EVO

8
 Hábitat 73 EVO DÚO

Figura 5: iconográfico modelo Hábitat 73 EVO DÚO

Figura 6: plano de planta. Cotas y superfícies Hábitat 73 EVO DÚO

9
 Hábitat 66 EVO

Figura 7: planta modelo Hábitat 66 EVO

Figura 8: iconográfico Hábitat 66 EVO exterior

10

 Hábitat 53 EVO

Figura 9: planta modelo Hábitat 53 EVO

 Hábitat 40 EVO

Figura 10: planta modelo Hábitat 40 EVO

11
 Hábitat 53 EVO VS
Figura 11: planta modelo Hábitat 53 EVO VS

Figura 12: iconográfico modelo Hábitat 53 EVO VS exterior

12
2.4. DOTACIONES
Resulta indispensable la integración de dotaciones mínimas que satisfagan las necesidades de
la ciudad.

Esas dotaciones abarcan la creación de escuelas, centros de salud, bibliotecas o mercados. En


general, todo aquello que mejore el día a día de sus ciudadanos ofreciéndoles servicios a unas
distancias aceptables.

Con la misma solución modular empleada en las viviendas basado en el sistema de vigas de
acero y paneles sándwich, se pueden desarrollar diversas instalaciones:

- ESCUELA

La educación es la base de la sociedad y por eso es necesario y un punto clave cuidar de los
más pequeños de las sociedad, formándoles y ofreciendo así un mejor desarrollo futuro.

Esta escuela desarrollada con el sistema modular puede albergar hasta 250 alumnos, con todas
las necesidades cubiertas (aulas, sala de profesores, aseos, comedor, etc.)

Figura 13: plano de planta de la escuela y fotografías

13
- CENTRO DE SALUD

La atención sanitaria es un bien preciado que debería ser de acceso de todos los integrantes de
esta nueva ciudad, sin restricciones de distancias ni de espacio, un centro de salud capaz de
dar atención médica de primera calidad. El aislamiento del panel sándwich permite crear
ambientes de "salas limpias".

Este modelo tiene un total de 140m2 y consta de una consulta médica, sala de observación,
dispensario médico y una sala de curas, así como sala de espera y aseos.

Figura 14: plano de planta del centro de salud y alzado frontal

- MERCADO

Figura 15: iconográfico del mercado de Kribi y planta de distribución de las tiendas

14
- BIBLIOTECA

Figura 16: plano de planta de la biblioteca

15
3. CONCLUSIÓN

En los puntos anteriores se ha demostrado como a partir de un sistema modular basado en


perfiles metálicos de acero y paneles sándwich pueden realizarse las diferentes edificaciones
que componen una ciudad, desde una unidad habitacional simple de 40m 2 hasta una escuela o
un mercado, respetando siempre la cultura local y el medio ambiente y adaptados a cualquier
entorno y familia.

Con el proyecto del mercado de Kribi se pretende que el edificio proyectado sea un hito en la
ciudad y genere la ordenación paulatina de la trama urbana próxima convirtiendo el espacio en
un lugar de encuentro en el referente de una actividad salubre, segura y más productiva,
siempre desde unos parámetros de economía y practicidad, añadido a una calidad duradera y
un bajo costo de mantenimiento.

4.BIBLIOGRAFÍA

Internet:
- www.habiteck.es
- www.codigotecnico.org

16
Congresso Latino-Americano da Construção Metálica

CONSTRUMETAL 2014

Contribuições Tecnocientíficas

Parte 3

– Estruturas de Aço e Mistas de Aço e Concreto –
Tema: Ação dinâmicas produzidas pelo vento em estruturas de aço

AÇÕES DINÂMICAS PRODUZIDAS PELO VENTO NO PROJETO DE ESTRUTURAS DE AÇO

Diogo Wellington Cappellesso dos Santos¹


Zacarias Martin Chamberlain Pravia2

Resumo
Uma das alternativas para determinar as ações devidas ao vento é o método estático
apresentando pela norma brasileira ABNT 6123, que considera os efeitos meteorológicos, de
terreno e de dimensões da edificação. Além disso, os coeficientes aerodinâmicos tais como
coeficientes de pressão interna e externa também devem ser considerados, coeficientes esses
que majoram ou minoram as ações do vento conforme as características da estrutura
analisada. Entretanto, algumas estruturas apresentam alta sensibilidade a componente
dinâmica flutuante do vento. Segundo a ABNT NBR 6123:1988, edificações com período
fundamental superior a um segundo, em particular aquelas fracamente amortecidas, podem
apresentar uma importante resposta flutuante na direção do vento médio. A resposta
dinâmica deve ser calculada segundo outras especificações e equações, que diferem daquelas
tradicionalmente utilizadas no método estático. Por outro lado, a norma americana ASCE 7-10
considera a importância da flexibilidade de estrutura, e estabelece equações para definição da
frequência natural aproximada para diferentes tipos de estrutura, e admite-se uma nova
pressão de velocidade. Sendo assim, os novos valores obtidos, para diferentes velocidades
básicas de vento, devem ser comparados com os métodos estáticos Neste trabalho os
procedimentos da ABNT NBR 6123 e da ASCE 7:10 são discutidos e aplicados a um exemplo de
edificação esbelta, de maneira a avaliar as considerações necessárias ao projeto, finalmente
observações para a correta consideração dos efeitos dinâmicos devidos ao vento são
discutidas.

Palavras-chave: Forças devido ao vento; dinâmica; estruturas de aço.

DYNAMIC WIND ACTIONS IN STEEL STRUCTURES DESIGN

Abstract
One of the alternatives to determine the actions caused by wind is the equivalent static
method as defined by the Brazilian ABNT 6123, which include the meteorological effects of
wind, characteristics of obstacles in the vicinity of the building. In addition, the aerodynamic is
considered through internal and external pressure coefficients, from tunnel wind tests, and
these coefficients define the forces due to wind. However, some structures have high
sensitivity to dynamic component of the wind. According to ABNT NBR 6123: 1988, buildings
with fundamental period of more than one second, in particular those weakly damped, may
present an important fluctuant response due to the wind. The dynamic response must be
________________________________
* Contribuição técnica ao Construmetal 2014 – Congresso Latino-Americano da Construção
Metálica – 02 a 04 de setembro de 2014, São Paulo, SP, Brasil.
1
calculated according to other methods, which differ from those traditionally used in the static
method. The ASCE 7-10 considers the importance of flexibility of the structure and establishes
formulae’s for approximate natural frequency for different kinds of structure, and assume a
new velocity. Thus, the new values obtained for different basic wind speeds, must be
compared with the static methods. In this work procedures of ABNT NBR 6123 and ASCE 7:10
are discussed and applied to a slender buildings examples, in order to evaluate the
considerations necessary for the project, remarks for the correct consideration of the dynamic
effects due to the wind are summarized.

Keywords: Wind actions; Dynamics, steel structures.

¹ Graduando, Engenharia Civil, Universidade da Passo Fundo, Passo Fundo, Rio Grande do Sul, Brasil.
2
D.Sc. Engenharia Civil, Programa de Pós graduação engenharia civil e ambiental, Universidade da Passo
Fundo, Passo Fundo, Rio Grande do Sul, Brasil.

2
1 INTRODUÇÃO

O ar é um fluido contido na camada atmosférica. O movimento das massas de ar em certa


velocidade é conhecido como vento. As edificações são como blocos inseridos neste fluído, na
camada limite da atmosfera, em contato com a crosta terrestre. Esse movimento de massas de
ar em contato com as edificações gera pressões. Estruturas apresentam resposta dinâmica a
certas ações pelas suas próprias características. Cargas de equipamentos e veículos, por
exemplo, são exemplos de ações dinâmicas. A ABNT NBR 6123:1988, forças devido ao vento
em edificações, diz que em alguns tipos de estruturas, deve-se considerar o cálculo da resposta
dinâmica da edificação sob excitação do vento. As ações consideradas dinâmicas pela ASCE 7-
10 dependem de uma frequência natural e da sensibilidade dinâmica da estrutura.

1.1 Objetivo

O estudo tem como principal objetivo desenvolver um estudo comparativo entre os efeitos
estáticos e dinâmicos devido as ações do vento, baseado nas prescrições da ABNT NBR 6123 e
ASCE 7-10. Para isso serão definidos os fluxos de processos para determinação das ações
devidas ao vento pelos métodos estático equivalente e dinâmico simplificado segundo NBR
6123 e para determinação dos coeficientes de amplificação dinâmica segundo ASCE 7-10.

1.2 A natureza do vento

A atmosfera ao ser perturbada, tende naturalmente para o movimento, originando aquilo que
se convenciona chamar de vento. Estas perturbações são constituídas fundamentalmente por
gradientes de pressões que resultam de aquecimentos diferenciais em diferentes locais. Tais
desiquilíbrios, provocados por fenômenos termodinâmicos, tornam a atmosfera instável,
obrigando esta a uma procura incessante de equilíbrio originando as circulações atmosféricas.
(VASCONSELOS LOPES,1992)

1.3 Aerodinâmica das construções

As estruturas correspondem a obstáculos submersos na camada limite atmosférica. O vento


em contato com a superfície de um dado objeto, tende a força-lo juntamente com ele. As
pressões dinâmicas definidas nas regulamentações, são na verdade tensões normais por
unidade de área originadas por um dado escoamento. (BLESSMANN, 1990)

1.4 Forças dinâmicas devido ao vento segundo NBR 6123:1988

Edificações com período fundamental superior a um segundo, em particular aquelas


fracamente amortecidas, podem apresentar uma importante resposta flutuante na direção do
vento médio. A resposta dinâmica deve ser calculada segundo outras especificações e
equações.

1.5 Forças dinâmicas devido ao vento segundo ASCE 7-10

3
A ASCE 7-10 considera a importância da flexibilidade da estrutura. Para determinar se um
edifício ou estrutura é rígido ou flexível, a frequência natural fundamental, será estabelecida
usando as propriedades estruturas e de deformação característica dos elementos.

2 MATERIAIS E MÉTODOS

2.1 Descrição das estruturas analisadas e dos métodos de dimensionamento

O estudo apresentará duas edificações de distintas utilidades, estruturadas em aço, em que o


período fundamental da estrutura seja superior a um segundo. Descritas a seguir, as estruturas
foram analisadas e dimensionadas estaticamente, atendendo os limites últimos e de uso,
verificando a sua estabilidade e resistência. A partir disso, define-se o local da construção das
mesmas para que as propriedades de terreno e velocidade básica sejam idênticas.

A primeira estrutura analisada, é uma adaptação de uma usina de beneficiamento de cana de


açúcar. Estruturada em aço com ligações predominantemente soldadas a mesma possui cargas
de equipamentos consideráveis. A modelagem, aplicação de cargas e dimensionamento foram
realizados no CSI SAP 2000 V16.0. Para cálculo provisório do período fundamental, a estrutura
foi submetida a carregamentos de vento calculados conforme método estático da ABNT NBR
6123:1988. A seguir, apresenta-se o modelo matemático 3D da estrutura que a partir deste
momento será nomeada de edifício de processo.

Figura 01: Modelo matemático 3D – Edifício de processos.

4
Com pórticos em um dos sentidos horizontais, e contido lateralmente no outro, o edifício
possui 22,5m, divididos em 3 módulos de 7,5m, em sua maior direção horizontal, e 8,5m em
sua menor direção horizontal. A altura total do edifício é de 21,5m. Predominantemente
formada por perfis laminados do tipo W (laminado de abas largas) a estrutura é utilizada para
apoio e manutenção de silos e equipamentos auxiliares.

O dimensionamento automático realizado pelo SAP 2000, atende os princípios da norma


americana ANSI/AISC 360-05, definidos para o método dos estados limites LRFD. As
deformações máximas estão de acordo com os limites apresentados pela ABNT NBR 8800 e a
NORMA ANSI/AISC 360:05.

Posteriormente, realiza-se a análise modal, com auxílio do mesmo software (SAP 2000), a
verifica-se a frequência natural fundamental e o período fundamental da estrutura nos seus
diversos graus de liberdade. A imagem a seguir representa a deformação da estrutura em seu
primeiro modo de vibração, o qual representa o período fundamental superior a um segundo.

Figura 02: Modo de vibração 01: Período fundamental > 1s

5
A segunda estrutura analisada foi proposta com altura para que o período da estrutura ficasse
acima de 1 segundo. Trata-se de uma torre que pode ser usada para suporte de equipamentos
de telecomunicação ou então para suporte de equipamentos leves. Estruturada em aço com
ligações predominantemente soldadas. A modelagem, aplicação de cargas e dimensionamento
foram realizados no CSI SAP 2000 V16.0. Para cálculo provisório do período fundamental a
estrutura foi submetida a carregamentos de vento calculados conforme método estático da
NBR 6123:1988. A seguir apresenta-se modelo matemático da estrutura 3D que a partir deste
momento será chamada de torre metálica.

Figura 03: Modelo matemático 3D – Torre metálica

Com pórticos rígidos em um dos sentidos horizontais, e contenções alterais no outro, o edifício
possui 12m, divididos em dois módulos de 6m, em sua maior direção horizontal, e 6m em sua
menor direção horizontal. A altura do edifício é de 50m. Predominante formado por perfis
laminados do tipo W.

6
O dimensionamento automático realizado pelo SAP 2000, atende os princípios da norma
americana ANSI/AISC 360-05, definidos para o método dos estados limites LRFD. As
deformações máximas estão de acordo com os limites apresentados pela ABNT NBR 8800.

Posteriormente, realiza-se a análise modal, com auxílio do mesmo software (SAP 2000), a
verifica-se a frequência natural fundamental e o período fundamental da estrutura nos seus
diversos graus de liberdade. A imagem a seguir representa a deformação da estrutura em seu
primeiro grau de liberdade, o qual apresenta período fundamental superior a um segundo.

Figura 04: Modo de vibração 01: Período fundamental > 1s

7
2.2 Cálculo pelo método estático segundo ABNT NBR 6123:1988

2.2.1 Edifício de processos

Naturalmente, o vento é uma ação dinâmica. As indicações das normativas nada mais fazem
que transformar esta ação dinâmica em uma ação estática equivalente. (MARTINS VIEIRA,
2013). A NBR 6123:1988 define parâmetros para o cálculo da pressão estática equivalente,
denominada q, parâmetros esses que dependem basicamente da localização da estrutura, do
relevo do terreno em que ela está inserida, das suas dimensões e do seu uso.

Logo, segundo a NBR 6123, q pode ser definido pela seguinte equação. (Equação 1):

= 0,613 ² (1)
Onde:
q é a denominada pressão estática equivalente;
vk é a velocidade caraterística do vento.

A velocidade característica do vento, Vk, depende dos conhecidos fatores S1, S2 e S3 e da


velocidade básica do vento.

Define-se então, que ambas as estruturas serão construídas na cidade de Passo Fundo, no
norte do estado do Rio Grande do Sul. Para definição da velocidade básica do vento Vo, é
necessária análise do mapa das isopletas do vento apresentado na NBR 6123:1988. A
velocidade básica indicada para a região de Passo Fundo é de 45m/s.

Segundo a NBR 6123:1988 o fator topográfico S1 é diferenciado para três situações. Ambos os
edifícios estudados serão construídos em terreno plano ou fracamente acidentado, o que
significa que o fator S1 será igual a 1,0.

O fator combinado S2, depende de três fatores. Da rugosidade do terreno, das dimensões da
edificação e da altura da edificação sobre o terreno. A rugosidade do terreno é classificada em
5 categorias. Os edifícios considerados serão construídos sobre terrenos abertos em nível ou
aproximadamente em nível, com poucos obstáculos isolados. Isso define a categoria de
rugosidade II. As dimensões da edificação foram citadas no item anterior deste artigo, sendo
assim, pode-se definir os parâmetros b, p e Fr e que a edificação pertence a classe B. Conforme
a equação a seguir, (Equação 2) obtém-se o 1,05 como fator S2 para o edifício de processos.

2= × × ( ) (2)

O fator estatístico S3, é baseado em conceitos estatísticos e considera o grau de segurança


requerido a vida útil da edificação. Os valores de S3 são indicados na NBR 6123, e de acordo
com o uso do edifício estudado deve ser tomado com 1,0, para edificação industrial com alto
fator de ocupação.

Logo, Vk é definido por (Equação 3).

8
= × 1 × 2 × 3 (3)

Onde: Vo é a velocidade básica do vento, 45m/s;

S1 é o fator topográfico, 1,0;

S2 é o fator combinado, 1,05;

S3 é o fator estatístico, 1,0;

= 47,25 /

Então, se q é definido pela equação 1, temos:

= 1368 / ²

2.2.2 Torre metálica

Para possibilitar a comparação dos resultados, a torre metálica será construída em local
idêntico ao do edifício de processos. Portanto, segundo as explicações dadas no item 2.2.1
deste artigo, define-se a velocidade básica do vento de 45m/s e que os fatores S1 e S3 são
iguais a 1,0. Entretanto, pela diferença de altura verificada entre as duas estruturas, o fator
combinado S2, definido a partir da equação 2 é de 1,13.

Com isso, os valores de Vk e q podem ser apresentados a seguir:

= 50,85 /

= 1585 / ²

2.3 Cálculo pelo método estático segundo ASCE 7-10

Semelhantemente a NBR 6123, a ASCE 7-10 também converte a ação dinâmica natural do
vento em uma pressão estática equivalente. Para isso, são necessárias definições da
velocidade básica do vento, do fator de direcionalidade do vento, Kd. Além disso, a normativa
exige a definição da rugosidade superficial e da categoria de exposição do terreno. O fator
topográfico kzt, e os coeficientes de pressão e exposição de velocidade complementam o
cálculo.

2.3.1 Edificio de processos

Primeiramente, salienta-se que os locais e terrenos das obras continuam idênticos. Portanto é
necessária mais uma vez, para definição da velocidade básica, a utilização do mapa das
isopletas da NBR 6123:1988. Logo, serão obtidos os 45m/s para região de Passo Fundo no
estado do Rio Grande do sul. A partir disso, o fator de direcionalidade kd, deve ser definido

9
segundo o item 26.6 da ASCE 7-10. Para o edifício de processos teremos o fator de
direcionalidade Kd igual a 0,85, conforme definido na tabela 26.6-1 da ASCE 7-10. Depois disso,
foram definidas as denominadas categorias de risco, de exposição e rugosidade do terreno.
Estes mesmos fatores estão definidos da seguinte maneira.

Rugosidade da superfície: B: ASCE 7-10 seção 26.7.2: Define-se como rugosidade da superfície
do tipo B, áreas urbanas e suburbanas, áreas de florestas ou terrenos com numerosas
obstruções pouco espaçadas entre si com dimensões de residências ou superiores.

Categoria de exposição: C: ASCE 7-10 seção 26.7.3: A categoria de exposição C, deve ser
aplicada quando as características do edifício não se enquadram nas definidas nos grupos B e
D. O grupo B engloba edifícios cuja maior altura seja menor ou igual a 9,1m, o que não é o caso
de nenhuma das estruturas estudadas neste artigo. O grupo D engloba edifícios que estejam
inseridos e áreas com rugosidade da superfície do tipo D.

O fator topográfico Kzt, é muito semelhante ao fator S1 da NBR 6123:1988. Portanto segundo
figura 26.8-1 da ASCE 7-10, para ambas as estruturas, Kzt é igual a 1,0.

O coeficiente de exposição de velocidade Kz, para o edifício de processos, é de 1,17.

Portanto, pode-se definir a pressão de velocidade, que é equivalente a pressão estática


equivalente da NBR 6123, pela seguinte equação. (Equação 4).

= 0,613 ∗ ∗ ∗ ²
Onde:

Kz = 1,17
Kzt = 1,0
Kd= 0,85
V = 45m/s

Portanto:

= 1235 / ²

2.3.2 Torre metálica

Para permitir a comparação entre os resultados, os coeficientes e parâmetros que dependem


de local e terreno serão os mesmos do edificio de processos. Entretanto, o coeficiente de
exposição de velocidade, que também depende das dimensões da estrutura será igual a 1,398.

Logo:

Kz = 1,398
Kzt = 1,0
Kd = 0,85

10
V = 45m/s
= 1475 / ²
2.4 Cálculo pelo método dinâmico simplificado segundo NBR 6123:1988

O item 9.3.1 da NBR 6123 define uma equação para cálculo dinâmico simplificado do vento.
(Equação 5).

( )= × [( ⁄ ) + (ℎ⁄ ) × ( ⁄ℎ) × × ƫ] (5)

O primeiro termo dos colchetes corresponde a resposta média e o segundo representa


a amplitude máxima da resposta flutuante.

Primeiramente é necessário definir o termo denominado qo, que é dado pela equação a seguir
(Equação 6).

= 0,613 ²

Onde:
Vp = 0,69 Vo*S1*S3
Vo = 45 m/s
S1 = 1,0
S2 = 1,0

Logo:

= 591 / ²

Os demais fatores utilizados na equação são também definidos pela NBR 6123 e dependem
basicamente das características da estrutura e das características naturais do vento. Tais
fatores respeitam as seguintes descrições e atribuições:

2.4.1 Edifício de processos

b = 1,0 definido pela tabela 20, expoente p e parâmetro b, da NBR 6123;


z = altura livre do edifício, 21,5m para o edifício de processos e 50m para a torre metálica;
zr = 10,0, altura da ação do vento sobre a superfície;
h = altura do edifício, 21,5m;
y = 1,2, segundo tabela 19 da NBR 6123, para edifícios com estrutura de aço soldada;
p = 0,15, segundo tabela 20, expoente p e parâmetro b, da NBR 6123;
ƫ = 1,45, coeficiente de amplificação dinâmica, definido pela figura 15 da NBR, onde
Vp/(fj*L) está definido pela equação 6;


= 0,0170426 (6)

11
Onde :
Vp = 31,05 m/s
fj = frequencia fundamental = 0,98797, calculada pelo CSI SAP 2000
L = dimensão característica do terreno = 1800m

Com os parâmetros estabelecidos, pode-se calcular a pressão dinâmica do vento, q(z):

( ) = 2143 / ²

2.4.2 Torre metálica

A velocidade de projeto Vp é igual 31,05m, da mesma maneira que no edifício de processos.


Da mesma maneira, os parâmetros necessários ao cálculo estão definidos a seguir.

b = 1,0
z = 50m
zr = 10m
h = 50m
y = 1,2
p = 0,15
ƫ = 1,20
= 0,02139

Onde:
Vp = 31,05m/s
fj = frequência fundamental = 0,80614
L= 1800m

Portanto:
( ) = 2264 / ²

2.5 Cálculo das ações e coeficientes dinâmicos segundo a ASCE 7-10

A ASCE 7-10 considera coeficientes para edifícios considerados dinamicamente sensíveis.


Neste estudo, os edifícios analisados serão os mesmos em que a NBR 6123:1988 julga
necessária a análise dinâmica, com período fundamental maior que 1,0. Ao contrário, a ASCE
7-10 não define exclusivamente um tipo de estrutura que necessite analise dinâmica. A
normativa indica a avaliação de uma dada frequência natural fundamental do edifício e indica
que edifícios flexíveis e dinamicamente sensíveis necessitam a consideração de um fator de
efeito de rajada. O fator de efeito rajada para os ditos edifícios flexíveis ou dinamicamente
sensíveis está definido na equação 26.9-10 da ASCE 7-10 e também na equação 7 deste artigo.

(7)

12
Neste caso, os fatores envolvidos na equação são mais elaborados, distintos para cada tipo de
edificação e dependem de novas equações.

2.5.1 Edifício de processos

Inicialmente definem-se gq e gv como 3,4, segundo 26.9.5 da ASCE 7-10. Depois disso a
equação 8 define gr como:

(8)
Onde:
N1 = 0,98797, frequência natural fundamental da estrutura, SAP 2000;
Logo:
= 4,1866

O coeficiente R, é denominado fator de resposta ressonante, e é definido na equação 26.9-12


da ASCE 7-10 e na equação 9 deste estudo.

(9)

Onde:
B = 0,02
Antes de definir os demais fatores, é necessário definir Rn, que depende de nova equação.
(Equação 10) ou 26.9-13 da ASCE 7-10

(10)
N1 depende de nova equação, (Equação 11)

(11)
Onde:
= ( /10)
Onde:
E = 1/5, definido pela tabela 29.9-1;
l = 152,4m, definido pela tabela 29.9-1;
z = 12,9m = 0,6 h, sendo h a altura livre do edifício;

Logo:
= 160,362
O coeficiente Vz é definido pela equação a seguir. Equação 12.

13
(12)
Onde:
b = 0,65, definido pela tabela 26.9-1;
α = 0,154, definido pela tabela 26.9-1;
V = 45m/s = 259,2 mi/h. Velocidade básica do vento em milhas por hora.

Logo:
Vz = 175,22 mi/h

Definidos Vz e Lz, calcula-se N1 pela equação 11, sendo n1 a frequência fundamental que é
igual a 0,98797.
N1 = 0,904

O coeficiente N1, será utilizado para definição de Rn, segundo equação 10.

Rn = 0,1382

Os coeficientes RH, RL e RB, necessários para determinação de R na equação 9, são obtidos


conforme equação a seguir. (Equação 13).

(13)
n para RH:
, quando n1 é a frequência e h a altura livre do edificio;
n para RL
, quando L é a dimensão característica do terreno;
N para RB:
, quando B é a menor dimensão horizontal da estrutura;

Logo:
RH = 0,71249;
RB = 0,86785;
RL = 0,955;

Sendo assim, R pode ser definido, conforme equação 9.

= 2,045

Seguindo com o objetivo de resolver a equação sete, para encontro do fator de efeito de
rajada, são necessárias novas equações para definição de Iz e Q. Iz é definido conforme
equação a seguir. (Equação 14)

14
(14)
Onde:
c = 0,2, conforme tabela 26.9-1
z = 12,9m = 0,6*h

Logo:
Iz = 0,1917

Q é definido pela equação 26.9-8 da ASCE 7-10 ou pela seguinte. (Equação 15)

(15)
Onde:
B= 8,5m, menor dimensão horizontal da estrutura;
h = 21,5m, altura livre do edificio;
Lz = 160,362m conforme calculado anteriormente;

Logo:

Q = 0,9057

Com todos os fatores definidos, é possível calcular Gf para o edifício de processos, fator de
efeito de rajada, conforme equação 7.

Gf = 1,74

Para cálculo da pressão dinâmica q(z), multiplica-se a pressão encontrada no método estáticos
por Gf. Então:

( ) = 2149 / ²

2.5.2 Torre metálica

Obedecendo os mesmos padrões e objetivos do item anterior, inicia-se o cálculo do Gf para o


edifício de processos.

A frequência natural da estrutura, n1, calculada pelo software CSI SAP 2000 é de 0,80614.

Conforme explicado anteriormente:

gq = 3,4 item 26.9.5 da ASCE 7-10;


gv = 3,4 item 26.9.5 da ASCE 7-10;

15
gr = 4,1378, segundo equação 8.
Para:
z = 30m;
l = 152,4m
E = 0,2
b = 0,65
α = 0,154

Temos:
Lz = 189,85m
Vz = 199,54 mi/h

Portanto, conforme equação 11:

N1 = 0,767
E conforme equação 10:

Rn = 0,15

Seguindo as mesmas indicações do item anterior, calcula-se RH, RB e RL:


RH = 0,587479;
RB = 0,92943;
RL = 0,955;

Conforme equação 14:

Iz = 0,1665
Conforme equação 15:

Q = 0,8798

Da mesma maneira, com os parâmetros definidos, obtem-se Gf.

Gf = 1,64644

Para cálculo da pressão dinâmica q(z), multiplica-se a pressão encontrada no método estáticos
por Gf. Então:

( ) = 2434 / ²

16
3 RESULTADOS, DISCUSSÃO E CONCLUSÃO

A seguir serão apresentados tabelas e ferramentas matemáticas que facilitem a comparação


entre os edifícios e métodos estudados. Posteriormente os resultados serão comentados e
discutidos, possibilitando conclusões e novos estudos no mesmo sentido.

PRESSÃO DA AÇÃO DO VENTO (N/m²)


Método Edifício de processos Torre Metálica
Estático NBR 6123:1988 1368 1585
Estático ASCE 7-10 1235 1475
Dinâmico simp. NBR 6123:1988 2134 2264
Dinâmico ASCE 7-10 2149 2434
Tabela 01: Pressão da ação do vento (N/m²)

Serão realizadas comparações gráficas e em porcentagem estático-dinâmicas de cada norma, e


estático-estático e dinâmico-dinâmico entre as duas normas.

Edificio de processos Torre metálica


h = 21,5m h = 50m
f1 = 0,98797 f1 = 0,80614
Pressão do vento N/m²

Pressão do vento N/m²

2500 2500
2000 2000
1500 1500
2134 2264
1000 1368 1000 1585
500 500
0 0
Estático NBR Dinâmico Estático NBR Dinâmico
6123:1988 simp. NBR 6123:1988 simp. NBR
6123:1988 6123:1988
Método de Calculo Método de Calculo

Figura 05: Comparação entre os métodos Figura 06: Comparação entre os métodos
estático e dinâmico, segundo NBR 6123 para estático e dinâmico, segundo NBR 6123 para
edifício de processos. (56%) torre metálica. (43%)

17
Edificio de processos Torre metálica
h = 21,5m h = 50m
f1 = 0,98797 f1 = 0,80614
Pressão do vento N/m²

Pressão do vento N/m²


2500 2500
2000 2000
1500 1500 2434
2149
1000 1000 1475
1235
500 500
0 0
Estático ASCE Dinâmico ASCE Estático ASCE Dinâmico ASCE
7-10 7-10 7-10 7-10
Método de Calculo Método de Calculo

Figura 07: Comparação entre os métodos Figura 08: Comparação entre os métodos
estático e dinâmico, segundo ASCE 7-10 para estático e dinâmico, segundo ASCE 7-10 para
edifício de processos. (74%) torre metálica. (65%)

Edificio de processos Torre metálica


h = 21,5m h = 50m
f1 = 0,98797 f1 = 0,80614
Pressão do vento N/m²

Pressão do vento N/m²

1400 2000
1200
1000 1500
800 1368 1235 1000 1585
600 1475
400 500
200
0 0
Estático NBR Estático ASCE Estático NBR Estático ASCE
6123:1988 7-10 6123:1988 7-10
Método de Calculo Método de Calculo

Figura 09: Comparação dos métodos estáticos Figura 10: Comparação dos métodos estáticos
NBR- ASCE para edifício de processos. (11%) NBR- ASCE para torre metálica. (7%)

18
Edificio de processos Torre metálica
h = 21,5m h = 50m
f1 = 0,98797 f1 = 0,80614
Pressão do vento N/m²

Pressão do vento N/m²


1400 2500
1200 2000
1000 1500 2264 2434
800 2134 2149 1000
600 500
400 0
200 Dinâmico Dinâmico
0 simp. NBR ASCE 7-10
Dinâmico simp. Dinâmico ASCE 6123:1988
NBR 6123:1988 7-10 Método de Calculo
Método de Calculo
Figura 12: Comparação dos métodos
Figura 11: Comparação dos métodos dinâmicos dinâmicos NBR- ASCE para torre metálica. (8%)
NBR- ASCE para edifício de processos. (0,7%)

Analisando os resultados obtidos, conclui-se primeiramente que é de fundamental importância


que os engenheiros estruturais responsáveis, verifiquem a flexibilidade e o potencial de
resposta dinâmica a ação do vento das estruturas que estão sob suas responsabilidades.
Ambas as normativas apresentam pressões de vento significativamente maiores para
estruturas consideradas dinamicamente sensíveis. Enquanto a NBR define coeficientes 43-56%
maiores, a ASCE 7-10 é ainda mais rigorosa e considera aumentos de 74-65% para os edifícios
considerados. Em geral, o vento é a mais importante das ações consideradas em edifícios
estruturados em aço. Uma má simulação da ação do vento nos modelos matemáticos, pode
gerar estruturas mal dimensionadas e potencialmente perigosas. (Figuras 05, 06, 07 e 08).

Além disso, os resultados podem ser avaliados sob os mais diversos aspectos. Enquanto que
para os métodos estáticos a NBR 6123 define ações mais intensas que a ASCE 7-10, para os
métodos de consideração dinâmica do vento, os maiores coeficientes são obtidos pelos
americanos. (Figuras 09, 10, 11 e 12).

Outra análise interessante se dá a partir da frequência do edifício. Quanto menor a frequência


do edifício, maior o seu potencial a resposta dinâmica. A diferença entre as pressões obtidas
pela NBR 6123 e ASCE 7-10 são maiores com a diminuição da frequência, o que indica que, na
norma americana, esta mesma frequência tem maior potencial de interferência no valor da
pressão. (Figuras 11 e 12). No entanto isso não pode ser categoricamente afirmado porque a
altura também é parâmetro que interfere. Pode-se dizer, que a altura livre do edifício também
tem maior potencial de influência nos resultados obtidos pela ASCE 7-10 do que na NBR 6123.

19
Para complementação do estudo, seriam interessantes novas analise considerando um edificio
ainda mais esbelto, com frequência menor do que a da torre metálica. Assim a importância
exponencial da diminuição da frequência no resultado poderia ser melhor observada. Além
disso, novos modelos matemáticos, dos mesmos edifícios, gerados com aplicação das pressões
dinâmicas encontradas neste estudo, teriam novas frequências fundamentais, que
possibilitariam várias novas informações e comparações no mesmo sentido. Outro estudo
interessante, seria a comparação das pressões obtidas para um mesmo edifício com
velocidades básicas diferentes.

A NBR 6123:1988, em seu anexo I, apresenta um exemplo de cálculo pelo método dinâmico
simplificado. Trata-se de um edifício de 120m de altura de 24m por 24m de lado, localizado em
um terreno de categoria IV, com velocidade básica de 45m/s estruturado em concreto e aço.
Para justa comparação, serão apresentados aqui, as pressões obtidas pela normativa somente
para o edifício em aço. Tem-se:

Método estático Anexo I NBR 6123: 1557 N/m²


Método dinâmico simplificado Anexo I NBR 6123: 1925 N/m²

Confere-se uma variação de 24%, menor que as de 56% e 43% verificadas neste estudo.
Possivelmente, o aumento da altura do edifício, torne-se exponencialmente menos influente
na diferença de pressão entre os métodos estáticos e dinâmicos. Isso pode ser afirmado
porque para o edifício de processos (21,5m de altura) verifica-se uma diferença de 56%. Para a
torre metálica (50m de altura) 43% e para o edifício exemplado na NBR 6123 (120m de altura)
24%.

Interessantes os resultados analisados, e mais interessantes as discussões geradas.


Importantes novos estudos que geram novos conhecimentos e aperfeiçoamento dos
profissionais envolvidos.

REFERÊNCIAS

1 BLESSMANN, J. Aerodinâmica das construções. Porto Alegre: Sagra Editora; 1990.

2 BLESSMANN, J. Tópicos de norma de vento. Segunda edição. Porto Alegre: Editora da


universidade; 1990.

3 NBR 6123. Forças devido ao vento em edificações. ABNT: Associação Brasileira de Normas
Técnicas, Rio de Janeiro; 1988.

4 NBR 8800. Projeto de estruturas de aço e de estrutura mista de aço e concreto de


edifícios. ABNT: Associação Brasileira de Normas Técnicas, Rio de Janeiro; 2008.

20
5 ASCE/SEI 7-10. Minimum Design Loads for Buildings and Structures. ASCE: American
Society of Civil Engineers, Reston, Virginia; 2010.

6 CFE/2088. Manual de Diseño de Obras Civiles. Cap 4 Diseño por viento. CFE: Comision
Federal de Electricidad, Mexico; 2008.

7 VASCONSELOS LOPES. A. A acção do vento e a resposta dinâmica dos edifícios altos


[Mestrado]. Porto: Universidade do Porto; 1992.

8 MARTINS VIEIRA. M. C. Acção do vento em edifícios altos. [Mestrado]. Lisboa: Instituto


superior de engenharia de Lisboa; 2013.

21
ANÁLISE DE ELEMENTOS FINITOS PARA REFORÇOS ESTRUTURAIS METÁLICOS EM

PONTES FERROVIÁRIAS DE CONCRETO ARMADO *

Carlos Alberto Medeiros1


1
Prof. M. Sc., Departamento de Engenharia, Universidade de Mogi das Cruzes, carlosmedeiros@umc.br

Resumo

Os operadores de logística pretendem aumentar o escoamento de minério de ferro através da


malha ferroviária de São Paulo de forma a cumprir prazos e volumes de escoamento de
produtos para exportação. Diversas pontes da malha ferroviária de São Paulo foram projetadas
para atender o trem-tipo TB-20. Logo, para atender a essa nova condição de carga o trem-tipo
deve ser modificado para o TB-360. Como a nova condição de carga é superior a condição
atual, novas pontes devem ser projetadas e construídas ou deve-se buscar reforçar as pontes
existentes. Outra exigência a ser respeitada é que devido ao fluxo continuo de escoamento ao
longo dessa malha ferroviária, grandes períodos de interrupção na operação da via não são
permitidos. O presente trabalho mostra uma análise de elementos finitos desenvolvida para
validar uma proposta de reforço estrutural em perfil “I” a ser adotada em uma ponte
ferroviária de concreto armado com seção caixão, projetada originalmente para o trem-tipo
TB-20, de forma a garantir a futura utilização da ponte para o trem-tipo TB-360 e que a
execução dos reforços estruturais não cause grandes impactos de interrupção na operação da
via ferroviária.

Palavras-chave: Pontes Ferroviárias; Reforços Estruturais; Elementos Finitos; Trem-tipo.

FINITE ELEMENT ANALYSIS FOR STRUCTURAL STEEL REINFORCEMENTS IN CONCRETE


RAILWAY BRIDGES
Abstract

Brazilian logistics operators intend to increase the transport of iron ore in the São Paulo
railway mesh in order to meet deadlines and volume of goods requirements. The existing
bridges along the São Paulo railway mesh were originally designed for moving load TB-20
(Based on old standard ABNT NB 7:43) and to meet the new load configuration, the moving
load should be modified for the TB-360. Due to the new load configuration is higher than
current one, new bridge should be designed and constructed or it should be seek to
strengthen the existing bridge. Another requirement to be met is that the run-off of goods
along this railway mesh must be preserved, i.e., it is not allowed long periods of interruption in
the operation of the railway track. A finite element analysis is presented for a railway concrete
bridge that will be strengthened to ensure the future use of the moving load TB-360 and that
during the execution of bridge´s structural steel reinforcements does not impact the operation
of the railway track.

Keywords: Railway bridges; Structural Steel Reinforcements; Finite Elements; Moving load.

________________________________
* Contribuição técnica ao Construmetal 2014 – Congresso Latino-Americano da Construção
Metálica – 02 a 04 de setembro de 2014, São Paulo, SP, Brasil.
1
1 INTRODUÇÃO

Os operadores de logística no Brasil pretendem aumentar o escoamento de minério de


ferro através da malha ferroviária existente de São Paulo e velocidades de operação em via de
forma a cumprir prazos e volumes de escoamento de produtos para exportação.

No dimensionamento estrutural de uma ponte quando se considera uma malha ferroviária


destinada a escoamento de minérios, o trem-tipo a ser adotado em projeto é o TB-360 [3].
Contudo, as diversas pontes existentes ao longo da malha ferroviária de São Paulo foram
projetadas originalmente para atender o trem-tipo TB-20 (antiga ABNT NB 7:43). Assim, para
atender a essa nova configuração de carga, novas pontes devem ser projetadas e construídas
ou deve-se buscar reforçar as pontes existentes.

Outra condição a ser respeitada é que o fluxo de escoamento de produtos ao longo da


malha ferroviária deve ser preservado, ou seja, não são permitidos grandes períodos de
interrupção na operação da via. Portanto, caso se decida em reforçar as estruturas das pontes
existentes, a execução de reforços estruturais deve ser planejada e realizada de maneira a não
causar impactos na operação da via ferroviária.

A Figura 1 ilustra uma composição ferroviária transportando minério de ferro e cruzando


uma ponte metálica.

Figura 1 – Composição ferroviária transportando minério de ferro e cruzando uma ponte.

Para o presente trabalho foi considerada a possibilidade de se reforçar a estrutura de uma


Obra de Arte Especial (OAE) existente. Os reforços estruturais propostos consistem em três
vigas metálicas em perfis “I”, chumbadas no interior da seção caixão da Superestrutura, e no
engrossamento de corpo de pilar central de concreto armado da Mesoestrutura.

2
Para avaliar se a nova concepção estrutural de OAE reforçada atende aos dois requisitos
de projeto mencionados anteriormente, foi feito um estudo comparativo de resultados de
tensão de von Mises por meio de analises de elementos finitos para três situações de estrutura
de OAE e condição de trem-tipo. As situações de estrutura de OAE analisadas foram: (1)
Estrutura de OAE atual e com operação do trem-tipo TB-20; (2) Estrutura de OAE em fase de
execução de reforços e com operação de via com o trem-tipo TB-20; e (3) Estrutura de OAE
reforçada para utilização do trem-tipo TB-360.

Para validação dos reforços estruturais propostos para a OAE aqui estudada, foi verificado
se os resultados de tensão de von Mises observados para as situações de estruturas de OAE (2)
e (3) são inferiores aos obtidos para a situação de OAE (1).

Análises preliminares também foram realizadas para verificação de resistência ao


escoamento, a fadiga e de flambagem para os reforços estruturais metálicos propostos bem
como para a determinação da máxima carga de compressão atuante nas estruturas de
cimbramento.

2 DESCRIÇÃO DA OBRA DE ARTE ESPECIAL

A Obra de Arte Especial estudada em questão possui uma superestrutura em laje caixão
em concreto armado e com dois tramos de 10m, sendo cada tramo apoiado em um encontro
com alas e engastado num pilar interno.

Conforme a Figura 2, a Superestrutura da OAE existente e projetada para o trem-tipo


TB-20 consiste de uma seção caixão de concreto com fck 25 MPa, composta de uma laje
superior de 20 cm, de uma laje inferior de 15 cm e duas vigas longitudinais laterais de 40 cm
de espessura. A altura do caixão é de 70 cm. Nela está disposta uma camada de
aproximadamente 30 cm de espessura de lastro, sobre a qual estão dispostos os dormentes
que fixam os trilhos.

Figura 2 – Seção Transversal do tabuleiro.

3
Figura 3 apresenta uma vista lateral da Superestrutura e Mesoestrutura da OAE.

Figura 3 – Vista lateral da OAE.

3 REFORÇOS ESTRUTURAIS PROPOSTOS

Os reforços estruturais adotados na OAE de forma a garantir a futura utilização do trem-


tipo TB-360 foram perfis especiais “I” metálicos para a Superestrutura e de engrossamento do
corpo de pilares em concreto armado para a Mesoestrutura, como ilustrado na Figura 4.

Figura 4 – Reforços propostos para a estrutura da OAE para utilização do TB-360.

No caso do reforço estrutural de perfil especial “I” metálico, este foi confeccionado por
chapas soldadas de material ASTM A-36 de espessura de 25,4mm e chumbados por conectores
nas lajes do interior da seção caixão, como ilustrados na Figura 4.

4
4 AÇÕES CONSIDERADAS

As seguintes ações foram consideradas nas análises estruturais da OAE:

 Ações permanentes devido ao peso próprio das estruturas de concreto, enchimentos


com lastro, dormentes de concreto, trilhos e reforços de perfil “I” metálico.

 Ações variáveis para a Superestrutura:


 Trem tipo ferroviário de classe TB-20 (antiga ABNT NB 7:43) para a situação
existente de OAE, ilustrado na Figura 5.

Figura 5 – Disposição de cargas do TB-20.

 Trem tipo ferroviário de classe TB-360 [3] para a situação projetada da OAE e que
trata de um trem tipo com cargas pontuais, representando à locomotiva e cargas
distribuídas variáveis como os vagões carregados e descarregados, conforme
ilustrado na Figura 6.

Figura 6 – Disposição de cargas do TB-360.

Para as ações variáveis foi adotado o coeficiente de impacto, calculado de acordo com a
seguinte equação [4]:

Onde: Comprimento, em metros do vão teórico do elemento carregado.

Para o vão de 9,85m, o coeficiente de impacto vertical fica


T

5
5 ETAPAS EXECUTIVAS

A OAE foi analisada para três situações de estrutura de ponte e com condição de trem-
tipo, conforme descritas na Figura 7.

Situação (1): Estrutura atual da OAE com operação do TB-20.

Situação (2): Execução de reforços na OAE com operação do TB-20.

Figura 7 – Situações de estrutura de OAE e respectiva condição de trem-tipo.

6
Situação (3): Estrutura da OAE reforçada para operação com o TB-360.

Figura 7 – Continuação.

A situação (2) mostrada na Figura 7 representa a condição mais desfavorável da estrutura


da OAE na fase de execução de reforços. Observa-se que nessa fase, a laje inferior da seção
caixão da ponte é removida e também são propostos escoramentos que também
desempenham a função de resistir à ação das cargas móveis provenientes da operação da via
com o trem-tipo TB-20.

7
6 MODELAGEM E ANÁLISE DE ELEMENTOS FINITOS

Modelos tridimensionais de elementos finitos foram desenvolvidos usando o software


ANSYS [7] para avaliação da estrutura da ponte em relação às etapas executivas definidas no
item 5.

A estrutura da ponte em concreto armado e os reforços propostos em perfil “I” metálicos


foram modelados com elementos finitos de casca SHELL181. Na modelagem do cimbramento
foi adotado o elemento de viga BEAM188. Os trilhos foram modelados por elementos de
barras fictícias com a finalidade de aplicação de carregamentos.

As condições de contorno e carregamentos adotados para os modelos de elementos


finitos são resumidos a seguir:

 A interação solo-estrutura foi representada por restringir todas as translações para a


região da infraestrutura da OAE e dos apoios do cimbramento.

 As ações permanentes devido ao peso próprio das estruturas foram representadas nos
modelos de elementos finitos por meio de cargas gravitacionais. No caso do peso
próprio dos trilhos foram aplicadas cargas por unidade de comprimento.

 Ações variáveis provenientes dos trens-tipo (TB-20 e TB-360) foram simuladas por
meio de cargas concentradas e cargas uniformemente distribuídas e aplicadas nos
elementos de barras fictícias que representavam os trilhos.

A disposição da carga móvel considerada para as análises dos modelos de elementos


finitos representa a condição mais desfavorável do trem-tipo para a superestrutura da
OAE e foi estabelecida por meio de análise de linhas de influencia.

Análises de elementos finitos tipo estática linear foram realizadas para avaliação das
etapas executivas de estrutura de OAE, conforme estabelecidas no item 5.

Figura 8 a Figura 11 apresentam vistas e detalhes dos modelos de elementos finitos


adotados nas análises estruturais da OAE.

8
Figura 8 – Estrutura da OAE existente e com operação do TB-20.

Figura 9 – Estrutura da OAE em fase de execução de reforços e com operação do TB-20.

9
Figura 10 – Estrutura da OAE projetada para a utilização do TB-360.

Figura 11 – Cargas móveis: Disposição do trens-tipos TB-20 e TB-360.

7 ANÁLISES E VERFICAÇÕES ESTRUTURAIS

7.1 COMBINAÇÃO DE VERIFICAÇÃO

A estrutura da OAE foi verificada para a combinação ultima (ELU) [2], estabelecida
conforme a expressão abaixo:

𝐅𝐝 = 𝛄𝐠 𝐅𝐠𝐤 + 𝛄𝐪 𝐅𝐪𝐤
Onde:

 γg – Fator de majoração para ações permanentes. Adotando-se γg = 1.40;


 Fgk – Ações permanentes.

 γq – Fator de majoração para ações variáveis. Adotando-se γq = 1.40;


 Fqk – Ação variável.

10
7.2 METODOLOGIA DE VALIDAÇÃO DA OAE PARA AS ETAPAS EXECUTIVAS

A metodologia de análise e de validação da OAE em relação às etapas executivas


apresentadas no item 5 foi realizada conforme os seguintes passos:

1. Coletar resultados de máxima tensão de von Mises para elementos estruturais da


ponte a partir das análises de elementos finitos.
2. Realizar uma análise quantitativa e qualitativa dos resultados.
3. Confirmar se os resultados de máxima tensão de von Mises obtidos para as situações
(2) e (3) são menores do que os resultados obtidos para a situação (1).

O objetivo dessa metodologia de validação de OAE era comprovar que o nível de tensão,
tanto quantitativo quanto qualitativo, obtido para as situações de OAE em fase de execução de
reforços e de OAE reforçada para a condição de trem-tipo TB-360 é menor do que os
resultados obtidos para a situação de OAE atual.

7.3 ANÁLISES ESTRUTURAIS ADICIONAIS

Outros dois tipos resultados foram analisados, conforme descritos abaixo:

1. Determinação da máxima força de compressão atuante para a estrutura do


cimbramento durante a etapa de execução de reforços e com a operação da via com o
trem-tipo TB-20. Dessa forma, pode-se estimar um valor de máxima carga atuante nas
estruturas do cimbramento.
2. Determinação da máxima tensão de von Mises e das tensões principais máximas e
mínimas atuantes nos reforços estruturais propostos de perfil “I” metálicos quando da
operação da via com o trem-tipo TB-360. Dessa forma, pode-se fazer uma verificação
preliminar para os reforços estruturais propostos quanto a sua resistência ao
escoamento, fadiga e flambagem.

11
8 RESULTADOS

Tabela 1 lista um resumo de resultados de máxima tensão de von Mises obtidos para
elementos estruturais da ponte a partir das análises de elementos finitos realizadas para as
etapas executivas descritas no item 5.

Tabela 1 – Resultados de máximas tensões de von Mises.

Máxima Tensão von Mises (MPa)


Laje Superior Laje Inferior Vigas Longitudinais
Pilar
Situação Meio Apoio Apoio Meio Apoio Apoio Meio Apoio Apoio Central
vão Central Encontro vão Central Encontro vão Central Encontro
OAE Atual com TB-20 9,20 13,50 19,20 11,50 25,58 19,34 10,91 22,06 15,37 24,31
OAE com execução de
3,31 3,31 13,20 0,00 1,15 0,88 1,27 1,87 4,30 1,75
reforços para TB-20
OAE Projetada para
7,80 11,96 3,60 9,80 18,45 6,60 9,31 13,65 6,42 11,41
TB-360

Figura 12 a Figura 16 apresentam resultados de tensão de von Mises (tf/m2) obtidos para
elementos estruturais da ponte a partir das análises de elementos finitos realizadas para as
etapas executivas descritas no item 5 e resumidos na Tabela 1.

Figura 12 – Estrutura da OAE existente e com operação do TB-20 – Tensões de von Mises.

12

Figura 13 – Estrutura da OAE em fase de execução de reforços e com operação do TB-20 –


Tensões de von Mises.

Figura 14 – Estrutura da OAE projetada para a utilização do TB-360 – Tensões de von


Mises.

13
Estrutura da OAE existente e com operação do TB-20

Estrutura da OAE em fase de execução de reforços e com operação do TB-20

Estrutura da OAE projetada para a utilização do TB-360

Figura 15 – Lajes superior e inferior - Tensões de von Mises.

14
Estrutura da OAE existente e com operação do TB-20

Estrutura da OAE em fase de execução de reforços e com operação do TB-20

Estrutura da OAE projetada para a utilização do TB-360

Figura 16 – Vigas longitudinais e pilar central - Tensões de von Mises.

15
Observa-se que os resultados de tensão de von Mises obtidos para as situações de
estruturas de OAE (2) e (3) são inferiores aos obtidos para a situação de OAE (1).

Figura 17 a Figura 19 apresentam resultados de tensões de von Mises (tf/m2) e de tensões


principais máxima e mínima (tf/m2) obtidas para os reforços estruturais propostos para a
estrutura da OAE quando da utilização do trem-tipo TB-360.

Nervuras

Mesas Mesas
Superior Inferior

Figura 17 – Reforços estruturais propostos - Tensão de von Mises.

Nervuras

Mesas Mesas
Superior Inferior

Figura 18 – Reforços estruturais propostos - Tensão principal máxima.

16
Nervuras

Mesas Mesas
Superior Inferior

Figura 19 – Reforços estruturais propostos - Tensão principal mínima.

Observa-se que a máxima tensão de von Mises obtida para os reforços estruturais é de
96MPa, como mostrado na Figura 17, e este resultado de tensão é bem inferior ao limite de
escoamento de um aço ASTM A36 que é 250MPa. Logo, tem-se uma boa margem de
segurança quanto ao escoamento para os reforços estruturais quando da operação da via com
o trem-tipo TB-360.

Fazendo um calculo simplificado de verificação dos reforços estruturais à falha por fadiga,
ou seja, adotando-se como tensão admissível de fadiga um valor de tensão de tração igual a
80% da tensão de escoamento do material, observa-se que os reforços não irão apresentar
falha por fadiga, pois o valor máximo de tensão de tração atuante nos reforços é de 73MPa
(7246.65 tf/m2), conforme mostrado na Figura 18 para as tensões principais máximas na
combinação de ELU.

Também se pode comprovar que os reforços estruturais têm uma boa capacidade
resistente quanto à falha por flambagem, pois o valor máximo de tensão de compressão
atuante nos reforços é de 109MPa (-10850.7 tf/m2), conforme mostrado na Figura 19 para as
tensões principais mínimas e na combinação de ELU, e que por meio de uma verificação
preliminar para os critérios da norma NBR 8800 [1], esse valor de tensão atuante fica abaixo do
valor admissível de falha por flambagem. Outro ponto a ressaltar é que os reforços estruturais
propostos são peças com seção robusta e de espessuras de 25.4 mm para mesas e alma.

17
A Erro! Fonte de referência não encontrada. apresenta resultados de forças de
compressão atuantes nas estruturas do cimbramento e referentes à etapa de execução de
reforços e com operação de via com o trem-tipo TB-20.

Cimbramentos
Estrutura Central

Cimbramentos
Estrutura lateral

Figura 20 – Forças de compressão atuantes (tf) nos cimbramentos.

18
Observa-se que a máxima força de compressão atuante nos escoramentos localizados na
parte central da seção caixão é de 15 tf, enquanto que para os escoramentos posicionados na
parte lateral do caixão, a máxima força de compressão é de 5 tf.

9 CONCLUSÃO

Análises de elementos finitos para três situações de estrutura de OAE e com consideração
de trens-tipos ferroviários distintos foram desenvolvidas para validar uma proposta de reforço
estrutural para garantir o uso da OAE em fase de execução de reforços e sem interrupção de
operação de via ferroviária e para a futura configuração de carga do trem-tipo TB-360.

Foi comprovado que os resultados de tensão de von Mises para elementos estruturais das
situações de estrutura de OAE referentes a fase de execução de reforços e com operação de
via com o trem-tipo TB-20 e de estrutura de OAE reforçada para futura operação com o trem-
tipo TB-360 apresentam resultados de tensões inferiores ao da situação atual de OAE.

Verificações preliminares foram realizadas com o objetivo de comprovar se os reforços


estruturais propostos de perfil “I” metálico teriam resistências ao escoamento, à fadiga e a
flambagem para a futura configuração de carga do trem-tipo TB-360. Foi constatado que os
valores de tensões de von Mises e de tensões principais máximas e mínimas atuantes nos
reforços e obtidos para a combinação última (ELU) ficam abaixo de valores admissíveis
estimados para cada modo de falha estudado.

Também foi realizado um estudo com o intuito de se obter uma estimativa de máxima
carga de compressão atuante nas estruturas do cimbramento da OAE durante a fase de
execução de reforços. A partir desse estudo, obteve-se uma carga máxima de compressão de
15 tf para os escoramentos localizados na parte central do caixão da ponte, enquanto que para
os escoramentos na parte lateral, o valor máximo foi de 5 tf.

Dessa forma, conclui-se que os reforços estruturais propostos para a OAE aqui estudada
atendem aos requisitos de fase de execução de reforços e sem causar impactos de interrupção
de operação de via quando do uso do trem-tipo TB-20 bem como a futura configuração de
carga de trem-tipo TB-360.

19
10 REFERÊNCIAS

[1] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 8800 – Projeto de estruturas de


aço e de estruturas mistas de aço e concreto de edifícios. Rio de Janeiro, 2008.
[2] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 8681 – Ações e segurança nas
estruturas – Procedimento. Rio de Janeiro, 2003.
[3] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 7189 – Cargas móveis para projeto
estrutural de obras ferroviárias. Rio de Janeiro, 1985.
[4] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 7187 – Projeto de pontes de
concreto armado e de concreto protendido. Rio de Janeiro, 2003.
[5] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 6118 – Projeto de estruturas de
concreto – Procedimento. Rio de Janeiro, 2007.
[6] An American National Standard. AWS D1.1/D1.1M – Structural Welding Code – Steel.
2004.
[7] ANSYS: Engineering Analysis System, ANSYS 14.5 Manual Documentation. 2013.
[8] MARCHETTI, O. Pontes de Concreto Armado. 1a edição, Editora Edgard Blucher, 2008.
[9] MASON, J. Pontes Metálicas e Mistas em Viga Reta: Projeto e Cálculo. Rio de Janeiro,
Livros Técnicos e Científicos, 1976.

20
                                                                                                                                     
Tema:  Estruturas  Metálicas  e  Mistas  

ANÁLISE  DINÂMICA  DE  ESTRUTURAS  DE  AÇO  SUPORTES  DE  MÁQUINAS  ROTATIVAS  *  

Rafael  Marin  Ferro¹  


Walnório  Graça  Ferreira²  
Adenilcia  Fernanda  Grobério  Calenzani³  
Resumo  
A  análise  dinâmica  de  estruturas  de  aço  suportes  de  máquinas  rotativas,  ou  equipamentos  
mecânicos  rotativos,  é  necessária  para  assegurar,  não  somente  o  conforto  dos  usuários,  como  
também  garantir  boas  condições  para  o  funcionamento  dos  equipamentos  suportados  sobre  
as  estruturas.  Em  recentes  estudos  de  dinâmica  estrutural  e  dinâmica  de  equipamentos,  
verifica-­‐se  a  dificuldade  de  realização  de  modelos  reais  das  estruturas  suportes  de  máquinas  
rotativas.  O  presente  artigo  faz  uma  verificação  do  desempenho  das  estruturas,  de  acordo  com  
modificações  em  suas  ligações,  considerando  os  carregamentos  provocados  por  máquinas  
rotativas  e  comparando  com  os  limites  de  deslocamentos  das  estruturas,  estabelecidos  por  
normas  de  equipamentos  e  estruturas.  Para  tanto,  é  necessário  a  utilização  de  um  modelo  
numérico  computacional  que  represente  da  forma  mais  real  possível  o  sistema  físico  a  ser  
analisado.  O  objetivo  deste  artigo  é  realizar  um  estudo  de  aplicação  de  carregamento  dinâmico  
provocado  por  equipamentos  mecânicos  rotativos  sobre  suas  estruturas  suportes  com  
diferentes  tipos  de  ligações,  utilizando  modelos  computacionais,  realizados  com  o  software  
STRAP  2012.  Serão  realizados  modelos  de  estruturas  de  aço  suportes  com  ligações  rígidas,  
ligações  flexíveis  (rotuladas)  e  ligações  semirrígidas,  onde  se  aplicam  as  cargas  das  máquinas  
rotativas  e  visualiza-­‐se  qual  base  suporte  tem  o  melhor  desempenho  ou  maior  confiabilidade  
na  relação  estrutura  versus  carregamento  dinâmico,  de  acordo  com  as  suas  ligações.  
 
Palavras-­‐chave:  Análise  dinâmica;  Vibração;  Máquinas  rotativas;  Estrutura  de  aço  suporte.  
 
DYNAMIC  ANALYSIS  OF  STEEL  STRUCTURES  SUPPORT  OF  ROTATING  MACHINERY  
 
Abstract  
Dynamic  analysis  of  steel  structures  supports  of  rotating  machinery  or  rotating  mechanical  
equipment  is  necessary  to  ensure  not  only  the  comfort  of  the  users,  but  also  ensure  good  
conditions  for  the  operation  of  equipment  supported  on  structures.  In  recent  studies  of  
structural  dynamics  and  dynamics  of  equipment,  there  is  the  difficulty  of  achieving  real  models  
of  support  structures  of  rotating  machinery.  This  paper  is  a  verification  of  the  performance  of  
structures  in  accordance  with  changes  in  their  connections,  considering  the  loads  caused  by  
rotating  machinery  and  compared  with  the  limits  of  displacements  of  the  structures  
established  by  standards  of  equipment  and  structures.  Therefore,  the  use  of  a  computational  
numerical  model  that  represents  the  most  real  way  possible  physical  system  to  be  analyzed  is  
required.  The  purpose  of  this  article  is  a  study  of  the  application  of  dynamic  loading  caused  by  
rotating  mechanical  equipment  on  their  steel  structures  supports  with  different  types  of  
connections  using  computational  models,  performed  with  software  STRAP  2012.  Structures  
with  connections  rigid,  pinned  or  semi-­‐rigid,  ranging  loads  of  rotating  machinery  viewing  will  
be  held  support  that  has  better  performance  and  greater  reliability  in  relation  structure  versus  
dynamic  load,  according  to  their  connections.  

________________________________
* Contribuição técnica ao Construmetal 2014 – Congresso Latino-Americano da Construção
Metálica – 02 a 04 de setembro de 2014, São Paulo, SP, Brasil.
1  
 
                                                                                                                                     
 
Keywords:  Dynamic  Analysis;  Vibration;  Rotating  Machinery;  Steel  Structures  Support.  
 
¹  Engenheiro  Mecânico, Professor  Especialista,    Coordenação  de  Mecânica,  Instituto  Federal  de  
Ciência  e  Tecnologia  do  Espírito  Santo  -­‐  IFES  -­‐  Campus  Aracruz,  Aracruz,  ES,  Brasil.  
 
²Engenheiro  Civil,  Professor  Doutor,  Departamento  de  Engenharia  Civil  -­‐  UFES  -­‐  ES,  Universidade  Federal  
do  Espírito  Santo  -­‐  Centro  Tecnológico  -­‐  Campus  de  Goiabeiras,  Vitória  ,  ES,  Brasil.  
 
³Engenheira  Civil,  Professora  Doutora,  Departamento  de  Engenharia  Civil  -­‐  UFES  -­‐  ES,  Universidade  
Federal  do  Espírito  Santo  -­‐  Centro  Tecnológico  -­‐  Campus  de  Goiabeiras,  Vitória  ,  ES,  Brasil.  
 
1    INTRODUÇÃO  
 
1.1    Análise  Dinâmica  das  Estruturas  
 
A    análise  dinâmica  das  estruturas  estuda  os  movimentos  ou  deslocamentos  dos  corpos,  
provocados  por  forças  a  eles  aplicadas,  e  também  estuda  essas  forças  que  provocam  os  
movimentos  nas  estruturas.  Estruturas  de  concreto  e  aço  são  elementos  sujeitos  à  esforços  
que  devem  resistir  para  que  o  formato  inicial  projetado  dessas  estruturas  se  mantenha  
razoavelmente  próximo  das  configurações  desejadas  durante  os  movimentos  introduzidos.  De  
acordo  com  Brasil  [1]  os  movimentos  de  uma  estrutura  devem  ser  suficientemente  pequenos  
em  torno  de  uma  configuração  inicial  projetada.  
Considerando  uma  aplicação  de  cargas  e  esforços  feita  de  maneira  lenta,  com  velocidades  
desprezíveis,  é  considerável  não  levar  em  conta  o  aparecimento  de  forças  de  inércia.  Com  isso,  
a  análise  dessas  estruturas  é  feita  de  forma  quase  estática,  onde  na  maioria  das  vezes  
desconsidera-­‐se  o  efeito  dos  movimentos  sobre  o  equilíbrio  (análise  linear).  De  outra  forma,  
devemos  considerar  resultados  de  movimentos  oscilatórios  em  torno  da  configuração  inicial  da  
estrutura  projetada  com  efeitos  que  podem  ser  indesejados.  Esses  movimentos  oscilatórios  
podem  levar  a  reações  e  esforços  internos  solicitantes  maiores  que  os  determinados  
estaticamente  e  a  permanência  de  seres  humanos  sobre  a  estrutura  pode  se  tornar  
desconfortável.  Também,  os  movimentos  podem  afetar  o  funcionamento  de  equipamentos  
sobre  elas  montados  ou  ainda  pessoas  e  equipamentos  nas  imediações  da  estrutura  podem  
ser  afetados  pelo  seu  movimento.  
 
Em  seus  estudos  Brasil  [1]  indica  que  as  características  básicas  para  considerar  em  uma  análise  
dinâmica  de  uma  estrutura,  são:  
-­‐  Cargas,  reações,  deslocamentos,  deformações  e  esforços  internos  que  variam  com  o  tempo,  
com  velocidades  não  desprezíveis;    
-­‐  Além  das  cargas  aplicadas,  reações  e  esforços  internos  (que  se  equilibram  numa  situação  
estática)  participam  também  do  equilíbrio  forças  de  inércia  (relacionadas  com  a  massa  da  
estrutura)  e  forças  que  dissipam  energia  (amortecimento);    
-­‐  As  análises  não  levam,  via  de  regra,  a  um  resultado  único  (estático),  mas  a  um  histórico  de  
resposta.    
 
Assim,  citam-­‐se  as  situações  em  que  se  deve  pensar  na  possibilidade  ou  necessidade  de  análise  
dinâmica  de  estruturas,  entre  outras  temos:  

2  
                                                                                                                                     
•  Fundações  de  máquinas  e  equipamentos;  
•  Estruturas  submetidas  ao  tráfego  de  veículos  ou  público;  
•  Estruturas  submetidas  ao  movimento  rítmico  de  pessoas;    
•  Efeito  de  sismos  (terremotos)  sobre  estruturas;    
•  Efeito  de  vento  sobre  estruturas;  
•  Efeito  de  impactos  e  explosões  sobre  estruturas;
  
•  Efeito  de  ondas  do  mar  sobre  estruturas.  
 
Para  uma  análise  dinâmica,  adequada,  inicia-­‐se  pela  criação  de  modelos  que  permitam  
converter  uma  entidade  pré-­‐estabelecida,  de  forma  complexa,  em  algo  que  os  recursos  atuais  
possam  compreender  e  modelar.  Assim,  de  acordo  com  Brasil  [1]  no  princípio,  transforma-­‐se  a  
estrutura  real  em  um  modelo  físico  (ou  conceitual),  por  simplificações  como  barras,  placas,  
apoios  idealizados,  materiais  de  comportamento  simplificado,  massas  pontuais,  etc.  A  partir  de  
então,  constrói-­‐se  um  modelo  matemático,  um  sistema  de  equações  relacionando  as  
características  da  estrutura,  introduzindo  as  leis  da  mecânica.  Na  fase  final,  procura-­‐se  resolver  
essas  equações  por  vias  analíticas  ou  numéricas.    
 
No  caso  da  dinâmica  das  estruturas,  o  modelo  matemático  a  que  se  chega  é  constituído  de  
sistemas  de  equações  diferenciais  em  que  o  tempo  tem  papel  fundamental.  Isso  é  bem  
diferente  do  caso  estático,  em  que  se  recai  em  sistemas  de  equações  algébricas.  
Atualmente,  os  processos  de  modelagem  matemática  e  de  solução  numérica  foram  
transformados  pelo  advento  da  computação  através  de  programas  de  modelagem.  Outro  
processo  talvez  ainda  mais  importante,  que  ocorreu  em  função  do  desenvolvimento  dos  
computadores,  foi  o  desenvolvimento  do  Método  dos  Elementos  Finitos.  Esse  método  pode  
ser  melhor  verificado  em  CLOUGH  e  PENZIEN  [2].  
 
1.2  Vibrações  Mecânicas  em  Máquinas  Rotativas    
 
Vibrações  causadas  por  equipamentos  mecânicos,  como  máquinas  rotativas,  devem  ser  
rigidamente  controladas  de  acordo  com  a  aplicação  e  os  critérios  de  normas  técnicas  
existentes,  e  devem  ser  utilizadas  como  uma  base  das  condições  de  funcionamento  de  
equipamentos  mecânicos,  sobretudo  no  caso  de  manutenções  preditivas.  Em  seus  estudos  
Soeiro  [3]  mostra  que  a  manutenção  preditiva  é  um  formato  de  manutenção  onde  se  
considera  que  em  equipamentos  ou  máquinas,  geralmente  em  regime  de  operação,  deve  
ocorrer  o  monitoramento  contínuo  e  programado  com  o  objetivo  de  detecção  falhas  como  
desbalanceamento,  desalinhamento,  folgas  generalizadas,  má  fixação,  campo  elétrico  
desequilibrado,  etc.    
 
Desgaste  prematuro  de  seus  componentes,  quebras  inesperadas  de  peças,  fadiga  estrutural  do  
equipamento  e  de  sua  base  suporte,  desconexão  de  partes  e  até  uma  possível  parada  do  
equipamento  não  programada,  são  as  falhas  nas  máquinas  que  ocasionam  vibrações  
excessivas  de  partes  do  equipamento  e  podem  provocar  danos  aos  processos  industriais.  
Assim  esse  formato  de  manutenção,  a  preditiva,  permite  indicar  a  operação  do  equipamento  
com  máxima  eficiência  durante  sua  vida  útil,  minimizando  os  custos  de  manutenção.  

3  
                                                                                                                                     
Dentro  do  pilares  da  manutenção  acima  citada,  para  efetuar  o  controle  dos  fenômenos  de  
vibração  devem  ser  seguidos  três  procedimentos  diferenciados,  considerando  o  último  como  o  
foco  do  estudo:  
 
-­‐  Eliminação  das  fontes:  balanceamento,  alinhamento,  troca  de  peças  defeituosas,  aperto  de  
bases  soltas,  etc.
  
-­‐  Isolamento  das  partes:  colocação  de  um  modo  elástico  amortecedor  de  modo  a  reduzir  a  
transmissão  da  vibração  a  níveis  toleráveis.  
-­‐  Atenuação  da  resposta:  alteração  da  estrutura  (reforços,  massas  auxiliares,  mudança  de  
frequência  natural,  etc.).  
 
1.3  Justificativa  e  Objetivos  da  Pesquisa  
 
O  avanço  do  desenvolvimento  tecnológico  e  científico,  que  vem  ocorrendo  ao  longo  das  
últimas  décadas  na  construção  civil  e  industrial,  continua  evoluindo  considerando  o  
conhecimento  no  desenvolvimento  dos  materiais,  novas  técnicas  construtivas  e  novos  
modelos  de  produção,  sobretudo  no  aprimoramento  dos  processos  de  cálculo.  Assim,  o  
desenvolver  de  novos  projetos,  com  estruturas  de  aço,  se  torna  a  cada  dia  mais  responsável  
por  promover  maior  industrialização  da  construção  civil,  onde  consideramos  a  utilização  de  
peças  pré-­‐fabricadas  e  pré-­‐montadas,  incluindo  o  maior  controle  de  qualidade,  influenciando  o  
aparecimento  de  obras  com  grandes  vãos  e  com  o  tempo  de  construção  reduzido.    
 
Escolas  de  engenharia  e  empresas,  cada  vez  mais,  desenvolvem  soluções  estruturais  mais  
leves,  com  menor  custo  de  produção,  com  maior  velocidade  de  construção  e  maior  gama  de  
aplicação.  Esse  desenvolvimento  acaba  gerando  estruturas  mais  esbeltas,  flexíveis  e  com  baixo  
fator  de  amortecimento,  onde  essas  estruturas  se  tornam  mais  suscetíveis  a  problemas  de  
dinâmica  com  níveis  de  vibração  indesejáveis.  Considerando  a  aplicação  de  ações  como  de  
ventos,  explosões,  terremotos,  tráfego  de  veículos,  movimentação  de  pessoas,  ação  de  
equipamentos,  ondas,  escoamento  turbulento  de  fluidos,  onde  nessas  ações,  podem  aparecer  
mais  de  uma  característica,  como  intensidade,  sentido,  direção  e  posição,  que  são  variáveis  ao  
longo  da  vida  útil  da  estrutura,  amplificando  a  ação  dinâmica  da  estrutura.  
 
Em  sua  pesquisa,  Assunção  [4]  mostra  que  as  estruturas  devem  resistir  às  combinações  de  
carregamentos  mais  críticas  previstas  para  toda  a  sua  vida  útil  com  certa  reserva  de  segurança.  
Para  os  carregamentos  mais  comuns,  consideram-­‐se  o  peso  próprio  da  estrutura,  as  ações  
acidentais,  as  sobrecargas  previstas,  os  recalques,  as  variações  de  temperatura  e  as  ações  
decorrentes  da  natureza.  
 
Para  que  o  dimensionamento  de  estruturas  sujeita  a  vibração,  causadas  por  carregamento  
dinâmico,  fique  de  acordo  com  critérios  desenvolvidos  nas  normas  técnicas  vigentes,  uma  
análise  dinâmica  estrutural  deve  ser  realizada,  ou  seja,  realizar  uma  manipulação  das  
propriedades  dinâmicas  dos  sistemas  estruturais,  tais  como  massa,  rigidez  e  amortecimento  
estrutural,  considerando  os  movimentos  vibratórios  dos  equipamentos  mecânicos.  Em  uma  
análise  dinâmica  estrutural,  é  muito  importante  considerar  que  o  modelo  numérico  
computacional  deve  representar  a  forma  mais  real  possível  do  sistema  físico  a  ser  analisado.    

4  
                                                                                                                                     
Assim  em  projetos  industriais,  de  forma  geral,  que  contenham  plataformas  ou  pórticos  de  aço,  
que  estão  sujeitos  a  ações  dinâmicas  provenientes  dos  mais  diversos  tipos  de  equipamentos  
envolvidos  nos  processos  de  produção,  onde  em  sua  grande  maioria  há  a  necessidade  de  
aplicação  de  máquinas  rotativas,  devem  ser  realizadas  análises  dinâmicas.  Com  isso,  as  
máquinas  rotativas  causam  um  efeito  dinâmico  sobre  a  estrutura,  que  ocorre  pelo  
desbalanceamento  do  rotor,  ou  seja,  a  concentração  de  massa  fora  do  eixo  de  rotação  do  
rotor,  onde  vibrações  harmônicas  são  causadas  pelo  desbalanceamento,  gerando  várias  
condições  dinâmicas  na  estrutura.    
 
A  estrutura  suporte  deve  ser  dimensionada  de  forma  a  prevenir  que  vibrações,  com  limites  
inaceitáveis,  sejam  transmitidas  às  estruturas  e  outros  envolvidos  nas  proximidades,  
respeitando  as  amplitudes  e  acelerações  máximas  em  função  do  equipamento  e  dos  critérios,  
tanto  do  conforto  humano  quanto  do  bom  desempenho  dos  equipamentos  e  estruturas  
suportes.  
 
O  estudo  da  analisa  dinâmica  em  estruturas  submetidas  a  carregamentos  dinâmicos,  como  as  
vibrações  geradas  por  equipamentos  mecânicos  rotativos,  é  de  forma  geral  um  processo  de  
difícil  aplicação  pela  grande  maioria  dos  engenheiros  mecânicos  e  civis  e  os  que  atuam  na  área  
de  projetos  estruturais.  Dificuldades  como  na  quantificação  do  carregamento,  na  
representação  da  excitação  dinâmica,  na  determinação  real  das  causas  e  efeitos  das  vibrações  
sobre  as  estruturas,  pessoas  e  equipamentos  e  ainda  a  energia  necessária  para  dissipar  esta  
excitação.  Considerando  estas  dificuldades,  a  maioria  dos  engenheiros  projetistas  de  
estruturas,  geralmente  superestimam  as  estruturas  de  forma  a  considerar  os  carregamentos  
dinâmicos  como  carregamentos  estáticos  multiplicados  por  fatores  de  amplificação  dinâmica.  
 
Diante  da  facilidade  de  acesso  a  computadores  com  alto  desempenho  e  softwares  
computacionais  cada  vez  mais  avançados,  a  capacidade  de  análise  dos  sistemas  estruturais  foi  
ampliada,  gerando  soluções  mais  rápidas  e  precisas.  Por  outro  lado,  ainda  os  fabricantes  de  
máquinas  preocupam-­‐se  de  forma  geral  somente  com  o  bom  desempenho  e  funcionamento  
de  seus  equipamentos,  e  ainda  omitem  ou  não  têm  dados  suficientes,  como  alguns  dados  
necessários  para  o  cálculo  das  estruturas  que  suportam  estes  equipamentos,  como  as  forças  
dinâmicas  reais  geradas  por  estas  máquinas.  Assim,  as  estruturas  suportes,  se  não  projetadas  
adequadamente,  podem  causar  falhas  no  equipamento  e  na  própria  estrutura.  Com  isso,  os  
danos  geram  paradas  da  produção  para  manutenções,  como  troca  de  componentes  mecânicos  
e  de  reforço  da  estrutura,  o  que  acarreta  em  custos  para  as  empresas.  O  fato  de  as  estruturas  
apresentarem  custos  muito  inferiores  quando  comparados  aos  custos  dos  equipamentos  é  um  
fator  muito  comum  para  o  não  dimensionamento  dinâmico  efetivo.    
 
No  período  de  desenvolvimento  desta  pesquisa,  percebe-­‐se  que  a  análise  de  vibração  de  
estruturas  de  aço  suportes  de  máquinas  rotativas  é  um  assunto  pouco  estudado.  A  maioria  das  
pesquisas  encontradas  é  ainda  considerando  a  análise  dinâmica  de  estruturas  constituídas  
totalmente  em  concreto  ou  estruturas  mistas.    
 
Esse  trabalho  visa  à  análise  do  efeito  do  carregamento  dos  equipamentos  mecânicos  rotativos  
sobre  estruturas  de  aço  suportes  presentes  no  ambiente,  principalmente,  industrial.  Assim,  
parâmetros  iniciais  serão  estabelecidos  para  os  três  tipos  de  ligações  (rígidas,  rotuladas  ou  

5  
                                                                                                                                     
semirrígidas)  entre  perfis  metálicos  que  podem  ser  considerados  no  projeto  dessas  estruturas  
de  aço  que  suportam  os  equipamentos  e  verificando  qual  base  têm  o  melhor  desempenho  em  
relação  ao  carregamento  dinâmico  provocado  pelos  equipamentos  nas  estruturas  suportes.  
 
O  Estudo  faz  a  análise  de  um  modelo  numérico  computacional  de  uma  estrutura  metálica  
suporte  de  bombas  centrifuga  movidas  por  motores  elétricos,  ou  conjunto  moto-­‐bomba,  
considerando  que  a  sua  ocorrência,  ou  de  equipamentos  com  suas  características,  é  muito  
comum  na  indústria  em  geral.  
 
A  Figura  01  apresenta  um  conjunto  moto-­‐bomba  utilizado  em  projetos  industriais.  
 
Figura  01  -­‐  Conjunto  moto-­‐bomba.  Fonte:  KSB  Bombas.  
 

 
 
2    MATERIAIS  E  MÉTODOS  
 
2.1  Considerações  Para  o  Projeto  de  Estruturas  de  Aço  Suportes  –  Recomendações  
 
Conforme  pesquisas  passadas,  considerava-­‐se  que  o  efeito  das  cargas  dinâmicas  sobre  as  
estruturas,  poderia  ser  considerado  através  de  majoração  das  cargas  estáticas.  Contudo  em  
pesquisas  recentes,  verifica-­‐se  que  a  os  trabalhos  passados  não  representavam,  de  forma  
correta,  o  efeito  das  cargas  dinâmicas  na  estrutura,  visto  que  a  análise  dos  efeitos  causados  
por  uma  carga  dinâmica  difere  muito  da  análise  dos  efeitos  causados  por  uma  carga  estática.  
Assim,  características  inerentes  a  cada  tipo  de  atividade  que  geram  uma  excitação  dinâmica,  
devem  ser  consideradas  como  carregamentos  que  possuem  frequência,  amplitude  e  forma,  
levando  os  sistemas  estruturais  a  diferentes  tipos  de  perturbações.  
 
A  seguir  serão  apresentadas  normas  que  se  referem  à  análise  de  estruturas  submetidas  a  
ações  dinâmicas  e  critérios  relativos  à  análise  do  conforto  humano  e  o  bom  desempenho  dos  
equipamentos  mecânicos.  
 
 

6  
                                                                                                                                     
2.1.1  Norma  Brasileira  –  Projeto  de  estruturas  de  aço  e  de  estruturas  mistas  de  aço  e  
concreto  de  edifícios:  NBR  8800  (2008)  
 
A  norma  brasileira,  NBR  8800  [5],  indica  que  estruturas  de  pisos  formadas  por  grandes  vãos  e  
baixo  amortecimento  podem  resultar  em  vibrações  que  provocam  desconforto  durante  as  
atividades  humanas  normais  e  causar  prejuízo  no  bom  funcionamento  de  equipamentos.  
A  NBR  8800  [5]  recomenda  que  em  nenhum  caso  a  frequência  natural  da  estrutura  do  piso  seja  
inferior  a  3  Hz  e  para  estruturas  com  problemas  de  vibração  em  pisos,  o  projetista  deverá  
recorrer  a  uma  análise  dinâmica  que  leve  em  conta  os  seguintes  fatores:  
 
a)  As  características  e  a  natureza  das  excitações  dinâmicas,  como  por  exemplo,  as  decorrentes  
do  caminhar  de  pessoas,  de  atividades  rítmicas,  de  máquinas  com  partes  rotativas,  etc.;
  
b)  Os  critérios  de  aceitação  para  conforto  humano  em  função  do  uso  e  ocupação  das  áreas  do  
piso;  
c)  A  frequência  natural  da  estrutura  do  piso;
  
d)  A  razão  de  amortecimento  modal;
  
e)  Os  pesos  efetivos  do  piso.
  
 
A  NBR  8800  [5]  indica  e  recomenda,  para  análises  mais  precisas,  algumas  normas  e  
especificações  nacionais  e  internacionais,  além  de  bibliografia  especializada.  
 
2.1.2  Deutsche  norm  -­‐  Vibrations  in  buildings  -­‐  part  3:  Effects  on  structures:  DIN  4150-­‐3  
(1999)  
 
A  norma  alemã  DIN  4150-­‐3  [6]  fornece  valores  limites  de  velocidade  de  vibração  de  partícula  
em  mm/s,  levando  em  consideração  o  tipo  de  estrutura  e  o  intervalo  da  frequência  em  Hz.  
As  três  classes  de  edificações  a  que  a  norma  se  refere  são:    
 
a)  Edifícios  industriais;
  
b)  Habitações;
  
c)  Monumentos  de  construções  delicadas.  
 
As  frequências  são  analisadas  em  três  intervalos,  a  saber:  valores  inferiores  a  10  Hz,  valores  
entre  10  e  50  Hz  e  valores  entre  50  e  100  Hz.  A  norma  DIN  4150-­‐3  [6]  recomenda  que,  para  
frequências  acima  de  100  Hz,  a  estrutura  suporta  níveis  altos  de  vibração.  
 
Para  estruturas  de  instalações  industriais,  a  DIN  4150-­‐3  [6]  admite  velocidades  de  até  50  mm/s  
para  frequências  entre  50  e  100  Hz,  no  nível  da  fundação,  para  que  não  ocorram  danos  
estruturais,  enquanto  que  para  o  pavimento  mais  elevado  da  edificação  admite-­‐se  até  40  
mm/s  em  qualquer  frequência,  sem  riscos  de  danos.  
 
Na  avaliação  dos  danos  estruturais  provocados  pelas  vibrações  do  terreno,  os  valores  limites  
de  velocidade  admissíveis  para  diversos  tipos  de  construção,  em  função  da  frequência  são  
 apresentados  na  Tabela  01.  

7  
                                                                                                                                     
Tabela  01:  Velocidade  permissível  para  vibrações  transientes  em  edifícios  -­‐  DIN  4150-­‐3  (1999)  
 

 
 
Valores  de  frequências  superiores  a  100  Hz  podem  ser  aceitos  nas  partes  mais  elevadas  das  
edificações.  Outros  valores,  medidos  abaixo  dos  limites  especificados  anteriormente  são  
considerados  não  danosos  à  estrutura.  A  DIN  4150-­‐3  [6]  é  reconhecida  e  aceita  por  toda  a  
comunidade  europeia  como  norma  padrão.  Diversos  países  europeus  desenvolveram  normas  
próprias,  baseadas  ou  relacionadas  à  DIN  4150-­‐3  [6].  
 
2.1.3  British  Standard  –  Evaluation  and  measurement  for  vibration  in  buildings  -­‐  part  1:  
Guide  for  measurement  of  vibrations  and  evaluation  of  their  effects  on  buildings:  BS  7385-­‐1  
(1990)  
 
A  norma  britânica  BS  7385-­‐1  [7]  define  três  tipos  de  danos  em  edificações:  danos  estéticos,  
danos  menores  e  danos  maiores  ou  estruturais.  Esses  valores  são  baseados  em  termos  de  
velocidade  máxima  e  frequência.  
 
A  norma  BS  7385-­‐1  [7]  admite  um  limite  de  velocidade  de  50  mm/s  (medido  na  base  do  
edifício)  em  qualquer  frequência  para  que  não  ocorram  danos  em  estruturas  industriais  
aporticadas  sujeitas  a  vibração  contínua,  em  que  se  observa  amplificação  dinâmica  na  
resposta.  
 
2.2  Considerações  Sobre  Dinâmica  de  Rotores  de  Máquinas  Rotativas  
 
2.2.1  Fundamentos  da  dinâmica  de  rotores  
 
Na  simulação  numérica  da  dinâmica  de  rotores,  a  formulação  de  um  modelo  matemático  que  
represente  um  sistema  rotativo  requer  o  conhecimento  prévio  de  parâmetros  de  projeto,  
como  dimensões  e  dados  dos  materiais.  O  sucesso  de  um  projeto  de  uma  máquina  rotativa  
consiste  principalmente  em:  
 
-­‐  Evitar  velocidades  críticas,  se  possível;  
-­‐  Minimizar  a  resposta  dinâmica  nos  picos  de  ressonância,  caso  seja  necessário;  
-­‐  Passar  por  uma  velocidade  crítica;  
-­‐  Evitar  instabilidade;  
-­‐  Minimizar  as  vibrações  e  as  cargas  transmitidas  à  estrutura  da  máquina  durante  todo  o  
intervalo  de  operação.  

8  
                                                                                                                                     
As  velocidades  críticas  pelas  quais  uma  máquina  pode  passar  até  atingir  sua  rotação  de  
trabalho,  tornam-­‐se  um  dos  grandes  inconvenientes  na  dinâmica  de  rotores.  Nestas  
velocidades,  o  eixo  da  máquina  pode  atingir  grandes  amplitudes  de  vibração  que  podem  
causar  danos  irreversíveis  nos  mancais  e  demais  componentes  do  rotor.  
 
No  caso  de  um  rotor  com  o  eixo  em  material  convencional,  os  caminhos  possíveis  para  reduzir  
a  amplitude  nas  velocidades  críticas  são:    
-­‐  Balancear  o  rotor,  que  significa  ir  direto  à  fonte  do  problema,  contudo,  dificilmente  se  
consegue  balancear  um  rotor  com  perfeição.    
-­‐  Alterar  a  velocidade  de  rotação  da  máquina,  distanciando-­‐a  das  velocidades  críticas,  ou  
alterar  a  velocidade  crítica  através  da  variação  da  rigidez  dos  mancais.      
 
Se  a  máquina  opera  próximo  da  velocidade  crítica  e  esta  velocidade  é  imprescindível,  a  solução  
é  adicionar  amortecimento  externo  ao  rotor.  Esta  propriedade  pode  ser  utilizada  na  dinâmica  
de  rotores,  onde  se  necessita  reduzir  as  amplitudes  de  vibração  quando  este  é  excitado  em  
uma  de  suas  velocidades  críticas.  É  ainda  necessário  dispor  de  hipóteses  simplificadoras  que  
viabilizam  o  modelo  numérico,  sem,  contudo,  descaracterizar  o  seu  comportamento.  
 
2.2.2  NBR  8008  (1983)  –  Balanceamento  de  corpos  rotativos  
 
A  Norma  NBR  8008  [8]  fornece  o  desbalanceamento  residual  admissível  para  rotores  em  
função  do  tipo  de  máquina  (quanto  maior  for  a  massa  do  rotor,  tanto  maior  é  o  
desbalanceamento  admissível)  e  da  rotação  nominal  (o  desbalanceamento  residual  admissível  
varia  inversamente  com  a  velocidade  de  operação).  
 
2.2.3  EUROCODE  1,  Parte  3:  Ações  induzidas  por  guindastes  e  maquinas  (2002).  
 
A  norma  europeia  EUROCODE  1,  PARTE  3  [9],  na  seção  de  ações  induzidas  por  máquinas,  
auxilia  nas  características  destas  informações  a  serem  requeridas  e  determina,  para  os  casos  
mais  simples,  a  força  dinâmica  gerada  por  máquinas  com  partes  rotativas  conforme  a  Equação  
1.    
F  =  mrt.e.Ω2  =  mrt.(eΩ).Ω  (1)                  
Onde:  
F  =  força  excitante  
mrt  =  Massa  do  rotor  
Ω  =  frequência  circular  do  rotor  
e  =  excentricidade  da  massa  do  rotor  
eΩ  =  Qualidade  de  Balanceamento  (Fornecido  por  ISO  1940-­‐1  [10])  
 
2.2.4  International  Standard  –  Mechanical  vibration  of  machines  with  operating  speeds  from  
10  to  200  rev/s  –  Basis  for  specifying  evaluation  standards:  ISO  2372  (1974)  
 
Para  o  bom  funcionamento  das  máquinas  rotativas,  a  ISO  2372  [11]  estabelece  limites  de  
vibração  que  dependem  da  potência  da  máquina  e  do  tipo  de  fundação.  As  vibrações  são  
medidas  em  pontos  das  superfícies  das  máquinas  que  operam  com  frequência  na  faixa  de  10  a  
1000  Hz.  A  Tabela  02  apresenta  as  faixas  de  classificação:  

9  
                                                                                                                                     
 
Tabela  02:  Critérios  de  severidade  das  vibrações  de  máquinas.  ISO  2372.  
 

 
Onde:  
Classe  I  -­‐  máquinas  pequenas  de  até  15  kW;  
Classe  II  -­‐  máquinas  médias  de  15  kW  a  75  kW  quando  rigidamente  montadas,  ou  acima  de  300  
kW  com  fundações  especiais;  
Classe  III  -­‐  grandes  máquinas  com  fundação  rígida  e  pesada,  cuja  frequência  natural  não  
exceda  a  velocidade  da  máquina;  
Classe  IV  -­‐  grandes  máquinas  que  operam  com  velocidade  acima  da  frequência  natural  da  
fundação,  como  as  turbo-­‐máquinas.  
 
2.2.5  Handbook  of  machine  foundations  (1976)  
 
Outra  referência  encontrada  na  literatura  técnica  disponível  sobre  o  tema,  SRINIVASULU  e  
VAIDYANATHAN  [12]  fornece  uma  tabela  mais  simples  de  valores  limites  de  amplitudes  de  
vibrações  para  diversos  tipos  de  máquinas.  A  Tabela  03  apresenta  os  valores  propostos  por  
SRINIVASULU  e  VAIDYANATHAN  [12].  Onde  essa  tabela  será  usada  para  validação  dos  modelos  
propostos  nesta  pesquisa.  
 
Tabela  03:  Amplitudes  admissíveis  de  vibração  de  acordo  com  a  velocidade  do  equipamento.  
SRINIVASULU  e  VAIDYANATHAN  (1976)  

10  
                                                                                                                                     
2.2.6  Forças  desbalanceadas  em  máquinas  rotativas  
 
Conforme  Brasil  [1],  modelar  uma  força  desbalanceada,  girando  em  torno  de  um  eixo  como  
uma  força  atuando  no  plano  vertical  (x1-­‐x2),  apontando  “todas”  as  direções,  deve-­‐se  aplicar  
esta  força  em  duas  direções  ortogonais  entre  si,  uma  na  direção  horizontal  (x1)  com  fase  t0,  
igual  a  zero,  e  outra  na  direção  vertical  (x2)  com  fase    t0,  igual  a  ¼  do  período  de  vibração  desta  
força  desbalanceada.  Assim,  à  medida  que  o  tempo  avança,  teremos  uma  variação  de  duas  
forças  de  modo  que  a  composição  destas  resultará  na  força  desbalanceada,  pois  uma  estará  
sendo  multiplicada  por  sen(wt)  e  a  outra  por  sen(wt+π/2),  e  enquanto  uma  for  máxima  a  outra  
será  nula,  e  vice-­‐versa.  
 
2.3  Modelagem  do  Carregamento  Dinâmico    
 
O  modelo  utilizado  neste  trabalho  é  composto  por  2  conjuntos  moto-­‐bombas  (Motor  elétrico  e  
um  bomba  hidráulica)  montados  sobre  uma  plataforma  (Pórtico  Espacial),  um  deles  com  seu  
eixo  orientado  transversalmente  ao  pórtico  e  o  segundo  com  seu  eixo  orientado  
longitudinalmente.    
 
Dados  do  Motor  Elétrico:  
Massa  Total:  MTm  =  9.448  kg  
Qualidade  do  desbalanceamento:  Q  =  2,5  mm/s  
Frequência  de  Operação:  f  =  60  Hz  
 
Dados  da  Bomba  KSB  RDLO  350  575:  
Massa  Total:  MT  b=  2.600  kg  
 
Dados  da  Estrutura:  
Pilares  e  Vigas  Principais:  Perfil  W410x38,8.  
Contraventamentos  e  Vigas  Secundárias:  Perfil  W380x44,5.  
Motor:  Perfil  Geométrico  Retangular  com  propriedades  do  aço  com  o  peso  total  do  conjunto.    
Coeficiente  de  amortecimento:  0,8%.  
 
Figura  02:  Indicação  dos  Nós  da  estrutura.  

11  
                                                                                                                                     
 
Figura  03:  Estrutura  suporte  dimensionada.  

12  
 
                                                                                                                                     
 
2.3.1  Modelo  das  ligações  Rígidas  (Modelo  I)    
 
Figura  4:  Modelo  de  ligação  rígida  
 

 
2.3.2  Modelo  das  ligações  Flexíveis  (Modelo  II)    
 
Figura  5:  Modelo  de  ligação  flexível  
 

13  
                                                                                                                                     
 
2.3.3  Modelo  das  ligações  Semirrígidas  (Modelo  III)    
 
Figura  6:  Modelo  de  ligação  semirrígida  

 
A  ligação  semirrígida  foi  estabelecida  de  acordo  com  os  estudos  de  JONES  and  KIRBY  (1980)  
[13].  Assim  consideramos  a  ligação  semirrígida  com  mola  de  3000  tf*metro/rad.  
 
2.3.1  Considerações  iniciais  –  aplicação  dos  pesos  nodais  
 
A  distribuição  das  massas  dos  equipamentos  depende  da  posição  dos  centros  de  gravidade  dos  
equipamentos,  dos  rotores  e  da  forma  como  estes  equipamentos  estão  apoiados  sobre  a  
estrutura.  No  modelo,  a  massa  total  de  cada  Conjunto  Moto-­‐Bomba  é  considerada  de  
12.200kg  e  foi  inteiramente  aplicada  nos  pontos  de  apoio  de  seu  eixo.  A  massa  da  estrutura  foi  
aplicada  em  seus  Nós  na  forma  de  Pesos  Nodais,  conforme  a  figura  07  (O  peso  Próprio  dos  
Perfis  é  considerado,  contudo  não  esta  visualizado).  
 
Tabela  04:  Aplicação  de  Massa  nos  Nós  dos  Conjuntos  Moto-­‐Bomba.  
 
Conjunto Ponto(de(aplicação Massa
CMB1 Nós(52(e(53 12.200(kg
CMB2 Nós(54(e(55 12.200(kg  
 

 
 

14  
                                                                                                                                     
Figura  07:  Indicação  da  aplicação  dos  Pesos  Nodais  dos  Conjuntos  no  modelo.  

2.3.3  Descrição  do  carregamento  dinâmico  -­‐  Cálculo  das  forças  dinâmicas  do  equipamento  
 
O  desbalanceamento  do  conjunto  moto-­‐bomba  gera  uma  força  centrífuga,  a  qual  depende  da  
massa  total  do  conjunto  distribuída  nos  dois  pontos  do  eixo,  da  excentricidade  entre  o  centro  
de  gravidade  do  rotor  e  o  eixo  geométrico  de  rotação,  e  da  velocidade  angular  do  conjunto.  
 
FT  =  Mcmb/2.Q.Ω  =  6100.(0,0025).(60.2π)  ≈  0,58  tf  
 
Tabela  05:  Carregamentos  Dinâmicos  aplicados  aos  Nós.  
 
Carregamentos Força-.-Nós Direção
CMB1.X1-.-f=60Hz-.-T=0.016s-.-t0=0.00s 0,29-tf-.-52/53 X1
CMB1.X2-.-f=60Hz-.-T=0.016s-.-t0=0.004s 0,29-tf-.-52/53 X2
CMB2.X3-.-f=60Hz-.-T=0.016s-.-t0=0.00s 0,29-tf-.-54/55 X3
CMB2.23-.-f=60Hz-.-T=0.016s-.-t0=0.004s   0,29-tf-.-54/55 X2
 
Abaixo  se  mostra  nas  Figuras  08  e  09  a  aplicação  dos  carregamentos  no  Conjunto  Moto-­‐Bomba  
1.  A  aplicação  no  Conjunto  Moto-­‐Bomba  2  é  idêntica.  
 
Figura  08:  Força  Dinâmica  1  aplicada  ao  modelo.  
 

15  
                                                                                                                                     
 
Figura  09:  Força  Dinâmica  2  aplicada  ao  modelo.  
 

 
 
 
3  RESULTADOS  E  DISCUSSÃO  
 
3.1  Análise  Dinâmica  da  Estrutura  
 
Definidos  os  dois  carregamentos  (forças)  ortogonais  para  cada  Equipamento,  deve-­‐se  
combiná-­‐los  no  módulo  análise  dinâmica  do  STRAP  2012,  de  modo  que  os  resultados  sejam  
somados  instante  a  instante  de  tempo,  de  cada  um  dos  carregamentos  dinâmicos,  e  jamais  
somados  os  resultados  máximos  deles,  tomado  como  carregamentos  separados.    Após  o  
carregamento  dinâmico  aplicado,  no  Módulo  “Time  History”,  pode-­‐se  visualizar  as  amplitudes  
nodais  máximas  em  regime  permanente  de  operação,  com  as  respostas,  no  regime  
permanente,  no  período  de  10,0  a  10,1  segundos,  nos  nós  52  e  54,  assim  verificando  qual  
estrutura  tem  o  melhor  desempenho  na  relação  carregamento  e  deslocamento  nodal.  Vale  
ressaltar  que  os  fabricantes  de  máquinas  têm  seus  limites  de  deslocamentos  baseados,  de  
maneira  geral,  no  Handbook  of  Machine  Foundations  de  SRINIVASULU  e  VAIDYANATHAN  [12].    
 
 
3.2  Análise  das  Amplitudes  
 
Cada  modelo  foi  analisado  em  seus  planos  horizontais  (x1  e  x3)  e  verticais  (x2)  e  gerado  um  
gráfico  das  amplitudes,  ou  deslocamentos,  máximos  e  mínimos,  conforme  a  figura  10.  Assim,  
observa-­‐se  na  Tabela  06,  que  os  deslocamentos  gerados  nos  três  modelos  têm  uma  variação  
pequena  entre  as  estruturas  e  todas  dentro  dos  padrões  permitidos  conforme  a  Tabela  3  do  
Handbook  of  Machine  Foundations  de  SRINIVASULU  e  VAIDYANATHAN  [12].    
 
 
 
 

16  
                                                                                                                                     
Figura  10:  Deslocamentos,  no  período  de  10  a  10,1  segundos,  em  X1  da  combinação  1  no  Nó  
52  (metros*1000  =  milimetros).  
 

 
 
Tabela  06:  Deslocamentos  dos  Modelos  gerados  no  STRAP  (mm).  
 
Deslocamentos  por   Deslocamentos  em   Deslocamentos  em   Deslocamentos  em   Deslocamentos  em  
Modelo  gerado  no   X1  da  combinação  1   X2  da  combinação  1   X3  da  combinação  2   X2  da  combinação  2  
Strap   no  Nó  52  (mm)   no  Nó  52  (mm)   no  Nó  54  (mm)   no  Nó  54  (mm)  
Análise  Dinâmica  do   0,048   0,0031   0,0238   0,0029  
Modelo  I  -­‐  Com  
ligações  Rígidas:    
Análise  Dinâmica  do   0,0483   0,0031   0,0244   0,0029  
Modelo  II  -­‐  Com  
ligações  
Semirrígidas:  
Análise  Dinâmica  do   0,0507   0,0031   0,0253   0,0029  
Modelo  III  -­‐  Com  
ligações  Rotuladas:  
 
Nos  deslocamentos  em  X1  da  combinação  1  no  nó  52,  a  estrutura  Rígida  apresentou  melhor  
desempenho  e  a  estrutura  semirrígida  o  segundo  melhor  desempenho  e  a  rotulada  o  pior  
desempenho.  
 
Nos  deslocamentos  em  X2  da  combinação  1  no  nó  52,  as  estruturas  rígida,  rotulada  e    
semirrígida  apresentaram  o  mesmo  desempenho,  igual  nesse  caso.  
 
Nos  deslocamentos  em  X3  da  combinação  2  no  nó  54,  a  estrutura  Rígida  apresentou  melhor  
desempenho  e  a  estrutura  semirrígida  o  segundo  melhor  desempenho  e  a  rotulada  o  pior  
desempenho.  
 
Nos  deslocamentos  em  X2  da  combinação  2  no  nó  54,  as  estruturas  rígida,  rotulada  e    
semirrígida  apresentaram  o  mesmo  desempenho,  igual  nesse  caso.  
 
 
 

17  
                                                                                                                                     
4  CONCLUSÃO  
 
O  modelo  estrutural  estudado  tem  sua  rigidez  bem  dimensionada,  o  que  se  observa  é  que  
intuitivamente  a  utilização  de  estruturas  totalmente  rígidas,  pode  ser  a  melhor  solução  do  
ponto  de  vista  estrutural  dinâmico.  Contudo,  verificasse  que  nos  três  modelos  todas  as  
amplitudes  estão  de  acordo  com  a  Tabela  3  do  Handbook  of  Machine  Foundations  de  
SRINIVASULU  e  VAIDYANATHAN  [12],  e  ainda  por  outra  análise  do  programa  STRAP  2012,  os  
resultados  relacionados  às  velocidades,  que  não  foram  mostrados  nesse  trabalho,  também  
estão  de  acordo  com  a  Tabela  01  DIN  4150-­‐3  [6].    
 
O  presente  artigo  monstra  que  quando  há  uma  base  teórica  bem  fundamentada  e  ferramentas  
computacionais  adequadas,  a  realização  do  efetivo  cálculo  dinâmico  da  estrutura  e  do  
equipamento  pode  ser  certa  forma  simples  e  com  maior  capacidade  do  engenheiro  estrutural  
indicar  qual  a  melhor  estrutura  considerando  suas  ligações.  Assim  considerando  um  software  
como  o  STRAP  2012,  onde  a  há  uma  praticidade  na  sua  utilização  dentro  da  pesquisa,  os  
cálculos  de  dinâmica  estrutural  podem  ser  mais  confiáveis.  Por  fim  o  artigo  é  sugerido  como  
referência  para  futuros  cálculos  de  estruturas  suportes  de  máquinas  rotativas  e  como  sugestão  
fica  a  construção  real  dos  modelos.  
 
Agradecimentos  
 
Agradeço  os  colegas  André  e  Humberto  da  SAE  (Sistemas  de  Análise  Estrutural  Ltda)  pela  
licença  do  Software  STRAP  2012  para  o  período  de  pesquisas.  E  ainda  agradeço  os  colegas  do  
IFES  pelo  apoio  incondicional  e  o  IFES  como  fonte  indireta  de  financiamento  desta  pesquisa,  
devido  o  autor  1  ser  professor  efetivo  do  IFES  e  utilizar  seus  próprios  recursos  como  fonte  de  
financiamento  desta  pesquisa.  Por  fim  agradeço  a  atenção  dos  Orientadores.  
 
REFERÊNCIAS  
 
1  BRASIL,  REYOLANDO  M.  L.  R.  F.,  SILVA,  MARCELO  ARAUJO  DA  –  Introdução  à  dinâmica  das  
Estruturas  para  a  Engenharia  Civil  –  São  Paulo:  Blucher  (2013).  
 
2  CLOUGH,  R.  W.,  PENZIEN,  J.  Dynamics  of  Structures.  Third  Edition.  University  Avenue  
Berkeley,  California  94704  -­‐  USA.:  Computers  and  Structures,  Inc.,  (1995).  
 
3  SOEIRO,  N.  S.  Curso  de  Fundamentos  de  Vibrações  e  Balanceamento  de  Rotores.  Notas  de  
aula.  Universidade  Federal  do  Pará.  Pará,  PA,  Brasil,  (2008).  
 
4  ASSUNÇÃO,  T.  M.  R.  C.  Considerações  sobre  efeitos  dinâmicos  e  carregamentos  induzidos  
por  fontes  de  excitação  em  estruturas.  Dissertação  de  Mestrado.  Universidade  Federal  de  
Minas  Gerais,  Minas  Gerais,  MG,  Brasil,  (2009).  
 
5  ASSOCIAÇÃO  BRASILEIRA  DE  NORMAS  TÉCNICAS.  ABNT,  NBR  8800:  Projeto  e  Execução  de  
Estruturas  de  Aço  de  Edifícios.  (2008).  
 

18  
                                                                                                                                     
6  DEUTSCHES  INSTITUT  FÜR  NORMUNG.  DIN  4150-­‐3:  Vibration  in  buildings  -­‐  Part  3:  Effects  on  
structures.  (1999).  
 
7  BRITISH  STANDARD.  BS-­‐7385:  Evaluation  and  measurement  for  vibration  in  buildings.  Part  1  -­‐  
Guide  to  measurement  of  vibrations  and  evaluation  of  their  effects  on  buildings.  (1990).  
 
8  ASSOCIAÇÃO  BRASILEIRA  DE  NORMAS  TÉCNICAS.  ABNT,  NBR  8008:  Balanceamento  de  
Corpos  Rígidos  Rotativos  –  Balanceamento  –  Procedimentos.  (1983).  
 
9  EUROCODE  1:  ACTIONS  ON  STRUCTURES  -­‐  Part3:  Actions  induced  by  cranes  and  machinery;  
European  Committee  for  Standardization,  CEN,  Brussels,  second  draft,  (2002).  
 
10  ISO  -­‐  INTERNATIONAL  ORGANIZATION  FOR  STANDARDIZATION.  ISO  1940-­‐1:  Balance  quality  
of  rigid  bodies  (1986).  
 
11  ISO  -­‐  INTERNATIONAL  ORGANIZATION  FOR  STANDARDIZATION.  ISO  2372:  Mechanical  
Vibration  of  machines  whith  operating  speeds  from  10  to  200  rev/s  -­‐  Basis  for  specifying  
evaluation  standards  (1974).  
 
12  SRINIVASULU,  P.;  VAIDYANATHAN,  C.  V.  Handbook  of  Machine  Foundations.  New  Delhi,  
Índia,  (1976).    
 
13  JONES,  S.  W.,  KIRBY,  P.  A.,  Effect  of  Semi-­‐Rigid  Connections  ons  Steel  Column  Strength.  In:  
Journal  of  Construction  Steel  Research:  Vol.1,  Nº1.  (1980).  
 

19  
Tema: Estruturas de Aço e Mistas de Aço e Concreto

ANÁLISE NUMÉRICA DO COMPORTAMENTO ESTRUTURAL


DE CONECTORES DE CISALHAMENTO TIPO CRESTBOND
Ciro Maestre Dutra¹; Gustavo de Souza Veríssimo2; José Carlos Lopes Ribeiro2; José Luiz Rangel Paes3

¹ Mestrando em Engenharia Civil, Depto. de Engenharia Civil, Universidade Federal de Viçosa. Viçosa,
Minas Gerais, Brasil.
² Doutor em Engenharia de Estruturas, Professor do Depto. de Engenharia Civil, Universidade Federal de
Viçosa. Viçosa, Minas Gerais, Brasil.
³ Doutor em Ingeniería de La Construcción, Professor do Depto. de Engenharia Civil, Universidade
Federal de Viçosa. Viçosa, Minas Gerais, Brasil.

Resumo
Neste trabalho, apresenta-se uma modelagem numérica do comportamento estrutural do
conector de cisalhamento CRESTBOND, utilizando o Método dos Elementos Finitos.
Os modelos numéricos desenvolvidos apresentaram excelente correlação com resultados
experimentais, utilizando o modelo de dano com plasticidade para representação do concreto.
Nas simulações numéricas foram avaliadas diferentes estratégias de modelagem da interface
aço-concreto. Essas estratégias mostraram-se capazes de representar adequadamente os
fenômenos observados nos ensaios de laboratório. O modelo numérico desenvolvido mostrou-
se adequado para a simulação do comportamento estrutural dos conectores Crestbond, sendo
capaz de representar a interação entre o aço e o concreto, de caracterizar a carga máxima
resistida pela conexão e de caracterizar as deformações do conector, constituindo uma
ferramenta útil para vários outros estudos.

Palavras-chave: Crestbond; Modelo numérico; Conectores de cisalhamento; Método dos


elementos finitos.

NUMERICAL ANALYSIS ON THE STRUCTURAL


BEHAVIOUR OF CRESTBOND SHEAR CONNECTORS
Abstract
This paper presents a numeric analysis of the structural behaviour of Crestbond shear
connector, using the Finite Elements Method. The numerical models developed, using the
concrete damaged plasticity model to represent the slab, showed excellent correlation with
experimental data. Contact regions between steel and concrete elements were simulated
using different techniques. These techniques proved to rightly describe the phenomena
observed in experimental tests. The numerical model developed has proven to accordingly
simulate the structural behaviour of Crestbond connector, being able to represent the
interaction between steel and concrete, to predict the ultimate load resisted by the
connection and to estimate the ultimate strains of the connector, becoming a useful tool for
many studies.

Keywords: Crestbond; Numerical model; Shear connectors; Finite Elements Method.

________________________________
* Contribuição técnica ao Construmetal 2014 – Congresso Latino-Americano da Construção
Metálica – 02 a 04 de setembro de 2014, São Paulo, SP, Brasil.
1
1 INTRODUÇÃO

1.1 Considerações iniciais

As estruturas mistas de aço e concreto vêm sendo largamente utilizadas há várias décadas, em
função da solução eficiente e econômica que representam. Em edifícios de múltiplos andares e
em pontes é comum a consideração do comportamento misto, em que a laje de concreto
trabalha solidariamente com a viga de aço, permitindo o melhor aproveitamento possível das
características de cada um dos materiais. Com este artifício, obtém-se um sistema mais rígido
e mais resistente, podendo-se reduzir a altura do perfil de aço ou área da seção da laje,
aumentando a competitividade e a sustentabilidade da solução estrutural.
O comportamento misto das seções estruturais de aço e concreto é viabilizado pelo uso de
conectores de cisalhamento mecânicos, que permitem a transferência das forças que surgem
naturalmente entre o aço e o concreto.
Diversos dispositivos e configurações têm sido utilizados como conectores de cisalhamento.
No entanto, muitos deles apresentam restrições importantes no que se refere à produção
industrial, à instalação e ao próprio comportamento estrutural.
No Brasil, dois tipos de conectores de cisalhamento são comumente utilizados em sistemas de
mistos de aço e concreto: o conector tipo pino com cabeça, também conhecido como stud
bolt, e o conector em perfil U. O pino com cabeça proporciona grande produtividade na
instalação, e pode ser utilizado em sistemas com forma de aço incorporada ou com pré-laje,
porém requer equipamentos especiais para aplicação. O conector U é soldado manualmente e
sua instalação rende bem menos que a do stud.

(a) (b)
Figura 1- Conector Crestbond: contínuo e descontínuo (Veríssimo [1]).

Os conectores de cisalhamento são classificados em rígidos e flexíveis. Os conectores rígidos


não se deformam sob carga e proporcionam uma conexão praticamente sem deslizamento.
Entretanto, esses conectores geralmente sofrem ruptura frágil por esmagamento ou
cisalhamento do concreto. Os conectores flexíveis se deformam sob carga e geralmente são
sensíveis à fadiga. Um conector rígido, por outro lado, tende a não sofrer problemas de fadiga.
Buscando uma alternativa ao baixo desempenho dos studs à fadiga, Leonhardt et al. [2]
desenvolveram um conector rígido denominado Perfobond para aplicação em pontes mistas.
O Perfobond sofre apenas deformações elásticas de pequena magnitude em estado de serviço.
Consiste basicamente de uma chapa de aço plana com furos circulares soldada ao perfil
metálico e depois concretada (Figura 2). Seu funcionamento mecânico está relacionado com o
cisalhamento dos pinos virtuais de concreto que se formam nas aberturas do conector, em
dois planos de corte, caracterizando o chamado efeito de pino.

2
Figura 2- Conector Perfobond contínuo (Veríssimo [1]).

A norma europeia EN 1994-1-1:2004 [3] estabelece critérios para classificar um conector de


cisalhamento como rígido ou flexível. De acordo com esses critérios, o Perfobond é classificado
como um conector rígido [4][5].
Um conector de cisalhamento ideal deve possuir comportamento caracterizado por
deslizamento nulo, ou quase, para cargas de serviço, e ductilidade em estado limite último.
Portanto, as características de um conector rígido são desejáveis em condições de serviço e as
características de um conector flexível são desejáveis em estado limite último.
Atualmente, dois fatores representam dificuldades para a utilização dos conectores de
cisalhamento usuais no Brasil: um deles é o alto custo de instalação dos studs; outro é a
utilização de perfis laminados com mesas muito estreitas em vigas de sistemas de piso mistos
que utilizam pré-laje de concreto. Nesta última situação, o espaço disponível sobre a mesa do
perfil é insuficiente para a instalação de conectores em perfil U laminado.
O Crestbond (Figura 3) é um conector de cisalhamento em chapa contínua, com saliências e
reentrâncias trapezoidais para proporcionar o efeito de pino, criado com o objetivo de
possibilitar a variação da flexibilidade do conector conforme a necessidade e, além disso,
conciliar as seguintes vantagens:
• flexibilidade superior à do Perfobond, preservando o comportamento rígido em estado
de serviço;
• configuração para corte simétrico, a fim de maximizar a produtividade na fabricação;
• simplicidade e baixo custo de fabricação e instalação;
• furos abertos para facilitar a disposição da armadura da laje;
• geometria em chapa contínua, ideal para sistemas com pré-laje.

Dois programas experimentais foram conduzidos por Veríssimo [1], um na Universidade do


Minho, em Portugal, e outro na UFMG, compreendendo 40 ensaios de cisalhamento direto
tipo push-out, com o objetivo de avaliar o comportamento do Crestbond em algumas
condições especiais. No entanto, diversas questões sobre o comportamento do Crestbond
permaneceram em aberto.
Silva [6] iniciou o desenvolvimento de modelos numéricos de elementos finitos para simulação
do comportamento do Crestbond, utilizando o software ABAQUS, mas teve dificuldades com a
modelagem da influência da armadura e com a simulação do comportamento da conexão na
fase pós-pico.

3
Figura 3- Conector Crestbond: contínuo e descontínuo (Veríssimo [1]).
Neste trabalho, apresenta-se o desenvolvimento de novos modelos numéricos para simulação
do comportamento do Crestbond, com novas abordagens que conduziram a respostas com
melhor correlação com os resultados experimentais.

1.2 Objetivos

O objetivo geral deste trabalho foi desenvolver modelos numéricos capazes de simular o
comportamento do conector Crestbond, aperfeiçoando a abordagem de Silva [6], para estimar
a resistência e a ductilidade do conector, tendo como referência os experimentos realizados
por Veríssimo [1].

Os objetivos específicos foram:


 aprimorar a modelagem da armadura contida na laje, visando representar a influência da
armadura passante no comportamento da conexão;
 avaliar a resposta dos modelos utilizando as análises do tipo estática e do tipo dinâmica,
visando melhorar a simulação do comportamento da conexão na fase pós-pico;
 refinar o modelo constitutivo do concreto, modificando a forma de representar a curva do
comportamento do concreto à tração.

2 REVISÃO DE LITERATURA

2.1 Caracterização de conectores de cisalhamento


A norma EN1994-1-1-2004 [3] estabeleceu um ensaio padrão, do tipo push-out, para a
caracterização do comportamento de conectores de cisalhamento, cuja especificação é
mostrada na Figura 4. O corpo de prova consiste de duas pequenas lajes de concreto
conectadas a um perfil de aço por meio dos conectores de cisalhamento a serem avaliados.
O ensaio é realizado aplicando-se um carregamento lento no perfil de aço, que desliza em
relação às lajes de concreto, até a falha da conexão. Ao longo do ensaio, são registrados, em
intervalos de tempo pré-determinados, a carga aplicada e o deslizamento relativo entre o
perfil e a laje. Com esses dados obtém-se uma curva força×deslizamento que caracteriza o
comportamento do conector.

4
Figura 4- Corpo de prova para o ensaio push-out padrão (EN1994-1-1-2004 [3]).

2.2 Sobre o comportamento do conector Crestbond


A pesquisa realizada por Veríssimo [1] evidenciou diversos aspectos e vantagens importantes
da conexão com o Crestbond em relação ao observado nas conexões em que se utiliza o stud.
O Crestbond apresentou comportamento estrutural adequado, caracterizado por alta rigidez
para cargas de serviço e grande ductilidade em estado limite último, evidenciando potencial
para sua utilização em estruturas de pontes e de edifícios.
O comportamento mecânico do Crestbond é fortemente influenciado pelo cisalhamento dos
pinos virtuais de concreto que se formam nas aberturas do conector. Uma vez mobilizada a
conexão, o concreto comprimido contra as paredes das aberturas do conector sofre algum
confinamento, o que pode aumentar significativamente a capacidade resistente do concreto
nessa região, além de proporcionar um comportamento mais dúctil deste material.
Embora o ensaio do tipo push-out possibilite a obtenção da curva força-deslizamento, é difícil
neste tipo de ensaio investigar o que acontece na zona de contato entre o concreto e o
conector no interior da laje. Para esse fim, um modelo numérico bem calibrado é mais útil.
A calibração do modelo numérico é particularmente complexa, devido à dificuldade de ajustar
um modelo constitutivo que simule realisticamente o processo de dano no concreto.
Silva [15] desenvolveu um modelo de elementos finitos, utilizando o software ABAQUS, para o
estudo do conector de cisalhamento Crestbond, sem armadura transversal nas aberturas do
conector, utilizando análise estática implícita. Considerou a não linearidade física dos materiais
envolvidos e o modelo de dano do concreto com plasticidade, obtendo boa correlação entre
os resultados numéricos e experimentais.

2.3 Abordagens para a análise numérica


2.3.1 Análise estática implícita
Uma análise estática consiste na determinação de esforços e deformações ao longo de um
elemento estrutural, considerando que ele está em equilíbrio estático. Neste caso, a equação
de equilíbrio garante a minimização da energia potencial do sistema.

5
O comportamento da conexão de cisalhamento em ensaios push-out é, majoritariamente, não
linear. Geralmente, para simular este comportamento, utiliza-se um método de controle de
carga implícito, em que a carga é aplicada proporcionalmente em vários passos de carga. Em
cada passo é realizada uma iteração, e o caminho do equilíbrio é obtido, passo a passo, por
meio das relações de força × deslocamento.

2.3.2 Análise dinâmica explícita


Uma análise dinâmica consiste na determinação dos deslocamentos, velocidade e aceleração
dos elementos que constituem o corpo em análise, bem como os esforços e deformações, ao
longo de um intervalo de tempo. Neste caso, além das forças atuantes são consideradas
também as velocidades e acelerações dos elementos. Assim, pode-se escrever o equilíbrio
dinâmico como a soma das forças relativas à inércia, à rigidez, às forças externas e ao
amortecimento da estrutura, sendo esta soma nula.
A análise dinâmica explícita é um método baseado no controle de tempo. É popularmente
usada para estudar problemas de impacto, laminação de metais, falha e dano progressivo de
materiais, dentre outros, e particularmente adequada para a solução de problemas em meios
descontínuos, interações de contato e grandes deformações. Tem sido aplicada em diversos
problemas como falha e fissuração de concreto, laminação de chapas de aço, impactos de
lâminas compostas, etc.
Apesar de ser um método dinâmico, a análise dinâmica também pode ser utilizada para
resolver problemas quase estáticos. No método de análise dinâmica explícita, as matrizes
globais de massa e rigidez não precisam ser transformadas e invertidas, de forma que cada
incremento resulta em menos esforço computacional, quando comparado com a análise
estática implícita. O incremento de tempo é estabelecido conforme a malha e as propriedades
dos materiais.
A análise explícita é eficiente na solução de problemas com descontinuidades e de contato,
sendo assim, apropriada para a simulação de ensaios push-out. O método dinâmico explícito
pode ser utilizado para simular o ensaio push-out com a mesma taxa de carregamento
utilizada no ensaio de laboratório.

2.3.3 Análise não linear


O estudo do comportamento de estruturas mistas de aço e concreto até o limite da ruína
implica em considerar a plasticidade dos materiais por meio de uma análise não-linear.
O problema da não linearidade é de natureza essencialmente incremental, e a deformação
final de um elemento é obtida pela soma de todas as parcelas de deformações em cada
incremento de carga, durante os quais a matriz de rigidez da estrutura é atualizada segundo os
modelos constitutivos apropriados.
Devido aos complexos modelos para descrever o comportamento não linear dos materiais, em
conjunto com a necessidade de uma análise incremental, análises não lineares são,
normalmente, restritas a programas avançados de análise estrutural, com vastas bibliotecas de
elementos, modelos constitutivos e algoritmos de solução do equilíbrio.

2.3.4 Modelo de Dano com Plasticidade do Concreto (Concrete Damaged Plasticity)


O Modelo de Dano com Plasticidade (Concrete Damaged Plasticity) permite a análise de
estruturas de concreto sob cargas cíclicas e/ou dinâmicas. Sob baixas pressões de

6
confinamento, o concreto sofre ruptura frágil, sendo seu principal mecanismo de falha a
fissuração na tração e o esmagamento na compressão. Se a pressão de confinamento é
suficientemente grande para evitar a propagação de fissuras, a falha é causada pelo
adensamento e colapso da microestrutura porosa do concreto, acarretando uma resposta
macroscópica que se parece com a de um material dúctil com encruamento (Abaqus [7]).

2.3.5 O efeito de tension stiffening no concreto


O efeito de tension stiffening representa a capacidade que o concreto intacto entre fissuras
vizinhas possui de resistir a uma certa quantidade de forças de tração. A razão para este efeito
é a aderência entre o concreto e a armadura.
Na Figura 5 é apresentada uma curva tensão×deformação do concreto à tração, com o efeito
de tension stiffening após a fissuração do concreto.
σ
tensão

fct
curva
tension stiffening

Ec

εt deformação ε
Figura 5 - Curva tensão × deformação do concreto à tração com o efeito de tension stiffening.

Em modelos numéricos, a consideração do efeito de tension stiffening é interessante para


modelos com pouca ou nenhuma armadura, pois melhora a convergência dos modelos e a
precisão dos resultados.
O comportamento do concreto à tração após a fissuração pode ser representado por relações
da tensão em função da abertura de fissura ou da deformação do material. Quando a relação
tensão × deformação é utilizada, os resultados são sensíveis ao tamanho da malha, uma vez
que a deformação depende do tamanho do elemento. Alternativamente, a relação
tensão × abertura de fissura depende da distância entre os pontos de integração do elemento,
reduzindo, em parte, a sensibilidade à malha.

2.3.6 Tensão residual


A tensão residual surge, normalmente, em elementos sujeitos a algum processo térmico, como
laminação a quente, oxicorte, etc., em decorrência de retração ou dilatação diferencial
resultante de gradiente de temperatura no material. Caso os esforços internos causem
somente deformações elásticas no processo, estes cessam quando o material está em
temperatura uniforme. Caso contrário, juntamente com as deformações plásticas residuais
aparecem as tensões residuais.
O conector Crestbond é fabricado a partir do corte de uma chapa plana de aço por oxicorte ou
corte a plasma, processos em que a temperatura pode chegar a 900°C, no primeiro caso, ou

7
até mesmo a 20.000°C no segundo. Encontram-se em andamento estudos para verificar a Zona
Termicamente Afetada (ZTA) no Crestbond, devido ao corte a plasma.
Há pelo menos duas formas de considerar a tensão residual num modelo numérico. A primeira
é introduzindo as tensões nos elementos no início do processo de carregamento. A segunda é
admitir o efeito da tensão residual através do modelo constitutivo do aço.
Almeida [8] adotou em seu trabalho um diagrama tensão × deformação, conforme a Figura 6,
que leva em conta a tensão residual como imperfeição do material.

Figura 6- Diagrama tensão × deformação para aços com e sem imperfeição (Almeida [8]).

3 MATERIAIS E MÉTODOS

3.1 Considerações iniciais


Para o desenvolvimento dos modelos numéricos em questão neste trabalho, foram adotadas
várias considerações e estratégias utilizadas por Silva [6] e introduzidas algumas modificações
com o objetivo de melhorar a resposta dos modelos.
Foram realizadas simulações utilizando-se dois métodos distintos: um de análise estática
implícita (ABAQUS/Standard) e outro de análise dinâmica explícita (ABAQUS/Explicit).
Nas análises dinâmicas explícitas, foi o utilizado o processo de escala de massa para reduzir o
tempo das análises. Este processo foi definido de forma variável (o fator de escala muda a cada
incremento) e não uniforme (diferente para cada elemento). O incremento de tempo almejado
para a análise foi de 0,01s.

3.2 Tipo e tamanho do elemento


Para a discretização dos modelos foram utilizados dois tipos de elementos: elemento sólido
hexaédrico C3D8R, com oito nós, interpolação linear e integração reduzida; e elemento de viga
B33, com dois nós, com formulação cúbica. O elemento C3D8R foi utilizado para modelar a laje
de concreto, o perfil de aço e o conector. O elemento B33 foi utilizado para modelar os
elementos da armadura.

8
A malha dos modelos é gerada automaticamente pelo ABAQUS. Devido à sua geometria
regular da laje e do perfil, essas partes do modelo foram discretizadas com uma malha
estruturada. Neste caso, os elementos da malha apresentam grande uniformidade, mantendo
sua forma constante ao longo da malha. Para o conector, devido à sua geometria irregular,
utilizou-se a técnica de geração de malha por varredura.
Uma análise de sensibilidade da malha revelou que a maior dimensão dos elementos que
conduzia a resultados com boa correlação com os resultados experimentais foi de 10 mm.

3.3 Geometria do modelo


Um esquema do modelo físico utilizado nos ensaios push-out realizados por Veríssimo [1] é
apresentado na Figura 7.

Figura 7 - Esquema da configuração do ensaio push-out para o Crestbond (Veríssimo [1]).

9
Os modelos com armadura passante possuem a mesma configuração, porém com barras de
armaduras transversais nas aberturas dos conectores, semelhantes às do tipo N2 da Figura 7.
O conector utilizado nos modelos foi um CR56b, cujas dimensões podem ser vistas na Figura 8,
com chapa de 12 mm de espessura.

Figura 8 - Dimensões do conector CR56b (Veríssimo [1]).

O modelo numérico foi elaborado considerando-se apenas um quarto do modelo físico, devido
à sua dupla simetria, substituindo-se o restante por condições de contorno equivalentes
(Figura 9 ).

(a) (b)

Figura 9 - Modelo do ensaio push-out: (a) montagem; (b) aspecto da malha.

3.4 Condições de contorno e interações


A estratégia de modelar um quarto do modelo, por este apresentar simetria geométrica e de
carregamento, só é válida se as regiões seccionadas apresentarem condições de contorno
equivalentes às partes originais. Assim, nas regiões que apresentam simetria restringiram-se os
deslocamentos dos nós nessas regiões, na direção normal aos planos de corte (planos x-y e x-z
no modelo), conforme Figura 10 itens a e b. A condição de apoio da laje na base foi simulada
da mesma forma que a condição de simetria, restringindo o deslocamento normal ao plano e
permitindo somente o deslocamento nas direções contidas no plano de contato do elemento,
conforme Figura 10.

10
(a) (b) (c)
Figura 10 - Condições de contorno do modelo: (a) simetria em relação ao plano x-y; (b) simetria ao
plano x-z; (c) apoio da laje na base, plano y-z.

Na realidade, o conector é soldado ao perfil de aço. Devido à elevada rigidez e resistência da


solda, admite-se que os deslocamentos, na região soldada do conector e do perfil, são os
mesmos. Para representar este comportamento conjunto do perfil e do conector na região da
solda, foi aplicada uma restrição do tipo tie aos nós contidos na superfície que define o
contato entre o perfil de aço e o conector (Figura 11a). A restrição tipo tie conecta os nós de
duas superfícies, de forma que eles sofram os mesmos deslocamentos.
As armaduras foram modeladas como elementos de viga. Para garantir o funcionamento
conjunto da armadura com a laje de concreto foi aplicada uma interação do tipo embedded
constrain. Este tipo de interação considera a armadura como um elemento imerso na laje de
concreto e garante a compatibilidade de deslocamentos entre os dois (Figura 11b).

(a) (b)
Figura 11 – (a) restrição tipo tie entre a superfície inferior do conector e
parte da superfície superior do perfil;
(b) restrição do tipo embedded constrain entre a armadura e a laje de concreto.

A transmissão de esforços entre o conector e a laje se dá exclusivamente por esforços normais


de compressão. Eventuais esforços tangenciais, desenvolvidos por meio da aderência e atrito,
são desconsiderados. Esforços normais de tração resultam na separação das superfícies. A
simulação dessa condição foi efetuada por meio da interação de contato entre superfícies
(surface-to-surface contact). Este tipo de interação permite estabelecer o comportamento do

11
contato entre duas superfícies. Para as superfícies da laje de concreto, do conector e do perfil
(Figura 12), foram definidas as seguintes propriedades de contato: tipo hard aonde há contato
frontal, em que há mínima penetração de uma superfície em relação à outra, permitindo a
separação das superfícies depois do contato; e tipo frictionless (sem atrito) entre as superfícies
onde há contato tangencial.

(a) (b)

(c) (d)
Figura 12 - Superfícies utilizadas na interação do tipo surface-to-surface no modelo:
(a) e (b) região da interação do perfil e do conector;
(c) região de interação da laje; (d) as duas regiões de interação em contato.

3.5 Carregamento

O carregamento é aplicado por meio de deslocamentos prescritos. Estes deslocamentos são


aplicados na superfície do perfil de aço (Figura 13), representando fielmente o procedimento
de ensaio no laboratório em que um atuador hidráulico exerce força sobre o modelo com
deslocamento controlado. O carregamento aplicado é obtido a partir da reação do modelo ao
deslocamento prescrito no topo do perfil.
O valor do deslocamento prescrito nos modelos foi de 10 mm. Este valor permite, na maioria
das vezes, obter a curva do conector até o início da degradação da resistência, após a carga
máxima.

12
Quando usando análise dinâmica, é necessário atribuir a velocidade do carregamento, por se
tratar de uma análise dependente do tempo. Neste caso, a velocidade considerada foi de
0,008 mm/s, compatível com a velocidade utilizada nos ensaios experimentais.

Figura 13 - Superfície de aplicação do carregamento no modelo.

3.6 Modelos constitutivos

3.6.1 Concreto
O comportamento estrutural do concreto é representado através do módulo de elasticidade,
coeficiente de Poisson, curvas do concreto submetido à compressão e à tração, e dos
parâmetros de plasticidade aplicados juntamente com o modelo de dano com plasticidade.

3.6.1.1 Módulo de elasticidade e coeficiente de Poisson do concreto


Segundo o FIB Model Code 2010 [9], o módulo de elasticidade longitudinal do concreto pode
ser estimado pela Equação (1):

1/ 3
 f 
Eci  Ec 0  E  cm  (1)
 10 
onde:
Ec0 = 21,5 × 103 MPa;
E = 1,0 para agregados de quartzo;
fcm é a resistência à compressão do concreto aos 28 dias.

O coeficiente de Poisson do concreto, c , é admitido como 0,2.

13
3.6.1.2 Curva de Compressão do Concreto

O FIB Model Code 2010 [9] define a relação entre tensão σc e a deformação εc no concreto
submetido à compressão pela Equação (2):

c  k   2 
    (2)
f cm  1  k  2 

onde:
η = εc / εc1 ;
k é o número de plasticidade, igual a Eci /Ec1;
εc1 é a deformação na tensão de compressão máxima, dada na Tabela 1;
Ec1 é o módulo de elasticidade secante, com início na origem e fim no pico
da tensão de compressão.

Tabela 1 - Módulos Eci, Ec1, deformações εc1, εc,lim e número de plasticidade k para concreto de
densidade normal (Adaptado de FIB Model Code 2010 [21]).

fcm [MPa] 20 28 38 48 58
Eci [GPa] 27,1 30,3 33,6 36,3 38,6
Ec1 [GPa] 11,1 13,3 16,5 20,0 23,2
εc1 [‰] -1,8 -2,1 -2,3 -2,4 -2,5
εc,lim [‰] -3,5 -3,5 -3,5 -3,5 -3,4
k 2,44 2,28 2,04 1,82 1,66

A representação da curva proposta é apresentada na Figura 14.

Figura 14 - Representação esquemática da curva de compressão do concreto


(Adaptado de FIB Model Code 2010 [9]).

14
3.6.1.3 Diagrama de Tração do Concreto
Para a estimativa da resistência a tração média, fctm , o FIB Model Code 2010 [9] prescreve a
Equação (3):

f ctm  0,3  f ck 
2/3
(3)

onde:
fck é a resistência característica do concreto à compressão, igual a:
f ck  f cm  8 (valores em MPa);

Segundo FIB Model Code 2010 [9], a energia de fratura, GF, em N/m, pode ser estimada pela
Equação (4).

GF  73 f cm0,18 (4)

Os autores deste trabalho ajustaram uma função exponencial para descrever a relação
tensão×abertura de fissura (σct × w) para o modelo desenvolvido (Equação 5). Essa função tem
como parâmetros a resistência à tração média do concreto, fctm, em MPa, a abertura da
fissura, w, em mm, e a energia de fratura, GF, em N/mm.

  w  
3/ 4

 ct w   f ctm exp  2    (5)


  wc  

onde wc é a abertura de fissura limite, de valor igual a 5GF / fctm .

3.6.1.4 Parâmetros plásticos do modelo de dano com plasticidade


O modelo de dano com plasticidade requer como parâmetros o ângulo de dilatância (ψ) e a
razão entre as resistências à compressão no estado biaxial e uniaxial (σb0/σc0).
O ângulo de dilatância é admitido como 36°, conforme sugeridos por Silva [6].
A resistência à compressão biaxial e a triaxial podem ser estimadas em função da resistência à
compressão uniaxial e é obtida pela Equação (6), conforme o FIB Model Code 2010 [9]. A razão
entre as resistências à compressão no estado biaxial/triaxial e uniaxial (fc2c/ fc) é dada pela
Equação (7), com os valores de fc e fc2c em MPa em ambas as equações.

 fc 
fc2c   1,2   fc (6)
 1000 

f c2c  fc 
  1,2   (7)
fc  1000 

Outros parâmetros como a excentricidade e a viscosidade são todos admitidos com valores
iguais a zero.

15
3.6.2 Aço
O comportamento do aço foi representado de forma diferente para cada parte do modelo. Na
Tabela 2, são apresentadas as partes do modelo e seus respectivos módulos de elasticidade
(Ea), tensões de escoamento (fy) e os tipos das curvas tensão deformação dos aços utilizados.
Para o aço do conector admitiu-se um diagrama tensão-deformação trilinear, para levar em
conta o efeito da tensão residual, conforme apresentado no item 2.3.6. Este diagrama foi
baseado na curva apresentada por Almeida [8] e foi ajustado de forma a garantir o
comportamento do modelo mais próximo possível do ensaio experimental (Figura 15).

Tabela 2 - Características dos aços das partes do modelo.

parte Ea (GPa) fy (MPa) diagrama

armadura 210 500 bilinear (conforme Figura 15a)

perfil 200 345 bilinear (conforme Figura 15a)

conector 200 324 trilinear (conforme Figura 15b)

Outras propriedades do aço foram admitidas conforme a recomendação da norma


ABNT NBR 8800-2008 [10], a saber, coeficiente de Poisson a = 0,3 e massa específica
ρa = 7.850 kg/m³.

σ σ
tensão
tensão

fy fy

0,44 fy

Ea Ea
εy deformação ε εy 15εy ε
deformação
(a) (b)

Figura 15 - Diagramas tensão deformação dos aços modelados: (a) bilinear; (b) trilinear.

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO

As características dos modelos ensaiados por Veríssimo [1] e utilizadas nos modelos numéricos
são apresentadas na Tabela 3.

16
Tabela 3 – Características e propriedades dos modelos das séries B e C (Adaptado de Veríssimo [1]).
fc Lsc hsc tsc D  Atr
Modelo tipo np n1 n2
(MPa) (mm) (mm) (mm) (mm) (mm) (mm²)
B1 CR56b 26,6 413,4 81,2 12,0 56 3 10 6 0 471,2
B2 CR56b 26,6 413,4 81,2 12,0 56 3 10 6 0 471,2
B3 CR56b 27,2 413,4 81,2 12,0 56 3 10 6 6 942,5
B4 CR56b 26,9 413,4 81,2 12,0 56 3 10 6 6 942,5
B5 CR56b 27,2 413,4 81,2 12,0 56 3 12 6 6 1357,2
B6 CR56b 24,8 413,4 81,2 12,0 56 3 12 6 6 1357,2
B7 CR56b-SF 28,3 413,4 81,2 12,0 0 0 10 6 0 471,2
B8 CR56b-SF 24,8 413,4 81,2 12,0 0 0 10 6 0 471,2
C1 CR56b 46,9 413,4 81,2 12,0 56 3 10 6 0 471,2
C2 CR56b 48,1 413,4 81,2 12,0 56 3 10 6 0 471,2
C3 CR56b 49,1 413,4 81,2 12,0 56 3 10 6 6 942,5
C4 CR56b 48,7 413,4 81,2 12,0 56 3 10 6 6 942,5
C5 CR56b 48,7 413,4 81,2 12,0 56 3 12 6 6 1357,2
C6 CR56b 45,9 413,4 81,2 12,0 56 3 12 6 6 1357,2
C7 CR56b-SF 49,4 413,4 81,2 12,0 0 0 10 6 0 471,2
C8 CR56b-SF 49,7 413,4 81,2 12,0 0 0 10 6 0 471,2
fc = resistência à compressão do concreto à data do ensaio push-out
tc = espessura da laje (sempre constante, igual a 150 mm)
Lsc = comprimento longitudinal do conector
hsc = altura do conector
tsc = espessura da chapa do conector
D = diâmetro de referência (do círculo inscrito no dente trapezoidal)
np = número de aberturas no conector (pinos virtuais de concreto)
 = diâmetro das barras da armadura transversal
n1 = número de barras de armadura transversal passando por fora do conector
n2 = número de barras de armadura transversal passando por dentro do conector
Atr = área total da armadura transversal = (n1+n2 )2/4
Lc = comprimento da laje (sempre constante, igual a 650 mm)
fysc = resistência ao escoamento do aço do conector (sempre constante, igual a 324 MPa)
fytr = resistência ao escoamento do aço da armadura (sempre constante, igual a 500 MPa)

Na Figura 16 são apresentadas imagens da distribuição de tensões de von Mises no modelo B1,
obtida com uma análise dinâmica explícita, para um carregamento próximo à ruína do modelo.
Observa-se uma distribuição de tensões de forma contínua e gradual entre as partes,
indicando a qualidade da malha e das condições de contorno. Nota-se que as tensões, em
vermelho, na base do dente se aproximam da tensão de escoamento do material (324 MPa),
indicando um escoamento limitado a essa região, de acordo com o comportamento
elástoplástico do material.

17
Figura 16 – Distribuição de tensões de von Mises no modelo B1, na iminência de ruína, obtida a partir
de uma análise do tipo dinâmica e explícita.

Na Figura 17 é apresentada a distribuição e as magnitudes da pressão exercida pelo conector


no concreto da laje do modelo B1, obtida com análise dinâmica explícita. É possível verificar
que as pressões no concreto da região das aberturas do conector são superiores à resistência à
compressão uniaxial do concreto. As pressões nessas regiões atingem um valor máximo de
77 MPa, e em média 40 MPa, valores 289% e 150%, respectivamente, maiores que a
resistência uniaxial do concreto (26,6 MPa) para o experimento em causa. Esses resultados
indicam que o modelo constitutivo adotado para o concreto é capaz de representar o
fenômeno do confinamento, que tem grande influência no comportamento da conexão.

18
Figura 17 – Distribuição de pressões no concreto da laje do modelo B1.

Foram simulados numericamente 16 dos ensaios tipo push-out executados por Veríssimo [1],
oito da série B e oito da série C. Em ambas as séries o conector utilizado foi um CR-56b e as
configurações dos modelos são similares. Na série B foi utilizado um concreto usual, com
resistência na faixa de 27 MPa, e na série C um concreto de maior resistência com fc na faixa
de 48 MPa.
As curvas força×deslizamento relativo dos modelos da série B são apresentadas na Figura 18.
As mesmas curvas para os modelos da série C são apresentados na Figura 19. Os modelos
numéricos são identificados conforme o tipo de análise, análise estática implícita (AEI) e a
análise dinâmica explícita (ADE), e os modelos experimentais pela sua identificação original.
Pode-se observar que os valores das análises são próximos. Em alguns casos as curvas
praticamente se sobrepõem, indicando a excelente correlação entre o modelo numérico e o
experimental. Em geral os modelos foram capazes de simular com precisão o comportamento
anterior e posterior à carga máxima. Porém, alguns modelos numéricos com armadura
passante apresentam uma acentuada diferença em relação aos experimentais.

19
350 350
300 300
250 250
Força (kN)

Força (kN)
200 200
150 150
AEI-B1B2 ADE-B1B2
100 100
B2 B2
50 50
B1 B1
0 0
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Deslocamento Relativo (mm) Deslocamento Relativo (mm)

400 400
350 350
300 300
Força (kN)

Força (kN)
250 250
200 200
150 150
B3 B4
100 100
ADE-B3 ADE-B4
50 50
AEI-B3 AEI-B4
0 0
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Deslocamento Relativo (mm) Deslocamento Relativo (mm)

400 400
350 350
300 300
Força (kN)

Força (kN)

250 250
200 200
150 150
B5 B6
100 100
ADE-B5 ADE-B6
50 50 AEI-B6
AEI-B5
0 0
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Deslocamento Relativo (mm) Deslocamento Relativo (mm)

200 200
175 175
150 150
Força (kN)

Força (kN)

125 125
100 100
75 75
B7 B8
50 50
ADE-B7 ADE-B8
25 25
AEI-B7 AEI-B8
0 0
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Deslocamento Relativo (mm) Deslocamento Relativo (mm)

Figura 18 - Curvas força × deslizamento para os modelos da série B.

20
450 450
400 400
350 350
300 300
Força (kN)

Força (kN)
250 250
200 200
150 150
AEI-C1 AEI-C2
100 100
ADE-C1 ADE-C2
50 C1 50
C2
0 0
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Deslocamento Relativo (mm) Deslocamento Relativo (mm)

525 525
450 450
375 375
Força (kN)

Força (kN)

300 300
225 225
C3 C4
150 150
AEI-C3 AEI-C4
75 75
ADE-C3 ADE-C4
0 0
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Deslocamento Relativo (mm) Deslocamento Relativo (mm)

525 525
450 450
375 375
Força (kN)

Força (kN)

300 300
225 225
C5 C6
150 150
AEI-C5 AEI-C6
75 75
ADE-C5 ADE-C6
0 0
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Deslocamento Relativo (mm) Deslocamento Relativo (mm)

350 350
300 300
250 250
Força (kN)

Força (kN)

200 200
150 150
100 AEI-C7 100 AEI-C8
50 ADE-C7 50 ADE-C8
C7 C8
0 0
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Deslocamento Relativo (mm) Deslocamento Relativo (mm)

Figura 19 - Curvas força × deslizamento para os modelos da série C.

21
Na Figura 20 pode-se observar um gráfico com a comparação dos modelos das diferentes
análises. Observa-se que os valores das análises são próximos, porém apresentam uma leve
divergência nos modelos com armadura passante, quais sejam: B5, B6, C3, C4, C5 e C6.

450
Resistência do Conector (kN)

375

300

225
Experimental
150
ADE
75
AEI
0
B1 B2 B3 B4 B5 B6 B7 B8
Modelo
(a)

600
Resistência do Conector (kN)

500

400

300
Experimental
200
AEI
100
ADE
0
C1 C2 C3 C4 C5 C6 C7 C8
Modelo
(b)
Figura 20 - Comparação das resistências dos modelos da: (a) série B; (b) série C.

Na Tabela 4, são apresentadas as capacidades resistentes dos modelos da série B e C de cada


análise, juntamente com a relação entre os resultados numéricos e os experimentais. Na
Tabela 5, são apresentadas as médias e os desvios padrão das relações entre os modelos
numéricos e os experimentais, agrupando os modelos de acordo com a presença de armadura
passante, e da série a que pertence. Estes resultados permitem uma análise da qualidade do
modelo numérico, dos tipos de análises utilizadas e também da modelagem da armadura
passante.

22
Tabela 4 - Resistência dos modelos da série B e da série C.
ensaio (1) (2) (3) (2)/(1) (3)/(1)
B1 296,2 298,7 306,9 1,009 1,036
B2 306,5 298,7 306,9 0,975 1,001
B3 313,9 323,3 339,5 1,030 1,082
B4 338,3 321,1 333,4 0,949 0,986
B5 378,2 340,5 356,4 0,900 0,942
B6 371,8 315,7 356,4 0,849 0,959
B7 183,7 175,7 181,2 0,957 0,986
B8 177,6 162,5 178,2 0,915 1,004
C1 361,3 404,4 381,3 1,119 1,055
C2 377,5 410,1 380,8 1,086 1,009
C3 493,7 432,0 405,8 0,875 0,822
C4 506,7 431,0 399,5 0,851 0,788
C5 465,0 435,9 412,8 0,937 0,888
C6 496,9 433,5 409,5 0,872 0,824
C7 215,5 230,7 215,0 1,071 0,998
C8 217,6 230,7 214,3 1,060 0,985
(1) Capacidades resistentes, em kN, dos ensaios experimentais realizados por Veríssimo (2007);
(2) Capacidades resistentes, em kN, dos ensaios numéricos realizados pela análise estática implícita;
(3) Capacidades resistentes, em kN, dos ensaios numéricos realizados pela análise dinâmica explícita;

Analisando as últimas duas colunas da Tabela 5 é possível verificar que a média das relações
entre os modelos numéricos e os experimentais é de: 0,963, para todos os modelos;
1,017 para os modelos sem armadura passante; e 0,910 para os modelos com armadura
passante. Esses resultados indicam que os modelos numéricos apresentam excelente
correlação com os modelos experimentais. No caso específico dos modelos com armadura
passante, os modelos numéricos apresentam resultados conservadores em relação aos
experimentais.
Presume-se que, na prática, haja uma interação entre a barra da armadura passante e o
concreto ao seu redor, de forma que ambos trabalhem solidariamente mobilizando uma maior
resistência da conexão. No modelo numérico, a modelagem das barras como elemento de viga
não é capaz de simular a superfície de contato entre o concreto e a barra. Assim, é possível
que a diferença entre os resultados dos modelos numéricos com armadura passante e os
modelos experimentais seja causada pela utilização de elementos de viga na modelagem das
barras da armadura passante.
A partir da análise dos valores da Tabela 5, observa-se que os modelos numéricos com análise
do tipo dinâmica e explícita apresentam, para os modelos sem armadura passante, resultados
mais próximos dos experimentais que os modelos numéricos com análise do tipo estática e
implícita. Para os modelos com armadura passante os resultados dos modelos numéricos com
análise do tipo dinâmica e explícita são mais próximos dos experimentais que os modelos
numéricos com análise estática e implícita, para os modelos da série B. O mesmo não se
verifica em relação aos ensaios da série C, cujo concreto possuía resistência de quase 50 MPa.

23
Assim, pode-se concluir que, para a maioria dos modelos, de maneira geral, a análise do tipo
dinâmica e explícita apresentou valores mais próximos dos reais que a análise do tipo estática
e implícita.

Tabela 5 – Resumo das médias e desvios padrão dos resultados.


(2)/(1) (3)/(1) (2)/(1) e (3)/(1)
modelo série
média desvio média desvio média desvio

B 0,964 0,039 1,007 0,021 0,985 0,037


Modelos sem
C 1,084 0,026 1,012 0,031 1,048 0,047
armadura passante
BeC 1,024 0,071 1,009 0,024 1,017 0,052

B 0,932 0,077 0,992 0,062 0,962 0,072


Modelos com
C 0,884 0,037 0,831 0,042 0,857 0,046
armadura passante
BeC 0,908 0,062 0,911 0,099 0,910 0,080

B 0,948 0,059 0,999 0,044 0,974 0,057


Modelos com ou
sem armadura C 0,984 0,111 0,921 0,103 0,953 0,108
passante
BeC 0,966 0,088 0,960 0,086 0,963 0,086
(1) Capacidades resistentes, em kN, dos ensaios experimentais realizados por Veríssimo (2007);
(2) Capacidades resistentes, em kN, dos ensaios numéricos realizados pela análise estática implícita;
(3) Capacidades resistentes, em kN, dos ensaios numéricos realizados pela análise dinâmica explícita;

5 CONCLUSÃO

Este trabalho foi realizado com o objetivo de desenvolver um modelo numérico capaz de
simular adequadamente o comportamento estrutural do conector Crestbond, que constitua
uma ferramenta útil para a investigação de aspectos particulares relacionados à conexão.
O modelo numérico desenvolvido foi capaz de representar adequadamente o comportamento
não linear do concreto sob confinamento, utilizando o modelo de dano com plasticidade. Os
resultados obtidos com esse modelo numérico apresentaram boa correlação com os
resultados experimentais. O modelo é capaz de estimar com precisão a resistência e a curva
força × deslizamento do conector.
Os modelos numéricos com armadura passante apresentaram resultados conservadores em
relação aos modelos experimentais. Atribui-se esta variação ao elemento utilizado para
modelar as barras de armadura passante no modelo numérico. Apesar das resistências obtidas
numericamente serem inferiores às experimentais, os resultados do modelo numérico ainda
podem ser utilizados para estimar a capacidade resistente de conectores.
Em relação ao tipo de análise, a análise do tipo dinâmica e explícita apresentou resultados
mais próximos dos experimentais que a análise do tipo estática e implícita.

24
Agradecimentos
Os autores agradecem à Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais
(FAPEMIG) e à Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) pelo
apoio para o desenvolvimento desta pesquisa.

REFERÊNCIAS

1 Veríssimo GS. Desenvolvimento de um conector de cisalhamento em chapa dentada para


estruturas mistas de aço e concreto e estudo do seu comportamento [tese]. Belo Horizonte:
Universidade Federal de Minas Gerais; 2007.

2 Leonhardt F; Andrä W; Andrä HP; Harre W. Neues vorteilhaftes verbundmittel für


stahlverbund-tragwerk mit höher dauerfestigkeit (new improved shear connector with high
fatigue strength for composite structures). Beton und Stahlbetonbau. 1987; 82(12): 325-331.

3 EN1994-1-1: Eurocode 4—Design of composite steel and concrete structures. Part 1-1:
General rules and rules for buildings. Brussels, Belgium: European Committee for
Standardization (CEN); 2004.

4 Studnicka J; Machacek J; Krpata A; Svitakova M. Perforated shear connector for composite


steel and concrete beams. In: Conference Composite Construction in Steel and Concrete IV.
Proceedings. Banff, Canada: ASCE, 2000. p. 367-378.

5 Oguejiofor, E. C.; Hosain, M. U.: A parametric study of perfobond rib shear connectors,
Canadian Journal of Civil Engineering, 21, pp. 614-625, 1994.

6 Silva HP. Simulação numérica do comportamento de conectores de cisalhamento tipo


Crestbond [dissertação]. Viçosa, MG: Universidade Federal de Viçosa; 2013.

7 Abaqus Theory Manual. Providence, United States: Simulia.; 2012.

8 Almeida PHF. Estudo numérico de um dispositivo de transferência de cargas em pilares


mistos tubulares preenchidos com concreto [dissertação]. Belo Horizonte: Universidade
Federal de Minas Gerais; 2012.

9 Model Code 2010: final draft. Lausanne, Swiss: Fédération Internationale du Béton (FIB),
2011.

10 ABNT Associação Brasileira de Normas Técnicas, NBR 8800: Projeto de estruturas de aço e
de estruturas mistas de aço e concreto de edifícios. Rio de Janeiro, Brasil, 2008.

25
Tema: Estruturas de Aço e Mistas de Aço e Concreto

ANÁLISE ESTRUTURAL DA PROPAGAÇÃO MECÂNICA DE TRINCAS EM UMA VIGA DA


ESTRUTURA DO FORNO DE REAQUECIMENTO*

Leonardo Carneiro Vianna Schettini¹


Gabriel de Oliveira Ribeiro²
Vicente Aleixo Pinheiro Ribeiro3

Resumo
Este trabalho tem como objetivo a análise da estrutura de um forno de reaquecimento de
tarugos. Essa estrutura apresenta trincas em uma das vigas responsáveis pelo movimento de
translação. O estudo será baseado na mecânica da fratura, aplicando-se os conceitos da
propagação de trincas em componentes mecânicos sujeitos à fadiga. A metodologia
empregada consiste de duas etapas. A primeira delas corresponde à análise linear elástica
global da estrutura, sem a presença de trinca, utilizando o Método de Elementos Finitos
através do programa COSMOS. Essa etapa visa à determinação das regiões críticas em termos
de solicitação, com maior possibilidade de ocorrência de trincas. Por outro lado, na segunda
etapa, será considerada a presença de trincas nas regiões críticas determinadas na primeira
etapa. O modelo contendo trincas será baseado no Método dos Elementos de Contorno e
utilizará o programa FRANC3D. Os resultados desta segunda etapa poderão ser utilizados para
refinar a análise global da primeira etapa, num processo de refinamento sucessivo de análises.
Por fim, propõe-se estabelecer planos de inspeção e de manutenção para a continuidade
operacional do forno de reaquecimento de tarugos.

Palavras-chave: Mecânica da fratura; Propagação de trincas; Fadiga.

STRUCTURAL ANALYSIS OF MECHANICS CRACK PROPAGATION IN A BEAM STRUCTURE OF


REHEATING FURNACE

Abstract
This paper aims on analyzing a Billet Reheating Furnace structure. This structure presents
cracks in one of its beams that are in charge of billets movement. Study methodology will be
based on Fracture Mechanics and concepts about crack propagation at mechanical
components submitted to fatigue. Used methodology will be divided in two steps. The first one
corresponds to the global linear elastic analysis of the structure considering cracks absence,
using to this the numerical Method of Finite Elements by COSMOS software. This step will
enable the establishment of critical regions considering the work to be done and, therefore,
more susceptible to cracks occurrences. At the second step, the existence of cracks will be
considered at the critical regions defined at the first step. Model conception considering cracks
will be performed by the Method of Elements Contour using FRANC3D software. Results found
at this second step can be used to refine the global analysis of first step, in a continuous

________________________________
* Contribuição técnica ao Construmetal 2014 – Congresso Latino-Americano da Construção
Metálica – 02 a 04 de setembro de 2014, São Paulo, SP, Brasil.
1
refining process. Finally, inspection and maintenance plans to keep reheating furnace in
operation, will be proposed.

Keywords: Fracture mechanics; Crack propagation; Fatigue.

¹ Engenheiro Mecânico, Mestrando, Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Estruturas,


Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, Minas Gerais, Brasil.
² Engenheiro Civil, Mestrado e Doutorado em Engenharia de Estruturas, Professor Titular,
Departamento de Engenharia de Estruturas, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte,
Minas Gerais, Brasil.
3
Engenheiro Mecânico, Consultor de Manutenção, Gerência de Engenharia de Manutenção e
Utilidades, ArcelorMittal Monlevade, João Monlevade, Minas Gerais, Brasil.

2
1 INTRODUÇÃO

O aumento da aplicação de metais nos projetos de equipamentos ou estruturas no


século XIX causou um crescimento significativo dos acidentes ocorridos na época, na maioria
dos casos, em locomotivas. Alguns desses acidentes foram causados pelas falhas de projeto ou
erro na aplicação de materiais. Nesse contexto, iniciou-se o estudo da fadiga, buscando
respostas para falhas de componentes como trilhos, eixos, engrenagens, vigas e estrutura de
pontes. Na década de 50, na Alemanha, August Wöhler iniciou o estudo de falhas em eixos de
locomotivas e desenvolveu projetos estratégicos para evitar falhas por fadiga. Wöhler testou
materiais como o aço e o ferro fundido, dentre outros metais sujeitos a flexão, tração e torção.
Conforme Anderson [1], o caso dos navios Liberty é famoso e frequentemente citado na
literatura. No período da Segunda Guerra Mundial, dentre aproximadamente 2700 destes
navios construídos, usando o processo de soldagem, 400 apresentaram fraturas na região do
casco. Vários fatores contribuíram para essas ocorrências, de modo geral, envolvendo
problemas relacionados com defeitos de projetos, execução e uso de materiais inadequados.
As pesquisas relacionadas a esses acidentes contribuíram de modo significativo para o
desenvolvimento da mecânica da fratura.
Após a Segunda Guerra Mundial, o uso dos aços de alta resistência cresceu, com o
objetivo de diminuir o peso das estruturas. Aliado a isso, houve um aprofundamento nos
métodos de análise para determinação mais precisa e confiável das tensões atuantes,
proporcionando uma redução nos fatores de segurança. O estudo da propagação de trinca por
fadiga é uma das principais aplicações decorrentes do desenvolvimento da mecânica da
fratura. Atualmente, diversos estudos têm sido desenvolvidos para obter resultados mais
precisos nas técnicas de prevenção de propagação de trincas por fadiga. Quando submetido a
carregamentos cíclicos ou variáveis a estrutura pode sofrer falhas catastróficas por fadiga. De
acordo com Figueiredo [6], o termo fadiga, no contexto de comportamento de materiais de
engenharia, segundo a norma ASTM E-1150 refere-se “ao processo gradual de mudança
estrutural localizada permanente em um material sujeito a condições que produzem tensões e
deformações flutuantes em algum ponto (ou pontos) e que pode culminar em trincas ou em
fratura, depois de um número suficiente de flutuações”. Quando as solicitações são tensões ou
deformações, a fadiga é dita fadiga mecânica, podendo ocorrer fratura sob tensões inferiores
tanto à tensão de escoamento quanto à tensão crítica de fratura do material sobre carga
constante.
O surgimento de trincas ocorre preferencialmente em regiões onde há concentração
de tensões decorrentes de furos e entalhes, que são muito comuns em componentes
mecânicos e equipamentos. Outro aspecto importante são as ligações soldadas, onde há a
possibilidade de ocorrência de defeitos planares assemelhados à trinca, durante o processo de
soldagem. A propagação de trincas em estruturas ou componentes pode surgir devido à
aplicação de cargas repetidas ou devido à combinação de carregamentos, bem como à
exposição a um meio ambiente agressivo que pode acelerar a propagação da trinca. Falhas por
fadiga continuam sendo um dos maiores desafios nos projetos de engenharia. Dowling [5]
estima que o custo anual de falhas por fadiga representa 3% do Produto Interno Bruto (PIB) da
economia dos Estados Unidos.

3
1.1 Descrição do problema

A mecânica da fratura é aplicável em situações em que exista ou prevê-se um defeito


semelhante a uma trinca. Nas indústrias siderúrgicas é freqüente o surgimento de trincas em
componentes estruturais sujeitos a carregamentos cíclicos. As vigas responsáveis pelo
movimento dos fornos de reaquecimento de tarugos são exemplos de componentes
estruturais nas quais pode ocorrer esta anomalia.
O surgimento de trincas nas vigas responsáveis pelo movimento do forno de
reaquecimento de tarugos foi detectado nas rotinas de inspeção pela equipe de manutenção
de uma indústria siderúrgica localizada em Minas Gerais. O histórico destas inspeções, de
acordo com os registros de manutenção, demonstra que o surgimento de trincas ocorreu em
2005, em nível macroscópico. Neste trabalho será realizado um estudo considerando-se as
trincas ocorridas em uma destas vigas, tendo como base os fundamentos da mecânica da
fratura, incluindo a análise da propagação subcrítica. A propagação subcrítica de trincas ocorre
em situações onde o nível de tensão está bem abaixo do limite de escoamento do material
utilizado na fabricação do componente estrutural.
A Fig. 1 ilustra as trincas nas vigas (perfil I) responsáveis pelo movimento de translação do
forno de reaquecimento de tarugos. Na Fig. 1a observa-se uma trinca que se iniciou na borda
da mesa inferior da viga e se propagou até a alma, enquanto na Fig. 1b apresenta-se uma
trinca que se propagou através da mesa superior da viga.

(a) (b)
Figura 1: (a) Trinca na borda da mesa inferior. (b) Trinca através da mesa superior.

1.2 Objetivo

O objetivo deste trabalho é a análise da viga de translação acima mencionada, visando


estimativa de vida, isto é, avaliação do número de ciclos partindo-se do comprimento mínimo
de trinca detectável até atingir o comprimento crítico referente à propagação instável.
Além disso, pretende-se efetuar uma estimativa de vida baseada na abordagem de tensão, ou
seja, curvas de tensão versus número de ciclos (curvas S-N). A partir dos resultados obtidos,
espera-se estabelecer uma metodologia de inspeção periódica e um plano de manutenção
antes de atingir o comprimento crítico, que significaria propagação instável e colapso da
estrutura.

4
1.3 Fundamentos da mecânica da fratura

A mecânica da fratura é uma área específica de estudo do comportamento de


componentes mecânicos e estruturas contendo trincas. Desenvolveu-se originalmente com
base em materiais frágeis, admitindo-se comportamento elástico linear do material,
denominada mecânica da fratura elástica linear (MFEL). Posteriormente foi estendida para
materiais elastoplásticos tais como ligas metálicas e também para materiais parcialmente
frágeis como os materiais cerâmicos e os concretos. A mecânica da fratura elastoplástica
(MFEP) é aplicável para a análise de situações nas quais a região plastificada, que ocorre na
ponta da trinca, atinge um tamanho considerável em comparação com o tamanho da trinca.
Segundo Broek [4], a solicitação na ponta da trinca pode ocorrer conforme os três modos
básicos ilustrados na Fig. 2. O modo I é o modo de abertura da trinca com deslocamentos
relativos perpendiculares ao plano da trinca. O modo II, denominado modo de cisalhamento,
tende a produzir deslocamentos relativos entre as superfícies da trinca no plano da trinca, na
direção perpendicular à frente da trinca (espessura da chapa). O modo III, denotado como
rasgamento, é causado pelo cisalhamento fora do plano, tendendo a causar deslocamentos
relativos na direção perpendicular ao plano da chapa.

Modo 1 – Modo 2 – Modo 3 –


Abertura Cisalhamento Rasgamento

Figura 2: Modos de solicitação na ponta da trinca.


Cada um desses modos está associado a um fator de intensidade de tensão
característico, que governa a distribuição de tensões nos pontos próximos à ponta da trinca,
de acordo com a MFEL. Qualquer problema de elemento estrutural contendo trincas pode ser
tratado com uma combinação desses modos básicos de solicitação da trinca. O modo I é o
mais importante, pois corresponde ao modo de fratura mais frequente nos problemas
envolvendo peças trincadas.
O fator de intensidade de tensão (k ) define a amplitude da singularidade na ponta da
trinca, ou seja, substitui a medida de solicitação em termos de tensão que tende para o
infinito, por uma grandeza finita que governa o comportamento na ponta da trinca. De acordo
com Anderson [1], esse parâmetro é um dos mais importantes conceitos da mecânica da
fratura. O fator intensidade de tensão pode ser diretamente relacionado com a tensão remota
aplicada,  (carregamento), e com a raiz quadrada do comprimento da trinca a. Conforme
ilustrado na Fig. 3, a forma geral do fator de intensidade de tensão pode ser expressa na
equação 1.

5
a
k   a f   (1)
 w
onde, w é a largura da chapa, a é o comprimento da trinca e a função f a w é o fator
geométrico que depende da relação a w .

Figura 3: Chapa com uma trinca de borda.


O critério de Griffith desenvolvido em 1921 foi a primeira análise bem sucedida do
comportamento da fratura de componentes trincados. Griffith realizou testes analisando a
fratura em materiais frágeis como o vidro, por meio de uma trinca com comprimento 2a
centrada em uma chapa de dimensão infinita em relação ao comprimento da trinca, e
espessura B unitária, como mostrado na Fig. 4.

2a

Figura 4: Modelo usado por Griffith.


Griffith estabeleceu que a propagação da trinca ocorre se a energia de deformação
disponível for suficiente para formar novas superfícies e promover o crescimento da trinca,
Bannantine [2]. Na Fig. 5, apresenta-se a curva de carga versus deslocamento, cuja área,
ilustrando a energia elástica acumulada na chapa, é representada pelo triângulo OAB. Se a
trinca aumentar de um incremento (da), a rigidez da chapa diminui (linha OC), implicando num
decréscimo de carga, desde que as extremidades da chapa estejam fixas (deslocamento
constante). Consequentemente a energia elástica irá reduzir para a área do triângulo OCB,
resultando numa perda de energia representada pela área do triângulo OAC.

6
A Tamanho da trinca (a)

Tamanho da trinca (a+da)
C

0 B Deslocamento

Figura 5: Gráfico de energia elástica por Griffith.


A estimativa de vida de um componente estrutural contendo uma trinca pode ser
estudada a partir da taxa de propagação da trinca em relação ao número de ciclos. Segundo
Dowling [5], Paris e seus colaboradores foram os primeiros a propor a aplicação da mecânica
da fratura para explicar a propagação de trincas por fadiga, relacionando a taxa de propagação
com a variação do fator de intensidade de tensão na ponta da trinca. Esses pesquisadores
propuseram que a taxa de propagação da trinca é expressa conforme a equação (2), conhecida
como Lei de Paris.

da
 C (k ) m (2)
dN
onde da dN é a taxa de crescimento da trinca, k é a variação do fator de intensidade de
tensão, C e m são parâmetros do material, sendo que valores de m usualmente variam entre 2
e 4 para os aços em geral.
A taxa de crescimento da trinca é obtida submetendo-se um corpo de prova a um
carregamento cíclico de amplitude constante. Os incrementos do comprimento da trinca são
medidos e o tamanho da trinca é plotado em função do correspondente número de ciclos.
Variações na amplitude de carregamento e no comprimento inicial da trinca produzem
diferentes curvas. Estas podem ser reduzidas a uma única curva a partir dos dados dos ensaios,
na qual é representada a taxa de crescimento da trinca da dN em função da variação do fator
de intensidade de tensão k . A Fig. 6 representa esquematicamente a curva da dN versus
k em escala logarítmica.
Escala Log
Da/dN

I II III

k th kc
k
Escala Log

Figura 6: Comportamento do crescimento da trinca.

7
Com base na Fig. 6, o estágio I caracteriza-se por baixos valores de k e o crescimento
da trinca é limitado pelo limiar de fadiga kth , abaixo do qual a propagação da trinca por
fadiga não ocorre. Por outro lado, no estágio II, ocorre o crescimento estável da trinca,
caracterizado por uma linha reta. Esse estágio é representado adequadamente pela equação
de Paris. Já no Estágio III, ocorre um crescimento rápido e instável da trinca, com o fator de
intensidade de tensão k máx tendendo para o valor crítico k c .
Outras expressões para descrever a taxa de crescimento da trinca foram desenvolvidas,
levando-se em consideração o efeito da razão, R   min  máx . Dentre estas expressões,
enfatizam-se a equação de Walker e a equação de Forman. A equação de Walker (3) é
representada pela expressão:

m1
da  k 
 C1  1 
(3)
dN 1  R 
onde C1 ,  e m1 são parâmetros do material. Quando R ≥ 0, a constante  situa-se entre 0,3
a 1,0 para vários tipos de metais. Quando R < 0, a constante  se iguala a zero, exceto para
aços dúcteis, onde  = 0,22.

De acordo com Dowling [5], Forman demonstrou que da dN tende para infinito,
quando a trinca alcança o comprimento crítico, ou seja, quando o fator de intensidade de
tensão k máx alcança o valor critico k c . A equação de Forman (4) é representada por:

da k m
 C2 (4)
dN (1  R)(kc  k máx )

onde C 2 e m são parâmetros do material.

1.4 Forno de reaquecimento de tarugos

O forno de reaquecimento de tarugos, do tipo walking beam, tem capacidade de 140 t/h e
é composto de soleiras móveis e fixas e tubos com refrigeração à água (skids móveis e fixos). A
TABELA 1 apresenta as principais especificações do forno.

TABELA 1 - Especificação do Forno de Reaquecimento


Tipo walking beam
Capacidade 140 ton/h
Combustível GAF e/ou GN
Comprimento 33 metros
Largura 13,4 metros
N° Zonas 5

8
A Fig. 7 representa a parte interna do forno de reaquecimento de tarugos. O forno de
reaquecimento é divido em cinco zonas: zona de pré-aquecimento, zonas 1 e 2 de
aquecimento e as zonas 3/4 e 5 de encharque. Além disso, é composto de 75 queimadores,
sendo 66 nas zonas 1, 2, 3/4 e 9 queimadores na zona 5. Para o sistema de combustão é
utilizado gás de alto-forno (GAF) e/ou gás natural (GN). A temperatura do tarugo na saída do
forno pode variar entre 950°C e 1200°C.
A capacidade do forno de reaquecimento é de 129 tarugos. Cada tarugo pesa
aproximadamente 21,5 kiloNewtons, com comprimento de 12 metros, altura e largura de
0,155 metros.

ZONA DE PRÉ
AQUE. ZONA 1 ZONA 2 ZONA 3 / 4

Entrada
SAÍDA
Temperatura
TEMPERATURA DE
Ambiente 950 - 1200 C

SOLEIRA SKID

ZONA 5

Figura 7: Parte interna do Forno de reaquecimento de tarugos.


A movimentação de tarugos no forno é feita através das soleiras móveis e skids
móveis, o acionamento é hidráulico composto de bombas, válvulas e cilindros. A pressão de
trabalho do sistema hidráulico é de 150 kgf/cm². A movimentação dos tarugos consiste de
elevação e translação, em um ciclo de 48 segundos os tarugos percorrem 250 mm no interior
do forno. A capacidade de carga nas soleiras é de 84 tarugos e, nos skids, de 45. A Fig. 8 e a Fig.
9 representam a soleira móvel e o Skid móvel respectivamente.

Figura 8: Soleira móvel.

9
Figura 9: Skid móvel.

Para compreender a trajetória dos tarugos no forno de reaquecimento, os movimentos


podem ser divididos em etapas, representados na Fig. 10. A primeira etapa inicia-se com o
movimento de translação. Durante 7 segundos a soleira móvel se desloca no sentido oposto ao
fluxo de produção. Após essa etapa, inicia-se o movimento de elevação dos tarugos, que tem a
duração de 17 segundos. Em seguida os tarugos são transportados para a nova posição, no
sentido do fluxo de produção, com o tempo de 7 segundos. Então o tarugo é depositado na
soleira fixa, finalizando o seu ciclo de movimentação. O movimento de descida da soleira
móvel tem a duração de 17 segundos.

Tarugo Fluxo de produção

Soleira Fixa Skid Fixo


Soleira Móvel Skid Móvel
Translação

Soleira
Soleira Fixa
Móvel Móvel
SkidSkid Fixo
Elevação

SoleiraFixa
Soleira Móvel Skid Móvel
SkidFixo
Translação

Soleira Fixa Skid Fixo


Soleira Móvel Skid Móvel
Descida

Figura 10: Movimentação dos tarugos no forno de reaquecimento.

10
A carga total das soleiras móveis, incluindo o peso próprio e o peso dos tarugos, é
maior em comparação à carga total dos skids móveis. O estudo será realizado na estrutura da
soleira móvel, onde a viga responsável pelo movimento de translação do forno é solicitada
com maior intensidade. A ocorrência de trincas foi observada nestas vigas de translação.

2 MATERIAIS E MÉTODOS

Para a análise da propagação de trincas usando a abordagem da mecânica da fratura


são necessários os dados relativos à geometria da estrutura, aos carregamentos atuantes, às
propriedades do material, além dos dados das características geométricas das trincas
observadas. No estudo será considerada uma das vigas responsáveis pelo movimento de
translação do forno de reaquecimento de tarugos representada na Fig. 11 e na Fig. 12.

(a)

(b)

Figura 11: (a) Vista Longitudinal e (b) Seção transversal da viga em estudo.

11
Figura 12: Viga em estudo (viga superior).
As vigas responsáveis pelo movimento de translação do forno de reaquecimento são
do tipo perfil I soldado e aço ASTM A-36. Essas vigas estão sujeitas as forças verticais e a força
horizontal. As forças verticais correspondem ao peso dos tarugos, peso próprio de todo o
conjunto da estrutura metálica e ao material refratário da soleira móvel. A força horizontal é
proveniente do cilindro de translação responsável pela trajetória dos tarugos no interior do
forno. A Fig. 13 apresenta a disposição dos tarugos sobre a soleira móvel do forno de
reaquecimento na elevação +4.877 mm.

AA

20,87 m
BB
1,1

Soleira móvel 1

Soleira fixa
9,33 m
1,43

Soleira móvel 2

Soleira fixa

Soleira móvel 1
1,1

Disposição dos tarugos

Figura 13: Layout da soleira móvel (Planta).


O conjunto da estrutura metálica da soleira móvel, incluindo a viga de translação, está
representado na Fig. 14 e na Fig. 15 (seção AA e BB indicadas no layout da Fig.13). Esse
conjunto não sofre nenhuma transferência de calor da parte interna do forno para a estrutura

12
metálica, pois o revestimento do refratário das soleiras isola a parte interna do forno do
ambiente externo.
A estrutura metálica consiste de vigas denotadas pela letra V e por montantes
denotados pela letra M, essas identificações estão representadas na Fig. 14 e 15. Os
montantes servem para transmitir carga entre os níveis de vigamentos, a saber, vigamento das
elevações +3.905, +2.666 e +885. As elevações são dadas em milímetros.

Parte interna do forno

Elev. +4.877 tarugo

Soleira Soleira Soleira


Soleira Soleira
móvel móvel móvel
Fixa Fixa
VA VB VD VF
Elev. +3.905
VC VE

MA1 MB1 MC1 MD1 ME1 MF1

Elev. +2.666 V1

M11 M21 M31 M41 M51

Elev. +885 V1A

Vigas responsáveis pelo


Movimento de translação
Rodas

CORTE AA

Figura 14: Seção AA – Conjunto da estrutura metálica da soleira móvel.

Parte interna do forno

Disposição dos tarugos


Elev. +4.877

Soleira móvel
Elev. +3.905 VA Perfil I 12” x 5 ¼”

Perfil I 8”
MA1 MA2 MA3 MA4 MA5 MA6 MA7

Elev. +2.666 V1 V2 V3 V4 V5 V6 V7 Perfil I 12” x 5 ¼”

Perfil I 8”
M11 M12 M13 M14 M15 M16 M17

Elev. +885 V1A V2A V3A V4A V5A V6A V7A Perfil I 450

Força horizontal
Viga responsável
pelo movimento de
translação
CORTE BB

Figura 15: Seção BB – Conjunto da estrutura metálica da soleira móvel.

13
Para a análise dos esforços na viga de translação foram elaborados esquemas de
distribuição de carga em cada nível da estrutura metálica do forno de reaquecimento, desde a
elevação +4.877 (tarugos) até a elevação +885 (topo da viga em estudo). Esses esquemas e a
identificação das vigas e dos montantes são importantes para o entendimento da transmissão
de carga em cada nível, bem como entre os níveis da estrutura. O estudo aprofundado de
manuais do fabricante e a compreensão do projeto são essenciais para obter os resultados
mais próximos da realidade.

2.1 Análise dos esforços entre as elevações +4.877 e +3.905 das vigas VA a VF

Para o cálculo dos esforços nas vigas VA a VF, representadas na Fig. 14 e 15, foi feito
uma pesquisa nos projetos e manuais do fabricante do forno de reaquecimento para encontrar
o peso da estrutura metálica, o peso do material refratário da soleira, bem como a carga de
tarugos na região da soleira móvel. Os tarugos, quando elevados e em contato com a soleira
móvel, mobilizam cargas uniformemente distribuídas (q) nas vigas VA a VF, que incluem o peso
próprio dos mesmos e o peso das soleiras móveis (estrutura metálica e material refratário). A
distribuição de cargas na viga VA está representada na Fig. 16 e é semelhante nas vigas VB a
VF. Os apoios dessas vigas estão identificados na TABELA 2.

TABELA 2 – Identificação das Vigas e dos Montantes de apoio.


Viga Montantes de apoio
VA MA1/ MA2/ MA3/ MA4/ MA5/ MA6/ MA7
VB MB1/ MB2/ MB3/ MB4/ MB5/ MB6/ MB7
VC MC1/ MC2/ MC3/ MC4/ MC5/ MC6/ MC7
VD MD1/ MD2/ MD3/ MD4/ MD5/ MD6/ MD7
VE ME1/ ME2/ ME3/ ME4/ ME5/ ME6/ ME7
VF MF1/ MF2/ MF3/ MF4/ MF5/ MF6/ MF7

MA1 MA2 MA3 MA4 MA5 MA6 MA7


1,30 3,01 3,01 3,01 3,01 3,01 3,01 1,46

Figura 16: Distribuição de carga na viga VA.

2.2 Análise dos esforços entre as elevações +3.905 e +2.666 das vigas V1 a V7

O esquema de distribuição de carga e a identificação das vigas e dos montantes são de


extrema importância para encontrar os esforços na viga responsável pelo movimento de
translação do forno de reaquecimento. Na Fig. 14 e 15 apresentam-se as vigas transversais V1
a V7 na elevação +2.666. Essas vigas suportam cargas concentradas que lhes são transmitidas
pelos montantes MA1 a MF7 provenientes da estrutura acima e identificadas conforme a

14
TABELA 3. As vigas V1 a V7 estão apoiadas nos montantes M11 a M57 representadas na
TABELA 4.

TABELA 3 – Identificação das Vigas e dos Montantes transmissores de carga.


Viga Montantes transmissores de carga
V1 MA1/ MB1/ MC1/ MD1/ ME1/MF1
V2 MA2/ MB2/ MC2/ MD2/ ME2/MF2
V3 MA3/ MB3/ MC3/ MD3/ ME3/MF3
V4 MA4/ MB4/ MC4/ MD4/ ME5/MF5
V5 MA5/ MB5/ MC5/ MD5/ ME5/MF5
V6 MA6/ MB6/ MC6/ MD6/ ME6/MF6
V7 MA7/ MB7/ MC7/ MD7/ ME7/MF7

TABELA 4 – Identificação das Vigas e Montantes de apoio.


Viga Montantes de apoio
V1 M11/ M21/ M31/ M41/ M51
V2 M12/ M22/ M32/ M42/ M52
V3 M13/ M23/ M33/ M43/ M53
V4 M14/ M24/ M34/ M44/ M55
V5 M15/ M25/ M35/ M45/ M55
V6 M16/ M26/ M36/ M46/ M56
V7 M17/ M27/ M37/ M47/ M57

A Fig. 17 ilustra a distribuição de cargas na viga V1 cujo esquema estrutural é


semelhante às vigas V2 a V7.

MA1 MB1 MC1 MD1 ME1 MF1

M11 M21 M31 M41 M51


0,6 0,415 0,415 0,6

2,215 2,20 2,20 2,215

Figura 17: Distribuição de carga na viga V1.

2.3 Análise dos esforços entre as elevações +2.666 e +885 das vigas V1A a V7A

As vigas transversais V1A a V7A, ilustradas na Fig. 14 e 15, são responsáveis pela
transmissão das cargas para a viga de translação. Essas vigas (V1A a V7A) suportam cargas
concentradas e que lhes são transmitidas por meio dos montantes M11 a M57 provenientes
da estrutura acima e conforme TABELA 5.

15
TABELA 5 – Identificação das Vigas e Montantes transmissores de carga.
Montantes transmissores de
Viga
carga
V1A M11/ M21/ M31/ M41/ M51
V2A M12/ M22/ M32/ M42/ M52
V3A M13/ M23/ M33/ M43/ M53
V4A M14/ M24/ M34/ M44/ M55
V5A M15/ M25/ M35/ M45/ M55
V6A M16/ M26/ M36/ M46/ M56
V7A M17/ M27/ M37/ M47/ M57

Na Fig. 18 apresenta-se a distribuição de carga na viga V1A cujo esquema estrutural é


semelhante aos das vigas V2A a V7A.

M11 M21 M31 M41 M51

Viga em estudo

1,115 1,1 2,2 2,2 1,1 1,115

Figura 18: Distribuição de carga na viga V1A.

2.4 Cargas e esforços na viga responsável pelo movimento de translação

Os esforços na viga responsável pelo movimento de translação variam conforme a


posição das rodas representada na Fig. 15 que lhes servem como apoios. A viga de translação
suporta forças concentradas (q1 a q7) que correspondem às cargas transmitidas pelas vigas
V1A a V7A. Na análise dos esforços, a distribuição de cargas (q1 a q7) é mantida numa posição
fixa e então são efetuados variações na posição dos apoios (rodas), visando determinar a
posição mais desfavorável em termos de solicitação. Para um estudo inicial foram
consideradas três posições das rodas conforme ilustrado na distribuição de cargas da Fig. 19.

Posição 1
q1 q2 q3 q4 q5 q6 q7
0,15 3,01 3,01 3,01 3,01 3,01 3,01 0,694

1,504 5,8 5,8 5,6 0,2

16
Posição 2
q1 q2 q3 q4 q5 q6 q7
0,15 3,01 3,01 3,01 3,01 3,01 3,01 0,694

0,887 5,8 5,8 5,6 0,816

Posição 3
q1 q2 q3 q4 q5 q6 q7

0,15 3,01 3,01 3,01 3,01 3,01 3,01 0,694

0,271 5,8 5,8 5,6 1,433

Figura 19: Distribuição de cargas na viga de translação em 3 posições das rodas.

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

A partir do carregamento atuante na viga responsável pelo movimento de translação,


será realizada uma análise estrutural detalhada por meio dos métodos de elementos finitos,
utilizando o programa COSMOS. De acordo com Borges [3], a modelagem numérica vem se
tornando uma ferramenta básica para projetistas e pesquisadores em quase todas as áreas da
engenharia. Diversos outros programas comerciais existentes para análise estrutural estão
disponíveis, a maioria desses programas é desenvolvida com base no método dos elementos
finitos (MEF) e também no método dos elementos de contorno (MEC). Atualmente esses
programas estão se tornando cada vez mais amigáveis facilitando o trabalho de modelagem.
A análise estrutural da propagação de trincas será realizada em duas etapas. Na
primeira etapa, através do programa COSMOS, será desenvolvida uma análise linear elástica
global de toda a viga sem a presença de trincas, visando à obtenção de deslocamentos e
tensões correspondentes à solicitação máxima e mínima nos diversos pontos da estrutura.
Com isso serão determinadas as regiões críticas, em termos de solicitação, onde há maior
probabilidade de ocorrências de trincas. Esta modelagem global da viga baseada no MEF será
realizada utilizando elementos finitos de placas e cascas. A segunda etapa consiste na
modelagem numérica das regiões críticas determinadas na primeira etapa, utilizando-se
método de elementos de contorno para a análise de trechos críticos, incluindo a presença de
trincas. Essa análise, visando à representação tridimensional dos trechos da estrutura, será
realizada utilizando o programa FRANC3D. Segundo Borges [3], o programa FRANC3D é
constituído de três módulos: OSM (Object Solid Model), modelador sólido, no qual se gera a
geometria dos modelos; FRANC3D (Fracture Analisys Code for 3 Dimensional Problems), pré e
pós-processador, destinados à geração da malha de elementos de contorno, leitura das
propriedades do material e inserção de trincas bem como análise de resultados provenientes
da análise; BES (Boundary Element Solver), que se trata do núcleo numérico destinado a
solução do sistema de equações e obtenção dos parâmetros da mecânica da fratura.

17
A partir dos resultados da primeira etapa, serão introduzidas trincas nas regiões
críticas determinadas nessa etapa. A análise de sua propagação será realizada considerando-se
os valores extremos dos fatores de intensidade de tensão. Os resultados da segunda etapa
poderão ser utilizados para refinar a análise global da primeira etapa num processo de
refinamento sucessivo de análise. De acordo com Teixeira [7], a simulação da propagação da
trinca é um processo incremental, no qual uma série de passos é repetida para a propagação
da mesma. Cada iteração do processo representa uma configuração de trinca e depende dos
resultados anteriores. Esses resultados são os campos de forças e os deslocamentos no
contorno do corpo trincado. Os valores dos fatores de intensidade de tensão são calculados
em pontos discretos ao longo da frente da trinca, a partir do campo de forças e deslocamentos
no contorno. Com os valores dos fatores de intensidade de tensão calcula-se uma nova frente
de trinca.
Para a confiabilidade dos resultados obtidos através das simulações numéricas será feita uma
comparação com as soluções analíticas disponíveis nos livros e manuais de mecânica da fratura
de forma mais aprofundada.

3.1 Estimativa de vida da viga em estudo baseada na propagação de trincas

A partir dos resultados da análise proposta anteriormente, dos fatores de intensidade


de tensão correspondentes as solicitações extremas (máxima e mínima), serão efetuadas a
estimativa de vida da viga responsável pelo movimento de translação do forno de
reaquecimento com base em leis de propagação tais como a Lei de Paris e outras como Lei de
Forman e Walker. Com base na Lei de Paris, o número de ciclos necessários para propagar uma
trinca de um comprimento inicial até o seu comprimento crítico é obtido pela integração da
equação (2), resultando na equação (5).

af da
N  (5)
ai C (K ) m
onde, N é o número de ciclos necessários para propagação da trinca, a f é o comprimento
crítico da trinca, ai é o comprimento inicial e da o incremento do comprimento da trinca.

3.2 Estimativa de vida da viga em estudo baseada na curva S-N

Além disso, será estimada a vida da viga em estudo através da abordagem clássica baseada nas
curvas S-N, a partir da viga sem a presença de trincas, quando esta é submetida a tensões
cíclicas de amplitude constante. De acordo com Dowling [5], a aplicação da equação de SWT
(Smith, Watson e Topper) fornece ótimos resultados para diversos tipos de aços estruturais. A
relação da equação SWT com uma curva S-N obtida de um carregamento completamente
reverso é dada pela equação (6).

 máx a   'f (2 N f )b (6)

18
onde,  máx é a tensão máxima,  a é a amplitude de tensão ,  ' f e b são propriedades do
material e N f o número de ciclos para falha.

4 CONCLUSÃO

Este trabalho se propõe a estimar a vida em fadiga de uma viga de translação do forno
de reaquecimento, com base na fundamentação da mecânica da fratura e nas leis da
propagação de trinca a partir da análise estrutural global e local, utilizando-se o Método de
Elementos Finitos e Método de Elementos de Contorno. Essa análise numérica é fundamental
para o cálculo dos fatores de intensidade de tensão correspondentes às condições de
solicitação máxima e mínima decorrentes da variação de carregamento. A análise global será
baseada no MEF e se destina a identificar as regiões críticas, em termos de solicitação, bem
como nas regiões de ocorrências das trincas observadas na estrutura. Partindo-se dos
resultados dessa análise, serão elaboradas modelagens tridimensionais locais em regiões
especificas das quais foram observadas ocorrências de trincas ou em regiões onde há maior
probabilidade de ocorrências. Essa modelagem baseada no MEC se destina a obter os fatores
de intensidade de tensão extremos para a realização dos estudos de propagação. A partir dos
resultados desses estudos, serão elaborados planos de inspeção e de manutenção das vigas de
translação do forno de reaquecimento. O primeiro desses planos visa determinar a
periodicidade de inspeção e o comprimento crítico da trinca antes da propagação instável ou
colapso da estrutura. No plano de manutenção pretende-se elaborar uma metodologia para a
reparação das vigas de translação proporcionando a continuidade operacional do forno de
reaquecimento de tarugos.

Agradecimentos

Os autores agradecem a CONSTRUMETAL (Construção Metálica da América Latina), ao


PROPEES (Programa de Pós Graduação em Engenharia de Estruturas da UFMG) e a CAPES
(Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior) por contribuírem para a
realização deste trabalho.

REFERÊNCIAS

1 ANDERSON, T. L. Fracture mechanics fundamentals and applications. 2° Edição, Boca


Raton: CRC Press; 1995.
2 BANNANTINE, J. A., COMER, J. J., HANDROCK, J. L. Fundamentals of metal fatigue
analysis. Englewood Cliffs: Prentice Hall; 1990.
3 BORGES, M. L. M. Análise de propagação de trinca por meio da mecânica da fratura
[Dissertação em Engenharia Civil]. Belo Horizonte: Universidade Federal de Minas
Gerais; 2010.
4 BROEK, D. Elementary engineering fracture mechanics. 4° Edição, Dordrecht: Kluwer
Academic Publishers; 1996.

19
5 DOWLING, N. E. Mechanical behavior of materials. Engineering methods for
deformation, fracture and fatigue. 2° Edição, Upper Saddle River: Prentice Hallp; 1999.
6 FIGUEIREDO, A. M. G. Caracterização da fadiga mecânica de baixo ciclo em ligas
superelásticas de NiTi [Tese de Doutorado em Engenharia Metalúrgica e de Minas].
Belo Horizonte: Universidade Federal de Minas Gerais; 2006.
7 TEIXEIRA, R. S. Metodologia de análise de fadiga em componentes estruturais de aço
baseada na Mecânica da Fratura [Dissertação em Engenharia Civil], Belo Horizonte:
Universidade Federal de Minas Gerais; 2004.

20
Tema: Estruturas Metálicas e Mistas / Construções Leves estruturadas em Aço

AVALIAÇÃO DE MÉTODOS NUMÉRICOS DE ANÁLISE LINEAR DE ESTABILIDADE PARA


PERFIS DE AÇO FORMADOS A FRIO*

Débora Coting Braga¹


Eduardo M. B. Campello²
Resumo
Este trabalho avalia três metodologias para a análise linear de estabilidade de perfis formados
a frio isolados. Especificamente, estudam-se perfis de seção U enrijecido (i) biarticulados, sem
restrição ao empenamento nas extremidades e submetidos a compressão uniforme e (ii)
engastados em uma extremidade, livre na outra e submetidos a flexão simples. Determinam-
se os carregamentos críticos para os modos de instabilidade globais e locais por meio de
análises numéricas: (i) com o Método das Faixas Finitas (MFF), via uso do programa
computacional CUFSM; (ii) com elementos finitos de barra baseados na Teoria Generalizada de
Vigas (MEF-GBT), via uso do programa GBTUL; e (iii) com elementos finitos de casca (MEF-
cascas) via uso do programa ABAQUS. Algumas restrições e ressalvas com relação ao uso do
MFF são apresentadas, assim como limitações da Teoria Generalizada de Viga e cuidados a
serem tomados nos modelos de cascas. Analisa-se também a influência do grau de
discretização da seção transversal.
Palavras-chave: Análise linear de estabilidade, Perfis formados a frio, Método das faixas
finitas, Teoria generalizada de viga, Método dos elementos finitos.

EVALUATION OF NUMERICAL METHODS FOR LINEAR STABILITY ANALYSIS

Abstract
This work evaluates three methods for linear stability analysis of isolated cold-formed
members. Specifically, it was studied Ue section members (i) simply supported, without
warping restraint at the ends and subjected to uniform compression and (ii) with one end fixed
and the other end free and subjected to flexure. The elastic critical loads and uncoupled
buckling modes are determined by means of numerical analyses: (i) with the Finite Strip
Method (FSM), using computer program CUFSM, (ii) with beam finite element based on the
Generalized Beam Theory (FEM-GBT), using GBTUL program, and (iii) with shell finite elements
(FEM-shell) using ABAQUS program. Some restrictions and warnings regarding the use of the
FSM are then presented, as well as limitations for the application of the Generalized Beam
Theory and some precautions to be taken when using FE shell models. It is also analyzed the
influence of the discretization on the cross section.
Keywords: Linear stability analysis, Cold formed members, Finite strip method, Generalized
beam theory, Finite element method.

¹ Mestranda, Departamento de Engenharia de Estruturas e Geotécnica, Escola Politécnica da USP, São


Paulo, SP – Brasil.
² Professor Doutor, Departamento de Engenharia de Estruturas e Geotécnica, Escola Politécnica da USP,
São Paulo, SP – Brasil.

________________________________
* Contribuição técnica ao Construmetal 2014 – Congresso Latino-Americano da Construção
Metálica – 02 a 04 de setembro de 2014, São Paulo, SP, Brasil.
1
1 INTRODUÇÃO

Os perfis de aço formados a frio, ou perfis de chapa dobrada, têm sido amplamente
empregados em vários segmentos da construção civil. O bom padrão construtivo, a facilidade
de fabricação, a economia no manuseio e na montagem, aliados à sua enorme versatilidade,
contribuíram para a difusão desses perfis [1]. Sua utilização tem sido também motivada por se
tratar de perfis leves, esbeltos e com elevada eficiência estrutural, o que ao mesmo tempo
acarreta complicações: a perda de estabilidade passa a ser um aspecto importante no projeto.

Os fenômenos de instabilidade manifestam-se repentina e violentamente, mesmo quando a


velocidade de crescimento das intensidades das ações não sofre acréscimos bruscos. Assim
sendo, pode-se dizer que as ruínas produzidas por instabilidade são sem aviso e quase sempre
produzem grandes danos à estrutura [2]. Nesse contexto, o projeto de uma estrutura ou de
um elemento estrutural não pode basear-se unicamente em conceitos de segurança
relacionados à sua resistência e à sua deformabilidade; é indispensável também a
consideração da estabilidade de seu equilíbrio [3].

A palavra “estabilidade” está associada ao equilíbrio de um sistema e pode ser utilizada em


diversos contextos. No âmbito da engenharia de estruturas, estabilidade é a tendência de um
sistema equilibrado permanecer próximo à sua configuração original quando pequenas
perturbações encorajam o sistema a abandoná-la. Diz-se que uma configuração do sistema é
de equilíbrio estável em qualquer instante de tempo se pequenas perturbações nos
parâmetros do sistema ou nas condições externas provocam pequenas alterações na
configuração original [4].

Faz-se necessária também a definição de carregamento crítico, Pcr, que é o carregamento (seja
ele uma força, um conjunto de forças ou momentos) correspondente a um ponto crítico, i.e., a
um ponto da trajetória de equilíbrio em que a estrutura pode se tornar instável. Um ponto
crítico por sua vez pode ser de dois tipos: (i) estático, podendo ser classificado como ponto de
bifurcação ou ponto limite (ambos caracterizam a perda de estabilidade através de uma
mudança brusca do sistema, sendo esse fenômeno conhecido como “buckling” na língua
inglesa); ou (ii) dinâmico, caracterizado por movimentos oscilatórios.

A instabilidade elástica bifurcacional (entende-se por instabilidade elástica aquela que se


processa com o material trabalhando em seu regime elástico) é um dos tipos mais comuns de
perda de estabilidade e objeto de estudo desde o século XVIII. Um dos primeiros estudos de
problemas de bifurcação foi apresentado para barras isoladas comprimidas em 1744, pelo
matemático suíço Leonard Euler [5]. Em um determinado estágio de carregamento, a
configuração de equilíbrio da barra tem a tendência a se aproximar de um ponto de
divergência, ou ponto de bifurcação, a partir do qual duas trajetórias de equilíbrio passam a
ser possíveis. O ponto de bifurcação está localizado na intersecção dessas duas trajetórias e
denota uma possível alteração no comportamento do sistema uma vez que a partir de tal

2
ponto o mesmo pode seguir dois estados de equilíbrio distintos, conforme ilustrado na Figura
1.1. Adiante do ponto de bifurcação, o sistema pode: (i) permanecer ao longo da sua trajetória
original de equilíbrio, a chamada trajetória primária ou trajetória fundamental
(correspondente à forma retilínea da barra), ou (ii) divergir da sua trajetória original e seguir
uma nova trajetória, nomeada de trajetória secundária (correspondente a uma forma em que
adquire curvatura), sendo a primeira alternativa instável e a segunda estável.

Figura 1.1 –Instabilidade bifurcacional de uma barra comprimida. Adaptado de [6].

A instabilidade de perfis de aço formados a frio está contextualizada na instabilidade estática


bifurcacional simétrica estável, denominada flambagem, que é apenas uma das três
classificações da instabilidade bifurcacional.

MGF MGFT MGT MLC MD


(a) (b) (c) (d) (e)
Figura 1.2 –Modos de instabilidade classificados em:(a) modo global por flexão, (b) modo global por flexotorção, (c)
modo global por torção, (d) modo local de chapa e (e) modo distorcional.

Os fenômenos de instabilidade são comumente caracterizados como de natureza global ou


local. Os modos de instabilidade globais em barras comprimidas são caracterizados por não
envolverem deformação significativa das seções transversais em seu plano, provocando nas
seções deslocamentos quase que exclusivamente de corpo rígido. Costumam ser classificado
em: (i) modo global por flexão (MGF), ilustrado na Figura 1.2a, que ocorre em barras com
seções duplamente simétricas ou com simetria em relação a um ponto; (ii) modo global por
flexotorção (MGFT), ilustrado na Figura 1.2b, que ocorre em barras com seções com um ou
nenhum eixo de simetria; e (iii) modo global por torção, ilustrado na Figura 1.2c, que ocorre
em barras curtas com seção duplamente simétrica e de baixa rigidez à torção.

3
Já os modos de instabilidade local são aqueles que não envolvem deslocamentos significativos
do eixo da barra, mas que induzem deformações localizadas nas seções transversais,
permanecendo o seu eixo praticamente reto. Os modos locais são convencionalmente
divididos em modo local de chapa (MLC) e modo distorcional (MD), como ilustra a Figura 1.2d
e Figura 1.2e respectivamente. Por definição, modo local de chapa caracteriza-se pela
conservação da posição original dos cantos dobrados da seção – os quais permanecem
definindo uma linha reta paralela ao eixo do perfil – apresentando somente deslocamentos de
flexão das paredes que constituem o perfil, enquanto que o modo distorcional caracteriza-se
pela rotação e possível translação do conjunto formado pela(s) mesa(s) comprimida(s) e seu(s)
enrijecedor(es) de borda, com grandes mudanças na forma da seção transversal (cantos
dobrados da seção podem mudar de posição).

Dentro do contexto da análise linear de estabilidade, neste trabalho pretende-se avaliar três
diferentes métodos numéricos de obtenção de carregamentos críticos elásticos bifurcacionais
e seus correspondentes modos de instabilidade, quando aplicados a perfis de aço de chapa
dobrada de seção U enrijecido (comercialmente denominados “Ue”). Em cada método,
analisa-se também a influência do grau de discretização da seção transversal.

2 MATERIAIS E MÉTODOS

Os métodos numéricos de análise linear de estabilidade são aqueles que fornecem os


carregamentos críticos elásticos, ou que, formalmente, consistem na resolução de um
problema de autovalores e autovetores associado às matrizes de rigidez elástica e geométrica
da estrutura discretizada (qualquer que seja o método de discretização empregado). As três
metodologias de discretização mais consagradas para uso em estruturas de aço são
apresentadas na sequência.

finite element finite s trip


(a) s trip
finite (b) finite
(c)element
Figura 2.1 – Discretização de um perfl utilizando (a) MFF, (b) MEF-GBT e (c) MEF-cascas

O Método das Faixas Finitas (MFF) tira proveito da natureza prismática dos perfis e discretiza a
seção transversal em finitos segmentos, sendo que cada segmento dá origem a uma faixa com
uma dimensão longitudinal igual à do comprimento total do perfil conforme a Figura 2.1a.
Cada faixa finita é representada por quatro nós, tendo cada nó quatro graus de liberdade. O
campo de deslocamentos é obtido por interpolação dos deslocamentos nodais através de

4
funções de forma Ψ. As funções de forma longitudinais devem ser escolhidas de acordo com as
condições de contorno do problema. No caso de um perfil biarticulado, é possível fazer Ψ(y) =
sen(mπy/L) (y=coordenada ao longo do eixo), sendo que a constante “m” denota o número de
semiondas longitudinais esperadas para a configuração deformada ao longo do comprimento
da faixa (“m” é um número que deve ser assumido a priori, normalmente adota-se m=1).

A Teoria Generalizada de Vigas (MEF-GBT), denominada GBT (Generalized Beam Theory) foi
desenvolvida por Richard Schardt em 1966 na Alemanha [7]. A GBT apresenta uma formulação
baseada numa teoria de vigas, isto é, ela idealiza o perfil como sendo um objeto
unidimensional representado por sua linha de eixo, dotado de uma seção transversal. O eixo
pode experimentar deslocamentos e rotações de magnitude moderada e a descrição
cinemática é enriquecida com a inclusão de graus de liberdade adicionais pertencentes às
seções transversais (e não apenas ao eixo). Em outras palavras, introduzem-se nós nas seções
transversais, o que permite a consideração dos efeitos locais, i.e. das deformações da seção,
conforme a Figura 2.1b. O método dos elementos finitos com elementos de barra (i.e.
elementos unidimensionais) é então utilizado para solução numérica das equações
correspondentes.

Por fim, há a discretização por meio de elementos finitos de casca (MEF-cascas), que é o
método numérico mais geral, versátil e popular. O método consiste em discretizar a geometria
do perfil utilizando elementos de casca, conforme a Figura 2.1c. Com esses elementos, os
deslocamentos e as rotações em um ponto qualquer do perfil são aproximados por funções de
forma polinomiais cujos coeficientes são os deslocamentos generalizados ou, em outras
palavras, os graus de liberdade nodais. A necessidade de capturar adequadamente as
deformações da seção transversal nos vários modos de instabilidade (cujas formas são
inicialmente desconhecidas) faz com que a discretização se dê com o uso de malhas refinadas.

Os três métodos utilizam métodos variacionais para a formulação do problema de autovalores,


que compreende em resolver o seguinte problema generalizado de autovalores:

(1.1)

Na Eq.(1.1), é a matriz de rigidez elástica do modelo e é função das propriedades do


material e das funções de forma escolhidas, que por sua vez, dependem do método de
discretização empregado. é a matriz de rigidez geométrica do modelo, sendo função das
funções de forma e dos carregamentos aplicados. Existe um fator λ multiplicativo dos
parâmetros livres de , que é a incógnita do problema tal que exista solução não trivial para a
equação acima. As n raízes da Eq. (1.1) são denominadas de autovalores e a cada raiz λ há um
vetor , não nulo, correspondente que satisfaz a Eq. (1.1). A menor das raízes no contexto da
instabilidade bifurcacional está associada ao primeiro ponto crítico, consequentemente ao
carregamento critico mínimo.

5
A confiabilidade dos resultados obtidos depende de o quão o método de discretização
consegue reproduzir as reais condições de contorno nas extremidades do perfil, além do nível
de discretização da seção transversal e da “qualidade” das funções de forma que originam as
matrizes de rigidez elástica e geométrica.

Para a utilização os três métodos, respectivamente, os seguintes programas computacionais


são utilizados neste trabalho: (i) CUFSM [8], desenvolvido na Universidade Johns Hopkins de
Baltimore, Estados Unidos; (ii) GBTUL [9], desenvolvido na Universidade Técnica de Lisboa; e (iii)
ABAQUS [10], comercializado pela Dassault Systemes Simulia Corporation.

O CUFSM é um programa que utiliza o Método das Faixas Finitas (MFF) para calcular os
carregamentos críticos elásticos de um perfil isolado de seção transversal definida, tendo
diferentes comprimentos. O programa fornece o modo e o carregamento crítico
correspondente para diferentes comprimentos arbitrários do perfil. O CUFSM convencional –
no presente trabalho denominado apenas como CUFSM–, apesar de ser uma alternativa de
baixo custo computacional em relação ao MEF, apresenta algumas restrições: (i) as barras
devem ser obrigatoriamente prismáticas; (ii) o método só permite barras isoladas; (iii) não há
restrição ao empenamento; e (iv) por haver nós somente nas seções das extremidades, o
carregamento tem que ser obrigatoriamente uniforme ao longo da barra.

Implementações recentes possibilitaram o desenvolvimento do Método das Faixas Finitas


Confinadas (Constrained Finite Strip Method), denominado cFSM [11]. Através de ideias
semelhantes às da teoria generalizada de viga (a qual será abordada no próximo parágrafo), o
método possibilitou a identificação e decomposição dos modos elásticos de instabilidade. As
versões CUFSM 3.12 (e em diante) do programa contêm tanto o método convencional quanto o
método modificado. Por criar nós intermediários ao longo do eixo longitudinal, o cFSM faz uso
de uma discretização mais rica ao longo do eixo do perfil. Quando a curva gerada pelo CUFSM
convencional (fator de carregamento versus comprimento da barra) não é capaz de fornecer
mínimos distintos que correspondam aos modos de instabilidade local e distorcional, o cFSM
torna-se essencial para a determinação desses modos.

O GBTUL, por sua vez, é um programa que tem a Teoria Generalizada de Vigas (MEF-GBT)
implementada. O programa trata de forma analítica as barras simplesmente apoiadas e de
forma numérica (elementos finitos) barras com outras condições de vinculação. Como
resposta nas análises de estabilidade, o GBTUL exibe os modos de instabilidade e os
correspondentes carregamentos críticos para diversos comprimentos do perfil (o comprimento
é admitido como uma variável livre: apenas as dimensões da seção transversal são fixas e
fornecidas nos dados de entrada), semelhantemente ao CUFSM.

Já nas análises com elementos de casca via Método dos Elementos Finitos (MEF) através do
programa computacional ABAQUS, diferentemente daquelas com o uso do CUFSM e do GBTUL, o
comprimento do perfil precisa ser definido previamente (é um dado fixo do problema). A

6
introdução dos carregamentos e das condições de contorno nos nós das seções transversais
extremas precisa ser feita com muito critério, a fim de se representar adequadamente a
solicitação externa e a condição de vínculo que se deseja. Esse aspecto parece um tanto óbvio
e, no entanto, é aqui onde muitos modelos incorrem em erro e fornecem resultados
completamente inesperados ou sem representatividade do problema em apreço.

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Este capítulo é dedicado à obtenção dos carregamentos críticos elásticos bifurcacionais e seus
correspondentes modos de instabilidade, através do (i) MFF, (ii) MEF-GBT e (iii) MEF-cascas,
quando aplicados à análise de perfis de chapa dobrada de seção U enrijecido 200x75x20x2
ilustrado na Figura 3.1a, para as seguintes condições de carregamento e vinculação: (i) barra
isolada biarticulada sem restrição ao empenamento, submetida à compressão uniforme e (ii)
barra isolada engastada em uma extremidade e livre na outra, submetida à flexão simples.

Em cada caso, analisa-se também a influência do grau de discretização da seção transversal,


conforme apresentado na Figura 3.1b, Figura 3.1c e Figura 3.1d.

Figura 3.1 – Seção Ue200x75x20x2 e sua discretização.(a) dimensões nominais em mm, (b) malha tipo 1, (c) malha
tipo 2 e (d) malha tipo 3.

3.1 Barra biarticulada submetida à compressão uniforme


Nesse item, o perfil biarticulado, sem restrição ao empenamento em ambas as extremidades e
submetido à compressão uniforme, conforme ilustrado na Figura 3.2, é analisado.

Figura 3.2 – Barra isolada de comprimento L, biarticulada e submetida ao carregamento P.

Utilizaram-se três diferentes discretizações da seção transversal, conforme ilustrado na Figura


3.1, nomeadas de tipo 1, tipo 2 e tipo 3, sendo 1 a seção menos refinada e 3 a seção mais
refinada.

7
3.1.1 Análise com o Método das faixas finitas
A Figura 3.3 apresenta a curva obtida com o uso do CUSFM, onde na abscissa tem-se o
comprimento do perfil em milímetros (escala logarítmica) e na ordenada tem-se o fator de
carregamento, p, que é a relação entre o carregamento aplicado (para este caso o
carregamento é unitário) e o carregamento crítico. Os seis pontos marcados representam os
perfis de comprimentos destacados na Figura 3.4 abaixo, cujos modos de instabilidade são
apresentados. Nota-se que os casos de comprimentos 15 cm e 70 cm correspondem a pontos
de mínimo locais na curva da Figura 3.3. Os carregamentos críticos obtidos com os três graus
de refinamento da seção transversal estão apresentados na Tabela 3.1.

Figura 3.3 – Determinação da curva comprimento do perfil (mm) vs. fator de carregamento, p, com o CUFSM.

L=15 cm L=70 cm L=150 cm


(a) (b) (c)

L=200 cm L=300 cm L=400 cm


(d) (e) (f)

Figura 3.4 – Modos de instabilidade obtidos com o CUFSM para a discretização tipo 1 da seção transversal para
comprimento de (a) 15 cm, (b) 70 cm, (c) 150 cm, (d) 200 cm, (e) 300 cm e (f) 400 cm.

8
Tabela 3.1. Valores dos carregamentos críticos (kN) obtidos com o CUFSM para os graus de refinamento (Gr) tipo 1,
2 e 3 da seção transversal.

L (cm)
Gr. 15,0 70,0 150,0 200,0 300,0 400,0
1 82,15 155,58 271,73 232,84 109,06 64,84
2 82,08 155,34 271,25 231,54 108,48 64,51
3 82,07 154,36 271,04 231,19 108,32 64,43

Convém destacar que para os comprimentos 70 cm, 150 cm e 200 cm o CUFSM fornece como
resultado um modo de instabilidade distorcional (MD) e para os comprimentos de 300 cm e
400 cm o resultado é um modo global de flexotorção (MGFT). Utilizando a formulação do
Método das Faixas Finitas Confinadas através do programa do cFSM, contudo, obtêm-se
resultados diferentes para os comprimentos de 70 a 300 cm: o carregamento crítico passa a
ser aproximadamente Pcr=82kN para todos os comprimentos indicados na figura abaixo e
todos correspondem a um modo local de chapa (MLC) com mais de uma semionda
longitudinal, conforme ilustrado na Figura 3.5.

(a) (b) (c) (d)

Figura 3.5 – Modo de instabilidade local de chapa obtido via cFSM, para comprimentos de (a) 70 cm, (b) 150 cm,
(c) 200 cm e (d) 300 cm.

3.1.2 Análise com a teoria generalizada de viga


A Figura 3.6 apresenta a curva obtida com o uso do programa computacional GBTUL, onde no
eixo das abscissas tem-se o comprimento da barra em centímetros (escala logarítmica) e no
eixo das ordenadas o carregamento crítico em kN. Os pontos destacados em vermelho
representam as barras cujos comprimentos são 15 cm, 70 cm, 200 cm, 300 cm e 400 cm. Os
modos de instabilidade referentes aos pontos destacados estão apresentados na Figura 3.7,
enquanto que os carregamentos críticos para os três graus de refinamento estão apresentados
na Tabela 3.2.

9
Figura 3.6 – Determinação da curva comprimento (cm) vs. carga crítica, Pcr (kN) com o GBTUL.

L=15 cm L=70 cm L=150 cm L=200 cm L=300 cm L=400 cm


(a) (b) (c) (d) (e) (f)

Figura 3.7 – Seção transversal no meio do vão obtida com o GBTUL para os modos de instabilidade de comprimento
igual a: (a) 15 cm, (b) 70 cm, (c) 150 cm, (d) 200 cm, (d) 300 cm e (f) 400 cm.

Tabela 3.2. Valores dos carregamentos críticos (kN) obtidos com o GBTUL para os graus de refinamento (Gr) tipo 1,
2 e 3.

L (cm)
Gr. 15,0 70,0 150,0 200,0 300,0 400,0
1 82,61 83,51 82,61 88,71 118,10 69,78
2 82,58 83,48 82,59 88,67 118,10 69,78
3 82,59 83,48 82,59 88,67 118,10 69,78

Os resultados para o comprimento de 15 cm estão em boa concordância com os do item


anterior. Já para os comprimentos de 70 cm, 150 cm e 200 cm o GBTUL fornece como modo de
instabilidade o modo local de chapa (MLC), sendo esse com a ocorrência de mais de um
harmônico longitudinal (i.e., o número de semiondas longitudinais pode ser maior do que 1), e
com carregamento crítico da ordem de 83 kN (L=70cm e L=150cm) ou 88 kN (L=200cm) . Essa
resposta é bastante diferente daquela obtida com o uso do método das faixas finitas
convencional, onde se obtém um modo distorcional (MD) com quase o dobro (L=70cm e
L=150cm) ou o triplo (L=200cm) do carregamento crítico – o MFF convencional não toma
conhecimento do MLC com mais de uma semionda, somente capturando o ponto crítico no
nível de carregamento mais alto, que nesse caso é um MD, conforme apresentado na Tabela
3.1 .

10
Por outro lado para os comprimentos de 300 cm e 400 cm o GBTUL fornece carregamentos e
modos críticos que concordam com os resultados do item anterior, sendo os modos de
instabilidade por flexotorção global (MGFT) em ambos os casos. Cabe observar que,
analisando a Figura 3.6, temos a falsa impressão de que, para uma faixa de comprimentos
entre 200cm e 300cm há um acréscimo do carregamento crítico. Isso ocorre em virtude de o
número máximo de semiondas permitido no programa GBTUL ser igual, por default, a 10
harmônicos longitudinais.

Quando se altera o valor de “m” para, por exemplo, 20 harmônicos longitudinais, obtêm-se a
curva ilustrada na Figura 3.8 e os valores das cargas críticas para 200 cm e 300 cm são
alterados conforme a Tabela 3.3. Observar-se que para o comprimento de 300 cm o modo
deixa de ser global de flexotorção (MGFT) e passa a ser um modo local de chapa (MLC).

Figura 3.8 – Determinação da curva comprimento (cm) vs. carga crítica, Pcr (kN).

Tabela 3.3. Valores dos carregamentos críticos (kN) para os graus de refinamento (Gr) tipo 1, 2 e 3.

L (cm)
Gr. 200,0 300,0
1 82,52 82,55
2 82,49 82,52
3 82,49 82,52

Esse resultado indica que, para uma determinada faixa de comprimentos, o modo crítico
independe do comprimento do perfil, a diferença estando somente na quantidade de
harmônicos (i.e. semiondas “m”) longitudinais observados. O carregamento crítico
corresponderá, nessa faixa, a modos de instabilidade de chapa, MLC.

3.1.3 Análise com elementos finitos de casca


A Figura 3.9 apresenta o primeiro modo de instabilidade obtido através do ABAQUS para os
mesmos comprimentos analisados nos itens anteriores, considerando a faixa de cores indicada

11
(as cores se referem ao valor do deslocamento normalizado: máximo na cor vermelha e nulo
na cor azul escura). Os carregamentos críticos para os três graus de refinamento estão
apresentados na Tabela 3.4.

Tabela 3.4. Valores dos carregamentos críticos (kN) obtidos com o MEF-cascas para os graus de refinamento (Gr)
tipo 1, 2 e 3.

L (cm)
Gr. 15,0 70,0 150,0 200,0 300,0 400,0
1 87,70 90,76 85,82 85,89 85,97 60,12
2 82,57 83,98 83,31 83,37 83,44 62,86
3 80,26 82,28 80,87 80,93 80,98 63,95

L=15 cm L=70 cm L=150 cm


(a) (b) (c)

L=200 cm L=300 cm L=400 cm


(d) (e) (f)

Figura 3.9 – Modos de instabilidade obtidos com o MEF-cascas para a discretização tipo 3 da seção transversal para
comprimento de (a) 15 cm, (b) 70 cm, (c) 150 cm, (d) 200 cm, (e) 300 cm e (f) 400 cm.

A Figura 3.9b, Figura 3.9c, Figura 3.9d e Figura 3.9e apresentam o primeiro modo de
instabilidade para comprimentos de 70 cm, 150 cm, 200 cm e 300 cm respectivamente. É
importante observar que ambos os casos tratam de modos locais de chapa (MLC), o primeiro
com cinco semiondas longitudinais, o segundo com dez semiondas longitudinais, o terceiro
com treze semiondas longitudinais e por fim, o quarto com vinte semiondas longitudinais. Para

12
esses casos os resultados obtidos com o GBTUL (MEF-GBT) estão em ótima concordância com
os resultados obtidos com o ABAQUS (MEF-cascas) se o número de semiondas permitido no
GBTUL for suficientemente grande (m=20 ou maior), enquanto que o CUFSM (MFF convencional)
apresenta grande discrepância.

Para os casos de comprimento de 70 cm e 150 cm a Figura 3.10 apresenta o primeiro dos


modos distorcionais, dentre todos os modos obtidos para esses perfis. Para esses
comprimentos, respectivamente, tem-se: (a) o MD é o vigésimo modo, com Pcr=156,1 kN e (b)
o MD é o trigésimo modo, com Pcr=269,9 kN . Convém destacar que esses são os modos que a
análise via MFF convencional captura como sendo o primeiro modo de instabilidade para as
barras de 70 cm e 150 cm de comprimento, respectivamente.

Pcr = 156 kN Pcr = 270 kN


(a) (b)
Figura 3.10 – Primeiro dos modos de instabilidade distorcional, MD: (a) vigésimo modo de instabilidade para
L=70cm e (b) trigésimo primeiro modo de instabilidade para L=150cm.

Para os casos de 200 cm e 300 cm de comprimento a Figura 3.11 apresenta o primeiro dos
modos globais, dentre todos os modos obtidos para esses perfis. Para esses comprimentos,
respectivamente, tem-se: (a) o MGFT é o décimo sexto modo, com Pcr=229,1 kN e (b) o MGFT
é o vigésimo segundo modo, com Pcr=107,0 kN. Para o GBTUL identificar esses modos é
necessário configurar o valor de “m” para pelo menos 20 semiondas longitudinais e que esses
são os modos que a análise via MFF convencional captura como sendo os primeiro modo de
instabilidade para as barras de 200 cm e 300 cm de comprimento, respectivamente.

Pcr = 231 kN Pcr = 107 kN


(a) (b)
Figura 3.11 – Primeiro dos modos de globais de flexotorção, MGFT: (a) décimo sexto modo de instabilidade para
L=200cm e (b) vigésimo segundo modo de instabilidade para L= 300 cm.

Em todos os casos estudados, nota-se que o nível de discretização no plano da seção


transversal tem alguma influência (embora não determinante) no valor dos carregamentos

13
críticos. Esses diferem entre si de (i) 6% a 10% entre os tipos 1 e 3, (ii) 3% a 8% entre os tipos 1
e 2, e (iii) 2% a 3% entre os tipos 2 e 3.

3.2 Barra engastada submetida à flexão simples


Conforme apresentado na Figura 3.1, o perfil em análise é o Ue 200x75x20x2, engastado em
uma extremidade e livre na outra e submetido a flexão devido a carga P, conforme ilustrado na
Figura 3.12a.

(a) (b) (c)

Figura 3.12 – (a) Barra isolada de comprimento L, engastada-livre e submetida ao carregamento P, (b) esquema
estrutural no GBTUL; (c) esquema estrutural no ABAQUS.

Como os esforços não são uniformes ao longo da barra, o CUFSM não consegue simular esse
problema e não será utilizado nesta análise. Aborda-se então a comparação das diferenças de
modelagem e dos resultados entre o MEF-GBT e o MEF-cascas através dos programas GBTUL
(Figura 3.12b) e ABAQUS (Figura 3.12c), respectivamente. Os resultados obtidos nessa análise
são para seções com o grau de refinamento tipo 3, conforme ilustrado na Figura 3.1.

3.2.1 Análise com a teoria generalizada de viga


A Figura 3.13 apresenta a curva obtida com o uso do GBTUL, onde no eixo das abscissas tem-se
o comprimento da barra em centímetros (escala logarítmica) e no eixo das ordenadas o
carregamento crítico em kN. Os pontos destacados em vermelho representam as barras cujos
comprimentos são 15 cm, 70 cm, 200 cm, 300 cm e 400 cm. Os modos de instabilidade e os
carregamentos críticos referentes aos pontos destacados estão apresentados na Figura 3.14.

Figura 3.13 – Determinação da curva comprimento (cm) vs. carga crítica, Pcr (kN).

14
Pcr = 58,8 kN Pcr = 36,9 kN Pcr = 16,0 kN Pcr = 10,2 kN Pcr = 4,9 kN Pcr =2,6 kN

L=15 cm L=70 cm L=150 cm L=200 cm L=300 cm L=400 cm


(a) (b) (c) (d) (e) (f)

Figura 3.14 – Carregamentos críticos e modos de instabilidade obtidos com o GBTUL (seção transversal na
extremidade carregada) para L igual a: (a) 15 cm – meio do vão, (b) 70 cm- extremidade carregada, (c) 150 cm, (d)
200 cm, (d) 300 cm e (f) 400 cm.

3.2.2 Análise com elementos finitos de casca


As figuras a seguir apresentam os primeiros modos de instabilidade e os carregamentos
críticos obtidos através do ABAQUS para os mesmos comprimentos analisados nos itens
anteriores, considerando a faixa de cores indicada (deslocamento normalizado máximo na cor
vermelha e nulo na cor azul escura).

Pcr = 45,5 kN Pcr = 71,7kN Pcr = 17,4 kN Pcr = 35,9 kN


(a) (b) (c) (d)
Figura 3.15 – Carregamentos críticos obtidos com o MEF-cascas para: (a) primeiro modo para L=15cm, (b) quinto
modo para L=15cm, (c) primeiro modo para L=70cm e (d) décimo sétimo modo para L=70cm.

Pcr = 7,4 kN Pcr = 15,8 kN Pcr = 5,5 kN Pcr = 10,1 kN

(a) (b) (c) (d)


Figura 3.16 – Carregamentos críticos para: (a) primeiro modo para L=150cm, (b) trigésimo modo para L=150cm, (c)
primeiro modo para L=200cm e (d) vigésimo nono modo para L=200cm.

15
Pcr = 3,8 kN Pcr = 4,4 kN Pcr = 2,2 kN

(a) (b) (c) (d)


Figura 3.17 – Carregamentos críticos para: (a) primeiro modo para L=300cm, (b) nono modo para L=300cm, (c)
primeiro modo para L=400cm e (d) vista lateral do primeiro modo para L=400cm.

Os resultados obtidos com o ABAQUS, e apresentados anteriormente, são comparados com os


resultados obtidos com o GBTUL graficamente na Figura 3.18. A curva azul representa os
carregamentos críticos mínimos (i.e. o menor dos autovalores) obtidos com o MEF-cascas em
função do comprimento da barra. A curva vermelha representa os carregamentos críticos
mínimos (i.e. o menor dos autovalores) obtidos com o MEF-GBTUL em função do comprimento
da barra. A curva verde representa os carregamentos críticos de modos superiores obtidos
com o MEF-cascas, i.e. não são o menor dos autovalores, também em função do comprimento
da barra.

Pcr (kN)
80,00

60,00

40,00

20,00

0,00
10 100 1000
Comprimento (cm)
ABAQUS (primeiro modo) GBTUL ABAQUS (outros modos)

Figura 3.18 – Curvas dos carregamentos críticos em função dos comprimentos da barra para as análises (i) via
ABAQUS, considerando apenas o 1º modo, (ii) via GBTUL e (iii) via ABAQUS, considerando modos superiores ao 1º.

16
4 CONCLUSÃO

Avaliaram-se aqui três métodos numéricos para a análise linear de estabilidade de perfis de
seção U enrijecido, biarticulados submetidos à compressão uniforme e engastados submetidos
à flexão simples.

A análise com o Método das Faixas Finitas, apesar de ser uma alternativa de baixo custo
computacional, revela algumas limitações a priori: (i) as barras devem ser obrigatoriamente
prismáticas; (ii) o método só permite barras isoladas; (iii) não há restrição ao empenamento; e
(iv) por haver nós somente nas seções das extremidades, o carregamento tem que ser
obrigatoriamente uniforme ao longo da barra. Essa última limitação é a mais desfavorável para
o método e não permitiu neste trabalho a simulação de uma viga engastada sob flexão
simples.

A análise com a Teoria Generalizada de Vigas por meio de elementos finitos de barra tem uma
abordagem mais geral do que o MFF e por sua vez, oferece bons resultados analíticos, o que só
é possível quando se trata de barras simplesmente apoiadas. No caso geral, em que a solução
numérica é necessária, chama-se a atenção para a escolha do número máximo de semiondas a
serem levadas em consideração na determinação dos carregamentos críticos, já que a escolha
insuficiente do parâmetro “m” pode levar ao falso resultado de carregamentos superiores ao
mínimo.

A análise com o Método dos Elementos Finitos utilizando elementos de casca, apesar de ser
mais confiável e geral, requer a imposição criteriosa das condições de contorno e dos
carregamentos nas seções extremas. No caso da análise de estabilidade de perfis formados a
frio, a incorreta modelagem dessas condições pode acarretar em modos e carregamentos
críticos completamente não condizentes com o problema em apreço. Desde que se tratem
esses aspectos adequadamente, contudo, a análise com o MEF-cascas será sempre a mais
confiável, uma vez que o modelo de casca representa mais fielmente o problema físico.

O resultado das análises realizadas nos programas CUFSM e GBTUL fornecem curvas que
caracterizam o carregamento crítico em função do comprimento longitudinal do perfil. Essa
forma de apresentação dos resultados gera uma boa visão do caso em estudo – desde que,
claro, os resultados sejam confiáveis.

No caso da barra biarticulada submetida à compressão uniforme, observou-se que em


determinados casos o CUFSM não é capaz de fornecer mínimos distintos para os modos de
instabilidade local (MLC e MD). Para estes casos, o primeiro modo de instabilidade fornecido
pelo CUFSM corresponde a carregamentos críticos superiores aos fornecidos pelo GBTUL e pelo
ABAQUS. Isto pode ser explicado pelo fato de as funções de forma do C UFSM, para o método
convencional das faixas finitas, considerarem apenas uma semionda “m” ao longo do
comprimento longitudinal, de modo que o modo distorcional muitas vezes resulta num

17
autovalor inferior ao modo local de chapa com uma semionda. Esse problema pode ser
parcialmente contornado utilizando-se a formulação alternativa do MFF confinado, ou cFSM,
Esse método modificado introduz graus de liberdade adicionais na direção longitudinal,
enriquecendo a aproximação (nada garante, contudo, que esse artifício seja suficiente para
todas as situações). Com relação ao grau de discretização da seção transversal, a análise como
MEF-cascas (ABAQUS) revelou-se a única que apresenta alguma sensibilidade, embora não
significativa.

No caso da barra engastada submetida à flexão simples a análise numérica via GBTUL não
conseguiu identificar mínimos distintos para os comprimentos de 15 cm, 70 cm, 150 cm, 200
cm e 300 cm. Para estes casos, o primeiro modo de instabilidade fornecido pelo GBTUL
corresponde a carregamentos críticos superiores aos fornecidos pelo A BAQUS. Para os
comprimentos de 70 cm, 150 cm, 200 cm e 300 cm o ABAQUS conseguiu identificar os modos
que o GBTUL forneceu erroneamente como os primeiros modos de instabilidade. Para o menor
dos comprimentos da barra, L=15cm, o ABAQUS não conseguiu identificar um modo semelhante
ao apresentado pelo GBTUL; isso pode ser melhor explicado pelo fato de os modelos
cinemáticos não representarem a mesma coisa. O modelo de barra do GBTUL considera o
carregamento atuando no centro de torção da barra enquanto que o modelo de cascas do
ABAQUS simula um carregamento linear ao longo de toda a seção da extremidade, i.e. há torção
da barra no instante zero da análise, situação esta mais semelhante com a realidade, visto que
o centro de torção é um ponto fora da seção transversal da viga. Além disso, o modelo de
barra para a viga de 15 cm de comprimento não é um modelo adequado, uma vez que a altura
da seção transversal representa 1,33 vezes o comprimento da viga.

Agradecimentos

Os autores agradecem aos colegas Eduardo Simões, Jorge Costa, Ricardo Lahuerta, Leonardo
Lago e Fernando Gonçalves do Laboratório de Mecânica Computacional da Escola Politécnica
da USP, pelo auxílio e discussões acerca das modelagens com o MEF. O segundo autor também
agradece ao CNPq pelo suporte financeiro (processo 303793/2012-0).

REFERÊNCIAS
1 Campello, E. M. B. Análise não-linear de peris metálicos conformados a frio. Departamento
de Engenharia de Estruturas e Fundações da Escola Politécnica da Universidade de São
Paulo, São Paulo, 2000. Dissertação de Mestrado.
2 Zagottis, D. Capítulo 10: Estabilidade e instabilidade do equilibrio das estruturas. In
Introdução à teoria das estruturas. Escola Politecnica da Universidade de São Paulo -
Departamento de Engenharia de Estruturas e Fundações, São Paulo, 1980.
3 Silva, L. S. and Gervásio, H. Dimensionamento de Estruturas Metálicas: Métodos Avançados.
CMM - Associação Portuguesa de Construção Metálica e Mista, Coimbra, Portugal, 2007.

18
4 Farshad, M. Stability of Structures. Elsevier Science B. V., Dübendorf, Switzerland, 1994.
5 Thompson, J.M.T. Instabilities and Catastrophes in Science and Engineering. John Wiley &
Sons, London, 1982.
6 Gambhir, M. L. Stability Analysis and Design of Structures. Springer, Berlim, Alemanha,
2004.
7 Camotim, D., Silvestre, N., Gonçaçves, R., and Dinis, P.B. GBT - Based Analysis and design of
thin-walled metal and FRP members: recent developments. APCMR, Brasov, Romênia, 2006.
8 Schafer, B. W. and Ádány, S. Buckling analysis of cold-formed steel members using CUFSM:
conventional and constrained finite strip methods. October 26-27, Orlando, Florida, USA.,
2006.
9 Bebiano, R., Pina, P., Silvestre, N., and Camotim, D. GBTUL – Buckling and Vibration Analysis
of Thin-Walled Members. DECivil/IST, Technical University of Lisbon. 2008.
10 ABAQUS. Abaqus 6.10 Documentation. Dassault Systèmes, Providence, RI, USA, 2010.
11 Li, Z. and Schafer, B. W. Buckling analysis of cold-formed steel members with general
boundary conditions usinf CUFSM: conventional and constrained finite strip method. In
Twentieth International Specialty Conference on Cold-Formed Steel Structures ( November
3-4, Saint Louis, Missouri, USA. 2010).
12 Sarawit, A. T., Kim, Y., Bakker, M. C. M., and Pekoz, T. The finite element method for thin-
walled members-applications. Elsevier Science Ltd. 2003.

19
Tema: Estruturas de Aço e Mistas de Aço e Concreto

CÁLCULO DOS DESLOCAMENTOS EM VIGAS DE AÇO COM ABERTURAS NA ALMA*

José Carlos Lopes Ribeiro1


Gustavo de Souza Veríssimo1
José Luiz Rangel Paes2
Ricardo Hallal Fakury3

Resumo
No projeto de sistemas de piso com estrutura de aço, a determinação da flecha de vigas com
aberturas é complexa e pode requerer análise numérica avançada via Método dos Elementos
Finitos. Este trabalho propõe um modelo semi-empírico capaz de estimar com boa precisão a
flecha de vigas de aço com aberturas na alma, ajustado por regressão a partir de resultados de
simulações numéricas via MEF. O modelo proposto, obtido por ajustamento estatístico,
mostrou boa correlação com os resultados numéricos e é de fácil utilização prática. É
apresentado um exemplo de cálculo da flecha de uma viga de aço com aberturas na alma,
evidenciando a aplicabilidade do modelo semi-empírico proposto.

Palavras-chave: Flecha; Aberturas na alma; Vigas de aço; Modelo.

DEFLECTIONS IN STEEL BEAMS WITH WEB OPENINGS

Abstract
In the design of steel beams with web openings the determination of deflections is complex
and may require advanced numerical analysis via FEM. This paper presents the development of
a semi-empirical model for determining the deflection suffered by steel beams with web
openings, adjusted by regression analysis from results obtained by numerical simulations via
FEM. The model shows good correlation with numerical results and is easy to use in practice.
An example of deflection calculation in a steel beam with web openings is presented, showing
the applicability of the semi-empirical model proposed.

Keywords: Deflections; Web Openings; Steel Beams; Model.

1
Doutor em Engenharia da Estruturas, Professor Adjunto do DEC/UFV**
2
Doutor em Engenharia da Construção, Professor Associado do DEC/UFV **
3
Doutor em Engenharia de Estruturas, Professor Titular do DEES/UFMG***
** Depto de Engenharia Civil, Universidade Federal de Viçosa, 36570-000, Viçosa, Minas Gerais, Brasil.
*** Depto de Engenharia de Estruturas, Universidade Federal de Minas Gerais, 31270-901, Belo
Horizonte, Minas Gerais, Brasil.

________________________________
* Contribuição técnica ao Construmetal 2014 – Congresso Latino-Americano da Construção
Metálica – 02 a 04 de setembro de 2014, São Paulo, SP, Brasil.
1
1 INTRODUÇÃO

Nas estruturas metálicas dos sistemas de piso de edifícios, tem se tornado cada vez mais
comum fazer aberturas na alma dos perfis I para possibilitar a passagem de dutos das
instalações da edificação. Dessa forma, as instalações são integradas com a estrutura,
reduzindo-se o espaço vertical necessário por pavimento e a altura total do edifício.
A motivação para isso pode ser econômica ou legal. No primeiro caso, o objetivo é a redução
do volume da edificação, com consequente redução do consumo de materiais nas paredes, de
revestimentos, de área de pintura, etc., resultando em menores custos de execução, de
operação e de manutenção. No segundo, o objetivo é atender à legislação, que,
eventualmente, limita a altura da edificação, viabilizando-se certos arranjos arquitetônicos e
até a criação de novos pavimentos sem contrariar o gabarito de construção do município.
Em ambos os casos, a solução propicia um melhor aproveitamento do espaço.
Na Figura 1 são apresentados os elementos geométricos típicos de uma abertura na alma de
um perfil I de aço e suas designações. As aberturas podem ser concêntricas ou excêntricas em
relação à semialtura da seção transversal da viga.
bfs
tfs
hts

eo ho tw
Do h d

ao hti
tfi
bfi

Figura 1: Elementos de uma abertura na alma de um perfil I.

A presença de aberturas na alma de uma viga de aço pode modificar seus modos de colapso,
bem como reduzir sua capacidade resistente e sua rigidez, e exigir reforço especial [1].
Grande parte da pesquisa teórico-experimental sobre as vigas com aberturas na alma foi
realizada nos Estados Unidos, tendo sido compilada e publicada por David Darwin, em
1990 [2]. Esse trabalho, posteriormente, deu origem ao Design Guide No.2 do AISC [3]. Embora
essas publicações proponham formulações interessantes para a determinação da capacidade
resistente de vigas com aberturas, ainda não se dispõe de um modelo analítico ou semi-
empírico simples para o cálculo dos deslocamentos sofridos por estas vigas.
O objetivo deste trabalho foi ajustar um modelo semi-empírico a partir de resultados obtidos
de simulações numéricas com modelos de elementos finitos, capaz de estimar a flecha de uma
viga com uma ou várias aberturas na alma de maneira simples [4].

2 METODOLOGIA

2.1 Generalidades
Para que fosse possível ajustar um modelo semi-empírico, capaz de estimar a flecha de uma
viga de aço biapoiada com uma ou algumas aberturas na alma, era necessário obter um
conjunto de resultados de flechas de vigas com diversas configurações de aberturas na alma.

2
Para isso foi elaborado um modelo numérico, utilizando-se o software ABAQUS [5], capaz de
calcular o deslocamento vertical sofrido no centro do vão por uma viga de aço em perfil I,
biapoiada, com aberturas na alma e sujeita a um carregamento uniformemente distribuído.
A hipótese do carregamento uniformemente distribuído foi adotada porque corresponde à
maioria dos casos práticos de vigas de sistemas de piso, as quais quase sempre estão
suportando uma laje ou uma parede sobre si. Outra situação relativamente comum é a das
vigas principais, que recebem as reações de vigas secundárias. Nestes casos, embora as cargas
atuantes na viga sejam concentradas em determinados pontos, normalmente elas são
espaçadas de tal forma que produzem uma distribuição de momento fletor e de força cortante
não muito diferente da de uma viga biapoiada com carregamento uniformemente distribuído.
A verificação da flecha está relacionada a carregamento de serviço, situação para a qual a viga
trabalha em regime elástico. Assim, o mesmo perfil foi simulado para um carregamento
qualquer, uniformemente distribuído, com e sem aberturas, com os apoios rotulados, para
possibilitar posteriormente o cálculo da relação entre a flecha da viga com abertura(s) e a
flecha da viga sem abertura(s), da forma
f0
(1)
f

onde: f0 é a flecha da viga com uma ou mais aberturas;


f é a flecha da mesma viga sem aberturas, dada por
5 q L4
f (2)
384 E I
2.2 Características do modelo numérico
O modelo numérico foi discretizado utilizando-se elementos do tipo S8R do ABAQUS, um
elemento de casca quadrilateral com 8 nós e integração reduzida. Uma análise de sensibilidade
de malha demonstrou que elementos com lados de aproximadamente 4 cm forneciam
precisão adequada para o problema da determinação dos deslocamentos da viga (Figura 2).

Figura 2: Aspecto da malha utilizada nos modelos.


Para representar o aço foi adotado um modelo constitutivo elástico linear.
Simulando as condições de apoio de uma viga biapoiada, os graus de liberdade de alguns
elementos em ambas as extremidades da viga foram restringidos de modo a impedir a rotação
em relação ao eixo longitudinal (vínculo de garfo) e a translação vertical. Além disso, também
foi impedida a translação longitudinal de uma das extremidades da viga.

3
Foram modelados enrijecedores de alma nos apoios, com a mesma espessura da alma, para
evitar deformação localizada nessa região em função da reação de apoio.

2.3 Definição dos parâmetros para o estudo


Para a definição dos parâmetros a serem variados no estudo, foram selecionadas algumas
variáveis que, sabidamente, influenciam no comportamento de uma viga com abertura na
alma, a saber:
- a relação entre o vão da viga e a altura da seção do perfil de aço (L/d);
- a relação entre a altura da abertura e a altura da seção do perfil de aço (ho/d);
- o número de aberturas ao longo da viga (n);
- um fator ()relacionado à forma da abertura (circular, quadrada ou retangular);
- um fator (I0) que relaciona a inércia da abertura com a inércia da seção do perfil de alma
cheia (Eq. 5).
Visando cobrir todo o espectro de esbeltez de alma para as séries de perfis laminados
fabricados no Brasil, foram testados três perfis da série W460 da Gerdau-Açominas [6],
conforme mostrado na Tabela 1.
Tabela 1: Perfis utilizados nas análises

Perfil tw (mm) w = h/tw


W460x52 7,6 56,37
W460x82 9,9 43,23
W460x106 12,6 33,95

2.4 Planejamento das simulações


Para cada perfil listado na Tabela 1 foram simulados modelos para três relações L/d, três
tamanhos de aberturas e vigas com uma, três e cinco aberturas, como mostrado na Tabela 2.
No total, foram 9 casos para cada relação L/d, 27 casos por perfil estudado, 81 casos por série,
mais 9 casos de vigas de alma cheia, resultando em 252 vigas analisadas no total.
Numa primeira série de simulações, cada viga foi processada contendo cinco, três e uma
aberturas, respectivamente, conforme mostrado na Figura 3.
Tabela 2 – Planejamento das simulações.

ho/d = 0,3 n = 1, 3, 5
L/d =10 ho/d = 0,5 n = 1, 3, 5
ho/d = 0,7 n = 1, 3, 5
ho/d = 0,3 n = 1, 3, 5
Para cada perfil
L/d =15 ho/d = 0,5 n = 1, 3, 5
estudado
ho/d = 0,7 n = 1, 3, 5
ho/d = 0,3 n = 1, 3, 5
L/d =20 ho/d = 0,5 n = 1, 3, 5
ho/d = 0,7 n = 1, 3, 5

4
Figura 3: Aspecto da deformada para diferentes números de aberturas na viga.

2.5 Abordagem para a definição do modelo semi-empírico


Visando criar uma equação de simples utilização, estudou-se um modelo da forma
f 0  f 1  m (3)

onde m é um multiplicador que leva em conta as influências dos parâmetros estudados,


conforme a Equação (4).

 x2 x3
 d   h0   n 
x4

f 0  f 1  x1       1  I o  5 
x
(4)
  L   d    
Na Equação (4),  é um fator de forma, adimensional, que relaciona a geometria da abertura
(circular, quadrada ou retangular) e Io é dado por

t w ho3
Io  (5)
d 2 bf t f

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Com os resultados obtidos das análises numéricas, foi feita uma análise de regressão com base
no Método dos Mínimos Quadrados, para minimizar simultaneamente o somatório dos
quadrados dos erros e o erro percentual máximo. Dessa análise obteve-se as constantes x1,...,
x5 e o parâmetro  para aberturas retangulares, quadradas e circulares, conforme abaixo.

 3, 56 7 , 59
 d   h0   n 
1,83

f 0  f 1  18065       1  I o  
0, 319
(6)
  L   d    
onde  = 1,0 para aberturas retangulares;
 = 2,9 para aberturas quadradas;
 = 4,5 para aberturas circulares.

5
O modelo de regressão da Equação (6) apresentou coeficiente de determinação ajustado
R 2  0,963 e coeficiente de variação igual a 4,6%. O coeficiente de determinação ajustado é
dado por
n 1
R2 1 
n  v  1

1  R2  (7)

Na Equação (7), n é o número de amostras, v é o número de variáveis explicativas (que para


este estudo foram cinco), e R2 é o coeficiente de determinação, dado por
SQres
R2  1  (8)
SQtot
onde:
SQres é a soma dos quadrados dos resíduos, dada por
n

SQres    yi  y 
2
(9)
i 1
SQtot é a soma total dos quadrados dos resíduos, dada por
n
SQtot    yi  y 
2
(10)
i 1
yi é o valor observado;
y é a média das observações;

yi é o valor estimado (previsão) de yi .

Na Figura 4 são apresentados os erros percentuais do modelo de regressão (Eq. 6) em relação


aos resultados numéricos.

30 aberturas aberturas aberturas


retangulares quadradas circulares
25

20

15
Erro Percentual

10

-5

-10

-15
1 25 49 73 97 121 145 169 193 217 241
Análises

Figura 4: Erro percentual do modelo de regressão em relação aos resultados numéricos.

6
Observando a Figura 4, nota-se que para as aberturas circulares o modelo apresenta um
ajustamento excelente. Para aberturas quadradas, o erro máximo ficou quase sempre na faixa
de 5%. Para as aberturas retangulares, o erro máximo em boa parte dos casos ficou na faixa
de 5%, chegando à faixa de 10% em alguns casos e em apenas 3 casos, do total de 81
análises com aberturas retangulares, o erro chega à faixa entre 20% e 25%. Coincidentemente,
estes três casos singulares correspondem a vigas com uma única abertura retangular no centro
do vão com ho/d = 0,7. Em análises realizadas, observou-se que caso a abertura seja deslocada
do centro do vão em direção a um dos apoios, a flecha da viga aumenta devido ao efeito
Vierendeel influenciado pela força cortante. Dessa forma, o modelo de regressão apresenta
maior precisão para aberturas retangulares distantes do centro do vão e produz resultados
conservadores para grandes aberturas retangulares na região do centro do vão. De modo
geral, considera-se que o modelo produz resultados bastante acurados, que podem ser
considerados para efeito prático de verificações de projeto em vigas de aço com aberturas na
alma.
Nas Figuras 5, 6 e 7 são apresentados graficamente os resultados obtidos com o modelo
numérico e com o modelo de regressão para a relação ( m) entre a flecha da viga com
abertura(s) (f0) e a flecha da viga sem abertura (fn).
Na Figura 5 pode-se observar os resultados obtidos para as vigas com aberturas retangulares
estudadas. Nota-se que o modelo de regressão é capaz de estimar o acréscimo de flecha na
viga com abertura(s), em relação à viga de alma cheia, com boa precisão e que, na grande
maioria dos casos, a presença de uma ou mais aberturas produz pouca alteração nos
deslocamentos sofridos pela viga.

aberturas
7
retangulares
resultados numéricos
6
modelo de regressão

4
m = fo/fn

0
0 9 18 27 36 45 54 63 72 81
Análises

Figura 5: Relação entre a flecha na viga com aberturas retangulares


e a flecha na viga equivalente de alma cheia

Na Figura 6 são apresentados os resultados obtidos para as vigas com aberturas quadradas
estudadas e na Figura 7 são apresentados os resultados obtidos para as vigas com aberturas
circulares. Novamente o modelo de regressão estima o acréscimo de flecha na viga com
abertura(s) em relação à viga de alma cheia com boa precisão.

7
aberturas
2,0
quadradas
resultados numéricos
1,8
modelo de regressão

1,6
m = fo/fn

1,4

1,2

1,0

0,8
81 90 99 108 117 126 135 144 153 162
Análises

Figura 6: Relação entre a flecha na viga com aberturas quadradas e


a flecha na viga equivalente de alma cheia

Os resultados das simulações numéricas demonstram que as aberturas retangulares são as que
causam maior perturbação no comportamento da viga. As aberturas circulares são as que
menos afetam o comportamento da viga.

aberturas
2,0
circulares
resultados numéricos
1,8
modelo de regressão

1,6
m = fo/fn

1,4

1,2

1,0

0,8
162 171 180 189 198 207 216 225 234 243
Análises

Figura 7: Relação entre a flecha na viga com aberturas circulares e


a flecha na viga equivalente de alma cheia

De modo geral, como se pode observar nas Figuras 5, 6 e 7, as aberturas causam pouco
acréscimo nos deslocamentos em relação à flecha da viga sem aberturas. Não obstante, no
caso das aberturas retangulares, dependendo do tamanho das aberturas e de sua quantidade,
os deslocamentos podem aumentar de 2 a 4 vezes.

8
4 EXEMPLO
Deseja-se calcular a flecha de uma viga de aço birrotulada com vão L = 6 m, constituída por um
perfil I laminado W46052 com altura (d) igual a 450 mm, largura das mesas (bf) igual a
152 mm, espessura das mesas (tf) igual a 10,8 mm e espessura da alma (tw) igual a 7,6 mm,
contendo duas aberturas retangulares com dimensões de 540×270 mm, não reforçadas, como
representado na Figura 8. A viga encontra-se submetida a uma carga de serviço
uniformemente distribuída q = 21,6 kN/m.

21,6 kN/m

y
z

150 150 150 150

6000 mm

Figura 8: Esquema da viga do exemplo

Cálculo da flecha da viga sem aberturas:

5 21,6 / 1000  60004


f   8,5 mm
384 200  213697400

Número de aberturas n = 2

Aberturas retangulares:  = 1,0

7,6  2703
Io  2
 450  103
450  152  10,8

Cálculo da flecha da viga com aberturas:

 3, 56 7 , 59
 450   270   2 
1,83

f o  8,5 1  18065    
   1  450  10
3

0 , 319
  9,4 mm
  6000   450   1,0  

Neste caso, as duas aberturas retangulares de 540×270 mm foram responsáveis por um


acréscimo de cerca de 11% na flecha da viga sem aberturas.

9
5 CONCLUSÃO
Neste trabalho apresentou-se o desenvolvimento de um modelo semi-empírico para o cálculo
da flecha em vigas de aço com aberturas na alma. Para ajustar estatisticamente o modelo
semi-empírico, foram utilizados os resultados de 252 casos de vigas simuladas numericamente
com modelos de elementos finitos.
Nas análises numéricas realizadas, diversos parâmetros que afetam as deformações das vigas
com aberturas foram variados, com o objetivo de produzir resultados para posterior ajuste de
um modelo de regressão.
O modelo proposto pode ser aplicado a vigas em perfil I duplamente simétrico com aberturas
na alma sem reforço ou com reforço constituído por chapas planas soldadas na alma acima e
abaixo da abertura, conforme recomendado no Design Guide 2 do AISC [3].
Conservadoramente também pode ser aplicado a vigas mistas de sistemas de piso de edifícios,
uma vez que a rigidez da viga mista é um pouco maior do que a rigidez da viga de aço isolada.
A equação obtida apresentou boa correlação com os resultados dos experimentos numéricos e
é útil para o cálculo prático de flechas em vigas com aberturas na alma, cuja análise rigorosa é
muito trabalhosa, dispensando o uso de modelos numéricos avançados.

Agradecimentos
Os autores agradecem à FAPEMIG, à CAPES, ao CNPq e à Universidade Federal de Viçosa pelo
apoio para a realização deste trabalho.

REFERÊNCIAS

1 Veríssimo, G. S; Fakury, R. H. ; Ribeiro, J. C. L. Design Aids for Unreinforced Web Openings


in Steel and Composite Beams with W-Shapes, AISC Engineering Journal, Third Quarter 2006,
pp.163-172, American Institute for Steel Construction. Chicago.

2 Darwin, D., Lucas, W. C. LFRD for Steel and Composite Beams with Web Openings. ASCE
Journal of Structural Engineering, 1990, vol. 116, n. 6, pp. 1579-1593.

3 Darwin, D. Steel and composite with web openings. Steel Design Guide Series 2, Chicago:
American Institute of Steel Construction; 1990.

4 Veríssimo, G. S; Ribeiro, J. C. L.; Flecha em vigas com aberturas na alma, Relatório Técnico,
Viçosa: Universidade Federal de Viçosa - Departamento de Engenharia Civil; 2012.

5 Abaqus Theory Manual. Providence, United States: Simulia; 2012.

6 Gerdau. Perfis Estruturais Gerdau Informações Técnicas, São Paulo: Gerdau; 2012.

10
Tema: Estruturas de Aço e Mistas de Aço e Concreto

Conectores de Cisalhamento Constituídos por Parafuso e Rebite Tubular


com Rosca Interna em Pilares Mistos de Aço e Concreto com Perfis
Formados a Frio
Hermano de Sousa Cardoso¹
Francisco Carlos Rodrigues²
Ricardo Hallal Fakury2
Rodrigo Barreto Caldas³
Ivan Candelma4

Resumo

Neste artigo é apresentando um estudo teórico-experimental de pilares curtos preenchidos


com concreto, utilizando conectores constituídos por parafusos com cabeça sextavada e rebite
tubular com rosca interna. A seção dos perfis tubulares é constituída por dois perfis U
enrijecidos (Ue) formados a frio, cada um com dimensões nominais de 175x65x25x3,75 mm.
Foram analisados experimentalmente 6 modelos: 3 apresentando 4 conectores de
cisalhamento e outros 3 apresentando 8 conectores de cisalhamento. Cada modelo foi
submetido a um carregamento centrado sobre o núcleo de concreto, tendo sido adotada uma
folga de 50 mm entre a extremidade inferior do tubo de aço e o núcleo de concreto para
permitir um deslizamento relativo entre os dois componentes. Os ensaios experimentais
seguem os procedimentos de cisalhamento direto (push-out) preconizados pela norma
europeia EN 1994-1-1:2004. O estudo teórico foi realizado através de simulações numéricas
utilizando o software comercial de elementos finitos, ABAQUS v.6.10. A modelagem numérica
apresentou uma boa eficiência para se estimar a carga última dos modelos apresentando erros
menores que 5%. Os resultados experimentais e numéricos demonstraram que os conectores
apresentaram um comportamento flexível e dúctil .

Palavras-chave: Perfis formados a frio, rebites com rosca interna, parafusos com cabeça sextavada, pilares
mistos, ensaios de cisalhamento direto, simulação numérica.

¹ Engenheiro Civil, Mestre em Engenharia de Estruturas, Estudante de Doutorado em Engenharia de


Estruturas. Escola de Engenharia, UFMG.
² Doutor em Engenharia Civil. Professor Titular do Departamento de Engenharia de Estruturas, Escola de
Engenharia, UFMG
3
Doutor em Engenharia Civil. Professor Adjunto do Departamento de Engenharia de Estruturas, Escola
de Engenharia, UFMG
4
Aluno de Graduação, Corso di Laurea Magistrale in Ingegneria Civile, Università di Bologna.

________________________________
* Contribuição tecnocientífica ao Construmetal 2014 – Congresso Latino-Americano da
Construção Metálica – 02 a 04 de setembro de 2014, São Paulo, SP, Brasil.
1
1 INTRODUÇÃO

As estruturas mistas de aço e concreto se tornaram nos últimos anos cada vez mais presentes
na construção civil. Essas soluções têm sido amplamente empregadas em pontes, shopping
centers, edifícios comerciais e também nas reformas dos estádios utilizados na Copa do
Mundo do Brasil em 2014. Com essa crescente demanda, há uma grande necessidade pela
busca de novas tecnologias no ramo de estruturas mistas.

Na Escola de Engenharia da Universidade Federal de Minas Gerais (EEUFMG), está sendo


desenvolvido e aperfeiçoado um novo modelo de conector de cisalhamento que tem como
principal função garantir o comportamento misto entre os materiais, os conectores de
cisalhamento constituídos por parafuso e rebite tubular com rosca interna. Na Figura 1 pode-
se observar o procedimento de instalação desses conectores em sistemas de vigas mistas
constituídas de perfis formados a frio (PFF) [1]. Esse conector é instalado com o auxílio de uma
ferramenta a ar comprimido. Para este tipo de tecnologia permite-se o aperto dos parafusos
apenas pela parte externa do perfil de aço, otimizando o processo de fixação do conector com
a parede do perfil de aço.

Figura 1 – Procedimento de instalação de conectores de cisalhamento constituídos por parafuso e rebite


tubular com rosca interna em PFF [1].

2
Essa tecnologia quando combinada com sistemas mistos com PFF, apresenta diversas
vantagens: montagem por um único acesso em perfis caixa; não requer operador
especializado; superfícies acabadas, sem operações secundárias; fixam materiais diferentes,
inclusive várias chapas; possibilidade de ligação parafusada em chapa fina; baixo investimento;
instalação simples e rápida da ferramenta; pode ser aplicado em linha de montagem;
posicionamento preciso; alta resistência na rosca; baixo consumo de energia; comportamento
mais rígido do conector parafuso devido à rebitagem.

Por ser uma nova tecnologia, ainda não há uma formulação específica para o
dimensionamento desses conectores como meios de introdução de carga nos pilares mistos de
aço e concreto. No entanto, diversos estudos foram realizados na EEUFMG para estudar a sua
concepção estrutural, podendo citar: Bremer [1], Oliveira [2], Oliveira [3] e Quiñonez [4].
Bremer [1] e Oliveira [2] realizaram estudos teórico-experimentais desses conectores em
sistemas de laje mista com fôrma de aço incorporada (deck metálico, ou popularmente, steel
deck), sendo estes modelos em escala natural. Nos estudos de Oliveira [2] foram ensaiados
quatro modelos, sendo dois modelos com duas camadas de Teflon entre o perfil metálico e a
laje de concreto, e outros dois modelos sem as camadas de Teflon entre os dois perfis, para se
analisar a influência do atrito entre o concreto e o aço do perfil. Quiñores [4] estudou o
comportamento e a resistência de ligações parafusadas de ligações mistas viga-pilar
constituídos por PFF. Oliveira [3] e Bremer [1] realizaram ensaios de cisalhamento direto
padrão (“push-out”), com o objetivo de analisar o comportamento e a resistência dos
conectores de cisalhamento com rebite com rosca interna. Nos ensaios de cisalhamento
direto realizados por Bremer [1] foram utilizadas formas de aço incorporadas nas lajes de
concreto, enquanto que nos modelos de Oliveira [3] foram analisadas lajes de concreto com e
sem armaduras. Os autores verificaram que estes conectores apresentavam um
comportamento flexível e dúctil.

Este artigo apresenta um estudo teórico-experimental que tem como objetivo estudar o
comportamento de conectores de cisalhamento constituídos por parafuso e rebite tubular
com rosca interna em pilares mistos de aço e concreto com perfis formados a frio (PFF). Os
modelos experimentais propostos seguem os procedimentos de ensaio de cisalhamento direto
padrão, preconizados pela norma europeia EN 1994-1-1:2004 [5]. Contudo, nestes ensaios
foram realizadas algumas adaptações que visam obter uma melhor avaliação do uso desses
conectores em pilares mistos preenchidos com concreto. O estudo teórico foi realizado através
de simulações numéricas dos modelos experimentais, utilizado o software comercial de
elementos finitos, ABAQUS. Nessas simulações são consideradas a não linearidade geométrica
e a não linearidade física, e também os efeitos de dano no concreto. Com esses modelos
numéricos serão realizados estudos paramétricos com o objetivo de propor uma solução
analítica para o dimensionamento do conector de cisalhamento como componente de
transferência de carga entre vigas e pilares mistos de aço e concreto com PFF.

3
2 PROGRAMA EXPERIMENTAL

Foram ensaiadas e analisadas duas séries de modelos de pilares com perfis formados a frio
preenchidos com concreto, utilizando conectores de cisalhamento constituídos por parafuso e
rebite tubular com rosca interna. Cada série analisada apresentava três modelos; essas séries
eram diferenciadas somente pelo número de conectores de cisalhamento. Os modelos da série
B4 apresentavam 4 conectores, enquanto que os modelos da série B8 apresentavam 8
conectores (observar Tabela 1). Cada conjunto de quatro conectores era distribuído em um
nível diferente de altura, como pode ser observado nas Figuras 2 e 3. Os ensaios dos modelos
foram realizados no Laboratório de Análise Experimental de Estruturas (LAEES) da EEUFMG.

Tabela 1 – Quadro resumo dos modelos analisados.

Série de Modelos Modelo Número de conectores Nível dos conectores


Modelo B4-1 4 conectores 285 mm / -
Série B4
Modelo B4-2 4 conectores 285 mm / -
Modelo B4-3 4 conectores 285 mm / -
Modelo B8-1 8 conectores 340 mm /405 mm
Série B8 Modelo B8-2 8 conectores 340 mm /405 mm
Modelo B8-3 8 conectores 340 mm /405 mm

(a) (b)

Figura 2 – Modelos antes de serem concretados: (a) vista externa dos modelos, (b) vista interna dos
modelos.

4
Os modelos analisados neste estudo foram fabricados a partir da conformação a frio de chapa
fina de aço fabricada pela USIMINAS, especificação USI SAC 300. Após os ensaios de
caracterização deste material, obteve-se as seguinte propriedades mecânicas: fy = 373,6 MPa
(resistência ao escoamento do aço) e fu = 486,2 MPa (resistência à ruptura do aço na tração).
Os perfis de chapa fina, por sua vez, foram fabricados por meio da soldagem de dois perfis U
enrijecidos (Ue), utilizando solda de filete intermitente (observar Figura 2) . Estes perfis Ue
apresentavam dimensões nominais de 175x65x25x3,75 mm e um comprimento longitudinal de
505 mm (altura dos pilares). A chapa inferior soldada junto à base do pilar apresentava
dimensões de 220x220m e espessura de 6,30 mm.

Para a concretagem dos pilares foi utilizado concreto convencional com fck de 25 MPa e slump
de 18 cm. Nos ensaios de caracterização da resistência do concreto foram obtidas as seguintes
propriedades mecânicas: fcm = 36,33 MPa (resistência média à compressão), fctm = 3,47 MPa
(resistência média à tração), Ecm = 29,36 GPa (módulo de elasticidade médio do concreto à
compressão).

Os rebites tubulares com rosca interna eram do tipo RIVKLE M12x1,5 PO300, fabricados pela
Bollhoff, com aço SAE1040 temperado. Estes rebites antes de sofrerem o procedimento de
fixação, apresentam o comprimento longitudinal total de 30 mm. Contudo após este
procedimento, há um encurtamento do corpo rebite. Dessa forma, antes que os pilares fossem
concretados, foram realizadas medidas para obter o comprimento longitudinal destes rebites
após a sua fixação, apresentando um comprimento médio de 21 mm descontando a espessura
do perfil de aço, como pode ser observado na vista A-A representada na Figura 3. Os parafusos
utilizados eram sextavados com rosca total, apresentando diâmetros de 12 mm e
comprimento do corpo de 70 mm. Estes parafusos eram do tipo DIN960 Classe 5.8.

5
Figura 3 - Desenho representativo dos modelos experimentais, dimensões em mm.

Observando a Figura 3, percebe-se que os pilares ensaiados não estavam totalmente


preenchidos, apresentando uma cota de arrasamento de 50 mm entre a extremidade inferior
do núcleo de concreto com a base do pilar. Essa folga permite que o núcleo de concreto e o
perfil de aço deslizem entre si com uma maior liberdade, sofrendo apenas influência da rigidez
e da capacidade resistente dos conectores de cisalhamento. Para evitar que o pilar fosse
totalmente preenchido durante a concretagem, foi colocada na base do pilar uma camada de
isopor com 50 mm espessura (material de resistência mecânica desprezável). A superfície
interna do tubo em perfil caixa foi tratada com aplicação de pintura e cera desmoldante,
permitindo uma melhor caracterização da transferência de carga gerada pelo conector de
cisalhamento, minimizando a transferência de carga por atrito. Nos estudos realizados por
Cardoso [6] verificou-se que quando a cera desmoldade é aplicada em pilares tubulares
laminados retangulares preenchidos com concreto, há uma eficiência de redução das tensões
de aderência na interface entre o tubo de aço e o núcleo de concreto em mais de 85%.

O carregamento foi aplicado de forma centrada na parte superior do pilar misto, sobre o
núcleo de concreto (observar Figura 4). Para medir os deslizamentos relativos entre o perfil de
aço e o núcleo de concreto, foram utilizados dois transdutores de deslocamentos (DTs),
posicionados na posição vertical. Ao observar Figura 4, percebe-se que estes DTs eram fixados
lateralmente sobre os modelos com o auxílio de uma base magnética. A disposição
apresentada na Figura 4b foi utilizada nos últimos modelos ensaiados.

6
Carregamento aplicado
sobre o núcleo de concreto

DT vertical medindo o
deslizamento relativo

(a) (b)

Figura 4 – Montagem e instrumentação dos ensaios de cisalhamento direto realizados nos modelos

(a) B4-1, B4-2, B4-3 e B8-1, (b) B8-2 e B8-3.

A execução dos ensaios foi realizada em duas etapas distintas. Na primeira etapa de cada um
dos ensaios foram realizados 25 ciclos de carga e descarga, com o carregamento variando
entre 5% e 40% da carga última esperada. A carga última estimada foi baseada nos ensaios de
cisalhamento direto realizados por Bremer [1]. Conforme os resultados obtidos pela autora,
cada conector de cisalhamento resiste aproximadamente a um carregamento de 40 kN. Na
segunda etapa, por sua vez, os modelos são submetidos a um carregamento estático e
progressivo até o colapso estrutural. Estes procedimentos descritos seguem as especificações
dos ensaios de cisalhamento direto padrão, preconizados pela norma EN 1992-1-1:2004 [5].

3 SIMULAÇÃO NUMÉRICA

O estudo numérico foi realizado por meio de simulações dos modelos experimentais
analisados utilizando o software comercial de elementos finitos, ABAQUS versão 6.10. Neste
estudo foi modelado apenas um quarto dos modelos, devido à sua simetria, como pode ser
observado na Figura 5. Foram analisados dois modelos numéricos, apresentando as dimensões
reais médias dos modelos experimentais das séries B4 (4 conectores) e B8 (8 conectores),
sendo estes denominados como modelos B4n e B8n, respectivamente. A chapa inferior
soldada junto à base do pilar não foi considerada na modelagem, levando em conta que a

7
extremidade inferior do perfil de aço está apoiada. Assim como nos modelos experimentais, o
carregamento foi aplicado diretamente na extremidade superior do núcleo de concreto do
pilar misto.

Figura 5 – Simulação numérica dos modelos experimentais realizada pelo software comercial ABAQUS,
versão 6.10.

Os componentes estruturais (perfil de aço, núcleo de concreto, parafusos e rebites com rosca
interna) foram modelados com elementos do tipo C3D8 (linear, hexaédrico e sólido). Este tipo
de elemento possui oito nós e três graus de liberdade por nó (translação segundo os eixos
principais x, y e z), como pode ser observado na Figura 6.

Figura 6 - Elemento C3D8 [7].

8
Na interface entre o rebite e o corpo do parafuso, foi adotado um alto coeficiente de atrito
estático, igual a 1, simulando o efeito de rosqueamento entre o componentes. Para a
interação entre o rebite e a parede do tubo de aço foi considerando um engastamento
perfeito entre estes componentes, simulando o procedimento de fixação dos rebites. Nas
demais interações o coeficiente de atrito estático foi considerado nulo. Para a modelagem foi
utilizada malha que continha aproximadamente 19 mil elementos para o modelo B4n e 22 mil
elementos para o modelo B8n. Foram adotadas as seguintes restrições de movimento nos
modelos: deslocamento lateral na direção y no plano de simetria x-z, deslocamento lateral na
direção x no plano de simetria y-z, deslocamento vertical na direção do eixo z na extremidade
inferior do perfil de aço (base do pilar) e os deslocamentos laterais na direção dos eixos x e y
no topo do pilar. As respectivas direções dos eixos e as restrições são representadas na Figura
7.

As propriedades mecânicas dos materiais utilizados na modelagem tem os mesmos valores


apresentados no programa experimental, obtidos através de ensaios de caracterização de cada
material. Contudo, utilizou-se o valor do modulo de elasticidade do concreto (Ecm) obtido da
relação tensão versus deformação apresentada pela norma EN 1992-1-1:2004, sendo este
valor em função do fcm obtido nos ensaios de caracterização do concreto, igual a 36,33 MPa.
Dessa forma, foi adotado Ecm = 30197 MPa (valor próximo ao obtido nos ensaios de
caracterização do concreto). Para o rebite e os parafusos utilizaram-se as suas propriedades
mecânicas nominais. Todas as propriedades mecânicas dos materiais (aço estrutural, concreto,
parafusos e rebite) adotadas na modelagem são apresentadas nas Tabelas 2 e 3.

Plano de simetria y:
restrição ao deslocamento
Plano de simetria x: lateral na direção x
restrição ao deslocamento
lateral na direção y

Topo do pilar:
deslocamentos
Extremidade inferior
laterais impedidos
do perfil de aço:
restrição ao
deslocamento vertical

Figura 7 – Representação do modelo numérico B8n indicando as condições de contorno.

9
Tabela 2 – Propriedades mecânicas dos materiais metálicos utilizados na modelagem numérica.

Módulo de Coeficiente de Resistência média Resistência média


Material elasticidade Poisson ao escoamento à ruptura
(MPa) (ν) (MPa) (MPa)
Aço estrutural 205000 0,3 373,6 486,2
Parafusos 200000 0,3 400,0 500,0
Rebite 200000 0,3 490,0 590,0

Tabela 3 - Propriedades mecânicas do núcleo de concreto utilizado na modelagem numérica.

Propriedades mecânicas do núcleo de concreto


Módulo de elasticidade (MPa) 30197
Coeficiente de Poisson (ν) 0,2
Resistência média à tração (MPa) 3,47
Resistência média à compressão (MPa) 36,3

O método de convergência utilizado nas simulações foi o de Riks modificado, sendo este um
método de comprimento de arco. Este método realiza incrementos de carga e deslocamentos,
apresentando uma maior facilidade de convergência nos resultados, caso a estrutura torne-se
instável em um determinado incremento. Para levar em conta o efeito do confinamento no
núcleo de concreto e de dano, foi utilizado o modelo constitutivo Concrete Damage Plasticity.

4 CLASSIFICAÇÃO DOS CONECTORES DE CISALHAMENTO

Os conectores de cisalhamento podem ser classificados como rígidos ou flexíveis. Essa


classificação está intrinsecamente relacionada com a resposta do conector à ação do fluxo de
cisalhamento longitudinal que surge da ação mista entre o perfil de aço e o núcleo de
concreto. Essa resposta pode ser demonstrada por meio da relação entre a força do conector e
o deslocamento relativo entre o perfil de aço e o núcleo de concreto, como ilustra a Figura 8,
sendo δu o deslizamento máximo, medido ao nível da resistência característica PRk, na parte
descendente da curva. PRk deve ser tomada como a carga última mínima de cada conector
reduzida em 10%. Conforme a norma européia EN 1994-1-1:2004, um conector pode ser
tomado como dúctil se a capacidade característica de deslizamento (δuk) for pelo menos de 6
mm, δuk é tomado como o valor mínimo de δu obtido num ensaio, reduzido em 10% .

10
Figura 8 - Determinação da capacidade de deslizamento δu [5].

Segundo Almeida [8] não se encontra na literatura vigente uma definição precisa dos limites
de rigidez que caracterizam um conector como rígido ou flexível. Contudo, o autor define em
seu estudo que os conectores que apresentam uma rigidez secante menor ou igual a
200 kN/mm são classificados como flexíveis, e os restantes como rígidos. A rigidez secante é
definida conforme item A.3(3) do EN 1994-1-1:2004, igual a ksc = 0,7 PRk/s, onde s é o
deslizamento relativo que ocorre para a força de 0,7 PRk.

5 RESULTADOS EXPERIMENTAIS

Nas Figuras 9 e 10 são representados os diagramas de força versus deslizamento relativo dos
modelos experimentais, considerando apenas o carregamento estático e progressivo, realizado
após os 25 ciclos de carga e descarga. Analisando estes diagramas, percebe-se que se atinge
um patamar de carga nos modelos a partir de um deslizamento relativo de 6 mm, com exceção
do modelo B8-3, que apresentou um comportamento mais frágil em relação aos outros
modelos. Como não há uma perda de rigidez das curvas após se atingir a carga última do
ensaio (Pu), δuk é definido como o deslizamento relativo medido ao nível de Pu. Dessa forma,
os conectores de cisalhamento podem ser considerados como dúcteis, por apresentarem
deslizamentos relativos δuk superiores a 6 mm. O ensaio do modelo B4-1 foi interrompido logo
após se atingir um patamar de carga, para que posteriormente se realizar-se um corte no perfil
para verificar a causa do colapso estrutural.

11
200
180
160
140
120
Força (kN)

100
80
60 Modelo exp B4-1*
40 Modelo exp B4-2
20 Modelo exp B4-3
0
0 2 4 6 8 10 12 14 16 18
Deslizamento relativo (mm)
Figura 9 - Força versus deslizamento relativo dos modelos da série B4 1.

350
300
250
200
Força (kN)

150
100 Modelo exp B8-1
Modelo exp B8-2
50
Modelo exp B8-3
0
0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22 24 26
Deslizamento relativo (mm)

Figura 10 - Força versus deslizamento relativo dos modelos da série B8.

Nas Tabelas 4 e 5 são apresentados parâmetros de resistência dos conectores de cisalhamento


dos modelos das séries B4 e B8, respectivamente. Esses parâmetros permitem a classificação
destes conectores de cisalhamento, se são flexíveis ou rígidos. São determinadas a carga
última (Pu), a carga última por conector (Pu,con), a resistência característica (PRk) e a rigidez
secante (ksc) dos modelos. Observando os resultados, percebe-se que ksc dos modelos é menor
que 200 kN/mm (valor limite para caracterizar o conector como flexível). Dessa forma os
conectores ensaiados apresentaram um comportamento flexível. Contudo, observa-se que
houve uma grande dispersão entre os resultados das rigidezes ksc nos modelos analisados,
apresentando desvio padrão para os modelos das séries B4 e B8 de 35,34% e 34,06%,
respectivamente.

1
O ensaiado do modelo B4-1 foi interrompido quando se alcançou um deslizamento relativo superior de
7 mm.

12
Tabela 4 – Parâmetros de resistência dos conectores de cisalhamento dos modelos da série B4.

Modelo Pu (kN) Pu,con (kN) PRk (kN) ksc (kN/mm)


B4-1 165,59 41,40 37,26 12,02
B4-2 160,63 40,16 36,14 38,92
B4-3 182,37 45,59 41,03 82,07
Média 169,53 42,38 38,14 44,34

Tabela 5 - Parâmetros de resistência dos conectores de cisalhamento dos modelos da série B8.

Modelo Pu (kN) Pu,con (kN) PRk (kN) ksc (kN/mm)


B8-1 223,25 27,90 26,24 73,47
B8-2 291,51 36,44 32,79 17,12
B8-3 308,68 38,59 34,73 12,15
Média 277,81 34,72 31,25 34,25

Nos modelos com 4 conetores (série B4), obteve-se valores de carga última por conector em
torno de 40 kN, próximos aos encontrados por Bremer [1] em ensaios do tipo push-out
padrão. Para se verificar qual estado limite a estrutura estaria sujeita, realizou-se um corte
retangular nos perfis dos modelos B4-1 e B4-2, como pode ser observado na Figura 11.
Concluiu-se que os modelos começavam a perder rigidez devido à fissuração do núcleo do
concreto, ocasionada devido a rotação dos conectores. Observando ainda a Figura 11a, nota-
se que essas fissuras se originaram no nível dos conectores e se propagando até a outra
extremidade.

(a) (b)

Figura 11 – Fissuração e ruptura do núcleo de concreto nos modelos: (a) B4-1 e (b) B4-2.

13
Conforme descrito no item 2, para os modelos B4-1, B4-2, B4-3 e B8-1, a montagem e a
instrumentação dos ensaios foram realizadas de acordo com a disposição representada na
Figura 4a. Observando ainda essa figura, nota-se que para este procedimento de ensaio foi
utilizada uma chapa de aplicação de carga em formato circular. Contudo para o modelo B8-1,
ocorreu um esmagamento localizado no núcleo de concreto na região em contato com a chapa
de aplicação de carga, como pode-se observar na Figura 12b. Menciona-se também que a
carga última obtida neste modelo se apresentou bem abaixo da carga última estimada, igual a
320 kN (40 kN por conector de cisalhamento), além de se apresentar um pequeno
deslizamento relativo entre o perfil de aço e o núcleo de concreto. Dessa forma, foram
fabricadas duas chapas de aço com dimensões próximas às da seção transversal do núcleo de
concreto, atuando sobrepostas, com o intuito de garantir maior uniformidade do
carregamento aplicado e menor tensão na seção transversal do núcleo de concreto.

Com o carregamento sendo distribuído de forma mais homogênea sobre a seção transversal
do núcleo de concreto nos modelos com 8 conectores, foram obtidos valores superiores de
carga última e deslizamentos relativos se comparados com os do modelo M8-1 (observar a
Tabela 5). Apesar disto, foi observado também o esmagamento do núcleo de concreto,
representado pelo desnível da seção transversal do concreto, como pode ser observado na
Figura 12c. Este desnível originou-se devido à folga entre a chapa de aplicação de carga e o
perfil de aço. Nos modelos com 4 conectores, por sua vez, não foi observado o esmagamento
do núcleo de concreto caracterizado pelo desnível da seção transversal superior do núcleo de
concreto (observar Figura 12a).

Esmagamento localizado Desnível na seção transversal


do núcleo de concreto do núcleo de concreto

(a) (b) (c)

Figura 12 – Vista superior dos modelos após a realização dos ensaios: (a) B4-3, (b) B8-1, (c) B8-2.

14
Para averiguar a ruptura do bloco do concreto, realizou-se um corte nos perfis dos modelos
B8-1 e B8-2, como pode ser observado na Figura 13. Ao observar essa figura, percebe-se que
ocorreu a linha de fissuração no primeiro nível de conectores. Averiguou-se também a ruptura
do bloco de concreto situado acima dos conectores, devido às bielas de compressão,
formando linhas de rupturas a 45o, que se prolongam até o nível dos conectores. Para essa
série, houve uma redução da carga última média por conector de 18% em relação à carga
última média obtida na série B4.

(a) (b)

Figura 13 - Fissuração e ruptura do núcleo de concreto nos modelos: (a) B8-1 e (b) B8-2.

Na Figura 14 é mostrada a rotação dos conectores que ocorre com o aumento do


carregamento. Nota-se que, com a rotação excessiva dos conectores, há o escoamento local
do perfil na região dos furos. Notou-se também um engastamento na extremidade do fuste
dos parafusos, provocado pelo núcleo de concreto.

(a) (b)

Figura 14 – Representação do giro dos conectores no modelo M8-5: (a) vista externa, (b) vista interna.

15
4 RESULTADOS NUMÉRICOS

As Figuras 15 e 16 apresentam as curvas de força versus deslizamento relativo dos modelos


numéricos B4n e B8n, sendo estes modelos comparados com as curvas obtidas
experimentalmente (ver item 3). As curvas experimentais representadas neste item foram
limitadas a um deslizamento relativo máximo de 12 mm, para uma melhor comparação com as
curvas obtidas numericamente. Observando essas figuras, percebe-se que a carga última dos
modelos numéricos apresentaram valores próximos aos resultados obtidos
experimentalmente. Contudo, algumas curvas experimentais se apresentaram mais flexíveis
que as obtidas numericamente. Isto pode ser verificado comparando a curva numérica B4n
com a curva experimental B4-1 e a curva numérica B8n com as curvas experimentais B8-2 e
B8-3.

200
180
160
140
120
Força (kN)

100
80
60 Modelo num B4n
Modelo exp B4-1
40 Modelo exp B4-2
20 Modelo exp B4-3
0
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12
Deslizamento relativo (mm)

Figura 15 - Força versus deslizamento relativo do modelo numérico B4n e os modelos experimentais da
série B4, limitado a um deslizamento relativo de 12 mm.

350
300
250
200
Força (kN)

150
Modelo num B8n
100
Modelo exp B8-1
50 Modelo exp B8-2
Modelo exp B8-3
0
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12
Deslizamento relativo (mm)

Figura 16 - Força versus deslizamento relativo do modelo numérico B8n e os modelos experimentais da
série B8, limitado a um deslizamento relativo de 12 mm.

16
A comparação entre os resultados numéricos e experimentais da carga última dos modelos é
apresentada na Tabela 6. Comparando esses resultados obteve-se erros de 3,63% e 4,95% para
as séries B4 e B8, respectivamente. Desconsiderando o modelo experimental M8-1, que
apresentou um comportamento mais frágil em relação aos outros modelos da série M8, o erro
da série B8 é reduzido para 2,81%. Dessa forma, a modelagem numérica apresentou uma
grande eficiência para estimar a carga última dos modelos. Na simulação numérica foram
obtidos os seguintes valores para a rigidez secante: ksc,B4n = 7,19 kN/mm e ksc,B8n = 3,56
kN/mm. Conforme descrito no item 3, obteve-se uma grande dispersão entre os valores da
rigidez secante ksc determinados experimentalmente, dificultando dessa forma a confibilidade
destes parametros obtidos numericamente. Analisando ainda as curvas numéricas
apresentadas, obteve-se deslizamentos relativos superiores a 6 mm, caracterizando um
comportamento dúctil. Dessa forma, como na analise experimental, os conectores de
cisalhamento apresentaram um comportamento flexível e dúctil.

Tabela 6 - Comparação da carga última dos modelos obtida numericamente e experimentalmente.

Série Pu,num (kN) Pu,exp (kN) Erro (%)


B4 163,38 169,53 3,63
B8 291,57 277,81* 4,95*
Notas:
*Desconsiderando o modelo experimental M8-1, que apresentou um comportamento
mais frágil em relação aos outros modelos da série M8, obtém-se para a série B8:
Pu,exp = 300,10 kN e Erro (%) = 2,81%

Na Figura 17 é representada a variação dos esforços solicitantes de tração no núcleo de


concreto, sendo representadas apenas as instâncias correspondentes aos conectores e o
núcleo de concreto. As tensões S33 são no sentido longitudinal (eixo z) e apresentam valores
em MPa. A região cinza apresenta tensões superiores à resistência média à tração do
concreto, fctm = 3,47 MPa. Essa resistência é superada na altura do nível dos conectores para o
modelo B4n e para o primeiro nível de conectores do modelo B8n. Pode-se então concluir que
as fissuras observadas nos modelos experimentais na altura destes níveis (observar Figuras 11
e 13) ocorreram devido a esforços de tração no núcleo de concreto, originados devido à
rotação dos conectores de cisalhamento.

A variação dos esforços de compressão no núcleo de concreto é representada na Figura 18. As


regiões escuras apresentam tensões superiores à resistência à compressão média do concreto,
fcm = 36,33 Mpa, enquanto que as regiões em cinza representam as partes em que o concreto é
tracionado. Observando essa figura, nota-se o esmagamento local do concreto na região acima
dos conectores. Observando as tensões de compressão do modelo numérico B8n (Figura 18b),
nota-se que a região esmagada de concreto entre os níveis de conectores (região escura

17
representada) se encontram bem próximas e a região esmagada de concreto acima do
segundo nível de conectores próximas a superfície do núcleo de concreto. Isto indica que, com
o avanço do carregamento, são formadas linhas de rupturas a 45o, como foi observado nos
modelos experimentais (ver Figura 13).

(a) (b)

Figura 17 - Tensões longitudinais de tração no núcleo de concreto nos modelos: (a) B4n, (b) B8n.

(a) (b)

Figura 18 - Tensões longitudinais de compressão no núcleo de concreto nos modelos: (a) B4n, (b) B8n.

18
O escoamento do aço do perfil é representado pela região cinza da Figura 20a. Essa região
apresenta tensões superiores a fy = 373,6 MPa. Para uma melhor análise do escoamento do
aço do perfil, são analisadas as tensões de von Mises. Nas simulações notou-se que o
escoamento ocorria na região próxima ao nivel dos conectores e na mesma face do perfil que
estes estão situados.

(a) (b)

Figura 19 – Escoamento do aço do perfil nos modelos: (a) B8n, (b) B8-2.

Na Figura 21 são apresentadas apenas as instâncias correspondentes aos conectores e ao


perfil de aço. O deslocamento U3 indica os deslocamentos na direção longitudinal (eixo z) em
mm. Assim como nos modelos experimentais, notou-se que em ambos os modelos M4n e
M8n, os conectores eram fletidos, significando o engastamento dos parafusos na extremidade
do fuste provocado pelo núcleo de concreto.

(a) (b)

Figura 20 - Representação do giro dos conectores nos modelos: (a) B8n, (b) B8-2.

19
5 CONCLUSÃO

Este trabalho apresenta um estudo teórico-experimental de pilares curtos preenchidos com


concreto, utilizando conectores de cisalhamento constituídos por parafusos com cabeça
sextavada e rebite com rosca interna. Os perfis dos pilares são do tipo caixa composto por dois
perfis U enrijecidos (Ue) formados a frio, cada um com dimensões nominais de
175x65x25x3,75 mm. O estudo teórico foi realizado através de simulações numéricas
utilizando o software comercial de elementos finitos, ABAQUS. Os resultados obtidos
experimentalmente serviram para a calibração dos modelos numéricos. Com esses modelos
numéricos estão sendo realizados estudos paramétricos com o objetivo de propor uma
solução analítica para o dimensionamento do conector de cisalhamento como componente de
transferência de carga entre vigas e pilares mistos de aço e concreto com perfis formados a
frio.

Após a realização dos ensaios e a simulação numérica desses modelos, pode-se concluir que a
modelagem retratou bem o comportamento dos conectores de cisalhamento estudados. Em
ambas as análises experimentais e numéricas foram observados os seguintes fenômenos:
fissuração do núcleo de concreto na altura do primeiro nível de conectores, rompimento do
núcleo de concreto para os modelos com 8 conectores (formando linhas de rupturas a 45 o),
engastamento dos conectores na interface concreto-perfil de aço e o escoamento do perfil de
aço na região próxima ao nível dos conectores. A modelagem numérica apresentou uma boa
eficiência para se estimar a carga última dos modelos apresentando erros menores que 5%.

Os resultados experimentais e numéricos demonstraram que os conectores apresentaram um


comportamento flexível e dúctil quando utilizado em subsistemas de pilares mistos de aço e
concreto com perfis formados a frio. Contudo, obteve-se uma grande dispersão entre os
valores de rigidezes ksc obtidos experimentalmente, apresentando desvio padrão para os
modelos das séries B4 e B8 de 35,34% e 34,06%, respectivamente. Notou-se também que a
carga última dos modelos não aumentava com a mesma proporção com o aumento do
número de conectores, ocorrendo uma diminuição da carga última por conector.

Agradecimentos

Os autores agradecem à FAPEMIG (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas


Gerais), à CAPES (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior), ao
CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico) pelo apoio
financeiro neste projeto de pesquisa.

20
REFERÊNCIAS

1 Bremer, C. F. Vigas Mistas em Perfis Formados a Frio Com Lajes Mistas e Lajes Moldadas
Sobre Painéis de Concreto Celular. Tese (Doutorado). Belo Horizonte: Escola de Engenharia,
Universidade Federal de Minas Gerais; 2007.

2 Oliveira, C. G. R. Análise teórico – experimental de vigas mistas com perfis formados a frio,
considerando a flexibilidade dos conectores de cisalhamento e a influência do atrito entre o
concreto e o aço do perfil. Dissertação (Mestrado) Belo Horizonte: Escola de Engenharia,
Universidade Federal de Minas Gerais; 2009.

3 Oliveira, L. A. F. Estudo do comportamento e da resistência das vigas mistas aço-concreto


constituídas por perfis formados a frio e lajes pré-fabricadas. Dissertação (Mestrado) Belo
Horizonte: Escola de Engenharia, Universidade Federal de Minas Gerais; 2001.

4 Quiñonez, V. F. A. Comportamento de ligação mista viga – pilar em perfis formados a frio


com conectores de parafuso e rebite com rosca interna. Dissertação (Mestrado) Belo
Horizonte: Escola de Engenharia, Universidade Federal de Minas Gerais; 2007.

5 EN 1992-1-1:2004.Eurocode 2: Design of Concrete Structures, Part 1.1: General Rules and


Rules for Buildings. European Committee for Standardization. Brussels, Belgium; 2004.

6 Cardoso, H. S. Estudo Teórico-Experimental de Parafusos Utilizados como Dispositivos de


Transferência de Carga em Pilares Mistos Tubulares Preenchidos com Concreto. Dissertação
(Mestrado) Belo Horizonte: Escola de Engenharia, Universidade Federal de Minas Gerais; 2014.

7 SIMULIA. Software ABAQUS 6.10. Dassault Systèmes, USA; 2010.

8 Almeida, P. H. F. Estudo numérico de um dispositivo de transferência de cargas em pilares


mistos tubulares preenchidos com concreto. Dissertação (Mestrado) Belo Horizonte: Escola de
Engenharia, Universidade Federal de Minas Gerais; 2012.

21
Tema: Estruturas Metálicas e Mistas

Ferramenta Computacional para o Lançamento de Estruturas e


Pré-dimensionamento de seus Elementos Estruturais em Aço *

Priscilla I. S. Ribeiro ¹
Adenilcia F. G. Calenzani ²
3
Augusto Alvarenga
4
Walnório Graça Ferreira

Resumo
Os profissionais da arquitetura ainda não estão habituados à concepção de projetos de
estruturas em aço. Existe a necessidade de uma maior reciprocidade entre o trabalho do
arquiteto e do calculista. Uma das principais preocupações tem sido a melhoria da formação
técnica dos arquitetos, bem como o desenvolvimento de mecanismos que possibilitem a
inserção desses profissionais no processo global de concepção, cálculo, fabricação e
montagem das estruturas de aço.
Dentro desse contexto, nesse trabalho foi desenvolvido um programa computacional,
denominado Metal Fácil, para proporcionar à comunidade acadêmica e aos profissionais uma
ferramenta prática e didática de pré-dimensionamento de elementos em aço de edifícios de
múltiplos andares, tendo como ponto de partida os dados do projeto arquitetônico. Para
sistemas de piso compostos por lajes mistas e vigas de aço, o Metal Fácil calcula o perfil de aço
adequado às vigas a partir do carregamento selecionado pelo usuário. Pilares de aço
submetidos à compressão simples também são pré-dimensionados pelo programa.
Fluxogramas para o pré-dimensionamento dos elementos estruturais foram desenvolvidos
para dar suporte à implementação computacional realizada no Visual Basic for Applications
7.1. O programa Metal Fácil foi validado e teve a sua eficiência comprovada para os fins de
pré-dimensionamento a que se destina.

Palavras-chave: Elementos Estruturais em Aço; Pré-dimensionamento; Programa de


Computador; Edifícios de Andares Múltiplos.

1
Estudante de Graduação, Arquitetura e Urbanismo - Universidade Federal do Espírito Santo
2
Prof(a). Dr(a)., Departamento de Engenharia Civil – Universidade Federal do Espírito Santo
3
Prof. Dr., Departamento de Arquitetura e Urbanismo – Universidade Federal do Espírito Santo
4
Prof. Dr., Departamento de Engenharia Civil – Universidade Federal do Espírito Santo

________________________________
* Contribuição técnica ao Construmetal 2014 – Congresso Latino-Americano da Construção
Metálica – 02 a 04 de setembro de 2014, São Paulo, SP, Brasil.
1
Subject: Composite and Steel Structures

Computational Tool for Layout of steel structures and


Preliminary Design its Structural Elements*
Priscilla I. S. Ribeiro ¹
Adenilcia F. G. Calenzani ²
3
Augusto Alvarenga
4
Walnório Graça Ferreira

Abstract
Professionals in the architecture are not yet accustomed to the design of structural steel
projects. There is a need for greater reciprocity between the architect's work and calculating. A
major concern has been to improve the technical training of architects, as well as the
development of mechanisms that enable the integration of these professionals in the overall
process of design, calculation, manufacture and erection of steel structures.
Within this context, this paper develops a computer program, called Metal Fácil to provide the
academic community and area’s professionals a practical and didactic tool for preliminary
design of steel structural elements, having as starting point the data of architectural design. To
floor systems constituted for composite slabs and steel beams, Metal Fácil calculates the
section suitable for steel beams according to load specified by the user. Steel columns subject
to pure compression are also designed by the program. Flow charts for the preliminary design
of these structural elements were developed aiming to support the computational
implementation developed in the Visual Basic for Applications 7.1. Metal Fácil program has
been validated and it has had its efficiency proven for the purpose of preliminary design.

Keywords: Steel Structural elements; Preliminary Design; Computer Program; Multi-story


buildings.

1
Undergrad Student, Architecture and Urbanism- Federal University Espírito Santo
2
Professor, Civil Engineering Department – Federal University Espírito Santo
3
Professor, Architecture and Urbanism Department– Federal University Espírito Santo
4
Professor, Civil Engineering Department – Federal University Espírito Santo

________________________________
* Contribuição técnica ao Construmetal 2014 – Congresso Latino-Americano da Construção
Metálica – 02 a 04 de setembro de 2014, São Paulo, SP, Brasil.
2
1 INTRODUÇÃO

São inúmeras as vantagens associadas à utilização de estruturas em aço. Dentre elas, podem-
se citar as vantagens associadas à economia: rapidez de execução, maior área útil nos andares
e pé-direito reduzido, baixo custo de fundações, canteiro de obras reduzido, facilidade de
montagem, desmontagem e reaproveitamento, construção independente das intempéries,
quase nenhuma utilização de madeira, facilidade de transporte e manuseio, baixo custo de
manutenção, fácil fixação de sistemas de vedação e de outros componentes, baixo índice de
desperdício, montagem programada minimizando trabalho “in loco” e precisão nas dimensões;
as vantagens tecnológicas: soluções eficientes para isolamento térmico e acústico, fácil
combinação com outros materiais e sistemas de proteção eficientes; as vantagens associadas à
concepção arquitetônica: grande liberdade de expressão, transparência, esbeltez e leveza,
grandes vãos livres. Por último, podem-se citar algumas vantagens associadas à preservação
do meio ambiente: boas condições de transporte do material, pouco barulho, pouca poeira e
pouco desperdício na construção, e por fim o aço é um material totalmente reciclável.
O Brasil é um dos grandes produtores mundiais de aço, possuindo usinas siderúrgicas
reconhecidas internacionalmente, muitas das quais fabricam, além do próprio aço, também
perfis estruturais, FAKURY (2013). A engenharia brasileira encontra-se capacitada para levar
adiante as obras mais ousadas em estruturas de aço, entretanto os profissionais da
arquitetura, por uma série de motivos ainda não estão habituados à concepção de projetos de
estruturas em aço. Existe a necessidade de uma maior reciprocidade entre o trabalho do
arquiteto e do calculista. Uma das principais preocupações tem sido a melhoria da formação
técnica dos arquitetos, bem como o desenvolvimento de mecanismos que possibilitem a
inserção desses profissionais no processo global de concepção, cálculo, fabricação e
montagem das estruturas de aço.
Outro tema bastante explorado atualmente é a necessidade da integração total de todas as
etapas da construção em aço, em especial a necessidade de interação do arquiteto não
somente com o engenheiro estrutural, mas também com o empreendedor, com o construtor,
com os fornecedores, e todos aqueles que participam direta ou indiretamente do processo
construtivo como um todo, MANCINI (2003).
Sendo assim, os arquitetos necessitam de ferramentas que permitam, de modo rápido e
prático, estimar as dimensões necessárias dos elementos estruturais, de modo a possibilitar-
lhes não somente a perspectiva de análise das interferências no projeto arquitetônico, mas
também a percepção das implicações da utilização de tais elementos no comportamento
global da estrutura e do consequente consumo de aço, MANCINI (2003).
Alguns fabricantes de produtos de aço lançaram no mercado publicações em forma de tabelas,
que auxiliam na determinação da carga máxima suportada por elementos estruturais (vigas e
pilares) fabricados a partir de seus produtos, considerando a variação no vão e no
comprimento da peça, podendo-se citar o trabalho de D’ALAMBERT e LIPPI (2010). Entretanto,
essa iniciativa, muito boa no que diz respeito ao fornecimento de pré-dimensionamento de
perfis de aço, não consegue ajudar efetivamente os profissionais de arquitetura, uma vez que
as dúvidas mais frequentes estão relacionadas ao lançamento da estrutura e à estimativa das
cargas atuantes. Pode-se citar também o trabalho de Eller at. al. (2011) que elaboraram
tabelas para o pré-dimensionamento de vigas mistas de aço e concreto de pontes vicinais. Os

3
resultados de Eller at. al. (2011) servem para auxiliar os profissionais de arquitetura e
engenharia na fase inicial do projeto de pontes em estruturas mistas de aço e concreto.
Neste contexto, este artigo trata de uma solução estrutural muito utilizada em edifícios de
múltiplos andares em aço, que consiste em lajes mistas de aço e concreto apoiadas em vigas e
pilares de aço. O objetivo foi o desenvolvimento de um programa computacional de fácil
utilização para o lançamento da estrutura e para o pré-dimensionamento de seus elementos
estruturais.

2 MATERIAIS E MÉTODOS

2.1 Metodologia para o lançamento dos elementos estruturais

Como as lajes mistas de aço e concreto são unidirecionais, um layout típico para as vigas de
piso consiste de uma série de vigas secundárias paralelas, com espaçamento uniforme que
depende da capacidade resistente da laje. As vigas secundárias são usadas em conjunto com as
vigas primárias para compor um módulo do sistema de piso, figura 1(a), denominado módulo
básico. A figura 1(b) mostra variações do módulo básico que são usadas para acomodar os
requisitos do layout do edifício, MACDONALD (1998).

(a) Módulo básico (b) Layout do edifício


Figura 1 – Módulo típico de sistemas de piso
Fonte: adaptada de MACDONALD (1998)

Nesse trabalho, um programa computacional foi desenvolvido tendo como base a utilização de
módulos, figura 1(a), para compor a área dos pavimentos de um edifício e proceder ao
lançamento da estrutura. Seis possíveis posições dos módulos em relação ao layout do edifício,
figura 2, foram consideradas. A posição (a) deve ser utilizada quando o pavimento é composto
por apenas um módulo. A posição (b) deve ser utilizada quando o módulo a ser dimensionado
possui uma viga em comum com outro módulo. As posições (c) e (d) devem ser utilizadas se o
módulo em estudo possuir duas vigas em comum com módulos adjacentes, a posição (e) se
houver três vigas em comuns com módulos adjacentes e por último a posição (f) se todas as
vigas de extremidade do módulo são comuns a módulos adjacentes.
Dessa forma, o usuário deve inicialmente modular (dividir em módulos) a planta do pavimento
e identificar os módulos de acordo com a figura 2 para proceder ao seu pré-dimensionamento.

4
A identificação do tipo de módulo é essencial à correta distribuição do carregamento das lajes
nas vigas.

Figura 2 – Interface: Posição do módulo

O módulo básico possui três, quatro ou cinco vigas secundárias e duas vigas principais, figura 3.
O número máximo de cinco vigas secundárias foi estabelecido considerando quatro painéis de
lajes mistas com a máxima dimensão fornecida em catálogo, isto é, 4 m, o que levaria a uma
viga principal de 16m. Acima de 16m, a viga treliçada é uma solução economicamente mais
viável, entretanto, esse tipo de viga está fora do escopo do trabalho. O número mínimo de três
vigas secundárias foi estabelecido, porque no caso de se utilizar a menor dimensão de painel
para a laje mista, isto é, 2 m, a viga principal teria um vão de apenas 4 m. Vãos menores que 4
m, raramente são utilizados em vigas de aço.

Figura 3 – Tipos de módulos quanto à quantidade de vigas secundárias.

2.2 Sobre o programa desenvolvido

Um programa computacional denominado Metal fácil foi elaborado na linguagem de programa


do Excel, Visual Basic for Applications. Este programa permite o pré-dimensionamento de lajes
mistas de aço e concreto e vigas de aço de um módulo básico do sistema de piso em estudo,
tendo como entrada apenas o carregamento aplicado à laje. Adicionalmente, permite o pré-
dimensionamento dos pilares que apoiam o módulo, cujo carregamento é conhecido e o pré-
dimensionamento de pilares isolados, com a entrada do carregamento manual, figura 4.
Por ser tratar de um programa de pré-dimensionamento, algumas limitações foram impostas:
 Os conceitos de largura e área de influência são utilizados na avaliação dos esforços
solicitantes, respectivamente, das vigas e dos pilares;

5
 Todos os perfis de aço manuseados no programa são compactos, isto é, as chapas
componentes do perfil não são sujeitas à flambagem local;
 No pré-dimensionamento das vigas foi verificado o estado limite último relativo a
momento fletor (formação de rótula plática) e o estado limite de serviço relativo à
flecha excessiva. Não foram verificados os estados limites relativos ao esforço
cortante;
 Os pilares são dimensionados somente à compressão simples.

Figura 4 – Tela inicial do Metal Fácil

A verificação do estado limite último de flambagem lateral com torção nas vigas não foi feita,
uma vez que a fôrma de aço (steel deck) fornece contenção lateral contínua. Esta hipótese é
bem realista se a fôrma possuir rigidez suficiente e estiver adequadamente ligada as vigas,
como é o caso de fôrmas de aço de nervuras transversais ao eixo da viga (Queiroz, 2001).

2.3 Dados de entrada do programa

2.3.1 Para a opção de pré-dimensionamento dos módulos

O programa possui apenas uma janela de entrada de dados o para pré-dimensionamento dos
módulos (figura 5). Nesta janela, estão descritos todos os itens que necessitam ser
especificados pelo usuário. Os itens referentes às dimensões do módulo são: Vão da Viga
Principal (Lx), Vão da Viga Secundária (Ly) e Número de Vigas secundárias (Nv).
Os dados Lx e Ly devem ser inseridos em metros e o número de vigas secundárias é escolhido
pelo usuário, porém respeitando o intervalo de 2 a 4 m para os vãos da laje mista. Caso isto
não aconteça, uma mensagem para alterar o número de vigas secundárias é exibida.
Em relação aos carregamentos, o programa já incorpora as prescrições da NBR 6120:1980,
ficando a cargo do usuário informar apenas o tipo da edificação (necessário para a definição
do carregamento acidental) e os materiais dos elementos construtivos como revestimento de
piso, forro, alvenaria e divisórias (necessários para a definição dos carregamentos
permanentes). O pé-direito dos pavimentos do edifício é solicitado ao usuário para a definição
do peso das alvenarias e divisórias.

6
Figura 5 – Entrada de dados para o pré-dimensionamento dos módulos

2.3.2 Para a opção de pré-dimensionamento de viga soldada

Caso o programa não encontre um perfil laminado que atenda às solicitações de cálculo para
as vigas dos módulos, o usuário tem a opção de pré-dimensionar a viga com um perfil soldado.
Basta inserir como dados de entrada a geometria da seção transversal, figura 6. O usuário
também deve fornecer a resistência ao escoamento do aço, que pode ser 25 kN/cm2 (ASTM
A36) ou 34,5 kN/cm² (ASTM A572 Gr 50).

Figura 6 – Entrada de dados para o pré-dimensionamento de viga soldada.

7
2.3.3 Para a opção de pré-dimensionamento de pilar do módulo

Após o pré-dimensionamento das vigas de um módulo do edifício, o usuário pode escolher


pré-dimensionar os pilares referentes a este módulo. Uma janela (figura 7) de entrada de
dados importa o carregamento de projeto em kN/m2 (já calculado para as lajes de piso) e o pé-
direito do edifício. Os demais dados inseridos pelo usuário são: o posicionamento do pilar em
relação ao layout do edifício e o número de pavimentos. No item posicionamento do pilar, o
usuário conta com quatro opções que definirão a área de influência. As posições P1, P2, P3 e
P4 correspondentes respectivamente a um quarto da área do módulo, metade, três quartos e
toda a área do módulo. Com base nesses dados, o programa realiza o pré-dimensionamento
do pilar e fornece um perfil laminado que atenda as solicitações de projeto.

Figura 7 – Entrada de dados para o pré-dimensionamento de pilar dos módulos

2.3.4 Para a opção de pré-dimensionamento de pilar isolado

Caso o usuário deseje pré-dimensionar um pilar que não faça parte do módulo pré-
dimensionado, os seguintes dados de entrada (figura 8) devem ser preenchidos: carga por
pavimento em kN/m², pé-direito em metros, área de influência em m² e número de
pavimentos do edifício.

2.4 Fluxogramas de pré-dimensionamento

As figuras 9 e 10 mostram o fluxograma de pré-dimensionamento das vigas dos módulos. De


acordo com a entrada de dados, o vão da laje mista é calculado como a razão entre o vão da
viga principal e o número de vigas secundárias menos um. Caso o vão da laje mista esteja fora
do intervalo de 2 a 4 m, o programa exibe uma mensagem para alterar o número de vigas
secundárias.
Os carregamentos de projeto e de serviço na laje são calculados. O programa pesquisa no
catálogo do fabricante METFORM (2013) uma laje mista que possua vão imediatamente
superior ao calculado e que resista ao carregamento de projeto. Caso nenhuma laje atenda os

8
requisitos mencionados, o programa exibe uma mensagem para aumentar o número de vigas
secundárias.

Figura 8 – Entrada de dados para o pré-dimensionamento de pilar isolado

O carregamento de projeto e de serviço nas vigas secundárias é calculado multiplicando o


carregamento na laje pela largura de influência. A partir desse carregamento, são calculados a
inércia necessária, o módulo resistente plástico necessário e a altura inicialmente necessária
para o perfil da viga (H/L = 22). Então, o programa pesquisa no catálogo de perfis laminados da
GERDAU (2013) e retorna como saída um perfil que atenda as três propriedades. O
carregamento das vigas principais é obtido a partir das reações das vigas secundárias. De
forma similar às vigas secundárias, o pré-dimensionamento das vigas principais é verificado
para o estado limite último relativo a momento fletor (módulo resistente plástico necessário) e
para o estado limite de serviço relativo a flechas excessivas (Inércia necessária).
As figuras 11 e 12 mostram, respectivamente, os fluxogramas de pré-dimensionamento dos
pilares dos módulos e de pilares isolados. O esforço de compressão solicitante de cálculo nos
pilares é determinado em função da área de influência, do carregamento por pavimento e do
número de pavimentos. Como ponto de partida para seleção do perfil do pilar, o programa
calcula uma área mínima necessária, considerando uma tensão atuante de projeto de 50% da
tensão de escoamento de projeto. Calcula também um raio de giro mínimo necessário,
considerando uma esbeltez de 150. Nota-se que os valores de tensão e esbeltez são menores
que os valores limites, iguais a tensão de escoamento de projeto e esbeltez de 200, uma vez
que sempre haverá uma redução da capacidade resistente do pilar devido a flambagem por
flexão. Com a área e o raio de giro mínimos necessários, o programa faz a seleção inicial de
um perfil laminado que atenda essas propriedades. A partir daí, o perfil selecionado é
verificado de acordo com a NBR 8800:2008. Caso o perfil não passe na verificação, um perfil de
área imediatamente superior é testado.

9
Figura 9 – Fluxograma de pré-dimensionamento das vigas dos módulos – Parte 1

10
Figura 10 – Fluxograma de pré-dimensionamento das vigas dos módulos – Parte II

11
Figura 11 – Fluxograma de pré-dimensionamento do pilar do módulo

12
Figura 12 – Fluxograma de pré-dimensionamento do pilar isolado

13
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

O exemplo utilizado na aferição da ferramenta computacional trata-se de um edifício que foi


projetado a fim de atender uma instituição de ensino (figura 13) ou um centro de treinamento.
A edificação conta com 6 pavimentos, sendo que o pavimento térreo é de uso coletivo, com
cantina, recepção, biblioteca, almoxarifado, depósito e administração interna e os demais são
pavimentos tipo como mostra a figura 14. O edifício possui pé-direito constante e igual a
3,50 m. A figura 15 apresenta a planta estrutural do pavimento tipo e a figura 16 mostra a
modulação definida com a identificação dos tipos de módulos conforme o seu
posicionamento.
Para as vedações, divisórias e drywall foram utilizadas nas paredes internas. Nas fachadas, em
paredes externas, foram utilizados o sistema steel framing, no qual perfis leves de aço
estrutural são compostos com revestimentos como placas cimentícias. As vedações possuem
em torno 12 cm de espessura. Foi previsto revestimento de piso em porcelanato e forro de
PVC em todas as lajes.

(a) Com vedações

(b) Estrutural
Figura 13 – Imagem da edificação

14
Figura 14 – Planta do pavimento tipo

15
Figura 15 – Planta estrutural do pavimento tipo

Figura 16 – Identificação dos tipos de módulos conforme posicionamento

As Figuras 17 e 18 mostram, respectivamente, os relatórios de saída do Metal Fácil para o


cálculo das vigas do módulo E e para o cálculo do pilar P1, figura 15. Nesses relatórios estão
descritos os dados de entrada e todas as variáveis calculadas para a determinação do perfil
adequado.

16
UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPIRITO SANTO
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA CIVIL
DEPARTAMENTO DE ARQUITETURA E URBANISMO

RELATÓRIO DE DADOS
Data: 28/05/2014 Usuário: Priscillla

PRÉ-DIMENSIONAMENTO DE ESTRUTURA METÁLICA


Sistema de Pisos com Forma de Laje Incorporada (Stell Deck) e Vigas de Aço
1)CARGAS:
1.1) Tipo de Edificação Corredor de escola e sala de aula
1.2)Sobrecarga Nominal-Sn (Uso da edificação) 3 KN/m²
1.3)Cargas Permanente Nominal - Cpi 0,78 KN/m²
1.3.1) Tipo de Revestimento Porcelanato
1.3.2)Peso Específico (Revestimento) 0,76 KN/m²
1.3.3)Tipo de Forro PVC
1.3.2)Peso Específico (Forro) 0,02 KN/m²
1.4)Carga de vedação (qp) 1,05 KN/m²
1.4.1) Tipo DryWall
1.4.2) Peso Específico 2,5 KN/m²
1.4.3) Altura (Pé direito) 3,5 m
1.4.4) Espessura 0,12 m
1.5) Qdi 5,553 KN/m²
1.6)Qni 3,78 KN/m²
2)DIMENSÕES PROJETADAS:
2.1) Vão da Viga Primária (Lx) 9 m
2.2)Vão da Viga Secundária (Ly) 10 m
2.3) Número de Vigas Secundárias (Nv) 4 vigas
2.4) Vão da Laje Mista (Vl) 3 m 2.4.1) Vão da Laje Mista Aproximada 3m
2.5) Altura Mínima da Laje Mista (Hl) 0,14 m
2.6) Peso da Laje Mista (Pl) 2,52 KN/m²
2.7) CP 3,3 KN/m²
2.8) Qd 8,955 KN/m²
2.9)Qn 6,3 KN/m²
3) VALORES DAS VIGAS SECUNDÁRIAS:
3.1) INTERNA: 3.2) EXTERNA:
3.1.1) Largura de Influência 3,00 3.2.1) Largura de Influência 1,5
3.1.2) qd 26,865 KN/m 3.1.2) qd 13,4325 KN/m
3.1.3)qn 18,9 KN/m 3.1.3)qn 9,45 KN/m
3.1.3)Momento Solicitante 335,81 KN.m 3.2.3)Momento Solicitante 167,90625 KN.m
3.1.4) Reação (Rs) 134,33 KN 3.2.4) Reação (Rs) 67,1625 KN
3.1.6) d necessário 454,5455 mm 3.2.6) d necessário 454,5454545 mm
3.1.7) Família do Perfil 460 3.1.7) Família do Perfil 460
3.1.8)Inércia Necessária 43066,41 cm4 3.2.8) Inércia Necessária 21533,20313 cm4
3.1.9)Z necessário 1070,71 cm3 3.2.9)Z necessário 535,3532609 cm3
3.1.10)Perfil encontrado W 460 x 97,0 3.2.10)Perfil encontrado NÃO SOLICITADO
4) VALORES DA VIGA PRIMÁRIA:
4.1) INTERNA: 4.2) EXTERNA:
4.1.1)Reação (Rp) 268,65 KN 4.2.1)Reação (Rp) 134,33 KN
4.1.2)Momento Solicitante 805,95 KN.m 4.2.2)Momento Solicitante 402,98 KN.m
4.1.3) d necessário 409,0909 mm 4.2.3) d necessário 409,0909091 mm
4.1.4) Família do Perfil 410 4.2.4) Família do Perfil 410
4.1.5)Inércia Necessária 135164,53 cm4 4.2.5)Inércia Necessária 67582,27 cm4
4.1.6)Z necessário 2569,70 cm3 4.2.6)Z necessário 1284,85 cm3
4.1.7)Perfil encontrado W 610 x 174,0 4.2.7)Perfil encontrado W 610 x 101,0
Desenvo lvido po r: P riscilla Izabel do s Santo s Ribeiro /Orientada po r: P ro fª Drª A ldenilcia Fernanda Gro bério e P ro fº Drº A ugusto A lvarenga

Figura 17 – Relatório de saída - Cálculo das vigas do módulo E

17
Figura 18 – Relatório de saída - Cálculo do pilar P1

O exemplo descrito foi devidamente aferido por cálculos manuais desenvolvidos com o auxílio
dos fluxogramas de cálculo.

4 CONCLUSÃO

Nesse trabalho foi desenvolvida uma metodologia para o lançamento de estruturas de


edifícios de múltiplos andares. A metodologia incluiu o pré-dimensionamento de elementos
estruturais como lajes mistas de aço e concreto, vigas e pilares de aço. Posteriormente, essas
metodologias foram implementadas computacionalmente, gerando um programa de cálculo
de fácil utilização, Metal Fácil, direcionado tanto ao meio acadêmico quanto aos profissionais
de arquitetura e engenharia.
A ferramenta computacional foi validada com um exemplo numérico e teve a sua eficiência
comprovada para os fins de pré-dimensionamento a que se destina. Acredita-se que
ferramentas como essa facilitam e otimizam o trabalho dos profissionais da arquitetura
envolvidos com a construção em aço.

18
Agradecimentos

Os autores agradecem à Fundação de Amparo à Pesquisa do Espírito Santo (FAPES) Edital


09/2013 pela concessão de bolsa de iniciação científica.

REFERÊNCIAS

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS – ABNT. NBR 8800. Projeto de estrutura de aço e de
estrutura mista de aço e concreto de edifícios. Rio de Janeiro, 2008.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS- ABNT. NBR 6120. Cargas para cálculo de estruturas de
edificações. Rio de Janeiro, nov/1980.

D’ALAMBERT, F., LIPPI, I. Coletânea do uso do Aço - Tabela de vãos e cargas. 3ª Ed. Gerdau, São Paulo,
2010.

ELLER, P. R., PAULA, G. D., FERREIRA, W.G. Pré-Dimensionamento de Vigas Mistas de Aço e Concreto
para Pontes de Pequeno Porte. Engenharia Estudo e Pesquisa, Vol. 11, Nº 1, pg. 15-25, 2011.

FARURY, R. H. Realidade Brasileira. In: CEAM-UFMG Centro de estudos de estruturas de aço e mistas
aço e concreto da UFMG. Disponível em: https://www.sites.google.com/site/acoufmg/home/realidade-
brasileira. Acesso em 20/05/2013.

GERDAU, Catálogo de Perfis. Disponível em:


https://www.comercialgerdau.com.br/produtos/perfis_acominas.asp. Acesso em 2/09/2013.

MACDONALD, A. J. Structural Design for Architecture. Architectural Press, Oxford, 1998.

MANCINI, L.C. Pré-dimensionamento de Estrutura Metálica em Fase da Concepção Arquitetônica.


Dissertação Mestrado. Universidade Federal de Ouro Preto, 2003.

METFORM, Catálogo Técnico Telha Forma. Disponível em: http://www.metform.com.br/telha-forma-


catalogo-tecnico.php. Acesso em 2/09/2013.

MORAES, P. S. Curso Básico de Lógica de Programação. Centro de Computação, DSC, UNICAMP, São
Paulo, 2000.

SILVA, M. C. B. Estruturas de cobertura, 2010. Departamento de artes e arquitetura, PUC, Goiás.


Disponível:http://professor.ucg.br/siteDocente/admin/arquivosUpload/3095/material/Estruturas%20de
%20Cobertura%20(2010-2).pdf. Acesso em 21/05/2013.

19
Tema: Estruturas de Aço e Mistas de Aço e Concreto

INTERVENÇÃO EM EDIFÍCIOS HISTÓRICOS COM A UTILIZAÇÃO DE ESTRUTURA


METÁLICA: ESTUDO DE CASO ARMAZÉM 09 – RECIFE/PE *

Bianca Mendes Carneiro Viniski¹


José Wanderley Pinto2
Sérgio José Priori Jovino Marques Filho3

Resumo
Apesar da necessidade de intervenções em edificações antigas sempre ter existido, somente
nos últimos anos tem surgido a preocupação com a preservação do patrimônio histórico. O
estudo de caso realizado em edificação histórica localizada no Bairro do Recife, na cidade de
Recife/PE, apresenta as características necessárias para que seja realizada uma intervenção
estrutural ao mesmo tempo em que são mantidas as características históricas do edifício.
Durante o estudo foi realizado o dimensionamento estrutural através de softwares
computacionais e considerando os aspectos históricos da edificação. Também foi levando em
consideração a utilização de estrutura mista para otimização do conjunto estrutural. Este
trabalho tem como função principal expor as diversas vantagens e opções para restauração em
edificações históricas, serão apresentados os conceitos e critérios para recuperação estrutural
em edificações históricas, bem como o detalhamento do dimensionamento das peças no
estudo de caso mencionado, podendo ser feita uma validação entre os softwares utilizados.

Palavras-chave: Recuperação estrutural; Viga mista; Estrutura metálica; Edifícios históricos.

INTERVENTION IN HISTORICAL BUILDINGS USING STEEL STRUCTURES: CASE STUDY


ARMAZÉM 09 – RECIFE/PE

Abstract
Despite the need for interventions in old buildings always have existed, only in recent years
has arisen concern for the preservation of historical heritage. The case study in the historic
building located in Bairro do Recife, in Recife/PE, presents the characteristics necessary for a
structural intervention at the same time that the historic features of the building are kept.
During the study case the structural design was done taking into consideration the historical
aspects of the building and making use of computer software, the use of steel-concrete
composite beam was considered to optimize the structural assembly. This work has as main
objective to expose the many advantages and options for restoration of historical buildings,
the concepts and criteria for structural repair in historic buildings will be presented as well as
the detailed calculus of the parts mentioned in the case study, a validation can be done
between the software used.

________________________________
* Contribuição técnica ao Construmetal 2014 – Congresso Latino-Americano da Construção
Metálica – 02 a 04 de setembro de 2014, São Paulo, SP, Brasil.
1
Keywords: Structural Rehabilitation; Steel-Concrete Composite Beam; Steel Structures;
Historical Buildings.

¹ Estudante de Engenharia de Produção Civil, Instituto Federal de Pernambuco, Recife, Pernambuco,


Brasil.
2
Mestre em Engenharia Civil pela Universidade Federal de Pernambuco, Professo do Instituto Federal de
Pernambuco, Recife, Pernambuco, Brasil
3
Mestre em Engenharia Civil pela Universidade Federal de Pernambuco, Professor da Faculdade Damas
da Instrução Cristã, Recife, Pernambuco, Brasil

2
1 INTRODUÇÃO

Apesar de a necessidade de intervenções em edificações antigas sempre ter existido, somente


nos últimos anos tem surgido a preocupação com a preservação do patrimônio histórico. As
intervenções eram realizadas sem adoção de critérios, gerando incompatibilidade de técnicas
construtivas e estilos, às vezes, danos estruturais irreparáveis.
Segundo JESUS [1] o processo de esvaziamento e deterioração de inúmeras construções
datadas da década de 1930 tem feito com que o volume de recursos disponibilizado pelos
governos federal, estadual e municipal tenha aumentado nos últimos anos, gerando um maior
interesse por parte do setor da construção civil pela área reabilitação de edificações históricas,
que pode ser explicado pela potencialidade econômica que se vislumbra em função do
considerável parque edificado nas áreas centrais urbanas do país.
O objetivo deste trabalho é identificar, por meio da Avaliação Pós-Ocupação, os principais
questionamentos que envolvem edificações de relevante caráter histórico, reabilitadas a partir
da intervenção dos elementos metálicos, utilizando como objeto de análise o Armazém 09,
Recife – Pernambuco, Brasil.
O trabalho parte da revisão de literatura sobre intervenções em aço, buscando compreender
as qualidades físicas do material, técnica construtiva, desenvolvimento no contexto brasileiro e
adequação do material ao projeto de intervenção em edificações antigas. O desenvolvimento
do projeto de restauração do edifício considerado como estudo de caso neste trabalho será
realizado com a ajuda de dois softwares de dimensionamento de estruturas para que seja
possível a comparação entre a eficiência de cada um deles.
Segundo KUHL [2] os primeiros preceitos genéricos ao tema de restauração apareceram na
França no final do século XVII, já que até então a restauração era encaradas como uma ação
voltada ao reestabelecimento do estado original, e ao rejuvenescimento de obras alteradas no
decorrer do tempo. A restauração da Sainte Chapelle, em Paris, foi um fato de grande
relevância, sendo um verdadeiro laboratório experimental.

2 MATERIAIS E MÉTODOS

O primeiro software que será utilizado será o Metálicas3D (licença nº 92427) que, de acordo
com o manual de utilização do programa, é um software para cálculo de estruturas metálicas e
também de estruturas de madeira. Possui uma entrada de dados fácil, onde o usuário pode
desenhar a estrutura e com um prático comando de cotas, informa as dimensões do projeto
ou, também, pode-se importar um desenho feito em qualquer programa CAD (dwg ou dxf) e as
linhas deste desenho são transformadas em barras, sem a necessidade de redesenhar toda a
estrutura. O Software METÁLICAS 3D - Cálculo realiza o dimensionamento de acordo com as
seguintes normas:
• Madeira - NBR 7190
• Chapa Dobrada - NBR 14762
• Laminados e Soldados - NBR 8800
• Ações e Combinações - NBR 8681
• Carregamentos - NBR 6120

3
• Vento - NBR 6123
Através do cálculo automático dos coeficientes de flambagem o software determina
automaticamente, em função dos nós da estrutura, os valores mais apropriados, inclusive para
estruturas complexas, permitindo ao engenheiro adotar o coeficiente que achar mais
adequado.
O segundo software utilizado é o Bridge Advanced 3D V.15 é um programa de análise
tridimensional de estruturas, que permite a utilização de análises lineares e não-lineares
estáticas e dinâmica, efetuada com base EM um modelo de cálculo 3D constituído por
elementos de barra a simular as vigas e pilares e elementos de casca para simular lajes.

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Segundo KUHL [2] As noções relativas à intervenções em obras do passado, surgidas desde o
Renascimento, começaram a se afirmar a partir da segunda metade do século XVIII, para
depois serem conjugadas nos conceitos relativos ao restauro. A restauração começou a
assumir uma conotação cultural, se afastando das ações ditadas por motivos práticos,
passando a se basear em conhecimento histórico e análises formais, com mais rigor e método
nos procedimentos.
A partir do Século XX a abordagem do Patrimônio Histórico, definido até então como conjunto
de edificações, objetos e documentos de valor histórico ou artistico, passou a ser analisado
considerando-se a integração em seu entorno. De acordo com GRAMMONT [3] nesse contexto
o conceito de monumento se estende para algumas cidades e conjuntos urbanos, passando a
ser percebidos com um papel memoral de monumentos.
GIRIBOLA [4] comenta que o PAC Cidades Históricas é uma ação intergovernamental articulada
com a sociedade para preservar o patrimônio brasileiro, valorizar nossa cultura e promover o
desenvolvi mento econômico e social com sustentabilidade e qualidade de vida para os
cidadãos e suas ações serão executadas em três frentes diferentes, sendo uma delas por meio
de licitação e contratação direta da obra pelo IPHAN através de licitações. A segunda frente,
que será a mais comum, será aquela onde o IPHAN apenas supervisionará as obras, cabendo
aos municípios a execução das obras, o projeto será elaborado pela própria prefeitura e
apenas aprovado pelo IPHAN, uma vez que o projeto esteja aprovado as prefeituras poderão
dar início ao processo de licitação e execução da obra.A terceira e última frente de execução
dos projetos será aquela em que se tratam de espaços públicos, onda a CEF será responsável
por fazer as análises posteriores à aprovação do IPHAN.
Ainda segundo GIRIBOLA [4] no estado de pernambuco as cidades de Recife e Olinda já tem
ações em andamento, entre eles o Cine Teatro Duarte Coelho, localizado no bairro do
Varadouro, em Olinda (PE), que já está em desuso desde 1980, que em 2005 já havia passado
por obras de requalidicação mas teve suas obras interrompidas. O projeto de recuperação do
cinema foi desenvolvido pela Prefeitura de Olinda juntamente com a SEPRAC do munício.

4
3.1 Conceitos

Segundo JESUS [1] em diversos países, inclusive no Brasil, os temas que envolvem as áreas
urbanas centrais têm sido discutidos nas últimas décadas em fóruns que enfocam o
desenvolvimento urbano, fazendo com que crescesse consideravelmente o número de
trabalhos acadêmicos sobre as intervenções em edifícios inseridos nas áreas centrais,
tornando necessária a criação de uma base conceitual única permitindo o completo
entendimento sobre o tema.
A partir das considerações de JESUS [1] sentiu-se a necessidade de neste trabalho fazer a
definição dos conceitos mais importantes no âmbito de recuperação de edificações históricas,
sendo eles:
 Gutting: de acordo com CAMPOS, VELLASCO, LIMA, ANDRADE, & SILVA [5] gutting
pode ser definido com sendo o tipo de intervenção através do qual as áreas internas
adquirem novas características através da demolição das estruturas internas da
edificação e sua parcial ou total substituição por um tipo diferente. O arranjo mais
racional dos novos elementos estruturais, necessários devido à modificação de uso da
estrutura, dota a edificação de novos valores estilísticos;
 Retrofit: JESUS [5] define retrofit como sendo “a troca ou substituição de componentes
ou subsistemas específicos de um edifício que se tornaram inadequados ou obsoletos,
seja pelo passar do tempo, ou em função da evolução tecnológica ou de novas
necessidades do usuário”;
 Conservação: Segundo JESUS [1], o termo “conservação” está diretamente ligado com
a preservação da edificação no que se refere à sua importância para a sociedade
quanto aos aspectos culturais e históricos, envolvendo um conjunto de processos de
maior ou menor complexidade técnica;
 Reparação: Segundo o IPHAN [6] entende-se como reparação o conjunto de operações
para corrigir danos incipientes e de pequena repercussão. São exemplos: troca ou
recuperação de ferragens, metais e acessórios das instalações, reposição de elementos
de coberturas, recomposições de pequenas partes de pisos e pavimentações e outras;
 Restauração e Restauro: De acordo com MORAES & QUELHAS [7] a expressão
restauração tem sua utilização quando se trata de intervenções em obras de arte,
correspondendo a um conjunto de ações executado para que seja possível recuperar a
concepção original ou momento áureo da história da edificação restaurada;
 Revitalização: A revitalização, segundo o IPHAN [6], consiste em “conjunto de
operações desenvolvidas em áreas urbanas degradadas ou conjuntos de edificações de
valor histórico de apoio à “reabilitação” das estruturas sociais, econômicas e culturais

5
locais, procurando a consequente melhoria da qualidade geral dessas áreas ou
conjuntos urbanos”.

3.2 O Aço na Construção Civil

De acordo com CHAMBERLAIN, FICANHA, & FABEANE [8] o ferro começou a ser utilizado,
8.000 anos atrás, somente como adorno nas construções ou com fins militares em civilizações
como o Egito, a Babilônia e a Índia, sendo que somente em meados do século XIX, como
consequência da Revolução Industrial, o uso do ferro atingiu a escala industrial. A primeira
grande obra construída em ferro foi a ponte do rio Severn, em Coalbrokdale, na Inglaterra, em
1779 (Figura 1), e a aplicação desse material em edifício teve como marco a construção do
Palácio de Cristal em Londres, em 1851 (Figura 2).

Figura 2 – Estrutura do Palácio de


Figura 1 – Ponte de Coalbrokedale
Cristal de Londres (Fonte: (GARONE,
(Fonte: (Site do Laboratório de Mecânica
MARCATO, PINHEIRO, NASCIMENTO, &
Computacional [9])
SILVA [10])

De acordo com BELLEI, PINHO, & PINHO [11] A utilização da estrutura metálica vem ganhando cada
mais espaço na construção civil brasileira, como consequência desse cenário em 1953 a FEM,
desativada em 1998., iniciou a formação de mão-de-obra especializada, bem como o ciclo completo
de produção das Estruturas Metálicas. No Brasil podem ser encontrados diversos bons exemplos de
construção em Estrutura Metálica como o Edifício Garagem América, construído em 1957, o Edifício
Avenida Central, construído em 1961, o Edifício Escritório Central da CSN, construído em 1966 e o
Edifício Casa do Comércio da Bahia.
A utilização das estruturas de aço na construção civil apresenta inúmeras vantagens em relação ao
sistema convencional de concreto armado, dentre elas estão, principalmente, a elevada resistência
tanto à tração como à compressão do aço e o caráter de produção industrial das peças, fazendo com
que haja uma maior precisão e garantindo a homogeneidade do material.
estrutura metálica apresenta também pontos de desvantagem em relação ao sistema usual de
concreto armado, sendo eles (CHAMBERLAIN, FICANHA, & FABEANE , 2013):
• Possibilidade de um custo mais elevado da obra a depender do planejamento que foi
realizado;

6
• Alta especialização da mão-de-obra;
• Dificuldade de encontrar determinados aços e perfis em algumas regiões do Brasil;
• Tradição cultural por parte da população de determinadas regiões;
• Necessidade de mercado de componentes desenvolvidos (fachada pré-moldada, dry-wall
etc.);
• Viabiliza somente elementos lineares, para lajes ainda é necessária a associação com
concreto.

3.2.1 Principais normas para projetos e obras em estruturas metálicas:

“As normas são o resumo do resultado da experiência acumulada em cada área de conhecimento e
devem estar em contínuo aperfeiçoamento, com base nas últimas pesquisas e testes. O seu emprego
garante ao projetista um projeto seguro e econômico. Podemos empregar normas nacionais e
estrangeiras, devendo-se, entretanto, tomar muito cuidado ao se misturar recomendações de
diferentes normas” BELLEI, PINHO, & PINHO [11].
As principais normas ABNT aplicáveis para a construção com estruturas metálicas são:
• NBR 5884 - Perfil estrutural soldado por arco elétrico;
• NBR 6120 - Cargas para o cálculo de estruturas de edifícios;
• NBR 6123 - Forças devidas aos ventos em edificações;
• NBR 6648 - Chapas grossas de aço carbono para uso estrutural;
• NBR 6650 - Chapas finas à quente de aço carbono para uso estrutural;
• NBR 7007 - Aços-carbono e microligados para uso estrutural geral;
• NBR 8800 - Projeto de estruturas de aço e de estruturas mistas de aço e concreto de
edifícios;
• NBR 14323 - Dimensionamento de estruturas de aço de edifícios em situação ce incêndio;
• NBR 14432 - Exigências de resistência ao fogo de elementos construtivos de edificações;
• NBR 15279 - Perfil estrutural de aço soldado por eletrofusão.

3.3 Etapas para a Recuperação Estrutural

Para que seja possível a intervenção estrutural em uma edificação histórica é necessário que se
obtenha a maior quantidade de informações possíveis sobre o sistema estrutural existente, de forma
que seja possível a estimativa da sua capacidade de carga, bem como é necessário o desenho do
reforço e os detalhes de recuperação.
O processo ideal de recuperação estrutural é único para cada edificação, tendo em vista a
singularidade do sistema estrutural bem como do tipo de material e técnica utilizada durante a
construção original. As etapas básica da avaliação estrutural de uma edificação histórica devem
conter uma avaliação detalhada da degradação sofrida pela construção, de forma a dimensionar os
danos estruturais.
Assim como para uma nova obra em estrutura metálica as obras de intervenção em estruturas de
edificações históricas devem passar por diversas fases, abrangendo desde o levantamento
arquitetônico até a proteção da estrutura contra o fogo.
Durante a execução do levantamento arquitetônico deve-se coletar a maior quantidade de
informações possível sobre a estrutura existente, para que seja possível a execução de um projeto

7
compatível com a edificação já construída. Após o levantamento da arquitetura existente deverá ser
executado um projeto de compatibilização da arquitetura para a nova finalidade da edificação, a
partir do qual será desenvolvido o projeto de estrutura.
O projeto de intervenção na estrutura da edificação será realizado de forma a tornar possível a
funcionalidade do novo projeto de arquitetura, sempre respeitando a estrutura existente da
edificação. A partir do projeto de estrutura, já aprovado pelos órgãos responsáveis, será feito todo o
detalhamento das peças que serão utilizadas na estrutura, indicando todas as ligações que deverão
ser executadas.
Segundo CAVALERA apud BORGES & SÁLES [12] normalmente o processo de recuperação de um
edifício engloba o processo de substituição de componentes ou inserção de outros de modo a
possibilitar o completo funcionamento da estrutura. O projeto de intervenção estrutural em uma
edificação é realizado após análise minuciosa que atente para as seguintes características:
a) Segurança – É possível prever se a ruina da edificação se apresentará em curto ou médio
prazo através da apresentação de sintomas como movimentação e fissuras em alguns elementos
estruturais;
b) Adequação – As atuais exigências da sociedade podem não estar de acordo com as
características estéticas e funcionais existentes da edificação;
c) Conforto – O projeto de intervenção deve conter elementos de proteção e acabamento bem
como instalações que funcionem.
CAVALERA apud BORGES & SÁLES [12] observam ainda que o plano de atuação detalhado só será
possível mediante inspeção preliminar da estrutura, e tal plano deve definir a estrutura ou parte dela
que será estudada e seu estado de conservação. Podem ser definidos os seguintes tipos de atuação:
a) Inspeção visual detalhada, visando o estabelecimento de procedimentos adequados:
• Esquema estrutural: Seções, tipologias dos elementos estruturais, sistemas de apoio.
• Sistemas de união: geometria e disposição e controle dimensional de alguns elementos.
• Possíveis defeitos: Deformações nos elementos estruturais, inspeção de ligações soldadas e
parafusadas, corrosão, deterioração, fissuras, entre outros.
b) Tomada de amostras e ensaios destrutivos: ensaios mecânicos de qualificação do material,
ensaios químicos.
c) Ensaios não destrutivos: ensaios de soldas (radiografias, líquidos penetrantes, ultrassom),
comprovação de perda de espessura, ensaios de carga.
São três as principais características que devem ser asseguradas no que diz respeito ao tipo de
material utilizado nas intervenções em edificações históricas sendo elas:
• Compatibilidade: As alterações das características de rigidez da construção devem ser
minimizadas, de forma que aja compatibilidade mecânico-estrutural entre a estrutura original e
aquela que será introduzida.
• Durabilidade: Os materiais utilizados na recuperação estrutural devem ter longos períodos de
vida, de forma que atenda à necessidade de preservação da estrutura antiga no decorrer do tempo.
• Reversibilidade: É necessário que se mantenha a possibilidade de reversão da intervenção
estrutural sem que sejam provocados danos na estrutura original caso revelem sinais de
incompatibilidade ou cheguem ao fim de sua vida útil.

8
3.4 Estudo de Caso
A edificação objeto deste estudo é o Armazém 09, localizado no Bairro do Recife, na cidade de
Recife/PE. O prédio será revitalizado para que possa assumir características de edifício comercial,
com escritórios e lojas, fazendo parte do conjunto de edifícios revitalizados chamado Porto Novo do
Recife.
O edifício existente, com estrutura original em estrutura metálica, está localizado no entorno da área
tombada pelo IPHAN para o Bairro do Recife, que se encontra inserida no setor de intervenção
controlado pelo Lei Urbanística Municipal. O Armazém 9 é testemunho de valor documental,
memorial e simbólico da arquitetura portuária que resultou da reforma do Bairro do Recife no início
do século XX.
Durante estudo de viabilidade do empreendimento foram constatadas algumas características da
estrutura da edificação existente que se tornaram determinantes quanto ao tipo de recuperação
estrutural a ser executada. Foi observado que o grau de corrosão nas peças estruturais do armazém
estava bastante elevado (Figuras 3 a 5) fazendo com que fosse descartada a possibilidade de
utilização dessas peças com fins estruturas na nova estrutura, no entanto, as peças que formam a
treliça da coberta se encontravam em perfeito estado (Figura 6 e 7) e foram utilizadas na nova
coberta, sendo necessária apenas a troca dos seus apoios (Figura 8 e 9).

Figura 3 – Corrosão nas estrutura existente Figura 4– Corrosão nas estrutura existente
da edificação da edificação

Figura 5– Corrosão nas estrutura existente


da edificação

9
Figura 6 – Estrutura da coberta existente
que será reutilizada

Figura 7 – Apoio existente da treliça da Figura 8 – Apoio existente e novos apoios


coberta da treliça da coberta

Figura 9 – Novos apoios das treliças da


coberta
A partir das informações coletadas em campo, e tomando como base o tipo de utilização que será
destinada a edificação, decidiu-se pela utilização de estrutura metálica com viga mista de laje steel

10
deck para otimização do conjunto estrutural. Com a utilização de viga mista com laje steel deck foi
possível se obter uma estrutura mais leve e que não se distancie, visualmente falando, da estrutura
original. Outro motivo que foi determinante na utilização da estrutura metálica foi a dificuldade de
execução de estruturas em concreto armado dentro do armazém tendo a vista que não seria possível
a desmontagem das treliças das coberta para a execução da nova estrutura.

3.4.1 Parâmetros de projeto para dimensionamento

Considerando que a nova estrutura do Armazém 09 será destinada para uso de fins comerciais,
foram consideradas as seguintes cargas de projeto para dimensionamento da estrutura:
• Peso próprio do revestimento da laje: 0,10tf/m²=0,98KN/m²;
• Peso próprio da alvenaria de vedação: 0,80tf/m=7,84KN/m
• Sobrecarga de Utilização: 0,25tf/m²=2,74KN/m²
• Peso próprio das telhas de fibrocimento: 0,01Kg/m2=0,098KN/m²
• Carga de vento: as cargas de vento sobre a estrutura foram determinadas de acordo com a
norma NBR 6123, considerando uma força global de 50Kg/m²=0,49KN/m²
A partir das cargas de utilização estabelecidas para o dimensionamento da estrutura serão
apresentadas as memórias de cálculo para os três tipos de peças utilizadas: vigas metálicas, vigas
mistas aço-concreto e pilares metálicos. As peças da treliça da coberta foram verificadas quanto ao
enquadramento nas normas vigentes de dimensionamento uma vez que serão utilizadas as peças
originais do armazém.
Como a quantidade de peças da estrutura é bastante elevada, será apresentado o memorial
descritivo de calculo apenas para um elemento, juntamente com um quadro resumo de todas as
peças da estrutura. Para objetivo de validação dos métodos serão apresentados os esforços obtidos
pelo Metálicas 3D e pelo Bridge Advanced 3D V.15, bem como o percentual de utilização de cada
perfil e seus deslocamentos.

Figura 10 – Forma do pavimento tipo

11
Figura 11 - Imagem 3D da estrutura Figura 12 – Momento Y obtido pelo
dimensionada pelo Metálicas 3D dimensionamento no Metálicas 3D

Figura 13 – Momento Z obtido pelo Figura 14 – Força Axial obtida pelo


dimensionamento no Metálicas 3D dimensionamento no Metálicas 3D

Figura 15 – Imagem 3D da estrutura Figura 16 – Momento Y obtido pelo


dimensionada pelo Bridge Advanced 3D dimensionamento no Bridge Advanced 3D
V.15 V.15

12
Figura 17 – Momento Z obtido pelo Figura 18 – Força Axial obtido pelo
dimensionamento no Bridge Advanced 3D dimensionamento no Bridge Advanced 3D
V.15 V.15

METÁLICAS 3D BRIDGE ADVANCED 3D RELAÇÃO (BRIDGE/METÁLICAS 3D)


COMP.
VIGA PERFIL TIPO MOMENTO CORTANTE FLECHA MOMENTO CORTANTE FLECHA
(cm) % UTIL. % UTIL. MOMENTO CORTANTE FLECHA % UTIL
(KNcm) (KN) (mm) (KNcm) (KN) (mm)
VM 1 W 360x51 MET 500 218,54 1,74 0,15 3,75 214,05 1,71 0,21 0,76 98% 98% 71% 20%
VM 2 W 360x51 MET 500 2278,50 18,23 10,44 9,30 2166,18 17,33 2,14 7,68 95% 95% 21% 83%
VM 3 W 360x51 MET 500 16797,20 137,51 10,03 61,59 18124,00 152,44 15,88 64,24 108% 111% 158% 104%
VM 4 W 360x51 MET 500 15845,62 82,96 9,13 58,11 16995,00 90,77 14,66 60,24 107% 109% 161% 104%
VM 5 W 360x51 MET 500 4894,12 39,15 3,28 18,09 5598,51 44,78 5,53 19,85 114% 114% 169% 110%
VM 6 W 360x51 MET 500 4915,68 39,35 3,29 18,09 5562,43 44,97 5,55 19,72 113% 114% 169% 109%
VM 7 W 410x38,8 MET 500 7719,46 31,56 5,76 34,88 8048,00 33,97 5,90 34,87 104% 108% 102% 100%
VM7A W 410x38,9 MET 500 7747,88 31,65 5,77 35,01 8099,00 33,25 5,93 35,10 105% 105% 103% 100%
VM 8 W 360x39 MET 297 60,76 0,81 0,00 0,30 58,55 0,79 0,00 0,28 96% 97% 0% 94%
VM 9 W 360x39 MET 445 9270,80 47,07 5,52 46,33 10379,58 41,73 9,29 49,56 112% 89% 168% 107%
VM 10 W 360x79 MET 225 85,26 1,36 0,00 0,24 80,01 1,33 0,00 0,18 94% 98% 0% 74%
VM 11 W 360x79 MET 500 22244,04 90,34 7,63 51,13 23105,66 93,70 11,79 51,27 104% 104% 154% 100%
VM 12 W 360x79 MET 435 7065,80 35,87 4,20 35,18 8520,00 28,77 7,08 18,90 121% 80% 169% 54%
VM 13 W 360x79 MET 297 60,76 0,81 0,00 0,30 58,55 0,79 0,00 0,13 96% 97% 0% 44%
VM 14 W 360x51 MET 500 14347,20 129,94 7,12 52,06 14693,00 140,29 13,85 52,08 102% 108% 194% 100%
VM 15 W 360x51 MET 130 21,56 0,55 1,48 0,77 20,31 0,53 0,03 0,07 94% 97% 2% 9%
VM 32 W 250x17,9 MET 237 19,60 0,31 0,00 0,31 17,82 0,30 0,00 0,27 91% 96% 0% 87%
MÉDIA 103% 101% 97% 82%

Tabela 1 – Esforços Solicitantes de Cálculos Nas Vigas Metálicas

13
METÁLICAS 3D BRIDGE ADVANCED 3D RELAÇÃO (BRIDGE/METÁLICAS 3D)
COMP.
VIGA PERFIL TIPO MOMENTO CORTANTE FLECHA MOMENTO CORTANTE FLECHA
(cm) % UTIL. % UTIL. MOMENTO CORTANTE FLECHA % UTIL
(KNcm) (KN) (mm) (KNcm) (KN) (mm)
VM 16 W 360x51 VM 805 20348,72 100,70 19,1 51,23 20542,00 109,91 21,0 59,84 101% 109% 110% 117%
VM 17 W 360x51 VM 805 18053,56 89,71 17,0 45,48 17720,00 88,36 18,3 51,62 98% 98% 108% 114%
VM 18 W 360x39 VM 593 9486,40 62,38 5,0 23,80 10462,95 69,07 5,8 37,86 110% 111% 116% 159%
VM 19 W 360x39 VM 790 16610,02 82,54 14,7 41,60 18296,61 91,23 17,1 66,22 110% 111% 117% 159%
VM 20 W 360x39 VM 593 10071,46 66,22 4,5 25,26 10462,95 69,07 5,8 37,86 104% 104% 129% 150%
VM 21 W 360x39 VM 390 7491,12 49,49 1,2 18,79 6400,00 34,96 0,6 23,16 85% 71% 49% 123%
VM 22 W 360x39 VM 567 9245,32 63,45 4,6 23,19 9762,49 66,52 4,9 35,33 106% 105% 106% 152%
VM 23 W 360x39 VM 593 10655,54 70,05 5,6 26,72 10462,95 69,07 5,8 37,86 98% 99% 103% 142%
VM 24 W 360x39 VM 390 1757,14 16,13 0,1 4,04 2203,00 20,90 0,9 7,97 125% 130% 733% 197%
VM 25 W 360x39 VM 567 9780,40 67,12 4,7 24,53 9762,49 66,52 5,0 35,33 100% 99% 105% 144%
VM 26 W 360x39 VM 805 17632,16 87,61 15,6 44,22 18296,61 90,95 16,9 66,21 104% 104% 109% 150%
VM 27 W 360x39 VM 805 20691,72 96,04 18,3 51,90 22700,00 158,70 21,1 82,15 110% 165% 115% 158%
VM 28 W 360x39 VM 535 8380,96 60,41 4,6 21,03 8727,00 62,90 4,0 31,58 104% 104% 88% 150%
VM 29 W 360x39 VM 805 24037,44 104,56 21,0 60,29 24294,87 62,90 22,0 87,92 101% 60% 105% 146%
VM 31 W 360x39 VM 535 8380,96 64,82 4,6 21,03 8727,00 62,90 4,0 31,58 104% 97% 88% 150%
VM 33 W 360x39 VM 805 20720,14 96,19 18,3 51,97 22727,00 158,83 21,2 82,25 110% 165% 116% 158%
MÉDIA 104% 108% 143% 148%

Tabela 2 – Esforços Solicitantes de Cálculos Nas Vigas Mistas Aço-Concreto

14
BRIDGE ADVANCED RELAÇÃO
COMP. TOTAL METÁLICAS 3D
PILAR PERFIL 3D (BRIDGE/METÁLICAS 3D)
(cm)
AXIAL (KN) % UTIL. AXIAL (KN) % UTIL. AXIAL % UTIL.
PM24 W 200x35,9 6,04 403,50 44,20 433,85 46,85 108% 106%
PM25 W 200x35,9 6,04 469,61 51,44 490,10 52,92 104% 103%
PM26 A PM31 W 200x35,9 6,04 490,11 53,68 515,38 55,65 105% 104%
PM32 W 200x35,9 6,04 419,36 45,94 469,42 50,68 112% 110%
PM33 W 200x35,9 6,04 348,99 38,24 350,37 37,83 100% 99%
PM34 W 200x35,9 6,04 420,03 46,01 470,40 50,79 112% 110%
PM35 A PM39 W 200x35,9 6,04 490,11 53,68 515,38 55,65 105% 104%
PM40 W 200x35,9 6,04 431,52 47,27 490,11 52,92 114% 112%
PM41 W 200x35,9 6,04 403,50 44,20 433,16 46,77 107% 106%
PM49 A PM54 E
W 200x53 6,04 716,24 49,54 743,47 46,80 104% 94%
PM 58 A PM61
PM55 W 200x53 6,04 703,74 48,68 735,10 46,32 104% 95%
PM56 W 200x53 6,04 691,30 47,82 713,93 44,98 103% 94%
PM57 W 200x53 6,04 703,86 48,69 735,20 46,32 104% 95%
PM62 W 200x53 6,04 703,54 48,66 742,84 46,80 106% 96%
PM63 W 200x53 6,04 500,20 34,60 558,31 35,18 112% 102%
PM70 W 200x35,9 6,04 384,75 42,87 411,70 44,38 107% 104%
PM71 W 200x35,9 6,04 472,55 51,76 492,06 53,13 104% 103%
PM72 A PM85 W 200x35,9 6,04 490,11 53,68 514,30 55,53 105% 103%
PM86 W 200x35,9 6,04 472,55 51,76 492,16 53,14 104% 103%
PM87 W 200x35,9 6,04 391,27 42,86 411,80 44,62 105% 104%
MÉDIA 106% 102%

Tabela 3 – Esforços Solicitantes de Cálculos nos Pilares sob compressão simples

15
BRIDGE ADVANCED 3D RELAÇÃO
METÁLICAS 3D (BRIDGE/METÁLICAS 3D)
PILAR PERFIL COMP. ELU VENTO X ELU VENTO Y %
AXIAL My Mz % AXIAL My Mz My Mz %
(KN) UTIL. AXIAL My Mz
(KN) (KN.Đm) (KN.Đm) UTIL. (KN.Đm) (KN.Đm) (KN.Đm) (KN.Đm) UTIL.
PM1 HP 310x110 8,66 52,31 5583,06 4633,44 23,77 40,08 1362,20 5262,60 6017,20 1577,80 35,83 77% 108% 114% 151%
PM2 W 360x72 8,66 49,38 6388,62 735,00 20,55 54,88 1342,60 813,40 6713,00 39,20 37,39 111% 105% 111% 182%
PM3 W 360x72 8,66 49,56 8194,76 684,04 25,97 54,88 2920,40 813,40 8036,00 39,20 37,39 111% 98% 119% 144%
PM4 W 360x72 8,66 85,81 8718,08 673,26 26,92 54,88 2930,20 813,40 8134,00 29,40 42,75 64% 93% 121% 159%
PM5 W 360x72 8,66 77,36 8838,62 670,32 27,26 54,88 1773,80 813,40 8183,00 29,40 42,93 71% 93% 121% 157%
PM6 W 360x72 8,66 79,18 8881,74 665,42 27,26 54,88 1773,80 803,60 8183,00 19,60 42,83 69% 92% 121% 157%
PM7 W 360x72 8,66 79,34 8894,48 848,68 28,17 54,88 1773,80 803,60 8183,00 19,60 42,83 69% 92% 95% 152%
PM8 W 360x72 8,66 80,29 8898,40 658,56 27,06 54,88 1773,80 803,60 8143,80 9,80 42,68 68% 92% 122% 158%
PM9 W 360x72 8,66 78,01 8899,38 656,60 27,05 54,88 1773,80 803,60 8192,80 9,80 42,87 70% 92% 122% 158%
PM10 W 360x72 8,66 79,20 8900,36 651,70 26,97 54,88 1773,80 803,60 8192,80 0,00 42,87 69% 92% 123% 159%
PM11 W 360x72 8,66 79,20 8900,36 648,76 27,04 54,88 1254,40 793,80 8183,00 0,00 42,76 69% 92% 122% 158%
PM12 W 360x72 8,66 79,20 8899,38 644,84 27,12 54,88 1254,40 793,80 8183,00 0,00 42,76 69% 92% 123% 158%
PM13 W 360x72 8,66 79,19 8899,38 641,90 27,20 54,88 1254,40 793,80 8183,00 0,00 42,76 69% 92% 124% 157%
PM14 W 360x72 8,66 79,19 8898,40 638,96 27,28 54,88 1254,40 793,80 8183,00 9,80 42,76 69% 92% 124% 157%
PM15 W 360x72 8,66 79,19 8896,44 637,00 27,36 54,88 1254,40 793,80 8183,00 9,80 42,76 69% 92% 125% 156%
PM16 W 360x72 8,66 79,19 8887,62 635,04 27,42 54,88 1254,40 784,00 8183,00 19,60 42,56 69% 92% 123% 155%
PM17 W 360x72 8,66 79,19 8859,20 633,08 27,43 54,88 1254,40 784,00 8183,00 19,60 42,46 69% 92% 124% 155%
PM18 W 360x72 8,66 79,24 8764,14 631,12 27,26 54,88 1254,40 784,00 8183,00 29,40 42,59 69% 93% 124% 156%
PM19 W 360x72 8,66 79,18 8467,20 627,20 26,53 54,88 1254,40 784,00 8173,20 29,40 42,59 69% 97% 125% 161%
PM20 W 360x72 8,66 77,46 7414,68 820,26 23,52 54,88 1244,60 774,20 8036,00 39,20 41,97 71% 108% 94% 178%
PM21 W 360x72 8,66 68,12 4836,30 610,54 15,65 47,04 686,00 774,20 6713,00 39,20 36,39 69% 139% 127% 233%
PM22 HP 310x110 8,66 52,33 4996,04 2919,42 22,90 44,49 735,00 3733,80 8339,80 1577,80 34,40 85% 167% 128% 150%
PM23 W 200x35,9 6,04 346,50 910,42 0,00 42,39 353,78 0,00 0,00 1078,00 0,00 32,39 102% 118% 0 76%
PM42 W 200x35,9 6,04 343,91 769,30 0,00 42,13 353,68 0,00 0,00 1078,00 0,00 32,39 103% 140% 0 77%
PM43 W 200x53,0 6,04 231,99 0,00 0,00 16,34 220,89 0,00 970,20 78,40 970,20 20,70 95% 0 0 127%
PM44 W 200x53,0 6,04 172,61 0,00 0,00 12,15 180,22 0,00 156,80 29,40 156,80 7,98 104% 0 0 66%
PM45 W 200x53,0 6,04 172,61 0,00 0,00 12,15 180,22 0,00 254,80 29,40 166,60 9,30 104% 0 0 77%
PM46 W 200x53,0 6,04 231,98 0,00 0,00 16,33 235,79 0,00 1019,20 78,40 1019,20 21,90 102% 0 0 134%
PM47 W 200x53,0 6,04 461,02 1328,88 0,00 36,71 483,83 0,00 137,20 1528,80 68,60 27,40 105% 115% 0 75%
PM64 W 200x53,0 6,04 461,02 1203,44 0,00 36,02 483,92 0,00 58,80 1528,80 68,60 26,21 105% 127% 0 73%
PM65 W 200x53,0 6,04 304,48 0,00 0,00 21,44 317,62 0,00 989,80 78,40 989,80 17,44 104% 0 0 81%
PM66 W 200x53,0 6,04 178,64 0,00 0,00 12,58 185,51 0,00 176,40 29,40 176,40 7,35 104% 0 0 58%
PM67 W 200x53,0 6,04 178,64 0,00 0,00 12,58 185,51 0,00 156,80 29,40 176,40 7,35 104% 0 0 58%
PM68 W 200x53,0 6,04 304,48 0,00 0,00 21,43 332,71 0,00 931,00 78,40 931,00 17,55 109% 0 0 82%
PM69 W 200x35,9 6,04 338,00 910,42 0,00 41,42 351,62 0,00 0,00 1078,00 0,00 32,26 104% 118% 0 78%
PM88 W 200x35,9 6,04 320,21 669,34 0,00 36,27 351,53 0,00 0,00 1078,00 0,00 32,26 110% 161% 0 89%
PM89 HP 310x110 8,66 52,31 5583,06 4634,42 23,77 40,08 1362,20 5262,60 4478,60 2851,80 62,57 77% 80% 114% 263%
PM90 W 360x72 8,66 49,38 6388,62 735,00 20,55 54,88 1342,60 813,40 6017,20 78,40 34,76 111% 94% 111% 169%
PM91 W 360x72 8,66 49,56 8194,76 675,22 25,97 54,88 2920,40 813,40 8731,80 68,60 45,00 111% 107% 120% 173%
PM92 W 360x72 8,66 85,81 8718,08 672,28 26,92 54,88 2930,20 813,40 8829,80 58,80 45,37 64% 101% 121% 169%
PM93 W 360x72 8,66 77,36 8838,62 669,34 27,24 54,88 1773,80 813,40 8878,80 49,00 45,55 71% 100% 122% 167%
PM94 W 360x72 8,66 79,18 8881,74 665,42 27,26 54,88 1773,80 803,60 8878,80 39,20 45,45 69% 100% 121% 167%
PM95 W 360x72 8,66 79,34 8894,48 848,68 28,17 54,88 1773,80 803,60 8878,80 39,20 45,45 69% 100% 95% 161%
PM96 W 360x72 8,66 80,29 8898,40 658,56 27,06 54,88 1773,80 803,60 8839,60 29,40 45,30 68% 99% 122% 167%
PM97 W 360x72 8,66 78,01 8899,38 655,62 27,05 54,88 1773,80 803,60 8878,80 19,60 45,45 70% 100% 123% 168%
PM98 W 360x72 8,66 79,20 8900,36 651,70 26,97 54,88 1773,80 803,60 8878,80 9,80 45,45 69% 100% 123% 169%
PM99 W 360x72 8,66 79,20 8900,36 647,78 27,04 54,88 1254,40 793,80 8878,80 0,00 45,35 69% 100% 123% 168%
PM100 W 360x72 8,66 79,20 8899,38 644,84 27,12 54,88 1254,40 793,80 8878,80 0,00 45,35 69% 100% 123% 167%

Tabela 4 – Esforços Solicitantes de Cálculos nos Pilares sob flexocompressão

16
PM101 W 360x72 8,66 79,19 8899,38 651,70 27,20 54,88 1254,40 793,80 8878,80 9,80 45,35 69% 100% 122% 167%
PM102 W 360x72 8,66 79,19 8898,40 638,96 27,28 54,88 1254,40 793,80 8878,80 19,60 45,35 69% 100% 124% 166%
PM103 W 360x72 8,66 79,19 8896,44 637,00 27,36 54,88 1254,40 793,80 8878,80 29,40 45,35 69% 100% 125% 166%
PM104 W 360x72 8,66 79,19 8887,62 635,04 27,42 54,88 1254,40 784,00 8878,80 39,20 45,25 69% 100% 123% 165%
PM105 W 360x72 8,66 79,19 8859,20 636,02 27,43 54,88 1254,40 784,00 8878,80 39,20 45,25 69% 100% 123% 165%
PM106 W 360x72 8,66 79,24 8764,14 628,18 27,26 54,88 1254,40 784,00 8878,80 49,00 45,25 69% 101% 125% 166%
PM107 W 360x72 8,66 79,18 8467,20 628,18 26,53 54,88 1254,40 784,00 8829,80 58,80 45,06 69% 104% 125% 170%
PM108 W 360x72 8,66 77,46 7414,68 624,26 23,52 54,88 1244,60 774,20 8731,80 68,60 44,59 71% 118% 124% 190%
PM109 W 360x72 8,66 68,12 4836,30 615,44 15,65 47,04 686,00 774,20 7144,20 78,40 38,01 69% 148% 126% 243%
PM110HP 310x110 8,66 52,33 4996,04 2919,42 22,90 44,49 735,00 3733,80 4478,60 2851,80 25,61 85% 90% 128% 112%
MÉDIA 81% 90% 91% 147%

Tabela 5– Continuação dos Esforços Solicitantes de Cálculos nos Pilares sob


flexocompressão

4 CONCLUSÃO

Como foi dito no início do trabalho a recuperação estrutural em edificações históricas é um


setor em crescimento no Brasil gerando a necessidade de definições de conceitos que possam
ser generalizados, bem como o desenvolvimento de trabalhos que aprofundem o estudo
existente sobre o tema.
O método de intervenção em edificações históricas com estrutura metálica é uma solução que
satisfaz as necessidades do armazém estudado, readequando sua estrutura para reutilização
sem grandes modificações na estética do projeto original.
Através da análise dos resultados obtidos pode-se constatar que os softwares utilizados para o
dimensionamento e verificação da estrutura fornecem resultados similares e garantem que o
dimensionamento automático da estrutura executado através do Metálicas 3D cumpre os
requisitos solicitados pelas normas em vigor durante o desenvolvimento deste estudo se
tornando uma ferramenta de trabalho bastante eficaz.

Agradecimentos

À Prima Engenharia de Projetos pela disponibilização dos softwares utilizados nos


dimensionamentos e verificações da estrutura e ao Consórcio Porto novo do Recife por
possibilitar a realização deste estudo de caso bem como visitas ao canteiro de obra para que
fossem obtidas as fotos expostas.

REFERÊNCIAS
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edíficios para habitação. - São Paulo : [s.n.], 2008. - p. 178.

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http://www.lmc.ep.usp.br/people/hlinde/estruturas/images/Historia%20-
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MArco do Design e da Arquitetura [Periódico] // Design, Arte e Tecnologia. - 2008. - p. 15.
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históricas utilizando perfis formados a frio [Periódico] // Cadernos de Engenharia de
Estruturas. - 2007. - pp. 45-62.

18
Tema: Estruturas de Aço e Mistas de Aço e Concreto

MODELO NUMÉRICO PARA AVALIAÇÃO DO COMPORTAMENTO DE VIGAS


ALVEOLARES MISTAS DE AÇO E CONCRETO*

André Barbosa Gonçalves¹; Giuliana de Angelo Ferrari²; Washington Batista Vieira3;


José Luiz Rangel Paes4; Gustavo de Souza Veríssimo5; José Carlos Lopes Ribeiro5

Resumo
Neste trabalho apresenta-se um modelo numérico de elementos finitos para simulação do
comportamento estrutural de vigas alveolares mistas de aço e concreto susceptíveis ao
colapso por flambagem do montante de alma por cisalhamento. Foram modeladas duas vigas
celulares mistas pertencentes a um programa experimental. Os resultados obtidos por meio
do modelo numérico proposto apresentam excelente concordância com resultados
experimentais disponíveis na literatura. O modelo numérico desenvolvido é adequado para a
simulação do comportamento estrutural de vigas alveolares mistas, visto que este foi capaz de
representar a interação total entre aço e concreto, caracterizar a carga máxima dos modelos
experimentais e caracterizar modos de colapso existentes na literatura.

Palavras-chave: Vigas alveolares mistas; Vigas casteladas; Simulação numérica; Método dos
elementos finitos.

NUMERICAL MODEL TO EVALUATE THE BEHAVIOR OF COMPOSITE CELLULAR BEAMS

Abstract
This paper presents a finite element numerical model to simulate the structural behavior of
composite cellular beams susceptible to failure by web post shear buckling. Two composite
cellular beams of an experimental program were modeled. The results obtained by the
proposed numerical model show excellent agreement with experimental results available in
the literature. The proposed numerical model is appropriate for simulation of structural
behavior of composite cellular beams, since it was able to describe the interaction between
steel and concrete, determine the ultimate capacity of experimental models and simulate the
possible failure modes.

Keywords: Composite cellular beams; Castellated beams; Numerical simulations; Finite


element method.

¹ Engenheiro Civil, Estudante de Mestrado em Engenharia Civil, UFV*


² Mestre em Engenharia Civil, UFV*
3
Mestre em Engenharia Civil, UFV*
4
Doutor em Engenharia da Construção, Professor Associado do DEC/UFV*
5
Doutor em Engenharia da Estruturas, Professor Adjunto do DEC/UFV*
(*) Depto de Engenharia Civil, Universidade Federal de Viçosa, 36570-000, Viçosa, Minas Gerais, Brasil.

________________________________
* Contribuição técnica ao Construmetal 2014 – Congresso Latino-Americano da Construção
Metálica – 02 a 04 de setembro de 2014, São Paulo, SP, Brasil.
1
1 INTRODUÇÃO

As vigas alveolares geralmente são obtidas a partir de perfis I de aço laminados cortados ao
meio, no sentido longitudinal, segundo um traçado simétrico, de modo que as duas metades
obtidas podem ser reposicionadas e soldadas de modo a formar uma viga com uma sequência
de aberturas, com altura e inércia superiores à do perfil original (Figura 1).

Figura 1 - Fabricação de uma viga castelada: corte com máquinas de Comando Numérico
Computadorizado (CNC) e soldagem (Gemperle [1]).

Originalmente o corte era artesanal e utilizava-se um traçado que originava alvéolos


hexagonais. Essas vigas usualmente são chamadas de vigas casteladas pelo fato de a seção
cortada lembrar o formato das muralhas dos castelos. Atualmente, com as facilidades de
automação computadorizada, podem-se fazer outros padrões de corte, produzindo-se vigas
alveolares com diversas tipologias, dentre as quais se destacam as vigas celulares que possuem
alvéolos circulares (Figura 2).

Figura 2 - Fabricação de viga celular: corte com máquinas CNC e soldagem


(fonte: www.asdwestok.co.uk – acessado em 30/04/2012).

O esquema de fabricação das vigas casteladas é mostrado na Figura 3-a. Eventualmente pode-
se aumentar ainda mais a altura da viga introduzindo-se chapas intermediárias, como
mostrado na Figura 3-b, obtendo-se uma viga com aberturas octogonais.

2
Figura 3 - Esquema do procedimento utilizado na fabricação de vigas casteladas:
(a) sem chapa intermediária e (b) com chapa intermediária
(fonte: www.grunbauer.nl/eng/wat.htm - acessado em 28/07/2013).

A presença das aberturas na alma das vigas alveolares modifica seu comportamento estrutural
em relação às vigas de alma cheia. Essa mudança de comportamento está relacionada ao
aumento da esbeltez da alma da viga, a fenômenos de instabilidade devido à borda livre dos
alvéolos e a perturbações na distribuição de tensões devido à variação da inércia da seção ao
longo do vão, bem como mudanças abruptas de geometria. Todos esses aspectos têm
influência no comportamento estrutural das vigas alveolares, de modo que elas podem exibir
modos de colapso distintos daqueles apresentados pelas vigas de alma cheia.
Embora tenham sido realizados diversos estudos no passado sobre vigas alveolares, avanços
tecnológicos recentes têm possibilitado o desenvolvimento de aços mais resistentes e perfis
com chapas mais finas. Eventualmente, uma combinação dessas duas características pode
ocasionar a manifestação de modos de colapso que não ocorriam com os perfis mais antigos e,
portanto, não são contemplados nos estudos feitos no passado. Além disso, a fabricação de
perfis laminados no Brasil teve início recentemente, em 2002, e alguns desses perfis possuem
esbeltez de alma superior à dos perfis típicos da época em que as vigas alveolares foram
inicialmente utilizadas.
Recentemente, tem-se observado uma busca crescente por critérios e procedimentos de
projeto aplicáveis às vigas alveolares no Brasil. Em função dessa necessidade, e da
inadequação dos modelos mais antigos disponíveis na literatura, um grupo de pesquisadores
do Departamento de Engenharia Civil da Universidade Federal de Viçosa (DEC-UFV) e do
Departamento de Engenharia de Estruturas da Universidade Federal de Minas Gerais (DEES-
UFMG) tem empreendido uma ampla investigação sobre o tema, envolvendo estudos teóricos,
numéricos e experimentais (ABREU [2]; BEZERRA [3]; SILVEIRA [4]; VIEIRA [5]; OLIVEIRA [6];
FERRARI [7]; VIEIRA [8]). A presente contribuição técnica é um produto dessas investigações.
Discussões detalhadas sobre os modos de colapso que podem ocorrer nas vigas alveolares
podem ser encontradas nos trabalhos citados.

3
A maioria dos modelos de cálculo disponíveis na literatura são conservadores, em função da
abordagem adotada à época de seu desenvolvimento, notadamente hipóteses de distribuição
elástica de tensões no contexto do Método das Tensões Admissíveis. Com as ferramentas de
análise numéricas e modelos matemáticos sofisticados disponíveis atualmente é possível
realizar novos estudos, obtendo-se soluções mais realistas que propiciam um melhor
aproveitamento do aço, contribuindo para a evolução da solução tanto no tocante à
competitividade como à sustentabilidade.
O objetivo deste trabalho foi desenvolver modelos de elementos finitos para simulação de
vigas alveolares mistas de aço e concreto, que constituem ferramentas poderosas para o
estudo do comportamento estrutural desses elementos.

2 METODOLOGIA
Para desenvolvimento do modelo numérico para simulação do comportamento estrutural de
vigas alveolares mistas de aço e concreto, utilizou-se o programa computacional ABAQUS [9],
um software para simulação de problemas de engenharia baseado no Método dos Elementos
Finitos, amplamente utilizado em diferentes áreas da engenharia.

2.1 Discretização do Modelo


Inicialmente foi elaborado um modelo geométrico tridimensional no ABAQUS, contendo todos
os componentes típicos de uma viga mista de aço e concreto, quais sejam: o perfil de aço, a
laje de concreto e os conectores de cisalhamento (Figura 4).

Figura 4 – Aspecto do modelo geométrico tridimensional para uma viga alveolar mista.

Para a discretização do modelo foram utilizados dois tipos de elementos disponíveis na


biblioteca do ABAQUS/Standard. Para a laje de concreto, foram utilizados elementos tipo
sólido C3D8R, que são elementos lineares de oito nós com três graus de liberdade por nó e
integração reduzida (não há necessidade de representar o steel-deck no modelo). Para
representar o perfil de aço foram utilizados elementos de casca fina (SHELL), que representam
a superfície média das chapas de aço. A malha da viga foi gerada utilizando-se elementos S4R
(elementos de casca fina de quatro nós, com seis graus de liberdade por nó e integração
reduzida) e elementos S3R (elementos de casca fina lineares de três nós com seis graus de
liberdade por nó) de modo a possibilitar a modelagem das bordas curvas dos alvéolos.

4
Na Figura 5 estão apresentados os elementos C3D8R, S4R e S3 da biblioteca do
ABAQUS/Standard, utilizados para construção do modelo de elementos finitos.

Figura 5 - Elementos finitos utilizados no modelo numérico: (a) elemento C3D8R;


(b) elemento S4R; (c) elemento S3 (Simulia, 2009).

No sistema de coordenadas adotado para todos os modelos, o eixo z é o eixo longitudinal da


viga, y é o eixo vertical, ou seja, o eixo ortogonal a z contido no plano da alma do perfil de aço,
e x é o eixo ortogonal à alma do perfil.
Para a laje de concreto foi gerada uma malha estruturada de elementos finitos com dimensão
média de 50 mm, conforme mostrado na Figura 6.

Figura 6 - Aspecto geral da malha de elementos finitos da laje de concreto.

Para a viga alveolar de aço foi gerada uma malha livre, como a mostrada na Figura 7.

5
Figura 7 - Aspecto geral da malha de elementos finitos da viga alveolar de aço.

A malha da viga foi gerada utilizando-se uma técnica denominada quad-dominated, em que
são utilizados predominantemente elementos S4R mas em algumas regiões são incorporados
elementos S3R (Figura 8). Essa técnica facilitou a modelagem dos alvéolos circulares inseridos
nos painéis retangulares do perfil.

Figura 8 - Detalhe da malha de elementos finitos com destaque para a presença de


alguns elementos S3, incorporados automaticamente pelo gerador
de malha do ABAQUS para atender à geometria do modelo.

Embora uma malha livre possa ocasionar problemas numéricos em determinados casos, o que
pode ser contornado usando-se uma malha estruturada, um estudo de sensibilidade de malha
revelou que, para o caso de uma viga alveolar de aço, uma malha livre com elementos de
aproximadamente 10 mm fornece resultados tão bons quanto uma malha estruturada de
resolução similar. Como a malha estruturada exigiria um trabalho maior de modelagem, sem
nenhuma vantagem adicional, adotou-se a malha livre.

6
2.2 Modelos constitutivos dos materiais
Para o aço, adotou-se um modelo material com comportamento elastoplástico sem
encruamento, associado ao critério de escoamento de von Mises.
Para representar o comportamento mecânico do concreto foi utilizado o Modelo de Dano com
Plasticidade, implementado no ABAQUS[9]. Esse modelo constitutivo permite caracterizar a
relação tensão × deformação do concreto, especialmente a perda de rigidez a partir do ponto
de sua resistência máxima, como observado em ensaios.
O módulo de elasticidade do concreto pode ser descrito pela seguinte equação, de acordo com
a EN 1992-1-1:2004 [10]:
0,3
f 
Ecm  22  cm  (1)
 10 
em que fcm é o valor médio da resistência à compressão cilíndrica do concreto, em MPa, e Ecm é
dado em GPa. O coeficiente de Poisson do concreto foi admitido com valor igual a 0,2.
Os principais parâmetros plásticos a serem informados para o Modelo de Dano com
Plasticidade são o ângulo de dilatância (ψ) e a razão entre as resistências à compressão no
estado biaxial e uniaxial (σb0/ σc0).
Segundo Malm [11], o ângulo de dilatância mede a inclinação que o potencial plástico alcança
para altas tensões de confinamento e baixos valores do ângulo de dilatância produzem um
comportamento frágil no concreto, enquanto altos valores produzem um comportamento
dúctil. De acordo com o autor, o valor ideal está entre 35 e 38. Neste trabalho admitiu-se um
ângulo de dilatância ψ = 36.
Para a razão entre as resistências à compressão no estado biaxial e uniaxial foi admitido o
valor (σb0/σc0) = 1,16. Os outros parâmetros foram admitidos iguais a zero.
Na Figura 9 são mostradas as curvas representativas do comportamento do concreto à
compressão (Figura 9a) e à tração (Figura 9b).

Tensão

Deslocamento

(a) (b)

Figura 9 - (a) curva admitida para o concreto comprimido [EN 1992-1-1:2004];


(b) curva tensão×deslocamento pós-pico admitida para o concreto tracionado.

7
Para o concreto comprimido admite-se comportamento elástico linear até cerca de 40% da
resistência média à compressão do concreto (0,4fcm), de acordo com a EN 1992-1-1:2004 [10].
Para tensões acima desse valor o comportamento à compressão é representado por uma
parábola de 2º grau que evolui da tensão de 0,4fcm até alcançar a deformação última do
concreto (εcu1), dada pela EN 1992-1-1:2004 [10] como:
 kn  n²
 (2)
f cm 1  k  2 n
c  c1
em que: n  ; k  1,05 Ecm ;
 c1 f cm
 c é a deformação do concreto à compressão;
 c1 é a deformação do concreto à compressão para a tensão máxima (fcm);
Ecm é o módulo de elasticidade secante do concreto.

O efeito tension stiffening na fase pós-pico da curva pode ser especificado por meio de uma
relação tensão×deformação pós-falha ou por aplicação de um critério de energia de fratura.
De acordo com a documentação do ABAQUS [9], em casos com pouca ou nenhuma armadura
a abordagem através da relação tensão×deformação muitas vezes provoca resultados
sensíveis à malha. Por isso preferiu-se utilizar o critério de energia de fratura neste trabalho.
Com essa abordagem o comportamento frágil do concreto foi caracterizado por uma resposta
tensão×deslocamento, como pode ser visto na Figura 9b, ao invés de uma resposta
tensão × deformação. O deslocamento é determinado por abertura de fissura, o que não
depende do comprimento do elemento nem do tamanho da malha. Neste trabalho admitiu-se
para esse deslocamento máximo um valor de 0,50 mm. Os demais pontos foram tomados de
forma a manter a natureza da curva tensão×deslocamento (Figura 9b). Os pares estão
mostrados na Tabela 1, em que fctm é a resistência média à tração do concreto.

Tabela 1 – Dados para definição do tension stiffening.

σt (MPa) u (mm)
fctm 0,00
0,60 fctm 0,05
0,30 fctm 0,15
0,05 fctm 0,50

Os valores de resistência média à tração (fctm) foram tomados de acordo com a


EN 1992-1-1:2004 [10], pela seguinte equação:
( 2 / 3)
f ctm  0,30 f ck (3)
f cm  f ck  8 (MPa)
(4)
com fctm e fck dados em MPa (fck é resistência característica à compressão cilíndrica do
concreto aos 28 dias).

8
2.3 Interação entre Aço e Concreto
Uma das características mais importantes de um modelo numérico de viga mista é a simulação
da interação entre a laje de concreto e a viga de aço.
Até o momento em que este artigo foi escrito, apenas a situação de interação completa entre
o aço e o concreto havia sido considerada. Para isso, a interação entre as malhas da laje e do
perfil foi definida aplicando-se uma restrição do tipo Tie disponibilizada pelo ABAQUS. Esta
restrição garante compatibilidade de deslocamento entre os nós ou superfícies conectadas.
Para efeito de uma viga mista, este artifício garante a transmissão de todo o fluxo de
cisalhamento na interface entre a laje de concreto e a viga de aço.

2.4 Estratégias de Análise


2.4.1 Análise de flambagem elástica
Para simular o comportamento das vigas alveolares mistas de maneira realista, nas quais
podem ocorrer fenômenos de instabilidade no perfil de aço, é necessário considerar a
influência das imperfeições iniciais do perfil.

Como estratégia geral de análise, decidiu-se por realizar numa primeira fase uma análise de
flambagem elástica, por meio da qual se obtém o modelo geométrico com uma configuração
deformada que é admitida como representativa da distribuição de imperfeições iniciais na viga
de aço. Numa segunda fase, tomando-se por base o modelo geométrico com as imperfeições
iniciais na viga de aço, realiza-se uma análise considerando a não-linearidade do material bem
como a não-linearidade geométrica.

2.4.2 Análise não-linear material e geométrica


Com a realização de uma análise não-linear material e geométrica, é possível simular o
comportamento do modelo durante todas as fases do carregamento. Neste tipo de análise
considera-se o comportamento dos materiais por meio dos respectivos modelos constitutivos
e a influência dos deslocamentos sobre as solicitações, à medida que o carregamento é
introduzido incrementalmente.
Tendo em vista que nas vigas alveolares mistas podem surgir fenômenos de instabilidade,
como a flambagem dos montantes de alma, toma-se, como ponto de partida para a análise
não-linear, o modelo geométrico com imperfeições iniciais na viga de aço, obtido a partir da
análise de flambagem elástica realizada previamente. Como estratégia de análise, decidiu-se
pela aplicação do carregamento em duas etapas: na primeira, para a fração do carregamento
último em que se sabe que a rigidez do modelo se manterá positiva, é utilizado o Método de
Newton-Raphson. Nessa etapa, o carregamento é aplicado em pequenos incrementos até
aproximadamente 75% da carga última esperada para o modelo. Na segunda etapa o
equilíbrio é obtido pelo Método de Riks, que é capaz de obter o equilíbrio do modelo no ramo
descendente da curva carga  deslocamento após o pico de carga.

2.4.3 Imperfeições iniciais


Na fase de calibração do modelo, o valor de imperfeição inicial que levou à melhor
concordância com os resultados experimentais usados como referência foi h/1000, sendo h a

9
altura da alma. Não obstante, a ABNT NBR5884 especifica uma tolerância de fabricação para a
imperfeição da alma igual a h/200 e a EN 1993-1-5:2006 [12], em seu Anexo C, recomenda que
se adote nos modelos numéricos de estruturas de aço 80% da tolerância de fabricação
considerada nas normas relacionadas ao estudo.

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Para validação do modelo numérico foram simulados dois experimentos de vigas alveolares
mistas, com aberturas simétricas, cujas características e resultados experimentais estão
disponíveis na literatura, a saber, duas vigas celulares mistas denominadas Beam 1A e
Beam 1B ensaiadas por Nadjai (apud Bake [13]).

Figura 10 - Características geométricas da viga Beam 1A (dimensões em milímetros).

Os modelos experimentais possuem vão entre apoios de 4500 mm, grau de interação de 100%
entre a viga de aço e a laje de concreto e um conector de cisalhamento por nervura da forma
de aço incorporada. A viga celular de aço é composta por aço S355 e a resistência à
compressão do concreto da laje é de 35 MPa. As demais características desses modelos podem
ser encontradas na Tabela 2.
No modelo numérico, para o aço da viga alveolar admitiu-se um comportamento elasto-
plástico perfeito, com Módulo de Elasticidade de 210000 MPa e coeficiente de Poisson de
0,30. Para o concreto, admitiu-se um modelo constitutivo elasto-plástico, considerando o
Modelo de Dano, com Módulo de Elasticidade de 30120 MPa e coeficiente de Poisson de 0,20.
O modo de colapso observado nos dois modelos numéricos também foi flambagem do
montante de alma por cisalhamento, condizente com o observado nos modelos experimentais.
Outras características dos modelos numéricos Beam 1A e Beam 1B estão listadas na Tabela 3.

10
Figura 11 - Características geométricas da viga Beam 1B (dimensões em milímetros).

Tabela 2 – Características dos modelos experimentais para calibração do modelo numérico.

Beam 1A Beam 1B
Carregamento 2 cargas concentradas 1 carga concentrada
Carga máxima (kN) 370 430

Tabela 3 – Características dos modelos numéricos.

Beam 1A Beam 1B
Modo de flambagem
1º modo 4º modo
escolhido
1º passo de carga (kN) 0 - 300 0 – 350
2º passo de carga (kN) 300 – 400 350 – 400
Carga máxima (kN) 356,3 394,5

11
3.1 Resultados do modelo numérico Beam 1A
O modo de colapso observado nos dois modelos/ experimentais foi a flambagem do montante
de alma por cisalhamento. Na Figura 12 são apresentadas as curvas carga × flecha no centro do
vão para os modelos experimental e numérico Beam 1A. A carga máxima obtida no ensaio foi
de 370 kN, enquanto que a obtida na simulação numérica foi de 356,3 kN, que representa
96,3% do valor experimental.

400

350

300

250
P (kN)

200

150
Beam 1A (Pmáx = 370 kN)

100 Ulster-A1 (Pmáx = 356.3 kN)

50

0
0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20
Deslocamento vertical (mm)

Figura 12- Curvas carga × flecha para os modelos Beam 1A (experimental e numérico).

A distribuição das tensões de von Mises na viga alveolar de aço para o nível de carga máxima
alcançado no modelo numérico é apresentada na Figura 13. Nota-se que em diversas regiões
da viga a tensão atuante atinge o limite de escoamento do aço, com valor de 308 MPa, com
efeito mais acentuado nas regiões onde o esforço cortante é importante.

Figura 13 - Distribuição de tensões de von Mises (kN/m²) na viga alveolar de aço para o nível de
carga máxima alcançado no modelo numérico Beam 1A.

12
A distribuição das tensões na direção do eixo z (S33) na laje de concreto para o nível de carga
máxima alcançado no modelo numérico é apresentado na Figura 14. Nota-se que nas regiões
da laje onde foram aplicados os carregamentos atingiu-se uma tensão máxima de compressão
de 16,65 MPa, valor bem abaixo da resistência do concreto à compressão de 35 MPa.

Figura 14 - Distribuição de tensões S33 na laje de concreto, em kN/m², para o nível de


carga máxima alcançado no modelo numérico Beam 1A.

Na Figura 15 apresenta-se a distribuição de deslocamentos na direção do eixo x da viga mista


(perpendicular ao plano da alma) para um nível de carga pós-colapso, correspondente a 95%
da carga máxima alcançada no modelo numérico.

Figura 15 - Distribuição de deslocamentos (m) na direção perpendicular ao plano da alma


da viga para um nível de carga pós-colapso correspondente a 95% da
carga máxima alcançada no modelo numérico Beam 1A.

13
Pode-se observar que a parte superior dos montantes mais solicitados se desloca para fora do
plano da alma, em um sentido, e que a parte inferior dos montantes se desloca para fora do
plano da alma no sentido contrário, indicando colapso por flambagem do montante de alma
por cisalhamento. Nota-se ainda que os montantes, além de se deslocarem para fora do plano
da alma em sentidos opostos, sofrem efeito de torção.

3.2 Resultados do modelo numérico Beam 1B


Na Figura 16 apresentam-se as curvas carga × flecha no centro do vão para os modelos
experimental e numérico Beam 1B. A carga máxima obtida no ensaio foi de 430 kN e a obtida
do modelo numérico foi de 394,5 kN (91,7% do valor experimental).

450

400

350

300

250
P (kN)

200

150
Beam 1B (Pmáx = 430 kN)

100 Ulster-B1 (Pmáx =394,5 kN)

50

0
0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50
Flecha no centro do vão (mm)

Figura 16 - Curvas carga × flecha para os modelos Beam 1B (experimental e numérico).

A distribuição das tensões de von Mises na viga mista para o nível de carga máxima alcançado
no modelo numérico é apresentada na Figura 17. Nota-se que em algumas regiões da viga o
aço atingiu a resistência ao escoamento, com valor de 308 MPa.

14
Figura 17 - Distribuição de tensões de von Mises, em kN/m², na viga alveolar de aço para o
nível de carga máxima alcançado no modelo numérico Beam 1B.

A distribuição das tensões S33 na laje de concreto para o nível de carga máxima alcançado no
modelo numérico é apresentada na Figura 18. Nota-se que nas regiões da laje de concreto
onde foram aplicados os carregamentos atingiu-se uma tensão de compressão de
aproximadamente 25 MPa, valor inferior à resistência do concreto à compressão de 35 MPa.

Figura 18 - Distribuição de tensões S33, em kN/m², na laje para o nível de carga máxima
alcançado no modelo numérico Beam 1B.

Na Figura 19 apresenta-se a distribuição de deslocamentos na direção do eixo x da viga para


um nível de carga pós-colapso correspondente a 95% da carga máxima alcançada no modelo
numérico. De acordo com a distribuição de deslocamentos no eixo x, pode-se observar que a
parte superior dos montantes mais solicitados se desloca para fora do plano da alma em um
sentido, enquanto a parte inferior se desloca para fora do plano da alma no sentido contrário,
indicando colapso por flambagem do montante de alma por cisalhamento. Nota-se que uma
vez que, além de deslocarem-se para fora do plano da alma em sentidos opostos, os
montantes sofrem efeito de torção.

15
Figura 19 - Distribuição de deslocamentos (m) na direção do eixo x da viga mista para
um nível de carga pós-colapso correspondente a 95% da carga máxima
alcançada no modelo numérico Beam 1B.

4 CONCLUSÃO
Com base nos resultados obtidos, pode-se afirmar que o modelo numérico desenvolvido neste
trabalho é capaz de representar o comportamento estrutural de vigas alveolares mistas de aço
e concreto com interação total, susceptíveis ao colapso por flambagem do montante de alma
por cisalhamento. O modelo foi capaz de: representar a interação total entre aço e concreto;
caracterizar a carga máxima dos modelos experimentais; caracterizar o modo de colapso por
flambagem do montante de alma por cisalhamento.
As estratégias adotadas para simular a interação completa entre aço e concreto no modelo
numérico foram capazes de representar adequadamente os fenômenos observados nos
modelos experimentais.
Nos casos utilizados no estudo de validação, o modelo numérico apresentou modos de colapso
muito parecidos com os observados nos modelos experimentais.
As simulações realizadas, que envolveram análise de estabilidade e análise não-linear,
demonstraram a aplicabilidade da metodologia de modelagem desenvolvida para simulação
de vigas alveolares mistas, abrangendo, inclusive, modos de colapso complexos como o de
flambagem do montante de alma por cisalhamento.

Agradecimentos

Os autores agradecem à FAPEMIG, à CAPES e à Fundação Arthur Bernardes pelo suporte


financeiro para realização deste trabalho.

16
REFERÊNCIAS

1 Gemperle, C., 2007. Vereinfachte Vordimensionierung von Wabenträgern. Stahlbau. Ernst


& Sohn, eds, Architektur und technische Wissenschaften, vol. 76, pp. 530-536.
2 Abreu, L. M. P., Fakury, R. H., & Castro e Silva, A. L. R., 2010. Determinação do momento
fletor resistente à flambagem lateral com torção de vigas de aço celulares. Mecánica
Computacional, vol. XXIX, pp. 7255-7271.
3 Bezerra, E. M., Fakury R. H., Castro e Silva, A. L. R., & Caldas, R. B., 2010. Determinação do
momento fletor resistente à flambagem lateral com torção de vigas de aço casteladas.
XXXIV Jornadas Sudamericanas de Ingeniería Estructural.
4 Silveira, E. G., 2011. Avaliação do comportamento de vigas alveolares de aço com ênfase
nos modos de colapso por plastificação. Dissertação de Mestrado, Universidade Federal
de Viçosa/Brasil.
5 Vieira, W. B., 2011. Simulação numérica do comportamento estrutural de vigas casteladas
de aço com ênfase na flambagem do montante de alma. Dissertação de Mestrado,
Universidade Federal de Viçosa/Brasil.
6 Oliveira, L. B., 2012. Procedimento para definição das características geométricas de vigas
alveolares de aço para sistemas de piso e de cobertura. Dissertação de Mestrado,
Universidade Federal de Viçosa/Brasil.
7 Ferrari, G. A., 2013. Simulação numérica do comportamento estrutural de vigas alveolares
mistas de aço e concreto. Dissertação de Mestrado, Universidade Federal de
Viçosa/Brasil.
8 Vieira, H. C., 2014. Análise não linear da flambagem do montante de alma devida ao
cisalhamento de vigas de aço celulares. Dissertação de Mestrado, Universidade Federal de
Minas Gerais/Brasil.
9 Simulia, D. S., 2009. ABAQUS Theory Manual versão 6.9.
10 CEN European Committee for Standardisation, EN 1992-1-1, Eurocode 2: Design of
Composite Steel and Concrete Structures - Part 1-1: General Rules and Rules for Buildings,
Brussels, Brussels, Belgium, 2004.
11 Malm, R. Predicting shear type crack initiation and growth in concrete with non-linear
finite element method. Ph.D. thesis, Royal Institute of Technology (KTH), Stockholm,
Sweden, 2009.
12 CEN European Committee for Standardisation, EN 1993-1-5, Eurocode 3: Design of Steel
Structures – Part 1-5: Plated structural elements, Brussels, Belgium, 2006.
13 Bake, S., 2010. Behaviour of cellular beams and cellular composite floor at ambient and
elevated temperatures. Tese de PhD, The University of Manchester/United Kingdom.

17
                                                                     
 

Tema: Estruturas de Aço e Mistas de Aço e Concreto 

O USO DAS PROPRIEDADES DE VIBRAÇÃO (PERÍODO NATURAL) PARA AVALIAÇÃO DOS 
EFEITOS DE SEGUNDA ORDEM EM ESTRUTURAS DE AÇO 

Ricardo Ficanha¹ 
Zacarias Martin Chamberlain Pravia² 
 
Resumo 
Com  o  aumento  significativo  da  utilização  de  aço  como  sistema  estrutural  em 
empreendimentos  em  todo  o  mundo,  as  necessidades  de  atualização  em  normas  e 
procedimentos de análise que influenciam no correto comportamento são recorrentes. Essas 
atualizações levam em conta todos os recursos de estabilidade e resistência dos elementos e 
sistemas  utilizados  para  viabilizar  o  projeto  com  a  devida  segurança,  fundamental  para  vida 
útil  da  estrutura.  Nas  últimas  décadas  as  normas  específicas  incluíram  nas  prescrições, 
obrigatoriedade  na  verificação  dos  efeitos  de  segunda  ordem  nas  estruturas.  Foi  avaliada  a 
resposta  da  estrutura  a  efeitos  de  segunda  ordem  com  a  utilização  da  resposta  da  análise 
modal da estrutura com o período referente para cada caso de carregamento apresentado. Os 
resultados gerados apresentam coerência com o método que classifica a estrutura através do 
método  comparativo  entre  deslocamentos  provenientes  de  análise  de  segunda  e  primeira 
ordem, utilizado pelas normas de estruturas de aço em vigor. 
 
Palavras‐chave: Período natural; Análise de segunda ordem; Sensibilidade estrutura; 
 
 
USE VIBRATION PROPERTIES (MODAL ANALYSIS) TO EVALUATION SECOND ORDER EFFECTS 
IN STEEL STRUCTURES 
 
Abstract 
With the significant increase in the use of steel as a structural system in enterprises worldwide, 
the need to update codes and guides for analysis ultimately influence the correct behavior of 
the steel structure to allow use all features of stability and resistance of elements and systems 
used to make the project viable. In recent decades the specific rules included in prescriptions, 
mandatory verification of second order effects in structures. The response of the structure to 
second order effects with the use of modal analysis of the response of the structure with the 
related  period  for  each  loading  case  presented  was  evaluated.  The  generated  results  show 
consistency when compared with the second order drifts and primer order drifts used by the 
standards of steel structures. 
 
Keywords: Natural period; Second order analysis; Steel structure Sensibility; 
 
¹ Engenheiro Mecânico, Acadêmico PPGeng da FEAR/UPF, Engenheiro METASA S.A., Marau ‐ 
RS, Brasil. 
² D. Sc., Professor titular PPGEng FEAR/UPF, Passo Fundo ‐ RS, Brasil. 

________________________________
* Contribuição técnica ao Construmetal 2014 – Congresso Latino-Americano da Construção
Metálica – 02 a 04 de setembro de 2014, São Paulo, SP, Brasil.

 
                                                                     
 
1  INTRODUÇÃO 
 
O uso de estruturas de aço em edificações industriais ocorre devido aos vários motivos 
específicos  relacionados  e  avaliados  no  momento  da  escolha  do  sistema  estrutural  para  o 
empreendimento.  A  fase  de  análise  estrutural  requer  elevado  conhecimento  do  engenheiro 
responsável, o qual, entre outras verificações, deve ter total atenção para os esforços gerados 
pelo comportamento de segunda ordem da estrutura quando em operação. 
O desenvolvimento tecnológico permite ao engenheiro a pesquisa detalhada das respostas do 
comportamento  da  estrutura.  O  comportamento  da  estrutura  para  carregamentos  verticais, 
no que tange análise da sensibilidade da estrutura para deslocamentos horizontais, conhecidos 
como efeitos de segunda ordem, foram apresentando metodologias de avaliação alternativas 
e renovadas.  
A análise aos efeitos de segunda ordem, nas últimas décadas, foi incluso em diversas 
normas  como  requisitos  primários  para  a  avaliação  da  estrutura.  A  norma  brasileira  ABNT 
NBR8800:2008,  mesmo  contendo  informações  sobre  análise  de  segunda  ordem  em  versão 
anterior, no ano de 2008 prioriza e destaca o procedimento de cálculo de estruturas de aço em 
duas  etapas.  Determinação  dos  esforços  e  a  verificação  do  dimensionamento  da  seção  de 
perfil  pré‐definida  na  análise.  Na  etapa  de  análise,  a  referida  norma,  orienta  a  definição  dos 
esforços de acordo com a classificação da estrutura quanto a deslocabilidade, levando‐se em 
consideração as imperfeições geométricas na análise não linear, apresentado por Lavall et al. 
[1]. 
A  determinação  de  deslocamentos,  velocidades  e  acelerações  dos  elementos  que 
fazem  parte  de  um  sistema  estrutural  submetido  a  cargas  dinâmicas  pode  ser  definida  pela 
dinâmica das estruturas [2].  As respostas da estrutura para as grandezas citadas são sempre 
definidas  com  base  na  deformada  estática  da  estrutura.  Os  modos  de  vibração  da  estrutura 
possibilitam a interpretação dos resultados de forma gráfica, deve‐se selecionar os modos de 
vibração que fornecem os resultados que estão sendo verificados, no caso de confirmação da 
frequência  de  pisos,  o  mais  importante  são  os  modos  que  apresentam  deslocamento 
(vibração) vertical. No caso de um edifício de vários níveis, geralmente, cada nível apresenta 
um modo de flambagem, ficando a cargo do engenheiro selecionar o modo que represente o 
estado que se está verificando. 
Estudos  envolvendo  o  período  natural  da  estrutura,  principalmente  para  estudos 
considerando  o  uso  e  ocupação  de  edificações  com  grande  concentrações  de  pessoas  e  os 
respectivos  uso,  sala  de  ginastica,  anfiteatro,  ou  qualquer  outra  ocupação,  são  destaques  no 
meio técnico, assunto que até então não era tido com a atenção que necessita, simplificando 
alguns  métodos  e  meios  para  definir  o  comportamento  da  estrutura  quando  submetida  a 
excitações dinâmicas devido a uso e ocupação. 
Diversos  trabalhos  recentes  são  encontrados  na  literatura  referentes  a  análises  de 
frequência natural de estruturas de aço e estruturas mista de aço e concreto. Todavia, estes 
trabalhos  apresentam,  geralmente,  estudos  vinculados  ao  comportamento  da  estrutura 
quando  submetidas  a  excitações  devida  ao  uso  e  ocupação  de  população,  para  atividades 
como  ginástica,  caminhada,  salões  de  festas  entre  outros  ambientes  passiveis  de  se 
desenvolver vibrações devido ao uso da população [3, 4, 5]. 
Estudos  relacionados  com  análise  modal,  determinações  aproximadas  de  período, 
apresentação de códigos internacionais para definição de períodos naturais e ensaios, todavia, 


 
                                                                     
estes trabalhos não relatam a relação com os efeitos de segunda ordem. Chrysanthakopoulos 
et  al.  [6],  apresenta  formulação  para  determinação  aproximada  dos  períodos  naturais  de 
estruturas aporticadas e contraventadas. Nicoreac e Hoenderkamp [7] apresenta um resumo 
das  considerações  para  períodos  naturais  para  edificações  com  sistemas  estabilizantes 
verticais.  Valle  et  al.  [8]  apresenta  estudo  realizado  com  estrutura  apresentando  o 
comportamento  não  linear  da  estrutura  em  análise  ao  período  da  estrutura,  sem  vincular 
equacionamentos para avaliação dos efeitos no cálculo. 
A busca da frequência natural da estrutura é atividade necessária e crescente devido à 
grande  utilização  de  estruturas  de  aço  para  suportes  de  equipamentos.  Para  facilitar  a 
aplicação  em  modelos  reais  e  utilização  de  softwares  comerciais,  diversos  estudos  são 
encontrados  com  os  resultados  para  estruturas  cuja  análise  modal  é  realizada  no  software 
SAP2000. Assunção e Paula [9] apresentam de forma prática a análise de um estrutura suporte 
para  uma  peneira  vibratória  as  considerações  que  se  deve  e  que  não  se  deve  fazer  para 
aproximar  os  resultados  do  modelo  de  cálculo  com  valores  reais  obtidos  com  medição  da 
estrutura. 
Statler  et  al.  [10],  apresenta  um  estudo  realizado  em  9  (nove)  modelos  planos  de 
edifícios  regulares  indicando  o  período  natural  da  estrutura  predizendo  assim  os  efeitos  de 
segunda  ordem,  característicos  por  incrementar  esforços  internos  de  momento  fletor  nos 
elementos  que  resistem  a  esforços  gravitacionais  e  são  responsáveis  pela  estabilização  da 
edificação.  
O período natural de uma estrutura, utilizado na maioria das vezes para d 
 

 
Figura 1 – Sistema com um grau de liberdade 
Fonte: Adaptado de Statler et al. [10] 
 
 A estrutura apresentada na Figura 1 pode ser modelada conforme a Equação 1, 
equação que apresenta a equação do movimento da estrutura simplificada. 
 
 
0 1  
3


 
                                                                     
 
O período fundamental em função da massa da estrutura pode ser expressa pela 
Equação 2, já considerado a rigidez da estrutura para um elemento fixo e livre. 
 
 

2 2  
3
 
A  consideração  dos  fatores  de  amplificação  devido  aos  efeitos  de  segunda  ordem,  a 
expressão  que  define  o  período  da  estrutura  necessita  levar  em  consideração  o  fator  que 
define a sensibilidade da estrutura para resistir a efeitos de segunda ordem, acrescentado na 
Equação 2 e apresentado na Equação 3 o fator B2, considerando assim os efeitos de segunda 
ordem na análise do período da estrutura. 
 

2 3  
3
 
 
Sabendo‐se  que  pelo  método  aproximado  de  amplificação  dos  efeitos  de  segunda 
ordem aproximado e exato, podem ser representados pelas equações 4 e 5, respectivamente, 
pode‐se isolar os fatores de amplificação em função do período da estrutura, pois apresentam 
as  mesmas  variáveis  envolvidas.  Os  fatores  de  amplificação  dos  momentos  em  função  do 
período  natural  da  estrutura,  para  o  método  aproximado  e  para  o  método  exato,  são 
apresentados nas Equações 6 e 7, respectivamente, sendo L a altura total do elemento. 
 
1 4  
 
1
5  
1
 
3
, 1 6  
4
 
1
, 7  
3
1
4
 
 
O  objetivo  do  trabalho  foi  apresentar  a  avaliação  da  sensibilidade  de  um  modelo 
tridimensional de um edifício industrial em aço para efeitos de segunda ordem, realizado com 
a  análise  modal  que  define  o  período  natural  da  estrutura  e  comparar  com  a  avaliação  dos 
efeitos  de  segunda  ordem  pela  avaliação  dos  deslocamentos  de  análise  linear  de  primeira 
ordem e linear de segunda ordem. 


 
                                                                     
2  MATERIAIS E MÉTODOS 
 
Um modelo de um edifício estrutural com análise realizada no software SAP2000 [13] 
com  as  ações  devido  uso  e  ocupação  será  apresentado,  priorizando  a  comparação  entre  os 
efeitos  de  segunda  ordem  com  inclusão  no  modelo  de  cargas  fictícias  e  análise  do  período 
natural da estrutura. O edifício tem fins industriais e devido a finalidade não apresenta sistema 
de  contraventamento  vertical  formado  por  elementos  inclinados,  apenas  pórticos  rígidos  e 
vigas para apoios de grades de piso e equipamentos. 
O edifício industrial é composto por 12 níveis, sendo o edifício principal composto por 
9  colunas  (dispostas  de  3  em  3),  e  uma  torre  de  escadas  anexa  ao  edifício  principal, 
possibilitando  o  acesso  a  todos  os  níveis.  Os  elementos  inclinados  das  escadas  não  foram 
considerados  no  modelo,  tampouco  as  ações  desenvolvidas  por  estes  elementos  inclinados, 
pois apresentam baixa rigidez e não necessária para avaliação da estabilidade. 
Os  níveis  são  2.500  mm,  5.000  mm,  7.000  mm,  9.000  mm,  11.400  mm,  13.800  mm, 
15.950  mm,  18.100  mm,  21.150  mm,  24.200  mm,  27.250  mm  e  30.300  mm,  conforme 
esquema  da  Figura  2  é  possível  ver  a  distribuição  dos  níveis  e  a  regularidade  do  sistema.  A 
carga permanente (CP) de 0,3 kN/m² e carga acidental (SC) de 4,0 kN e atribuída para todos os 
níveis  exceto  o  nível  5.000  mm  que  apresenta  uma  carga  permanente  de  0,6  kN/m²  e  carga 
acidental de 15,0 kN/m². 
 

 
Figura 2 ‐ Perspectiva do modelo em estudo 
 
A combinação de ações utilizadas para comparação dos efeitos de segunda ordem com 
as cargas fictícias e o período natural da estrutura é 1,2 CP + 1,6 SC. Sendo que as ações dos 


 
                                                                     
equipamentos na estrutura podem ser visualizadas na Figura 3, com as respectivas cargas em 
cada nível de apoio dos equipamentos. Os equipamentos não serão apresentados pois não são 
o  objetivos  deste  trabalho  e  sim,  apenas  as  ações  destes  sobre  a  estrutura  para  análise  das 
respostas do sistema. 
Para  análise  modal  da  estrutura  foram  consideradas  as  cargas  permanentes  e  para 
verificação  da  influência  da  inclusão  da  solicitação  variável  devido  aos  equipamentos,  serão 
apresentados  6  (seis)  respostas  para  consideração  de  10  a  60%  de  ação  variável  juntamente 
com as ações permanentes consideradas na estrutura. Não foram consideradas imperfeições 
geométricas  e  redução  do  modulo  de  elasticidade  para  obtenção  do  período  da  estrutura. 
Sendo a carga considerada como variável apresentada na Figura 3. 
 

Nível 9.000 mm  Nível 13.800 mm 

Nível 18.100 mm  Níveis 24.200 mm e 30.300 mm 
Figura 3 ‐ Ações verticais dos equipamentos sobre a estrutura em cada nível 
 
A análise de segunda ordem realizada pela inclusão de cargas nocionais nas colunas é 
realizada  com  a  consideração  de  notional  loads  com  valor  correspondente  a  0,2%  da 
respectiva solicitação definida pela área de influência de cada coluna, as cargas fictícias foram 
consideradas  nos  dois  eixos  ortogonais  da  estrutura  para  se  detectar  qual  é  o  sentido  mais 
sensível  da  estrutura  para  comportamento  não  linear  devido  a  carregamentos  verticais.  A 
carga  fictícia  é  determinada  conforme  as  prescrições  na  norma  americana  AISC  360  [11].  A 
Figura  4  ilustra  a  consideração  em  todas  as  colunas  da  estrutura  das  cargas  fictícias 
consideradas. 


 
                                                                     
 

 
Figura 4 – aplicação das cargas fictícias no modelo tridimensional 
 
3  RESULTADOS E DISCUSSÃO 
 
Os  resultados  da  segunda  ordem  com  a  consideração  de  cargas  fictícias  horizontais 
para  representar  as  imperfeições  geométricas  da  estrutura  são  apresentados  para  a  coluna 
destacada na Figura 5, com resultados para todos os níveis, nas duas direções ortogonais (x e 
y) e em ambos os sentidos (positivo e negativo). 
 

 
Figura 5 ‐ Coluna em análise da sensibilidade a deslocamentos horizontais 
 


 
                                                                     
A Tabela 1 apresenta os resultados para a avaliação dos efeitos de segunda ordem com 
notional load de 0,2 % na direção x, com modulo de elasticidade de 200GPa em todos os níveis 
da coluna em estudo. 
 
Tabela 1 ‐ Analise segunda ordem na direção x, notional load = 0,002Fg 
Δx (+) Coluna 3E Δx (‐) Coluna 3E
Nó Δx2 Δx1 Δx2/Δx1 Δx2 Δx1 Δx2/Δx1
5.000_3E 0,49 0,48 1,03 ‐0,24 ‐0,23 1,04
9.000_3E 1,31 1,23 1,06 ‐0,33 ‐0,32 1,01
13.800_3E 3,34 3,12 1,07 0,14 0,11 1,25
18.100_3E 5,57 5,18 1,08 0,96 0,87 1,10
24.200_3E 8,79 8,20 1,07 2,52 2,35 1,07
  30.300_3E 10,96 10,31 1,06 4,13 3,92 1,05  
 
O  valor  apresentado  para  relação  entre  o  deslocamento  de  segunda  ordem  e  o 
deslocamento de primeira ordem para o nível 13.800 mm na Tabela 1 no sentido negativo de 
x, demonstra uma amplificação considerável na estrutura de aproximadamente 1,25, todavia 
verifica‐se que ocorre uma inversão no sentido dos deslocamentos, mostrado através do sinal 
dos  deslocamentos.  Sendo  a  coluna  neste  nível  pouco  solicitada  devido  à  composição  dos 
esforços  do  modelo,  não  caracterizando  uma  grande  sensibilidade  da  estrutura  a 
deslocamentos horizontais de segunda ordem. 
A Tabela 2 apresenta os resultados para a avaliação dos efeitos de segunda ordem com 
notional load de 0,2 % na direção y, com modulo de elasticidade de 200GPa em todos os níveis 
da coluna em estudo. 
 
Tabela 2 ‐ Analise segunda ordem na direção y, notional load = 0,002Fg 
Δy (+) Coluna 3E Δy (‐) Coluna 3E
Nó Δy2 Δy1 Δy2/Δy1 Δy2 Δy1 Δy2/Δy1
5.000_3E 2,38 2,09 1,14 ‐0,30 ‐0,22 1,33
9.000_3E 3,84 3,39 1,13 ‐0,53 ‐0,43 1,21
13.800_3E 6,02 5,33 1,13 ‐0,78 ‐0,66 1,19
18.100_3E 6,44 5,66 1,14 ‐1,71 ‐1,55 1,10
24.200_3E 12,18 11,08 1,10 2,48 2,42 1,02
30.300_3E 14,88 13,66 1,09 4,33 4,19 1,03  
 
Os  resultados  para  a  consideração  das  cargas  fictícias  na  direção  y  apresentam 
relações maiores entre os deslocamentos de segunda e primeira ordem. Caracterizando maior 
sensibilidade  da  estrutura  na  direção  em  que  as  notional  loads  são  aplicadas  no  sentido 
perpendicular a menor inércia da seção das colunas. 
O  período  natural  do  modelo  de  cálculo  para  consideração  de  10  %  à  60  %  da  ação 
gravitacional  é  apresentado  na  Figura  6,  com  o  respectivo  modo  de  vibração  da  estrutura. 
Observa‐se  que  o  primeiro  modo  para  os  casos  de  consideração  de  10  %  à  30  %  da  ação 


 
                                                                     
variável apresenta modo comportamento similar ao primeiro modo para consideração de 50 % 
e 60% da carga acidental, o único modo distinto é para a combinação de carga com 40 % das 
ações acidentais, todavia, todos os casos de ações ilustradas não apresentam uma variação no 
valor considerável do período natural da estrutura. 
Utilizando as Equações 6  e 7 para definição dos fatores de amplificação dos esforços 
pelo  método  aproximado  e  pelo  método  exato,  respectivamente,  são  apresentados  os 
resultados para cada período representando a porcentagem de ação variável considerada na 
análise. 
 

 
10% ação variável  20% ação variável  30% ação variável 
T= 1,237  T= 1,292  T= 1,346 

 
40% ação variável  50% ação variável  60% ação variável 
T= 1,399  T= 1,450  T= 1,499 
Figura 6 ‐ Primeiro modo do período natural para ação variável com considerações de 10 a 
60% do seu valor pleno 
 


 
                                                                     
A Tabela 3 apresenta os resultados para os métodos de avaliação dos efeitos de 
segunda ordem na estrutura com amplificação dos esforços aproximado e exato. 
 
Tabela 3 – Análise da amplificação dos esforços considerando o período da estrutura 
% AV T (s) L (m) g (m/s²) Ba,t Be,t
10% 1,237 30,3 9,81 1,113 1,127
20% 1,292 30,3 9,81 1,123 1,141
30% 1,346 30,3 9,81 1,134 1,154
40% 1,399 30,3 9,81 1,144 1,169
50% 1,45 30,3 9,81 1,155 1,184
60% 1,499 30,3 9,81 1,166 1,199  
 
Os  resultados  das  amplificações  são  mínimas,  o  que  representa  que  a  estrutura  não 
apresenta sensibilidade a efeitos de segunda ordem devido a carregamento vertical. 
É  percebida  pequena  variação  entre  o  método  aproximado  e  o  método  exato  de 
cálculo para obtenção dos fatores de amplificação dos esforços para consideração dos efeitos 
de  segunda  ordem  na  estrutura.  Porém,  apresenta  valores  que  possibilitam  a  avaliação  da 
estrutura  como  uma  estrutura  que  apresenta  sensibilidade  para  efeitos  de  segunda  ordem 
frente a carregamentos gravitacionais. 
 
4  CONCLUSÃO 
 
O estudo levou em consideração a aplicação de um método simplificado considerando 
o  período  da  estrutura  e  a  influência  da  carga  gravitacional  para  os  resultados  do  período 
natural da estrutura, representando o comportamento da estrutura de forma semelhante ao 
resultado da análise dos deslocamentos da estrutura considerando as cargas fictícias aplicadas 
horizontalmente nos nós das colunas. 
O  método  de  cálculo  apresentado  para  avaliação  da  sensibilidade  da  estrutura  para 
efeitos  de  segunda  ordem  representa  uma  maneira  rápida  de  verificação  do  estado  da 
estrutura referente à sensibilidade a desenvolver efeito de segunda ordem significativo para os 
esforços  internos,  visto  a  facilidade  atual  de  realização  de  análise  modal  e  definição  dos 
períodos da estrutura. 
Um  estudo  sobre  as  simplificações  adotadas  de  regularidade  nas  cargas  e  centro  de 
gravidade  da  estrutura  devem  ser  aprofundado,  gerando  maior  confiabilidade  e  até  mesmo 
possibilidade de inclusão em normas técnicas de estruturas de aço. 
 
REFERÊNCIAS 
 
1    Lavall, A. C. C.; Silva, R. G. L. da; Costa, R. S.; Fakury, R. H. Análise avançada de pórticos de 
aço conforme as prescrições da ABNT NBR 8800:2008. Revista da Estrutura de Aço. 2013; v.2, 
n3: 146‐165. 
 
2    Lima, S. S.; Santos, S.H.; Análise dinâmica das estruturas. Rio de Janeiro. Editora Ciência 
Moderna,2008. 

10 
 
                                                                     
3    Lee, S‐H.; Lee, K‐K.; Woo, S‐S.; Cho, S‐H. Global vertical mode vibration due to human group 
rhythmic movement in a 39 story building structure. Engineering Structures. 2013; v.57: 296‐
305. 
 
4    Lee, K.; Lee, S‐H.; Kim, G‐C.; Woo, S‐S. Global vertical resonance phenomenon steel building 
and human rhythmic excitations. Journal of Constructional Steel Research. 2014; v.92: 164‐
174. 
 
5    Neves, C. L. F.; Silva, J. G. S. da; Lima, L.R.O. de; Jordão, S. Multi‐story, multi‐bay buildings 
with composite steel‐deck floors under human‐induced loads: The human comport issue. 
Computers and Structures. 2014; v.136: 34‐46. 
 
6    Chrysanthakopoulos, C.; Bazeos, N.; Beskos, D. E. Approximate formulae for natural periods 
of plane steel frames. Journal of Constructional Steel Research. 2006; v.62: 592‐604. 
 
7    Nicoreac, M. e Hoenderkamp, J. C. D. Periods of vibration of braced frames with outriggers. 
Procedia Engineering. 2012; v.40: 298‐303. 
 
8    Valle, Z. J. L.; Diéguez,G. M.; Camblor, A. R. Nonlinear modal identification of a steel frame. 
Engineering Structures. 2013; v.56: 246‐259.  
 
9    Assunção, T.M.R.C.; Paula, F. A. de; Análise dos Efeitos Dinâmicos Induzidos por Peneiras 
Vibratórias em Estruturas Industriais. São João Del‐Rei. Associação Brasileira de Métodos 
Computacionais em Engenharia, 2010. 
 
10    Statler, D. E.; Ziemian, R. D.; Robertson, L. E. The natural period as an indicator of second‐
order effects. Proceedings of the Annual Stability Conference Structural Stability Research 
Council. 2011;  
 
11        American  Institute  of  Steel  Construction  –  AISC360.  Load  and  resistance  factor  design 
specification for structural steel buildings. Chicago, 2010. p.612. 
 
13        SAP  2000  –  Software  integrado  para  analise  e  dimensionamento  estrutural.  Computers 
and Structures, Inc. California. V16, 2014. 
 
 
 

11 
 
                                                                     
 

Tema: Estruturas de Aço 

OBTENÇÃO DE COEFICIENTES AERODINÂMICOS ATRAVÉS DE MECÂNICA 
COMPUTACIONAL DE FLUIDOS PARA DETERMINAÇÃO DE AÇÕES EM EDIFICAÇÕES 
DEVIDAS AO VENTO 

Anderson Guerra¹ 
Zacarias M. Chamberlain Pravia² 
Resumo 
Devido  à  extrema  necessidade  da  verificação  das  ações  de  vento  em  edificações, 
pretende‐se  simular  um  túnel  de  vento  por  meio  da  Dinâmica  dos  Fluidos  Computacional 
(CFD), e obter os valores aerodinâmicos de sobre‐pressão e sucção causados devido as ações 
do  vento  em  edificações  industriais  em  aço  ou  concreto,  e  por  sua  vez  confrontá‐las  com 
dados de túnel de vento real para sua validação. 
Para  a  simulação  numérica  computacional,  foi  utilizada  a  ferramenta  computacional  ANSYS 
12.1,  considerando  a  interação  fluido‐estrutura.  A  geometria  da  edificação  foi  determinada 
tridimensionalmente, totalmente vedada e inserida no fluido ar. 
 
Palavras‐chave: Vento, CFD, Túnel de Vento, MEF, Mecânica dos Fluidos. 

 
 AERODYNAMIC COEFFICIENTS THROUGH COMPUTATIONAL FLUID MECHANICS FOR  FORCES 
DUE TO WIND 
 
Abstract 
Due to the need to verify forces due to Wind, the aerodynamics parameters obtained in Wind 
tunnel can be determinate by Computational Fluid Dynamics (CFD), and can be compared with 
those obtained from Wind tunnel measurements of pressures. In this article, a computational 
numerical simulation was developed with CFD in the software ANSYS Version 12.1, considering 
the  fluid‐structure  interaction.  The  geometry  of  the  building  was  modeled  in  three‐
dimensional  space,  fully  sealed  and  inserted  in  the  air  fluid,  simulating  a  numerical  wind 
tunnel. Some examples are presented and some remarks about are commented. 
 
Keywords: Forces due to Wind, Computational Mechanical Fluids.  
 
 
¹ Engenheiro Civil, Graduado, Calculista Estrutural, Universidade de Passo Fundo, Passo Fundo, Rio 
Grande do Sul ‐ Brasil. 
² Engenheiro Civil, Doutor, Professor, Programa de Pós Graduação em Engenharia Civil e Ambiental e Da 
Faculdade de Engenharia e Arquitetura, Universidade de Passo Fundo, Passo Fundo, Rio Grande do Sul ‐ 
Brasil. 

________________________________
* Contribuição técnica ao Construmetal 2014 – Congresso Latino-Americano da Construção
Metálica – 02 a 04 de setembro de 2014, São Paulo, SP, Brasil.

 
                                                                     
 
 
1  INTRODUÇÃO 
 
As forças devidas ao vento são importantes no projeto e dimensionamento de elementos de 
estruturas, sendo que, em alguns casos esta é a ação principal dentro daquelas que solicitam a 
edificação.  Para  definir  as  forças  devidas  ao  vento  são  usados  os  procedimentos  da  NBR 
6123:1988 – Forças devidas ao vento em edificações. Nela há dois aspectos para a obtenção 
das ações devidas ao vento: os dados meteorológicos, que principalmente  tem a ver  com as 
velocidades do vento natural, e os dados aerodinâmicos. Ambos são obtidos por medições, a 
velocidade  básica  do  vento  através  de  estações,  que  tem  seus  dados  processados  em  uma 
rajada de 3 segundos, excedida em média uma vez em 50 anos, a 10m acima do terreno e em 
campo  aberto  e  plano.  Como  regra  geral,  é  admitido  que  o  vento  básico  pode  atuar  em 
qualquer direção horizontal. 

A norma brasileira NBR 6123 não é válida para edificações de forma, dimensões ou localização 
fora  do  comum  e  permite  que  as  ações  dinâmicas  do  vento  sejam  consideradas  como  ações 
estáticas, desde que o período da estrutura seja inferior a um segundo. Sendo assim, caso não 
atenda estas exigências, são necessárias estudos em túnel de vento. 

Com  a  necessidade  de  otimização  do  tempo,  o  baixo  custo  e  com  a  evolução  dos 
computadores,  ficou  comum  a  pesquisa  na  área  de  análise  numérica  de  mecânica  de  fluidos 
para a determinação de fatores aerodinâmicos. Em indústrias aeronáuticas, automobilísticas e 
navais  este  tipo  de  pesquisa  e  análise  previa  em  computadores  é  rotineiro.  No  caso  da 
construção  civil  há  vários  pesquisadores  que  realizam  estudos  ligados  a  este  tema,  e  com  o 
aquecimento  continuo  da  construção,  edifícios  com  formas  diferentes  e  cada  vez  mais  altos 
será  necessário  o  acréscimo  de  novas  tecnologias  para  ajudar  o  estudo  da  influência 
aerodinâmica causada pelo vento. 

Este trabalho tem por objetivo reproduzir objetos testados em túnel de vento encontrados na 
bibliografia, e através de analise numérica computacional, obter os parâmetros aerodinâmicos 
comparando‐os  com  os  dados  ensaiados  em  túnel  de  vento.  Fazendo‐se  assim  provar  a 
eficiência  da  análise  numérica  computacional  para  a  determinação  de  coeficientes 
aerodinâmicos de uma edificação qualquer. 

2  MATERIAIS E MÉTODOS 
 
2.1 Considerações iniciais 
 
A  análise  numérica  foi  desenvolvida  através  do  software  ANSYS  12.1,  um  programa  de 
elementos  finitos,  onde  foi  simulado  um  edifício  industrial  sujeito  as  ações  do  vento 
semelhantes as condições naturais. 


 
                                                                     
2.2 Obtenção de dados Prévios 
 
2.2.1 Modelo 1 
 
O primeiro modelo a ser simulado é um telhado a quatro aguas estudado e apresentado pelo 
professor Joaquim Blessmann da UFRGS.  

Blessmann (2004) ensaiou no túnel de vento Prof. Joaquim Blessmann da UFRGS os efeitos do 
vento  em  telhados  a  quatro  aguas,  e  considerou  variações  do  mesmo,  como,  platibandas  e 
beiras  de  diferentes  tamanhos.  Estas  mesmas  considerações  serão  feitas  aqui  e  comparadas 
com os resultados obtidos por Blessmann. 

 
Figura 1 ‐ Vista Superior do modelo a ser estudado 
Fonte: Blessmann (2004) 
 

 
Figura 2 ‐ Corte do modelo a ser estudado 
Fonte: Blessmann (2004) 
 


 
                                                                     

Tabela 1 ‐ dimensões e proporções dos modelos com Beiral 
Fonte: Blessmann (2004) 
Dimensões e Proporções dos Modelos com Beiral (7 modelos) 

Modelos  a x b x h (mm)  θ  ℓb (mm) ℓb/h  h/b 

320 x 160 x 180  
Parede Alta (PA)  15°    2/30  9/8 
[2 x 1 x 1,125] 

Tabela 2 ‐ dimensões e proporções dos modelos com platibanda 
Fonte: Blessmann (2004) 
Dimensões e Proporções dos Modelos com platibanda (28 modelos) 

Modelos  a x b x h (mm)  θ  ℓb (mm) ℓb/h  h/b 

0          0         
320 x 160 x 180   3          0,05      
Parede Alta  15°  9/8 
[2 x 1 x 1,125]  6          0,10      
12  0,20 

2.2.2 Modelo 2 
 
O segundo modelo a ser reproduzido e simulado é o apresentado em Almeida (2009) onde ele 
ensaiou no túnel de vento da UFRGS  uma estrutura espacial em aço executada em 2006 em 
Gramado‐RS. Trata‐se de uma edificação cuja geratriz é um arco pleno com 53m de vão, 26,5m 
de  flecha,  e  comprimento  de  105m.  A  velocidade  usada  para  o  vento  turbulento  no  ensaio 
realizado por Almeida (2009) foi de 40,97m/s e foi a mesma usada nesta pesquisa. 

 
Figura 3 ‐ Estrutura estudada por Almeida (2009) 


 
                                                                     

 
Figura 4 ‐ Estrutura estudada por Almeida (2009) 
Fonte: Almeida (2009) 
 

Almeida (2009) Apresentou dados do ensaio para todas as direções da edificação variando 15° 
para cada lado, chegando a um total de 360°, e com 255 tomas para cada direção. Porem ele 
não apresentou valores de pressões ou ate mesmo coeficientes de pressões não sendo assim 
possivel  uma  comparação  de  pressoes  com  os  valores  de  almeida,  entao  para  a  validação 
deste  modelo  será  usado  o  anexo  E  da  NBR  6123/88.  E  as  incidencias  de  vento  analisadas 
foram de 0 e 90 graus.  

 
Figura 5 ‐ Modelo em miniatura para estudo em túnel de vento 
Fonte: Almeida (2009) 
 


 
                                                                     

 
Figura 6 ‐ Abóbodas cilíndricas de seção circular pela NBR 6123/88. 
 

2.3 Métodos e técnicas 
 
Os  modelos  que  serão  analisados,  possuem  dimensões  de  comprimento,  largura  e  altura 
conforme os apresentados no item acima. O escoamento será turbulento p=0,23, classe entre 
III e IV da NBR 6123, serão analisados 7 direções do vento, girando os modelos 15° para cada 
direção, totalizando 90°  

Para a análise numérica de CFD (Computacional Fluid Dynamic), foi escolhido sistema 
Fluid  Flow  CFX  do  ANSYS  12.1,  as  velocidades  são  obtidas  do  princípio  de  conservação  de 
energia e a pressão é obtida do princípio de conservação de massa. O fluido onde a edificação 
está inserida, tem como característica a incompressibilidade, fluido isotérmico, densidade de 
1,185kg/m³ e viscosidade de 1,83e‐005 kg/m.s, a 25° de temperatura ambiente. 

A edificação está inserida em um volume de controle onde a discretização do mesmo é 
feita  pelo  ANSYS  através  de  malhas  cujo  tamanho  é  definido  de  acordo  com  a  precisão 
requerida para os resultados. 

O volume de controle o qual a edificação está inserida segue recomendações indicadas 
por Franke et al. (2007) e possuem distância entre a entrada e o edifício de 5H entre a saída 
15H, laterais de 5H e altura de 6H sendo H a altura de cumeeira do edifício em questão. Estas 
dimensões podem ser visualizadas na Figura 7. 


 
                                                                     

 
Figura 7 ‐ Proporções do Volume de Controle Sugeridas por Franke et al. (2007) 
 

 
Figura 8 ‐ Aplicação das Propriedades do Fluido (1,185 kg/m³ e 1,83x10^‐5 kg/m.s) 
 

 
Figura 9 ‐ Modelo de turbulência proposto RNG k‐Epsilon 
 

Para  os  elementos  de  malha  foi  utilizado  o  ANSYS  ICEM  CFD  usando  o  CFX‐Mesh 
Method  que  é  composto  basicamente  por  malha  Tetraédrica.  A  turbulência  foi  simulada 
através  do  RNG  k‐Epsilon,  como  vemos  na  Figura  9,  que  utiliza  o  modelo  de  turbulência  k‐ε
padrão onde a viscosidade turbulenta assume que os tensores de Reynolds são proporcionais 


 
                                                                     
aos  gradientes  de  velocidade  média  com  a  constante  de  proporcionalidade  sendo 
caracterizada pela viscosidade turbulenta. 

As condições de contorno do volume onde a edificação está inserida são as seguintes: 

 Na  face  do  volume  de  controle  a  barlavento,  na  direção  do  vento  a  velocidade  de 
entrada do vento Vz é igual a 45m/s; 

 
Figura 10 ‐ Aplicação das condições de contorno 
 

 Na  face  inferior  do  volume  de  controle,  onde  é  simulado  a  superfície  terrestre  e  em 
todas as faces da edificação, Vx=Vy=0 (condição de não deslizamento); 

 
Figura 11 ‐ Aplicação das Condições de contorno 
 

 Nas duas faces laterais, na face superior e na face a sotavento do volume de controle, 
a pressão é igual a zero. 

 
Figura 12 ‐ Aplicação das condições de contorno 
 


 
                                                                     
 
 

3  RESULTADOS E DISCUSSÃO 
 
3.1 Modelo 1 
 
3.1.1 Considerações Iniciais 
 
Os resultados foram obtidos através de uma média dos valores proporcional a área da pressão 
efetiva referente a cada  zona dos quadrantes 1, 2, 3 e 4. Os coeficientes de pressão locais e 
médios  foram  obtidos  através  da  formula  Cp  =  Δp/  q  sendo  que  Δp  =  pressão  efetiva  e  q  = 
pressão dinâmica definida como 0,613.V².  
 
3.1.2 Apresentação dos Resultados 
 
Tabela 3 ‐ Coeficientes de Pressão médios adquiridos através da Análise Numérica 
Quadrante 1  Quadrante 2 
Zona     Platibanda p/h =      Platibanda p/h =  
Beiral  Beiral 
0  0,05  0,10  0,20  0  0,05  0,10  0,20 
0  ‐0,52  ‐0,81  ‐0,78  ‐0,71  ‐0,65  0  ‐0,28  ‐0,22  ‐0,02  0,04  ‐0,05 
15  ‐0,31  ‐0,52  ‐0,61  ‐0,88  ‐0,85  15 ‐0,60  ‐0,44  ‐0,30  ‐0,24  ‐0,31 
30  ‐0,41  ‐0,23  ‐0,58  ‐0,86  ‐0,82  30 ‐0,84  ‐0,51  ‐0,49  ‐0,48  ‐0,43 
I  45  ‐0,76  ‐0,40  ‐0,96  ‐1,04  ‐1,04  45 ‐0,89  ‐0,75  ‐0,63  ‐0,74  ‐0,85 
60  ‐0,97  ‐0,41  ‐1,30  ‐1,28  ‐1,12  60 ‐1,15  ‐0,56  ‐0,98  ‐0,87  ‐0,79 
75  ‐1,17  ‐0,56  ‐1,28  ‐1,12  ‐1,05  75 ‐1,15  ‐0,58  ‐1,09  ‐1,02  ‐0,63 
90  ‐1,34  ‐0,81  ‐1,15  ‐0,98  ‐0,94  90 ‐1,34  ‐0,81  ‐1,15  ‐0,98  ‐0,94 
0  ‐0,27  ‐0,34  ‐0,34  ‐0,48  ‐0,36  0  ‐0,08  ‐0,15  ‐0,02  ‐0,04  ‐0,17 
15  ‐0,29  ‐0,41  ‐0,56  ‐0,35  ‐0,57  15 ‐0,29  ‐0,41  ‐0,32  ‐0,17  ‐0,32 
30  ‐0,42  ‐0,33  ‐0,53  ‐0,46  ‐0,69  30 ‐0,78  ‐0,40  ‐0,54  ‐0,45  ‐0,42 
II  45  ‐0,85  ‐0,68  ‐0,78  ‐0,79  ‐0,91  45 ‐0,92  ‐0,63  ‐0,72  ‐0,79  ‐0,88 
60  ‐1,15  ‐0,97  ‐1,01  ‐1,10  ‐0,97  60 ‐1,10  ‐0,92  ‐0,94  ‐0,96  ‐0,87 
75  ‐1,16  ‐1,15  ‐1,11  ‐1,05  ‐0,80  75 ‐1,15  ‐1,03  ‐1,08  ‐0,99  ‐0,67 
90  ‐1,23  ‐1,21  ‐1,07  ‐0,92  ‐0,84  90 ‐1,23  ‐1,21  ‐1,07  ‐0,92  ‐0,84 
0  ‐0,85  ‐0,47  ‐0,94  ‐0,83  ‐1,11  0  ‐0,30  ‐0,26  ‐0,02  0,08  0,06 
15  ‐0,83  ‐0,58  ‐1,04  ‐1,00  ‐1,07  15 ‐0,61  ‐0,56  ‐0,36  ‐0,21  ‐0,14 
30  ‐0,86  ‐0,37  ‐0,97  ‐0,92  ‐1,13  30 ‐0,80  ‐0,56  ‐0,31  ‐0,36  ‐0,32 
III  45  ‐0,74  ‐0,40  ‐0,79  ‐0,88  ‐0,94  45 ‐0,77  ‐0,82  ‐0,59  ‐0,50  ‐0,44 
60  ‐0,75  ‐0,65  ‐0,49  ‐0,86  ‐0,80  60 ‐0,79  ‐0,88  ‐0,73  ‐0,68  ‐0,45 
75  ‐0,71  ‐0,76  ‐0,78  ‐0,81  ‐0,67  75 ‐0,60  ‐0,77  ‐0,94  ‐0,82  ‐0,61 
90  ‐0,89  ‐0,94  ‐0,91  ‐0,69  ‐0,77  90 ‐0,89  ‐0,94  ‐0,91  ‐0,69  ‐0,77 
Quadrante 3  Quadrante 4 
Zona     Platibanda p/h =      Platibanda p/h =  
Beiral  Beiral 
0  0,05  0,10  0,20  0  0,05  0,10  0,20 
0  ‐0,52  ‐0,81  ‐0,78  ‐0,71  ‐0,65  0  ‐0,28  ‐0,22  ‐0,02  0,04  ‐0,05 

15  ‐0,65  1,02  ‐0,84  ‐0,78  ‐0,84  15 ‐0,29  ‐0,48  ‐0,07  ‐0,12  ‐0,19 


 
                                                                     
30  ‐0,80  ‐0,96  ‐0,79  ‐0,78  ‐0,69  30 ‐0,62  ‐0,60  ‐0,09  ‐0,08  ‐0,08 
45  ‐0,86  ‐0,67  ‐0,66  ‐0,64  ‐0,48  45 ‐0,72  ‐0,64  ‐0,32  ‐0,34  ‐0,38 
60  ‐0,83  ‐0,84  ‐0,36  ‐0,40  ‐0,37  60 ‐0,39  ‐0,66  ‐0,44  ‐0,53  ‐0,26 
75  ‐0,58  ‐0,85  ‐0,24  ‐0,32  ‐0,43  75 ‐0,26  ‐0,69  ‐0,47  ‐0,41  ‐0,49 
90  ‐0,29  ‐0,83  ‐0,39  ‐0,32  ‐0,55  90 ‐0,29  ‐0,83  ‐0,39  ‐0,32  ‐0,55 
0  ‐0,27  ‐0,34  ‐0,34  ‐0,48  ‐0,36  0  ‐0,08  ‐0,15  ‐0,02  ‐0,04  ‐0,17 
15  ‐0,60  ‐0,76  ‐0,44  ‐0,39  ‐0,57  15 ‐0,29  ‐0,63  ‐0,07  ‐0,12  ‐0,20 
30  ‐0,69  ‐0,70  ‐0,46  ‐0,43  ‐0,40  30 ‐0,68  ‐0,70  ‐0,32  ‐0,08  ‐0,15 
II  45  ‐0,83  ‐0,64  ‐0,40  ‐0,21  ‐0,42  45 ‐0,80  ‐0,74  ‐0,32  ‐0,34  ‐0,42 
60  ‐0,71  ‐0,92  ‐0,41  ‐0,35  ‐0,32  60 ‐0,63  ‐0,88  ‐0,58  ‐0,60  ‐0,31 
75  ‐0,42  ‐0,91  ‐0,56  ‐0,58  ‐0,53  75 ‐0,39  ‐0,82  ‐0,56  ‐0,48  ‐0,53 
90  ‐0,40  ‐0,90  ‐0,52  ‐0,37  ‐0,55  90 ‐0,40  ‐0,90  ‐0,52  ‐0,37  ‐0,55 
0  ‐0,85  ‐0,47  ‐0,94  ‐0,83  ‐1,11  0  ‐0,30  ‐0,26  ‐0,02  0,08  0,06 
15  ‐0,91  ‐0,77  ‐0,93  ‐0,96  ‐1,06  15 ‐0,54  ‐0,48  ‐0,07  ‐0,08  0,10 
30  ‐0,95  ‐0,59  ‐0,79  ‐0,95  ‐1,01  30 ‐0,69  ‐0,53  ‐0,07  ‐0,08  ‐0,02 
III  45  ‐0,94  ‐0,48  ‐0,68  ‐0,80  ‐0,93  45 ‐0,75  ‐0,66  ‐0,48  ‐0,34  ‐0,38 
60  ‐0,91  ‐0,70  ‐0,61  ‐0,58  ‐0,65  60 ‐0,40  ‐0,83  ‐0,52  ‐0,53  ‐0,24 
75  ‐0,56  ‐0,75  ‐0,38  ‐0,60  ‐0,56  75 ‐0,27  ‐0,71  ‐0,56  ‐0,41  ‐0,49 
90  ‐0,29  ‐0,83  ‐0,52  ‐0,56  ‐0,55  90 ‐0,29  ‐0,83  ‐0,52  ‐0,56  ‐0,55 
 
Tabela 4 ‐ Coeficientes de Pressão médios apresentados por Blessmann 
Quadrante 1  Quadrante 2 
Zona     Platibanda p/h =      Platibanda p/h =  
Beiral  Beiral 
0  0,05  0,1  0,2  0  0,05  0,1  0,2 
0  ‐0,51  ‐0,65  ‐0,82  ‐0,77  ‐0,62  0  ‐0,26  ‐0,27  ‐0,05  0,03  ‐0,05 
15  ‐0,34  ‐0,39  ‐0,63  ‐0,89  ‐0,87  15 ‐0,51  ‐0,52  ‐0,28  ‐0,17  ‐0,11 
30  ‐0,39  ‐0,39  ‐0,57  ‐0,84  ‐0,86  30 ‐0,75  ‐0,66  ‐0,49  ‐0,40  ‐0,43 
I  45  ‐0,62  ‐0,61  ‐0,97  ‐1,00  ‐0,97  45 ‐0,82  ‐0,76  ‐0,66  ‐0,68  ‐0,60 
60  ‐0,92  ‐1,02  ‐1,31  ‐1,25  ‐1,04  60 ‐1,03  ‐0,93  ‐0,92  ‐0,82  ‐0,70 
75  ‐1,24  ‐1,25  ‐1,28  ‐1,11  ‐0,87  75 ‐1,24  ‐1,17  ‐1,01  ‐0,84  ‐0,77 
90  ‐1,32  ‐1,33  ‐1,13  ‐0,91  ‐0,84  90 ‐1,32  ‐1,33  ‐1,13  ‐0,91  ‐0,84 
0  ‐0,27  ‐0,28  ‐0,32  ‐0,48  ‐0,64  0  ‐0,20  ‐0,20  ‐0,10  ‐0,10  ‐0,29 
15  ‐0,31  ‐0,32  ‐0,30  ‐0,32  ‐0,57  15 ‐0,36  ‐0,39  ‐0,30  ‐0,21  ‐0,20 
30  ‐0,54  ‐0,30  ‐0,57  ‐0,53  ‐0,65  30 ‐0,66  ‐0,62  ‐0,59  ‐0,50  ‐0,56 
II  45  ‐0,81  ‐0,82  ‐0,79  ‐0,79  ‐0,92  45 ‐0,87  ‐0,84  ‐0,76  ‐0,76  ‐0,80 
60  ‐0,99  ‐1,03  ‐1,04  ‐1,02  ‐1,01  60 ‐1,04  ‐0,98  ‐0,93  ‐0,94  ‐0,86 
75  ‐1,14  ‐1,13  ‐1,11  ‐1,01  ‐0,87  75 ‐1,12  ‐1,10  ‐1,06  ‐0,93  ‐0,81 
90  ‐1,14  ‐1,12  ‐1,08  ‐0,94  ‐0,86  90 ‐1,14  ‐1,12  ‐1,08  ‐0,94  ‐0,86 
0  ‐0,89  ‐1,02  ‐0,90  ‐0,76  ‐0,61  0  ‐0,29  ‐0,28  ‐0,03  0,12  0,04 
15  ‐0,87  ‐0,91  ‐1,08  ‐1,05  ‐0,88  15 ‐0,44  ‐0,46  ‐0,07  0,06  0,03 
30  ‐0,70  ‐0,76  ‐0,97  ‐1,10  ‐0,91  30 ‐0,58  ‐0,52  ‐0,36  ‐0,33  ‐0,34 
III  45  ‐0,59  ‐0,66  ‐0,77  ‐0,88  ‐0,98  45 ‐0,65  ‐0,61  ‐0,61  ‐0,63  ‐0,55 
60  ‐0,53  ‐0,55  ‐0,49  ‐0,83  ‐0,98  60 ‐0,73  ‐0,66  ‐0,78  ‐0,75  ‐0,68 
75  ‐0,60  ‐0,63  ‐0,78  ‐1,03  ‐0,88  75 ‐0,74  ‐0,76  ‐0,93  ‐0,82  ‐0,78 
90  ‐0,77  ‐0,86  ‐1,00  ‐0,92  ‐0,85  90 ‐0,77  ‐0,86  ‐1,00  ‐0,92  ‐0,85 
Quadrante 3  Quadrante 4 
Zona       
Beiral  Platibanda p/h =   Beiral  Platibanda p/h =  

10 
 
                                                                     
0  0,05  0,1  0,2  0  0,05  0,1  0,2 
0  ‐0,51  ‐0,65  ‐0,82  ‐0,77  ‐0,62  0  ‐0,26  ‐0,27  ‐0,05  0,03  ‐0,05 
15  ‐0,79  ‐0,82  ‐0,85  ‐0,85  ‐0,79  15 ‐0,35  ‐0,38  ‐0,03  0,15  0,32 
30  ‐0,80  ‐0,73  ‐0,79  ‐0,82  ‐0,81  30 ‐0,44  ‐0,46  ‐0,09  0,04  0,06 
I  45  ‐0,85  ‐0,77  ‐0,63  ‐0,61  ‐0,73  45 ‐0,46  ‐0,50  ‐0,32  ‐0,33  ‐0,35 
60  ‐0,82  ‐0,76  ‐0,37  ‐0,32  ‐0,56  60 ‐0,52  ‐0,53  ‐0,48  ‐0,51  ‐0,62 
75  ‐0,68  ‐0,65  ‐0,25  ‐0,31  ‐0,62  75 ‐0,48  ‐0,48  ‐0,48  ‐0,61  ‐0,72 
90  ‐0,49  ‐0,47  ‐0,44  ‐0,65  ‐0,74  90 ‐0,49  ‐0,47  ‐0,44  ‐0,65  ‐0,74 
0  ‐0,27  ‐0,28  ‐0,32  ‐0,48  ‐0,64  0  ‐0,20  ‐0,20  ‐0,10  ‐0,10  ‐0,29 
15  ‐0,53  ‐0,58  ‐0,48  ‐0,49  ‐0,60  15 ‐0,39  ‐0,44  ‐0,20  ‐0,05  0,02 
30  ‐0,66  ‐0,66  ‐0,48  ‐0,33  ‐0,38  30 ‐0,55  ‐0,57  ‐0,29  ‐0,09  ‐0,03 
II  45  ‐0,76  ‐0,75  ‐0,39  ‐0,20  ‐0,37  45 ‐0,63  ‐0,65  ‐0,32  ‐0,32  ‐0,44 
60  ‐0,80  ‐0,77  ‐0,39  ‐0,43  ‐0,63  60 ‐0,68  ‐0,67  ‐0,55  ‐0,63  ‐0,70 
75  ‐0,73  ‐0,73  ‐0,53  ‐0,63  ‐0,81  75 ‐0,62  ‐0,61  ‐0,55  ‐0,68  ‐0,79 
90  ‐0,62  ‐0,59  ‐0,56  ‐0,77  ‐0,82  90 ‐0,62  ‐0,59  ‐0,56  ‐0,77  ‐0,82 
0  ‐0,89  ‐1,02  ‐0,90  ‐0,76  ‐0,61  0  ‐0,29  ‐0,28  ‐0,03  0,12  0,04 
15  ‐0,97  ‐0,98  ‐0,92  ‐0,91  ‐0,80  15 ‐0,34  ‐0,35  0,07  0,23  0,33 
30  ‐0,89  ‐0,79  ‐0,85  ‐0,91  ‐0,89  30 ‐0,43  ‐0,43  ‐0,03  0,08  ‐0,01 
III  45  ‐0,96  ‐0,89  ‐0,68  ‐0,73  ‐0,87  45 ‐0,49  ‐0,52  ‐0,41  ‐0,36  ‐0,35 
60  ‐0,88  ‐0,82  ‐0,57  ‐0,52  ‐0,85  60 ‐0,57  ‐0,60  ‐0,53  ‐0,51  ‐0,59 
75  ‐0,67  ‐0,64  ‐0,38  ‐0,53  ‐0,88  75 ‐0,59  ‐0,61  ‐0,58  ‐0,68  ‐0,76 
90  ‐0,60  ‐0,55  ‐0,56  ‐0,80  ‐0,83  90 ‐0,60  ‐0,55  ‐0,56  ‐0,80  ‐0,83 
 

 
Figura 13 ‐ Pressão Total, ℓb/h = 0, 0° e 15° 

11 
 
                                                                     

 
Figura 14 ‐ Pressão Total, ℓb/h = 0.10, 60° e 75° 
 

Gráfico 1 ‐ Ce Quadrante 1 ‐ Zona 1 ‐ Beiral

 
Gráfico 2 ‐ Ce Quadrante 1 ‐ Zona 1 ‐ ℓb/h = 0.05

12 
 
                                                                     
 

Gráfico 3 ‐ Ce Quadrante 1 ‐ Zona 1 ‐ ℓb/h = 0.10

 
Gráfico 4 ‐ Ce Quadrante 1 ‐ Zona 1 ‐ ℓb/h = 0.20

 
Gráfico 5 ‐ Ce Quadrante 1 ‐ Zona 2 ‐ Beiral

13 
 
                                                                     
 

Gráfico 6 ‐ Ce Quadrante 1 ‐ Zona 2 ‐ ℓb/h = 0.05

 
Gráfico 7 ‐ Ce Quadrante 1 ‐ Zona 2 ‐ ℓb/h = 0.10

 
Gráfico 8 ‐ Ce Quadrante 1 ‐ Zona 2 ‐ ℓb/h = 0.20

14 
 
                                                                     
 

Gráfico 9 ‐ Ce Quadrante 1 ‐ Zona 3 ‐ Platibanda ‐ Beiral

 
Gráfico 10 ‐ Ce Quadrante 1 ‐ Zona 3 ‐ ℓb/h = 0.05

 
Gráfico 11 ‐ Ce Quadrante 1 ‐ Zona 3 ‐ ℓb/h = 0.20

 
 

15 
 
                                                                     
 

Gráfico 12 ‐ Ce Quadrante 1 ‐ Zona 3 ‐ ℓb/h = 0.20

3.2 Modelo 2 
 
3.2.1 Apresentação dos Resultados 
 

 
Figura 15 ‐ Pressão para Vento a 0° 
 

 
Figura 16 ‐ Pressão para Vento a 90° 
 

16 
 
                                                                     

 
Figura 17 ‐ Coeficientes de Pressões através da NBR 6123/88. 
 
 
Tabela 5 ‐ Resultado Modelo 3 para vento a 0° 
Resultados Para vento a 0 graus 
Analise Numerica 
Ponto  NBR6123/88 
Pd (m/s)  Pt (Pa)  Cpe 
A1  ‐1,8  40,97  1191  ‐1,157
A1+A2  ‐0,8  40,97  918  ‐0,892
B  ‐0,6  40,97  467  ‐0,454
C  ‐0,3  40,97  157  ‐0,153
D1+D2  ‐0,2  40,97  171  ‐0,166
 

Tabela 6 ‐ Resultado Modelo 3 para vento a 90° 
Resultados Para vento a 90 graus 
Analise Numerica 
Ponto  NBR6123/88 
Pd (m/s)  Pt (Pa)  Cpe 
1  0,3  40,97  1032  1,003 
2  ‐0,3  40,97  ‐467  ‐0,454 
3  ‐0,6  40,97  ‐946  ‐0,919 
4  ‐0,7  40,97  ‐907  ‐0,881 
5  ‐0,6  40,97  ‐574  ‐0,558 
6  ‐0,2  40,97  ‐327  ‐0,318 
 

17 
 
                                                                     

 
Gráfico 13 ‐ Comparação para incidência de 0° 
 

 
Gráfico 14 ‐ Comparação para incidência de 90° 
 

3.3 Analise dos Resultados 
 
3.3.1 Modelo 1 
a) O exame da Tabela 3 e  

Tabela 4 e os Gráficos 1 ao 12 nos leva a concluir que os valores mais próximos entre a Analise 
Numérica Computacional e os valores de Blessmann (2004) acontecem nos quadrantes 1 e 3 
para incidência de vento 0, 15 e 30 graus e nos quadrantes 1 e 2 para ventos com incidência 
nos ângulos 60, 75 e 90 graus. 

b)  Constatou‐se  também  valores  divergentes  os  de  Blessmann  (2004)  nos  quadrantes  2  e  4 
para as coberturas com platibanda ℓb/h = 0 e 0,20 de altura. 

c) O valor de |Ce| máximo foi de 1,34 e aconteceu para cobertura com beiral nos quadrantes 1 
e  2,  zona  1  e  incidência  de  vento  90  graus.  Valores  próximos  a  1,34  aconteceram  para  o 

18 
 
                                                                     
modelo com platibanda de ℓb/h = 0,05 e 0,10 no quadrante 1, zona 1 e incidências de 60 e 75 
graus.  

d) Conforme Blessmann (2004) já tinha constatado os valores absolutos maiores que 1 de Cpe 
aparecem nos quadrantes 1 e 2 sendo que nos quadrantes 3 e 4 os valores de |Ce| situaram‐
se abaixo deste valor. 

e) Para o uso de platibanda assim como Blessmann (2004) notou‐se que a sua influência em 
diversas situações aumentam os valores das sucções, tanto para valores médios |Ce| como os 
valores locais de Cpe. 

3.3.2 Modelo 2 
a)  Os  valores  obtidos  através  da  NBR6123  para  coberturas  circulares  são  semelhantes  com 
aqueles  do  procedimento  de  analise  numérico,  tendo  divergências  somente  nos  coeficientes 
de pressão de borda (Cpe médio). 

b) Para o Vento com incidência de 0 graus o valor máximo de coeficientes de pressão obtido 
através da análise numérica computacional foi de ‐1,16 enquanto a norma nos traz ‐1,8 como 
máximo de borda. 

c) Já para o Vento com incidência de 90 graus o valor de coeficiente de pressão de borda foi 
obtido  +1,003  através  da  análise  numérica  e  +0,3  com  o  procedimento  da  NBR6123, 
mostrando que a norma pode estar subestimando as pressões de borda em alguns casos.  

4  CONCLUSÃO 
 
Em  analise  numérica  computacional  e,  especificamente  falando  em  engenharia  do  vento 
computacional, a confiabilidade dos resultados é um fator discutível. A limitação do métodos 
numéricos e a correta forma de analise influenciam na confiabilidade dos resultados. 

Os resultados, em grande maioria, dos modelos analisados neste trabalho, através da dinâmica 
dos fluidos computacional ou analise numérica computacional, apresentaram valores não tão 
precisos  quanto  os  encontrados  em  túnel  de  vento.  Contudo  é  apresentado  casos  de 
incidências  de  vento  onde  valores  das  análises  numéricas  chegam  próximos  aos  obtidos  em 
túnel de vento. 

É  importante  ressaltar  que  os  valores  das  análises  não  são  idênticos  aos  de  túnel  de  vento, 
porem Ferziger (1990) comenta que erros de mais de 25% podem ser aceitáveis na Engenharia 
do Vento, então estas variações podem ser toleradas. 

REFERÊNCIAS 
 
BLESSMANN, J. Aerodinâmica das Construções. 2° ed. Porto Alegre: SAGRA. 1983. 

19 
 
                                                                     
BLESSMANN, J. Ação do Vento em Telhados. Porto Alegre: SAGRA. 1991. 

GONÇALVES, R. M.; MALITE, M.; DE SALES, J. J.; NETO, J. M. Ação do Vento nas Edificações. 
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2009. 

AZEVEDO, A F.M. Método dos elementos Finitos. 1° Edição. Faculdade de Engenharia do Porto 
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Sept. 1990. 

20 
 
Congresso Latino-Americano da Construção Metálica
CONSTRUMETAL 2014

Contribuições Tecnocientíficas

Parte 4
– Estruturas de Aço em Situação de Incêndio –
DESEMPENHO DE EDIFÍCIO HABITACIONAL DE INTERESSE SOCIAL
INDUSTRIALIZADO EM AÇO EM SITUAÇÃO DE INCÊNDIO

Humberto Napoli Bellei¹


Roberto Inaba²
Mauri Resende Vargas³
Resumo

Este trabalho apresenta os resultados de um projeto que tem como objetivo principal fornecer subsídios
para o conhecimento do comportamento de um sistema estrutural misto de aço e concreto para
habitações de interesse social de andares múltiplos. Um protótipo foi desenvolvido sendo composto por
estrutura em aço USI-CIVIL-300 em perfis conformados a frio na forma de tubos quadrados para os
pilares e perfis I formados por dois U enrijecidos para as vigas além das lajes mistas com forma de aço
incorporada tipo ―steel deck; paredes externas com painéis sanduiche, formados por chapas de aço
galvanizado e material termo isolante, e revestidos internamente por placas Drywall. As paredes internas
com painéis estruturados em aço revestidos com placas de gesso acartonado e forro com placas Drywall.

Palavras-chave: Incêndio; Edifício Habitacional; Estrutura mista;Industrialização

TÍTULO EM INGLÊS

This paper presents the results of a project that aims to provide subsidies to the knowledge of the behavior
of a mixed structural system of steel and concrete for social housing multiple floors. A prototype was
developed and is composed of structure-USI CIVIL-300 in cold-formed steel in the form of square tubing
and profiles for the columns I formed by two U beams for hardened profiles beyond the form of composite
slabs with steel deck; external walls with sandwich panels, consisting of galvanized steel and thermal
insulation materials, and lined by Drywall boards. The internal walls with structured steel coated with
drywall and ceiling with drywall boards.

Keywords: Fire; Social Housing; steel and composite structures ;Industrialization

¹ Engenheiro Civil graduado pela Fundação Oswaldo Aranha, Volta Redonda-RJ /Mestre em ciências pelo
Instituto Tecnológico da Aeronáutica, São José dos Campos-SP /Especialista na USIMINAS, São Paulo,
Brasil

² Arquiteto graduado pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP, São Paulo/ MBA em Gestão
Competitiva pela Faculdade de Economia e Administração da USP, São Paulo/Especialista na USIMINAS,
São Paulo, Brasil

³ Engenheiro Civil graduado pela Escola de Engenharia de São Carlos-SP/consultor em engenharia de


segurança contra incêndio/ titular da Tecsteel Engenharia e Consultoria

________________________________
* Contribuição técnica ao Construmetal 2014 – Congresso Latino-Americano da Construção
Metálica – 02 a 04 de setembro de 2014, São Paulo, SP, Brasil.
1
1 INTRODUÇÃO

Tendo em vista as peculiaridades do projeto desenvolvido pela Usiminas com a proposição de novos
materiais e novo sistema construtivo, sentimos a necessidade da realização de ensaio de incêndio em um
protótipo em escala real.

A estrutura foi verificada apenas à temperatura ambiente conforme as normas ABNT NBR 8800:2008 e
ABNT NBR 14762:2010.

Para situação de incêndio, decidiu-se pela construção de um protótipo em escala real contemplando
metade da planta do andar (2 apartamentos e hall da escada) e 2 pavimentos conforme figura1.

Os elementos estruturais foram mantidos sem proteção e apenas a laje mista recebeu uma armadura
adicional com o objetivo de resistir às solicitações em situação de incêndio. As verificações foram
realizadas conforme a ABNT NBR 14323:1999 e o seu projeto de revisão de 2012 (ABNT NBR
14323:2012). Salienta-se que as vigas de aço foram mantidas sem proteção.

Figura 1: Planta baixa do protótipo e fotografia da vista frontal

2 MATERIAIS E MÉTODOS

Para calcular a carga de incêndio presente no apartamento, foi feita a pesagem de todos os móveis. Com
a utilização de fórmulas e tabelas de poder calorífico especifico de cada material segundo a norma ABNT
NBR: 14432: 2001 ou pelas IT 09 CBMG/IT 14 CBSP, transformou-se o peso dos materiais em carga de
incêndio de cada cômodo.

Foi realizado levantamento do perfil de temperatura do protótipo, utilizando 8 termopares tipo"K",


conectados a um módulo de aquisição de dados instalado em uma cabine protegida com isolação térmica
na parte externa do protótipo e programado para armazenar os valores de temperatura a cada 1 segundo.

Para medir a deformação das estruturas do protótipo durante a simulação de incêndio, foram utilizados
seis extensômetros elétricos, unidirecionais. Extensômetros são medidores de deformação amplamente
utilizados no ensaio de estruturas.

2
Foram realizadas imagens termográficas da parede lateral e frontal do protótipo, através de duas câmeras
de medição de temperatura por infravermelho modelos A315 e A325 do fabricante FLIR.

As câmeras e o sistema de aquisição também foram posicionados em duas cabines protegidas com
isolação térmica. As câmeras foram programadas para gravar as imagens a cada 15 segundos.

Para o acompanhamento de eventual movimentação da estrutura, tanto no sentido horizontal como


vertical, foram utilizadas 3 equipes de topografia durante o ensaio. Os pontos de leitura foram
posicionados no entorno do protótipo sendo: um na fachada frontal, outro na fachada lateral e outro no
fundo do prédio.

Para simular um edifício em condições reais de uso, foi necessário carregar a estrutura de forma a atingir
o máximo esforço atuante nos pilares do pavimento térreo em situação de incêndio ( conforme NBR
14323).

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Não houve colapso total ou parcial do edifício, que permaneceu estável e íntegro, sem quaisquer danos
localizados por fissuras ou deformações mesmo após 75 minutos de incêndio. Os deslocamentos da
estrutura foram insignificantes, tendo sido registrado um deslocamento horizontal de 2,5mm no topo do
edifício.

Não houve a propagação do incêndio para o apartamento contíguo. Isso demonstrou o bom desempenho
da parede Drywall entre os apartamentos do mesmo pavimento e do septo externo colocado entre os
apartamentos (compartimentação horizontal) .

Não houve a propagação do incêndio para o apartamento do andar de cima. Isso demonstrou o bom
desempenho dos painéis de fachada e do conjunto laje mista steel deck+forro Drywall (compartimentação
vertical). Os chumaços de algodão colocados sobre a laje do pavimento incendiado não entraram em
ignição.

As deformações medidas nas vigas e pilares não foram significativas a ponto de comprometer a
estabilidade da edificação. Observou-se uma fecha de 16 mm na viga B. Nas demais vigas e pilares não
houve deformações.

A temperatura máxima registrada no interior do apartamento foi de 1030ºC, e aconteceu aos 57 minutos
(figura 4).

A temperatura máxima registrada na superfície externa do painel de aço foi 30ºC enquanto a placa
Drywall se manteve íntegra e 90ºC após a queda do Drywall.

As propriedades mecânicas do aço não foram afetadas após o incêndio conforme a análise metalográfica
realizada.

3
Figura 2: Fotografias do incêndio.

Figura 3: Fotografias da sala antes e após o incêndio.

Figura 4: Curva tempo X temperatura

4
4 CONCLUSÃO

A comparação do desempenho da estrutura exposta ao incêndio real em relação ao desempenho previsto


pelas normas de verificação em situação de incêndio demonstra que o comportamento da estrutura como
um todo é diferente do previsto por modelos analíticos aplicavéis aos elementos estruturais individuais.

A partir da observação do ensaio, pode-se concluir que a estrutura, apresenta uma capacidade resistente
em situação de incêndio adequada.

Agradecimentos

Agradecemos aos colegas da Usiminas pela valiosa cooperação, em especial aos funcionários
do Centro de Pesquisa.
Agradecemos as empresas que de alguma forma contribuíram para a realização desse
trabalho: Dânica, Flasan, Lafarge Gypsum, Metform, Pórtico, Soluções Usiminas, Tecsteel e
UFMG.
Agradecemos de forma especial o Corpo de Bombeiros do Estado de MG pela inestimável
contribuição ao êxito dessa empreitada.
Agradecemos ao FINEP por ter acreditado nesse projeto e sem o qual não teria sido possível a
realização desse trabalho.

REFERÊNCIAS

[1] ABNT NBR 14323:1999. Associação Brasileira de Normas Técnicas. Dimensionamento de


estruturas de aço de edifícios em situação de incêndio.

[2] ABNT NBR 14323:2012. Associação Brasileira de Normas Técnicas. Texto-Base de Revisão de
Norma - Dimensionamento de Estruturas de Aço e de Estruturas Mistas de Aço e Concreto de
Edifícios em Situação de Incêndio.

[3] ABNT NBR 8800:2008. Associação Brasileira de Normas Técnicas. Projeto de Estruturas de Aço e
Mistas de Aço e Concreto de Edifícios.

[4] ABNT NBR 14762:2010. Associação Brasileira de Normas Técnicas. Dimensionamento de


Estruturas de Aço Constituídas por Perfis Formados a Frio

5
Tema: Proteção das Estruturas – Corrosão e Incêndio

EQUIVALÊNCIA ENTRE INCÊNDIO-PADRÃO E CURVAS PARAMÉTRICAS APLICADOS A


ESTRUTURAS DE AÇO *
Arthur Ribeiro Melão¹
Valdir Pignatta Silva²

Resumo
É corrente empregar-se em projetos de estruturas em situação de incêndio, a curva
padronizada temperatura-tempo definida na ABNT NBR 5628:2001 que é igual à da ISO 834
(1999). No entanto, essa curva não representa o incêndio real.
As curvas paramétricas contidas no Eurocode 1 (2002) apresentam resultados mais realísticos
que a de incêndio-padrão, já que levam em conta o grau de ventilação, carga de incêndio e
características dos materiais das vedações do compartimento e diferenciam incêndio
controlado pela ventilação e controlado pelo combustível.
Para este trabalho, elaborou-se uma ferramenta computacional que permite construir a curva
temperatura-tempo parametrizada para os cenários de incêndio conforme os parâmetros
mencionados. O programa permite também determinar a temperatura de elementos
estruturais de aço sujeitos a incêndios modelados por ambas as curvas, empregando-se a
formulação recomendada pela ABNT NBR 14323:2013.
O objetivo deste trabalho é procurar encontrar uma equivalência entre ambas as curvas por
meio da comparação da temperatura do aço.

Palavras-chave: Incêndio; Aço; Tempo Equivalente; Curva Paramétrica.

________________________________
* Contribuição técnica ao Construmetal 2014 – Congresso Latino-Americano da Construção
Metálica – 02 a 04 de setembro de 2014, São Paulo, SP, Brasil.
1
EQUIVALENCE BETWEEN ISO-FIRE AND PARAMETRIC FIRE BASED ON THE TEMPERATURE OF
STEEL STRUCTURES *

Abstract
The adoption of the standard curve is common in structural design . This curve is defined in
ABNT NBR 5628:2001 and is equal to ISO 834 (1999). However this curve does not represent
the real fire.
Parametric curves of Eurocode 1 (2002) present more realistic results than Iso-fire, since it
takes into account the opening factor, fire load density and characteristics of the materials of
seals the compartment, in addition to differentiate fuel controlled fire from ventilation
controlled fire.
For this work was elaborated a computational tool that allows to build parametric
temperature-time curve for fire scenarios as the aforementioned parameters. The software
also allows to determine the temperature of structural steel members in fire modeled by both
curves, using the formulation recommended by the ABNT NBR 14323:2013.
The objective of this work is try to find an equivalence between both curves by comparing the
temperature steel.

Keywords: Fire; Steel; Equivalent Time; Parametric temperature-time curves.

¹ Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil da Escola Politécnica da Universidade


de São Paulo. São Paulo – Brasil. Av. Prof. Almeida Prado – Trav. 2, N. 83, CEP 05508-900, São Paulo SP,
Brasil. melao@usp.br
² Professor Doutor do Departamento de Engenharia de Estruturas e Geotécnica, Escola Politécnica da
Universidade de São Paulo. São Paulo – Brasil. Av. Prof. Almeida Prado - Trav. 2, N. 83, CEP 05508-900,
São Paulo SP, Brasil. valpigss@usp.br

________________________________
* Contribuição técnica ao Construmetal 2014 – Congresso Latino-Americano da Construção
Metálica – 02 a 04 de setembro de 2014, São Paulo, SP, Brasil.
2
1 INTRODUÇÃO
Apesar de a probabilidade de ocorrência ser pequena, as consequências de um incêndio
podem ser desastrosas. Há exigências legais e normativas de que as estruturas tenham
determinada resistência ao fogo. No caso, as estruturas de aço devem ser dimensionadas de
forma a respeitar essa exigência com base na recém-publicada ABNT NBR 14323:2013.
Para efeito de projeto, a ação térmica é geralmente representada por uma curva temperatura-
tempo padronizada pela ISO 834 (1999). Além da curva padronizada, o Eurocode 1 (2002)
apresenta um procedimento para a determinação de curvas paramétricas que se assemelham
aos incêndios reais.
As curvas paramétricas apresentam resultados mais realistas que a do incêndio-padrão, já que
levam em conta o grau de ventilação, carga de incêndio específica e características dos
materiais componentes nas vedações do compartimento, além de considerar a transição entre
incêndio controlado pela ventilação e pelo combustível.

2 OBJETIVO
O objetivo deste trabalho é realizar estudos sobre equivalências entre curvas paramétricas e
curva-padrão e comparar os valores de tempos. Neste trabalho será considerado tempo
equivalente, o tempo que eleva a temperatura do aço obtido por meio da curva padronizada
até a temperatura obtida pela curva paramétrica do incêndio.

3 CURVAS PARAMÉTRICAS
As curvas paramétricas apresentadas pela Eurocode 1 (2002) têm por base um modelo de
incêndio natural e são válidas para compartimentos até 500 m² de área de piso e 4 metros de
altura, sem aberturas horizontais (no teto). Nesse modelo, é considerado que todo material
inflamável participa do processo de combustão.

3.1 Tempo da temperatura máxima dos gases


O primeiro passo é se determinar o tempo em que ocorre a temperatura máxima dos gases
(tmáx) dentro de um compartimento, que será obtido por meio da Equação 1.

⁄ (1)

3
Na Equação 1:
qt,d é o valor de cálculo da carga de incêndio específica relacionada à área total do
compartimento (At), conforme ⁄ [MJ/m2], respeitando os limites de
[MJ/m2]
qf,d é o valor de cálculo da carga de incêndio específica relacionada à área de piso do
compartimento (Af), conforme especificado no anexo E da parte 2 do Eurocode 1 (2002), na
NBR 14432:2001 ou na Instrução Técnica 14 (2011).

O é o grau de ventilação, √ ⁄ [m1/2], com os limites: ;

Av é área total de aberturas verticais nas paredes em m2.


heq é a altura média das aberturas em m2.
Av é área total do compartimento (teto, piso e paredes) em m2.
tlim é o tempo-limite mínimo, determinado pela velocidade de desenvolvimento do
incêndio:

 25 min para lento (espaço público);


 20 min para médio (residência, hospital, hotel, escritório, sala de aula); e
 15 min para rápido (biblioteca, shopping, cinema, teatro).

Quando tmáx = tlim significa que o incêndio é controlado pelo combustível e quando tmáx > tlim, ou
seja quando tmáx é determinado por ⁄ , o incêndio é controlado pela
ventilação.
A temperatura máxima dos gases é obtida adotando o tempo tmáx para a Equação 2.

3.2 Ramo Ascendente


A formulação para temperatura dos gases na fase de aquecimento, ou seja, o ramo
ascendente é dado pela Equação 2.

( ) (2)

Na Equação 2:

g é a temperatura dos gases dentro do compartimento, expresso em °C.

4
t* é o tempo fictício em horas, calculado por meio da Equação (3 para incêndio
controlado pela ventilação (tmáx > tlim) e calculado por intermédio da Equação 5 para incêndio
controlado pelo combustível (tmáx = tlim).

(3)

Sendo que o coeficiente  é determinado pela Equação 4.


(4)

Na Equação 4:
O é o grau de ventilação
b é a propriedade térmica das vedações do compartimento em J/m2s1/2 °C.

(5)

Sendo que o coeficiente lim é determinado pela Equação 6.


(6)

Na Equação 6:
Olim é o grau de ventilação-limite determinado por ⁄

k é um coeficiente que é tomado igual a 1 ou calculado conforme Equação 7 caso sejam


atendidas todas as condições: O > 0,004; qt,d < 75; e b < 1160.

( )( )( ) (7)

A propriedade térmica b dos elementos de vedação do compartimento é associado as


características térmicas de seus materiais e é obtida por meio da Equação 8, com os seguintes
limites: 100 ≤ b ≤ 2200 em J/m2s1/2 °C.

√ (8)

5
Na Equação 8:

 é a massa específica do material da vedação em kg/m3;


c é o calor específico do material de vedação em J/kg °C;

 é a condutividade térmica do material da vedação em W/m °C.


No caso de elementos de vedação com diferentes valores para propriedade térmica b é feita a
média ponderada descontando a área das aberturas.
Para elementos de vedação composta por camadas de materiais com propriedades térmicas e
físicas distintas adotar uma das possibilidades abaixo. O índice 1 representa a camada exposta
ao fogo e o índice 2 é relativo a próxima camada.

 Para b1 < b2, adotar b = b1.


 Para b1 < b2, calcular pela Equação 9

( ) (9)

Na Equação 9:
b1 e b2 são as propriedades térmicas das camadas 1 e 2, respectivamente;
slim é a espessura-limite em metros dada pela Equação 10

√ (10)

tmáx é o tempo para atingir a temperatura máxima em horas;


λ1, c1 e ρ1 são as características térmicas da camada exposta ao fogo.

3.3 Ramo Descendente


O ramo descendente da curva parametrizada proposto pelo Eurocode 1 (2002) é representada
simplificadamente por uma reta conforme Equação 11.

(11)

Na Equação 11:
Θmáx é a temperatura máxima dos gases calculado com a Equação 2 com o tempo .

6
é o tempo fictício relativo ao tempo da temperatura máxima dos gases respeitando a
condição de ser maior que tlim.
ktemp é dado pela Equação 12, respeitado a condição 1 ≤ ktemp ≤ 2,5

(12)

Na Equação 12:
é o tempo fictício relativo ao tempo da temperatura máxima dos gases NÃO
respeitando a condição de ser maior que tlim, ou seja calculada pela Equação 3 com
⁄ .

4 Comparações entre curva-padrão e curva paramétrica


As comparações entre a curva-padrão e a curva paramétrica são feitas por meio do conceito
de tempo equivalente, que é uma forma de se conhecer a severidade do incêndio real por
meio da curva-padrão. São três os métodos de se obter o tempo equivalente: conceito da
temperatura máxima, conceito da mínima capacidade de carga e o conceito de áreas iguais.

4.1 Conceito de Igualdade de Áreas sob as Curvas


A Erro! Fonte de referência não encontrada. ilustra o conceito proposto pela primeira vez por
Ingberg apud Nyman (2002), que o tempo equivalente de um incêndio é obtido igualando as
áreas sob as curvas de incêndio natural e de incêndio-padrão acima de uma temperatura de
referência de 150 °C. Segundo Nyman (2002), o conceito de Ingberg considera como
temperatura de referência 300 °C quando se trata de elementos estruturais não combustíveis
pesados.
Teoricamente, o produto entre temperatura e tempo não é de calor, no entanto, alguns
autores defendem esse conceito que foi um ponto de partida para as regulamentações atuais
da classe de fogo.
Esse conceito é interessante já que a severidade do incêndio independe da estrutura a ser
analisada. Isto é, dois incêndios de mesma severidade conduzirão a resultados iguais, mesmo
que, por exemplo, os perfis metálicos sujeitos a cada um desses incêndios estejam protegidos
de maneira diferente.

7
Figura 1 -Tempo Equivalente pelo Conceito de Igualdade de Áreas sob as Curvas – Thomas, et. al. (1997)

4.2 Conceito de Temperatura Máxima do Aço


O conceito de temperatura máxima do aço é defendido por Law e Pettersson apud Thomas
(1997). Esse conceito define que a gravidade equivalente do incêndio é o tempo de exposição
necessário para que a temperatura de um elemento de aço protegido determinada por meio
da curva de incêndio-padrão atinja a mesma temperatura máxima do aço de um
compartimento com incêndio natural. Esse conceito é apresentado através do gráfico da
Figura 2.

Figura 2 - Tempo Equivalente pelo Conceito Temperatura Máxima do Aço – Silva (1997)

8
4.3 Conceito de esforço resistente mínimo do aço
Outra alternativa é se determinar a equivalência do incêndio por meio do conceito de esforço
resistente mínimo do elemento de aço. Esse conceito define que a equivalência do incêndio é
o tempo de exposição necessário para que o esforço resistente de um elemento de aço
determinado por meio da curva de incêndio-padrão atinja o mesmo valor mínimo do aço
submetido ao incêndio natural. Esse conceito é ilustrado no gráfico da Figura 3.

Figura 3 - Tempo Equivalente pelo Conceito de esforço resistente mínimo do aço – Thomas, et. al. (1997)

4.4 Método do tempo equivalente (ABNT NBR14323:2013)


O método do tempo equivalente é apresentado no Anexo F da ABNT NBR 14323:2013 como
uma forma de se determinar o tempo requerido de resistência ao fogo (TRRF) de elementos
estruturais de aço e mistos de aço e concreto. Nesse método, são levados em conta aspectos
do projeto contra incêndio e características da edificação que reduzem o risco ou a
propagação do sinistro e facilitam a fuga dos usuários e as operações de combate ao fogo.
É importante salientar que esse método, apesar de empregar algumas equações do método do
tempo equivalente do Eurocode 1 (2002), não é igual ao método apresentado na norma
europeia. A principal diferença são as limitações impostas. A norma brasileira não permite que
o tempo equivalente seja tomado como inferior a 15 min ou inferior ao tempo determinado
pelo Anexo A da ABNT NBR 14432:2000 reduzido de 30 min. Dessa forma, o método da norma
brasileira tem um caráter de reduzir de até no máximo 30 min o TRRF, e assim trazer economia
no dimensionamento das estruturas de uma edificação com boas características de segurança
contra incêndio. No caso do aço, quer pela redução da espessura do revestimento contra fogo,

9
quer pela dispensa dele. Ressalte-se que o método apresentado na norma brasileira, não é um
método de equivalência entre as duas curvas.

5 PLANILHA ELETRÔNICA
Para este estudo foi desenvolvida uma planilha Excel capaz de calcular e traçar as curvas
temperatura-tempo dos gases, segundo as curvas paramétricas do Eurocode 1 (2002) e a
curva-padrão ISO 834 (1999). A planilha foi aferida pelo software Elefire-EN (Franssen e Vila
Real, 2010).

5.1 Entrada de dados


A primeira etapa é definir as características geométricas do compartimento, que são área de
piso, perímetro, altura, e dados das aberturas (área total e altura média). Em seguida,
definem-se os revestimentos das vedações (piso, teto e paredes) para que seja calculado o
parâmetro b. A Figura 4 apresenta, nos campos em verde da planilha, onde são inseridos esses
dados.
Para traçar a curva paramétrica do Eurocode 1 (2002), determina-se a carga de incêndio do
compartimento em estudo. Como para o uso do método é necessário empregar o valor de
cálculo da carga de incêndio específica, o que significa que o valor característico da carga de
incêndio deve ser ponderada por determinados coeficientes, optou-se por permitir que o
usuário possa inserir cargas de incêndio distintas e assim poder adotar coeficientes de
ponderação segundo normas diferentes. Foi feita uma calculadora para auxiliar na
determinação do valor de cálculo da carga de incêndio com os coeficientes de ponderação e
com um banco de dados com os valores característicos dessas cargas de incêndio conforme
Instrução Técnica 14 (2011). A Figura 5 apresenta a carga de incêndio a ser inserida, assim
como os parâmetros calculados para a curva paramétrica.

10
Figura 4 – Entrada de dados – dimensões do compartimento.

Figura 5 – Cálculo da curva paramétrica (Eurocode 1, 2002).

Figura 6 – Tipo de exposição e Revestimento do Perfil.

Para este trabalho foi feito um estudo do tempo equivalente com o conceito da temperatura
do aço. Esse método sofre grande influência do revestimento do perfil, que no caso foi
primeiramente avaliado perfis sem revestimento corta-fogo.
Outro parâmetro que tem grande influência na temperatura do aço em situação de incêndio é
o fator de massividade (u/Ag) que é a relação da área exposta do perfil e seu volume ou, por
medida de comprimento, a relação entre o perímetro exposto do perfil e sua área da seção.
Portanto o fator de massividade varia muito com o tipo de exposição, por exemplo, se é um

11
pilar exposto pelos quatro lados ou uma viga com laje em que o perfil está exposto por três
lados.
Ainda, no caso de seções I ou H sem revestimento contra fogo expostas ao incêndio, há
necessidade de se considerar um fator de correção (ksh) para o efeito de sombreamento que é
dado pela Equação 13.

(13)

Na Equação 13, (u/Ag)b é valor do fator de massividade, definido como a relação entre o
perímetro exposto ao incêndio de uma caixa hipotética que envolve o perfil e a área da seção
transversal do perfil.

5.2 Igualdade da temperatura do aço


Com a planilha desenvolvida, é possível realizar comparações de resultados obtidos a partir da
curva paramétrica do Eurocode 1 (2002) e pela curva de incêndio-padrão ISO 834 (1999)
adotada por diversas normas internacionais inclusive pelas normas brasileiras.
Foram avaliados valores característicos de cargas de incêndio determinado pela Instrução
Técnica 14 (2011) e os valores que aparecem com maior frequência em MJ/m 2 são: 200, 300,
400, 500, 600, 700, 800 e 1000. Para compartimentos com dimensões comuns e alturas entre
2,8 m e 4 m é razoável adotar um valor médio para a relação entre a área de piso e a área total
(Af/At) entre 1/3 e 1/4. Dessa forma, adotando fatores de ponderação igual a 1,00, obtemos os
seguintes valores de cálculo para cargas de incêndio em MJ/m 2: 66,6; 100,0; 133,3; 166,6;
200,0; 233,3; 266,6; e 333,3 para Af/At = 1/3 e 50; 75; 100; 125; 150; 175; 200 e 250 para Af/At
= 1/4.
O grau de ventilação segundo a Eurocode 1 (2002) deve ser limitado a valores entre 0,02 e
0,20. No entanto, adotando-se os seguintes limites: Af/At entre 1/3 e 1/4, altura média das
janelas entre 1 m e 3 m e Av/Af entre 0,12 e 0,25, encontram-se para o menor e maior valor do
grau de ventilação, respectivamente, 0,04 e 0,15. Assim, para cada valor de cálculo de carga de
incêndio apresentado acima foram adotados os seguintes valores de grau de ventilação na
análise paramétrica: 0,04; 0,06; 0,08; 0,10; 0,15.

Como pode ser visto nas equações 4 e 5, o coeficiente  compara o valor da propriedade
térmica b das vedações do compartimento com o valor base de 1160. Para compartimentos
comuns com vedações de concreto no piso e no teto e de acabamento de gesso nas paredes e
considerando a relações Af/At = 33,3% e Av/Af = 12%, chega-se ao valor da propriedade térmica

12
b igual a 1561 J/m2s1/2 °C, que é aproximadamente 35% maior que o valor base. Portanto para
a parametrização será adotado b = 1566 J/m2s1/2 °C.
Para o tempo-limite (tlim) foi adotado 20 min, que é para desenvolvimento do incêndio médio,
o que corresponde a residências, hospitais, hotéis, escritórios etc.
Avaliando 110 perfis encontrados no mercado brasileiro com seção I ou H, constata-se que, se
expostos por quatro lados são encontrados valores de fator de massividade entre 110 e 430 e,
considerando efeito de sombreamento, valores entre 70 e 300. A distribuição entre faixas
encontradas é apresentada na tabela 1.
Tabela 1 - Fatores de massividade de perfis brasileiros
4 LADOS EXPOSTOS
(u/Ag) ksh . (u/Ag)
Faixas Frequência Porcentagem Frequência Porcentagem
50 - 100 0 0,0% 14 12,7%
100 - 150 15 13,6% 40 36,4%
150 - 200 26 23,6% 37 33,6%
200 - 250 23 20,9% 10 9,1%
250 - 300 25 22,7% 9 8,2%
300 - 350 10 9,1% 0 0,0%
350 - 400 4 3,6% 0 0,0%
400 - 450 7 6,4% 0 0,0%
Totais 110 110

A seguir apresentam-se nas Tabelas 2 e 3, alguns resultados da análise desenvolvida,


envolvendo os extremos de fator de massividade 100 m-1 e 300 m-1.

13
Tabela 2 – Tempo equivalente em função do fator de massividade igual a 100 m-1 e demais parâmetros

qt,d O θg tg,máx θa teq


(MJ/m2) (m1/2) (°C) (min) (°C) (min)
0,04 276 20 202 6.3
0,06 276 20 182 5.8
50 0,08 276 20 172 5.5
0,1 276 20 165 5.3
0,15 276 20 155 5.1
0,04 730 23 682 19.3
0,06 467 20 356 9.8
75 0,08 467 20 338 9.4
0,1 467 20 324 9.1
0,15 467 20 309 8.8
0,04 766 30 729 21.7
0,06 815 20 739 22.3
100 0,08 609 20 492 13.1
0,1 609 20 482 12.8
0,15 609 20 466 12.4
0,04 792 38 755 23.4
0,06 845 25 790 26.4
125 0,08 694 20 601 16.2
0,1 694 20 593 15.9
0,15 694 20 579 15.5
0,04 815 45 794 26.9
0,06 871 30 842 33.6
150 0,08 914 23 870 39.5
0,1 745 20 661 18.3
0,15 745 20 655 18.1
0,04 835 53 824 30.8
0,06 894 35 877 41.2
175 0,08 938 26 914 51.4
0,1 972 21 938 59.8
0,15 782 20 703 20.3
0,04 854 60 846 34.4
0,06 914 40 903 48.0
200 0,08 958 30 943 61.7
0,1 992 24 972 74.0
0,15 815 20 732 21.8
0,04 886 75 881 42.0
0,06 949 50 941 60.8
250 0,08 992 38 983 79.4
0,1 1026 30 1014 97.3
0,15 1085 20 1067 136.8

14
Tabela 3 – Tempo equivalente em função do fator de massividade igual a 300 m-1 e demais parâmetros.

qt,d O θg tg,máx θa teq


(MJ/m2) (m1/2) (°C) (min) (°C) (min)
0,04 276 20 250 3.8
0,06 276 20 236 3.6
50 0,08 276 20 236 3.6
0,1 276 20 229 3.5
0,15 276 20 229 3.5
0,04 730 23 718 14.7
0,06 467 20 432 6.1
75 0,08 467 20 426 6.0
0,1 467 20 426 6.0
0,15 467 20 421 5.9
0,04 766 30 750 17.6
0,06 815 20 804 24.4
100 0,08 609 20 582 8.8
0,1 609 20 579 8.7
0,15 609 20 575 8.6
0,04 792 38 787 22.0
0,06 845 25 839 30.4
125 0,08 694 20 675 11.9
0,1 694 20 675 11.9
0,15 694 20 673 11.8
0,04 815 45 811 25.6
0,06 871 30 866 36.3
150 0,08 914 23 909 47.8
0,1 745 20 725 15.3
0,15 745 20 725 15.3
0,04 835 53 833 29.3
0,06 894 35 890 42.3
175 0,08 938 26 933 56.1
0,1 972 21 967 70.0
0,15 782 20 755 18.1
0,04 854 60 852 33.0
0,06 914 40 911 48.5
200 0,08 958 30 955 64.6
0,1 992 24 988 80.5
0,15 815 20 802 24.2
0,04 886 75 885 40.8
0,06 949 50 946 61.1
250 0,08 992 38 990 81.3
0,1 1026 30 1022 101.1
0,15 1085 20 1081 148.8

15
Para melhor visualização construíram-se alguns gráficos às Figuras 6 a 9.

Tempo equivalente x Grau de Ventilação


(qt,d = 100 MJ/m2)
30,0
Tempo Equivalente (min)

25,0

20,0

15,0

10,0

5,0

0,0
0,04 0,06 0,08 0,1 0,12 0,14 0,16
Grau de Ventilação (m1/2)

(u/Ag) [m-1]: 100 200 300

Figura 6 – Variação do tempo equivalente com o grau de ventilação e fator de massividade para carga de
incêndio igual a 100 MJ/m2 de área total.

Tempo equivalente x Grau de Ventilação


(qt,d = 200 MJ/m2)
90,0
80,0
Tempo Equivalente (min)

70,0
60,0
50,0
40,0
30,0
20,0
10,0
0,0
0,04 0,06 0,08 0,1 0,12 0,14 0,16
Grau de Ventilação (m1/2)

(u/Ag) [m-1]: 100 200 300

Figura 7 – Variação do tempo equivalente com o grau de ventilação e fator de massividade para carga de
incêndio igual a 200 MJ/m2 de área total

16
.

Tempo equivalente x Grau de Ventilação


(u/Ag) = 100 m-1
160,0
140,0
Tempo Equivalente (min)

120,0
100,0
80,0
60,0
40,0
20,0
0,0
0,04 0,06 0,08 0,1 0,12 0,14 0,16
Grau de Ventilação (m1/2)

qt,d [MJ/m2] : 100 150 200 250

Figura 8 – Variação do tempo equivalente com o grau de ventilação e carga de incêndio específica em
relação à área total para fator de massividade igual a 100 m-1.

Tempo equivalente x Grau de Ventilação


(u/Ag) = 300 m-1
160,0
140,0
Tempo Equivalente (min)

120,0
100,0
80,0
60,0
40,0
20,0
0,0
0,04 0,06 0,08 0,1 0,12 0,14 0,16
Grau de Ventilação (m1/2)

qt,d [MJ/m2] : 100 150 200 250

Figura 9 – Variação do tempo equivalente com o grau de ventilação e carga de incêndio específica em
relação à área total para fator de massividade igual a 300 m-1.

17
Observando-se as Figuras de 6 a 9, pode-se encontrar algumas conclusões preliminares, tais
como:

 a variação do tempo equivalente é pequena a partir de um determinado valor do grau de


ventilação para cargas de incêndio baixas, segundo Figura 6;
 a variação do tempo equivalente com o fator de massividade é pequena para cargas de
incêndio altas, segundo Figura 7;
 para cargas de incêndio altas o valor do tempo equivalente varia linearmente com o grau
de ventilação, conforme Figuras 8 e 9.
Apesar dessas conclusões, em geral, a variação do tempo equivalente é muito dependente dos
parâmetros adotados.
O tempo equivalente neste trabalho foi determinado sem qualquer fator de ponderação que
considere o risco de ocorrência e propagação de incêndio e suas consequências. Esses fatores
podem ou não aumentar o tempo equivalente em função das dimensões da edificação em
estudo ou diminuir em função das medidas de proteção contra incêndio existentes na
construção.

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os TRRF definidos em regulamentos ou normatizados ao não considerarem o grau de


ventilação do ambiente, podendo levar a grandes desvios do valor realmente necessário.
Para este trabalho desenvolveu-se uma planilha eletrônica, que permite construir as curvas
paramétricas temperatura-tempo dos gases quentes de um determinado cenário de incêndio,
recomendadas pelo Eurocode e a curva padronizada pela ISO 834 (1999) e as temperaturas no
aço em função e ambas as curvas A partir dos valores das temperaturas, determinou-se o
tempo equivalente que associa ambas as curvas. Neste trabalho foram apresentados alguns
dos resultados do estudo realizado.
Há necessidade de se estudar fatores de ponderação que considerem o risco de incêndio
(ocorrência e consequência). Esses fatores podem ou aumentar ou diminuir o tempo
equivalente. O tempo equivalente final pode substituir os tempos requeridos de resistência ao
fogo – TRRF - padronizados por normas e códigos, que são escolhidos com pouca base
científica.

18
Apesar de terem sido encontradas algumas relações interessantes, não foi possível determinar
uma equação única que relacione as várias variáveis empregadas neste trabalho e o valor
tempo equivalente. Em trabalhos futuros pretende-se estudar mais profundamente esse tema.
Outros estudos devem ser feitos para se incluir as variações do valor da propriedade térmica b
das vedações do compartimento e dos tempos-limites.

AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem à FAPESP - Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo e ao


CNPq - Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico

19
REFERÊNCIAS

1. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS (2001). NBR 5628 - Componentes


construtivos estruturais - Determinação da resistência ao fogo. Rio de Janeiro.

2. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS (2013). NBR 14323 - Dimensionamento


de estruturas de aço de edifícios em situação de incêndio. Rio de Janeiro.

3. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS (2001). NBR 14432 – Exigências de


resistência ao fogo de elementos construtivos das edificações. Rio de Janeiro.

4. EUROPEAN COMMITTEE FOR STANDARDIZATION (2002). EN 1991-1-2: Eurocode 1:


Actions on strutures – Part 1-2: General actions – Actions on strutures exposed to fire.
Brussels: CEN.

5. INTERNATIONAL ORGANIZATION FOR STANDARDIZATION (1999). ISO 834: Fire-resistance


tests: elements of building construction - part 1.1: general requirements for fire resistance
testing. Geneva, 25 p. (Revision of first edition ISO 834:1975)

6. SÃO PAULO (Estado). Secretaria de Estado dos Negócios da Segurança Pública. Polícia
Militar. Corpo de Bombeiros (2011). Instrução técnica n.14: Carga de incêndio nas
edificações e áreas de risco. São Paulo,

7. FRANSSEN, J.M.; VILA REAL, P. Fire Design of Steel Structures. Berlin, ECCS – European
Convention for Construction Steelwork, Ernst & Sohn. 2010

8. SILVA, V. P. Estruturas de aço em situação de incêndio. Tese de doutorado apresentada à


Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, São Paulo. 1997

9. Nyman, J. F. Equivalent Fire Resistance Ratings of Construction Elements Exposed to


Realistic Fires, Tese (Mestrado), Department of Civil Engineering University of Canterbury
Christchurch, New Zealand. 2002

10. THOMAS, G.C., BUCHANAN, A.N., FLEISCHMANN, C.M. Structural Fire Design: The Role of
Time Equivalence, University of Canterbury, Christchurch, New Zealand - Paper of Fire
Safety Science-Proceedings of The Fifth International Symposium, Pp 607-618. 1997

20
Tema: Proteção das Estruturas – Corrosão e Fogo

Estudo Teórico da Flambagem Distorcional de Perfis U Enrijecido em Temperatura


Elevada *

Armando Aguiar de Souza Cruz Neto¹


Possidonio Dantas de Almeida Neto²
Rodrigo Barreto Caldas³
Francisco Carlos Rodrigues4

Resumo
Este trabalho apresenta um estudo sobre a flambagem distorcional de perfis formados a frio,
com seção transversal do tipo U enrijecido, em temperatura elevada. A pesquisa tem por base
as prescrições relativas ao método simplificado de dimensionamento para estruturas de aço
em temperatura elevada da norma europeia EN 1993-1-2:2005 e da norma brasileira ABNT
NBR 14323:2013, além das formulações constantes da ABNT NBR 14762:2010 para o
dimensionamento de perfis formados a frio em temperatura ambiente. Foi implementado um
modelo numérico com base no método dos elementos finitos e no método das faixas finitas.
Esse modelo numérico foi calibrado com resultados experimentais disponíveis na literatura.
Com esse modelo calibrado, será analisada analítica e numericamente a variação do fator de
redução da resistência ao escoamento do aço de seções sujeitas à flambagem local em
temperatura elevada relativo à temperatura ambiente, kσ,θ, em função da temperatura para os
casos de flambagem distorcional.

Palavras-chave:
Flambagem Distoriconal; Temperatura Elevada; Flambagem Local; Método dos
Elementos Finitos.

Lipped Channels Profiles Theoretical Study of Distortional Buckling in Elevated Temperature

Abstract
This paper presents a study on distortional buckling of cold-formed profiles, on C lipped
channel cross section in high temperature. The research is based on the simplified design
method for steel structures at elevated temperature of european standard EN 1993-1-2:2005
and Brazilian standard ABNT NBR 14323:2013, besides the formulations proposed by ABNT
NBR 14762:2010 for the design of cold-formed profiles at room temperature. A numerical
model has been implemented based on the finite element method and the finite strip method.
This numerical model has been calibrated with experimental results available in the literature.
With this calibrated model, will be analyzed analytically and numerically the variation of the
reduction factor for the yield strength of class 4 sections, k σ,θ, as a temperature function for
cases of distortional buckling.

________________________________
* Contribuição técnica ao Construmetal 2014 – Congresso Latino-Americano da Construção
Metálica – 02 a 04 de setembro de 2014, São Paulo, SP, Brasil.
1
Keywords: Distortional Buckling; Elevated Temperature; Local Buckling; Finite Element
Method.

¹ Engenheiro Mecânico/UFMG, Mestrando do Departamento de Engenharia de Esturuturas da UFMG,


Belo Horizonte, Minas Gerais, Brasil.
² Graduando do curso de Engenharia Civil da UFMG, Belo Horizonte, Minas Gerais, Brasil.
³ Engenheiro Civil/UFMG, Professor do Departamento de Engenharia de Estruturas da UFMG, Professor
Associado, Belo Horizonte, Minas Gerais, Brasil.
4
Engenheiro Civil/UFMG, Professor do Departamento de Engenharia de Estruturas da UFMG, Professor
Titular, Belo Horizonte, Minas Gerais, Brasil.

2
1 INTRODUÇÃO

1.1 Considerações Inicias

Uma característica importante dos perfis formados a frio é a grande variabilidade de seções
transversais que podem ser fabricadas, possibilitando sua aplicação em diferentes áreas,
atendendo aos mais diversos sistemas estruturais e construtivos. Além disso, a fabricação dos
perfis formados a frio requer equipamentos mais simples, quando comparados com os de
perfis laminados e soldados, podendo ser feita em pequenos galpões, facilitando assim sua
disponibilidade no mercado.

Os perfis formados a frio, quando constituídos por chapas muito finas de aço, podem estar
sujeitos a fenômenos de instabilidades locais, além das instabilidades globais. Esses
fenômenos são os responsáveis pela falha do perfil antes de alcançar o escoamento da seção.

Em temperatura elevada, o aço dos perfis formados a frio sofre degenerescência de suas
propriedades. Neste caso, para calcular a degenerescência do aço, são utilizados fatores de
redução que nada mais são do que a razão entre o valor da propriedade à temperatura
elevada pela propriedade à temperatura ambiente.

Atualmente, a norma europeia EN 1993-1-2:2005 e a norma brasileira ABNT NBR 14323:2013


propõem o uso de três fatores: o fator de redução do módulo de elasticidade do aço do perfil
em temperatura elevada relativo ao valor à temperatura ambiente, kE,θ; o fator de redução da
resistência ao escoamento do aço de seções sujeitas à flambagem local em temperatura
elevada relativo à temperatura ambiente, kσ,θ; e o fator de redução da resistência ao
escoamento do aço do perfil em temperatura elevada relativo ao valor à temperatura
ambiente, ky,θ. O fator kσ,θ é definido para uma deformação residual de 0,2% enquanto que ky,θ
é definido para uma deformação total de 2%. A Figura 1 apresenta a variação desses fatores
em função da temperatura do aço.
1.20

1.00
Fator de Redução

0.80

ky,θ
0.60
kE,θ
kσ,θ
0.40

0.20

0.00
20 200 400 600 800 1000 1200

Temperatura (°C)

Figura 1: Variação dos fatores ky,θ, kσ,θ ekE,θ em função da temperatura do aço (EN 1993-1-
2:2005)

3
Dessa forma, para seções sujeitas à flambagem local, utiliza-se o fator de redução kσ,θ para o
cálculo da força resistente do perfil sob compressão centrada tanto para flambagem local
quanto para flambagem distorcional; caso contrário, utiliza-se ky,θ. A relação entre os valores
de kσ,θ e ky,θ pode chegar a 0,65 e, conforme a EN 1993-1-2:2005 e a ABNT NBR 14323:2013, o
fator de redução kσ,θ deve ser utilizado mesmo quando o perfil está no limiar da ocorrência de
flambagem local. Observa-se que, segundo essa abordagem, ocorre uma descontinuidade no
cálculo dos perfis formados a frio em altas temperaturas, uma vez que se utiliza o fator de
redução ky,θ em perfis onde não ocorre a flambagem local e o fator kσ,θ em caso contrário.

Costa (2012) estudou o comportamento de perfis U enrijecidos em que houvesse o modo


predominante de flambagem local sob temperatura elevada, revelando que os resultados
analíticos apresentam valores discrepantes em relação aos resultados numéricos, ocasionando
perfis tanto a favor (penalizando o perfil) quanto contra a segurança (perfis com força
resistente menor do que a calculada). Portanto, de maneira semelhante, deve ser estudado
como essa descontinuidade pode afetar o tratamento de perfis em que haja falha
predominante devido à flambagem distorcional sob temperatura elevada.

1.2 Objetivos

Investigar o comportamento de perfis U enrijecidos para a situação de flambagem distorcional


em temperatura elevada.

1.2.1 Objetivos Escpecíficos

Desenvolver um modelo numérico capaz de simular o comportamento da flambagem


distorcional de perfis U enrijecidos formados a frio em temperatura elevada.

Calibrar o modelo numérico desenvolvido com os resultados experimentais e numéricos


disponibilizados na literatura e com os resultados analíticos das normas EN-1993-1-3:2006, EN
1993-1-2:2005, ABNT NBR 14762:2010 e ABNT NBR 14323:2013.

Verificar a validade e, caso necessário, ajustar o fator de redução da resistência ao escoamento


do aço de seções sujeitas à flambagem local em temperatura elevada relativo à temperatura
ambiente a partir dos resultados numéricos encontrados. Estabelecer um modelo matemático
desse ajuste, tal como Costa(2012) realizou para a flambagem local, em função da esbeltez do
perfil ou outro parâmetro geométrico que apresente melhor relação.

Os resultados do modelo poderão ser utilizados para sugestões de futuras revisões da norma
brasileira ABNT NBR 14323:2013.

2 Revisão Bibliográfica

Os modelos numéricos de perfis formados a frio são basicamente problemas de geometria


(imperfeições geométricas e análise de segunda ordem) e de material (curva tensão-

4
deformação do aço em temperatura ambiente e em temperatura elevada), ambos de
comportamento não-linear (Schafer, 2010). E para se obter um modelo que se aproxime de
forma representativa da realidade, é preciso não apenas calcular de forma satisfatória as não
linearidades, mas entender como as imperfeições geométricas afetam o modelo e utiliza-las da
melhor forma.

2.1 Análise de Flambagem Elástica

A análise de flambagem elástica é utilizada para obter os valores das cargas críticas de
flambagem local, distorcional e global, assim como as formas dos modos de flambagem. Esses
resultados são importantes indicadores do comportamento do perfil (Schafer, 2010). É pelo
valor da análise de flambagem elástica que o método da resistência direta calcula a força
resistente do perfil, tanto para a flambagem local quanto para a flambagem distorcional. E
utilizando a forma do modo de flambagem é possível inserir imperfeições geométricas iniciais
no modelo numérico.

São disponibilizadas várias ferramentas para o cálculo da análise de flambagem, tais como os
softwares: CUTWP, CUFSM e o Abaqus (Schafer, 2010). Os dois primeiros são programas livres
disponibilizados na internet e o terceiro é um conhecido programa comercial. O CUTWP é um
programa que resolve problemas de estabilidade global da barra baseadas na teoria clássica de
viga e na teoria de torsão e empenamento de Vlasov. O CUFSM é baseado no método das
Faixas Finitas (MFF) e muito utilizado para perfis formados a frio. Este método possibilita uma
primeira análise do comportamento do perfil, ao obter as cargas de flambagem local, global e
distorcional para vários comprimentos de meia-ondas. O Abaqus é um programa comercial de
uso geral baseado no método dos elementos finitos (MEF).

2.2 Análise Não-Linear

Análises não-lineares de geometria e de material, considerando as imperfeições iniciais e


utilizando elementos de casca, são o modelo padrão para a análise numérica dos perfis
formados a frio (Schafer, 2010). Esses modelos são altamente sensíveis a fatores como
imperfeição geométrica, tensão residual, critério de escoamento, condições de contorno, tipo
de elemento e tamanho de malha utilizados.

As imperfeições iniciais possuem grande importância para os perfis formados a frio, pois as
forças resistentes e os mecanismos de pós-flambagem são muito sensíveis à forma e ao valor
da imperfeição escolhida (Schafer, 2010).

As imperfeições inicias podem ser pensadas como um desvio de uma geometria “perfeita”
(Schafer, 1998). Para os perfis formados a frio, as imperfeições locais têm grande influência na
força resistente do perfil e podem ser separadas em dois tipos: referente às imperfeições de
flambagem local (tipo d1) e referente às imperfeições de flambagem distorcional (tipo d2),
ambas mostradas na figura 2. Em seu estudo, Schafer (1998) considera as imperfeições como

5
variáveis aleatórias, utilizando uma abordagem probabilística. Ele também sugere a utilização
de um modelo simplificado, considerando as maiores imperfeições encontradas, sendo este o
método mais utilizado por vários autores (Heva, 2009; Ranawaka, 2010; Schafer, 2010).

Figura 2: Tipos de imperfeições: Schafer, 1998

Para imperfeições do tipo d1, as magnitudes podem ser postas pelas seguintes fórmulas:
ou , o que for maior; sendo o comprimento nominal da alma e a
espessura nominal da chapa do perfil. Para imperfeições do tipo d2, as imperfeições são iguais
à própria espessura, limitadas a um valor máximo de 3 mm. Além das imperfeições locais, a
literatura indica a utilização de imperfeições globais, mas estas somente são significativas em
barras de esbeltez reduzida muito elevada. Heva (2009) sugere a utilização de L/1000 como
um valor padrão utilizado por muitos autores, sendo L o comprimento total da barra. Em suas
medições das imperfeições globais, todas as barras apresentaram valores menores do que
L/1000, de forma que sua utilização fornece resultados mais conservadores.

Além do valor das imperfeições, a análise numérica necessita do formato dessas imperfeições,
que é normalmente obtida pela análise de flambagem elástica. O Abaqus permite que sejam
utilizados quantos modos de flambagem elástica forem necessários. Schafer (2010) comenta
que a utilização do modo correto é essencial para encontrar um resultado semelhante ao real.
A maneira mais comum de se conseguir isto é utilizando apenas o primeiro modo de
flambagem. No entanto, nem sempre os resultados do primeiro modo condizem com a
realidade.

A norma EN 1993-1-5:2004, anexo C, apresenta algumas resoluções importantes sobre o uso


da modelagem numérica para efeito de cálculo. Uma delas diz respeito à utilização de mais de
uma imperfeição, i.e., mais de um modo de flambagem representando outro tipo de
imperfeição. A norma diz que a imperfeição acompanhante pode ser reduzida em 70%, mas é
possível utilizar 100% do valor e obter resultados mais conservadores.

6
Nos perfis formados a frio, as tensões residuais não são muito significativas para o valor da
força resistente quando não é considerado o efeito de encruamento do processo de fabricação
(Schafer, 2010). Assim, o efeito negativo da tensão residual pode ser considerado como
aproximadamente nulo devido ao efeito positivo do trabalho a frio. Em temperaturas
elevadas, as tensões residuais e o efeito do trabalho a frio são ainda menos significativos, pois
esses efeitos diminuem ou até mesmo somem devido ao alívio de tensões residuais e à perda
do encruamento com o aumento da temperatura.

Em relação ao critério de escoamento, é importante notar diferenças no comportamento entre


os aços de alta e baixa resitência. Para os aços de baixa resistência, e.g., aços com resistência
ao escoamento de até 350 MPA, podem ser utilizados os fatores de redução e a curva tensão-
deformação do aço disponibilizados pela EN 1993-1-2:2005. No entanto, alguns autores têm
outros modelos para alguns aços de baixa resistência especificos (Heva, 2009; Chen, 2007b).
Quando o aço é de alta resistência, é preferível a utilização das curvas e propriedades
disponibilizadas pela literatura (Heva, 2009; Ranawaka, 2010; Chen,2007b), pois esses aços
sofrem uma degenerescência maior devido ao efeito de recristalização dos grãos com o
aumento da temperatura, e a conseqüente perda do encruamento e retorno às caracteristícas
do aço base, i.e., o aço retorna às característica antes de ter sofrido trabalho a frio (Outinen,
2001). Nesses casos, o modelo disponibilizado pelo Eurocode não se ajusta bem.

Para as condições de contorno de um modelo numérico de perfis formados a frio, pode-se


considerar a existência de dois tipos: local e global.

A condição de contorno global refere-se à barra como um todo, e diz respeito às condições
tradicionais de rotação dos eixos principais. Essa condição está associada ao coeficiente de
flambagem de barras isoladas. Ensaios experimentais utilizam tanto condições de engaste
quanto de apoio simples para as condições globais.

A condição local diz respeito à condição de fixação das placas, i.e., das condições de rotação
das bordas dos elementos do perfil, e possui relação com o coeficiente de flambagem local do
elemento. Em ensaios experimentais, o perfil é normalmente apoiado sobre uma placa rígida
(placa de base), permitindo a rotação da borda, o que não aconteceria se o perfil fosse soldado
na placa de base.

O modelo é normalmente simulado através do método dos elementos finitos. Este método
divide o modelo a ser simulado em vários elementos. Os elementos possuem funções de forma
que aproximam as deformações e tensões internas do modelo. Os elementos mais simples
possuem funções de forma de aproximação linear, mas podem ter aproximações de ordem
superior. Os nós do elemento, pela teoria do elemento finito, terão valores iguais aos valores
obtidos analiticamente, desde que alguns pré-requisitos teóricos sejam atendidos.

7
Alguns elementos podem ter um número menor de pontos de Gauss (os pontos de Gauss são
utilizados para realizar a integração numérica das equações do elemento), sendo denominados
de integração reduzida. A integração reduzida diminui o tempo de processamento mas
ocasiona pequenos erros nos resultados, onde em certos momentos isso é desejável. Quanto
menor o tamanho do elemento, mais próximo será do resultado “real”, pois menores serão os
erros. Porém, malhas de tamanho muito pequeno podem, ao contrário, introduzir outros erros
indesejáveis no resultado.

Uma vez modelado o problema e definido a malha, pode-se usar o método de Riks para uma
análise não linear geométrica e física. No entanto, para obter resultados mais realistas nesse
método, é necessário utilizar as formas dos modos de flambagem elástico como imperfeições
inicias.

3 MATERIAIS E MÉTODOS

A metodologia deste estudo foi dividida em 3 etapas: a construção do modelo numérico, a


calibração do modelo numérico e a comparação do fator de redução dado em norma com os
resultados numéricos.

3.1 Modelo Numérico

Os modelos numéricos serão desenvolvidos com o auxílio do programa comercial Abaqus


(Simulia, 2013), utilizando o método de Riks. Para facilitar a simulação de vários perfis
diferentes, foi criado um script na linguagem python. Os principais parâmetros utilizados no
script são as dimensões do perfil, as imperfeições iniciais, as propriedades do aço, temperatura
do aço, o modelo da curva tensão-deformação do aço juntamente com as curvas que definem
os fatores de redução do aço, as condições de contorno, o tipo de elemento e o tamanho do
elemento.

Para ajustar o fator de redução da resistência ao escoamento do aço de seções sujeitas à


flambagem local em temperatura elevada relativo à temperatura ambiente, k σ,θ, foram
estabelecidos os seguintes parâmetros para os modelos numéricos:

 Para a construção das geometrias do modelo, foram utilizadas as formulações dadas


pela norma brasileira ABNT NBR 6355:2013 para o cálculo da linha média,
propriedades geométricas e as arestas de encontro dos elementos (paredes) da seção,
onde estas são consideradas como cantos arredondados. A espessura de revestimento
de zinco é também considerada quando especificada;
 Para a condição de contorno local, serão utilizados elementos de bordas simplesmente
apoiadas;
 Para a condição de contorno global, a barra será simplesmente apoiada, mas sem
permitir torção nas seções dos apoios;
 Será utilizado o modelo da curva tensão-deformação da norma EN 1993-1-5:2005,
assim como para as curvas dos fatores de redução do escoamento do aço e do módulo

8
de elasticidade. Serão utilizados aços com resistência ao escoamento de 250MPa e
350MPa, com módulo de elasticidade de 200 GPa;
 Não serão consideradas as tensões residuais ou o efeito do trabalho a frio no aço;
 Será utilizado o elemento de 4 nós com função de forma linear do Abaqus (S4).
Schafer(2010) demonstrou que sua utilização, desde que com uma malha de tamanho
adequado, apresenta bons resultados se comparado a outros elementos.
 Para o tamanho da malha, além da precisão do resultado, deve-se considerar o tempo
necessário de processamento do modelo. Após alguns testes de convergência e
baseado no trabalho de Ranawaka (2010), foi escolhido uma malha com elementos de
dimensão máxima de 5 mm;
 Serão utilizadas as fórmulas para as imperfeições locais dadas por Schafer (1998). Para
a imperfeição global, caso seja necessário, será utilizado L/1000, de acordo com Heva
(2009);
 Os modos de flambagem utilizados como imperfeição inicial são muito importantes
para o resultado final. Portanto, na análise em temperatura ambiente, serão testadas
as seguintes combinações: Modo Distorcional; Modo Local + Modo Distorcional; Modo
Local + Modo Global. O Modo Global só será utilizado se ele aparecer em algum dos
100 primeiros modos da análise de flambagem elástica. É importante notar que muitas
vezes o primeiro modo é o de flambagem local. Em barras de elevada esbeltez
reduzida o primeiro modo é o de flambagem global. Quando o perfil possui uma
relação Nl/Nd muito alta, o primeiro modo é normalmente o de flambagem
distorcional. Será testado o sentido da imperfeição acompanhante (positiva ou
negativa) como especificado na EN 1993-1-5:2004. O modo de flambagem local nunca
será considerado como modo acompanhante, e não será testado o sentido da sua
imperfeição, pois como citado por Heva (2009), o sentido positivo da flambagem local
apresenta resultados mais condizentes;
 Essas combinações serão feitas utilizando as seguintes temperaturas: 20ºC, 400ºC,
550ºC e 700ºC. Será considerada apenas a combinação que apresentar o menor valor
de força resistente. Como este estudo é focado na flambagem distorcional, a
combinação deve apresentar pelo menos o modo distorcional como um dos modos de
flambagem;

3.2 Calibração do Modelo Numérico

Para a calibração do modelo numérico serão utilizados 4 trabalhos, com resultados


experimentais e numéricos, em temperatura ambiente e em temperatura elevada. O modelo,
no entanto, deverá ser ajustado ao mesmo modelo utilizado pelo autor. Os pontos principais
que precisam ser alterados no modelo são: valor das imperfeições iniciais, as condições de
contorno, o modelo da curva tensão-deformação e a curva dos fatores de redução, ambos
variando com a temperatura.

9
3.2.1 Chen(2007a)

Chen (2007a), utilizando os perfis U enrijecidos ensaiados em temperatura ambiente e em


temperatura elevada nos estudos realizados por Young (1998) e Feng (2003), realizou análises
numericas em temperatura ambiente e em temperatura elevada, num total de cinco tipos de
perfis com comprimentos variando de 200 mm a 3000 mm. Para o material foi utilizado o
modelo disponibilizado pelo próprio autor (Chen, 2007b). O valor da imperfeição inicial
utilizada é igual a espessura quando não é comentada a amplitude da imperfeição nos
trabalhos originais. Chen (2007a) demonstrou em seu estudo que a utilização das normas em
temperatura ambiente com a redução das propriedades do material em temperatura elevada
apresentam bons resultados.

Serão utilizados todos os perfis de Chen (2007a) para a calibração do modelo numérico. Foi
dado preferência para a utilização de dois modos de flambagem, sendo o segundo modo
utilizado a 70% do valor da imperfeição, mantendo as demais condições iguais ao do autor.

3.2.2 Ranawaka (2010)

Ranawaka (2008) realizou ensaios experimentais em perfis U enrijecidos e U enrijecidos com


abas em temperatura elevada. Os perfis escolhidos tiveram como falha predominante a
flambagem distorcional, sendo a maioria dos pefis U enrijecidos do tipo 30x30x5 mm. As
espessuras variaram entre 0,6 a 0,9 mm. Foram utilizados perfis com aços de alta resistência
(620 MPA) e baixa resistência (320 MPa). A partir desses resultados experimentais, Ranawaka
(2010) simulou os modelos numéricos. Os valores médios das imperfeições iniciais foram
mensurados nos ensaios experimentais. Nos aços de alta resistência, as imperfeições foram
praticamente iguais à espessura. Para os aços de baixa resistência, as imperfeições foram
aproximadamente 60% da espessura. Foram utilizados apenas os modos de flambagem
distorcional para a simulação numérica. Os perfis foram soldados à placa de base, e esta não
possuia nenhum movimento de rotação (engastada).

Foram empregados apenas os perfis do tipo U enrijecido para a calibração, utilizando um ou


dois modos de flambagem como imperfeição inicial, mantendo as demais condições iguais às
dos autores.

3.2.3 Heva (2009)

Heva (2009) realizou ensaios experimentais com perfis U enrijecidos sujeitos à flambagem
distorcional ou flambagem global e perfis U simples sujeitos à flambagem local ou flambagem
global, ambos sob temperatura ambiente e temperatura elevada. Foram utilizados perfis com
aço tanto de alta como de baixa resistência. Para os modos de imperfeição inicial, utilizou-se
apenas a flambagem local, com valores disponibilizados por Schafer (1998). O material
utilizado na análise numérica foi baseado no modelo de Ramberg-Osgood. Os perfis foram

10
soldados à placa de base, e esta estava engastada no equipamento (não permitia rotação).
Heva(2009) concluiu que os resultados analíticos das normas previram razoavelmente bem os
resultados experimentais, citando apenas alguns pontos onde os resultados saíram do
esperado.

Na calibração foram utilizados apenas os perfis U enrijecidos, utilizando até dois modos de
flambagem como imperfeição inicial. Como o autor não utiliza imperfeições do tipo d2 (Figura
10), foi utilizado o valor da espessura.

3.2.4 Silvestre (2007)

Silvestre (2007) simulou vários pilares e vigas na tentativa de verificar a interação local-
distorcional desses perfis em temperatura ambiente. Os perfis foram escolhidos por tentativa
e erro, e cada perfil foi testado para três valores de resistância ao escoamento. Os valores de
imperfeição de 10% da espessura e um modelo bi-linear da curva tensão-deformação do aço
foram utilizados. Não ficou claro quando Silvestre (2007) utilizou os modos de flambagem local
ou de flambagem distorcional para a imperfeição inicial durante sua análise numérica. Silvestre
(2007) concluiu em seu trabalho que a interação local-distorcional ocorre para índices de
esbeltez reduzido para flambagem distorcional maiores do que 1,2.

Para a calibração deste trabalho, serão utilizados apenas os perfis com resistência ao
escomento de 250MPa e adotadas os valores e os modos das imperfeições iniciais citadas no
item 3.1.

3.3 Comparação do fator de redução

Serão testados pelo menos 100 perfis, e eles devem apresentar como modo de falha
predominante a flambagem distorcional. Estes perfis devem estar pré-qualificados de acordo
com o apendix 1 da norma americana AISI S100-2007 para a utilização do Método da
Resistência Direta e da norma ABNT NBR 14762:2010. Caso o perfil apresente interação entre
os modos local e distorcional e possua grande discrepância em relação aos valores utilizando
apenas imperfeições locais e/ou distorcionais, estes serão descartados. Adicionalmente, a
carga crítica de flambagem local do perfil deve ser maior ou próximo da carga crítica de
flambagem distorcional (Nl/Nd >= 0.9).

Com os resultados numéricos das forças resistentes, serão calculados segundo a equação 1 os
valores do fator de redução para flambagem distorcional de perfis submetidos à flambagem
local, e montados gráficos semelhantes às das figuras 2,3 e 4. (onde estão as figuras 3 e 4?)

(1)

11
onde: é o fator de redução do esforço resistente, associado à flambagem distorcional;
é a força resistente do perfil na temperatura θ; Ag é a área bruta do perfil e fy é a
resistência ao escoamento do aço.

Com esses resultados, será possível comparar com o fator de resistência fornecido pela norma.
Caso apresente diferença, será possível realizar uma proposta de revisão da norma brasileira
para incluir esse ajuste para a flambagem distorcional, e também o ajuste realizado por
Costa(2012) para a flambagem local.

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO

A etapa da calibração já foi realizada da maneira como descrita no item de metodologia. Como
este estudo está em andamento, não há resultados a serem demonstrados, excetos os
realizados para a calibração do modelo. As tabelas com os resultados da calibração foram
omitidas, apenas apresentando os valores médios e o desvio padrão, assim como a discussão
desses resultados.

4.1 Calibração

A comparação com os resultados numéricos obtidos por Chen(2007a) para o perfil do tipo L36
mostram uma boa aproximação do modelo, com valor médio de 0,95 e desvio padrão de 0,11.

No estudo de Ranawaka(2010), quando são utilizados o modo local e o distorcional como


imperfeição inicial do modelo, os resultados ficam em 0,75 em relação aos valores
experimentais, com 0,10 de desvio padrão. Quando se utiliza apenas a imperfeição
distorcional, os resultados melhoram para 0,97 dos valores experimentais, com 0,13 de desvio
padrão. Os valores calculados segundo a norma ABNT NBR 14762:2010 se aproximaram
melhor desse segundo resultado, utilizando apenas a flambagem distorcional. Isso demonstra
que a análise numérica pode obter valores muito conservativos quando se trata de flambagem
distorcional. Em todos os outros autores, não houve diferença significativa entre o modo local
interagindo com o modo distorcional e o modo distorcional puro. Vale ressaltar que todos os
perfis estudados por Ranawaka(2010) possuiam cargas críticas de flambagem distorcional
menores do que as de flambagem local (Nl/Nd > 1,07).

No trabalho ralizado por Heva(2009), a média dos valores obtidos foi de 86% dos resultados
experimentais, com desvio padrão de 13%. No entanto, ao compararmos com os resultados
numéricos obtidos por Heva (2009), estes ficam com média de 0,93 e 0,045 de desvio padrão.
Isso demonstra que, apesar de uma maior dispersão e erros sistemáticos nos valores
experimentais, o modelo numérico se aproxima muito bem do modelo numérico de Heva
(2009).

Os resultados comparativos com Silvestre (2007) foram agrupados na tabela 1. As três colunas
indicam os modos que foram utilizados para as imperfeições iniciais. Os perfis podem ser

12
agrupados em dois grupos importantes, os que possuem indice de esbeltez reduzido para
flambagem distorcional menores do que 1 e os que possuem índice de esbeltez reduzido
maiores do que 1,4.

Tabela 1: Resultados de calibração tendo como referência os resultados de Silvestre (2007)

Modo D L+D L
λd < 1 0,90 ± 0,03 0,89 ± 0,04 0,91 ± 0,05
λd > 1,4 1,09 ± 0,04 1,21 ± 0,09 1,33 ± 0,09
Total 1,00 ± 0,10 1,06 ± 0,17 1,13 ± 0,22
λd – Indice de esbeltez reduzido associado a flambagem distorcional; D – Distorcional; L –
Local.

Como observado, os resultados utilizando as três configurações de imperfeição inicial para λd <
1 foram muito semelhantes, sem diferenças significativas. Já para λd > 1,4, apenas os
resultados utiizando a imperfeição distorcional pura foram melhores. A relação entre a carga
crítica de flambagem local pela carga crítica de flambagem distorcional (N l/Nd) dos perfis
variou entre 0,9 e 1,24, independente do índice de esbeltez reduzida para flambagem
distorcional. Como os resultados de Silvestre (2007) são apenas numéricos, i.e., não há dado
experimental comprobatório, fica difícil retirar alguma conclusão definitiva. Para isso era
importante a realização de testes experimentais em alguns dos perfis com indice de esbeltez
reduzido maior do que 1.4.

5 Considerações Finais

É possível observar uma boa aproximação dos resultados numéricos com os resultados
experimentais e/ou resultados numéricos obtidos na literatura, como mostram os resultados
apresentados na calibração. No entanto, ainda não está muito claro como a utilização de
modos diferentes de flambagem pode afetar a flambagem distorcional, principalmente se
houver interação local-distorcional. Portanto, o estudo a ser desenvolvido evitará ao máximo o
aparecimento da interação local-distorcional, principalmente em perfis como os apresentados
em Ranawaka (2010).

Agradecimentos

Os autores agradecem o apoio financeiro em forma de fomento à pesquisa concedido pelo


CNPq e pela FAPEMIG.

13
REFERÊNCIAS

ABNT NBR 14323:2013. Associação Brasileira de Normas Técnicas. Texto-Base da Norma -


Dimensionamento de Estruturas de Aço e de Estruturas Mistas de Aço e Concreto de Edifícios
em Situação de Incêndio.

ABNT NBR 14762:2010. Associação Brasileira de Normas Técnicas. Texto-Base da Norma -


Dimensionamento de Estruturas de Aço constituída por perfis formados a frio.

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temperatures. Engineering Structures, v. 29, p. 2445–2456, 2007.

CHEN, J.; D. YOUNG, B. (2007b) Experimental investigation of cold-formed steel material at


elevated temperatures. Thin-Walled Structures, v. 45, p. 96–110, 2007.

COSTA, A.A.R. (2012) Estudo da Flambagem Local de Perfis U Enrijecidos em Situação de


Incêndio. Programa de Pós-graduação em Engenharia de Estruturas - Escola de Engenharia da
Universidade Federal de Minas Gerais. 120p. 2012

EN 1993-1-2:2005. Eurocode 3: Design of Steel Structures, Parte 1.2: General Rules, Structural
Fire Design. European Committee for Standardization.

EN 1993-1-3:2006. Eurocode 3: Design of Steel Structures, Part 1.3: General Rules,


Supplementary rules for Cold-formed Thin gauge Members and Sheeting. European
Committee for Standardization.

FENG, M.; WANG, Y.C.; DAVIES, J.M. (2003); Structural behaviour of cold-formedthin-walled
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HEVA, Y. B. (2009), Behavior and Design of Cold-formed Steel Compression Members at


Elevated Temperatures. School of Urban Developments, Queensland University of Technology
– QUT. 2009

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14
RANAWAKA, T.; MEHENDRAN, M. (2010) Numerical modeling of light gauge cold-formed steel
compression members subjected to distortional buckling at elevated temperatures. Thin-
Walled Structures, v. 48, p. 334–344, 2010.

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instabilidade local-de-placa e distorcional. REM: R. Esc. Minas, v. 60, p. 341-354, 2007.

SIMULIA CORP. (2013). Software ABAQUS/CAE, versão 6.13. Dessault Systemes Simulia Corp.,
USA.

15
Tema: Estruturas em Situação de Incêndio

VERIFICAÇÃO DA SEGURANÇA DE COLUNAS DE


PÓRTICOS METÁLICOS NÃO CONTRAVENTADOS
EM SITUAÇÃO DE INCÊNDIO

Thiago Silva¹
Paulo Vila Real²
Nuno Lopes³
Carlos Couto4
Luciano Mendes Bezerra5

Resumo

As exigências estruturais referentes à segurança de estruturas em situação de incêndio


construídas em território europeu e brasileiro são delimitadas, respectivamente, pela EN1993-
1-2 e pela NBR 14323:2013. Ambas estabelecem que o comprimento de flambagem deva ser
determinado tal como no dimensionamento à temperatura normal quando se trate da
verificação da resistência ao fogo de uma coluna pertencente a um pórtico não contraventado.
O presente estudo teve como objetivo avaliar o fenómeno de instabilidade de pórticos
metálicos sujeitos à ação do fogo, a fim de analisar os comprimentos de flambagem mais
apropriados e propor valores para esses comprimentos quando se realiza a verificação de
estruturas em situação de incêndio. Foram analisados 2 pórticos em 8 cenários diferentes.
Verificou-se que para os cenários de incêndio em que as colunas não sofrem aquecimento, os
seus comprimentos de flambagem aumentam durante o incêndio.

Palavras-chave: Fogo; Aço; Colunas; Estruturas; Flambagem; Carga

________________________________
* Contribuição técnica ao Construmetal 2014 – Congresso Latino-Americano da Construção
Metálica – 02 a 04 de setembro de 2014, São Paulo, SP, Brasil.
1
BUCKLING ANALYSIS OF UNBRACED STEEL FRAMES EXPOSED TO FIRE

Abstract

Structural requirements concerning the safety of structures in case of fire built within Europe
and Brazil are defined, respectively, by EN1993 -1-2 and the NBR 14323:2013. Both establish
that the buckling length is determined at normal temperature when checking the fire
resistance of a column belonging to a unbraced frame. The present study aimed to evaluate
the phenomenon of instability of steel frames subjected to the action of fire in order to
analyze the most appropriate buckling lengths and propose values for these lengths when
calculating the fire resistance of structures. Two unbraced frames have been studied
considering eight different fire scenarios. It is shown that for the fire scenarios where the
columns are not heated by the fire its buckling lengths increase during the fire.

Keywords: Fire; Steel; Column; Frame; Buckling; Critical Load

¹ Engenheiro Civil, Mestre, Aluno de doutoramento, LABEST, Departamento de Engenharia


Civil, Universidade de Aveiro-Portugal.
² Engenheiro Civil, Doutor, Professor Catedrático, LABEST, Departamento de Engenheiro Civil,
Universidade de Aveiro-Portugal.
³ Engenharia Civil, Doutor, Professor Auxiliar, LABEST, Departamento de Engenharia Civil,
Universidade de Aveiro-Portugal.
4
Engenheiro Civil, Mestre, Aluno de doutoramento, LABEST, Departamento de Engenharia
Civil, Universidade de Aveiro-Portugal.
5
Engenheiro Civil, Doutor, Professor Associado, Departamento de Engenharia Civil,
Universidade de Brasília-Brasil.

2
1 INTRODUÇÃO

A análise das estruturas metálicas deve envolver um estudo detalhado dos carregamentos
externos verticais e horizontais, bem como os efeitos que os mesmos provocam quando a
estrutura se deforma, uma vez que o aumento nos deslocamentos de uma edificação provoca
modificações nos esforços atuantes nos elementos estruturais influenciando de forma direta a
estabilidade da estrutura.

Tradicionalmente, os projetos de estruturas dividiam-se em duas partes distintas e bem


definidas: a análise do comportamento global de uma estrutura, ou seja, a determinação dos
esforços e dos deslocamentos; e o dimensionamento dos elementos e das ligações para resistir
às ações [1].

A análise global de esforços e deslocamentos numa estrutura depende fundamentalmente: i)


das características de deformabilidade e rigidez, ii) da estabilidade global e estabilidade dos
seus elementos, iii) do comportamento das seções transversais, iv) do comportamento das
ligações e v) das imperfeições e deformabilidade dos apoios. Estes aspectos devem ser
considerados na definição do nível da análise para dimensionamento de uma estrutura [2].

Em condições normais de temperatura, a resistência última dos pórticos metálicos é


condicionada pelos efeitos de geometria e do comportamento não linear dos materiais, cuja
análise implica complicações próprias da análise de fenômenos não lineares. Por isso, tanto a
EN1993-1-1[3] como a NBR 8800:2008[4] propõem metodologias alternativas e aproximadas
para contabilizar a influência desses efeitos na determinação da capacidade resistente dos
pórticos.

Segundo a EN1993-1-1[3], para a temperatura normal, os efeitos de segunda ordem e as


imperfeições poderão ser considerados através de um dos seguintes métodos:

i) Ambos os efeitos incluídos na totalidade numa análise global sem considerar os


comprimentos de flambagem, uma vez que basta fazer a verificação da resistência das
secções transversais;
ii) Parte dos efeitos incluídos na análise global e os restantes contabilizados nas
verificações de segurança dos elementos em relação a fenômenos de instabilidade
considerando os comprimentos de flambagem iguais aos comprimentos reais dos
elementos;
iii) Análise de primeira ordem global do pórtico não incluindo os efeitos das imperfeições
na verificação da segurança de uma coluna equivalente em relação aos fenômenos de
flambagem (utilizam-se os comprimentos de flambagem correspondentes ao modo de
instabilidade global da estrutura).

A NBR 8800:2008[4], referente ao Projeto de estruturas de aço, classifica as estruturas


conforme sua deslocabilidade em: pequena, média ou grande. No primeiro caso, a análise
deve contabilizar as imperfeições geométricas; no segundo caso, consideram-se os efeitos das
imperfeições geométricas e das imperfeições materias reduzindo-se a rigidez à flexão axial das

3
barras em 80% (oitenta por cento) dos valores originais e amplificando-se as ações utilizando o
método B1/B2; já a análise para o caso de grande deslocabilidade, deve-se usar métodos
exatos. Assim, em qualquer das análises consideram-se as imperfeições geométricas, e
somente nos dois últimos casos consideram-se os efeitos de segunda ordem, com coeficiente
flambagem das barras igual a 1,0 (um).

A temperatura normal os efeitos geometricamente não lineares globais (P−Δ) podem ser
determinados através de uma análise que tenha em consideração os efeitos da configuração
deformada (efeitos de segunda ordem) para a obtenção dos esforços. Em situação de incêndio,
devido ao efeito da temperatura, este processo é demasiado complexo e impraticável, pelo
que se torna necessário considerar, de forma aproximada, os efeitos da configuração
deformada através do conceito de comprimento de flambagem, considerando o modo de
instabilidade global do pórtico.

Em situação de incêndio, a EN1993-1-2 [5] e a NBR 14323:2013 [6] estabelecem que o


comprimento de flambagem deva ser determinado como no dimensionamento à temperatura
normal quando da verificação da resistência ao fogo de uma coluna pertencente a um pórtico
não contraventado. Contudo, na situação de incêndio resulta num aumento das deformações
térmicas, além de submeter o elemento estrutural a um estado não linear, geométrico e
material [1].

Dessa forma, o estudo aqui relatado teve como objetivo avaliar o fenómeno de instabilidade
de pórticos metálicos sujeitos à ação do fogo, a fim de analisar os comprimentos de
flambagem mais apropriados e propor valores para esse parâmetro na verificação de
estruturas em situação de incêndio.

2 MATERIAIS E MÉTODOS

Neste estudo analisaram-se estruturas de 2 (dois) pórticos apresentadas na Figura 1.


Considerou-se a hipótese do pórtico possuir apoios rotulados ou engastados com ligações
rígidas entre vigas e pilares. Primeiramente procedeu-se ao dimensionamento da estrutura e
de seguida determinados os comprimentos de flambagem em situação de incêndio conforme
descrito de seguida.

2.1 Metodologia utilizada no dimensionamento da estrutura

O dimensionamento dos pórticos foi realizado a partir do programa SAP 2000 [7]. A análise
estrutural considerou os efeitos de 2º ordem (P-∆), ou seja, a não linearidade geométrica
global e as imperfeições globais, com coeficiente de flambagem igual a um (k=1.0) em todas as
barras. Além disso, o dimensionamento foi feito em regime elástico.

O dimensionamento das vigas e colunas dos pórticos foi realizado de acordo com o ponto 6.3
da EN1993-1-1, sendo que as secções das colunas são do tipo HEB e as secções das vigas são
do tipo IPE, utilizando a classe de aço S235. Ressalta-se que os valores das ações consideradas
estão de acordo com o Regulamento de Segurança e Ações para Estruturas de Edifícios e
Pontes de Portugal [8]. A Tabela 1 apresenta as ações consideradas.

4
Tabela 1 - Ações consideradas nos pórticos.
Cargas Permanentes
Elemento Espessura (cm) Peso Próprio (KN/M2)
Laje 15,0 3,75
Argamassa de regularização 4,0 0,84
Argamassa de assentamento 2,0 0,42
Revestimento Cerâmico 2,0 0,4
Forro de gesso 1,5 0,18
Paredes divisórias internas 10,0 1,26
Cargas Variáveis
Sobrecarga de utilização para
3,0
escritório
Rugosidade tipo II; pressão do vento
Vento
varia conforme a altura do pórtico.

A Tabela 2 apresenta as combinações compostas no Estado Limite Último, no Estado Limite de


Serviço e Estado Limite de Acidente.

Tabela 2 - Combinações no Estado Limite Último, no Estado Limite de Serviço e Estado Limite
de Acidente.
Estado Limite Último (ELU):
Peso
Sobrecarga Vento◦0 Vento◦90
Combinações Próprio
ɣg ɣq Ψ0q ɣq Ψ0w ɣq Ψ0w
1 1,5 1,5 - - - - -
2 1,5 1,5 - 1,5 0.6 - -
3 1,5 1,5 - - - 1,5 0.6
4 1,5 1,5 0.7 1,5 - - -
5 1,5 1,5 0.7 - - 1,5 -
Estado Limite de Serviço (ELS):
ɣg Ψ2q Ψ2w Ψ2w
1 1,0 0,7 - -
2 1,0 0,7 0,6 -
3 1,0 0,7 - 0,6
Estado Limite de Acidente
ɣg Ψ1,1 / Ψ2,i Ψ1,1 / Ψ2,i Ψ1,1 / Ψ2,i
1 1,0 0,5 - -
2 1,0 0,3 0,2 -
3 1,0 0,3 - 0,2

5
Em todas as combinações do estado limite último foram incluídas as forças horizontais
equivalentes devido às imperfeições globais do pórtico, conforme sugerido no Eurocódigo 3. A
Figura 1 apresenta os perfis obtidos no dimensionamento.

Figura 1 - Estrutura dos pórticos analisados, secções transversais adotadas e dimensões (em
cm).

2.2 Metodologia utilizada para determinar os comprimentos de flambagem em situação de


incêndio

Com o programa Elefir-EN [9], criaram-se os ficheiros com as temperaturas dos perfis
aquecidos nos 4 (quatro) e 3 (três) lados pela curva ISO 834 ao longo de 120 minutos, através
do programa FEST-2D [10], criou-se o ficheiro de elementos finitos de cada pórtico estudado
considerando 8 (oito) cenários de incêndio conforme descrito na secção 2.3 deste trabalho.
Com o programa de elementos finitos CAST3M [11] determinou-se o valor crítico do

6
parâmetro de carga em situação de incêndio (αcr,fi) do pórtico metálico, tendo a temperatura
variado nos elementos aquecidos de 20 C a 1100 C , como descrito na secção 2.3 deste
trabalho. Com o valor do (αcr,fi) determinou-se, em situação de incêndio, a carga crítica de
Euler (Equação 1), o comprimento de flambagem (Equação 2) e o correspondente
coeficiente de flambagem (Equação 3), todo o cálculo foi realizado para a primeira
combinação de incêndio (ver tabela 2), pois esta é a mais gravosa.

N cr , fi   cr , fi N Ed (1)

k E , EI
l fi  (2)
N cr , fi

l fi
k fi  (3)
l real

Sendo:
- Carga crítica de flambagem da barra em situação de incêndio;
- Força normal de compressão de dimensionamento;
- Comprimento crítico de flabagem;
l real - Comprimento real do elemento;
k fi Coeficiente de flambagem.

2.3 Metodologia utilizada para determinar as situações de incêndio

Para determinar o comprimento de flambagem das barras em situação de incêndio foram


elaborados 8 (oito) cenários diferentes, conforme referido anteriormente, que serão descritos
de seguida, considerando um incêndio em um pavimento por vez e outro nos dois pavimentos
de uma vez.

O 1º, 4º e 7º cenário simulam situações em que a estrutura metálica da edificação está interna
e o fechamento externo (Figura 2(a), 2(d) e 2(g)). O 2º, 5º e 8º cenários referem-se a situações
em que a estrutura está parcialmente interna e o fechamento é embutido nela (Figura 2(b),
2(e) e 2(h)). Já o 3º e 6º cenários simulam situações em que a estrutura metálica da edificação
está externa ao fechamento, sendo que este serve de proteção para estes pilares (Figura 2(c) e
2(f)). Porém, os cenários 1, 2 e 3 possuem vigas expostas ao fogo nos 4 (quatro) lados,
simulando uma situação onde o pavimento não protege o banzo superior da viga metálica, os
cenários 4, 5 e 6 possuem vigas expostas ao fogo nos 3 (três) lados, simulando uma situação
onde o pavimento protege o banzo superior da viga metálica, por fim nos cenários 07 e 08 as
vigas estão protegidas pelo pavimento e pelo forro, ou seja, a temperatura normal.

7
(a) Cenário 1

(b) Cenário 2

(c) Cenário 3

8
(d) Cenário 4

(e) Cenário 5

(f) Cenário 6

9
(g) Cenário 7

(h) Cenário 8
Figura 2 - Desenhos esquemáticos dos Cenários 1 a 8.

A Tabela 3 sintetiza as características de cada cenário estudado.


Tabela 3 - Características de cada cenário
Pilar Externo Viga

Cenário Nº lados Proteção Proteção Figura
lados
aque. Sim Não Sim Não
aque.
1 4 X 4 X 2(a)
2 3 X 4 X 2(b)
3 0 X 4 X 2(c)
4 4 X 3 B.S. X 2(d)
5 3 X 3 B.S. X 2(e)
6 0 X 3 B.S. X 2(f)
7 4 X 0 X 2(g)
8 3 X 0 X 2(h)
Nota: B.S. - Banzo Superior

10
Ressalta-se que para cada cenário foram feitos dois estudos, sendo o primeiro considerando o
incêndio em um piso por vez e o segundo considerando o incêndio nos dois pisos de uma vez,
para pórticos apoiados e engastados.

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

As Figuras de 3 a 6 apresentam os resultados obtidos para a variação dos coeficientes de


flambagem (Lfi/L) em relação à temperatura referente às colunas mais desfavoráveis do
pórtico não contraventado e combinação de incêndio 1 nos diferentes cenários. Considera-se
como coluna mais desfavorável aquela que apresenta menor relação entre o esforço axial
solicitante Ned e a carga crítica de Euler Ncr , definida anteriormente.

As análises dos cenários 1, 2, 4, 5, 7 e 8 serão feitas no intervalo de temperaturas entre 400 ˚C


e 600 ˚C, uma vez que a temperatura usual de colapso está entre 500 ˚C e 600 ˚C [1]. Contudo
a análise dos cenários 3 e 6 serão realizadas para um tempo equivalente aos demais cenários.
Os cenários 3 e 6 não estão representados nas figuras, pois a temperatura dos pilares
manteve-se constante com valor igual a 20˚C, variando apenas a temperatura da viga.

Figura 3 – Evolução dos Comprimentos de Flambagem com a temperatura do Pórtico-1.

Verifica-se na Figura 3 que houve uma variação do coeficiente de flambagem do cenário mais
gravoso para o cenário menos gravoso de 3,9% nos pórticos engastados e 2,9% nos pórticos
rotulados. O cenário mais gravoso foi o Cenário 2, em que o coeficiente de flambagem (Lfi/L)
no pórtico engastado é 1,05 e no rotulado é 2,07, já os cenários menos gravosos foram os
Cenários 7 e 8, em que o coeficiente de flambagem (Lfi/L) no pórtico engastado é 1,01 para os
dois cenários, enquanto no pórtico rotulado é igual a 2,01 e 2,02, respetivamente.

11
Para o cenário 3 o coeficiente de flambagem variou de 1.04 a 1.13 para o pórtico engastado e
2.07 a 2.22 para o pórtico rotulado, já para o cenário 6 o coeficiente de flambagem variou de
1.04 a 1.11 para o pórtico engastado e 2.07 a 2.20 para o pórtico rotulado.

Uma cobertura correta dos comprimentos de flambagem para os cenários 1,2,4,5,7 e 8


conduziria a valores aproximadamente iguais a Lfi=1.05L e Lfi=2.07L, respectivamente para
apoios engastados e rotulados. Já para os cenários 3 e 6 valores aproximados para
comprimentos de flambagem seriam aproximadamente iguais a Lfi=1.13L e Lfi=2.22L,
respetivamente para apoios engastados e rotulados, pois estes foram os valores mais críticos.

Figura 4 – Evolução dos Comprimentos de Flambagem com a temperatura do Pórtico-2, com


incêndio no piso-0.

Verifica-se na Figura 4 a variação de 17,9% nos pórticos engastados e 15,78% nos pórticos
rotulados entre o coeficiente de flambagem do cenário mais gravoso para o Cenário menos
gravoso. Assim como no caso anterior, o cenário mais gravoso foi o Cenário 2, em que o
coeficiente de flambagem (Lfi/L) para o pórtico engastado é 1,25 e para o rotulado é 2,42. Os
Cenários menos gravosos foram 7 e 8, em que o coeficiente de flambagem (Lfi/L) no pórtico
engastado é 1,06 nos dois Cenários, enquanto no pórtico rotulado é 2,09 e 2,10,
respectivamente aos Cenários 7 e 8.

Para o cenário 3 o coeficiente de flambagem variou de 1,19 a 1,48 para o pórtico engastado e
2,25 a 2,83 para o pórtico rotulado, já para no cenário 6 o coeficiente de flambagem variou de
1,19 a 1,45 para o pórtico engastado e 2,25 a 2,75 para o pórtico rotulado.

Uma cobertura correta dos comprimentos de flambagem para os cenários 1, 2, 4, 5, 7 e 8


conduziria a valores aproximadamente iguais a Lfi=1.25L e Lfi=2.42L, respectivamente para

12
apoios engastados e rotulados. Já para os cenários 3 e 6, seriam valores aproximadamente
iguais a Lfi=1.48L e Lfi=2.83L, respectivamente para apoios engastados e rotulados, pois estes
foram os valores mais críticos.

Figura 5 – Evolução dos Comprimentos de Flambagem com a temperatura do Pórtico-2, com


incêndio no piso-1.

Verifica-se na Figura 5 a variação entre o coeficiente de flambagem do cenário mais gravoso


para o cenário menos gravoso de 10,4% nos pórticos engastados e 12,33% nos pórticos
rotulados. Diferente dos casos anteriores, o Cenário 1 é o mais gravoso, com o coeficiente de
flambagem (Lfi/L) para o pórtico engastado de 1,17 e para o rotulado de 1,73, além disso, os
Cenários 7 e 8 são os menos gravosos, com o coeficiente de flambagem (Lfi/L) de 1,06 para o
pórtico engastado nos dois Cenários e igual a 1,54 e 1,55 para o rotulado, respectivamente aos
Cenários 7 e 8.

Para o cenário 3 o coeficiente de flambagem variou de 1,27 a 1,38 para o pórtico engastado e
2,40 a 2,41 para o pórtico rotulado, já para o cenário 6 o coeficiente de flambagem variou de
1,27 a 1,36 para o pórtico engastado e 2,40 a 2,41 para o pórtico rotulado.

Uma cobertura correta dos comprimentos de flambagem para os cenários 1, 2, 4, 5, 7 e 8


conduziria a valores aproximadamente iguais a Lfi=1,17L e Lfi=1,73L, respectivamente para
apoios engastados e rotulados. Já para os cenários 3 e 6, seriam valores aproximadamente
iguais a Lfi=1.38L e Lfi=2.41L, respectivamente para apoios engastados e rotulados, pois estes
foram os valores mais críticos.

13
Figura 6 – Evolução dos Comprimentos de Flambagem com a temperatura do Pórtico-2, com
incêndio no piso-0 e 1.

Conforme a Figura 6, verifica-se que os coeficiente de flambagem do piso 01 são ligeiramente


maiores que os do piso 0, ou seja, os coeficiente de flambagem do piso 1 são mais críticos. No
piso 01 observa-se a variação entre o coeficiente de flambagem do cenário mais gravoso para
o cenário menos gravoso de 15,65% nos pórticos engastados e 13,24% nos pórticos rotulados.
O cenário mais gravoso foi o Cenário 2 (dois), em que o coeficiente de flambagem no pórtico
engastado é 1,33 e no rotulado é 2,48, já o cenário menos gravoso foi o Cenário 7 (sete), em
que o coeficiente de flambagem no pórtico engastado é 1,15, enquanto no pórtico rotulado é
igual a 2,19.

Para o cenário 3 (três) o coeficiente de flambagem variou de 1,27 a 1,46 para o pórtico
engastado e 2,40 a 2,69 para o pórtico rotulado, já no cenário 6 (seis) o coeficiente de
flambagem variou de 1,27 a 1,40 para o pórtico engastado e 2,40 a 2,58 para o pórtico
rotulado.

Uma cobertura correta dos comprimentos de flambagem para os cenários 1, 2, 4, 5, 7 e 8


conduziria a valores aproximadamente iguais a Lfi=1.33L e Lfi=2.48L, respetivamente para
apoios engastados e rotulados. Já nos cenários 3 e 6, seriam valores aproximadamente iguais a

14
Lfi=1,46L e Lfi=2,69L, respetivamente para apoios engastados e rotulados, pois estes foram os
valores mais críticos.

A análise dos gráficos anteriores permite afirmar como regra geral para os cenários 1, 2, 4, 5, 7
e 8 que o valor do comprimento de flambagem em situação de incêndio diminui com o efeito
da temperatura, pois com o aumento da temperatura o aço diminui o valor do módulo de
elasticidade, o que reduz a rigidez da estrutura e aumenta os deslocamentos laterais do
pórtico. Por conseguinte, o αcr,fi diminui, assim como o comprimento critico (Lfi) resultando na
diminuição do coeficiente de flambagem (Lfi/L). O mesmo não pode ser dito para os cenários 3
e 6, onde os pilares se encontram com temperatura constante igual a 20°C e as vigas estão
aquecidas, pois nestes cenários o coeficiente de flambagem aumentou com a duração do
incêndio.

4 CONCLUSÃO

Durante um incêndio, o comportamento estrutural dos pórticos metálicos é condicionado pela


diminuição da resistência e rigidez do aço devido ao aumento da temperatura. Para garantir a
segurança dos pórticos sujeitos ao fogo, é fundamental que o cálculo estrutural avalie de
forma adequada o comportamento dos seus elementos em situação de incêndio. No caso
particular das colunas, a segurança depende, na maioria das situações, da interacção entre a
resistência da secção transversal e a resistência aos fenómenos de flambagem, tendo sido
possível com este estudo compreender melhor esta interacção em situação de incêndio.

Dado que no cálculo estrutural em situação de incêndio os projectistas utilizam normalmente


o conceito de comprimento de flambagem para verificar a segurança das colunas por métodos
simplificados de cálculo, foi avaliado neste estudo a forma como o comprimento de
flambagem varia com a temperatura, tendo-se concluído que para os cenários em que as
colunas estão aquecidas, à medida que a temperatura aumenta, o valor do comprimento de
flambagem diminui, contudo, para os cenários em que as colunas não são aquecidas, o
comprimento de flambagem aumenta com o tempo.

Para pórticos não contraventados, o Eurocódigo 3 e NBR 14323:2013 não sugerem quaisquer
valores para os comprimentos de flambagem a utilizar em situação de incêndio. Contudo, este
estudo mostrou que uma boa aproximação para os cenários em que as colunas estão
aquecidas, poderá ser a utilização de comprimentos de flambagem Lfi = 1,33L para todas as
colunas excepto as pertencentes ao piso 0, no caso do pórtico possuir apoios rotulados, nesta
situação deverá usar-se Lfi = 2,48L. Já para os cenários 3 e 6, em que as colunas não estão
aquecidas, poderá utilizar-se os comprimentos de flambagem Lfi = 1,48L para todas as colunas
excepto as do piso 0, no caso de o pórtico possuir apoios rotulados, situação em que se deverá
usar Lfi = 2,83L.

15
Agradecimentos

Os autores são gratos a CAPES – Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível


Superior, pois a mesma financia o doutoramento do aluno Thiago Dias de Araújo é Silva,
através de uma bolsa de estudos do programa “Ciências sem Fronteiras” do Ministério da
Educação em parceria com a CAPES, sendo o número do processo 19128/12-6 e o ano 2013.

REFERÊNCIAS

[1] Couto, C.; Vila Real, P.; Lopes, N.; Rodrigues, J. P. (2013). "Buckling analysis of braced and
unbraced steel frames exposed to fire", Engineering Structures - Elsevier. Vol. 49, n.º 0, p. 541-
559.

[2] Simões, R. A. D. (2007). "Manual de dimensionamento de estruturas metálica".


NBR 8800/2008

[3] EN 1993–1–1, Eurocode 3, Design of Steel Structures – Part 1–1: General rules and
rules for buildings, 2005a.

[4] ABNT Associacao Brasileira de Normas Tecnicas – NBR8800:2008 Projeto de Estruturas de


Aco e de Estruturas Mistas de Aco e Concreto de Edificios.

[5] EN 1993–1–2, Eurocode 3, Design of Steel Structures – Part 1–2: General rules -
Structural fire design, 2005b.

[6] ABNT Associação Brasileira de Normas Tecias - NBR 14323:2013 Dimensionamento de


estruturas de aço e de estruturas mistas de aço e de concreto em situação de incêndio.

[7] Computers and Structures, Inc;SAP2000 Advanced 14.0.0, California, USA, 1995.

[8] Regulamento de Segurança e Acções para Estruturas de Edifícios e Pontes, conforme


decreto de lei nº 235/83, de 31 de maio 10, Potugal.

[9] Vila Real, P., Franssen, J.-M. (2011). "Elefir-EN V1.4.3 (2011), Software for fire design of
steel structural members according the Eurocode 3". http://elefiren.web.ua.pt".

[10] Couto, C., Vila Real, P., Lopes, N. (2011). "FEST2D-versão 1.1”, Universidade de Aveiro,
Portugal, 2014.

[11] CAST3M. CAST 3M is a research FEM environment; its development is sponsored by the
French Atomic Energy Commission; 2012. http://www-cast3m.cea.fr/.

16
Congresso Latino-Americano da Construção Metálica
CONSTRUMETAL 2014

Contribuições Tecnocientíficas

Parte 5
– Ligações –
Concepção, Projeto e Elementos de Fixação
Comparação da taxa de deposição e eficiência de deposição entre os consumíveis
E71T-1C e ER70S-6

Mauro Apolinário da Luz ¹


Jaime Casanova Soeiro Junior ²
Sérgio Duarte Brandi ³

Resumo
Entre os diversos consumíveis encontrados para as mesmas aplicações como a soldagem
de aço baixo carbono, com o propósito de se obter altas velocidades de soldagem e boa
qualidade, é grande a competitividade entre dois tipos, o arame tubular e o arame sólido.
Este trabalho compara a taxa de deposição e à eficiência de deposição entre o arame
sólido ER70S-6 e o arame tubular E71T-1C com diferentes parâmetros para conhecer
qual são as melhores condições para o melhor consumível. As taxas de deposição foram
medidas usando-se uma sequência de cordões de solda realizados em simples deposição
sobre chapa de aço ASTM A36. As variáveis utilizadas foram o gás de proteção, a
Distância do Bico de Contato à Peça (DBCP) e a corrente de soldagem. Os resultados
obtidos na soldagem mostraram que para a corrente de 200 A o arame sólido apresenta
maior taxa de deposição e para 250 A o arame tubular tem a taxa de deposição mais
elevada que a do arame sólido. A eficiência de deposição medida nestes mesmos valores
de corrente, com CO2 e com mistura (Ar+25%CO2), foi maior no arame sólido. As
principais variáveis para se obter os melhores resultados foram a corrente de soldagem e
o DBCP para os dois arames.

Palavras-chave: Arame tubular, Arame sólido; Taxa de deposição; Eficiência de


deposição; Processo MIG/MAG; Processo de soldagem com arame tubular.

Comparison of deposition rate and deposition efficiency between E71T-1C and


ER70S-6 consumables

Abstract
There are any kinds of welding consumables for the same applications to welding low
carbon steel, with purpose to obtain high welding speed and good quality there is great
competition between two types, flux cored wire and solid wire. This paper compares the
deposition rate and deposition efficiency between ER70S-6 solid wire and E71T-1C
flux cored wire with different parameters for to know which the best conditional for the
best consumable are. Deposition rates were measured using a series of weld beads made
in simple deposition on ASTM A36 steel plate. The variables used were the shielding
gas, the distance from the contact nozzle to the sample (DBCP) and welding current.
The results obtained showed that the welding current of 200 A for the solid wire has a
higher deposition rate and for 250 A the flux cored wire has the deposition rate higher
than the solid wire. The deposition efficiency measured in these same values of current,
________________________________
* Contribuição técnica ao Construmetal 2014 – Congresso Latino-Americano da Construção
Metálica – 02 a 04 de setembro de 2014, São Paulo, SP, Brasil.
1
with CO2 and with mixture (Ar +25% CO2) was higher in the solid wire. The main
variables to obtain the best results were welding current and DBCP for the two wires.

Keywords: Flux Cored, Solid Wire; Deposition Rates; Deposition Efficiency; GMAW;
FCAW.

¹ Tecnólogo em Soldagem, Especialista em Engenharia de Soldagem, Depto de Marketing, Belgo Bekaert


Arames, Osasco, SP, Brasil.
² Engenheiro Mecânico, Especialista em Engenharia de Soldagem, Mestre em Ciências da Engenharia
Metalúrgica e de Materiais, aluno de Doutorado – Poli/USP, São Paulo, SP, Brasil.
³ Engenheiro Metalúrgico, Mestre em Engenharia Metalúrgica e Doutor em Engenharia Metalúrgica,
Professor da Universidade de São Paulo, São Paulo, SP, Brasil.

2
1 INTRODUÇÃO

Nos últimos anos a soldagem com os processos MIG/MAG e arame tubular, foram as que mais
cresceram mundialmente, devido à necessidade de aumento da produtividade das indústrias e às
facilidades em suas automatizações.
Os processos de soldagem arame tubular e MIG/MAG são muito semelhantes em seus
princípios de funcionamento e nos tipos de equipamentos utilizados. Ambos são processos de
soldagem por fusão, com arame alimentado de forma contínua e o arco elétrico ocorrendo entre
o eletrodo e a peça, protegido por gás de proteção. Para ambos os processos os equipamentos
são os mesmos, exceto a roldana recartilhada recomendada para o tubular e a roldana lisa para o
sólido [1-3].

Quanto ao modo de transferência, no processo arame tubular o fluxo de gotas metálicas não
ocorre de forma centralizada em relação ao eixo do arame, como no processo MIG/MAG.
Devido ao arame tubular possuir a massa metálica externamente no arame, as gotas são
formadas lateralmente [4]. O tipo de transferência metálica para o arame tubular é guiada por
escória enquanto que no arame sólido pode variar de curto-circuito até spray, dependendo do
tipo de gás de proteção, da tensão do arco e da corrente de soldagem [5].
Quanto às variáveis de soldagem ambos os processos são semelhantes, pois as faixas de corrente
utilizadas para cada diâmetro do arame tubular são as mesmas usadas nos arames sólidos.
Uma característica diferente nos arames tubulares é o uso de maior extensão do eletrodo,
principalmente quando se deseja otimizar o processo para altas taxas de deposição [6]. Nos
arames com proteção gasosa limita-se o uso de grandes extensões de eletrodo devido à proteção
do gás que pode ficar prejudicada. Recomenda-se de 19 a 38 mm [7]. Para o arame tubular a
taxa de deposição é obtida através da maior densidade de corrente e ainda uma maior tolerância
aos contaminantes presentes no metal de base [8].
Estas são as características que distinguem os dois tipos de arames e justificam as maiores taxas
de deposição do arame tubular. Entretanto, quando comparado ao arame sólido podemos dizer
que o arame tubular tem um custo mais elevado na relação custo/peso do metal depositado [9].
Uma experiência feita por WIDGERY [10], em 1994 na Inglaterra, demonstrou as altas taxas de
deposição alcançadas pelo arame tubular rutílico E71T-1C, pelo arame tubular com núcleo
metálico (MIG/MAG) e pelo arame sólido (MIG/MAG), todos com diâmetro de 1,2 mm. Na
proporção que se aumenta a corrente, em fontes de energia convencional, as taxas de deposição
aumentam, incluindo o arame com núcleo metálico. As menores taxas de deposição foram
obtidas, por este autor, com o arame sólido.
No trabalho de LEITE [11], o arame tubular E70C-6M foi o mais eficiente quando comparado
com o arame sólido E 70S-6 e o arame tubular E71T-1C. O E70C-6M apresentou a maior taxa
de deposição entre os três arames (5,56 kg/h) e o menor tempo de soldagem (3,64 minutos na
peça soldada).

2 MATERIAIS E MÉTODOS

Descrever detalhadamente os equipamentos e os procedimentos utilizados, permitindo que a


pesquisa possa ser reproduzida posteriormente por outros pesquisadores. Apresentar a literatura
e a descrição dos métodos estatísticos empregados, quando for o caso.

3
2.1 Metal de Base
A Chapa de aço utilizada como metal de base foi ASTM A36 com 8,0 mm de espessura. Cada
experimento utilizou um chapa com 100,0 mm de largura e 300,0 mm de comprimento. A tabela
1 apresenta a composição química deste aço.

2.2 Consumíveis utilizados


Neste trabalho foram utilizados dois processos de soldagem, o MIG/MAG e o arame tubular. Os
consumíveis utilizados foram o arame sólido cobreado (AWS A5.18 ER70S-6) com diâmetro de
1,2 mm e o arame tubular do tipo rutílico com proteção gasosa (AWS A5.20 E71T-1C) com
diâmetro de 1,2 mm. Suas composições químicas são especificadas nas tabelas 2 e 3.

2.3 Soldagem dos Experimentos.


A soldagem dos experimentos utilizou uma fonte de soldagem convencional de tensão constante
e corrente contínua com capacidade para 600 A e alimentador de arame convencional. A
soldagem foi executada com auxílio de um sistema de mecanização linear a fim de manter
constante a distância do bico de contato à peça (DBCP) e a velocidade de soldagem.
Foram feitas oito combinações distintas das condições operacionais de soldagem com cada tipo
de arame (sólido e tubular), sendo elas descritas na tabela 4. Foram realizados três (3) cordões
de solda para cada condição operacional avaliada.
A velocidade de soldagem utilizada foi de 5,0 mm/segundos para todos os cordões. A vazão do
gás de proteção foi medida no bocal com debímetro e ajustada para uma vazão de 15 l/min
imediatamente antes da soldagem.
Para a definição dos parâmetros de soldagem foram tomados como base os parâmetros definidos
em outros trabalhos feitos com comparação entre arames sólidos e tubulares e pelas
recomendações dos
fabricantes dos consumíveis [12].

4
2.4 Medições com o Sistema de Aquisição de Dados de Soldagem
Foram coletados os gráficos de cada cordão de solda com um sistema de aquisição dos
parâmetros de soldagem para análise da taxa de deposição e da eficiência de cada processo.
Foram gravados períodos com o mínimo de 200 milisegundos, com oscilogramas de corrente,
tensão e velocidades de alimentação de arame.

2.5 Sequência de Soldagem e de Medições.


Em cada chapa de aço ASTM A36 foi realizado três cordões de solda com o mesmo parâmetro.
A figura 1 ilustra o corpo de prova soldado com os três cordões de solda, sendo que dois
cordões foram feitos de um lado da chapa e um cordão no lado oposto da mesma. A sequência
de execução dos cordões também está representada na figura 1.

Figura 1. Representação da localização dos cordões de solda em cada chapa e sua sequência de
execução.

Os cordões feitos com o arame tubular tiveram a remoção da escória feita cuidadosamente para
posterior pesagem e a superfície do cordão foi escovada com escova de aço. A soldagem foi
feita na sequência mostrada na figura 1. Após cada cordão e passado de um a dois minutos,

5
tempo suficiente para a limpeza da escória (caso do arame tubular) e destravamento das fixações
da chapa na bancada, todos os corpos de prova foram submetidos ao resfriamento com água
com o objetivo de prepará-lo para receber o próximo cordão de solda. Este procedimento
garantiu que a chapa estivesse sempre na mesma temperatura (25oC) antes do início do segundo
cordão e antes do terceiro. Após o terceiro cordão a chapa soldada foi resfriada ao ar.
Cada chapa de aço foi secada (após resfriamento com água), pesada e identificada antes da
soldagem do 2º e 3º cordões. Também foram pesados os carretéis de arame antes e depois da
soldagem de cada cordão. As pontas de arame e a escória removida foram pesadas numa
balança digital com capacidade máxima de 2 kg e precisão de 0,01 g. O tempo de arco aberto foi
cronometrado, bem como os comprimentos dos cordões medidos com escala em milímetros.

2.6 Cálculo da Taxa de Deposição


Para a realização do cálculo da taxa de deposição foi utilizado a equação 1.

Onde:
Td = Taxa de deposição (Kg/h).
Pf = Peso da chapa final (Kg).
Pi = Peso da chapa inicial (Kg).
Ta = Tempo de arco aberto (h).
Para determinação da taxa de deposição foram utilizados os dados coletados durante o
experimento.

2.7 Cálculo do Diâmetro da Gota


Para a realização do cálculo do diâmetro da gota foram utilizadas as equações 2, 3, 4, 5 e 6.
Para o volume do arame foi utilizado a equação 2.

Onde:
Va = Volume do arame (mm³)
Da = Diâmetro do arame (mm).
Valim = Velocidade de alimentação do arame (m/min).
Para o volume do arame foi utilizado a equação 3.

Onde:
V1gota = Volume de uma gota (mm³).
Fdest = Frequência de destacamento da gota.
Supondo que a gota seja esférica será utilizada a equação 3.

6
Onde:
Rgota = Raio da gota (mm).

Para a massa da gota a equação 6.

Onde:
Mgota = Massa da gota (g).
ρgota = Densidade do aço da gota (g/cm³).

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

3.1 Cálculo do Diâmetro da Gota


Analisando o gráfico da figura 2a, onde se observa a influência individual de cada variável estuda no
diâmetro das gotas, nota-se que uma maior quantidade de CO2 no gás de proteção e o arame tubular
geram gotas com diâmetro maiores. Os valores de corrente de 250 A e DBCP de 20,0 mm reduz o
diâmetro da gota.
Observando o gráfico da figura 2b, onde são apresentadas as interações entre as variáveis estudadas, nota-
se que em função do gás de proteção o aumento do valor da corrente, de 200 A para 250 A, reduz o
diâmetro da gota tanto para o gás de proteção de 100%CO2 quanto para a mistura rica em argônio
(75%Ar e 25%CO2), porém o gás com 100%CO2 gera gotas maiores que misturas ricas em argônio, para
ambos os valores de corrente. Esse padrão de redução da gota também é observado quando se aumenta o
DBCP. Para a interação entre gás de proteção e arame, o gás com maior quantidade de CO2 gera uma
maior gota de metal líquido tanto para o arame tubular quanto para o arame sólido. As interações entre
gás de proteção e as outras variáveis não diferem dos resultados das variáveis individuais.
A interação entre corrente e o tipo de consumível demonstra que para o valor de 200 A o diâmetro da gota
é igual entre os dois tipos de arame utilizado e para o valor de corrente de 250 A o arame tubular
apresenta diâmetro da gota maior que o arame sólido. Este comportamento pode ser explicado pelo tipo
de transferência metálica, para o valor de 200 A a transferência pode ser globular para o arame sólido.
Este tipo de transferência gera gotas com diâmetro similar entre os arames. Para o valor de 250 A a
transferência pode ser por spray, assim as gotas são menores que quando comparadas com as gotas
geradas com a corrente de 200 A e com as gotas geradas pelo arame tubular nos dois valores de corrente.
Para o arame tubular o aumento da corrente não gera grande diferença no diâmetro da gota por este ter
transferência metálica guiada por escória.
A interação entre corrente e 12,00 de DBCP demonstra que quanto maior o valor de corrente maior será o
diâmetro da gota. Para o valor de 20,0 mm de DBCP o maior diâmetro da gota passa a ser com corrente
de 200 A.
A interação consumível e DBCP mostra que o arame tubular apresenta maior diâmetro de gota que o
arame sólido quando se trabalha com um valor de DBCP de 12,0 mm e que se o valor de DBCP for de
20,0 mm os valores de diâmetro da gota são iguais para ambos os consumíveis adotados, porém o arame
tubular tende a reduzir o diâmetro da gota e o arame sólido tende a aumentar o diâmetro da gota.

7
3.2 Frequência de Destacamento da Gota:
Analisando a figura 3a, nota-se que a mistura rica em argônio, o arame sólido, o valor de
corrente de 250 A e o DBCP de 20,0 mm aumentam a frequência de destacamento de gotas de
metal líquido. As misturas ricas em argônio tendem podem apresentar a transferência metálica
por spray que aumenta a frequência de destacamento de gotas. O arame sólido possui frequência
de destacamento maior que o arame tubular por possuir transferência metálica por spray. Este
comportamento do arame sólido é influenciado pelo valores maiores de corrente e DBCP.
Analisando as interações entre gás de proteção e corrente, tipo de consumível e DBCP, figura
2b, a mistura rica em argônio não apresenta interações com as outras variáveis estudadas. Sendo
assim, a configuração das variáveis que aumenta a frequência de destacamento de gotas
continua sendo: misturas ricas em argônio; 250 A de corrente; arame sólido; 20,0 mm de DBCP.
A interação entre corrente, tipo de arame e DBCP não apresentam interações divergentes
quando analisados separadamente.
A maior frequência de destacamento de gota para o arame sólido demostra uma possível
transferência metálica por spray para as correntes de 250 A e quando utilizado o valor de
corrente de 200 A a transferência metálica apresenta uma tendência de ser globular ou por curto
circuito. O arame tubular possui menor frequência de destacamento de gota por apresentar uma
transferência metálica guiada por escória, esta reduz consideravelmente a sua frequência de
destacamento quando comparado com o arame sólido.
O tipo de consumível apresenta a interação com o DBCP. Adotando o valor de 20,0 mm de
DBCP para ambos os consumíveis a frequência de destacamento é a mesma e o valor de 12,0
mm para o DBCP apresentou uma maior de frequência de destacamento para o arame sólido
quando comparado com o arame tubular. Este padrão identificado para o arame sólido mostra a
influência do DBCP no tipo de transferência metálica. Ao aumentar o valor do DBCP o arame
tubular apresenta um aumento na frequência de destacamento, porém ainda continua inferior ao
do arame sólido.

8
3.3 Taxa de Deposição:
Na figura 4a nota-se que as variáveis que provocaram os maiores efeitos sobre a taxa de
deposição, individualmente, são a corrente e a DBCP. A taxa de deposição foi diretamente
proporcional ao aumento da DBCP e da corrente. Estas variáveis também aumentam a
frequência de destacamento da gota de metal líquido e reduzem o diâmetro das gotas.
Na figura 4b a interação entre gás de proteção e corrente demonstra que independente do tipo de
gás a corrente aumenta a taxa de deposição, sendo o gás com 100% de CO2 o que apresentou a
maior taxa de deposição. A interação entre gás de proteção e tipo de consumível mostra que o
arame sólido apresenta uma maior taxa de deposição que o arame tubular quando o gás de
utilizado for 100%CO2 e os valores de metal depositado são similares quando utilizamos
misturas ricas em argônio. Ao analisar a interação do gás de proteção com os valores de DBCP,
observa-se que o valor de 20,0 mm de DBCP é o que gera maior taxa de deposição
independente do gás de proteção, porém o gás com 100%CO2 apresenta a tendência de gerar a
maior taxa de deposição, para valores 12,0 mm da DBCP a diferença entre o tipo de gás é bem
menor do que a DBCP com 20,0 mm.
Quando se analisa a interação da corrente com o tipo de consumível nota-se que o arame tubular
apresenta a maior taxa de deposição para o valor de corrente de 250 A e quando analisamos a
corrente de 200 A o arame sólido passa a ter maior taxa de deposição. Esse comportamento
pode ser explicado pela possível transferência por spray, corrente de 250 A, que aumenta a
frequência de destacamento de gota, mas reduz seu diâmetro e consequentemente a taxa de
deposição do arame sólido. Quando o valor de corrente é de 200 A a possível transferência
passa a ser globular, com maior frequência de destacamento de gota, diâmetro igual ao arame
tubular e o arame sólido passa a ter maior taxa de deposição.
A interação entre corrente e DBCP mostra a proporcionalidade entre essas variáveis, em ambos
os valores de DBCP a corrente de 250 A gera uma maior taxa de deposição, assim como em
ambos os valores de corrente a maior DBCP gera maior taxa de deposição. A interação entre
consumível e DBCP também demonstra que o arame sólido tem a maior taxa de deposição para
o valor de 20,0 mm DBCP. A influência do DBCP sobre a taxa de deposição está relacionada à
sua influência por efeito Joule.

9
3.4 Eficiência de Deposição:
Ao analisar a figura 5a observa-se que apenas o tipo de consumível apresenta grande influência
na eficiência de deposição. Neste, o arame sólido apresenta maior eficiência de deposição que o
arame tubular.
Na figura 5b nota-se a interação entre as variáveis adotadas e não é possível observar grandes
mudanças entre as variáveis adotadas. A interação do gás de proteção com o valor de corrente, o
tipo de consumível e a DBCP não apresentam grandes diferenças.
A interação entre corrente, tipo de consumível e DBCP também não apresentam grandes
diferenças. O arame sólido, independente do valor de corrente, apresenta maior eficiência que o
arame tubular e a eficiência de deposição para 12,0 DBCP apresenta resultados ligeiramente
superiores a 20,0 DBCP.
Ao analisar a interação entre consumível e DBCP o arame sólido se mostra superior ao arame
tubular. O arame sólido não sofre influência na sua eficiência de deposição com a alteração de
12,0 para 20,0 de DBCP. O arame tubular tende apresentar uma redução na sua eficiência
quando se utiliza a DBCP em 20,0 mm.
Em geral, a eficiência de deposição do arame sólido foi maior do que a do tubular. Essas
diferenças permaneceram praticamente inalteradas ou com alterações pouco significativas na
presença de CO2, mistura de 75%Ar +25%CO2 e também nos dois níveis de corrente (200 e
250 A).

10
4 CONCLUSÕES:
Com base nos materiais e métodos utilizados foi possível concluir que:
• A corrente elétrica é a principal variável para o aumento da taxa de deposição e é diretamente
proporcional ao aumento da mesma. Com a mudança de 200 para 250 A, o arame sólido
aumenta a sua taxa de deposição em 15% e o arame tubular aumenta em 44 %.
• A DBCP é outra variável que influencia na taxa de deposição e é diretamente proporcional ao
seu aumento.
• Em média o arame sólido ER70S-6 apresenta uma eficiência de deposição de 93% e o arame
tubular E71T-1C uma eficiência de deposição de 81%.
• Tanto no arame sólido ER70S-6 como no arame tubular E71T-1C, as variáveis como gás,
DBCP e corrente, não interferem na eficiência de deposição.

5. Agradecimentos
Os autores agradecem ao Professor Dr. Freddy Poetscher pela ajuda na análise dos resultados, à
Metalúrgica Atlas pela execução do experimento, à empresa Belgo Bekaert Arames pela ajuda
na execução nas macrografias e também pelo fornecimento dos consumíveis (arame sólido –
fabricação própria e arame tubular – importado da Hyundai – made in Korea). O autor J.C.S.J.
agradece ao programa PRH-19 pelo apoio financeiro na forma de bolsa de doutorado.

6. Referencias bibliograficas:
[1] WAINER, E.; BRANDI, S. D.; MELO, F. D. H. Soldagem: Processos e Metalurgia. São Paulo:Edgar
Blucher, 1995. 494p.
[2] O’BRIEN, R. L. (Editor). AWS Welding Handbook, volume 2 – Welding Process, 8º Edição.
American Welding Society. EUA, 955 p. 1991.
[3] MARQUES, P. V.; MODENESI, P. J.; BRACARENSE, A. Q. Soldagem: Fundamentos e Tecnologia
– 3ª edição atualizada. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2009. 363 P.
[4] SOUZA, P. C. R. D. Análise da transferência metálica na soldagem com arame tubular, 1998, 129 p.
Tese (Doutorado) – Departamento de Engenharia Metalúrgica e de Materiais, Escola Politécnica da
Universidade de São Paulo: 1998.
[5] BRANDI, S. D. ; TANIGUCHI, C. Análise da transferencia metalica do eletrodo revestido AWS
E6013. Soldagem & Inspeção, São Paulo, v. 2, n.3, p. 33-37, 1990.
[6] MARQUES, Paulo Villani. “Tecnologia da Soldagem”. Ed. O Lutador, 1991. PP 213 – 236.
[7] BRACARENSE, A.Q., Processo de Soldagem por Arame Tubular, Apostila UFMG, Maio, Belo
Horizonte, pp.88-104. 2000.
[8] WANG, W.; LIU, S.; JONES, J.E. Flux Arc Welding: Arc Signals, Processing and Metal Transfer
Characterization, Welding Journal, v82, n°3, pp.369s-377s. 1995.
[9] ARAÚJO, W.R. Comparação entre Soldagem Robotizada com Arame Sólido e Metal Cores – A
Ocorrência do Finger, Dissertação de Mestrado, UFMG, 79p. 2004.
[10] WIDGERY, D. Tubular Wire Welding. First published, England, Woodhead Publishing Limited, pp.
1-25. 1994.
[11] LEITE, F. J. L. Comparativo de utilização do arame sólido e do arame tubular em junta de topo para
chapas ASTM A36 de 6,3 mm de espessura. Trabalho de Conclusão de Curso (Especialização) – PECE-
tre arames maciços (MIG-MAG) e tubulares (Eletrodo Tubular). Encontro Nacional da Tecnologia da
SoldagemUniversidade de São Paulo. São Paulo: 139 p. 2012.
[12] GARCIA, R. P.; SCOTTI, A. Uma metodologia para análises comparativas da capacidade produtiva
en, Associação Brasileira de Soldagem, Recife. 2010.

11
Tema: Estruturas Metálicas e Mistas

DIAFRAGMAS EXTERNOS NAS LIGAÇÕES ENTRE VIGA DE SEÇÃO I E PILAR TUBULAR


DE SEÇÃO CIRCULAR

Felipe Botelho Coutinho1


Macksuel Soares Azevedo²
Walnório Graça Ferreira2

Resumo
O estudo sobre a utilização de diafragma externo na ligação entre viga de seção I e pilar
tubular de seção circular em aço teve início na década de 1970, no Japão, onde foram feitas
análises teóricas e experimentais da sua aplicação. No Brasil, as pesquisas são recentes e
iniciaram em 2005 com Carvalho [3], que realizou as primeiras análises numéricas com e sem o
uso de diafragma externo na ligação. A recém lançada norma brasileira ABNT NBR 16239:2013
[2] de perfis tubulares não trata especificamente deste assunto, sendo necessário pesquisas
para embasamento teórico. O objetivo deste artigo é verificar as equações existentes para
aplicação do diafragma externo de diferentes dimensões na ligação entre viga de seção I e
pilar tubular de seção circular, comparando com pesquisa numérica realizada por Rink et al.
[11].

Palavras-chave: Diafragma externo; Ligação viga-pilar; Estrutura tubular; Estruturas de aço.

EXTERNAL DIAPHRAGMS CONNECTIONS BETWEEN THE I BEAM AND CIRCULAR HOLLOW


SECTION COLUMN IN STEEL

Abstract
The researches about the use of external diaphragm connection between I bean and circular
hollow section column have began in the 1970s in Japan, where theoretical and experimental
analysis of its application were made. In Brazil, the researchers are recent and started in 2005
with Carvalho [3], who performed the first numerical analyzes with and without the use of
external diaphragm on the connection. The recently launched Brazilian standard hollow
sections, ABNT NBR 16239:2013 [2], does not address of this subject specifically, being
necessary the use of researches to theoretical basis. The purpose of this article is to verify the
existing equations regarding the application of the external diaphragm connection between
the different dimensions of the tubular section I beam and column of circular cross section,
comparing numerical study by Rink et al. [11].

Keywords: External diaphragm; Beam-column connection; Tubular structure; Steel structures

1
Engenheiro Civil, Aluno de Mestrado, Departamento de Engenharia Civil - UFES - ES, Universidade
Federal do Espírito Santo - Centro Tecnológico - Campus de Goiabeiras, Vitória , ES, Brasil.
2
Engenheiro Civil, Professor Doutor, Departamento de Engenharia Civil - UFES - ES, Universidade
Federal do Espírito Santo - Centro Tecnológico - Campus de Goiabeiras, Vitória , ES, Brasil.

________________________________
* Contribuição técnica ao Construmetal 2014 – Congresso Latino-Americano da Construção
Metálica – 02 a 04 de setembro de 2014, São Paulo, SP, Brasil.
1
1. INTRODUÇÃO

A associação entre viga de seção I e pilar tubular de seção circular fornece uma boa solução
estrutural para as edificações. Com respeito a tal concepção, quando os seus elementos são
analisados separadamente, é de certo modo simples calcular as suas resistências. No entanto,
para a ligação, é necessário um estudo especifico do seu correto dimensionamento, tendo em
vista as diferentes configurações possíveis.
Neste aspecto, diversas pesquisas têm sido desenvolvidas com o propósito de compreender o
comportamento real destas ligações. Em especial neste artigo, falaremos das que utilizam
diafragma externo, segundo Kurobane et al. [8], melhor forma para o enrijecimento e combate
às falhas locais nas ligações entre viga de seção I e pilar tubular de seção circular.

Estudos com diafragmas externos foram feitos no Japão nas décadas de 1970 e 1980, sendo
posteriormente absorvidos pela norma japonesa “Recomendações para Projeto e Fabricação
de Estrutura Tubular em Aço” (1990) do Instituto de Arquitetura do Japão (AIJ) e pelo CIDECT
(Comité International Pour Le Développement Et L'étude De La Construction Tubulaire) em seu
manual Design Guide 9: Design guide for structural hollow section column connections, escrito
por Kurobane et al. [8]. A Figura 1 mostra exemplo de diafragma externo e suas principais
características geométricas.

Figura 1 - Exemplo de ligação viga-pilar com o uso do diafragma externo (Sabbagh et al. [12]).
Nota: Figura adaptada pelo autor.

1.1. Objetivo
O objetivo deste artigo é o estudo analítico das equações existentes na ligação entre viga de
seção I e pilar tubular de seção circular utilizando diafragma externo. A pesquisa é viabilizada
através de modelagem numérica via método de elementos finitos realizada por Rink et al. [11].
Esta análise tem como base as equações do AIJ, conforme Kamba e Kanatani [7] e Rink et al.
[11], e do CIDECT, segundo Kurobane et al. [8], uma vez que as normas brasileira, europeia e
americana não contemplam o uso dos diafragmas externos nas ligações entre viga de seção I e
pilar tubular de seção circular.

2
1.2. Revisão bibliográfica
Atualmente, apenas a norma do AIJ contempla o uso de diafragmas externos na ligação entre
viga de seção I e pilar tubular de seção circular. As demais normas, em especial a americana
AISC 360-10(2010) [1], a europeia EN 1993-1-8 [5] e a brasileira NBR 16239:2013 [2] não fazem
referência a sua utilização e dimensionamento. O manual do CIDECT para ligações tubulares,
escrito por Kurobane et al. [8], Design Guide 9 - For Stuctural Hollow Section Column
Connections, apresenta equações para este tipo de ligação em versões aprimoradas daquelas
utilizadas pela norma japonesa, segundo relato dos próprios autores. A seguir serão
apresentados alguns estudos importantes sobre a aplicação de diafragma externo nas ligações
para estruturas em aço.

Wakabayashi et al. [14] realizaram ensaios experimentais para ligações entre viga de seção I e
pilar tubular de seção circular submetidos aos esforços verticais e horizontais. Diversos
parâmetros foram investigados, como a espessura da parede do pilar, o tamanho do diafragma
externo e a espessura da mesa da viga que foi a mesma do diafragma externo. Os
experimentos revelaram que as ligações com diafragmas externos tiveram um comportamento
mais resistente em relação àquelas em que eles não foram adotados.

Rink et al. [11] analisaram numericamente e compararam com a norma japonesa a aplicação
de diafragmas externos nas estruturas de plataforma offshore. O modelo numérico foi
validado de acordo com o experimento de Wakabayashi et al. [14] e os resultados foram
analisados para 19 configurações de diferentes propriedades geométricas e carregamentos. O
principal mecanismo de falha foi a flambagem local do diafragma, sendo que os resultados
obtidos foram próximos aos considerados pela norma japonesa. Além disso, verificou-se que a
resistência da ligação decresce consideravelmente com a aplicação de carregamento axial ao
tubo ou quando há esforços oriundos de momentos assimétricos, cujas situações não são
contempladas pela norma japonesa ou pelo CIDECT.

Kamba e Kanatani [7] analisaram as equações da norma do Instituto de Arquitetura do Japão


“Recomendações para projeto e fabricação de estruturas tubulares em aço” (1990) e sua
aplicação em Rink et al. [11]. Também traduziram para língua inglesa as equações e
procedimentos para cálculo de diafragmas externos da seção 4.4.5 “Ligação tubular viga-pilar”
da mesma norma e relataram que o mecanismo de falha encontrado por Rink et. al [11] não é
o mesmo contemplado pela norma, a qual compreende a falha local da ligação causada pela
força normal da mesa da viga.

Kurobane et al. [8], que elaboraram o manual do CIDECT para ligações em estruturas tubulares
- Design Guide 9 - For Stuctural Hollow Section Column Connections, propuseram equações
para o cálculo da força resistente diferentes das apresentadas pela norma japonesa. Segundo
os próprios autores, estas equações são melhores do que aquelas adotadas pelo AIJ, pois
apresentaram uma melhor validação e confiabilidade com base numa série de resultados
numéricos.

Carvalho [3] foi um dos pioneiros nas pesquisas com diafragmas externos no Brasil. Por meio
de análise numérica da ligação viga-pilar com chapa simples, e sua validação experimental,
avaliou a resistência de pilar de seção tubular circular e viga de seção I com e sem diafragma

3
externo. Os resultados encontrados demonstraram a importância da adoção do diafragma nas
ligações.

Sui e Yamanari [13] deduziram equações de força e rigidez utilizando regressão linear dos
resultados obtidos por meio de modelos numéricos com diferentes geometrias para ligação
entre viga de seção I e pilar tubular de seção circular com diafragma externo. Trinta e dois
modelos foram utilizados na pesquisa, na qual também foram analisadas forças de compressão
axial e lateral no pilar.

Freitas [6], com base nos estudos realizados por Carvalho [3], também analisou
numericamente ligações entre vigas de seção I e pilar tubular de seção circular. Foram
analisados diversos modelos geométricos para diferentes aplicações de força. Através de trinta
diferentes configurações, classificou as ligações conforme a rigidez e a resistência, de acordo
com a norma Europeia EN 1993-1-8 [5]. Concluiu que a presença de diafragmas externos foi
positiva na absorção das forças provenientes do binário oriundo da mesa da viga, reduzindo as
forças de plastificação na face do pilar. A utilização de enrijecedores na placa inferior do
diafragma também foi estudada. No entanto, este elemento provocou concentração de forças
na face do pilar e na mesa da viga, diminuindo a resistência da ligação.

Masioli [9] continuou as pesquisas realizadas por Carvalho [3] e Freitas [6], onde também
foram feitas análises numéricas e experimentais de ligações entre viga de seção I e pilar
tubular de seção circular. No programa experimental foi avaliada a presença ou não do
diafragma externo. Quatro modelos foram utilizados na análise experimental a fim de calibrar
os dados numéricos. Os modelos de ligações foram compostos por chapa simples; viga soldada
diretamente no pilar; com diafragma externo; com diafragma externo e enrijecedor. Como
resultado da pesquisa, concluiu-se que a utilização do diafragma externo aumentou
consideravelmente a resistência das ligações. O uso do enrijecedor, seguindo os resultados
encontrados por Freitas [6], contribuiu de forma negativa na resistência da ligação.

Sabbagh et al. [12] pesquisaram a influência da utilização de diafragmas externos e


enrijecedores verticais para ligação entre viga de seção I e pilar tubular de seção circular para
estrutura submetida a sismo. No seu artigo foi destacado os principais modos de falha do uso
do diafragma externo, que são a distorção do pilar na altura da região da alma da viga e a
concentração de tensões de cisalhamento no diafragma. Foram realizadas análises numéricas
e foi constatado ganho considerável da resistência para este tipo de ligação.

Pereira [10], com base nos estudos realizados por Masioli [9], analisou numericamente o
comportamento estrutural de ligações entre viga de seção I e pilar tubular de seção circular
para situações de canto e quando solicitado por quatro vigas simultaneamente. Ele verificou a
utilização ou não de diafragmas externos, com e sem enrijecedores verticais e analisou a
influência das diferentes geometrias do diafragma externo bem como a sua influência na
resistência da ligação. Concluiu-se que, mesmo com a presença do diafragma externo na
ligação, não foi possível classificá-la como rígida.

4
Dessouki et al. [4] analisaram numericamente a ligação com diafragma externo entre viga de
seção I e pilar tubular, de seção circular e quadrada, preenchidos ou não com concreto. Quatro
formatos de geometria para o diafragma foram adotados. Concluiu-se que houve acréscimo de
resistência na ligação com a utilização do diafragma sendo diretamente proporcional à sua
largura. Além disso, relatou-se a vantagem deste tipo de ligação quando a seção do pilar é
circular em relação à quadrada, já que não há aresta viva para concentração de tensões e
consequentemente surgimento de flambagem local do diafragma no pilar.

2. ESTUDO ANALITICO

O estudo analítico é baseado no AIJ, conforme artigos de Rink et al. [11] e Kamba e Kanatani
[7], e nas recomendações do manual do CIDECT para ligações, por Kurobane et al. [8].
Uma recomendação inicial geométrica em ambos os institutos de pesquisas é a prevenção de
cantos reentrantes na região da ligação, a fim de evitar a ocorrência de fissuras a partir de
pontos de concentração de tensões do diafragma ou de juntas soldadas entre o diafragma e a
mesa da viga, considerando um raio mínimo de aresta de 10 mm. A Figura 2 mostra alguns
exemplos de diafragmas externos.

Figura 2 – Exemplos de diafragmas externos sem e com pontos de concentração de tensões


(a), (b), (c) e (d) (Kamba e Kanatani [7]).

5
2.1. Norma japonesa de acordo com Kamba e Kanatani [7]

A Equação (1) estabelece a resistência local da ligação ao nível da mesa da viga, de acordo com
as dimensões mostradas na Figura 3.

(1)
( ) √

Onde:
PAIJ - Resistência axial da ligação na altura da mesa da viga, segundo o AIJ;
Bf - Largura da mesa da viga;
B’f - Largura cônica do encontro da mesa da viga com o diafragma externo;
D - Diâmetro externo do pilar;
T - Espessura da parede do pilar;
ts - Espessura do diafragma;
hs - Largura mínima do diafragma externo;
fy,2 - Tensão de escoamento do aço do pilar.

Sendo os valores de B’f conforme Equações (2) e (3):

Para: √ ( ) , , conforme modelo (a) da Figura (3) (2)

Para: √ ( ) , deverá ser determinado geometricamente, conforme (3)


modelo (b) da Figura 3.

Figura 3 – Propriedades geométricas do diafragma externo conforme o AIJ (Kamba e Kanatani


[7])

6
Os intervalos de validade para a Equação (1) estão descritos nas Equações (4) a (6).

(4)

(5)

(6)

Onde:
fy,1 - Tensão de escoamento do aço do diafragma externo;

O momento resistente da ligação, MRD,AIJ, é conforme a Equação (7):

(7)

Onde:
H - Altura da viga
tf - Espessura da mesa da viga;

2.2. Manual do CIDECT segundo Kurobane et al. [8]

A Equação (8) determina a resistência local da ligação ao nível da mesa da viga, conforme as
dimensões apresentadas na Figura 4.

(8)
( ) ( ) ( )

Onde:
PCID - Resistência axial da ligação na altura da mesa da viga, segundo o CIDECT;

Figura 4 - Propriedades geométricas do diafragma externo conforme o CIDECT (Kurobane


et al. [8])

7
Os intervalos de validade para a Equação (8) estão descritos nas Equações (9) a (12).

(9)

( 10 )

( 11 )

( 12 )

O momento resistente da ligação, MRD,CID, é conforme a Equação (13):

(13)

3. EXEMPLO DE CÁLCULO

O modelo adotado será o mesmo utilizado por Rink et al. [11], conforme Figura 5, e
corresponde a uma ligação viga-pilar de estrutura offshore com a utilização de diafragma
externo. Serão analisados apenas os nove primeiros modelos da sua pesquisa, denominados
HB1 à HB9, devido à investigação direta da relação entre a largura do diafragma pela largura
da mesa da viga, um dos objetivos deste artigo. Os valores adotados para B’f serão os
corrigidos por Kamba e Kanatani [7], obtidos por meio da geometria do modelo. Serão
utilizados os mesmos valores de Rink et al. [11] para o momento de plastificação da viga (Mpv),
obtido de forma analítica, e o momento último resistente (Mu) da ligação, obtido por método
numérico.

Figura 5 – Modelo de ligação viga-pilar com diafragma externo utilizado por Rink et al. [11]

A Tabela 1 mostra uma planilha de cálculo que utilizou diafragma externo com espessura de
30mm, pilar com 1000mm de diâmetro e 30mm de espessura de parede. Para as vigas foram
adotadas altura, espessura da alma e da mesa da viga respectivamente 1000mm, 12mm e
30mm.

8
Propriedades geométricas Cálculo do momento resistente e comparativos entre os resultados
Viga Diaf. AIJ CIDECT Valores Obtidos Relações Adotadas
Nº Modelo Bf hs hs/ VA1 B'f Geom B'f VA2 VA3 PAIJ VC1 VC2 VC3 PCID MAIJ MCID Mu Mpv
mm mm (Bf/2) mm kNm kN kNm kNm kNm kNm Mu/Mpv Mu/MAIJ Mu/MCID
1 HB1 300 70 0,47 806,10 NOK 639,00 639,00 10,65 OK 33,33 OK 3.823,83 33,33 OK 0,07 OK 1,00 OK 5.032,58 3.709,11 4.881,60 4.589,00 4.040,00 1,14 1,24 0,94
2 HB2 300 120 0,80 876,81 NOK 764,00 764,00 12,73 NOK 33,33 OK 5.227,78 33,33 OK 0,12 OK 1,00 OK 5.427,03 5.070,95 5.264,22 5.348,00 4.040,00 1,32 1,05 1,02
3 HB3 300 200 1,33 989,95 NOK 980,00 980,00 16,33 NOK 33,33 OK 7.638,70 33,33 OK 0,20 NOK 1,00 OK 5.829,36 7.409,54 5.654,48 6.363,00 4.040,00 1,58 0,86 1,13
4 HB4 400 70 0,35 806,10 NOK 645,00 645,00 10,75 OK 33,33 OK 3.845,17 33,33 OK 0,07 OK 1,00 OK 5.032,58 3.729,81 4.881,60 4.741,00 5.073,00 0,93 1,27 0,97
5 HB5 400 120 0,60 876,81 NOK 766,00 766,00 12,77 NOK 33,33 OK 5.236,50 33,33 OK 0,12 OK 1,00 OK 5.427,03 5.079,40 5.264,22 5.504,00 5.073,00 1,08 1,08 1,05
6 HB6 400 200 1,00 989,95 NOK 980,00 980,00 16,33 NOK 33,33 OK 7.638,70 33,33 OK 0,20 NOK 1,00 OK 5.829,36 7.409,54 5.654,48 6.466,00 5.073,00 1,27 0,87 1,14
7 HB7 500 70 0,28 806,10 NOK 653,00 653,00 10,88 OK 33,33 OK 3.873,63 33,33 OK 0,07 OK 1,00 OK 5.032,58 3.757,42 4.881,60 4.940,00 6.106,00 0,81 1,31 1,01
8 HB8 500 120 0,48 876,81 NOK 768,00 768,00 12,80 NOK 33,33 OK 5.245,21 33,33 OK 0,12 OK 1,00 OK 5.427,03 5.087,85 5.264,22 5.668,00 6.106,00 0,93 1,11 1,08
9 HB9 500 200 0,80 989,95 NOK 980,00 980,00 16,33 NOK 33,33 OK 7.638,70 33,33 OK 0,20 NOK 1,00 OK 5.829,36 7.409,54 5.654,48 6.697,00 6.106,00 1,10 0,90 1,18
Propriedades dos materiais VA1: Verificação 1 da norma japonesa VC1: Verificação 1 do CIDECT
fy,1 = 385 Se raiz(2)*((D/2)+hs)) >= D, OK; temos que B'f = D Se 14 <= D/t <= 36 OK, senão NOK
fy,2 = 330 Se raiz(2)*((D/2)+hs)) < D, NOK: então B'f deverá ser
Serão denominados OK e NOK para calculado geometricamente; B'f
situações respectivamente de VA2: Verificação 2 da norma japonesa = B'f Geom VC2: Verificação 2 do CIDECT
conformidade ou não para auxilio nos Se B'f/2ts <= 237/raiz(σy1) OK, senão NOK Se 0,05 <= hs/D <= 0,14 OK, senão NOK
cálculos e melhor visualização dos Sendo 237/(raiz(σy1)) = 12,079
critérios adotados . VA3: Verificação 3 da norma japonesa VC3: Verificação 3 de CIDECT
Se 15 <= D/t <= 55 OK, senão NOK Se 0,75 <= ts/t <= 2,0 OK, senão NOK
Tabela 1: Cálculo comparativo de resistência da ligação com diafragma externo

9
Figura 6 – Relação entre o momento resistente numérico e o momento de plastificação
analítico da viga

Figura 7 – Relação entre o momento resistente numérico e o momento resistente calculado


segundo a norma japonesa

10
Figura 8 – Relação entre o momento resistente numérico e o momento resistente calculado
segundo o CIDECT

4. ANÁLISE DOS RESULTADOS

A Tabela 1 mostra que algumas propriedades geométricas da viga ou do pilar utilizadas nas
ligações estão fora dos limites estabelecidos pelos métodos de cálculo do AIJ e do CIDECT.
Provavelmente devido à utilização de elementos estruturais offshore, não comum a
construção civil e não contemplados na elaboração destas equações. No entanto, para Kamba
e Kanatani [7], os intervalos de validade apresentados pelo AIJ não são de restrição, mas seu
desvio deverá ser analisado. A mesma consideração será aplicada aos limites estabelecidos
pelo CIDECT. Sendo assim, pode-se perceber na Tabela 1 que, para a norma japonesa, alguns
valores em VA2 ficaram próximos ao limite estabelecido, podendo dar continuidade à análise
conforme Kamba e Kanatani [7]. Quanto ao CIDECT, na mesma tabela, pôde-se verificar que
apenas alguns valores de VC2 ficaram fora dos limites.
A Figura 6 mostra o ganho de resistência da ligação conforme aumento da relação entre a
largura do diafragma e a largura da mesa da viga. Quanto maior for a relação entre hs e a
metade da mesa da viga, maior será a resistência ao momento fletor. Quando analisado
percentualmente, é possível verificar um ganho de resistência próximo a 35%. Isso
considerando apenas o ganho percentual da situação com diafragma externo, variando apenas
a sua largura.
Para aplicação das equações de resistência na parede do pilar utilizando diafragma externo,
primeiramente é necessário verificar a consistência das equações existentes. Para isso, as
Figuras 7 e 8 apresentam a relação entre os resultados obtidos de forma numérica e analítica.
A primeira análise será feita segundo o AIJ. No gráfico da Figura 7, para valores da relação
entre hs e Bf/2 pequenos, há uma distância considerável da resistência para os resultados
numéricos, aceitáveis por serem a favor da segurança. Já o contrário ocorre para essa relação
próxima a 1,0, em que os resultados, apesar de serem convergentes, são maiores que os

11
numéricos, sendo contrários à segurança. Desfavorecendo o seu uso, pois ao aumentar a
largura do diafragma com o objetivo de aumentar a resistência, os valores encontrados
superestimam a resistência real da ligação.
Na Figura 8, que utiliza a equação fornecida pelo CIDECT, é possível notar que acontece o
oposto aos resultados da norma japonesa, pois a resistência ao momento é maior conforme a
largura do diafragma externo e consequentemente terá um maior coeficiente de segurança no
cálculo da resistência da ligação, favorecendo o seu uso.

5. CONCLUSÃO

É possível concluir que ao utilizar o diafragma externo na ligação entre viga de seção I e pilar
tubular de seção circular ocorre um aumento considerável da resistência ao momento. Além
disso, os valores apresentados pelas equações existentes são próximos aos obtidos do modelo
numérico, validando assim a sua aplicação. Sendo recomendada a adoção das equações
apresentadas pelo CIDECT, que demonstraram maior confiabilidade em seus resultados.

Agradecimentos

Os autores agradecem ao apoio recebido pelo PPGEC/UFES – Programa de Pós-Graduação em


Engenharia Civil da Universidade Federal do Espírito Santo.

REFERÊNCIAS

1 American National Standards Institute, American Institute Of Steel Construction,


Specification for structural steel buildings. ANSI/AISC 360-10. Chicago.(2010)

2 Associação Brasileira De Normas Técnicas. NBR 16239: Projeto de estruturas de aço e de


estruturas mistas de aço e concreto de edificações com perfis tubulares. Rio de Janeiro.(2013)

3 Carvalho, P. H.. Avaliação numérica do comportamento estrutural de ligação entre pilar de


seção tubular circular e viga de seção “I”. Dissertação (Mestrado) - Escola de Minas,
Universidade Federal de Ouro Preto, Ouro Preto (2005).

4 Dessouki A. K.; Yousef A. H.; Fawzy M. M.. Stiffener Configurations in Moment Connections
Between Steel I-Beams and Concrete-Filled Steel Tube Columns. World Applied Sciences
Journal 30 (2),p. 120-132. (2014).

5 European Committee For Standardization. Design of steel structures: Part 1-8 - Design of
Joints. Eurocode 3 Part 1-8, EN 1993-1-8:2005, Brussels.(2005)

6 Freitas, P. C. B.. Análise numérica de ligações metálicas viga-coluna com coluna tubular
circular. 188 p. Dissertação (Mestrado) - Escola de Engenharia de São Carlos, Universidade de
São Paulo, São Carlos.(2009).

12
7 Kamba, T.; Kanatani, H.. Design formulae for CHS column-to-beam connections with exterior
diaphragms. Proceedings of the V International Symposium on Tubular Structures,
Nottingham, p. 249-256.(1993).

8 Kurobane, Y. et al.. CIDECT design guide 9: Design guide for structural hollow section column
connections. Köln: CIDECT and Verlag TÜV Rheinland. 213 p. (2004)

9 Masioli, C. Z.. Análise teórica e experimental de ligações em aço entre pilar tubular de seção
circular e viga de seção I. 137 p. Dissertação (Mestrado) - Escola de Engenharia de São Carlos,
Universidade de São Paulo, São Carlos (2011).

10 Pereira, D. H. F.. Análise do comportamento estrutural de ligações em aço entre viga de


seção I e pilar de seção tubular circular. 200 p. Dissertação (Mestrado) - Escola de Engenharia
de São Carlos, Universidade de São Paulo, São Carlos.(2013).

11 Rink H.D., Winkel G.D., Wardenier J., Puthli R.S, Tubular Structures, 4º International
Symposium, p. 461-470, Delft (1991).

12 Sabbagh, A.B., CHAN, T.M., MOTTRAM J.T.. Detailing of I-beam-to-CHS column joints with
external diaphragm plates for seismic actions, Journal of Constructional Steel Research, p. 31-
33(2013).

13 Sui W., Yamanari M., Evaluation of the characteristics of external diaphragm connections
with steel CHS columns and wide-flange steel beams, Pacific Structural Stell Conference,
Wairakei (2007).

14 Wakabayashi M., Sasaki R., Kishima Y.. An Experimental Study on Centrifugally-Cast Steel
Pipe to H-Beam Connections Annuals(Abstract), Disaster Prevention Research Institute. Kyoto
University, No. 14, April, 1971, pp. 343-369 (in Japanese ).

13
Tema: Ligações – Projeto e Elementos de fixação

DIMENSIONAMENTO AUTOMATIZADO DE LIGAÇÕES VIGA-PILAR

Gustavo Henrique Ferreira Cavalcante¹


José Denis Gomes Lima da Silva²
Luciano Barbosa dos Santos³

Resumo
As ligações são imprescindíveis para o bom funcionamento da estrutura, pois transmitem os
esforços entre elementos estruturais. Com isso, geralmente seu estudo é mais complexo e
demorado, sendo útil o uso de ferramentas computacionais para propiciar celeridade no
dimensionamento de seus componentes. Desta forma, caso a ligação não seja executada ou
projetada de forma adequada, os esforços transmitidos não serão compatíveis com o modelo
estrutural, causando problemas estruturais. Propõem-se, neste trabalho, a elaboração de
roteiros de cálculo, a partir de critérios adotados pela norma NBR 8800:2008 – Projeto de
Estruturas de Aço e Estruturas Mistas Aço-Concreto e equações estudadas pela Mecânica dos
Sólidos - para alguns tipos de ligações bastante utilizadas em projetos estruturais de aço.
Dentre elas, existem as ligações viga-pilar flexíveis e rígidas. Por fim, serão criados roteiros e
planilhas de cálculo, contendo o memorial de cálculo e verificações necessárias para o
dimensionamento adequado das ligações. O trabalho utilizará o Método dos Estados Limites, o
qual agrega a filosofia vigente em dimensionamento de estruturas.

Palavras-chave: Ligações metálicas; Ligação viga-pilar; Placas de base; Estruturas metálicas.

________________________________
* Contribuição técnica ao Construmetal 2014 – Congresso Latino-Americano da Construção 1
Metálica – 02 a 04 de setembro de 2014, São Paulo, SP, Brasil.
AUTOMATED DESIGN OF BEAM-COLUMN CONNECTIONS

Abstract
The connections are essential for the proper functioning of the structure, as they convey
efforts between structural elements. So, their study is usually more complex and time
consuming it is useful to use computational tools to facilitate the rapid design of its
components. Thus, if the connection is not implemented or designed properly, the efforts
transmitted will not be compatible with the structural model, causing structural problems. It is
proposed in this paper, the roadmapping calculation, based on criteria adopted by NBR
8800:2008 standard - Design of Steel Structures and Steel - Concrete Composite Structures and
equations studied by Solid Mechanics - for some types of connections widely used in structural
steel projects. Among them, there are links flexible and rigid beam-column. Finally, scripts and
spreadsheets will be created, containing the memorial of calculation and verification required
for proper sizing of links. The work uses the method of Limit State, which adds the current
philosophy in design of structures.

Keywords: Steel structures, Structural design, Beam-column; Base plates.

¹ Graduando em Engenharia Civil, Universidade Federal de Alagoas, Maceió, Alagoas, Brasil.


² Engenheiro civil, mestrando pela Universidade Federal de Alagoas, professor titular, Instituto Federal
de Educação, Ciência e Tecnologia, Salgueiro, Pernambuco, Brasil.
³ Engenheiro civil, doutor pela Universidade Federal de São Carlos, professor titular, Universidade
Federal de Alagoas, Centro de Tecnologia, Maceió, Alagoas, Brasil.

2
1 INTRODUÇÃO

O termo ligação é aplicado a todos os detalhes construtivos que promovam a união de partes
da estrutura entre si ou a sua união com elementos externos a ela, como, por exemplo, as
fundações (CBCA, 2003). As transmissões dos esforços entre peças estruturais devem-se às
ligações entre elas, desta forma, elas têm fundamental importância no comportamento global
da estrutura. Devido à variedade de elementos de aço existem diversos tipos de ligações que
podem ser adotadas pelo calculista.
Essa variedade faz com que a NBR 8800:2008 não apresente fórmulas diretas para o
dimensionamento de ligações viga-pilar, sendo necessário o estudo individualizado para cada
tipo de ligação a partir de diversos conceitos da mecânica dos sólidos e dos conhecimentos
específicos das estruturas de aço.
Desse modo, o uso de programas computacionais de dimensionamento, verificação e
otimização de sistemas estruturais é uma alternativa utilizada por engenheiros projetistas para
calcular suas estruturas em tempo hábil, deixando-os com a função de gerenciar e interpretar
os dados gerados.
Os softwares podem gerar erros que estão condicionados ao conhecimento técnico,
experiência e atenção dos projetistas. Em alguns casos, a falta de revisão dos conceitos, teorias
e considerações impostas pelo programa dão origem a falhas na elaboração do projeto.
Dentro de tal contexto, a criação de roteiros e planilhas de cálculo referentes às ligações mais
usuais seguindo as orientações da NBR 8800:2008 proporciona celeridade aos
dimensionamentos de estruturas metálicas e entendimento dos fenômenos utilizados.

1.1 Objetivos

Este trabalho apresenta como objetivo geral detalhar procedimentos de dimensionamento e


verificar as ligações mais correntes entre vigas e pilares. Dessa forma, restringindo a situações
ideais de transmissões totais e nulas de momento fletor ao elemento de sustentação. A partir
dos resultados encontrados, foram criadas planilhas de cálculo, fornecendo recomendações
construtivas descritas nas normas vigentes. Pretende-se apresentar, ao fim da exposição,
aplicações, comparando-as com exemplos de ligações dimensionadas por literaturas técnicas
tradicionais.

1.2 Revisão da literatura

Souza (2010) relata que registros históricos demonstram que a tecnologia da


construção metálica é anterior à tecnologia da construção em concreto, mas, no Brasil, sua
implantação foi tardia e lenta, por motivos técnicos, econômicos, sociais e políticos.
As construções em aço são empregadas mais usualmente em edificações leves e com
grandes vãos livres, devido à elevada resistência mecânica e a otimização das propriedades
geométricas do aço que são adaptadas aos esforços mais comuns, além de gerar obras mais
ágeis que os sistemas tradicionais.

3
De acordo com Souza (2013), as ligações são identificadas como:
 Elementos de ligação;
 Dispositivos de ligação.
Os elementos de ligação são constituídos por chapas de ligação, placas de base,
enrijecedores e cantoneiras de apoio. São responsáveis pela transmissão dos esforços entre os
conectores.
Os dispositivos de ligação são constituídos por parafusos e soldas. São responsáveis pela
união entre os elementos de ligação.
Para Queiroz (1993), as ligações podem ser flexíveis (quando uma rotação relativa entre as
partes ligadas não provoca momento na ligação), rígidas (quando, para qualquer momento na
ligação, não há rotação relativa entre as partes ligadas) e semirrígidas (quando há uma
correspondência entre as partes ligadas).
Os critérios de análise e dimensionamento das ligações supracitadas são detalhados nas
literaturas clássicas, como, por exemplo, a Mecânica dos Sólidos e Estruturas de aço. Algumas
referências são: Hibbeler (2000), Gere (2003), Pfeil e Pfeil (2000), Queiroz (1993), Souza (2010),
Souza (2013) e Andrade (1994).
O projeto de estruturas deve considerar as condições de segurança (estado limite último) e
condições de desempenho e uso (estado limite de serviço) para o dimensionamento e
execução da estrutura. A NBR 8800:2008 fornece estas informações, mas em casos de ligações
específicas que não sejam abrangidas por ela, a EUROCODE 3 pode ser consultada.

2 MATERIAIS E MÉTODOS

As ligações entre vigas e pilares têm grande influência no comportamento global de estruturas
de edifícios, seja com relação à rigidez ou à resistência. De modo geral, o comportamento
destas ligações é idealizado para facilitar a análise e o dimensionamento estrutural (Souza
2013).
Define-se o ponto de ligação como nó e este pode ser rígido, onde não há rotações relativas
significativas entre os elementos e há transferência total de momentos fletores das vigas para
os pilares, flexível, onde as rotações relativas são livres entre os elementos e não ocorre
transferência de momentos fletores, por último, semirrígido, onde as rotações relativas entre
os elementos e a transferência de momentos fletores são parciais.

4
Figura 1 – Classificação das ligações quanto à rigidez

Fonte: Rodrigues (2007)

Considera-se que uma ligação é tratada como semi-rígida quando a rotação entre os membros
é restringida entre 20% e 80%, quando comparada à rotação que ocorreria no caso de uma
ligação perfeitamente rígida (Trindade 2011).
Para Queiroz (1993), as respostas de uma estrutura são muito afetadas pela rigidez das
ligações, por esta razão, no modelo para análise estrutural deve-se indicar corretamente o
grau de rigidez de cada ligação.
As constantes atualizações na engenharia já possibilitam a execução de ligações cujo
comportamento se aproxime suficientemente das situações idealizadas, mas caso não sejam
bem analisadas ou executadas conforme os projetos podem induzir ao comportamento
semirrígido.

2.1 Ligações viga-pilar flexíveis

As ligações viga-pilar flexíveis possuem a característica de transmissão de esforços cortantes


entre a viga e o pilar, desprezando a transferência de momentos fletores entre os elementos.
Essas ligações são bastante usais em estruturas de aço e as mais comuns estão indicadas nas
figuras 2 e 3.
a) Ligação flexível com duas cantoneiras de extremidade soldadas na alma viga e
parafusadas na mesa do pilar ou na alma da viga;
b) Ligação flexível com chapa soldada na extremidade da viga suportada e
parafusada na mesa do pilar.

5
Figura 2 – Ligações flexíveis com cantoneiras de extremidade

Fonte: CBCA (2011)

Figura 3 – Ligações flexíveis com chapas de extremidade

Fonte: CBCA (2011)


Neste capítulo serão abordadas ligações com cantoneiras de extremidade sem recorte de
encaixe e parafusadas a mesa do pilar.

2.1.1 Propriedades geométricas

A ligação estudada tem a geometria definida na figura 4, empregada em situações usuais de


projeto.
Figura 4 – Ligação flexível com cantoneiras de extremidade

6
Os cálculos das propriedades geométricas serão divididos em:
a) Propriedades geométricas da solda da ligação entre as cantoneiras e a alma da
viga;
b) Propriedades geométricas dos parafusos da ligação entre as cantoneiras e a
mesa do pilar.

2.1.1.1 Propriedades geométricas da solda

A partir do tamanho da perna da solda ( ), calcula-se a garganta efetiva ( ):


(1)
As propriedades geométricas são definidas a partir do centroide do cordão de solda:

Figura 5 – Centroide do cordão de solda

O parâmetro geométrico ( ) e o centroide ( ) são determinados a seguir.


(2)

(3)

Os momentos de inércia nos eixos x ( ) e y ( ) são calculados juntamente com o momento


polar de inércia ( ) e a área da solda ( ), como se verifica abaixo.
(4)
[ ( ) ]

(5)
{ [ ( ( ) )]}

(6)

( ) ( ) (7)

7
2.1.1.2 Propriedades geométricas dos parafusos

O número de parafusos ( ) utilizados na ligação podem adquirir as geometrias indicadas na


figura 6, podendo ser alterado de acordo com a necessidade do projetista.

Figura 6 – Disposição dos parafusos estudados

Desta forma, calculam-se os parâmetros geométricos e :


( ) (8)

(9)

2.1.2 Análise das tensões

Com a geometria e as propriedades geométricas das ligações definidas, calculam-se as tensões


geradas pelos momentos fletores oriundos da força cortante na viga.
Os cálculos das tensões serão divididos em:
a) Tensões na solda da ligação entre as cantoneiras e a alma da viga;
b) Tensões nos parafusos da ligação entre as cantoneiras e a mesa do pilar.
O estudo despreza as tensões geradas nos perfis conectados.

2.1.2.1 Análise das tensões na solda

A junta de solda está submetida a esforços de cisalhamento excêntrico conforme a figura 7,


considerando ( ) a força gerada pela viga nas cantoneiras.

8
Figura 7 – Esforços na solda

As tensões devido ao esforço cortante ( ) no ponto indicado na figura anterior são


determinadas a seguir:
(10)

O cálculo das tensões ( ) devido ao momento fletor é:


(11)
√ ( )

(12)

Decompõe-se a tensão :
(13)
( )

(14)

(15)

As tensões resultantes na garganta efetiva ( ) e no metal base ( ) são calculadas na


equações 16 e 17.
(16)
√( )

(17)
√( )

9
2.1.2.2 Análise das tensões nos parafusos

A figura 8 ilustra as excentricidades geradas pelos momentos fletores procedente da força


cortante vinda da viga. A força está concentrada no centroide da solda e é transmitida a
ligação da cantoneira com a mesa do pilar, causando as excentricidades nos dois eixos.

Figura 8 – Estudo das excentricidades

Sendo,
(18)

As excentricidades e calculadas na sequência, definem os momentos fletores e .


(19)

(20)

(21)

(22)

O esforço de cisalhamento no parafuso mais solicitado ( ) é dimensionado:


(23)

(24)

10
(25)

Para o estudo da força de tração no parafuso mais solicitado ( ), adotamos posições iniciais
para a linha neutra conforme está descrito na figura 9.

Figura 9 – Estudo da linha neutra

Define-se a posição da linha neutra ( ):


(26)
( )

Onde:
 - são as distâncias dos centros dos parafusos à base da cantoneira, sendo utilizados
apenas os que estiverem dentro da zona de compressão adotado no início do cálculo.
O momento de inércia dos parafusos ( ) e a forção de tração ( ) são encontrados em
seguida.
(27)
[ ( ) ]

( ) (28)

2.1.3 Verificações das resistências

As verificações de solicitação e resistência de cálculo devem ser feitas para os esforços nas
soldas, nos parafusos e nas cantoneiras.

2.1.3.1 Verificações nas soldas

As verificações serão feitas a partir das tensões resistentes nos cordões de solda descritas nas
equações abaixo.
(29)

11
(30)

Sendo, as tensões de resistência do cordão de solda calculadas abaixo.


(31)

(32)

Onde:
 - é a resistência do metal da solda;
 – é a resistência ao escoamento do metal base;
 – é a área efetiva do metal base dado pelo produto entre o comprimento do
cordão de solda e a menor espessura das chapas de ligação;
 – a área efetiva do filete dado pelo produto entre o comprimento e a garganta
efetiva do cordão de solda;
 – é um coeficiente que varia entre 1,35 para combinações normais e 1,55 para
combinações excepcionais;
Caso a solda não resista aos esforços solicitantes, deve-se aumentar a espessura da solda,
utilizar materiais mais resistentes ou utilizar cantoneiras com comprimentos maiores,
aumentando o tamanho do cordão de solda.

2.1.3.2 Verificações nos parafusos

A partir da resistência à tração ( ) calculada na NBR 8800:2008 (6.3.3.1), verifica-se o


parafuso mais solicitado . De forma análoga, verifica-se a resistência ao cisalhamento ( )
calculada na seção (6.3.3.2) da mesma, através do esforço cortante solicitante de cálculo.
(33)

(34)

A verificação dos esforços combinados pode ser considerada satisfeita em:


(35)

O termo ( ) é determinado pelo tipo de parafuso utilizado na ligação, sendo descrito na


tabela 2.3.
Caso as verificações não sejam atendidas, aumenta-se a quantidade de parafusos ou utilizam-
se parafusos mais resistentes.

12
2.1.3.3 Verificações das chapas de ligação

A verificação de pressão de contato em furos é realizada com as expressões definidas pela NBR
8800:2008 (6.3.3.3), comparando a força de cisalhamento aplicada aos parafusos, de acordo
com a equação 36.
(36)

A verificação do rasgamento em bloco segue conforme a figura 10.

Figura 10 – Rasgamento em bloco

Para esta ligação, temos os valores necessários para a definição da força resistente de cálculo
ao colapso por rasgamento expressa na NBR 8800:2008 (6.5.6).
(37)

( ) (38)

( ) (39)

( ) (40)

Logo, a resistência da chapa deve ser superior a solicitação.


(41)

Caso as verificações não sejam atendidas, deve-se aumentar as dimensões das cantoneiras.

2.2 Ligações viga-pilar rígidas

As ligações rígidas entre vigas e pilares transmitem os esforços normais e os momentos


fletores das vigas aos pilares, sendo necessário em alguns casos a utilização de enrijecedores
nos pilares para resistir a esses esforços.

13
Figura 11 – Ligação rígida entre viga e pilar com chapa de topo

Fonte: Andrade (1994)

Figura 12 – Ligação rígida entre viga e pilar com chapa de topo, enrijecedores e
chapas de reforço (a) e com chapa de topo e enrijecedores de cisalhamento (b)

Fonte: Andrade (1994)

As figuras 11 e 12 indicam ligações rígidas usuais entre vigas e pilares metálicos. Logo, será
estudada a ligação com chapa de topo e enrijecedores, sem chapas de reforço.

2.2.1 Propriedades geométricas

A ligação estudada tem a geometria definida na figura 13, considerando o momento fletor
gerado pela viga.

14
Figura 13 – Ligação rígida estudada

A divisão das propriedades é feito semelhante ao caso anterior.

2.2.1.1 Propriedades geométricas dos parafusos

Os parafusos estudados seguiram as geometrias da figura 14.

Figura 14 – Geometria dos parafusos

2.2.1.2 Propriedades geométricas da solda

Os parâmetros geométricos dos cordões de solda seguem as dimensões indicadas na figura 15.

15
Figura 15 – Geometria dos cordões de solda

Os valores recomendados para os comprimentos dos cordões de solda , e são:

( ) (42)

(43)

(44)

A área total da junta soldada ( ) e a área total da junta soldada na alma da viga ( ) serão
aproveitados no cálculo do momento de inércia da junta soldada ( ).
( ) (45)
(46)
(47)
{( ) [ ( ) ] ( )

( )
}

2.2.2 Análise das tensões

As tensões serão divididas da mesma forma que nas ligações viga-pilar flexível, sendo
acrescentado o efeito alavanca nos parafusos, caso ocorra.

2.2.2.1 Análise das tensões nos parafusos

O estudo dos esforços nos parafusos será feito a partir da figura 16.

16
Figura 16 – Indicação da linha neutra

Define-se a posição da linha neutra ( ) e o momento de inércia dos parafusos ( ):


(48)
( )

( ) (49)

A força de tração é determinada para os parafusos mais distantes da linha neutra,


desconsiderando a compressão nos parafusos, visto que não são solicitações críticas para os
parafusos isoladamente.
( ) (50)

A força de cisalhamento aplicada nos parafusos ( ) é:


(51)

A espessura definirá se o efeito alavanca deverá ser considerado no dimensionamento, a figura


17 mostra os parâmetros geométricos envolvidos nos cálculos.

Figura 17 – Parâmetros geométricos do efeito alavanca

Alguns parâmetros são definidos a partir dos citados pela NBR 8800:2008 (6.3.5) e enfatizados
em seguida.
(52)

17
(53)

Então, verifica-se a espessura mínima da chapa de topo ( ) para que não ocorra esse
efeito. Caso a espessura adotada seja menor, determina-se o acréscimo de tração devido
ao efeito alavanca ( ).
(54)

(55)
( )

É recomendado que a espessura mínima adotada para chapa de topo ( ) seja


maior que a definida na expressão 3.54.
(56)

[ ( )]

Por fim, a solicitação de tração no parafuso mais solicitado ( ) é:


(57)

2.2.2.2 Análise das tensões na solda

A solda está submetida aos esforços de cisalhamento (Figura 18).

Figura 18 – Esforços nos cordões de solda

Determinam-se as tensões de cisalhamento na alma ( ), a tensão normal máxima na mesa


( ) e na alma ( ):

18
(58)

( ) (59)

(60)

Logo, as tensões resultantes máximas na alma ( ) e na mesa ( ) irão determinar qual é a


tensão crítica na solda ( ) e no metal base ( ):
(61)

(62)
( )

(62)

(63)

2.2.3 Verificação das resistências

2.2.3.1 Verificação nos parafusos

As verificações são feitas de acordo com as descritas nas equações 33 à 35, considerando a
solicitação de tração acrescida do efeito alavanca, caso ocorra.

2.2.3.2 Verificação na solda

É utilizado o mesmo padrão definido para ligações flexíveis. Considerando as tensões


resultantes máximas na alma ( ) e na mesa ( ) e comparando-as com as expressões 31 e
32.

2.2.3.3 Verificação na chapa de topo

Quanto à verificação da pressão de contato na chapa, utilizam-se as equações de pressão de


contato em furos da NBR 8800:2008 (6.3.3.3) e analisa-se o equacionamento 36. O rasgamento
em bloco deverá utilizar as áreas definidas na figura 19.

19
Figura 19 – Rasgamento em bloco de ligações rígidas entre vigas e pilares

Com os valores previamente definidos, determinam-se as áreas brutas e líquidas de tração e


cisalhamento:
( ) (64)

( ) (65)

( ) (66)

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Para a aplicação foi adotado um exemplo didático de ligação viga-pilar flexível contido no
Manual de Construção em Aço, Ligações em Estruturas Metálicas – Volume 2 (CBCA 2011),
página 58.
O exemplo em questão é representado na figura 21.
Figura 1 – Aplicação de ligações viga-pilar flexíveis

Fonte: CBCA (2011)

O número total de parafusos adotados é de 6 (seis) e não foram definidos os perfis metálicos
da ligação. Como a planilha necessita de todos os dados para fazer uma verificação completa,
foram adicionados perfis que estejam de acordo com as dimensões das cantoneiras. A fim de
que não ocorram problemas com disposições construtivas ou rupturas na viga e no pilar.
Vale ressaltar que o esforço cortante admitido na questão é o esforço em cada cantoneira, ou
seja, o esforço cortante total é o dobro do submetido na questão. Os resultados são
apresentados na figura 22.

20
Figura 22 – Resultados da aplicação em questão

As diferenças nos resultados são maiores nas tensões na solda devido à falta do detalhamento
da ligação no enunciado do exemplo, além de aproximações ao longo da resolução da questão.
Os dados de entrada foram adicionados à planilha e as verificações foram satisfeitas como
mostra a figura 23.
Figura 2 - Dados de entrada e resultados da planilha de ligação flexível

Os campos amarelos assinalam as condições de verificações, as quais foram todas atendidas.


Desse modo, os resultados são apresentados de forma simples e de fácil entendimento.
Ademais, proporcionam um memorial de cálculo bastante detalhado com figuras ilustrativas.
Estas auxiliam o entendimento dos parâmetros calculados.

4 CONCLUSÃO

Foi abordado o estudo e o dimensionamento de ligações mais comuns entre vigas e pilares.
Por serem elementos essenciais em projetos estruturais, o seu dimensionamento é
fundamental. Assim sendo, o estudo das tensões e das resistências dos elementos que
constituem a ligação como um todo deve estar bem fixado para a execução de um projeto
seguro e econômico.
Ressalte-se que com as atualizações de programas computacionais voltados ao cálculo e
dimensionamento de estruturas metálicas, o grau de incerteza dos projetistas quanto às
ligações tende a ser ampliado com as novas considerações impostas. Aumentando, dessa
maneira, o número de esforços que antes eram ignorados pelas simplificações normativas.

21
O desenvolvimento de um estudo mais completo sobre ligações metálicas em diversas
situações de solicitação fará referência ao curso de Engenharia Civil da Universidade Federal
de Alagoas, destacando sua capacidade de desenvolver projetos voltados ao
ensino/aprendizagem e ao exercício profissional.

REFERÊNCIAS

1 ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. ABNT/ NBR 8800 (2008). Projeto de


estruturas de aço e de estruturas mistas de aço e concreto de edifícios. 2008. Rio de Janeiro,
Brasil.

2 ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. ABNT/ NBR 6118 (2007). Projeto de


estruturas de concreto - Procedimentos. 2003. Rio de Janeiro, Brasil.

3 EUROPEAN COMMITTEE FOR STANDARDIZATINO. “Design of steel structures” (part 8).


Eurocode 3 – ENV 1993-1-8 Brussels. 2005.

4 ANDRADE, P. B. Curso básico de estruturas de aço. Belo Horizonte, Minas Gerais, Brasil.
Engenharia aplicada editora; 1994.

5 CENTRO BRASILEIRO DA CONSTRUÇÃO EM AÇO – CBCA. Ligações em estruturas metálicas


2. 4ed. Rio de Janeiro, Brasil. Instituto Aço Brasil; 2011.

6 GERE, J. M. Mecânica dos materiais. São Paulo, Brasil. Thomson editora; 2003.
7 HIBBELER, R. C. Resistência dos materiais. 3ed. Rio de Janeiro. Brasil. Livros técnicos e
científicos editora; 2000.

8 QUEIROZ, G. Elementos das estruturas de aço. Belo Horizonte, Minas Gerais, Brasil.
Imprensa universitária editora; 1993.

9 SANTOS, L. B. Contribuições ao estudo das cúpulas metálicas. Tese (Doutorado). São Carlos,
São Paulo, Brasil. Escola de Engenharia de São Carlos da Universidade de São Paulo –
EESC/USP; 2005.

10 SOUZA, A. S. C. Dimensionamento de elementos estruturais de aço segundo a NBR 8800-


2008. São Carlos, São Paulo, Brasil. EDUFSCAR editora; 2012.

11 SOUZA, A. S. C. Ligações em estruturas de aço. São Carlos, São Paulo, Brasil. EDUFSCAR
editora; 2013.

22
Dimensionamento ótimo de ligações semirrígidas de pórticos de aço – modelo
“Pórtico Auxiliar”
Gines Arturo Santos Falcón ¹
Pascual Martí Montrull ²

Resumo

Apresenta-se uma metodologia para dimensionamento ótimo de ligações semirrígidas de


pórticos de aço utilizando-se o modelo que chamamos de "Pórtico Auxiliar" que considera a
rotação dos pilares no cálculo da Faixa de Rigidez Viável da ligação (FRV). A partir do conceito
clássico de “Linha da Viga” o “Pórtico Auxiliar” define limites mínimos e máximos admissíveis
para a rigidez rotacional das ligações, em função das propriedades mecânicas das vigas e
colunas e dos Estados Limites Últimos e de Utilização da estrutura. No dimensionamento de
pórticos de aço o "Pórtico Auxiliar" possibilita o uso de técnicas de otimização multinível ou de
programação paralela. Na otimização multinível, a otimização a nível local utilizando o "Pórtico
Auxiliar" permite a otimização da ligação de forma isolada do resto da estrutura, aqui são
definidos os perfis estruturais ótimos de acordo com o momento solicitante e a FRV definidos
previamente. Enquanto que, no nível de otimização global da estrutura são utilizados soluções
obtidas na otimização local. Assim, o projeto estrutural resulta computacionalmente mais
eficiente, uma vez que os tamanhos dos problemas de otimização global e local são reduzidos.
Foram utilizados os programas: Rango_Kini_RC para cálculo da Faixa de Rigidezes Viável
considerando a rotação dos pilares; o programa CalcUS_MC para cálculo do momento fletor
resistente e da rigidez inicial da ligação pelo Método dos Componentes do Eurocode 3; e, o
programa DO_ENR para automatizar o processo de projeto ótimo. Os resultados iniciais
obtidos mostram o grande potencial desta metodologia.

Palavras-chave: Projeto de pórticos de aço; Ligações semirrígidas; Otimização estrutural;


Ligações viga-coluna.

¹ Prof. Gines Arturo Santos Falcón,, Laboratório de Engenharia Civil, Universidade Estadual do Norte
Fluminense Darcy Ribeiro, RJ, Brasil
² Prof. Pascual Martí Montrull, Grupo de Optimización Estructural (GOE/UPCT), Universidad Politécnica
de Cartagena, Cartagena, España.

________________________________
* Contribuição técnica ao Construmetal 2014 – Congresso Latino-Americano da Construção
Metálica – 02 a 04 de setembro de 2014, São Paulo, SP, Brasil.
1
1 INTRODUÇÃO

A análise convencional de pórticos de aço considera duas situações ideais opostas para
modelagem das ligações viga-coluna de acordo com a capacidade de transferir momento e de
rigidez rotacional ou giro relativo entre as barras. O modelo com ligações rígidas tem
continuidade rotacional perfeita, ou seja, o ângulo relativo entre os elementos estruturais
permanece o mesmo após o carregamento da estrutura, havendo transferência total de
momento entre as barras. No modelo com ligações rotuladas não há continuidade rotacional,
consequentemente não há transferência de momentos. No entanto, as ligações reais sempre
tem certo grau de rigidez rotacional e de resistência à flexão que geram um comportamento
intermédio entre os dois extremos teóricos citados.

A escolha do modelo das ligações para a análise estrutural influencia significativamente o


comportamento da estrutura principalmente em relação à distribuição de esforços internos na
estrutura.

No dimensionamento ótimo de pórticos de aço - usualmente baseadas na minimização do


peso estrutural - as ligações representam apenas uma pequena parcela do peso da estrutura e
desta forma é considerada apenas de forma aproximada. No entanto, observa-se que as
ligações tem um alto custo de fabricação devido aos detalhes de fabricação necessários. O
custo das ligações depende diretamente do seu grau de rigidez rotacional.

O Método dos Componentes publicado pelo Eurocode 3 – EN-1993 parte 1-8: Projeto de
Estruturas de Aço - Projeto de Ligações (EN 1993-1-8:2005) [1] é fruto de diversos trabalhos
pioneiros tais como: Yee e Melchers [3], Jaspart [4], Faella et al. [5], Goverdhan [6], entre
outros. O método consiste em identificar na ligação viga-coluna os diferentes elementos
mecânicos que o compõem e calcular a rigidez rotacional e o momento resistente de cada um
desses componentes e, por fim, calcular a rigidez rotacional (kj,ini) e o momento resistente da
ligação (Mj,Rd).

No Brasil, a norma brasileira para construção em aço, a NBR8800:2008 [2] publicada em


outubro de 2008, não tem normativa especifica para dimensionamento de ligações
semirrígidas e sugere que, em ausência de norma brasileira aplicável, normas estrangeiras
sejam utilizadas.

Para dimensionamento de ligações viga-coluna de pórticos contraventados, Faella et al. [5]


propõem uma metodologia que relaciona propriedades mecânicas importantes como rigidez
rotacional e resistência a flexão da ligação e desenvolveram uma metodologia que define
limites de rigidez e resistência admissíveis. O estudo explora a relação entre rigidez rotacional
e momentos fletores das ligações. São apresentados formulações e gráficos dos momentos
fletores positivos e momentos fletores negativos que atuam na ligação e na viga. No entanto,

2
este estudo não considera o efeito da rotação dos pilares de apoio, ou seja, considera ligações
com apoios infinitamente rígidos.

No presente estudo, a partir do Capítulo 8 do livro de Faella et al. [5] e do modelo clássico da
“Linha de Viga” se propõe o modelo que chamamos de “Pórtico Auxiliar” (PA) que calcula a
Faixa de Rigidezes Viável (FRV) considerando a rotação dos pilares no cálculo do estado limite
último (ELU) e do estado limite de serviço (ELS). Neste artigo, mostra-se a viabilidade prática
deste modelo, inicialmente para o caso das vigas biapoiadas, em seguida para pórticos de um
vão e um pavimento e, finalmente, para o caso de pórticos planos de um vão e de vários
pavimentos.

No dimensionamento ótimo de pórticos de aço o PA possibilita o uso de técnicas de otimização


multinível ou de programação paralela. Na otimização multinível, a otimização a nível local
utilizando o PA permite a otimização da ligação de forma isolada do resto da estrutura, neste
nível são definidos os perfis estruturais ótimos de acordo com o momento fletor e a faixa de
rigidezes admissíveis na ligação. Enquanto que, no nível de otimização global da estrutura são
utilizados as soluções obtidas na otimização local. Assim, o projeto estrutural resulta
computacionalmente mais eficiente, uma vez que os tamanhos dos problemas de otimização
global e local são reduzidos.

2 MATERIAIS E MÉTODOS

O estudo iniciou-se com uma ampla revisão bibliográfica relativa ao dimensionamento ótimo
de ligações semirrígidas. Dado o grande número de publicações encontradas, com particular
ênfase foram revisados a norma Eurocode [1] e as publicações de Guardiola [7], Díaz [8], Faella
et al. [5] e [9] e Díaz et al. [10].

Neste artigo, mostra-se a importância da consideração da Faixa de Rigidezes Viável no projeto


ótimo de ligações semirrígidas. Assim, propõe-se o modelo “Pórtico Auxiliar” que possibilita o
cálculo da FRV da ligação através da avaliação do estado limite último (ELU) e do estado limite
de serviço da estrutura (ELS).

Parte significativa de esta pesquisa foi dedicada ao desenvolvimento e atualização de


programas computacionais no ambiente computacional MATLAB: Rango_Kini_RC para cálculo
da FRV da ligação com a consideração da rotação dos pilares; CalcUS_MC para cálculo do
momento fletor resistente (Mj,Rd) e da rigidez inicial de ligações semirrígidas (Kj,ini). A FRV é
calculada utilizando os dois programas aqui citados.

Foi definido um esquema computacional para acesso automático ao banco de dados de perfis
estruturais da ARCELOR MITTAL. Para sua validação os programas foram extensivamente
testados utilizando-se diferentes combinações de perfis estruturais e os resultados foram
comparados com resultados obtidos em softwares comercias como ROBOT, CoP e Power
Connect - programas comerciais que seguem o Método dos Componentes do Eurocode 3 -.

3
A ligação viga-pilar parafusada com chapa de topo estendida sem enrijecedores foi adotada
para implementação das aplicações dos programas aqui desenvolvidos. Este tipo de ligação é
muito utilizado principalmente nas pesquisas teóricas e experimentais disponíveis na literatura
- apresenta diversos comportamentos rotacionais em função dos perfis viga-coluna, espessura
da chapa de topo e diâmetro e posicionamento dos parafusos -.

Na Tabela (1) apresentam-se os dados gerais a serem utilizados em todas as aplicações


apresentadas neste trabalho. Visando comparação de resultados os dados são os mesmos de
Faella et al. [5].
Tabela 1. Dados das aplicações

Cargas permanentes qg = 28,5 [kN/m]


Cargas vivas (sobrecargas) qk = 19,5 [kN/m]
Carga total ELS qt_ELS = 1,00 qg + 1,00 qk [kN/m]
Carga total ELU qt_ELU = 1,35 qg + 1,50 qk [kN/m]
Coeficiente parcial de resistência gM0 = 1,0 [-]
Comprimento da viga Lb = 7.000 [mm]
Flecha máxima admissível para cargas fl = Lb/350 [-]
vivas (Eurocode 3)
Flecha máxima admissível para carga ft = Lb/250 [-]
total (Eurocode 3)
Material aço S235
Tensão de fluência do material fy = 235 [N/mm2]
Módulo de Elasticidade E = 210 e+3 [N/mm2]

Outra etapa importante do estudo se refere ao desenvolvimento de um novo modelo para


análise local de pórticos planos de aço chamado "Pórtico Auxiliar" (em adiante PA). O modelo
consiste numa estrutura auxiliar simples, formada por uma viga e seus pilares de apoio. Em
função das condições de contorno aplicadas, este representa um setor qualquer do pórtico. O
comprimento dos pilares é definido considerando a posição do PA no pórtico global. O modelo
possibilita uma melhor compreensão do comportamento mecânico da estrutura, facilitando a
avaliação do estado limite último e do estado limite de utilização da estrutura. Em particular,
este modelo foi utilizado para avaliação da influencia da rotação dos pilares no cálculo das
características mecânicas da ligação semirrígida e, também, para verificação dos estados
limites do pórtico. Foi estudada a viabilidade prática de este modelo, inicialmente para
pórticos de um vão e um pavimento e, posteriormente, para o caso geral de pórticos planos de
vários vãos e de vários pavimentos. Os resultados obtidos mostram a boa precisão e grande
potencial deste modelo.

Para desenvolvimento dos códigos computacionais visando o dimensionamento ótimo da


ligação semirrígida foram utilizados os programas CalcUS_MC [11] e DO_ENR [12] para análise

4
e projeto, respectivamente. Os resultados obtidos para o caso de ligações parafusadas com
chapa de topo mostram o grande potencial desta metodologia.

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os resultados da presente pesquisa são apresentados em duas etapas: inicialmente o modelo


clássico da “Linha da Viga” que não considera a rotação dos pilares e em seguida o novo
modelo que se propõe com a consideração do giro dos pilares. Os modelos são aplicados a
uma viga bi apoiada e ao pórtico de um vão e vários pavimentos.

3.1 Comportamento de uma viga com ligações semirrígidas

Na Figura (2) tem-se uma viga bi apoiada de um vão, com carga vertical uniformemente
distribuída e ligações semirrígidas. Um modelo frequentemente utilizado para análise deste
problema baseia-se no conceito de “Linha da Viga”, Faella et al. [5].

A “Linha da Viga” representa a relação entre giro da seção e momento fletor atuante em
função da rigidez rotacional da ligação. Na Figura (3) mostra-se a “Linha da Viga” com os
momentos na seção de apoio e na seção no meio do vão em função da rotação da ligação.

A “Linha da Viga” inicia com momento no apoio de ̅ , com ̅ , para o


caso de apoio engastado e rotação nula. À medida que a rigidez do apoio é relaxada o
momento diminui até atingir o valor nulo, que teoricamente ocorre quando a rotação no apoio
é máxima, , com . A Equação (1) expressa à variação do momento no
apoio em função da rotacional da ligação.

, (1)

o momento no apoio da viga; q é a carga vertical uniformemente distribuída; ̅ é o


momento de engaste; Ib é o momento de inércia da viga; Lb é o comprimento do vão; é a
rotação da seção da viga; é a rotação da viga para o caso de apoio articulado.

Por outro lado, o momento no meio do vão da viga, , para o caso do apoio engastado é
. A partir desse valor aumenta de acordo com a relaxação da rigidez da
ligação até atingir seu valor máximo que ocorre para o caso de ligação articulada, .
A Equação (2) expressa a variação do momento fletor em função da rigidez rotacional da
ligação.

(2)

Na Figura (1) mostra-se a curva não linear Momento–Rotação de uma ligação semirrígida e a
“Linha da Viga” que indica os momentos que atuam no apoio da viga. Observa-se que M* é o

5
momento que equilibra os esforços internos no apoio da viga e na ligação, portanto, M* é o
momento com que a ligação trabalha.

O momento máximo no meio do vão da viga é a diferencia entre o momento máximo para o
caso de viga articulada, , menos o momento que atua no apoio ou ligação, M*:

(3)

Figura 1. Curva Momento-rotação da Figura 2. Viga com ligações semirrígidas


ligação e linha da viga

Na Figura (3) a reta descendente representa o momento que atua no apoio ou ligação;
enquanto que, a reta ascendente é o momento no meio do vão da viga. As linhas horizontais
representam valores constantes da relação , sendo (relação entre momento
resistente da viga candidato perfil candidato a solução e o momento solicitante máximo para o
caso de ligação rotulada).

Figura 3. “Linha da Viga” - Momentos no apoio Figura 4. Faixa de Rigidezes da Ligação


M- e no vão central M+

Observa-se que ligações de vigas com não tem resistência suficiente no apoio e não
servem para o projeto. Viga com é a menor viga que pode ser utilizada no projeto com
ligação semirrígida; neste caso o momento fletor no apoio e no meio do vão são iguais e a
distribuição de momentos entre a viga e os apoios é ótima, porem a FRV é nula. Perfis com

6
podem ser utilizados levando em conta os limites de rigidez rotacional mínimo
e máximo (FRV). E, perfis com apenas precisam do limite inferior, o limite superior
corresponde ao caso de engaste perfeito, que é o caso em que a ligação trabalha com sua
rigidez máxima.

Na Figura (4), a maneira de exemplo, representam-se duas possibilidades de solução para o


projeto da ligação semirrígida. A viga com resistência na faixa e FRV igual
a [ ], e viga com resistência , , e FRV igual a [
]. A escolha entre estas soluções, em geral, depende de critérios econômicos.
Observa-se que no caso de pórticos as vigas se apoiam nos pilares e consequentemente
podem ter algum grau de rotação. Destaca-se, também, que o conhecimento antecipado da
FRV seria de grande utilidade para o projeto de ligações semirrígidas.

Na análise de pórticos, segundo o Eurocode 3, para deve-se utilizar a rigidez


secante da ligação ( ). No caso contrario, a rigidez inicial da ligação ( ) deve ser utilizada.
Em geral, o primeiro caso citado corresponde ao ELU, enquanto que o segundo caso
corresponde ao ELS. A relação mais frequentemente utilizada entre ambas as rigidezes é
. Lembrando que a rigidez inicial da ligação é proporcional a inclinação do trecho
elástico da curva Momento-Rotação da ligação.

Normalizando em relação à rigidez da viga por unidade de comprimento se tem:

̅ (6)

Lb é o comprimento da viga; Ib é o momento de inércia da viga; E é o modulo de elasticidade do


material.

De acordo com Faella et al. [5], a Faixa de Rigidezes Viável de uma Ligação Semirrígida pode
ser definida em função de quatro condições mecânicas que a ligação e a viga devem respeitar:

1) Condição de resistência da viga no vão - ELU: ( )

̅
̅
(7)

( )
Em função de : ̅ (8)

2) Condição de resistência da viga no apoio - ELU: ( )


̅
̅ (9)

Em função de : ̅ (10)

7
3) Condição de serviço para cargas vivas - ELS: ( )
̅
(̅ )
(10)

Fazendo: (12)

̅ (12)

4) Condição de serviço para carga total - ELS: ( )


̅
(̅ )
(13)

Fazendo:

̅ (14)

é a flecha devido as cargas vivas para ELS; é a flecha devido a carga total de serviço para
ELS; é a flecha admissível obtida na norma.

Observa-se que nas condições (3) e (4) sendo condições de ELS corresponderia utilizar ̅ (a
rigidez inicial), no entanto foi utilizada ̅ (a rigidez secante) apenas com o intuito de
uniformizar as magnitudes numéricas nas quatro condições acima.

Observa-se que todas as equações apresentadas anteriormente não consideram a rotação dos
pilares.

3.3 Aplicações do modelo sem considerar a rotação da coluna

Foi implementado em MATLAB [13] o programa “Rango_Kini” para cálculo das Equações (7) a
(14) e obtenção da FRV da ligação. Os resultados obtidos estão apresentados na Tabela (2).
Em seguida, os resultados obtidos foram verificados com o Software comercial Autodesk Robot
Structural Analysis Professional (em adiante ROBOT) [14].

3.3.1 Viga de um vão com ligações semirrígidas

Na Tabela (2) apresentam-se as FRV obtidas para o problema da Tabela (1) para o catalogo de
perfis IPE da ARCELOR MITTAL.

Tabela 2 – Faixa de Rigidez Secante Admissível da ligação

Perfil FRV
̅ ̅
IPE 360 0,58 3,32 14,08

8
IPE 400 0,75 1,21 ∞
IPE 450 0,98 0,08 ∞
IPE 500 1,26 0,0 ∞

Os perfis inferiores ao perfil IPE 360 não foram considerados devido a que esses perfis tem
e não satisfazem as condições de ELU ou ELS do EUROCODE 3. Os perfis IPE 400 e
IPE450 tem resistência suficiente para trabalharem ate com rigidez máxima correspondente a
apoios engastados ou com rigidez rotacional mínima de 1,21 ou 0,08, respectivamente;
enquanto que o perfil IPE 500 com pode funcionar tanto com apoio engastado quanto
com apoio rotulado.

Os resultados de e da Tabela 2 foram verificados através de análises


estruturais realizados utilizando o programa ROBOT. A maneira de exemplo apresentam-se
resultados correspondentes ao perfil IPE 360.
Estado ̅ ̅
Limite

ELU

ELS
(carga
de
serviço
total)

ELS
(cargas
vivas)

Figura 7. Faixa de Rigidezes obtidos através do ROBOT, Perfil IPE 360

Na Figura (7) observa-se que a FRV satisfaz as condições de ELU e ELS. Observa-se também que
o momento Mb,Rd =237,5 kNm é atingido no apoio com rigidez secante mínima, ̅

9
; e, no meio do vão com rigidez máxima, ̅ . Portanto, a rigidez secante
mínima e a rigidez secante máxima satisfazem as condições do ELU. Em relação ao ELS,
observa-se que as flechas máximas tanto para o caso de cargas vivas quanto para carga de
serviço total se encontram abaixo dos valores limites especificados pelo Eurocode 3,
satisfazendo estas condições.

Desta forma, conclui-se que a FRV calculada pelo modelo de Faella et al. [5] satisfaz as
condições de resistência e rigidez para os estados limites de utilização e de serviço. No
entanto, se observa que, para obter soluções satisfatórias foi necessário considerar apoios
com rigidez infinita.

3.3.2 Aplicação - Pórtico 1V4P

Para aplicação do modelo “Linha da Viga” num pórtico real foi implementado o pórtico plano
1V4P em ROBOT. Este pórtico tem um vão e quatro pavimentos; com perfis IPE 360 para as
vigas e perfil HEB 180 para as colunas, todos em aço S235.

Estado Limite de Utilização Estado Limite de Serviço

Figura 8. Análise Pórtico 1V4P – Vigas IPE 360 com relaxação ̅

Os valores da FRV calculadas anteriormente em MATLAB foram aplicados ao pórtico através da


opção de relaxação das ligações que o programa ROBOT possui. Para verificação dos
momentos máximos no vão central as ligações viga-coluna foram relaxadas com valores da
rigidez secante mínima de ̅ (16.227 kNm/rad). Na Figura (8) observa-se,
claramente, que todos os momentos no vão central superam significativamente o valor de
resistência máxima da viga, que é de 239,5 kNm. Também, no ELS, as flechas máximas para
carga total em todos os pavimentos superam o valor limite admissível de 28 mm.

10
Para verificação dos momentos máximos no apoio as ligações viga-coluna foram relaxadas com
valores de rigidez secante máxima de 68.721 kNm/rad, Figura (9).

Novamente, observa-se que todos os momentos no vão central superam o valor de resistência
máxima da viga (MRd= 239,5 kNm para perfil IPE 360). Também, a flecha máxima para ELS para
carga total também supera o valor limite admissível (fadm= 28 mm).

Os resultados obtidos confirmam que o modelo “Linha da Viga” apresentado em Faella et al.
[5] é válido apenas para o caso de apoios com rigidez infinita. Devido à significativa rotação
dos pilares pode-se concluir que os resultados do Capítulo 8 de Faella et al. [5] não estão
corretos.

Estado Limite de Utilização Estado Limite de Serviço

Figura 9. Pórtico 1V4P, Vigas IPE 360, ligações com ̅

3.4 Rigidez da ligação considerando a rotação dos pilares

Na Figura (10) representa-se o modelo PA que se propõe neste estudo. Inicialmente o modelo
considera ligação semirrígida, cargas verticais uniformemente distribuídas e simetria
geométrica da estrutura.

11
Para o cálculo da rotação dos pilares são considerados os momentos atuantes em duas seções
representativas da ligação: na seção i localizada na interface coluna-ligação e na seção i’
localizada na interface ligação-viga. Desta forma, é a rotação da coluna; é a rotação da
ligação; e, o momento deve-se à carga vertical suportada pela viga.

Do modelo de “Linha da Viga”, Equação (1), tem-se:

, ou ̅ , (15)

é a rotação total da ligação inclui a rotação do pilar; é a rigidez da viga;


̅ é o momento de engaste perfeito.

Considerando-se a rotação da coluna e a rotação da viga, a rotação total da ligação é:


(16)

Os momentos fletores nas seções e são:

é a rigidez das colunas que concorrem à ligação; é a rigidez inicial ou a rigidez secante
da ligação (de acordo com o nível de solicitação atuante).

Figura 10. Modelo pórtico auxiliar

Pelo equilíbrio de momentos nas seções i e i’ tem-se:

Desta forma a rotação total da ligação é:


( ) (17)

De (15) e (17), fazendo: ̅ e tem-se:

12
̅
(18)
( )

Desta forma a rotação da seção i da coluna é incluída no cálculo da resposta mecânica da


ligação. A Equação (18) possibilita o cálculo do momento que atua na ligação em função das
rigidezes da viga e da coluna.

A seguir são apresentadas as condições da “Linha da Viga” propostas em Faella et al. [5], de
esta vez incluindo a rotação da coluna:

1) Condição de resistência da viga no centro do vão – ELU: ( )

Da Equação (2) tem-se que o momento no vão central da viga é:

(̅ )( ) (19)

No ELU o momento máximo no vão da viga deve satisfazer a condição com


, obtém-se:

(̅ )
̅̅̅ (20)
(̅ )

Normalizando em relação a tem-se:

(̅ )
̅ (21)
(̅ ) ̅

2) Condição de resistência da viga no apoio – ELU: ( )

Da Equação (18), considerando o ELU o momento máximo no apoio da viga deve satisfazer a
condição com obtém-se:

(23)
̅ ( )

Normalizando em relação a

̅ (24)
̅ ( )

No ELS, para cálculo das flechas considerando a rotação dos pilares e utilizando a técnica de
superposição de efeitos. Considera-se que a flecha total da viga é resultado de dois efeitos:
uma parcela devido à carga vertical distribuída com apoios articulados, Figura (11a), e uma

13
outra parcela de flecha devido aos momentos externos MA e MB aplicado nos apoios da viga,
Figura (11b).

Figura 11a. Viga articulada com carga Figura 11b. Viga articulada com momentos
distribuída concentrados nos apoios

(25)

é a flecha da viga com apoios articulados devido à carga vertical


distribuída; é a flecha devido a os momentos externos MA e MB aplicados nos apoios.

A equação geral para cálculo da flecha da viga articulada com momentos concentrados
aplicados nas extremidades é:

( )[ ( )] (26)

Para: e , tem-se:

̅
( ) ( ) (27)
( ) ( )

A flecha total máxima no centro do vão é:


̅
( ) (28)
( )

3) Condição de serviço para cargas vivas – ELS: ( )

A rigidez mínima considerando ELS, para cargas vivas, ql, é:

̅̅̅
(30)
( )

4) Condição de serviço para carga total - ELS: ( )

A rigidez mínima considerando ELS para carga total, qt


̅̅̅
(31)
( )

14
No ELS ̅ é o momento de engaste para cargas vivas e ̅ é o momento de engaste para
carga total.

3.4.2 Aplicações considerando a rotação dos pilares

Na Figura (10) foi definido o modelo do PA representativo de um setor qualquer de um pórtico


de vários vãos e varias plantas. As alturas das colunas do PA são definidas em função dos
pontos de inflexão dos momentos fletores das colunas do pórtico global. Os dados do PA estão
na Tabela (1).

Para o pórtico auxiliar de um pavimento intermédio se considera: hcs = hci = Hc/2 = 3.500 mm.
De forma análoga para representação do Pavimento Superior as alturas contribuintes das
colunas são: hci = Hc/2, enquanto que no caso do Pavimento Inferior são: hcs = Hc/2 e hci = 2/3
Hc.

No caso do pórtico auxiliar, a rigidez total das colunas se calcula considerando a contribuição
de todas as barras da ligação, Equação (32).

∑ (32)

nc é o número de barras que concorrem à ligação; hc é a altura contribuinte da coluna.

Foi implementado o programa Rango_Kini_RC em MATLAB para cálculo da Faixa de Rigidezes


de ligações semirrígidas considerando a rotação das colunas. Foram realizadas diversas
verificações para validação do modelo e dos códigos computacionais desenvolvidos. Os
resultados do PA intermédio formado pela coluna de perfil HE 180 B e viga IPE 360, de aço
S325, são apresentados na Tabela (3).

Tabela 3. Resultados PA intermédio – Coluna:HE 180 B Viga:IPE 360

Momento resistente da viga Mb,Rd = 239,47 [kNm]


Rigidez da Coluna Kc = 27.583,20 [kNm/rad]
Rigidez da viga Kviga = 9.762,00 [kNm/rad]
Rigidez mínima da ligação Kj = 39.415,10 [kNm/rad]

Para validação dos resultados da Tabela (3) foi realizado análise estrutural com relaxamento
das ligações semirrígidas no ROBOT. Os resultados obtidos estão mostrados na Figura (14).

15
Figura 14. Pórtico para Planta Intermedia: viga IPE 360 e coluna HE 180 B

Na Figura (14) se observa que os resultados da análise estrutural coincidem com os resultados
da Tabela (3) obtidos pelo programa Rango_Kini_RC. Para a rigidez mínima da ligação,
K,sec,min= 9.762,00 kNm/rad, como esperado foi obtido o momento resistente da viga,
Mb,Rd = 239,46 kNm.

Tabela 4a. Cálculo da rigidez da ligação e giro da coluna em MATLAB


K_viga K_coluna K_j (Union) Rot_col Rot_viga Rot_tot
9762,00 27583,20 39415,10 0,006191 0,004332 0,010523

Foram calculados em MATLAB a rotação da coluna e da ligação semirrígida e em seguida


verificados em ROBOT. Os resultados estão na Tabela (4a) e Tabela (4b), respectivamente.

Na Tabela (4b) confirma-se através da análise em ROBOT o resultado obtido em MATLAB para
a rotação da coluna igual a rads.

Tabela 4b. Verificação do cálculo da rotação da coluna em ROBOT

Na Tabela (5) mostram-se os resultados obtidos em ROBOT em relação ao elemento 18 e os


nós 20 e 25 que pertencem à mesma ligação. Os resultados em ROBOT confirmam os
resultados mostrados na Tabela 4a.

16
Tabela 5. Verificação da rotação da coluna

a) Verificação da rigidez mínima da ligação - Ksec,min = 39.415 kNm/rad

Figura 15. Verificação da rigidez mínima da Figura 16. Verificação da rigidez mínima da
ligação semirrígida, Ksec,min - ELU ligação semirrígida, Ksec,min - ELS

b) Verificação da rigidez máxima da ligação semirrígida com Ksec,max = 68,721 kNm/rad

Nas Figuras (15) e (16) são mostrados os resultados obtidos para avaliação da rigidez mínima,
Ksec,min = 39.415 kNm/rad da ligação semirrígida. Observa-se que no ELU a viga atinge o valor
do momento máximo resistente no centro do vão, MEd= 239,37 kNm, e que o valor da flecha
máxima de 21,9 se encontra abaixo do valor admissível, fadm = 28 mm.

17
Figura 17. Verificação da rigidez máxima da Figura 18. Verificação da rigidez máxima da
ligação semirrígida, Ksec,max - ELU ligação semirrígida, Ksec,max - ELS

Nas Figuras (17) e (18) mostram-se os resultados para avaliação da rigidez máxima da ligação
se observa que no ELU a viga não consegue atingir o valor do momento máximo resistente no
apoio, MEd= -182,9 kNm. No entanto, no ELS a flecha máxima de 20,3 no vão central esta
abaixo dos limites admissíveis.

3.4.2 Pórtico 1V4P - solução considerando a FRV e rotação da coluna

Os resultados obtidos para o Pórtico 1V4P, considerando a FRV com rotação da coluna,
confirmam que a melhor solução possível é utilizando Colunas HE 400 B e Vigas IPE 360. A
seguir são mostrados os resultados do PA para os três níveis do pórtico: Pavimento superior,
intermédio e inferior.

a) Verificação função Rango_Kini_RC_Plantas – Planta Superior

Coluna: HE 400 B
Viga: IPE 360

FRV da ligação:
Sj,sec,min = 18.114,7 [kNm/rad]
Sj,sec,max = 122.996,6 [kNm/rad]

Figura 19 - Verificação função Rango_Kini_RC_Plantas – Planta Superior

18
b) Verificação função Rango_Kini_RC_Plantas – Planta Inferior

Coluna: HE 400 B
Viga: IPE 360

FRV da ligação:
Sj,sec,min = 16.985,7 [kNm/rad]
Sj,sec,max = 84.749,2 [kNm/rad]

Figura 20 - Verificação função Rango_Kini_RC_Plantas – Planta Inferior

c) Verificação função Rango_Kini_RC_Plantas – Planta Intermédia

Coluna: HE 400 B
Viga: IPE 360

FRV da ligação:
Sj,sec,min = 16.887,0 [kNm/rad]
Sj,sec,max = 82.348,5 [kNm/rad]

Figura 21 - Verificação função Rango_Kini_RC_Plantas – Planta Intermédia

Nas Figuras (19), (20) e (21) observa-se que para a rigidez mínima se obteve a máxima
solicitação no vão central. Para a viga IPE 360 este valor é de 239,5 kNm. Os resultados são
coerentes com os resultados obtidos em MATLAB; desta forma, validando o modelo de cálculo
da Faixa de Rigidezes Viável considerando a rotação das colunas.

3.5 Dimensionamento ótimo de ligações semirrígidas

O GOE/UPCT desenvolveu os programas: Calc_US_MC para cálculo do momento fletor


resistente e da rigidez rotacional de ligações semirrígidas e o programa DO_ENR para
otimização de pórticos planos de aço e o programa.

A função Rango_Kini (cálculo da FRV) e o Programa CalcUS_MC (cálculo da resistência e rigidez


das ligações semirrígidas) foram incorporadas ao Programa de Otimização DO_ENR para
otimização da ligação semirrígida.

Na Figura (22) são apresentados os resultados obtidos para configuração ótima da ligação
semirrígida para o pórtico 1V4P com colunas HE 200 B e vigas IPE 400 para um momento
externo de 151 kNm. São mostrados os valores ótimos das principais dimensiones da ligação, o
momento fletor resistente e a rigidez inicial da ligação.

19
Figura 22. Resultado obtido com os Programas DO_ENR e CalcUS_MC
Viga IPE400 e Coluna HEB200

4 CONCLUSÕES

Verifica-se que o modelo clássico de “Linha da Viga” não considera a rotação dos pilares e
propõe-se o modelo “Pórtico Auxiliar” que considera a rotação dos pilares e permite a
definição da Faixa de Rigidezes Viável de ligações. O modelo proposto relaciona propriedades
importantes como resistência à flexão e rigidez inicial da ligação. São calculados valores
mínimos e máximos para rigidez inicial da ligação em função das propriedades mecânicas dos
perfis de viga e coluna utilizados. São definidas quatro condições mecânicas que a ligação deve
obedecer considerando o ELU e ELS.

São definidos três tipos de pórticos auxiliares de acordo com a sua localização e as condições
de contorno: Pavimento Superior, Pavimento intermédia e Pavimento Inferior.

A partir de um análise cuidadosa dos resultados obtidos conclui-se que a inclusão da rotação
da coluna é fundamental para o dimensionamento da ligação semirrígida. Claramente se
percebe que os resultados obtidos tem maior precisão que os que não consideram a rotação
dos pilares.

Os resultados obtidos mostram que o modelo proposto é válido para pórticos de vários vãos e
vários pavimentos. Observa-se que este é um modelo que atualmente considera apenas cargas
verticais e simetria da estrutura.

20
Apresenta-se uma aplicação para dimensionamento ótimo de pórticos de aço com ligações
semirrígidas.

Agradecimentos

Ao Dpto. de Estructuras y Construción de la Universidad Politecnica de Cartagena - Espanha


pelo meios disponibilizados para realização desta pesquisa.

Ao CNPq pelo apoio financeiro concedido – Processo PDE No. 245934/2012-0.

REFERÊNCIAS

[1] EN-1993-1-8: Eurocode 3: Design of steel structures- Part 1-8: Design of joints. CEN, 2005.
EN 1993-1-8:2005.

[2] ABNT - Associação Brasileira de Normas Técnicas (2008). Projeto de estrutura de aço e de
estrutura mista de aço e concreto de edifícios: NBR 8800. Rio de Janeiro.

[3] Yee, K. L., Melchers, R.E. Moment-rotation curves for bolted connections, Journal of
Structural Engineering, 112, 615-635, 1986.

[4] Jaspart J.P., Integration of the joint actual behavior into the frame analysis and design
process. In: Iványi M, Baniotopoulos CC, editors. Semi-rigid connections in structural steelwork.
Udine: SpringerWien NewYork; 2000. p. 103–66.

[5] Faella, C; Piluso, V e Rizzano, G., Structural Steel Semi-Rigid Connections: Theory, Design
and Software. CRC Publishers, 2000. Boca Raton, Florida (EEUU).

[6] Goverdhan, A. V. A, Collection of Experimental Moment-Rotation Curves and valuation of


Prediction Equations for Semi-Rigid Connections, Master Thesis, Vanderbilt University,
Nashville, TN, 1983.

[7] Guardiola, A. Comportamiento dos Nudos Semirrígidos en Estructuras Metálicas de


Edificación, Tesis Universidad Politécnica de Valencia, 2006.

[8] Díaz C, Martí P., Victoria M., Querin M., Review on the modeling of joint behavior in steel
frames. J Constructional Steel Research, 67:741–58, 2011.

[9] Faella, E., Piluso, V. y Rizzano, G. Proposals to Improve Eurocode 3 Approach for Predicting
the Rotational Stiffness of Extended End Plate Connections, Report no. 70, Department of Civil
Engineering, University of Salerno, 1995

21
[10] Concepción Díaz, Mariano Victoria, Osvaldo M. Querin, Pascual Martí. Optimum design of
semi-rigid connections using metamodels. Journal of Constructional Steel Research, Volume
78, November 2012, Pages 97–106. http://dx.doi.org/10.1016/j.jcsr.2012.06.013.

[11] CalcUS_MC, Programa em MATLAB para cálculo de resistência e rigidez de ligações


semirrígidas pelo método dos componentes, GOE/ UPCT, 2010 (Atualizada em 2014 pelo
autores).

[12] DO_ENR, Programa em MATLAB para otimização de ligações semirrígidas, GOE/ UPCT,
2010.

[13] MATLAB (R2012b), The language of technical computing, 2012.

[14] ROBOT 2014, Autodesk Robot Structural Analysis Professional, 2013.

22
Tema: Ligações – Concepção, Projeto e Elementos de fixação

RIGIDEZ DE LIGAÇÕES FLEXÍVEIS VIGA-COLUNA DO TIPO DUPLA CANTONEIRA

Daniel Borges de Freitas¹


Fabio Goedel²
Zacarias Martin Chamberlain Pravia³
Resumo
Neste trabalho apresenta-se a avaliação da rigidez proporcionada pela ligação flexível com
dupla cantoneira nas extremidades de uma viga biapoiada submetida à flexão simples. Através
de estudos numéricos com objetivo de comparar dois tipos de ligação flexível, uma totalmente
livre (ligação com pino) e outra que apresenta um comportamento de ligações semirrígidas,
buscou-se verificar qual a influência da rigidez no dimensionamento de estruturas, pois
normalmente por simplificação ou pela dificuldade de determinar a rigidez real, nos modelos
estruturais são consideradas ligações com comportamento rígido ou flexível. No entanto,
estudos experimentais já realizados sugerem que nenhuma ligação apresenta comportamento
semelhante aos modelos idealizados. Os estudos numéricos realizados através do método dos
elementos finitos (MEF) têm objetivo de verificar o comportamento da ligação (momento-
rotação), bem como comparar os resultados obtidos numericamente com as equações e
estudos experimentais, desta maneira validando o modelo de elementos finitos para
caracterização da rigidez de ligações.

Palavras-chave: Rigidez, Ligação flexível, Viga biapoiada.

STIFFNESS OF FLEXIBLE CONNECTIONS USING DOUBLE ANGLES

Abstract
This paper presents the evaluation of the stiffness provided by the flexible double angle
connection with simple bending. Through numerical analysis to compare two kinds of flexible
connection: pinned totally free (with pin connection) and pinned with double angles. It has
been found the behavior of double angle connection and influences of stiffness connection in
the design of structures. Usually by simplifying or due the difficulty of determining the real
stiffness in structural models are considered links with rigid or flexible behavior. However,
experimental studies conducted suggest that any idealized links exhibits completely rigid or
lfexible behavior. The numerical studies carried out by the finite element method (FEM) have
aimed to verify the behavior of the connection (moment-rotation) and compare the results
obtained numerically with equations and experimental studies, thus validating the finite
element model for characterization of the stiffness of connections.

Keywords: Stiffness, flexible connection, Simply Supported Beam.

¹ Acadêmico, Universidade de Passo Fundo, Passo Fundo, Rio Grande do Sul, Brasil.
² Professor M. Sc. Universidade de Passo Fundo, Passo Fundo, Rio Grande do Sul, Brasil.
³ Professor D.Sc., Programa de Pós Graduação em Engenharia Civil e Meio Ambiente,
Universidade de Passo Fundo, Passo Fundo, Rio Grande do Sul, Brasil.

________________________________
* Contribuição técnica ao Construmetal 2014 – Congresso Latino-Americano da Construção
Metálica – 02 a 04 de setembro de 2014, São Paulo, SP, Brasil.
1
1 INTRODUÇÃO

Devido ao grande desenvolvimento e demanda de construções no Brasil nos últimos


anos, houve um aumento nos investimentos em infraestrutura com estruturas de aço, pois as
mesmas são muito versáteis, de rápida execução e rápida montagem, exigindo cada vez mais
estudos nesta área. Para isso é importante que ocorra constante inovação, trabalhando com as
normas vigentes e buscando economia.
Segundo EUROCODE 3 (2003), as construções de aço são constituídas por diferentes
tipos de elementos e cada um destes elementos deve estar convenientemente unido às peças
vizinhas, de modo que possa cumprir o objetivo primário da concepção geral de uma estrutura
com segurança e com funcionalidade. Para isto implica-se a utilização de distintos tipos de
ligações. As propriedades mecânicas das ligações influenciam decisivamente no modelo global.
Com isso avaliam-se importantes características, como a resistência da ligação, a estabilidade e
a rigidez rotacional, que serão abordadas neste trabalho.
O termo rigidez rotacional pode ser definido como capacidade de restrição ao giro
imposto pela ligação. Estudos experimentais realizados desde o início do século segurem que
nenhuma ligação apresenta comportamento semelhante aos modelos idealizados, que são
realizados com ligações totalmente flexíveis e totalmente rígidas, e sim apresentam um
comportamento intermediário, apresentando uma rigidez que pode ser aproveitada e deve ser
utilizada no modelo estrutural, uma vez que pode possibilitar a redução consumo de material
na obra. A descrição do comportamento das ligações é feita através de curvas de momento
rotação (M-ϕ).
Partindo dos pressupostos supracitados, existe a necessidade de estudos para avaliar a
influência da rigidez nas ligações para conduzir os resultados da análise estrutural sejam mais
próximos ao que ocorrer na estrutura real.

2 MATERIAIS E MÉTODOS

Para estudar a rigidez de uma ligação com dupla cantoneira e uma ligação com pino,
foi utilizada a análise numérica pelo método de elementos finitos, sendo que as etapas a
seguir descrevem os procedimentos utilizados para a modelagem numérica do problema.

2.1 Modelagem Numérica

A simulação numérica teve início no modelamento das ligações num software de


desenho 3D de elementos sólidos, para posteriormente importar a geometria para o software
de elementos finitos ANSYS. Na etapa de pré-processamento, foram aplicadas as restrições,
contatos, cargas, bem como a geração da malha de elementos finitos e refinamento nos locais
de interesse, sendo cada etapa descrita a seguir com maiores detalhes.
A análise estrutural realizada é uma análise estática não linear, considerando os efeitos
de não linearidade geométrica e física. A Figura 1 (a) mostra as medidas para o modelamento
numérico e experimental de uma ligação com dupla cantoneira e a Figura 1 (b) mostra as
medidas de uma ligação com livre giro (flexível).

2
(a)

(b)

Figura 1. Medidas dos modelos numéricos e experimentais

2.1.1 Geração da Malha de Elementos Finitos

O elemento finito utilizado para a geração da malha foi elemento sólido chamado de
hexaédrico de 20 nós, o qual apresenta o comportamento quadrático nos deslocamento. Cada
nó possui 3 graus de liberdade translacionais nas direções x, y e z, como mostra a Figura 2.

Figura 2. Tipo de elemento

Para o refinamento da malha utilizou-se o critério de que as partes de maior relevância


como a cantoneira, chapas de ligação com o pino, pino e parafusos, foram discretizados

3
seguindo-se algumas premissas, as quais estão descritas a seguir, conforme o trabalho de
Green:

- As cantoneiras, chapas de ligação com o pino, o pino e parafusos, foram discretizadas


com tamanho do elemento de 3mm, de modo que tem 5 elementos na direção da espessura, e
nos furos se tem pelo menos 20 elementos para descrever a circunferência, como mostram as
Figuras 3 a 4.

- Os parafusos foram refinados com tamanho de elemento de 3mm, sendo que o


número de elementos utilizados por parafusos foi de 1697, como mostra a Figura 5.

Figura 3. Malha gerada nas cantoneiras.

Figura 4. Malha nas chapas do pino.

Figura 5. Refinamento de malha dos parafusos.

4
- As peças 1, 2, 3 e 4 da Figura 6, foram discretizadas com tamanho de elemento de
30mm, lembrando que para o outro lado da viga foi utilizado o mesmo critério. Nestas peças
utilizou-se uma malha mais grosseira para diminuir o número de elemento resultantes na
estrutura, a fim de reduzir o tempo de processamento da análise, pois se verificou que este
procedimento não influenciou nos resultados.

- As peças 5, 6, 7, e 8 da Figura 6, foram refinadas com tamanho de elemento de 2mm,


lembrando que para o outro lado da viga foi utilizado o mesmo critério.

Figura 6. Malha global da viga e coluna.

2.1.2 Contatos

Os contatos utilizados para a ligação com dupla cantoneira foram do tipo frictional
com um coeficiente de atrito de 0,20, como mostra a Figura 7, sendo representados da
seguinte forma:
1 - Contato com atrito em a face da cantoneira e a face da alma da viga;
2 - Contato com atrito entre o fuste do parafuso e a parede do furo da cantoneira;
3 - Contato com atrito entre o fuste do parafuso e a parede do furo da viga;
4 - Contato com atrito entre a porca do parafuso e a face da cantoneira lado viga;
5- Contato com atrito entre a cabeça do parafuso e face da cantoneira lado viga;
6 - Contato com atrito entre o fuste do parafuso e a parede do furo da coluna;
7 - Contato com atrito entre o fuste do parafuso e a parede do furo da cantoneira lado
coluna;
8 - Contato com atrito entre a cabeça do parafuso e face da cantoneira lado coluna;
9 - Contato sem atrito entre a porca do parafuso e a face interna da mesa da coluna;

5
10 - Contato sem atrito entre a cantoneira e a face externa da mesa da coluna.

VIGA

CANTONEIRA

COLUNA
Figura 7. Contatos na ligação com cantoneira.

Os contatos utilizados para a ligação com pino foram do tipo atrito com um coeficiente
de 0,20, como mostra a Figura 8, e estão representados da seguinte forma:

1- Contato com atrito entre a chapa do pino e alma da viga;


2- Contato com atrito entre o pino e a face do furo da chapa do pino;
3- Contato com atrito entre o pino e a face do furo da alma da viga;
4- Contato com atrito entre o fuste do parafuso e a parede do furo da chapa de topo;
5- Contato com atrito entre o fuste do parafuso e a parede do furo da coluna;
6- Contato com atrito entre a cabeça do parafuso e face da chapa de topo;
7- Contato com atrito entre a porca do parafuso e a face interna da mesa da coluna;
8- Contato com atrito entre a chapa de topo e a face externa da mesa da coluna.

Figura 8. Contatos da ligação com pino.

6
Para simular a rotação em torno do pino em relação a chapa, foi utilizado um contato
de rotação livre em Z, restringindo-se os movimentos de translação em x, y e z, como mostra a
Figura 9. Esse contato é chamado no Ansys de General Joint, através do qual pode-se descrever
a relação existente entre duas peças, colocando-se restrições entre as faces selecionadas.

Figura 9. Contatos do pino com a chapa de suporte.

2.1.3 Cargas

A Carga aplicada no modelo foi de 41.12 kN, distribuída no centro da viga em uma área
com comprimento 200mm pela largura da mesa da viga, como mostra a Figura 10.

Figura 10. Aplicação de carga na viga com dupla cantoneira.

Além da carga no centro da viga, foram aplicadas as cargas de protensão nos parafusos
conforme a norma ABNT NBR8800:2008, a qual prevê uma protensão de 85 kN. Neste modelo

7
foi utilizada 100% de protensão definida pela norma. Também foi levado em conta o peso
próprio do conjunto.

2.1.4 Materiais

Os materiais utilizados no projeto do conjunto são materiais disponíveis no mercado


brasileiro, sendo que para o perfil W laminado usou-se o material ASTM A572 GR50, para as
chapas ASTM A36 e para os parafusos ASTM A325, sendo apresentadas na Tabela 3 as
propriedades mecânicas desses materiais. Na Tabela 1 são apresentados os materiais
utilizados na ligação com cantoneira, e na Tabela 2 se mostra os materiais utilizados na ligação
com pino.

Tabela 1. Materiais usados para a ligação com pino.


Perfil Descrição Material

W150X18.0 Viga A572GR50

W250X46.1 Coluna A572GR50

Aço Redondo 1.3/4" Pino A36

PF. 5/8"X2" Parafuso A325

Chapa 12.5mm Chapa A572GR50

Tabela 2. Materiais usados ligação com dupla cantoneira.


Perfil Descrição Material

W150X18.0 Viga A572GR50

W250X46.1 Coluna A572GR50

L3x3/8" Cantoneira A36

PF.5/8"X2" Parafuso A325

PF.5/8"X2.1/4" Parafuso A325

Neste trabalho para simular o comportamento não linear dos aços acima descritos,
utilizou-se uma relação constitutiva elasto-plástica bi-linear, conforme se pode observar na
Figura 11.

8
Figura 11. Diagrama tensão deformação bi-linear.

Na Figura 11, a reta que possui inclinação E representa o comportamento elástico do


material enquanto a reta de inclinação Et representa o comportamento na zona de
plastificação. Assim como o trabalho de Maggi, o módulo de tangente (Et) utilizado nesse
trabalho será de 10% do módulo de elasticidade longitudinal (E).

Desta forma a Tabela 3 apresenta os valores utilizados na definição dos materiais no


ANSYS.

Tabela 3. Propriedades mecânicas.


Especificação Fy (MPa) Fu (MPa) E(GPa) Et (GPa)

ASTM A572 GR50 345 450

ASTM A36 250 400 200 20

ASTM A325 635 825

2.1.5 Restrições

As restrições no modelo de elementos finitos foram aplicadas nas 4 faces destacadas


conforme pode ser visto na Figura 12. Os nós relacionados com estas faces foram restringidos
nos graus de liberdade de translação nas direções x, y e z.

9
Figura 12. Faces restringidas no modelo.

2.2 Ensaio

No ensaio realizado foi medida a carga aplicada no centro da viga com o auxílio de uma
célula de carga, a rotação da ligação, tensões na mesa inferior da viga utilizando extensômetro
elétricos (strain gages) e o deslocamento no centro da viga. O objetivo deste ensaio é validar o
modelo numérico e possibilitar comparações entre os resultados obtidos.

2.2.1 Equipamentos

Os equipamentos utilizados para o ensaio estão descritos abaixo bem como na Figura 13
mostra-se a disposição dos mesmos.
• Célula de carga
• Macaco hidráulico

10
Macaco hidráulico

Célula de carga

Figura 13 – Disposição dos equipamentos Macaco hidráulico e célula de carga.


• Extensômetro elétrico (strain Gages);

Os extensômetros elétricos (strain Gages) foram colados no centro das vigas ensaiadas
como mostra a Figura 14.

Strain Gages

Figura 14 – Disposição dos extensômetros elétricos colados.

11
• Torquímetro

Em todos os parafusos ensaidos foram aplicados a protensão com o uso do


torquímetro como mostra Figura 15.

Torquímetro

Figura 15 – Aplicação de protensão com o torquímetro

2.2.2 Disposição dos relógios comparadores

Na Figura 16 mostra-se a disposição dos relógios comparadores com a ligação dupla


cantoneira.

Figura 16 – Localização dos relógios comparadores na ligação com dupla cantoneira.

12
Na figura 17 mostra-se a disposição dos relógios comparadores com a ligação rotulada.

Figura 17 – Localização dos relógios comparadores na ligação Rotulada.

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os resultados das simulações numéricas realizadas no software computacional ANSYS


são apresentados nessa seção. Nas Figuras 18 e 19 pode se visualizar os deslocamentos e as
tensões atuantes nas estruturas com ligações com dupla cantoneira e com pino (rotulada).
Como pode ser visto comparando-se os resultados dos deslocamentos para os dois modelos,
nota-se que existe certa rigidez na ligação de dupla cantoneira, a qual pode ser utilizada nos
modelos estruturais podendo reduzir os esforços de momento fletor na viga, resultando em
um menor consumo de matéria prima e consequentemente tornando a estrutura mais
econômica e competitiva.
Na Tabela 4 apresenta-se uma comparação dos deslocamentos obtidos em cada
modelo.

Tabela 4. Deslocamentos máximos.


Deslocamento Diferença
Modelo
Máximo (mm) Percentual (%)

Dupla
8.52
Cantoneira 6,7
Rotulada 9.13

13
(a)
8.52 mm

(b)
188 MPa

Figura 18. Deslocamentos obtidos no modelo com cantoneira sendo (a) os


deslocamentos e (b) as tensões atuantes na estrutura.

(a) 9.13 mm

14
(b)
220 MPa

Figura 19. Resultados para o modelo rotulado sendo (a) os deslocamentos e (b) as
tensões atuantes na estrutura.

A fim de quantificar a rigidez existente na ligação semirrígida com dupla cantoneira,


adotou-se o método de cálculo no qual a partir da tensão máxima na mesa inferior da viga,
conforme representado na Figura 19b, determina-se o momento fletor máximo pela Equação
1:

(1)

onde M é o momento fletor máximo no centro da viga, σ é a tensão máxima na mesa da viga
calculada pelo método dos elementos finitos (220 MPa), A é a área da mesa do perfil (724.2
mm²) e d é a distância entre as mesas do perfil I (153 mm). O momento máximo obtido foi de
24,4 kNm.

Figura 20. Esquema utilizado para determinação do momento fletor.

Com o momento máximo solicitante calculado pela Equação 1, através de um modelo


simples de viga biapoiada com rigidez na rotação considerada por molas rotacionais, conforme
pode ser visto na Figura 20, determinar a rigidez necessária para que o momento fletor
máximo seja igual ao momento fletor determinado por MEF com auxílio da Equação 1. Na
Figura 21, o modelo mostra em (a) representa a condição perfeita de apoio na qual nenhum
rigidez a rotação pode ser considerada no modelo, (b) representa a condição rotulada
analisada com MEF, sendo que neste caso existe uma pequena rigidez rotacional e (c)
representa a rigidez obtida por MEF quando se utiliza dupla cantoneira na união. Portanto,
verifica-se que existe uma rigidez a ser considerada. A rigidez na ligação cantoneira que leva a
redução do momento fletor máximo da viga é uma rigidez de 1250 kNm/rad. Neste trabalho

15
utilizou-se um modelo de viga para determinação da rigidez, porém em trabalhos futuros será
desenvolvido um equacionamento para determinar esta rigidez analiticamente.

(a) Rotula perfeita

(b) Viga Rotulada (MEF)

(c) Viga com Dupla Cantoneira (MEF)

Figura 21. Momento fletor obtido para as diferentes condições de apoio.

Na Figura 21 (b) e (c) verifica-se que o momento fletor para a viga rotula por MEF é de
24.5 kNm, e para a viga com dupla cantoneira é de 20.7 kNm, o que representa uma diferença
percentual de aproximadamente 15%. Comparando o modelo de dupla cantoneira (c) com o
rotulado perfeito (a), o qual normalmente é utilizado nos modelos estruturais, verifica-se uma
diferença percentual de 23%.
Na Tabela 5, comparam-se os resultados numéricos com os experimentais, a diferença
de tensões na dupla cantoneira é de 9%, e na rotulada em 3.2%, e comparam-se os
deslocamentos máximos na dupla cantoneira é de 10.6%, e na rotulada em 9.2%.
Desta maneira numericamente com validação experimental comprova-se de maneira
quantitativa que existe uma rigidez na ligação de dupla cantoneira, a qual poderá ser utilizada
no modelo estrutural no dimensionamento de estruturas, tornando o modelo de cálculo mais
representativo e consequentemente, podendo resultar em uma estrutura mais econômica.

Tabela 5 - Comparação dos resultados.


Tensão Diferença Deslocamento Diferença
Modelo
(MPa) Percentual (%) (mm) Percentual (%)
Dupla Cantoneira 8.52
188
(numérica)
9 10.6
Dupla Cantoneira 7.7
205
(experimental)
220 9.13
Rotulada (numérica) 3.2 9.2
Rotulada (experimental) 213 8.36

16
4 CONCLUSÃO

O comportamento das ligações o projeto de estruturas de aço, na maioria das vezes é


tratado somente de maneira simplificada, seja como ligação totalmente flexível ou ligação
totalmente rígida. Pela dificuldade de encontrar a rigidez em função de vários fatores, por
exemplo, tal como aquela estudada neste trabalho. A rigidez da ligação influi na resistência e
na estabilidade da estrutura.

A ligação analítica flexível (chapa de topo com pino) conforme demonstrada no


trabalho é representada como o modelo simplificado, mas na prática utiliza-se por facilidade
de fabricação e montagem a ligação flexível com dupla cantoneira, mesmo sendo consideradas
flexíveis as duas ligações apresentam um comportamento diferente, sendo assim leva-se a
concluir que este comportamento tem influência na análise global do modelo de cálculo,
sendo assim de grande importância conhecer a rigidez rotacional da ligação.

A avaliação das variações encontradas na distribuição dos esforços da ligação flexível


com dupla cantoneira notou-se uma diminuição de praticamente 25% do momento fletor na
região central da viga, devemos ressaltar que esta pesquisa está ainda na sua primeira fase, a
qual terá continuidade com maior número de ensaios para poder qualificar os resultados aqui
obtidos.

Portanto, a partir destas análises aqui expostas é possível concluir, de maneira parcial,
que nos resultados obtidos deve-se enfatizar que a metodologia de cálculo de ligações flexível
normalmente utilizada para cálculo de ligações com dupla cantoneira não representa o
modelo real de maneia adequada. Este trabalho continuará com mais ensaios experimentais
para validar totalmente os resultados numéricos e ajustar modelos simples para modelar a
rigidez rotacional desse tipo de ligação, que pode vir a ser importante na economia de projetos
em estrutura de aço de prédios industriais ou habitacionais.

Agradecimentos

A Empresa Metasa S.A. , pelo apoio financeiro na realização dos ensaios, material e fabricação.

REFERÊNCIAS

Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR 8800 Projetos de estruturas de aço e de


estruturas mistas e concreto de edifícios, (2008). Rio de Janeiro.

Alves, A. F. Elementos finitos: a base da tecnologia CAE, (2000) São Paulo: Érica.

European Cimmitee For Standardization.Eurocode, 3, Design of steel structures – Part 1-8:


Design of joints, (2003),Brussels, December.

17
Green, P., Sputo, T., Higgins A. Design of all-bolted extended double angle, single angle, and
tee shear connections. (2005), Gainesville, Florida: Departament of civil e coastal engineering
University of Florida.

Maggi, Y. I., Análise teórica via M.E.F. do comportamento de ligações parafusadas viga-coluna
com chapa de topo. (2000) São Paulo: 195p.Dissertação (Mestrado) – Escola de Engenharia de
São Carlos – Universidade de São Paulo.

Instituto brasileiro de siderurgia, Ligações em estruturas metálicas, manual de construção em


aço, (2004),Rio de Janeiro, 3° ed.

18
Congresso Latino-Americano da Construção Metálica
CONSTRUMETAL 2014

Contribuições Tecnocientíficas

Parte 6
– Projeto –
Arquitetura e Engenharia
Tema: oficial de submissão

DESENVOLVIMENTO DE DIRETRIZES PARA PROJETO DE EDIFICAÇÕES PARA FINS


DIDÁTICOS COM SISTEMA ESTRUTURAL CONSTRUTIVO MODULAR EM AÇO*

Maria Emília Penazzi1


Alex Sander Clemente de Souza2

Resumo
O presente estudo propõe parâmetros para a adoção de sistema estrutural construtivo
modular em aço, permitindo a elaboração de soluções técnicas de modo flexível e adaptável à
concepção do edifício, compreendendo também o atendimento ao respectivo programa de
necessidades do espaço didático. Valendo-se de uma abordagem teórica, o trabalho apresenta
uma revisão bibliográfica sobre conceitos de industrialização e construção industrializada,
abordando a situação atual no Brasil, além de confrontar as principais tecnologias
industrializadas presentes hoje no segmento da construção civil, permitindo-se com isso, optar
pela utilização do sistema modular em aço como opção para o processo de produção de
edificações para fins didáticos aqui estudado, com base na fundamentação teórico-
metodológico desenvolvida. Na sequencia, são caracterizadas duas tipologias de edificações
didáticas, em relação ao espaço físico para atender as demandas arquitetônica, porém
considerando também aspectos logísticos. Adicionalmente, a pesquisa apresenta caráter
aplicativo, pois é motivada pela necessidade de se resolver problemas reais, portanto, com
finalidade prática.

Palavras-chave: Sistema modular em aço; Industrialização da construção; Racionalização.

ARCHITECTURAL PROJECT DEVELOPMENT AND CONSTRUCTIVE STEEL FRAME SYSTEM


GUIDELINES FOR TEACHING PURPOSES

Abstract
This study proposes a set of parameters for the adoption of constructive steel modular
structural system which allows the development of technical solutions in a flexible and
adaptable way according to the design of the building. It also meets need of the respective

1
Arquiteta e Urbanista (2006). Mestranda pelo Programa de Pós-Graduação em Estruturas e Construção
Civil (PPGECiv), da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), bolsista CNPq. Mestrado em
andamento com ênfase em industrialização da construção, racionalização do processo construtivo, e
sistema estrutural modular em aço. E-mail: mepenazzi@yahoo.com.br
2
Professor Associado do Departamento de Engenharia Civil da UFSCar São Carlos – SP. Graduado em
Engenharia Civil pela Universidade Federal do Ceará (1994), mestrado em Engenharia Civil (Engenharia
de Estruturas) pela Universidade de São Paulo (1998) e doutorado em Engenharia Civil (Engenharia de
Estruturas) pela Universidade de São Paulo (2003). E-mail: alex@ufscar.br
________________________________
* Contribuição técnica ao Construmetal 2014 – Congresso Latino-Americano da Construção
Metálica – 02 a 04 de setembro de 2014, São Paulo, SP, Brasil.
1
teaching space program. Based on a theoretical approach, this paper presents a literature
review about concepts of industrialization and industrialized construction by addressing the
major industrialized technologies present in the construction industry nowadays. Hence it
allows the choice to use the modular system of steel as an option for the production of the
buildings for teaching purposes, based on the developed theoretical-methodology foundation.
Following, two types of educational buildings are characterized, connected to the physical
space in order to meet architectural demands, however it also considers the logistic aspects.
Furthermore, this research presents feasibility since it is motivated by the need to solve real
problems, thus with practical purpose.

Keywords: Steel Modular System; Industrialization of construction; Rationalization.

1 INTRODUÇÃO

O atual cenário da construção civil no país pode ser considerado favorável à adoção de novas
tecnologias. Fatores como o aumento de custo de mão de obra, o aquecimento da economia, a
crescente demanda por obras novas, a normatização de critérios e requisitos de desempenho,
a abertura do mercado da construção civil com a importação de novos produtos e tecnologias,
entre outros, formam um terreno propício para que empresas construtoras busquem na
industrialização da construção alternativas viáveis de serem implantadas, tecnicamente e
financeiramente. Neste contexto, o conceito de modulação é parte intrínseca aos principais
processos industrializados atualmente disponíveis no ramo da construção civil.
Segundo Glass [1], a ideia de se conceber módulos de espaços completos unidos na fábrica que
configurem cômodos é denominada construção volumétrica. Algumas tipologias têm adotado
de forma crescente este tipo de sistema, como edifícios comerciais, públicos e privados de
diversas funcionalidades.
Os sistemas estruturais e construtivos, podem se apresentar sob diferentes formas. Tudo vai
depender das variáveis envolvidas no desenvolvimento do projeto, onde uma determinada
solução, ou conjunto delas, contribui para a adoção de uma composição específica de
elementos que vão formar um sistema. A forma de estabelecimento do desempenho
arquitetônico e construtivo, como exposto na NBR 15575-1 [2], é comum e pensada por meio
da definição de requisitos qualitativos, critérios quantitativos ou premissas, e métodos de
avaliação.
Falhas na escolha do sistema estrutural e construtivo, para NBR 15575-1 [2], podem surgir por
falta diretrizes no desenvolvimento de projeto, emprego de materiais, na elaboração de
especificações, e detalhamentos no desenvolvimento do projeto, que acabam por levar a
improvisações no momento da execução, abrindo margem para o surgimento de futuros
problemas, dificultando a eficiência da edificação, e consequentemente, diminuindo a
qualidade para o usuário, assim como a vida útil do mesmo e da edificação como um todo.
A atividade da construção de edifícios tem grande importância para a movimentação da
economia do país. De acordo com Melhado [3], a temática da qualidade no setor da
construção civil vem ganhando importância tanto no meio acadêmico como empresarial, com
forte crítica ao desempenho, sobretudo quanto ao desperdício de material e mão de obra.

2
Dentro destas colocações, o intuito deste trabalho é agregar conhecimento relativo à melhoria
da qualidade de projetos para ocupações com fins didáticos, propondo parâmetros para a
adoção de sistema estrutural construtivo modular em aço, de modo a permitir a elaboração de
soluções técnicas de modo flexível e adaptável à concepção do edifício, compreendendo
também o atendimento ao respectivo programa de necessidades do espaço didático. Nesta
lacuna esta pesquisa irá contribuir para atenuar a escassez de informações idôneas sobre o
assunto.

1.1 Processo construtivo industrializado


Para Mamede [4], o processo construtivo na industrialização apresenta caráter repetitivo, bem
representado pelo sistema de pré-fabricados, que reduz os desperdícios, o que reflete
diretamente na produtividade da mão de obra. No entanto, antes de se tornarem tarefas
muito repetitivas, os procedimentos e os processos devem ser altamente coerentes, para não
se correr o risco de reproduzirem, em larga escala, também os erros.
Ainda de acordo com o autor, o grande diferencial dos processos construtivos industrializados
é verificado na padronização, racionalização dos materiais e otimização da mão de obra, pois o
sistema utiliza-se de equipamentos e dispositivos para pré-fabricação, precedidos da
montagem dos elementos estruturais básicos da construção, como paredes, coberturas e lajes.
A partir daí foram criados sistemas de pré-fabricação dos elementos para obras e
desenvolvidos equipamentos para executar a montagem desses elementos na construção de
edificações. De modo que tais sistemas possam construir edifícios no menor espaço de tempo
com custos reduzidos e oferecendo os benefícios da padronização, qualidade e racionalização.
A cada dia surgem novos produtos pré-fabricados ditos inovadores, para atender à crescente
demanda de industrialização no canteiro de obra, o que pode ser positivo sob os aspectos de
racionalização das construções para fins didáticos.

1.2 Desempenho e qualidade: instrumentos para projeto


Dentre os aspectos construtivos do espaço físico educativo, merecem destaque o conforto
ambiental, conjunto de situações térmica, acústica, visual, segurança, entre outras, que
propicia sensação de bem-estar aos usuários de um ambiente, no caso alunos e professores
em geral. A inobservância dessas condições, para Santos [5], constitui a principal causa de
sintomas diversos e desagradáveis, como: a fadiga, desconcentração, desânimo, entre outros.
Desse modo, entre os problemas relativos à implantação de salas de aula, existem as questões
de conforto ambiental, que interferem diretamente no desempenho e qualidade da edificação.
Sendo assim, por exemplo, a baixa qualidade do ar é um potencial fator desencadeador de
doenças, que ausentam os alunos do local de ensino, prejudicando o desempenho de
aprendizagem. Alguns efeitos da má qualidade do ar, tais como: irritação nos olhos, infecções
nas vias aéreas superiores, náusea, fadiga ou sonolência, dor de cabeça e vertigem. São
sintomas definidos pela Organização Mundial da Saúde (OMS), como Síndrome do Edifício
Doente (SED), na língua inglesa classificada “sick building syndrome” pela Environmental
Protection Agency.
Portanto, o desempenho dos projetos de edifícios para fins didáticos, é o componente
prioritário na qualidade do local de aprendizagem, pois está diretamente relacionado às

3
características de sua utilização, que por sua vez determinarão o grau de satisfação dos
usuários final, docentes e discentes.
De forma análoga, para os autores Medeiros e Melhado [6], grande parte das decisões
tomadas na fase de concepção do projeto podem afetar o ciclo de vida do empreendimento
até a fase de operação e manutenção, de forma que o projeto tem um papel importante como
síntese do conhecimento gerado pela equipe projetista.
Neste contexto, devido à importância da etapa projeto, é necessário considerar os
instrumentos utilizados como recursos de projetos. Assim, as Normas Técnicas Brasileiras em
vigência, possuem grande importância para a concepção do edifício em estudo, agrupando-se
em quatro categorias: Conforto Térmico, Conforto Acústico, Conforto Luminoso e
Desempenho (Quadro 1). Elas servem de referência para os procedimentos a serem adotados
para organização, dimensionamento e verificação dos espaços e sistemas projetados, além de
apresentarem critérios para as avaliações a serem realizadas na execução de projetos.
Quadro 1 – Importância e descrição das normas técnicas
Importância Descrição
Alguns dos principais problemas de implantação das salas de aula se relacionam
Conforto Térmico
às questões de conforto ambiental, entre eles pode-se citar, o desconforto
térmico.
Conforto Acústico É recomendável proporcionar conforto sonoro em ambientes destinados ao
ensino, com baixos níveis de ruído de fundo, pois favorecem a concentração no
trabalho intelectual, e a boa condição sonora também beneficia a comunicação
verbal.
É compreendido como a existência de um conjunto de condições em
Conforto
determinado ambiente, no qual o ser humano pode desenvolver suas tarefas
Luminoso
visuais com o máximo de perspicácia, e precisão visual.
Esta Norma busca contemplar o conforto, estabilidade, e vida útil adequada
Desempenho
para edificação e usuário final.
Fonte: Elaborado pelo autor, 2014.

1.3 Alguns sistemas construtivos industrializados e a escolha adotada na pesquisa


Em tempos de economia aquecida, construtoras concorrem por obras públicas de
infraestrutura, e o aumento na demanda por empregados especializados pressiona os custos
de contratação. Como resultado, o Índice Nacional de Custo da Construção (INCC) sobe, a
margem de lucro dos empreendimentos fica achatada, e encarecem os imóveis para o
consumidor final.
Neste contexto, os sistemas industrializados da construção, por exemplo, os pré-moldados e
os pré-fabricados, racionalizam recursos humanos, e são executivamente muito mais rápidos.
Desta forma, diferente da construção convencional, onde todas as tarefas das obras são
executadas através do elemento humano, a construção industrializada utiliza equipamentos
automatizados para fabricação e montagem dos seus componentes ou elementos
construtivos. Oferecem vantagens como organização de processos executivos, qualidade,
controle tecnológico, segurança e agilidade muito superior.

4
Para tanto, no Quadro 2, são expostos alguns métodos construtivos industrializados,
abordando suas vantagens e desvantagens.
Quadro 2 – Alguns métodos construtivos industrializados
Sistema Vantagens Desvantagens
Possui comportamento estrutural No Brasil, esse sistema ainda é muito
superior ao da alvenaria estrutural em pouco conhecido e utilizado, por falta de
Wood Frame resistência; conforto térmico; conforto conhecimento técnico, por preconceito
acústico. associado a má utilização da madeira como
material de construção e por falta de
normalização.
Baixos preços; qualidade homogênea; Pode considerar que é um produto
Steel Frame alto desempenho estrutural; baixo tecnológico novo no país; foge ao
peso; produção em massa; facilidade tradicional ou convencional e desperta
de pré-fabricação. sentimentos de suspeita e insegurança.
Econômicos e flexíveis; Possuem baixo Exige acabamentos e revestimentos para
custo de construção; Estruturalmente garantir o conforto do usuário; Necessita
Containers
sólidas; fácil transporte; flexibilidade de equipamento especializado, como
construtiva; reutilização de containers empilhadeiras e guindastes, para
em desuso; curto prazo de construção. transportar e auxiliar na montagem.
Módulos flexíveis a vários espaços; Necessita de equipamento especializado,
adequado e adaptável a uma como empilhadeiras e guindastes, para
variedade de necessidades; baixo transportar, movimentar e auxiliar na
custo de construção; estruturalmente montagem.
Modular em
sólidas; fácil transporte; flexibilidade
aço
construtiva; menos desperdícios com
erros de execução; rapidez na
montagem; maior nível
industrialização.
Rapidez; limpeza da obra; garantia da O preço relativamente alto; necessidade do
Pré-
construção; possibilidade de projeto ser modular; possibilidade de
fabricados de
combinação de materiais diferentes. fissuras na junção entre placas e a
concreto
dificuldade de reformar a edificação.
Fonte: Elaborado pelo autor, 2014.

Tais informações balizaram a escolha adotada para o desenvolvimento do projeto nesta


pesquisa, no caso, o sistema modular em aço. Tal sistema possui características importantes,
para as principais interfaces do trabalho em questão, contribuindo com a qualidade do
produto final: diretrizes de projeto para fins didáticos, que atendam às Normas Brasileiras em
vigência, conjugando desempenho e flexibilidade projetual.
Ainda neste contexto, serão exemplificados alguns sistemas semelhantes ao adotado na
presente pesquisa, como os casos apresentados por Lawson e Ogden [7]. Trata-se de projetos
executados no Reino Unido, que têm demonstrado os benefícios das tecnologias de
construção de pré-fabricados, como o premiado projeto Murray Grove em Hackney, Londres,
concluído em 1999, que utilizou módulos prontos nas dimensão 8,00m de comprimento, por
3,00m de largura, com 3,20m de pé direito. Mais recentemente, o projeto Lillie Road, em
Fulham, oeste de Londres, concluída em 2003, usou estruturas de aço leve, banheiros

5
modulares para este edifício de uso misto. Em ambos os projetos, o cliente foi The Peaboby
Trust, que teve um forte interesse em realizar o valor benefícios destas tecnologias
relativamente novas. Esses projetos são ilustrados na Figura 1.
Figura 1- Royal Northern College of Music, em Manchester, composto por 900 módulos de aço
empilhados, e instalação de unidades modulares em Murray Grove, Hackney, Londres

Fonte: LAWSON e OGDEN, 2008

Nas duas situações, conforme Figura 2, Lawson e Ogden [7], destaca os sistemas construtivos
volumétricos fabricados a partir de painéis em estrutura de aço leve, cujos módulos são
montados fora do empreendimento, e transportados para o canteiro de obras, apenas para
montagem.
Figura 1 – Construção mista (comercial e residencial) em Wilmslow Road, Manchester, com
1.400 módulos em estrutura de aço, e o projeto modular em Lillie Road, Fulham, em Londres

Fonte: LAWSON e OGDEN [7]

Exemplo atual, localizado em Nova Iorque, temos o edifício conhecido como A Pilha, na língua
inglesa, “The Stack”. Localizado na parte superior de Manhattan, o projeto foi realizado por
associados Jeffrey M. Brown, mais associados e arquitetos Gluck. Trata-se de um edifício
residencial (Figura 2), sendo que seu projeto possui 28 unidades de ocupação, em sete pisos,
composto de 56 módulos pré-fabricados, empilhados em 19 dias, com um grupo de oito
trabalhadores experientes em construção com aço, operador de guindaste, e seis assistentes.
Demorou alguns meses para preparar o local e construir a fundação, base do edifício,
enquanto uma equipe acompanhava a construção dos módulos em uma fábrica localizada na
Pensilvânia.

6
Figura 2 - Montagem dos módulos e edifício pronto

Fonte: http://gluckplus.com/project/the-stack - acesso em 05/02/2014

O projeto deste edifício residencial, apresenta a praticidade e viabilidade da construção pré-


fabrica modular. No interior, existem diferentes combinações de unidades, que fornecem
integridade estrutural, bem como uma variada nos tipos de layouts para os moradores.
No Brasil, estamos no início do desenvolvimento da indústria da construção com módulos para
edifícios de diversos usos, enquanto nos Estados Unidos há bastante experiência na produção
de construções modulares, parte construída em uma fábrica, transportada e montada no local.
Destarte, Guarnier [8] sugere que arquitetos, engenheiros e profissionais ligados à construção
devam manter suas bases informacionais e tecnológicas atualizadas, de forma a estarem
familiarizados com conceitos inovadores, para assegurar a inserção de construções de
excelência ao mercado nacional, elevando o nível da qualidade de nossas edificações, com
opções racionalizadas e inovações tecnológicas.
Exemplos de estudos correlacionados com o tema proposto nesta pesquisa como Caiado [9],
Rezende e Gouveia [10], Lawson e Ogden [7] e Van Der Laan [11], constatam a importância
atual de trabalhos correlacionados a construções modulares, industrialização e racionalização
no processo construtivo, com a utilização de estruturas metálicas, complementando e dando
sequencia em estudos e materiais já existentes, dentro do fluxo de continuísmo inerente ao
processo científico.

2 MATERIAIS E MÉTODOS

Para a fundamentação teórico-metodológica do trabalho, serão utilizados meios bibliográficos,


através de pesquisas relativas ao tema em material científico publicado em livros, teses,
dissertações, artigos científicos, revistas, sites da internet.
Inicialmente, o levantamento bibliográfico foi desenvolvido visando à caracterização das
principais tipologias, em consonância com princípios de arquitetura de ensino superior. Na
sequencia, a pesquisa bibliográfica teve continuidade abordando sistema estrutural
construtivo, abordando seus conceitos, requisitos e critérios.
Dentro deste levantamento bibliográfico, foi estudado o programa básico de necessidades
(PBN) do Edifício de Aulas Teóricas 7 (AT7), localizado na UFSCar Campus São Carlos.
Paralelamente, com base no material levantado relativo aos sistemas construtivos
industrializados disponíveis, e de comparações de suas características, foi escolhido o sistema
estrutural construtivo modular em aço, para o desenvolvimento das tipologias modelo de
edificações de salas de aula, mantendo-se as características dimensionais do edifício, visto que

7
o AT7 é adotado como modelo padrão dentro da UFSCar para edifícios de salas de aula. Nesta
etapa, são apresentadas diretrizes que embasaram as escolhas relativas à concepção e
detalhamento do sistema estrutural adotado.
Para o desenvolvimento da pesquisa, será utilizado algumas ferramentas de trabalho, tais
como, para realizar análise tridimensional das estruturas será aplicado softwareSAP2000®, para
executar os projetos e detalhes construtivos será utilizado programa AutoCAD®, para elaborar
as maquetes e renderizar as imagens o softwareSketchUp®, e para tabular as informações
necessárias será aplicado o software Excel®
A necessidade do desenvolvimento de uma pesquisa exploratória se dá devido ao tema
proposto: “Desenvolvimento de diretrizes para projeto de edificações para fins didáticos com
sistema estrutural construtivo modular em aço”. Este, devido a sua complexidade e amplitude,
exige uma observação multidisciplinar dos acontecimentos, que envolve conhecimentos de
engenharia, arquitetura e gestão, por exemplo.

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Para a adoção dos parâmetros do sistema construtivo adotado nesta pesquisa, iniciou-se pela
concepção arquitetônica, avaliando as características das estruturas em aço ao iniciar as
diretrizes de projeto, procurando a modulação adequada, para que os custos finais fossem
menores. Desse modo, as premissas para o desenvolvimento do projeto central do presente
trabalho estão sintetizadas no Quadro 3.
Quadro 3 – Resumo da escolha dos sistemas construtivos
Sistema Descrição
Fundação Convencional tipo radier
Estrutura Perfis comerciais de chapa de aço formados a frio
Vedação horizontal laje / piso Painel OBS
Vedação vertical externa Painel pré-fabricado de concreto
Vedação vertical interna Sistema Dry-Wall e painel removível
Cobertura Telhas metálicas

Fonte: Elaborado pelo autor, 2013.

No sistema estrutural modular em aço, serão utilizados perfis comerciais de chapa de aço
formados a frio, e suas ligações serão preferencialmente parafusadas para facilitar a
montagem, por tanto, no projeto serão utilizados produtos disponíveis na indústria nacional,
que atendem às Normas Técnicas em vigência.
Após a definição do sistema construtivo modular, será apresentado na sequência o
desenvolvimento de duas propostas de projetos para a tipologia dos módulos, no caso,
tipologia 01 e tipologia 02. Tais propostas diferenciar-se-ão no que se refere às dimensões do
módulo. Provando desse modo, que o projeto modular em aço pode se adaptar a vários
programas de necessidades, e com diversas formas geométricas arquitetônicas.

8
Pensando na interface do processo global de fabricação, deve-se considerar que o módulo virá
pronto de fábrica para instalação na obra, acarretando transporte especial na zona urbana.
Foram consideradas as dimensões máximas de transporte através de caminhões sem
restrições de tráfego segundo o ANTT (Agência Nacional de Transporte Terrestre), que são:
18,15 m (comprimento); 2,60 m (largura); 4,40 m (altura).
Estudou-se uma relação métrica na qual fosse possível tirar o máximo do aproveitamento em
relação a flexibilidade construtiva e estética voltado para o espaço didático. Com isso definiu-
se o módulo parcialmente montado (tipologia 01) com: 10,00m (comprimento); 5,00m
(largura); 3,55m (altura).
Com essas dimensões seu transporte não ficaria viável sobre caminhões de médio porte, com
capacidade de locomoção no perímetro urbano, portanto, para a tipologia 01, o módulo
chegaria a obra parcialmente montado, devendo ser finalizado no local.
Desse modo, estudou-se outra relação métrica, onde favorecesse o transporte do módulo
pronto, aproveitando a flexibilidade construtiva sem interferir no espaço didático. Com isso
definiu-se o módulo pronto (tipologia 02) com: 8,00m (comprimento); 2,40m (largura); 3,55m
(altura).
Estas medidas favorecem o transporte horizontal, sobre caminhões de médio porte, com 2 ou
3 eixos, não acarretando grandes dificuldades relacionadas à logística dentro da malha urbana
das cidades.
Essas análises realizadas no Quadro 4, fortificam que a relação métrica de ambas modulações,
tipologia 01 e 02, favorecem a disposição dos módulos, podendo assim desenvolver um jogo
de formas, além de auxiliar o sistema estrutural.
Quadro 4 – Projeto modular em aço para edifícios didáticos: estudo e concepção
Tipologia Projeto

01

Perspectiva isométrica do módulo inteiro

9
Quadro 4 – Projeto modular em aço para edifícios didáticos: estudo e concepção (Cont.)
Tipologia Projeto

01

Perspectiva isométrica dos módulos empilhados:


módulos inteiros; ½ módulo e ¼ de módulo

01

Edificação pronta com modulação: planta baixa

01

Edificação com modulação: estrutura

01

Edificação pronta com modulação: vista aérea

10
Quadro 4 – Projeto modular em aço para edifícios didáticos: estudo e concepção (Cont.)
Tipologia Projeto

02

Perspectiva isométrica do módulo inteiro e ½ módulo

02

Perspectiva isométrica dos módulos empilhados:


módulos inteiros e ½ módulo

02

Perspectiva isométrica do módulo inteiro

02

Edificação com modulação: estrutura

11
Quadro 4 – Projeto modular em aço para edifícios didáticos: estudo e concepção (Cont.)
Tipologia Projeto

02

Edificação pronta com modulação: vista aérea


Fonte: Elaborado pelo autor, 2014.

Seguindo a linha de pesquisa deste trabalho, temos como referência o estudo de Caiado [9],
que apresenta solução modular em aço para edifícios de escritórios (Figura 3). Este trabalho
segue as premissas da industrialização onde deverá ser confeccionado dentro da planta física
fabril, para maior controle de qualidade com relação às dimensões e materiais do módulo
modelo.
Figura 3– Planta baixa do edifício modelo e esquema isométrico da sobreposição dos módulos

Fonte: Caiado, 2005

Com relação ao projeto arquitetônico, analisando o edifício modelo de Caiado [9], é possível
observar que o mesmo foi desenvolvido dentro dos preceitos explanados neste trabalho,
adotando-se o projeto de produto, a coordenação modular, a construtibilidade e a
racionalização dos elementos construtivos. Constatou-se que na confecção desse edifício
modelo, foram apresentadas inúmeras vantagens produtivas em comparação ao sistema
tradicional de construção. Resumidamente o citado trabalho apresentou algumas vantagens
em comparação ao sistema tradicional de construção, tais como:
• utilização de um número mínimo de componentes;
• utilização de materiais disponíveis no mercado, com tamanhos e 
configurações
padronizados;
• utilização materiais e componentes fáceis de serem conectados;

12
• padroniza os meios de ação;
• utilização de uma sequência rítmica executiva;
• segmentação os projetos em pacotes construtivos;
• uniformidade modular; e
• redução de precedências.
Entretanto, este trabalho de Caiado [9] não esgota todos os aspectos relevantes sobre a
tecnologia de sistema modular para a construção de civil, dada a complexidade do assunto.
Por isso, foi sugerido por aquele autor alguns outros temas para a continuidade da pesquisa,
como análise do sistema quanto ao desempenho e conforto, desenvolvimento do mesmo
conceito para edificações de residências, avaliação de um modelo real quanto a sua utilização,
desenvolvimento e avaliação da questão de ampliações e versatilidade no processo de
montagem e desmontagem do sistema, logística no processo de construção de edifícios em
módulo pré-fabricados estruturados em aço, análise de custos econômicos da construção de
edifícios em módulo pré-fabricados estruturados em aço.
Portanto, são várias as tipologias de projetos industrializados disponíveis para estudo, e que
poderiam ser aqui citadas. Todavia, cabe salientar as mais relacionadas com o tema central do
presente trabalho.
Este artigo retrata uma parte da pesquisa de mestrado em andamento, dentro do
Departamento de Engenharia Civil da Universidade Federal de São Carlos, SP. Quanto às
próximas etapas da pesquisa, terão como delineamento as seguintes fases: definir a tipologia
do edifício modelo entre as tipologias pesquisadas; realizar pré-dimensionamento dos
elementos e a estabilidade da estrutura quando os módulos forem empilhados; elaborar
diretrizes de projeto para edifícios com finalidade didática, e sua concepção estrutural
modular em aço; executar projeto e detalhes, incluindo maquetes eletrônicas; elaborar
resultados e considerações finais.

4 CONCLUSÃO

O presente trabalho desenvolveu duas propostas de projeto com o conceito de modulação,


dentro do sistema estrutural construtivo em aço, considerando, além da concepção estrutural,
fatores extremamente relevantes, como logística, concepção voltada a instalações didáticas e
subsistemas de baixo custo, dentro da proposta trabalhada.
Os estudos e análise da literatura forneceram subsídios para auxiliar a confirmação da
hipótese de que o processo de projeto de edifícios deve ser otimizado e qualificado pela
introdução das premissas da industrialização da construção, mas devem ser adaptadas ao
ambiente do setor da construção civil, e às necessidades e possibilidades particulares de cada
empreendimento.
A visão sistêmica inserida no conceito da elaboração dos projetos voltados para o sistema
construtivo modular em aço, deve ter início anteriormente à concepção do empreendimento,
de modo que as decisões relativas à sua execução sejam analisadas em conjunto, visando

13
solucionar, o quanto antes, todas as interfaces com as demais disciplinas de projeto, com a
fábrica e com as tarefas de logística e montagem, que serão realizadas no canteiro de obra.

Agradecimentos

Ao CNPq e à FINEP, projeto CANTECHIS, pelo apoio recebido.

REFERÊNCIAS

1 GLASS, J. The future for precast concrete in low-rise housing. Leicester, UK: British Precast
Concrete Federation, 2000. Disponível em:
https://web41.securesecure.co.uk/britishprecast.org/publications/bpcfbrochure.pdf. Acesso
em 22/09/2013.

2 ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR-15575-1: Desempenho de edifícios


habitacionais de até 5 pavimentos – Desempenho - Parte 1: Requisitos Gerais. Rio de Janeiro,
2013.

3 MELHADO, S. B. Qualidade do Projeto na Construção de Edifícios: Aplicação ao Caso das


Empresas de Incorporação e Construção. Tese apresentada à Escola Politécnica da
Universidade de São Paulo para obtenção do título de Doutor em Engenharia. São Paulo, 1994.

4 MAMEDE, F. C. Utilização de pré-moldados em Edifícios de Alvenaria Estrutural. 204f.


Dissertação (Mestrado em Engenharia de Estruturas). Universidade de São Paulo. São Carlos:
EESC, 2001.

5 SANTOS, J. P. et al. Conforto Ambiental no Centro de Tecnologia da Universidade Federal


de Santa Maria. Artigo: Encontro Nacional do Ambiente Construído, Florianópolis, 1998.

6 MEDEIROS, M. C. I. e MELHADO, S. B. Gestão do conhecimentos aplicado ao processo de


projeto na construção civil: estudos de caso em construtoras. O Boletim Técnico é uma
publicação da Escola Politécnica da USP/ Departamento de Engenharia de Construção Civil,
fruto de pesquisas realizadas por docentes e pós-graduados desta Universidade – BT/PCC/581.
São Paulo: USP, 2013.

7 LAWSON, R. M.; OGDEN, R. G. ‘Hybrid’ light steel panel and modular systems. Article info:
Light steel modular demonstration building testing, 18 April 2008.

8 GUARNIER, C. R. F. Metodologias de detalhamento de estruturas metálicas. Dissertação


apresentada à Universidade Federal de Ouro Preto - Escola de Minas Departamento de
Engenharia Civil Programa de Pós-Graduação para obtenção de título de Mestre em
Engenharia. Ouro Preto - MG, 2009.

14
9 CAIADO, K. F. Estudo e Concepção de Edifícios em Módulos Pré-Fabricados Estruturados
em Aço. Dissertação apresentada à Universidade Federal de Ouro Preto - Escola de Minas
Departamento de Engenharia Civil Programa de Pós-Graduação para obtenção de título de
Mestre em Engenharia. Ouro Preto - MG, 2005.

10 REZENDE, E. M. e GOUVEIA, A. M. C. Sistemas de estacionamento vertical modulado em


estrutura metálica. REM – Revista Escola de Minas. Ouro Preto, 59 (3): 279-284, 2006.

11 VAN DER LAAN, B.; GONÇALVES, M.; POLIDORI, M. C. Obtenção e aplicação de uma célula
arquitetônica modular a partir de sistemas construtivos modulares. Artigo: XIX - ENPOS
Congresso de Iniciação Científica, Pelotas - RS, 2010.

15
IDENTIFICAÇÃO DE PRÁTICAS DE ENGENHARIA SIMULTÂNEA EM EDIFÍCIOS
ESTRUTURADOS EM AÇO *

Silvia Scalzo Cardoso1


Maria Alice Gonzales 2

Resumo
Mudanças vêm ocorrendo no setor da construção civil brasileira com o aumento da
competitividade entre as empresas e a busca por sistemas industrializados. A pesquisa
procurou identificar práticas de Engenharia Simultânea relacionadas ao projeto do produto e à
produção do edifício em empreendimentos com estruturas metálicas e mistas. Buscou-se
compreender como a entrada do fabricante da estrutura metálica, interage com os outros
agentes do processo e ao mesmo tempo, entender como o processo de projeto do produto
interage com o processo de produção. A pesquisa procura verificar como essas práticas de
produto e de processo podem melhorar a construtibilidade do edifício, tirar partido das novas
tecnologias e dos novos processos de produção. A pesquisa consistiu de revisão bibliográfica e
de quatro estudos de caso descritivos que incluíram pesquisas de campo, como entrevistas a
coordenadores de projeto e visitas a canteiros de obras. Como contribuição, a pesquisa
identificou que houve desenvolvimento integrado e práticas de engenharia simultânea como
integração entre equipes, utilização de novas tecnologias de gestão e de produção e
valorização das parcerias entre agentes. Essas práticas resultaram em redução dos prazos de
obras, introdução de inovações e alta qualidade dos produtos.

Palavras-chave: Estrutura metálica; Estrutura mista; Engenharia simultânea; Novas práticas de


produto e processo.

IDENTIFYING CONCURRENT ENGINEERING PRACTICES IN STEEL FRAMED BUILDINGS*

Abstract
Changes have been occurring in the Brazilian construction sector with the crescent
competition among companies and the industrialized system needs. The study tried to identify
concurrent engineering practices related to product design and building production where

1
Arquiteta graduada pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo,
mestranda no ConstruINOVA – Mestrado Profissional em Inovação na Construção Civil do Departamento
de Engenharia Civil da Escola Politécnica da USP. Atua profissionalmente em empresa siderúrgica no
desenvolvimento de mercado de aços planos na construção.
2
Arquiteta graduada pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo,
mestranda no ConstruINOVA – Mestrado Profissional em Inovação na Construção Civil do Departamento
de Engenharia Civil da Escola Politécnica da USP.

________________________________
* Contribuição técnica ao Construmetal 2014 – Congresso Latino-Americano da Construção
Metálica – 02 a 04 de setembro de 2014, São Paulo, SP, Brasil.
1
composite and steel framed structures was employed. The study analyzed how steel
fabricators have interacted with the other players and how product design processes and
production processes have been modifying constructability . The study made a bibliographical
review and analyzed four case studies, interviews with the players and job site visits. As a
contribution, the study has identified that has occurred integrated development and
concurrent engineering practices as more team integration, new management technologies
and production and importance of partnerships among players. Those practices achieved
reduction in construction delays, innovations and higher product quality.

Keywords: steel structures; composite structures; concurrent engineering; new products and
processes practices.

1 INTRODUÇÃO: COMPETITIVIDADE NO SETOR DA CONSTRUÇÃO

O crescimento da concorrência entre as empresas faz com que estas se confrontem com as
necessidades de ampliação da produtividade, redução de custos e, sobretudo, melhorias na
qualidade dos produtos, ao mesmo tempo em que devem reduzir os impactos ambientais dos
seus produtos e processos [1].
O mercado imobiliário das empresas de construção civil é um mercado altamente competitivo
fazendo com que as construtoras busquem redução de custos de modo a atender às
necessidades de retorno dos investidores e manter a atratividade do setor. Para se alcançar
menores custos aumentando a eficiência e obtendo eficácia é necessária a utilização de
processos industrializados [2].

Além da competição crescente entre as empresas, há novos contextos como a existência de


consumidores mais exigentes influenciados pelo processo de globalização, maior
complexidade dos empreendimentos e uma maior regulamentação.

2 MATERIAIS E MÉTODOS

Em resposta aos fatores acima, a busca por processos e sistemas industrializados, foi o que
definiu a se eleger para objeto da pesquisa, a análise de edifícios multiandares estruturados
em pilar e viga em perfil de aço ou em estrutura mista aço-concreto.
A pesquisa consistiu de estudos de casos descritivos. Foram analisados quatro edifícios: três
pertencentes ao setor do mercado imobiliário de edifícios corporativos da categoria “Triple A”
e um pertencente ao setor hospitalar.
A pesquisa busca identificar as práticas de Projeto Simultâneo nos empreendimentos
estudados. No Projeto Simultâneo é dada ênfase às questões de gestão do processo de projeto
e a busca pela colaboração e paralelismo na atuação dos agentes, bem como na concepção
integrada das diferentes dimensões do empreendimento [3].
A pesquisa pretende aprofundar as questões do planejamento do empreendimento, que vão
da concepção do produto à execução.

2
Foi verificado os papéis dos vários agentes do empreendimento e em especial dos agentes da
cadeia produtiva da estrutura metálica. Pelas características de processo altamente
industrializado da estrutura metálica, o fabricante da estrutura vai atuar com maior impacto
no projeto do produto, além evidentemente da atuação no canteiro de obras.
O trabalho incluiu pesquisas de campo, como visitas aos canteiros e entrevistas com
representantes de três empreendimentos estudados. Dos entrevistados, dois tiveram a função
de coordenadores de projeto do escritório de arquitetura, outro tinha a função de gerente da
obra e outro representava o fabricante da estrutura metálica. Foi realizada análise de vários
documentos dos empreendimentos como apresentações de projeto ou documentos de
referência da obra.
As informações de um dos empreendimentos foram obtidas em participação em evento
privado na cidade do Rio de Janeiro que contou com longa apresentação sobre o
empreendimento realizada pelo diretor de obras da empresa incorporadora /construtora do
edifício que foi fonte na obtenção de dados como produtividade da obra, planejamento,
gestão da produção, entre outros.

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

3.1 Apresentação dos agentes envolvidos nos estudos de caso

Para dar parâmetros da complexidade e das dificuldades de realização e construção dos


empreendimentos estudados, foram caracterizadas as informações básicas que definem o
padrão do produto no mercado, as informações do porte do edifício, como número de andares
e área construída e as informações referentes às estruturas metálicas, como peso da estrutura,
se existe ou não núcleo em concreto, qual o tipo de proteção a incêndio utilizado, tipo de laje
adotado e previsão/duração de obra. As informações básicas dos empreendimentos estudados
encontram-se em anexo (Anexo A).
Os escritórios de projeto, envolvidos nos estudos de caso, são escritórios que tem reconhecido
mérito em projetos de arquitetura e vasta experiência em projetos de edifícios corporativos e
hospitalares.
Quanto às empresas incorporadoras/construtoras, se tratam de empresas de referência no
mercado, seja pela adoção de processos construtivos inovadores, pela atuação em vários
mercados, como imobiliário e industrial, e por trazer novos modelos de negócios, entre eles,
os chamados “turn-key” e “built to suit.”
Em relação à fabricação da estrutura metálica, as duas empresas envolvidas nos
empreendimentos estão entre os maiores fabricantes de estruturas metálicas do Brasil com
experiência nos mercados industrial, estruturas pesadas, como prédios de processos, pontes,
além do segmento imobiliário, de distribuição e de múltiplos andares.
Nota-se que dada a especificidade da estrutura metálica e mais ainda, da estrutura mista, os
fabricantes da estrutura metálica foram os responsáveis pela também pela execução da
estrutura de concreto.
Os quatro empreendimentos estudados obtiveram ou pretenderem obter a certificação com
base na norma LEED® (Leadership in Energy and Environmental Design) C&S (for Core & Shell)
e os três empreendimentos de utilização corporativa são ou serão classificados ou pretendem
classificação na categoria Triple A.

3
3.2 Sistema Construtivo em Estrutura Mista

O sistema construtivo, utilizado em três dos edifícios estudados, é o sistema misto aço
concreto. Cabe destacar que sistema misto é aquele no qual um perfil de aço (laminado,
soldado ou formado a frio) trabalha em conjunto com o concreto formando um pilar misto,
uma viga mista, uma laje mista ou uma ligação mista. A definição de sistemas mistos ressalta a
diferença entre eles e sistemas de concreto armado que, apesar de essencialmente mistos,
não incluem perfis de aço. Nos sistemas mistos, em geral, a viga trabalha em conjunto com a
laje, chamada de viga mista. Em relação à construção em concreto, a viga metálica é muito
mais leve do que uma viga pré-moldada de concreto e de montagem muito mais simples do
que a execução de uma viga de concreto moldada in loco [4].
A estrutura mista é competitiva para estruturas de vãos médios a elevados, caracterizando-se
pela rapidez de execução e pela significativa redução do peso total da estrutura. A proteção
ao fogo é um fator que influi no custo da obra e afeta a decisão por estruturas de concreto,
mista ou aço. Em relação a proteção ao fogo e a corrosão, o preenchimento ou o
revestimento em concreto do pilar são soluções que reduzem o custo da proteção da
estrutura, tornado ainda mais competitiva a estrutura mista. As estruturas mistas foram
normatizadas em 1986 pela NBR 8.800: “Projeto e Execução de Estruturas de Aço de Edifícios”,
que aborda o dimensionamento e a execução somente dos elementos mistos submetidos à
flexão (vigas mistas). A NBR 14.323 “Dimensionamento de estruturas de aço em situação de
incêndio” trata do dimensionamento dos pilares mistos tanto em temperatura ambiente como
em situação de incêndio [5].

3.3 Gestão do empreendimento e responsabilidades dos agentes nos empreendimentos em


estrutura metálica

Em função dos empreendimentos estudados adotarem a estrutura metálica buscou-se


identificar os papéis dos agentes juntamente com o novo entrante no processo que é o
fabricante de estruturas. Essa entrada modifica a relação entre os agentes de projeto e de
construção participantes do empreendimento. Pelas características de processo altamente
industrializado da estrutura metálica, o fabricante da estrutura vai atuar com maior impacto
no projeto do produto, além evidentemente, da atuação no canteiro de obras. Procurou-se
explicitar através do fluxograma abaixo (Fig. 1) os principais estágios da gestão do
empreendimento a partir da decisão da utilização da estrutura metálica.

4
Fig. 1 – Estágios da gestão do empreendimento em estrutura metálica. Adaptado de “Stages of steel
project management” [6]

O fluxograma mostra como vários agentes têm responsabilidades na aquisição de produtos,


serviços e trabalhos relacionados à fabricação e montagem da estrutura metálica. A escolha
do sistema construtivo é feita pelo empreendedor/ investidor baseado em informações que
virão de diferentes fontes, mas principalmente do consultor ou projetista estrutural e também
do arquiteto.

O Fabricante da Estrutura Metálica nos casos estudados foi contratado pelo empreendedor
para executar e fornecer os elementos estruturais em aço. Em alguns dos projetos estudados o
fornecedor de estrutura metálica ficou responsável integralmente pelo desenvolvimento da
estrutura, que incluía aço e concreto. Nos casos de estrutura mista, pode haver um segundo
Engenheiro de Estrutura contratado para dimensionar a estrutura de concreto e deverá
trabalhar em conjunto com as definições do engenheiro de estrutura metálica.

Equipes de montadores e fabricantes de outros itens em aço serão contratados pela empresa
fabricante de estrutura metálica para montar a estrutura e produzir elementos como
conectores, lajes steel deck, entre outros elementos complementares à estrutura principal.

5
Fig. 2 – Linhas de responsabilidade num empreendimento em aço. Adaptado de “Lines of responsability
on a steel project” [6].

4 RESULTADOS DA PESQUISA DE CAMPO

4.1 Papel dos agentes nos estudos de caso

Detalhando o papel dos agentes e o encontrado nos estudos de caso, verifica-se em relação ao
empreendimento 1 que a incorporadora/construtora contratou um consultor, profissional do
mercado com grande experiência profissional e notória distinção acadêmica para estudar
alternativas dos sistemas construtivos a serem empregados. O consultor a partir do estudo
preliminar do arquiteto avaliou os processos e sistemas construtivos em concreto e aço até a
definição do sistema em estrutura mista.

Depois da decisão tomada pela incorporadora do edifício para que ele fosse construído em
estrutura metálica é que houve a contratação do fabricante de estrutura e foi dada
continuidade ao projeto de arquitetura a partir do Estudo Preliminar (EP), sendo
contemporaneamente iniciado o projeto estrutural. Ressalta-se que o projeto foi desenvolvido
até a fase de EP com a concepção estrutural em concreto.

Nota-se que nesse empreendimento não houve a contratação de um projetista estrutural por
parte do incorporador e o fabricante ficou responsável integralmente pelo desenvolvimento
do projeto estrutural, uma vez que o desenvolvimento desse projeto seria feito em função do
seu processo de fabricação. O fabricante de estrutura também ficou responsável pelo
desenvolvimento do projeto da parte estrutural em concreto, uma vez que o projeto estrutural
é em estrutura mista. O fabricante subcontratou escritórios de projeto estrutural em concreto

6
para a estrutura mista e houve a contratação de um terceiro escritório de projeto estrutural
para o desenvolvimento da estrutura de concreto dos subsolos. A execução da estrutura em
concreto também ficou no escopo do fabricante de estrutura.

Dada a complexidade do projeto, foi realizado testes do edifício em túnel de vento e houve a
contratação de um escritório de projeto com experiência internacional para colaboração no
projeto de estrutura.

No empreendimento 2, segundo o diretor de obras da empresa incorporadora/construtora do,


a empresa queria dar início a utilização da estrutura metálica em razão de que estão
ocorrendo e ainda se intensificarão mudanças na mão de obra da Construção Civil: poderá
haver falta de carpinteiros, pedreiros, entre outros ofícios do canteiro. A empresa viu como
oportunidades a utilização de um sistema construtivo ainda pouco usado no mercado
imobiliário, porém utilizado pela empresa em outros segmentos de mercado; a geração da
imagem de inovação para a empresa; o desenvolvimento de novas parcerias com a indústria
da construção civil e a consolidação do domínio da técnica construtiva com a utilização da
estrutura metálica em larga escala e ainda o aprendizado e a capacitação da equipe em novo
processo construtivo por meio da educação pelo trabalho. Faziam parte do escopo do projeto:
a não existência de pilares internos, somente na borda, sobrecarga de 500 Kg/m², flexibilidade
de junção dos escritórios na horizontal e na vertical.

A obra também partiu de algumas premissas: aumentar a produtividade em relação à


montagem dos pilares, execução rápida, menor custo de taxa de armação, área de forma e
volume de concreto. Ainda em relação ao empreendimento 2, segundo o diretor de obras da
empresa, as razões que levaram a se optar pela estrutura metálica foram: a mitigação dos
problemas com a falta de MDO; a redução do efetivo da obra e a consequente redução das
despesas indiretas; a maior assertividade do custo orçado e por consequência o maior grau de
controle do orçamento; a localização da obra em ZMRC e a limitação do horário do
recebimento de materiais; a redução do prazo de obra e a possibilidade de reduzir o prazo
total da entrega da obra proporcionando a antecipação do recebível e favorecer a certificação
LEED com a menor geração de resíduos.

No empreendimento 3, a solução da estrutura metálica foi considerada em função da


localização do canteiro, que se situava em avenida de alto tráfego em São Paulo, em local que
impossibilitava o estacionamento de caminhões na avenida, o que dificultaria a entrada de
materiais. Aliado a isto, a ocupação do prédio no terreno dificultava as operações de canteiro,
com pouquíssimo espaço para as operações de descarga dos insumos. Além disso, na época da
construção havia problemas para a contratação de mão-de-obra e se previa falta de alguns
insumos básicos.

7
No empreendimento 4, a construção do edifício de 19 andares foi realizada sobre edifício de 8
andares existente e em utilização. O prédio existente é usado para laboratórios e
estacionamento de veículos dos usuários do hospital. Já era prevista a expansão do hospital
sobre esse prédio de 8 andares e, foi escolhida a estrutura metálica para que a expansão
pudesse contar com um maior número de andares. Mesmo assim, ocorreram reforços nas
fundações do prédio existente para receber a nova edificação - tubulões e pilares foram
reforçados. A localização do empreendimento era em zona de máxima restrição para a
circulação de caminhões. A situação era agravada pelo fato de estar ao lado de alas do hospital
em uso e as condições para descarga dos materiais era bastante complexa, uma vez que os
caminhões carregados com as estruturas metálicas deveriam ser descarregados em laje do
edifício existente. Foram verificadas as cargas de dimensionamento da laje para analisar se ela
poderia receber essas cargas altas.

4.2 Novas Práticas de Produto/ Arquitetura

Foram identificadas novas práticas em termos de produto nos empreendimentos estudados.


Em relação à arquitetura verificou-se diferenciação na planta por andares. Nota-se nos quatro
empreendimentos maior complexidade da planta com relação à nova dinâmica das circulações
verticais (diferentes paradas de baterias de elevadores) e as circulações geradas para acesso
aos terraços e passarelas.

As mudanças de plantas refletem-se na fachada e na volumetria do edifício. As soluções


adotadas de alas unidas por passarelas muda o paradigma do edifício retangular com repetição
de planta. A solução arquitetônica traz novos desafios a fachada que contará com maior
variedade de módulos para o fechamento de fachada, além de terraços que representam
novos desafios em relação à construtibilidade desses elementos.

4.3 Integração Projeto com Execução

No empreendimento 1, o Estudo Preliminar (EP) da arquitetura apresentava uma planta com


um núcleo central onde estavam localizados os sanitários e as circulações verticais: elevadores,
escadas e áreas técnicas. A planta do edifício na fase de EP era um polígono não ortogonal e o
núcleo, que era um polígono regular, um retângulo, estava centralizado em relação ao
polígono da planta. Desse modo, as paredes do polígono não eram paralelas às paredes do
núcleo.
O desenvolvimento do projeto alterou a forma do núcleo tornando paralelas as paredes das
faces maiores do polígono com as paredes do núcleo, e para isso o núcleo deixou de ser um
retângulo, se tornando também um polígono irregular. Com a nova solução, e o consequente
acréscimo de área do núcleo, foram incorporadas as áreas técnicas ao núcleo.

8
Essa mudança foi realizada para que o paralelismo da parede do núcleo e da parede do limite
do andar tornassem do mesmo comprimento as vigas que ligariam o núcleo às vigas de borda.
Essa mudança simplificou a fabricação de um grande número de vigas, uma vez que o prédio
se constitui de 2 alas de mais de 30 andares. O novo núcleo proposto funciona para o edifício
como um tubo rígido sendo que suas paredes de concreto têm mais de 30 cm de espessura
para responder as exigências de rigidez da estrutura. A arquitetura havia definido desde o
estudo preliminar que as passarelas seriam em estrutura metálica visando à facilidade de
execução. No entanto era necessário definir com o projetista estrutural qual seria a solução
adotada, vigas contraventadas em cada um dos dois andares da passarela ou um
contraventamento que vencesse a altura dos dois pisos. Por razões arquitetônicas foi decidido
se contraventar os dois pisos. As passarelas são o único ponto que a estrutura metálica do
edifício fica aparente e por isso a razão da escolha de um contraventamento único para os dois
andares.
Outro detalhe que exigiu um detalhamento acurado foi o apoio das passarelas na estrutura do
edifício. As passarelas sofrem muitas vibrações no plano horizontal em função de cargas de
vento. Não há possibilidades de deslocamento das passarelas na vertical, no entanto é
necessário receber os reforços horizontais. Para isso foram previstos aparelhos de apoio
similares aos utilizados em estruturas de pontes. Os aparelhos de apoio não estarão expostos
no interior do prédio, mas foi previsto um sistema de revestimento tanto em fachada como
internamente que torne possível a movimentação no aparelho.
4.4 Construtibilidade de elementos e planos de ataque

Um dos empreendimentos prevê detalhes de fachada bastante complexos, mas que geram
apelo estético de resultado positivo e impactante no edifício. Há vários terraços que avançam
em relação à prumada do edifício. Para a execução das lajes desses terraços foi previsto uma
bandeja que se apoia na viga de borda do edifício e a borda em balanço da laje é suportada
por tirantes que serão utilizados até que a bandeja seja concretada e o concreto apresente
rigidez estrutural para então ser possível retirar a bandeja e o tirante que será deslocado para
o pavimento superior. Essa solução é bastante simples do ponto de vista da construtibilidade e
evitou maiores impactos econômicos.
Outro aspecto ressaltado em relação à construtibilidade é o projeto de produção da alvenaria
e sua interface com a estrutura metálica, bastante detalhado no empreendimento 2. Foram
desenvolvidos detalhes de encontro da parede de alvenaria faceando os pilares, bem como a
interface da alvenaria com a viga superior. Foram também desenvolvidos detalhes da alvenaria
quando executada sobre viga metálica e o tratamento a essa interface.
Ainda no mesmo empreendimento é interessante notar o projeto do revestimento de fachada
em pré-moldados de concreto e o plano de ataque para a execução das fachadas, que

9
pretendia realizar a fachada por andar, exigindo do fornecedor a entrega dos pré-moldados
também por fechamento do andar e não por prumada da fachada.
4.5 Ciclo de montagem e construção da estrutura

No empreendimento 1, o ciclo de construção compreende a montagem de 6 andares em


estrutura metálica que estão dimensionados somente para suportar o peso próprio dos perfis,
pilares e vigas, e o peso das lajes. Uma vez o esqueleto da estrutura metálica montado dá-se
início a concretagem dos pilares. O dimensionamento das cargas de utilização depende da
concretagem dos pilares de concreto. O concreto “reveste” o perfil metálico, são preparadas a
armação e formas e em seguida concretado o pilar, que terá a sua aparência final idêntica a de
um pilar de concreto moldado in loco. O ciclo de montagem da estrutura de 6 andares para
posterior montagem da estrutura de concreto traz maior velocidade a obra, uma vez que o
pilar é concretado a partir de uma laje e em área coberta pela laje superior. Há duas frentes de
trabalho agindo simultaneamente no edifício com a defasagem de 6 andares.
No empreendimento 2, em relação ao ciclo de produção a execução do núcleo de
concreto estava 6 pavimentos a frente da montagem da estrutura metálica, que era montada
de três em três pavimentos. A instalação da laje steel deck considerando os três pavimentos se
dava primeiro no mais pavimento mais alto pavimento e depois os dois andares abaixo. A
armação e concretagem dos pilares ocorria de baixo para cima , assim como a concretagem da
laje. Esse ciclo de serviços se repetia de 3 em 3 pavimentos e após a concretagem dos pilares
se iniciava a aplicação da proteção passiva. A montagem da estrutura ocorreu em 21 semanas.

No empreendimento 3, a cada 4 dias foi montada a estrutura de um andar, cuja área era de
aproximadamente 1.500 m². O núcleo de concreto estava a frente da estrutura, mas em
algumas situações e semanas, a estrutura metálica ficou parada para esperar o núcleo de
concreto avançar.
4.6 Gestão da informação

A grande quantidade de informações envolvida no processo de gestão do empreendimento faz


com que seja necessário haver um sistema de gestão para que não ocorra perda de
informação. A gestão dos arquivos de desenhos e documentos e as versões atualizadas foram
feitas através do sistema SADP e do Construmanager. O empreendimento 4 tinha grande
complexidade na gestão de informações e foram gerados mais de 9.500 documentos ente
memoriais e desenhos.

4.7 Medição de produção

Em todos os empreendimentos nota-se a forte preocupação na medição de produção. Os


ciclos de produção são controlados e medidos. A produção da estrutura é controlada em
relação à montagem da parte metálica e em relação a concretagem dos pilares. Esse ciclo é

10
objeto de forte controle como ficou demonstrada na documentação encontrada tanto em
visita a obra como em relação aos relatos dos agentes. Em um dos empreendimentos havia
planilha com controle de parafusos.

No empreendimento 2, foram identificados vários controles de produção, seja em relação a


serviços na obra, na aquisição dos suprimentos ou em relação a mão-de-obra com informações
detalhadas sobre a produtividade de serviços e os comparativos de homem/hora. Em relação
a laje steel deck a produtividade prevista era de 5.000 a 6.000 m²/mês e foi realizado 5.300
m²/mês para a instalação da chapa metálica e conectores/dia. Em relação à estrutura metálica
a produtividade prevista era de 20 a 25 vigas/dia e a realizada 23 vigas/dia e quanto a
produtividade de aplicação da proteção passiva foi de 500 m²/dia.

4.8 Retroalimentação

A medição da produção é um instrumento de retroalimentação para o empreendimento em


curso e para os próximos empreendimentos. A retroalimentação foi verificada em várias fases
do processo de projeto e execução nas interfaces projeto do produto-projeto da produção e
nas interfaces execução projeto, o que denota práticas de projeto simultâneo do
empreendimento [1].

A arquitetura do emprendimento 2 não concebeu o edifício para ser realizado em estrutura


em aço e por isso o núcleo de escadas e elevadores não era centralizado na planta. Mesmo
assim, a obra foi considerada piloto para a empresa construtora e com as lições aprendidas
nessa obra, poderá haver mais benefícios em relação ao uso da estrutura metálica nas
próximas obras.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Em função do exposto na pesquisa, conclui-se que houve desenvolvimento integrado nas


diferentes dimensões do empreendimento, tendo existido práticas de projeto simultâneo:
integração entre equipes das várias disciplinas desde o início dos processos; utilização de
novas tecnologias para gestão do processo e valorização das parcerias entre agentes.
A escolha do sistema construtivo adotado trouxe junto uma série de novos processos que
tiveram que ser incorporados e geraram impactos em relação à gestão do projeto e do
empreendimento. Além das práticas acima citadas, ressalta-se a valorização do projeto, a
estrutura organizacional e interatividade nas equipes de projeto, a tecnologia da informação, a
coordenação de projetos e os projetos para produção.
A integração dessas práticas identificadas como projeto simultâneo resultaram em redução de
prazos de obra, introdução de inovações e alta qualidade dos produtos.

11
REFERÊNCIAS

[1] FABRICIO, M. M. Projeto Simultâneo na Construção de Edifícios, 2002. Tese (Doutorado).


Escola Politécnica da Universidade de São Paulo. 351 p.

[2] CHALITA, A. C. C.; SABBATINI, F. H. Estrutura de um projeto para produção de alvenarias


de vedação com enfoque na construtibilidade e aumento de eficiência na produção: EPUSP,
2011. 21p. (Boletim Técnico da Escola Politécnica da USP, Departamento de Engenharia de
Construção Civil, BT/PCC/572)

[3] FABRICIO, M. M.; MELHADO, S. B. Por um processo de projeto simultâneo. Workshop


Nacional Gestão do Processo de Projeto na Construção de Edifícios. Anais, Porto Alegre, 2002.
P 1-5.

[4] QUEIROZ, G e PIMENTA, R. J. - Estruturas Mistas ABECE Informa Julho / Agosto 2009.

[5] ALVA, G.M.S. Sobre o projeto de edifícios em estrutura mista aço-concreto. Dissertação de
Mestrado. Escola Engenharia de São Carlos. São Carlos, 2000.

[6] MROZOWSKI, T.; SYAL, M.; KAKAKHEL, S. A. - Construction management of Steel


Construction. Project Management Module. American Institute of Steel Construction, Inc.,
1999. 38 p.

ABNT NBR 8.800: 2008. Projeto e execução de estruturas de aço de edifícios.

ABNT NBR 14323: 1999. Dimensionamento de estruturas de aço em situação de incêndio.

12
ANEXO A

Empreendimento 1

Características do Empreendimento
Edifício corporativo - categoria Triple A - classificação LEED
2 alas de 33 andares + heliporto
área construída: 173 mil m²
Características da Estrutura Metálica
Estrutura mista
volume de aço utilizado: 6.000t
previsão para montagem da estrutura: 9 meses
100% ligações aparafusadas
proteção passiva de incêndio: argamassa projetada
escadas em estrutura metálica
lajes em steel deck
core em concreto

Empreendimento 2

Características do Empreendimento
Edifício corporativo - categoria Triple A - classificação LEED Silver
15 andares (5 pavimentos de garagem em sobressolo + 10 pavimentos de escritórios)
área construída: 23 mil m²
Características da Estrutura Metálica
Estrutura mista
volume de aço utilizado: sem informação
previsão para montagem da estrutura: 21 meses
100% ligações aparafusadas
proteção passiva de incêndio: argamassa projetada
escadas em estrutura metálica
lajes em steel deck
core em concreto

13
Empreendimento 3

Características do Empreendimento
Edificio Corporativo – Classificação Triple A Certificação LEED Silver
Duas alas com 20 e 17 pavimentos (4 subsolos)
área construída: 61.790 m²
Área de laje tipo: 1.500 m2 – área de laje Sub-solo : 6.000 m2
Características da Estrutura Metálica
Estrutura pilar misto
volume de aço utilizado: 2.000 t
100% ligações aparafusadas
proteção passiva de incêndio: argamassa projetada
escadas em estrutura metálica
lajes em steel deck
core em concreto (escadas não estão embutidas no core)

Empreendimento 4

Características do Empreendimento
Uso hospitalar – Certificação LEED Gold
19 andares (construído sobre edifício de 8 andares em utilização) + heliponto
área construída: 75 mil m² (um dos edifícios)
Características da Estrutura Metálica
Estrutura pilar e viga em aço
(único dos empreendimentos estudados que não é estrutura mista)
volume de aço utilizado: 3.600 t
previsão para realização da obra: 40 meses
100% ligações aparafusadas
proteção passiva de incêndio: argamassa projetada
escadas em estrutura metálica
lajes em steel deck – 47 mil m²
core em concreto

14
Tema: Estruturas de Aço e Mistas de Aço e Concreto

MANIFESTAÇÕES PATOLÓGICAS EM EDIFICAÇÕES COM ESTRUTURAS DE AÇO EM


PRESIDENTE PRUDENTE*

Thais da Silva Santos¹


Nayra Yumi Tsutsumoto²
Cesar Fabiano Fioriti³

Resumo
Este trabalho teve como objetivo detectar visualmente as manifestações patológicas presentes
e as mais frequentes em duas edificações com as estruturas de aço, situadas no município de
Presidente Prudente. Os objetos do estudo se referem a uma edificação comercial de múltiplos
pavimentos, e uma edificação para fins religiosos de pavimento único. Como parte desta
proposta incluiu-se o levantamento de campo com registro fotográfico das manifestações
patológicas e apresentação dos aspectos gerais e as causas prováveis das anomalias
detectadas nas estruturas de aço. Em seguida, uma análise sobre os resultados obtidos. Nesta
análise observou-se a predominância da corrosão, apresentando-se em diferentes níveis de
gravidade. Logo, os problemas como um todo se incorporaram ao cenário patológico das
corrosões, ligações soldadas, ligações parafusadas, erro de projeto, assim como erro no
sistema de montagem. Além disso, são apresentadas ações para o aumento da qualidade nas
edificações com estruturas de aço. Desta forma, buscou-se contribuir para a melhoria da
qualidade das construções metálicas, através da exposição de anomalias encontradas no
ambiente construtivo, procurando respostas a partir dos aspectos gerais e causas dos
problemas identificados.

Palavras-chave: Estruturas em aço; Manifestações patológicas; Edificações.

PATHOLOGICAL MANIFESTATIONS IN BUILDINGS WITH STEEL STRUCTURES IN PRESIDENTE


PRUDENTE

Abstract

This study aimed to visually detect the pathological manifestations and frequently present in
two buildings with steel structures, located in the municipality of Presidente Prudente. The
objects of the study refer to a commercial building with multiple floors, and a building for
religious purposes only pavement. As part of this proposal was included in the field survey
photographic record of the pathological manifestations and presentation of general aspects
and likely causes of the deficiencies in structural steel. Then an analysis of the results obtained.
In this analysis we observed the predominance of corrosion, performing at different levels of
severity. Therefore, the problems as a whole is incorporated with pathologic stage of

________________________________
* Contribuição técnica ao Construmetal 2014 – Congresso Latino-Americano da Construção
Metálica – 02 a 04 de setembro de 2014, São Paulo, SP, Brasil.
1
corrosion, welded connections, bolted connections, design error, and error in the mounting
system. Moreover, actions to increase the quality in buildings with steel structures are
presented. Thus, we sought to contribute to improving the quality of metal constructions, by
exposing the anomalies found in the constructive environment, seeking answers from the
general aspects and causes of the problems identified.

Keywords: Steel structures; Pathological manifestations; Buildings.

¹.Graduanda em Arquitetura e Urbanismo, Bolsista FAPESP de Iniciação Científica, Universidade Estadual


Paulista – FCT/UNESP, Presidente Prudente, São Paulo, Brasil.
².Arquiteta, Universidade Estadual Paulista – FCT/UNESP, Presidente Prudente, São Paulo, Brasil.
³.Engenheiro Civil, Professor Assistente Doutor, Departamento de Planejamento, Urbanismo e
Ambiente, Universidade Estadual Paulista – FCT/UNESP, Presidente Prudente, São Paulo, Brasil.

2
1 INTRODUÇÃO

Pode-se dizer que se torna interessante notar a reação das pessoas ao se depararem com uma
edificação estruturada em aço. As pessoas estão tão acostumadas a ver estruturas de concreto
que, quando se deparam com um edifício de aço, ou mesmo de qualquer outro sistema
estrutural, desviam sua atenção, muitas vezes, para observar a edificação. É da natureza do
homem observar fatos estranhos ao seu cotidiano e o contraste que um sistema construtivo
diferente, particularmente a estrutura metálica, causa em um ambiente urbano.
Deixando de lado questões estéticas e psicológicas, a causa das manifestações patológicas, de
acordo com Helene [1], está relacionada aos vários fenômenos que influenciam no surgimento
das anomalias nas estruturas, como agentes atmosféricos, variações térmicas, agentes
biológicos, incompatibilidade de materiais, variação de umidade, cargas excessivas, etc.
Segundo Souza e Ripper [2], a patologia pode ser vista como a deterioração dos materiais que
compõe o sistema estrutural e cada material reage, de forma particular, aos agentes externos
e internos, sendo a velocidade de deterioração diferente um do outro.
Cada edificação, em virtude de suas características, possui uma resistência “própria” frente aos
mais variados agentes agressivos. A predisposição da estrutura, ou de uma de suas partes,
para apresentar problemas patológicos pode ser originada durante a fase de projeto, de
construção ou ser adquirida na fase de uso. Em razão destas incertezas, não é possível prever
qual será a reação da edificação quando submetida ao agente agressivo, muito menos
estabelecer um controle sobre este (SALMON e JOHNSON [3]; SILVA [4]).
Por outro lado, ao determinar os diversos tipos de origens, pode-se realizar um trabalho de
prevenção através de um bom planejamento e manutenção da estrutura, salvaguardando sua
integridade e, concomitantemente, proporcionando seu uso (THOMAZ [5]; HELENE [1]).
Conforme Castro [6] e Panossian [7], no geral, as manifestações patológicas nas estruturas de
aço são resultantes da má concepção de projeto, erros de cálculo, escolha inadequada dos
perfilados ou definição equivocada das espessuras das chapas, ou ainda, do uso de tipos de
aço com resistências diferentes das consideradas no projeto. Muitas vezes, esses fatores
comprometem a segurança e funcionalidade da estrutura e estão relacionados com o
descuido, cobiça ou economia.
Diante disto, este trabalho teve como objetivo detectar, visualmente, as principais
manifestações patológicas presentes e as mais frequentes em duas edificações com as
estruturas de aço, situadas no município de Presidente Prudente, onde, através da inspeção
visual são apresentados os aspectos gerais e as causas prováveis das anomalias identificadas
nos sistemas estruturais dos edifícios objetos de estudo de caso. Tais objetos de estudo de
caso se referem a uma edificação comercial de múltiplos pavimentos, e uma edificação para
fins religiosos de pavimento único, ambas em fase de construção. Salienta-se, contudo, que
não fez parte do objetivo, entrar no mérito da qualificação e da atuação dos profissionais,
assim como das empresas que participaram dos projetos e execução destas obras, sendo o
único foco a identificação das manifestações patológicas vistas sob a ótica da sintomatologia.

2 METODOLOGIA

Na apresentação de qualquer assunto do conhecimento humano, o método do estudo de caso


é altamente rico sob o ponto de vista didático. Dessa forma, o estudo de caso foi a alternativa

3
expositiva escolhida neste trabalho para apresentar o equacionamento das soluções dos
conflitos que o envolvem.
Serão relatados os procedimentos metodológicos utilizados para o desenvolvimento do
trabalho de campo e seus desdobramentos. A metodologia foi constituída basicamente de 4
etapas, onde são apresentadas, esquematicamente, na Figura 1.

Realização de visitas nas edificações Causas prováveis das


objetos de estudo manifestações patológicas
identificadas

Aspectos gerais das manifestações


patológicas identificadas Análise e conclusões

Figura 1: Esquema das etapas executadas no desenvolvimento do trabalho.


Conforme as etapas utilizadas no desenvolvimento deste trabalho, foi possível percorrer um
caminho curto e simplificado, visto que não foram utilizadas etapas de exames adicionais e de
execução das terapias, mesmo porque não é objetivo deste trabalho realizar exames
laboratoriais sobre as propriedades físicas e químicas dos materiais constituintes dos estudos
de caso.
Assim:
.1ª Etapa: Essa trajetória foi iniciada com a vistoria dos locais e o levantamento do histórico
dos edifícios. A vistoria consistiu na verificação dos efeitos das anomalias existentes utilizando
os sentidos da visão, do olfato, da audição e do tato. Realização de visitas in loco nos edifícios,
com o objetivo de identificar e fotografar as manifestações patológicas existentes nos sistemas
estruturais de aço;
.2ª Etapa: Descrição dos aspectos gerais das manifestações patológicas encontradas nos
sistemas estruturais das edificações objetos de estudo de caso;
.3ª Etapa: Formulação das hipóteses de diagnósticos das causas prováveis das anomalias
durante a etapa de vistoria do local dos estudos de caso. As formulações das hipóteses foram
baseadas na semelhança dos casos encontrados com aqueles citados pelos autores
referenciados neste trabalho;
.4ª Etapa: Com o diagnóstico mais provável definido, foram formuladas a análise e conclusões
do trabalho.
Algumas limitações foram encontradas no desenvolvimento desse trabalho, merecendo
destaque as informações incompletas referentes as etapas de execução das construções, a
impossibilidade de obtenção de amostras através de processo destrutivo e a inexistência de
projetos complementares.

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

3.1 Escolhas das edificações

O critério de escolha dos edifícios objetos de estudo partiu do quesito estrutural, ou seja, a
definição do aço como material constituinte do sistema estrutural e estar em fase de
construção. Pois nestas condições seria possível identificar e analisar, a partir das visitas a

4
campo e fotografias digitais, as eventuais manifestações patológicas, bem como evidenciar as
mais frequentes.
A primeira estrutura analisada, que doravante será denominada de Edificação A, trata-se da
ampliação de uma edificação já consolidada, de caráter religioso, cujo entorno há o
predomínio de construções residenciais unifamiliares.
A segunda edificação, denominada de Edificação B, esta inserida em uma área de intenso fluxo
de pedestres e automóveis em função de se consolidar em uma das principais vias do
município, predominando o caráter comercial e de serviço. Segundo informações obtidas in
loco, a mesma abrigará atividade comercial.
Conforme esperado, os dois edifícios objetos de estudo se encontram em fase de construção,
em um bairro cujo zoneamento da área, segundo a Lei de Zoneamento de Uso e Ocupação do
Solo de Presidente Prudente (PMPP, [8]), é o ZR2, ou seja, zona residencial de média
densidade populacional e ocupação horizontal e vertical de até dois pavimentos.
Apesar das edificações estudadas estarem na ZR2, a Edificação B se apresenta com quatro
pavimentos, não estando de acordo com a lei de zoneamento regida pelo município.
Possivelmente ao ser implantada a lei em 2008, os edifícios estudados, assim como tantos
outros adjacentes, já se consolidavam no cenário urbano antes mesmo desta classificação das
áreas em zonas, ou seja, aprovação anterior a lei. Outra hipótese seria a ilegalidade que se
encontra largamente pela cidade, isso, porém, demandaria análise dos processos.
Contudo, a predisposição da estrutura, ou de uma de suas partes, para apresentar problemas
patológicos pode ser originada durante a fase de projeto, de construção ou ser adquirida na
fase de uso.

3.2 Edificação A

Nesta edificação, segundo informações obtidas in loco, foi utilizado o aço ASTM A-36, onde as
peças estruturais mais deterioradas são as de perfis de seções “I”, “U”e cantoneiras. Mesmo
sendo uma edificação em fase de construção, toda a estrutura (composta por pilares e treliças)
se encontra exposta as intempéries.
A seguir, é apresentado o estudo de caso, elencando-se o registro das anomalias encontradas
– ver Tabela 1 que segue. Com base nos dados de campo, são identificadas as manifestações
patológicas mais evidentes, provenientes ora de corrosão, ora de falha de projeto, do processo
de execução e, até mesmo, da manutenção adotada.

5
Tabela 1: Manifestações patológicas identificadas na Edificação A.
Manifestações
Imagens obtidas in loco
patológicas

Corrosão
uniforme

Falha de
concordância em
emendas

Falha no
gabarito de
furação

Parafuso com
erro de
posicionamento

correto

Falha na
geometria dos
perfis

6
3.3 Edificação B

Segundo informações obtidas in loco, também esta sendo utilizado nessa edificação o aço
ASTM A-36, onde as peças estruturais mais deterioradas são as de perfis de seções “I” e
circulares. Trata-se de uma edificação dotada de pilares e vigas de aço, com lajes maciças de
concreto armado, e fechamento de alvenaria de blocos cerâmicos.
Tudo leva a crer que boa parte das anomalias, conforme se apurou in loco, foi proveniente do
reaproveitamento do material estrutural de outras edificações estruturadas em aço. Porém,
isto não significa que a reutilização do material não possa acontecer, mas cuidados com a
retirada, transporte e manutenção das estruturas de uma edificação para posterior aplicação
em outra devem ser feitos para que problemas futuros sejam evitados.
Assim, o registro das manifestações patológicas encontradas é apresentado na Tabela 2. Com
base nos dados de campo, assim como na Edificação A, as anomalias mais evidentes foram
provenientes de corrosão, falha de projeto, do processo de execução e da manutenção
adotada.

7
Tabela 2: Manifestações patológicas identificadas na Edificação B.
Manifestações
Imagens obtidas in loco
patológicas

Corrosão
uniforme

Corrosão por
pontos

Falha de
concordância em
emendas

Falha na
geometria dos
perfis

8
3.4 Aspectos gerais e causas prováveis das manifestações patológicas identificadas

Pode-se relacionar o levantamento dos aspectos gerais e as causas prováveis (Tabela 3) a


partir dos dados de campo e das imagens apresentados.
Tabela 3: Aspectos gerais e causas prováveis das manifestações patológicas identificadas nas
duas edificações.
Manifestações
Aspectos gerais Causas prováveis
patológicas
.Exposição do aço ao ambiente;
.Disposição inadequada dos perfis
possibilitando o acúmulo de água e
.Manchas superficiais de cor poeira;
marrom-avermelhada; .Proteção com película deficiente
Corrosão .Perda de massa uniforme nos ou inadequada dos perfis;
uniforme / perfis (corrosão uniforme); .Falta de manutenção/limpeza
Corrosão por .Perda de massa nos perfis adequada antes da utilização dos
pontos (corrosão por pontos); perfis;
.Diminuição da seção transversal .Permanência de respingos de
dos perfis. solda e/ou fluxo de solda que
geralmente contém sais;
.Deposição de material nocivo ao
aço.
.Descontinuidade da ligação nos .Falta de usinagem nas ligações;
Falha de perfis; .Falta de detalhamento de projeto;
concordância .Saliências nas ligações; .Erro de montagem;
em emendas .Imprecisões geométricas dos .Emprego de perfis com seções
perfis. diferentes.
.Falha no posicionamento do
Falha no .Furos sem a presença de
gabarito dos furos;
gabarito de parafusos;
.Erro de projeto;
furação .Furos irregulares.
.Falta de detalhamento de projeto.
.Erro de montagem;
.Falha na execução da base de
Parafuso com
.Posicionamento incorreto de concreto;
erro de
parafuso. .Falta de “chumbador” na base de
posicionamento
concreto;
.Falta de detalhamento de projeto.
.Falha durante o transporte dos
perfis;
.Amassamento e/ou avaria dos .Erro de projeto;
Falha na
perfis; .Defeitos nos perfis;
geometria dos
.Irregularidade geométrica dos .Mau dimensionamento dos perfis;
perfis
perfis. .Falta de detalhamento de projeto;
.Falha durante a montagem da
estrutura.

9
3.5 Análise

A análise foi conduzida no sentido de identificar e examinar as eventuais manifestações


patológicas presentes nos dois edifícios estudos de caso. As falhas localizadas ou globais das
duas edificações podem levar a perda da peça ou ao colapso ao atingir alguns dos estados
limites de resistência, ou ainda, estado limite de utilização, provocando perdas humanas ou
perdas econômicas importantes.
A partir do levantamento de campo realizado, pode-se perceber que a manifestação
patológica que predominou nas duas edificações com estruturas de aço foi a corrosão.
Presente em partes da estrutura da Edificação A e na maioria das peças inspecionadas na
estrutura da Edificação B, associada a outras manifestações, os danos causados pela corrosão
podem conduzir ao mau desempenho dos sistemas estruturais em questão. As vistorias
realizadas constataram que não se executa nenhum tipo de manutenção preventiva das
estruturas de aço dos dois edifícios estudados.
Evidentemente, a exposição do aço ao ambiente (intempéries) é agente acelerador da
corrosão nas estruturas analisadas. Além disso, a visível disposição inadequada dos perfis
possibilitando o acúmulo de água e resíduos sólidos – exemplo da poeira – e a falta de
cuidados que visam a proteção da superfície tratada compromete, constantemente, a vida útil
destes elementos, colocando em risco a utilização do sistema, não atendendo ao fim o qual se
destina. Os aspectos patológicos observados, como o aparecimento de manchas de cor
marrom-avermelhada, a perda de massa e a diminuição da seção transversal dos perfis
provocada pela corrosão, foram os mais evidentes na inspeção visual. Segundo Gonçalves et al.
[9], a diminuição da seção transversal dos elementos estruturais é o principal problema
causado pela corrosão.
A corrosão uniforme se encontra em ambas as edificações, porém, somente na Edificação B
houve a ocorrência de corrosão por pontos, sendo esta a mais grave entre as corrosões
levando a perfuração da peça. Conforme Silva [4], a corrosão por pontos é também conhecida
como corrosão puntiforme, e leva a cavidades em áreas determinadas produzindo furos,
sendo este tipo de corrosão altamente destrutiva.
Temos em seguida manifestações relacionadas a falha de concordância em emendas soldas,
que contribuem com a falta de fusão das partes adjacentes das peças. Logo, as manifestações
patológicas relacionadas às ligações parafusadas, encontradas somente na Edificação A, se
referem a falha no gabarito de furação e parafuso da base com erro de posicionamento. Essas
anomalias apontadas comprometem o desempenho das peças por elas afetadas, além de
também afetar sua estética, porém há a possibilidade de empregar um plano de reparo e/ou
reforço para que esses problemas possam ser minimizados.
Constatamos em seguida problemas relacionados a falha na geometria dos perfis. Na
Edificação B também foram observados erros envolvendo nervuras de enrijecimento, as quais
se apresentam ausentes em alguns pontos das vigas. Em alguns casos em que há a presença
destas nervuras, pode-se observar que, a partir de sua geometria, não preenchem todo o
espaço compreendido entre as mesas superior e inferior do perfil. Cabe, neste caso, avaliar
com maiores detalhes, se estas estão devidamente dimensionadas e espaçadas conforme os
requisitos das normas regulamentadoras. Outro problema de caráter geométrico presente
nesta edificação aponta para as imperfeições no alinhamento e corte dos elementos
estruturais, onde se percebeu vigas exageradamente danificadas pelo excesso de curvatura ao

10
longo do seu eixo longitudinal em razão do seu mau dimensionamento, ou ainda devido à
utilização incorreta de peças oriundas de reaproveitamento de outras obras.
A partir do levantamento de campo foi possível observar que os problemas patológicos se
manifestaram em menor quantidade na Edificação A, não prejudicando seu desempenho até o
momento. Porém, ao que tudo indica, caso não haja medida de prevenção aos problemas já
detectados, os mesmos irão se agravar com o passar do tempo. Além da possibilidade de
surgir novas manifestações, prejudicando o funcionamento estrutural e acarretando um custo
maior de manutenção posterior.
Entretanto, a Edificação B apresenta pontos críticos de ações patológicas por toda a estrutura,
comprometendo seu desempenho estrutural e funcional como um todo. Boa parte das
anomalias pode ter sido proveniente do reaproveitamento de material estrutural em aço de
outras edificações, o qual, provavelmente, já se encontrava em fase de degradação. Além
disso, a Edificação B não possui projeto estrutural (somente arquitetônico), ficando a critério
de o construtor posicionar e definir quais peças são necessárias na execução da estrutura da
obra. Tais considerações podem justificar o acúmulo de problemas patológicos em uma
mesma edificação, pois as peças que constituem uma obra são projetadas, dimensionadas e
detalhadas para um único fim (a utilização final da edificação), e não foi possível saber se a
hipotética obra que serviu de fornecimento para essa construção teria a mesma finalidade,
mesmas ações de utilização, e se a mesma foi totalmente construída.

3.6 Ações para o aumento de qualidade nas edificações com estruturas de aço

São apresentados alguns cuidados que visam evitar ou minimizar a ocorrência das anomalias
constatadas:
a).avaliar se a proposta do projeto contempla as normas vigentes, se o escritório tem
conhecimento técnico no porte da obra e se já executou projetos anteriores, se cumpre prazos
e se pode arcar com falhas e atrasos possíveis na entrega do projeto, e não se fixar somente no
preço;
b).analisar previamente a habilidade tecnológica do fornecedor, capacidade de equipamentos,
organização e adequação pessoal;
c).para escolha do fornecedor, não se fixar apenas no preço e sim na qualidade e importância
das obras anteriores realizadas (também é prudente inspecionar suas instalações industriais);
d).cuidar da orientação e eficiência da manutenção, verificando se contemplam garantias pós-
entrega dos serviços;
e).observar os testes de proteção superficial e das soldas;
f).certificar-se da existência e presença do engenheiro e acompanhamento da produção e
montagem.
Além das ações apresentadas, temos outros tipos de verificações de caráter geral. Aqui entra a
necessidade de se conhecer também as restrições impostas pela NBR 8800 [10], que
estabelece no anexo C valores máximos recomendados para deformações horizontais e
verticais das edificações. A necessidade de se fazer esta verificação se deve ao fato de evitar a
transmissão de esforços oriundos da estrutura para os demais componentes construtivos.
Esforços estes que quando absorvidos por tais elementos provocam a sua degradação por não
estarem preparados para tal condição de trabalho.
Também a NBR 6118 [11] estabelece limites para deformações de elementos submetidos à
flexão em edifícios. Este estudo é importante porque lajes, escadas e reservatórios são muitas

11
vezes executados em concreto armado, e assim como nos edifícios de aço, a ocorrência destas
deformações podem causar trincas prejudiciais ao desempenho do edifício.
Não há regras nem métodos sistemáticos que permitam determinar as causas das
manifestações patológicas. Cada caso é um problema particular e deve ser objeto de um
diagnóstico particular. A própria experiência e intuição do projetista servem como referência.
Problemas patológicos ocorridos em outras edificações podem ser facilmente evitados, mesmo
que não exista nenhuma referência sobre determinado assunto.
O sucesso de uma obra em estrutura de aço inicia-se na sua concepção e no desenvolver de
seu projeto. Em cada etapa de uma obra, pode-se verificar a existência de ocorrências de
falhas, porém a etapa de projeto ainda é a maior fonte delas. Em geral, as falhas no projeto
(cálculo, detalhamento, plantas executivas e construtivas, e as plantas de montagem) são as
principais responsáveis pelos danos localizados e pela degradação precoce de uma estrutura.
Assim, ações de gerenciamento das etapas de projeto são fundamentais para o aumento de
qualidade nas edificações com estruturas de aço.

4 CONCLUSÃO

A partir da análise de campo e das fotografias digitais, observa-se que as estruturas das
edificações objetos de estudo de caso se encontram bastante prejudicadas, apresentando
pontos críticos ao longo das mesmas que podem vir, com o passar dos anos, a comprometer
seu bom desempenho estrutural.
Nas análises dos casos, observou-se a predominância da corrosão, podendo vir a motivar os
mesmos problemas funcionais. Tal anomalia esta associada a causas, como o não cuidado das
peças diante das intempéries e concomitantemente, a ausência de manutenção e prevenção
das peças já em fase de corrosão.
Dos grupos patológicos identificados nas análises, quase todos estão presente nas edificações
estudadas, porém, cada um se manifesta de maneira diferente, atingindo diferentes peças,
consequentemente ocasionando problemas variáveis. Logo, os problemas como um todo se
incorporam ao cenário patológico das corrosões, ligações soldadas, ligações parafusadas, erro
de projeto, assim como erro no sistema de montagem.
Dessa forma, constatou-se que nem todas as anomalias se manifestam igualmente nas
edificações, por mais que elas sejam compostas pelo mesmo material estrutural, no caso o
aço. Sua ocorrência depende de fatores internos, como o de produção, fabricação e
montagem, aliados a fatores externos, chuva, sol e poeira. Consequentemente, as condições
em que a obra esta sendo executada e o tipo de material metálico que esta sendo utilizado,
contribui para a manifestação desses problemas patológicos.
O fator que mais contribuiu com os problemas na Edificação A foi a falta de prevenção,
manutenção e reparo das anomalias detectadas. A falta de cuidado com a estrutura de aço
pode vir a provocar outras tantas manifestações que associadas, causaram com o tempo
graves problemas. O mesmo ocorre na Edificação B, em função das várias manifestações
patológicas, associadas ao reaproveitamento de maneira inadequada de peças metálicas de
outras construções, que possivelmente já estavam em fase de degradação, levam ao
comprometimento das estruturas.
Também são apresentados alguns cuidados que visam evitar ou mesmo minimizar a ocorrência
das manifestações patológicas constatadas no trabalho. E diante disso, o estudo sobre as
edificações com estruturas de aço buscou contribuir para a melhoria da qualidade das

12
construções metálicas, através da exposição de anomalias encontradas no ambiente
construtivo, procurando respostas a partir da identificação dos aspectos gerais e das causas
dos problemas patológicos.

Agradecimentos

A Fundação de Amparo a Pesquisa do Estado de São Paulo – FAPESP, processo 2012/16541-8,


pela concessão da bolsa de iniciação científica a autora1.

REFERÊNCIAS

1...Helene, P. R. L. Contribuição ao estudo da corrosão em armaduras de concreto armado.


231f. Tese (Livre Docência). São Paulo: Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, São
Paulo, 1993.

2...Souza, V. C. M. de; Ripper, T. Patologia, recuperação e reforço de estruturas de concreto.


São Paulo: Ed. Pini, 1998.

3…Salmon, C. G.; Johnson, J. E. Steel structures – design ande behaviour – enphasing load and
resistence factor design. 3. ed. Madison: Harpercollinspublisher inc, 1990.

4…Silva, P. F. da. Introdução à corrosão e proteção das superfícies metálicas. Belo Horizonte:
[s.n.], p. 293-326, 1981.

5...Thomaz, E. Trincas em edifícios: causas, prevenção e recuperação. São Paulo: Ed. Pini, 1992.

6...Castro, E. M. C. de. Patologia dos edifícios em estrutura metálica. 202f. Dissertação


(Mestrado em Engenharia Civil). Ouro Preto: Universidade Federal de Ouro Preto, Ouro Preto,
1999.

7...Panossian, Z. Corrosão e proteção contra corrosão em equipamentos e estruturas


metálicas. São Paulo: [s.n.], 2 v., 1993.

8...Prefeitura Municipal de Presidente Prudente – PMPP. Lei de zoneamento de uso e


ocupação do solo. Secretaria de Planejamento, Desenvolvimento Urbano e Habitação. Planta
geral, 2008.

9...Golçalves, R. M.; Sáles, J. J.; Nimir, W. A. Alguns aspectos da deterioração e inspeção de


pontes metálicas. In: Seminário Uso do Aço na Construção, 4, São Paulo. Anais... São Paulo:
EPUSP, 1989. p. 199-212.

10..Associação Brasileira de Normas Técnicas – ABNT. NBR 8800: Projeto de estruturas de aço
e de estruturas mistas de aço e concreto de edifícios. Rio de Janeiro, 2008.

11..Associação Brasileira de Normas Técnicas – ABNT. NBR 6118: Projeto de estruturas de


concreto – Procedimento. Rio de Janeiro, 2007.

13
Tema: Projeto – Arquitetura e Engenharia

POSSIBILIDADES DE LAYOUT COM ESTRUTURAS DE AÇO EM EDIFÍCIOS RESIDENCIAIS


VERTICAIS DE MÉDIO PADRÃO DE PRESIDENTE PRUDENTE*

Nayra Yumi Tsutsumoto¹


Thais da Silva Santos²
Cesar Fabiano Fioriti³
Resumo
Neste trabalho serão apresentadas novas possibilidades de layout com as estruturas de aço
em dois edifícios residenciais verticais de médio padrão de Presidente Prudente (estudo de
caso). Diante das novas possibilidades de layout apresentadas, pôde-se verificar um melhor
aproveitamento da parte estrutural dos edifícios, pois o lançamento da estrutura de aço, em
cada edifício, visou à redução no número de pilares e de vigas, se comparado com a estrutura
original em concreto armado. Além disso, foi constatado um melhor aproveitamento dos
ambientes criados nos apartamentos. Assim, é essencial que a concepção com as estruturas de
aço consiga, assim como os projetos estruturados em concreto armado, abranger variedade
formal, de cores e de elementos compositivos. Pois na sua concepção, o projeto deve possuir
algumas particularidades importantes para melhor aproveitamento estrutural e comercial
como, por exemplo, varandas, volumetria e a estrutura de transição nos andares inferiores.

Palavras-chave: Projeto; Layout; Estruturas de aço; Edifícios residenciais.

POSSIBILITIES OF LAYOUT WITH STEEL STRUCTURES IN RESIDENTIAL VERTICAL MEDIUM


STANDARD OF PRESIDENTE PRUDENTE
Abstract
In this work new layout possibilities with steel structures will be presented in two vertical
residential buildings of medium standard of Presidente Prudente (case study). Faced with the
new layout possibilities presented, it could be seen better use of structural parts of buildings,
for the launch of the steel structure, in each building, aimed at reducing the number of pillars
and beams, compared with the original structure reinforced concrete. Furthermore, it was
found a better use of the environments created in the apartments. It is therefore essential that
the design with steel structures can, as structured in concrete projects encompass formal
variety, color and compositional elements. For in its design, the project must have some
important particularities for better structural and commercial use such as balconies, volume
and structure transition on the lower floors.

Keywords: Project; Layout; Steel structures; Residential buildings.

¹.Arquiteta, Universidade Estadual Paulista – FCT/UNESP, Presidente Prudente, São Paulo, Brasil.
².Graduanda em Arquitetura e Urbanismo, Bolsista FAPESP de Iniciação Científica, Universidade Estadual
Paulista – FCT/UNESP, Presidente Prudente, São Paulo, Brasil.
³.Engenheiro Civil, Professor Assistente Doutor, Departamento de Planejamento, Urbanismo e
Ambiente, Universidade Estadual Paulista – FCT/UNESP, Presidente Prudente, São Paulo, Brasil.

________________________________
* Contribuição técnica ao Construmetal 2014 – Congresso Latino-Americano da Construção
Metálica – 02 a 04 de setembro de 2014, São Paulo, SP, Brasil.
1
1 INTRODUÇÃO

No processo de criação do projeto arquitetônico, as ideias iniciais e os principais


direcionamentos das decisões tomadas surgem a partir dos anseios do cliente; da análise do
local onde a edificação será implantada, considerando o terreno e o entorno; do programa de
necessidades; da legislação vigente e da disposição de investimentos. As soluções técnicas,
principalmente a estrutural, devem surgir simultaneamente a esse processo inicial como um
instrumento viabilizador da obra. A concepção formal e a estrutural possuem uma relação
intrínseca. Portanto, o arquiteto, como definidor da forma e da concepção estrutural, deve,
ainda no processo de criação do projeto arquitetônico, determinar o tipo de estrutura que será
utilizado (FILHO [1]).
De maneira geral, não é possível afirmar que o aço é melhor que o concreto armado, uma vez
que cada método construtivo possui vantagens e desvantagens, e isso é definido pelo tipo de
edificação, tempo previsto de execução, necessidades arquitetônicas e limitações projetuais
(terreno e local de implantação, por exemplo). Desse modo, não pode ser feita uma
comparação direta de custos apenas em relação as estruturas, é preciso levar em consideração
a influência que o tipo de estrutura terá sobre todo o andamento do projeto e da obra.
Algumas características do aço devem ser consideradas na hora da elaboração de projetos, de
maneira a obter o melhor aproveitamento de suas vantagens, como a possibilidade de vencer
grandes vãos; a utilização de peças mais leves e mais esbeltas; a obtenção de dimensões
menores de pilares e de vigas, bem como a possibilidade de variação da espessura das chapas
que constituem os perfis, que por sua vez permite um maior aproveitamento dos espaços; e
ainda, uma maior rapidez e racionalização na execução da obra.
O projeto arquitetônico pode condicionar o uso da estrutura de aço de dois meios diferentes
que também podem se interpor. O primeiro é basicamente criado para atender as
necessidades específicas do projeto, cujos espaços propostos possuem uma repetição
dimensional e a estrutura passa a ser um instrumento para agilizar a construção. O segundo
está ligado ao estilo, a uma forma de expressão diferenciada a partir da estrutura; além de
espaços com dimensões padronizadas, o projeto possui espaços com formas diferenciadas cuja
estrutura é executada com elementos especiais (BANDEIRA [2]; REBELLO [3]).
De maneira paralela, um dos fatores com grande apelo comercial no mercado imobiliário é a
alternativa de planta oferecida nos projetos de obra de arquitetura. Em alguns casos, costuma-
se encontrar pelo menos três opções de layout de planta baixa nos projetos, permitindo ao
usuário escolher, de acordo com sua necessidade, a solução mais adequada ao seu cotidiano e
estilo de vida (LEAL [4]).
Geralmente, as opções de layout de plantas são mais encontradas em apartamentos de 60, 70
e 80m² de área construída, visto que as áreas dos ambientes internos são pequenas e a
diversidade de interesses dos usuários, que normalmente procuram esse tipo de apartamento,
é grande. Essas plantas, em virtude da limitação de área e da necessidade de espaços mais
flexíveis, proporcionam uma maior quantidade de opções de layouts internos.
Nas plantas com áreas maiores, acima de 200m² de área construída, não são encontradas
muitas opções de layout, haja vista que os espaços normalmente exigidos pelos clientes já
estão contemplados no projeto. Vale lembrar que é importante que a estrutura preveja os
vãos necessários para atender as várias opções de layout, bem como a localização das áreas
molhadas, pois tais áreas além de impor maior rigidez na estrutura, também influenciam no
layout dos ambientes.

2
De acordo com Bandeira [2], a estrutura de aço possui algumas características e
especificidades que devem ser conhecidas desde o início do processo de criação do arquiteto,
para que este tome decisões corretas e saiba explorar melhor o material. A alta resistência à
compressão e à tração do aço proporciona a utilização de peças estruturais esbeltas para a
absorção das cargas. Sendo assim, toda a estrutura é consideravelmente leve e deformável, se
comparada a uma estrutura convencional em concreto armado. Dessa maneira, a estabilização
do sistema estrutural que utiliza o aço deve prever algumas peças estruturais especiais.
Ao se ter conhecimento de um sistema construtivo com estruturas de aço que, quando
utilizado de maneira correta, oferece vantagens em relação ao sistema construtivo tradicional
com estruturas em concreto armado, tais como, rapidez e obras limpas, observa-se que os
projetos realizados com as estruturas em concreto armado são quase sempre simples, com as
fachadas sem rebuscamentos e plantas rígidas e simétricas.
No município de Presidente Prudente, onde os projetos possuem variedade formal, de cores e
elementos compositivos, é essencial que a concepção com as estruturas em aço consiga,
também, abranger essas características. Só assim ela conseguirá ganhar maior espaço no
mercado imobiliário, outro motivo considerado importante é o fato de que a utilização de
estruturas metálicas vem crescendo no Brasil, e conhecer a sua utilização adequada será de
grande utilidade profissional. Assim, neste trabalho serão apresentadas novas possibilidades
de layout com estruturas de aço em dois edifícios residenciais verticais de médio padrão de
Presidente Prudente (estudo de caso).

2 METODOLOGIA

O objetivo deste trabalho foi atingido por intermédio de uma abordagem qualitativa dos
edifícios residenciais estudados. Pode-se entender pesquisa qualitativa como aquela em que o
objeto de estudo é analisado observando suas características e relações com o entorno. Essa
abordagem foi realizada através de estudos de casos, observando o meio em que o objeto
estudado está inserido, suas particularidades de projetos e sua viabilidade construtiva com as
estruturas de aço.
Diante disso, a metodologia foi constituída basicamente de quatro etapas, apresentadas a
seguir:
1ª Etapa: Seleção de dois edifícios residenciais de médio padrão executados com as estruturas
em concreto armado. O requisito para a escolha dos edifícios, além de serem enquadrados
como de médio padrão, é que os mesmos estejam localizados no perímetro urbano do
município de Presidente Prudente.
2ª Etapa: Realização de visitas in loco para registrar, através de fotos, suas principais
características. Nesta etapa também foi observado o entorno em que esses edifícios
residenciais estão inseridos, além de suas edificações adjacentes.
3ª Etapa: Análise das plantas dos edifícios escolhidos, que foram reproduzidas ou obtidas por
meio digital. Nesta etapa foram verificadas as estruturas em concreto armado dos edifícios
residenciais selecionados, para que a partir daí, pudessem ser propostas as estruturas de aço.
4ª Etapa: Apresentação de novas possibilidades de layout com as estruturas de aço para os
dois edifícios selecionados em Presidente Prudente. Pois na sua concepção, o projeto deve
possuir algumas particularidades importantes para melhor aproveitamento estrutural e
comercial como, por exemplo, varandas, volumetria e estrutura de transição nos andares
inferiores.

3
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

3.1 Escolhas dos edifícios

Os edifícios residenciais Comendador Francisco Navarro Dias e Casemiro Bôscoli se encontram


inseridos na malha urbana, de modo que se localizam próximos as principais vias estruturais do
município de Presidente Prudente, portanto, estes são os edifícios selecionados para o trabalho em
questão. Outro critério para tal seleção foi o fato desses edifícios se enquadrarem no padrão dos
demais prédios existentes no município, além de se encontrarem próximo ao centro, ao Parque do
Povo e ao principal eixo da cidade, a Av. Manoel Goulart e a Av. Washington Luis (Figura 1).

Figura 1: Os dois edifícios e sua localização em Presidente Prudente.

3.2 Edifício Residencial Comendador Francisco Navarro Dias

O Residencial Navarro, localizado na Rua Siqueira Campos, nº 690, está inserido em uma área de
ZCS1 – Zona de Comércio e Serviço Central, de ocupação vertical segundo o Plano Diretor de
Presidente Prudente (PMPP [5]). Na ZCS1 a área mínima do lote deve ser de 500m², deve apresentar
uma frente mínima de 19m, onde o coeficiente de aproveitamento é 4, numa escala de 0 a 6, com
taxa de ocupação de 80%, e gabarito de altura máxima livre. O edifício objeto de estudo está em um
lote com aproximadamente 30m de fachada e 1500m² de área. Na ZCS1 são permitidos vários tipos
de uso, desde o uso residencial unifamiliar, multifamiliar, horizontal e vertical, além do uso
comercial.
O edifício em questão está localizado na área central de Presidente Prudente, região conhecida como
quadrilátero central, formado pelas quatro principais avenidas, Washington Luís, Manoel Goulart,
Avenida Brasil e Coronel Marcondes. Esse quadrilátero é uma das principais áreas do município, de
importância regional. Encontra-se próximo a Praça Nove de Julho e a Praça Monsenhor Sarrion, onde
se localiza a Catedral São Sebastião, ponto histórico da cidade. A principal característica é a presença
significativa de diversos comércios e serviços, como lojas, supermercados, bancos entre outros
serviços. Encontram-se nessa área condomínios residenciais verticais, com média de 15 a 20 andares,

4
de médio e alto padrão. O Residencial Navarro (Figura 2), com 20 andares e pavimentos-tipo com 4
apartamentos por andar, integra-se entre muitos outros prédios com gabaritos semelhantes (Figura
3).

Figura 2: Fachada principal do Edifício Residencial Comendador Francisco Navarro Dias.

5
0.53 3.00
N
SACADA SACADA

1.05
3.00

3.45
DORM. DORM. DORM.

2.35
DORM.
ESTAR ESTAR

6.13
0.80 0.80
1.80 1.00

1.00

1.15
0.80
1.25
JANTAR JANTAR

1.60
W.C.

1.45

1.45
DESP.
W.C.
DESP. 2.15
0.80 0.80
3.40

1.18
A.S. COZINHA COZINHA A.S.

2.05
0.80 0.80
0.53 3.00

0.80
N
0.80

0.80
SACADA SACADA

1.05
3.55
3.00
2.20

3.45
2.90 2.90
1.90
DORM. DORM. A.S. DORM.

2.35
DORM.
A.S. HALL SOCIAL ESTAR ESTAR
0.15

1.70
0.80
6.13

0.80 0.80
1.80 1.00

1.00

1.15
1.15 0.80
0.80 0.80 1.25
JANTAR JANTAR
1.00 1.00

1.60
DESP. W.C.

1.45

1.45
W.C.
2.80

DESP. 2.15

2.15 ELEV. ELEV. 0.80


3.40
0.80

COZINHA COZINHA
2.00

1.18
2.15
1.70

A.S. COZINHA COZINHA A.S.


0.80 0.80 2.05
W.C. W.C.
0.80

0.80
0.80

0.80

1.33
2.45

3.55
1.90 2.20
0.70 1.90 2.90 0.80 2.90
A.S.
2.30 A.S. HALL SOCIAL
0.15

1.70
1.15

0.80

1.15
0.80 0.80
1.00 1.00
0.80 ESCADARIA
2.40
2.80

JANTAR 2.15
COZINHA
ELEV. ELEV.
JANTAR COZINHA
2.00
2.15
1.70

W.C. W.C.
0.80

1.33
2.45

1.90
0.70 0.80
2.30
4.76
1.15
4.65

0.80 ESCADARIA
2.40

JANTAR JANTAR
DORM.
3.50

ESTAR ESTAR DORM.


4.76
4.65

DORM.
3.50

ESTAR ESTAR DORM.

3.50 2.77
3.50 2.77

Figura 3: Planta do pavimento-tipo – Residencial Navarro.

3.2.1 Apresentação de novas possibilidades de layout com a estrutura de aço

Foram apresentadas novas possibilidades de layout com a estrutura de aço para o edifício
Residencial Navarro, visando-se a variedade formal de cores e elementos compositivos (Figura 4).

6
2.55 2.55 3.00

SACADA SACADA

1.05

1.05
3.00 3.00
3.45

3.45
DORM.

2.35

2.35
DORM. DORM. DORM.
ESTAR ESTAR
0.70 1.65 1.65 2.10
0.80 0.80

6.13
0.80 0.80 0.80
1.00
1.00

1.00

1.15
W.C.
0.80 0.80
2.60

2.60
1.50 1.25
JANTAR JANTAR

1.60
1.60

W.C. W.C.
1.45

1.45

1.45
1.00 2.40 DESP. 2.15
0.80 0.80 0.80
1.25 1.45 3.40

1.18
1.18

1.20
1.30
A.S. COZINHA COZINHA A.S.
2.10

2.10
0.80 0.80
0.80

0.80
0.80
3.40 3.55
2.20
1.90 2.90 2.90 1.90
0.90

0.90
A.S. A.S.
HALL SOCIAL

1.70
0.80 0.80
1.00 1.00
1.15
0.80 0.80 0.80
1.90

1.90
1.00 1.00 1.08
2.80

2.80
2.15 ELEV. ELEV. 2.15
COZINHA COZINHA
2.00
2.15

2.15
1.70
1.30

1.30
W.C. W.C.
0.80

0.80

1.33 1.90
2.45

2.45
1.90
0.70 0.80 0.70
2.30 0.47 0.47
1.15

1.15
1.30

1.00

1.20 1.20
ESCADARIA JANTAR 0.80
2.40

1.95 2.10

4.76
4.65

4.65

MULTI-USO
3.65
3.50

ESTAR DORM. 3.50

6.42 2.77 3.50

OPÇÃO DE LAYOUT 1
LAYOUT ORIGINAL 1

OPÇÃO DE LAYOUT 2
LAYOUT ORIGINAL 2

Figura 4: Novas possibilidades de layout com a estrutura de aço – Residencial Navarro.


A opção de layout 1 (hachura de cor verde) permitiu a introdução de uma suíte, com a eliminação da
despensa e com a diminuição do banheiro social, porém com a área resultante da diminuição do
banheiro social e a retirada da despensa, a mesma pode dar lugar a um novo banheiro social,
possibilitando a viabilidade de se ter uma suíte e um dormitório. A entrada do apartamento pela
cozinha foi eliminada, e a entrada do hall social para a sala ficou mantida. Em suma, o novo layout
apresenta uma planta baixa com uma suíte, um dormitório, um banheiro social, sala de estar e
jantar, sacada, cozinha e área de serviço.
Com a opção de layout 2 (hachura de cor rosa) foi obtido um espaço multiuso, para tanto a parede
de vedação entre o dormitório e a sala de estar e jantar foi eliminada. Com o novo espaço, as duas

7
janelas dos antigos cômodos deram lugar a uma grande janela panorâmica, de modo tal que a vista
foi valorizada e o conforto dos usuários não foi prejudicado; a nova janela está disposta de maneira
que quando o morador estiver pernoitando, o mesmo não sofrerá com o excesso de insolação e de
iluminação. O espaço multiuso é um espaço versátil com múltiplas funcionalidades, podendo ser
utilizado como sala íntima, de descanso, home theater, copa, escritório ou um ambiente agradável
para sentar e conversar, por exemplo. Sendo assim, cada morador pode adequar o espaço multiuso
conforme suas próprias necessidades. O novo layout apresentado conta, portanto, com um banheiro,
uma área de serviço, cozinha, e um espaço multiuso.

3.2.2 Lançamento da estrutura de aço a partir das novas possibilidades de layout

A planta de localização dos pilares e das vigas do edifício Residencial Navarro, em concreto armado,
foi elaborada mediante os dados obtidos por meio de visitas in loco (Figura 5).
O lançamento da estrutura de aço foi desenvolvido levando-se em consideração a nova disposição
dos cômodos dos apartamentos e visando a redução no número de pilares e de vigas, se comparados
com a estrutura original em concreto armado, e ainda, um melhor aproveitamento estrutural e
comercial dos apartamentos do edifício (Figura 6). Para a estrutura de aço, pilares e vigas, foi
proposta a utilização do perfil “I” soldado, facilitando as ligações entre os elementos bem como sua
manutenção, e a utilização de lajes alveolares pré-moldadas de concreto.
V1 V2
V3

V21 V26 V30 V40 V44 V50

V4 V35 V5

V23 V28 V42 V48

V6 V7
V33 V36
V8
V25 V45
V9 V10
V11
V12 V29 V41 V13
V31 V34 V37 V39

V47
V22 V14
V24 V46

V15 V16
V32 V38
V27 V17 V43 V49
V20

V18 V19
Figura 5: Localização dos pilares e das vigas em concreto armado – Residencial Navarro.

8
V1 V2
V3

V21 V25 V28 V37 V41 V46

V33

V4 V5

V23 V26 V39 V44

V6 V7

V8
V31 V34
V9 V10

V24 V42

V11
V27 V38
V12 V13

V29 V32 V36

V22 V14 V43

V15 V16

V30 V35

V20 V17 V40 V45

V18 V19
Figura 6: Localização dos pilares e das vigas em aço – Residencial Navarro.
Com o lançamento da estrutura de aço a partir das novas possibilidades de layouts 1 e 2, verificou-se
que no caso do layout 1 (hachura de cor verde) o número de pilares e de vigas foi mantido. Em se
tratando do layout 2 (hachura de cor rosa), o número de pilares foi mantido, mas foi reduzida uma
viga. Desse modo, a estrutura de aço apresenta no total 33 pilares e 46 vigas, ao passo que a
estrutura em concreto armado do edifício Navarro conta com 39 pilares e 50 vigas.

3.3 Edifício Residencial Casemiro Bôscoli

O edifício Residencial Bôscoli está localizado na Avenida Washington Luís, nº 2491, via arterial de
Presidente Prudente, conhecida por apresentar vários consultórios médicos e edificações de
arquitetura modernista. Inserido também em uma ZCS1 – Zona de Comércio e Serviço Central, de
acordo com o Plano Diretor de Presidente Prudente (PMPP [5]). O edifício em estudo está situado em
um lote com fachada de 40m, em uma área de aproximadamente 1600m². Possui 17 andares, com
pavimentos tipo dotados de 4 apartamentos por andar, cada um com uma área de 75m².

9
O Residencial Bôscoli (Figuras 7 e 8) está localizado próximo a pontos referenciais importantes do
município, como o Prudenshopping, um dos principais pontos de compra do oeste paulista, e da
Universidade Estadual Paulista – UNESP, que conta com aproximadamente 3000 estudantes.
Diferentemente do Residencial Navarro, que se integra com os demais prédios de sua vizinhança, o
Residencial Bôscoli, se destaca na paisagem da cidade, já que é o único prédio de alto gabarito na
área. Há somente outro prédio nos arredores, o Centro Médico, porém com gabarito inferior. Há
algumas quadras de distância do edifício objeto de estudo localizam-se o Parque do Povo (parque de
importância regional) e o Tênis Clube (um dos clubes mais tradicionais do município).

Figura 7: Fachada principal do Edifício Residencial Casemiro Bôscoli.

10
2.60 2.60 2.60

0.75
SACADA SACADA

DORM. DORM. DORM. DORM. N

3.20

3.20
SALA SALA
1.75 1.75
0.77 0.80

0.95
0.70 0.80
1.00 3.20

COPA COPA

1.80
W.C. W.C. W.C. W.C.
DORM. 2.85
DORM.

0.70
2.70

0.85
1.10
1.10 0.65
1.60
COZINHA COZINHA

0.55
2.55

A.S.

1.40
A.S. 0.80
0.85

3.05 2.55

1.50 0.42
0.88
1.18
37

1.43
1.

ELEV.
1.10
3.45

0.53 3.00
N
SACADA SACADA
1.05

3.00

3.45
ELEV.
1.10

DORM. DORM. DORM.


2.35

DORM.
ESTAR ESTAR
0.46
0.55

ESCADARIA
6.13

0.80 0.80
1.80 1.00
1.00

1.15
0.90

1.18
1.

0.80
30

1.25
JANTAR JANTAR
2.00 0.42
1.60

DESP. W.C.
1.45

1.45

W.C.
DESP. 2.15
2.55 3.05 0.80 0.80
0.85

3.40
0.80
1.18
1.40

A.S. COZINHA A.S. COZINHA COZINHA COZINHA


A.S.
A.S.
2.05
0.80

0.80 0.80
0.55

0.80

2.55
0.80

0.80

3.55
1.60

2.20
2.90 2.90
1.90
0.65 A.S.
1.10

1.10
0.85

A.S. HALL SOCIAL


0.15

1.70

0.80

W.C. W.C. 2.70


1.15
W.C. W.C.
DORM.
0.80
3.30

0.80
0.70

1.00 1.00

DORM.
2.75

2.85
2.80

2.15 ELEV. ELEV.


COZINHA COZINHA
2.00
2.15
1.70

W.C. W.C.
0.80
1.80

1.33
2.45

1.90
0.80

COPA
0.70

COPA
2.30
1.15

3.20 1.00
0.80 0.70 0.80 ESCADARIA
2.40

JANTAR JANTAR
0.95

4.76
4.65

0.80 DORM.
0.80
3.50

ESTAR ESTAR DORM.


1.75 1.75

SALA
3.50 2.77 SALA
DORM. DORM. DORM. DORM.
3.20

3.20

2.50

SACADA SACADA
0.75

2.60 2.60 2.60

Figura 8: Planta do pavimento-tipo – Residencial Bôscoli.

3.3.1 Apresentação de novas possibilidades de layout com a estrutura em aço

11
Foram apresentadas novas possibilidades de layout com a estrutura em aço para o edifício
Residencial Bôscoli visando-se a variedade formal, de cores e elementos compositivos (Figura 9).
2.95 1.10 3.75 2.60 2.60 2.60

0.75
1.25 SACADA
W.C.

2.25
GOURMET/HOME
DORM. DORM. DORM.
3.20

0.70

3.20

3.20

3.20
2.55
SALA
1.25

1.05

2.10 1.75 1.75


0.80 0.80 0.80
0.95

0.95
0.80 0.70
SALA 0.70 0.80
3.20 1.00 1.00 3.20

COPA

1.80
W.C. W.C. W.C. W.C.

2.75
2.85
DORM.
0.70

0.70
DORM.
3.30

3.30
2.70 2.70
0.85

1.10

1.10

0.85
0.65 1.10 1.10 0.65
1.60

1.60

COZINHA COZINHA
0.55

0.55
2.55 2.55
0.80

0.80
A.S. A.S.
1.40

1.40
0.80 0.80
0.85

0.85

2.55 3.05 3.05 2.55

1.50 0.42
0.88
1.18
37

1.43
1.

ELEV.
1.10
3.45

ELEV.
1.10
0.46
0.55

ESCADARIA
0.90

1.18
1.

0.88
30

2.00 0.42

2.55 3.05 3.05 2.55


0.85

0.80 0.80
A.S. A.S.
1.40

1.40

COZINHA COZINHA
0.80

0.80

2.55
0.55

2.50

2.55
0.55
1.60

0.65 1.10 1.45


1.15
1.10

1.10
0.85

2.70
W.C. W.C. W.C.
3.30

3.30

DORM. DORM.
0.70

2.75

2.75

2.75

2.85

COPA
1.80

1.80

3.20 1.00 3.15


0.80 0.70 GOURMET/HOME 0.70 0.80
0.95

0.95

0.80 0.80 0.80


2.10 1.10 1.75 1.75
1.25

W.C. SALA
2.55

2.55

DORM. DORM.
3.20

3.20
3.20

0.70

3.20

DORM.
1.25

SACADA SACADA
0.75

0.75

2.95 3.75 2.60 2.60


2.60

OPÇÃO DE LAYOUT 1
LAYOUT ORIGINAL OPÇÃO DE LAYOUT 1
OPÇÃO DE LAYOUT 2
OPÇÃO DE LAYOUT 3 LAYOUT ORIGINAL
Figura 9: Novas possibilidades de layout com a estrutura em aço – Residencial Bôscoli.
OPÇÃO DE LAYOUT 2

12
Com a opção de layout 1 (hachura de cor verde) os dois dormitórios do apartamento deram lugar a
uma suíte e a um espaço gourmet/home na sacada, a sala também aumentou de tamanho. Uma
abertura no final do corredor que dá para os quartos foi inserida com o intuito de melhorar a
iluminação do ambiente e também para dar uma maior amplitude ao apartamento. O conceito de
espaço gourmet em condomínios verticais tem dominado o mercado imobiliário, uma vez que esses
ambientes proporcionam aos moradores de apartamentos o mesmo conforto de quem mora em
casa, e pode usufruir de uma área de lazer ao ar livre com home theater, copa, e até mesmo uma
churrasqueira. O novo layout conta com duas suítes, um banheiro social, cozinha, área de serviço,
sala e um espaço gourmet/home na sacada.
A opção de layout 2 (hachura de cor rosa) – ao eliminar os dois dormitórios – possibilitou a obtenção
de duas suítes, bem como o aumento da área da sala de estar do apartamento e o aumento do
comprimento da sacada. Com isso foi obtida uma grande sala de estar e jantar, que permite maior
convivência entre os moradores e uma maior área para receber amigos e visitantes; além da
manutenção da privacidade, que foi obtida com a criação das duas suítes. A fim de se obter uma
melhor iluminação e uma maior amplitude no apartamento, foi obtida uma abertura no final do
corredor que dá acesso às suítes. O novo layout apresenta, portanto, duas suítes, um banheiro social,
cozinha, área de serviço e uma grande área com copa, sala e sacada integradas.
Na opção de layout 3 (hachura de cor azul) a suíte foi eliminada dando lugar a um dormitório maior e
a cozinha pôde ter seu “dente” eliminado e sua área aumentada. Foi feita uma abertura no final do
corredor de acesso aos dormitórios melhorando a iluminação dos ambientes e possibilitando uma
sensação de amplitude ao apartamento. Os dois dormitórios foram mantidos e a copa e a sala foram
substituídas por um espaço gourmet/home, separado da cozinha apenas por uma porta de correr de
vidro. Sendo assim, o novo layout possui três dormitórios, um banheiro social, cozinha, área de
serviço, um espaço gourmet/home e sacada. O espaço gourmet/home é a grande tendência nos
novos empreendimentos diante da possibilidade de proporcionar um espaço de lazer agradável e
aconchegante que permite reunir a família e os amigos em um único local. Espaços de convivência
são fundamentais diante da nova rotina que se cria na sociedade contemporânea, em que o tempo
acaba por ditar as relações sociais entre os indivíduos.

3.3.2 Lançamento da estrutura de aço a partir das novas possibilidades de layout

A planta de localização dos pilares e das vigas, em concreto armado, do edifício Residencial Bôscoli,
também foi elaborada mediante os dados obtidos nas visitas de campo (Figura 10).
No lançamento da estrutura de aço (Figura 11), também foi proposta a utilização do perfil “I”
soldado, assim como a utilização de lajes alveolares pré-moldadas de concreto.

13
V1

V26 V32 V39 V46 V52 V58

V2 V3
V42
V4 V37 V48 V5

V24 V30 V6 V54 V60

V7 V8
V9 V35 V50 V10
V28 V56
V11

V34 V40 V43 V45

V12
V27 V55
V33 V49
V13 V15 V16 V14
V17
V23 V29 V53 V59

V36 V47
V18 V19
V41
V20 V21

V25 V31 V38 V44 V51 V57

V22
Figura 10: Localização dos pilares e das vigas em concreto armado – Residencial Bôscoli.

14
V1

V29 V35
V24 V42

V32 V2

V3 V4

V5 V38
V22 V44
V6 V7
V8 V9

V10 V40
V26

V27 V30 V33 V36

V11

V12 V25 V39 V13


V14 V15

V16
V21 V43
V37
V17 V18

V19
V31

V23 V28 V34 V41

V20
Figura 11: Localização dos pilares e das vigas em aço – Residencial Bôscoli.
Com o lançamento da estrutura de aço a partir das novas possibilidades de layout 1, 2 e 3; pode-se
verificar que com layout 1 (hachura de cor verde) houve uma redução de duas vigas e um pilar. No

15
caso do layout 2 (hachura de cor rosa) também houve a redução de duas vigas e um pilar. Em se
tratando do layout 3 (hachura de cor azul), o número de pilares e de vigas foi mantido. Desta
maneira, a estrutura de aço apresenta no total 44 pilares e 44 vigas, enquanto que a estrutura de
concreto armado do edifício Bôscoli apresenta 61 pilares e 60 vigas. Ressalta-se que, além de se
reduzir o número de pilares e de vigas foi obtido um melhor aproveitamento dos apartamentos do
edifício.

4 CONCLUSÃO

Um dos fatores com grande apelo comercial no mercado imobiliário é a alternativa de planta
oferecida nos projetos de obra de arquitetura. As diversas opções de layout de planta baixa
nos projetos permitem ao usuário escolher, de acordo com sua necessidade, a solução mais
adequada ao seu cotidiano e estilo de vida. Os edifícios residenciais Comendador Francisco
Navarro Dias e Casemiro Bôscoli se encontram inseridos na malha urbana, de modo que se
localizam próximos as vias estruturais do município de Presidente Prudente, portanto, estes
foram os edifícios selecionados para o trabalho em questão.
O novo layout do edifício Residencial Navarro permitiu a criação de um espaço multiuso, um
espaço versátil com múltiplas funcionalidades, permitindo que cada morador possa adequar o
espaço multiuso conforme suas próprias necessidades. O layout apresentado para o edifício
Residencial Bôscoli possibilitou a introdução de um espaço gourmet, onde a criação desse
novo espaço de convivência os moradores adquirem uma maior e agradável área para receber
amigos e visitantes.
No que diz respeito à estrutura de aço obtida em função da nova disposição dos cômodos dos
apartamentos e visando a redução no número de pilares e de vigas, de maneira geral, enfatiza-
se que o edifício Residencial Navarro apresenta 39 pilares e 50 vigas em concreto armado,
enquanto que o mesmo edifício com a estrutura de aço apresenta 33 pilares e 46 vigas. O
edifício Residencial Bôscoli também teria o número de vigas e de pilares reduzidos se estivesse
estruturado em aço, pois possui 61 pilares e 60 vigas em concreto armado, e apresentaria
somente 44 pilares e 44 vigas com as estruturas de aço.
Portanto, é essencial que a concepção com as estruturas de aço consiga, assim como os
projetos estruturados em concreto armado no município de Presidente Prudente, abranger
variedade formal, de cores e elementos compositivos. Para que, desse modo, a estrutura de
aço ganhe maior espaço no mercado imobiliário. Além disso, a utilização de estruturas
metálicas vem crescendo em todo o Brasil, e conhecer a sua utilização adequada será de
fundamental importância profissional.

Agradecimentos

A Fundação de Amparo a Pesquisa do Estado de São Paulo – FAPESP, processo 2011/07971-6,


pela concessão da bolsa de iniciação científica a autora1.

REFERÊNCIAS

1...Filho, J. S. C. Construir, habitar, pensar, hoje. Artigo elaborado originalmente para


publicação e apresentação em mesa redonda do Seminário Arquitetura e Conceito, promovido

16
pelo Núcleo de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo da Escola de Arquitetura da
Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG, 2003.

2...Bandeira, A. A. de C. Análise do uso de estruturas de aço em edificações habitacionais de


interesse social. Dissertação (Mestrado). Belo Horizonte: Universidade Federal de Minas Gerais
– UFMG, 2008.

3...Rebello, Y. C. P. Bases para projeto estrutural. São Paulo: Editora Zigurate, 286p., 2007.

4...Leal, U. Arquitetura de sistemas. Entrevista com o Arquiteto Roberto Candusso. São Paulo:
Revista Téchne, abril de 2003.

5...Prefeitura Municipal de Presidente Prudente – PMPP. Plano diretor de desenvolvimento


urbano de Presidente Prudente. Presidente Prudente, 2008.

17
Tema: projeto - arquitetura e engenharia

PROCESSO ITERATIVO DE DESIGN PARAMÉTRICO E ANÁLISE ESTRUTURAL APLICADO AO


DESENVOLVIMENTO DE ESTRUTURA PARA TORRE DE ENERGIA EÓLICA *

Marina Ferreira Borges¹


Ricardo Hallal Fakury²
Afonso Henrique Mascarenhas de Araújo3
Resumo
Este trabalho propõe-se a estudar o processo de design paramétrico integrado à análise e
dimensionamento estrutural. Esse modelo de aplicação é chamado de Modelo Performativo,
onde a forma é gerada com base em critérios de desempenho. Nesta metodologia, a forma é o
resultado de um trabalho colaborativo entre arquitetos e engenheiros. Para tanto, utilizam-se
as ferramentas digitais como facilitadoras do fluxo de informações entre os projetistas através
de softwares de modelagem paramétrica e análise pelo Método dos Elementos Finitos. Para
investigação do Modelo Performativo, propõe-se o desenvolvimento de uma estrutura
conceitual de uma torre treliçada de energia eólica com o objetivo de otimizações quantitativa
e qualitativa da estrutura. Será feita a modelagem paramétrica utilizando o software
Rhinoceros, o plugin para criação de algoritmos Grasshoper e o plugin de análise estrutural
Scan&Solve, escolhas feitas sob o critério da interoperabilidade.

Palavras-chave: Modelo Performativo; Modelagem paramétrica; Análise por Elementos


Finitos; Torre Eólica Treliçada.

ITERATIVE PROCESS OF PARAMETRIC DESIGN AND STRUCTURAL PROJECT APPLIED TO THE


DEVELOPMENT OF WIND TOWER

Abstract
This article proposes to study the process of parametric design integrated analysis and
structural design. This application model is called Performative Model; the form is generated
based on performance criteria. In this methodology, the shape is the result of a collaborative
work between architects and engineers. The digital tools facilitate the information flow
between designers using parametric model and Finite Element Analysis. To research the
method of Performative Model is proposed the development of a conceptual framework of
Lattice Wind Tower with the aim of a quantitative and qualitative structure optimization.
Therefore, the parametric modeling will be done using Rhinoceros software, the plugin for
creating algorithms Grasshoper and structural analysis plugin Scan & Solve, choices made
under the criterion of interoperability.
Keywords: Performative Model; Parametric Model; Finite Element Analysis; Lattice Wind
Tower.
¹Arquiteta e Urbanista e Engenheira Civil, Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Engenharia de
Estruturas da Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, Minas Gerais, Brasil.
²Engenheiro Civil, Dr., Professor do Departamento de Engenharia de Estruturas da Universidade Federal
de Minas Gerais, Belo Horizonte, Minas Gerais, Brasil.
3
Engenheiro Civil, Gerente de Tubos Estruturais da Vallourec Tubos do Brasil S. A., Belo Horizonte, Minas
Gerais, Brasil.

________________________________
* Contribuição técnica ao Construmetal 2014 – Congresso Latino-Americano da Construção
Metálica – 02 a 04 de setembro de 2014, São Paulo, SP, Brasil.
1
1 INTRODUÇÃO

O desenvolvimento de tecnologias digitais tem possibilitado mudanças significativas nos


processos de projeto de Arquitetura, Engenharia e na indústria da construção. A tecnologia
CAD (Computer Aided Design) permitiu o desenvolvimento de técnicas de representação 2D e
3D em ambiente digital e a tecnologia BIM (Building Information Modeling) significou o
acréscimo de informações aos modelos através de relações paramétricas. Até então as
tecnologias CAD e BIM continuam associadas a um processo tradicional de projeto, onde existe
uma sequência de decisões que envolvem síntese da forma arquitetônica e posterior
avaliação, no caso do projeto de estruturas, através de análise estrutural. Numa abordagem
contemporânea para o desenvolvimento do projeto de estruturas, a sequência de decisões de
projeto parte da estrutura e do material, para posteriormente ser definida a forma. Esta
abordagem foi denominada por Oxman e Oxman [1] como Novo Estruturalismo, onde o
desenvolvimento de estruturas complexas só é possível com a reversão no modo de pensar o
processo de geração da forma. Desta maneira, a participação do engenheiro estrutural deixa
de ser somente na fase de avaliação e aparece nos primeiros estágios de geração da forma,
criando um processo de pesquisa e produção do conhecimento comum entre arquitetos e
engenheiros.

Para tanto, será investigada a metodologia abordada por Kolarevic [2] com Modelo
Performativo baseado na otimização da forma, onde serão aplicadas ferramentas de design
paramétrico ou generativo, cuja elaboração e manipulação têm como plataforma as
ferramentas digitais. O Modelo Performativo se caracteriza pela colaboração entre arquitetos
e engenheiros estruturais desde o princípio do processo. Para exploração e representação do
projeto é utilizada a modelagem paramétrica; e na transmissão do modelo para a análise, o
critério da interoperabilidade (capacidade de troca de dados entre aplicativos computacionais)
é fundamental para facilitar a iteratividade. O processo de análise estrutural é incorporado na
metodologia de concepção, onde a participação do engenheiro se inicia desde os primeiros
passos de geração da forma. Nesta abordagem, que tem como base de desenvolvimento o
desempenho, as estratégias qualitativas e quantitativas são racionalizadas, e a relação entre
material, estrutura e forma resulta em uma estética intrinsecamente relacionada com os
princípios éticos de economia e eficiência [3].

A literatura fornece exemplos de processos de projetos baseados em Modelos Performativos


tais como o desenvolvimento da cobertura de vidro do Britsh Museum em Londres e a
concepção do Melbourne Stadium na Austrália.

A cobertura de vidro do British Museum em Londres [4] foi concebida pelo escritório de
arquitetura Foster + Partners. Sua definição geométrica consistiu de duas partes: a primeira,
na definição da forma da superfície; e a segunda, no desenvolvimento do padrão da estrutura
metálica sobre a superfície. Para a concepção da forma, foi necessária a criação de uma
fórmula matemática que garantisse a singularidade da curvatura da superfície no contorno, já
que a cobertura seria executada em um edifício histórico existente.

A segunda parte foi a geração de um padrão da estrutura metálica sobre a superfície, que
produziu uma triangulação das faces. O grid triangular foi escolhido por causa da sua eficiência

2
estrutural, e porque evita a necessidade de produzir painéis de vidro curvos. O grid foi
“relaxado” na superfície para remover descontinuidades na curvatura geodésica, movendo
cada nó para um ponto na superfície igual à média ponderadados dos seus vizinhos.

Figura 1: Simulações computacionais de subdivisão da cobertura

Fonte: BURRY, 2010

Durante o processo de divisão de cada face da malha para um número de faces menores, foi se
ajustando as coordenadas dos vértices criados e uma representação de malha mais fina foi
produzida (Fig. 1). Uma vez encontrada a forma, foram aplicados algoritmos de otimização, o
que permitiu manipular a malha original de controle e testar geometricamente diferentes
opções do grid estrutural em termos de critérios de desempenho e eficiência estrutural,
conforto termo-acústico e economia.

Na concepção do Melbourne Stadium na Austrália, foi feita a combinação de parâmetros de


sustentabilidade e considerações funcionais e estruturais. A estrutura da cobertura é uma
cúpula geodésica em parte esférica, concebida com base em uma rede de grandes círculos que
se cruzam para formar os elementos triangulares estáveis de uma malha estrutural (Fig. 2).

3
Figura 2: variantes paramétricas na secção da cúpula e a curva sobre o qual se situam as cúpulas

Fonte: BURRY, 2010

A forma da cobertura tira partido das eficiências estruturais inerentes de uma cúpula para criar
um conjunto surpreendentemente leve de aço. O refinamento da proposta inicial foi
desenvolvido por arquitetos e engenheiros do escritório Arup, determinada por critérios
estéticos e econômicos. A forma ótima da estrutura encontrada deveria satisfazer a todos os
critérios, incluindo o estudo de iluminação e a facilidade de fabricação das peças.

A modelagem geométrica flexível foi acompanhada de análise estrutural e rotinas de


otimização atribuídas às peças de aço da estrutura em resposta à análise iterativa. A cada peça
de aço foi atribuída uma dimensão de seção ideal, o que foi posteriormente revisto dentro do
processo automatizado computacional para o tamanho mais próximo em conformidade com
os perfis disponíveis comercialmente.

A transferência de informação a partir dos modelos geométricos para a análise estrutural e


processo de otimização, puderam ser automatizados de tal maneira que se tornou possível
investigar diversas formas de concepção e diferentes configurações em um curto período de
tempo. A equipe podia alterar a forma e observar os efeitos de diferentes curvaturas,da
quantidade de aço utilizado e a eficiência de toda a estrutura. As ferramentas permitiram a
alteração da forma, e a análise poderia ser visualizada através da geometria e da cor na tela,
promovendo a comunicação rápida entre engenheiros e arquitetos (Fig. 3).

Figura 3: alterações na curvade varredurada cobertura conforme desenvolvimento do projeto.

Fonte: BURRY, 2010

4
2 MATERIAIS E MÉTODOS

2.1 Experimentação do modelo

Como objeto de estudo e experimentação para aplicação da metodologia de Modelo


Performativo, propõe-se a concepção da estrutura de uma torre treliçada de energia eólica.
Para o desenvolvimento da forma serão aplicados os principais parâmetros que classificam
estes modelos que são: geometria, forças usadas na geração da forma, técnicas, ferramentas,
interoperabilidade e colaboração entre profissionais de arquitetura e engenharia.

2.1.1 Geometria

O Modelo Performativo se inicia dentro de um espaço de restrições. Para a geração da forma


da torre de energia eólica, as restrições geométricas seriam em função da altura, largura de
base e topo, material e configuração da estrutura.

Esta estrutura conceitual (Fig. 4) tem como parâmetros de altura a necessidade de variar entre
120 a 140 metros, de tal forma a aproveitar a capacidade máxima do vento incidente nas
turbinas. Como definição da base, tem se a princípio uma variação de diâmetro de 12 a 15
metros. A 80 metros de altura, o diâmetro deve estar fixado em torno de 4,5 metros e apartir
deste ponto, a estrutura deverá manter uma angulação de aproximadamente 90 graus em
função do funcionamento das pás.

Figura 4: croqui com definições preliminares da geometria da torre

Fonte: Elaborado pelos autores

Optou-se por adotar da estrutura treliçada de aço, principalmente por causa de sua facilidade
de transporte para locais de difícil acesso e montagem nesses locais, mas também devido à sua
capacidade de responder a momento fletor em vários eixos, necessária em formas verticais
onde forças laterais e cargas verticais excêntricas atuam simultaneamente (Fig. 5). A estrutura
treliçada pode distribuir as cargas nas direções vertical e lateral (horizontal). São transmitidos

5
às barras forças axiais de tração e compressão [5]. Sendo assim, a estrutura se torna capaz de
receber forças e transmiti-las aos apoios. Além disto, a treliça espacial permite a variação
geométrica ao longo de um eixo vertical possibilitando inúmeras variações com relação ao
design, aos perfis e consequentemente de resistência às solicitações. As variações podem ser
nas seções horizontais e no dimensionamento dos perfis ao longo da seção vertical, atendendo
à mudança de solicitação, no intuito de se otimizar a estrutura.

Figura 5: Distribuição de cargas em estrutura treliçada

Fonte: MOUSSAVI, 2009

Para as barras da estrutura, foram escolhidos perfis laminados tubulares circulares fabricados
no Brasil pela Vallourec [6]. Isso se deve principalmente ao fato de a seção circular ter melhor
capacidade resistente à instabilidade quando submetida à compressão, comparada às outras
seções, tendo em vista ser axissimétrica e ter o centro geométrico (G) coincidindo com o
centro de cisalhamento (S) (Fig. 6).

Figura 6: Coincidência do centro geométrico (G) e do centro de cisalhamento (S) e simetria radial das
seções tubulares circulares

Fonte: Elaborado pelos autores


2.1.2 Forças

A forma da torre tem aspectos quantitativos e qualitativos que guiam sua geração. O aspecto
quantitativo são as forças atuantes, que, simplificadamente, se dividem em peso próprio da
estrutura, forças devido ao equipamento (aerogeradore), incluindo o efeito do vento nas pás,
e força de vento na estrutura. As forças devidas ao equipamento serão estimadas em função
de sua potência, da ordem de 3 MW, e as forças de vento na estrutura serão determinadas, de
modo simplificado, de acordo com a norma brasileira ABNT NBR 6123:1988 [7]. Serão

6
avaliados apenas as tensões atuantes, de modo que não ocorra colapso, e os estados
deslocamentos máximos. O efeito de fadiga, e exigências relacionadas à frequência natural
não será consideradas.

O aspecto qualitativo considerado é relativo à estética da torre. A princípio este não seria um
dado parametrizável através de dados numéricos, mas através de um pensamento racionalista,
pode-se recorrer à Geometria Descritiva utilizando medidas de proporção da Razão Aúrea [8] e
do estudo de superfícies regradas como o hiperboloide de uma folha.

2.1.2.1 Razão Aúrea

A Razão Aúrea (Fig. 7) é um princípio de proporção extraído da Sequência de Fibonacci, que é


considerada a proporção do corpo humano. Desde a Antiguidade é usada na arte, tendo tido
no Renascimento seu apogeu, tendo sido muito utilizada nas obras de Leonardo Da Vinci. No
Modernismo, Le Corbusier baseou-se na proporção áurea para criação do Modulor, que teve
sua aplicação em diversos edifícios emblemáticos do período.

Figura 7: Razão Áurea

Fonte: LIVIO, 2006

O número áureo é aproximado pela divisão do enésimo termo da Série de Fibonacci (0,
1,1,2,3,5,8,13,21,34,55,89,..., na qual cada número é a soma dos dois números imediatamente
anteriores na própria série) pelo termo anterior. Isto resulta em um número constante de
aproximadamente 1,618.

2.1.2.2 Hiperboloide de uma folha

Para disposição geométrica da forma da torre e distribuição de barras, foi adotada a geometria
do hiperboloide de uma folha (Fig. 8). Esta superfície apresenta vantagens estruturais e tem
sido utilizada em obras de engenharia e arquitetura desde o século XIX. Estas superfícies
possuem uma característica favorável à estabilidade: em cada um de seus pontos há duas
retas distintas que cruzam a superfície. Esta característica mantém a integridade estrutural
com a redução do uso de materiais.

7
Figura 8: Hiperboloide de uma folha

Fonte: RODRIGUES, 2012

As aplicações dos hiperboloides de uma folha na arquitetura estão associadas às


experimentações do engenheiro e arquiteto russo Vladimir Shukhov. Ao estudar o design de
formas, ele deduziu matematicamente uma família de equações que correspondia a
características dos hiperboloides. Estas superfícies duplamente regradas permitem a
construção de malhas com vigas retilíneas, o que simplifica os trabalhos. Um exemplo de
aplicação de hiperbolóides de uma folha por Shukhov é a Torre Shabolovka, uma torre de
transmissão de energia com 160 metros de altura, construída em Moscou em 1920 [9].

A construção de outras torres configuradas em hiperboloide de uma folha também serviu


como referência da pesquisa. A Torre de Kobe no Japão é também uma torre de transmissão e
é utilizada como ponto de observação, além de representar um marco urbano na cidade de
Kobe. A Torre de Canton também constitui um marco urbano para a cidade de mesmo nome
na China. É uma torre de televisão multiuso e até a data de sua construção era considerada a
torre mais alta do mundo. Seu projeto pode ser considerado um exemplo de Modelo
Performativo, visto que a estrutura foi resultado de um processo colaborativo entre os
arquitetos holandeses Mark Hemel e Barbara Kuit com o escritório de cálculo estrutural Arup.
A forma foi desenvolvida com o auxílio de ferramentas digitais de design paramétrico, de tal
maneira a se buscar a otimização da estrutura.

8
Quadro 1: Torres construídas com hiperboloide de uma folha

Torre Shabolovka Torre de Kobe Torre de Canton


País: Rússia País: Japão País: China
Ano de construção: 1920 Ano de construção: 1963 Ano de construção: 2009
Altura: 160 metros Altura: 108 metros Altura: 488 metros

Fonte: Elaborado pelos autores

2.1.3 Técnicas

As técnicas utilizadas para geração da forma da torre serão a modelagem paramétrica e


análise pelo Método dos Elementos Finitos (MEF) através de ferramentas computacionais.

2.1.3.1 Modelagem Paramétrica

Nos Modelos Performativos, a modelagem paramétrica é utilizada principalmente para


representação e geração da forma, e está ligada aos mecanismos de otimização e geração. A
modelagem paramétrica refere-se à automação de parâmetros baseada na geração de
elementos. O método de geração das formas deve ser programado através de algoritmos e da
definição das variáveis. Mudando os parâmetros, o design pode ser facilmente controlado e os
elementos componíveis da forma são automaticamente redesenhados. A programação de
elementos paramétricos pode ser influenciada por diversas variáveis envolvidas no projeto
como aspectos estéticos, estruturais e ambientais. No modelo da torre os algoritmos
estabeleceram restrições devidas à geometria e aos aspectos de força quantitativos e
qualitativos.

2.1.3.1.1 Aplicação da modelagem paramétrica no estudo da torre eólica

No estudo da torre de energia eólica, ter-se-ão duas etapas de geração e análise do modelo
paramétrico. Na 1ª etapa, a estrutura será modelada como casca (Fig. 9) com geometria
hiperboloide de espessura constante, onde serão testados diversos modelos, variando os
diâmetros de base e topo, a espessura da casca e sua geometria. Como método de avaliação,
estes modelos serão submetidos à análise pelo MEF. Após a avaliação de alguns modelos, será
selecionada a forma que melhor atenda aos critérios estáticos e estéticos.

9
Figura 9: Modelo paramétrico de geometria da casca

Fonte: Elaborado pelos autores

Na 2ª etapa, após a definição da melhor forma em casca da estrutura, será feito o teste com
barras (Fig. 10). Para isto, serão aplicadas as definições de barras, moduladas nos sentidos
vertical, horizontal e inclinadas. Na vertical, foram definidos que seriam distribuídas de 8 a 16
colunas no perímetro do círculo da base, e estas barras seriam continuas até o topo, com a
mesma quantidade de barras no sentido oposto (princípio do hiperboloide). Na horizontal, a
modulação das chapas de travamento da estrutura estaria a princípio com modulação
constante, mas esta condição é uma predefinição que pode será alterada em decorrência das
solicitações das cargas e forças atuantes. Barras inclinadas (diagonais) podem ser necessárias
para estabilizar adequadamente a estrutura.

Figura 10: Modelo paramétrico de geometria com barras.

Fonte: Elaborado pelos autores

10
2.1.3.2 Análise por Elementos Finitos

Para avaliação da forma, tanto na 1ª, quanto na 2ª etapa, os modelos serão analisados pelo
MEF sob o critério de Von Mises. Para tal, serão aplicadas as mesmas forças de equipamentos,
o peso próprio da estrutura e as forças de vento (figuras 11, 12 e 13). O aço estrutural de
referência para a análise será o VMB-350, que possui resistências ao escoamento e à ruptura
de 350 MPa e 485 MPa, respectivamente.

Figura 11: Aplicação das ações para análise pelo MEF

Fonte: Elaborado pelos autores

Figura 12: Análise pelo critério de Von Mises

Fonte: Elaborado pelos autores

11
Figura 13: Análise dos deslocamentos

Fonte: Elaborado pelos autores

2.1.3.3 Ferramentas computacionais

Para a geração da estrutura tridimensional, foi escolhido o software Rhinoceros, por este
possibilitar a modelagem tridimensional baseada na tecnologia Nurbs, que permite a
construção de geometrias curvas e superfícies. O programa foi desenvolvido para ser um
plugin do programa AutoCad, mas rapidamente tornou-se um aplicativo independente. Por
suas possibilidades de modelagem, é um programa amplamente utilizado em design e
engenharia mecânica.

A principal vantagem do Rhinoceros é a infinidade de plugins que estão sendo desenvolvidos


para ele. O plugin mais popular para o desenvolvimento de design generativo é o Grasshoper,
disponibilizado gratuitamente por seus desenvolvedores. Sua interface funciona através de
diagramas, onde são desenvolvidos parâmetros, e estes resultam em formas na interface do
Rhinoceros. Os parâmetros vão sendo modificados interativamente com a visualização dos
modelos tridimensionais.

As figuras 09 e 10 mostram o desenvolvimento do modelo da torre no Rhinoceros juntamente


com o Grasshoper. Na primeira tela, foram definidos no Rhinoceros pontos que determinam a
geometria a ser seguida pela estrutura. À direita da tela, foram estabelecidos os parâmetros de
geração da forma através do diagrama do Grasshoper. As telas seguintes mostram os testes de
parâmetros e seus resultados na geometria da estrutura. Neste caso, os parâmetros eram
referentes à curvatura da estrutura, ao espaçamento e seção transversal das barras.

Para a análise estrutural, será utilizado o plugin Scan&Solve para Rhinoceros (figuras 11, 12 e
13) que tem sua base de funcionamento nos sólidos tridimensionais gerados por este
programa. O Scan&Solve pode ser aplicado em todos os problemas de MEF, incluindo
transferência de calor, elasticidade, vibração natural, torção, etc. Para a análise, é necessário
que se tenha um sólido modelado, onde primeiramente se seleciona o material, seleciona as
restrições da estrutura, aplicam-se os carregamentos (ponto de aplicação no modelo e valores)
e adota-se o critério de dimensionamento, que no caso será ao limite de tensões ao valor de
Von Misses.

12
A vantagem de se utilizar os plug-ins Grasshoper e Scan&Solve é a interoperabilidade, tendo
sua base de funcionamento no programa Rhinoceros, evitando que o sólido seja exportado
para outro programa e haja a necessidade de readaptação da malha.

2.1.3.4 Interoperabilidade

No processo de desenvolvimento da torre eólica serão testadas diversas geometrias, com


diversas condições de contorno, e a variação de seções transversais de barras. A intenção é
que o processo de concepção e análise seja iterativo e que se repitam várias vezes até
encontrar dentre as diversas possibilidades uma solução que contemple de forma eficaz.
Portanto, é imprescindível que haja interoperabilidade entre as ferramentas utilizadas. Para
tanto, a escolha do Grasshoper para a parametrização do modelo e do Scan&Solve para análise
estrutural atendem este requisito devido à base do modelo estar sempre no mesmo ambiente,
que seria o programa Rhinoceros.

2.1.3.5 Colaboração

A colaboração entre projetistas é fundamental para um processo de Modelo Performativo. A


forma passa a ser o resultado de um processo que envolve projetistas de várias especialidades,
buscando otimização e desempenho. Desta maneira, a relação de autoria se modifica, não
sendo mais o arquiteto o único autor da forma final. Mas ainda assim, o arquiteto mantém o
controle conceitual das definições; o que ocorre é uma mudança de filosofia, onde a
prioridade está relacionada ao conceito e não ao desenho de uma forma determinística.

3 RESULTADOS E DISCUSSÕES

3.1 Resultados

Até o momento, está sendo desenvolvida a 1ª etapa do trabalho de geração e análise da casca.
Já foram detectadas algumas soluções com relação à geometria e a forma de análise. Após a
definição da casca, será testado um novo algoritmo para teste de barras similar ao mostrado
na figura 10. Espera-se encontrar uma forma ótima no final do processo, mas o principal
resultado esperado está em se avaliar a eficiência e a importância do desenvolvimento de um
Modelo Performativo na geração de estruturas complexas. A modelagem paramétrica permite
a geração de uma infinidade de modelos, ampliando a gama de soluções da forma
desenvolvida pelo projetista. Além disto, o processo de avaliação também é ampliado, visto
que se podem avaliar várias formas através de análise por Elementos Finitos. A
interoperabilidade entre os softwares utilizados tem sido fundamental no processo, devido à
facilidade de se gerar e avaliar em um curto período de tempo.

Através da metodologia investigada, espera-se que o processo colaborativo entre engenheiros


e arquitetos envolvidos neste projeto gere a melhor estrutura dentre as possibilidades,
resultando em uma forma não só esteticamente interessante ou somente estaticamente
eficiente, mas o resultado de uma combinação destes dois critérios.

13
3.2 Discussões

O Modelo Performativo é uma hipótese de desenvolvimento de projetos colaborativos entre


arquitetos e engenheiros, tendo as ferramentas digitais como intermediárias do processo.
Avanços tecnológicos propiciaram suporte para a geração deste tipo de modelo.

A modelagem paramétrica muda a cultura de geração da forma, uma vez que o conceito
formulado pelo arquiteto é mais importante do que a tipologia. As ferramentas digitais exigem
dos projetistas cada vez mais conhecimento de softwares e programação. Ao mesmo tempo
em que se propõem a ser facilitadoras, também podem gerar entraves no projeto devido à
dificuldade de se manipular alguns softwares. Estas dificuldades podem levar ao abandono do
processo, mas uma vez superadas, levam a resultados mais eficientes.

Não se pode afirmar que os Modelos Performativos melhorem a solução arquitetônica, pois
em muitos casos vistos na literatura pode-se notar que a forma final é muito próxima da forma
desejada no início do processo.

Neste trabalho, foi feito um recorte para se estudar Modelos Performativos apenas com
relação ao projeto estrutural, mas este processo baseado em desempenho pode ser ampliado
para os mais diversos aspectos do projeto, podendo vislumbrar problemas de projeto e
antecipar conflitos, encaminhando para soluções mais eficientes e que melhor atendam às
questões de desempenho funcional [3].

4 CONCLUSÃO

O projeto performativo é colaborativo, interdisciplinar, multiprocessual e complexo. Esta


abordagem de projeto exige uma mudança de cultura entre projetistas. No caso de aplicação
ao desenvolvimento de uma forma estrutural, arquitetos e engenheiros devem trabalhar em
um processo colaborativo, em que as informações de projeto devam ter seu fluxo facilitado
para todos os envolvidos na tomada de decisões. A junção de diferentes disciplinas envolvidas
no projeto apresenta melhorias no desempenho da estrutura gerada, o que impacta
diretamente em questões relativas ao custo de construção. As tecnologias digitais baseadas
em algoritmos propiciam uma facilidade de manipulação da forma da estrutura, o que dentro
do processo de avaliação, cria métodos de previsão da forma que permitem a racionalização
do conceito através de dados numéricos. Através dos modelos gerados, podem ser avaliados
os aspectos de carga, o que permite uma extrapolação da forma, até se atingir os resultados
desejados para uma otimização estrutural.

Agradecimentos

Os autores agradecem o apoio financeiro em forma de fomento à pesquisa concedido pela


CAPES (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior) no ano de 2013.

14
REFERÊNCIAS

1 OXMAN, R.; OXMAN, R. (Editores Convidados). The New Structuralism: design, engineering
and Architectural Technologies. In: Architectural Design. Wiley, Londres, Jul./Aug. 2010.

2 KOLAREVIC, B. Performative Architecture beyond instrumentality. Nova Iorque: Spon Press;


2005.

3 ANDRADE, Max; RUSCHEL, Regina Coeli. Projeto Performativo na prática arquitetônica


recente: Estrutura Conceitual [doutorado]. Campinas: Faculdade de Engenharia, Arquitetura e
Urbanismo da UNICAMP; 2012.

4 BURRY, Jane; BURRY, Mark. The New Mathematics of Architecture. Nova Iorque: Tames&
Hudson, 2010.

5 MOUSSAVI, Farshid. The Function of Form. Nova Iorque: Universidade de Harvard, 2009.

6 V&M DO BRASIL. Tubos Estruturais, Seção Circular, Quadrada e Retangular. Catálogo


disponível<http://www.vmtubes.com.br/vmbinternet/filesmng.nsf/2F0D885B9F9AC58983257
A790050CFB2/$File/Catalogo%20de%20Tubos%20Estruturais%202012-2.pdf. Acesso em: 28
de maio de 2014.

7 ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 6123: Forças devidas ao vento em


edificações. Rio de Janeiro: ABNT, 1988.

8 LIVIO, Mario; Razão Áurea: A História de Fi, um Número Surpreendente. São Paulo: Ed.
Record, 2006.

9 RODRIGUES,J.S.; OLIVER, L; NÁPOLES, S. Formas & Fórmulas. Universidade de Lisboa,


Catálogo de exposição (2012-2013).Lisboa: Museu Nacional de História Natural e da Ciência
[s.n], 2012, 118p.

15
Tema: Projeto de Estruturas de Aço

SUBSÍDIOS PARA O PROJETO ESTRUTURAL DE TORRES DE TRANSMISSÃO DE ENERGIA *


Vanessa Vanin¹
Zacarias Martin Chamberlain Pravia²
Resumo
As torres de transmissão desenvolvem um papel de extrema importância na transmissão de
energia, uma vez que elas dão o suporte às linhas de transmissão. São estruturas compostas
de perfis cantoneira e demais elementos construtivos que, por serem uma estrutura leve e
esbelta, têm na ação do vento o maior agente causador de esforços. A obtenção de subsídios
que garantam o correto dimensionamento das torres de transmissão é necessária, a fim de
eliminar o maior número de incertezas envolvidas em seu projeto, sendo este o objetivo
principal do presente trabalho. Tomando por base a ABNT NBR 5422 – 1985, “projeto de linhas
aéreas de transmissão de energia elétrica” (1), e a ABNT NBR 6123, “forças devidas ao vento
em edificações” (2) que fornecem isopletas de vento para cada região do país e demais
delineamentos para o projeto e a literatura existente sobre o tema foi desenvolvido um
projeto da superestrutura de uma torre de transmissão, levando em conta as configurações
dos modelos existentes e a metodologia de análise estrutural. A modelagem foi feita com o
auxílio dos softwares SAP2000 para análise de estabilidade e MCalc4D para dimensionamento.
Palavras-chave: Torres de transmissão; Estruturas de aço; Projeto.

SUBSIDIES FOR STRUCTURAL DESIGN OF TRANSMISSION TOWERS

Abstract

The transmission towers develop a role of great importance in the transmission of energy,
once they give support to the transmission lines. Trusses are structures composed of angle
sections and other construction elements which, being a lightweight and slender structure,
have in the wind its greatest internal force effect. Procedure to ensure the correct design of
transmission towers is necessary in order to eliminate as many uncertainties involved in its
project, this is the main objective of the present work. Based on the ABNT NBR 5422 - 1985,
"Design of overhead transmission lines of electricity," and ABNT NBR 6123, "due to wind forces
on buildings", that provide curves of wind for each region of the country and other guidelines
for the project and the existing literature on the subject a project of the superstructure of a
transmission tower, taking into account the settings of existing models and the methodology
of structural analysis was developed. The modeling was done with the assistance of SAP2000
for stability analysis and MCalc4D for the design of elements and splices.

Keywords: Transmission towers; Steel structures; Design.

¹ Acadêmica de Engenharia Civil na Universidade de Passo Fundo, Passo Fundo, Rio Grande do
Sul, Brasil.
² Doutor Engenharia Civil, Professor na Universidade de Passo Fundo, Passo Fundo, Rio Grande
do Sul, Brasil.

________________________________
* Contribuição técnica ao Construmetal 2014 – Congresso Latino-Americano da Construção
Metálica – 02 a 04 de setembro de 2014, São Paulo, SP, Brasil.
1
1 INTRODUÇÃO

O Brasil possui uma matriz energética diversificada, porém, por suas características geográficas
e seus abundantes recursos hídricos, tem-se como principal meio de geração de energia as
usinas hidrelétricas (68% da energia gerada no país), sendo, também, em menor escala, gerada
por meio de usinas termoelétricas (21%), usinas nucleares (1,74%) e eólicas (0,62%). O
restante é importado da Argentina, do Uruguai, do Paraguai e da Venezuela.

Tendo em vista que, geralmente, essas usinas são construídas afastadas de centros
consumidores (cidades e indústrias), a energia elétrica tem de percorrer grandes distâncias e
esse trajeto se dá por um complexo sistema de transmissão, composto basicamente por
condutores de fase, cabos para-raios, sistema de aterramento e torres de transmissão.

As principais finalidades das torres de transmissão de energia elétrica consistem em dar


sustentação às linhas de transmissão, bem como garantir seu espaçamento entre os cabos
para-raios e os condutores de fase, sendo estruturas de suma importância para o
funcionamento do sistema e que necessitam de um elevado grau de segurança, visto que seu
colapso teria como consequência prejuízos econômicos e culturais, além de pôr em risco um
número considerável de vidas.

A obtenção de subsídios para o dimensionamento de torres de transmissão de energia elétrica,


de modo a reduzir o grau de incerteza em seu dimensionamento o possível, a fim de que o
comportamento da estrutura seja adequado sem o superdimensionamento desta, levando em
conta o fato de se tratar de estrutura esbelta e de baixo peso, onde, sabidamente, o maior
agente causador de esforços é o vento.

2 MATERIAIS E MÉTODOS

Foram utilizados, nesse trabalho, referencias e normas técnicas como fonte de pesquisa para
avaliar posteriormente os resultados do trabalho. Iniciou-se este trabalho pelo Estudo da
influência do vento no dimensionamento de torres de transmissão, que foi realizada por meio
de revisão bibliográfica e estudo da norma, onde se observou a influência exercida pelo vento
no dimensionamento e quais problemas podem ocorrer após a execução de um projeto
quando sua influência não é corretamente estimada.
Foi realizado também um estudo das configurações de modelos de torres onde foram
estudados os diversos modelos existentes de torres e suas configurações, assim como o
método de análise da estrutura que se deu por meio do método de elementos finitos.

Por fim dimensionou-se uma torre de transmissão de energia, levando em conta todos os
subsídios obtidos com o estudo da influência do vento e das configurações dos modelos
existentes, utilizando-se de softwares de elementos finitos para realizar a modelagem desta.

2
2.1 CÁLCULO DO VENTO
O cálculo dos esforços impostos pelo vento na estrutura de uma torre de transmissão requer
muita atenção, já que sua incidência causa grandes solicitações na estrutura, superiores ao
causado, por exemplo, pelo peso próprio.

Figura 1: Divisão dos Trechos para o cálculo de vento (medidas em mm)

Tendo em vista a importância da correta estima das forças do vento, fez-se uso das normas
ABNT NBR 6123 “Forças devidas ao vento em edificações” (2), e a ABNT NBR 5422 “Projetos de
linhas aéreas de transmissão de energia” (1). Em ambos os casos, calculou-se o vento a 0°, 45°
e 90°. Para tanto, é necessário compatibilizar os intervalos de integração para o mesmo tempo
de exposição.

Dividiu-se a estrutura em quatro trechos e tomou-se o centro de gravidade desses trechos


como referência de altura nos cálculos de vento conforme mostrado na Figura 1.

3
2.1.1 Cálculo do Vento segundo a ABNT NBR 6123
A ABNT NBR 6123 estabelece as diretrizes para o cálculo de forças devidas à ação estática e
dinâmica do vento, para efeitos de cálculo de edificações.

Buscando estimar a velocidade característica do vento Vk e a pressão dinâmica do vento q,


apresenta-se o procedimento de cálculo.
𝑉𝑘 = 𝑉0 × 𝑆1 × 𝑆2 × 𝑆3 (𝑚/𝑠)(1)
𝑞 = 0,613 × 𝑉𝑘2 (𝑁/𝑚²)(2)
A velocidade básica do vento V0 é a velocidade de uma rajada de 3 segundos, excedida, em
média, uma vez em 50 anos, a 10 metros acima do terreno em campo aberto e plano. A figura
01 mostra o mapa das isopletas com as velocidades básicas no Brasil, com intervalo de 5 m/s.
Figura 2: Mapa das Isopletas da velocidade básica do vento no Brasil.

Fonte: ABNT NBR 6123

2.1.2 Cálculo do vento segundo a ABNT NBR 5422


Esta norma fixa as condições mínimas para o projeto de linhas aéreas de transmissão de
energia elétrica.

Para a determinação da pressão dinâmica de referência q0 e das forças de vento sobre os


cabos, isoladores e torre (suporte), é necessário o cálculo da velocidade de vento de projet Vp.
Seu cálculo é obtido pela equação abaixo para uma altura H(m) acima do terreno:

4
1
𝐻 𝑛
𝑉𝑝 = 𝐾𝑟 𝐾𝑑 � � 𝑉𝑡 (𝑚/𝑠)(3)
10

Onde:

Vb é a velocidade básica de vento;


Kr, Kd e n são fatores para ajuste de Vb em função da rugosidade do terreno e do intervalo de
tempo associado às dimensões da rajada a ser utilizada.

Figura 3: Mapa das Isopletas da Velocidade Básica do Vento

Fonte: ABNT NBR 5422

A velocidade básica é corrigida segundo as condições de projeto, a partir dos coeficientes Kr, Kd
e n.

2.1.3 Correção dos tempos de Integração


Foram corrigidos os valores dos tempos de integração para 10 minutos.
𝑧 𝑝
𝑆2 = 𝑏 × 𝐹𝑟 × � � (4)
10

5
b 1,00
p 0,15
Fr 0,69

Utilizando a equação acima e substituindo os valores na mesma, ficaremos com uma


velocidade corrigida para 10 metros acima do solo de:
𝑉𝑝 (10 𝑚𝑖𝑛) = 0,69 𝑉0 (𝑚/𝑠)(5)
Considerando S3= 1,10
𝑉𝑝 (10 𝑚𝑖𝑛) = 0,69 × 45(𝑚/𝑠)(6)
𝑉𝑝 (10 𝑚𝑖𝑛) = 34,5(𝑚/𝑠)(7)

Koeller (2012) utiliza a equação contrária para corrigir o tempo de integração para o vento da
ABNT NBR 5422.
Vb = 30 m/s, com tempo de integração de 10 minutos para 3 segundos, teremos:
𝑉0
𝑉𝑏 (10 𝑚𝑖𝑛) = 0,69 (𝑚/𝑠)(8)
𝑉𝑏 (10 𝑚𝑖𝑛) = 43,5 (𝑚/𝑠)(9)

2.2 Ventos Downburts

A estimativa das ações dos ventos em torres de transmissão é feita utilizando o método da
camada limite (ABNT NBR 5422 e ABNT NBR 6123), onde se assume que a velocidade do vento
aumenta exponencialmente com a altura.

Porém, as ações impostas por ventos downburts podem superar e muito as consideradas pelo
método da camada limite, o que expõe as torres de transmissão a solicitações não
quantificadas, onde provavelmente será atingido o carregamento mais severo em sua vida útil.

Diferente do vento de camada limite, o vento downburt, geralmente, tem sua velocidade
máxima atingida em algum ponto entre 50 m a 100 m de altura. Além disso, a velocidade do
vento num downburst é uma função de localização no plano horizontal em relação à
tempestade e varia com o tempo, bem como sendo dependentes da altura. A distribuição
também é influenciada pela velocidade de translação da tempestade.

6
Figura 4: Diferença de comportamento entre ventos downburst e camada limite.

Perto do centro do Downburst, há uma componente de queda (negativo) significativa para o


vento, o que reduz a força de um ponto ligeiramente. Existe uma região de velocidades de
vento positivas para além deste ponto e a grandes distâncias radiais da velocidade do vento é
0. Isto é contrário aos ventos da camada limite, que se assume não ter nenhum componente
média da velocidade do vento na direção vertical.
Considerando que uma camada limite de vento pode ser pensada como tendo uma velocidade
média constante a uma dada altura ao longo de grandes áreas e por longos períodos de
tempo, o campo de vento Downburst simulado está altamente localizado e mostra a variação
na intensidade com diferentes proximidades da tempestade e com duração variável do evento.

2.3 CARGAS E COMBINAÇÕES

2.3.1 Cargas Permanentes


A carga permanente será devida ao peso próprio da estrutura e seus componentes, mais a
protensão (Rodrigues apud Koeller 2012).

7
• Cabos Condutores: 5,86 kN.

• Cabos Para-raios: 1,71 kN.

• Isoladores:1,0 kN.

O peso próprio da torre treliçada é calculado automaticamente pelo programa de elementos


finitos SAP2000.
Figura 5: Carga permanente aplicada

8
2.3.2 Cargas devidas ao vento
Tabela 1: Cargas devidas ao vento sem correção do tempo de integração

NBR 5422 NBR 6123


Altura
Força devida ao Vento (kN) Força devida ao Vento (kN)
(m)
0° 45° 90° 0° 45° 90°
24,00 4,01 2,01 4,01 15,57 7,78 15,57
Ação do
31,07 4,21 2,10 4,21 16,31 8,15 16,31
Vento nos
Cabos 38,07 4,36 2,18 4,36 16,92 8,46 16,92
44,50 4,49 2,24 4,49 17,40 8,70 17,40
24,00 3,39 3,39 3,39 0,14 0,14 0,14
Ação do 31,07 3,55 3,55 3,55 0,15 0,15 0,15
Vento nos
Isoladores 38,07 3,68 3,68 3,68 0,16 0,16 0,16
44,50 3,79 3,79 3,79 0,16 0,16 0,16
6,60 0,04 0,56 0,04 8,48 5,26 8,48
Ação do 16,37 0,08 1,01 0,08 14,22 9,48 14,22
Vento no
Suporte 28,59 0,04 0,26 0,04 4,97 2,34 4,97
40,17 0,04 0,29 0,04 5,43 2,63 5,43

Tabela 2: Cargas devidas ao vento com correção do tempo de integração para 10 min

NBR 5422 NBR 6123


Altura
Força devida ao Vento (kN) Força devida ao Vento (kN)
(m)
0° 45° 90° 0° 45° 90°
24,00 4,21 2,11 4,21 4,56 3,23 4,56
Ação do 31,07 4,42 2,21 4,42 4,93 3,48 4,93
Vento nos
Cabos 38,07 4,58 2,29 4,58 2,00 3,70 2,00
44,50 4,71 2,36 4,71 5,49 3,88 5,49
24,00 7,11 7,11 7,11 0,08 0,06 0,08
Ação do 31,07 7,46 7,46 7,46 0,09 0,06 0,09
Vento nos
Isoladores 38,07 7,74 7,74 7,74 0,10 0,07 0,10
44,50 7,96 7,96 7,96 0,10 0,07 0,10
6,60 0,08 1,17 0,08 4,25 1,87 4,25
Ação do 16,37 0,16 2,13 0,16 7,96 3,75 7,96
Vento no
Suporte 28,59 0,09 0,55 0,09 2,98 0,99 2,98
40,17 0,09 0,61 0,09 3,38 1,16 3,38

9
Figura 6: Carga devida à ação do vento a 0° (a), 45° (b) e 90° (c)

(a) (b) (c)

2.4 COMBINAÇÕES
A ABNT NBR 8800 (3) define as combinações que devem ser empregadas no dimensionamento
de estruturas de aço, levando em consideração a probabilidade que estas têm de atuarem
simultaneamente na estrutura.
As combinações devem ser feitas de forma a prever a pior situação para a estrutura, a
verificação dos estados-limites últimos e estados-limites de serviço e devem ser realizadas em
função das combinações últimas e das combinações de serviço respectivamente.

10
2.4.1 Combinação última
Uma combinação última de serviço pode ser classificada em normal, especial, de construção e
excepcional.

𝐹𝑑 = ∑𝑚 𝑛
𝑖=1( 𝛾𝐺𝑖 𝐹𝐺𝑖,𝑘 ) + �𝛾𝑄𝑖 𝐹𝑄𝑖𝑘 � + ∑𝑗=2( 𝛾𝑞𝑗 𝜓0𝑗,𝑒𝑓 𝐹𝑞𝑗,𝑘 )(10)

Onde: FGik representa os valores característicos das ações permanentes e FQi é o valor
característico da ação variável considerada principal para a combinação.

• Combinações últimas normais:

𝐹𝑑 = (1,25 𝐹𝑄𝑖𝑘 ) + (1,40 𝐹𝑄𝑖𝑘 )(11)

• Combinações últimas especiais ou de construção:

𝐹𝑑 = (1,15 𝐹𝑄𝑖𝑘 ) + (1,20 𝐹𝑄𝑖𝑘 )(12)

• Combinações últimas excepcionais:

𝐹𝑑 = �1,10 𝐹𝑄𝑖𝑘 � + �1,00 𝐹𝑄𝑖𝑘 �(13)

2.4.2 Combinação de serviço


As combinações de serviço são classificadas de acordo com sua permanência na estrutura em
quase permanentes, frequentes e raras.

• Combinações quase permanentes de serviço:

𝐹𝑠𝑒𝑟 = ∑𝑚 𝑛
𝑖=1 𝐹𝐺𝑖,𝑘 + ∑𝑗=1(𝜓2𝑗 𝐹𝑄𝑗,𝑘) (14)

𝐹𝑠𝑒𝑟 = 𝐹𝑄𝑖𝑘 (15)

• Combinações frequentes de serviço:

𝐹𝑠𝑒𝑟 = ∑𝑚 𝑛
𝑖=1 𝐹𝐺𝑖,𝑘 + 𝜓1 𝐹𝑄𝑙,𝑘 + ∑𝑗=2(𝜓2𝑗 𝐹𝑄𝑗,𝑘 )(16)

𝐹𝑠𝑒𝑟 = 𝐹𝑄𝑖𝑘 + 0,3𝐹𝑄𝑙,𝑘 (17)

• Combinações raras de serviço:

𝐹𝑠𝑒𝑟 = ∑𝑚 𝑛
𝑖=1 𝐹𝐺𝑖,𝑘 + 𝐹𝑄𝑙,𝑘 + ∑𝑗=2(𝜓2𝑗 𝐹𝑄𝑗,𝑘 )(18)

𝐹𝑠𝑒𝑟 = 𝐹𝑄𝑖𝑘 + 𝐹𝑄𝑙,𝑘 (19)

11
2.5 CONCEPÇÃO GEOMÉTRICA E ESTABILIDADE DE TORRES DE TRANSMISSÃO

A concepção geométrica de uma torre de transmissão está diretamente associada a sua


estabilidade. Um procedimento a seguir para definir a concepção é avaliar a estabilidade do
modelo, através da resolução do problema de autovalor, que fornece como resultado os
modos de deformação e os valores associados à ação imposta no modelo (λ - parâmetro de
carga crítica).

Certas magnitudes de carga Pcr (Pcr = λ.P carga crítica de flambagem) tornam a estrutura
instável, devido a relações não lineares entre tensão axial e deslocamento, levando a mesma a
sofrer deformações permanentes. Nestes casos, a análise linear elástica, que é normalmente
empregada, não representa o real comportamento da estrutura, já que nela considera-se um
estado de equilíbrio estático.

O perfil cantoneira é de uso comum no projeto e na construção de torres de transmissão, por


suas ligações serem de fácil execução e por possuir boa resistência tanto à tração quanto à
compressão. Esses perfis necessitam de contraventamentos secundários, a fim de diminuir o
comprimento destravado e aumentar a resistência à flambagem dos elementos principais e
dos contraventamentos primários.

As figuras 8 e 9 a diferença de comportamento entre as estruturas, sendo que a estrutura sem


as devidas contenções laterais flambagem global para ações de pouca monta. Já, na estrutura
corretamente contida lateralmente, o fator de carga critica é superior e não é verificada
flambagem global da estrutura.

12
Figura 7: Elementos de uma torre treliçada

13
Figura 8: Estrutura sem contenções laterais bastantes

14
Figura 9: Estrutura com contenções laterais

A avaliação quanto à estabilidade da estrutura foi feita utilizando o programa de elementos


finitos Sap2000. Ao todo, foram analisados 12 modos de flambagem e em todos houve
aumento no fator de resistência ao carregamento na estrutura com contenções laterais.

15
2.6 DIMENSIONAMENTO

A estrutura de uma torre de transmissão pode ser dividida em duas partes: cabeça e tronco
inferior, sendo que essas ainda podem ser subdivididas em para-raios, mísula e tronco da
cabeça (cabeça) e em tronco básico inferior, as extensões do corpo básico e as pernas (tronco
inferior).
Figura 10: Torre tronco-cônica utilizada neste trabalho

Torres de transmissão são, em geral, modeladas como treliças espaciais, sendo que a
continuidade das pernas principais sugere uma análise como pórtico espacial com diagonais
rotuladas nas extremidades.

16
O dimensionamento de uma torre de transmissão procede da mesma forma como em
qualquer outra estrutura de aço, sendo esses dimensionados à tração, compressão e flexão.

2.6.1 Dimensionamento à Tração


Segundo Chamberlain (5), um elemento tracionado apresenta diferentes distribuições de
tensões na sua seção devido à forma de fixação de suas extremidades. Nas seções abertas
tracionadas, quando em regime elástico, elevadas concentrações de tensão são visualizadas
nas bordas dos furos, porém, quando em regime plástico, a distribuição das tensões é
uniforme, em razão da característica dúctil dos aços estruturais.

Assim, a força normal de tração resistente de cálculo, Nt,Rd, a ser considerada no


dimensionamento, é o menor valor dos valores obtidos, considerando-se os estados-limite de
escoamento da seção bruta e ruptura da seção líquida, de acordo com as expressões indicadas
a seguir.
• Para escoamento da seção bruta:
𝐴𝑔 𝑓𝑦
𝑁𝑡,𝑅𝑑 = (20)
𝛾

• Para ruptura da seção líquida:


𝐴𝑒 𝑓𝑢
𝑁𝑡,𝑅𝑑 = (21)
𝛾

A esbeltez de uma barra é a relação entre o seu comprimento e o raio de giração transversal.
Nas peças tracionadas, a esbeltez é limitada para que os efeitos de vibração sejam reduzidos,
pois a esbeltez não é um fator fundamental, já que a natureza da tração proporciona
retilineidade. Na prática, aconselha-se seguir os seguintes limites de esbeltez.

• Peças principais: λ ≤ 240;


• Peças secundárias: λ ≤ 300;
• Peças compostas: λ ≤ 240.

2.6.1.1 Cisalhamento de bloco


Segundo Pfeil e Pfeil (16), no caso de perfis de chapas finas tracionadas, além da ruptura da
seção líquida, o colapso por rasgamento ao longo de uma linha de conectores pode ser
determinante no dimensionamento, conforme ilustrado na Figura 11: Colapso por
cisalhamento de bloco.

17
Figura 11: Colapso por cisalhamento de bloco

Fonte: Pfeil e Pfeil (2008)

A resistência é calculada com a seguinte expressão:


1
𝑅𝑑 = (0,60 𝑓𝑢 𝐴𝑛𝑣 + 𝐶𝑡𝑠 𝑓𝑢 𝐴𝑛𝑡 ) ≤ (0,60 𝑓𝑦 𝐴𝑔𝑣 + 𝐶𝑡𝑠 𝑓𝑢 𝐴𝑛𝑡 )(22)
𝛾𝑎2

Onde:

0,60 fu e 0,60 fy são respectivamente as tensões de ruptura e escoamento a cisalhamento do


aço;
Anv e Agv são respectivamente as áreas líquidas e brutas cisalhadas;
Ant é a área líquida tracionada;
Cts 1,00 para tensão de tração uniforme.

2.6.2 Dimensionamento a Compressão


Elementos axialmente comprimidos apresentam distribuição constante de tensões quando
solicitados. O colapso é caracterizado por instabilidade ou flambagem provocados pela Flexão.
A instabilidade pode ocorrer entre as extremidades dos elementos, denominada flambagem
global, ou se localizar em pontos específicos ao longo da barra, flambagem local. Essa última é
caracterizada pelo aparecimento de deslocamentos transversais à chapa (elemento da seção),
formando ondulações. A esbeltez da chapa é fato determinante do limite de resistência à
flambagem.

A resistência de cálculo de elementos axialmente comprimidos, sujeitos à flambagem por


flexão e flambagem local devem atender à seguinte condição.

𝑁𝑐,𝑆𝑑 ≤ 𝑁𝑐,𝑅𝑑 (23)

Onde:
Nc,Sd é a força axial de compressão solicitante de cálculo;

18
Nc,Rd é a força axial de compressão resistente de cálculo.

A força axial solicitante de cálculo (Nc,Sd) é a resposta da análise estrutural considerando


todos os possíveis estados-limite a que a estrutura poderá estar solicitada durante sua vida
útil.

A força axial resistente à solicitação axial de compressão (Nc,Rd), associada a estados-limite de


instabilidade por flexão, torção ou flexo-torção, deve ser determinada pela equação que
segue.
𝜒 𝑄 𝐴𝑔 𝑓𝑦
𝑁𝑐,𝑅𝑑 = (24)
𝛾

Onde:
γ é o coeficiente de ponderação da resistência, igual a 1,10;
χ é o fator de resistência à compressão;
Q é o fator de redução total associado à flambagem local.
O fator de redução associado à resistência a compressão é determinado em função do valor do
índice de esbeltez reduzido λ0. O índice de esbeltez reduzido é definido pela equação:
𝑄 𝐴𝑔 𝑓𝑦
𝜆0 = �
𝑁𝑒
(25)

Onde:
Ne é a força axial de flambagem elástica.
Com o índice de esbeltez definido, pode-se definir o fator de redução associado à resistência a
compressão, que deve enquadrar-se em um dos casos abaixo:
• Para λ0 ≤ 1,5

2
𝜒 = 0,658𝜆0 (26)

• Para λ0 > 1,5

0,877
𝜒= (27)
𝜆20

A força axial de inércia resistente de flambagem elástica é definida em verificação para as


situações de flambagem por flexão em relação ao eixo central de inércia x da seção
transversal, para flambagem por flexão em relação ao eixo central de inércia y da seção
transversal e para flambagem por torção em relação ao eixo longitudinal z.

• Para flambagem por flexão em relação ao eixo central de inércia x da seção


transversal.
𝜋2 𝐸𝐼𝑥
𝑁𝑒𝑥 = (𝐾 (28)
𝑥 𝐿𝑥 )²

• Para flambagem por flexão em relação ao eixo central de inércia y da seção


transversal.

19
𝜋2 𝐸𝐼𝑦
𝑁𝑒𝑦 = (29)
�𝐾𝑦 𝐿𝑦 �²

• Para flambagem por flexão em relação ao eixo central longitudinal z.

1 𝜋2 𝐸𝐶𝑤
𝑁𝑒𝑧 = � + 𝐺𝐽�(30)
𝑟02 (𝐾𝑧 𝐿𝑧 )²

2.6.3 Dimensionamento à flexão

No dimensionamento das barras submetidas a momento fletor e à força cortante, devem ser
atendidas as seguintes condições:

𝑀𝑆𝑑 ≤ 𝑀𝑅𝑑 (31)

Onde:
MSd é o momento fletor solicitante de cálculo;
MRd é o momento fletor resistente de cálculo;

Devem ser verificados todos os estados-limites de serviço aplicáveis. O momento fletor


resistente de cálculo MRd deve ser determinado de acordo com o Anexo G ou H.

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Foi utilizado, para as análises lineares e para o dimensionamento da estrutura, o


programa mCalc 3D da Stabile, a estrutura foi dividida em grupos para padronizar seu
dimensionamento.

20
Figura 12: Deslocamento máximo no topo da torre de transmissão em mm

21
Figura 13: Diagramas dos esforços normais causados pelo carregamento do vento a 0°(a), 45°(b) e 90° (c)

(a) (b) (c)

22
Figura 14: Grupos de elementos das torres de transmissão

23
Tabela 3: Perfis de aço utilizados para cada grupo de elementos

Grupo Perfil Aço L total (cm) Peso(kgf)


Mísulas LLAM 101.6 x 11.1 ASTM A36 39002.03 6536.64

Banzos Horizontais LLAM 203 x 15.9 ASTM A36 50957.55 24801.04

Diagonais Inferiores LLAM 152.4 x 14.3 ASTM A36 25830.47 8410.87

Diagonais Superiores LLAM 101.6 x 9.5 ASTM A36 26054.39 3773.52

Contraventamento Secundário LLAM 152.4 x 11.1 ASTM A36 21603.13 5536.94

Montantes Superiores LLAM 203 x 17.3 ASTM A36 8404.45 4482.34

Montantes Inferiores LLAM 203 x 25.4 ASTM A36 9609.17 7301.82

As ligações foram dimensionadas utilizando o programa mCalcLIG da Stabile.

Figura 15: Interface mCalcLIG.

24
Figura 16: Interface do programa mCalcLIG

25
Figura 17: Ligações de perfis cantoneiras

26
4 CONCLUSÃO
Ao finalizar este trabalho, é importante destacar dois aspectos no dimensionamento de uma
torre de transmissão, sua concepção estrutural e a determinação da carga imposta pelo vento.
Garantir a estabilidade da estrutura é o primeiro e mais importante passo, uma vez que, se
ignorada essa etapa no projeto, a resistência da torre de transmissão pode sofrer grandes
reduções devido a relações não lineares entre tensão axial de deslocamento.

Quanto à obtenção dos carregamentos impostos pelo vento, foi possível observar que, mesmo
compatibilizando os períodos de integração das rajadas, as forças obtidas a partir do cálculo
proposto pela ABNT NBR 5422 (1) são muito inferiores às obtidas a partir da ABNT NBR 6123
(2). Logo, ao utilizar os esforços obtidos pelo cálculo de vento da ABNT NBR 6123, a estrutura
dimensionada apresenta maior segurança.

REFERÊNCIAS

1 Associação Brasileira De Normas Técnicas. NBR 5422:1985 Projeto de linhas aéreas de


transmissão de energia elétrica. Rio de Janeiro, 1985.

2 _________NBR 6123:1988 Forças devidas ao vento em edificação. Rio de Janeiro, 1988.

3 _________NBR 8800:2008 Projeto de estruturas de aço e de estruturas mistas de aço e


concreto em edifícios. Rio de Janeiro, 2008.

4 Internarional Standard. IEC 60826:2003 Design criteria of overhead transmission lines.


Suíça, 2003.

5 CHAMBERLAIN PRAVIA, Zacarias M. et al. Projeto e cálculo de estruturas de aço: Edifício


industrial detalhado. Rio de Janeiro: Elsevier,2013.

6 _________Internarrional Seminar on Modeling and Identificacion of Structures Subjected


to Dynamic Excitation: Enphasis on Transmition Lines. Passo Fundo, Ed. Universidade de Passo
Fundo, 2009.

7 Gabrielli, Tatianna V. Análise no Comportamento de Estruturas de Torres de Transmissão


Tubulares Via Simulação Computacional. Ouro Preto, 2004.

8 Vélez, Marcelo L. S. Diseño de Una Torre de Transmisión Auto Soportada para Una Línea de
69kV. Quito, 2010.

27
11 Hatashita, Luiz Seiti. Análise de Confiabilidade de Torres de Transmissão de Energia
Elétrica Quando Sujeitas a Ventos Fortes via Método Analítico FORM. Curitiba, 2007.

12 Koeller, William M. Verificação Estrutural de Torre LTEE Sob Ação de Vento. Rio de Janeiro,
2012.

13 Damasceno Neto, Wilson Torres. Estruturas de Torres sob Ação de Ventos Originados de
Dowbursts. Rio de Janeiro, 2012.

14 Hérnandes Rosas, A. N; Padilla, F. M. Diseño De Torres De Transmisión Eléctrica. México


DF, 2005.

15 Chay, M.T; Albermani, F. E Hawes H. Wind Loads On Transmission Line Structures In


Simulated Downbursts.Gold Coast, Australia, 2006.

16 Pfeil, Walter. Pfeil, Michèle. Estruturas de aço: dimensionamento prático. 8.ed, Rio de
Janeiro, 2009.

28
Tema: Projeto – Arquitetura e Engenharia

TORRE DE TRANSMISSÃO: NOVO DESIGN E OS DESAFIOS DA INSERÇÃO NO


CONTEXTO URBANO *

Karine Murta Elias¹


Ricardo Hallal Fakury²
Carlos Roberto Gontijo³
Afonso Henrique Mascarenhas de Araújo4

Resumo
O Brasil possui grande extensão territorial e necessita que suas linhas de transmissão de
energia cruzem diferentes partes do país. Embora essas linhas passem quase sempre por
regiões rurais, algumas vezes existe a necessidade de sua instalação em áreas urbanas. Neste
último caso, as torres de transmissão ainda seguem os projetos tradicionais, com estrutura
treliçada, poluindo visualmente a paisagem, conflitando com o entorno e, ainda, gerando
desvalorização dos locais onde estão instaladas. Uma alternativa algumas vezes empregada é a
utilização de linhas de transmissão subterrâneas, mas sua implantação é extremamente
dispendiosa. Com o intuito de apresentar uma nova solução para essa questão, que tende a
agravar-se com o desenvolvimento do país, este trabalho propõe a concepção de um projeto
diferenciado de torre, cuja estrutura, ao contrário das tradicionais, será constituída por perfis
tubulares circulares de aço, que permitirá maior flexibilidade na forma e possibilitará à torre
amenizar os impactos causados por ela.

Palavras-chave: Torres de transmissão; Projeto; Espaço urbano.

TOWER TRANSMISSION: NEW DESIGN AND THE CHALLENGES OF THE INCLUSION IN THE
URBAN CONTEXT

Abstract
Brazil has a large territorial extension and requires that its power transmission lines cross
different parts of the country. Although these lines most times pass only through rural regions,
sometimes they need to cross in urban areas. In the latter case, the transmission towers still
follow traditional designs, with lattice structure, polluting visually the landscape, conflicting
with the surroundings and also generating devaluation of places where they are installed. An
alternative which is employed sometimes is the use of underground transmission lines, but
their deployment is much costlier. In order to present a new solution to this issue, which tends
to get worse with the development of the country, this paper proposes to create a distinctive
design of Tower, whose structure, unlikely the traditional, shall consist of circular tubular steel
profiles, which will allow greater flexibility to its shape, mitigating the impacts it causes to the
environment.
Keywords: Tower transmission; Project; Urban Space.

________________________________
* Contribuição técnica ao Construmetal 2014 – Congresso Latino-Americano da Construção
Metálica – 02 a 04 de setembro de 2014, São Paulo, SP, Brasil.
1
¹ Arquiteta e Urbanista, Mestranda, Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Estruturas da
Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, Minas Gerais, Brasil.
² Engenheiro Civil, Doutor, Professor do Departamento de Engenharia de Estruturas da Universidade
Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, Minas Gerais, Brasil.
³ Engenheiro Civil, Mestre, Professor Aposentado do Departamento de Engenharia de Estruturas da
Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, Minas Gerais, Brasil.
4
Engenheiro Civil, Gerente de Tubos Estruturais da Vallourec Tubos do Brasil S.A., Belo Horizonte, Minas
Gerais, Brasil.

1 INTRODUÇÃO

A ideia de propor um projeto específico para as torres de transmissão urbana surgiu com o
intuito de amenizar o impacto visual nos locais por onde as linhas de transmissão precisam
passar, evitando uma série de inconvenientes, inclusive conflitos com residentes da vizinhança
e do entorno imediato. Deve-se destacar que muitos países desenvolvidos já investem nessa
ideia, tentando melhorar a relação dos equipamentos da Linha de Transmissão (LT) com o
meio ambiente urbano.
Essa nova proposta de modelo de torre para inserção no contexto urbano, visa a também
evitar, sempre que possível, o emprego da LT subterrânea, intervenção a qual é extremamente
dispendiosa, tornando-se assim viáveis novos projetos que visem diminuir os custos dessa
intervenção. Além de a torre atender sua função em uma linha de transmissão de energia,
tem-se como proposito também torna-la uma estrutura diferenciada, visualmente atraente
aos olhos da população e promover uma relação mais harmônica com o entorno imediato.

1.2 Objetivos

O estudo para a criação da torre tem como objetivo principal a transformação da imagem de
repulsão e de medo que as torres de transmissão de energia causam nas pessoas, por uma
sensação visualmente mais confortável, gerando inclusive uma maior contextualidade das
torres no meio ambiente urbano em especifico. Amenizar os impactos socioeconômicos
causados pela transmissão de energia no Brasil, propondo a utilização de perfis tubulares
circulares de aço e um design desenvolvido de forma estratégica para ocupar as áreas urbanas,
são pontos importantes do projeto.

1.3 Justificativa

O estudo de custos que envolvem um novo projeto é um parâmetro primordial para


fundamentar uma boa proposta. Assim para se ter uma base sobre os gastos que uma
concessionaria de energia tem com a criação de uma LT de 138kV, voltagem usada com mais
frequência em meios urbanos, foi feito um levantamento com dados de custo aproximados
fornecidos pela CEMIG (Concessionária de Energia Elétrica de Minas Gerais).
 A linha de transmissão aérea tem um valor aproximado de R$ 250.000,00/km, onde o
custo das torres representa de 15 a 25% do custo total da linha. Sendo assim, tomando o
percentual médio de 20%, chega-se a um custo de torre de R$50.000,00/km. O custo com

2
fundações representa de 10 a 20% do custo total da linha. Com a média de 15%, obtém-se
R$37.500,00/km.
 A linha de transmissão subterrânea tem um custo bastante superior, atingindo R$
5.000.000,00/km. O valor total desse tipo de intervenção chega a ser 20 vezes mais caro que a
implantação das linhas de transmissão aéreas, fazendo com que o projeto de uma nova torre
se justifique.
Outro informativo de custos comparativos entre LT aérea em relação a subterrânea, está
presente na Tabela 1, que mostra a variação dos valores de acordo com a tensão da linha,
demonstrando que a intervenção aérea é mais econômica.
Tabela 1: Custos LT aérea x LT subterrânea. (LOPES [1], 2013).

Faixa de Tensão:
• Custo de 5 a 10 vezes mais elevado
De 110 a 219 kV
Faixa de Tensão:
• Custo de 9 a 16 vezes mais elevado.
De 220 a 362 kV
Faixa de Tensão:
• Custo de 15 a 25 vezes mais elevado.
De 363 a 764 kV

É justamente através desse diferencial de custo que o projeto visa trabalhar, tendo em vista
que uma nova torre de forma não usual terá um custo mais elevado que os projetos
padronizados, mas que seu valor total seja viável financeiramente para que possa substituir
um método pelo outro nas áreas urbanas.

2 A TORRE DE TRANSMISSÃO

2.1 Generalidades

No geral as torres de transmissão de energia são estruturas cujas funções são fazer a
sustentação mecânica dos cabos condutores e para-raios e de transmitir todos os esforços
mecânicos à fundação, tornando assim possível a ligação aérea entre as centrais de
distribuição de energia.
O design das torres segue na maioria dos casos uma forma padronizada, composta por uma
estrutura treliçada de aço. Principalmente por questão de economia as estruturas são
padronizadas em Famílias de Torres, que são compostas por subestruturas iguais ou similares
como mostra a Figura 1.

3
Figura 1: Configurações de torres para 1 e 2 circuitos (GONTIJO [2], 1994).

2.2 Faixa de Passagem

Ao longo das linhas de transmissão existem áreas denominadas de faixa de segurança ou de


passagem, as quais são tidas como locais que apresentam restrições e possuem algumas
limitações para a finalidade de uso e ocupação, conforme estabelece a ABNT NBR 5422:1985
[3]. Em alguns casos as concessionárias de energia optam por valores acima do estipulado pela
norma, para trabalharem acima da margem de segurança.
A delimitação da faixa é para garantir o desempenho da transmissão e a segurança das
instalações e de terceiros. A princípio essa área pode variar de acordo com a classe de tensão
da instalação e do próprio balanço e abaixamento dos cabos. Essa faixa também facilita a visita
para inspeção, manutenção e reparos das linhas por técnicos das concessionárias.
As empresas apresentam uma preocupação redobrada quando existe a necessidade da
passagem da linha pelos centros urbanos, local de maior densidade populacional e com
inúmeros desafios urbanos e sociais que precisam de solução.

2.3 O Meio Ambiente Urbano e a Linha

A criação de novas linhas em áreas urbanas, principalmente as mais adensadas, é uma tarefa
difícil, uma vez que as áreas disponíveis, principalmente nos grandes centros, são escassas, e
as poucas disponíveis possuem preços elevados. Lembrando-se que, essas poucas áreas ainda
precisam atender aos requisitos mínimos para serem destinadas as instalações da linha de
transmissão e distribuição de energia.
Com a falta de espaço não somente para abrigar as linhas, mas também para acompanhar o
crescimento das cidades, muitas áreas restritas para a passagem das linhas acabam sendo

4
ocupadas de forma irregular. Essas situações ocorrem muitas vezes devido ao crescimento
acelerado das cidades, à falta de planejamento adequado e de uma estratégia mais eficaz para
coibir tais situações de risco. As concessionárias contam com o auxilio da Prefeitura e do
Ministério Público para fazer a desocupação da faixa, mas é um processo longo e demorado. A
faixa é inadequada para ocupação, porque nela há uma zona de influência eletromagnética da
linha, fazendo com que segundo ABNT-NBR 5422:1985 [3] não possa haver uma interação
permanente.
Em muitos casos, linhas que outrora se localizavam em áreas afastadas, hoje fazem parte do
cenário de muitos bairros e estão sujeitas a diversas situações do cotidiano, como mostra a
Figura 2. Trata-se de situações que envolvem até a própria prefeitura, que utiliza a base da
torre para promover obras públicas, e ambulantes, que usam a torre para expor suas
mercadorias.

Figura 2: Cidade Industrial - Contagem/Minas Gerais.

3 ATIVIDADES DESENVOLVIDAS

3.1 Projetos pelo Mundo

A proposta de desenvolver um novo projeto para as torres de transmissão de energia no Brasil


visa não apenas à melhoria estética, mas tornar sua relação com a paisagem mais agradável,
agregar valor ao ambiente, tornar uma referência e ser uma estrutura que possa ser
contemplada e admirada pelas pessoas.
Para mostrar que esse tipo de proposta é possível, o escritório parisiense HugDuttonAssociés
(HDA), foi o vencedor do concurso realizado em 2009 pela empresa Terna, que estava em
busca de novas ideias para o formato das torres das LT’s de energia. O projeto foi implantado
na Itália e batizado de “Dancing with Nature”, como mostra a Figura 3.

5
Figura 3: Projeto Dancing with Nature. Fonte: http://www.dezeen.com

Esse projeto teve seu conceito baseado nos traços de uma árvore, que deram origem a uma
forma simples, flexível e leve, sem perder o caráter moderno e diferenciado.
Inúmeras competições como essa, para a criação de novos projetos de torres, foram e estão
sendo realizadas em diferentes países. Por exemplo, em 2011 o Reino Unido fez uma
competição nacional para eleger um novo projeto de torre, tendo como campeã a estrutura
proposta pela empresa dinamarquesa de engenharia Bystrup, que criou uma torre em formato
de “T”, de design simples, mas sofisticado, como mostra a Figura 4. Esse projeto foi criado para
substituir as antigas torres padronizadas que foram implantadas durante a década de 20 na
Europa. Na Figura 5, foram feitas duas maquetes, onde se evidencia a diferença da torre
convencional para a torre vencedora do concurso.

Figura 4: Projeto T-Pylon. Fonte: http://eandt.theiet.org

6
Figura 5: As antigas torres que foram implantadas durante os anos de 1920 e o Projeto T-Pylon. Fonte:
http://eandt.theiet.org.

Esses concursos e competições mostram que existe a necessidade de que haja modificações
graduais na paisagem e no ambiente em geral, à medida que evoluem as necessidades do
homem e da própria cidade. Servem também para acabar com o paradigma de que a criação
de um novo projeto não possa vir a servir para amenizar os impactos das LT’s de energia em
relação ao meio e à população, e ao mesmo tempo exercer as atividades às quais são
destinadas.

3.2 A Concepção do Projeto

A ideia é efetuar um estudo apropriado da concepção de forma, de modo a se chegar a um


formato de torre que carregue a essência brasileira e que, consequentemente, se identifique
com as diversas regiões do Brasil.
Pensando nisso, e buscando um símbolo que fosse capaz de unir todas as diferenças existentes
no nosso país em um só objeto, nada melhor do que partir de um ponto em comum entre
todos os estados brasileiros. Esse, portanto é a bandeira do Brasil, Figura 6, que representa a
nação e que pode ser trabalhado ao longo do processo de criação da torre.

Figura 6: Bandeira do Brasil e suas formas geométricas.

7
No desenvolvimento do projeto, tentou-se utilizar o mínimo possível de traços, o que
consequentemente na proposta final diminuirá o número de perfis utilizados, mas que seja em
quantidade suficiente para chegarmos a uma forma expressiva. Esse conceito, parte do
princípio de dar mais clareza ou ate mesmo legibilidade a estrutura final. Tentando amenizar
ao máximo os impactos que essas estruturas causam no ambiente.
Para a elaboração deste artigo uma proposta inicial foi concebida, fugindo da padronização das
formas treliçadas e de forma mais sutil tentando suavizar sua relação com as pessoas e com o
meio ambiente urbano, como se vê na Figura 7. Nessa proposta todos os perfis utilizados são
tubulares circulares de aço.

Figura 7: Novo design para as torres de transmissão.

Para tanto a definição do modelo priorizou não somente a otimização da parte elétrica, o que
ocorre atualmente no Brasil, mas também pensou em formas e meios de amenizar as
limitações e restrições que são impostas aos espaços ocupados pelas LT’s aéreas. Focou-se na
transformação e ou adequação dessas áreas de tal maneira que se consiga criar uma função
social além da qual ela se destina, melhorando assim a conexão com o meio urbano e visando
a possibilidade da sua interação com a população dentro de limites aceitáveis.

3.3 A Escolha do Material

Pensando não só nos custos, mas na parte estética da torre, que é o foco principal, a estrutura
de aço é ideal para atender todas as solicitações da proposta. Outro fator importante é a
redução dos impactos gerados por esse material no ambiente e o fato dele proporcionar
menor tempo de execução da obra. A durabilidade do aço, desempenho e maleabilidade
também o tornam apto para esse tipo de projeto.
Para a confecção da torre serão utilizados os perfis tubulares circulares laminados da Vallourec
Tubos do Brasil. Esses perfis, tendo em vista suas propriedades mecânicas, que conseguem

8
atender as necessidades do projeto, tornando a estrutura mais leve e acima de tudo consegue
gerar um visual mais agradável.

4 METODOLOGIA DE APLICAÇÃO

O conceito idealizado é o de propor uma mudança na visão de mercado, que gere uma
melhoria da qualidade dos espaços urbanos por onde passam as LT’s. Esse seria um grande
avanço na área de transmissão no Brasil, uma conquista para sociedade e um ganho para o
ambiente.
No caso em estudo, mostra-se que o objeto, ou seja, a torre de transmissão de energia, pode
abrigar mais do que simplesmente a função a qual se destina, trazendo o homem para
participar dela, de forma coerente com o programa principal e suas limitações.
O processo de dimensionamento da torre seguirá as normas especificas tanto para o cálculo de
estruturas metálicas (4) quanto para o da LT [(3) e (5)]. O projeto tentará mostrar que mesmo
com restrições a estrutura final pode ser elegante, bonita e integrar sem agressividade a
paisagem urbana, como mostra a Figura 8.

Figura 8: Inserção do novo modelo da torre de transmissão no contexto urbano.

3 RESULTADOS E CONTINUIDADE

A união do crescimento das cidades e o aumento da demanda energética fazem com que,
muitas vezes, haja uma disputa entre a população e as linhas de transmissão de energia por
espaço nas áreas urbanas. Outra situação recorrente é a de que o projeto das torres instaladas
no ambiente urbano em muitos casos é o mesmo empregado em ambientes rurais, causando a
desvalorização dos locais por onde passam.
O Brasil enfrenta muitos problemas sociais, como, a questão habitacional, e também a falta de
espaço nas grandes cidades. Isso faz com que os parâmetros utilizados hoje em nosso país, que
possuem grandes restrições e limitações para as faixas de passagem da LT, possam ser
repensados levando em conta esses problemas e tentando prever melhorias não somente na
parte elétrica da LT, mas também para os espaços a elas destinados.
Por fim os empreendimentos não podem estar acima das questões sociais, mas sempre buscar
formas e meios de beneficiar todas as partes envolvidas. O desenvolvimento de estudos e de
novas soluções para as torres de transmissão de energia para áreas urbanas se enquadra nesse
contexto, tentando propor alternativas aos desafios urbanos e sociais que exigem soluções.

9
Agradecimentos

Os autores agradecem o apoio financeiro em forma de fomento à pesquisa concedido pela


CAPES (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior) durante o ano de
2013. Agradecem também ao apoio, interesse e disponibilidade do Carlos Kleber da Costa
Arruda, professor do CEFET-RJ; Danilo Campos Lopes, gerente de gestão da Expansão de
Subestações e Linhas da Distribuição da CEMIG; Daniela Batista Lima Barbosa, professora da
PUC-MG; Ivan José da Silva Lopes, Professor no departamento de engenharia elétrica da UFMG
e Claudenir Janderlino Souza, doutorando do Programa de Pós-Graduação em Engenharia
Elétrica da Universidade Federal de Minas Gerais.

REFERÊNCIAS

[1] LOPES, J. C. R.. Transmissão Subterrânea no Brasil. International Workshop (Cigré-Brasil).


2013.

[2] GONTIJO, C. R.. Cálculo de torres para linhas de transmissão. 1994.

[3] Associação Brasileira de Normas Técnicas – ABNT NBR -5422: Projeto de Linhas Aéreas de
Transmissão de Energia. p.52, 1985.

[4] Associação Brasileira de Normas Técnicas – ABNT NBR -8800: Projeto de Estruturas de Aço
e de Estruturas Mistas de Aço e Concreto de Edificios. p.237, 2008.

[5] International Electrotechnical Commission – IEC-60826: Design Criteria of Overhead


Transmission Lines. p.243, 2003.

10
Congresso Latino-Americano da Construção Metálica
CONSTRUMETAL 2014

Contribuições Tecnocientíficas

Parte 7
– Proteção das Estruturas –
Tratamento de Superfície e Pintura
Tema: oficial de submissão

AS VANTAGENS E APLICAÇÕES DO SISTEMA DUPLEX*

Luiza Abdala¹
Resumo
Estruturas metálicas expostas sofrem com a ação de agentes de corrosão que podem ameaçar
a integridade da estrutura. Os sistemas de proteção contra a corrosão mais utilizados são a
galvanização por imersão a quente e a pintura, e a especificação da proteção adequada é uma
parte importante de um projeto de construção metálica. A galvanização por imersão a quente
é o processo no qual a peça é imersa em um banho de zinco a 450°C, que garante ao aço
proteção contra a corrosão tanto por barreira, quanto catódica, com a formação de camadas
intermetálicas Ferro-Zinco, além de uma camada de Zinco puro. A pintura também é utilizada
como proteção, porém confere somente uma barreira contra a corrosão. Para ambientes de
exposição a ambientes menos severos de corrosão, a pintura é suficiente para garantir a boa
durabilidade da estrutura. Já a galvanização é indicada quando as estruturas são expostas a
ambientes mais agressivos, ou a estrutura tem difícil acesso para manutenções. Ainda, é
possível combinar as duas técnicas, o sistema duplex. Este sistema confere o aumento de vida
útil até 2,5 vezes maior que a simples soma das expectativas de durabilidade dos métodos de
proteção separadamente. Isso se dá através do efeito sinérgico entre os sistemas.

Palavras-chave: Galvanização; Pintura; Sistema Duplex; Corrosão.

THE ADVANTAGES AND USES OF DUPLEX SYSTEM

Abstract
Exposed metallic structures suffer with the action of corrosion agents that can threaten the
integrity of the structure. The most commonly used protection methods are hot dip
galvanizing and painting, and the specification of adequate corrosion protection is one of the
most important parts of a metallic structures construction project. Hot dip galvanizing is a
process in which the steel is immersed in molten zinc bath at 450°C, which ensures both
cathodic and barrier protection against corrosion, with the formation of intermetallic layers
Iron-Zinc plus a layer of pure zinc. Painting is also widely used as protection to steel, but its
protection is only a barrier. For exposure to less corrosive environments, paint is sufficient to
ensure good durability to the structure. Galvanizing is indicated when the structures are
exposed to harsh environments, or in cases where the access to perform maintenance is
difficult. It is also possible to combine the two techniques, which is called Duplex System. This
system provides an increase in the structure’s lifetime up to 2.5 times greater than the simple
sum of the expected durability of the protecting methods separately. This is due to the
synergistic effect, the interaction between the two protection methods.

Keywords: Hot dip galvanizing; Paint; Duplex system; Corrosion.


¹ Engenheira Química, Engenheira de Desenvolvimento de Mercado, Votorantim Metais, São Paulo, SP,
Brasil.

________________________________
* Contribuição técnica ao Construmetal 2014 – Congresso Latino-Americano da Construção
Metálica – 02 a 04 de setembro de 2014, São Paulo, SP, Brasil.
1
1 INTRODUÇÃO

A corrosão é a tendência natural que os materiais têm de retornarem ao seu estado de maior
estabilidade, no caso do aço, o óxido de Ferro. Esta é uma patologia muito comumente
encontrada em estruturas de aço e é um processo de deterioração que produz alterações
prejudiciais e indesejáveis nos elementos estruturais, podendo ser uma ameaça silenciosa à
integridade da estrutura. De acordo com o estudo da norte-americana Nace International (The
National Association of Corrosion Engineers), maior entidade de estudos sobre corrosão do
mundo, desenvolvido pela CC Technologies (EUA), o custo total dos efeitos da corrosão
metálica nos Estados Unidos alcança o montante de cerca de 280 bilhões de dólares anuais,
correspondentes a 3,1% do seu PIB.
Existem diversas formas de se proteger o aço contra a corrosão, sendo a pintura a principal
opção escolhida atualmente, tanto por motivos estéticos, quanto por falta de conhecimento
acerca de diferentes métodos. Um sistema de pintura pode ser uma excelente forma de
proteção contra a corrosão, desde que bem especificado e bem aplicado. No entanto, sendo
uma proteção por barreira, a pintura exige manutenções constantes para evitar que possíveis
fissuras no revestimento se tornem pontos foco de corrosão. Já a galvanização por imersão a
quente é um sistema de proteção muito eficiente para estruturas e elementos metálicos, que
promove uma proteção ainda maior do aço. O zinco tem propriedades que fazem com que a
proteção ao aço se dê tanto por barreira quanto catódica, principal diferencial deste método.
Ainda, ambos os métodos podem ser combinados, com a pintura sobre o aço galvanizado, o
chamado Sistema Duplex que, além de trazer o acabamento estético ao aço já galvanizado,
ainda promove uma proteção ainda maior ao substrato, através do chamado efeito sinérgico
entre os revestimentos.

2 PINTURA

A pintura anticorrosiva desempenha um papel importante na indústria da construção metálica,


já que dá acabamento ao produto final. Entretanto, mais importante que o acabamento, todo
o projeto de especificação da pintura exige um estudo elaborado do uso do aço, o local em
que será inserido e a agressividade do meio, a vida útil esperada e diversos outros fatores que
afetarão a durabilidade da estrutura. No Brasil, existe uma cultura de que a pintura é uma
solução simples e barata, porém, para se ter uma eficiente proteção, é necessário que se
tenha conhecimento dos diferentes tipos de tintas existentes, da correta preparação da
superfície – etapa fundamental anterior à aplicação de qualquer tipo de revestimento
anticorrosivo - e da adequada aplicação do revestimento – principalmente no que tange ao
tempo necessário entre a aplicação de cada camada aplicada de tinta. Hoje, ainda se tem no
país altos custos e perdas de equipamentos por falta de manutenção e até mesmo pela
incorreta especificação técnica ou aplicação incorreta do revestimento anticorrosivo.
O principal mecanismo de proteção das tintas é a proteção por barreira, ou seja, a camada de
pintura isola o substrato de aço do contato com o meio corrosivo. Neste tipo de proteção, é
comum que ocorra a corrosão por baixo da película de revestimento, pois possíveis fissuras no
revestimento podem fazer com que o eletrólito alcance o metal. A corrosão, neste caso, pode
ocorrer de forma silenciosa, só será visível quando a pintura começar a desplacar. A Figura 1
mostra as características do revestimento quando ocorre alguma fissura. A corrosão do

2
substrato começa imediatamente e os produtos de corrosão do aço (óxido de ferro) são mais
volumosos, fazendo com que a tinta solte do substrato. A pintura não é indicada em casos em
que se tenha muitos choques mecânicos à estrutura e é necessário tomar cuidado no
transporte, manuseio e montagem da estrutura, quando a pintura é anterior à estas etapas,
para se evitar ao máximo possíveis fissuras no revestimento e os problemas de corrosão
decorrentes.

Figura 1. Comportamento da camada de tinta quando ocorrem fissuras no revestimento.

Para proteger uma estrutura ou equipamento, faz-se a aplicação de um esquema de pintura


sobre a superfície que se quer proteger. O chamado “esquema de pintura” é um procedimento
no qual são especificados os detalhes técnicos contemplados na aplicação, como o tipo de
preparação e o grau de limpeza da superfície, as tintas de fundo, intermediária e de
acabamento bem como suas espessuras, intervalos entre demãos e método de aplicação das
tintas. Existem diversas normas e procedimentos que podem ser seguidos para o esquema de
pintura ser eficiente.

3 GALVANIZAÇÃO POR IMERSÃO A QUENTE

O processo de galvanização por imersão a quente consiste na imersão de uma peça de aço em
diversos banhos de limpeza desse aço e, posteriormente, em um banho de Zinco fundido, a
450°C, o que garante ao aço a proteção contra a corrosão tanto por barreira, com a formação
de uma camada de zinco metálico puro na superfície da peça, quanto catódica, com a difusão
do Zinco na rede cristalina da peça, e consequente formação de camadas intermetálicas Ferro-
Zinco, além da camada de Zinco puro, conforme Figura 2.

Figura 2. Camadas Ferro-Zinco e Zinco puro formadas no processo de galvanização.

3
O Zinco, por ser mais eletronegativo que o aço, sofre corrosão preferencial em relação ao aço
e sacrifica-se para protegê-lo, esta é a chamada proteção catódica. Os produtos de corrosão do
Zinco são aderentes e insolúveis e se depositam sobre a superfície do aço, isolando-o da
atmosfera, evitando assim a corrosão em um processo semelhante à cicatrização. A taxa de
corrosão do Zinco é linear em um ambiente específico, o que permite estimar a durabilidade
do revestimento com base na sua espessura e através das taxas de corrosão determinadas
para as categorias de corrosividade do ambiente, conforme a norma ABNT NBR 14643
Corrosão atmosférica – Classificação da corrosividade de atmosferas, indicada na Tabela 1 e
Figura 3.

Tabela 1. Taxas indicativas de corrosão para ambientes diferentes (categorias de corrosividade


de acordo com a ABNT NBR 14643)

Taxa média anual de Taxa média anual de


Categoria de corrosividade
corrosão Zn (µm/ano) corrosão aço (µm/ano)

C1 | interior: seco < 0,1 < 1,3

C2 | interior: condensação ocasional


0,1 a 0,7 1,3 a 25
exterior: rural
C3 | interior: alta umidade, pouca
poluição no ar
0,7 a 2,1 25 a 50
exterior: interior urbano ou costa
urbana
C4 | interior: piscinas, plantas
químicas
2,1 a 4,2 50 a 80
exterior: interior industrial ou
costa urbana
C5 | exterior: industrial com alta
4,2 a 8,4 80 a 200
umidade ou alta salinidade costal

Figura 3. Efeito das condições ambientais na vida útil das estruturas zincadas.

4
O processo de galvanização por imersão a quente como forma de proteção contra a corrosão é
indicado quando as estruturas estão expostas a ambientes agressivos e quando é esperada
uma grande durabilidade, no entanto, seu comportamento varia de acordo com o pH do
ambiente em que está inserido. A Figura 4 mostra a perda de massa do aço galvanizado
conforme o pH do ambiente.

Figura 4. Perda de massa do aço galvanizado conforme o pH do ambiente.

Nota-se que o aço galvanizado tem bom comportamento, com baixas perdas de massa, em
ambientes com pH entre 5 e 12. Em ambientes em que o pH é inferior à 5 ou mais alcalino que
12, recomenda-se além da galvanização, a aplicação da pintura, o chamado Sistema Duplex.

4 SISTEMA DUPLEX

O sistema Duplex, ou a pintura sobre aço galvanizado é especificado por duas razões
principais: pela necessidade de cores por motivos estéticos, identificação ou sinalização ou
também pela necessidade de máxima durabilidade em meio ambiente agressivo, ou ambos.
Quando a estrutura metálica sofre ação de agentes corrosivos em meio fortemente ácido (pH
<5) ou fortemente alcalino (pH >12), a galvanização sofre uma perda de massa considerável ao
longo do tempo e, portanto, uma proteção adicional é necessária.
A durabilidade do sistema duplex não é simplesmente a soma das expectativas de vida útil dos
sistemas de pintura e de galvanização separadamente, o substrato de aço dura de 1,5 a 2,5
vezes mais do que essa simples soma. Isto se deve ao efeito de sinergia entre os dois métodos
de proteção. A tinta age como proteção por barreira e diminui a taxa com que o zinco é
consumido, estendendo significativamente a durabilidade do aço galvanizado. Por outro lado,
a camada de galvanização age como material de sacrifício, evitando os pontos foco de
corrosão e a descamação da tinta, muitas vezes observada no aço comum. Uma vez que a
camada de tinta for danificada, o zinco ainda estará disponível para fornecer tanto a proteção
por barreira quanto a catódica. A Figura 5 mostra os resultados de um estudo realizado pela
Australazian Zinc Development Association que buscava estimar a expectativa de durabilidade
de um aço galvanizado e pintado.

5
12 11
Tempo para a 1ª manutenção (anos)

10

6 Vida útil total da


4 Expectativa inicial estrutura.
4 3 de durabilidade do
aço galvanizado e
2 pintado.

0
Pintura Galvanização Sistema Duplex

Figura 5. Tempo para a primeira manutenção com a utilização de diferentes métodos de


proteção contra a corrosão.

Neste estudo, a estrutura pintada teve durabilidade de 3 anos, enquanto o aço galvanizado
durou 4 anos. Seria esperado que o sistema duplex tivesse durabilidade de 7 anos, no entanto,
foi observado que a estrutura teve vida útil de 11 anos, ou seja, 1,6 vezes maior que a simples
soma. Os produtos de corrosão do aço são mais volumosos, possuem maior solubilidade e em
3 anos a tinta já apresentou desplacamento. Já os produtos de corrosão do zinco são menos
volumosos e menos solúveis, preservando a integridade da camada de tinta por mais tempo. A
Figura 6 ilustra o exemplo.

Figura 6. Sinergia entre os revestimentos de zinco e pintura.

Tanto o aço galvanizado novo, quanto peças já galvanizadas há mais tempo podem ser
pintadas, e cada um necessita de uma preparação diferente para receber a tinta na superfície.
No caso de aços galvanizados novos, o tratamento da superfície se da por 3 maneira possíveis:

6
tratamento químico de fosfatização (conforme NBR 9209), por jateamento abrasivo com areia
ou outro abrasivo que promova remoção de, no máximo, 10% da espessura da camada de
zinco ou então um tratamento mecânico e manual, preparando a superfície por meio de
escovamento ou lixamento mecânico ou manual, conforme NBR 7346 e NBR 7347. Já para o
galvanizado envelhecido, caso não haja corrosão no substrato ferroso, deve-se remover os
produtos de corrosão branca e impurezas, por meio de escovamento ou lixamento. No caso de
se utilizar tratamento mecânico, o polimento da superfície zincada deve ser evitado. Se houver
corrosão no substrato ferroso, as áreas com corrosão devem ser reparadas através de
jateamento abrasivo ao metal quase branco, grau Sa 2 ½ da norma NBR 7348.
Existem tipos de tintas específicos que podem ser usados para pintura sobre aço galvanizado.
Tintas alquídicas, por exemplo, não são indicadas, ocorre a perda de flexibilidade e da
aderência, conforme Figura 7. Por desconhecimento da maioria dos pintores que utilizam
tintas à óleo e alquídicas (primer e esmalte sintéticos), muitas vezes saõ utilizadas
erroneamente, por serem as tintas mais comuns e mais encontradas no mercado. Em seguida
da aplicação da tinta, o revestimento ainda permanece satisfatório, no entanto, tempos depois
começam se destacar.
Estas tintas falham quando aplicadas sobre o aço galvanizado pelas seguintes razões: As tintas
a óleo, os primers e os esmaltes sintéticos contém óleos vegetais que contém ácidos graxos
livres. Estes, reagem com os produtos de corrosão do zinco de caráter alcalino formando
sabões de zinco. Por causa da alta permeabilidade ao vapor de água e ao oxigênio destas
resinas, as películas de tintas não estarão mais aderidas diretamente sobre o zinco, mas sobre
seus produtos de corrosão, principalmente óxido, hidróxido e sabões de zinco. Compostos
solúveis sob a película de tinta provocam o surgimento de bolhas por causa do fenômeno de
osmose, que também contribuem para agravar o problema de destacamento. A presença de
óxido de zinco na superfície causa envelhecimento precoce da película de tinta alquídica com
perda de aderência e de flexibilidade. Com o fissuramento, a água penetra na interface
Metal/Tinta, onde existem os compostos solúveis e os sabões, causando o colapso total do
sistema de pintura. A solução é o emprego de tintas insaponíficáveis, de alta aderência e de
alta impermeabilidade.

Figura 7. Comportamento de tintas alquídicas quando aplicadas sobre aço galvanizado.

A tinta epoxi-isocianato, é hoje a mais usada na indústria por oferecer uma série de vantagens.
Esta tinta é insaponificável, se liga quimicamente ao zinco e oferece uma excelente base de
aderência para diversos sistemas de pintura, como, por exemplo, alquídicos, acrílicos,
epoxídicos e poliuretanos. Atualmente existem também as tintas acrílicas à base de água que

7
proporcionam uma boa aderência sobre o aço zincado. Neste caso, devem ser usadas tintas de
acabamento também acrílicas.

5 CONCLUSÕES

Existem diversas formas de se proteger o aço contra a corrosão, sendo a pintura, proteção por
barreira, uma técnica muito utilizada. No entanto, a galvanização por imersão a quente, além
da proteção por barreira, ainda oferece a proteção catódica, o que torna essa opção mais
interessante quando se avaliar a durabilidade da estrutura. Principalmente nos casos em que
as estruturas de aço estão em ambientes corrosivos e que há dificuldade de acesso para
manutenção, a galvanização é a proteção mais adequada.
O aço galvanizado é muito interessante em termos de longa durabilidade, mas pode oferecer
uma vida útil maior ainda se pintado com tintas adequadas, selecionadas em função da
agressividade do meio ambiente, sobre uma superfície corretamente preparada, o sistema
duplex. Os produtos de corrosão do zinco são muito menos volumosos do que os do aço, e por
isso danificam menos a tinta, contribuindo para que a pintura proteja a superfície por mais
tempo. Se as tintas forem aplicadas enquanto o galvanizado está novo e ainda não sofreu
desgaste, a durabilidade da pintura será maior e o custo de manutenção será muito menor. A
tinta, neste caso, não compete com o aço galvanizado, o complementa, trazendo uma maior
durabilidade e maior segurança às estruturas de aço.

6 REFERÊNCIAS

1 NUNES, Laerce de Paula; LOBO, Alfredo Carlos O. Pintura Industrial na Proteção


Anticorrosiva. Rio de Janeiro: Interciência: Petrobrás, 2007.

2 Guia da Galvanização por Imersão a Quente. ICZ – Instituto de Metais Não Ferrosos. 2010.
Disponível em: http://www.icz.org.br/portaldagalvanizacao/biblioteca-publicacoes.php

3 FRAGATA, Fernando de L. Qualificação para Inspetor de Pintura Nível 1 – Módulo I: A


Pintura como Técnica da Proteção Anticorrosiva. Rio de Janeiro: Publit Soluções Editoriais,
2009.

4 GNECCO, Celso. Tratamento de superfície e pintura. Tintas Sumaré.


Disponível em: http://www.tintassumare.com.br/imagens/dica/dica_galvanizado.pdf

8
Tema: Proteção das Estruturas – Corrosão e Incêndio (com Sustentabilidade)

High Performance Green Coating

Mr. Ashraf Wassef ¹

Abstract
Steel fabrication has many types like prefabricated buildings, pre-engineered buildings, general
steel structures, offshore structures, vessels, tanks etc.

There are emerging demands for Environmentally-friendly coating systems which has less impact on
environment, more safer for users and meet green legislation or building rating systems like LEED.

For many years people believe that waterborne coatings are not as good as solvent born when
it comes to application property, corrosion protection and durability. The current waterborne
technology has reached high level of quality, ease of application and longer durability in
comparison with solvent borne protective coatings.

This paper will highlight the new generation of Green Coatings that meet steel fabricators
needs for speed, ease of application and meeting sustainability requirements.

Considering the different steel fabrication process, surface preparation, coating and quality
control are a cost driver and time consuming. We will propose few coating technologies which
can save time by reducing application time; minimize QC time and faster to dispatch coated
steel for erection. Those systems are either complete waterborne or hybrid systems for
corrosion protection, fire proofing and aesthetical needs. All proposed coating systems are
conforming to major regulation when it comes to Health, safety and Environment. In addition
they meet the needs of most commonly used building rating systems like LEED v3 and v4.

Keywords: Coatings; Green Coatings; Fireproofing; LEED; Corrosion Protection; Corrosão;


Incêndio; Sustentabilidade

¹ Civil Engineer, Global Sales Director, Infrastructure Segment, Jotun UAE, Dubai, United Arab Emirates.

________________________________
* Contribuição técnica ao Construmetal 2014 – Congresso Latino-Americano da Construção
Metálica – 02 a 04 de setembro de 2014, São Paulo, SP, Brasil.
1
1 INTRODUCTION

Jotun A/S – Performance Coatings Division decided to develop a new water born complete
system that meets Green Building Rating Standards; LEED was selected as the most widely
used in the countries where Jotun has factories and sales offices.

Three labs joint efforts to develop full solution to Steel structures Fabrication Industry;
Anticorrosive lab, Topcoat Lab and Intumescent Coating lab.

The project started approximately 3 years ago and new products were launched during
December 2013 to May 2014.

First product: 2 component waterborne epoxy primer (will name it in this paper 2CWB
primer)
Second Product: 2 component HAP’s Free epoxy primer (will name it in this paper 2CSB
primer)
Third Product: 1 component acrylic topcoat - LEED compliant (will name it in this paper 1CWB
topcoat)
Fourth Product: 1 component waterborne intumescent fire proofing coating - LEED compliant
(will name it in this paper 1 C WB INTU)

2 MATERIAL AND METHODS

Anticorrosive Lab - Project No. 1: 2C WB primer

Growing demand on environmental-friendly coatings pushes protective coatings


towards waterborne formulations. Waterborne coatings have low VOC and less hazard
substances. Jotun’s more than 20 years’ experience with anticorrosive waterborne
coatings proves that waterborne coatings are as good as solvent borne. As any
technology waterborne coatings have benefits and challenges. And as any technology
waterborne formulations can be adjusted to meet customer needs.

A recently launched two component (2C WB primer); anticorrosive waterborne epoxy


primer/intermediate paint has properties typical for solvent-borne epoxies: good
anticorrosive performance, good application properties, excellent adhesion to steel,
non-ferric substrates and concrete, visible end of pot life. In addition to that it has VOC
below 70 gr/ltr compare to 250 gr/ltr for a conversional solvent borne epoxy primer. It
makes the new product a good supplement for a conversional solvent borne epoxy in
markets looking for environmental-friendly products with protective properties.

Different combinations of raw materials have been tested in more than 20 formulations.
The main focus of raw material screening was on anticorrosion performance of a primer
and optimal formulation cost. In the first screening the most expensive formulations
have been rejected.
The rest of formulations have been applied by airless spray on Sa2½ steel panels and
used for accelerated corrosion tests like: Salt Spray (ISO 7253 and ASTM B117-97),
Prohesion (ASTM G85-94), Humidity (BS 3900-part F2).

2
Anticorrosive Lab - Project No. 2: 2C SB primer

Develop a 2C SB primer, curing down to 0 C, quick drying/ dry to handle. Reduces the
emission of volatile organic compounds (VOC) to a minimum; reduces wastage and
volume of paint required; less environmental impact and safer to use High solids
primer/intermediate coat for protection of steel and other non-ferrous substrates in
urban and industrial atmospheres, coastal areas with low/moderate salinity and where
fast dry-to-recoat and/or dry-to-handle times are desired.
Product shall be VOC compliant, HAP’s Free and compatible with intumescent coatings.

Key features:

Easy application
Good flow and film formation combined with no sagging ensure wide flexibility for the
applicators

Wide DFT range


Easy application with good flow and film formation combined with no sagging ensure
wide flexibility in application (60 -250 µm DFT); tailored product variants to meet
specific customer requirements i.e. zinc phosphate, MIO variants

Fast drying
Speeds up the process and improves efficiency for applicators, contractors and steel
fabricators; reduces the need for space to dry painted steel structures; reduces the risk
of damage during transport/handling; High build; saves application time - saves money
Speeding up the production process - a coating system can be completed in a day

Topcoat Lab - Project No. 3: 1 C WB topcoat

The target was to develop a new 1C WB topcoat for use in selected Protective markets.
The focus areas were to develop a glossy topcoat to be tinted on the MC Deco tinting
machines. The product had to be good regards to application properties and in
accordance to LEED requirements.

The topcoat was to be made on WB acrylic technology. The development was based on
knowledge and experience from our long existing WB topcoat on the market and from
our decorative division colleagues. A screening was done on a range of acrylic resin,
and they were tested for critical criteria`s as gloss level, hardness development, color
compatibility, appearance by airless spray e.g.

The most promising acrylic resin was then tested and optimized to match the criteria
of the product: Application properties, durability, flexibility, appearance, hardness,
drying times e.g. The selecting of raw materials was based on: Health profile of the

3
raw materials, preferably raw materials already registered in our systems and
worldwide accessibility and cost.

The WB topcoat is produced in both, Barcelona, Spain and in, Abu Dhabi, UAE. The
paint has been sent to several of our regional labs; Dubai, China, Malaysia e. g for
testing.

The WB topcoat has been tested by an external company and passed LEEDv4
requirement regards VOC content and VOC emission. It has passed the low flame
spread test, IMO 2010 FTPC and it is also approved to C3 according to ISO 12944.

Global Intumescent Centre - Project No.4: 1 C WB INTU

Develop a new 120 minute water borne intumescent coating for the infrastructure
market which is both competitive and environment friendly. Conform to Green Seal
standard (Formaldehyde, APEO and Phthalate free) and LEED v3 & v4

3 RESULTS AND DISCUSSION

Project No. 1: 2C WB primer

Coating performance is a sum of formulation design and careful raw material choice.
This is truer for waterborne coatings than for any other coatings. Raw materials for
waterborne coatings are costly. Economical formulation design requires deep
understanding of paint chemistry and extensive knowledge of existing raw materials. It
took 4 years of development work and testing to make a final formulation of the 2C
WB primer waterborne epoxy primer with balanced properties and formulation cost.

Extensive accelerated corrosion testing according to ISO 12944 proved that this primer
combined in waterborne or hybrid systems can be used from C2 to C5 corrosion
environments. Salt Spray (ISO 7253 and ASTM B117-97), Prohesion (ASTM G85-94),
and Humidity (BS 3900-part F2) test results confirm that the 2C WB primer waterborne
epoxy can compete with solvent borne epoxy in anticorrosive performance.

Due to visible end of pot life applicator does not need stopwatch for each tin with
mixed paint. Convenient mixing ratio (2:1 by volume) and good workability make it
easy to work with.

Low VOC improves quality of the working area due to low solvent smell and less hazard
during the application.

Drying time of waterborne coatings is very dependent on the environmental


conditions. The fact that low humidity (30-50%RH) and high temperatures (over 30ºC)
significantly reduce drying time makes waterborne coatings very attractive for markets
with controlled application/drying environment (like steel pre-fabrication and EMI) and

4
countries with warm climates. However, carefully formulated WG version of this new
primer secures good drying speed down to 5ºC.

First trial application in Dubai (40%RH, air temperature 45ºC, steel temperature on sun
site 55ºC) confirmed good workability, excellent sag resistance (600 mic WFT) and
short drying time of the new 2K waterborne epoxy primer/ intermediate. Application
has been done by airless spray on Sa2½ steel sheets of size 2x6m and concrete samples
of size 50x50cm. Good adhesion between primer and substrate was measured both on
steel and concrete. The primer has excellent compatibility with different concrete
sealers (WB, SB, and SF).

Second trial application has been performed in China (55%RH, air temperature 18ºC,
steel temperature 17,5ºC). Application has been done on boiler steel pillars (difficult
geometry which is not easy to prepare for painting). The product showed excellent
robustness to the surface preparation, making smooth film with good adhesion to
substrate, excellent sag-resistance and no sign of flush-rust.

Achievement:
 2C WB primer epoxy primer/intermediate paint which cures down to 5 °C
 Contains active corrosion protective pigments and flash rusting inhibitors
 Available in standard and WG(cold climate) versions
 Standard for temperatures from 15 ºC to 40 ºC
 WG for temperatures from 5 ºC to 23 ºC
 For steel, aluminium, galvanized steel, stainless steel and concrete in
atmospheric conditions
 For paint systems with zinc primers and water-borne acrylics, water-borne
epoxy and suitable solvent-borne coatings and topcoats

5
Adhesion comparison with older WB epoxy primer:

________________________________
* Contribuição tecnocientífica ao Construmetal 2014 – Congresso Sulamericano de Estruturas
Metálicas – 02 a 04 de setembro de 2014, São Paulo, SP, Brasil.
6
Trail production / application
China:

7
Qatar application:

Project No. 2: 2C SB primer

Tests (lab and field): Low temp cure, application at low temp, recoating, VS% test,
corrosion tests, condensation tests, abrasion, flexibility, adhesion on various substrates
with various topcoats, adhesion of intumescent, fire tests etc.
The result is a versatile product meets all wanted features; easy to use providing
protection to steel and other substrates in urban and industrial atmospheres, coastal
areas with low/moderate salinity and where fast dry-to-recoat and/or dry-to-handle
times are desired

Project No. 3; 1 C WB Topcoat:


ISO 12944: Test of paint system according to C3, Salt Spray Test and Condensation
test.

8
Dirt Pick up resistance: The panels are exposed to carbon black slurry for testing of dirt
pick up resistance of a paint film.

Colour compatibility: Selected MC tinters and critical colors are tested in all bases for
colour compatibility.

Base White

Base 3 (Neutral)

9
10
Global Intumescent Centre - Project No. 4: 1 C WB INTU

Tested to BS 476 (British Standard).

First part of the extensive testing was carried out internally with over 40 sections fire tested
when an acceptable formulation was established. This program was devised to give us the best
possible outlook on how to test externally, as testing can be the most difficult part of the
product development process. The second part of the test was conducted externally with over
80 sections including 3 loaded beams, 4 tall columns, 1 loaded column and 6 cell beams. Over
1500 liters of paint was sprayed to achieve the thicknesses required.

The results obtained on these tests were very good, reaching up to 30% better loadings than
the major global competitor at the 120 minutes target area. The product can also cover all
time periods with some protection for up to 180 minutes on certain section sizes.

The direction of the global market is towards the use of materials with minimal environmental
impact, this green product complying with LEED’s requirement for low VOC at only 24g/L.

Further testing in the future will be carried out on UL263 (USA and Canada), EN13381 (Europe)
and BS476 for a full 3 hour range. There will also be testing carried out on GB14907 (China)
and GOHST (Russia).

4 CONCLUSIONS

Jotun has completed a full New Generation of High Performance Green Coatings range for
Steel fabricators; the system is FAST, Safe and Saving costs. The system provides anticorrosion,
colourful topcoat and fire proofing for up to 3 hours if needed.

Thanks

Project No. 1: 2C SB primer: Thanks to Ms. Tatyana Strenalyuk


Project No. 2: 2C SB primer: Thanks to Mr. Victor Mascarenhas
Project No. 3; 1 C WB Topcoat: Thanks to Ms. Heidi Guren
Project No. 4: 1 C WB INTU: Thanks to Mr. Brett Bullough

11
REFERENCES (BIBLIOGRAPHY)

Ms. Tatyana Strenalyuk


PhD degree in chemistry from University of Oslo; work in Jotun R&D since July 2009;
now R&D Senior Chemist Primer.

Mr. Victor Mascarenhas


He is Chemist work as Laboratory Manager- Protective coatings; Regional R&D Lab ME
located in Dubai with 26 years of R&D experience.

Ms. Heidi Guren


She is Norwegian; here academic background is Senior R&D Chemist, MSc in
Chemistry from NTNU in Trondheim - Trondheim- Norway, 2005; Started working in
Jotun AS in 2007 and have worked since in the Topcoat group stated in Sandefjord,
Norway.

Mr. Brett Bullough


Sr R&D Intumescent Chemist, Jotun UAE, Dubai.
Worked in fire protection for 16 years the last 2 being for Jotun

12
Congresso Latino-Americano da Construção Metálica
Construmetal 2014

www.construmetal.com.br

ABCEM – Associação Brasileira da Construção Metálica


Av. Brig. Faria Lima, 1931 - 9º Andar - 01451.917 – São Paulo, SP – Brasil

www.abcem.org.br

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