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comércio exterior

Trading Companies no Brasil


Companies
Lia Valls Pereira e Marcelo Boavista

O presente artigo é baseado japonesas no início dos anos


numa pesquisa sobre o setor de 1970 inspirou as autoridades
trading companies/comerciais brasileiras na busca para ampliar
exportadoras no Brasil solicitada e diversificar a base exportadora
à FGV pela Agência Brasileira de nacional. O objetivo era a
Promoção de Exportações e inclusão das PMEs e o aumento
Investimentos (Apex-Brasil), cujo das vendas de produtos
objetivo se insere no esforço de manufaturados.
promoção da atividade
exportadora realizado pelo No entanto, após mais de 30
governo brasileiro no âmbito da anos, os resultados não foram
Política de Desenvolvimento os esperados. A participação
Produtivo (PDP). Mais das tradings e das empresas
especificamente, esta pesquisa comerciais exportadoras no
integra o Projeto Tradings da comércio exterior é pequena
Apex-Brasil, que tem por (cerca de 8%), e a maioria dos
finalidade o aumento do número produtos comercializados são
de Pequenas e Médias Empresas commodities agrícolas ou
(PMEs) na base exportadora minerais. Diante desse quadro,
brasileira. foi colocada a seguinte questão:
por que um veículo como as
A inclusão das tradings na tradings, com apelo intuitivo tão
agenda de comércio exterior evidente, não se mostrou eficaz
brasileiro não é novidade. no Brasil?
O exemplo de sucesso
proporcionado principalmente O artigo está organizado em oito
pelas trading companies seções. A segunda seção

Lia Valls Pereira é do Instituto Brasileiro de Economia/Fundação Getulio Vargas e


da Faculdade de Ciências Econômicas/UERJ e Marcelo Boavista é economista.

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apresentará os aspectos delas sendo responsável por
O exemplo de sucesso conceituais concernentes e cerca de 80% das importações e
das trading companies o desenvolvimento do setor no 12% das exportações. O nível de
Brasil. A terceira seção abordará concentração era tal que apenas
japonesas no início dos
o cenário atual, a quarta seção 12 firmas respondiam por 60%
anos 1970 inspirou as se ocupará dos aspectos legais e das exportações, 70% das
autoridades brasileiras dos incentivos fiscais, a quinta importações e 25% do comércio
na busca para ampliar e seção registrará os principais interno (Milanez, 1974).
problemas enfrentados pelo setor,
diversificar a base Em termos gerais, a lógica era
a sexta seção apresentará o
exportadora nacional simples: incentivar a constituição
diagnóstico realizado pelo
de grandes empresas de
estudo, a sétima seção trará
intermediação comercial que
algumas sugestões para
eliminassem custos e riscos
tratamento dos problemas
levantados e a última seção enfrentados por PMEs no desafio
concluirá o trabalho. de exportar. Assim, à época da
promulgação do Decreto-lei 1.248,
de 29 de novembro de 1972 –
ASPECTOS CONCEITUAIS marco inicial da legislação acerca
E O SETOR DE das trading companies –, a
TRADINGS NO BRASIL concepção básica do papel de
uma trading no Brasil era
A observação da experiência “apenas” a de um intermediário
internacional e uma análise comercial, cuja especialização na
teórica de custos e benefícios atividade de comercialização de
mostram a importância dos grandes volumes geraria a escala
intermediários comerciais suficiente para sua viabilidade
(trading companies/comerciais financeira (Coimbra, 1977).1
exportadoras) no conjunto de
possibilidades à disposição dos O que se pretendia era fazer com
programas de promoção das que a exportação se igualasse a
exportações dos países. uma venda interna – com toda
De fato, o exemplo de sucesso sua facilidade/praticidade –,
proporcionado principalmente colocando o gerenciamento dos
pelas tradings japonesas no custos e riscos envolvidos no
início dos anos 1970 inspirou as comércio exterior a cargo de
autoridades brasileiras na busca intermediários comerciais. Ou
de uma solução microeconômica seja, estava-se fomentando –
para o problema da ampliação através de incentivos à demanda
da base exportadora nacional e à oferta – um mercado que
através da inclusão de Pequenas seria a ponte entre parte de
e Médias Empresas. Apenas para nossa produção e o mercado
se ter uma ideia, o número de externo.
trading companies operando no
Japão em 1971 ultrapassava Na concepção original, a trading
cinco mil – com menos de 1% era vista basicamente como um

1
É interessante notar que a literatura técnica do período desenvolve sua análise de acordo com a
visão de “intermediários comerciais” – que se mostrará limitada ao longo do tempo.

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intermediário comercial. Nesse aspectos cadastrais da exterior, e não mais se baseasse
caso, os principais benefícios capacidade financeira e na exportação de excedentes.
que gera para as empresas que idoneidade da trading, quanto na
Os aspectos debatidos no
utilizam seus serviços são: sua capacidade de, eficientemente,
período compuseram uma vasta
executar os serviços propostos.
z Eliminação dos custos de agenda. Temas como tamanho
prospecção de mercados (selecionar Dado o contexto acima – um das empresas, faturamento
países, importadores, etc); amplo leque de benefícios e mínimo requerido, participação do
custos relativamente baixos –, capital externo, tipos de produtos
z Eliminação dos custos de a comercialização via trading e/ou mercados, tradings gerais
negociação (idioma inclusive); traduzir-se-ia em benefício líquido ou especializadas, entre outros,
para a empresa e, por extensão, estavam presentes no debate
z Eliminação da necessidade de
para a sociedade, que pode (Colaiacovo, 1986).
obter informações sobre aspectos
viabilizar a conquista de novos
econômicos dos países para os Outro dado importante do
mercados, com consequente
quais se tenciona exportar; processo que culminou com o
expansão das possibilidades de
z Dispensa dos trâmites produção e geração de divisas. Decreto-lei 1.248/72 foi a
burocráticos envolvidos no Nesse ponto, é interessante notar contratação, pelo governo
processo de exportação; que podemos encarar o benefício brasileiro, da empresa de
líquido proporcionado pela consultoria inglesa Peter Wards
z Eliminação dos riscos inerentes atuação das tradings como um Associates para a realização de
à movimentação internacional de “alívio cambial” implícito. Ou seja, um estudo sobre a viabilidade da
mercadorias, uma vez que a o ganho de eficiência por elas implantação do sistema, o que
negociação se dá no mercado proporcionado atua favoravelmente demonstra o grau de
interno e em moeda nacional. sobre a taxa de câmbio real. comprometimento e preocupação
Ou seja, ao alavancar as que havia com o desenvolvimento
Os benefícios elencados acima – exportações, o benefício das de um modelo realmente adequado.
consubstanciados na extinção de tradings equivale a uma
Duas sugestões extraídas desse
diversos custos de transação ou desvalorização real da moeda.
relatório e apresentadas em
de comercialização – são
Posto isso, é importante relatar Colaiacovo (1986) servem como
significativos, uma vez que, para
as discussões que precederam a exemplos adicionais das
a maior parte das PMEs que
implantação do sistema no discussões realizadas à época:
pensam em produzir para
Brasil. O período 1970-1972 – exigência de capital mínimo de
exportar, é praticamente inviável o
que antecedeu a promulgação do US$ 15 milhões e a constituição
investimento na montagem de
Decreto Lei 1.248/72 – foi de de apenas quatro ou cinco
estruturas internas para cuidar
muita reflexão e debates.2 O grandes tradings.
desses aspectos.
desejo do governo era mudar a
Identificados os benefícios da concepção do empresariado em Não são evidenciadas as
intermediação comercial, deve-se relação à atividade exportadora, justificativas para as sugestões,
observar que eles precisam ser fazendo com que ela mas as razões nos parecem claras
comparados basicamente aos contemplasse o investimento em e podem ser resumidas em: garantia
custos relativos à qualidade do projetos de exportação, ou seja, de uma estrutura para exercer as
intermediário comercial, em ampliação da capacidade atividades e ganhos de escala
sentido amplo, ou seja, tanto nos instalada voltada ao comércio proporcionados pela concentração
do volume de operações. Como
veremos na seção subsequente,
2
Nesse contexto, é importante registrar o “Simpósio Nacional sobre Trading companies” realizado o governo acatou parcialmente a
em São Paulo nos dias 27, 28 e 29 de setembro de 1972, organizado pelo Instituto de Organização
Racional do Trabalho (IDORT) e pela FIESP-CIESP, em colaboração com o International Management primeira recomendação e rejeitou
Cooperation Committee (IMCC) de Tóquio. Um evento de grande porte do qual participaram diversos
empresários, consultores e representantes do governo brasileiro. a segunda.

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É interessante notar que tanto previamente, esse dispositivo
A análise teórica de as discussões em curso no legal, que ainda está em vigência,
custos e benefícios Brasil citadas, quanto as ocupou-se apenas do serviço de
mostra a importância recomendações da consultoria intermediação comercial de uma
inglesa ratificam a percepção trading, equiparando a transação
dos intermediários
de que o ambiente estava comercial entre produtor-vendedor
comerciais no conjunto impregnado pelo exemplo e intermediário comercial a uma
de possibilidades à japonês. De fato, além do tema exportação direta – com todos os
da concentração de mercado, seus benefícios e incentivos.
disposição dos programas
as principais características
de promoção das das tradings no Japão eram:
Deve-se ressaltar que antes
do advento dessa legislação
exportações dos países
i. Presença em quase todos já existiam empresas comerciais
os mercados externos; exportadoras. Logo, a
contribuição da legislação
ii. Alto grau de diversificação foi estabelecer uma categoria
de produtos e serviços; específica de comerciais
iii. Negociações com produtos exportadoras – as que se
de outros grupos; e enquadrassem no disposto no
art. 2º do referido Decreto-lei.
iv. Vasta estrutura para Este determinava exigências
operações comerciais e quanto ao capital mínimo e à
financeiras. organização societária das
tradings, que pretendiam:
No caso brasileiro, entretanto,
i) minimizar a probabilidade
um ponto teve pouca atenção.
de as firmas não honrarem seus
A experiência internacional das
compromissos; ii) influenciar
tradings, relatada em IDORT
esse mercado com a visão de
(1972), mostra que as
que a escala mínima eficiente
importações constituem-se
para essas empresas deveria
em importante ponto de apoio
ser mais elevada (em linha com
comercial para essas empresas, a experiência japonesa); e
concedendo-lhe poder de iii) facilitar a fiscalização.
barganha. No entanto, o foco
das autoridades estava nas Ao mesmo tempo, como
exportações, o que fez com um incentivo adicional para a
que essa importante face das constituição dessa categoria de
tradings fosse negligenciada. comerciais exportadoras – desde
então designadas como trading
O Decreto-lei 1.248/72 companies –, ficou estabelecida
no art. 7º a possibilidade de, por
Em linha com a concepção tempo determinado, “abater do
desse mercado em voga no lucro sujeito ao imposto de renda
início dos anos 1970 e com as uma quantia igual à diferença
discussões analisadas na seção entre o valor dos produtos
anterior, o Decreto-lei 1.248, de manufaturados comprados de
29 de novembro de 1972, vem a produtores-vendedores na forma
se constituir no “marco zero” da do artigo 1.º e o valor FOB em
legislação para o setor no Brasil. moeda nacional das vendas dos
Conforme mencionado mesmos produtos para o exterior”.

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Logo, a distinção entre do público-alvo – dado que a 1976. Essa empresa passa
trading company e comercial estratégia de divulgação não a intermediar as compras
exportadora, à época da havia sido adequada –, até brasileiras de petróleo dos países
promulgação do Decreto-lei o fato de que grande parte das do Oriente Médio e as exportações
1.248/72, dizia respeito a empresas que operavam no setor brasileiras de um conjunto variado
determinadas características externo não possuía experiência de produtos, como aço, frangos
dessas empresas – porte e e estrutura para assumir a nova e plásticos, por exemplo.
estrutura societária requeridos tarefa (Colaiacovo, 1986). Ou As operações de countertrade
pelo art. 2º – e aos benefícios seja, alguns problemas naturais dominam esse intercâmbio.
fiscais por elas auferidos e de implantação desse novo
Logo, seja no setor privado ou no
por elas possibilitados aos modelo ainda não haviam sido
estatal, a ampliação do volume
produtores-vendedores. Como superados, o que se poderia
de comércio e da pauta de
ficará claro quando abordarmos reputar como normal. Outra
exportações das tradings não
a legislação vigente, a distinção hipótese discutida na época era
contemplava um universo
atual entre tradings e comerciais se o crescimento do comércio
significativo de bens produzidos
exportadoras diz respeito apenas de tradings não estaria se dando
por empresas de pequeno porte e
ao seu porte, uma vez que os através do simples deslocamento
se concentrava em commodities
benefícios fiscais envolvidos são de negócios já existentes e que
no final dos anos 1970 e início
rigorosamente os mesmos, com ocorreriam de qualquer forma –
dos anos 1980 (Santana, 2003).
as tradings especializando-se em uma vez que a maior parte das
operações de maior porte e tradings continua exportando A Tabela 1 mostra a evolução,
as comerciais exportadoras commodities. entre os anos de 1976 e 1984,
ocupando-se daquelas da participação das trading
É importante registrar que grande
de menor monta. companies nas exportações
parte dos negócios das tradings
brasileiras, que aumenta de
Desenvolvimento do setor: se dava na intermediação de
6,8%, em 1976, para 31%, em
de 1972 a meados dos anos operações de countertrade –
que têm como exemplo a relação 1983. O último dado disponível
1980 do ano de 1984 registra uma
comercial do Brasil com África e
A literatura disponível cobre o Oriente Médio nas décadas de participação de 30,5%.
período entre a promulgação do 1970 e 1980. Nesse contexto, a A Tabela 2 apresenta a
Decreto-lei 1.248/72 e meados Nigéria foi o primeiro país africano composição das exportações das
dos anos 1980 – sendo a estabelecer um contrato dessa tradings no período 1976/1984.
importante registrar a lacuna modalidade. Nele, o Brasil,
existente desde a metade dos à época grande importador de
anos 1980, fato também petróleo, comprava cerca de 100
observado por Kuzler (2000). mil barris de petróleo por dia e Tabela 1
Após dois anos do decreto que exportava o equivalente a 40 mil PARTICIPAÇÃO DAS
barris diários em veículos, peças TRADING COMPANIES NAS
criou as tradings, ainda não havia EXPORTAÇÕES DO BRASIL (%)
indícios de que o principal e outros produtos, por intermédio
da Cotia Trading – a mais Ano Total Básicos Manufaturados
resultado esperado – trazer à
importante parceira comercial 1976 6,8 8,3 4,9
base exportadora nacional um 1977 8,5 11,1 5,3
privada brasileira na Nigéria
número significativo de empresas 1978 9,9 13,2 7,1
(Santana, 2003). 1979 13,8 16,2 12,3
de pequeno porte e de
1980 18,7 25,4 14,2
exportações não tradicionais A importância das operações 1981 19,6 26,6 15,7
(não commodities) – estivesse de comércio associadas às 1982 30,3 28,9 31,2
se materializando. No rol de importações do petróleo é 1983 31 30,8 31,9
1984 30,5 39,7 26,5
explicações, encontra-se desde a ilustrada pela criação da Interbrás Fonte: Abece (1984).
falta de conhecimento por parte (uma trading da Petrobrás), em

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Há um aumento na participação após dez anos do Decreto-lei
A abertura de mercado, das exportações de manufaturas, 1.248/72.
no início dos anos 1990, que passa de 22,4% para 52%
O setor industrial explica 42%
entre 1976 e 1984. No entanto, os
seguida do período de da origem das tradings, porém a
produtos básicos continuam a ter agroindústria/pecuária responde
valorização cambial do um peso importante — o percentual por 29% desse setor.
Plano Real, fez com que na pauta foi de 42%, em 1984.
Segundo Colaiacovo (1986), até
as tradings migrassem da
A Tabela 3 apresenta o universo meados da década de 1980, as
atividade exportadora das tradings por setor de origem tradings não haviam preenchido
para a importadora

Tabela 2
EXPORTAÇÃO DAS TRADING COMPANIES BRASILEIRAS - 1976/1984 (%)
Ano Café Básicos Industrializados Total Geral
Manufaturados Seminanufaturados
1976 16,2 74,3 22,4 3,3 100,0
1977 38,1 74,8 21,1 4,1 100,0
1978 39,3 63,0 27,9 9,1 100,0
1979 31,9 50,4 43,0 6,7 100,0
1980 31,1 57,2 35,1 7,7 100,0
1981 18,3 51,9 40,1 8,0 100,0
1982 15,6 39,0 54,7 6,3 100,0
1983 14,0 38,6 49,8 11,6 100,0
1984 --- 42,2 51,8 5,9 100,0
Fonte: Abece (1984).

Tabela 3
TRADING COMPANIES POR SETOR DE ORIGEM - 1983
Setor N° de empresas Participação (%)
Financeiro 13 8,2
Comércio de Produtos Primários 17 10,8
Café 12 7,6
Cacau 5 3,2
Comercial 29 18,5
Comércio lojista e supermercados 8 5,1
Setor importador 7 4,5
Demais 14 8,9
Serviços e Construção Civil 6 3,8
Industrial 66 42
Textil 7 4,5
Madeira e papel 5 3,2
Agroindustria e agropecuária 19 12,1
Automobilistica e auto-peças 6 3,8
Metalúrgica e siderúrgica 6 3,8
Mineração 3 1,9
Outros 20 12,7
Consórcios e cooperativas 6 3,8
Estatal 2 1,3
Independentes 9 5,7
Não Identificados 9 5,7
Total 157 100,0
Fonte: Abece (1984).

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de forma satisfatória os objetivos z Ainda do lado dos produtores, O que se pode especular
de diversificação da pauta e as tradings se ressentiam de preliminarmente é que a questão
inclusão das PMEs. Algumas das cuidados com qualidade e prazos crucial da cultura exportadora em
razões citadas pelo autor e que de entrega; empresas de pequeno porte ainda
explicariam esse resultado estão não foi resolvida. Nos anos 1990,
z Salvo o caso das tradings
presentes no debate atual sobre abertura comercial e a valorização
de maior porte, havia falta de
o papel das tradings no Brasil. cambial não favoreceram
estrutura no exterior;
Destacam-se os seguintes a atividade exportadora.
problemas: z Do faturamento total das
Nesse contexto, o boom do
tradings, as operações de
z As tradings tinham uma visão comércio mundial entre 2004
exportação são o componente e 2007/08 atuou no sentido de
de curto prazo sobre a
fundamental, com escassa tornar mais fácil a vida de
lucratividade do seu ramo de
participação das operações de exportadores diretos, ao apresentar
negócios, faltando-lhes, portanto,
importação. Nesse contexto, as mercados mais receptivos e
uma estratégia de longo prazo;
tradings reivindicam maior espaço francamente compradores – o que
z Experiências negativas no para a realização dessas operações; poderia diminuir tanto a demanda
relacionamento com as tradings, quanto a oferta pelos serviços de
z Falta de mão-de-obra qualificada;
que eram vistas como tradings. A demanda seria
preocupadas apenas com seus z Reduzido leque de serviços reduzida por uma atitude mais
interesses, não estabelecendo oferecidos aos clientes. ativa dos compradores externos –
uma relação de parceria; buscando, eles mesmos, as
empresas nacionais, prescindindo
z Havia, do lado dos produtores, A partir da metade dos anos
da intermediação das tradings.
falta de visão de comércio exterior 1980, as tradings continuaram a
A oferta se reduziria por conta da
como estratégia permanente; se especializar e a se consolidar
elevação da receita das tradings
como braço exportador das
z Na linha do tópico anterior, através da elevação de preços,
empresas brasileiras – porém não
a maioria das empresas que demandando menos trabalho de
no sentido desejado pelo governo,
se envolvia em atividades de busca de fornecedores. Outras
uma vez que era baixa a
exportação o fazia de forma interpretações para explicar a
participação de empresas de
redução da participação das
eventual e acidental, atendendo pequeno porte no portfólio das
tradings nas exportações seriam:
apenas a pedidos recebidos tradings, e os produtos básicos
i) redução dos trâmites burocráticos
através de cartas ou de ainda desempenhavam papel
do comércio exterior brasileiro,
compradores que chegavam às relevante. No entanto, a abertura
como a introdução do Siscomex
empresas. Assim, um número de mercado, no início dos anos
na década de 1990; e ii) facilitação
significativo de empresas 1990, seguida do período de
para venda de manufaturas no
nacionais não estaria realmente valorização cambial do Plano
mercado sul- americano, que
exportando, e sim vendendo ao Real, fez com que as tradings
cresceu muito nesse período.
exterior através do sistema de migrassem da atividade
marketing nacional; exportadora para a importadora.
Dada a extensão desse período CENÁRIO ATUAL
z As empresas produtoras, de valorização cambial, as
em sua maioria, não exportavam O relatório da Funcex (Funcex,
estruturas de exportação foram
como forma de diversificação 2008)3 e Grisi (2003) mostram
sendo desmontadas, sobrando
que as trading companies/
de riscos, e sim como forma de apenas algumas empresas
comerciais exportadoras hoje são
resolver problemas internos de especializadas em produtos tais
empresas multifacetadas, que
curto prazo; como fertilizantes e açúcar.
“buscam adequar-se à realidade
3
e às necessidades próprias das
Pesquisa realizada através de questionário com 204 empresas (tradings e comerciais exportadoras)
e entrevistas com um subconjunto de 44. empresas produtoras ou

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exportadoras do país” (Grisi, 2003). operação de financiamento,
O boom do comércio Assim, os termos trading company pagamento a fornecedores etc.
e comercial exportadora têm, no
mundial entre 2004 e 2008, A apreciação comparativa
Brasil, uma dimensão conceitual
ao apresentar mercados maior do que quando foram
de estruturas de incentivo
internacionais, embora
mais receptivos e estabelecidos. Ou seja, não cabe
extremamente útil, foge ao
francamente compradores, mais a associação do termo
escopo deste trabalho.
trading apenas à exportação
facilitou a vida dos No entanto, acreditamos ser de
indireta, pois essas empresas
exportadores diretos grande utilidade avançar, mesmo
atuam tanto na compra de
que muito superficialmente, no
mercadorias para exportação
exemplo norte-americano, no
quanto no auxílio a outras
sentido de buscar indícios de que
empresas que pretendem
a concepção original embutida
exportar diretamente –
nos mecanismos de incentivo
oferecendo uma gama de
brasileiros pode ter contribuído
serviços de exportação que
para um desenvolvimento do setor
ultrapassa em muito a simples
aquém do esperado.
atividade de intermediação
comercial, caracterizando-as O arcabouço legal que formaliza
como facilitadoras, ou mesmo o tratamento das trading
consultoras, de exportação. companies nos EUA está
centrado na Export Trading
Os serviços oferecidos
Company Act of 1982 – dez
atualmente pelas tradings são:
anos após o estabelecimento
z Intermediação comercial; da nossa primeira diretriz –,
cujo objetivo declarado é:
z Prospecção comercial:
“incentivar exportações mediante
estudos de mercado,
a simplificação da constituição
identificação de clientes, canais
e operação de empresas de
de comercialização etc.;
comércio exterior, associações
z Ações de promoção comercial: comerciais de exportação e da
feiras, material promocional, expansão dos serviços de
propaganda, encontros de comércio exportador em geral
negócios etc.; (grifo nosso).”

z Suporte logístico: preparação


Essa lei, em sua seção 103 (a),
de documentação, contratação
define:
de transporte doméstico e
internacional, armazenagem, (3) “O termo “serviços de
serviços alfandegários etc.; comércio exportador” inclui,
sem a isso se limitar, consultoria,
z Apoio à organização da
pesquisa de mercado
produção e à adaptação de
internacional, propaganda,
produtos (regulamentos e normas
marketing, seguros, pesquisa e
técnicas, design, etiquetagem,
projetos de produtos, assistência
embalagem etc.);
jurídica, transportes, inclusive
z Serviços financeiros: documentação comercial e
gerenciamento de risco e despacho de fretes, comunicação
seguros, estruturação de e processamento de pedidos

78 RBCE - 103
estrangeiros de e para É importante registrar a falta de da Classificação Nacional de
exportadores e compradores dados sobre as tradings a partir Atividades Econômicas do IBGE.
estrangeiros, armazenamento, do final da década de 1980. Isso O total de empresas é de 5.749.
moeda estrangeira, financiamento dificulta a análise do tema, No entanto, a entrada de uma
e aquisição de direito a bens, inclusive o teste de algumas empresa no Diretório das
quando fornecidos a fim de hipóteses acerca dos impactos Tradings da Apex obedece a
facilitar a exportação de bens dos ambientes macroeconômico e critérios como um número
ou serviços produzidos nos EUA. microeconômico sobre a dinâmica mínimo de anos que a empresa
de operação dessas empresas. esteja realizando operações, por
(4) O termo “empresa de
Essa lacuna começou a ser exemplo. Logo, a informação do
comércio exportador” significa
resolvida recentemente, com a número de empresas (tradings e
uma pessoa, sociedade,
formação de um banco de dados comerciais exportadoras) era de
associação ou organização
das tradings companies/comerciais 639, em maio de 2010.
similar, quer operada com fins
exportadoras desenvolvido pela
lucrativos ou sem fins lucrativos, A Tabela 5 mostra os valores
Funcex para a Apex, o Diretório
que realiza negócios nos termos exportados por cada uma das
Tradings do Brasil.4 Não
da legislação dos Estados classes de empresas entre 2007
obstante, o objetivo do banco é
Unidos ou de algum de seus e 2008.
fornecer informações para facilitar
Estados e que seja organizada e
e estimular o comércio das É importante observar que cerca
operada principalmente com o
tradings, e não elaborar da metade do valor registrado pelas
objetivo de:
estatísticas temporais sobre o tradings (DL 1.248/72) em 2008
(A) exportar bens ou serviços desempenho de tais empresas. A refere-se a empresas que não
produzidos nos Estados Unidos; seguir, são apresentados alguns registraram operações em 2007.
ou dados disponibilizados pela Apex Em termos de taxa de variação
no âmbito do projeto citado. do agregado formado por tradings
(B) facilitar a exportação de bens e comerciais exportadoras, a taxa
ou serviços produzidos nos A Tabela 4 apresenta o número
de crescimento de 27% supera a
Estados Unidos por pessoas não de empresas registradas como
taxa registrada pelas exportações
filiadas mediante o fornecimento trading company e como comercial
totais do país no período, que foi
de um ou mais serviços de exportadora em 2008, segundo a
de 23%. A participação desse
comércio exterior.” definição do Decreto-lei 1248/72 e
agregado nas exportações totais
do Brasil foi de 8% em 2007 e de
É interessante notar que a lei 8,2% em 2008. Um percentual
norte-americana, desde o Tabela 4 inferior ao observado nos anos
nascedouro, já apresenta uma NÚMERO DE EMPRESAS iniciais da década de 1980,
visão completa do que se pode Tipo de empresa Quantidade quando somente as tradings
pensar como o papel de uma Trading (S/A) DL 1248/72 241 chegaram a responder por 31%
trading company. É claro que Comercial Exportadora 5.553 (ano 1983) do total exportado.
expressar determinado ponto de CNAE/IBGE*
Totais 5.749
vista em lei não é condição Fonte: Secex/Funcex.
necessária nem tampouco 4
http://dtb.apexbrasil.com.br

suficiente para o alcance de seus


objetivos. Porém, trata-se de um Tabela 5
movimento importante para que VALOR DAS EXPORTAÇÕES EM US$: ANOS 2007 E 2008
as ações de fomento por parte do Tipo de empresa 2007 2008
governo sejam sempre tomadas Trading (S/A) DL 1248/72 2.966.704 23.239.492
sob um ponto de vista que possa Comercial exportadora CNAE 12.805.911.255 16.244.050.518
contemplar o setor da forma mais Totais 12.808.877.959 16.247.290.010
Fonte: Secex/Funcex.
abrangente possível.

RBCE - 103 79
ASPECTOS LEGAIS E vendedores, com os respectivos
É comum na literatura INCENTIVOS FISCAIS normativos disciplinadores.
a menção à falta de O objetivo desta seção é Os benefícios fiscais atinentes
“cultura exportadora” de preencher uma lacuna no que à operação doméstica de venda
boa parte das empresas diz respeito à consolidação do produtor a trading companies/
das informações sobre o marco comerciais exportadoras, com
brasileiras, em especial
normativo legal e fiscal relativo às o fim específico de exportação,
das pequenas e médias tradings/comerciais exportadoras. são os seguintes:

A apreciação do arcabouço z A suspensão do pagamento


legal que circunscreve o setor do Imposto de Produtos
de trading companies/comerciais Industrializados (IPI);
exportadoras no Brasil revela um
z A não incidência do Imposto
emaranhado de leis, decretos,
de Circulação de Mercadorias e
medidas provisórias, comunicados,
Serviços (ICMS);
convênios, instruções e
regulamentos, listado a seguir: z A isenção da contribuição do
Programa de Integração Social
z Decreto-lei 1.248, de (PIS) e da Contribuição para
29.11.1972; Financiamento da Seguridade
z Lei 9.532, de 10.12.1997; Social (COFINS);
z A manutenção dos créditos
z Lei Complementar 87/1996,
Lei Kandir; fiscais de IPI e ICMS originários
de compras de matérias-primas,
z Medida Provisória 2.158-35, produtos intermediários e
de 24.08.2001; materiais de embalagem
z Convênio Nacional (CONFAZ) efetivamente aplicados aos
113/1996, de 13.12.1996; produtos remetidos a trading
companies/comerciais
z Convênio Nacional (CONFAZ)
exportadoras.
61/2003, de 04.07.2003;
zInstrução Normativa 241 da Na venda para o exterior de
Receita Federal, de 06.11.2002; produto adquirido no mercado
z Portaria Secex Nº 25, de 27 interno, com o fim específico de
de novembro de 2008; exportação por trading companies/
comerciais exportadoras, vigoram
z Regulamentos de ICMS os seguintes incentivos:
de cada estado.
z A isenção do pagamento do IPI;
Essa lista de normas sugere
que uma revisão da legislação z A não incidência do ICMS.
e consolidação das regras é um
passo desejável para a criação DIFICULDADES
de um ambiente favorável ao ENFRENTADAS
crescimento das tradings. PELO SETOR
A seguir, são apresentados os Com o intuito de melhor
incentivos fiscais a que fazem jus caracterizar a exposição dos
trading companies/comerciais problemas com os quais se
exportadoras e produtores- defrontam as comerciais

80 RBCE - 103
exportadoras, eles foram exportações uma estratégia específicos de bens produzidos
especificados pelo ponto de vista comercial de longo prazo, e sim por micro, pequenas e médias
a que se referem, ou seja, do uma válvula de escape para empresas (faturamento anual de
lado da demanda e do lado da momentos em que o mercado até R$ 60 milhões), através de
oferta.5 interno se mostra desfavorável. empresa exportadora (empresa
âncora).
Questões da demanda B. Visão negativa por parte
das PMEs/falta de informações Quanto à demanda e à oferta
A. O problema da “cultura por essa linha, cabem alguns
exportadora” das PMEs. A visão negativa das PMEs
comentários. No que concerne à
está associada à divulgação
Essa questão se reflete na oferta, merece destaque o fato de
de episódios em que tradings
dificuldade de se estabelecer os bancos repassadores, via de
não honraram compromissos.
parcerias estáveis entre as regra, dizerem aos seus clientes
Destaca-se principalmente a
comerciais exportadoras e as que não têm disponível esse
avaliação negativa em relação
PMEs – uma vez que a maioria produto – mesmo ele estando
às comerciais exportadoras de
delas não está inclinada a disponível. A explicação é de que
pequeno porte, que são vistas
incorporar exportações como essa linha concorre com um
como “atravessadoras” no lugar
uma estratégia permanente –, Adiantamento de Contrato de
de facilitadoras de comércio.
ou mesmo de se estabelecer Câmbio (ACC) e é menos
qualquer parceria. A relação entre Existem indícios de que lucrativa, o que faz com que
PMEs e exportações é um universo considerável de os bancos não tenham apetite
importante na avaliação do empresas produtoras ainda não em oferecê-la. Em relação à
setor, porque por mais que conhece esse mercado e as demanda, a informação é de que
se equacionem os problemas possibilidades por ele abertas. ela sempre foi muito baixa e que
do lado da oferta – tributos, Isso pode ser evidenciado pelo já há muito tempo tem sido nula.
procedimentos aduaneiros, trabalho da Associação
B. Habilitação no Sistema
exigências operacionais etc – Comercial de São Paulo de levar
Integrado de Comércio
se não houver, por parte dos as comerciais exportadoras ao
Exterior (Siscomex)
produtores, a visão de que o interior do estado, para
comércio exterior é uma opção apresentá-las aos produtores. As habilitações são classificadas
a ser seriamente considerada, em simplificadas e ordinárias e
Questões da oferta envolvem aspectos financeiros
as comerciais exportadoras não
terão seus serviços demandados, A. Disponibilidade de crédito e documentais. A ordinária não
ou os terão de forma intermitente impõe limites de valores para
– comprometendo a necessária A questão tratada aqui se refere as operações de exportação
estabilidade dos seus fluxos de à disponibilidade de crédito a e importação. No entanto, é
caixa. custos competitivos para as necessário que sejam avaliadas
empresas comerciais exportadoras. as capacidades financeira e
É bastante comum na literatura Nesse particular, apenas o operacional das comerciais
a menção à falta de “cultura BNDES dispõe de uma linha de exportadoras. Essa avaliação se
exportadora” de boa parte das crédito de baixo custo, chamada baseia no volume de operações
empresas brasileiras – notadamente de “Pré-embarque – Empresa realizado no passado recente,6
as pequenas e médias –, Âncora”. Essa linha de crédito que é utilizado para projetar as
significando que elas simplesmente permite o financiamento da operações futuras – não levando
não exportam, ou não veem nas comercialização de tipos em conta flutuações no volume
de negócios nem as
possibilidades de expansão
5
As questões destacadas nesta seção derivam de entrevistas realizadas com representantes das
tradings e comerciais exportadoras e associações de comércio do Rio de Janeiro e São Paulo.
no volume de negócios das
6
As empresas relataram que os últimos três meses são utilizados para projetar os próximos seis meses. empresas comerciais

RBCE - 103 81
exportadoras. No que concerne à C. Consolidação de cargas
Existem indícios de que questão documental, as empresas
O Decreto-lei 1.248/72
um universo considerável reclamam que essa modalidade
estabelece que, para que as
requer um extenso e redundante
de empresas produtoras mercadorias sejam consideradas
conjunto de documentos. Além
ainda não conhece o com o propósito específico de
disso, as empresas afirmam que
exportação – e estejam, portanto,
mercado das comerciais se, eventualmente, o valor estimado
aptas a auferir os benefícios
pela Receita Federal para as
exportadoras e as tributários –, é necessário que
operações de determinada
possibilidades por empresa na modalidade ordinária
sejam remetidas para “embarque
ele abertas de exportação por conta e ordem
for excedido, e ela solicitar
da empresa comercial
revisão de seus limites, esse
exportadora” ou “para depósito
processo demorará cerca de 30
em entreposto, por conta e ordem
dias, o que pode inviabilizar o
da empresa comercial
negócio. Registra-se também
exportadora, sob regime
que ter o limite excedido pode
extraordinário de exportação”.
deflagrar um procedimento
Na raiz desse procedimento está
especial de fiscalização – uma
a necessidade de fiscalização da
vez que a Receita Federal pode
efetiva saída da mercadoria do
alegar a existência de indícios
país, evitando que o produto seja
de operações fraudulentas.7
reintroduzido no mercado interno,
A explicação para esses
com consequente burla ao fisco.
problemas estaria, segundo as
empresas, numa visão distorcida As comerciais exportadoras
por parte da Receita – que apontam que os custos
parte da premissa de que todo embutidos nesse procedimento
contribuinte é, em princípio, obrigatório de consolidação de
um potencial sonegador. cargas em terminal alfandegário
elevam os custos e, logo,
A modalidade simplificada
reduzem a lucratividade das
apresenta um trade-off entre
operações. Chamam a atenção
exigências documentais e limites
para o fato de que, em face dos
operacionais em relação à versão
controles paralelos que
ordinária: aqui se requer menor
comprovam a exportação dos
número de documentos, mas são
produtos existentes hoje em dia,
impostos limites operacionais
esse procedimento não é tão
específicos – US$ 300 mil para
necessário como era na época
exportações (FOB) e US$ 150 mil
da criação das tradings.
para importações CIF. A crítica
dos empresários é de que os
D. Continuidade do fluxo de
limites não são condizentes com
fornecimento
as práticas de mercado e
constituem importante entrave Uma questão ligada à dinâmica
para que sejam aproveitadas do parque produtivo brasileiro
oportunidades de negócios que é a que envolve a continuidade
exigem agilidade para sua do fornecimento de produtos às
concretização. comerciais exportadoras. Isso se

7
Esse problema é relatado em ambas as modalidades.

82 RBCE - 103
dá ou por causa da taxa comerciais exportadoras, e aí está a pertinência da
de mortalidade das pequenas também permeia as relações iniciativa da Apex;
e médias empresas no Brasil, com os produtores/vendedores.
(ii) Justificando o tópico acima,
ou pelo fato de essas empresas
Ao que parece, uma parte dessa muitos problemas enfrentados por
preferirem descontinuar a relação
visão negativa se deve ao desvio esse mercado no início de sua
comercial com as comerciais
de finalidade das trading companies formalização ainda não foram
exportadoras quando o mercado
no período de alta inflação, quando equacionados;
interno se fortalece, elevando
o governo permitiu que elas
a incerteza do negócio. (iii) A interação de questões de
atuassem no desconto de títulos.
As comerciais exportadoras natureza macro e microeconômica
E. Atendimento aos padrões
acreditam que essa visão acerca constituiu elemento
de qualidade
das tradings contaminou todo o potencializador das dificuldades
Outro ponto importante que foi setor. enfrentadas pelo setor;
relatado nas entrevistas diz
Outro aspecto a ser observado (iv) As trading companies
respeito ao atendimento, por
através da análise das informações e as comerciais exportadoras não
parte das PMEs brasileiras, aos
– e que também foi comprovado são mais apenas intermediários
padrões de qualidade impostos
nas entrevistas – é que as comerciais – atuam também
pelos compradores externos. As
tradings/comerciais exportadoras como consultorias de exportação;
tradings/comerciais exportadoras
atentam para os custos têm que ser pró-ativas no sentido (v) O item anterior mostra que
adicionais que precisam incorrer de elas mesmas ajudarem na esse mercado serve aos
no controle da qualidade dos estruturação/otimização dos propósitos das exportações
produtos que lhes são fornecidos, processos produtivos. Um exemplo diretas e indiretas, em uma
uma vez que, de maneira geral, emblemático nos foi dado pela evolução daquilo que era sua
as exigências de compradores experiência da Sertrading. concepção original;
externos é maior do que aquelas A empresa não só identificou um
encontradas no mercado doméstico. mercado potencial no setor de (vi) O setor apresenta problemas
lácteos – através da análise da tanto do lado da oferta quanto
pauta de exportações brasileira –, do lado da demanda;
OBSERVAÇÕES GERAIS
como organizou os produtores (vii) Como problemas do lado
Dadas as questões analisadas, (de grande porte, registre-se) de da oferta, temos: dificuldade de
é oportuno registrar que, forma a obter padrões adequados viabilizar operações de crédito;
especificamente no que concerne de qualidade de produto exigências burocráticas;
à habilitação no Siscomex e e de fornecimento. dificuldade de as PMEs
à consolidação de cargas em
manterem adequadamente o fluxo
terminal alfandegário, as
empresas acreditam que a PROPOSTAS PARA O de fornecimento de produtos e de
legislação fiscal embute uma SETOR DE TRADINGS atenderem adequadamente aos
padrões de qualidade;
percepção negativa do governo O diagnóstico do mercado de
em relação às trading companies/ trading companies/comerciais (viii) Como problemas do lado
comerciais exportadoras. Os exportadoras permitiu concluir que: da demanda, temos: a falta de
representantes do setor acham que cultura exportadora das PMEs e
o governo/fisco está impregnado por (i) A missão iniciada em 1972
a visão negativa e a falta (crucial)
uma visão de que está lidando pelo Decreto-lei 1.248 ainda está
de informações dos produtores
com “atravessadores” – algo que longe de ser concluída e deve ser
sobre as comerciais
vai de encontro ao espírito da perseguida, dados os benefícios
exportadoras;
legislação que criou as comerciais que o mercado de tradings e
exportadoras (Decreto-lei 1.248/ comerciais exportadoras pode (ix) Foi observado que o esforço
72). Tal visão, segundo as gerar às exportações brasileiras – de monitoramento e avaliação do

RBCE - 103 83
setor passou a ser negligenciado referem apenas a aspectos
A Apex deve centrar suas – o que pode ser atestado pelo idiossincráticos do mercado de
fato de que se encontrou uma tradings e comerciais
atenções nas comerciais
boa quantidade de trabalhos exportadoras – e,
exportadoras de médio continuados de importantes particularmente, aos problemas
porte, pois estas, embora instituições de pesquisa só até específicos enfrentados pelas
menores do que as meados dos anos 1980; comerciais exportadoras. Desse
modo, não nos ocupamos de
tradings, dispõem de (x) O trabalho da Apex como
pensar de forma sistêmica o
uma estrutura que promotora de disseminação de
conjunto de incentivos às
informações poderá ter um
pode ser reforçada exportações brasileiras.
impacto importante na
aproximação das PMEs com as Propostas para as
tradings/comerciais exportadoras. questões da demanda

Antes da apresentação das As ações do lado da demanda


sugestões, são necessárias têm como característica principal
algumas observações. A primeira o fato de trabalharem aspectos
delas diz respeito ao grupo de relacionados à informação.
empresas que será objeto das Ou seja, antes de tudo, é
propostas ora apresentadas. fundamental que haja por parte
O grupo de trading companies – dos demandantes um amplo
empresas de grande porte – conhecimento das opções que
não parece se defrontar com lhes são abertas por esse mercado.
problemas específicos – ou As sugestões se referem,
seja, seus entraves parecem evidentemente, aos problemas
ser aqueles que afetam todo o antes observados:
mercado exportador brasileiro,
como, por exemplo, tributação A. No que se refere à falta de
e câmbio. No que concerne cultura exportadora das PMEs
às comerciais exportadoras
O trabalho do governo/Apex
(empresas de pequeno ou médio
passa pela conscientização
porte), exatamente em virtude
das PMEs acerca dos benefícios
do menor tamanho e escala,
de se incorporar as exportações
existe uma gama de problemas
como estratégia empresarial
específicos, os quais serão
permanente. Desse modo,
nosso objeto.
caberia enfatizar as
Em segundo lugar, observamos possibilidades abertas pelo
que, por razões pertinentes à mercado de tradings/comerciais
natureza dos problemas observados exportadoras. Uma sugestão
– e, consequentemente, das é a organização de cursos ou
sugestões propostas –, workshops direcionados às
utilizaremos de agora em diante MPEs, que colocariam em
discussão mais aprofundada
as designações trading company
as principais questões envolvidas
e comercial exportadora de forma
nas relações comerciais entre
distinta, em razão do porte.
os produtores e as tradings/
A terceira observação é que as comerciais exportadoras. Essa
sugestões aqui apresentadas se sugestão deriva de experiência da

84 RBCE - 103
São Paulo Chamber of Commerce empresas que nele constem já programa de avaliação das
da Associação Comercial de São tenham passado por um primeiro propostas que forem efetivamente
Paulo. filtro de requisitos que forneça postas em prática no âmbito
aos potenciais usuários dos do Projeto Tradings.
B. Em relação à visão serviços um bom indicador inicial
negativa e à falta de de confiabilidade. O objetivo é Propostas para as
informações sobre as melhorar a probabilidade de se questões da oferta
comerciais exportadoras estar diante de uma empresa que
Uma sugestão é que a Apex
Em linha com o tópico acima, possa satisfatoriamente prestar
deva centrar suas atenções nas
o caminho que se apresenta os serviços desejados.
comerciais exportadoras de
mais promissor nesse primeiro C. O Diretório Tradings do médio porte. Essas empresas,
momento seria a implantação Brasil (DTB) no papel de apesar de não apresentarem o
de um cadastro positivo disseminador de informações porte das tradings, dispõem de
e a organização de eventos, uma estrutura que pode ser
como feiras e palestras, que Aperfeiçoar os elementos de reforçada pelas ações que serão
aproximassem produtores comunicação do site do DTB, discutidas abaixo.
e comerciais exportadoras. com mais informações e
A Apex poderia, evidentemente, conexões com outras instituições A. No que concerne à
se valer dos eventos já governamentais que prestam dificuldade de viabilizar
estruturados, acoplando módulos apoio ou incentivem operações de crédito
que se encarreguem de promover a exportação.
Foram destacadas no relatório
esse encontro entre os de diagnóstico as questões
D. Sistema de avaliação
produtores e os comerciantes. atinentes à linha de crédito do
continuada
O que ora designamos por BNDES designada de
Como observado na fase “empresa-âncora”.
cadastro positivo é uma iniciativa
anterior do projeto, o esforço de
que aprimore a ideia já posta em Para o tratamento dessa
monitoramento e avaliação do
prática no Diretório Tradings questão, o encaminhamento que
setor passou a ser negligenciado
do Brasil (DTB) da Apex,
– o que pode ser atestado pelo nos parece mais profícuo envolve
desenvolvido pela Funcex.
fato de que só se encontrou uma uma articulação, em nível de
As empresas que constam
boa quantidade de trabalhos governo, no sentido de se
do diretório são aquelas que,
continuados de importantes trabalhar com a cooperação dos
além de desejarem participar,
instituições de pesquisa até bancos públicos – Banco do
preenchem os requisitos de:
meados dos anos 1980. Como Brasil e Caixa Econômica
z Ser comercial exportadora é amplamente documentado, Federal. Ambos poderiam, dentro
ou trading company; negligenciar processos de de uma estratégia de política
avaliação continuada de pública, suprir a lacuna deixada
z Ser exportador de produtos quaisquer projetos – e em pela falta de empenho dos
de terceiros alheios a seu grupo particular de políticas públicas, bancos privados. Esta seria
empresarial; por envolver recursos da uma linha de ação que percebe
z Ter dois anos de atividade sociedade – é algo a existência de uma falha de
exportadora ininterrupta; particularmente danoso, tanto mercado e utiliza os meios
para a consecução dos objetivos
z Apresentar exportações à disposição do setor público.
propostos, quanto para os custos
mínimas de US$ 40 mil por ano.
de se atingir esses objetivos. Outro aspecto desse problema
Aqui a sugestão seria a de É, portanto, de fundamental diz respeito às garantias.
depurar os parâmetros/requisitos importância que se tenha, a O que se pôde observar,
necessários à participação no exemplo do que já ocorre com e foi apresentado na fase de
DTB, de forma a que as seus outros projetos, um diagnóstico, é que o BNDES

RBCE - 103 85
tentou atingir as PMEs através de argumentação refere-se às
As tradings e comerciais um agente (empresa-âncora) que discussões sobre a revisão de
exportadoras precisam pudesse apresentar melhores procedimentos/documentação
condições de oferecer garantias. que poderá vir a ser adotada a
criar uma entidade partir do desenvolvimento do
No entanto, as empresas que
representativa – que poderiam se enquadrar na oferta Projeto de Análise de Risco e
reúna, portanto, empresas de melhores garantias – as Inteligência Artificial Aplicada
trading companies strictu sensu – (Harpia). Em adição, a questão
de grande e pequeno dos limites de importação e
não têm incentivos para trabalhar
porte – para facilitar com PMEs. exportação será tratada no
o acesso e o diálogo âmbito do Harpia.
Posto o parágrafo acima, o
junto ao governo A exigência da prévia aprovação
entrave que nos foi relatado
dos limites em valor das
é que as comerciais
operações no Siscomex deve ser
exportadoras, na maior parte dos
destacada, pois pode inviabilizar
casos, não têm condições de
oportunidades de negócios.
oferecer as garantias bancárias
necessárias, inviabilizando essa Se o objetivo é expandir as
importante iniciativa do BNDES. operações das PMEs, esse
Uma maneira de quebrar esse é um tema crucial. A Receita
círculo seria a possibilidade de deve pensar em mecanismos de
utilização, por parte das verificação ex-post das operações
comercias exportadoras, do fundo e punir os possíveis infratores.
de garantia de exportações para A Receita Federal é um organismo
empresas de pequeno porte, arrecadador e deve, portanto, zelar
recentemente anunciado pelo pela eficiência da arrecadação. No
governo federal. entanto, a criação de mecanismos
B. Em relação às exigências que protejam a arrecadação deve
para a habilitação no se dar pari passu com a
Siscomex manutenção de um ambiente
que permita às empresas agir
O que se sugere é que a Receita com a desenvoltura necessária
Federal – ouvindo as empresas à realização dos seus negócios,
em um processo capitaneado pois, se por um lado a Receita
pela Apex – racionalize e Federal beneficia a sociedade
flexibilize os procedimentos ao proteger a arrecadação de
de habilitação no Siscomex – impostos, por outro pode,
reduzindo a documentação eventualmente, impor-lhe um
exigida e ampliando ou custo desnecessário em termos
extinguindo os limites para da geração de emprego e renda.
exportação.
C. O problema da
Nesse momento, é oportuno consolidação de cargas em
registrar que a Receita Federal
armazéns alfandegados.
já vem respondendo aos
questionamentos analisados O tratamento dessa questão
neste tópico. A sua linha de requer alteração legal. Ou seja, é

8
Vale registrar que as discussões acerca da criação (ou re-criação) de uma entidade representativa já
estão em curso.

86 RBCE - 103
necessário que a o problema maneira que minimize custos. segmento careceu de medidas
seja discutido e encaminhado no Logo, é sugerido que o de governo que atacassem os
âmbito do Congresso Nacional, encaminhamento dessa questão pontos fracos levantados por
pois faz-se mister a revogação da passe pela capacitação gerencial essas avaliações.
exigência expressa no Decreto-lei das PMEs – em um processo
1.248 de 1972, o que requer a capitaneado pela Apex. Posto isso, o conjunto de
elaboração de um projeto de lei. soluções aqui apresentado visa
a sistematizar uma estratégia
Neste momento, é importante CONSIDERAÇÕES FINAIS de dinamização desse segmento
enfatizar a necessidade de as que ataque os entraves
O trabalho realizado evidenciou
tradings e comerciais exportadoras detectados, colocando-os sob
a pertinência da preocupação
criarem uma entidade a ótica de um mercado – que só
da APEX com o segmento de
representativa – que reúna, se viabiliza se houver demanda e
trading companies e comerciais
portanto, empresas de grande oferta a custos competitivos.
exportadoras como veículo de
e pequeno porte – para facilitar Nesse ponto, é importante
inserção do parque produtivo
o acesso e o diálogo do destacar a dificuldade de se
brasileiro de pequeno porte nas
segmento junto aos organismos dimensionar o impacto de tais
exportações. O que se pôde
governamentais competentes, medidas, uma vez que isso
perceber é que o desenvolvimento
como a Receita Federal envolve, entre outros elementos,
do setor – que seguia lentamente
e o Congresso Nacional.8 um esforço para a difusão de
e não livre de problemas – foi
D. As dificuldades das PMEs truncado tanto pela adversidade informações e um processo
de manter adequadamente econômica dos anos 1980 quanto de mudança cultural do
o fluxo de fornecimento de pelo período de valorização empresariado nacional,
produtos e de atender cambial que acompanhou o notadamente do lado das PMEs.
adequadamente aos padrões processo de estabilização
Finalmente, devemos enfatizar
de qualidade exigidos pelos econômica da década de 1990.
novamente a necessidade de
importadores
Outro aspecto percebido na que não se cometa o erro de
Uma dificuldade é que muitas execução do estudo foi que, se negligenciar o monitoramento
comerciais exportadoras mesmo considerando o período das ações implementadas,
não dispõem de habilidades em que havia um processo de ainda mais quando estão sendo
gerenciais que lhes permitam dar monitoramento por instituições de mobilizados recursos humanos
conta dessas questões de uma pesquisa de alto nível, o e financeiros da Apex. „

Bibliografia
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