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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA

DO RIO DE JANEIRO/RJ

Gislene Danielski

Mística e ética:
O testemunho da compaixão em Aníbal Maria Di Francia

Trabalho de conclusão da disciplina “A mística cristã:


reflexão teológico-pastoral e leitura de textos escolhidos”
ministrada pela professora Lúcia Pedrosa de Pádua.

Rio de Janeiro
Junho de 2013.
1 Introdução

O trabalho desenvolvido apresenta algumas etapas importantes no


processo de conhecimento da temática “Mística” no meio acadêmico, contudo,
sem deixar de lado suas manifestações na vida da Igreja e do mundo.
Inicialmente dar-se-á uma introdução conceitual dos termos “Mística –
Místico – Mistério, acenando para as diversas maneiras de expressão mística na
vida do sujeito e da Igreja, porém tendo como foco a temática “mística e ética”,
aludindo às conseqüências que tem a experiência mística na vida daqueles que
a vivenciam.
Na sequência, o enfoque recairá sobre Aníbal Maria Di Francia,
sacerdote italiano, cujo testemunho aponta para a experiência mística
manifestada no amor-serviço. Com base na reflexão de Karl Rahner, poder-se-á
afirmar que Aníbal Maria foi verdadeiro místico do cotidiano, tendo a compaixão
de Jesus como fonte inspiradora de seus pensamentos e ações.
Por fim, a reflexão encaminha o leitor ao convite evangélico de assumir
na própria vida a mística do cotidiano expressa na união com o Senhor que faz ir
aos irmãos na prática do amor-serviço.
2 O terreno da Mística

O capítulo que introduz este trabalho tem o objetivo de apresentar alguns


conceitos relacionados à temática em questão. Apontar para certos aspectos da
palavra “mística”, suas formas de manifestação, bem como as suas
conseqüências na vida do indivíduo, é o terreno que embasará as reflexões
posteriores.

2.1 A relação Mística, Místico e Mistério

De acordo com o estudo realizado pela professora Lucia Pedrosa, é lícito


afirmar que a mística, com toda a sua complexidade, a partir da metade do
século XX, tem despertado especial interesse.1 Sua definição percorre diversos
caminhos ao longo da história. Ainda de acordo com a autora, opta-se pela
seguinte definição da experiência mística:

[...] pode ser compreendida como a experiência fruitiva, interior e imediata da


união do fundo do sujeito com o todo, o universo, o absoluto, o divino, Deus ou o
Espírito. Esta experiência é realizada de maneira consciente, mesmo que
transborde os esquemas da consciência que regem a experiência ordinária, e
provoca na pessoa profunda alteração.2

Partindo desse contexto teórico, é promissor afirmar que a mística dá-se


na vida do místico diante do mistério como algo que não necessariamente fuja
do cotidiano, mas que certamente tem seus reflexos na práxis dos que na
experiência são envolvidos. Assim, sendo a mística a reflexão sobre a relação
místico-mistério, pode-se dizer que “[...] o “místico é o sujeito da experiência; [e]
o “mistério” seu objeto”3.

2.2 Experiência mística e suas manifestações

De acordo com as orientações do Concílio Vaticano II, especificamente


na Lumem Gentium 5, a experiência mística está intrinsecamente relacionada à

1
L. P. PÁDUA. Mística, mística cristã e experiência de Deus. In.: Atualidade Teológica, 15
(2003), p. 345.
2
L. P. PÁDUA. Mística, mística cristã e experiência de Deus. p. 345.
3
L. P. PÁDUA. Mística, mística cristã e experiência de Deus. p. 346.
perfeição do amor4. Essa postura eclesial favorece a reflexão acerca das
diversas formas de manifestação da experiência mística, uma vez que o amor
tem inúmeras expressões na vida cristã.
No entanto, segundo Schillebeeckx, mesmo diante de tais possibilidades,
é indispensável que as experiências sejam submetidas à críticas, uma vez que
essas sempre são sujeitas a um quadro interpretativo, ou seja, a um conjunto de
fatores que influenciam diretamente a experiência de cada sujeito.5 Por mais que
a experiência seja imediata do lado de Deus, para o místico será sempre uma
experiência mediada.6
A experiência mística, regulada pelo Mistério, incorpora o místico na vida,
morte e ressurreição de Jesus Cristo, impulsionando-o a comunicação do
experimentado, o que resulta no testemunho cristão, em todas as suas
dimensões, em meio a humanidade.

2.3 Mística e ética: a verdade do místico

Mesmo que por um período histórico a mística e a ética tenham sido


contrapostos, segundo Velasco, não é difícil perceber que os argumentos
utilizados são desprovidos de consistência.7 Tendo como base o testemunho de
muitos místicos, é viável afirmar que mística suscita na pessoa atitudes éticas
que não permitem ser o místico considerado um “ser alienado no mundo”. Neste
contexto destaca-se Teresa D’ Ávila, que sendo mestra de oração,
profundamente atingida pelo encontro com o Transcendente, doa a humanidade
os frutos de sua experiência não apenas nos relatos das mesmas, mas em suas
obras e fundações.
É Cristo quem atua no crente, e Deus se faz presente no rosto do outro,
por isso a experiência mística faz com que o místico se lance sempre mais em
direção a Deus presente no irmão. Segundo a primeira carta de João, será a
experiência da caridade fraterna a autenticar o verdadeiro amor do ser humano
para com Deus e bem como a veracidade de suas experiências com o

4
Cf. L. P. PÁDUA. Mística, mística cristã e experiência de Deus. p. 351.
5
Cf. E. SCHiLLEBEECKX. História humana, revelação de Deus. pp. 34-35.
6
Cf. E. SCHiLLEBEECKX. Los hombres, relato de Dios. Salamanca: Sígueme, 1994. p. 120. In.
L. P. PÁDUA. Mística, mística cristã e experiência de Deus. p. 364.
7
Cf. R. M. VELASCO. El fenômeno místico. Madrid: Trolla, 1999. p. 459.
transcendente, pois quem diz “amar a Deus que não vê e não ama o seu irmão é
mentiroso”8
Mesmo que o místico deseje o encontro definitivo com Deus, conforme
relata Paulo ao afirmar que para si morrer é lucro, o compromisso com a
diaconia o faz viver o ardente desejo de Deus em meio a humanidade, servindo-
a conforme o fez o Mestre. Segundo Moltmann, “o caminho da experiência
mística é na realidade o seguimento de Cristo na resistência contra os poderes
que se opõem a Deus, os poderes desumanos da morte”9. Assim, o místico
experimenta em seu destino o destino de Cristo, que não pode abster-se da
caridade para com a humanidade manifesta também em suas atitudes
cotidianas. “A sapientia experimentalis mística é sempre ética e mística ao
mesmo tempo, uma doutrina das virtudes e uma busca por experiências [...]. A
própria vida é para os místicos, desde Agostinho, o drama do amor a Deus.”10

2.4 A mística da compaixão

Certamente a experiência mística não se dá fora de um contexto


histórico, de um quadro interpretativo, de uma linguagem. Ela se concretiza na
vida do místico dentro da história e na história é transmitida.
Tendo como pressuposto, que o místico cristão, é impulsionado a seguir
os caminhos de Jesus de Nazaré11, é notório que a compaixão seja um dos
caminhos a serem assumidos. Jesus, em suas atitudes e ações, manifesta-se
plena compaixão e misericórdia12. O Mestre trilha os caminhos da história com o
olhar fixo na humanidade, e segundo Sobrino manifestando parcialidade para
com os pobres13, o que não o fazia excluir todos os demais. O Nazareno
colocou-se a caminho, percorrendo cidades e povoados, pregando, curando,
acalentando, enfim, amando e assumindo a humanidade por completo.
É necessário que o místico manifeste a capacidade de colocar-se no
lugar do outro e de experimentar em seu íntimo suas chagas, ao ponto de ser

8
Cf. 1Jo 4, 20.
9
J. MOLTMANN. O Espírito da vida: uma pneumatologia integra. Petrópolis: Vozes, 2010. p.
198.
10
J. MOLTMANN. O Espírito da vida: uma pneumatologia integra. p. 189.
11
Cf. R. M. VELASCO. El fenômeno místico. p. 461.
12
Cf. Mt 9, 35ss.
13
Cf.J. SOBRINO. Jesus o libertador: a história de Jesus de Nazaré. Petrópolis: Vozes, 1994. pp.
123ss.
movido pela compaixão que desinstala e impulsiona para a práxis dos
verdadeiros valores cristãos, da verdadeira caridade fraterna.

3 Aníbal Maria Di Francia: um místico do cotidiano

O capítulo que segue fará menção a mística da compaixão em Aníbal


Maria Di Francia, fundador da Congregação das Filhas do Divino Zelo e dos
Rogacionistas do Coração de Jesus.
Sacerdote italiano, da cidade de Messina, Aníbal Maria nasceu em 05 de
julho de 1851 e faleceu no dia 01 de junho de 1927. Foi canonizado por João
Paulo II em 16 de maio de 2004. Dentre os diversos aspectos de sua vida, pode-
se dizer que em sua experiência orante encontrou a motivação central para o
desenvolvimento da ética da compaixão para com os mais necessitados do
Quartiere Avignone14 em Messina.
Na sequência apresentar-se-á alguns traços específicos de sua
experiência mística manifestada em suas ações cotidianas em meio aos pobres
e abandonados de sua realidade.

3.1 Aníbal Maria Di Francia e sua identidade carismática

Aníbal Maria Di Francia, em seu contexto histórico, foi tomado por grande
compaixão pela humanidade. Sentiu-se profundamente tocado pelas
necessidades de seu povo, e no encontro com Jesus Cristo contemplou a porção
de sua doação à “messe abandonada”.
A experiência mística vivenciada por Aníbal teve influência decisória em
sua ética. Ainda muito jovem deparou-se com a precária situação do povo
messinense, assim como da Igreja na Itália. Tinha a convicção de que era
necessário fazer algo para melhorar o que presenciava. No entanto, vendo-se
limitado, pedia a Deus que abençoasse a Terra com homens e mulheres
desejosos e empenhados em fazer com que o mundo fosse melhor. Para sua
surpresa, durante sua oração na Igreja de São João da Malta em Messina, ainda
antes do sacerdócio, depara-se com a passagem evangélica, onde o próprio
Cristo ao ver a multidão teve compaixão e disse: “Rogai ao Senhor da Messe

14
V. LILA. Il Can.co Anníbale M. Di Francia e La sua Pia Opera de Beneficenza. Messina: Tip.
S. Giuseppe, 1902. pp. 11; 14.
que envie operários para a sua messe”.15 Assim Aníbal manifesta-se em
relação a oração pelos bons operários:

[...] para realizar o maior bem para a Igreja, para salvar muitas almas, para
estender o Reino de Deus sobre a terra, nenhum meio seria tão seguro quanto o
aumento dos ministros eleitos de Deus [...] e que ótima e profícua oração seria
aquela de pedir insistentemente ao Coração Santíssimo de Jesus que envie
sobre a terra homens santos e sacerdotes eleitos. 16

A mística do Rogate17, de rezar para que o Senhor suscite “bons


operários” em meio ao seu povo, surge do encontro de Aníbal com Cristo terno,
compassivo e zeloso bem como com a multidão necessitada, e dá origem à
identidade de suas obras. No Rogate está a base de sua ação e o fundamento
de sua ética cotidiana.
O Rogate tomou corpo em meio ao sofrimento dos pobres de Avignone.
Pode-se afirmar, que lá, Aníbal Maria Di Francia vivenciou a compaixão do
Coração de Cristo. Percebeu a miséria de sua gente e a necessidade de que o
coração da humanidade compartilhasse o desejo do próprio Cristo de que todos
assumissem a vida como dom a ser cuidado e preservado durante todo o seu
processo.

3.2 A mística do Coração

Chama-se aqui de “mística do coração” o agir cotidiano de Aníbal Maria


Di Francia como fruto de seu encontro com Cristo Compassivo. Dentre seus
escritos, assim se dirige as religiosas de seu instituto:

[...] le Figlie del Divino Zelo hanno poi un fine tutto speciale, cioè, penetrare nel
Costato Santissimo di Gesù, vivere dentro quel divino cuore, sentirne l’amore,
sposarne tutti gli interessi [...]. Tutto cio faranno com gli esercizi di Marta e di
Maria, cioè della vita interiore e della vita attiva. 18

Suas palavras falam de sua mística e de sua ação. Segundo Velasco, o


místico cristão nunca estará distanciado da vivência ética condizente com os

15
Mt 9, 38.
16
A. M. D. FRANCIA. Scritti. Roma: Rogate. vol. 2, p. 143.
17
Expressão oriunda do Latim, que para Aníbal Maria Di Francia, vem significar o pedido de
Jesus de que seus discípulos peçam a Deus os bons operários para o mundo, como se pode ver nos
evangelhos de Mateus 9, 35ss e Lucas 10, 1-10.
18
A. M. D. FRANCIA. Scritti. p. 151.
valores cristãos,19 ele manifestará ao mundo sua experiência com Deus também
em suas palavras e obras. Desta forma pode-se afirmar que a experiência
mística de Aníbal Maria Di Francia despertou em si profunda vivência dos
valores evangélicos em meio aos pobres com os quais convivia e foi dada como
herança a seus colaboradores.
Mesmo que não tenha deixado relatos sobre fenômenos extraordinários
em sua vida, vê-se em sua historia traços profundos da experiência mística
manifestada em seu cotidiano, pois

[...] cuando uno se entrega sin condiciones y esta capitulación se vive como una
Victoria [...]. Allí es Dios y su gracia libertadora, allí conocemos a quiem
nosostros, cristianos, llamamos Espíritu Santo de Dios, allí hace una experiencia
que no se puede ignorar em la vida [...]. Esta es la mística de cada día, el buscar
a Dios em todas las cosas. Aquí está la sobria embriaguez del Espíritu [...]20

Aníbal Maria Di Francia experimentou o encontro com o amor


compassivo de Deus e o manifestou em sua vida. A seguir será apresentada
uma de suas poesias que fala de tal experiência encarnada em seu cotidiano.

3.3 A experiência na “noite escura: “Io amo i miei banbini”

Aníbal Maria, assim afirma Teodoro Tusino, protege seus filhos, os


defende, os guia nos caminhos da vida. Apesar de ter experimentado desde
muito cedo a ausência e a falta do afeto de seu pai que falecera e também da
mãe que precisou deixá-lo sob os cuidados de uma tia, soube cultivar em seu
cotidiano o Amor-Ternura. Chamavam-no “pai”, fazia-se verdadeiro pai
daqueles que o buscavam, e assim o desejava, como se pode perceber pelo
testemunho de Padre Vitale, um de seus primeiros colaboradores:

Quanto se comprazia o Padre que as crianças compreendessem que ele era de


fato um pai adotivo para eles, e se deliciava ao ser chamado simplesmente de
pai! Quando o viam chegar, mesmo depois de breve ausência, se ajoelhavam e
diziam: pai, nos abençoe! Os seus olhos brilhavam e sentia-se feliz.
Freqüentemente, nos momentos de recreação, estava em meio aos meninos ou
entre as meninas, para fazê-los alegrar-se com histórias engraçadas e
edificantes, com alegria depois de terminar com alguma lição, os deixava
manifestar-se com jogos infantis e joviais [...] Em outros momentos entrava nos
refeitórios e com grande afeto, transparecendo o desejo de viver de suas vidas,

19
Cf. R. M. VELASCO. El fenômeno místico. p. 460.
20
K. RAHNER. Experiencia del Espíritu. Madrid: Narcea, 1977. pp. 52-53.
dizia: “Não dareis nada ao vosso pai que é pobre?” Os meninos e as meninas
ofereciam os pratos que haviam começado a comer e ele pegava uma colher de
um, uma de outro, até deixar pronto o seu prato e comer em meio aos seus
filhinhos, que admiravam e alegravam-se em ter o pai entre eles. 21

Era extremamente próximo de seus meninos e meninas. Via em cada


um o Cristo que tanto amava e desejava seguir. Soube tocar o coração de suas
crianças e de seus seguidores, a ponto de ainda hoje a sociedade, em diversos
pontos do planeta, poder contar com a presença de homens e mulheres que
consagram suas vidas em nome de Jesus Cristo e do ideal vivido por Aníbal
Maria Di Francia.
Destacou-se na sociedade pela caridade, principalmente aos órfãos e
abandonados. Dentre tantas empreitadas pelo bem de suas crianças, especial
atenção se dá ao fato ocorrido no ano de 1902, quando mediante o pedido de
ajuda financeira para suas obras foi violentamente atacada por um declarado
opositor a Deus e à Igreja. Tal ataque despertou na sociedade grande
indignação. Muitos manifestaram-se através dos meios de comunicação, como
fez o jornal “Il Faro”22:

Não nos impressiona o ter sido indeferido o pedido de mil liras – pois
conhecemos o ódio satânico da maioria dos conselheiros contra uma instituição
de caráter religioso – quanto nos revoltam os baixos e vulgares ataques
lançados por aqueles senhores contra o maior benfeitor dos órfãos e contra a
sua Instituição. Falaram de tudo... Disseram que o cônego não faz outra coisa
que amontoar carne humana. Puras e vis mentiras, pois os órfãos têm um
moinho, uma padaria, uma alfaiataria, uma tipografia, uma sapataria, e lá se
trabalha todos os dias. E quanto à moral? As jovens as mandaremos para o
Instituto Normal Feminino e os jovens para qualquer outro![...] Se os conselheiros
votaram contra a ordem do dia de mil liras para o cônego Di Francia, fizeram
muitíssimo mal e não fizeram a vontade do povo que não só mil liras, mas dez
mil liras teria dado ao Anjo da Caridade.23

Diante do ódio manifestado por Montagna, Aníbal Maria recebeu


diversas manifestações de estima e afeto a si e a seu trabalho. Entre essas
manifestações deparou-se com as palavras de conforto do jovem poeta Ângelo
Toscano, ao qual o Padre responde com a bela e inesquecível poesia: “Io Amo I
miei bambini”, de setembro de 1902, a qual será transcrita em sua integra.

21
P. VITALE In.: T. TUSINO. L’Anima del Padre. Roma, 1973. p. 612.
22
Cf. T. TUSINO. L’Anima del Padre. Roma, 1973. p. 604.
23
Il Faro, 14-08-1902 In.: T. TUSINO. L’Anima del Padre. Roma, 1973. p. 604.
Io amo il mio bambini Eu amo as minhas crianças
All' Esimio Signor Dr. Angelo Toscano Ao Exímio Senhor Ângelo Toscano
che per gentilezza di animo con affettuosi versi Que por gentileza de alma com afetuosos versos
volle incoraggiare le mie povere fatiche per la Deseja encorajar as minhas pobres fadigas pela
salvezza degli orfani derelitti. salvação dos órfãos abandonados

Come nota di canti peregrini “Como nota de cânticos peregrinos


Mi giunge il suon della tua cetra bella, Me chega o som da tua bela cítara,
O ignoto Amico, e de li miei bambini O ignorado Amigo, e das minhas crianças
Nell' innocente amor mi rinnovella. No inocente amor me renova.

Io l' amo i miei bambini; ei per me sono Eu amo as minhas crianças;


Il più caro ideal della mia vita, Elas são o mais caro ideal da minha vida,
Li strappai dall' oblio, dell' abbandono, As arranquei do esquecimento, do abandono,
Spinto nel cor da una speranza ardita. Impelido no coração por uma esperança ousada.

Fiorellini d' Italia, appena nati Florinhas da Itália, apenas nascidas


Era aperto l' abisso a divorarli, Estava aberto o abismo para devorá-las,
Non era sguardo d' occhi innamorati Não havia olhar de olhos enamorados
Che potesse un istante sol bearli. Que pudesse por um instante fazê-las felizes.

Pargoletti dispersi in sul cammino, Pequeninos dispersos pelo caminho,


Senza amor, senza brio, senza sorrisi, Sem amor, sem brio, sem sorrisos,
Ahimè quale avvenir, quale destino Ai de mim! Qual futuro, qual destino
Li avvia nel torchio del dolor conquisi! Os teria, na prensa da dor, conquistado!

Perle detersse le bambine mie, Pérolas perdidas as minhas meninas,


Le raccolsi nel loro ad una ad una Eu as recolhi no lodo uma a uma
Quasi conchiglie immezzo delle vie: Quais conchinhas no meio dos caminhos:
Oggi avviate a più civil fortuna. Hoje encaminhadas a uma sorte mais feliz.

Mi chiaman Padre: sulle loro chiome Me chamam Padre: sobre as suas cabeleiras
Del Ministro di Dio la man si posa; Do Ministro de Deus a mão se pousa;
Chiamano Madre; e a così dolce nome Chamam de Madre: e assim tão doce nome,
Risponde del Signore la casta sposa. Responde do Senhor a casta esposa.

Perchè non manchi a queste mense il pane Para que não falte a estas mesas o pão
Ho gelato, ho sudato ... oh, ecco intanto Tenho passado frio, tenho suado...
Quest' oggi il vitto, o figli miei: dimane oh, eis que no entanto
Ci penserà quel Dio che vi ama tanto. Para hoje a comida, - oh filhos meus: amanhã
Vos pensará aquele Deus que vos ama tanto!
Spesso ho battuto a ferree porte invano:
Atroce è stata la sentenza mia: Frequentemente tenho batido em vão a férreas portas:
- Via di quà l' importuno, egli è un insano, Atroz foi a minha sentença:
Sconti la pena della sua follia! - - Sai daqui o importuno, ele é um louco,
Desconte a pena de sua loucura!
O miei bambini, un dì verrà che voi
Saprete il mio martirio e l' amor mio, Oh minhas crianças, um dia virá em que vocês
Che più non ama il padre i nati suoi, Saberão do meu martírio e do meu amor,
Che per voi scongiurai gli uomini e Dio! Que mais não ama um pai aos nascidos seus,
Que por vocês implorei aos homens e a Deus!
O ignoto Amico! il verso tuo potesse
Sciogliere i geli e convertirli in foco, O ignorado amigo! O verso teu pudesse
Onde Pietà li doni suoi spandesse, Dissolver os frios e converte-los em fogo,
Pietà che al Cielo ed alla Terra invoco!24 Onde Piedade os seus dons expandisse,
Piedade que ao Céu e à Terra invoco!
24
A. M. D. FRANCIA. In.: T. TUSINO. L’Anima
del Padre. Roma, 1973. p. 605.
A poesia revela a essência do amor que Aníbal Maria Di Francia viveu em
favor dos mais necessitados. Longe de almejar uma análise da poesia, pode-se
afirmar que seu escrito revela a profundidade de sua experiência mística no
cotidiano da missão. Segundo Velasco

La conversio cordis, la raiz teologal de la experiencia mística, no sólo exige sino


que posibilita la conversio morum, el cambio de conducta que comporta la moral.
La mística sólo es compatibible com la acción moral, es fuente de fecundidad
moral, es impulso moralizador de la vida. Por eso hemos observado cómo el
estado teopático, último estádio de realización de la experiencia mística, no
traslada al sujeto a um mundo recôndito de experiencias extraordinárias, sino
que lodevuelve a la vida diaria que, recentrada por el ejercicio de la opción
teologal, de la experiencia de la fe, le permite vivir divinamente, con nuevo valor,
con nuevo sentid, el conjunto de su vida cotidiana. Por eso el último grado de la
experiencia mística no saca al místico de la sociedad y el mundo en el que vive.
Al contrario, se consuma em uma tramacióndel conjunto de lavida: toma la forma
de uma mística em la vida y de la vida cotidiana. 25

Com essa afirmação de Velasco encerra-se a temática abordada. Diante


das reflexões parece verídica a experiência mística colocada em questão, tendo
como base principalmente sua revelação no cotidiano de Aníbal Maria Di
Francia. Os frutos de sua experiência permanecem na Igreja e na sociedade
através da vida de muitos leigos, religiosas e sacerdotes. A mística da
compaixão brota do coração que encontra em Deus a fonte de toda compaixão,
e ao experimentar a faz transbordar na história.

25
R. M. VELASCO. El fenômeno místico. p. 461.
4 Conclusão
O trabalho em questão atingiu seu objetivo ao encontrar em Aníbal Maria
Di Francia a expressão prática da experiência mística vivenciada pelo mesmo. A
trajetória, bem como muitos outros escritos de Aníbal, são fontes reveladoras de
sua experiência de encontro com Deus derramada na vida dos que com ele
estavam.
Nos tempos atuais, onde o cristão é conclamado a testemunhar sua fé, o
exemplo tomado fica como testemunho verídico que pode colaborar para que
outros se abram a experiência com o Criador e manifestem no cotidiano da
história.
As dificuldades possivelmente não serão poucas, mas o cristão é ainda
hoje chamado a seguir Cristo na opção pelos pobres e na vivência da caridade
fraterna, fazendo com que a compaixão o faça deslocar-se, sair de si e cumprir a
missão que o Senhor entregou a seus discípulos de pregar a boa nova do Reino
a todas as nações.
Bibliografia

FRANCIA, A. M. D. Scritti. Roma: Rogate. vol. 2.

MOLTMANN, J. O Espírito da vida: uma pneumatologia integra. Petrópolis:


Vozes, 2010. p. 198.

PÁDUA, L. P. Mística, mística cristã e experiência de Deus. In.: Atualidade


Teológica, 15 (2003). pp. 344-373.

RAHNER, K. Experiencia del Espíritu. Madrid: Narcea, 1977.

SCHiLLEBEECKX, E. História humana, revelação de Deus.

SOBRINO, J. Jesus o libertador: a história de Jesus de Nazaré. Petrópolis:


Vozes, 1994.

TUSINO, T. L’Anima del Padre. Roma, 1973.

V. LILA. Il Can.co Anníbale M. Di Francia e La sua Pia Opera de Beneficenza.


Messina: Tip. S. Giuseppe, 1902.

VELASCO, R. M. El fenômeno místico. Madrid: Trolla, 1999.

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