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Organizadores:

Clitien Alice Meira Rios


Gildette Soares Fonseca
Tyellen Sany Cruz dos Reis

PRÁTICA PEDAGÓGICA RENOVADA


Copyright ©: Universidade Estadual de Montes Claros
SUMÁRIO
UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MONTES CLAROS - UNIMONTES

REITOR CONSELHO EDITORIAL


Professor João dos Reis Canela Prof. Silvio Guimarães – Medicina. 
Unimontes.
VICE-REITORA
Professora Maria Ivete Soares de Almeida
Prof. Hercílio Mertelli – Odontologia. 5
Unimontes.
PRÓ-REITORA DE ENSINO Prof. Humberto Guido – Filosofia. UFU. O vídeo publicitário como prática didática para a inclusão de 15
Profª Maria Geralda Almeida. UFG
Professora Anete Maríllia Pereira
Prof. Luis Jobim – UERJ. um novo idioma
PRÓ-REITOR DE PÓS-GRADUAÇÃO Prof. Manuel Sarmento – Minho –
Professor Hercílo Martelli Júnior Portugal. 
DIRETOR DO CENTRO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
Prof. Fernando Verdú Pascual. Valencia 27
– Espanha.
Professor Jânio Marques Dias Prof. Antônio Alvimar Souza -
CORDENADORA GERAL DA UNIVERSIDADE Unimontes Ambiente virtual de aprendizagem: Instrumento para leitura de
Prof. Fernando Lolas Stepke. – Univ.
ABERTA DO BRASIL
Professora Maria Ângela Lopes Dumont de Macedo Chile. textos em espanhol 39
Prof. José Geraldo de Freitas Drumond
COORDENADORA DO PROGRAMA DE FORMAÇÃO – Unimontes. A internet na educação: A importância do trabalho com a
CONTINUADA EM MÍDIAS NA EDUCAÇÃO - Profª Rita de Cássia Silva Dionísio.
UNIMONTES Letras – Unimontes. história em quadrinhos no ensino fundamental 51
Professora Clitien Alice Meira Rios Profª Maisa Tavares de Souza Leite.
Enfermagem – Unimontes. Leitura e interpretação de textos a partir da integração da
ORGANIZADORES Profª Siomara A. Silva – Educação
Clitien Alice Meira Rios Física. UFOP. ferramenta web no contexto escolar 63
Gildette Soares Fonseca
Tyellen Sany Cruz dos Reis PROJETO GRÁFICO A utilização da mídia impressa jornal na alfabetização e
Jéssica Luiza de Albuquerque
letramento 75
Mídias na Educação : Prática Pedagógica Renovada /
Operações fundamentais e estatística no âmbito das questões
organizadoras, Clitien Alice Meira Rios,Gildette Soares ambientais: Intervenção na educação de jovens e adultos 85
Fonseca ,Tyellen Sany Cruz dos Reis – Montes Claros : Unimontes, 2013.
178 p. : il. Rádio Web: Estação cidadania educativa na Escola Municipal
Inclui bibliografia. Jason Caetano 97
ISBN 978-85-7739-448-7

1. Tecnologia educacional. 2. Inovações educacionais. 3. Ensino – Meios auxiliares. I. Rios, Clitien


Interdisciplinaridade na leitura e escrita com a participação da
Alice Meira. II. Fonseca, Gildette Soares. III. Reis, Tyellen Cruz dos. I. Título:Mídias na Educação: prática
família na vida escolar dos filhos 109
pedagógica renovada.
Novas possibilidades de organização das aulas de leitura e
produção textual 121
CDD 371.33
Blog nas aulas de língua portuguesa:
Uma estratégia para se estimular a leitura e a produção de
gêneros textuais diversos 141
EDITORA UNIMONTES “Leitura, luz, câmera e ação”: O cinema como ferramenta para
Campus Universitário Professor Darcy Ribeiro, s/n
Vila Mauricéia - Montes Claros (MG) - Caixa Postal: 126 - CEP: 39041-089 a leitura do do mundo 153
e-mail: editora@unimontes.br - Telefone: (38) 3229-8214
Educação na era do consumo: O despertar de uma nova
conciência 165
APRESENTAÇÃO

"Os pássaros, antes de saberem voar, aprendem a se apoiar sobre os seus


pés”. (Rubem Alves)

O fim do século XX e o desabrochar do século XXI trazem


profundas transformações que acometem a estrutura social
contemporânea. A acentuação do processo de globalização possibilita o
surgimento e disseminação de novas formas de pensar e agir, bem como
altera a dinâmica de conexão global. MÍDIAS NA EDUCAÇÃO:
Outrossim, a educação também perpassa por um processo de
céleres mudanças. Notadamente com a evolução das Tecnologias de
PRÁTICA PEDAGÓGICA RENOVADA
Informação e Comunicação (TICs), emerge-se um ambiente propício ao FONSECA, Gildette Soares1
desenvolvimento de diversificados instrumentos educacionais e de novas REIS, Tyellen Sany Cruz dos2
RIOS, Clitien Alice Meira3
práticas pedagógicas.
Nesse cenário, o Programa de Formação Continuada Mídias na
Educação ocupa posição de destaque, na medida em que objetiva
preparar o professor para a efetivação de um ensino de qualidade, crítico INTRODUÇÃO
e reflexivo, através da utilização e inserção das mídias em sua atividade
cotidiana. Com o explorar dos recursos midiáticos, a prática docente é A educação escolar no Brasil tem se tornado assunto de
aquilatada e o processo de ensino-aprendizagem ressignificado. As várias discussões e ações com o intuito de melhorar a qualificação
fronteiras espaço-temporais são ultrapassadas e o aprendizado do professor, para que este desenvolva atividades que oportunize
oportunizado pela construção coletiva dos conhecimentos torna a sala de aprendizagem significativa para o cotidiano do estudante.
aula muito mais atraente. Neste contexto, este artigo tem por objetivo refletir sobre a
É esta conjuntura de transformação e preocupação com os saberes importância do Programa de Formação Continuada em Mídias na
construídos que visualizamos nos cursistas do Programa ofertado em nossa Educação para o processo de educação continuada de professores
Universidade. Cada um desses profissionais que aqui se qualificou e, especialmente, para o ensino/aprendizagem de estudantes da
demonstra competência técnica, humana e ética para continuar trilhando educação básica. Para tanto, fizemos uma pesquisa bibliográfica
itinerários perenes no campo da educação. Os trabalhos apresentados
neste livro atestam o desenvolvimento pessoal evidenciado ao longo do 1 Professora do Departamento de Geociências da Universidade Estadual de Montes Claros –
curso, assim como o eclodir de sujeitos, cidadãos, comprometidos com o UNIMONTES. Doutoranda em Geografia – PUC/MG. Mestre em Geografia – PUC/SP. Especialista
em Geografia e Meio Ambiente – UNIMONTES. Atuou como Coordenadora dos Ciclos Intermediário
trabalho e com a criação de um futuro melhor para todos. e Avançado – 3ª Edição – Complementação do Programa de Formação Continuada em Mídias na
Assim, temos convicção de que apresentamos à sociedade, profissionais Educação.
preparados para o complexo e essencial desafio que reside no ato de 2 Professora Formadora do Programa de Formação Continuada em Mídias na Educação
– Unimontes. Especialista em Mídias na Educação. Atuou como Coordenadora de Tutoria do
educar e, concomitantemente, de ser educado. Parabéns a todos que Programa Mídias na Educação de 2009 a 2012.
envidaram e envidam diuturnamente esforços para a realização deste 3 Professora do Departamento de Comunicação e Letras da Unimontes. Especialista em
curso e para a construção de um mundo melhor. Linguística Aplicada ao Ensino do Português. Atuou como Coordenadora do Programa de
Formação Continuada em Mídias na Educação de 2010 a 2012.

Professora Maria Ivete Soares de Almeida


Vice-Reitora/Unimontes 5
Prática Pedagógica Renovada Mídias na Educação

e consideramos, ainda, a nossa experiência no referido Programa. Ao ingressar em um curso de especialização entendemos
O Programa Mídias na Educação funciona na modalidade a que o profissional busca uma formação continuada, o que nos leva
distância de ensino, contribuindo para o aperfeiçoamento tanto a concordar com Tomini (2011, p.23): “As dificuldades produzidas
pedagógico quanto técnico do docente, no uso das tecnologias de pela formação inicial dos professores têm sido supridas a partir
informação e comunicação, tais como: TV/Vídeo, Informática, da formação continuada, ocasião em que, já lecionando, são
Rádio e Material Impresso, tendo como público-alvo prioritário orientados a participarem de seminários, congressos, palestras,
os professores da Educação Básica da rede pública de ensino. oficinas, atividades voltadas à educação etc”.
O Programa foi desenvolvido pela Secretaria de Educação a Pensamos que a responsabilidade com a prática pedagógica,
Distância (SEED), em parceria com as Secretarias Municipais de a boa experiência e os resultados adquiridos com os trabalhos
Educação e Universidades Públicas. realizados impulsionarão estes professores a continuarem
Em 2009 houve migração do Programa da SEED para a inovando e ampliando as possibilidades de aprender e ensinar.
Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior Sabemos que o exercício da docência é repleto de
(CAPES), passando a se beneficiar da estrutura da Universidade desafios, mas, também, é o ofício onde se percebe o crescimento
Aberta do Brasil (UAB). Assim, em 2010, o programa passa a intelectual e emocional do estudante quando desenvolvemos
ser ofertado no âmbito do Plano Nacional de Formação de um trabalho de qualidade. O docente da educação básica é o
Professores das Redes Públicas de Ensino pela UAB/DED/CAPES, formador de todos os demais profissionais da sociedade, o que
sendo reestruturado para se adequar aos níveis e parâmetros pode ser entendido com grande mérito, pois contribui com o
da UAB/DED/CAPES. Os autores reformularam os três cursos processo de amadurecimento e engrandecimento do ser humano,
que constituíam ciclos de estudos: Básico (120h), Intermediário Palavras-chave: Educação Básica. Mídias na Educação.
(60h) e Avançado (180h), em dois formatos independentes: o Aprendizagem. Professores. Alunos.
Curso de Extensão em Mídias na Educação (120h) e o Curso de
DESENVOLVIMENTO
Especialização em Mídias na Educação (360h).
No transcorrer do Programa Mídias na Educação, pudemos Na contemporaneidade, a sociedade convive com grandes
observar que os professores-cursistas participantes, apesar das transformações em todos os âmbitos. As informações circulam
dificuldades enfrentadas, obtiveram ótimos resultados para a com tamanha rapidez que temos a sensação que não vamos dar
sua vida profissional e, consequentemente, para a aprendizagem conta de processar, assimilar e compreender. Neste contexto,
dos alunos, pois o programa possibilita a ampliação do trabalho os profissionais da educação escolar no Brasil, responsáveis pela
docente em sala de aula, transformando os saberes adquiridos formação de cidadãos críticos, agentes ativos se veem temerosos,
em novas perspectivas de aprendizagem. Acompanhamos pois as gerações de estudantes já nascem dentro do “mundo da
diversos trabalhos desenvolvidos pelos professores que podemos tecnologia”, enquanto alguns professores não têm domínio do
considerar inovadores dentro das escolas, construídos a partir do mouse.
curso Mídias na Educação, como: elaboração de blog’s, escrita de Destarte, é necessário que o docente tenha ótima formação
livros, produção de vídeos, confecção de revistas, jornais, entre acadêmica, ética, didática, criatividade, vontade de aprimorar
outros. seus conhecimentos e que o ambiente escolar disponibilize
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Prática Pedagógica Renovada Mídias na Educação

recursos didáticos para desenvolver seu trabalho com qualidade, O processo de aprendizagem é constante, fato que faz
ou seja, são muitos os fatores que devem estar atrelados. O livro do professor eterno aprendiz, ao planejar as aulas, faz leituras,
didático, o quadro negro, o giz, cópias de exercícios e ou textos pesquisa novas formas de ensinar, utiliza a criatividade para
não são suficientes para atrair a atenção dos estudantes. atender os estudantes. Libâneo (2002, p. 6) afirma que:
Freire (2001, p. 20) afirma: O papel do professor, portanto é o de planejar, sele-
cionar e organizar os conteúdos, programar tarefas,
Pensar na História como possibilidade é reconhecer a
criar condições de estudo dentro da classe, incentivar
educação também como possibilidade. É reconhecer
os alunos, ou seja, o professor dirige as atividades de
que se ela, a educação, não pode tudo, pode alguma
aprendizagem dos alunos a fim de que estes se tornem
coisa. Sua força, como costumo dizer, reside na sua
sujeitos ativos da própria aprendizagem. Não há ensino
fraqueza. Uma de nossas tarefas como educadores e
verdadeiro se os alunos não desenvolvem suas capaci-
educadoras, é descobrir o que historicamente pode ser
dades e habilidades mentais, se não assimilam pessoal
feito no sentido de contribuir para a transformação do
e ativamente os conhecimentos ou se não dão conta de
mundo, de que resulte um mundo mais “redondo”, me-
aplicá-los, seja nos exercícios e verificações feitos em
nos arestoso, mais humano, e em que se prepare a ma-
classe, seja na prática da vida.
terialização da grande utopia: Unidade na Diversidade.
As habilidades e competências desenvolvidas pelo estudante
Promover uma educação escolar que respeite a diversidade
perpassam pelo trabalho do professor. Para White (2002, p.4) os
cultural e ao mesmo tempo reduza as desigualdades sociais
professores que tornam, “[...] seu objetivo educar os alunos de
tornou-se desafio de governantes e da comunidade escolar. No
maneira que estes vejam e sintam estar neles próprios o poder de
Brasil, parte da sociedade entende a real necessidade de reverter
formar homens e mulheres de sólidos princípios, habilitados para
o quadro caótico da educação escolar estabelecido, mas cabe ao
qualquer posição na vida, são os mestres mais úteis e de êxito
educador o maior encargo. Cury (2008, p. 42) salienta:
permanente”.
Se um professor não conseguir provocar a inteligência
dos alunos durante sua exposição, ele não o educou. O
Marques (1992, p.163) afirma:
que é mais importante na educação: a dúvida ou a res- Não se trata de formar um profissional fechado no seu
posta? Muitos pensam que é a resposta. Mas a resposta casulo de um saber exclusivo e autossuficiente, mas de
é uma das maiores armadilhas intelectuais. Quem de- formar, no profissional, o homem da competência co-
termina o tamanho da resposta é o tamanho da dúvida. municativa, que construa seu saber no diálogo fecundo
A dúvida nos provoca muito mais do que a resposta. e provocador e no serviço à sociedade ampla e plural,
no mundo da vida compartilhando entre os iguais.
O professor precisa, antes de tudo, estar capacitado para
instigar o educando, nas palavras de Passini (1998, p.73): Nesta perspectiva, o docente da educação básica é
O professor é o parceiro mais importante no processo
formador diretamente de todos os demais profissionais da
de aprendizagem, pois ele pode incitar o grupo de alu- sociedade, o que pode ser entendido com o privilégio, pois
nos ao aprendizado, desafiá-los a serem pesquisadores contribui com o processo de amadurecimento e engrandecimento
permanentes, como pode também ser o responsável do ser humano. Especialmente aqueles professores que fazem
pela amputação intelectual, desistência e desânimo de
uma turma inteira. questão de buscarem novos conhecimentos.
Cury (2008, p. 93) comenta: “Os professores devem

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Prática Pedagógica Renovada Mídias na Educação

QUADRO I - CURSISTAS MATRICULADOS POR ANO


superar o vício de transmitir o conhecimento pronto como se
fossem verdades absolutas.” Acreditamos que o docente pode ANO Nº. MATRICULADOS
2007 193
sobrepujar todas as barreiras e promover a construção do saber 2008 343
com o estudante. 2009 484
2011 482
[...] no processo de aprendizagem, só aprende ver-
dadeiramente aquele que se apropria do aprendido, Fonte: Sistema de Gestão Questionário de Avaliação - SGQA, 2012.
transformando-o em apreendido, com o que pode, por
isso mesmo, reinventá-lo; aquele que é capaz de apli- No Quadro II, apresentamos dados dos Ciclos ofertados
car o aprendido-apreendido a situações existenciais entre os anos de 2007 a 2012 e, ainda, o quantitativo de alunos
concretas. Pelo contrário, aquele que é “enchido” por concluintes em cada Ciclo do Curso Mídias na Educação.
outros de conteúdos cuja inteligência não percebe, de
conteúdos que contradizem a própria forma de estar
QUADRO II – CURSISTAS CONCLUÍNTES POR CICLO.
em seu mundo, sem que seja desafiado, não aprende
(FREIRE 1983, p.7). ANO CICLO CONCLUINTES
2007 1ª oferta - Básico 93
São muitas as alternativas para o aprimoramento do 2008 2ª oferta - Básico 240
2008 1ª oferta - Intermediário 84
docente na contemporaneidade, mas os cursos voltados para o 2009 3ª oferta - Básico 288
aprendizado das novas ferramentas tecnológicas são, sem dúvida, 2009 2ª oferta - Intermediário 189
2009 1ª oferta - Avançado 80
necessários e muito atraentes. Saber fazer uso adequadamente de 2010 3ª oferta – Intermediário 220
jogos interativos; da televisão; do aparelho de DVD; do projetor 2010 2ª oferta – Avançado 108
2011 4ª oferta – Básico 333
de multimídia; do micro system; da mídia impressa (jornais, 2012 Avançado 169
revistas, textos); da internet, que oferece site de pesquisa, Fonte: Sistema de Gestão Questionário de Avaliação - SGQA, 2012
blog, imagens de satélites [...], entre outros é uma ferramenta
interessante para promover uma aprendizagem prazerosa. Ainda de acordo com os dados do Quadro II, observamos que
Nesta perspectiva, Moran (2000, p. 23) argumenta 954 cursitas concluíram o Ciclo Básico, 493 o Ciclo Intermediário
e 341 o Ciclo Avançado, sendo este último o que certifica ao aluno
Que fatores podem nos levar a aprender melhor e de
o título de Especialização em Mídias na Educação. Se levarmos em
forma mais prazerosa? Aprendemos melhor quando vi-
venciamos, experimentamos, sentimos. Aprendemos consideração as dificuldades vividas pelos cursistas, como acesso
quando relacionamos, estabelecemos vínculos, laços a internet e baixo conhecimento em informática, obtivemos um
entre o que estava solto, caótico, disperso, integran- quantitativo excelente de cursistas formados pelo programa.
do-o em um novo contexto, dando-lhe significado, en-
contrando um novo sentido. A Internet e demais tecnologias nos ajudam a reali-
zar o que já fazemos ou que desejamos. Se somos pes-
Com o Programa de Formação Continuada em Mídias na soas abertas, nos ajuda a ampliar a nossa comunica-
Educação obtivemos resultados extremamente significativos na ção; se somos fechados, contribui para controlar mais.
Universidade Estadual de Montes Claros. Foi atendido um público Se temos propostas inovadoras, facilita a mudança.
Com ou sem tecnologias avançadas podemos vivenciar
aproximado de 1.502 cursistas, conforme nos apresenta o Quadro I. processos participativos de compartilhamento de en-
sinar e aprender (poder distribuído) através da comuni-

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Prática Pedagógica Renovada Mídias na Educação

cação mais aberta, confiante, de motivação constante, CONSIDERAÇÕES FINAIS


de integração de todas as possibilidades da aula-pes-
quisa/aula-comunicação, num processo dinâmico e A prática pedagógica do professor deve se apoiar sempre
amplo de informação inovadora, reelaborada pessoal-
mente e em grupo, de integração do objeto de estudo
na renovação do conhecimento. Um professor comprometido
em todas as dimensões pessoais: cognitivas, emotivas, com a educação reflete constantemente sobre o seu papel na
sociais, éticas e utilizando todas as habilidades dis- dinâmica da sala de aula. Mais que isso, busca capacitação e
poníveis do professor e do aluno (MORAN, 2000, p.27). alternativas inteligentes para que a aprendizagem ocorra de
O Programa de Formação Continuada em Mídias na fato. E as tecnologias podem ser um instrumento importante
Educação com o propósito de capacitar profissionais da educação, nesse processo.
oportunizou a diversos professores a possibilidade de aprender Devido ao sucesso da realização do Mídias na Educação,
e aperfeiçoar seus conhecimentos, introduzir novas formas de na Unimontes, em atendimento a milhares de professores da
ensinar e de se relacionar, melhorando, consequentemente, o educação básica, acreditamos na importância do oferecimento
processo de aprendizagem dos seus alunos. de cursos de formação continuada a professores da rede pública,
Professores mais abertos, confiantes, bem resolvidos visando, sobretudo, a capacitação para o uso pedagógico dos
podem compreender melhor e implantar novas formas recursos tecnológicos em sala de aula. Sendo que, o resultado
de relacionamento, de cooperação no processo de en- direto de uma boa formação de professores é, com certeza, o
sinar e aprender. Estão atentos para o novo, conseg-
uem ouvir os outros e expressar-se de forma clara, não
aprendizado dos alunos.
ficam ressentidos porque suas ideias não foram eventu- Assim, consideramos que o Curso Mídias na Educação,
almente aceitas. Cooperam em projetos que foram de-
cididos democraticamente, mesmo que não coincidam com a sua proposta dinâmica do aprender/fazendo,
com todos os seus pontos de vista (MORAN, 2000, p. 4). oportuniza aos professores cursistas a ampliação e a
aplicabilidade do saber, tendo em contrapartida um melhor
Consideramos que a formação do professor é simultânea
aproveitamento do conteúdo escolar.
à sua prática, não há dissociação. Portanto, ela deve ser um
processo dinâmico, visando o conhecimento e o aperfeiçoamento
deste conhecimento, o que propiciará a melhoria da prática
educativa.

12 13
Prática Pedagógica Renovada

REFERÊNCIAS

CURY, Augusto. Pais brilhantes, professores fascinantes. Rio de


Janeiro: Sextante, 2008.
FREIRE, Paulo. Extensão ou Comunicação? 8ª ed. Rio de Janeiro:
Paz e Terra, 1983.
FREIRE, Paulo. Política e Educação. 5ª ed. São Paulo: Cortez,
2001. O VÍDEO PUBLICITÁRIO COMO PRÁTICA DIDÁTICA
LIBÂNEO, José Carlos. Didática Velhos e Novos Temas. Edição do PARA A INCLUSÃO DE UM NOVO IDIOMA
autor. Maio de 2002. BORGES, Cláudia Lúcia dos Santos1
QUEIROZ, Antônia Márcia Duarte2
MARQUES, M. O. A formação do profissional da educação. Ijuí
(RS): UNIJUÍ, 1992.
MORAN, José Manuel, MASETTO, Marcos T., BEHRENS, Marilda
INTRODUÇÃO
A. Novas tecnologias e mediação pedagógica. Campinas, SP:
Papirus, 2000. 133p. Esse trabalho busca apontar os resultados de uma pesquisa
__________ A educação que desejamos novos desafios e como de intervenção aplicada em uma turma do 7º ano da Escola
chegar lá. Campinas: Papirus, 2007. Municipal “Dalva Ferreira Diniz” e destacar o uso da televisão e
do vídeo em sala de aula como recursos didáticos para a inclusão
PASSINI, Elza Yasuko (Org.) - Prática de ensino e estágio de um outro idioma e os desafios na incorporação desses recursos
supervisionado – Autonomia, São Paulo: Cooperativa técnico- à prática do professor para motivação dos educandos.
educacional, 1998.
Para estudo e pesquisa utilizou-se da teoria inovadora
WHITE, Ellen Goldman. Conselhos sobre Educação. Tatuí (SP): e midiática de Moran (1995, 1998), os Parâmetros Curriculares
Editora Casa Publicadora brasileira. 2002. Nacionais de Língua Inglesa BRASIL (1998, 1999) e do material
TOMINI, I. M. et al. O ensino de Geografia e suas composições disponibilizado pelo Curso Mídias na Educação BRASIL (2010)
Curriculares. Porto Alegre, UFRGS, 2011. que revelou a necessidade de uma redefinição do papel do

1 Cursista do Programa de Formação Continuada Mídias na Educação através da Universidade


Estadual de Montes Claros (UNIMONTES); Graduada em letras e Especialista em Metodologia e
Ensino da Língua Inglesa; Professora dos anos finais do Ensino Fundamental da Rede Municipal e
Estadual de Sete Lagoas MG.
2 Graduada em Geografia e Mestre em Desenvolvimento Social pela Universidade Estadual
de Montes Claros (UNIMONTES); possui experiência docente como professora na educação
básica; na Graduação no Departamento de Geociências – UNIMONTES; Professora Formadora da
Universidade Aberta do Brasil- UAB e Professora Orientadora do Ciclo Avançado (Pós-Graduação
Lato-Sensu) do Programa de Formação Continuada - Mídias na Educação.

14 15
Prática Pedagógica Renovada Mídias na Educação

professor, para que este estabeleça uma interação com os meios mídias contribuir para o ensino aprendizagem? Como despertar
de comunicação e uma atuação enquanto mediador do processo o interesse dos alunos para a aprendizagem da língua inglesa?
de ensino-aprendizagem, potencializando, com isso, a formação Como motivá-los para a sua transformação na sociedade?
de um aluno mais crítico em relação ao veículo televisivo. Desta O Uso da TV e vídeo como ferramenta educacional
forma este trabalho cria possibilidades para novos olhares e norteados por uma teoria Sociointeracionista, que é defendida
novos diálogos para a construção da aprendizagem, apontando pelos Parâmetros Curriculares Nacionais (1998) proporcionará
a televisão como um desafio para a escola, uma possibilidade interatividade entre professor e aluno. Os processos cognitivos
de interação entre educador e educandos e um instrumento têm uma natureza social, sendo gerados por meio da interação
mediador do ensino-aprendizado. entre um aluno e um parceiro mais competente. Em sala de aula,
A educação contemporânea precisa estar voltada para a esta interação tem, em geral, caráter assimétrico, o que coloca
formação de cidadãos capazes de participar na construção de dificuldades específicas para a construção do conhecimento. Daí
uma sociedade melhor, conscientes de seus direitos e deveres e a importância de o professor aprender a compartilhar seu poder
preparados para acompanhar as transformações do mercado de e dar voz ao aluno de modo que este possa se constituir como
trabalho e do mundo. sujeito do discurso e, portanto, da aprendizagem.
Nesse sentido, o objetivo geral desse trabalho foi fazer
O ENSINO DA LÍNGUA INGLESA SOB UM NOVO OLHAR
com que o aluno conhecesse as vantagens e oportunidades que o
domínio de um outro idioma traz. Os alunos são todos muito diferentes, diferem-se em idade,
A Escola Municipal “Dalva Ferreira Diniz”, na cidade de sexo, naturalidade, nacionalidade e nível de conhecimento.
Sete Lagoas - MG, esta inserida em uma comunidade carente do Suas atitudes em sala de aula são afetadas por sua motivação,
ponto de vista social, econômico, educativo e cultural e a turma suas necessidades, sua formação cultural e educacional e seu
escolhida, do 7º ano, a qual trabalho como professora de língua contexto social. Ele não está só, logo, ele precisa se comunicar.
inglesa desde 2010 tem um perfil de imatura quanto as reais E ao contrário do que muitos pensam, a comunicação não
necessidades de se estudar uma segunda língua, fez-se necessário, acontece somente quando falamos, estabelecemos um diálogo
então uma intervenção pedagógica para nortear a concepção dos ou redigimos um texto, ela se faz presente em todos (ou quase
alunos em relação ao poder transformador da educação na sua todos) os momentos. Comunicamo-nos com nossos colegas de
vida social, entre elas o domínio da língua inglesa, como agente escola, com o livro que lemos, com a revista, com os documentos
socializador na formação do indivíduo. que manuseamos, através de nossos gestos e ações.
É comum ouvir sempre as perguntas: Por que nós temos que O objetivo de aprender uma língua é se comunicar
estudar inglês? Eu não vou morar em outro país! Possivelmente, nessa língua. Isso significa que a língua que se ensina deve ser
essa grande maioria (de alunos adolescentes) não sente nenhuma significativa, natural e útil aos alunos. A educação em Língua
necessidade ou desejo de se comunicar em língua estrangeira e Estrangeira na escola, particularmente o inglês, dá acesso à
não percebe a necessidade futura de se falar um segundo idioma. ciência e à tecnologia modernas, à comunicação intercultural,
Por que não usar o que os alunos mais gostam para mostrar ao mundo dos negócios e a outros modos de se conceber a vida
que a língua inglesa é de suma importância? Poderia o uso de humana.

16 17
Prática Pedagógica Renovada Mídias na Educação

Com o advento da globalização econômica, vem Nesta concepção televisão e vídeo atuam como recurso
aumentando cada vez mais o fascínio que os meios de comunicação para potencializar o processo de aprendizagem do aluno. Uma vez
exercem sobre as pessoas e, especialmente, sobre o adolescente. que esses meios têm grande participação na vida de estudantes
A aquisição do conhecimento através da televisão acontece e de professores. Segundo Moran (1995, s/p) [...] Os jovens lêem
principalmente pela via mais leve e mais fácil o da distração e do o que podem visualizar, ou seja, precisam ver para compreender;
entretenimento. [...] A TV e o vídeo respondem às sensibilidades dos jovens como
para a grande maioria da população; [...] A linguagem visual
O vídeo parte do concreto, do visível, do ime- desenvolve múltiplas atitudes perceptivas.
diato, próximo, que toca todos os sentidos. Mexe com É um exercício muito motivador para o aluno a criação de
o corpo, com a pele, toca-nos e “tocamos” os
outros, estão ao nosso alcance através dos re-cortes seu próprio vídeo. Este é um trabalho que terá como resultado
visuais, do close, do som estéreo envolven-te. Pelo um produto informativo, divertido e significativo. Ao se trabalhar
vídeo sentimos experienciamos sensorial-mente o com temas, cria-se a possibilidade de interdisciplinaridade,
outro, o mundo, nós mesmos (MORAN, 1995. p. 27).
de construção conjunta de um conhecimento contextualizado.
Conceitos são criados, recriados ou aprofundados. A TV e o
O avanço tecnológico acelerado urge que se mude a relação vídeo trazem informações que possibilitam ao professor ser um
da escola com a tecnologia. Isso se deve a massificação de mídias mediador e não mais aquele que informa, além de colocar-nos
e recursos tecnológicos como a televisão, o celular (cada vez em contato com diversas linguagens (audiovisual, multimídia,
mais sofisticado) e a Internet cada vez mais presentes na vida das coloquiais).
novas gerações que já nasceram em um mundo digital.
Assim desenvolveram-se práticas pedagógicas com os
Dentre os muitos gêneros textuais e discursivos que se alunos para a inclusão da língua inglesa. A pesquisa de intervenção
podem estudar utilizando a TV, a propaganda e a publicidade foi realizada com uma turma do 7º ano da Escola Municipal
em vídeo são as que mais contribuem para a formação e “Dalva Ferreira Diniz”. Estes alunos apresentavam desde o
construção do conhecimento, pois permitem apropriar-se de uma início do ano uma grande apatia para os estudos. Muitos desses
determinada linguagem com determinadas intenções ideológicas alunos eram repetentes, alguns até mais de dois anos na mesma
e comunicativas contribuindo para o desenvolvimento não só da série. Determinados alunos apresentavam grande dificuldade em
linguagem em geral, inclusive da língua estrangeira, mas também interagir com certas atividades, outros apresentavam resistência
para a formação de uma leitura crítica dos textos verbais e não- total no sentido de adquirir conhecimentos, se isolando dos
verbais que são produzidos socialmente. demais colegas, negando a participar das atividades propostas,
Entretanto, é preciso saber aproveitar a liberdade e a bem como não apresentando interesse qualquer em realizar
criatividade do espaço televisivo (publicidade e propaganda), e, algo que se refere à aprendizagem. Nossa grande dificuldade era
ao mesmo tempo, aprender a definir os limites, a consciência despertar o interesse desses alunos pelo estudo, principalmente
crítica, reabilitar os valores e fortalecer a identidade das pessoas pela língua inglesa que para eles não tem muita importância.
e dos grupos – desafios de hoje a serem enfrentados por todos os Para diagnosticar o porquê desse desinteresse dos alunos
profissionais do ensino. foi aplicado um questionário obtendo o resultado apresentado

18 19
Prática Pedagógica Renovada Mídias na Educação

nos gráficos abaixo. processo de ensino e aprendizagem. Os principais usos


são: Para motivar, sensibilizar os alunos – É, do meu
ponto de vista, o uso mais importante na escola. Um
Não bom vídeo é interessantíssimo para introduzir um novo
41% Sim assunto, para despertar a curiosidade, a motivação
47% para novos temas. Isso facilitará o desejo de pesquisa
nos alunos para aprofundar o assunto do vídeo e da
matéria (MORAN, 2009, s/p).
Mais ou O projeto teve início no mês de setembro e encerrou-se
menos no mês de dezembro, perfazendo uma média de quinze
12%
módulos/aulas de cinqüenta minutos.
Em uma roda de conversas os alunos responderam que
GRÁFICO 01: Você gosta de estudar GRÁFICO 02: Em que aspectos o ensino
inglês? da língua inglesa precisa melhorar?
era através de trailers que ficavam sabendo o que estavam em
Fonte: resultados do questionário. Fonte: resultados do questionário
cartaz. O vencedor foi “Planeta dos Macacos”3. Já na segunda
aula aproveitamos a resenha do filme para trabalhar algumas
palavras na língua inglesa, iniciando assim o processo de aquisição
No gráfico 01 percebeu-se que 47% dos alunos gostam de de conhecimento em uma língua estrangeira.
estudar inglês contra 41% que não gosta, os 12% que não souberam
O próximo passo antes de assistir o filme no cinema foi
responder corresponde a parcela dos alunos que se encontram
assistir em sala de aula os trailers dos filmes que estavam em
desmotivados e que demonstram grande apatia para o estudo
cartaz. Para a terceira aula da pesquisa preparamos uma exibição
independente de qualquer matéria. Já no gráfico 02 os alunos
de cada trailer em duas versões: primeiro em língua inglesa,
reconhecem que o ensino da língua inglesa como é ministrado nos
onde questionamos os alunos sobre o que entenderam. Alguns de
dias atuais precisa melhor. Quando perguntado em que aspectos
primeira responderam que não entenderam nada, mas após assistir
devem-se melhorar o ensino a grande maioria concorda que o
várias vezes, puderam sim, falar sobre o que imaginavam que iria
uso da tecnologia durante as aulas e na resolução de problemas
acontecer. Logo perguntamos quais foram as pistas que levaram
ajudaria muito mais na aquisição de um outro idioma.
os alunos a entender o trailer. Alguns responderam que foram as
No sentido de ajudar os alunos desmotivados e também cenas e os letreiros em inglês que passaram. Assim mostramos para
para a desconstrução de um modelo de escola autoritária eles que é possível entender imagens e até textos sem precisar
e centrada no professor, propomos a criação de um vídeo saber falar e compreender a língua fluentemente. Depois exibimos
publicitário para ser exibido em toda a escola, criando assim a o trailer em português para que pudessem confirmar o que sabiam.
oportunidade para que todos os alunos se envolvam no processo
de ensino e aprendizagem, atendendo a solicitação da maioria 3 PLANETA DOS MACACOS – A ORIGEM (Rise of The Planet of The Apes, EUA, 2011) Duração: 105
que era o uso de tecnologias e filmes, mudando assim o ambiente min. Gênero: Ficção Científica. A arrogância do Homem deflagra uma cadeia de acontecimentos
que leva os símios a ter um outro tipo de inteligência e a desafiar nosso posto de espécie
de aprendizagem. dominante no planeta. César, o primeiro símio inteligente, é traído pelos humanos e se revolta
passando a liderar a incrível corrida de sua espécie rumo à liberdade e ao inevitável confronto
Os vídeos podem ser utilizados em todas as etapas do com o Homem. << http://www.cinepop.com.br/filmes/planeta-dos-macacos-2011.php>>

20 21
Prática Pedagógica Renovada Mídias na Educação

Com o objetivo de produzir um vídeo publicitário, contada no vídeo. Descreveram em língua inglesa as cenas que
provocou-se os alunos perguntando se agora já estavam deveriam ser gravadas, destacando o que, quando, onde e como;
preparados para dirigir, atuar e editar um filme promocional. Na décima primeira e décima segunda aula foi realizadas algumas
Todos estavam empolgados. Como tema, escolhemos a divulgação tomadas. Utilizando máquinas fotográficas e filmadoras os alunos
dos cursos de inglês, assim eles poderiam entender e dissertar se dividiram em atores, produtores e diretor e organizaram os
sobre a importância da língua inglesa nos dias atuais. Para dias de filmagens de cada cena. As filmagens não aconteceram
a quinta aula do projeto escolhemos duas atividades do livro todas no mesmo dia devido a cenários diferentes e também
didático dos alunos. A primeira sobre a origem da língua inglesa, porque nossas aulas são módulos de cinqüenta minutos, tempo
sua importância e sua história. E a segunda abordando os meios insuficiente para todas as gravações. Para que os alunos tivessem
de comunicação de massa, suas características e usos. Quase algumas noções sobre filmagem, exibiu-se um vídeo sobre
todas as atividades foram desenvolvidas na língua estrangeira e técnicas de filmagem em sua aula; Da décima terceira à décima
resolvidas sem reclamações ou preguiça. E o melhor foi que eles quinta aula os alunos editaram os vídeos: Durante as aulas após as
compreenderam o objetivo dessas atividades. gravações trabalhando sob a orientação da professora e de outros
Já na sexta aula, escolhemos alguns vídeos publicitários alunos que dominavam as técnicas de edição de vídeo utilizando
de escolas de idiomas para levar para a classe. Nosso objetivo era o notebook da biblioteca, pois os computadores do laboratório de
estudar como um vídeo publicitário era organizado, reconhecer informática não possuem editores de vídeo, os alunos opinaram
os elementos constitutivos e algumas estratégias de um anúncio na criação do vídeo, escolhendo as imagens, cores, plano de
publicitário. (Bilingual Cat, Ad on foreign languages, Comercial fundo e letras.
Cultura Inglesa, Comercial Wizard, Seatbelt). Em casa baixamos Foram produzidos quatro vídeos persuadindo o telespectador
os vídeos e gravamos para assistir na TV da escola. Para usá-la os a estudar a Língua Inglesa. O primeiro vídeo o personagem é um
professores agendam com a bibliotecária o dia e quando fomos garoto bom de bola e que foi contratado para jogar em um time
agendar as datas para os alunos assistirem não havia vaga para porque além de jogar bem ele estuda e fala inglês. O segundo
os próximos dias, logo adiamos por alguns dias os nossos planos vídeo os alunos demonstram grandes manobras com a bicicleta e
de assistir aos anúncios e introduzimos a gramática que seria instiga o telespectador a praticar algo diferente como o estudo de
necessária para que os alunos pudessem criar seus anúncios , com um outro idioma. Já no terceiro vídeo a turma do Sítio do Picapau
tema como Present Continuous Tense para descrever as cenas de Amarelo dá uma aula de inglês para todos. E no quarto vídeo,
cada filmagem, tema de nossa sétima aula. um adolescente perde um encontro com uma garota porque não
Após conhecerem a estrutura de um vídeo publicitário, entendeu o bilhete que ela lhe deixou escrito em língua inglesa.
conhecer as vantagens e desvantagens do produto ou ideia O professor pode encontrar na utilização de tecnologias
anunciada os alunos em grupo de trabalho seguiram a seguintes de informação e comunicação o suporte técnico instrumental que
etapas: Na nona aula criaram e planejaram o vídeo discutindo o faltava para incentivar os alunos a se comunicar em outro idioma
que poderiam abordar, como fariam, o tipo de linguagem (verbal, incrementando o processo de interação, despertando-lhes o
não-verbal ou mista), o público alvo, o slogan e os efeitos visuais; sentimento de responsabilidade e parceria no processo de ensino-
Na décima aula fizeram o roteiro, escrevendo a história que seria aprendizagem.

22 23
Prática Pedagógica Renovada Mídias na Educação

Prova disso foram os resultados das avaliações que os aula, problemas na agenda da biblioteca para disponibilizar a TV
alunos apresentaram no decorrer do ano após iniciarmos a e o vídeo, para assistirmos os vídeos utilizamos algumas vezes o
pesquisa intervenção com estes alunos. O rendimento da turma data show e a carência de apoio humano que acreditassem na
na qual foi aplicada a pesquisa de intervenção durante o ano proposta, por isso buscou-se o apoio maior dos alunos o que fez
de 2011 mostrou que no primeiro bimestre quase a metade dos com que aumentassem ainda mais o laço de amizade e a confiança
alunos ficou com notas perdidas na disciplina de inglês, enquanto deles em relação ao trabalho desenvolvido.
no quarto bimestre após encerramos a pesquisa de intervenção
praticamente toda a turma conseguiu a média do bimestre, tendo REFERÊNCIAS
assim um alto índice de aprovação.
BRASIL, Ministério da Educação, Secretaria de Educação Média e
CONSIDERAÇÕES FINAIS Tecnológica. Parâmetros curriculares nacionais, códigos e suas
tecnologias. Língua estrangeira moderna. Brasília: MEC, 1999.
O objetivo era despertar o interesse do aluno para o
estudo de um outro idioma, pois a grande maioria não sentia BRASIL. SEED/ MEC. Programa de Formação Continuada Mídias
necessidade ou desejo de se comunicar em língua estrangeira, na Educação. Módulo Básico TV e Vídeo.
não compreendiam a importância do estudo da língua inglesa e BRASIL, SEED/MEC. Mídias na Educação – TV E VIDEO
por que o domínio deste idioma está se tornando cada vez mais
http://webeduc.mec.gov.br/midiaseducacao/material/tv/tv_
necessário para o sucesso na vida adulta. Durante as atividades os
intermediario/p_08.htm
alunos perceberam que a Língua Inglesa faz parte de um mundo
plurilíngüe, seu papel hegemônico em determinado momento BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros
histórico e identificaram seu uso no universo dos sistemas de curriculares nacionais: terceiro e quarto ciclos do ensino
comunicação. Os alunos se sentiram motivados a participar das fundamental: língua estrangeira. Brasília: MEC/SEF, 1998.
aulas de criação do vídeo publicitário, pois nossa proposta foi MORAN, José Manuel. Desafios da televisão e do vídeo à escola.
fazer com que os alunos além de estarem assistindo também 1995. Disponível em: http://www.eca.usp.br/prof/moran/desafio.
produzissem seu próprio vídeo. A gravação de um vídeo publicitário htm. Acesso em: 09/2011.
despertou o interesse dos alunos para os estudos de modo geral.
MORAN, José Manuel. Internet no Ensino Universitário: Pesquisa
Dentre as dificuldades e problemas no desenvolvimento
e Comunicação na sala de aula. 1998.
desta pesquisa, destaca-se a greve dos professores que atrasou
o início da nossa intervenção, tivemos problemas técnicos no MORAN, José Manuel. Vídeos são instrumentos de comunicação
laboratório de informática que nos impossibilitou o acesso e de produção. Entrevista publicada no Portal do Professor do MEC
a internet, a falta dos programas de edição de vídeo nos em 06.03.2009
computadores do laboratório de informática, porém não nos
desanimamos, buscamos outras formas de usar o computador
como por exemplo levando o notebook da biblioteca, de
professores e de alunos para desenvolver o trabalho em sala de

24 25
A RELEVÂNCIA DAS IMAGENS MIDIÁTICAS NO
PROCESSO DE LEITURA E INTERPRETAÇÃO DE
DADOS HISTÓRICOS
SIQUEIRA, Tânia Joaquina Pereira de1
ALVES, Cássia Regina Machado Alves2

INTRODUÇÃO

A sociedade hoje é cada vez mais tecnológica, e, por esse


motivo, é preciso que o sistema educacional se conscientize da
necessidade de incluir nos currículos escolares as competências
e habilidades para lidar com as novas tecnologias, além de
proporcionar os meios para que isso aconteça.
Este artigo tem como tema “A relevância das imagens
midiáticas no processo de leitura e interpretação de dados
históricos” e o objetivo geral da pesquisa/intervenção foi
desenvolver, por meio da apreciação e análise de imagens, o
hábito e as habilidades de leitura dos alunos, durante as aulas
de História. Os objetivos específicos foram: Analisar imagens
como recurso importante para o desenvolvimento de leitura;
Despertar no aluno o gosto pela leitura através da apreciação de
imagens; realizar momentos de leitura e interação através das

1 Graduada em Normal Superior pela Universidade Presidente Antonio Carlos – UNIPAC e em


História pelo Instituto Superior de Educação Ibituruna – ISEIB. Professora dos Anos Iniciais do
Ensino Fundamental. Cursista do Curso Mídias em Educação (Unimontes-MEC).
2 Pedagoga, Especialista em Tecnologias na Educação pela Universidade Estadual de Montes
Claros - Unimontes. Professora-orientadora do Curso Mídias em Educação (Unimontes-MEC).

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Prática Pedagógica Renovada Mídias na Educação

mídias disponíveis na escola; criar um espaço para publicação Sabe-se que além do quadro-negro e dos livros existem
das produções discentes na internet; divulgar as informações outras formas de desenvolver o processo de ensino/aprendizagem
coletadas. do conteúdo de História, quer seja dentro ou fora do espaço
O caminho teórico metodológico utilizado para realizar escolar. Inserir os meios de comunicação pode significar um passo
o estudo foi descritivo/exploratório com base na revisão da decisivo na formação dos discentes e representar uma maior
literatura sobre o objeto de estudo. A escolha desse tipo de compreensão do mundo individual de cada aluno e da sociedade
pesquisa deve-se ao fato de que a pesquisa bibliográfica é feita em que está inserido, o que o tornará um cidadão mais crítico,
a partir de material já elaborado, constituído, principalmente, consciente e participativo, capaz de escrever a sua própria
de livros e artigos científicos mas, foram também utilizados, história.
documentos do meio eletrônico. Alguns dos autores estudados
AS MÍDIAS NO PROCESSO DE ENSINO/APRENDIZAGEM DO
foram: Bittencourt (2005) (1998); Fonseca (2003); Furtado (1998);
CONTEÚDO DE HISTÓRIA
Macedo (2005); Moran (1998); Napolitano (2005; 1999); Seffener
(2000); Freire (1985); Silva (2005) dentre outros, além das Leis de No mundo atual dependemos cada vez mais da tecnologia
Diretrizes e Bases da Educação Nacional (1996) e dos Parâmetros e não podemos deixar de incorporá-la no meio educacional.
Curriculares Nacionais (1998). A informática é um importante auxiliar para nós professores,
Concomitantemente, desenvolveu-se uma prática na tarefa de transmitir o conhecimento. Com o uso da mesma em
pedagógica de intervenção e análise utilizando a leitura de situações de aprendizagem, os alunos ampliam a maneira de ver o
imagens e gravuras procurando responder ao seguinte problema: mundo numa perspectiva reflexiva, questionadora, pesquisadora
“o que fazer para que os alunos desenvolvam o gosto pela leitura e analítica de tudo o que estiver à sua volta, sem, contudo, deixar
e ao mesmo tempo consigam interpretar os diferentes textos de lado o diálogo e a interação. Como afirma Freire(1985, p.13)
históricos que circulam na sociedade utilizando o computador e “a leitura e a realidade se prendem dinamicamente”.
o material impresso?”. Segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais: História
Esta intervenção pedagógica foi desenvolvida na Escola (1998), “o professor tem de ensinar os alunos a fazer uma leitura
Municipal Antonio de Souza Rosa, localizada no povoado de histórica do mundo”. Nessa perspectiva, ele pode explorar com os
Morrinhos, município de Bocaiúva-MG, com 15 alunos do 6º ano alunos conceitos de metodologias de análise histórica, tais como,
do Ensino Fundamental. Apesar do interesse pelos estudos, estes interpretar documentos e relacioná-los no tempo e no espaço em
alunos apresentavam dificuldade para ler e interpretar textos. A que foi feito e/ou escrito. Cabe a ele prover os meios pedagógicos
escolha deste tema deveu-se ao fato de, no desenvolvimento do para que os alunos desenvolvam competências e habilidades que
meu trabalho docente na escola com esses alunos, pude perceber os levem a contextualizar documentos através da capacidade de
que poderia despertar o interesse pelo estudo de História através interação e interpretação, de forma a retirar informações destes,
da análise de imagens e do uso do computador e de material sejam eles: imagens, revistas, livros didáticos, músicas, dentre
impresso, ajudando-os a desenvolverem as competências de outros.
leitura, escrita, argumentação, interpretação de dados, imagens [...] para a área de História procuram valorizar o inter-
e textos. câmbio de idéias, sugerindo a análise e interpretação

28 29
Prática Pedagógica Renovada Mídias na Educação

de diferentes fontes e linguagens – imagens, texto, ob- intervenção foi motivada pelo desejo de melhorar o entendimento
jeto, musica, etc. – a comparação entre informações
dos fatos históricos, pois os alunos tinham muita dificuldade para
e o debate acerca de explicações diferentes para
um mesmo acontecimento (BRASIL, 1998, p.60). ler e interpretar os diferentes documentos históricos. O uso das
imagens como temática para a intervenção, além de contribuir
Infere-se, pois, que o ensino de História deve utilizar para a melhoria da qualidade da leitura e escrita tornou as aulas
diferentes tipos de fontes, sempre com o objetivo de desenvolver de História mais atraentes e diversificadas, porque os alunos
o espírito crítico dos educandos. Para que isso aconteça é de tiveram a oportunidade de construir a sua própria história e
fundamental importância que alunos e professores tenham claros conhecer a história da comunidade em que estão inseridos.
seus objetivos sobre o processo de ensino/aprendizagem do
O projeto foi desenvolvido durante os meses de setembro e
conteúdo a ser estudado.
outubro de 2011 e pôde-se perceber que o objetivo do trabalho foi
As mídias escolhidas para esse trabalho foram utilizadas atingido, pois os alunos desenvolveram o hábito e as habilidades
para despertar o interesse pelo conteúdo proposto nas aulas de de leitura, escrita e interpretação a partir da apreciação e leitura
História, pois estas atuam cada vez mais como complemento das de imagens com a utilização das mídias disponíveis na escola.
atividades educativas, contribuindo para uma aula mais dinâmica Todo o trabalho didático foi desenvolvido com o conhecimento da
e tornando a prática pedagógica diferenciada e mais significativa. comunidade escolar e, como esse ia envolver algumas atividades
No trabalho diário, observa-se que os alunos demonstram novas, o primeiro passo foi realizar uma reunião com a direção
um maior interesse quando as aulas envolvem o computador e a da escola para levar ao seu conhecimento as estratégias contidas
internet. Com o uso das imagens pelo computador os educandos no projeto.
passaram a fazer uma leitura e uma interpretação mais crítica, Em setembro de 2011 o projeto foi apresentado aos alunos
o que muito contribuiu para a construção do conhecimento e organizou-se na sala de aula uma mesa redonda, com o objetivo
histórico. As imagens visualizadas através da internet e que foram de deixá-los à vontade para expressarem as suas opiniões. No
utilizadas como recursos didáticos são constituídas de filmes, inicio foi difícil, por causa da timidez, mas aos poucos, os alunos
fotografias e imagens informáticas dos CD-ROMs e softwares. foram se soltando e falaram bastante da comunidade onde vivem
PROJETO DE INTERVENÇÃO NO CONTEÚDO DE HISTÓRIA e como podiam ajudar a entender a história a partir das fotos e
documentos que tinham em casa.
A pesquisa de intervenção A Relevância das imagens Posto isso, convocamos os pais e responsáveis para uma
midiáticas no processo de leitura e interpretação de dados reunião na escola, para lhes ser apresentado o projeto. Todos
Históricos foi realizada na Escola Municipal Antônio de Souza compareceram no dia marcado e desta reunião participaram
Rosa, situada no povoado de Morrinhos, zona rural do município também, a direção, o corpo docente e os alunos. Durante a
de Bocaiuva, região norte do estado de Minas Gerais. reunião os pais foram participativos e se comprometeram a ajudar
Os sujeitos-alvo do trabalho desenvolvido foram os alunos os filhos nas atividades e a autorizar as atividades extraescolares.
do 6º ano do Ensino Fundamental, do turno matutino. A turma Começava, então, o trabalho de desenvolvimento do
é formada por quinze alunos, sendo quatro meninas e onze projeto. Na sala de aula foi utilizado o livro didático História,
meninos com idades compreendidas entre dez e catorze anos. A Sociedade & Cidadania, de Alfredo Boulos Júnior, livro adotado na

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Prática Pedagógica Renovada Mídias na Educação

turma e que vinha ao encontro do que era preciso, pois é repleto Pré-História, dos primeiros habitantes da terra e de seus hábitos
de textos, figuras e fotografias que podem ser trabalhadas, para e costumes. A partir de gravuras e imagens, eles recriaram a vida
atingir o objetivo proposto: ler e interpretar a diversidade de no período Paleolítico e falaram também nas experiências que
textos históricos. tiveram para conseguir fogo, quando estavam em pescarias com
Logo na unidade um, o livro trata da “História e fontes a família e amigos e conseguiram entender que esse método de
históricas”. Através de fotos modernas e antigas, o aluno é rolar uma madeira em cima de outra ou de esfregar uma pedra na
convidado a observar as diferenças existentes na maneira de se outra deu ao homem na antiguidade o domínio do fogo e, mudou
vestir, estudar, enfeitar e agir e, a partir daí, foram construindo para melhor a sua vida. Os alunos que já haviam passado por essa
o conhecimento sobre o que a História estuda: as mudanças e experiência fizeram a demonstração para os colegas, num passeio
as permanências. Em seguida foi introduzida a ideia de “fontes feito pela comunidade.
históricas” e como elas se materializam através de documentos Como os alunos já tinham noções sobre o período Neolítico
escritos, da arte, dos desenhos, das fotos, das musicas. Estas foi-lhes pedido para pesquisarem sobre o período em livros e
foram as conclusões tiradas pelos alunos ao verem o livro didático revistas e para trazerem gravuras de utensílios ou desenhos para
e ao discutirem o assunto com a professora. Então, foi-lhes pedido a sala.
que procurassem em casa ou na comunidade fontes históricas O próximo passo foi levar os alunos para a sala de
para trazerem para a sala de aula. Para Schemidt (2001, p.57), informática. A sala de informática é uma sala de aula que foi
O professor de História pode ensinar o aluno a adquirir adaptada, com 10 computadores. Nas horas das atividades, às
as ferramentas de trabalho necessárias; o saber-fazer, vezes alguns alunos têm que tem usar o mesmo computador para
o saber-fazer-bem, lançar os germes do histórico. Ele e pesquisar. Muitas vezes, os trabalhos têm que ser interrompidos
responsável por ensinar o aluno a captar e a valorizar
a diversidade dos pontos de vista. Ao professor cabe por falta de conexão, então o professor salva o que já está pronto
ensinar o aluno a levantar problemas e a reintegrá-los ou no computador ou no pen drive para depois se concluir a
num conjunto mais vastos de outros problemas, procu- tarefa.
rando transformar, em cada aula de História, temas em
problemáticas. Primeiro foi ensinado como ligar e desligar o computador
e apresentadas as peças mais importantes e sua utilidade, como
Com o desenvolvimento deste projeto foi esse o papel
CPU, monitor, teclado e mouse. Depois os alunos ficaram à vontade
do professor: orientar os alunos para o saber-fazer, preparando-
para descobrir em que o computador poderia ajudá-los, sempre
os para a diversidade de pontos de vista. Com o material que
orientados pelo professor. Foi-lhes ensinado como poderiam fazer
os alunos trouxeram, fotos, recortes de jornal, documentos de
o próprio desenho e colorir. Em seguida, foi-lhes pedido, então,
identificação, certidões de nascimento e óbito, cada um escreveu
que em casa pensassem o que queriam pesquisar para o trabalho
a sua própria história, apresentou-a para os colegas e toda a
que teriam que apresentar sobre a Pré-História.
produção foi exposta no mural da escola.
Nesta atividade, os alunos pesquisaram sobre a Pré-
Ao construírem sua própria história, os alunos perceberam
História em vários sites. No site http://julirossi.blogspot.
que tinham um passado que estavam vivenciando a partir de
com/2008/02/pr-histria.html os alunos pesquisaram desenhos
documentos históricos variados e a partir daí passamos a falar da
artísticos e sobre a história da arte. Em http://clickeaprenda.

32 33
Prática Pedagógica Renovada Mídias na Educação

uol.com.br/cgi-local/lib-site/conteudo/mostra_conteudo eles objetos que contam a história do município ela ia explicando e


puderam visualizar imagens da pré-história. Em http://www. respondendo às perguntas dos alunos. Foi uma tarde maravilhosa
colorirgratis.com/desenhos-de-pre-historia-para-colorir.html, de mergulho na nossa história e de reconhecimento do muito que
os alunos puderam colorir vários desenhos sobre o assunto e se os primeiros habitantes fizeram para se chegar ao estado atual de
entusiasmaram muito. desenvolvimento.
No desenrolar do projeto recorreu-se também ao manuseio Como despedida da visita, foi pedido a todos que se
de mapas, imagens de diferentes tipos (pinturas, desenhos, preparassem para os debates da próxima aula. O difícil foi conter
gravuras, fotografias, etc.) e trabalhamos com eles esse variado os ânimos. Todos queriam falar ao mesmo tempo, mas conseguiu-
tipo de fontes históricas através de diferentes suportes como: se organizar a sala de modo que cada um ouvisse a opinião do
revistas, livros, jornais, internet. Tinha-se trabalhado até aqui colega e expusesse a sua. Faltava organizar a exposição dos
com documentos históricos que se referiam à Pré-História trabalhos e a criação do blog para conhecimento do trabalho
mundial, os alunos também já tinham construído a história da desenvolvido nas aulas de história. A exposição dos trabalhos foi
sua comunidade e precisavam, portanto, ter contato com os aberta à toda a comunidade escolar e os alunos apresentaram
documentos históricos relativos ao meio em que estão inseridos. desenhos, fotografias, jornais e textos feitos por eles sobre o
Foi-lhes, então, proposta uma visita ao museu da cidade. conteúdo e as atividades desenvolvidas.
No dia da visita, que foi realizada extra-horário escolar, Todo o trabalho desenvolvido foi embasado em imagens.
foram debatidos alguns pontos importantes, tais como: Só se pode Era preciso tornar as aulas mais dinâmicas e atraentes. Como
conhecer o passado por meio de vestígios deixados pelos seres postula Bittencourt (1998, p. 14):
humanos na sua passagem pela Terra; É através da investigação A escola sofreu e continua sofrendo cada vez mais a
que se chega à versão dos fatos. Parte-se de questões colocadas concorrência da mídia, com gerações de alunos forma-
no presente, buscam-se as respostas no passado e retorna-se ao dos por uma gama de informações obtidas por inter-
presente para reescrever a História; Os conceitos também têm médio de sistemas de comunicação audiovisuais, por
um repertório de dados obtidos por imagens e sons,
uma história situada no tempo e no espaço; O conhecimento com formas de transmissão diferentes das que têm sido
histórico é algo construído, portanto é algo que não se acaba realizadas pelo professor, que se comunica pela orali-
nunca. dade, lousa, giz, cadernos e livros na sala de aula.

Portanto, mostrou-se aos alunos que a História é uma Apesar de termos usado a oralidade e todo o material que
construção e que o conhecimento que se tem da realidade é cerca uma sala de aula usou-se também as imagens dos livros, dos
sempre parcial e incompleto, por isso a História está sempre museus e da internet e isso conseguiu atrair a atenção dos alunos.
sendo reescrita à luz de novos fatos históricos que vão surgindo Estes puderam aprender que, para se entender uma imagem, é
com a descoberta de novas fontes. necessário contextualizá-la historicamente porque ela por si só
No dia e hora marcada lá estavam os alunos prontos não fala, ao tomá-la como fonte, deve-se perceber que “ela
para a nossa visita que seria um retorno às origens. Fomos não reproduz o real, mas que ela congela um instante do real,
recebidos pela guia que iria nos orientar na visita. À medida ‘organizando-o’ de acordo com determinada estética e visão do
que se percorria as salas e os stands com os manuscritos, fotos e mundo” (JUNIOR, 2009, p. 13).

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Prática Pedagógica Renovada Mídias na Educação

O último passo de desenvolvimento do projeto era a didáticos, oficina utilizando imagem e divulgação do material
montagem do Blog. Como já possuía um blog, este foi aproveitado reproduzido durante o desenvolvimento do projeto mostraram que
para postar o trabalho. Foram escolhidos quatro alunos que é importante que professor e aluno devem aprender a interagir
ficaram responsáveis por postar os artigos sobre o projeto e manusear materiais diferenciados, com múltiplas linguagens
e fotografias. Nele já se encontram alguns documentos escritos existentes nos meios de comunicação durante o processo de
sobre a visita ao museu e fotos que serão atualizados à medida que ensino/aprendizagem, pois ler criticamente o discurso da mídia
o trabalho se desenvolva na escola com outras turmas. Durante propicia a inserção do sujeito na sociedade e na História de seu
todo o desenvolvimento do projeto foram utilizados textos de tempo.
gêneros variados, diferentes tipos de imagens, procurando Pode-se afirmar que, através dos trabalhos realizados
explorar ao máximo seu potencial pedagógico. Procurou-se, na execução dessa intervenção, o uso das imagens, da internet
também desenvolver competências e habilidades necessárias e do material impresso em sala de aula contribuiu de forma
à construção da cidadania e da capacidade crítica dos alunos. significativa no processo de aprendizagem. Muitos alunos que não
Todas essas estratégias contribuíram para que os objetivos conseguiam interpretar e nem fazer uma leitura critica, com o
propostos fossem alcançados e os resultados da intervenção uso de imagens passaram a ter mais interesse pelas aulas e a
fossem satisfatórios, promovendo uma aprendizagem eficiente e entender a importância da História na formação da sociedade
tornando as aulas mais atrativas. contemporânea.
Os resultados foram tão positivos, e ficou tão evidente que Conclui-se, pois, que a partir da introdução de novas
o trabalho desenvolvido com o uso da tecnologia torna as aulas estratégias para o ensino dos conteúdos como a utilização dos
mais atraentes, que foi sugerido à direção que implementasse a recursos midiáticos no trabalho com imagens pode ajudar no
prática de utilização de imagens, enfatizando o uso das mídias, desenvolvimento da leitura e escrita, bem como estimular as
com os professores de outros conteúdos, e que, nessa perspectiva, habilidades de observar, descrever, sintetizar e relacionar, além
cada um (re)elabore a sua própria dinâmica. de contribuir para conscientizar da importância do trabalho em
grupo.
CONSIDERAÇÕES FINAIS

Antigamente éramos “educados” pelos pais, pela escola,


pelo cinema e pelos amigos; hoje, somos educados pela televisão,
REFERÊNCIAS
os jornais, as revistas e a Internet. É, portanto, cada vez mais
importante o papel da mídia como instrumento de informação
e formação. A educação atualmente não se restringe à escola, BITTENCOURT, C.M.F. Ensino de História fundamentos e métodos.
ela tem de estar articulada com toda a sociedade e os meios São Paulo: Cortez, 2005.
de comunicação devem ser vistos como auxiliares da educação e
BOULOS JUNIOR, A. História Sociedade & Cidadania. São Paulo:
consequentemente da construção da cidadania.
FTP, 2009.
As atividades desenvolvidas nessa intervenção, como:
visita a museu, pesquisa em sites, debates, o uso de livros BRASIL. Parâmetros curriculares nacionais: terceiro e quarto

36 37
Prática Pedagógica Renovada

ciclos do ensino fundamental: introdução. Brasília: MEC/SEF,


1998.
BRASIL. LDB - Leis de Diretrizes e Bases da Educação Nacional.
LEI No. 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Brasília D.O. U. 23 de
dezembro de 1996.
FREIRE, Paulo. A importância do ato de ler em três artigos que se
completam. São Paulo, Autores Associados. 10ª ed, 1985.
AMBIENTE VIRTUAL DE APRENDIZAGEM:
FONSECA, S. G. Didática e prática de ensino de Historia:
experiências, reflexões e aprendizados. São Paulo: Papirus, 2003.
INSTRUMENTO PARA LEITURA DE TEXTOS EM
(Coleção Magistério: Formação e Trabalho Pedagógico). ESPANHOL
NAPOLITANO, M. Pensando a estranha história sem fim. In. RODRIGUES, Valéria Daiane Soares1
KARNAL, L. (Org.) SANTOS, Dulce Pereira dos2

História na Sala de Aula: conceitos, práticas e propostas. São INTRODUÇÃO


Paulo: Contexto, 2005. O Curso Espanhol Instrumental, ferramenta de intervenção
______. Como usar a televisão na sala de aula. São Paulo: para desenvolvimento do projeto “Utilização das mídias no
Contexto, 1999. desenvolvimento da habilidade de leitura de textos em espanhol”,
foi realizado em parceria com a Diretoria de Desenvolvimento
ROCHA, U. Reconstruindo a história a partir do imaginário do
de Recursos Humanos- DDRH, bem como do Centro de Educação
aluno. In: NIKITIUK, S.
a Distância- CEAD, da Universidade Estadual de Montes Claros
M. L. (org). Repensando o ensino de história. 3ª ed. São Paulo: – UNIMONTES. A Diretoria foi responsável pela divulgação, pela
Cortez, 2001. seleção dos alunos e pela emissão dos certificados e o CEAD
SCHMIDT, M. A. A formação do professor de História e o cotidiano cedeu espaço para montagem da sala virtual, oferecendo o
da sala de aula. In: suporte humano necessário para manutenção do ambiente virtual
de aprendizagem.
BITTENCOURT C. (org.) O saber histórico na sala de aula. São O Projeto teve início após a realização de um
Paulo: Contexto, 2001. diagnóstico, que evidenciou a necessidade de servidores e
SEFFENER, F. Indagações sobre a história ensinada. In: GUAZZELLI, professores da Unimontes em estudar espanhol. O público-alvo
C. A. B. et al. Questões da teoria e metodologia da história. apresentou diferentes motivos para aprender o idioma,
Guazzelli et al. Porto Alegre: Ed. UFRGS, 2000, p. 257-288. principalmente, por reconhecerem a importância do Mercado
Comum do Cone Sul e pela necessidade
1 Cursista do Programa de Formação Continuada em Mídias na Educação. Graduada em Letras
Espanhol pela Universidade Estadual de Montes Claros- UNIMONTES.
2 Professora Orientadora do Programa de Formação Continuada Mídias na Educação - Unimontes

38 39
Prática Pedagógica Renovada Mídias na Educação

de participar de processos seletivos para mestrado e doutorado. de intervenção, como o próprio nome indica, serve como
Sobre a importância do ensino de língua espanhola e sobre o papel instrumento, permitindo ao professor lançar mão de estratégias
do MERCOSUL, os Parâmetros Curriculares Nacionais de pedagógicas capazes de intervir em problemas detectados na
Língua Estrangeira (PCN – LE) estabelecem: instituição. Quanto à ação de intervir, é importante mencionar:
Sua crescente importância, devido ao Mercosul, tem [...] podemos afirmar, no plano da experiência, uma
determinado sua inclusão nos currículos escolares, inseparabilidade entre análise das implicações e inter-
principalmente nos estados limítrofes com países onde venção. Intervir, então, é fazer esse orgulho no plano
o espanhol é falado. A aprendizagem do espanhol no implicacional em que as posições de quem conhece e
Brasil e do português nos países de língua espanhola do que é conhecido, do que analisa e do que é anali-
na América é também um meio de fortalecimento da sado se dissolvem na dinâmica de propagação de forças
América Latina, pois seus habitantes passam a (re) instituintes caracterizando os processos de institucio-
conhecerem não só uma força cultural expressiva e nalização (PASSOS, 2009, p. 25).
múltipla, mas também política (um bloco de nações
que podem influenciar a política internacional) (BRA- Nesse contexto, e tendo em vista as palavras do autor
SIL, 1998, p. 50). no que se refere ao ato de intervir, é importante frisar que o
A partir do diagnóstico foi possível perceber que a diagnóstico inicial foi de primordial importância para detectar a
maioria dos inscritos sentia necessidade de aprender a ler demanda de professores e servidores da Instituição por Cursos de
textos em espanhol. Nesse sentido, tomando como referência Espanhol e as reais necessidades desse público-alvo com relação
as afirmações dos PCNs sobre o ensino de língua estrangeira e à aprendizagem. De posse dos resultados, desse diagnóstico, foi
a demanda apresentada pelos alunos optou-se por oferecer um possível traçar as estratégias de intervenção do projeto.
Curso de Espanhol Instrumental, a fim de trabalhar estratégias Levando-se em conta a contribuição de Moço (2011)
que priorizaram o desenvolvimento da habilidade de leitura sobre o trabalho envolvendo projetos e buscando aplicar uma
em língua estrangeira, trabalhando aspectos linguísticos e metodologia (uma intervenção) condizente com a necessidade
semânticos do idioma e abordando aspectos culturais dos países dos alunos, o primeiro encontro presencial teve como objetivo
hispanoahablantes. 3 O Curso teve duração de, aproximadamente, esclarecer os objetos do Curso, a metodologia utilizada, os
três meses. Como espaço de aprendizagem foi utilizada a instrumentos de avaliação, a dinâmica das atividades, os
plataforma moodle (virtualmontes), contando com carga horária conteúdos que seriam trabalhados, a carga horária, informar
de 120 horas, divididas em 20 horas presenciais e 100 horas a sobre as principais potencialidades da plataforma virtual, entre
distância. outros aspectos importantes.
Para embasar o desenvolvimento das atividades foram
REFERENCIAL TEÓRICO
utilizadas contribuições de diversos autores que tratam
Como assinalado na introdução, este texto relata uma da importância da internet como instrumento de ensino
pesquisa de intervenção pedagógica realizada no âmbito da aprendizagem, bem como de autores que tratam de questões
Universidade Estadual de Montes Claros - UNIMONTES. A pesquisa subjacentes à leitura e produção textual. Com relação à principal
mídia utilizada no Projeto, convém assinalar que a internet
3 Nativos de países que tem o espanhol como língua oficial. configura-se como:

40 41
Prática Pedagógica Renovada Mídias na Educação

[...] espaço virtual de comunicação e de divulgação.


Hoje é necessário que cada escola mostre sua cara para As palavras do autor ratificam a importância de trabalhar
a sociedade, que diga o que está fazendo, os projetos
que desenvolve, a filosofia pedagógica que segue, as leitura e produção de texto por meio da utilização de gêneros que
atribuições e responsabilidades de cada um dentro da traduzem as situações reais do cotidiano. É importante considerar
escola. É a divulgação para a sociedade toda. É uma ainda a contribuição de Izabel Solé que conceitua a leitura como
informação aberta, com possibilidade de acesso para
todos em torno de informações gerais4.
“[...] processo de interação entre leitor e o texto; nesse processo
tenta-se satisfazer [obter uma informação pertinente para] os
Tomando como referência a citação acima e pensando na objetivos que guiam sua leitura” (1998 p. 41).
experiência do Curso, pode-se dizer que a internet, de forma
Levando-se em conta que a pesquisa intervenção se
geral, configura-se como um espaço de interação, representando
desenvolveu no campo do ensino aprendizagem de uma língua
um excelente instrumento pedagógico. Além disso, representa
estrangeira, especificamente o idioma espanhol, convém dizer
a oportunidade de construir conhecimento, independente de
que o processo de aquisição e decodificação de uma segunda
tempo, de espaço, de forma coletiva, interativa. Essa mídia possui
língua também passa por esse processo de inter-relação entre
informações diversificadas e disponíveis a qualquer usuário. Nesse
leitor e texto. Acredita-se que o sujeito, estudioso de uma
caso específico, além de oferecer suporte para disponibilização
segunda língua, tem seus objetivos bem definidos. O objetivo,
da plataforma virtual, a internet constituiu-se como banco de
em geral, direciona o processo de leitura e a decodificação das
dados para pesquisa de textos dos mais diversos gêneros.
informações.
Tendo em vista o objetivo de trabalhar com estratégias de
Sobre os objetivos de aprendizagem, Izabel Solé afirma
leitura de textos em língua espanhola, fez-se importante utilizar
que:
como ponto de partida a leitura orientada por gêneros textuais,
como: história em quadrinhos, contos, jornais e revista on-line, [...] a questão dos objetivos que o leitor se propõe a
alcançar com a leitura são cruciais, porque determina
mediados pela utilização da internet. A esse respeito convém tanto as estratégias responsáveis pela compreensão,
apontar as palavras de Marcuschi (2003) que faz referência ao quanto o controle que, de forma inconsciente, vai ex-
trabalho de leitura orientado pela utilização de gêneros textuais: ercendo sobre ela, à medida que lê. Isso é um pouco
difícil de explicar, mas acontece. Enquanto lemos e
O trabalho com gêneros textuais é uma extraordinária compreendemos, tudo está certo, e não percebemos
oportunidade de se lidar com a língua em seus mais que, além de estarmos lendo, estamos controlando o
diversos usos autênticos no dia-a-dia. [...] E há mui- que vamos compreendendo (SOLÉ, 1998, p. 41).
tos gêneros produzidos de maneira sistemática e com
grande incidência na vida diária, merecedores de nossa A autora afirma, ainda, que há diferenças significativas
atenção. Inclusive e talvez de maneira fundamental, os entre os sujeitos leitores, visto que a compreensão de um texto
que aparecem nas diversas mídias hoje existentes, sem
excluir a mídia virtual, tão bem conhecida dos inter-
depende de questões próprias do leitor, como conhecimento
nautas e navegadores da internet (MARCUSCHI, 2003, prévio, motivação e outros. Com base na fala da autora
35). supracitada e pensando no processo de ensino aprendizagem de
uma língua estrangeira, é importante dizer que seu estudo difere
4 Programa de Formação Continuada Mídias na Educação- Módulo Gestão integradas de Mídias da aprendizagem de língua materna, visto que:
na Educação. Módulo Introdutório - Etapa 1.

42 43
Prática Pedagógica Renovada Mídias na Educação

El camino que recorre un hablante no nativo hasta que visto que a comunicação se estabeleceu por meio da escrita. A
consigue (sic) dominar la lengua objeto y comunicarse
tentativa dos alunos em escrever no idioma espanhol foi válida
eficazmente con ella es bastante diferente del camino
recorrido por el niño, ayudado por sus padres o por por denotar interesse e empenho, tendo sido relevante para a
expertos que lo rodean. Varía en el contexto en el que avaliação do Curso. Cumpre ressaltar que a plataforma virtual
se llevan a cabo los actos de habla, la actitud de los pode servir como um importante banco de dados para pesquisas
mayores hacia el niño, es el estilo de la lengua mater-
nal. No es lo mismo aprender una lengua dentro de un linguísticas.
aula, mediante la simulación de objetos, situaciones
y personajes, que aprenderla como un miembro de un RESULTADOS DA INTERVENÇÃO
mundo real, con toda la información referencial nece-
saria para que se dé un acto de habla cooperativo y Estruturalmente, o Curso Español Instrumental foi dividido
eficaz5 (BARALO, 1999, p. 29). em quatro módulos, a saber: Nociones básicas de gramática y
Pressupõe-se, com base na afirmação acima, que fatores vocabulário de la lengua española, Estrategias de lectura y
como motivação, idade, contexto no qual o sujeito está inserido compresión de textos en español, Las expresiones idiomáticas del
interfere positiva ou negativamente na aprendizagem de uma español y los “falsos amigos” e Contribuciones del conocimiento
segunda língua. Considerando a utilização da internet para fins cultural hispánico para comprensión de textos en lengua
educacionais e em Cursos a distância (oferecidos via plataforma española, respectivamente.
virtual), além da compreensão textual, é exigida a questão da O primeiro módulo ofereceu informações gerais sobre o
escrita, visto que a comunicação se estabelece, principalmente, Curso. Apesar de tratar-se do estudo de conteúdos gramaticais,
por meio de textos verbais. Sobre o processo de escrita, é foi importante enfatizar que a aprendizagem de uma
necessário apontar: língua não se reduz à gramática e nem à tradução. Já nesse
primeiro módulo foram realizadas atividades utilizando, como
[...] a prática da escrita vista na dimensão interacio-
nal leva o aluno a escrever estabelecendo relações en- instrumento pedagógico, tiras cômicas, mapas conceituais e
tre ele (autor) e o leitor do texto. Assim, o produtor notícias jornalísticas. Entre essas atividades e buscando estudar
textual precisa pensar no outro desde o planejamento gramática de forma mais descontraída e interessante, os alunos
de sua escrita. Trata-se de autor-texto-leitor em inte-
ração. Para isso a escrita deve ser feita com planeja-
foram direcionados a acessar um site da internet que apresentava
mento, revisão e reescrita, etapas indispensáveis nesse conteúdos gramaticais (substantivos, adjetivos, pronomes, etc).
trabalho (BARBOSA, 2011, p. 2). Na continuação, teriam que escolher um dos conteúdos disponíveis
Apesar do processo de escrita não ter se constituído como no site e elaborar um mapa conceitual.
objetivo principal do Curso, esse aspecto não pôde ser ignorado, O segundo módulo tratou do estudo das estratégias de
leitura que facilitam a compreensão de texto. Com relação às
5 O caminho que percorre um falante não nativo até dominar a língua objeto e comunicar- técnicas e recursos para compreensão leitora, Daniel Cassany
se eficazmente com ela é muito diferente do caminho percorrido pela criança, ajudada (2011), professor do Departamento de Tradução y Filologia
pelos pais e por especialistas que o r odeiam. Varia em função do contexto em que ocorre
o ato da fala, em função da atitude do adulto em relação à criança. É diferente aprender da Universidade Pompeu Fabra, em Barcelona, afirma que
uma língua dentro de uma sala de aula, mediante a simulação de objetos, situações e quando o aprendiz antecipa aspectos da leitura considera
personagens, que aprender-la como membro de um mundo real, com toda informação
necessária para realização de um ato de fala cooperativo e eficaz. os seguintes pontos: análise do título, imagens, última frase

44 45
Prática Pedagógica Renovada Mídias na Educação

do texto, palavras conhecidas, outros dados (autor, gênero Falsos Amigos ou Falsos Cognatos define essas palavras como:
textual, destinatário, intenção do texto, ideia principal, etc) “normalmente derivadas del latín que aparecen en diferentes
e outros estímulos (predições sobre o texto, a partir de outros idiomas con morfología semejante, y que tienen por lo tanto
elementos, como música, ruídos, objetos, etc). Utilizando como el mismo origen, pero que al largo de los tiempos acabaron
referência a contribuição do autor, essas questões nortearam o adquiriendo significados parcial o totalmente diferentes”7.
desenvolvimento das atividades no segundo módulo. Esse módulo foi importante por desmitificar algumas
Nesse módulo, é interessante destacar, também, a crenças relacionadas a aprendizagem do espanhol. Alguns alunos
disponibilização de um jogo de perguntas e respostas sobre uma acreditavam que a língua se reduzia a palavras com grafia igual
notícia veiculada em jornal. O objetivo da atividade foi promover ao português e sentido diferente. Nesse módulo, os alunos foram
uma leitura orientada que conduziu os alunos a entender a desafiados a apresentar o maior número de expressões existentes.
mensagem final do texto. O jogo teve, entre outros objetivos, Cada uma teria que descobrir uma expressão e o significado, com
a função de ativar o conhecimento prévio dos alunos, bem o cuidado de não postar a mesma dos colegas. Nesse ponto, e
como partir de uma análise orientada pela concepção de gênero tendo em vista a internet como instrumento pedagógico, foi
textual, nesse caso, notícia de jornal. Além dessa atividade, interessante direcionar o uso da pesquisa no vasto banco de dados
foram realizados três fóruns de discussão que objetivaram disponíveis nesse suporte.
trabalhar as diversas estratégias de leitura estudadas durante o 2º No quarto e último módulo foi abordada a contribuição do
encontro presencial do Curso, bem como um chat que permitiu, conhecimento cultural hispânico para entendimento dos textos
numa comunicação instantânea, sanar dúvidas com relação ao em espanhol. Neste contexto, optou-se por propor pesquisas
conteúdo. na internet sobre aspectos culturais de reconhecida relevância.
O terceiro módulo tratou das expressões idiomáticas do Sobre o conceito de cultura, é importante explicar que “[...] é
espanhol, bem como dos falsos cognatos ou “falsos amigos”. todo comportamento humano-cultural, transmissão social [...]
Priorizou-se a pesquisa na internet, por ser um extenso banco Cultura é um termo que dá realce aos costumes de um povo”
de dados capaz de oferecer subsídios para uma aprendizagem (ULMANN, 1980, p.86). Buscando apreender a relevância do
mais consistente. Nesse ponto, cumpre ressaltar que expressões termo cultura, a primeira atividade consistiu em realizar uma
idiomáticas são “secuencias de palabras cuyo significado no pesquisa sobre danças típicas dos países de fala hispânica.
es compositivo, es decir, el significado de la expresión no se Por meio dessa pesquisa, os alunos tiveram a oportunidade de
deriva del de sus componentes” (BUSTOS, 2011, s/p) 6, ou seja, descobrir a existência de inúmeros ritmos musicais, como: La
são enunciados que não apresentam uma tradução literal, cumbia, La cueca, El Merengue, El joropo, El Pasodoble, El
normalmente não podem ser encontrados em dicionários e devem flamenco e outros.
ser entendidos por meio de uma análise contextual. A segunda atividade propunha uma pesquisa sobre as
Com relação aos falsos cognatos, o Diccionário de belezas naturais e pontos turísticos dos países de fala hispânica.

7 Palavras normalmente derivadas do latim que aparecem em diferentes idiomas com


6 Sequências de palavras cujo significado não é compositivo, ou seja, o significado das morfologia semelhante, e que tem, no entanto, a mesma origem, mas que ao longo do
expressões não deriva de seus componentes. tempo acabam adquirindo significados parcial ou totalmente diferente.

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Prática Pedagógica Renovada Mídias na Educação

A partir de uma discussão inicial sobre “El lago Titicaca”, então era outro desafio ainda maior. Entretanto, perceberam que
considerado o lago navegável mais alto do mundo, foi possível realmente é possível aprender de forma dinâmica e interativa,
discorrer sobre a natureza latino-americana. Procurando ratificar por meio da internet. Esse Curso, além de introduzir os alunos
a importância dos aspectos culturais na aprendizagem de língua, no universo da cultura hispânica, permitiu que eles entendessem
foi proposta uma pesquisa sobre aspectos culturais do Chile. Para a dinâmica de um curso a distância, quebrando paradigmas e
tanto, optou-se por partir de um estudo sobre Pablo Neruda, preconceitos com relação a essa modalidade de ensino.
um dos nomes mais importantes da literatura mundial. Foram
realizadas, ainda, duas outras atividades propondo uma discussão
sobre a Educação em Cuba, bem como uma atividade sobre
Miguel de Cervantes, objetivando tratar da cultura espanhola, REFERÊNCIAS
concernente a autores e escritores de renome mundial.
BARALO, Marta. La adquisición del español como lengua
O processo avaliativo aconteceu durante todo o Curso, extranjera. Madrid: Arco/Libros, 1999.
sendo considerada a disponibilidade e interesse dos alunos em
participar das atividades propostas e, principalmente, pelos BARBOSA, Rosângela Góis. Leitura e escrita: Atividades
resultados das tarefas realizadas. Para nortear o processo de interacionais e interligadas. Programa de Pós- Graduação em
avaliação dessa pesquisa, predominou a concepção de que é um Letras e Lingüística da Universidade Federal da Bahia- UFBA.
instrumento que faz parte do sistema de ensino, podendo, dessa Disponível em http://alb.com.br, acessado em 21 de maio de 2011.
forma, contribuir para a aprendizagem dos alunos. BRASIL, Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros
Luckesi (1996, p.33) define avaliação como “...um Curriculares Nacionais:
conjunto de valor sobre manifestações relevantes da realidade, terceiro e quarto ciclo do Ensino Fundamental: Língua Estrangeira.
tendo em vista uma tomada de decisões”. Logo os alunos são Brasília:
construtores do próprio conhecimento, sendo o professor um
orientador da aprendizagem. Nesse contexto, a avaliação MEC/SEF, 1998.
aconteceu mediante a observação da aprendizagem do BUSTOS, Alberto. Qué son las expresiones idiomáticas? Blog de
aluno, que serviu como diagnóstico para essa “tomada Lengua española. Disponível em http://blog.lengua-e.com/2007/
de decisões”. que-son-las-expresiones-idiomaticas, acessado em 15 de outubro de
2011.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
CASSANY, Daniel. Técnicas y Recursos para la comprensión
Acredita-se que o Curso Espanhol Instrumental cumpriu lectora. Disponible em http://www.plec.es/documentos.php?id_
seus objetivos e, principalmente, os objetivos do Projeto seccion=5&id_documento=140&nivel=Secundaria, acessado em 20 de
“Desenvolvimento da habilidade de leitura de textos em espanhol”, dezembro de 2011.
na medida em que os alunos conseguiram acompanhar a evolução
do Curso e, consequentemente, apresentar uma progressão com DICIONÁRIO DE FALSOS AMIGOS, disponível em http://
victoriaygabyruffo.activeboard.com/t20558597/dicionrio-de-falsos-
relação ao nível das atividades. Para muitos, aprender a ler em
outro idioma já não era uma tarefa fácil, estudar via internet
49
48
Prática Pedagógica Renovada

amigos-ou-falsos-cognatos/, acessado em 30 de novembro de 2011.


LUCKESI, C. C. Avaliação da Aprendizagem Escolar. 4. Ed. São
Paulo: Cortez, 1996.
MARCUSCHI, L. A. Gêneros textuais: definição e funcionalidade.
IN: Gêneros textuais & ensino. Organizadoras: Ângela Paiva
Dionísio, Anna Rachel Machado, Maria Auxiliadora Bezerra. 2. ed.
Rio de Janeiro: Lucerna, 2003.
A INTERNET NA EDUCAÇÃO: A IMPORTÂNCIA DO
MOÇO, Anderson. Tudo o que você sempre quis saber sobre
projetos. Revista Nova Escola, abril de 2011.
TRABALHO COM A HISTÓRIA EM QUADRINHOS NO
PASSOS, Eduardo; KASTRUP, Virgínia; ESCÓSSIA, Liliana da (Orgs). ENSINO FUNDAMENTAL
Pistas do Método da Cartografia-Pesquisa-intervenção e produção FREITAS, Eliana Soares de1
de subjetividade. Porto Alegra: Sulina, 2009. CASTRO, Gabriella Aparecida Santos2

PROGRAMA DE FORMAÇÃO CONTINUADA EM MÍDIAS NA EDUCAÇÃO. INTRODUÇÃO


- Módulo Gestão integradas de Mídias na Educação. Módulo Realizar pesquisa sobre o uso da internet na educação
Introdutório - Etapa 1. não é um tema novo. Fazendo um levantamento bibliográfico
SOLÉ, Izabel. Estratégias de Leitura. 6 ed. Porto Alegre: ArtMed, sobre o tema, percebemos que há várias concepções que
1998. podemos adotar em nossa prática usando a internet como um
recurso metodológico. Mas tratamos de apresentar aqui a nossa
ULLMANN, Runholdo Aloysio. Antropologia Cultural. Escola
experiência tendo a pesquisa de intervenção nos auxiliado a
Superior de Teologia. Porto Alegre. São Lourenço de Brindes,
inserir a internet em nossas aulas de forma significativa no
1980.
processo ensino-aprendizagem.
Tivemos como objetivo geral compreender a utilização da
internet no processo de ensino aprendizagem nas aulas de língua
portuguesa e como objetivo específico produzir histórias em
quadrinhos utilizando o site Máquinas de Quadrinhos observando
as regras da língua oral e escrita para esse tipo de texto.

1 Mestre em Educação, Professora do Departamento de Métodos e Técnicas Educacionais da


Unimontes, Tutora e Orientadora do Programa de Formação Continuada Mídias na Educação –
edfsoares.midias@gmail.com
2 Cursista do Programa de Formação Continuada Mídias na Educação, através da
Universidade Estadual de Montes Claros – UNIMONTES. Graduada em Pedagogia – UNIMONTES.
Supervisora Pedagógica da Rede Municipal de Ensino do município de Montes Claros-MG -
gabriellapolinario@yahoo.com.br

50 51
Prática Pedagógica Renovada Mídias na Educação

Percebemos como relevante este estudo por trazer algumas assim como já estão totalmente inseridas em todos os aspectos
contribuições do uso do computador na escola e as suas formas de da sociedade.
utilização como mediador do conhecimento. Buscamos introduzir A internet, rede mundial de computadores ligados entre si
na escola a prática pedagógica mediada pelos computadores dos e que usam um protocolo de ligação comum (TCP/IP), partilhando
laboratórios de informática que, no século XXI, já são realidade dados da mais diversa ordem é um exemplo de Tecnologia da
na maioria das escolas públicas. Informação e Comunicação (TIC) que hoje pode ser utilizada
Esses laboratórios foram disponibilizados pelo governo como dispositivo capaz de facilitar e mediar o processo de ensino-
federal recentemente através do Programa Educacional aprendizagem. (MOURA, 1998).
de Tecnologia Educacional (PROINFO), que visa, além da A partir da utilização das TICs na educação é possível
informatização das escolas, a capacitação continuada dos pensar e praticar uma educação em que a colaboração entre os
professores para a utilização dos computadores. Porém, nem envolvidos (professor x aluno) realmente exista, de forma que
todos os professores se encontram preparados para trabalhar com transforme o ensino numa troca de experiência, seguida de novas
computador e a internet no processo de ensino aprendizagem, descobertas, que vão sendo compartilhadas e discutidas, gerando
alguns, inclusive, são contra o uso desta tecnologia na escola, a construção do conhecimento.
muitas vezes, por não saberem utilizá-las e por não conhecerem
Ensinar na e com a Internet atinge resultados signifi-
as possibilidades de uso desta tecnologia na educação. cativos quando se está integrado em um contexto es-
Na Escola Municipal Professora Simone Soares essa situação trutural de mudança do processo de ensino-aprendiza-
não é diferente. O laboratório de informática está à disposição gem, no qual professores e alunos vivenciam formas de
comunicação abertas, de participação interpessoal e
de alunos e professores que o utilizam apenas como um simples grupal efetivas (MORAN, 1997, s/p -destaque no origi-
complemento da aula, ora para digitar um texto, ora para uma nal).
pesquisa na internet. Portanto, como professora dessa instituição,
O professor precisa estar capacitado para dominar
percebemos que era necessário inserir o computador e a internet
os recursos tecnológicos, elaborar atividades de aplicação
no processo de ensino aprendizagem como um instrumento de
desses recursos escolhendo os mais adequados aos objetivos
interação, capaz de mediar a construção do conhecimento, e não
pedagógicos, analisar os fundamentos dessa prática e as
somente como um instrumento de transmissão de informações.
respectivas conseqüências produzidas em seus alunos. (ALMEIDA;
Adotamos uma abordagem qualitativa, utilizando os ALMEIDA, 1999)
seguintes autores na nossa fundamentação: Moran (1997), Franco
Ao inserir o trabalho com a internet no processo de ensino
(2000), Piconi e Tanaka (2003), entre outros.
aprendizagem, as escolas precisam assumir uma nova postura
A UTILIZAÇÃO DA INTERNET NO PROCESSO DE ENSINO perante a relação professor x aluno e promover mudanças nas
APRENDIZAGEM práticas docentes, priorizando a interatividade e a troca de
experiências e conhecimentos entre os sujeitos envolvidos
A inserção das tecnologias na educação já é realidade da no processo. A inserção das TICs na educação também não
sociedade atual. Atualmente, as escolas já convivem com esta corresponde ao fim de todos os problemas educacionais, mas
realidade, as novas tecnologias estão inseridas em seu espaço,
52 53
Prática Pedagógica Renovada Mídias na Educação

são fortes aliadas na luta em prol da qualidade do ensino nas para produção dos quadrinhos e a internet é um dos meios pelo
instituições educacionais. qual são divulgados e compartilhados.
Os sites que têm como principal objetivo a veiculação de
O GÊNERO HISTÓRIA EM QUADRINHOS
histórias em quadrinhos on-line buscam oferecer além de imagens
O trabalho com o gênero histórias em quadrinhos é aliado diversas, algumas animações, sons e recursos de multimídia e
da prática docente, pois desperta o interesse pela leitura na interatividade, como fóruns, chats, hipertextos entre outros.
maioria dos alunos, devido a sua característica principal, que é a (FRANCO, 2000). Com a criação de HQtrônicas3 a audição e
junção da linguagem verbal e não verbal através de um só texto. o tato são sentidos que também serão estimulados (já que toda
a navegação e interação é feita com o uso do mouse e teclado),
mudando significativamente o paradigma criativo anterior e
abrindo espaço para trabalhos de maior sinestesia, levando
os webquadrinhistas4 a se envolverem com variáveis antes
inexistentes em seu processo criativo como o som, exigindo em
muitos dos casos que eles trabalhem em parceria com outros
artistas como músicos e animadores. (FRANCO, 2004).
A história em quadrinhos (HQ) é uma modalidade de
literatura simultaneamente icônica e verbal. Seu pú- Não há que se preocupar com a substituição total das
blico abrange tanto crianças, adolescentes e adultos histórias em quadrinhos impressas pelas HQtrônicas, pois, como
de diferentes níveis sócio-econômicos e educacionais afirma Franco (2004), as HQs veiculadas na rede Internet, ao
e é o campo iconográfico mais rico e mais vasto que
a história conhece, sendo uma arte de narrativa contrário de significarem uma ameaça às tradicionais impressas,
em imagem acessível mesmo a pessoas que não contribuem para o surgimento de novos títulos, fazendo o
sabem ler (PICONI; TANAKA, 2003, s/p). caminho inverso daquele que poderíamos prever, ou seja,
É certo que as HQs, por si só, já despertam o interesse dos muitos quadrinhos de sucesso criados para a Internet acabam
alunos pela leitura, porém não basta apenas inseri-las nas salas migrando posteriormente para o suporte papel.
de aulas. O professor precisa ter certo conhecimento sobre este
CRIAÇÃO DA HISTÓRIA EM QUADRINHOS ONLINE: O PASSO A
gênero textual, suas características e com base nisso, planejar
PASSO
suas aulas, com criatividade, para que sejam explorados com os
alunos todos os aspectos deste gênero, enfatizando seus principais Dentro da perspectiva da pesquisa de intervenção,
elementos, e desta forma propiciar o desenvolvimento da leitura desenvolvemos um trabalho com o site “Máquina de Quadrinhos”
(através das apreciações) e da escrita (através da produção). com os alunos do 5º ano azul da Escola Municipal Professora
Simone Soares, com o objetivo de trabalhar a produção de
AS HISTÓRIAS EM QUADRINHOS E A INTERNET
histórias em quadrinhos através da internet, bem como, reforçar
Com o avanço das TICs, as histórias em quadrinhos
3 Termo criado por Edgar Franco para denominar a linguagem híbrida de quadrinhos e
passaram a ser publicadas também no meio digital. O computador hipermídia.
se transformou numa das ferramentas mais utilizadas atualmente 4 Nome utilizado por Edgar Franco aos quadrinhistas que criam trabalhos hipermidiáticos.

54 55
Prática Pedagógica Renovada Mídias na Educação

as regras gramaticais, ortográficas, de pontuação e acentuação foram atendidas de forma individual, sendo necessário todo o
necessárias para a produção textual. período de quatro horas diárias para concluirmos esta atividade.
A turma do 5º ano azul, em 2011, contava com vinte e seis A partir do momento que cada dupla teve seu cadastro
alunos e todos participaram desse trabalho, pois a dificuldade aprovado, levamos os alunos novamente ao laboratório e
em produzir textos se apresentava em graus variados. Foram fizemos o primeiro acesso ao site Máquina de Quadrinhos. Nesta
necessárias doze aulas no laboratório de informática e quatro oportunidade, os alunos puderam experimentar as ferramentas
aulas em sala de aula para a conclusão de todo o trabalho. disponíveis, visualizar os objetos, os personagens, os cenários,
O trabalho foi desenvolvido no segundo semestre de 2011. os balões e se encantaram com o site. Mas se esbarraram na
Escolhemos trabalhar com as historinhas em quadrinhos por ser dificuldade de digitar corretamente o endereço do site, porque
um gênero textual que atrai a todas as faixas etárias. não tinham o hábito de digitar endereços eletrônicos, digitavam
Utilizamos o portal www.maquinadequadrinhos.com.br, as palavras com espaçamentos, ora com erros de digitação, ora
pois neste site é possível criar histórias em quadrinhos esquecendo algum caractere, mas com o nosso apoio e do monitor
utilizando os personagens, os cenários, os balões e demais de informática venceram esta dificuldade.
objetos da Turma da Mônica e publicá-las, ler produções já
publicadas e interagir com os demais participantes cadastrados
do site.
Iniciamos o trabalho apresentando informações sobre o site
para a turma. Para isso, acompanhamos os alunos ao laboratório
da escola e lá apresentamos o site “Maquina de Quadrinhos”.
Nesta ocasião, utilizamos o projetor de multimídia e os alunos
apenas viram o site e suas ferramentas, pois para ter o acesso,
era preciso ter o cadastro.
Feito a apresentação, a próxima etapa foi à criação do
cadastro no site. Dividimos os alunos em duplas e para cada FIGURA 1 – Alunos fazendo o primeiro acesso ao site
dupla criamos um e-mail para confirmação do cadastro. Muitos Fonte: Arquivo pessoal da pesquisadora, 2011.
alunos já tinham seus e-mails criados e estes foram aproveitados
para o cadastro no site. Mas os alunos que ainda não o tinham, O próximo passo foi a criação da história em quadrinhos
tiveram muita dificuldade na abertura das contas e necessitando em sala de aula. Nesta etapa, auxiliamos os alunos na criação
de auxilio nesse processo. do enredo da história e criação dos diálogos. Não foi necessário
Em seguida, fizemos o cadastro no site Máquina de trabalhar sistematicamente com as características de cada
Quadrinhos, informando o nome da dupla, o e-mail e uma senha personagem da Turma da Mônica, pois eram conhecidos pelos
de acesso. A maior dificuldade dos alunos foi conseguir preencher alunos desta turma, o que facilitou o desenvolvimento do
todos os dados necessários para o cadastro em tampo hábil, antes trabalho. Definimos nesse momento, qual seria a história, quem
que a página do cadastro de e-mail expirasse. Por isto, as duplas

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Prática Pedagógica Renovada Mídias na Educação

seriam os personagens e a escrita dos diálogos nos balões, com relação à acentuação das palavras e pontuação do texto, sendo
o levantamento de quantos quadrinhos iriam utilizar. Para a necessário nosso auxílio e do monitor de informática para que
conclusão desta etapa, utilizamos quatro aulas com duração de pudessem digitar o texto de forma correta.
cinquenta minutos cada. Quando os alunos finalizaram as produções das histórias,
Quando as duplas já estavam com os diálogos das histórias iniciamos o trabalho de revisão dos textos, tanto a correção
prontas, os alunos voltaram a utilizar o laboratório de informática ortográfica quanto a gramatical. Foi previsto que as duplas
para criarem seus quadrinhos. A primeira e maior dificuldade dos corrigissem os erros de ortografia com o auxílio do dicionário,
alunos, ao iniciarem o trabalho com a produção dos quadrinhos porém alguns teclados do laboratório de informática não tinham
online, foi digitar corretamente o endereço para entrar no site e configuração compatível com o site, desta forma, as duplas
fazer o login (acesso). Com isso, foi necessário disponibilizarmos precisaram de um tempo maior para finalizar as correções, sendo
um tempo maior no laboratório de informática para que os alunos necessárias duas aulas de uma hora cada, para que pudessem
conseguissem finalizar as produções, chegando-se a um total de concluir a correção das suas produções.
dezesseis aulas no laboratório de informática, com duração de Auxiliamos cada dupla em sua correção, fazendo a leitura
uma hora cada aula. dos diálogos juntamente com os alunos e discutindo com eles a
Os alunos tiveram facilidade na utilização das ferramentas forma padrão da escrita.
para montagem dos cenários dos quadrinhos. Cada dupla
poderia escolher seus personagens, que estavam disponíveis na
Máquina de Quadrinhos de diversas formas e expressando várias
emoções e sentimentos (correndo, chorando, gritando, comendo,
andando, conversando, fazendo compras, brincando, brigando,
caracterizados para festas, para dormir, entre outras formas)..
Os alunos tiveram a opção de criar diversos tipos de ambientes
e caracterizá-los nas mais diversas formas. Os balões de diálogos
também estavam disponíveis em diversas formas, para que os
alunos utilizassem o mais adequado para cada ocasião.
Nesta fase, os alunos ficaram tão encantados com O site permitia a impressão das histórias produzidas pelas
tantas possibilidades de criação que nas primeiras aulas ficaram duplas e assim que todas as duplas terminaram os trabalhos,
experimentando vários cenários, objetos, personagens com imprimimos as histórias e as divulgamos através de exposição,
as diversas expressões de sentimentos e emoções, e por mais primeiramente em sala de aula no dia da reunião de pais, para que
que recebessem orientações para concluírem os quadrinhos, pudessem ver a produção dos seus filhos. Os pais demonstraram
demoraram algum tempo para se acostumarem com as orgulho dos filhos quando viram impressas as histórias em
possibilidades. quadrinhos da Turma da Mônica, comentando entre si o trabalho
No momento em que começaram a digitar os diálogos, realizado.
surgiram as dificuldades de digitação, principalmente com

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Prática Pedagógica Renovada Mídias na Educação

produção textual, os elementos de composição dos cenários


dos quadrinhos, como os objetos, os personagens, os balões e
as paisagens. Fizemos um trabalho de revisão textual com cada
dupla o que oportunizou o desenvolvimento da aprendizagem
sobre os aspectos referentes a escrita do português padrão de
forma mais individual.
Constatamos, através dessa experiência, para que o
trabalho com a internet seja um grande aliado do professor
em sala de aula é preciso conhecer as diversas possibilidades
e limites do uso desta tecnologia. O que percebemos foi que o
professor deixa de ser o transmissor do conhecimento e torna-
FIGURA 2 – Divulgação das histórias em quadrinhos
se o mediador da construção do conhecimento adquirido pelos
Fonte: Arquivo pessoal da pesquisadora, 2011.
alunos.
Em seguida, com as histórias produzidas organizamos
a exposição no pátio da escola para que toda a comunidade
escolar pudesse apreciá-las, tanto na forma impressa, como
no meio eletrônico, através do site “Máquina de Quadrinhos”. REFERÊNCIAS
Como avaliação, observamos pelos comentários dos alunos e nas
atividades executadas em sala depois desse trabalho, que tiveram ALMEIDA, Fernando José de; ALMEIDA, Maria Elizabeth Bianconcini.
maior entusiasmo ao produzir os textos solicitados, mesmo em Aprender construindo: a informática se transformando com os
gêneros variados e também uma preocupação maior com o uso professores. Brasília. MEC/SEED/PROINFO, 1999. Disponível em:
da língua padrão. < http://www.dominiopublico.gov.br>. Acesso em: 02 maio 2011.
FRANCO, Edgar Silveira. Histórias em Quadrinhos e Hipermídia:
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Uma experiência de criação utilizando a hibridização de
Após o desenvolvimento desta pesquisa intervenção linguagens. IV ENCONTRO DOS NÚCLEOS DE PESQUISA DA
podemos afirmar que além de ser possível o trabalho com a INTERCOM. 2004. Disponível em <http://galaxy.intercom.org.
internet no processo de ensino aprendizagem, este também br:8180/dspace/bitstream/1904/ 18225/ 1/R0367-1.pdf>. Acesso
contribui para despertar o interesse dos alunos pela leitura e em: 05 nov. 2011.
pela escrita, pois se configurou como uma maneira de aproximar FRANCO, Edgar. HQtrônicas[1]: As Histórias em Quadrinhos
os processos didáticos escolares da realidade em que os alunos na Rede Internet. Cadernos da Pós-Graduação, v. 4, n. 1, p.
vivem fora da escola, mesmo não tendo vasta experiência com a 148–155, 2000. Disponível em: <http://www.cap.eca.usp.br/
internet. wawrwt/version/textos/texto29.htm>. Acesso em: 05 nov. 2011.
Ao utilizar o gênero história em quadrinhos online, foram
MOURA, Rui Manuel. A Internet na Educação: um contributo
explorados, além da coerência e coesão, necessárias em qualquer

60 61
Prática Pedagógica Renovada

para a Aprendizagem Autodirigida. 1998. Disponível em: <http://


rmoura.tripod.com/internetedu.htm>. Acesso em: 05 nov. 2011.
MORAN, José Manuel. Como utilizar a Internet na educação. 1997.
Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?pid=s0100-
19651997000200006&script=sci_arttext>.
Acesso em: 05 nov. 2011.
PICONI, Andressa Cristiani; TANAKA Eduardo Hideki. A construção LEITURA E INTERPRETAÇÃO DE TEXTOS A PARTIR
de histórias em quadrinhos eletrônicas por alunos autistas. XIV
SIMPÓSIO BRASILEIRO DE INFORMÁTICA NA EDUCAÇÃO- NCE- IM/
DA INTEGRAÇÃO DA FERRAMENTA WEB NO
UFRJ. 2003. Disponível em: <http://www.nce.ufrj.br/sbie2003/ CONTEXTO ESCOLAR
publicacoes /paper41.pdf>. Acesso em: 05 nov. 2011.
VIANA, Neilane de Souza1
SENA, Geane Cássia Alves2

INTRODUÇÃO

A leitura se constitui como processo crucial para a


aprendizagem do ser humano, pois é através dela que podemos
compreender o mundo, ampliar nosso vocabulário, obter
conhecimento, dinamizar o raciocínio e a interpretação.
Através da leitura, a busca pela informação e pelo
conhecimento tem sido um processo contínuo marcado pelo uso
crescente das tecnologias de informação e de comunicação.
Nesse ciclo de grande acesso a informações, a leitura pode ocupar
um lugar de destaque, daí a importância da escola proporcionar
aos seus alunos condições metodológicas para que estes tenham
acesso às informações e conhecimentos que circulam dentro e
fora da sala de aula.

1 Pós-graduada em Mídias na Educação e graduada em Letras pela Universidade Estadual


de Montes Claros. Especialista em Ensino de Língua Portuguesa pela Faculdade do Noroeste
de Minas. Servidora Técnica em Assuntos Educacionais da Universidade Federal dos Vales
Jequitinhonha e Mucuri.
2 Mestre em Linguística pela Universidade de Franca- UNIFRAN. Especialista em Linguística
Aplicada pela Universidade Estadual de Montes Claros- UNIMONTES.Professora Orientadora do
Curso de Pós-Graduação Lato Sensu em Mídias na Educação da Universidade Estadual de Montes
Claros – UNIMONTES. Professora da Faculdade de Saúde Ibituruna- FASI. Mestre em Linguística
pela Universidade de Franca- UNIFRAN. Especialista em Linguística Aplicada pela Universidade
Estadual de Montes Claros- UNIMONTES.

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Prática Pedagógica Renovada Mídias na Educação

O progressivo desenvolvimento dos meios de comunicação questão-problema: “Quais as contribuições que a inserção da
tem mudado as formas de viver em sociedade, incluindo-se a internet no contexto escolar pode trazer às práticas de leitura e
organização e a prática do processo educativo. Nesse contexto, interpretação?
observa-se que há facilidade de se ter acesso a diversas Responder esta questão implica considerar as relações
informações veiculadas em tempo real, tudo isso através da entre o aspecto cognitivo de leitura e as informações veiculadas
internet. As pessoas estão se tornando “usuários on line” cada vez na rede virtual durante a intervenção realizada na escola.
mais na internet: acessando contas em banco, fazendo compras
Além disso, considerou-se o contexto social fora da escola –
e se relacionando com outras pessoas através das redes sociais.
rua, shoppings, dentre outros, onde existem inúmeras ferramentas
tecnológicas à disposição dos alunos, como por exemplo, os
caixas eletrônicos dos bancos; as informações diversas contidas
em painéis digitais nas ruas; leitoras de preços nos corredores
de supermercados; dentre outras. Então, viu-se que a escola
não poderá ficar à margem dessa realidade tecnológica, a qual
comporta inúmeras possibilidades de aprendizagem e aquisição
de conhecimentos. Quando foram observadas as possibilidades
de leituras diversas para além dos livros e demais mídias é que
percebeu-se a importância de utilizar a internet para a leitura
virtual; para que o aluno seja capaz de relacionar-se com as
linguagens contidas nos textos da internet e com as ferramentas
da web.

CONCEPÇÕES DE LEITURA
A intervenção realizada buscou favorecer o desenvolvimento O significado de “Leitura” numa visão epistemológica vem
da prática de leitura e interpretação de textos dispostos do latim medieval – lectura e quer dizer ato ou efeito de ler;
na internet. Após a execução da intervenção, verificou-se a também podemos considerá-la como sendo arte de compreender
possibilidade de repensar a prática de leitura de textos virtuais textos.
escritos representativos das diversas modalidades e, em especial,
Segundo Marisa Lajolo (2001, p.142)
textos produzidos em situações de interações decorrentes das
redes sociais, Orkut, Facebook, Messengers, Twitter, que fazem Ler não é decifrar, como num jogo de adivinhações, o
sentido de um texto. É, a partir do texto, ser capaz de
parte do universo dos alunos da turma onde foi executada a atribuir-lhe significado, conseguir relacioná-lo a todos
intervenção. os outros textos significativos para cada um, recon-
hecer nele o tipo de leitura que seu autor pretendia
Para analisar essas contribuições da tecnologia para a
e, dono da própria vontade, entregar-se a esta leitura,
leitura e interpretação de texto pelos alunos, propôs-se abordar ou rebelar-se contra ele, propondo outra não prevista.
os aplicativos da ferramenta web, buscando responder a seguinte

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Prática Pedagógica Renovada Mídias na Educação

Consoante às idéias de Lajolo, Martins (2005) afirma que um protocolo de ligação comum (TCP/IP), partilhando
dados da mais diversa ordem. Estar ligado a esta rede
esse conceito de leitura não está geralmente restrito à decifração
global significa ter acesso a um novo mundo de pos-
da escrita durante sua aprendizagem. No entanto, liga-se por sibilidades, que eram impensáveis há uns anos atrás. A
tradição ao processo de formação do indivíduo, à sua capacidade Internet veio revolucionar o nosso mundo de comunica-
para o convívio e situação social, política, econômica e cultural, ção, possibilitando-nos aceder a bibliotecas, livrarias,
universidades, grupos de investigação, professores,
ou seja, liga-se ao conhecimento de mundo e suas experiências. etc., dos mais variados cantos do mundo.
Depreende-se das ideias Martins (2005) que a leitura como
A utilização da web nas aulas de Língua Portuguesa se
uma mera decodificação faz prevalecer o “aprender” sem saber
evidencia como uma grande aliada à prática pedagógica de ensino,
o porquê ou “para quê”, impossibilitando o aluno compreender o
uma vez que o acesso a rede virtual possibilita a interação com
verdadeiro significado do que é lido.
a diversidade textual através de aplicativos comumente usados
A concepção do ato de ler de acordo com Piletti (2000) pelos alunos tais como jogos, messengers, blogs, flogs, facebook,
consiste em um processo dinâmico e ativo, em que ler um “texto” orkut, twitter. Essa diversidade de ferramentas virtuais –
implica não só aprender o seu significado, mas também trazer aplicativos virtuais - favorece a prática metodológica de articular
para esse texto a experiência e a visão de mundo como leitor. os textos com a realidade vivida por eles por meio da leitura.
AS CONTRIBUIÇÕES DA INTERNET PARA AS PRÁTICAS DE Através das redes sociais as interações proporcionam a
LEITURA E INTERPRETAÇÃO produção de conhecimento em rede, pois há trocas de
experiências, ideias, opiniões nas ferramentas de comunicação.
A leitura constitui-se como um elemento que possibilita A Figura 01 mostra a aparência atual das principais redes
a compreensão de textos de diversas áreas de conhecimento, sociais que são ferramentas onde inúmeras pessoas se
por isso pode ser considerada uma ferramenta importante para comunicam e se relacionam. Marteleto (2001, p.72) define redes
auxiliar os alunos em seu desenvolvimento escolar. A partir disso sociais como “...um conjunto de participantes autônomos,
usamos a internet como uma rede comunicação, de leitura e unindo idéias e recursos em torno de valores e interesses
busca de informações. compartilhados”. No aspecto educacional podem ser usadas para
Segundo Moura (1998, p.11) a internet é uma análises textuais e gramaticais, por possuírem muito conteúdo
rede global de informação, mais conhecida por Inter- linguístico propício as atividades de Língua Portuguesa.
net, alterou a forma de comunicar e acessar à informa-
ção. À medida que caminhamos para o final do século,
a Internet vai-se afirmando cada vez mais nos diversos
espaços da nossa vida contemporânea: política, eco-
nomia, publicidade, comunicação social, investigação,
etc. A Internet assume-se como um novo lugar de lazer,
de divertimento, de comércio e serviços, de educação,
de investigação, de informação, de comunicação, etc. Figura 01: Redes sociais de entretenimento
A Internet vai, cada vez mais, abrangendo as mais di-
versas áreas da nossa sociedade. A Internet é uma rede Fonte: www.google.com .br
mundial de computadores ligados entre si e que usam

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Prática Pedagógica Renovada Mídias na Educação

Observa-se então, que por meio de elementos visuais e não visuais


Através da rede virtual da internet, a prática da leitura dispostos no âmbito midiático, o aluno deve reconhecer no texto
permite, o significado das informações contidas.
[...]por exemplo, acessar títulos de obras raras de De acordo com Levy (1994 p.74),
qual-quer parte do mundo. Antes, esse tipo de
material só poderia ser encontrado nas grandes Novas maneiras de pensar e de conviver estão sendo
bibliotecas e era acessível apenas a pequenos grupos elaboradas no mundo das comunicações e da Informáti-
com condições de viajar para conhecê-las. ca. As relações entre os homens, o trabalho, a própria
Atualmente, ao simples co-mando do mouse, elas inteligência dependem, na verdade, da metamorfose
aparecem na tela do computa-dor. A internet pode incessante de dispositivos informacionais de todos os
ser valiosa na busca de livros. Cada estudante precisa tipos. Escrita, leitura, visão, audição, criação e apren-
descobrir qual é o tipo de leitura que mais o atrai. dizagem são capturados por uma Informática cada vez
Ninguém pode dizer que não gosta de ler, se não leu mais avançada.
gêneros diferentes. Dizer que prefere com-putador
não é um impedimento para ser um bom leitor. A O professor de Língua Portuguesa tem possibilidades
diferença é que, em vez de virar páginas, a pessoa só através das novas tecnologias de despertar nos alunos a habilidade
vai clicar no mouse (COSTA, 2007, p.8).
de interpretar diversas modalidades textuais para que eles sejam
Nessa perspectiva, o ensino de Língua Portuguesa através
capazes de “colher” e “roubar” sentidos dos textos que lerem
do uso dos aplicativos do meio virtual pode se tornar mais
(Cf. PAULINO, 2001, p.34). Em outras palavras, devemos “olhar”
atrativo, pois além da leitura é possível aproveitar as imagens,
as práticas de leitura para além da dimensão escolar, já que as
animações, áudio e estudar conteúdos de Língua Portuguesa
práticas antes de serem escolares, são sociais. Na visão da autora,
utilizando as diversas formas de entretenimento por meio de
trata-se de uma leitura voltada para participação e interação
chats, messengers, web blogs bem como redes sociais. Isso se
social mais crítica e reflexiva.
traduz na leitura contextualizada.
Machado e Tijiboy (2005) apontam que na educação o uso
Segundo Ugarte (2009) a internet potencializa o
das comunidades virtuais é um campo ainda pouco explorado,
funcionamento da rede, funcionando como plataforma de auxílio.
porém promissor. Por isso é que se considera importante a
Sendo assim, as redes sociais virtuais podem utilizar recursos
utilização de recursos que favoreçam o desenvolvimento das
diversos, tais como, e-mails, fóruns, chats, listas de discussão
habilidades necessárias do aluno para a aprendizagem.
e programas virtuais sociais (orkut, twitter, myspace) conforme
Machado e Tijiboy (2005). Conforme Costa (2007, p.8) trata-se da “...leitura na era
tecnológica”. O aluno deve saber se relacionar com qualquer tipo
Assim como nos livros, a leitura no meio virtual deve
de texto, abstrair, além das informações, o contexto implícito e
ser dotada de sentido para que o aluno consiga desenvolver tais
o objetivo do autor ao veicular seu discurso, como por exemplo,
habilidades. Fulgêncio e Liberato (2001 p.98) afirmam que “...a
no caso de propagandas apelativas que recheiam os sites a fim de
obtenção de informação através da linguagem não se faz pela
chamar a atenção do consumidor virtual.
compreensão de cada elemento; ou seja, a decodificação, mas
utilizando-se das informações visuais e não-visuais em que se Essa contribuição da internet para a prática de leitura
podem conectar as partes dos textos e enfim compreendê-las”. e interpretação de textos pôde ser comprovada a partir da

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Prática Pedagógica Renovada Mídias na Educação

realização da intervenção pedagógica na escola municipal situada os alunos foram encaminhados ao Laboratório de Informática
na cidade de Teófilo Otoni- MG, sobre a qual discorremos a seguir. com acesso a rede de internet; em seguida foram orientados
a acessarem o messenger (msn) do servidor da web chamado
A INTERVENÇÃO E SEUS RESULTADOS Windows Live para realizar um chat com usuários on line no
A prática da intervenção baseou-se no desenvolvimento momento do desenvolvimento da aula. A aplicação das normas
de atividades de leitura e interpretação de textos dispostos na de netiqueta priorizou a observação das mensagens recebidas
rede virtual da web – tais como sites de buscas de informações durante a conversa via messenger em que se verificou que a
e de entretenimento, bem como aplicação das normas culta nas interação não atendia as normas de netiqueta, pois havia palavras
análises textuais. escritas predominantemente em maiúsculas (que expressam
irritação), muitas abreviaturas que às vezes impossibilitavam o
Inicialmente, foi aplicado um questionário aos trinta
entendimento, bem como ausência de correção ortográfica. Ao
alunos da turma, com o objetivo de fazer uma identificação do
final desta atividade eles adquiriam a capacidade de diferenciar
perfil desses alunos quanto aos acessos à internet.
os textos veiculados nas interações do meio virtual, dos textos
No questionário aplicado foi perguntado que tipo de sites dotados de adequação gramatical e que atendem à norma culta
era mais acessado por eles, sendo que, da totalidade da turma, da língua, tais como os textos presentes nos sites dos jornais
verificou-se que o teor dos sites acessados era de entretenimento. “Estado de Minas”, “Folha de São de Paulo”, dentre outros.
Diante disso, foi possível constatar que alunos e alunas acessavam
Por fim, foram realizadas análises linguístico-discursivas
os sites na mesma proporção; ou seja, 100% dos meninos e das
dos textos presentes nas comunidades do orkut em que os alunos
meninas acessam a internet.
foram orientados a descreverem os aspectos presentes nos textos
Quanto à frequência, verificou-se que os acessos eram que apresentavam incoerência, falta de coesão, bem como as
constantes, considerando as formas de acesso à rede pelos incorreções ortográficas.
mobilles (celulares e computadores de mão). Assim, vinte e um
alunos afirmaram acessar a internet todos os dias da semana, CONSIDERAÇÕES FINAIS
sendo que nove acessam de um a quatro dias semanais. Não foi
A leitura no meio digital possui a função de criar condições
surpresa verificar que a maioria dos alunos acessa as redes sociais,
para o educando realizar a sua própria aprendizagem, conforme
que somente seis têm frequência de acessar sites informativos;
seus próprios interesses, necessidades, fantasias, segundo as
os vinte e quatro têm preferência pelas redes sociais de
dúvidas e exigências que a realidade lhe apresente. Diante da
entretenimento. A partir dessas informações as atividades de
evolução tecnológica nos últimos tempos, a escola tem mais uma
intervenção se iniciaram.
função importante, que é a de tornar seu alunado apto a ter
Nas duas primeiras aulas da intervenção os alunos foram contato com as tecnologias, como: aplicativos dos computadores
orientados a aplicar as normas de netiqueta3. Nessa atividade e internet, investindo no conhecimento e levando-os a refletir
sobre a importância destes recursos para o seu bem estar
3 Netiqueta é a forma aportuguesada do termo inglês “netiquette”, que significa “etiqueta
intelectual e social- que é saber fazer bom uso da linguagem
http://www.portaldoscantinhos.com/
(bons modos) e boa escrita na Internet”. In:
com boa habilidade de leitura e interpretação aliada ao saber
portal/netiqueta.htm Acesso em 08/10/2011.

70 71
Prática Pedagógica Renovada Mídias na Educação

usar as ferramentas tecnológicas. Assim, foram desenvolvidas REFERÊNCIAS


atividades de leitura crítica dos conteúdos dos sites de diversas
categorias: entretenimento, informativos, relacionamentos COSTA. J. M. A leitura na era tecnológica. Jornal Estado de Minas
e técnico-científicos. As atividades das análises linguístico- – Caderno D + 06/02/2007.
discursivas dos textos pelos alunos consideraram todos os sites FULGÊNCIO, L.; LIBERATO, Y. Como facilitar a leitura. 4. ed. São
que eles comumente acessavam, tais como perfis do facebook, Paulo: Contexto, 2001.
orkut e twitter. O que era considerado inútil pedagogicamente
pelos professores da escola que nunca utilizaram esses sites LAJOLO, M. Do mundo da leitura para a leitura do mundo. Ed 6ª.
nas atividades, segundo os alunos da turma, por serem sites São Paulo: Ática, 2001.
desprovidos de conteúdos científicos, na disciplina de Português LEVY, P. As tecnologias da inteligência: o futuro do pensamento
pode se tornar ferramenta de aplicabilidade de conteúdos como na era da informática. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1994.
variação linguística, funções de linguagem e interpretação pela
MACHADO, J. R.; TIJIBOY, A.V. Redes Sociais Virtuais: um
leitura cognitiva.
espaço para efetivação da aprendizagem cooperativa. Novas
As abordagens aqui propostas visaram verificar as tecnologias na educação. CINTED-UFRGS, v. 3, nº 1, mai. 2005.
contribuições que o uso das tecnologias – computador com
internet - para a leitura e interpretação de textos, a fim de MARTELETO, R. M. Análise de Redes Sociais – aplicação nos
contribuir para a prática educativa do ensino da Língua Portuguesa estudos de transferência da informação. Ci. Inf., Brasília, v.
contextualizada por meio da leitura crítica e reflexiva dotada de 30, n. 1, p. 71-81, jan./abr. 2001.
construção de sentidos. MARTINS, M. H. O que é leitura. Coleção Primeiros Passos, nº
Diante do exposto, verifica- se que o importante ao 74. São Paulo: Brasiliense, 2005.
utilizarmos internet na sala de aula não é transformar a ferramenta MOURA, R. M. A internet na educação: um contributo para a
na principal figura educacional, pois os alunos devem assumir o aprendizagem Autodirigida. Inovação, 1998. p.11,177-129.
papel de principais personagens e usar criatividade, raciocínio e Disponível em: http://rmoura.tripod.com/internetedu.htm. Acesso:
atitudes ativas para a produção do conhecimento através da leitura. 05/10/ 2011.
A utilização das ferramentas tecnológicas por si só não garantirá
a aprendizagem dos estudantes e a utilização de instrumentos PAULINO, G. Tipos de textos, modos de leitura. Belo Horizonte:
didáticos, na verdade poderá e deverá estar a serviço do processo Formato, 2001.
de autonomia intelectual na produção de um novo conhecimento. PILETTI, C. (org). Didática especial. São Paulo: Ática, 2000.
Durante a fase de intervenção, percebemos que a internet TAJRA, S. F. Informática na educação: novas ferramentas
no campo didático-metodológico é mais do que uma rede pedagógicas para o professor da atualidade. 3. ed. São Paulo:
comunicação. É uma ferramenta que possibilita a participação em Érica, 2001.
eventos colaborativos, em listas de discussão através da trocas
experiências, ou seja, trata-se de uma ferramenta de expressão UGARTE, D. El poder de las redes. Manual ilustrado para
política e social. personas, colectivos y empresas abocados al ciberactivismo.

72 73
Prática Pedagógica Renovada

Disponível em: http://www.deugarte.com/manual-ilustrado-


para-ciberactivistas. Acesso em: 01/11/2011.

A UTILIZAÇÃO DA MÍDIA IMPRESSA JORNAL NA


ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO
GOMES, Cléia Aparecida1
SILVA, Luciano Pereira da2
A educação faz um povo fácil de ser liderado; mas
difícil de ser dirigido; fácil de ser governado, mas im-
possível de ser escravizado.
Henry Peter

INTRODUÇÃO

Este artigo apresenta o resultado de uma pesquisa de


intervenção pedagógica realizada com uma turma de Educação
de Jovens e Adultos (EJA). Foi utilizado como recurso pedagógico
a mídia impressa jornal, no intuito de contribuir para o processo
de alfabetização e letramento. A partir desta mídia, trabalhou-se
com diferentes gêneros textuais e também com desenhos, mapas
e fotos, elementos presentes nos jornais.
Muitos jovens e adultos têm enfrentado o desafio de
começar ou continuar seus estudos, buscando na educação

1 Cursista do Programa de Formação Continuada Mídias na Educação,


através da Universidade Estadual de Montes Claros – Unimontes.
Pedagoga da Rede Municipal de Olhos d´Água/MG e professora da Rede
Municipal de Bocaiúva/MG.
2 Mestre em Desenvolvimento Social pela Unimontes. Doutorando em
Educação pela UFMG. Orientador do Programa de Formação Continuada
– Mídias na Educação.

74 75
Prática Pedagógica Renovada Mídias na Educação

escolar o processo que lhes foi negado em idade adequada por julgar, sintetizar, produzir pontos de vista, etc. Isto,
lembrando que o significado maior da leitura nos dias
diferentes razões. Assim, a Educação para Jovens e Adultos,
de hoje, pensando na complexidade da sociedade, é
principalmente na fase da alfabetização, deve garantir o acesso o de melhor qualificar as nossas ações, reações e de-
ao conhecimento produzido pela humanidade e possibilitar o cisões nas diferentes dimensões da vida.
crescimento do aluno tanto na sua vida escolar como na sua vida A pesquisa de intervenção pedagógica insere-se no grupo
social, para que o mesmo exerça plenamente a cidadania. Como das “pesquisas ativas”, entendida por Chizzotti (2010) como
constatou o educador Paulo Freire (2000, p.67), “...não é aquelas que, além de conhecer um determinado problema,
possível refazer este país, democratizá-lo, humanizá-lo, torná- buscam soluções para o mesmo, pela proposição de ações
lo sério, com adolescentes brincando de matar gente, saneadoras. Assim, a pesquisa também assume uma abordagem
ofendendo a vida, destruindo o sonho, inviabilizando o amor. Se qualitativa. Para Maanen (1979), as pesquisas qualitativas têm
a educação sozinha não transforma a sociedade, sem ela como prioridade traduzir e expressar o sentido dos fenômenos no
tampouco a sociedade muda”. mundo social.
A alfabetização e o letramento vão além do processo de O projeto foi desenvolvido através da observação direta
aquisição do código de leitura e escrita; estar letrado significa dos alunos, análise de suas atividades, debates e proposição de
atribuir sentido e significado às práticas sociais, fazer o uso do trabalhos em grupo e individual. As aulas destinadas à intervenção
conhecimento adquirido no dia a dia, intervindo e mudando a foram direcionadas para as seguintes tarefas:
realidade social. Os alunos da Educação de Jovens e Adultos
1. Exposição de jornais e reflexão sobre as seguintes
trazem para a sala de aula suas expectativas, experiências,
questões: Quais jornais os alunos conheciam? Por que é importante
conhecimentos e dificuldades vivenciados no cotidiano. O
ler jornais? O que encontramos nos jornais? O que mais gostavam
educador da EJA deve respeitar e considerar toda essa bagagem
de ler nos jornais? Quais jornais eram produzidos na cidade?
de conhecimentos e propor atividades que proporcionem a melhor
exploração da capacidade de aprender dos alunos. 2. Análise de um jornal (Nome, periodicidade, público
alvo, dimensões, número de páginas, presença de fotos e charges,
A mídia impressa jornal pode oportunizar o contato e
propagandas, seções, assuntos tratados, entre outros);
o estudo com diversos portadores de textos, entendidos como
materiais que apresentam algo que possa ser lido. Ao mesmo 3. Escolha um texto pelos alunos para ser explorado
tempo, pode proporcionar o diálogo, a interação, o contato com (palavras, letra inicial, frases, rimas, gênero, entre outros);
notícias da atualidade, da cidade, fatos que são do interesse 4. Criação de um jornal mural redigido pelos alunos
dos alunos. Dessa forma, possibilitam que os alunos construam o divididos em equipes. Textos produzidos (convites, receitas,
conhecimento e se formam como leitores críticos, questionadores notícias, contos, entrevistas, propagandas, anúncios e poemas).
e reflexivos, capazes de intervir na realidade em que estão
DESENVOLVIMENTO
inseridos.
Silva (2007, p.71) afirma que: O local da intervenção, a escola Municipal Professora
O ensino com jornais deve almejar sempre as opera-
Zeca Calixto, situa-se na zona urbana do município de Bocaiúva-
ções complexas do pensamento: analisar, comparar, MG e funciona em prédio próprio em um bairro da periferia do

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Prática Pedagógica Renovada Mídias na Educação

município. Atende 683 alunos, oriundos de famílias com pouca traziam expressiva experiência de vida, puderam relacionar-se
escolaridade, filhos de proletários, com situação econômica com o mundo escrito de forma profícuo, apesar das dificulddaes
precária. Constituída em 1995, começou a funcionar no ano de aprendizagem que apresentavam.
seguinte levando aos bairros Nossa Senhora Aparecida, São A cultura escrita diz respeito às ações, valores e pro-
Geraldo, Novo Horizonte e adjacentes o conforto do ensino cedimentos e instrumentos que constituem o mundo
próximo. letrado. Esse processo possibilita aos alunos compreen-
derem os usos sociais da escrita e, pedagogicamente,
Em 28 de abril de 1998, através da portaria ME 689/98, pode gerar práticas e necessidades de leitura e escrita
foi autorizado o início do oferecimento pela escola do Ensino que darão significados as aprendizagens escolares e aos
Fundamental. A instituição teve seu nome trocado de Escola momentos de sistematização propostos em sala de aula
(BRASIL, 2007, p.181).
Municipal Maria José Batista Calixto, para Escola Municipal
Professora Zeca Calixto, homenagem póstuma à professora Zeca Os adultos semi-analfabetos enxergam a alfabetização
Calixto, mãe do ex- prefeito Fernando Calixto. como um meio de suprir suas necessidades como: conseguir
Atualmente, a escola atende as seguintes modalidades um trabalho melhor, ler uma placa de rua, ler e assinar um
de ensino: Ensino Fundamental do 1° ao 9° ano e (Educação de documento, ir ao caixa eletrônico, entre outros. Com isso,
Jovens e Adultos) EJA e (Programa Nacional de Integração da direcionam as habilidades de ler e escrever para ações cotidianas
Educação Profissional com a Educação Básica) PROEJA. que representam a inserção cidadã na sociedade.
O primeiro passo da intervenção pedagógica deu-se com a O aluno somente realizará a leitura efetiva de um texto
apresentação do projeto, seguida de discussão de seus objetivos no momento em que estabelecer relações além da apreensão
com os alunos; simultaneamente, buscou-se averiguar o que os do significado das letras e palavras. Por isso, o professor deve
alunos já conheciam dessa mídia e o que eles mais gostavam proporcionar momentos de reflexão que ultrapassem o simples
nela. Através de uma exposição de vários jornais que circulam na reconhecimento das palavras e sua repetição mecânica.
cidade, foi feita a exploração dos diversos cadernos e assuntos Silva (1997, p.80) afirma que:
apresentados em um jornal, visando a percepção e identificação O leitor criativo procura sempre superar-se no momen-
pelos alunos dos diferentes gêneros textuais, características e to da leitura, isto é, a leitura fornece ao sujeito uma
finalidades de cada seção de um jornal. nova capacidade de se compreender, oferecendo-lhe
uma nova maneira de ser no mundo pelo qual ele se
Os alunos dividiram-se em equipes para produzirem textos engrandece, ou seja, encontra novas formas de existir
de acordo com os seus interesses. Foram elaborados convites, e conviver socialmente [...] utiliza imaginativamente
receitas, notícias locais, propagandas, anúncios e poemas. Ao as informações conseguidas pelo trabalho de sua con-
sciência [...] ele especula sob vários ângulos, antecipa
trabalhar com o jornal, além da ação de ler e interpretar, os conseqüências, reembaralha os novos elementos den-
alunos foram estimulados e tomarem ciência de fatos importantes tro da sua estrutura cognitiva e de mundo.
da comunidade e do país.
As atividades de leitura podem ser realizadas por meio
Foi muito prazeroso desenvolver a intervenção, pois pode- de debates, análises e reflexões sobre o significado mais amplo
se presenciar ricos momentos de discussões, em que os alunos que das palavras, sua expressão social, para que o aluno construa seu

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Prática Pedagógica Renovada Mídias na Educação

conhecimento de forma prática. Para isso, faz-se necessário o se sempre em situações do cotidiano, o jornal estimula o
trabalho com a diversidade textual, característica presente nos letramento, estimulando o uso social da escrita.
jornais. Sobre o significado amplo do ato de conhecer, informa
Segundo Faria (2001), como rico instrumento, o jornal Moran (2004, p.25):
pode ser encarado como: Conhecer é relacionar, integrar, contextualizar, fazer
• Fonte primária de informação, pois, com um aprofundamento nosso o que vem de fora. Conhecer é saber, é desven-
e busca de novas informações, um conhecimento inovador dar, é ir além da superfície, do previsível, da exterio-
ridade. Conhecer é aprofundar os níveis de descobe-
pode ser gerado a partir do jornal; rta, é penetrar mais fundo nas coisas, na realidade,
•Formador do cidadão, auxiliando a desvendar o que ocorre no no nosso interior. Conhecer é conseguir chegar ao
nível da sabedoria, da integração total, da percepção
dia a dia, revelando situações que ajudam a formação integral, da grande síntese, que se consegue ao comunicar-se
com informações sobre os direitos e deveres dos cidadãos; com uma nova visão de mundo, das pessoas e com o
•Auxiliar na formação geral do estudante, como um apoio de mergulho profundo no nosso eu. O conhecimento se dá
no processo rico de integração externo e interno. Pela
conteúdo, que pode estar mais atualizado do que no livro comunicação aberta e confiante desenvolvemos con-
didático; tínuos e inesgotáveis processos de aprofundamento dos
níveis de conhecimento pessoal, comunitário e social.
•Um exercício de padrão de idioma, já que é utilizada uma
linguagem coloquial, que pode ser aproveitada no cotidiano; Nesta abordagem, percebe-se que o jornal é mais do que
•Texto autêntico: lê-se diretamente do escritor, sem haver outra uma fonte de informações; se bem trabalhado pedagogicamente,
pessoa traduzindo ou comentando o que foi publicado; pode contribuir para que o aluno passe a ser um questionador
crítico e, com isso, inserido em um processo de constante
•Registro da história corrente, pois os acontecimentos ficam
aprendizagem.
perpetuados com a publicação no jornal.
O professor alfabetizador da Educação de Jovens e
No seminário “O professor e a leitura de jornal”, Lozza
Adultos deve ser dinâmico, desenvolvendo metodologias que
(2002, p 1) afirma que:
retratem a realidade social, que envolvam a interpretação das
Se o jornal apresenta uma determinada interpreta- representações de mundo do alfabetizando e o conhecimento de
ção da realidade, o leitor, ao lê-lo criticamente de-
verá interpretar a interpretação do jornal. Essa critica
suas expectativas.
se constrói mediante o exercício da própria crítica. E As atuais concepções de educação visam a formação
não surge já na forma de uma avaliação já criterio-
integral do educando e pressupõem a alfabetização e o letramento
sa, científica, fundamentada. À medida que os alunos
analisam, comparam, dão sua opinião, escolhem (de como indissociáveis. No caso específico da EJA, trabalhar com
acordo com seus próprios critérios)..., eles estão apre- tais concepções configura-se como um desafio, pois muitos jovens
ndendo a criticar. e adultos inseridos nesse segmento do ensino sabem decodificar
A partir dessas colocações, percebe-se que o jornal é um os códigos, mas não interpretam o que lêem.
excelente recurso didático que proporciona muitas atividades, O jornal possibilita e facilita a mediação entre alfabetizar
mediando de forma rica o acesso à cultura escrita. Ao referenciar- e letrar, pois a mídia impressa jornal traz textos de diversos

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Prática Pedagógica Renovada Mídias na Educação

gêneros que focam os problemas cotidianos, informações atuais jornal configura-se como uma importante ferramenta pedagógica.
através de charges, receitas, entrevistas e outros tipos de Na intervenção realizada, percebeu-se o incremento do
textos que podem cativar o leitor. É uma fonte valorizada para interesse dos alunos pelo processo educativo pelo fato dos jornais
pesquisa e obtenção de informações sobre o mundo atual, e deve trazerem o cotidiano para a sala de aula. Assim, foi estimulada
estar presente em sala de aula desde o início do processo de uma postura crítica que respeitou a trajetória de vida dos alunos
alfabetização, despertando o interesse dos alunos pela leitura. e valorizou a ampla experiência de cada um.
Durante a intervenção realizada com a turma da EJA, Através da abordagem de diferentes gêneros textuais
observou-se o relevante processo de ampliação do acesso dos presentes nos jornais constatou-se a riqueza destas publicações
alunos à cultura escrita, ou às “culturas escritas”. Tal termo, para a ampliação da apropriação dos indivíduos das “culturas
usado no plural, indica o fato de que a inserção dos indivíduos no do escrito”, desafio que deve ser enfrentado por aqueles que
mundo da leitura e da escrita não é homogênea e pode dar-se acreditam que o acesso à educação escolarizada é direito de
de diversas formas. Para Galvão (2007, p. 39), “...o uso de todos.
verbos tais como ‘apropriar-se da’, ‘relacionar-se com’ em lugar
de ‘inserir-se na’, ‘entrar na’ ou ‘ter acesso à(s)’ cultura(s)
escrita(s) está relacionado com a tentativa de explicitar o papel
ativo dos sujeitos e dos grupos sociais nesse processo”. Neste REFERÊNCIAS
ínterim, ressalta-se que o uso da mídia impressa jornal como
ferramenta pedagógica pode desempenhar com sucesso a
necessária mediação entre o educando e o mundo das BRASIL. Ministério da Educação. Pró Letramento. Secretaria de
palavras, para que o aluno estava apto para, de fato, usar Educação Básica. Universidade Federal de Minas Gerais. Brasília,
socialmente a escrita e a leitura.
2007.
CONSIDERAÇÕES FINAIS HIZZOTTI, Antonio. Pesquisa qualitativa em ciências humanas e
sociais. 3.ed. Petrópolis: Vozes, 2010.
A Educação de Jovens e Adultos ocupa papel preponderante
nas ações que visam a garantiam da cidadania pela via do FARIA, Maria Alice. Como usar o jornal na sala de aula. 4. ed.
incremento da participação social. Alfabetizar-se e letrar-se são, São Paulo: Contexto, 2001.
via de regra, requisitos essenciais para a efetiva integração do FREIRE, Paulo. Pedagogia da Indignação: cartas pedagógicas e
indivíduo na sociedade. Entretanto, tal modalidade de ensino outros escritos. São Paulo: Editora UNESP, 2000.
(EJA) enfrenta diversos obstáculos, como a falta de investimentos
governamentais, a insuficiente qualificação de muitos profissionais GALVÃO, Ana Maria de Oliveira. Oralidade, memória e narrativa:
que nela atuam, a escassez de materiais específicos para este elementos para a construçãode uma história da cultura escrita.
segmento da educação e a falta de estímulo dos alunos diante do In: GALVÃO (et al.). História da cultura escrita: séculos XIX e XX.
processo educativo. Edição. Belo Horizonte: Autêntica, 2007. p. 9-46.
O uso de materiais alternativos pode combater os dois LOZZA, Carmem. Jornal: um recurso didático portador de
últimos obstáculos apontados. Neste contexto, a mídia impressa
83
82
Prática Pedagógica Renovada

permanências e Contrastes. 1º Seminário Nacional “O Professor


e a Leitura do Jornal”. Campinas, julho 2002.
MAANEN, John Van. Reclaiming qualitative methods for
organizations research. A preface. Administrative Science
Quaterly, v. 24, n. 4, p. 520-526, December, 1979.
MORAN, José Manuel. Novas Tecnologias e Mediação Pedagógica.
8. Ed. Campinas: Papirus, 2004.
OPERAÇÕES FUNDAMENTAIS E ESTATÍSTICA
SILVA, Ezequiel Theodoro da. Leitura e Realidade Brasileira.
5.ed. Porto Alegre: Mercado Aberto, 1997.
NO ÂMBITO DAS QUESTÕES AMBIENTAIS:
______________. O jornal na vida do professor e no trabalho INTERVENÇÃO NA EDUCAÇÃO DE JOVENS E
docente. São Paulo: Global, Campinas, SP: ALB, 2007. ADULTOS
INÁCIO, Márcia Beatriz¹
BARBOSA, Janaina Maria Lima²

INTRODUÇÃO

Este trabalho apresenta o desenvolvimento de uma


intervenção feita com o uso das mídias computador e conta de
água dentro do contexto escolar na área de Matemática com foco
nas questões relativas ao meio ambiente na E. E. Dr. Odilon Loures,
no 1º Período da Educação de Jovens e Adultos – EJA fundamental
(6º ano), no intuito de desenvolver habilidades matemáticas em
operações fundamentais e em estatística a partir de situações
práticas e cotidianas. Nesse contexto foram trabalhadas as
questões de resolução de problemas, análise e interpretação de
dados estatísticos aliados à conscientização quanto ao consumo
da água nas residências dos alunos.
A mídia impressa conta de água foi escolhida por estar presente
no dia-a-dia dos alunos envolvidos no projeto, como forma de unir
o conteúdo a ser trabalhado com as situações práticas, despertando
sensibilidade quanto ao consumo e uso adequado da água. Já o
computador foi escolhido como forma de ampliar os conhecimentos,
produzir resultados, permitir a inclusão tecnológica (digital), bem
como incentivar e motivar na realização das atividades.

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Prática Pedagógica Renovada Mídias na Educação

O objetivo desse trabalho foi amenizar as dificuldades de solucionar problemas concretos em que se faça necessária a
existentes em Matemática através do envolvimento da turma utilização de conhecimentos específicos e elementares, próprios
nas questões do dia-a-dia, procurando despertar o interesse e do conteúdo. Assim, de forma prática, os conteúdos vistos em
a aquisição dos conhecimentos vistos em sala de aula, tendo sala de aula se aproximam mais do real, despertando no aprendiz
como metodologia adotada o trabalho em grupo, com resolução a percepção de sua necessidade e aplicabilidade nas formas
e formulação de problemas, análises e interpretações de gráficos simples ou mais complexas.
construídos no computador. Segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais –
PCNs, (1998, p. 42) de Matemática podemos encontrar a
DESENVOLVIMENTO
informação de que
Atualmente, no sistema educacional, é grande a Resolver um problema não se resume em compreender
preocupação em oferecer um ensino de qualidade que tenha o que foi proposto e em dar respostas aplicando pro-
significado na vida daqueles que nele ingressam. E é na busca de cedimentos adequados. Aprender a dar uma resposta
correta, que tenha sentido, pode ser suficiente para
novas práticas que a escola tenta aliar o que é visto em sala de que ela seja aceita e até seja convincente, mas não
aula com o que é vivido, cotidianamente, pelos alunos. é garantia de apropriação do conhecimento envolvi-
do. Além disso, é necessário desenvolver habilidades
Nesse sentido, o trabalho envolvendo os temas transversais, que permitam pôr à prova os resultados, testar seus
especificamente os ambientais, pode gerar bons resultados na efeitos, comparar diferentes caminhos, para obter a
área educacional, já que, “...com a educação ambiental, o solução. Nessa forma de trabalho, o valor da resposta
correta cede lugar ao valor do processo de resolução.
papel de alunos e professores são redimensionados,
envolvendo uma relação dialógica em que ambos A Matemática deve visar a valorização de todo o processo
aprendem” (TEIXEIRA, 2009,p.69). de construção do conhecimento, seja no que se refere ao estudo
O trabalho envolvendo os temas ambientais pode ser das operações fundamentais até as formas mais complexas de seu
associado a várias disciplinas do currículo escolar, dentre elas a uso.
Matemática, na tomada de decisões e também na interpretação A questão ambiental também fortalece o trabalho com
de informações. a escrita, a identificação e análise de informações presentes
Segundo Dante, em diferentes tipos e gêneros textuais podendo levar o aluno à
compreensão de diversos fatores que evidenciam uma tomada de
[...]a oportunidade de usar os conceitos
matemáticos no seu dia-a-dia favorece o decisões a respeito desse tema. A mídia impressa, nesse sentido,
desenvolvimento de uma ati-tude positiva do aluno atua de forma relevante dentro do universo escolar fortalecendo
em relação à Matemática. Não basta saber fazer a prática da leitura e da escrita.
mecanicamente as operações de adição, subtração,
multiplicação e divisão. É preciso saber como e Na procura por um trabalho que empregue novas mídias no
quando usá-las convenientemente na res-olução de contexto escolar, algo que possibilite um novo olhar sobre aquilo
situações-problema (1998, p.13). que é desenvolvido, o computador se torna um recurso viável que
Desta forma, os conteúdos trabalhados não ficam resumidos com o devido planejamento se torna útil nas ações recorrentes.
ao simples ato operacional, ao cálculo puro, mas sim, à forma
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Prática Pedagógica Renovada Mídias na Educação


Nessa perspectiva, deve-se ter em mente que “o alunos que levassem para a sala de aula contas de água, de sua
computador para ser efetivo no processo de desenvolvimento residência, dos últimos doze meses.
da capacidade de criar e pensar não pode ser inserido como
uma simples máquina de ensinar” (VALENTE, 1998, p.35), pois
2ª etapa: Análise das contas de água e cálculo da média.
é preciso um planejamento eficaz que possa fazer com que esse
Na aula seguinte com os alunos munidos de suas contas foi
instrumento seja verdadeiramente útil na aquisição de novos
possível analisar os dados apresentados na conta do último mês,
saberes, buscando uma mudança de olhares pelos alunos que vão
levantando as informações ali contidas. As informações foram
percebê-lo como objeto de estudo e mecanismo de aprendizagem,
anotadas em uma tabela e, após esse registro, os alunos foram
e pelos professores que buscarão, a partir da utilização da
conduzidos a identificar os dados mais importantes. Muitos alunos
máquina, conduzir a novos saberes.
disseram não ter percebido antes a importância e significado de
De acordo com Zambalde, “a capacidade do professor
tantas informações e de que forma essas poderiam ser motivo de
para desenvolver, selecionar e expor programas adequados ao
mudanças de postura em relação ao consumo de água em suas
contexto específico é que dará a devida dimensão ao uso dos
residências.
computadores na educação convencional e técnica” (2002,
p.63). Cabe ao professor planejar com cuidado a forma como Ainda nesse contexto os alunos foram levados a calcular
se dará o trabalho mediante o uso do computador de maneira a média de consumo gasto por pessoa em cada residência,
que possa extrair dele todo o seu potencial, identificar qual a trabalhando assim o cálculo da divisão com arredondamento e
melhor metodologia a ser empregada e quais os objetivos que estimativa de gasto por pessoa durante um ano.
serão traçados a partir das atividades a serem propostas e que
estas sejam dinâmicas, inovadoras e motivadoras. 3ª etapa: M³, quantos litros são?
As atividades desenvolvidas no decorrer da intervenção A percepção da real quantidade de água consumida por
seguiram as etapas apresentadas a seguir. cada aluno se tornou necessária e o trabalho com a transformação
de metros cúbicos para litros e de litros para metros cúbicos foi
realizado, permitindo assim o desenvolvimento das habilidades
1ª etapa: Introdução do tema. matemáticas em operações fundamentais, desta vez, com a
Para introdução do tema foi trabalhado um pequeno texto multiplicação e a divisão. Nesse caminho foram trabalhados
para reflexão sobre o crescimento da população mundial e a alguns problemas relacionados ao tema permitindo assim maior
possível ameaça da falta de água no mundo. Esse texto serviu clareza e aproximação com situações reais.
de base para um debate rápido sobre a forma como esse recurso Nesta etapa os alunos tiveram que preencher uma tabela
é utilizado, a importância do seu consumo e a necessidade de onde apresentaram uma estimativa de cálculo do consumo de
combate ao desperdício. Os alunos, após terem lido o texto e água nas atividades do dia-a-dia estimando o tempo utilizado
debatido sobre o mesmo, foram levados a responder algumas em cada atividade, identificando a necessidade do consumo e
perguntas sobre o consumo de água em suas residências e as apresentando sugestões para a economia.
possíveis causas de desperdício. Na ocasião foi pedido aos Ainda nesta etapa foi pedida aos alunos a realização de
uma pesquisa sobre dicas de economia no consumo da água.

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Prática Pedagógica Renovada Mídias na Educação

4ª etapa: Resolução de problemas. 6ª etapa: Sala de Informática.


Os alunos, em atividades individuais e em grupo, foram Após todo o processo de reflexão sobre o tema, da
levados a resolver problemas relacionados ao tema estudado, resolução de problemas, dos cálculos matemáticos, da
desenvolvendo habilidades nas operações matemáticas construção de tabelas e gráficos os alunos foram conduzidos à
fundamentais. Foi necessário calcular médias, estimar gastos, sala de informática. Nesse ambiente puderam ter contato com os
calcular o consumo em períodos determinados, realizar computadores, tendo uma visão geral sobre seus componentes e
transformações de unidades de medida e fazer representação funções. A partir desse contato puderam conhecer um pouco do
gráfica. Alguns problemas foram propostos e outros foram programa Calc, software do sistema operacional Linux, específico
elaborados pelos próprios alunos em grupo a partir de situações para construção de tabelas e gráficos.
reais e suposições. Na sala de informática o ambiente era de contentamento
e satisfação por permitir a aquisição de novos conhecimentos
5ª etapa: Produzindo material gráfico. e a inclusão no meio digital (Figura 2). Os alunos perceberam a
importância do computador no estudo realizado, sua praticidade
A quinta etapa consistiu no estudo de gráficos, principais
e precisão com base nas informações que eram prestadas por
elementos e formas de apresentação, e na construção pelos
eles. Esta etapa durou cerca de três aulas e todo o material
alunos a partir dos dados contidos em suas contas de água. As
produzido foi reservado para posterior exposição.
atividades foram feitas em grupo e cada integrante da equipe
pode trocar ideias e vencer dificuldades.
Primeiramente, essa construção foi feita com uso
de materiais como papel, régua, lápis de cor, dentre outros
(Figura 1). Os gráficos produzidos proporcionaram maior
visibilidade das informações contidas nas contas e a análise
mais rápida do consumo, bem como a identificação dos meses
em que houve maior e menor consumo. Os mesmos foram
reservados para posterior exposição.
FIGURA 2: Construção de gráficos no Calc, software do sistema operacional Linux.
FONTE: Arquivo pessoal (2011)

7ª etapa: Produção de cartazes.


Utilizando os dados da pesquisa pedida anteriormente
sobre dicas de economia no consumo da água (4ª etapa) os alunos,
em grupo, produziram material para ser exposto em sala (figura
3). Juntos, com a utilização de papéis, tesoura, cola, lápis de cor,
FIGURA 1: Construindo gráficos
giz de cera, régua, canetinha e outros, confeccionaram cartazes
FONTE: Arquivo pessoal (2011)

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Prática Pedagógica Renovada Mídias na Educação

contendo dicas e sugestões. O trabalho foi dividido de acordo que tinham obtido sobre o tema tratado.
com a habilidade de cada um.

FIGURA 4: Exposição dos trabalhos.


FIGURA 3: Dicas de economia FONTE: Arquivo pessoal (2011)
FONTE: Arquivo pessoal (2011)
CONSIDERAÇÕES FINAIS

8ª etapa: Confecção de mural. Os recursos didáticos escolhidos e o tema trabalhado


Com todo o material produzido em mãos a turma foi abrangendo vários conteúdos se mostraram eficazes e fizeram
incentivada à confecção de um mural, dentro da própria sala de com que o projeto alcançasse resultados positivos, possibilitando
aula. Juntos decidiram como seria feito esse mural e em que uma mudança de postura por parte dos alunos em relação às
ordem deveriam ser apresentados. Neste mural foram expostos atividades que realizam cotidianamente, seja quanto ao consumo
as contas de água, gráficos de cada residência feitos à mão, consciente da água, a interpretação de dados estatísticos ou até
cartazes com dicas e sugestões contra o desperdício da água em mesmo quanto à habilidade matemática em resolver problemas
diversas situações, fórmula para o cálculo da média e tabelas e com o uso das operações fundamentais.
gráficos produzidos no computador. Por isso, é preciso afirmar que é possível, de forma bem
pensada e planejada, desenvolver ações que busquem colocar o
aluno como foco do processo ensino-aprendizagem, levando-o a
9ª etapa: Exposição.
se tornar mais crítico, participativo e atuante na sociedade em
Com o mural pronto os alunos convidaram as outras turmas que vive.
da escola, direção e funcionários para que pudessem apreciar
o resultado do trabalho desenvolvido (Figura 4). Nesta fase os
alunos revelaram satisfação ao serem parabenizados pelos
visitantes e o interesse de desenvolver outros projetos.
A iniciativa em convidar alunos de outras turmas para
apreciação dos trabalhos foi um fator muito positivo já que
os alunos participantes do projeto demonstraram interesse e
preocupação em passar aos demais estudantes as informações

92 93
Prática Pedagógica Renovada Mídias na Educação

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PILETTI, Nelson. Psicologia Educacional: os pensadores. 12. ed.,
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94 95
RÁDIO WEB: ESTAÇÃO CIDADANIA EDUCATIVA NA
ESCOLA MUNICIPAL JASON CAETANO
Maria Levimar Viana Tupinambá1
Priscilla Caires Santana Afonso2
Introdução

Na era da globalização das economias mundiais, onde


estão disponíveis tecnologias cada vez mais modernas nos lares
brasileiros e que aguçam nossos jovens a estarem conectados a
aparelhos sofisticados, modificando hábitos e despertando novos
interesses, faz-se necessário que a escola, busque novos recursos
didáticos para despertar a curiosidade dos alunos que têm por
conseqüência novas necessidades. As tecnologias midiáticas vêm
possibilitar a construção de uma malha de conexão entre áreas
do conhecimento distintas e ao mesmo tempo complementares,
permitindo que a sociedade vivencie novas experiências para
obter o conhecimento.
A mídia sonora pode se tornar um importante recurso
didático nesse “jogo”, principalmente se considerarmos a
necessidade contemporânea de se desenvolver linguagens
diferenciadas, arrojadas e diversificadas que devem ser utilizadas
em momentos distintos da vida social do educando. A rádio

1Cursista do Programa de Formação Continuada Mídias na Educação, através da Universidade


Estadual de Montes Claros – Unimontes.
2 Professora Orientadora do Curso de Pós-Graduação “Lato Sensu” em Mídias na Educação da
Universidade Estadual de Montes Claros – Unimontes. Mestre em Geografia pela UFU. Doutoranda.

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Prática Pedagógica Renovada Mídias na Educação

escolar pode contribuir para um trabalho eficaz e que envolva professora e atividades avaliativas que puderam balizar a análise
toda a comunidade. sobre a melhoria da aprendizagem dos alunos.
Uma prática pedagógica comprometida com a inclusão de Quanto à implantação propriamente dita da Rádio Web,
todos os alunos, aflorando competências e habilidades relevantes toda a programação radiofônica foi elaborada com a ajuda
para o processo de construção de uma educação de qualidade, dos professores das diversas áreas do conhecimento e com a
potencializando assim, leituras plurais dos diversos saberes, participação dos alunos.
praticando o exercício pleno da cidadania é o dever da escola. Implantar uma rádio na escola não é tarefa fácil, uma
De acordo com a Lei de Diretrizes e Bases da Educação vez que requer não só habilidade, mas recursos financeiros, o
- LDB, as escolas são responsáveis pela formação integral de que geralmente torna-se uma limitação. Mas implantar uma
crianças, adolescentes e jovens; e suas defasagens devem ser Rádio Web, pelo fato da escola já ter em mãos os
solucionadas por meio de diferentes ações. principais equipamentos necessários para o seu bom
Entretanto, a Escola Municipal Jason Caetano não funcionamento, tornou-se viável como discutiremos a seguir.
obteve um bom desempenho na Provinha Brasil no ano de 2011.
A RÁDIO WEB COMO RECURSO MIDIÁTICO DE EDUCAÇÃO
Acreditamos que o motivo para isso, além dos já elencados,
são os vários problemas vivenciados pela comunidade como a Em pleno século XXI, a educação não pode ficar presa entre
prostituição infantil, o uso de drogas e outros “atrativos” que muros, sem se integrar às novas tecnologias que vem alcançando
acabam por comprometer o aprendizado desses alunos. cada vez mais o cotidiano dos educandos, transmitindo uma
Nesse sentido, o objetivo desse trabalho é estudar como diversidade de informações, que permeiam todos os espaços
a rádio escolar implantada na Escola Municipal Jason Caetano no mundo inteiro. A escola tem um papel de fundamental
viabilizou a melhoria da qualidade do ensino-aprendizagem dos importância, que vai muito além do “transmitir conhecimentos”,
alunos. Entendemos que a rádio é um recurso didático inovador pois o grande desafio que lhe é proposto é a formação de cidadãos
onde os professores podem trabalhar os diversos aspectos do capazes de transformar e construir o conhecimento, em prol de
desenvolvimento cognitivo, intelectual, psicológico, afetivo e sua cidadania e um sujeito apto a atuar no mercado de trabalho
físico dos educandos, ou seja, as múltiplas inteligências. Nossa capitalista.
prática enquanto professora de Geografia da referida escola nos Desta forma, a escola não pode se eximir deste contexto
levou a coordenação de tal projeto e assim pudemos vivenciar de e nem desconsiderar ou negar a presença das mídias no cotidiano
forma plena o processo, como coordenadora e em sala de aula. dos alunos, porque todo esse aparato tecnológico, já está
A metodologia utilizada para atingir essa meta foi baseada embutido em seu dia-a-dia e faz parte do mundo escolar. Todos
em pesquisa diagnóstica, que buscou identificar o interesse dos vivem e convivem numa sociedade movida pela informação, essa
alunos sobre a mídia rádio, e bibliográfica, que permeou toda a é a sociedade do mundo globalizado. Segundo Santos (2001, p.
intervenção com o intuito de direcionar o trabalho prático e de 29). “Este período [Século XXI] dispõe de um sistema unificado
análise dos dados. Foram realizadas entrevistas semi-estruturadas de técnicas, instalando sobre um planeta informado e permitindo
com os alunos do 8º e 9º ano, turmas das quais atuamos como ações igualmente globais”.

98 99
Prática Pedagógica Renovada Mídias na Educação

Ao abordar o autor devemos citar as redes sociais, os ser trabalhadas através do diálogo. Sob esse aspecto estas não
recursos tecnológicos e as informações produzidas e dissipadas são vistas apenas como a transferência de saber, mas, como um
em grande escala e velocidade, porém essas são controladas por encontro de sujeitos interlocutores que buscam a significação dos
pequenos grupos de forma inteligente, degradando as políticas significados.
públicas e deixando a sociedade em segundo plano. Esse é o Entendemos que no ambiente escolar, a rádio pode agir
mundo onde o capitalista enfraquece a democracia social em prol como difusor da cultura local, se tornando um forte aliado no
de seus interesses. processo de formação dos educandos. Esse pode ter ainda, um
É exatamente por isso que é necessário discutir a sociedade papel importante no desenvolvimento das múltiplas inteligências
moderna e suas novas formas de produção (inclusive de ideologias) do educando, uma vez que desenvolve a sua linguagem e a
e assim adotarmos caminhos que realmente possam fazer parte escrita, desinibi a fala, rompe as barreiras das limitações dos
da construção de uma nova história, onde os alunos do ensino alunos, extrapola sua imaginação e criatividade e contribui para
básico e público possam fazer realmente parte dela. a socialização no ambiente escolar.
Nesse sentido, as tecnologias estão ao nosso favor se Acreditamos que a Rádio Web pode abrir novas possibilidades
pudermos, com seu auxílio, produzir sujeitos pensantes capazes de diálogo entre a comunidade escolar, ou seja, entre alunos,
de refletir criticamente através de um olhar holístico para nossa pais, professores e direção. Nesse contexto, todos têm o direito
época. A escola é mediada por essa rapidez da informação e à voz ativa, sem um centro emissivo que dita uniformizações para
tecnologia que partem de nosso meio social (espaço imediato, uma recepção passiva. Esta é uma comunicação que envolve a
lugar) para patamares globalizantes (espaço global). cultura popular e regional, fundada na bi-direcionalidade, na
A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDB, intervenção da mensagem, com uma comunicação interativa.
através da Lei n. 9.394/86 e os Novos Parâmetros Curriculares A partir do tópico seguinte, discutiremos a realidade da
Nacionais – PCN’s incluem os meios de comunicação social Escola Municipal Jason Caetano.
no espaço escolar, propondo ao educador, trabalhá-los
A RÁDIO WEB DA ESCOLA MUNICIPAL JASON CAETANO
interdisciplinarmente.
No processo de ensino-aprendizagem, o rádio torna- A Escola Municipal Jason Caetano, situada na Avenida
se um elemento potencializador que contribui para adquirir Lauro Dias De Sá 369 no Bairro Santo Antônio, foi fundada em
conhecimentos através de novos formatos e linguagens, 1973. É uma instituição mantida pela Prefeitura Municipal de
proporcionando possibilidades na construção de alternativas Montes Claros com corpo docente composto por profissionais
para os problemas vivenciados pelas escolas e ampliando sua concursados e designados em áreas específicas, além de diretor
capacidade de proporcionar uma educação de qualidade, pois, ao e supervisores pedagógicos e outros funcionários do corpo
nosso ver comparado aos aparatos e a outras mídias eletrônicas, administrativo. A instituição abrange dois níveis de ensino,
o rádio é um instrumento mais dinâmico, atraente, sedutor e Fundamental do 6° ao 9º ano (Educação de Jovens e Adultos –
rápido do que a dinâmica escolar. EJA) e Médio. A clientela atendida nessa escola é em sua
Segundo Freire (1988) a educação e a comunicação devem maioria de baixa e média renda familiar, sendo oriundas do
próprio bairro e adjacências.

100 101
Prática Pedagógica Renovada Mídias na Educação
diagnóstica, para saber como a proposta seria recebida pelos
A população atendida pela escola enfrenta diversas
alunos e apontar os principais pontos a serem trabalhados
dificuldades, sendo recorrentes os problemas com as drogas, a
pela rádio. Foram distribuímos 200 questionários aos 800 alunos
prostituição infantil, além da falta de alimentação adequada.
da escola (turnos vespertino e matutino). Entretanto, 40 destes
Tudo isso, reflete no aprendizado dos alunos.
não os responderam. Outros 20 acharam que a idéia era sem
De acordo com o Índice de Desenvolvimento da Educação fundamento e 140 alunos gostaram e aprovaram-na.
Básica - IDEB (índice que varia de 0 a 10), a escola apresentou um
indicador de 3.7, quando a meta esperada era de 4.1. Esse é um Nossa experiência enquanto professora de Geografia em
número que reflete o nível insatisfatório de aprendizado entre os sete turmas, sendo duas do 8º ano e cinco do 9º ano, nos ajudou
alunos. Por esse motivo, foi necessário que a comunidade escolar na elaboração do projeto de intervenção que atendesse a essa
buscasse alternativas para sanar esse problema. realidade específica.
Em contrapartida, foi proposto pelo Governo Federal Com o planejamento pronto (projeto), este foi levado
e pela Rede Municipal de Ensino, a criação do Programa Mais para apreciação e aprovação dos professores, supervisores e
Educação na escola como uma forma de intervenção pedagógica direção e foi aprovado por unanimidade. O mesmo foi incluído
a fim de resgatar a educação de qualidade e prazerosa aos olhos no Projeto Político Pedagógico - PPP da escola em reunião
dos alunos. colegiada. Só então foi criada a rádio, no mês de outubro de
2011, após dois meses de pesquisas, estudos e planejamento.
O serviço pedagógico se reuniu então, com toda a
Os professores de História sugeriram a realização de um
comunidade escolar, para analisar e demonstrar os dados do IDEB
concurso para escolha do nome da rádio e ficaram responsáveis
e comparou resultados de toda rede municipal e do Estado de
por essa parte do trabalho. A rádio recebeu o nome de: “Rádio
Minas Gerais. Ficou claro para todos que era necessário implantar
Web: estação cidadania educativa”. A direção da escola tratou
a proposta do Governo, mas que sozinha essa não seria suficiente.
de adquirir alguns equipamentos, como uma mesa de som de
Era necessário fosse criada uma intervenção pedagógica eficiente
oito canais e um amplificador híbrido, com microfone que foi
que chamasse a atenção dos alunos.
instalado na secretaria da escola para obter maior segurança
Foi aliada então a necessidade do curso de Pós-Graduação em relação ao manuseio do equipamento. Foram compradas,
em Mídias na Educação às necessidades da escola, e foi sugerida ainda quatro caixas médias de som que foram instaladas no
a criação de uma rádio escolar, mas nos deparamos com diversos pátio da escola. Através de um fio o equipamento foi conectado
questionamentos quanto a origem da verba para a compra aos computadores do laboratório e da secretaria. O recurso para
do equipamento. Então, sugerimos a implantação de uma Rádio compra desse material foi cedido pelo caixa escolar da escola,
Web, solução menos dispendiosa. Embora a maioria dos colegas após aprovação em reunião do colegiado.
não conhecesse esse tipo de rádio, aplaudiram e aceitaram o
A próxima etapa deste trabalho constou do
desafio. A Supervisora, responsável pela parte pedagógica do
desenvolvimento de pesquisas com os alunos, sempre
projeto Mais Educação, solicitou-nos que ficássemos a frente do
supervisionados pelos professores de informática e de
trabalho e articulasse então todo o processo.
Inglês, onde foi feito um levantamento sobre as rádios
O próximo passo dado foi à aplicação da pesquisa web’s já existentes. Os alunos as ouviram-nas, avaliaram-nas
e selecionaram as melhores experiências para servirem
102 103
Prática Pedagógica Renovada Mídias na Educação

de inspiração na criação da programação dessa Rádio Web que com a ajuda dos professores de Português esses eram corrigidos.
nascia. Em seguida eram escolhidos os melhores para participarem do
Baixar na internet um programa de software livre, ou momento reflexivo na Radio Web.
seja, que fosse gratuito foi o próximo passo. Então foi feita uma Os professores de Ciências trabalharam textos sobre temas
pesquisa no Google de forma a identificar como criar uma Radio como vegetação, meio ambiente e ecologia em geral, alem dos
Web gratuita. Foi escolhido um programa de fácil instalação, desastres ecológicos provocados pelo homem. Os de Português
pois para criar o programa da radio, não é necessário a trabalharam poemas e parodias com os alunos relacionados com
utilização de um aplicativo para realizar as gravações e edições. temas geográficos e ajudaram na elaboração da programação
Finalmente, a rádio foi criada, e havia chegado à hora radiofônica utilizando uma diversidade de linguagens.
de gravar o programa propriamente dito. Então foram reunidos Outro ponto interessante a ser abordado é a mudança
professores e alunos que juntos, desenvolveram a programação no cotidiano dos alunos. No início das aulas, a cada dia, todos
radiofônica para ser transmitida nas caixas acústicas através dos os alunos se dirigiam para o pátio da escola, para participarem
scripts. de um momento cívico e de oração. Nesse momento, em dupla,
Alguns erros ocorreram, no inicio a rádio só falava no esses ficavam responsáveis pela programação da rádio naquele
interior da escola, até descobrirmos que seria necessário ter um dia, representando sua turma. Com o passar do tempo foi
aplicativo de edição onde pudéssemos pausar e eliminar erros ou criado um jingle que dizia: “Essa é a minha, é a sua, é a nossa
as partes desnecessárias. Foi importante utilizar canais diferentes rádio web estação cidadania educativa do Jason Caetano que
e gravar o programa em camadas, forma muito similar a edição trás para você e sua família não só músicas, mas informações
de imagens, pois os alunos não estariam ali o tempo todo para educativas e entretenimento”. Em seguida, o serviço pedagógico
monitorar a rádio. se encarregava de noticiar avisos importantes para toda a escola.
Foi utilizado o serviço de transmissão de sons e vídeos Com o inicio das aulas era finalizada a programação.
através de Streaming de forma que nossa programação ficou Já na hora do recreio, além de campeonatos de leituras de
disponível para outros computadores, o que promoveu grande textos e paródias elaborados pelos alunos, eram feitas gincanas
entusiasmo entre os alunos. Para isso foi necessário nos ou jogos educativos criados em sala de aula com ajuda dos
cadastrar no site, através da confirmação do e-mail. professores de artes. Os alunos montaram ainda, peças teatrais
Enquanto professora de Geografia, levamos os alunos para apresentarem com a ajuda da radio nesse momento do dia.
diversas vezes ao laboratório, para realizarem pesquisas O recreio terminava ao som do jingle da rádio, determinando
sobre temas geográficos como: a globalização da economia que os alunos retornassem para a sala de aula. Tudo isso, foi
mundial, capitalismo x socialismo, a industrialização na estipulado pelos alunos com o direcionamento dos professores.
contemporaneidade, o apartheid vivido pela África do Sul, as A interconexão com as mídias pode conduzir o educando
cotas nas universidades, os quilombolas, a miscigenação do povo a produzir e adquirir um conhecimento mais elaborado, segundo
brasileiro e a lei que instituiu o dia da consciência negra em depoimentos de professores, contribuiu para a desinibição daqueles
nosso país, entre outros. Todas essas temáticas foram discutidas que não eram sociabilizáveis. Contribuiu também, para ampliar o
e debatidas em sala de aula, gerando a construção de textos, e

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Prática Pedagógica Renovada Mídias na Educação

vocabulário dos alunos que antes falavam apenas gírias melhorando conhecimentos”, e propiciar ao aluno à possibilidade de acesso as
consideravelmente a leitura e escrita, além de trabalhar a disciplina diversas informações existentes e ainda proporcionar que esses
dos mesmos. não sejam meros sujeitos passivos no processo, mas capazes de
Entendemos que esse meio de comunicação social constituiu interferir em seu espaço imediato e, portanto, capaz de produzir
uma segunda escola, uma escola paralela à convencional, com sua conhecimento.
linguagem subliminar que encantou, atraiu e prendeu a atenção É importante fazer a análise de que a criança, ao chegar
do alunado, produzindo e reproduzindo linguagem e cultura, à escola, já sabe ler histórias complexas, como uma telenovela,
possibilitando ao professor o conhecimento de outras linguagens e com mais de 30 personagens e dezenas de cenários diferentes.
motivando o educando a ler, a produzir textos sonoros, imagéticos Essas habilidades são praticamente ignoradas pelas linhas mais
e hipertextos. A leitura e a produção desses textos conduziram-nos tradicionais de ensino.
à compreensão das linguagens jornalística, radiofônica, televisiva A utilização da rádio no espaço escolar da Escola Municipal
e do computador (radiojornal, telejornal, jornal impresso e jornal Jason Caetano, além de tornar as aulas mais atrativas e dinâmicas
on line), o que por sua vez, contribuiu para a compreensão do para alunos e professores, possibilitou uma interação ampla
discurso simbólico. Essa é uma outra forma de ver, compreender e entre esses, bem como uma maior capacidade de compreensão
interpretar a sociedade globalizada (MCLUHAN, 1974). dos conteúdos abordados nas diversas disciplinas.
Através de depoimentos de professores, pais e alunos, além Esse meio de comunicação possibilitou ao educando
de uma bateria de avaliações realizadas pelo serviço pedagógico compartilhar democraticamente com outros colegas o
e em sala de aula pelos professores, pudemos constatar que a saber elaborado e novos conhecimentos produzidos. Portanto,
rádio de fato ajudou a melhorar a linguagem e escrita dos alunos, ao trabalhar com essa mídia, a escola promoveu
desenvolveu a sociabilização dos mesmos, melhorando também democratização, pois os alunos tornam-se sujeitos ativos de sua
a compreensão dos diversos conteúdos das disciplinas, além de própria linguagem, familiarizaram-se com um veículo de
prover a aproximação das turmas independente da série que comunicação social que é a rádio, e elaboraram mensagens
cursavam. através da edição da programação radiofônica.
A intervenção realizada na escola, por meio de ações Constatamos através das avaliações que os alunos
conjuntas, propiciou aos alunos sua re/inserção não só na dinâmica melhoraram sua oralidade, disciplina e seu desempenho em
escolar, mas também em seu meio social, resgatando a cultural conteúdos específicos. Esse foi o relatado dos pais e professores,
da comunidade local, trazendo pessoas para dar entrevistas sobre além das várias falas dos alunos que demonstravam sua satisfação
assuntos populares relevantes para a construção da cidadania e em fazer parte desse novo ambiente.
de seus múltiplos saberes.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A escola contemporânea deve deixar de ser o local exclusivo


da reprodução do conhecimento. Na atualidade, as instituições
de ensino devem se preocupar com os diversos “saberes e
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Prática Pedagógica Renovada

REFERÊNCIAS

FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido. Rio de Janeiro: Paz e


Terra, 1988.
MCLUHAN, Marshall. Os meios de comunicação como extensões
do homem. Tradução de Décio Pignatari. 4º ed. São Paulo: Cultrix,
1974. INTERDISCIPLINARIDADE NA LEITURA E
MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO E DO DESPORTO. Parâmetros ESCRITA COM A PARTICIPAÇÃO DA FAMÍLIA NA
Curriculares Nacionais: terceiro e quarto ciclos do ensino
fundamental: introdução aos parâmetros curriculares nacionais.
VIDA ESCOLAR DOS FILHOS
Brasília: MEC/CEF, 1998. RIBEIRO, Rejane Aparecida dos Santos1
SILVA, Santilha de Fátima2
SANTOS, Milton. Por uma outra Globalização: do pensamento
único à consciência universal - 6 ed. – Rio de Janeiro: Record, INTRODUÇÃO
2001. Diante do pressuposto de que escola e família devem
caminhar juntas e de um índice considerável de alunos que
apresentam dificuldades na aprendizagem, faz-se necessário
identificar fatores causadores do insucesso escolar dos alunos
do 4º ano vespertino da Escola Municipal Professora Gabriela de
Castro e buscar meios norteadores através da interdisciplinaridade
para superar tais dificuldades. Pois se sabe que o fracasso escolar
nesse período exerce influência negativa não somente na vida
estudantil dos alunos, como também em seu desenvolvimento
psíquico e social.
Este trabalho teve como tema: Interdisciplinaridade na
Leitura e Escrita com a Participação da Família na Vida
Escolar dos Filhos. Seu objetivo fundamental foi Conhecer a
realidade e os fatores causadores
1 Professora Orientadora do Curso de Pós-Graduação Lato Sensu em
Mídias na Educação da Universidade Estadual de Montes Claros -
UNIMONTES.
2 Cursista do Programa de Formação Continuada Mídias na Educação,
através da Universidade Estadual de Montes Claros - UNIMONTES.
Graduada em Normal Superior pela Universidade Presidente Antônio
108 Carlos – UNIPAC. 109
Prática Pedagógica Renovada Mídias na Educação

da dificuldade na aprendizagem, para melhorar a leitura através leitura. É preciso que ouçam e entendam a leitura que
da mídia impressa, contos infantis e diversos gêneros textuais fazem. É preciso que comentem o que ouviram e o que
leram: o comentário força a leitura a ter sentido e
para garantir-lhes o sucesso escolar. E os específicos, foram: I não se mera sucessão de sons provocados pela
identificar, descrever cenários, personagens dos textos e correta decodificação dos sinais sobre a página (...)
histórias estudadas; reconhecer os diversos tipos de textos no (MEC, 200125apud BUOSI,2003, p.2).
meio midiático impresso e/ou digital. A realização deste O ensino e aprendizagem requerem do professor muita
trabalho pretendeu resgatar esses alunos, que apresentam dedicação, preparação e estratégias para que ele seja de fato
dificuldades na aprendizagem, integrando-os ao nível desejado, um facilitador da aprendizagem. No processo de ler e interpretar,
uma vez que a escola busca melhorar a cada dia em caráter por exemplo, o aluno deve ter o hábito de antes de ler, ouvir
inclusivo, para uma formação de qualidade à sua clientela. uma boa leitura, com fluência e entonação para depois a fazer. A
No desenvolvimento do presente trabalho, utilizei família também precisa ser orientada nesse sentido, onde os pais
principalmente a mídia impressa – livros literários de contos in- desde muito cedo, possa ter o hábito de contar histórias para
os filhos e ainda pedi-los para recontar oralmente, assim estará
fanto-juvenis, onde ao final, os alunos dramatizaram um conto desenvolvendo também a oralidade.
trabalhado e fizeram ainda uma coletânea de textos, visando à Bossa (2000, p. 21, 22 apud HUPENTHAL 2007) nos fala que:
interdisciplinaridade. Utilizei adequadamente outras mídias de
O trabalho clínico se dá na relação entre um sujeito
acordo às necessidades, pois, acredito ser relevante e prazerosa a com a sua história pessoal e sua modalidade de apren-
dizagem, buscando compreender a mensagem de outro
aprendizagem utilizando os recursos midiáticos que estão presen- sujeito, implícita no não-aprender. Nesse processo,
tes em nossa vida transformando-a significativamente. onde investigador e objeto-sujeito de estudo interagem
constantemente, a própria alteração torna-se alvo de
1 A IMPORTÂNCIA DA FAMÍLIA NA APRENDIZAGEM estudo da Psicopedagogia. Isto significa que, nesta mo-
dalidade de trabalho, deve o profissional compreender
No processo de ensinar e aprender, o professor deverá o que o sujeito aprende, como aprende e por que, além
de perceber a dimensão da relação psicopedagogo e
utilizar todos os recursos que julgar necessários e disponíveis, sujeito de forma a favorecer a aprendizagem.
deve se jogar por inteiro sem medo, deixar que os alunos
manuseiem livros, jornais, revistas e todos os diversos gêneros Em nossa atualidade, ouvimos dizer que a escola recebe
textuais em busca de uma leitura com significados, onde seja o aluno como um todo, ou seja, as responsabilidades da família
construído conhecimento, inclusive de mundo. Às vezes o aluno estão sendo transferidas para a escola e isso é bem verdade.
fala que não tem livros em casa, mas pode ter uma revista, um E assim, o professor deve aproveitar todas as situações para
jornal, receitas culinárias e outros que também oferecem ao conhecer o seu aluno, sua história de vida, seus costumes, suas
aluno um conhecimento necessário para a sua vida e o professor angústias. Deverá aproveitar essa situação como ponto de partida
sendo facilitador e incentivador da aprendizagem deverá orientar para desenvolver bem o seu trabalho: tirar um tempo da aula
os alunos e a família desses recursos que devem ser utilizados. para ouvir as histórias “desabafos” dos alunos sem pensar que
está perdendo tempo e sim ganhando, uma vez que o ato de
Para aprender a ler, para gostar de ler, para ler bem,
é preciso que os alunos sejam expostos a situações de

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Prática Pedagógica Renovada Mídias na Educação

contar e recontar um fato, ele estará desenvolvendo a oralidade, familiar, a induz a desempenhar este papel.
seqüência dos fatos, e tudo isso é positivo para o ensino e a No seio da família, o sujeito deve se sentir “em casa”,
aprendizagem. se ele é privado disso, se a ele não é oferecido carinho, apoio e
Para isso, Bossa (2000, p. 23 apud HUPENTHAL 2007) afirma incentivo ele ficará alheio à sua própria realidade. E a proposta é
que: oferecê-lo a partir do desejo de afirmação de sua independência,
No exercício clínico, o psicopedagogo deve reconhecer a construção de sua própria autonomia e capacidade para
a sua própria subjetividade na relação, pois trata-se desempenhar bem suas ações. A família deve oferecer aos filhos o
de um sujeito estudando outros sujeitos, em que um mínimo de conforto, carinho, apoio e incentivo, para que seja um
procura conhecer no outro aquilo que o impede de
aprender, implica uma temática muito complexa. Ao
sujeito preparado para a vida, seja alguém que saiba discernir o
psicopedagogo cabe saber como se constitui o sujeito, certo do errado em situações diversas do mundo em que vive. E não
como este se transforma em suas diversas etapas de adianta a família tentar oferecer aos filhos essa condição depois
vida, quais os recursos de conhecimento de que ele de um determinado tempo, como na adolescência, por exemplo,
dispõe e a forma pela qual produz conhecimento e
aprende. que ele já não terá mais o mesmo efeito do que se esses direitos
forem cedidos a ele desde ainda criança. A estrutura familiar deve
A partir do momento que o professor conhece o seu aluno, fazer efeito na vida do indivíduo desde ainda criança, para que
sua realidade, ele faz um diagnóstico da necessidade do mesmo, ela possa construir seus conhecimentos e capacidades de defesa
tornando assim mais fácil o seu próprio trabalho, pois o aluno ganha com segurança, estando assim preparada para a vida.
confiança, passa a ver o professor como um amigo, como alguém
mais próximo que poderá estar orientando-o melhor nas diversas 2 RESULTADOS DA INTERVENÇÃO
situações da sua vida, uma vez que há uma lacuna que talvez não
Diante das grandes transformações que vivenciamos em
esteja sendo preenchida pela família. E se o aluno vê o professor
nosso dia a dia, nós educadores temos necessidade de adequarmos
dessa forma, conquistá-lo para melhorar inclusive o interesse pelo
nossas atividades de sala de aula, tornando-as mais atrativas a fim
conteúdo de sala de aula, pode acontecer com mais facilidade
de que obtenhamos sucesso na formação de cidadãos críticos. Assim
e entusiasmo, uma vez que melhorará também a relação aluno/
sendo, este trabalho foi desenvolvido de maneira interdisciplinar e
aluno e aluno/professor e se há harmonia na sala de aula com
foram trabalhadas atividades dinâmicas e interativas.
certeza o trabalho fluirá melhor. E a partir do exemplo e incentivo
do professor, o aluno terá mais chances e capacidade para resolver As atividades do projeto foram desenvolvidas com
situações diversas de sua vida de forma madura e mais confiante. sucesso, como o uso do “carrinho da leitura”, atividade realizada
em sala de aula, onde os alunos tiveram contato com diversos
Conforme, Andrade (2002, p.17 apud HUPENTHAL 2007):
livros literários, nos quais alguns foram escolhidos por eles para
apenas o desejo coloca em funcionamento o aparelho fazerem o reconto oral e a escrita das histórias neles contidas.
mental. Desejo de conhecer instala-se, então, a par-
tir da mãe. Esse movimento de desacomodar implica
Foram criadas fábulas com exposição das mesmas na sala de aula,
muitas vezes mexer em questões difíceis de suportar. foi trabalhada história protocolada: cada aluno criou um final
Fernández (1991, p.100 apud HUPENTHAL 2007) diz para a mesma. Trabalhamos com diversos tipos de textos dentro
que atribuir a uma pessoa um lugar dentro de um grupo
das disciplinas de Português e Ciências. Contos, poesias, lendas,

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Prática Pedagógica Renovada Mídias na Educação

músicas/paródias. Em Ciências: textos informativos e trabalho: a 2.1 DADOS POR PROFESSORAS DOS ANOS INICIAIS DO ENSINO
fotossíntese. O projeto abrange outras disciplinas: Artes: teatro e FUNDAMENTAL
dramatização, Educação Religiosa observando a moral de algumas
histórias/fábulas. Segundo as professoras, para que não haja fracasso
escolar, a família deve acompanhar a aprendizagem dos filhos, e
interessar-se pelos mesmos, participar da vida escolar e cobrar
educação de qualidade.
Segundo Fernandez (2001), conhecer como se dá a
circulação de conhecimento na família, qual a modalidade de
aprendizagem da criança, não perdendo de vista qual o papel da
escola na construção do problema de aprendizagem apresentado,
tentando engajar a família no projeto de atendimento para
ampliar seu conhecimento sobre a dificuldade, modificando seu
Figura 01 - Projeto Ciranda Cultural: contação de história em sala de aula
modo de pensar e de agir com relação a criança.
Fonte: SILVA,Santilha de Fátima
Todas as professoras entrevistadas afirmam que não há um
único culpado pelo fracasso escolar, e sim um conjunto de fatores
sociais que contribuem para que o mesmo aconteça.
O resultado confirma a opinião de SOARES (1991), que
afirma que o fracasso escolar não se explica, apenas, pela
complexidade de natureza do processo, mas também pelos seus
condicionantes que são os fatores sociais, econômicos, culturais
e políticos. Contudo, os problemas de ordem física ou mental,
a desnutrição, a desestruturação familiar, continuam sendo
Figura 02 - Momento com Carrinho da leitura na sala de aula
Fonte: SILVA, Santilha de Fátima apontadas pelos professores como causas do fracasso escolar.
SOARES (1991), afirma ainda, que muitas vezes, a criança
com baixo padrão de desempenho escolar era estereotipada
sem que as causas deste seu desempenho, considerado não
satisfatório, fossem também atribuídas á escola ou aos métodos
por ela utilizados. Neste contexto, uma das finalidades da
alfabetização com sucesso, seria favorecer a obtenção de uma
série de competências em um processo que começa, mas que
nunca termina que nos levam a formas mais elaboradas e relações
Figura 03 - Dramatização da História do Lápis por minha turma em evento da escola
de conhecimento da realidade e de nós mesmos.
Fonte: SILVA, Santilha de Fátima

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Prática Pedagógica Renovada Mídias na Educação

2.2 DADOS DOS ALUNOS ENTREVISTADOS sim, seis responderam que às vezes e oito afirmaram que não.
Esse resultado é condizente com a literatura que afirma que a
Na questão 1, foi perguntado se há acompanhamento dos
participação dos pais em reuniões e eventos muito contribui para
pais na realização de tarefas; apenas oito dos vinte e três alunos
o desempenho dos alunos, que neste caso, participam pouco ou
entrevistados responderam que sim e quinze disseram que não.
quase nada.
Esse resultado é condizente com a literatura que afirma que o
Na questão 2, se eles auxiliam os filhos na execução de
acompanhamento da família é de fundamental importância para
tarefas e pesquisas. Apenas oito responderam que sim e quinze
que haja o sucesso escolar.
afirmaram que não são preparados, não têm conhecimento que
Na questão 2, sobre o acompanhamento dos pais na
os possibilite a ajudá-los, pois as mesmas são difíceis. Segundo a
realização de pesquisas, apenas oito responderam que sim, sete
literatura, o auxílio dos pais é de fundamental importância para
responderam que as vezes e oito disseram que os pais não ajudam
o desenvolvimento e aprendizagem dos filhos.
nas pesquisas escolares. A literatura diz que a participação da
Na última questão, foi perguntado se os pais relacionam-
família na realização de pesquisas contribui plenamente para o
se bem com a professora do filho. Todos os entrevistados disseram
desenvolvimento das habilidades de aprender e serve até mesmo
que sim. E este fato é de grande valia para o sucesso do aluno,
de incentivo para as crianças.
uma vez que através desse bom relacionamento, os pais ficam
Na questão 3 foi perguntado, se os pais participam de
inteirados de todos os acontecimentos com o mesmo na escola.
reuniões e eventos escolares. Nove disseram que sim, seis
responderam que às vezes e oito afirmaram que não. Segundo a 3 CONSIDERAÇÕES FINAIS
literatura, a família deve participar não só das reuniões e eventos
escolares, da vida diária do filho na escola, o que contribui O problema que esta pesquisa se propôs a investigar
significativamente para a aprendizagem do mesmo. foi: o fato dos alunos não saberem ler e interpretar influencia
negativamente na aprendizagem dos alunos . A falta de interesse
Na questão 4, se os alunos têm materiais para auxiliarem
e de participação da família na vida escolar dos filhos são fatores
na realização de tarefas e pesquisas. Quatorze alunos disseram
que influenciam no insucesso escolar desses alunos, os recursos
que sim e nove responderam que não. Conclui-se com esse
utilizados nas aulas não são atrativos e o objetivo fundamental
resultado que os que possuem material não o utilizam por não
deste trabalho foi conhecer a realidade e os fatores causadores
ter a educação a esse fim. Pois a literatura afirma que o aluno
da dificuldade na aprendizagem, buscando possibilidades de
que tem material didático à sua disposição para realização de
melhorar a leitura através da mídia impressa, contos infantis e
tarefas, tem condições de alcançar êxito na aprendizagem.
diversos gêneros textuais para garantir-lhes o sucesso escolar. A
2.3 RESULTADO DE ENTREVISTAS COM PAIS partir da análise dos dados apresentados neste trabalho à luz
do referencial teórico, podemos afirmar que os fatores que
Foram entrevistados os vinte e três pais dos alunos que interferem no desenvolvimento de habilidades para o sucesso
apresentam dificuldades na aprendizagem. escolar dos alunos acima citados, são:
Na questão 1, foi perguntado, se eles participam de •Falta de incentivo e acompanhamento dos pais;
reuniões e eventos da escola de seus filhos. Nove disseram que

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Prática Pedagógica Renovada Mídias na Educação

•Falta de interesse dos alunos; REFERÊNCIAS


•Pouco contato com material de escrita nas tarefas;
BOSSA, Nádia. Dificuldades de Aprendizagem. Porto Alegre:
•Metodologia de ensino não adequada;
Artimed, 2000
•Problemas sociais, culturais e políticos;
BUOSI, Rosângela Bressaan, et al, A Leitura de Fruição na
•Atividades desinteressantes e pouco atrativas.
Formação de Alunos Leitores e Produtores de Textos. Disponível
Vivemos em um mundo de mudanças e inovações em: http://revistas.unipar.br/akropolis/article/viewFile/1984/1732
tecnológicas, e nesse mundo globalizado não basta ser bom, é publicado em dez/ 2003 acesso em: 28/09/2011
necessário buscar a excelência em tudo que se faça.
FERNANDEZ, Alícia. O Saber em Jogo. Porto Alegre: Artmed,
Este trabalho não teve pretensão de dar uma resposta para
2001.
a questão, mas de sinalizar alguns pontos que possibilitem uma
maior reflexão sobre como resolver a problemática que tanto HUPENTHAL, Muriel & THEISE, Quero crescer? quero ler e
incomoda educadores dos anos iniciais. escrever? Reflexões psicopedagógicas. Disponível em: http://
www.abpp.com.br/artigos/78.htm publicado em março de 2007.
A partir desta reflexão acreditamos que se torna necessário
a realização de estudo que tenha como objetivo propor alternativas Acesso em: 28/09/2011
que levem ao desenvolvimento das habilidades para o sucesso SOARES, Mágda. Linguagem e Escola: uma perspectiva social, 8ª
escolar dos alunos dos anos iniciais do ensino fundamental. ed. São Paulo: Ática, 1991.
O mérito deste trabalho está além das condições para
ampliar as discussões sobre o tema, na oportunidade de investigar
um assunto que incomoda e interessa muitos alfabetizadores
que buscam sistematizar os conhecimentos construídos em seu
cotidiano.

118 119
NOVAS POSSIBILIDADES DE ORGANIZAÇÃO DAS
AULAS DE LEITURA E PRODUÇÃO TEXTUAL
ANTUNES, Joeli Teixeira1
MAGALHÃES, Sandra Célia Muniz2

INTRODUÇÃO

O presente artigo é resultado de um projeto de intervenção


pedagógica, elaborado sobre a integração das mídias no processo
educacional, para ser apresentado como trabalho de conclusão
do Curso de complementação – 3ª oferta – Especialização em
Mídias na Educação.
Elaborou-se o referido projeto de intervenção a partir
do diagnóstico feito em uma turma do Projovem / Urbano em
Montes Claros – MG, cidade situada no Norte de Minas Gerais, com
população de cerca de 350 mil habitantes, que se destaca como
pólo de desenvolvimento regional.

1 Possui graduação em Língua Portuguesa pela Universidade Estadual de Montes Claros. É


especialista em Linguística:Leitura e Produção Textual. Especialista em LIBRAS com Ênfase em
Interpretação. Especialista em Mídias na Educação. Mestranda em Letras Estudos Literários -
Universidade Estadual de Montes Claros – Unimontes, sob a orientação da Professora Drª. Telma
Borges.
2 Possui graduação em GEOGRAFIA pela Universidade Estadual de Montes Claros. É especialista
em Docência do Ensino Superior - Faculdades Santo Agostinho. Especialista em Gerenciamento
de Recursos Hídricos - UFBA. Mestre em Geografia - PUCSP. Doutoranda em Geografia - UFU.
Atualmente é professora efetivada da Universidade Estadual de Montes Claros. Tem experiência
na área de Geografia, atuando principalmente nos seguintes temas: Geografia médica,
saneamento e recursos hídricos.

121
Prática Pedagógica Renovada Mídias na Educação

Essa unidade está situada na região leste de Montes Claros Como procedimento de avaliação foi adotada a
onde se localizam os bairros Village do Lago I e II (Grande Village) e investigação por meio da manutenção de registro aberto de fatos,
os circunvizinhos: Clarice Ataíde, Novo Horizonte e Nova Morada. acontecimentos, conversas, comentários e anotações estruturadas
Na região do Grande Village encontra-se a Escola Municipal Du com pautas de observação de aspectos predeterminados. Também
Narciso, fundada em dezembro de 1992 que oferece educação de as atividades de linguagem escrita e oral e para culminância do
ensino fundamental para crianças e adolescentes. projeto de intervenção a exposição dos trabalhos produzidos
pelos alunos. Para a realização desse projeto foi indispensável a
Em junho de 2010, iniciou-se nessa escola o Programa
colaboração dos educadores, dos gestores e dos alunos que muito
Nacional de Inclusão dos Jovens - Projovem Urbano, destinado
contribuíram para o desenvolvimento das atividades.
a promover a inclusão social dos jovens brasileiros de 18 a 29
anos que, apesar de alfabetizados, não concluíram o ensino O professor foi responsável pela elaboração das atividades
fundamental, buscando sua re-inserção na escola e no mundo respeitando os diferentes estilos e ritmos de trabalho dos alunos,
incentivou o trabalho colaborativo em sala de aula no que se
do trabalho, de modo a propiciar-lhes oportunidades de
refere ao planejamento, preparou a aula expositiva sobre os
desenvolvimento humano e exercício efetivo da cidadania.
gêneros textuais, planejou e executou as oficinas para construção
Cada Núcleo do Projovem Urbano tem cinco turmas e do caderno de receitas, orientou os alunos em relação ao
cada turma tem um professor orientador, educador responsável desenvolvimento das atividades propostas.
por dinamizar as atividades de sua turma no sentido de ensinar-
Os educadores auxiliaram na filmagem, nas fotografias,
lhes “como aprender”. Este profissional além de ministrar uma
colaboraram na organização da palestra, na disponibilização dos
disciplina específica (Matemática, Português, Inglês...) em todas
materiais para as oficinas e na montagem da feira cultural, na
as turmas é responsável pela orientação de uma turma. Cabe a
qual foram expostos, junto com os trabalhos de outras turmas, os
ele detectar os problemas enfrentados pelos alunos e articular
cadernos de receitas confeccionados pelos alunos da turma “E”.
junto com os outros professores e coordenadores medidas de
intervenções. Os alunos envolveram-se nas discussões referentes aos
gêneros textuais, participaram das atividades propostas em sala
A turma selecionada para aplicação do Projeto
de aula, no laboratório de informática e nas oficinas, escolheram
de Intervenção é composta por 24 jovens, sendo 19 mulheres e
as receitas, produziram um caderno dessas receitas.
5 homens, na faixa etária de 19 a 29 anos, oriundos de
famílias marginalizadas tanto no campo social, como no campo Os Gestores forneceram subsídios para a realização dos
econômico e educacional. São pessoas com um grande desejo de trabalhos, como acesso à internet, acesso às fitas de vídeo,
vencer e que muitas vezes tem vergonha de expor suas material impresso (livros, revistas, jornais, etc), incentivando a
dificuldades. produção artística e proporcionando uma efetiva aprendizagem.
O presente projeto objetivou estimular novos hábitos de
escrita, por meio da construção de um caderno de receitas com Utilizou-se como recursos materiais: computadores,
alimentos aproveitados integralmente; despertar o interesse dos internet, vídeo, câmera, material impresso, lápis, borracha,
alunos pela leitura, mediante a aplicação de oficinas; incentivar caneta, cola, blocos, data show, papel pardo, filmadora DVD,
e promover o trabalho coletivo e a cooperação entre os alunos e arroz, anilina... Que auxiliaram no desenvolvimento das metas
os professores, através de dinâmicas. pedagógicas/estratégias aplicadas.

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Prática Pedagógica Renovada Mídias na Educação

1 NOVAS POSSIBILIDADES DE ORGANIZAÇÃO DAS AULAS DE municativas, o meio de circulação do texto.3


LEITURA E PRODUÇÃO TEXTUAL Neste contexto, entende-se que a leitura e a escrita
No processo de ensino-aprendizagem, a aquisição da escrita devem ser trabalhadas em conjunto. É papel do professor
é de suma importância. Haja vista que, construir um texto é uma oferecer aos seus alunos uma variedade de textos, tais como:
forma particular de atuação social que inclui o conhecimento de notícias, crônicas, piadas, poemas, artigos científicos, ensaios,
elementos lingüísticos, textualização e elementos de situação reportagens, propagandas, informações, charges, romances,
em que o texto ocorre. É preciso, também, ter definido as contos, receitas etc, percebendo em cada texto a presença de
intenções pretendidas, o gênero textual, o domínio discursivo, um sujeito, de um interesse. Pois “os textos, enquanto unidades
o conhecimento prévio e o interlocutor previsto. Em relação comunicativas, manifestam diferentes intenções do emissor:
a difícil tarefa de se escrever um texto Irandé Antunes faz as procuram informar, convencer, seduzir, entreter, sugerir estados
seguintes considerações: de ânimo, etc.” (KAUFMAN e RODRIGUES, 1995, p.13).
De acordo com Ângela Paiva Dionísio, “o trabalho com
Antes de tudo, vale a pena considerar que a escrita
de um texto, sobretudo a escrita de um texto formal, gêneros textuais é uma excelente oportunidade de se lidar com a
não é um evento isolado nem um evento pontual que língua em seus mais diversos usos no dia-a-dia, pois nada do
começa com o ato de se tomar o papel e se debruçar que se faz lingüisticamente está fora de ser um
sobre ele. A escrita é uma atividade processual, isto
é, uma atividade durativa, um percurso que se vai fa-
gênero” (DIONISIO, 2002, p. 81).
zendo pouco a pouco, ao longo de nossas leituras, de O conhecimento sobre os gêneros textuais e suas
nossas reflexões, de nosso acesso a diferentes fontes funcionalidades facilita o processo de aquisição da leitura e a
de informação (ANTUNES, 2006, p. 167).
produção de textos, pois os alunos só podem “ler e se expressar
Esse discurso de Irandé Antunes nos mostra que para a por meio de uma linguagem com a qual tenham maior afinidade,
escrita de um texto é necessário haver a mobilização do repertório o que só podem fazer se conhecerem as diferentes linguagens
de conhecimento que o aluno possua, por isso a escrita não pode postas no mundo hoje” (MOREIRA, 2003, p.19).
ser improvisada, não pode nascer inteiramente na hora em que Pensando nesses conceitos, elaborou-se a aula expositiva
o aluno começa propriamente a escrever. No texto “Práticas de sobre os gêneros textuais, utilizando materiais concretos,
Leitura/Escrita em Sala de Aula” os autores Honoralice de Araújo cartas, receitas, bilhetes, músicas, piadas, que fazem parte
Mattos Paolinelli e Sérgio Roberto Costa enfatizam que: do cotidiano dos alunos do Projovem Urbano. O que trouxe um
No ambiente escolar, o texto é abordado como um resultado satisfatório, pois a maioria dos alunos se interessaram
produto, ignorando-se, assim, a dinamicidade de seu e participaram das atividades propostas.
processo de significação, que inclui a consideração de
estruturas, de conhecimentos prévios partilhados, de O papel do professor nesse processo é muito importante,
múltiplos recursos semióticos, como a imagem e, ai- pois cabe a ele compartilhar suas experiências de leitura com os
nda, as condições de produção: o contexto, os sujeitos
envolvidos nessa ação de linguagem, as intenções co-
3 Citação retirada do material do Curso Mídias na Educação ciclo Intermediário Módulo 3 – Gêneros
Textuais Impressos 1º Etapa: Contexto de Produção e Gênero. Disponibilizado em:http://webeduc.
mec.gov.br/midiaseducacao/material/impresso/imp_intermediario/Apostilas/Primeira_Etapa_
Leitura_e_Prod_Textos_na_Escola.pdf

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Prática Pedagógica Renovada Mídias na Educação

alunos, mostrando a interação entre a obra e o leitor, emitindo Os conteúdos são trabalhados de forma reflexiva e interativa, o
juízo, ampliando o horizonte de expectativas, dos alunos, em que é muito importante, pois a experiência dissociada da prática
relação ao texto lido. Haja vista que, quanto maior o número de e da análise dessa prática não é suficiente para a aprendizagem.
experiências significativas com o texto escrito, mais desenvoltura Nesse sentido, é primordial que os alunos reflitam sobre
o aluno vai adquirir para dialogar com ele. Para que a produção suas próprias experiências e a escola deve exigir desses alunos,
textual não aconteça da forma que Mikhail Bakhtin postula abaixo: por meio da aprendizagem baseada na tecnologia, a articulação
Muitas mudanças vêm ocorrendo na metodologia da do que estão fazendo, a tomada de decisões, as estratégias
produção textual, mas para muitos, o texto é ainda a utilizadas e as respostas encontradas.
elaboração de formas gramaticais isoladas do contexto
ou como material indiferenciado a ser trabalhado de É importante ressaltar que quando os alunos articulam o
forma homogênea nas pretensas atividades de leitura que aprenderam e refletem sobre os processos e as decisões que
(BAKHTIN, 1993, p. 25). foram adotadas ao longo do processo de ensino-aprendizagem,
Para não se trabalhar o texto dessa forma mecânica, eles entendem mais e têm mais capacidade de transferir aquele
postulada por Bakhtin, é importante pensar na fala de Moran conhecimento que construíram, conforme afirma Maria Elizabeth
(2000) que diz sobre a necessidade de se reaprender a ensinar Bianconcini de Almeida
e aprender a construir um modelo diferente de conhecimento, Cabe ao professor promover o desenvolvimento de
devido as mudanças rápidas e profundas da sociedade. atividades que provoquem o envolvimento e a livre
participação do aluno, assim como a interação que
Para que aconteça essa nova forma de ensinar gera a co-autoria e a articulação entre informações e
é indiscutível a importância da internet e outras mídias, pois conhecimentos, com vistas a construir novos conheci-
não há como contestar a influência desses veículos na mentos que levem à compreensão do mundo e à atu-
ação crítica no contexto (ALMEIDA, 2003, p.6).
comunicação das pessoas bem como nos hábitos e costumes da
sociedade atual de forma globalizada. Nesse contexto, surgem novas possibilidades de
Essas interferências dizem respeito a questões organização das aulas, que tendem a valorizar o conhecimento
econômicas, políticas e, principalmente, sociais. Se antes, prévio do aluno, agregando novas ideias ao conhecimento anterior
as pessoas dispunham, por exemplo, de cartas manuscritas ou e proporcionando entendimento e construção do significado das
telegramas que demoravam dias para chegar à localidade de experiências vividas.
destino, agora contam com a possibilidade de enviar um e- Para o desenvolvimento de atividades que envolvam a
mail que chega em tempo real, de utilizar o MSN ou aprendizagem, a escola e seus integrantes devem organizar de
Orkut que permitem a comunicação interativa, além da forma crítica, equilibrada e integradora, usando “as tecnologias
disponibilidade e comodidade que eles oferecem e também de para aliciar e apoiar o pensamento reflexivo, conversacional,
outros instrumentos de comunicação. contextual, complexo, intencional, colaborativo, construtivo
As mídias e os recursos tecnológicos interferem no cotidiano e ativo dos estudantes” (JONASSEN, 1996, p.73).
escolar de forma inovadora, proporcionando tanto ao professor A partir desses princípios, elaboraram-se atividades, no
quanto ao aluno novas formas de aprendizagem (MORAN, 2000). laboratório de informática, objetivando uma aproximação dos

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Prática Pedagógica Renovada Mídias na Educação

alunos com o computador e uma maior afinidade com a na medida em que ela oferece novas formas de ler, escrever,
internet, para que os mesmos pudessem desenvolver as pensar e aprender, substituindo sistemas conceituais fundados
atividades de forma reflexiva, compartilhando suas dúvidas com nas ideias de margem, hierarquia, linearidade, por outros de
os outros alunos, professore e monitor de informática. A fim de multilinearidade, por meio, dos links e redes. Essa conexão
envolver os alunos no processo de ensino, para que a simultânea dos atores da comunicação a uma mesma rede traz
aprendizagem acontecesse de forma natural e tranquila. uma relação totalmente nova com os conceitos de contexto,
No ambiente escolar o material impresso ocupa um lugar espaço e temporalidade.
muito importante, pois os livros, as enciclopédias, as apostilas, Os autores Felipe, Bacaro e Altoé (2011. p.3), citam
os jornais, as revistas, os cadernos de receita representam a Valente (2009) ao destacarem a importância do computador para
tecnologia dominante da maioria das aulas, ainda hoje. Muitas o armazenamento e transmissão de informações, as quais podem
vezes, eles são os únicos recursos disponíveis nas mãos dos auxiliar os alunos na construção do conhecimento. Pois ao utilizar
alunos para que eles e seus professores possam buscar, rever ou o computador o aluno pode analisar e questionar as informações
aprofundar os conteúdos trabalhados. disponibilizadas pela rede de computadores desenvolvendo assim,
Ricardo da Silva (2008, p. 19-20) citando Misanchuk (1994) e a reflexão, um dos quisitos importantes no processo de aquisição
García Aretio (1997) fala sobre as vantagens do material impresso, da leitura e da escrita.
ao afirmar que o material impresso é familiar, compreensível Ao trabalhar com o computador o professor desperta o
e aceito pelos alunos, professores e especialistas. E que esse interesse dos alunos, uma vez que, eles já estão cansados das
material é adaptável ao ritmo dos alunos, permitindo a releitura, aulas tradicionais, nas quais as atividades de leitura e escrita
a leitura seletiva, o maior ou menor aprofundamento do que se acontecem de forma repetitiva e sem atrativos. Eles falam
lê. Além de poder ser navegado com facilidade sem a necessidade também que quanto mais o aluno interage com o computador,
de um horário específico de distribuição, não requer equipamento mais informações ele recebe e que as atividades realizadas no
específico para ser utilizado e é facilmente transportável, e tem computador podem explorar mais o intelecto do aluno uma vez
um custo unitário baixo em relação às alternativas, tanto para que, essas atividades realizadas no computador são novas.
preparação quanto para duplicação. As vantagens da utilização do computador associado
A partir dessas reflexões sobre o material impresso percebe- à internet como recurso facilitador no desenvolvimento do
se que mesmo com os avanços tecnológicos ele continua sendo um educando são muitas, tanto na escrita quanto na leitura. Bem
aliado muito importante no processo de ensino-aprendizagem. como a importância de se trabalhar a leitura e a escrita por meio
Pensando em mostrar o quanto o material impresso, ainda faz do material impresso e dos gêneros textuais, que são encontrados
parte, do dia-a-dia escolar, foi disponibilizado para os alunos, em nossa vida diária e que representam características sócio-
livros, jornais, revistas, bem como, o desenvolvimento de uma comunicativas definidas por seus conteúdos, propriedades
oficina para que os mesmos construíssem um caderno de receitas, funcionais, estilo e composição próprios.
gênero textual presente em suas vidas.
A parceria internet, professor e aluno esta mudando o
cotidiano escolar e a relação do aluno com a leitura e a escrita,

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Prática Pedagógica Renovada Mídias na Educação

2 ENRIQUECIMENTO DA LEITURA E DA ESCRITA POR MEIO DE de intervenção pautamos nas ações descritas abaixo.
OFICINAS Na primeira aula (2h/aula) promoveu-se um debate sobre
os gêneros textuais. Por meio de uma aula expositiva. Nessa aula
Tendo como ponto de partida a proposta do Curso Mídias
foram utilizados materiais concretos (revistas, cartas, bilhetes,
na Educação, que propunha a elaboração e execução de um
receitas) para exemplificação dos gêneros dando ênfase a suas
projeto de intervenção, atrelou-se a essa proposta a experiência
funções. Com o intuito de levar os alunos a falarem livremente
de trabalho no Projovem, junto a esses alunos, o que possibilitou
sobre o assunto e se sentirem confiantes em manifestarem suas
observar suas dificuldades em relação à leitura e a escrita e
dificuldades. O resultado desse primeiro momento foi satisfatório,
elaborar o projeto, numa tentativa de amenizar essas dificuldades.
haja vista que, os alunos envolveram nas atividades propostas,
O presente trabalho objetivou estimular novos hábitos de
expondo suas dificuldades e levantando questionamentos.
escrita, por meio da construção de um caderno de receitas com
A aula subsequente (2h/aula) foi direcionada pelo
alimentos aproveitados integralmente; despertar o interesse dos
Nutricionista Jonatas, na qual ele ministrou uma palestra sobre a
alunos pela leitura, mediante a aplicação de oficinas; incentivar
importância de se aproveitar integralmente os alimentos (FIGURA
e promover o trabalho coletivo e a cooperação entre os alunos e
1), discorreu também sobre o reaproveitamento dos alimentos
os professores, através de dinâmicas.
abordando as formas de se evitar o desperdício de alimento e de
Nesse sentido, para a concretização do objetivo, foram
dinheiro. Para exposição do tema, o palestrante Jonatas utilizou
desenvolvidas atividades, utilizando-se a metodologia de
o computador e o data show. A sala foi organizada de modo que os
exposição dialogada, dinâmicas de grupo, debates orientados, alunos puderam assistir ao vídeo do Instituto Akatu, disponível
palestra e oficinas. Na dinâmica de sala de aula foi identificada, de em fonte: http://www.akatu.org.br/sites/desperdicio acessado em
início, certa resistência por parte de alguns alunos, sobretudo ao 19/06/2011.
que se refere à utilização do computador como ferramenta nesse
processo de ensino aprendizagem. Entende-se como resistência
o fato dos alunos não quererem se manifestar sobre o assunto,
bem como, o abandono de alguns da sala de aula no momento das
atividades práticas.
À medida que as exposições foram se desenvolvendo,
nas aulas subseqüentes, houve uma maior participação do
grupo. Utilizamos vídeos, depoimentos, pequenos textos, dados
estatísticos, slides como recursos. Os espaços de discussões
oportunizaram os questionamentos, as inferências e conclusões
de forma aberta e democrática. Apesar da resistência inicial por
parte de alguns alunos, houve um sensível avanço desse projeto
durante o tempo previsto para a aplicação que foi entre os meses Figura 1: Palestra
Fonte: SILVEIRA, 2011
de agosto e outubro de 2011. Para o desenvolvimento do projeto

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Prática Pedagógica Renovada Mídias na Educação

Nessa aula obtivemos respostas positivas por que os


alunosdemonstraram bastante interesse pelo tema e
participaram de forma expressiva expondo seus pontos de vista
e respondendo aos questionamentos do professor, mostrando
assim, que adquiriram um melhor esclarecimento a respeito
do Aproveitamento e Reaproveitamento dos alimentos.
Quanto à terceira aula (2h/aula) que aconteceu no
laboratório de informática, onde os alunos com a orientação do
professor e do monitor de informática investigaram o gênero
textual receita para desenvolverem uma atividade coletiva
posteriormente. Propôs-se que cada aluno pesquisasse na internet
algumas receitas que utilizam os alimentos integralmente e Figura 2: Cadernos disponibilizados
outras receitas que fazem o reaproveitamento dos alimentos. Fonte: SILVEIRA, 2011

Após a escolha da receita por cada aluno, retornamos à


sala de aula. Na qual escreveu-se o nome de cada receita no Ressalta-se que antecedendo ao momento da escrita do
quadro-negro e realizou-se uma votação entre os alunos, foram caderno de receitas fez-se necessário a montagem do caderno,
escolhidas cinco receitas que utilizam os alimentos integralmente realizada com o auxílio da internet, busca de figuras para ilustrar
e cinco receitas que utilizam alimentos reaproveitados. Logo as capas dos cadernos e do editor de textos Word, utilizado
após a escolha, decidiu-se que no próximo encontro os alunos para editar as figuras retiradas da internet e inserir linhas nas
iriam começar a escrita do caderno de receitas. folhas a fim de ordenar a escrita dessas receitas.
No decorrer da pesquisa os alunos escolheram as receitas Nesse momento de escrita houve reclamações, por parte
cujos ingredientes eram de fácil acesso, tendo em vista que eles de cinco alunos que protestaram contra e não quiseram escrever
teriam que preparar algumas das receitas para exporem na feira esse caderno. Porém, a maioria envolveu-se com as atividades e
o
cultural. O resultado dessa aula também foi satisfatório, porém a desenvolveu com dedicação e entusiasmo expondo um sensível
professor e o monitor de informática tiveram muito trabalho avanço em seus conhecimentos demonstrado nas argumentações
porque a maioria dos alunos não tinha conhecimento dessa mídia. em relação à escrita do trabalho de cada um. Destaca-se que
Na aula posterior (4h/aula) foi disponibilizado um caderno para a realização dessa atividade a ajuda dos outros educadores
para cada aluno (FIGURA 2), para que os mesmos iniciassem a do núcleo foi muito importante, pois eles se dispuseram a custear
escrita do caderno de receitas. a impressão dos cadernos. Sem mencionar a ajuda oferecida em
outros momentos (FIGURA 3).

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Prática Pedagógica Renovada Mídias na Educação

preparada para realização da dinâmica. Ao chegarem à sala de


aula os alunos viram que sobre a mesa da professora tinha uma
caixa bem bonita enfeitada para presente, contendo dentro um
espelho. Foi dito para os alunos que dentro havia várias fotos de
pessoas muito importantes e especiais. Todos demonstravam-se
curiosos. Cada um dos alunos deveria abrir a caixa e falar sobre a
pessoa da foto, sem deixar claro quem era a pessoa comentada.
À medida que eles foram abrindo a caixa e vendo sua imagem
refletida no espelho, cada um tinha uma reação diferente: riam,
colocavam as mãos sobre o rosto e até se assustavam. Após a
caixa passar pelas mãos de todos os alunos da sala, finalmente foi
aberto o debate para que todos partilhassem seus sentimentos,
suas reflexões e conclusões sobre esta pessoa tão especial, vista
Figura 3: Oficina para colorir grãos de arroz dentro da caixa, que eram eles mesmos.
Fonte: SILVEIRA, 2011
A culminância do projeto aconteceu na feira cultural, na
qual reuniu-se todas as demais turmas do Projovem Urbano da
Na aula seguinte propôs-se aos alunos que fizessem a escola, sendo um total de 5 turmas. Nessa feira foram expostos
ilustração da capa do caderno utilizando grãos de arroz coloridos os trabalhos dos alunos da turma “E” (FIGURA 4), bem como os
com anilina. Esse trabalho promoveu a interação entre os colegas, trabalhos das outras quatro turmas do Núcleo Dú Narciso.
proporcionando um momento de descontração no qual os alunos
puderam, a partir da ilustração dos cadernos, comentarem o que
entenderam e até mesmo compartilharem experiências. Depois
que os alunos terminaram a atividade proposta fez-se um círculo
para socialização dos trabalhos que posteriormente seriam
expostos na feira cultural. Esta atividade, fez com que os alunos
expressassem com propriedade e segurança sobre todas as etapas
do projeto de intervenção possibilitando, assim, um resultado
positivo.
Na sexta aula (4h/aula) realizou-se a dinâmica do espelho,
com o objetivo de despertar os alunos para a valorização de
si mesmos encontrar-se consigo e com seus valores e se auto-
avaliarem diante do atual contexto em que vivem. Para essa
Figura 4: Cadernos disponibilizados
dinâmica, a sala foi arrumada em círculo, onde todos pudessem Fonte: SILVEIRA, 2011
ver a reação uns dos outros ao abrirem a caixa de presentes,

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Prática Pedagógica Renovada Mídias na Educação

Na oportunidade abriu-se um diálogo no qual os alunos oportunidade de se perceberem como agentes de transformação
falaram de si mesmos, revelando diversos sentimentos, entre eles, social, além de prepará-los para enfrentar desafios. Pois à
o de mudança de atitude, de autoconfiança e de busca. Disseram medida que os alunos tiveram contato com as atividades que
ainda que, o fato de estarem hoje estudando no Projovem / a oficina lhe proporciona ela começa assimilar tudo aquilo que
Urbano era uma prova do desejo que eles tinham de mudança tem aprendido e até mesmo aquilo que ainda vai aprender
de vida, que podiam sonhar, e mesmo com as dificuldades do dia teoricamente. Sabemos que, pedagogicamente, o aprendizado é
a dia eram capazes de conseguir pela persistência alcançar os muito mais eficaz quando é adquirido por meio da experiência.
planos e projetos traçados. E o aprendizado proporcionado pela realização da oficina foi
instigante, provocador, enriquecedor e gratificante.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os aspectos mais relevantes que pudemos perceber foi
Salienta-se que esse projeto de intervenção trouxe o envolvimento de todos, mudança de comportamentos dos
colaborações para a nossa formação profissional permitindo o alunos, a comunhão de idéias e execução de todas as atividades,
aprimoramento de nossa prática, mostrando que a escola e seus fazendo, refazendo e aprendendo, demonstrando que os alunos
professores devem trabalhar com atitudes, com a formação de estão interessados e consideram o seu processo de aprendizado
valores, e também com habilidades e procedimentos. Isso se importante, o que, para o educador, é importante na continuidade
revelou porque o nosso trabalho contemplou além dos objetivos do processo de ensino.
conceituais, objetivos procedimentais (como fazer?) e objetivos Não podemos deixar de ressaltar que nos deparamos
atitudinais (quais atitudes tomar?). com algumas dificuldades, erros e acertos. Alguns contratempos
Ressalta-se que esse projeto de intervenção amenizou percebidos no decorrer da execução do projeto se manifestaram,
algumas das dificuldades dos alunos, da turma “É”, em relação à principalmente no que se refere ao custeio de materiais para
leitura, haja vista que, antes da aplicação do mesmo, uma grande oficina, custeio das despesas com impressão, recolhimento
parte deles, não participava das leituras circulares, por vergonha de material junto aos alunos e comunidade necessários para
e medo de errarem, porém após as oficinas eles começaram confecção de produtos, disponibilidade de recursos audiovisuais,
a pedir para fazerem a leitura. Outro avanço importante está locomoção de pessoal e materiais e disponibilidade de espaço.
relacionado à escrita, que melhorou bastante, tanto na grafia Mas, apesar das dificuldades, erros e acertos, a
como nos erros ortográficos. Pois eles passaram a prestar mais culminância de todo trabalho, por meio de uma exposição, levou
atenção ao escreverem. a perceber que o proposto e realizado por professores e alunos,
Sem desconsiderar o apoio ao processo de ensino- foi um trabalho de qualidade e inovador. Também sob o olhar de
aprendizagem inerente à vida escolar, essa interferência professores, dificuldades, erros e acertos devem ser percebidos
educativa reforçou o compromisso social, tendo em vista que como algo que pode ser superado, tornando-se uma forma de
ajudou na preparação dos alunos para o exercício da cidadania, reflexão sobre a própria prática docente de forma a reconstruí-la
para a autonomia e responsabilidade de atitudes. e melhorá-la cada vez.
A realização das oficinas proporcionou aos alunos da turma A execução do projeto, desde sua elaboração até a
“E” do Projovem/Urbano –Montes Claros – Núcleo Dú Narciso a culminância com a exposição dos trabalhos realizados, oportunizou

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Prática Pedagógica Renovada Mídias na Educação

muitas reflexões. O ânimo, motivação e interesse dos alunos em DIONISIO, Ângela Paiva. Gêneros Textuais Definição e
participar, realizar e fazer acontecer todo o processo demonstra o Funcionalidade. In: Gêneros Textuais & Ensino. Rio de Janeiro:
crescimento e maturidade escolar que alcançaram até essa etapa ed. Lucema, 2002.
do Projovem/Urbano, necessárias para dar continuidade aos
FELIPE, Delton Aparecido; BACARO, Paula Edicléia França; ALTOÉ,
estudos e também perceber as transformações que a educação
Anair. Educação Especial: O Apoio do Computador para Alunos em
pode realizar em suas vidas.
Processo de Desenvolvimento da Leitura e da Escrita. Disponivel
O desenvolvimento desse trabalho pode ser caracterizado em http://saci.org.br/index.php?modulo=akemi&parametro
como estratégia de aprendizagem tanto para os alunos, quanto acesso em 26/05/2011.
para professores. Projetos como este devem ser contínuos, pois
além do conhecimento teórico e prático possibilita aos alunos e JONASSEN, David. O Uso das Novas Tecnologias na Educação a
professores uma dinâmica de trabalho motivadora que demonstra Distância e a Aprendizagem Construtivista. Revista Em Aberto,
a capacidade criativa do ser humano. Brasília, ano 16, n.70, abr./jun, 1996.

Esta experiência proporcionada por este projeto de KAUFMAN, Ana Maria; RODRIGUEZ, Maria Helena. Escola, Leitura
intervenção amplia o significado da constituição do papel de e Produção de Textos. Trad. Inajara Rodrigues, Porto Alegre:
educadores enquanto profissionais que analisam e refletem sobre Artes Médicas, 1995.
sua prática pedagógica e do papel enquanto educador e agente Mídias na Educação - Ciclo Intermediário Módulo 3 –
da transformação social. Gêneros Textuais Impressos 1º Etapa: Contexto de
Produção e Gênero. Disponibilizado em: http://
webeduc.mec.gov.br/midiaseducacao/material/impresso/
impintermediario/Apostilas/
REFERÊNCIAS
PrimeiraEtapaLeituraeProdTextosnaEscola.pdf
ALMEIDA, Maria Elizabeth Bianconcini de. Pedagogia de projetos MORAN, José Manuel. Ensino e Aprendizagem Inovadoras com
e integração de mídia. Disponível em: <http://www.tvebrasil.com. Tecnologias. In: MORAN, José Manuel; MASETTO, Marcos;
br/salto/boletins2003/ppm/tetxt5.htm>. Acesso em 26/09/2005. BEHRENS, Marilda. Novas Tecnologias e Mediação Pedagógica.
São Paulo, Papirus Editora, 2000.
ANTUNES, Irandé. Avaliação da produção textual no ensino
médio. In: BUNZEN, Clécio; MENDONÇA, Márcia [orgs]. Português MOREIRA, Walter. Produção e Leitura de Hiperdocumentos: novos
no Ensino Médio e Formação do Professor. São Paulo: Parábola modos de interação leitor-texto. Informação & Sociedade, v. 13,
Editorial, 2006. n. 1, 2003.
BAKHTIN, Mikhail M. Questões de literatura e de estética: a SILVA, Ricardo da. A Educação na Sociedade da Informação:
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HUCITEC, 1993. slideshare.net/oricardosilva/a-educao-na-sociedade-da-informao-
ricardo-da-silva. Acesso em: 20/09/2011.

138 139
BLOG NAS AULAS DE LÍNGUA PORTUGUESA:
UMA ESTRATÉGIA PARA SE ESTIMULAR A LEITURA
E A PRODUÇÃO DE GÊNEROS TEXTUAIS DIVERSOS
SILVA, Leila Tupinambá 1
MAGALHÃES, Sandra Célia Muniz 2
INTRODUÇÃO

Este artigo objetiva contribuir para a reflexão acerca do uso


da mídia internet, mais especificamente dos blogs, como recurso
educacional. Ao priorizar o trabalho com gêneros textuais, tanto
na leitura quanto na produção de textos, analisou-se o quanto
essa ferramenta pode colaborar nas aulas de Língua Portuguesa.
O projeto de intervenção aqui descrito é resultado do
Trabalho de Conclusão de Curso de Pós-Graduação Lato Sensu em
Mídias na Educação da Universidade Estadual de Montes Claros.
A intervenção foi realizada com os alunos do 6º ano 04 da Escola
Municipal Geraldo Pereira de Souza, em Montes Claros – MG.
Trata-se de uma classe bastante agitada, com alguns casos
mais graves de indisciplina. Os estudantes têm entre 10 e 13 anos
de idade e a situação-problema diagnosticada foi a imaturidade
nos atos de leitura e escrita. Muitos liam com dificuldade e não
se sentiam motivados a produzir textos. O objetivo primordial,
dessa forma, foi proporcionar momentos de leitura e produção de
textos, de gêneros diversos, através da criação do blog da turma,
1Cursista do Pós-Graduação Lato Sensu em Mídias na Educação.
2Possui graduação em Geografia pela Unimontes. Mestre em Geografia – PUCSP. Doutoranda
em Geografia UFU. Professora efetiva do Departamento de Geociências - Unimontes

141
Prática Pedagógica Renovada Mídias na Educação

a fim de minimizar as dificuldades então detectadas. em família, a negociação no mercado ou o discurso


amoroso.
Por meio das ações desenvolvidas, foi possível garantir
uma forma diferente e inovadora de trabalhar a diversidade Dessa forma, a criação de um blog vem atender essa
textual, instigando os alunos a desenvolverem gosto pela leitura urgência básica, tão discutida nos dias atuais. Em ambiente
e produção de textos. Muitas foram as dificuldades encontradas virtual, os alunos têm a oportunidade não somente de ler textos de
(a indisciplina e o tempo insuficiente certamente foram as gêneros diversos, como comentar, analisar e, sobretudo, publicar
maiores). Todavia, elas não impediram que a intervenção fosse seus próprios textos. Nessa perspectiva, o que a princípio trazia
desenvolvida e que resultados satisfatórios fossem alcançados. características bem próximas de um diário de adolescente, por
ser utilizado como um registro diário pessoal, hoje tem atingido
1 BLOG NA EDUCAÇÃO: UMA ESTRATÉGIA DE ENSINO QUE grandes proporções e tem chegado ao meio profissional com êxito.
CONTEMPLA A DIVERSIDADE TEXTUAL
Os blogs estão se profissionalizando e deixando de ser
O trabalho com gêneros textuais vem ganhando maior apenas “diário virtual adolescente” para virar palco de
discussões e fonte de informações para muitos setores.
relevância nos últimos tempos. Diante da dificuldade dos alunos, [...] e esta febre começa a contagiar professores e
de uma forma geral, na leitura, interpretação e produção de educadores, que já vêem nos blogs uma alternativa
textos, constata-se a necessidade de propiciar o acesso a uma para comunicação na educação e um excelente
meio para oferecer uma formação descentralizada
quantidade diversificada de textos, mostrando o contexto de
(UNI-VERSO EAD, 2008 p. 1).
produção, a situação comunicativa em que o texto é produzido,
o público-alvo e os objetivos a serem alcançados. Assim, o blog é uma oportunidade de levar ao aluno o
Priorizar os gêneros textuais e suas especificidades,então, conhecimento de textos variados, verbais e não verbais, com
é uma urgência não somente nas aulas de Língua Portuguesa, mas um diferencial: a interatividade. Em ambiente virtual é possível
em todos os conteúdos, em conformidade com as peculiaridades atrair o interesse dos alunos, o que possivelmente gerará uma
de cada disciplina. Perceber as diferenças e semelhanças entre participação efetiva.
os textos, de acordo com o que cada um se propõe, facilita o Quanto à produção textual, o blog assume um papel de
entendimento e, conseguintemente, a interpretação dos dados suma importância, pois os textos produzidos durante as aulas
nele presentes. não ficarão somente nas páginas do caderno do aluno, onde
Segundo Scheuwly e Dolz (2004, p. 97), correm o risco de, depois de prontos, jamais serem lidos, nem
por ele próprio. Por outro lado, ao saber que seu texto poderá
Quando nos comunicamos, adaptamo-nos à situação de ser exposto em ambiente virtual e que será conhecido em escala
comunicação. [...] os textos escritos ou orais que pro-
duzimos diferenciam-se uns dos outros e isso porque muito ampla, o estudante certamente terá mais empenho em
são produzidos em condições diferentes. Apesar dessa produzir e, principalmente, terá o zelo de revisá-lo, reescrevê-
diversidade, podemos constatar regularidades. Em lo, apurar as ideias e corrigir seus erros.
situações semelhantes, escrevemos textos com carac-
terísticas semelhantes, que podemos chamar gêneros Com esses benefícios, entre outros, verifica-se que,
de textos, conhecidos e reconhecidos por todos, e que, paulatinamente, o blog tem alcançado reconhecimento no
por isso mesmo, facilitam a comunicação: a conversa meio educacional e já é possível verificar que uma quantidade

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Prática Pedagógica Renovada Mídias na Educação

considerável de educadores tem utilizado tal recurso em suas 60 Em lan house

metodologias de ensino e aprendizagem. 50


Em casa de parentes ou
40 amigos
Frota (2008, p.1), entretanto, ao ressaltar a importância do Em casa
30
blog como recurso pedagógico para enriquecer o dia a dia escolar, 20
Somente na escola
acrescenta que “o professor não pode deixar de estabelecer 10

objetivos e critérios ao utilizar um blog como recurso, pois a 0


Gráfico 1: Local de acesso
utilização pelo simples modismo, não enriquece as aulas e não
Fonte: Pesquisa direta, 2011
promove conhecimento”.
Questionados sobre o maior atrativo na rede, a maioria
Dessa forma, igual aos demais recursos pedagógicos, vale (52%) responde que são os sites de relacionamento. A preferência
salientar que o uso do blog deve obedecer a critérios que venham por jogos também é grande: 32%, restando 16% (4 alunos) para
nortear o trabalho do educador. Para que se consiga, de fato, pesquisas/ aquisição de conhecimentos gerais (GRÁFICO 2).
envolver os alunos e obter os resultados almejados, é necessário
planejamento prévio e metas estabelecidas com clareza. 60
Sites de relacionamento
50
2 CRIAÇÃO DO BLOG DA TURMA: ELABORAÇÃO, DESAFIOS E 40 Jogos
AVANÇOS 30
Pesquisas/ aquisição de
20 conhecimentos gerais
A intervenção aqui apresentada teve suas ações iniciadas 10
no mês de setembro de 2011, período em que o projeto “Blog nas 0

aulas de Língua Portuguesa: uma estratégia para se estimular a Gráfico 2: Maior atrativo na internet
leitura e produção de gêneros textuais diversos” foi apresentado Fonte: Pesquisa direta, 2011
aos alunos do 6º ano 04, bem como à direção e ao serviço Para finalizar, revelaram se já possuíam algum conhecimento
pedagógico da escola. sobre blogs. Uma parcela considerável (40%) disse que não sabia,
A princípio, foi aplicado um pequeno questionário que ao certo, de que se tratava, embora já tivesse ouvido falar; 48%
visava verificar o acesso dos estudantes da turma a computadores já haviam acessado muitos blogs e 3 alunos (12%) já criaram seus
e à internet e o conhecimento que tinham sobre blogs. próprios blogs (GRÁFICO 3).
Dos vinte e cinco alunos que responderam ao questionário, 50

verificou-se que 48% não têm computador em casa; 40% têm 40


Apenas tinham ouvido falar

computador em sua residência, mas sem acesso à internet e apenas 30 Já acessaram alguns blogs
três alunos (12%) têm acesso à internet em casa. Apesar disso, 20
Já criaram seus próprios
72% dos alunos afirmam acessar a internet mais de duas vezes por 10 blogs

semana. A maioria desses acessos (60%) acontece em lan houses e 0


20% acessam na casa de parentes ou amigos. Apenas 8% dos alunos Gráfico 3: Conhecimento sobre blogs
afirmam ter acesso à internet apenas na escola (GRÁFICO 1). Fonte: Pesquisa direta, 2011

144 145
Prática Pedagógica Renovada Mídias na Educação

Após a aplicação e análise do questionário, foi o momento Realizou-se, então, a criação coletiva do blog e escolhida
de expor para os alunos os objetivos da criação do blog, bem como a personalização da página, seguindo a orientação do grupo.
de debater sobre o que seria exposto nele. Além de fotos e vídeos Em sala, produziram o primeiro texto a ser exposto: o perfil da
da turma e de eventos promovidos pela escola, foi acordado que turma. Como o principal objetivo do projeto era desenvolver
seriam divulgados textos interessantes de que eles gostassem atividades relacionadas à leitura e produção de gêneros textuais,
e, principalmente, as produções da turma. Seriam publicados, os alunos foram orientados a produzir o perfil, de acordo com
inclusive, alguns textos já produzidos no mês anterior, por ocasião as características de um texto descritivo, já trabalhadas
da Feira Literária. anteriormente. E assim o fizeram. Ressaltou-se que seriam
É necessário lembrar que nem tudo corria conforme escolhidos dois textos e eles se sentiram motivados a escrever.
planejado. Havia situações em que, movidos pela euforia (e Em seguida, começaram a realizar os primeiros trabalhos
pela indisciplina), os alunos ficavam excessivamente agitados, para postagem. Na internet, em sites previamente selecionados,
o que, muitas vezes, dificultava o trabalho e sua organização. acessaram alguns contos fantásticos, para posterior postagem
Mas, apesar das dificuldades, as ações propostas foram mantidas, dos mais interessantes.
levando em consideração as dificuldades do grupo com relação à Após a discussão sobre as características desse tipo
leitura e produção de textos e os objetivos a serem alcançados. de texto, ressaltando seu caráter narrativo, os alunos foram
Para desenvolvimento e execução do trabalho de motivados a produzir contos modernos. A atividade foi realizada
intervenção, foram adotadas as seguintes estratégias: em dupla, seguindo as especificidades do tipo narrativo e do
O primeiro passo foi a apresentação do projeto à direção gênero trabalhado. Poderiam mesclar histórias e personagens
e ao serviço pedagógico da escola e, posteriormente, aos alunos. de vários contos ou dar um tom mais moderno para a narrativa.
Em seguida, foram trabalhadas as características de um blog, suas Ficaram eufóricos (e ainda mais agitados!).
especificidades, objetivos, linguagem e contexto de produção. Após a etapa da produção, veio outra bastante trabalhosa: a
Dando prosseguimento, foi realizada a escolha do nome revisão, pois eles não tinham paciência para corrigir o texto, reler,
do blog, pois como se tratava de uma produção da turma, era verificar os erros ortográficos, as repetições, as incoerências. E,
necessário que eles mesmos fizessem a opção. Após a sugestão como uma das finalidades do projeto de intervenção é exatamente
de três nomes, foi feita a eleição. Para isso, cada um produziu motivar a revisão do texto, esta foi uma atividade que demandou
um pequeno texto, justificando a escolha. Depois da leitura pelos tempo e persistência. Na verdade, os alunos queriam adiantar o
alunos de suas produções, foi eleito o nome Talentos em GPS processo: fazer a votação para escolher os melhores textos, para
(uma referência ao nome escola). que fossem logo divulgados, mas não queriam “perder tempo”
com a revisão e, sobretudo, com a reescrita do texto.
Passou-se, então, para a fase da criação do blog. Assessorados
pela monitora do laboratório de informática, que apresentou em Além disso, um problema ainda maior se configurava:
projetor de multimídia o passo a passo para se criar um blog, os alunos que se recusaram a participar dessa atividade, pois
alunos puderam entender com clareza esse processo. E o endereço conheciam suas dificuldades na produção de textos e acreditavam
do blog foi então definido: <http://:talentosemgps.blogspot.com/>. que seus textos não seriam escolhidos. Após um trabalho de
elevação da auto-estima, uma conquista foi alcançada: quase

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Prática Pedagógica Renovada Mídias na Educação

todos realizaram a atividade. Apenas dois alunos não fizeram. aprendizagem, pois o objetivo desse trabalho não era somente
E as produções ficaram bastante interessantes, pois usaram a levar aos alunos o conhecimento sobre blogs, mas, também (e
imaginação e, em alguns casos, misturaram o real e o fictício, o sobretudo), estimulá-los a desenvolver o hábito da leitura e da
que garantiu aos contos uma atração especial. Posteriormente, escrita. E esse avanço não foi possível notar em todos.
os quatro melhores contos foram postados e comentados no blog. Em suma, mesmo não tendo alcançado a totalidade da
Um aspecto positivo desse trabalho foi o fato de poder turma, nem, tampouco, a perfeição nos hábitos de leitura e
desenvolvê-lo paralelamente aos eventos promovidos pela escola. escrita, já que é impossível obter tudo isso em um curto espaço
Os Jogos Internos e a visita à COPASA – Companhia de Saneamento de tempo, deve-se ressaltar que a utilização do recurso blog deu
de Minas Gerais, por exemplo, foram tema de produções realizadas um novo rumo às aulas de Língua Portuguesa.
na sala, como relatórios, notícias e entrevistas. O trabalho com os diversos tipos de textos, tão necessário
Assim, pequenos avanços iam sendo alcançados. nos dias atuais, tornou-se, sem dúvidas, mais dinâmico e atraente.
Gradativamente, os estudantes perceberam a importância de É evidente que, tudo que é novo gera preocupações e afazeres
reler, corrigir e reescrever os textos Deve-se confessar que as extras: pesquisas teóricas, seleção prévia do material virtual
ações, embora trabalhosas, foram bastante gratificantes, pois a ser trabalhado, correção e revisão de textos (que chegam a
era notável o interesse de grande parte da turma em realizar ser enfadonhas!), postagem do material produzido, atualização
produções bem feitas para que o blog ficasse interessante e constante do blog, acompanhamento do teor dos comentários
atrativo. E para isso, faziam questão também de que fossem realizados, entre outras tarefas que exigem ainda mais do
divulgadas fotografias da turma, em circunstâncias diversas: professor, que já tem tantas atribuições.
apresentação de trabalhos, desfiles promovidos pela escola, bem Mas se há o real interesse por parte do professor em ver
como em situações corriqueiras, como a fila da merenda ou o a participação e a aprendizagem efetiva dos alunos, a realização
futebol. de trabalhos de intervenção se torna indispensável, pois renova
Uma atividade realizada pela turma que também se a vontade e a determinação para seguir em frente, na tentativa
revelou bem interessante foi a produção de slides, em equipes. de minimizar os inúmeros problemas enfrentados no dia a dia
Utilizando a câmera do celular ou máquinas digitais, os estudantes escolar.
fotografaram o dia a dia escolar, dando um enfoque especial à
realidade dos alunos e funcionários da escola. Após orientação, a CONSIDERAÇÕES FINAIS
turma produziu quatro vídeos e, cada um a sua maneira, valorizou A internet e as demais TIC’s têm significante caráter
as atividades cotidianas e desenvolveu a criatividade dos alunos. educativo e podem auxiliar os educadores no processo ensino-
Deve-se confessar que, infelizmente, ainda há uma aprendizagem, mesmo porque o seu uso agrada e desperta a
porcentagem de alunos que, mesmo diante das propostas de curiosidade dos alunos.
um trabalho diferenciado, não conseguiu interagir com a turma Nessa perspectiva, o projeto de intervenção aqui
e acabou ficando aquém das expectativas. Embora não tenha apresentado vem ratificar a necessidade de inovação das aulas, no
faltado incentivo e motivação, é lamentável perceber que, em objetivo de estimular os discentes na busca pelo conhecimento.
alguns casos, não houve interesse em superar as dificuldades na

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Prática Pedagógica Renovada Mídias na Educação

Realizar um projeto como este, o qual utiliza a internet como Assim, este projeto de intervenção deixou ainda mais
principal mídia, foi realmente desafiador. Diagnosticados os evidente que os profissionais da Educação devem buscar formas
problemas da turma, relacionados à leitura e escrita, foi percebida de aprimoramento da vivência pedagógica. E ainda mais: que os
a necessidade de intervir, de forma diferente e inovadora. E o recursos midiáticos são, de fato, ferramentas indispensáveis ao
avanço da turma foi considerável. educador que pretende, de forma efetiva, atrair a atenção dos
É indubitável que, durante o processo de intervenção, discentes, no processo de aquisição do conhecimento.
surgiram muitos entraves. A indisciplina da turma talvez tenha
sido o maior deles. Muitas vezes, causava desmotivação, pois a
conversa e a agitação tornavam o trabalho cansativo, repetitivo
REFERÊNCIAS
e lento. Não é possível esquecer, também, das novas atribuições
inerentes ao desenvolvimento de um blog: renovação do
conhecimento teórico, atualização do material a ser exposto,
análise e correção dos textos produzidos, entre outras. Essas FROTA, Márcia Teixeira. Blog: Ferramenta de Comunicação
ações geram um novo ritmo às atividades do professor, pois e Publicação, Como Recurso Didático em Sala de Aula. 2008
requerem ainda mais planejamento e reorganização do tempo e Disponível em http://www.webartigos.com/articles/11842/1>.
das metodologias. Acesso em: 20/05/2011.

Todavia, mesmo em meio às dificuldades encontradas, o SCHEUWLY, B. e DOLZ, J e colaboradores. Gêneros textuais
projeto de intervenção ocorreu de forma satisfatória. O trabalho orais e escritos na escola. Campinas, São Paulo. Editora
com internet foi muito valorizado pelos estudantes, por exercer Mercado das Letras, 2004.
grande atração sobre eles. Esse foi um fator essencial, pois ter o Universo EAD, SENAC. Blogs como ferramentas pedagógicas.
interesse dos alunos já é um grande avanço. 2005. Disponível em <http://www.ead.sp.senac.br/newsletter/
Ademais, deve-se acrescentar que, como um dos principais agosto05/destaque/destaque.htm> Acesso: 12/09/2011).
objetivos da intervenção era desenvolver aptidões relacionadas
à leitura e produção de textos, a criação do blog favoreceu, em
peso, a realização desse trabalho, pois, em rede, foi possível
fazer variadas leituras, bem como incentivar a produção textual,
visto que havia uma motivação especial: ver os próprios textos
expostos no blog da turma.
Com relação aos gêneros textuais, foi possível enfocar
uma boa quantidade deles, tanto na leitura, quanto na escrita:
contos fantásticos, contos modernos, poesias, perfil, notícia,
reportagem, relatório, parábola, classificados, receita, entre
outros.

150 151
“LEITURA, LUZ, CÂMERA E AÇÃO”: O CINEMA
COMO FERRAMENTA PARA A LEITURA DO DO
MUNDO
ASSIS, Vanilda Barbosa Brito de1
LÉLIS, Úrsula Adelaide de2

O desafio de utilizar as mídias e tecnologias como


ferramentas didático-pedagógicas na escola, superando formas
cristalizadas do seu uso, muitas vezes, amadoras e improvisadas,
foi um dos pontos de partida para este trabalho.
Tínhamos, em uma Pesquisa de Intervenção Pedagógica
(PIP), como aprimoramento da nossa formação, no Curso Mídias
em Educação (Unimontes-MEC), alunos do 7º Ano do Ensino
Fundamental, de uma escola pública de Sete Lagoas/MG,
desinteressados e com defasagem em leitura e escrita. Esse
quadro gerava indisciplina e baixa autoestima na Turma.
Escolhidos como ferramentas didático-pedagógicas,
o material impresso e o cinema, esta Pesquisa tinha como
objetivo desenvolver habilidades de leitura e escrita de textos;
criar um contexto para que os alunos utilizassem as mídias
e tecnologias como recursos de aprendizagem; estimular a

1 Graduada em Letras pela Faculdade Monsenhor Messias (Sete Lagoas), Professora de Língua
Portuguesa do Ensino Fundamental. Cursista do Curso Mídias em Educação (Unimontes-MEC).
2 Pedagoga, mestre e doutoranda em Educação pela Universidade Federal de Uberlândia.
Professora da Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes). Professora-orientadora do
Curso Mídias em Educação.

153
Prática Pedagógica Renovada Mídias na Educação

criticidade pela dialogicidade entre leitor e texto; e estimular a música e participavam de comunidades virtuais (principalmente
capacidade criativa, a produção coletiva e os sentidos simbólicos o Orkut). Muitos moravam apenas com a mãe ou avó, em casas
na transformação de espaços convencionais em “cenários de cedidas pela Prefeitura ou invadidas por suas famílias.
cinema”. Era uma Turma agitada. Quando demonstrava algum
A intervenção pedagógica fundamentou-se na adaptação interesse em aprender, esbarrava-se nas dificuldades não sanadas
de um clássico literário para o cinema, produzindo-o em um nos anos anteriores. A grande maioria já namorava e prestava
curta-metragem. A base teórica constitui-se, principalmente, a pequenos serviços. A turma era carinhosa, mas necessitava de
partir das obras de Bakhtin (2000), Freire (1996), Miranda et al atenção para melhorar a autoestima.
(2006), e Pietri (2009), e do material disponibilizado pelo Curso Para realizar o diagnóstico inicial, necessário à PIP,
Mídias em Educação, principalmente os módulos de TV e vídeo e aplicamos um questionário, cujas perguntas foram direcionadas
Multimídia. para o ato de ler em sites, jornais e livros não didáticos e para
mensagens eletrônicas. Detectamos, nos alunos, suas reais
O MATERIAL IMPRESSO E O CINEMA COMO FERRAMENTAS DE
potencialidades e fragilidades de leitura e escrita, além de um
ENSINO E DE APRENDIZAGEM NA ESCOLA
total desconhecimento de como preencher um questionário.
“Leitura, luz, câmera, ação!”: assim iniciamos o relato Revelou-se também gostarem de filmes, principalmente aqueles
desta experiência, tendo o material impresso – espaço de criação baseados em livros impressos, que compravam através de revistas
e recriação – e o cinema – com  todo seu  encanto, movimento, ou pediam emprestados aos amigos. O livro mais citado foi a saga
sedução das cores e acordes  musicais – como ferramentas Crepúsculo, da norte-americana Stephanie Meyer.
basilares para esta Pesquisa de Intervenção Pedagógica. Realizamos uma sondagem oral sobre filmes e idas ao
Realizada junto aos alunos do 7º Ano “B”, da Escola cinema: 80% gostavam de assistir a filmes e 10% nunca tinham
Municipal “DDF”3, na zona urbana de Sete Lagoas/MG, esta frequentado uma sala de cinema. A maioria comprava filmes
Pesquisa foi uma tarefa árdua, porém prazerosa. Árdua pelos piratas na feira local, que acontece aos domingos, na cidade.
entrepostos comuns a uma turma cujos 40% dos alunos eram Partindo desses resultados, planejamos a nossa PIP, que
repetentes por mais de três anos consecutivos, desinteressados denominamos “Leitura, luz, câmera e ação”, e o
pelos estudos e com dificuldades para ler e escrever, situação apresentamos à turma, motivando-os. Inicialmente, como
refletida também na indisciplina e na baixa autoestima, em todas esperado pela característica da turma, o projeto não
as disciplinas escolares. Prazerosa, pelos resultados alcançados e obteve credibilidade junto aos alunos, que diziam não
que serão relatados aqui. serem capazes de ler um livro e produzir um curta-
A turma era formada por 25 alunos com idade entre 12 e metragem: “esse trem não vai dar certo”, “não sabemos
15 anos. Muitos tinham alguma prática no uso de mídias e nem ler e escrever direito”, afirmavam categoricamente.
tecnologias, como computador/informática/internet, celular, Trabalhar com as mídias cinema e material impresso de
livros literários, rádio, televisão, DVD, jogos eletrônicos e uma maneira diferenciada das propostas em livros didáticos,
virtuais. Gostavam de sites e orientações pedagógicas, ou das nossas experiências
3 Nome fictício.

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Prática Pedagógica Renovada Mídias na Educação

anteriores, que se resumiam em assistir a filmes, comentá-los três filmes: Os Smurfs, Lanterna Verde e O Planeta dos Macacos:
e/ou resumi-los, exigiu de todos, alunos e professores, muito a origem. Precisávamos escolher um filme ao qual assistir.
empenho, estudo, disciplina, colaboração e, principalmente, Explicamos aos alunos a função daqueles textos que é de
capacidade de acreditar no novo. informar e divulgar o produto a ser vendido. A seguir, após muita
Exibir filmes baseados em obras literárias lidas para discussão, debates e argumentos os alunos votaram e escolheram
comparação das diferentes linguagens, realizar debates sobre o O Planeta dos Macacos: a origem. Foi interessante perceber
tema do filme e aprender a produzir e a trabalhar com roteiros como alunos são ávidos por assuntos relacionados à atualidade
trouxeram novas possibilidades para ensinar e aprender com e tecnologia, pois o filme escolhido é rico em efeitos especiais e
aqueles alunos, pois, “fazendo a mesma coisa dia após dia, não tecnológicos.
há de se esperar resultados diferentes” (EINSTEIN, 20114). Tendo como um dos objetivos desenvolver a habilidade
Nesta proposta, utilizamos diversas linguagens audiovisuais, de escrita funcional, solicitamos aos alunos que, coletivamente,
proporcionando aos alunos o desenvolvimento da leitura e da elaborassem um bilhete direcionado aos pais, convidando-os para
escrita. O trabalho com as imagens potencializou o trabalho com uma reunião a fim de esclarecer sobre as atividades que seriam
a leitura, resultando em uma forma diferente de ler o mundo. realizadas no decorrer da Pesquisa. Durante a reunião, os pais
Transformar uma cena em objeto de estudo para a construção de e responsáveis demonstraram interesse e ofereceram ajuda no
uma narrativa foi uma atividade prazerosa e educativa. que fosse necessário, colocando à disposição suas habilidades
Para incentivar a turma e retirar da Pesquisa a manuais e auxílio pessoal.
característica de trabalho escolar, propusemos uma visita ao Para a ida ao cinema, a Prefeitura de Sete Lagoas -o
cinema da cidade, um passeio descontraído e sem compromisso. MGforneceu transporte e os pais pagaram as entradas.
Ao lançar a ideia, a Turma ficou eufórica. Neste momento, Inicialmente,a expectativa da ida ao cinema gerou certo
percebemos que a PIP poderia deslanchar, e vimos a nervosismo e apreensão. Alguns alunos nunca tinham
possibilidade de uma atividade diferente, envolvendo o frequentado uma sala de cinema, outros nunca haviam saído
recurso audiovisual fora do ambiente escolar, quebrando a sozinhos à noite. A dificuldade financeira motivou a
rotina dos alunos, que sempre solicitam atividades solidariedade entre eles, pois havia colegas que não tinham o
diferenciadas. dinheiro para a entrada no cinema. A pipoca,
o refrigerante, balas e chicletes foram partilhados e sorrisos não
O cinema local, Cine Fox, através do projeto “A escola
saíam dos rostos. Os funcionários, que nos acompanharam ao
vai ao cinema”, cuja finalidade é proporcionar aos alunos de
cinema, elogiaram o comportamento dos alunos, evidenciando a
escolas públicas a oportunidade de frequentar uma sala de
confiança que se estabeleceu entre todos. O que foi previamente
cinema cobrando meia entrada, envia periodicamente para a
combinado, cumpriu-se, e os alunos que tinham uma liderança
escola cartazes com a programação semanal contendo a sinopse
negativa passaram a ter responsabilidade e apresentaram um
dos filmes em cartaz. Assim levamos para sala de aula sinopses de
comportamento diferente.
4 Disponível em: <http://pensador.uol.com.br/autor/albert_einstein/8/ >. No dia seguinte, em uma roda de conversa, comentamos
Acessado em dezembro de 2011.
sobre o filme e a ida ao cinema, e como o assunto não se esgotou,
solicitamos à Turma que formasse grupos e escrevesse relatos
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Prática Pedagógica Renovada Mídias na Educação

sobre o filme, exercitando assim a escrita e a interpretação. acesso ao laboratório de informática ainda faz parte do cenário
Com o interesse da Turma sobre o cinema, aproveitamos educacional em nossa Escola.
a oportunidade para contar a historia do cinema através de um Após esse processo, os alunos estavam motivados e
texto impresso5 e da exibição do vídeo “A invenção do Cinema”6. preparados para a escolha da obra literária que iriam adaptar
Objetivando avaliar a intervenção até aquele momento, para o curta-metragem. Foram colocadas três obras em votação:
realizamos uma atividade de leitura e interpretação baseada em Poderosa de Sérgio Klein, o mais procurado na biblioteca da
um trecho da obra Crepúsculo, através de um quiz impresso, escola; O Menino Maluquinho de Ziraldo; e Romeu e Julieta de
muito presente em revistas juvenis, e solicitamos um resumo do William Shakespeare, cujo resumo apresentamos, por ser um
enredo do filme. Foi um sucesso, o interesse foi outro. Quem clássico que inspirou vários escritores a retratarem o tema “amor
ainda não havia lido o livro, teve que ler a obra e todos gostaram proibido”. Esta foi a obra mais votada.
muito da narrativa, pois se identificavam com os protagonistas. Em seguida solicitamos uma pesquisa sobre a biografia de
Mas o cinema não vive só de filmes internacionais e de suas William Shakespeare. Como na biblioteca da Escola não havia
ideologias e mensagens americanizadas. Assistimos, na biblioteca exemplares de Romeu e Julieta recorremos à biblioteca pública,
da escola, usando o Projetor Multimídia, ao filme Os Narradores que nos emprestou alguns exemplares. Os alunos fizeram a leitura
de Javé, da diretora Eliana Caffé. Discutimos a abordagem do e a comentaram durante as aulas.
filme através de atividades escritas. Os alunos perceberam, ao Para fazer cinema sabíamos que a organização de equipes
assistir a este filme, a importância de se dominar a escrita formal era necessária. Pesquisamos sobre o assunto: composição,
para registro de memórias na construção de uma narrativa. responsabilidade, papéis e funções das equipes na produção do
Na preparação do roteiro cinematográfico apresentamos curta. Organizamos os grupos de trabalho conforme o perfil de
aos alunos os gêneros textuais roteiro e reportagem, que cada aluno. Este foi um momento crucial para o desenvolvimento
contemplam um vocabulário diferenciado, o que exigiu o uso do da PIP, pois os alunos deveriam escolher a equipe conforme as
dicionário (hábito que não haviam cultivado) para conhecer o suas habilidades.
significado de alguns verbetes relacionados aos gêneros. Também O grupo de roteiro foi muito exigido, porque o roteiro é a
assistimos a vídeos sobre algumas técnicas de filmagem: “Técnicas alma do filme, e é sobre ele que todas as ações se desenvolvem.
de filmagem handycam”, que se encontra no YouTube, e o curta- Foram realizadas reuniões de pauta com cada equipe, nos horários
metragem presente no site Tela Brasil. de aulas e extraclasse, devido à exigência das atividades, à
A proposta era que todos os alunos participassem das oficinas dinamicidade de se produzir um curta. A ideia era produzir um
oferecidas por esse site, porém não foi possível disponibilizar o romance shakesperiano do século XXI, com seus sonhos, cotidianos
acesso a todos, pois o laboratório da Escola estava inoperante. e desafios.
Alguns alunos realizaram as oficinas em seus computadores Para que os alunos se familiarizassem com a linguagem
pessoais e em LAN house. Infelizmente, esta dificuldade de cinematográfica, foi solicitada a eles uma pesquisa sobre os
seguintes temas: “O que é um roteiro de cinema”, “Os nomes
5 Disponível em: <http://www.mnemocine.art.br.>. Acesso em: de cinco filmes baseados em obra literária”, “A ficha técnica de
Set de 2011. 6 Disponível em: <http://youtu.be/tkkl7_oDxXU>.
Acesso em: Set de 2011.
158 159
Prática Pedagógica Renovada Mídias na Educação

um filme” e “As dez maiores bilheterias dos três últimos anos O Curta ficou pronto e apresentava-se como concretização
do cinema”. As pesquisas foram discutidas em sala de aula e de todas as potencialidades e habilidades daqueles alunos, tantas
sintetizadas. vezes negligenciadas pela Escola. Na avaliação da PIP ficou
O roteiro foi lido pela Turma que sugeriu modificações nas evidenciada pelos alunos a compreensão do que é um trabalho
falas, no encaminhamento do enredo, nas características das coletivo, o interesse, o empenho, o exercício da tolerância e a
personagens, etc. O nome escolhido, aprovado por todos, foi: capacidade de superação da Turma.
Conectados pelo Amor . “O trabalho foi legal, por que aprendemos a
O roteiro retratava a história de dois jovens que se história do cinema, aprendemos a manusear uma
filmadora, computador, lemos livros e assistimos
conheceram pela internet, apaixonaram-se e descobriram, o filme: Planeta dos macacos, a origem.” (Aluno)
ambos, que ela era rica e bonita e ele, pobre e paraplégico, “A introdução das mídias (computador, tele-
só no dia do primeiro encontro, o que não abafou o amor que visão, câmaras, etc...) nas aulas foi muito diver-
tido, pois foi bom variar das aulas escritas”. (Aluno)
sentiam. Contudo, os pais da moça não aceitaram o romance. O “A gente teve muito o que aprender e a com-
jovem casal resolveu fugir de casa, quando, durante a fuga, em partilhar na escola e nos estudos”. (Aluno)
um acidente, morre. “Eu entendi que para escrever um roteiro requer mui-
ta paciência e atenção. O projeto serviu para juntar os
Após poucos ensaios, pela dificuldade de encontrarmos colegas de classe e melhorar o desempenho da turma.
espaços e tempo, iniciamos a gravação do curta com muitas Cada equipe tinha uma função, e cada uma conseguiu
tomadas externas e internas organizadas pelas equipes, e a preencher essas funções” (Aluno.)
utilização de câmaras com poucos recursos além de celulares. Reafirmamos que o aluno aprende quando está inserido no
Ficou evidenciada a confiança que os pais depositaram em nós, contexto e é agente participativo na construção do conhecimento.
liberando os filhos para que fossem conosco em pontos diferentes O GRÁFICO 1 apresenta alguns desses resultados apresentando,
da cidade, em horários extraturnos, inclusive à noite, para comparativamente, o 1º e o 4º bimestres.
realização das gravações. E a cobrança dos pais para assistirem à
25
produção dos filhos foi uma constante no desenvolver da pesquisa.
Depois das cenas gravadas, a equipe de produção e edição 20
começou a trabalhar. Fizeram várias descobertas e aprenderam
15
muito sobre sistemas operacionais. Usamos os programas de
alunos com
edição de vídeo MovieMaker7e o Nero,8 disponíveis no notebook 10 média
da escola e nos computadores particulares dos alunos, uma vez
que no laboratório de informática da escola não há editores de 5
vídeo e não havia computadores funcionando corretamente. 0
GRÁFICO 01 - Comparativo de resultados Língua Portuguesa - 1º e 4º bimestres/2011
7 O Windows Movie Maker é um software de edição de vídeos da Microsoft. Alunos do 7º “B”- Escola Municipal “DDF”
8 O Nero é um site de aplicativos de computador para gravar CDs e DVDs e manipulação de Fonte: Documento da Pesquisa – Intervenção / 2011
mídia.

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Prática Pedagógica Renovada Mídias na Educação

Os resultados melhoraram consideravelmente. Além REFERÊNCIAS


disso, a autoestima dos alunos aumentou, a turma
desenvolveu laços de amizade e companheirismo. A BAKHTIN, Mikhail. Os gêneros do discurso. In: ______. Estética da
autoconfiança, a vontade de aprender, a capacidade de produzir criação verbal. São Paulo: Martins Fontes, 2000.
e criticar o que se produziu, de se dedicar e acreditar no seu BRASIL. SEED/ MEC. Programa de Formação Continuada
potencial inventivo e empreendedor, tudo isso superou o que, Mídias na Educação. Módulo Básico TV e Vídeo. Disponível
inicialmente a PIP se propôs. O trabalho em equipe, em: <http://webeduc.mec.gov.br/midiaseducacao/material/tv/tv_
imprescindível nas produções cinematográficas, ficou em intermediario/p_08.htm>. Brasília, 2010.
evidência no desenvolvimento de todo o processo, permitindo
FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia. Saberes Necessários à
que cada aluno se identificasse como sujeito ativo no
Prática Educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1996.
processo de ensinar e aprender.
MIRANDA, Carlos Eduardo Albuquerque. COPPOLA, Gabriela
CONSIDERAÇÕES FINAIS Domingues. RIGOTTI, Gabriela Fiorin. A Educação pelo cinema.
Campinas: UNICAMP, 2006.
A tarefa de ensinar vai muito além do livro didático,
contrapõe-se à organização de planos anuais que nada têm a NAPOLITANO, Marcos. Como usar o cinema na sala de aula. São
ver com a realidade dos alunos, e de avaliar através de provas Paulo: Contexto. 2005.
escritas e padronizadas pelo contexto escolar. Ensinar e aprender PIETRI, Émerson de. Práticas de leitura e elementos para a
ultrapassa os limites geográficos da escola, como um sonho atuação docente. Rio de Janeiro: Ediouro, 2009.
ultrapassa os limites da realidade para se tornarem objetivos
concretos e alcançáveis. RICARDO, Stella Maris Bortoni. Educação em língua materna:
o a sociolingüística na sala de aula. São Paulo: Parábola Editoral,
As dificuldades foram muitas e com elas aprendemos que
2004.
ato de ensinar é um ato de coragem e ousadia, perseverança e
responsabilidade, é ter sensibilidade para sentir o que os alunos SOLÉ, Isabel. 1998. Estratégias de leitura. Porto Alegre: Artmed,
pensam, aspiram, sonham e vivenciam, fundamental para o 1998.
sucesso na aprendizagem tanto na escola quanto na vida.
Os resultados alcançados pela PIP devem-se aos
conhecimentos apreendidos no Curso de Mídias em Educação, que
propicia  uma formação para que as mídias e tecnologias sejam
utilizadas nas escolas efetivamente como ferramentas didático-
pedagógicas. O Curso retira-nos da zona de conforto, com ele
aprendemos, sobretudo, que essas ferramentas estão inseridas
em nosso meio e não podemos mais manter as velhas práticas
educacionais diante do leque de oportunidades que se põe ao
nosso dispor, junto aos nossos alunos.
162 163
EDUCAÇÃO NA ERA DO CONSUMO: O DESPERTAR
DE UMA NOVA CONCIÊNCIA
CARDOSO,Walison Wanderley Soares1
QUEIROZ, Wilton Fábio de2

INTRODUÇÃO

Vivemos em uma sociedade complexa. Estamos na era


da informação. As relações interpessoais estão cada vez mais
marcadas pelos contrastes e antagonismos, pelas disputas e pelo
individualismo, pelo imediatismo e busca de poder, isso sem falar
na forte tendência da valorização do “ter” em detrimento do
“ser”. O ritmo atual de fazer as coisas não é o mesmo de outrora;
tudo é muito rápido e não se consegue acompanhá-lo; as idéias já
nascem envelhecidas, ultrapassadas e mortas...
Diante deste cenário, uma pergunta simples, mas que
demanda complexa(s) resposta(s) pode ser formulada: qual é o
papel da educação face à formação e promoção de valores que
impeçam a “coisificação” do ser humano ou a sua transformação
em mero consumidor involuntário?
Tal questionamento se justifica pelo fato de parecer
existir, no meio da nossa sociedade dita globalizada, o agravante
problema da reprodução do modus vivendi, do modus pensandi e

1 Cursista do Ciclo Básico – 3ª Edição do Programa de Formação Continuada em Mídias na


Educação.
2 Tutor do Ciclo Básico – 3ª Edição do Programa de Formação Continuada em Mídias na
Educação.

165
Prática Pedagógica Renovada Mídias na Educação

até de comportamentos que reforçam as ideologias dominantes e é porque reconhecemos que no diálogo está uma estrada de mão
alienantes, formando uma espécie de círculo vicioso. dupla, onde há espaço para dúvidas e certezas tanto de mestres
Situado neste contexto, o fenômeno da globalização quanto de aprendizes. Esta realidade dialógica também favorece
pode ser entendido, segundo Chiavenato (1998, p.57) como “um a inclusão, pois o outro tem de estar próximo para poder dialogar,
processo que utiliza e aumenta a massificação, multiplicando a tem de estar incluído no grupo para poder participar e dar a sua
alienação política e diminuindo a capacidade crítica das pessoas”. contribuição. E tudo isso gera um conhecimento mais profundo
Avaliando os efeitos deste fenômeno, subordinados ao juízo de dos nossos pares; gera uma verdadeira formação de valores. O
valor de cada um, deduzimos que, para alguns indivíduos, estar educador que fomenta o diálogo e que promove a inclusão em
mergulhado na realidade globalizante parece soar como algo todos os níveis entre seus alunos tem grande chance de entendê-
positivo, pois é possível ter acesso a outras formas de cultura los melhor; ele passa a compreender quais aspirações, sonhos,
e de mundividência; a outros, porém, pode parecer como algo fantasias e ideais os movem.
ameaçador que nos desloca de nossos pontos de apoio sobre Podemos dizer, neste sentido, que a escola tem o desafio
o qual se assenta a nossa maneira de conceber e de viver no de formar pessoa e de conhecer o que é ser pessoa e não
cosmos. De qualquer forma, alguns investigadores sustentam “coisa”; formar alguém com subjetividade, antes mesmo de
a idéia de que a globalização não é um legado de nossos dias, formar o cidadão; além, é claro, de propiciar a construção de
como afirma Hall (2002, p. 68): “lembremos que a globalização conhecimento, advindo da educação formal. E Costa (2007, p.7)
não é um fenômeno recente”. Um outro aspecto a considerar ainda acrescenta: “mais do que uma difícil tarefa, eis um novo e
é que ela está sujeita às diferentes definições ocasionadas pela imenso desafio que se apresenta às professoras e aos professores
impossibilidade de consenso entre os estudos. Outra pista para o destes tempos - enfrentar o consumismo e educar o consumidor-
entendimento nos é dado por Canclini (2005, p. 11), que traz a cidadão”.
seguinte argumentação em nota de abertura para o seu trabalho: Todavia, são muitas as correntes do pensamento e
investigação que buscam uma compreensão maior sobre o
Um modo de apresentar este livro é dizer que ele estu-
da a globalização como um processo de fracionamento
significado do termo consumidor a partir de vários ângulos. E
articulado do mundo e de recomposição de suas partes. ao educador cabe compreender tais conceitos, pois esta atitude
Com isto quero afirmar que a globalização não é um lhe permite lidar criticamente com as estratégias de
simples processo de homogeneização, mas de reorde- marketing e publicidade, uma vez que a cada dia elas se
namento das diferenças e desigualdades, sem suprimi-
las: por isso, a multiculturalidade é um tema indisso- tornam mais presentes e estão mais fortalecidas, agressivas e
ciável dos movimentos globalizadores. ousadas; além de poderem oferecer sérios riscos ou
comprometimentos para o que concebemos como cidadão
O entendimento a respeito deste assunto e o fato de
autônomo e consciente.
situar a nossa problematização dentro desta esfera possibilitam-
Um destes conceitos é apresentado pela abordagem
nos aproximar das respostas. Então, a reflexão sobre o papel da
sociológica, presente na obra de Lisboa (2006, p. 157) e aqui
educação se faz necessária. O professor de hoje precisa repensar a
parafraseado: a idéia de que a classe social tem um papel
sua prática adequando-a aos novos tempos. É preciso que a escola
importante para o sujeito, pois é em razão desta que ele goza ou
esteja mais receptiva ao diálogo e a inclusão. Quando dizemos isto,
desfruta de algum bem.
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Prática Pedagógica Renovada Mídias na Educação

E na mesma página desta obra, nos é apresentado, ainda voltados somente para determinados gêneros e profissões; foram
descrito aqui em paráfrase, que a Psicologia se posiciona a esse criados roteiros turísticos e tipos de entretenimento somente para
respeito, enfocando o consumidor como aquele a quem os bens um grupo seleto de pessoas, por exemplo. Incontestavelmente
finalmente são destinados, daí a necessidade de observar e somos vítimas do consumo.
conhecer suas reações, para que se permita a “individualização Estudos de diversas correntes consideram o consumo
dos critérios de produção”. como um momento do ciclo de produção e reprodução
Filomeno3 (citado por Lisboa, 2006, p.157) comenta que social: é o lugar em que se completa o processo ini-
ciado com a geração de produtos, em que se realiza a
“para a Filosofia, consumidor é o indivíduo que adquire bens sob a expansão do capital e se reproduz a força de trabalho.
influência daquilo que a sociedade estabelece como necessidade, (...) Ao se organizar para prover alimento, habitação,
ainda que, na realidade, a coisa não seja imprescindível”, transporte e diversão aos membros de uma sociedade,
o sistema econômico “pensa” como reproduzir a força
enquanto que Alpa4 (citado por Lisboa, 2006, p.158) diz que “na de trabalho e aumentar a lucratividade dos produtos.
publicidade, consumir é ceder às sugestões do anúncio, ainda que Podemos não estar de acordo com a estratégia, com a
subliminarmente formuladas”. seleção de quem consumirá mais ou menos, mas é in-
egável que as ofertas de bens e a indução publicitária
DESENVOLVIMENTO de sua compra não são atos arbitrários (CANCLINI, op.
cit., p.61).
As mudanças de hábitos e costumes podem ser sentidas em
A publicidade e o marketing, então, não conhecem mais
todos os lugares. Os adultos se vêem impelidos a consumir e logo
barreiras. Estão espalhados geograficamente por todo o globo
descartar. Muitos consomem por compulsão e/ou gratificação.
terrestre, inovando sempre mais as suas formas de persuasão e
Com os jovens e adolescentes pode acontecer o mesmo. Um
sedução, na tentativa de conquistar e “pescar” mais clientes, ou
adolescente, a título de exemplificação, movido pelo desejo
seja, o consumidor. O seu poder de influência foi e é maximizado
de pertença a um determinado grupo, que não o seu, acaba
pelo advento dos potentes meios de comunicação e novas mídias.
se tornando um forte candidato a cair nas garras desenfreadas
Há verdadeiros exércitos que realizam o trabalho publicitário e
do consumismo, toda vez que não se posicionar criticamente
comercial, bem como muitos interesses escusos, pois há muito
frente aos apelos publicitários. Esta pessoa pode querer comprar
dinheiro em jogo por trás de uma simples propaganda. Ruíram
um celular caríssimo, mesmo sem poder, e pagá-lo em muitas
não somente as barreiras étnicas e culturais, como também as
prestações, para depois de pouco tempo querer descartá-lo, só
da faixa etária. Hoje, é sabido que uma significativa parte das
porque os membros do seu grupo passaram a usar um modelo novo.
campanhas publicitárias e mercadológicas é projetada para atrair
Além disso, o mercado viu nas minorias ótimas oportunidades
um público muito jovem: as crianças.
de lucratividade e investimento. Grandes bancos e financeiras
Em sua obra, Linn (2006, p. 21-22) traz um relato que,
facilitam empréstimos para aposentados; há revistas e produtos
além de triste é preocupante:
O fato de as crianças influenciarem mais de US$ 600
3 FILOMENO, José Geraldo Brito. Manual de direitos do consumidor. bilhões em gastos anuais não passou despercebido às
3.ed. São Paulo: Atlas, 1999. empresas americanas que buscam estabelecer um vín-
4 ALPA, Guido. Diritto privato dei consumi. Bolonha: Il Mulino, 1986. culo de lealdade às marcas de seus produtos e serviços

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Prática Pedagógica Renovada Mídias na Educação

que vá do “berço ao túmulo”. Cada aspecto da vida de 30 mil mensagens publicitárias veiculadas pelos meios
uma criança – saúde física e mental, educação, cria- de comunicação, inclusive a televisão. O que dá mais
tividade e valores – é afetado negativamente por seu de oitenta mensagens por dia. As crianças brasileiras
status involuntário como consumidor no mercado. ficam, em média, de 3 a 4 horas por dia na frente da
TV. Quando se observa apenas as crianças que moram
A expressão do “berço ao túmulo” está longe de ser uma em periferias, essa quantidade sobe para 8 horas
inverdade. Quem não se lembra do programa televisivo infantil diárias. Antes mesmo de serem alfabetizados, esses
Teletubbies que fora criado para um público ainda usuário de jovens espectadores já foram expostos a 5 ou 6 mil
horas de programação televisiva.
fraldas? E o que podemos dizer da coleção Barbie, em sua versão
Barbie vai às compras ou Barbie vai ao shopping? A exposição excessiva das crianças aos conteúdos apelativos
Hoje, todos nós vivemos cercados pelo universo eletrônico veiculados pelos meios de comunicação de massa, acrescida pela
e telemático: televisão, vídeo games, computadores, internet; ausência de acompanhamento e supervisionamento de pais ou
e as crianças, principalmente as mais novas, são as mais frágeis responsáveis, ou a simples transferência de papéis e funções entre
vítimas das conseqüências geradas pela falta de uma educação família e escola, compromete o desenvolvimento do senso crítico
para o consumo, seja a recebida no seio da família, seja a e acarreta outros malefícios de ordem fisiológica (obesidade
recebida no âmbito da escola. “Crianças, incluindo as bem novas, infantil), psicológica (erotização precoce, baixa auto-estima,
frequentemente assistem à televisão sozinhas, o que significa compulsão) e comportamental (consumo de cigarro e álcool,
que nenhum adulto está presente para ajudá-las a compreender estresse, banalização da violência e da agressividade). Através
as mensagens de marketing” (LINN, op. cit. p. 25). das estratégias publicitárias, são reforçados o materialismo, a
competitividade desmedida, a impulsividade e a ganância. O
Outro agravante é justamente o proveniente deste não
resultado de toda esta artimanha é a degradação dos reais valores
acompanhamento por parte de alguns pais em relação aos seus
tão necessários à cidadania e a diminuição do nosso valor próprio.
filhos. Pais que trabalham fora o dia inteiro e chegam em casa
Passamos a acreditar que a felicidade é decorrente da aquisição
cansados, por exemplo, podem se sentir culpados pela falta de
ávida de bens materiais. E sabemos que pais extremamente
carinho e diálogo aberto entre eles e seus rebentos. Além disso,
materialistas estão mais sujeitos à infelicidade e a uma qualidade
muitos genitores tentam suprir esta lacuna, matriculando as
de vida mais baixa, sem contar que facilmente podem reproduzir
crianças em cursos de idiomas, escolinhas de futebol, natação,
este modelo de vida para os seus filhos.
balé... Não que isso não lhes traga benefícios; mas a realidade
se torna mais cruel quando os papéis são invertidos, ficando a CONSIDERAÇÕES FINAIS
televisão e outras mídias da comunicação responsáveis pela
transmissão das informações que a criança precisa para sua Nestes tempos em que as crianças e os adolescentes são
formação integral. mais resistentes aos limites e às frustrações, a publicidade aposta
na geração do caos e do estresse entre pais e filhos (conhecido
De acordo com Filho (2008), a Revista do Consumidor,
pelo fator amolação), pois sabe que, na maioria das vezes, os
que é uma publicação do Instituto Brasileiro de Defesa do
pais acabarão cedendo aos apelos dos filhos, na expectativa de
Consumidor – IDEC - apresenta os seguintes dados: diminuir a tensão.
As crianças ficam expostas, em média, anualmente, a

170 171
Prática Pedagógica Renovada Mídias na Educação

A educação para o consumo deve alertar para esta REFERÊNCIAS


realidade. A saída não deve ser o impedimento de as crianças
e adolescentes verem televisão ou terem contato com outras
mídias, para se livrarem dos efeitos nocivos da publicidade e CANCLINI, Néstor García. Consumidores e cidadãos: conflitos
propaganda, pois isso seria quase impossível. Os educadores, multiculturais da globalização. Tradução Maurício Santana Dias.
então, devem dialogar mais com os alunos, conscientizando-os 5 ed. Rio de Janeiro: Editora UFRJ, 2005. 228 p. ISBN
quanto aos riscos do consumismo. A aproximação escola/família 85.7108-159-X CHIAVENATO, Júlio José. Ética globalizada &
também é imprescindível para fortalecer este diálogo. Projetos sociedade de consumo. São Paulo: Moderna, 1998 – (coleção
que visem o despertar do senso crítico nos adolescentes, para que polêmica) 3ª im-pressão. 80 p. ISBN 85-16-02195-5.
estes tenham condições de perceber a presença e as intenções COSTA, Marisa Vorraber. Escola e Consumo. In Jornal “a
de mensagens subliminares são igualmente importantes. Os pais Página”, ano 16, nº 173, dez. 2007, p.7. Disponível em: <http://
www.apagina.pt/arquivo/Artigo.asp?ID=6108> Acesso em: 29 de
podem combinar horários para ver TV junto com as crianças e, ao
jul de 2009
saírem para as compras com elas, decidirem com antecedência
FILHO, Ivan Moraes. Crianças, propaganda e consumo: tou te
o que vão comprar; o que de fato é essencial. Podem retirar do
confundindo para te esclarecer. Disponível em:
quarto de seus filhos os aparelhos de televisão ou computador <www.bodega.blog.br/miscelanea/criancas-propaganda-e-
e colocá-los em lugares de maior circulação para facilitar a consumo-tou-te-confundindo-pra-te-esclarecer/> Acesso em: 25
supervisão. Outra possibilidade é o cultivo de hábitos saudáveis de jul de 2009
em família como brincadeiras e práticas de esporte ao ar livre, HALL, Stuart. A identidade cultural na pós-modernidade. Trad.
leitura de livros, etc. Tomaz Tadeu da
Tanto os pais quanto os educadores poderão, ainda, Silva e Guacira Lopes Louro. 7. ed. Rio de Janeiro. DP&A, 2002.
apoiar campanhas e leis que lutam para combater o LINN, Susan. Crianças do consumo: a infância roubada.
marketing e a publicidade infantil. tradução Cristina Tognelli. São Paulo: Instituto Alana, 2006. ISBN
85- 99848-01-1
É através de iniciativas como estas que conseguiremos
LISBOA, Roberto Senise. Responsabilidade civil nas relações de
proteger as crianças e adolescentes do risco de não consumo. 2. ed. rev. e atual. – São Paulo: Editora Revista dos
tornarem alienados ou meros consumidores involuntários. Tribunais, 2006. ISBN 85-203-2951-

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