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5327/Z0100-0233-2015390200016
Eliene de Oliveiraa
Matheus Barbosa Soutoa
Rafael de Oliveira Santosa
Rayde Luiz Fonsecaa
Fabrícia Vieira de Matosa
Antônio Prates Caldeiraa
Resumo
Introdução: A mortalidade infantil evitável refere-se ao excesso de óbitos associados
a inadequadas condições de acesso e resolubilidade dos cuidados de saúde. Pretendeu-se
descrever a ocorrência dos decessos infantis em Montes Claros, cidade do norte de Minas Gerais,
por meio da análise do perfil de evitabilidade desses óbitos. Métodos: Os dados foram coletados
do Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM) e Sistema de Informações sobre Nascidos
Vivos (SINASC) e correspondem ao período entre 1999 e 2011. Para cada grupamento de causas
evitáveis, verificou-se a correlação entre seu comportamento e a série temporal por meio do
coeficiente de correlação de Spearman. Resultados: A taxa de mortalidade infantil no período caiu
de 22,3 para 10,5/1000 nascidos vivos. Quase três quartos dos óbitos infantis registrados (72%)
foram considerados evitáveis, sendo que a maior contribuição correspondeu às mortes reduzíveis
por adequada atenção à gestação (43%). A segunda posição foi ocupada pelos falecimentos
evitáveis por adequada atenção ao recém-nascido (31%). Registrou-se correlação significativa para
o comportamento dos grupos de causas evitáveis por adequada atenção à gestação (p=0,019),
adequada atenção ao recém-nascido (p<0,001) e adequada atenção ao parto (p=0,003).
Conclusão: Apesar do decréscimo observado, ainda existe um elevado contingente de óbitos que
alertam sobre a necessidade de melhora dos cuidados de saúde.
a
Universidade Estadual de Montes Claros – Unimontes – Montes Claros (MG), Brasil.
Endereço para correspondência: Antônio Prates Caldeira – Departamento de Saúde da Mulher e da Criança, Universidade
Estadual de Montes Claros – Avenida Doutor Rui Braga, Prédio 6 (CCBS) – Vila Mauricéia – CEP: 39401-089 – Montes Claros
(MG), Brasil – E-mail: antonio.caldeira@unimontes.com
Abstract
Introduction: The avoidable infant mortality refers to the excess of deaths
associated with inadequate access and resolution of health care. We aimed to describe the
occurrence of infant deaths at Montes Claros, a northern city in the state of Minas Gerais,
Brazil, through the analysis of the profile of avoidable deaths. Method: Data were collected
from the Mortality Information System (SIM) and Live Birth Information System (SINASC)
and correspond to the period between 1999 and 2011. For each group of avoidable causes,
we analyzed the correlation between their behavior and the time series using the Spearman
correlation coefficient. Results: The infant mortality rate in the period decreased from 22.3
to 10.5/1000 live births. Almost three quarters of the registered infant deaths (72%) were
considered avoidable, and the major contribution corresponded to deaths avoidable through
proper care during pregnancy (43%). The second position was occupied by preventable
deaths through the provision of specialized care to newborns (31%). Significant correlation
to the behavior of groups of avoidable causes by proper care during pregnancy (p=0.019),
adequate care to the newborn (p<0.001) and adequate care during labor (p=0.003) were
registered. Conclusion: Despite the observed decrease, there is still a high number of deaths
that warn about the need to improve health care.
Keywords: Infant Mortality. Perinatal Mortality. Health Information Systems.
Resumen
Introducción: La mortalidad infantil evitable se refiere al exceso de muertes
asociadas a las inadecuadas condiciones del acceso y de la resolución de atención en salud.
Se objetivó describir la ocurrencia de muertes infantiles en una ciudad del norte de Minas
Gerais, Brasil, llamada Montes Claros, por medio del análisis del perfil de muertes evitables.
Métodos: Los datos fueron recolectados del Sistema de Información sobre Mortalidad (SIM)
y del Sistema de Informaciones sobre Nacidos Vivos (SINV), que corresponden al período de
1999 hasta 2011. Para cada grupo de causas evitables, se verificó una correlación entre su
comportamiento y la serie temporal, utilizándose el coeficiente de correlación de Spearman.
Resultados: La tasa de mortalidad infantil en el período disminuyó desde 22,3 hasta
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Revista Baiana 10,5/1.000 nacidos vivos. Casi tres cuartas partes de las muertes infantiles registradas (72%)
de Saúde Pública fueron consideradas evitables, y la mayor contribución correspondió a las muertes evitables
a través de una atención adecuada durante el embarazo (43%). La segunda posición fue
ocupada por las muertes evitables mediante la atención especializada a los recién nacidos
(31%). Hubo una correlación significativa al comportamiento de los grupos de causas evitables
por la atención adecuada durante el embarazo (p=0,019), al recién nacido (p<0,001) y en
el parto (p=0,003). Conclusión: A pesar de la disminución observada, todavía hay un alto
número de muertes que advierten sobre la necesidad de mejorar la atención en salud.
Palabras clave: Mortalidad Infantil. Mortalidad Perinatal. Sistemas de Información en Salud.
INTRODUÇÃO
O Coeficiente de Mortalidade Infantil (CMI) é um indicador de saúde de fácil
mensuração que estima o risco de morte no primeiro ano de vida. De modo global, avalia os
cuidados que determinada população disponibiliza às crianças e ao ciclo gravídico-puerperal,
e constitui um dos indicadores mais comumente utilizados para análise das condições de
saúde de uma população e da efetividade dos serviços de saúde materno-infantis.1-4
O Brasil registrou importante declínio da mortalidade infantil nas últimas
décadas, especialmente nas regiões menos desenvolvidas. Todavia, os índices observados
ainda são elevados e representam um grande desafio para os gestores públicos.5,6
Outro aspecto relevante é que a maior parte das mortes infantis brasileiras é composta
por óbitos considerados evitáveis.7 O conceito de óbitos infantis evitáveis remete ao
excesso de falecimentos que, em princípio, não deveriam ocorrer diante de adequadas
condições de acesso e resolubilidade dos cuidados de saúde.8-10 Nesse sentido, esses
perecimentos são considerados “eventos sentinela” da qualidade da atenção à saúde e
permitem identificar falhas no desempenho da assistência à saúde.1,9,11
A análise da tendência da mortalidade infantil de causas evitáveis permite uma
avaliação das condições de vida e saúde dos menores de um ano de idade e provê subsídios
para implantação de intervenções direcionadas às necessidades desse grupo populacional.1
O conhecimento das condições de perecimento infantil e da dinâmica de ocorrência
desses falecimentos representa uma ferramenta importante para definir e orientar as ações
dos gestores de saúde. Neste sentido, o presente estudo objetivou descrever a ocorrência
das mortes pueris em Montes Claros, norte de Minas Gerais, no período de 1999 a 2011,
analisando o perfil de evitabilidade desses óbitos.
RESULTADOS
O coeficiente de mortalidade infantil no município estudado decresceu no
período em questão, passando de 22,3 óbitos em 1999 para 10,5 óbitos por mil nascidos
vivos em 2011, correspondendo a um decréscimo de cerca de 53%. O Gráfico 1 apresenta o
comportamento de tendência do CMI e seus componentes para o período estudado.
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Taxa
de Saúde Pública
25
20
15
10
0
1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 Ano
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Revista Baiana DISCUSSÃO
de Saúde Pública No período estudado, registrou-se um importante declínio da mortalidade infantil para
o município semelhante ao observado em estudos realizados em diferentes regiões do país.10,13,14
A redução da mortalidade infantil na cidade acompanhou, portanto, o comportamento de declínio
registrado para o país como um todo. Em 1990, o Brasil registrava 58 mortes a cada mil crianças
nascidas vivas, taxa que foi reduzida para 16 óbitos para cada mil nascidos vivos em 2011.15
Nas últimas décadas foram desenvolvidos diversos programas e ações de saúde
que tiveram importante impacto na redução da mortalidade infantil. O Programa Nacional
de Imunização, o Programa de Incentivo ao Aleitamento Materno, o Programa de Agentes
Comunitários de Saúde e, mais recentemente, o Programa de Saúde da Família são exemplos
de ações efetivas com impactos positivos sobre os indicadores de saúde infantil, apesar de
ainda existirem desafios a serem superados.6 Os municípios que buscaram tornar viável a
implantação dos referidos programas, com execução das medidas interventivas, alcançaram
melhores resultados e impactos mais positivos sobre a saúde da população, incluindo-se a
redução da mortalidade infantil.16 Alguns autores destacam que resultados melhores foram
alcançados em regiões mais carentes em função de ações mais específicas para os grupos de
maior vulnerabilidade e pelo desenvolvimento de políticas públicas mais inclusivas.6,16
Nos resultados deste estudo, observou-se uma maior participação do
componente neonatal no CMI, o que se assemelha a outros estudos realizados, seguindo a
tendência nacional de decréscimo desde o final da década de 1980.13,17,18 Desse momento
em diante, o componente neonatal passou a destacar-se, representando mais da metade das
mortes infantis em todo o Brasil.
De modo geral, a redução dos óbitos infantis tem se concentrado principalmente no
período neonatal tardio, tornando os óbitos nos primeiros dias de vida os principais responsáveis
pelo alto CMI.15 Entretanto, os resultados da presente pesquisa destacaram dados diferentes.
Ao longo do período estudado, o componente neonatal precoce foi o que apresentou maior
declínio. Esse dado pode traduzir ações mais efetivas dos serviços de saúde materno-infantis
em relação à gestação e aos cuidados com o recém-nascido, pois foram vinculados a esses dois
grupamentos de causas evitáveis os maiores declínios no período estudado.
Embora os resultados observados sejam relevantes, é preciso destacar que a
mortalidade neonatal precoce ainda representa o principal componente da mortalidade
infantil em Montes Claros. Na verdade, a redução da mortalidade neonatal ainda é
um desafio para muitas regiões do país e do mundo.19,20 O Brasil é um país signatário
dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio, compromisso proposto às nações pela
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Revista Baiana para os gestores de saúde de todo o país. A abordagem dos óbitos infantis, com ênfase na
de Saúde Pública evitabilidade, tem potencial para gerar reflexões e propostas que vão desde a organização dos
serviços de saúde, com ampliação do acesso da população a ele, até melhoria da qualidade
dos cuidados pré, peri e pós-natais.
CONCLUSÃO
A análise realizada demonstrou, no período estudado, uma redução de todos os
componentes da mortalidade infantil com destaque para o período neonatal precoce. Apesar do
decréscimo de óbitos infantis registrados, ainda existe um elevado contingente de óbitos que
denuncia a necessidade de melhora dos serviços de saúde, especialmente porque pode ser
considerado evitável. Nesse sentido, sugere-se ampla articulação entre os diferentes níveis de
atenção materno-infantil, visando melhoria da vigilância e assistência ao binômio mãe-filho.
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