Académique Documents
Professionnel Documents
Culture Documents
ARTIGO ARTICLE
de vida da Organização Mundial da Saúde
(WHOQOL-100): características e perspectivas
Abstract Quality of life evaluation has been Resumo A avaliação de qualidade de vida vem
growing in importance as a measure to evalu- crescendo em importância como medida de
ate results in medicine. Taking into account the avaliação de resultados de tratamento em me-
absence of a quality of life instrument with a dicina. A partir da constatação da falta de um
cross-cultural approach, World Health Organi- instrumento de avaliação de qualidade de vida
zation developed a unique methodology to cre- com um enfoque transcultural, a OMS desen-
ate it. Initially, the World Health Organization volveu uma metodologia única para sua criação.
Quality of Life instrument (WHOQOL-100), Inicialmente foi desenvolvido o World Health
with a hundred questions, was elaborated. The Organization Quality of Life (WHOQOL-100),
need of a short instrument to be used in exten- instrumento composto de cem questões. A ne-
sive epidemiological studies caused WHO to de- cessidade de um instrumento mais curto para
velop a short 26-question version (WHOQOL- uso em extensos estudos epidemiológicos fez
bref). Nowadays, a specific module to evaluate com que a OMS desenvolvesse a versão abrevia-
quality of life in HIV/Aids patients and a mod- da com 26 questões (o WHOQOL-Bref). Atual-
ule to evaluate spirituality, religiousness and mente, estão em desenvolvimento dois módu-
personal beliefs are being developed. los: um específico para avaliar qualidade de vi-
Key words Quality of Life; World Health Or- da em pacientes com HIV/Aids e outro para
ganization; Rating Scale avaliar espiritualidade, religiosidade e crenças
pessoais.
Palavras-chave Qualidade de vida; Organi-
zação Mundial da Saúde; Escala de Avaliação
1 Departamento de
Psiquiatria e Medicina
Legal da Universidade
Federal do Rio Grande do
Sul (UFRGS). Rua Ramiro
Barcellos 2.350/4o andar,
Porto Alegre, Brasil.
mfleck.voy@zaz.com.br
34
Fleck, M. P. A.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) de- tos físicos, psicológicos, nível de independên-
finiu saúde como um completo estado de bem- cia, relações sociais e crenças pessoais.
estar físico, mental e social e não meramente A definição do Grupo WHOQOL reflete a
a ausência de doença (WHO, 1946). No en- natureza subjetiva da avaliação que está imer-
tanto, as políticas em saúde e a própria forma- sa no contexto cultural, social e de meio am-
ção dos profissionais sempre colocaram a prio- biente. O que está em questão não é a nature-
ridade no controle da morbidade e mortali- za objetiva do meio ambiente, do estado fun-
dade. Apenas recentemente vem havendo uma cional ou do estado psicológico, ou ainda co-
crescente preocupação não só com a freqüên- mo o profissional de saúde ou um familiar ava-
cia e a severidade das doenças, mas também lia essas dimensões: é a percepção do respon-
com a avaliação de medidas de impacto da dente/paciente que está sendo avaliada.
doença e comprometimento das atividades
diárias (Bergner et al., 1981), medidas de per-
cepção da saúde (Hunt et al., 1985) e medida O método WHOQOL
de disfunção/status funcional (Ware et al. 1992).
Não há dúvida de que o desenvolvimento O WHOQOL foi desenvolvido utilizando um
de instrumentos e formas de avaliação de mor- enfoque transcultural original. Primeiro, por
talidade e morbidade é uma tarefa muito mais envolver a criação de um único instrumento
simples (ou muito menos complexa) do que de forma colaborativa simultaneamente em
criar instrumentos para avaliar qualidade de diferentes centros. Desta forma, vários centros
vida ou bem-estar. É difícil definir construtos com culturas diversas participaram da opera-
subjetivos influenciados por características cionalização dos domínios de avaliação de
temporais (de época) e culturais, como estes qualidade de vida, da redação e seleção de
em questão. Assim, desenvolver instrumentos questões, da derivação da escala de respostas
para avaliar qualidade de vida psicometrica- e do teste de campo nos países envolvidos nes-
mente válidos é um grande desafio. Some-se ta etapa. Com esta abordagem foi possível
a isto o fato de que a maioria desses instru- equacionar as dificuldades referentes à padro-
mentos foi desenvolvida nos Estados Unidos nização, equivalência e tradução à medida que
e na Europa, o que torna o seu uso transcul- se desenvolvia o instrumento. Para garantir
tural no mínimo questionável. que a colaboração fosse genuinamente inter-
A ausência de um instrumento que avalias- nacional, os centros foram selecionados de for-
se qualidade de vida per se, com uma perspec- ma a incluir países com diferenças no nível de
tiva internacional, fez com que a OMS cons- industrialização, disponibilidade de serviços
tituísse um Grupo de Qualidade de Vida (Gru- de saúde, importância da família e religião do-
po WHOQOL) com a finalidade de desenvol- minante, entre outros.
ver instrumentos capazes de fazê-lo dentro de Segundo, o método WHOQOL utilizou
um perspectiva transcultural. uma entrada de dados iterativa entre os pes-
quisadores com a consolidação e revisão da
informação em cada estágio do desenvolvi-
Aspectos conceituais mento do instrumento. Isso permitiu que as
impressões dos especialistas em qualidade de
Como não há um consenso sobre a definição vida, bem como a visão dos pacientes e pro-
de qualidade de vida, o primeiro passo para o fissionais de saúde estivessem contínua e re-
desenvolvimento do instrumento World Health petidamente influenciando o processo.
Organization Quality of Life (WHOQOL) foi Terceiro, um cuidadoso método de tradu-
a busca da definição do conceito. Assim, a OMS ção do instrumento – que envolveu não só a
reuniu especialistas de várias partes do mun- tradução e retrotradução, mas também a dis-
do, que definiram qualidade de vida como a cussão em grupos focais da versão com pacien-
percepção do indivíduo de sua posição na vi- tes, profissionais de saúde e membros da co-
da no contexto da cultura e sistema de valores munidade – permitiu a incorporação de vá-
nos quais ele vive e em relação aos seus objeti- rias sugestões às traduções.
vos, expectativas, padrões e preocupações (The O método WHOQOL aplicado à versão
WHOQOL Group, 1995). É um conceito am- brasileira do instrumento foi descrito detalha-
plo que abrange a complexidade do construto damente em outra publicação (Fleck et al.,
e inter-relaciona o meio ambiente com aspec- 1999a).
35
além de grupos de ateus e com crenças outras farão parte do instrumento até sua validação.
que não religiosas (movimento ecológico, por As aplicações desses instrumentos são am-
exemplo). plas e incluem não somente a prática clínica
Este projeto começou no ano de 1999, es- individual, mas também a avaliação de efeti-
tando envolvidos em torno de vinte países, in- vidade de tratamentos e de funcionamento de
cluindo o Brasil. serviços de saúde. Além disso, podem ser im-
portantes guias para políticas de saúde.
Sem dúvida, existem inúmeras dificulda-
Conclusão des conceituais e de desenvolvimento de ques-
tões importantes do ponto de vista psicomé-
O Grupo WHOQOL tem trabalhado para de- trico. No entanto, este desafio precisa ser en-
senvolver medidas que avaliem a qualidade de frentado, já que vida é complexidade e não há
vida dentro de uma perspectiva internacional razão para não se aplicar um esforço semelhan-
em que os diferentes países e culturas possam te para avaliar qualidade de vida do que é feito
influenciar desde a elaboração dos conceitos para avaliar Neuroimagem. (Katschnig & An-
que norteiam a elaboração das questões que germeyer, 1997).
Referências bibliográficas
Bergner R et al. 1981. The sickness impact profile: de- Ware JE, Sherbourne CD 1992. The MOS 36 item Short
velopment and final revision of a health status mea- Form Health Status Survey (SF-36):1. Conceptual
sure. Medical Care 19:787-805. framework and item selection. Medical Care
Ellerhorst-Ryan JM 1996. Instruments to measure spir- 30(6):473-483.
itual status, pp. 145-153. In B Spilker (ed.). Quality The WHOQOL Group 1995. The World Health Orga-
of Life and Pharmacoeconomics in Clinical Trials. nization quality of life assessment (WHOQOL): po-
Lippincott-Raven, Filadélfia. sition paper from the World Health Organization.
Fleck MPA et al. 1999a. Desenvolvimento da versão em Social Science and Medicine 10:1403-1409.
português do instrumento de avaliação de qualida- The WHOQOL Group 1998a. The World Health Orga-
de de vida da OMS (WHOQOL-100). Revista Brasi- nization quality of life assessment (WHOQOL): de-
leira de Psiquiatria 21(1):19-28. velopment and general psychometric properties.
Fleck MPA et al. 1999b. Aplicação da versão em portu- Social Science and Medicine 12:1569-1585.
guês do instrumento de avaliação de qualidade de The WHOQOL Group 1998b. Development of the World
vida da OMS (WHOQOL-100). Revista de Saúde Health Organization WHOQOL-B: quality of life
Pública 33(2):198-205. assessment. Psychological Medicine 28:551-558.
Fleck MPA et al. 2000. O instrumento de avaliação de WHO (World Health Organization) 1946. Constitution
qualidade de vida abreviado da Organização Mundi- of the World Health Organization. Basic Docu-
al da Saúde (WHOQOL-breve): aplicação da ver- ments. WHO. Genebra.
são em português. Revista de Saúde Pública 22(2), WHO (World Health Organization) 1993. WHOQOL:
(no prelo). study protocol. MNH/PSF/93.9. WHO, Genebra. 39
Harper A & Power M 1998. On behalf of the WHOQOL pp.
Group: WHOQOL user manual (Draft). OMS, Ge- WHO (World Health Organization) 1997. Country pro-
nebra, 88 pp. tocol for developing the WHO quality of life
Hunt SM, Mcewen J & Mckenna SP 1985. Measuring (WHOQOL): HIV/Aids module. MNH/PSF/97.3.
health status. Journal of the Royal College of Gener- WHO, Genebra. 18 pp.
al Practioner 35:185-188. WHO (World Health Organization) 1998. WHOQOL
Katschnig H & Angermeyer M 1997. Quality of life in and spirituality, religiousness and personal beliefs
depression, pp. 137-147. In H Katschnig, H Free- (SRPB). Report on WHO consultation. MNH/MAS/
man & Sartorius N. Quality of Life in Mental Disor- MHP/98.2 WHO, Genebra. 22 pp.
ders. Wiley, Chichester. OBS: Estas três últimas referências são publicações da
Sartorius N & Kuyken W 1994. Translation of health sta- Organização Mundial da Saúde e são distribuídas
tus instruments, pp. 3-18. In JE Orley & W Kuiken pela OMS a partir de solicitação. O código MNH/
(eds.). Quality of Life Assessment: International Per- MAS/MHP refere-se ao setor de origem do docu-
spectives. Springer Verlag, Berlim. mento seguido pelo ano e número. Têm sido cita-
Szabo S et al. 1997. An approach to response scale de- das na literatura desta forma (ver The WHOQOL
velopment for cross-cultural questionnaires. Euro- Group 1995. The World Health Organization qua-
pean Psychologist 2(3):270-276. lity of life assessment (WHOQOL): position paper
from the World Health Organization. Social Scien-
ce and Medicine 10:1403-1409).