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O TEXTO DESCRITIVO
Notas:
2. Descrever não é enumerar o maior número possível de detalhes, mas assinalar os traços
mais singulares, mais salientes; é fazer ressaltar do conjunto uma impressão dominante e
singular. Dependendo da intenção do autor, varia o grau de exactidão e minúcia na
descrição.
3. Diferentemente da narração, que faz uma história progredir, a descrição faz interrupções na
história, para apresentar melhor uma personagem, um lugar, um objecto, enfim, o que o
autor julgar necessário para dar mais consistência ao texto. Pode também ter a finalidade
de ambientar a história, mostrando primeiro o cenário, como acontece no texto abaixo:
"Ao lado do meu prédio construíram um enorme edifício de apartamentos. Onde antes eram cinco
românticas casinhas geminadas, hoje instalaram-se mais de 20 andares. Da minha sala vejo as
varandas (estilo mediterrâneo) do novo monstro. Devem distar uns 30 metros, não mais.
E foi numa dessas varandas que o facto se deu."
(Mário Prata. 100 Crónicas. São Paulo,
Cartaz Editorial, 1997)
Os pontos de vista
Numa descrição, quer literária, quer técnica, o ponto de vista do autor interfere na
produção do texto. O ponto de vista consiste não apenas na posição física do observador, mas
também na sua atitude, na sua predisposição afectiva em face do objecto a ser descrito. Desta
forma, existem o ponto de vista físico e o ponto de vista mental.
Exemplo:
a) Folheto de propaganda de carro
Conforto interno – É impossível falar de conforto sem incluir o espaço interno. Os seus interiores
são amplos, acomodando tranquilamente passageiros e bagagens. O Passat e o Passat Variant
possuem direcção hidráulica e ar condicionado de elevada capacidade, proporcionando a
climatização perfeita do ambiente.
Porta-malas – O compartimento de bagagens possui capacidade de 465 litros, que pode ser
ampliada para até 1500 litros, com o encosto do banco traseiro rebaixado.
Tanque – O tanque de combustível é confeccionado em plástico reciclável e posicionado entre as
rodas traseiras, para evitar a deformação em caso de colisão.
Características linguísticas
Exemplo:
"Era alto , magro, vestido todo de preto, com o pescoço entalado num colarinho direito. O rosto
aguçado no queixo ia-se alargando até à calva, vasta e polida, um pouco amolgado no alto; tingia
os cabelos que de uma orelha à outra lhe faziam colar por trás da nuca - e aquele preto lustroso
dava, pelo contraste, mais brilho à calva; mas não tingia o bigode; tinha-o grisalho, farto, caído
aos cantos da boca. Era muito pálido; nunca tirava as lunetas escuras. Tinha uma covinha no
queixo, e as orelhas grandes muito despegadas do crânio. " (Eça de Queiroz, O Primo Basílio)
Exemplo:
"Era o Sr. Lemos um velho de pequena estatura, não muito gordo, mas rolho e bojudo como um
vaso chinês. Apesar de seu corpo rechonchudo, tinha certa vivacidade buliçosa e saltitante que
lhe dava petulância de rapaz e casava perfeitamente com os olhinhos de azougue." (José de
Alencar, Senhora)
Exemplo:
"Até os onze anos, eu morei numa casa, uma casa velha, e essa casa era assim: na frente, uma
grade de ferro; depois você entrava tinha um jardinzinho; no final tinha uma escadinha que devia
ter uns cinco degraus; aí você entrava na sala da frente; dali tinha um corredor comprido de onde
saíam três portas; no final do corredor tinha a cozinha, depois tinha uma escadinha que ia dar no
quintal e atrás ainda tinha um galpão, que era o lugar da bagunça ..." (Entrevista gravada para o
Projecto NURC/RJ)
NOTA: A ordem dos detalhes é, pois, muito importante. Não se faz a descrição de uma casa de
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maneira desordenada; ponha-se o autor na posição de quem dela se aproxima pela primeira vez;
comece de fora para dentro à medida que vai caminhando na sua direcção e percebendo pouco a
pouco os seus traços mais característicos com um simples correr d' olhos: primeiro, a visão do
conjunto, depois a fachada, a cor das paredes, as janelas e portas, anotando alguma singularidade
expressiva, algo que dê ao leitor uma ideia do seu estilo, da época da construção.
Percebemos ou observamos com todos os sentidos, e não apenas com os olhos. Haverá
sons, ruídos, cheiros, sensações de calor, vultos que passam, mil acidentes, enfim, que evitarão
que se torne a descrição uma fotografia pálida daquela riqueza de impressões que os sentidos
atentos podem colher.
Continue o observador: entre na casa, examine a primeira peça, a posição dos móveis, a
claridade ou obscuridade do ambiente, destaque o que lhe chame de pronto a atenção (um móvel
antigo, uma goteira, um vão de parede, uma massa no reboco, um cão sonolento...). Continue
assim gradativamente. Seria absurdo começar pela fachada, passar à cozinha, voltar à sala de
visitas, sair para o quintal, regressar a um dos quartos, olhar depois para o telhado, ou notar que
as paredes de fora estão descoloridas. Quase sempre a direcção em que se caminha, ou se
poderia normalmente caminhar rumo ao objecto serve de roteiro, impõe uma ordem natural para
a indicação dos seus pormenores."
É evidente que esse "passeio" pelo cenário, feito como se tivéssemos nas mãos uma
câmara cinematográfica, registando os detalhes e compondo com eles um todo, deve obedecer a
um roteiro coerente, evitando idas e vindas desconexas, que certamente perturbam a organização
espacial e prejudicam a coerência do texto descritivo.
Descrição de pessoas
A descrição de personagem pode ser feita na primeira ou terceira pessoa. No primeiro caso, fica
claro que o personagem faz parte da história; no segundo, a descrição é feita pelo narrador, que,
ele próprio, pode fazer ou não parte da história.
a) O texto de base descritiva tem como objectivo oferecer ao leitor /ouvinte a oportunidade de
visualizar o cenário onde uma acção se desenvolve e as personagens que dela participam;
b) A descrição está presente no nosso dia-a-dia, tanto na ficção (nos romances, nas novelas, nos
contos, nos poemas) como em outros tipos de textos (nas obras técnico-científicas, nas
enciclopédias, nas propagandas, nos textos de jornais e revistas);
c) O texto descritivo tem características próprias e não apenas a função de auxiliar a narrativa, os
teóricos chegam a apontar aspectos linguísticos da descrição: frequência de imagens, de
analogias, adjectivos, formas adjectivas do verbo, termos técnicos... Além disso, o autor ressalta a
função utilitária desempenhada pela descrição face a qualquer tipo de texto do qual faz parte:
"descrever para completar, descrever para ensinar, descrever para significar, descrever para
arquivar, descrever para classificar, descrever para prestar contas, descrever para explicar.