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A Lógica Proposicional Clássica

INTRODUÇÃO
Vamos iniciar agora o estudo daquele capítulo da Lógica Contemporânea
conhecido pela alcunha de Lógica Proposicional Clássica (abreviadamente LPC). Nesse
capítulo, assumem-se os princípios lógicos da bivalência e da funcionalidade e estudam-
se aqueles casos em que a vigência das propriedades e relações lógicas (predicamentos
lógicos como consequência lógica, validade, consistência, etc.) depende apenas. Não
raramente essa teoria é apresentada como uma parte da logica Quantificacional Clássica,
aquela na qual se ignora a estrutura interna de asserções (por conseguinte, também o
1
aparato dos quantificadores) (veja-se, por exemplo, (KLEENE, 1950)) . Começaremos
o estudo introduzindo um sistema de sinais criado com o fim de expressar de maneira
perspícua parte daquelas formas lógicas (construções) básicas postuladas pela teoria
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lógica contemporânea . Aqui consideraremos apenas as formas lógicas determinadas
pelas construções lógicas que permitem formar asserções mais complexas a partir de
asserções mais simples, de sorte que o valor de verdade (ou a verdade ou a falsidade,
consoante o princípio da bivalência) da asserção complexa seja função do valor de
verdade (da verdade ou falsidade) das asserções que a compõe (consoante o princípio da
funcionalidade).
Esse capítulo da lógica se deixa desenvolver mais facilmente se pensarmos a
verdade ou a falsidade não como dois predicados de asserções, mas dois objetos (o
objeto o Verdadeiro e o objeto o Falso), de sorte que as asserções passam a ser nomes
(designadores) possíveis desses objetos. Isso permitirá ver nos procedimentos de
construção de asserções (i.e. que permitem formar asserções mais complexas a partir de
asserções mais simples) como funções (no sentido matemático do termo) complexas,
ditas por razões óbvias funções de verdade.
Esse sistema de sinais pode ser visto como uma notação algo análoga à notação
para grandezas numéricas que todos nós apreendemos a manipular já nos primeiros anos
de nossa vida escolar, formada pelos numerais arábicos, os sinais aritméticos usuais e a
sistema decimal de designação dos números. Dessa perspectiva, ele deve estar para os
valores de verdade e as operações lógicas proposicionais (as funções de verdade) do
mesmo modo como a notação aritmética está para os números e as operações numéricas.
A importância de um sistema de notação adequado não pode ser nunca
subestimada, como bem demonstra o desenvolvimento da Aritmética. Nessa disciplina,
a criação de uma notação adequada tornou possível manipular números e realizar
operações numéricas (somas, subtrações, divisões, etc.) de maneira relativamente
simples. Um claro exemplo da facilitação propiciada por uma notação adequada é a
divisão; de tão complexos que eram os processos de “cálculo” da divisão, sem a notação

1
Em (MATES, 1972) as sentenças do cálculo sentencial são um caso particular de sentenças (aquelas que
não contêm ocorrências de símbolos individuais sejam esses variáveis ou constantes); caracterização que
se encontra já em (HILBERT e BERNAYS, 1934), mas com mais cuidados, o uso de conectivos na
formação de fórmulas abertas é introduzido como uma peculiar extensão do uso deles como formadores
de sentenças complexas a partir de sentenças mais simples.
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Um de seus criadores, Frege, cria que esse sistema servia a um fim bem mais grandioso, o de representar
o pensamento puro. Mas isso rapidamente se mostrou uma idiossincrasia do autor, que não foi
incorporada na empresa coletiva e intersubjetiva que a Lógica se tornou no século passado.

1
decimal, esses eram estudados, durante a Idade Média, apenas na Universidade e
atualmente, graças a notação decimal, o cálculo da divisão pode ser ensinado já para
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crianças. Poder calcular, não apenas operações aritméticas, mas também relações e
propriedades lógicas é um sonho longamente acalentado na Lógica e pelo menos
parcialmente realizado pela Lógica Contemporânea (computadores não são apenas
calculadoras aritméticas, mas também lógicas). As razões porque a notação lógica não
penetrou em nossa vida intelectual ordinária do mesmo modo como a notação aritmética
é tema de reflexão ao qual ainda voltaremos.
Como se tornou habitual na literatura especializada, principalmente a partir da
segunda metade do século passado, aqui também vamos nos referir a esse sistema
notacional como uma linguagem. Ainda que discutível, e futuramente iremos discutí-la,
essa denominação tem a vantagem de fornecer imediatamente uma plêiade de noções
(vocabulário, gramática, categorias gramaticais, expressão, sintaxe, semântica etc.) que
facilitam muito a remissão ao sistema e a seus elementos, aligeirando até mesmo a sua
caracterização. Podemos sempre considerar essa denominação e o consequente emprego
da terminologia linguística como analógicos. De fato, ao final desse capítulo
procuraremos discutir em que sentido se pode (e em que sentido não convém) chamar o
sistema notacional ora introduzido de linguagem. Assim, vamos denominar de
linguagem Lp o sistema notacional a ser introduzido.

A GRAMÁTICA DE L
Trata-se de uma “linguagem” muito fácil de ser aprendida, porquanto
exaustivamente determinada em dois passos de fácil apreensão: no primeiro é
determinado o seu vocabulário ou léxico (isto é, quais são os seus símbolos primitivos)
e no segundo, a suas regras de formação (isto é, a determinação de quais sequências de
símbolos primitivos— expressões – são expressões bem formadas da linguagem, os
correspondentes das frases das línguas).
O léxico (ou vocabulário) de nossa linguagem estará estruturado em categorias
(num sentido estrito, ou seja, aquele no em que se diz que dois sinais – ou duas
expressões – pertencem a uma e a mesma categoria se forem intercambiáveis
preservando-se a correção gramatical, ou seja, salva congruitate). Que categorias de
sinais (e, por derivação, de expressões bem formadas) serão consideradas evidentemente
depende do fim visado pela notação. Em nosso caso, trata-se de representar aquelas
operações lógicas proposicionais (modos de compor proposições mais complexas a
partir de proposições mais simples), supondo os princípios lógicos da bivalência e da
funcionalidade. Isso nos leva a considerar pelo menos duas classes de símbolos aqueles
que de algum modo designarão valores de verdade e aqueles que servirão para expressar
funções de verdade. Todavia, há uma grande liberdade de escolha dos sinais que
constituirão cada uma das categorias lexicais, isto é, que servirão como símbolos
primitivos da linguagem. Assim, uma vez que convém iniciar o estudo da Lógica
familiarizando-se com uma determinada linguagem, deve-se delimitar explicita e
exaustivamente o vocabulário da linguagem que usaremos para desenvolver a Lógica
Proposicional Clássica.
Vocabulário.

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O leitor interessado em aprofundar o tema das relações entre notação decimal e cálculo e,
simultaneamente ampliar seus conhecimentos da história da Matemática, pode ler com proveito uma bela
e agradável obra de Paul Karlson, A Magia dos Números.

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O vocabulário de L é constituído por grafismos distribuídos nos seguintes grupos
(categorias):
1 letras sentenciais (também chamadas variáveis
proposicionais): letras latinas (qualquer uma das vinte e seis do
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alfabeto português pós-reforma ) tipográficas maiúsculas,
afetadas ao não de índice inferior numérico;
2 constantes sentenciais: ⊥ (Falsum) e T (Verum);
3 conectivos sentenciais (símbolos para as operações de
composição sentencial): ¬ (negação), → (condicional), ∧
(conjunção), ∨ (disjunção) e ↔ (bicondicional)
4 sinais de pontuação: ( e )

Observe que as letras sentenciais formam uma classe infinita, porém enumerável (isto é,
podem ser postas em correspondência biunívoca com os números naturais). Podemos
enumerá-las, por exemplo, tomando inicialmente as letras sentenciais sem índices
numéricos na ordem alfabética usual, seguidas daquelas afetadas pelo índice zero
dispostas na mesma ordem alfabética, e assim sucessivamente, gerando a lista infinita:
A, B,... , Z, A0, B0,..., Z0, A1, B1..., Z1, ...
A ordenação expressa nessa lista será tomada aqui como a ordem lexicográfica; assim,
se falarmos da vigésima sétima letra sentencial estaremos falando de B0.

As regras de formação.
Sequências finitas quaisquer de símbolos de Lp são chamadas
de expressões de Lp. Aqui não procuraremos fornecer definições precisas seja para a
noção de sinal, seja para a de expressão; lembremos apenas que ambas se referem a
entidades abstratas, concretizadas, mas não idênticas às marcas físicas num substrato
(traços de tinta, se o substrato for algo como o papel, pergaminho, etc. ou de alguma
outra natureza, se o substrato for algo como a tela de um monitor). Ademais, ao
considerarmos expressões como sequências (e não meramente conjuntos) de sinais,
estamos considerando-as como entidades unidimensionais e direcionadas, formadas por
ocorrências de símbolos, de sorte que podemos não apenas falar em diferentes
ocorrências de um e o mesmo símbolo numa expressão, mas também, dadas duas
ocorrências de sinais (distintos entre si ou não) numa expressão, podemos sempre nos
perguntar qual delas é anterior e qual posterior (e como é usual nas escritas ocidentais,
representaremos essa precedência pela ordem que vai da esquerda para a direita)
Evidentemente, não pretendemos que quaisquer sequências de símbolos seja
uma expressão bem formada da linguagem. Na verdade, em vista dos fins para os quais
é elaborada a linguagem Lp, convém que suas expressões bem formadas sejam de
apenas uma categoria: a das fórmulas. Como é também o caso de letras sentenciais, não
há nenhuma razão para limitar o número de fórmulas (por exemplo, impondo uma
extensão máxima na expressão) e, assim, cabe considera-los como infinitos. Donde, a
categoria das fórmulas não pode ser exaustivamente caracterizada elencando os seus

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Lembremos que as letras k, w, e y foram oficialmente integradas ao alfabeto da língua portuguesa no
acordo aprovado pelo governo brasileiro em 1995.

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termos. Poderíamos pensar que talvez fosse possível adotar na definição das fórmulas o
mesmo procedimento que foi adotado para definir as letras sentenciais (que também são
em número infinito), oferecendo uma propriedade explícita que elas e apenas elas
satisfizessem.
Esse procedimento de caracterização de um domínio, por meio de uma definição
explícita, não pode ser empregado, pelo menos não de maneira fácil e direta, para
caracterizar os elementos da categoria das fórmulas. Pois, não é possível encontrar uma
propriedade ou um conjunto limitado de propriedades compartilhadas (disjunta ou
conjuntamente) por e apenas pelas fórmulas. Para caracterizar as fórmulas vamos
empregar um expediente análogo aquele com o qual o leitor certamente já travou
relações no início de sua vida escolar, ainda que sem conhecer o seu nome. Tal como
M. Jourdain, o personagem de Moliére, que falava prosa sem saber que falava prosa,
todos nós já travamos relações com aquilo que a partir da segunda metade do século
dezenove ficou sendo conhecido como procedimentos indutivos (ou também chamado
recursivos) de definição e de demonstração: todos nós já recorremos a tais
procedimentos, sem mesmo saber o nome ou a teoria que os cerca. Para exemplificar
esses procedimentos não é necessário recorrer a sofisticados raciocínios como aquele do
crivo de Erastóstenes, pelo qual se pretende demonstrar a existência de infinitos
números primos, ou o raciocínio de Santo Tomás de Aquino, que visa excluir a
possibilidade de um regresso ao infinito na série dos moventes. Basta recordarmos da
maneira como apreendemos, ainda crianças, a noção de número natural. A saudosa
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professora ensinava que o sucessor de um é dois e o sucessor de dois é três e, assim por
diante, e para que aprendêssemos o “assim por diante”, passava-nos uma lista de
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exercícios, laboriosamente executados em casa , que pedia para formar os sucessores de
um dado número (obviamente, na época não distinguíamos o número do numeral, talvez
uma imprecisão compartilhado com a alfabetizadora e aritmetizadora); mas tudo era
feito na esperança de que aprendêssemos o modo de gerar os números naturais a partir
de um elemento inicial (o número um) pela reiteração de operação de formar o sucessor,
de sorte que, posto que infinitos, os números naturais eram bem caracterizados como
exatamente aqueles e apenas aqueles assim gerados. Vale dizer, toma-se como o
elemento inicial o número um e como procedimento que permite gerar um novo
elemento do domínio a partir de um elemento previamente gerado a operação de
sucessor, de sorte que apreendemos os números naturais como todos aqueles que
poderem ser gerados a partir do um pela reiteração da operação de sucessor.
A caracterização das fórmulas envolve um procedimento um pouco mais
complexo que esse, usado na caracterização números, visto que nossos elementos
iniciais são em grande número (infinitos, na verdade) e os procedimentos de
construções são diversos (e não um único, como é o caso dos números naturais com sua
operação de sucessor). Mas a estratégia é a mesma. Definimos inicialmente as formulas
absolutamente simples, ditas fórmulas atômicas, como aquelas expressões da linguagem
formadas exatamente por uma letra sentencial ou uma constante sentencial. E, para cada
símbolo lógico da linguagem (ou seja, conectivos e símbolos de quantificação),
introduzimos um procedimento de construção de fórmulas associado a tal símbolo, vale

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Que me desculpem as feministas, mas a tarefa de nos iniciar nas letras e nos numerais é comumente
atribuída a mulheres.
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A memória, evidentemente, sempre nos apresenta a versão de algum modo mais querida dos fatos.

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dizer, contemplamos os procedimentos gramaticais de negação, conjunção, disjunção,
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condicional, bicondicional . Devemos considerar, portanto, as cláusulas seguintes:
i) Os elementos iniciais (fórmulas atômicas)
a. Uma constante sentencial isolada é uma fórmula;
b. Uma letra sentencial isolada é uma fórmula;
ii) Procedimentos de geração:
a. Apor o sinal de negação a uma fórmula resulta numa fórmula,
b. Combinar duas fórmulas, intercalando entre elas um e apenas um
dentre os sinais conectivos e pondo o resultado entre parêntesis resulta
numa fórmula.
As fórmulas da linguagem Lp são, portanto, ou as expressões definidas
explicitamente como elementos iniciais ou as expressões que puderem ser geradas a
partir dessas pela aplicação reiterada (uma ou mais vezes) das regras formuladas nas
demais cláusulas. Assim, são fórmulas de L, expressões como A, B, (A ∧ B), etc.
Observemos que uma fórmula constituída por uma única ocorrência de uma
determinada letra sentencial é distinta da letra sentencial que a constitui, pois enquanto
aquela é uma expressão (uma sequência de símbolos, mais precisamente uma sequência
unária), essa é um sinal. No entanto, por razões de conveniência, frequentemente
empregaremos a locução “letra sentencial” para designar a fórmula atômica constituída
por uma única ocorrência da mencionada letra sentencial.
CONSIDERAÇÕES METALINGUÍSTICAS
A amplitude semântica emprestada à palavra linguagem aqui permite facilmente
e sem maiores controvérsias denominar de metalinguagem a linguagem que
empregamos para nos referir ao formalismo que acabamos de caracterizar (a
linguagem Lp). Ou seja, chamar de metalinguagem o vernáculo acrescido de algumas
convenções sobre a notação (vale dizer, a metalinguagem não é senão a nossa residência
linguística habitual, que sempre admite mais um puxadinho a fim de acomodar novas
necessidades de espaço linguístico). Na construção do puxadinho, vamos incorporar
uma prática linguística que já é usual na Matemática, a saber, o uso de variáveis, visto
que essas facilitam expressar a remissão (em particular, a remissão cruzada – anafórica)
com maior precisão que os pronomes e menos rebuscadamente que o uso de ordinais
com função pronominal. Em nosso caso, as variáveis servirão para remeter aos dois
domínios fundamentais ora introduzidos: o dos símbolos de Lp e o das expressões
de Lp (entre as quais se destacam as fórmulas), tais variáveis serão denominadas, por
razões analógicas óbvias, de variáveis meta-sintáticas.
Usaremos em nossa metalinguagem os seguintes símbolos como termos meta-
sintáticos para fazer referência a elementos da linguagem Lp

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O leitor deve observar que agora esses termos, negação, conjunção, disjunção, condicional,
bicondicional, tornam-se sistematicamente ambíguos, ora designando símbolos, ora designando
procedimentos sintáticos de construção de expressões mais complexas a partir de expressões mais
simples. Ambiguidade inócua, porque a Lógica, como já salientamos antes, não se interessa propriamente
pelas estruturas simbólicas, mas na lógica; no caso, não nos símbolos ou nas construções frasais, mas nas
operações lógicas que se pretende veicular através de tais estruturas simbólicas.

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Letras latinas A, B, C, D acrescidas ou não de algum tipo de índice indicam
fórmulas;
Letras gregas maiúsculas Γ, Δ, Θ, Φ, Ψ, Σ etc. indicarão classes de fórmulas.
As letras maiúsculas P, Q, acrescidas ou não de algum tipo de índice superior
(numérico ou não) para indicar letras sentenciais. E reservaremos os
símbolos P0, P1, etc. para servirem como nomes próprios de letras sentenciais, a
saber, da primeira letra sentencial, da segunda, etc... (assim, esses símbolos não
funcionam propriamente como variáveis metalinguísticas, mas como nomes
próprios metalinguísticos)
Eventualmente outras variáveis poderão ser empregadas, desde que o contexto
seja suficiente para determinar, sem ambiguidade, o domínio de variação. Ademais,
mesmo algumas dessas poderão assumir, em certos contextos, um domínio de variação
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mais amplo .
Expressões e a operação de substituição
Do mesmo modo como tratamos as noções de sinais e de expressões, ao longo
do trabalho serão empregadas diversas noções, de cunho morfológico, para as quais não
será fornecida nenhuma definição precisa, mas apenas explanações de cunho intuitivo.
Em particular, tomaremos as noções morfológicas de parte de uma expressão, de
ocorrência de um símbolo em uma expressão ou de ocorrência de uma expressão em
outra expressão como primitivas (ou seja, não procuraremos dar uma definição precisa
para estas noções, nem procuraremos reduzi-las a noções tomadas de outras teorias,
como a Teoria dos Números ou a Teoria dos Conjuntos). Também não procuraremos
dar uma definição para a operação de substituição de um símbolo em uma expressão por
outro símbolo ou por outra expressão. Nisso tudo confiaremos na capacidade de nosso
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leitor de discriminar e operar com símbolos. Ademais, quando for conveniente,
identificaremos a expressão constituída por um único símbolo com o símbolo que a
constitui.
Uma vez que a operação de substituição desempenha um importante papel já na
caracterização da classe gramaticalmente distinguida de expressões (a que demos o
nome de fórmulas) convém introduzir uma notação explícita para ela.
Se E for uma expressão de Lp e s 1 e s 2 forem símbolos de Lp, então E(s1/ s2)
indica a expressão que resulta de E, ao substituirmos todas as ocorrências de s 1 em E
por ocorrências de s 2 . Em geral, se E for uma expressão de Lp e e 1 ,...,e n , e e’ 1 , ... e’ n
forem também expressões de Lp, então E[e 1 , ... e n /e’ 1 , ... e’ n ] indica a expressão que
resulta de E, ao substituirmos simultânea e uniformemente todas as ocorrências de e k
em E por ocorrências de e’ k , para k =1, ..., n. Quando o contexto deixar claro quais as
expressões que devem ser substituídas, bem como por quais outras expressões,
usaremos a notação
E[e’1, ... e’n],

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O leitor perspicaz já deve ter percebido que, ao definirmos explicitamente as fórmulas, empregamos as
variáveis metalinguísticas com um domínio de variação maior que o das fórmulas, qual seja, o das
expressões.
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Em especial, deve-se observar que, na caracterização de expressão de uma linguagem, o termo
“sequência” comparece em sua acepção ordinária e não na acepção técnica, que lhe reserva a Matemática.

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em vez de
E[e 1 , ... e n /e’ 1 , ... e’ n ].
Empregaremos, também, a notação E[e] para destacar o fato de que a
expressão e ocorre em E, uma ou mais vezes e, eventualmente, nenhuma vez. Desse
modo, uma expressão metalinguística da forma E[e1,..., en] é ambígua e só pode ser
usada se o contexto for tal que fique bem determinado se a expressão está sendo usada
simplesmente para por em destaque alguns dos símbolos ou expressões que ocorrem na
expressão E ou para designar uma expressão de Lp que resulta por substituição de
outra, previamente dada.
Como empregamos símbolos diferentes para variáveis livres e para variáveis
ligadas, podemos dispensar as noções de ocorrência livre de uma variável, de um termo
ser livre para uma variável em uma fórmula, bem como, a própria operação de
substituição das ocorrências livres de uma variável por um termo, que tantos embaraços
causam a um neófito.
Nomenclatura sintática
Uma sentença é uma fórmula. Fórmulas constituídas exatamente de uma
ocorrência de uma letra sentencial ou de uma constante sentencial são chamadas
de fórmulas atômicas. As fórmulas da forma ¬A, (A ∧ B), (A ∨ B), (A → B),
(A ↔ B) são chamadas de fórmulas moleculares ; e podem ser descritas como,
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respectivamente, a negação de A, a conjunção cujo primeiro conjuntivo é A e o segundo


é B. a disjunção cujo primeiro disjunto é A e o segundo é B, o condicional cujo
antecedente é A e cujo consequente é B e, por ultimo, o bicondicional entra A e B.
Além disso, uma fórmula atômica ou a sua negação é dita uma fórmula literal.
Por analogia com a gramática tradicional, podemos denominar de análise
morfológica de uma fórmula a sua descrição em termos das categorias lexicais de cada
um dos símbolos que a compõe e de análise sintática a sua descrição exaustiva em
termos de categorias sintáticas (ou seja, conforme sua geração). Por exemplo, o
grafismo
(¬R ∨ ⊥)
Pode ser caracterizado, do ponto de vista morfológico, como uma expressão de Lp que é
uma fórmula, na qual os sinais são, na ordem de ocorrência, um sinal de pontuação, um
conectivo, uma letra sentencial, outro conectivo e uma constante sentencial; e do ponto
de vista sintático, como uma fórmula que é uma disjunção cujo primeiro disjunto é a
negação de uma fórmula atômica (mais precisamente a letra sentencial R) e o segundo é
uma constante sentencial (mais precisamente a do absurdo).
As subfórmulas de uma fórmula poderiam ser definidas como as partes
contínuas da fórmula que são também fórmulas. Porém, considerando tal definição,
Podemos fornecer uma definição alternativa, explorando exatamente o modo de gerar
fórmulas. Vale dizer, a definição determinada pelas seguintes cláusulas recursivas:
1) Se A for atômica, então a única subfórmula de A é a própria A
2) As subfórmulas de ¬A são as subfórmulas de A, mais a própria ¬A

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A analogia com a química aqui é óbvia, embora negações sejam constituídas de uma única fórmula.

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3) As subfórmulas de (A % B) (onde % é um dos símbolos ∨, ∧, →, ↔)
são as subfórmulas de A, juntamente com as subfórmulas de B e a própria (A % B)
Convenções
A fim de facilitar a escrita e aligeirar a leitura de fórmulas, omitiremos os
parêntesis externos (que estritamente não se fazem necessários para assegurar a
univocidade do escopo dos operadores lógicos), bem como introduziremos algumas
convenções sobre o escopo de operadores lógicos que permitem diminuir o número de
ocorrências de parênteses. Introduziremos uma ordem na amplitude do escopo de sorte
que ¬ tem a menor, seguida imediatamente de ∧ e de ∨ (ambos com mesma amplitude)
e por último, com maior amplitude, → e ↔ (ambos de mesma amplitude). Essa é uma
convenção análoga àquela empregada na expressão de polinômios, a soma é tomada
como tendo mais amplitude que o produto (ou, como se costuma dizer, o símbolo de
produto liga mais fortemente que o correspondente para a soma). Assim, escreveremos,
por exemplo,
A∧C→B
Em vez de
((A ∧ C) → B)
CONSIDERAÇÕES SOBRE A GRAMÁTICA
Se lançarmos mão do expediente comum na matemática, de empregar variáveis
em vez de pronomes, a definição por indução das fórmulas seria a seguinte:
i) Cláusula básica: Se A for uma letra sentencial ou uma constante
sentencial a expressão A é uma fórmula
ii) Cláusulas recursivas:
Se A for uma fórmula, então a expressão ¬A é fórmula .
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a.
b. Se A e B forem fórmulas, então a expressão (A ∧ B) é uma fórmula.
c. Se A e B forem fórmulas, então a expressão (A ∨ B) é uma fórmula.
d. Se A e B forem fórmulas, então a expressão (A → B) é uma fórmula.
e. Se A e B forem fórmulas, então a expressão (A ↔ B) é uma fórmula.
iii) Cláusula de fechamento: Apenas são fórmulas as expressões de Lp
determinadas a partir da cláusula básica, pelas cláusulas recursivas.
Por outro lado, se quisermos tornar explícita a caracterização recursiva das
fórmulas, e tivermos dispostos a recorrer ao aparato conceitual da Teoria de
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Conjuntos , podemos fornecer uma definição explícita de fórmulas, como se segue:

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Uma formulação alternativa seria afirmar que se uma expressão (isto é, uma sequencia de sinais) for
uma fórmula, então a expressão formada a partir dela antepondo o sinal ¬ também é fórmula. Mutatis
mutandi para as cláusulas seguintes.
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E podemos recorrer a tais noções, uma vez que não é difícil demonstrar que expressões da linguagem,
quando consideradas em sua totalidade, formam um conjunto. Lembremos que, dada a natureza
logicamente melindrosa do conceito de conjunto, isso nem sempre é o caso, nem toda coleção concebível
de objetos pode formar um conjunto.

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Definição 1.1 O conjunto das fórmulas de Lp (a ser denotado por FLA)
é o menor conjunto de expressões de Lp que satisfaz as
condições seguintes:
i) Para qualquer letra sentencial ou constante
sentencial A, a expressão A pertence a FLA.
ii) Para quaisquer expressões A e B de Lp:
a. Se A pertence, então ¬A também pertence.
b. Se A e B pertencem, então (A ∧ B),
(A ∨ B), (A → B), (A ↔ B) também
pertencem.

Dissemos antes que há certa liberdade na escolha dos elementos do vocabulário


de uma linguagem adequada para desenvolver a Lógica Clássica. Essa liberdade na
escolha dos sinais concretos que serão empregados é grande, restringida apenas pela
necessidade de determinação unívoca do vocabulário (que as categóricas lexicais seja
disjuntas – isto é, nenhum símbolo pertence a mais de uma categoria lexical – e esteja
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determinado quais são os símbolos de cada uma das categorias contempladas). Mas há
também certa margem de escolha nas categorias e construções que serão contempladas,
bem como nos procedimentos de pontuação, de sorte que a maneira como foi
determinada a linguagem expressa uma escolha, motivada é certo, mas uma escolha
entre outras possíveis.
Por exemplo, seria possível dispensar os parênteses, alterando a definição de
fórmula, de modo que o símbolo da operação lógica iniciasse sempre a construção (a
assim chamada notação polonesa), o que eliminaria ambiguidades de escopo dos
operadores.
EXERCÍCIOS
1. Classifique os símbolos abaixo, com respeito ao vocabulário de Lp.
(i) F (ii) Q (iii) β (v) x
(vi) H1 (vii) a (viii) O (x) A1
(xi) W (xiii) F (xiv) Q (xv) ∧
(xvi) ∀ (xix) A (xx) P (xvi) ¬
2. Forneça uma descrição definida de cada uma das fórmulas abaixo, usando as
categorias gramaticais (ou seja, faça a sua análise sintática e morfológica
completa)
a) ¬A

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O rigor do que compreender aqui por determinação foi se atenuando com o desenvolvimento da lógica
contemporânea. Inicialmente se exigia que a pertença estivesse determinada apenas pela aparência
perceptual dos símbolos, posteriormente abandonou-se essa exigência de mera remissão a aparência
perceptual, mas preservou-se a exigência de que houvesse um procedimento mecânico de decisão da
pertença. E mesmo hoje essa última exigência já foi abandonada em manuais como o de Shonfield que
considera “linguagens” com respeito as quais não é possível fornecer um procedimento de decisão para
seu vocabulário (visto que nem mesmo seria enumerável)

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b) (B → C)
c) (B ∨ C)
d) (B ∧ C)
e) (A ↔ B)
f) (¬A ↔ (A →⊥))
g) (A ↔ (A →T))
h) (B → (B ∨ C))
i) ¬(A → (A ∨ B))
j) ¬(A ↔ ¬A))
k) (A →(¬A → (B ∧ C)))
l) (((D ∧ A) ∨ (A ∧ Q) ) → ((T ↔ B) ∨ D))
3. Escreva a árvore de geração de cada uma das fórmulas abaixo
m) ¬ R
n) ¬ (R ∧ R)
o) (M → P)
p) (M ∧ M)
q) (R → M)
r) ¬ (P ∨ P)
s) (¬¬ P ∨ P)
t) ¬M
u) (P ∧ R)
v) ¬¬(R2∧ M)
w) (R1 → (¬¬P∧ P))
4. Considere E1 a expressão ‘(P ∧ Q)’ e E2 a expressão ‘(P ∧ (Q ∨ R) ),
escreva as expressões E1(s1/s2), E2(s1/s2), E1(s1,s2 /s2,s1) quando:
a) s1 é ‘P’ e s2 é ‘P’
b) s1 é ‘Q’ e s2 é ‘(Q ∨ R)’
c) s1 é ‘(Q ∨ R)’ e s2 é ‘Q’
d) s1 é ‘(P ∧ Q)’ e s2 é ‘P’
5. Encontre um exemplo de uma fórmula A e de termos A 1 , ..., A n , tais que a
fórmula A(Q 1 ,..., Q n / A 1 , ..., A n ) é diferente da fórmula A(Q 1 / A 1 ),...,
(Q n / A n )

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