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ARRUDA BARBOSA, Águida. Mestre e Doutora em Direito Civil pela Faculdade de Direito da
Universidade de São Paulo – USP, Professora de Direito Civil e Mediação, Advogada especialista em
Direito de Família, Presidente Nacional da Comissão de Mediação do Instituto Brasileiro de Direito de
Família – IBDFAM, antigo membro da Fédération Internationale des Femmes des Carrières Juridiques.
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I – 1968 e a Revolução de Paradigmas
2
BOFF, Leonardo. A voz do arco-íris. Rio de Janeiro: Sextante, 2004. p. 10.
3 BARROSO, Luís Roberto. A nova interpretação constitucional ponderação, direitos fundamentais e relações privadas. Rio de Janeiro:
: 2. ed.
Renovar, 2006. p. 4
.
2
Dentre dezenas de acontecimentos significativos, escolhem-se alguns
eventos, ocorridos ao longo dos primeiros meses de 1.968, ilustrando a
noticiada revolução de paradigmas.
3
hormonal popularmente conhecido por pílula anticoncepcional. Trata-se de um
marco na conquista dos direitos da mulher, que passa a ter o comando da
procriação, outorgando-lhe a permissão de desvelar a sexualidade feminina,
fato que revoluciona a compreensão do casamento e da família
contemporânea. A igualdade entre homem e mulher passa a ter um verdadeiro
desenvolvimento.
4
CARBONNIER, Jean. Sociologie juridique, p. 147.
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interdisciplinaridade, legado dos novos paradigmas conquistados na segunda
metade do Século XX.
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Na conciliação inexiste qualquer preocupação com as causas
determinantes do conflito, assim como não se acolhem as dificuldades da
execução do acordo, pois está voltada ao passado e ao presente, sem qualquer
preocupação com o projeto de futuro, relativamente às partes envolvidas no
conflito. Ressalte-se que, nos litígios de Direito de Família, os acordos nem
sempre são cumpridos, devido à fragilidade do conteúdo dos conflitos, que não
foram devidamente reconhecidos, acarretando a volta do litígio ao Judiciário, a
exemplo da imensa demanda existente acerca de execução de alimentos.
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de que o equívoco no uso de conciliação sob a denominação de mediação
acaba afastando a inclusão deste importante conhecimento para a aplicação
dos novos paradigmas que marcam o Século XXI.
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responsabilidade por suas escolhas e pela qualidade de convivência para a
adequada realização da relação jurídica que os vincula, usando como técnica o
deslocamento do olhar que se move do passado e do presente para o futuro.
Este é o momento de magia da mediação que não ocorre na conciliação,
porque são diferentes em sua essência.
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ARRUDA BARBOSA, Águida. “ Mediação Familiar: uma cultura de Paz” in Revista da
Faculdade de Direito de São Bernardo do Campo n.º 10, Ano 8, 2004, pág. 32 “A definição de mediação
familiar sob o enfoque da cultura de paz – e não pela mera pacificação dos conflitos – é o ideal fundante
do movimento da Associação pela Promoção da Mediação - APPM, legitimada e reconhecida pela
Comunidade Européia. Destarte, na última reunião realizada pela APPM para discutir os caminhos da
mediação - com ênfase da familiar – ficou consolidado para a comunidade européia que mediação é um
elaborada na conformidade do
princípio ético, um comportamento humano. Assim, a definição de mediação
estágio de evolução em que se encontra é a seguinte: “A mediação é um processo de criação e de repartição do vínculo social e de
regramento dos conflitos da vida cotidiana na qual um terceiro imparcial e independente, por meio da organização de trocas entre as
pessoas ou instituições, tenta ajudá-los a melhorar uma relação ou regular um conflito que as opõe”.
6
BONAVIDES, Paulo. Curso de Direito Constitucional, 17 ed., Malheiros Editores, São Paulo: 2005, ps.
288 e 289.
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podem ser contaminadas pela linguagem da conciliação, pois não lhes
pertence, desvirtuando-lhes as características tão próprias.
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explicar a mediação é de Lídia Almeida Prado: “a interdisciplinaridade amplia a
potencialidade do conhecimento humano, pela articulação entre as disciplinas e
o estabelecimento de um diálogo entre os mesmos, visando à construção de
uma conduta epistemológica. (...) A interdisciplinaridade é considerada como a
mais recente tendência da teoria do conhecimento, decorrência obrigatória da
modernidade, por se tratar de um saber oriundo da predisposição para um
“encontro” entre diferentes pontos de vista (diferentes consciências), o que
pode levar, criativamente, à transformação da realidade”.8
8
ALMEIDA PRADO, Lídia. O juiz e a emoção.São Paulo: Milenium, 2003, p. 3.
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pois, depois de uma década, os paradigmas que vieram reger o Direito de
Família, cujo reconhecimento concretizou-se desde a década de 60, com a
revolução de costumes daquela época, já cunhou o espírito mediador, que
ultrapassa os contornos da lei, instituto da mediação. .
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Neste diapasão, a mediação é muito mais que uma técnica de
comunicação, confiada aos mediadores que promovem sessões, em média de
cinco a sete encontros, com a presença de ambos os conflitantes, para compor
a dinâmica da mediação. Enfim, é preciso apreender a mediação sob dúplice
expressão: a técnica da mediação, que deve ser desenvolvida fora do
Judiciário, porém, recomendada por ele, e o espírito da mediação, que deverá
estar presente na formação dos profissionais, sensibilizando-os à escuta e à
compreensão do conflito humano.
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cada um falar, com a recomendação de um não interromper a fala do outro,
para desenvolver a capacidade de escuta, normalmente adormecida . Ao
término da fala de cada mediando, o mediador vai repetir, reformular e
confirmar a informação e o sentimento expresso naquela fala, procurando
situar os fatos no tempo e no espaço. Esta primeira organização
comunicacional – que normalmente ocorre nas duas primeiras sessões de
mediação – já se presta a conter a angústia dos sujeitos do conflito, permitindo-
lhes acessar logo outro nível mais sensível da comunicação.
IV – Ensino da mediação
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pode ser acessada por meio de outra linguagem, advinda do próprio
conhecimento jurídico, que se expressa da mesma principiologia.
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principalmente aqueles que estão inseridos no poder público, e se
conscientizam do potencial disponível para a transformação do tecido social.
Enfim, os profissionais empoderam-se10 e se encorajam a ousar, criativamente.
V - Conclusão
10
Empoderar é a tradução de empowement, do inglês, e começa a ser adotado no Brasil como neologismo
para representar a ação de usar o poder criativamente.
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BARBOSA, Águida Arruda. Mediação familiar: instrumento transdisciplinar em prol da
transformação dos conflitos decorrentes das relações jurídicas controversas. 2003. 135f. Dissertação
(Mestrado) – Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo, Universidade de São Paulo, São
Paulo.
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conscientização da natureza dos impasses, compreendendo-o a partir de sua
origem, numa atitude de responsabilidade, tomando a vida nas próprias mãos,
sem ter que levar ao Judiciário as questões que só podem ser conhecidas
pelos protagonistas de uma relação humana. Não desafoga, mas age no
sentido de não mais afogar o Judiciário, o que é uma perspectiva
completamente diferente.
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Um casal, que conheceu a mediação por intermédio de amigos recém
separados, orientados por este método, observou a importância do uso
preventivo deste conhecimento a favor da humanização das relações jurídicas
na Família. Decidiram, assim, elaborar um contrato de união estável, visando
ao estabelecimento de critérios claros para reger a família em constituição. A
demanda teve enquadre perfeito numa instância de mediação, na busca da
construção de uma comunicação qualitativamente mais intensa e duradoura.
Foram informados de que, escolhido o conteúdo do pacto, levariam a
manifestação de vontade a um advogado, para a orientação técnico-jurídica,
esclarecendo, com rigor, que mesmo que o mediador seja advogado, não
deverá misturar os papéis.
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aquela oportunidade. A questão que o afligia é que, por ocasião do aniversário
da companheira, ofereceu de presente um automóvel de alto luxo,
surpreendendo-a com a preparação iniciada meses antes, encomendando
acessórios personalizados, enfim, demonstrando carinho e zelo. Ao dar o
presente, logo pediu à companheira que lhe entregasse o automóvel antigo,
adquirido com rendimentos oriundos do trabalho dela, pois aquele bem foi
objeto da transação na concessionária, como parte de pagamento do presente
oferecido. A mulher opôs-se ao critério, querendo, até mesmo, devolver a jóia
automotiva que acabara de receber, alegando sentir-se invadida, afinal, caberia
a ela dar destino ao automóvel antigo adquirido por seu esforço, cujo valor
equivalia a um quarto do novo veículo.
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os mediandos uma atitude, um comportamento adequado para aprenderem a
trazer à discussão todo e qualquer sentimento que possa ser traduzido em
ressentimentos e mágoas.
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Bibliografia
CARBONNIER, Jean. Flexible droit. 8. ed. Paris: EJA, 1995. (Librairie Générale
de Droit et de Jurisprudence).
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CARBONNIER, Jean. Sociologie juridique. Vendôme, França: PUF, 1994.
www.ibdfam.org.br
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