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– espanhol)
0. Introdução
Ainda que comum nos dias de hoje, a afirmação “os nomes próprios não são
traduzidos” não é verdadeira. Algumas obras recentes sobre a tradução de nomes
próprios (NP) mostram bem esta situação (Franco Aixelá, 2000, Moya, 2000, Yllera
& Ozaeta, 2002).
Com base na definição linguística de NP e outras tipologias classificatórias,
tentaremos enumerar o mais exaustivamente possível as escolhas que apresentadas ao
tradutor, assim como os fatores a levar em conta para escolher ou então rejeitar um
procedimento de tradução. A partir de exemplos de tradução do francês para o
espanhol, trataremos das seguintes questões. De um lado, as características do NP no
texto de partida e da sua tradução no texto traduzido:
a) semântico-referenciais: status do referente ao qual faz referência o NP (se a
referência concerne entidades do tipo real, fictício ou ainda de valor
metafórico);
b) pragmático-culturais: conotação cultural do NP;
c) formais: NP de origem francesa ou ainda adaptação ou empréstimo de outra
língua;
d) textuais: repetição do NP ao longo do texto.
De outro lado, as características da tradução e o tipo de leitor visado.
Enfim, é interessante fornecer ao tradutor ou ao tradutor-aprendiz um leque
suficientemente grande de recursos a sua disposição para traduzir os NP do francês
para o espanhol.
1. A definição do NP
A definição linguística de NP é essencialmente de ordem semântica, ainda que seja
frequentemente associada às palavras que se iniciam por maiúscula. Segundo o Bon
Usage (1986), Fernández Leborans (1999) ou Leroy (2004), o NP não tem um
significado
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autêntico, nem tampouco definição: seu laço com o objeto designado não é semântico,
mas uma convenção que lhe é particular. Assim, não existem traços semânticos às
pessoas chamadas Gérard, salvo sua denominação. Ao utilizar um NP, “singulariza-
se” um indivíduo, faz-se a distinção deste entre outros indivíduos da mesma espécie.
Em troca, no nome “jovem rapaz”, há traços semânticos comuns a vários indivíduos.
Ao utilizarmos este termo, descrevemos alguém por meio dos traços comuns próprios
ao seu referente.
Ainda assim seria necessário distinguir as funções de denominação e de
designação, ou seja, o fato de atribuir um nome a uma pessoa ou personagem fictício
(denominação) e o fato de chamar ou se referir a eles (designação). Efetivamente, a
primeira vez que damos um nome a uma pessoa ou a um personagem de ficção, pode
haver aí uma intenção de encontrar ou mesmo de impor uma certa relação entre o
nome e a personalidade da entidade (quando conhecemos a etimologia dos nomes
próprios e seu sentido primitivo). Oras, o que é comum a todos os nomes próprios é o
fato de que devemos aprender, de forma individual, a correspondência entre o nome
e a entidade a que se refere. Quanto à função da designação, não fica claro se, ao nos
referirmos a pessoas, personagens ou lugares por meio de um NP, temos em mente a
lembrança do que este nome evoca.
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Certamente, as regras para a tradução foram modificadas nos últimos dois séculos
e parece-nos que a tendência a naturalização é menor no que concerne os NP.
Assim, nos textos traduzidos e mesmo nos textos redigidos diretamente em espanhol,
é mais fácil encontrar os nomes de Wolfgang Amadeus Mozart e de Karl Marx que os
de Amadeo Mosar ou de Carlos Marx.
De fato, os gêneros são determinantes para aplicar uma determinada “lógica” na
tradução dos NP: textos literários (teatro x romance x poesia) ou nomes literários
(imprensa, científicos, jurídicos...), e tamb+em as as características da tradução:
versão adaptada (para crianças ou adolescentes) ou abreviada, versões de bolso ou
edição crítica, talvez bilíngue, tradução oral simultânea, legendagem ou dublagem,
tamanho da tradução, notas de rodapé admitidas.
A tradução pode ser uma “versão” adaptada a diferentes públicos (em diferentes
países falantes de espanhol, de diferentes idades – adulto ou criança –, diferentes
níveis culturais). O falante visado pode ter indicado ser conhecedor da língua de
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partida ou do tema, ou ainda desconhecê-los por clmpleto. A tradução ainda pode ir
do mais exótico ao mais natural. As glosas intra-textuais ou extra-testuais (em notas
de rodapé) podem ser necessárias em determinados momentos, mas é preciso notar
que, para as traduções em versão de bolso, as notas de rodapé dos tradutores costumam
ser suprimidas. Os critérios editoriais restringem frequentemente o emprego deste
procedimento.
Glosa Informação explicativa adicionada que deve Pascal > Blaise Pascal
intratextual se estabelecer inciialmente quando da le Métropole > l’Hôtel Métropole
Primeira menção do NP no texto ou M. Chirac > el primer ministro
no enunciado sem romper a estrutura Francês Jacques Chirac
sintática Le Figaro > el diario francés Le
Figaro
PROCEDIME FONTES
NTO
Repetição - Anexos da Ortografía de la Real Academia Española (nomes de países
Adaptação e capitais e gentílicos)
ortográfica - Diccionario de ortografía técnica de Martinez de Sousa no artigo
Adaptação “Unificación” e nos anexos 3 e 4 dos antropônimos e dos topônimos
terminológica (com a transcrição do nome original
Tradução - Manuais de redação e stilo dos jornais espanhóis (ABC, El País,
linguística Agencia EFE)
- Sistemas de transcrição dos NP nas diferentes línguas, incluindo as
normas ISO para a transcrição de línguas de alfabeto não latino.
- Eventualmente enciclopédias ou dicionários de dificuldades
- Dicionário multilingue dos NP Prolex
http://tln.li.univtours.fr/tln_prolex/prolex.php
- Dicionário Larousse bilingue (edições a partir de 1999)
- Atlas em francês e em espanhol
Glosa extra- - Enciclopédias
textual - Corpus de obras traduzidas contendo notas de rodapé (notas do
tradutor).
Glosa intra- - Apêndices da obra de Moya (2000) sobre as glosas intertextuais mais
textual frequentes nos jornais espanhóis
- Corpus paralelos ou monolingues espanhóis (extra+idos da imprensa,
entre os quais os Archives du Monde diplomatique versão francesa e
espanhola).
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absoluta, sempre que o contexto permite eliminar a correspondência explícita dos
referentes numa cultura.
Isso pode ocorrer numa obra literária onde ficou decidido adaptar e naturalizar o
obra completa ou em qualquer texto onde o NP tem valor ilustrativo. Por outro lado,
nos textos de temática geral ou nas enciclopédias, onde os NP podem preencher uma
função ilustrativa, é preciso que os exemplos da tradução preencham exatametne o
mesmo papel ilustrativo, portanto, é possível que sejamos levados a fazer uma
“criação autônoma”. Os casos extremos de omissão/criação autônoma podem aparecer
quando da tradução simultânea e da adaptação de obras literárias para crianças ou
adolescentes, nas traduçoes de enciclopédias e de paraliteratura (romances água com
açucar, etc), enfim, onde se pode remover longos trechos do texto. Este caso também
aparece com frequência na publicidade, nos slogans, nas marcas de produtos, nas
diferentes versões de canções infantis ou nos contos e lendas populares.
Como fazem Franco Aixelà (2000) e Moya (2000), os recursos que podemos
utilizar para melhor identificar os procedimentos mais utilizados em determinados
gêneros são os corpus paralelos ou bilingues organizados por gêneros.
Finalmente, do ponto de vista dos recursos disponíveis, distinguiremos grosso modo:
a) no caso de já existirem traduções precedentes: Por exemplo, os títulos de filmes
ou livros traduzidos nem sempre são submetidos aos mesmos procedimentos de
tradução. Ao procuramos se existem traduções precedentes dos títulos em
espanhol, deve-se buscar nas bases de dados de filmes exibidos na Espanha e
nas bases de dados de traduções publicadas que aparecem no site do Ministério
da educação espanhol: Portanto poderemos tratá-los tipograficamente como
publicações. Se a tradução não tiver sido publicada ou o filme ainda não tiver
chegado à Espanha, podemos, eventualmente, tentar encontrar nas filmografias
ou bibliografias dos diretores de cinema/autores redigidas em espanhol desde
que os especialistas já utilizem os títulos traduzidos;
b) no caso que leva obrigatoriamente à criação de um “neologismo”: para os
filmes que vão chegar logo às telas espanholas ou traduções que serão
propostas, então a tarefa é mais criativa. De início, todos os procedimentos são
possíveis, desde que com cautela. Em todo caso, é necessário fazer
corretamente a distinção tipográfica do que está publicado e do que mostra
nossa contribuição enquanto tradutores.
Finalmente, há o caso das versões (nova marca, novo produto, nova publicidade,
elaboração de uma enciclopédia, adaptação livre de uma peça de teatro, etc.). Estes
casos exigem tocar nas “regras” escritas ou não escritas de cada gênero. Assim, as
regras de transliteração dos NP existem e nos podemos consultá-las para transliterar
os nomes de um novo presidente ou ministro árabe, chinês ou russo (Com a condição
de conhecer estas línguas), mas não poderemos consultar as regras sobre as tendências
de tradução ou de construção de neologismos. Nestes últimos casos, a consulta de
corpus paralelos e bilíngues é útil, mas a capacidade
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Criativa do tradutor, assim como o senso comum também são solicitados (coerência
entre o título e a obra, coerência nos procedimentos de tradução na obra como um
todo, percepção das nuances de NP propostas na língua de chegada, avaliação da perda
de valores, nuances, etc com relação ao texto original).
5. Conclusões
Passamos em revista os diferentes procedimentos de tradução possíveis, ao seguir
a classificação de Franco Aixelà, onde a distinção de base é manter ou substituir o NP,
o que depende do status semântico-referencial do NP (entidade real, não real ou de
valor ilustrativo ou metafórico).
Efetivamente, constatamos que a não tradução deixou de ser o procedimento mais
difundido. Mencionamos ainda assim algumas razões pelas quais os NP não
são traduzidos: de ordem pragmática e prática.
Por um lado, mesmo que ainda sejam hipóteses pedentes de validação, é preciso
reconhecer que o paradigma pragmático também invadiu a tradução, pois ddefende-
se a presença de NP não traduzidos enquanto refexo das cultiras de origem. Isso ocorre
mais precisamente nos textos literários e nos nomes fictícios.
Por outro lado, há razões práticas: a proliferação das relações internacionais no
mundo ocidental e as consequências do multilinguismo multiplicam a massa de
traduções. Também existem contratos e acordos internacionais, regulamentos onde
não devem ser traduzidos os NP de entidades ou pessoas jurídicas. Lembremos que
também foram criados nomes internacionais para os países ou cidades, haja vista os
códigos de normas para a abreviação de cidades, aeroportos, línguas, etc.
Enfim, não pretendemos negar que sempre que o nativo espanhol (tradutor ou não)
encontra uma similaridade ou uam tradução fácil, há fatores cognitivos que o
empurram a traduzir ao menos oralmente (la Bibliothèque nationale > la Biblioteca
nacional), mas, outra vez, será necessário avaliar em que conxtetos isso é possível.
Esperamos ter contribuído para a melhor avaliação dos valores e funções dos NP, ao
lembrar os níveis de análise (semântico referencial, pragmático, tetual e formal) e ao
diversificar os recursos a nossa disposição, a fim de decidir qual procedimento deve
ser aplicado nos diferentes gêneros (jornalísticos, literários).
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