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Universidade Federal Fluminense

Instituto de Ciências Humanas e Filosofia


Departamento de Filosofia
Filosofia e Cultura I
Professor: Bernardo Barros
Aluna: Giana C. de C. Araujo

AVALIAÇÃO
Encontre duas passagens diferentes, uma de cada obra estudada no curso (o ensaio “Sobre
alguns motivos na obra de Baudelaire”, de Walter Benjamin, e os três primeiros capítulos de
24/7. Capitalismo tardio e os fins do sono, de Jonathan Crary), que sirvam de base para que
você estabeleça um paralelo entre o diagnóstico benjaminiano da atrofia da experiência
partilhável na modernidade do século XIX e o de Crary sobre as condições da experiência no
mundo atual da hiper-comunicação, e discorra sobre a relação entre as passagens, mostrando o
porquê de terem sido escolhidas por você. Sua argumentação deve ser embasada nos textos
estudados.

RESPOSTA

Os trechos selecionados correspondem a uma tentativa de confronto entre o sentido da


vivência em Benjamin com a experiência do mundo contemporâneo narrada por Crary.

Enquanto Benjamin concebia a vivência enquanto um momento de preparação do homem


para internalizar a lógica capitalista nesta passagem,

“Quanto maior for a participação do momento de choque em cada uma das


impressões recebidas, quando mais constante for a presença da consciência
no interesse da proteção contra os estímulos, quanto maior for o êxito dessa
sua operação, tanto menos essas impressões serão incorporadas na
experiência, e tanto mais facilmente corresponderão ao conceito de
vivência” (BENJAMIN, ........., p. 113).

Crary conclui que a obsolescência no mundo digital é tão permanente que se torna premente
não mais descrevê-lo, mas voltar-se para a investigação levada a cabo por Benjamin, em
novas bases:

É bastante revelador que livros e ensaios sobre as novas mídias escritos há


apenas cinco anos já estejam obsoletos, e qualquer texto escrito hoje com os
mesmos objetivos se tornará obsoleto em ainda menos tempo. No momento,
a operação e os efeitos particulares de novas máquinas ou redes específicas
são menos importantes do que a redefinição da experiência e da percepção
pelos ritmos, velocidades e formas do consumo acelerado e intensificado (p.
48, grifo nosso).
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Segundo Benjamin, a sensibilidade do homem moderno fez com que a “verdadeira


experiência” não fosse mais absorvida através da arte, como a poesia lírica. Segundo este
autor, condições de vida diferentes geram condições de recepção da arte – sensibilidades -
diferentes.

A própria ideia de experiência também é histórica e se modifica. Em Benjamin e Crary,


portanto, essa mesma palavra pode engloba realidades diferentes. O que Benjamin descreveu
como uma deterioração da experiência, a vivência, já é algo completamente tão disseminado
no mundo atual que se torna ponto de partida para Joseph Crary descrever a experiência, uma
vez que ocorre no tempo 24/7. Assim, a experiência descrita por Crary nos remete ao que
Benjamin descrevia como vivência, que se opunha à experiência. Considerando que os dois
utilizam o mesmo ponto de partida em seu pensamento, que é o de considerar as mudanças da
sensibilidade de acordo com as condições de vida impostas pela lógica do capital no mundo
do trabalho, podemos traçar um paralelo entre as diferentes concepções de experiência entre
os dois autores.

Em “Sobre alguns motivos na obra de Baudelaire”, Benjamin descreve uma tensão entre
experiência e vivência, dois modos – históricos – de sentir e absorver o mundo. A experiência
remete a uma memória mais ligada a uma tradição pré-capitalista, uma vez que é descrita na
Europa antes do século XIX, em contraste com a do período moderno. “De fato, a experiência
é matéria de tradição, na vida coletiva como na privada. Constitui-se menos a partir de dados
isolados rigorosamente fixados na memória, e mais a partir de dados acumulados, muitas
vezes não conscientes.” (p. 107). A “experiência no sentido estrito do termo”, segundo
Benjamin, ocorre quando há uma conjugação da memória individual com a coletiva, tornando
os limites entre o coletivo e individual bem mais fluidos (p. 109).

Na direção oposta, uma agudização da consciência, que proporciona a vivência. O mundo


moderno incapacita as pessoas cada vez mais a se apropriarem de suas experiências. Cada vez
mais a nossa vida interior adquire um “caráter privado sem alternativa” (p. 108). Isto é uma
consequência histórica de um movimento de redução progressiva da “possibilidade de os fatos
exteriores serem assimilados à nossa experiência” (id.). Benjamin recorre a Freud para
explicar essa incapacitação progressiva: a consciência apara o choque traumático. E o mundo
capitalista precisa de um homem fragmentado que apare bem os choques resultantes de sua
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nova experiência cotidiana – alienada – com o trabalho. É preciso esquecer, e nenhum


dispositivo melhor do que a consciência para relegar os nossos traumas ao fundo abismo da
inconsciência. “A vivência do choque que o transeunte tem no meio da multidão corresponde
à vivência do operário junto da máquina” (p. 129). Nas ruas, e na vida cotidiana, inspirado em
Baudelaire e Poe, Benjamin afirma que o maior anteparo desses choques, na vida moderna, é
a multidão.

A vivência na multidão vai desfazendo progressivamente os laços entre os homens, e o deixa


com uma sensação de estar vivendo no tempo infernal, conforme descrito por Baudelaire: “O
indivíduo que se vê privado de experiência sente-se como se tivesse sido expulso do
calendário” (p. 139). Se tornam “pobres almas que andam de um lado para o outro, mas não
têm história” (id.).
Essa experiência do homem moderno, centrada no que Benjamin denominou de vivência,
infernalizados pelo tempo das máquinas e onde o esquecimento e a perda de laços tem um
papel central, é o ponto de convergência entre Benjamin e Crary que iremos explorar.

O tempo 24/7 descrito por Crary é ainda mais infernal do que o tempo descrito por Baudelaire
porque não diz respeito mais ao tempo de máquinas que têm uma vida útil palpável, mas o
que oprime o homem é a virtualidade de uma promessa tecnológica que nunca se realiza:
“Apesar das declarações onipresentes da compatibilidade, ou mesmo harmonia, entre o tempo
humano e as temporalidades dos sistemas em rede, disjunções, fraturas e desequilíbrio
contínuo compõem a experiência real dessas relações” (p. 41).

O tempo “atemporal” de 24/7 inferniza o homem porque é uma “palavra de ordem” e com
isso deprecia a temporalidade humana como frágil e inadequada, “com suas tessituras
confusas, irregulares” (p. 39).

Crary denuncia que com isso, a “experiência compartilhada atrofiou (...)” no mundo atual (p.
41). O ponto é que parece que a própria vivência, tal como descrita em Benjamin, parece ter
modificado o seu caráter. O indivíduo contemporâneo que está imerso no 24/7 não é
esvaziado apenas de sua experiência coletiva, mas sequer almeja ou enxerga isso como um
fim. A vivência fragmentada descrita por Benjamin ainda sente os choques da violência
impressa pela hora do relógio ou pelo ritmo alienante de seu trabalho cotidiano. Mas há toda
uma tecnologia e um aparato artístico que ainda o “domesticam” para este fim. No 24/7 não
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resta mais qualquer resistência, o homem já se encontra completamente impotente e incapaz


de qualquer distanciamento de sua imersão:

A dupla face 24/7 anuncia sua absoluta incompatibilidade com a vida. 24/7
não apenas incita no indivíduo um foco exclusivo em adquirir, ter, ganhar,
desejar ardentemente, desperdiçar e menosprezar, mas está totalmente
entremeado a mecanismos de controle que tornaram supérfluo e impotente o
sujeito de suas demandas (p. 41).

24/7, assim, enquanto uma “temporalidade impossível” (p. 39) é o novo paradigma sob o qual
toda experiência contemporânea é organizada sem qualquer resistência ou questionamento. O
homem esvaziado de si mesmo de Benjamin significa um homem que não tem mais a
dimensão da coletividade mas que mergulha em si mesmo para dar sentido à sua vida. Ele
reflete e narra sua vida em romances. O homem 24/7 não tem mais condições de buscar um
sentido para além do que já é dado pelo mundo digital, uma vez que promove a incapacitação
de qualquer movimento de busca por parte do indivíduo. O controle da sua vida feito por
dispositivos externos é a sua nova natureza. A sua visão é atrofiada na medida em que “a
atividade ótica individual é transformada em objeto de observação e administração” (p. 43),
de modo que o 24/7 “incapacita a visão por meio de processos de homogeneização,
redundância e aceleração” (id.), promovendo uma “desintegração da capacidade humana de
ver, em especial da habilidade de associar identificação visual e avaliações éticas e sociais”
(id). De igual modo, 24/7 promove a “diminuição de suas [do indivíduo] capacidades mentais
e perceptivas” (p. 43).

A experiência da vivência do 24/7 se afasta da vivência de Benjamin na medida em que o


homem se torna incapaz de se relacionar até mesmo com a sua memória individual, dando
nem que seja ficticiamente um início um meio e um fim. O elo com o passado, mesmo o
consciente, se perdeu totalmente na medida em que os dados da memória foram todos
capturados pela lógica mercadológica da ordem capitalista, ou seja, se tornaram mercadorias
descartáveis impossíveis de serem apropriadas permanentemente pelo ser humano, produzidas
por um olhar mecânico e teleguiado, segundo a análise que Crary faz de um filme de Godard.

Em meio à amnésia coletiva instigada pela cultura do capitalismo global, as


imagens se tornaram um dos muitos elementos esvaziados e descartáveis
que, por serem arquiváveis, não são jamais jogados fora, contribuindo para
um presente cada vez mais congelado e sem futuro (p. 44).
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Esta fragmentação é também compatível com a palestra da escritora indiana Abha Dawesar,
que descreve os danos do “agora digital” na elaboração das experiências e a consequente
perda de sentido do homem diante de sua própria vida. As pobres almas que circulam sem
história de Benjamin não imaginavam a intensificação deste processo neste patamar: as almas
do agora digital sequer precisam andar.

Por fim, a percepção do tempo dentro da lógica do 24/7 considera inatingível a realização do
que quer que seja: o estado de transição permanente, que faz parte da lógica da produção
capitalista, que deve sempre se renovar – não apenas no campo da tecnologia – aumentando a
distância e a impotência do homem diante dessa realidade (p. 46).

O único fator consistente que liga a sucessão, de resto incoerente, de


produtos de consumo e serviços é a integração cada vez mais intensa de
nosso tempo e atividade aos parâmetros de intercâmbio eletrônico. Gastam-
se bilhões de dólares em pesquisas dedicadas a reduzir o tempo de tomadas
de decisões, a eliminar o tempo inútil de reflexão e contemplação. Essa é a
forma do progresso contemporâneo – a prisão e o controle implacável do
tempo e da experiência” (p. 49).

Estes são os elementos que eu pude confrontar com o objetivo de examinar algumas
diferenças entre a vivência descrita por Benjamin e da experiência do 24/7 narrada por Crary,
baseadas nos diferentes momentos históricos: enquanto em Benjamin o homem estava se
adaptando à lógica do capital, o 24/7 já representa uma total imersão do homem
contemporâneo dentro dessa lógica, com uma intensificação dos elementos descritos por
Benjamin (a perda dos vínculos sociais, o jugo diante do tempo), e criação de novos dados (a
perda da visão, a impotência generalizada, a incapacidade de construir um sentido para a
própria vida, o aprisionamento total da experiência e do tempo).

REFERÊNCIAS

BENJAMIN, Walter. Sobre alguns motivos na obra de Baudelaire. In. A modernidade.


Organização e tradução de João Barrento. Lisboa: Assírio & Alvim, 2006.

CRARY, Jonathan. 24/7. O capitalismo tardio e os fins do sono. Tradução de Joaquim Toledo
Jr. São Paulo: Ed. 34, 2014.

DAWESAR, Abha. Life in the digital now, TED TALKS, junho de 2013. Disponível em:
<https://www.ted.com/talks/abha_dawesar_life_in_the_digital_now> Acesso em: 28/11/2017.

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