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Núcleo de Educação Popular 13 de Maio - São Paulo, SP .

CRÍTICA SEMANAL DA ECONOMIA


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EDIÇÃO Nº 1184 – Ano 28; 4ª semana Março 2014.

A Rússia dá as cartas do jogo


JOSÉ MARTINS.
Na dura realidade da geopolítica a Rússia aparece muito mais forte do que
nas imagens do espetáculo ucraniano protagonizado pelos Estados
imperialistas e sua mídia global.

O discurso triunfal de Vladimir Putin na terça-feira, dia 17 de Março, representou


mais do que o ápice do processo de reintegração da Crimeia à Rússia. Nele, o
presidente russo indicou que não pretende avançar sobre o leste da Ucrânia e que
é favorável à manutenção da unidade do país, ainda que sem a Península no sul:
“ Nós não queremos causar dano a vocês (ucranianos), ofender seus sentimentos
nacionais. Nós não queremos a divisão da Ucrânia, não precisamos disso”, disse
o chefe de governo no Kremlin. Maquiavelismo puro. A Rússia não ganharia
nada invadindo o território geográfico ucraniano, que ela já domina efetivamente
pela economia, língua, população, cultura, etc. a Ucrânia é mais russa que a
própria Criméia, que festeja até agora a reunificação sacramentada nesta semana.
Mas como o Ocidente reagirá a uma proposta tão generosa de
entendimento como essa do discurso de Putin? Pelo visto na última semana, da
maneira menos beligerante possível. A tendência, portanto, se tudo pudesse ser
encaminhado de acordo com as conversações entre EUA e Rússia, como
abordado no último boletim, seria aproveitar essa realista proposta de Putin. Mas
as coisas nem sempre são muito fáceis de se concretizar.

AMEAÇA E OPORTUNIDADE – Em seu discurso, Putin procurou legitimar


inúmeras vezes a reintegração da Crimeia à Federação Russa do ponto de vista
histórico, lembrando o resultado “convincente” do referendo, da “injustiça
histórica” que foi a decisão de Moscou de ceder o território à Ucrânia em 1954,
etc. Entretanto, o mais importante é quando ele ressalta que havia uma “ameaça”
de avanço da Otan (leia-se EUA) na região: “Deixe-me lembrar a vocês as
declarações que vem sendo feitas em Kiev sobre a iminente integração da
Ucrânia à Otan. O que tal possibilidade representaria para a Crimeia e para
Sebastopol? Que uma frota da Otan teria aparecido na cidade da glória militar
russa; que uma ameaça teria surgido em todo o sul da Rússia”, afirmou.
Moscou está enviando a seguinte mensagem para Washington: a Rússia
não abre mão da Crimeia, Sebastopol e o domínio sobre o Mar Negro. Em
contrapartida, aceita a ampliação geográfica da dominação imperialista do nosso

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histórico aliado até Kiev, como já o fazem em quase todos pequenos países da
antiga “cortina de ferro”. Nestas novas condições, de um lado a Rússia abandona
qualquer ilusão sobre a restauração do já longínquo Pacto de Varsóvia. Por outro
lado, com o controle sobre o Mar Negro mantem o domínio imperialista sobre
grande parte da Ásia Central, estendido até a Geórgia e Tchetchênia. Ao mesmo
tempo reparte com EUA, forte influência no Oriente Médio e outras partes no Sul
e Leste da Ásia – como ocorrido recentemente com as armas químicas na Síria e
o acordo de armas nucleares com Irã. Será finalmente salvaguardada sua
crescente presença de fornecedor de armas em todos os continentes, incluindo
América Latina, concorrendo diretamente com os EUA, como veremos a seguir.

PROTAGONISTAS E COADJUVANTES – Por trás de tudo isso se desenrola aquela


grande barganha geopolítica entre os EUA e a Rússia, que falamos
anteriormente. Os dois ganham e a as decadentes potências europeias perdem.
Principalmente a Alemanha, líder da eurozona, que tem demonstrado desejos
inaceitáveis (tanto para EUA como para Rússia) de se tornar grande produtora de
armamentos. A Inglaterra e França participam deste jogo como aliadas passivas
dos EUA. As demais antigas potências da União Europeia ( lugar destacado para
Alemanha) entram como coadjuvantes sem fichas para participar.
A partir da proposta de Putin, implícita em seu discurso, e do fato
consumado da brusca separação da Criméia da Ucrânia, pode-se encaminhar as
coisas para uma solução de acordo com os interesses militares das duas grandes
potências da antiga Guerra Fria (1945/1990) e com as necessidades de
governabilidade capitalista no continente europeu como um todo. Inclusive da
frágil governabilidade e possibilidades de revolução na Rússia, é claro.
Mas é claro, também, que se as coisas fossem tão simples, como neste
enunciado, nunca haveria conflitos e muito menos guerras entre as nações. Para
se pavimentar o caminho deste complexo arranjo geopolítico na Europa existem
ainda muitos obstáculos a serem neutralizados. Começando pela horrorosa
falange do velho nazismo europeu que se instalou com um golpe de Estado no
governo em Kiev e se apresenta como legítimo representante ucraniano e do
Ocidente nas negociações para a crise do país. Sua possibilidade de permanência
no poder depende de uma guerra aberta com a Rússia, apoiada, é claro pelo
exército da OTAN. Essa é uma hipótese improvável, embora não impossível.
Outro obstáculo, não menos importante, é a ressentida Alemanha, a grande
cafetina da eurozona, que sabe o que está em jogo, mas não tem força para jogar.
Apenas para lamentar. Como a acusação ao governo russo de que ele pretende
“dividir a Europa”, feita por Frank-Walter Steinmeier, chefe da diplomacia
alemã, em visita a Kiev, em 22 de Março. Corretíssimo, mas a sua queixa deveria

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ser encaminhada em primeiro lugar ao governo de Washington, que nas atuais
escaramuças ucranianas é o principal interessado na divisão da Europa.
Na próxima semana, esses negócios internacionais serão discutidos
novamente entre o Secretário de Estado norte-americano John Kerry e seu
parceiro russo, chanceler Sergei Lavrov. Agora é a hora de Washington jogar sua
carta. Este novo encontro entre quem comanda as peças principais do tabuleiro
geopolítico mundial, previsto para se realizar em Haia, entre terça e quarta-feira,
será tão importante quanto o da semana passada, em Londres, para os dois
adaptarem às suas cinzentas manobras diplomáticas de poder imperial a verde
realidade de transformações que o mundo sofrerá nos próximos cinco anos.

Em 2014, estamos completando 27 ANOS DE VIDA.


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