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Prova RESOLVIDA Sentença Penal

1) SENTENÇA PENAL ESTADUAL

RODADA 20.2014

1) O Ministério Público ofereceu denúncia contra Maicon Vida Loka pela


prática de roubo (art. 157, caput, do CP) em concurso material com furto
qualificado (art. 155, parágrafo 4º, I, do CP).
Narra a denúncia que Maicon Vida Loka, aproveitando-se da abertura do
portão eletrônico, entrou até a garagem de uma residência. Ao se deparar
com a vítima Dulcinha que estava no interior de seu veículo, preparando-se
para deixar o local, aos berros mandou que ela lhe passasse o relógio, o que
foi feito imediatamente.
Em seguida, quebrou o vidro do carro estacionado ao lado e subtraiu um
aparelho mp3 que se encontrava sobre o banco.
Foi preso em flagrante por uma viatura da polícia militar cerca de duas
quadras da ocorrência dos crimes.
O Delegado de Polícia nomeou o agente de polícia Pedrão, com curso
superior, na qualidade de perito ad hoc para constatar o arrombamento ao
veículo. Foi elaborado o laudo de constatação de arrombamento.
Foi colhido o depoimento da vítima em sede policial, oportunidade em que
disse que ficou muito intimidada com os gritos de Maicon Vida Loka e sentiu
bastante medo, por isso lhe entregou seu relógio.
O relógio foi avaliado em R$ 600,00 e o aparelho MP3 em R$ 500,00.
Em seu interrogatório policial, Maicon Vida Loka se declarou usuário de
cocaína, álcool e maconha.
Na resposta à acusação, além de apresentar negativa geral sobre os fatos, a
defesa requereu a realização de perícia com objetivo de constatar a
inimputabilidade do réu, face a dependência química.
Na análise da resposta à acusação, o juiz indeferiu o pedido de perícia, sob o
argumento de que o mero uso de drogas, ainda que corriqueiro, não conduz
à realização do exame requerido.
Na audiência de instrução e julgamento foram inquiridos a vítima e os policiais
encarregados da prisão, que confirmaram os fatos. Testemunhas de defesa
abonatórias. O réu confessou os crimes e afirmou que os praticou para
comprar drogas.
A vítima pediu ao juiz que prestasse seu depoimento sem a presença do réu
na sala de audiências, pois se sente extremamente ameaçada por ele, o que
foi deferido pelo magistrado.
Foi juntada certidão de antecedentes do réu, com prova da existência de
condenação pelo crime de lesões corporais, transitada em julgado há menos
de 5 anos.
Em sede de alegações finais o MP pediu condenação nos termos da
denúncia.
A defesa, em preliminar, levantou nulidade do processo devido ao
equivocado indeferimento da perícia. No mérito pediu condenação em pena
mínima e substituição por restritivas de direitos.

É o relatório.

Elabore a sentença. (Dispensado relatório. Não transcreva acórdãos, súmulas,


números de acórdãos, doutrina).

FUNDAMENO E DECIDO:

Preliminar

A preliminar de nulidade deve ser rejeitada sob o argumento de que o fato de


o réu se declarar usuário de drogas, por si, não conduz à obrigatoriedade
para a realização do exame pericial. Além disso, merece ser destacado que
mesmo nos casos em que houver suspeita de que o réu é viciado no uso de
drogas, vale dizer, não se trata de mero usuário, a perícia também não se
torna obrigatória.

O norte que terá o magistrado para definir se acata ou não o pedido de


prova pericial é a presença de fundada suspeita de que o vício de drogas
afeta a capacidade do réu de compreender a realidade e se
autodeterminar. Nesse caso, haverá o deferimento da perícia, conforme
entendimento tranquilo no âmbito do Superior Tribunal de Justiça:

Da análise dos autos, verifica-se que o acórdão que negou provimento ao


apelo do paciente não fez qualquer menção à apontada nulidade da
sentença condenatória proferida em desfavor do paciente, que teria sido
julgado sem que fosse submetido à perícia para atestar sua inimputabilidade
à época dos fatos, até mesmo porque em momento algum do processo
criminal em comento a defesa a aventou, tendo sustentado, em seu recurso,
apenas e tão somente, a sua absolvição ante a legada fragilidade do
conjunto probatório produzido nos autos. 3. Tal matéria deveria ter sido, por
óbvio, arguida no momento oportuno e perante o juízo competente, no seio
do indispensável contraditório, circunstância que evidencia a impossibilidade
de análise da impetração por este Sodalício, sob pena de se configurar a
indevida prestação jurisdicional em supressão de instância. 4. Ainda que assim
não fosse, há que se destacar que este Superior Tribunal de Justiça possui
entendimento consolidado no sentido de que a mera suspeita de que o
acusado é usuário de substâncias entorpecentes, por si só, não justifica a
realização do exame de dependência toxicológica, providência que deve ser
condicionada à efetiva demonstração da sua necessidade, quando há
dúvidas a respeito do seu poder de autodeterminação. 5. Habeas corpus não
conhecido.(HC 258.463/DF, Rel. Ministro JORGE MUSSI, QUINTA TURMA, julgado
em 04/12/2012, DJe 18/12/2012)

Nos termos expressos do art. 19 da Lei n.º 6.368/76 (atual art.45 da Lei n.º
11.343/2006), a inimputabilidade ou semi-imputabilidade decorrente do uso
de substância entorpecente ou que determine dependência física ou
psíquica, seria apta para excluir a culpabilidade não apenas dos delitos
tipificados no próprio diploma legal, mas de qualquer infração penal. 2. Para
que haja exclusão ou diminuição da culpabilidade, a perda ou redução da
capacidade de entendimento do caráter ilícito do fato, em razão do uso do
entorpecente, deve ser decorrente de caso fortuito ou força maior. Em outras
palavras, a dependência química, por si só, não afasta ou reduz a
responsabilização penal. 3. A tão-só alegação de ser o réu consumidor
reiterado de drogas não torna obrigatória a realização do exame de
dependência química, mas cabe ao Juiz, a partir da análise do acervo
probatório e das circunstâncias do crime, avaliar a conveniência e
necessidade do ato. 4. Ao afastar a referida nulidade, arguida na apelação
defensiva, o Tribunal a quo, soberano na análise da matéria fática, entendeu
que as provas colhidas na instrução não indicariam, sequer indiciariamente,
que os Pacientes estivessem com a intelecção e volição prejudicadas durante
a prática do crime, mas, ao contrário, as circunstâncias que envolveram o
delito demonstrariam o pleno exercício da capacidade de discernimento dos
agentes no momento da conduta delituosa. 5. Cerceamento de defesa ou
prejuízo para a defesa não caracterizados. 6. Ordem denegada.(HC
118.970/SP, Rel. Ministra LAURITA VAZ, QUINTA TURMA, julgado em 16/12/2010,
DJe 07/02/2011)
Mérito

crime de roubo do relógio

Há de ser realizada emendatio libelli, nos termos do art. 383 do Código de


Processo Penal, em relação ao crime de roubo. De início, saliente-se que
apesar de a vítima sentir medo, por si, não implica no reconhecimento do tipo
previsto no art. 157 do CP. Observe que o art. 157 do CP exige que haja grave
ameaça ou violência como elementares do tipo. Assim, ainda que a vítima
sinta-se intimidada, se a conduta praticada pelo réu não puder ser
considerada como grave ameaça, impossível a tipificação como crime de
roubo.

No caso em tela, temos situação que fica exatamente nessa linha tênue que
divide o roubo e o furto, quando o cometimento ocorrer sem violência, mas
com ameaça. A chave para decidir a questão diz respeito justamente à
intensidade da grave ameaça. Firme nessas premissas, temos que somente
gritar, ainda que bem alto e próximo à vítima, sem anunciar qualquer outro
mal em caso de não entrega do bem, não pode ser tratado como grave
ameaça, elementar do art. 157 do CP.

Além disso, o fato de a vítima se assustar, ou mesmo se sentir ameaçada, não


conduz, necessariamente, ao reconhecimento da prática de grave ameaça
pelo réu. Vejam que a diferença é sutil, mas existe.

Recente acórdão do Supremo Tribunal Federal tratou de questão idêntica,


verbis:

PENAL E PROCESSUAL PENAL. HABEAS CORPUS. SUBTRAÇÃO DE COISA ALHEIA


MÓVEL. CONDENAÇÃO PELA PRÁTICA DO CRIME DE ROUBO. GRAVE AMEAÇA
NÃO CONFIGURADA. DESCLASSIFICAÇÃO PARA O DELITO DE FURTO. ORDEM
CONCEDIDA. 1. A conduta típica no crime de roubo é composta pela
subtração da coisa alheia móvel, conjugada com o emprego de grave
ameaça ou violência à pessoa, nos termos do artigo 157 do CP. 2. A grave
ameaça é o constrangimento ou a intimidação provocada na vítima a fim de
subtrair um bem móvel de sua propriedade. Trata-se de um elemento
subjetivo, tendo em vista a necessidade de se analisar, no caso concreto, se o
ato praticado pelo agente foi realmente capaz de incutir na vítima um temor
fundado e real. Contudo, o caráter subjetivo da grave ameaça não dispensa
a correlação de proporcionalidade e razoabilidade que deve existir entre a
conduta praticada pelo agente e a ameaça sentida pela vítima. 3. In casu, o
paciente foi denunciado e condenado pela prática do crime de roubo, por
ter subtraído um aparelho celular. Narra a denúncia que a vítima
“encontrava-se na carroceria do veículo Fiat/Strada, placas HAR-82,
estacionado em frente ao supermercado ABC, quando foi abordada pelo
denunciado que, aos gritos, determinou-lhe que passasse todos os seus
pertences. Intimidada, a vítima entregou ao acusado o seu aparelho de
telefone celular, que se encontrava nas suas mãos”. 4. Todavia, consoante
afirmou a Corte Estadual em sede de apelação, “nas duas vezes em que a
vítima foi ouvida ela relata que o apelante abordou-a gritando. Na fase
policial ela assinala que o autor não a ameaçou, não usou qualquer tipo de
arma ou agressão física para a prática do furto, conforme já anteriormente
destacado. (...) Não se extrai do evento que a vítima tenha sido reduzida à
impossibilidade de resistência, até porque assinala que, antes mesmo que
entregasse qualquer objeto ao meliante, este ‘arrancou-lhe’ o celular e
evadiu. Tal circunstância autoriza a desclassificação para a figura do furto”. 5.
Ordem concedida a fim de anular o acórdão proferido pelo Superior Tribunal
de Justiça no julgamento do Resp 1.215.698-AgR, restabelecendo, na íntegra,
o acórdão do Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais que desclassificou
o crime de roubo para o delito de furto. (HC 117819, Relator(a): Min. LUIZ FUX,
Primeira Turma, julgado em 22/10/2013, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-221
DIVULG 07-11-2013 PUBLIC 08-11-2013)

Portanto, a conduta referente à subtração do relógio de Dulcinha melhor se


encaixa como furto simples consumado (art. 155 do CP). Observe que o mero
fato de aproveitar a abertura do portão para ingresso no local não pode ser
considerado como destreza hábil a atrair a qualificadora do parágrafo 4,
inciso II, do art. 155 do CP. Isso porque, em bom português, a conduta de
Maicon Vida Loka não teve nada de especial. Ele somente aproveitou uma
brecha na segurança, algo que quase todos os ladrões fazem.

Crime de furto do MP3

De início, cumpre relembrar que a denúncia narrou a prática de furto


qualificado pelo rompimento de obstáculo (arrombamento) referente a
subtração do aparelho MP3 no interior do veículo estacionado na garagem
de Dulcinha.

A jurisprudência do STF e do STJ é pacífica no sentido de reconhecer a


qualificadora prevista no art. 155, parágrafo 4, I, do CP, quando ocorre a
quebra da janela do veículo para permitir a subtração de objetos em seu
interior, conforme mostram acórdãos a seguir:
Habeas corpus. Penal. Arrombamento de veículo automotor para furtar
objeto. Incidência da qualificadora do inciso I do § 4º do art. 155 do Código
Penal. Precedentes. Ordem denegada. 1. A jurisprudência da Corte está
consolidada no sentido de que “configura o furto qualificado a violência
contra coisa, considerado veículo, visando adentrar no recinto para retirada
de bens que nele se encontravam” (HC nº 98.606/RS, Primeira Turma, Relator o
Ministro Marco Aurélio, DJe de 28/5/10). 2. Ordem denegada. (HC 110119,
Relator(a): Min. DIAS TOFFOLI, Primeira Turma, julgado em 13/12/2011,
PROCESSO ELETRÔNICO DJe-039 DIVULG 24-02-2012 PUBLIC 27-02-2012)

FURTO QUALIFICADO - ROMPIMENTO DE OBSTÁCULO. Configura o furto


qualificado a violência contra coisa, considerado veículo, visando adentrar no
recinto para retirada de bens que nele se encontravam. (HC 98606, Relator(a):
Min. MARCO AURÉLIO, Primeira Turma, julgado em 04/05/2010, DJe-096 DIVULG
27-05-2010 PUBLIC 28-05-2010 EMENT VOL-02403-03 PP-00948)

HABEAS CORPUS SUBSTITUTIVO DE RECURSO ESPECIAL.DESCABIMENTO. CRIME


CONTRA O PATRIMÔNIO. FURTO QUALIFICADO PELO ROMPIMENTO DE
OBSTÁCULO. SUBTRAÇÃO DE TOCA-FITAS NO INTERIOR DE VEÍCULO
AUTOMOTOR. CONFIGURAÇÃO DA QUALIFICADORA. CONSTRANGIMENTO
ILEGAL NÃO CONFIGURADO.1. Os Tribunais Superiores restringiram o uso do
habeas corpus e não mais o admitem como substitutivo de recursos, e nem
sequer para as revisões criminais. 2. A jurisprudência desta Corte entende estar
configurada a circunstância qualificadora do rompimento de obstáculo,
prevista no art. 155, § 4º, inciso I, do Código Penal, quando o furto for
cometido com o rompimento dos vidros de veículo para a subtração de
objetos do seu interior, desde que haja comprovação por perícia. 3. Habeas
corpus não conhecido.(HC 148.757/DF, Rel. Ministro MOURA RIBEIRO, QUINTA
TURMA, julgado em 25/02/2014, DJe 07/03/2014)

Todavia, o ponto central deste tópico consiste em definir se o laudo


apresentado pelo perito ad hoc é suficiente para comprovação da
materialidade do rompimento do obstáculo. Observe o que diz o art. 159,
parágrafo 1, do Código de Processo Penal:

Na falta de perito oficial, o exame será realizado por 2 (duas) pessoas idôneas,
portadoras de diploma de curso superior preferencialmente na área
específica, dentre as que tiverem habilitação técnica relacionada com a
natureza do exame.
Obviamente o agente de polícia não pode ser equiparado a perito. Ocupa
cargo diverso com atribuições distintas daquelas próprias dos peritos. Assim, o
tratamento do trabalho feito pelo agente de polícia segue a sistemática dos
peritos não oficiais, em que se exige a nomeação de 2 (duas) pessoas e não
apenas 1 (uma). Observe, à luz do mencionado art. 159 do CPP, que apenas
o perito oficial, vale dizer, aquele que prestou concurso público para o cargo
de perito pode assinar um laudo isoladamente. Nos demais casos, em que há
nomeação de peritos ad hoc, exige-se a nomeação de 2 (duas) pessoas
portadoras de diploma em curso superior para a elaboração do laudo.

No caso em tela, apesar do agente Pedrão possuir diploma em curso superior,


atuou sozinho como perito ad hoc, quando deveria ter assinado o laudo duas
pessoas. Portanto, o laudo de constatação não pode ser reconhecido como
perícia, por afronta direta aos ditames do art. 159, parágrafo 1, do CPP.

Esse o quadro, o trabalho feito pelo agente Pedrão deve ser equiparado à
diligência de campo feita por um agente de polícia, e não como laudo
pericial. Firme nessas premissas, deve ser respondido se esta diligência é
suficiente a comprovar a materialidade do rompimento de obstáculo. Apesar
de o Direito Brasileiro não admitir as provas tarifadas, nesse ponto específico
do furto qualificado, o Superior Tribunal de Justiça vem tratando a questão
com bastante rigor. Entende que se for possível a realização de prova pericial,
sua ausência não pode ser suprida por qualquer outra diligência, em
interpretação literal do art. 167 do CPP, conforme mostram acórdãos a seguir:

HABEAS CORPUS SUBSTITUTIVO DE RECURSO ESPECIAL. DESCABIMENTO. CRIME


CONTRA O PATRIMÔNIO. FURTO QUALIFICADO PELO ROMPIMENTO DE
OBSTÁCULO. SUBTRAÇÃO DE TOCA-FITAS NO INTERIOR DE VEÍCULO
AUTOMOTOR. CONFIGURAÇÃO DA QUALIFICADORA. CONSTRANGIMENTO
ILEGAL NÃO CONFIGURADO. 1. Os Tribunais Superiores restringiram o uso do
habeas corpus e não mais o admitem como substitutivo de recursos, e nem
sequer para as revisões criminais. 2. A jurisprudência desta Corte entende estar
configurada a circunstância qualificadora do rompimento de obstáculo,
prevista no art. 155, § 4º, inciso I, do Código Penal, quando o furto for
cometido com o rompimento dos vidros de veículo para a subtração de
objetos do seu interior, desde que haja comprovação por perícia. 3. Habeas
corpus não conhecido. (HC 148.757/DF, Rel. Ministro MOURA RIBEIRO, QUINTA
TURMA, julgado em 25/02/2014, DJe 07/03/2014)

RECURSO ESPECIAL - PENAL E PROCESSO PENAL - FURTO QUALIFICADO -


ROMPIMENTO DE OBSTÁCULO - VALIDADE DE EXAME PERICIAL - INCIDÊNCIA DA
QUALIFICADORA - RECURSO PROVIDO.1. A possibilidade da realização do
laudo pericial por duas pessoas idôneas e portadoras de diploma de curso
superior, quando inviável a efetivação do exame por peritos oficiais, está
amparada no art.159, § 1º, do Código de Processo Penal, sem nenhuma
restrição ao fato delas serem policiais. 2. Recurso especial provido. (REsp
1416392/RS, Rel. Ministro MOURA RIBEIRO, QUINTA TURMA, julgado em
19/11/2013, DJe 25/11/2013)

HABEAS CORPUS. CRIME DE FURTO QUALIFICADO. NULIDADE DA PERÍCIA.


LAUDO ASSINADO POR DOIS POLICIAIS SEM QUALIFICAÇÃO CONHECIDA.
IMPOSSIBILIDADE. REQUISITOS DO ART. 159 DO CPP. ORDEM CONCEDIDA. 1.
Nos termos do art. 159 do Código de Processo Penal, não sendo possível a
realização do exame por peritos oficiais, o laudo poderá ser realizado por
duas pessoas idôneas, não havendo, na lei, nenhuma restrição a que sejam
policiais. Exige-se, apenas, que estas sejam portadoras de diploma de curso
superior, o que não foi observado no presente caso. 2. No caso dos autos,
contrariando entendimento desta Corte Superior, o Tribunal a quo afastou a
exigência prevista no art. 159 do Código de Processo Penal, por entender que
a constatação do rompimento de obstáculo, no crime de furto, é de fácil
constatação, tratando-se de uma perícia meramente "singela" (fl. 254/e-STJ).
3. Ordem de habeas corpus concedida, para retirar a qualificadora e
redimensionar a pena.(HC 245.836/RS, Rel. Ministra REGINA HELENA COSTA,
QUINTA TURMA, julgado em 10/09/2013, DJe 16/09/2013)

HABEAS CORPUS. PROCESSUAL PENAL. FURTO QUALIFICADO. ROMPIMENTO DE


OBSTÁCULO. AFASTAMENTO DA QUALIFICADORA. AUSÊNCIA DE EXAME
PERICIAL. IMPRESCINDIBILIDADE. PRESENÇA DOS VESTÍGIOS. ILEGALIDADE
CONFIGURADA. HABEAS CORPUS CONCEDIDO.1. Na hipótese, o Tribunal de
origem reconheceu a qualificadora do rompimento de obstáculo, por
entender que o auto de verificação do local e o acervo fotográfico existente
nos autos comprovam o arrombamento de uma das portas do
estabelecimento comercial da vítima. Havia, portanto, a possibilidade de
perícia direta no local, que, entretanto, não ocorreu. 2. É imprescindível a
realização do exame de corpo de delito para comprovar a materialidade da
qualificadora prevista no art. 155, § 4.º, inciso I, do Código Penal, sendo que
sua realização de forma indireta somente é possível quando os vestígios
tiverem desaparecido por completo ou o lugar se tenha tornado impróprio
para a constatação dos peritos, o que não se verifica na espécie.
Precedentes. 3. Ordem de habeas corpus concedida para afastar a
incidência da qualificadora de rompimento de obstáculo e, assim,
desclassificar o crime de furto cometido pelo Paciente para a modalidade
simples, restabelecendo a dosimetria da pena fixada na sentença penal
condenatória.(HC 251.850/MT, Rel. Ministra LAURITA VAZ, QUINTA TURMA,
julgado em 04/04/2013, DJe 15/04/2013).

Ante o exposto, o réu deve ser condenado pela prática de crime de furto
simples consumado (art. 155, caput, do CP) pela subtração do aparelho de
MP3.

Provas

Tendo em vista que as provas para ambos os crimes são idênticas, como
estratégia para ganhar tempo e evitar repetições desnecessárias, deve o
candidato analisa-las uma vez só.

Assim, no que diz respeito às provas da autoria e da materialidade do crime,


deve o candidato mencionar que o réu foi preso em flagrante há apenas 2
(duas) quadras da cena do crime, foi avaliado o relógio em R$ 600 e o
aparelho MP3 em R$ 500,00, a vítima foi ouvida em sede policial e em juízo,
oportunidade em que confirmou os fatos. Os policiais responsáveis pela prisão
em flagrante também foram ouvidos em juízo, quando reconheceram a
dinâmica dos fatos narrada na denúncia. Como se não bastasse o quadro, o
réu confessou os fatos em juízo, por ocasião de seu interrogatório. Portanto,
não restam dúvidas a respeito da materialidade e da autoria de Maicon Vida
Loka a respeito dos crimes de furto objeto da denúncia.

Concurso de crimes

O candidato, necessariamente, deverá abordar a questão pertinente ao


concurso de crimes. Se entender que os bens pertencem ao patrimônio da
mesma vítima, invariavelmente, reconhecerá a existência de crime único.
Neste caso, perde a importância a questão pertinente ao laudo pericial do
arrombamento. Diferentemente, se disser que são pertencentes a pessoas
diversas, teremos hipótese de concurso de crimes, enfrentada conforme
parágrafos a seguir.

Tendo em vista a identidade de crimes (foram praticados 2 furtos), e as


semelhantes condições de tempo, lugar e modo de execução, há de ser
reconhecida a continuidade delitiva. Por vezes, será bastante comum a
dúvida se no caso se aplicam as regras do concurso material ou do crime
continuado.
O critério a ser seguido seguirá as regras de especialidade. Assim, havendo
concurso de crimes, as condições de tempo, lugar e modo de execução
forem semelhantes e, além disso, o que é de suma importância, forem
praticadas infrações da mesma espécie (mesmo tipo penal) e uma puder ser
colocada como continuação da outra, há de ser reconhecida a
continuidade delitiva (art. 71 do CP) e não o concurso material (art. 69 do CP).
Veja que, no caso em tela, o réu se aproveita do fato de já estar na garagem
da vítima e haver furtado o relógio, para arrombar o carro do lado e subtrair o
MP3.

Dispositivo

Deve ser julgado parcialmente procedente o pedido para condenar o réu


Maicon Vida Loka como incurso nos crimes previstos no art. 155, caput, do CP,
por duas vezes, em continuidade delitiva (art. 71 do CP).

Ou então, se entender pelo crime único, art. 155, caput, do CP.

Não julgue a ação procedente. Não julgue o processo procedente. Julgue os


pedidos formulados na denúncia procedentes ou não. Não condene em
custas no dispositivo.

Dispositivo não é o lugar adequado para afastar preliminares.

Dosimetria

Primeira fase

São analisadas individualmente as circunstâncias do artigo 59 do CP.

De início, uma das possibilidades que surge é o candidato afirmar que fará
apenas uma dosimetria, com objetivo de evitar repetições desnecessárias e
que os crimes de furto praticados possuem circunstâncias judiciais idênticas.
Outra possibilidade é fazer duas dosimetrias, e levar em consideração as
diferenças entre cada um dos crimes: houve gritos praticados contra a vítima
no primeiro fato (furto do relógio) e houve destruição da janela no segundo
fato (observe que apesar de a falta da perícia impedir o reconhecimento da
qualificadora de rompimento do obstáculo, tal fato pode ser levado em
conta pelo magistrado para considerar negativas as circunstâncias do crime).
Particularmente, preferimos a primeira opção, por ser mais prática e
tecnicamente ser igualmente adequada.
A culpabilidade do agente é grave em decorrência pelo fato de ingressar na
garagem da vítima, o que denota sua ousadia, além de trazer a vítima
sensação de pânico pelos atos que poderiam decorrer da abordagem
naquelas condições.

Se for adotada a tese do crime único, nas circunstâncias do crime deverá ser
explorado fato de terem sido subtraídos dois bens diferentes, havendo,
inclusive, destruição de obstáculo (janela do veículo) para consecução de
um deles.

Se adotar a tese do concurso de crimes, não faça considerações a respeito


do número de crimes, pois tal circunstância será levada em consideração na
terceira fase.

Não vislumbrados outras circunstâncias do art. 59 do CP a serem levadas em


conta.

Não há um quantum a ser observado para cada circunstância valorada


negativamente. Até hoje, tanto a jurisprudência quanto a doutrina não
pacificaram um entendimento a ser adotado. Há uma praxe, entre várias
adotadas, que considera o ponto médio entre a pena mínima e a máxima
como o limite virtual na primeira fase. Assim, por exemplo, em delito com pena
de 1 a 4 anos, a pena na primeira fase não poderia passar de 2,5 anos. Posto
isso, dentro desse limite (pena mínima até ponto médio), divide-se o período
(1,5 anos = pena de 1 até 2,5) por 8 (número de circunstâncias judiciais do art.
59). O resultado dessa divisão (1,5 anos = 18 meses; 18 meses : 8 = 2 meses)
será a quantidade que será aumentada para cada circunstância negativa.
Trata-se de apenas uma diretriz, um critério a ser adotado, que não torna os
demais incorretos.

Segunda fase

Deixe para realizar eventuais considerações pertinentes à presença de


agravantes e atenuantes na própria dosimetria (ou seja, não precisa fazer isso
na fundamentação, antes do dispositivo).

No caso em tela, entendemos que a reincidência deve ser anulada em razão


da confissão proferida em juízo, sem preponderância de qualquer uma delas,
conforme entendimento do Superior Tribunal de Justiça.
A Terceira Seção deste Superior Tribunal de Justiça uniformizou o
entendimento de que "é possível, na segunda fase da dosimetria da pena, a
compensação da atenuante da confissão espontânea com a agravante da
reincidência", 5. Ressalvo a minha posição de que desde o direito justiniano a
compensação só se faz com objetos fungíveis entre si, motivo pelo qual por se
tratarem de circunstâncias antagônicas e de gêneros diferentes, não
homogêneos, a confissão espontânea deve ser avaliada segundo sua
validade à persecução criminal, influindo no desconto da pena em patamar
inferior à reincidência que se mostra preponderante sobre aquela, por
imposição legal. 6. Destacado meu entendimento sobre a questão, embora
me curve à jurisprudência da Terceira Seção para acolher a tese da defesa
que sustenta a compensação integral, observando que o entendimento da
Quinta Turma é de que pode ser aplicada quando o réu possuir uma só
condenação transitada em julgado. (HC 237.105/RJ, Rel. Ministro MOURA
RIBEIRO, QUINTA TURMA, julgado em 20/03/2014, DJe 28/03/2014)

Importante mencionar que o Supremo Tribunal Federal não entende que a


reincidência e a confissão sejam parelhas. Assim, importante mencionar se o
entendimento a ser seguido é do STF ou STJ.

Em tese é possível reconhecer, como atenuante genérica, o fato de o réu ser


usuário de drogas, invocando-se o art. 66 do CP.

Não vislumbro a presença de outras agravantes ou atenuantes.

Terceira fase

Na terceira fase há de ser implementado o aumento referente a continuidade


delitiva. Tendo em vista o número de crimes praticados (2), o aumento deverá
se dar no percentual mínimo, de 1/6. Se for adotada a tese do concurso
material, obviamente somam-se as penas.

Calcula-se a pena final.

Pena de multa

O número de dias multa deve seguir proporcionalidade com a pena privativa


de liberdade fixada. Melhor que também leve em consideração todos os
critérios avaliados nas três fases da dosimetria. Ao final, são fixados os números
de dias-multa.
Após, deve ser arbitrado o valor do dia-multa, que no caso em tela pode ficar
no mínimo, haja vista a ausência de informações a respeito da capacidade
econômica do réu.

Observe que o art. 72 do CP determina que as penas de multa serão


aplicadas indistintamente. Portanto, apesar da regra da continuidade delitiva
para a pena privativa de liberdade, no que diz respeito a multa, deverá o
candidato calcula-las para cada um dos furtos praticados.

Fixada pena final e arbitradas multas pelos dois crimes de furto.

Providências finais

Como não há penas a somar, somente deve fixado o regime penitenciário.

Também deve ser analisada a possibilidade de substituição da pena privativa


de liberdade por restritiva de direitos, nos termos do art. 44 do CP. Se a soma
das penas ficar igual ou menor que 04 anos, em princípio a reincidência nega
a substituição, salvo se as circunstâncias recomendarem e não for caso de
reincidência específica.

Conforme artigo 387, parágrafo 1, do CPP, o juiz decidirá a respeito da


manutenção da prisão anteriormente decretada, eventual decretação de
prisão preventiva ou outra medida cautelar. No caso em tela, tendo em vista
a pena fixada dentro dos limites do regime aberto, o que também possibilitou
a substituição por restritivas de direitos, entendemos que o réu deve ser posto
imediatamente em liberdade, se por outro motivo não estiver preso. O
candidato deve evitar os jargões que digam, simplesmente, que estão
ausentes ou presentes os requisitos do artigo 312 do CPP.

Não há necessidade de ser feita análise imediata de detração, visto que, não
obstante a ocorrência de prisão cautelar anterior (artigo 387, parágrafo 2, do
CPP), o réu responderá ao restante do processo em liberdade. Mas o
candidato deve deixar claro na sentença porque não é caso de analisar a
detração.

Mencionar que diante da ausência de pedido expresso do Ministério Público


e, também, de contraditório, revela-se impossível fixar valor mínimo a ser
indenizado.
Deve ser comunicação ao TRE após o trânsito em julgado; inserir no rol dos
culpados após o trânsito em julgado; analisar fixação do valor mínimo para
reparação do dano; determinar a publicação da sentença e intimação (MP,
réu e advogado).

Melhores Respostas:

A escolha das melhores respostas significa um modelo que reputamos


adequado para auxiliar nos estudos. Não significa que foram atendidos
corretamente todos os pontos colocados para julgamento.

Diego Cesar Beviláqua, de Ibatiba/ES,

Poder Judiciário do Estado de _____


Comarca de _____
Autor: Ministério Público do Estado de ____
Réu: Maicon Vida Loka

Vistos e examinados estes autos de processo criminal registrado sob o número


_____, em que é autor o Ministério Público do Estado de ___ e réu Maicon Vida
Loka.

Dispensado o relatório, passo a DECIDIR:

Trata-se de ação penal pública incondicionada, objetivando-se apurar a


responsabilidade criminal de Maicon Vida Loika, já qualificado, pela prática
de crime tipificado na peça vestibular.
Antes de tudo, verifico que a preliminar de nulidade não merece prosperar,
senão vejamos:
O indeferimento do pedido defensivo de perícia de dependência química,
objetivando comprovar inimputabilidade do réu, não é suficiente para ensejar
a nulidade do processo.
O exame requerido é de caráter discricionário do magistrado, principalmente
quando há ausência de indícios de comprometimento da capacidade
volitiva e de autodeterminação do acusado.
No que tange à subtração do relógio da vítima, mediante gritos do acusado,
a materialidade restou comprovada pelo depoimento da vítima, confissão do
acusado, e testemunho dos policiais. Da mesma forma, o produto da
subtração foi encontrado em poder do acusado e, posteriormente periciado.
Em que pese a classificação jurídica imputada pela acusação, observou que
as elementares do crime de roubo, violência ou grave ameaça, não
encontram presentes no caso. Assim, embora configurada a subtração do
relógio, com os gritos do acusado, a ausência das elementares citadas afasta
o crime de roubo. Contudo, a hipótese se enquadra no crime de furto,
tipificado no art. 155, do CP.
Considerando a possibilidade de emendatio libelli (art. 383, do CPP), procede-
se à corrigenda da tipificação legal da conduta, atribuindo-lhe a tipificação
jurídica diversa, qual seja, art. 155, do CP.
A autoria da subtração do relógio, também é inconteste. Para tanto,
considerou-se o depoimento da vítima e o do acusado, bem como o
testemunho dos policiais.
Da mesma forma, a subtração do aparelho de MP3 restou comprovada pelo
depoimento da vítima, confissão do acusado e testemunho dos policiais. O
aparelho foi apreendido em poder do acusado e, posteriormente, avaliado.
Entendo que não restou comprovada a qualificadora do crime de furto por
rompimento de obstáculo (art. 155, §4º, inciso I, do CP), haja vista que o laudo
de constatação de arrombamento, elaborado por perito ad hoc, não
respeitou o art. 159, § 1º, do CPP, configurando-se prova irritual/ilícita, nos
termos do art. 156, do CPP.
Em que pese o depoimento da vítima e a confissão do acusado, tratando-se
de infração que deixou vestígio, é indispensável o exame de corpo de delito,
conforme art. 158, do CPP.
O concurso material de crimes, descrito na inicial acusatória, não está
presente. Embora tenham sido subtraídos dois bens (relógio e MP3), a
subtração ocorreu no mesmo contexto fático, mediante conduta única. Não
é hipótese de concurso formal, posto que, os bens pertenciam a uma única
vítima.
Ante o exposto, e por tudo o mais que do autos consta, JULGO PARCIALMENTE
PROCEDENTE o pedido formulado na denúncia, para condenar Maicon Vida
Loka, anteriormente qualificado, nas sanções previstas no art. 155, do Código
Penal, passando a dosar a pena a ser-lhe aplicada, em estrita observância ao
disposto no art. 68, caput, do Código Penal:
Analisando as diretrizes do art. 59, do Código Penal, denoto que o réu agiu
com culpabilidade normal; quanto aos antecedentes, verifico a existência de
condenação transitada em julgado há menos de 5 anos, pelo crime de lesões
corporais, no entanto, deixo de valorá-la nesta fase, pois configura
reincidência e sua valoração em ambas as fases da dosimetria levaria ao
indesejado bis in idem (Súmula 241, STJ); não existem elementos para valorar a
personalidade do agente; os motivos do crime são obtenção de recursos para
aquisição de drogas, o que reputo suficiente para majorar a pena base em
1/6; as circunstâncias do crime são desfavoráveis ao réu, posto que gritou
com a vítima, também aumentando a pena base em 1/6; não há maiores
consequência para o delito; o comportamento da vítima não contribuiu para
o crime.
A vista dessas circunstâncias analisadas individualmente, é que fixo a pena-
base privativa de liberdade em 01 ano e 04 meses de reclusão e a pena de
multa em 12 dias multa, no valor unitário de 1/30 do salário mínimo vigente à
época do crime.
Presente a atenuante da confissão espontânea (art.65, III, d, do CP) e a
agravante da reincidência (art. 61, I, do CP), as quais, por serem
preponderantes, podem ser compensadas.
Nestes termos, mantenho a pena intermediária no patamar da pena-base.
Não existem causas de aumento nem de diminuição.
Com isso, fica o réu definitivamente condenado a pena de 01 (um) ano, 04
(quatro) meses de reclusão e ao pagamento de 12 dias-multa, no valor
unitário de 1/30 do salário mínimo vigente à época do crime.
Em vista do quanto disposto no art. 33, §2º, do Código Penal, diante da
reincidência do sentenciado e a luz da súmula 269,do STJ, verificado que as
circunstâncias judiciais não justificam a adoção da medida extrema, o réu
deverá iniciar o cumprimento da pena privativa de liberdade anteriormente
dosada, em regime semiaberto.
Verifico que a reincidência do sentenciado impede a concessão do benefício
do art. 44, do CP (substituição por restritiva de direito). Da mesma forma, não
cabe a aplicação da suspensão da pena, art. 77 do CP.
Por garantia da ordem pública, diante da reiteração delitiva do réu, nego-lhe
o direito de recorrer em liberdade, devendo ser recolhido à prisão.
Por derradeiro, condeno o réu ao pagamento de custas processuais.
Devolva-se os bens da vítima.
Deixo de fixar o valor mínimo de indenização, por ausência de pedido
expresso.
Oportunamente, após o trânsito em julgado desta decisão, tomem-se as
providências seguintes:
a)lance-se o nome do réu no rol dos culpados;
b) expeça-se guia de execução ;
c) proceda-se o recolhimento do valor atribuído a título de pena pecuniária,
em conformidade com o art. 686, do CPP;
d) oficie-se ao Tribunal Regional Eleitoral do Estado, para cumprimento do at.
71, §2º, do CE c/c art. 15, III, da CF;
e)oficie-se ao ___, fornecendo informações sobre a condenação do réu.
Publique-se.
Registre-se.
Intime-se.
Local e data.
Juiz de Direito

Fernando Teixeira da Silva, de Belo Horizonte/MG

Dispensado o relatório pelo enunciado da questão.

Inicialmente, não assiste razão ao réu quanto à preliminar levantada na


sua defesa de nulidade do processo, devido ao equivocado indeferimento da
perícia.
O Código Penal brasileiro adotou o sistema biopsicológico no que diz
respeito ao tema inimputabilidade, nos termos do art. 26. Assim, faz-se
necessária a existência de elementos no sentido de que em decorrência de
deficiência ou do desenvolvimento mental incompleto, o agente era ao
tempo do fato, inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do fato, ou
de determinar-se de acordo com esse entendimento.
Embora o réu tenha informado em seu depoimento que é usuário de
álcool, cocaína e maconha, não há qualquer elemento nos autos que
suscitem dúvida quanto à existência dos elementos acima referidos, nos
termos do art. 26 do CP, no sentido de que o réu não se encontrava em
condições de compreender o caráter ilícito do fato por ele praticado. O uso
de drogas, por si só, não caracteriza a inimputabilidade.
Além, disso, não há elementos nos autos que autorizem conclusão de
que há insanidade mental do réu após a prática da infração penal, apta a
justificar a instauração do incidente processual previsto nos arts. 149 e
seguintes do CPP.
Por fim, o inciso LXXVIII do art. 5º da Constituição Federal assegura a
todos uma duração razoável do processo. Duração razoável significa
processo sem dilações indevidas, o que ocorreria em caso de deferimento da
perícia requerida e instauração do incidente de insanidade mental, o qual
acarreta a suspensão do processo, nos termos do § 2º do art. 149 do CPP.
Rejeito a preliminar.
No mérito, impõe-se a procedência parcial da pretensão.
Quanto à imputação relativa ao delito tipificado no art. 157, caput do
CP, tanto a materialidade quanto à autoria restaram cabalmente
demonstradas através dos depoimentos do autor do delito, da vítima e dos
policiais militares que efetuaram a prisão em flagrante, os quais foram
convergentes no sentido de que o réu praticou os fatos que lhe foram
imputados na denúncia.
No entanto, em observância ao instituto da emandatio libeli, previsto no
art. 383 do CPP, tenho que deve ser dada ao fato definição jurídica diversa
da que lhe foi dada na denúncia.
A conduta do réu enquadra-se no tipo penal previsto no art. 155, caput
do CP.
O réu subtraiu o relógio da vítima sem emprego de violência ou grave
ameaça. De acordo com o conjunto probatório constante dos autos, o réu,
aos berros, mandou que a vítima lhe entregasse o relógio quanto esta saia de
casa, o que foi imediatamente feito. Não há qualquer elemento no sentido de
que houve grave ameaça quando da prática da infração penal. Na
realidade, a vítima se assustou com a conduta praticada pelo réu, o que é
uma reação natural da pessoa que se encontra na situação pela qual ela
passou. A reação da vítima é irrelevante para a caracterização da grave
ameaça, a qual deve ser objetivamente apurada, sempre levando-se em
consideração a conduta praticada pelo autor do delito e o respectivo dolo.
Assim, impõe-se a condenação do réu como incurso nas sanções
previstas no art. 155, caput do CP.
Quanto à imputação relativa ao crime previsto no art. 155, § 4º, I do
CP, a autoria restou cabalmente demonstrada pelos depoimentos do autor
do delito, da vítima e dos policiais que efetuaram a prisão em flagrante.
No entanto, não restou comprovada a existência da qualificadora
relativa à destruição ou rompimento de obstáculo à subtração da coisa.
Embora a tipificação da conduta imputado ao réu se enquadre na
que lhe foi atribuída na denúncia, é imprescindível a realização da perícia
para fins de constatação da qualificadora acima referida.
De acordo com as disposições constantes do art. 159 do CPP, a perícia
deve ser realizada por perito oficial ou, na sua falta, por duas pessoas idôneas.
No caso em apreço, contudo, a perícia não foi realizada por perito oficial,
mas apenas por uma pessoa, o agente de polícia designado pelo delegado
de polícia responsável inquérito policial. Haveria necessidade de mais uma
pessoa idônea para a realização da perícia.
Impõe-se, assim, a condenação do réu como incurso nas sanções
penais previstas no art. 155, caput do CP.
Considerando que com apenas uma ação, o réu praticou dois crimes
de forma dolosa e com designios autônomos, o cálculo da pena dar-se-á na
forma do concurso formal impróprio, nos termos do art. 70, caput, parte final
do CP.
Isso posto, JULGO PARCIALMENTE PROCEDENTE a pretensão constante
da denúncia, para o fim de condenar o réu como incurso nas sanções
previstas no art. 155, caput pelas duas infrações penais que lhe foram
atribuídas, na forma do art. 70, caput, parte final ambos do CP.
Em observância ao disposto no art. 68 do CP, passo à dosimetria da
pena.
As circunstâncias judiciais serão analisadas apenas uma vez para os
dois crimes, para evitar repetições desnecessárias.
Culpabilidade normal à espécie, nada tendo a valorar; o réu é
possuidor de maus antecedentes. No entanto, considerando que ele é
reincidente, a referida circunstância será valorada na segunda fase de
dosimetria da pena, com o objetivo de evitar o bis in idem; não há elementos
quanto à conduta social e à personalidade do réu; os motivos do crime lhe
são desfavoráveis, uma vez que os crimes foram praticados para a aquisição
de drogas ilícitas; da mesma forma as circunstâncias, uma vez que o réu
ingressou em casa alheia para a prática dos crimes; consequências da
infração consideradas a ela inerentes; a vítima em nada contribuiu para a
prática da infração penal.
Fixo-lhe a pena base em 1 ano e 9 meses de reclusão para cada uma
das infrações penais atribuídas ao réu.
Concorrendo a atenuante da confissão com a agravante da
reincidência e considerando que esta prevalece sobre aquela, agravo-lhe a
pena anteriormente fixada em 3 meses e 12 dias, passando a dosá-la em 2
anos e 12 dias de reclusão para cada um dos crimes.
Em observância à proporcionalidade com a pena privativa de
liberdade aplicada, fixo a pena de multa em 126 dias-multa, cada um no
valor correspondente a 1/30 do salário mínimo para cada infração penal.
Fica o réu definitivamente condenado a 4 anos e 24 dias de reclusão e
ao pagamento de 252 dias multa, cada um no valor correspondente a 1/30
do salário mínimo.
A pena privativa de liberdade deverá ser cumprida inicialmente em
regime fechado, uma vez que o réu é reincidente, em observância ao
disposto no § 2º do art. 33 do CP.
Nego ao réu a concessão da substituição da pena privativa de
liberdade por restritiva de direitos, vez que ausentes os requisitos exigidos pelo
art. 44 do CP.
Nego ao réu a suspensão condicional da pena, vez que ausentes os
requisitos exigidos pelo art. 77 do CP.
Concedo ao réu o direito de recorrer em liberdade, uma vez que
ausentes os requisitos e pressupostos da prisão preventiva, constantes do art.
312 e seguintes do CPP.
Condeno o réu ao pagamento das custas processuais.
Após o trânsito em julgado, tomar as seguintes providências.
1) Lançar o nome do réu no rol dos culpados;
2) Proceder ao recolhimento do valor atribuído a título de pena
pecuniária, nos termos do art. 50 do CP e 686 do CPP;
3) Oficiar TRE deste Estado, comunicando a condenação para o
cumprimento do disposto no art. 15, III da Constituição Federal;
P. R. I.

Local/data

Nome e assinatura do Juiz

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