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: A CONSTRUÇAO doPARANA
r
1

Pol~ticos e Política no Governo do Paraná de I 93 o a 19 80

Ricardo Costa de Oliveira {0rg.}


Jefferson de Oliveira Salles
José Pedro Kunhavalík
GOVERNO DO ESTADO DO PARANÁ

Gov·ernador
Roberto Requião de Mello e Silva
Vice-Governador
Orlando Pessuti

Chefe da Casa Civil


Luiz Carlos Caíto Quintaria - . /

Diretor da Imprensa Oficial do Esl:ndo A CONSTRUÇAO do PARANA! MODERNO . 1


João Carlos de Almeida Formighieri
Secretá.rio· de.Estado da Ctêncià, Tecnologia t(EnsinO Superior
Políticos e Polític.1 no Governo do Par;n1;Í de I 9 30 ;1 I 980
.A.Jdair Tarcísio Rizzi
Diretor Ger:tl
Artur Antonio Berto!
Coorden:Jdor de Ciência e Tecnologia
Ricardo Costa de Oliveiià

Coordenador de Ensino Superior


José Tarcísío Pires Trindade

, Ricardo Costa de Oliveira {Org.)


Jefferson deOliveira Salles
José Pedro Kunhavalik
Dc;,õsito legal junto:\ BihtioteCá Nacional, confoirnc decreto p/' i823,
de 20 de dezembro de 1907,

Cc1)r..!tnçJo Editorial APRESENT,\Çr\O


Antônfa Schwinden

J[ Srcrchm.:J. da e Bt1st•w SH/1erior do tem

EtliJcmçlfa EktnJnica
q:rs a 1:1elhmi;2 a!l emtodnsos dos recursos
T:i.ti:me B11z.zattn

Fitwli~,:ç:is
Ana Paula Midori Akivuma P,m, a drea deu Cz'fncfat Hllm:u:crs~ isto sign{!kà Úw:stirmi
de' d11dor, infon'ta/Ú'}.í que diverão_lernm multiplicador,
-""1 de :._'.,,1 toi'!J/,ru,"áo do Purwid.fl!!Hlerno: r: ,w G1Jven;o l.o
D~d,,>,; lm.:nution:ns de (C!Y} Paraná de ! 930 (1 1980 ".SfJ)/lt essa orient,1çiü,, boh rYJmo a retirar"i1lwas i:-om
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G1c11 &. !LS,ille.,,Jefer~nU<l Ohvdt1. m.
I\t11r:ifo.
COD {1(l ~J.) 32-C'.'.f16-2
CDU ç::.1'·-t) 319i'BI6.2J

ru.zzi
Se:c1etário <lei Estado da Ciêó.cia, Tecno1agla eEmdno Superior

SEéRJ,.ü\lUADA~ClA, IMPRENSAOÍ'!CIA:i. no PARANÁ


'fECNOL0GIAEENSIN05UPElUOR ~ óC1 f¾uicitHW'.li.JcS, 16..f5
P.ua !\-í.m.i.:óO Julo Kcp7, Z74 - Blor::o 01 - Curiri\:n. - PM.ini
C.E-P 131630 l,lf/0 · Santa Cin<l.ld~ · Curicibl - P:tW13 3133279
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...~.1,·W'.tétl.gov.bt'

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A CONSTRUÇAO DE UM PROGRAl\ú\ DE PESQUISA.S
SOBRE ,·\ POLÍTICA PAMNAENSE

Este livro é urna coletânea de pesquisas e trabalhos acadêmicos recentes


dos três autores, tendo como objetivo a compreensão da política paranaense no
crucial período da década de 1930 até 1980. O Paraná transformou-se mais
rapidamente nessas décadas do que ao longo de toda a sua história anterior,
Trata-se de uma importante contribuição para se pensar alguns dos mais
importantes gestores do poder executivo paranaense e o sentido das políticas
estatais implementadas na regíào. O livro está dividida nos seguintes capítulos:
"Ricardo Costa de Oliveira analisa a política paranaense e o Estado Novo no
período de 1930-1945", ''.Jefferson de Oliveira Salles investiga aspectos do perfil
do Governador Moisés Lupion (1947-1951 e 1956-1961)" e "Pedro Kunhavahk
apresenta uma ampla investigação dos períodos do Governador Bento i\ifunhoz
da Rocha Neto (1951-1955) e do Governador Ney Braga (1961-1965 e 1979-
1982)", de modo que representa uma contribuição critica de pesquisas da
Universidade Federal do Paraná para o Sesquicentenário do Paraná.
O estudo da política paranaense tem sido o objeto de pesquisa na
Universidade Federal do Paraná do Núcleo de Estudos Parnnaenses (NEP) ao
longo dos últimos anos. Diferentes monografias, dissertações e teses de doutorado
têm contribuído para a investigação critica da política paranaense por pa.rte das
ciências sociais na última década.
O presente livro investiga algumas das principais questões da política
paranaense no período de 1930 até 1980 e trata~se de uma continuação cronológica
do nosso livro anterior, O Silet1do dos f/'encedores. Genealogia1 Classe Dominante e Es!âdo
no Panmá. (Curitiba: Moinho do Verbo, 2001, v.1. p.482), que privilegiou o estudo

7
da formação política do Paran;Í. e das relações entre estruturas de parentesco e
poder político no Estado. Tambêm começamos a estudar as elites parlamentares
contemporâneas com o l.i;;·ro _/fod!ist! dos Parlamentares Pamr.ar:nses na Entrada do
Século ~YX!. (Curitiba: .Associação dos Professores da Universidade Federal do
Paraná, 2002, v.1. p.353). Esperamos contribuir com o estudo e a elucidação de SUlvL\RIO
alguns elementos eh política paranaense e continuaremos com a pesguisa de
noYos temas e governadores com .-ísta em novas publicações.
APRESENTAÇ:\O - Aldair Ttmisio ............................................................... 5
A CONSTRUÇ,\O DE UlvI PROGRAMA DE PESQUISAS
SOBRE ,-\ POLÍTICA P:\RANAENSE - Rimrdo Costa de Oliveim ................... 7

Ricardo Costa de O!ivein; NOTAS SOBRE A POLÍTICA PARANAENSE NO PERÍODO


DE 1930 A 1945
Ricardo Costa de Oliveira

1. INTRODUÇAO .......................... 15
2. A PARTICIPAÇ:\O MILITAR DO PARANA
NA REVOLUÇ:\O DE 1930 .......................... .. ........................... 15
3. GOVERNO PROVISÓRIO .......................................... .. ...... 18
4. A ADJ\-HNISTRAÇ:\O MANOEL RIB:\S:
PRIMEIRO PERÍODO ............................................... .. .. .... 19
5. A ELITE POLÍTICA PARANAENSE PÓS-1930 ..... . .. 21
6. O PERÍODO DO ESTADO NOVO .................. .. .. ................... 26
7. CONCLUSAO ............................................. . .. .......... 29
REFERT:::NCIAS BIBLIOGRAFICAS ............... . . ........ 29

A RELAÇÃO ENTRE O PODER ESTATAL E AS ESTRATT:::GIAS


DE FORJ',,IAÇÃO DE UM GRUPO EMPRESARIAL PARANAENSE
NAS DÉCADAS DE 1940-1950: O CASO DO GRUPO LUPION
Jefferson de Oliveira Salles

1. INTRODUÇAO ............................................................................................... 35
2. MUNDIALIZAÇAO DO CAPITAL E A INDUSTRIALIZAÇAO
DO BRASIL FINAL DO XIX E INÍCIO DO XX ................................. 38
2.1 As Décadas de 1910-1920 ..................................................................... 41

8 9
3, J\ J\SCENS"\O DO SETOR INDUSTRIAL lvL\DEIREIRO ,,,,,,,,,, 46 3.l 1 Politicas Sociais ..... ,,, ,,,,, , " '"' "", 213
3,I [migração no Paraná 1890~1930: O Surgimento de uma Nm·a 3,12 Conjuntura Final e Sucessão. """' """, '"" 214
Fração de Classe e a Rearticulação do Patronato Tradicional "'· ... " 48 4, CONCLUS,\O,,, '" 215
3.Ll O Surgimento da Representação do Setor Ivfadeireiro: REFERÊNCI:\S B!BLIOGfü\FIC"\S, "", '""'' 218
Efeitos Pertinentes, ..... ,. .. ,.. 57
3, L2 Política Governamental e as Elites Dirigentes .. , 66 NEY BRAGA: TRAJETÓRIA POLÍTICA E BASES DO PODER
3.1.3 A Fundação e Diversificação do Grupo Lupion . 72
José Pedro ICtmbav,tlik
32 Os Grupos de Interesse e Hegemonia Política: Ação Estatal
L INTRODUÇAO "'""" 231
e Empresarial de 1vfembros do Grupo Lupion ..... ,... ,., ,,, 89 2, O SURGIMENTO POLÍTICO DE NEY BRAGA , , "" 236
4, O PROBLElvL\ DAS TERRAS NO OESTE PJ\RANAENSE, 2.1 A Formação de Ney Braga e sua Passagem pelo Exército ... 236
UM"\ J\N,\LISE DE DISPUTA ENTRE AVES DE RAPINA,,,,,,,,, 106 2.2 Ney Braga Ingressa na Política,, .. ,......... ,,,,,, ,,,,, .. 240
5, ANEXOS,,,,,,,,,,,,,,,,,,, 113
"'° Articulação Politica para Disputar a Prefeínirn ""' "'""'""" 247
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS, , , ,,,, 138 2A A Campanha para a Prefeitura .,. " 253
3, DA AUTONOMIZAÇAO POLÍTICA },S RELAÇÕES
BENTO MUNHOZ DA ROCHA NETO: TRAJETÓRIA POLÍTICA
COM JOAO GOULART"""""""'"""""'""'"'""""" "'"""""" 256
E GESTÃO NO GOVERNO DO PARANÁ
3.1 O Ingresso de Ney Braga no Partido Democrata Cristão ............ 256
José Pedro Kunbavalik
3.2 .A Campanha para o Governo do Estado...... ...... ,. .... 265
INTRODUÇAO ,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,, 3.3 A Gestão no Governo do ES:tado ...... , """"""" 279
L '"""""' 143
2, TRAJETÓRL\ POLÍTICA DE BENTO MUNHOZ D,\ 3A A Formação do Neyismo "'"'""" ""'"""""""" 294
ROCK\ NETO,,,,, , """""" 145 35 Ney'Braga e a Crise da Renúncia deJiinio Quadros"""'""'"'"""" 296
2.1 Trajetória Social de Bento 1\lunhoz ..... 3.6 A Postura de Ney Braga Diante do Governo João Gouhrt.. ........ 300
"""'""'"""" 145
4, AS FLUTU,\ÇÔES DO PODER POLÍTICO DE
2.2 Uma Concepção de Democracia ....... .. 155
23 Trajetória Política de Bento Iviunhoz ..................................... ,, ........ ,.,. 158 NEY BRAGA NO REG!lv!E lv!ILITAR"""""""'"""""'""'"""""""'"" 309
3, GESTAO BENTO MUNHOZ NO GOVERNO DO PAfu\NA "" 180 4, 1 O Caminho elo Golpe ele Estado"""'""'""""""" """" 309
3.1 A Questão Partidária e o Suporte Político da Gestào ....... '"'""'""" 180 4.2 A Sucessão de Ney Braga no GoYerno do Estado ..... ",, ... ,. ........... 324
3.2 O Secretariado .............................. ,, ................................................. ,.... 186 43 ,\ Organização da Arena no Paraná""""""""'"""'"'"'"""""""'"""' 334
3.3 .A Procura de um Conceito Político do Paraná ..... ., .......... ,. .............. 190 4,4 O Embate Político com Paulo Pimentel e a Fragilidade
Política Durante o Governo Costa e Silva e Parte do
3A Política Territorial""""""'"'""""""'""""""""""""""'"'"""""""""""' 193
3,5 Política Fundiária -Questão Agrária""""""""""'""'""""""""""'"" 194 Governo Médici ""'"""""""""""""''"""'""'''"''""""""""'"'" ""' "'" 336
3.6 Política de Imigração ........................................................... ., ..... ., ........ 201 4.5 O Fortalecimento Político de Ney Braga com Geisel
na Presidência.............................................................. ,............. '" ............ 355
3,7 Política de Energia Elétrica""""""'"""""""""'"""""'""'"""""'"'""" 202
3.8 Política de Transportes ................................... ,., ........................... ,. ........ 206 4,6 Ney Braga no Ministério da Educação""""'""""'""""""'"""""'""' 367
4.7 O Controle da Arena Paranaense e a . Inclicação para
3,9 O Paraná na Federação"""'""""'""'"""""""""'"'""""'"""""""'"""' 208
3.10 Politica Cultural e Educacional""'""'"'""""""""""'""'""'"""'"'""" ?09 o Governo Estadual """'"'"'""'"'"'"""'"'"""""'""'"'"""""'""'"'""" 370

10 11
-:
5. O DECLÍNIO POLÍTICO DE NEY BRAGA E O
DESTINO DO NE'rlSl\lO ........................................ .. ........... 379
5.1 .A Formaçào do PDS e a Derrota nas Eleições de 1982 .... .. ... 379
5.2 A Formação da Frente Liberal ................. " .............. '"""" ...... 393
5.3 Perfil de ?vfembros do Neyismo ....... . .... 396
. ...... 406'
6. CONCLlJS.\O .....
R.EFERÊNCL\S BIBLIOGR.AFICAS ... .. ... 412

Notas sobre a políttca paranaense


1
no período de 1930 a 1945
RICARDO COSTA DE OLIVEIRA*

Base:ido em artigo publiodo na Revista de Socíologi.t e Polítio., número 9.

Ric1rdo Casca de Oliveira i:. gradu.ido em CiênclJs Sociais na Unln•rsldade Fedeu! do Rio de Janeiro
(UFRJ), 1'.fostre em Planejamcnro e Oescnrnlvimc:nto Urbano na Uni\•erslty o,f London e Doutor i:m
Ciências Sociais pela Uni\'ersidade Estadual de Campinas (UNICAMP). É Professor de Ciência Polírica da
12
Universidade Federal do Paraná (UFPR}
1. INTRODUçAO

O movimento politico d~ 1930 no Pararuí apresentou'diferen?5 com as


rupturas politicas anteriores provenientes do Rio. Grande d9 Sul Em 1838, na
revolta Farroupilha, e cm 1894, durante a Revolução Fe~eralista, as· forças
.. __-...f~YQlutjq_Mciismeridionakp~-nO--tet:citório·puanaense:,:A m&pãcidaãe·ae·· .~ ·
1

atravessar o Estado, fê-las perder o momento ce.rto da op"eraçã() militar, tornando


impossívd selar as alianças necessárias no centro do País, restando aos ·revoltosos
o isolamento e· a derrota.
.,, Em 1930, a Revolução contou com grande apoio do Paraná. Forças militares
federais sediadas no ~qdo deram significativo apoio ao movimento. A participação
e o envolvimento de importantes grupos de apoio no Estado do Pauná, ao lado
da grande movimentação política naciohal, colaboraram na vitória do movimento
revolucionário. Pela primeira vez na história política nacional, um regime político
centrado. no Rio de Janeiro foi derrotado pc:lás periferias rebeldes. O isolamento
e a falta de sustentação popular do Presidente Washington Luís e as primeira,
seqüelas da crise de 1929 aprofundaram 'a insatisfação geral. A cisão e as
divergências entre diferentes fuções da clas,e dominante e a crise do regime político
da República Velha foram as causas da Revolução de 1930.

2. A PARTICIPAÇÃO MILITAR DO PARANÁ


NA REVbLUÇÀQ DE 1930.

No Paraná, a Revolução de 193Qcomet"'l corti uma artiailição político·


militar feita pelo Major l'linio Alves MonteimToucinho. O major Plinio Toucinho
era paranacnse, Oficial cn.genhciro ~9;Exé~çit~, professor de astronomia da
Universidade do Par\Íná e ligado por parentesco • familias tndicionais do Estado
(familia Alves, por parte de mãe).

IS
Desde julho de 1929 se -articul3:vam os preparativos para montar um
movimento que teria apoio no Rio Grande do Sul 1 em :Minas Gerais e na Paraíba.
Contatos foram feitos entre a oficialidade tias principais unidades da s.• Região
'
' No dia 18, o 14.º BC, localizado cm Biguaçu, aderiu à Revoluç.io. O Comandante
das Forças Revolucionárias, Plínio Tqurinho, nomeara o Tenente-Coronel Arnoldo
:Mancebo como Governador Provisório de Santa Catarina, no dia 14 de outubro.
l\tülitar (Paraná e Santa Catarina). Havia sitnpatizan~es no 15.º B;talhào de Os legalistas ficaràm cntio encurralados na Ilha de Florianópolis.
Caçadores, no 9,0 Re&ime11to de Arúlharia Montada, no IV /SRCD Esquadrão de Na frente de São Paulo, seguiram, a partir do dia de outubro, o 13.º RI,
Cavalaria e no 5.º Grupo de Artilharia, todos localizados em Curitiba (Sede do duas Companhias do 15.º BC (uma das companhias estava em operações no
\
Comando da Rlll). O 13.º Regimento de Infantaria de Ponta Grossa também norte de Santa Catarina, depois se reuniu na linha de Itararé com a sua unidade),
contava com simpatizantes deste movimento. A unidade, de Palmas, o S.ºBatalhão o 9.º R.\M, o 5. 0 GAM, o IV/5 RCD, o batalhão de infantaria e o esquadrão de
de.Engenharia e o 13.º Batalhão de Caçadores, de Porto União, seguiram cofi?. o cavalaria da Força Estadual do Paraná. O General Miguel Costa, que no dia 4
movimento revolucionácio. A Policia Estadual do Paraná também aderiu. No desse mês havia chegadó com soldados pela ferrovia desobstruída entre Ponta
dia 5 de outubro, os revolucionários já tinham ocupado o poder no Estado. _GJQ§$ª_.e_ Santa_ Maria, .assurniu .. o .. ccimap.do--da, co1una~·"·No- dia -16" de ·outuüro-
Dois-generaís--estavam· presos-,-- e- <T Presidentc··AJfôiiSc:i"'Càhiár'g0-,t-iigtrâ pafã' à e,stabeleccu-se a frente de combate entre as unidades paranaenscs mais o 8.º RI,
litoral na direção de São Paulo (1DURINHO, 1990:. 575-580), vindo do Rio Grande do Sul, e os defensores do norte, o 4.0 BC, o 5.0 RCD, um
Com a vitória, Cudciba viveu uma intensa festa cívica nas ruas centrais. O grupo do 4.º !UM, um batalhão da Força Paulista e um batalhão de legionários.
apoio popular ao movimento foi grande. Velhos políticos dissjdentes do Partido A s·uperioridade das forças da Revolução_ era de cerca de 2.400 legalistas
Republicano Paranaensc, então apoiadores da Aliança Liberal, como o Coronel l (TOURINHO, 1980: 63). As manobras de envolvimento começaram com a
\ .. ·.
Joaqui~ Pereira de Macedo e o Coronel· Ottoni ?vfaciel, ao lado de estudantes, tomada da fazenda de Morungava. OS defensores se apoiav_am nas vantagens
fiincionários públicos, profissionais liberais, comerciantes e membros das nascentes naturais das escarpas de Itararé. D~as outras colunas avançavam pela Capela do
·classes médias e trabalhadora de Curitiba, promoveram grande agitação política Ribeira e pelo Varadouro, na direção do litoral norte.
e prepararam a formação de batalhões revolucionários (!'!LOTO, 1982: 57-69). A mobilização de tropas gaúchas enfrentava à distância as debilidades de
O Paraná teve um papel estratégico muito destacado na vitória da Revolução. comunicações e a falta de capacidade logística para a con~uçào de urna campanha
A rota ferroviária para São Paulo estava aberta. As extensas pontes sobre os rios a centena~ de quilômetros de suas sedes de unidade. Sua movimentação por
Iguaçu e Negro estavam incólumes. Se fossem destruídas, padeciam atrasar em União da Vitória foi descrita por Clcto da Silva (1933). Os poucos dias de
meses o deslocamento logístico e militar das tropas gaúchas da 3.ª Região 'Militar, duração da crise revolucionária foram um fatoi.- determinante para a organização
dando grande fôlego para a resistência no Catete. Os legalistas contavam apenas da campanha militar da Revolução de 1930 no sul. As principais forças
com o apoio do 5. 0 Regimento de Cavalaria Divisionária de Castro, sem um operacionais no ataque a São Paulo eram as unidades militares paranaenses da 5.ª
esquadrão, que ficava em Curitiba e apoiava o movimento. Em Florianópolis, o Região ivfilitar mais a Força Estadual Paranaense. A direção civil-militar gaúcha
General Nepomuccno Costa, enviado pelo Catcte para comandar a Rl\!, passa a dirigir as operações a partir do Paraná. No dia 16 de outubro Getúlio
desembarcou tropas de Fuzileiros Navais que deveriam garantir a situação legal Vargas chegava ao Paraná. No dia 20 desembarcava apoteoticamcnte em Curitiba.
no litoral catar(ncnse. A partir de 23 de outubro, o quartel-general da Revolução seria Ponta Grossa. A
A ordem de combate dos revolucionários era dara. Na frente de Santa direção do movimento contaVll com a Casa CivH do Presidente Getúlio Vargas.
Catarina, no dia 1O de outubro, as vanguardas rcvofucionárías do 13.º BC ocupariam

't
com um Estado-Maior Civil, outro militar, um Estado-Maior do, Comando
a cidade deJoi.nville. Com poucas escaramuças, os- legalistas se renderam, inclusive Geral, o Estado-Maior do general Flores da Cunha, aquele do Dr. João Neves
' os Fuzileiros Navais, enviados às pressas para a área. :Muitos desejavam se integrar da Fontoura e elementos de infra-estrutura compostos de dezenas de poüticos e

1 ao movimento em curso e foram destacados para o 5.º BE que segLÜa para Ribeira. militares (TOURINHO, 1980: 334-335). No dia 24 de outubro, o Presidente
O prefeito Ulysses Costa foi deposto, assumindo o Dr. Pl:ícido Olympio de Oliveira. Washington Luiz era deposto pela junta militar.

16 17

i!
. '

Dessa forma, portanto, ~ participaçãO militai:- do Paraná, ao contrário do dominantes. Este foi um indicador úpko da ligação deste Àtovimcnto com as
· que ocorra nos movimentos político-militares anteriores, conferiu grande impulso oligarquias1 já na época d~nunciada por Luís Carlos Prestes.
à_ Revoluçào de 1930, contribuindo enormemente para sua vitória. Mas isto não sign,jficava a inexistência de conflitos entre os revolucionários
paranaenses. Mário T~ucinho enfrentou fotte oposição 9e alguns setores
paranacnses, inclusive militares. Permaneceu pouco mais de WI1 ano à frente da
3. GOVERNO PROVISÓRIO Interventoria do Estado, renunciando em 29 de dezembro de 1931. Transferiu
provisoriamente o cargo a João David Pemetta, tradicional polltico da República
a
Velha, durante qual foi oito vezes Deputado_Estadw\L
li No próprio dia S de outubro foi nomeado Governador Provisócio 1do A nova indicação para Interventor do Paraná seria meticulosamente pensá da
i' Paraná O General Mário Tourinho. fyfilitar de cat:teira e irmão do comandantt: por Vargas, recaindo na figura de Manoel Ribas, que tomou posse no dia 30 de
tt da Revolução ~o Paraná, Plínio Tourinho. Amb'?s eram filhos do_ Capitã.o janeiro de 1932 Ribas conseguia reunir a confiança de Vargas e o apolo de
ri impiircintes seforcs aas ê!assés-dõmlruinie êtrabalhad;;ra ;i,:; i>;,;.;;,á. - ...
-1
1
Engenheiro· militar-Francisco-Antonio- J14onteiro. Tourinho.· -Estc,:~uando ;s~a-
no Paraná Provincial, casou-se com Maria Leocádia. da Costa Alves, de tradictonal Manoel Ferreira Ribas nasceu em Ponta Grossa em 8 de morço dé 1873.
famífu. patanaense. Mário Tourinho segui·u úpica ~r~ militar, tend~ ~ervido Pertencia a uma funllia histórica d a ~ dominante do Paraná. Em 1897 mudou-se
no _cerco da. Lapa, na Gampanha do Çontest_ado e na pcrsegu1çao aos para Santa Maria, no Rio Grande do Sul Seria um dos.organizadores da Cooperativa
~evolucionários de 1924 cm São Paulo. Era casado com Osminda Rebelo e ein _ dos E_mpregados da Viação Férrea gaúcha. Em 19:ai'./oi eleito Prefeito de Santa
segundas núpciai com Leopoldina Rebelo (CARNEillO e V.\RGAS, 1994: 175- Maria. Sua vida polltica levou-o a tratar relações com Getúlio Vargas no Rio Grande
176). A esposa do General Mário Tourinho (Leopoldina Rebelo) era pctma da do Sul Ribas apresentava a dupla vantagem de ser, ao mesmo tempo, alguém do
esposa do Presidente deposto pela Revolução,Affonso Camargo (Etelvtna Rebelo). agrado de Vargas (a quem devia o cargo) e também vinculado à classe dominante
Isso indica que as coisas não mudariam muito cotn a Revolução. dos Campos Gerais do Paraná. Além disso, era uma importante liderança dos
A indicação por Plínio Tourinho do Capltio Arnaldo lvfru:ques Mancebo, trabalhadores ferroviários. Este conjunto de fatores ajudou a explicar a sua
eritão Chefe de Policia do Paraná, como Governad?r Provisório de Santa Catanna continuidade à 'frente do Poder Executivo paranaense de 1932 até 1945. Como
mostra a grande importância da s• Região Militar na Revolução de 30. A posse · afirmava GetúliO Vargas, "no Paranâ eu estou sempre presente. Tenho lá o Rims"
foi em Blumenau, na noite de 16 de outubro (CORRÊA, 1984! 61,62, 64). (ÁLBUM Comemorativo da Vmda do Presidente Getúlio Vargas ao Paraná, 1944).
O perfil de algumas das novas autoridades nomeadas pela Revolução de
1930 n• região atestam a continuidade de tradicionais grupos e familias no poder.
,Qs decretos revolucionários de número 1 e 2 da. Revolução unificavam as três 4. A ADMINISTRAçAO MANOEL RIBAS:
Secretarias de Estado do Paraná e nomeavam como Sccretá.J?o-G~l o Dr. João PRIMEIRO PERÍODO
Ribeiro de:· Macedo. O Decreto núméro 6 indicava como Prefeito de Cucit1õa o
. l Corond Joaquim Pereira de Macedn Ambos pertenciam à tradicional f~a
1 Macedo. Em Castro, onde quase houve conflagração com as tropas cm Sao Manoel Ribas era um típico herdeiro do poder das liunllias históricas do
Paulo, foi nomeado Otávio Novaes, neto de Manoel Iná~o do Canto e Silva, um processo de formação da sociedade pa.ranaense. Descendia de ~amílias prêsentcs
,i1 da fundação de Curitiba e com longa preponderância politica desde o século
dos mniores latifundiários escravistas do Paraná (BORBA, 1986: 163). Emjoinville,
foi nomeado Prefeito O Dr. Plácido Olympio de Oliveira, chefe do comitê XVI[. Era neto do Brigadeiro Mi.noel Ferreira Ribas, descendente dos fundadores
aliancista e da tradicional familia Oliveira da região. A Revolução de 30 logo de Pitangui-Ponta Grossa. O grupo de parentesco dos descendentes de Manoel
,.
procurou assegurar resp~itabilidade e comprometimento com as frações Ribas e de sua irmá, Maria da Conceição Ribas Vauthier, asada .com o engenheiro
li
t 18 19

1
Gustavo Vauthier- que conseguiu o emprego de Man~cl na Ferrovia' São Paulo-· Doni J\tico teria um papel ativo na campanha de nadoO.alizaçào do clero .
Rio Gra~de - abrange o seguinte conjunto de nomes de tradição política no estrangeiro no Estado (BENEVIDES, 1991:18).
Paraná: Lupion, Pantana, ~faccdo, Oliveira Franco, Hauer, Erichsen, lvfacicl, Durante a crise de julho de 1932, Manoel Ribas gu-ante a posi<;ào paranaense
Lscerda e Guimarães (.\LBUQUERQUE, 1994: 20-23). pró-Vargas, colaborando no isolamento e na derrota do Movimento Co~stitucionalista
A vincu~açào d~ Ribas cotn os grupos tradicionais da classe dominante de 1932, em São Paulo. Houve algum apoio e simpatias do Paraná pela posição
patanaçnsc pode ser aferida de diversas maneiras. O seu Secretário de- Fazenda e tle São Paulo pró-constituição (cf. TOURINHO, 1991:343 e I<c\IlAM, 1933),
substituto no comando do Executivo estadual durante certo período foi João de mas foram minoritários.
Oliveira Franco (1939-1942). Igualmente, Rivadávia Fonseca de Macedo foi
interventot interino em 1932 e Secretário de Fazenda, sendo postcriorméntc
Presidente do Banco do Estado do Paraná. 5. A ELITE POLiTICA PARANAENSE PÓS-1930
Outro sinal d.t conservação de interesses tradicionais da classe dominante
pâtaàacnse riôpéríodo de 1930'1945 pode serê:onstatàda pela presença de membros
das familias que detinham o poder no Paraná desde o século XVII em cargos Nas eleições de majo de 1933 para a Assembléia Nacional Constituinte foram
importantes. Portanto, nesse período não ocorreram rupturas significativas desse eleitos (cf. TOURINHO, 1991: 180):o General Raul Munhoz (PSD), que renunciou,
st,ilus quo. i\ análise dos ocupantes da Secretaria de Justiça revela que entre dez assumindo Idálio Sardenberg, militar de origem curitibana (NICOJ..\S, s/d: 99);
deles, oito pertenciam a famiUas históricas paranaenses com ascendentes e redes de Manoel Lacerda Pinto (PSD), nascido na Lapa em 1893 e llacharel em Direito
parentescos estabelecidas no pode; ·desde o século X""VIII Ooào Ribeiro de Ivfacedo por São Paulo; Antonio Jorge Machado Lima (PSD), füho de Vicente Machado,
Filho, João David Pernetta, Clotário de Macedo Portugal, Catào Mcna Barreto Chefe do Executivo e um dos maiores nomes da política paranaensc do começo
J da República. Antonio nasce_u em Ponta Grossa em 1886, era Bacharel em Direito
1 Mondara, Francisco Martins Franco, Eurípedes Gatcês do Nascimento, Oscar
Borges de :Macedo, lvfanocl Lacerda Pinto, ficando de fora Omar da Motta e 0 por São Paulo e estava na dissidência das forças hegernônicas do Partido Republicano
gaúcho Capitão Fernando Flores). O Procurador-Geral da justiça era Brasil Pinheiro Paranaense desde 191;~, inclusive· na Reação Republicana e na Aliança Liberal.
Machado e o Presidente do Tribunal de Justiça era Clotário de Macedo Portugal Fundou o jornal A Tarde. Com a Revolução de 1930, foi Diretor Geral do Ensino.
1 Membro fundador do Partido Social Democrático, do qual foi l!der, foi Presidente
(que assumiu o poder com a queda de Manoel Ribas e do Estado Novo em 3/11/
1 1945). O empresariado reu~ido na Associação Comercial do Paraná no período da Comissão de Agricultura, Indústria e Comércio da Câmara dos Deputados e
1
de 1931-1945 teve como Presidentes: Rivadávia Macedo (1931-1933 e 1939-1946), Senador, tendo sido tambétn e!dito em 2 de fevereiro de 1935 pela Assembléia
Arcésio Guimarães (1933-1937) e João Viana Seiler (1937-1939), todos com redes Constituint_e do Estado do Paraná; Plínio Tour~nho elegeu-se pelo Partido Liberalt
de parentesco enraizadas no poder paranaensc desde o século l\."\rII. A Federação apesar, de não ter contado com o importante apoio da Igreja por defender o
das Indústrias do Paraná (FIEP) teve como primeiro Presidente Heitor Stockler de divórcio e a separação entre educação pública e educação religiOsa.
França (1944-1958), com vínculos de parentesco que remetiam à. fundação de Os Deputados Federais eleitos em outubro de 1934 foram: Francisco de
Curitiba no século l\.'VII. Todos eram figuras representativas de tradicionais setores Paula Soares Neto (PSD), nascido no Rio Grande do Sul em 1901, Médico pela
da classe dominante paranacnse com raízes nos séculos passados. Faculdade de Porto Alegre e Professor da Faculdade de Medicina do Paraná. Foi
O papel da Igreja também revela a perspectiva conservadora e a defesa I1 residcntc da Federação Paranaense de Desportos. Capítào, Médico do Exército
da ordem. Ribas trouxe como Arcebispo Metropolitano de Curitiba Dom Ático e participante ativo da Revolução de 1930; Lauro Sodré Lopes (PSD), nascido
Euzébio da Rocha. Era seu conhecido e de Vargas como Bispo de Santa Maria cm Curitiba cm 1898, Bacharel cm Direito pela Universidade do Paraná e
na década de, 1920. A presença do religioso ~aiano no Paraná revela as Promotor Público de Curitiba. Foi Chefe da Policia depois da Revolução de
preocupações políticas e as ligações de Ribas com a esfera religiosa tradicional. 1930; Otávio da Silveira (PSD), nascido n~ Rio Grande do Sul cm 1895, era

20 21
Médico pela Faculdade de Porto Alegre e Professor da.Universidade do Paraná. Guimarães, bisneto do Visconde de Nácar, nasceu em Curitiba em 7 de maio
Foi Diretor Geral do Ensino e da Saúde Pública e ativo membro do Di!etório de 1896 e era filho do General Teodorico Gonçalves Guimarães. Em 1919
Central da Aliança Nacional Liberrndora (BENEVIDES, 1991:166-188; Airton fundou com outros a Gazeta do Povo. Casado com Alcina Macedo) filha do Coronel
Plaisant (suplente pelo PSD), nascido em 1890 em Curitiba, era Major do Exército Joaquim Pereira Macedo. Adalberto Scherer, industrial e comerciante. Agostinho
e Comandante da Força Militar do Paraná e foi um dos oficiais do Exército que Pereira Alves Filho, nasceu cm Paranaguá em 1903, foi Tenente do Exército e
se deSen'tendeu com os Tourinho na crise que os levou para a oposição ao participou dos levantes de 1922 e de 1930. Tinha vínculos com a Aliança Nacional
varguismo (TOURINHO, 1991: 145-165); Francisco Ferreira Pereira (suplentedç,. Liberrndora (BENEVIDES, 1991:170). Augusto Santos, nasceu na Bahia em 1874,
PSD), nascido cm Curitiba em 1899. Era Engenheiro formado no ruo de Janeiro era comerciante estabelecido em Tibagi. Brasil Pinheiro Machado, nasceu cm
e professor da Universidade do Paraná; assumiu em 1935 na vaga de ,Flávio Ponrn Grossa em' 1907, filho do Coronel Brasil Pinheiro Machado, Bacharel em
Guimarães que foi para o Senado; Pllnio Alves Monteiro Tourinho (PSN), cuja Direito pela Universidade do ruo de Janeiro. Caio Gracho Machado de Lima,
biografia já foi apresentada; Artur Ferreira dos Santos 1 nasceu em C~riciba cm nasceu em Ponta Grossa cm 1885 e era filho de Vicente Machado, importante
1894:·Bácharcl em Direito pór São Paulo, foi Oficial de Gabinete da primeira poütiêo e Chefe do Executivo paranaense no, iní~-io da República. Cai~- ,estudou
gestão de Affonso Camargo e na segunda foi Chefe de Polícia, e Promotor Ciência Política em Paris,. foi Deputado Estadual (1908-1909 e-1929-1930) e
Público cm Curitiba. Foi PresÍdente do Instituto da Ordem dos Advogados do ocupou vários cargos públicos no Brasil e no exterior, Era também jornalista e
\
Paraná. Pertencia à Uniào Republicana Paranaensc (URP). diretot de O Dia. Camilo Stellfeld, farmacêutico. Djalma Rocha Al-Chueyr,
A Assembléia Constituinte Estadual, de 1935, era composta por deputados nasceu em São Paulo cm 1904, foi Maj9r do Exército e articulador revolucionário
d~ t.rêS diferenies partidos, qu~ rcpr<:,sentavam ttêS ~êndências políticas dominantes de 1930. Tinha vínculos com a Aliança Nacional Libertadora (BENEVIDES,
no Paraná naquele momento. A primeira tendência, majoritária na Assembléia, 1991:170). Erasto Gaertner, nasceu em Curitiba em 1900, eta Médico pela
era formada pÜr vinte deputados do PSD - provavelmente os mesmos que Universidade do Rio de Janeiro, Professor da Universidade do Paraná, membro
elegeram o Interventor Manoel Ribas Governador constitucional. Essa 'tendência do DiretOrio do PSD. Frederico Faria de Oliveira, nasceu na Lapa em 1893,
era favorável a Vargas, em contraste com a segunda tendência, formada por era jornalista e membro do Batalhão João Pessoa durante a Revolução de 1930.
deputados do Partido Social Nacionalista (PSN), que ,reunia muitos revolucionários Hclvidio Silva, nasceu em Curitiba em 1885, era formado em Direito no Recife.
de 1930 contrários às atuais orientações de Vargas e de Ribas. A principal figura Foi Juiz, Escritor, Jornalista e Diretor-Presidente da Cia. Cervejaria Adriatica.
do PSN era o própria Plínio Tourinho, comandante das forças revolucionárias de .Além disso, foi Presidente da Orde.m dos Advogados. João Teófilo Gomy
outubro de 1930 no Estado. Já a União Republicana :raranaensc polarizava setores Junior, nasceu em Curitiba cm 1889, Bacharel em Direito1 advogado e líder do
políticos do antigo regime e do velho Partido Republicano Paranacnse. PSD. José Manoel Ribeiro dos Santos, nascido em Sete Lagoas (MG), Médico
Formavam a bancada do PSD na Assembléia Constituinte do Paraná, os formado pela Unhrcrsidade do Paraná e chefe político Cm Jaguariaíva, onde
deputados relacionados a seguir: Antonio Augusto Carvalho Chaves1 eleito clinicava. Lineu Madureira Novais, filho do Coronel Otávio Novais, nasceu
presidente da Assembléia Constituinte; era Bacharel em Direito por São Palllo. cm 1908 em Castro, era 1viédico formado pela Universidade do Paraná e
Filho de um Juiz, o Dr. Joaquim Gonçalves Chaves nas·ceu em hfacaiba, na Paraíba. descendente de tradicional família de grandes proprietários de terras do Paraná.
Ocupou duas Secretarias de Estado: de 1896 a 1900, foi Secretário de Justiça e Mário Erichscn, filho do Desembargador Conrado Erichsen, nasceu cm
de Finanças no período de 1900 a 1904. Além disso, havia sido Deputado Esrndual Curitiba em 1899, era Engenheiro formado pela Universidade do Paraná, ocupou
(1906-1907) e Deputado Federal (1903-1914), Presidente do Comitê Central vários cargos técnicos de engenharia e foi Prefeito de Antonina em 19~3. Nelson
P~rahaense da Reação Repu.blicana e_m 1922, Secretário da Fazenda no período José Corrêa, nasceu cm Rio Negro em 1902, era Dentista formado pela
rev<>lucionário (1930-1931). Não ocupou apenas cargos públicos, pois rnmbém Universidade do Paraná, tendo ocupado cargo de Professor na mesma
foi,_-St\Cio!cl,é:-uma' empresa de artigos clé_tricos com Gastào Chttvcs. Acir universidade. Foi Conselheiro do Clube Curitibano e Presidente da Sociedade

22 23
Operária União Juvevê. Oscar Borges de Macedo Ribas, nasceu cm Palmei.J:a Saúde Pública do Paraná; ~tonio Couto Pereira1 nasddo em 1896, em Baturité
em 1894, era Bacharel em Direito pela Unive~sidade do Paraná, madcireiró e {CE). Era comerciante radicado em Curitiba, tendo participado das articulações
fazendeiro em Castro e fundador- do Centro de Comércio e Indústria de Ponta revolucionárias da década de vinte, comissionado como Major nas forças
Grossa." Ovande Ferreira do Amaral, nasceu em Rio Negro cm 1900, era Médico revolucionárias. Foi Presidente do Coritiba Futebol Clube; Joaquim Pereira de
M;,iccdo, nasceu em Porto de Cima em 1858 e era Coronel da Guarda Nácional,
formado pela Faculdade do Rio de Janeiro. Participou da Aliança Liberal no Sul
nomeado em 1893 por Floriano· PeLxoto. Tendo sido Deputado no Congresso
do Paraná e da Revolução de 1930. Raul Gomes Pereira, nasceu cm Curitiba
Constituinte Estadual de 18~:2, tornou-se novamente Deputado Estadual cm
em 1899, foi Tenente do Exército e participante das Revoluções de 1930 e 1932
1900-1901, quando foi Presidente do Congresso Estadual. Camarista (1905-1908)
ao lado de Vargas. Alfredo Venskc, era industrial. 1:eve o apoio do eleitorado
e Prefeito de Curitiba (1908-1912), foi ainda Presidente da Aliança Liberal do
teuto~brasil.Ciro no Paraná. Era Primeiro Suplente do PSD.
Paraná, Prefeito revolucionário de Curitiba (1930-1931) ê Presidente Honorário
A bancada da URP era formada por cinco deputados: Caetano Munhoz
do Partido; Jorge Becher, comerciante em Ponta Grossa; Manoel de Alencar
P.a Rocha, nasceu cm Antonina em 1874~ era Médico formado pela Faculdade
Guimarães, nasceu-em "IluenrnrAites;,na:Aigên'tiifa, em 18'65:·Néto dà Visconde
do" Rio de janeiro. Er,r também comerciante· de erva:..mate, tendo fundado a
de Nacar, era formado em Direito-no Recife. Foi Promotor e Chefe de Polícia
firma Munhoz da Rocha & Irtnào. Além de ter sido Presídente da União
no regime monárquico e Chefe de Polícia do Paraná no início da República.
Republicana, ocupou vários cargos públicos e participou de ":árias legislaturas na
Líder do partido na Assembléia1, hâvia sido Deputado Estadual Constituinte em--
Assembléia Estadual (1904-1917) e uma no Senado Federal (1929-1930). Foi 1892, além de ter participado de outras legislaturas na Assembléia Estadual, .no
Presidente do Congresso Estadual na República Vclhlh Prefeito de Paranaguá Congresso e no Senado Federal.
por duas vezês'(1908 e 1912), Vice-Presidente do Estado (1916-1920), Secretário Os dados acima permitein notar que a composição da Cõnstituinte de
da Fazenda e Presidente do Paraná, por duas gestões (1920-1928). Era casado 1935 reflete, aparentemente e em termos numéricos, uma predominância da
com Silvia Braga; Alcides Pereira Júnior, nasceu em Paranaguá cm 1901, Bacharel tendência política favorável a Vargas e a Manoel.Ribas. Porém, socialmente, todos
cm Direito pela Universidade do Paraná, foi Promotor Público; Carlos Ribeiro os três partidos representavam setores da dasse dominante paranacnse. A maior
i
de Macedo, era Médico formado pela Universidade d~ Paraná e Prefeito de prova disso é que havia, por exemplo, membros das famílias históricas em todas
Teixeira Soares~ Lacrtes de Macedo Munhoz, nasceu em Curitiba cm 1900,
1 as agremiações. Um Macedo em cada partido. Um Guimarães no ~SD e outro
era filho do Coronel Alcidcs Munhoz, foi Jornalist,,Escritor e Bacharel em Direito no PSN, por exemplo. As diferenças vinculavam~sc mais à dinâmica d0s interesses
r1 pela Universidade do P.araná. Era Promotor Público de Curitiba desde 1928, políticos que a determinações socioeconômicas . .Apoiar ou ·não Vargas era o
Presidente do Instituto da ·ordem dos Advogados do Paraná e fazia parte do divisor de águas. No governo de Ribas, vários políticos que trabalhavam no regime
Centro de Letras do Paraná. Bem mais tarde, seria Presidente da Comissão de deposto pela Revolução de 1930 voltaram a cargos de poder. Eram os chamados
Inquérito instalada na Universidade Federal do Paraná depois do golpe de 1964; t'amarguistaI, em homenagem ao último Presidente paranaense da Rcp6blica Velha,
Lindolfo Pessoa da Cruz Marques, nasceu em 1882 cm Bananeiras (Paraíba), Affonso Alves de Camargo. Segundo o historiador Luiz Carlos Tourinho. HManoel
Bacharel em Direito em Recife. Poi Promotor Público cm São José da Boa Vistã, Ilibas não discriminou os t-a1na1;guístm. Nomeou para o Conselho de Estado o
cidade do interior do Jlaraná. Foi também Delegado de Polícia de Curitiba no Dr. Marins Camargo, irmão do Presidente Afonso, acusado pelos tenentes de
governo de Vicente Maêhado, juiz de Direito cm vârfas comarcas paranaenses1 . possuir metade das terras do Estado. Também [nomeou] o ex~governador Caet1no
Chefe de Polícia no primeiro governo de Affonso Carnargo e Deputado Federal Munhoz da Rocha. O Engenheiro Angelo Lopes, servidor do Governo do
por quatro vezes.
·completava a Assembléia Constituinte a bancada d_o PSN, formada
também por cinco deputados. Alceu do Amaral ferreira, filho do Dr. João ,-\s referências biogr;ificas focam extrnídas da publicação ASSEMBLÉI.-\ Constituinte do Estado
Cândido Ferreh-à, era Médico formado no Rio de .Janeiro. Foi Diretor Geral da do Paraná, 1935.

24 25
"d t Aco,1s0• foi seu Secretário de Viação, de Fazenda, Prefeito de Curitiba.
o
Prest en e ,, "d R bli A principal novidade foi a construção de Estrada do Cerne, ligando Curitiba
R . . Mar~•ns diretor do DidnO da RCpdblita, órgão do Parti o epu can
omar10 u , · · " · ltural com o norte do estado, até Jacarezinho e daí a Londrina. Um dos empreiteiros
empaste la d o n O dl'a 5 de outubro' assumiu o Conselho
. · do Patrunon10d cuPI ·
foi Antonio Lacerda Draga, pai do futuro ·Governador Ney Braga (cf.
Em 1940 trouxe para o Paraná o desconheci~~ capitão g~úcho Fer~an o. ores.
ALBUQUERQUE, 1994:40); 3) educafiio: construção e obras cm várias escolas, com
Nomeou-o Chefe de Policia. Depois Secretario do Interior e Just.Iça. Foi quem 1
1 as instalações do Colégio Estadual, da Escola Agronômica, da Escola de
.
organizou o PSD apo's 1946 [···]" 'TOURINHO,
\· 1991: 164-165).
Aprendizes Artífices, da Ca's:i do Jornaleiro entre outras; 4) ação govenutmental na
área de dência e ltcnologia:a criação do Instituto de Biologia e Pesquisas Tecnológicas,
G. o PERÍODO DO ESTADO NOVO em 1942, representou a am~liaçào, o desenvolvimento laboratorial e a formação
de uma vanguarda científica no Para~á nas áreas de química, geologia, petrografia,
agronomia, veterinária e bioquímica. Foi o início d.is políticas públicas em ciência
. l 1937 ' novamente 1vfanoel Ribas e tecnologia no Paraná. Um dos_ principaJs . r.~;;ponsáveis .foi Marcos -Augusto
N act!SC(C, .. segue fielmente . a-orientaç~o
d . d
l
do c;tete, mostrando que, ta como em l 932 ' e com
. um . grau ~ a ma10r
a1n '. e Eórie"tti, filho 'do priÍn~iro c~samento de Dona.Anita fübas, esposa do interventor
. . . E
consenso~·o Parana apotava o s a O t d NovoJ • As primeiras • orlcntacoes
.• das poltticas
• ,
Manoel Ribas (BRAND; ROca,, 1991); S)jom,1110 à htdnritialização: a) implantação
úblicas de Manoel Ribas à frente do governo do Parana ate~~am aos segutntes da Indústria K.labin em Monte Alegre. ESta foi uma medida importante, pois
~ritéríos em linhas gerais: 1) racionalização' modemizafiio b//rocm/11:a: a)_ o controle e significava o início de Política~ públicas de implantâçãoindustrial de grande porte
austcrid:de orçamentária era Ull) dos principais itens de sua gestao, maru:~s~a)... no 'Paraná. O local no qual se formou a Indústria Klabin do Paraná d~ Cdulôse
, . lmen t'e na demi,ss~o
pt1nc1pa •
do funcionalismo-contratado ,no ~regune
d Ianterior•
· d S/_.\ era um antigo la"tl[úndio no norte dos Campos Gerais, próximo de Tibagi-
criação da· Secretaria de Agricultura (cm 1944); e) cnaç:ao o nstttuto.. e a Fazenda Monte Alegre.
rd ·ri - da Policia Civil, do Departamento Médico-Legal e do Labo':totto Em 1932 o Banco do Estado do Paraná arrematou as terras que pertenciam
e11t11caçao d E , · )C aoem
. - do Departamento Estadual e ,--statisUca;
do Estad o; d) cnaçao .. .. ~
e .naç a uma fmna falida e as vendeu para o grupo Klabin. ImporL1.ntes cone."tÕes entre
1942 do Instituto de Biologia e Pesquisas Tecnológicas; pr1t11e1t~ tnsU_tutçao Getúlio Vargas, Manoel Rfü<!,s e as familias K1abin e Lafer foram centrais para o
moderna de apoio tecnológico do Paraná; 2) ief,n-estrnlura: a) melhoria do slS~ema sucesso do empteenclimento. Nos anos seguintes foi construido um impressionante
de co.rnunicacõcs e estrutura vJana. . . com a co nstrucào
, de novas rodov1as •e p~rque industrial na áreã, com usinas de energia, cidade para os trabalhadores e
benLeltotL'lS nas cs
e • • • tradas
• do Estado
· ' além de melhorias no Porto de Patanagua. todo um conjunto de moderna infra-estrutura no loca! (cf. CUNR\,1982: 30-53
e FERN,\NDES, 1974). Pode também ser ciL,d., a implantação da Companhia de
Cimentos Portland em Pinhais, região de Curitiba, e a estatização da Ferrovia São
Paulo-Paraná; 6) roloni-zaçào: a) revisão e implantação de uma nova política agrária
l A .-\liança r.ibcrtndnrn Nacion~I r a .\çàn lntegr:ilista Rrasilcir.t tivera·~6~~~~~~~mi;; ~ ,~"f1~;~ã6n e de colonização fundiária. Algumas concessões do período anterior foram
nu dite política paranaense (cf. BENE:'IDES, 1.99.1:tóS e - . . na e r~alizo~ ai uma;
revistas. A concessão à Companhia de Terras Norte d'a Paraná e ao Engenheiro
~~:;:~: : ~ld~ ~,:a:;~a.
.

d. .
O
t ) :\ \IU teve certo apmo nas colonms nlcma e italia g
.V~N contou com :tpoio do Deputado Federal Oct~vio da Silve~ do
, 1d o ganb..ação. Os deputados cst:ulu:1ls Agostinho Pe[clra Alves e D1:1lma
Beltrão foram também mantidas; 7) tamcleríilira.t.gemis do re.gimt: a) repressão política
quadro LUgente mmona ª r ' ' • .. ueno ru m de apoio à ALN. aos "inimigos do regime", traço da política nacional do Estado Novo, que no
Rocha Al-Chucy, ambos militares, tambc.m part.lC!p:aram do pcq g I
Paraná se manifestou na perseguição aos esquerdistas e à classe trabalhadora e na
Desse episódio teria originado o apc~do de l\fanocl Rib:1s como ~faucco Fad~,ddcviddo n~o vigilância e no controle sobre as comunidades de irtUgrantcsi.
somente às demissões, mas tambcm _ - e fran-1r.t1-eza 110 estilo 'rauchesco
• a• g10.%cua , , a malido ped o
personagem cm questão. O conslrn:Hc entre o es til O mais sofisticado, polittco . e po_ o\fi os
últimos governa.dores da República Velha e o nm·o c:,;tilo de Ribas provocava tal tmp~~sao. '. d ma 1
· "Seu Ribas nem doutor era", ma.s prestava contas apcmt:;,. a G e túlio Vargru; e utilizava C.Sta 1
O Paraná, inclusive Curitiba, foram alvos da campanha de nacionalízação (BENEVIDES,
prerrogativa para construir sua eunagcm no I'arana..
1991:99-188 e BOLETIM Informativo da Casa Romãrio t'lfarcins, 1995).

26
21
Os primeiros desafios para a política paranaenSe- colocava-se nas novas 7. CONCLUSÃO
áre~s de expansão econômica. No sudoeste, a criação do Território no Iguaçu
representou um desmembramento territorial_ dos mais criticados pela oposição.
A partir dos int.eresses de Getúlio Vargas e. de alguns grupos· colonizadores A partir do que vimos analisando) podemos afirmar que as eli~s políticas
gaúchost e com a anuência do Interventor Manoel Ribas, ele foi criado como patanaenses do período de-1930-1945 não eram diferentes das que domiriavam o
unidade territorial separada "do Paraná. O outro grande desafio foi a ocupação Estado durante a República Velha (1889-1930). As mesmas familias históricas,
das terras cafeeiras do Norte do Paraná,. que abriu a perspectiva para a política
das quais é possível determinar sua focalização e itinerário genealógico desde o
do Paraná tradícional conviver e integrar as novas populações migrantes dentro
período colonial, continuaram no poder.
da identidade e da política {Jaranaense. Ao lado de grandes empreendimentos
Por outro lado, houve a .possibilidade de ingresso na carreira política por
pdvados, como a Companhia de Terras Norte elo Paraná, o governo organizou
colonizaÇões oficiais em Jataizinho, Içara, Paranavaí,Jaguapitã e Centenário. Além meio do Exércitot como efeito do tenentismo ~ da Revolução de 19,30. O período
disso, o ·governo também procurou formar colônias nos ·rioS Piquici .e hraí. de 1-930-1945 conheceu tambêm-um certo efeito d~ga11thitmo como conseqüência.
Durante a ditâclura estado-novista e com o fechamento do Poder da inflllência de Getúlio Vargas, do Exército, com a sua concentração de oficiais
Legislativo, novos órgàos auxiliariam o poder politico do Executivo regional. gaúchos que fizeram -carreira política no Paraná, além da própria presença do
Um deles era o Departamento Administrativo dos Estados (posteriormente Interventor Manoel Ribas, paranacnse tt:aclicional, porém egresso d~ política gaúcha.
denomit~ado Conselho Administrativo). O Departamento Administrativo do O Paraná acompanha as linhas gerais do' Est~do Novo, com alguns eixos
·'Estado do Pa.1:nná contava, no ano de 1941, com Roberto Glascr,AntonioAugusto
de modernização burocrática e o iÍiÍCio de política~ industrializantes, Também se
Carvalho Chaves, Epaminondas Santos e Caio M:1chado. Em 1942, seu Presidente
assiste à formação do norte· cafeeiro com q seu padrão fundiário especifico no
era Roberto Glaser e Caio Machado foi sub&tituído por Flávio Guimaràes6.
período, o que corresponde à decadência ela burguesia da erva~mate e à ascensão ,
dos novos interesses cafeeiros do Norte do Paraná. O Território do Iguaçu não
resistiria à rcdem~cratizaÇ~o de 194-6. As forças que operaram no Est~do Novo
4 Roberto Glaser na::ceu cm 1878 cm Cambuçu (RS), industríal e comerciante, além de grnndc paranae.nsc conti~uariam no poder por intermédio de Moysés Lupion (do PSD)1
proprietário dos Campos Gcn:ús do Paraná, foi Dcput1do Estadual (1914~·1915) e íedcrafüta na a partir de 1946. No entanto, Bento Munhoz da Rocha Neto, filho de um
crise de 1893. Oficial da Guarda Nacional e coronel, participou ativamente das lutas da Aliança
Governador da República Velha (Caetano Munhoz da Rocha) e genro do Presidente
LibcrnJ e da Revolução de 1930, â qual oícrcccu - a preços tabelados - toda a sua boiada. Foi
suplente de Deputado f"C.deral pelo PSN nas clciçõe!I de outubro de 1934, sendo o candidato da do Paraná derrubado pela Revolução de 1930 (Affonso Camargo) retornaria ao
opo:;ição mais vot.tdo. Posteriormente apoiaria t,.fanocl Ribas e o &tado Novo Seria Senador poder para comemorar o centenário da emancipação do Pa;aná de São Paulo em
na Constituinte de '1946. Antonio Augusto Carvalho Chaves foi o PrCllidente da Assembléia
Constituinte do Paraná cm 1935 e era filiado ao PSD (biografia detalhada jâ apresentada). 1953. lvias agora era uma outra conjuntura e em outro cenário.
Epaminondas Santos nasceu cm Curitiba cm 1887. Comerciante e industrial, foi proprietído da
Cerâmica de Campo Largo, Fundou uma das primeiras cidios do Paraná, a PRB 2. Foi l>rcsidcntc
do Coritiba Futebol Clube. Durante algum tempo acumulou a sua função no Conselho/
Departamento Administrativo do Estado db Paraná com a Presidência da Junta Comercial.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICJ\S
Seria Presidente da Associação Comercial do Paraná de '1946 atê 1958 (cf. CARNEIRO, 1981:
55 e 133-136). Caio Machado (biografia já apre$Cntada como Deputado Estadunl Constituinte
de 1935). f,lávio Carvalho Guimarães: nasceu cm Ponta Grossa em 1891. Pertencia à tradicional ALBUtI, Comemorativo da Visita do Presidente Getúlio Vargas ao Paraná.
fanúlia Guirnariies, tendo se casado com Anita Miró, ftlha do Coronel Josê: Miró. Bacharel em
Direito por São Paulo, foi consultor jurídico do Banco Pclotcnse e da Estrada de ferro São Curitiba: Tipografia Mundial. 1944.
Paulo-Rio Grande. Í'oi também Secretário da Fazenda, Indústria e Obras Pübliats depois Lia
.\LBUQUERQUE, !li. M. de. Manoel Ribas. O mito que ficou. s.ed. 1994.
Revolução de 1930. Foi Deputado f<cdernl na eleição de outubro de 1934 pelo PSD.

28 29
ASSE?\IDLÉL\, Constituinte do Estado do Parani Curi,tiba: Plâ,cido e Silva &
Companhia Ltda. 1935.

BENEVIDES, C. A. Ç- Terra sctn passado: um estudo do Paraq.á contempofflfico.


Tese de Doutondo. São Paulo: FPLCH/USP. 1991.
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30
'
1
1 1
1 .
1

';4.rtia,/ar o hisloritamrnt, opa,rad,, não Jig,rifica ronhtd-/o


'como ele realmentefoi'~ Significa apropriar~ie de uma nminiidnda,.
tal como ela relamfa.fa, no momento de pm"ga. 0
[...] O dom d, d,Ípertar no pa,sado iú ante/bar da ,rpm,nf11
i privillgio txdmivo do hisloriador «mwnddo d, qut lambim
OI m()f"fM não ularão em Jt.!!'rtlnça se o i11imigo .JJtnçer.
E eue inimfto não tem miado tk ven«r. t•

' ' Walter Iknjamin


1. INTRODUÇÃO

Um elemento inicial para a reflexão a ser desenvolvida neste trabalho refere-se


ao tamanho a ser dado aos dirigentes máximos do grupo de interesse e fraçào de
classse aqui analliados, A primeira questão que queremos esclru-ccer é que, não
obstante o pap~I central q1,1e oçupa çm nossa análise,.o governador Lupion1 ou seus
irmãos nio estão sendo enaltecidos. como Je!f matk man ou como bandeirattlu
modernos, são antes de mais nada 'elementos de uma dacb especificidade histórica
na qual uma configuração social possibilitou a uma fração de classe ascender ao
poder utilizando-se ativamente de recursos técrúcos e financeiros. até então inéditos
(ao menos em relação ao setor e.rvateiro anteriormente dominante que nunca teve
acesso aos mesmos recursos finan€ciros possibilitados pela. mi de INJro), tecnológicos
(por exemplo, de transportes e aumento de trabalhadores qualificados) e cxpans<io
de mercado consumidor (diferentemente do mau; que aliás e~tou já no início
do século séria e catastrófica concortênâa em seu maior mcrca4o consumidor) o
í

1
Moysé! Lupion IUSCCU emJaguaciava.PR, em 25 de m.a.rço de 1908. Formou-se em Contnbilidade
pela &cola Á.Jvare, Penteado,. cm S¾o PàuJo. De. volta olO Par.má, tomotHc lider empresarial e
politico exercendo um novo estilo .tdíl"UJWtntivo. Aó chcg.u ao Governo do Paraná.já com:mdava
um império econômico. Dentre outras conquistu, instituiu técnicas de planejamento
govcrnamcnt:aJ, desenvolveu profumh política municip:alist:a, promoveu uma politio duvidosa
de titulação de terra.1, fun~ou a Bolsa de V:t!oret e a Bolsa de Caíé, duplkou o potencial clétríco
do Estado, criou o Trihuna] de Conw e contribuiu pant a fcdcttlizaçio da Universidade do
Parami, Faleceu no llio de Janeiro, em 29 de ago11to de 1991. (VARGAS, T.~ CARNElRO, D.
História Biográfica da República no Para.na 1889~1994. Curitib2ê &n,esb.do, 1994, p.199-
201). O termo lxpia11"!,t11t ganhou o uru.gioírio poUtko nuionaL "Par:t os que atinginm a id.adc
IlUlhlra, os irmã0:5 carregam um sobrenome cheio de ressonâncillS suspeitas. Ambos são netos do
~ndo Moi&és Lupion, que., em scw tempos de governador da Pmná, ,chegou n lote:.1ir uma
pnç:u pública em pcovei10 próprio. É um caso curio.m, cm qu.! o demando' m1 íunç:ao pública. é
legado de avô pan: neto. No Pa.ratci, a lupionagem é uma tadiç:ão hísctórkau, (Editorial do Jom21
do Bruil, te,ça-fein, 16 jul/1996, p.10)

i 35

I 1
i11l
!~
concernentes ao joga do ~dn; deu as linhas do desenvolvimerjto do Estado no que
l pinho (principalmente a industrializada e ipnsformada em papel) possuín, ao menos
no Br~il. poucos (e, muito prÔvavelmente, nenhum) concorrentes a altura durante se refere-à ação estatal e à. atuação do Setor privado aqui an~ado, ou seja., o setor
!! industrial madeireiro.
0 período estudado. Para se estabelecer se membros do grupo Lupion atuavnm
como ideólogos ~ categoria ou da class_e, é necessário que annliscmos seus discurs_os, Quanto à estnitura<;20 do Grupo Lupion, hâ algumas clivergfocias no que
díz respeito a ;ua formação principalmente no que se refe~C a .datas de abertura
o que não é intuito do presente trabalho, uma vez que nos preocupamos em
de firmas a justificativa da divergência entre as fontes pritpirias consultadas -
compreender a con'stituiçào de um grupo empresarial qu~ possuía entre s;c~
contratos encontrados na junta come.rciaLdo Paraná, e nas f~tcs secundárias na
associados outros industriais e empresas de importârlcia [Cbecle, Sguáno, Arcesio
eoada Llm~,Co-elho etc.], não sendo possível d~tar se o sucesso ou frrcasso oh~ de Kretze~ - e Vaz segundo ~çmos;,possuem d~s expli~ações não
necessariamente excludentes. Tanto nas entrevistas COnceclida.s a ~Sfair_quanto
dest,,' ·grupo dependia em determinado grau dJls estratégias competit:ivus de seus
·na obra de luul Vaz, à m.Íot1ll das empresas do grupo teria sido adquirida' ou
adininí,;~dores da liuníliil Lupion. . · . · .
fundadJI antes de 1945, sendo que nesse ano o grupo atingiria sua maior expansão.
'o P~cs~ntc trab~lho· tDo~~gcifico ·~~ ~alisar-o desenv~l~ento de_~-. Já no, contratos encontrado, naJun·~ C~!Il~ do Paraná a ;;,.;orla dJls<empres.,; .
grupo .,;,,presarial denominado GrupoLupion cujos integrantes ª':"eram P~P"'.5
tem seu, registros de fundação situados principalmente após 1945. Para explicar ·
importantes dentro dJI política partidária e em cargos públicos no Paranil durante
essas divergências, soo consideradas duas hipóteses. A primeira pos,íbilidadc aqui
as dêcada; de 194-0 e 1950. A anilise aqui efetuada segue duas matrizes: de um
aventnda é a de que os irmãos Lupion não possúÍssem registros na JCP, embora
lado as estratégias competitivas e organizativas de Um grúpo que se reprcsentav.t
fossem sócios com menor capital em empresas similares, e, após a Lupion & Cia
como ·algó que, cm seu ~tender, seria inéditô· no estrato, seriam empresários
passar por um período de acumulação e de lucros :'xtraordinácios, passa.ruim ~
(b,uiinu ma11 i). Neste sentido, tenta-se compreender como est.2 imagem foi registrar as diferente firmas. Outra possibilidade de Vaz colocat as datas da
constituída dentro da conjuntura da década de 1930 na qual se verificava uma constituição das empr:-5as par,. um período anterior a 1947 seria para afastar a ,
novn tc.rritotialização d.o capitaÍ no Brasil e. cm específico, no Patmá. Busca-se constiruiçào da M. Lupion & Cia da ascensão de Moysés Lupion ao Governo do
compreender o desenvolvimento do setot ind~strial madeireiro à qual estes Estado. Moysés governou o Paraná pot duas vezes· e em ,ambos ~s pCríotjos,
indivíduos estavam ligados. mas princip.utnente no segundo mandato, foi objeto de uma série de acusações
Paralelamente ao estudo dessas estratégias e do desenvolvimento do setor d.e corrupção, algumas de~ sendo inclusive reéonhecidas por Vaz3• A estas
madeireiro,· pretende-se entender ~bém a forma que um setor da cc~nomia considerações adita-se um problema, das 17 empresas do grupo citadas ,por Vaz,
regional amplia suas forças econômicas e po~ticas a ponto de conseguir for'."~ foram encontrados todos os registros 'na. JCP. Não obstante esses problemas, foi
uma estratégia própm de hegemonia e disputiu: dentro do bloco de poder a dlreçao possível mapear a participa<;20 do Grupo Lupion, ciu de membros da familia,
do processo decisório no Paraná. A partir da listagem de sócios das empresas do em uma série das empresas citadJls. Devido à lmpossibilicladc de se encontrar ·
Grupo Lupion levantada na Jun_ta Comercial do Paraná e da consulta de fontes alguns contrat1?-5 utilizaremos a obra de João Kretz~, '¼ potinfim «onômiau do
secundilrias (jornais dJI década de 1940 e 1970), dencamos a recorrência de indivíduos ParonẠcomo fornecedor de dados no toante à participação de membros da
que pertenciam a importantes cargos (cm órgãos públicos, Executivo e Legislativo) familia· Lupion ou do grupo empresas. O, problema oeste caso é qu~ não se
e eram associados ao grupo, além, é claro, do governador do Esmdo. obtêm os dados no momento da fundação da erilpresa em relação ao do montante
No.desenvolvimento da trabalho tentamos, a partir de nossas ~vestígaçõcs, ·. de cotas C/ ~ ações de cada sócio nem as alterações no capital social da mesma.
démpnStrat'. i:JU~. havia um ettter,i:dit:n~nt? ~ ao menos no p~odo cs~dado -
.- .a;~i:;~:[i;f#,í/,~i~~~{flo blés:o ile[>Qdet so&re os rumo~ a ser°".' seguidos_
.•.,. pid~.àosêÍfvglí:/fufl)to.Ppílalist;i no Estad0-,Este rumo estava ligado.dlrcw,,entc Devc~se not.ir também que a coccupçio (via nepotismo, locuplet.ar,sc do bem público etc.} foi
intéres;é!s
;\os
. '
da frâçãó bege,rtônica; característica esta que, não obstante as disputas
' ' ' '
uma 00 ancterhticas do firuJ da Era Yargu

36 37
. '·
fuml Vaz cita um laudo efetuado a mando do Bànco do Brasil com intuito de troca exigiram um·~ nova dinâmica geopolítica dos territ6rios que atingiram.
de fornccet flllJlnciamentos à M. úpion & da no ano de 1945. Ocorre que esta Por várias partes do mundo haveria conflitos. (revoluções. guerras .civis) entre
em uma das empresas do Grupo ~upion, e o documento poderia estar se aqueles que tendem a adotar os novos padrões e os que a estes se opõem. No
referindo apenas ao surgimento desta emprC.sa; Panlclamcnte a esta expliaçào caso do Brasil, a queda do regime monárquico pode ser inteh,retada como uma
liá outra, a obra de Vaz tem um claro catáter apologético à figura de Moysés decorrência d~sa conjuntura, uma vez que o regime centraliz~do não suportava a
Lupion--' e se interessa, pois, em destacar ações deste e não-do grupo empresarial d.in'amicidade exigida pelas novas regras da expaosà~ cap~talista que Possuía
ou da familia Lupion. Estas explicaçõ<'!t são importantes uma vez que a obra de interesses diferenciados dentro do tc.rritório nacional.
Vaz foh1~ dos elementos mais importantes para lil Pontextualiza·ção das relações A ·nova territoriaüzaçào do capital se explicitava no maior disponibilidade
entre as <lema.is fontes· secundárias e font~ primária~ coffi a teoria. de capitais.para investimento. No Brasi~ a região cafeeira paulista foi a primeira a
_pode~ fazer uso de ferrovias e os dema_is meios- que a e*pnnsào capitalista
dispolÚbilizava. A exportação de café gerava capital excedente, parte do qual não
2 MUNDIALIZAÇAO.DO CAPITAL E A INDUSTRIALIZAÇAO foire!nve;;tido ~a agricultura do café fomentando o sllJ:gimcnto de uma s~c de
DO BRASIL FINAL DO XIX E INÍCIO DO XX . \ indú~trks e manufaturas de pequeno porte gerando a ~m~liaçào do-setót de
serviços e o surgimento de algumas indústrias. Estns indústrias acabavam por
deÍnandar uma série de operações que dev~am ser feitas in ~ - para muitas das
A ~pansào capitalista ocqttj.da no s~culo XIX.irá atingir com uma rapidez
<_JpCrações de consertos, montagem e assistência técnica nà? cotnpensava que
ainda .inédita as regiões mais periféricas do ~pitalismo. O indicativo mais seguro
fossem trazidas peças do Cl:terior e estas a~abavam, obcigatodamentç, tendo que
de.ate avanço foi o aumento da produção dC; aço, a qual estava diretamente
ser feitas no Brasil. Com isso, houve a constituição de Uma mão-de-obra
relacionach com a construção de novas e possantes máq~:is de ~porte (navios,
éspccializada própria6• Em decorrência dessa clinamicidadc dpitalista na região,
máquinas a vapor em fibricas), e, talvez o mais significativo, o aumento das ferrovias.
- ocór'Í:er~am o crescimento de cidades e o aumento do fl~o de imigrantes
que passavam a integrar gran"des regiões até então POUco conhecidas a um ~ercado
(principalmente europeus) para tr.bolbar nas fazendas de café e, posteriormente,
· cm éxpansão. Territórios do interior da Índia, Egito, Argentina, EUA e, é claro, do
na~ manufaturas das cidades, Onde passarão a trabalhar llas novas indUStrias que
Brasil passam a integrar a nova mundialização do apital - que se aproximaram
sW'giam. Essa conjuntura reflete também o Surg_im~nto de uma nova fração de
do capitalismo integrados não só pelas ferroviu, mas também pela imigração de
dasse dominada por imigrantes e seus descendcntcsj Jsto porque as .firmas
milhões de europeus até o inicio do XX3• O atelcramento das rel,ções mundiais
C.St.r.mgcin.s davam preferência em ceder os direitos de importação e exportação
para europeus de sua própria nacion11lid2de7• Algums desses i.rnigrãntes, que se

Cit funçüo da obra e fru~ sobre Moysb- e ºA Verdade". título que não dcw dúvidas.
5
"Naqueles 20 anos [1850-1870) a prod~o de ouvio multiplicou~sc por duaa ~ e meia, a
' · As operaçOO como conii-crtoo de m:iquiMS, a$$Utência técníc:i. etc.. eram ~fctuadu, vhi. de regra,
p.roduçio de ferro multiplicou-lic por quatro veus. A (ocça. tot1l de. vapor. porbn, liC multiplicou
por~nicrcitnlc'I imporbdocea que seriam oo primeiros indtut:riaís. Por outro lado, os comcrcian~
potquitro ver.es cmcia,subindo dc4 millÍõe, de HP cm 1850 v-a:racera de 18.5-milhõcscm 1870.
. _ -llblcu:liaw também aabavam prestando llffl!tê:ricia técnka dos produto:i que vendiam-produtos
E.uc:s rú1m~ b~tlis indicam um pouco mus alêm de que a industrializaçio C$by:a cm processo.
t·,:.) q11:e pod1un ser dC:roe tccidoi a locomotiVll8. (PEAN, \971:59)
0_~10~~';"!,'1'1"~grogtta,ocstavaago,a~ficamé"te'."uitomoi,"P!]hapo,~ .. ;·_;;.,;----.-·
de.índil<>;d_~-'.' (llClB$ll,\Wl,~ 198259) . .Alnd> "guodo o auto,, a mignçiio ibêrici volta<!, ·-:\f'Plli;a Dc.i.o, ~·oa imigrantes, _cm certo scnt:i<Jo, $C: corutituám no:1 ini1trumcnto:; escolhidos do,-
·-~{~~tin,'fiJ!ilo l.'?~mllhio enh,,:b, .,i~ 191 f-10, con<tiíwndo "o pododo de nwor ;:.;,-,,_4n~:ics financdms e poUtic~ cL:i Europa na ciw.lidadc que antecedeu it Primeira Guerra
mígmçio ..,,-~ na hiso\ria «gistmda'\ ~lóBSBAWM, 1998:93) . ':•Muno~!." (DllAN, 1971:60). .

'38 39
i
tomarµtn empresários, ernm, vil de regra, indmduos qu? chegavatn ao Brasil Com ·. region_ak Se a chamada Politica. do rafl rom leite ganntia aos ~têresses vUlculaêlos
certo capital; associando-se ao médio e/ou grande capital cafeeiro e ligando-se ao
ao setor agrocxportadot do café, as 'elites de ·outras rcgiões:10 país colocavam
setor exportador, viriam a instituir a.s primeiras fábriols. PC.cissinotto, referindo-se
constantemente este pacto em-xeque- exemplo da Revoluçã~ Farroupilha, ou da
aos industriais Scarpa e ~tarazzo, constata que
ação política de parlamentares de várias regiões cujo um dos':maiores expoentes

~es ~grantcs havjam, nos seus países de ocigcm. morado em cidades e pertenciam como foi Flores da Cunha no S'!1 ou João Pessoa no Nordeste que lideravam
à familias_ de classe média. Possuíam instruç~o técnica ou, ao menos,, cetta grupos de interesses de oligarquias de vádos Esb!dos de diferentes regiões do
~eriência no comércio ou na ~2:°ufatura. É imP9pante ICffibra~ que vário;s dele! país. Os grandes cafeicultores paulistas e mineiros tinham que constantemente
~eg_1lram ~o BtaSil com :tl~a forma de capit~:' capit.il monetário acllnlubdo negociar slla supremacia. Neste sentido, defendemos a ~ese já. clássica na
-nos llêgôci0s na'Europa, estoques de mercadocia, ou mesmo a intenção de instalar historiografia b~ileira de que os conflitos regio~:US não deyettl ser entendidos
uln filtil de;,;,,. firma do pais de origem. (PERISSINOITO, 1994:161) como 'éo,iflítoJ tnlrt regiÕ4f, maI JUII tonjliioJ
CD!!fO ,~,re
daJits, qJte por não ferem Jlnta
. txisttnàa mtáon;l roef,rt àqu1kn1ma dim,,,,iio rtgionaf'. (PBR1SSINOITO; 1994:205)
·Éss~-tipo de dtscnvolvknento nà-o foi ~cl~ de- Sã~ Paulo; outras ~egiões No inicio do século XX, quando essas contradições entre as frações da
periféricas possuíam produtos exportáveis de caciter·cxtrativo ou agropecuádo ~
classe dirigente se explicitàm - dada uma conjuntura mais ampla de crise do
charque, erva-mate, juta, madeira, cacau, borracha etc: - que, em menor escala,
.capitalismo mundial-, as diferentes fnções das elites regionais p~ssaram a disputar
também atraiam invesllln.entbs de capitais es~geiros consorciados com o capital 1
acumulado das elites Jo·cais. A associação entre o capital externo e os o mando nacional com os cafeicultores paulistas.
emprccnclliÚ~tlto:; de "capitÍlistas" locais era potencializada p~lo controle do
aparelho burocrático estadual feito pela elite local: : \ 21 AS DÉCADAS DE 1910-1920
1.
'.
1•
Uma das principll.!s conseqüências politii:as na passagem pata a esfera regional do 1 Se a expansão capitali~t:a ocorcida_a partii de meados do s~etdo XIX até as
11parelho.de Estado de tipo burguês é o caráter fede?~ _e o controle poli~? dos ' décadas de 1870 e 1980 significou uma era até cntiio inédita de acumulação
executivos estadllais pelas classa dominantes rcglooais. Uma das catacteclsticas ,· capitalista mediante o aumento na rapidez e integração das relações de ttoca, a
do Império fora sua fotma unitiria.. a forma mais ·arulptada e segura à ordem partir da última década desse século a crise também seria mundial e genctalizada.
escn.fflhl, O Império -fom incapaz de promover à descentraliuç.ão, pois assUll
As crises ocorridas a partir da década de 1880 seriam progressivamente mais
colocaóa o seu próprio- tipo Ue estrutura de Estado. [...] No Estado Burguês da
profundas e afetariam Cllda vez trutlores p~rtes do globo. No Brasil a crise seria
República Velha, as poUticu govc'tnamentais dos seus aparelhos regionais estariam
percebida com a queda dos preços intemacioruus das matérias primas a partir da
orientadas no sentido dos intcres,cs b,ugucse~ (OLIVEIRA, 2001:229) ·. 1
última década do século XIX e, de màneira maJs aguch, na primeh década do
Em outros termos, a nova m_aneíra de o.rganizaçio do Estado brasileiro século XX. Embora a queda dos preços do café tenha sido a mais: significativa
favorecia as oligarquias locais que podiam, em utlu escala que o Impéóo não para a ccon.onúa brasileira como um todo, outros produtos sentiram de igual
p1tttfÚtla, exercer o controle das esferas estatais em nl'ld local Merece destaque, maneira a baixa progressiva nos seus preços', esta. derrocada dos wlores das
n~, q~e_ ~e tef~ aos interesses das elites locais, a pos&1Ôilidadc ocuionada no
, ·:-,_,~;'.~i,~Af9~_~os_!:Es~do_sco?1tJOnerites da Uitlãolevàritassem seus próptios
-~~?~i~~_i\i~;~~?C?_~
,: .. " j~,' ?9r.?~tr~ ~.d?~ 1:1?:.~µe-~t: ~~~e ~~Aisputas
· · ,ii~Jifí'~fll to~i~çi9 dj!ve,er l!ledioda por uma tcflexào • Ot anos decorrido, entre 1899 c'IIJqõ marcam uma queda conibl.otc no preço do aíé,masa côce
:l'l'~)á. ~éii:iQ<i' ~~bré·-- '°" ~piritas
0
:,iJ'.·'\! -. '
burocrátÍccis estatais entrou no ,&woXX.pou "o comércio do café declinou drastiamcnte de t915 :a 1918, niosôpor
auu eh gucrn, mu b:mbé:m em virtude dt rigoco,a ge:ada 1obrcvin<b em 19,18", {DEAN, 1971:104)
\',.• ..
,;.~,
40. 41
exportações brasileiras iria provocar uma profunda crise nas classes hegemônicas dêcadas de 1910-20 seria ~nica e cada vez mais profunda a crise econômica que·
vinculadas ao setor etportador (como proprietárias de terras ou associados que abalava a base da economia brasileira: a CXportação de bens p'cimários, a crise de
estavam ílO setor comercial exportador). ' 1929 iria levar o pais a bancarrota devido ao rápido corte nas compras pelos USA
A conjuntura de expansão e crise do capitalismo ocorrida no final do séailo a palses Europeus (mas principalmente pelo primeiro). A queda dos preços
XIX e início do XX. ·verificadas em São Paul0i- iria repetir-se em outras regiões do internacionais "dnxou proslmdos Arg,ntina, Amtrdlia, paím balfiinkot, Bolivia, BraJ/1,
país ~e forma mais ou menos semelhante. Como o pólo dinâmico· da economia Chile, Colômbia, úiba, Egito, EquaJur, ~-·] mjo romirdo d,pmdia[ni] ,mpuo d, uns pouro,
brasileira era o comércio externo de matérias primas, algwnas situações entre o prolÍlltot primário,''. (HOBSRAWM, 1998:96)
1
Paraná, São Paulo e de resto tio Brasil expeciinen~b fases de cxpans~o ;c crises Essa a:iselevou a uma al~o na direção da eéoncmia. A vigência de princípios
scmclharites, dado que todas as regiões se bascivam no extrativismo Vegetal ou da economia liberal se mantinha cm um Estado descentralizado, íncap:iz - na visão
!la ug~pecuána destinados· à e'.xportaçào. elas diferentes classes componentes do bioro "J, pod,r - de proteger a totalidade da.
Nàó obstante essa conjuritut'a de crise ,estiulµral do c_apitalliitn~, ha:'ia '. ·.-~nómia-nacional Era necessária uma o~çào f?rtç qqc pudesse preservar e
tambêm urna dinâmica· regional que atenuava (Olas não elimina.va) o_s elementos . resolver, via ordenamento e proteção elas forças produtmis, um espaço seguro
da crise. Pode-se dizer que, da mesma 'forma que em São Paulo, a construção de ·para ·a reprodução do capital Decretava-se a falênci. prátlca do liberali,mo, em
vias de transporte mais modernas foi o instrumento que possibilitou a inserção _ utn contexto no qual ·~ romlrdo mundial raÍJi 60% tm qualro ano.r (1929-32), OI E,tado,
do Paraná na nova dinâmica capitalista. A construção da ferrovia Cucitiba- ,e viram "ll'mdo bi1minu máa ""{ maá alta, pám proi,g,r ,,,,, merrndot e moeda, naa,nai,
Pa.ranagqá e a da Estrada da-Graciosa provocru:iam o incremellto da ''econ9~a ,ontm o.rfaraoo wnôm/(()[ mundiait''. (HOBSRAW!ll: 1998:98-9)
do mate" e, a partir do início do século XX, de uma atividade extrativa, que logo Embora tenho. se considerado acima que as mudanças da economia
se tomaria a primeira atividade industrial erri. maior escala no Paraná, 2. indústria
paranaense passaram por fases semelhantes às de São PauJo has décadas de 1890
madeireira. Não obstante, a maior parte das indústrias cm Curitiba nas duas
e-1920, .em virtude de que todo o Brasil dependia do setor agroexportado~ não se
primeiras décadas do século XX estaria dedicada ao beneficiamento de erva.~mílte,
-_ pode négar as especificidades do caso paranaensc. A percepção de semelhanças
como engenhos de mate, serrarias e fábricas ~e barricas destinadas ao transporte
·' enttt·- diferentes situações nã~ deve se constituir em press~posÍções, visto que
de mate beneficiado para o litoral. Esse crescimento levaria o Pat?ná a situar-se .
_~uitas vezes o que se acaba' fazendo são pesquisas com bases falsas por não se
em 1907 como u6" cofocadn, em JtrmoJ pen.tntJJais, em nlafii,o a produ;Jo indmtrial
ater à singularidade dos acontecimentos.
lmuileira' 19 , sendo o produto mais importante de nossa economia o tnate, o_ qual,
O setor mais dinâmico da economia paranaense desde meados do século
em 1939, é superado pela madeira.
\ A construção das ferrovias, ao integrat o Primeiro Planalto de uma maneira
XIX foi o rtiate. A &ação de poder hegcmônica no Estado foi, desde esse período,
a dos donos de engenhos de lllllte (que detinham também boa parte das terras do.
mais dinâmica. no comércio brasileiro e internacional, fornece elementos para
intetior de ohde se retiravu o produto). Foi a partir da ação desta elite que, segundo
uma intensa territorializaçào do capital, que se torna cada vez mais rápida a partir
da construção de ferrovias no intedOr do Estado. Se a primeira ferrovia, ao ligar · a bibliografu existente, se garantiu a formação do Paraná éomo uma província
o PÓrto de Paranaguá com a capital, pr,ovoca um rápido crescimento desta, as _au~ôrtotniló; foi também com o capital acumulado pela extração e exportação do
que Çuritiba passou por um processo de modernização urbana no início do
ferrovias no interior do Estado valorizariam rapidamente as terras do sul ..f;2 tµate
~ ~- . '

~~culo XX. A possibilidade de lucros auferidos com a expOrtaçào do mate foi,


patanaense na década de 1910. Não obstante o problema central persistisse, nas 11[,'.

';.~Cf-lADO, Brasil Pinheiro et at, Histlria M Pdrllnd. Gnfipu, 1969.

42 43

__-.t-).
i
certamente, um dos fatores que possibilltat'am- a viabilidade da cónstruçio de do mate pnranaensc, itla, a partir da última década do s6.culo XIX, insútuir
fcrrovilis como a Curitiba-Paranaguá e da primeira ferrovia constnúda em direção ''
i progressivas barreiras para a importação de mate beneficiado' (devido-ao interesse
ao in.ta-ior do Estado (a Viação Paraná-Santa Catarina, na região sul do Paraná em industrializar o mate). Esta medida seria &.tal pan parte do empresariado do
de ricos ervais e madeiras). setor, notada.mente os grandes proprietários dos engenhos d~' mate.
De forma semelhante ao café, o mate enfrentaria problemas devido· à Para proteger seus interesses, os industriais e cometciantC:S fundaram a
'
queda internacional dos preços de matérias primas a· partir de 1890, pórém com '

.•-1.CP (Associação Comercial do Paraná), em 1890". Uma~ campanhas levadas


.alguns diferencia.is: o mate não dispunha de uma diversidade na sua produção e ,
a cabo por esse órgão procurou evitar que. o governo d~ Estado do Paraná
manufatura que possibilitasse uma d.iversíficação·ttlo investido, isto porque se
acabasse com as no~as protecionístas dadas à indústria crvatcira no sentido de
conStitufn em_ um produto extrativo cujo bcnefk!amento requeria técnicas
cobrar impostos maiores sobre a erva-mate "canchead?,'' exportada. Esta
rudimentàres. Por ser um produto que presceodfa de cultivo ou quaisquer cuidados
modalidade do produto tinha um processo de beneficiamen,to menos elaborado,
e c~ja extração ~ra. cfe~da basicamente por- ~anilli':15.~c _caboclos, também não
ao-pos·suir uma -carga maior de ·imposto 'para exportação maior {orneceria
favoreceu a c6nstituiçijo de um pequeno comércio e Úma Ocupação mais ade.1;1..5ada
vaplagen's concorrenciais à exportaçàó de erva-mãt~ indust!Wizada (uma vez que
do território. Somnm-se a essas especifidades o fato de a maior parte do 'mate
os dois tipos de mnte exportado disputavam mercados platinas). Paralclntnente
ser exportada para os países platinas e não para os USA ou países europeus
à defesa de seus interesses em âmbito rcgiooal,,\CP d&ndia ''medida, qu,jarome;mn
como o café (a borracha, charquc ou o c~cau), Segundo Padís, essa característica
a, o:portafJu d, erva mate beneficiada; na, ro//Jtanlu p,tifJeI junto ""governo ftderol
faria cot1; que o mate, mesmo em seus melhores momentos, tivesse urna
para obter taxa, d, rdmbiofavorúvtir;, niÚ /sJtas.mtprnnJidaifaqiien/tmenlt rontm o aumento
importâncili. relativamente pequena na balança comercial bràsilcira 11 •
Não obstante o seu pouco peso na balança comercial brasileira, o mate de impostoJ no comércio". (LUZ, 1992:39 grifos nossos)
Não obstante a ação da ACP suas demandas não foram atendida. quer pelo
era o produto mais importante da economia regional. Podemos verificar a sua ' .
importância analisando os seguintes dados sobre o peso nas cxporbtçôcs do governo centr:a1, quer pelo governo estadual,' visto que est~ grupo não possuía.
,· Estado: em 1892 respondia por 34% do total arrecadado com exportações; em forças suficientes para garantir Seus interesses cm nível nacional. O fato de a ACP, .
1930, por 15%. A este dado deve ser acrescentado que, excetuando-se o café, por iotermédio de sua direção, defender principalmente o ffiate não Se constitui
que de 2% passa a responder por 11% entre os anOs de 1917-1930, nenhum em nada de extraordinário, todavia há uma nuance que deye sct o~ada cç:,m aten?o.
outro produto apresentou um crescimento que ,pudesse substituir a queda de Defender a erva bentjiáada e o romiráo tem °?11' significação um pouco diferenciada
arrcatdação do mateu. Deve-se notar que não apena(> o Estado se encontrava de uma defesa a. exportação de matéria prima não beneficiada. Maria Regina Luz
1 em crise, mas também os grandes ervatciros, donos de eqgenho que estavam destaca que os dirigentes da ACP entre 1890-1925 foram, predominantemente,
diretamente ligados ao setor exportador. ligados ao grande romlrrio e indmtria ~f'Vt1leinz, isto .é, ao setor de comércio e
A crise do setor ervateiro, além dos fatores relacionados à queda dos preços exportação". A diferenciação sugerida seria, guardadas as devidas especific,dades
internacionais, possui outro fator determinante. A Argentina, o maior .importador e ptopotções, a mesma proposta por Períssinotto entre o grr,nd, e o mldio capital

n N.a última década do século XIX e M primeica do XX sedo fumhdas nO Bruil váti-u organizações
" PADIS, 1981'49. como CStu em dif~tcs e11bldos qlle rcpreseotnclo tanto indwtwi.i11 como comete1llntes
' . ' '
1 (principalmente aqudcs ligados aos intcruscs eiportadotcs).
~ ~n: ~~~fii:o TI;-:_ rarticipaçio rdaiiviJ. do impost~ robrc :a. e:xportllção rla rcccitã ~tadual 1892-
1930", PAD!S, 1981,56, 0
LUZ, M. R.. p.39,

44 45
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\
cofWJ'O em São Paulo. O centro dinâmico que possibilitaria maior acumulação não indústria madeireira e o rruúe como o rruliorprohlema da dasseipatron:J do pcrlodo
estaria propriamente na extração do mate e o~ no seu beneficiamento - que no pot nós estudado, sendo objetos dos relat6cios dos chefes do·Exccutivo estadual
i
caso significaria, por exemplo, a propriedade fundiária-, mas s.iin o setár vinculado A possibilidade de crescimento do sctot madeireiro somente bcorrcri~ a partir de

·ao comércio exportadot 1891, quando um fator alheio à ação dos madeireiros (ou do góverno estadual) leva
o· governo feder:tl a aumentar as taxas de alfandega pora produ.;,, importados, d<da
a necessidade de captar recursos chs tarif2s alfandeg:irús 17, A partir dessa dáta o
· 3. A ASCENSAO DO SETOR INDUSTRIAL MADEIREIRO comércio de m·adeira. iria passar por wn p~odo constante de ascensão, não mai!S
voltado aos indices de arrecadação nnteriores a 1892 São estes demento, que levaram
Dean a identificar a importância e as possibilidades do setor para a rápida
Nó final do século XIX, paralelamente à crise ~ economia eCVateira
ktdustrializaçào t:into de São Paulo quanto do Rio de Janeiro; ~eiundo o autor:
ocorreria o f9rtalccimento de um outro setor também ligado ao eitrativismo
,,;ge~i> industcial-extf..Íiv~ madeireiro. A p,;imeira tenÚtiva de se fazer• extração .A; a~&s·m~~ im~rt~tes Cftl~~va~ ~tem.is llgclC:Oias locais, notadamcnte
e n industrialização da madeira cm larga escala tem ocorrido.cm 1871, quati1do o :algodão, o couro, o açúcar.· ·cere~1is' e ~deira· de coru~çio · ou mine.tais .não
·houve a construção de umà grande madeireira pr6xima ao 1oca1 onde estaria um metálicos, sobretudo bttro, areia·, cal e pedra!.[...] A pa-r da's 'tijolos. quase todos os
ramal da via férrea que ligaria Curitiba a Paranaguâ. Nesse período a madeira já gêncrÓs de matcdais de construçã~ eram ·produzidos ~ ~ t e por volta de 1920:
desempenh,va w_n fator importante de arrecadação para o Paran~ s~pdo o yeguodo telhas. cimerito, pregos, canos de cenimica, C?3-~cira ccçrada e até chapas de vidro
produto no total de arrecadações na balança de exportações, e Ô investimento na e m.aterul de i:,nanamento. (DEAN, 1971:16 gáfos nossos)
construção da rnadeireir:l' foi bastante ~ltoso, correspondendo ao valor da receita
do Estado para aquele ano15• Na década de 1880 o setor madeireiro passa por urrí É. importante des~car o fato de que as i:n,adeins mais demandadas eram .
pequeno aquecimento em decorrência da cç-n,struçào da ferrovia Curítiba- as utilizadas para a construção, sendo que, nas florestas ,brasileiras, para· tal
Paranaguá, que possibilitou acesso a um mercado em expansão nas cidades do finilidade o pinheiro-do-P~raná era. o mais indica.do, possuindo poucos
Rio de Janeiro e São Paulo; porém no final da mesma década as poucas madeireiras concOrrcntes. Estes su:esso~ relativos estavam sujeitos, no eptanto1 a constantes
de grande pÓcte fechariam· devido à concorrência de madeiras importadas de o_utros e bru~cas oscilações, e os períodos ·de maior produçàO ~taciarn diretamente
países (principalmente Europa e USA). O pinhop,u:anaense nào conseguia competir ~inculados à conjuntura da I Guerra Mundia~ apóS a qual ·o setor entraria ~m
coln o similar importado em função de dois motivos l,ásicos:.baíxa qualidade do· uma profunda crise até o ano de 1933.
material· nacional - os praruhões eram cortados de maneira irregular e em época
ertada o que dificultava sua tr.msformaçào cm tábuas _e favorecia um rápido
. apodrecimento da madeira - e alto custo do transporte (fator este diretamente
ligado à falta de capacidade cm atender às demwdas dos produtos c:tportados no
Paraná) 16• Ambos os fatores são citados pelas pesquisas consultadas sobre a

. • " VANNUCCHL PADIS e VALENTE, p.6L

46 47
1
3.1 IMIGRAÇAO NO PARANÁ 1890-1930: O SURGIMENTO DE Os primeiros m~btos da família ao estabclecerem-ie no Estado já o
UMA NOVA FRAçAO DE CLASSE E A REARTICULAçAO DO fizeram na qualidade de pequenos comerciantes na Lapa". O ítnigrontc espanhol

PATRONATO TRADICIONAL Joio Lupion y Troya chegou, na mesma época que os imigran~es trazidos para ·as
colônias, com um pequeno pecúlio (ao contrário da m.aioria 'dos imigrantes da
época) com o qual se estabcl~cc como comerciante na Lapa-:, Pncle se casa. Esta
Revolução: diz-se particularmente do levantamento ou inmrrciçio politia mais cidade iia déca<k de 1880 em trecho obcigat6cio pua os que transitavam por
~emoráv-el que se dá num pais e que e,t~bclcce uma nova ordem de coi~:u ducivcl terra para Santa Catarina, um lugar favorável para o estabelecimento de wn ·
e relativamente benéfica .Visto i.5so, a GAZET~O POVO nenhuma d~ck tem · comércio de víveres, tecidos e roupas.
em ser mada de revolucionária. (...) A GAZETA DO POVO, intc,ptÍebndo o Todavfa, após o episódio do cerco da Lapa, o espanhol p.c.rde seu ílrmazém ·
sentir da opiniio pública _do Parmá e wúuorni. com o est.ado de ânimo do BU!il
e muda para JagU11ciaiva onde pass, a trabalhar na construção de um runal .cic
int~. 8cba a ~relem atual detestável, não devclldo· e não podcndà contlnuu a
·:fctro\'hl São Paulo..SanD. Catarina - onde trabalhou até meados da década·dc
-dunr mai~ tempo. (...) Somo~ e fomos um ;or0al c~~~rwdo.c· tendo sid0 ~- 5Ctldo
1 um jornal rcvolucion2tio. A revolução que nos tenta, empolga e arnsta, a rc\lução
ú>id. Após a construção da estrarul,JoãoLupion se cstabClcce Como comerciante
i ·(irisfula úma pa<kcia) em Jaguacialw, posteriormente a familia se cst>belece em
que continuamos sempre prcgffldo é a dQs espíritos contr.& a sitwação de miséria
Pirai do Sul. Alguns dos filhos de João (Macia,Joiio,José, Francisca, Pedro, Moysés,
nacional vigente. é a elas opiniões cofl~ ~ueles que nio souberam co~r
. Daviél, Elza) se casariam com descendentes de traclicioruus familias dos C,mpos
'durável e benéfica' a 'ordem ci~ coisas' cstabde"cidas em 15 de Novembro. Com - ' . . .
· pbnos b~licàs, com· ób}etivos de violênc~ ou, ·stmplesrricnte, com fi.n.alidad~S Gerais: Moysés casa~se-tom Heminia Rolim de Moura 19; Francisca casa~se com
doutrinárias e atuação pacifica, somos hojt; uru e outros, no Br:1sil,· revolucionários Joaquim Pereira (chefe da Estação ele Trens de Castro); Macia casa-se com Sócrates
e revolllldos.'' Gazeta do Povo 2/09/1930 (cit. porllibeirb em mimeo?) Quadros (tio do presidente Jânio Quadros)"; Elza casa-se ;,om João Miguel

O elemento atrativo para a .irrtlgr:aÇàO ºem direção ao Paraná está ligado à


nova dinâmica das relações econômicas e c~merd:ais pa rCgião l;ldvinda da ia , Podemas identiflat tiâi gr.tndc:t fontes da. imigctç:ão de tnbalh:adotcs cwopew p:ar:a o Pw:,má no
construção W:s ferrovias ·e estradas, ou seja., HnJo 1ào 01 imigmnlts -que inidam a inicio do >!éculo: Tota aponta que para a construção do t=t,;, da Bruil Rallway "'região sul do
P=nó fomn tnzido, do Distàto f-e<len! (RJ) e de SP cerra de !.000 tnbalbadom, pela B"'11
mod,mização ttonómiro, a indmtrializafào. Elu lllm no bt,jo d,,mpro«uor d, tmllJjônnaifo R.:ailway. Ribciro 11ponta que muitos desses tnab:alhadort! erun imigmn~ europeus e, após :a
que ,yiuiam aforlakare implmitanuu n1,itet tm qut ,;,,pod,m ,e e11ru1,,,.,,r': (OLIVEIRA, COfl$1UÇio da cstr:a:da se cst:abelccenm no PlU'a.nâ (Curitiba e. en:i- PontR Grossa principillmentc).
Um lttruro veio migratório teria sido a imtalaçio de OHIWJ de intlgr2n~, a. cumplo da.quclu
2001:127). Transformações estas que se percebem na já referida "industrialização"
implementid:as pelo presidente de província. úmenba Uns. que. alterou a cstrutur.i agr.íria que
da capital, imigrantes que passam a chegar cm massa no Paraná nas duas últimas nwgea~ a apitJ dcst:in:ando terru: tuhtidia.da.s a imigttntet- e vedando o ac~o • este b,encl:icio
década do século XIX como trabalhadores bl:llçais pam as indústrias que surgiam, a bruileiros, cm cspcdfico negros e caboclo!. Em nouo tr.ab:tlho nio nos rc.rhctcrun~ a nenhumit
~ formu de iougcaçio, nw sim àquela: jí aplicitada por Oean; que rctr::lt.t imigr.i:ntes cul"Opcu$
para os empreendimentos de colonização oficial ou particular. Os personagens oriundo, da cidade e de e,tnto, mldios da rociedade: (OLIVEIRA; RIBEIRO, TOTA).
aqui analisados, Os Lupion, fazem p~e de outra face dessas migraçôes, chegam, " Segundo Tot:a, o comércio cn uma atividade multo_ importante pan Of ampos: no início do
ao país·cotn possibilidades de começar nas atividades comerciais, ou seja, partem' . 116:qlo XX, ·posto que, via de ttgn. os coronfo '-'monopolizavam o fomecitnento de gàneros
{comércio) em uma regiào".(TOTA, 1980:16). fnterpreuçio se.mellwitc: fui Iria Z...noni Gomes
da E\liOpa já com um pequeno pecúlio.
- ; '.•_:,,:,:·,";; ,•,;y ,·~.= perlodo po,terlor no campo panruten&c. (GOMES, 1986'22.J). ·
~ 'SPAJR_.·E. Ga.zeta do·Povo 28.0277, p.12. Embon este não seja um membro das famfliaj
tradicionais da regifo VAZ, R. p.25.

48 49
Queiroz; João Lupion Filhot que passa a residir em Pirai do Su~ casa-se com In&tria Mátanzw'. Em·1924 Moysés Lupion conclui o ~rso de guarda-livros
Luzita Vargas (1rtniideRivadaviaBorba Vargas, ria de Túlio Vargas, ambos politicos e vai para São Paulo traballuir na firma Ribeiro & Sampaio (exercendo'a função-de
estaduais), Nesse período João, Jpsé e Pedro trabalham na ferrovia, sendo que guarda-livros) .. Após concl~ o curso técoic_o de econotnia, Moysés passa a
João é Chefe da Estação de Trens em Pir:Íl do Sul". trabalhar na firma A R Carvalho, na qual trabalha também David, exercendo a
Sobre o estabelecimento de ligações familiares com membros tradicionais funçãó de contabilista para a qual havia estudado. Esta empresa operava no ramo
da elite paranaensc, Dean, ao analisar surgimento dos industriais imigrantes, aponta de serrarias e cxporta~o de madeiras e, após a crise de 29, liquidá a sua seção de
que, em sua ~ar parte, os imigrantes que enriqueceram em Sào Paulo e madeiras e fostala a Cma Bancária Predial I Fíadoru, da qual, em 1930 Moysés é
conseguiram acumular fortunas para {;.i 1 sócio. Nesse mesmo peáodo (década de 1920)JoséLupion trabalha em escritórios
1
de .representações d• Th, Ho111, J,uuran.e Compaf!Y e para Baklfaur (as quais,
igualar-se l:1º~ f11.2cndeiros em P,OSição social eram de oâgcns totalmente dívcrsas.
respectivamente, atuam na áre31e seguros e materiais ~ccr0viários) 2-t•
.Q~ ru,dos_biogr_ático-s_q4c se possuem ~ - q ~ qu~e .todó!, em Sws pátrias,
·• , O ·fato de os irmios Lupíor\'trnbalbarem em ramos 'tão 'divetsificados da.
h9:vi~ ritorado e~ ddade!, pertenciam ·a fiunniu da classe méda e possuíam.
~é~,nomia .local dev~ ser olhado. com 'atenção. Se nos ativ~moa a algumas das
inat.tuçio ticnk.a ou, pelo mcnost ccrta ~.ciência n~ comércio ou ·na m.anu~~
funções exercidas pelo irmãos LupiOn, consta~emos que ~tes participaram-de
llluito, chegaram com alguma fotnlJI de capital (DEAN 1971:58-9)
atividades impottantíssim.as para o bom desenvolvimento da economia pa.rnnaensc,
Cumpre assi~alar ainda que a pres~n.ça de espanhóis (ou de seus que inicia um peábdo de rápida expansão a p;utir da décad• de 1930. A ímpottància
, ) não se consttru
descen~cn~es ' 'd' ade no p arnna.,,.
' la cm nov1 das ocupações dos Lupion é, em riosso cÕ.lendimento, capi~ para a compreensão
Além da" ferrovia, os irmãos Lupion trabalhanm como representantes do surgimento do Grupo Lupion. Inicialmente, no que se r~fere ao emprego em
comerciais e/ ou caixeir~s viajantes para várias empresas de diferentes setores: empresas de comêrcio (e também na construção de ferrovias, representação de
José torna-se caixeiro viajante da firma SartlO.J & Azevedo, trõlbalhando também empresas internacionais, isto é, ao setor exportador etc.), aceitamos a, hipótese de

na Ctua Schímidt (que atuava no ramo de tecidos), e Pedro Lupion trabalha na Dean segundo a qual havia uma preferência em relação, aos imigrantes em
detrimento çlos nacionais; sendo este um fator ~elevante ~ara o sucesso dos
imigrantes cm conseguir melhores postos de trabalho, pois os "imi1,ranle.1 jxzredam
·. ,J, t:U111panhías rom,:.W;, os Ínrtrum,n/M mai, digno, d, ronfiança para oprog,wo da, 11/aJ
fim/fll,A/g1111I, treínailo, p,kuprrlpnas·rompanhías, pauaram a P<#dJdam 011 tlmíro.r; 011troI.
JI O faia de dois componentes da familia Lupion Qoaquim e Joio) :Serem chefes de e!hlçio de trens:
é digno de notll, porque, segundo Canciin, esse c.irgo era muito prcstigkdo, poh$ ''Não er.i. f.kil -tinham tido ro,rlalos rommiaú 011 sociais antuiortr. Co11ntÍlfllfCu;poUtiras, quando não
conseguir ~gões parll cmbuque du ma.dcir!ls. Esu pDsl:l'bwdade dependi2. cm gnnck parte do s,ntímmtos TU1Mnalütas, amnstlha"1111 o emprego d, romfatrictal'. (DEAN, 1971:63-4)
reb.cionamcnto com o chefe da est.içio, pessoa. ext:Rmamcnte Ímportlltltc na cidade, cm cujas
mãos 8e achava. o controle dos mc.ios de tn.nsporte, ji que er.i deficitário o :rcesso por rodovm,
fili~do-sc ~r :ri es'coament~ de toda a produção agrícola, madeireira e outras." (CANCL\N,
1974:134-5).
?l Segundo OLIVEIRA, havti· pelo menos duas outns: 'í:amllias que cst.ibe:lccecam união com -"·VAZ, 1986:25.~s enttevàw dos icm3o,i Lupion ou a obra de Vaz nãç for.1m p~dus sobre 2
mCUlbcô:. de. trlldiciooai.a f.t.icnddros ·dos Campo$ Gerais na. primelr.l metade do século XIX. ocupaçã'o de Pedro nu indful:nlla Mat:uu?o e. dado que esta atuava cm ririo!i setores no
Por· ~utrQ la~~~ ~b~rqlle ~ intetcues da dite etVlltt'Írll csblVllm_vinculados ao com~cio
. Paran( o que 11e pode itlpor é _que sua atividade tivesse alguma lig.i.çio <:;0m aituaçio da. emprcu.
CmJ~n, onde possuía Um fdgodfico de gnlnde!I proporç&s;sencJo que seus-escritórios
com :oa. pllÍscs ,~~nõ_!i_,_t~ndo portanto a ligaçlo com membrOi de cultura at!tcHunA_ aJgo ,
. ''si~Wm-se. cm Curitiba. .
p<?~'~té .#\~.~!. P1:~,blçmâtico ,(not:tdtmente no que 11e refere à língua., G ~g:iio, este
ültlmO ·~~cl\-b? .Íf?~~~té,J)1n identidade das famlla; ~dicionais). :u Gauta do Povo. 31.01.~. p.10. Sfair cntrcvi!ita David Wille Lupion.

50 51
Além dessa característica, Dean salienta que geralmente as empresas Em São Paulo, tanto Moysés como David trabalhakam na firma A E.
estrangeiras pagavam melhores salários a seus empregados. Estas ocupações fazem Carvalho - que operava no ramo de se.ratlas e exportação de madeiras - a ·qua1,
com que eles adquiram grande experiência no orno de transportes e comércio no após a Crise de 1929, liquida a sua seção de madcios e instnla a Cara Bawcária
Paraná. O setor de transporte de airgas constitula-se no maior problema para o Predial e Fiadara1 4• NessC mesmo tempo, José Lupion trabalha em escritório _de
desenvolvimento das diferentes atividades de exportnção e importnção do Paraná e, representações da The Hofllt l!lfumnr, Compa'!Y (no ramo de seguros) e para Baleffour
por outro lado, um bom conhecimento das diferentes firmas de represcntnção (que atua no ramo de .:Oateriais ferroviários). Somam-se diversos tipos experiência
comcràal significav.i wn conhecimento especifico cm um ramo que se dc!~volvia
que Potter afirma serem necessárias para romper as barreiras de entrada que.
· muito rapidamente. A hipótese é que os componenté!l da familia que tnbalhassem
. 1 dificultam a uma empresa participa.r de um novo 'rama da indústria.
no comércio teriam ·wn contato ·e um conhecimento privilegiado em relação a
Deve-se lembrar também que tinto Moysés como David Lupíon possuíam
markmng, 11tlldas, dútribui{iio, para o que contribuirá de maneira desrncada a ei.-petiência
formação técnica e, o que era mais importante. experiência no ramo cxpo~tad9r
dcJoào _Lupion e Joaquim p_;cira (ambos após. trabalhuem ccimo chefes de estação ,_ - - 1 •

de madeiras. Assim, as estratégias em "finanças e controle, ~ha de produtos e


de trens em Pirai do Sul e Castro, respectivamente, atuaram comó Cllleiros viajaQtes).
m·c:t'cados-alvon tlàô lhe etam ·estranha. A isso deve-Sé SOtnâr o aC'esso facilitado a
Esses corihccirnentos eram muito importarites, como salienta De2tJ:
~préstimos, visto que, no início da década de 1930, Wlto M~sés como David
a, circunstâncias do mera.do _de front~ o conhecimento do mercado que posrula eram sócios da Cma Ba11cária Pndial e Fuu:lonr'. A transformação ,de 'ttrna erriprésn
., í ó üµ.portador se constituia em vantagem incstirruivcl [...J Como o importtdor em exportadora em uma financiadom não deveria ser mtÚto. estranha à época. Segundo
-'.•

!} lugar de ser um espec:ialisb, era quase sempre Um ncgo.CWltc cujos interesses Dean, havia uma relação muito próxima entre as empresas de exportação e a
\l abr.mgiam a mais amp~a série imaginável de mercadorias, desde a chita até possibilidade de se angariar financiamentos: 'Yljxmntemente, todo rrldito dtn·wna em
locomotivas, esse conhecimento tinha_ tOiW a probabilidades de C!lnr muito pró~o última imtancia dn t1/rangeirri, queratmPlt deJabtitanltJ OI/ dútribuidom ekropua intímammi, ·
~ da oni,ciência."(DE.\N, 1971:26-7) asrociadnuomfabtitanlt1 ,casas de comércio exterior': (DE.-IN, 1971:26 gcifo nosso)
~ É possível, portanto, que Moysés e David Lupion por trabalharem em uma
Os outros irmãos (Moysés e David) residiram boa parte da déc~da de
e~portadora de madeira (Le., casa de com~do exterior) tivessem facilidades para
1920 cm São Paulo. Primcir0 Moysés e postcriotfficnte Da~id conclllem o
angariar fmanciamentos externos. Parte-se da hipótese, porlllnto, de que os Lupion
curso de guarda-livros (o primeiro no Paraná, o segundo em São Paulo). Após
tiveram acesso pcivilcgúdo a essas facilidades para iniciar seus negócios de famllia.
o curso de guarda-livros~ Moysés e David cunaram econ0mia e conl::µ)ilidade
Como alguns deles haviam tnbalhado como caixeiros-viajantes e o pai era ex-
em n[vel têcnico1-'.
comerciantc, posstúriam maior facilidade para conseguir créditos.

3
O curso' de guan.b..livros era basl:lnte importante niU dêcadu de 1930 e 1940, como salicntl
Cll.Ociân: "a m11ior parte do, emprcsârioa dcssc perlodo {déada de 1940], o OOconhccimcnto d1 '
lcgislaçlo que interferia d.irctamcnte cm suu emprr1111 kvav11.-as a colltntu 01 serviçw: de ~ A mudança no r.tmo de al!Vidade:$ dei tu cmpre.1:1. ddn de ter menô! :1t1rp~dentc se ana:linrmca

pcuoas que dlspuscucm dei!es conhecimentos,º' dllmadoi 'guarda-livros\ cncurtg1dos da o. afu:mação feita por Dc:.n sobre A. reltçfo entre crédito e li cmprcn.11 ~porr.ldoras; $Cgllndo o
.' ·/\
contabil,idade, escritur:1.çlç. ~, º:t f~u de 'ad~og:ul0$", dos «erviços judcllcos ,~·~_1::1-t~: O autor. "Os oferecimento$ tk crédito por parte dos importadores permit;inm II um tubrua.to de _,'}:\·:;~
'gu11rda-livr'o11' t:na.·gi:,nlfficnte um contaddr Ou (}IÍtico em c~nt:ab~d~dc.-·_E-n::êsse··que ~uca.disb.s começ:arcm a operar, eu ftc~s· importadoru cstcndcnm o c~íto II lo;o., do int~ri~(}'t
[)ró~end.a~ IUtl~a_ à oéganJZaçio juddia e _tt:l.t2va do& ( ~ S "lcgãie._como; ()9( ~~pio, ria e a mascates." (DEAN, 1971:27). '
Jubt, Comcicial; ,eiliuvi6' Woncctci e b.lançot etc" (CANCI,\N, 1974:1:ló) · :?7 VAZ, 1986:26..

52 53
i
Deve-se notar também que os laços familiares constituídos a· partir dos por duas vezes entre 1932 e 1938, o qual afirma que ''estm =proprúdades, na, quais
casamentos significavam igualmente uma evidente força para o levantamento de o próprio dono não conbeda 11 indústria a que se dedicava. Entonlrou d,faiinda
empréstimos. As familias com que se casaram a1guns dos Lupion eram tradicionais na, camunimfÕU (t,kgramas); nos trunsportes; nas requisições de ''Vagões; defid2nda
propriebicias de terras do interior do Estado (como era'o caso de Hemiru,; Rolim). na rde bancária; mad,inn enrhamulas d, á,gua das chuvas, emgimtdapilhas na, es/afiies
É necessário lembrar ainda que o Paraná nos primeiros trín~ anos do s~culo ou fm M_gits dambertos, [.,J enquanw os mnsumiduro rnlamam da má qua/idad, da prodJl/rJ."
XX constituía-se talvez na mais atraente e rica fronteira agrícola e colonizadora
(CANCL\N, 1974:25, grifos nossos)
do país. O extrativismo e a industrialização da madeira (principalmente do
,i i Considttando a uistência dessas organizações, cumpre fazermos algumas
. 1
pinheiro) conformavam o setor mais dinâmica da;-economia dessa fronteira.
considerações. A primeira se refere no fato de nà~ acreditarmos que todas as
Nesse sentido defende-se a hipótese de que os irmãos Lupion estarib em
etnprCSas fundadas se t~rnaram patrimônios de toda a &mrua. isto é, de que todos
utruf situação pcivilegi,da em relação aos fatores que limlmm o desempenho de
uma· empresa, e particularmente no caso do Paraná dadas as drcanstânàas os bens eram de todos (as evidências fornecidas por Kretzen e os contratos da
supracitadas, já que tinham conhecimentos ·e relações privilegiadas com o setor de · JCY> ~!emonstram o cÕntciÔo). U~ 2sPccto dessll c~nstltaÇão· aparece em .Cancián
trarupórte e bancário. Segundo P~rter, intcrnamentcseciam quatro os pontos fracos quando aponta que, após a morte de um chefe ou ditígente desses grupos, estes
e os pontos fortes a serem analisados: '~ s,u perfil de ativos, a, qualificctfôes em i,, ac·abavam por se dissolvcr em várias empresas a partir dos casamentos dos
1 1
relaçdn à concorr~nda, incluindo recursos fina11ceiros,po,/Jim lmrofátjm iJentifaariio ! herdeiros29 • Esta consideração é importante para que cntcndrunos que não sê·
d,marra,., áuimpordianl~ Os valores pessoais de uma organização ,ao a, molivaçõ,, tratava de um:i propriedade familiar no sentido, ao· menos ~e ~~ que ª? elites
, a, n,a,sidád,, da, seusprindpai, ex,à,livo,, d,
oulmspessoas r,,ponsálltis pda imp!emmla{iio rurais davam ao termo.
'
''
da utml!gia esro!bida''. (POR1ER, p.17, grifos·nossos) Dando continuidade às questões propostas por Porter, achamos importante
Sobre os fatores ''perfil d, ativos , a, q,,alifu:afiies ,m rda[iio d ronromnda'' e abordar um outro aspecto relativo aos "valoru pusoais d41111ra OQ/lniza[iú:I\ definidos
"remrso.rfinanceiro1'; cremos que as ligações dos componentes-do Grupo qu.e irão pelo autor como "as moliiu[&s e ar ntmtidades dtJ1 sem prinripaiI ex1mtival'. Neste
dirigir· a empresa Propiciam uma ·boa margem de segurança pau a sua
C:il.50, além da já Ieferida experiênciã, os dirigentes do .Grupo Lupion eram todos
estruturação. Por Uffi lado, há a experiência prática em vários_ sc_tores da economia
componentes da mesma família. Não ~penas os irmãos eram Sócios das empr~as
regional e ~Í,ecificamente no que lhe diz ~ais respeito: transportes (RVSPSC e
de propriedad~ da fiunília, mas também parentes próximos participavam de
Bakjfom'J, exportação de mádciras (A E. Carvalho), setor financeiro (Casa Pmlial
quaisquer ~prcenclimentos em que o Grupo detivesse capital investido. As~lll1
Fiadura), seguros CI'h, Ham, Insurance CamJx:l!J), As atividades e o conhecimento
· sendo, encontramos os nomes de Hernani Rolim (ou Hernani Rolim de Moura),
dos·irmãos Lupion em relação ao comércio, transportes em ferrovias constituíam
um capital de conhecimento que superava os saberes de boa parte dos empresários Irene Coelho Lupion, Vasco da Gama Coelho, Murilo Lupion de Quadros,
madeireiros que atuavam no setor. A constatação de que os empresários Rivadávia Botba Vargas, Honorato Pereira Lupion,Joaquim Pereira". Os interesses
madeireiros tinham conhecimentos pouco mais que elementares de seu ramo foi em preservar a unidade do grupo viriam a se somar àqueles da necessidade âe
feita por Manoel Jacinto Ferreira (talvez um dos empresários com mais profundo manter o capital unido em um momento em que sua aplicação em atividades
. conhecimento sobre o sctot1!), que esteve nos estados do Paraná e Santa Catarina

' .

:i. ,_:~~~~J.iciorfF~!re4a, _industrial ck màdCÍh que ~ pcriódjco11 sobre o problema da


--~cfch_.:n(l_:Bíll~iÍ'.~~o o· auto_r do livro "Pela Gomden eh Maddra no ·Brasil"' e um dos " CANC!ÂN,op. cit p.131.
fundadoru,.em i'9J i ;'â,, Convênio l\úddrciro do Distrito Pcd=l (CANCIÂN, op. cit. p.12-13). lO Vide tabcla. IV em anexo.

.54 .55
' '
integradas é bastan~e rentosa (em um momento em que a dispOttlbilidade de · foi destác,do pelo brazilianistn Warren Dean11• Objeti~ente o autor aponta
créditos é ainda limitada). Mesmo em se tratando de um conglomerado familiar, que o rnóvcl desses casamentos seriam a administração e a garantia do patrimônio
o caso do Grupo Lupion possui uma particularidade a ser discutida, qual seja, a do grande grupo Í2milÍllr; isto era estratégico 'íurq11,i,, diariem q11, aproprí,dadt da
_associação de dementos imigrantes (ou descendentes de primeira geriÇão) com fai,ta rabia à familia, a aliaftfa d, inim,,e, ,ron5miroJ atro"1 da wamen/Q ,ra Jtma forma
signifoaliw, d, 1U111J1J1la[,'io d, rapital, a 'd,speiw da ronlrok inrompl,lo ,x'1TÍIÍQ ;obre a esrolha
.
membros de fiunilias tradicionais do Paran:I.
. .
Nesse sentido,' partimos das reflexões de Ricardo Costa de Oliveira sobre as da noiw feiro pela filbtL [-} Nilo ob,tanll, a aliança ronlin11am imJi°rta~lísnma, pelo meno1
frunilias tradicionais paranaenses componentes do bloco de poder no Est2do. Tanto enq11a1t/Q afamilia 1, ritu1ar1t a mingara adminísJrafiio a tslronW'. (DEAN, 1971:84)
Hernúnia quanto Luzita (esposas de Moysés e João Lupion) 'pertehcíam ~ ramos
da Borba - Hemúnia àa neta de Telemaco Borba importante politÍco do in~or 3.1.1 O Surgimento da Representação do Setor Madeireiro

_do Estado, serido ~e !"enib,ros desu,a famlliafor~m porváms l~laturasp~~e.itos


O~r ptôbl_cmas ·enfrentados pelos "empresários industriaisu pa'rnnaienses
de Piraí_ do SutTambém ~ s eram comerclontcs da região. Quanto às atividades -~º:início do século iriam piorar progt:essiv'ltllente a partir _do fim da Primeira
políticas após 1930 de,"tacam-se Rivucláva B.Vargas, deputado estadual (Assdnb!éia
Guerra. Regina Maria Luz analisa particularmente várias aunpanhas promovidas
Estadual Constituinte de 1947051), e TúlioYargas. várias vezes deputado estadual,
pelo órgão de representação do empresaria~o local na dckada de 1910 com o
deputado federal e umR vez secretário de justiça do estado". Sugere-se que o &to intuito de fazer valer seus interesses ju~to ao governo estadual e federal". Uma
de mem6ros da família pertencerem a ramos de ~U~ f:unilias (ramos dos ºLupionu, das =panhas levadas a cabo vÍR jo~ais e mobilizações ;da ACP foi contra a
e dos ''Borba') agrega-se aos elementos que Potter ciuma de valam pm•aú d, 1111/a fixação de um novo .imposto sobre transações comerciais q~ o governo estadual
orgwização, defüúdos pelo autor como "ar molit<1fii,s, a, Jl«WiJaJe.r do,,.,,,prituipai, _estava criando e, embora o governo do Estado cha.masse "as dass~ produtoras"
,x,cU/i,w''. Cremos que o fato de os Borba participarem de familias tradicionais e para discutir, as propostas levadas por elas nào foram atendidas.
os Lupion de família de imigrantes constituem elementos indenticirios fortes. Um Entre os :!nos de 1917 e 1919 dois grupos se diferenciaram dentro da
exemplo disso seriam as entrevistas de Moysés e David que retratam a si pióprios ·ACP, formando órgãos independentes. Em novembro de'1917 funda-sd o do
como imigrantes 1,lfn,ad, men. No caso da famlllii Borba o elemento que asseguraria Ctnlro_ dai In<Íll1lriat1 da Madeira da Paraná com a partiàpaçào de 22 empresários
uma coesão· secia o próprio caráter de funllia tradicional. e uma organiza_ção que reprcsent:BJ:á os "industdais". Etnbara esta diferenciação
O ~asamento de imigrantes empreendedores (ou descendentes de.primeira , não tenha significado uma oposição de interesses já que os fundadores destas

e segunda geração) com familÍRs de fazendeiros tradicionais niio era uma novidade entidades nào deixaram de participar da _\CP, percebe-se a_defcsa de demandas
mais especificas. Em 1923 estas associações fotam reabsorvidas pela ACP quando
paranaense, a exemplo de S~o Paulo onde o casamento de imigrantes bem~
uma reforma nos estatutos 11V11/to11 n11ma alie~ na eilru_lum or.§lniz.acjottal da
sucedidos com membros de familias tradicionais da elite terrateqente não foi um
acontecimento estranho. O número de casamentos entre famílias de imigrantes

n ~0 ~~ notávd 1t0bcetudo ê o grau de cuamcntos regismdos entre. u fam.iltU de: imignntes e


1

as famlliu de fucnddrot.., (DEAN. ibid p.812 Ata. de 02 de dCJ:cmbro de 1923. (ACP: Livro~
• OLIVEIRA, p,278. Revis12 PARANÁ POLiTICO - Livro lll. Íld. Folha ccon,õmica 1989, de Atu de A"embléia, Gerai, 1905-1958). Citlrui poc LUZ, 199:Cp:
(S~ticl Gtiimadcs ~ Costll faz amifue do-s governo; CSt.iduili 1~47:1987). Rivadáviá, irmão ,n - Segua do· Regina Maria da Lu:z, no ''PIIT'ttM, fdl!II u, 011/nll utmúr th pds, o dimim t» u,pnrma/4
de Luzita, era tio de Túlio. ~ q,,tbau q1111ffh àf11"'1 d, 1111111 Flititd ~lltf7taltfllllnl 1111 rrkfiio ti il«Ílistria"'. (LUZ, 1992:15)

56 , 57 cJ-:i

iii
Auodação, criando-u 1t11õu espedalizadaspan:z autukros uloru dt '1:-Ienia·male, Madeinu du~s análises é a probabilidade que o setor madeireiro no Para ri~ já se desenvolvera
e Commem'o" e uVariar Indu1lrias'!H. O interesse maior da ACP ao promover tais o suficiente para P.roduzir um órgão cspeclfico pata defesa de se~ jnteresses, o
alterações estava em manter 1'o controle. s-obre ale.s- s-elort.l', isto é, umadúnl' e "oulmr que supõe, nff tnínimo, a l?ercepçio de quo estes não se confundem totalmente
ittdtúlrial', tal como aparece na ata de 2 de dezembro de 1923: '!fão de tal mottla
com os interesses do setor crvatciro~ preferindo a ?rient)~ do empresariado
01 intereuu nprnentadas commercio destas 1ec;õ11, precisam tk tanta atenção 6 deftza
nacional vinculado ao setor industrial madeireiro. Para fortalecer estn hip6tese,
'permattt!flt e imediata que u impõe a exüt!nda tÍ4 órgão1 espedalnlenk dt.Iiinado-1 a user
além das posições das duas autoras, adita-se a consideração feila pOr Perissinotto 16
fim, dt.Iapparecendo a inrovinimda tÚJ a:lual at11nmlo tk trabalho e ronuq,unle di!penão de
sobre a diferença dentro do bloco de poder begcmônico em São Paulo":
vigilância''. (LUZ, 1992:58) · · '~ ·
Quanto à tentntiva de organizar e disciplinar o setor madeireiro, deve-se ter
A fundação de um órgão vÍnculado a um interesse especifico é decod:ente de
em méntc que cstn ação estav. ptoVl!Velmente vinculada tnmbém à impossibilidade
futores que se complementun nas análises de Cancián e Rtgina Maria Luz.A primeira;
durante a décad; de 1920 em se adquirir o similar importado <lJl madeira. Além do
embora não faça quaisquer Icferências sobre o órgão de representação dós interesses
-já dtndo imposto sobre importado; incluso na Constitulçio da llepública em 1891,
n,;.dcirciros criàdo cm'1917 (suas obs~ções referem-se à organização de um
deVe:se também notar a existência de fcccovia e o aumento· do'núm~ de se.tt:u:ias
sindicato patronal das madeireiras em 1931), defende que a instituição de ô~os de
~O_ Paraná durante as duas pci_mciras décadas· do século. Da mesma forma, os
representação dos interesses madeireiros deveu-se à ação ~o empresariado paulista,
eia{Jres:ários paulistas estiveram muito mais preocupados em reduzir seus próprios
salientado que as
custo., não tendo que adquirir pinho importado. Dean entende que o seto.r exportador
tc·r'itativas de organizaçio do comércio e produção ·de· madeiras, por parte da representava e confundia-se com o setor de venda por al:acado. Esta hipótese é
iníciativa particular, são lideradas pelo Centro de Comércio e Indústci~ de 1Iateriais igualmente sustentnda pela pesquisa de Cancián, a qual apontn que a tentativa de
de Construçfo, do Rio de Janeiro, fundado em 1914, e do Centro do Comércio e "organizar" os empresários do setor madeireiro em nfvd nacional adveio de órgãos
Indôstria de Materiais de Construção de-~ão Pauló, fundado em 1917, que de representação do setor de comércio e materiais de constrilçàO (Ctnlro de Combrio
procunvam ntuar no sentido de esclarecer os interessados no problema madeireiro. , Indmhia de Matmai, de C.nilnlfào, do Rio de Janeiro, fundado em 1914, e o Cmtro
(CANCL\N, 1974:11) do Comlrrio, IttdJ/Itria de MatmaiI de Co,,;tnifào de Sii<J Pau!., fundado em 1917)".

Porém, para Regina Marià Luz, deve-se tnmbém se obs= que a ACP,
embora se J>rocla~asse def~nsora de toda a classe,_ únha suas ~ções dando
prioridade à defesa do setor ervateiro' cxportadot'5• O que há de cotnwn nessas ~ PERISSINOTIO, p.47.

n «o primeiro se refere a um capibJ com bue na produção de café, p~r~ dí'lersificado, agindo
em outros sctoreJ: da economia, ligados entre ti e ckpendcntet da economia cafeeira. Esse gnnde
capib.4 embora divcr:sifi.cado, tem um carikr predominantemente mcrcaôtil e pode ser definido
como uma burguesia comercial É a camada superior da burguesiA caf~ra. Já o médio capital
lt Ata de 2 de deze~bro de 1923. (ACP: LtVros de Ata de .-\ssembléias Geflllli 1905-1958), citada define, sobretudo, uma fação de elas~ ligada. ao capital produtivo agcicio, Uto é, comtitui·
por LUZ, R. (Grifos da autora) se de individuo, que rio apeou proprieticios de terta. É a camada inferior da burguesia
13
Em sw. análise sobre o que estes emprC$ários penun:m sobre o, que se.ria ''indústria" not:11-sc que cafeeira.º;"·- podem~ adiantlr que o conllito entre grande apitai cafeeiro e luoua afccifll,
C!ib. era entCndida cm um s:entido muito amplo, que incluía OOde ·Cmprcsas de prettaçio de ou grande e médio apial cafeeiro, ·era um conflito entre o gfllnde C'.lpital divcrsificad?',
servi~0s até_ o comércio; porém o qUe predomloa'lll. cr.i o i~terc~c d!) se'tqr ~ (que p'rcdomlllllntementc mcrcatltil, e os gnmdes úzcndciroa (grandes (Jcopriétátios) ligado•
enVolVUl_ a _industrwlbi;iu, comerci~füação' e exportação de eM:mate)'_. ,A ~gêmollia"dC. CXclusivatnente à csfcta. da· produção cafeeira, isto é, era uin conflito n0 interior du fra.ÇÕC$
emp'~;erv:ilclrru: ru c:lli~b da Auocitç¼o Come.tcial do Pacaoi_é recbrrcC1tc.llfé meados da domin,nte,."·(PERJSSINOTid; p.30 e 36, «spectmmcnte).
dêbda dê Hzo: (l.UZ, 1992:39) u CANCIÁN, pJ 1.

58 59
O advento da Guerra levou a uma crise inicial devido à interrupção do . Sobre a questão do tipo de madeira. de melhor valor co~rcial são necessários
comércio com os países europeus, porém essa perda foi contrabalançada ·pela alguns esclarecimentos para o entendimento do rwno que cstC texto pret~de tomar.
abertun de negócios com os países platino,, isto porque entre estes países deixou de Quando estamos falando de madeira exportada pelo Paraná c,tamos nos referindo
haver a concorrência com madeiras importadas>9. Estes fatores devem somar-se fundamentalmente âo. pinheiro•do·Paraná. a Ara11rori~ ang111tifoliada. Este
à supracitada questão cambial O assenso do setor made!rciro no Brasil (em esclarecimento é importante para se entender que a indústria ~trativa' a que estamos
específico do pinho-do-Paraná) pode ser evidenciado 11 partir do ctC!cimento da nos referindo é basicamente a madeira destinada à construçào civil e à fabricai;io de
madeira no comércio internacional brasileiro ilustrados na tabela 1. caixas etc., e não à fabricação de móveis, por exemplo. Além disto, o fato de a
:_-:,
atividade industrial-extrativa trabalhar quase cxclusivament~ com o pinho se dá,
9bviamentc, devido ao fato de este ser a árvore existente em ~aior quantidade e.de
TAl!E[;A 1 - COMÉRCIO EXTERIOR DO BRASIL-EXPORTAÇÃO DE MADEIRAS . mais fácil ~anuseio.. 1• A arau~ inexistente no lito~ começou a ser explorada
VALOR VALOR POR TONELADA em escala somente a partir da construção da estrada ·de fcrrd Cutitiba-Paraitaguá e
ANOS TONELADAS Em 1000 1 Ubias ouro Em ('\111) da Rede de Viação Sào Paulo.Santa Catarina e os rnmai, qu/pcnetraram nos ricos
Em mil réis 1
contos de rlis libm!OOro pinhcirais do sul do Paraná (significativamente rumando paro oeste do Estado,
1901 4.55 695 33 153 7,25 região dos mais ricos pinheirais) contexto da Primeira Guei,;..Mundial".
1910 7.448 1.224 80 164 I0,71 Nesse sentido a própria expansão das ferrovias pcld Paraná no início do
, 68 3,50
1915 38.375 2.622 134 século deve set c"ompreéndiéÍa dentro da dinâmica de se· atender a iniéresscs
1917 64.264 6.152' 327 96 5,09 ·pontuais e imediatistas quanto à madeira e a·o pinho. Vtsto tlão ser o intuito deste
1918• 179.799 21.090 1.139 117 6,33 · trabalho a análise da penetração das ferrovias no inicio do século, foram aceitas as
1920 125.394 20.483 1.198 163 9,55
proposições sobre o assunto encontradas ein Tota, um~ vez que estas não
1925 133.272 27.736 712 208 5,34
discordam de observações pontuais encontrad,as na bibliografia consultada". Sobre
1930 115.549 22581 5IO 195 4,41
a importância da madeira e, principalmente, do pinho-do-Pai:artá, nas exportações
1933* 101.967 22.710 286 223 2.81
brasileiras entre 1920-1939 propomos, para efeito de ilustração, as seguintes tabelas:
1935 167.741 34508 284 206 1.70
1939 404.787 110.088 731 272 1,81

FONTE: Ministério cni Fazenda. Serviço de Estatística Econômica e Financeira do


Tesouro Nnciona1 40•
1
~· Gt da CANClÁN sobre o fato de pinhe:inia settm concentrados, difCfCfltc de mata irubtropicil,
titmbém de s-er Umll árvore de gr.i.nde porte, de ma cidra ºmole" cuja galhada niio prejudica muito
o comprimento da• túbuaa, um dos fatorc:il mais impottimres par:1. a e1;tração de soalhos· e. vtgu.·
.u Af,,!ADJGr, R R. "U:gislaçio ambicntll no Par:má: a 'prcocupa:çi~ ecológia' de Romário
lt udevido à con~orrênda do Pinho do Par:1.mi com Q.SI madeiras importidas dai Estndo8 Unidoii, Martins (1907-1944}". ~fonografia. Deparl::unento de História da Univcnidtde Fcde.r:il do
Sttécia e Canadá, mas 1100Cetudo com o c-ntio fun-oso e muito coru:umído Pinho de Rig:t, C$te: Pa.nná. 1999, p.8. Segundo Rnmino Martins a8 ma.dcints mais explondas até a abertura das viu
,_·: ; -1~:,~oo já c:_onhecidu, estudadas e reconhecidu! atem de que. o mercado ÍOf!'lCC~r cm de· ~nsportc eram o cedro, a imbuia. o carvalho, a cancb, a p~a, eipécies nobres que
iormav:uli a mm atlintica pcô.xima do litor:l.l Antes di comtruçio' ~ vias ~e _lr.lnsporte a
, , _' t,f-t{JWi~~-~<m~~'~.i~~~1i~p~•i:AM,\PIGI, FaWto Rogério, p.22apud. CARNEIRQ David. F~~s _
t::/{f?''··,'.">"· •• "'"_ ~;_fj~_?.fJr~i~}?:~5'n'L Cuâttbtt: Imprensa da. Universidade do P.irani, s/d,· p. 126. madeira retirada pua o comércio externo ano Paraná era apenas: aquela aituadã no litoral .
.:-,-/(;;~:;, --. };,f'j,:'.~~f~t"'2' *Dtl:2 do bnm devido à Guem.. " PERISSINOTIO; OLIVEIRA.
~'.,"J{:~'_',,/;f.iJ\:t·:,: :-·'

60 61
TABELA 2- BRASIL- EXPORTAÇÃO DE PINHO uma análise sobre o crescente poderio da fraçào de classe composta pelo
setor industrial madeireiro.
ANO QUILO MIL RÉIS '!'! DE LIBRA OURO
11.545,094
Como manifestações destes efaito.r pertinente.r consideraremos para este
1920 84.884.700 675,881
trabalho nào apenas a atuação política - o político aqui entendido stdrto se,u11
1925 95.844.426 17.748.0IO 453,250
como ação ou disputa dentro do Legislativo ou Ex~cutivo -do setor madeireiro,
1930 85,024.114 15.839.368 357,934
mas também a: organização e as estrat~gias competitivas da categoria.
1935 130,749.846 25,327.838 2I0,743
Ao iniciarmos nossa explanação, vale notar que quando tratamos da
1939 309.793.517 88.085.475 584,527
norganizaç'ão" da categoria não estamos afirmando que e.."tÍsta u~a relação
FONTE: Ferreira, Ma.noel Jacinto 44 • o
causa-efeito entre surgimento de órgãos 1e
representação corporativista
com a apropriação, mesmo que par~al, da êsfera política do Estado. Partilhamos
Ao contrapormos as tabelas 2 e 3 percebemos a importância que o pinho
da tese já sedimentada na historiografia que se recusa a redúzir uma hegemonia
paranaense passa a representar nas exportações de madeira no Brasil: política à identificação da hegemonia econômica-'5• O que se considera são dados
objetivos que possam ou não identificar a atuação de um grupo de interesses.
TABELA 3- PESO DAS EXPORTAÇÕES DE PINHO SOBRE O TOTAL CórilpreCnde-se · tatnbém que n articulação da ação do Estado depende de uma
DE EXPORTAÇÃO DE MADEIRA BRASILEIRA disputa interna ao bloco de poder que compõe as classes dirigentes. O Estado
, moderno possui uma relativa autonomia devido a sua própria estrutura, pois seu
TOTAL DE MADEIRAS PINHO
ANO funcionamento dcp~~çl~ de um corpo extenso de tecnocratas e burocratas.·n.
(EM MIL RÉIS) (BM MIL RÉIS)
As discussões encontradas pelas teses sobre o setor ma.dei.reiro que analisam
1920 20.483.000 11.545.094
o período 1915-60 forneceram subsídios para que sejam identificados ifeitorpertinente1
1930 27.736.000 15,839.368
no que t.ange à acumulação e organização dos interesses desta fração de classe. O
1930 34.508.000 25.327.838
primeiro elemento que analisaremos é o surgimento de entidades representativas
·,1,, FONIB: Tabela 1 e 2. dos interesse's da indústria madeireira. Por outro lado, a ação do Governo <lo
Paraná também não deixa de demonstrar a influênci~ dos madeireiros na legislação.
A partir da constatação do aumento crescente, embora sujeito a Já em 1885, 7onformc Padis, havia isenção de taxas de barreiras sobre o transporte
oscilações pretendemos fazer, através do que Oliveira de "efeitos perlinmtel;H de madeiras para exportaÇào - ~sençào esta que tinha como função principal o
atendimento a demandas pontuais de um grupo de empresários que construiu uma
grande madeireira onde iriam situar-se os ramais da ferrovia Curitiba~Paranaguá.
~, Ferreira, Manoel Jacinto. Pela Grandeza de Madeira do Brasil. Rio de Janeiro, Gráfica Olímpica, O poder da representação do set'or madeireiro é percebido tatnbérn no Legislativo
1942. Citado cm Candàn. p.228, vol. 2.
e Executivo cst1dual no final da década de 1920 quando;
n "Uma fração de da.,;se existe como força social quando a sua existência econômica produz efeitos
pertinentes na politica e na ideologia, revelando com~a sua atuaçJo na luta de d asses, a sua presença o Congresso do Estado do Paraná decretou e o governador Afonso Camargo
distinta. A análise dos 'efeitos pcttlnentes' de uma frnçàó autônoma de classe nas estruturas e
rcfaçõl!él políticas e ideológicas no campo das lutas de classe depende sempre da conjuntura de uma sancionou a I..ei n. 0 2670, de 15 de abril criando o Instituto da to.ladeira, cujas
situação histórica concreta. Só através do seu estudo sé poderá circunscrever as relações dos limites
e das variações, e assim se camctcrizar os 'efeitos pertillentcs', (POULANlZAS, 1977, p.79)
OLI\'EIRA, p.13. e tb. "Na luta de classes: as classes m1 frnções autônomas se manifestam política
e ideolog1camentc.. Mais ainda, manifcstam·se nos níveis político e ideológico de focma específica, ¼ Ricardo de Oüveirn; Ribeiro, Pcrissinotto; Igor Zanoní, Magalhães Filho.
isto e, atravês de efeitos pertinentes. No nível poÜ!ko podemos detectaras formas de repre:,;entação (
(
de dass:e, os partidos políticos e o próprio regime político C:Omo formas de efeito pertinente; no -0 Não obstante, como nota Oliveira, ê importante ressaltar que o direito burguês apenas ordena de
nível ídeolôgi.co, a luta ideológica de classes nos revda tais fatos." (PEH.JSSINOTID, p.92). um ponto de vista nfo instrumental, não real.

62 63
atribuições foram executadas, por delegação do mesmo governo, pelo Sindicato de pois, aos interesses dos setores mais capitalizados do ramo, ~m todo o territôrio
1Jadeiras do Brasil, nos tênnos do Decreto n.º 1486, de 26 de agosto [de 1929), cuja paranaense e durante todo o período estudado,.".
regulamentação, então bah:ada.. muitos pontos em comum oferece, coma a que O setor mais capitalizado, segundo Cirlei Francisca Luz, Cancián e Maria
norteia a do atu:11 Instituto do Pinho. (CANCIÁN, 1974:08 apud Anuário Brasileiro Regina Luz, era aquele que possuía algum tipo de Hg.içào direta com o
de Economia Florestal. Rio de Janeiro 2(2):10,1951) beneficiamento, e principalmente com a comercialização d~ produto efetuado

Se cm rúvel regional a defesa dos interesses se fazia sentir de maneira o9jetiva,


diretamente com São Pau1o. A cs~ dois fatores Vannucchi
.
so~a
'
um terceiro sua
ligação com a produção de pasta de celulose e papel, atividade da maior importância
.
nacionalmente dando continuidade a sua â.çào, o setor mad~eiro no início década
·na acumulação de capital dentro do nmo madeireiro. Os lucrps eram maiores no
de 1930 pro cu~ se organiz>r fundando, em 16 de abril de 1931, o G,nuêrúo Maddmro
caso de emprcs;lS que integrassem os dois setores. Dai pÔtque os segmentos mais
dí! Di,Jrita F,d,raf, cujos objetivos eram:
c~pitalizados procuraram controlar todas as fases de ptoduçàO. A existên'aa: deste
Coordenar o comércio de madeiras.
complexo é destacada já em "meadí!, da düada d, 1920, ar aâvidadts in,m,Jriait d,
Organizar as classes de Madeira. importadores e de exportadores conuertidos em manufatores, impru,ionanlemen/e
1

Registrar seus elementos. variada,, requi•ladat, in,luíam ocontrole de todas as fases da manufatura l!xti/, da
Fazê-la respeitada e conhecida. ,,
-·~-- '- moagem,fmrig,111, da forja do ap eda latão, da laminarão d, nu/ai,, da fabrico do papel, ·
Moralizar seu nimo de comércio. da refinarão d, óleo, ,.,,g,Jait''. (DEAN, 1971:35, grifos nossos)
- -'Impor o respeito mútuo aos compromissos assumidos. Esse será pr_ccisamente o caso do Gmpo l..J,tpio11 que, 'dunmtc seu rápido
Desaparecer os aventureiros z.angões e avulsos que só desmoralizam e avil~
prôcesso de divcrsificaçà0; atuará nos ramos de extração, industrialização da madeira,
os preços e o comércio de madeiras.
fabricação de p;tpe~ fósforos, caixas entre outros ramos da cconC?mia paranaense.
Impor e definir cesponsabilidade.s mútWls entre Importadores, Exportadores ~
Madeireiros. (C.ANCL-ÍN, 1974:12-2)

Sobre esses objetivos, comentaremos aqui aquele que parece ser primordial
sob o ponto de vista do capital madeireiro. J\o propor o desaparecimento dos
""venturciros, zangões e avulsos'\ o órgão de representação do setor referia-se
.tt Segundo Canci:in, apena! as $Cmriu melhores ap-,t,rclh:adas po<lc(lllm opl:at cm permanecer
aos comerciantes ocasionais d.a madeira, que agiam na atividade apenas nos . próximu aos maiores ccntrw e niio optar em •eguit o. expa~são d:a tcrri1orialização do capital que
pedodos de bons preços. Segundo os diferentes estudos sobre o desempen_h~ do se dava: "A pre:se~ da !lemcW pode, de modo :aproximado, dar o. medida da intcnskladc da
setor madeireiro, ess~s uavulsos" eram precisamente os pequenos madetre1tos exploraçào ma<lcircinl cm uma loutidatle ou rcgiio, que se fez em dtigioa de. duração limiada,
deilonndo-fc ao se inicitr o C'lgot1mento <W matas, cm bu:M:.a de noVU fontes. Pode dizer.-se
que, além de exercer a atividade ocasionalmente, eram responsabilizados pdos
que a serraria é pioncin na abertura de rcgiõca, aprove.i1ando-sc dai madeiras liberadas pda
grandes industriais, pela devastação das áreas mais prôximas, o que elevava ocupação agrícola da, tern.s. Not1.-11c o movimroto de desloc.tmcnto d~s se.n:ari.t.s à medida que
extremamente o preço da matéria primau. Esta tentativa de rcgularnentaçào visava, a colonização ou :as nov:u frentes pioncinu penetram mili para o interiot."(p.5). Ao que também
se refere LUZ, ..Comprova-se ainda que, dur.mte os anos 1949 a 1963, ~ füm.tS madcircin.s no
sentirem o dcdínio 00 m:crvas florestaul nas antigas ârc.tt, acompanhar.uno aw.nço da frontein
econômica e chegim aos nov0$ centros do oeste e ~udocstc do füta~o. [...} OCSta forma, na
-*' Todu ~ teses lidas concordam no fato de que as madeirclnts migra\';Ull junto com a rápida exp;tnsio firmas scdiadu cm Ponta Grou-a, Curitiba, Ir.ui, Imbituva e cm outros loa.is ao perceberem a
da frontcim. 12grlcob no PUQni; decorre disio que qwiodo um.t regiio era ocupada e a mndeiru se dcca.dência das áreas madei.rcins, a p-attir dos 11nm: 40, uta.bclcccu.m-~ na regüo centro-oeste
e~tava. as rrudcircirus ou runbém mignwm oU te.riam que providenciar o transporte dm: tmos., do &ta.do; mais eg-pecífic:amente cm Gwrapuaw, cujo pcrio<lo de maior c:xplon.çio foi de
ocorre que Cise tnnsportc. era extremamente: caro, constituindo o maior custo de produção. 1940-1959 ..." (p.50).

64 65

1 i
3.1.2 Política Governamental e as Elites Dicigcntcs desta instituição seria a "defaa da indJI.Ilria madeireira do Pamná"~ercccndo portanto
"todo o apoio do Ertado 1~ Porém, dado o fracasso do cmpte~dirnento, ''o Ertado
Neste item pretende-se ressaltar que, paralelamente aos dementas internos promo""' a liquida(iio da Sindfrato ,,primindo d, véz a d, imposto qu, foro rnado pam
que limitariam o desempenho da empresa, haveria também os externos, pois 'j'\s
rntir o, op,rafiies d, cridilo da mesma inttiluÍfíio no Banco Jo Brtu# Afim do, empris!inlot
expectativas da sociedade refletem o" impacto, sobre a companhia, de fatores
q11, ao Sindicato famm Jdto, p,t,, Banro IÍQ &lado IÍQ Parallá, o débito d, mt;mo atingia a
como a poUtica governamental, os interesses socinis, e muitos outros." (PORTER,
p.18, grifos nossos)
= d, trl, mil rotos naquele banco." (/IL\CEDO, 1933:13)
A par de criar impostos exclusivos para o financiament9.do'sctor madeireiro
Sobre a 1êxpedalittu da soa'ulmk ' 1e ''po//tka ,gwér11a111ental'; a partir de pesquisas
50 (no caso levantamento de empréstimos junto a bancos eshltais), ·o Paraná· agia
sobre o tema, percebe-se que muitos foram os percalços da indústria madcire.ira ,
como avalista destes empréstimos e, com • folência do Silldi01/a d, Mad,ira, da
Se em aÍguns períodos diversas esferas do Estado tentaram intervir- e efetivamente ·
o fizeram - nas atividades do setor, em outros pedodos houve pouca ou nenhuma Bnml, .~ss~me ~ divid~ deste ju-nto ao Banco ,do Brasil. É\nt~ess~tc _notar que q ·
intervenção prática. No Estado do Paraná os interesses em relaçio à fusc extrativa Secretário de Finanças aponta que o órgão ºfrai:asJOJI mmj>{ttamenk dtvido a má

e parte da fase industrial madeireira se concentravam na tentativa de criação de um orientação daria QOJ 161/f lltgórtOI falat Jtll! dJ'reiortJ': o _que tiao impede que O Esta'do
ôrgào paraestntal (de administração privada) para regulamentação do mercado. assuma tanto a dívida junto ao Banco do Brasil quando ao Banco do Estado~ 1,
Esse objetivo foi atingido cm 1929 e teve clara influência dos interesses dos Outro dado ~ignificativo no que se refere· à. proximidade entre Estado e
madcir~S qbe, além de sugerirem as medidas a serem implemenfu'das, conseguiram iniciatÍva pri~ada, é a utilização ~a coisa pública para fins~ iruciativa privada.
que o governo do Paraná lhes delegasse a implementaçio das medidas. A identificação entre público e privado dentro da administração-do Estado
constitui-se, segundo Perissinotto, cm eftiro pertinenlt que demÇ}.1:stra (ou ao menos..
1
o Congresso do Estado do Paranâ decretou e o governador Afonso Carrurgo
é forte indicativo) do poder dos coronéis na República Vclh., a
sancionou a Lei n."'. 2670, de 15 de abril' cri11.ndo o Instituto d:r. Madeira, cujas
2ttlbuições foram executadas, por dclcgaçào do mesmo governo, pdo Sindicato
, confusão entre o poder público e o pó der privado é o efeito ~ente que a lavout'll
de ?,.ladeiras do Bnsil, nos tên;nos do_decrcto no 1486, de26 de agosto (de 1929],
expresea no nível politico. A forma cspeáfica pela qual a bvo~ isto é, o corond, se
cuja ccgul.unentação, então baixal'.U, muil~ pontos em comum oferece, coma a
faz presente na politica republicana é o domíruo privado do poder público Jocal com
que norteia a do atual In;cituto do Pinho. (C.\NC!ÁN 1974:8. .Apud: Anuário
a bênção do poder regiona~ e sua total obediência a este último dentro das rcgru do
lk:r.sileiro de Economia Florestal)
compcomísso coronclistJL (PERISS!NOITO, 1994:107,gcifo do autor)

A criação desse organismo acabou redu_ndando em um total fracasso,


Nesse sentido, e devido à contextualização supracitada sobre• constituição elo
segundo o relatório apresentado por Rivadavia de Macedo Secretário dos Negocios
Grupo Lupion e aqueles com os quais seus interesses se confundem (no caso fiunífu.s
da Fazenda e Obras Públicas ao Interventor Manoel Ribas cm 1933. A funçio

" Quando fie rcftro à indústria m.adcireiru, c-,tou me referindo cmptciH que além de tr.tnsfonnarcm
11
os toro, cm pntnchões tambêm ccaliz.am difcrcntei focmas Jc ffltlu..strialluçio da matéria-pllma, Rclató1io i1f!CC1:ent-atlo ao Excdenti·uutlo Senhor ~lanod Ribas,. dignfuimo lnttrvcntor Federal
desde OUUS de ptpelào a móveis e papel. &~ aborllilgem se dá devido a ser c:ste o recorte no Estado do 11:m,ni, pelo Secretário dos Ncgócl0:1 d:i Puenda e ObíU PUbliwi Riv;i.dâvia de
efetuado pcW pcsqulSiu sobre a indústria madcircin no Puaná. Macedo - Exercidos de 1931, 1932 e 1• scmemc de 1933. (p.13 e SCgliitues\

66 67
L

terrntenentes tradicionais do ~terior do Parana')3 1,' apontaffios para ·wn ~os fatos que A colonização do território_ paranacnsc roi basiÇamehte efetuada pela
iniciativa p~da que conta:va com o apoio do Estndo. Esta relação teria se tornado
marcaram as duas administrações do governador Moysés Lupion, a corrupção.
mais evidente nos governos de Moysés Lupion devido aos interesses que ele
Tal era o,nívcl de corrupção do governo Lllpion que a negação do fato
representava. A fração de classe que o apoiou esl:llva dirctam;'ente ligada ao comércio
não era objeto de defesa por parte de seus colaboradores e amigos. A obra de
de tenns (caso de Othon Mader, por exemplo) e/ou na sua cobertura vegetal.
Raul Vaz, embora se inicie apontando Moysés Lupion como um dos dois
Segundo vá.rios pesquisadores, durante o gcJverno L~pion -a 5 companhias
maiores homens que já conhecera, nào se preocupa em negar o alto grau de
colonizadoras adquiriram tal poder que chegaram a "sobrt!por-sc" aos interesses
corrupção dentro de seu governo, do qual Vaz, al(ás, participou como membro
do Estado. A opção pela iniciativa pciv,da se dava cm torno do ideário da "Marcha
do primeiro escalão.
para o Progresso" do governo Vargas. Moysés Lupion, ao Wrcsentar-se com uma
"a corrupção é particularmente ca01ctcóstica das sociedades em modeminção. [...] ie!f madt man. seria um elemento fundamental-para a lrmsfortrutçào do Paranái
· A modcrnizaçio gen a corrupção, porque altera. as normas tndiciona.is, cria novas sua ação de empresário, conforme a imprensa. que o apoiou :Oa sua primeira eleição,
fontes de àquezas e poder, e acaba contagiando a uuiquina administrativa, como caracterizava sua ação de bnn'nui mart, capacidade pata despertar as forças
um óleo para lubdfid.-Ia, para apressar o àtcndimento de obras públicas- e produtivµ, Porém, como empresário esta açào estava limibda.; para a construção
até para obtc-.las. O pioneirismo no Paraná coincidiu com a ascens.ão do populismo, de um Paraná Maior (seu lema de a.mpanha), seria ~prescindível que este
isto é, do clientelismo político instituciorutli.zado, Os pobres usam seu poder de empresário fosse alçado à direção do Estado. O id_cal de:: seu governo, segundo
voto para conquist2r emprego~ e favores, inclwive dinheiro mesmo, os ricos poNllil. Lupion, seria a artictitação do privad? com as políticas públicas 'para o
vez compram cadeiras nos P2clamentos e nas ~\.ssembléias, Há uma corrupção dos fortalecimento e dcsenv?lvimcnto econômico do Estado.,
pobres e uma cottt1pçào dos ricos. [i.,]. .A todo este contexto se deu o nome
A ideologia do ptirudo como agente do dcsenvoJvímento no Paraná ocorria
lupionismo, como em São Paulo ele se chamou ademaàsm~, ontem, e malufismo _.
cm uma conjuntura de nípido crescimento populacional e expansão e diversíficação ·.
hoje. ("\Z, 1986:139-40, •pud Guimarães) ·
das 'relações de troca, o que irá provocar a dpida acumub.ç:ào de capitaIH. Ao
não ordenar o processo e favorecer a iniciativa privada, o _governo Lupion acaba
Os denominados atos de corrupção que nos interessam para o·prcsente·
por contribuir com o acirramento de conflitos de terra~ qu~ serão partícularmente
texto, se referem à questão de demarcação e concessão de terras no Paraná durante
graves e violentos cm seus dois governos; violência esta que se torna um estigma
os govcrnos Lupions.J. Em especial, no que se refete aos processos pelos quais o
para o Grupo Lupion, visto' que a organização estava também envolvida em
Grupo Lupion teve aces~o facilitado a matéria ptÚna e a amplas extensões de
conflitos de terras no Sudoeste e Oeste do Paraná.
terra, fatores importantes para se comp.reender o crescimento do Grupo.
É importante que se ressalte, poré~ que a grilh~gem de terras não se
constitui na mais significativa estratégia competitiva do Grupo e que não foi o
governo L.ipion uma exceção à regra no que se refere à problemáúca da lut'l

11 Segw:ido PER1SSINOITO, o partido que repreaenb.w Cd coronfu em Sfo l¾ulo SC:m o PRP, no
Parani, segundo Tulio Vargas sedam o meamo. O putidoque tetlll :.ubstituldo o PRP e continu.:mdo
a rcprcsenta.çio dos coronêLI: $Cflll o PSD, com ckmque ~ Manoel Ribas e M~ Lupion. ~ Sobre a ttlaçio entre 2 iniciativa privada cpolitica. públio. ru coloninç.io noi governo$ de Moysét
Lupion ver SOUZA, Clcuza Batuta.. Política pública e inicio.tiva priv...da. como fatorc-1 de
» Para Oeste, Sudoeste; ver ZANONI, COLNAGHI e WACHOWICZ; pua Nocte do Par.anã, ver
desenvolvimento: um.a nnilisc dos govcrnoo Moys~ Lupion. Monognaf12. Dcpartunento de
DAMASCENO, SOUZA. Pan u~ contcxtuiliuçlo de ambas as revolw, ver MARTINS,
Ciências Socia~ UFPR.
José de Souza. "Gunponcse! e a Potitio. no Brasil".

óB 69
pela terra e especulação imobiliária no Paraná". à que pretendemos destacar cm ambos os casos os bens foram posteriormente inco~orados pelo Grupo
37
aqui se refere à própria ideologia de Estado que prevaleceu durante toda a "era Lupion Ou~~s nomes que possuíam relações finnnceitas c~m o Grupo Lupion

Vargas e posteriormente a esta, isto é, o nadonaldaenrolvimenli..wto em que a atuação


11 são: o Interventor Manoel Ribas, em cuja fazenda em Casci:o O Grupo possuía

do público e do privado se (con)funclia. Havia uma defesa explícita de que a um, serraria cm 1942; o já referido Antônio Batista Ribas sócio da Obrar,
administração do Estado f9sse entregue a homens de negócio "competentes" M,lboram,n/o, e ex-Secretário do.-Negócios de Obras Públicas,:V-iação e Agricultura
do Interventor Manoel Ribas; Anisio Hermogetlcs B,µtolomei, diretor-
que conseguissem despertar as forças produtivas. O caso do Paraná, por tratar-se
superintende~te do Banco do Estado do Pararuí 00 primeiro governo Lupion,
de uma fronteira da nova tetritoriali~açào do capital1 pode constituir-se c0mo
cargo que deixou sob suspeitas ctn. 1951 51, sócio_com David e Pedro Lupion da
paradigmático para um estudo sobre o tema. Lupfon lançou sua canJ.idatura
Madeiros do Brmí/LJ&i', conselho fiscal da IndJtstria; Bratildms!f, Pap,I SA "';Hans
p~opagandeando 11 llt1;agem de um burittesJ num, um bandeirante moderno. Em
Mõller sócio da lndJtstria D, M,tai, , Madtirm Bmefidadat, membro do consdho
seu próprio discurso ~ que Moysés declara é o interesse em administrar a coisa
fiscal do Banro do Estado do Parand (no mesmo período que Bartolomet); Arcésio
pública da mestna forma que adminiswva as suas empresas, de modo a fornecer Correia. De Lima Filho, sócio da Jnrmslria D, MetaiJ , Maddrar B,nefidadas Ilda.
a dinami~dadc que faltava à coisa pública. (cujo pai .é diretor superintendente do Banco do Estado do Paraná juntamente
Os elcrricntos que ajudam a_ comprovar os dados sobre a relaçio entre com Bartolome1)6 1• Percebemos mediante as ligações de membros que o Grupo
público e o privado na implementação de investimentos no que se refere à politica Lupion possuút privilegiado acesso a dois dos principais bancos do Estado.
de colonização do Estado, além das várias dcn\Jncias de jornais de época~, podem As ligações entre diferentes grupos emp-tesariais revelam, certamente, uma
·. ser perc(bidos também na já referida sociedade de Antônio Batista Ribas com o tessitura comwn de interesse, mas rCv'clam também a pouca possibilidndc de
Gtupo Lupion. Além dessa questão, no que tange à relações entre público e o alteraçào nos qwdros dirig~ntes que compunham as diretorias de empresas e
privado, podemos C)tar os nomes os membros de uma teia de urna urdidura indústrias, siruaçào esta apontada por Regina Maria Luz, para C}uem'a "perman!nda
entre vários sócios de empresas do Grupo Lupion e postos-chave no Estado. de um grnpo maiJ ou menos homogêneo oa,pando os ptinàpai, cargo,;, dinlotia da entidade·
Entre eles, está Raul Vaz, que trabalhou no IAPC e no governo Manoel Ribas e no empruatial I apontada por Afaria Sa4nz LEME 'coma J1ma ramderirtka rorutante nai
orgpnizaçvll dlJ empmariado bran'ltiro, t q11e dmtonstra 1~ peq,una re~tJNfâtJ do1ieJ/J q11adro1
governo Lupion ocupou os cargos de Diretor Geral do Departamento de
dirig,ntu ''. (LUZ, 1992:37) .
Municipalidade \ambos os cargos ocupados por indicação); posteriormente
chegou a juiz do Tribunal de Contas do Estado indicado por Lupion cm seu
mandato. Vaz participou de várias transações das quais o Grupo Lupion foi
51
parte: adquiriu o Jornal O Dia e comprou tern.s no Oeste e J;,lorte do Estado - No ~o da:. a:crru, Cliltns foram objeto de denúnW, por ci:pecubção· posto que teria.~ lido
adqtlicida:i abux.o do preço de mcrado e cujo contrato de compr.1 e vctadn foi verba. (1. e., sem
documen~o), fato este que Vaz 2dmite, embora nio o desabone como illcitn Yu aponta que
cm ambos o:; c::isos iapcnas adquiriu os bens dado apelO! de Moyséii. : _

15 Segundo Wachowic1. (op. cit, p. 138·180), a con&tituiçã.o do Terdtóào do Iguaçu teria sido um • Kl\ETZEN, p.383.
apituío da. tmbtt\-a de se especular com tcrru no Oestt: e Sudod;tc. Por outro lado, o. sobreposiçio
" KRETZEN, p.144.
de diferentes cscritu~ de terra. 1mbre um mesmo tetreno.niio Cfll. uma pcibCl incomum nu d1.s
colonru.dons cm geral. Some~e a isso os grilos no Norte do Estado (Dam11Sccno) e a e,peculaçào ~ JCP.
com terras envolvendo ex.·prcsidentes de provinda que resultou na Guerra do Conte.!lta.da (fota " A,".tm
• send O. o Banco do Estado Pa.raná contava com dois diretores superintendentes :imbos
e Oliveira). O que s:1l.icnt1mos aqui ê atuação de uma fr,.çio de classe tomar-se hegcmônia. no
liloaos de emprc,,;as <lo Grupo Lupion (Anísio Hermogcnes &.utolomci, e o @ho de Arcésio
bloco de poder no que concerne ao uso rui. esfera públ.ia. (Esta~o) como e:sf~ prMl.da.
Correia. Lima.). Doi cinco componentes do consdho füa.l um (Hans Mõller) poosuía sociedade
;,s Revista O CruzcU:o Oc setembro de 1957 e O Estado do Paraná, 1951. empresa do Grupo.

70 71
3.1.3 A Fundação e Diversificação do Gmjio úpion A segunda empresa fundada pelo grupo serâ a uc4a Mttal Lida.•: no
ano de 1932. A empresa atuará no ramo de tfCompra e wntÍa_ dt Jerragms-1 laufM t
Um dos elementos significativos do Grupo Lupion que pode chamar a outras'~ No contrato localizado na JCP não aparecem os sócios ou o capital
atenção - no caso do presente trabalho, ao menos isto ocorreu - foi seu c.:aráter social, porém, conforme as entrevistas de David \Vtlle e Moysés Lupion e a
ufamiliar11• Não obstante, esta característica não deve causar surpresas: ao fundar ob_rn de Raul Vaz, a partir desse momehto encontramo~ todos os irmãos
um empreendimento em que todos os metnbros da familia atuam, o Grupo trabalhando juntos. Davi~ Wtlle Lupion afirma Cm entrevista que o primeiro
Lupion segue uma estratégia competitiva comum no Brasil cm seu setor industrial empreendimento da família começou cm 1933, qua~do ele e Moysés
nas primeiras décadas do século XX. A própria _origem do termo G~po está administravam uma serraria que "a familia" possuía na Lapa - momento em
associada a empreendimentos familiares em grande escala que são recorrentes , .
. que, segundo David, o Grupo contava com três serrarias61."
hão apenas no Paraná, mas bmbém em lo~s onde as relações mercantis eram
No ano de 1936, iniciam-se as operações da "Pqs7a1to & úpion"'-\ da qual
mais ccmodernas ... Segundo Dean, 1'ar maiores <Únlre as 1odedades familiais 011
participam Luiz Possatto, Pedro Máximo Lupion, J~sé Lupion Filho atuando no
rombittaçõu dt clientela, que rePelaW11l1 certa tJtabilidatk , divenifica;ão eni atividades
tamo de "Explora/ão comercial 6 ind1111ria! do ro;o ck maduras': A ~mprcsa tem sede
imobiliâriaI, comerdais e bancána.I pauaram a chamar-16 ·~mpos': R.tuniram mnJideráveir
quanlidadu de capital, fábricas, poder político um pmúar vmd,r a[Õt! ao pdbliro etn C.choeirínha, então municlpio dejaguariaíva. Esta emprea, sofrera vírias
,mfundir-se''. (DE..\N, 1971:133, grifos nossos) · transformações: cm 1938 Moysés Lupion adquire as cotas de Pedro e José, muda-se
No que se refere a este tópico. dado nosso enfoque que visa à esttuhJraç:ào das a razào social para "Poualo, l.Jpion ~ Cta'~ o capital se eleya de duzentos mil
empresas, tnbalharcmos cm uma perspectiva cronológica quantp à formação e contos de réis para quinhentos mil contos de r~s ~m partes iguais entre Luiz e
diversificação das empresas. Esta medida será tomada devido ao nosso entendimento Moysés, alterando~se 9 ramo de "Exploração ronurdal t íttdmlria/ do ramo eh ma.dtirm"
de que a ampliação do Grupo - percebida pelo crescimento do capital social das para ''Ind11Itria de urrarias' também rommio' exportação de madeiras em geral': ou
empresas e pelo aum~nto da diversificação de suas atividades.- ocorrerá de forma seja, passa também a exportar madeiras. A administração será.dividida da seguinte,
relacionada à e.~pansà~ do setor industrial madeireiro e, o que é também relevante, a forma: Luiz Possatto gerência industrial e Moysés Lupion getência comercial -
crescente participação de indivíduos ligados à administração pública e aos órgãos de lembrando que em São Paulo Moysés atuou no ramo de exportação de madeiras. No
representação do empresariado. qi.Je se refere a esta empresa., é.importante salientar a localização' ela empresa.
No in{cio da década de 1930 inicia-se a constiruição do Grupo Lupion e os
No início dos anos 40 as empresas do Grupo sofrerão t.Ípido crescimento.
seus membros começarão a trabalhar de maneira ass~ciada. A primeira empresa
Iniciando nossa análise pelas empresas fundadas na dêcada de 193Q, percebemos
que surge levando o nome da família seci a ]ruiúpion & 0a que, segundo Kretzen,
as s-egllintes alterações:
será fundada em 1931, na JCP (Junta Comercial do Paraná); não obstante,
Ajo.ré úpion ~ 0a passa, a partir de 1941, à "exporta~ão de madeiras'~'.
encontrou-se como registro mais antigo uma alteração de contrato datach de
1935 (a qual registra a entrada de Irene Coelho Lupion, esposa de José, sendo a No ano de 1943 o capital alten-se de quinhentos núl cruzeiros para dois milhões
partir de então os dois únicos sócios). Em 1939 entra na sociedade Pedro Máximo
Lupion - irmão de José.i identificado como 11índustrial" residente em Pir.ú. Abre-se
filial em Pirai, e o capital social sobe de vinte contos de réis para quinhentos
contos de réis."1 M Gazeta do Povo 3.LOl.77. Coluna. "30 ano:s de HU!tórla P~litica no Par.mi" de Emir Sfair
(tOa. p.) - Sfair entreVÍ!ta David Wtlle Lupion .

._ JCP registro gcni.l 41200887967, ContntQ 085 15/out./36 Antes dos Lupion a r::1zfo soct2.I era
S1,11Jt-w & Oa.
'1 Contrato 7.4-99 de 19/01/35, 9,246, 7 /jun,/39 com alter:1ções contntu.ai.s: até 1951; K.tc.tzen,
p.324. ª Contr:110 JCP; Krcl:%en, p. 144 e 324.

72 7)
'
de cmzciros, e ocorre n entrada de novos sbcios, entre des Itaciano Macondes Parnpiti, Rebocador Don Roberto, Chata Sanm Helena, Chata Triunfo, Cham
Ribas, Pedro Máximo Lupion, Vasco da Gama Coelho e Luis Possatto. Mais de Alicia, Lancha Emllia, Lancha Itália. Quanto a e,t, emprest, é importante retermos
75% do capiml social da empresa fica sob as mãos doS irmãos Lupion. dois caracteres, fato de Luiz Possatto ter se retirado dela e cntrddo na frui LPpiott,
No ano de 1941 a "Pouatto, úpion &Cía"tcm seu capi"'1 social aumentado uma empresa de menor porte. O outro dado importante é a aq~sição de gra~de
de 500 mil réis para 800 mil réis. Constl a entrada de nova sócia, Hermlnia Rolim de quantidade de terras cm uma daS regiões com maiores )OncCntraçõcs de erva-
Moura (esposa de Moysés), e rctira~se Luiz Posfü1tto. A razão social muda pau 'M. mate e pinheiro-do-Paraná. Nesse período a famflia pârticip~. da -fundação do
upion & Oa'; mas o ramo de a~dade~ continua o mesmo. Em 1944 o capital é BAl\lliRINDUS, com outros que mantinham ligações na região; tal como Othon
elevado de 800 mil réis para três milhões de cruzciro's; no mesmo ano cria~se uma Madcr, e iniciava negócios com a familia Ribas.
filial na capital federal (RJ). No ano seguinte, 1945, o capital social se cleva'de três No ano de 1944 a Cata Melai Lida., cujo ramo é "Compro, vtnda d,Jerrug,n,,
milhões para vinte e cinco milhões de cruzeiros. Muda a razão social para "Bnuil louças e 011/raI" muda de proprietário, passando para administração da '1..Jipion &
R,fomiantenJo , C,IH/o,, Lida. - GEUJBRAS': Rruno de atividades: ''Explomfiio M Ga Lida.''. Não obst.ante a alter:tçio, mantém ll mesma razão social66 (m1s alterações
indJIJlria da mmkira, seu romirdo , txpor!afiio ,m ,!!IU4' Explorrirão da indrolria de pa,ia de contrato não há referências ao capital social ou a administradores sendo
' '
mm/nica, c,/nlose, papel e papelão; Extração, illdustria de be11eficiamento, portanto, um caso de incorporação.
comércio e exportação de erva-mate; Mineraµfo, propec[ào, lavra, extmrão, No noo de 1945 (menos de quatro meses decorridos de firmado o contrato
ben,firiammt~ romirdo, txporlação de caroào minrm4Jmw, @Iro, minirioi, dejxlir de kg,lmenie de constituição da empresa), a Mimração Nort4 do Pamná. LJda. sofre uma alteração·
a11/otiZ!1da; a naveg,{'Jà n,arllimã ·i fluvial, ag,nta mariJimoI , jluviaiI depoiI de k1f1lnunt, no seu quadro de sócios C;.divisão do capital social: O capit'11.social sobe. de
habililada;colonizaçiío; agricJIÚJlm;p,C11ária; r,pmrnla[Õu, txpor!afiio, imporiafiio em g,ml,· novecentos mil pa~ um milhão cénto e cinqüenta mil cr~zeiros, dos quais
1
q11alqutr outro ramo da indmtria e comfrrio agtJ criafiio forjulgpda ronNmtnú ~ aproximadamente 70% pertencem a Moysés Lupion. Entre os ,anos de 1945-46
Em 1945 altera~se o quadro de sócios com a entrada de outros membros há algumas alterações no quadro de. sócio, com a entrarul d<! Pedro Lupion,
da familia Lupion (que também pertencem ao' ~esmo Grupo empresarial). Nesse Hermínia Rolim Lupion, David Willc Lupion e Joaquim Pereira, mas o montante
ano ocorre uma importante aquisição de terras no Oeste, num total de 65.073 ha do capital social ou o ramo de atividades não se alteram e os-membros da familia
e 93 m 1 nssim dist.ribuidos: i.upio·n mantêm o controle acionário. Em 1948 entram os novos sócios Adélio
_Ramirc, de Assis, Joel Mainguê, Alfredo Elias, Hcrnani Borba Rolim; Otávio
a) Fazenda Sào Domingos 32.093ha (+3.473ha);
Alencar Lima e o capital social passa de um tnilhào e cinqüenta mil parn quinze
b) Piquery e Andrada 28.465ha + S.57Sha;
milhões de cruzeiros. Destas cotas os mem~ros do Grupo Lupio~ (Pedro lAáritno
e) La Paz 2.SS0ha + SS0ha;
Lupion, David Wille Lupion e Joaquim Pereira) deteriam mais-de 99%. Um dado
d) Dois de Maio 200ha;
importante a ser tessaltado é que o sócio Pedro Máximo Lupion passa seus poderes
e) Barró Preto 918ha + 2050ha;
via procuração para Adélia Ramiro de Assis, que se torna procu'rador das fumas·
f) Diamante 2Q0ba; 1

"lv!. L.upion & Ga" e "Minerarão Norte do Parana"'61• Ou seja, esttlb~lccc-se 0 que
g) Sào Fcancisco 200ha;
Porter chamou de ,cintegm[iio honZ,_onldr
h) Porto de Santa Helena 417ha + 4 mil m'.

Deve-se ressaltar que o contrato informava que todas as áreas encontravam-


se sem as benfeitorias, o que sugere que fossem economicamente inexploradas.
As terras eram sitund.is no munidpio de Foz do Iguaçu (à época Território Federal REGISTRO GER,IL,JCP 41200997274.
do Iguaçu). A empresa também possula as embarcações fluviais: Rebocador ,JCP cont"to, no 12.186 de l2/ouL/44; 12.459 de 18/01/45.

74 75
Pelo contrato de 1947:
Em 1946 funda-se a Rádio Sociedade Guaíracâ Ltda", os sócios coristas
serão Moysés Lupion (mdustriaQ, João Brasílio Ribas (comerciante), Aluizio a) Pedro Mhirno Lupion, ind, ingressa cotn 900 coras (455 adquiridas da
Antônio F'lnzctto (comerciante), Honorato Lupion Pereira Gomes, Mucillo Lupion Sociedade e 275 de Constantino dos Santos, 100 de F,bio Albuquerque
Gama, 50 de Máximo Pinheiro Lima, 20 de Oravio Ivan Lapalu);
Quadros (comerciante). O ramo da sociedade serâ 'l, explomfiio dos !trnfO! d, rádio-
b) David Wtlle Lupíon ingressa com 300 cotas (200 de Marcos Augusto
Jifasão nO.J /tmtO.J da I,gislafiio vigmu': com sede e foro em Curitiba-PR. O capital
Enrietti e 100 de Silas Pio~);
social será de quinhentos mil cruzeiros. sendo que os membros do Grupo Lupion
e) O novo catista Anísio Hermogencs Bartolomci ingre8sa coffi 500 cotas
·possuiria trezentos mil cruzcir~s e J~ào BrasíUo Ribas 150 cotas. ~á várias. (300 cotas adiquiridas de D. Anira Ribas, 140 de Cid Prince Paraná, .60
alterações contratuais, mas até 1950 membros da Grupo Lupion (Pedro·Mâximo de Alberto Manfrcdiru);
"Lupion, Honorato Lupion Percira,José Ubir2jar. Rolirn Lupion e Adélio Ramiro d) Dadas as alterações, a situação da Sociedade no que: tange aos sác~os
de Assis) sctiio propriet:\rios da maior parte do é:apiral social da empresa. Este será a seguinte:

fato pode ser demonstrado não apenas pelo capiral sacia~ mas também pelos • Anlsio Hermogencs Bartolomei, 500 cotas no valor de Cr$ 500.000,00;
1
cargos de direção que ocupam visto que; sendo a empresa Wministrada por lrú • David \Vtlle Lupion, 300 coras no valor de Cr$ 300.000,00;
Dinlom", os cargos serão assim dispostos: Diretor-Presidente: José Ubirajara • Pedro Máximo Lupion, 900 cotas no valor de Cr$ 900.000,00.

Lupion; Diretor-Superintendente: Adélia Rruniro de Assis. Deve-se ressaltar que A administração da Sociedade fic~ria a ca,rgo de AnÍsio Hcrmogenes
há expánsào e aumento do ,capital so'ciâl; em 1948 a Guairacá controlava uma Bartolomci {Gerente) e de Pedro Máximo Lupion (Assistente),
râdio cm Wencesl~u Braz e cm 1950 outra em Pir2í do Sul. No ano de 1949 registrou-se declaração Suplementar da Jnd,istria D,

No ano de 1946 consra a abertura da Indmtria Antonienst d, Papd S/A",


Mttais , Mad,irar Btnefiriadas Lida. IMABE Llda. 11 Com sede em Curitiba, seu
ramo de atividades era "Exploro;àr, da índ,lltria , romirdo de: mtlaiI t madtinu
colTl um capital social de oitenta e sete milhões de cruzeiros. dos quais Moysés 1
.benejir.iadaJ, mmpra e Penda de maUn'aü dl ronexo1 O seu capital social de um milhão
~

Lupion possufa cem mil cruzeiros, sendo adonâri~ com o mesmo capita~ também
de cruzcirôs estava dividido da seguinte (arma: Vasco da Gama Coelho industrial
a Mucller & Irmãos Ltcla., que possuía membros da fanúlia Lupion em sua direção. [200 mil]; Obras e Melboram_entos S/A (assinatura de Vasco da Gama) [200
No ano de 1947 aMaddras do Bmsil LJJa. 10 sofre as seguintes alterações de mil]; Imobiliária ComercialLtda (assina AyrtonJoào Cornelscn) [100 mil];
contrato: permanecem Anita Ribas, Cid Prince Paraná Qnd), Contantino Santos Joaquim Gans Vtllcla [100 mil]; Hans MõcUer [100 mil]; Grete MoeUer [100
(cotnerciário), na qualidade de catistas antigos e ingressam como catistas Pedro mil]";Joào Resch [100 mil]; Waldemar Maia [50 mil]; Vasco Coelho estudante
Máximo I:upion (ind), Anísio'Hermogenes Bartolomeí (bancário). [25 mil]; Arcésio Llma Filho [25 mil].
A ''Rádi. Ma/Itt,ns, Lida. "' foi aberta em 1946; na data de abertura de
firma o capital social era de noventa mil cruzeiros, sendo qu~ Murilo Lupion

" JCP R.,giitro Gemi no J f 2014940)9. Contr.1to de fundação 13.711 de 21/jul/1946 . .--\ltcnções '· " l JCP 18239.
contntuais: 14749 de 25/ nov/46, 'll, llins é c,tudantc e tem o m~mo endereço que Grete,
0 Registro Geral Microfi1mado 41300044376, Conccs~ão feita pdo Mini:ltério da V'taçio e Obr.u Pública!. Ver~ há inílubida de Assemblêiu
'» Por meio de contr.lito p:utku~c 12456 de 14/~io/47. V« sôcio:. hiuggi.Atti e Bittencourt no &tadua.is n~n concessão' posto p:uticipaçio familiarc;s e sócios de Ll!f)íon, & Cia. JCP contni.to
periodo cm que D. Anitt er.i. sôW. 15.177 em 17/03/47.

76 77
f 1

Ainda segundo o autor, mesmo quando «., ._,


_, fo?'nJa.I [ assumtam
• · ·.u. a
] t11111Hat:
Quadros e Estefania1'fatioski Buskei detinham vinte mil cruzeiros CCspccúvamente.
forma d, .wà,dad, anónima, esta enrobtia, em q,um toda, o, raso,, uma companhia d,propriedade
Esta rádio estava ligada a Buskei, deputado federal em 1947. da!an:í!ia" 71
A exceção era a constituiçào_de empresas' 5~ a participação de
Em 1951 os membros do Grupo Lupion apatecem vinculados a
M,ihorommlos S/A", empresa fundada cm 1947 que atua no ramo de "ú,nJlrllpÍo
familiares.
_ •

A esta, abordagem dada somamos


,
a cóns~ta -
l4l çao 1 ~ por
eanaane.,~
·, em
relaçao a funclaçao de empresas madeireiras no Norte do Paraná durante;. primeira
por ronla própria oli comirrio d, obra,, indJ1Jtriali'11fÕO compro , ,,,nJa d, materiai! rom/a/oI ,. · f.amili'ares na
metade do século XX. Segundo 'a. autora , a arti'culaç-ao d e gtµpos
e qua/qJJerolllrrJ ramo do romlrdo que Ou ronllUr'~ O sócios listados são: Mário Edllltdo fundação de empresas constitui-se, nas rl"í'Hões
.:,- de frontetra' , uma
· . d as m
· elh ores
de Barros,Joào Ayrton Cornelsen, Miguel Queiroz, Antônio Batista Ribas,José formas de emprego e arregimentação de capital,
Lupion (que ocupa o cargo de Secretário).
No ano de 1948 o Diário Oficial do Paraná registra a abertura c1a· firma nas_ o~ações tanto agócolas como industciais ou co~erciais-,do Norte do Paraná,
no infeto da colonização, é. o-fato de &ercm das constinúdaa pelds próptio! fiuniliarcs
Auto Comer-dai S / A 15 com sede cm -PlraI do Sul, sendo seu "ofdetiw ronllrdo de
ou par:entcs próximos.. ..-\s familias sio muito unidas em terras dd coloniza.ção recente
compra e venda dt au!IJmóveiJ, raminhõt!, ôkoi_ INbrijicanles, .!fUºlina, piplI e am:drioI e
_principalmente quando conm. com povoamento a~mvét de.imigrantes estrangeiros
artigos comlaâOnad01 e qualquer outro arlig, tk comlrrio qsu for conveniente na aodn/tft!Je.I ou des_cendentes, o que as benefiCU sob vicias ângulos: fon~ação de capital, a
da soCUdade O capital social nessa data ·é de um milhão de cruzdras; sendo.que os
1 '.
orgamzação do trabalho, a chefia da empresa, e outros. [-:] Os invent.icios cm
sódos,,Pedro . ~ º Lupion, David Wille Lupion possuem·45%. O Diretor- cârtórios da. região demonstraln sobejamente tal comportamento. (CANCL\N
Presidente é Jorge Queiroz .Netto - que tem participação nas rádios do Grupo. 1974:131-2) . '

Em 1952 a firma representa a Gen·eral Motors do Brnsil.-


I' Em 1949 firma-se o contrato da Rádio Ca,tro Uda". Seu capital social F A organização do trabalho dentro do grupo familiar leva tamb · •
"cspecializaçàd'. de alguns membros do grupo familiar. Por exemplo, pod::0 :
·'! então de trezentos e cinqüenta mil cruieiro_s. sendo que os Lupion possuem quase
,, perceber a partir da tabela 4 que as atividades de .....
--diodi·fu·8 ao 1cga da s
1 . . . - sao
-

r}
60%. Entre os sôcios encontram-~c José \%.idem.ar Fuskei [BusW?]; Lauro Grein
p~ncipa~c~t~ a Munlo .Lupion de Quadros, ou n~ caso -citado de Moysés
Filho; Dário de Macedo;Luís Prata Mestre; Eduardo José de Quadros; Ciro Novacs
vinculado m1cialmente ao cargo de Diretor Comercial da Pouallô & Lupion. O
Villela; Pedro Máximo Lupion;MuriloLupion de Quadros. Há :tlterações cm 1951, mesmo acontece com a ocupação dos ~argos diretivos em crhpresas de maior
mas os irmãos Lupion mantêm controle acionário. port_c _que recebem uma atenção especial, visto que David, Pedro e João Lupion
11
Em 1950 o Grupo adquire a Fábrita de Fd!farot Alwroda com s~de Pkal do part1ctpam de suas diretorias 79. Além clisto, havia tambémjoào Ayrton Co Is
r:·r-. 'rncen,
Sul; ramo de atividades: ''Indútlria e romirdo de fósfarot'~ sendo o capital sociàl de que azia a 1gaçao entre diversas empresas, sendo para isso ptoctltadorde algumas
três milhões de cruzeiros, todo c1e pertencente aos sócios_ David \Ville, Pedro cm nome do Grupo (caso da Dt ~1etai.J com a Mtllxmi11uttlOJ) que rcp,rescntavam
firmas que possuíam atividades relacionadas umas com as outra~ A p-ossibilidad~ ,
Máximo e José Lupion Júnior.

11 Registro Genal (l"llkrofi1me) 41300052310. DEAN, op. cit. p.128-9:


A '& .
n JCP Registro Genl (1ficmrnm,do) 41300042071. Caparttr Krctzen e de .contratos na JCP: llivid (Scm.f'W Ikunidas Santísi SA, Miner.1çaG de
1: _ rvio Norte do P11 r.i.na S.A.); PEDRO (1\linernção de Cuvão Norte do P.tt:anã S.A.. Iuidio
• JCP 'º""''º 18.733 10/11/49. .Ar:apongas Ltda.);João {Banco Meridional da Produç3o S..A.). '
11 JCP contr.i.to no 1915 10/05/50.
79
78
.:,,
-,·,)';'1
de ~e controlar as diversas empresas era 'bas~te mais prováv~ do que a de a exclusividade de exploração de uma grande quantidad~ de pinheiros que,
controlar administradores - há ainda outra· hipótese para o emprego desta somando-se a outns medidas por parte do Gmpo Úlpion, levatam tanto a Indústria
estratégia administrativa: o fato de não cxiscircm profissionais em número suficiente de Celulose de Cachoeirinha como a Faz~nda tforungava a serem muito
para exercerem a administração, a formação deles dependia em muito da dependentes. Segundo Vaz, o Grupo Lupion adquiriu os pinbeirais que cercavam
experiência em uma economia que se diversificava rapidamente. 1 a fábrica e também tinha um controle de quase toda vila que a margeava. Era 0

Dcan fornece ainda outros indicativos sobre interesses subjacentes a essas Grupo_ que cont:ruía estradas, contratàva m~di.cos e: emprd_gav:i_ boa .parte dos
uniões. A po~sibilidade de o Grupo acumular também um grande poder político trabalhàdores que trazia de outras localidades. A falta de infr:i-estruturn era um
visto que detém relações com vários outros ~f:np-rcsários - dentre _as quais. dos uimpedimentos" para que a Indústria de PapefArapoti e~plorasse ela própria
merece destaque a participação na direção e conselhos do Banco Meridional da os pinheiraís da Morungava que ficava longe da fábrica. Os lucros auferidos e
Produção S.A. (BAMERINDUS)"'. Essas ligações servem para potencializar o potenciais deste contrato foram responsáveis, segundo a av~liaçào de Benjamin
ingresso e a carreira política, a exemplo de Moysés que por duns v~es governa Mourão, pela diversificação dos· negócios do Gf1;1po 1...Jlplon. Este a:c~bou por' ·
o Paranf sendo também senador. adquirir urna fábrica de fósforos Ê,ara aproveitar ?s pinhdcos mais finos .. que
- É importante ressaltar que parte da expansão deste capital provavclment<: · ~traia, e, panlalemcntc, acabou por comprar essa matéria prima dc.outra5 serrarias
nasce em função dos investimentos. Segundo a documentação encontrada na próximas. Essa diversificação potenÇffilizava os lucros na mesma medida em que
JC~ 1, altera-se a razão social da A1. LJpio1t & Cia, .a qual passa a chamar-se a reduzia os desperdícios da empresa. Outro elemento importante no sucesso do
partir de 1945 Br11Jil, R,jlomlamenlo e Ce/,/km I.Jda-: CEWBRAS. Ó motivo da empreenduhênto foi o fato de o Grupo ter comptlldo todos·.;, pinheirais que
mudança de razào social não ~tá explicitado na documentação encontrada na cercavam a fábrica da Uniào,'assim garantindo acesso exclUS~yo à matéria prima.
JCP. Todavia, dadas as entrevistas de David e a obra de Vaz 1 é de se crer que a Como os contratos da firma não esclarecem a font~ do capital1 o que:
empresa consegue alcançar grandes lucros 3: partir da exploração dos pinhcirais suponho é que a própria lucratividade do. empreendimento tenha atraído
.
outros
da fazenda Morungava de propriedade da União. Segundo, Benjamin Mourão, empresários do setor madeireiro em uma integração cresc~tlte de empresas e
·perito do Banco do Brasil encarregado de fazer um lau~o sobre as empresas do fornecimento de créditos ao-Grupo l.Jpion que crescia rapidamente. Esta assettiva.
Grupo Lupion, havia um contrato "extremamente vantajôso" para estes que ~'por nos é sugerida a partir dc'Dem, que·aponta a facilitaçãÓ de creditas para o setor
cada melro Nibico de tora ou /a.,,as de la.,cas ;nlre/,U'1 d Indmtda de C,Mas, de Ca,hoeírinha, de manufaturas e em especifico para o papel. Tal é o grau de capitalização do
a firma L,,pion /em em Monmtava um pinhtiro ,m p,, no maio, atl o limite de 300 mil Grupo que em 1951 acabou por adquirir todo o patrimônio, isto ê, tanto a fazenda
pinheiros''. (VAZ, 1986:73) Morungavo quanto a fábrica de papel Esta aquisição scci posteriormente, bem
A fazenda Morungava e a referida fábrica. de papel eram' de propriedade como o contrato _que a firma tinha quando a fábrica e a fazenda pertenciam à
da União. As vantagens obtidas eram basbnte significatiws visto que o pinheiro União, segundo declara Vaz, objeto de grandes alusões S'obre corrupção e
era a madeira de maior peso no colnCrcio nacional. Por outro lado, foi garantida favorecimento ao Grupo. Por outro lado, havfa uma data poUtica por par.te do
~overno federal cm favorecer as ma.n~faturas cm substituiçio às impo~taçõcs.
E nesse contexto que se dá o crescimento dà CELUBR.A$ bein como das outras
1

empresas 'da familia, que crescem e se diversificam.


1 1 1:J Vide anexos: dois membros da direção do BAMER1NDUS pouuíam rebçõe;s com diversas No ano de 1942 David teria adquirido grandes quantidades de terra na
cmprCia.s do Grupo Lupion (Pedro Máximo Lupion e João A. Cocneben), regiões Oeste e Sudoeste do Paraná. Estas terras foram adquiridas em um contexto
11 Ficha cad.i.stnl 4t 2008879G7 JCP. extremamente favorável e a preços abafa:o do mercado, segundo Vaz. Além

80 SI .~
;',Í:
1
.-';,
sobre~ abertura ~e estradas na regiãou. Deve-se ressdtar-q~c O Grupo, segundo
disso, tiveram uma rápida valorização em deCorrência do início da construção de
entrevJstas de DaVld e Moysés Lupion, possuía máquinas destinadas exclusivamente
uma rodovia que ligaria a região de Cascavel e Foz dq Iguaçu à capital.
à abertura de estradas
• . ou recorriam à contrataMo · liza das - as
. r-- de firmas· espccrn
No que tange às décadas de 1930 a 1950 ressaltamos que o território do
modernas ·cmpre1tctras - para atender a seus interesses na aabcrrura de estradas
Estado passava por Gma rápida expansào de sua fronteira agrícola. Tanto o entre as .fazendas _e o porto adquirido e remodelado em F~z do Iguaçu.
.. .
Norte quanto o Oeste e Sudoeste do Estado pass~ram a integrar_o que no inído A utilização de máquinas próprias para a construção; de estradas era
, . uma
da Era Vargas se chamou. de "Corrida para o Oestcu. No caso do setor madeireiro, csttatcgta comum _entre as madeirei.tas na região Sudoeste e Qest~ do Paraná para
o Oeste e Sudoeste do Paraná constittúram-se em ..~cgiões mais importanteS (vide alcançarem
. ,
as reservas •florestais, segundo Lavalle. 1....cJ:
r -·tame~t ., nao
~ e, poccm - e.mm

_tabelas em anexo) para o setor em nível nacional no período. Ocorre qve nessa todas,,as ~presas que dispunham de capital suficiente para a cpmpra e manutenção
de,maqwnas
. pesadas
·~ e, tra!Bndo-se
. do perlodo da Segunda
_ G·u-~ bt • d·
~...,aoençaoe
região encontrava-se cm grande qua1{tidade a árvore de maio! importância para
maqwnas, caminhoes é combustível era basllUlte difícil e cli!pencliosa". Cancián
a exportação brasileira durante as décadas de 1940 e 1950. Some-se a isso, o fato
corrobora as cons~ções de Lavalle apontando que apenas as emptcsas de maior
de que esta era prova;cl~ente a- regiào de maior concenltação dC araucárias' em porte conseguiam manter vekulos de transporte, dada a diliculdade niio só em
todo'o' país -deve nohlr-se que essa espécie existia. cm pequenos focos no Norte obtê-los, mas. também dos combustíveis (embora a autora riào
se refira Deari 0
do Paraná estendendo-se até o Rio Grande do Sul A nova tcrritorializaçào do capital faz) e a dificuldade de se obter peças sobressalentes.. Estes elementos colocavam as
nessa regíào colocava e.'l:tcns'as áreas de florestàs economicamente apro_vcitáveis a um empresas detentoras de maior capital consideravelmente à frente das madcirciras e
custo relativamente baixo, uma vez .que os novos povoadores
11
preocupavam-se serrarias pequenas já_~e as ~odes empresas possuíam meios para manter oficinas

em ocupar as terras com plantios, o que exigia que o terreno fosse logo dcsmatado -
frotas de veículos de transporte etc. Cancián, em seu estu~o sobre uma fir~~
madeireira no Norte do Paraná 1 constata que as madekeicas lançaram mão de
prática semelhante~ ocorrid.'1 no Norte do Par:má, segundo Cancián.
vários pali~tivos para resolver o pr?blcma de obtenção de combustíveis, apontando·
Voltando à questão do Grupo Lupion, acreditamos que a opção em adquirir que a adaptação de motores para o uso do gasogênio tetia sido utna delas.
terras na região foi uma estratégia formulada a partir de conhecimentos que O Grupo Lupíon passará a explorar xisto betuminoso e ferro para a confccçiio
possuíam sobre a possível construção de vias de transportes. na região. Nossa por conta própria .de artefatos de metal Além da exploração de minérios que,
hipótese é a de que, dadas as relações muito próximas que o Grupo LJpion possuía · segundo Vaz, se inicia antes de 1945, a Grupo funda em 1949 a Indmllia D, Meiait,
com o interventor Manoel Ribas e o próprio caráter corpo~tivista dos primeiros, Madnivs Beneficiada, Uda., rcgistr>.da ha JCP na atividade de "exphra;,w da /ttmí,tria ,
a:mlnio de metaú e madtinu btnefiàadas1 rompra e venda dt maUriaú rontXOs"u. Esm
anos do G:>verno Vargàs, era provável que o setor madeireiro estivesse informado
cmpr~a, nas afirmações de Vaz e David, estaria ligada à ex~çào de minério de

> '~ l' 11 Quando nos referimos .1 "novos povoadores" queremo$ dizer que CS$a rcgiio nio se encontrava u Üti.t'"notll cm que llivid fala de negócio~ com Iubas ,-i em 1942. Ciru também relatório deilãdct
,,f
despovoada, pelo contrário. O:, vários conflitos: com popul11çõe:s indfgen"'5 rctntt.1da.s e por Lufa sobre .fund11çio de úlmara de Comércio com a partição d:a dtsse e do Govcrmdoc do E.mdo.
-,1' Carl~ Mottl entre outtos ou o genocldio ocorrido com a etnia Xetá no Norte do Parani bem
dcmomtrnm que e.xisti..im habitantes :mtigoi No que. se refere õl populaç~ intezlig:u:ias com " Segundo editorial Guetl 30/03/47, luvia 02quele ano i;io Bruil um dêfiÔt de 150.000 caminhões.
relações mercanti:; mnÍ$ amplas o exemplo d.ado por Wachowicz em "Obngccos, Mensus e
Colonos' 1 r~trata -:i. exi:stê:nci11 de importantes cntrcpostm de cxtraçao de m.1te rui regiio, sendo
que os tr.ib-alh:i.dores cr;un basicamente dc:scendc:nte:i de guarani! e c,2bodos.. O que se quer
:'~~o
u Sc~undo Kretun, pertence a M. Lupion & Cia.. Pelo contr.ito de constituiçio de fuma
regut,na.dona JCP os :sócios aão: da ~nu ~oelho; Obrrui e Mclhoumcotos (repttnntada
por\ ~co da G. ~.oclho); Imobilwa e Comcn:ial (rcp[C$cnta.da por João Ayrton Contcl!cn);
rcualt.u: é que a mud.1nça se d:í niio propíUITlcntc pela lnserç;io do Glpitnlismo cm um loul onde Joaquim G.1ns \ dlela; Han:; e Grete Mõller; J Resch; \'½ldem:1.t- Mal.1; A, Uma Filho
ertc era desconhecido, maj sim uma dínàmiC!l multo mo.is intcgrnda e me.rontili~da da:1 rebções (Dc:staando·se o ía.to de que Hans Mõellec foi do conselho fts0tl do' B11nesta.do no pcimcico
capitilis1:2S que se explicit1V11.m também em um :i.dcnsamcnto da co~centr.1.çio populaciannl. governo Moy:11és Lupion. (KRETZEN, p.145)),

82 83
'
1

forro em Gstro 'pam s,,prirafalta dt material dtvido aguemi''. A atividade de extração ou vendas de veículos, mas sim concessionárias autorizadas n~( capital e no interior
de minério de ferro certamente foi de suma importincia para o Grupo Lupion do Paraná. Há uma coacentraçào simultân_ea de facilidades em obter peças,
que pau1atinatllcnte se expandia para vários ramos do setor industrial madeireiro e, motores e veículos, bem como profissionais altamente treina4os e especializados.
devido à inexistência de indústria pesada no país, encontraria dificuldades para \ Vaz ilustra bem o significado das facilidades obtidas pelo Grj>po Lupion quando
expandir-se. A impossibilidade de importar algumas peças sobressalentes devido a se refere à importação ~ caminhões para o ttanspotte de ca~s para cumprir o
seu custo proporcionou o surgimento de pequenas metalúrgicas no Brasil, segundo contrato com a fábrica de papel em Arapoti.". Destacamos ta~bém que o Grupo
Dean. Quanto à obtenção de combustível via xisto, es~ era mais um dos paliativos tinha concessionárias de duas das maiores fábricas de automóveis e utilitários
encontrados pelos empresários nacionais para mover Suas máqWnas. Canci~ narra (especialmente canúnhões). Embora os dados levantados sobre a Importndora
um caso ocorrido no Norte do Paraná onde em virtude da inexistência de gasolina José Lupion sejam referentes aos anos 1951-52, é ~portante destacar também o
e cliescÍ. para movimentar seus caminhões, uma madeireira de médio porte acaba atuação no ramo de venda e distribuição de combustívds.:, Vaz-aponta que o
por adaptar sua frota de caminhões·ªº uso de gasogênio. Porém, cm virtude' da Grupo possuía uma rede de postos de cbmbúStíveis cfutribtiida porvácios ponibs
falta de uma oficina especializada, a madeireira acaba tendo que dispor de seus do Paraná represenundo a Go!f Oi/ Campan;"'.
funcionários para a con~trução de uma oficina o que, segundo a autcira, é feito com Em 1947, o Grupo Lupion funda a Obmu M,lhorommliJs Lida. que atua nas
relativo sucesso, visto que a frota de caminhões e automóveis continuou funcionando. atividades de ''Comlru[Ões, por conta própria otJ comirrio dt obra.J, indn1trializapio rompra
No caso do Grupo Lupion se dá o mesmo, com a diferença do montante do '
J 1 e tJlntía de materiai.J com/atos e qualquer 011/ro mmo de romlrda qut lhe' rottvier'! A hipótese
c;pi·ttl ciisPonível para investiment_o. Além do combu~Üvel para us~ próprio,.º aqui defendida é que esta empresa começa a surgir a partir de 1942 quando o
Grupo e.."{t:rai, industrializa e comercializa metaisi pata este fim,. abre cm Curitiba Grupo passa a atuar nas regiões Oeste e Sudoeste do Estado. As ligações da Obro,
Cua Metal Lpion &Ci'a Uda. que, segundo Krctzen, atua na atividade de ºcomércio e Mtlhoramenfos com as empresas do Grupo _nas atividades de colonizaçio e -
por atacado e a varejá de ferragens e outro arli.!f!I aJínenftI ao roma; ferro e aço em industrialização de madeiras estio de acordo com as estruturas montadas para a.
barra; /ouf11I e vídtos; anígVI dtntdria,; ímporlàçães e r,pmtnfa[Õd'. A existênóa desta loja colonização analisadas por \Vachowicz em uobrageroi, Mensui e CoWnor. a lmtória do
comercial favorece a venda do excedente produzido na minc.rnçào e pela. De MtfaiJ,· oeste'! Ao descrever as companhias colonizadoras que ituavam na rcgiào entre as
além de propiciar lucro, faculta também a compra em maior quantidade de materiais décadas de 1930 e 1950 o autor aponta que os fundadores dessas e~prcsas
que, caso não houvesse este comércio, t.eria de ser adquirido de terceiros. Deve-se adquiriam terras das obragt1- empresas extrativas de grande Porte que atuavam na
ressaltar ainda que as atividades desenvolvidas nas. firmas supracitadas facilitam extração e exportação de erva-mate em espécie-que estavam falidas e passavam
uma maior diversificação no sentido da importação e manutenção de :mtomôveis. a vender terras para familias de agricultores gaúchos e cat:adnenses. Antes dos
A estratégia competitiva do Grupo Lupion foi a fundação em 1946 da colonos, como eram conhecidos esses agricultores, estabelecerem-se os
Importadora José Lupion Ltda., atuando no ramo de "Importarão t romirrio dt
aulomóvei.I, caminhõa; molom e máq11ilfas em gtm/,/Jlftl{ t acutó~OI:nizyh'na t ókol' sendo
''Concmwnária Ford-Mmu,j'", e cm. 1948 da "Á/J/q Comerrial S. A•; ''ag!nda ChellrVkl
,mtonZfldd" 87 • É importante destacar o fato de o Grupo não deter apenas oficinas • Segundo V1n:, o Grupo Lupion chegou a importar auniohões dunntc a II Gucrn para manter as
atividades contrandas entre a Morungava e a Anpoti Essa. considcnç~o reílctc oi lucros
potenciais que o conlr.lto ao qunJ o perito BcnJllmin Mour¼o i:e referiu, c'omo íâ foi v~10, como
"extremamente vantajo::t0" p:i.ra o Grupo Lupion. ,~\Z, op. cit p.348,
" KRETZEN e JCP (grif~a meus). " Vaz faz c.an afirmativa, mas ício ÍICl cbro ~e ante! ou aflÓ:11 o tda,tôrio d~ Bi-=njamim Uourão.
• KRETZEN. (VAZ, op. cit. p.80)

84 85
proprietá"tios das companhias colonizadoras, que se esforçavam para retirar toda ~ão havia estradas~ carros. Neste sentido a entrada do Gru{'o Lupion de maneira
n. madeira de lei disponível nestes terrenos. o que., segundo \Vachowicz, nem mtcgrada na região constituiu-se em uma sólida estratégt'a c~mpetitiva.
. . A escoma
11- _

sempre era possível dada a rapidez com que eram vendidos os lotes ·aos da cxp~nsão do grupo para :ii região tomou-se tanto ~a.is segura dados 05
conhcCJ.rncntos de wn dos sócios da Obrar f Mtlhoramen/01, trata-se de Antônio
agricultores migrantes90• Da mesma forma que :iis companhias colonizadoras 1
Batista Ribas" • cujo seu procurador na empresa era José Lu~ion. Antônio Batista
adquiriam amplas extensões de terras de antigas obrages, atuará o Grupo Lupion,
Ribas, um dos principais acionistas, tinha sido Secretátio dos Negócios de Obtas
-que compra ns terras pertencentes ao obragero Domingos Barthe. As terras são
Públicas, Viação e Agricultura do Interventor Manoel Riba'.s no início dll década
adquiridas em 1942, quando David viaja para Atgenµna e ''compra lima propmdade
de 1940. Esta secretaria era responsável pelo Departamento ck Terras e Col~túta - 0
(3 JaZ!"das) da família da Sr. Domingo, Barth,. A propri,dack fica ,m Ca,a,v,/, é Cf{J11posta
do Esbldo do Paraná e no pctíodo cm que Antônio Batista Ribas esteve : 0
d, tris rndts áreas com 28.600 alqueiro, um milhão, oitamttos milpinbtiros. Aspropriedades
cargo. foi responsável pelo registro de todas as propriedades particulares existentes
cknominam-se São Domingo,, Piquiri, C,11tmlito d.A Paz''. (VAZ, 1986:64) na faixa de fronteira com Argentina e Paraguai (que se iniciava em Cascavel e
A aqllisiçâo ·dessas terras pelo Grupo Lupion oco'rreu quando ó valor estendia-se até Foz do Iguaçu)'1• Nesse sentido, se fios a.termoS as referidas
delas era, ainda baixo em comparação ao preço que alcançariam a partir da década proposições de Porter para análise -de estratégias competitiv:is, 0 sucesso do
de 1950. Segundo Wachowicz, a passagem destas terras de obrageros para em~r:endimcn_t~ estava consideravelmente garantido visto que, além de responder
companhias colonizadoras chegava a propiciar lucros superiores a 5.000% cm a vanas estrategtas competitivas, o Grupo contava também com O auxílio de
menos ds 19 ?nos. 4 par da venda do loteamento' e venda de t~7~nos para informações e da ação direta do Estado.
agricultores, o que mais interessava ao Grupo Lupion era a c....:ploraçà_o da madeira a
Deve-Se destacar ainda que Obra1 e MelhoramenlíJI e a: Im~biliáira e Comurial
_na 'região. Não obstante os obrngcros retirassem também madeira, as reservas (companhia colonizadora) foram sócias fondadoras da D,,M,tai,. A junção da
a.índa encontravam-se abundantes, um; vez que o maior interesse era o mate. Obmu Mdhommmtas(l947), a Indmtria/Mackinira da Paraná Uda. (1948) Imobiliária
Adernais, a e.'q)loraçào do pinheiro era 'muito pcqu;na, segundo os rdatos colhidos ' Camm,af, Indmtria D, Metai, , Mackiras Benefuiadas Lida. (1949) formava um
empreendimento colonizador madeireiro com wna integração bastante superior
por \Vachowicz. O maior impedimento, cohformc o autor, para a exploração
aos ca5os estudados por Wachowicz"' (o qu~ eqüivale dizer que os investimentos
mais int~nsa da t'?-adeira era -a inexistência de :'ias de transporte no interior das
obrnges, que tinham acus ramais de corriunicação limitados 'aos rios P~aná e
Iguaçu. O item transporte será, segundo as entrevistas colhidas por Wachowicz,
talvez o de maior peso nos primeiros anos das companhias coloniza.dor-as, já que 91
Em 195~ cr:i Diretor Superintendente: dn Jmoblliâria Comcrci:il S/AJ (Contr.i.tà JCPl8239 <la
De Met:us) . .

~ Citlir ~mbém que. ~t.ider foi prefeito nom~o de Foi <lo IgtHIÇU pelo Interventor Tourinho e
._ po1tenormente. ainda na déoda de 1930, ocupou o Departamento de Terns e foi secret.irio de
&~do, tendo. ligações com O Grupo Luplon por intermédio do Bamerindu."t Era d11 UDN que
" O nutor rc..ss:alt. que mesmo a.s colonizadorns contando com virias semeias com as quais
apotou Moyse:. em 1947. (vide WACHOWICZ, p,154). Citar tsmbém que O Grupo Lupion
cxportllv.lm madeira serrada paí<l os mcrci.do platino, nio conseguiam "vencer" r:apidez com que,
possuía negócios com a fanúlit. Ribu 1 cs:pecffico com t-.lanocl R.Jba$.
o:. lotes en1;m ocupado:.. Algttma:l tentavam retirar a madei.ra 2f!Ós os agricultores terem se
csttbdecido, o que não rarú causava conílítos. Deve-se nottr que a mata que ocupava as n O llUtQ[ aponta qu,e ,no CIW da cmprcn. que po:;sufa cstrutun orgmiia.cionnl mais pbncjada
pequenu propriedades causavam problema:. pan 011 colonw posto que e:.tes de1ej-avam a 'sua contando com admuustr.tdoCC$ com cxperiênàa anterior cm cololla.lç.lo (! auxilio de cmpr6timos
derru~d.l o mllis rápido possível par.t poderem inkw o pLrntio da terr:L (Wuhowicz). Quanto ex~e:m_os terem fiado sem apitai logo apôs a compra. das tcmi:s e C11Tlinhões tendo que, n~
à u~cln na derru_bada da mau ~cün cm seu estudo :i~nta que no ·Norte do Paraná rui.via pnmc.iros 11tw.1, depender exclw:iv:imentc da reccitl auferida da venda~ lotes ::i. colono:i - o que
o mcimo interesse porpirte prin-clpalménte dos pequenos proprietários que necessittv-am utilwr mlo era certamente o caso Grupo Lupion, que po$sUía uma série. de Jigaçõci com outros
.napi~eritc seu terreno. empreendimentos, inclu.s:ive com o apit::i.l fin2ncd.ro e multinacion11 lj, ·

86 87
; '

de capital eram bast1nte superiores .e mais complexos). No caso da Indilstriaf de papcL ~apelão e pasta mecânica contaria ·com a atenção Jpecial do governo
Maddmm do Pamná LMa., segundo Krel2en, seu capitil social era de Cr$ 26 milhões federal ate durante o governo JK, e que praticamente estava garantida a
e. atuava na atividade de IndJÍslria e romirdo de madtiras em J,tral Este montante de exclusividade• d~ mercado inte~no para a indústria papdeira nacionaL O Grupo
investimento era bastante alto, considerando-se o tamanho das mad~as nas Lupton posswa mrercs.ses nos trcs setores da indústria papeleira, isto é, na fubricação
décadas de 1940 ~ 1950 mesmo para Ós centros mais dinâmicos do Param\. A de paS_ta. mecânica, papelão e cclusosc. Por extensão, outro -:icgócio do Grupo
compreensão do porquê do "gigantismo" deste empreendimento (que contava a~abana sendo bencficiJ:do, o setor de imprensa,. dado que, ·segundo Raul V~ 0
entre seus sócios com v:irios outros empresários ma~eiros) provavelmente está Grupo incorpora o Jornal O Dia e a GaZfla do Po,o _ como a,matéria p"'- ~uaeo;
relacionada às instalações que Vaz e David \V. Lupion·;clatam que o Grupo possuía produto de maior peso neste ramo de atividades, a propricd~de de uma fábrica

em Foz do Iguaçu: um porto de grandes proporções para a época, além de de papel e a sociedade em outra não são cm nada desprezíveis no que se refere à
competitividade e lucratividade.
embarcações. Neste porto situava•se a maior serraria, que julgamos ser a Jndmtrial
Com aquisição da IndÚJ/ria, Bra,ilurar d, Pap,I Uda. da fazenda M~rungava,
Madtireira d(! Pamnâ, que contava com maquínârio moderno e exportava via Foz
o Grupo Lup10n toma vulto e se diversifica. Segun_do David e Vaz. essa transação
do Iguaçu ditetamcnte para os países platinas, o que, segundo a bibliografia, ·
causa~ ~astante polêmica e será o segundo flanco do Grupo (depois das
constituía uma vantagem cm rdaçào à madeira exportada para .esses mercados
negoc1açocs com terras) a sofrer denúncias de irregularidades. QÚando adviewn
por Paranagui
as denúncias. e processos por corrupção a fábrica de papel; que se chamava
O Grupo Lupion irá, entre os anos de 1949 e 1951, atingir o seu máximo
IBIUPEL sct1a confiscada pelo ,governo federal.
em diversificação e integraçào no que tange à indu:trialização da madeira. Se alé ·
então atuava na serragem e produção de tábuas e vigas, agora passa a atuar no 3.2 os GRUPOS DE INTERESSE E HEGEMONIA POLÍTICA: AÇAO
ramo de fabricação de papel, papelão e pasta de celulose (em 1949 Moysés Lupion ESTATAL E EMPRESARIAL DE MEMBROS DO GRUPO LUPION
torna-se acionista da Indústria Antoniense de Papel Ltda. a qual";tua na ''produfào
e romim·o de pasta mtcânica, relulose, paptlão, pâptl e den'vadnt; explora;ão t mmircio dt
1
madumI; exp!orafiio al[léola), além da fabricaç.io de fósforos mediante a aquisição ~.\ interação politica- "jogo do poder'' - é regulamentado estritamente. mais do
em 1949 da Fábri<a d, F&faror Alvoroda; que exerce a atividade de lndUitria, comlrrio que o jogo do mercado. Um sistema poUtico comiste, cm easfucia, nu~ sistema. de
dtfdsfaros. No ano de 1951 talvez'• aquisição de maior vulto, a Jnd,í,/ria, Bnuikúm regras que espedficam os diferentes papéis a serem dcscajcpcnhados _ 0
do
d, Papel Uda. em uma negociação_ cm que "a jimt11 comprou da Sup,rinúndincia da, Presidente da República, Deputado, ou do cidadão comum, por exemplo. Imlicam
Empresas inm,porodas ao Patrim6niD Nacional, o a:mo_da Cia. lndJís/ria, Brasileiras d, quem pod~ exercer cada funçio, de que modo as pessoas devem ser escolhidas
Pap,/, avaliado ,m SS milbõu d, cruzfiros, paro o pnfO glabal d, Cri 58.293.000,00 par.i os diferentes papeis, bem como o que é permitido ou ~r~ibido a cada ator".
(LINDBLOM, p.41. grifos do auto,). .
(Cri 11.658.600,00 ,m dinh,iro, o mtu,m bipolua)''. Esses novos ramos de atividades
possuem dois méritosprimordiais. Primeiro, o total aproveitamento do mRterial
"O Paraná não necessita de empréstimos. mas de financiamentos" para a
-visto que com a fabricação cÍe fósforos aproveitava os pinheiros de menor espessura
construção de estradas de rodagcns, para o controle das produção madeireira,
e com a fabricação de pasta mecânica utilizava restos de várias madeiras, bem como
pata o financiamentos às classes produtoras attavés do Banco do Brasil,
lascas de toras, o que,.. significava um aproveitamento quase total das reservas para a constru~o de moinhos de trigo, usin.as de café, de carvão, do porto q.e
adquiridas. Outro elemento importante foi que, ao adquirir essas novas unidades, o Antonina, pana criação do Conselho Regional do Tabalho e de Coletotias Federais,
Gr~po passa atua; segundo Vannucchi, no ramo do setor tecnologicamente mais além da transferênci:a dos bens do territôcio do Iguaçu". (CODATO, 1991:71, ,pud
avança<l:o e de.maior demanda no mercado interno.A autora apoota que a fabricação Gaz. do Povo 30/07 / 47 grifos nos,os)

88 89
Para desenvolvermos este item utilizaremos principalmente dos conceitos
demogmfico devido à eipansào da fronteira agdcola, 0 que si~aova, em termos
elaborados por Lindblom o qual se preocupa em compreender ucomo transcorre
administrativos, um inédito crescimento da burocracia estatal 1ocal (municipaQ e
o processo de decisão política"'H. A perspectiva da obra orienta-se a partir de
estadual Neste sentido a qualificação dos funcionários ~ de fundamental
autores como Adam Smith e Maquiavel sendo que ôs principais anátemas de suas
importância. ImlMduos que possuíssem, além de qualificação técnica, ligações
análise encontram-se em Estados de ccoti.omia planificadas e não dcmocráticos"5•
com grupos politicos- conseguiriam acesso facilitado a boas p'~sições dentro do
Paralelamente a esta abordagem utilizaremos tiunbém dos conceitos de Pecissinotto 96
~tado • No caso dos indivíduos aqui analisados (membros <;!e farn11ias com as
s6brc a forma que se cli a ascCilsào de uma fração, de classe ao poder.
q-~~ ,º~ Lupion ~aiam-se), além de sua situação socioeconÇrn.ica lhes guantir
No que se refere l1 formação do Grupo Lupion, acreditamos que ~sta deva pnvilegms, P:ettenaam a tradicionais ocupantes de carg_os pUblicos _ caso da
ser clivididá em duas esferas interdependentes. Inici.lmente, a construção da fortuna familia Rolim, com quem se ligou Moysés, a qual se eievo:u à prefeitura de
~o acúmulo de capitais seriam facilitados pelas ligações dos Lupion com membros Jaguadava por várias legislaturas consecutivas. '
da familias possuidoras·de tCl'rn como Rolim e·Borba; simultaneuncnte'seriam É imporbnte destacar que os membros desse grupo social possufutn saberes
também facilitados pelas sociedades com emprcsádos do seta~ madeireiro coino bastimte relevantes tantu da esfera pública quanto pnv'ada, mas' e• no exercldo
· do
PosSatio, Sguário, Coelho e talvcz_Fíotillo). Pouco depois iniciam-se relações do serviço público que tais saberes secio cons~s. O que estamÔs tentando dizer é
Gn:ipo Lupion, isto é, de empresas nas quais a ru,t'eçào cabia aos ·~oysés com o q~e, n~s~ período em que o Estado do Paraná estiva sendo rrin'wntado, e, portanto
Intcvcntor
. ,
lvfnnoel Ribas e outros membros de sua .·família. O crescimento do nao CXlSttam tecnocratas expetimentado~ os conhecimentos s·Pbre determinada
Grupo não teve nada de excepcional dadas as considerações efetuadas sobre o área eram por demais necessários. Entrava-se em um período d~ "moderniza ~0 u
~scimento geral do setorindustrfa,I madeireiro, principalmente durante o período 'aliz'd
e raaon açao o Estado. ça
da Segunda Guerra. Posteriormente o setor madeitciro terá uma forte presença Cabe salientar que se defende que os elementos supncitados são inlmambúweiI
·na direção do aparelho estatal, elemento este que favoreceu particularmente o ~ mutuamente intm:on1tilllúkr no decorrer do processo de formação do Grupo, isto
sucesso empresarial do Grupo. e, o momento de acesso a apiWs ou a matérias primds _ via casamentos, acesso a
Anteriormente fizemos notar que as ocupações dos Lupion aliadas à apitais e qualificação técnica - ê o P,róprio momento cm qµe se estabelecem
formação técnica de alguns dos m~mbros da familia, constituíram em um elemento ~cla~à~ sociais e :°~ti~s; o co~hecimcnto de várias atividades n6 seloride serviços,
importante no que se refere à. capacitação administrativa; acreditamos que, mdus•trt~ e comercio e tam~m clctnento constituidor de relações políticas e
guardadas as devidas· especificidades, o mesmo vale pn.ra o setor público. Nas econonucas - como, por exemplo, o contato com setores da economia e do
décadas de 1930 a 1950, o Paraná passava pot um período de rápido crescimento Estado que facilitariatn empréstimos. Em nossa interpretação, -n constituição do
1, Grupo L~~ion só foi pc\:sfvel com a conjunção de todos esses elementos.
. In~calmehte abordaremos os vínculos dos Lupion cd,m O Interventor
Manoel Ribas e membros de sua familia. Segundo entrevista de David Wille

•• Llndblom, p.8,
Lupion, os encontros entre Moysés e o Interventot eram freqüentes desde 942 Í
\; , devido a negócios em comum, pois ? Grupo possuía uma serciiria nas ter-tas do
n "Em principio, um sistema democritico poderia extinguir toda a propriedade priv;a,da do~ meios
de produçio, estabelecendo cm seu lugar u!U sistema produtivo dirigido pelo governo. É notivcl
que ncnhum11 naç20 dcmoccitica j11mai:; o tenha renhido." (Lindblom p.11} "Por nzõe:i ainda
aio perf~t.lmentc compreendidas, nenhufIHl democrtcia nacional j~maís :::e consolidou exceto " Os índices de ~ n:i..lfabc turno
· · · que massificou
·,
er:1m altos, a C!Cola publica, a. formaç.io de
cm sociedades com :iistcm:a de mercado, base11.do n:1 emprcn pciV".lda. Atê ho,C, a economia de
tnbalhadorc.s, a111da nio nascera de fato e os colégios do que hoie scrtll o ensino médio crun
mero.do de livre cmprcs.r., parece ser um requisito d:i. dcmocn1.cin". (LlNDBLOM, id. p.65)
poucos: e, n11 maioCU., pArticulares.

90
91
Interventor!:17, Nesse mesmo ano (1942) o Grupo Lupio~ adquire gra~des
' em 1932 será Diretor do Departamento de Terras e'Colonização (DTq
1
- d e ,,._,, do Paraná e Su-r,!ário doí N,góào, da Fazenda e'Obnu Públi= em dois
e..""ttensoes o-· Oeste _ tema a que aos refcnmos com matares
,....u.a. na reo-i~o
períodos 02/01/35-08/Q,5Í35 e 31/12/35-13/10/36"'· Mader foi,
detalhes em outro ponto deste trabalho. No ono de 1945, Raul Vaz, que teve
juntamente com Moysés iupion um dos fundâdtj~es do Bamerindus
vários negócios com Moysé.s Lupion, ocupará o carg~ no governo .Ribas
em 1943 (em 1951 é diretor-presidente e João Lupion Ftlho vice)"'·
, trabalhando QO IAPC<n. Os negócios entre o Grupo Lup1on e º.º~ pessoas
...... se espalharam por v,\cios ramos de at1V1dades:
, dns ao governo · cs tad""I
liga Dentre esses nomes destacamos Oton Mader e Antonio Batista Ribas. No
caso de Mader é importante ressalt:ir que os augo,·pelos quaü, de pa,sou ducante
• Segundo contrnto da Imporiadora ]os! L,,pi,on e 0a Uda. em, alteração em' as interventorias de Tour.inho e Ribas possibilitaram-lhe um co~hccimento fecundo
1943 teci
como um dos sócios Itaciario lvfarcondes Ribas (que em sobre a região Oeste do Estado 1114 • No ca.so de AntoniÓ Batista Ribas, os
1950 aparece no conselho fucol do Bamerindus)". . ·conhecimen-tos que possuú. contribuiriam de forma det~~ante para a ação'
Serraria, fuunidar Santúi Uda. da qual foi encontrndo apenas um registro empresarial do Grupo Lupion no final da década de 1940 n9 Oeste, para onde a
naJCP-PR oriundo daJCP-SP de 1 l/jun./43 no qual Joaquim Braga dos parccla mais dinâmica do setor madeireito· mígrá - esta região ·abrangia a maior·
Santos Ribas aparece como procurador desta em Ponta Gr~ssa (o concentrnçào de pinheiro-do-Paraná. Nossa hipótese é que a' ligação empresarial
- propnetat:10
. , . e, o pauli su Antenor Santisi) · Ocorre que tanto Vaz quanto
, entre o Grupo Lupion e os Ribas tenha facilitado a aquisição das fazendas São
Kretzen (no ano de 1951) sus,tentam que esta empresa P:rtencera ao Domingos, Piquici, Centralito eLa Pa, totalizando 28.600 alqueires com um milhão
Grupo Lupion. A hipôtése é que o Grupo Lupion tenha tncorpocado e ~itocentos mil pinheiros 103• Nossa hipótese tem origem no fia~ de que essas terras,
segundo Vaze David W. Lupion, ~ antigas obrag,, faliilai (ou abandonadas) com
,0 controle acionário da empresn; · ..
• A Rádio Somdade G11ain11>Í Uda., fundada em 21/juL/1946, tem entre impostos atrasados; não é diflcil supor qm; possuindo negócios cm comum, tanto
os Lupion como os lübas se auxiliassem mutuamente com a intenção de .adquirir
seus sócios catistas lvloysés Lupion cJo~o Ilr,.sllio Ribas;
terras com menores custos e empecilhos burocráticos passive~. ·
Melhoramentos S/ A, de 1947, com contrato de abertura de firma do
mesmo ano, tem Antônlo Batista Ribas entre seus sócios~ .
A Madeiras dtJ Bnuil LJda. sofre altecação de contrnto em 14/maio/47
na qual entra a sócia D. Anita Ribas (viúva de Manoel Ribas)'~;
w "Reb.tório apresentado 110 Excdentí~imo Senhor M11nod Ribas dignhsim~ Interventor Fcdc.m.l no
• Cabe ainda a referência que Od1on Madcr foi o primeiro pre~1to a .~:1r E,tado do l'.Jaml, pelo Secrctino dos Negócios da l'i=nda e Obru Públias Othon M,de," p5.
llomeado para Paz do Iguaçu após a Revolução _de 30 no . arana '
m VAZ e Kretzen. p.378 e p.460.
· ' prcC1Sam
com mtmto · · ente de 1•nacionalizar" a regtào; postenormente.
lf,j l\.bdcr foi entre 1930-45 Secrctârio de &tido da Fazenda.. de Obr.uPúblicu e ·v12çio e Prefeito
de~~~- .•

te! Lldmnça da UDN1 Mãdc.r era fiU10 de segunda ger.açio de imigrantes, sendo que rui. mk pertenccn
- d p '1 01 77 p 10 Sfal[· cntrcvata
· Davi'd Will e l .upmn.
· C:1bc notu que Hmocl a tradicionais funilw de comerciantes de erv:a de Curitiba.. Sua tafctôria politia inicu-se com a
7
' Gaz.et:i. o OVOJ. • · • c1·, d Revolµç3.o de 1930, na qual Cum dos expocntet no Paraná. Em 193 t, por indícaçio do lntc-cventot
.
Ríbas governou o p 11rana, uc ., 1932 a 194S - como interventor , .de 1!132-35, por ClÇ o o
Tourinho a.mune a prefcituna de Fo:z: do Iguaçu com o objetivo, ,egundo W..cho\lna, de "ru.cionaliiar
Congresso ,L.,Ct':,..,.a
• .;,1 ,·
'"º de 35·37 e como interventor de 1937 a JllllCLCO de 45. a fronteira"; posteriormente a eslc ctrgo no governo de Manod Iübas, Uftlme por nom~o o
"GazetadoPovo31.0l.77p. 10, cugo de Diretor do Dcparbmrnto de Tc-rr.u e Cokmizaç:io do Parm:í <;lo qual 1e ~onera pua
'11 KRETZEN, op. cit p.3 78. auumir o posto de Se:cretirio do, Negócios da Faun-da e Obras Pública 'entre 0201.35-08.05.35
e, após a perm:mência de um interino. 31.1235-13.10.35. Eimportan!t. rdW.tuquc Mader possui
i.:o No contnto 12456 de 14/maio/47 enco~tndo na JCP apuccc qualificada como "'a villv.1 i n ~ cm comum com o Grupo Luplori tanto na esfera privada (ocupa.a presidência do Banco
D. Anita Ribas". lhmerindu, entre 1951-2 quando o Vice-Pie$idente d Joio Lupion F'ilho). Pan.lcàmcn':- a c:,sc
,. \'VACHOWICZ, p.141. negócio Madet era IISioci:Jdo de uma CDrnJnnhia colonizu:lot.L

92 93
Cremos que nossa hipótese pode se tornar mais plausível se levarmos em
-tomadas em outras esferas-ou no boicote a elas. Não obstan~' o que desejamos
consideração \'(lachowicz, segundo o qual o DTC, comandado por dois anos por
Antonio _Batista Ilibas, foi responsável nesse período por um levantamehto de v destacar é o poderio desses funcionários que, muitas vezes~ adentravam cm
todas as propriedades particulares existentes na faixa de fronteira com Argentina atividades nas quais eram os primei.tos a atuar - caso que se cv~enciµã no DTC.
e Paraguai (que se iniciava cm Cascavel e estendia-se até Foz do Iguaçu). Este Nesse sentido, achamos importante esta consideração de Llnd~lom: "os a11aliJtaJ,
levantamento ocorreu no conte."(t0 da Marcha paro o Oeste, e na época havia um e afpe.ssaa.I que tem uma capacidaát anallti&a tsp,àal, mnstimem rada vez #tais uma eiilt dentro
discurso que se preocupava cm "nacionalizar" a região fronteiriça_ que estaria sendo dos sisllmtUpollticos currtmiporánees. Eúú qJ1e Jr torna trticentmm,te ronspima, à mulida que
ocupada por paraguaios e argentinos. Nomes ligad9s a famílias tradicionais do opmtígio da anJ/úe cmct roma rompltxidadt llcnka do promro d, dtdiilo polltica modtrno •:
Estado ocupando cargos públicos não serão apenas característicos.de funçÔes de (LINDBLOM, 1981:29)
postos decisór~os de primeiro escalão, segurido Oliveira. Assim, os indivíduos a Sobre a "experiência., corno justificativa para defesa de uma dada política,
ocuparem os cargos crÍâdos a partir de vários outros postos serão tamb~m apontamos um dos itens da carta-prognma da UDN em 1946 para as eleições.
melllbros - talvez menos favoreddos - de ao-tiga~ classes dominantes e alguns Segundo Codalo"', alguns itens da carta tinham como justificativa precisamente
membros de segunda geração de imigrantes europeus. Aceitlndo esta i::onsidcraçào, a exp~riência de Othon Mader nos vários ca~os que ocupou:
citamos aqui alguns nomes encontrad.os no relatório Rivaclávia de lvfucedo' 06:
Revisão e codifiaçfo da legisbçào tenitoriaL Intensificação da colonização oficial.
• Arnaldo Macedo: coletor de impostos da capital;
Facilidades adminiattativas para a compr.t e legitimação de terras. ·Garantias
• ·s-alv.idor Rolim Borba: Guarda de 1.ª ClasSc na t:• Inspetoria Regional
para as poMeS mansas e pacificas de 10 anôs. ·Garanfus efctiv.ts ,para a propriedade
de Paranaguá Secretaria da Fazenda;
rural Esrimülo ao parcdamcntos progCC3sivo das grandes prop~ades. f<acilidades à
• Em Jaguariahr.i: João Marques Ribas e Pacifico Frederico Zatar: Guarda imigração nacionalecstnlllgdra (COD.\TQ 1981:47-8 apúd UDN 1946,grifos nosssos)
de t.• Classe da .Secretaria da Fazenda.

Os nomes supracitados seguramente fazem parte de importantes familias Os exemplos que dcmonstrnm a presença de membros pertencentes às classe

terra tenentes do Paraná (como os. ?via cedo, Rolim Borba, lvfarques Ribas; 09 caso dominantes dentro do aparato tecnocrático estatal não indicam que o Estado autua

do sobrenome Zatar encontramos membros de sua família envolvidos no ramo'


apenas como um auxili_ar do setor privado, as regras são bastinte mais comple~ o
funcionário público submete-se a uma série de regras funclamenttlm~nte diferentes
madeireiro, comercial de bancário). Embora este le~nbmento seja por demais
do setor privado e, mesmo que se fosse o contrário, a pressão dos diferentes grupos
preliminar, optamos por apresentá-lo poiSt a partir de nossas pesquisas,
de interesse não permitiria uma atuação unidirecional do Esi.do.
consideramos que esses quadros do fundonalismo público poderiam possuir
Não obstante a complexidade· e relativa autonomia, o processo decis6rio
ampla margem de ação dentro do Estad~ no que se-:cfere à aplicação de diretrizes
poÜtico não pode ocorrer apenas tendo em vista uma j{análisch das melhores
políticas a seguir para cada setor, oµ, de modo mais evidente, pano bem comum'.
Como toda ação do Estado se dá a partir da interação (no sentido de indivíduos
.,. "Relatório apresentado ~o Excelentíssimo Senhor Manoel Rlbu digrussimo lntct:vcntor Fedcnl atuarem simult2ine.tmente em um mesmo espaço, mas não no senti.do de buscarem
no Estado do Par:má, pelo Secretário dos Negócios da f¼z.cnda e Obru.a: Públic:is Riv:i.divia de
M.1.cedo-Exerdcios de 1931, 1932 e 1° scm~ttcdc 1933." p.13 (as páginas não estão numendu),
Os nomes citados pertencem provavdmcnte a· ram0$ "menos favotttidos .. de diferentes farnilus.
A famJlli. Zat.u pO:iSub madeireinu cm Gu:irapUav.l. e Teitdn Soares rut décad:1 de 1950, tendo
~mbém um membro do consdho fi:Jcal do fünco Comercial do Parmâ (KRETZEN ibid. p.385).
"' CODATO, ibid. p.47-8.

94
95
a mesmo fim) uma visão imparcial que contcO:tasse a todos é irrealizável. Ou seja, Nesse sentido é que aprofundamos nossas hipóteses !obre a ins - d
· divfd li , . . en;ao e
é impossível tomar decisões políticas a partir someritc da visão resultante de uma m uos g.dos ao Grupo
.
Lupmn no aparelh o. burocrattco
, . ·. do Estado, Até o
análise neutra devido aos seguintes fatores: presente momento apontamos apehas indíd d li,_ ~ · ·
. os . e ~-çao ~trc o mterventor
'i Manoel Ribas e o Grupo Lupion, lig.,;ào essa que no peclodo de 1946--51 . . •
1. é falível, e as pessoas sabem disso; ' · d · . assutrurn
aracteristtca e cumplicidade
• de interesses. A P.<U.~
•• ,:. das coas eraçoes ·efetuadas
icl' -

2 não pode resolver completamecite os conflitos a resp.eito de valores e interesses; i por Codato e Vaz, alem de algumas entrevistas publicadas ·od· ·
3~ ê por demais lenta e custosa;
• ~- no pen o aqw tratado
4. não pode tÍ4/tr!1ftÍtar, d, mo&, rond1uiw, quaú 01 p~bÍtmaI que pmiram nr abordadat
'
1 e na década de 1970, abordaremos rapidamente a articulaça· oqu 1
.
,M •
', e evara oyses
Lupton ao governo do Paraná. · ·
(LINDBLOM 1981:20) (grifos nossos). ·
! Moysés Lupion chegará ao Executivo pelo PSD (Partido Sbcial Dem
. parti'do que nasce · ' 1
=~
'~ '
'
Essas considerações são a base para a cotnpreensào da 2lteraçio no modç,
de gerir o Estado ocorrida a partir de~ 930. Especificamente queremos nos referir
ao fato de que mudanças na eéonomia afeta.mm profundamente parte da classe ~oh a lide.rança dos intc';cn_l~r_e!,_reuniodo_prefeitos (todhe nomeados pelo
econômica dirige~te possibilitando a ascensão-de uma nova fração do blocO de interventor), membros de administração cstadw.l e outras fo .
, •. , rças que apouavam
poder, que passou também a influenciar os rumos da ação do Estado.,No Par.a~á o governo, como propr1eta11os. rura.is, industriais, comerciwtes funci ..
públicos etc. • onartos
ps grandes produtores de mate foram, paulatinamente mas de forma irrevogáveL •i
[...] Esse procé.sso de constituição partidária t · • d. :_t · d .. ~ ,
afastndos~do domínio ·pâlitico e· econômico no Estado. Dentro de um proêtss0 cm, Jll e .uucto, tu.s con5equenaas:
contraditócio de disputa'política e consenso, a &ação associach ao setor madeireiro o PSD comparece :is eleições de 2 de dezembro de 1945 na' conª'·' d . .
tid , ...,.,.,..o e untco
industrial chega ao podc.r e passa.tá a orientar o Estado rumo a seus interesses. O par o que dispõe de diretórios em todos os municípios do B sil· . . d
lid , ra , mats atn a,
conflito entre os dois grupos será evidenciado nas primeiras eleições nas quais o t c~nso . a-se a forçado diretório rcgionai pois é a p1t.rtir dd;:, que se formam 05
grupo ligado ao setor madeireiro se apresenta, na figura de Moysés Lupion, como cliretót:10s municipais, e é ainda a p:utir dela que se c~rutitui d diretório regi :ú
(CODATO, 1991:59-60) on ·
~epresentante da modernização mediante a ação de um hlllilllir man o que até
então, segundo o discurso, seria .inédito no Paraná. Os adversários de Lupion
serio por sua Véz caracterizados de oügarcas, representantes do atraso e corruptos. No caso do Panná não será diferente. Após a qu~da de'Rib.s, devido áo
O que queremos salientar é que·essas acusações não eram meramente discursos contexto• no qual todos os interventores abandonam os execu~M · J...duais,,
uvv;,; esw
• • • •
lll.(CJarn~

opor~nistas de campanha. A mudanÇa nas diretrizes eh orientação econôm.ica se as arucufações para a criação do PSD e P1B (Partido Trabalhi,m B. ·" . ' _ e _ -
fun , nl!illeJ.r0/1 aulUU3
do Paraná ocorreu cm meio a disputa entre duas frações da classe dirigente. Partindo dados sob tutela de Ribas,
. . sendo que o PSD s•'"' ....... fundado e tera' nos pnme1tos
. .
deste pressuposto é que adotar;nos a posição de Llndblom segundo o qual, para a. ' ano~ sua sede em um ediílao no qual funcionava a administração Central do Grupo
compreensão do· processo decisório: ~pro~ Desde ~e .momento, os irmãos. Lupion entram etn conta~o com lideranças
ta~ua1s. e nact~nats do Partido. Transcrevemos aqui um trecho da entrevista de
. é preciso entendera onctcdstic:as dos participantes, os papéis que desempenham, David Wille Lup1on - irmão de Moysés e um dos fundadores do G rupo
. Lu pton-
.
.
a autoridade ~ os outros pode~ que detêm, como li~ uns com os outros e se que retram de forma clara esses f.ltos. Segundo David, em 1945
controlam mutuamente. Das muitlls diferentes modalidades de participantes [.. ,}:
os cidadãos comuns, os lideres dos grupos de interesse,. os legis~dorcs, os Estava em marcha uma articulaça.o - de cwdid atos e .Moyscs
, ofereceu
, wna sala no
lideres· legislativos, ativistas de partidos, nugistrados, servidores públicos, nosso escritório Para "S eu" Ribas
· tosta.lar
· o PSD. Nossa firma comerchtl5C tornou
técnicos e homens de negócios. (LINDBLOÍI[ 1981:8-9 grifos nossos) então um centro d e VI.si
· ·us e poulicos
1: • • ·
pots a com a grande sala ~upada J><:lo PSD

96 97
Onde ~taV'.1. inst:tlado Manoel Ribas, a roma tia era freqüente. Vinhrun sempre políticos n wna conúnuidade. Segundo Peri.ssinnotto, o uso de recursos c'conôtnicos estatais
nacionais como .--\maral Peixoto, Oswaldo Anuúta e Nercu Ramos.[..J.1'fa.noel Rilns de forma privilegiada. a "confusào entre público e privado", pode ser considerado
comcçm•a a falar do PTB e logo êste era fundado tendo como presidente Muiminio eftilo pertinmtt no que se refere à ação do setor vinculad~ à lavoura, Estas
Zanon e como primeiro secretácio4-\bílio Souza Naves, ambos amigos. Souza Naves considerações estão aqui coloca~ por estarmos n~s rcmeterldo à forma Como
era nosso conhecido através de Raul Vaz com o qual trabalhava no IA.PC A morte de eram-privilegiados os negócios privados tanto na distribuição ~e verbas públicas
l\Ianoel llibas alguns meses depois muito nos chocou. No próprio guardamento quanto no interior do poder público estatal (poder de fato:na-quc se refereJ
começou a pressão sobre Moysés par.t aceiura presidência do PSD. Não havia outro
. ' .

princip2lmente, aos munidpios de menor porte ou de formação .recente).


caminho a não seraceitllr. f.-J Falava-se muito em seu nome pa.n conconcr às eleições Elencamos a seguir alguns dos cargos ocupados, desde o ~to de posse
governamentais, mas enquanto no PSD outras amdidahlras se tram2vam o PTB do novo governador, cujos membros estavam de alguma :forma ligados ao
resolveu se antecipar aos fatos e lançou-o ao governo."(G.-\ZETA DO POVO, 31 ·Grupo Lupion:
;w./1977, p.10)
EXECUTIVO
A articulação do grupo que funda o PSD pa;a ·companha eleitoral se
mostrará em diversas formas, entre elas a compra de jornais e emissoras de rádios, - Oswaldo Queiroz'Guúnaries: Nomeado na posse de Moysés Ofidal d,
aquisições essas que contribuem também para a formação do Grupo Lupion. Gabin,te Civif" também foi chefe de gabinete do governador;
Podemos citar O Dia de Curitiba, ComiodlJ PanmJ de Londrina'" e a Ródin S od<Jad,
- Saul Lupion de Quadros: :t-lomeado na posse Ofidai,rk Gabin,te Gvif"
GuaimrJ Lida. de Curitiba"'. também foi chefe de gabinete de Moysés Lupion 11 ';.
- Assim que assurhc a direçàci do Executivo estadual são nomeados membros
- Raul Vaz: na posse de Lupion, nomeado "Dire/Qr }!D De.partamtttlo dt
do Grupo como assessores e secretários de Estado-prática comum na República
M11niàpalidad,I'"'; 1ºPresidente do Tribunal de Contas do Esrndo (1947);
Velhn (nepotismo)_- Este é um dado importante uma vez que o PSD tinha entre
1° Secr. PTB cm· 47; cm 1949 Semtário d, Jusfifr,
seus membros muitos "coron!iJ" send_o a "confusão,. entre público e privado
- Angelo Ferraria: Nomeado por Moysés Lupion prefeito de Curitiba
caracteristic"a marcante da ação deste Partido. Além disso, a historiografia sobre a
no ato de posse de Lupion em 1947 114, Sem/Jrio do.r N,górúu da Faztnda
República Velha afirma que o bloco de podet não possuía divergências profundas,
, Obras Públirar.(1948-50) 115, cm 1951 era membrn·do conselho fisco!
havendo uma constante alteraç~o apenas_ quando os Chefes dos Executivos
do Barnerindus 116;
estaduais mudavarrí- o maior prêmio ,precisamente em o uso do aparelho estatal,
pois o grupo que se adonava do poder tendia a locuplct>.r-sc na direção do Estado.
Consideramos que hábitos anteriores no processo eleitoral democrático tendiam
1
'° Gazeta do Povo 7 /02/TT Coluna "JO anos de Histôria Política no Par.mi" de Emir Sfair. (p.12)
111
Gazeta. do Povo 7 /02/TT id
'" ln: Gv.el> do Povo 14/03/47 p.Oú.
. ll'l CODATO, p.24 :i partir de Diirio da T:m1e 4/3/46 p.1.
111
G:ueta do Povo 7/02/n id.
IOf JCP registro geral no 31201494039. Segundo Vaz, a lüdio Gu2irard chegou~ controlar sci:I
outns ~mis 1mns no interior do Paraná. Como não fora,m cncontu.dos os regutms de todas iu Gazeta do Povo 7/02/77 Coluna "30 anos de. História Politia no Paranâ1! de Emir Sfair. (p. 12)
essas empresas na Junta. Comercial do Paraná, optamos em consultar Kretzen, o qual regi:ltn 1
• SECRETARIA DAS FINANÇAS DO ESTADO DO PAMNA, 1894-1982. Rd,çuo do.,
que Chcde e Vaz entm diretores do }?mal O Dia, de r,ropriedadc. de V:u - poste~rm~tt:
Secrctiriog de Eatado de Finanças.
incorpor.tdo pelo Grupo Lupíon -, a rádio ser-ide propncdade de. membros da famíllll Lupton
1
e Joio Bmllio Rfüu. (KRETZEN íbid. p.286) • KRETZEN, p.460.

98 99
- Rivadavia de Macedo: Semlário /UJ! Ntgéa'ot da Fozenda e Obras Ptiblkat "O,p,mtnto"(1949-51), "Obmt p,iblil.,;' (1951)"'. fotelc que fez o laudo
entre 1931, 1932 e 1° semestre de 1933, presidente Banestado 02/03/ que possibilitou o financiamento ao Grupo LupiÇ}n pelo Banco do
36-23/03/48117 ; Brasil cm 1945;
- Arcésio Correia Llma: Presidente Banestado 23/03/48-24/02/51; - Rivadavia B, Vargas (UDN): João Lupion casa-se com Luzita Vatgas,
- Hcrmôgcncs Bartolomei: Presidente Bancstado 26/02/51.08/03/51; irmã de Rivadavia"'): 2° Secretário da Gmara Legislativa Estadual em
- Benjamin de Andrade Mourão~ Nomeado na posse de Moysés Lupion
11
S ,mlán'o G,rul d, Viação, Obras Públkas' • Deputado Estadual Constituinte
1948; 4º Secretário da Câmara da Mesa da Assembléia,Constituinte·
'

membro da "Camittào d, FinanfllU O,p,mento"(l949-5i); "Comittào d, O/mu


.
pelo PRP (segundo Vaz foi perito rcsponsá\iel cm fazer um laudo i;,ara o p,íb.icauamn1nica;õt1'(1949-51);Stmtário d, V:ap;;,, Obra, Públiaucrn 1953123;
Banco do Brasil' que possibilitando o empréstimos ,o Grupo Lupion); - Avelino Vieira: (UDN) Deputado Estadual Constituinte em 1947; um dos
- Presidentes do Banestado: Rivadávia de Macedo (02/03/36-23/03/48), fundadores do Bamerindus juntamentn_com Mol"'é.; Lupion cm 1943;
- Guataçara Borba Carneiro: Prmiknlt da Mua da Comi.não Exea11iva da 1
Aogdo Ferraria Lopes (1948-50), Arcésio Correià Lima (23/03/48-24/
Cimam da Ammbllia úgítlaiiva Etta!Íllal (1948); Cdmít1ão d, Finanfl1J ,
02/51), Hermôgenes Bartolomci (26/02/51-08/03/51);
Orp,m,nto (1949-51)"'.

LEGISLATIVO Inicialmente julgamos necessário apontar qU1ís são os cargos que os


membros do Grupo ocupam, senão vejamos:
- Jóio Chede: Liderança do PSD, um dos articub.dorCS da canclidarura - Dois Secretários de Estado: Raul Vaz Stm!ário d, Jmtip cm 1949 e
de Moysés para g~vernador. l'midentt da Ammbllia Canstituinte &tad,,al Benjamim Mourão S,mtário d, Viafào t Obrnt 1',íblicat cm 1947;
de 47; foi indicado por M. Lupion parn ser presidente da Assembléia · - Dois deputados n• Camít,ão de ObnJJ pública, , romimÍrofÕt!'. Benjamim
Lcgislativn 119; . Mourão em 1948 e Rivadavia B. Vargas 1949-1951;
- Júlio Buskei (PRP): Eleito 3° Secretário Assembléia Estadual Constituinte - Trcs membros na ComÍ!tilo d, Finanflltt Orp,mtnlo entre 1949-51; Rivadavia
46; Em 1948 será eleito suplente de Secretário da Comissão Executiva B. Vargas; Guataçara Borba Carncito; Benjamin de ,Andrade Mourão;
da Câmara 110; - Alétn desses cargos, outros que se .revelaram de grande rdcvânda cómo o
- Benjamin de Andrade Mourão (PRP): Entre 1947-51 foi deputado D,partam,nto de M,,nicipa/iJadet e o Gabinti, Cm/, que posoibilitam um trânsito
estadual por suplencia. Participou das seguintes comissões na Assembléia: especial entre difcrcntcs autoridades tanto do setor público como ptivado;
"Obras, Transportu , Comunicaçõu"(l 948), "Orramento"(l 948), - Quatro presidentes do Banestado: Rivadavià de Macedo (02/03/36-
23/03/48), Arcésio Correia Lima (23/03/48-24/02/51), Herm6genes
Bartolomei (26/02/51-08/03/51);

111 VARGAS, T. Breve memória do funestado. Curitiba:. B::mesctado 1996,


r.t ln: Gcn11.logia Par.macnes, v. 1, p.446.
'" GdP. 7 /02/77, Sfaír p.12.
11t Gazctl do Povo 14.02.77 Coluna "30 ano~ de H~tóriA Política no Paran~" de Emir Síair (121 p.) t!l VAZ, p.25.

Sfair entrevista Chedc. *" fn: Gcnalogia Pat:1n2cnc::s, v, 1, p.450.


'° Hist. Polh.k.a da MScmbl. Legiilativa do PR. \~2 COSTA, Samuel Guímadc:1 da. Assembléia l?I Vick Llndblon, ver também Moudo e Macedo paa csw comisroc::r. ln::GcruJ~ Paranacnd
Logi,la. PR 1995 p573-81), V. 1.

100 101
Embora não tenhamos eferuado uma ahruise sobre o desempenho de cada consideração já notória na historiogrnfià, qual seja, de que os q~dros dirigentes das
um dos ocupantes cm relação à função de cada um destes cargos - dados os elites empresariais tendiam a ocupar, simultaneamente, várias posições nas entidades
limites deste trabalho-, partimos da hipótese de que, em períodos nos quais niio há de chisse; fato que no Paraná se repete na politica e adminisÍràção do Estado"'.
uma oposição aprofundada entre os diferentes partidos ou entre os diferentes Nesse sentido, defendemos que o corriqueiro era que'·a L.cgislativ~ desse
pcdercs_, os projetos de Lei tendem a set aprovados a partir dos pareceres das seguimento às politicas implementadas pelo Executivo, pois este dispunha de
comissões legislativas, e este é precisamente o caso dos primeiros anos do governo maiores possibilidades de apresentar análisuque justificassem 2s políticas uma vez
Lupíon. Segundo Guimarães e Codato, as disputas entre os dois partidos irão se que este possuía todo o corpo de tecnocratas a seu serviço :para elaboração de
definir após 1948 devido, entre outros faros, às cleiçõt,s municipais"'. projetos. Cabe notar que os cargos ''de confiança" eram csc~dos por critérios
Sobre os postos ocupados no Legislativo, h~ ainda um dado_ a ser lembrado: polltico-partidàrios; tendo cm vista a coligação UDN-PSD-PTB, as diferenças de
a legislatura de 1947 foi também Constituinte. Nessa legislatura os partidos nos conteúdo eram pequenas - poré~ cotno já nos referimos, u~a análise que negue
quais há-membros que possuem ligação com o Grupo Lupion constituirão ampfa ou comprove efetivamente essas hipóteses somente seriam poS!fveis se analisados
maioria na Assembléia - as 37 cadeiras estarão assim distribuídas: PSD co~ 16, documentos rcferentés ao tema. As pesquisas de Codato e Ôswaldo Guirn~ràes
UDN (União Democrática Nacional) 7, PTll C, e PRP (Partido da Representação da Costa não se .referem a tramitação de leis ou a. ação das comissões dentro d:a
Popular) 2 É iinportante notar que, cxcetmmdo~sc o PIB, encontramos ligações Asscmbl~ia, _limitam•sc a apoilt.'lr ocorrências pontuais de conflitos, exceto no que
com o Grupo Lupion cm todos esses partidos (tema a ser desenvolvido cm se refere a disputa por cargos nas prefeituras e secretarias. pt4ldpalmentc entre a
capítulo seguinte). Mesmo considerando potenciais divergências politicGs UDN e o PSD. Cabe ressaltar, e o mais'importantc_ ainda. C}uc o ~onscnso UDN~PSD
devia-se também aos interesses comuns do ponto de vista idêotógico (dado que
conjllnturais, o Grupo tinha. ligado a si uma bancada de seis deputados.
ambos compunham o bloco de poder no sCntido de que cra.tn 05 industriais ou
No que se refere ao politico da UDN (Rivadavia Vargas), devemos lembrar
grandes fazendeiros e corncrdantcs do Paraná) 118•
ainda que se trata de um Sócio do Bamccindus, além de parente próximo de João
Lupion Filho e que, por outro 12,do, também possuia relações econômicas com o Se conjugarmos esses cargos com as posições des~es indivíduos nas
Grupo por me.ia do Barneóndus no qual era Diretot Em 1950 Othon Mader era empresas e seu ramo de atuação, teremos um;lntima relação ehtre os dois setores
presidente e João Lupion Filho, vicc06 (val~ lcmbtar também que no mesmo (estatal e privado). Os componentes do Grupo Lupion estarão no múúmo ~ais
peciodo Madcr era um dos dirigentes da UDN no Paraná). Retornamos aqui uma bem informados que os outros cinprcsários restantes, pois participam da definição
e fiscalização de políticas a serem implementadas nà~ apenas em sua respectiva
área de interesse particular, ma~ também nas adjacentes. Um exemplo deste
interesse foi a promessa de Moysés Lupion, no ato de posse.; de tentar junto ao
l!J COSTA, O. G. Wl. p.362-70 rcl:it2. que dll>puw se daw~ em torno de cargos ma:i nào cm to roo de
projetos vot2dos. A coligllÇ2o PSD-UDN-PTB, embora tenha posruido filsc:1 de turbulências, governo federal que o catgo de· Dírctor de Ferrovias no Partná passasse a ser
somente encontrará seu fim cm 1948 com as eleições municip:ai:.. Cabe not:ir ainda que nas
Secrctiuias havi:l, no menos no llno de 1947, doia nome, da UDN. Segundo o autor, 11s maiores
divcrgcnctlll $e davam principalmente no interior do PSD e não no que se refere à al.ianç:t. O PSD
tlisput2.Vll principalmente alguns c:ug0$ de primeiro esalio como ll &crebm da Fiu:end2, ocupada
pclo major Paula Soares da UDN {COSTA p.370). E t2mbêm Codato. "A ambigüidadc e a
m C~DATO: No ~ue aereforca um proícto de opOsiçào a c:.tas elitct,cmbora não seja cs.qc ::isl>l.lnto
complairutdc polltica reinante a nivd nacional logo após a Uuttlação da Constituinte, e que se
ob1c~ aqui ::inafuado, nlo acrcdit:i.mos iscr poss(vel. O únko p::irtido ~ pc:riodo que poderia
rewmc no fato da UDN e PSD tentarem impor limitt:t à ubcrtura <lcmocrâtica, ao mesmo tempo
possutc um quadro progaunâtico diferenciado, o PCB, possula apeou ~m depondo C:Jt2dw.l,
que disrutem rcfo[mas sOC.Ws" fez sentir.se na UDN e PSD p::innaense (CODAro ibid p.31). sendo que o partido h::iviA apoiado f-.loytês na dd~o de 1946. :
" KRETZEN, p.386. " COD.\TO, p.47-8.

102 IOJ
desperta mlliorcs atenções por parte das autoridades mun.ici~ais. O maior cuidado
escolhido pelo governo estadual. Existe acesso a informações privilegiadas e
do governo municipal em relação a essa indústria revela~sc· não só por meio dos
principalmente ao planejamento estatal p~ vários ramos que dizem respeito ao
impostos, ma:i também de acordes, em que a mútua. cooperação permite maior
setor madeireiro (como vi.as de rodagem que possuiria um órgão especifico sob '-J-

grau de desenvolvimento a essa região. (O maior exemplos: da cooperação entre


direção de Benjamim Mourão, criado por Moysés Lupion já no ato de posse etc).
as madeireiras e as :autoridades municipais citado pela_aut~o se refere a] maior
No que se refere ao controle das comissões de Obras Públicas e Viação
ou menor contríbuiçi\O, quanto 20 cuidado e melhoramentri daS vias de rodagem
da Assembléin. e de sua Secretaria de Estado, a consideração a ser feita se refere que dão acc,so 2 diferentes locais e aos estabelecimentos ind,ustriais madeirdros".
ao problema crônico de falta de estradas de rodage~ no Paraná sen.do, portanto, (LUZ, 1980:265)
vital poder se determinar a direção em que estas sCriam construidas, vis,to que,
seguramenté., demandas de diferentes gntpos de interesse não poderiam ser Ainda segundo a autora, um dos maiores gastôs que as madeireiras tinham
atendidas simultaneamente. O que queremos salientar é que se tr:atav~ sempre de no período era justamente aquele ligado aos transportes e, em 1949, a prefeitura
uma diSputa sob a forma de se orientar a ação política do Esrado, como deixa de Guarapuava irá criar um imposto a incidir sobre as_ madeireiras, cujo fim
bem clara a crítica a Moysés Lupion efetuada por Kretzen na.introdução de seu exclusivo seria a :ibtrturn e a mattutenç~o das· vias de transpo~tc - certiunente, o
livro, segundo .o qual seu governo foi marcado "pelo J~U exrhuivismo naliviJta problema mais sério enfrentado pelas madeircicas 119•
J11/paranaenu,ficava fam dt .reli alcance 11m rompnendimmto petfliW da situaçJa econômica do Pelo que pudemos perceber a instalação da madeireira signific'ava, cm
futado. É/e deveria rh~r a uma 1intue, rottlentamlo o 111/ t dD norte. Ma1 !/e tsfarp11Nt para vários sentidos, a ttnilorializarão e <rpacia/iZflfÕº do c~píllli de forma diferenciada
que O• dohrz'nio tÍ() poder po/flit:O •do Estado ·ro~/jmu O ti/ar rom OJ' paranatnst.I Jo 111/'~ daquela do agricultor por vários fatores. Inicialmente as madeireiras do período
(KRETZEN, 1951:X) eram uitinerantes" visto que acompanhavam as estradas e, prin~palrncnte, seguiam
Tanto a situação do Oeste (onde, segundo Wachowisk, as...madeiras não os maiores bosques de pinheiro;. Dados os problemas referentes à mão-de-
conseguiam ser escoadas por terra) quanto do Norte (que nào po.ssuía uma estrada obra, e as distâncias dos centros urbanos - com infra-estrutura de comércio,
de rodagem que levasse a uma ligação segura com Paranaguá) era!11 critia.s no oficinas, hospitais etc. - as madeireiras de maior porte tendiam a instalar-se com
que se refere às vias de rodagem. Não obstante, coma tentamos de:i:xar claro no todo um aparato que garantisse o seu melhor funcionamento.
texto, não se trata aqui de uma critica ao domlnio de: um grupo re:gional, antes Quando nos referimos à ftrrrilariliz.afiio estamos nos remetendo à instabçào
sim de um bloco de poder que, por ter uma foição hcgemônica no controle do em um determinado espaço do território, por exemplo, cm uma região de um
Estado, dominava os rumos do planejamento establl. Ao. lado disso, queremos município do Sudoeste paranaense que possu:a as característiq1s necc.ssáci2s para
esclarecer que não acreditamos que o aparelho estatal era um mero instrumento o bom funcionamento das serrarias (corte e, em alguma medida o beneficiamento
nas mãos de um grupo de empresários - em absoluto queremos deixar claro que ou transformação da madeira em pranchõcs, caixas, celulose, 'papel etc.).Ocorre
''' isto não nos parece po_ssívcl. O que há é uma ação mais forte de um grupo de que. devido às circunstâncias históricas, havia a necessidade de uma fiscalização
interesse que consegue que suas demandas sejam atendidas prioritariamente por rígida do espaço que garantisse o maior controle possível da área (ou seu
diferentes esferas do poder estatal em seus diferentes rúveis. Um exemplo a ser
citado é O caso de Guarapuava que, entre o fim da década dC 1940 e o início da
seguinte, se torna O maior centro madeireiro do Paraná. Dada a pujança desse r., LUZ, Cirlci Francisca. p.264. fut:1. é maior unanimkb.de de todaj " teses que estudamos sobre
setor, a ação do município volta para a otimização de suas atividades. Segundo o setor m.adcirciro, cm qucWls do ~ctor ervatciro (por melo da ACP). Preocupações quanto a
t,:ansportcs por tem (ferrovias e estradas) tunbêm .ipa;reccm cm Kxcraen, nos discursos do1
Cirlci Francisca Luz, a indústria madeireira
Governadores LuplOn e Bento etc.

104 105
monopólio de uso). A esse controle, a essa disciplinarizaçào do espaço, chamamos Oeste e Sudoeste paranacnse rev~te~se: da mística da cnt.Zaka, com destaque
de t!padalizafiia. Como já dissemos, a região Sudoeste do Paraná em a que mais para os indivíduos que a icio liderar, em suma, pan o Estado ,'e pnra o bloco de
concentrava pinheiros e, além disso, exercia grande atração sobre migrantes gaúchos poder dirigente. No Par~á, o exemplo mais significativo na seara política, além
e cat:uinenscs. Estes migrantes, caso tivessem o controle da madeira existente nas de Moysés Lupion (wha vez que estudamos um Grupo do. qunl ele um dos_
rerras que ndquh:iam, se tomariam como fornecedores, concorrentes das madeireiras 130• maiores acionistas), seria ~thon :Mâder.
A posse da terra é entendida como propdedadc mcrcantilizad:1. 1 não no A introdução .deste subítC.m no texto ocorreu devido às tcferêndas
seu valor de uso, uma vez que, retirada a madeira, as madeireiras - salvo atuassem encontradas nas diferen~~ leituras efetuadas cm relação ao c~ntro1c do ~cesso
também como colonizãdoras - não teriam mais intiresscs nas áreas. A questão da à terrl!, o qual tem sido um dos e.feito! pertz'nentes no que se refi~te à identifica.çào
apropriação das terras do Oeste paranaense é de grande relevância para o da ação política do bloco de poder no Estado. Alertamos que nos limitamos
desenvolvimento do setor inadcírciro paranaensc e. como não poderia deixar de a seguir a bibliografia consultada, obras de Ruy Christovam Wachowícz e Iria
set, para o Grupo empresarial em questão. ~anoni ·Gomesm, que não analisam. fatc;;S importantesj a. ,'exemplo da CPI
installrãda na Câmara Federal em 1958 e da composição de capital das
companhias colonizadoras.
4. O PROBLElv!A DAS TERRAS NO OESTE PARANAENSE, Ulv!A
Para melhor situarmos nossas reflexões faremos uma br~ sintcse sobre 0
ANÁLISE DE DISPUTA ENTRE AVES DE RAPINA
histôtico de posse da terras no interior no Paraná. Brasil Pirilieiro Machado ao
tra·tâ.t do tema, salienta que os primeiros a ''ocuparem"~- região dos CampoI Ge~ 0
Não obstante a força dos elemen~os e relações supracitadns, é necessário fizeram a. ~artir da concessão de sesmarias efetuadas pela Câmara de Vereança. de
que abordemos tatnbém uma ·outra questão no que tange a história da nova São Paulo no início do :1....VIII. Segundo o autor, essas concessões possuíam
territorialidade do Oeste e Sudoeste do Paraná durante o período de expansão inicialmente, caclter especulativo visto que grandes porções de terras eram registrada:
do Grupo Lupion para a rcgíào; trata-se das motivações ideológicas dadas pela sem que houvesse qualquer atividade descttVOlvida. Posteriormente com O avanço
llk1rtba. para o ot.1/t durante o governo Vargas. Certamente essa ideologia foi um das i'rwtr~_ parn as terras forun novamente divididas entre membros originários
elemento importante na motiv-ação e ação da fração política que tinha seus interesses de familias fazendeiras de curiubanos e/ou paulistas"'. No sé~lo XIX a venci, e
vinculados à região, porém não apenas do bloco dirigente., mas da grande especulação com tctta.s cohtinuarnm sehdo um negócio importa~te para as classes
o:putaliva na soci,dad,"'. Os indivíduos que pacticiparam da Revolução de 1930 do~tes no Paraná. Um exemplo deste fenômeno ê apresenta~ por Oljveira ao
no Paraná tinham uma grande preocupação quanto à região fronteiriça, e dentro se rcfertr ao presidente de província Lamenha Lins que,, ao implementar O

da ideologia autoritária que predominou no Estado Novo, competia precisamente assentamento de familias de imigrantes europeus nos arredores de Curitiba, privilegia

às cUtcs que fizeram a Revolução dar cabo do problema. A "ocupação" do terras do grupo polltico n o ~ ~ tentativa de se controlar e obter rendimentos

lll Embora ha 1'adi . ~·eo rdi nc1a


• de'mterprc1a.,.os
.4 ob rc.o futocnttccstcuutotcs- cspcrullmeenteno
o:, Segundo Porter, fornecedor~ devem ser tll.ffibém con:.íder:ido:i " 'concorrentes' podendo ter que se rcfc~ a açio dot cotonos (ou pouciroi, o que é uma diícrcnciaçlo importante)- m18·
maior ou menor importinct:I, dependendo du circun,tind:is particubre,;." (PORTER. p.24). ponto:.1 de Vl$t:a rouco dcoo:am no que se rc:fc-rc: :à ação du: companh~$ coloniuclof'Qs e de :SCU
m Porter 8c refere :ao fato de ei:le ser um dos dcmcntos maú importantes pan. análiic d:i.s c~volvimento lidcrançat poUticu estadua~. ,
111
estratégias competitivas. MACHADO, Druil Pínheiro.

106 107
por meio do monop?lio de acesso a terras teci outro episódio notório no início Segundo Codato, as propostas da catta se basearun J, larga experiência
do século XX. quando membros do bloco de poder se envolverão com a concessão de Othon Mider no Sudoeste, a partir dos vários cargos públi~os que ocupou de
de terras para a Brasil Railway construtora de ferrovias. 1932 a 1935. ·

Segundo \Vachowicz, dado que a empresa nào cumpriu o contato, as terras Essa defesa ocorre em oposição a ação da União, que ~ediante a C4NGO
passaram a ser administradas por membros da oligarquia no poder. Porém, com (Colonizadora Gener.il Osório) efetuava uma colonização tolalmcnte estatal da

advento da Revolução de 1930, o fotcrventorTourinho baixa um decreto que torna região em disputa 136• Além deste elemento, Gomes e Wac~wicz. apresentam
algumas carncteristicas da colonização implcmeOtada pela CANGO que conflituava
inválidas tais concessões e transfere as terras à União. Assim que as leis de exceção
tanto dos interesses da Pinho e Ternuquanto da ·CITILl: as ter~ eram doadas às
são afrouxadas, no fim do Estado Novo, inicia·sruma disputa em tomO dessas
famílias de Colonos; havia reservas de arnucária as quais eraoi Submetidas a um
terras envolvendo interesses representados pela UDN e PSD estaduais e a l.Jniãorn,
controle rígido, dificultando a retirada rápida da madeira. Nào obstante suas
A disputa pelas terras ocorrerá, na regi.ão, entre duas companhias de
dévergências, recordamos que estes pa_rtidos_ eram bastantes ciosos de, seus
colonização, a C1TTLA (Clevclânclia Comercial Ltda.), que posswa ligações com o
interesses, corno constata \Vachowicz, ao apontar que a CANGO tem suas verbas
PSD, e a Companhia Pinho e Tmu.r, que tinha vínculos com a UDN po.r intermédio
bloqueadas pela ação de grupos de interesse que atuavam no Congresso Nacionnlm.
de Miider. Além da disputa entre as companhlas, havia uma disputa com a União,
Entre CITTL\ e Pinho e Terras, há o que Llndblom cbatll2 d~ inlm1ção, na qual
que reclamava o direito de colonizar a região visto que esta enconttava•se na Hfaixa
de frOnteira". Os conflitos entre as duas empresas irão se acirrar nos anos de 19~8-
as pessoa! se controlam mutuamente. muit2S vezes sem pretef1der fazê-lo, sem ter
50 devido à ocorrência de grilos envolvendo a ação.destas empreiteiras (e de outras
consciêriciâ disso.:. [A interação muitas vezes) "intcrfcrecon:1 a impie·~Cntação
menores). No final de seu governo, Lupion utiliza-se do poder estatal para favorecer_
de políticas, como acontece -quando indivlduos provd;cam conflitos ou
a CITTL\; o mesmo faz Bento Munhoz da Rocha (governador eleito pela UDN)
distúrbios ou contornam as leis" [mas, principalmente]: "por~ mesma a interação
que inviabiliza o funcionamento da CrrTLA. favorecendo a Pinho e Tem.J.t 13• as vezes pode servir para resolver ou atenuar problemas; estabelece politicae;
Não obstante essas disputas, há uma caractcóstica que une os dois grupos, abre uma. alternativa para a análise, como processo de solllção de problemas
sendo esta a que mais nos interessa: ambas defendiam a colonização .da região ' e de decisão das pollticas a seguir. (LINDBLOM 1981:25-6)
implementada por urna associaçào entre capital privado e o governo paranaense,
medida também defendida pela UDN crn 1946 e consta, cm linhas gerais, da A ação das empresas por meio (e fora) dos partidos e a ação destes dentro
carta que lançam em apoio à c:lndidatura de Lupion: uRtmao e rodiftta;ão da da esfera policica foram os responsáveis pelo encaminhamento de\nna dada solução
kgi,larão tmitorial Intensificação da colonização ofidal. Facilidades ~ ~ problema da colonização do Sudoeste e Oeste do Paraná: emprego da o
administrativas para a compra e legitimação de terras. Gamntias para as truaattva pnvada na colonização apoiada pdo setor pUblico. Um exemplo concreto
pa,m mantas , padjícat d, 1O·ano,. Garantias efetiva,pam a propri,dade mml &timulo desta relação nos é dada por Oswaldo Guimarics da Cost2 (chefe de gabinete
ao pamlamenlot prngmtivo das grandet pr,ipri,dadet. Farilidadet à imitJ'ação narional , de Moysês Lupion), segundo o qual os deputados exerciam a função de
ttlrang,ira''. (COD.\TO 1991:47-8, grifos nossos)

,. WACHOWICZ, 1985:183.
n, Estas terns e:.tavnm situ:ims nos sertões do Piquui. e Jguaçu, loc:ii:s: das maiorei1 reserva.! de
pínho-do-Parnn;i. À êpoo. httvia um12 reserva_ de 2pro~imad:imentc 3.000.000 de pinheiros, m WACHOWii::z;, 1985:199, Rdembl'21ll08 que Othon Made.r (UDN) fui ie~ador no período cm
Wachówicz.: 1985:199. que Moysés foi governador e que este, por ·sua vez, ao abandon:u o governo do Pan:m.í 2$sumfr.í
uma cadeira no :senado fedcul.
"'WACHOWICZ, 1985:191-2.

108 109
procuradores ele colonizadoras nos corredores do Departamento de Geografia, . '
Retomando às posições defendidas por Lindblom ;. . .
Terras e Colonização do Oeste do Paraná (OGTC) e do Departamento . , . , . _ - .sem.o na rruuona dos-
casos os funcionanos publicas e técnicos de umn ' d c_L ·
Admirustrativ~ do Oeste (no qual coube atuar nas terras do extinto Território . - area a e1u~em as linhas <los
ptoJetos a serem transformados em decisões políti O ·
Federal do lguaç\1) 138 • Podemos nos referir ainda ao grande número de cas. autor aponta que:
iu.egu)aridadcs e às violências ocorridas no processo de colonização desta região,
os quais, embora ues,tourem" em 1957~ já começam a aparecer na década de 19401~9• os analistas, e as peSsoas que têm wnacapacidade arnill•;,.,, -~:_, .
. .,,_ csp~, constttuem cad.i
Em nosso entendimento o setor indristrial ffiadcireiro lutou de forma vez.matS uma elite dentro dos 5 i,temaspoUtico 11 contempo • i Eli
raneos. te que se torna
mais aguerrida contra a CANGO por ter comprceng.ido que, caso a ocupação da crescentemente corupicua., à medida que O prestí . d 'li
• . gio a am se cresce com a
área fosse cOlocada apenas sob o controle do Esta.do, os col!=inos forneceriam complextdade técru~ do p~so de dc.iliào politica modero~ [...) Essa elite dos
madeira para as madeireiras com wn maior n1vet. de autonomia do que se fosse que pos5uem conhectmentos rclcvmtcs para a polltiau d ,, , . .
, , . o ~v;erno e a pnme1r.1 de
uma colonização privada. Esta situação, Segundo Porter, significava uma Uirul sene que vamos encontrar, rut nossa cxploraçio do proces~ decisório li , .
diminuição subs~nci;l nos luCros das madeite.ir;s, já qu~ em se faland~ de [...] É bem possível que• "fama"'" compctirõ.o deitl"··. . .d' d po llCo.
. - _ r- en:., coasi era a e5sene1a.l nas
estratégias competitivas, os fornecedores devem ser ~ncarndos pelos industriais democt1c_1as pluralistas, seja em grande parte um intercimbi~ d.e an,áli!CS arclith -
como concott~ntes/ competidores iguais aos deniais 1 sendo tão mais perÍgosos mesmo que, em ai · ·· · p
guns casos, os p:art1apantes usem a mtntira i::oi:nplcta e f.llsific-:tçio
qunnto mais cónttolam o seu produto. descarad, dos fatos. (LlNDBLOM 1981:29-30) ,
Por outro. não se pode confundir o interesse 1o emprcsariacfo com bem
comum;'scgundo Por ter, os Cmprcsácios estàofuteressados nas ações que aumentem . i\d~ta.ndo os conceitos de.gmpor tll t'nten.rse'elabora_do por Charles Lindblom
seu lucro~ não se importando se, por exemplo, aumenta poluição produzir tal ou cons1dernmos que o Grupo b d . .
. aça ou aluan o como representante da fração d
qual cotnbuStível ou sC é melhOr produzir carros ou casas populares 1.w.
Além disso, considerando que o pla11Yamento Como tal existe a partir de
classe hegemônica, destacando que não era apenai ~cprcsentante de interesses d:
um setor, mas membro destacado d , . ,
uma necessidade (o "para que') o Estlldo tendia a ser neste Sentido orientado a , . o proprio setor, Embora possa parecer
entrada de setores médios no funcionalismo estatal de individues oriundos de obvia esta observação ela. não é recorrente: na análise proposb por Perissinotto
uma sociedade onde eram maioria filhos de familia terra tenentes ou comerciantes. os membros do Executivo paulista não enm a própria fração, mas representante~
Ê importante esdarecer que este não era um caminho para C}ual não houvesse desta· os mcmbr d d ·
, os o grupo e mtcressc encontravam-se em diferentes o' -
· delibera · / rgaos
outra alternativa, mas que, dada a fração que se tomou hcgemôníca, foi assim tlvos e ou consultivos da execução do poder estatal N d G
L · · P caso o rupo
·orientado. Os rumos do desenvolvimento do Estado em direção aos in~eresses up1on ocorre o particularidade de serem os membros do r1r1Jho L • J
da fração do bloco de poder que se torna hegcmônica tomar-se-ão maís · •- b' d o· -r uÇ ln>tt?I.rt e
~m em e estarem ligad s d · ·
. o a este grupo e alguma forma-viar~laçõ~ familiares,
perceptíveis ainda se lembrarmos que _é por meio do Executivo e Legislativo que pcrtenCl!lleoto a mesmo partido e/ ou liga ~ . .. -
serão nomeados em diferentes cargos. ' t?º com empresas vtnculadas ao grupo
em al~ momento - eram ocupantes do cargo de governado~ além de outros
cargos !mportantes em Secretarias de Estado Assemb!S;. 1.eg1· '-" E d ai
. • ....,. Siauva Sta u ou
prest~cntes do Banestado e Batnerindus, Relações estas, é impo~tante frisar, eram
" COSTA, p.375-6.
~.tre~mente vantajosas para o Gtupo Lupion em particular e para o setor
Em ano clcitonl os )ornais que faziam oposiçio a seu governo publicavam denúflCW sobre vário$ 1ndustru,l madeireiro --• N" b .
em 6.......... ao o . stante a centralidade da5 análises no Grupo
iJt
.
probkaw envolvendo concessões irrcgularel ck terras in~as e outr.u envolvendo o submetido
Lupton goslariamos de deixar claro este trabalho oã0 ele' d . .d,. d
à Sccrcwia da Agricultura Iodústri:i. e Comêccio, sendo cst.13 inclu:!ive revogadas devido à denúncia f mltia L , . ,cn e a t. eta e que a
de irrcgul,d<hdcs. Jonul O E,t,do do l''<,má 18/jul/51; 1/,go/51 e 5/,go./51. a upton consegwu, por sc,u mérito - por exemplo por possuir mais
ºclarez "
"' PORTER, p.27. a que outros setores do emprcsaciado do setor made.ireirO quanto a táticas

110
111
'
5. ANEXOS
e estratégias administrativas ou pollúcis - a constituição do grupo se deu em um
momento de grande expansão do setor e, ao que sabemos os outros sócios cm
seus empreendimentos (como Sguário, Chedc,?vlacedo) não eram sócios menores L TABELAS
na medida em que eram membros de outros "Grupos". Para se afirmar se a
familia Lupion possuía maiores conhecimentos que o restante de seus sócios, isto Estruturnçào organizacional do Grupo M. Lu ion & ..
ano a ano (1930-1951). P Flll por empresas
é, o setor madeireiro industrial, o\J que eram ideólogos do setor, seria preciso
analisar discursos destes, o que não foi objeto de análise
-,-'
do presente trabalho.

e JO&i l.tip(oa; 1rett:'Coclho


Joú Luplon & a,, .de n.deitu
~ (KRS!Wbl•I•
'JJ{'. Matrh: Curi1lb.. Puquo """"""1' 100% (KREfll:N

-
CrS 3 milhões vtfi(b pn 19-ll-2;
'.;_l;;. 19.ll Aliai: Píra! do S1,1f e ~ em Piml do
{KRETZ.EN) Ctl!llim rua XV de
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""""
SP. (KRETZEN)
Sul e oo mri::ipio de
No't'tlllbro52ó[aM.
Lupion lt Cia 1ka ~ 5251)
Lupion)

(KRIITWI)
E,;plo~ M~rnz.lo ,~I em
"Pou.atto Lupion &. lndttmiafuaçlo e 220 mil rt!J; 1941 para t,t ~ n & Dados n1o
1936
0&."(JCP) conrrciaU:utçlo de (JCí') da. Em 1945 mudi nome encool{Q(Jo,
maddr11. (JcP) CEtUBRAS JCP)

1938
Ponano e Lupioo
(JCP)

M. l.iipioo &. C1a


lúplonçlo
hid1tStdalluçlo e
commla.ll.u~ de
madeiras. (JCP)

"'''°"""
lndustri11izaçlo e
Cr$ 500 mil
(VAZ)

rusoo m11
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(VAZ..,.tMOUllÃO)

Por tataMe de uma ficha


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1941 cadulflf o1o contt•m \
(JCP) correrclatiuçlo de (JCP)
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madeiru. (JCP)
Pedro M. LJJpiort, li
Mlraaçlo Norte do lictmfnta Rolim Llipion,
E.útaçlo de Clll'Ylo Cr$ 900 mil
1944 PuwUd,. David Luplon,Jo*1m 66'l!JCP
(KR!IT"lliNI (JcP)
(JCP) Pmila, May,6- l.uj:tion e

-
Ramiro Ril'Cl1 (ICPJ
Por ltlnsfoc~da M.

.
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Brull
Refto:ew11ncn1:o 0
Cehaloie Ltda.
6.s:ploraç.lo.
cotrcrclliução e
lnàu(rialiuç.lo de
Crf 25 milhões
(JCP)
Luptoa & C1a, o c.apk1I
eni de 800 rríl rtb, Y, tb.
Pouatto, Ulpion .t.'.cta..
Dado, n5o

(JCP)
CEWBRAS (JCTI) madel~. (JCP) v. VAZ
(ICP)

continua

1/J
112

_;. 1'
Rldia Soc~1de Joio Bmíl!o Rlbu e
Ouanund Lldl. Pedro M. Lupioo; Mwilo
CrS I rnl!hlo Luplou de Q11.J;1Ulu; Auto~IS.A
Sede: Cutitiba
1946 Si'i\. ~ AJ!ncfa Clievroh!1
Sede: Plraf do S111, O..ridWillc~ l.upion: prindpaà
Puquc Indumhl: KRETZEN Aklízlo Antonio Fimetto; 1948 Autorinda.
CrS I milhlo
Hoooruo Luplon Pmia Anle1 rn1 Lrda. 0 .. YO VidlJ i;onea. ociooluu
EmçloZYM·5 (JCP}
(JCP)
(KRETZENJ Fran::!=i de uh Alho.
KRETZEN .2119 {KRETZEN) (KRETZEN)
{KR~N: d~ p1111 0
lmpo111çlo e
•nade 1951·2)
comttcio de
nutomó~dt, l'*ttílll ~relf1 ·
IJJl!Ortadool J 0K
a.mlnhõer. imloret
JOll LuJ,ion; ln!ne Coelho
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,~,t;<' l..Jda,.; Hwnlnt. Rolh1
Luploa Ltd1. M11rlz:
(da M. UJplon &
cmiqul111empal.
CrS I milhlo
Lupioo; Luli Pos:ano.
{KRETZEN; dld01 sti;, ,,,.,,.
!:/{ \ ~ ; PeJró M1 Luploa;
JOQq,lim FmeJrl,: Da'lid
; ~ 19'46
Clal; fill,I: PinJ do
peça, e ace:s1órios:
(KERTZEN) paR O IM de 1951•2;
8i'li KRETZEN
i~-_/' W. ~on; OW:omd &
guollnt e óleos.
i11\ 1 • ,; Sul (KRETZEN IOOSmo cndcrcço dJ. M. Cla; Reu10 ~upto;
.,1;~.
rirl"'p!l:
Especitilidai.b:
}l~lt~.'. dados de 1951-l) Lupion&Cial AUg\illO Cbar Vidro;
Col\Ce·n íorihla

:'if Ford-Meo:ury .,...,...,....


lndllltrial Madeireira

lndllltria e cmntmo
Aomcio Oalaf.wl; Joio
Lup11JR Alho; Ary Zltti
{K.Rl:.TLEN) 1948 Cr$ 16 mlJhõcs M, 1q, [os s&.101
Sede: Foi da Iguaçu de. madeiras em
AntÕ{Ú{)BafistaR~ (KRETZENJ ouva 1: ~lo de Cu-fie estãi;, em 'i{, de

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{KRETZEN: dados geral (KRETZEN)
{Jo.t. UI.piou wi
CLI I; Adellfté Za:ttl masJ KRETZEN
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1'1 ( Conatwções por
procundor), Mrrio
pllTII 1951-2)
Mlnghc!II; Osmar
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Eduutlo fürros, M!gllCI To!Ullll;J~ Yol.111do
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Q,Jelroz, Joio Ayrton P(IJJ..U(o e Adc'llRi;,

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n,:lhorametrtos S.A
Sede: cu,ítibt,. Em
lnduuriiliuçl-o
compn, e vendi de ers· 1 milhio
Comcben. (JCP)
[SeguRdo ~ien
[ScgundoKretWI
pem:nce ao Gn,po
RallWO de Auls; Ãngdo
hrniin Oabardo: Alfredo
1947
í "'l· 19411 lflNÍOflTIOU-Ul muerlai1 cortelalos (em 1948 JCP)
llpçW: Induttriu de Luplonl Eliu 11l!mani ,Borba
;:" j l< ·~ em S.A. unleS Uib.. e qu•lqucr ovlro Ro¼lm; J~ Maln~
_i ;:i,Jj MetaU e. M1deim
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'i~l,{1 (JCP) ramo de eom&clo (KRETZEII)
h'.'l, Beneficb.dl5 I.J.dl. Joio
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Ayrtoa Comelseo usina;
(JCP)
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Co~I) {JCPJ Alt.:i; Fellcláno10K- de
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Mwllo l..upioo Qua,:froi; Menezes; D~ de

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Clenme Prima~
ii Mallel; Estefwa Biasl'd Rldio Cwro Lida. t-lo\llCS Rruas; Luis Prata
Rídío M1llctenJ;. D1dotnlo ttloapeclílcado CrS JSO mllJ
1947 Nlo cipCclficado ~c,Mulet;Eli&s 22.l'h Jcr Mcstl)!; Eduardo J~ de 50,?'il>JCP
Ud&..JCP encontndos ~;fmlctsco
Wecliimki ~
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Mal1et; Mipd PotodJ
oomercltnce, Ml&t (.fCP) Vcllek; Joio Moreira de
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·:1_i1:1,t MeUo; Pedro M. LtlploR:


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continua M11:1Jo Lupfob de
Qwikós. (JCP}
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1951, a füma
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E1plo-niçto da
lnd.b1ri11 de Metais e. Indústria e Comttdo
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C~lhol; lmobi\ürll e Mdhor1men1os
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S~la
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,,.., M1ddra.s
Beneficl..d1.S Lida.
de met11!s e m1tddru
bcnefirudaJ, COflVU
Cdlmilhlà
(JCP)
Comercial V lpoc quem
usina Joio A.
200 mil; lmob. e
Com. 100 mil
lucorpondas ao
PauimõlUO
(JO') Sede: Caritlba e YCJldl de materiais Comelwi]; Joaquim (JCP) 1111Lhlria,8D.Sildra Nado111t, o 11ccrvo
conexos. (JCP) O.W Villeb.; Hans
de Pipcl Uda. Sede: da Cla. Jndú.i:ui.u
Mõller, Grele M!lller, I. Pedro M. ~ ; Joio
1951 AnpotiMua1crpJó Brulldru de Papel
Ruch; Waldemu Mala.:
A. Uma Fiiho. (JCP)
de J•JUWln. (vide p.42), avaliado
0-SJOOrril Sgi,.id,, e Joiõ í ~
Muln (KER.12.ENJ
'°'"' KR"'7bl
(KR!ITZEN) eni!i!I mllhõel''de
!talo Pellu.l DP; V1ldir
crvickus. para o
Gonçellvc.s Toslef., DF;
preço global de
Va\dcmar da SIiva
Cr$5!1.29J.OOOJXKl
Boju1_g11, Df; Mo)'Us
~j i- tu;pion bru.., ilffil1till
(CrS 11.6511.600,00 .1
~ :
em d~iro e o ruto
Cutilibl! M11eller &
ProduçJo e combclo em ftlpotcca ).
' ,\ Um.los IJda- Ctul!iba;
KRCTZEN

d
de p,as11 mecAtnC11.
Doin MulM Goma
celulose, (llpe!lo,
Indústria Anlonle1Ue FigudllU, bm,, Moylb L 100
pipel ii dcrivttlot; Cr$ 81 ml!Mes TABELA IV
1949 de Papel Uda. puu, do~tb Pt\lópO:llf. RJ; ações no Vilar de
e~plornçlo e (JCP)
pmS/A(JCP) Thallno B,rbabcdo ikl C. CrS 100 mil (JCP)
com!rcfo de
Botelho DF; Minllo
ma.dclr.u;
Cupn'I DF; Lult
cxplon?o agrkols. Jahir Rollm de Moura Conselho P-u:cal da CaJ1 Bancru-la Vicente.
Ootm1p do r-lucimento e Pm:nte de Hetm(nim
Silva; EuH.Uo Nucimcnto Fiotillo S.A (KRBTZEN, .378)
~j

Rivrulavia Borba Vargas Diremr-anistcnte do &tnerindus


·e Sllv;i; Filha DF; Heitor
do Nt.iclmento e Slln
Parente de Hernt(nli:1.
KRETZEN ,378 '
;;

aJvopdo DF; Vkenle


Ferret O.edel DP. {JCP)
VHCO da Gama Coelho Fiunília Coelho
(cunhado da Jost!: Uipioo)
lndúmin de ~cfals e Mndeirns
8cneficladas; ~ e melhoramentos;
'
David W, Luplon; Pedro
Fibrica de íósforn 1ndUuria e Corrhcio Irene Coelho
Cr$ J mllMcs M. Lupioo; Jost lup!Gn IOO'h (JCP)

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"'° Alvorada (JCPI de Fósforo (JCP)
Júnior. (JCP)
\l{i! rumo Anponps Pedro M, Lllplon: M11tUo
Borba Rolim} Provavdmcn1e lrm&, de Hcrnúnia lndw1rial M~ira do Paraná lJdA.
f!>
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19,1 Uda. Aniponga.t Nlo especificada
Cr$ 200fflil
I.Uploo Q..!ro,
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(KRETZE!l) (KRETZEN)
(KRETZEN) (KRETZEN) Joaquim Percira Marido de Pmncisca Mlneraçilo Nortõ do PmoÁ Industrial
M12dclrcira do Parat\Â Uda.
Honorulo UI ion Pereira Alho de Francisca Lu on Rádio Ouairocl I.Jda.
continua Murilo lupion de Qulldros Filho de Maria Luplon Rádio M1Uetense\ Rádio Guairad Uda.
f\1!' Rddío Cwro: IUdio Ara
1°,1,I
~]li
-,,1, ,116
'·T· 177
João Ayrton Corlncscn: Obras e Melhoramentos; Imobiliária e Comercia~ De José Lupion, incL, Cr$ 500.000,00
Metnis (assina pela Irnoh e Comercia~ tb Cooselbo Fiscal do BIUlleóodus em 51-2 Pedro M. Lupion, ind, Cr$ 500.000,00
Irene Coelho Lupion Cr$ 300.000,00
Sócio: lndllstrin De Meto.is e MAdciras Beneficiadas/ João Lupion Filho Cr$
Hnns Mfilet (Moler ou Mo Iler)
conselho _ftsca.l do Bnnco do E.stndo do Panutá 1951. • Vasco da Gama Coelho
Mnddms do Brosil Lida. (sócio) Oir. Superintendente Itaciano Macondes Ribas
An!sio Hennógenes Bnrtolomci
do Bnncodo Eswlotlo Paraná 1951. Luiz Possatto
14.257 1O/jul/4ó;J osé Lupion Cr$ 600.000,00, Irene Coelho Lupion
Cr$ 250.000,00, Luiz Possatto Cr$ 100.000,00, Vasco da Gama
II. FONTES PRIMÁRIAS (FICHAMENTO DE CONTRATOS Coelho Cr$ 50.000,00. Diretor Geral José Luplon.
DAS EMPRESAS) - Contrato 14.274 o capital passa de Cri 2.000.000,00 para Cr$
3,000.000,00 com. a seguinte divisão entre os cotistns: cxtinguc~se
Junta' Comercial do Paraná docu~cnblçào de empresas pertencentes e/ filial de Itapetininga- SP. José Lupion gcrmte.
ou ligadas a M. Lupion & Cia entre a fundaçio pdo grupo ou sua incorporação José Lupion Cr$ 200.00,000
por este e 1961. Irene Coelho Lupion Cr$ 6:000,00
, .. Luiz Possatto Cr$ 250.000,00
1. IMPORTADORA JOSÉ LUPION· LTDA. Vasco da Gama Coelho Cr$ 150.000,00
Contrato 16.319 capib.l social Cr$ 1.000.000,00. José Lupion Cri
Contrato inicial:
500.000,00, Irene Coelho Lupion Cr$ 250.000,00,Joào Maria Queiroz ·
Contrato 7.499 19/01/35: Capital Social 20 co·ntos de réis: José
Cr$ 100.000,00, Vitorio Coffi Cr$ 100.000,00. Ramo: "Exphiupio do
Lupion comerciante 10 contas de réis, José Marques da Cunha
wmlm"o de importO[iio dt aJllomJIJtlJ, caminhõa eoxlroí vdcNloI molam, maqJ1Ífltl!
comerciário 1O contos de réis. Razão Social Joté L,,pion & Cia Uda. un gmú, amrón(l[ e pepn .sabrnaktmÍ, §l-folina, Utot e l1Jatmaii rontxtJI, a.1sim
Nesta data entra Irene Coelho Lupion (esposa José) no lugar de coma qllf1Íiqner outro, arligor qut parram ínkromr a .roei.Jade': Sede e foro:
José Marques da Cunha. · Pira! do Sul A sociedade ê liquidada etn 13/rrur./57.
• Alterações cont:intuais
Contrato 9.246 07 /jun./39: Entra Pedro M. Lupion (industrial 2. BRASIL REFLORESTAMENTO E CELULOSE LTDA.-
residente em PiraQ. Ramo: "Explora;aõ dd romirdo da induslda dt CELUBRAS" REGISTRO GERAL JCP 41200887967
madtiras''. Sede e foro cm Curitsba, filial cm Pirai. O capita) social
sobe de 20 contos de réis para SOO contos de réis. Contrato 085 15/out/36:
Em 02/jun./41 P"''ª a atuar também no ramo de exportação de Sob a razão social de "POI1alla & Úlpion '\ Capital Social 220:000$000
madeiras*. (220 mil réis) Luiz Possatto (120 mil), Pedro Máximo Lupion (40
21/12/43.muda razão social pmJMI Úlpion t Cia Uda;José Lupion mil),José Lupion (60 mil). Rlimo de atividades: ''Explamfiw comtrríal
reside em ltapetininga SP. O capital social sobe de Cr$ 500.000,00 e índmtrial do mmo de madeirar': Início das operações 13/10/36. Sede:
pará Cr$ 2000.000,00. Fazem parte da nova razão social; Cachoeicinha (Arapoti - Jaguaciaiva).Antcs dos Lupion Possatto
possula sociedade com Sguárío & Cia.

118 119
1
Alterações Contratuais: Nesse momento se dá aquisição de 65.073ha e 93 m1 a8sim distribuídos:
Em contrato 8085 30/ out/1938 com capirnl social de 220:000$000 '
~ Fazenda São Domingos 32.093há (+3.473ha);
(220 mil réis). Moysés Lupion adquire cotas de Pedro e José a razão .
D )'iquety e Andrada 28.465ha + 5.575ha;
social muda para "Paualo, Lupíon & Cia·~ O capital se eleva para k) La Paz 2.550ha + 550ha;
500:000$000 (500 mil contos de réis) em partes iguais entre Luiz e
~ Dóis de Maio 200ha;
rvioysés. Ramo: '1ndJJJtda de strraria.I e tantb!m mm!rtio t txpartafào de
m) Barro Preto 918ha + 2050ha;
madtiras em geral'! Luiz Poss.atto gerencia indus,trial e Moysés Lupion
n) Diamante 200ha;
gerência comercial.
o) São Francisco 200ha;
Em 6/H/41: Entra Hermínia Rolim de Moura, sai Luiz Póssatto,
p) Porto de Sana Helena 417ha + 4 mil m'.
capital aumentado pata 800 mil réis. A administração seci somente de
- Todas sem as benfeitorias situadaB no município ~e Foz do Iguaçu
Moysés Lupion. A razão soàal muda pata "M. ú,pion & Ga'~ Rruno
(Território Federal do Iguaçu). · '
de atividades: ''Expúiração, rommialiZ!'fiM, indmtrialiZ!'çào d, maddra,''.
- Moysés Lupion .transfere_ tambêm para a sociediid7 .. ns embarcações
Em 1/ mar./ 44 o capital é e!ev,ido para Cr$ 3.000.000,00.
Em 1/ago./44 cria-se uma filial na capirnl federal (RJ). fluviais: Rebocador Parapiti, Rebocador Don Roberto, Chata Santa
- Em 11/01/45: O capirnl soàal aumenta de Cr$ 3.000.000,00 para Helena, Charn Triunfo, Chata Alicia; Lancha EmJlia, 1..ancha Itâlia.
CrJ 25.000.000,00 (25 milhões de cruzeiros). Muda razão soàalpar,a Com exceção .~e Hermínia todos podem usir a firma;: Superintendente.:
"Bra,i/ Rtflomtamenlo e C,/11/ou Uda. - CELUBRAS''. Ramo de Moysés Lupion; Gerente Industrial: Pedro lvláximo Lupion; Gerente
atividades: ''Explorarão da íttd11stria da madeiro, sm rom!rdo e ,xporta[iio Comercial, David \Ville Lupion; Assistente: Joaquim Pereira*.
em gemi,· Explora[ào da ind,,,tria d, pa,ta me?âniro, a!JIÚJJt, papd e papelão; - "Do capildl,odaljicam dtrli•adoJ C,t 20.000,00para cadaArmazjm, Farmácia,
F,xtmfào, i'ndustda de bentjidamenlo, rom!rrio e exporta;ão tk erva-mate; Padaria ou Apmg11e imtalador n01 e,tabekdm,nfcJ ind,,,triau da Sodedadt pam
Minerarão, prospução, la1JrrJ, exlmçiw, ben,jiciamenw, romériro e ,xpartação _JISO txdmi110 dor i,m emprega®r'!

d! mroão mínemii firros e ~1ilros: mininOJ, tkpois-dt k,?f1lmenll autoriz..ada; a Em 11/jtm/49 retira-se da soàedade o sócio Joaquim Pereira (cotas no
nawmão 'matitmao t fluvial, agettlts maritimo1 efawiaís depair dt lt!fJlnttnft. valor de Cr$ 1.000.000,00); o capit>l cai para Cr$ 18.000.000,00,
habilitada; coúiniZfJção; agrimltura; pecuária; nprmntaçõu, ,xportação , diminuindo Cr$ 7.000.000,00. Moysés fica com Cr$ 10.800.000,00;
importação ,111 g,rak qualquer outro ramo da inti,,,tria , romérrio cuja mação Hermlnia com Cr$ 1.800.000,00; David com Cr$ 1.800.000,00; Pedro
·j01)ul.!f1da convwi<nle''. [Decreto FedcralN'20261 dc20/dcz/45 concede . M. Lupion com C_r$ 3.000.000,00. Diretor Superintendente: Pedro
autorização para navegação de caborngem; Diário Oficial da União Máximo Lupion; Diretor Comeràac David \V. Lupion.
15/08/46 decreto 21.158 concede direito para a M. I.,,pion & Cia Em 1964 a razão soàal passa p;ita "B=il R,j/omtam,n/Q, Ce!Jlú,,e LJda. '!
funcionar como empresa de mineração] Nesrn dara (11/01/45) entram - Em 1973 mesma nzão soàal que 1964, ramo de atividades '1nd,,,1ria,
novos sócios: Com!n:lo dt madtimI, agropuud.ria, rtjlorulamento e npmettlafÕu mmtrriais':
• Pedro Máximo Lupion Crf 4.500.000,00; Informações adicionais: Vaz diz que, já a partir de 41 ~stava.m todos os
• David Wille Lupion Crf 3.000.000,00; irmãos asSOCiidos.
• José Lupion Cr$ 1.000.000,00.
• Moysés Lupion eleva seu capital para Cr$ 17.000.000,00
Hermlnia Cr$ 1.500.000,00.

120 121
3 SERRARIAS REUNIDAS SANTISI LTDA. REGIS1RO GERAL ·· [todos domiciliados cm Curitiba]
4190040224 (MICROFILMEJCP-SP 2945). Altc.rações contratuais:·
Alteração de contrato PARTICUL\R 12.456 de 14/rnaio/47: Atúta Ribas
Há apenas um registro, oriundo da JCP do estado de SP de 11/jun./43 no Cid Prince ·Paraná (industrial), Contantino ·santos (comerciário), 0 :
qual Joaquim Braga do~ Santos Ribas aparece como procurador desta em Ponta qualidade de catistas antigos e como cotistas novds Pedro Máximo
Grossa (o proprietário' é Antenor Santisi). Sede capitlll paulistll. Lupion (tnduitrial), Arúsio Hermogénea Bartolomei (bancário).
a) A sociedade é possuidora de 530 cotá's adquiridas 150 de Newton
4 MADEIRAS DO BRASIL LTDA. · de França Bittencourt, 200 de Rubeos Bueno de França Bittencourt,
25 de Maria José Bitteocourt Muggiatti, 75 de Isabel Bittcncourt
Registro JCP 11.802 de 09 / maio/44. Ramo de atividades: "Exp!.rarã. rw Beltrão, 50 de Pccy Buchcner, 30 cotas Galvino Roque Muggiatti;
romlrdo da imbuiria dt mad4iras W f!rot JtU henefuiamento e indmtrialização e exportafào" b) A cessionária D. Anita Ribas tomou~sc catista por cessão de
Capital social: Cr$ 2.000.000,00 (dois milhõés de cruzeiros) divÍclidos em 200 mil transferência das cotas de Thcomat Ca:nabràva de Oliveira
Engenheiro Civil, (100 cotas) e S~ter Henrique Daum (200 cotas);
cotas de Cr$ 1.000,00 (um mil cruzeiros) cadft:
• Matcos Augusto Enrictti, Engenheiro Agrônomo 1 200 cotas ou possuindo assim 300 cotas;
e) O cessionário Cid Prince Paraná tornou-se sócio por cessão de
Cr$ 200.00,00;
transferência de Arthut Thincl' (140 cotas);
• Pedro Lapalú Deffes, industrial francês, 200 cotlls ou Cr$ 200.00,00
d) O cessionârio Contant:ihõ -Santos tornou-se sótjo por cessão de
• Sotcr Henrique Daurn, 200 cotas ou Cr$ 200.00,00;
transferência de Jorge Bueno Monteiro (200 cotas) e 75 liberadas
• Jorge Bueno Monteiro, Engenheiro Civil, 200 cofas ou Cr$ ZOQ.00,00;
pela Sociedade; totalizando 275 cotas;
• Rubens Bueno de França Bittcncourt1 contador, 200 cotas ou
. e) Alberto [Alf\edoi'j Manfrcdini que possuía 30 cotas adquiriu outras
Cr$ 200.00,00; 30 de Cesar de França Bittencourt;
Newton de França Bittencourt, contador, 150 cotas ou Cr$ 150.000,00;
f) Dadas estas alteraçõés. a situação da sociedade dn relação sócios
• Arthur Thinel, proprietário, 140 cotas ou Cr$ 140.000,00; será as seguinte: '
• Silas Pioli [Poli?], eng. Civ., 100 cotas ou Cr$ 100.000,00; • Marcos Augusto Enrietti 200 cotas no valor de Cr$ 200.000,00;
• Fábio Albuquerque da Gama, dentista, 100 cotas ou Cr$ 100.000,00 • Pedro Lapalú Deffcs, 200 cotas no valor de Cr$ 200.000,00; 1
Theomar Canabrava de Oliveira, Engenheiro Civil, 100 cotas ou • Júlio Maito Sobrirtho, ind., 100 cotas no valor d~ Cr$100.000,00;
Cri 100.000,00; • Silas Poli, 100 cotas no valor de Cr$ 100.000,00;
• Julio lvfaito Sobrinho, comerciário, 100 cotas ou Cr$ 100.000,00; • Fábio Albuquerque Gama, 100 coras no valor de CrJ I00.000,00;
• Isabel Bittcncourt Beltrão, 75 cotas ou Cr$ 75.000,00 • Máximo Pinheiro Lima, 50 cotas no valor de Cr$ 50.000,00;
• Maria José Bittencourt Muggiatti, 25 cotas ou Cr$ 25.000,00; • Otávio Ivan Lapalu 20 cotas no valor de Cr$ 20.000,00;
Mâ.'Wtlo Pinheiro de Lima, médico, 50 cotas ou Cr$ 50.000,00; • Alberto Manfreclini 60 cotas no valor de C;:$ 60.000,00;
Pccy Buchener, químico industrial, 50 cotas ou Cr$ 50.000,00; • Cid Prince dos Santos Paraná, 140 cotas ou Crf 140.000,00;
: Ccsar de França Bittcncourt. co.merciário, 30 cotas ou Cr$ 30.000,00 • Constantino dos Santos 275 cotas no valor de Cr$ 275.000,00;
Galvino Roque Muggiatti, comerchlrio, 30 cotas Cr$ 30.000,00; • D. Anita Ribas 300 cotas no valor de Cr$ 300.000,00,
Alfredo [Alberto?] Manfredini, ind., 30 cotas ou Crf 30.000,00; • · Outras cotas disponíveis ou liberadas: 455 cota~
• Otávio Lapalu, funcionário público aposentado, 20 cotas ou Total: 2.000 cotas no valor de Cr$ 2.000.000,00 (í. e., um mil
Cr$ 20.000,00. cruzeiros cada cota),

122 /23
- Pelo contrato de 1947 REGISTRADO N.\ JCP: .. 5. MINERAÇÃO NORTE DO PARANÁ LTDA.
'! e) Pedro Maximo Lupion, ind., ingressa com 900 cotas (455 adqu"?das
da Sociedade e 275 de Constantino dos Santos, 100 de Fab~o "Documento de constituição de firma" contrato 12.181; de 12/out/44
1 Sócios: Mariano Machado de Oliveira (banqueiro); Iberê de Vasconcelos
Albuquerque Gama ' 50 de Máximo Pinheiro Lima, 20 de Otav10
1ij
11 Bernardes (advogado); Ramiro Rivera de Miranda (engenheiro); Com o
Ivan Lapalu);
1: contrato n.º 16.1693 de 11/03/44 arquivado no Departamento Nacional
f) David \Vtlle Lupion ingressa com 300 cotas (200 de Mancos Augusto
( Eruietti e 100 de Sil.as PiolÍ'); .
de Indústrul e Comércio.
i O novo catista Anísio Hermogencs Bartolomei ingressa com .500 Alterações contratuais:
1
g) cotas (300 cot.as ndiqu1r1
. -das d e D · Anita Ribas• 140 de Cid Ponce Em 18/01/45 (contrato JCP 12.459) "resolvem as ;eguintes alterações
Paraná, 60 de Alberto Manfreditll'); . . (sede passa do Rio de Janeiro pata Curitiba). "Marino. .• elberê... vendem
h) Dada as alterações a situação da Sociedade no que tange aos soe10s suas partes a lvfoysés Lupion._Agora os sócios serio M. Lupion e Ramiro;
o capiral social sobe de 900 mil para 1050 cruzeiros (Lupion pagou 700
será a seguinte:
Pedro Lapalu Deffcs, 200 cotas no valor de Cr$ 200.000,00; mil pelo que comprou}. Ramiro agora terá agott quota e M Lupion 2,
este torna-se diretor-gerente. Em 12/out./ 44 entram Os sócios Pedro
Júlio Maito Sobrinho, 100 cotas no valor de Cr$ 100.000,00
Lupion, Hernúrúa Rolim Lupion, David Lupion e Joaquim Pereira que
Anísi~ Hermogencs Bartolomei, 500 co~_as no valor de
adquirem 349 mil do capital de Ramiro. O·novo éapiratsocial será:
Cr$ 500.000,00
Moysés (,ndustriaQ: 714
David Wtlle Lupion, 300 cotas no valor de Cr$ 300.000,00;
Pedro (idem): 189
Pedro Máximo Lupion, 900 cotas no valo de Cr$ 900.000,00.
Hermínia - - - : 62
.. A administração da Sociedade ficará a cargo de· Anísio Hermogcnes
David (industrial): 42
Bartolomei (Gerente) e de Pedro Máximo Lupion (Assistente). • Joaquim Pereira (,d): . 42
- Em 28/juL/1954 contrato 12456 os sócios são: • Ramiro Rivera Miranda: 01
• Pedro Máximo Lupion, Cr$ 1.SOO.OOO,OO; - Em 18/01/45 Ramiro vende sua parte para Hermlnia. Em 25/nmc/
• Anísio Hermogenes Bartolomei Cr$ 500.000,00 46 Moysés e Hermínia cedem sua parte para Pedro Lupion.
Alteração de Contrato 11.802 de 20/ago./67: Em 26/02/48 entram os sócios Adélia Ramiro de Assis;Joel Mainguê; .
Hermínia Rolim de Moura NCr$ 1.400.000,00; Alfredo Elias; Hernani Borba R.olim; Otávio Alencar Lima. O capital
Ubira)ara Rolim Lupion, NCr$ 300.000,00; que era de Cr$ 1.050.000,00 (um milhão e cinqüenta mil cruzeiros)
• Ruy Goulart Gandara, NCr$ 300.000,00. divididos em quotas de 01 mil cada passa para 15 milhõ.es com quotas
· . . A prunetra
Informações Adiaonats: . - par te e a segunda partes do contrato
. de 15 mil quotas de Ct$ 1.000,00 (um nú] cruzeiros) cada. O aumento
de 1947 ·foi efetuada em caráter particu
. 1ar. "ver ligações. com família Gama e Lup1on foi de 13.950 mil, ficando as quotas divididas da seguinte forma:
e quem era D. 1\nita Ribas (se esposa Interventor). • Pedro Lupion 14.800 quotas
David Wille Lupion 100 quoras
Joaquim Pereira 50 quotas
A delio Ramiro;Joel Mainguê; Alfredo Elias, Hcrnani Borba Rnlim e
Otávio Alencar de Llma cada um com 10 cotas.

124 IZS
[100 mil]; Grete Moeller [100 mil]; João Resch (100 mil]: \Valdemar
Outras informações úteis: Por procuração Pedro Máximo Lupion passa
Maia [50 mil]; Vasco Coelho estudante [25 mil]; Arcésio Lima Filho [25
poderes para que Adélio Ranúro de Assis se torne procurador para as firmas
mil]. Todos comerciantes, exceto Vasco Coclho::,'e Grete Mõllcr
1 M. l..Jlpion & Cia" e uMinerafiio. .. " (estudantes com mesma residência),
Alterações contratuais:
6. CASA METAL LTDA. REGISTRO GERAL JCP 41200997274.
30/ago./1950 O capital passa para Cr$ 15.000.000,00: Marino Machado
de Oliveira banqueiro; Iberê de Vasconcelos Bcrn.irdes, advogado;
Fundada cm 1921 sob a razão social "]orl Hauer ]r." ·
,,
Ramiro Rivera de lvfiranda, engenheiro.· Estes reso}ycm as seguintes
Alteracões no Contrato Social:
Em ~4/08/32 passa para "Casa M,tal I.Jda. "" Compra, venda d, Jmagens, a_lterações no contrato arquivado no Departamento Nacional de Industria
~ Comércio n.º 161.693 de 01/03/44: Marino e lberê vendem suas
lou;ar e outnu";
_. Em 20/01/44 muda de proprietária passando para a "ú,pion & Cia partes para ~oysés Lupion. Agora os sócios serão ~ Lupion e Ramiro.
O capital social da firma sobe de 900 mil para 1.050 miÍbãa. Ramiro
Ltda.., mns mantcm a mesma raziio social.
_ Em 31/07 /68 muda razão social para ''Comércio< CollilrufiieI>MetalLtda." terá 1 cota e Lupion 2 cotas. Em 12/ out./44 uentram; os sócios Pedro

ainda pertence a u,pion & Oa. Atua ''Compra< wnda d, firmg,M, indmlria M Lupion, Hermínia Rolim Lupioa, David Lupion e Joaquim Pereira
,e r:o-mirdo em geral de ronslroçào civil, rompm, vtnda, íncorpom[ào e camta2pts de (que com Moysés). adqtúrem 349 do capillll ddumirO: O capital sacinl
fmÓPelJ rompra e !Jendá dt materiais de ron1lr1tfàO, úrrup!anagem, ton1eráo di · ficará assim dividido: Moysés 714 mil (industriaQ; Pedra 189 mil
1

11
(industrial); Hermínia 62 (prendas domésticas); David 42 (10dustrial):
firmgttu etc.
Joaquim Pereira 42 (reside em Castro); Ramiro Rivera 01.
- Em 1986 com nova alteração.
Informações adicionais: Não consta capital social ou administradores, - Em 26/02/ 48 entram os sócios Adélia Ramiro de Assis, Joel Mainguê,
Alfredo Elias, Hernani Borba Rolim, Otávio Alencu!..ima. O ·capital
aparece apenas a Lupion & Cia.
que era de Cr$L050,00, divido em catas de 01 mil cada.passa para 15
7. INDÚSTRIA E MADEIRAS BENEFICIADAS LTDA. milhões com cotas de 15 mil cada. Oaumento será de 13.950 na seguinte
proporção: Pedro M, Lupion pas~ de 966 co!ll.s pua 14.800 quotas;
De~laração Suplementar Da Firma Contrato JCP 18.239 (para 14/jun./ David passa de 42 para 100 cotas;Joaquim Pereira passa de 42 para 50
1949): "Indhlria De M,/aiJ, Mad<iw Ben,jiciadal I.Jda. "IMABE I.Jda. "~egistrada coras. Os novos sócios Adelito Ramiro dcAssis'\Jocl ~nguê, Hernani
em 23/06/49, início das operações em 17 /jun./ 49 contrato arqwvado no Botba Rolim e Otavio Alencar de Lima ingressam cada Uln cada um
Departamento Nacional de Industria e Comércio n.º 161.693 ~e 01/03/44.; Se.de com 10 cotas. [14,800 +100 = 14.900 (x 15.000))
em Curitiba. Ramo de atividades: "Exphrapio da indútlria ecom/mo de melau emademu
buufl-tiadaJ, çompm t wnda de maltriai! de (l)Ut:)(61 '~ 8. RÁDIO SOCIEDADE GUAIRACÁ LTDA. - ]CP REGIS1RO
_ Capital social: Um milhão de cruzeiros Sócios catistas para contrato de GERALN. 0 31201494039
14/íun./49: Vasco da Gama Coelho industrial [200 mil]; Obras e
Me/hommmlos S / A (assinatura de Vasco da Gama) [200 mil]; ImobiliJria Contrato de fundação 13.711 21/jul./1946: sócios cotistasMoysés Lupion
Comercial Ltda.(assina Ayrtort, João Cornelsen, seu diretor (industrial), João Brasilío Ribas (comerci;nte), Auizio António Finzetto

Superintendente) [100 mil]; Joaquim Gans Vtllcla (100 mil]; HlUls Mõeller (comerciante), Honorato Lupion Pereira Gomes, Murillo LÜpion Quadros

127
126
(comercillnte). Objetivo da "Sociedade. será a exploraçào dos serviços de rá~o- • José Ubirajara Rolim Lupion ingressa na socicdad~ com 5000 cotas
d.ifusào 005 termos da legislação vigente"; sede e foro Curiti~a - PR. Cap1~l (CrS 5.000.000,00).
social: Cr$ 500.000,00 (quinhentos mil cruzeiros) divido cm 500 cotas: - A rádio Guairacá controla uma rádio cm \Venceslau Braz , e outra em
Moysés Lupion 150 cotas, Piraí do Sul [ver Portaria Ministerial nº493 de 01/06/48 e 1169 de 22/
• João Brasílio Ribas 150 cotas, 12/50 para Pira[ do Sul e nº 246 de 22/03/50]. O capital social fica
Murillo Lupion Quadros 100 cotas, assim ·dividido: ,
Aluizio Antonio Finzetto 50 cotas, • Pedro Máximo Lupion 800 cotas (Cr$ 8.000.000,ÓO);
Honorato Lupion Pereira 50 cotas. Adélia Ramiro de Assis 70 cotas (Cr$ 700.000,00); •
Diretor-Superintendente: Murillo Lupion Quadros; Diretor-Gmntc: Leonora Silva Pcitoto 40 cotas (Cr$ 400.000,00);
Aluizio Antônio Finzctto sendo que apenas estes poderão representar e Honorato Lupion Pereira 150 cotas (Cr$ 150.000,00);
fazer uso da firma. José Ubirajara Rolim Lupion 5.000 cotas (Cr$ 50:000.000,00);
Alterações no capital social e/ ou contra ruais: Silvio Gustavo Wille 25 cotas (Cr$ 250.000,00); ·
Contrato JCP 14749 (25/NOV./46): Moysés Lupion se retira e p,ssa Humberto Francisco Lavnlle 25 cotas (CrS 25Ó.OOO,OO); ·
suas cotas para Murillo Lupion Quadros. Não há alteração no volume Joffre Darcanchy 25 cotas (Cr$ 250.000,00). .
total do copital social. ... ~ "A Soduíadt urá admini.Jtmda µr tr!J. Direton.r- 111:1 Dinlor Pruidtntt Uosé
Falta contrato ló852 de 1948: · Ubiraiara Luplon), um Dir,for-Sup,rinlmdtnlt [Adélia Ramiro de Assis] , um Dirti.r
C~ntrato JCP-29485 (17 /01 /55): Retiram-se João Brasílio Ribas e Murillo Commial [Humberto Francisco Lavallef'. ·
Lupion Quadros que transferem suas cotas para Joaquim de Almeida Contr.íto 146.413 de 1973 a "rádio miuhdtguairatd lida. "Muda sua razão
Peixoto e Adélia Ramir? de Assis. João Bra.silio Ríbas passa suas 400 social para "rádio Í/Jlapi lida. "Sob direção de Fernando Cruz Pimentel. O montante
cotas p:ira Pedro Máximo Lupion. O capital social será agora o segui~te do capital socia.1 não se altera. Honorato Lupion pereira mantém 15 coras, Silvio
(total C,$ t.000.000,00): Pedro Máximo Lupion terá 800 cotas; Auizio Gustavo \Ville com 25 cotas [o controle do capital social nas rnllcis de Fernando
Antônio Finzetto 50 cotas; Honorat? Lupion _Pereira Gomes 50 cotas; Cruz Pimentel e Luiz Carlos Cantinho Cruz1 cada um co~ 2500 cotas].
Joaquim de Almeida Peixoto 50 cotas;Adélio Ramiro de Assis 50 cotas.
Diretor-Gerente..: Adélia R.2miro de Assis; Diretor Superintendente: 9 "RÁDIO MALLETENSE LTDA."
Joaquim de Almeida Peixoto.
Alteração contrato 41783 (06/08/59): Mesmos sócios, Aluizio Antônio JCP contrato 15.177 em 17/03/47
Finzetto transfere Suas ações para Pedro Máximo Lupion. Capital social: Crf 90.000,00
Alteração contrato 46379 (15/12/60): sócios Pedro Máximo Lupion, • Mutilo Lupion Quadros comerciante, Curitiba 20 quotas no valor
Joaquim de Almeida P~ixoto, Adélio R.'Ulliro de Assis e Hononto de Cr$ 20.000,00;
· Lupion Pereira. O capital social se eleva de Cr$ l.000.000,00 paca • Clemente Prima, padre, Mallet 20 quotas no v.Jor de Crf 20.000,00;
Cr$ 60.000.000,00 divididos em cotas de C:$ 10.000,00 cada: • Estefania Matioski Buskci comerciante, lviallct 20 qUotas no valor
Pedro Máximo Lupion com 715 cotas (C,$ 7.115.000,00) de Cr$ 20.000,00; ·
LeonoraSilva Peixoto com 350 cotas (Cr$ 350.000,00) • Elias· Wechinski comerciário Curitiba, 20 quotas, no valor de
Honorato Lupion Pereira 10 cotas (Cr$ 100.000,00) Cr$ 20.000,00;

128 129
• Dória Mathioski comerciante, tvlallct, 05 quotas, no valor de Social: Pedro Máximo Lupion 30 cotas (Cr$ 300.oJi,oo), David Wtlfo
Cri 5.000,00; Lupion 15 cotas (Cr$ 150.000,00), Olavo Vida!, Correia 10 cotas
• Miguel Potoski comerciante, Mallet, 05 quotas, no valor de (Cri 100.000,00),José Garcia Couri 5 cotas (Cr$ 50.000,00), Luiz Llebel
Cr$ 5.000,00; 5 cotas (Cri 50.000,00). David nomeia Pedro M, Lupion seu procuradot
• De um total de 90 cotas, Mucilo Lupion Quadros possui 20. Diretor-Presidente: Jorge Queiroz Netto; Diretor-Comercial Olavo Viciai
Altciações contratuais: Correia; Diretor Gaal: Francisco de L.tcca Filho (t~dos.· con:icrciantcs
Em 22/06/78 mesma razão socin~ e porcen~tagem de cotas entre sócios, residentes em Pirai do Sul). Conselho F1Sca~ (titulares)Alfredo Ribeiro
exceto Dória que deixa em espólio Cri 10.000,00 para Cesar 1.oyola de Souza, Farid René Avais, Menfort Ferrari; (suplentes) Silvio Calveci,
Flenik - o qual é radialista e procurador de Murilo Lupion Quadros. Luiz Liebel, Pedro Carneiro de Mello.
Alteni.ções contratuais:
10 MELHORAMENTOS S/ Á - REGISTRO GERAL - Em assembléia de 28/02/52 eleva o capital de Cri 1.000.000,00 para
(MICROFILME) 41300052310 Cri 2500.000,00 divididos em 250 cotas de Cri 10.000,00 [ao que deve-
se somar os capitais individWlis preexistentes]: Jorge Queiroz Netto passa
Em 20/mar./47 data do arquivamento do 1º arquivamento de processo
para Cri 933,60; David Lupion Cri 2813,60; 01:>vo Vida! Correia
(n.º 15,179). 14.971,90; Francisco deLucca Filho Cri 150.000,00;José Garcia Couri
"CÓnslniÇÕo jJDr íanta pnipria 011 romirrio de obm1, ittdilstrialização compra e venda de '{Cr$ 430.810,0; Luiz Liebel Cri 13.080,00. [Jorgé Queiroz Netto continua
materiais rorre/atliJ e qualquer aulro 'mmo do comin'io que iht ronvitr. ·~ diretor-presidente. Rcpresenb a "General Motors-dd Brasil'1,
Sócios: Mário. Eduardo de Barros João Ayt:ton Cornelsen, Miguel
1
Em 21/02/57 reeleição de Jorge Queiroz Netto como Diretot-Presidente
Queiroz, Antônio Batista Ribas, José Lupion. Em 1951,]. Lupion
e Francisco de Lucca Filho Diretor Cotl'lercial. Consdho Fiscal: Lauro
secretário da empresa. VolaC:01 Feres Constatino, Antonio Fanchin Ftllho. Suplentes: Renato
Alterações contratuais: Borba C2irnciro, Silvia Calvetti.
Em 15/04/1948 passa de Ltda. para S/A. Em assembléia 15/ mat/58: Reelege-se Jorge Queiroz Netto e Francisco
Em 1951 Ramiro cle Lucca Filho. Conselho Fiscal: Carlos Alberto Filizola, Silvio Calvetti,
- Em 1956 a empresa enln em liquidação.
Pedro Rodrigues da Costa; Suplentes: Feres Constatino,Antonio Fanchin
Filho, João Abrão e Luiz Carlos de Macedo.
11 "AUTO COMERCIAL S/A": REGISTRO GERAL
(MICROFILMADO) 41300042071 12 "RÁDIO CASTRO LTDA."

Contrato de abertura JCP contrato 18.733 10/11/49: Com autorização Ministério da Viação e
(Diário Oficial do Estado do Paraná n.º 116 de 17 /7 /48). Sede: Pirai Obras Públicas portaria 358 de 19/abt/50.
do Sul. "b Jt.11 ol!Jttivo romirria de compra. e vmda de alllomóvds, rami.nbões, óleos - Capital social: Capital social: Cri '350 mil; dividido ern 350 cotas. Destas
ÍJ//mjiranttJ, .!!fUOÚ,ra, pt(llI e a,euódo1 t arligo1 comfado11a®1 e qualq,ur outro
os Lupion possuem 191 cotas. Sócios: José \X/a1dcmar Fuskci [Buskei?];
artigo de rominio qmfar contlénitnlt na ao/ inltr:JJt.J da soa'tdatk" Capital sochl
Lauro Grein Pilho; Feliciano José de Menezes; Dário de Macedo; José .
Capital Cri 1.000.000,00 dividas em quotas de Cri 10.000,00. Capital
Pedro Novaes Rosas; Luis Prata Mestre; Eduardo José de Quadros;,

130 131
Francisco Cavalin; Ciro Novacs Villcla; João Moreira de Mel.lo; Pedro 13 FÁBRICA DE FÓSFOROS ALVORADA
Máximo Lupion; Mutilo Lupion de Quadros.
Alterações contratuais: . JCP ~contrato rÍ.~ 1915 10/05/50): Inicio das ativiihdes 11 maio 1955
Contrato ]CP 20.833 02/03/1951 'J1ltm,ção duontmfo social q11<faZJ111 tnlrt ti (sob esta razao soCJal), Ptraí do Sul (sede e foro). Ramo de;atividades: '1ntÍJíslria
José Wa/d,mar Fnckm (I«t:kth?), Feliriano ]os!Men,z.es, Dario d, Maado, ]01! Pedro uomirrio rk fósforo," ·
d, Notmt Rosar, údz Pmta Matn, Edmmio José d, Quadro,, Fnvuism Cadn, Capital social: Cr$ 3.000.000,00. (três milhões de ~eiras) Sócios Da',,;d
Uriat doJ Sant01, Pedro Ka/1,d, ]01é Moreim de M,&, Lmro Gnin Filho , Y"' (450 quotas,
_
cas-"-
no valor de Cr$ 450.000, 00'J bras. , .d -'
4U\/, res1 ehte em Sao
Nt:it.tW V'tllth"todos basileiros residentes em Castro com a saída dos "sócios Paulo (capital); Pedro M Lupion (2460 quotas, no valo~ de Cr$ 2.460.000 00)
quotistns senhores Lauro Grcín Ftlho, Francisco Cavallin e Cyro Novaes (casado e residente em Pira{ do Sul) e José Lup,.onJ/·"'" (90 '
1 . -- ~~no
Villcla com o ingresso dos senhores .Alberto Elvino Zappe, Alfredo va o~ de Cr$ 90.000,00) (brasileiro solteiro residente em Curitiba).
Schendioski, Vespasino C.meiro de Mello, Otto Kugler, Germano Kugler, Presidentes; conselho fiscal: A •dministracõo • . d
- - . _ _ _ _ 7- e g~ene1a a.empresa
Antonio FerrciraSalgado,Divaldo Samuel Esquinazi, Pedro Mmm.o Lupion cabem a David \Vtlle Lupion e Pedro Máxim Lu . .
_ o pion, compebndo a
e Murillo Lupion Quadros, com que fica t1mbém aumentado o capital de Ambos os encargos ndtninístrativos.
Cr$ 200.000,00 (duzentos mil cruzeiros) para Cr$ 350.000,00 (trezentos e
cinquentn mil cruzeiros)" dividido cm 350 quotas de Ct$ 1.000,00 (um mil 14 INDÚSTRIAS BRASILEIRAS DE PAPEL LTDA. REGISTRO
.'.ruzciros) da seguinte furm.,: José Waldemar Fucksh 5 quotns no valor de ·· GERAL ]CP MICRO FILMADO 41300033790 . . . ·
Cr$ 5.000,00; Feliciano José Menezes 2 quoms no valor de Cr$ 2.000,00;
Dario de Macedo 3 quotas, no valor de CrS 3.000,00; José Pedro de Alterações.contraruais:
Novacs Roas 5 quohlS no valor de Cr$ 5.000,00; Luiz Pram Mestre 3 - Em 25/01/51 (contrato 20566) os sócios são João Fernandes lvfc •
João S ' ·· J - L · . rum,
quoms no valor de Cr$ 3.000,00; Eduardo José de Quadros 2 quoms no . ~arto e oao upton Filho, a empresa situa~se no munidpio de
Jagumtva.
valor de Cr$ 2.000,00; Divaldo Samuel Esquinazzi 20 quotas no valor de
Cr$ 20.000,00; Unas dos Santos 6 quot:lS no valor de Cr$ 6.000,00; Pedro Em 28/06/5.1 as InduJ/rias BraJiúims d, p0 ,.,, , •Ja • tran e
'1'" LI, • <1C Slormam cm
Kalled 4quotas no valor de Cr$ 4.000,00;João Moreira de Mello 10 quotlS S.A. ?.capi~l social se eleva de Cr$ 300.000,00 para Cr$ 30.000.000,00.
no valor de Cr$ 10.000,00; Alberto 1\lbcrto ·Elvino Zappe 53 quotas no Os soCJos ate então João Fernandes lvlenim João Sgu. . J - L .
Filh . ' ano e oao up1on
valor de Cr$ 53.000,00; Alfredo Schendroski com. 10 quotas no valor de o, ª. ~arur de então entram outros quatro sócios a seguir. A
compos1çao da sociedade serâ a seguinte: ·
Cr$ 10.000,00; Vcspasiano Catnciro de Mcllo 5 quohlS no valor de Cr$
5.000,00; Ülto Kugler 1 quota, no valor de Cr$ 1.000,00; .Antônio Fctrcira • João Fernandes Mením (mdustrial Itararé - SP) Cr$ 2.250.000 00·
Salgado 4 quohlS no valor d de Cr$ 4.000,00; Pedro Mhímo Lupion 100 ' Jofo Sguário (industrial Piraí do SuQ Cr$ 6. 300,000 OO· ' '

quotas no valor de Cr$ 100.000,00; Mutilo Lupion de Quadros 91 quotas Pe~r~ Máximo Lupion (industrial Piraí do SuQ CrJ ~4.;00,00;
no valor de Cr$ 91.000,00. ' Adelio lutruro de Assis (industrial Curitiba) CrJ 1.200 00·
Em 1951 (quando entram os Lupion) Divaldo Samuel Esquinazi e Alberto • Luiz José Sguário (industriol Itararé_ SP) CrS 4.Soo,oo: '

Elvino Zappe ambos diretores; Mutilo Lupion Quadros represenw:\ a ' João Lupion Filho (faz. It2petininga _ SP) CrJ 600,00;

empresa em jilnlo aos padtm romptllnltt, emjulzo ou fora dek 1


:
... •Anacleto Pues Puriatti (industri,l Piraí do Sul) Crt 450 ,00.
Ações de Cr$ 1.000,00 ada, mandato da cliretocia de'3 ::-nos.

132 IJJ
i
totalizando 4.100 hectares d~ntro da comarca:·.de Jaguariaíva. Na
- A onta que há um débito de impostos pelo uso do potencial hidréletrico
p .. 8/ negociação parte da área foi anteriormente vendi~a à Cesário Manoe~
dos rios Cachocirinha e das Cinzas (citada a Coletoria Federal em Jaguanatva
sendo o procurador para José Ubirajara RolimLupion na venda o senhor
maio/51). . · , . Ermelino Ribas. Assinam os representantes do total do capital social:
_ Assembléia Geral Ordinária 28/jun./52: elege Conselho F1Scal: Amsto
Hermínia Rolim Lupion, Ruy Goulart Gandara,Joào Fortun~to Bulcào
Hcrmógcnes Bartolomci, Alfredo Ribeiro de Souza, Isaac Fa~el;
de Mello, Joana D'Arc Lupion Gandara, José Ubmjara ·Rolim Lupion,
Suplentes: Casem.iro Brichita, Frederico Holtz,Jorge Dcodato Lemotne.
Vera Maria Amaral Lupion, Adélio Ramiro de Assis, "Btmil.At,rop,aiária
Assembléia Geral Ordiruí.ria de 30/04/53; O conselho fiscal.reeleito
SA. -Agrobral' por quem assina Ruy Goulart Gandara.
· "d ade,. Adélia Ramiro de Assis é secretário, assinam Pedro
por unarunu Outras informações úteis: A empresa utiliza-se em São Paulo dos escritórios
Máximo Lupion (Diretor Geral) e João Sguário.
da madeireira Santisi S/A e em Curitiba da M, Lupíon & Cia, pelo uso destes
Assembléias Gerais Ordinárias de 30/abr./54, 30/abr./55, 08/abr./56
, pagam comissões às firmas.
reeleição diretoria e conselho fiital (titulares e suplentes). . .
Assembléia Geral Ordinária 29/abr./5_8: Pedro Máximo Lup1on dir.
OUTRAS EMPRESAS COM LUPION
presid., Alfredo Elias secretíri~ da Assembléia. Conselho Fisca~ Alfredo
Ribeiro de Souza, Isaac Fadei Netto, Alcino Abreu Santos; Suplentes:
Angelo Farolim Gabardo, Casemir~ 1,':1°11ta, Jorge Dcodaro Lem~ine. 15 INDÚSTRIA ANTONIENSE DE PAPEL S/ A (REGISTRO
Ém 30/01/61 informa criação de filiais cm Mafra-SC, Pedro Máximo GERAL MICROFILMADO 41300044376)
Lupion Diretor, mesmo canse.lho fiscal, Alfredo ~lias s,ccr. da ~~embl~
Assinam 05 sócios Pedro M.íximo Lupion, Alfredo Elias, Adélia Ramiro 'TndlltlriaAnlonienr, d, Papel S/A"; fundada em: A firma esta registrada no
de Assis, Silvio Gustavo Wille,José Cru:los Wtlle, Anacleto Pires Furiatti, Departamento Nacional de Industria e Comércio sob os n. 0 6.310 e 19.375 cm

João Sguário. . , . 07 /01/46, Capital social: O capital da firma é de Crt 87.000.000,000 (oitenta e
Assembléia Geral Ordinária 26/ abr./ 61: Assinam sóctos Pedro Máximo sete milhões de cruzeiros); Quais as porcentagens de cada só,ào: Moysés Lupion
·
Lu pton,
Alf-rc d o Elias ~ Adélio Ramiro de Assis.José Alves Corrêtt, Silvio possui 100 ações no valor de Crf 100.000,00 (cem mil cruzeiros) (In: Diário Oficial
Gustavo \Vtlle,João Miguel Lupion, . junho 1949, scçào 1); % de quotas para se tomar decisõ6s: Moradia e profissão
_ Em 1964 Rui Goulart Gandara é Diretor; Conselho Fiscal eleito: Roberto destes: Em 21/10/1952 "Comparec.,,:am os outorgantes !talo Pelizzi, brasileiro,
Caetano do Amaral (adv.), Hamilton CalderarÍa Leal (médico), Octavio · engenheiro residente na capital federal; Valdir Gonçalves Tostes, brasileiro, médico,
Alencar Lima (engenheiro industrial) [todos de Cw:itiba];Suplentes: Miguel residente na capital foderalj Valdemar da Silva Bojunga, brasileiro, residente na
Balduy (indusrriaQ, Diogo Lucchesi (advogado), Manoel Cursmo Dias capital federal; Moysés Lupion, braaileiro, industrial, residente em Cw:itiba; Mueller
Paredes (advogado). & Irmãos Ltc:la*, secliada em Curitiba; Dona Marina Gomes Figueius, brasileira,
Assembléia Geral Extraordinária 30/set/64, o capital social passa de · doméstica, residente em Petrópolis estado do Rio de Janeiro. Os quatro últimos
Cr$ 30.000.000,00 para Cr$ 90.000.000,00. A "Bmnl.Agroptauiria S/A- representados por Italo Pelizzl seu procurador.. Também compareceratn Tbalino
.Agrobras" representada por seus diretores Herminia R~lim ~;'ion, ~y Barbabedo de C. Botelho, brasileiro residente na capital federal, esse representado
Goulart Gandara,Joào Fortunato Bulcào de Mello e Jose UbtraJata Rolim por seu procurador Valdir Gonçalves Tostes por ato particular; Mirsilo Caspari,
Lu ion, ajudou a realizar o capital adicional de Cr$ 60.000.000,00 através comerciante, brasileiro, residente na capital federal; Luiz G002aga do Nascimento ,
P - de 3 mil hectares da fazenda Cajurú e mais 1.100hectircs,
d a mcorporaça0
135
134
e Silva advogado, brasileiro. residente O.a capital federal; Eulálio Nascimento e • Laura Gravina Fiorillo Cr$ 50.000,00 (com 10 ~otas);
Silva Filho advogado, brasileiro, residente na capital federal; Heitor do Nascimento • llivadavia Garcia de Lara Crt 50,000,00 (com 10 cotas).
e Silva advogado, brasileiro, residente na capital federal; Vicente Ferrer Gaede ~ *Alguns dos sócios não H.realiz-!Ilu todo o capital (~.: Vicente F.). As
medico, brasileiro, residente na a,piral federal Presidentes: Demonstenes Madureira cot.as acima se referem ao capital qt:Ie aumentou, não ao totaL
de Pinho; Primeiro e Segundo Secretários: Pierre I,lrnbosch, Homero Fc.rreira Ange1o Rolim de Moura Diretor-Gerente renuriciou na assembléia
Pinto (Diário Oficial 13/set/1952) de 10/ out./ 48. Conselho Fiscal: Vespasiano Carneiro de Mello,José
Alteraçà_es contratuais: Trarisformada etn sociedade por quotas a "Ittdmln'a Waldernar fucksb, Dárlo N[tlcgívcl) Macedo Qndustrial, Castro);
Anlanitn,, dt Papei Lida" passa para "S/A "através do contrato registrado na JCP Suplentes: Antônio Marques de Souza (fazendcito),Jorge Xavier da
em 17 /jan./1949. Silva, Jahir Rolim de Moura. As porcentagens de ações do capiral
social é a seguinte: · ·
16 CASA BANCÁRIA VICENTE FIORILLO. REGISTRO GERAL • Vicente Piorillo Cr$ 375.000,00 (com 75 cotas);
N" 41300035083. • Vicente Piórillo 1300 ações (1300votos);
• Felippe Piórillo 100 ações (100 votos);
Em OS/ mar./ 48 capital social pa~sa de Cr$ 250.000,00 sobe pata • Angelo Rolim de Lupíon 100 ações (100 votos).
· Cr$ 1.000.000,00 dividido em 200 cotas de Crt 5.000,00 cada. • Oscar Martins T10el 100 ações (100 votos);
Em 16/09 / 48 capital social Crt 1.000.000,00 passa para • llivadávia Menarim 100 ações (100 votos);
Cr$ 2.000.000,00. Diretor Superintende: Vicente Pia'rillo, Diretor
• Maria Rosa Fiorillo Casella 100 ações (100 voiós);
Gerente: Angclo Rõlim de Moura. Sede: Castro. • Laura Gravina Píorillo 100 ações (100 votos); .
No dia 06/ mar./ 48 o capital social pnssa de Cr$ 1.000.000,00 para
• Rivadavia Garcia (Grada?) de Lara 100 ações (100 votos).
Cr$ 2.500.000,00. Sócios: Vicente Píocillo (Banqueiro e industrial); Osa,r " Total: 2000 ações - 2000 votos.
Martins Tinel (industrial), RivadávÍlt Garcia Lara (engenheiro), Angclo
Rolirn de Moura (bancário e proprictárío). Maria Rosa Fi~rillo Casella FONTES SECUNDÁRIAS
[??? O terceiro nome, Casella, nàa muito legível].
Em 06/set/48 (Diário Oficial seção 1) os objetivos da sociedade: "Obj,ta 1. Gazeta do Povo .01.47
da 1ociedadt: ope111f3e1 bancária! [... ~ech~ ilcgívcij, emprl1ti~oI efina11àamento 2 Gazeta do Povo 31.01.77
por ran/a própria dt ttrnirw [...]. O fim da 1adedadt I a explorarão da negJria 3. Estado do Paraná 1951
banain'a ,m wdaJ a, modalidadts, exa///lUÍaJ ar opemçfo dt mdit. rral, a v,nda 4. Estada do Paraná 1951
d, pmla(Õ<I, dt titular da dívida públira. A rariedadt podtni ainda exploror roma 5. Relatório Rivadávia Macedo de 1933
imobiliánO e outrru, s~ ma ronwnilnda eco,uoante mohlção da maioria dar quotiJ!aJ. " 6. Relatório Mader de 1935
Divisão do capital social (200 cotas de Crt 5.000,00) aumenta:
• Vicente Piorillo Cr$ 375.000,00 (com 75 cotas);
• Pelippe Piorillo Crt 60.00,00 (com 12 cotas);
• Angelo Rolim de Moura Cr$ 60.000 (com 12 cotas);
• · Oscar Martins Tine! Cr$ 60.000,00 (com 12 cotas);
• Rivadávia Menarim Crf 50.000,00 (com 10 cotas);
• Maria Rosa Fiorillo Cr$ 50.000,00 (com 10 cotas);

136 131
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140
1. INTRODUçAO

O presente trabalho 1 aborda a poli~ca paranaense a partir~ reconsÜtvição'


da trajetóna social e po!Jtica de Bento Munhoz da Rocha Neto, membro da classe
dominante paranaense e de uma família tradicional dO Estado. que 'teve dCStaque
no cenário político paranaense -após o processo de rcdemoc~~çào d~ 1_946.,,
Bento Munhoz foi herdeiro politico das oligarquias da República Velha. Seu pai,
C.etano Munhoz da Roch•, e seu sogro, Affons6 Alves de Camargo, governaram
o Paraná no período entre 1916 e 1930. Durante a República Velha, o poder
político em nív:el regional é exercido pelas oligarquias vinculadas à economia do
mate e à Cco~çmUa pecuária. Caetano pertencia à oligarquia vincul~da à economia
da eCVa-m,.te, cnquan'to Cama.rgo pertencia à oligarquia vinculada aÇ)s proprietários
de terra dos campos gerais, à econo~a pccuâcia. Alternando a 'presidência e a
vice-presidência, governaram o Paraná de 1916 até a ºRevol~çã~ de 30", pelo
Partido Republicano Paranacnse.
Manoel llibas foi interventor do governo Vargas no Paraná no pc~odo
entre 1932 e_ 1934. Com a volta da normalidade institucional, Manoel Ribas é
eleito Governador do Estado pela Asscrnblêia Legislativa. Após o Golpe de Estado
de 1937 e a instauração do Estado Novo,-Manocl Ribas volta a sct' o interventor
no Paraná, permnnecend°. no cargo at<é a queda do Estado Novo.No longo período
em que governou o Paraná, Manoel Ribas estabeleceu uma relação entre o poder·
do ?5tado e as forças econômicas dominantes tradicionais. lvfanoel Ribas foi
fundador do Psn· no Paraná em 1933, tomando~sc o presidente honorário deste

"Agcadcço 20 Profcasor Doutor Ria.rdo Costa de Oliveira (Ciência Poliria - UFPR), que
me incentivou a estudar a polftic:1 pacanaen,c e contribuiu com sua: lcitur:a àiric:t e rngcstõcs
na elaboração dc,te tra~lho".

143
partido cm nível regional. Com a morte de Manoel Ribas, o empresário Moysés
Lupion ru:ticulou a sua pré-candidatura ao governo do Escidopclo PSD, dispucindo
com outras forças políticas, corno a de Brasil Pinheiro .Machado. Vitorioso na
disputa pelo controle do PSD, Moysés Lupion tomou-se o herdeiro político da
estrutura de.poder criada por Manoel Ribas. As eleições pru:a o governo do Estado 2 TRA]EI'ÓRIA POLÍTICA DE BENTO MUNHOZ DA ROCHA NETO
de 1947 foram disputadas por Moysés Lupion e por Bento Munhoz da Rocha
Neto. Embora tivesse um perfil moderno, Bento 1-funhoz manteve os vínculos
com a herança política que recebeu das oligarquias da República Velha, ingressando
21 TRAJETÓJU,\ SOCIAL DE BENTO MUNHOZ
no Partido Republicano. Em sua trajetória política,. Bento Munhoz tomou-se
depurad? federal por dua.s legislaturas, governador do Paraná entre 1951 e 1955 e
Bento Munhoz pertenceu a uma familiá da class d .
tllmbbn Ministro da Agricultura no Governo de Café Filho. proprietária-de engenhos de-m ... tc li d e o~ante paranaensc,
.. "' e ga a ao com· ci · · - do
Este estudo ttm por objetivo construira trajetória política de Bento M1;mhoz Uma familia de religião católica, c j d . er o e:xporci r deste produto.
da Rocha Neto, político e intelectual parnnaense que teve destaque na vida pública Munhoz. Seu pai, Caetano lvfunho: ada ~~a e.,crce forte tn~uência sobre Bento
paranaense, assim como no cenário político nacional. Além disso, visa-se tecer .,
viuvo por duas vezes. Bento u .... ,
e a, casou-se por tres vezes te d .
• lilh. :
·oo
' n o SI
LVllJ.IUlOZ e o do prim .
considetpçõcs sobre a gestão de Bento Muohoz no Governo do Estado do Paraná, com Olga Souza Munhoz da Roch C . . etro casamento de Caetano,
no período entre 1951 e 1955. a. om a pomeua espos-:1 C ._ M
dez filhos além de ·d - · · · .., ae ... no unhoz teve
• ter 11 o um @ho com Domítilla "-- 'd M h .
Este trabalho divide-se em dois capíntlos: o primeiro trata da trajetória social a
segunu.1 esposa, e mais um fúho e .
.oune.i ' un , oz da Rílch a, sua
. , om sua tcrCC1rn espos S 1 . B
e política de Bento Munhoz) no qual se procura mostrar como este ator policico Rocha. O • ª• Y via caga Munhoz da
s avos maternos de Bento Munhoz são o Ma. . ,
teve uma postura política modernizante, de um homem burguês. Além disso, Souza e Francisca C.'ltneiro d S , Jor .Manoel Frandsco de
e ouza. Seus avos pat .. --r
procura-se mostrar como no decorrer de sua vida se t_omou um ideólogo da Bento Munhoz da Rocha, e .p . emas sao O ..1.enente Coronel
que ,01 res.tdente da Câmara M .... 1
sociedade capitalista, defendendo organicamente os interesses das classes dominantes. falecidoem1896 eMariaLeocádi M uruapa deParanaguá,
' a un I1oz da Rocha. Seus bi ,. .-
Bento Munhoz teve fortes vínculos com o catolicismo, e a defesa da.ordem bucguesa Coronel Dento Munhoz da Roch ~ M . savo~ pat.s do Tenente
que empreendeu foi marcada por sua orientação religiosa. Foi um intelectual católico :i., sao anoel Marttns da Rocha 1.-fru:i Li .
Munhoz, sendo que os pais de Maria Lc cli e a Ch'l
e defensor de uma civilização burguesa cristi. oca a Munhoz são O T, C
Caecino José Munhoz e Franciso Canclid d A . ( . cnente orond
O segundo capitulo trata da gestão de Bento Munhoz no Governo do . a e ssts NEGR.\O 1926 P 235 259,,
Francisco Negrão cm seu livro "G 1 , ' ' . - J·
Estado. Tecemos considerações sobre os aspectos de maior relevância que ' cnca ogta Paranaense" J b ,
genealógica da familia lvfunhoz eh • , .e a ora a arvore
caracterizam o seu governo. Entende-se que a gestão Dento Munhoz se insere N li • . • egando ate seus ascendentes da península lb •.
este vro, Ncgrno ctta um discurso de Akid lvI cnca.
numa conjuntura nacional marcada pelo dcscnvolvimentismo. A sua gestão na .Academia de Letras do p , r- 1 es unhoz, quando este tomou posse
procurou estruturar o- Estado visando garantir seu processo de desenvolvimento arann,· •• ando da origem da famili a Munoz. h

social e econômico. Considera-se que sua gestão se deu no sentido de consolidar


_-\ Familia nfunhoz no Sul do Bnsil e nas re ublic . •
a unidade política do Paraná, assim corno de firmar Curitiba como o centro tronco de origem . . p .u platinas proveem de um único
que teve o sc.u mício em T . .
político do Estado, assegurando a sua condição de capital do Estado. O seu ptim . . arancont provtnaa espanhola de Cucnca.
euo rcprcaenuntc foi um empre d • . .
J\o estudarmos a trajetória política de Bento Munhoz pretendemos X\ff u d ga O rcgto de tmpo:stos no sêculo
" · m os seus descendentes veio P , . , •
r. ara a ..,.mcnca em meados do século X\'111
contribuir para a compreensão da realidade política paranaensc. \ 1era co mili ·
' mo t:u, para. as posses.sões e.spanl10Lls do sul. para a Banda Oriental,
144
14S
foi eleito Senador da República, mas Oào cumpriu inteiramente o;mandato, sendo
. oroa A. família espanhola Munhoz não possuía
d
\mente, cm servtÇO a e ·• ' 'vcl A afastado quando da "Revolução de 30". Em 1935 foi eleito para a Assembléia
provave _ . E t d.avia de classe respeita · •
·· · a nem argcnta.n:t. n, 0 '
Constituinte do Estado do Paraná pelo partido "União Rcpubli~tla Paranaense",
nobreza, nem consangwnc ' nhecida ma Espanha e na
. , • ue a enobreceu e a tomou co
indole altiva, porem, e q D F do 1\Innhoz foi o segundo do qual foi presidente. Finalmente, Caetano Munhoz foi Presidc11.te do Conselho
d d dentes do tronco. . etnllll ' ~
Franç-,. Um os cscen . -"' n.ltJNHOZ apud NEGR.\O, Administrativo do Estndo, nomeado por Getúlio Va.rgas, demitÍndo-se, porém,
aínha Christina regente da Esp-u.... a. V' , ' •
esposo d a r ' um ano após a nomtaçào. Faleceu em 23 de abcil del 944 (PINHEIRo"~L\CHADO,
1926,p. 236.) 1969, p. 308-310).
Bento Munhoz iniciou seus estudos em Pa.ranaguá, no c;'.alégio São José,
O bisavô de Bento Munhoz, c~etano JoSC Mu~hozz, parti~::ó::
. . ov-ernador da Provinc1a, acanas onde fez o primário. Cursou o secundário em Curitiba, ~o Gin~io DioccsanÓ,
solenidades de posse do pruneu:o g "d· · . (\ll!EID.\ 1989, p. 32). Com uma escola dos padres Lazaristas. Estudou engenharia na Univcrs~dade do Paraná.
eando-o em sua rest encta • ' .
Vasconcelos, homenag i • familia Munhoz da Rocha se ap~XJ.tnª da formando.se em 1926 (PERFIS P.',RLAMENT.ARES, 1987, p. 44), ·
O íng'resso dá pai de Bento na polittca,.a ' ligarquia parannense, nus ligada à Casou-se em abril de 1929 com Floo Camargo, filha de Affonso Alves de
t nte tambcm a o ·
familia Camargo, per ence • " . 11 m ambiente familiar impregnado . Camatgo, um politico da República Velha que foi Presidente do Estado do Paraná
. , , Vi e, desde sua tniancLa, u
economta pecuarta. IV a uá-PR, no dia 17 de dezembro de no-período de 1916 a 1920, como vimós acima, e.novamente de 1928 a 1930
de vida politica. Quàndo nasceu em p~~ g . rgo de deputado estadual (PINHEIRO ~L\CFHDO, 1969, p. 271). A avó_ de Bento havia sido madrinha de
. - M nhoz da Rocha, Jª cxetoa o ca ,
_1905) seu pai, Cactnno u , \n'toniria Estado do Parana. em batismo de Fiam Camargo. Em entrcvÍst:t i Folha de Londrina; Flora, falando
· .,. h d Rocha nasceu em n '•
Caetano Mun oz a • .. F Idade de Medicina do Rio sobre o êa~amento, faz a seguinte afi.tmação: "Fui de carrua.g~. puxada por
. 9 F . e em mcdícma, na ~acu • .
14 de maio de 187 · armou s p • Em 1905 abau quatro cavalos, da casa amarela ali na frente (na praça Osório) até a Catedral".
li .- do durante três anos em arnnagua.
de Janeiro em 1902, e t11can h & Irmão ·1untamcote com seu O casamento, realizado à meia-noite~ teve 46 damas de honra. Passaram a lua-de-
· · Munhoz da Roe a 1

uma empresa de comerc1.0, a


M Caetano Muhhoz optou atuar na
. politica sendo eleito
. , '
mel na Europa (FOLHA DE LONDRINA, 21 jan./1996, p. 8). De acordo com ii
irmiio Ildefonso. as ·
. l tiva Estadual para o tento 1
b·• . 904-1905 pelo Parudo
• Flora, dizia-se na época de seu casamento, que este seria "uma união política para ti,,
deputado ao Congresso Lcgts a . l\,la hado Foi reeleito para as reforçar a oligarquia. Aquela inverdade nos ressentia por sermos dois enamorados
· . chefiado por Vicente c ·
Republicano Paranaense, úl. período o lºVicc-Presidente, recêm-saldos da adolescência" (!.!UNHOZ D,\ ROCHA., 1985, p. 192).· É certo,
d 1906 07 1908-09 sendo neste tuna
legislatur11s e . ' ' 912-13 1914-15. Finalmente, elegeu-se porém, que este casamento reforça a união entre as' duas famílias. FJ0111 Camargo
1 gl 1 t ras de 1910-tl, l • ·
e ainda para as e s a u , d foi Presidente do Congresso estudou n~ Colégio Sacré-Coeur do Rio deJaneiro e, posteriormente, foi fundadora
d 1916 17 peao o em que
para a legislatura e · ' . . , ai d Paranaguá em 1908, sendo deste Colégio em Curitiba. Escritora, é membro da Academia Feminina de Letras
F i eleito Ptefetto Muructp e
Legislativo Esta d ual· 0 • d 'm em15denovembto do Pamtá, da Associação de Jornalistas e Escritores do Brasil, da Academia de
., . d 1912a 1916 renunctan o,pote '
reeleito pàra o quatrteruo e . ,' C "b (CIRCULO DE ESTUDOS Letras ''.José de Alencar" e do Centro Feminino de CuÍturn. Tiveram cinco filhos:
• d passa a restdír em urtt1 ª
de 1915. Nesse perto o . d 1916 a 1920 no governo Caetano, Mitsy, Daysi, Sandra e Suzana.
1944 271) Nopedodoquevat e '
BANDEIRANTES, • P· . . 1º Vice-Presidente do Estado, ocupando Bento Munhoz começou n lecionar_na Uni~crsidadc do P~nâ em 23 de
de Affonso Alves de Camargo, fot ,. n.- d e,posteriormente,deSecretário outubro de 1940. Foi profc3sor de História da América na Faculdade de Filosofia
, d Se etário Estadual wo '·ouen ª .
rambem o cargo e cr . , . ""EGRÃO 1926 P· 247). Em seguida, e deu aula de Problemas Brasileiros na Faculdade de Medicina. Na Faculdade de
a. A . ltuta e Obras Publicas I!'' ' '
da Fazenua, gncu ' d . n<latos exercendo o cargo de Engenharia, ocupou as C2deir:ts de Economi2 PoUtica e Ciências das Finanças, de
d Estado do Para.na pnr ots ma •
foi Presidente o A ir do Governo do Est:tdo, -Geologia, de Mineralogia e de Metalurgia. Foi ainda professor de Sociologia na·
1920• 1928, pelo Partido Republicano Paranaense. o sa
141
146
Miele que, na época (1929), era Catedrático de Filosofia do Inte~nato do Ginásio
Pontifícia Universidade Católica do Paraná; professor no Instituto de Teologia de
Paranaense. O padre Luiz CT. 1vfiele convida ''. ..várias figuras rÇprcsent:ativas do
Curiciba; n• Escola de Altos Estudos de Adminlsttaçào Internacional e, finalmente,
nosso meio intelectual pnra co-partídparem de tão patriótico empreendimento"
professor de Psicologi,, c'Lógica no curso Pré-engenheiro (PERAS p_-\RL.'Jl!ENT.-\RES, (Fernandes, 1934). Representantes do meio intelectual paranacnse, mas com a
1987, p. 44--45). ressalva de serem de religiào católica. Ou seja, o con~•ite é fcito ap~nas a jntelcctuais
Foi Presidente do Sindicato dos Engenheiros do Paraná; Secretário do Conselho
cat6licos. O General Luiz Carlos Pereira.Tourinho diz, em entr~vistal, nunca ter
Regional de Engenhnrfa e Arquitetura dn 7' regiiio; membro do Instituto Histórico e
sido convidado para ser membro do Círculo, visto não ser de religião católica. Os
Geográfico do Paraná e do Centro de Letras de Pnrfill/'guá (Ibidem, p. 44). sócios fundadores do Circulo são: Padre Luiz Gonzagt :tv[Íele, Catedrático de
No 'decorrer de sua vida, escreveu e publicou muit~, d~de a juv~ntude.
Filos~fi~ do Internato do Ginásio Par:anaensej António Rodrigt;ies de Paula., Juiz
Escreveu vários prefácios e introduções de livros, assim corno muitos ensaios.
de Dtretto; 1'-faestro Bcnedicto Nicolâu ,dos Santos, Publicista e lviusicista; Bento
Dentre os diversos livros que escreveu, podemos dest.1ca.r "Presença do Brasil",
Munhoz da Rocha Neto, Engenheiro Civil;. C,rl~s Araújo de Brito Pe;eira
de 1960, pela José Olympio Editora; "Mensagem dti América" (sem dat.,), pel•
Cntedráti.co de Português da Escola Normal da C•p1't-'·J
.. m, ase• Lour.eu:o
• A sccnçao
-'
Iinprensn da Universidadc·do Paraná, e "Ensaios'\ de 1969, pela lrnpre11-sa da Fernandes, tvfêdico e posteriormentC um dos co· o· epartamento· de
l' rmado· res ·d o
Universidade Federal do Paraná. Seus discursos proferidos na Câmara dos Antropologia da Universidade do Paraná·, José de Sá Nunes; c·a t ed rattco
' · de
.
Deputados fornm publicados, cm 1987, pelo Centro de Documentação e
Portu~ês d~ Ginásio Paranacnse;José Farani i'.fansur Guerios, A~vogado; Liguarú
Informa.çào da-Câmara dos Deputados. O livro "Uma Intcrpret1çã? _da ~êrica'',
Espírito Snt1to, Engenheiro .Agrônomo e Professor normalista; redro Ribeiro de
", .. surgiu de estudos na minha cadeira de História das.Américas, na Universidade'\
l\facedo ~osta, Catedrático do Ginásio Paranaensc e da. Faculda~c de EngeÕhnria
enquanto "Presença do Brnsilu surgiu " ... como um imperativo de falar sôbte
do Parana; \v'aldemiro Teixeira de Freitas, Catedrático do Gin~sio Parnnaensc e
nosso angustiado Brasil que não precisa ser salvo, apenas compreendido."
tn,'\S
da Faculdade de Engenbarin do Paraná (Ibidem, p. 1-3). • ·
(DI\'ULG.-\ÇAO P_-\R..-\N.-\ENSE, set./1963, não paginado). Ao falar dos ptimeiros dez anos do Círculo de Es~dos Ba0deirantes1 Bento
Embora tenha se formado em engenharia e ocupado o cargo de engenheiro
Munhoz afirma que o Circulo, "Enamorado da unidade e da or~em. disseminou,
(na Caha Econômica Federal), não se dedicou efetivamente a esta profissão. Bento
em curso regular, pteccitos definitivos do tomismo. Pregou na hora delirante dos
Munhoz acabou inclinando-se para a área de humanas, o que é evidenciado pelos·
imediatismos e dos êxitos, o primado eterno do espírito." (ROCIH NETO, 1939
seus escritos, discursos e pela sua carreira acadêmica, pois foi professor de História,
p. 1). Na ocasião em que o Circulo completava o seu "jubileu de:'Prata", em 11 d~
de Sociologia e de Psicologia. As suas maiores preocupações intelectuais estavam
setembro de 1954, Bento Munhoz faz um discurso afirmando que:
centrndas no tema da democracia e da formação social e cultural do Brasil e,
particularmente, do Paraná. Vejamos alguns aspectos de sua formação intelectual Uma das m:tiores arl\'tdades do Cín:ulo se desenvoh•eu no sentido nilo apenas de
e as influências mais marcantes incorporadas por Bento ~lunhoz. Primeiro deve cultuar os nossos gnnd~ nomes e de valotiza'r nossa gente, mlls sobretudo no de
ser destacado seus estudos no Colégio dos padres lazacisms, onde Bento é iniciado defender as caracteristio.s e as definições do cenário pararn&~nse. No curso de
nos estudos de hum,nidades. Neste Colégio, os padres T,ddci e Olímpio despertaram Filosofia do Pe. Jesus Ba1arin, ele nos obrigava a estudar, sist~aúzando nossas
cm Bento 1-llunhoz o interesse tanto em Hístócia quanto em literatura., interesse
que Bento diz jamais abandonar.
Dando·continuidade aos estudos de humanas, participa de alguns cursos
no Circulo de Estudos Bandeirantes, onde viria a ser Presidente por quatro vezes.
Entrcvi~t.::i. tC:lfu:.ida pelo :mtor no di:l 9 de no\'cmbro de 1995.
O idealizador do Circulo de Estudos Bnodeir:mtes foi o padre Luiz Gonz•ga
/49
148
atividades intelcctuaís. Foi, de fato, cxtraordÍ~ârio, que na dispersão e na anlll'(}uia do -margem, apenas como acervo da iocontcntável inteliO-.:ncia do ~Omcm '
b- , • O ssl.5 1emas
pensamento moderno, pudês.sc.mos tera felicidade da disciplina filo~ófica. Ter alguém que or.i tendem para wfi, ora para outro lado da sua tmjetóci~ retilln~, sistemas
essa referência, esse termo de comp:u:a.çãot essa medida que é, acima de tudo, o que são apenas concepções incompletas e deficientes do ~njunto maciço e
pensamento da filosofin perene., da filosofia que não passa com a divulg:ição das invulnerável da vcrcbde ltnia. Por isso, se a humanidade tivJsc senso, se umas
verdades parciais, mas que se prende e gravita cm tomo da verdade absoluta, geraçàcs aprendessem na experiência de outras gençôe5, i:b~tração feita da
indiferente e independente da ordem cronológica, ter alguém essa referência equivale referência cronológica.,. não se daria a den_ominação de tom.ismo a esse monumento
a apresentar-se diante do pensamento contempotâp.eo sem unidade, com uma sllprcmo do pensamento, cultuando~se assim o gêniO do sant~ e a santidade do
notáVel independência mental para julgar suas íafüas e suas concepções unilaterais gênio. Nem de filosofia perene. Mas simplesmente de filosofia.·. lJois é·a única que
que passam como a moda. A verdade em si. a verdade que continua, verdade que existe. O restq sfo nuvens que passam.(...) O Tom.ismo, catôlico·porque verdadeiro
é verdade, embora não aceita, fascina o h~mem, o grande interessado em atingi-la. e não verdadeiro porque católico, florcscen.tenC!lse áwco século',XIII, cujo sentido
O Círculo foi o caminho da verdade e a disciplina llltdcctual de wna geraçio, de hientrqui:t e de vida, o mundo moderno Vlli ressurgindo a seu :µiodo, pau O bem
Nasce~ humilde na ~asa de Asc~n~ão Fer?andes e a h~ld;de do seu n:lScimCtlto ou para o·mat_ resiste a todas as agressõe-a, sem envelhecer nem~ gastu. (...) Ele ê

ganntiu o êxito·ckneu destino. Foi um destino sério, longe do academismo, longe a verdade. que não encancce, mas que 11c rcnÚva. Que é sempre contemporânea de

do formalismo, longe do pensamento divulgad~ da intelectualidade convencional i


todos os tempos, que é sempre a~ porque simplesmente a ve~dadc. O Tomismo
que pregais e que escutamos, certo não dhpcnsatá a as 5ístên~ da fé não fará a iJ
e grã-fina, longe da encenação aplaudida, daS igrejinh;i,s literárias, do dá lá tom;, cá 'ij
felicidade integral da vida terrena, poi.5 o que nos inquieta é O te~po a ~ue lU<lo se
dos elogios mútuos e da consagração dos velhos medalhões (ROCI-L-\ NETO, "
1954, p. 771-772). . refere. (...) 1I:a.s o TomisRl,o nos suvaci dos erros qUC estão asfixiando O mundd
contemporâneo, fazendo-nos compreender, referindo.os, num quadro de
coordenação geral, :is concepçõC! qUe falseiam, póndo-nos i mostra as falhas
Os cll.tsos de filosofia que Bento :tvfunhoz participou no Círculo foratn
que 05 originaram, falhas que não às vez1::s, a da,ra manifestação, do velho orgulho
ministrados pelo padre Luíz Gonzaga r-.fiéle e, posteriormenteJ pdo padre Jesus
humano de independência e· de revolta, da pretensão de originaJ:idade e de espírito
Ballarin, em meados da década de 1930. A participação de Bento Munhoz no
criador (ROCHA NETO, 1936, I' 243-244).
Círculo tem forte influência sobre sua for~çio, ínclusive no que se refere ao
exercício da oralidade, -pois nos cursos, assim como -nas reuniões seffianais, os
Em entrevista concedida 'à rcvisht ''Divulgação Paranacnsc"11 em 1963, Bento
participantes faziam discursos sobre temas diversos. Na aula do professor Pe. Munhoz fala sobre a sua formação intelectual:
Jcsuz Ballarin, realizada no dia 4 de janeiro de 1936, Bento Munhoz faz uma
saudação ao próprio professor, falando da .importânda daquele curso de filosofia, (.~) não posso esquecer que foí um tomistt quem firmou cm ~ a convicção da
baseado no tomismo. necessidade de uma referência doutrinária com que se pud~sse disciplinar a
inteligência diante da multiplicidade de solicitações do pensamento modc.mo. Foi
(...) ê precisamente a filosofia. do gênio pagão de Aristóteles, iluminada e completada o grande profe5sor João Perneta, positivista e profundo conh~edor da obra de
pela filosofia do gênio cristão deSànto Tomás que podcr.i vencera nossa inquietação, Com te, possuidor, portanto, de uma definição diante da indefinição, que, a'tnvés
respóndt:r a todas as nossas interrogaç~, saciar todas as aruiedades diante dos de seu curso.de Filosofia Primeira, consolidou cm meu espírito . a necessídade de
mistérios que o mundo nos oferece e restabelecer o prestigio vulgarizado das continuaçã~ dos estudos filosóficos que cu já havia iniciado, como um
pesquisas metafisicas, tào desacreditaruls e!R.s ficaram, com as contradições desdobramento racional de minha5 nfze.s religiosas. O Tomismo me concedeu a
dilacerantes dos filósofos mais conhecidos e divulgados, que se substituem com a5 deftníção intelectual que haveria de permitir n:1..vegar com relativll tranq~d.tde no
modas e os recursos materiais das épocas. em que viveram. O Tomismo, como mar grosso do pensamento contemporâneo. (DIVULG_\çAO PA!l\N,\ENSE,
verdade imutável nas suas diretrizes básicas, vai atr.vés do tempo, deinndo ~ set/1963, não paginado).

150 151
Essas falas de Bento 1\-funhoz revelam a importância desses cursos de da posiçiio social da familiac de Bento Munhoz, ê primordial ·apontar O vínculo
filosofia baseados no tomismo, em sua 'formação intelectual e moral familiar com o catolicismo. Segundo Ortiz, Bourdie.u tende a valorizar O estudo
Alceu Amoroso Lima, Alberto Torres, Olivcirn Vianna e Gilberto Freyrc do umodo de estruturação do habi/111 através das instituições de socialização dos
são autores que exercem considerável influência na formação intelectual de Bento agentes" (Ibidem, p. 18). Ora, entendemos que, além da socfatizaçào famili,r,
Munhoz. Este considera que sqa atração pelos estudos sociológicos foi despertada destacam.se outras instituições na formação do habílut d~ Bento Munhoz.
por Alceu A.matoso Lima, No que se refere à "explicação do Brasil", revela que O Ginásio Diocesano dos radrcs lazacistas, passagem import'lnte· em que Bento
teve por mestres inicialmente Alberto Torres e qµveira Vianna e., em seguida,_ passa a ser introduzido nos estudos de humanidades, recebcr\do influência dos
Gilberto Freyrc. Este, "formado nos EsL1dos Unid~s, e, portanto, estriba~o num padres Taddei e Olímpio. O Círculo de. Estudos Bandeirantes, mediante os cutsos
sólido preparo cientifico, estruturou as bases da Sociologia bntsileirn. Foram nossos de filosofo ministrados pelos padres Luiz'Conzaga lvliéle e Jesus Ballarin, asswne
inspiradores e guias.." (Ibidem, não paginado). Considera que Olivcirn Vianna foi grande importância na formaç:ào intclecrual e moral de Bento Munhoz. Além
um do~ maiores sociólogos e pensadores poUticós brasileiros e que Alberto Tôrres clisso, tais cursos suscitam cm Bento a valorização de sua terra, o Par.má. Discutindo
tnmbém foi um dos maiores pensadores poll,ticos do país. Foi amigo pessoal de a formação do habitu1, Bourclieu afirma que
Oliveira Vianna com o qual trocava corrCSpondências. Para Bento Mutlhoz,
''Populações Meridionais do Brnsil" foi a obra prima de Oliveira Vianna. o habitur adquirido na fiurulia está no principio dll. estrutunÇao das C..'<"pcriências
Sabemos da relevância que certas insti~ições1 como a família, a religião e a escolares (e em particular, da recepç:i:o e ?a assimilação d.:i. mcn!1gem propriamente.
escola, ;ssurncm no processo de socialização dos sujeitos~ Em sua teoria pedagógica), o habitm transformado (ldã "aÇão escol:tr, ela rilesma diYersífic 11 d:t
sociológica, Pierre Bourdieu faz umll discussão relativa à rclaç.1.o entre o sujeito e estando por sua ,,cz no princípio da estrutu.nçào de todas as dpeciências ulteriores
(BOURDIEU, 1983, p. 80).
a estrutura social, retomando uma problemática sartriana desenvolvida no livro
Crítica da Razão Dialética, questão também presente na obra do sociólogo alemão
Nesse processo de sodalizraçã? de Dento Ivfunhoz, a reÜgiào Católicn, seus
Norbert. Elias. Bourdieu procura pensar a questão da mediaç.1o entre sujeito e
valores e sua doutrina, foz.se sempre presente, seja por meio da família\ seja do
sociedade a partir do,,conceito de habüllJ, retomando "a velha idéia escolástica de
Ginásio Diocesano, seja do Circulo de Estudos Bandeirantes. O catolicismo
habilll! que enfatiza • dimensão de um aprendizado pnssado" (ORT!Z, 1983, p.
representa, assim. um amálgama na formação rnornl· e intelccrual ~e. Bento Munhoz.
14). Bourdicu define habi!Ju como "sistema du disposições socialmente constituídas
E a sua formação no tomismo acabou sendo uma decorrênci~ de sua formação
que~ como estruturas estruturadas e cstrutunmtes, constituem o princípio gerador
religiosa, como ele próprio revela.
e unificador do conjunto das ptátic.1s e das ideologias caractedsl,!-cas de um grupo
No final da déc,da de 1930, Bento Munhoz participn de um grupo de
de agente (llOURD!EU, 1982, p. 191). Desta foroµ, o sujeito, por meio do habitJ11,
intelecruais., denominado "Patrulha da lvfadrugada" 1 que se r~unia nas redações
interioriza as estruturas objetivns, ou seja, interioriza as normas e valores sociais,
dos jornais O D1.-\ e G.-\ZET.-\ DO POVO. Os integrantes do grupo saiam das
assim como os sistemas de classificação e os sistemas de pensamento. Como
vimos, Bento 1-fonhoz é filho de uma familia da classe dominante paranncnse,
cujrt participação na vida política ê significativa, pertencendo à elite dirigente
regional. Est.1 é, pois, a posição social em que Bento Munhoz é socializado, 3
Um e.xcmplo tl:t importâncil do c:itolici3mo na fomtlia. pode. ser obscrtado quando C:.et:rno
intcrnalizando o habihtI da classe social da qual é integrante. Conforme afirma i\íunhoz <la Rocha, [Mli de Hruto i\funhoi:, cxc-rcia o seu segundo mandato 110 governo tlo Piu;:i.ni
'.'C11túlico fervoroso,, :io se crt.lrcm tloll> Blip.i.dos no Pammi, autorizou que ~ dcspcs:u1 da. '
Ortiz, "os indivíduos internalizam as representações objetivas segtlndo as
•mpl:m~ç:io ÍO$$cm àn cspcn:uu do :ieu governo". Medida que fü~dtou o prote~to de alguns·
posições sociais de que efetivamente desfrutam" (ORTIZ. 19831 p. 18-19). Além intelcctuaii:, cotrc ele:. Dario ''cllozo (CARNl11ll0, 1994, p. 169). 't

152 153
Seguindo o que ensina Santo Tomás. somos instados a aceitara forma politka como
oddent'US deveriam voltar às origens religiosas de nossa or~nizaçào poütica e
secundada. O essencial é a fidelidade do comrutdo polltico ~o bem comum, tomando-
social. A democracia terJa origem:· e inspiração cristã .._Essa tarefa cnbe
se assiro evidente a c:cistênda de bons e maus governos, sob todas as fonm1.s. Santo
prin~palmente aos intelectuais católicos. Influenciado pelo:positivismo e pelo
Tomás com a sua esplêndida visão sociológica, c.~rimiu suas prcfcrcncias por formas
detei:minadas e defendeu-as vígoroS2mcntC. Estabdeceu porém, para todas as épocas,
tomtsmo, Bento Munhoz deseja a harmonia entre o progtc!So e a tradição. o
progresso sem a tradição seria miser.hrel. Tradição entendida por Bento como
qwtlsque.r que sejam as suas tendências própWl.S, a fidelidade ao bem comum. como 0

trndiçào católica, co~ sua presença profunda na sociedade bra~ileirit. Esta tradi ão
demento perm~nente, constante, presente em todos os tempos.1'.fus o bem comum,
gara~ti.ria ordem e. tranqüilidade. A democracia tem que se a,daptar às ttadiç:es
fim da sociedade ci\'il, integrado na sua acepçio realista, de fim humano, e portanto
brasilei.rns. ao espírito brasileiro. Entende que o Brn.sil que devC ser transmitido às
moral. Se dermos à democracia, o sentido legítimo, condicionando a vontade popular
n ~ ~ geraçàes é o '~rasil com as suas trailiçôes de bonda~e, de cordialidade
a um fim superior, não vejo, dentro dos prindpios éticos e tespeitadl\s as condições 1
tradiçocs hwnmas, que vêm do tempo da Colônia, em que ;\ escravatura foi a
peculiares dos grupos sociais, nào vejo como oombatê·la.1Ias se a democracia e."q)rimir
mais. branda de todos os pRÍses da América" (Ibidem, p. 220). Nota-se ai a
a fusubilidade extrema, tendo a mãssa a ·prcrrog;ititta de descobrira verdade, então
infl~~ncia. do ·pensamerito de GilbC!to Freyre. utn Brasí((!~ que ~s rcl;çôes
não veío, dentro desses princípios, como defendê-la. (Ibidem, p. 60)
soruts seriam rnar:cadns pela cordialidade, em que a cscravidàó teria sido branda·
um país que deveria primar pda continuidade e não pela ruptura. ;
Às mnssas cabe o papel de se conformarem à direção e governo das elites. Critica o Übcnlismo, pois entende que este abandonou os valores morais.
Apenas estas, por suns capacidade~. !criam o direito de atuar como sujeitos politicos, ~'O liberalismo, cm politica, ~ue foi representado pela demOctacil\ liberal, nào
definindo ~s destinos da sociedadC: Nessas considemções de Bento Munhoz sobre indagava dos problemas de Or?crn religiosa, .Abstraía esses problemas e, cotn
democracia e elites, observa-se uma forte influência da Teoria Clássica das Elites.. essa abstrnçào, concorreu, poderosamente, para afastar, da vida socinl, os valores
Bento Munhoz faz uma distinção entre massa e elite: '½os conceitos de massns: e mo~is e eternos" (Ibidem, p. 163). O liberalismo levou a umn c1?flccpç:i.o burguesa
elites, corrcspon·dcm os de maiorin e minoria. À elite, isto é, à minoria, cumpre a da _viela. Esta concepç.io seria imediatista, agnóstica; não seria eSpiritualista, e nem
missão de dirigir. Est.á na essência da dircç.ào e governo a noção de miaoria. tctt:1 a coragem de ~cr míHcrialista.
Governo é minoria dit;igindo; minoria, elite comandando" (ROC(-L\ NETO, 1995, . . Bento lvfunhoz entende, influenciado pelo positivismo, que a qllcstào social
p. t 13). Uma visão poli tia. elitista, ínfluenciada pcla Teoria Cliíssica das Elites em 1 e a~una de tudo um problema de. ordem moral. Entende que :o conflito entre
0
que as massas seriam considerndas irracionais, incapazes de conhecer a verdade, capua_l e o trabalho não se resolve exclusivamente no cílmpa ~conômico,
de saber sobre seus verdâdeiros interesses. As elites, ao cont.rári.o, formadas pelos
melhores indivíduos dn sociedade, seriam dctento.ras da racionalidade, com (...) mas com soluções obedientes, submissas aos valores mor.iiis. Valores mo,r;;iis
capacidade de se organizar e de dirigir a sociedade. Bento considera que a sociedade que clig:;im atê onde devem ir os direitos do tra.halho e \'alores nibtais que imponhf!m
deve ser governada pelas elites econômicas, políticas e intelectuais. Como intelectual ~tê onde devem ir os direitos do capital e os seus íntuitos de lucro. São, portanto,
catôl!co, Bento J\.{unhoz pensa particularmente na elite catôlica, nos intelectuais limitações que esses ,-alares morni.s impõem, tanto à atividade do trabalhador, quanto
católicos, que devem se tornar compreensivos para as massas. Os intelectuais às ntívidades do capital (Ibidem, p. 169).
católicos devem saber como é que as massas pensam. "A função dos intelectuais
católicos é dirigir, esclarecer. dizer qual o caminho, o objetivo a atingir" (ROCHA Entende que numa concepção cristã da vida, há uma ~oçào integral do
NETO, 2000, p. 130). De acordo com Bento Munhoz, tabeà universíd~de formar homem. O homem é simultaneamente material e espiritual. Ü marxismo teria
ns elites da sociedade. lvlas as elites dos países democráticos estariam perdendo o ~quccido os -valores morais e eternos, valores que existem por si mesmos, que
verdadeiro sentido do que seja a política. Com a Revolução Francesa, os ocidentais nao dependem de nós. Uma concepção e organização cristã da vida deve evitar a
teriam perdido a compreensão da origem da organização política. As elites proletarizaçào dos trabalhadores. Estes deveriam receber os benefícios
fundamentais à sun existência e necessários para.a harmonia sodal~lvfas é impossível
156
157
- r- . ' [
ue ocorra a extinção das classes sociais. Elas s.io essenciais a qualquer sociedade. Bento Munhoz é clcitopelo Partido Republicano, para um "congresso que iria
"ddhl'"
q" ... é hieratquia da sociedade. Urna sociedade sem classes é uma soCJ.e n e pocnta. elaborara Constituição de 1946. Esre tnmbêm éum momento em que os paranacnses
Classe é exigência de convivência humana, de convivência social 11 (Ibidem, P·
têm a possibilidade de ')'ivirldicar a reintegração de parte de suas tôn:as perdidas com
217). Classes sociais necessárias e que possam se relacionar cordialmente, garantindo a criação do Território Federal do Iguaçu. Este território, criado por Getúlio Vargas
o progresso e a harmonia social.
mediante o Decreto-lei tL º 5.812, de 13 de setembro de 1943, incorporo:i terras do
Sudoeste paranaense e parte do· território catarinense (W.ACHOWICZ, 1985, p. 148).
2.3 TRAJETÓRIA POLÍTICA DE BENTO MUNHOZ
Ao participar da 23' sessão da Co11gregai;ão da Faculdade de Filosofia,· Ciências e
A partir do fim do Estndo Novo com a deposição de Getôlio Varkas, e Letrns da Universidade do Parll!Ú, realizada em 20 de outubro de 1943, Bento Munhoz
faz um discurso criti=do a criação daquele Território:
co; o processo de redemocratização do país em 1945, Bento Munhoz tem o
· caminho_ aberto para realizar_ o desejado ing~csso ~a vida polltica. Re'?~ganiz~dos
A .Alma do Paraná está.sangrando com a c.riaç:fo.do Território do Iguaçú, Anda
05 partidos políticos no ·pais, candidata~se a deputado federal pelo Partido
por aí, infiltrando~se molemcntc, um conformismo de esgotados, uma aceitação
Republicano. Durante a Repúblic, Velha, no peclodo entre 1916 e 1930, o pai e o
fatalista. Mas nôs não nos conformamos nem aceitamos sem que nos expliquem,
sogro de Bento Munhoz (Caetnno Munhoz da Rocha e Afonso Alves de Camargo)
sem que nos justifiquem um ato que julgamos ser de uma pucialidade alarmante.
estiveram à frente da prcsÍdência· do Estado do Piraná e dominaram o Partido
Pensamos que todas as medidas de s~rança nacion_al rcfativas à. faixa fçonteiriç:t
Repubtica.g,o Paraoacnse. Com a rcdem~cra~~çào de. 1945, as mesmas farrúlias
podem ser concertadas respeitando-se a noSs.a atual divisão 2dministrativa. (...)
manterão o predomínio pOlitico no interior do Partido Republicano no Paraná ..
Nada se fará que não pudesse ter sido feit~ com a· atual otga~açio. Provem-nos
Nesse período os partidos políticos são organizados cm nível nacional, devido às
o contrário. Demonstrem-nos que nãO nos assiste razão na ~olta, que n~s esci
c.."Ogências da justiça eldtoraL Desta forma., o Partido Republicano também é
empolgando. Pois quem não sabe defender o próprio rincão cohtra as amputações
organizado em nível nacional e não mais como partidos republicanos es.tadua~,,
de seu território pa~ a formação de novas ·wtichdes admÍni4~tivas que em nada
como' no pcríod~ anterior a 1930. E~bora herdeiro de setores da oligarqwa
bcneficiario a vida do país,. não é digno de pertencer à coletivi?ade nacional, porq'ue
paranacnsc, Bento M~nhoz tem um perfil social e polltico mais moderno. o que
n:io saberá, tunbém defender a pátria grande diwte da agi:essão cstungeir:1.
poderia incliná-lo a entrar paro os quadros da UDN. tvfas a própria UDN não se Pretender como se pretende, muna tniçio inominávd à realidade, que o povo do
constituía de forma homogênea, tendo orige.ôs sociais e políúcas diferenciadas. O Paraná tenha recebido com aplausos o ato de dcsmem.bamento da quuta parte de
próprio Partido Republicano foi formado a pa.rtir de uma dissidência de Artur seu território, é afirmar que o paranaensc frac:2s:sou na sua rruüormissào histórica.:-
Bernardes, no interior do·s grupos políticos que estavam constituindo n l!DN ª de incorporar aos sistemas de valores brasileiros, à cultur:t brasileira, à coletividade
(DULCI, 1986) (BENEVIDES, 1981). Certamente a vinculação de Bento Munhoz brasileira, essas largas correntes de imignntes europeus que, po~ mais de cem anos
ao Partido Republicano se explica por razões familiares, como exposto acuna. De têm procundo a nossa terra e ajudado a fazê.Ia. (...) Nio é ubÚuriamcntc que o
acordo com Samuel Gulffiaràes da Costa, cm entrevista\ a c:indidatura de Bento oeste paranacmc é brasileiro. Foi gente nossa que as11im o ft:z. FOram banddr~tes
à Càmnra Federal recebe o apoio da UDN. curiúb,mos que lcviram a sobenn.ia d2 coroa portuguesa até :lo rio Paraná. Foi·
gente nossa, foram bandcinntes nossos que mar~aram bravamemc aquelas
frontcir.u do Bra.sil, sem as corridas desabaladas e t~trais de campo aberto, mas

~ Entrcvis111 r~liuda pelo autor no dtl 1t de dezembro de 1995. S1mud Guimades d~ :o.$~, com a pcncvcnmça e sacrificio de campanhas árduas. Foi gen-te nossa, gente de
Cucitiba, dc_S:io José de Pannaguâ, que.integrou as bandeir:1s de Silveira Peixoto.
jorm.listt, escritor e hllltoci1dor, foi asscsi:1or de fü.nto Munhoz ~:a Rocha Neto no Mm1ste110
da Agricultur:1. Bruno Filgueira, Francisco Nunes Pereira, Estêvao BaJ':lo,, Afonso BotclhO,

158
159
Francisco 1fartins Lustosa, Carneiro Lobo. Foi gente nossa que povoou Palmas com
ligação ferroviária entre Apucarana e Ponta Grossa, que o GOVerno do Estado
Pociano de .\raujo,José Joaquim de .-\lmcida, Pedro Siqueira Côrtes,José Ferrcirn
estnva tentando corutruir, deveria serinélulda no Plano de V1aç~o Naciona~·porque
dos Santos, Francisco Roclu Lowcs, Visconde de GuarapuaVl, Barão de líb,i.gi,
esta construção estava no contrato estabelecido cntre'o Estado e!uma Companhia
.--\.mujo Pimpão. Foi gente nOss.a que integrou a missão de Diogo Pinto de .\ze\"Cdo
Inglesa, concessionária da Estrada de Ferro São Paulo-Paraná, ~ 1928. É certo
Portugal, nos campos de Gu.arapu~va. É por.isso que sentimos essa injw:tiça, atravês
que Apucarana ainda não existia, r,nas o contrato previa ll; ligaÇão de um
da ausêncin absoluta dos seus motivos, como um·sof:cimento fisko, como uma ferida
dcterminadq ponto no Norte do Estado até Ponta Grossa. Mas cm 1944
lacerada à nossa própria came (ROCIH NETO, 1943, p. 195-197). 0
Governo Federal encampou aquela Estrada de Ferro, devendo, p~tisso, ~e obri~r
No período -de crinçào do referido Terci.tbrio, o interventor no Paraná, a construir aquela"ligação ferroviária, de acordo com Bento Munhbz. Este desejava
ManoefRfüas, não esboç.1 nenhum protesto diante da perda das terras paranacnses, incluir também a ligação entre Joaquim Murtinho a Curitiba. Assim, afirma que é
m-esrno porque Manoel Ribas era representante de Getúlio Vargas, no Es.tado.
Be~t~ Munhoz se e~p~nha ~ -reint~grar ~~ tertrlS pat1lilaCnses, aC~cul~ndo- e (.. ,) para unir esses-dois foc~~ de civilização paranaense., 0 da cillrun tempe.ritda e

lidérando um movimento politico cujo objetivo era desfazer o Território Fedfral.


o Wl cultura tropical, que se dirigem do.as das minh:t.5 emcnd~s:. Não se visa af.
apenas, ao interesse paranacnse, mas sim ao nacional Aí aumenta a produ~ão,
Assim, Bento Munhoz aprescntn uma emenda no item disposições transitórias da
enquanto em outras regiões bruileins a produçã_o de~ É jufto que 05 pJ:lnos
nova constituição que esta\ra sendo clnbor-ada 1 visando ao fun-daqucle Território,
nacionais encarem esse .fato, esse espetâcu1o de crescimento e expansão que vai
A emenda,,foi aprovada, e o Paraná reincorpotou as terrns do Sudoeste que havia
·teílcúr nds gnndcs núcleos nordestinos de população :i.traído·s· para ali, ma.is do
perdido (\'<i:-\CHO\'(IJCZ, 1985, p. 152). Ainda neste primeiro mandato parlamentar, que nunc, (ROCHA NETO, 1987, p. 444). .
que vai nté 1951, Bento Munhoz participa de um movimento que visa à.
fedcralização da Universidade do Paraná. A federalizaçiio realiza-se em 1950. No decorrer de seu mandato parlamentar, rlisputn pelo Partido Republicano
l''i
Na Constituinte de 1946 votou pela instalação do Governo Federal no as eleições de 1947 para o gover~o do Estado do Paraná. Seu concorrente, Moysés il
Triângulo 11ineiro, acompanhando n vot'tçào dos mineiros. Em 1948, defende a ~pion do Partido Socfal Democrático, se bcne~cia da máquina administrativa
criação do Banco Central. Foi membro da Comissão de Transportes e i
· montada por t-.1anocl Ribas durante a sua intcrventoria. Nestàs eleiçõ~ Moysés '
Comunicações no início d'l 1º sessão lcgisl~tiva de 1946, por um breve período de 1.:
Lupion recebe o apoio do Partido Trabalhista Brasileiro, da União Dernocr;itica
dois mescs 1 visto ter sido eleito Primeiro Secretârio da Câmara, cargo que ocupa
['.
~acional e do Partido Social Progressista. _Além disso, recebe o apoio dos
por quatro -vezes consecutiva~. Em 1950) Bento l\.{unhoz representa o Brasil no integralistas e dos comuaist:lls. Bento Munhoz entra na disputa eleitoral visando
Congresso Internacional do Café, realizado em Gcnebt';\. Participa, em 1949, das marcar posição, visto que a possibilidade devitória era mínima. C~~ era previsto,
discussões do projeto de lei do Plano Geral de Viação Nacional Bento Munhoz Moysés Lupion vence as eleições. Esta discussão será retomada no capitulo dois.
considerava que tal projeto viário estava novamente tomando o Paraná apenas No mesmo ano em que Bento Munhoz se candidata pela primeira vez ao
corno passagem entre Sào Paulo e o extremo-Sul, além de estnbclccer um traçado governo do Estado, o Pod~ Judiciário cancela o registro do Partido Comunista
que passava por uma região paranaense consíderada de pouca importância Brasileiro, momento em que se discute no Congresso Nacional a cassação dos
econômica. Sendo assim, apresenta emendas à referida lei. Suas emendas denotam D~putados Comunist.is. Bento Munhoz, expressando prco~paçào com a
preocupação com a intcgra7ão do Norte do Estado com a capital, além de procurar continuidade da legalidade politica no pais, faz um discurso, cm dezembro de
estabelecer uma ligação mais racional entre São Paulo e Cudtiba 1 encurtando quase 1947, defendendo o mandato dos deputados ligados ao Partido Comunista,.·
à metade a distância da ligaç.·fo existente naquele mo~ento. Argumenta que a contrariando orientnçiio do Partido Republicano.

160 161
!I
,,'
'
Gramsci direciona suas análises muito mais à esfera da superCS:t.rutura ideológica
. - d mandato dos deput11.dos comunistas não teria em si m:Uoc importância
A exunç.io o . . , e política da socie.dade. "As superdtruturas do bloco histórico formam um
. - d po·is do cancelamento do registro de seu parudo, se trve!lsemos
nem rcpcrcussao e
da medida se soubéssemos onde devetíamos parar, se pudéssemos todos,
conjunto comp~exo, em cujo seio Gramsci distingue dws csf~s essenda1s: a da
o senso '
· - .- ultrapassar• no ,-
. 'li d
ingO das represa as re procas,
a linha de sociedade poUtica, que agrupa o aparelho de Estado, e a da sociedade civil, isto é
Governo e O postçao, n 0 . :, '
. wcm-'!- .da q;al deixa de existir a estrutura democrática (ROCHA NETO, a maior p~rte da superestrutura" (PORTELLI, 1987, p. 19~ Portanto, na concepção
[ron eira, -
gramsciana, a sociedade política e a sociedade civil estão prese~tcs no interior da
· 1987,' p 233).
superestrutura do bloco h.istórico. Enquanto Maa, a partir d(! Hegel, entende
Cotlsidcrava wn sinal de crise democrática o fato de que apenas uma minoria que a sociedade civil é o conjunto.das refações econômicas, Gi;amsci, também a
' ' • cassaçào dos partir de Hegel, a entende como o complexo da superestrutura ·ideológica. Desta
intelectual, além dos simpatizantes do comunismo, se~ cont:rana a
atlamentnres comunista~ Mas Bento Munhoz era um policico e intelectual de forte forma, difer~temcnte de Marx, Gramsci pensa a sociedad~ civil como um
P . B il um pais que nada tinha a ver momento da superestrutura. Pata Gramsci, o Estado é constituldo pela Sociedade
inClinaçào anticomunista e cotlSldc_raw que o - .~,. era ·-
. Bento afirm.1· ºPara que o Brasil sobreviva no que tem de melhor Polltica e pela Sociedade Civil, elabonndo, desta fonru, uma coricepçào ampliada
com o comu01Smo. · - ~ •.
de mais caracterís'tico. tem de Venc~r o· comunatl1o. É ponto p:iclfico. O que nao e do Estado. A Sociedade Civil e o Estado não estão separados, m~s são pe;ccbidos
~nto pnclfico é o meio.de fazê-lo, é o método, é o carnmho ~,'eguit'' (Ibidem, P: Z#); de forma totilizante. As funções ·da Sociedade Politica são as da coerção e da
No entanto, não considera que todos os comunistas sejam. agitadores. empre1tC1CO força (incluído aí o domínio' jurídico), objetivando a ffianutenção das estruturas·
de desordem''. Afuma que muitos homens bem intcnctonados encontraram na da ·sociedade capitalista. Quanto às funçõe~ da Sociedade Civ-4 estas são as da
"doutrina comunista um alto ideal humano pelo qual batnlhar", como é o caso ~e~ direção cultural e do consenso (hegemonia): (PORTELLI, 1987). :A sociedade cívil
amigo de seu pai, Campos da Paz, que tinha '~wn espirita de renúncia, de sn~cto e seria formada "pclo conjunto das organizações respo!1s:í.veis p~Jn elaboração e/
solidariedade humana" (Ibidem, P· 244). Mas Bento Munhoz tece duras crfücas ao ou difusão das ideologias, compreendendo o sistema escolar, as rgrejas, os partidos
comunismo, como se observa no mesmo discurso: políticos, os s":dicatos, as organizações profissionais, a org.i.niz~çào material da
cultura (revistas, jornais, editoras, meios de Comunicação clc massa) etc/'
. , 'd" , ut'to m";S. ê mística. Ternos de combatê-lo pelas idéias :,1
Ocomurusmoci e1aee_m .,.. · . . _ (COUTINHO, 1992, p. 76-77). Desta forma, é por intermédio da Sociedade Civil
e de desmontar a sua. mística. 1fas é tambêm ação. É wna técruca de d~..tr~çao ~o que a classe. dominante difunde para o conjunto da socicda~·e a sua própria
la frcn...,. não escolhendo meios, não medindo consequenctas, nao
que cncoo tra pe ,.., . .. cli ideologia, a sua própria conêepção de mundo.
, t de enhum crime, de nenhuma devastação, de nenhum mccn o
recuan d o d tan e n O vinculo orgânico entre a estrutura-e a supe:restrutut'a, da sociedade é
(Ibidem, p. 243). realizado pelos intelectuais. Estes têm a função de gerir o Aparelho de Estado. Os
intelectuais têm ainda a 'função de produzir e controlar a estru~ ideológica da
Como membro da classe dominante paranacns<; Bento Munhoz mantinha
classe dominante no interior das instituições da Sociedade Civil,· Dest.a forma, a
fortes vínculos ideológicos com a Sua classe. Em sua trajetória de vida, tornou-se
concepção de mundo das classes dominantes é p~oduzida pelos intelectuais, os
um intdectu:il das classes dominantes. Intelecrual aqui no sentido gramsciano, ou
quais tatnbém trabalham na difusão dessa ideologi~ para o conjunto da sociedade.
. i.htclectunl orga.. nico, vinculado às clàSses dominantes. De acordo com
scJa, um . . . • Mas Gramsci elabot:3 uma nova concepção de intel~ctual. Não esti. pensando nos
. e! dom1·uantes devem criar Oli seus intelectuais, os quais tem por
G ramsc4 as asses inte.lech:Jais tradicionais, como os pensadores, Litcratos1 dentistas, embora estes
tarefa produzir uma concepção de mundó. Os intelechlais deve~ ~~belccer um
também estejam integrados na concepção gramsciana de intelectual. O intelectual/:'.
vínculo orgânico entre a estrutura e a superestru~ do bloco ~sto~co. ~ rúvel ,;I-' .•
orgânico é aqude uque é um dirigente, um educador de massa, Um organiz-2do.f:['
, te elido pot Grn.maci como a base socioeconômtca cb. sooedade. ' , ·,r
esttutura[ e cn n .
163
162
(GRUPPI, 1980, p. 82). O papel do intélectual orgânico é fundamental, seja na .\ diYUlgaçfo do pensamento marxisb compromete, hoH"
,...,
sutiln.1cnt e uma tnfin,dade
. .
manutenção da hegemonia de uma classe, seja na construção de uma nova de comportamentos. Chega a um.ponto cm qu , dificil b .
~ . . . ce sa er_oqueeeoquenão
hegemonia. Os intelectuais orgârucos não formam uma classe à parte, mas se e de ~ngcm ou msptraç.io mandstas. Como tal, o marxismo nà~ pode ser posto na
vinculam às diferentes classes sociais. É por intermédio dos intelectuais que se cadcu., mas
.
apenas combatido com outras idéias
,
, nl .
• numa campa ia perststente de
cscl_arecuncnto. E o que tenho feito em minha fi ~ de e·
realiza a relação orgânica entre estrutura (base socioeconômica) e a superestrutura ' unçao pro,essor, de 63 para cá
ideológica e política. É também por intermédio dos íntelectuaís que se estabelece q~ando deixei meu último mandato de Deputado Fcdêral. tfenho esclarecido,

a relação orgânica entre Sociedade Política e Soc{edadc Civil no interior da dialogado (vá lá o ~ct~o), demonstrado, aruiJisado, repetido, "\1ivo minha funçã~

superestrutura. Mas essa relação entre os intelectuais e as classes sociais q~c eles . professor como mclica minha cowciência, debatendo os assuntos com a máxima
de
li~~adc e sabendo distinguir entre as funções- de professor'e de polltico, e <le
representam, não se dá de forma mecânica. Essa é também uma relação orgânic~
político com .l.'l responsabilidades de chefia de executivo. s,·'-, portanto, sendo
existindo uma relativa autonomia dos intelectuais em relação à estrutura
professor, como se combate o erro. E sei tambem· - t d . .do
__ _ _ en o eXerCJ o cargo de
socioeconômic.a da sociedade. Gr.unsci estàbélccc uma certa hierarquia entre os
Góv::-rn:ador - que nao se pode cõmbatCr a desordem, ·dando bombonzlnhÕs
intelectuais. Considaa desde os grandes intelectuais, que elaboram uma concepção filosoficos aos desordeiros
. '~cm de tera subvcrsao,
• .
;i;tir;ando conceitos doutrinârios
de mundo, quer na ciência, quer na filosofia,- quer nas artes, até aqueles qu~ são . - tola l
:ios subversivos..,\ função sucessiva de professor e de politico, me deu a visao
divulgadores da ideologia (PORTELLI, 1987): d os probl O d. ·
. emas., e coo - ictonamento de sua solur<io · · do tempo
· r- "• • ex,·n·
~enaas
. Bento Munhoz, cm sua trajetória política, demonstra uma constante (ROCIH NETO, 1969, p. 169) .
prcocupa;ào com a prCS~çào da estrutura econômi~.:s·ocial e política da sociedade
capitnlista, defendendo organicamente os interesses das classes dominantes. Apesar. Ai.nda no mesmo ensaio, reafirma tduta que empreende contra o marxismo
disso, tem posições e atuações políticas com certa autonomia, tecendo cóticas a em sua vtda acadêmica:
algumas posturas da burguesia, com base na doutrina e valores do catolicismo,
como vimos. Tanto em suas atividades poUticas quanto em suas atividades_ Combater o marxismo em sua totalidade, como idéia, como d~utrina_global, é o
proprinmenteintd.ccnuiis e acadêmicas, Bento Munhoz defende a ideologia. burguesa. que. estou fazendo e tenho feito, há longos anos, na cátedra universitária dando
aos Jovens a máxima liberdade de opinião com S1"V11n N~ , '.
Ideologia entendida aqui no sentido Gramsciano, "ideologia historicamente . • -,:,--nç:a. ao se convence runguém
pclo constrangunento nem pela ameaça (Ibidem, P. 184).
orgânica", como .iuma concepção do mundo, que se manifesta implicitnmentc na
arte, no direito, na atividade econômica, cm todas as manifestações devida índividuais
. .Em um discurso realizado no parlamento em 25 d e •.gosto de 1961,
e coletiva~ .. " (GR..\MSCI, 1981, p. 16). Desta forma,
tntt~lado ''Democracia e Marxismo", contrapõe o tomismo ao marxismo
considerando que este só pode ser superado pela 6.Josofia tomistí: ,
Na medida cm que sao historicamente nccessáóas., as ideologias têm umi validade
que ê validade 'psicológia': elas 'organizam' as massas humanas, formam o terreno
~ão há de ser com pensamentos esparsos ou com uma ou outra atitude particular
sobre o qual os homens se movímcntam, adquirem consciência de sua posição,
d1ant~ de algum problema filosófico circunstaocialmeme apresentado, que o
lu1,m etc. (GR.\1ISC!, 1981, p. 62-63)
maoosmo
,
•- filo
será ulttapassado. Só OUu, fi d . . .,
1 so ta e cons1stencia igual ou superior 0

Nos ensaios e discursos politicos feitos por Bento Munhoz, é recorrerite p~dera superar, e e:isa, só a enxergo no tomísmo. Já afirmei e agora O repito dcita
_ · o pen samen to oc1·d ental oscila
tnbun1r · em nossa época entre Santo Tomâs de
o ataque ao marxismo. Em sua vida 11cadêmica também empreend~c um combate
~\qwno e Karl l\fan:-, como pólos extremos. O primei.to, porque elaborou, no século
ao marxismo:
XIII, a síntese cristã.católica, como em escala menor, no &éculo XIX. o dinamarquês

164 165
/ '
F , u obrim1do a fazer politi:ca. fifas niio nie passo Íntegtac nos seus sistemas,
UI e so o- . . b' - dos Em dezembro de 1980, o então go".emador Ney Braga /inaugura a Usina
S .mtoo•=u . '·-ento na multidão. Sinto a solidão no ctmvívto das am lçoes e
. f. d
ap.etites políticos.(...) Percebo de longe os intete!lses que vêm gntaudo: asctn~ os Hídrelétrica de Foz do Areia, que na época foi denominada de:''Behto Munhoz
Pela sombn gostosa e acolhedora do poder~ Compreendo-os, mas na~ os strVO, da Rocha Neto". Durante a inauguração a ftlba de Bento Munhoz, Suzana Munhoz
Não posso servi-los. Seri~ uma tr.üçio a meu mandato e lUna tnuçao · - a num mesmo da R. Guimarães, profere _um discurso dirigido ao gov~ador, tecÇndo COmentários
(ROCHA NETO, 1960, p. 135). sobre a re]aÇào dos .dois atores politicos.

Embora não revele nomes, fica claro cm seu dep,oirnento o desapontamento Este momento nos comove. Nos comove mais do que out':ls homenagem já
J
com n traiçào e a desonestidade. prestadas a meu pai. Não apenas porque dcmonstr.to sentido hlitórico cb i.ruci.ltiva !
1
de perpetuar :1 memória do governo que fundou a COPEL, mas porque reaproxima J

.l
·
A deslealdade é, porém. quase nornu1' e• uma cons_ta n te que envenena o ar do aqueles que as dcsventuni.s politicas torruinm um dia opositore3. Prova-se que
governo, não devendo, PQt isso, surpreender. Fo~ ass1_m, desde o começo. Pdo_ r que
uma inimizade políti~a nà,;i precis!\ ser defmítiw. Quando advefSârios políticos se
. ? (,..) Rcs ~"to e adnum uns. poucos
há de ser de outro modo comigo . ' nura. os nam
respeitam e se cntrcolham com admit:1çio. O decorrer ~H circurntinci:u Wstóricas
multldão ·pela·su:1. le.aldade incorruptívd, humana, 5cm Y:t\'ilismos. T,opcço co
os deso~cstos. Tenho de sofrer-lhes a convivência, cooccd~ndo-lhcs o que ,ºs
dc:3faz a inimizade. Sr. Ney Br2ga, a.familia l\Ittnhozd.a Rodu cnc'~fra nos m~dros
. 1 s chamam de bcneftt of doubt. (...) Rdpir:He um ambiente de cxpccb.UV:1 do passa.do toda. a discórdía. e lhe agradece de cor:ição ~berto (RÓCHA
mgesc · ~ · · ndo as GUI~L\R.\ES, 1985, p. 132)'. 11
d traiçã~· de possibilidade permanente de tntçao, que surgua, q~a . !
e ' a tornarem lucntiva . ..-1..final o clim a po li uco
circm1stâncias ' e· função do clima soctal
(Ibidem, p, 135-136). Apesar deste momento de reconcilia.çào entre as duas famílias, realizada
anos depois da morte de Bento Munhoz, as relações entre os dois,atorcs polícicos n
. , . po
Em sua traJctorta . liu' c a, Bento Munhoz o rompimento político
. . . de· seu após o rompimento de Ncy Braga, foram marcadas por fortes conflitos e embates
1
1

. b d 0 Ney Braga foi um dos mais marcantes. Ney Braga tn1c1ou a sua políticos, inclusive com mútuas, acusações veiculadas na impret1s11..
ex-cun a , ' d Ch b de
carreira política ao ser convidado pot Ben~ pàra ocupar o cargo eE c1;54 · Bento Munhoz não cumpriu inteiramente seu mandato, ~enunciando na
Polícia, quando da gestão de Benta Munhoz no govern~ do E~tado. m,. 'b •
tarde do dia 02 de abril de 1955, transmitio~ 9 cargo ao Presidente da Assembléia
Bento Munhoz apóia e articula n candidatura de Ney Braga a Prefeitura de Çuttti a,
Legislativa Estadual, Antonio Anibelli, do PTB. O Presidente Café Ftlho estava
b .sendo a vencedora nas eleições. Posteriormente, Ney Braga rompe
~=oo , p~ articulando uma possível candidatura de Bento Mllhhoz à Vicc:--Presid~ncía da
com :Í3ento Munhoz e ingressa no PDC, procurando construtt um ~spaço o .
' . independente da influência de Bento Iv1unhoz. Este romptmento poliuco República, que comporia uma chapa com o Marechal Juarcz Táv:ora. De acordo
propno, · · · de Bento com Dulci, os militares haviam encaminhado ao Presidente Café Filho um
de Ney Braga com Bento lv[unhoz é visto pdo grupo mais P.toxtmo
Munhoz como uma tratçao. _ po li Uca.
. N as e lctçoes
· - para O goverho do Estado de documento, em que demonstravam preocupações em torno, da campanha
. . a can clidatura de Paulo Pimentel ao governo do Estado,
1965 Ney Braga apolatta . . presidencial; temendo que esta pudesse se processar de forma violenta. Café
• . ~ '
em opostç.'lo a candi"·tura
ua · de seu patrono político,
. Bento .Munhoz. O ptopno
B procuro~ estabelecer alguns entendimentos interpartidários, seguindo as sugestões
. ·em car ta pública1 • 05 sénos conflitos com Ney raga,
Bento Munhoz expli cita, dos militares. Juscelino Kubitschek, do PSD, manteve sua canclid~tura, enquanto
considerando ter sido traído politicam~ntc pelo seu ex-cunhado. Café Filho centrou seus esforços no nome do general Juarez Távora que poderia
1

, CORREIO ÓO PARANÁ, 21 fev./1965, p. 2-3).


I Apud MUNHOZ DA nocru, E C, Btnl~ Aúa,!»zd4 [mk N1tú I f1 lllk1ffe11 '{NI Fit911. Coritiba: _
CORREIO DO PARANÁ, 14 ouio/1960, p. 1). &nestado, 1985.
,' .

168
169
vitória de ~inarte Mapz e a. proposta de Herbert Levy,conc~rdo com o deputado
. li - "(DULCI 1986 n 130-135).Portanto,Bento
forças "ant:1-popu s ..... s , ,r paulista. Não quero ser o pomo de discónfu. nem motivo de ltiw dentro do grande
representar as . doido nestas articulações de Café Filho, pois tinha um
Munhoz teve seu nome m A ciar partido. l\.ús, nesse instmte,. intimamente. não é a protel.lçio da 'escolha do candidato
, . "nl'
fil denista e uanti-populista d 1
, cm os aços
deamízadeentrecles. orenun
- à vice~prcsi<lência que aceito. É a minha renúncia à candidatu;ta (ROCFL\. NETO,
. per u d E -do Bento Munhoz faz um discurso, afirmando: 1961, p. 22-23).
ao governo o S1.4 ,

d pelo de vários setores políticos do Pnís, mas o meu


Deixo O Governo atcnd en o a . . Bento Muhhoz revela ter recebido uma proposta do ~-Presidente Artur
. ti.P , cui'odesenvolvuncntotem
cnto vai inteiro para o meu progres:m aran.a, Bernardes, do Pa.rtido_Republicano, para ser companheiro de ~hapa d~Juscelino
pensam - d • h vid:;i Deixo ae terminar o mandato que o
sido a m:í.xima preocupaça.o e mtn a • , . . . bUSOlr em Kubitscl,ek, mas. recusa tal proposta (Ibidem, p. 23). Diantl, do fracasso dos
vo do Pauni me outorgou., porque forças poliucas nactonats neramd . .
po eh h • de s~V1! a emocracta ent~ndi~entos, o Presidente Café Filho, amigo de Bento ~unhoz, convida-o
nosso Estado lltn candidato, para integrar a ap1 que a . - pata ser Ministro d_aAgriculturn. Assume o Ministério da Agtjcultura .em 03 de
- , minha 1·usumentc no tnstante em que o
,.;...., ~ceitci estl oi.r~da, que_ nao e__
b us il._._.. ..._~
• . _ _ . - . - -
maio de 1955. No Ministério da Agricultura sua preocupação estava voltada
· • .da Utica É ~sun que cu
p . está iniciando sua repercussão nac10nal de V1 Pº · ,
uana . , B il 'O ESTADO DO PAR.\N,-,, pata a questão da produtividade, considerando incorreta a idéia de que havia
deixo o Palácio lgw.çu, com fé no Parana e no ras \
pouca área cultivada em relação à.s terras disponíveis no pafs para a agricultura.
3 abr./1955, p.1).
Entende q~e a questão da propriedade da t~rra não é }mport~ntc. Ou sejn, não
. . Dccçirridos alguns anos, faz a seguinte afirmaç~? sob.te a sua saída do .se mostra favorável a um processo de reforma agrária. Quando M.nistro da
, . ''P . d pelas forças politicas paranaenscs, den::o o governo do _Agricultura, _é escolhido para representar.o governo brasileiro na aber~ta do
governo· ressJOna o l
E tado ~arn candidatar-me 1r vice-presidência. Niio podia ficar surdo ao apc o : 36º Congresso Eucarístico IntctnacionaL realizado na Capital, Fed~ral efn julho
s ' ,. de ver um filho do Paraná alçado ao alto cargo. de 1955. Ocupou a Pasta lvfinistcrial até ser exonerado em 18 de novembro de
aos desejos de meus contcrraneos
1955 pelo Vice-Presidente do Senado Federal, no exercido do cargo de Presidente
(ROCHA NETO, 1961, p. 22),
No entanto os entendimentos políticos para a formação W chapa !ºa.ccz da República. Nereu Ramos.
, B. M ' h z articulados pelo Presidente Café Filho não tem êxtto. De O contexto político era marcado por incertezas e ameaças golpistas, civis e
Tavora- ento un o , d'd
o Munhoz Carlos Lacerda combate a sua can 1 atura na militares. No início de novembro, o coronel Jurandir Mamede, oficial da Escola
acor d o com B e nt , · '
1
- d UDN Carlos Lâcerda parecia mais interessado cm cnar um Superior de Guerra, fez um pronunciamento manifestando-sd contrá~o à volta 1
convcnçao a · , tis <leriam
11
im cdimento legal ou mesmo golpjsta âs forças politi~as getu ,tas q e P~
p à p 'd' . da República Ainda cm relação a sua posstvel candidatura
à de políticos gctulistas à Presidência. Defendia t:imbém o fech:irry.ento da imprensa
comunista. O t--1.inistro da Guerra. General Henrique Lott, d;fcnsor da ordem
l
voltar rest eacta ·
constitucional, manda prender o Coronel 1vfamede. O Presidente da República,
vice-presidência da República, Bento afirma:
Café Filho, afasta-se da Presidência da República temporariatnente, alcgarido
:i' . . d C f' bilizam pata lutar e vencer. Nada se :articula problemas de saúde. No dia 8 de novembro de 1955, Ca~los Luz assume
l..Icus anugos e os e a e se mo . d Presídcnte
. n·
contra mun. 12cm que en
t ho categoria p11.~ o cargo. Mas sou amigo o
. N
' interinamente o Governo FederaL tendo por objetivo upôr cm pr:ítica o golpe
. · ( ) No dia da dectsão da UD. ·
~ verdade, um gnnde mconvcntcnte. ... . udenistn" (CARONE. 1985), que seria o cancelamento das eleições presidenciais.
o que era, n • , . :\th yde a Dinarte Manz,
b bin te do t.linistto da Saudc, entio i1.ranus. a ' A ordem de prisão dada pelo General Lott não ê cumprida, desgnstnndo-o. No
rece o no ga e di f rruüoda; e
-que liderava a facção udenista favorável à. minha can da.tura., ~m ranca t.3. dia 10 de novembro, Carlos Luz demite o General Lott, substitufodo-o pelo
a Herbert Levy, fino parlamentar dc,esúJo inglês, que me propoc protdara ques o General Fiuza de Castro. Na madrugada do dia 11, os Generais Lott e Odili".
· - da U D N Entre a certeza de
da 'vice-presidência, para evit:i.r, no momento, a C1SaO . • ..

,,ir 171
'1
1. 170

l
Quando de sua exoncraçào do Ministério, em novem~ro de 1955, retorna
Denis, dentre outros, desencadeiam uma r~çào, movimentando as tropas, qu~
"saem da Vila :Militar cm direção ao. Catete, ao Arsenal da lvlarinha, às Bases da · a Curitiba. Reassume a d1efia do Departamento de Engenharia da Caixa Econômica

Acronáutica ao Correio, etcn (Ibidem). Neste momento há uma foga de militares Federal do Paraná, assim como sua cadeira na Faculdade': de Filosofia, da já
1
e politicos, entre eles, a do B_rigadeiro Eduardo Gomes e Carlos Lacerda. O federalizada Universidade do Panná.
Presidente Carlos Luz, juntamente com o Almirante Amorim do Vale, e com os Nas deições de 3 de outubro de 1958, volta a conc<>rrer a uma vaga na
:tvfinistros Prado Kclly e Bento Munhoz, dentre outros, se refugiam no Cruzador Câmara Federal É eleito Deputado Federal pela "Frente Democrática", composta
Tamandaré, rumo a Santos, onde pretendiam conservar o governo, com o apoio pelo Partido Ri!publicnno e pda UDN. Assim como em seu primeiro mandato,
. de Jânio Quadros. No entanto, avisados de que a ·situação ~stava conso~~a~a, nwna discussào -sobre o sjstema de governo, volta a defender o presidencialismoi
resolvem regressar ao Rio, com a garantia. de asilo. Carlos Luz recebe permtssao
embora fosse contrário ao presidcnchtlismo puro. Propõ~ a criaÇ~o de ~m
pllm discursar no Congresso, sendo, em seguida, obrigado a renunciar ao cargo.
NO mesmo di_a, ,Ncreu _Ramo_s,_ yíce~P1:~sidente ~o ~en~~o __ é .emposs_ado na
ªConselho de Estado, ~m que _a .J1?Ul~ria foss!!, necessariamente_ representada. e
houvesse esse convívio". É contra •to isolacionismo do chefe do Executivo tanto
Presidência da República. Imediat:1mcnte, cxoner~ o Ministro da Guerra, Álvaro '
Fiuza ~3c' Castro, ncinieando cm seu Juga.t o ·General Teixeira Lott·Poucos dias na União quanto nos Estados" (ROCHA NETO, 1987, p. 561). Em 1960, integra

depois, Café Filho tenta retornar ao governo, mas é impedido pelo E:xé~i~o, que uma comitiva de 12 deputados que, a convite do governo dos Estados Unidos,
em seguída solicita ao Congresso Nacional a instauração do estado de ~mo. que visitam aqude pais. Ê nomeado delegado do Brasil na XJXREUNÜO DO GATT
permanece cm vigor por cerca de 60 dias. A posse do Presidente clcit0.p(lo PSD, (Acordo GenlS~óre Tarifas e Comércio), realizada em fins de_1961: em Genebra,
Juscelino Kubitschek, estava garantida (C.\RONE, 1985: 84-112). Nesse segundo mandato parlamentar o seu embate c~ntra o tnancismo é
Bento Munhoz escreve um livro, RA.DlOGR.--\FIA DE NOVEMBRO, em ai~da mais acentuado, visto estabelecer uma certa ~dação entre a postura política
que faz uma análise daque}c momento histórico, procurando mostrar co~o se do governo João Goulart e o marxismo. Ivfas Bento Munhoz havia sido favorável
deram os acontccimcnto_s.. Embarcou no Tamandaré junt'lmcnte com o Presidente
a que João Goulart assumisse a Presidência da República.
Carlos Luz, 05 Ministros Prado K.dly e 1vfarcondes Ferraz. o Deputado Carlos
Lacerda, dentre outros. Ao justificar sua embarcação no Tamandaré, afuma: Declarei-me contra a tentativa de negar ao Presidente João Goula.rt seus dircltos
ao exercício do governo. Tem sido uma const2nte de minha vida pública respeitar
Tive duas horas para resolver, mas desde logo me havia decidido, .:\companharía o
a decisão popufar das urnas. 1'.12s sou por uma manif'esução da Câmara, isenta de
Pres.ipente Carlos Luz. Não podccia abandoná-lo naquela hora de deserções e omissões.
(...) Eu era ?-.finistro de Café, a quem devi2 lel:ld2de. Mas tive, naquele instante, a quaisquer coações (ROCHA NETO, 1987, p. 648).
intuição de que estavam selados pelo mesmo destino Café e Carlos Luz. A violência
praticada contra O segundo iria repercutir inevitavelmente no primeiro. Estavam Em junho de 1962, o Presidente João Goulart fez ao Congresso Nacional a

'.i' ambos irremediavelmente solidâcios. Não se processa, pela metade, um movimento


subversivo. Carlos Luz era o subsútuto de! Café. e se a sua autoridade nào era aceita
indicação do nome de San Tiago Dan las para assunúra função de Primeiro-Ministro,

J1 neID acatada, aceitl não seria também, e nem acatada, a do titular efetivo (ROCHA ·
p1ua substituir Tancredo ~eves. San Ttago Dantas tinha o apoio:dos parlamentares
nacionalistas e de esquerda, mas não teve o apoio da UDN e do PSD, recebendo
''' NETO, 1961,p. 84). críticas dos parlamentares destes partidos, devido às polfti~as adot2das pcJo
1
/.
Ministério das Relações Exteriores no período em que Dant:is estivera à frente
Em 3 de abril de 1955, quando da Convenção Regional da União
Democrática Nacional (UDN), Bento Munhoz foi escolhido Prcsid~nte de Honra cbqucla Pasta. Er:im politias consideradas de esquerda. Dento tv~unhoz vota contra. ,· ···

:1 do Parúdo (O ESTADO DO P.\RANA, 5 abt/1955, P· 4).


',) 17)
. i 172
Lima 1º para o cargo de Primeiro-Ministro. Hermes Lima'. c~tava à frente do
a indicação de San Tiago Dantas9 para ocupar a função de p~eiro-lvlinistro,
lvfinistério do Trabalho durante o exercício de Brochado da Rocha na Presidência
.d d ue accítá-la "seria comprometer irremediavelmente o
const cran o q . . ~ do Conselho de l.vlinistros. Bento Munhoz também vota contra a indicação do
funcionamento do sistema e seu futuro" (Ibidem, P· 648). Discutindo a indicaç.ao professor Hermes Lim~ apesar deste ser considerado um no~e mais moderado.
de San Tiago Dantas, afirma que n esquerda Não obstante as dificuldades de aprovação no Congresso Nacional, Hetmes Llma
teve seu nome sancionado. Bento Munhoz assume pmição: contráda diante da
. d . base para compelir a Câmara :à aceitação de um nome que
-
Organiza as pressoes e . proposta de reformas de base do governo João ~oulart Çonsideravn que o
· · di - u.erdistas e
passou a simbolizar, não obstante de mesmo, :;ij rcMit açoes csq . .
momento P.elo qual passava o país era. marcado por um1
· d tincípalmente entre smpi01tos
socializantes. E ess;is pressões bem ocgaruz.t as, P ,
• ra1m· t 05 fundamentos da democracia
de tnbalhadores e estudantes, negam mtcg cn e (...) radíalizaçio das posições policie.~ radíe>lização que tenho permanentemente
representativa, desmoralizando.a e des~~e~rando-a (Ibidem, P· 647). co~~tjdo, .P9r co~sid~-la um comportunento decisivimenfe antidemoccitíco. Tal
radicalização é intencional e sistematiaunentc Otganiz;t<la, como Uma et:tp-a do processo
· d pelo Congresso Nacional,
San Tiago Dantas não teve o seu nome aprova o \ revolucioairio no caminho para o ,ociafumo (ROtfH NETO, 1987, p. 647).
que aprovou em seguida o nome de Auto de Moura Andrade, vinculado ao PSD.
O gabinete ministerial proposto por Andrade foi recusado por Çoulart, que acabou
d da Rocha que exerceu o cargo até setembro Hermes Linu, crítico do filarismo: fo~i vincukdo i Alian~ Nacional LiOOta:lor:1.. Com a insurniçlo
indicando outro nome, o d e B ro eha o ' . . lll

' - ,_ e · di rno ·do professor Hermes da .ANL cm 1935 e .i. conseqüente rcpres~o do governo Yargis, f·Ic.tmC$ Lima foi pt~o e
de 1962. Nesse momento, Joao Gourart lU a m car-
demitido de sua CÚlcdn tu Faculdade de. Direito da Univwkb.de eh Rio de Janeiro- Permaneceu
preso por 13 mesc:J. Em 1945, foi 1tnistiado por Varps e readmiti:lo na cntao Universidade do
Brasil. Participou da func.bçlo da UDN e foi um dos funCUdorcs dt Esquerda Democcitica, que
cm :seu m1tnífcsto de lançamento, defendia o socl2Üsmo com liberdade. A UDN e a ED se
0

uninun no apoio à c.and.idatu.l".õl de EduácdoGomes à pruidênda da Re:póblial, cm dispUta com


a candidatun de Eurico Gaspar Du1n1i,que .recebeu o ;ipoio do PSD e do PTB. Em 1947, foi Um
• o D:mtas. foi assessor de Getúlio Varg:111 (no segundo governo constitucional deste), dos fundadores do Partido Socialista BOlsilciro. Nc.ste mesmo ano, cfe~deu a posi~o de se
San 1íag d . to d criação da Petrobras., Vinculado às. coerentes
participando do:i: estudo$ o antepro~ e d 1: reda N VC$ manter ;i legalidade do PCB, cm boa divergindo das posições a4Sumkb:i por esse partido. Como
dona.lista er2 membro do PTB. Na prt.Sidê:ncia de João Goulart, qua.n o anc e. rcpres.entnnte do PSB, manifestou-se favocivd ao rompimento du rd~ções cnlre o Brasil e a
na ; . 'i, d p, . r,..finistro SanT1.agoDantllsfoiconvidadopar.l11ss.umrro
for. 1nd1cado p1m1 o c.ugo e ame_uo.. ' , . ind · dente e os União Soviética. Condenou a polltica expansionisti tanto da UnílioSoviélica quanto 00! Estados
o de Ministro d:ts Rebções. Exteriores. Defcnclia um1 polibca exter~a epe-n . . Unidos. Em 1953, aceitou o convite de Mn Tttgo Dantas paaingresS11r ri.o PTB. Na p~idência:
carg od . "..:i- do vos. Entend3. que o Brasil devert1
prindpios de n;ío-intcrvenção e de nut etermm...,...o s: ~ , m os. a.ises socialist:ts... de João Goufart e tendo Tancredo Neves como PtimetrO-Ministro, Hermes Llrrui. foi convidado
in'tcn:.i&c.i.r :;uu relações. comcrcia!ll com todo:i rn, países, tnd;lV; -cr: ·oat!M...Dur.lnte su1 par.i. :wumic o Gabinete Civil da Presidência. da Rcpúblia. QU2ndo Francisco de &uh Brochado
Pretendia também intensificar a integraçio coml!tCW dos países a m~~ So . ' . San 1í o da. Rocha teve seu nome aproV1do no Congresso NacionaJ para assumlr o cargo de Primeiro--
gestão no Minl$tério, rc.i.lizou-sc o re:i.tlmento das rclaçõe:S coi_n a Uma.o. vtetJCa. oll~c.i. Ministro, Hermes Linu passou :1. ocupar o Mioi.stêrio do Tralnlho, deixando o Gabinete Civil.
Danta:1 defendeu a posiçio de que O!I países do continente amencano ~anti~ctn uma p .Antecip:i.do o plebisdtO para definir ~ o regime de governo seria adottdo pelo paf5, J<no
. • . com Cuba Dcixou o Ministério das lWações Extcnores paro nowmcnte se Goulart nomeou Hermes Lima para. ocupar a funçio de Primeiro-Minittro, até que se desse a
d e coex1stencta.
D
' . . .... ed N
tido Pcdenl. Com 2 rcnúnW do Pdmeiro-Mimstro J.ancr o evcs, . o
Joi
can didatu a epu li Dantu pan assumtt a rClllit.açio do plebiscito, em janeiro de 1963. O Congceuo Naàonal só aprovou o nome de
G oulart encam'mhou no Congresso Nacional o nome de S:rn t2.go __1 _ d C Hermes Lima ap6s a iulizaçio de ~ vottções. Fie.ou na função até 23 de janeiro e ocupou
· lllis de csquci:ua o ongrcsso
funçlo de Primeiro-Ministro. Apoiado pelo, setores naaon tas e . d cumulativamente o Ministério das Rdaçõc:i Exteriores. Com a volta do ~gimc presidencialittt,_ ·
. t bém lo movimento sindictl &ln Tiago Dantas teve, porem, seu nome \teb o Hermes Lima permaneceu como Ministro~ Rchiçõe, Extctiorcs. Em ju~ de 1%3 foi nomodo, ·
Nactonb, e c,md d pePSD da UDN (D'1ctoNARIO HISTÓR!CO-BIOGRAFICO
pelas anca as o e p:i;ra o STF, fuuçi~ que 001pou atê 1969, quando foi aposentado pdo AI-5 (DICIONARf<r
BRASILEIRO, 1984, l" 1052-1056). HISTÓRICO-BIOGMFICO BRASILEffiO, 1984, p. 184l-1847).

175
174
Em discurso de junho de 1962, exrlicita a sua posição·ante as reformas
Iguaçu, diante da multidão reunida, sacerdotes, pastoces e nbinos numa atit d d
de base: . . . , . u e e
tmpresstonii:nte compreensão que unia na hora amatg ·,-li
. _ . ª• ca o cos, protestantes e
israelitas, rccrtarum, juntos os mesmos yenf--L-5 cio 1 ~: .,.. .
• (.;WU _-,.nugo .1..cstamento, livro
Já v.ídas vezes falei aqui sobre as reformas de base, e mostrando que não atrcdito sagr.,do comum• todos (ROC!ü NETO, 1969, P-85-86).
nas reformas de base juntamente com o cárátcr que se tem procur.i.do atribuir às
suas repercussões. Tem-se atribuído às rc.formas de base quase um carisma
No mesmo ensaio, analisa a questão da legalidade dó "movimento
messiânico, parucéia que~ do dia pira~ noite, resolwr tod.ts as aflições nacionais.
re"olucionário". A legalidade da tomada do poder estaria assegurada pela sabedoria
(.. ,) 11:ts todas ess~s reformas, aprcsentad~s ao gósto popular com0 salvação das do Ato Institucional: ··
suas angústias, ocasionado, se vierem a serproce,sadas, se vierem a ser conslun.a.das;
na melhor de todas as hipóteses, com os processos mais acti.inttdos, tuna grande 0

Foi assim em 64, qwn~o ~a ~o[Ças Armadas, coagidas pcl~ o pioião nacional e pelo
desilusão para 1l"massa popular, porque nio iriam resolver nenhum dos seus
prab1emas, ª co~eÇar pm reforma agclria, em- ciue ª questão dâ- terr1; isto ê. ª ~~Rfi~ do"?º"~º· disap~n-~~ ~ ~u~.f:i~Çl vioJenta dQ poder.com_ 0 ~to
5
In ritu~~~~ cm que o Comando Revolucionário, numa atitude inédita, cria~do
questão da propticd,de é sccundááa (Ibidem, p. 380).
formas tneditas de legalid,de, legi· tlma O Poder Legi I . , cl
. . s attvo, e1Cito p o povo. O ..\.to
fnsutuctonal se enquadra entretant ~ r.. w · ·
• . , o, "peru....,.,.o, cm nossa tradtaonal preocupaçio
Ao discursar no Parlamento em junho de 1962, critica o governo por se
d~ JUstdicação legal: Sacode ~alentamente O edificio, mas nib O faz cair. Evita que
posicionar contrário ao recebimento das verbas ame.rica~ns, originárias do projeto
crua 1 p:uando ~o meJo do camtnho, ao ~~rUma filosofut de alta sabedoria, prudência
'½lian~ Para o Progresso'\ perguntando o por quê dcs·ta posição. Sua resposta é
e com_preensao, sob o ponto de vista sociológico e histórico de nossa realid de
a seguinte: "Porque o marxismo estabelece que o capitalismo americano é político-militar, mas incompreensível para os iuristas puros(.... ) (Ibidem1 p. 11~,
impeáalista. .." (Ibidem, p. 395).
Assim, mnntendo uma postura coerente com suas posições políticas .. Re~tenndo ~uas considerações anteriores, entende que. 0 movimento dos
assuttlldas até o momento, Bento Munhoz se mostra favorável ao que ele denomina militares e um movJmento revolucionário e não um golpe de Es. tado · , ·
. , ao contrario
de "movimento militar" de março de 1964t considernndo-o legítimo e de caráter do movunento que destituiu o governo Carlos Luz e e ,, Filh. ·d d
aLe o, const era O por
popular. Num ensaio sobre Café Filho, i~titulado ·~as Rocas a~ Catete", de Bento um golpe de Estado.
outubro de 1964 afirma:

Ma
em maio de 64, os derrotadm1 de abtil attibuúm à Revolui-ão
. • 7 ,_
escala d
1
egope.
A opinião nacional no que posSUÍll de mais ponderável e definida, pressionava as O
s resscnttmento é perceptível e a confusão intencional. Uma revolução investe
forças armadas para sua arrancada. A opinião nacional catequizava-as para a contra determinada filosofia de governa trazendo uma me" ·•gem
, .._..,
1
, mgopenao
u •
interrupção do processo de desagregação nadoruil que descia do Governo. A opinião ~oc.1., não su~sti.hti nenhuma fiiosofut, substituindo apenas os, homens do poder e
!,
nacional, perplexa, não sabia cómo iriam tenninar·os dispositivos armados para a mventando, e evidente, algumas razões que O ·wtifique Da!. diº ·
, 1 m. ,a ,erenÇl entre os
subversão total dos velhos padrões de vida bn.silciros., manifestando de todas as . movunentos de novembro de 1955 e marro de 64 O ' ·· r · 1
·7 • pnmeao lot um go pe e o
maneiras sw. avcrsio ao poder divorciado da Nação, principalmente com as ?-.farclu.s segundo uma revolução (Ibidem, p. 123).
da Familia, até obrigar as Forças Armadas à sua decisão no movimento de 31 de
í,j
março -1" de abril, um_dos mais populares.movimentos de nossa história política, Num ensaio de outubro de 1968, intitulado "Métodos Atuais de Defesa da
em que o Exército, com toda sua proocupaçio de justificaçio legal. acompanhou, Democracia", ao referir-se à repressão no Paraná, afirma: ·
simplesmente acompanhou o país. Em Curitiba, em praça pública, junto ao 'Palácio

176
177
Seja realçado o comportamcnlo, no Pann:i, ao iniciu--se 2 Revoluf?o de 64,dos lnquérito5 . desentender politicamente. Paulo Pimentel dkputou as dciç:õcs p
}.l.ilitrue5, quando os inquiridores~ compreensivos e patenulis, mesmo p2.tcrrulistas, • ar um pequeno
partido, o Partido Traballústa N,cional (P1N). Recebeu o apoio do PDC (partido
a
porque percebe~ pouca prática subveniv.t de muitos estudantes, chamados 2 ~
de Ney B~ga), no entanto, sem contar com o apoio·de uma,imp'?ttnntc liderança
pan O e·sque«µsmo e para wn pseudo-marxismo, por seu ideal de justfl?. QUa!B os
deste partido, Afonso Camargo Neto.-Este articulava sua ~di~atura no govt!tno
métodos tmis eficientes só uma longa prática e um longo tmto com o assunto podem
ensinar, mas, acentue-se a diferenç:;i funchunental entre a eficiência imediata e a eficiência do Estado pelo PDC, mas N_cy lltaga articulou o apoio do PDC à candidatura de

tongo praw, que se podem contradizer e freqüentemente se contradizcin. ..A noçio de Paulo_ PimenteJ._Dertotado na convenção do PDC, Afonso cbat~o Nêto passou
2

limites na repressão, só a sabedoria do poder público pode descobrir. Pode e deve a apotar a candidatura de Bento Munhoz. Pimentel tambéffi recebe O
apoio do
descobrir, inspitando-se cm métodos brasileiros, em no55-a moda cabocb. que imortece PL, ~e grande parte da UDN e de setores do PSD. Bento perde as eleições,
o conflito de: contrários. A não n:u:tlcaliz2ção esti enÍ nos.s11 tradiçio.. O r:uliofumo não pnnopalmente com os votos do interior dô Estado, pesand~-lhe a acusação de,
é br.lSileiro, não vem de: nossus heranças; vem de fora, VW\ <leoutms formações, como no período de sua gestão, ter governado o Paraná com os olhos voltados apenas
-um comportam~to ~ta~ente intel~~do q~ !1º fundo ~s- éestranho (ROCHA p.
pãra Curitiba (IPARDES, i9B<J; 23). - ·• - - ..
NET0,1969,p.18S). . Após esta experiência,. Bento Munhoz não volta a· Se ·candidatar para
qualquer cargo político. Apenas diz recomendar aos arrugas o ingresso· na ARENA,
Os repressores são considerndos pnJ:emalistas, condescendcnt~ assumindo após a extinção do pluripartidarismo em 1966. Apóia a "Chupa Presidente Costa
posturas não radica!s,.seguindo a tradição btasilcira. ~orno na relaç.i.o entre 7~nhorcs e Silva, de Integração Revolucionária", da ARENA de Curitiba (O EST.1D0 DO
e escrav;s em que n9u~les eram considerados dóceis, paternalistas e benevolentes, PARAN.-1., 5 ago./1969, p. 5). . · • - ..
l
" lição aprendida ~om Gilberto Freyre e que influencia a sua leitura da repressão Em fevereiro de 1967, Bento Munhoz ingressa na A~demia Paranaensc
durante a ditadura militar. Uma leitura idealiznd• da realidade. de Letra$, ocupando a cadeira que tinha como Patrona Vi~ent~ Machado. Faz um
Ao terminar se~ segundo mandato parlamentar, concorre a uma vaga para longo discurso, enaltecendo a figura daquele ex-governador do Estado. Em 5 de
o Senado Federal na; eleições de 1962, pelo Partido Republicano. Não é eleito, maio de 1969 se aposenta na Uciivcrsidade Federal do Paranâ. Em dezembro de ·
pois havia apenas duas vagas e Bento fica em terceiro lugar. Os eleitos foraffi 1972, recebe uma homenagem, no Palácio Iguaçu, da "Liga da Defesa Nacional",
Amaury de Oliveira e Silv, pelo PTB e Adolpho de Oliveira Franco, pela UDN, que lhe c1;mcede urna "Medalha de Mérito Cívico", tendo cm Vista sua dedicação
ambos recebendo o apoio de Ncy Braga, adversário político de Bento Munhoz. ao magistério paranaense (O ESTADo DO PARANÁ, 30 dez./1972, p. 3). Pouco
Volta a disputar as eleições para o Governo do Estado cm 1965, por uma antes de completar 68 anos, na madrugada de 12 de novembro de 1973, Bento
coligação formada pelo Partido Republicano, Partido Trabalhista Brasileiro_ Munhoz morre de enfisema pulmonar. Antes de falecer, f~ou internado -
00
(enfraquecido com • ditadura militar), Partido Social Progressista e Partido de Hospital Santll Cruz por um período de mais de 20 dias. É vcl,do na Reitoria da j

Representação Popular. Além. disso, recebe o apoio de uma dissidêricia da UDN. Universidade Federal do Parani e seu enterro recebe todas as f~rmalidades deum l
j
Com o PTB, ficou acerta.do que o candidato a prefeito nas pr6ximas cleiçõ~s seria ex-governador do Estado.
do PTB e que haveria. um candidato do Putido ao Senado. Nestas clciçàcs ao Foi benemérito do Centro de Letras do Paraná, do Instituto de Engenharia
governo do Estado, Bento Munhoz teria em Paulo Pimentel seu mais forte · do Paraná e da UFPR; grande benemérito da Escola Superior de Agricultura e
concorrente. Pimentel havia sido Secretírio da Agricultura do Governo Ney Veterinária do Paraná; professor "honoris causa" da Faculdade de Direito de
Braga. Rompidos politicamente há anos, Ney Brnga e Bento Munhoz se cnfrerttam Curitiba; professor emérito da UFPR; benfeitor do Colégio Internacional dos
nestas eleições, visto que Ney Braga usa todo o seu poder polltico em favor da Cirurgiões, de Genebra; benemérito da Sociedade Brasil~ de Cardiologia;
candidatUra de Paulo Pimente~ com quem posteriormetlte runbém viria -a se benfeitor dos Amigos do Apostolado da Companhia de Jesus e recebeu o diplomá

178 179
1
e as Assembldas .Estaduais. Manod Ribas permanccc go~~nando o Estado,
de Serviço Relevante do Conselho Federnl de Engenhari.'l e Arquitetura; cidadão
novamente como tntervcntor.
• No longo perlod0 em qm. g°"."crnou o Paraná, de
honorário de Curitiba, Ponta Grossa,Joiriville, Irati, Lapa, Apucarana, Guarapuava,
1932 a 1945, Mru1oel Iübas estabeleceu uma relarSo
r- cntre O P 00
· er d o Estado e as
Palmeira, Barracão e àdadào benemérito do Paraná (PERFIS E\RL.\à!ENT.\RES,
forças econômicas dominantes tradicionais. Manoel RiL· e • fu ndado r do PSD
'"'s ,m
1987, p. 44).
Recebeu as seguintes condecorações: Grã-Cruz tvfogistral com faL... n, da no .Paraná _cm 1933, tornando-se o presidente honorário dcs'te partido em oívcl
Ordem de Malta; Grii-Cruz da Ordem N,cion•l do Mérito (Itália); Grii-Cruz da . De acordo com o General Tourinh o, cm entrevista,
regional. · ·o. PSD Jª
•• havia sido
Ordem do Mérito (República Federal da ,\lemanha);.Grii-Cruz de Orange Nassau · do a• L.
organ12adoporManoellübasem 1932, 1933, "orgaruza uase d o 1nter1or
· · dos
(!1olanda); Grande Ofiàal da Ordem do Mérito (Paraguai); Grnnde Of/dal da grandes figurões
, do intecior, dos coronéis do _interio r...,,• Apos
. ,~ rc d emocrauzaçao
.' _
Ordem do lvlérito (Síria); Comendador da Legião de Honta (França); Estrela da de 1945,
• . ainda de acordo
• com o Gcnera1 Tourinho, que m t corgamza
, . ' o PSD é 0
Solidru:iedade Italiana, de 1' classe; Placa de Honra da Cultura Hispânic• (Madrid); ,Secretarto
. do Intenor
. e Jusciça de Manoel
, _ Rib F d FI
ns, ernan o ores, que entra cm
· Med;lha do Mérito Ch~co da Liga· de Defesa N•cional; Diploma de Honra do. contato com comerciantes criadores de gado e te., trazend o-os -para
• 1
· · o PSD.· Manoel
- ·-
Mérito Rural; Medalhas de Tumandaré (Marinha de Guerra); Rui Barbosa e Ribas pretendia se . , nns e1etçocs
· candidatar ao governo do Estado pelo PSD. . - de
Murecl»l Hermes da Fonseca (Ibidem, p. 45). 1947, mas falece cm janeiro de 1946. ·
Co~ o processo. de redcmocratizaçílo, a interven~oria no.'Paraná foi ocupada

3. GESTA O BENTO MúNHOZ NO GOVERNO DO PARANÁ


pelo. Presidente
• do qu
, _Trtbunal. de Justiça , Clocirío Portugal, , e se aLaSta
e ,
apos a
realizaçao
· das. eletçoes pre51dcnciais de dezembro de 1945· O, pres1'dente cl ctto,
.
Marechal Euoco Gaspar Dulra, do PSD, nomeia Brasil Pinheiro Machado, do PSD,
para o cargo. Procurador Geral do Estado e professor de História do Bra il
3.1 A QUESTÀO PARTIDÁRIA E O SUPORTE POLIT1CO DA GESTAO u· ~ SM
nrv·ers1 de do Paraná, Brasil P. Machado governou o Paraná; como interventor
no .período entre fevereiro de 1946 • setembro de 1946· De aro cdo com Samue 1'
lvlanocl Ribas exerceu o poder político no Paraná no período que vai de
Gwmaràes da Costa, Brasil Pinheiro Machado foi escolhido por Dutta
1932 a 1945. O General l\-fário Tourinho, que era o interventor no Paraná escolhido
por Getúlio Vargas, foi afastado do cargo pelo presidente da República pçr ter se (...) na expe:ctativ,1 de que poderia ser o mais indic2d o pa~ pact'ficu a poliuc.a
.
P?sicionado contrário ao projeto da criação do Território Federal do Iguaçu, que ..,pa.ranacru:c
_ .e atrair o apoio de outros partidos com vist u a._ sucessao
·, - govetmtmcnt:il.
retirou do Paraná n região Sudoeste do Estado. Em seu lugar Getúlio Vargas l\la.snaofo1oqucaconteccu.O
. . . · d do
secretaa.a o novo Interventor seria. vi5ivdmente
nomeou lvlanocl Ribas, que foi intervento,r entre 1932 e 1934. Neste ano o país parttdano e ,pessedisb,
. . .sendo recrutados homens de s ti a. propt1a• , gcraça.o,-

pertencentes as tnuiktomus familias do Estado (...) N.ao mwto


. , d epms, de nssunur
. 0
retorna à normalidade institucional; o Congresso Nacional elabora um,'l nova
Go~erno, Brasil Pinheiro i\fachado passava a ocupar 11 presidência do Diretório
Constituição, e rcaliz~m-se as eleições. Getúlio Vargas permanece no cxerdcio da
Rcgtorual do PSD, entrew,mdo~se a um venfadeiro dclirio 11m b,u1atono,
. . em v1s1tas
.' a
presidência da República., após clciçào indireta realizada pelo Congr~so Nacional.
quase
, todos os municípios , rec - fi , . ,
epçocs- esuws, cnanças lltenaodo banddcinhll5,
Em 1935 o interventor lvfanocl Ribas é eleito governador do Estado pela diSCUrsos ao ar livre, banquetes e churrascadas, enfim, todas as cancterisrica.s de
Assembléia Legislativa. Em 1937 Vargas promove um golpe de Estado, instaurando uma campanha eleitoral (COSTA, 1995, P· 363-364).
o Estado Novo, suprimindo as liberdades públicas, fechando o Congresso Nacional

181
18i}
Diante desta posiçào, Brasil Pinheiro Machado perde a intervcntoria cm Moysés Lupion. No entanto, a frágH alfança s!!rá desfeita nq decorrer da gestão
setembro de 1946, sendo indiéado em seu ~ugaro Tenente Coronel Mário Gomes Lupion. Este niio cumpre os co,·,1pro~os as~dos com os partidos que lhe
da Silva11. apoiaram, se restringindo a atender aos interesses do PSD (COLNAGHI, 199Í, p.
O empresário ?Yfoysés Lupion) que foi.amigo do interventor Manoel Ribas, 10-11). De acordo com o General Tourinho, tmto o PTB, f!Uanto a UDN, são
procurou articular a sua candidatura· ao governo do Estado. Devido às'disputas e:tpulsos do governo Lupion, afirmação corroborada por Samuel Guimarães da
internas no PSD, Lupion não enconirou, inicialmente, facllidade para estabelecer Costa., em entrevista, ao considerar que o PSD pretendia &ovemar sozinho,
a sua pré-candidatura pelo PSD. Estabelecendo relações com o PTB, Lupion controlando o poder politico do Estado. Assumindo esta poaição, Lúpion e seu
procurou estreitar seus laços com o presidente Dutrii, visando sua aceitação p_elo partido" ptovocam uma aproximação da UDN e de setores do PTB em torno de
1 .
PSD (COSTA, 1994, p. 29). A candidatura de Moysés Lupion acabou sendo Bento Munboz, que novamente seria candidato ao governo do Esmdo cm 1950.
defendida pelo PTB, pelo PSD, pela UDN, e também pelos comunistas e pelos Desta forma, a coligação politica que dá apoio à candidatura Bento Munhoz
. integralistas. Herdando, portanto, a estrutura politicamontada por Manoel Ribas, ao governo.do Estado em 1950i--é-constitwda pelos·scguintcs-'parcidos: PR-UDN-
dificilmente Moysés Lupíon perderia as ~lciçôes parn o governo do Estado, que PST-PRP-PL Deve-se observar que o PRP, Partido de Representação Popular, é
seriam realizadas cm janeiro de 1947. constituído pelos integraliams (C.~RONE, 1985, p. 37). Além destes partidos, Bento
De acotdo com Ivfaria Victória de M Benevides, construiu-se um acordo Munhoz recebe o apoio de parte dos pollticos do PTB. O Partido Social
interpartidário que deu sustentação ao governo Dutra, cle_ito em 1945, com uma Progressista, PSP, era presidido pelo Coronel Plínio Alves Monteiro Toucinho
aliança êntre o PSD e a UDN. Embora este partido tivesse lutado contr.l o Estado lider da "Revolllção de 30" no Paraná. Este partid~ ·uào apóia~ candidatura Bent~
Novo e era fcrtenhamente contrário ao getulismo, constituiu·se o acriêdo com o Munhoz, afinal, reprcsentmtc do vclho Partido Republicano Prui,tnaense. Realizadas
PSD, partido dos interventores~ partido que expressava os interesses getulistas. E as eleições, Bento Munhoz Síl.Íu vitorioso das urnas. O governo Bento passou a
0 que teria levado a tal acordo, aparentemente estranho? Conforme afirma receber o apoio de alguns integrahtes do próprio PSD. Dentre os políticos deste
Benevides: "na raiz da ;dcsào espúria estará o antigo temor da 'erupção social' e partido que passaram a apoiar o governo encontram-se: Brasil Pinheiro Machado
a força da identificação classista" (BENEVIDES, 1981, p. 219). O receio da. Aramis Athayde, Fernando Flores, Oscar Lopes Munhoz,João Chede e Flávi~
constituição de um11 aliança entre o PSD e o PTB leva a UDN a se a(>roximar do Guimaràcs. Sobre este apoio do PSD ao governo, o General Tourinho afkma:
PSD. 1 'Essc constrangimento, embora calçado em ritízes históricas e inimizades de
um passado ninda muito recente, seria vencido pela força dos interesses reais dos Depois que o Bento foi eleito, parte do PSD traiu o Lupion e passou-:sc para 0

grupos que compunham os dois partidos." (Ibidem, p. 219). O PSD articula também Bento, chefiado pelo Ararnis Ath.ayde, que cn amhado de Bcnfo. Depois da eleição,
a aliança com o PTB, visando não manter o pacto apenas no campo co-nsc.rvador. isso cu testemunhei Parte do PSDJ veio o Athayde, veio o Lopes 1lunhoz... depois

Promovida pelo presidente Dutra, a aliançi. também será realiza.da no Paraná, veio o João Chede. .. O João Chedc vcio para o PSP. Mas é depois das eleições. Nas
eleições não, inclusive o ...-\rami.s Athaydc deixou o cunhado e foí com o Angelo
unindo o PIB a UDN e o PSD, como vimos 11cima, em torno da candidatura de
Lopez. O Ar.tmis era um amaleiio (...) 11 •

11 Como csi:c. só toma posse. cm 7 de outubro de 1946, Joio Cândido Fcrrdra Filho ocupou
interinamente o cargo, Pouco depois da rcalizaçio íbs cldçõcs par.a o governo do Eso.do, que se
deram cm 19 de janeiro de 1947, Mârio Gomes pede exoneração, ficando em ~eu lugar Antônio
n Conforme entrcvi:n.:i. t'C:lllizada pelo :iutor.
Augusto C:irv:;i.lho Chaves, que transmitiu o orgo ao govc~ru.dor deito.

182 183
Com a morte do Coronel Plinio Alves Monteiro Tourinho, o PSP passou
a ser chefindo pelo seu filho, o então lvfajOr Luiz Carlos Pereira Tourinho. O PSP
se manteve neutro em rcla~ào à c.,nclidatura de Bento Munhoz, conforme declara
o General Tourinho. No entanto, no inido de seu governo, Bento Munhoz procura
o Major Tourinho, convidando-o para assumir a direção do Departamento de MILTON c:=.-\l~EIRO. Nll.:lccu cm P:m1n11guá, ll 16 de outubro de 190~ l'~ho tJo pr fi ..
Estradas de Rodagem - DER. Segundo o General Tourinho, Bento o procurou, •.\bdon Pettt Guunacic~ Cumeiro e de I-Jcnriquct.i llricl1sen C11.mciro .'..... r •
· d e · iba o ~i;or
, ...... ns,cnu-::c, cmmça
pois queria que o Diretor do DER não tivesse qualquer ligação com os cmpr,;itcirós. am a, para una 'depois de lu1vcr rCllidido com ~ua família cm Ponta C-º I' . .
· · · c I' · . •=n. 'CZ seu cu~o
O então Major Tourinho aceita o convite, após consulta ao diretório de seu partido, prunttno no o cgto• Julio Tcodorimc o curso sccumlâóo no G .Ulll.Slo . ' lc_ '
--.1.illacruc. M:itriculou-sc
110s 16 :inol,,
. na l•:ictild:tdc
. <lc Mcdicirui, da Univcn1idadc do par::ma,
• onuc
_, cua:ou
, . . '
o:t 3 pnmcu-o:.
levando consigo o apoio do PSP ao governo. Este apoio foi relevante, poi$ na
anos: ~eguindo ~cpoL..; p:ir:1. o ruo de Janciro par.i concluir o curso na L~·cult.latk: N11.cional de
.Assembléia Legislativa havia um certo equilibcio entre as forças políticas que.
Mcd1c1ru1,<la Pnu~ \'crmclha. Dcpol5 de form:1.do, clinicou :1.lguns :i.nOl cm r..Gna.s Gcr:ti F .
apoi,avam o governo e 'as forças lupionistas. O PSP tinha dois deputados estaduais, -. curso t.lc .\nitt~mm-Patol~en no Iru:tituto ''it11J-Bn:i.isil. ºNa Paéuldade'dé: }.fcdidi-m dt Ü;;:-;
o que possibilitou ao govetno obter a- maiori~ na Ass-einbléia Legislativa, embora ocupou aa- cadelr.111 de Biologia Geral, P.1;n1:1itologia ~ledica e Anatomia Patcilóo-i N I' I,_'
de FiJollofi
• . . la,
e·lC.nCfflS
. e Lctn1s <la UFPll lccionou Piicologia
' ' Genética e J-'tistória
o·º· <la Fil .li ':ICU uauc
' e_
por pequcnn margem. l•otumcmdort.l · N °~01111.
Durante o seu governo, Bento Munhoz recebeu a ·assessoria de um circulo . . • e mosquitos. o Governo de Bento :O.lunho-~ exerceu a fuuçio de Chefe r1:i Ca:i

de amigos 13. Estes assessores crnm: lvfilton Ca.rneiro, professor da Faculdade de


0\'il.
• . Ca:mt.lo com Ha\'déc
• Nid · e • .
c\1,/lC:Z :imctro, tem 0$ :.cgumtci; filhos: ~@ton C:1rnciro Filhoª
1ned1co,
B· lógic profc:i$0r de Parasitologia ML-<llel do Dcpt" de P:ittlogia
. 9·aSJLõl uo Setor de Ocnc1;1.s
i__ :, ,.. • •

m
h as UFPIL, e professor titular da mesma disciplina na PUC-P.Jl· Í'cn"'n 'o N ~-
. da ºvil .
~~
Cfl '-t ,... U . '-<líl1CtrO
gcn
H · e cu-o ct ' profC:l-llor do lrutfruto de Ciências Ja UPPR e _,_
· I> . •
uu cut,ov ositrvo; e 1fano. .'

u BlL-\SIL PINHEIRO M.\CIUDO Nn:-ccu na cidade de Ponta Gros~a, cm 1907. FormotHc 1111. li cgma ..arnctro de .Almeith.. Milton Cnmciro foi articulista d e: \'li.nos
, . ,omal..'I
. : . e cscrcvctJ van0$
. .

r<acultbdc Nacional de Diicito do Rio de J!lnciro, cm t 930. r-oi professor de curso i.ccundário, de
vro:i,. dentre os: qunl9, Co.ncc1to Atual da Yith
J ' Procuno d E u· , _1~_1 • ,
e ~llll, ntvcuh.111.uc e Ensino e Sobre
1931 a 1938; Dcput:1do E:::L11-du:U de 1935 a 1937; Procur:idor Geral dajustlÇ1, de 1939 a 1945; r,. 1aqumvcl (RUMO PAlL.\.NAENSE, 1975, 112).
lntervc.ntor f"C<lera.l no Paraná cm 1946; Deputado Federal de 1947 a 1950;Jui.J. do 'l'cibuoo.l de TEMÍSfOCLES .LINIHRE& • Critico tired no,
, -viveu
. ,
cm Bueoos ,--\iro;, llofrcnt.lo influênciA
Conta.-. do &rado do Pu.uci, de 1947 a 1967; \'icc.llcítor da Universidade Fcdcral do l~r:má, de . ~lturlll d:iqucla at.lat.lc. 1ornou-sc proÍC$$0r Cltronitico de Utcralu p:.-... ·\ .
UnivcrsiWlt.le fbknl do p , p . . . , C'ól ._..,,.. no-. mcrtan.1 na
1967 11. 1971; Diretor da í'iculd:idc de Ftlo.~orm., Ciências e Lctl'll$ da UFPR, de 1968 11 1972; .1;111.na. ~ 0 prtmcuu Dtretor-Prcsidcotc w_ COI'"-[ E
· pi I r· · · .1 L', ~ !l:crcvcu cm
Diretor da f,acukladc de Ftlowfia, Ciências e Lctru da Universidade útôlica; e Diretor do :.u .cmc:n
d Oi:R ttcranmt
· , . cul1ur.ais. Dentre outro.-. livros:, pu blicou l':t- r.ana,
Buc centrO!> . r·1vo, lfo:tona
• - •
Instituto de Pcsquísns d:l UFPR, de 195811. 1968 (GAZETA DO POVO, 19 dcz./1978, r- 4). Crio e.a o • omnncc rasiJc1ro ' Irts1onll
• · E conomto.
• · do ~Iate e llcliquí;ia: de um;i Polê .
P.\USTO C.\STlLHO. Filho de fa;,,cndciro paulista., nasceu m Clcfadc <le Cambar.i-Pll,cm 1929. Ecntrc .\mrgo:t (V-AHGAS, 1992, 11- 213). m1e1
Estudou cm São Paulo, na França e na .-\kmanlu1.. Estudou FiJosofi:i. na Sorbonc. I>:aris. llctorna
\~J~f.i~N .~~\RTIN,S. Nnsccu cm Sã<: P;iulo cm 1921 e vcio p;ir.i Curidbn cm 1930. J~ou no
ao Panmâ cm 1953, pnuando a rc11idir cm Curitiba no pcrlodo entre 1953 e 1959. foi IL~lics:sorde
Col:giu ~1v111a ProvidC.1'.cia e no Gini.-.io Jlar:mllcn~, form11núo-1e cm Direito pd.1 Univcn:id.1.Jc
Bento :-.lunho;: nu governo do füut.lo, e o primeiro Diretor <fa 8iblíotcC2 PUWic:i do 11.irani,
I I arana, cm 1943. Po1
do . locutor na cidio PltB2 Entre 1943 e 1n44 ' , OfiICCI
-., , ,íJI . 1ui:!.
' G abll\ctc
. do
:ipôs li t:W. rcorgul'UrJlçln Em 1959 foi convídii.do p-;:,,ra Integrar o corpo tloccntc <lc uma F;:,,cul<lat.lc
paulista cm form:içào, que vim $Ct a UNICAMP. Doutorou-se pela Uf-Pll e tornou-~ Livre-
ntcrvcntor
, hM,mod Jl.ibiu. fooi afostat.lo do caroH -"- por opt:tr pcIa corrente poltUC":li
. . thlcr:ula
. po,
Docente pela mcs-rtl11. untvC~it.l:idc. Na Uni\'cr-.Si:cbtlc f-cdcr.11 Jo Pan1nQ foi profci:wr tlc Sociologia Uento n11111 oz d.a. !tocha Nci u F01· b 0111 1 •' t ª d 0 G ovcmo Franc& entre 1947 e 1948. Foi
tio Conhecimento. Profcs:l,or1ítulardo ILCSE-UNESP e do IFCfJ.tJNIC;\~IP (TP.\RDf'.'..<; ~ profc~:tor afctlrít1co cm Língua e Litc..i.tura Fr.anccsa mi UFPR, entre 1952 e 1962. Nedc: .1.no
Sobre Política Parnnacnsc; cntrcVi~tas, (1. 27-28). 1r::1ru~crc·SC _para m Est2do, Uniclos, lcckinando n.t Unlvcnlchtk de Kan~u: e o;i Univen.id:idc
JOAQUIM DE r,,L\TTOS BAlUtETO. Filho de Anibal B11.rrcto e l:umra Matto, B:mcto, nasceu de W1sconsm-Madison. Foi profcuor titula.e de Lit.cr.atun1 Bnu:ücirn m1. NCW York Un' -· '
En.saljt:l e e . . J . • • IVcrstt).
cm Curitiba cm 24 de setembro de 1908. Formou.se pchi P'acukl.i.dc de Medicina e Odontologia . nuco ..ttcr.mo, e,crcvcu no jornal O füt:lldo t.lc. Sio Paulo até 1974 I;- Cri.
da Univcuidade do Pi:&r.má, onde mai~ t::1rdc foi proÍC:$$01' catcdrâtico. Casou-se com .-\licc Lltcr.irio
• dos ·ornais
•J "0
• Glob " " ., · - ttco
o e Gazct.i <lo Povo . Dentre outro:s livr0,i, C11crcveu "Hl$tó/1jl.
Ffllnco e teve o~ ~cguintes filhos: Ana ~focia, Paulo, MariA Alice e Joaquim. No Governo de da lntcligcnrno Brnsi=" e "Um B=il Difcrenre" (DICION,ÚllO Hr.,'l'ÓRICO-BIQGR,\FICO
Bento h[unhm. foi Diretor da Fundaçfo de Assistência ao Trabalhador Rural e Sccretiirio de DO ESTADO DO l'AR.\N.\, 1991, !' 277-280).
Educoção e Cultura. (AL\IEIDA, 19GB, !' 53).
f8S
184
cargo entre agosto de 1953 a fevereiro de ·1954, Chafic Cury do PR e, finalmente,
Medicina; Fausto Castilho, professor da Faculdade de Filosofia; Wilson Martins,
Carlos Frederico Marés de S01..r~a. ,Abilon-de So~.za Naves :do PTB ocupou a
·cdtico literárioj Joaquim de lv!attos Barreto, professor da Faculdade de Meclicma;
Secretaria Estadual dos Negócios do Trabalho e Assistência Social >

l
Brasil Pinheiro Machado, professor da Faculdade de Filosofia; e Temfstoclcs •

Secretaóa criada pela Lci n.º 682, de 13 de setembro de 195L.Esta p.;.ta contou
Llnhares) Professor de Lit~ratllra na Faculdade de Filosofia.-
ailidacom os seguintes titulares: Corone!Alcides .Amaral Barcellos do PTB,Jorge
de Lima do PTB, Estcvam Ribeiro de Souza Neto do PTB e no~rnCnte o Coronel
3.2 O SECRETARIADO
Alcidcs do Amua! Barcellos. O Coronel Albino Silva ocupou a Chefia de Polida
Vejamos agora como Bento Munhoz constlfui o seu secretariado. P~ do Estado, cargo ocupado posteriormente pel.; Major Ney Arnintas de Barros
Secretário Estadual dos Negócios da Fazenda Bento Munboz escolheu E.rasto Braga e pelo Coronel Carlos de Almeida Assurnpção. O Coronel Euclides Silveira
DN. Durante a gestão de Bento Munhoz esta pasta.foi ocupada do Valle ocupou a Chefia da Casa Militar. Esta passou a ser subordinada
G aerer,a
tn d U _ .
pÓr outtos· tilulares:-Fclizardo Gomes da Costa do PR, Eugênio José c;le S,ouza e diretamente ao Gabinete do Chefe do. Poder Executivo, pela Lei n.º 709, de 28
Francisco de Paula Soares Neto, da UDN. Roberto Barrozo ocupou-a Secretaria de setembro de 1951. Milton Carneiro ocupou a Chefia da Casa Civil Esta
' .
Estadual dos Negócios do Interior e Justiça, posteriormente ocupada pelos pasSriü a sc:r subritd.inndà diretàrne.tife ao Gabinc.te do Chefe clb !'Oder Executivo
seguintes titulares: Àratnis Taborda de Athayde do PSD, Laertes de Mac~do pela Lei n.º 709, de 28 setembto de 1951. A Procuradoria Geral do Estado fo;
Munhoz da UDN, Renato Gu'rgcl do Amaral Valente da UDN e Fernando Flores ocupada por lvfanoel Llnhares de Lacerda do PRP. Posteriormente, Edgar Távora
do PSD. Francisco Peixoto de Lacerdâ·Wcmcck do PR assumiu a Secretaria de e José Hosken de Novaes tambérri.foram titulares da Proct1radoria. O ocupante
Estado dos Ncg6cios de Agricultur.i, Indústria e Comércio. Outros titulares do cargo de Prefeito Municipal de Curitiba recebia indicaÇão do governador
desta pasta focam: Newton Carneiro da UDN, Rubens de Mello Brag> ~o PTB ~ até 1954. Durante a gestão Bento Munhoz foram diversos os ocupantes do cargo.
José de Oliveira Rocha. A Secretaria de E•tado de Educação e Cultura foi Amâncio Moro, do PTB, ocupou o cargo de jan~iro de 1951 o. julho do mesmo
ocupada po~ Newton Carneiro, da UD~. Outros titulares desta. pasta f~ram: ano; Wallace Tadeu de Melo e Silva, do PTB, foi prefeito da cidade entre julho de
João Xavier Viana do PR, Lauro Gentio Portugal Tavares do P~ e Jo~qwm ~e 1951 a outubro do mesmo ano; Erasto Gaertncc, da UDN, ocupou o cargo entre
Mattos Barreto do PDC. A Secretaria Estadual de Saúde e Ass1Stência Soe1al outubro de 1951 e maio de 1953; José Luiz Guerra Rêgo, d0: PR, foi titular do
foi ocupada por Piragibc Araújo. Posteriormente, ocuparam o carg~ Ara.nús cargo entre tnaio de 1953 a março 1954; e finalmente Emani Santiago de Oliveira,
Taborda de Athayde, do PSD, e Roaldo Amundsen Koehlcr. Esta Secretana passou do PR, permaneceu no cargo ent.re março de 1954 a novembt'O do mesmo ano,
a denominar-se Secretaria de Saúde Pública, pela Lei n.º 682, de 13 de setembro beve-se observar que·o Prefeito José Luiz Guerra Rêgo rcnu~ciou ao cargo no
de 1951. Felizardo Gomes da Costa do PR ocupou a Secretaria Estadual dos final de março de 1954, pois pretendia ser candidato a prefeito, nas eleições que
Negócios de Viação e Obras Públicas. Durante a gestão Bento Munhoz esta se dariam em outubro. A partir de janeiro daquele ano, a legiSL'lçào foi altcrada1
· d' . V da com o apoi.o de Bento Munhoz. Com a alteraçào, o prefeito d~ capital passada a
pasta também seria ocupada por Hugo Cabral da UDN, Riva. avia argas
UDN, por Eugênio José de Souza e Antonio Joaqwm de Olivetta Portes. O ser eleito e não mais indicado pelo governador. Com a renúnci~ de Guerra Rêgo,
Secretário do Governo, do.quadro especial do paL\cio do govern.o foi ocupado cria-se um focidente. O Presidente da Câmara Municipal, Roberto Barrozo Filho,
por Oscar Lopez Munhoz, que era do PSD e depois ingressou no PR. O Secretário_ entendeu que o novo prefeito que deveria completar o mandato de Guerra Rêgo
do Governo passa a ser considerado Secrebírio de Estado, pela Lei n.~ 709~ de deveria ser o próprio Presidente da Câmara e não ser indicado pelo Governador.
28 de setembro de 1951. Outros ocupantes do cargo foratn: Joio Xavier Vtana Tendo cm vista que o pai de Roberto Barrozo Filho, Roberto Barrozo, pretendia
do PR, Rubens de Melo Braga do PTB, Oscar Lopes Munhoz que retomou ao ser c~nclidato a prefeito nas prô:<lmas eleições, o filho não quiS assumir a cargo.

187
186
Desta forma, coloca em seu lugar o vereador AUgusto Toaldo Túlio, do PSD, e a ,.li
de ferro de seu interesse; - P~t:arinformaçõe.s e e · clili" ~- ·
Càmnra Municipal empossa-o prefeito de Curitiba (O EST_\DO Db PARANA, 1.º ,. umpnr gcuaas que at> Estado
forem soliatadas pela União, relativamente à :i:egu d r · .
abr./1954, p. 4). No mesmo dia, 31 de março, o governador também nomeia o , , . rança as 1r~ntcttas e ao servlço
de policia;-Supenntender a colaboração entre O Estado e esses .. _:_r ·
prefeito da capit11l 1 Etnani Santiago de .üliVcita, do Partido -Republicano, . _ . : mumup1os para
orgaruzaçao dos serviços locais de asai:i:tência pública e higiene popular e formação
empossando-o no Paláci~ no dia 1.º de abril Curitiba estava então com dois da. consdência ~anitária da populaçio' _ A 'lia c1m· • ,: - ·,
• UXJ r a a lnutraçao muntapal, n:.1
prefeitos. No dia 1. 0 de abril, a Câmara de Vereadores, com dez votos fayorâvcis claboraçiio de diretrizes e normas da politi p • " •

ca agnna, econonuca e rodoviária·


e dncd contrários, aprovou a indicação do governador, dando posse a Ernani Representar o Governo sobre a necessidade de execução :de melhoram t '
. . , en os
Santiago de Oliveirn (G-\ZET.\ DO POVO, 2 abr./Í954, p. 8). O Major Luiz mllIUC:lprus, que acedam aos te5pcctivos tcCUC5os financeiro" r._,__ ,:_ -d li ,
1 .., ~ o a ap caçao
Carlos Pereira Tourinho, do PSP. ocupou a Diretoria do Departamento de das verbas que forem concedida. pelo Estado (BOLETI~l DO SERVIÇO DE
Estradas de Rodagem - DER. Ocupou o catgo atê junho de 1954. _A partir Th!PRENSA DO P.-\RAN.-Í, 1954, p. 49). .
-desta data o- catgo- foi- ocupado- pelo- Engenheiro -Roberto_ Faria Affonso. dn >

Costa, do PR. Pedro Stenghel Guimaràcs ocupou a Diretoria da Câmara de A Chefia. dô Scrviçii de Imprensa do PàranÍI foi OCU(>ada p~r Adh~rb;l
Expansão Econôn:iica e Propaganda do Estado. Esta foi transformada em Strcsser. O Serv1ço de Imprensa do Paraná foi criado pela Leh1-º 2.180, de 4 de
Câmara de Expansão Econômica do Paraná, pela Lei n.º 683, de 13 de setcmbrci agosto de 1954, com subordinação direta , 0 Chefe do p d E ·
o er xecuuvo
de 1951. Outros dois diretores da Câmara foram Homero de lvfelo Braga e extinguindo ao mesmo tempo,, C d E - • · '
. • amara e xpansao Econotn.1ca do Paraná. As
Adberbal Sci:esser. A Câmara foi extinta em 4 de ngoSto de 1954, tendo crri vista . ~-n.alidadcs do Serviço de Imprensa são:

a crínçào do Serviço dC 11:Ilprensa do Paraná, Estevam Ribeiro de. Souza Neto,


-. difundir, atuvê:s da imprensa • rádio-difu sao,
- ctnema,
· 1 • -
do PTB, ocupou a Diretoria do Departamento Administrativo do Oeste do .te evtsao e outros
metos de propaganda, as atividades do Estado, com o cibi·etivo de fi .
Paraná. Em março de 1954 a Diretoria foi ocupada pelo Major Adélia Conti. . . . , 1xar a
cont_ri~u1ç~o paranaensc ao progresso nacional, na esfe~a das rea1izaçõcs
Alceu Trevisani Bel~cio ocupou a Diretoria do Departamento de Geografia,
adm101strat1vlls: 2 - divulgar a vida para.nacos b d , ·
Terras e Colonização. Posteriormente o cargO foi ocupado por Américo Nicz , . . e, so to os os seus aspectos, que
mteressem, prec1puamertte, a fixaMo de SUA lid d
• . 'r' rea a e, mormente nos setores
e por José de Freitas Saldanha.. O Engenheiro Civil Francisco Pereira oCUpou a
econom1~0, cu1tural e cientifico; 3 - documentar as ativid,ades paranaenscs,
Presidência da Fundação Paranaense de Colonização e Imigração. Dja.lma
p~lo_s ~e1os que lhe são atribuídos, com a preocupação subsidiária da pesquisa
Rocha Alchueyr ocupou o cargo de maio de 1951 a novembro de 1954.
~stonca~ 4 ~ manter estreito contato do Poder Público ~o~ os órgãos de
Finalmente o c.1rgo fo\ ocupado por João Bi1.ptista Zagonel Passos, do PRP. A divulgaçao do fut,do, do Pai, e do Exterior (BOLETIM DO SERVIÇO DE
i
Diretoria da Imprensa Oficial do Estado foi ocupada por Elias Karam da l~!PRENS.\ DO P_-\R.\N.-Í., 1954, p. 11). .
li
UDN e depois por !talo Domido Botba, do PTB. A Diretoria do Departamento li
;J
de Fronteiras foi ocupada pelo Major Adélia Gonti. Este departamento foi criado A coligação política constitwda para eleger Bento Munhoz e depois dar
pela Lei n.º 1894, de 6 de maio de 1954, tendo autonomia administrativa, sustentação ao seu governo ' f 'gil - eh • · (
e ra e nao cgara, como veremos, unida até o fim 1
diretamchtc subordinada ao Governador do Estado. A seguir, descrevemos algumas da gestão. Esta coligação politica se reflete na composição do secretarindo montado
de suas competências: por Bento lv[unhoz, assim como nas inúmeras alterações vc.r-ificadas acima. Na
Assembléia Legislativa, o putido de oposição, o PSD, tem a maia'r bancada, sendo
F'iscalizar a reserva e dem:ucação cm favor da Uni.ia, da porção de terras devolutas, que O
PTB constitui a maior bancada por parte eh situação. O governo tinha a
indispensável à defesa das frontcins, às fortificações,. construções militares e estradas intenção de eleger Laertcs Munhoz, da UDN, para a Presidência da Assembléia

188
189
econômica e poütit1. Desta f9rma, utru1 questão .rdevantê que perpassa grande
Legislativa.. mas o eleito foi]lllio da Rocha Xavier, do PTB. ''O PTB se uniu ~o·
parte da história paranaense após a emancipação política, é i da integração do
PSD para eleger o presidente da. Casa; tendo em vista sun insat:isfuçào com a
território paranaense. A integração do Estado começa a ser u~a preocupação já
nomeação do Secretatíado, pouco favorável ao PTD" (GAZETA DO POVO, 31
do governo de Caetano Munhoz, quando se 'verifica u.m in19o, de ocupaÇào do
jan./1951, p. 1). A oposição, no decorrer do governo, mantém uma postura de
Norte do Estado. Mas _se torna mais premente a partirda década de 1930, quando
crítica sistemática em relação à gestão Bento Munhoz. Esta pcistura se reflete
a oo.tpação. é mais sistemática. Esta probl~mática estará prcsc~te ~o governo de
também na imprensa que apóia o PSD, como os jornais GAZETA DO POVO e O
Bento Munhoz, que demonstra preocupação Com a integ~ção do Estado, seja
DL-\, que mantém uma crítica constante., algumas v~.es usando uma te~ologia
em nível territorial, quanto econômico, sotjal e politico. Aiértj disso, observa·se
indecorosa. Em 1953, alguns atttlgos de Bento ~Iunhoz, como Aristides 0ehry, nesta gestão· uma preocupaçlo com a ~onstituição da ident:id~de paranaense.· O
Fcrn.-ndo Camargo e Nestor Etícbsen, fundam o jornal O EST..\DO DO PARANÁ, Norte do Estado, como vimos, colonizado priricipalmente por p•ulis ias, que trazem
que sustenta uma postura favorável ao governo (O ESTADO DO PARANÁ, 13 consigo-uma identidade paulista, -alC?ffi de cstatcm tcrritocial e"ecbnoriilci.mente.
nov:/1973, P· 9). muito mais vinculados ao Estado de São Paulo, visto que a ligação com O Sul/
Sudeste do Paraná e, mais precisamente, com a Capihti. era ~~~~idcravelmente
3.3 A PROCURA.DE UM CONCEITO POLÍTICO DO PARANÁ.
precária. O Oeste/Sudoeste, colotlir.tdo p~ncipalmente petos gaúchos, mas
também pot catarinenses, que carregam com si toda a sua ttadiÇão e cultura, a sua
É somente na década de 1950 que p Paraná terá encerrado o seu processo
identidade. Os colc:ini.zadores desta r~gião considerav-a.m q1:Je ~~- ;utoridades
de colonização. Ou seja, ó.Paraná estará encerrando a sua ocupação nos gov.ernos
paranacnses demonstravam pouco interesse por aquela região. tdéias separatistas
de Bento Munhoz e de Moysés Lupion, ocupação no Norte e no Oeste/Sudoeste
já foram defendidas nas regiões Oeste/Sudoeste e Norte. No Nort~ do Estado,
do Estado, :No início do governo Bento, o Paraná vive ainda um forte processo
cogitava.se em formar o Estado do Pâranapanema. Diante d~tc cenário, Bento
de ocupação, inclusive de imigrantes estrangeiro~. Falando da formação do Estado
Munhoz procura implementar políticas públicas visando proniovcr a integração
do Paraná, Bento fy[unhoz considera que: do Estado em nível físico, econômico, social e político. ,
, Como vimos, Bento Munho~, embora filho e genro de políticos da
O Paraná não é apenas um desdobtlimento político de São Paulo, por ter sido a sua
Ri:pública Velha, tem uma postura moderna, de um homem burguês. Assim, Bento
quintâ comarca, É um desdobramento sóciológico, econômico e psicológico da
Munhoz, umjotelectual, imprime cm seu governo, wna_politica de caráter burguês.
dvtlização paulista. E honra a sua origem pela afirm:ição atl.Ull da s~ pujança. Às
vêsperas do centenário da Província, estamos assumindo a liderança do café, ~ Porém, a~tes de iniciarmos as cons.iderações sobre as principafo políticas públicas
grande general da política, o que equivale :i. nossa coloc:1ção na vanguarda da vida adotadas pelo governa, vejamos como Bento Munhoz estava v6ldo O Estado e 0
cconômiabrasileirn, 1Ias estamos, nmbêm, re.tliz:1ndolllll:t ~va fascdaciviliz.ação seu desenvolvimento. Além de rcvelllt a sua ligação com a terra, procura definir
nacional, com um Cõlrátcr nitidttmcnte paranaense, pelo aproveitamento intensivo o paranaensc. Estas questões aparecem explicitamente num dlscurso proferido
da energia de brasileiros de todos os recantos da Pátria e de estrangeiros de quas~ cm 1952, tendo já decorrido cerca de um ano e meio de seu governo. ·
todos os países do mundo, que nos vêm procti.tlt como a wn paraíso de repouso
e segurança, no angustiado e. agitado mundo contemporâneo (A DIVULGAçAO, . Eu tenho consciência da grandeza do momento que o Paraná ettá vivendo. Sinto a

sci./out. 1952, p. 19). trepld~ç.ão do seu desenvolvimento, e sinto melhor do que ninguém as 5 1.l.11!

deficiências. Sinto o nosso gigantismo, o no!!O crescimento cipido demais·pa.ra que


A formação do Estado do Paraná aprcsentn certas particularidades regionais. a administração pública possa acompmhAr a expansão ~cial e econômica. O no,so '
Destacam-se 'três regiões com especificidades cm seu processo de foimaç:ão social,
191
/90
gigantismo é vcrd:tdeir-mentc, para o admin1stt2dor1 um nspccto asfixiante neste tomar o Paraná wn Est2do industrial _:..:_,, _ . . J•
momento. Sinto no Paramí, a su:a gr.i.ndezll e tam~m :1s suas misérins. Sinto a . mas uvJ.UZ.açao indU!U1a1 sem a base, sem o
alicerce, sem o fundamento da atividade agrícola é uma a' iliz' • •
dcficiêoci11. das nossas condições de ordem econômica, da produção de energia, dos • V a.çao que se swdda
(A DIVULGAÇÃO, set./out. 1952, p. 25-26). .
transportes. Sinto a grandczJ do cres.~cnto da nossa produção. Sinto o cre!dmcnto
da nossa matrícula escolar e :ts su:LS falha~, como as da nossa org.uúzaç..ão hospitalac.
Quando o Paraná comemorava o seu Ccnt~ário de ertj2ncipaçã~ politica,
O Governo prccis,. t~ uma noção de conjunto que abranja todos os problemas e a Bento Munhoz em discu . • .·
responsabilidade de Governo atuaL a respons:;i,bilidade da nossa gcraçào1 da geraçio - •. rso, nao esquece de apontar o aspecto cristão na
construçao deste Estado que "está fir d . . .
que ocupa o cenádo da vida pública do Estado, é uemenda. O que se fizer no Paraná, mm o a sua personalidade":
deve ser feito em grande e5Cllil ou então não s:er feito. Fazer com timidez, fo:ut com Pod. 1 '
CJS evar a certeza de_ que aqui se C!ltá construindo algunl: . ..1:r
acn.nhamento, fazer com mediocridade, scci um crime contra o futuro do Paraná. É . a cotsa Wl.etente 00
Bras.il. Tenho a certeza disso Ma • , · ·
p_c:ecíso ter a coragem de re~t cm rnl escala. que as realizações qwndo terminadas • , . .. . s nessa construçao o que se mantém é a fidelidade
• tradição brasileua, cujos r.úz gulh . . .
já nào estejam C11duc~_ e já-~ào pcr-tcnçam ·;1~ {)aS!à:d.o . .-\ n0ssa·-gcraçio cabe esse - - -- -... ~ .. CS: mcr am no, Cnsttarusmo,,que está na cssênàa
de nossa formaçao (ILUSTRAÇ.l.ôlJI(ASti.EIRA, 1953, p. ,19):
papd, ca~e essa missão de realizar, de planejar para o futuro. De fato_ é prcàso tet
alguma imaginação. Realiur para o prcaente,, qualquer wn rc:atiza. Sentir o presêntc
Ao completar quatro anos no _governo do Estado eni 31 d . . d
qualquer um sente, enxergar o que lhe circunda, qU2.lquer um ero;:erga. Mas sentir o 1955 dirigi ' e Janeu:o e
que o futuro vai pedir: de nós, aquilo que. pcla nossa atuação, o futuro ,'ai apb.udir ou ' ~ uma mensagem radiofônica à população, na qual fala da necessidade
d e prepataçao dos paranaenses:
condenar. esse é o privilégio de poucos, m;s esse êo pcivilégio que cu reivindico p~ra
mim. Erros terei cometido em meu governo. E os confesso. Um erro porêm eu não
Temosdcatingironossafuturo · 1 • - ' .
cometo. :É. o erro que acho indesculpável cm quem tenha espírito público: o erro da ' , P~leo ogtcrunentc preparados para sua, exigência
Nossa preparação não pode ser apenas econômica o qÜe .;• ..;,. um d . •
mesquinluu:U.. O erro da mesqui.nlu.ria é pior do que um crime. Ser mesquinho no . 1 ~ esserv:tço
prestad o ao Brasil. Deve ser, robretudo sOCUI poli. • . , •

Paraná é não compreender a re.ilidade da terra, o chamamento d~ terra, é nio ter . ' , hca I! moráL So assun seremos
di gnos d oqueaP d" ·
identifié:açio com a terra, é não sofrer com a lena. E os homens que dirigem precisam . . rovi enctt nos- reservou nos qWldro:s atuais da civilização brasileira
(O EST.<\DQ DO PARANÁ, 2 fev./1955, p. 2).
saber sofrer com a tecca. para poder amar a terra. (...) Nôs temos neste irt.stmte. uma
responsabilidade enorme Óa vida naáonal. Precisamos perder o horizonte municipal.
que na politic.a ta~to nos tem sacdfic.ado. Precisamos nos distanciar daquelas
f4 POLÍTICA TERRITORIAL
mesquinhas perspectivas de campanários. O Brasil está espiando o Paraná. O Brasil \

está dcseíando o Pamn.i. O Brasil está preocupado com o Par11.ná. l\finhtros e j


embaixadores visitam o Paraná.. Senhores, houve uma novidade nos últimos anos: O ~-ma politica relevante diz respeito à criação-de munidpiOs, pcincipaltnente
nas regtocs Norte e Oeste/Sudoeste do Estado. Co ta li .
Paraná entrou no mapa. Nós paranacnses, e quando falo cm pantnaenses nào me d m es po tlcaJ o governo
refito apenas aos brasileiro, que nasceram no Parnná.. Paranaemcs são todos os que csm~b.ra alguns munidpios de grande extensão territorial, como é o caso de
aqui vivem e que amam o rincão parnnaense. Paranacnscs sio aqueles brasileiros que.
Mangueinnha e de Clevclândia, no Sudoest d p vai, ·. ,
. . . ~ e arana no Norte. E certo
vie.ram de outros Estados como também esl:rilngeiros, mas que amam o nosso rindo qu~ o crescimento demográfico e econô 'co destas regiões implica uma
reestruturaça· o t errttotta
· · 1. M as a elaboração de um . ~ · terr1tor:1al
e mais do que.isso sofrem com o nosso rincão. É enorme a cesponsabilldadc nossa, . a di vtsao . . mw , . ·
res()Onaabilidadc dos pannaenscs, diante do Brasil. Nio podemos desiludir o Brasil fragmentada tem também 'd · . . ·
. . um sentt o pollttco. Visa-se com is'so impedir a
O Paraná é wn oásis: produção ngtlcola cm de01dência no Brasil, cm ascensão no con_sutu1ç_ào de fortes poderes loa.is e o surgimentó de políticas emancipatórias.. -
P:a_rarut E qoc civilização se construiu jamais sem prosperidade agúcoW Nós queremos Indiretamente, procura-se fortalecer o poder politico da capitaL Assim, mediante .

192
19]
a Lci Estadual n.º 790, de 14 de novembro de 1951 (DIARIO OFICUL DO
edi-1-
pelo governo anterior. Desta fotrna as primeira5 ,f
ESTADO n.º 208, de 16/11/1951 e nº 217, de 27/11/1951), o governo cria os . • ws tomadas pel
m
visavam s_ anear os órgãos do Esttdo que tinb :. o governo
seguintes municípios, que são instalados em dezembro de 1952: Alvoca~ do Sul, am por tarefa cwdor das -
relativas à ocupa - d F questoes
çao .a terra. echou-se provisoriamente o o·

Astorga, Barracão, Capanema, Cascavel, Centenário do Sul, Contenda, Cruz G fi cpartamento de


cogra ta, Terras e Colonização, visto o seu cotnprorn~tt'
Machado, Faxinai, Florestópolis, Francisco Beltrão, Guníra, Guaraníaçú, Jandaia irregularid d Ít menta cotn as
a cs, armando-se mmbém uma comissào tcsponsá~I pela d.ah ~
do Sul, Japira, Leópolis, Lupionópolis, Manclaguaçu, MariaJva, Maringá, Nova
, de estudos e propostas para resolver os problemas ligados ' ,. . - .L oraçao .
Esperança, Nova Fátima, Ortigueira, Paranavaf, P~_to Branco, Paulo Frontin, A cimeira . 1 ª ~paçao uas terras.
P mensagem enviada pelo governo àAssembl" L . ·1 , ,
Peabiru, Pinhalão, Primeiro de Maio, Santa Amélia, SatltoAntonio (posteriorinente
. 1 .deste problema: CLa e~ ativa e reveladora

passa a denominar-se Santo Antonio do Sudoeste), Santo Inácio, $e.rtmeja, Tijucas


do SuL Toledo, Borrazópolis, Macilândia do Sul e Arnorcin (a partir. de 1961,
~ ~s~cto!amentá;el dos serviços afetos ao Departamento d~Gc~grafia, Terras e
passOu íl den-omiriar-se São Sebastião da Amoreira), além de inúmeros distritos. o oruuçao, pode sc.r dcfulldo sem receio de exagero. e anim
Em 1953 é criado o município de Alto Paraná, pela Lei Esmdual n.º 613, de 27 de como de e.rei d , li 'd os encontnmos1
v a ~n (JW ação do patrimônio territori.il do Estado, cm prazo ctltlo
novembro de 1951, Sua ínstalaçào se dá em 5 de maio de 1954. Neste ano, o tendo se convcrndo aquele setor admlOistrativo em bilc d d d. '
. . ao e ven il.s e terras
governo volta a criar uma série de municipiosj atnvés da Lei Estadual n.º 253, de com o exc1us1vo mteresse e beneficio imcdiat 0 d , • . , •
, - e tnumcros tntermediários ligados
26denovcmbco de 1954 (DÜRJOOFICIALDOESTADO n.º217, dcZ/12/1954). estntamente ao GoVl!rno e do qual não compartilharam os vcrdad , .
os ocupantes d · , ctros tntercssados,
os· municÍpios criados nesta data e instalado5 no períod~:dé outubro a dezembro . • ~s tern.,, num completo desvir1:UJm~to do verdadeiro ob ·etivo da
coloruzaç.i.o racional..-\ completa dcsoro-unizar:.o 11 dm. . ,, J
de 1955 sào os seguintes: Ara.nina. Bom Sucesso, Cafeara, Qucrência do Norte, t,-· r- !nt'ltraUW que se encontrou
naquele Dcparlamento obrigou a cessação imedhHa d •
Loanda, Santa Cruz do Monte Castelo. Santa Isabel do lvaí, Nova Londrina tomadas desde 1 •. . _ 05
serviços, - lendo sido
ogo vanas medidas saneadoras que se impunh
(mstalada cm janeiro de 1956), São Jorge (posteriormente, São Jorge do Ivaí), ainda D am, permanecendo
' ~ epartamento de Terras de portas fechadas, tal a necessjd ... dc d'
Coronel Vivid3..i Cbopinzinho, Sào Pedro do Ivai, Cruzeiro do Oeste, Engenheiro reorgaruzaç.i d · . R e
o os servsços mterno! e externos, encontrado! cm vc.rcLtd .
Bdtrão, Paraíso do Norte, Rondon, São João do Caiu·á, Tamboara, Terra Rica, (MENSAGEM, 1951, p. 61). mo tumulto
Paranacity, Cândido de Abreu, Guarnci, Cafeara, Califórnia, Sabáudia, Colorado,
. o
tr , - '-----
J aboti, Itaguajé, Bitucuna, Acapoti e Nova Londrina (instalada em janeiro de A ~ orgao govcrn~cntal que trat::lva da questão ci1 terra, o Departamento
.. u
1956). Pouco antes de deixar o govcrn~ Bento Munhoz cria o municipio de dministrativo do Oeste do Paraná, recebe a incumbência, no início da gesti
Itambaracá, em 7 de fevereiro de 1955, através da Lei Estadual n.º 32 (SÍNTESE Bento, de efetuar. 0

HISTÓRlCA DOS MUNICÍPIOS P.\RANAENSES, 1987).


(...) a revisão dos p.rócessosrecentes de med.' • d . •
d . lÇOC! e emarcaçoes de glebas coloniaís
3.5 POLÍTICA FUNDIÁRIA- QUESTAO AGRÁRIA e e tratos tsolados, afim de promovera anulaça·o daqueles que - bed
.1:. . . na.o o eçam os
l..Wpostttvos legaís cm vigor. Nesta em ~ . . .
ergencu, os ncgoaos de comptt e venda de
A política do governo com relação à questão da ocupação da terra é marcada terras recentemente titulados pelO E, do ·
d ta , devem ser protdados até a conclusão
por certas contradições. Nos discursos poUticos o governo reconhece os direitos os exames que se encontram cm andamento (DIÁRIO OFICL-\L DO ESTADO
n."287de20/02/1951). '
daqueles que ocupav~ as terras e nelas constituíam suas lavouras. No entanto, a
prática do governo, conforme veremos) nem sempre foi congruente com seu
No enmnto, mediante o Decreto de n º 3 060 d 29 d . b d
discurso. Desde o início o governo constatou inúmeras irregularidades cometidas o governo · d , • · · , e e outu ro e 1951,
reora e outr~s orgaos a capacidade de efetuar '\.,o recebimento e
194
195
nas glebas l\fu!àes e Chapim. Como C!!a portru::ia só foi b3.Íxada em meados de
pi:ocessamcnto de requerimentos de terras devolutas, sua medição: ~~arcaçào
1952, a companhia teve um ano e alguns meses de liberdade to~I de atuação, tempo
.e projeto de loteamento e demais providências correlatas. .." 1 rcstrtngmd~ es~s
suficiente para: iníciar a com~ção das tcm.s e gerar o dim~ deinquíet:ação 800.ll
tarefas exclusi-vamcnte ao Departamentó de Geografia, Terras e Coloruzaçao.
responsivcl pelas primeinas reações dos moradores da região, ~!So mio significa que
- Desta forma, o Departamento Administrativo do Oeste do Paraná transfere
depois dessa data ela tcnlu deili'.ado de atuat Muito pelo co~tcl..cio, Embora suas
todo o pessoal e material empregados no trato com o. terra para o DGTC, assim
atividades es~scm restrit:is dwante os anos do goven;io Bcdto, a CITLA wou de
com~ toda a docurnentaçio e a dot1.çio ·orçamentária destinada àquele fim. O
2Jgumas estratégias para marcu sua prescnÇA. e mesmo fa2er!crer a todos que era
Departamento de Geografia, Terras e Colonização, foi desmembra~o da Secretaria
proprietáàa daqudos tem~ princip,lmente • partir de 1955 (GO~IBS, 1986, p. 38).
de Agricultura, através da Lei n.º ~66, de 17 êlc julho de 1952 (DL\RIO QFICL.\L
DO ESTADO, n.º 109), recebendo autonomia administrativa e finàncetra,
Nesta região o Governo Bento Munhoz procurou res~gir as atividades
subordinando-se diretamente ao governador.
A C.~NGO, Colônia Agrkola Naci~nal G<eneral Os6rio, era a Companhia ilegais e a arbitrariedade, provocadas principalmente pela CllLl, que ~ra ligada

colonizadora d~ Governo Federal que estava organizando - na região Oe5tc/ ao gntpo econôniiê0 de "i•Jàfsés L~ÜpiOtl, advci:Sário politi~o ~ B~~to Munhoz.
1
Sudoeste e, mais precisamente, nas Glebas denominadas 1vfissões" e "Ch~pim,, A situação se agrava quando Moysés Lupíon rctornn. ao. Governo do Estado
_ os assentamentos dos colonos vindos do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina.. pois este procurava favorecer a CI11..A., _em detrimento dos colonos, .rcdundand~
O trabalho de asscntrunento promovido pela CANGO começou a ser interrompido no conflito de 1957.
a partir da instabçào na região da Companhia Imobiliária Clevelândia Ind'."trial No conflito .d.e terras verificado na região de Poiecatú, Norte do µstado, o
e Territ;rial Ltda (CITLA), que se dell cm 1951. Embora sua instàlai;ào na região Governo revela uma postura diferenciada. A partir de 1942, o Governo do Paraná
tenha se efetivado em 1951, sua presença na região já se verificava nnterlormente. fez um loteamento na região, coinprecndendo cerca de 120 nú1 hcchires de terras
devolutas (f'OUL\ DE LONDRINA, 14 jul./1985, J'· 1). Estas terras, pertencentes
A CITLA, na pessoa de seu diretor Mádo Fontann, tinha como objetiva Wcial ao Estado, foram sendo ocupadas por ~ que construiram suas casas e
implantar uma grande indústri;i. de celulose n3 região, O asscntwtcnto de colonos
plantaram suas lavouras1 embora não tivessem o título das terras. É no Governo
do sul cca objetivo secundário dentro do proP:to du companhia de teru. Esses
de Moysés Lupion que têm início os conflitos de terr,,s, visto que o Governo nào
deveàam ser alocado;. apenas nas teuas cobertas.de mato branco, onde os pinheiros
regularizou as terras cm beneficio daqueles que as ocupavam. mas. passou a
eram escassos. (. ..) Esse pwjcto ficou apen11s no pllpel. Efetivamente, quando a
comercializar as terras com fazendeiros. Além disso, veriqca-se na região a.
CITLA se instala na regiiio, tenu impbntar um modelo de colonização cm que a
presença de grileiros.
venda da terra constitui a ativídadc principal Trat1-se, poctanto, de um projeto
capitalista cujo objetivo b&sico é ô lucro e que contrasta signific.1.tivamente com o
Os interesses antagônicos na região continuavam a se agravar. Em j:mciro de 1949,
prnjcto da CANGO (GOMES, 1986, p. 43).
mais de 30 posseiros im~traram m2ndado de segurança contra o capitão Manoel
.,--\lves do Amar.d, cotão delegado de terras oo Norte do Paraná, por abus~ de
Aquelas eram terras devolutas, mas a CITLA usou diferentes artificias.,
poder, já que ele vinha obrigando familias inteiras a assina~m •acordos', com
inclusive ilegais e violentos, para tentar se apoderar das terras, gerando um clima
fazendeiros e grileiros mediante amesi.ças, detenções ilegais e, em alguns caso:s,
de. intranqüilidade e revolta na região. Como estas terras estavam cm liúgi~ Ó
csp:ulCluncntos (FOLI-L\ DE LONDRINA, 16 juL/1985, p..13).
Governador Bento Munhoz
Bento Munhoz reronhecc, num discurso que pronuncia no Congresso Nacional, · ·.
(...) proibiu., atravês llil portada o.º 419, de 2 de junho de 1952, o recolhimento dos
em 17 de novembro de 1961, que os posseiros tinham direito àquelas terras.
Impostos de Transmissão e Propriedade, 'Sisas', de qwlquer tn.nsação imobiliária

197
196
Eu mesmo, nos primeiros meses de meu governo, interv1 p·ara resolver o caso de
propôs aos fazendeiros que pagassem indenizações aos po.s~os dos beoefidos
Porecltu, que ficou célebre no Brasil - chamavam-no atê 'a Coréia' - porque os
que estes haviam feito nas terras, além de prometer aos poss~iros que eles sedam
camponeses se assenhorearam de uma pute do 1fonidpio de Porccatu, com
. assentados na. região de Campo Mourão. Os fazendeiros 9ào se dispuseram a
razão. O governo do interventor Manod ~bas enviou àquela. rcgiiió muitos
pagar as indenizações, e os posseiros nào ~ceita.raro entregar~ terras onde haviam
b.vradorcs nordestinos, depois de ter anulado a concessão de terras. Quis usim
feito a derrubada da mato, cultivado a terra e construído sulLS casas. DecicÍiram
o interventor Manoel Ribas tornar- material, ·tornar ílsica essa anulação de
concessão e havia, lá, lavndores coro cafeeiros de m'..lis de oito anos. Esse lut.arpelos seus direitos. O Partido Comunista enviou a ~ de.seus membros
interventor deixou o governo em 29 de óàtubro, sem ter expedido os títulos para dar apoio e passaram mesmo a liderar o movimento dos p6sseiros. O Governo
defmitivos a esses lavradores, que nào tinham ínicintlva e que fonm mandados conStituiu uma Comissão para tratar da questão, formada pclos,'seguintes membros:
para Porecatu pelo Governo. Em conseqiiência, o Governo posterior expediu os Rc'nato Cunha, presidente; Oscar Santos, Herbert Palha~o1 Edgar Távora,
títulos d,efinitivos, cm grandes levas, aos seus protegidos. O re!ultado de tudo Aldovrando Gonçalves Magalhães, Pedro Nolasco, Clemen;e Vilela de Attuda,
·i;so fo.i u~ co~llit0.~:i~ morte~ nos prhiteltoS ffil!s'eS dé meu governo; éti éoloqllei; ,Francisco. Oliveira e Herculano Alves-de- Barros.· No entanto; ·_deh trc os·mcmbros-'
de lado o debate jurídico, sobre se o dispositivo constitucional (b_ desaptop~~çio da Comissão, havia fazendeiros e _in_tegralistas. o que demon~tra a que interesses
por utilidade social era ou não auto-aplicivel, e decretei a desapíoprinçào por ela foi ~onstitufda. Tanto esta. Comissào,.;m~ os faz~deiros e o aparelho de
utilidade social (ROCI-L\ NETO, 1987, p. 292). rcprcssao do Estado, denommavam os p ssetros de mtrusos. Os posseiros,
liderados por membros do Partido Comu ista Brasileiro, fizeram um abaixo
Vejámos o que diz o texto do Decrc.t~ o.º 491, dé: março de 1951 (DIÂRIO
assinado com 1.500 assinaturas, cm 9ue constavam sete cxigêhcias dos posseiros.
OFICL\L DO ESTADO n.º 11, de 15/03/1951), que trata das teuas de Porecatu,
Jaguapità e.Ar.ipongas, cujo conteúdo acena para resolver os c~nflitos cm beneficio 1º -Entrega imCWata d.as posses aos seus primltivos ocupantes e entrega também
dos posseiro's. imediata dos títulos. Assim como distribuição. gratuita da$ terras griladas _ as
chamacbs fazendas - 2s devolutas, aos omponeses pobres; 2º - Indenização pelo
(...) Considc.r-ndo que, não obstante as promessas aos pequenos agricult<:>res, justo valor aos po!.'icantes de todos os prejuízos causados peb policia, pelos jagwiços
estabelecidos cm terras do Estado, nos munidpios, de Porecatu, Jaguapitii e a m11.ndo d.os fazendeiros e do governo; 3 º - Anulaçào. de qualquer processo ou
Arapongas, foram expedidos títulos dessas g1ebas, a terceiros, pua fins perseguição contr.1 passeantes que defendem de todas as m:1:neiras as posses, suas
e.xclusiwmente comerciais, DECRETA; ArL 1" - Ficam declaradas de utilidade familias e sllil.5 vidas; 4º - Remoção da polícia e ptisào dos jagunços dos municípios
pública e de interesse social, para o fim de desapropri11ção (, ..) .1;5 tcrns situadas de Porccatu,Jaguapità e ...-\rapongu; Sº - Punição dos assassinos e dos mandantes
nos municípios de Porccatú,Jaguapità eA.tapongas, constantes de Títulos expedidos dos massacres dos posseant~ entre os quais os srs. Lupion e Luna.rdelli; 6º _ Eleiç;lo
pela administração anterior,. com flagr.mte violação do art. 85 da Consútuição de uma comissào.clc posseantcs patll a nova divisão de terras;,?º - Reconhecimento
Estadual. },rt. 2" - As terras a serem dcsapropriacbs destinam-se aos sitiantes que, do direito dos trabalhadores do campo de se organizarem ~ lig.as. assod çõ~,
1
embora sem titulo hâbil1 ne1as estejam estubelccidos com cultura efetiva e. morada Uniões, ou qualquer tipo de organização crim o objetivo de defenderem os seus
habitual, há mais de ano e dia. (...). direitos e reivindicações (FOLHA DE LONDRIN.\, 19 jul./1985, p. 11).

Nesse decreto o Governo reconhece o direito dos posseiros cm relação às Apesar de ter um discurso favorável aos posseiros, o Gov;crno Bento
terras. Nq entanto, sua polltica em relação àquelas terras será de outra ordem, Munhoz reprimiu o movimento dos posseiros. Foi buscar cm São Paulo o
seci de repressão sobre os posseiros, beneficiando aos fazendeiros. O Governo Delegado Eduardo Lousada Rocha, que havia participado da luta contra a quint_~,,::;'·;
coluna. O delegado sentiu-se honrado "com o convite para uri:2a colaboração. qu;V'P

198
199
· ·d d nistas nesse Estado". 3.6 POLÍTICA DE IMIGRAÇAO
ostosamente aceitamos, de repressão a at1v1 a es comu .
g . · · ·- · ctpalmente em
Eduardo Lollsada ficou encarregado de fazer as mvesugaçoes, P~. . Um outro aspecto da ocupação da terra que deve ser 9estacado refere-se
~-- o comitê do Partido Comunista. Forças militares paulistas
wndrin ~ooees--d . à política de imigração e assentamento dos imigrantes. Dura.ri.te o Primeiro ano
foram colocadas na fronteira com o Paraná, caso os posseiros se refugias~~ ':1ª da administração Bento Munhoz (1951), foram inslllladd, no Paraná três
. ·- . d d 19S1 . o Ddegado wusnda envia um relatono ao
rcgtao. Em 26 e agosto e , , . importantes colônias de imi~te5, quais sejam: a Colônia Eritre Rios, na região
"' Chefe de Policia do Estndo, Albirio Silva. Em um dos anexos desterelatono, de Guarapuava; a. Colônia Castrolanda, na região de Castro; e a Colônía
en=o , Civil do p '" firma
intitulado "Observações Preliminares em Torno da Poll'7' arana 'a - Witmarsum, no município de Palmeira.
se o seguinte; Na Colônia de Entre Rios foram í , n ~ cerca de quinhentas familias
àlemiis, que estavam refugiadas na Áustria, desde 1944, oriuodàs da Iugoslávia .
• • A • li . mili'b f; Porecatú.. ,ri1a Progresso e centenário
Naúltimadiligcnaaqucapo oa reza . " E;,~ itni~çào se. de.u através.de.acordo-estabelecido entre~ 0rganizaçào Suíça·
tn m no caminhão .que os
dõ Sul foram os· roilita.re.s atacad?S quan d o se cncon va . .~ de Ajuda à Europa, o Estado do Paraná e o Depar~me,nto Nacional de
- d dwcrsos deles e alguns caboclos que os guiav.a.m, O capltao
transportava, morren o d Imigração. Mediante o :Óêcreto n,º 1.229, de 19 ele maio de 1951 (DIÁRIO
mandava fugiu chegando ll Cfilittl3a depoiS de 14 dia3, todo nSg:;l o e
que os co ' ,. -• eh eira mais rigorosa OFICIAL DO ESTADO, n. º 63), o governo desapropriou uma área de dez mil
maltratado. O fato levou os soldado! a tntar os mtrusos ~ .
. . d dos utensílios nelas extstentes, alqueires no município de Guarapuava, zona de Entre-Rios/para a instalação
possiveJ, depredando suas caSllS. apropoan o-se - .
• · - d.is · n-11indo dentre.eles os comurustas da Go1ô~a, mediante. acordo comercial com os proprict.i.rio~ A _Organização
esh.J(lrando e matando e, o que e pmr, nao tine~ • •
Suíça de .Ajuda à Europa entrou com os recursos nccessáciO's à aquisição das
e não comunistas.
terras. além de importar um .grande número de máquinas e implementos
ela rópría palicia revelam o agdcolas. A Secretaria da Agric~tuta entrou com máquinas, ~ementes e gado;
.Além da imprensa, documentos elab o~d os P P ._ .
• H E ta consideraçoes relativas os Bancos do Brasil e do Esta.do entraram com financiament~s. Os i.uúgraates
uso da violência e a repressão sobre os posseiros . s s
· - Uti do governo Beoto formaram uma cooperativa para organizar a instalação, divisã9 das turas, ehtre
-à política de ocupaçào da tern, visam apontara ~os1çao po ca
Munhoz diaote da questão. · outras atividades, e se dividiram em cinco aldeias. Note-se que esta é uma i
região de campos, mas ~ue foi utilizada. p.rincipalmcritc para o cultivo de cereais, i
como o trigo, o arroz, o milho, dentre outros (BOLETIM DA CÂMARA .DE ir:
EXPANSÃO ECONÓl>UCA DO P.-\.RANÂ, 1953, p. 14).
A Colônia Witmarsum foi instalada no município de P,almeira, tãmbém
!
wna região de campos. Inicialmente vieram cerca de 54 familias de Santa Cat111fla,
u ·Esse conflito é tntado iodir~tamentc n~ tege de doutor:id~ de Oswldo Helle~-~ Silva, al6n198d5c
• a1 OLHA DE. LONDRINA que enworou, em , sendo 20 delas vindas de colônias menonitas do P~raguai, dCntre outras. São
ter aklo ob'jeto de ccpor~m no 1orn F . . OO-·'o~ ·ornafuw Pedro Paulo Felismina
um.a série de 1 5 repor~ens sobre aquele conflito,~ P"' l t™1o imigrantes rncnonitas. que. haviam se instaladci em Santa Catarina. Pertencem a
e Joio Arruda. Um estudo :sobre a ocup;i;çlo das terns da. região~ PoreC11.tu pode ser encon
um grupo sócio-religioso, oriundos do movimento anab-atista do período da
n:a. dis.sc:rtnçlo de m~tndo de Angcb Duutc DamaSt:en~ f'Ct~ . u du S ndicali1me
SILVA, O. H, da. Communi&te!I ct Anticommumstca: L cnJc .Y 1993 Te!e Reforràa. Embora sejam de origem holandesa:, adquirinm cultura alemã, pois
Agricolc Dan& L'etat du Paraná de 1945 a la fin de~ Annécs .70. Paus, . viveram por longo tempo na região de Dantzig, de onde irnigrara;tn para a Uc.rân.ia
. Jnn-h) - Ecole des Hautes E ~ cn Sàencca Socinl.C9.
(Doutorado cm Sooo ~"- N t d Paraná: e a Rússia, no século }..'"\'III. A Colônia foi organizada no sistema comunicirio, . ·
PERREIRA, À. D. O:. Agricultur-.t Capitalista e Ca~pceinato no or e ~ , .
rcgíil.o de P0rccatu (1940-19S2). Curitiba, 1984 .. DUsertaçio (Mestr:ado cm Htstona) - passando posteriorme~te a ser divic:lida em lotes individuais. A base econômica
Universidade r<cderal do Pararú.. ·
201
200
'\

l
. , lmen te P ara a pecuária leiteira
. foi estnlturada na agropecuária, voltada pnnc1pa tinha por objetivo apoiar as ações de particulares e de Prefeituras, e intervir
!NHEIROMACHADO, 1969, P· 227-228). quando aquelas aç~ fossem inexistentes. O Departament9 de Aguas e Energia
(P A tra importante Colônia instalada no periodó é Castrolanda. O governo Elétrica propõe um plano para a eletrificação do Estado, denominado Plano
ou . , . C . d ' inst>laçiio da
do Estado faz aquisição de terras no murucip10 de astro, vtsan o a º 145 Hidrelétrico Paranaense, de 1948, inspirado no Plano Naci~nal de Eletrificação.
C~lônia conforme Decreto n. º 2A2l (DlÁRIO OFICIAL DO ESTADO, n,d l , O Plano Hidrelétrico Paranaense dividia-se em duas etapas. A primeira previa a
'
de 30/08/1951). . ~ cooperaram tanto os governos .Esta
Para sua mstalaçao, . ua e construção da Central ele Coti; (22.371 KW), a Usina de Sà~João (5.816,46 K\v'.),
. . , -
F der"l assim como a mst1tu1çao Chri 5tian Emigracion
.·~ Centre. Os urugrantes,
, as Usinas de Santa Fé e Caiganga (2237,1 K\'v), além d~ outras oito usinas
e •, ·
vindos do norte da Ho1ahda, formavam cercn de 64 fa
mlli r mumaarea
as e c_cupn a , \, b..idrelétricas de menor capacidade. Para esta etapa, prevista para ser executada
. 1250
d 6.320 hectares. Trouxeram conS1go . cabeNlsdegado
.,.. , ' assuncomomaqutnas
, ' - em tr~ anos, também estava prevista a implantação de subes:taçàes distribuidoras
ee ui amentos agncolns.
, .De dicam-se a' Pecuária leitctra e tarn~ a produçaoi,, e centenas de quilômetros de linhas de ligação. Para a segunda etapa, previu-se a
e ~ pl .E. . 1955 as Cooperativas· Cashôland:.- é Batavo, de· Carambe '
agrtco a. ~ m , ,Ld trulram .. construção da.U&ina de São Sebastião (119.312 KW), e á Usihââe-'Salto Grande,·
. , . C trai de Laticlnlos do Parana. t •,, e cons no rio Iguaçu (14.914 KW), assim como outras cinco usinas de diferentes potências
consttl:Ulr.lm a Cooperativa en . em 1957 (PINHEIRO 1
uma usina modernal localizada em Carambeí; maugurada . além de subestações e linhas de distribuição. O prazo para a elaboração desta
MACHADO, 1969, p. 228). segunda etapa era de oito anos. Os· recursos previstos seriam ~uxílios do Governo
Federal (plano SALTE), verbas do DAEE e empréstimos. ,Nesse m?mento, a·
3.7 POLÍTICA DE.ENERGIA ELÉTRICA produção de energia' do Estado era de àpcnas 34.696 K\v', o que dava~ corts~mo
per capita de 77 K\'v', representando cerca de metade do consumo per capita de
. , . d a d,ecad a ele 1950• o Paraná 1 em acelerado processo de ocupação,
Notn1ao • d São Paulo e Rio de Janeiro. No final da gestão de Moysés Lupion, a produção de
enorme deficiêncin na produção de energia elétrica, setor domtna o por energia cliegavá a 41.347 KW (Ibidem, 1:· 96-102).
tem uma b , alidnde. Dentre as
eiras que prestavam serviços de aixa qu
empresas estrang , d ea Em sua primeira mensagem enviada à Assembléia Legislativa, em Maio
. ci ais em resas de cnergí.a elétrica que operavam no Para.na, esta~~s de 1951, o governo Bento Munhoz faz menção âs politicas públicas que devem
Com Panh.ia de
pnn P Força e Luz do p arana,, subsldiiria do grupo. norte-amertcano
• . ser priorizadas pelo Governo do Estado, dentre as quais a produção de energia
P
.A~IFORP que operava cm Curitiba e regt'ão·i a Empresa de Elctnctdade Alexandre
S ta elétrica, criticando ínclusivc certos projetos do governo ~ntcrior, como ·é o
' E S l Brasileira de Eletricidade, esta com sede em an caso da Usina de Cotia .
Schlemm e a mpresa u . . , . d S l
C tarina sendo que ambas forneciam energia para os demalS mu01c1p10s o u
d a E ta~o· a Companhia Prada de Eletricidade, servindo a região em torno de O setor de energia elétria. em que ~percute e_m cheio a nosm crise de crescimento,
o s Grossa,
Ponta ' C as tro e Piraí do Sul·• a Empresa Hidrelétrica de Londrina, atuando
d e onde o Governo deparou,contr:atos de uma contradição gritante, merece as

na região. de Londrma;
. e a Compan hia Hidrelétrica do Paranapanema, com N
se e I
mclliores atenções da administração est2dm1.l, nesta fase de decisiva transição·para
• Pau1·o, e que a tendia.. •a mais de 20 municípios do Norte o Paraná. Estou estudando várias poss'lbilidades de financiamento, que,
em Sno . do Pa~ma.
. / os
, . . duz-ida pela própria prefeitura e ou concretizadas, abrirão ao Estado uma perspectiva animadora para o seu.
demais mumdpms, n energia era pro
desenvolvimento industrul (MENSAGEM, 1951, p. 7).
9
autopr~d::v:n~I:U!:~.1~::;:~. ::r meio da Sectetatia de Viação e Obdras
Em outubro de 1951, mediante o Decreto tL O 2862 (DÜRIO OPICL\L DO
Públicas cria, em. 1947, o Serviço
. d.e E ~gta . EI
• e'trica do
. Est>do' transforma o,.
ESLIDO, n.º 180, de 12/10/1951), o governo constitui uma comi.ssão co~ o objetivo
em . 1948,
' em D cpartarnen to de Aguas
. e . Enetgia Elétrica. Este departamento
de estudar a organização de uma empresa mista de energia elêtrii:a. Esta comissão é

202 20)
. . . .. ~
Tendo em vista a precária situação financeira do Estidopara inve.!ltimentos
. t .. membros· Felizardo Gomes da Crn;ta (Secretano na produção de energia elétrica, ci governo instirui o Fundo de Elettllic:açào do
formada pelos segutn es •. . . • Ob P'blicas) Francisco de Paula
enda) Hu Cnbml (Secretru:10 de Vtaçao e ras u . ' . d Estado do Paraná, por mcio da Lein.º 1.384, de 10 denov"'1'bro de 1953 (DIÁRIO
Faz ' go . . .ali G tà Chaves Ar=o Xavtcr de Míran a, OFICIAL DO ESTADO, n.º 199 de 11/11/1953), que tem por objetivo o
S Neto Antoruo Ncn carnara ' as o ' d
p::: PUlg:t de Souza e- Cmt Oscar Muller. Enquanto so, conEform::Elesé:: tsA'
"fina.ndamento da oonstruçào, ampliação e conservação das obras de clctrifio.çào
- , . D nto de guas e nerl:r próprias do Estado." o Govt!rao vai assim to.i:nando tn(dida.S qu~ possibilite tomar
~oordenado por Dalledone S1quCJ.rn, o epartame . . . cocam ar usinas
·
. li : d .... ..1- no governo antenor, ou seJa,
sem11r a po uca a 01-dWl
P . para si as responsabilidades pelo planejamento e pela produção de enetgia elétrica.
continuou a b~ . - crítica e const::tuk pequenas usmas
no Estado. Em 26 de outubro de 1954, medêwte o Decreto n.º 14.947 (D!ÁRIO
municipais, instalargerndotcs onde a sttu~çao enC . '-e Postecionnente' há urna
. s· J - LaranJmha e aicanga.
cm locais como Cotla, ao oao, . - v O BentÜ não OFICIAL DO EST,\DO, n.º 190 de 27/10/1954), o GovcrnÓ cria a Companlúa

mudança no_ Plano de Ele~fica~o ~ Esp tado ~C1 na;;a:à!º:Ves:na ins~ação Paranacnse de Energia Elétrica - COPEL, emprcsà de eco~omia oililta, com um
. • . t de mterligaçao. rocuta se cn capital de C,t 800.000.000,00 (OitOC<!ntóS fuilljõês decruzeÚ:osj. Se~ ob/etiv~ i, o
consUtuU um sJ.S ema . . - pliar as ·1~ instaladas, a não ser
. cli' !.-clétncas asstrn. como nao am de "planejai; construir e explorar sistemas de produção, tr.tnsmissào, transfurmaçào,
de novas ccntra1S csc •
'te ergencial (SIQUEIIL\, 1994, P· 103-l04). tlistttbuiçào e comércio de energia elétrica e serviços corrclato:L.". Numa publicaÇão
emcanrem 'dddePonta
Num di~curso proferido em 15 de setemb~o de 1952, na d a e da COPEL, de 1955, são apontadas algumas justificativ,s para a sua implantação:
. , . cid de Bento Munhoz deL"<a claro o seu ponto
Grossa quando do aniversario da a ' li . do Estado
• . , . R l ualdcvescrapo t1ca Nào era possíve1, pois, deix:n-:il ~rgo clainidat:iw. parlicub.r a solu~o do problema.
de vista sobre o setor de cncrgta cle.tnca. eve a q 1 • tr o Estado e a
di te da re açao en e As empresas priv,.das, que vinlum explorando essa atividade, se viam a br:i.ços
~
no setor, além de apontar n sua postura an
com o abastecimento, não d.2ndo conta cm absolulo da demanda cada vez cm.
iniciativa particular. maior escala (...) O Estado inter\lcio, pois, e a BUll ação só podia consistir na criação
. . Estado. Não há companhia· particular.que de taxas dcstinacb.s à formação de fundos e capitais a serem investidos em empresas
Neste setor é prec.tso a mtcrvcnção do . fu ( )Ê esse
. , , do um r:andc desenvolvimento turo .... de eletricidade. (...) Dando·&e-lhc a forma ~e sociedade' de economia mista de
produza energia cletn_ca Ptrcv~ s6 do ~araná como do Brasil. Não há, dizia eu, canitcr regional, não só teve em vista o exemplo vitorioso de Mi.nu (CE1UG) e do
wn problema angusuan e nao . . \ ·a
. - ....... consumo ,media.to.À-. energt Norde_jte, como também uma formll de corpomçio econômica mais maleávcl, um
. . ul produza energia scnao p ......
companhia parUc ar que . N, . • vai· est,.,.,.,,_r essa mercadoria instrumento de eficiência comprovada p'an a rc:1lizaç~o e es'tabilidade de
· , • cto mgucm
déuica é uma merca.dona, e um comer ,
V'--"
, . .
, .\. funç2o do Est:ido e produzir energia pan empreendimentos industriais. Como se sabe, atravisde~ sociedade de economia
esperando seu consumo longmquo. ~ , b cs. Não deve o Estado fornecer nústa, pode ci Estado estruturar em bases sólidu, com ga~tia indispensável de
- que esta sobre, e vcndê.-la a compan as pll!UCU r -o olitic:i
'd cs É o maior dos desastres. na cstruturaç:i p continuidade de esforços a sua indústàa de eletricidade. (...) 'urrut empresa.. como
<li tamente aos consumt or · a COPEL, lançada sob bases realistas, com capítal suficiente [Xira a realiz.aÇlo dos
vi::nte, o EstlldO industri:il. O Estado tamb~ não pode cruzar ~s.h_ra:os e : : :
. . tem de contar com a uuc1auva P · objetivos previstos, é a organização c~venientc, portanto,. para a obtençio dos
antigo Estado libcraL Tem de mtervtr, mas bilidade da iniciativa financiamentos .indispensáveis, quer dentro do país, onde ela. já foi recomendada
Na harmonia de interesses entre o poder estatal e a responsa . . da
.,-'it - des roblemas nllClonats como o pelo Banco deD~volvimcnto Econômico, como no exterior. junto às entidades
. da está o segredo da soluçao de gran p . . financiadoms especializadas, que invariavelmente se opõem a qualquer espécie de
pnva , á b onentado e mcrce
- d ener ·11 clétric:i. Esse problema no Parana e.st em
produç.ao a gt. . Governo definitivamente equacionado (A transação com o Estado... ( O QUE É A COPEL, 1955, não pagia,do).
de Deus, cu o de1xare1 no _meu
DIVULGAÇÃO, set./out. 1952, P· 25). Bento Munhoz indica o professor universitârio e crítico litcdrio~ /
Themistocles Llnhares, para Diretor-Presidente~ COPEL, que pertencia ao órculo_;',.

205
204
de intelectuais que davam assessoria ao Governador, além de ser o cntno Delegado .\ eliiboraç;lo de um PLANO RODOVI.Aruo , . '
- maxune :em se tratando de um
do Instituto Nacional do Mate no Paraná. Os outros dois Diretores eram o E sa
t donovoeemfnncaevolur;0 comoon.. __ , . , .
r- , ra.uwa - CIJge O estudo t , ,
Professor Pedro Viriato Parigot de Souza, Diretor Técnico, e Heraldo Vidal nwna seqüência ló · do r. • • : 'lS cntattco,
gtca, s tatore.5 economtcos füico, poUtí' ,1_;_.
~ • • cose auuuul5trativos
Correa, Diretor Aclministtntivo (COPEL INFOR1L\ÇÓES, 1979: 2). De acordo que, exercem, nao resta a menor dúvida decidida infl • . b ·, .
· d ' uen~a so re o s1stem2 de.
com Themlstocles Linhares, uo problem2 maior era separai essa taxa (taxa de comurucaçõcs e qualquer região. Sendo o resultante da de . ~ t d •
· · b:U asao orna a apos 0
detrificaçào), desúnada à COPilL, da arrecadação geral do Estado. E isso levou n~uooro anço daqueles fatores, balanço conduzído sfgun<lo . .
algum tempo, demandando gestões da Diretoria da Empresa junto à Secretaria da oacnt:ad tido do - · um taCJodnio
o no sen s melhores interesses do Estado e da ~oletivicbOC, o PLANO
Fazenda e ao Tribunal de Contas" (Ibidem, p. 5). Aponta também a existência de RODOVLUUO tcnd b' · ·
~ . • oumo ,cttvoconcretodevcserclil)Oradocmaci1erdcfuÜtivo
cohflito entre o DAEE e a COPEL, visto que esta última passava a rece~er a 0 que nao Impede que a sw im,...1,. 0 ~ · '
. . taçw no terreno obede1y2 it uma ordem 1• ,
r"
inC1:1lll.bência de planejar C e.."tecutar as gt'andcs obras de produção energética do pooodade (SEPARATA DO PI.\NO RODOVIÁRIO, 1951, p. 9). og,ca de
· Estado. O Góvcrho Café Filho autoriza o funcionamento da GOPEL, por melo .
do Decr~to n.ª 37.399, de 27 de maio de 1955. A construção da Central · Etn entrevi~ta dada à revista.\ DTI~L~.~Ç.~~. em 195; ~n • · --
0
Coronel Luiz C p T. . h . . . .. . ' ' tao Tenente
Hidrelêtdca de Capivari-Cachocim, assim como da Termoelétrica de Figueira, · · outtn o, afirmava que:
foram iniciadas ninda no Governo Bento lvlunhoz,
(..,) Du_1u soluçõe! apresentaram-s 1 ,- . ,
d . e, naquc a ocu1ao, a no1sa mente: 1 ., - a .
cmagogta;mente. isto é. aplicando o máximo d , . gtt
3.8 POLÍTICA DE TRANSPORTES . . e ·recurro$" na conservação d
anuqm1.darededeesrmdasdoestadoemuni'• .· . 20 · d .. ª
busca de - - .- apios, - atacar e r:IJO o problema em
11 soluçao defiruuvu pata 2 nossa circuJ _ . t . A
Em sua mensagem à Assembléia, de 1951 1 o Governo afirma ser prcciso açao tn cnor. 1.º soluç:lo poderia
trazer-nos um grinde prcsd · e! · _, •
concentrar os recursos disponívcís para resolver as nOssas maiores necessidades'\ ugto eJtouu a cwta de motonivela<l A ·
entretanto dificuldades às - . ons. carrctaaa1
apontando como necessidade de primeira urgência, a execução do planÕ rodoviário. s - • ,, genu;oc.s vtndouras, para as q~ setu. trnnsfc.àda a
oluçao defuuttva do problema, muito mais dificil en1a·o ( ) Optam . I' .
É esta uma das maiores pcioridatjes do Governo Bento Munhoz, sendo inclusive ela o • • "' os e ogtco
P 2 soluçãó. Daí surgir o 'Plano Rodoviário' ao qual dcdka d' •
a Secretaria de Viação e Obras Públicas a que mais recebeu recursos do orçamento nossa intcli ~ · b mos tu o o que a
g~c:ta ,ª sorvera em 10 anos de aprofundado citudo do Estado (A
estadun.1. Para exemplificar, no exercício de 1951, esta Secretaria recebeu 40,8% DTI'lJLG.AÇAO, pm./1954, p. 14). ·
do total da dotação orçamencirin do Estado. No exercício de 1954, este percentual
alcançou 43% (IP.ARDES, 1989, l'· 167). O p~~-0 RODOVI.~RIO de 1951 é um plano sistemático qu~ constitui
Como vimos, Bento Munhoz convida o General Luiz Carlos Pereira a estrutura vtaria básk d E d O . '
~ o sta o. Plano visava fazer a lig'ação do Norte do
Toucinho para a direçãct'do DER, profissio~al com experiência em engenharia de Es tad O com os Portos de Para • An · ' ·
, nagua e tontna, visto que a produção cafeei.r.i.
estradas, e que detinha conhecimento sobre a geografia parannense. Em entrevista, era exportada V.ta Porto de Santo ,
diz que só aceitaria a direção do DER, caso recebesse inteira autof'lomia de trabalho. P ara o p • I, d
s, o que acarretava uma enorme perda d cli .
arana, a em e ser Um caminho m . 1 .
e v1sas J
p , . ais ongo, se comparado com
Afirma que no período em que esteve à frente do DER, te:ve total liberdade de aranagua. Visava estabelecer a ligação com . t
Jnt ra ~ · ,. ª c.ap1ta4 procurando maior
trabalho, discutindo as questões relativas ao Departamento diretamente com o eg çao social e poltb.ca. Procurava ainda facilita li -
d0 p • d S r ª gaçao entre os Estados
governador. Considera _que tinha grafidc conhecimento fisico do Paraná, o que arana e e ão Paulo:
lhe permitiu acdcrar a elaboração do PLANO RODOVL\RIO DO PAR.AN•.\., de
Tanto quanto irul:c é 0 fi
O d ~ . · .
1951. A Memória Justificativa do Plano inicia com a seguinte afirmação: • oco e atraçao de nossa produção exportável pant_·o _J,·:,·
exteaor, São Paulo é O gfll. d , : =__ _,.-,._,.•
n e centro con5umtdor dos nossos ccteliliS, da nos~~-;, · 1
206 207
;/ 1
,,l
! 1
madein e dó nosso papel. (...) Cerca de 40% da impormção paulista por via interna é
Em outubro os três são hcim~gcados no Graciosa Countn.r cllub "p la. 1 ·.
:\ proveniente do nosso Estado; ao mesmo tempo 80'1/o da cxportaçio param1cnse,
Pro
d t
u oras, enu
'dad . ~, 1 e s casses
es rurais ~ comerdrus do Paraná." (BOLETn,r DO SERVI O
por via interna, destina-se a São Paulo. No tocante à noss2i importação. diga-se de
DE IMPRENS,\ DO PAR,\N.\, 1954 p 70' O tra • · , Ç
passagem que, depois do Dl5trito Fedecl e 1,.fuus Genis. somos nós os pannaeru:es, . • • J· u quest:io se refere à capta ão
dos recursos gerados no interior do Estad0 . . 1m , ç
, pt1ne.1pa ente no Norte visto que
os maiores consumidores de produtos p11uliatas. Esse intercâmbio interestadual só
estes recursos eram captados basicamente.por São Paula Sobre este' bl
pode aumentar,- de ano paN ano; .ex.igind~ ada ve2: mais melhores vias de . pro ema
Fausto Cas tilho afi.rrna 13: ,...:- '
comunicação entre os dois grandes Estados irmã.os (SEPARA.TA ~O PLANO
RODOVL\RIO, 1951, p, 12-13).
O fortalecimento do Ban~o do Est.tdo do Panná, o B.-\NF.Sf~O . .
dos dois · B .. , e o surguncnto
ancos càados no Parami, que alcmçam algum dim ~' . ..
Nesta gestão tem início a pavimentação asfiilclca cm maior escala, apesar ~omcrcial do Paruiá - B.-\NCIAL- e o a-ll~U;sd~ naaodnal, o Banco
da, necessidade da importação do asfalto, que 2Índa não era produzido no pais. 'A· r..... , aum os anos 50.
1ntericrcne1111
.tnst
---- -· · -- · Junto
· -- -- :;ao- govemo_,,
,.. red c.n1 pu:a-con&crrmr-·certls
. , pat""t·-· ~, - -·-
Uma dás maiores prioridades foi à éxecúçãO da estrada ligãndo a regâo de . L , d • . ,
al-llçao e agencias no mtcciot prindpalment
o-
, ·.
,,;u es para a
• e na zona o.,ecna porque senão
Apucaratla com a capital e corri o Porto de Paranaguá, que seria deno~ada os B:mco! de Sào P::i.ulo iam· chupar todo o dinh . r • '
elro, 101 um esforço enorme. do
"Rodovia do Café". "No Plano Rodoviário de 1951 se delineava por meio elos
governo, desconhecid? do povo (IP.\RDES- SOBRE POLfTICA
projebi.dos T-4 e T-5 as diret..ti.zes gerais que.. completadas e revistas por outras. se ENTREVISTAS, 1989 , p, 32 _33). PARANAENSE;
)
converteriam nos_ trechos básicos que integram i Rodovia do Café ... º (D&R-
'Divulgaçàó & Propaganda:'Rodoviária, 1965, não paginado). Nesse projeto de
integração do Estado, faz.ia-se necessário melhorar e dar uma nova capacitaçào 3.!0POLÍTJCA CULTURAL E EDUCACIONAL
,ao Porto de Paranaguá, viabilizando assim a export.açào do café por aqude Porto.
Assim, investe-se na ampJiaçào d? Cais, na construção de armazéns, na compra Tendo em vista o ccnten:i.rjo da cmancipaça· o política do, p '
d · 1953 arana, que se
de novos guind.'lstes, dentre outros mclhoramentos, capacitando o Porto a receber arta ~ • o governo, em maio de 1951, cria uma Comissão Es ccial ara
navios de maior envergadura e dand~-lhc .condições de trabalhar com um maior organtzar as comemorações daquele centenário dand ... , • p p
c tru - d , , o 101c10 a inumetas
volume de mercadorias. _ons çoes que evenam marcar aquela data. O governo otga ',
do cent • · , •· ni.:.ou, para o ano
. d ena.no, uma sene de congressos nacionais e até internacionais. Ao fala½
3.9 O PARANJ\ NA FEDERAÇAO atn a em 1952, sobre as comemorações, Bento Munhoz afirma:-

Ainda como reforço econômico e político do Estado, o governador Sentíamos, porêm, que :ii.S Wdatit'a.S vinham d . .
. • ten o um sentido regional e que parn
esforça-se por coloca~ membros pa:-1-naenses na direção de dois órgàos federais, pro,etar o Panna fora das fronteiras nacionais &zu
.
.,
-se necessano um;i; empedrada de 1,
detentores, na época, de certo poder ecor:i,ômico e Político, que são o ~stiruto interesse geral e fundamentad11. na realidade econôrrô
essa razà d .d'
h : . , fi
ca que OJc en rcntamos. Poc
,!
~ ;
Brasileiro do Café e a Carteira de Crédito Agrícola e Industrial do Banco do ~ o, ect ttnos p~mover um congresso mundial de café,qllé será o segundo '
! ', 13.rasil. Assim, em 30 de agosto'de 1954, poucos dias após Café Filho ter assumido ar ar-se com essecarater, e que debaterá todos os problemas atinent , .
da rubi.ácea, Simultaneam . . , es a econom.ta
a Presidência da República, é nomeado Felizardo Gomes da Costa.para integrar ente, &remos uma exposiçio ttttcmaciomil do café, tendo
como complemento a Feira de e · iba . ,
a Diretoria do Instituto Brasileiro do Café, ao ,mesmo tempo em que se dá a . unu •que co 1ocara cm realce o conjunto da nossa
atualidade produtor, (ADJVULGAç_\o, 7 ago,/! 9S2,p, 4).
nomeação de Aramis Athayde para o Ministério da Saúde. No mês seguinte, o
Presidente da República nomeia Adolpho, de Oliveira Frahco para o de cargo
Diretor da Carteira de Crédito Agrícola e Industrial do. Banco do Brasil.
u En~evista ao Projeto Hú:tóruJ. .Politio. do Pan1n.l

208
209

1 i
-· i
São planejadas e ex~cutadas várias ob~s. embora a maioria não _pôde_ ser . '
Além das medidas ílponttdas acima, há um coojunto: de outras medidas
concluída durante a gestão Bento Munhoz. O Centro Cfvico, que deve.na ab_ttgar
que denotam um interesse pela cultura e pela educação por patte da gestão Bento
os prédios dos três poderes públicos estaduais, seria constituído dos seguU1tes
Munhoz. Destacam-se certas medidas com relação à Unive,tsidade do Paraná,
edifidos: Palácio do Govcrno1 Residência do Governador (Bento Munhoz sem~~
instituição que recebe um considerável investimento do governo csmdual, O governo
·para tá sem que as obras estivessem termina~as 16) 1 _ Secretaria~~ Asse~~lcia.,
transfere o patrimônio da Escola Superior de Agricultun e Veterinária do Paraná
Plenário e Comissões da Assembléia, Secrctart:ttt;T.nhunal do Ju.n e Palác10 da
à Universidade do Paraná~ tendo em vista a sua fedcrilizaçàP, aSsirn como faz
Justiça. Além do Centro Cívico, outras obras ·estav~:1 planejadas., dcstaca~do-se
doação de terras àquefa Escola, conferme Lei n.0 689 (DIÁRIO OFIC&\L DO
a nova Biblioteca Pública, 0 Teatro Gualra e o Centro de Letras do Parana. Esta
ESTADO, n.º 156 de 14/09/51). Em janeiro de 1953, concede à Universidade
última, é assim justificada: '
do Parao~ um auxílio de cinco milhões de cruzeiros para a co111:pra de um terreno

Construiu-se O Centro de Letras do J?arani.para ·sua sede.. dcfmitiva.._J~à,Q &e_ , destinado à construção dos prédios das Faculdadés de F'tlos.ofia e de· Ciências
- - - -·:·· . ··-·
compreendia mesmo que wna das maiores assoch1._çõcs culturais,do,Estado, co~ . Económíéas, conforme l)ecr~to n. 0 8.230 (DIÁRIO OFICIAL DO ESTADO, n.º
valores mar~tes 00 cenário paranaense nio tivesse um lug2r sequer para se ~uru~ 247 de 8/01/1953). Em setembro do mesmo ano, transfere terrenos à
Ficou assim O Centro habilitado a difunclir mais ainda a cultura no Pa~ma, Universidade do Paraná, assim como concede auxílio de cinco mµhões de cruzeiros
possibilitado ainda de ter uma rendll que permita a instiruiçio de prêmios e auxílios para que a Universidade conclua as obras. do Hospital das Clinicas (Lei n.º 't.212;
aos.,sócios necessitados ~IENS.-.\q.EtI, 1?53, P· 150). 0
Dtí.Rio OFICL\.LDOE.ST.IDO, n. 161. de23/09/1953).Doa terreno, na esquina
das ruas Pasteur e Dt Pedrosa, à Faculdade de _Medicina da Universidade do
ÂBiblioteca Pública é uma das obras realizadas com vistas nas comemorações
Paraná (Lei n.º 1.378; DIÂR.IO OFICIAL DO .ESUDO, IL º 199 de 11/11/1953).
do centenário da emancipação. Com 25,000 volumes, a antiga Biblioteca Pú~lica
encontrava-se abandonada, Mediante O Decreto n.º 2944 de 18 de outubro de 1951 Na Assembléia dn Universidade Federal do Paraná, realiuda em 19 de dezembro

(DIÂR.IO OFICIAL DO ESTADO, n.º 187 de 20/10/1951), o governo revoga o de 1954, Bento Munhoz re~ebe o título de Benemérito da Universidade. Nesta
Decreto n, 4.893, de 14 de maio de 1937, que transferiu para o mwúdpto de Cunaba
0 sol~4ade, que contou com a presença do Presidente .Café Filho, Bentó Munhoz
• ~,_!IVO.s à Biblioteca Pública e .~o Te:itro Guaíra, tomando para si a faz wn cliscurso afirmando:
os serviços rc;J..;l
conservação e. a administração destas institÚiçõcs culturais.
O Governo do Parani tem a consciência do que representa a Uníversidade no
(...) a Biblioteca evidencia wna preocupação: o desenvolvimento econômico :ue Estado e tem a concepção do que seja uma Federação orgânica (....} Pedetlçio
5~ está processando no ParanlÍi, nào deve fcd111r os olhos da adminis~çfo ~ú~lic_a orgânica quer dizer solidariedade de açiio entre o Governo N·adon11I e o Governo
para as neccss .,,_des
ua cultut.tis. •:\ Biblioteca e o Teatro Guiira são dois formidavcts Provincial. Nem porque se nacionalizou a Univer,:idade o ~tado pode e deve'
testemunhos.dessa.pteocupaçào por parte da atual administrnçlo (DOLETit,.I DO cruzar os braços deix.ando a Univcnkl.ade ao seu próprio dc,~o. Não: o Governo
SERVIÇO DE IMPRENSA DO P.\RANÁ, 1954, P· 43). do Paraná não se descuida da eua Univeaidadc; tem de acompa~11.ra Un.ivcoidaJe
na sua vida, identificado com a Universidade. É. por isso que t«ursos do Estado
têm sido cmaliz~dos par.a a Universidade que é wn instituto federal (BOLETIM DO
SERVIÇO DE IMPRENSA DO PARAN..\., 1954, p. 48).

O auxfüo também é dirigido à União Paranaense dos Estudantes;·auxillo .


fi Confonne :ifirmg,çio de Samuel Guínlad~ da Con2, em cntrevi:ita.
financeiro e material, visto que o gc,vemo pretendia fazer da capital do Estado

210
211
um centro universitário, e inccncivar a vinda de estudantes do interior para cursar
Em abril de 1951, Bento Munhoz nomeia David c,' · ·
. arnetto, um conhectdo
o ensino superior cm Curitiba. Fausto Castilho afirma que " .. , há o esforço para tntelectual paranacnse, para a direção da &cola de Música de Belas Artes d p •
que a única Universidade existente no Paraná, a Universidade Fede.mi, pudesse N · fi]" e F o arana.
~mCJa ~ osow austo Castilho para a direção da Biblioteca Pública do Paraná
atrair para Curitiba a juventude do resto do Estado. Houve uma grande pots considerava ser necessária a presença de um te! t a1·1n· · • '
. . ec u para orgaruzar aquela
preocupação em dar assistência e alojar es~dantcs" (IPARDES-SOBRE POLiTICA Biblioteca. Em outubro de 1951, a lmpre~sa Oficial do Estad e_ ·
. . . " . , o w..a autonzada a
PAR.,\N,\ENSE; ENTREV!Sf_\S, 1989, p. 32). Ao procurar estnbelecer Curitiba tmpnmtr obras Julgadas de grande vnlor científico ou liter.írio; de autores paran
ti aqw· cli d ,. . aenses
como centro uniVersitádo.- apoiando inclusive a for~çào de outras Faculcbdcs, o ra ca os ' as quars devem ser selecionadas por u~ cornissã.'o formada
como veremos a seguir, visa-se reforçar a intcgraÇio social do Estado,; assim pelo governador, conforme Lei n.º 722 (DIÁRIO OFICL\Lbo ESfADO P 186
como reforçar Curitiba como capital. de 19/10/1951). Parn o ano de 1952, o governo designa Uiemístocles ~ares'
Em Ponta Grossa o governo cria as seguintes Faculdades: Faculdade de Wtlson Mar°'." e Dalton Trevisan para aquela comissão julgadora. '
Farmáci~ e. Odontologià, Fàculdadc de Direito e Facüldade de VetciÍnârla e
3.1 i PoitriéÂs socws
Agronomia. Por meio da Lei n.º 1.004 (DIÁRIO OF)CL\L DO ESL\DO, n.º 193
de 27/10/1952), concede um auxilio de um milhão e quinhentos mil cruzeiros à
Em sua primeira mensagem enviada à Assembléia Legts" lativ"a, ogov~o
Faculdade de Direito de Curitiba, estabelecendo, no artigo 2 º desta lei. que será
aponta. como ~m dos pontos fundamcnt.ais de seu governo a assistência ao
concedid~ u.i:na subvenção anual de igual valor, à Faculdadei a partir do exercíci? trabalhador ruraL " ... consciente corno estou, de que um: do: g d dra
· de 1953. O governo também investe na criação da Universidade Católica. Vejamos b ·1 . . ran es mas
rasJ etros reside no desamparo e no esquecun' · · ·1. d • I • •
. , en o as popu 11çoes ruraJsn
o que diz o texto da Lei n.º 1.713 de janeiro de 1954 (DIÁRIO OFICL\L DO {MENSAGE~~ 1951: 6). Por me10 da Lei n. º 688, de setembro de 1951 (DL-\RIO
ESf,\DO, o.º 248 de 16/01/1954). No artigo 1. 0 , reconhece o caráter de uÍilidade OFICL\L DO ESf.-\DO n.º 155, de 13/09/1951)1 cria-se a 'Casa Rural, d
queeve
estar a cargo de tecmcos especializados que exêrcerào as fun .. de .
" ,,.
püblica ru~:sociedade Parahaensc de Cultura, entidade que m.antém a Universid;de .
. .. ' çoes oricntaçao
Cntólica do Paraná, cm formação. No artigo 2 º, concede uma "subvenção anual supervisao e controle t~cnicos". Pela Lei n ° 691 do m' • ' · · '
.. • • • • 1 me~ o mes, mstttw-se a
de cinco milhões de cruzeiros à Sociedade Paranaensc de Culhlra para auxiliar a Fuodaçao deAsststcnCJR ao Trabalhador""-' "d ttn" d ' .
• .. , n.u.1..u, es a a a ptoporctonar melhores
manter as Faculdades que deverão compor a Universidade Católica do Paraná)>. condiçocs de vida aos habitantes das zonas rurais" (DL-\RIO OFICL" •
• 15 6 d / =DOESf.IDO
Em novembro de 1954, mediante a Lei n.º 2.250 (DlARJO OFJCL\LDO ESfADO, n. , e 14 09/1951). A idéia de disciplinar 0' hom d
, em o campo aparece cm
n.º 203 de 16/11/1954), concede um a\L'<Ílio de quinhentos mil cruzeiros à divcrs~~ falas do governo, conforme se observa n_a mensagem do governo de
195 2: Se os grandes fazendeiros tt:azem ex ·• ·
Sociedade Literária Padre Antonio Vieirai destinado à construçào do In:tituto penenctas e recursos para evitar 0
esgotamento das terras, aos pequenos lavradores as Casas· R .,; . d
Educacional Nossa Senhorn Medianeira., na capital do Estado. , , • 1 , u,.,...s- cnstnao o,
esclarecendo e diSC1plinando terão uma das · J mJ -
Concede auxílio financeiro ao Instituto Histá'rico, Geográfico e Etnográfico . . • truUs a tas ,ssocs nesta hora da
cconorrua nae1onal" (MENSAGEM 1952: 7) O m dis , od .
Pru:anaense; cria a. Casa de Rocha Pombo na cidade de Marretes, udcsúnada a , · esmo curso p e ser venficado
na mensagem de 1953: ·
perpetuar a memória daquc\e brasileiro..."; cria um parque estadual no município
de Ponta Grossa, "nas terras denominadas 'Vila Velha' e 'Lagôa Douradam;
:\~~res rm~s, com a 5 upcrvisão de agrônomos e médicos, comcçacun com os
transforma o Santuário de Nossa Senhora do Rocio, de Paranaguá, etn
mqucnlo5, ,·enfiando as condições sanitáw.s e edúo.cionais, Prestando cnsinamcnros
monumento histórico; cria a Casa João Turin, na capital do Estado, -.'destinada a que vão da cnfc_rmagcm à horticultura, resolvendo os problemds à medida que ,wgem,
perpetuar a memória do escultor''; em maio de 1951 reserva, para fins de pesquisas e sobre.tudo criando a consciência d~ses problemas, sem que será impossíYCt
O
de proto-história, os sambaquis existentes no litoral parnnaensc. melho,u do nível de vida do tobalhador runl (lllENS.\GEhl, 1953, P: 8).

212
2/J
Tendo em vistl o alto índice de morttlidadeinfantil no Estado, principalmente Após a renúncia, a coligação Cjue apoiava o governo 1:Jento se desfaz definitivamente:
nas regiões de r~centc formação, o governo ~stitui os denominados Postos de "As forças políticas que haviam dado sustentação ao governo ·~ntcrior d.iluíram~se
Puericultura, procurando contar com o apoio da iniciativa privada. Ao reconhec_er com a retirada do senhor Munhoz da Rocha para o plano federal" (\é\RGAS,
• · problemas de mortalidade infantil , o gOverno considera que sua soluçao
os senos 1994, p. 209). A coligação que tinha sido fonnada pata sustentar a candidatura de
!lento
.
Munhoz' era frágil, composta por grupos politicos muito distintos, incapaz
(...) se assenta quase que fundamentalmente nos postos de pueric:".tura, que rcali:za:U de manter um projeto polltico mais consistente e duradouro.
0 trabalho de prc~enção e Profilaxia, objetivando cui~dos cspeo.a1s pat:1 a educaçao
das mães e futuros mães, 2 instrução e preparo para a melhor formação de pt1soal
e :i difusão de ensinamentos neccssâcios ao borri funcionamento das obras de 4. CONCLUSAO
• ao b'100'!"0
protcçao • · mae·
• filho(BOLETIMDOSERVIÇODEIMPRENSADO
PARANÁ, 1954,p.30-31).
Neste trabalho procuramos analisar a trajetôcia social c,política de Bento
No ano de 1954, a Secretaria de Saúde Publica recebe 20% do orçamento Munhoz. Destacamos a sua socialização num ambiente social da classe dominante
o
do Es'tado, perdendo apehas para a Secretaria de Viaçào e O~ras Pú~licas paranaensc; numa familia tradicional e católica, pertencente à oligarquia parànaense.
(IPARDES, 1989: 167). Neste ano.o Governo concede_ um muilio à Liga Paran~ense É relevante a influência da religi.'lo católica na formação soàal,·cultural e política
de Combate ao Câncer parn ..... construção do Instttuto Paranacnse do Cancc_t de Bento lvfunhoz. Seus estudos básicos foramrealizad~s numa.escola doS'padrcs
(DIÁRIO OFICL\L DO ESTADO, n.º 228 de 16/12/1954). Lazoristas. Participou da fundação do Círculo de Estudos Bandeirantes, idealizado
e presidido pelo padre Luiz Gonzaga Micle. O Círculo, vinculado ao catolicismo,
3.12CONJUNTURA F1NAL E SUCESSAO tem como membros fundadores um seleto grupo de católicos da sociedade
curitibana. No Círculo, que presidiu durante quatro gestões, fez alguns cursos de
& relaçõ'es entre os partidos políticos que deram sustentação a.o gov~o
filosofia baseados na obra de Tomás de Aquino, cursos ministrados pelos padres
foMl marcadas pelo conflito desde o irúcio do governo. A ~oligaçào de partidos Luiz G. Miele e Jesuz Ballarin.
constit\tlda para eleger e sustentar o governo BentfJ Munhoz vai per:den?o a mínima
Em sua formação intelectual, recebeu a influência do tom.ismo, do
esbbilidade principalmente quando, nos bastidores, comeÇa~se a processar a es~olha
positivismo e particularmente dos seguintes pensadores brasileiros~ Alceu Amoroso
dos candidatos para a prefeitura de Curitiba. Na convenção regional do PTB, realizada
Lima, Alberto Torres, Oliveira Vianna e Gilberto Freyre.
no inicio de abril de 1954, decide-se pelo afastamento, do Partido da coligação que
A sua passagem por instituições como o Círculo de Estudos Bandeirantes e
apóia O governo do Estldo (GAZET.\ DO POVO, 6 abr./1954, P: 1), embora ainda j
o Instiruto Histórico e Geográfico do Par.má, assim como a sua ~ondição de filho
permaneçam no governo alguns Secretário~ do PIB. •
A partir daí vai se ·constituindo um quadro favorável ao retomo de Moys~s
e genro de presidentes do Estado, impregnaram em Bento Munhoz uhla
· prcocupaçào pelo Estado em que nasceu. Suscitaram nele a. valorização dos
'
Lupíon ao Governo do Estado. A~ós a reoúncia de Bento Mu~h~z, a Assembléia
antepassados, daqueles que no passado foram responsáveis pdos destinos da região.
Legislativu dege Adolpho de Olivcu!'-Franco, da UDN, para subsntu1-ki No entando,
Herdeiro poUtico da oligarquia paranaense, teve um perftl politico mais
0 novo Governador e tambêm o novo Secreclrio do Interior e Just1ça 1 Manoel de
moderno. Filho e genro de políticos que governaram o Paraná no período da
Oliv~ira Franco Sobrinho, eram Lupionistas, conforme afi.tmaçàô do General
República Velha (de 1916 até 1930), pelo Partido Republicano Patanaense, Bento
Tourinho, em entrevista. "Então a reeleição do Lupíon já csmva praticamente gara_ntida Munhoz permaneceu fiei à tradição poUtica da familia, entrando p= o Partido.
(...) eles tinham tudo na mão, o governador,. aí foi um desastre para o Bento.,/'.
214 215
Republicano após o processo de redemocratização de 1945. Partido Republicano Elitista entendia q·u · d . :
1

que teve como presidente o seu tio, Marins Alves de Cama:r-go, que anteriormente ' e as massas evcnam ser orientada ..J:_, .d
· , s e wngt as pelas
eli tes, porn essas e que detêm a capacidade d b .
já havia p~csidido o Partido Republicano Patnnaense. Bento Munhoz permaneceu . . e sa er a verdade e de definir os
dest:tnos da sociedade. As ·massas não deveriam t , .
vinculado ao Partido Republicano durante tOdo o período de sua participação no - er a prerrogattva de descob ·
-cenário político. Apesar disso, manteve uma relação relativamente próxima à UDN, ve_rdadc. Pensa em particular nos .intelectuais católicos, q'~e deveriam diri ~ a
orientar as massas. A sociedade deveria ser govetna<la pelas eli•-· • e 1:1'
partido em que chegou a ser Presidente de Honra. Deputado Federal por duas · · el ·
poli ucas e tnt ecturus. Apoiou O Gol Mili d i
. -
econonucas' =
legislaturas, Governador do Estado no período entre 1951 e 1955 e Ministro da . tinh . 'd . pe tar e 1964, pots entendia que aquele
Agricultura no governo de Café Filho, teve urna importante participação na politica a st o um mpvtmento revolucionário e popular. ,

paranacnse após o processo de redemocratização de 1945. Manteve um àmbate Sua gestão no governo do Estado proCllrou dar res~stas a um acderado
político corri Moysés Lupion, o qual era Uder do PSD paranaense e detinha o processo de desenvolvimento eionômic , l t.
cl'.:'nfiguraçà.o ao &tado do Paraná. Essa oes::octa '. que ,01 dando um.a ti.ova
c·ontrole, desse_ pfrtido. Bento Munhoz. foi o ..patroan político _de.Ney..Braga, ·· - ···.- - --- -.·--·- ·- - _g P0 lJaGl.(195l-1955).realizou-se
colocando-o no cargo,tle Chefe de Policia 4o Estndo em seu governo. Cóntnbuiu ' numa con1un~ nacional marcada pelo dcscnvolvimencis~o. Ess .
dcse lvim . a conJuotura
decisivamente para quê Ney Braga fosse deito prefeito de Curitiba rias eleiçàl'5 de .. nvo enttsta se reílctiu no conjunto de politicas Ílnpleltle . d . el
1954. Posteriormente, Ncy Braga rompeu politicamente com Bento Munhoz. Ney Pretendeu dotar o Estado de uma estrurura que fosse capaz d~::r~:~~ o governa
de d l · .. - -,,-·- o processo
Braga se tornou a rnaibr liderança política paranaense e adversário político de Bchto d cscnvo V1nlento. Suas políticas no setor rodoviário e no d~ produção energética
. Munhoz . .Q1mndo este foi candidato ao Senado nas eleições de 1962, se defrontou enotam esta preocupação. Além disso a política rod. . ..
uma int - '·· ov-una procurou estabelecer
com duas candidaturas apoiadas pclo então governador Ney Braga. as de Adolpho egraçao do Estado, nos aspectos econômico social, poli" l L
E ' uco e cu tura
de Oliveira Franco (UDN) e Amaurí de Oliveira e Silva (PTB), as quais fotam
vitoriosas. Nessn.s eleições Bento Munhoz ficou cm terceiro lugar e não foi cleito.
·d ·da= seu governo houve uma preocupação com relação à questão da
J entt parahacnse, tendo em vista a tecent~ ocupação daS rc 'ões N
Quando Benfo Munhoz concotteu ao governo do Estado nas eleições de 1965, Oeste/Sudoeste do Estado. Entendiam q . ._ • gt . ortc e
. ue a constttwçao' de urna identidade
"
1 e.ncont.rou novam~nte a oposição de Ncy Braga, que apoiou a candidatura de paranaense esta.na associada à integraçào politica do Estado.,
Paulo Piment~ o-Vencedor daquelas eleições. Essas duas derrotas eleitorais marcam Como membro da classe domin t , , ··
d I ,d , . an e e, mrus precisamente, um jntelectual
definilMlrnente o seu declínio politico, afustando-se cJ.s disputas politica~ a c asse onunante, Bento Munhoz procurou estabelecer cin
Em sua trajetória de vida, tomou-se um ideólogo da sociedade capitalista, conjunto d li . . seu governo um 1
e po t1cas que visavam assegurar a hegemonia da '-" al .
um intelectual orgânico, colocando-se em d,,fesa da ordem burguesa, dos valores n - . Cüttise a qu pertcnaa 1

burgueses. No Paraná, foi integrante de um 'Circulo de Intelectuais Católicos,


wn momento de transição, em que transformações econômicas soct· ;. li . •
I · e
e cu turats toram dando configura ào a p , ·.
, a...,.po ttcas 1
vinculado ao Centro Dom Vital, que combatia o comunismo. A sua atuação na M h. , ç wn arana modem o. O Governo Bento !
un oz e um marco na processo de modernização do Estad d p .
cena política ocorreu com relativa autonomia, tecendo críticas pontuais à própria ·o. ooarana.
burguesia e aos seus valores, partirulartncntc quando esses não estavam referenciados Bibliotcc:::li:e; p;litico-cultutal, como a construção do Centro Cívico, da
0
• cairo Guaíra, do Centro de Letra 5 · ·
pela filosofia crisU. Defendeu obstinadamente uma ordem cristã, uma civilizaçào Universidade Federal , , °:5 mvestunentos na
e . - ' assun como de Faculdades em formação naqucle momento
burguesa cristã. Em Bento Munhoz não se pode dissociar ordem burguesa de 101 expressa.o desse novo p • f, - •
ordem cristã. Desta forma, seu ataque ao comunismo «; particularmente, ao culturai . ara.na em ortnaçao, desse Paraná mo~cmo. São políticas
s ~e vtsavam assegurar, cm uma, nova realidade; o domínio político da
marxismo foi constante e ocorreu em diferentes frentes, seja no Parlamento, seja na
classe domtn>ntc. Assegurar . cl ui .
Universidade ou seja no Executiv_o Estndual. Ê uma. crítica contumaz que se observa .h . ' cm ruv e tural, a hegemonia da classe donúnantc,
cgemorua que, como afirma Ra , d wr.n,. · j
tanto cm sua prática discursiva, quanto etn sua prática política. l moo w Wiams, deve ser constn~temente renovada.

216
217
Uma hegemonia vivida é sempre wn pt~csso. Não é, exa:::lo analitic11:mcntc, um
CARONE, E, A Rcpúblic• Liberal 1: Instituições e Cl,,se, Sociais (1945-19~4)
sistema ou estrutunl. É um complexo realizado de experiências, rcbçõcs e atividades, Slo P,ulo: Difcl, 1985, , ,
com pres:sões e linútes C$JlCCÍficos e mutáveis. bto é, na prática a hegemonia não
pode nunca scrsingu]ar. Suas cstrutur.u intemu são altamente complexas, e podem , CARONE, E.A República Iaõetal II: Evolução Polltic, (l 945 _ õ4). s· p ui ,
19 '
'º ª o,
1,
,j
ser vistas em qualquer análise concreta. .Além do mais (e .isso é crucial, lembramos o
vigor necessário do conceito), não existe apcruts passivamente como forma de
Dife~ 1985,

COSTA, S, G. da. Hi61ótia PoUtica da Assembléia L • 1 • d


•. . .. ,
•.

p•

cgis attva o ataná. Curitiba:


·
!
'I dominação. Tem de ser renovada côntinuamente, recuada, defendída e modificada. .-lssemblcia Legislativa, 2 v., 1994.
\1
Também sofre uma rcsistêitcia continu:i.da. limitnda, alteradn, desafiada por pressões
que são as suas próprias pressões (WILLL\MS, 1_984, p. 115). 1 , COSTA, S, G da. Introdução, ln: CARNEIRO D· 'é\R.GAS T H'
. . - ' •
da Republica no Paraná. Curitiba: Bllhestado, 1994,
B'
• · IS na 10gráfica
. .
tó'. •
1
Além ~ss?, _esse p~ojet~- ~-~~~~?:°cu!°:1.ral v~~ou ~ss~g~r ~ Ç_~tiba__ a C:
. C~UTINHO, N. CiRAM~CI: Um.Es.tudo .sobce.,eu Pcns,mento Politleo,
condição de capital do Estado. Samuel Guimarães da Costa afirma, ctri entrevista, Rio de Janeiro: C,mpw, 1992

que Bento Munhoz lhe dissera que precisava dar a Curitiba o Ital/lS de capitru,
DICIONÁRIO HISTÓRICO-BIOGRÁFICO DO ESTADO DO PARANA
porque "Londrina tinha uma ambição de ser a Capital, porque era uma região Curitiba: Ch,in/Bane.,tado, 1991. · · , •
muito forte, cconomic.,-mentc poderosa, o café estiva mandando, e com um
DICIONÁRIO HISTÓRICO-BIOGRÁFICO BRASILEIRO: 1930-1983.
eleitorado ~ndc. ..". De acordo com Fausto Castilho (IPARDES-SOBRE POL!TICA
Rio de JaiJCJ.ro; Forense-Universitária/Fundação Getúlio y c·, ,d ,
P.\R.-\NAENSE; ENTREVISL\S, 1989, p. 40), nos anos 40 e 50 "houve o perigo _ . •. a.rgas- entro e Pesqw!la e
Documenraçao de Hastom Contcmporârtea do Brasil/FINEP, 1984. ,
de s~ Londrina" a capital do Estado. Considera que essa questão foi res~lvida no
DULCI, O. S. A UDN e o anti~po_puli9mo no Bras.iL Belo H~rizon~
Governo de Bento Munhoz. Mas esse-projeto político-cultural tem ainda uma
UFMG/PROED, 1986, , , ,
outra intencionalidade. Quando o Governo desejou constituir um centro político
no.Estado. ele o fez não apenas em relação 110 próprio Estado, como utna questão GOMES, I. Z, 1957: A Revolta do, Posaeuo,. Curitiba, Criar, 1986,
exclusivamente interna. ti'enota o propósito de asscv_erar às demais regiões do
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país que o Paraná é um centro regional importante nn Fcdernçào, que o Pru:aná
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tem um poder político constituido. Ou seja, demonstra um interesse de scu·govetno Brasileira, 1982 e ' 1•=açao
na afirmação do Paraná no cenário nacional; afirtrulçào soda~ econômica e polític.1.
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· RUMO P.ARANAENSE
DOCUMENTOS CONSULTADOS
JORNAIS DIÁRIOS
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CORREIO DO PARANÁ
FUNDAÇÀQ INSTITUTQ l_lRAS~IRO QEQEOGRAFIA E_E5'1:ATÍSTICA,
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GAZETA DO POVO
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do Estado por ocasião da abertura da 1.• Sessão Ordinária da 2.• Legi6latura pelo Senhor . ARQUIVO PÚBUCO DO PARANÁ
Bento Munhoz d:1. Rocha Neto, Governador do Paraná. Curitiba, 155 p.. BIBUOTECA PÚBUCA DO PARANÁ
BIBUOTECADO IPARDES
PAR.ANA, Governo do Estado, (1952) Mcnsngcm:. uprescntada à.Assemblfu Legislativa
CIRCULO DE ESTUDOS BANDEIRANTES
do Estado por ocasião da abertura da 2.• Ses9ão Ordlu:iria da 2 • Legislatun. pdo Senhor
INSTITUTO HISTÓRICO GEOGRÁFICO E ElNOGRÁFICO DO PARANA
Bento Munhoz d:1 R'?cha Neto, Governador do Paraná, 322 p..

PARANÁ, Governo do Estado, (1953) Mensagem: npresc.ntad:t à .Assc~léia Legíslativa


1 . do Estado porocasí:lo da abertura da 3.• Sessão Ordinária da 2.ª Legislatura pelo Senhor
Bento Munhoz da Rocha Neto, Govcrníldor do-Parani, Curi~a, 2.97 p..

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do Estado por oc:;i.sião da abertura da 1.• Sessão Ordinária da 3,ª Lcbrislah.Jra pelo Senhor
•.\ntonio Ann.ibcli, GovcrOíl.dordo Paraná. Curitiba, 179 p..

UNIVERSIDADE DO P,\ll.\NcÍ. Coogregaçio da Faculd,de de Ftlo,ofia, Ciências e


Letr:i~ Ata da 7.ª sessão realizada no dia 26 fev.1948. Folha 2, p. 3.

UNIVERSIDADE DO PARANÁ.. Coogregaçio da Faculdade de Fdosofia, Ciências e


Letras. Ata da 23.ª sessão realizada no dia 20 out.1943. p. 194-197.

224 225
Ney Braga: Trajetória polfrica
e bases do poder
JOSÉ PEDRO KUNHAVALIK
Para Emroa Schulz,
Emílio Kunhavalik e Ingeborg.
, L INTRODUÇÃO'

Na história política paranaense podem ser destacados algu~s pe.áodos em


que certas forças políticas tiveram um domínio prolongado, É o ca~o da oligarquia
dos Camargo e dos lv!unhoz da Rocha, que juntos governaram ~ Paraná desde
1916 até a "Revolução de 30" . .A partir de 1932, começa outro;longo período
em que o poder no Pn.raná é exercido por 1fanoel Ribas. Sua inteo/entocia vai de
1932 a 1934, tornando-se em seguicL, governador do Estado, de 1935 a 1937,
voltando a ser interventor no período que vai de 1937 a 1945. Go:vernando com
a fração burguesa ligada aos proprietários, de terra e comerciant~s dos Campos
Gerais, lvfanoel Ribâs constituiu uma estrutura de poder que iria assegurar a
permanência daquelas forças políticas a partir do processo de redemocratização,
no PSD (Partido Social Democrático) ~HGALH.IBS FILHO, 1999, p. 99 e 106).
O empresário lVIoysés Lupion, herdeiro político de lvlanoel Ribas, um continuador
destas forças políticas que então já incorporara segmentos da burguesia industri3.4
particularmente do setor madeireiro (ibidcm 1 p. 106), governa· o Paraná por
duas gestões: de março de 1947 a janeiro de 1951; e de janeiro de 1956 a janeiro
de 1961. Bento Munhoz da Rocha Neto, herdeiro política do Partido Republicano
Paranaense e da oligarquia dos Camargo/Munhoz da Rocha~ govcp10u o Paraná
por apenas uma gestão, entre janeiro de 1951 e abril de 1955. Bento Munhoz era

1
Este tr:J.b:ilho foi originalmente apresentado em dezembro de 1999, como Dissertação de
Mestrado junto ao Programa de Pó:i:-Gnduaç.ão em Sociologia Poütica da Universidade
Fcdera.l de Sant:t c~tanna.
Agradeço õl.O Professor Doutor Riordo Vkgilino da SilV:l (Ciência PoUciat - UFSC) peb.
orientação na claboração deste trnbalho.
Também ~deç:o aos Professores Doutore::i A..ry Cesar 1linella (Ci!ncia. Política - UFsq e
Renato Monseff Perissinotto (Ciênàa Policio.- UFPR), que gentilmente parti~par.un da Banca
Examinadora. Esti pesquisa contou com o apoio do CNPq.

231
vinculado à fração dn burguesia industrial, comercial e financeira que fora destituída Desde o periodo em que começou a governar o Paraná,iem sua pcimeira
do poder com a "Revolução de 1930" e que após o processo de redemocratização, gestão, a partir de 1961, Ney Braga tornou-se uma das principais lideranças das
passou a se e~pressar politicamente na UDN (União Democrática Nacional), mas elites políticas paranaenses. Pas_sou a ser, em nível regional, o político ma.is influente
também, em menor número, no PR (ibidem, p. 106). das forças conservadoras paranaenses. Cabe aqui uma breve reíerfncía ao conceito
O milit1r Ney Braga é levado à policica pelo seu cunhado e governador de elite. A teoria clássica das elítes tem como conceito central a "minoria
do Estado, Bento :tv!unhoz. Esse seci diretamente responsável pela vitória de politÍcamente ativa", os homens que assumiriam o controle soo/e o processo de
Ney Braga para a prefeihlra de C~tiba, em 1954, Posteriormente, Ney Braga tomada de decisões políticas em qualquer sociedade humana e em diferentes épocas
rompe com seu patrono político, buscando uma independência política, mas históricas. Dessa forma, a dominação política da maioria pela minoria de homens
mantém-se vinculado à mesma fração burguesa. Passa a ser uma das ma.is politicamente ativos seria um fenômeno universal. Essa minoria social tende sempre
ímport.1.ntes e::q,ressões políticas desta fração burguesa. Ney Braga terá um longo a ser dominante por ser mais organizada que a maioria. Eh se caracte.r:izar:ia, ''no
período de domínio político no Paraná, inclusive com evenruais influências em plano da ação coletiva, pela irracionalidade; por ísso, ela é incapaz, no plano político,
nível nacional, embora tenha tido momentos de enfraquecimento político durante de identificar os seus verdadeiros .interesses e de agir r:adonalme[l:te na defesa dos
os governos militares denominados de linha dura. Ney Braga foi Prefeito de mesmos" (SAES, 1994, p. 10).
Curitiba, Deputado Federal, Governador do Estado por duas gestões (1961- Para a teoria política maccista -que também sustenta que as decisões políticas
1965 e 1979-1982), Presidente Nacional do PDC (Partido Democrata Cristão), mais fundarnenm.is são tomadas por uma minoria social - 1 a .existência dessas
Senador e 1,finistro em dois governos militares, de Castelo Branco e de Geisel. minorias dominantes é vistn como um fato histórico que se relaciona à sociedade
No decorrer: de sua atuação política, Ney Boga constitui um grupo político, a de classes. Essa teoria estabelece uma correlação "entre dominação econômica de
partir do qual ocupará postos importantes no aparelho de Estado, tanto na esfera classe e e:xerácio de poder político'' (ibidem, p. 9). A Teoria das Elites nega a
estadual, quanto na federal. :tvfornbros do neyismo também ocupam postos existência desta correlação. Essa teoria considera que possa haver a coincidência
relevantes em partidos políticos. Os espaços ocupados tanto no aparelho de entre domínio econômico e dorrúnio político, mas não que esses poderes tenham
Estado quanto em partidos políticos, seja pelo próprio Ney Braga, seja por "um caráter romulativo na socíedade contemporânea." (ibidem, p.10).
membros do neyismo, certamente contribuem para que Ney Braga possa exercer A Teoria ~s Elites é crítica da noção de represent.ação política, nega que
uma. forte influência política por: um período tio prolongado. na esfera política a minoria dominante represente ínteresses de classe. Para Saes,
O objetivo central deste trabalho é o de analisar a trajetória politica de Ney a Teoria das Elites se preocuparia em definir quem toma as decisões políticas, não
Braga visando a compreensão das bases de poder explicativas de sua longa analisando o conteúdo de tais decisões, o que também exigiria investigar uma
permanência na política. Procura-se compreender o processo político paranaense possível ligação entre tais conteúdos e interesses de grupos. Pbrtanto, o poder
cont~porâneo em fuce da conjuntura nacional No exame desta trajetôria política, político poderia ~star sendo efetivamente exercido por aqueles giupos sociais que
privilegia-se a discussão em tomo dos conflitos entre as elites políticas paranaenses, tivessem seus interesses atendidos pelas decisões políticas. Dessa forma, a análise
basicamente em seu aspecto político. Portanto, a realização de uma investigação mais da Teoria das Elites seria marcada por um formalismo.
focada na partiàpação de setores populares requer um outro trabalho, o mesmo É parte integrante da tradição teórica marxista, "a tese segundo a qual, nas
ocorrendo no que se refere a wna investigação mais voltada para a questão dos sociedades de classe, o exercício do poder econômico leva ad exercício, num
fundamentos eron6mico& Esse estudo sobre a trajetória politiCl deNey Braga pretende momento cronologicamente posterior, do poder politico" Qbidem p. 16-17).
ser. uma contnbuiçào par.a. o entendimento da política paranaense contemporânea.. Essa tese é criticada pela Teoria das Elites. No entanto, Saes co~sidera que essa é
uma versão mais economicista, mas que é possível outra versão para essa tese, no

232 233
interior da teoria política marxista. Essa tese estaria presente em_Poulantzas, em ªe pelo seu processo histórico. Entende que u utilização da irnagt'tl
• ,açao · I'ogtca
- sacio ·
seu livro ''Poder Político e Classes Socíais" e em Ecienne Balibar, "Os Conceitos se fundamenta sempre na necessídade de conhecer o sentido social e histórico
Fundamentais do 1v!aterialismo Históricon. Segundo essa tese, do indivíduo na sociedade e no período no qual sua qualid~de e seu ser se
manifestam" (llllll.S, 1965: 14).
no funàonamento das sociedades de classe (em geral) e da sociedade capitalista (em Ass~ a ação individual é de suma importância para a compreensão do
particular), estabelece-se uma rebçiio eh cat1sapia míprotaentre podereconômíco e poder desenvolvimento do processo histórico, sobretudo quando se trata de história
político, não havendo portanto nesse terreno espedfictl - o da rtprodufiiodas sociedades política. Isso não significa que a ação individual possa ser compre,endida fazendo-
de classe-um poder determinante e um poder subordinado (ibid:-111, P· 17)" se abstração ?os interesses e valores das classes e grupos saciai~ em conflito na
sociedade, mas sim que nem toda ação individual eficaz politic~ente pode ser
Isso implica dizer que a classe economicamente dominante é também a
reduzida a tais interesses e valores. A autonomia e eficácia da· ação individual
cbsse politicamente dominante. Cada uma sendo concliçào de reprodução d1. outra.
ap·arece mais claramente quando observamos o comportamento de determinados
Saes afirma que para haver a manutenção da dom.inação política capitalista,
indivíduo_s que ocupam posições estratégícas no âmbito das insti~_ções políticas.
Tais indivíduos podem ser qu..1.lificados como represent.1.ntes de uina elite política,
n:io é necessâcio que a classe dominante ocupe diret,mmtle-isto é, sem intermedi:i:rios
não no sentido que lhe atribui a teoria clássica das elites) ou seja, como um conjunto
e através dos seus próprios membros - o topo do aparelho de Esbdo. Por isso, é
de indivíduos dotados organicamente de capacídades superiorCs àS da grande
possível a emergência, em certas conjunturas ou períodos, de uma daut rÚltn!ora do
maioria da população, mas como agentes políticos 91:e) pela posiÇào institucional
aparelha tÚ Estada, distinta da classe dominante (por e..xemplo, a pequena burguesia
ou a classe média) (ibidem, p. 17), que ocupam, são capazes de produzir decisões que têm impacto sobre uma
determinada comunidade. Evidentemente, na maioria dos casos, a ação de tais
Isso não significa que esta classe detentora do aparelho de Estado seja a indivíduos far-se-á em consonância com ~tereSses eva.lares das classes dominantes,
classe politicamente dominante. "Só é dominante a classe social cujo interesse sem que, no entanto, ocorra a supressão de uma base de interesse próprio das
polltlco geral é garantido pelo Estado; e só nesse caso se pode dizer que uma elites que consiste na sua perpetuação em posições institucionais de tnando.
chsse social detém o poder político e o poder de Estado" (ibidem, p. 18). . Neste trabalho há um esforço em procurar compreender a ~jetória política
Para manter a dominação política capitalista, a classe dominante não precisa de Ney Braga no contexto político paranaense e inclusive nacio~al. Examinar a
necessariamente 6rganizar partidos políticos e te! seus partidos preponderando trajetória política de Ney Braga é um recurso para _se estudar a polítlca paranaense
no sistema partidá.cio. É possível então o surgimento de uma classe reinante que contemporânea, para discutir conflitos e conciliações nas elites políticas parnnaenses,
seja distinta da classe dominante, A classe reínante é aquela que teria um predomínio teQdo em vista que Ney Braga é o personagem central nesse c~nário político.
no cenário político, que exerceria o poder político, mas não significando, com Seria impossível discorrer sobre a política paranaense nas últi.ms décadas sem
isso, que ela fosse a Helite detentora do poder político, separado este do poder considerar a participação politica de Ney Braga. ·
econômico exercido pelas classes proprietári.as' 1 (ibidem, p. 18). Além dessa introdução, este trabalho conta com mais quatro capítulos e
Wright tfills, em seu livro'½. Imaginação Sociológica'', apon~ a irnportincia uma s.eçào de conclusão. No primeiro capítulo, fazemos referência :à formação de
de se estabelecer' uma articulação entre a biografia e a história. Considera que Ney Braga, principalmente à sua formação militar e à sua passage~ pelo exército.
todo indivíduo, ao viver uma biografia, Úo interior de uma sequência histórica, Discute-se ainda seu íngresso na política, a partir de seus vínculos com a família
con~bui para o condicionamento da sociedade em que vive e para o seu devir Munhoz da Rocha. Em seguida, faz-se um, análise das articulações e da campanha
histórico. Por outro lado, o indivíduo também é condicionado por esta sociedade para a prefeitura de Curitiba, assim como da gestão de_Ney Braga frente à prefeitura.

234 235
No segundo capítulo, discute-se o ingresso de Ney Braga no PDC e a sua do Recife, formando-se em Ciências Jurídicas e Sociais 1 em 1889, No Rio Grande
autonomização politica frente ao seu patrono politico, Bento lv1unhoz da Rocha do Norte foi Promotor Público e Juiz lviunicipal nas Comarcas de Nova Cruz e
Neto. Discute-se também a sua campanha para o governo do Estado e a sua hfacayba. t'1udou-se para a cidade da Lapa-PR onde tornou-se Juiz t,Iunicipal e,
primeira gestão no governo do Paraná 1 momento em que se deu início à posteriormente, exerceu a advocacia, Seus avós paternos eram ?vfanoel Antônio
implementação do projeto de desenvolvimento do Paraná, com a criação da da Cunha Braga e I\faria Vitória Lacerda Braga. O avô materno de Ney Bragaj
CODEP.:\R. Faz-se uma referência à formação de seu grupo político, o neyismo, e José.A.minthas Costa Barros, participou da resistência do ' 1cerco da Lapa)}2, lutando
discute-se a posição de Ney Braga no período de crise da renúncia de Jânio Quadros ao lado dos Legalistas (Pica-paus), que defendiam o governo central. Liderado
e a sua relação com o governo de João Goulart. pelo general Gomes Carneiro, José Aminthas comandou um batalhão de civis
No terceiro capítulo, analisa-se como o político e militar Ney Braga, ligado Yindo a falecer no combate, em fevereiro de 1894, De acordo com Ney Braga:
a Castelo Branco e a Geisel, apóia o golpe de Estado de 1964. Discute-se também a família Braga era partidária dos Federalistas (!vfaragatos), enquanto qUe a família
sua ida para o t'llnistério de Castelo Branco e seu comando na formação da _.\rena
Lacerda era partidária dos Legalistas (Pica-paus). Porém, isso não impediu a união
no Paraná.Analisa-se o embate político com Paulo Pimentel e a fragilidade política
de seus avós paternos. Um Braga e uma Lacerda, que tiveram que conviver com
de Ney Braga durante os go\·ernos da linha dura. É analisado ainda o seu posterior
esse conflito entre as duas famílias (B!HG.\, 1996, p. 14).
fortalecimento político com a ida de Geisel para a presidência da República, quando
Os pais de Ney Braga, Antônio Lacerda Braga e Semírarnis Costa Barros,
passa a ocupar o 1finistério da Educaçào, enfocando posteriormente o seu retorno
casaram-se em 1915 e tiveram seis filhos. O pai de Ney Braga trabalhou na padaria
ao governo do Paraná. de um parente na cidade da Lapa, ficando sócio, postetiormente, de um cine-
No quarto e último capítulo, discute-se a participação de Ney Braga na
teatro da cidade, o Elite Cinema. Nos anos 1930 o interventor ?vfanoel Ribas,
formação do PDS e o seu declínio político marcado pelas eleições de 1982. Em
seguida analisa-se a sua participação na formaçào da Frente IJberal e o destino de
alguns membros de seu grupo político,
Na conclusão procuraremos apresentar, sinteticamente, os momentos mais
No período da Revolução Fetleralistl (1893~1894), os revolucion:i.rios, vindo:, do Rio Gr.1nde
decisivos da longa trajetória política de Ney Braga. do Sul, avançam pelo Pararní com o obíetivo <lc chegar à Capital Federal e derrubar o Presidente
Ftorian~ PeL,wto. Em janeiro de 1894, as cidades de Paranaguá e de Tijucas caem nas mias dos
Fc~er.ihsta~ (í\faragatos), Em Curitiba, us tropas legalistas (5." Distrito Militar no Paran:i.)
dcL~a~ a cidade, enquanto o presidente do Est:tdo transfere a sede do governo para Castro.
2. O SURG!i\ffiNTO POLÍTICO DE NEY BRAGA
Cur~ttba é então ocupada pelo:, Federalistas, gue instalam na cidade um governo provisório,
.As:m:, c~m a queda de Pamnagu:i e de Tijucas e a ocupaçiio de Curitiba, o ônico ponto de
reststencm das forças legalista;,; no Paraná era a Lapn.. No dia 17 de janeiro, as tropas federalistas
começ::im o ce:co sobre a cidade, contando com cerca de 3.000 soldados. As forças legalistas
2.1 A FOR:MAÇAO DE NEY BRAGA E SUA PASSAGEM presentes na c1dade eram lideradas pelo Coronel Gomes Carneiro, enviado pelo Presidente
Marechal Floriano. Na noite de seis de fevereiro, os federalistas invadem a cidade. No dia sete o
PELO EXÉRCITO Coronel Carneiro é ferido com gravidade. O juiz José .Aminthas da Costa Barros: (avô de Nev
Brnga), lq,r.tlista que particípav:1 da defesa da cidade, é morto no din. sete. Várias hderanc;s
Os avós maternos de Ney Braga eram Josê Aminthas Costa Barros, legalistns são mortas, e o Coronel Carneiro morre no dia nove. No dia onze de fevereiro, siti;da
e Já sem condições de .resistência, ocorre a rendição da cidade e: das forças leg.ilist1s. Os 26 dias
pertencente à familia de Pedro Costa Barros, que foi Presidente do Ceará, e i\faria
do cerco da Lapa permitem que Floriano Peixoto consolide a defesa legalistn. na divisa entre
Eufrásia Faria de Barros. O avô José Aminthas estudou na Faculdade de Díreito Paraná e São Paulo. (PANORAtL\,fcv,/1969, n.º 198, p. 48-55) (llALHANA,A. E; ~L\CHADO,
ll. P; \11/ESTPJ-L\LEN, C. M., 1969) (COST.\, 1994, p. 7-12).

236
237
que era amigo de seu pai, ";·conselhou-o a juntar um grupo de bpianos para guerra. Continuou a ser instrutor de Topografia e Técnica de Tiro para oficiais.
constituir uma pequena firma, que foi incumbida de construir o primeiro trecho, Nesse período faleceu seu sogro_e 1 em pouco tempo faleceu sua esposa, sendo

de poucos quilômetros, da estrada do Cerne 1 após a colónia de Santa por isso transferido para Curitiba e não embarcando para a Itália. Em Curitiba
Felicidade" (ibidem 1 p. 15), De acordo com Ney Braga, mais tarde, quando ele serviu no 3.ºRegimento de Artilharia 1\Jontada. Ney Braga diz que neste momento
0 então 1\fajor Henrigue Geisel o levou para o CPOR (Centro de Preparação de
tornou-se governador do Estado, seu pai, .Antônio Lacerda Braga, vendeu sua
empresa por acreditar ser anti-êtico manter uma empresa que tinha relações com Oficiais da Reserva). Afirma que no "J,º R.:\;\f taffibém fui instrutor de vários
o Estado, numa situação em que seu filho era governador. estagiários que haviam cursado o CPOR muitos anos antes. :tvfais que instruendos
Ney Aminthas de Barros Braga nasceu na Lapa-PR, em 25 de julho de tornaram-se amigos meus. Todos engenheiros, donos de grandes firmas e cargos
1917. Aos cinco anos iniciou seus estudos na Lapat em uma escola de freiras, o elc,·ados no Estado e na União" (BIL\G.-\, •!996, p. 40).

Colégio São José. Aos seis :mos foi transferído para uma es.cob pública, o Em dezembro de 1944, Ney Braga foi promovido a capitão (DICION,\RJO
Grupo Escolar 1fanoel Pedro. Estudou na cidade de Castro, onde terminou o HlSTÓRICO-BlOGIL·\FICO BIL-\SILEIRO, 1984, p. 437). Por influência do Major
primário e viveu com parentes, Postetiorfüente foi para. Curitiba, cidade em Henrique Geiscl, Ney Braga resolveu ir ao Rio de Janeiro pará fazer o curso na
que cursou o ginásio, no internato do Ginásio Paranaense. O internato era Escola do Estado 1faior. Perguntado se o curso de Estado :tvfaior foi importante
dirigido pelos padres lazaristas, que lhe concederam uma bolsa de estudos para a SUa vida política, Ney Braga diz que: "i\fais do que .importante: foi
conseguida por intermédio de um cunhado de seu pai, Caetano 1\.funhoz da fundamental. Durante três anos fiz um curso de Brasil e conheci figuras do Exército
Rocha, que era casado com uma irmã de Antônio de Lacerda Braga, e que foi que depois se tornariam personalidades nacionais" (BRJ.G~\, op. cit, p. 40). Seu
Presidente do Estado do Paraná. Encerrado o ginásio, Ney Braga foi para o Diretor de Ensino foi o emào coronel Castelo Branco, Sobre Castelo, Ney Braga
Rio de Janeiro estudar na Escola 1filitar do Realengo, iniciando o curso em diz gue ciEra um grande professor e amigo, exemplo de soldado e cidadão. 1fais
1935 e concluindo-o em 1937. Na escolha da Arma, optou pela Artilharia. Em tarde pude mais ainda comprovar suas virtudes de grande patriota. Não conheci

seguida, foi para Curitiba como aspirante a Oficia], passando a servir no 9.º maior" (ibidem, p. 41). Em 1948, Ne)' Braga concluiu seu curso na Escola do
Regimento de Artilharia iVIontada, que posteriormente seria transformado no Estado i\faior, tendo obtido a segunda colocação em uma turma de cento e vinte
3. Regimento de Artilharia Montada (DL\RIO DO PAR,u"l-1,, 15 mar./1979, p.
0 e nove oficiais. Concluído o curso, que durou três anos, foi servir no quartel
4). Em 1938 foi transferido para o Rio Grande do Sul, servindo na cidade de general da 5." Região Niilitar, onde havia realizado seus estágios. Lembra que um
Santo Ângelo (BIL-\G.-\, 1996). Em dezembro de 1938 foi promovido a segundo- destes estágios se referia ao estudo de geografia hllmana da região Oeste do Paraná
tenente e em dez_embro de 1940 foi promovido a primeiro-tenente e de Santa Catarina. Ao retornar a Curitiba, Ney Braga volta a se casar. Afirma
(DICIONARIO HISTÓRICO-BIOGIL\FICO BIL-\S!LEIRO, 1984, p. 437). que uNcsse período recebi vários convites para integrar comissões do Exército
Neste período, Ney Braga casou~se com 1\faria José :tvfunhoz da Rocha, no exterior e também para ingressar no corpo de professores da Escola do Est1 do
filha do ex-Presidente do Paraná, Caetano 1viunhoz da Rocha. Em 1940 retornou i\faior. Não aceitei/' (ibidem, p. 41). Em 1950, Ney Braga volta a servir no 3.º
a Curitiba. No Regimento de Artilharia lvfontada, lecionou Topografia e Técnica Regimento de Artilharia Montada. Em setembro de !951, Ney Braga foi
de Tiro de Artilharia. Além disso, foi oficial de Educação Física do Regimento. É promovido a major (DICION.\RIO HISTÓRICO-BIOGIL\FICO BIL-\SILEIRO
também nesta época que Ney Braga foi Diretor de Atletismo do Clube Atlético 1984, p. 437). Devido à sua participação nas ati·v1dades esportivas do Exército:

Paranaense e Diretor de Atletismo do Círculo l'vlllitar. Em 1944 foi transferido passou a integrar o Conselho Regional de Desportos do Paraná. Em 1952 Ney
para a cidade de Itu-SP, onde serviu no 4.º Regimento de Artilharia l'vfontada, Braga recebeu a condecoração de Cavalheiro da Ordem do 11:érito !vfilitar
comandando uma _bateria do Regimento _que enviaria um contingente para a (DI,ÍRIO DO P.\RAN.l., 15 mar./1979, p. 4).

238 239
2.2 NEY BRAGA INGRESSA N.A POLÍTICA . 1\~as, antes de prosseguirmos nest'l discussão, vejamos alguns traços que
~.fer~nc~1m Lupion de Bento l\Iunhoz. 1.foysés Lupion era um empresário ligado
Em dezeffibro de 1952, Ney Braga faz seu ingresso na política, ao ser
a mdustrL'l e ao comércio de madeira, e ingressou no PSD em 1946, tornando-se
convidado pelo governador Bento Ivfunhoz (ex-cunhado de Ney Braga, irmào de
o Presidente Regional do Partido. Lupíon é o herdeiro político.do ínterventor
sua primeira mulher), para ocupara Chefia de Policia do Estado. Ney Braga considera
f'>-f~noel ~bas. A inten·cntoria deste no Paraná se estendeu de 1932 a 1934, depois
que seu interesse pela política (oi despertado por Bento 1-funhoz. .Afirma que
foi !°'"ernador entre 1935 e 1937, voltando em seguida a ser lµter"ITntor, 'até
194:>. Durante todo este período de seu governo, 1fanoel RíQas estabeleceu uma
Na campanha do Bento 1'.Iunho~ da Rocha, eu era oficial do Exército e sen'la em
Curitiba, Eu era c.::ipitào. Eu participei, como ouvinte, de alguns comícios. E me relaçào entre o poder do Estada e as forças econômicas dominantes tradicionais.
empolgou. Bento era um e.,:celente orador, um homem de capacidade, de cacisma ... Com O fim ~o Est"ldo Nuvo, cria-se o PSD~ paranaense, tendo p~r base agueles
e eu o segui, me empolguei e senti que tinha uma certa vocação para a vida pública setores dommantcs, ou seja, comerciantes e propriet.1rios-rurais (KUNI-L.\.Y.-\LIK
(CORREIO DE NOTÍCBS, Caderno Bomdomingo, 27 set/1987, p. 3). 199"J, P· 49). A organtzaçao
· - do PSD no Paraná, basicamente nào difere da'
organização feita em outros Estndos, De acordo com Lucia Hippolito,
No período em que Ney Braga asswniu a Chefia de Poli@ do Estado, o
ce.nário paranaense era marcado por fortes tensões sociais no campo, tendo em Nos Estados, o PSD começou a ser organizado sob a liderança dos inten·entores:
vista que o processo de ocupação das regiões Norte e Oeste/Sudoeste ainda não reunindo prefeitos (todos nomeados pelo interventor), membros ~a administnçà~
estava completo. e havia muitos conflitos. Estes eram significativos e permeados .estadual. .e outras forcas
, que apoiavam
• o governo, co m O propnetartos
· • · •
rurais,
por muita violência. A postura política do governo Bento 1fonhoz em relação à mdustna1s, comctciantes, funcionários públicos etc. (HIPPOLITO, 1985, p. 121).
ocupaçào das terras nestas regiões é contraditória. No díscurso do governo
defende-se a posição dos camponeses que ocupavam as terras e nelas constituíam Ao comencu: sobre a ocupação do poder no pós-1930, M:agalhàes Filho afirma:
lavouras. Bento 1v!unhoz, que substituiu no governo seu maior adversário, 1'foysés
Lupion3, constatou, desde o inicio de seu governo, irregularidades cometidas •..\sswnindo o poder no Yazio criado pela derrubada da oligarquia dos Camargo e

pelo governo anterior no que diz respeito à ocupaç1io de terras. dos i\f~oz da Rocha, os proprietários de terra dos Campos Gerais, aproveitando-
se da posição privilcgiad:i que a conjuntura propiciava, fuvoreceram·&e dos beneficias
que podi:im auferir dessa siruaçào, ampliando sua base política.a partir de suas
posições nos aparelhos do estado. Essa simbioJt facilitou.lhes a ocupação de novos
3 Moysi5:i: Lupion c;indidatou..se às eleições :io governo do Est;1.do de 194-7, Yenc~u ns eleições e
espaços políticos, a incorpor.1çio ou cooptação de apoios de outros ~tores soci.1.1s e a
governou o Para.mi de março de 1947 a janeiro de 195L Esse pedodo ê marc:i.do por sucessivos
conflitos de terrn, pcinàpalmente na região 0e-;,re/Sudoeste do Estido. Era vincubdo à CITL\ consolidação no poder, processo grandemente facilitado pelo início d~ expamii~ da
(Cli=viilindia Industrial e Territoruil), empre,,1 de coloniznção que esteve, envolvida em conflitos
com possd.ro:i. Em 1954 foí deito Senador pelo Pammi, sempre pdo PSD. Em 1955 foi novamente
c.1ndichto ao governo do Paraná, recebendo apoio do PDC e do PTN. Voltou a govenur o Paraná,
de. jane~ de 1956 a janeiro de 1961. Também voltou a presidir o PSD regional de 1956 a 1960, Os
conflitos de terr:i. aumrntar:un durante. seu segundo governo, chegando ao ponto dõl revolta dos 4
O Gc~eral Tourinho, lid~~ do ~St.> par:tnaense, .io comentar sobre a organ.iznção do PSD no
cunponeses, que tomaram algumas cidades de assalto, como Francisco Be.ltrão, buscmdo defender Par:ma, :i.firma que
seus direitos. Eles se volt::1.ram contn os poderes constituldos, muoícipais e cstiduais, recebendo o
'b d· · o PSD JJ havu sido org:tnizado por 1fanoel Ribas cm 193"'.;., 1933 , " orgamza • do
a -~e o mtcnor•. dos_ gnndcs ~gurões ~o interior, dos coronfu do interio~,." Diz ainda que
apoio do Exército. Após o término de seu mandato, refugiou---se·na Argentina, visto ser acuso.do e apo~ a re~cmocr.1t1.zaç.:10 de 19-1-.:,, o PSD e reorganizado pelo Secretário do Interior e Ju:;ciça de
processado por corrupção Em 1962 foi deito deputado fede:r,ú pelo PSD. Em 1964 teve seus ifunocl Iliba;;, Í'án:1ndo Flores, que compõe o partido com comerciantes criadores de gado etc
cfueitos politicos cassados (GOMES, 1986) (KUNH..\'".\L]K, 1995). (KUNl·L.\\·..\LrK, 1995, p. 49). , .

240 241
economb cafeeira e pelas transformações ocorridas na economia brasildn (que explicam mensagem enviada à .A.ssembléü Legislativa, o gover~o afirma que 0

a modemiz_aç.:ia iniciada por Ribas). Com o retomo dos processos eleitorais, apôs Departamento de Geografia, Terras e Colonização se converteu em um
194j, essa situaçfo foi apro\--eitada para a criação da.mJquinapolícica, de base niml, que
vencia eleições. O peso de sua influência pode ser aquilatado pelo fato de as outras balcão de vendas de terras, com o exclusivo interêsse e beneficio ithediato de inúmeros
farp:is(com a importante e..,ceção do PR, revitalizado por Munhoz da Rocha) apoiarem, intermediários ligadas estritamente ao Govêmo e do qual não compartilharam os
em 1947, o candtd,to do PSD agovemndor (l\L\G.\LH.-\ES FILHO, 1999, p. 126), "Verdadeiros interessados, os ocupantes das terras.." (MENS_J._GEM, 1951, p. 61
apud KUNH.\Y.\LIK, 1995, p. 65-66),
Lupion é o candid::ito do PSD ao gm~emo do Est1do nas eleições de 1947,
recebendo o apoio de partidos como o PTB e a UDN, além dos comunistas e dos O Departamento de Geografia 1 Terras e Colonização coílcentrou todas as
integralistas.. Seu concorrente nest1s eleições seria Bento 1fonhoz da Rocha Neto, tnefas relativas à ocupaçào de terras no Estado. Este órgão foi.,desmembrado da
pertencente a ".,.uma familia da classe dominante paranaense, proprietária de Secretaria da Agricultura, recebendo autonomia administrativa e financeira e tornou-

engenhos de mate e ligada ao comércio exportador deste produto" se subordinado diretamente ao governador (h7.JNH..\'\'.illK, 1995, p. 65-66).

(KUNH.W.\LIK, 1995, p. 14), Bento Munhoz é herdeiro do velho Partido De acordo co'm· Ícia Z. Goffies~ o gcivéffio federal 'cria í/Colôriia Agácüb

Republicano Paranaense, e se vincula ao PR por razões familiares. Seu pai, Caetano Nacional General Osório (C.-\NGO), na região Oeste/Sudoeste do Estado, que
tinha o propósito de as~entar pequenos agricultores· e de povoar a fronteira. A
1-Iunhoz da Rocha 1 além de outros cargos que ocupou durante a República Velha,
C..-\i'JGO passou a organizar, naquela região (precisamente nas Glebas lvlissões e
foi 1.º Vice-Presidente do Estado e, posteriormente, Presidente do Estado por
Chapim), os assentamentos de colonos vindos do Rio Grande do Sul e de Santa
dois mandatos, de 1920 a 1928, pelo Partido Republicano Paranaease. Era Senador
Catarina. O trabalho de assentamento promovido pela C~NGO foi sendo
da República quando foi afastado pela '~evolução de 30", Além disso, o sogro
interrompido a partir da instalação, na região, da CITLA (Companlúa Imobiliária
de Bento tvlunhoz, Affonso Alves de Carruugo, foi Presidente do Estado do
Clevelândia Industrial e Territorial Ltda.), ligada a lvfoysés Lupion. Embora a
Paraná entre 1916 e 1920 e novamente entre 1928 e 1930, também pelo Partido
CI1L:\ tenha se instalado efetivamente em 1951, sua presença já era verificada
Republicano. Ou seja, as ligações de Bento :rviunhoz com o Partido Republicano
anteriormente. O projeto inicial era o de instalar uma grande indústria de celulose
eram muito fortes. Apesar disso, Bento 1vfunhoz tem uma "postura poütica
na região, sendo que o projeto de assentamento de colonos ~eria um objetivo
modernizante de um homem burguês" (ibidem, p. 1). Seu perfil polirico e intelectwtl
secundário. No entanto, o que se verifica, é que
era muito mais de um udenista do que de um homem do velho Partido
Republicano. }..!esmo assim, a UDN apóia Lupion nas e1eiçàes ao governo do Efetivamente, quando a Cfil..-.\ se instala. na região, tenta irnp1a!ltar um modelo de
Estado de 1947, embora tivesse apoiado Bento l\'iunhoz- para um Congresso colonização em que a venda da terra constitui a atividade principal. Trata~se,
que iria elabor:u: a Conscitwçào de 1946 (KUNKl.'\ê.\LIK, 1995). portanto, de um projeto capitalista cujo objetivo básico é o lucro e que contrasta
Verificadas as irregularidades cometidas na gestão de Lupion, no tocante à significativamente com o projeto da C.-\NGO (GOMES, 1986, p, 44),
ocupação de terras, o goYemador Bento 1vfunhoz fechou provisoriamente o
Departamento de Geografia, Terras e Colonização, visto a constatação 'do Embora essas terras fossem devolutas, a CITL\ usou diferentes artificias,
mesmo ilegais e violentos, para tentar se apoderar das terras, criando um clima de
comprometimento deste órgão nas irregularidades observadas. O governo Bento
intranquilidade e de revolta na região (GOiIES, 1986, p. 38--68), A postura do
1,Iunhoz constituiu uma comissão que seria responsável em elaborar estudos e
governo Bento lvfunhoz na regíão foi a de procurar restringír as,:atividades ilegais
propostas para resolver os problemas ligados à ocupação das terras. Na primeira
e as arbitrariedades, provocadas principalmente pela CIIL.\, Companhia que era

242 243
ligada ao grupo econômico de 1'.foysés Lupion, apversário político de Bento J.rnpongas, constantes de Títulos e..,,;peilidos pela administraçào antt:riar, com flagmnte
1\funhoz. A situação agrava-se no período em que Lupion ·volta a gm·emar 0 riolaç..'10 do an. 85 d1 Constituição Estadual. .-\rt. 2.ª -.\s terras a. serem desapropriadas
Paraná, quando em 1957 hm·erâ a re\·olra c;unponesa 5• destinam.se aos sitiantes que, embóra sem titulo hábil, nelas est~am estabelecidos

Já na região Norte do Estrtdo, mais precisamente na regiào de Porecatú\ a com cultura efe:tirn e mor,1da habitual, há mais de ano e d.ia. ("") (D:L..\RIO OFICL\L

postura que o governo Bento l\funhoz n.ssume é diferenciada. A partir de 1942, o DO EST.\DO n.º 11, de 15/03/1951 opud KUNH.\\".\LIK, !?'JS, p. 69).
Gm·erno do Paraná fez um loteamento na região, compreendendo cerca de 120
Embora reconheça o direito dos posseiros na regi,'lo, o· goYerno Bento
mil hectares de terras dernlutas (FOLl-l\ DE LONDRIN.\, 14 jul./1985, p. 1).
1\-Iunhoz age de forma a reprimir os posseíros em beneficio dos fazendeiros. Por
Essas terras, que pertenciam ao Est:ido, for;im sendo ocupadas por posseiros,
um lado, o governo propôs aos fazendeiros que pagassem i~denizações aos
que construíram suas casas e plant1r.1.m suas l.wouras, embora não tivessem o
posseiros dos benefícios que esses hmtiarn feito nas terras. Por outro lado1 garantiu
título daquelas terrns. Os conflitos na região têm início n.1 primeira gesdo de
aos posseiros que eles seriam assentados na regi.ão de Campo t.Içm.riio. Acontece
!-.foysés Lupion no governo do Esmdo, \1.sto que o governo passou a comerci.'W.Zar
que nem os fazendeiros tiveram interesse em pagar qualguer indenização, e nem
aquelas terras com fazendeiros. Além disso, observou-se na região a presença de
os posseiros aceitaram entregar as teúas em gtie''h:lviam feito o desmatamento,
grileiros (FOLIH DE LONDRIN.\, 16 jul./1985, p. 13). No Decreto Lei n.º 491,
cull:n·ado a terra e construído suas casas. Os camponenses decídiram lutar pelos
de março de 1951, que trata das terrns de Porecatú, Jaguapítà e Arapongas, o
seus direitos. O Partido Comunista em'1ou alguns de seus memb~os para apoiar o
governo decreta que:
movimento, passando mesmo a liderá-lo. Por seu lado, o govern~ constituiu uma
.\rt. 1ª - Ficn.m declarndas de utilidade púbüca e de interêsse social, para o fim de comissão para.tratar da quest'l.o. No entanto, dentre os membros_:desta comissão,
desapropriação (...) as terr.is situ..:1das nos municípios de Porecatú, Jagua.pitã e lrnY:ia fazendeiros e integralistas. Os posseiros eram denominados de intrusos,
seja por aquela comissão, seja pelos fazendeiros, seja pelo aparelho de repressão
do Estado. O movimento dos posseiros - que se deu em fins de. 1951, portanto,
antes de Ney Braga assunúr a Chefia de Polícia - fez um abai"\:D assinado com
Em outubro de 1957, ccrCJ. de. ú.000 colnno,1 ocllpJr::im o municipio de Francisco Beltrão, n:i.. 1500 assinaturas, em que constavam suas reivindicações (FOLK\ J?E LONDRIN.\,
região Sudoc:,tc do Est::ido, se revolta.ndo contra ::is :içõcs ilcg:ik: da,1 compil.Ilhias de tcrr:i. e contra
19 juL/1985, p. 11). Bento Munhoz, anti-comunist:1, tratou de reprimir tal
a crc:1ccntc violêncin por pnrre da policia e dos j:igunços d:is prôprfa.<r companhias. Os colonos
ocup:1rnm a cidio local, torn:mdo-J um centro de operacõ-c-s, a~sim como tomamm a delegacia e movimento, que era liderado pelo Partido Comunista. Para tal, ~uscou em São
a prcfcitum da cidade. O prefeito e o ddcg-:tJo fugir:tm; o Jui;: de Direito foi colocado cm prisão Paulo o delegado Eduardo Lousada Rocha, que já havia combatido a Quint:1 coluna
domiciliar, e o Promotor Públíco ficou :mb a Cl.L~tódia do Exército atê o momento cm que
(KUNH.W.\LIK, 1995, p. 68-72).
recebesse autocização para deixar a cida<lc. O E~êrcito cuidou da retirada dos jagunços e dos
funcioruírios das companhia...._ No 1fü :.icguintc, onze de outubro., os colonos ocupa.mm e dcstnúrn.m No decorrer da gestào de Ney Braga na Chefia de Polícia, foi criada •
os escritórios da::i companhias. Papéi~ e not:1:1 promi::;:;õ!Us que tinham sido J.$Sinada3 sob coação Escoh de Polícia para a formação de agentes e escrivàesj foi organizada a Rádio
forn.m espalhados, ra:;g:ido::i e pisados na princip:il :1venid:i da cidade. O Chefe de Policia do
Patrulha de Curitiba e de Londrina e aumentado o efetivo da Guarda Civil; e foi
Estado, que se deslocou p.a..r:a FranC1$co Bcltclo, foi dctidopclm colonos até que. ele concordasse
com as rc.ivindicaçõc~. Dc.ntrc elas cSt:l.\'.l. a destitukão do delegado de policia. Outras localidades reaparelhada a Polícia Técnica e estruturado o Conselho Estadµal de Trânsito.
foram ocupadas, como a. cidade. de Plto Bonco (GOMES, 1986). Outras medid1s se referem à reforma dos estabelecimentos penais; à criaçào de
6
O denominado Conflito de Porcc:itu i: trlt:ldo indirct:1mente ll!l tese de doutorado de Osva.ldo urna sala deímprensa na Polícia e à criação de estágios para estudantes de Direito
I Jcllcr da Silva: SIT... \'.-\, ÜS\-'.Udo Hcllcr da. Com munistes et Anticommunistcs: L'cnjeu du
nas diversas repartições da Polícia Civil, o que possibilitou a formação, na Faculdade
Syndicalísmc. .Agricole Dans L'êtat du l½.r::mi de 19.45 a la fin dcs .\nnée:; 70. P:ui-., 1993. Tese
{Doutorado cm Sociologia.) - Ecolc dcs: 1hutcj E.tudes cn Sciencc.s: Sochlcs. de Direito da Universidade Federal do Paraná, do Curso de .Assistência e Prática

2./-1 245
Judiciária (DLÍ.RIO DO P.\R.\K~, 15 mar./1979, p. 4). Os relatos sobre a atuação mais seria o Chefe de Polícia. A partir desta posição, segundo fle, os esrudantes
não realizaram a passeata e ele permaneceu no cargo. Numa àportagem sobre
de Ney Braga frente à Chefatura de Policia mostram urna postura rigorosa, mas
norteada pela conciliação e pelo diálogo. Ney Braga diz que era orientação do Ney Braga, realizada pela revista lvfanchete em 1974, afuma·se '{Jue ele, no posto

governo Bento 1viunhoz procurar resolver os conflitos atr;r1:ês do diálogo. Ney de Chefe de Policia,"... teve de reprimir, com os meios de sempr~, os movimentos

Braga, em diferentes entrevistas, se reporta a esta posntra. Afirma que: estudantis que eclodiam na capital do Paraná. .Ao dei.-xar o cargo·ingrato, recebeu,
da União· Estadual dos Estudantes, o título de Paranaens~ Número Um"
tive grandes companheiros na Policia Civil e na 0,.lilitar. Eu me sentia muito bem na (?IL\NCHETE, jun./1974, n.º 1158, p. 128). Num texto soqre Ney Braga, o
convTI:ência com eles e eles me dav-:1m uma cobertura muito sólida, amiga. Eu me jornalista Luiz Geraldo 1'.fazza, ao se referir à relação de Ney Braga com os
recordo no interior do Estado, nós éramos chamados :t noite rn tiroteios ... nós estudantes neste período, afirma que;
participávamos, eu til junto com eles. Quantas V!!Z.es esti1:emos em Ivaiporã, Cascavel,
Francisco Beltrão, Pato Branco ... para apaziguar, conversar. (CORREIO DE ape;ar da época tensa, que precederia a tragédia dt: Getúlio \Targas, d~ intensa participação
NOTÍCL-\S, Caderno Bomdomingo, 27 set./1987 1 p. 3). ideológica e movimentos de rua, com a UPE e a UNE e.ngajadis.sÍmas, Ney o chefe de
policia, foi homenageado por roda·a comunidade ufliversidria, ~ha à frerité, que ele
Até nos acertos políticos Ney Braga se refere a esta sua postura de diálogo. leva.ria primeiro como funcionário fantasma na prefeitura e depois como seu chefe de
Diz que o governador, ao nomear autoridades no interior, por ser apoiado por gabinete no Palácio Iguaçu, para em seguida lançá.lo como posÇUlante à depuração
outros partidos, devia conversar com estes partidos. Apôs se referir à sua federal. (CORREIO DE NOTÍCL\S, Caderno Bom domingo, 27 set./1987, p. 19).
participação em conversas desta natureza, afirma que ªEu me habituei, então, a
fazer política mais de composição, mais de conversação" (CORREIO DE José Richa, a quem nos referiremos posteriormente1 foi membro do

NOTÍCUS, Caderno Bomdomingo, 27 set/1987, p. 3). Em seu livro de memórias, Neyismo, mas se afastará de Ney Braga após o Golpe de Estado de 1964. José

se referindo aos conflitos de terras, quando chefe de polícia, diz que "Logo que Richa colaborou na campanha de Ney Braga à prefeitura.

assumi, ocorreram alguns violentos conflitos de terras em CascaYel. Fui p:1.!3 essa
2.3 A ARTICUL\ç..\.O POLITICA PARA DISPUTAR. A PREFEITURA
região e fiquei 1:í por alguns dias, conversando com posseiros e com proprietários,
para evitar novus tiroteios" (BR.-\.G.-\., 1996. p. 45).
Apesar das contradições 1 o que se verifica é que Ney Braga consegue
Ney Braga manteve também um bom relacionamento com os motoristas
construir uma imagem positiva junto à opinião pública, mesmo porque, no exerácio
de ti.'(! de Curitiba da época, ao demonstrar certo rigor relativo à segurança da
da chefatura de policia, ele demonstra preocupaçào com a sua imagem, a qual v~
categoria. Conquistou a simpatia da categoria, como afirma o jornalista Luiz
se refletir nas eleições para a prefeitura... Verifica.se que Ney Braga vinha preparando
Geraldo :r-.fazza. J:í com os estudantes, a relação parece ter sido contraditória. Ney
o terreno para a sua candidatura à prefeitura. A legislação que trata da sucessão
Braga, em diversas entrev-istas, afirma que sua relação com os estudantes era
para prefeito da capital havia sido alterada em 1952, mediante a aprovação, pela
muito boa. Diz que "Eu recebia os estudantes, conversava com eles sobre os
Assembléia Legislativa, de uma emenda à Constituição, pois até então cabia ao
problemas deles, que procurava resolver" (CORREIO DE NOTÍCL\S, Caderno
governador a indicação do prefeito. Alterada a legislação, com o apoio do
Bomdomingo, 27 set/1987, p. 3). Conta que os estud:tntes, certl vez, programaram governador Bento 1vfunhoz, o cargo de prefeito deveria ser ocupado a partir: de
uma passeata. Embora Ney Braga diga ter autorizado a passeata, outras autoridades eleições diretas, Estl havia sido marcada pelo Tribunal Regional Eleitoral para 18
não a queriam. Assim, foi até a Casa dos Estudantes e se dirigiu aos estudantes de outubro de 1953. 1vfas 1 tendo em vista que neste ano i;, Paraná estaria
afirmando que ele não proibiria a passeata, mas se esta viesse a se realiz~ ele não comemorando o seu primeiro centenário de en'lancipaçào poµcica, as eleições

246 247
foram prorrogadas pela Assembléia Legislativa paci o ano seguinte, medida que O Partido Republicano, em uma de suas sessões, tendo na ~tesidêncía 1'.farins
contou com o apoio do go\ernador Bento 1\funhoz. ~--\lém disso, embora as Carnargo, tendia a escolher José Luiz Guerra Rêgo para s~r o candidato do
ele.içàes tfressem sído marcadas para outubro de 1953, a Yigência da autonomia Partido à prefeitura (O DH, 1.º jun./1954, p. 4). Este deixou a prefeitura, como
da Capital só se daria a partir de 1954. Desta forma, o procurador do TRE ,·imos, e começou a fazer a campanha. No entanto, outra candidatura est1va
entrou com recurso junto ao Tribunal Superior Eleitoral. Este determinou que as sendo gestada, que era a de Ney Braga, Chefe de Policia. Com este propósito,
eleicàes se realizassem em 1954 (G.\ZET.\ DO PO\'O, 18 ago./1953, p. 1). Ney Braga, que até então não se filiara a qualquer partido, det~a a Chefatura de
O então prefeito de Curitiba,José Luiz Guerra Rêgo, do Partido Republicano, Policia em !.º de abril de 1954. Note-se que Ner Braga saiu no dia 1.º de abril,
que fora indicado por Bento 1\,funhoz, em maio de 1953, tendo em Yist1 a morte enquanto Guerra Rêgo dei.•mu o goYerno no dia 31 de março. Ambos saíram
do prefeito Erasto Gaertner, da União Democrática Nacional, decidiu pedir para disputar n prefeitura. No Partido Republicano ocorre um c0nllito pro,·ocado
exoneração do cargo em março de 1954, ,~isnndo a sua candidntura para a prefeirurn. pelo bnçamento das duas candidaturas, Bento l'.Iunhoz defendia a candidntura
A exoneraçào de Guerra Rêgo cria um impasse pois 1 segundo a interpret1çào do de Ner Braga\ enquanto que 1-Jarins Carnargo (que foi Vice-Presidente do Paraná
Presidente da Câmara 1'.Iunicipal, Roberto Barrozo Ftlho, quem de'.~eria cornplet1.r entre 1924 e 1928, período do segundo mnndato de Ca('!t'ln_o_ l\Junhoz _da.Rocha
o mandato de Guerra Rêgo deveria ser o prôprio Presídente da Câmara t-Iunicipal. corno Presidente do Paraná), tio de Bento 1Iunhoz e sogro de Guerra Rêgo,
Portanto,. segundo esta interpretação, jâ não cabia gunlquer indicação por parte do defendia a candidatura deste último, A. princípio, ambos decidiram manter a
gaí'ernador, Como o pai do Presidente d1 Cfunara ?viunicipal, Roberto Barrozo, candidatura (O DH, 25 abr./1954, p. 4).
pretencli,1 disput1r a prefeitura nas eleições de ourubro., seu filho, Roberto Barrozo
Filho, não quis assumir a prefeitura.. A indicação recaiu sobre .Augusto Toaldo Túlio,
do PSD, que foi empossado pela Câmara hfunicipal No ent1nto, no mesmo dia,
7
31 de março de 1954) o gm.·ern.1dor Bento hfonhoz nomeia o prefeito da Cnpital, No entinm, ante:. de ::-:e definir pelo nome: de Ncy Bmga, o governador Bento ;,,.funhoz havia
Ernani Santiago de Oliveira, do Partido Republicano, empossando-o no dia con\'iJ;:uJo o prefeito Jc Curitiba, Er.isto Gacrlncr, gue precisou recus:1r o c:om·üc devido :10 tiCU
e;;tiJo de ::-:aôdc. \ 'ci:1mos o depoimento de Bento tfunhoz sobre a que::.tào, feito cm cartl
1.º de abril. Desta forma, Curitiba est'lva com dois prefeitos. 1-fas, ainda no dia 1. 0 públic1 dirig-iJ.1 a Ncy Br.ig-a. cm fevereiro de 1965: ·
de abril, a Câmara de Vereadores, com dez votos favoráveis e cinco contrários, "Devo confessar que não me lembrnria de seu nome, se o cst1do de :.'l:J.Údr: de Ernsto Gacrtncr lhe
aprovou a indicação do governador, d-indo posse a Ernani Santiago de Oliveira, tit·c,;;;c permitido :1 canJidatltn Ele não a aceitou depois- de um drnmãtico encontro cm minha
ci~a, na \·éspcn Jc ir ao Rio :i serviço da prcfoitur.i., cm viagem de duril.çõ.o tlc poucos dias,
do Partido Republicano. Note-se que Roberto Barrozo foi Secret'Ulo da Interior e 9u:rndo, entretanto, se cumpriria o prazo tfo dcúac:omp:mbilit::ição fo:-ado pelo Tribunal Elcitor.11,
Justiça do governo Bento 1\,funhoz no ano de 1951 e, posteriormente, de abril de parl que: o prefeito nome-ado e cm exercício se pudesse candiJamrà dciçào'do mesmo c:1rgn Poi
1952 até janeiro de 1953 (KUNH.W.-\LIK, 1995, p 55-56). Essa disputa travada por dr:tmãtico o encontro porque só cntio Er:tsto, que tinto havia convivido comigo cm cínco ::mos
eh.' CimarJ H~t.lcr.il, como cm minha agicda c::i.mpanha de Governador t:, depois, como meu
Bento l\Iunhoz defendendo a nomeação feita por ele será importante para o embate primeiro Sccrctirio Jc Fazenda, me revelou piem consciênci:i da gmvidade de. seu c:,:ti.do Jc
eleitoral de outubro, tendo em vista o apoio que o prefeito indicado, Ernani Santiago saúde Nl-;;sccncnntro, E.rasto, abrindo-se comigo, me confessou, numa doloro::.a e n:1t1 previsão
Jo futuro, que só tinha vida p.1r.1 pouco:1 mêse:i.
de Oliveira, dará à candidatura de Ney Braga.
Só a morte- impediu :i. candidatun de Er:1Sto Gaertncr ll. Prefeitura da Capit::il e, m,üs t::trde, à
O candidato do Partido Republicano para disputar a prefeitura, quando esta minha ,;ucc-:1:do no Govêrno, pois na conjuntur::1 política da época, apcnas seu nome congregaria
estavn marcada para 1953. era Paulo .Affonso .Alves de Camargo, escolhido em fàrç:i~ partidária:: suficientes par.1 conduzir novamente à vitória no%o mi.clco de 50. (.. )
junho de 1953. Em 11 de maio de 1954, Paulo Camargo endereçou uma carta ao Pcn~ci. cnt:io, cm\ 'ocê e cm Ivo .'UZúa., que já tinha se dcsl!lcumbido magnificamente das tllliSÕcs
:ttribuida~ pnr meu Governo. Fi."i.CÍ-mc cm Você, que era um nome mais conhecido por ,;ua
Diretório lvfunic-ipal do PR renunciando à sua candidatura, visando facilitar atuado nl chcfu de Policia e ci\'C que vencer, par:1 impôr sua candidatur:t, .1:1 rcsi.:Itências opost::is
entendimentos com outros partidos (O EST.IDO DO P.UL-\N.\, 12 mai/1954, p. 4). por inrcré:..~cs parricLírios de virias ordens" (CORREIO DO P.\RA.1'\J.A, 21 ÍC\:/1965, p. 3).

248 249
!vlas estas candidaturas já Unham sendo gestadas liá algum tempo. Em
União Democrática Nacional, realizada em 03 de abril de 1955, Bento 1.viunhoz
uma reportagem do jornal Díácio da Paraná, afirma-se que o nome de Ney
foi escolhido Presidente de Honra do Partido (KUNR\\:-ILIK, 1995, p. 42).
Braga para a candidatura começou a ser cogit'ldo em fins de 1953, tendo em
Tendo em v-ista a postura de Guerra Rêgo em disputar a prefeitura pelo
vista a sua popularidade (DÜRIO DO P.\R..\N.-\, 15 rnar./1979, p. 4). Ner Braga
Partido Republicano, Bento l:\funhoz, de acordo com o G~neral Luiz Carlos
diz gue no final de dezembro de 1953 fora convidado para ser candidato. Revela
Pereira Tourinho8, irá procurá-lo Yisnndo lançar a candidatura '.de Ney Braga pelo
0 nome de três vereadores que Vleram convidá-lo para assumir a candida tu.ta.
PSP (Partido Social Progressista). Bento 1vfunhoz lhe afirmai;a que prometera a
Ney Braga que ele seria o candidato a prefeito, mas que Guerra Rêgo havia
Um dia, recebi a ,;sita de três vereadores aqui em minha casa. Eram o ?\IylthoA.nselmo,
tomado conta do Diretório l-.funicipnl do Partido Republicano e queria sair
o "Carioca" (Menezes Calda) e o Stiv'J.l, de Santa. Felicidade. 'Vieram me convidar para
candidato. Desta forma, Bento 1'-Junhoz ficou impossibilitado de lançar a
se.r:candídato à Prefeitura. Creio que foiEmani Santiago de Ofu·eira, prefeito nomeado
pelo Bento, quem soprou no ouvido deles meu nome. Cada um era de um partido. candidatura de Ner Braga, pois Guerra Rêgo tinha a maioria déntro do Diretório
Naquele tempo não précisava ter partido para ser candidato. Eu não era filiado a Municipal. Embora o enbio l-.fajor Tourinho fosSe President~ Regional do PSP,
nenhum. Pensei muito, conversei com a N1ce e·com o Bertto, que me apoiar:un ele ficou de reunir o Diretório__1'-:f_unicipal e colocar a propo_sta da candidatura
(BR.\C,.\, 1996, p. 50). Ney Braga. Afirma ~ue houve uma certa luta dentro do PSP e·que os integrantes
queriam que Ney Braga assinasse um compromisso partidário. ,O lvfajor Tourinho
Em 6 de maio de 1954, treze vereadores e mais um suplente, de diferentes os convenceu de que isso não se faz.ia necessário, e a candida,tura de Ney Braga
partidos, lançaram um manifesto defendendo a candidatura de Ney Bra~.Assinam foi aprovada. Assim, Ney Braga é lançado candidato pelo PSP; tendo o apoio do
o manífesto os seguintes vereadores: 1-'Ienotti Caprilhone, Sebastião Darcanchy, governo do Estado e também da prefeitura) fragilizando a pOssível candidatura
Jurandyr Azevedo e Silva, \'\\lshington Mansur, Dilo Dodoy, Arlindo Ribas de de Guerra Rêgo pelo Partido Republicano.
Oliveira, Edward de Menezes Caldas, Boanerges .Marquesi Sobrinho, Antonio Deve-se observar que o PSP não havia apoiado a candídatura de Bento
Gíacornassi, Jv!ario Afonso A. de Carnargo, Myltho Anselmo da Silva, Dorgelo lvfunhoz ao governo do Estado em 19501 mas também não se Posicionara contra,
Biasetto (suplente), João Srival, Angelo Burbello (O EST.-IDO DO P.\R..\N.~, 12 tendo em vista que o entã.o Presidente do Partido, Coronel Plinío Alves ?vionteiro
maio/1954, p. 1), Nesse manifesto os vere'.adoies: solicitam a seus respectivos Tourinho, tinha sido lider da :'Revolução de 30" no Paraná, :contra as familias
partidos que façam uma opção pela candidatura de Ney Btaga (DL-\RIO DO lviunhoz da Rocha e Camargo, do Partido Republicano Paranaense, Com a morte
P.\R..\N.\, 15 rnar./1979, p. 4). do Coronel lvfonteiro Tourinho, o PSP passou íl. ser liderado pelo seu filho, 0
,

Ney Braga e Bento lviunhoz articulam junto a outros partidos o apoio à então !vfajor Luiz Carlos Pereira Tourinho. Este foi convidado por Bento 1vfunhoz
candidatura Braga. A UDN era wn partido que estava coligado com o governo para ser Diretor do DER (Departamento de Estradas 'de Rodagem). Tourinho
Bento Munhoz. Embora a UDN já tivesse se decidido pela candidatura de Manoel aceita o convite de Bento i-.Iunhoz e lev-a consigo o apoio do Psp ao governo de
.Aranha., alguns integrantes do partido pro?1l'aratp míná-la., no intuito de apoiar Bento h-Iunhoz, apoío relevante, visto que na Assembléia. Legislativa havia um
Ney Braga. Foi o caso de Francisco 'de Paula Soares Neto, Secretário da Fazenda certo equilibcio entre as forças po-lícicas que apoiavam o governo e as forças ligadas
do govcrno Bento Munhoz (O DB, 10 jun./1954, p. 4). Dentre os vereadores a Lupion, do PSD (KUNRW.-ILIK, 1995, p. 50-51). Fragiliza~ a candidatura de
que fizeram o manifesto defendendo a candidatura Ney Braga, encontram-se os
da UDN. Bento 1Iunhoz da Rocha Neto, embora ligado ao Partido Republicano,
por razões familiares, tinha um perfil udenista. Numa Convenção Regional da
' Entrevista concedid-:i :io Jütor em no•,cmbro de 1995,

250
251
Guerra Rêgo'\ o Partido Republicano ,~ai optar em também oficializar a candidatura ~- Amiincío 1loro (PL - Partido Llbermdor), com 5.213 ,·atos (8,1%); João Cid de
de Ney Braga. Isto se dá no Encontro do Diretório :t-.fonicipal do Partido 1'facedo Portugal (PDC), com 4.367 \'Otos (7,1%); Roberto Barroso (PTN-Parcido
Republicano, realizado em 8 de junho (O DB, 9 jun./1954, p. 4). Essa decisão Tmbalhist, Nacional), com 1.307 votos (2%); e, finalmente, l\laryoel de Freitas Valle
mostra a força policica de Bento 1-Iunhoz no interior do Partido Republicanoj Aranha (UDN), com 1.101 votos (1,7%) (P.-\Z, 1990: 85). De,·e-se observar que o
derrotando inclusive seu tio, I\farins Camargo. Fato importante a se dest1car é candidato cfa UDN acabou concorrendo, mesmo com o esvaziamento promovido
que, embora decidido o apoio destes p:1.rcidos, Ney Braga não se filia a nenhum por integrantes do partido. Importante destacar o grande núm~ro de partidos que
deles, Segundo o General Tourinho, ele não gostava de nenhum dos dois p~rtidos. concorreram naquebs eleições, sem que houvessem coligações, com e."\:ceçào do
O apoio do 1fajor Tourinho, em particular, foi import1nte para a vitória de Ney PR e PSP. Esse íl.1Tiplo leque de partidos disputando as eleiç'?es. assim como o

Braga, Yisto que ele foi o candidato à Câmara Federal.mais Yot1do naquelas eleições, esvaziamento de certos candidatos, facilita a eleição de Ney Br.:iga.
recebendo cerca de 33 mil Yotos. O General Tourinho considera que se na época
2.4 A C\l\m\NI·L\. PARA A PREFEITUR..-1
ele tr\•esse apoiado o principal concorrente de Ney Braga, \V'allace Thadeu de
l\fello e Silva (PST - Partido Socbl Trabalhism), este ganharia as eleições. Como
A passagem de Ney Braga pela Chefatura de PoUcialhe 11ossibilitou ampliar
se Yerá posteriormente, o PSP, ao lançar a candidatura de Ney Braga em 1954,
su.1s relações, indicando que no decorrer de sua gestão naquel; chefatura, já tinha
esperm'a que níls eleições para a prefeitura de 1958, Braga e o Partido Republicano
o propósito de concorrer a outros cargos públicos . .Afirma que "O trabalho de
apoia.riam a candidatura do }..fojor Tourinho à prefeinira nas eleições de 1958.
chefe de polícia em todos os setores(, ..) ampliou o conhecimento do povo sobre
Vencidas as eleições por Ney Braga, Toucinho afirma que sequer fora convidado
a minha pessoan (ibidem, p. 49). Declara que este conhecimento começou antes,
para a posse.
desde seu relacionamento com os soldados que comandavat passando depois
Além do apoio do 1\fajor Tourínho, deve-se dest.'lcar o relevante apoio que
peb policia civil e militar. "Os soldados e os policiais eram para mim companheíros
Ney Braga recebeu do governador Bento 1fonhoz, assim como o apoio de políticos
e irmãos" (ibidem, p. 49). Sua afirmação ê clara no sentido de:que estas relações
de outros partidos.......\Jém disso, é importante o apoio do prefeito de Curitibai
lhe foram úteis nas eleições: "Isso serviu para mínhas futuras :,eleições" (ibidem,
Ernani Santiago de Oliveira, Sobre este apoio, Ney Braga afirma que o Santiago
p. 49). Devem ser dest1cadas também suas relações com o mundo do esporte e
"me ajudou muito nessa eleição" (BR.-\G.-\, 1996, p. 64). O próprio General
com os motorisrns de tá:ci da cidade. Afirma que
Tourinho diz que Bento tviunhoz hm~ia colocado o Ernaní Santiago de Oliveira
na prefeitura para que este fizesse a campanha de Ne)t Braga. Durante a Chefatura, tive mais contato com esse pessoal (do esporte). Ia ao jogo
Os candidatos que concorreram nas eleiçàes para a prefeitura de Curitiba, de futeboL a solenidades no _-\tlérico, no D. Pedro II, na Socíed.nde *~gua Verde, no
foram: Ney Braga (PSP/PR), que obteve 18.327 votos, totalizando 28,7% do toml Clube Litecirio do Portão e em Yacios outros clubes de ba.irto, mas nunca havia
de votos; Wallace Thadeu de Mello e Silva (PST), que teve 11.576 votos, pensado em se.e candidato (tbídem, p. 49-50).
representando 18% do total dos votos; Alfredo Pinheiro Júnior (PSD), com 11.070
votos (17,2%); Estevan Ribeiro de Souza Neto (PTB), com 8.007 votos (12,5%); Quanto ao apoio dos funcionários da prefeitura, o próprioNey Braga declara
que recebera o apoio de parte daquele funcionalismo. Dois candiçlatos encontraram
maior apoio no funcionalismo municipal, que eram o próprio Ne.y Braga e, por
outro lado, seu mais forte concorrente, Wallace Tadeu de Mello e Silva. Afirma

ç GUc.trJ. Rêgo não se nadida.t:::1. por nenhum outro partido e, de acordo com Ncy Braga, foi que "Se \'lallace tinha maioria no funcionalismo público, em, compensação os
integrante de ~c.u comitê cldtocil (BRAGA, 1996, p. 64), motoristas de praça quase todos me ajudaram" (ibidem, p. 64).

252 253
Curitiba contava na época com uma popu1açào próxima de 200.000 construída pelo governo. Joào Cid afirma que t:Assim me abandonaram as
habitantes e a campanha era feita por todos os bairros da cida~e. Ney Braga paróquias de Campo Comprido e outras tantas, uma a wna eki troca de favores
afirma que visita"-a as lojas, armazéns, casas e botequins. .A campanha também do governo" (PORTUG.\L, 1995, p, 138-139),
era feita pelo rádio. Ney Braga diz que usou muito as emissoras de rádio, citando Sendo assim, entendemos que nii:o só o ingresso de Ne}, Braga no cenário
a PRB 2, a Guairacá e a 1'-.farumbi. Fala de inúmeras familias e amigos que o político paranaense se deve à atuação política de Bento 1Vfunhoz-, mas que também
ajudaI'am · na campanha, como a familia l\fadalosso em Santa Felicidade e seu a pcimeira fase da carreira política de Ney Braga - desde o trabalho frente à,
amigo Elói Fabris, que tinha um ponto de,tá,d na praça Tiradentes (CORREIO Chefatura de Policia, passando pela definição da candid1tuia, até a gestio na
DE NOTÍCL\S, 27 set/1987, p 3), prefeitura - é fortemente devedora do decisivo apoio do entã~ gO\·ernador.
Desm forma, verifica-se que todas as amizades conquistadas, seja no exército, Ney Braga declara que, ao assumir a p_refeitura de C~ritiba 1 não tinha
na policia, no esporte etc. contribuíram para a sua campanha eleitoral, visto que nenhum programa de governo, mas apenas algumas idéias que foram se
muitos se tornaram cabos eleitorais. consolidando no decorrer da campanha (BR.\G.\, 1996, p, 69), Na Câmara
Um outro aspecto que deve ser destacado ..na campanha de Ney Braga se 1\.,funicipaL que era presidida por Aristides Sírt:tão, Ney_Braga .~firma nà_o ter tido
refere ao apoio da Igreja Católica. E este apoio da Igreja vem, em parte, por qualquer problema para aprovar seus projetos. Diz que o Pre~idente d1 Câmara
intermédio do governador Bento t..fonhoz. De família católica tradicional, Bento Municipal o apoiou muito (INSTITUTO DE PESQUIS.-\ E PL\NE].\~!ENTO
ívfunhoz era um reconhecido intelectual católico. Dentre outros representantes URB.\NO DE CURITIB.\ - IPPUC, 1990, p. 8),
do me:io intelectual católico pa,:anaense, Bento 1fonh~z foi um dos sócios Em sua gestão criou o Departamento de Planejame:nto,,e Urbanismo para
fundadores do Círculo de Estudos Bandeirantes, inscituiçào idealizada em 1929 cuidar do planejamento da cidade, Este Departamento, chefiado por Mário de
pelo padre Luiz Gonzaga :tvliele. Bento 1-funhoz foi quatro ve:zes presidente do :rvlaci, era integrado, dentre outros, por Saul Raiz e Rischbiete·~ que tornar~se-ào
Círculo. Além disso J3ento :tvfunhoz era integrante de wn círculo de intelectuais importantes membros do neyismo. Procurou o urbanista Prestes t.faia, que por
católicos no Paraná, que combatia o nazismo, o fascismo e o comunismo. Este alguns meses assessorou a prefeirura. Realizou-se ~balhos como a canalização
circulo estava vinculado ao CENTRO DOi\I VIT-\L. O governo de Bento 1'.{unho~ de rios e a pavimentação de ruas. O plano de pavimentação procurou estar de
dá apoio financeiro a instituições educacionaís católicas, como auxílio à Sociedade acordo com o uso das linhas do trai'-i.sporte coletivo. A "responsabilidade era do
Literária Padre.Antonio Vieira, destinado à construção do Instituto Educacional Departamento de Rodovias 1viunicipais, chefiado pelo Dr. Dario Lopes dos
Nossa Senhora 11edianeira, e auxilio à Sociedade Paranaense de Culrura,. entidade Santos, auxiliado pelo companheiro Eloy Fabris, que também abria e pavimentava
que mantém a Universidade Católica do Paraná, em formação. O governo concede estradas municipais" (BRAG~-\, 1996, p. 77). No setor de tr;nsporte colet:P?o,
uma subvençào anual àquela instituição (KUNfL-\V:ALIK, 1995), Se em parte havia procurou~se substituir os lotações de propriedades individua.is, 9ue transportavam
o apoio do clero à candidatura de João Cid de Macedo Portugal, do PDC, este poucas pessoas, por ônibus. Ney Braga formou uma comiss:'io encarregada de
apoio passou a ser dado à candidatura de Ney Braga.João Cid afirma que: recebia, estudar u°:1 plano de transporte coletivo, presidida pelo coronel Alípio .Ayres de
o apoio do clero, mas que posteriormente os padres que lhe apoiavam passaram a Carvalho. Não tendo interesse em que o transporte coletivo f~sse realizado pela
recomendar N ey Braga, Joào Cid dá alguns e.,emplos da postura do clero: Afirma prefeitura, Ney Braga convocou alguns empresários, propriétá.rios de ônibus,
que em Uberaba o padre lhe garantiu que o bairro todo estava com ele. que disputavam o mercado com os proprietários dos lotaç:9es, a fim de que
Posteriormente, o padre lhe confessou que, enquanto o PDC e seu candidato · aqueles operadores pudessem constituir empresas e substituir a:s lotações. Dentre
estavam no seu coração, o candidato do governo estava em seu bolso, tendo em estes empresários, Ney Braga cita Erondy Silvério, Alfredo Gulin, Luís lvlartiní,
vista que a capela que João Cid prometera construir, se eleito, já estava sendo Bortolo Pellanda Netto, Orlando Bertoldi, Ermínio Brunatto Pilho e Geronasso,

255
Foram instalados telefones automáticos na cidade; foi construída uma rodoviária, . 1vfesa da Assembléia, Lopes :tviunhoz seguiu úma linha con,_..,.!...;1 ~ l d
u,p. a ague a a otnda
assim como o l'<fcrcado l\[unicipal. Curitiba recebeu, em 1957, o tírulo de "Os pelo Partido Republicano. Lopes é acusado por membros do PR d e ser anu- ·
Dez 0-funidpios Brasileiros de l\faior Progresso'', ficando em primeiro lugar. Era udenista e de apoiar Moysés Lupion (O EST.illO DO p_\R..-\.N.\'21ago./1957, P· 4-
uma promoção do Instituto Brasileiro de Administrn.çào :t\funicípal (DL-\RIO DO 10-16) (O EST.\DO DO P.\R.\N.-Í, 9 no.:/1957, p. 4). O Partido RepubLicano
P.\R..\'s.-\, 15 m,c / 1979, p. 4). apresenta, neste momento, estas duas posições opostas, uma cÍue se aproxima do
PSD e outra contrária~ que é a mais forte. Ney Braga,_embora não estivessev-íncul.ado
formalmente ao PR, saiu em defesa dos deputados que tomp~ com O Partido.
3. DA AUTONO!v!IZAÇAO POLÍTIC.-\ As REL-\ÇÕES
Ney Brnga adota estl posição por entender que os deputados que romperam com
COM JOAO GOULIB.T
o Partido estavam defendefldo a coerência política do Partido Republicano, ou
seja, de oposição ao PSD e ao Lupionismo. A posiçào de Ney Braga diverge daquela
,dotada pelo presidente do Partido, Marins Camargo (O EST.\DO DO P.\R..-u".\, 7

3.1 O INGRESSO DE NEY BRAGA NO PARTIDO jul./1957, p. 3-4). Realizada a Convenção Regional do Partido Republicano, em

DEt!OCRATA CRISTAO novembro de 1957, decidiu-se pelo afasmmento, por 15 votos contra 7, de Lopes
Munhoz do Partido. Em poucos dias alguns deputados que h,viam rompido com
Como Y-Ímos, embora Ney Braga tenha clisput1do as eleições de 1954 pn.ra a o PR, voltam a representá-lo na Assembléia Legislativa, sob a liderança de Amaury
prefeitura pelo PSP e pelo PR, não havia se fili..1.do a nenhum partido. É importante Silva (O EST_\DO DO P_\R..-\N ..Í., 10 e 14 no;,/1957, p. 4).
fazermos aqui a seguinte quesúo: por que Ney Braga vai ingressar no PDC e nào no Bento !vfunhoz acompanhou a crise no PR apoiando seus amigos gue
Partido Republicano, partido de seu patrono político (Bento 1fonhoz) 1 que forn o defendiam a manutenção de oposição ao PSD, cogitando inclusive de ingressar na
Principal responsflyel pe!a sua vitória na eleição para a ptefeitura?Veíamos inicialmente UDN. Analisando a situação, em entrevista, Bento l\.·fonhoz con,sídera que uma ala
o contexto de alguns partidos políticos no momento em que o ent.1.o prefeito de do PR tendia a seguir a orientação nacional que era pela aproximação com 0

Curitiba-que pretendia dispuL1..r tllTh'l vaga à Câmara Federal nn..s eleições de 1958 governo, ou seja, com o PSD de :r...Ioysés Lupion. Bento 1'1unhoz mostra-se
- de\·eria definir sua posiçào partidária. Em 19571 o P:lrtido Republica.no passa contrário à posição do Diretório Nacional do PR que apóia o Governo Federal e
por uma séria crise, chegando a ter o desligamento de alguns de seus membros. que defende o apoio do PR local ao governo do PSD (TRIBUN.\ DO P,\R..-\."1.-Í,
Em julho de 1957 houve um rompimento de alguns deputados com o Parcido. 4 dez. /1957, p. 6). Em nível naáonal, o Partido Republicano apoiam a candidatura
Dentre estes deputados estavam: Lauro Portugal Tavares (Dep. Federal), Chafic de Juscelino Kubitschek para presidente, ou seja, unindo-se ao PTB e ao PSD. E
Cury (Dep. Estadual), Amaury de Oliveira Silva (Dep. Estadual),Joào Xnvicr Vmna esse apoio continuou dur~te o governo de Juscelino até as ~leições seguintes,
(Dep. Estadual), Paulo Camargo (Dep. Estadual), e Nilson Batista Ribas (Dep. quando o PR iria apoiar a candidatura de Jânio Quadros.. Tendo em vista este
EstaduaQ. ,,\ grande parte d, bancada do PR na Assembléia Legislativa entrou em apoio a Juscelino, o PR nacional procura influenciar a aproxim~ção regional com
conflito com o próprio Partido. O centro dos problemas por que passav-a o PR se o PSD. No entanto, a maior parte do PR paranaense é anti-Iupio~sta, anti-PSD, a
referia a Lopes ~[unhoz. Esse era ligado ao PSD, mas havia rompido com Lupion começai: por uma de suas principais lideranças, Bento !vfunhoz.
e psssarn a apoiar a candidatura de Bento Munhoz nas eleições de 1950 e de .Mário Em setembro e outubro de 1957, discute-se na UDN a possibilidade de
Barros (PTB-PR) em 1955. Em 1957, Lopes Munhoz, que era o lider do PR na convidar o ex~govemador Bento Ivfunhoz e inclusive Ney Brag-4 para ingressarem
.Assembléia Legislativa., volta a se aproximar de Lupion. Na última eleição para a no Partido. No entanto, a possibilidade de ingresso de Bento Munhoz na UDN
não seria aceita de forma' muito pacífica por tÕdos. Setores da UDN vetaram o

256 257
seu nome tendo em Y-ista acreditarem que Bento não teve muito interesse pela do PSD e de lvfoysés Lupion, enquanto que outros quadros estaV'am ma.is ligados
candidatura de Othon l\ladder (UDN) ao gm·emo do Estado em 1955, eleição à liderança de Luiz Carlos Pereira Tourinho, que mantinha u~a posrur:a ma.is
em que o PR apoiou o PTB (O EST.\DO DE S.~O P.\ULO, 15 set./1957, p. 6). crítica a Lupion. Após as eleições para o governo do Estado· de 1955, 0 PSP
Bento 1vfunhoz confirma que hom+e com·crsnções com a UDN (O ESTADO DO passa a aderir ao governo Lupion, apoiando-o na Assembléia Legi~lativa e inclusive
P.\R-\N.-\, 9 out./1957, p. 4). !\!as resolveu esperar pelo desfecho da crise no PR, mantendo quadros no Secretariado. Esta. adesão dividiu o Partido nas duas alas
que resultou nn vitór:ia de sua posiçào e de seus amigos. Sendo assim, decidiu apontadas acima.
permanecer no PR e se candidatar a deputado federal em coligação com a UDN Vejamos agora a siruaçào do Partido Democrata Cristão.:· De acordo cotn ·

(TRIBUN.\ DO P.\R-\N.-\, 4 dez./1957, p. 6). João Cid de Macedo Portugal - que foi candidato ii prefeitura de Curitiba pelo
l\fas esta crise no Partido Republicano não foi o fato mais importante que PDC em 1954 -, em 1953 o então Presidente Nacional do Partido e Deputado
pesou na recusa de Ney Braga em íngressar no Partido. Outros motivos devem ter Federal, Ivfonsenhor Arruda Câmara, havia indicado no Paranâ o l'vfajor Jayme
tido um peso mais relevante, como é o caso do conflito criado em torno da definiç.1.o ],,faria Sobrinho para organizar o PDC no Paraná. Esse !viajar da Policia Militar era
de sua passive! candidatura à Càmara Federal. No PR, Ney Braga recebeu espaço .Ajudante de Ordem do governador Bento ivfunhoz. Jânio Quadr0s, que fora eleito
apenas para d.isputnr uma vaga na .,-\ssemblêía Legislativ.i e não à Câmara Federal, prefeito de São Paulo em março de 1953, enviara seu pai, Gabriel Quadros, para
como era de seu interesse. Ney Braga teria rompido com Bento 1funhoz pois este articular a formação e organização do PDC visando a eleição pai-a a prefeitura de
queria que seu ex-cunhado fosse candidato a deputldo estadual (DICION_--\R.IO Curitiba, prevista para outubro de 1953. Gabriel Quadros procurou Clotário de
HISTÓR1CO-BIOGR--\FJCO BR.\S!LEIRO, 1984, p. 437). Sobre a definição de sua J,,,facedo Portugal Filho para que este pudesse organizar o Partido e prepará·lo para
candidatura., Ney Braga, em sua biografia, faz as seguintes afirmações: a eleição. Clotário Portugal, juntamente com o 1vfajorJayrne Mrui1l Sobrinho, instalou
em Curitiba, no mês de maio de 1953, o Diretório Municipal do PDC (PORTUGAL,
Eu não pensava em ser candidato em nh•el federal, mas sim estadual, pofque o 1995, p, 131-134). Na eleição que acabou se realizando em 1954, o candidato do
Bento Munhoz da Rocha é que seria candidato à Câmara Federal PDC,J oão Cid, havia recebido a promessa de Moysés Lupion de que o PSD acabaria
Queria ser estadual porque se fosse federal atr.ipalhaóa a eleição de alguns amigos. apoiando a sua candidatura, o que acabou não ocorrendo.
~--\dverti claramente: 'Hoje, a Lapa é do Bento mas se cu for candidato a Lapa vem Nas eleições de 1955, quando o PDC regional era presidido por Clotário
comigo'. Quer dizer, eu n:io podí:1. deixar de entrar em algumas cidades, o que Po.rtugal, este procurou articular o nome de José :r,..,Iunhoz ~e :t-.-fello, então
perrubar::ia (sic) pessoas amigas. ;\[as eles insistiram. Lembro que estava nwn cãrro
presidente do Tribunal de Justiça, para ser o candidato do Partidó ao Governo do
com o João Xavier Yiana, Paulo Camargo e Bento. Eles insistiram para eu sair
Estado. Por outro lado, André Franco 1fontoro veio a Curitiba tentar articular o
candidato a deputado foder:1L Da mesma forma pensava o dr. ll.farins Cam.argo,
apoio do PDC regional à candidatura de Otoo lvlneder, estabeleceódo uma coligação
liderdo PR, a quem eu respcitav::1. muito (BR..-\G_--\, 1996, p. 88).
com a UDN. Em nível nacional, ocorre a definição da coligação entre PSD e PTB
em torno da candidatura de Juscelioo Kubitschek para a presidência da República.
Os fatos que surgem no relato que Ney Braga faz ac½na se dão num contes.to
O 1vfarechal Juarez Távora inicialmente recusou ~ convite do PDC para
em que ele já era integrante do PDC. E o que se verifica na pesquisa realizada em
candidatar-se à presidência da Repúblic,a. PosteriormenteJuarez Távora volta atrás
jornais da época, é que quando Ney Braga ingressa no PDC, ele o faz como candidato
em sua decisão, aceitando o convite do PDC. O 1farechal também foi o candidato
a deputado federal, decisão tomada antes mesmo de entrar para o partido.
O Partido Social Progressistt também atravessava um momento de crise, da UDN, do PSB e do PL. A definição em nível federal leva Montara a tentar

tendo em vista a divisão em que se encontravam seus quadros. Havia um setor articular o apoio do PDC paranaense à candidatura da UDN. ~ontoro contava

do PSP! mais ligado à liderança de Adhemar de Barros, que tendia a se aproximar com o-apoio do então Vice-Presidente do PDC regiona~ professor Joaquim de

258 2S9
Mattos Barreto (PORTUG.-\L, 1995: 141). Barreto foi Secretário de Educaçào e Em seguida, perguntado se a entrada de Ney Bra@;a no PDC estava
Culrura e Diretor da Fundação de ~A.ssistência ao Trabalhador Rural no governo relacionada ao rompimento dele com Bento :tvfuohoz, diz q~e:
de Bento Munhoz (O EST..\DO DO P.-ill.\N.~, 10 set./1957, p. 4). Tendo em ,ista
a desistência de José 1'-.Junhoz de :tviello de levar seu nome à con~ençào do PDC, De certa forma sim, porque na hora que faltou espaço paro ele qo grupo do professor
esse partido acabou definindo o apoio a uma outra candidatura, a de 1foysés Bento, um grupo também multipartidário, porque eram as Üposíções coligadas,
Lupion, do PSD. O PDC recusa, portanto, a proposta de Fnnco i\Iontoro de ele optou pela busca de nova legenda e optou pelo PDC NaqUele momentC?, talvez
levar O apoio do partido ao candidato da UDN. Com a vitória de L\foysés Lupion, tenha sído uma opção para garantir o início ou a continuidade de sua carreira. l\fas
0 PDC participou de seu governo (PORTUG.\L, 1995, p. 141). depois não, dep_ois ele( ... ) passou a ser um homem de partido (Ibidem).
O então prefeito Ney Braga recebeu propostas de íngresso em diferentes
partidos, incluindo a possibilidade de ser candidato a deput.sdo fedem! (O EST..\DO Em suas memórias, Ney Braga revela, como vimos, que algumas lideranças
DO P.-\R.\N.-\, 13 set./1957, p. 4). No entanto, Ney Braga acabou por ingressar do Partido Republicano insistiram para que ele saísse candidato a deputado fedem!
no PDC, buscando a sua independência política em relação a Bento 1\fonhoz. Seu (BR..-\G~-\, 1996, p. 88). No entanto, em outro momento de suas f11.emó.t:llls dei.,ça claro
ingresso no partido foi acomp:mhado por outros .nomes, os quais Ner Bra.ga que havia divergências em torno da definição de sua candidatura à Câmara Fedem!.
levou para O PDC. A.firma que: ªEntão fez-se a reestrururaçào do PDC, ingressando
no partido Affonso Camargo, Oscar Alves, Jucundino Furtado, eu e todo o É bom lembrar que não havia muito espaço para mim antes de ~er deputado federal.
nosso pessoal. Alêm desses companheiros vários outros se filiaram e disputaram Quando conversava com o pessoal da UDN ou do PR recebia sempre o conselho:
a eleição de 1958" (BR.\G.\, 1996, p. 86). candidate-se à .-\ssembléia Legislativa. Os companheiros proi;netiam todo o apoio
O PDC no Paraná foireestrururado no segundo semestre de 1957, quando para o deputado estadual e nem queriam ouvir fuhr no 'd~putado fedenl Ney
-0 lupionista Clotário Portugal foi substituído na presidência pelo profe~sor Braga'. Se com os alindas da UDN era assim, com alguns do Partido Republicano
Joaquim de Mattos Barreto, opositor de Lupion (O EST.\DO DO P.-ill.\N.\, 5 também era. O grande nome do PR era Bento 1funhoz dil Rocha e, apesar de
nov./1957, P· 4) . .A partir daí o PDC dei.•wu de apoiar o governo Lupion. nossas ligações pessoais, o entendimento entre nós estava dífkil em virtude de eu
Reestrun.trado o Partido e assumindo um perfil anti-lupionist:1, o PDC poderia ter lançado a candid-atura de _.\ristides Simão à prefeítura de Cucitib-a.
facilitar O projeto político de Ney Braga. Quando ele ingressou no PDC, já tinha Por isso foi importante a cri.ação de uma legenda nova no Paraná, o PDC, que
0 propósito de alçar vôos mais altos em curto período de tempo, pois além de viabilizou a minha candidatura (BR.-\G.\, 1996, p. 92.93).
estar decidido a lançar sua candidatura para deputado federal, jâ visava a sua
candidan.tra ao governo do Est.1do de 1960. Em entrevista concedida ao IP.\RDES, Isso nos revela que o aspecto mais relevante do afastamento de Ney Braga
Norton ifaccdo, assessor de Ney Braga, comenta a entr.:1da deste no PDC. em relação a Bento :tvfunhoz, seu patrono político, foi a necessifX1:de de se emancipar
Perguntado se a vivência no PDC havia sido uma opção p:irtidári:i. ou uma
políticamente para seguir um caminho próprio. Esse rompimento de Ney Braga
possibilidade para garantir uma vaga de candidato, e se Ney Brag:1 era um homem
com o grupo de Bento :t--,Iunhoz é visto como uma traição. Fllusto Castilho, um
de partido, Norton :t\,facedo afirma que:
intelectual ligado a "Bento 1'.tfunhoz, afirma em entrevist~ que Ney Braga
surpreendeu a Bento 1fonhoz ao formar um grupo com o :tYfattos Barreto. Entende
Talvez quando ele se candidatou a deputado tivesse sido um-a opção por um partido
que a traição de Ney "Começa no momento em que ele, van:ios ·dizer, faz um:1
que lhe desse legenda. Os lideres da UbN na época não tinham ma.is vínculos com
surpi:esa organizando esse grupo, -anuncia essa coisa e se filia 'ao pessoal de São
ele e não quiseram que ele fosse candidato numa chapa que unir:ia a UDN, o PR e
o PDC 1 então ele emancipou-se (,.,) e formou o PDC (IP:\RDES - SOBRE Paulo." Para Castilho, Ney Braga "resolve montar este esquema que o beneficiou

POLÍTIC..\ PAR.\N•.\ENSE; ENIREl'IST.\S, 1989a, p. 230). durante vinte e tantos anos" (!FARDES - SOBRE POLÍTICC\ P.-ill.\N.IBNSE;

260 261
ENTRE,-,IST~~S, 1989a, p. 47). O rompimento entre Ney Braga e Bento tfunhoz agricultores e comerciantes; outra com o trabalhismo, ligada principalmente aos

vai se tornar mais explicito nas eleições para o governo do Estado de 1960, ferroviários; e uma terceira no Sudoeste, com peguenos proprietários e posseiros,

como se verá. No jornal "10 Estado do Paraná''; 6rgiio que apoiava o prefeito grande parte de odgem gaúcha, Aponta ainda a existência de uma certa
proximidade entre o PTB e o PRP (Partido de Representação Popular), de caráter
Ney Braga, o possível ingresso deste no PDC é justificado do seguinte modo: "O
integralista. O integralismo no Paranái principalmente em Curitiba seria mais
programa dessa agremiação, a sua linha de coerência no panorama político nacional,
urbano, e muitos ficam no PTB (IPARDES - SOBRE POLÍTIC-\ P.\IL\N.-\ENSE;
0 alto valor moral de seus dirigentes e a sua absoluta independência foram os
ENTRE\'IST,-\S, 1989a, p. 127-128).
motivos que orient1ram a decisão do prefeito Ney Braga de se filiar ao PDC"
Em 1958, nas eleições para a prefeitura de Curitiba, o Partido Social Progressista
(O EST,-\DO DO PAIL-\N.-\, 3 out./1957, p. 4).
esperava obter o apoio do Partido Republicano e de Ney Braga à candidatura do
No início de nmTembro Ney Braga confirma seu ingresso no PDC. Em
1fajor Luiz Carlos Pereira Touri1:I10, tendo em vista o apoio que o PSP havia dado a
entrevista ao jornal "O Estado de S. Paulo", afirmou que foi convidado a ingressar
Ney Braga nas eleições de 1954, inclusive concedendo a legenda para que este fosse
no PDC pelo líder pedecista de São Paulo, deputado .André Franco i\1ontoro e
candidato. Em setembro e ourubro de 1957, o PSP e a UDN fecham um acordo para
também pelo professor Joaquim de Mnttos Barreto, então presidente do PDC no
as eleições de 1958. O PSP se compromete a apoiar a candidatura de Paula Soares
Pamná. Nesta mesma entrevista, Ney Braga disse que o PDC lançaria seu próprio
(UDN) ao Senado, enquanto a UDN se compromete com a candidatura do Ivfajor
candidato à prefeitura de Curitiba. Além disso, confirmou que seria candidato a
Luiz Carlos Pereira Tourinho à prefeitura de Curitiba (O EST.-\.DO DO Pc\lL-\NA, 28
deputado federal nas eleições de 1958, e revelou o seu interesse em disputar as
set./1957, p. 2 e 4; 4 out/1957, p- 2 e 5 out/1957 p. 4).
eleições para o governo do Estado de 1960, Desde já ele se mostra favorável à Houve discussões entre a UDN, o PSP, o PR, o PDC e o PL em torno das
candidatura de Jânio Quadros à Presidência da República (O EST.-\DO DE S.'iO eleições e da escolha dos candidatos, mas estas conversações não resultaram em
P.-\ULO, 10 nov./1957, p. 7). acordo. A UDN não abriu mão do acordo com o PSP e este manteve o acordo
Nas eleições para o governo do Estado de 1950 as oposições a Lupion com a UDN, apesar da divisão do partido provocada por Adhemar de Barros
conseguiram formar um bloco em torno da candidatura de Bento l\ifunhoz. ivfas que fez um manifesto de apoio ao PSD, além de se posicionar contra o acordo
já nas eleições de 1955 esta coligação estava desfeita e as oposições lançaram três do PSP com a UDN. Além disso, Adhemar de Barros saiu suplente ao Senado na
candidatos ao governo, quais sejam: I\Hrio B. Barros pelo PTB-PR, Othon :Mader chapa de l\Iunhoz de lvfello, candidato do PSD (O EST_-\.DO DO E-\R.-\N.-\, 11 juL/
pela UDN e Luiz Carlos Pereira Tourinho pelo PSP (IP,\RDES, 1989: 136). Na 1958, p. 4). O ZvfajorTourinho rompeu com o líder Adhemar de Barros e manteve
discussão feita acima sobre os partidos políticos pode-se notar algumas diferenças o acordo com a UDN (O ES1~-\DO DO P.-\.IL-\N.-\, 15 juL/1958, p. 4). O Partido
importantes entre as agremiações. Deve-se destacar o fortalecimento do PTB no Republicano estava dividido e formalmente não apoiou nenhum candidato, Na
Paraná, que acompanha o fortalecimento do partido em nível nacional. Isso se dá Convenção Ivfunicipal desse partido, realizada em junho de 1958, Tourinho obteve
a partir do governo Juscelino, em que o PTB passa a controlar o 1viinistério do 8 votos e \Vallace 10 votos. No entanto, decide-se não apoiar o candidato que
Trabalho, que tinha sob seu controle os institutos de previdência social, além das receber o apoio do PSD. \Vallace Tadeu foi quem recebeu o apoio do PSD. O
delegacias regionais do trabalho; e, por pouco tempo, o !vfinistério da Agricultura Partido Republicano acabou apoiando a candidatura de Paula Soares para o
e suas autarquias. O desenvolvimento industrial e o incremento da urbanização Senado e formando a Frente Democrática com a UDN, com candidatos para a
também beneficiam o PTB. De acordo com Ivfogalhães, o PTB no Paranâ Assembléia Legislativa e para a Câmara Federal. Tourinho também acabou por
apresentaria três faces. Uma mais presente no Norte do Estado, com o controle receber o apoio informal de setores do PR à sua candidatura (O ESTADO DO

pelo partido da Carteira de Crédit;, Agrícola do Banco do Brasil, influenciando P.\IL.\_N_-\, 7 out./1958, p. 4).

262 263
Embora Ney Braga''mantl\~esse discussões com outros partidos) decide então pela candidatura de .Aristides Simão' do Par•'do L,.bera l, que era
· '-'
demonstrava, desde quando entrou no PDC) o desejo de lançar candidatura própria presidente da Câmara 1fonicipal e o apoiava. A Convenção Iv!unicipal do PDC,
para a prefeitura. Fez declarações nesse sentido em novembro de 1957 (O EST.\DO realizada em 30 de maio, aprovou a candidatura de Aristides Simão. Em 14 de
DE S.~O P.\ULO, 10 nmc/1957, p. 7). Em maio de l 958, voltou a declarar que o junho realizou-se a Co1wençào Regional do PDC, homologando aquela candidarura.
PDC teria candidato próprio à prefeitura (O EST.\DO DO P.\R..\N.-\, 7 mai./1958, Também foi decidido que o partido deveria se empenhar na candidatura de Ney
p. 4). E111 suas memórias, afirma que) em reunião na casa do secretário de Governo Braga e divulgar a sua candidatura ao governo do Estado (O ES1:\DO DO
de Bento l'<funhoz, Felizardo Gomes dn. Costa, que contou com a presença, dentre A-\R.\N.-\, 15 jun./1958, p. 4). Ney Braga afirma gue conversou com Bento i'vfunhoz
outros~ de João Xavier Viana, Lacerda Wlerneck, Lauro Portugal T:rvares e Paulo e outros lideres do PR sobre a candidatura de Simão, mas estes estariam

Camargo, decidiu-se pelo apoio à candidatura do 1fajor Tourinho. Este deveria se preocupados com a coligação PR/UDN, Diz que um representante daquele grupo
comprotnetcr, na pró.rima eleição para o governo do Estado, a apoiar um candidato foi até a Com:ençào do PDC e informou a Ney Braga que eles não apoiariam a
escolhido por consenso entre Bento 1vfunhoz, Adolfo de Oliveira Franco e Ney sua candidatura à Câmara Federal caso o PDC lançasse Aristides Simão (BR.-\G.\,
1996, p. 89).
Braga, No entanto, no dia seguinte Ney Braga teria recebido um comunicado do
PR em que o partido se negava a apoiar o }.,fajor Tourinho, tendo em vistri a Ney Braga não consegUiU: eleger·o seu sucesso't 'na prefeitura. Apésri.r dé

'·'R.c,·oluçào de 30"H1, Desta forma, Ney Braga comunicou ao i\·Iajor que tnmbém sua popularidade como prefeito, Felipe Aristides Simão (PL/PDC) foi o segundo

não poderia apoiá,lo (BR..\G.\, 1996, p. 88). colocado nas eleições, obtendo 27 ,5% dos votos, perdendo para o candidato do
PTB, Iberê de Martas, qtte ficou com 33,4% dos votos. O Major Tourinho (PSP/
Desenvolveram-se ainda discussões entre o PDC e o PR em tomo de uma
UDN) obteve 17,2% dos votos e Wallace Thadeu (PSD/PST) ficou com 11,9%
candidatura comum. Ney Braga tentou articulara candidatura de Adeodato Volpi,
(P..i.z, 1990: 85). Ivfas a popularidn.de que Ney Braga conquistou com a sua gestão
ligado à UDN. No ent1.11to, de ncordo com Volp~ a UDN, que tinha um acordo
' na prefeitura, reforçada com o prêmio que obteven, possibilitouMlhe uma ampla
com o PSP, se recusou a liberá,lo para sair candidato pelo PDC (O EST.\DO DO
votn.çào para a Câmara Federal nas eleições de 1958. Obteve 57.099 votos e teve
P.\R..'..N.-\, 3 jun./1958, p. 4). Ney Braga afirma que
fortes concorrentes, tais como Jànio Quadros que concorreu pelo PTB e obteve
a maior votação no Estado, com 78.810 votos e Plínio Salgado, ex-líder da Ação
Uma nova tentativa de entendimento entre os dois partidos debateu a possibilidade
Integralista Brasileira, eleito pelo PRP (Partido de Representação Popular), com
da candidatura de _\deodato Yolpi. Os republicanos achavam que Á\deodato era
um candidato muito próximo de mim... Outra vez a reunião entre o PR e o PDC 50.628 votos (COS1~-\, 1995: 582). Bento Munhoz, também candidato à Câmara
terminou sem candidato (BR...\GÁ\, 1996, p, 88), Federal pelo Partido Republicano, recebeu 17.200 votos.

Em junho, após o PDC ter definido seu candidato, Volpi solicitou 3.2 A CA!vfPANI·IA PARA O GOVERNO DO ESTADO

desligamento da UDN (O EST.\DO DO P.\R..\N.-\, 4 jun./1958, p. 4). Ney Braga


Ney Braga havia se licenciado da prefeitura no dia 19 de julho de 1958
para concorrer à Câmara Federal e fora substituído no cargo pelo vereador Elias
w O pai do Gencrn.l Tourinho, Coronel Plínio Alves l\fontclro Tourinho, foi o líder da "Revolução
de 30" no Paraná (KUNl-L\VALIK, 1995, p. 50). Como lider revolucion::í.rio, mandou prender
.Ma.rins: Camargo, irmão de Affons:o Camargo, o então Presidente do Paraná. Affonso Cnm:ugo
$Ô não foi preso porque tinha dci.xado Curitiba (refugiou-se cm um convento). I'-.fo.rirE Camargo tJ Promovido pelo Instituto Brasileiro de Administração Municipal, Curitiba recebeu, em 1957, o
foi solto poucos dias depois (BRAGA, 1996, p. 102). Não se pode esquecer que Marins Camargo titulo de "Curitiba um dos 10 municípios de maior progress:o do Brasil". O prêmio foi entregue
cm o Presidente do PR, ne,".lte momento em que se discute a sucessão de Ney Braga, pelo presidente Juscelino Kubitschek.

264 265
Karam (UDN), vice-presidente da Câmara 1'-.funíêipal, tendo em vista que o . (..-) esse pa[tido inco[poravà três segmentos socialmetite dife[enciados e

presidente, Aristides Simão, estava em licença (O EST_-\DO DO PAR,\i'l_\ 20 jul./ geograficamente afastados: um primeiro, mais antigo, represe~tava principalmente
operários e assalariados urbanos, com b:ase nos portos, nas cidades onde se
1958, p. 4). Ney Braga reassume o cargo em 13 de outubro (O EST_\DO DO
localiza\--;im :i.s bases ope..racionaís da estrada de ferro ou se conc'entravam indústrias,
p_-\R.-1.K-Í., 14 out./1958, p. 4). Após as eleições de 3 de outubro, Ney Braga volta
no que estamos chamando de Paraná tradídonaf, um outro ÍO[talecia-se, e.ada vez
a confirmar sua disposiçào em disputar as eleições para o governo do Estado. Em
mais, no nane do Estado, principalmente entre as camadas ·:ligadas à economia
entrevista à Rádio Record de Sào Paulo, Ney Braga fala de seu interesse na
cafrein, em pa[te de\'ido à influência da longa permanência. de membros do partido
candídatura ao governo, de preferência vinculada ao esquema da candídatura de '
no comando de ôrgàos estratégicos do t-.linistério da .--\gcicultura e do banco do
Jânio Quadros à presidência da República (O EST,-\DO DO P_-\R.\K-1, 9 out./
Brasil; um tc[ceiro, mais recl!flte., formado principalmente por pequenos produto[es,
1958, p. 4). Em novembro, esteve reunido com o chefe da Casa Civil do Governo c[cscia nas regiões do oeste e sudoeste do Estado, com a coloni.zaçào gaúcha, que
Jànio Quadros, Quintanilba Ribeiro, possivelmente em busca de apoio à sua trazia consigo a \""Ínculaç,10 política de seu estado de origem. Esse último consolidam-
candidatura ao governo. Na ocasião, volta a manifestar apoio à candidatura de se com os grandes conflitos de terras ocorridos no segundo governo Lupion, que
Jânio Quadros. Com relação à tentativa de Ney Braga em procurar obter o apoio haviam levado o go\·emo federal a p[omover uma intervenção branca no Sudoeste
de Jânio Quadros, ele afirma que (;\L\G_\Lf-Lill RLHO, 1999,p.108-109).

Uma das mínbas primeiras ações de campanha foi viajar a São Paulo para buscar o Essa força eleitoral do PTB certamente iria repercutir nas eleições para o
apoio dele. Nosso encontro foi na casa de Ab[eu Sod[é. Jânio deu-me um grande governo do Estado, que se realizariam em 1960. O Senador Souza Naves, candidato
abraço e disse: <J:as ganhar sem mim, vais ganhar comigo'. Foi a dedar:açào mais do PTB ao governo, é considerado um candidato muito forte, praticamente
afirmativa que obtive dele (BR-\G.\, 1996, p. 128). imbaóvel. O próprio Ney Braga, falando de seu adversário, disse que

A campanha de Ney Braga ao governo do Estado tem início no segundo Naves era popular em todo o Estado, emociona.\-a o povo, dembnstnva sentimento
semestre de 1959. Em outubro desse ano haveria eleições para a Câmara :rviunicipal humano quando falava de pobreza. Isso é fundaml!fltal pano homem público que
de Curitiba e eleições municipais no interior do Estado. O maior vitorioso nestas almeja vencer uma eleição majoritária. Porque se você não civet emoção, se o povo
eleicões realizadas no interior foi o PTB que cresceu bastante, inclusive ganhando não sentir sinceridade em você, não vota. O Naves era assim (BR.:\.G_-\, 1996, p. 115).
espaço do PSD. Em Londrina, o candidato da coligação entre UDN e PTB, lvWton
Menezes (UDN), foi o vitorioso (O EST_-\DO DO E-\R.-\N.-\, 7 out./1959, p. 4). A Em maio de 1959, Ney Braga foi escolhido para a presidência do Diretório
presença do PDC no interior era praticamente inexistente. O PTB ganhou a eleição 1vfunicipal do PDC, tendo como 1. º vice-presidente Affonso Alves de Camargo
para a prefeituta de Curitiba com Iberê de ~fattos em 1958; venceu a eleição para Netto. Joaquim de 1\-fattos Barreto continuava presidente do Diretório Regional
a prefeitura de Londrina, coligado com a UDN; foi o maior vitorioso nas eleições (O EST-\DO DO P.\R--\.N_-\, 22 Maio/1959, p. 4). Na Convenção Regional do
municipais pelo interior do Estado e, além disso, venceu a eleição para o Senado, partido, realizada em 31 de maio, o PDC definiu a candidatura de Ney Braga ao
com Abilon de Souza Naves (Diretor da Carteira de Crédito Agrícola e Industrial governo do Estado, assim como decidiu apoiar, na Convenção Nacional do
do Banco do Brasil), uma das principais lideranças petebistas no Estado. Ao PDC, a candidatura de Jânio Quadros à presidência da República (O EST-\DO DO
comentar sobre o crescimento do PTB no Paraná, 1fagalhães considera que um P_.\R..-\N_-\, 3 jun./1959, p. 4). Em 24 de junho, o então deputado federal Ney
aspecto import.ante que e.x'plica o crescimento do PTB no Estado se refere à Braga viajou à Roma para, em nome do PDC, se encontrar comJânio Quadros.
composição social de seu eleitorado: Levava consigo uma carta de princípios do PDC c°:m vistas às eleições de 1960.

266 267
O PDC desejava que Jânio saísse candidato pelo paitido. Na Con~'"ençào N:.1cional e, portanto, a possibilidade de amplo uso da máquina govei'namental, esta,·am
do PDC, foram homologadas as candidaturas de Jlinio Quadros à presidência e presentes estes dois aspectos que pressiona,am negativame~:te a candidatura do
de Fernando Ferrari para a ,·ice~presidência. Ney Braga foi encarregado de fazer partido. Ou seja, a idéia de um governo envolvido em co~pçào que será
1 0
um discurso no encerramento da Convenção, em saudação ajânio Quadros. amplamente utilizado na campanha pelos candidatos opositores, e a fragílização
O candidato do PTB, Souza Naves, principal adversário de Ney Braga, falece da candidatura tendo em vista a divisão do partido.
em 12 de dezembro de 1959.1\.'fesmo assim o PTB mantém a disposição de disputar A UDN foi o partido em gue a maior parte do empresariado optou para
as eleições com candidato próprio, recusando o convite de partidos como a UDNi o participar da cena política, embora alguns tenham optado pelo PSD pois vinham
PR e o PSP para se coligarem e escolherem um candidato comum. O PTB aceitaria sendo favorecidos pelo governo de Lupion (corno é o caso d? setor madeíreiro);
a coligação, desde que o candídato síl.Ísse do partido1 tendo em vista que o PTB era outros novos empresários tenderam para. o PTB, basicamente nas regíões oeste e
o maior partido dentre os opositores a Lupion. Bento 1\fonhoz defendia que deveria sudoeste; e um núcleo pequeno se reuniu em torno de Bento 1fonhoz ~L\G..\I,I-L~
haver uma candidatura única das oposições com vist1s a derrotar o Lupíonismo. FILHO, 1999, p. 127). A fração burguesa que perdera o poder em 1930 esteve unida
No entanto, não houve acordo. Doís nomes sào colocados como pré-candidatos na formaçào da UDN e permaneceu assim até 1945, enguanto a .t:JDN se configurava
do PTB. Renato Costa Lima, presidente do IBC e com boa posição no Diretório como uma frente anti-getulista. Em seguida, alguns seguime,ptos refund.,ram 0
Nacional do partido A outra pré-candidatura, que estava sendo articulada em Partido Republicano (Ibid m, p. 106 e 127). 1'fas na UDN
7
Londrina e em Curitiba era a de Nelson :tviacubn, então Chefe dos Escritórios do
IBC na Itália e e..~-presidente da .Associação Rural de Londrina. Com a morte de permaneceram representantes do que pode.óamos chamar de frações mais modernas
Souza Naves, 1vfaculan assumiu o lugar daquele no Senado Federal .A candidatura da burguesia local, ligadas à indús;tria, ao setor financeiro e 110 grande comércio,
de 1faculan estava sendo articub.da t1mbém pelo Vice-Presidente Joào Goulart Na com acentuada participação da pequena burguesl:J. e de profissionais liberaís, tanto
Convenção Regional do PTB, realizada no início de fevereiro de 1960, e que contou em Curitiba e no Paraná tradicional, quanto em algumas áreas da região cafeeira,
principalmente em Londrina (Ibidem, p. 122),
com a presença de João Gouhrt e de Leonel Brizola, o partido definiu a candidatura
de Nelson Maculan ao governo do Estado (O ESTADO DOP.-\R.-\N.\, 5 fev:/1960,
Sendo ·assim, a tendência na UDN era a de acabar apoiando a candidarura
p. 4). lvfaculan tinha um perfil mais cafeeiro do que trabalhista.
de Ney Braga, embora houvesse no partido du:1s correntes, uma de apoio a Ney
O PSD passava por momentos difíceis tendo em vista que 1\..foysés Lupion
est'lva sendo acusado de corrupção e, de certa forma, ficou marcado com esta
Braga e 01,1tra de apoío a Nelson 1facubn. .A Direcào Nacional da UDN não
recomenda o apoio do pa.rtido ao candidato do PTB, Nelson 1'.Iaculan. V:irios
acusação. Os conflitos de terras existentes no Norte e no Sudoeste do Estado
lideres da UDN regional passam a declarar apoio à candidatura, de Ney Braga, tais
tinham repercusões negativas ao governo Lupion. Este havia se comprometido
como Adolpho de Oliveira Franco;Joiio Vargas de Oliveira, líder da bancada da
com a candidatura de Guataçara Borba Carneiro ao governo do Estado, pré-
UDN na Assembléia Legislativa; Júlio Farah, membro do Diretório Regional;
candidato pelo PSD. No entanto, na Convenção Regional do PSD, a pré-candidatura
Rubens Requião, e..~-prefeito de Curicib:1; Othon i\fader e Newton Carneiro
de Plínio Franco Ferreira da Costa foi vitoriosa, obt~ndo 198 votos contra 165 de - •
presidente do Diret6rio Regional da UDN. O Diretório ·de Curitiba era favorável
Guataçara (O EST.·\DO DO P.-\R.-\N.\, 31 jan./1960, p. 4). Sentindo-se traído, o
a Ney Braga. Na Convenção Regional da UDN, realizada nos dias 19 e 20 de
grupo partidário que apoiou Guataçara e que cons..iderava a candidatura de Plínio
março, foi decidido o apoio à candidatura de Ney Braga. Apesar desta decisão,
Ferreira da Costa extra-partidária desligou-se da campanha de seu partido (O
os diretórios que tinham uma outra posição foram liberados pelo partido; liberados
EST.IDO DO P.-\R.-\N.\, 2 fev:/1960, p. 4). Apesar de o PSD manter ainda o
para ficarem neutros na campanha. Esta postura foi defendida pelos representantes
controle de muitas prefeituras no interior do Estado e deter o governo do Estado

268 269
de Londrina, Mnringi e outros diretórios do norte do Estado (O EST.IDO DO Departamento de ),.guas e Energia Elétrica, Bento 1'.-Iunhoz nãO o apóia devido à
P,IJL-INA, 22 mar./1960, p. 4) . .Acontece que membros da UDN do Norte do sua ligaçào com i\Joysés Lupion. Havia certa expectativa em to~o da posição que
Est.ado defendiam a candidatura. de tfaculan, 9ue anteriormente havi.'l sido vereador Bento 1'-fonhoz asswniria nas eleições para o governo do Est1do. Em meados de
em Londrina pela própria UDN. l\filton Menezes, prefeito de Londrina, defendeu
maio, Bento !vfunhoz dirulga um manifesto no qual deL',a e:\-plídto o rompimento
que o partido, oficialmente, não apoiasse qualquer candidato. Os que defendiam que j:i. se dera entre Ney Braga e Bento 1vlunhoz. Neste manifesto, o entào deputado
esta posição eram favoráveis a Maculan (O ESLIDO DO PAIL-IN.-\, 20 mar./1960,
federal Bento t.funhoz apóia a candidatura de Nelson 1\facubn do PTB e expressa
p. 4). Mas estes eram minoria no partido e est1vam mais restritos no Norte do seu apoio a Jânio Quadros. .i\lém disso, faz duras críticas ao can,d.idato Ney Braga,
Estado. O nome de lviaculan sequer foi defendido na. Convenção. Posteriormente, revelando que o considera um traidor. Vejamos:
quando aqueles diretórios passaram a e."qJressar seu apoio a lvfaculan, houve pressão
do Diretório Regional. De acordo com Ne-v-ton Carneiro, a liberação de alguns Sou o responsável direto pelo início da carreira política do Sr. Ney Brag:i. Escolhi-o
çfiretôrios nào significava o apoio a outros candidatos, mas apenas a possibilidade meu chefe de Poliàa e indiquei-o, com o apoio de vários partidos, corno candidato ao
de neutralidade (O EST.IDO DO P.-IR..-IN..\., 23 mar./1960, p. 4). Ao comentar govêrno da Capital, quando na minha administração, mantendo eu fiddídade às
sobre a posrura da UDN nestas eleições, Norton lvfacedo afuma: ·~ UDN do opiniões expendidas na Consti~te de 1946, Curitiba elegeu o seu primeiro prefeito.
Norte, a cúpula udenista do Norte apoiou a candidatura do então senador Nelson Revelou-se ele um político marcado pelo egocentrismo e absorvido, no setor
Maculan e a UDN tradicional, UDN do Sul, da capital, a UDN .universitária apoiou administrativo, pela preocupaçãO eleitoreira, que pode colher os apb.usos de um
a candidatura Ney Braga com uma bandeira de renovação" (IP_-\RDES - SOBRE momento, mas nào logra atingir a solução de problemas de base da coletividade

POLÍTICA P,-IR..-\N.-IENSE; ENTREVIST.-1S, 1989a, p. 216). ou o seu encamínhamento racional e possível, as veus à longo prazo, as ·vezes
penoso:.... é. preciso reconhe,cer- mas em cuja busca se. revda o porte do verdadeiro
O Partido Republicano se aproxima da candidatura de Plínio Franco Ferreira
homem de Estado._--\ sua absoluta falta de noção de equipe, sem cuja cooperação
da Costa, candidato do PSD. O grupo ligado a Josino Alves da Rocha Loures
é impossível realizar obra perdurável, e o fato inexi,lici,el de,·se voltar contra os
defende o referido apoio. :tvioysés Lupíon acena com uma secretaria ao PR. Houve
que mais o ajudaram, numa vingança gratuita pelos be~efidos recebidos,
conversações em tomo do nome de Renato L Bueno para assumir a Secretaria da ,desaconselham a sua candidatura,
Fazenda, mas, acabou-se acertwdo o nome de Josino A. da Rocha Loures, que
_.\inda com a circunstância de minha form.açiio, que me conduz sempre à plena
assumiu a Secretaria do Trabalho e Assistência Social (O EST.IDO DO P.-IR..-INA, 17 libertação das estttitas e mesquinhas. limitações partidárias, passo afirmar que ninguém,
e 18 mar./1960, p. 4). No final de março, o presidente do PR, Marins Alves de iruús do que eu, descrê dêle (CORREIO DO P,-IR..-1..c'l.-\, 14 maio/ 1960, p. 1).
Carnargo, divulgou uma nota oficial do partido, afirmando que o Diretório Regional
acataria a deliberação da Convenção Regional do partido que decidiu pelo apoio à Ney Braga entra para a família. :tvfunhoz da Rocha ao se casar com uma irmã
· candidatura de Plínio Franco E da Costa, do PSD, e que haveria esforços e dedicação de Bento Munboz, Maria José Munboz da Rocha, como vimos. A família Munboz
àquela candidatura. No entanto, afirma-se na nota que a adesão a esta candidatura da Rocha se aproxima da familia Carnargo, também da burguesia paranaense (ligada
não afetaria a independência do Partido Republicano e nem significaria a adesão a à economia pe01ária., mas que também ingressa em outras áreas da economia):
qualquer outro partido que tivesse adotado a mesma candidatura (O EST.IDO DO tendo em vista a passagem do pai de Bento Munboz (CaetJJ.no Munhoz da Rocha)
P,-IR..-INA, 31 mar./1%0, p: 4). Por outro lado, n posição de Bento Munboz e de pela política. A aproximação das duas famílias se reforça quando Bento Munboz se
partidários ligados a ele não é a mesma seguida pelo partido. Embora Plínio Franco casa com uma filha de Affonso Alves de Camargo, Flora Camatgo.
tenha sido au..~ar no Governo de Bento Munbm; ocupando o cargo de ~iretor Estas duas famílias pertenciam às classes que entn econômica e
do Departamento de Água e Esgotos e, posteriormente, o de Diretor do politi=ente dominantes no período pré-1930. Nesse período, os grupos ligados

270
211
à economia do mate eram a fração dominante e dirigente no Paranâ. Além da peópria :icumulação. Para isso, precisan dos recursos do estado, dQS fundos públicos
indústria ervateira, desenvolveram~se outros ramos industria.is. Tanto o comércio que permitiriam romper os estrangulamentos existentes na infrn.estrtlturi do Estado,

exportador quanto a indústria eram controlados pelos grupos ligados à economia e que poderiam financiar a juros subsidiados a e..,pansào de S\lll base produci\':l.
Precisaria também da base de apoio político representada por um:go\·erno estadual
ervateira. "A décad:i de 20 marcou o apogeu de riqueza e poder dessa fração
para negociar na esfen nacional, _--\..inda que muitas das facções políticas a ela ligadas
burguesa". Por outro. lado, a fração de proprietários de terras dos Campos Gera.is
apoiassem a candidaturn do PTB, inclusive i\[unhoz da Rocha, a ~rrior parte de suas
(de base econômica debilitada) tinha uma posição política enfraquecida. Nos
lideranças empresariais(.,.) apoiou Braga (Ibidem, p. 110).
anos 1930 houv·e o desmoronamento econômico e político desse sistema de poder,
tendo em vista a decadência da economia ervatelra e o contexto de crise da
Durante a campanha, Ney Braga procurou mostrar empenho em reforçar
economia capitalista, Com a "Revolução de 30", est1 fração burguesa, ligada à
o fornecimento de energia elétrica no Estado. Este-ve aJgum:ts vezes com o
economia ervateira, é afastada do poder e substituída pela fração dos proprietários
gnvernador de Sào Paulo, Carvalho Pinto, articulando a liberação de energia elétrica,
de terras e comerciantes dos Campos Gerais. A base econômica dest1 fração jâ
por parte de Siio Paulo (dn USELP.-\), para o Norte do Estado.
estava mais diversificada, particularmente no comêrcio e na produção de madeira
Nesta regíiio em que o candidato do PTB tem uma grande força, de,·ído à
(1'L\G.\LH.\ES FILHO, 1999, p. 95-100).
No inicio dos anos 1950, o velho Partido Republicano, reorganizado, volta sua ligação com a economia rural, Ne_y Brag,\ também passa. a receber apoio de

a governar o Paranií, através da liderança de Bento Ivfunhoz, mas que tinha um importantes cafeicultores. Este relatf\~o apoio foi sendo conquistado após a morte
perfil político mais moderno, como vimos. A. fração burguesa que detinha o poder de Souza Na1tes. A tendência dos cafeicultores e dos ruralist1s em geral do Norte
nos anos 1920, agora tinha uma base econômica diversificada e ampliada. ªPode- do Estado era a de apoiar a candidatura de Jânio Quadros. Nest~ sentido have.ri.1
se dizer que 1'v[unho:z da Rocha personificou essa fração burguesa tradicional, no umn certa dificuldade para hfaculan, pois o PTB apóia a candídatura do General
período que vai da redemocratização até meados da década de 1950" Tei..-..::e.ir.tLott à presidência. Durante a campanha., 1',faculan manteve certa dubiedade,
(1'L\G.\LH.\ES FILHO, 1999, p. 128). ora parecendo apoiar Lott, outras vezes defendendo Jâoio, Cafeicultores como
Em 1955, :tvfoysés Lupion e seu partido, o PSD, retomam o governo do Jaime CanetJúnior, Ev-elázio Bley e Paulo Guzzo manifest1m apoio a Ney Braga.
Estado, para entregá-lo em seguida a Ney Braga. Embora tenha havido o Este último, emboraresídindo em São Paulo, teria influência junto.aos cafeicultores,
rompimento político entre Ney Braga e Bento lv[unhoz, aquele passa a representar
pois era proprietário no Norte do Paraná e ex-presidente do ffic (O ESTADO
os interesses da burguesia comercial e industrial. Apesar de que, durante o governo
DO P.-\R..-1.N.-\, 19 mar./1960, p. 4). O apoio vem também da família Lunardelli,
de Bento Munhoz, essa fração burguesa não tenha conseguido se unir e "nem
que eram os maiores cafeicultores do Paraná. Nicoláu Lunardelli., filho de Geremía
definir e atualizar seus interesses de classe", no final dos anos 1950 ela o faz
Lunardelli, um dos pioneíros do Norte Paranaense e a maior expressào da
(Ibidem, 109).
cafeicultura do Estado, além de ter forte influência política na região de Londrina,

..--\mpliadas e diversificadns suas bases econômicas, em decorrência do processo de apóia a candidatura de Ney Braga (O EST.-\DO DO P.-\R..-\N.-\, 13 mar./1960, p. 4) .
desenvolvimento que se desenrolan no país, já com algumas ligações e, em alguns O resultado eleitoral no Norte do Estado mostra um certo equilíbrio entre Ney
casos, associações com o grande capital nacional e estrangeiro, passara a ter objetivos Braga e o candid1.ro do PTB. Ney Braga vence na regí.ào com umn. pequena margem
claros, como transparece nas discussões gera~s pelas preorupações quanto ao futuro de votos sobre hfaculan, diferença de apenas 1,3%. Em Lon4rina, a vitória foi
do Paraná... Esses objetivos incluíam fazer com que a economia. do Paraná participasse de 1faculan, que derrotou Ney Braga com 52,8% dos votos, contra 24,0~/o
· do proa:sso de desenvolvimento nacional, de furma a forralecer-s~ e ampliar sua
(IP.IB.DES, 1989, p. 138-139).

272 273
Ney Braga recebe ainda o apoio de empresá.t:Íos do comêrcio e da indústria. Há também manifestações~-de categorias tais como dos taxi~t1s e de cronisms
O industrial de Ponta Grossa, Ovídio Gasparetto, entào presidente da Associação policjais, gue declaram apoio a Ney Braga. No dia 2 de outubro de 1960, véspera
Comercial e Industrial de Ponta Grossa, defendeu a candidatura de Ney Braga. das eleiçàes, o jornal "O Estado do Paraná" divulga wn maniff!Sto de jornalist'ls e
Gasparetto era líder da campanha popular contra o racionamento de energia elétrica escritores cariocas em apoio a N ey Braga. Para eles a candidatura de N ey Braga
na cidade (O EST\DO DO P.\JUN.-Í., 20 fo,/1960, p. 4). " ... traz o mesmo sentido de renovação dos costumes polítitos da Nação que
O empresário Hermes !\facedo, de Curitiba, também trabalhou pela caracteriza o movimento janism em todo o país" (O EST.\DO DO P.\R.-IN.\, 2
candidatura de Ney Braga (O EST.illO DO P.\R.\N.-Í., 25 mar./1960, p. 4). Este out/ 1960, p. 4). Dentre outros jornalistas e-escritores, o manif~sto é assinado por
afirma, em suas memórias que: "Em Curitiba, numa reun.iào na casa de Hermes Raquel de Queiroz (O Cruzeiro e Tribuna da Imprensa), Carlos 'Castelo Branco (O
l\facedo, vârios empresários, Oscar Scharappe Sobrinho, Nuno Leão, Pedro Cruzeiro e Diários Cariocas), Villas Boas Correa (O Estado de São Paulo), Fernando
Prosdóci.rno,José Luiz Guerra Rego, decidiram me dar apoio político e passaram Sabino (Manchete e Jornal do Brasil),Rubem Braga (Manchete e O Globo), Aluísio
a ajudar na campanha" (BR.\G.\, 1996, p. 127). Em janeiro de 1960, o jornal "O .A.lves (Secretário Geral da UDN, candidato ao governo do Rio Grande do Norte),
Estado do Paranâ", que fazia a campanha de Ney Braga, publica, no dia 12, um tfanuel Bandeira, Carlos Drumond de Andrade e Lêdo Ivo (Tribuna da Imprensa),
manifesto de empresários ligados à indústria e ao comércio e de profissionais Gilberto Freire, Gilberto Amado e Joel Silveira (Mundo Ilustrado) e Carlos Lacerda
liberais em favor da sua candidatura. No dia 17, o jornal volta a publicar o (Tribuna da Imprensa) (Ibidem, p. 4).
manifesto, agora acrescido com mais nomes, O jornal "O Dia'\ ligado a Lupion, ..A candidatura de 1Iaculan também tinha muita receptividade, recebendo o
afirmou que Ney Braga era o "candidato dos tubarões", tendo em vista o apoio de políticos de diferentes partidos. Como vimos, recebeu a adesão de alguns
manifesto dos empresários. Dentre outras, o manifesto traz a ·assinatura de diretórios da UDN na região Norte, assim como o apoio de Bento 1\,funhoz. Após
empresários como Hermes l\.facedo; João e Jayme Prosdocimo; José e Antonio o apoio deste, outros políticos se vincularam à campanha de 1faaiLm, como Aramys
Todeschini; Luiz lvlalucelli; Marcos Agenor e Giacomo Baggio; Armando Zola Athayde (PSP, dissidente do PSD) e João Xavier Vianna (PR). Outros nomes de
Thá; Oscar Schrappe Sobrinho; e membros dos Lunardelli Em uma entrevista apoio a Maculan eram: Alô Guimarães e Gaspar Velloso (Senadores pelo PSD),
concedida a Oliva .Augusto, Rubens Requiào - que fora assessor Jurídico da Guamçara Borba Carneiro (Depurado Esmdual pelo PSD), Guilherme Albuquerque
Associação Comercial e uma das lideranças da ÚDN paranaense, inclusive uma Maranhão (PSP), Antonio Arubeli, Fernando Flôres, Djalma Chueri, Haroldo Leon
das lideranças da campanha de Ney Braga - revela que articulou o apoio das Peres (UDN), e o General Luiz Carlos Pereira Tourinho (PSP). No entanto, alguns
classes produtoras ao candidato N ey Braga, Afirma que apoios recebidos por 1viaculan serviram de munição aos adversários. É o caso do
apoio dos lideres do Partido Comunista no Paraná, Estes lançaram um manifesto
(...) havia promovido a aproximação da campanha, com as classes produtoras do de apoio ao Marechal Lott, a João Goulart e a Maculan. O manifesto era assinado
Paraná-Associação Comercial,Federação do Comércio, Federação das Indústrias
por Agliberto Vieira de Azevedo, Dante Leonelli, Jorge Karam, Júlio lvLmfredini,
- pois Ney Brnga iniciava a campanha no primeiro degrau, sem apoios políticos,
M. Jacinto Correa e Vieira Netto (O ESLIDO DO P.\R.-IN.-Í., 14 agoJ1960, p. 4).
num movimento de massa paralelo ao movimento de Jânio Qwdros (RUBENS
Outra declaração de apoio a Ivfaculan alimenta as críticas dos adversários. Essa
REQUÜO, apud .\UGUSTO, 1978, p. 104).
declaraçà?, feita por Luiz Carlos Prestes, foi recusada. publicamente por 1vfaculan,
que estava sendo acusado por receber o apoio dos comunistas, Espedito Rocha,
No decorrer ela campanha, Ney Brag,i foi conquistmdo novos apoios como
líder do Partido Comunista no Paraná no período, afirma que "1vfa,culan, no passado,
é o caso de uma dissidência do Partido Republicano. Esta estava sendo liderada
no Espírito Santo, no tempo de jovem, de estudante, teria participado do Partido
pelo deputado esmdual Nilson Ríbas, que era líder do PR na Assembléia Legislativa.
Comunista. E essa coisa. chegou ao Paraná, a Igreja passou a exp~orar muito isso, e

274 215
beneficiou bastrnte a candidatura do Ney" (JP_\RDES, SOBRE POLÍTIC\ Na edição de 31 de julho, ao fazer recómendações sóbre ,« 5 e1e1çoes
· -
• o
p_-\R\l'L\E?-sSE; ENTRE\'1$T_\S, 1989a, p. 67). A Igreja, gue estan mais próxima d1 jo~na] diz: "NJ. O ,~oTE no diYorcistn., comunista ou inimigo do ensino particu;ar.
candid1rora de Ney Braga, se nrnnifestou publicamente contra os comunistas e N.-\0 ,·oTE no demagogo, -falso amigo do pm·o1 que só quer a luta de classe". No
contra os candidatos que recebessem apoio dos comunistas. O Bíspo de ifaringá, dia 18 de setembro o jornal critica Nelson J\foculan, tendo ~·m vist.1 a sua ida a
D Jaime Luiz Coelho, fez uma publicaçào no íornal local, uo Jornal", afirmando Roma pan pedir benç.lo ao Papa. «a candidato Nelson 1facul:m, depois de sérias
que "o eleitor católico não pode vot'lr não só nos candidatos c-omtinistas, mas nem dificuldades pelas suas não.idéias religiosas, foi correndo pedir bênção ao Papa
mesmo nos candidatos dos comunist15" (O EST_\DO DO P_\R_\N_-Í., 11 set./ 1960, João X...'JII. Foi e voltou correndo com o papel nn mão. (... )". Depoís o jornal
p. -1). O Arcebispo Metropolimno de Curitiba, D 1-.fanue] d1 Silveira D'Elboux, fez afirma que o Papa d1 bênção até para FN"Ms. E continua a critica: ':--\ melhor
um pronunciamento também criti.Gmdo os comunistas: "(. ..) Num ambiente dest'l prova d1s com;cções religiosas dum cídadào é sua vida passad1. (E êste documento
naturez;i, de agítaçào e de díscórdias, só podem proliferar as aud1ciosas fôrças do o sr. Nelson 1\faculan ainda não publicou!)". No dia 25 do mesmo mês, o jornnl
mal. E ebs ;Ú estiio, ameaçadoras e anti.patrióticas, nas dobras rubras da bandeira publica em primeira página: "Prestes declarou em Curítiba: N6s, Os Comunistas
comunista" (O EST.\DO DO P_-IR\N_-Í., 25 set/1960, p. -1). Apoiamos Lott,Jango e 1.faculan". No dia 02 de outubro publicou o seguinte:"~
O apoio da Igreja a Ney Braga também vem de outras formns. O jornal Comunismo é o inimigo N.ª 1 da. Igreja Católica. Vota.r com os Comunistas é
'''-loz do Paraná", Yincubdo à Arquidiocese de Curit:ibnY, foz campanha sistemática trair a Religião e a Pátria, Os Candidatos dos Comunist'lS si'io conhecidos de
contra o comunismo e contra o c.indidato "comunista» (N"elson 1'.Jaculan), todos. Prestes os indicou recentemente. Não Yote nelesf'. No mesmo dia O jornal
defendendo a candidatura de Ney Braga, embora nem sempre ex:plicitamente. O comenta uma Cart.'l que recebera do candidato Ney Braga, elogiando O trabalho
jornal t,mbém cri rica a postura do governo do Est'ldo (PSD), acusando-o de usar realizado pelo jornal. O texto finaliza afumando que: '~.\gradecemos ao candidato
a máquina govemament'U na campanha. Vejamos alguns exemplos. No dia 24 de os elogios que fez ao nosso modesto jornal e nuguramos·llie feliz sucesso no
janeiro de 1960, o jornal compara dois candidatos: pleito de 3 de outubro". O único candidato que teve urna foto publicada no
jornal foi Ner Braga . .Após as eleições, o jornal comenta a vitória de Ney Braga:
O eleitor católico tem o dever sagrado de votar, mas tem o de~r ainda ma.is sagrado
de afastar de suas preferências os candidatos públicos ou veladamente filiados a O SR- NEI _',.,\!INT.\S DE B_.\RRQS BR-\G.\, Yê-se alçado ao Governo do Paraná,
seitas secretas e condenadas pela Igreja. É que não condizem com o espírito cristiio após uma ardua e sistemâtica campanha, por êle sempre colocada em alto gabarito,
e ca tôlico, semelhantes ligações. Face a um c:andidato modesto, mas cl.ltllpridor de ... _-\ \'ltórin. de Ner Braga foi das mais expressiva5., visto que seus opositores
seus dc\-eres e sobretudo católico prnàcante e outro com ostentações de puritanismo, contaram com o apoio oficial(..) e com os recursos dos pseudos•trnbalhi;tas, que
mas sem defini:ções claras em sua vida religiosa, o eleitor católico, deve em consciência dispunham de somas enorme5t nem sempre bem esclarecida~ em sua origem. ( ...)
preferir aquele. Um candidata que se mostra indiferente e até rebelde, às recomendações Dada a formação cristã do novo Governador, as suas qualidades de administrador,
da Ig~ja, nio pode merecer o sufcigío do eleitorado católico. n ausência de compromissos pessoais ou partidários, é justificado o júbilo de todo
o Paraná ... (\-oz DO P_-IR\N_\, 16 out./1960, p. 1).

N ey Braga recebe o apoio também da Liga Eleitoral Católica. Inclusive o


jornal, por diversas vezes, faz referência à Liga . .Afirmava: ''Vo~e no melhor entre
1
~ Na primeira edição do jornal, de: 27 do! maio de 1956, o Arcebispo Metropolitano, Dom r-.f:mucl
da Sil\'t!ir.i D'Elboux, fula do lançamento do "\'oz do Paraná'\"(. .. ) Que apôs tolo admicivel não os que hajam assumido compromisso com a Liga Eleitoral Católica''.
ê o jorn:iJ numa Diocese! País bem. Nasce hoje C$'te novo npllitolo na Arquidiocese de- Curitiba.: Ney Braga e Nelson Maculan também disputaram o apoio de Jânio Quadros
'YOZ DO P.\IL\N.-Í', (. ..)" (\'OZ DO P,\fü\N.-Í, 27 mai./1956, p. 1).
quando este esteve no Paraná. Primeiramente a dísputa se deu no Norte do Est1.do,

276 277
em maio, quando parcid.1.rios dos dois candidatas se manifestaram a favor de 3.3 A GESTÃO NO GOVERt'-1O DO ESTADO
Jànio e clisputavam o apoio do candidato a presidente. Em sctembroJânio esteve
em Curitiba e a batalha entre os dois candidatos em busca do apoio de Jânio foí Antes de discutirmos a gest'lo de Ney- Braga no governo do Estado, convém
intensa, J\,fas Jânio não declarou apoio a nenhum candidato, apenas afirmando que se faça uma breve referência histórica do Paraná, para que possamos situar a
que "No Par.iná, apóio quem me apóia" (O EST.\DO DO P.\R.\N.-\, Lº out/ sua administração no contexto histórico paranaense.
1960, p. 4). Quando Jânio chegou a Curitiba, houve uma intensa batalha no o· Estado do Paraná obteYe sua emancipação política em 1853, dei."'iando
aeroporto entre as partidários dos dois candidatos para recepcionar o candidato de ser a 5.ª Comarca de Sào Paulo. Destacam-se no Estado três regiões que
a presidente. Ao comentar sobre o episódio, Ner Braga afirma que: tiveram colonização diferenciada, com caractetlsticas própria~. Estas regiões sào
denominadas de Paraná TradicionaL Norte do Paraná e Oeste/Sudoeste do Paraná.
No aeroporto, o clima era extremamente tenso. :-.:ossos companheiros se-apossaram A região do Paraná Tradicional é a de colonização ma.is antiga, .iniciada no século
de todos os espaços, gritando slogans. (.. ) X\1I, com a procura de ouro na região de Paranaguá, embora bapdeirantes paulistas
O aparelho foi cercado na própria pista, im'ndida peb multidlO. Carregaram-me
já houvessem penetrado pelo territ~rÍo paranaense no século),.\.,I em busca da
nos ombros até a port.1 do avião por onde Jâllio sairia, e trocamos um grande
escravização indígena. No início do século X\'III fez-se a ligação entre os Campos
abraço, até para que pudéssemos nos equilibrar, nos amparando um no outro, no
do Rio Grande com os Campos de Curitiba, ligação que se estende até os Campos
meio de tinta gente. Foi quando Jerônimo Thomé colocou na bpela de Jânio o
Gerais, e que foi denominada de Caminho das Tropas. Por este caminho é que os
distintivo Ner Braga, que era facilmente identificado por toda a população. J ânio
tropeiros transportavam as tropas de gado bovino e principalrµente muares, com
foi arrastado pela pista. Os lideres do PTB, até os ma.is eminentes, foram impedidos
de chegar perto do candidato, cercados por companheiros nossos e até por senhoras
destino ao mercado de Sorocaba . .A abertura deste caminho e o trânsito gue aí se

que, com suas bols~s e sombrinhas, criaram um barreira intransponível. deu foi responsável pela formação de novas comunidades . .A criação e engorda de
Quase seqüestrado,Jân.io foi coloodo dentro do carro do promotor público _-\lcides gado no Paraná se estendeu até os Campos de Gua.rapuava e de Palmas (PINHEIRO
flfunhoz Neto, que entrara na pista, também com propaganda nossa (BR.--\.G_-\, ,L\CH.\DO, 1969, p. 65-87). Dessa forma, a colonização e a ocupação do Parani
1996, p. 128-129). Tradicional se deve muito mais à atividade pecuária, que se expandiu até os limites
dos campos naturais. Duas outras atividades econômicas se destacavam na região,
Ney Braga v-inculou sua campanha e sua imagem à de Jànio Quadros desde quais sejam, a atividade madeire.ira e a produção e e....:portaçào pa erva-mate. Esta
o início, criando a dobradinha Ney1ânio. Nos comícios era díto que quem era última foi a principal atividade econômica do Estado desde o início do s~culoXIX
Ney eraJânio, e gucm eraJânio era Ner Utilizou os mesmos elementos simbólicosi até cerrn de 1930 (PADIS, 1981).
particularmente o da vassoura, significando que seu governo iria varrer a corrupção
.A regiào Norte do Estado te\.-e sua colonização vinculada à expansão da
no Estado. Assim como J.i.nio construiu a imagem anti-Adhemar, Ney Braga se
economia cafeeira paulista. Essa região foi sendo ocupada por um grande
fez o anci-Lupion, Este era empresi.cio, amigo de Adhemar de Barros e governador
contingente de paulistas e, em menor númet'o, de mineiros, Também vieram
do Estado, acusado, na época, de corrupção. Além disso, Ney Braga fez uso do
migrantes de outras regiões do país, assim como imigrantes, pois nesta região
"slogan" do "tostão contra o milhão" (COST.\, 1986, p. 27).
foram implantadas colônias de imigrantes italianos, alemães, japoneses e outras.
O resultado final <ln eleição foí o seguinte; Ne 1 Brag, (PDC-PL) obteve
35,3% dos votos; Nelson Maculan (PTB) ficou com 30,9%; e P!fnio Costa obteve .A partir dos anos 1940, os cafezais se estender:am por toda a região e o Paraná se
26,8% dos votos. Em número de votos, Ney Braga ficou com 255.328, enquanto tornaria em pouco tempo o principal produtor de café do p:ús (Ibidem).
que 1-faculan obteve 223.696, em um total de 724,019 eleitores. O c,ndidnto do Quanto à região Oeste/Sudoeste do Estado, embora tenha tido um início
PSD aind, alcançou 194.328 votos (IP.-IRDES, 1989, p. 139). de colonização nas primeiras détadas deste século, verifica-se q~c somente após os

278 219
anos 1930 ê que há um fluxo maior de colonos em direçâô à regi1.o. No ent'lnto, é economiaparanaense,. basicamente primária, dependia em gran~i= parte da produção
na década de 1950 que a migração catarinense e principalmente gaúcha para a cafeeira, gue por sua \·ez era direcionada para São Paulo. A e~-portação desse produto
região se intensifica. A ocupação das terras e a atividade econômica ali desem'olvida se davn principalmente pelo porto de Santos. Por outro lado, ·o Paraná compra'-a
será parecida com aquela que praticavam na sua região de ocigem. Formaram produtos mnnufaturndos em São Paulo (IP.\RDES, 1989).
inicialmente economias de subsistência, cult!\~ando lavouras de milho, trigo e feiíào, Vejamos inicialmente como Ney Braga compõe a sua equipe nn
dentre outras, além da criaçào de bovinos e principalmente suínos. Por outro lado, administração estadual. Secret.írio da Fazenda: .Algacyr Guim~ràesi Engenhé.iro ·e
houve a exploração da madeira, praticad.1 por empresas madeireiras (Ibidem). sem filiação partidária; Secretário do Trabalho: ..,-\ristides Simão, Engenheiro
Estes diferentes momentos de colonização do Estado, com suas Químico e Contador, ê do Partido Liberal; Secretârio do Interi9r e Justiça: Rubens
características distintas, além d,1 falta de integração fisica entre estas regiões, le\'a a Reguiào, bacharel em Direito e Secretá.rio Geral da UDN; Secretário de Viação e
um problema relevante, que é o da integração social, econômica e política do Obras Públicas: Coronel Ali pio Arres de Carvalho, EngenheirC\ ligado no PL-\DEP
Est.1do. Vejamos os dados do Censo Demográfico realizndo pelo IBGE, que e sem filiação partidária; Secretário do Governo: Jucundino Furt1do, Engenheiro
mostram o crescimento populacional paranaense neste período. Em 1940, a e professor da Universidade do Paraná, sendo vinculado ao PDC; Secretário de
populaç.10 parannense era de 1.236.276 habitantes; em 1950, era de 2115.547 Educação e Cultura: Mário Brngn Ramos, professor nn Faculc:hde de Odontologia
habitantes e, em 1960 era de 4.263.721 habitantes. Ou seja, tem-se wn crescimento de Ponta Grossa, é da UDN; Secretário da Saúde: Justinho Alves Pereira, 1\{édico;
popul:làonal muito grande neste período. SecretWo da Agricultura: Paulo Pirnente~ bacharel em Direito e fazendeiro em
No decorrer dos anos 1950, período em que ainda se realizava a ocupação Porecntu; Chefe de Policia: !talo Conti, coronel do Exército; Chefe dn Casa Civil:
do Estado, dí-se alguns passos rumo à integração Estadual em seus diferentes Benedito Cardoso dn Silveira; Comandante dn Policia Milit1r: Coronel Orlando
aspectos. Elabora-se, em 1951, o Plano Rodoviário do Paraná (plano que constirui Pombo; Diretor do Dept.º de Terras: Coronel Brasílio 1'.-farques; Procurador
a estrutura vi.íria básica do Estado e que teve suas obras principais finalizad1s nos Geral: Alcino de Souza; Consultor Geral: .Alceu ivfacedo; Diretor da COPEL:
anos 1960). O plano visava, entre outras coisas, ligar o Norte do Est1do com o Parigot de Souza; Diretor do Dept º de Águas e Energia Elêtrica.: Afonso Cam~go
Porto de Par.maguá e estabelecer uma ligação do Norte com a capit,l, procurando Neto~ Diretor da Fundação de Assistência ao Trabalhador ~ural: Elias Farah;
maior íntegraçào social e política. No início dos anos 1950 também se estnbelecem Banco do Estado do Paraná: Máximo Kopp; Diretor do Dept.º Estadual de
cert1s políticas cultura.is, dentre outras, a construção do Teatro Guaíra e da Biblioteca Serviço Público: Pedro fro Lafite; Diretor Est. de Compras: Rolaino 1fazzoci;
Pública do Paraná, assim como investimentos estaduais na Universidade do Paraná Diretor do Dept º de Assistênci.1 Técnica aos Niunicípios: Francisco Braga Lacerda;
(federalizada em 1950) e em outras instituições de ensino superior - pretendia-se Diretor do Dept. º de Estradas de Rodagem: Saul Raiz; Dept. º de Turismo e
fazer de Curitiba um centro universitário. .Ainda nesse período o governo faz o Divulgação: Jornalista L1erzio Campelli; Diretor do Dept.º d~ Águas e Esgotos:
Centro Cívico, local que· deveria abrigar os prêdios dos três poderes públicos Osíres Stenghnl Guimarães (G.\ZET.\ DO POVO, 1.º fev./1961, p. 8).
Estaduais. Estas políticas visavam reforçar Curitiba. como capital, assim como a Quando Ney Braga assume o governo, a siruação financeira do Estado
integração do Estado (IP_-\RDES, 1989; KUNH.W_\LIK, 1995). O governo Bento é bastanté critica. O Banco do Estado do Paraná (B_.\NES!.\DO) estava em
Munhoz cria, no início dos anos 1950 a COPEL, Companhia Parannense de Energia condíçào prê-falimentar e os serviços públicos, tais como a produção e
Elétrica, empresa de economia. mista, que passa a se ocupar do planejamento e da clistribuição de energia elétrica e a rede viária encontrava:m-se bastante precários.
produção de energia no Paraná. No entanto, a COPEL fica abandonada durante a A COPEL esta,·a numa situação de abandono (!P_\RDES, 1989, p. 141-142). O
gestio seguinte, de 1-foisés Lupion. É nos anos 1950 que o café passa a ser o processo de ocupação do Estado já se encontrava avançado e a economia
principal produto da economia paranaense, ocupnndo o lugar do mate. !vias a estadual continuava a se basear no setor agrícola, tendo grari.de importância a

280 281
produção de café. A monocultura cafeeira predominava no Estado:~_r\s aCJ.dêmico e de setores pcirndos, bem como as discussões qu~ realizou com membros
condições de armazenamento e de escoamento da produção eram precárias. da sociedade civil, fornecer::im os alicerces sobre os quais seriam elaboradas as
O Norte do Estado ainda mantinha vínculos mais fortes com Sào Paulo do propostas que, mais tarde, configurnr:i:un o ci.,o principal do ;que viria a ser O projeto
que com o Sul do Estado. A riqueza produzida pelo café era direcionada para paranaense de desenvolvimento {:-L\G.-\LH.\ES FILHO, 1999, p. 79).
São Paulo. Ney- Braga encontrou o Estado em dificeis condições financeiras e
sem possíbilidade de investimentos. Além disso, prometera no decorrer da Em 1958, por exemplo, o PL.\DEP coordenou a elaboração de um
campanha eleitoral que nào aumentaria impostos. documento para a Federação das Indústrias do Est,1.do d9" Paraná (FIEP), que
O Plano de Desenvolvimento do Paraná foi elaborado peh Sociedade de seria apresentado por esta associaçào de classe ii Conferência Internacional de
Análises Gráficas e 1vfecanogcificas Aplicadas aos Complexos Sociais (Sagmacs), Investimentos que se realizaria em Belo Horizonte. Nesse d?cumento já aparecia
empresa TI!lrulada ao padre Lebret; peh SPL Serviços de Planejamento, que pertencia a díreção geral; os alicerces que dariam forma ao pro;eto paranaense de
aAlexBeltrào e Zacarias de Sá Carnilho; e pelo PL.illEP (Comissào de Coordenação desenvolvimento (Ibidem, p. 79-80).
do Plano de Desenvolvimento Econômico do Paraná). O PLIDEPn era um órgão Este "projeto paranaense de desenvolvimento" que vai ser implementado
esradun.l de planejamento que tinha o coronel .Alípio Ayres de Carvalho como pelo governo Ney Braga tinha por sustentação a mesma fração burguesa que dera
coordenadot Alípio Ayres serviu na 5.ª Região 1'1ilitir e comandou o Colégio apoio à campanha de Ney Braga. O ator principal da construÇào deste projeto foi
1\-lilitar de Curitiba. Foi designado para coordenar o PLIDEP ainda no governo _de
"a burguesia originária do comércio e da indústria da erva mate" (Ibidem, p. 113).
Adolpho de Oliveira Franco, por índicação do General Henrique Lott, então
.,_--\s discu'ssões em torno do desenvolvimentismo começaram a se dar no Paraná
Ministr'o da Guerra. Permaneceu no cargo durante o governo Lupion, embora apenas no final da década de 1950.
tivesse solicitado para sair devido à sua amizade com Ney Braga. Quando Ney
Braga sai candidato para o governo do Estado, o coronel Alípio Ayres avisa o (...) essa fração da burguesia, sob um got'emo estadual voltado para outros ínteresses,
governador Lupion que participaria da campanha e que apoiaria Ney Braga. :t-.fesmo começou a preocupar-se e a discutir um projeto político, e a, arcicubr-se para agir
assim o governador o mantém no cargo. .Assim, '". .. o PL-\DEP transformou-se em defesa de seus interesses ...
numa espécie de subcomitê neysta dentro do Iguaçu ... " (BR..\G--'s 1996, p. 133). (... ) encontrando um ambiente policico nadonal e local favorável, iniciou um
Conforme afirma 1'fagalhães Filho, durante o goveroo de Lupion, o PL.IDEP proces~o de discussão e debate., que m:1.nteve e aprofundou, até conseguir revestir
foi marginalizado, o que o teria transformado numa espécie de centro de estudos e seus objetivo:s como sendo os. da sociedade paranaense. Seguindo esse caminho,
pesquisas sobre a economia paranaense. Nesse período foram produzidos uma série enfrentou a luta na arena política, fe2 ou procurou fazer alianças, assumiu o díscurso
de estudos e projetos sobre a economia pnranaense O PLIDEP teria se transfonnado desenvolvimencista, deu sua chancela a um projeto de desenvolvimento que a
favorecia, alcançou maís uma vez o poder e, mais consciente que antes, pôs-se a
no locus privilegiado do debate sobre a situ:1ção do Paraná e de suas perspectivas apoiar a execução de seu projeto (Ibidem p. 130).
futucls. Os estudos e projetos produzidos por sua equipe técnica multiclisàplinar,
permanentemente reforçada. por especialistas dos órgãos governamentais, do mundo De acordo com Dennison de Oliveira, os esforços do governo do Estado
para promover o desenvolvimento econômico paranaense, ª ... eram apoiados por
iniciativas da FIEP e da .\CP" (OLI\'EIR..\, 1995, p. 200-201).
Ney Braga não teria dificuldade em aceitar as idéias c·epalinas, tendo em
°㿄 Concebido no governo de Bento Munhoz, o PL-\DEP foi cri.ado no governo de .-\dolpho de
Oliveira Frnnco, que substituíra Bento Munhoz, por ocrni:ào de sun. renúncia (},L\GALHÃES vista que os partidos democratas cristãos, particularmente o PDC chileno e um
FILHO, 1999, p. 79). pouco menos a COPEL venezuelana recebiam fortes· influências das idéias e

282 283
nh-eis distintos: o nivel abstrato, formndo por ~istemas ai"ticulados de idéias
propostas cepalinas, enquanto que o PDC' brasíleiro mantinha contatos
concepções de mundo, tendo diferentes graus de coerência, utlldade e teorizado;~
permanentes com estes partidos (H-\G_\LH},ES FILHO, 1999, p. 116). Muitos
técnicos do PL-\DEP, dos quais ,~ários nuto.tes daqueles esrudos e projetos o nfrel concreto, composto pelas arualizações dos sistemas de ,idéias na or~açào
e na instirucionalizaçào social ou na prática social .Ambos oS níveís - abstrato e
mencionados, passaram
concreto - est~o presentes nos diferentes campos pelos guais'n ideología se dív·ide1
a ocupar cargos ou funções executi"as ou de assessoramento em di\-ersos aparelhos como o político, o moral e o econômico, dentre outros. .,--\po,nta o campo político
de estado. O mesmo acontecera com muitos dos especialistas e empresários que como dominante nas socied1des capitalistas, sendo em nfrel c·oncreto por meio do
ha\·iam estndo presentes nas discussões dos anos anteriores. (.. .) muitos desses Estado e, em nh-el abstrato, por meio da ideologfa que o informa.
profissionais hnYiam participado, por inicia.ti\-:\ da PL-\DEP, nos cursos de Ao apontar a dimensão histórica dos sistemas de idéins na estuhlra social
Treinamento cm Problemas do Desem-oh'lmento Econômico, promo-1.dos pela Cardoso considera que não se de\~e analisar tais sistemns de: forma estática, ma~
CEP_--\L, com apoio do BNDE, no Rio de Janeiro, haYendo alguns, indusl\-e, dev~-se apreen?ê-los como momento de um processo. També~ não se deYe pensá-
frequentado os cursos da própria CEP_--\L, no Chile (Ibidem, p. 115).
los tsoladamente, mas sim considerá-los no conte..~ro histórico que os engendram.
Dest1 forma, a ideologia do desenvoh'1mentismo deve ser consíderad'l como parte
A gestão de Ner Braga ê privilegiada na formação de técnicos, que passam a
de uma ideologia mais ampla, qual seía, a ideologia do desen\·ol\1.mento. Essa, de
ocupar os postos que se abrem com a criação de uma série de agências de
acordo com Cardoso,
desenvold.mento. Apesar de ser um política tradidonal, -rincuhtdo t1nto :à elite política
quanto à elite militnr, Ney Braga tem um import111te traço tecnocrático, se utilizando acompanha o processo de expansãá de um sistema global específico - sistema
0

de todo um corpo técnico para pbnejar e gerenciar a administração pública. capitalista, num tipo particular de região - as regiões subde;em~oh-idas em fase de
crescimento, num momento particular desse cre.scimc:nto-quabdo O desen\1Jh-i.rnento
( •• ) ::t criação de twtas agências ·rnltadas para o desenvoh-imento econômico e o espontâneo j:i não mais parece possÍYeL (C-\RDOSO, 1978; p. 78).
comprometimento do governo do Estado com os pressupostos e a ntlstica do
planejamento, abriram oportunidades extrordiruidas para a proliferação de técnicos Cardoso afirma que o problema que a ideologia do dese-m·oh-imentism~ se
em planejamento, os quais passariam posteriormente a ocupar posições de destaque
coloca é o do atraso e o desenvolvimento que deve supe,..;
~.~.. Jo, elimin· a-
• Io. E ssa
nas adrmnistrações estadual e federal (OLIVEIR.-\, 1995, p. 201).
ideologia Yê n necessidade de dinamizar a economia. do Brasil, Yisando ampliar a
participação e os beneficias do país no sistema capitalist.1. A pobreza dos países
De acordo com Oliva Augusto, neste projeto havia a idéia de que o Paraná eta
subdesem~ol:1-dos é vist'\ como decorrente das atn•idades tradicionais, ou seja, a
uma .região periférica e dependente em relnçào ao polo dominante nacional, ou seja,
exportação de produtos primá.rios. Para superar este atraso propõe O fortalecimento
São Paulo. A situnçào do Par.má seria similar a d-u; regíões subdesenvolvidas frente às
do setor industrial tornando-o o setor dinâmico da econo~ia. Assim, todos os
regiões desenvolvi.das em nível internacional Essa idéia ê orientadora do projeto
problemas seriam resolvidos pela industrialização.
desenvolvimentista paranaense. Considera que este projeto se.ria a ti ••• catualizaçào',
Cardoso afirma que a ideologia do desenvolvimentismo tendo"... sua atencão
para o Paraná. da ideologia desenvolvimencista dominante em termos nacionais"
totalmente centrada no desenvolvimento, mantendo intocada a ordem \-igente, mo;tra
(--1.UGUSTO, 1978, p. x). Ou seja, a ideologia ruicional-desenvolvimencist'l.
bem a sua dimensão de ideologia dominante. .. " (Ibidem, p. 412). Para esta autora,
Antes de prosseguirmos falando do projeto de desenvolvimento paranaense
não se deve tomar a problemática da ideologin. como se fosse a problemática da
na gestão Ney Braga, façamos uma breve discussão sobre a ideologia do
própria realidade. Assim, não se deve caracterizar o desenvoh'l.mento como uma
desemTolvimento. Para 1'1iriam Limoeiro Cardoso, a ideologia compreende dois

284 285
· problemática universal ou nacional mas "como problemâcica de uma ideologia e planejada pelo,Estado. Este projeto econômico deve conter alguns pontos básicos
dominantet representação de uma classe ou fração dominante". Faz-se necessário t1l5 como: a industrialização brasileira, eficiente e racional, não p~de ser movi~
"situá-la no esquema de domínio a que de fato pertence',.(Ibidem, p. 413). pelas forças do mercado, por isso a necessidade de planejamento por parte do
A ideologia do desenv-olvimeorismo aponta b desenvolvimento como sendo Estado; o planejamento é que deve definir a expansão dos setores econômicos e
o obíerivo e o interesse de toda a sociedade. Como propõe que o de~envolvimento quais os instrumentos que devem ser aplicados nesta expansão; finalmente, a execuç.1o
só é possfr-el com a preservação da ordem, esta também- será apontada como d.t expansão deve ser ordenada pelo Estado, que deve ainda capttr: e direcionar os
sendo um interesse geral. Cardoso considera que a ideologia, ao apresentar a idéia recursos financeiros, além de promover investimentos diretos nos setores em que a
de que a prosperidade atingirá a todos, alcança aí uma grande força mobilizadora. iniciatiYa privada for deficiente (BIEI.SHOWSKY, 1996). Portanto, o planejamento
De acordo com Cardoso, econômico e a intervenção do Estado na economia são aspectos relevantes do
desenvolvimentismo. O Estado é visto C?mo essencíal para a promoção do
O di:sen,olTimentismo é a ideologia do crescimento econômico a qualquer custo, desenvolvimento ecqnômico e social. Como estamos vendo, effi nível regional
excluídos unicamente os meio~ que contrariam ideologicamente a ordem vigente. Ney Braga e o ney:is·mo se vincubm ao desenvolvimentismo.
É, as5im, a ideologia mais compatível com ;t.' preservação da ordem numa O Plano de Desenvolvimento do Paraná visava repetir e~ nível local o
perspectiva dinâmica e expansionista. Por isso sua ênfase econômica tão marcada mesmo processo que se da\ra em nível nacional: a industrialização por meio da
(Ibidem, p. 420).
substituição de importações, tendo em vist1 a perda da renda d.tadual 1 via :ua
especialização agrícola (basicamente a monocultura cafeeira, que transferia renda
No entanto, o plano a que se dá a decisão econômica é primordialmente o do
para as regiões industrializadas do país, pci.ncipalmente São Paulo); e via importação
político. Cardoso destaca um aspecto relevante do desenvolvi.mentismo que se refere
de produtos manufaturados daquelas -regiões industrializadas, basicamente de
ao papel que ele dá ao Estado, qunl seja, o de implantação da ideologia. Diz que
São Paulo. Além disso o Plano vísava dar: preferência a pequenos e médíos
empreenclimentos e, particularmente, ao capital paranaense (.-\UGtrSTO, 1978).
no nível abstrato, cabe ao Estado infundir a consciência do desenvolvimento,
despertar a crença na viabilidade do projeto desenvolv1.rnenrista. No nível concreto,
Fica claro que o projeto de promover o desenvolvimento 'do Estado,
ele assume a função de pioneirismo, através da qual visa cciar as condições basicamente o desenvolvimento econômico, é uma função que càbe ao Esta.do. É
necessárias para a e::-.-pansào da economia dos setores privados, principalmente o5 este que deve planejar, promover e organizar seu desemrolvimento. Assim, para
industriais (Ibidem, p. 420). realizar tal projeto, o governo Ney Braga propõe a criação de um órgào, a Companhia
de Desenvolvimento Econômico do Paraná (CODEP.-\.R). Ela foi criada em janeiro
Bielschowsky examina no pensamento econômico o núcleo do sistema de 1962, como uma empresa de economia mista. Como Ney Brnga prometera.,
desenvolvimencista, do qunl foi gerado inclusive o quadro analítico da Cepal. Volta durante a campanha cleitornl, que não aumentaria os impostos, decidiu-se atacar os
sua atenção para a análise das díferentes correntes do pensamento econômico problemas de finanças do Estado por meio de um empréstimo compulsório, o
brasileiro que representam três variantes do desenvolvimentismo (setor privado, FDE (Fundo de Desenvolvimento Econômico), que seria cobrado através de um
_ setor público não nacionalista e setor público nacionalista), Para Bielschowslqr a awnento na alíquota do IYC (Imposto de Vendas e Consignações). Com a criação
Cepal forneceu um instrumental analítico antiliberal que foi incorporado por grande do FDE, o governo pode criar recursos paralelos ao orçamento estadual. De 4,953/ot
parte dos desenvolvimentistas nacionalistas do setor público. Bielschowsky conceitua a alíquota do rvc passou para 5,95%. Em 1964, acrescida de um novo empréstimo
o desenvolvimentísrno enquanto urna ideologia. de superação do subdesenvolvimento compulsório, a aliquoti passou para 6,95%. No final de 1965, o FDE deiwu de ser
brasileiro que deve se dar mediante a industrialização capitalista~ e que seja apoiada vinculado ao empréstimo e o aume~to do f'i.'C se tomou explícito. Na verdade o

286 287
empréstimo compulsório funcionou como um cii$(1.rce e um atenuante para um pela autora: a) A CODEP_IB. não étava sujeita a fiscalização, aIJm de ser limitada
aumento que foi real, ,"1.sto que o empréstimo seria pago com juros de 4ª/o ao ano, a possibilidade de intervenção pela Assembléja Legislativa; e bf Por não ser parte
em um período em que a inflaçào era considerável. integrante do sistema financeiro nacional, evitava que houvesse ingerência por
O COCEP (Conselho de Coordenação das Classes Econômicas do Paraná)
parte do, governo federal, então presidido por João Goulart, adversário político
aprovou a criação do FDE. Esta entidade, que não chegou a se constituir
do governador, apesar do acordo regional estabelecido com o VTB. Além disso, a
juridicamente, congregr1Ya a E.\RP - Federação das Associações Rurais do Paraná;
Diretoria (Diretor Presidente, Diretor Financeiro e Diretor Administrativo) era
a FCP - Federação do Comércio do Paraná; e a FIEP - Federação das Indústrias
escolhida pelo governador, e a orientação da Companhia depe~dia do governo e
do Est1do do Paraná (.-\UGUSTO, 1978).
Conforme afirmação de Nef Braga, quem apresentou a idéía de se criar dos grupos que o apoiavam. O primeiro Diretor Presidente da CODEP_IB. foi
empresas de economia rnistn e a críação do FDE foram .Alex. Beltrão e Zacarias de Affooso Camargo Netto; seu Diretor Técnico ivfaurício Schulmilnn; e seu Diretor
Sá Car,;-nlho, da SPL-SerYÍços de Planejamento (BR.-\G.-\, 1996, p. 150). De acordo Financeiro foi Francisco Clausi, gue era do Banco Comercial do Paraná (K:\RLOS
com Oliva Augusto) competia à CODEP.--\.R coordenar as empresas de economia RISCHBIETER, apud BR.-\G.-\, 1996, p. 157).
mista estaduais, no que se refere à gestào financeira. Da ''Norma Básica de A maior preocupação do governo naquele momento era com as deficiências
Organização da CODEP.\R", a autora dest.1ca os seguintes itens: da infra-estrutura do Estado. Indicador disso são os recursos dq FDE, que foram
destinados prioritariamente para o setor de energia elétrica e para a construção
a) •.'.\d.ministração do Fundo de Desenvoh'Ullento Econômico, em cuja fnnçrio de estradas. Dos recursos do FDE, 80% foram destinad~s a gastos com o setor
importa-lhe conhecer as necessidades da economia paranaense, selecionar e público, sendo que 36% seria para energia elétrica e 30~/o para a construção de
principalmente elaborar projetos de interesse primordial ( ... ); b) coordenar estradas, com· prioridade à Rodovia do Café, que ligava o Norte do Paraná a
financeirrunente as demais empresas mistas, o que importa em estar à altura de
Curitiba e com o Porto de Paranaguá. Dos recursos destinados a empresas
orientar a gestão financeira de todas elas; e) constituir-se em 'holding' de empresas
privadas, mais de 65% dos financiamentos aprovados estav11.rn vinculados à
e fundações de economia mista, existentes ou a serem càadas, e nas quais venha a
transformação da produção agropecuária (.-\UGUSTO, 1978).
ter participação majoritária (... ) (.-\UGUSTO, 1978, p. 31).
No ent:a.nto, conforme Augusto, o projeto inicial de desenvolvimento do
Paraná caminha para o fracasso, tendo em vista os erros em sua concepção.
Entre os objetivos da CODEP.-\R, Oliva Augusto destaca:
Procurou-se montar um parque industrial paranaense de pequenas e médias
a) implantação de novas formas, mais dinâmicas e mais flexíveis de ação empresas - para atender o mercado local; superar o subdesenvolvimento do
gorernamental, racionalizando o setor público; b) hierarquização de prioridades Paraná; e restringir a saída de rendas do Estado - em confi;onto direto, em
para investimentos, estudando e selecionando, pa.ra estímulo, os projetos mais competição com as empresas de São Paulo, basicamente, mas também do Rio
necessários e úteis, ou de efeitos multiplicadores mais ponderás'eís, para a economia Grande do Sul e de outros centros que tinham urna capacidade competitiva
do Estado; e) contribtúçào para a mudança da mentalidade social, ensinando a muito maior. Incorreu-se no erro estratégico de não se ·privilegiar uma
comunidade a mobilizar suas poupanças a fim de permitir a mais rápida e."qJansão de industrialização complementar, que levasse em consideraçio as vantagens
serviços públicos b~sicos a que o Estado sozinho não pode dar atendimento comparativas do Estado. O fracasso do projeto também é ~m indicador do
satisfatório (...) (Ibidem, p. 31). caráter centralizado que o desenvolvimento capítalista assumiu no Brasil. A partir
de 1964 se verifica um processo de deterioração do projeto de desenvolvimento
Oliva Augusto considera importante para o governo a forma como se
paranaense. A partir daí, vai-se efetivando uma _reformulação do projeto de
deu a constituição da CODEP_-\.R. Destacaremos aqui _dois aspectos ,apontados
desenvolvimento paranaense original. Uma destas reformulações se refere à.

288 289
mudança nas normas da CODEP.--\R (lei aprovada em fevereiro de 1965, ainda no Educacional do Paraná); em janeiro de 1963, a S.\NEP.\jl (Companhia de
governo de Ner Braga), que passou a permitir que a Companhia operasse com
Saneamento do Paraná); em março de 1963, a TELEP:\R (Companhia de
Telecomunicações do Paraná); em outubro de 1964, a CELEP.,R(Centro Eletrônico
empresas controladas por capital estrangeiro, antes proibido. Há uma reorient1.çào
de Processamento de Dados); em maio de 1965, a COH.\P.\R (Companhia de
da CODEP.--\R 1\ que passa a financiar empresas estrangeiras. As pequenas empresas
Habitação do Paraná); em fevereiro de 1965 criou-se também :uma subsidiária da
foram marginalizadas, enquanto as grandes passaram a receber atenção,
CODEP.-IR, a CODEP.\R- Crédito, Financiamento e fnvestimentos (.\UGUSTO,
demónstrando urna preocupaçào com a concentração. O foco foi sendo alterado,
1978, p. 29-30).
dando ênfase ao grande capital e a urna produção industrial complementar. Na
Desde sua gestão frente à Chefia de Polícia e, principalmente, frente :1
,rerdade, " .. , procurou-se adequar sua (CODEPAR) atuação aos padràes impostos prefeitura de Curitiba, Ney Braga visava alcançar cargos políticos mais importantes.
pelo tipo de expansiio capitalista em processo" (.\UGUSTO, 1978, p. 117). Saiu da prefeitura, como vimos, e articulou sua candidaruta à Câmara Federal e,
.A adequação mais explicita da mudança de projeto vai se dar quando da posteriormente, ao governo do Estado. Em 1963 foi transferido para a reserva do
substituição da CODEP.--\R pelo B.--\.DEP, momento em que se dá a Exército, como General de Brigada, visto que já estwn afastado do servíço ativo
instinicionalizaçà.o das alteraçàes que já vinham sendo implementad.1.s anteriormente. há mais de oito anos (DJCJON},RIO HISTÓRICO-BIOGR.illCO BR.,SILEIRO,
.A criação do B.illEP (Banco de Desenvolvimento Econômico do Paraná) se dá 1984, p. 438), Esta sua transferência era um indicador de que Ney Braga se definira
no governo de Paulo Pimentel (.\UGUSTO, 1978). por continuar na politica. Foí em março de 1963 que NeyBraga fora eleito
Na gestão de Ney Braga foram criadas outras empresas de economia Presidente nacional do PDC, obtendo com isso maior proíeçào n·3ciona1. Sua gestão

mista: em agosto de 1961, criou-se a C.\FÉ DO P.Ul.-\N..\ (Companhia .Agropecuária no governo do Paraná foi também uma preparação política para trilhar por

de Fomento Econômico do Paraná); em julho de 1962, a FUNDEP.\R (Fundaçiio caminhos mais altos na política nacional. Desde esse peóodo Ney Braga tinha a
intenção de chegar à Presidência da República. No início de 1963 a imprensa
aponta a existência no Estado de uma articulação visando à candidatura de Ner
Braga à Presidência. Francisco de 1fagalhães revela a intenção de Ney Braga no
u Deve-se ob:.crvar que a CODEP.\R, quando tiÕha na presidência Karh'i Rischbieter, em 1965, que se refere a urna possível candidatura presidencial:
t:tmbêm. fez ÍOrtl::$ investimentos no plmej:1mcnto urbàno da cidade de Curitiba (IUPERJ, 1974
:1pud COLffO, 1998, p. 25}. A participação de membro:-: do neyi.smo na implantação da Cid.ade
Havia o movimento tramando a derrubada do Jango e a implàntaçfo do go\a'erno
Industrial de Curitiba no início dos anos 1970 é dc-sticada porJ:ümc Lcrner, t::1.mbém ligado ao
grupo de Ney Braga. Quando prefeito dt' Curitiba pela segunda vez, cm 1980, ao receber uma autotititj.o que era para mode.mizar o país. O golpe estava sendo tramado, tranqüilo.
homenagem da Associação dos Emprc.sârios da Cidade lndmtru.1 de Curitiba -AECICj o titulo O Ner, obviamente, tinha contacto com isso, eu não sabia. 'Seguramente tinha,
de "Pcr:mnalidade ,\ECfC", Jaime Lcrncr afirmou; 'T:;u-.i mim é duplamente significativa esta mas não estava apostando nisso, Atê fim de 63 Ney ainda acr-editav.:i. que o Ja.ngo
homenngem. Primeiro porque quem a recebeu antes de mim foi o ministro Karlo::t Rischbietcr,a
concluiria o seu mandato que llilveria eleições pre~idenciais, e o que ele estava era
· quem o Paranâ deve muito do que hoje pode mostr:J.r em termos de industriali.7...ação e a quem a
História deste país h:í de fazcr justiça como um dos mais lúcidos e corajosos homens público;.; jogando duro e pesado, para ser, pdo menos candídato à vice-presidência. Ele
que tivemos.. Cert:unente a.inda poderemos contar- sepl no setor privado, seja no setor público estava tentando encontrar uma brecha para chegar a sercandídatO à presidência.. Havia
- com a contribuiçfo de s-ua inteligência. (.") Est1 homenagem também quero dividir com
duas posições que o Nerpodia ocupar: candidato à presidência 1'mesmo para perder
t.Lmrfcio Schulmmn, guc. 9uando Secretirio da Fazenda teve papel prepondc.mntc. nos primeiros
com a Democracia Ccistii. Teria como empurrão, as vit6rías democr.it::ts cristãs no
pa:,;,os cb CIC, e. certamente com C:íssio Taniguchi,9ue na URBSvtlbilizou este cmpreendímento.
(.,.) O que parc.CL'.l ser um ide-ai de visionário::;, quando a CIC foi lançada, é hoje um:i. certeza Chile e na Venezuela. O Ney tinha assim, a esperança de ser um freio do Bnsil com
inquestionável e irrever:dvcL (-.) Quando Lmçamos a Odade Industrial de Curitiba., naturalmente apoio americano. Ou, se isso niio desse certo, a outra hipótese era~ de um::t composiç:io
aprcscnt:i.mos aos empresários fatos, dados e números que deram o que pensar; mas t:unbém os com o Magalhães Pinto pela UDN (IP.\RDES,SOBRE POLÍTICA P.Ul.-\N.\ENSE;
convidamos :1 sentir o que significava. integrar a sua indústria à vid.:i de uma cidade como Curin'b:i.,
. que vi,..;a então 'a alegàn de descobrir-se a si mesma" {Apud COUTq 1998, p. 26-27).
ENTREYIST.\S, 1989a, p. 130).

290 291
De acordo com Oliva Augusto, a gestào de Ney Braga é também apoio
De acordo ·com Heller, N ey Braga havía sido acusado, ~m novembro de
para akançnr novos cargos políticos, promovendo-se a. imagem do gnvemador 1966, de financiar o jornal "Última Hora", ainda durnnte sua gestão no governo
em nível nacional. do Est.1do, para fins políticos. Ney Braga teria usado recursos des'tinados a socorrer
o Estado, tendo em vista as queimadas que haviam atingido cafezais paranaenses
(...) todo o aparato modernizante componente da imagem que Ney Braga fazfa de
em 1963. Esses recursos teriam vindo da campanha 1 -Paraná em Flagelo''. ·~
seu governo e o projeto desenvolvimentista nele inserido compunham, rambêm,
acusação foi feita por .Antônio Bruneti no seu depoimento aÕ IPill do Última
uma e.'i.-pectativa da ascensão política, a médio prazo, em termos nacionais. (...)
Hora, conforme declarações do major Dalrno Bozon, enc~rregado daquele
Um.a vez eleito, sua atuação se desenvolveu de maneira a preparar as possibilidades
inquérito e de vários IP?ds" (HELLER, 1988, p. 64).
de vôos maiores. É bastante sàbido que na fase populista anterior a 1964 ha-cia
uma tendência gernl em que a ascensão política pessoal acompanha\d um roteiro Como ressalta Cristiane Grümrn, o periódíco t,O Esta90 do Paraná" foi
em que se partia do âmbito municipal, para o estadual atê alcançar representatividade um importante veículo de propaganda política do govern~dor Ney Braga,
nacional. (.,.) Essa via de ascensão eleitoral também foi buscada pelo (então) contribuindo para construir urna imagem pública em que Ney Bnlga é apresentado
governador do Estado do Paraná. J.liâs, aliava a preocupação por uma imagem de como modernizador do Estado, como um administrador virtuoso, mornlizador
'mais administração e menos política', garantindo os dividendos políticos oriundos da administraçào pública, honesto ao aplicar os recursos públicos (GRÜ\L\l, 1999).
de uma atuação 'técnica e racional' e um esquema populista de sustentação baseado Quando Ney Braga assume o governo do Estado, o partido mais forte na
na doutrina social da Igreja (.~UGUSTO, 1978, p. 68). .Assembléia Legislativa era o PSD, que tinha 17 deputados, seguido pelo PTB, que
nas eleições de 1958 fizera 13 deputados. A Frente DemocrâtiCa, formada pela
Na entrevista concedida a Oliva Augusto, Rubens Requiào afirma que o
UDN e pelo PR tinha 7 deputados (UDN-2 e PR-5). O PSP tinha 4 deput,dos e a
programa do governo Ney Braga, '~-\limentos para o Brasil", fora idealizado para
Frente Trabalhista Ccist'i (PRP-PTN-PRT) tinha 1 deputado. O PDC elegera 3
fazer propaganda política do Paraná e de seu governador, em nível nacional.
depurados (COST_\, 1995: 582-586). Desta forma, a representação do governo na
Assembléla Legislativa era mínoritária. Esta composição partidária da .Assembléia
(...) O governador Ney Braga estava com pruridos de candidato â presidência da
forçou urna aprorirnaçào do governo com o PTB 1 para que pudesse assim superar
República, a líder nacional etc, e o financiamento de sua campanha era feíto pelas
a representação do PSD e obter a maioria na casa. Nas eleições de 1962Ney Braga
empresas de economia mista, na qual a CODEP_.\R entrava com cotas ponderáveis.
articulou uma coligação entre PDC-PTB-UDN, em que apoiou as candidaruras de
( ..) Para evitar que dinheiros que eram destinados ao desenvolvimento do Estado
fossem desviados para campanhas poliricas, eu promovi na _-.\ssembléia, sem muito .Amaury de Oliveira e Silva (PTB).e de .Adolpho de Oliveira Franco (UDN) para o
sucesso, a submissão das sociedades de economia. mista à prestação de contas, o Senado (JP_\RDES, 1989:144) . .Ao comentar o acordo com o PTB, Ney Braga
que o governador Ney Braga combatia et pottl' cause, como dizem os franceses, afirma que "Houve um entendimento bastante amplo, que incluiu a coligaçào
acirrada.mente.(...) O que havia, muitas vezes, era desvio de dinheiro ou aplicações, que elegeu os senadores Adolpho de Oliveira Franco e Amauri de Oliveira e
para ser mais suave, de. dinheiros da CODEPAR para campanhas políticas. (...) O Silva, em 1962" (BRAG-~, 1996, p. 163). No entanto, Ney Braga não conseguiu
governador Ney Braga mandou até batatas para o Nordeste, para uma campanha atrair o PTB para apoiar a candidatura do PDC à prefeitura de Curitiba. O candidato
política, no programa '..--\limentos para o Brasil\ quando aqui nós tínhamos miséria do PDC-UDN-PL, Ivo Arzua, que venceu as eleições, teve no candidato do PTB,
à porta de casa: era uma promoção política para ele conseguir simpatizantes no Carlos Alberto hiforo, seu mais forte adversário. Nas eleições de ·1962, configura.-
Nordeste para a candidatura possível que ele almejava (RUBENS REQUL'i.O, apud se uma nova composição da Assembléia Legislativa, em que o PDC sai fortalecido,
_füGUSTO, 1978, p. 69). o que mostra a força política conquistada pelo governo Ney Braga. O PDC
passou de 3 para 12 deputados, sendo que vários deles já tinham sido depurados
292
293
por outros partidos; o PTB se mantém estável, com uma pequena dim.inuiçào, _.\ tecnocracia, em qualquer de suas formas, torna-se um fenôtneno simplesmente
.impensável sem a referência a um quadro de luta pelo poder entre forças sócio-
passando de 13 para 12 deputados; a UDN elegeu 8 deputados; enquanto 0
políticas que competem por impor a sua Yontade sobre as dema.i~e ganhar O controle
partido que mais perdeu foi o PSD, que passou de 17 para 7 deputados, indicando
dos centros de decisão. Não assumir que o conflito constirui o Ú:rne do fenômeno
um forte declinio do P"tido no Paran:Í (IP-.\RDES, 1989, p. 142; COST.\, 1995, p.
político, não lev.ir em consideração esse aspecto elementar da ex.ístência histórico-
586-588). Com essa nova configuração da Assembléia Legislativa, cuja legislatura
social, equivale a admitir que o contingente técnico-científico, em contraste com
seria de 1963 a 1967, há uma ruptura no acordo entre 6 PDC e o PTB . .A partir daí
todos os demais setores da estrutura soda!, forma-se, transforma-se e atua nwn
o PTB passa para a oposição ao governo de Ney Braga. vácuo de poder ()L.\RTINS, 19í4, p. 26).

3.4 A FOllliL.\ÇÀO DO NEYISMO Apesar de participarem de lut'tS políticas, os tecnocratJ.s são críticos do
processo pólítíco, pois vêem aí um fogo de competição irracional. Não demonstram
O neyismo, grupo politico ligado a Ney Braga começa a se configurar q=do
simpatia pelo homem politico.1-·fa.rcins entende que o autoritarismo é essencb.1 ao
do ingresso deste no PDC, mas é em sua primeira gestão no governo do Estado
tecnocrntismo, pois nega a legitimidade ela vida politica. Sem uma vida democr:ítica,
que o grupo é estruturado. Quando ingressa no PDC, Ney Braga já tinha um projeto
as decisões de governo aparentam ser dot:idas de objetividade e de imparcialidade.
politico, sendo que para isso necessitav.1 constituir um grupo político que ocupasse
Destacaremos a seguir alguns membros do neyismo, apontando a
espaços estratégicos, seja na administração pública, seja em partidos políticos,
participação de cada um até a primeira gestão de Ney Braga no governo do
contribuindo assim para a viabilização de tal projeto. Os membros deste grupo
Estado. Posteriormente, voltaremos ao perfil de cada membro destacado aqui.
político apresentam um perfil marcadamente tecnocrático e, além disso, al~ns
S.-\.UL R..-\JZ formou-se em Engenharia Civil em 1952; pela Escola de
deles têm passagens importantes na inicia.tiva privada, como consultores de empresas
Engenharia da Universidade do Paraná. Durante dez anos 'foi Engenheiro-
nacionais e multinacionais, como se verá, principalmente no último capítulo.
Chefe da Divisão de Urbanismo da Prefeitura 1v!uniciPal de Curitiba.
1fartins aponta dois princípios básicos da .filosofia política tecnocrática:
Especializou-se na França, em Planejamento Urbano, fazendci um curso de 12
o primeiro se refere à tese de que somente é jus.to aquele poder exercido em
meses. Ainda na França fez um curso de Econorrúa e Urbanismo, sendo que
nome do saber. O único princípio que dá validade à legitimação da autoridade
um dos ministrantes foi o padre Joseph Lebrett dorrúnicano francês, que
é o do saber. Desta forma, apenas o poder baseado no saber pode reivindicar
trabalhou com projetos econômicos. Saul fuúz Participou da campanha de Ney
a obediência política, O segundo princípio uconsiste na drástica redução do
Braga à prefeitura de Curitiba; trabalhou no Departamento d~ Planejamento e
s::1.ber como tal a uma das formas particulares de manifestação do saber, qual
Urbanismo na gestão de Ney Braga no governo do Est1do; ~ foi Diretor do
seja a forma técnico-científica" (/IL.\RTINS, 1974, p. 104). Martins considera
DER na primeira gestão de Ney Braga (BIBLIOTEC.\ PÚBLIC.\ DO p_\JUN.-\.,
que esta filosofia política realiza uma supressão do ueun do tecnólogo, condição
Curitiba) (P.-\NOIL.\llL.\, fev./1966, o.º 165, p. 65).
gue permite a infalibilidade tecnocrática. A ideologia tecnocrática faz da ciência
K.\RLOS RISCHBIETER formou-se em Engenharia pela Universidade
e da técnica entidades superiores, que estariam acima das diferenças existentes
Federal do Paraná e também trabalhou no Departamento de· Planejamento e
entre indlvíduos., grupos ou classes sociais. 1.vfas não dei..";;:a de estabelecer uma
Urbanismo na gestão de Ney Braga na prefeitura de Curitiba; e foi Presidente da
divisão entre elite e massa. A elite é formada pela aristocracia tecnocrática.,
CODEP_-\R (Companhia de Desenvolvimento do Paraná) (SENHOR, jan./1980,
aquela que por habilidade próprui· possui a capacidade de pensar, de analisar.
n.º 22, p. 48) (GAZETA DO P0\'O, 11 ago./1973, p. 9). O empresário J.WME
Para 1-fartins, a tecnocracia é um fenômeno político.
C..\NET JÚNIOR apoiou e coordenou a campanha politica de Ney Braga ao

294 295
gd,/erno do Estado em 1960; foi Presidente da C.:\FÊ DO P_\R..\N.-\ e do B~nco Borges (Goiás), Carvalho Pinto (São Paulo), Chagas Rodrigu~s (Piauí) e Carlos
do Estado do Paraná (C.\RNEIRO; Y.\RG.\S, 1994, p. 239-240). "L\URICIO Lindberg (Espírito Santo) estavam teunídos em almoço em S~o Paulo, quando
SCHUU\L\N estagiou, em 1960, na Eletricíté de France e na IRFED, órgãos estatais souberam da renúncia. Os governadores de lvlinas Gerais, do Paraná, do Espírito
franceses (B!BLlOTEC.\ PÚBLlC.\ Db P.\R.\N.\, Curitiba); assumiu a chefia do Santo e de Goiás procuraram o presidente na base aérea de Cumbica, São
Departamento de Engenharia da Copel, em março de 1961, passando a Paulo, com_ o propósíto de fazê-lo voltar atrás de sua decisão. Diante da recusa,
Superintendente-Técnico em outubro do mesmo ano; em dezembro de 1961 chegaram a emitir um cbmunicado ao Congresso Nacional, para que este não
foi nomeado por Ney Braga Diretor do Departamento de Águas e Energia aceitasse a renúncia (G.\ZET,\ DO PO\'O, 26 ago./1961, p. 8) (O CRUZEIRO, 9
Elétrica do Est:ndo. Em abril de 1962 foi nomeado Diretor AdministratiYo da set./1961, - Caderno Extra, p. XJJ).
CODEP.\R; foi eleito Diretor Técnico da COPEL para o triênio de 1962-65; e foi Quando da renúncia de Jânio Quadros, Ney Braga não ,dei..'-::ou claro sua
assessor do ~finistro do Planejamento e Coordenação Econômica, Roberto posiçào. Ou seja, se apoiava os lvlinistros 11ilitares, contrários à posse do Vice-
Campos, entre 1964 e 1966 (DICION.\R!O HISTÓRICO-BIOGR.\FJCO Presidente João Goulart, ou se apoiava a corrente da legalidade, liderada pelo
BR.\SILEIRO, 1984, p. 3118). NORTON l\L\CEDO formou-se no Rio de Janeiro governador do Rio Grande do Sul, Leonel Brizola, que defendia a posse de Goulart
em 1956, pela Escola Brasileira de Administração Pública da Fundação Getúlio Recebeu a visita do coronel José !-.farin ..Andrada Serpa, gue conspirava contra a
Vargas.. Em 1959 tornou-se bacharel pela Faculdade de Direito da Universidade posse de Goulart. Enquanto isso, o prefeito de Curitiba, general'Iberê de !vfattos,
do Paraná. Em 1961 tornou-se advogado do Departamento Estadu:il do Serviço do PTB, se dispusera a apoiar Goulart, colocando o aeroporto à disposição do
Público e da Procuradoria Ge~al do Estado do Paraná. Neste mesmo ano assumiu Vice-Presidente (DICION.\RJO HJSTÓRJCO-BIQGR.-ÍFICO BR.\SILEIRO, 1984,
a chefia do Gabinete da Secreta.ria do Interior e Justiça do governo Ney Braga; p. 438). Ney Braga ainda cuidou da fuga de Andrada Serpa para São Paulo, a
no período que vai de 1961 a _1965 foi também secretário do governador pedido do então general de brigada, Ernesto Geise~ gue ser;via em Curitiba
(DICION.\RJO HISTÓRJCO-BJOGR.\FICO BR.\SJLEIRO, 1984, p. 1976). (SENHOR, jan./1980, n.º 22, p. 49).
VÉSPERO ?l!ENDES formou-se em 1957 na Escola de Engenharia da Universidade Em Curitiba., na noite de 27 de agosto, a sede da União Paranaense dos
Federal do Paraná, lecionando administração nesta mesma universid:id_e. Em 1958 Estudantes foi decL-u:ada, por estudantes e trabalhadores, a "Casa da Legalidade",
,,•;,,
cursou Treinamento em Problemas do Desenvolvimento Econômico, pela CEP~--\.L. em defesa da posse de Goulart. No Congresso Estadual dos Estudantes, o
Em 1963 cursou Planejamento Industrial em Porto Rico e EU.\, promovido pela repr~sentante do governador Ney Braga, José Richa, leu uma mensagem do
.-\ID. Foi Diretor Administrativo do DER entre janeiro de 1961 a março de 1962, governador, n gual foi recebida com frieza, por ser consider~da dúbia. Num
quando assumiu a Secretaria de Estado dos Negócios do Governo, até abril de manifesto feito em 27 de agosto, estudantes e trabalhadores exigem do governador
1964. Nesse período passou a ocupar a Secretaria da Educação e Cultura, cargo um pronunciamento claro em defesa da constituição e da posse de João Goulart
que ocupou até maio de 1965, quando passou a exercer a Superintendência da (TRIBUN.\ DO P_\R.\NcÍ., 28 ago./1961°, p. 5). No dia 28, em mensagem ao povo
Fundação Educacional do Paraná (FUNDEP.-\R) (B!BLIOTEC.\ PÚBLIC.\ DO do Paraná, Ney Braga defende o retorno de Jânio Quadros:
P.\R.\NA, Curitiba).
Julgo que a mefuor solução é a volta de Jâa.io para, com a união nacional dos homens
3.5 NEY BRAGA E A CRISE DA RENÚNCIA DE JÂNIO QUADROS de bem, livrar o Brasil das pe.ias que o levaram à renúncia. (...) Porcerto,Jânío não se·
negará a servir à Pá~a, na sua suprema magistratura, pois isso n.âÔ seria digno dêle.
Em agosto de 1961, quando da renúncia de Jânio Quadros, os (...) Se Jân.io não pôde, ninguém poderá governar o Brasil com as mesmas amarras
governadores Ney Braga (Paraná), Magalhães Pinto (Minas Gerais), Mauro que êle denunciou à Nação (TRIBUN.\DO P.\R.-\N,'., 29 ago./1961, p. 7).

296 297
Na mesma men.Sagem, afirma ser a favor da ordem e da legalidade, e que minha posição de acatar a decisão que o Congresso Nacional tomar, Os ,2,,Iinistros

acataria as decisões do Congresso Nacional, "'órgão máximo da nação 0-Iilítares não tem autoridade para discordar do Congresso Reafirmo minha

democrática". Além disso, pediu aos estudantes que não realizassem comícios e posição de prestigiamento iis decisões do Congresso Nacional. Eu as acataria, mesmo

outras manifestações, o l1ue poderia excitar a população. No dia 29 1 em nm~a que fossem pelo 'impeachment' do Sr. João GoularL (TRIBUN :\ DO P+-\R:\.NA,
mensagem ao poi:o do Paraná, Ney Braga afirma: ':-\guardo a decisão do Congresso 1.º set/1961, p. 5).
Nacional mas reitero o apêlo que fiz sobre Jânio Quadros". Em outra mensagem
do mesmo dia, declara: Ney Braga afirma que Iberê de 1fattos organizou em Curitiba a chamada
"Rede da Legalidade", em que emissoras de rádio clivulgav:un pronunciamentos
Ficarei no governo, cumprindo a Yontadc. do povo que me elegeu e defendendo a favoráveis à posse de João Goulart. Diz que, embora fosse favorável à legalidade1
doutrina que prezo: a democracia cristã; democracia que permitirú que se realizem não quis participar da rede, pois esta teria sido usada como instrumento político
as reformas sociais há tanto tempo reclamadas pelo prn:o; democracia que Jànio
pelos seus adversários (BR.:\G.-\, 1996, p. 184). Iberê de :b.fattos sofreu censura ao
Qu:idros efetirnrâ se voltar ii Presidência da República ffRIBUN~-\ DO P+-\R.:\Nj,,
tentar falar na televisão sobre a conjuntura nacional, particularmente sobre o
30 agoJ!961,p. 6).
cumprimento constitucional. No dia 28 foi intimado a interromper uma entrevista

O Comandante da 5,ª Região iviilitar 1\ General Benjamim Rodrigues que concedia à televisão (G.\ZET.\ DO Püí"O, 29 ago./1961, p. 8). A revista

Galhardo, divulga, no dia 30, nota oficial declarando que as forças militares Panorama registra protesto do prefeito de Curitiba, dirigido às autoridades

paranaenses defendem o cumprimento à Constitt:tiçào, e que, port1.nto, acompanham responsáveis pelas telecomunicações no país, pois Iberê considerava· gue havia

a decisão do Comandante do lil Exército (TRIBUR\ DO P.\!HN.-\, 31 ago./ um tratamento desigual, visto que ele fora impedido de falar na televisão, enquanto
1961, p. 6). As tropas lideradas pelo General Benjamim Rodrigues Galhardo o governador N ey Braga "teve no ar, por 24 horas, uma emissora exclusivamente

passaram a cuidar da divisa com São Paulo, procurando impedir o possível acesso para seus comunicados _oficiais" (P.--\NOR..-\i\L-\, set./1961, n.º 112, Caderno Extra),

de tropas aliadas aos 1\finistros tvlilitares, vindas de São Paulo em direção ao Rio De acordo com Ricardo Virgilino da Silva, a implantação do parlamentarismo

Grande do Sul, o que acabou não ocorrendo (TRlBUN.-1. DO P.\R.'u'l,\, 31 ago./ foi a forma encontrada entre militares e políticos para solucionar a crise da renúncia,

1961, p. 12) (O CRUZEIRO, 9 set/1961, Caderno Extra, p. Xll). No dia 31 foi Após a renúncia de Jânio Quadros, os lvfinistros militares &vulgaram um manifesto

liberada a (<Cadeia da Legalidade" no Paraná. No mesmo dia, Ney Braga declara no qual se recusam a riceitar a posse do vice João Goulart, explicitando que no

que os tvlinistros Ivlilítares devem respeitar a decisão do Congresso: sistema presidencialista, Goulart teria muito po_der. Os setores políticos
conservadores, como a UDN e o PSD, também se recusam a aceitar Goulart com
Se os 1Iinistros i\iilitares não acatarem a decisão do Congresso Nacional, estaremos os poderes presidenciais. Por outro lado, outras forças políticas defendem a posse
conto eles.( .. ,).-\ solução total da crise é o prestigiumento do Congresso. Reafirmo de João Goulart,. como o governador do Rio Grande do Sul, Leonel Brizola,
assim como estudantes, operários e camponeses. O Comando do III Exército,
chefiado pelo General José Machado Lopes, que compreende os três Estados

u Sediada em Curitiba, a 5.ª Região 1Iilitar é subordinada ao comando do III fü:ército, com sede
do Sul do país, também adere ao movimento pela legalidade. Lopes tomou essa
em Porto Alegre. O III Exército, que compreende as guarnições federais do Rio Gmnde do Sul, posição após ter recebido ordens dos 1v1inistros militares de atacar o Palácio do
do Parnnã e de Sanm Cutarina, é comandado pelo General Josê Machado Lopes, que e:mi ao Lldo
governo do Rio Grande do Sul, se recusando a fazê-lo. Desta forma, o
do governador Leonel Brizola, em defesa da ordem constitucional e pela posse de João Gou!art

298 299
parlamentarismo seria uma solução de compromiss~ para a crise da legaliôade, mudanças no Gabinete 1\.Iínister:ial1i, o que prejudicava a admini~traçào do Estado,
pois assim Goulart teria seus poderes reduzidos. Para Silva, a solução do principalmente na relaçào com o governo federal. ivfas n,ão há como não
parlamentarismo seria apenas uma trégu.1 no conflito, mesmo porque este conflito contemplar a lÜpótese de que seu interesse pela continuidaci;e. da legalidade e1
16 posteriormente, a sua defesa em favor do retorno ao presidencialismo, no
não se dá entre as elites, mas é um conflito de chsses •

Silva afirma que: plebiscito realizado no inicio de 1963, é motin1.do também pelo seu desejo em
1

chegar à Presidência da República.


( ...) 0 acordo forjado por parcela das elites, cristalizado na Emenda parbment.1.rista, A condição de governador do Paran:i. possibilita a Ney Braga ter uma
jttstamente por nào incorpoor a possibilidade da realização das reformas de base, presença constante no cenário político nacion:il. Em outubro de 1961 ocorre um
sen'llldo como um poderoso obstáculo à sua realização, não poderia ser mais que encontro em Goiânia entre Leonel Brizola, I\fauro BorgeS·, 1vliguel Arraes,
um arrefecimento passageiro do conflito. Uma trégua, como afirmamos. 0fas uma Francisco Julião, dentre outros políticos nncionalistas1 no qual eb~oram ó t.fanifesto
trégua conservadora (SILV.\, 1992, p. 59). da Frente de Libertação Nacionn.I 1t, intitulado "Declaração de Goiânia". Ney
Braga dá declarações no Rio de Janeiro em que sutilmente critíca'aquele manifesto:
Ney Braga participou da reunião entre governadores e os 1vlinistros 1vlilitares,
realizada no Rio de Janeíro, para díscutir o parlamentarismo. Além dos 1v!inistros,
estavam presentes os seguintes governadores: Carvalho Pinto (São Paulo), Juracy
17
O primeiro Gabinete teve como Premicr Tancredo Neves, que: após mcsi!S de instabilidade, se
J\,lagalhàes (Bahia), Ney Braga (Paraná), Magalhães Pinto (Mírus Gerais), Celso
dissolve cm junho de 1962. Goulart indica San Tiago Danms para substituir Tancredo Neve:,,
Peçanha (Rio de Janeiro), Celso Ramos (Santa Catarina), Carlos Lacerda (Guanabara), mas o Congresso recusa a indicação, pois Dantas estava vinculado ~s propostas de reforma,
e Carlos Llndberg (Espírito Santo) (TRIBUN.\ DO P,\R.\N.\, !.º set/19.61, p. 12). embora fosse um modemdo. Diante da recusa, Goulart indiCI o Senador pelo PSD, Auro de
~IouraAndrade, poUtico conserv':ldor, Seu nome~ aprovado pelo Congres!1o, mas nii.o foi o.ceita
João Goulart foi empossado no dia 7 de setembro de 1961, após o acordo
pelos setores que defendiam o.s reformas de b.tic. ?llour:1 .--\ndr:1de não ,resiste às pressões e
estabelecido para a implantação do parlamentarismo. renuncia ao cargo. Goufartindica então Fr:1nci:ico Brochado dt Rocha, amigo do próprio Goula.rt
e de Leonel Brizola. Broch:tdo dt Rocha tinha um perfil reformÍstJ., mas não representava uma
3.6 A POSTURA DE NEY BRAGA DIANTE DO GOVERNO :tme-aça como San T'mgo J)ant:l:l, sendo aprovado no Congre:ssu A índi~iio de Brochado da
Rocha teria o sentido de mostr:i.r a inviabilidade do sistema parlamentuisti, ..-\ partir do Gabinete
JOÃO GOULART de Brochado da Rochn., o governo posicionou-se fortemente: contra o p:ul:unenran$mo, visando
à restnuração do presidenci:i.lisma O prôpcio Gabioete se colocava contr:l. o p:ulament:lrismo.
Posteriormente, Ney Braga trabalha para o retorno do presidencialismo, Depois de uma série de pres:.ões, o Congrc%o ::iprova a re:a.lização de urp plebiscito sobre o
sistema de governo. Com a queda do Gabinete Brochado e: ::1 aprovação do plebiscito, Goulart
motivado, segundo suas declarações, pela instabilidade causada pelas constantes
constitui um gabinete pmvisório, que teve Hermes Lim:1 como Primeíro~tlinistro. Em 23 de
janeiro de 19~3, depois de re:ilizado o plebiscito, o Congresso revoga a E.mench Constitucional
que criou o Pa.d.ament:lrismo (Sll..V.--\, 1999, p. 60-64).

u A Frente de Libert.1ção Nacion:U foi constituída por políticos nncionalis~ que, pouco antes
dessa declaração, haviam lutado pda poste de João Goulart. Nessa decl!lt'açiio, defendiam a
11 " ...a crise 9ue emergiu tto plano poli rico com a renúncia de Quadros não poderia ser solucionada nacionalização das companhhs estrnngeira.s; a regulamcnt:tção da Lei de Remessa de Lucros,
atr.l.vés da estratêgia tr:1.dicional de conciliação (formal e inter-elites). A r:uão disso é que os assim como da Reforma .--\gciria. Tlmbe.tn condcnlv:un a intromissão dos Est:tdos Unidos e da
confl.itos que caracteriz-av:un a crise não se originavam no universo das elites. (._..) eram conflitos Uniiio Soviética na politió interna e ex:term brnileir.L Consider:lV:t-se que estes objetivos poderiam
que se:..presenbvam, progre;sivamente, como conflitos de dMSe. Ent3.o, somente wna e:,tratégia ser realizados, se as forças nacionalisl::ls ven~e-m :1.::1 eleiçõe:. de 1962 A F.rcnte foi des-a.rtlculada
potític:J. de rond/ia;iM dt d,m11 poderl!l superar aquela crise nos marcos do regime democrático" após as eleições, em virtude de divergênci:is causada:, por díferente:-s orientações poürica:1
(SILVA, 1992, p. 60). (DICION)JUO HISTÓRICO-BIOGRJ.FICO BR.\SIT.EIRO, 1984, p. 1390).

300 301
.,. d eclaraça· 0 de Goiânia, é um movimento como tantos outros que aí existem,
", e sem objetividade. O certo é que Ney Br;iga agia visando co~struir .o caminho
(O EST.-IDO DO P.\R.-'.N•.\., out./1961, p. 4). Nesta mesma entrevista defende que o levasse à presidência nacional do PDC e em seguida à sua candidatura à
e
re1ormas es trutur·•s
'" , como a, agrária· , direito de voto -aos analfabetos, controle de presidência da República. Por isso a retôrica em defesa das reformas, as quais
remessas de lucros ao e..,;;:terior, dentre outras, afirmando que estas deveriam ser de-veriam ser referenciadas pela doutrina social cristã. Esteve em 1.vlinas Gerajs
ufeitas com O respeito à livre iniciativa e às nossas tradições cristãs, dentro dos para se encontrar com l\fagalhães Pinto e com Aluísio .Alves, governador do Rio
ensinamentos da enóclica papal 'lvlater et Magistra"' (O EST.-IDO DO P.-\R..-'.N..\., Grande do Norte, que também se recusaram a assinar o referido manifesto. Em
out./1961, p. 4). A referência a essa encíclica papal esrnrá constantemente presente suas memórias afuma que a formação de blocos suprapartid:írios era uma forma
na fala de Ney Braga neste período, .As. declarações de Ney Braga em defesa de de negar a democraóa (BR. ,G.,, 1996, p. 180).
reformas estruturais aproxima o gov·ernador do presidente da República. Na Convenção Nacional do PDC realizada em março de 1963, Paulo de
Alguns dias após o Jvfonífesto da Frente de Libertação Nacional, os Tarso e Plínio de Arruda Sampaio, ambos pertencentes à corrente nadonalista-
governadores Carvalho Pinto de São Paulo, Cid Sampaio de Pernambuco, e Juracy reforrnism do PDC, apoiaram a candidatura de Ne.y Braga à presidência nacional
lvfagalhães da Bahia, articulam um manifesto contrário àquele, Pensam na ctiaçào do PDC. Pàulo de Tarso defendeu a candidàturà de Ney Braga, pois este não
de uma nova frente política. Destas negociações participam os governadores de estava vinculado aos dirigentes católicos paulistas, que até entào controlavam a
São Paulo, 1linas Gerais, Paraná, l\fato Grosso, Espírito Santo, Alagoas, Sergipe, PDC. O outro candidato, Franco 1vfontoro, era visto como representante da tradição
Bahia, Pernambuco e.Río Grande do Norte. No entanto, Ney Braga recusou-se a do partido. Paulo de Tarso lutava pela renovação do PDC, dai' seu apoio a Ney
assinar o manifesto preparado por Carvalho Pint~,Juracy Magalhães e Cid Sampaio. Braga isi, Pertencente a uma corrente mais conservadora, Franco :tviontoro recebeu
Envia uma carta-proposta ao presidente nacional do PDC, Queiroz Filho, na qual o apoio do então presidente do PDC, Queiroz Filho.
defende que o próximo Congresso Nacional seja eleito para uma .Assembléia O relativo apoio de Ney Braga ao governo Feder~ leva Goulart a ceder
Constituinte. Nesta carta, afirma: um ministério ao Paraná. Quando da formação do segundo ministério
presidenóalisL, de Goular~ em junho de 1963, Ney Braga já era Presidente Nacional
Considero (.") inacilável que o PDC, rewiido num encontro nacional, procure mais do PDC. Goulart enviou a Curitiba o então Chefe da Casa Civµ da Presidência,
uma vez atualizar sua Mensagem a partir lle novos ensinamentos da doutrina
EvandroLlns e Silva., para comunicar a Ney BC'aga que o Paraná tetja um ministério,
social cristà contidos na Encíclica }.!ater et i\lagistra, luminoso e providencial roteiro
e que poderia ser um membro do PTB. Goulart escolheu Amaury de Oliveira e
que nos poderá levar sem delongn.s à formação de soluções concretas para os
Silva, do PTB paranaense, que assumiu o Ivlinistério do T.rabal.bo e Previdência
problemas de estrutura. que decorrem de nossa recente evolução política e econômica
(O ESL-IDO DO P.-\R..-'.N ..\., 8 nov./1961, p. 4-5). Social. O Chefe da Casa Cívil também conversou com Ney Braga sobre a
nomeação de um ministro do PDC, o qual seria Paulo de Tarso. Deputado Federal
Estn cartn-proposta., tornada pública,mostra que Ney Braga está procurando pelo PDC paulista, Paulo de Tarso foi convidado para assuffitl; o l-.1inistério da
se credenciar a assumir a presidência nacional do PDC. Em outra carta, de caráter Educação e Cultura. No Ministério, Paulo de Tarso se afastn da posição do PDC,
pessoal, enviada a Queiroz Filho e não tornada pública, Ney Braga teria justificado
sua recusa em assinar o manifesto. De acordo com o jornal ªO Estado do Paraná",
a recusa se devia ao motivo de que Ney Braga achava o movimento inconsistente
" DIC[ONARIO 1-ITSTÓRICO-BIOGR.AFICO BR.-\SILEIRO, 1984, p. 2515.

302 303
(-.) Por algum tempo, senhores, pensei que pudéssemos apoiar ~o Paraná e mesmo
assumindo uma posrura mais de esquerda, aproximando-se da Frente Parlamentar
pelo Brasil o gO\'emo que se constituiu depois da renúncia do e.-.:-p'.residente. Para isso,
Nacion:ilista (FPN) e da Frente de Mobilização Popular (fl!P)'°. Esta postura de
Paulçi de Tarso foi criticada por setores do PDC, sendo que sua expulsão chegou .
realmente, havia r.izões que posso invocar. E tive rnzões sérias queme.le;..ilr'Jrtl , porém '
à incompreens.i.o de muitos pn_ra adotar aquefa atitude. Não 5Ó porqu~ o Paraná precisasse:
a ser pedida pela seção do Paraná, gerando inclusive conflitos com Ney Braga
da administrnção federal .•\ esperança que tínhamos- eu e tantos homens públicos do
(DIC!ON.-Í.RlO HISTÓRlCO-BIOGR.-\FICO BR..\SILEIRO, 1984, p. 2515). Em
Brasil que militavam em hostes diversas daquela do que então ass~ a Pres.idênda
outubro de 1963, pouco antes de Paulo de_Tarso pedir demissão, Ney Braga faz da República- era de que ele ,.;essej ajudado por uma equipe de ~omens idealistas, a
1
declarações sobre a atuação de Paulo de Tarso no l\'Iinistécio: 'Sua atuação política dirigir bem a nação brasileira em hora tão dificil da SU:a história ...-\ss~ o acompanhamos;
não decorre da prognose pedecist," (O EST.-\DO DO P.\R..\N..\., 16 out/1963, p. (. ..) (DL-\RlO DO P.\R..-\N..Í.,02.\br. 1964, p. 2).
4). Enquanto Paulo de Tarso se aflroxima dos movimentos de esquerda e sofrerá
cassação policica após o Golpe de Estado, Ney Braga mostra-se critico aos blocos Ney Braga mantém um discurso recorrente em favor das reformas de
base, mas o conteúdo de suas reformas não era tão próximo àqueles defendidos
criados para defender us reformas de base.
por Goulart Vejamos um aspecto revelador da postura de Ne)t Braga &ente à
Quando João Goulart indica Carvalho Pinto para ocupar o h!inistério da
quest.1o da terra: .Ainda no governo de Jânio Quadros, entre oS dias 12 e 15 de
Fazenda, este ficou relutante em aceitar o cargo. Antes de fazê-lo, conversa em
agosto de 1961, realizouNse em lvfarin~ Noite do Paraná, o II Congresso dos
particular com Ney Braga em Brasil.ia e, em seguida, mantém conversaçàes, no
Lavradores Trabalhadores Agrícolas do Paraná. Este Congress9 contou com a
apartamento de Ney Braga, com Evandro Lins e Silva Qvfinistro do Exterior), participação do Deputado Francisco Julião, líder das Ligas camponesas; de wn
Senador Amon de Jvfello, .Antonio Balbino (lv!inistro da Indústria ·e Comércio), representante do Governo Federal, o Deputado Nestor Duarte, lider do governo
Mauro Salles (Chefe de Gabinete do lv!inistro da Indústria ·e Comércio) e o na Câmara dos Deputados; de representantes da ULTAB (União dos Lavradores
próprio Ney Braga (O EST.-\DO DO P.\R..-\N •.Í., 20 jun./1963, p. 4). Este procura e Trabalhadores Agrícolas do Brasil); do Deputado Josué de Castro, Presidente
manter boas relações com o governo de João Goulart, visando garantir recursos da Associação Brasileira de Co'mbate à fome; do Senador Nel!ion 1vfacu1an do
para o seu governo no Paraná. Quando ocorre o Golpe de Estado de 1964, Ney PTB; do General Agostinho Pereira Alves, Presidente do J:>SB; enfim, líderes
sindicais, prefeitos, vereadores e deputados. O número de delegados credenciados
Braga procura justificar o apoio que dera a João Goulart.
chegava próximo de 600. Mais de 1.000 pessoas haviam assinado o livro de
presença. O tema central do Congresso era a Reforma Agrári~. Em um artigo
no qual faz urna discussão sobre o referido Congresso, Nestor Vera ~firma:

11 A Frente de Mobilizaç.ão Popubr surgiu em 1962 e tinha por objetivo defender e pre-s5ionar o (...) foram denunciados com veemência os crimes que os fazendeiros e latifundiários
governo em favor dns reformas de base. O movimento era liderado pelo goveffilldor do Rio
de toda espécie, juntamente com seus jagunços e a policia, cometem contr.\ os
Grande do Sul, Leonel Brizoh Representantes de diver:ms org.ullz.ações eram integrantes da
Frente: Commdo Gern.l dos Tr:ibalhadores (CG1), Pacto de Unidade e Açio (PUA), União trabalhadores e os pequenos sitiantes. O salário mínimo não é pago. Os direitos de
Naciorul dos Estudarites (UNE), União Brasileira dos Estudantes Secundâ.cios (UBES). Além fé.tias, descanso semanal remunerado e outros que a lei garante, não são respeitados.
disso, parlamentares da Frente -Parlamentlr Nacionalist:l. e membros de entidades camponesas e 'Os grileiros', apoiados pelo governo e demaís auto.tidades., despej~ os camponeses
femininas também integram a f1,,[P, A Frente foi fechada pelos milit:1.res apôs o Golpe de Estado.
de suas terras, os espancam, os assassinam e queimam suas casas. Constantemente
A Frente Pnrlamentlr Nacionalistt em integr.i.da por deputados de difercntts partidos, e aruou
entre as leghb.turas de 1956 e 1964. Defendia no Congttsso Nadono..l pÔlitic:is de caráter há choques armados entre os posseiros e os jagunços e a políciii dos grileiros. Os
nacionalistas, mas a sua atuação foi ass.istemárica. e inconsistente. Os interesses dos p-arlamen~ tiroteios aumentam por toda parte. As zo~as litigiosas do norte'do Paraná são um
e:rum heterogêneos, havendo concordância apenas em linhos mnis gerais (DICIONARIO barril de pólvora (VEJU, 1961, p. 63).
HISTÓRJCO-BIOGIL-\FICO BRASILEffiO, 193-1, p. 1390-1391 e p. 1393-1398).

304 305
Sabendo da realização do Congresso, os bispos do Norte do Paraná (dioceses participar do Congresso e participar dos debat~s. Esta parJ-cipação chegou a
· 1 Londrina , Marinoó
d e Jacarezin 10, v~ e Campo Mouri\o) procuraram se contrapor a tumulruar os debates e algumas pessoas foram retiradas do Congresso peb
ee. · ntes, críararn a Frente Agrária Paranaense. Esta Frente preparou a presidência da mesa. No período da noite, um grupo de jovens) alguns com
1 U mmesa
chamada Festa da Lavoura, que se realizou no dia seguinte ao da abertura do cartazes contra Francisco Julião e contra o Congresso, se aproximou do local
Congresso. As lideranças religiosas queriam dei...'-i:ar claro a sua influência junto ao onde se realizava o II Congresso dos Trabalhadores Rurais'.· Havia um cerco
homem do e1mpo, ao mesmo tempo em que pretendiam condenar o Congresso, policial, mas os manifestantes começaram a atirar pedras no prédio e tentaram
pois entendiam que ele tinha inspiração comunista. Os bispos est.'lvam preocupados passar pelos policia.is, provocando um choque entre policiais e manifestantes.
com a possibilidade de a Igreja perder a influênàa que e..'\:ercia junto ao homem do Um padre incitava os manifestantes·, o que levou um outro p~dre a retírá"lo do
campo, pois sentiam que as Ligas Camponesas poderiam ser uma ameaça. Ney local No dia seguinte, no período da noite, apesar de Francisco Julião ter ido a
Bragn não este,:e em 1V[aringá 1 mas mandou uma comitiva, dirigida não ao Congresso, Londrina, manifestantes fizeram o enterro simbólico do líder camponês. Depois,
mas à rn:mifestaçào dos bispos. Samuel Guimarães da Costa afirm.'l: manifestantes se dirigiram para o IoCal do Congresso, que já estava com as portas
fechadas, pois a sessão do Congresso no período da noite tinha.sido cancelada.
.\ reportagem de 'P•.\NOR.\;\L\' chegou a fliariogá,'cerca das 12 horas de Domingo,
Derrubaram as portas do prédio e depredaram alguns móveis, além de atingirem
dia 13, ,'lajando no aviiio do governo do Estado, juntamente com a comitiva que
hotéis e outros locais. Houve intervenção policial, " ... com novas pancada.rias em
representa.ri.a O governador Ney Braga. Recusando o convite do II Congresso, o
pontos diversos do centro da cidade" (COST:\, 1961, p. 6-18).
·gm·erno se faria representar na concentração organizada. pelos bispos. No aeroporto
De qualguer forma, a postura de Ney Braga não era exatamente igual
de i\faringá, a comitiva go~ernamental foi recebida por representantes do PDC e
âguela adotada pelos udenistas. No Paraná, por exemplo, enquanto Ney Braga
UDN, rum:1ndo em seguida para u Festa da Lavoura (COSTJ., 1961, P· 7).
defendia a reforma constitucional para que se fizessem as referidas reforffi.fls de
O Deputado Nestor Duarte, representante de Jânio Quadros, não foi base, a UDN do Paraná fazia campanha por todo o Estado contra a reforma
autorizado a ler a mensagem presidencial no encontro promovido pelos bispos, constirucional. Os uden.istas se mostravam mais intransigentes com refação às
visto que ele faria a leitura da mesma mensagem também no Congresso, o que os reformas. Ney Braga dizia que as reformas de base deveriam ser feitas dentro da
bispos niio aceitaram. Assim, a mensagem presidencial foi lida apenas no ordem e dentro dos princípios cristãos. Embora fizesse discursos em defesa das
Congresso. Jucundino Furtado fez a leitura da mensagem do governador Ney reformas, Ney Braga não se aproximava dos políticos que esta-:vam defendendo
Braga, na manifestação promm-ida pelos bispos. Aí esteve presente também o de forma mais contundente tais reformas, como é o caso de Leonel Brizob e de
Secretário da Agricultura, Paulo Pimentel, que era o representmte pessoal do Miguel Arraes.

governador. O bispo de 1fa.ringá, Dom Jaime Luiz Coelho, condenou co~ No final de junho de 1963, Ney Braga foi a Recife participar do Encontro
veemência II Congresso dos Trabalhadores Rurais. O padre 1farcon1 Nacional do PDC. Neste encontro Ney Braga e o PDC defenderam as reformas
O
h-fontesuma2 1, secretário do bispado de Londrina e coordenador da Frente de base, tais como reforma agrária, bancária, eleitoral e tributá.ri~. No entanto, os
Agrária, informou que pouco mais de cem pessoas foram enviadas por ele para pedecistas de pernambuco eram contrários a lvfiguel Arraes, e Ney Braga apenas
se encontrou com o governador de Pernambuco em um jantar de cortesia,
oferecido pelo governador, onde também estiveram Paulo de Tarso e Franco
lvfontoro. Não houve qualquer comício _em conjunto. No encerramento do
!t Monte-suma é cearense e e.st:i.v::i em Londrina há cerc:i de um :mo, Disse conhecer de perto 0 Encontro do PDC, Ney Braga foi adamado pelo público presente como candidato
movimento das Liw,i.s Camponesas do Nordeste. do PDC à presidência da República. Seu nome foi lançado pelo representante da

306 307
4. .AS FLUTUAÇÕES DO PODER POIÍTICO DE
Juventude Democrata Cristã de Pernambuco. O nome de Ney Braga era lembrado ·.
NEY BRAGA NO REG!lv!E MILIL\R'
em várias reuniões pedecistas. Além disso, a popularidâde de Ney Braga no
Nordeste crescem após o plano .\Lll-IENTOS P.\R.\ O BR.\SIL, do go..-erno do
Paraná, que atendeu alguns Estados do Nordeste (O EST.\DO DO P.\R.\KÍ, 2 e
3 iul./1963, p. 4) (O EST.\DO DE S.1.0 P.\ULO, 2 jul./ 1963, p. 5). 4.1 O CAMINHO DO GOLPE DE ESTADO
No ínício de julho, Ner Braga, ao analisar a situação nacional 1 identificou
dois grupos em luta: um que ele chamou de esquerda negativa, tendo em Leonel Em julho de 1963, o governador Ney Brnga fez indicnção a Joào Goulart
Brizola um de seus lideres; e, por outro, aqueles que at1cam o Presidente da de seu Secretário da .Agricultura, Paulo Pimentel, para que este ocupasse a
República. Disse que podem atacar, mas que devem levar suas provas à justiça, presidência do IBC. No entanto, o Presidente da República nom:ou para o cargo,
pois só os ataques tumultuam o pais. Considera que se deve ser contra os radicalistas o Senador Nelson lvfaculan, do PTB do Paraná (O EST.\DO DO P.\R.\N.-\, 14 e 19
(O EST.illO DO P.\R.\N.-Í, 10 jul./1963, p. 4). Em seguida, ao se encontrar com iu!./1963, p. 4). João Goubrt não queria fort-ilecer Ney Braga no Paraná, em
o governador do Rio Grande do Su~ Ildo Meneghetci, em Porto Alegre, ambos detrimento do PTB paranaense. Primeiro, Goulart havL1 nomeado para o lv.Iinistério
divulgam uma nota em que afirmam que as reformas sociais devem ser realizadas
do Trabalho um outro petebista pru:anaense, .Amaury Silva, que é constantemente
dentro da ordem e· da lei e fazem crítica ao clima de agit1ção no país. Nô dia 12
atacado em jornais locais que apóiam Ney Braga; depois, par.a a presidência do
de julho, quando do ani,·ersá.rio da Conscituiçà? do Paraná, Ney Braga faz as
IBC, escolhe outro petebista. Essas nomeações, mais a rejeiQào de Goulart em
seguintes declarações, nas quais tece criticas aos agit'ldores:
nomear Queiroz Filho do PDC à embaixada brasileira na rpgoslávia, além da

O Paraná come-mor.t hoje o 16.º aniversário de sua Constituiçào. Essa data coincide,
nomeação nos L\Ps (Institutos de Aposentadoria e Pensões), qlle não favoreceram

neste ano de 1963, com um lamentável clima de agitação nos meios políticos o PDC 1 vão marcando um afastamento entre Ney Braga/PriC e João Goulart.
brasileiros.(... ) .\s soluções pela força chocam-se contra as nossas tradições cristãs Suas declarações no início de agosto mostram chramente este afast.1mento. Em
e democr:íticas e escondem em seu bojo métodos inconvenientes . entrevista à n• no dia 07, afirma: usou favorável a todas as reformas. Não porque
(...) Nossa Democr.icia tem fallus mas não é uma Eusa. Só através dela e com ela. o presidente da República deseja a reforma agrária, mas sim po~ue o meu partido
aperfeiçoando-a, poderemos resolver pacificamente nossos problem:1s. Pretender (PDC) traz em seu bojo a pregação reformista, dentro das nor1:11as cristãs. ou seja,
destruí-la com golpes de esquerda ou de clireit:1 é subvertera ordem política tradicional .. reformas sem agitações" (O EST..\DO DO P.\R.\N..Í, 8 ago./1963, p. 4). Poucos
(...) Sinto que o povo brasileiro (.. -) começa a dar sinais ineqtÚvocos de cansaço. dias após, em reunião do PDC em Brasili~ a sua declaração é alnda mais clara:
Começa a desesperar-se o povo brasileiro .... justamente agora começamos a "Ace'ntua-se cada dia que passa., a independência do PDC no 'que se refere à sua
desesperar. E por que? Porque alguns, poucos mas delirantemente agressivos, posição policica e nas relações com o governo federal" (O EST.illO DO P.\R.\N.-\,
prepaum o cao5 e a confusão para deles tirnr um mísero proveito pessoal"
10 ago./1963, p. 4).
(O EST.\DO DO P.\R.\N.-\, 13 jul./1963, p. 4).
Em editorial, O EST.illO DE S.-\0 P•.\ULO analisa a possibilidade de uma
terceira força para a presidêncía da República. Esta terceira força se situaria entre
as possíveis candidaturas de Juscelino Kubitschek e de Carlos Lacerda, e poderia
ser constituída em torno do governador- Ney Brngaj Hconsidera,do uma peça básica

309
308
do esquema e um dos seus ins,piradores .. !'. Este mesmo disposith:o já teria sido grupos tle agitação .interessados em manter o clima de intranqüilidade no país e que
armado anteriormente em torno de !\fagalhães Pinto, mas desagregara-se devido não se conformam com a aruaçào de idealistas .. !', Entende ainda gue o governo
à redução das possibilidades políticas e populares do governador de 1\·linas Gerais federal",., em apenas dois anos e meio tenha constituído cinco :tvlinístérios, sempre
(O EST.-\DO DE SAO P.,ULO, 16 ago./1963, p, 3) . .Ao comentar o processo claudicantes, fruto tão somente deinjunçàes políticas e muito distaptes dos supremos
sucessório em entrevista, Ney Braga afirma:"·" considerarei sempre o quadro da interesses nacionais" (O EST.\DO DO P.-\R.\N.\, 21 dez./1963, p. l 'e 4). Em entrevista
sucessão incompleto enquanto não tivermos um candidato perfeitamente concedida ao CORREIO DE NOTICL-\S, em 1987, Ney Braga afirma:"( ..) No dia
identificado com a democracia cristã.n Na mesma entrevista aponta Carvalho que o Carvalho entregou a ca.rt1 de demissão ele me telefonou~ Disse que estava
Pinto como passivei candidato (O EST.,DO DO P.-\R..\N.~, 17 nov./1963, p. 4). saindo do 1-finistério da Fazenda. E eu disse: mas saia brigado co~ de, pois vfa que

Em novembro, concede entre\'-ista ao programa VOZ D_\ ~--\?-.IÉRJC.--\, de o Jango est"a insuflado... " (CORREIO DE NOTICL-\S, CadernoBomdomingo, 27
set/1987, p. 5).
\\iashington, para comentar o acordo firmado entre o Governo do Paraná e a
Ney Braga vai a São Paulo se encontrar com Carvalho Pinto e lhe propõe
Agência Interamerícana de Desenvolvimento. De acordo com Dreifuss, a
que seja candidato pelo PDC à Presidência da República em 1965. Mantém
embai"\:ada dos Estados Unidos no Brnsil procurou as regiões onde o cenâ.cio
conversações com Iviagalhães Pinto e Carvalho Pinto sobre a suce-Ssão presidencial
político fosse favorável aos interesses conservadores, para estabelecer assistência.
No Encontro Regional do PDC de Santa Catarina, realizado ern janeiro, em que
O embaixador americano chamou estas regiões de "ilhas de sanidade,,.
Ney Braga esteve presente, juntamente com Franco :tviontoro, aquele defendeu a
necessidade de se definir logo os candidatos à Presidência da República, e
_--\ politica das 'ilhas de sanidade' (expressão cunhada pelo Embai..udor Gordon)
considerou que a união dos democrat1s seria um meio de pôr fim ao clima de
favorecia a assistência direta, através da ..\ID'.'1, nos Estados brasileiros dirigidos por
governadores amigos, ao invés do governo certtral. (, ..) Dessa forma, a .\ID se intranquilidade existente no país. Em seguida Ney Braga esteve no Encontro
tornou um canal para o governo americano colocar grandes somas à disposição Regional do PDC Gaúcho, onde afirmou não acreditar que as Forças Armadas
desses escolhidos atores políticos, somas estas que poderi,1m ser usadas para adotariam qualquer solução extralegal, visto que os setores militares eram altamente
financiar 'projetos de impacto' que influenciassem a opinião pública (DREIFUSS, politizados (O EST.-\DO DO P.-\R..\N.\, 21 e 26 jan./1964, p. 4) ..
1981, p. 325-326). .Após esses encontros regionais, realizou-se a Convenção ~acional do PDC.
Nesta, houve o embate entre dois grupos de posições políticas ~erenciadas: um,
Na Convenção Regional do PDC realizada no final de novembro e início de liderado por Paulo de Tarso, e que conta com nomes como Plínio de Arruda
dezembro, Ney Braga volt, a atacar João Goulart, considerando que as dificuldades Sampaio e João Dória, e que defende posições maís próximas da esquerda~ e
pelas quais passam o Brasil e o Paraná se devem ao mal governo da União. Afirma: outro, liderado por Ney Braga, e que contava com Franco ~fontoro e Juarez
"Eu não sabia que o Jango era tão ruim assim" (O EST.-\DO DO P.-\R..\N..\., l.º dez./ Távora. O grupo liderado por Ney Braga consegue aprovar a maior parte de suas
1963, p. 4). Em dezembro, Carvalho Pinto deixa o Ministério da Fazenda. Ney teses. A Convenção decidiu proibir a filiação dos membros ~o PDC a frentes
Braga considera que a saída de Carvalho Pinto é u... decorrência de pressões de políticas) como é o caso da Aliança Democrática Parlamentar e da Frente
Parlamentlr Nacionalista, ou a grupos e movimentos de ação política estranhos
ao Partido (O EST.-\DO DO P.-\R\N.\, 2 e 4 fev./1964, p. 4).
Na reunião de governadores realizada em Salvador, no final de fevereiro e
início de março, Ney Braga se encontra com Carlo's Lacerda.. A:imprensa fala da
~ .--\ID -Agcncy for- Intemational Development
possibilidade de Ney Braga vir a ser candidato a Vice-Presidência na chapa de

310 311
Carlos Lacerda (O EST.\DO DO P.\R..¼'l.i., 3 mar./1964, p. 1). Quando chegou a .Além de tratar do problema sucessório, certamente Catlos Lacerda veio
r
Salvador, Ney Braga concedeu entrevista, declarando o seguinte: discutir com Ney Braga sobre a "revciluçãou em andamento.
Carlos Lacerda, juntamente com !vfagalhàes Pinto sàb dois dos mais
O povo deseja a preservação da ordem legal e por isso mesmo niio haverá golpe. importantes políticos brasileiros do período que estavam comprometidos com a
Reconheço a e."ilstência de grupos empenhados em agitar o país, uns inspirados por ampla campanha social, política, ideológica e militar promovida pelo complexo
propôsitos totalitários e outros na esperança de empolgar a.s mnssas atr.a.vês de uma IPES (Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais)/IB.-\D (Instituto Brasileiro de
ação agresstV'J. Reconheço também que se a democracia não se mostrar, logo, mais .Açào Democrática), para desestabilizar o governo de Joào Goul~½ e abrir caminho
eficiente na solução dos grandes problemas populares, criará o risco de sua própria para o golpe de Estado. Dreifuss afirma:
deitruiç.ào. 1\Ias cre.io firmrn1ente que o regime democrático tem condições para vencer
e venceci os problemas com que se defronta presentemente (Ibidem, p. 4). _-\ história. do comple..xo IPES/IB.ID relata o modo pelo qual a elite orgânica da
burguesia multinacional e associada evoluiu de um limitado grupo de pressão para

Sobre a possível legalização do Partido Comunista, afirma: wna organização de cbsse capaz dt; uma ação política sofistícada,'bem como o modo
pelo qual ela evolveu da fase de projetar uma reforma par.i o es_tígio de articufar um

Em principío acho que é matéria da alçada do Judiciário e que sem reforma da golpe de Estado. (.,.) Nesse processo, a elite orgânica modelada as forças sociais

Constituiçfo Federal é impossível dar vida legal ao PC. Como quer que seja, a volta burguesas em uma classe, processo este que culmina.ria. com a ~sposição do poder

do comunismo à legalização não constitui solução para nenhum dos grandes pID,-ado dos ínteresses multinacionais e associados pano governo público do Brasil.
Para isso, o bloco econômico dominante teria de vir a ser o Es~ado nutoricirio em
problemas do Brasil de hoje. .. (Ibidem, p" 4).
que efetivamente se transformaria (DREIFUSS, 1981, p. 161-162)<
23
Nesra entrevista., Ney Braga não se mostrou fuvorávelao decreto da SUPR..-\ •
Nessa campanha promovid.1 pelo complexo IPES/IB..-\D, envolveram-se
Carlos L1cerda chega a Curitiba no dia 7 de março para conversar com
empresários, políticos, religiosos e intelectuais conservadores, e utilizou-se de todos
Ney Braga, e fez a seguinte afirmação à imprensa:
os meios possíveis, como televisão, jornais, râdio, editoras; :participação em
movimentos sindicais, rurais e urbanos, movimentos estudantis~ além de apoio a
O Paraná precisa unir-se em torno da decisão, da crise que ameaça o país, e à idéia
políticos conservadores. ''N"o curso de sua oposição às estruturas populistas, ao
de que e.'Ciste atuaLnente wna revolução em marcha. Uma revolução pacifica, uma
Executivo nacionnl-reformista e às forças sociais populare3.i o. Complexo IPES/
revolução democrática, sem sangue, sem sobressalto, destinada a dar ao trabalhador
IBAD se tomava o verdadeiro partido da burguesia e seu est:ado-.tnaior para a ação
brasileiro wn ambiente de paz, após a solução dos problemas com simplicidade e
ideológica, policica e militar" (DREIFUSS, 1981, p. 164). Este complexo, que esteve
dentro do bem maior, a liberdade (O EST.-\DO DO P.\R..-\N.\, 8 mar./1964, p. 4).
organizado nos principais centros do país, também foi estrururado no Paraná.

No Paraná, a estrutura IPES/IRID/.-\DEP 2~ era baseada no q~adro de membros


~ Associação Comercial do Paraná -ACOPA. ..:.\.Jguns de seUS membros ativistas
1.1 A Superintendência da Política Agciria (SUPR,.\) foi criada em novembro de 1962. Tínha por eram •.\sdrúbal Bellegard, Carlos A.lberto de Oliveira, Oscar Schtappe Sobrinho e o
finalidades, dentre outr~ planejar e execut.tr a ~efor'ma agciria no país. O órgão pas.mu n kr uma
ah.lação mais forte ;i partir da volta do prc.sidencialismn Diante da p~são dos tnba.lhadores
nua.is e da não aprowçào pelo Congresso Nacional de uma política de reforma agciria, Goul.ut
faz urí1 decreto prevendo a e.xpropriaçlo de terras ao longo de rodovías e ferrovias federais, ou
:!.l ADEP-Açã.o Democrática Popular, que nas eleições de 1962 preparou a lista de cnndidatos e
beneficiadas com investimentos da Unilio. O decreto foi assinado no dia 13 dé março de 1964
se responsabilizou em financiar a prop~ch eleitoral deles.
(DICION,~RIO HISTÓRICQ.BIOGRAFICO BRASILEffiO, 1984, p. 3284-3285).

312 313
grandes propciecirios de terras, juritamente com,os lideres do:IPES da .--\ssociaçào
consultor juódico da _-\COP_-\, J.guinaldo Bezerra. Outros militantes de destaque
Comercial do Paraná e Paulo da Rocha Chucri que formava um lmportante elo com a
e:ram Ostoja Roguslci, do Conselho Nacional para aRe:forrna +--\gciri..à do Paraná e da
força polici'.31 do Est1do. O Coronel Ney Braga, go..-ernador do P ~ era discretamente
Confedenção Rural Brasileira, e ;\lanue:1 Llnhares de Lacerda (Ibidem, p. 183).
a favor do plano, preferindo não dar apoio aberl:amente (Ibidem, p.389).

Dreifuss fala da participação do IR--\D no meio sindical no Paraná e a


. , no
Joào Goulart faz o conúcio da Central do Brasil no di• 13 de marco
organização de apoio a Ney Braga.
'JHal defende as reformas de base e a necessidade de mudanç~s na Constituição.
Anuncia algumas medidas, como a encampaçào de refinarias de petróleo, e o
O TK-\D mostrava.se particularmente ativo no movimento sindical do Paraná,
Estado-chave em termos políticos, onde levantava apoio para o gO'\"ern:1dor Ney decreto da SUPR..\, tornando possível a desapropriação de t~rras, como visto
Braga e onde patrocinava dí\-ersos sindicatos e seus lideres. O Paraná era ímportante anteriormente. Ney Braga reage criticamente ao conúdo realizado por Goulart.
por sua proximidade geográfica de Siio Paulo, e, embora nào se.achasse entre os Após retornar de uma viagem a Guanabara e a São Paulo, declarou à imprensa:
centros industriais m:J.is importantes do país, ele tinha uma grande população das
classes tr1balhadoras nas àrea.s rurais e das indústrias de porte médio e do sistema de Não posso est1r de acordo com o método de ação posto em pcitiça pelostesponsâveis
prestação de sen;ços do Estado. O IB.-\D tambêm orgmizou o I Encontro de pelo comíào. De que se trata? De mobilizar o povo pelas refor~as? Nesse caso, por

Trabalhadores Democráticos do Paraná, com a presença de ma.is de duzentos que dividir o país em vez de uni-lo? .-\ necessidade de reformas democráticas é

representantes de sindicatos (Ibidem, p. 314). reconhecida por todos, à e..,_ceção de urna pequena minoria. Isto significa que elas
podem ser realizadas, desde que, em lugar de selançarconfusão no assunto, imprima-

Nas eleições de 1962, de acordo com Dreifuss, a rede IPES/IB.ill/.\DEP/ se o.r:Íentaçào. O que fàlta é orientação.

.IDP" /Promotion S.A. financiou 250 candidatos a depurado federal, 8 a governos Dei.....:emos de simplificações exageradas. Como democrata não sou contra comícios,
nem tenho medo do povo em praça pública. Mas nem sen:ipre um comício é
estaduais, além de senadores, prefeitos e vereadores. No Paraná, os beneficiários
sinônimo de democrncia, ou expressão de qualquer ordem democrática. Peron
dos recursos daquela rede foram: Munhoz da Rocha (PR), Ivan Luz (PRP), Othon
fazia conúcios, Stálin fazia comidos, Hitler e Mussolini faziam comícios. Fidel
Mader (UDN), Plínio Salgado (PRP) e Ney Braga (PDC e governador do Esmdo)
Castro faz comícios. Não estou est.obelecendo comparações; e.stOu apenas querendo
(Ibidem, p. 334), Ao referir-se à interação entre civis e militares que interagiam
desfazer o cqtÚvoco de que a simples realiz.ação de um comício seja defesa da
nos Estados para derrubar Goulart, Dreifuss afirma: democracia. Se, em lugar de uma tática de acirramento, de paixões e de clivisionismo,
os lideres quiserem realizar comícios de uníão pelas reformas ~entro do processo
No Paraná, o principal organizador militar foi o General Emesto Geísel que comandava
democrático, só merecerão aplausos (G.\ZETA DO POVO, 19 ma.c/1964, p. 3).
as.~ Divisão do III Exército. O aspecto civil do movimento era liderado por José
;\Gnod Linhares de Lacerda, que coordenava unidades consistind? basicamente de
Sobre a possibilidâde de o Congresso fazer reformas constihlcionais, afirmx

(...) como em todo o país, há no Congresso forças reformJsta.s e não reformistas,


estas minoritárias. O que ocorre é que as forças reformistas rejeitam a liderança de
::i .ADP-.\çào Dcmoccitio P:u:lamentu, ' 1••• que oper.lva como a. frente política eo cinal ideológico
um gIUpo limitado e começam a te.r: desconfiança de que, em última análise, o que se
<la e.lite orgânica no P:ulameoto e diante da opinião pUblica.(...) A ADP era um bloco
multiparcidârio, de senadores e deput1do:. federa.is cons~dorc:i e reacionários, na maíor parte pretende é suprimir o sistema representativo ou transformar o Poder Legislativo em
tb UDN e do PSD, e organizado~ através. de uma rede, em todo o país, de grupos de .Ação um simples órgào decorativo que se deseja encurrili..r e amedrontar (Ibidem, p. 3).
Dcmoccitica Popul:ir -ADEP e que tinha até mesmo congêneres em muitos legislativos estidwiis
e cimaras municip.US" (Ibidem, p. 320).
315
314
Em entrevista à tele,·isào no dia 20, voltou a folar do comiçio da Central
que .1oào Goulart quer levar o pais ao comunismo, responde: ~~Não ~.êeio que ele
do Brasil: que1ra. Se alguém quiser levar o país ao comunismo será hora de lutar. Sem
armas, com armas, para a defesa da democracia. (... ) Não creio que haja alguém
~-V está a inflação desenfreada, as agitações sociais, os poderes se desentendendo,
principalmente tendo em ,;sta o comício que recentemente se realizou no Rio,
com o topete de pensar em fechar o Congresso e levar o país ao comunismo".

quando na presença do Presidente da República o Congresso foi atacado. E ainda: "Contra o comunismo e contra qualquer golpe estaremos à frente do
O que estamos nodo ê a desorganização admirtístra.tiva, a falta de autoridade, o pm·o. Juramos defender o regime e o defenderemos a qualquer ~rcço" . .Após essa
acirramento da luta com os ataques os mais violentos. Homens que querem falar e entrevista, em que falou sobre o perigo do comunismo, Ney B~ recebe mensagens
não podem, homens que falam o que não devem.(, .. ) \'"imos o deputado Leonel de apoio de vários setores d1 sociedade: da Federação do Comércio do Pataná; da
Brizola pregar o fechamento do Congresso. Isto, que só pode agravar a situação .Associação Comercial do Paraná; ,da União Paranaense dos Estudantes 2c;; do
brasileira, que bem rraci ao Brasil, interna e e.'\ternamente? O Presidente da República .Arcebispo 1\.-Ietropolitano, D. 1\-fanuel da Silveira Dêlbous:; e ·da Federacào das
pre'sente num comício, poderia pregar a paz, a tranqüilidade e reformas dentro da Indústrias do Paraná (O EST.-\DO DO P_\R..\N--\, 21 mar./1964, p. 4). .
democracia, solicitando ao Congresso que desse as reformas. l\Ias não como foi feito, No dia 24, milhares de pessoas se dirigiram ao Palácio Iguaçu, em protesto
pregando-se, atr;wês de ,·ârios oradores, a quebra do regime constitucional. Se.ria contra a encampaçào de colégios particulares. Os manifestantes queriam o apoio
muito melhor que aqueles homens estivessem trabalhando mais e alertando o povo
do governador. Este estava na companhia de todo .o seu secretariado, e fez um
de outra forma, m:is n:1o em comícios de ódios.
discurso aos manifestantes:
(, ..) O Congresso naü está fechado às reivindicações populares e, na hora presente,
saberá atender aos reclamos do povo. Mas sem que se o pressione; encostando-o à
(...) Tenho sido no governo do Paraná, graças a Deus, democrata e cristã'o. E serei
parede, pois este não é modo eficiente de se vi.ver o regime.
o porta-voz do meu pm:o, enquanto dele merecer confiança, no cenário da
(...) Eu não >'ejo ação do presídente arual O presidente pregou o presídencialismo
República, em defesa permanente, quotidiana, do regime demÓCrático que juramos
e eu estava com ele, acreditando que teria, entàó, maior autoridade para combater
defender e servir. (-..) Não há, na realidade senão uma pequena minoria que teci vez
os males que o Brasil est:í sen_tiodo. O poro deu-lhe o presidenciálismo. E o que
porque nós estamos unidos: povo sem arma que somos nós, o povo arrn:ido que
foi feito após isso' Nada (G.\ZET.\ DO POVO, 20 mar./1964, p. 3).
são as Forças 4.\rmadas do Brnsil.
(...) as escolas precis-am realmente de liberClllde p:ir:t que se estude livremente, para
Perguntado sobre a possibilidade de a CGT realizar uma greve para
que livremente se discuta, para que se oriente bem a juventude: de hoje. E a democracia
pressionar o Congresso pelas mudanças, Ney Braga disse: "Uma greve política precisa finnar-se realmente eficiente na solução dos problemas dos que mais precisam
de pressionar o Congresso, é antidemocrática e antipatriótica e trará o tumulto de ajuda, dos pobres, dos doentes, Para isto queremos reformas sim, mas queremos,
maior" (Ibidem, p- 4). à par delas, administrnção honesta, honrada e capaz. Queremo,! reformas sim, mas
No dia 19, Ney Braga concede entrevist.a a emissoras de Televisão e de dentro cb democracia e nunca fora dela. Queremos reformas sim, mas em ordem, em
Rádio. Perguntado se o pais marcha para o comunismo ou para uma ditadura de
direita, responde: ''Não creio que marche para nenhuma das duas. Estí marchando
para o caos. .." .A uma pergunta sobre o possível comportamento das Forças
Armadas em caso de golpe, afirma: "Posso assegur:1ry conhecimento que tenho, ::i1 Uma nova d.in:tori.a. da UPE tomou posse no inicio de novembro de 1963, ~do como presidente
Ronaldo Antônio Botelho (Direito peb Católica). A nov.:t ótretoria, no to~ar posse, anuncia seu
que as Forças Armadas não darào um golpe, nem fecharão o Congresso. Estio rompimento com a UNE. Na plataforma. da nova direção esci incluída umn tnudançade orientaç3.o
aí para defender o regime democrático, a legalidade. ..". Perguntado se ele acha do Centr? Popular de Cultura. e da .\lín.oça Opecirio-Estudantil-Camponesa (O ESTADO DO
PAR.ANA, 5 nov./1963, p. 7).

316
317
paz. Na realidade, nós temos hoje que decidir, talvez, os destinos do mundo, talvez Conte conosco a ?\farinha do Brasil. O apelo que os seus r~sponsáveis lancaram à
neste próprio país e, por isso, vemos com ml.Úta emoção manife:staçàes como esta. O Nação ecoou no Paranâ, onde Governo e Povu, unidos pelo 't.rnbalho e pela 1-:ocacão
livro 17 que os senhores me tronxenm eu não jogo fora aqui., par.1. não sujar o chão do democrática, estão a postos na defesa das instituições e, dos princípios qu: a
Paraná. (O EST.\DO DO P.\R.-\N.-\, 25 mar./! 96-1, p. 4). Constituição consagra.

...\.qui. estamos definidos: quettmos ordem, tranquilidade, liberdade, trabalho, ao


Ney Braga recebe manifestação de apoio de entidades religiosas e femininas, lado das reformas democráticas que a consciência nacional exige.

tais corno: l\faria Helena Lessa Ribeiro, Presidente da Arqui-confraria das 1fàes Sabemos o que queremos, e também sabemos o que não queremos. E O Paraná não

Cristãs~ Dalila de Castro Lacerdai Presidente da Llga das Senhoras Católicas;Jovina quer agitação, não quer subversão, não aceita o desrcspeito,àS leis, ã disciplina e à
de Olivei.m K.ü.ram, Vice-Presidente da Associação das Senhoras de Caridade; hierarquia militares, aos ideais democráticos e às tradições cristãs dos brasileiros.
O episódio que hoje envolve a Marinha do Brasil está a mostpu-nos, uma vez mais,
Lêda de Azevedo Pereira de Leão, Presidente do Clube da Lady de Curitiba; e
que é chegada_ a hora de serem estancadas, dentro da le.i, as,. fontes que, há algum
Lú.cia Zanier Demerteco, Presidente do Apostolado da Oração da Catedral
tempo e cada vez com maior intensidade, despejam íntranquilidade em todos os
(O EST.illO DO P.\R.-\N.-Í., 25 mat/1964, p. 4 e 5). No dia 25, Ney Braga esteve
setores da vida nacional,
reunido por quatro horas a portas fechadas com o Secretário de Segurança Püblica,
Os desmandos de alguns vem gerando os abwo~ de outros~ quem deve respeitar,
General Gaspar Peixoto, juntamente com o Secretário do Interior e Justiça do- desrespeita.
Rio Grande do Sul, Mário Mondino. No dia 30 de março, Ney Braga esteve em
Em nome das reformas - que preàsam ser realizadas e hão de sê-lo dentro da.
Belo Horizonte, em reunião com o governador 1Iagalhàes Pinto, retornando a democracia - erocuram envolver o povo ·em processo que.~arâ ~a perda de
Curitiba no mesmo dia. Ao retornar, se prepara para os acontecimentos que se SWl liberdade. E em nome da liberdade, há quem se faça arauto do seu e."Ctl!rmínío.
darão nas próximas horas, e divulga um manifesto de solidariedade ao Almirantado, Ont~, qllilrldo o Congresso era alvo de grosseira investida, gmremadores e homens
críticando a revolta dos marinheiros28 : responsáveis do pais, se uniram em sua defesa. Hoje, quand~ 11 ?\farinha do Brasil,
se torna palco de impatóótíca subversão, novamente é necessária a uruào dos
homens responsáveis do Brasil.
Conte conosco a 1farinha do Brasil.
Contem conosco as Forças Arffiudas que, sendo povo como nós somos,
:r Livro do l.lin.isrêrio da Educação.
compreendem a gravidade da hora presente e também sabem o que querem e 0
3
Cerca de dois mil marinheiros e fuzileiros navais havUm se reunido na sede do Sindicato d01 que não querem.
Met:J.lúrgicos do Rio de Jane.iro, em 25 de março, para comcmor.:tr o segundo wo da Associação
. :\ Constituição, acima de tudo, porque, dentro dela, com ela e ~r causa dela e do que
dos M!lil.Ilhciros e Fuzileiros Nav.iis, organização que cn considco.da ilegal. O encontro tinha
sido proibído pelo min.i.'ltro da Maànha, Sílvio Motl. Dentre outros, o :no contou com a pte'.lença ela representa, encontraremos as roluçOO para.os problemas doBrnsil que hão de ser
de represcnt:mres d.i. UNE, eh CGT, e tunbém do deputado Leonel Bcizola. Além de: defender brasileira,, democr:iticas eaistãs (O EST.illO DO PAR.-\K\, 31 mac/1964,p. 4).
as reforma::. de base, reivindicav:un o reconhecimento cb Associação, melhor :ilimentnçio, e
reformulação do regulamento disciplinud:i Marinh:t O encontro foi co~sldecdo como subversão
, Na noite do dia 30, Ney Braga permaneceu em vigília no Palácio Iguaçu,
da hierarquia militar, e o ministro da Marinha enviou ao loc:tl um dC.St:lcamento de fuzileiros
navais para prender os organizadores eh reuniio. No entanto, 05 fuzileiros, que: tinham por ate de madrugada. Neste dia, Jucundino Furtado, Secretário da Educado foí
comandante um simp:itizante do movimento, :iderir.un aos revohosog, Goula.rt proibiu que as enviado por Ney Braga até Porto Alegre para transmitir informaç.õe~ ao
tropas invadissem o s.íncücato, e o ministro Sílvio Mota. pediu demissão do c:ugo. Goula.rt enviou g~vernador gaúcho, Ilda ivfeneghetti, sobre a conversa que tiveµ com 1vfagalhàes
-um representante, o ministro do Trabalho Amauri Silv:1, para dialogar com os marinheir0s.
· Pmto. Ainda neste dia, esteve reunido com o General Da.cio Coelho, comandante
Estnbelecido um .i.cordo, os maànheiros foram pre:;os e, em poucas horas, anistiados por Goulart
(DICIONÁRIO HISTÓRJCO-BIOGJÜFICO BR.\SILE!RO, 1984, p. 2932-2933).
em exercício da 5.' Região lv!ilitar. No dia seguinte, mantém vigília no Palácio

318 319
'riÓ<: conntos telefônicos com os goyemadores Celso Ramos que zeiem pelos altos interesses de um Brasil que nasceu sob o ·signo da Cruz de
l guaçu, e estab elece n1 ~ ' ' . . ~ , . .
(Santa Catarina), Ilda Meneghetci (Rio Grande do Sul), /vfag.illues Pinto (Minas Gerais), Cristo.(, ..)". Dentre outros, o documento é assinado por: Dom l'vfanuel da Silveira
~ Adhemar de Barros (São Paulo) (O EST.\DO DO P.\R.\1'A, Lº abr./1964, P· 4), D'Elboux, Arcebispo de Curitiba; Dom Geraldo lvlicheletto Pellanda, p/ Dom
Na madrugada do dia Lº, às duas horas, divulga um comunicado à população: ..-\ntonio l\-fazzarotto, Bispo de Ponta Grossa; Dom Geraldo Fernandes, Bispo
de Londrina; Dom Jaimc Luiz Coelho, Bispo de Maringá (O EST.\DO DO
P.\R.\N.-\, 1.º abr./1964, p. 4 e 2).
Brasileiros!
Tomamos conhecimento do manifesto do Governador 1fogalh:'ies Pinto, de No dia Lº de ab!.11, Ncy Braga recebe novamente no Palácio o comandante
Minas Gerais. interino da 5.ª Região t-filitar, General Dario Coelho (o comandante titular, General
~-\os brasileiros de todos 05 recantos, aos paranaenses que governamos, nesta hora Silvino Castor da Nóbrega se encontrava em Porto Alegre), acompanhado dos
de angústi:i e de grandes responsabilidades, desejamos afirmar nossa solidariedade e Generais Nelson de i\feUo e Cordeiro de Farias. Nesta noite, Ney Braga faz um
de nosso Estado às forças que se dispõem a defender as ii1_stiruições nacionais e a discurso no Palácio Iguaçu, local em que estavam concentradas milhares de pessoas.
sabedoria do povo brasileiro, representado pelo Congresso Nacionat A fala do governador foi transmitida por emissoras de televisão e de rádio. Em seu
Tudo se fez para evitar a crise extrema. díscurso, se considera um democr.ita e entende que Goulart estava ameaçando o
Deus e O povo são testemunhas dos nossos esforç·os em prôl do regime democcitico, regime; também se refere ao perigo comunista. A citação é longa, mas entendemos
do respeito à Constituição e aos principias federativos; de nosso apego intransigente ser necessário transcrevê-la quase integralmente, devido à sua importância, em que
à sobernnia do povo. Ncy Braga fala em meio ao calor dos acontecimentos. vejamos:
Não obstante 05 esforços dos homens que viam com clareza os perigos que rondavam
a pátria e que lutavam por debeH-los, acelerou,.se, nos últimos dias, o processo de (,.) Depois de restaurado o presidencialismo, nossas esperanças de um bom governo
desordem e·perigo do domlnio de uma minoria de extrema esquerda sobre o pak no Brasil foram diminuindo gradativamente, na proporção em que a administração
Contra esse estado de coisas, neste momento dificil da vida nacional, manifestou-se se tornav--a má, e, principalmente na proporção em que percebíamos que, aos poucos,
0
governador f\fagalhães Pínto. Emprestamos nosso apoio a seu pronunciamento. ia se comunizando o país. (.,.) Era um regime que estava se esfacelando, alem da
É preciso que se restaure a segurança nacíonal; é pre.ciso que se dê ao povo clima para perigo de uma ação de extrema esquerda, que vinha se apoderando de quase todos
o trabalho e à pátria a certeza de seu grande destino histórico. os postos chaves da administração federal e dos sindicatos, E 1 há cerca de seis ou oito
:\s instituicÓes fundamentais tem de ser mantidas e, com elas amparando-as, meses viemos conversando permanentemente, com homens como i\fagalliães Pinto,
~~fendend~-as, cumprindo sua função constitucional, as Forças ~.\rmadas, organizadas como Carvalho Pinto, como Carlos Lacerda, como Ildo I\Ieneghetti, como outros
nos princípios da disciplina e da hiemrquia. governadores brasileiros, articulando uma defesa do regime. Nenhum de nós pensou
Confiem 05 brasileiros na sabedoria e patriotismo de seus dirigentes, de seus homens em golpe. Nenhum de nós quer ditadura.
ptlblicos, tantas vezes demonstrados nas crises que tem atingido a vida nacional:_ Somos democratas convíctos, que víamos então, que a crise da falta de autoridade, ia
~\inda desta vez, a pátria há de reencontrar-se e a.brigar todos os seus filhos na unmo tomando tal vulto, que se não tomássemos de imediato, uma medida estancat6cia, o
e na paz (O ESTADO DO P,\.RAN •.\., Lº abr./1964, P· 4). Brasil seria tragado e iríamos para o caos. Do caos para onde, não sabfamos1
Vimos a rebelião dos marinheiros e, antes e depois, discursos do presidente em
No dia 31 de março, os Bispos ·do Paraná lançam um manifesto, no qual
sindicatos e outras instituições, ameaçando o regime. Tudo isso mostrou~nos que
criticam o comunismo e dão apoio às Forças Armadas e ao Congresso Nacional.
era chegada a hora de dizermos: basta de encaminhar o Brasil para os braços da
Neste manifesto, os Bispos afirmam que há" ... indícios alarmantes, de penetração
RUssia. Agora quero dizer ao povo do Paraná: não fizemos isso para defender
comunista em todos os setores da ·v1'd a nac1ona
· !". Termma
· m o documento
privilegias de grupos; não o fizemos para defender interesses de partidos políticos,
afÍrmando que ª ... queremos apelar e dar o nosso apoio, mais uma vez, às
Há três dias, quando o governador Magalhães Pinto, à meia noite, tclefonou pedindo-
Autoridades constituídas, ao Congresso Nacional e às Forças· Armadas a fim de

320 321
me que fosse ao seu encontro. Fui a l\Iinas·e Ià:o encontrei em companhia do
Nada mais me trom,e a este Palácio, do que o amor a este Estado, do que o entusiasmo
deputado _.\lkmin, de l\Iilton Campos e de vários outros políticos e um general do
pelo Brasil, do que o idealismo a que nos temos de,,otado, em pôr a nossa geração e
Exército, o general Guedes, comandante da 4. º Regíào i\lilitar. Te,·e ele palavras mais
nosso p~s. a serviço da redenção da própria humanidade..
ou menos assim: ''Eu não tenho nada. Sou pobre, Tenho meu nome. \lvo pensando
Yamos juntos, Paraná, povo e Governo! ·vamos juntos continuar trabalhando
no Brasil, desde que me entendo por gente. Ontem cheguei em casa, \1. minha filha
principalmente agora que o Brasil está livre e que se encaminha para novos destinos.
com meu neto ao colo. _-\o ver a criança, pensei: não é possível que eu não arrisque,
Ontem, quase a esta hora, quando escre,~ isto para o Brasil, estav~me arriscando a ser
agora, a minha v-ida, para que esta criança tenha liberdade no futuro. Por isso, quero
deposto. Felizmente n:ncemos, e, agora,juntos haveremos defadercom que O Brasil
dizer nos senhores; j.i tomei minha decisão. Eb é irreversh>el._\manhã nós em ;\linas
democrata cristão seja e.xemplo para a humanidade intelnl.
Geraís, nos rebelaremos contr:a a ind..ísciplina, contra os que estão ferindo a
(, ..) Lembro-me de quando Churchill, durante a guerra, disse:, "Eu só vos peço:
Constituição, porque estão ferindo, realmente, as bases onde se assenta a própria
sangue, suor e lágrima". Nós devemos fazer um saccificio mais ,ou menos assim.
r.izào da existência das Forças .-\nnacbs. Dali viemos para o Paraná e acompanhnmos Meus senhores. O Brasil está em guerra. Pensem muito bem todos os dias nisto.
a. atihlde de outros governadores. Nós estamos em guerra contra o subdesenvolvimento, contra a fome, contra a
_-\gora, é preciso que se note. Sofremos nlgum tempo a influência de uma propaganda 0

ignorância, contra a doença. Estamo-nos. estruturando em m oldes brasileiros e


demagógica. E a nossa pregação anti-comunista é esta: o comunismo esmaga a he,·eremos de vencer essa barreira que se apresenta no arranc~ que se dâ para 0
liberdade; o comunismo desrespeita e esmaga as nossas traclições que respeitamos desenvolvimento. Parn fazê-lo é preciso que os que mais tem~1 mnis dêem. Não
como homens educados dentro dos sentimentos cristãos. ,·amos criticar ninguém, mas vamos pedir medidas rigorosas, me~das que vão doer,
De fato, o comunismo tem todos os defeitos que sãbemos, mas muitas vezes eu me mas que são necessárias para que os nossos filhos não so~ tanto como nós
pergunto o que pensará dessa nossa pregação o homem que esti morando numa sofremos e que as crianças pobrezinhas de hoje, amanha tenharri mais.
foyela ou numa choupana, quase pocilga, Ele por sua vez, há de perguntar: que (...) Estamos iniàando se a.ssim o quisermos uma nova página.'de nossa história.
liberdade tenho eu? Não posso ir a lugar nenhum, quase nem comer posso; nada \'amas escreYê-la com dignidade_ (DL-\RIO DO P.\RAN,Í., 2 nbc/1964, p. 2 e 8).
tenho. Qual é a minha tradição, se nasci ali adiante,' trabalhei por todo este país, quase
moai de fome no Nordeste, enterrei filhos meus por toda a parte e aqui estou hoje A sede do Diretório Central dos Estudantes da Universidade do Paraná
sofrendo e chorando? foi tornada. O lugar da então díreçào foi tomado pelo Coman~o Democcitíco
Os demagogos estão sendo alijados hoje do poder nesta República, mas os que Estudantil. Os. Sindicatos filiados à Federação dos Bancários, Federaçào dos
hiio de assumir tem o de\"er sagrado para com o Brasil, parn com a nossa geração, Trabalhadores na Indústria da Construção e 1vfobíliário e 'Federacào dos
para com a humanidade de levar, dentro do coração, o sofrimento dessa pobre Trabalhadores Rurais, sofrem intervenção já no início de abril (Ô EST~~O DO
gente. Temos de pregar esta linguagem, meus senhores, alêm da sinceádade que P.\R.-\N.-Í., 8 abr./1964, p. 7).

nos move para que eles acreditem em alguma coisa neste mundo, não só nos No dia 1O de abrilt Ney Braga assinou decreto "disflondo sobre a
sofrimentos que tem. regulamentação do processo sumário para apuração de atos ·pr~ticados por
•.\s reformas que os demagogos diziam querer, mas que, realmente não queriam, servidores Públicos contra o regime democrátíco·e a 'probidade ~dministrativa" .
nós, dentro da democracia, teremos de fazê-las, porque não há, meus senhores, As investigações seriam feitas por urna comissào, que teve como presidente o
nenhum cristão vivo, que não possua o sentimento de amor ao próximo.~ é esse então Secretário do Interior e Justiça, General Gaspar Pei."{oto Costa (O EST.IDO
DO P.-\R.-1.."l.\, 11 abr./1964, p. 4).
sentimento que nos move a lutar pelo Brasil, a arriscar tudo por ele.
Nós queremos a democracia aperfeiçoada, queremos o aperfeiçoamento político do Ney Braga participou de um encontro de governadores na Guanabara, na
povo bruileiro. Que ele não se engane mais; que -vote bem; que vote certo. Ê o futuro qual deveriam escolher um nome para ser candidato à presidência da República,
cuja definição se daria por eleições indiretas no Congresso Nacional. Na verdade,
deste pais grandioso que está em nossas mãos.
o nome do futuro presidente seria definido pelo comando militar. Esta reunião
322
323
contou com a participação de Carlos Lacerda, 1fagalhàes Pimo, Ney Braga, em -:árias Yiagens. para conversacões
, políticas , não ,só em _nível reg,·o na,1nas
I
Adhemar de Barros, Correia da Costa, lvfauro Borges e Ildo i\feneghetti. O também nacional. Em 21 de fe,:ereiro de 1964, a .Assembléia Legislativa criou 0
candidato de Ney Braga era Ca:.telo Branco, que nc11bou sendo o nome definido cargo de_ vic~~gm-e1·nador e de ,;ice-prefeito. Poucos dias depois, J\fonso Camargo
tanto pelos governadores quanto pelo comando militar (O EST:\DO DO P_..\IL-\NA, Neto fo1 eleito, pela Assembléia, vice~gm:ernador do Estado (O EST--\DO DO
7 abr,/1964, p. 1). Ney Braga já conhecia Castelo Branco desde o curso que P.·IR.\R\, 22 e 27 fe-c/1964, p. 4).
fizera na Escola do Estado Maior no Rio de Janeiro, entre 1946 e 1948, como Afonso Carnargo Neto Yai começar a gestar, a partir do segundo ano do
vimos no início deste trabalho. Ney Braga tinha muita admiração por Castelo governo Ne.r Braga, sua indicação a candidato para o goYcrno do Estado nas
Branco. A amizade entre eles também vem da participaçào que tiveram no eleições de 1965. O mesmo ocorre com Paulo Pimentel, Secretário da Agricultura.
Clube i\lilitar, ambos pertencendo ao mesmo grupo, que a partir de 1952 passou Este não era integrante do PDC, mns tinlrn ,-inculaçàes com a UDN do Norte do
a denominar-se Cmzada Democrática. Estado que, por sua vez, de acordo com o próprio Ney Bragat era Yincub.da à
1
Eleito pelo Congresso Nacional no dia 11 de abril, Castelo Branco logo ~ DN paulista. O nome de Pimentel já era lembrado pelo Norte cafeeiro, que
diYulga seu 1\-finistério. O apoio de Ney Braga a Castelo Branco permite a Ney tinha nesta possível candidatura uma possibilidade de fazer o governador,
Braga uma certa inílu~t1cia na indicação de um ministério para o Paraná. Flávio Estrategicamente, Pimentel e,·itou sua filiaçào pelo PDC. Como vimos, Paulo
Suplicy de Lacerda, então Reitor da Universidade do Paraná, e grande defensor Pimentel em integrante da família Lunardelli, grandes proprietários de terras no
da urevoluçào", é indicado para assumir o l'vlinistério da Educação e Cultura. O Norte, além de proprietários de Usina de Açúcar. Sendo Secretário da,.r\gcicultura,
próprio Ney Braga avisou ao reitor de sua indicação e o chamou para ir a Brasília. em um Estado de economia fortemente agrícola) Pimentel teve oportunidade de
{O EST,\DO DO P.\R.\N.\, 16 abr./1964, p. 1 e 4). Também por influência de viajar muito por todo o Estado e de criar Yisibilidade em torno de seu nome.
Ney Braga, Leónidas Lopes Borio, ent'lo presidente da CODEP.-\R, é indicado Ney Braga afirma que "Paulo soube se tornar popular com os programas da
para assumir a presidência do !BC (O EST.\DO DO P.-\R.\Nc\, 29 abr./1964, p. 1). Secretaria da Agricultura". Comparando as duas candidaturas afirma: "Paulo se
viabilizava conquistando apoio popular, principalmente no interior, enquanto
4.2 A SUCESSÃO DE NEY BRAGA NO GOVERNO DO ESTADO Affonso se mostrava um homem de bastidores'' (BR.-\G_--\, 1996, p. 167).
De qualquer forma, as duas pré-candidaturas da situação tomaram corpo
Afonso Alves de Camargo Neto, um dos principais articuladores politicos e se defrontaram até a ConYençào Regional do PDC, como se verá. Dentro do
de Ney Braga,,participa, muitas vezes nos bastidores 1 de acertos políticos PDC o nome mais forte era o de Afonso Camargo Neto, Presidente Regional do
estabelecidos pelo seu chefe, como foi o caso do acordo feito com o PTB durante partido, que contava inclusive com o apoia da Juventude Democrata Cristã.
a gestão Ney Braga no governo do Estado. Ney Braga diz que Cont.1,va também com o apoio de alguns secretários de Estado. José Ri:cha era
um dos articuladores da pré-candidatura de Afonso Camargo Neto. Ney Braga
~·\ffonso comandava a organização do nosso partido, o PDC Vínhamos juntos afirma que chegou a conversar com ...-\do!pho ·de Oliveira Franco, presidente
desde minha passagem pela Prefeimra de Curitiba. Inicialmente, nomeei-o para o regional da UDN, para ver se definiam um outro nome, ampliando a coligação
Departamento de Aguas e Energia Elétrica, e, depois, para a Secretaria da Justiça, que partidária, mas que a articulação não se realizou (Ibidem, p. 168).
tinha um papel de coordenação política do governo junto aos deputados estaduais Sabendo da força de Afonso Camargo Neto no interior do PDC, Pimentel
(BR.\G.\, 1996,p.166). evitou sua filiação pelo PDC, articulando antes sua candidatura por um partido
menor, o P1N (Partido Tobalhista Nacional), presidido por Áníbal Khourí (que
Afonso Camargo Neto passou a ocupar a Presidência Regional do PDC se tornará posteriormente o grande chefe da Assembléia Legislativa paranaense,
em fevereiro de 1962, além de ser integrante da Direçào Nacional do PDC, até o final dos anos 1990, quando falece). Oficializando sua candidatura
articulando no interior do Partido os interesses de Ney Braga. Acompanha este antecipadamente pelo PTN, Paulo Pimentel pretendía forçar o apoio do

324 325
situacionismo a seu nome. A candidatura foi lançada em um período bem anterior gm·erno do Est'ldo, e.xpediu·se mandatos d~ prisão contra L~pion, acusado de
às eleições, que se realizariam apenas em outubro de 1965, A presença de Ney corrupção, que se refugiou na Argentina, voltando ao P:.1ran:i para as eleições de
Braga na casa de Pimentel, quando do lançamento da candidatura deste, e o 1962. Com a cassação de Lupion, Ney Braga deixa de ter {_)reocupações com
apoio dado naquele momento, não significava que Pimentel fosse realmente o este importante adversário do PSD.
candidato de Ney Braga. Possivelmente, a intençio sería de enfraquecer, Embora as relações do governo Ney Braga com a UDN estivessem frias,
posteriormente, uma candidatura lançada muito antecipadamente. setores da UDN tenderiam a apoiar a candidatura de Pimente~ tendo em vista as
O PTN chegou a antecipar sua convenção, para que pudesse lançar a vinculações deste com a UDN do Norte do Estado. Adholpo tle Oliveira Franco
candidatura de Pimentel. .Assim, realizou-se a Convenção do PTN no início de disse que a UDN poderia apoiar PimenteL caso o situ;icionismo no Paraná viesse
janeiro de 1964, quando a candidatura de Paulo Pimentel foi oficializada pelo a apoiar a candidatura de Carlos L,cerda à presidência d:t República . .A UDN de
partido, Na mesma. convenção, foi aprovada uma moção que recomendava ao Londrina, por exemplo, logo se manifesta favoravelmente· à candidatura de
Diretório Nacional do partido a candidatura de Ney Braga à vice-presidência da Pimentel (O EST.\DO DO P.\R.\NcÍ., 7 mar./196+, p. 4).
República . .Apôs a convenção, o deput1do Aníbal Khouri foi 1 juntamente com os Com o Golpe de Estado, as preocupações de Ney Braga com o PTB
convencionais do partido, até a residência de Pimentel comunicar a decisão paranaense se reduziram, tendo em.·yista o enfra9uecimento que o golpe causou
partidária. Lá estiveram presentes o deputado Armando Queiroz, líder do PDC aos petebist'ls e ao possh·el crescimento do janguismo no Paraná. O Petebista
na Assembléia, juntamente com outros deputados do PDC; o prefeito Ivo Arzua; Amaury de Oliveira e Silva também teve seus direitos politicos::cassados pelo Ato
o deputado federal Jorge Curi que falou em nome da UDN, partido que contava Institucional n.º 1, refugiando-se no Uruguai. Em fevereiro de 1965, Ney Braga
também com a presença de seu presidente regional, Adolpho de Oliveira Franco; mostra-se confiante na impossibilidade da realização das eleíções para o governo
Aristides Simão, rep;esentando o PL; alguns secretários de Est'ldo, e inclusive o do Estado naquele ano, tendo em vista a coincidência com a eleição presidencial.
governador Ney Braga. (O EST.~DO DO P.\R.\N•.\., 5 jan./1964, p. 1 e 4). Assim, esperava que seu mandato fosse prorrogado por mais um ano ou que as
Posteriormente, ao comentar sobre a candidatura de PimenteL e dizer que ele.içàes fossem realizadas de forma indireta, por meio da Ass~mbléia LegislatiYa
se empenhará na campanha, Ney Braga faz a seguinte afirmação:"(...) Espero no (G.\ZET.\ DO prn·o, 16 fe,c/1965, p. 3 e 6). Francisco de Magalhàes revela que
mais curto prâzo, a convenção do meu partido para ratificar a escolha que os havia participado de uma reuníào com o governador, no inícío de 1965:
meus companheiros já fizeram e que, antes mesmo da Convenção do PTN,
trouxeram-me como um nome capaz de governar o Estado" (O EST.~DO DO (, ..) já se tinha prorrogado o mandato de Castelo Br.:inco, e o ~erestava,com outros
P.\R.\N•.\., 4 mar./ 1964, p. 4). Até setores do PSD se manifestru:am favoravelmente governadores, tentando conseguir a prorrogação do seu m:indaro. Segundo o que ele
à candidatura de PimenteL como é o caso do deputado João de Jvfattos Leão, disse na reunião isso lhe peonit:i.ri.a, em primeiro lugar, o es"'azi:unente do Paulo
que afirmou que a candidatura de Pimentel tinha sido recebida com entusiasmo Pimentel. O Paulo estava pressionando muito para ser candidato, :\ estratégi:t era
pelos pessedistas d~ Oeste do Estado (O EST.illO DO P.\R.\N ..\., 8 jan./1964, p. dei.ur o Paulo pressionar porque o mandato dos govern:idores i:i. ser postergado.,.: o
4). Pode-se dizer que estava ocorrendo uma aproximação entre o governo Ney Paulo entraria no yazio e, então, o Ney escolheri:1 o seu sucessor (IP_\RDES-SOBRE
Braga e setores do PSD, não vinculados a Lupion. Isso se verifica, por exemplo, POLÍTIC.H.\R.\N.\ENSE;ENTRE\'IST.\S, 1989a, p. 131),
quando da eleição da presidência da Assembléia Legislativa em abril de 1964, em
que o candidato do PDC, Antonio Ruppel contou com votos do PSD para ser No entanto, Castelo Branco manteve as eleições (diretas) para o ano de 1965.
eleito, obtendo 31 votos (O EST.illO DO P.\R.lli.\ 30 abr./ 1964, p. 4). Importante Assim, o PDC realizou a sua Convenção Regional no início de maio, e Ney Braga
destacar que 1v!oysés Lupion 1 que em 1964 exercia o mandato de Deputado usou todo o seu prestígio político em favor da pré-candicfatun de Paulo Pimentel
Federal, teve seu mandato cassado, assim como teve seus direitos políticos cassados mesmo não sendo este o seu candidato de pr~ferência, ,,Sto que Paulo Pimentel
por 10 anos, mediante o Ato Institucional n. 0 ·1. Após a posse de Ney Braga no estava despontando como uma liderança que eventualmente poderia incomodar.

326 327
Fiz um trabalho pessoal intenso. Passei pratidmente dois dias inteiros no Teatro
·Guaíra.Fui d rias Yezes à tribuna e articulei nos bastidores. Tinha que demonstrar
\'acê preferiu o caminho político m:l.l::: fácil. P&z como muítos e, cu, :ipe~a::: lamcntcí. \~ocê: me
que _\ffonso nfo tinha as mesmas condições de Paulo parn ganhar e que a vitória de
fcz picuínhas cm sua adminigtração na Prefciturn, nus como cu não cspc~o de ninguém mai.~ do
Paulo tambêm seria a \'ttôria de toda a nossa equipe, o que ma.is tarde não se
que se Je\·c e~-pcrnr e, como essas picuinhas revelavam apen:is ~cu própdo tamanho, ma.i:- urna
1
confirmou, pois nos separamos politicamente' (BR..--\.GJ.. , 1996, p. 169~170). vêz bmcntci e dei de ombros, com pena. '
Você deve lembrar-se do que me dis:;c quando era prefeito e pdo visto, ainda não tioha jogado
Ney Braga entendia que o nome de Paulo Pimentel era o que tinha maior forn ou desprc%ado minha pos:-in:I ajuda em seu futuro poütico: 'Dr. Bento, sou seu e~cravo'. (.,.)
~Ias \ 'ocê talvez a.inda n:io saiba o que aconteceu naguêlc momento cm' que afirmou ser meu
visibilidade e maior prestigio no Estado. Era a opção para tentar sustentar seu
escravo. \'~cê di:::solveu-se, acabou-se, liquidou-:::c, virou trnpo, virou C$<.J;uclcto derretendo as
grupo político no governo do Paraná, visto gue pela oposição estava sendo próprias c:irnc~ Perdeu sua subscinc.éi humana. Poís nenhum homem diz n outro que é seu
articulada a candidatura de seu ex-cunhado, o ex-governador Bento 1vfunhoz da cscr:wu Ninguém diz a ninguém cs:::a cnormid:i.dc ainda que cm seu íntirtio, se julgue tomo tal.
Rocha Neto. E certamente esta secia uma candidatura muito forte. Em fevereíro Conduf desdc então que Você não tinha rernêdio e, Jesdc então, pude c::i:!Cufo.r a monstruo-:.iidadc
de minha criação politica.
de 1965, o conflito entre Ney Braga e Bento }..[unhoz é novamente explicita.do na
A dcgrnda.ção já anunciada de minha invcnç:'io não deixou de preocupar-me. ~frrs cu tinha :i
imprensn. Em carta endereçada a Ney Braga (em resposta a uma entrevista em defender-me minha boa vontade e rneu.lntc.nto de bem c-scolhcr. 1linh.i.invenção poütica cm
que Ney Braga faz referência a Bento ivfonhoz), e publicada no jornal Correio do n.1da comprometeu minha tranqüilid::ide de consciência . .-\ Yocê, entretanto, atormentou. Yocê
Paranâ (no dia 19/02 e novamente em 21/02), Bento ivfunhoz considera que não podia suportar n idéia que. se lhe tornnv:t obscc.nntc de ter sido inventJ.~o por mim. Prccis-a\"J
19
de um fato que vie%c provar que era mais do que eu (absorvente prcocupnç~o), posrníndo valor
Ney Braga lhe traiu policicamente •
e prestígio, próprios e originários..
A oportunidade seria a eleição p:tr:1. Deputido Fede-mi, em 1958, o gr.mde teste que Yocê desejava
e que viria demonstrar sua autonomia, a independência de um nôvo astro :::urgindo na política
estadual, resoluto, irresistfrcl e magnífico, sem nadu dever a nenhuma circunstância nem a quem
~ \ 'ej::imo:i algumas pass::igcns. dc%a carta: quer que fôsse. Você. desejou o teste, manobrou bem, obteve êxito. :-.rc.receu receber parabéns.
(. ..) Você nio :mporta a humilhação de dever a mim, cm tão grande intensidade, as condiçOO para ( )
o:, êxito:,. de füa \·.ida política. E mai.~ do que os: ê..-...itos. quc,contmriamenr:c à minha fornu~o, \~ocê Na eleição de. Dcput.:ido, Yocê, como desejava, conseguiu scp.1rar-se de. minha sombra, N.1
amde:,mmcnte procun, o início imprescindível, sem o quaJ \ 'ocê n:JO ~na n.:ida no mundo político. eleição de Governador, também não a terh, o que possivclmcntc foi.um beneficio e \.l~a
(--,) Se nào ÍÔ$~e por mim, \'ocê ~eri::t ainda Tcncntc-Corond, ou quando muito, Coronel moderno, libertação para \'ocê-.
e n.3:o teria ingrc%::tdo na vida política. fasa, \'ocê, por s:cu orgulho, niio me perdoa, como nfo Não obstante, houve insistente tmbalho de seus pnrtidirios mais próxim~s que, com receio dos
tolera dever alguma ajuda ou algum beneficio a quem quer que seja. ;\ ignomínia de seu riscos e incc.rtc.zas de uma campanha, bateram à. minha porta a pedir que cu me m::mifo:i-ta.%c a
procedimento cm rcbç:lO a Ernani Santiago de Oliveira, s~u antcce-ssor na Prefeitura., nome.ado seu favor, ou se tal atitude fôsse impossível, que na menos me omitisse. (. .. }
por mim, reflete êssc c~r::1úo de espiríto, m::i.s clama ::tos céus, e se :i.rremata agora com :1 íncóvel Não poderia abrnçar s.ua candidatura.. E só por ê$.Se fato, Yocê- me furtou a satüfaçfo que teria
atnbuição de autori:i do a:-fa.lt::t.mcnto da cstmda de S:i.nta Felicid::idc.
sido talvcl a maior de tôda a minhn vidil. pública: assis.rir à ascensão política de um <:$colh.ldo meu.
Em poütica, muitos dc\·cm a muitos. Eu mesmo, e nào poderia ser de outro modo, devo a muitos
Scri.:t a prova de que minha opção inicial não havia sido arbitciria. t\fas nàó foi possível Não era
politicos que me ::ijudJ.ram e por mim se bateram dummente, como muitos políticos t::imbêm me.
poss.lvel. Yocê rcnliza a pior versào do políticu Falrn-lhe um mínimo de aufenticidade, dominado
devem e, freqücntL'lllente, bust:intc, pelo que eu lhe:s fiz, l\fas jã eram poUticos, jã se haviam
como Você sempre andou, por um exclusivismo e por um egocentrismo essenciais e por uma
empcnh:ida na gr:inde luta que a ninguém pode deixar indiferente. (-..)
Com Você, foi diferente, Você não cn, não e..U.St:ia. Eu o inventei politicamente. (. .. ) ncabrunhante preocupação de êrito a pautar todos o~ seus atos. Faltn·lhe1 sobretudo, grandez.1.
Yocê era um ffiOÇ"O a quem me ligav:im velho:, laços de amizade e parentesco, e a quem, pelas Ora oscila pa.rn a esquerda, ora para a direita, ora se situa no centro, conforme os ventos domirmntcs.
qualidades posiciv:is de dircç:io e conduta, vilia n pcn:i projetar na vida pllblica, ao recruttr, Dizendo-se freqüentemente e:squen:lism {antes de 31 de março), logo se e.acolhia, desconfiado
como fazia cu, os melhore:; elementos cnt1o disponíveü, para refôrço e consolidação da equipe com o problemático prov~ito cleitor::t.l de seu comportunento. Clwni-lo dt:=.esqucrdista., entretanto,
de govêmo que a:::ccndcrn .10 poder com minha vitória cm 1950" Você estava agindo na chelfa de se.da injuriar os c-squen:l.istas que tive mm a coragem de optar, pois Você: sen~o apenas oportunista
Policia, com discri<;:io, honcstid.1de e senso de cquilibrio. Escolhi-o para a Prefeitura. e, pretendendo apenas accrt:t.r na coofus:iio dos momentos de crise que, para infdicid:ide nossa,
E logo :io inicio de sua administr.:ição, percebi os novoo rumos pelos quais \~ocê se orientava, são hoje tão comuns, consegue sómente afundar-se na indefinição. \'"ocê sô tem uma referência
dominado insistcntemenrc pela preocupação eleitorcim;uma preocupação, cntreb.nto, elevada :i. de comportamento político: a rentabilidade ímcdfata, eleitoral, p::trtidiria ali de grupo dominante.
tal intenúd:i.dc que se torn:i.va, na verdade, uma obscs:::ão. (...) (CORREIO DO P.lfülNA, 21 fev/1965, p. 2-3).

328 329
A disputa entre Paulo Pimentel e .Afonso Camarg~ Neto na ConYençào Por outro hdo, o vice de Bento J\fonhoz foi Rafael Reseqde,. do PSD. Desta
do PDC foi acirrada, e o resultado final foi o seguinte: Pimentel obte,·e 838 votos forma, Paulo Pimentel, candidato do Prn, teve o apoio do ~DC (quase n:i. sua
e Afonso 781 votos.. tot!llidade), do PL, da UDN (maioria), e setores do PSD. Te.-e apoio ainda do governador
Depois da Convençào do PDC o partido nào ficou coeso em torno do e do prefeito de Curitiba. Bento :tviunhoz, candidato do PR, recebeu o apoio de setores
nome de Paulo Pimentel. .Afonso Carnargo Neto ficou ressentido com o apoio do PSD, de WTL> dissidência do PDC, do PSP, do PRP (Partido deRepresenmçào Popular),
que Ney Braga dera a seu concorrente, que sequer tinha vínculos com o PDC, e de uma dissidência da UDN e do PST (Partido Social Tmbalhisti).
passou a apoiar a candidatura de Bento 1fonhoz, seu cio, visto que Afonso pertence Durante a campanha, Ney Braga revela que a pesquisa eleitoral foi usada como
à familia Camargo e hada dei."-ado o velho Partido Republicano para seguir com propagand1 política. Afirma que "Ela foi usada para determinar a t~dênda da.opiniào
Ney Braga. Junto com Afonso Camargo seguem outros partidários do PDC pública, para corr:igi-b e finalmente para consolidar a intenção de voto de nossos
Neste momento,José Richa, criado politicamente no seio do neyismo e do PDC, eleitores e influír sobre os indecisos, principalmente sobre aquele grupo dos gue não
também vai se afasta..r de Ne-r Braga, devido ao apoio deste a Paulo Pimentel. gostam de perder o voto" (BR.-1.G.-\, 1996, p. 172). Diz ainda que 90% das rádios
O PTB, enfraquecido com o golpe de Estado, fica ao lado de Bento estavam a favor deles, ou seja, Pimentel e Ney Braga . .Ainda no pedodo da disputa
hfonhoz, candidato pelo Partido Republicano. Flca acertado que o candidato das pré-candidarurns pelo PDC entre Pimentel e Afonso, aqllele;, passou a .investir
para a prefeitura de Curitiba nas próximas eleições seria do PTB, assim como este firmemente em comunicaçào. De acordo com o próprio Ney Braga, Pimentel
partido teria' um candidato para o Senado . .A UDN, oficialmente; e em sua maioria.,
ap6ia Pimentel. Inclusive a UDN do Norte do Estado, que em 1960 apoiou a Trouxe para junto de si profissionais. de prop~anda, como Hitari Hollanda e \Vtlson
candídatura de 1vfaculan pelo PTB, agora esd junto com Pimentel. O PSD, t1mbém _-\ndrade Silva. Foi o primeiro político do Paraná a profission,alizar a campanha.
enfraquecido com o Golpe, entra dividido na disputa. Setores do pnrtido seguem Começou a empenhar-se no planejamento de sua candidatura co~ o slogan 'Prestigie
em apoio a Bento 1\,[unhoz, sendo que outros setores ficam com Pimentel. O quem trabalha', de autoria de Nassib Jabur. Investiu em mídia: comprou o íomal O
PSD vai ter dois de seus membros como candidatos à vice~governador. Um na Estado do Paraná, depois a nr.rguaçu- aliás com o meu npoi9 e pedido junto ao
chapa de Pimentel, e outro na chapa de Bento }.funhoz. O vice de Pimentel foi presidente Castello Branco, sem que eu ví..sse nisso apoio para que de fossegovcrnador
Plínio Franco Ferreira da Costa, que nas eleições para o governo estadual de (BR.-I.G.-1., 1996, p. 168-169).
1960, fora o candidato pelo PSD. Se Pimentel era do Norte do Estido, Plinio
pertencia a uma família tradicional do Sul do Estado. Ney Br::iga comenta o As eleições se aproximavam e a diferença entre Paulo Pimentel e Bento

apoio do PSD: :tYiunhoz ficava menor. Este último também era um homem confiável ao regime.
A vitória de Pimentel foi apertada. Enquanto este obteve 518.935,votos, ou 51,1%,
Tínhamos uma pesquisa segundo a qua1 o PSD poderia decidir a eleição. Fizemos Bento Munhoz ficou com 458.119 votos, ou 45,1% (IP.\RDES, 1989, p. 147).
um trnbalho de aproximação, principalmente em torno do desembargador .\nrônio Com a vitória de Pimentel, Ney Braga consegue impor uma derrota àquele que no
Franco Ferreira da Costa e de Cândido Martins de Olivein. í<.lorsés Lupion estava momento era o seu maior adversário na cena política paranaense, Bento ]\.funhoz.
fora da política. Nosso objetivo era trazer o deputado fedenl Plinio Franco Ferreira Diferentemente de Carlos Lacerda na Guanabara e de 1-fagalhàes Pinto em
da Costa para o nosso lado. lvfinas Gerais, que nào conseguiram eleger seus candidatos ao góverno estadual,
Plínio era bem visto no governo Castello Branco. Enviei a Brasília Ítalo Conti, Ney Braga mostra ao Comando lvfilitar, com a vitória de seu candidato, a influência
secretário de Segurança Pública, para apresentar~o presidente a nossa idfu. Castello política que e."\ercia no Paraná. Depois do período eleitora..l. o Presidente Castelo
acdtou e falou pessoalmente com o deputado, que veio direto para o Paraná,
Branco chama o governador Ney Braga para assumir um ministério. Ney Brnga
concordando com a indicação (BR.-I.G.-1., 1996, p.171).

330 331
foi ao encontrQ de Castelo Branco ·e recebeu o convite. Em seu livro de memórias Quart:1-feíra, levando a minha resposta, que só será positiv:i s~, pelas râ~ões que
afirma que após almoçar com Castelo Branco, esteve na sala de Ernesto Geisel, expus e que hão de ser compreendidas pelo senhor .·\fonso Gamargo Neto, de
que era o Chefe da Casa i\Witar. Ge.isel haYia lhe perguntado: ajustar comigo um afastamento conjunto,(..) (DLÍ.RIO DO P_\R...--\N.-\., 16 no\~/
1965, p. 3) .
•\ceitou o i\Iini.stério) Confirmei e ouvi nova pergunta: E qual ~linistêcio ,--ai ser?
Repeti a pergunta para o presidente Castdlo. Ele me conYidou parn sentar e disse: .Afonso Camargo Neto, considerando que as declaraçõe~ do governador
Qualquer um que não seja Planejamento nem Fazenda. Depois, citou três esclarece a opiniào pública, concorda em renunciar ao cargo. ..-\firma que: "em
ministérim, .-\gricultura, Trabalho e Educação. Escolhi a pasta da .-\gricultura nenhum momento foi-me apresentacb. a opção de assumir o Governo Estadual,
(BR._\G.\, 1996, p. 212). pois se assim acontecesse, eu o assumiria. Ivfinha decisão ficou limitada entre,
dei...-..;:ar de ser vice-governador ou poder ser responsável pelo Paraná perder o
No ent1.nto, precisava antes resohrer a quest"lo do seu sucessor, que seria
Ministério da a-\gricultura" (DL\RIO DO P..\R.\N.-Í., 17 nov./1965, p. 3). O neyista
Afonso Camargo Neto, Yice-governador, com guem estTva rompido. A posse
Saul Raiz é quem est'lbelece as conversações com o opositor de Ney Braga,
de Afonso Crun:irgo poderia representar uma ameaça à sua influên~ia política no
Afonso Camargo Neto (G.\ZET.-\ DO POVO, 20 nov./1965, p. 3). Mas não se
governo do Est1do, além de fortalecer um adversârio. Assim, tratou de articular
pode dei.~1.r de cogitar a hipótese de que .Afonso Camargo Neto teria sido vetado
a renúncia de Afonso, para que alguém de sua confiança pudesse substituí-lo no
pelo comando militar, por estar assumindo posições mais à "e~querda'\ o que
governo até a posse de Pimentel. em 31 de janeiro de 1966. Desta forma, Ney
não seria bem visto aos olhos dos militares.
Braga podécia usar sua influência para que a decisão peln Assembléia Legislativa
No dia 17, Ney Braga e Afonso Camargo Neto entregam suas cartas-
se desse em fav-or de um nome de sua confiança. :tvfas Afonso Camargo Neto
rénúncia à .Assembléia Legislativa. Ao del.i::ar o governo, Ney Braga faz um
não esta\'.l muito disposto a renunciar. .A.firmou à imprensa que:
pronunciamento em que cita o nome de .Algacyr Guimarães, - s·eu secretáào da
Fazenda - como possível governador que poderá substituí-lo, rnso a Assembléia
Colocaram o carro na frente dos bois. Sou o substituto constitucional do governador
Legislativa assim definir (DL-\R.10 DO P.\R.-\N.-\, 18 nov./1965, p. 3) . .Algacyr
e nenhwn fato no,·o :i.lterou estJ. siruaç.lo. Somente esrudarei a possibilidade de
Guimarães, da UDN, foi eleito pela Assembléia no dia 19 para substituir Ney
minha renúncia depois do governador Ney Braga afirmar que só assumirá o
}.fuústério desde que eu renuncie o meu cargo.•-·Unes disso não há nada para discutir Braga (como era interesse deste), recebendo 34votos dos 36 depu'tados presentes,
(DL-\R.10 DO P.\!L\N.-\, 14 nov./1965, p. 1). sendo que dois votaram em branco. O vice-governador eleito foi Alípio .Ayres de
Carvalho, Secretário de Viação e Obras Públicas, que recebeu 29 votos. Tiveram
Anibal Khoury garantiu à imprensa que a maioria dos deputados vota.riam 7 votos em branco, pois alguns deputados queriam que o vice fosse alguém da
no lider indicado pelo governador (Ibidem, p. 1). Em seguida Ney Brnga, falando Casa. O deputado Aníbal Khouri, em nome de Ney Braga, foí quem articulou a
à imprensa, pede a compreensão de Afonso Camargo Neto: eleição de .Algacyr Guimarães na Assembléia para o governo (G.\ZETADO POVO,
20 nov:/1965, p. 1 e 3). Esta eleição de .Algacyr Guimarães, homem de confiança
(...) .-\.nalisando bem as circunstâncias atuais, eu me sinto, pelo apelo que me fez o de Ney Braga,. mostra a fragilidade da oposição na Assembléia ~este momento,
presidente Castelo Br.mco, praticamente na obcigaçào de aceitar o 1linistério da sendo mesmo quase inexistente. Lembremo-nos de que o .Ato Institucional N.º 2
.-\gdculrura, sem perder, entretanto, a confi:inçn. e a compreensão daqueles que me já estava em vigor e, dentre outras medidas, havia extinto os partidos políticos e
acompanharam na ele.içào passada, pondo em risco a continuidade administrativa do
tratava de cassações políticas.
Esta.do. Por isso, \·olurei à presença do senhor presidente da República, na próxima

332 333
4.3 A ORGAr-.TJZAÇÃO DA ARENA NO PARANA expressasse certas afinidades com os parlamentares · Os sen"do'
'-'- , res paranaenses
assim como a maioria dos deputados federais, tinham se manifestado contra ~
Ney Bragn assume o 1\ilin.istério da Agriculrura},1 em 18 de novembro de candidatura de Paulo Pimentel (P.-\NOR.-1.\L-\, dez./1965, n.º 163, p. 93).
1965. Neste período, já est1va trabalhando para orgnnizar o partido da "Revolução" Ney Braga escolheu o nome daquele que o substituí~ no governo do
no Paraná. ~lesmo assumindo o i\,finistério da ...\gricultura 1 nào delegará esta tarefa Paraná, Algacyr Guimaràes. O encontro para a formação da ...\~NA paranaense
a ninguém, po15 manterá o comando da organização da futura .-\REN.--\ a partir se deu no dia 18 de fevereiro de 1966, e foi presidida pelo miriístro Ney Braga.
daquele 1vlinistério. Norton 1:Vfocedo Corrcb, gue. foi secretário do governador Nesta reuniã_o foi definida a Comissão Diretora e o Gabinete Ex~cut:ivo (DL\RJO
entre 1961 e 1965, afirma em entrevista que: DO P.\R.-\N.-1, 19 fev./1966, p. 1). No início dos trabalhos o ministro afirmou que
"há muito tempo estamos procurando fi..-;;ar critérios e depois p~oceder à escolha
.-\ ..-\REN.--\ do Paraná foi organiz:ida no g:ibirtete do ministro da .-\gricultura, dos nomes para a Comíssào Diretora e Gabinete Executh~o" (DL.iJuO DO
procurando somar todas as correntes que h:n-iam no Paraná, ínclusive as que n~o P.\R.-\N..\., 19 fev./1966, p. 3). Ney Braga ainda fez declarações convidando O ex-
participa,;,-am dos esquemas govem:iment:ús \·igentes nem do ::mtedor. Tanto que governador Bento 1fonhoz a se integrar na .\REN."t. O ú~ico nome indicado
,ierarn para .'tREN.'t alguns homens do PTB, alguns do PSD, prnticamente todos pelo governador recém-eleito foi para a Secre~a Geral, na qual Pimentel se
da UDN e a maiocin, '" dos homens do PDC (lP.-\RDES -SOBRE POLÍTIC.-\ definiu pelo seu Chefe de Gabinete, Ubiratà Pompeo de Sá. Além de indicar 0
P.\R.-\N.\ENSE; ENTREYIST.-\S, 1989a, p. 243-244). presidente d'l ...\REN_..\, a Ney Braga coube a indicação de outrO-s nomes para a
Comissão Diretora: os generais hfurat Guimarães e Castor 1vfenezes e O Coronel
O deputado José Richa, do PDC, e Afonso Carnargo Neto também d;, .Alípio Ayres de Carva)ho. Além disso, indicou mals sete nomes corno
PDC ingressarão no 1IDB (!P.-\RDES, 1989, p. 149-150). representantes classistas. O senador Oliveira Ftatlco, líder na _..\REN."i dos setores
Paulo Pimentel se mostrou favorável ao nome de Jayme Canet Júnior oposicionistas ao governador (que defendera a candidatura de ~ento lviunhoz),
para assumir a presidência da .--\REN_\ paranaense, que estava em vias de indicou dois vice-presidentes (deputados Rafael Rezende e Ivan L~z) . .Além disso,

formação. Canet não tinha até então vinculas p.trtidários e tinha ocupado a este grupo contou com mais dois nomes na Executiva, quais s~jam, 0 senador,
Rubens de :lv[ello Braga e o deputado estadual Horácio Varg-as. ,Ao comentar a
presidência da C.-\FÉ DO P.\R.-\N..\. no governo de Ney Braga. Além disso, tinha
reunião da .-\RENA, o referido senador se considerou sacisfeíto com a participação
sido wn dos líderes da campanha de Paulo Pimentel ao governo estadual. Tendo
dos setores que representa:
ligações com Ney Braga, Canet seria um nome para manter os vínculos entre o
governador e o ministro. No entanto, como Ney Braga mantinha certas
Os componentes da bancada federal que nas eleições de 1965 apoiaram o professor
expectativas quanto à sucessão de Castelo Branco - este hair:ia incluído Ney
Bento l-.Iunhoz da Rocha e que constituíam um.grupo parlamentar com direito a
Braga numa lista de alguns nomes para a sua sucessão no governo federal-, tinha
integrar a ."tREN."t, porque eram figuras identificadas com o processo
que manter bom relacionamento com os parlamentares paranaenses no Congresso revolucionário, estão satisfeitos c.om a composição do Paraná. Viram eles
Nacional. Assim, procurou articular um nome para presidir a ."tREN.\ que reconhecido o seu direito e sua importância na representação do.Partido, por Sllil
inclicaçào elegendo dois vice-presidentes, deputados Rafael Rez~de e Ivan Luz;
um vngal, deputado Horácio ·vargas e aínda lhe.s foi dado escolher, em votação
secreta, o senador Rubens de Mello Bmga para a Tesouraria.. Acreditamos assim
)J Quando Ney Braga er:i 1linistro da AgriculturJ, Ca:;telo Br.tnco i.d criar, cm 1966, a Fundação
1fUDES (Fundação Movimento Universitário de Desenvolvimento Econômico e Social). Castelo que há clima, para integração na .,-\RENA das correntes poliúcaS do Paranií para
Brnnco chama Ney Braga pam presidir ttl entidldc (de dirdro priv:ido C' sem fins lucrativos). Ney que ela possa se fortalecer e re.aliz.ar: os ideais da Revolução de març~ (DLW0 DO
Brnga permanece na presidência da Funcb.ç:io atê: os anos 1990 (BR..\G;\, 1996, p. 267-269), P.\R.-\NA,20 fev./1966, p. 3).

33./ 33S
O presidente _,:\.lgacyr Guimaràes e o secretário geral l;birat..1. Pornpeo de Sá
Paulo. ~ediram que eu fosse o intermediário. Paulo os recebe~, prometeu as duas
nào tinham ligações partidárias anteriores. O vice-presidente Zacarias Seleme e os secretaaas. Can:nlhído foi para a Educação e a Justiça foí entregue ao desembargador
vogais Horácio Vargas e Paul() Polli tinham sido da UDN; o vice-presidente Rafael Lauro Fabricio de Mello Pinto (BR.-IG.-1, 1996, p. 172).
Rezende e o vogal 1\-fattos Le:-ào foram do PSD; o tesoureiro Rubens de i\-[ello
Braga e o ,·ogal ?vfuan Pirih foram do PTB; o vogal ..,--\rmando Queiroz era do No primeiro semestre de 1966 ·o presidente Castelo Branco elabora uma
PDC; e o více-presidente Ivan Luz fora do PRP, O governo Paulo Pimentel cont.1 lista de candidatos para a sucessào presidencial. Entendia ser possível três tipos de
com sete nomes certos na Executiva, contra quatro nomes que tinham optado pela candidaturas: de militares da ativa, de civis e uma outra de "anfibios'1, ou seja, de
candidatura de Bento Munhoz (DL\RJO DO P.-\Jc,IR-\, 20 fey_/1966, p. 3).
oficiiis reformados mas que tinham atuaçào política. Ao comenta~ alguns possíveis
nomes, em outubro de 1965, citou Costa e Silva, Jurandir Bizar~ ?vfamede, O lavo
4.4 O EMBATE POLÍTICO COM PAULO PL'.!ENTEL E A
Bila e Pinto, e Daniel Krieger, além de Juraci 1\-fagalhães, Osvaldo Cordeiro de Farias
FRAGILIDADE POLÍTICA DURANTE O GOVERNO
e Ney Br.iga corno "anfibios". A partir de abril de 1966, defin~u os nomes que
COSTA E SILVA E PARTE DO GOVERNO 1v!ÉDICI
deveriam ser consultados por militares e políticos da _-\.REN_~ (governadores,
membros do diretório nacional, presidentes dos diretórios regibnais, deputados
No início do governo de Paulo Pimentel a influência do ex-governador
Ney Braga foi muito grande, inclusive com várias indicações no secretariado. federais e senadores). Os nomes definidos por Castelo foram: .Adh~mar de Queiroz,

O bloco neyista chegou a formar a grande parte do governo Pimentel, contando Costa e Silva, Bibe Pinto, Cordeiro de Farias, Etelvino L.i:ns e Ney Braga
com oficiais de gabinete, assessores e secretários de Estado (P.-\NOR.:\i\L--\., jun./ (DICION,-\RIO HISTÓRJCO.BJOGR..\Frco BR.-ISILEIRO, 1984, P· ~39) (OEST.-IDO

1966, n.º 169, p. 56). Esta disputa. para ocupar os espaços da administraçào DO P.-\R.-IN.-Í., 2 mai./1997, p. 5). Francisco lvfugalhàes afirma que "O Ney Braga
estadual foi criando um clima de tensão entre os neyistas e o setores mais pró:cimos quase ficou louco nestas semanas que antecedem esta consulta.(.. ;) Ele foi ter urna
ao governador (P.\NOR.\l\L\, jul./1966, n.º 170, p. 34-35). Poucos meses apôs o entrevista com o Roberto !vfarinho. (, ..) o que é interessante é que hessa consulta às
início do governo, Paulo Pimentel começou a se rebelar contra a ingerência de bases, o Ney foi o 2.º mais votado ... 1-fas o Ney aceitou bem a idéia,.," (IP..-IBDES-
Ney Braga em seu governo e foi aos poucos estabelecendo uma independência SOBRE POLtrJC.\ P.-\R.-IN.-IENSE; ENTREVIST.-1S, 1989a, p. 134),
em relação ao seu patrono político. Um outro fator que contribui para o Os delegados da .AREN.-\ paranaense para participar da Convençào
afastamento dos dois, é que eles vão estabelecer relações mais próxim:is com Nacional que definiria os candid1tos à presidência e à vice-presidên,cia da República,
grupos militares diferentes que estavam comandando o pais. Paulo Pimentel se foram o ministro Ney Braga, o governador Paulo Pimentel e o presidente da
identifica muito mais com· Costa e Silva e o grupo denominado de ulinha dura"; .\REN.-1 regional, Algacyr Guimarães (DL-\RJO DO P.\R.-INA, 4 mai./1966, p. 3).
enquanto Ney Braga está mais próximo de Castelo Br.inco e de Ernesto Ge.iseL Mas o governador do Paraná não apóin o nome de Ney Braga, mas sim O
do
ou seja, do grupo chamado de usorbonne". Pau.lo Pimentel entende que ºO general Costa e Silva. Em entrevista em ·maio de 1967, Paulo Pimentel afirma:
motivo fundamental de nosso afastamento era Ney ser francamente casrellista e "Fomos o primeiro governador a deü::ar o seu Estado, a seguir para Br.isília e lá
eu estar com Costa e Silva" (BIL.-\G.-\, 1996, p. 173). Estes diferentes vínculos com manifestar-se, publicamente, pró-candidatur; Costa e Silva.·Data exata do
os militares também têm repercussões em nível de governo. .Anibal Khoury afirma apoiamento d_o governador do Paraná à candidatura Costa e Silva: 14 de abril
em depoimento que: de 1966" (PANOR.-'u\L\, rnai./1967, n.º 177, p. 42). Em depoimento ao jornal "O
Estado do Paraná", Paulo Pimentel revela que fora portador de um convite de
~.\lguns militares do grupo que se intitulava linha~dura - entre eles os coronéis Costa e Silva a Ney Braga. Diz que em 1966 recebera um telefonema do então
Dalmo Bozon e Haroldo Carvruhido- eram sugeridos para posições no governo do
1\-finistro da Guerra, general Costa e Silva, convidando-o para se encontrarem

336
337
em Brasília. Antes de víajar a Brasília, recebeu a visita do Comandante da 5.i inclinação, cómo também o apoio da •.\.rena nacional à minha ca~didatura. Tanto que
Região 11ilit'lr, que estava acompanhado de outros oficiais superiores. _.\ Yisita ao me telefonou avisando que viajaria a Curitiba parn inaugurar um ctlnjunto habitacional
governador foi para comunicar que o Comandante e os demais oficiais esta,-:i.:n e, em seguida, vicia aqui em casa me visítar. E Yeio, para declar:ar que estava muito
apoiando O general Costa e Silva para a presidência da República. Quando contente com a minha candidarura. Essa visita demonstrou que à área federal estava
chegou ao aeroporto em Brasilía, Paulo Pimentel era aguardado tanto por realmente me apoiando. Esti1.·eram aqui na minha casa com ele bgovernador Paulo
assessores do presidente Castelo Branco quanto por oficiais do gabinete do Pímentel 1 o general Ernesto Geisel, que era chefe da Casa 1~tar, e vários outros
ministro. Encontrou-se com Castelo Branco e, posteriormente, foi ao encontro companheiros. Conversamos muito e a partir dai cresceu ainda ffiill.s a minha
canclidatma (BR.\G.\, 1996, p. 224).
de Costa e Silva. Este comunicou ao governador os seus projetos de governo e
que considerava a possibilidade do então Ivlinistro da Agricultura vir a ser o seu
Coube no governador indicar o nome do candidato dai .A.REN"A para o
,~ice, mesmo porque Ney Braga, sendo general da reserva e também político,
Senado. Paulo Pimentel acabou por indicar o nome de seu ex-líder político, o
representava um ponto de equilíbrio na chapa de Costa e Silva. Solicitou então ao
lvfinistro Ney Braga (P.-\NOR.\?IL\, juL/1966, n.º 170, p. 34-35). Como Paulo
governador que este comunicasse a Ney Braga aquela proposta. Pouco~ dias
Pimentel fora eleito governador com o apoio de Ney Braga, sentja.-se na obtigaçào
após esta conversa com o :Ivfinistro da Guerra, Paulo Pimentel se encontrou com
de pagar a dívida contraída. Definida a sua candidatura ao Senado pela .\REN.\,
Ney Braga na residência deste no Rio de Janeiro1 informando-lhe da proposta
Ney Braga se deparou com do~ concorrentes pelo MDB. Por um lado, seu ex-
feita por Costa e Silva. De acordo com Paulo Pimentel, aquela propost1 dei.;:ara
colaborador, Afonso Camargo Neto, e, por outro, Nelson 1facu1m, e.\.-petebísta e
Ney Braga. furioso. Ele teàa dito ao governador que, s: fosse para disputar, ele
que era até ent1.o Senador pelo Paraná. O governador Paulo Pimentel acabou por
concorreria à presidênci,, (O EST.-\DO DO P.\R.-\N.\, 29 out/1988)". Esta posturn
apoiar a candidatura de Ney Braga, pois não bastava a indicação de Ney Braga ao
de Paulo Pimentel com relação à sucessão, marca mais um aspecto de separação
Senado. 1'.Ias o apoio não foi dado de imediato, visto que Paulo Pimentel foi se
entre aqueles que eram os líderes da política parannense de então.
integrando aos poucos na campanha (P•.\NOR..\JIL\, out/1966, n. 0 172, p. 74). O
Ney Braga não permanece muito tempo no 1\finistérío da Agrículrnra.
próprio Ney Braga comenta a participação do governador e11:1- sua campanha:
Em agosto de 1966 ele deixa a Pasta para se candidatar ao Senado. No entanto,
"No início ele permaneceu isento; mais tarde., no decorrer da c~panha, acabou
a sua indicação para concorrer ao cargo nào foi tnuito pacifica no interior da
me apoiando. Chegou a fazer corrúcios comigo" (BR.\G•.\, 1996, p. 225). Entende
:\REN_\. paranaense, tendo em vista que políticos ligados ao governador Paulo
que aqueles que mais o ajudaram nesta campanha foram os ex-integrantes da UDN
Pimentel pretendiam que o candidato tivesse vínculos com o governador. Neste
e do PDC, reunidos na.-\RENA. A votação de Ney Braga foi superior àquela recebida
conflito da .A.REN.-\ paranaense para definir o candidato ao Senado, Ney Braga
em conjunto por seus concorrentes 1 Afonso Camargo Neto e Nelson lvfaculan.
contou com o apoio de Castelo Branco:
Depois da eleição de Ney Braga, Paulo Pimentel considerou que a dívida esmva
paga e que os dois estavam livres para seguir cada qual o seu caminho.
Formou-se um grupo de certa e."\:pcessão que queria uma pessoa mais ligada a Paulo
Pimentel. Decidi di5putar a indicação com esse grupo, mas depois grande parte dele Ney Braga assumiu as funÇõe~ de Senador no dia 1.º .de fevereiro de
veío me apoiar. O pcôpcio presidente Castello Branco fez questão de mostrar a sua 1967. No Senado, participou das comissões de Segurança Nacional, da
Agricultura, da Economia, das Relações Exteriores e do ~istrito Federal.
Em seu prirpeiro ;no de Senado, assumiu a presidência da Cornissào de-Indústria
e Comércio. Em 1968, foi presidente 'da Comissão de Assunto·s da Associação
Latino-Americana de Livre Comércio (.\LU.C) (DICION•.\.RIO HISTÓRICO-
li (Biblioteca Públ.ic:i. do Para.rui - {Arquivo), Curitiba).

338 339
BIOGR...\FJ:COBR..\S!LEIRO, 1984, p. 438-439) (BR..\G.\, 1996: 226). O senadorNey Fui contra o endurecimento. Pru:ticipéid1 redação de wn telegrama de protesto contra.

Braga foi tambêm secretário d-i Comissão de Est.1tuto e Progr.ima d1 _--\.REN_\, que o _-\IS. Can-:tlho Pinto e eu conversamos com Gilberto 1fai:inho, presidente do
Senado, e também com o então senador Daniel Krieger sobr~ a necessidade de se
elaborou a Carta de Prinópios do partido (G.\ZET\ DO POYO, 7 mn.i./1967, p. 3).
elaborar um pronunciamento contra o ato (BR..\G_.\, 1996, p. ~28).
Embora Cost1 e Silva não fosse o candidato preferido de Castelo Branco
para substimí-lo na presidência d.1 República. essa candidatura, muito forte nos
O telegrama foi enviado ao presidente Costa e Silva, e'' foi assinado por:
setores militares, acabou se impondo. Castelo Branéo acabou aceitando a rnndidatura
Gilberto Marinho, Daniel Krieger, :Milton Campos, Carv:ilho Pinto, .Aloisio de
de Costa e Silva, entendendo que ela seria a nlternaciva que impediria uma divisão
Carvalho Filho, .Antonio Carlos Konder Reis, Ney Brnga, lV[en d,e Sá, Rui Palmeira,
no interior das forças armadas 32 • Castelo Branco se volta para a institucionalização
Teotônio Vilela, Clodomir Millet, e José Guiomard. O texto do teferido telegrnma
do regime militar. 1.-fartins Filho afirma que "O revés d.1 sucessão consolidou no
é o seguinte:
campo rnstelista a vi.são da urgência de controlar o sentido e o tempo d'l ~evolução',
antes da passagem do poder, (...) o presidente avançou passos seguros -na
Na impossibilidade de usar a tribuna parlamentar, os senadores que participllm de
'ínscitucionalizaç.'io' do regime" ~L-\RTINS FILHO, 1995, p. TT). encontro neste instante realizado ·no ·Palâào ·Monroe, hoje, di-a 14 de dezembro,
Em dezembro de 1968, o presidente Costa e Silva edita o Ato Institucional vimos manifestar a\~ E-xa, a nossa discordância da solução adotada pelo Poder
n,º 53 1, endurecendo o regime. As relações entre o presidente Cost1 e Sil•rn e o Executivo, atra,és do _\to Institucional n. 0 5. _-\ssim procedemos porque,
senador Ney Braga não eram muito boas, e ficaram mais _complicadas quando permanecendo fiéis aos pcincipíos democráticos, temos a com-icç.ão de que os
Ney Braga assinou um telegrama protestando contra o _--\.15. postulados do i\Iovimento de 31 de março de 196-1- acham-~e satisfatoriamente
incorporados à Consituição de 24 de j_aneiro de 1967, não nos parecendo justificável,
portanto, um retrocesso político de consequências imprevisiveiS.
Cumprindo o impostergável dever, a nós imposto pela repres~ntação popular de
que estamos investidos, de assinalar as dímensões da responmi.bilidade assumida
3 ~ " •• ,o:, primcírm três meses de 1966, atê a aceitação por CaMelo da c:i.ndidatura Co$ta e Sihra como
fato consumado, parecem mostrn.r, de um bdo, um candidato à presidência pisando em solo com a ediçào desse ."\to. Temos a certeza de que somente a pre~lência dos valores
firme e, de outro, um militar n.i pre:;idê-ocL1 po.ral.isado dia.ntc d.a fulta de uma alternativa castrense, jurídicos e sociais do Estado de Direito assegura a estabilidade e o desenvolvimento
cad.i vez mais :i.cuado para a única solução capaz de manter a unidade: das Forças Armadas. do Brasil, hipótese em que\~ Exa. poderá contar com a nossa decidida atuaçaü.
. \pc~,u das preocupações c.xternad.as por seus alindas, parccía inquc-:;.tionável a solidez militar da
."\presentamos a Vossa Excelência os pfotestos de elevada considernção (BR."\G."\,
candidatura Costl c-Silw, já no início de 1966, Enqu.mto o minístro av::mçava com cautela num
terreno seguro, o presidente se. de.frontava com suces~ivas cvidê-nci:1.$ de que na :ire-a milirn.r· a 1996, p. 228).
siru:ição estava dcfinid.i. Os indícios: finais nes:sc sentido foram oferecidos-pela gradual passagem
de parte do próprio dispoúcivo civil do ClStclismo para a alternaci\"n Costa e Silva, visu como Em seguida., um segundo telegrama fora redigido, em apoio ao ato do
únie1 form.1 de rrumtera cocsào militar" (r-.L--\RTfNS FILHO, 1995, p. 75~76).
presidente da República. Ney Braga diz que não foi procurado por ninguém do
ll O .--\15 foi b-ai"<ado ~ 13 de dezembro de 1968 e não se estipulou pGLZo par:i a sua vigência. Com
governo federal para assinar o segundo telegrama. "Não, porque eles sabiam que
o .--\15 o governo fedenl cst:ibclc.ce uma série de controles sobre a sociedade e suspende .;i.s
gar:int:i.as constituciom1is. Dentre. os: poderes atribuídos ao executivo estivam: poder de fochar o eu não mudaria minha posição, assim como Krieger, Carvalho Pinto, 1-vfilton
Congresso Nacional ,e as Asscmblé.i:i.s Estaduais e 1[unicipals; direito de Cl.','Sar mn.nd.itos clcitomis; Campos, 1vfen de Sá, entre outros. 1vfantivemos nossa posiçã~ e não voltamos
direito de suspendcr por 10 ano:, os direitos politic?s dos cidadãos; direito de demitir, remover,
atrás" (BR.\G,\, 1996, p. 229).
nposcnt:l.t: ou pôr cm dh--porubilidade. funcionários das burocr.icias federal, estadual e municipal;
direito de demitir ou remover juizcs; poder de decretar estado de sítio, sem qualquer dos Enquanto Ney Braga se posicionava contra o _--\.I 5, o governador Paulo
impedimentos foodos na Constituição de 1967; suspcn~io da garantÍn de ha!Hat mrp1a cm todos Pimentel se mostrava favorável àquele Ato Institucional, Enviou urna mensagem
os casos de crimes contra a Segurança Nacional (MOREIRA ALVES, 1987, p.. 131).

340 341
ao Presidente Costa e Silva, solidarizando-se com as medidas tomadas pelo governo quando o terminar, quero que o povo julgue o meugonrno .~:$ov-erno que fareí

federal. Na mensagem, diz: "Imbuídos do espíáto da Revoluçào de 1964, o Paraná com todos os companheiros que souberam entender este meu de~ejo.
'
Não admitirei

e seu governo reno,·am a vossa excelência a expressão de sua confiança e de forças divergentes.( ...) E quero ser julgado pelos meus acerto.se desacertos. Não
me \'OU apresentar, ao final, como um meio-go\·ernante (P.\~OR..--\.1\L\, jun./
sua fé nos destinos da Nação, Ao lado de seus dirigentes, como estiveram
1967, n.º 178, p. 76).
desde a primeira hora" (O EST.-\.DO DE S.'iO P.\ULO, 18 dez./1968, p. 5).
Após a impl:mtaçào do _\IS, os empresários paranaenses fazem 'uma
Um acontecimento marcante desse conflito entre Ney: Braga e Paulo
manifestiçào de apoio às medidas tomadas, segundo eles, em defesa da Revoluçào.
Pimentel se dá quando da demíssii.o do Secretário de Viação e Obras Públicas,
Realizaram um ato de apoio a Cost, e Silva, no Quartel-General da 5.ª Região
Saul Raiz, do governo. Este havia deb::ado um cargo no Banco lvfundiali onde
1\filitar, entregando uma moção ao comandante, General José Campos de Aragão.
recebia 2.500 dólares mensais (equivalente na época a 5 milhões e m~o de cruzeiros),
Estiveram presentes os seguintes represent1ntes empresariais: Paulo Patriani,
para ocupar a Secret'lria de Viação e Obras Públicas, onde passOu a receber 980
' presidente da Federação da Agricultura; Osmário Zilli, presidente da Federação
mil cruzeiros (RE.-\.L!D.\DE, ago./1966, n.º 5, p. 84). Saul Raiz solicitou :i
do Comércio; l\f:írio de lv!ari, presidente da Federação das Indt.istria.s;Joào Krocik
e,coneraçào da Secretaria em maio de 1967, para legalizar sua aposentadoria nas
Neto, presidente da Federação do Comércio Varejista; Noel Lobo Guimarães,
funções que exercia como lvlinistro do Tribunal de Contas, de Clljo cargo estava
presidente da Associ:1.çào Comercial do P:1.raná e da Federação das Associações
licenciado. :r,.,.fas o fez apenas formalmente, não deb,ando efetiv.µTlente o cargo,
Comerciais (G.-\.ZET.\ DO PO\'O, 17 e 19 dez./1968, p. 1 e 3) (O EST.\DO DE
tanto que continuou a exercer suas fuhções. Naquele momento,. o JORN.-\L DE
S.\O P.\ULO, 18 dcz./1968, p. 5). Comentando o ,-U 5, o Delegado Regional do
CUR.ITIB.._.\, que apoiava o governador, afirma,ra em editorial: ~·o governador
Departamento de Polícia Federal, Coronel \\-'aldemar Bianca, disse que este ato
Pnulo Pimentel recebe agora (...) a grande oportunidade que não se repetirá tão
deveria ter vindo a quatro anos atrás. Além disso, afirmou que não havia qualquer
fácil, tão dócil e tão tranqüila de conservar à margem do governo (...) essa figura
necessidade de censurar os órgãos de imprens.a no Paraná, visto que todos eles
destacada do neismo-jacobino, para quem a liderança de Paulo Pimentel é apenas
estavam afinados com o movimento revolucionário (G.-\ZET...\ DO POYO, 17
a sua gestão de governador" QORN.\LDE CURITIB.-\., 6 maio/1967, p. 3). E assim
dez./1968, p. 3). se deu. No final de maio, Paulo Pimentel nomeou o engenheiro civil José Teodoro
No período em que o Congresso Nacional ficou fechado, de dezembro de
1v1iró Guimarães para substituir Saul Raiz, afastando este definitivamente de seu
1968 a outubro de 1969, Ney Braga ficou sem exercer qualquer cargo público. governo. (DÜRlO DO P.-\.R.-\N..\., 25 maio/1967, p. 3).
Neste período, afirma que esteve em Curitiba e que foi vice-presidente de uma Paulo Pimentel, tendo boas relações com o presidente Costa e Silva, teve
Companhia de Seguros, a .Atlântica Boa Vista de Seguros (BR.-\.G.\, 1996, p. 229). a oportunidade de garantir um ministério para o Paraná. Ivo Arzua 1 que era
Após a reabertura do Congresso Nacional, Ney Braga voltou a exercer seu mandato prefeito de Curitiba, voltou a ocupar a prefeitura desta cidade p~ucos dias após
no Senado Federal. Foi membro titular da Comissão de Educação e Cultura e o término de seu mandato, tendo em vista que as eleições diretas para os prefeitos
suplente da Comissão de Projetos do Executivo. das capitaís tinham sido suprimidas, e o governador Paulo Pim~ntel o indicou
Dur:1.nte o governo de Costa e Silva e parte do governo de Emílio G. ?vfédici, para aquela função. Em seguida, em março de 1967, Ivo .Arzua deL~ou a prefeitura
Ney Braga experimenta uma fragilização de sua influência política, momento em para assumir o Ministério da .Agricultura (P.-\NOR.Al>U, fev./ma,; 1967, n.º 175,
que o governador Paulo Pimentel procura se fortalecer politicamente no âmbito p. 80-81). Para substituir Ivo .Arzua na prefeitura, Paulo Pimentel indicou o
regional. Em 1967 o governador acentua o afastamento de partidários do neyismo engenheiro Omar Sabbag (P.-\.NOR.-V-L-\., abr./1967, n. 0 176, p. 68). Com a morte
que eram integra.dres de seu governo, e luta para controlar a ~.\REN.-\ paranaense. de Costa e Silva, Ivo .Arzua pediu afastamento do Ministério da .Agricultura
Falando sobre o seu governo em entrevista, afirma que (CORREIO DE NOTÍCL\S, Caderno Bomdomingo, ago./1987, p, 3).

342 343
A disputa _entre Ney Braga e Paulo Pimefitel pelo controle político no Governador Paulo Pimentel, com o nome de 1 'Costa e Sih;a, de Intégraçào
Paraná certamente também se ,~erificou no embate pelo comando da .-\REN.-\ Revolucionárian. Os com·encionais arenist-is sào formados por delegados
paranaense. Nn formação da .-\REt,.;.\, como vimos, e no início de suas atividades municipais, representantes eletivos estaduais e federais do partiâ:o e membros do
o controle policico era de Ne~· Braga, mesmo porque os dois políticos ainda não atual Diretório Regional. Alguns dos principais nomes intcgra!ltes da chapa do
haviam entrado em choque. No entanto, com o desentendimento político entre governador eram o próprio Paulo Pi.mente~ o l\'linistro da.AgriC:Ultura I,·o A.nua,
Ney Braga e Paulo Pimentel e a dísputa entre neyistas e partidí.rios de Paulo o Secreürio do lnterio.r e Justiça 1'.fattos Leão, o Secretário de S,egurança Pública
Pímentel para ocupar espaço no governo deste, verificou-se também uma disput.1. .Arnaldo Busatot o Secretário de Educação e Cultura Cândí~o-de OliYeira, o
pelo controle da .-\REN.--\ ..\os poucos Paulo Pímentel vai esttbelecendo um Presidente Regional da Arena Algacyr Guimarães; deputados fed~a.is como .Alípio
controle sobre a .--\REN.--\. paranaense, Y-isto que a grande parte dos deputados Carralho, Zacarias Selem e, .Acioly Filho e o deput1do estadual llfmando Queiroz,
estaduais apoiavam o governador. Paulo Pimentel lutava por uma renovação da Presidente da Assembléia Legislativa. Na chapa de Ney Bra~ _figuram nomes
Executiva do Partido. Em maio de 1967, a maioria. dos deputados estaduais como o do próprio Senador, de deputados federais como Haroldo Leon Peres,
lançam um manifesto contra alguns membros d1 Executiva que se mantinham Braga Ramos, Emílio.Gomes, de .Afonso Camargo Neto que_' cinha.·sido vice-
afastados das ativid1des do partido, impedindo a realização de reuniões. Em gm·ernador, e de Hosken de Novaes, ex-prefeito de Londrina; Na Convenção,
junho, o Secretário Geral da .\REN.\ Ubiratan Pompeo de Sá, ligado a Pimentel, Ner Braga faz um discurso aos convencionais, criticando seu maior rival de então
renunciou ao cargo. O governador lança a candidatura de .Anibal Khoury para na política paranaense e fazendo referência aos ªinimigos d1 revo,uçào". Vejamos:
substituir Ubiratan na secretaria geral. Os partidários de Ney Braga estudam a
possibilidade de lançar outro nome, mas não o fazem. Dos 102 membros da .--\ nossa presença é a marca também, de que nào concordamos e'.não desejamos um

Comissão Regional d:L--\REN.--\., 99 poderiam votar, sendo 37 deputados estaduais) diálogo de surdos, impeditivo e contrário, na verdade, às posiçqes revolucionárias
que todm; pretendemos implantar na vida política brasileira:, r~ovando-a em seus
20 deputados federais, 3 senadores e 39 membros sem mandato eletivo. Na
métodos e mdos.
Convenção do partido realizada no início de julho, compareceram 64 membros,
i\Ias, como se tem feito jogo de palavras ao se falar em 'Renov:i.çào' nos quadros
sendo que 63 votaram no candidato do governador, Aníbal Khoury (G.\ZET.\
partidários paranaenses!
DOP0\'0,4jul./1967,p. 3) (DL\RIODOP.\IHK\.,5 juL/1967,p. 3).Ao comentar
E como tem aplicado mal o conceito de 'Renovação', empregando-o até mesmo
sua eleição para a Secretaria Geral da Executiva, o Deputado Estadual .Anibal
como sinônimo de 'Destruição' ao invés de rejuvenescimento, de,.rev:igoramento, ao
Khoury afirmou: invés de entendê-lo como necessidade de dar novas forças à ·vida política nacional
e paranaense1
Niio que a eleição em si tivesse unta relevância. Na verdade, o que estnra em jogo na
.--\ renovação que se deseja não implica necessaàamente na mudança de pessoas, na
disputa de terça-fe.in en, nada mais, nada menos que a hegemonia política no Paraná.. subsútuiçào de homens, mas, sim, na mudança de mentalidade e de atitudes.
Nesse dia, ficou poSÍU\':ld:1 a pie.na liderança política. do governador Pau1o Pimentel,
Não adianta ser jovem em anos, mas velho nos métodos superados de ação política.
sem qualquer sombra de dúvida (G.\ZET.\ DO POVO, 5 jul./1967, p. 3). Não adiaóta entrar boje na militância. político-partid:iria e agir como se fora no
tempo dos vellios 'mangueirões' ..
Em setembro de 1969, realizou-se a Convenção Regional da .\REN.\,
Não adianta pregar, apenas pregar, os ideais e prinápios renov'ad~res da re-..."Dlução;
para definir os novos membros do Díretório Regional. Duas chapas se é essencial _entendê-los, praticá-los em toda a sua· plenitude san~dora.
enfrent.aram nesta Convenção. Uma liderada pelo Senador Ney Braga, denominada (...) E não se apele p-ara o vosso civismo, companheiros, nem se 'pretenda iludír os
de ''Brasil Grande, pela Revolução com Costa e Silva"; e a outra liderada pelo conven~onais de nosso Partido com falsas alegações, a prete.--..:to de que a derrota de

34-+ 345
uma determinada Chapa na .\REN.-\ Estadual implicaria em desfaYor do Paraná, no ( .. ,) Companheiros: \,.i\,.emos uma época de ansiedades~ de insatisfação, de
cenário nacional, pela aparente perda de prestigio do go\·erna.nte. perplexidade. E, parecendo um parodo::m, também a época da conquista da lua, dos
Não se diga, porque não seria verdade, que o Go\·crno Federal nào ma.is amciliará transplantes, dos computadores. Época de grandes conguistfts, mas também a dos

0
Gm-erno do Estado em sua ação administratin., recusando.lhe, sobretudo, grandes mortiánios. E aqui, em nossa terra, ao mesmo te~po que sentimos o
recursos financeiros. Isto seria duvidar do patriotismo dos responsáveis pelos progresso, do outro lado surge, pelos desvãos da ignomínia, o ~rrorismo, y·,mguarda
destinos na Nação . de uma massa de apátridas, inimigos comuns de todos nós. Temos que lembrar.
Chamam-me de personalista e, no entanto, os mesmos que o fazem colocam o Lembremo-nos a todo instante, que as divergêncins dentro dOs partidos e mesmo
resultado desta Convenção em termos de prestigiamento pessoal, em termos de entre os partidos s:1o democráticas, mas não podem ser levadas~ termos de separação
imposíçào de liderança, como se liderança se conquistasse à força de imposições. irreparável pois., defensores do respeito à dignidade da pessoa humana, constituiremos,
(.,.) Yítoriosa, nossa Chapa fonnará uma sô voz ;10 fado das.reivindicações do Governo divídidos, dispositrlu melhor para ser batido pelo inimigo que procura, na subversão,
do Estado em favor do povo paranaense. na desordem, no terror, na mentira, o fim que para ele justifica os meios: a comunização
(...) Se assim nào fosse, não estaáamos aqui. Se p:1ra que pudessem governar melhor brasileira. Temos segurança de que tal n:1o acontecerá porque sabemos que, hoje, a
não fosse possível a opção que vos oferecemos com nossa Chapa, rLi.o disputaáamos Nação, unânime, conhece os remffilos para evici-lo. :\. eficicii do sistema democrático
esta Com·enção porque, acima de tudo, desejamos, como sempre o fizemos, ajudar é demonstrada a cada dia e ainda de..-e ser aperfeiçoada ao máximo para colocar.se
o Paraná. sempre na defesa de nosso sistema de -ida.
Por que ent:io, se todos temos os mesmos objetivos, e\-itar-se a disputa democrática?
Não podemos frustrar o povo.
Se a disputa fosse desaconselhável, se o mandonismo preYalecesse, n::io seriam
(...).\obra da constn1ção do Brasil Grande, já iniciada pela Revolução, não há de ser
necessárias as ]eis que regulam a vida partidár:i:i e que instituíram as Convenções,
levantada sobre escombros, mas alicerçada no passado, no qlÍe ele tem de vivo, na
onde devem espraíar-se, porque para isso elas existem, as legítimas aspirações do
procura do mefüor, do novo, e também na continuídade das conquistas já alcançada~
eleitorado. Em caso contrário, bastaria uma sô lei, com apenas um artigo que dissesse:
A grande responsabilidade de nosso partido é a de orientar as passos da Nação em
'~\os governos compete indicar os Diretórios' .. ,
direção a seu destino de grandeza, de felicidade.
Podeis bem compreender, companheiros, a importincia desta Convenção que escolheci
Nossa missão é inovar sempre em busca do desenvolvimento com liberdade, que
0 Diretório Regional da .-\.REJ.'l:\. do Panni Seci o Diretório que presidici as eleições
será alcançado na prática por homens práticos, que n:1o se envaideçam nunca nem se
estaduais do prô:cimo ano.
esqueçam de aprender cada dia mais a grande lição de que 'UNIDOS S01.IOS Uj\L\
Esta Convencão é decisiva, pois pao a futur:1 indicaç:i.o do candidato do nosso partido.
FORç_-\' (DÜRIO DO P.\RAN.\, 14 set./1969, p. 5).
Ou será ele de e.'-Cclusiva nomeação pessoll, ou seci o legitimo candidato do povo
paranaense, que representais neste momento.
A chapa do governador Paulo Pimentel saiu vitoriosa da Convenção,
(...) Fala-se muito, hoje, em lealdade, e tudo se exige atê mesmo a consciência em
conseguindo eleger a maioria dos novos membros do Diretório Regional da
nome da lealdade.
Esta é porém, uma virtude recíproca, que não se compra, nem se vende. Leal é o
.-\.REN_-\. De um total de 548 convencionais, compareceram à Convenção 534.
· companheiro, 0 amigo. E ao companheiro, ao amigo, nio se impõe. •..\migo é o que A chapa do governador recebeu 368 votos, contra 165 dados à chapa de Ney
dá e não O que pede. Sobrem.do, o que nada exige. E eu posso afirmar que nunca e.ugi Braga, sendo que um dos convencionais votou ein branco. Desta forma, a chapa
nada de meus companheiros, dos que estão comigo, dos que ficaram comigo, ou dos de Paulo Pimentel fez 21 dos 30 lugares do Diretório Régíonal e 32 das 46 vagas de
que de mim se afastaram. delegados parn a Convenção Nacional da.\REN.\ (DL-\R.10 DO PAR..-IN..Í., 16 set/
t>.Ias qu·e é le!!.ldade? Antes de tudo, a fidelidade par:i consigo mesmo, para com as 1969, p. 3). Esta eleição da .\RENA regional mostra o predomínio político do
convicções e ideais que se defende, com ardor, sem vassalagem, à frente de governador neste momento na política paranaensê. No entanto, esta força política
companheiros que tem os mesmos ideais e comicções, não seria suficiente para que Paulo Pimentel fizesse seu sucessoT:i- como veremos.

346 347
No mesmo período em que ocorria a Convenção Regional, a cena política Revolução" (JORJ-l.\L DE CURITIB.\, 19 mar./1970, p. 1). Em entrevist1 à
nacional apresentava-se ma.reada pelo afastamento de Costa e Sika da presidência imprensa, Rondon Pacheco fala de sua missão:
por moti,ros de saúde. O Presidente teve um grave problema de saúde em agosto
de 1969, o que o impediu de permanecer na presidência. O Alto Comando das O presidente da República, que é o magistrado supremo da Naçào, ir,l decídir o
1

Forças Armadas não permitiu que o Vice-Presidente, Pedro ...-\leh:o, ocupasse o problema sucessório no Estado. Yim ao Paraná sentir os anseios e as tendências da
lugar de Costa e Silva, pois ele tinha sido contra o _\15. Formou-se então uma _-\REN.--\. _--\pós auscultar as bancadas federal e estadual, os sena~ores, os dirigentes
junta, integrada pelos :t\ünistros I-vlilitares (O General Aurélio Lira Tavares do da .--\REN_--\ e os políticos representantes das regiões mais s.ignifi~ativas do Estado,
Exército; o Brigadeiro 1\.fárcio de Sousa h.felo da Aeronáutica; e o Almirante farei circunstanciado relatório ao presidente Emílio },fêdici, qu~ irá decidir qual o
.Augusto Rademaker Grünewald da 1.vfarinha), os quais passaram a exercer nome que melhor se enquadre dentro do esquema político pil.ta suceder o atual
interinamente a presidência. O nome escolhido pelos militares para. suceder a gm·emo GO!U-i.\L DE CURITIB.\, 20 mor./1970, p. 3).
Costa e Sih.-a foi o do General Emílio Garrastazu I\,fédici, tendo como vice o
Quanto ao cargo de vic·e-governador e das duas vagas para o Senado •
.Almirante R...'1.demaker. Em outubro, o Congresso Nacional, reaberto, formalizou
Pacheco afirmou que seriam definidos pela ,IBEN.\ local, sem interferência do
o nome de Médici na Presidência da República (ll!CJREIR.\.-\JXES, 1987, p. 144)
Presidente da República. O candidato da _l,.REN+--\ ao govern0 do Paraná foi
(D!ClON.-\RIO HISTÓRICO-BIOGR.-\FICO BR.\SILEIRO, 198+, p. 248).
oficializado em abril pelo Presidente lviédici. No dia 24 Ney Braga, Paulo Pimentel
1
Como as eleições diretas para os governos estaduais tinham sido suprimidas,
e o Presidente Regional da .--\REN_..\,Joào de Ivfattos Le-ào, est:ive_tam em reunião
o sucessor de Paulo Pimentel seria eleito pela .Assembléia Legislativa. 1\fas o
com ivfédici, que oficíalinente lhes transmitiu o.nome do futuro governador do
Presidente Emílio Garrasta.zu 1-lédici tomou para si a definição dos candidatos
Paraná. Har(?ldo Leon Peres já sabia de sua indicação para subsciruir Paulo Pimentel.
da _-\REN_-\. para os governos estaduais. Delegou ao Presidente Nacional da
Dias antes o Presidente 1-Iédici já lhe havia comunicado a s~a deci~ào (O EST_IDO
_\REJ_',L-\., Deputado Rondon Pacheco, a tarefa de percorrer os Estados e colher
DO P.\R.\NA, 24 abr./1970, p. 1 e 4). ·
informações da poütica de cada Estado brasileiro, dando subsídios para que o
.As ligações de Haroldo Leon Peres com os dois lideres da política
Presidente pudesse definir os nomes que deveriam ser os candidatos da ~\RE...'-J.\. paranaense de então, Paulo Pimentel eNey Braga, eram as seguintes: quando Ney
Rondon Pacheco chegou a Curitiba em 17 de mllrço de 1970 para examinar a Braga foi candidato ao governo do Estado, Leon Peres apoiou seu adversário,
quest1.o da sucessão de Paulo Pimentel. Encontrou-se com os políticos da .\REN.\ Nélson 1-,.faculan do PTB, Corno vimos anteriormente, setores da'UDN do Norte
paranaense para colher informações a serem entregues ao Presidente l\fédici, do Estado apoiaram 1faculan. Eleito, Ney Braga procura obter o maior apoio
Neste momento, 29 dos 33 deputados estaduais da },.REN.-\. fazem um manifesto possível para seu governo. Ê nesse contexto que Ney Braga solicitou a Leon
no qual delegam ao governador Paulo Pimentel a tarefa de promover Peres para que este fosse o líder do governo na Assembléia Legislativa. Ao
entendimentos junto ao Presidente Nacional da ~-\.REN.\ e junto ao Presidente comentar sobre o posterior rompimento entre Ney Braga e Leon Peres, ~Iagalhães
Médiá para a definiçào do candidato da .\REN.\ e, portanto, do futuro governador afuma: "Ele dei.-...:a de ser líder do governo na hora em que o ~cy faz o acordo
do Estado. A maioria dos membros do Diretório Regional da _.\.REN_--\ também se com o PTB; não aceita os lvfattos Leão de Guarapuava e rompe com Ney Braga"
m:µ,ífestrun neste sentido (JORN.\L DE CURITIR\, 18 mar./1970, p. 1). Por sua (!P.-\RDES-SOBRE POLÍTICA P.-\R.\N.\ENSE; ENTREVISTAS, 1989a, p. 156).
vez, o governador Paulo Pimentel entregou a Rondon Pacheco uma moção, Leon Peres apoiou a candidatura de Paulo Pimentel, participando daquela
aprovada pela AREN_..\ paranaense, e a ser entregue a lv[édic~ de confiança e campanha. Leon Peres afirma que ele e integrantes da UDN eram contrários à
apoio ao Presidente, dando-lhe " .. ,liberdade de indicar à sucessào estadual o candidatura de Afonso Camargo, porque quando este ~xerceu: .ª Secretaria de
nome qut; melhor responda às altas conveniências políticas de coordenação e Justiça não prestigiou os membros da UDN. Ao comentar a postura de Ney
harmonia entre a União e o Estado, na defesa dos superiores interesses da Braga e de Paulo Pimentel à sua candidatura, Leon Peres afuma:

348 349
nenhum ãos dois aceitou de bom grado a minha indícação ao governo do Quando Leon Peres se elegeu deputado federal, foi morar em Brasília, Poucos são os
Estado; nem o Sr. Ney Braga que aspirava o cargo -· como era notório e pUblico - e deputados federais que moram cm Brasília. Brasil.la é uma espécie de um clube
era razo.l:rel que ele aspirasse, não há nada de mal nisso; nem o Dr. Paulo Pimentel, fed1ado, Então Leon Peres se filiou a um determinado grupo em Brasília, grupo
que de\·ct"!a ter - era natural-um outro cmdidato que fosse mais da sua preferência esse a que também pertencia a coronel Manso Neto, do gabinete militar do
(QUE1'I, no,·J1979, L' Quinzena, n.º 10, p. 11) presidente :Médici e ligado ao Serviço Nacional de Informações. _·\ escolha do
Haroldo, que ia assumir o governo em.71, foi feita em 70. O coronel Manso Neto
Quando da disputa para definir o futuro Diretório Regional da .\REN.-\ indicou o nome dele ao presidente :;\!Cdici (THO?-IÊ, 1996, p.

em 1969, Leon Peres estava na chapa de Ncy Braga> mas isso não significa urna
Esse perfil político garante a Leon Peres a confiança do Presidente lvfêdici.
proximidade entre ambos. Acontece que Lcon Peres tinha um distanciamento
Por outro lado, por que I\Iédici não permite ao governador Paulo Pimentel a
maior com o governador Paulo Pimentel. Por que então o Presidente l'vfédici
indicaçào do nome do futuro governador, se Paulo Pimentel demonstrara ter
escolhe Leon Peres? Primeiro, vejamos alguns traços políticos de Leon Peres. Em
uma grande força política na .-\REN~.\ local? No dia 18 de abril, próximo da data
1958 se elegeu Deputado Estadual pela UDN, erp uma coligação com o PSP e o
da divulgação do futuro governador do Paraná, o governador Paulo Pimentel
PR, formando a Frente Democrática do Paraná. Tornou-se líder da UDN na
recebeu a Comenda do Pacificador das mãos do General Antonio Carlos lvfurici,
Assembléia e combateu o governo de Lupion. Em 1962 se reelegeu pela UDN;
Chefe do Estado l'vfaior do Exército, que estava representando o ?vünistro do
em 1964 apoiou o golpe militar; e em 1966 elegeu-se Deputado Federal pela Exército1 General Orlando Geisel. Na portaria que assinou justificando a entrega
~-\REN~~· Nesse mesmo ano passou a ocupar a função de vice~lider do governo da Comenda ao governador, o h-iinistro se refere ao apoio que Paulô Pimentel
Costa e Silva na Câmara dos Deputados. Em· 1967 chegou a participar de uma dera à realização da blimpíada-70 do Exército nacional em Curitiba e também
reunião convocada por Carlos Lacerda para discutir o retorno de alguns princípios " ... aos serviços prestados no incremento dos laços de ~ade entre civis e militares,
34
democráticos. :r..-fas em seguida se posicionou contra a Frente Arnpla • Em 1968, viga mestra gue tem norteado sua conduta à frente do Governo do Estado" (O
defendeu a posição do governo no conflito com os estudantes. Votou a favor do EST.-\DO DO P.\R.\N.\, 19 abr./1970, p. 1) (P.\NOR.\àl\, abr./1970, n.º 209, p.
pedido de licença feita pelo governo para cassar o mandato do deputado federal 55). Apesar disso, Paulo Pimentel não se apresentava aos olhos do Presidente de
1vfárcio !vforeira Alves e suspender seus direitos políticos (DICIONj.RIO maneira inteiramente confiável. Francisco ?vfag?lhães Filho afirma que Paulo
H!STÓRICO-BIOG!L\FICO BR.\SILE!RO, 1984, p. 2693-2694) (VEJ.\, abr./1970, Pimentel procura manter uma posição de autonomia em relação ao governo

p. 23). Além disso, Leon Peres estabelece relações em Brasília que facilitam a sua federal. "Diz o que bem entende, não apenas no campo poHtico mas nas
negociações, na barganha por recursos federais 10 , o que o tornaria uma ameaça
indicação. Ney Braga publica em suas memórias o depoimento do empresário
ao regime (IP.\RDES-SOBRE POLÍTICA P.\R.\NAENSE; ENTilE'\1ST.\S, 1989a,
Jerônimo Thomé, que tinha sido Chefe de Gabinete de Leon Peres, no qual ele
p. 136). Pouco antes do Presidente Costa e Silva editar o Ato Institucional n.º 5,
comenta a escolha de Leon Peres pelo Presidente !viédid:
Paulo Pimentel esteve em São Paulo e fez declarações defendendo eleições cliretas.,
No dia 30 de novembro de 1968, Paulo Pimentel esteve na Assembléia Legislativa
de Sào Paulo, onde declarou o seguinte:

11 Essa Frente Ampla contava com nomes como os de Carlos Laccrda,Juscelino Kubitschek eJoão
Goulart, que pretendiam o restabelc:dmento do r;gime democcitico, ~ Apud BRAGA, 1996, p. 231.

350 351
Em nerihum instante condenamos o sistema de escolha< _-\penas defendemos, como sobre uma possfrel cnssação de Ney Braga, Com a escolha de Leon Peres, 1Iédici
mais correto, acerttdo e corn-eniente à Nação Brnsildra o sistema que a nosso ver faz pretendeu também "pacificar" a ~.\REL't\ local 1 &vidída entre as lideranças de
com que o País caminhe no sentido da perfeição democrática, Grandes homens Ner Braga e de Paulo Pimentel, que nào demonstravam nenhuma possibilidade
e notâ\~eis governantes foram escolhidos pelos dois sistemas. Por ambos se de entendimento. E este desentendimento não se vcrific:rnt apenas na ~.\REN:\
apresentaram homens dos melhores realizando no poder uma obra grandiosa. Mas paranaense. Em reportagem de abril de 1970 sobre a sucessão em alguns Estados,
nós políticos de hoje homens que posrulamos o voto não podemos em hípótese a reYista \l:J.-\. afirmaYa que:
alguma tentnr sequer a marginalização do povo do processo democrático, Sendo
um gm·ernante jovem que sempre postulou no palanque as suas posições de Se um habilidoso concíliador procurasse buscar uma fórmula capaz de satisfazer
liderança devo mais do que nunca apontar ao Brasil que o eleitorado é consciente e todos os grupos que compõem os quebra-cabeças das ~.\REN:\S de São Paulo,
de\·e ser ouvido na escolha dos seus dirigentes especialmente o dirigente máximo da Bahia, Sant,1 Catarína e Paraná, certamente acabaria seus dias sem ter chegado a
Nação•. QORN.\LDE CURITIB.\, l.º dez./196~, p. 1). qualquer conclusão< O Presidente Médici, tah:ez certo dessa dificuldade, preferiu
assumir o controle direto das escolhas e ao formalizá-las indicou à ARE},L\ diY!dida
No início de dezembro esteve no interior de S:lo Paulo, Em Ourinhos, a Yontade da ReYolução e o caminho·da unidade e do poder (YEJ-.\; 29 abr:/ 1970,
dentre outras localidades, recebeu o titulo de Cidadão Honorário da cidade. Fez n.º 86, p. 20).
pronunciamentos defendendo eleições diretas para governadores, prefeitos das
capitais e para a presidência da República (JOfu"l.\L DE CURITIB.\, 11 dez./1968, Na mesma reportagem, ao comentar sobre a candidatura de Lcon Peres 1
p. l) (O EST.\DO DE S.\O P.\ULO, 10 dez./1968, p. Como o Presidente l\léclicí afirma-se que 1 'No Paraná, sua candidatura significa uma saída para o impasse
teria como subsídios para a escolha dos candidatos da ~.\RENA aos governos entre as lideranças de Ney Braga e Paulo Pimentel" (Ibidem, p. 23). Em reportagem
Estaduais não apenas os relatórios de Rondon Pacheco, mas também outras fontes, de abril de l 970, o jornalista político Divonei 1VL de Campos, ao comentar sobre
como afirmo0: o próprio Pacheco, certamente 1-Iédici estava informado pelo SNI a escolha de Haroldo Leon Peres, afirma que Ney Braga e Paulo Pimentel não
da movimentação de Paulo Pimentel. Portanto, estas declarações de Paulo Pimentel conseguiam chegar a um acerto político. Vejamos:
corroboram a afirmaçào de Francisco lvfagalhàes Filho.
Como o Senador Ney Braga tinha se posicionndo contra o _.\IS e, embora Dificil, portanto, a solução em termos das duas áreas políticas, uma vez que tanto
demonstrasse muito interesse em substinür Paulo Pimentel no governo do Estado, uma, como a outra, não abriam mão de suas preferências no processo sucessôrio e
as suas ch:mces eram núnimas. Conforme afirma Samuel Guimarães da Costa, identificando apenas um candidato, no caso o senador Ney Braga que foi irreversível
jornalista político e ex-assessor.de N ey Braga, este esteve próximo de ser cassado, no trabalho que fez para voltar ao Pahicio Iguaçu. Idêntica posição assumiu o
por ter sido contra o .\!5 (COST\, 1986, p. 28). "Chegou inclusive a ser alvo de governador Paulo Pimentel quando entregou ao chefe da Nação a solução do
problema, através de moção e manifestando solidarieda_de em quem recaísse a
gestões para incluir seu nome numa das listas de cassn.ções publicadas a partir da
preferência. Não hom·e manifestação, entre os dois lideres, de preferéncí::i sobre um
edição do Ato Institucional n.º 5 (13/12/68) (D!C!ONARIO H!STÓRJCO-
mesmo nome. O panorama ficou defini.do por dois polos, imutâ,,eJ a exigir, portanto,
BIOGR.\FICO BR.\SJLEIRO, 1984, p. 44D). Sobre uma possível cassação de Ney
que o fiel da balança se colocasse no ponto de equihbrio (P~-\.NOR..\?\L\, abr./l 970,
Braga, Paulo Pimentel afirmará mais tarde que "Quando o presidente Costa e
n.º 20!1, p. 34-35).
Silva instalou seu governo em Curitiba) o general Portella, chefe da Casa 1filit-ir,
com o apoio do Ivfedici, no SNI, queria cassar o Ney. Eu ponderei com eles e não
De qualquer forma, a definiçào seria feita pelo Presidente lv[édici, que já
cassaram. Isso, o Ney me deve,,(VEJ.\, 20 juL/1977, n. 0 463, p. 26). l\las éertamente
não demonstrava muita confiança nos dois lideres da política paranaense, e nào
a posição de Paulo Pimentel não teria relevância para uma decisão dos militares

352 353
pretendia fortalecer politicamente ne,nhurn dos dois.· Ao contrário, a escolha de exigência de renúncia, mas o Presidente, que não guis recebê-lo/·· foi irredutível
Leon Peres tinha o propósito de enfraquecer as lideranças políticas de Ney Braga (VEJA, 1.º dez. 1971, n.º 169, p. 19-23) (DICTONAR!O HISTÓRICOiBIOGRÁFICO
e de Paulo Pimentel. Embora estes lideres politicos não tenham gostado do BRASllEIRO, 1984, p. 2693-2694) .. O ex-governador Haroldo Leon Peres, em
nome escolhido por 1{édici, foram convocados a Brasília para ouvir do Presidente entre.,.;sta de 1979, nega as afumaçõeS contidas na revista VEJA. Considera que o
a sua definição e também o pedido para qu~ ambos se empenhassem nas referido texto "É um amontoado de absurdos e de mentiras... (...) quem sabe
candidaturas da ARENA nas eleições que se dariam em novembro de 1970 para analísar o que é dito nesse texto vai notar que isso é uma montagem, uma armadilha.,
n Assembléia Legislativa, para a Câmara Federal e para o Senado. Ney Braga uma cilada que fizeram contra mim ..." (QUEM, dez./1979, n.º 11, p. 11). No dia
chegou a fazer campanha juntamente com Leon Peres e os candidatos da ARENA 23 de novembro de 1971, o vice-governador, Pedro Viriato Pa.cigot de Souza
ao Senado, Mattos Leão e Acioly Filho (PANORA.i,IA, set/1970, n.º 212, p. 68). assumiu o governo do Paraná. (~a manhã de terça-feira, cercado de amigos e
Leon Peres, er:ô. discurso pronunciado na Assembléia Legislativa> no dia 31 de diante da atànita bancada da Arena, Parigot foi empossado deb~o de palmas e
março de 1971, afirmou que afinal a Revolução' havia chegado em toda a sua dos sorrisos discretos de Paulo Pimentel e Ney B ~ os dois ex-governadores
com quem Peres rompera'' (VEJA, 1. 0 dez./1971, nº 169, p. 22).
plenitude ao Paraná (PANORM!A, mar./1971, n.º 217, p. 48), considerando,
com esta declaração, que nem Paulo PilTlentel e nem Ney- Braga eram portadores
4.5 O FORTALECTh!ENTO POÚTICO DE NEY BRAGA COM
da "Revolução" no Paraná.
GEISEL NA PRESIDÊNCIA.
No entanto, Haroldo Leon Peres não permaneceu muito tempo no
governo do Paraná. Assumiu em 15 de março de 1971 e entregou a sua renúncia Na gestão de Ney Braga na prefeitura de Curitiba, o então professor da
em 23 de novembro do mesmo ano. Durante sua. gestão, Leon Peres entrou em Universidade Federal do Paraná e engenheiro Parigot de Souza, trabalhou no
conflito com a Assembléia Legislativa e com o Tribunal de Justiça. Recorreu duas Departamento de Urbanismo. Esteve ligado à COPEL desde a sua formação, no .
vezes aó Supremo Tribunal Federal, primeiro para anular um decreto do Tribunal governo de Bento Munhoz. Com a posse de Ney Braga no governo do Estado
de Justiça que concedia aumento à magistratura e, na segunda vez, contra a anulação, em 31 de janeiro de 1961, Parigot de Souza é nomeado Diretor Presidente da
pelo Tribunal de Justiça, de reformas na Constituição do Estado. Deu ordens COPEL, permanecendo no cargo até junho de 1970. (BIBLIOTECA PÚBLICA DO
para que a policia invadisse redações de jornais e estúdios de telévisão, sendo que PARA.c'lA, Curitiba) (GAZETA DO POVO, 1.0 jan./1961, p. 1). Quando da renúncia
alguns órgãos de imprensa eram do ex-governador Paulo Pimentel. No dia 4 de de Haroldo Leon Peres, o vice-governador Parigot ?e Souza já, se encontrava
novembro Leon Peres foi convocado pelo 1'linistro da Justiça, Alfredo Buzaid, doente. Sobre a posse de Parigot, Ney Braga afirma que:

para urna conversa. No encontro em São Paulo, o 1vfinístro disse a Leon Peres
Um dia cheguei ao Palácio do Planalto e, conversando com o dr. Leítão de Abreu,
que ele havia sido indicado para o governo do Estado porque tinha a confinnça
chefe da Casa Civil do presidente Méclici, ele disse que estava com ~úvidas quanto à
do Presidente 1"Iédici1 mas qúe · esta confiança já não existia e que Leon Peres
posse do vice-governador, por causa da doença. Nesse momento alguns pollticos
devia renunciar ao cargo. O motivo seria um processo que era movido contra ele
paranaenses., Acdoly, r-.fattos Leão e eu, se não me esqueço de ~érn, articula.mos
por corrupção. O Serviço Nacional de Informações gravou, filmou e fotografou
imensamente para que Parigot assumisse. Cheguei a conversar' com o general
urna conversa que Leon Peres tivera com o empreiteiro Cecilio Rêgo de Almeida,
Orlando Geisel, ministro do Exército, e com o próprio Leitão de Abreu (BRAGA,
no qual o governador teria pedido o depósito de um milhão de dólares no 1996, p. 232).
exterior para liberar uma dívida com, a emprelteka pela construção da Estrada
de Ferro Central do Paraná.. Além disso, havia outras acusações de corrtlpção, ~Ias a influência de Ney Braga no governo de Parigo_t de Souza é
praticadas pelo governador, Durante vários dias Leon Peres tentou reverter a rebtivrunente discreta, tendo em vista a sua precária relação com, o governo de

354
355
1',,[êdici, da linha dura, No entanto, em sua gestão,
.
Parigot de Souza le\·ou em ligado ao Presidente Dutra, defendia a participaçào do capi~l estrangeiro. Nas
consideração as diferentes forças políticas do Est1.do, representadas por Paulo eleições de 1950 no Clube J\Iilitari concorriam o general N~\\tton Estilhe Leal
Pimentel e Ney Braga. Exemplo disso é a Secreta.ria da Fazenda que é ocupada pela situação, que er-:1 n::1cional.ist.1, enquanto o outro candidato era o general
por um importante nome do neyismo, 1faurício Schulman. Pode-se falar de ÜsYaldo Cordeiro de Farias. _-\o lado deste, estavam nomes como o general
outros nomes, como os de I-vo Simas i\-foreirn, que foi parn a Secretaria do Emílio Rodrigues. Ribas Júnior, os coronéis Castelo Branco e Adernar de Queiróz,
Est1do dos Negócios do Governo, e Karlos Rischbieter, para a presidência do e o tenente-coronel Jurandir Bizarria 0-famede. 1\lilitares com ·.os guais Ney ·Braga
Badep (Banco de Desenvolvimento do Paraná)i antiga CODEP---\R. l\fas Parigot mantinha relações. _\ ,~Jrória foi do grupo nacionalista, e o a~irramcnto entre os
de Souza nào consegue completar o mandato que iria até março de 1975, ,indo dois grupos tornou-se aínda maior. Foi em 1952 gue os militares contrârios aos
a falecer por problemas de saúde em julho de 1973. nacionalisc..1s organizaram um movimento chamado de Cruzada Democrática,
Nesse período, Geísel já est1\·a articulando su.1 candidatura para a presidência visando à conguista da direção do Clube 1\Ül.itar. Este grupo lançou a chapa
da República. Ney Braga, que entre 1971 e 1972 tinha sido o primeiro-secretário formada pelos generais .--\lcides Etchegoyen e Nélson de l\.-[elo. Contavam com
do Senado, quando presidiu a Comissão criadora do Prodasen (Processamento o apoío, dentre outros, dos generais Juarez Tâ-vora, Góis i\Iontelro, e do brigadeiro
de Dados do Senado), tornou-se, em 1973, o ·dce-lider da .--\REN_--\ no Senado. Eduardo Gomes. Deste feita, venceram as eleições. Em fet'"ereiro de 1954, a
No exercício desta função, se empenhou em favor da candidatura de seu amigo, Cruzada Democrática elaborou o denominado l\,fanifesto dos. Coronéis, dirigido
o general Ernesto Geisel. Ner Brnga fez amizade com Geiscl quando este ser-Y-:Íu ao i\Iinistro da Guerra, na qual pecliam o respeito à hierarquih e à disciplina nas
na 5.J. Região 1\-lilitar, com sede em Curitiba. No dia 19 de fevereiro de 1962, Forças Armad1s, assim como denunciaYam o perigo da infiltr?çào comunista no
Geisel assumiu o comando da Artilharia Divisioná.r:ia da 5. ~ Divisão do Exército, interior das Forças ~-\.rmadas. Nas eleições de 1954, o grupo nacionalista não
e permaneceu no posto até 23 de setembro de 1963. Portanto, em um período '
conseguiu lançar candidato, pois est.1--va fragilizado em virtude,de prisões de seus
em que N ey Braga ern governador do Paraná. Nesse período, Geisel assumiu membros. Por outro lado, a Cruzada Democrática, dividida, lançou duas
duas vezes, interinamente, o comando da 5.J. Região 1Iilitar, De maio de 1962 a candidaturas . .A. dos generais Canrobert Pereira da Costa e Juarez Távora,
setembro de 1962 e, de fins de outubro de 1962 • fo·ereiro de 1963 (P.\IUKÍ antivarguistas; e a outra, do general Lamarti.ne Peixoto Pais Leme, que recebeu o
EM P..ÍGIN.\S, mar./1974, n.º 109, p. 10). Outro aspecto que os aproxima diz apoio do i\.Iinistro da Guerra, Zenóbio da Casta. Canrobert eJuarez "Venceram
respeito ao Clube ivlilitar. Ambos militavam no mesmo grupo no Clube !vhlittr, e assim o Clube l".lilítar passou a reforçar a oposiçào a Getúlio Vargas. Com a
qual seja, a Cruzada Democrática. Castelo Branco também pertencía a este grupo. morte de Canrobert, assume a presidência o general Pedra Leonardo Campos.
O Clube Militu foi fundado em 1887, com sede no Rio de Janeiro, tendo .A. direção do Clube ).Witar posicionou-se contra a candidatura de Juscelino
cofio integrantes, oficiais do Exército, da l'vlarinhn e da .Aeronáutica. Durante o Kubitschek e, posteriormente, contra a posse de Juscelino e de Goulart
período em que o país foi governado por Getúlio Va.rgas, a disputa no Clube (DICION.\RIO HISTÓRJCO-BlOGR.\FICO BR.\SILEIRO, 1984, p. 805-809).
:tvfilitar se dava entre partidários de Getúlio e aqueles que eram considerados Ner Braga, que apoiou a candidatura do general Jua~ez Távora para a
antigetulistas. A questão do nacionalismo perpassou por muito tempo as disputas presidência da República, diz que seu grupo nào questionou, a legitimidade da
entre os militares. Por um lado, formou-se um grupo com posições mais vitória de Juscelíno, como fizera Carlos Lacerda. 'No nosso meio nunca se discutiu
nacionalistas e, por outro, um grupo de posições mais abertas ao capital isso. Discutia~se que a eleiç:1.o era por maioria simples e que o Juscelino foi eleito"
internacional Estes grupos disputavam o controle do Clube. Em 1947, quando (BR.\G.-\, 1996, p. 57). Em 1958, o general Castelo Branco, da Cruzada Democrática,
dos debates sobre a nacionalização cb exploraçào do petróleo, a direção do Clube foi derrotado nas eleições para a presidência do Clube, pelo general Justino Alves
1vfilitar defendia uma posição nacionalista, enquanto o general Juarez Távora, Bastos. Em 1962 a presidência do Clube foi ocupada pelo marechal Augusto da

356 357
Cunha i\fagessi Pereira, que esteve ligado aos setores civis e militares que (...) o Parigot de Souza que tinha sido eleito junto com Haroldo e gue já tinha uma
conspiraram contra o governo João Gou!art (DICION.ÀRIO HISTÔRICO- ligação maior com o grupo elo Ney, tinha sido presidente da COPEL no tempo do

BIOGR.ÀFICO BRASILEIRO, l 984, p. 809). 1\0 falar de sua participação no Clube Ne\', morre. Aí não d!t! Chamaram o Ney para escolher e ele foi se fortalecendo
com o grupo Geisel, que é uma fase posterior a essa" (IPARDES-SOBRE
Militar, Ney Braga afirma:
POLÍTICA PARANAENSE; ENTREVISTAS, 1989a, p. 135).
Quando já estava na Prefeitura nunca deixei de participar das atividades do Clube
1\lillt.ar. Tinha muito bom relacionamento com meus companheiros militares que Quando da definição do substituto de Parigot de Souza, o Pre·sidente
serviam no Rio de Janeiro. Muitos foram meus professores e outros, colegas. Integrei Nacional <la Arena era o Senador Petrônio Portela, que ocupava o cargo
a chamada Cruzada Democcitica-Chapa Azul. Era composta por aqueles que queriam interinamente. O Presidente Regional da Arena era o Senado_r Accioly Fílho.
o Clube voltado para suas atividades estatutárias. Individualmente, como cidadãos, Petrônio Portela estabelece conversações com Accioly Filho e com outros políticos
tínhamos nosso pensamento politico, que era profundamente democrático, da Arena Paranaense, particularmente senadores e deputados federais. O 1finistro
Eu tinha boas ligações e facilidade de locomoção. Mantinha relacionamento com os Leitão de Abreu também participa das conversações com Portela e com Accioly.
representantes em Santa Catarina, coronel Pinto da Luz, e, no Rio Grande do.Sul, Sobre a definição do futuro governador, Ney Braga faz a seguinte afirmação:
coronel Emílio Médici. Por isso fui designado represent.mte da Cruzada Democrática
no Paraná. Fui chamado, assim como todo o pessoal da Arena do Paraná, para montar uma
Quase todos os militares do Paraná pertenciam à Cruzada Democrática, em função chapa a ser apresentada ao presidente Mêdici. O consenso foi em tomo dos nomes
das lideranças nacionais que possuía - homens como Casttelo Branco, Ernesto de Jayme Canet para governador e Emílio Gomes para vice, Depois das
Gcisel, Adernar de Queirôz, 1famede, Menezes Côrtes, Newton Reis, Barros Nunes1 conversações entre Arena do Paraná e Arena Nacional, ficou acertada a chapa
Golbery, Cordeiro de Farias e Fiúza de Castro, entre outros. Enu1io/Canet (BRAGA, 1996, p. 232).
Sempre que ia ao Ilio visitava Newton Reis, grnnde amigo. Na época ele era coronel.
Depois, já general, fa]eceu inesperadamente, num desastre de automóvel. Na casa Ney Braga é que indicou os nomes de Emilio Gomes e de Jayme Canet
de Ne\vton Reis nos reuníamos: Adernar de Queirôz, Ne\vton, Mamede, Golbery, Júnior para que entrassem na list'l que foi entregue ao presidente da República.
Joaquim Antonio da Fontoura Rodrigues e eu, e conversávamos por telefone com A bancada federal votou maciçamente em Emílio Gomes (VEJA, 25 juL/1973,
vários outros companheiros.
n.º 255, p. 23). Sobre a sucessão de Parigot de Souza, Nfagalhães Filho afirma que
A nossa preocupação maior era sempre fazer uma boa escolha para a presidência do
o Sis!C!M(J se retraiu, e que a escolha foi feita mediante negociações políticas:
Clube Militnr. Numa eleição em que a disputa foi multo adrmda, a Cruzada lançou
Castello Branco para a presidência. Perdemos paraJustino Alves Bastos, que pertencia
Havia dois nomes na disputa, ambos ligados a Braga: Jayme Canet e Em11io Gomes.
a uma linha diferente da nossa (BRAGA, 1996, p. 56).
Dado o peso político do primeiro, empresário ligado à fração burguesa ainda
dominante na cena política local, e considemndo o curto período que ainda restava
Com a perspectiva de Geísel se tornar o novo Presidente da RepUblica,
desse quadriênio, coube ao segundo completá-lo, acertando-se a indicação de Canet
Ney Braga vai aumentando a sua influência política no Estado. O Senador Ney pam o período completo seg,.únte (MAGALHÃES FILHO, 1999, p. 146-147).
Braga exerce influência na escolha do substituto de Parigot de Souza, o deputado
federal Emílio Hoffmann Gomes, tendo como vice-governador o empreS:írio Erru1io Gomes era deputado federal; era engenheiro e tinha sido aluno de
Jayme Canet Júnior. Francisco Magalhães afirma que Parígot de Souza na Universidade Federal do Paraná. Filiou-se ao PDC em 1961.
Em I 962 foi eleito para o seu primeiro mandato como deputado federal, pelo

358 359
PDC) reeleito posteriormente em 1966 e 1970. üºí:ice-govern:idor Jayme Canet irmão -de Ney Braga, como Chefe da Casa Civil; e o Presid~nte do B.-\DEP,
Júnior era industrial, pecuaristn e cafeicultor. (O EST.\DO DO P.\R_\N_~, 19 jul./ Karlos Ríschbictcr, que já vinha ocupando o cargo no governo de Parigot de
1973, p. 1 e 9) (C..-\RNEIRO; ,·_,RG.\S, 199-l, p. 235). Canetpartidpou da campanha Souza. De,Te-se observar que os integrantes deste governo, effi sua maioria, são
de Ner Braga ao g_o·verno do Estado, ocupando no governo Ner Bfaga a C..\.FÉ engenheiros: Guilherme Lacerda Braga (Chefe da Casa Civil); Karlos Ríschbieter
DO P..\.R..-.\NA; Participou da campanha de Paulo Pimentel ao gm.-erno do Estado (Diretor Presidente do B.--\DEP); I,To Simas !\lo.reira (Secr. Ex;traordiná.río para
' .
e em seu governo ocupou o Banco do Est:1do do Paraná, saindo posteriormente .Assuntos de Planejamento do Governo);Afonso.Alves de Cama~go Neto-(Diretor
após entrar em conflito com o governador. Canet afirma em entrevista que "Por Presidente do B.\NEST.\DO);J:úme Lemer, Engenheiro Ci,-il e Arquiteto (Prefeito
indicação e influência do ex-governador Ney Braga, gue nessa época era senador, de Curiciba); l\fauricio Schulman (Secr. da Fazenda); Véspero Mendes (Secr. do
eu fui índicado, juntamente com Emílio Hoffrnan Gomes, para assumir a vice.- Governo); Leo Lintzmeyer (Diretor Presidente da COH_--\.P~-\R); 1.-Iârio Brandalise
1

gov-emadoria. O Emílio Gomes foi nomeado governador, e eu vice-gm-emador" (Diretor Presidente da S•.\.NEP_.\.R); Euro Brandão (Secr. dos Tr~nsportes); Osiris
(INDÚSTRH E C0)'1ÉRCIO, C..\DEIL'JO ESPECL-\L, nov:/1996, p. 3). Ney Braga Stenghel G~irnarrles (Sccr. de Obras Públicas); Além disso o governador Emílio
afirmn em entrevista que não teve muita participação quando·do gO\~erno Costa Gomes também era engenheiro ci,-il. (G.-\.ZET.-\. DO POVO, 11 ago./1973, p. 8 e 9)
e Sil-va e em parte do período do gm.. erno lvfédici. Vejamos: ''Não, nào ti_,;·e no (O EST.-\.DO DO P.\R.\N.-\, 2 ago./1973, p. 1 e 3).
governo de Costa e Silva e atê meio governo do 1\,Iédíci. Depois que o I-fa.roldo Com a morte do Presidente Nacional da Arena, Filinto :fyiüller, assumiu o
saiu e nssurniu o Emílio Gomes, eu comecei a ter pa.rticipação" (CORREIO DE cargo interinamente o Senador Petrônio Portela, até a realizaçã~ das eleições que
NO1ÍCI.\S, Caderno Bomdomingo, 27 set./1987, p.5). definiriam o no\'-o Presidente. Na Convenção do Diretório Nllcional da Arena
A participação de Ney Braga no governo de Emílio Gomes foi mais que se realizou no início de agosto de 1973, Petrônio Portela f?i confirmado na
acentuada . .A partir desse momento, Ney Braga volta a detera hegemonia da polídrn presídênàa da Arem\. Isso apesar do descontentamento de algunS setores da Arena
paranaense, tornando-se o político de maior influência no Estado. O governador (foi o rnso do deputado federal Herbert Levy) que o acusava~ de ter aderido à
Emílio Gomes, assim como Parigot de Souza, levou em consideração as forças :'Revolução" tardiamente e de ter apoiado João Gou1art até o último momento.
políticas para compor seu secret'U'Íado, Emílio Gomes entendia t1mbém que seu Petrônio Portela, que se manifestou a favor da legalidade no momento do golpe,
gm:erno deveria ser formado basicamente por técnicos e politicos. Acontece que contou com o aval do Presidente 1'.Iêdici e também do General Ernesto Geisel
Ney Braga já despontava corno o político de maior influência na política que no mês seguinte tecia seu nome confirmado pela Arena·para ser o novo
paranaense, o que teve reflexos na composição do Secretariado. O próprio Presidente cb República. Nesb. Convenção da Arena, Petrônio Portela. obteve 4 7
governador e o vice tinham um alinhamento político com o Senador Ney votos, sendo que ainda foct.m dados 2 votos para o Senador Ney Braga e 1 voto
Braga. No secret-1riado, podemos d~t.1car outros nomes: Véspera t.Jendes como para o Deputado Federal Pereira Lopes (O EST.-\.DO DE s},.O P.\ULO, 2 e 3 ago./
Secretário 'do Governo, cargo que já ocupara no governo de Ney Braga, além da 1973, p. 5 e 3...J) (G.\ZET.\ DO PO\'O, 2 ago./1973, p. 3).
Secretaria da Educação e Cultura~ 1.faurício Schulman como Secretário da Fazenda, Tendo cm vista a chegada do general Ernesto Geiset:à Presidênda da
cargo que já vinha ocupando no governo de Parigot de Souza; Ivo Simas !\.foreira, República, N ey Braga rapidamente é chamado para compor o IVfinistério. Quando
que foi Secretário do Governo na gest.1.o Ney Braga, e era o então Secretá.rio do Geísel o com-ocou, Ney Braga afirma que recebera uma pasta: do Secretârio de
Governo, como Secret.'lrio Extraordinário para .Assuntos do Planejamento; Coronel Geisel, contendo informações sobre o tfinistério das :rvfinas e Energia. lvfas no
Ralph Sabino dos Santos, como Chefe da Casa l\!ilitar, cargo que ocupou no dia seguinte Geisel o chamou e disse que queria que ele assumisse o tiinistécio da
governo de Ney Braga e de Parigotde Souza; Guilherme Lacerda Braga Sobrinho, Educaçào. Ney Braga diz que

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Geísel envia o Presidente Nacional da AR.ENA, Senador Petrônip Portela, aos
Fui o p~eiro ministro que ele escolheu. Logo depois, comecei a parcicipa'rde suas
reuniões. Recordo-me de um dia em que estávamos conversando sobre o 1\,únistério
Estadcis para ouvir as diversas tendências regionais. Ney Braga logO toma posição

do Interior e sugeri o nome do J\.faurício Rangel Reis.Ele aceitou sem restrições, pois em favor. da candidatura da vice-governador paranaense, o empresário Jayme
já conhecia o Maurício, que tinhn. sido meu secretâ.rio-geral no f\linistério da Agricultura Canet Júnior. A defesa deste nome por parte de Ney Braga gera fortes reações
na época em que Gcisel era. Chefe da Casa 1'.lilitar do governo Castello (BRAGA, de Paulo Pimentel e de seus aliados políticos. Antes mesmo da vin~ de Petrônio
1996,p.252). Portela a Curitiba, Paulo Pimentel explicita publicamente a sua re91Sa em aceitar
o nome deJayme CanetJúnior. Em reportagem do jornal "O Estado do Paraná",
Em reportagem da revista ISTOÉ de 1977, afirma-se que: de propriedade de Pimentel, afirma-se que este, ªEm um encontro com Petrônio
Portela trocou opiniões sobre a situação política em face da suces~ão estadual e
Quando o governo Geisel ellsaiava seus passos no largo da !1-fisericórdia., Ney Bragrt,
reafirmou a sua restrição à política de nome único imposto pelo 'ministro Ney
que vinha de um pcrfodo de vacas magras durante o governo :Médici, chegou a ser
Braga". Paulo Pimentel se esforçou para que houvesse a alternativa de outros
cogitado para o M:inistério do Interior, onde poderia exercer um papel poUtico mais
nomes. Declarou à imprensa.: "Não se trat:a apenas da.minha posição. A realidade
destacado. Este lhe foi negado, Jll.áS, curiosamente, de participou de forma ativa dos
é que não vejo como a classe política, o partido e o próprio povo F<?ssam receber
entendimentos que acabariam colOCl.Ildo no posto o atual ministro Rangel Reis
a imposição de urn único nome. Se não nos cabe mais ao menos ~scolher entre
(ISTOÉ, 4 mai./1977, n.º 19, p. 5).
um primeiro e um· segundo, então é porque ·a política já não :mais existe"

O General Ernesto Geisel tomou posse em 15 de março de 1974, quando (O ESTADO DO PARANÁ, 12 mai./1974, p. 12). O conflito entre a posição do

também Ney Braga foi empossado no Jl.linistérío da Educação e Cultura. Ao Ministro defendendo claramente o nome de Jayme Canet e a posição de Paulo
comentar a escolha de Ney Brnga para o Jl.linistérío, Geisel diz: Pimentel tem repercusão nacional Fala-se que se o nome a ser escolhido pelo
Presidente Geisel não for o de Canet, o Ministro ficará enfraquecido. Em editorial
N ei Br::iga, que foi para a Educação, eu conhecia. desde quando servi no Paraná. Era do jornal "O Estado do Paraná'' a postura do Ministro é criticada:
governador do estado e depois foi ministro do Castelo. E era um homem ligado a
mim. Eu achava que pelo seu feitio, pela sua ponderação, pelo seu diálogo, poderia se (...) trata-se de equacionar efetivamente o problema sucessório, através do diálogo e
dar be:m com f1 classe estudantil. Queria alguém que tivesse predicados essenciais, do consenso, ou simplesmente de materializar uma imposição?
tivesse habilidade, soubesse lidar, não fosse radical. E realmente, no meu governo, Há quem equacione: o problema na base de urru. questão fechada, como o 1Hnistro
não houve muita perturbação, exceto na Universidade de Brasília, que mais se agitou. Ney Braga. !\·fa.s, em termos de dülogo entre lider.tnç:is políticas, não',podem existir
No coniunro da área, no pais, houve relaciva tranqüilidade (D'ARAUJO; CASTRO, questões fechadas. O diálogo pressupõe que a questão esteja aberta,. que se discutam
1997, p. 267). nomes, que se chegue à média, que se defina uma solução aceitável para todos os
setores que constituem expressões políticas no Parmá ... (O E?TADO DO
Na posse de Ney Braga, que substituiu Jarbas Passarinho, compareceram PARANÁ, 14 mai./1974, p. 4).
cerca· de 1500 pessoas. Em reportagem do jornal "O Estado de São Paulo",
considera-se que os termos solenidade e cerimônia não defiruam bem a transmissão Ney Braga vai a Curitiba um dia antes da chegada de Petrônio Portela à
de cargo no 1\finistério e que o correto seàa falar em ''Espetáculo de Transmissão" cidade, para tratar da sucessão com os políticos pa.ranaenses e defendef'. sua posição.
(O ESTADO DE SAO PAULO, 16 mar./1974, p. 8). Pouco tempo depois começaram Assim que chegou a Curitiba, Ney Braga distribuiu um manifesto polltico sobre a
as articulações para a definição dos novos candidatos da ARENA aos governos sucessão e passou a receber '?s políticos em sua residênàa. No rnanif~to afirma;
estaduais, tendo em vista as eleições indiretas que se dariam em novembro.
363
362
(.,,) Trata-se d;1. escolha do c:i.ndidato de meu Parridb a Gon!rnadordo Par::i.ná. Tenho pedido de N ey Braga e do governadorJaime Canct (QUE\[ P.\R.\l--Í.~, 2.' Quinzena
s:ido, desde muitos anos, mandatârio do poro pnrnnaense, e se, como tal, tenho 0 ago./1981, n.º .\9, p. 6). É certo gue o fortalecimento regional de Ney Braga está
dircito de participar das: conversações que se realiz.un, julgo-me, pelas responsabilidades
diretamente Yinculado a seu fortalecimento político em nkel naClonal, tendo em
que tenho, no dew.r indeclinfrcl de manifestar a minha posição .,, (...) De minh;i
vist-i suas ligações com o grupo militar Casrelista, particularmente suas ligações
parte, porém, repito- menos do que um direito, Yenho exercer um de,·er. E opinarei
pelo nome de Jayme Caner Junior. ( .. ) O que se espera dos. lideres é união, é com o Presidente GeiseL Em reportagem da revist't Panorama sobre a sucessào
desprendimento, é compreensão, é capacidade de transigência, é disposição de ser-Yir. est.'ldual, afirma-se:
(...) (G.\ZET.\ DO POYO, 14 mai./1974, p. 3).
Os escolhidos sào sabidamente homens da equipe do rnin..istro ~e'.y BrJga. Embora
Perrônio Portela esteve cm Curitiba no dia 14) permanecendo poucas horas sem longa tradição de militância. politic:1, Canet ocupou cJrgos de rele\'O na

na cidade, momento em que se reuniu com os políticos para oudr os nomes mais admínis-traçio pública, mais pela sua condição de jo,em empredrio bem sucedído
num dfl:ersificado campo de atiridades.
indirndos. Os políticos mais ligados a Paulo Pimentel se concentraram principalmente
O foto de hoje compartilhar do poder com.Emílio Gomes, que ê_1:1mbêm_wn
nó no'ine do ent.1.o Presidente Regiorial da _-\RE.i"-f.--\, o Senador Acciol: Fil.I-io....-\inda
homem da linha politirn do atual ministro da Educação, assegur.t,:por antecipação,
no mês de maio, Petrônio Portela telefonou para o governador Emílio Gomes, um sentido de continuidade politico-administrarfra no próx~mo quadriênio,
infortru111do-lhe que o nome do candidato da _--\REN_-\ ao goyerno do Estado era o perfeítamente identificada com a estrutura de liderança que N;~· Braga, afinal,
de Jayme Canetjúnior. Ovice de Japne Canet foi o Seuadorüct'lvio Cesário Pereira consolidou, na medída em que aparece como uma das person:4idades de maior
Júnior, que tinha sido Secretário do Trabalho e Assi~tênCla Social no gm·emo de rele,-u do governo do Presidente Ernesto Geisel (P•.\..i."-íOR.--\ll.L\, fl!Jo./1974-, n." 219,

Ney Braga, além de ter sido Chefe de Gabinete de Ney Braga no Ministério da não paginado).

.Agricultura. Quando da Convenção do Diretório Regional d,1 .\R.EN.-\, realizada


Nesse período do governo Geisel, Ney Braga vai indicar \·rí.rios nomes de
em 8 de julho, Paulo Pimentel votou nos nomes indicados para goyernador e
seu grupo político parn ocupar cargos na esfera federal. r-.Iaurício Schulman deixou
vice. "Demonstrando seu enquadramento partidário, ,·atou nos nomes
a Secretar:L'l da. Fazenda para ocupar a presidência do B~H (Banco Nacional da
indicados..." (O EST.IDO DO P.-\R.-1.N..\., 9 jul./1974, p. 1). .A aprovação de Jayme
Habit-içào); Ivo Símas ~foreira saiu da Secretaria do Planejamento para ocupar a
Canet e Octávio Cesário foi unânime (G.\ZET.\ DO Prn·o, 9 jul./1974, p. 3).
Secretaria para Articulação com Estados e ~Iunidpios do 1-.[inistêrio do
Ney Braga que vinha se fortalecendo novamertte na política paranaense a Planejamento; Karlos Rischbieter dei..-;:ou o R-\DEP para ocupar a: preside'ncia da
partir do governo de Parigot de Souza, ma~ principalmente com o gm'"erno de Caixa Econômica Federal, ocupando posteriormente a presidfncfa do Banco do
Emílio Gomes, consolida a sua liderança no Paraná com a eleição de Jayme Canet Brasil; e Euro Brandão foi para a Secretaria Geral do 1\-linistêrio da Educação e
Júnior para o governo do Estado. O nov-o prefeito de Curitiba também foi Cultura. Reinhold Stephanes tomou-se presidente do lêiPS; Antonio },lves de
indicaçào de Ney Braga. O governador que tinha formalmente a prerrogativa de Oliveira Neto ocupou a direção do Orçamento da União; Rui Ribas, sobrinho
definir o nome do prefeito) segue orientação do Ivfifl.lstro e coloca o neyista Saul de Ney Braga ocupou a presidência da Cibrazem (Companhitl. Brasileira de
R.-UZ na prefeitura da capítal. Ney Braga foi buscar Saul Raiz em Sào Paulo, onde Armazenagem\ Gilberto Pires ocupou um posto na Assessoria de Imprensa do
era um executivo das empresas Klabin. Saul Raiz afirma, em entrevista, que "lvfeu Presidente da República (DLUUO DO P.-\R.-',N.\, 15 mnr./1974, p. 9) (!STOÊ, 4

ordenado na K.Iabin era um dos bons ordenados de executivos do País. Um dos mai./1977, n.º 19, p. 5 e 6). Em reportagem da revista [STOÉ, afirma-se:

melhores ... ". Afirmou ainda que aceitou ser prefeito de Curitiba atendendo a um
• i

364 365
1 -Sempre afastado das manchetes, Ney Braga aproveitou seu trânsito fácil 1'unto
presidente da República para colocar homens de sua confu.nça em postos+chave, 3
.0

ponto de se fular hoje na ex.istência de uma espécie de 'clã do Ney Braga'. Um clã que
i
Não fui eu (o responsável), ele se e9uivocolL Foi ó Canet qúe quis, ele precisa assumir
isso. Eu sou Canet até hoje. Com""e:rsamos com o Governo, com o Ro~to (Marinho)
1 e o Paulo perdeu. O canal do Paulo fomos nós que demos. Me :,lembro que o
pode ser considerado como o grupo civil politicamente mais forte do pais e gue, se presidente Castelo me ligou perguntando se eu mantinha a proposta ?e um canal de
não faz presidentes, tem, sem dfrv:ida, condições de influir no processo sucessório tevê para o Paulo. Eu disse 'continua', E o Castelo deu o canal para o Paulo Pimentel
(!STOÉ, 4 m:úo/1977, n.º 19, p. 5). Ele ganhou o canal 4, que se as.saciou à Rede Globo. Eu pedi (em 76f para ruía tirar
uma rádio do Paulo. Mas acabaram t:irnndo por motivos técnicos. (.) Ele (Canet)
Esse é o momento alto da trajetória política de Ney Braga. Além da divergia muito do PauJo. E eu sempre acompanhei o Canet, sempre ~damos juntos.
influência que exercia no governo de Geisel, no âmbito regional iniciou um Nós queríamos que a televisão mais forte ficasse na mã? de um pes~oal neutro ou
processo de desmantelamento de seu maior adversârio, o ex-governador Paulo amigo ... A Globo (fV Paranaense) é hoje wna tevê neutra, não faz polftíca de B ou C
Pimentel. Este havia se tomado o maior empresário na área de comunicações (...) (FOLHA DE LONDRINA, 30 juo./1991, p. 5).

do Sul do Brasil, detendo no Estado o controle de três emissoras de televisão


(TV Iguaçu de Curitiba, TV Tibagi de Apucar:ina e TV Coroados de Londrina).
4.6 NEY BRAGA NO MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO
dois jornais (O Estado do Paraná e A Tribuna do Paraná) e uma estação de
rádio (Rádio Iguaçu). Paulo Pimentel fundou também o jornal "O Panorama",
Ney Braga permanece mais de quatro anos à frente do 1-!-icistéria da
de Londrina. O governo do Estado cortou todas as verbas destinadas a
Educação e Cultura. Desde março de 1974, até maio de 1~78. Na perspectiva de
publicidade nos órgãos de imprensa de propriedade de Paulo Pimentel. O Ney Braga, o ftíEC não teve problemas com a censura. ':Ao con~ário, atuava
contrato de retransmissão da programação da TV Globo para a emissora de corno uma espécie de poder moderador do governo. Os órgãos de censura de
Pimentel foi suspenso. Além disso houVe uma pressão para que Pimentel espetáculos e diversões públicas est.avam em outros setores" (BRAGA, 1996~ p.
vendesse suas empresas de comuniCação. A TV Coroados de Londrina foi 257). O MEC teria uma função polltica, de estabelecer uma aproxÍmllção com os
vendida ao grupo paulista de Oscar Martinez. Vmte e quatro horas após ser artistas! ''O :MEC servia de canal para o governo se aproximar da classe artística,
vendida. a 1V Coroados voltou a transmitir a programação da nr Globo. que era porta-voz de vastos setores da sociedade" (Ibidem, p. 257). No peáodo
Posteriormente este grupo paulista se recusou judicialmente a pagar a dívida em que esteve no 1finistério, foram criadas as seguintes instituições: FUN~A..RTE
definida em contrato. Em 1977 Paulo Pimentel foi aconselhado pelo Chefe do (Fundação Nacional da Arte); CONCINE (Conselho Nacional de Cinema); e o
Gabinete Militar da Presidência da República, general Hugo de Abreu, e pelo Conselho Nacional de Direito Autoral. A profissão de artista foi regulamentada.
.l\linistro das Comunicações, Euclides Qua.ndt de Oliveira, a vrnder as demais Fez-se também a reformulação da Embrafilme (Empresa Brasileira. de Ftlmes),
empresas ao grupo Bandeirantes, de propriedade de João Saad. Este se fundindo dois órgãos que atuavam paralelamente na mesma área. Estes órgãos
comprometeu a comprar as emissoras de TV e a emissora de rádio, mas Paulo eram o Instituto Nacional de Cinema e a própria Embr,;fílme. Criou-se ainda a
Pimentel não foi ao encontro marcado com Saad para concretiz:ir o negôcio Política Nacional de Pós-Graduação e o Crédito EduCJ1tivo.
(VEJA, 15 jun./1977, n.º 458, p. 84) (VEJA, 20 jul./1977, n.º 463, p. 26) No Jvlinistério da Educação e Cultura, Ney Braga se deparou com uma
(DICIONAfilO HISTÓRICO-BIOGMFICO BRASILEIRO, 1984, p. 2728-2729). série de manifestações estudantis. No final de rnarço de 1977, os estudantes
Ao comentar quem foi responsável por Paulo Pimentel ter perdido o direito realizaram uma manifestação em São Paulo, chegando a reunir cerca de 3 mil

de transmissão da programação da TV Globo, Ney Braga afirma: pessoas. Esta. manifestação,ainda se referia a questões especificas dos estudantes.
No dia 1.º de maio, oito pessoas foram presas em São Bernardo (SP) .por agentes

366 367
;,

dos órgãos de segurança·,, Estas pessoas esta,am distribuindo panfletos em Curitiba também foi marcado por p;otestos dos estudantes, ~ue dístribuíram
(considerados stÍbve.rsivos) entre operários..A partir daí, os estudantes passaram panfletos e carta aberta à populaçà_o. Vários estudantes foram Presos (DL-\RJQ
a ampliar as suns reivindicações. '~.\s prisões de 1.º de tna.io deram outro conteúdo DO P.,R.-L"l.-Í, 11 mai./1977, p. 3). Em junho, a revista \'EJ., informava:
às manifestaçàes" (DE EUGÉNIO, p. 1994). Já no dia 5 de maio, cerca de 7 mil
estudantes ,·oltam a se manifestar publicamente, protestando contra a ditadura e Em Curitiba, 13 entidades esrud:i.ntis da Uni\~ersid.:ide Federal do Paraná divulgaram
3
solicitando liberdades democráticas e a libertação dos presos i;. No dia 19 os um manifesto pedindo 'o fim das prisões arbitrári:is' e uma 'anistia ampla, geral e
estudantes realizaram outra manifestaçào, o "Dia Nacional de Luta pela ~r\nistia''. irrestrita', além de ~a carta ao governador Ja_rme Canet Júnior erµ que protestn'":lm
No pátio de 1\Iedicina da OSP, reunirarn~se cerca de 10 mil estudantes, enquanto contra ·recentes 'arbitrariedadeg policiais', sobretudo intim~ções dirigidas a
outra manifesL'lçào se realizou no centro da cidade, com cerca de mil estudantes e universit::írios envolvi.dos nas manifestações (''EJ.-\, 15 jun./1977, n." 458, p. 25).
2 mil populares. A policia cercou o pátio da USP, enquanto a manifestação do
centro foi reprimida com Yiolência. (DEEUGENIO, 199+, p. 80-90). Os estudantes Em maio, durante as manifestações estudantis, Ney Braga :ralou em cadeia
também est1vam tentando reorganizar a UNE. 1\-farcaram a realização do III de rádio e televisão, afirmando gue:
Encontro Nacional de Estudantes para o dia 4 de jllhho em Belo Horizonte.., na
Universidade Federal de I\finas Gerais. No entanto, o encontro nào se concretizou (...) nôs que entendemos a importância. da universidade; não aceitamos que

devido à repressão policial. No final de maio, Ney Braga cfu.7.1lgou uma nota em agitadores procurem tumultuar a vida tào calma, tão orientada dns inst.ituicões de
' .
que considerava que o Encontro Nacíonal dos Estu~tes, marcado para o .irúcio ensino desta nação.~-\ universidade .repele a agitação. A universidade não aceita a

de junho1 era ilegal: " ... a lei dere ser cumprida e o referido encontro não pode radicalização. Thtemos demonstração disso nos dias da semana {}assada, qua~do

ser permitido, porque é ilegal. Os estudantes sabem disso. Por certo, todos agirão wna parcela ex1:raordinária de brasileiros ficou realmente nas salas dC aub estudando
' '
com bom senso e serenidade, evitando qualquer ato contrário à lei" (O EST\DO se dedicando e sabendo que juntos estamos construindo o futuro: desta nação. (. ..)

DE 5_:;,.o P.\ULO, 31 mai./1977, P· 1). O bom estudante aí está, participando nos estudos e participando no trabalho.(. ..)

Durante todo esse período t11Ubém houve manifestações de esn.tdantes Esses merecem o nosso respeito (GAZETA DO POVO, 18 mai./1977, p. 9).

em outros pontos do país, como no Rio de Janeiro, Rio Grande dó Sul e outros
Estados. No final de maio foi defL,grada uma greve na Universidade de Brasil.ia, Em jur.i:ho os estudantes realizaram o "II Dia Nacional de Luta". Depois,
que durou cerca de doís meses. Neste período o campus ficou marcado pela. ma.rearam para 23 de agosto a realização do "III Dia Nacional de. Luta". Nesse

ocupação da polícia, que foi ,iolenta e efen.tou .inúmeras prisões. (VEJ.--\, 15 jun,/ día foram feitas manifestações em vários pontos do país. Em São Paulo a

1977, n.ª 458, p. 22-26) (\'EJ.,, 3 ago./1977, n.º 465, p. 16-22). O mês de maio manifestação dos estudantes foi marcada por muíta v-iolência. Vinte mil policiais
estavam nas ruas para tentar impedir que cerca de 2 mil estudantes se manifestassem.
"Em agosto, no III Dia Nacional de Luta, o slogan 'Abai..'{o a· Ditadura' era
1 definitiv-a.mente assumido, ao mesmo tempo que ,se exigia um novo 'pacto político,
simbolizado pelo tema da 'Constitu.inte"'.1fas o momento mais violento daquelas
J6 Barrados no Yiaduto do Chi, os estudantes sentl.r::lm no chão e leram em conjunto uma 'Carta
Aberta. à "População'. Dentrl"! outra,; coi::a,;, afirmav'1Il1: "É por is:so que conclarrumos todos, m::mifestações esrudantis se deu quando da realização do IIÍ Encoµtro Nacional
neste momento,:. aderirem a est:J. manifestação pública sob as mesma,; e únicas bandeira:!: fim às dos Estudantes, na Pontificia Uriiversidade Católica de São Paulo: O Encontro
torturas,. prisões e perseguições poUtica.s; libertação imediata de companhciros presos; anistia •
clandestino, era proibido pclo governo, que nào aceitava a reorganização estudantil.
ampla e irrestrit.J. :i. todo:, os presos, b:midos e exilados políticos; pelas l.tôerdadcs democciticas"
(DE EUGENIO, 1994, p. 82). O Encontro foi realizado na PUC.SP, " .. ,na tarde do dia 22, numa pequena _e

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L
., discreta sala de aula''. De noite os estudantes fizeram uma "assembléia- constante diálogo com o i\linistro Ney Braga, gue agiu, assim, cbmo parte, dei.-...:ando
comemornção pós-Encontro". A polícia invadiu o campus da PUC e reprimiu de funcionar como árbitro, O governador não procurou, do m:esmo modo, os dois
violentamente os marufestantes37 (DE EUGENIO, 1994, p. 90-104). senadores, nem estes foram sondados por Ner Braga, na b~sca de um diilogo
(O EST.\DO DES_~O p_\lJLO, 28 ago./1975, p. 3).
4.7 O CONTROLE DA ARENA PARANAENSE E A INDICAÇAO
PARA O GOVERNO ESTADUAL Na verdade, ficou acertado com agueles gue divergíam ~ liderança de Ney
Braga, gue haveria uma chapa única a ser apresentada na Convenção (G_--\ZET_--\ DO
No segundo semestre de 1975, o grupo de Ney Braga vai passar a controlar POVO, 12 ago./1975, p. 3). Na Convenção, que teve irúdo no dia 24 de agosto, foi
a Arena paranaense. A Com·ençào para definir o novo Diretório Rcgionri..l estava apresentad1. uma moção pot402 membros ao governador Canet, ~a qual se defendia
marcada para agosto e o embate entre as forças políticas já vinha se ,·erificando. o nome de Afonso Camargo para a ptesidênc:ia do Partido. Os q?nvencionais gue
O go,remadorJayme Canet articulava os interesses do grupo de Ney Braga. Defendia compareceram ao encontro totalizavárrl 418, sendo que 559 estavam habilitados a
o nome do então presidente do Banest1do, Afonso Alves de Camargo Neto participar. Ou seja, faltaram 141 comrencionais. Dos 44no.vos mefl1bros do Diretório
(o avô deste fora o fundador do Banestado), para a presidência do Partido. Os Regional 30 firmaram uma moçã0 tamb~m ·defendendo o nbme de Afonso
Senadores Acdoly Filho e 1Jattos Leão eram os mais fortes oponentes ao nome de Carnargo para a presidência. Realizadas as eleições, tiveram 414 votos a favor da
Afonso Camargu Em julho, o Senador João de tfattos Leão, que era compadre chapa única, 2 votos em branco e 2 nulos (G_\ZET.\ DO POVO, 25 ago./1975, p 1
de Paulo Pimentel, critico~ a liderança e..-.;;:ercida por Ney Braga:- "Desde as eleições e 10), Afonso Camargo foi eleito o novo presidente Regional da Arena e em
de 15 de novembro, as lideranças do ex-governador Paulo Pimentel, do senador seguida se desligou do Banestado (G.\ZET_\ DO PO\'O, 27 ago./1975, p. 1). O ex-
Accioly Filho e a minha, foram totalmente desconsideradas no panorama paranaense. governador Emílio Gomes substituiu Afonso Camargo na presidência do Banestado.
Apenas um setor da .Aliança Renovadora Nacional participa efetivamente do Em discurso realizado na Convençào1 Paulo Pimentel defendeu que caberia ao
governo". A própria reportagem se encarrega de e..~licitar que setor é este: o do governador a escolha do presidente da Arena (O ESTIDO DO P.-\R-1.N•.\, 26 ago./
ministro Ney Braga (P.-1.NOR..-\;\L-\, jul./1975, n.º 228, p. 14). O governadorJayme 1975, p. 3). No editorial do jornal "O Estado de São Paulo", do dia 28, fala-se da
Canet foi criticado por-:t\fattos Leão, que considerou que Canet estava pressionando força politica de Ney Braga no Paraná- "A eleição de Affonso .Alves de Carnargo
as bases do parti.do para aprovar o nome de Afonso Camargo. Na véspera da Neto para a presidência da Arena paranaense, com o aval do governa.dor Canet
Convençào, o governador, que estava conduzindo o processo, esteve reunido em Júnior, ratifica1 mais uma vez, o óbvio da política no Estado, ou seja, o predomínio
Brasília com os ministros Goubery do Couto e Silva., Armando Falcão e Ney da influência do ministro Ney Braga e de seu grupo" (O E5T_-\DQ DE S.'io p_.\,ULO,
Braga Em editorial do jornal "O Estado de São Paulo", afirma-se que: 28 ago./1975, p. 3). Em seguida à eleiçào de Afonso Carnargo, os Senadores
Accioly Filho e Mattos Leão fizeram um m:irufesto (26 agosto/1Q75) criticando a
(.. ,) quando CanetJúnior foi a Brasilia, não esteve em contato com o senador Petrônio escolha daquele nome. O mesmo manifesto é assinado pelos Deputados Est1duaís
Portella ou com o deputado federnl Francelina Pereira, mantendo-se, porém, em Accioly Neto e Aragão de Mattos Leão:

Falto de grandeza, de palavra, e de espícito de conciliação, o grupo político que hoje


domina o Paraná tem a sobrarem-lhe ambi~o, personalismo ·e prepotência. (...)
n ''Nos anos seguintes o movimento esrud:tntil passou a dar prioridade à rcorg:mizaçio de SuJ.:i
entidades ~prcsentativas, como as UEEs e a UNE (que viria a ser re-fundad:1 em 1979), .\lém O Paraná parece ter sido infelicitado com a mais exclusivista, me~quinha,e estreita
dísso outros a.tore;; coletivos passan.m a ocupar 11 cena dó protesto de ru:t conto o regime, política de facção, que procura esmagar os que a ela pertencem e só ~onsidera Paraná
reconfigurada pelos estudantes (DE EUGENIO, 1994, p. 104). aquilo e aqueles que a ela se subjugam.

310 371
Quem em nosso Estado, a partir de meados de 1.973, não seguiu e obedeceu à pequen_a melhora dos resultados do ~IDB, po1s em 1972 este pllttido hm'1a feito
orientação do grupo ressurecto de 1965, passou a ser considerado inexistente na apenas 33 prefeituras (IP.-IRDES-RESULT.IDOS ELEITOR.-11S, 1r89.)
Geografia Politica do Paraná, marginalizado da condução e responsabilidade dos O jornalista Carlos Castello Branco escreveu:
fatos de nossa -ida política, transferido o eixo dessa condução e responsabilidade da
sede partidária da Arena, para os locais onde se encontras.sem os chefes do grupo ou O nome do ;\Iinistrn da Educaçào, ao qual já se: aludia nos:·bastidores, surge
seus acólitos, ostensi,"amente cm seguida ao do Presidente do Senado, Sr.1f~galhàes Pinto:(.. ,)
_-\ssim aconteceu na formação do novo Goremo ena orientação política deste. Entre os fatores Ínyoctdos para justificar a candidatura do S~. Ney Braga está,
E ê também o que acaba de ser feito com a Direção do Partido, para a qual se impôs insistimos, a força da sua liderança eleitoral no seu Estado (G-1.ZET_-\ DO POYü,
um nome de facção. 21 nov./1976, p 3).
Hâ de reswnir, desse modo, n \'Ída politica paranuense à e..xpressào pessoal de um
político, a cuJa vontade, acenos e caprichos, derem todos curvar-se sob pena de se Após as eleições, o Presidente Regional da Arena, .Afonso Camargo Neto,
tornarem rêprobos no círculo dos que governam. que declarou que se considera,·a um neyist.'l desde 1960 (DLWO DO p_\R...-\N_-\,
Enquanto as indiCJ.ções e as nomeações não dependiam de nenhum gesto ou preferência 20 nmc/1976, p. 3), bnça o nome de Ney Braga para a presidência da Répública.
nos.sa., e nossa não era a responsabilidade, sequer partilhada, delas não manifestam.os Em entrevista à imprensa, diz: " ... se a sucessão presidencial se iconduzir para a
discordância. _-\gora, no entanto, é o Partido que passa a ser também ocupa.do pelo escolha dos chamados 'híbridos', isto é, militares com experiêncin política civil, o
mesmo grupo, e contra- isso de,·emos tornar público nosso protesto, nosso
nome do ministro Ne, Braga é altamente cogitável" (O EST.-IDO DE S.\O P.-IULO,
ínconformismo e nossa rebelião (O ESTIDO DO P_·\RA.1"-JA, 27 ago./1975, p. 3).
20 nov:/1976, p. 4) (G.-\ZET.-\ DO POVO, 22 nov:/1976, p. 3).
Em reportagem da revista ISTOÉ, de maio de 1977, afirm~-se que "Desde
Em 1976, o nome de Ney Braga voltou a ser lembrado para a presidência
há 5 ou 6 meses que ocasionalmente se fala de Ney Braga como um candidato
da República, agora na sucessão de Ernesto Geisel. Isso se dá no contexto das
em potencial1', assim como já se falava no nome de Figueiredo (iSTOÊ, 4 maio/
eleições municipais de 1976, vencidas no Paraná pela Arena. No cenário nacional 1
1977, n.º 19, p. 5). Ney Braga e João Bapcist, Figueiredo eram da mesma turma
esta é uma das vitórias ma.is expressivas. A .A.rena conquistou 233 prefeituras,
(1937) na Escola do Realengo, e ambos pertenciam ao circulo militar ligado ao
contra45 do ~IDB (O EST.IDO DES.\O P.-IULO, 20 Oóv./1976, p. 6). Este partido,
presidente GeíseL Embora N ey Braga deseJasse a presidência da República, Geisel
que já governava o município de Londrina, voltou a ganhar as eleições na cidade
demonstraYa preferência pelo general Figueiredo. O presidente usou toda sua
(a mais importante' do interior do Estado), com o candidato .Antonio Belinati,
influência para e,·itar que se viabilizasse qualquer candidarura d1. linha dura.
O).IDB também venceu as eleições na prefeitura de Ponta Grossa. Desde 1974,
O nome que estava sendo articulado pela linha dura era o do lvlinis~o do Exército,
o }.IDB começava a vencer as eleições nos grandes centros urbanos do país.
General Sílvio Frota, que era contrário ao processo de abertura política defendida
Naquelas eleições, o candidato do 11DB paranaense ao Sena.do, Leite Chaves,
por Geisel. Pressionado para aceitar o nome de Frota como candidato à
havía derrotado o canclidato da Arena,Joào 1fansur. O primeiro teve 51,3% dos
presidência, Geisel optou pela demissão do Nfinistro do Exército. Pouco tempo
votos, enquanto que o segundo ficou com 33%. O mesmo se deu na votação
depois, comunicou ao chefe do SNI (Serviço Nacional de Inf_ormnções), general
para a Câmara Federal, em que o f\IDB paranaense fez 40,6% dos votos1 enquanto
Figueiredo, que o indicaria para a presidência da República. Nesse período também
a .Arena fez 38,7%. Mas para a .Assembléia Legislativa, a .Arena teve 42,8% dos
havia um outro pretendente que lutava junto aos convenciooais ,da Arena para.
1

votos, e o 1IDB fez 37,3%. Desta forma, comparando-se as eleições de 1976


ver seu nome aprovado pela Convenção do partido. Este pretendente era
com as eleições de 1974, houve uma melhora da votação da Arena no Estado.
:Magalhães Pinto. O general Hugo .Abreu, cbefe do Gabinete Jvlilitar entregou ao
ivfas se a comparação fosse feita com as eleições de 1972, verificaríamos uma

372 373
presidente Geisel um documento no qual se faziam críticas àqueles que apoiavam Mais uma nz Ney Braga vê frustrada a possibilidade de cljegaho Palácio
Figueiredo para a sucessào presidencial, pois esta era. uma candidatura que não do Planalto. .A altemati\·a escolhida por Ner Braga era a de retornar ao Palácio
unia o Exército. Neste documento tinha uma lista de oito nomes: dos generais Iguaçu e ocupar a cadeira de governador. E assirn se deu, pois Gcisel anunciou
Samuel Alves Correia, Bclfort Bethlem (Jvfinistro do Exército que substituiu Sílvio que Ney Braga seria o candidato da Arena ao go~erno ?o Paranáj para substituir
Frota 1 mas que também era considerado da linha dura) Dilerma.ndo t.fonteíro,
Canet Júnior. Ney Braga ficou no l\.Iinistério da Educação e Ctjltura até 30 de
Reinaldo :t>.felo de Almeida, Euler Bentes J\íonteíro, Ney Braga e o civil Aurelfano
maio de 1978, quando assumiu em seu lugar o Secretário Geral do 1.-·Ii..nistério,
Chm~es, então go,·ernador de !\finas Geraís. O nome de Figueiredo aparecia em
Euro Brandão. No dia 3 de junho teve irúcio a Convenção Regional da Arena,
último lugar na lista. Ao folar do conteúdo desta carta do General Hugo Abreu
quando se deu a homologação do nome de Ney Braga para candidato ao governo
dirigida ao preSidente Geisel, Ney Braga díz: ':Além disso, acrescentou que se 0
do Estado e do advogado e ex-prefeito de Londrina, José Hos~en de Novaes,
candidato pudesse ser um político de origem militar, gostaria então de sugerir 0
como vice. Dos 481 delegados presentes à Convenção, Ney Braga recebeu 473
nome de Ney Braga, e se apenas político, o de Aureliano Chaves" (BR..:\G."i, 1996,
p. 274), Geisel mante,~e seu apoio ao general Figueiredo. Hugo Abreu pediu votos, sendo que 8 delega.dos votaram em branco. Nesta Convenção ficou acertado

demissão da Casa Militar e, no dia 5 de janeiro de 1978, Geisel formalizou a que o Presidente Regional da Arena, Affonso Camargo Neto se.ri~ indicado para

indicação de Figueiredo para presidente e de Aureliano Chaves para vice-presidente. Senador pelo voto indireto (biônico), e que Túlio Vargas seria b candidato ao
Para consolidar o nome de seu candidato, Geisel trabalhou junto ao Alto Senado por V"ia diret'l, com o apoio do governador e do J\1inistro da Educação
Comando do Exército, para que este incluísse o nome de Figueiredo em primeiro (CORREIO DE NOTÍCL\S, 4 jun./1978, p. 4). Túlio Vargas era depurado federal
lugar em uma lista de genera.is-de-divisào gue poderiam receber a quarta estrela, e. tinha sido Secretário de Justiça do governo Jayme Canet (P.\NPR..\}.L\, out/
visto que o nome de Figuciredo era o quinto da lista. Geisel conseguiu e, assim, 1978, n.º 261, p. 27). A candidatura de Cândido .Martins de Oliveira ao Senado
promoveu seu candidato a general-de-exército. Ao comentar a sucessão de Geisel, foi lançada por uma dissidência e não contava nem com o apoio de Ney Braga
Ney Braga afirma: e nem do governador. Esta candidatura acabou naufragando (CORREIO DE
NOTÍCL\S, 6 jun./1978, p. 6). O Colégio Eleitoral se reurúu no dia 1,0 de setembro
Figueiredo nunca foi mc:u candidato à Presidência da República. Pensei muito sobre para oficializar o nome do futuro governador e do vice, além de escolher um
esse assunto e n:1 realidade admitia apenas seguira decisão do presidente Geisel pelo novo Senador pelo Paraná. Ney Braga e Hosken de Novnes ?btiveram 587
respeito que tinha :i sua liderança. (...) .-\Jguns políticos disseram que a minha posíçào
votos, e Afonso Carna.rgo Neto teve 585 votos. Accioly Filho votou em Ney
se devia a um:t pretensào pessoal de se.r candidato à Presidência. o que ~ào me passava
Braga, mas foi contra a definição do nome de Afonso Camargo para o Senado.
pela cabeça.1.fuitos meses antes: da sucessão já sabia que 11 cmclicbtun de Figueiredo ia
Na sua totalidade, o Colégio Eleitoral seria formado por 637 membros. No
prevalecer sobre todas :is outrns .•-\ confusão f~i causada por uma entrevista do _.\.ffonso
entanto, o ilIDB havia decidido em sua Convenção reafu:ada em 'julho, que não
Camargo, publicada em BrJsilia, na qual ele fa.bva em meu nome pam a sucessão. No
participaria do Colégio Eleitoral Ao Colégio Eleitoral compareceu apenas o
mesmo dia em que 5aiu a publica:ç:lo procurei o presidente Gcisel e disse a ele que não
tinha qualquer pretcns:lO pessoal, nem mesmo a continuar no l\úoistétio.•--\crescentei líder da bancada do ll!DB na Assembléia Legislativa, Nilso Sguarezzi, que foi
que acima de tudo en seu amigo, uma amizade de muitas décadas que se devUJ., antes de fazer um discurso de protesto contra o processo de escolha dos. governantes e
tudo, à admiração que sempre lhe dediquei. O presidente me explicou as razões pelas de um terço do Senado. Em seu discurso, Sguarezzi afirmou que:,º ... por ironia,
quais achava import:l!lte que o futuro presidente fo~se um general de quatro estrelas, neste 1 º de setembro, quando começa a Semana da Pátria, ~iQ se elegem
mas não me disse qual o nome des~ gener.tl. Algum tempo depois, ro1. outra conversa, governadores, mas sim homologam~se nomes (...) perpetuam-se todas as
come;ntou:- 'Ney, preciso fu.zer o Figueiredo quatro estrelas', Foi então que percebi que oligarquias desta terra, com aparente legalidade na manutençàb indefinida e
Figueiredo seria o candidato (BR.\GA, 1996, p. 273). permanente do poder" (O ESTADO DO P.\R.-INA, 2 set/1978, p: 1 e 3).

374 375
Sem candidato na sublegenda, o único ca~didato da .Arena ao Senado, em .Administração de Empresas pela 1\Iichigah State Univer~ity Freqüentou o
Túlio Vargas 1 npoiado pelo governador e pelo i\Iinistro d1 Educação e Cultura, curso Intensivo de Administradores da Fundação Getúlio Vatgas e o Ciclo de
perdeu as eleições para o ~IDB. Este partido lançou dois candidatos ao Senado: Estudos sobre Segurança e Desenvolvimento da },..DESG. Foi vice-presidente
Josê Richa, ex-colaborador de Ney Braga e Enêas Faria, pela sublegenda, sendo executivo da lvfoinhos Unidos do Brasil-lvfate e das Fábricas. Fonta.na S...--\..; foi
que o primeiro obteve 895.013 votos. Somados os votos, o ;\IDB alcançou mais gerente do Departamento de Vendas da .Aços Villares S,~-\.; foi gerente de Nnvos
de 43% 1 enquanto que o candidato da Arena chegou a -1-1 (% dos votos (1,083.573), Produtos, ligada à vice-presidêncía de lvfarketing da .Andersen Clayton & Co.; foi
No ent.1nto1 nas eleições para a Assembléia Legisbcira e para a Câmara Federal, a presidente dos Conselhos de Administração da CELEP_\R, E;\!OP.\R e do
.A.rena derrotou o ~IDB paranaense. No primeiro caso, 47,7% dos Yotos para a Departamento de Lnprensa Oficial. SEGIS, fill..'DO ;\JORGENSTERN, Engenheiro
_,_-\.rena, e 34,7% para o i\IDB. No segundo caso, n .Arena teve 46,1% dos ;rotos, Civil pela Universidade Federal do Paraná e professor de Admiru,straçào na mesma
enquanto que o MDB teve 35,1 % (IP.\RDES-RESULT.illOS ELEITOR.\IS, 1989). Universidade, asswne a Secretaria de Recursos Humanos. I'vfinistrou cursos de
Ney Bragn assume o gm~erno do Paraná em 15 de março de 1979, tendo Administração e Gerência na antiga Cor:npanhia de Desenvolvimento Econômico
como Yice, José Hosken de Novaes. Este seu segundo governo terá um caráter do Paraná, na Universidade Católica, na Sociedade Paranaen~e de Estudos de
essencialmente tecnocrático. "Em 79, retorna como·Chefe Executivo, investido Administração. !vfinistrou o curso de Sistema e lvfétodos na Esccila de
de fortes marcas tecnocciticas, ao mesmo tempo que busca ajustá-Ias a posturas .Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getúlio'Vargas e o cursa
popuL1.res. Dispensa o apoio politico-partidicio, prestando conta de seus atos de Tribut1çào !vfunicipal no Instituto Brasileiro de Adminístraçào i'vfunicipal e
somente a seus reais 'eleitores': a cúpula do regime'' (IPARDES, 1989, p. 150), Serviço Nacional d~ tvfunicípios. Foi membro dos Conselhos de Administração
Francisco 1v1agalhàes considera que tanto o governo de Jayme Canet quanto o da Sanepar e da Telepar. YILSON DECONTO, formado em Economia pela
segundo governo de Ney Braga, adotaram Universidade do Paraná, Pós~Graduado em Administração Financeira pela USP.
e Doutor em Administração de Empresas pela Universidade de Navarra (Espanha),
(.. ) a visão tecnocrática da administração estat:i.l, que se fortalecera, no governo assume a Secretaria da .Administração. Realizou especi:ili.zações e aperfeiçoamentos
federal, com os dois Planos Nacionais de Desemuldmento (os PNDs), e que era, nos Estados Unidos, na Universidade Federal do Paraná e na C.EP.-\L/ONU; foi
de certa maneira, imposta aos governos estadtl1Ís potmeio das chamadas estruhlras Diretor das Faculdades de Economia, Administraçào e Diretor do Setor de
sistêmicas, montadas a partir de órgãos federl..ls 9ue comandavam determinadas Ciências Humanas, Letras e .Artes da Universidade Federal do Paraná. Foi consultor
policicas públicas (?IHG.\LfÜES ffiHO, 1999, p. 161-162). e aSsessor de Empresas; membro do Consefüo Diretor e Coordenador Geral
do Programa Paranaense de Treinamento de Executivos, e Diretor Geral da
Compõe o seu secretariado da seguinte forma: VÉSPERO :MENDES,
Secretaria de Estado do Planejamento. RENATO .c\NíÔNIO JOHNSSON, bacharel
engenheiro civil formado na Universidade Federal do Paranâ, assume a Secretaria
em Direiro pela UniverSidadc Federal do Paraná, foi Diretor Té~co da Telepar
do Planejamento. O bacharel em Direito pela Universidade do Paraná, OCTA\'IO
e, posteriormente, Presidente da Telepar, deixando este cargo para ocupar a
CES_-\lliO PEREIIU JÚNIOR, que era o YÍce-got·ernador, foi nomeado Secretário
Secretaria do Interior. EDSON NEVES GU!tL-\R.IBS, formado em Ciências
da Justiça. REINHOLD STEPfL-INES, formado em Ciências Econômicas pela
Econômicas pela Universidade do Paraná e em Direito pela Faculdade de Direito
Universi?3de Federal do Paraná, ex-presidente do INPS, assume a Secretaria da
de Cucicib~ assume a Secret.aria de Finanças. Fez outtos cursos, como Problemas
Agricultura. FR.-INCISCO FERNANDO FONT.-L'i.\, ex-Secretário da Administração
de Desenvolvimento Econômico, patrocinado pela CEP.\L; Treinamento em
no governo de Canet Júnior, assume ,1 Secretaria da Indústria e Comércio.
.Administração Financeira nos Estados Unidos e Canadá, constituído de cursos
Francisco é bacharel em Direito pela U nrrersidade Federal do Paraná e Mestre
de extensão, sem.in.'ários e estágios em várias entidades americanas.. Fez estágios

316 377
em empresas de gás e eletricidade dos Estados Unidos. Na COPEL, foi JAL\IE LER..i"'JER, que já ocupara o mesmo cargo no início dos: anos 70 ...--\ntes da
Superintendente Financeiro e Diretor Econômico-Finânceiro, além de membro indicaçào de JaJme Lerner, Ner Braga solicitou a Saul Raiz para gue este
do Conselho de Administração. EDSON H-\CfHDO DE SOUZ.-1, gue assume a permanecesse como prefeito de Curitiba. 1'.fos Saul Raiz afirmn que não poderia
. Secretaria de Educação, é formado em 1\fatemática na Universidade do Paraná e aceitar, tendo em vista que um dos proprietários d'l empresa Klaqin, Israel Pinheiro,
tem Pôs-Graduação em Economia pela Universidade de Brasil.ia. Fez o curso de fora indicado para assumir a prefeitura do Rio de Janeiro, e que só aceitaria se
.Análise Econômica para Graduados, promovido pe!o Centro de Treinamento e Saul Raiz -voltasse para a empresa. Ent1o, a escolha do governa9or foi pelo nome
Pesquisa para o Desenvolvimento Econômico do t..·finistêr:io do Planejamento e do arquiteto Jaime Lerner. Desta equjpe, os nomes de Octâví,o Cesário Pereira
Cootdenaçào Gernl. No Ivfinistério da Educação e Cultura foí Secretário ExecutiYo J úníor, Véspera !\fendes e Reinhold Stephanes têm suas biogra~as destacadas cm
do Conselho Nacional de Pós-Graduação. Foi Presidente da Comissão Nacional outro momento, quando da referência ao neyismo.
de Residência i\fédica e, desde 1974, é Diretor Geral do Departamento de Assuntos
Universitários. OSC..-\.RAL\'ES, formado em 1\fodicina pela Uni\·crsidade Católica
do Paraná e com Doutorado na Un!\..ersidade de São Paulo, assume a Secretaria 5. O DECLÍNIO POLÍTICO DE NEY BRAGA E O

da Saúde. Lecionou na Uniwrsidade Estsdual de Londrina, CLETO DE .-\SSIS, DESTINO DO NEr1SMO


que passa a ocupar a Secretaria de Comunicação Social, é bacharel em Artes
Plásticas pela Escola Superior de 1fúsica e Belas Artes do Paraná; é diretor-geral
do Departamento de Assuntos Estudantis do Ivfinistério da Educação e Cultura,
5.1 .A FOJUv!AÇÀO DO PDS E .A DERROTA NAS ELEIÇÕES
onde ainda é membro efeti-vo do Conselho Consultivo do Programa de Crédito
DE 1982
Educativo, junto à Cai.xa Econômica Federal e membro suplente da Comissão
Técnica Permanente do Programa de Crédito Educatn'<> LUÍS ROBERTOSO.-IRES,
Nas comemorações do 1. 0 de maio de 1979, Ney Braga faz'_uma mensagem,
que assume a Secretaria de Esportes e Cultura, é formado em Direito pela
em que revela um pouco da sua visão sobre o trabatho.
Unive:fsidade Federal do Paraná. Foi lider da Arena na Assembléia Legislativa
entre 1973 e 1974; Presidente do Diretório Municipal da Arena de Curitiba em Quero dizer, uma vez mais, que trabalhadores todos nós somos,no cumprimento
1975; lider do governo e da Arena na Assembléia Legislati,,a entre 1977 e 1978; de tarefas diferenciadas .•-\ssim, o trabalha não deve ser, para que possamos alcançar
e é membro da Comissão Executiva da .Arena. NIV_-\l.DO _-U.;'-.[EID.\ NETO, que a justiç.i social, medida de separação de classes, e sim fator de ajust~ento de interesses
passa a ocupar a Secretaria dos Transportes, é formado em Engenharia Civil pela sociais, sempre a partir do claro prindpío de que devemos buscar o ídeal através do
Universidade Federal do Paraná, e exerce sua profissão na COPEL. H..\.ROLDO possível, sem o que o sonho inv.u:iavelmente cede lugar à frustração (G.-\ZET_-\ DO
FERREIR:\ DL\S, que passa a ocupar a Secretaria de Segurança Pública, fez a POVO, 1.º maio/1979, p. 4),
Escola Preparatória de Cadetes de Porto Alegre, e a Escola 1Iilitar de Resende
no Rio de Janeiro. Foi instrutor do CPOR de Curitiba, da Academia ~Iilitar das Ainda em maio, Ney Biaga participa de reuniões da Arena no interior do

Agulhas Negras e da Escola de Comando e Estado Maior do Exército; Chefe Estado, juntamente com .Affonso Camargo. Em Londrin.1:, ao fazer um

da 2.' Seção do Estado-Maior da 5.' Região lvfilitar, Comandante do 27.º Grupo pronunciamento na reuni.à.o da Arena, Ney Braga afirmou que 1 ' .. , boje a abertura

de Artilharia de Campanha em Ijuí no Rio Grande do Sul, e Assistente Secretário política já é wna realidade e que o período de exceçào, necessário ein determinados

do Chefe do Estado-Maior do Exército (CORREIO DE NOTÍCL-1S, 15 mar./ momentos, já se esgotou" (G,-\ZET,\ DO POVO, 1.º maio/1979,•p. 6).

1979, p. 5). Para a prefeitura de Curitiba, Ney Braga indica o engenheiro e arguiteto

378 319
Em 1979 o governo Figueiredo implementa. uma reformulação partidária, ocupar o cargo de Diretor da Carteira de Crédito Rural, do ~nco do Brasil; e
o gue le\--a à extinção da .--\_REN.--\. e do :\IDE, e à formaçào de novos partidos. Aléssio Vaz Di Primo passa a ocupar uma Diretoria Setorial timbêm no Banco
No Paraná, Ney Braga vai liderar o processo de formação do partido do do Brasil, a Diretoria Rural (P.-\NOR.-'.~B. mar./1979, n.º 266,'p. 29).
governo, embora as suas relações com Figueiredo não sejam tào próximas. Ner Braga é o lider da formação do PDS (Partido D'71'ocrático Social)
1.\-fas Ney Braga continua sendo um homem fiel ao regime. Faz _dedaraçàes à paranaense., procurando unir todas as forças da Arena no novo partido. .Apesar de
imprensa de npoio n Figueiredo: todos os esforços, essa t::trcfa se toma impossíve~ na medida ef1?. que as pcinciPais
lideranças da Arena, quais sejam, o próprio Ney Braga, e os ex-gOvernadores Paulo
Sou um homem ligado aos companheiros que estão no Governo Federal .--\.cho
Pimentel e Jayme C,mct Júnior, não têm uma relação muito amistosa. Quando Ney
importante e necess-irio que apoiemos o Presidente Figueiredo..-\.credito nele como
Braga assume o goYcrno do Paraná na sua segunda gestão, em pouco tempo os
acreditei em Castelo, Geisel e Juarez Távora. Yeio possibilidade de um partido
seus colaboradores passam a tecer criticas públicas ao governo de Jayme Canet,
com doutrina democrata cristã, mas não com o nome. Se houver uma composiçào
acusando-o de dcíxar o goYemo com problemas financeiros. ESte fato vai afastar
nacional parn este fim, eu estudarei a possibilidade de integrá-lo, mas dentro do
Jayme Canct da liderança de Ney Braga. É mais um neysta que mantém um
princípio da lenldnde (G.-\ZET.-\ DO PO\'O, 19 rnaío/1979,p. 6).
distanciamento do lider político. .Além disso, Jayme Canet e Affonso Camargo
Ney Braga vai procurar usar sua influência política para reunir em torno Neto nào aceitam de forma alguma se integrar no mesmo parti9o em que esteja o
de um único partido o apoio ao governo estadual e ao governo federal. ex-governador Paulo Pimentel. JayTI1e Canet, depois de se eni:ontrar com Ney

A participação paranaense no governo de Figueiredo será bem menor do Braga, declarou: 1 'Respeito muito o Governador Ney Braga e rind1. tenho contra
gue aquela verificada durante o governo Geísel, tendo em vista a existência de ele, mas não pertencerei ao mesmo partido em que estiver :Paulo Pimente~"

uma relação de pouca afinidade entre Figueiredo e Ney Braga, embora Ney Braga (CORREIO DE NOTÍCL-\S, 4 out./1979, p. 3). Os Órgãos de irpprensa de Paulo

era trat1do por Figueiredo como a grande liderança da .A.rena paran.1ense. O neyista Pimentel fizeram críticas ao governo de Jayme Canet.
Kados R.ischbiete.r, que já tinha ocupado a presidência da Cai.~a Econômica Federal O ex-governador Jayme C_anet e o presidente da Arena Paranaense e

e do Banco do Brasil, no governo Geise~ agora, no gover!'lo Figueiredo, passa a Senador biônico, .Affonso Camargo Neto, ligados empresarialmente, participam
ocupar o Ivlinistério da Fazenda. Embora o principal centro das decisões em nível nacional da formação de um outro partido, juntarnent'.e com Tancredo

econômícas do governo Figueiredo esteja no ~linistécio do Planejamento, ocupado Neves, 1-fagalhàes Pinto, Olavo Setúbal, dentre outros. Um outro partido, mas

pelo :tvfinistro !vL-í...r:io Henrique Simonsem, colega de Rischbieter na condução ainda assim de apoio ao governo. Em declaração à imprensa, Jayrhe Canet afirmou

econômica do país. O outro neyista de destaque a ocupar um importante cargo que se filiará a um "partido de centro, independente que não $erá de oposição,

no governo Figueiredo, é 1vfaurício Schulmann, que tinha si?o presidente do BNH, mas de apoio ao Governo" (COR.REIO DE NOTÍCL-\S, 4 out/1979, p. 3). No

~ gue, neste governo, passa para a presidência da ELETROBRAS. O empresário Paraná, os dois são os formadores daquele que viria .a se chamat Partido Popular.

Luiz .Antônio Fayet é chamado para ser o Secret~o Adjunto do !vfinistério da O deputado federal Norton 1\-facedo, vinculado a Ney Braga, faz severas criticas

Fazenda. Fayet que já tinha atuado na CODEP.-\R e depois no B.-\DEP, onde foi aJayme Canet e a Affonso Camargo, pelas articulações que estes fazem em torno

presidente entre 1974 e 1979. Nos anos 1990 viria a assumir a Diretoria de Crédito do Parti.do Popular. .Afinal, esta decisão enfraquece um pouco o PDS paranaense

· Rum! do Banco do Brasil (COUTO, 1998, p. 55). Outro colaborador de Rischbíeter que está em formaçào, pois Canet l~va consigo mais alguns, politicos. Estas

é Antônio de Oliveira Neto, ocupando o cargo de Inspetor Geral de Finanças, articulações feitas por Canet e Affonso para a formação do PP se devem às

no 1:vlinisté.r:io da Fazenda. Finalmente1 César da Costa ~aboia é chamado para dívergências deles com Ney Braga e Paulo Pimentel. Este, embora tivesse criticado
em seus jornais os primeiras meses do governo Ney Braga, afirmo~ que fitJlila

380 381
no mesmo partido dele. i\.fas é possível que ns divet'gências entre Jayme·Canet e Com a intensa Yibração de íovem, que me le\~ou à Escofa i\Iilitar dQ Realcngo, ,'1,·í o
Ner Braga podem também ter relação com a economia, visto que Jaymc Canet momento doloroso desse 27 de novembro, quando, em uma ma'drugada ttlste, a
é um empresário vinculado à burguesia local, a mesma 1< ... que participara na história nacional registrou o ato covarde de homens que, a preMxto de lutar por
concepção do projeto paranacnse de desenvolvimento e o apoiara" (l\l--\G~U.H.A.ES ideais, marar.un, de maneira foa e traiçoeim, amigos e companheiro~: era a Intentona
FILHO, 1999, p. 171), enguanto Ney Braga já esbria mais vinculado ao grande Comunista. Sobre a doutrina comunista, com justa razão, Rui Barbosa deixou seu
cap~tat .A b.urguesia local vinha perdendo espaço para o grande capital, seja testemunho: 'O comunismo não é fotternidade~ é a im--asão do ôcüq entre as ckisses.
nacwnal, seJa estrangeiro. Em entrevista, Tvfag.ilhiies comenta a ligaçào de Ney Não é a reconciliação dos homens; é a extremídade mútua, Nào a.i::vora a bandeira
Braga com o grande capital: do Evnngelho~ bane Deus da alma. e das rei\mdicações do povo. ~ão d.i tréguas à
ordem. Não conhece a liberdade ccistà. Díssoh-eria. a sociedade. E.\.'ttllguiria a religiào.
(- ..) o Ney cada vez mais está se ligando no grande ernpresarüdo, ao grande e.apitai Desumanizaria a humanidade, E \-erteria, subn:rteri.a, inverteria a obra do criador.'
nncional e intemaci~n::il, a grande política econômica fed~m.l e tudo mais. O Neré cada _--\ tentativa de nova inYersio de ,-alares d:t sociedade brasileira iria' acontecer anos
vez mais o capitalismo moderno e o outro lado é cacL:i vez mais o capitalismo antigo maís tarde, quando uma outra ameaça de sub,·ersão desejava apagaras sentimentos
doParani Isso le,·a a uma cisão e faz com que oCanetsaia do PDS, vá para o pp e por de quatro séa.dos de formação cristâ do pO\'O brnsileiro.•-\ con~piração, que se
essa via acabe no P,\IDB (...) (IP.IBDES -SOBRE POLÍTIC.\ P.\JUN.IBNSE, teceria com os fios da demagogia delirante e das pregações desagregadoras, foi
ENTREVIST.\S. Curitiba, 1989a, p. 165). desmantelada em março de 1964, e a nação, para sua felicidade, reentontrou-se com
os valores que estão no berço de sua história.
.A burguesia local visaria "manter uma parcela de autonomia e poder diante Reafirmamos aqui que o sangue derramado em 1935 vale, sim, co~O um constante
de um padrão de acumulação capitalista onde seu papel ·vinha cada vez mais brado de alerta.. , rale, tunbém, para reafumannos e fortalecermos a S09ec!ade brasileira
perdendo espaço para o grande capital- estrangeiro ou não - ou para as frações que sejamos sob o primado dos ideais de justiça e de liberdadé. Os e.-xtremistas de
a ele associadas ou subordinadas" Ç\HG.-\LH.IBS FILHO, 1999, p. 171). Como já todos os matizes, que se alimentam no ódio e na .iolêncía, mudam de titica e até de
referido na citação da entrevista acima, 1faga.lhàes explica a ida de Jayme Canet nome, rpas nem por isso dei.xam. de ser menos insidiosos e tenúveis. Trazem na
para o Partido Popular, tendo em ·vista es·ses diferentes interesses, boca mensagens de democracia, mas as suas ntlos estão sempre prontas para o
estrangulamento da liberdade.
~-\ facção liderada por Canet reunia grande parte dos capitais locais, principalmente em (-.,) Estamos e estaremos com o nosso chefe da nação, PresidenteJoão Figueiredo, que
setores onde o grnnde capital ainda não havia entrado ou apenas começava a fazê-lo, estende suas màos aos que querem construir um.1 sociedade mais jus~, mais humana.
e que incluía empresários de setores como o industrial, o grande e médio comércio, a (.,.) Cremos em uma sociedade tine, cremos na pessoa humana, cremos nos valores
construção civil e a engenharia de. obms .•-\inda que seja di.fiàl comprová-la, a hipótese espirituais e na transcendência do homem. É por estas crenças que não acreditamos
mais provável é que essa tenha sido a razão principal da criação do Partido Popular no nas soluções materialistas e r:1dicais, estas são o esconderiJo dos negativistas.
Paraná, com a saída dessa facção do PDS, e sua posterior incorporação ao P?-.IDB. O exemplo de trinta e cinco está hoje e sempre preserite. Por isso nilo ouvimos os
Com efeito, o grande capital era tido como ameaça por ambos (Ibidem, p. 172). que pregam a desagregação da familia brasileira,
É chegado o tempo da maturidade na. qul.l as idêias prevaleçam pelo ~eu valor e não
Façamos agob uma breve pausa na discussão destas articulações políticas, pela força e para isso que trabalhamos com amor e dedicação.(...) 9='L-IBlO DO
para a consideração de um discurso de N ey Braga, realizado em novembro de P.~ill.\,28no<c/l979,p. 8).
1979, guando de sua participação na so1enídnde ei::n homenagem aos mortos na
Intentona Comunista de 1935. Em sua fala, Ney Braga reítera suas críticas ao Após verificarmos o discurso de Ney Braga em favor da libe!dade e da
comunismo, aos extremístas, e declara seu apoio a Figueiredo: justiça, mesmo diante de todo o período autoritário imposto 'à. sociedade

382 383
brasileira, com a efetiva participação desse ator p6lítico, voltemos às nossas para disputar às eleições para o Executivo Estadual. Ele tambéffi foi chamado a
tramas político partidárias. Jayme Canet e Affonso Camargo resistem às pressões Brasília, em maio, onde se encontrou com os ministros i\fári? Andreazza do
e ncabam criando o Partido Popular no Paraná, enquanto Ney Braga e Paulo
Interior e Leitão de .Abreu, Chefe da Casa Cívil. O governo /ederal procura
Pimentel ficam juntos no PDS.
· tonvencer Paulo Pimentel a voltar ao PDS e apoiar os canclidat0;s do partido nas
Na campanha eleitoral de 1982 (güvernador do Estado, parte do Senado, eleições no Paraná. Na ocasião afirmou:" ... se ajustiça Eleitoral ~ntender que sou
deputados estaduais e federais; e vereadores), tem-se a ?-lsputa entre algumas
inelegível pelo PTB, não me restará outro caminho, alêm de pleitear a minha
lideranças da e.'-;:tint-i Arena paranaense. Jayme Canet seria candidato ao governo do
reeleição para a Câmara Federal pelo PDS" (O EST_\DO DO P_.\R,-lli..Í, 27 maio/
Estado pelo PP, enquanto que Paulo Pimentel chegou a sair do PDS, no final de
1982, p. 1). lvfas se assim o for, diz que também defenderia juÓto aos eleitores
1981, e a ingressar no PTB38, buscando urna legenda para sair candidato também
que eles não votassem nem em Saul Raiz e nem em Ney Braga, Os meios de
ao governo do Est1do, tendo em vista que a tese da sublegenda fora derrotada no
comunicação de propriedade de Paulo Pimentel tecem críticas:~ Ney Braga e,
Congresso Nacional, e no PDS ele não teria espaço para sair candidato. .As pesquisas
principalmente., a Saul Raiz. Quando de sua reunião com o mi~istro Leitão de
eleitorais colocavam Paulo Pimentel numa posição tnuito boa, mesmo com a
.Abreu> Paulo Pimentel teria deb;;ado um programa oó.de fazia a.Igtimas exigências,
indefinição de sua candidatura. Saul R'UZ, ex-prefeito de Curitiba, já era o candidato
tais como: o adiamento da Convenção do PDS, segundo ele já rtjarcada por Ney
da preferência de Ney Braga. Este comenta a saída de Paulo Pimentel do PDS:
Braga e Norton ?\Jacedo; que o governador Hosken de Nov~es presidisse a
Convenção com isenção; e que fosse permitido à corrente liderada por Pimentel,
Ele participou da fundação do próprio partido, sendo,ioclusi-ve, membro da executi,'a
de bnçar um candidato ao Senado em sublegenda (Op.Cit.: 2). Ainda em maio,
nacional. Dentro do Estado temos respeitado a sua fÍroclamaçào como posrulante
N ey Braga afirma que Paulo Pimentel tem todo o direito de disputar a Convenção
da. candidatura ao governo estadual, O que n:io podemos fazer, de maneira alguma,
é antedpar o resultado da convenção, na qual participarão centerias de pessoas. Isto do PDS: 'Tufas não abro mão do meu apoio à candidarura de Saul Raiz. Como
seria absolutamente ancidemoc.cicico e inaceitável (QUE?\IE-\RA.N.-\, 1.~ Quinzena apoiei Paulo Pimentel em 66 e Canet Junior posteriormente, quando as.sumi
nov./1981, n. 0 54, p. 13). compromissos com eles. Agora assumo e cumpro o compromisso com Raiz"
(O EST-IDO DO P.\R-\NA, 28 maio/1982, p. 2) .
Ney Braga dei.."'i:a o governo do Estado no dia 14 de maio para. fazer sua .As convenções do PDS e do PTB estav-am marcadas para o mesmo dia, 6
campanha ao Senado, assumindo em seu lugar o vice-governador, José Hosken de junho, sendo que a Convenção do PTB lançaria a candidatura de Paulo Pimentel
de Novaes. ao governo do Estado, No entanto, poucos dias antes, Pimentel solicita ao
O deputado federal Paulo Pimentel encontra dificuldades junto à justiça presidente do PTB para que o partido adíasse a sua convenção. AJém disso, pede
eleitoral para efetivar a sua candidatura ao governo do Estado pelo PTB, tendo em o cancelamento da ~utorização que dera ao PTB para b.nçar s~u nome como
vista a sua transferência do PDS para o PTB.' Só no final de junho é que o Tribunal candidato ao governo do Paraná. O PTB'en'tào resolve adiar a sua ~onvenção para
Superior Eleitoral dá parecer favorável à filiação de Paulo Pimentel no PTB. O julho.Antes da Convenção do PDS, Paulo Pimentel esteve novamente em Brasília,
certo ê que Paulo Pimentel estava tentando se tornar o candidato do governo onde voltou a se reunir com os ministros Leitão de Abreu e :tvlário Andreazza.
.Além disso esteve com os ministros Delfim Neto do Planejamento e Abi-Ackel
da Justiça. Estes lvfinistros procuraram convencer Paulo Pimentel a se reconciliar
com o PDS paranaense (O EST.IDO DO P_\R-\NA, 4 jun./1982, p. 3).
11
Interessante notu: que Anibal Khoury, que era na época o Secretiào Geral do PP, é um dos Saul Raiz, candidato de Ney Braga, não tinha experiência eleitoral e não era
arcicubdores eh saída de Paulo Pimentel do PDS e de seu ingresso qo PTB.
muito popular. Durante o período e~ que foi prefeíto de Curici~a, entre 1975 e
384
38S
1979 (indicado por Ney Braga), teve uma série de problemas na periferia da desejava disputar na convenção a p~ssibilidade de ser o candida~ ao gm'erno
cidade, com movimentos populares, principalmente sobre questões habitacionais. do Estado, acabou por desistir de disputar a convenção. Preferiu s~ candidatar à
Embora tivesse bom trânsito no PDS, tinha sérios atritos com Paulo Pimentel. .Assembléia Legislativa. Na Convenção do PDS, que foi um espetác~o que reuniu
O governador Ney Braga novamente foi buscar Saul Raiz em São Paulo, algumas milhares de pessoas, teriam direito ao voto 403 cdnvencionais.
trabalhando na 1<labin. Pretendendo fazer dele seu candidato ao governo do Compareceram 383 convencionais, sendo gue a chapa de Saul Raiz e João Paulino,
Estado, Ney Braga institui para Saul Raiz, ainda ei:n 1981, a Secretaria de Est"tdo candidato a vice (ex-prefeito de t-.faringá) recebeu 377 votos favorá~eis. Foram 5
Extraordinária para Assuntos de Desenvolvimento dos lvfunicípios. Sau.1 Raiz yotos nulos e 1 voto em branco. Ney Braga gue pleiteava sua c1ndidatura ao
assume a secretaria no dia 23 de feyereiro de 1981. O ato de posse é marcado Senado, recebeu o voto de todos os convenciona.is presentes (O ~T.illO DO
por uma grnnde cerimônia, deí.,::ando claro na época, quem seria o candidato de P.\IL\N}1 , 8 jun./1982, P· 1 e 2). No mesmo dia houve um encci~tro entre as
Ner Braga ao governo do Paraná. Na posse estavam presentes o 1\:finistro do lideranças do PTB, momento em que foi decidido adiar a convenção do partido
Interior, Iv!ário . .-\ndreazza, o Secretário dos Transportes Elíseu Rezende, 0 para 11 de julho. Paulo Pimentel esteve presente ao cnçontro e fez a seguinte
presidente do Banco Nacional da Habitaçào,Joào Lopes de Oliveira, o presidente afirmaçào: "1'.fais uma vez est.1o querendo barrar os meus passos, como fizeram
da Empresa Brasilei.rn de-Transportes Urbanos,Jorge' Franciscone, o Secretário- em 1974, quando eu quis ser candidato a senador e fui vetado", E continua:" ...
Geral da Sarem, Pedro Paulo Ulysses, além do presidente da Caixa Econômica em 1978, fizeram o possível e o impassível para impedir a minhn reeleição à
Federal, Gil 1íacieira. Também estavam presentes Karlos Rischbieter, Diretor da Câmara Federal; não conseguiram e fui o deputado mais votado" (ibidem) p. 1).
Voko do BrasR o prefeito de Cu.citibaJ:úme Lemer, deputados federais, deputados No dia 9 de junho, Paulo Pimentel dá uma entrevista à televisão, tecendo
estaduais e prefeitos, dentre outros. Compareceram cerca de 500 pessoas à Posse críticas a Ney Braga e afirmando que, ou seria candidato ao gover~o do Estado
de Saul Raiz. No ato também foram assinados diversos convênios entre o Governo pelo PTB, ou nào seria candidato a nada. Durante a entrevista1 falan~o sobre Ney
Federal e o Governo Estadual, para a e.'i'.ecuçào de diversas obras, tanto na Região Braga, afirmou:
1fetropolitana de Curitiba, 9_uanto nos municípios do interior. Recursos federais
também foram repassados ao governo do Estado durante a cerimônia. Ou seja, .\choque no íntimo ele lembra um pouco o e.\'.-ditador da Nicarágua, .\nastasio
Somoza, que certa vez ao visitar a Flócida (EU-\), encontrou-se: com wn venezuebno,
Ney Braga fez da posse de Saul Raiz um grande acontecimento, dando visibilidade
que lhe perguntou se ele era da Nicarágua ..,:\. sua resposta foi breve e dêsconcertante:
e importância à nova secretaria e a seu titular (O EST.-\DO DO P.-ill.-\N.-\, 24 fev./
'No, Nlcarágua és mia'. É por essas e outras que eu vou enfrentar esta eleição, que sem
1981, p. 3 e 11 ). Nesta Secretaria, Saul Raiz teve a oportunidade de trabalhar a sua
dúvida vai determinar a apose:ntadocia de políticos apegados a métodos autocitár:ios,
candidatura ao governo do Estado. Ney Braga diz que esta Secretá.ria "Foi uma
que sempre quiseram impor os seus interes.ses à revelia do povo (O EST.illO DO
verdadeira agência de desenvolvimento, através da qual repassamos volumosos
P.-ill.-\N.\, 1 O jun./1982, p. 2).
recursos que propiciaram a execução de mais de 3 mil obras de grande interesse
para as comunidades do interior" (BR.\G.\, 1996, p. 283). Em entrevista, Ney Declarou ainda que considera inviável a pretensã~ de Ney Braga em eleger-
Braga concorda que esta secretaria teria dado condições para que Saul Raiz fosse se senador e em seguida pleitear a sua candidatura à presidência da República.
candidato. Ney afuma que "Deu condições em razão do nome que ele já tinha,
mas somou com essa condição de Secretário do Desenvolvimento dos Esta é uma tentativa de sugestionar o povo, mas o povo não acreditani, nem votará
Municípios" (Ellil.\; SEB.\STI.-\NI, 1997, p. 40). nele, porque sabe que Ney não tem nenhwna chance. O próximo presidente ainda
A Convenção do PDS se realiza no dia 6 de junho. O ex-prefeito de será eleíto pelo voto indireto e a escolha será restrita entre os m.ini5tros Mário ,,
1
Londrina, Antônio BelinatLi que vinha criticando Ney Braga e seu candidato, e .A.ndreazza, que está cotadíssimo, Délio Jardim de f\-Iattos, Otávio Á-\ugusto de f

386 38i
:.\Iedeiro5 e o presidente da Eletrobrás e da Itaipu Binacionalj Costa Cankanti. Ele o cnndidato do PZdDB. Desta forma, antigas lideranças da Arena, como Jayme
promete muito, mas o po,To jâ sabe que ele não fari nada. Nós não prometemos Canet e Affanso Camargo, estão juntas, no mesmo partido de J~sé Richa e de
' .
nada, mas o poro sabe que pode confu.r em Paulo Pimentel (.,.) (Ibidem, P· 2). Áh·aro Dias. E participam das eleições, contra o candídato do PDS, apoiado por
Ney Braga e Paulo Pimentel. Depois da frustrada: tentativa de Viabilizar a sua
hfas Paulo Pimentel passou a considerar dificil manter a sua candidatura ao candídatura, Paulo Pimentel passa a participar acivame.[ltC da ca~panha do PDS
governo do Estado pelo PTB, tendo em vista a fragilidade da estrutura do partido
no Estado. Participa de comícios com Ney Braga, com· Saul ,.R.1iz e com o
para sustentar uma-candidatura majoritária, e o critério da vinculação dos ,+atos.
prefeito de Curitiba, Jaime Lerner. Este também participa ~tivamente da
Na segunda guinzena de julho, Paulo Pimentel anuncia a sua desistêncL, de sair
campanha de Ney Braga e de Saul Raiz. Lerner3') cria a prefeitura itin'erante e
candidato pelo PTB, declarando:
passa a atender nos bairros da cidade; inaugura obras com Satll Raíz.4° e faz
propaganda na mídia apoiando aguelas candidaturas.
(-..) não seria coerente continuar participando de um processo político tão vital
Os candidatos do P;.\IDB eram o senador José Richa para o governo do
para a democracía, sabendo, de antemão, que o desejo do povo não poderâ ser
respeitado, pois o resultado das umas de nm"embro j~ais representará a legítima
Estado e .Álvaro Dias para o Senado. José Rícha foi Secret.'lrio e Presidente da
União Parnnaense dos Estud'lntes. Formou~se pela Faculdade de Ódonto_logia da
preferência do eleitorado, em face das regras imposta5 pelo go,·erno, entre elas,
principalmente, a surpreendentemente e absurda v-inculaçào total de votos UFPR e frequentou a Faculdade de Direito de Curitiba e a Faculdade de Gências
(OEST.IDODOP.\R.\N.-Í,21 jul/1982,p. l). Econômícas do Paraná. Foi membro da Jm.,.entude Democrática ~ristà do Brasil,
tendo sido presidente e vice-presidente do Comitê :tvfundial dessa entidade. Ingressou
Ney Braga precisava do apoio de Paulo Pimentel aos candidatos cb Arena, no PJ.rtido Democrat'l Crist'lo e ocupou o cargo de subchefe da ~asa Civil entre
principalmente com a ~gilidade da candidatura Sau1 Raiz. Samuel Guimaràes da 1961 e 1962, no governo de Ney Braga, e ainda o cargo de chefe do gabinete da
Costa afirma gue ''Ney Braga promoveu a volta de Pimentel e sua integração, Secretaria do Interior eJustiç~ em 1962. Em outubro de 1962 foi eleito depurado
absolutamente inautêntica, à campanha do PDS ·sob a forma de apoio à chapa federal pelo PDC, com o apoio de Ney Braga. Quando este apóia a candidatura de
Saul-Ney, nessa altura já condenada" (COST.\, 1984, p. 36). Paulo Pimentel foi Paulo Pimentel em 1965, contra o pedecista Afonso Camargo,José Richa vai se
novamente convocado à Brasília e, no dia 16 de agostoJ esteve em reunião com distanciar de Ney Braga. Com a implantação do bipartidarismo, ingr~ssou no 1IDB.
o presidente Figueiredo, na qual também participaram Saul Raiz e Ney Braga. Em 1966 foi reeleito, agora pelo MDB. Em 1972 foi eleito prefeito _de Londrina e,
Figueiredo procur:avn convencer Paulo Pimentel a apoiar os candidatos do PDS em 19781 foi eleito senador pelo Paraná. Com a reforrnuhiçào partidária realizada
no Paraná. Ao sair da reunião, Pimentel disse que não poderia ficar indiferente ao após o fim do bipartida.rismo em 1979, manteve seu vínculo com o 1IDB, que
apelo do presidente (OEST.IDO DO P.\R.-\N.-Í, 17 ago./1982,p. 1). No dia seguinte,
a Comissão Executiva do PTB se reuniu e decidiu pela expulsão de Paulo Pimentel
do Partido. No dia 18, Paulo Pimentel disse que dei."\:ava o PTB e gue passaria a
apoiar os candidatos do PDS. Y1 Jllmc Lemcr, cm conúcio realizado em Curitiba pelo PDS, afirma.: "Esta quilicbde de vida que
A candidatura'de Jayme Canet, como a de Paulo Pimentel também não se Cucitib:i jâ :1.kl.nçou, CuribÔil não pode perder, porque Curitiba vai ganhar com Saul Raiz para o
got·crno do Esta.do e Ney Braga para o Senado". Neste conúcio ainda estavam presentes o
mantém, visto que as lide.ranças do Partido PÜpular e do Partido do t.Iovimento
Presidente figueiredo, Ney Bragn., Saul Raiz e Paulo Pimentel (O EST:\D0 DO PARANÁ, 9
Democrático Brasileiro, tanto no âmbito nacional quanto no âmbito .regional, nov./1982, p. 1).
articulam a incorporação do PP ao Pl-.IDB. Com esta incorporação, realizada ""'-' S:tul R:dz fab cm discurso de ca.mpanh:i que,. se- eleito, manteria Jaime Urnc~ na prefeitura de
em 1982, ano da eleiçào,Jayme Canet e Affonso Camargó passariam a apoiar Curitiba (O ESTADO úo PAlL-\NA, 9 nov./1982, p. 9).

388 389
passou a ser P:\!DB (DICION.-ÍRIO HISTÓRICO-BIOGR.-\FICO BR.\SILEIRO 1984 de caráter. mais popular, enquanto Saul R'Uz era um tecnobur6crata. Um ·outro
' ,
P· 2983). Álvaro Dias também foi lider estudantil, na Universidade Estadual de aspecto que pode ter contribuído para a derrota do PDS nestas eleiçàes, foi o
Londrina., no final dos anos 1960. Formou.se em 1967 na UEL, e candidatou-se à caráter essencialmente têcnico do governo Ney Braga. Norton :r,.,racedo, uma das
Câmara Municipal de Londrina em 1968, pelo i\IDB, sendo eleito. Em 1970 elegeu- expressões do neyismo comenta: (tFoi o governo t1cnico e, ,;por ter sido um
se deputado esttdual; em 1974 foi eleito deputado federal. obtendo a maior votaçào governo técnico. takez tenha sido prejudicado politicamente, pOis tecnicismo do
no Estado; em 1978 foi reeleito para a Câmara Federal (CORREIO DE NOTÍCL-\S, governo foi esse exagero técnico do governo. (... ) Se tivesse ~ido um governo
18 nov./1986, p. 20). mais político, menos têcnico, tahrez o resultado das eleições de 82 foSse outro"
Os candidatos do P;\IDB tinham a seu favor a conjunrura nacional. pois (IP.-\RDES-SOBRE POLÍTIC..\ P.-\R.-\N.-\ENSE; ENTREVIST.-1~, 1989a, p. 242).
nesse período o país passava por forte crise econômica e social. Esta crise Ney Braga, candidato ao Senado, pretendia ainda, se eleitb, tentarv-iabiliza.r
desgastava tanto o governo Figueiredo quanto o governo local de Ney Braga e, a sua candídatura para a presidência da República, um velho sonho que ainda nào
consequentemente, o partido do governo. Além disso, o nome que Ney Brai,i tinha sepultado.. As eleições seriam um teste para aquela pretens~o. Quando esteve
escolheu pn.ra ser seu candidato ao governo do Estado, era um tecnoburocrata, em Porto Alegre em agosto de 1982, para receber o titulo~ 2 de 1~outor Honoris
que tinha sido prefeito indicado de Curitiba, mas que nào manteve boas relações Causa" da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (pela süa attiaÇào rio
com os setores popuhres. Chegou a ter a sua aposentadoria questionada durante 1Iinistério da Educaçào), Ney Braga afirmou que a sua candiµarura ao Senado
a campanha. Ou· seja, Saul Raiz não tinha o perfil de um político popular, que seria um teste fundamental para ele chegar à presidência da República em 1986
pudesse superaras dificuldades apontadas acima, Diferentemente do que aconteceu (G.\ZET.\ DO Prn·o, 25 ago./1982, p. 6). No ent,nto, esta eleição de 1982 -

em Santa Cat'll1.na, em que o candidato do governo, Espiridiào .Amin, foi sendo realizada em um período em que Figueiredo dá prosseguimento ao processo de

preparado pela oligarquia cat'll1.0ense.i. 1 para enfrentar as umas de 1982. Entre redemocratização do país -, marca o declínio político de Ney Braga, pois o PDS
perde as eleições para o P~IDB . .A ditadura militar vai chegando ao fim, e Ney
março de 1975 e março de 1979, .Amin foi prefeito de Florianópolis e
Braga acompanha o seu declínio.
implementou, ~e certa mane.ira, alguns programas de atendimento às necessidades
das camadas populares, nào construindo, porém, qualquer alternativa popular de
gestào do município - o que não era de seu interesse -, e sem que isso
comprometesse seu vínculo com a ordem. Posteriormente, elegeu-se para a
~ Durante ,ma tr.1jctõrí.a. politic:i, Ncy Br.iga recebe uma série de tínúos e condecor.ições. \"ejamos:
Câmara Federal e manteve um programa semanal na televisào. No governo de
Grande Oficial dJ Ordem do ;\fé-rito Naval; Grande Oficía.1 da Ordem do Mérito t[ilitar; Grande
Jorge Konder Bornbausen (1979-1982), Amin ocupa a Secretaria de Transportes Oficial da OrJem do ~íérito ..\eronáutico; Grande Oficial da Ordem Rio:Branco; Gcl-Cruz da
e Obras, a que mais verbas recebeu. A sua C?ffipanha para o governo do Estado Ordem do 0[érito Judici:irio do Trabalho; Medalha de Guerra; Medalha ~lilitar, t-Iedalha u~larechal
Hermes"; Mctlalha tio PJ.cific:idor; Ordem do ;\Iêrito Tamandaré, da Marinha do Brasil; Sócio
se deu em tomo de sua uopçào pelos pequenos", A idéia de que os pobres
Benemêrito de v:i.rios clube", inclusive do Clube M.iliw (um dru poucos com tste título); Cav:i.lhdro
preásam de um protetor (AUR.-\S, 1991). Ou seja, Amin tinha um perfil politico da Ordem de Isabel,.:\ C:itólica (Espanha); Comendador da Ordem Militar de Cristo (Portugal);
Grã.Cruz da Ordem Nacional do ;\Ierito (Pa.ragu:u); Gcl·Cruz do Gcio DuCldo de Lu."\emburgo;
Grã.Cruz da Ordem de Or:inje N:1.ssnu (Holandn); Grande Oficial da Ordem de Bernardo
O'higgins (Chile); Doutor Honoris C-a.u:.:1. da seguintes: universidades: Unlversid:ide Federal do
Pa.ran:í, UnivcrsidaJc Fcdcfll de :\htgoas, Universidade. Federal de Viçosa, Universidade Fede!:il
de Pclota.s, Univcrúdadc Católica de Pclotas, Universidade Federal de San ln Maria, Universidade
ii Formada pelas duas fucçõcs: familia Ramos e familia Konder-Bomhausen. Os dois últimos Fcdenl do Rio de Jane-iro; .-\dvisor of Honor da "lntern-a.tional As:mciation of University
governndores de Santa Catarina pertenciam à facção Konder-Bornhnu5en (os primos Antônio Presidcnts- L-\UP"; Cidi.dão Honocirio de quase dua:.: centenas de muni.ápios do Paraná e de
Carlos Kbnder Rcis e Jorge Konder Bornhnusen) (AURAS, 1991 1 p. 10), outros fut:1dos (BIL\G.-\., 1996).

390 391
substitUJdo, mesmo que por uma equipe toda e um estilo novo d~' governo ... , foi
Essa eleição teve os seguintes result1dos para d governo do Estado: Jásé
Richa (P;\IDB) obteve 53,50,'o dos votos; Saul Raiz (PDS) teve 35,2%; Hamilton duro imaginar wn Paraná sem Ney, e doloroso para aquele que foi um dos últimos
Magalhiies (PTB) teve 0,9%; Edésio Passos (P1} teve 0,4%; Edson Sá (PD1) teve caciques politicos deste País 'ficar sem o Par;má. O Paraná sem ~er fica com um
0~2%; sendo que 7,5% foram votos effi branco e 2 13% foram nulos, Para imenso vácuo, que não deve ser preenchido nornmente por :um só homem
0
Senado da República o resultado foi o seguinte: ..Álvaro dias (PMDB) teve 51,5~/ (O EST.-\DO DO P.-\R.-\N.-Í., 18 no,·./1982, p. 4).
0

dos votos, enquanto que Ney Braga (PDS) obteve 35,4% (RESULT.-\D0S
ELEITOR.-\IS, P.-\R.-\N.-Í. - 1945-1982 - IP.-\RDES). no Estado do Paraná" dest:ica neste seu editorial, c,omo que o poder
De acordo com Francisco l\f. Paz, o fato destas eleições serem marcadas exercido por N ey Braga no Paraná, e as suas relações com o seu grupo político,
pelo voto vinculado (definido politicamente pelo governo Figueiredo), ou seja, eram marcados pelo personalismo político. N ey Braga era o chefe político. Ele
0
voto que deve ser dado sempre ao mesmo partido nos vários níveis eleitorais próprio afirmava: "No meu exército, o único general sou eu" 0'EJ.\, 5 abr./
acabou por contribuir para a candidatura de Álvaro Dias, pois as pesquisa: 1978, n.º 500, p. 32). Ou seja, no decorrer de sua influência política no' Estado,
apontavam um bom desempenho de Ney Braga. Álv:uo Dias, que já era um
sempre trabalhou para evitar o surgimento de lideranças que pudessem ameaçar
candidato forte (pois tinha tido um desempenho m'uito bom em eleições
o seu comando político.
anteriores), se fortalece com o voto vinculado, pois José Richa tornou·se o favorito
na eleição pata o governo, enquanto Saul Raiz tinha wn desempenho apenas
5.2 A FO!lliL-\.ÇÀO D,-\. FRENTE LIBERAL
razoáveL prejudicando a candidatura de Ney Braga (P.\Z, 1990, p. 53).
Apó_s as eleições, Ner Braga comenta a sua derrota em entrevista:
Durante a campanha das Diretas-já, em 1984, Ney Braga m~teve-se à parte
"O Paraná disse nào ao sonho da presidência da República, e eu acabei com esse
do processo, em silêncio. Em um comício realizado em Cur:itiba 1 no dia 12 de
sonho" (O EST.-\DO DO P.-\R.\N.\, 17 nov./1982, p. 2). E sobre o governador
eleito, diz: janeiro, estavam presentes os governadores Tancredo Neves, Franco :tvfontoro e
José Richa; e ainda Ulysses Guimarães, Jaymc Canet e Affonso Camargo. Este
passou a ser o Secretário-Geral do P;\IDB. As eleições para a pres.idêntja da República
Richa, quando s:tlu, o fez pela porta da frente porque discordou de meu apoio a
Paulo Pimentel para o governo do Estado, em 1965, Ele tambêm divergiu de Jayme
seriam indiretas e, mesmo com a forte campanha realizada pelas oposições em
Cane.t Júruor, um dos responsât'eis pela candidatura de Pimentel naquela época. Só favor de eleições díretas, estas não foram apro,·adas pelo Congresso Nacional.
não entendo, hoje, a junção desses dois blocos (Ibidem, p. 2). Dentro do PDS, vá.rios nomes estavam dispostos a disputar, as prévias do
partido p:ua a definição do candídato à presidência da RepúbliCa, dentre ~les
Ou seja, a junção entre José Rícha e Jàyme Canet/Afonso C:uruu:go. Dos Paulo 1v!aluf, Aureliano Chaves e f',[ário Andreazza. Ney Braga se tomou um dos
que considera desleais, afirma: '½lguns comem, comem no governo, ficam gordos principais coordenadores da campanha de Aureliano Chaves, e~quanto f'aulo
e viram o cocho" (Ibidem, p. 2).
Pimente~ então presidente Regional do PDS, era o coordenador da campanha do
Em editoáal do jornal "O Estado do Paraná" comenta.se a derrota de Ministro do Interior 1'!árioAndreazza. Posteriormente Aureliano Chaves irá desistir
Ney Braga.
de sua candidatura e, juntamente com ifa.rco l\faciel. articular a criação da Frente
Liberal, uma dissidência do PDS, A criação da Frente visava apoiar a possível
(...) no caso do bragui:iimo, os cacoetes, como o comando, eram personalíssimos,
candidatura ·de Tancredo Neves (candidato dos oposiçàes) no Colégio Eleitoral;
impedindo a manutenção de qualquer traço própào de estilo ou até de personalidade
~bém visava a formação de um novo partido politico.
aos componentes do grupo. (.. ,) parece justo esperar que Ney Braga seja devida.mente

392
393
Em encontro do PDS paranaense, em que estiYeram prese~tes prefeitos,
'
Com a desistência de Aureliano Chaves em disputar as prévias do PDSi e com~-
a articulação cb Frente Llbernl, Ney Braga passa a permanecer mais tempo em Curitiba, vereadores, deputados estaduais e federais, o deputado fededl José. Carlos
também para artirular a criação d1 Frente Liberal no Estado. Est:n sua participação na l\fartinez (que era malufista) criticou a postura de Ne:; Brnga e dos dissidentes do
dissidência do PDS e na form,1çào d'l Frente Llberal se deve funda.mentalmente à PDS: ''Não admito que se venda o partido por meia dúzia d~ traidores" .
ligação de Ney Braga com o vice·presidente Aureliano Chm~es. ...\ssim como Ney Perguntado quem seriam estes traidore$, afirma: <' ... tenho que adn:'utir e afirmar:
Braga, Aureliano Ch:wes (um civil) também era vinculado a Geisel E este apoiava a o ex·governador Ney Braga está nos traindo com o P1.IDB. Traindo os que estio
candidatura de Aureliano Chaves nas prévias do PDS. Em julho de 1984, ao tecer trabalhando pelo PDS. Eu nào aceito ser entregue n.o ad\·ersci.rio" (CORREIO DE
comencirios sobre um encontro entre Figueiredo e Geis~ Ney Braga reafirma a sua NOTICL\S, 13 jui./1984, p. 2). No acordo feito entre a FrenteLib~ral e o rnIDB
lealdade a Geisel: "Sou amigo e permanecerei fiel ao ex-presidente Geisel... " (CORREIO
regional, ficou acertado que não se inch.1irfr1m cn.rgos na esfera regional .....-\ discussão
DE NOTÍCL\S, 12 jtu./198~, p. 2). Neste processo de di.ssidênàa do PDS e de formaç.10
se daria sobre uma participação no governo de Tancredo Neves. ? governador
da Frente Llberal, novamente se obsen"a a ímporcincia do Yínculo de Ney Braga
José Richa afirma em entrevista que o acordo nào deve passar·,por qualguer
com os Castelistas (tendo em Geisel a principal referência)t visto gue a sua tomad-i de
acerto em nível regional. Sobre a posiçio de Ncr Braga, ·o gm~ernador disse'.
posição esci referenciada por este vínculo.
"Quem mudou foi ele, não eu" (CORREIO DE NOTICL\S, 15 jul./1984, p. 2).
A bancada estadual do PDS mostra-se cont.rária a qualquer entendimento
No dia 23 de julho, Ney Braga particípou da reunião em :Brn.silia entre.
com a oposíçào para a sucessão presidencia~ tendo em vist1 o forte conflito entre
o governo do P?\IDB no Paraná e o PDS que agora era oposição. Os 24 deputados lideranças do P~IDB e os dissidentes do PDS (Frente Líbernl), que selou o acordo
estaduais do 1:DS fizeram um manifesto, mostrando-se contrários ao acordo. Parte entre ambos, momento em que se cria a Aliança Democrática, que lançará a
dos deput.'ldos federais também era contrária. Eles gueriam que a sucessào candidatura de Tancredo Neves para a presidência. Ney Braga tambêm participa
presidencial fosse feita dentro do PDS. !vlas Norton .!\,!acedo, ligado a Ney Braga e da reuniào dos membros da Frente em Brasília, para a definiçio de José Samey
também um dos articuladores da Frente Liberal e do posSível acordo com o PMDB para ser candidato à vice·presidente na chapa de Tancredo Ne\~es, e de discussões
naài~ma~ afirmou ser pouco importante a posição dos deputados estaduais,·mesmo para a formação do novo partido político. Norton l\facedo é designado presidente
porque eles não parriàpariam do Colégio Eleitoral Ao comentar sobre uma possível da Comissão Coordenadora do novo partido que abrigaria os clissídentes do
aliança com o governador José Richa, Ney Braga afirmou: "Não desminto nem PDS. Ney Braga foi um dos integrafltes da Comissào Diretora Nacional Provisória
confirmo" (CORREIO DE NOTICL\S, 5 juL/1984, p. 3). O posdvel acordo dos do Partido da Frente Liberal. Em agosto ê criada oficialmen,te a Aliança
dissidentes do PDS (que criaram a Frente) com o PldDB gerou muitas polêmicas e Democrática e é lançada a chapa Tancredo-Sarney. No mesmo mês; Paulo lv·!aluf
discussões. Em declaração à imprensa no dia 11 de julho, Ney Braga a'firmou:
derrota o lvlinistro 11ário Andreazza na Convenção Nacional do PDS, tornando-
ªO PDS fechou as portas para nós e não respeitou nem mesmo o anseio da grande
se o candidato oficial do PDS à presidência ela RepúbLica.
maioria da Nação que apoiava Aureliano Chaves". Disse que para a Frente Liberal,
Com a eleição de Tancredo Neves, Ney Braga fora indicado para assumir
o melhor caminho seria apoíar a candidatura de Tancredo Neves no Colégio Eleitoral
a Direção:..Geral da Itaipu Binacional. José Sarney que tomou posse após a
(CORREIO DE NOTICL\S, 12 jul./1984, p. 2). Dando declarações em Porto Alegre
·morte de Tancredo, confirma Ney Braga no cargo. Ney Braga foi Diretor-
no dia 12, Ney Braga volta a falar da sucessão e do PDS: "Eu não espero mais nada
Geral da Itaipu entre_14 de maio de 1985 e 31 de maio de 1990, quando o
do PDS, nem união ou novos nomes. Isso não existe, la.menta que o partido tenha
se auto·exterminado no episódio da sucessão. Aliás, me entristece que tenham novo presidente da República, Collor de l\fclo, indica outro nome para aquela
acabqdo com urna sigla maravilhosa, PDS, de democrático e soàal" (G.\ZET.\ DO função. Mas no período que vai entre 7 de maio de 1993 e 24 de maio de 1996,

l P0\'0, 13 jui./1984, p. 7). Ney Braga foi membro do Conselho de Administração da Itaipu (O Conselho

l 394 395

l
de .Adrninistraçào da It1.ipu não tem presidente; a. cada reunião é nomeado um muito, pessoalmente, no caso da Philip !viorris e no caso da \ro}vo"+-1, empresas
presidente para presidir a reuniào/\ nas quais Ríschbieter participa como membro do Conselho, de Administração.
Nas eleiçàes para o governo do Estado de 1986, Ney Braga apoiou as Por outro lado, destacam-se alguns membros do neyismo lgue mantêm uma
candidaturas de Alencar Furtado e Jaime Lerner (como ·vice), contra a candidatura relação mais próxima com a Igreja Católica, tais como Vésp:ero :Mendes, Euro
vitoriosa do Pi'IIDB, encabeçada por )Jvaro Dias. Nas eleições municipais de Brandão e Guilherme Lacerda Braga Sobrinho, irmão de Ney Braga. Em
1988, Ner Braga e seu grupo apóíam a candidatura do deputado federal ,--\irton entrevista, Véspf'.ro i-Iendes re,rela que mantém wn bom rela~ionamento com a
:ordeiro, do PFL, para a prefeitura de Curitiba. :Mas a poucos dias das eleições, hierarquia da Igreja de todo o Paranin. Os que estavam mais próximos da Igreja
·.rês candidatos desistem da candidatura, em favor de Jaime Lemer, do PDT. eram denominados de cursilhistas, e alguns tinham um vínculo maior com a
-\.Igaci Túlio do PDT, que abre o espaço para Lerner, Airton Cordeiro do PFL, e educaçào, como é o caso dos três neyistas citados acima . .A relação de Ney Braga
) ex-Senador Enéas Faria do PTB, que concorria pela coligação entre PTB, PDC e com a Igreja-' 6 que sempre foi m~to próxima, é reforçada pelos cursílhístas.
1
DS. Ney Braga e seu grupo apóiam Jaime Lemer, contra a candidatura de l\fauricio Vejamos agora o complemento do perfil de alguns meinbros do neyismo
'rnet, do Pi'IIDB . .l\fas Ner Braga dei."i:a claro que seu voto é apenas para Lerner já referido no capitulo dois, juntamente com outros nomes.
não para o PDT. "Voto.em Lerner porque ele é o melhor candidato, o melhor S.\UL R.UZ: Em junho de 1965 dei.,ou o DER e assumiu o cargo de Juiz do
d.ministrador, mas não ,~ato no PDT. tJeu candidato a presidente é Aureliano Tribunal de Conrns do Est'ldo do Paraná; em setembro tornou-se Coordenador
:haves". E completa: "Se alguém duvida, está na hora de deixar claro; Jaime, do Grupo Executivo de Integraçào da Polícica de Transportes (GEIP01), para o
m, Brizola, não" (O EST.illO DO P.\R.\N.\, 16 nov./1988). planejamento rodoviário da regiào Sul,. convocação feita pelos ministros dos

3 PERFIL DE MEMBROS DO NEYISMO

..u Depoimento de R.ischbictcr pana Memória eh Curitiba Urb.111::i. Especial Cidude ltldustrial de
Como vimos no capítulo dois, os membros do neJismo têm um perfil
Curitiba 18 mos. Pág. 14. {.-\pud Couto, 1998, p. 61). ll.ischbieter foi acusado pelo dc-putido
arcadamente tecnocrático. Outro aspecto importante a ser destacado como Gomes do Amarn..l do PMDB-PR., em 1978, quando presidcntc'da Cai.n Econômia Federa!, de
racterística deste grupo é ~ passagem que vários deles fazem entre a iniciathil receber remuneração pela p::irticipüção no Conselho de ..-\dmín.istnçiio da Phillip l\Iorris Cia.
Brasilcin de Cigarros, cmboo tenh::i desmentido t1l .1.cusaç:ão. Outra ::icus.::ição foitt pelo dcput:ido
ivada e o poder público, circulando sem restrições entre estas duas esferas (do
é ::ide que Rischbietcr teria " ...adquirido, p~rn o Banco de Desenvolvimc-nto do P::ir:má-B.--\DEP,
:biice e do privado). Isso se verifica principalmente com três dos mais no tempo cm que o presidiu, ações preferenciais da. Phillip Marris sem direito .t voto e de valor
port.antes membros do ney:ísmo, quais sejam, Saul Raíz, Ka.rlos Rischbieter e quase idêntico ::io capital registrado e integralizado d::i empres::i (60 milh&s°), Embora neg-.issc na
mesm::i época, empréstimo:, a grupos parnnnenscs ..." (Movimento, n.º 176, 11 ::i 20 de novembro
mrício Schulman . ..Atuando no RillEP, Rischbieter foi um personagem de de 1978, p. 10 -Apud Ary !dinelb, ln: Couto, 1998, p. 61).
5taque na implantação da Cidade Industrial de Curitiba. Particípou ativamente
~, Pa.lando de seu rcl::icion:a.mento com 1l hierarquia da fgreja, .tfinna que ul id::ição se dá "Não só
trabalho desenvolvido para atrair empresas nacionais e multinacionais pa.ra a cm Curitib::i, mas no Parmá todo. E essa é uma das s::itisfuções que eu tenho: me dar bem com ::i
~de Industrial de Curitiba. O próprio Rischbieter afirma: " ... eu me empenhei hierarquia, e nào só com cl::i, m:is com os leígos também" (QUEM PAR....-\N.A, 1.1 Quinzena
nov./1981, n.º 54) .

.i(; Em entrevista de 1981, Ner Br.1ga confirma que su::i rebçfo com a Igreja é muito estrciti.
.A reportngem pergunt1: "Como é que o senhor vê hoje o papel da Igreja ~o~ a qwú teve uma
rebção muito estrciti?" Ney Br.iga responde: "E tenho, e renho.(...) Acre-dlto que a Igrej::i pensa
no pobre e eu t:unbém penso; o importante é. que estamos juntos pmque temo:, os mesmos
~fbrmações obtidas junto à Assessoria de Comunic::içào Social da Itaipu.
ideais" (QUEM PAJUNÁ, 2.' Quinzen• dez./1981, n.º 57).

396
397
Transportes e dó:PJancjamento, em convênio com o Banco ?\fundin.L Em janeiro Interamericano de Desem~olvirnento. Presidíu o Conselho de Administração da

de 1966 assumiu o cargo de Secretârio de Estado e Negócios de Viação e Obras Vo!Yo do Brasil; foi membro do Conselho de Administração da .Artex S.~'"t-, da

Públicas, no gm·eino de Paulo Pimentel, cargo que ocnpou até maio de 1967, No Refrigeração Paraná, da Apepar, e foi membro do Conselho Consultivo da ~-\.LIDE

período entre 1975 e início de 1979, foi prefeito de Curitiba, eleito pela Assembléia (LÍDERES, 1982, não paginado). Foi ainda Presidente do Conselho de

Legislativa, tendo sido indicado por Ney Brng;i.; nesse período ainda foi membro .Administração da 1IP1f Propaganda S.A., da Racimec Informática Brasileira S.~.\.;

do Conselho Nacional de Desen,;,ol·dmento Urbano, órgào do l\linistério do membro do Conselho de Adminisi:raçâo da Climas S..r\., do Banco do Brasil e da
Interior, Em fevereiro de 1981 foi nomeado pelo governador Ney Braga para Lacta S.:\., além de ter sido membro do Conselho Consultivo do Banco Bamerindus
Secretário de Estado Extraordinário pu,1 .I\ssuntos de Desenvolvimento dos (/ORN.\LDO EST.\DO, 21 jun./1988, p. 9). Tornou-se ainda membro e acionista
i\funidpios ..Até 1975 foi presidente da Companhia Brasileira de Sintéticos e da Umuarama .Administração de Bens e Participação S/~-\ (COUTO, 1998, p. 52).
Superintendente das Indústrias Klabin - Didsào de Cerâmica. A partir de março 0-t.\URÍCIO SCHUL1L--\N: Foi reeleito Diretor-Técnico da COPEL para o

de 1979, quando deixou a prefeitura de Curitiba, tomotHW Óiretor Geral da I<Iabin triênio de 1966 a 1969. Entre 1967 e 1971 foi Diretor de Gestão Empresarial da
Campo f\Iourào Agroflorestal S.A. ; Diretor Geral da :tvfadeireira I<:labin do Paraná Eletrobrás. Foi Secretário da FazCnda do Paraná de 1971 até 1974, quando assumiu
S.:\..; Diretor Geral da Klabin Boa Vista Rural; Diretor da I<Iabin Cerâmica S._-\. e a presidência do BNH (Banco Nacional da :Habitação) no governo Geisel. Em 1979
presidente da Companhia Brasileira de Sintéticos (BIBLIOTEC-\ PÚBLIC-\ DO dei..-...:ou o BNH e assumiu a presidência da ELETROBIL-\S, no governo f""lgueiredo.
P.\R-·\N_\, Curitiba) (PANOR_\~L-1, fo·J1966, n. 165, p. 65). Atuou também nas
0 .Ao deixar a presidência da ELETROBRAS em setembro de 1980, assumiu o cargo
empresas Refripar e Clímax. Passou ainda a ocupar o ~argo de Vice-Presidente de Diretor-Coordenador de quatro empresas de crêclito imobiliárío do grupo
Corporativo do Conselho Administrativo da Urnuaram:1 Administração de Bens e Barnerindus, passando inclusiYe a integrar o Conselho Diretor do B~nco Bamerindus
Participação S/~l, empresa na qual também era adonista (COUTO, l 998, p. 52 e 62). (DL-\R!O DO P.-\.R--\.N.-\, 15 mar./1974, p. 9) (DIC!ON..\.RIO H!STÓRJCO-
K.W.LOS HE!NZ RISCHBJETER: Na CODEPAR exerceu as funções de B!OGR--\FICO BR-·IS!LE!RO, 1984, p. 3118). Em dezembro de 1994, Maurício
Chefe de Setor de Projetos,DiretorAdministrativo, Diretor Presidente em e.....-erddo Schulman, ocupando a Presidência do Conselho de Administração do Bamerindus,

e Diretor Financeiro; foi Diretor da CODEE.\R-Créditos Financiamentos e assume a presidência da FEBR:\R.\N - Federação Nacional dos Bancos (G~-\ZETA
Investimentos; e assessor econômico do governador. Foi membro do Conselho DO PO\'O, 9 dez./1994, p. 17). Também em 1994 assumiu a presidência do Consefüo

Consultivo de Planejamento do Rio de Janeiro (Cosplan); assessor da presidência .Administrativo da Companhia Siderúrgica Nacional após a sua privatização
do Instituto Brasileiro do Café também no Rio de Janeiro. Posteríorrnente, foi (O Bamerindus havia assumido urna participação nesta empresa). Tornou.se acionista
chefe do Escritório do IBC cm Hamburgo, Alemanha. Foi presidente do R\DEP e Conselheiro Administrativo da Umuarama Adt_nínistração de Bens e Participações
(Banco de Desenvolvimento do Estado do Paraná), nos governos de Parigot de Ltda, juntamente com Karlos Rischbieter e Saul Raiz. Em 1996 foi escolhido pelo
Souza e Emílio Gomes; foi membro do Conselho Adminístrativo do Banco jornal Gazeta 1vfercantil como o líder setorial de maior destaque da área financeira
Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul (BRDE) e do Conselho Rodoviário de todo o Brasil. No ano seguinte integrou o Conselho de Desenvolvímento

do Paraná. Foi Presidente da Caixa Econômica Federal; presidente do Banco do Estratégico da Inepar (um dos maiores grupos privad.os do paísy gue integra um
Brasil durante o governo Geisel e foi !vfinistro da Fazenda no governo Figueiredo, grande número de empresas que atuam no ramo energético) ao lado do ex-Vice-

entre 1979 e 1980 (DLÍ.RIO DO PAR-\N.-\, 15 mar./1974, p. 9) (SENHOR, jan./ Presidente Aureliano Chaves (COUTO, 1998, p. 52-53 e 62).

1980, n.º 22, p. 48). Foi Diretor Gerente da Paraná Comércio e Administração; REINHOLD STEPH.-\.NES: Fez o curso de Política e Prog,amaçào

Presidente da ~-\LIDE (Associação Latino-Americana 4as Instituições Financeiras Econômica pela CEP.U. (Comissão Econômica para a América Latina em 1963;

de Desenvolvimento), além de governar o Banco iviundial e o Banco fez especialização em Administração Pública na Alemanha Ocidental em 1965 e

398
399
um estágio cm Finanças Públicas 1.:os Estados Unidos da América, em 1968 Conselheii·o Fiscal do Banco do Estado do Paraná de maio de 1965 a setembro
(BIJJLIOTECA PÚBLIC\ DO P.\R.\N.\, Curitiba). Foi assessor no Ministério da de 1967; f\Iembro do Conselho de Administração díl Companhia Agropen1~1ria
Agricultura e Diretor Geral interino neste I\-Iinistério, também tendo s t.d o D.1retor de Fomento Econômico do Paran:Í (C.-IFÉ DO P.\R.\KÍ), de feve.reiro de 1966 a
'
do JNCR.:\. No I\-Iinistério da Educação e Cultun~ foi Secretário e Conselheiro do junho de 1967; Presidente eleito do Instituto de Engenharlíl do Parnni, entre
Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educnçào. Foi Presidente do INPS entre [C\~ereiro de 1967 a fevereiro de 1969; participou do Conselho Diretor ela Sociedade
1974 e 1978, Foi professor na Escola de Oficiais Especialistas e de Infantaria ~e Paranaense de Estudos de ,.\dministraçào (SPE.\), de setembro de J 964 a dezembro
Guarda da .Aeronáutica em Curitiba e também foi professor de 1970; i\Icmbro da Comissão de Planejamento do Conselho Estadual de
' , . n a U 01vers1ae
· ·d d
Católica do Paraná e no Centro Universitário de Brasília. Nas eleições de novembro Educação, de fevereiro de 1969 a janeiro de 1971; Conselheiro fiscal do Instituto
de 1978, foi eleito Deputado Federal pela Arena paranaense. Foi Secretário da ele Orientação às Cooperativas Habitacionais do Estado do Paraná (INOCOOP),
Agrkt1ltura no segundo governo de Ney Braga (P..\NOR;\i\L\, mar./ 1979, n.º 266 de abril de 1970 a outubro de 1971; Secretário de Estado dos Negócios do
p. 22-23), Foi .fvfinistro' do Trabalho e da Previdência Sbcial entre 20 de janeiro d~ Grn:erno do Paraná, de agosto de 1973 a março de 1975; lvfembi:o do Grupo
1992 a 2 de outubro de 1992. No governo Fernando Henrique assumiu O l\finistério de Trabalho para elaborar o Projeto de i\Jodernizaçào .Administrativa do Estado
da Previdência e . A.ssistência Social em 1º de janeiro de 1995, permanecendo no (197./). Foi Diretor J\dministrativo da COPEL entre março de 1975 a março de
cargo até 2 de abril de 1998. Em seguida candidatou-se a deputado federal pelo 1979. Entre março de 1977 a novembro do mesmo ano, foi Diretor de
PFL, não se reelegendo. Foi nomeado presidente do Banestado pdo governador Suprimentos da ELETROSUL. Na Segunda gestão de Ney Braga no governo elo
Jaime Lerner. Estado, ocupou a Secretaria do Planejamento do Paraná. Posteriormente, ainda
NORTON ?\LiCEDO: De origem udcnista, foi secretário do governador no governo de Ney Braga, passou a ocupar a Secretaria da .,\dministraçào.
Ney Braga entre 1961 e 1965. Continuou exercendo a mesma função, junto a Participou do Grupo de Trabalho Especial que elaborou As Diretrizes Globais
Ney Braga, no f-.,finistér.io da Agricultura. Foi assessor dos governadores Haroldo du Governo Ney Braga (1979-1983). Recebeu o título honorífero Cidadão
Leon Peres e Pedro Parigot de Souza. Em 1974- foi eleito deputado federal pela Honorário da Cidade de Elk Grave City (EU.\), tendo em vista seu trabalho em
Arena do Paraná. Foi reeleito nas eleições de 1978 e 1982. Em meados dos anos fayor do entrelaçamento das idéias democráticas entre Brasil e EUA, assim como
1970, .foi membro do ConseJho Deliberativo da Fundação 1-lilton Campos para pela expansão do intercâmbio cultural entre os dois países. (BIBLIOTEC.\ PÚBL!C.\
Pesquisa e Estudos Políticos, vinculada à .-IREN.\ (DIC!ON.\RlO HISTÓR!CO- DO P.\R.\N.\, Curiciba) (O EST.\DO DOPJKIN.\, 7 jan,/1981,p, ?).Juntamente
BIOGR.\FICO BR.-\SILE!RO, 1984, p. 1976), com Guilherme, irmão de Ney Braga) Véspero lviendes fazia parte do Conselho
VÉSPERO :MENDES: Ocupou a Superintendência da Fundação Educacional Arquidiocesano de Leigos, em Curitiba (SENHOR, jan,/1980, n.º 22, p. 50),
do Paraná (FUNDEP.\R) de maio de 1965 a fevereiro de 1966. Foi membro do EURO BR.IND.\O: ligado à PUC-PR, foi Secretário Geral do J\,linistério da
Conselho de Educação do Paraná, de 1965 a 1971, e Presidente do Conselho de Educação e Cultura e, posteriormente; foi ,J\ifinistro da Edtlcaçào e Cultura, entre
Educação do Paraná entre 1965 e janeiro de 1968. Foi Diretor-Técnico da 1978 e 1979. Ocupou a Presidência do Conselho de Administração do Instituto
CODEP \R entre fevereiro de 1966 e junho de 1967, Em 1966 foi integrante do
0 de Assistência às Cooperativas Habitadonais do Paraná) e a Presidênda da
Conselho Consultivo de Planejamento do Governo Federal e Assessor Técnico .J\ssociaçào de Dirigentes Cristãos de Empresas do Paraná (BIJJLIOTECA PÚBL!C\
do jyfinistério da Agricultura entre dezembro de 1965 e janeiro de 1966. Foi DO PAR.:\N}l, Curitiba).'Foi ainda Secretário de Estado dos Transportes do Paraná
con sultor da Comissão de elaboração da primeira parte do Código de Edificacões (1973-1974), e Diretor-Presidente do Banco de Desenvolvimento do Paraná,
do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba - IPPUC. Foi Dir~tor entre 1979 e 1983 (P.\NOR..\1'L\, fev./1983, n,º 325, p. 13).
Financeiro da Metalúrgica Merhy S/.\, de outubro de 1967 a maio de 1969;

400 401
OT),no CES,\R!O PERE!R..-1 JÚNIOR: Baclrnrelou'se em Direito pela GUILHERME L-ICERD.\ BR.-IG,I SOBRJNHO: irmão de Ney Braga, formou-
Universidade do Paraná, formando-se também em Ciências Contábeis. Entre se em Engenharia pela Faculdade de Engenharia da Unl\~ersidade do Pamnâ. Cursou
1951 e 1952 foi Promotor Público em Londrina. Em outubro de 1962 foi eleito Administrnçào Pública e Relações Humanas na Escola Brasileira de .Administração
suplente de deputado federal pela UDN, assumindo o mandato em maio de 1964 Pública, da Fundação GetUlio Vargas, e cursou Bases para uma Doutrinação de
e exercendo-o até abril de 1965. Foi presidente do Diretório lVIunicípal da UDN Segurança Nacional, na _-\DESG. Foi professor universitário na Universidade Federal
de Cambé, Norte do Estado. Foi Secret:írio interino de Saúde Pública no governo do Paraná e na Uni,~ersidade Católica do Paraná. Foi Chefe do Departamento de
Estatística, Economia e Admlnistraçi'io da Escola de Engenharia da Universidade
de Ney Braga em 1965, permanecendo no posto até os governos prm·isôrios,
Federal do Paraná; Conselheiro do CREA; Conselheiro da CODEE.\R; Conselheiro
em 1966. Com a instalação do biprrrtidarismo, filiou-se à _-\R.EN_\, exercendo a
do Instituto de Engenharia do Paraná e da Associação dos Professores Universitários
presidência do Diretório lvfunicipal do partido, em Cambé. Foi chefe de gabinete
do Paraná. Foi Superintendente: da FUNDEP_·\R entre 1966 e 1967 e Assessor Técnico
do k\,finistro da Agricultura Ney Braga, mantendo-se no cargo mesmo com a
da Assessoria de Planejamento da Universidade Federal do Paraná. Foi Chefe da
posse do novo tlinistro, Severo Gomes, até o fim do governo Castelo Branco.
Casa Civil no Governo de Emílio Gomes (G.\ZET.-1 DO pm·o, 11 ago./1973, p. 9).
Em novembro. de 1967 elegeu-se suplente do Senador. Ney Braga. Em 1970 foi Guilherme fozia parte do Conselho Arquidiocesano de Leigos, em Curitiba
eleito suplente de deputado federal, passando a exercer o mandato a partir de (SENHOR, jan./ 1980, n.º 22, p. 50).
março de 1973. Em agosto ·deste ano foi nomeado Secretário do Trabalho e Importantes membros do neyismo mantêm um certo vínculo e uma
Assistência Social pelo gm'ernador Emílio Gomes. Em março de 1974, quando influência no período de domínio político de Jaime Lerner na política paranaense.
Ney Braga foi para o 1-Iinistério da Educação, Ot:ívio Cesário assumiu a cadeira Conforme afirma Couto, Jaime Lerner, apesar de sua passagem pelo PDT,
no Senado, exercendo o mandato até janeiro de 1975. Sendo eleito indiretamente " ... sempre esteve ligado ideologicamente ao setor mais conservador da política
para vice-governador na cha!Ja de J ayme Canet, ocupou a nova função de março paranaense representado pela antiga Arena/PDS e atunlmente condensada ein
de 1975 a março de 1979, Em 1979 foi nomeado Secretário da Justiça no governo vários partidos como PFL, PTB, PPB entre outros" (COUTO, 1998, p. 59). Jaime
de Ney Braga. Com o fim do bíparcidarismo, filiou-se ao PDS e elegeu-se deputado Lerner formou~se politicamente na escola do neyismo e no período da dit1dura
federal em 1982. Otávio Cesário foi Conselheiro da subseção da Ordem dos militar, tendo sua projeção política feita pelas mãos de Ney Braga. A sua passagem
Advogados do Brasil de Londrina, e da Sociedade Rural do Norte do Paraná. pelo PDT de Leonel Brizola foi apenas uma estratêgia política, visto que não há
nenhuma proximidade ideol6gica entre ambos. lvfas Lerner retorna formalmente
Proprietário de terras, presidiu a Associação Rural e o Sindicato Rural de Cambé
ao antigo leito, ingressando no PFL (Partido da Frente Liberal).
(DICION.\R!O HISTÓR!CO-BIOGR..\F!CO BR..-IS!LE!RO, 1984, p. 775-776)
Karlos Rischbietcr participou da c~mpanha de Jaime Lerner ao governo
(CORREIO DE NOTÍCL-1S, 15 mar./1979, p. 5).
do Esrado em 1994, inclusive com colab?ração financeira. Couto afirma
F.\BL-\NO BR..-\G.-1 CORTES: primo de Ney Braga, Fabümo formou-se em
que Rischbieter.
Direito pela Faculdade de Direito de Curitiba. Entre 1960 e 1962 foi vereador em
Curitiba. Exerceu os mandatos de deputado esfadual nos períodos de: 1963-1967, Desde a cheg;ida de Jaime Lerner ao governo estadual participou direta e indiretnmente
1967-1971, 1971-1975, 1975-1979, e 1979-1983. Quando tem início o segundo no governo. Indiretamente no sentido de estar sempre exercendo a função de consultor
governo de Ney Braga, Fabiano é eleito o presidente da Assembléia Legislativa do governador, e diretamente, quando assumiu o cargo de presidente do IPD -
(Arena). Posteriormente, dci.xa aquele posto, para assumir a Chefia d_a Casa Civil do Instituto Paraná Desenvolvimento, órgão que tem por objetivo desenvolverpmjetos
governo Ney Braga. Fabiano havia ingressado no quadro de Advogados do Est1do. que impulsionem e proporcionem o desenvolvimento estadual (Ibidem, p. 62),
Mais tarde tornou-se Procurador do Est1do (P.-INOR..-1.i\L-1, Mar. 1979, n.º 266, p.
27) (O EST.\DO DO P.-IR.-INA, 8 jan./1981, p. 3).

402 403
.Além de apontar RischOi·etcr como um importante consultor de Lerner, Fernando Henrique e Deputado Federal Reinhold Stephanes, do PFL, é indicado
Couto afirma que nas gestàes de Lerner sempre hom-e uma forte internçào entre pelo go;;ernador Lerner para assumir a presidência do Banestado, conforme
o poder público e a iniciativa privada, sendo esta uma característica do go;;-erno ;;Ímos. Toma posse cm 25 de janeiro de 1999, Com a missão de preparar o
Lerner~ e que Rischbicter teria um importante papel nestas relações, pois que banco para a printizaçào (FOLI-L-1 DO P,\IL\N.\, 26 jan./1999, Caderno de
circula por funções no poder pllblico ao 1nesmo tempo em que ahla como Economia, p. 3). Saul Raiz, fvfaurício Schulman e Karlos R.ischbíeter tiveram
conselheiro de empresas nacionais e multinacionais. influência na indicação de Stephanes para a presidênCia do lhnest.1do, embora o
Outros importantes neyistas que se tornaram homens de confiança de Lerner Secretário da Fazenda Giovani Gionêdis nào fosse muito Ern)rii-vel à nomeação
são Saul Raiz e I\fam-ício Schulmann . Ainda na primeira gestão de Lemer no governo de Stephanes (FOLK\ DO P_·\IL\N_-i, 9 janJ1999, p.
do Estado, Ivfaudcio Schulmann tornou-se conselheiro, ou colaborador informal Na sucessão do PFL regional, Jaime Lemcr tinha cm Saul Raiz um de seus
do Banestado gue passa,:a por uma séria crise (Ibidem, p. 63). Importante aspecto nomes de preferência para assumir a presidência do partido. Lcrner nrio aceira·rn
a ser destacado é que Karlos Rischbieter, hfaurício Schulman, Saul Raiz e também a candidatura do deputado federal .Abelardo Lupion, líder de um grupo oposto
Luiz.Antônio Fayet faziam parte de um gmpo de empres:idos ou seus represent.n.ntes, ao do governador. Neste impasse 1 o nome do ncrn1 presidente do PFL acabou
que nos anos 1990 passaram a fazer certas reivindicações ao governo federal, tnis sendo o do ex-governador João Elizio Ferraz de Campos, empresirio do setor
como: o fim do Estado empresário; incentivo à políticas de privatizações; ajustes financeiro. Lupion ficou com a vice~presidência, o que o desagradou, por ter

fiscais para o benefício dos empresários. Couto chama este grnpo, gue tinha um tido seu nome vetado pelo governador, Ao discursar na Convenção do PFL, Ney

caráter informal, de GEC (Grupo de Empresários de Curitiba). Estes empresários Braga fez duras críticas às "invasões" de terras que tem ocorrido no Estado

ou representantes de empresários teriam aruaçào em associações representativas de (FOLK-\ DO P.\IL\N.-Í, 1999, abr. Dia 11: 3 e 4).
Em maio de 1999, quando da saída de :tvliguel Salomão da Secretaria de
classe, como ~-\CP (Associação Comercial do Paraná); FIEP (Federaçào das Indústrias
Planejamento, Lerner pretendia indicar o seu principal coordenador da campanha
do Estado do Paraná); E\CL-\P (Federação das Associações Comerciais, Industriais
eleitoral, Saul Raiz, para assumir a secretaria. "Eu adoraria contar com o Saul
e .Agrícolas do Paraná); e E-\EP (Federação das .Associações Empresariais do Parnná).
na equipe, mas ele não tem pretensão de deixar a iniciativa privada", disse
Nas eleições para o governo est.1.dual de 1994, gra[!de parte dos empresários ligndos
Lcrner (FOLK-1 DO P_-\JL\N.-i, 9 maio/1999, p. 3). Saul Raiz se contenta com a
a este grupo, aparecem como financiadores da campanha de Jaime Lerner, Nomes
assessoria infórmal que dá a Lerner. Ainda em maio deste ano, Lerner convoca
como os de I(..1.rlos Rischbieter, Saul Raiz e Luiz .Antônio Fayet, aparecem como
Ney Braga para presidir o Conselho de Desestatização da Copel, cuja tarefa é
membros do Conselho Superior da Assodrrçào Comercial do Paraná. Na gestào
a de preparar e conduzir o processo de privatizaçào da empresa. Ney Braga
de 1990-1992) Karlos R.ischbieter aparece como membro da Diretoria da .-\.CP
aceita o convite, mas poucos dias depois sua família avisa ao governador que
(Ibidem, p. 1-4).
Ney Braga não poderia aceitar a tarefa devido a problemas de saúde. Em seu
Ney Braga assumiu a presidência do Conselho de Administração da COPEL
lugar o governador indica Kados Rlschbieter) que aceita o convite para substituir
em março de 1991 (G_-\ZET.-1 DO POYO, 26 mar./1991, p. 5), ainda no governo Ney Braga. Reinhold Stephancs, presidente do Banestado, também é membro
de Roberto Reguiào, do P?\IDB. ivfanteve-se no posto durante o período em que deste Conselho (FOLK-\ DO P.-IIUN.\, 14 mai./1999, p. 5). A partir de setembro,
Lcmer passa à frente do governo estadual. Fabiano Braga Cortes também passou Stephanes passa a acumular uma outra função no governo de Lerner, qual seja,
a integrar o Conselho1 na atual gest.ào que teve início em 1999. Fabiano que era a da presidência do Conselho Administrativo da ParanáPrevidência, instituição
Chefe de Gabinete da Prefeitura de Curitiba e Secretário da Comunicação (FOLI-L-\ gue passa a cuidar-das pensões e das aposentadorias dos servidores públicos
DO P.-\IL-\K\, 23 dez./1998, p. 3). O ex-.Ministro da Previdência do governo (FOLIH DO P_\JL-\N.-\, 14 set./1999, p. 4).

404 405
Como se rê, embora Ney Braga esteja praticamt;nte afastado da vida
pl1blica, alguns dos principais membros do neyismo continuaram em atividade e que te;,:e um aprendizado político, durante o qual procurou crú1r condições para
exercendo influência no governo do Estado ou se1·a na- g"stc'i. - d J· · L a sua candidan1ra, assumindo uma postura de conciliador político. Em seguida o
' - ', '~ ,. . es e ,ume erner.
major Ner Braga ser:i lançado candidato para a prefeitura de Curitiba, carldidatura
articulada e ,Tiabilizada por Bento f\funhoz, Este também terá importância
6. CONCLUSAO fundamental na cnmpanha, colocando na prefeitura de Curitiba Ernani Santiago
de Oliveira que, nesta função, contribuiu para a qmpanha de Ney Braga. Além
disso, Braga contara com o apoio do governo do Estado e da própria figura de
Neste trabalho, procuramos reconstituir a trajetória politica de Ney Braga, Bento .Munhoz. Este, um intelectual católico, membro de uma família católica
um dos personagens de maior capacidade de influência no cerniria político tradicional, mantinha csrrcitfssimos laços com o clero e viabilizou o apoio da
paranaensc contemporâneo. Sem o entendimento d" -· · - li -
. "part1e1paçao po tlca de Ney igreja cm favor da candidatura de Ney Braga.
Braga a partl.r de meados dos anos 1950 fica inviável entender a polia·
. ' , ca paranaense. O "sucesso" de Ney Braga na prefeinira de Curitiba também é, de certa
Sendo assun, ao reconstituirmos esta trajetôria, pensamos ter dado uma contribuicão forma, de-·edora do goYerno Bento lviunhoz. Certamente não se quer aqui tirar
para a compreensão da política paranaense contemporânea Além cli - •
' , sso, procuramos os "méritos" de Ney Braga durante este período, desde quando assume a Chefia
demonstrar como se constrói um poder local, articulado com a política e a estrutura de Polícia e procura ter uma postura marcada pela conciliação e pelo diálogo,
de poder em nfveI nacional, pois Ney Braga certamente foi um dos políticos reoi - passando pela campanha para a prefeitura e depois pela sua ªcompetência
.
d e maior t>.ornus
capacidade de influência no âmbito l c 1 ' · J
,. o a , prmc1pa mente no auge de seu administrativa" no decorrer de sua gestão. 1.\-.fas é necessário destacar que, não só
poder políttco, durante o governo de Ernesto GeiseL
o ingresso de Ney Braga na cena política, mas também todo este primeiro momento
~im problema central que norteou este estudo diz respeito aos fatores de sua carreira política, se de,·e fundamentalmente ao poder e apoio do governador
deternunantes na construção das bases de poder de Ney Braga, que lhe permitiram Bento :Munhoz.
urna prolongada per ' · li -
. · . · manenc1a na po t1ca paranaense e até nacional, sobrevivendo A partir daí Ncy Braga Yai articular a sua candidatura para Deputado
a dtf~r~~tes regimes poifticos~ desde a democracia populista até O regime Federal e procurar estabelecer a sua autonomizaçào política frente ao seu patrono
autorit~no, momento em que Ney Braga consolida o seu poder político. político. Embora o prefeito de Curitiba tenha recebido propostas de ingresso
~ntendfamos que este problema seria explicado pela característica híbrida do em diferentes partidos, incluindo a possibilidade de sair candidato a Deputado
discurso e da acào política de Ney· B · ·
, . raga, ou sep, o seu v1nculo com o cristianismo Federal, Ney Braga vai optar pelo PDC, que foi reestruturado, no Paraná, no
ª ~ua ,·isão tecnocrática e inteligência tática manifesta em sua capaddade d: segundo semestre de 1957. A sua entrada no PDC é articulada com Franco
aru~ulnçào política, tanto ao nível' dos partidos quanto com atores relevantes da 1fontoro, do PDC paulista, e com a professor Joaquim de i\fattos Barreto, um
sociedade civil, como os militares, o clero e os empresários,
anti-Lupionista, que passou a substituir o Lupionista Clotário Portugal na
O ingresso de Ney Braga na política se dá pelas mãos de Bento 1Tunhoz presidência do PDC paranaense. No contexto político-partidário paranaense, o
d~ Rocha ~eto, cunl~ado de Ney Braga na época, e filho da oligarquia paranaense, PDC seria então o partido mais apropriado para que Ney Braga pudesse pôr em
vmculada a economia ervateira, que dominou a política estadual no período pré- prática seus projetos politicos. Era um partido pequeno, sem grandes lideranças
1930 E ti , d- ,
· n ª~· e me lante um vinculo com uma família tradicional, pertencente à no âmbito local que pudessem incomodar Ney Braga. Este levou vários nomes
classe dominante paranaense, que Ney Braga ingressa na vida pol.ítica. Esteve para o PDC, e começou a montar ali uma estrutura de poder político partidário.
pouco mais de um ano exercendo as funções de Chefe de Polícia, momento em Quando NeyBraga ingressa no PDC, em novembro de 1957, já tinha o propósito
de lançar a sua candidatura não só para deputado federal, mas também para o
406
407
UDN e PR e t.iuc já ;;inlrnm discutindo o projeto paranaense de desen;;olrimento,
governo do Estado, nas eleições de 1960. Assim, Ner Braga se afasta de Bento·-
l'dunhoz, ingressa no PDC e se emancipa politicamente, seguindo um caminho unem-se em torno da candidatura Ney Braga 1 que cm seu governo dará passos

pr6prio. 1\fais tarde, durante seu primeiro governot em março de 1963, Ncy importantes na implementação daquele projeto. Ney Braga vinculou sua campanha

Braga se tornará o Presidente Nacional do PDC Esta é um característica importante e sua imagem à de Jfmio Quadros e usou os mesmos elementos simbólicos,

de Ney Braga, qual seja, a sua habilidade polftico*partidária, e não só intrapartidária, como a vassoura, simbolizandcí a necessidade de varrer a corrupção. Ney Braga

mas também interpartidâria .. Primeiro, joga seu peso politico-partidário no PDC, produziu a imagem do anti-Lupion, que era acusado de corrupção, da mesma

fortalecendo este partido no âmbito regional, principalmente a partir de sua vitória forma guc Jànio' construira a imagem antiw~.\dhcmar" Este é um aspecto importante

no governo do Estadn Durante sua campanha para o governo, artkub apoio no perfil de Ney Braga, qual seja, a sua competência político-eleitoral. É uma
O

da UDN e posteriormente estabelece um acordo com o PTB, o que ,~iabiliza a série de vitórias eleitorais que Ncy Braga vai conquistando durante sua trajetória

implementação do projeto paranaense de desenvolvimento. Finalmente, comanda· política, conforme estamos evidencfando.

a formação da Arena, mais tarde elo PDS e, por último, também comanda a Por fim, Ney Braga contou, na sua campanha para o governo do Estado,
formaçào do Partido da Frente Liberal no Paraná. com o apoio da Igreja, que criticou duramente o candidato do PTB durante toda

Eleito parn Deputado Federal, Ney Braga passa a cuidar de sua campanha a campanha, acusando-o de comunista. As suas ligações com o clero são uma

ao governo do Estado. Iniciou sua campanha no segundo semestre de 1959. importante contribuição para suas vitórias eleitorais. Inclusive deve ser destacada

Neste período o PTB já estava crescendo no Estado. Em 1958, venceu as eleicões a importante relação de alguns membros do neyismo com a Igreja Católica,
- -
reforçando a relação entre Ney Braga e a Igreja.
para a prefeitura de Curitiba com Iberê de .tviattos. Nas eleições municipais
realizadas no iflterior do Estado em 1959, o PTB foi o maior vitorioso. Também Durante o governo de Ney Braga será implementado o projeto paranaense

venceu a eleição para o Senado, com uma de suas principais lideranças no Estado, de desenvolvimento, com o apoio de setores da burguesia industrial, comercial e
Abilon de Souza Naves, que era Diretor da Carteira de Crédito .Agrícola e Industrial financeira. Ou seja, os vínculos de Ney Braga com estas frações burguesas é

do B:mco do Brasil. Embora o PSD tiv'esse na época um controle sobre muitas significativo. Ney Braga se vincula ao desenvoivimentismo, adot1do em nível nacional-

prefeituras, além de contmhr o governo do Estado e, portanto, ter acesso a um no governo de Juscelino Kubitschek. Ney Br.1ga procura criar no Estado toda uma
amplo uso da máquina governamental erh favor de seu candidato, a candidatura infra-estrutura para viabilizar o desenvolvimento econômico local gue) de certa

do partido se encontrava enfraquecida, devido aos conflitos de terrns que marcaram forma, ida beneficiar aquelas frações burguesas gue o apoiaram. A campanha política
o período nas regiões Norte e Sudoeste do Estado e gue repercutiam pí.1.ra o governo do Estado e a implantação do projeto paranaense de desenvolvimento
negativamente ao governo. ,Ademais, o governador Lupion estava envolvido em são dois momentos privilegiados que denotam as boas relações de Ney Braga com

acusações de corrupção e houve urna divisão do partido em relação à candidatura o empresariado. Outro aspecto que denota.esta relação é o perfil de alguns membros
escolhida para concorrer às eleições. do neyismo, que têm vínculos relevantes corµ o meio empresarial. Embora Ney

A candidatura de Ney Braga vai tomando corpo, principalmente após a Braga fosse essencialmente um político tradicional, percebe-se em seu perfil uma

morte de Souza Naves, que em um candidato muito forte. Ney Braga recebe veia tecnocrática, vizualizada quando da criação de agências, políticas governamentais
0

apoio de várias lideranças da UDN, e o partido passa a apoiá-lo oficialmente, e pelo perfil de seus assessores. É um político que se cerca habilmente de uma série

embora alguns diretórios do Norte do Estado optassem pela candidatura de de assessores técnicos~ responsáveis pela administração.

1vfacu1an, pelo PTB. Ney também recebe o apoio de importantes cafeicultores do É no decorrer desta gestão que Ney Braga dará maior conformação a seu
Norte do ·Estado, e também de empresários. Nesse período, as burguesias grupo político, que será um importante fator que contribui para a sua· longa

industrial, comercial e financeira que se faziam representar em partidos como permanência na cena política. Os membros deste grupo têm um perfil marcadamente

408 409
tecnocrático e com importantes passagens pela iniciativa privada. A emergência Ner Braga ocupa o i\Iinisté11o da ,Agricultura no gm~erno de Castelo Branco
no cenário político destas elites se dá a partir do apadrinhamento politico de Ney e, a partir daquele l\Iinistério, comanda a organização da Arena par:macnse. 1-fas
Braga. No decorrer da trajetÓ11a de Ney Braga, passam a ocupar postos-chave experimenta uma fragiJizaç,lo de sua influêncín política durante o governo de
no aparelho de Estado, seja em nível Regional, seja em nível Federal, além de Costa e Síh--a e parte do governo de I-.fêclici. Além, de serem goremos da linha
ocuparem posições importantes em partidos políticos. dura, Ney Braga se posiciona contra o .-\IS. Paulo Pimentel se fortalece em nível
COI~ a renúncia de Jânio Quadros, Ney Braga mantém uma postura dúbia regional, inclusive no que se refere ao controle da Arena, mas não terá condíçàes
com relaçào à posse do Vice-Presidente, participando em seguida da defesa da de participar da indicação do seu sucessor, pois defendera eleições dlretas pouco
legalidade e da posse de Goubrt Durante parte do governo de Goulart, Ney antes de ser decretado o _-\IS. Com a renúncia de Leon Peres, Parigot de Souza
Braga manteve uma postura favor,í.vel ao governo, visando garantir o apoio do assume o governo do Estado e, discretJ.mente, Ney Braga ...-ai recuperando a sua
governo Federal à sua administtaç,i.o no gm·erno do Estado. Ney Braga j:í. capacidade de infl~êncin, tendo em vista que Parigot esta,~a mais prósimo do
dernonstm'\:a um desejo de chegar à presidência da República. Inclusive, corno grupo de Ney Braga. O faro de alguns nomes do neyismo passarem a ocupar
presidente do PDC, chegou a defender reformas de base no país, embora as espaços neste governo demonstra esta influência de Ney Braga. Com-a morte de
reformas ·que· defendia não tivessem exatamente o mesmo caráter daquelas Parigot de Souza, N ey Braga tem influência dedsiva na escolha do noYo
reformas defendidas por Goulart e por políticos da esquerda 1 como Leonel go·r-ernador, Emílio Gomes, e do vice,Jayme Canet. .Ambos eram ligados a Ney
Brizola. Com a crise política se. acentuando, Ney Braga val se tornando 1;,m Braga. A partir deste gm·erno, Ney Braga volta a ter hegemonia na política
crítico de Goulart e de suas posições, Posteriormente, defende o golpe de Estado paranaense. Quando Geisel chega à Presidência da República, Ney Braga vai deter
de março de 1964. Vinculado à linlia castelista dos 1-Iilitares, além de ser amigo a maior capacidade de influência política de sua carreira, indicando vários nomes
pessoal de Castelo Branco e de Ernesto Geisel, e de ter participado do mesmo de seu grupo político para ocupar espaços no aparelho de Estado na esfera Federal,
grupo nas disputas internas do Clube Ivfilit'1r, Ney Bragn transita sem maiores assim como indicaci o novo governador do Paraná, Jayme Canet e também o
dificuldades entre o períodO democrático e o período de ditadura militar que se novo prefeito de Curítiba, Saul Raiz. A sua força política regional está, neste
inicia, A sua força política a partir desse período estará fortemente marcada pelo momento, diretamente vinculada a seu fortalecimento politico na esfera Federal,
fato de Ney Braga ser um membro da corporação militar. Esta condição é com a retomada da presidência da República pelo grupo castelista, particularmente
fundamental para a sua permanência destacada no cenário político durante a por seu amigo pessoal, Ernesto Geisel. O então maior adversário político de
ditadura militar, embora a sua força política regional também seja relevante. Faz- Ney Braga, Paulo Pimentel, tem durante o governo Gelsel o momento de maior
se necessário destacar o seu pertencimento ao grupo da ala moderada dos militares, fragilização política, tendo em vista o fortalecimento político de Ney Braga e o
ou seja, aos castelistas, que têm forte influência no exercício de seu poder político. embate existente entre ambos. Ney Braga eJayme Canet trabalham para enfraquecer
Ney Braga se mantém fiel a este grupo e, particularmente, a Geisel, mesmo com a posição de Paulo Pimentel. Em 1975, o grupo de Ney Braga volt.a a controlar
a abertura política. a Arena paranaense.
Ao contrário de Carlos Lacerda na Guanabara e de :tfagalhães Pinto em Em fins do governo Geisel, o nome de Figueiredo vai se firmando na
lvfinas, Ney Braga consegue faZer o seu sucessor, Paulo Pimentel, que se tornará preferência de Geisel para substituí-lo na presidência da RePública. Assim, Ney
depois um forte adversário de Ney Braga no âmbito regional, devido a disputas Braga vê frustrado mnis uma vez o seu desejo de chegar à presidência. Resta-lhe a
por espaços no aparelho de Estado e porque Pimentel se vincula aos militares oportunidade de voltar a governar o Paraná, a partir de março de 1979. A partir
da linha dura. deste ano, com o processo de reformulação parcidária, Ney Braga vai liderar a
formação do partido do governo no Paraná, Ney Braga controla a formação do

410 411
PDS paranacnse, embora não consiga reunir dois importantes nomes da .Arena, BENEYIDES, :XL \~ de ?d. O Governo Kubitschck: DesenYolvimcnto Econômico e

quais sejam,Jaymc Canet e .Afonso Carnargo, que participam da formação do PP. Estabilidade Política, 1956- 1961 .JUo de ]:metro: Paz e Terra, "I 976.

Ney Bragn governa o Paraná até maip de 1982, quando deixa o governo para se BENEVIDES, i\I. Y. de ?\LA UDN e o Udenísmo: +--\mbigüidades do Liberalismo
candidatar ao Senado< .A sua força política, como o grande chefe da política paranaense Brasileiro (1945-1965). Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1981.
chega ao fim, tendo em ·Ylsta a derrota que o A\IDB impõe aos candidatos do PDS
BENEVIDES, }.f. \: de il-L O PTB e o Trabalhismo: Partido e Sindicato em São
paranaense, inclusive com a derrota do próprio chefe político,Ney Braga. O declínio
Paulo: 1945-1964. São Paulo: Brasiliense/Cedec, 1989.
político ele Ney Braga acompanha o processo de redemocratização do país. Durante
BIELSCHO\\"SKY, R, Pensamento Econômico Brasileiro: O Ciclo Ideológico do
a ditadura militar, Ner Braga passou a responder prioritariamente às necessidades
Dese1wolvimentismo. Rio de Janeiro: Contraponto, 1996.
do regime, inclusive fazendo um segundo governo marcadamente tecnocrático.
A sua força política não resiste à abertura política, mas seu legado a.inda hoje se tàz C--\IU)OSO, l\L L. Ideologia do Desenvolvitnento - Brasih JK-JQ. Rio de J:meiro: Paz

presente nas práticas das elites políticas paranaenses. e Terra, 1978.

Esperamos ter argumenwdo que as bases de poder de atores destacados CARNEIRO, D.~ V.--\RG_-\.S, T História Biográfica da República no Paraná. Curitiba:
no unhr'erso das elites políticas estão fortemente vinculncbs ao desenvolvimento Banestado, 1994.
das trajetórias políticas destes atores. No caso de Ney Braga~ uma combinação de COST-\, S. G da. Introdução. In: C-\..RNEIRO, D; \':-\RG:\S, T História Biográfica'
elementos de virttí e fortuna resultou em sua transformação no mais influente da República no Paraná. Curitiba: Banestado, 1994.
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ISTOÉ
Sr. Ney .-\minthas de Barros Braga, Governador do Estado. Curitiba, Deptº de Imprensa
i--L·\NCI-IETE
Oficial do Estado.
O CRUZEIRO
PAR.\NA, GoYemo do Estado do, (1962) l\frnsagem: apresentada à .--\ssembiéia P,INORA1'LI
Legislaci\·a do Estado por ocasi.1o da abertura da 4ª sessão ordinária da 4i Legislatura pelo PAR.:\N;\ E!\f PAGIN:\S
Sr. Ner .-\minthas de Barros Braga, Governador do Estado. Curitiba, Deptº de Imprensa QUE1'I
Oficial do Estado. QUEMPAIUNA
SENHOR
P..\R.--\N.\, Governo do Estado do, (1963) l\fonsagem: apresentad:1 à .-\ssemblêia YEJA
Legislati,11 do Estado por ocasíào da abertura da P sessão ordinária da 5ª Legislatura
pelo Sr. Ney _-\minthas de Barros Braga, Governador do Estado. Curitiba, Deptº de JORNAIS DIÁRIOS
Imprensa Oficial do Estado.
Folha do Paraná
P_·\R.-\N_.\, Governo do Estado do, (1964) :r-.frnsagcm: apresentada à _-\ssembléla
Folha de Londrina
Legislatirn do Estado por ocasião da abertura da 2ª sessão ordinária da Y Legislatura pelo
O Estado de São Paulo
Sr. Ney .-\minthas de Barros Braga, Governador do Estado. Curitiba, Deptº de Imprensa
Tribuna do Paraná
Oficial do Estado. O Estado do Paraná
P.-\RANA, Governo do Estado do, (1963) Mensagem: apresentada à A. ssembléia Jornal de Curitiba
Legislativa do Est:ido por ocasião da abertura da 3ª sessão ordinária da Sª Legislatura Indústria e Comércio
Correio de Noticias
pelo Sr. Ney *-\minthas de Barros Braga, Governador do Estado. Curitiba, Deptº de
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