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UNILESTEMG
Coronel Fabriciano - MG
METALURGIA DA SOLDAGEM
SOLDABILIDADE DOS MATERIAIS
ENGENHARIA METALÚRGICA
PROF. REGINALDO PINTO BARBOSA
Julho 2015
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO.....................................................................................................................5
2. METALURGIA DA SOLDAGEM....................................................................................20
3. PROCESSOS DE SOLDAGEM........................................................................................49
7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS............................................................................118
- "Processo de união de materiais usados para obter a coalescência localizada de metais e não
metais, produzida por aquecimento até uma temperatura adequada, com ou sem utilização
de pressão e/ou material de adição". (American Welding Society - AWS)
Durante a soldagem dos diversos materiais, a temperatura do metal adjacente à solda atinge valores
nos quais transformações microestruturais podem ocorrer. A ocorrência destas mudanças e o seu efeito sobre
a junta soldada - em termos de resistência à corrosão e propriedades mecânicas - depende do teor de
elementos de liga, espessura da chapa, metal de adição usado, configuração da junta, método de soldagem
utilizado e habilidade do soldador. Apesar destas transformações microestruturais, o principal objetivo da
soldagem é produzir uma solda com qualidade igual ou superior àquela do metal de base.
O processo de soldagem teve seu grande impulso durante a II Guerra Mundial, devido à fabricação
de navios e aviões soldados. A evolução dos processos de soldagem ocorreu ao longo do tempo. Segundo
Houldcroft, cada processo de soldagem deve preencher os seguintes requisitos:
* Gerar uma quantidade de energia capaz de unir dois materiais, similares ou não.
* Remover as contaminações das superfícies a serem unidas.
* Evitar que o ar atmosférico contamine a região durante a soldagem.
* Propiciar o controle da transformação de fase, para que a solda alcance as propriedades desejadas,
sejam elas físicas, químicas ou mecânicas.
A grande maioria dos aços usados na soldagem consiste de aço carbono baixo carbono (C 0,30%).
A fração restante consiste de aços carbono alto carbono e aços ligados.
A experiência prática tem mostrado que estas ligas não podem ser soldadas com o mesmo grau de
dificuldade. Por exemplo, aços carbono com menos de 0,15% de carbono podem ser facilmente soldados por
quase todos os processos resultando soldas de boa qualidade. Aços com conteúdo de carbono entre 0,15 a
0,30% podem ser totalmente soldados em espessuras até 12,7 mm. A soldagem de seções mais espessas
poderá ou não necessitar de cuidados especiais. A soldagem de aços de alta resistência requer consideração
especial, de forma que o calor de soldagem não prejudique a sua microestrutura temperada e revenida.
A razão pela qual todos os aços não podem ser soldados sem o uso de materiais especiais ou
operações suplementares é que os mesmos são mais facilmente alterados pelo calor de soldagem do que
outros. A aplicação do calor produz uma alteração estrutural, efeitos térmicos e mecânicos no metal a ser
soldado ou em qualquer outro que venha a ser parte integrante da união. È suficiente dizer que os efeitos
incluem expansão e contração, mudanças metalúrgicas (tais como, crescimento de grão) e alterações
composicionais. No componente soldado, estes fatos podem aparecer de duas maneiras:
a) A presença de trincas no metal base e no metal de solda bem como porosidade ou inclusões
no metal de solda.
Uma peça metálica pode ser considerada como sendo formada por um grande número de átomos
ligados aos seus vizinhos, estabelecendo um arranjo espacial característico. Cada átomo está distante do
outro numa extensão r0 onde a energia do sistema é mínima (figura 1), não tendendo a ligar-se a qualquer
outro.
Figura 1 – Variação de energia potencial para um sistema composto por dois átomos em
função da distância de separação entre eles.
Na superfície, o número de vizinhos é menor implicando em energia maior que o átomo do interior.
Uma união é possível se houver uma diminuição desta energia, como por exemplo, através da aproximação a
distâncias bem pequenas (da ordem de r0) de duas peças metálicas, isto é, uma solda seria formada entre as
peças, conforme é mostrado na figura 2. É o que acontece quando se coloca em contato dois blocos de gelo.
No caso de duas peças metálicas isto não ocorre, exceto em raras situações, devido a:
- As superfícies metálicas apresentam grande rugosidade em escala atômica;
Os dois modos de superar estes obstáculos deram origem aos dois grandes grupos de processos de
soldagem. De acordo com a natureza da união os mesmos podem ser divididos em dois grandes grupos a
saber: soldagem por fusão e soldagem por pressão.
A soldagem por pressão consiste na aplicação de pressões elevadas que deformam a superfície dos
materiais, diminuindo a rugosidade da superfície e, consequentemente, a distância média entre as mesmas.
São processos de aplicação mais ou menos restritas. Dentre estes podemos citar:
* Resistência Elétrica com junta overlap (sobreposição): por pontos e por costura.
* Resistência Elétrica com junta de topo: por centelhamento e por resistência pura.
* Por Indução
* Por Atrito
Na soldagem por fusão, a energia é aplicada com a intenção de produzir calor capaz de fundir o
material, produzindo a ligação das superfícies na solidificação. Inclui a maioria dos processos mais
utilizados atualmente, podendo ser subclassificado em:
* Soldagem a chama: oxi-acetilênica e ar-acetileno.
* Soldagem a arco encoberto com fio contínuo ou com fita contínua.
* Soldagem a arco descoberto com eletrodo autoprotetor: eletrodo revestido (protetor externo) ou
eletrodo tubular (protetor interno).
* Soldagem a arco descoberto com eletrodo imerso em atmosfera gasosa: com fio contínuo (MIG/MAG)
ou com eletrodo permanente (TIG).
Os processos de soldagem também podem ser classificados de acordo com o tipo de fonte de energia.
As fontes de energia empregadas nos processos de soldagem são mecânica, química, elétrica e radiante.
a) Fonte mecânica – O calor é gerado por atrito ou por ondas de choque, ou por deformação plástica do
material.
b) Fonte química – O calor é gerado por reações químicas exotérmicas como, por exemplo, a queima de um
combustível (chama) ou a reação de oxidação do alumínio.
c) Fonte elétrica – O calor é gerado ou pela passagem de corrente elétrica ou com a formação de um arco
elétrico. No primeiro caso, o aquecimento é realizado por efeito joule, enquanto no segundo é através do
potencial de ionização, corrente e outros parâmetros de soldagem.
As estruturas de aços baixo carbono e não ligados podem ser projetadas com base nas propriedades do
metal base e na composição do metal de solda. Entretanto, quando aços de alta resistência e aços ligados
necessitam de serem soldados deve-se levar em consideração a seleção dos processos de soldagem e das
técnicas de soldagem. Estes parâmetros podem exercer uma influência significante na qualidade da solda e nas
características da zona afetada pelo calor e por conseqüência, na soldabilidade destes aços.
A extensiva substituição das estruturas rebitadas pelas soldadas iniciou-se durante a II Guerra Mundial e
continua até hoje. Inicialmente esta substituição baseava-se nos ganhos de custos e produtividade, entretanto, os
projetistas perceberam que as propriedades requeridas na construção de certas estruturas somente podiam ser
obtidas através da soldagem. Por conseguinte, as propriedades do aço e da junta soldada são importantes para o
projetista, metalurgista de soldagem e o engenheiro de soldagem.
Neste caso, deve-se conhecer as propriedades da junta que deve ser considerada no projeto da estrutura
soldada e que influenciam a performance da mesma. As propriedades mais importantes incluem o limite de
resistência à ruptura, ductilidade, tenacidade da fratura, resistência à fadiga, propriedades a temperatura elevada
e resistência à corrosão. As propriedades dos materiais e aquelas requeridas na junta soldada é que vão ditar os
procedimentos de soldagem a serem adotados. Abaixo citam-se alguns casos práticos:
a) Soldagem de aços resistentes ao desgaste e de alta temperabilidade necessitam de tratamentos de pré
e pós aquecimento para evitar a formação de estruturas frágeis na zona afetada pelo calor.
b) Aços de alto coeficiente de expansão térmica devem ser soldados com baixo aporte de calor ou
deve-se utilizar técnicas especiais de soldagem para evitar distorções.
c) Na soldagem de aços inoxidáveis ferríticos, deve-se controlar o aporte de calor para evitar
crescimento de grão ou formação de martensita no seu contorno, o que pode fragilizar a junta
soldada.
d) Materiais susceptíveis à corrosão sob tensão devem ser submetidos a tratamento de alívio de tensão
ou ter aplicação de alguma técnica para as tensões internas de tração.
Um arco elétrico ou voltaico pode ser definido como "a descarga de corrente elétrica mantida através
de um gás, iniciada por uma quantidade de elétrons emitidos do eletrodo negativo (cátodo) aquecido".
Todavia todo gás é isolante térmico nas condições normais de temperatura e pressão. Portanto para que ele
se torne condutor é necessário ionizá-lo, ou seja, formar íons ou elétrons livres em sua constituição. Um gás
ionizado recebe a denominação de plasma. Nessa definição existem três conceitos importantes para o
conhecimento do arco elétrico: calor, ionização e emissão.
Em soldagem, o arco normalmente ocorre entre um eletrodo cilíndrico e um plano (a peça), dando a
esse um formato típico de tronco de cone (vide figura 3).
O eletrodo pode ser um material refratário como o tungstênio (eletrodo não consumível) ou de metal
de menor ponto de fusão como o aço (eletrodo consumível). Neste último caso, o processo é mais
complicado pois tem-se: (a) passagem de metal fundido (e, às vezes, de escória) através do arco, (b)
geometria variável da ponta do eletrodo e (c) comprimento de arco variável e dependente do balanço entre
as velocidades de alimentação e fusão do eletrodo.
Eletricamente, o arco de soldagem pode ser caracterizado pela diferença de potencial entre as suas
extremidades e pela corrente que circula por este. A queda de potencial não é uniforme ao longo do mesmo,
podendo ser divido em três regiões principais. Na figura 4 são mostradas esquematicamente essas regiões:
A coluna de plasma corresponde a quase todo o volume do arco, podendo ter vários milímetros de
comprimento, enquanto que as zonas de queda são pequenas regiões junto aos eletrodos, com espessuras da
ordem de 10-2 a 10-3 mm. A queda de tensão na região anódica (V A) varia entre 1 e 10V e na catódica (V C),
entre 1 e 15V, e são normalmente independente do comprimento do arco (la).
A queda de tensão na coluna de plasma é aproximadamente proporcional ao comprimento do arco
VCP E l a . “E” é o campo elétrico na coluna e depende da composição do gás de plasma. Em função do
exposto, a tensão no arco, para um dado valor de corrente, pode ser representada pela equação de uma reta
em função de la:
V VC V A E l a
A função trabalho termoiônico representa a energia térmica que deve ser absorvida pelo elétron para
ser emitido como elétron livre.
A ionização ocorre quando um elétron localizado em uma órbita mais externa recebe uma quantidade
de energia, sendo forçado para a órbita de maior energia. Conforme a energia que o elétron recebe, ele pode
ou não sair da influência de campo eletromagnético do átomo e tornar-se um elétron livre. A energia
necessária à produção de um elétron livre é chamada de potencial de ionização. No caso dos arcos elétricos
de soldagem, o interesse está voltado para a ionização térmica, que é a ionização por colisão entre as
partículas bem aquecidas.
Para se obter um arco voltaico para soldagem deve-se aquecer o gás existente entre o eletrodo e a
peça e sujeitá-lo a um bombardeio eletrônico. Isto é conseguido, por exemplo, quando se toca o eletrodo na
peça fazendo com que a tensão caia rapidamente para um valor próximo de zero e a corrente cresça a um
valor elevado. Por efeito Joule, isto provoca um aquecimento na região de contato até a incandescência,
favorecendo a emissão termoiônica. A quantidade de calor liberada facilita o arrancamento dos elétrons dos
átomos do ambiente gasoso, ionizando o gás. Com a ionização térmica, o eletrodo pode ser afastado do
metal base sem que o arco elétrico seja extinto.
F B i l
Um importante efeito magnético que é o responsável pela penetração do cordão de solda e por
garantir a transferência da gota metálica, sempre no sentido eletrodo-peça, independente da polaridade, é
conhecido por "Jato de Plasma".
Sendo o arco de soldagem um condutor elétrico gasoso de forma cônica, quando a corrente elétrica
passa por ele, induz um campo magnético de forma circular concêntrico com seu eixo. Surgem assim forças
de Lorentz na região do arco, que têm sempre o sentido de fora para dentro.
A intensidade do campo magnético diminui com o quadrado da distância ao eixo condutor. Como o
diâmetro do arco é menor na região próxima ao eletrodo, as forças de Lorentz tendem a ser maior nessa
região. Assim a pressão interna do arco na região próxima do eletrodo é sempre maior que na proximidade
da peça. Essa diferença de pressão causa um fluxo de gás no sentido eletrodo peça, que é o "Jato de Plasma".
Na figura 5 representa-se esquematicamente esse efeito.
Considerando que tanto o campo magnético como as forças de Lorentz são proporcionais à
intensidade da corrente, quanto maior for esta, mais forte será o jato de plasma e consequentemente, maior a
penetração do cordão de solda.
Na extremidade fundida de eletrodos consumíveis, as forças de Lorentz são capazes de deformá-la,
tendendo a estrangular a parte líquida e separá-la do fio sólido, promovendo dessa forma a transferência da
gota metálica.
Um outro efeito das forças de Lorentz é o chamado "Sopro Magnético". Usualmente o campo
magnético induzido pela corrente tende a se distribuir uniformemente em torno do arco. Quando esta
A soldagem visa produzir uma junta entre dois elementos sólidos, conforme definição já comentada.
Esta junta pode configurar-se de diversas maneiras, condicionando diferentemente o processo de soldagem.
O posicionamento das peças para união determina os vários tipos de juntas. Os principais tipos de
juntas são os seguintes:
Junta de Topo (figura 6): são aquelas em que os componentes a soldar encontram-se topo a topo, de
modo que, numa seção transversal, estes componentes apresentam-se num mesmo nível. Exemplo:
Junta em Ângulo (figura 7): juntas em que, numa seção transversal, os componentes a soldar
apresentam-se sob a forma de um ângulo. Exemplo:
Juntas de Aresta (figura 9): junta formada por dois componentes a soldar, de tal modo que os bordos
dos mesmos formam um ângulo de 180o. Exemplo:
A maioria dos processos de soldagem utiliza o calor como principal fonte de energia, sendo necessário
fornecê-lo à poça de fusão em quantidade e intensidade suficientes, de forma a garantir a execução de uma
solda de boa qualidade. O calor é, portanto, elemento essencial à execução de uniões soldadas mas pode por
outro lado, representar fonte potencial de problemas devido à sua influência direta nas transformações
metalúrgicas que ocorrem na junta soldada.
As condições térmicas na solda e nas regiões próximas a ela devem ser estabelecidas para controlar
estes fenômenos metalúrgicos na soldagem. De particular interesse pode-se citar:
- aporte de energia ou de calor à junta soldada;
- rendimento térmico do arco elétrico;
- a distribuição da temperatura máxima (ciclo térmico) na zona afetada pelo calor (ZAC);
- as velocidades de resfriamento em pontos do metal de solda e zona afetada pelo calor;
- a velocidade de solidificação do metal de solda.
A velocidade de resfriamento é um dos aspectos mais importantes do fluxo térmico, uma vez que,
após um ponto de solda ter alcançado sua temperatura máxima, o tempo no qual ele resfria exerce um efeito
significativo sobre a estrutura e as propriedades do metal de base. A maioria dos processos de soldagem por
fusão é caracterizado pela utilização de uma fonte de calor intensa e localizada. A história térmica de um
ponto na soldagem pode ser dividida de maneira simplificada, em duas etapas básicas: uma etapa de
aquecimento e outra de resfriamento.
É interessante sabermos que nas soldas existem três zonas de particular interesse, as quais podem
ser identificadas por exame macrográfico. Na figura 11 representa-se a seção transversal de uma solda
identificando as três regiões principais da solda.
Zona Fundida (ZF) composta pelo metal de base e metal de adição ou somente pelo metal de
base, no caso de soldagem autógena. Nesta região as temperaturas são maiores que a temperatura de fusão
do material, sendo pois, a região da junta soldada onde efetivamente ocorreu a fusão e subsequente
solidificação.
A zona fundida pode ser formada sob as mais diversas condições. Na soldagem a arco com eletrodo
consumível, o metal de adição fundido é transferido para a poça de fusão na forma de gotas, aquecidas a
temperaturas muito elevadas, acima de 2000oC, no caso de aços.
A composição química final da zona fundida depende da diluição, ou seja, da participação relativa do
metal de base e do metal de adição na formação da zona fundida. A diluição (D) é determinada pela razão
entre a massa do metal de base fundida e a massa total da solda.
Uma das formas de se avaliar a diluição é através de macrografias da seção transversal da junta
soldada. A diluição varia com o processo de soldagem, sendo por exemplo de 10 a 30% para o processo de
soldagem por eletrodo revestido, de até 80% na soldagem por arco submerso e 0% na brasagem.
O controle da diluição é importante na soldagem de metais dissimilares, na deposição de
revestimentos especiais sobre uma superfície metálica, na soldagem de metais de composição química
desconhecida, caso muito comum em soldagem de manutenção e na soldagem de materiais que tenham altos
teores de elementos prejudiciais à zona fundida, como o carbono e o enxofre.
Vejamos um exemplo prático da importância do controle da diluição envolvendo aços inoxidáveis. Para
tal utilizaremos os diagramas de Schaefler e Bystram situando nos mesmos as composições químicas do metal
base e metal de adição e, como conseqüência poderemos prever a estrutura da zona fundida e os problemas
característicos.
Exemplo:
Utilizando o Diagrama de Schaefler, calculam-se os valores de cromo e níquel equivalentes para o metal
de base e o metal depositado:
Foi Bystram que após Schaeffler delimitou no diagrama os campos que mostram as regiões de
problemas característicos. As composições químicas das soldas que caírem dentro desses campos podem
apresentar outros problemas também, mas os principais são os indicados. Assim, ao se executar a soldagem,
deve-se levar em conta primeiramente a prevenção contra o problema indicado (vide figura 10).
CAMPO 1: Abrange a região dos aços inoxidáveis ferríticos, ao cromo, com baixo teor de carbono. O
problema é o crescimento irreversível dos grãos quando o aço está aquecido a temperaturas maiores que 1100
C. Esse crescimento irreversível dos grãos é mais acentuado na zona termicamente afetada, resultando em
fragilização que normalmente não resiste nem mesmo aos esforços de contração da junta soldada. Por esta razão
procura-se evitar a soldagem de aços inoxidáveis ferríticos.
CAMPO 2: Esse campo abrange as estruturas martensíticas e parte das estruturas mistas martensítica-
austenítica e martensítica-ferrítica. São normalmente os aços temperados ou temperados e revenidos, com teores
mais altos de carbono (ex. 0,3%), que são sujeitos aos problemas desse campo. A fissuração a frio (abaixo de
400C) é o que ocorre nesses aços, devido à ocorrência simultânea dos três fatores: martensita, tensões e
hidrogênio. A fissuração se dá normalmente na zona afetada termicamente da junta soldada, mas pode ocorrer
também no cordão de solda.
Zona Afetada pelo Calor (ZAC) correspondente à região do metal de base não fundida adjacente
à zona de fusão, porém, cujas temperaturas são sempre superiores à temperatura de transformação do
material, podendo provocar alterações nas suas propriedades e microestrutura. Também chamada Zona
Termicamente Afetada (ZTA).
As características da ZAC dependem principalmente do tipo de metal de base e do processo e
procedimentos de soldagem, ou seja, do ciclo térmico e da repartição térmica. De acordo com o tipo de
metal que está sendo soldado, os efeitos dos ciclos térmicos poderão ser os mais variados. No caso de metais
não transformáveis (o alumínio, por exemplo), a mudança estrutural mais marcante será o crescimento de
grão.
Em metais transformáveis, a ZAC será mais complexa. Na figura 12 são apresentadas as regiões
características da ZAC para os aços carbono e aços baixa liga.
a) Região de Crescimento de Grão: compreende a região do metal de base, mais próxima da solda,
que foi submetida a temperaturas próximas da temperatura de fusão. Nesta situação a estrutura austenítica
sofre um grande crescimento de grão. Este crescimento depende do tipo de aço e da energia de soldagem e,
constitui a região mais problemática da ZAC podendo apresentar menor tenacidade e problemas de
fissuração. É caracterizada por uma estrutura grosseira, com placas de ferrita, podendo apresentar perlita,
bainita ou martensita.
c) Região Intercrítica: nesta região, a temperatura de pico varia entre 727oC e a linha A3, sendo
caracterizada pela transformação parcial da estrutura original do metal de base.
Metal de Base (MB) região mais distante do cordão de solda moderadamente aquecida ou sem
nenhuma influência do calor de soldagem. Não apresentam mudanças microestruturais perceptíveis. As
temperaturas são inferiores às temperaturas críticas para o material (inferior a 727 oC no caso dos aços
carbono).
A linha de fusão ou zona de ligação é a região que faz a ligação entre os cristais da zona de fusão
com os cristais da zona termicamente afetada. Em uma micrografia observa-se que se trata de uma linha de
transição estrutural. É a região que durante a soldagem foi aquecida entre a linha liquidus e a linha solidus.
Para a soldagem a arco, pode-se considerar o arco como a única fonte de calor, definida pela sua
energia de soldagem. Verifica-se que uma parte desta energia disponível é dissipada para a atmosfera sob a
forma de calor irradiante, outra pequena fração perde-se por convecção no meio gasoso que protege a poça de
fusão e, uma terceira parte é realmente usada para a execução da soldagem. Conclui-se, portanto, que nem toda
a energia disponível é integralmente aproveitada para fundir o metal base e o eletrodo, sendo as perdas
computadas através do que se chama rendimento térmico do processo, o qual é uma relação entre a quantidade
de energia efetivamente absorvida na soldagem e a energia total fornecida ao arco.
A energia de soldagem é uma medida da quantidade de calor cedido à peça, por unidade de
comprimento, definida por Eab = t .E. A dissipação do calor ocorre principalmente por condução na peça, das
regiões aquecidas para o restante do material.
U I
Considerando que E , podemos rescrever a equação de Eab como:
vs
U I
E ab t onde:
s
Como não se consegue quantificar com precisão as perdas de energia em cada processo e,
consequentemente, não se sabe a energia entregue à peça, as equações apresentam um certo erro. Uma das
principais fonte de erro reside no fato de se considerar o rendimento térmico ( t) constante para cada processo,
independentemente dos parâmetros de soldagem. Geralmente consideram-se os seguintes valores para o
rendimento térmico conforme tabela 1.
S H s
f ,
t q
q
Como E e E ab t E pode-se reescrever a equação de f como:
vs
SH SH
f ou f
t E E ab
Durante a soldagem, cada ponto de material processado passa por um ciclo térmico cuja
intensidade será função de sua localização em relação à fonte de energia, no caso, o eletrodo. Esse ciclo
térmico representa as temperaturas que o ponto em estudo atinge em cada instante do processo. É possível,
portanto, obter para qualquer ponto do sólido em estudo o valor instantâneo da temperatura.
Dessa forma, se desejarmos conhecer o ciclo térmico a que será submetido um determinado ponto
da zona afetada pelo calor de uma junta soldada, ou se desejarmos interpretar as transformações metalúrgicas
em um ponto do metal de base próximo à região da solda, bastará utilizarmos a equação abaixo:
A equação da temperatura máxima acima pode ser usada para várias finalidades, entre as quais:
1. determinação da temperatura máxima em um ponto específico da ZAC;
2. para estimar a largura da ZAC;
3. mostrar o efeito da temperatura de pré aquecimento sobre a largura da ZAC.
Apesar da utilidade da equação de temperatura máxima, é importante recordar certas restrições ao seu
uso. A mais importante destas é que a equação é derivada para a condição de "placas finas" na qual o calor é
conduzido em direções paralelas ao plano da chapa. Quando o fluxo de calor for essencialmente planar, o
volume do metal afetado pelo calor (ZAC) por unidade de comprimento de solda é 2.e.y. Este valor aplica-se às
"placas espessas".
Para uma dada temperatura de pré aquecimento, os tempos de permanência de um ponto considerado à
temperatura máxima aumentam com o aumento do aporte de energia e causam um decréscimo na velocidade de
resfriamento. Para um dado valor de energia absorvida, aumentando-se a temperatura de pré aquecimento
diminui-se a velocidade de resfriamento..
À medida que nos distanciamos da fonte de energia, os ciclos térmicos assumem características
importantes. A figura 14 representa curvas típicas de uma família de ciclos térmicos correspondentes à
soldagem por arco de uma chapa de aço onde a curva superior representa o ciclo térmico correspondente a uma
temperatura máxima de 1400oC a qual foi encontrada em um ponto localizado a 10 mm do centro do cordão de
solda e a curva inferior corresponde ao ciclo térmico de um ponto que alcança 515 oC de temperatura máxima e
que se encontra a 25 mm do centro da solda.
Por outro lado, a determinação dos ciclos térmicos permite a obtenção das linhas isotérmicas, ou seja,
o efeito que o aporte de calor concentrado na poça de fusão de um cordão de solda produz sobre a superfície da
chapa mostrando a distribuição das linhas que alcançam igual temperatura (isotermas) a distintas distâncias do
centro do arco.
Supõe-se que a solda avança segundo uma linha horizontal na chapa; as linhas internas encerram
regiões que se encontram em temperaturas mais elevadas.
Quando se aumenta a temperatura de pré-aquecimento as isotermas crescem, uma vez que a entrega de
energia adicional desloca a isoterma para pontos mais distantes do centro do arco. Isto proporciona um aumento
no tempo de aquecimento e eleva a temperatura máxima, porém, diminui a velocidade de resfriamento.
c) Espessura da Junta: até uma espessura limite, a velocidade de resfriamento aumenta com a espessura da
peça. Acima deste limite, a velocidade de resfriamento independe da espessura (figura 16).
Visando verificar a relação da velocidade de resfriamento com o comprimento do cordão, foi feito um
experimento utilizando uma junta de topo (bitérmica) e uma junta em T (tritérmica) sendo que em cada uma foi
acoplado um termopar na região central do comprimento do cordão e na cratera do mesmo. Os parâmetros de
soldagem utilizados foram: corrente de 170 A, tensão de 28 V e velocidade de soldagem de 15 cm/min.
Termopar
Junta Bitérmica
Termopar
Junta Tritérmica
2. Quanto mais alta for a temperatura máxima num ponto, maior será a velocidade de resfriamento.
3. Na cratera, a velocidade de resfriamento também é alta devido ao fato de inexistir arco durante a
solidificação nesta região, bem como, devido ao calor voltar a fluir em várias direções. Na cratera ocorrem
rechupes, cujo interior é irregular devido à formação de dendritas, implicando em pontos de concentração de
tensões e de heterogeneidade química, devido à segregação de impurezas.
C Tc T0
t e
E ab
Para se calcular a velocidade de resfriamento entre duas chapas grossas de mesma espessura, quando se
deposita um grande número de passes, usa-se frequentemente a expressão:
2 k Tc To
2
R ,
E ab
2
e
R 2 k C Tc T0 3
E ab
A espessura limite depende da energia de soldagem, sendo sua variação diretamente proporcional à
energia de soldagem. Como regra prática para os aços baixa liga pode-se adotar a espessura limite como
aproximadamente igual à energia de soldagem. Espessuras menores que a espessura limite caracterizam as
chapas finas e as maiores, as chapas grossas.
60 V I
E [kJ/cm]
1000 s
b) Em função da geometria da junta ou do ângulo formado na junta em "X" ou "V" após o primeiro
passe, efetua-se a correção da energia de soldagem, agora denominada energia corrigida (HCORRIGIDO).
d) O diagrama IRSID (figura 18) tem como abcissa a energia equivalente transferida e como
ordenada, a espessura da placa. Uma vez conhecidos estes valores basta marcar o ponto de interseção no
diagrama e ler o valor do tempo de resfriamento. No caso de haver pré aquecimento da placa, deve-se fazer
a correção dos valores de espessura e da energia equivalente transferida em função da temperatura de pré
aquecimento.
Uma outra utilização para o diagrama IRSID está na determinação dos parâmetros de soldagem. Os
mesmos podem ser obtidos a partir do tempo de resfriamento, o qual pode ser calculado pelos diagramas
CRC em função do teor de martensita admitida ou pela dureza e da espessura da placa, bastando para isto
um procedimento inverso ao anteriormente comentado.
Conforme já estudamos, para se obter o controle metalúrgico de uma junta soldada e, por
conseqüência, o controle das propriedades mecânicas, é necessário que se conheça os ciclos térmicos a que a
junta soldada é submetida. Os tratamentos térmicos têm o objetivo de alterar ou conferir características
determinadas à junta soldada.
Os tratamentos térmicos mais comumente empregados para melhorar as propriedades das juntas
soldadas são:
a) antes da soldagem: pré aquecimento
b) após a soldagem: recozimento para alívio de tensões, recozimento pleno e normalização.
a) Pré aquecimento
A temperatura de pré-aquecimento não deve ser excessiva, devendo ser apenas a necessária para evitar
o obtenção da estrutura martensitica podendo variar de 50 a 540ºC (mais aplicada na faixa de 150 a 200ºC). O
pré-aquecimento aumenta a temperatura do metal adjacente à solda de forma que o gradiente de temperatura
entre a solda e a vizinhança fique reduzido, diminuindo a velocidade de resfriamento.
Para aços carbono, soldados por eletrodo revestido pode-se usar a equação seguinte para determinação
da temperatura de pré-aquecimento:
As tensões residuais em juntas soldadas são causadas pela contração da junta quando esta é resfriada
após a soldagem. Tensões de tração são geradas na região da solda e de compressão, nas vizinhanças da mesma,
no metal base, para equilibrá-las.
Para os aços carbono, somente os tratamentos realizados em temperaturas superiores a 500oC são
realmente eficazes. Para cada tipo de aço temperaturas específicas são recomendadas.
c) Normalização
Via de regra, é recomendável a realização de um revenimento na junta soldada após o tratamento, para
remover tensões residuais e diminuir a dureza.
Temperatura (oC)
A
Curva de Resfriamento
Metalurgia da Soldagem 39
M e Soldabilidade dos Materiais
I M
f
Tempo
d) Recozimento Pleno
O recozimento consiste no aquecimento da peça acima da zona crítica (A3) durante o tempo necessário
para que toda a microestrutura se austenitize, seguido de um resfriamento muito lento, mediante o controle da
velocidade de resfriamento. A micro estrutura obtida nos aços carbono é a perlita grossa e ferrita.
Para os aços, a temperatura de recozimento corresponde a 50 oC acima da temperatura de
austenitização, ou seja, cerca de 900 a 950oC para aços de baixo teor de carbono.
Temperatura (oC)
Curva de resfriamento
Tempo
Materiais de aços baixa liga ou endurecíveis ao ar sofrem uma redução considerável de propriedades
mecânicas com o recozimento pleno, não sendo, portanto, recomendado este tratamento para juntas soldadas
destes tipos de aços.
A têmpera consiste no aquecimento da peça acima da zona crítica seguido de resfriamento rápido. O
objetivo da têmpera é a obtenção da estrutura martensítica resultando, por este motivo, o aumento da dureza e a
redução da tenacidade da peça.
O revenimento é o tratamento térmico que normalmente acompanha a têmpera, pois atenua os
inconvenientes produzidos por esta. O revenimento consiste em aquecer o material a temperaturas bastante
inferiores à temperatura crítica, permitindo uma certa acomodação do sistema cristalino e, como conseqüência,
a diminuição da dureza e o aumento da tenacidade da peça. A estrutura resultante chama-se de martensita
revenida.
Revenimento
I M
Tempo
1. Como você pode delimitar o tamanho da zona afetada pelo calor de uma solda por fusão?
Eletrodo C Si Mn Cr Ni
E8018 0,08 0,40 1,35 - 0,4
E308 0,06 0,40 1,80 20 10
E310 0,14 0,60 2,00 26 21
8. Utilizando o Diagrama de Schaefler, verifique qual das situações abaixo é a mais adequada para se
realizar a soldagem de uma chapa de aço baixa liga com outra de aço inoxidável austenítico. As
composições das ligas e dos eletrodos são informadas a seguir:
a) Determine a temperatura máxima alcançada por um ponto situado a 2,3 mm do cordão de solda e
indique em que região da ZAC ele se localiza (granulação grosseira, granulação fina ou
intercrítica).
b) Determine a largura da ZAC.
c) Determine a área de seção transversal do cordão de solda
d) Determine a velocidade de resfriamento da ZAC, após ter-se atingido a temperatura de 850oC.
23. Quanto tempo uma solda realizada pelo processo TIG, junta em ângulo, chapa de espessura 15 mm
demoraria para resfriar de 800 a 500oC? Considere a energia de soldagem calculada no exercício
anterior. Utilizar o diagrama de IRSID.
24. Calcule a energia de soldagem e a energia absorvida pela peça para as seguintes condições de soldagem
de um aço baixo carbono:
a) Processo MAG, I = 300 A, U = 29 V, V = 60 cm/min e t = 80% (espessura 4,5 mm)
b) Processo SAW, I = 420 A, U = 34 V, V = 60 cm/min e t = 95% (espessura 12,5 mm)
c) Medidas na seção transversal das soldas (a) e (b) obtiveram áreas transversais dos cordões de 52 e 118 mm 2,
respectivamente. Calcule o rendimento de fusão para estes dois casos. Discuta os resultados considerando os
processos de soldagem utilizados. Dado: energia necessária para fundir e aquecer o aço baixo carbono de 10
J/mm3.
25. Um perfil de aço carbono SAE 1030, de espessura 6 mm, foi soldado pelo processo de soldagem por
arco metálico por proteção gasosa (MAG). Considere a densidade do aço carbono igual a 0,00785
g/mm3 e o calor específico igual a 0,515 J/g.oC. Calcule a largura da ZAC (Tp = 723oC) para as três situações
abaixo.
26. Uma chapa de aço API 5LX-X60 de espessura 15 mm foi soldada pelo processo eletrodo revestido
utilizando um eletrodo do tipo E7024 de diâmetro 5 mm, junta de topo. Foram adotados os seguintes
parâmetros de soldagem: corrente de 270 A, tensão de 29 V, velocidade de deslocamento do eletrodo de
3,13 mm/s e pré aquecimento de 200oC. Faça uma estimativa da dureza na zona afetada pelo calor após
conclusão da soldagem.
Utilize o diagrama IRSID e o diagrama TRC para a soldagem do aço API 5LX-X60.
A soldagem com eletrodo revestido (Shielded Metal Arc Welding – SMAW) é definida como um
processo de soldagem a arco, onde a união dos metais é produzida pelo aquecimento oriundo de um arco
elétrico estabelecido entre um eletrodo revestido e o metal de base, na junta a ser soldada.
O metal fundido do eletrodo é transferido através do arco até a poça de função do metal de base,
formando assim o metal de solda depositado. Uma escória, que é formada do revestimento do eletrodo e das
impurezas do metal de base, flutua para a superfície e cobre o depósito, protegendo-o da contaminação
atmosférica e também controlando a taxa de resfriamento. O metal de adição vem da alma metálica do
eletrodo (arame) e do revestimento, quando constituído de pó de ferro e elementos de liga. Apresenta-se na
figura 19 um desenho esquemático do processo de soldagem por eletrodo revestido.
Esse processo teve início no princípio do século, com a utilização de arames nus para cercas, ligados
a rede elétrica. O resultado dessa prática era realmente pobre, com sérios problemas de instabilidade de arco
e depósito de solda contaminados. Observou-se que arames enferrujados, ou cobertos de cal,
proporcionavam melhor estabilidade de arco, tendo-se adotado o eletrodo com revestimento ácido ainda no
começo da primeira década. Observou-se também que, revestindo o arame com asbestos, o depósito era
protegido da contaminação enquanto o algodão aumentava a penetração do arco. Esses fatos marcaram, em
meados daquela década, o advento do revestimento celulósico. Desde esses estágios iniciais, o
Os eletrodos revestidos são classificados tendo como base as propriedades mecânicas do metal de solda
na condição “como soldado”, tipo de revestimento, posição de soldagem do eletrodo e tipo de corrente.
A classificação estabelecida pela AWS (American Welding Society) identifica os eletrodos para aço
agrupando-os em três categorias: para aços de baixo carbono, para aços de baixa liga e para os aços de alta liga.
A classificação de um eletrodo genérico para aços de baixo carbono (AWS A5.1) e baixa liga (AWS
A5.5) tem a seguinte forma:
A soldagem a arco com eletrodo não consumível de tungstênio e proteção gasosa (Gas Tungsten Arc
Welding – GTAW) é um processo na qual a união de metais é produzida pelo aquecimento destes com um
arco estabelecido entre um eletrodo de tungstênio não consumível e a peça.
A proteção durante a soldagem é conseguida com um gás inerte ou mistura de gases inertes, que
também tem a função de transmitir a corrente elétrica quando ionizados durante o processo. A soldagem
pode ser feita com ou sem metal de adição. Quando é feito com metal de adição, ele não é transferido
através do arco, mas é fundido pelo arco. O eletrodo que conduz a corrente é um arame de tungstênio puro
ou liga deste material.
A área do arco é protegida da contaminação atmosférica pelo gás protetor, que flui do bico da pistola.
O gás remove o ar, eliminando nitrogênio, oxigênio e hidrogênio do contato com o metal fundido e com o
eletrodo de tungstênio aquecido. Como não existem reações metal-gás e metal-escória, não há grande
Os eletrodos são geralmente apontados antes de se iniciar a operação de soldagem, sendo esta
variável bastante importante para se garantir uma boa repetitividade de resultados. Na soldagem com
corrente contínua (eletrodo negativo), o ângulo de afiação do eletrodo é ordem de 30 a 50 º, sendo realizado
por meio de esmerilhamento. Os riscos do esmerilhamento devem ter a direção pararela ao eixo do eletrodo.
Na soldagem com corrente alternada, eletrodos com diâmetros inferiores a 1,6 mm não são afiados e com
diâmetros maiores ou iguais a 1,6 mm são afiados com ângulo aproximado de 90º.
Se a extremidade do eletrodo for contaminada pelo contato com a poça de fusão ou com a vareta,
então essa parte deve ser eliminada.
D
A soldagem MIG/MAG usa o calor de um arco elétrico entre um eletrodo nu alimentado de maneira
contínua e o metal de base. O calor funde o final do eletrodo e a superfície do metal de base para formar a
solda. A proteção do arco e da poça de solda fundida vem inteiramente de um gás alimentado externamente,
o qual pode ser inerte, ativo ou mistura destes. Portanto dependendo do gás poderemos ter os seguintes
processos:
- Processo MIG (Metal Inert Gas): injeção de gás inerte. O gás pode ser argônio, hélio, argônio + 1 a 3% de
O2.
- Processo MAG (Metal Active Gas): injeção de gás ativo ou mistura de gases que perdem a característica de
inertes, quando parte do metal de solda é oxidado. Os gases utilizados são CO 2 , CO2 + 5 a 10% O2, argônio
+ 15 a 30% CO2 , argônio + 5 a 15% O2, argônio + 25 a 30% N2.
Escórias formadas nos processos de soldagem com eletrodo revestido e a arco submerso, não formam no
processo de soldagem MIG/ MAG, porque neste processo não se usa fluxo. No entanto, um filme vítreo (que
tem o aspecto de vidro) de sílica se forma de eletrodos de alto silício, o qual deve ser tratado como escória.
A soldagem MIG/ MAG é um processo normalmente semi-automático, em que a alimentação do arame
eletrodo é feita mecanicamente, através de um alimentador motorizado, e o soldador é responsável pela
iniciação e interrupção da soldagem, além de mover a tocha ao longo da junta. A manutenção do arco é
garantida pela alimentação contínua de arame eletrodo e o comprimento do arco é, em princípio, mantido
aproximadamente constante pelo próprio sistema, independentemente dos movimentos do soldador, dentro de
certos limites.
O calor gerado pelo arco é usado para fundir as peças a serem unidas e o arame eletrodo, que é
transferido para a junta e constitui o metal de adição.
A soldagem GMAW pode ser usada em materiais numa ampla faixa de espessuras, como mostra a tabela
4, tanto em ferrosos como em não ferrosos. O diâmetro dos eletrodos usados varia entre 0,8 a 3,2 mm. O
processo MAG é utilizado apenas na soldagem de materiais ferrosos, enquanto a soldagem MIG pode ser usada
tanto na soldagem de ferrosos quanto não ferrosos, como alumínio, cobre, magnésio, níquel e suas ligas.
Na soldagem com eletrodos consumíveis, o metal fundido na ponta do eletrodo tem que se transferir
para a poça de fusão. O modo de ocorrência desta transferência é muito importante na soldagem GMAW, pois
afeta muitas características do processo, como por exemplo: a quantidade de gases (principalmente hidrogênio,
nitrogênio e oxigênio) absorvidos pelo metal fundido, a estabilidade do arco, a aplicabilidade do processo em
determinadas posições de soldagem e o nível de respingos gerados. De um modo geral pode-se considerar que
existem quatro formas básicas de transferência de metal de adição do eletrodo para a peça: transferência por
Na soldagem com transferência por curto circuito são utilizados arames de diâmetros na faixa de 0,8 a
1,2 mm, e aplicados pequenos comprimentos de arco (baixas tensões) e baixas correntes de soldagem, sendo
por isto um processo de energia relativamente baixa, o que restringe seu uso para espessuras maiores. É obtida
uma pequena poça de fusão de rápida solidificação.
Este técnica de soldagem é particularmente útil na soldagem de materiais de pequena espessura em
qualquer posição, materiais de grande espessura nas posições vertical e sobrecabeça, e no enchimento de largas
aberturas..A soldagem por curto circuito também deve ser empregada quando se tem por requisito uma
distorção mínima.
A fusão inicia-se globularmente com a formação de uma gota de metal na ponta do eletrodo e esta vai
aumentando de tamanho até tocar a poça de fusão, quando a corrente começa a aumentar para uma corrente de
curto circuito (aumento relativo da corrente de soldagem e abaixamento momentâneo da tensão) e extinguindo
o arco. Quando esse valor alto de corrente é atingido, o metal é transferido. Sob ação da força de tensão
superficial, a gota é transferida para a peça. O arame entra em curto circuito com a peça de 20 a 200 vezes por
segundo. Não há metal transferido durante o período de arco aberto, somente nos curto-circuitos.
Este modo de transferência caracteriza-se por uma grande instabilidade do arco, podendo apresentar a
formação intensa de respingos. A quantidade de respingos pode ser limitada pela seleção adequada de
parâmetros de soldagem e ajuste da fonte de energia. Para se garantir uma boa estabilidade do arco na técnica
por curto circuito devem ser empregadas correntes baixas. A tabela 5 ilustra a faixa de corrente ótima para a
transferência de metal por curto circuito para vários diâmetros de arames. Estas faixas podem ser ampliadas
dependendo do gás de proteção selecionado.
Tabela 5 – Faixa ótima de corrente de curto circuito para
vários diâmetros de arame
Diâmetro do arame Corrente de soldagem (A)
pol (“) mm mínima máxima
0,030 0,76 50 150
0,035 0,89 75 175
0,045 1,10 100 225
Transferência Globular
Este tipo ocorre para valores intermediários de tensão e corrente de soldagem e resulta em arco mais
estável que no caso anterior. Sua ocorrência é, também, bastante comum quando se usa o CO 2 e hélio como
Metalurgia da Soldagem e Soldabilidade dos Materiais 56
gases de proteção. O metal se transfere para a poça como glóbulos, cujo diâmetro médio varia com a corrente,
tendendo a diminuir com o aumento desta, podendo ser maior ou menor que o diâmetro do eletrodo. Os
glóbulos se transferem para a poça sem muita direção e o aparecimento de respingos é relativamente elevado.
Como as gotas de metal fundido se transferem principalmente por ação da gravidade, sua utilização é limitada à
posição plana.
À medida que se aumenta a corrente de soldagem, o diâmetro médio das gotas de metal líquido que se
transferem para a peça diminui, até que, acima de certa faixa, há uma mudança brusca no modo de
transferência, que passa de globular para “spray”. Neste modo, as gotas de metal são extremamente pequenas e
seu número bastante elevado. A corrente (faixa) na qual ocorre esta mudança no modo de transferência é
conhecida como “corrente de transição”.
A transferência por spray só ocorre para elevadas densidades de corrente e quando se usa argônio ou misturas
ricas em argônio como gás de proteção.
Com a transferência por spray a taxa de deposição pode chegar a 10 kg/h. Essa técnica de soldagem é
geralmente empregada para unir materiais de espessura 2,4 mm ou superiores. Exceto na soldagem de alumínio
ou cobre, o processo de arco em spray fica restrito apenas à soldagem na posição plana devido ao tamanho
elevado da poça de fusão, de difícil controle. No entanto, aços carbonos podem ser soldados fora de posição
usando essa técnica com uma poça de fusão pequena, geralmente com arames de diâmetro 0,89 mm ou 1,10
mm.
Como esta transferência só é possível em correntes elevadas, ela não pode ser usada na soldagem de
chapas finas, e ainda pode dar origem a outro problema que é a possibilidade de ocorrência de falta de fusão,
devido ao jato metálico ser dirigido para regiões que não tenham sido suficientemente aquecidas.
A transferência pulsada é uma variação da transferência em spray, conseguido pela pulsação da corrente
de soldagem em dois patamares, um inferior à corrente de transição (conhecido como corrente de base), e outro
superior a esta (corrente de pico), de modo que durante o período de tempo em a corrente é baixa, uma gota se
forma e cresce na ponta do eletrodo e é transferida quando o valor da corrente é elevado. Geralmente é
transferido uma gota durante cada pulso de corrente alta. Valores comuns de freqüência ficam entre 60 e 120
pulso por segundo.
Como a corrente de pico fica na região de arco em spray, a estabilidade do arco é similar à soldagem em
spray convencional. O período de baixa corrente mantém o arco aberto e serve para reduzir a corrente média.
O equipamento de soldagem MIG/ MAG consiste de uma pistola (tocha) de soldagem, uma fonte de
energia, um suprimento de gás de proteção e um sistema de acionamento de arame.
Para que um processo de soldagem com eletrodo consumível seja estável, é necessário que a
velocidade de consumo (de fusão) do eletrodo seja, em média, igual à velocidade de alimentação deste, de
modo que o comprimento do arco permaneça relativamente constante. Na soldagem GMAW, existem duas
formas de se conseguir este objetivo: permitir que o equipamento controle a velocidade de alimentação de
modo a igualá-la à velocidade de fusão, ou manter a primeira constante e permitir variações nos parâmetros
de soldagem de modo a manter a velocidade de consumo, aproximadamente constante e, em média, igual à
velocidade de alimentação.
A maioria das aplicações da soldagem MIG/ MAG requer energia com corrente contínua e polaridade
inversa (eletrodo positivo). Nesta situação tem-se um arco mais estável, transferência estável, menor quantidade
de respingos, e cordão de solda com boas características. Corrente contínua com polaridade direta (eletrodo
negativo) não é normalmente usada e, corrente alternada não é nunca utilizada para este processo.
A pistola (tocha) de soldagem contém um tubo de contato para transmitir a corrente de soldagem para o
eletrodo e um bocal de gás para direcionar o gás protetor. O bico de contato é um tubo à base de cobre, cujo
diâmetro interno é ligeiramente superior ao diâmetro do arame eletrodo. O bocal é feito de cobre ou material
cerâmico e deve ter um diâmetro compatível com a corrente de soldagem e o fluxo de gás a serem usados numa
dada aplicação. As tochas para soldagem MIG/ MAG podem ser refrigeradas a água ou pelo próprio gás de
proteção, dependendo de sua capacidade e do fator de trabalho.
O alimentador de arame é acionado por um motor de corrente contínua e fornece arame a uma
velocidade constante, ajustável numa ampla faixa. Não existe qualquer ligação entre o alimentador e a fonte de
energia, entretanto, ajustando-se a velocidade de alimentação do arame, ajusta-se a corrente de soldagem
A finalidade principal do gás protetor em soldagem MIG/ MAG é proteger a solda da contaminação
atmosférica. O gás protetor também influi no tipo de transferência, na profundidade de penetração, no formato
do cordão, velocidade máxima de soldagem, tendência ao aparecimento de mordeduras e custo da soldagem.
Os gases inertes puros são usados principalmente na soldagem de metais não ferrosos, particularmente
os mais reativos, como o alumínio e o magnésio. Na soldagem de ferrosos, a adição de pequenas quantidades de
gases ativos melhora sensivelmente a estabilidade do arco e a transferência de metal. Nitrogênio e misturas com
nitrogênio são usados na soldagem de cobre e algumas de sua ligas.
A abertura do arco se dá por toque do eletrodo na peça. Como a alimentação é mecanizada, o início da
soldagem é feito aproximando-se a tocha da peça e acionando-se o gatilho. Neste instante é iniciado o fluxo de
gás protetor, a alimentação de arame e a energização do circuito de soldagem. Depois da formação da poça de
A soldagem por resistência pertence ao grupo dos processos de soldagem por pressão, e neste aos
processos nos quais é utilizado o calor produzido pela passagem da corrente por um condutor metálico. Na
figura 23 é mostrado uma ilustração do processo.
Neste processo não se utilizam metais de adição, sendo que, em casos excepcionais, pode-se usar
retalhos de chapas colocados na junta ou entre as peças a soldar.
As peças em contato ou que se sobrepõe são aquecidas localmente devido à passagem da corrente e
do conseqüente aquecimento por efeito joule, onde a transformação energética depende das resistências
específicas das parte em contato, da soma das resistências de transição bem como da intensidade da corrente
segundo a Lei de Joule:
R
W 100 onde:
TK
Na soldagem por pontos, a solda é obtida na região das peças colocadas entre um par de eletrodos e
várias soldas podem ser obtidas simultaneamente pela utilização de vários pares de eletrodos.
Na soldagem por projeção, o processo é similar ao anterior, sendo que a soldagem ocorre em um
local determinado por uma projeção ou saliência em uma das peças. Duas ou mais soldas podem ser obtidas
com um único par de eletrodos.
Este processo é usado principalmente para unirem pequenas peças estampadas, forjadas ou usinadas.
Parafusos e pinos podem ser facilmente soldados em uma chapa fina por este processo. A faixa de espessuras
na qual é utilizada a soldagem por projeção é de 0,5 a 3 mm. Apresenta-se na figura 24 o processo de
soldagem por projeção.
Na soldagem por centelhamento (figura 26), as peças são energizadas antes de entrarem em contato e
suas faces são aproximadas até que o contato ocorra em pontos discretos da superfície da junta, gerando
centelhamento. Tanto neste processo quanto no anterior, existe um estágio final, quando as faces
suficientemente aquecidas são fortemente pressionadas uma contra a outra, sofrendo uma considerável
deformação plástica, que consolida a união.
4.1. Soldabilidade
A American Welding Society (AWS) define soldabilidade como “a capacidade de um material ser
soldado nas condições de fabricação impostas por uma estrutura específica projetada de forma adequada e
de se comportar adequadamente em serviço”. Esta definição coloca pontos importantes como: “o projeto é
adequado.”, “e as condições e o procedimento de soldagem.” Uma definição alternativa, mais prática, seria:
“a facilidade relativa com que uma solda satisfatória, que resulte em uma junta similar ao metal sendo
soldado, pode ser produzida”.
A maioria das ligas metálicas é soldável, mas, certamente, algumas são muito mais difíceis de serem
soldadas por um dado processo que outras. Por outro lado, o desempenho esperado para uma junta soldada
depende fundamentalmente da aplicação a que esta se destina. Assim, para determinar a soldabilidade de um
material, é fundamental considerar o processo e procedimento de soldagem e a sua aplicação. Assim, é
importante conhecer bem o material sendo soldado, o projeto da solda e da estrutura e os requerimentos de
serviço (cargas, ambiente, etc).
Com base nessas definições, para melhor determinar a soldabilidade, é interessante fazer algumas
suposições:
1. O metal base é adequado para a aplicação desejada, isto é, ele possui as propriedades adequadas e
necessárias para resistir aos requerimentos da aplicação.
2. O projeto da estrutura soldada e de suas soldas é adequado para o uso pretendido.
Baseado nestas suposições é necessário, então, avaliar a própria junta soldada. Idealmente, uma junta
deveria apresentar resistência mecânica, ductilidade, tenacidade, resistências à fadiga e à corrosão uniformes
ao longo da solda e similares às propriedades do material adjacente.
Na maioria dos casos, a produção de uma solda envolve o uso de calor e/ou deformação plástica,
resultando em uma estrutura metalúrgica diferente da do metal base. Soldas podem, também, apresentar
descontinuidades como vazios, trincas, material incluso, etc. Três tipos de problemas inter-relacionados
devem ser considerados:
1. Problemas na zona fundida ou na zona termicamente afetada que ocorrem durante ou imediatamente
após a operação de soldagem, como poros, trincas de solidificação, trincas induzidas pelo
hidrogênio, perda de resistência mecânica, etc.
2. Problemas na solda ou no material adjacente que ocorrem nas etapas de um processo de fabricação
posteriores à soldagem. Incluem, por exemplo, a quebra de componentes na região da solda durante
Metalurgia da Soldagem e Soldabilidade dos Materiais 66
processos de conformação mecânica.
3. Problemas na solda ou no material adjacente que ocorrem em um certo momento durante o serviço
da estrutura soldada. Estes podem reduzir a eficiência da junta nas condições de serviço e incluem,
por exemplo, o aparecimento e a propagação de trincas por diversos fatores, problemas de corrosão,
fluência, etc.
Para se evitar estes problemas, é importante conhecer as possíveis complicações que os materiais
podem apresentar ao serem soldados, os fatores do material, do projeto e do procedimento de soldagem que
as afetam e a sua influência no comportamento em serviço da estrutura soldada.
Existem muitos tipos de aços e inúmeras formas de classificá-los: aços estruturais, aços fundidos,
aços ferramenta, aços inoxidáveis, aços laminados a quente, aços microligados, aços baixo carbono, aços ao
níquel, aços cromo-molibdênio, aço C-1020, aço A36, aço temperado e revenido, aço efervescente, etc.
Um sistema muito usado para a classificação de aços é a Designação Numérica de Aços Carbono e
Aços Ligados do American Iron and Steel Institute. Este é conhecido como o sistema de classificação AISI
ou como sistema SAE, uma vez que foi desenvolvido originalmente pela Society of Automotive Engineers.
O sistema utiliza uma série de quatro ou cinco números para designar aços carbono e ligados de acordo com
as classes e tipos mostrados na tabela 6. Os dois (ou três) últimos dígitos deste sistema indicam o valor
médio aproximado da faixa de carbono do aço; por exemplo, 21 indica uma faixa de 0,18 a 0,23%C. Em
alguns poucos casos, esta regra não é seguida para se informar as faixas de manganês, enxofre, fósforo,
cromo e outros elementos. Os primeiros dois dígitos indicam os principais elementos de liga do aço. Assim,
este sistema informa os principais elementos de liga do aço e o seu teor aproximado de carbono.
Tabela 6 - Designação numérica AISI-SAE para aços
10xx Aço carbono nãoressulfurado
11xx Aço carbono ressulfurado
13xx Manganês 1,75%
23xx Níquel 3,5%
25xx Níquel 5%
31xx Níquel 1,25% - Cromo 0,65 ou 0,80%
33xx Níquel 3,5% - Cromo 1,55%
40xx Molibdênio 0,25%
41xx Cromo 0,50-0,95% - Molibdênio 0,12 ou 0,20%
43xx Níquel 1,80% - Cromo 0,50 ou 0,80% - Molibdênio 0,25%
46xx Níquel 1,55 ou 1,80% - Molibdênio 0,20 ou 0,25%
47xx Níquel 1,05% - Cromo 0,45% - Molibdênio 0,25%
Outro sistema comumente utilizado para a classificação de aços e outras ligas metálicas é feito pela
American Society for Testing and Materials (ASTM). Este sistema é publicado anualmente em um livro de
normas ASTM que consiste de, pelo menos, 33 partes. Sete destas partes especificam metais:
Part 1: Steel piping, tubings and fittings.
Part 2: Ferrous castings-ferro-alloys.
Part 3: Steel sheet, strip, bar, rod, wire, etc.
Part 4: Structural steel, steel plate, steel rails, wheels, etc.
Part 5: Cooper and cooper alloys.
Part 6: Die-cast metals, light metals and alloys.
Part 7: Nonferrous metals and alloys.
Outras partes cobrem materiais diversos como concreto, produtos químicos, materiais isolantes,
papel, produtos de petróleo, combustíveis, borracha, etc. Três partes são relacionadas com testes:
Part 30: General Test Methods.
Part 31: Metals-Physical and Mechanical Non-destructive Tests.
Part 32: Analytical Methods of Analysis.
As especificações ASTM para metais são identificadas por uma letra, A para ligas ferrosas e B para
ligas não ferrosas. Após esta letra, um grupo de um, dois ou três dígitos indicam o número da especificação,
seguido por dois dígitos que indicam o ano de sua adoção formal. As especificações ASTM apresentam uma
posição comum de fabricantes, usuários e outros grupos interessados em um dado tipo de produto ou
material. Elas especificam as propriedades mecânicas do material e, em muitos casos, a sua composição
química.
Outras organizações que especificam aços, cujos sistemas de especificação são usados algumas vezes
em nosso país, incluem a American Society of Mechanical Engineers (ASME), o American Petroleum
Aços carbono são ligas de ferro e carbono (até 2%C) contendo ainda, como residuais (de materiais
primas ou do processo de fabricação), outros elementos como Mn, Si, S e P. Aços de baixo carbono têm um
teor de carbono inferior a 0,15%. Aços doces contém de 0,15 a 0,3%C. Aços de baixa liga têm uma
quantidade total de elementos de liga inferior a 2%. Estes grupos de aços serão considerados neste item.
O maior problema de soldabilidade destes aços é a formação de trincas induzidas pelo hidrogênio,
principalmente na zona termicamente afetada (ZTA). Outros problemas mais específicos incluem a perda de
tenacidade na ZTA, ou na zona fundida (associada com a formação de estruturas de granulação grosseira,
durante a soldagem com elevado aporte térmico, ou com a formação de martensita na soldagem com baixo
aporte térmico) e a formação de trincas de solidificação (em peças contaminadas ou na soldagem com aporte
térmico elevado). Ainda, em função de uma seleção inadequada de consumíveis ou de um projeto ou
execução incorretos, podem ocorrer problemas de porosidade, mordeduras, falta de fusão, corrosão, etc.
Aços de baixo carbono incluem as séries AISI C-1008 e C-1025. O teor de carbono varia entre 0,10 e
0,25%, o de manganês entre 0,25 e 1,5%, o teor de fósforo máximo é de 0,4% e o de enxofre é de 0,5%
(hoje, na prática, os teores de P e S dificilmente chegam próximo destes limites). Estes são os aços mais
comumente usados em fabricação e construção. São materiais facilmente soldáveis por qualquer processo a
arco, gás ou resistência.
Para a soldagem com eletrodos revestidos (SMAW), eletrodos da classe AWS E60XX e E70XX
fornecem resistência mecânica suficiente para a soldagem destes aços. Eletrodos da classe E60XX devem
ser usados para aços com limite de escoamento inferior a 350 MPa e eletrodos E70XX devem ser usados
com aços com limite de escoamento de até 420 MPa. Para a seleção do tipo de eletrodo, as características
operacionais desejadas devem ser consideradas.
Estes aços incluem as séries AISI entre C-1030 e C-1050. A composição é similar a dos aços de
baixo carbono, exceto pelo teor de carbono entre 0,3 e 0,5% e o teor de manganês entre 0,6 e 1,65%. Em
Estes aços incluem as séries AISI entre C-1050 e C-1095. A composição é similar aos aços
anteriores, exceto pelo teor de carbono entre 0,5 e 1,03% e o teor de Mn entre 0,3 e 1,0%. A soldagem destes
aços necessita de cuidados especiais. Eletrodos/processos de baixo hidrogênio precisam ser usados com um
pré-aquecimento entre 200 e 320ºC, especialmente, para peças mais pesadas. Um tratamento térmico após
soldagem (alívio de tensões ou mesmo recozimento) é usualmente especificado. Os mesmos processos de
soldagem podem ser usados para estes aços.
Estes aços são soldados, no processo SMAW, com eletrodos das classes E80XX, E90XX e E100XX
da norma AWS A5.5. Para a seleção do metal de adição para estes aços, além das propriedades mecânicas, é
muitas vezes necessário considerar detalhes de sua composição química, o que é indicado, no caso da
soldagem SMAW, por um sufixo de letras e dígitos.
Incluem os aços das séries AISI 2315, 2515 e 2517. Teores de carbono variam entre 0,12 e 0,3%, de
manganês entre 0,4 e 0,6%, de silício entre 0,2 e 0,45% e de níquel entre 3,25 e 5,25%. Pré-aquecimento não
é necessário para %C < 0,15, exceto para juntas de grande espessura. Para maiores teores de carbono, um
pré-aquecimento de até 260ºC deve ser usado, embora para juntas de menos de cerca de 7 mm, este possa ser
dispensado. Alívio de tensões após soldagem é recomendável. Na soldagem SMAW, eletrodos de baixo
hidrogênio com sufixo C1 ou C2 devem ser usados dependendo do teor de níquel do metal base.
Este grupo inclui os aços dos tipos AISI 5015, 5160, 50100, 51100 e 52100. Nestes aços, o teor de
carbono varia entre 0,12 e 1,1%, o manganês varia entre 0,3 e 1,0%, o silício entre 0,2 e 0,3% e o cromo
entre 0,2 e 1,6%. Aços com teor de C próximo de seu limite inferior podem ser soldados sem nenhum
cuidado especial. Para maiores teores de carbono (e de cromo), a temperabilidade aumenta de forma
pronunciada e pré-aquecimentos de até 400ºC podem ser necessários, particularmente para juntas de maior
espessura. Eletrodos revestidos com sufixo B devem ser usados.
Os exemplos anteriores ilustram a importância de, na seleção de um consumível para aços de baixa
liga, ajustar a resistência mecânica e a composição química do deposito de solda de acordo com as
características do metal base. Contudo, nem sempre existe disponível um consumível capaz de depositar
material com composição igual ao metal base, sendo preciso selecionar consumível o mais similar o possível
e avaliar possíveis efeitos das diferenças de composição no comportamento da solda.
Aços resistentes ao tempo (aços patináveis) são aços de baixa liga que podem ser expostos ao
ambiente sem serem pintados, sendo protegidos por uma densa camada de óxido que se forma naturalmente.
Devido a esta camada, a sua resistência a corrosão é quatro a seis vezes a resistência de aços estruturais ao
carbono. Aços resistentes ao tempo são cobertos pela especificação ASTM A242. Nesta, limites mínimos de
escoamento e de resistência de 350 MPa e de 420 MPa (70 ksi), respectivamente, são especificados.
Preferencialmente, o CE deve ser calculado para a composição real do aço. Quando esta não é
conhecida, os teores máximos na faixa da especificação do aço devem ser consideradas por segurança. Um
metal base é considerado facilmente soldável com o processo SMAW quando CE < 0,40. Acima deste nível,
cuidados especiais são necessários. Processos de soldagem de baixo hidrogênio devem ser usados e pode ser
necessário pré-aquecer a junta. Quando CE > 0,60, deve-se usar pré-aquecimento para juntas com espessura
acima de 20mm. Quando CE > 0,90, um pré-aquecimento a uma temperatura elevada é absolutamente
necessário para todos casos, exceto para juntas de muito pequena espessura.
A tabela 7 mostra valores típicos de temperatura de pré-aquecimento para diferentes tipos de aços e,
também, para ferro fundido. Como a temperatura de pré-aquecimento depende de diversos fatores, os
valores mostrados nesta tabela devem ser tomados apenas como uma referência inicial.
Tabela 7 – Temperaturas típicas de pré-aquecimento para diferentes tipos de aço e para ferro fundido
Tipo de aço Temperatura (oC)
Baixo carbono (%C < 0,30) 90-150
Médio carbono (0,30 < %C < 0,55) 150-260
Alto carbono (0,50 < %C < 0,83) 260-430
Aços C-Mo (0,10 < %C < 0,30) 150-320
Aços C-Mo (0,30 < %C < 0,35) 260-430
Aços Ni (< 3,5%Ni) 90-370
Aços Cr 150-260
Aços Cr-Ni 90-590
Ferro Fundido 370-480
Na soldagem com arco submerso (SAW), a composição do depósito de solda deve, também, ser
similar a do metal base. Um fluxo não ativo (que não coloca nem retira elementos de liga da poça de fusão)
deve ser usado preferencialmente com aços de baixa liga. Em geral, a necessidade de pré-aquecimento é
reduzida na soldagem SAW devido aos maiores aportes térmicos utilizados. Para garantir um baixo nível de
hidrogênio, é importante utilizar um fluxo corretamente seco e limpar adequadamente o metal base na região
da solda.
Na soldagem de aços com níveis diferentes de resistência mecânica, o metal de adição deve ser
selecionado de forma a fornecer um depósito de resistência compatível com o aço de menor resistência. O
procedimento de soldagem (pré-aquecimento, aporte térmico, etc), contudo, deve ser especificado de acordo
com o aço de maior resistência.
Em princípio, aços resistentes ao tempo podem ser soldados por todos os processos a arco, por
soldagem a gás e por resistência. Contudo, cuidados especiais devem ser tomados em função de suas
características. Na soldagem SMAW, eletrodos E7018 podem ser usados para a deposição dos passes de raiz
e de enchimento. O acabamento (isto é, a última camada da solda, expopsta ao tempo) deve, contudo, ser
feito com um eletrodo E7018-C1 uma vez que o maior teor de níquel do depósito dará à solda características
de resistência à corrosão similares ao metal base.
Estes aços foram desenvolvidos na década de 50 a partir de aços para aplicação militar (blindagem).
Estes aços são usados após tratamento térmico de têmpera e revenido e apresentam elevada resistência
mecânica, com limite de escoamento da ordem de 700 MPa, associado com uma boa soldabilidade. Eles
ainda apresentam boa ductilidade, boa tenacidade e boa resistência à fadiga. Procedimentos de soldagem
relativamente simples podem ser usados na sua soldagem, sem pré-aquecimento ou com pré-aquecimentos a
temperaturas baixas. Aços temperados e revenidos são cobertos pelas especificações ASTM A514, A517 e
outras, por especificações da marinha americana (aços HY) e por documentos de diferentes produtores de
aço. Aços temperados e revenidos são muito utilizados na fabricação de estruturas soldadas nas quais uma
elevada razão peso/resistência é importante.
Para a soldagem de aços temperados e revenidos da classe ASTM A514/A517, um baixo aporte
térmico é utilizado para se conseguir uma resistência mecânica adequada na junta. Três fatores devem ser
considerados: (1) o uso de um metal de adição adequado, (2) o uso do correto aporte térmico e (3) a estrita
obediência ao procedimento de soldagem recomendado.
b) Aços Cromo-Molibdênio
Estes aços foram desenvolvidos para aplicações a temperatura elevada, sendo muito usados em
tubulações que operam a alta pressão e temperaturas entre cerca de 370 e 600ºC. Nesta faixa de temperatura,
os aços Cr-Mo mantém uma resistência mecânica adequada, além de não sofrerem problema de fluência
nem de fragilização após longos períodos de uso. São comumente usados na condição normalizada ou
temperada e revenida com a resistência mecânica à temperatura ambiente variando de 590 a 940 MPa. As
composições comuns destes aços incluem: 1%Cr-1/2%Mo, 1-1/4%Cr-1/2%Mo, 2%Cr-1/2%Mo, 2-1/4%Cr-
1%Mo e 5%Cr-1/2%Mo.
Os processos mais comumente usados para a soldagem de aços Cr-Mo são SMAW, GTAW e GMAW,
embora arco submerso e arame tubular também possam ser usados. Para qualquer processo, é importante
selecionar um metal de adição de composição similar ao metal base.
No processo SMAW, eletrodos com sufixo B são utilizados (tabela 3) variando de B1 para aços
1/2%Cr-1/2%Mo até B4 para o aço 2-1/2%Cr-1/2%Mo. Para maiores teores de liga são necessários
eletrodos especiais, não cobertos pela especificação da AWS. Eletrodos devem ser sempre de baixo
hidrogênio os quais podem ter características operatórias que dificultam a realização do passe de raiz em
tubulações.
Boa parte da soldagem destes aços é feita em tubulações para as quais o passe de raiz é comumente
feito pelo processo GTAW e os outros passes por um outro processo.
O procedimento de soldagem deve incluir pré-aquecimento e, muitas vezes, pós-aquecimento em
função da temperabilidade destes aços. Temperaturas de pré-aquecimento de até 370ºC podem ser usadas.
Para um teor de carbono inferior a 0,2% e espessura menor que 9,5mm, a soldagem pode ser feita com um
pré-aquecimento mínimo (40ºC). Maiores teores de carbono e maiores espessuras exigem pré-aquecimento a
maiores temperaturas.
Tratamento térmico após soldagem deve ser feito para teores de carbono acima de 0,2% e espessuras
superiores a 13 mm. Temperaturas de tratamento térmico variam de 620 a 705ºC, as menores temperaturas
sendo usadas para as menores espessuras. No caso de interrupção da soldagem antes de seu término, a junta
deve ser resfriada lentamente e tratada termicamente antes do reinício da soldagem.
1. Defina soldabilidade. Cite os principais problemas de soldabilidade dos aços de baixo carbono e dos
aços de baixa liga usados em aplicações estruturais.
2. Quais são as classes de eletrodos revestidos mais indicadas para a soldagem dos aços baixo carbono
e aços doces? Caracterize-as.
3. Por que os eletrodos de baixo hidrogênio são os mais recomendados para a soldagem dos aços de
médio carbono?
4. Cite os procedimentos de soldagem que devem ser observados na soldagem dos aços com conteúdo
de carbono entre 0,30 a 0,50%.
5. Se você fosse executar uma solda de um componente metálico com 0,80% C e 0,75% Mn, você
executaria tratamentos térmicos de pré e pós-soldagem? Justifique a sua resposta.
6. Enumere alguns cuidados operacionais que devem ser considerados na soldagem de aços de baixa
liga ao níquel (23XX e 25XX) e ao cromo (50XX e 51XX).
7. O que são aços resistentes ao tempo ou aços patináveis?
8. Por que é importante considerarmos o valor do carbono equivalente (CE) na soldagem de
determinados tipos de aços?
9. Por que deve-se utilizar um fluxo não ativo na soldagem por arco submerso (SAW) de aços de baixa
liga?
10. Que fatores devem ser considerados na soldagem de aços temperados e revenidos visando a obtenção
de uma resistência mecânica adequada na junta?
11. Comente a afirmativa: “Na soldagem dos aços temperados e revenidos, o aporte térmico depende da
espessura da junta e das temperaturas de pré-aquecimento e entre passes”.
12. Discuta a influência do oxigênio e do nitrogênio nas propriedades mecânicas da zona fundida de um
aço carbono.
13. Explique por que na soldagem dos aço cromo-molibdênio é importante selecionar um metal de
adição de composição similar ao metal base, independente do processo utilizado.
14. Discuta a afirmativa: “Na soldagem de diferentes tipos de aços Cr-Mo (soldagem disimilar), as
condições de tratamento térmico são determinadas pelo aço de maior teor de liga, mas o metal de
adição pode ser selecionado com base no metal base menos ligado.”
Quando se diz que um material apresenta uma soldabilidade ruim, ou que é difícil de ser soldado, o
que está sendo dito é que a soldagem deste material envolve uma série de cuidados. Em poucos casos
significa que o material não é soldável. Os aços inoxidáveis são materiais que apresentam uma boa
soldabilidade, que exigem alguns poucos cuidados durante a sua soldagem.
A soldabilidade dos aços inoxidáveis é função do tipo de aço inoxidável. Cada um dos grupos
apresenta características próprias com relação a soldabilidade. Além dos problemas de soldabilidade, que
são geralmente de ordem metalúrgica, os aços inoxidáveis também são susceptíveis a outros tipos de
descontinuidades introduzidas no cordão de solda, que afetam o desempenho da junta soldada.
Sendo estes aços de estrutura quase sempre martensítica, apresentam basicamente os problemas
referentes à martensita. Na família dos aços com 12 a 13% Cr e 0,10 a 0,30% C, a estrutura será martensítica,
quase qualquer que seja o resfriamento, a menos que haja um pré-aquecimento da ordem do Mi (350 - 400C),
e que seja mantido até o tratamento térmico final, que pode ser um recozimento, seguido de um resfriamento
lento (25C/h), dando uma estrutura ferrítico-perlítica. O tratamento mais comum, entretanto, é após pré-
aquecimento mais baixo (da ordem de 200C), um revenimento para aliviar tensões oriundas da solda e revenir
a martensita formada.
Um problema que pode aparecer é a fissuração a frio, pelo hidrogênio. Fazendo-se um pré-aquecimento
de 200 a 250C possibilita que o hidrogênio absorvido na soldagem seja liberado pouco tempo após,
Metalurgia da Soldagem e Soldabilidade dos Materiais 79
equivalendo e substituindo um tratamento de pós aquecimento. Uma energia de soldagem elevada também é
recomendada. Da mesma forma, costuma-se recomendar a aplicação de tratamento térmico após a soldagem,
evitando a queda da temperatura até à ambiente.
O fator principal, entretanto, para determinar a necessidade e os parâmetros dos tratamentos térmicos de
pré e pós aquecimento é o teor de carbono. Abaixo de 0,1% C pode-se soldar com baixa temperatura de pré
aquecimento ou mesmo nenhum. Na tabela 9 são apresentadas valores para a temperatura de pré e pós
aquecimento em função do teor de carbono dos aços martensíticos.
Tabela 9 – Temperaturas de pré aquecimento, energia de soldagem e TTAS para aços martensíticos
As funções do tratamento térmico pós soldagem são: (a) revenir ou recozer a zona fundida e ZAC para
diminuir a dureza ou melhorar a tenacidade, (b) diminuir as tensões residuais associadas com a soldagem e (c)
permitir a difusão do hidrogênio.
O tratamento de revenimento é geralmente feito entre 600 e 850C, por algumas horas, para se obter na
região de solda propriedades mecânicas semelhantes às do metal de base.
Se a operação de soldagem é terminada com a junta a uma temperatura próxima de Ms e esta é colocada
imediatamente em um forno para revenimento, as suas propriedades mecânicas poderão não ser melhoradas,
mesmo que este procedimento se mostre efetivo para evitar a formação de trincas. As melhores propriedades
podem ser obtidas submetendo-se a peça a um tratamento completo de têmpera e revenimento, o que
geralmente não é possível, ou permitindo-se que a junta resfrie até completar a transformação martensítica e, só
então, submetendo-a ao revenimento. Este último procedimento permite a obtenção de soldas com propriedades
mecânicas semelhantes àquelas do metal de base no estado temperado e revenido. Ele exige, entretanto, o
conhecimento do valor de Ms do aço sendo soldado e, para estruturas pesadas, implica na necessidade de um
controle rigoroso da temperatura da peça pois, à medida que esta temperatura diminui, o risco de fissuração
aumenta.
Esses aços apresentam como inconvenientes mais graves a falta de transformação estrutural, o que
provoca o crescimento de grão e a perda de tenacidade e a formação parcial de martensita. Isto não impede o
seu uso, mas o restringe. Alguns cuidados portanto devem ser tomados com relação à sua soldagem:
a) Baixa energia de soldagem, pelo uso de eletrodos de menor diâmetro e/ou baixa corrente de soldagem,
propicia um resfriamento mais rápido e, conseqüentemente, menor probabilidade de problemas de
Os aços inoxidáveis austeníticos são o maior grupo de aços inoxidáveis em uso, representando cerca de
65 a 70% do total produzido no mundo. Esta classe de materiais é caracterizada pelas seguintes propriedades:
* tenacidade e ductilidade superiores à da maioria dos outros aços. Estas propriedades são mantidas até
temperaturas muito baixas.
* boas resistência mecânica e à corrosão a temperaturas elevadas, o que permite a sua utilização em
temperaturas superiores à máxima de serviço de aços baixa liga ou inoxidáveis martensíticos e ferríticos.
* elevada capacidade de endurecimento por deformação plástica (em geral). Esta endurecibilidade não é
acompanhada por uma elevada perda de ductilidade.
* soldabilidade relativamente boa. A ausência de transformação martensítica e sua boa tenacidade implicam na
sua insensibilidade à fissuração pelo hidrogênio. A sensibilidade à formação de porosidades também é baixa e
a zona fundida tem propriedades que se assemelham à do metal de base.
Existe um grande número de tipos de aços inoxidáveis austeníticos, mas as ligas mais utilizadas são
aquelas contendo cerca de 18% Cr e 8% Ni (aço 304). Por isto, a discussão sobre a estrutura destas ligas pode se
iniciar pelo diagrama pseudo-binário Fe-18%Cr-Ni (figura 28).
Com o aumento na quantidade deste elemento, a temperatura Ms é diminuída, mas até cerca de 7 a 8%
de níquel esta temperatura permanece acima da ambiente e o aço é portanto do tipo martensítico. Assim, os aços
inoxidáveis austeníticos são, em geral, ligas contendo 18% Cr e teores de Ni superiores a 8%.
O efeito do carbono sobre a estrutura dos aços inoxidáveis austeníticos acima de cerca de 900C é
similar ao do níquel, isto é, ele tende a ampliar a faixa de existência da austenita e consequentemente reduz a
quantidade de ferrita delta presente a altas temperaturas. Entretanto a solubilidade do carbono na austenita
diminui com a queda da temperatura. Durante um resfriamento lento ou durante uma breve permanência entre
cerca de 450 e 850C, os aços austeníticos com teores de carbono superiores a 0,03% estão sujeitos à
precipitação de um carboneto de cromo M23C6 que pode prejudicar certas propriedades do material,
particularmente sua resistência à corrosão e sua ductilidade a baixas temperaturas. Os aços inoxidáveis
austeníticos também podem ter a adição de outros elementos de liga para a obtenção de propriedades especiais.
São os mais importantes dentre os inoxidáveis, e em geral os mais nobres e mais fáceis de serem
soldados. Basicamente deve-se tomar cuidado com relação à fissuração e trincas a quente, e sensitização; e em
menor escala, em circunstâncias especiais, também a fase sigma.
Lista-se, a seguir, algumas regras sobre a soldagem destes aços:
a) Soldar com menor energia possível. Esses aços não são susceptíveis de se endurecerem por tratamento
térmico. Neste caso, o arco deve ser o mais curto possível.
b) Em peças pequenas não se faz pré-aquecimento. Em peças de grande espessuras pode-se fazê-lo, à
temperaturas não muito altas, para evitar tensões devido aquecimento diferencial.
c) É aconselhável o martelamento de passes intermediários, a fim de diminuir as tensões residuais finais, exceto
em peças finas.
d) Não se deve deixar a temperatura interpasse passar de 200C para evitar ampliar o tempo de permanência na
faixa de sensitização (450 - 850C).
A necessidade de tratamento térmico após soldagem depende bastante das condições de uso da peça. Em
alguns casos, o tratamento é usado para atingir o maior grau de resistência à corrosão possível, e em outros
casos apenas para alívio de tensões.
Para se evitar corrosão intergranular faz-se uma hipertêmpera a 1050 - 1150C durante um tempo de
1h/pol e mínimo de meia hora, seguido de um resfriamento rápido, principalmente pela faixa de 900 - 500C.
Para espessuras menores que 3,2 mm, o resfriamento pode ser ao ar. Para espessuras maiores, resfria-se toda a
peça na água, ou com jato de água. A velocidade de resfriamento depende bastante do teor de carbono, sendo
que, quanto maior for este último, mais drástico deve ser o resfriamento.
Deve-se levar em conta, no entanto, que o resfriamento rápido pode trazer problemas de distorções e
tensionamento, devido ao grande coeficiente de dilatação térmica e à baixa condutividade térmica dos aços
austeníticos. De um modo geral não se faz tratamento térmico em soldas austeníticas, o que é uma grande
vantagem. O código ASME - seção VIII, nos itens UHA-32, UHA-100 e UHA-108 trata do assunto, indicando
o tratamento mais adequado para cada caso.
Este tipo de fragilização é bastante perigoso, pois nem sempre as trincas ocorrem logo após a soldagem.
Seu aparecimento está sempre ligado aos três fatores abaixo, concomitantemente:
1) estrutura martensítica
2) tensões
3) presença de hidrogênio
O local preferencial de aparecimento da trinca a frio (abaixo de 400C) é a ZAC, embora possa ocorrer
também na zona fundida de uma junta soldada. As causas da trinca a frio induzida por hidrogênio podem ser:
Algumas constatações podem ser feitas inicialmente em todos os casos de trincas desse tipo em aços
inoxidáveis austeníticos e em menor escala nos martensíticos e austeno-martensíticos.
- as trincas ocorrem a altas temperaturas (acima de 1150C ou de 1250C).
- o tipo de trinca é intergranular.
- normalmente as trincas estão localizadas na zona fundida, embora possam ser encontradas também na ZAC
(trincas ou fissuras de liquação).
- em geral as trincas são superficiais. Pelo fato delas aflorarem, facilitam a sua detecção com líquidos
penetrantes ou partículas magnéticas.
Podemos separar em dois mecanismos básicos, as trincas que aparecem. O primeiro mecanismo diz que
a estrutura (grãos envoltos por um filme líquido) não pode resistir aos esforços de contração e se trinca no filme
líquido.
O outro mecanismo diz que a trinca ocorre no estado sólido, também devido à fase segregada, mas por
causa de sua menor resistência mecânica e/ou maior fragilidade e menor ductilidade.
Quanto à influência dos elementos, o oxigênio é considerado negativo. O líquido interdendrítico,
existente ainda algum tempo após cessada a proteção da solda, pode oxidar-se, formando óxidos frágeis.
O controle mais efetivo da tendência à fissuração a quente, é feito através da presença da ferrita na
estrutura. O efeito da ferrita tem sido explicado por várias teorias, entre as quais citam-se:
O nome deriva do aspecto de que a 475C a fragilização dos aços ferríticos é máxima. E o fenômeno se
reveste de importância, uma vez que um dos usos mais importantes dos aços ferríticos é justamente em
temperaturas elevadas.
A fragilização é consequência de uma série de processos estruturais, como precipitação de zonas de
ferrita ricas em cromo, que causam um efeito de endurecimento por precipitação. Tem sido observada em todos
os aços Fe-Cr, e em maior escala nos de mais alto cromo. A fragilidade pode ser associada com o aumento da
dureza, e outras variações, como diminuição do volume específico e da resistência elétrica, e aumento da força
de coesão dos átomos.
Para um aço com 15% Cr o período de tempo para haver fragilização é de 700 horas. Com 14% é de
7000 horas e com 13% é de 65000 horas. Se se quer que o material mantenha ductilidade por 100000 horas é
necessário que o teor de cromo seja menor que 12,8%. Apesar de ser um tipo de fragilização possível de
acontecer nos aços inox ferríticos, é um tipo de ocorrência quase impossível de aparecer apenas devido a
processos de soldagem.
Juntamente com a formação de uma rede de martensita ao longo dos contornos de grão ferríticos (no
caso de ligas com maiores teores de intersticiais), o crescimento de grão é o principal mecanismo de
fragilização dos aços ferríticos nos processos de soldagem. A fragilização dos 475C e da fase sigma podem
ocorrer, ou se agravarem também na soldagem, mas são basicamente problemas de uso.
Os aços ferríticos não apresentam variação estrutural, desde a temperatura ambiente até a fusão. Nas
altas temperaturas, portanto, que ocorrem na zona afetada pelo calor e na zona fundida, estão sujeitos ao
crescimento irreversível e exagerado dos grãos.
Quando os aços inoxidáveis austeníticos ficam submetidos à temperaturas da faixa de 450 - 850C pode
ocorrer a precipitação de carbonetos, principalmente de cromo. Esse estado chama-se sensitização. Os fatores
importantes são tempo e temperatura.
O local preferencial de precipitação dos carbonetos são os contornos do grão. O aço sujeito à
precipitação, por um período de tempo que depende da temperatura, se torna sensitizado e, portanto, sujeito à
corrosão intergranular.
Ao se precipitarem, os carbonetos empobrecem a região vizinha em cromo, tornando-a menos resistente
ao ataque de certos ácidos que, agindo sobre o aço, provocarão arrancamento de grãos e a desintegração total do
material. Tais ácidos incluem entre os mais importantes: ácido sulfúrico, nítricos a quente, e certos ácidos
orgânicos a quente. Nem todos os ácidos provocam este tipo de corrosão.
A sensibilidade à corrosão intergranular depende de vários fatores:
a) teor de carbono
b) teores de cromo e níquel (do teor de ferrita)
c) outros elementos de liga
d) granulação do aço
e) tempo e temperatura de exposição
Nas juntas soldadas há sempre uma região da ZAC que está sujeita à faixa de sensitização e,
dependendo da velocidade de resfriamento, o tempo de permanência pode ser suficiente para provocar a
precipitação.
Quando ocorre, a corrosão intergranular se dá como uma faixa paralela e próxima, mas não adjacente ao
cordão de solda. É a região que ficou aquecida por mais tempo na faixa crítica.
Uma das maneiras de evitar a corrosão intergranular é com tratamento térmico de hipertêmpera, isto é,
um aquecimento entre 1050 e 1150C durante um tempo suficiente para redissolver os carbonetos precipitados,
seguido de um resfriamento rápido. Se a peça é fina o resfriamento pode ser ao ar.
Este tipo de corrosão afeta os aços inoxidáveis austeníticos submetidos à tensões de tração e à presença
de certos meios corrosivos, como cloretos e outros halogenetos, em solução aquosa ou mesmo em vapor.
Esse tipo de corrosão não é específico das juntas soldadas, mas a soldagem pode contribuir indiretamente, pelas
tensões residuais de tração, resultantes dos diferentes ciclos térmicos de soldagem. Estas tensões são, por si só,
suficientes para provocar o fenômeno, uma vez que podem ser da ordem do limite de escoamento do material.
As principais características da corrosão sob tensão são:
1) As trincas podem ser intergranulares ou transgranulares dependendo do tipo de material. Pode ainda serem
ramificadas ou não.
2) Há um tempo de incubação, em que a trinca se forma, mas não aparece. A seguir, propaga-se rapidamente.
3) O oxigênio e a temperatura do meio corrosivo aceleram a corrosão sob tensão.
4) A velocidade de corrosão é muito lenta quando o teor de níquel vai a mais de 40% ou desce a menos de 5%.
5) Uma grande pureza do metal é um elemento favorável à resistência à corrosão sob tensão.
7) A estrutura também contribui. Os aços austeno-ferríticos resistem melhor que os austeníticos.
A corrosão galvânica é uma forma de corrosão que ocorre quando dois materiais de diferentes potenciais
eletroquímicos (por exemplo diferentes composições químicas ou microestruturas) estão imersos em um
eletrólito (solução ou meio corrosivo líquido). Nestas condições, uma célula galvânica pode se formar e resultar
no ataque da parte anódica, que é o metal de menor potencial. A severidade do ataque aumenta com a densidade
da corrente anódica, isto é, com a redução da área superficial da região anódica em relação à catódica. Como a
solda tem sempre uma superfície muito menor que o resto da montagem, é essencial que ela não se torne
anódica. Para isto, o princípio geral a ser seguido é a utilização de um metal de adição com composição similar
ao metal de base ou, de preferência, com um teor de cromo ligeiramente maior para compensar qualquer
possível efeito da diferença de microestrutura. Além disso, durante o processo de soldagem, parte dos elementos
de liga, principalmente o cromo, pode ser oxidada e eliminada na escória.
A técnica de soldagem e o projeto da junta podem afetar diretamente a vida da solda. A existência de
camadas espessas de óxidos e a presença de descontinuidades como porosidades, trincas superficiais,
mordeduras ou falta de fusão podem causar a acumulação de agentes agressivos nestes locais. E onde estas se
acumulam, o metal por elas coberto fica separado do meio e pode acarretar diferenças de concentração e de
oxigenação. Ambas dão origem a diferenças de potencial que podem causar corrosão. Por isso, deve-se procurar
evitar pontos descontínuos nas superfícies dos metais.
A escolha do metal de adição para a soldagem de aços inoxidáveis também pode ser realizada
utilizando-se o diagrama de Schaeffler, com pequenas modificações.
Schaeffler utilizou para a confecção de seu diagrama eletrodos revestidos de 4,7 mm de diâmetro e
diferentes composições de cromo e níquel, sempre nos mesmos valores de tensão e corrente, e
consequentemente, mesma energia de soldagem. O método foi depositar cordões simples e sem diluição,
determinando a estrutura e a composição desse metal depositado. Ele encontrou os seguintes constituintes:
AUSTENITA: Estrutura puramente austenítica, CFC, de granulação grosseira, de grande tenacidade, mas
sujeita à trincas e fissuração a quente.
FERRITA: Estrutura ferrítica, frágil e de granulação grosseira. Foi encontrada também uma estrutura
austenoferrítica. A ferrita se forma primeiro e limita o crescimento do grão da austenita.
MARTENSITA: Estrutura dura e pouco tenaz (de acordo principalmente com o teor de carbono), sujeita a
trincas a frio. Pode ser encontrada pura ou em conjunto com austenita e/ou ferrita.
Nieq Ni 30 C N 0,5 Mn
O cromo equivalente é definido como a soma ponderada dos elementos alfagêneos. Schaeffler o definiu
como:
A parte mais importante do diagrama é a região austenoferrítica onde se encontram várias curvas que
expressam o teor de ferrita na estrutura. Essas linhas são de grande utilidade.
D. Séférian propôs uma fórmula bem cômoda derivada do diagrama, para calcular a percentagem de
ferrita duma soldagem onde a composição é tal que a estrutura seja austeno-ferrítica.
Deve-se observar que o diagrama de Schaeffler não leva em consideração a velocidade de resfriamento.
Assim, este diagrama fornece apenas o valor estimado da quantidade de ferrita da solda. Entretanto, na
soldagem com eletrodos revestidos, as diferenças devidas à velocidades de resfriamento podem ser ignoradas
para a maioria das aplicações.
O diagrama de Schaeffler, dentro de suas limitações não somente é útil para prever a estrutura da zona
fundida de uma solda de aço inoxidável, como prever a estrutura da zona fundida de soldas heterogêneas, de
metais diferentes, ou mesmo de um mesmo metal com eletrodo diferente. Como todo diagrama de fases, a regra
da alavanca é válida e, conhecendo-se ou mesmo estimando-se a porcentagem da mistura, pode-se estimar a
composição resultante e em consequência sua estrutura e propriedades esperadas.
Vejamos como aplicação os casos práticos envolvendo aços inoxidáveis, situando no diagrama as
composições químicas envolvidas e, como consequência a estrutura esperada e os problemas característicos.
Calculando os valores de cromo e níquel equivalentes para o metal de base e o metal depositado temos:
a) Creq = %Cr + %Mo + 1,5 %Si + 0,5 %Nb
Metal depositado: Creq = 23,1 + 0,01 + 1,5 . 0,54 = 23,92%
Metal de base: Creq = 18,2 + 0,074 + 1,5 . 0,44 = 18,93%
b) Nieq = %Ni + 30 %C + 0,5 %Mn
Metal depositado: Nieq = 12,5 + 30 . 0,06 + 0,5 . 0,84 = 14,72%
Metal de base: Nieq = 8,37 + 30 . 0,06 + 0,5 . 1,46 = 10,87%
Exemplo 2:
Soldagem de chapas de aço AISI 430 com aço AISI 304L, utilizando eletrodo AWS ER308LSi.
Considerar diluição de 25%.
Dados:
Material %C %Si %Mn %Cr %Ni %Mo Creq Nieq
304L 0,03 0,90 1,00 19,00 9,50 0,00 20,35 10,90
430 0,04 0,44 0,25 16,48 0,25 0,02 17,16 1,57
308LSi 0,02 0,88 1,71 20,35 9,64 0,02 21,69 11,09
b) A FERRITA
Atualmente há uma procura muito grande pelos aços austeníticos com pequeno teor de ferrita delta.
Dessa forma, a ferrita assume um papel de grande importância e o diagrama de Schaeffler original já não atende
às condições desejadas.
A partir da descoberta da importância da ferrita delta na estrutura, surgiram vários métodos de
determinação do seu teor, pretendendo ser mais precisos ou facilmente aplicáveis que a metalografia. Dentre
eles o mais utilizado tem sido o método magnético com calibração.
O método magnético se baseia no fato da ferrita ser ferromagnética e a austenita não. Com teores
intermediários da ferrita, a resposta do ferromagnetismo seria função do teor de ferrita (ou proporcional). Assim
sendo, o aparelho é calibrado em bloco padrão, cujo teor de ferrita é previamente determinado com bastante
precisão. Porém, a resposta do ferromagnetismo proporcional ao teor de ferrita não se mostrou adequada em
todos os teores.
Foi criado então a designação de número de ferrita (FN) para representar a centésima parte do
magnetismo encontrado na ferrita pura. Em pequenos teores (até cerca de 8%) o número de ferrita equivale à
porcentagem de ferrita. Após este valor, não se verifica mais uma boa correlação. Tal fato não é grave, devido
ao interesse maior em conhecer o teor de ferrita mais precisamente nos pequenos teores, onde a metalografia
falha e onde se encontra a maioria dos aços utilizados. Para teores maiores, a metalografia já fornece valores
satisfatórios.
1. Por que os aços inoxidáveis martensíticos são considerados os mais difíceis para soldar dentre o grupo
dos aços de alta resistência à corrosão?
2. Se você fosse soldar um componente de aço inox martensítico, você realizaria a solda com o material no
estado temperado/revenido ou recozido? Justifique sua resposta.
3. Explique como se apresenta a microestrutura da zona fundida e da zona afetada pelo calor de uma solda
de aço inox martensítico realizada pelo processo MIG.
4. Que procedimentos de soldagem você adotaria para evitar a fissuração a frio pelo hidrogênio na
soldagem de chapas de aço inox martensítico?
Os ferros fundidos apresentam várias características que dificultam a sua soldagem, destacando-se:
Alto teor de carbono e, em geral, de fósforo e de enxofre.
Tendência à formação de cementita na região da solda devido às velocidades de resfriamento
relativamente elevadas associadas com a soldagem.
Baixa dutilidade do metal base e de sua zona termicamente afetada.
Estrutura porosa dos ferros fundidos cinzento, maleável e nodular favorece a absorção de graxas e
outras sujeiras durante o seu uso.
Ferros fundidos brancos são considerados, em geral, não soldáveis devido à sua extrema fragilidade.
A soldagem é utilizada, em ferros fundidos cinzentos, principalmente para eliminar defeitos de fundição e
para reparar peças trincadas ou mesmo fraturas.
Com base no tipo de metal de adição utilizado, a soldagem de ferros fundidos pode ser dividida em
dois grupos principais:
Procedimentos que fornecem um metal depositado de composição similar ao metal base (ferro
fundido), e
Procedimentos que fornecem um metal depositado de aço ou ligas com um elevado teor de metais
não ferrosos (cobre/níquel).
Martelamento (da solda) pode ser, em alguns casos, usado para reduzir o nível das tensões residuais.
Eletrodos podem ser de metais não ferrosos (ligas de níquel ou de cobre) ou de aço. No primeiro caso, o
material não dissolve o carbono nem forma carbonetos, mantendo a ZF dútil e macia. Eletrodos de aço
podem ser de aço inoxidável austenítico ou de aços especiais com elevado teor de elementos formadores de
carboneto. Neste caso, o depósito tende a ter uma dureza mais elevada, não sendo, em geral, usinável. O
método é usualmente realizado com o processo SMAW.
O alumínio é um metal caracterizado por sua baixa densidade, baixa resistência mecânica (embora
tratamentos térmicos e mecânicos, particularmente para certas ligas de Al, possam levar a níveis
razoavelmente elevados de resistência mecânica), boa resistência à corrosão e elevada condutividade
elétrica. Existe um grande número de ligas de alumínio que podem apresentar um amplo espectro de
propriedades. Estas ligas são classificadas geralmente por um sistema de quatro dígitos desenvolvido pela
Aluminum Association, tabela 11.
Tabela 11 – Designação para grupos de ligas de alumínio
Algumas ligas de alumínio (principalmente dos grupos 1XXX, 3XXX, 4XXX e 5XXX) não são
tratáveis termicamente enquanto outras (principalmente dos grupos 2XXX, 6XXX e 7XXX) podem ser
tratadas termicamente. O principal tratamento térmico envolve a solubilização e envelhecimento do material
para causar endurecimento por precipitação, podendo o tratamento ser combinado ou não com
endurecimento por deformação.
A presente discussão não engloba as diferentes características e, em particular, a soldabilidade das
várias ligas de alumínio. O que é aqui apresentado deve ser considerado apenas como uma série de
recomendações gerais válidas principalmente para o alumínio comercialmente puro. O alumínio apresenta
diferenças de propriedades físicas e químicas que levam a diferenças de sua soldagem em comparação com a
dos aços:
1. Elevada afinidade pelo oxigênio.
2. Elevada condutividade térmica.
3. Elevado coeficiente de expansão térmica.
4. Baixo ponto de fusão (660ºC).
O alumínio reage prontamente com o oxigênio do ar formando uma camada superficial de óxido cujo
ponto de fusão (~2000ºC) é muito superior ao do alumínio e que, durante a soldagem, pode formar uma
barreira física impedindo o contato e mistura do metal base fundido e do metal de adição e formando
inclusões na solda. Adicionalmente, a medida que se torna mais expressa, a camada de óxido absorve
umidade do ar. Na soldagem, esta umidade, juntamente com outras contaminações superficiais, é uma fonte
de hidrogênio capaz de gerar porosidade na zona fundida de alumínio.
O óxido de alumínio pode ser removido por meios químicos (limpeza por solventes e/ou
decapagem), mecânicos (lixamento, escovamento, etc.), elétricos (ação de limpeza catódica do arco) ou
metalúrgicos (ação escorificante de um fluxo durante a soldagem). Esta última forma é comum na soldagem
SMAW e em processos de brasagem. Como o fluxo para alumínio é muito reativo, a sua limpeza completa
da junta após a soldagem é essencial para se evitar problemas futuros de corrosão. Usualmente, mais de um
método de remoção da camada de óxido é usado em conjunto. Em função da elevada reatividade do
alumínio, a remoção da camada oxidada pelos dois primeiros métodos deve ser realizada imediatamente ou,
no máximo, 8 horas antes da soldagem.
Como a condutividade térmica do alumínio é 3 a 5 vezes maior que a do aço, o calor de soldagem é
menos eficientemente usado na soldagem desse metal. Assim, o uso de pré-aquecimento e de um maior
O processo GMAW é mais usado para juntas de maior espessuras, apresentando velocidade de
soldagem muito superior ao processo GTAW. O modo de transferência mais usado é o spray, sendo a
soldagem com curto circuito difícil ou impossível pois a baixa resistividade elétrica do arame de alumínio
Cobre e ligas de cobre são amplamente utilizados na indústria elétrica (devido a sua baixa
resistividade), em aplicações onde a resistência à corrosão de algumas destas ligas é importante, na
fabricação de mancais, etc. Existem algumas centenas de ligas de cobre com elementos como zinco, níquel,
estanho, alumínio, manganês, fósforo, berílio, cromo, ferro e chumbo. Os principais grupos de ligas de cobre
são:
Cobre comercialmente puro (>99,3%Cu);
Cobre ligado (<5% de elementos de liga);
Ligas Cu-Zn (latão);
Ligas Cu-Sn (bronze);
Ligas Cu-Al (bronze aluminoso);
Ligas Cu-Si (bronze silicoso);
Ligas Cu-Ni; e
Ligas Cu-Ni-Zn.
Novamente, a discussão aqui apresentada terá um caráter mais geral, voltada principalmente para o
cobre comercialmente puro, sem entrar em detalhes da soldagem de ligas específicas.
As propriedades do cobre que requerem atenção especial para soldagem são:
1. Elevada condutividade térmica.
2. Elevado coeficiente de expansão térmica.
3. Tendência a se tornar frágil a altas temperaturas.
4. Ponto de fusão relativamente baixo.
5. Baixa viscosidade do metal fundido.
6. Elevada condutividade elétrica.
7. Resistência mecânica, para várias ligas, baseada principalmente no encruamento.