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1 - Direito Agrário: conceito e objeto.
2 - Imóvel rural: definição legal e seus elementos caracterizadores.
3 - Função social do imóvel rural.
4 - Dimensionamento do imóvel rural.
5 - Contratos agrários nominados e inominados. Procedimento judicial em casos de despejo.
6 - Terras devolutas e o instituto da Discriminação.
7 - O procedimento discriminatório administrativo e o usucapião agrário.
8 - Reforma Agrária - Fundamentos - Conceituação e Métodos.
9 - A Adjudicação Compulsória no Direito Agrário.
10 - Posse agrária sobre bem imóvel.
DIREITO AGRÁRIO: CONCEITO E OBJETO.
1. DENOMINAÇÃO:
1.1. Direito agrário (ager, agri, agrarius – campo – atividade - produção).
1.2. Direito Rural (rus, ruris, ruralis – campo – antônimo de urbano - estático).
1.3. Direito Agrícola (restringe à atividade de agricultura)
1.4. Direito da Agricultura (restringe à atividade de agricultura)
1.5. Direito da Reforma Agrária (restringe o direito agrário, como se sua única
finalidade fosse promover a reforma agrária)
2. CONCEITO:
Conjunto de normas (regras e princípios) responsável por disciplinar
Relações Jurídicas Agrárias – (Homem-Terra)
Objeto – Atividade Agrária (produção) - Sociedade
Preservação e conservação (Direito Ambiental)
Conjunto de normas (regras e princípios) responsável por disciplinar as relações
jurídicas agrárias (homem-homem / homem-terra), tendo por objeto a atividade agrária e
visando compatibilizar a produtividade com a preservação e conservação dos recursos naturais
(desenvolvimento sustentável).
“Direito Agrário é o ramo jurídico que regula as relações agrárias, observando-se a
inter-relação homem/terra/produção/sociedade.” (Alcir Gursen de Miranda)
3. AUTONOMIA:
3.1 - Científica – objeto, normas e institutos próprios
Objeto próprio – Atividade agrária
Normas próprias – regras e princípios típicos
Institutos próprios – terra devoluta, legitimação de posse, regularização de posse,
discriminação, usucapião especial agrário, módulo rural, faixa de fronteira, terras indígenas e
quilombolas, Terrenos de marinha e marginais, Imóvel Rural, Reforma agrária, Desapropriação
agrária, Seguro Agrícola, Contratos Agrários, Cooperativismo Rural, Trabalhador Rural,
Previdência Rural.
3.4 - Jurisdicional – Justiça Agrária / Varas agrárias especializadas (art. 126, CF)
CF - Art. 126. Para dirimir conflitos fundiários, o Tribunal de Justiça proporá a
criação de varas especializadas, com competência exclusiva para questões
agrárias.
Parágrafo único. Sempre que necessário à eficiente prestação jurisdicional, o juiz far-
se-á presente no local do litígio.
5. PRINCÍPIOS:
1) Função social (posse agrária, produtividade, conservação do meio ambiente, proteção
do trabalho)
2) Justiça social (construção de uma sociedade justa e solidária – macrossistema social)
3) Justiça distributiva (justa distribuição de terras para aumento da produção e bem estar
dos rurícolas – microssistema agrário)
4) Acesso à terra
5) Isonomia (igualdade de oportunidades – acesso à terra, ao crédito rural)
6) Liberdade (através da propriedade, de destinação da terra, do trabalhador rural)
7) Privatização das terras (destinação das terras públicas)
8) Proteção à propriedade familiar
9) Dimensionamento eficaz dos imóveis agrários
10) Combate ao minifúndio e latifúndio
11) Efetivação da reforma agrária
12) Aumento da produção e níveis de produtividade
13) Estímulo ao cooperativismo e espírito comunitário
14) Fortalecimento da empresa agrária
15) Permanência do cultivador direito e pessoal na terra
16) Supremacia do interesse público sobre o privado
17) Combate aos comportamentos desviantes na implementação da reforma agrária
18) Proteção das terras indígenas
19) Desenvolvimento Sustentável
- Classificações:
1 – Vivanco: Atividades agrárias:
Propriamente ditas (atividades produtivas, de conservação e de preservação)
Acessórias (extrativa vegetal e de captura de animais)
Conexas (manufatura, beneficiamento, trasporte)
2 – Raymundo Laranjeira: Atividades agrárias:
Típicas (lavoura, pecuária, extrativismo vegetal e animal e hortigrangearia)
Atípicas (agroindústria)
Complementares (transporte e comercialização)
- Teorias:
1 – Agrobiológica – Rodolfo Ricardo Carrera – Terra + Processo agrobiológico (semeadura,
germinação, fotossíntese, florescimento, chuvas, frutificação e colheita).
2 – Agrariedade – Antônio Carrozza – Processo agrobiológico + riscos correlatos (distúrbios
climáticos, pragas, doenças)
3 – Acessoriedade – relação homem-terra x homem sociedade. Distingue atividade agrária das
atividades comerciais e industriais por exclusão.
Critérios:
Necessidade
Prevalência
Autonomia
Normalidade
Ruralidade
Acessoriedade
1. HISTÓRICO:
Fixação do homem à terra;
Propriedade vinculada à religião;
Propriedade absoluta em Roma;
Idade Média – Sistema Feudal
Idade Moderna – Expansão Marítima e Brasil colônia (cana de açúcar e ouro);
Meios de colonização e proteção do território
Capitanias Hereditárias 1531 (monocultura de cana, com exploração de trabalho escravo);
Regime Sesmarial 1549 (concessão, confirmação e comisso);
Idade Contemporânea – Revolução Francesa e Código Napoleônico (propriedade liberal
absoluta);
Independência e Regime de Posses (suspensão de concessão de sesmarias).
Lei de Terras – lei 601/1850.
Faixa de fronteira;
Terras devolutas;
Revalidação de sesmarias;
Discriminação de terras;
Legitimação de posse;
Registro Paroquial ou Registro do Vigário;
Abolição da Escravidão:
Lei Eusébio de Queiroz;
Lei do Ventre Livre;
Lei dos Sexagenários;
Lei Áurea.
Código Civil de 1916 (Tratamento civil do direito agrário – formação de minifúndios,
contratos agrários);
Estatuto da Terra – Lei 4.504/64.
Constituição Federal 1988 (deslocamento do eixo axiológico);
Código Civil de 2002.
Dificuldade de aceitação do novo modelo de propriedade – exiguidade de prazo, baixa
efetividade constitucional, cultura arraigada.
2. CONCEITO DE PROPRIEDADE:
Usar
Gozar ou fruir
Dispor
Reivindicar
Elasticidade
Exclusividade
Perpetuidade
4. CLASSIFICAÇÃO:
Estatuto da Terra:
Propriedade Familiar;
Minifúndio;
Latifúndio;
Empresa Rural.
Constituição Federal:
Pequena, média ou grande propriedade;
Produtiva ou improdutiva.
Estatuto da Terra:
Art. 4º Para os efeitos desta Lei, definem-se:
II - "Propriedade Familiar", o imóvel rural que, direta e pessoalmente
explorado pelo agricultor e sua família, lhes absorva toda a força de trabalho,
garantindo-lhes a subsistência e o progresso social e econômico, com área
máxima fixada para cada região e tipo de exploração, e eventualmente trabalho
com a ajuda de terceiros;
III - "Módulo Rural", a área fixada nos termos do inciso anterior;
IV - "Minifúndio", o imóvel rural de área e possibilidades inferiores às da
propriedade familiar;
V - "Latifúndio", o imóvel rural que:
a) exceda a dimensão máxima fixada na forma do artigo 46, § 1°, alínea b,
desta Lei, tendo-se em vista as condições ecológicas, sistemas agrícolas regionais
e o fim a que se destine;
b) não excedendo o limite referido na alínea anterior, e tendo área igual ou
superior à dimensão do módulo de propriedade rural, seja mantido inexplorado
em relação às possibilidades físicas, econômicas e sociais do meio, com fins
especulativos, ou seja deficiente ou inadequadamente explorado, de modo a vedar-
lhe a inclusão no conceito de empresa rural;
VI - "Empresa Rural" é o empreendimento de pessoa física ou jurídica,
pública ou privada, que explore econômica e racionalmente imóvel rural, dentro
de condição de rendimento econômico da região em que se situe e que explore
área mínima agricultável do imóvel segundo padrões fixados, pública e
previamente, pelo Poder Executivo. Para esse fim, equiparam-se às áreas
cultivadas, as pastagens, as matas naturais e artificiais e as áreas ocupadas com
benfeitorias;
Constituição Federal:
Lei 8.629/93. Art. 4º Para os efeitos desta lei, conceituam-se:
I - Imóvel Rural - o prédio rústico de área contínua, qualquer que seja a sua
localização, que se destine ou possa se destinar à exploração agrícola, pecuária,
extrativa vegetal, florestal ou agro-industrial;
II - Pequena Propriedade - o imóvel rural:
a) de área compreendida entre 1 (um) e 4 (quatro) módulos fiscais;
III - Média Propriedade - o imóvel rural:
a) de área superior a 4 (quatro) e até 15 (quinze) módulos fiscais;
Parágrafo único. São insuscetíveis de desapropriação para fins de reforma
agrária a pequena e a média propriedade rural, desde que o seu proprietário não
possua outra propriedade rural.
Art. 6º Considera-se propriedade produtiva aquela que, explorada econômica e
racionalmente, atinge, simultaneamente, graus de utilização da terra e de
eficiência na exploração, segundo índices fixados pelo órgão federal competente.
§ 1º O grau de utilização da terra, para efeito do caput deste artigo, deverá
ser igual ou superior a 80% (oitenta por cento), calculado pela relação percentual
entre a área efetivamente utilizada e a área aproveitável total do imóvel.
§ 2º O grau de eficiência na exploração da terra deverá ser igual ou superior
a 100% (cem por cento), e será obtido de acordo com a seguinte sistemática: I -
para os produtos vegetais, divide-se a quantidade colhida de cada produto pelos
respectivos índices de rendimento estabelecidos pelo órgão competente do Poder
Executivo, para cada Microrregião Homogênea; II - para a exploração pecuária,
divide-se o número total de Unidades Animais (UA) do rebanho, pelo índice de
lotação estabelecido pelo órgão competente do Poder Executivo, para cada
Microrregião Homogênea; III - a soma dos resultados obtidos na forma dos
incisos I e II deste artigo, dividida pela área efetivamente utilizada e multiplicada
por 100 (cem), determina o grau de eficiência na exploração.
§ 3º Considera-se efetivamente utilizadas: I - as áreas plantadas com
produtos vegetais; II - as áreas de pastagens nativas e plantadas, observado o
índice de lotação por zona de pecuária, fixado pelo Poder Executivo; III - as áreas
de exploração extrativa vegetal ou florestal, observados os índices de rendimento
estabelecidos pelo órgão competente do Poder Executivo, para cada Microrregião
Homogênea, e a legislação ambiental; IV - as áreas de exploração de florestas
nativas, de acordo com plano de exploração e nas condições estabelecidas pelo
órgão federal competente; V - as áreas sob processos técnicos de formação ou
recuperação de pastagens ou de culturas permanentes, tecnicamente conduzidas e
devidamente comprovadas, mediante documentação e Anotação de
Responsabilidade Técnica.
FUNÇÃO SOCIAL DO IMÓVEL RURAL.
1. POSITIVAÇÃO:
Código Civil Francês 1804:
Art. 544. A propriedade é o direito de usar, gozar e dispor das coisas da maneira
mais absoluta, desde que não sejam usados de maneira proibida pelas leis ou pelos
regulamentos.
Art. 545. Ninguém pode ser obrigado a abandonar sua propriedade, salvo por
utilidade pública, e mediante uma justa e prévia indenização.
Na legislação brasileira:
Constituição 1891:
Art. 72. § 17 - O direito de propriedade mantém-se em toda a sua plenitude, salvo
a desapropriação por necessidade ou utilidade pública, mediante indenização
prévia.
As Constituições de 1934, 1937 e 1946 trouxeram disposições semelhantes.
Estatuto da Terra: Utilizou pela primeira vez o termo “função social”, em seus artigos 2º,
12, 13, 18 e 47.
Art. 2° É assegurada a todos a oportunidade de acesso à propriedade da terra,
condicionada pela sua função social, na forma prevista nesta Lei.
§ 1° A propriedade da terra desempenha integralmente a sua função social
quando, simultaneamente:
a) favorece o bem-estar dos proprietários e dos trabalhadores que nela labutam,
assim como de suas famílias;
b) mantém níveis satisfatórios de produtividade;
c) assegura a conservação dos recursos naturais;
d) observa as disposições legais que regulam as justas relações de trabalho entre
os que a possuem e a cultivem.
Constituição 1967:
Art 157 - A ordem econômica tem por fim realizar a justiça social, com base nos
seguintes princípios: III - função social da propriedade;
2.3. Fundamento:
Princípio da solidariedade e dignidade humana.
Erradicação da pobreza.
Redução das desigualdades sociais.
2.8. A disponibilidade dos recursos agrários e o grau de exigência da função social são
grandezas diretamente proporcionais.
Quanto maior a disponibilidade dos recursos agrários, maior a exigência da função
social.
A função social será mais exigida quanto maior for o valor do bem apreciável pelo
homem.