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3 Fisiologia do ovário

e da fecundação

Sem o consentimento prévio por escrito do editor, não se pode reproduzir nem fotocopiar nenhuma parte desta publicação   © Permanyer Portugal 2011
Teresa Almeida Santos

1. INTRODUÇÃO é muito eficiente nos primatas em que se


verifica um grande investimento na produ-
Os ovários, tal como os testículos, são glân- ção de ovócitos antes do nascimento para
dulas endócrinas cuja função não se limita apenas uma pequena fracção destes atingir
à secreção de hormonas para a circulação a maturação total e a ovulação, ao longo da
sistémica. O ovário é o órgão onde se pro- vida reprodutiva.
duzem as células germinais femininas, as- A função endócrina dos ovários, produzin-
segurando a sua maturação e libertação a do estrogénios e progesterona, sincroniza
intervalos regulares, durante a idade repro- a actividade do tracto genital e da glândula
dutiva da mulher, de um gâmeta capaz de mamária com o ciclo ovulatório permitindo,
ser fecundado. assim, a libertação cíclica de um ovócito.
As duas funções fisiológicas básicas associa- No ovário identificam-se duas zonas, uma
das ao funcionamento dos ovários são a ga- periférica designada córtex e uma outra
metogénese e a esteroidogénese e estão in- central denominada medula. O córtex pos-
timamente ligadas. A primeira consiste num sui numerosos folículos em diversos está-
conjunto de processos maturativos que cul- dios de desenvolvimento, corpos amarelos
minam com a libertação de um ovócito ma- e corpus albicans formados por regressão
duro, apto para ser fecundado. A segunda é a dos anteriores (Fig. 1).
síntese e libertação de hormonas esteróides.
Estas duas funções processam-se ao nível da
unidade fundamental e funcional do ovário,
o folículo, constituído pelo ovócito (célula
germinal com origem extra-embrionária e
endodérmica) rodeado por várias camadas 6
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de células especializadas que constituem a
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granulosa e a teca e situado no seio de um 4
2
estroma conjuntivo.
A ovogénese é um processo gradual atra-
vés do qual as propriedades necessárias
à expressão da competência do desen-
volvimento são adquiridas em sucessivos
estádios de diferenciação e que envolve Figura 1. Esquema do ovário humano mostrando os
mecanismos reguladores a vários níveis, de diferentes estádios do desenvolvimento do ovócito.
forma a permitir o crescimento e maturação 1: folículos primordiais; 2: folículo primário; 3: folículos
de uma única célula destinada a assegurar a antrais; 4: folículo pré-ovulatório; 5: ovulação; 6: corpus
continuidade da espécie. Este processo não luteum; 7: corpus albicans.

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O desenvolvimento folicular inicia-se na par- minais para iniciar o seu crescimento, até à
te mais interna do ovário pelas 15 semanas sua involução atrética ou, muito menos fre-
de gestação. O encapsulamento do ovócito quentemente, à sua expulsão do ovário na

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no interior do folículo impede o processo de ovulação. Podem distinguir-se neste processo
atrésia e permite que o ovócito se mantenha as seguintes fases: iniciação, crescimento pré-
bloqueado no estádio de diplóteno da pro- antral, recrutamento, selecção e dominância.
fase I porque se mantém em contacto com Cada uma das etapas corresponde a um esta-
factores inibidores da meiose, produzidos do morfológico particular do folículo.
pelas células da granulosa e que chegam Estes processos têm início na vida fetal e
ao citoplasma do ovócito via gap-junctions1. caracterizam-se morfologicamente pelo au-
O córtex de um ovário humano apresenta mento do tamanho do ovócito, pelo acrés-
um número finito de células germinativas cimo do número de células da granulosa e,
primordiais, número que vai decrescendo consequentemente, o aumento do tamanho
ao longo da vida do indivíduo do sexo femi- do folículo.
nino, como consequência das ovulações e
atrésia. Aos seis meses de gestação, os ová- 2.1.1. INICIAÇÃO E CRESCIMENTO PRÉANTRAL
rios contêm cerca de sete milhões de células
germinativas ou ovogónias; no momento Durante a vida reprodutiva há permanen-
do nascimento subsistem apenas cerca de temente folículos a entrar em crescimento
dois milhões e a redução da população de (cerca de 15 por dia aos 20 anos e apenas
células germinativas continua até que, por um número muito reduzido aos 40 anos).
altura da menarca, existem apenas cerca de Um folículo destinado a evoluir até à ovu-
300.000 folículos. A «perda» de folículos por lação inicia o seu crescimento 85 dias antes
atrésia é contínua, sofrendo uma aceleração de atingir a maturação completa, não sendo
acentuada por volta dos 38 anos, existindo, ainda completamente conhecido o meca-
nessa altura, apenas cerca de 1.000 folículos. nismo desta iniciação que é independente
Inicia-se, então um decréscimo da função das gonadotrofinas. A FSH exerce apenas
endócrina, começando a mulher a entrar uma influência permissiva após o início da
no climatério2. Associada a este processo, maturação folicular.
ocorre também uma redução da qualidade No ovário da mulher jovem, os folículos pri-
ovocitária na qual poderá estar implicada a mordiais (Fig. 2) são os mais numerosos,
uma disfunção mitocondrial3. A data exac- constituindo a população a partir da qual
ta da menopausa é determinada quer pela uma coorte inicia o processo de maturação.
quantidade inicial de células germinativas, O folículo primordial é composto por um
quer pela sua depleção ao longo da vida. ovócito primário envolvido por uma camada
No mundo ocidental a idade média em que de células epiteliais achatadas e mede apro-
ocorre a menopausa situa-se nos 51 anos2. ximadamente 25 μm de diâmetro, apresen-
tando um núcleo volumoso e um citoplasma
relativamente reduzido em relação ao volu-
2. FUNÇÃO OVÁRICA me total da célula. A activação dos folículos
primordiais é progressiva e inicia-se pela pro-
2.1. FOLICULOGÉNESE, ESTEROIDOGÉNESE liferação e modificação morfológica das célu-
E MATURAÇÃO OVOCITÁRIA las da granulosa passando as células epiteliais
a uma forma cubóide. Quando estas células
A foliculogénese é o conjunto de transforma- cubóides formam uma camada que envolve
ções que o folículo sofre desde o momento completamente o ovócito, o folículo primor-
em que sai da reserva inerte de células ger- dial transforma-se em folículo primário. Neste,

40 Capítulo 3
o ovócito já tem maiores dimensões e entre o suem escassa actividade secretora e raros re-
ovócito e as células foliculares desenvolve-se ceptores da LH. Após o pico pré-ovulatório de
uma membrana glicoproteica denominada LH estas células sintetizam e depositam uma

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zona pelúcida. A transição de folículo primor- matriz extracelular que permite a expansão
dial para folículo primário é prolongada para do cumulus e o destaca da parede folicular,
permitir a fase de crescimento da ovogénese, enquanto as células da granulosa periféricas
em que ocorre uma hipertrofia do citoplasma permanecem aderentes à membrana basal.
do ovócito enquanto as células da granulosa Apesar de as células dos pequenos folícu-
proliferam e se forma a estrutura característi- los pré-antrais responderem ao estímulo da
ca do folículo primário. Segue-se uma intensa FSH, esta hormona não é necessária para as
actividade mitótica das células da granulosa fases iniciais de proliferação e crescimento
que é acompanhada por modificações na folicular. Contudo, a segunda fase da foli-
zona pelúcida e atinge-se o estádio do folícu- culogénese é hormonodependente, envol-
lo pré-antral, assistindo-se então, ao recruta- vendo um processo complexo essencial ao
mento das células somáticas do tecido inters- objectivo primário da foliculogénese, a ovu-
ticial adjacente para formar a teca. lação de um ovócito fecundável.
As mitoses sucessivas e a formação de várias No decurso da fase folicular, o folículo do-
camadas de células da granulosa levam ao minante, que atinge 13 mm de diâmetro,
aparecimento do folículo secundário. Neste começa a exercer uma acção frenadora so-
momento inicia-se a formação da teca in- bre a secreção de FSH, mediada pelos estro-
terna que resulta de uma condensação das génios e provavelmente também pela ini-
células conjuntivas que envolvem o folículo, bina, levando à atrésia dos outros folículos
separadas da granulosa por uma membrana em crescimento4. Estes efeitos exercem-se
basal. A teca interna faz parte da unidade também no ovário contralateral. Atingida a
funcional folicular que atinge, assim, o está- maturação folicular na fase pré-ovulatória, o
dio de folículo pré-antral e, ao contrário da folículo mede entre 20 e 28 mm e faz proci-
granulosa, é vascularizada. dência na superfície do ovário.
A proliferação contínua de células da granu- A inibina, a activina e a folistatina são três
losa leva à produção e acumulação de líquido factores expressos nas células da granulosa
entre as células formando pequenas cavida- e da teca dos folículos antrais e nas células
des. Estas cavidades acabam por coalescer da granulosa luteinizadas que foram iden-
e formar uma cavidade única central (antro) tificados no líquido folicular e que são res-
com as células da granulosa dispostas à pe- ponsáveis por uma acção reguladora local
riferia formando a parede folicular – folículos e à distância.
antrais precoces. O ovócito mantém-se rode- A inibina e a activina são membros da família
ado por células da granulosa que se desig- TGF-α (Transforming growth factor α) que re-
nam por células do cumulus e constituem o gulam a produção de FSH, a activina estimu-
compacto complexo cumulo-ovocitário. Na lando-a e a inibina reprimindo-a. A acção da
fase final do crescimento folicular as células folistatina, uma glicoproteína com estrutura
da granulosa que constituem a parede foli- semelhante às da família da inibina/activina,
cular adquirem propriedades morfológicas também inibe a produção de FSH através da
e funcionais diferenciadas: as mais periféri- sua capacidade de neutralizar a activina pela
cas, localizadas junto à membrana basal, não sua ligação a este factor.
proliferam e sintetizam enzimas envolvidas A inibina é segregada pelos folículos de
nas esteroidogénese, adquirindo receptores maiores dimensões e exerce uma acção fre-
da LH. As células das camadas mais internas nadora sobre os restantes folículos, impe-
mantêm a capacidade proliferativa e pos- dindo o seu crescimento.

Fisiologia do ovário e da fecundação 41


O insulin-like growth factor I (IGF-I), um outro que a elevação artificial da concentração
factor de crescimento com função idênti- sérica destas possa salvar da atrésia alguns
ca à da activina, é expresso nas células dos folículos, como ocorre com os tratamentos

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pequenos folículos antrais e pré-antrais e no de estimulação da ovulação em que é pos-
cumulus dos folículos pré-ovulatórios e es- sível obter um número elevado de ovócitos
timula a expressão do receptor da FSH nas maduros. A limitação do recrutamento e a
células da granulosa. atrésia dos folículos não seleccionados de
A ausência do gene IGF-I provoca alterações entre a coorte dos recrutados deve-se à re-
morfológicas no ovário idênticas à da ausência dução fisiológica das concentrações de FSH
da FSH, isto é, a foliculogénese é bloqueada no no decurso das fases pré e pós-ovulatória.
estádio pré-antral e a expressão dos recepto- O folículo pré-ovulatório que se auto-se-
res da FSH está significativamente reduzida. lecciona pelo seu crescimento mais rápido,
persiste e domina, pois as suas necessida-
des em FSH são apenas metade das neces-
sárias para o recrutamento.
A dominância folicular será explicada pela
aquisição mais rápida de receptores da LH
e por uma amplificação da resposta à FSH
resultante de um mecanismo autócrino. A
FSH tem a capacidade de induzir a síntese
dos seus próprios receptores nas células
da granulosa cuja actividade mitótica es-
timula, em sinergia com os estrogénios. A
multiplicação das células da granulosa re-
Figura 2. Folículo primordial e primário (ovário humano). força, assim, a capacidade de aromatização
do folículo e resulta de mecanismos de re-
trocontrolo positivo que explicam o perfil
2.1.2. FASE HORMONODEPENDENTE exponencial do crescimento folicular e da
produção de estrogénios no decurso da pri-
A partir do estádio antral é possível distinguir meira fase do ciclo menstrual. Em ecografia,
diversas etapas que levarão, por um lado, à o folículo dominante pode ser identificado
maturação completa do folículo destinado por volta do 8.o dia do ciclo menstrual com
a ovular e, por outro, à atrésia de todas as ou- um diâmetro próximo de 10 mm que atingi-
tras unidades foliculares em crescimento. rá 20-24 mm na fase pré-ovulatória. A pre-
O recrutamento da coorte folicular no seio da sença do folículo dominante leva à atrésia
qual se encontra o folículo destinado a ovular dos folículos não seleccionados em ambos
efectua-se no início da fase luteínica do ciclo os ovários. Morfologicamente, esta involu-
precedente, sob influência do pico de FSH que ção corresponde a uma degenerescência
se produz a meio do ciclo. Só os folículos que cariopicnótica das células da granulosa e
atingiram um estado adequado de maturação à transformação da teca interna em glân-
serão recrutados, os restantes sofrerão atrésia. dula intersticial, degenerando também o
A selecção designa a emergência do folícu- ovócito. O determinismo da atrésia folicular
lo ovulatório de entre os folículos recruta- será diferente segundo se trata de estados
dos e corresponde ao início da fase folicular pré ou pós-antrais. No estado pré-antral, a
do ciclo em que terá lugar a ovulação. Nesta involução folicular será independente das
altura, a coorte recrutada é particularmen- secreções endócrinas e regulada por fac-
te sensível às gonadotrofinas, o que explica tores genéticos e/ou metabólicos locais.

42 Capítulo 3
No caso dos folículos já evoluídos, a causa da dade genética. O ovócito bloqueado neste
atrésia é a redução dos níveis de FSH (Fig. 3) estádio apresenta um núcleo designado
e a perda da capacidade de transformação por vesícula germinativa e assim permane-

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dos androgénios, que se acumulam no lí- ce durante anos até que nas horas que pre-
quido folicular, em estrogénios, por redu- cedem a ovulação um sinal induzido pelo
ção da actividade da aromatase. A redução pico de LH promove o reinício da primeira
da sensibilidade à FSH contribui para a di- divisão da meiose que separa os cromosso-
minuição da capacidade de aromatização. mas emparelhados, reduzindo o seu núme-
Simultaneamente reduz-se, também, a ac- ro a metade e a quantidade de ADN a um
tividade mitótica das células da granulosa valor diplóide. A meiose volta então a sofrer
por deficiência em estrogénios. um bloqueio em metafase II (MII), até que
As ovogónias entram em meiose após um ocorra uma possível fecundação (Fig. 4). A
período de interfase em que ocorre a re- inibição do reinício da meiose no período
plicação do ADN. Durante a profase, a fase que precede a descarga gonadotrófica ovu-
da meiose com maior duração e na qual se latória depende de factores denominados
observa uma endoreduplicação do ADN, OMI (ovocyte meiosis inhibitors), que provêm
destacam-se quatro estádios: leptóteno, da granulosa e são transmitidos ao ovócito
zigóteno, paquíteno e diplóteno. O núcleo através de pontes intercelulares que atraves-
do ovócito mantém-se em diplóteno com sam a zona pelúcida. A regulação da inibição
um conteúdo tetraplóide em ADN em que meiótica é essencialmente assegurada pelo
os cromossomas estão emparelhados em AMPc. No entanto, para além da supressão
tétradas e durante o qual se produz o cros- do mecanismo inibidor associado aos níveis
sing-over, através do qual cromossomas de elevados de AMPc, existe também uma subs-
origem materna e paterna podem trocar tância estimulante que participa no proces-
fragmentos, contribuindo para a diversi- so – o maturation promoting factor (MPF).

Figura 3. Evolução dos níveis séricos de gonadotrofinas e de hormonas esteróides ováricas no decurso do ciclo menstrual5

Fisiologia do ovário e da fecundação 43


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Figura 4. Etapas da meiose ovocitária5. VG: vesícula germinativa; DM: divisão de maturação; GP: globo polar; C: com-
plemento haplóide de ADN; OV. I e II: ovócito primário e secundário.

2.2. REGULAÇÃO PARÁCRINA E AUTÓCRINA nhas (regulação parácrina) e que estes fac-
tores poderiam modular a resposta celular
A qualidade de um ovócito está estreita- às gonadotrofinas hipofisárias, representou
mente relacionada com o ambiente hormo- um grande avanço no conhecimento dos
nal do folículo o que se deve, em larga me- mecanismos do desenvolvimento e da atré-
dida, a mecanismos de controlo parácrino sia folicular. O líquido folicular é um reser-
e autócrino identificados na década de 80. vatório onde se acumulam estes factores
A evidência de que a função ovárica seria que são produzidos e actuam localmente e
regulada por factores produzidos na pró- que englobam hormonas esteróides e pro-
pria célula (autócrinos), ou em células vizi- teínas reguladoras que interagem de uma

44 Capítulo 3
forma complexa. De entre os factores pa- génios, o que sugere que os ERA estarão as-
rácrinos e autócrinos ováricos, destacam- sociados à proliferação celular (das células
se a família das inibinas/activinas, o TGF-B da granulosa) e os ERB terão uma função na

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(transforming growth factor B) e a MIS (mul- diferenciação, bloqueando a proliferação
lerian inhibiting substance). A inibina terá celular e iniciando as modificações essen-
uma acção local reduzindo a aromatização ciais à ovulação6.
dos androgénios e reprimindo a meiose, O IGF-I induz a proliferação das células da
acção que será favorecida pelo TGF-B e granulosa mas também estimula a síntese
inibida pela MIS. Outros factores de cres- de receptores de LH (LHR) nas células da
cimento são produzidos no folículo e têm granulosa e da teca, realçando a impor-
um papel essencial, nomeadamente o FGF tância da interacção entre IGF-I, estradiol
(fibroblast growth factor) capaz de estimular e FSH na foliculogénese e iniciando a fase
o crescimento da granulosa mas também de resposta destas células à LH, essencial à
e, sobretudo, de induzir a angiogénese da ovulação, formação e actividade endócrina
teca e do corpo amarelo. O IGF-I é sintetiza- do corpo amarelo.
do pelas células da granulosa sob o efeito As células da teca produzem quantidades
dos estrogénios e estimula a esteroidogé- crescentes de androgénios sob o estímulo
nese nestas mesmas células, aumentando o da LH, cujo pico pré-ovulatório activa uma
efeito da LH na produção de androgénios a secreção crescente de proteínas responsá-
nível da teca. O EGF (epidermal growth fac- veis por grandes transformações nas células
tor) é um potente estimulante mitótico. foliculares, nomeadamente a paragem da
Também a hormona antimülleriana (AMH) proliferação e a diferenciação terminal (lutei-
terá um efeito regulador da FSH a nível dos nização) com reinício da meiose (bloqueada
pequenos folículos antrais, além de inibir a em profase I) e libertação do óvulo.
activação dos folículos primordiais. Este efei- A ruptura do bloqueio meiótico só ocorre
to será exercido através da inibição da acção nos ovócitos de folículos que completaram
da FSH no equilíbrio de crescimento dos folí- o seu crescimento e maturação e nos quais o
culos pré-antrais. citoplasma aumentou de volume através da
Estes mecanismos de retrorregulação e pró- reorganização dos organitos e do aumento
regulação destinam-se a promover a fase de das reservas de ARNm.
crescimento da ovogénese através das rela- A zona pelúcida é um revestimento extra-
ções simbióticas entre o ovócito e as células celular constituído por três glicoproteínas
da granulosa. A circunstância de as células (glicoproteínas da zona pelúcida designadas
da granulosa dos folículos pré-antrais sinteti- por ZP1, ZP2 e ZP3) que cobre o ovócito du-
zarem inibina/activina, folistatina e AMH e de rante o seu crescimento e vai acompanhando
serem capazes de responder ao estímulo da o aumento de volume deste, só desapare-
FSH caracteriza a importância da sinalização cendo após a eclosão do blastocisto. O apa-
mútua e da estreita comunicação intercelular. recimento desta membrana está relacionado
A nível do ovário, existem dois tipos de re- com o início do crescimento ovocitário, uma
ceptores dos estrogénios (ER), os ERA e os vez que os folículos quiescentes não têm zona
ERB sendo estes últimos mais abundan- pelúcida. Durante o processo de desenvolvi-
tes. Os ratinhos knockout para os ERA são mento folicular, formam-se também os grâ-
estéreis, verificando-se bloqueio do desen- nulos corticais para preparar o ovócito para as
volvimento folicular ao nível dos folículos reacções subsequentes à fecundação e conse-
antrais. Pelo contrário, os ratinhos despro- quente bloqueio à polispermia, pela liberta-
vidos de ERB são apenas menos férteis que ção do conteúdo dos grânulos para o espaço
os que exprimem os receptores A dos estro- perivitelino após a fecundação.

Fisiologia do ovário e da fecundação 45


2.3. OVULAÇÃO latório de LH que é o responsável último pela
ovulação e se associa aos seguintes efeitos:
O folículo maduro rompe 36 a 40 horas após — Reinício da meiose ovocitária com inibi-

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o início da descarga pré-ovulatória de LH e ção da substância inibidora da meiose.
liberta o ovócito envolvido em células do — Luteinização das células da granulosa.
cumulus que é captado para o interior da — Estímulo da actividade proteolítica e da
trompa onde reinicia a meiose com expulsão síntese de enzimas proteolíticas essen-
do 1.o globo polar e o subsequente bloqueio ciais à ruptura folicular.
da meiose em metafase da 2.a divisão meió- O pico de FSH, embora de menor magnitu-
tica. Este bloqueio só terminará com a emis- de, tem também efeitos importantes desig-
são do 2.o globo polar, após a fecundação. nadamente:
A ruptura folicular é um fenómeno ainda — Aumento da produção de activador do
mal compreendido, existindo algumas hi- plasminogénio.
póteses para explicar o crescimento rápido — Secreção de ácido hialurónico pelas cé-
provocado pelas modificações no conteúdo lulas do cumulus facilitando a expansão
hormonal e as alterações de pressão intra- e dispersão destas células e permitindo
folicular. Foi também demonstrado um pa- que flutuem livremente no líquido foli-
pel importante da síntese de proteases que cular antes da ruptura.
actuariam sobre a lâmina basal induzindo — Constituição de um nível suficiente de
a sua ruptura. Efectivamente, a libertação receptores de LH na granulosa, essencial
do ovócito está associada a alterações do para uma função luteínica adequada.
colagénio da parede folicular provocadas
por enzimas proteolíticas. As células da 2.4. FORMAÇÃO E MANUTENÇÃO
granulosa e da teca produzem activadores DO CORPO AMARELO
do plasminogénio em resposta à FSH e LH
que activam esta substância para produzir Logo após a expulsão do ovócito, inicia-se
plasmina, a qual promove o aparecimento uma série de modificações ao nível do folí-
de colagenase activa que induz a ruptura culo, tanto do ponto de vista morfológico
da parede folicular. como a nível endócrino. Já antes da ovulação,
A concentração de algumas prostaglandinas as células da teca começam a aumentar de
(E e F) no líquido folicular aumenta significa- tamanho e adquirem uma aparência vacuo-
tivamente na fase pré-ovulatória, atingindo lar com depósito de um pigmento amarelo
o máximo antes da ruptura folicular. Sabe-se responsável pela coloração do corpo ama-
que as prostaglandinas podem libertar enzi- relo que resulta do folículo após a ovula-
mas proteolíticas, promover a angiogénese ção. Um outro fenómeno característico da
e a hiperémia e terão um efeito contráctil ovulação é a proliferação de fibroblastos e
sobre o músculo liso da camada externa do capilares sanguíneos que penetram na gra-
folículo, contribuindo para a expulsão do nulosa através da lâmina basal. Esta angio-
conteúdo folicular. génese é uma fase fundamental no processo
Do ponto de vista endócrino, é o próprio fo- de luteinização e é mediada por factores de
lículo que desencadeia a ovulação através da crescimento vasculares, nomeadamente o
síntese crescente de estradiol que, ao atingir vascular epithelial growth factor (VEGF). Esta
um determinado limiar, activa o mecanismo intensa vascularização permite o aporte ao
de retrorregulação que estimula a libertação corpo amarelo de substratos necessários à
de gonadotrofinas até ao pico pré-ovulatório síntese de estrogénios e progesterona.
característico. A ovulação ocorre habitual- O corpo amarelo é a principal fonte de hor-
mente 34-36 horas após o início do pico ovu- monas esteróides sexuais nesta fase do ciclo

46 Capítulo 3
e a sua capacidade funcional e vida média zação e vascularização adequadas das células
dependem da secreção de LH na ausência de da teca durante a fase luteínica precoce.
gestação e de gonadotrofina coriónica huma- A esteroidogénese ovárica obedece à via bá-

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na (HCG) se ocorre fecundação e gravidez. sica de biossíntese dos esteróides a partir do
Na ausência de gravidez, o corpo amare- colesterol, o qual pode ser obtido de síntese
lo tem uma duração média de 14 ± 3 dias local a partir do acetato, ou proveniente da
ao fim dos quais sofre involução, converten- circulação geral através de um receptor da
do-se em corpus albicans. membrana para as lipoproteínas de baixa
Além do suporte da LH, para que o corpo densidade, o que constitui a fonte mais im-
amarelo exerça uma função endócrina normal portante de colesterol para as células ovári-
é indispensável que se tenha produzido um cas. A conversão do colesterol em esteróides e
desenvolvimento folicular normal durante a de um esteróide noutro produz-se através de
primeira fase do ciclo, bem como uma luteini- uma série de reacções ilustradas na figura 5.

Figura 5. Síntese das hormonas esteróides no ovário (adaptado de Thibault, et al.7).

Fisiologia do ovário e da fecundação 47


A esteroidogénese está funcionalmente hormonodependentes que sofrem atrésia. O
compartimentada no folículo. A teca interna folículo dominante não é sensível a este efei-
apenas contém receptores de LH e sintetiza to porque evolui de forma autónoma, sem

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preferencialmente androgénios – androste- necessidade do estímulo da FSH.
nediona e testosterona – os quais difundem Os estrogénios exercem também uma acção
através da membrana basal para o interior de retrocontrolo positivo sobre a libertação
das células da granulosa que, sob a influência hipofisária de LH cuja resposta depende do
da FSH e da indução da actividade enzimá- nível e da impregnação estrogénica, saben-
tica da aromatase, convertem estes andro- do-se que para induzir o pico de LH são ne-
génios em estrogénios (estrona e estradiol) cessárias concentrações de estradiol de 200
– esta é a base da teoria «duas células, duas pg/ml durante mais de 50 horas. O conjunto
gonadotrofinas», que codifica o conceito uni- das regulações do eixo hipotálamo-hipófise-
versalmente aceite de que uma interacção ovário pode resumir-se da seguinte forma: a
estreita entre FSH e LH é um requisito essen- partir da puberdade, a descarga pulsátil de
cial ao desenvolvimento e maturação folicu- GnRH permite uma secreção basal de FSH
lares normais e que representa a necessidade que estimula o recrutamento folicular. Os es-
da teca e da granulosa para a produção de trogénios intrafoliculares, formados a partir
estradiol (Figs. 6 e 7). Os equipamentos en- dos androgénios segregados sob o controlo
zimáticos dos dois tecidos são diferentes e da LH, mantêm a sua própria produção e a
limitam reciprocamente as suas capacidades. proliferação da granulosa. Em sinergia com a
A teca sintetiza androgénios que não conse- inibina, os estrogénios reduzem a libertação
gue aromatizar em grande quantidade e a de FSH, assegurando a selecção e a dominân-
granulosa possui uma grande capacidade de cia do folículo ovulatório. Acima de um de-
aromatização dos androgénios produzidos terminado limiar, os estrogénios sensibilizam
na teca. As células da granulosa segregam as células gonadotróficas hipofisárias à acção
também grandes quantidades de inibina que da GnRH provocando, assim, a descarga pré-
tem a propriedade de bloquear a síntese e a ovulatória de LH. A progesterona produzida
libertação de FSH pela hipófise. As taxas plas- na fase luteínica reduz o ritmo pulsátil da se-
máticas de inibina são paralelas às do estra- creção de GnRH que apenas voltará a sofrer
diol e, em conjunto, reduzem a secreção da uma aceleração após a queda pré-menstrual
FSH, suprimindo assim o suporte aos folículos da concentração de progesterona.

Figura 6. Compartimentação da esteroidogénese ovárica (adaptado de Thibault, et al.7).

48 Capítulo 3
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Figura 7. Controlo endócrino, parácrino e autócrino dos quatro acontecimentos fundamentais na diferenciação das
células da granulosa (adaptado de Thibault, et al.7).

No entanto, os estrogénios circulantes na A progesterona é proveniente da secreção


mulher não são apenas provenientes da ovárica (corpo amarelo) e supra-renal sendo
secreção ovárica directa, mas também da esta última escassa.
conversão periférica de precursores andro-
génicos de origem ovárica ou supra-renal,
sendo o adipócito o exemplo clássico de 3. ACÇÃO DAS HORMONAS OVÁRICAS
uma célula que possui o equipamento en- SOBRE OS ÓRGÃOSALVO
zimático para esta conversão mas também
outros tecidos como a pele, o músculo e Os efeitos dos estrogénios são multifocais,
o endométrio possuem esta capacidade. influenciando os seus órgãos-alvo, os tecidos
A maior parte do estradiol e da testosterona que os produzem, os centros nervosos supe-
sintetizados circulam na corrente sanguínea riores e a hipófise anterior que, em última ins-
ligados a proteínas de transporte de síntese tância, controlam a sua produção. Em termos
hepática, nomeadamente a sex hormone bin- gerais, pode considerar-se que os estrogénios
ding globulin (SHBG) e a albumina (10-30%), como hormonas tróficas têm uma acção es-
só uma pequena parte circulando livre. sencial no crescimento, desenvolvimento e
Fisiologia do ovário e da fecundação 49
manutenção dos órgãos reprodutivos, sendo pelos bacilos de Doderlëin que o convertem
também importantes para a regulação de em ácido láctico. Por acção dos estrogénios
processos metabólicos independentes das a vagina alonga-se e torna-se mais elástica.

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funções reprodutoras. Os estrogénios têm A progesterona induz uma discreta diminui-
uma importância capital no desenvolvimen- ção da espessura do epitélio e descamação
to e fisiologia dos órgãos reprodutivos da das células superficiais da vagina.
mulher. Além do crescimento e desenvolvi- O crescimento do útero na puberdade é
mento folicular, assumem um papel funda- devido aos estrogénios que têm um efeito
mental no desenvolvimento dos caracteres tónico sobre o miométrio e as contracções ute-
sexuais secundários mas exercem também rinas enquanto a progesterona actua de modo
efeitos sobre órgãos e sistemas extragenitais, oposto, promovendo a sedação uterina.
nomeadamente na estimulação da síntese Ao nível do colo uterino, os estrogénios au-
de proteínas hepáticas e também na manu- mentam as dimensões do orifício externo
tenção da estrutura trabecular óssea, na dis- do canal cervical durante a fase pré-ovu-
tribuição da gordura corporal e ao nível das latória, atingindo o máximo no momento
glândulas mamárias. As hormonas esterói- da ovulação. Também a secreção do muco
des exercem a sua presença graças a recep- cervical aumenta, diminuindo a sua vis-
tores nos órgãos-alvo. A hormona atravessa cosidade e o seu conteúdo em leucócitos,
a membrana celular por difusão simples, é tornando-se aquoso, filante e transparente,
transportada ao núcleo, une-se ao receptor de forma a permitir a penetração dos esper-
nuclear específico e dá-se a interacção do matozóides. A típica cristalização em forma
complexo hormona-receptor com o ADN; de folhas de feto do muco cervical que seca
segue-se a síntese de ARNm e o seu trans- sobre uma lâmina de vidro deve-se ao seu
porte aos ribossomas para a síntese proteica. elevado conteúdo em cloreto de sódio na
A actividade biológica é mantida enquanto fase pré-ovulatória.
o complexo hormona-receptor está unido A progesterona provoca a regressão das
ao ADN. Recentemente têm sido descritos modificações promovidas pelos estrogénios
mecanismos alternativos, não genómicos, como o estreitamento do canal cervical e a
de acção dos estrogénios, designados por redução da quantidade de muco que se tor-
acções rápidas das hormonas esteróides. na viscoso e turvo dificultando a passagem
de espermatozóides.
3.1. ACÇÃO DAS HORMONAS O endométrio é a mucosa que reveste a ca-
ESTERÓIDES OVÁRICAS AO NÍVEL DOS vidade uterina e que deve ser preparada em
ÓRGÃOS GENITAIS FEMININOS cada ciclo para possibilitar a implantação do
blastocisto, no caso de existir fecundação.
Ao nível da vulva, os estrogénios aumentam A acção coordenada dos esteróides sexuais
a vascularização e turgescência, regulando a produz uma série de modificações impor-
função das glândulas de Bartholin, de Skene tantes ao nível do endométrio. Os estrogé-
e sebáceas, estimulando o aumento da sua nios induzem o crescimento e proliferação
secreção. O desenvolvimento do clítoris, dos das glândulas, epitélio e estroma da camada
grandes lábios e dos pêlos púbicos é pro- funcional do endométrio enquanto a pro-
vocado pelos androgénios. Os estrogénios gesterona determina as modificações carac-
promovem o espessamento e maturação terísticas da segunda fase do ciclo (explicita-
do epitélio vaginal mantendo, de forma in- das em maior detalhe adiante). As diversas
directa, o meio fisiologicamente ácido da fases do ciclo endometrial (proliferativa, se-
vagina já que o glicogénio proveniente das cretora e menstrual) são determinadas pelo
células superficiais descamadas é utilizado funcionamento ovárico.

50 Capítulo 3
Histologicamente, o endométrio é com- tratificado, formando um revestimento epi-
posto por um epitélio cilíndrico com uma telial contínuo. O lúmen das glândulas tor-
camada de células ciliadas secretoras que na-se evidente e o estroma passa de denso

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repousam sobre uma membrana basal sob (característico da fase proliferativa precoce)
a qual existem numerosas glândulas tu- a laxo, de tipo sincicial. No entanto, dado
bulares simples, constituídas por células que o crescimento do estroma se dá a um
secretoras suspensas num córion ou es- ritmo inferior ao crescimento glandular, as
troma. Funcionalmente, distinguem-se no glândulas assumem um aspecto tortuoso e
endométrio duas camadas, uma superficial o estroma aparece desagregado. As estru-
e outra profunda, apenas a primeira sendo turas vasculares endometriais designadas
hormonodependente e por isso designa- por artérias espiraladas só adquirem esta
da de funcional. Esta camada é constituída morfologia típica na fase proliferativa tar-
por tecido conjuntivo laxo e glândulas e dia. A proliferação celular do estroma e das
descama na menstruação, regenerando-se glândulas é paralela aos níveis de estradiol
em cada novo ciclo. A camada basal, de lo- circulante, aumentando até ao 10.o dia do
calização mais profunda, é constituída por ciclo, o que coincide com a maior densidade
endométrio não funcional e pouco diferen- de receptores estrogénicos a nível endome-
ciado. Possui a propriedade de regenerar a trial. Os estrogénios estimulam, além da sín-
camada funcional após a perda menstrual tese dos seus próprios receptores, a síntese
cíclica. O ciclo endometrial pode dividir- de receptores da progesterona preparando
se em várias fases, segundo a acção das as modificações endometriais induzidas
hormonas ováricas. De uma forma simples por esta na fase luteínica do ciclo. Começa
podemos considerar as fases proliferativa assim a actividade secretora das glândulas
e secretora, ambas divisíveis em precoce endometriais, acumulando-se no epitélio
e tardia e a fase descamativa. Dado que a vacúolos de glicogénio que servirão de fon-
menstruação é o fenómeno mais evidente te energética para o zigoto. A fase secretora
da descamação endometrial, considera-se corresponde à formação do corpo amarelo
este evento como o início do ciclo, apesar e é caracterizada pela preparação definiti-
de, em sentido estrito, o ciclo se iniciar com va do tecido endometrial para favorecer a
a proliferação endometrial e terminar com a implantação e para nutrir adequadamente
menstruação, no caso de não ocorrer fecun- o produto de concepção. A fase pré-mens-
dação. A fase proliferativa estende-se desde trual (entre o 25.o e o 28.o dias do ciclo)
o final da menstruação (dias 3.o a 5.o do ci- caracteriza-se por uma descida dos níveis
clo) até à ovulação (entre os dias 13.o e 15.o de estrogénios e progesterona que ocorre
do ciclo) e corresponde ao crescimento e re- nas situações em que não há fecundação e
construção do endométrio a partir da cama- em que não se produzem gonadotrofinas
da basal, em paralelo com a fase folicular do trofoblásticas que substituam as do corpo
ciclo ovárico com secreção de quantidades amarelo em involução. A queda dos níveis
crescentes de estrogénios que actuam nos hormonais acarreta a involução endome-
receptores endometriais e contribuem para trial, com apoptose das células estromais,
o espessamento da mucosa. Posteriormen- redução da espessura endometrial (por per-
te, seguem-se as modificações destinadas da de líquido a nível do estroma), infiltração
a permitir a implantação, com modificação leucocitária e extravasamento intraglandu-
de todas as estruturas da mucosa endome- lar de sangue devido a reacções vasomoto-
trial. As glândulas respondem à estimulação ras das arteríolas espiraladas. Estas modi-
estrogénica com transformação do epitélio ficações vasculares são determinadas por
plano estratificado em epitélio pseudo-es- variações na síntese de prostaglandinas e

Fisiologia do ovário e da fecundação 51


fenómenos de vasoconstrição e relaxamen- A nível do metabolismo lipídico, os estrogé-
to rítmico destes vasos, sendo os espasmos nios aumentam as concentrações de coles-
cada vez mais prolongados até provocarem terol-HDL e diminuem as de colesterol-LDL,

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esclerose da camada funcional, necrose e acção mediada pela diminuição da lipase
descamação celular (menstruação). hepática. Também promovem um aumento
A acção das hormonas produzidas pelo ová- dos triglicerídeos, provavelmente devido a
rio condiciona também alterações cíclicas um aumento da produção de VLDL. Ao nível
ao nível das trompas, distinguindo-se uma do metabolismo proteico, os estrogénios
fase folicular em que a actividade do mús- exercem um efeito anabolizante inferior ao
culo liso tubar aumenta progressivamente, dos androgénios, mas estimulando a sínte-
tornando-se bidireccional e propulsiva na se de proteínas, o crescimento e desenvol-
fase pré-ovulatória, com o objectivo de pos- vimento da pele e mucosas e a síntese de
sibilitar a ascensão dos espermatozóides e proteínas hepáticas, aumentando o angio-
o transporte do ovócito no sentido caudal tensinogénio, a SHBG e alguns factores fibri-
para facilitar a fecundação. nolíticos e de coagulação.
Ao nível da mucosa também se verifica um Os estrogénios favorecem a retenção de
aumento de densidade de células ciliadas água, sódio e cloretos pelos túbulos renais, o
e as células secretoras acumulam produtos que assume particular importância se ocorre
de secreção na sua região apical. Estas secre- gravidez.
ções contribuem para o aumento do fluido Os androgénios promovem o crescimento
tubar até à ovulação. Após a ovulação, o au- ósseo, exercendo uma acção directa ao nível
mento de progesterona causa uma redução dos receptores dos osteoblastos e, indirec-
do tónus muscular e reduz a actividade pe- tamente, através de citocinas e factores de
ristáltica da trompa. Se acontece a gravidez, crescimento locais.
o epitélio tubar sofre atrofia, com repouso
da actividade ciliar, secretora e peristáltica.
4. A FECUNDAÇÃO NOS MAMÍFEROS
3.2. ACÇÕES EXTRAGENITAIS DAS
HORMONAS ESTERÓIDES OVÁRICAS Nas espécies com reprodução sexuada, a
fecundação assegura a criação de um novo
Os efeitos extragenitais dos estrogénios in- indivíduo a partir dos gâmetas feminino e
cluem o desenvolvimento dos caracteres masculino. Pode definir-se fecundação como
sexuais secundários (nomeadamente como o conjunto de transformações que se produ-
estímulo fundamental para o desenvolvi- zem no ovócito após a interacção e fusão
mento mamário na puberdade), a indução dos gâmetas e que terminam na singamia
da síntese proteica e a manutenção da estru- (fusão dos complementos cromossómicos
tura óssea e prevenção da osteoporose. de origem materna e paterna).
A acção dos estrogénios sobre o hipotálamo Na espécie humana, a fecundação ocorre no
e a hipófise é uma acção de tipo regulador. terço externo da trompa de Falópio onde
A síntese das gonadotrofinas pelas células os espermatozóides chegam progressiva-
gonadotróficas da hipófise anterior depen- mente e entram em contacto com o ovócito,
de dos estrogénios circulantes, sendo o ar- entretanto libertado e captado pelo pavi-
mazenamento da reserva mobilizável destas lhão tubar. Deve realçar-se que, apesar de
gonadotrofinas dependente da exposição um número muito elevado de espermato-
prévia aos estrogénios, o que é de funda- zóides ser depositado na cavidade vaginal
mental importância para o pico de gonado- durante uma relação sexual, no momento
trofinas que assegura a ovulação. da fecundação apenas um número muito

52 Capítulo 3
limitado (algumas centenas) se encontra na sofre um processo de compactação, sendo
proximidade do ovócito. as histonas substituídas por protaminas,
A fecundação é um processo que culmina responsáveis pela hipercondensação da

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na união de um único núcleo de um esper- cromatina do espermatozóide num núcleo
matozóide com o pronúcleo feminino no ci- muito denso. O centríolo do gâmeta mas-
toplasma de um ovócito activado que exige culino é transformado em pré-centrosso-
a concretização atempada de uma série de ma, capaz de recrutar do pool materno os
acontecimentos: produtos necessários à formação do fuso
— A formação dos espermatozóides. mitótico durante a fecundação e o desen-
— A penetração do espermatozóide no ci- volvimento embrionário inicial. Assim, o
toplasma do ovócito que inclui a união espermatozóide é o veículo de uma con-
e fusão das membranas plasmáticas de tribuição fundamental: o genoma haplóide
ambos os gâmetas. paterno; o sinal que induz a activação me-
— A conclusão da segunda divisão meióti- tabólica do ovócito; o centríolo que forma
ca ovocitária com extrusão do 2.o globo o centrossoma do zigoto, orienta a organi-
polar e a activação metabólica de um zação dos microtúbulos e leva à união dos
ovócito previamente quiescente. pronúcleos e formação do primeiro fuso
— A descondensação do núcleo do esper- mitótico embrionário.
matozóide e dos cromossomas maternos Analisamos de seguida, de forma sumária, as
em pronúcleos masculino e feminino, se- diferentes etapas que constituem o proces-
guida da migração citoplasmática dos so de fecundação.
pronúcleos, levando à sua aposição e
posterior singamia. 4.1. INTERACÇÃO OVÓCITOESPERMATOZÓIDE
— A primeira divisão mitótica do zigoto e o E PENETRAÇÃO DO ESPERMATOZÓIDE NO
seu desenvolvimento inicial. CITOPLASMA OVOCITÁRIO
A deficiência de qualquer destes eventos é
letal para o zigoto e causa de insucesso re- A maturação ovocitária não se resume às
produtivo. modificações nucleares, sendo um fenóme-
O processo de fecundação inicia-se com no complexo que inclui também as células
o reconhecimento da presença do esper- da granulosa. Este processo envolve aspec-
matozóide na vizinhança do ovócito. Este tos nucleares e citoplasmáticos estreitamen-
reconhecimento celular induz a reacção te relacionados e com consequências fun-
acrossómica que resulta na externaliza- damentais na fecundabilidade do ovócito
ção do conteúdo do acrossoma, o qual é e no seu potencial de desenvolvimento. A
constituído por enzimas proteolíticas que maturação ovocitária depende de uma com-
possibilitam a penetração da zona pelúci- plexa interacção de factores parácrinos e en-
da, bem como proteínas e glicoproteínas dócrinos que condicionam o microambiente
que permitem a ligação do espermatozói- intrafolicular e dos quais depende o desen-
de ao óvulo. volvimento normal do gâmeta feminino.
O espermatozóide é provavelmente a célu- A incorporação do espermatozóide no oo-
la mais diferenciada da economia animal, plasma ocorre em simultâneo com o pro-
sendo os seus componentes citoplasmáti- cesso de activação e a reacção cortical.
cos reduzidos ao mínimo, através da elimi- Nos mamíferos o espermatozóide coloca-se
nação da maioria dos organelos, à excep- tangencialmente à superfície do ovócito,
ção das mitocôndrias, que são essenciais sendo fundamental a acção dos microfila-
para a mobilidade. Durante a esperma- mentos de actina do ooplasma para a con-
togénese, o núcleo do gâmeta masculino clusão do processo de incorporação.

Fisiologia do ovário e da fecundação 53


4.2. ACTIVAÇÃO METABÓLICA DO OVÓCITO retículo endoplasmático com a subsequen-
te libertação deste ião dos depósitos intra-
A união e consequente fusão dos gâmetas fe- celulares. Alguns fenómenos mais tardios

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minino e masculino iniciam uma cascata de da activação ovocitária implicam o recruta-
eventos que transforma o ovócito quiescente mento de ARN mensageiro materno e a sín-
num zigoto, iniciando o programa de desen- tese de proteínas.
volvimento embrionário. Não está ainda es- A manutenção do bloqueio meiótico ovoci-
clarecido o mecanismo preciso como ocorre tário por longos períodos de tempo requer
esta activação, apesar de ser claro que a ele- mecanismos que inibam a destruição do
vação da concentração de cálcio intracelular MPF e a migração dos cromossomas. O blo-
será o mensageiro central na comunicação queio do ciclo celular do ovócito em MII (Fig. 8)
do sinal activador. Efectivamente, a penetra- será devido à presença de um factor citostá-
ção de um espermatozóide num ovócito em tico (CSF) que estabiliza o MPF. Os estímulos
que se inibiu a elevação das concentrações que induzem a activação ovocitária têm em
de cálcio não resulta em activação. comum o facto de provocarem um influxo
O aumento de cálcio livre no citoplasma de cálcio e a degradação da ciclina B1, a qual
ocorre alguns segundos após o estabeleci- tem uma função reguladora do MPF que as-
mento de continuidade entre as membra- sim é inactivado na transição metafase-ana-
nas dos gâmetas e assume a forma de ondas fase (Fig. 9). A elevação intracelular do cálcio
que atravessam o ovócito. Estas oscilações após a incorporação do espermatozóide
do cálcio que persistem durante algumas destrói o CSF e leva também à destruição da
horas, antecedendo o início da primeira mi- subunidade ciclina do MPF. Com a degrada-
tose do ovo, serão geradas pela activação ção da ciclina, o ovócito entra em anafase e
de receptores do inositol trifosfato (IP3) no progride para o primeiro ciclo celular.

Figura 8. Modificações dos níveis intra-ovocitários de actividade do CSF e do MPF no decurso da meiose ovocitária,
durante a fecundação e as primeiras mitoses embrionárias8.

54 Capítulo 3
O mecanismo de activação envolvendo se- ção cortical, a qual destrói enzimaticamente
gundos mensageiros como os iões cálcio e as os locais de ligação dos espermatozóides e
cinases das proteínas seria desencadeado pri- endurece a zona pelúcida, tornando-a impe-

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mariamente por factores espermáticos permi- netrável. Assim se impede a penetração de
tindo, assim, a sincronização do desenvolvi- mais do que um espermatozóide no ooplas-
mento dos pronúcleos masculino e feminino, ma e se assegura a preservação do número
ao mesmo tempo que impediria a activação de cromossomas característico da espécie.
indesejada do ciclo celular ovocitário por si-
nais de origem materna. Assim, a conclusão 4.4. FORMAÇÃO E FUSÃO DOS PRONÚCLEOS
da meiose ovocitária e a activação dos meca-
nismos antipolispermia, ambos destinados a A fecundação envolve a descondensação e
evitar a poliploidia, seriam dependentes do o processamento de ambos os genomas pa-
sinal activador do espermatozóide. Quer seja rentais. O espermatozóide introduz no ovóci-
mediado por receptores membranares, quer to um núcleo muito condensado e inactivo,
introduzido no ovócito como factor solúvel, o o qual requer um processamento que envol-
sinal desencadeador da activação ovocitária ve a libertação das ligações dissulfureto e a
será sempre transmitido pelo espermatozói- substituição das protaminas por histonas do
de. Uma outra possibilidade é que a fecunda- ovócito. O núcleo do gâmeta masculino so-
ção tenha evoluído através de várias vias, as fre profundas modificações durante a esper-
quais se poderão sobrepor ou constituir alter- miogénese, destinadas a proteger o ADN do
nativas, de forma a assegurar o sucesso, mes- espermatozóide das múltiplas agressões que
mo em condições adversas, designadamente está destinado a sofrer ao longo da travessia
de anomalias gaméticas, de um mecanismo do tracto genital feminino. Depois de incorpo-
essencial à sobrevivência da espécie. rado no citoplasma ovocitário, o ADN paterno
liga-se a histonas e outras proteínas e recons-
titui-se um invólucro nuclear com material
de origem materna. A aposição dos pronú-
cleos que precede a singamia é um processo
guiado pelos microtúbulos do citoesqueleto
ovocitário. Este fenómeno depende da capa-
cidade do zigoto reconstruir o centrossoma a
partir do centríolo paterno e do material pe-
ricentriolar ovocitário, implicando a duplica-
ção do centríolo, fundamental para orientar
o desenvolvimento pronuclear e a formação
do primeiro fuso mitótico. O centrossoma
do zigoto organiza uma estrutura radiária de
microtúbulos, o aster, responsável pelo mo-
Figura 9. Ovócito humano em metafase II (1.o globo vimento do núcleo do espermatozóide para
polar às zero horas). o centro do ovócito, a aproximação dos pro-
núcleos e a sua migração para uma posição
central. Os cromossomas maternos encon-
4.3. REACÇÃO CORTICAL E BLOQUEIO tram-se condensados em metafase II e sofrem
À POLISPERMIA descondensação em pronúcleo feminino
após o termo da segunda divisão meiótica.
O bloqueio à polispermia depende da exoci- O desenvolvimento do pronúcleo masculino
tose dos grânulos corticais, designada reac- parece estar sincronizado com o desfecho da

Fisiologia do ovário e da fecundação 55


meiose ovocitária e a organização do homó- divisão meiótica e só terminam na primeira
logo de origem materna. A descondensação mitose do zigoto.
completa da cromatina paterna é necessária

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para a replicação do ADN, podendo esta co-
ordenação ser assegurada por um ponto de
Bibliografia
controlo (check point) da replicação do ADN
e/ou por uma ansa de retrocontrolo entre os 1. Hourvitz A, Adashi EY. Menstrual cycle: follicular
pronúcleos, destinada a evitar as assincronias maturation. Em: Rabe T, Diedrich K, Strowitzki T, eds.
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56 Capítulo 3
Secção II

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OBSERVAÇÃO CLÍNICA

Capítulo 4 - Relação Médico-Doente


Professor Doutor António Macedo

Capítulo 5 - Semiologia ginecológica


Professor Doutor José Martinez de Oliveira

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