Académique Documents
Professionnel Documents
Culture Documents
MULTILATERAL
ENTRE OS PAÍSES
AMAZÔNICOS
A ATUAÇÃO DA ORGANIZAÇÃO
DO TRATADO DE COOPERAÇÃO
AMAZÔNICA (OTCA)
RODOLFO ILÁRIO DA SILVA
A cooperação
multilateral entre
os países amazônicos
CONSELHO EDITORIAL ACADÊMICO
Responsável pela publicação desta obra
A cooperação
multilateral entre
os países amazônicos
A atuação da Organização
do Tratado de Cooperação
Amazônica (OTCA)
© 2013 Editora Unesp
Cultura Acadêmica
Praça da Sé, 108
01001-900 – São Paulo – SP
Tel.: (0xx11) 3242-7171
Fax: (0xx11) 3242-7172
www.culturaacademica.com.br
feu@editora.unesp.br
Editora afiliada:
“Toda mata tem caipora para a mata vigiar veio um caipora de fora
para a mata definhar
e trouxe dragão-de-ferro pra comer muita madeira e trouxe um estilo
gigante pra acabar com a capoeira
Vital Farias
Prefácio 9
Introdução 15
Shiguenoli Miyamoto
Departamento de Ciência Política
Universidade Estadual de Campinas
Introdução
autoridade suprema que possa impor uma noção única de bem comum
ou fazer respeitar os acordos (Le Prestre, 2000, p.284).
[...] foi esse debate que caracterizou os estudos sobre cooperação in-
ternacional e que, apesar de ainda apresentar falhas e lacunas, ofereceu
duas grandes contribuições à literatura sobre o tema: a primeira foi gerar
um consenso sobre a definição de cooperação internacional, o que ajuda
a distinguir quais comportamentos podem ser analisados sob o conceito
de cooperação e quais não podem; a segunda foi o desenvolvimento de
hipóteses sobre as condições sob quais há maior probabilidade de ocor-
rência de cooperação (Ramos, 2006, p.12).
1 Dentre os autores que utilizam esta definição de cooperação estão Helen Milner
(1992, 1997), Kenneth Oye (1986), Joseph Grieco (1988) e Peter Haas (1989).
30 RODOLFO ILÁRIO DA SILVA
como base legal para acción ciudadana em defensa del ambiente. Los
ambientalistas utilizaron los mandatos constitucionales y las garantias
que los protegen como único instrumento de defensa del ambiente’14
(Soria, 2001 apud Torrecuso, 2004, p.74-75).
18 Earth Negotiation Bulletim: International Forest Policy, v. 13, n.1 a 92. Disponível
em: <http://www.iisd.ca/vol13>..
A COOPERAÇÃO MULTILATERAL ENTRE OS PAÍSES AMAZÔNICOS 61
As relações entre os governos da área eram até então cordiais mas pouco
substanciosas. Faltava-lhes conteúdo concreto, substância econômica e
comercial. Nos anos recentes, os contatos diplomáticos se multiplicam,
sobem de nível, frutificam em acordos objetivos, produzem não a retó-
rica da integração, mas projetos tangíveis (Ricupero, 1995, p.359-360).
As motivações iniciais
O “tempo” amazônico era sem pressa. Regia-se não pelo homem, mas
pela lentidão dos ciclos biológicos [...] Havia consenso dentro e fora dos
países amazônicos de que a Amazônia, como espaço planetário, não se
inscrevia no horizonte e na agenda do homem contemporâneo. Aguar-
dava-se o próximo milênio (Ricupero, 1984, p.178).
Pela primeira vez, o Brasil teve uma política definida para a Amazônia,
e, em consequência, teve a seu alcance, para partilhar com os vizinhos,
não apenas o marasmo e a frustração de 30 anos atrás, mas um acervo
concreto de experiências e de realizações, um receituário de fórmulas e
técnicas de desenvolvimento regional merecedoras de estudo, e, quem
sabe, de possível aplicação em condições similares (Idem).
Embora o Brasil desejasse uma maior integração física, tal aspiração não
suporta necessariamente interesses econômicos imediatos e, se esse fos-
se de fato um interesse relevante para o Brasil, o país não teria razão para
concluir tão rapidamente as negociações.
Razões estratégicas
De fato, o TCA, em suas funções, tem o duplo papel de: a) criar oportu-
nidades novas para o contato internacional, no sentido da cooperação; e
b) evitar o surgimento de conflitos. Tanto em um sentido quanto noutro,
o TCA se enquadra entre as preocupações da política externa brasilei-
ra de reafirmar sua soberania e evitar atritos e tendências que pudessem
isolá-lo politicamente dos seus vizinhos (Montenegro, 1993, p.7-8).
Razões socioeconômicas
Razões ambientais
cionais vigentes entre as Partes, nem sobre quaisquer divergências sobre limites ou
direitos territoriais existentes entre as Partes, nem poderá interpretar-se ou invocar-
-se a celebração deste Tratado ou de sua execução para alegar aceitação ou renúncia,
afirmação ou modificação, direta ou indireta, expressa ou tácita, das posições e inter-
pretações que sobre estes assuntos sustente cada Parte Contratante” (TCA, 1978).
A COOPERAÇÃO MULTILATERAL ENTRE OS PAÍSES AMAZÔNICOS 91
As relações entre os governos da área eram até então cordiais, mas pouco
substanciosas. Faltava-lhes conteúdo concreto, substância econômica e
comercial. Nos anos recentes, os contatos diplomáticos se multiplicam,
sobem de nível, frutificam em acordos objetivos, produzem não a retó-
rica da integração, mas projetos tangíveis.
De fato, embora o TCA seja alvo de críticas por não ter desempenha-
do papel marcante na década de 1980-1990, seus principais objetivos,
entre os quais estava o referido desnuviamento [redução das instabili-
dades políticas entre países amazônicos] foram amplamente atingidos
(Montenegro, 1993, p.11).
Aspectos formais
pressing constraints on Brazil than has the regional realm and has be-
come the main area of concern of Brazilian diplomacy. This tendency
could very well not be perceived if one attempted to analyse and explain
the Treaty by means of a balance of power or a power politics approach
restricted to the regional subsystem. The Treaty is rather a juridical and
political means to respond to challenges located outside the boundaries
of that subsystem, in order to protect the Brazilian national goals of de-
velopment – specifically the development of the Amazonian area – and,
above all, of sovereignty (Pimenta, 1982, p.130).
De fato, fica bem claro que a atenção dada pelos países amazô-
nicos à necessidade de garantirem sua soberania possuía motivos
A COOPERAÇÃO MULTILATERAL ENTRE OS PAÍSES AMAZÔNICOS 111
Foi obtida uma conclusão distinta da percepção comum nos meios aca-
dêmico e político de que o TCA foi uma instituição ineficaz e que não
realizou atividades para atender aos seus objetivos. A partir da constata-
ção de que o objetivo que levou à assinatura do Tratado foi o de garantir
a soberania dos países signatários sobre o território em face das ameaças
externas percebidas e que, ademais, a concertação política desenvolvida
no âmbito do Tratado, entre outras esferas, permitiu a diminuição das
tensões em relação ao Brasil e a consolidação de sua influência, conclui-
-se que o TCA atendeu ao seu propósito inicial (Torrecuso, 2004, p.86).
15 Uma iniciativa brasileira que tem vocação para tornar-se ferramenta útil em toda a re-
gião é o Programa Bolsa Verde, cuja lei foi sancionada pela Presidenta Dilma Rousseff
no dia 17/10/2011. O Bolsa Verde vai pagar R$ 300,00 por trimestre a famílias em
situação de extrema pobreza que vivam em unidades de conservação e desenvolvam
ações para preservá-las. Até o final de 2011, 18 mil famílias pobres de todo o país vão
receber o benefício, mas a meta do governo federal é chegar até 2014 com 73 mil famí-
lias inscritas. Com a iniciativa, busca-se aliar a preservação ambiental à melhoria das
condições de vida e à elevação da renda. De acordo com os critérios adotados pelo pro-
grama, terá direito ao benefício a família em situação de pobreza extrema, ou seja, com
renda per capita de até R$ 70. A contrapartida consiste no envolvimento da família em
atividades de conservação nas áreas previstas. Por que não pensarmos em um Programa
Bolsa Verde para todos os países amazônicos? A OTCA poderia ajudar a viabilizar a
ideia por meio da cooperação intra-amazônica e internacional (Pires, 2011).
124 RODOLFO ILÁRIO DA SILVA
A primeira pergunta que surge, portanto, é que existe dentro dessa re-
gião? Existem pouquíssimos dados agregados em nível de região. Ter
uma cartografia atualizada e um acervo estatístico confiável é o primei-
ro passo para saber onde atuar e identificar prioridades. As estatísticas
variam de país para país em cobertura, sistemas de informação e dados
disponíveis (Aragon, 2003, p.26).
16 Como exemplos adicionais do que constitui a economia florestal, Pires (2011) enumera:
opções econômicas que se baseiam na manutenção da florestal como tal, por exemplo, o
manejo florestal madeireiro e não madeireiro, o ecoturismo, o extrativismo, o reflores-
tamento, sistemas de consórcios e sistemas agroflorestais até opções mais sofisticadas
como biotecnologia, aproveitando-se do potencial fitofármacos da biodiversidade.
17 Também será fundamental que os países amazônicos tenham um foco preciso e prio-
rizem setores estratégicos para o desenvolvimento sustentável, em particular no to-
cante à ciência, tecnologia e inovação. Conforme notam alguns analistas, a floresta e
toda a sua riqueza só deixarão de ser destruídos se tiverem valor econômico para com-
petir com atividades como a exploração da madeira, a pecuária e a soja em algumas
áreas. Ou seja, “está na hora de implementar uma revolução científico-tecnológica
na Amazônia que estabeleça cadeias tecno-produtivas com base na biodiversidade,
desde as comunidades da floresta até os centros de tecnologia avançada.[...] Essa ri-
queza somente será plenamente colocada a serviço dos países da região se soubermos
utilizá-la como alavanca para conectar-nos à economia do conhecimento, o que passa
necessariamente pelo desenvolvimento científico, tecnológico e pela inovação. A pro-
teção dos conhecimentos tradicionais dos povos amazônicos, o estímulo à pesquisa
local e à inovação, a geração de uma massa crítica de centros de investigação sobre a
biodiversidade e seus usos em processos produtivos em diversas indústrias, um me-
lhor sistema de incentivo ao registro de patentes amazônicas e de gestão e proteção do
conhecimento gerado localmente deveriam ser foco de atenção prioritária da coope-
ração no âmbito da OTCA [grifos meus] (Simões, 2011, p.11).
A COOPERAÇÃO MULTILATERAL ENTRE OS PAÍSES AMAZÔNICOS 129
Por fim, Becker (2011) afirma que o modelo pode oferecer uma base
territorial para organizar as múltiplas dimensões da Agenda da OTCA.
18 É por este motivo que o Departamento Ultramarino da Guiana Francesa não é parte
integrante do Tratado, já que este território não constitui um Estado soberano. Suas
A COOPERAÇÃO MULTILATERAL ENTRE OS PAÍSES AMAZÔNICOS 133
255 mil pelo Peru, 24 mil pelo Suriname e 255 mil pela Venezuela.
Dentro do estudo organizacional da OTCA é importante des-
tacar que as Reuniões dos Ministros das Relações Exteriores cons-
tituem o órgão supremo de decisões desta organização e têm o “fim
de fixar as diretrizes básicas da política comum, apreciar e avaliar
o andamento geral do processo de cooperação amazônica e adotar
as decisões tendentes à realização dos fins propostos neste instru-
mento” (Artigo XX, TCA, 1978). Tarefa para a qual os Chanceleres
contam com o apoio do Conselho de Cooperação Amazônica.
A partir de 2002, portanto, a cooperação amazônica entra em
uma nova fase, aparentemente mais apropriada para a consecução
dos objetivos e desafios regionais.
1 Ruggie, John Gerard. Multilateralism Matters: the Theory and Praxis of an Institu-
tional Form. Nova Iorque: Columbia University Press, 1993.
A COOPERAÇÃO MULTILATERAL ENTRE OS PAÍSES AMAZÔNICOS 151
Características da OTCA
Estrutura organizacional
5 Vale destacar que esta é a primeira aparição, nesta pesquisa, do conceito de Desenvol-
vimento Sustentável em textos oficiais do TCA ou de sua Organização.
A COOPERAÇÃO MULTILATERAL ENTRE OS PAÍSES AMAZÔNICOS 161
Processo decisório
Orçamento
Fonte: OTCA.
As Coordenadorias
– Água
– Florestas / Solos e Áreas Naturais Protegidas
– Diversidade Biológica, Biotecnologia e Biocomércio
– Ordenamento Territorial, Assentamentos Humanos e Assun-
tos Indígenas
– Infraestrutura Social; Saúde e Educação
– Infraestrutura de Transporte, Energia e Comunicações
Coordenadoria de Saúde
O processo sucessório
Por estes motivos, a autora afirma que já foi proposta uma revo-
lução científico-tecnológica para a Amazônia, endossada pela Aca-
demia Brasileira de Ciência (apud Becker, 2011), porém:
Entrevistas
OTCA, Brasília-DF.
MAURÍCIO DORFLER – Diretor Executivo da OTCA. Entrevista concedida
em 4 abr. 2012, Sede da Secretaria Permanente – SP/OTCA, Brasília-DF.
CARLOS ARAGON – Diretor Administrativo da OTCA. Entrevis-
ta concedida em 4 abr. 2012, Sede da Secretaria Permanente – SP/
OTCA, Brasília-DF.
ANTONIO MATAMOROS – Coordenador de Meio Ambiente da
OTCA. Entrevista concedida em 3 de abr. 2012, Sede da Secretaria
Permanente – SP/OTCA, Brasília-DF.
ANTONIO RESTREPO – Coordenador de Saúde da OTCA. Entre-
vista concedida em 3 abr. 2012, Sede da Secretaria Permanente – SP/
OTCA, Brasília-DF.
GERMÁN GÓMEZ – Coordenador de Ciência, Tecnologia e Educação
da OTCA. Entrevista concedida em 3 abr. 2012, Sede da Secretaria
Permanente – SP/OTCA, Brasília- DF.
JAN TAWJOERAM – Coordenador de Assuntos Indígenas da OTCA.
Entrevista concedida em 3 abr. 2012, Sede da Secretaria Permanente –
SP/OTCA, Brasília-DF.
SOBRE O LIVRO
Formato: 14 x 21 cm
Mancha: 23,7 x 42,5 paicas
Tipologia: Horley Old Style 10,5/14
EQUIPE DE REALIZAÇÃO
Coordenação Geral
Arlete Quaresma