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LUIZ, MAIS LUIZ!

Centenário de Nascimento de Luiz Carlos da Silva

Marcelo Gurgel Carlos da Silva


Paulo Gurgel Carlos da Silva
Organizadores

2018
© Copyright 2018 de Marcelo Gurgel Carlos da Silva

FICHA TÉCNICA
Organização e Redação: Marcelo Gurgel Carlos da Silva e
Paulo Gurgel Carlos da Silva
Revisão: Francisco Dermeval Pedrosa Martins e Márcia Gurgel
Carlos Adeodato
Editoração: Alexssandro Lima
Capa: Marcelo Gurgel e Alexssandro Lima
Tiragem: 500 exemplares
FICHA CATALOGRÁFICA
Elaborada por Larisse Macêdo de Almeida CRB 3/1276
Biblioteca da Escola Cearense de Oncologia

Silva, Marcelo Gurgel Carlos da; (org.)


S586l Luiz, mais Luiz! Centenário de nascimento de Luiz
Carlos da Silva / Marcelo Gurgel Carlos da Silva, Paulo
Gurgel Carlos da Silva (orgs.). Fortaleza: Edição do Autor,
2018.
136p. il.
ISBN: 978-85-915558-6-4
Bibliografia
1. Literatura Brasileira. 2. Biografia. 3. Crônica.
I. Título.
CDD B869

Endereço para correspondência:


Marcelo Gurgel Carlos da Silva
Instituto do Câncer do Ceará / Hospital Haroldo Juaçaba
Rua Papi Júnior, 1.222 - Rodolfo Teófilo
CEP: 60430-230 - Fortaleza-CE
Fone/Fax: (0xx85) 3288-4478

Nenhuma parte desse livro poderá ser reproduzida sem autorização expressa
dos organizadores.
Goethe: Licht,
mehr Licht!,
de Fleischer.

LUIZ, MAIS LUIZ!


Centenário de Nascimento de Luiz Carlos da Silva
MARCELO GURGEL CARLOS DA SILVA
Professor titular da Universidade Estadual do Ceará (UECE)
Professor do Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva (UECE)
Ex-Coordenador do Curso de Medicina da UECE
Coordenador de Comitê de Ética em Pesquisa do Instituto do Câncer do
Ceará

PAULO GURGEL CARLOS DA SILVA


Médico aposentado do Ministério da Saúde
Pneumologista (RQE 5295)
Ex-coordenador de serviços no Hospital de Messejana e na SESA-CE
Escritor e blogueiro. Publica desde 2007 os blogs EntreMentes, Linha do
Tempo e Nova Acta, entre outros

Fortaleza – 2018
Elogio dos antepassados
1 Façamos, pois, o elogio dos homens ilustres,
nossos antepassados através das gerações.
2 O Senhor neles criou imensa glória,
sua grandeza, desde a eternidade. (Eclo. 44, 1-2)

Honra teu pai e tua mãe, para que teus dias se prolonguem sobre a terra que te
dá o Senhor, teu Deus. (Êxodo 20,12)

DEDICATÓRIA
A todos aqueles que dividiram conosco o inexcedível júbilo de celebrar a memória do
centenário de nascimento do notável mestre e advogado Luiz Carlos da Silva.
APRESENTAÇÃO
UM NOVO LIVRO PARA LUIZ CARLOS DA SILVA
Em janeiro de 2008, para comemorar os 90 anos de nascimento de nosso pai,
Luiz Carlos da Silva, foi lançado, na sede local da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-
-CE), o livro “Dos canaviais aos tribunais: a vida de Luiz Carlos da Silva”, coroando um
esforço familiar construído no correr do ano de 2007.
Em 2017, passados dez anos da elaboração da edição anterior, pusemos em
marcha a montagem de um segundo livro da mesma temática sobre o nosso patriarca,
a ser lançado em janeiro de 2018, por ocasião do seu centésimo natalício, se vivo ele
fosse.
A proposta estava amparada em alguns textos adicionais sobre nosso genitor,
publicados na mídia cearense e noutros livros de cunho memorialístico, e em homena-
gens póstumas a ele prestadas, culminadas na sua escolha de patrono da cadeira 22 da
Academia Cearense de Direito.
O meu irmão primogênito Paulo, de pronto, acatou ser o co-organizador da
obra em foco. No seio familiar, repleto de seus rebentos escritores, obteve-se a guarida
da pena dos filhos Paulo, Márcia, Marcelo, Meuris, Luciano, Magna e Mirna, que pro-
duziram textos específicos para este livro. Dois tios: Edmar e Grasiela, que conviveram,
proximamente, com Luiz Carlos, em anos recuados, trouxeram à baila suas recorda-
ções. O genro Fernando Adeodato Junior manifestou sua admiração ao sogro por meio
de um acróstico.
Como a segunda geração dos descendentes do casal Luiz e Elda Gurgel, por
inteiro, completou a graduação, e todos já atuam como profissionais no mercado de
trabalho, inseriu-se uma pequena biografia de cada um desses netos, acompanhada
das respectivas lembranças que guardavam do avô, cabendo à neta Diana recolher e
coligir esses apontamentos.
Houve o cuidado, tanto quanto possível, de não se repetirem autores de depoi-
mentos inclusos no livro comemorativo dos 90 anos, atrás reportado, bem como de
incluir assuntos que não foram apontados anteriormente.
Para a presente publicação, foi possível destacar o seu querido Instituto Padre
Anchieta, trazendo à lume as contribuições de seus antigos alunos: Marlene Alexandre
Rolim, Vicente de Paula Falcão de Moraes, Jair Braga de Lima, Mauro Falcão Moraes e
Zenaide Braga Marçal.
O legado jurídico de Luiz Carlos da Silva é reforçado pelo artigo do desembarga-
dor João Byron de Figueirêdo Frota e o do promotor de justiça Leonardo Gurgel Carlos
Pires, o único dos netos que com ele trabalhou no seu escritório de advocacia.
Nesse interstício decenal, vários amigos e colegas do aqui perfilado foram cha-
mados de volta à Casa do Pai, ou estão impossibilitados de alinhavar palavras. A sua
turma de graduados na Faculdade de Direito, que no último dia 8 de dezembro de 2017
completou 70 anos de formatura foi desfalcada duramente, dela restando poucos so-
breviventes.
O título dado a este livro: “Luiz, Mais Luiz!” foi sugerido por Paulo Gurgel e tem
a ver com a expressão: “Licht, mehr Licht!”, as últimas palavras atribuídas a Goethe, daí
porque esse gênio da literatura alemã aparece na capa deste livro.
Estima-se, mais uma vez, que o exemplo ofertado por nossa família, ao reunir
flagrantes de uma vida, em uma publicação comemorativa, que assinala o centenário
de nascimento de nosso genitor, possa encetar em muitas outras famílias o desejo de
perpetuar os valores humanos dos seus antecessores.
Que Deus o guarde sempre entre os Seus acolhidos, meu pai.

Marcelo Gurgel Carlos da Silva


Fortaleza, 10 de dezembro de 2017
PREFÁCIO

LUIZ CARLOS DA SILVA, SINÔNIMO REDENÇÃO


Roberto Victor Pereira Ribeiro (*)
O Bruxo do Cosme-Velho, Machado de Assis, primeiro
presidente da Academia Brasileira de Letras, costumava exortar que
o “tempo é um tecido invisível onde se pode bordar tudo”. Pois bem,
nossos escritos, quando exsurgem de nossa essência e de nosso âmago,
também podem receber o tipo de bordado ofertado pelo escriba. Essa
prefação será feita da consagração profissional ao nascimento, tudo isso
usando da modulação do efeito ex tunc.1
François-Marie Arouet, conhecido mundialmente como Voltaire,
proclamava que a advocacia era Le plus bel état du monde, ou seja, o
mais belo estado, a mais bela profissão do mundo. Foi com a caneta de
Ruy Barbosa contra as ilegalidades, com a espada de Salomão contra
as desigualdades e com o escudo de Davi a proteger os desamparados
que Luiz Carlos da Silva escolheu brilhar profissionalmente no mundo.
Tal qual um “sacerdote do Direito e da liberdade”, o advogado
Luiz Carlos, formado pela Salamanca Cearense, em 1947, integrando a
turma “Sobral Pinto”, levou, ab initio, a sério o Patrono de sua turma e
avançou, sem claudicar, a tremular na profissão o estandarte que Sobral
Pinto pontificou: “A advocacia não é uma profissão de covardes” e,
assim, com a altivez e a sensibilidade de quem venceu na vida, Luiz
Carlos tornou-se um ícone e um exemplo para o povo do outrora
bucólico Otávio Bonfim, bairro de nossa capital.
Como advogado teve o garbo e a têmpera de um legionário,
empreendendo cruzadas com o distintivo da Ordem a buscar a
restauração da justiça e do império da Lei. É reconhecidamente, até hoje,
tão bem-sucedido pelo ofício que desempenhou, que até mesmo depois
de sua partida para oficiar em tribunais celestes, recebeu da Ordem
dos Advogados do Brasil, Secção Ceará, significativa homenagem em
2012, quando, no Fórum Autran Nunes, foro trabalhista da capital do
Ceará, um Centro de Estudos de Direito do Trabalho recebeu seu nome.
1 Termo jurídico em latim que determina que a decisão, o ato/fato/negócio jurídico ou a lei
nova tem efeito retroativo, ou seja, atinge situação anterior, produzindo seus efeitos também
no passado.
Juntamente a Dona Elda consegue formar quatro filhos em
Ciências Jurídicas (Sérgio, Luciano, Magna e José) e culmina por
irradiar e ressoar seu labor de vida com o encaminhamento de sete
de seus netos (Leonardo, Germana, Paolo, Marcela, André, Natália e
Sérgio) nas plagas do Direito.
Como educador, afinidade que também possuo com o
homenageado, teve papel destacável, some-se aos inúmeros depoimentos
de ex-epígonos e, mormente, quando incentivou um de seus rebentos a
seguir o magistério na Unicamp, em São Paulo. Luiz Carlos da Silva
sabia que “educação não transforma o mundo, educação transforma as
pessoas, pessoas transformam o mundo”.
Por fim, mas não ainda em razões epílogas, gostaria de ressaltar
que como colega de profissão e em face do material que perlustrei para
escrever esse prefácio, Luiz Carlos, aquele imberbe rapaz que percorria
diariamente uma légua a pé ou em cima do lombo de um Equus asinus2
para beber do manancial profícuo dos educadores, que interrompeu a
marcha de seus estudos, que buscou auroras políticas para o seu povo,
cumpriu o mister de abraçar a advocacia, defendendo a justiça contra
a ignorância da multidão, contra a paixão dos adversários e contra a
tirania dos poderosos. É, portanto, um homem que alcançou a redenção
e teve um pulcro paradigma de vida.
Agora sim, para encerrar, quero registrar, principalmente para
seu filho, o esculápio Marcelo Gurgel, que perfiz esse escrito mirando a
genialidade de Vieira e seguindo sua premissa também afirmo que essas
páginas foram escritas com “toda alma na pena”3.
(*) Roberto Victor Pereira Ribeiro é advogado parecerista, jornalista,
escritor, professor e Chefe do Departamento de Direito Processual da
Faculdade Farias Brito (CE). Presidente da Academia Cearense de Direito,
Membro da Academia Cearense de Letras Jurídicas, do Instituto Brasileiro
de Direitos Humanos, Secretário-Geral do Instituto dos Advogados do Ceará
(2016-2019), da Academia Cearense de Retórica, da Academia Brasileira de
Hagiologia, Juiz-Conselheiro do Tribunal de Ética e Disciplina da Ordem dos
Advogados do Brasil Secção Ceará (2011-2013), Diretor Ouvidor da Escola
Superior de Advocacia – ESA/CE (2015-2019), editor da coluna “Direito &
Arte” na Revista Visão Jurídica, membro de diversos Conselhos Editoriais. É
autor das seguintes obras: O Julgamento de Jesus Cristo sob a luz do Direito;
O Julgamento de Sócrates sob a luz do Direito; Questões Relevantes de Direito
Penal e Processual Penal, Voando com os Deuses da História e Manual de
História do Direito.

2 Nosso importante e necessário animal Jumento.


3 VIEIRA, Antônio. Cartas. 1971, T. II, p. 516
Sumário
Apresentação - UM NOVO LIVRO PARA LUIZ CARLOS DA SILVA
Marcelo Gurgel Carlos da Silva
Prefácio - LUIZ CARLOS DA SILVA, SINÔNIMO REDENÇÃO
Roberto Victor Pereira Ribeiro

Parte I - RECORDAÇÕES EM FAMÍLIA


RAÍZES: Redenção e Acarape ............................................................. 13
Paulo Gurgel Carlos da Silva
O LEGADO DE LUIZ CARLOS DA SILVA...................................... 20
Márcia Gurgel Carlos Adeodato
LUIZ CARLOS DA SILVA: uma existência exemplar ....................... 21
Marcelo Gurgel Carlos da Silva
A CULTURA NA VIDA DE LUIZ CARLOS DA SILVA................... 24
Marcelo Gurgel Carlos da Silva
A ARTE NA VIDA DE LUIZ CARLOS DA SILVA ........................... 26
Marcelo Gurgel Carlos da Silva
A BIBLIOTECA DE NOSSO PAI ....................................................... 28
Magna Gurgel Carlos da Silva
AS “VIAGENS” DO DR. LUIZ CARLOS DA SILVA....................... 32
Luciano Gurgel Carlos da Silva
O INCENTIVO AO MAGISTÉRIO.................................................... 36
Meuris Gurgel Carlos da Silva
REQUIESCAT IN PACE ...................................................................... 38
Paulo Gurgel Carlos da Silva

Parte II - PRODUÇÕES ESCRITAS


A VEIA LITERÁRIA DO PAPAI ........................................................ 41
Mirna Gurgel Carlos da Silva
APÓCRIFOS DE LUIZ CARLOS DA SILVA .................................... 51
Marcelo Gurgel Carlos da Silva
Parte III – EDUCADOR DE GERAÇÕES
O INSTITUTO PADRE ANCHIETA SOB O OLHAR DE “LINHA
DO TEMPO” ....................................................................................... 57
Paulo Gurgel Carlos da Silva
O MESTRE E ADVOGADO DO OTÁVIO BONFIM ....................... 61
Marlene Alexandre Rolim
PROFESSOR LUIZ CARLOS DA SILVA: o mestre educador do Otávio
Bonfim.................................................................................................. 62
Vicente de Paula Falcão de Moraes
EU E O INSTITUTO PADRE ANCHIETA (Memórias) ..................... 65
Jair Braga de Lima
AS PALAVRAS VOAM, OS ESCRITOS FICAM ............................. 68
Mauro Falcão Moraes
LUIZ CARLOS DA SILVA E O INSTITUTO PE. ANCHIETA ......... 69
Edmar Gurgel Coelho
RELEMBRANÇAS: o Instituto Padre Anchieta ................................. 71
Zenaide Braga Marçal

Parte IV – OPERADOR DO DIREITO


LUIZ CARLOS DA SILVA: o legado jurídico na sua descendência... 77
Marcelo Gurgel Carlos da Silva
SAUDADES DO VOVÔ LUIZ ........................................................... 79
Leonardo Gurgel Carlos Pires
O ADVOGADO LUIZ CARLOS DA SILVA...................................... 81
João Byron de Figueirêdo Frota

Parte V – PERFILADO EM LIVROS


DOS CANAVIAIS AOS TRIBUNAIS: a vida de Luiz Carlos da Silva .. 85
Marcelo Gurgel Carlos da Silva
LUIZ CARLOS DA SILVA, O HOMEM E O LIVRO ....................... 89
Marcelo Gurgel Carlos da Silva
LUIZ CARLOS DA SILVA EM LIVRO ............................................. 91
Marcelo Gurgel Carlos da Silva
LIVROS QUE FAZEM REFERÊNCIAS A LUIZ (inclusive
ficcionais) ............................................................................................. 93
Paulo Gurgel Carlos da Silva

Parte VI – HOMENAGENS
HOMENAGEM DA ACADEMIA CEARENSE DE DIREITO A LUIZ
CARLOS DA SILVA............................................................................ 99
Marcelo Gurgel Carlos da Silva e Paulo Gurgel Carlos da Silva
ACRÓSTICO ..................................................................................... 102
Fernando Adeodato Junior
HOMENAGENS AO VOVÔ LUIZ .................................................. 103
Diana Cavalcante Gurgel Carlos (organizadora)

Parte VII – DEPOIMENTOS


MISSIVA DE RECONHECIMENTO ............................................... 117
Luiz Marques de Oliveira
SILVA: um cunhado muito especial................................................... 119
Grasiela de Oliveira Carlos
UM SONHO REALIZADO .............................................................. 120
Ana Mary Silveira Weidmann

Parte VIII – APÊNDICES/ANEXOS


CRONOLOGIA FAMILIAR ............................................................. 125
Marcelo Gurgel Carlos da Silva
GENEALOGIA FAMILIAR .............................................................. 127
Paulo Gurgel Carlos da Silva
LEIA MAIS........................................................................................ 131
Marcelo Gurgel Carlos da Silva
REGISTROS ICONOGRÁFICOS .................................................... 133
Tapeçaria Casa do Flamboyant, de Elda Gurgel

5
Quem honra o pai será alegrado pelos filhos e,
no dia em que orar, será atendido.
6
Quem glorifica o pai terá vida longa,
e quem obedece ao Senhor proporcionará
repouso à sua mãe. (Eclo. 3: 5,6)

PARTE I
RECORDAÇÕES EM FAMÍLIA
LUIZ, MAIS LUIZ!
Centenário de Nascimento de Luiz Carlos da Silva

RAÍZES: Redenção e Acarape


Paulo Gurgel Carlos da Silva
Pneumologista e escritor

O s dois municípios, Redenção e Acarape, se conectam pela rodovia CE


060 como se um dos municípios fosse o prolongamento urbano do
outro. Guardam as mesmas características do solo, fértil e propício
ao cultivo da cana-de-açúcar, assim como os mesmos referenciais hídricos, que são as
águas originárias do rio Pacoti, de seus afluentes e o represamento delas a jusante no
açude Acarape do Meio.
Origem e formação de Redenção
Primitivamente, o nome Acarape designava a sede de Redenção. Suas origens
remontam ao século XVIII, quando ali se instalaram os primeiros agricultores, benefici-
ários das vastas e fecundas terras da região.
Ainda pertencente à Vila de Baturité, Acarape (atual Redenção) passou a ter o
seu distrito policial, cujo registro guarda como instrumento de apoio o Ato Provincial
de 18 de março de 1842. Em 1868, Acarape foi desmembrada de Baturité e elevada à
categoria de Vila. A elevação à categoria de Vila provém da Lei nº 1.255, de 28 de dezem-
bro de 1868, com a instalação do Poder Municipal em 28 de agosto de 1871.
Pelo pioneirismo na libertação dos escravos no Estado do Ceará, foi outorgado
a Acarape o nome de Redenção. A elevação à categoria de Município provém da Lei Pro-
vincial nº 2.167, de 17 de agosto de 1889, já com o nome outorgado, memória rediviva
da redenção do negro no Ceará.
Origem e formação de Acarape
O atual município de Acarape foi o antigo povoado de Calaboca (ou Cala Boca).
Ainda modesto, o povoado de Calaboca quis então homenagear suas origens e passou
a se chamar Acarape, a partir de 1926.
Antes, porém, desse fraternal e justo acontecimento, a povoação de Calaboca
recebeu do acaso a cota de benefício pelo qual foi responsável a Ferrovia Fortaleza-
-Baturité. Esse benefício constou da Estação Ferroviária, construída pela Companhia e
inaugurada em 26 de outubro de 1879.

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LUIZ, MAIS LUIZ!
Centenário de Nascimento de Luiz Carlos da Silva
O povoado, então, despertou de sua longa apatia e pequenos comerciantes se
estabeleceram na localidade. Com isso, a população do povoado rapidamente cresceu.
Ao chegar o momento oportuno, seus moradores se arregimentaram, requereram e ob-
tiveram a elevação do povoado à categoria de Vila, tendo como instrumento de apoio a
Lei nº 2.376, de 18 de setembro de 1926, ganhando, também, a mudança de nome para
Acarape. Sua elevação à categoria de Município, já com a denominação atual, provém
da Lei nº 11.308, de 16 de abril de 1987.
Com a desativação do trem de passageiros em 1988, a estação fechou. Por al-
guns anos, abrigou a Secretaria de Cultura de Acarape e atualmente o prédio da estação
é a sede do Paço Municipal.

Antiga Estação de trem de Redenção - Foto: PGCS, em 8/11/2017


Luiz, o filho de Acarape
Em 1916, passada a Seca de 15, nossos avós paternos José e Valdevina deixa-
ram Pereiro e fixaram residência em Acarape, à época fazendo parte do município de
Redenção, onde José Carlos adquiriu uma propriedade rural conhecida pelo nome de
“Pau Branco”. Naquelas terras banhadas pelo Rio Pacoti, como era de vocação da região,
José Carlos passou a investir no plantio da cana-de-açúcar, além de algumas culturas
de subsistência.
O consórcio de José e Valdevina Carlos da Silva gerou sete filhos que “vingaram”.
Nascido em 1918, Luiz Carlos foi o segundo dos filhos do casal, sendo o primeiro deles

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LUIZ, MAIS LUIZ!
Centenário de Nascimento de Luiz Carlos da Silva
a nascer em Acarape.
Luiz fez o Curso Primário de 1927 (ao que tudo indica) a 1931 em uma escola
municipal em Redenção, condição que o obrigava a percorrer, diariamente, mais de
uma légua a pé ou, ocasionalmente, no lombo de um jumento, para superar a distância
que separava o sítio Pau Branco do local de aprendizado.
A Seca de 32 produziu um rude golpe em sua carreira de estudante. Seu pai,
que esperava usar parte dos recursos amealhados em 1931, para enviá-lo a Fortaleza,
onde Luiz daria início a seu curso ginasial, viu-se impossibilitado de fazê-lo, porque a
prioridade então era lutar pela manutenção de toda a família.
Na vigência da seca e nos dois anos seguintes, Luiz teve de continuar no meio
rural, enfrentando o duro labor de arar e semear a terra, sob o sol escaldante, além de
moer a cana e cuidar dos animais de criação para ajudar a prover o sustento da família.
Finalmente, em 1935, após aprovação em exame admissional, ingressou no Co-
légio Cearense Sagrado Coração.
Luiz, o filho adotivo de Fortaleza
Concluído o curso de Direito, em 1947, Luiz jamais esqueceu sua terra natal.
Como advogado, ia semanalmente a Acarape e Redenção onde prestava assistência ju-
rídica a uma numerosa clientela. Nos períodos eleitorais, era nestes municípios que ele
obtinha uma parcela significativa dos votos como candidato a deputado pelo Partido
Trabalhista Brasileiro (PTB) e, depois, pelo Movimento Democrático Brasileiro (MDB)
e por último pelo Partido Democrático Trabalhista (PDT). Por muito tempo, o getulista
Luiz foi a principal liderança local destes partidos.
Além disso, havia o sítio Pau Branco. Administrado pelo irmão caçula Valter,
que continuou a morar em Acarape, era com ele que Luiz trocava frequentes ideias so-
bre os rumos a serem tomados na condução da propriedade. Houve ainda um período
em que ele se dedicou ao comércio de aguardente. Luiz comprava em Acarape tonéis
desta bebida para engarrafá-la em Fortaleza, sob os nomes de “Esportiva” e “Uiscana”.
Cronologia
1842 - Criação de um distrito policial em Acarape, Baturité.
1868 - Acarape é desmembrada de Baturité e elevada à categoria de Vila.

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Centenário de Nascimento de Luiz Carlos da Silva
1879 - É construída uma estação de trem da Ferrovia Fortaleza-Baturité em Calaboca,
povoado da Vila de Acarape.
1889 - Acarape, com o nome de Redenção, é elevada à categoria de Município.
1915 - Seca do 15 no Ceará.
1916 - José e Valdevina fixam residência em Calaboca.
1918 - Nasce Luiz Carlos da Silva.
1919 - Ano de seca no Ceará.
1926 - Calaboca passou a se chamar Acarape, em honra às origens.
1932 - Ano de seca no Ceará.
1935 - A família Carlos da Silva passa a morar em Fortaleza e Luiz ingressa no Colégio
Cearense.
1987 - Acarape passa a ser Município.
São considerados como anos de seca, aqueles em que o desvio anual normali-
zado pela média, em todo o Estado do Ceará, apresentou um valor inferior ou igual a
–40%. Segundo este valor, os anos foram 1915, 1919, 1932, 1958, 1983, 1993 e 1998. V.
gráfico.

Referências
ACARAPE. Site: www.ceara.com.br. Disponível em: http://www.ceara.com.br/m/acara-
pe/index.htm. Acesso em: 25/11/2017.
ACARAPE. Site: pt.wikipedia.org. Disponível em: <https://pt.wikipedia.org/wiki/Aca-

18
LUIZ, MAIS LUIZ!
Centenário de Nascimento de Luiz Carlos da Silva
rape>. Acesso em: 25/11/2017.
ALVES, J.M.B. et al. Principais secas ocorridas neste século no Estado do Ceará: uma ava-
liação pluviométrica. Disponível em: http://www.cbmet.com/cbm-files/13-1380726e-
80520f5fb2161d562051b1ad.pdf. Acesso em: 25/11/2017.
ESTAÇÕES FERROVIÁRIAS DO BRASIL. Site: www.estacoesferroviarias.com.br. Dispo-
nível em: http://www.estacoesferroviarias.com.br/ce_crato/acarape.htm. Acesso em:
25/11/2017.
REDENÇÃO. Site: www.ceara.com.br. Disponível em: http://www.ceara.com.br/m/re-
dencao/index.htm. Acesso em: 25/11/2017.
REDENÇÃO. Site:pt.wikipedia.org. Disponível em: <https://pt.wikipedia.org/wiki/Re-
denção_(Ceará)>. Acesso em: 25/11/2017.
SILVA, G.G.C. da. Avós paternos. In: SILVA, M.G.C. da; ADEODATO, M.G.C. Dos canaviais
aos tribunais: a vida de Luiz Carlos da Silva. Fortaleza: Edições UECE/ Expressão, 2008.
p.19-22.
SILVA, M.G.C. da. A formação educacional de Luiz Carlos da Silva. In: SILVA, M.G.C. da;
ADEODATO, M.G.C. Dos canaviais aos tribunais: a vida de Luiz Carlos da Silva. Fortale-
za: Edições UECE/ Expressão, 2008. p.63-70.
SILVA, M.G.C. da. Refazendo o caminho: passado e presente de uma família. Fortaleza:
Edição do autor, 2012. 144p.
SILVA, P.G.C. da. Moradas e vizinhos. In: SILVA, M.G.C. da; ADEODATO, M.G.C. Dos ca-
naviais aos tribunais: a vida de Luiz Carlos da Silva. Fortaleza: Edições UECE/ Expres-
são, 2008. p.39-41.
SILVA, P.G.C. da. O Tigre da Abolição. Site: Linha do Tempo. Disponível em: http://gur-
gel-carlos.blogspot.com.br/2017/11/o-tigre-da-abolicao.html. Acesso em: 5/12/2017.

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LUIZ, MAIS LUIZ!
Centenário de Nascimento de Luiz Carlos da Silva

O LEGADO DE LUIZ CARLOS DA SILVA


Márcia Gurgel Carlos Adeodato
Jornalista aposentada

O legado de Luiz Carlos da Silva, ao longo de oito décadas de existên-


cia, não pode ser medido por palavras, números ou mesmo benque-
rença. Para nós, seus filhos, a esposa, amigos, ex-colegas da turma de
1947 da Faculdade de Direito do Ceará, o mestre não pode ser esquecido enquanto suas
obras persistirem. E suas obras são imateriais. O livro “Dos canaviais aos tribunais: a
vida de Luiz Carlos da Silva” registra a nossa grande admiração por ele.
Da infância entre os canaviais de sua terra natal, Acarape, até os tribunais,
como promotor, por alguns anos, mas principalmente como advogado que sempre es-
colhia o lado dos mais oprimidos, Luiz Carlos da Silva percorreu uma longa estrada.
Também como professor, de sua própria escola, o Instituto Padre Anchieta, e depois no
Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (Senac), ele ajudou a formar gerações.
Homem culto, apesar da aparente simplicidade, não se negava a “dois dedos de prosa”
com os vendedores do Mercado São Sebastião, onde gostava de comprar mantimentos
para o lar de onze filhos e a esposa Elda, mas sabia, ao mesmo tempo, nivelar-se em
erudição com os doutores da lei.
A publicação em tela resgata a história de Luiz Carlos, a quem somos gratos
pela maior herança que um pai pode deixar para seus filhos: o conhecimento. Não
que tenhamos a pretensão de alcançar a vasta cultura por ele acumulada. Nosso pai
também ensinava pelo exemplo de retidão. Jamais compactuou com a injustiça e qual
Quixote a enfrentar moinhos de vento, enveredou pela política na esperança de ajudar
a melhorar o País. Não logrou êxito nas urnas, mas nem assim ele se abateu. Era um
otimista incorrigível.
Em cada página assinalada no livro fica patente um sentimento comum a todos
nós: saudade. Recordar é trazer de volta a memória dos que partiram. Assim, nós o
temos ainda menino, no verde canavial do Sítio Pau Branco, vencendo a légua que o se-
parava da escolinha primária, mais adiante, como aluno dedicado do Colégio Cearense,
nos bancos da Escola de Comércio Padre Champagnat e no respeitável Curso de Direito,
que fez dele o advogado vocacionado que era. Muito mais haveria a dizer do nosso pai,
mas, deixamos que os possíveis leitores acompanhem conosco as páginas desse livro
despretensioso e pleno de carinho.
* Publicado em O Povo - Jornal do Leitor, em novembro de 2008.
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LUIZ, MAIS LUIZ!
Centenário de Nascimento de Luiz Carlos da Silva

LUIZ CARLOS DA SILVA: uma existência exemplar


Marcelo Gurgel Carlos da Silva
Médico, economista e professor universitário
Luiz Carlos da Silva, filho de José e Valdevina Carlos da Silva, nasceu em Acara-
pe, então distrito de Redenção-Ceará, em 28 de janeiro de 1918.
Fez seus estudos iniciais em sua casa, informalmente, como era comum à época,
porém logo ingressou no programa oficial de ensino, estudando o Primário em escola
pública de Redenção, na sede municipal, fato que o impingia a se deslocar, diariamente,
mais de uma légua. Desde cedo, exibia invejável habilidade em aprender, ancorada em
aguda inteligência, o que incitava a admiração de seus pares e, notadamente, de sua
professora primária, D. Maria Barbosa.
Concluso o curso Primário, terminava ali a formação educacional dos alunos
da localidade e, à conta da limitação de recursos materiais de sua família, agravada
pelos efeitos da trágica seca de 1932, ele foi obrigado a se manter longe dos bancos es-
colares, por mais de três anos, sem progredir nos estudos, suportando com resignação
a situação, e desperdiçando suas forças no duro fardo de laborar a terra. Depois dessa
interrupção, seus pais alugaram uma modesta casa na capital, na qual acomodaram
seus filhos mais velhos para que eles continuassem os seus estudos, comportando-lhe,
como o varão primogênito, a responsabilidade de conduzir o novo lar, em que pese ser
ainda um adolescente.
Em Fortaleza, fez o Seriado no Colégio Cearense Sagrado Coração, instituição
dirigida pela ordem marista, tendo ele intensa participação intelectual, assumindo pa-
pel de liderança do grêmio literário e envolvendo-se com afinco no Movimento Mariano
do colégio. Antes do término do Seriado, e precedendo a admissão no ensino superior,
por três anos, realizou o Curso de Perito-Contábil, na Escola Técnica de Comércio Pe.
Marcelino Champagnat, também pertencente ao sistema de ensino marista, curso este
que viria a ter a equivalência de nível superior em Ciências Contábeis. Com a reforma
de ensino na ditadura Vargas, que inseriu o propedêutico, durante dois anos, cumpriu
o Pré-Jurídico no Liceu do Ceará.
A obrigação de trabalhar, de início como professor primário, para ajudar na
manutenção familiar, levou ao atraso no seu ingresso na Faculdade de Direito do Ce-
ará, mas o seu exame vestibular foi tido como excepcional pela banca examinadora
de seleção, matriculando-se em 1943. Foi identificado como um dos mais brilhantes

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Centenário de Nascimento de Luiz Carlos da Silva
dos estudantes de Direito nos anos quarenta, do século passado, tendo se formado na
Turma de Concludentes de 1947.
Ainda nos tempos de faculdade, foi proprietário de uma pequena escola dedi-
cada ao ensino primário – o Instituto Pe. Anchieta, e dele obtinha os meios monetários
com que bancava uma parcela das necessidades de seus irmãos e a subsistência, nos
primeiros anos, da família que constituíra.
Em agosto de 1947, casou-se com Elda Gurgel Coelho, de cujo matrimônio fo-
ram gerados 13 filhos, dos quais 11 foram criados. Esse enlace foi encerrado devido ao
seu passamento, perfazendo mais de 53 anos de vida a dois.
Sua atividade profissional foi definida pela prática da docência e da advoca-
cia. Na primeira, atuou, por cerca de três décadas, como professor de ensino primário
e secundário, ministrando diversas matérias, como português, matemática, história,
geografia, técnicas comerciais e outras, apontando a sua polivalência; na segunda,
manteve-se ativo por mais de cinquenta anos, até por volta de junho de 1999, quando,
contra a sua própria vontade, por razões de saúde, teve que se desvencilhar da labuta
de que tanto se ocupara.
A prática advocatícia era-lhe gratificante. Ele via essa ocupação como um modo
de se efetuar a Justiça, portando mais equidade à sociedade, ao tempo em que minimi-
zaria as distorções econômicas e sociais. Nas duas primeiras décadas como operador
do Direito, ofereceu seus préstimos nos mais variados ramos jurídicos, porém, a partir
dos anos setenta do século anterior, focou o seu interesse na área trabalhista, passando
a compor um seleto grupo de especialistas de renome dessa área, figurando entre os
detentores de maior clientela. De costume, ele preferia ser o defensor do empregado,
provavelmente como um meio de favorecer o polo mais débil da relação empregatícia,
e até parecia esquisito, quando, ocasionalmente, postava-se no lado patronal nas audi-
ências das Juntas de Conciliação da Justiça do Trabalho.
Diferente de alguns colegas, não cobrava qualquer pecúnia pelas consultas efe-
tuadas e, geralmente, esperava receber seus honorários profissionais apenas quando
os processos geravam desfechos objetivos. Como apreciava viajar pelo hinterland ce-
arense, era rotineiramente abordado por sertanejos que lhe rogavam as mais diversas
orientações, fossem elas jurídicas ou não, e a todos atendia, com educação e sapiência,
mesmo admitindo que esse serviço não produziria quaisquer frutos monetários. A des-
peito da exuberante quantidade de processos sob a sua custódia jurídica, a maior parte
deles era de pequeno valor pecuniário, implicando muito esforço para pouco resultado
financeiro. Com efeito, mais de meio século de prática da advocacia não foi suficien-

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Centenário de Nascimento de Luiz Carlos da Silva
te sequer para formar um patrimônio material que lhe oferecesse uma aposentadoria
digna, confortável e despreocupada, em que pese o claro crédito atribuído às suas com-
petência e experiência.
A Política, com “P” maiúsculo, era a sua segunda paixão. Tentou, por sucessivas
vezes, quase obstinadamente, obter um mandato eletivo, porém as urnas nunca lhe
foram dadivosas a tais intentos. Mesmo sendo portador do dom da retórica e também
um notável redator de peças oratórias, a sua afiliação a partidos políticos de oposição
aos governos estadual e dos municípios nos quais tinha evidente presença como advo-
gado, bem como a sua insuficiência de aportes numerários e a sua clara dissonância de
práticas clientelistas e eleitoreiras corriqueiras tolheram qualquer chance de que ele
viesse a exercer atividades parlamentares que tanto almejara.
Teve a sua vida pautada no trabalho e na família; entretanto, para ser provedor
exclusivo de uma prole tão extensa, naturalmente, o labor requisitava a maior parcela
de seu fazer diário. Seus raros momentos de deleite eram ocupados em leituras diversas
e esse lazer se alargava por sua extrema capacidade de reter o que lia, visto que possuía
uma memória invejável. Sua modesta biblioteca era enriquecida pelo especial acervo
de coleções de História e de livros clássicos da literatura universal, obras que conhecia
com profundidade, sendo capaz de parolar por horas a fio sobre esses temas, exibindo
segurança e saber.
Está claro que o seu principal legado deixado reside nos filhos que gerou, edu-
cou e formou. De fato, todos os seus onze filhos estudaram em universidades públicas,
amealhando dezesseis diplomas de graduação e outros tantos títulos de pós-graduação
(especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado). São professores universitários,
pesquisadores, médicos, advogados, jornalistas, engenheiros e economistas, todos de
méritos reconhecidos em seus correspondentes setores de atuação, que propiciam ser-
viços de qualidade à nossa população e favorecem o engrandecimento dos locais onde
realizam seus ofícios.
Dr. Luiz Carlos da Silva voltou à Morada do Pai, em 20 de novembro de 2000,
com a consciência serena de quem semeou e colheu os frutos opimos de uma existên-
cia devotada ao trabalho e à família, e dispondo ainda a certeza de que seus desdo-
bramentos celulares, pela carga genética a eles transferida, honrarão e zelarão por seu
nome e sua memória.
* Reescrito a partir do texto preparado para a inauguração do Centro de Estudos de Direi-
to do Trabalho Dr. Luiz Carlos da Silva do Fórum Autran Nunes.

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LUIZ, MAIS LUIZ!
Centenário de Nascimento de Luiz Carlos da Silva

A CULTURA NA VIDA DE LUIZ CARLOS DA SILVA


Marcelo Gurgel Carlos da Silva
Médico, economista e professor universitário
Luiz Carlos da Silva, mercê da sua educação em colégio marista - uma escola
confessional conduzida por ordem religiosa de educadores por excelência - estudou
com maristas de várias nacionalidades, sobretudo franceses e espanhóis, o que con-
feria ao alunado um interesse pelos valores culturais do mundo ocidental; essa for-
mação marista ofereceu a ele muito conhecimento sobre Literatura, Arte, História e
Geografia da Europa, além da habilidade para o entendimento e a leitura em latim
e em francês.
Ele era uma pessoa aberta ao reconhecimento da valorização da chamada
Cultura Ocidental branca e cristã, porém não dispunha de tempo ou de recursos para
aprofundar tais conhecimentos por conta do excessivo trabalho, na dupla militância
de advogado e professor, que tinha de exercer, para garantir o sustento de sua prole
numerosa.
A preocupação primeira de Luiz Carlos da Silva era a de prover a subsistência
e a educação formal dos filhos, os quais cumpriram a maior parte da vida escolar
em escolas públicas ou comunitárias, visto que o orçamento familiar não suportaria
manter tantos filhos estudando em escola privada; por estrita falta de dinheiro, os
cursos complementares de línguas estrangeiras, em instituições particulares, esta-
vam fora de cogitação.
A objeção acima era de fundo material, pois não havia óbice para qualquer
um de seus filhos que desejasse aprender outros idiomas, além do vernáculo, desde
que fosse em escola pública como as Casas de Cultura da UFC.
O hábito da leitura foi precocemente incutido em sua prole, porque, nos
primeiros anos de escola, a ela ofereceu uma biblioteca infanto-juvenil oriunda do
Instituto Pe. Anchieta e, depois, com o passar dos anos, franqueou a sua biblioteca
particular, rica em coleções e enciclopédias, e acrescida anualmente com obras de
atualidades e lançamentos literários de autores cearenses.
O hábito de ler caminhou paralelo com o desenvolvimento de outra habili-
dade familiar: a facilidade de escrever de todos os seus filhos, embora existam di-

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Centenário de Nascimento de Luiz Carlos da Silva
ferenças em volume da produção e no estilo da escrita, assim como no gênero de
preferência de cada um de nós.
A música, como forma de expressão cultural, adentrou cedo no aconchego de
seu lar. Luiz possuía uma boa voz e entoava, com ardor e sentimento, hinos patrióti-
cos e sacros; no entanto, ele não dispunha de tempo para se deleitar, como gostaria
de fazer, ouvindo programas de rádio das emissoras locais.
Apesar de tanto apreciar a cultura europeia, não a conheceu in loco, em parte
por falta de numerários. A oportunidade que Luiz Carlos da Silva teria de conhecer
o Velho Mundo ocorreu em agosto de 1998, quando Sérgio, um dos seus filhos, con-
vidou-o e adquiriu as passagens para viajarem juntos, começando pela Península
Ibérica, onde ele realizaria o sonho de conhecer a Faculdade de Direito de Coimbra e
a Torre do Tombo, em Lisboa, para mirar a Carta de Pero Vaz Caminha, dando conta
da terra brasilis ao Rei D. Manuel, o Venturoso.
Na época ele tinha oitenta anos e estava feliz pela tardia aventura, que infe-
lizmente não foi consumada porque, na véspera do embarque, ele sofreu uma queda
enquanto caminhava de volta do trabalho, resultando em grave torção de tornozelo,
da qual guardaria uma pequena sequela, manifesta por uma leve claudicação ao an-
dar, que o acompanharia até o final de sua existência física.
Por ironia do destino, ou melhor, pelas facilidades do mundo moderno, quase
todos os filhos conhecem o Velho Continente e agora são os netos que seguem o
mesmo percurso, passeando por pontos turísticos e, em especial, visitando museus
e igrejas.
Por fim, pode-se dizer que a conjunção da boa educação doméstica e do es-
forço pessoal de cada filho, sob a tutela de um ambiente familiar fecundo, produziu
bons resultados; os descendentes diretos do casal Luiz Carlos da Silva e Elda Gurgel
são cidadãos antenados com as questões da Cultura, brasileira e universal, e recepti-
vos aos valores culturais, elementos importantes para o progresso da Humanidade.

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Centenário de Nascimento de Luiz Carlos da Silva

A ARTE NA VIDA DE LUIZ CARLOS DA SILVA


Marcelo Gurgel Carlos da Silva
Médico, economista e professor universitário
Luiz Carlos da Silva, por sua formação marista, absorveu ensinamentos de ir-
mãos maristas franceses e espanhóis, dentre outras nacionalidades. Sabia ele apreciar
e valorizar a arte do mundo ocidental, embora não demonstrasse qualquer inclinação
para fazer ou produzir obras de arte, como a pintura e a música, ou aptidão indicativa
de dons artísticos para o canto, o teatro, a dança, o cinema etc.
Mesmo que ele possuísse talento artístico, o excesso de trabalho, como advoga-
do e professor, para extrair o pão, a custo de tanto suor, para criar e educar a sua grande
prole, coibiria tal capacidade, porquanto ele não disporia de tempo para extravasar os
supostos dotes.
A exceção, quanto aos seus atributos artísticos, fica por conta do manejo da
pena e do uso da palavra. Suas petições, como parte do trabalho advocatício, eram pri-
morosos exemplos do uso do vernáculo escorreito, aliado ao encadeamento lógico das
ideias. Era um excepcional redator de discursos, especialmente os de cunho político,
lidos em programas televisivos de política partidária, antes da aplicação da sombria
e obscura Lei Falcão; no entanto, por lástima, nenhuma dessas preciosas peças de sua
oratória foi preservada. Tinha o dom da eloquência, cultivando uma vigorosa oratória,
usada com propriedade nos comícios políticos, talvez por conhecer bem a obra do Pa-
dre Antônio Vieira, e nos tribunais, por força de seu ofício jurídico.
A veia poética de Luiz Carlos da Silva está presente em quatro poesias, tornadas
conhecidas dos filhos, apenas postumamente: um soneto intitulado “Redenção”, decla-
rando o seu amor filial ao seu torrão natal, impresso na “Verdes Mares”, em 1939; mais o
soneto tendo por título “A fuga”, narrando a fuga da Sagrada Família para o Egito, a fim
de escapar da fúria de Herodes, que foi publicado em “Verdes Mares”, um informativo
marista cearense (c.1939); outro soneto, sob o título “Transviado”, divulgado, em 1940,
em “Memorial”, um periódico oficial da Congregação Mariana do Colégio Cearense; e
um longo poema de versos soltos e rimas livres, denominado “Em louvor à mãe”, com
data de 7 de maio de 1971, escrito em Fortaleza para sua genitora, a nossa avó Valdevi-
na, o qual foi encontrado, há pouco mais de dez anos, e lido em família, por ocasião do
Dia das Mães, em 14 de maio de 2006.

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É lógico que da conjunção Luiz Carlos da Silva e Elda Gurgel, considerando os
distintos atributos que detinham, florescesse um pouco de arte e de cultura, a partir do
lar naturalmente fértil, e dele brotassem, em alguns dos rebentos do casal, pendores
artísticos, ainda que pontuais e de intensidade díspar. A prioridade para os nossos pais,
em relação à prole, era a educação formal, porém não havia desestímulo a qualquer
um de nós que desejasse buscar uma formação artística. De sorte que quase todos os
membros do clã Gurgel Carlos experimentaram ou vivenciaram alguma modalidade
artística.
Hoje, quase todos os seus rebentos são bons apreciadores de arte, em geral, mas
não praticantes de qualquer tipo de arte, em particular. Afinal, os artistas precisam de
público que os aplauda, nem que seja uma claque. Portanto, como diz a canção: “Po-
etas, seresteiros, namorados, correi;/ é chegada a hora de escrever e cantar,/ talvez as
derradeiras noites de luar”.

Luiz e Elda com as netas Diana e Marina.

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LUIZ, MAIS LUIZ!
Centenário de Nascimento de Luiz Carlos da Silva

A BIBLIOTECA DE NOSSO PAI


Magna Gurgel Carlos da Silva
Engenheira-agrônoma e advogada
Marcelo, meu irmão, pediu-me para escrever algumas palavras sobre o papai,
especificamente sobre o viés cultural, voltado mais para a formação e utilização de sua
biblioteca, que à época se mostrava além da média do padrão intelectual, mesmo para
uma pessoa com nível superior.
Diante desse pedido, fui vasculhar na memória pessoal e familiar as principais
obras e autores que figuravam em sua biblioteca. Assim, comporta dizer que o espa-
ço físico de seu escritório apresentava, de início, estantes tradicionais, escrivaninha,
máquina de escrever, piso revestido com tapete de sisal, cadeiras e depois, um grande
sofá-cama, tendo a minha saudosa irmã Marta feito desse local seu quarto noturno.
Como a memória não é linear e alguns detalhes se transformam em pontos fun-
damentais para desencadear fatos ocorridos de maior relevância, começo lembrando
que um dia papai viajou, como de praxe, para cumprir agenda jurídica no Maciço de
Baturité, então, mamãe, entendendo como uma grande oportunidade e por estratégia
de convencimento forçado, retirou todos os livros das estantes, colocando-os no chão
e se desfez das mesmas. Paralelamente havia encomendado novas estantes para o ga-
binete, devidamente projetadas pela Marta e, sem aguardar concordância ou anuência
do papai, contratou o serviço de marcenaria.
Imaginem a reação contrária do “Dr. Luiz” ao encontrar seus preciosos livros
no chão! Pois bem, ele ficou de “luto”, permanecendo dias e dias de “lundu”. Porém,
como mamãe previu, tal estado passou logo, pois com a chegada dos móveis e a nova
ambientação, papai se deu por convencido. Dispôs suas coleções, seus livros jurídicos,
suas anotações e pastas. Mostrava-se orgulhoso de sua biblioteca/gabinete.
E como papai gostava de guardar papéis! No dizer da “Dona Eldinha”, sua es-
posa, o “Silva”, como era chamado no âmbito familiar, “adora acumular” e era “desor-
ganizado por natureza”. Vale destacar que a marca forte dela era justamente o oposto,
ou seja, organizada e desapegada. Agora, fazendo justiça, digamos que o argumento de
mamãe perdia para a memória fabulosa de papai. Mesmo na pseudo-desorganização,

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Centenário de Nascimento de Luiz Carlos da Silva
ele encontrava o que buscava no caos doméstico, pois raramente perdia suas anota-
ções. Lembrava quase sempre do canto exato das coisas. E, caso não as encontrassem,
mamãe era responsabilizada pelo “sumiço”, dada a sua mania de desfazimento. Para
nós, os filhos, o melhor era não tomarmos partido.
A Biblioteca/Gabinete espelhava organização, modernidade e bom gosto, com
direito a autorretrato de mamãe desenhado à grafite. Tinha também uma bela fotogra-
fia de nossa irmã mais velha Lucinha, falecida ainda bebê.
Papai, a despeito dos parcos recursos financeiros, investia em livros, coleções,
almanaques, mapas, revistas, etc. Por si só, depreende-se uma característica das mais
interessantes da família Carlos da Silva, pois, como professores e amantes da leitura,
não mediam esforços para adquirirem novos conhecimentos.
Figuravam na biblioteca, coleções como: Thesouro da Juventude (18 vol.), His-
tória Universal, de Césare Cantú (32 vol.), Dicionário Universal de Curiosidades (7 vol.),
História dos Hebreus, de Flávio Josefo (9 vol.), Historia do Povo Brasileiro, dos autores
Afonso Arinos e Jânio Quadros (7 vol.), História das Américas (14 vol.), dentre outras.
Cabe destacar, ainda, dois grandes volumes que identificávamos como calen-
dários, descrevendo a vida dos santos e papas da Igreja Católica. Estes livros assumiram
um grande significado para nossa formação cristã. Papai, inclusive, buscou o nome da
Meuris, minha irmã, na história de uma princesa de Gaza, na Palestina, que teria sido
martirizada, após se declarar cristã. Este fato ensejou que a Meuris engendrasse todos
os esforços para, depois da morte de papai, resgatar esses livros que mamãe havia doa-
do para a Igreja Nossa Senhora das Dores, no Otávio Bonfim, em Fortaleza/CE.
Papai também contava com um livro sobre saúde, que apresentava um “mini-
-atlas”. E, na ausência de serviços médicos, o conhecimento ali contido asseverava uma
tranquilidade familiar quando o assunto era saúde das crianças.
A minha irmã Meuris gostava de contar que nossos pais, tendo por orientação
o livro acima referenciado, “diagnosticaram” tempestivamente o “crupe”, garantindo as-
sim sua salvação.
A Biblioteca de papai era eclética, indo de temas históricos, geográficos, cul-
turais e sociais aos assuntos jurídicos. Contava também com coleções de direito civil,

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tributário, comercial e, principalmente, trabalhista e previdenciário, além de todos os
códigos, consolidações e livros jurisprudenciais.
Por oportuno, destaco ainda o Thesouro da Juventude, pois tinha um lugar
especial em nossa família, considerando que aguçava a curiosidade infanto-juvenil.
Lembro com saudade do chamado “O Livro dos Porquês”. E o que falar das lindas e
detalhadas gravuras do livro-índice da Bíblia Sagrada?
Papai gostava de se atualizar. Para tanto, no primeiro dia útil do ano adquiria o
Almanaque Abril, que “devorava” numa “puxada” e, como tinha uma memória prodigio-
sa, estava sempre na linha de frente quando se tratava de demonstrar conhecimentos
gerais. Tal exemplo era seguido pelos filhos, principalmente, os gêmeos Germano e Lu-
ciano, que disputavam entre si dados estatísticos, comparando-os com os desempe-
nhos obtidos entre o estado de São Paulo e alguma outra metrópole americana.
Era infalível a compra mensal da Revista Seleções (Reader’s Digest), que era dis-
putada por todos os membros da família Gurgel-Carlos, tendo em vista que agradava
pela diversidade temática, pela seção “Rir é o Melhor Remédio”, dentre outros atrativos.
Cabe destacar ainda umas gravuras, que chamavam a atenção, inclusive uma que repre-
sentava uma caçada africana e que serviu de inspiração para uma tapeçaria que mamãe
fez e presenteou a Luciano e Elsa.
Após a morte de papai, nós, seus filhos, de forma consensuada, resolvemos
doar todos os livros jurídicos para a biblioteca do curso de Direito da UECE/Univer-
sidade Estadual do Ceará, que funcionava na URCA/Universidade Regional do Cariri,
em Crato/CE.
O restante do espólio bibliográfico de papai foi distribuído da seguinte forma:
o Thesouro da Juventude, para tristeza de todos, mamãe já havia doado para um visi-
tante eventual. Já a História Universal, à revelia do Marcelo, meu irmão, foi repassada
ao Germano. E, em virtude do meu interesse temático, fui agraciada com a História
das Américas. Enquanto a História dos Hebreus ficou com o Marcelo, que nunca se
conformou em perder a coleção História Universal, levando-o a uma busca incessante
entre colecionadores, até adquirir, fora do Ceará, uma coleção dessa obra, por elevada
quantia e, enfim, para enriquecer seu acervo particular.

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A descrição do presente tema objetiva enaltecer a nossa majestosa herança,
que não se resume aos livros supracitados, mas ao exemplo maravilhoso que papai nos
legou, o de gostar e ter um enorme prazer em ler, adquirir conhecimentos. Em síntese:
ler para conhecer. Conhecer para expandir horizontes e, principalmente, compartilhar,
pois papai passou a vida toda aprendendo, estudando e ensinando. Jamais deixou de
ser um professor. Nesse aspecto, deixava transparecer uma generosidade incomum,
tendo em vista que amava socializar as informações, sem qualquer traço de vaidade
intelectual.
Dessa forma, papai marcou indelevelmente todos os seus filhos que encontra-
ram nos estudos a verdadeira fonte das virtudes e, hoje, se orgulham, em sua maioria,
em promover atividades de estudo, ensino e pesquisa, formando suas bibliotecas e re-
passando aos filhos e netos a devoção aos livros, bem como a importância em ser um
verdadeiro professor.
Só para ilustrar, recordo uma cena inusitada. Sem aviso prévio, convidei minha
amiga de agronomia, Célida Vieira, para almoçar em nossa casa. Por sua vez, ela foi
acompanhada por um colega indiano. Papai, como sempre, receptivo, entabulou uma
longa conversa com o rapaz e demonstrou tanto conhecimento sobre a Índia, desde
aspectos culturais até os políticos e geográficos, que ao final do almoço, o indiano per-
guntou “Dr. Luiz quando o senhor foi à Índia?” Papai em sua simplicidade disse: “Nunca
saí do meu país, mas fui ao seu pelos livros”. E, afirmo sem medo de errar, que papai
sempre viajou na leitura e em essência era um professor que não se furtava em ensinar
e buscar incessantemente novos conhecimentos, a fim de repassá-los, indistintamente,
a todos que com ele conviviam, dos colegas advogados ao mais humilde vizinho.

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AS “VIAGENS” DO DR. LUIZ CARLOS DA SILVA


Luciano Gurgel Carlos da Silva
Economista e bancário aposentado
Dr. Luiz Carlos herdou do seu genitor, José Carlos da Silva, o gosto pelas “an-
danças”, pois é sabido que, no início do século XX, ainda jovem mancebo e solteiro, seu
pai teria participado de diversas viagens de negócios, como “Tropeiro”, palmilhando os
sertões do Ceará, notadamente os trajetos Baixo Jaguaribe, Médio Jaguaribe e Vale do
Cariri. No primeiro deles, abastecia-se de sal em Aracati, no segundo, de carne seca em
Jaguaribe e Icó; e, no último, de rapadura, nos engenhos de Barbalha e Crato.
Ao contrair núpcias com D. Valdevina do Amor Divino (nome de solteira), que
foi modificado com o casamento, para Valdevina Carlos da Silva, vovô José Carlos sos-
segou, pois logo passou a cuidar da prole que vinha “a galope”, não podendo deixar a
jovem esposa desamparada e assoberbada com a criação dos rebentos. De qualquer
modo, a seca do “15” pegou-o de forma cruel, pois apesar de ser um próspero fazen-
deiro e comerciante, tinha a responsabilidade de ser o primogênito de uma numerosa
família, tendo que se desfazer de quase todo o patrimônio, pois o comovia o sofrimento
dos familiares, que em sua grande maioria tiveram que arribar para outras plagas, es-
pecialmente o Centro-Sul e a Amazônia.
Após passar por Alencar (distrito de Iguatu) e Cedro (Centro Sul do Estado),
locais em que o vovô e família (à época só tinha uma filha, Francisca) não se adaptaram.
Por ser muito religioso, dizia que em tais lugares campeava a pistolagem e que estavam
chacoalhados de homens desatinados e que não cumpriam os mandamentos divinos.
Assim sendo, empreenderam nova migração – destino ao Vale do Acarape, região muito
fértil, de muitos canaviais, situada às margens do rio Pacoti. Lá fixou sua moradia e deu
prosseguimento à prole, com o nascimento de mais seis filhos.
José Carlos (vovô), apesar de ter pouca instrução formal, era um homem sábio,
que legou aos filhos o gosto pela educação e que, quando provocado pelos familiares,
que achavam descabida a insistência em colocar os filhos na escola, retrucava que de-
sejava que todos se formassem (à exceção do caçula, sua vontade foi satisfeita), e que
não queria os filhos “brocos como ele”.
Papai (Luiz Carlos) teve uma educação primorosa, foi aluno do tradicional Co-
légio Cearense Sagrado Coração, de orientação marista, e sempre demonstrou pendores
naturais para as Ciências Humanas, especialmente História e Geografia. Era capaz de

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Centenário de Nascimento de Luiz Carlos da Silva
discorrer sobre muitos países do mundo, os estados brasileiros, citava de cor os rele-
vos, a hidrografia, aspectos demográficos e populacionais etc. Também tinha grande
predileção pela Matemática, queria fazer Engenharia, mas à época não havia tal opção
no Ceará. Como segunda opção, o que acabou se concretizando, cursou Direito, em
Fortaleza, pela Faculdade de Direito do Ceará, que viria integrar a Universidade Federal
do Ceará.
Pelos idos de 1962, com o encerramento das atividades do Instituto Padre An-
chieta, de sua propriedade, Dr. Luiz Carlos adquiriu um veículo da marca Jeep Willys,
oportunidade em que resolveu investir na advocacia. Para tanto, palmilhava o Estado
na assistência a uma vasta clientela, em sua grande maioria de baixo poder aquisitivo.
Exercia o Direito com abnegação e vocação, era comum não cobrar os seus honorários
e/ou receber com bens consumíveis: galinhas, perus, sacos de farinha, feijão, rapadura,
frutas etc. Muitas doações recebidas eram recambiadas pela D. Elda (mamãe), que era
bastante dadivosa, para a panela de vizinhos.
As viagens foram intensificadas após a aposentadoria do papai como professor
em 1972. Eram feitas para diversas regiões do Estado, com destaque para o Maciço
de Baturité: Acarape, Redenção, Barreira, Pacajus, Aracoiaba, locais onde tinha muitos
familiares, mas que também se estendiam para outras localidades: Pacatuba, Guaiúba,
Cascavel, Pentecoste, Itapagé, Canindé, Limoeiro do Norte, Beberibe, Russas, Itapipoca,
Sobral, Tianguá, Camocim. Normalmente, eram viagens curtas e, salvo algumas exce-
ções, seguiam o esquema bate-volta – saía cedinho e retornava à tarde.
Vale ressaltar que papai não tinha boa visão (era míope), seu ângulo de visibi-
lidade era estreito, o que impedia de dirigir a contento. Chegou até a tirar a carteira de
habilitação e só pegou o carro, à época uma Rural Willys, uma vez e quase ocasiona um
desastre. Assim sendo, vários motoristas prestaram serviço no período de 1962 a 1972,
alguns de forma efetiva e outros eventuais, a saber:
1) Seu Djalma – Senhor de meia-idade, moreno, rosto arredondado e que era viciado
em horóscopo.
2) Seu Magalhães – Senhor de meia-idade, que só tirava o chapéu de feltro ao sentar à
mesa de jantar, oportunidade em que rezava um Pai Nosso. Era muito antipático.
3) Carlos – Rapaz magro, alto, moreno, de orelhas de “abano”. Posteriormente, passou a
trabalhar como motorista de empresa de ônibus.
4) Damasceno – Mulato, forte, bigodinho aparado. Posteriormente, foi trabalhar como
motorista em coletivo urbano. Era muito risonho e simpático.

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Centenário de Nascimento de Luiz Carlos da Silva
5) Sebastião – Passou pouco tempo, uniu-se à Maria, empregada da casa. Posterior-
mente, casou com a Ieda (vizinha) que era uma bem-sucedida contadora.
6) Pádua – Galego, forte, detentor de uma barbicha, e que morava próximo. Tinha um
bom nível instrucional. Sua esposa era amiga da mamãe.
7) Pedro – Galego, alto, magro, filho de um primo do papai. Era uma pessoa muito
respeitadora.
8) Valdir – Tinha um bigodinho à la Clark Gable, morava no bairro e tinha uma grande
habilidade – era barbeiro e eventualmente prestava tal serviço ao Dr. Luiz (à sombra do
limoeiro, no quintal).
9) Seu Cesar – Moreno, de cabelos grisalhos e encaracolados, de fala mansa e bastante
discreto. Morava no Álvaro Weyne.

A partir de 1972, D. Elda obteve a carteira de habilitação e, com os filhos cria-


dos, alguns já em situação de independência financeira, assumiu o encargo de moto-
rista efetiva não remunerada de um patrão muito exigente – apesar de pouco enxergar,
Dr. Luiz, na posição de “copiloto”, era capaz de ver uma mosca no asfalto. O “mandato”
de D. Elda foi até meados de 1981, oportunidade que o filho Luciano veio transferido
do Banco do Brasil, de Senador Pompeu para Fortaleza, onde passou a trabalhar no
período noturno, ficando, portanto, com o horário diurno livre para atendimento às
demandas do Dr. Luiz.
Não havia tempo ruim, com chuva ou sol, a convocação do papai era uma or-
dem – via de regra, em cima da hora, que se estendeu em longos 17 (dezessete) anos de
laborioso serviço de “Jarbas” (não remunerado). Em verdade, assim como o papai, eu
adorava botar o “pé na estrada” e, nas centenas de convocações, eu só deixei de aten-
dê-lo em duas ou três ocasiões, devidamente justificadas, especialmente relacionadas
à saúde.
Nas estradas da vida e pela confiança adquirida em minhas habilidades de pilo-
to, Dr. Luiz dormia boa parte do tempo na viagem. Entretanto, por mais forte que fosse
o sono, não poderia extrapolar a velocidade (em torno de 90 quilômetros/hora), pois o
mesmo parecia ter um sensor cerebral, que o acordava; oportunidade em que ele mira-
va o velocímetro e balançava a mão em sinal de redução de velocidade. Nos momentos
em que estava acordado, conversávamos bastante, principalmente sobre política, his-
tória e geografia. Muitas vezes fui confidente das estórias e causos familiares, mas o que
o caracterizava era a discrição.

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LUIZ, MAIS LUIZ!
Centenário de Nascimento de Luiz Carlos da Silva
A última viagem realizada foi a que ocorreu em abril de 1999, à terra de seus
ancestrais – Pereiro (CE), que dista 350 km de Fortaleza e fica na divisa com o Rio
Grande do Norte. Papai já vinha apresentando sinais de senilidade, decorrentes de mi-
croinfartos cerebrais produzidos por diabetes mellitus, mas ainda continuava nas lides
jurídicas, especialmente nos processos trabalhistas em que atuava com muito denodo.
A ida para Pereiro, além do aspecto sentimental, tinha o objetivo de atender a um grupo
de professores, em demandas a serem impetradas na Justiça.
A verdadeira “viagem” foi a que não ocorreu. Explicitando: o sonho acalentado
por papai, durante décadas, era de ir a Portugal, conhecer a Torre de Belém, em Lis-
boa, cidade de onde partiram as caravelas de Cabral, que descobriu o Brasil; a Torre do
Tombo, local onde estão armazenados os principais documentos do império colonial
português, com destaque para a carta original de Pero Vaz de Caminha, além de visitar
a Universidade de Coimbra, particularmente a sua famosa Faculdade de Direito. Acon-
teceu que, em 2008, a quatro dias de proceder à citada viagem, Dr. Luiz Carlos sofreu
uma queda ao sair de uma farmácia na Av. Bezerra de Menezes, o que o deixou bastante
avariado, comprometendo a sua deambulação, tendo inclusive agravado o seu diabetes,
impedindo-o de realizar tão almejado intento. Vale registrar que o bilhete aéreo (passa-
gens) não foi perdido inteiramente, sendo o mesmo aproveitado por D. Elda (mamãe)
que fez a desejada viagem para Portugal, antes do falecimento do papai.

Felipe, Anna Paula e Eric aproveitando a chuva de Londres em 2017.

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LUIZ, MAIS LUIZ!
Centenário de Nascimento de Luiz Carlos da Silva

O INCENTIVO AO MAGISTÉRIO
Meuris Gurgel Carlos da Silva
Engenheira química e professora universitária
Em 1980, fui para o município de Campinas, em São Paulo, a fim de cursar a 1ª
turma da Pós-graduação em Engenharia Química (Mestrado) da Universidade Estadual
de Campinas (Unicamp). Nessa ocasião, havia sido selecionada também para o primei-
ro e único curso existente na área no Brasil, que era ministrado pela Coordenação de
Programas de Pós-Graduação em Engenharia (COPPE) da Universidade Federal do Rio
de Janeiro (UFRJ).
A felicidade da dupla aprovação era grande. No entanto, a escolha por qual cur-
so optar consistia em uma decisão muito importante, com sérias implicações, tanto
para a minha formação profissional, como para minhas questões financeira e pessoal.
O Mestrado da Unicamp estava direcionado a uma área que mais me interes-
sava, pois era voltado ao Desenvolvimento de Processos Industriais. Entretanto, esse
Mestrado ainda não oferecia bolsa de estudos para os alunos selecionados. Sem esse
suporte financeiro, praticamente, tornar-se-ia inviável ir fazer esse curso.
Diferentemente, o curso da UFRJ já possuía e destinava essa bolsa para os alu-
nos selecionados. Assim, eu sabia que teria condições para custear minha estada e de-
mais gastos no Rio de Janeiro, ao longo do curso. Algo que poderia ser preponderante
na minha decisão.
Frente a esse impasse, resolvi conversar com o nosso pai Luiz Carlos da Silva
para aclarar melhor a minha decisão. Após esclarecer tudo a respeito dos dois cursos,
a colocação dele nessa ocasião me surpreendeu. Ele me orientou que a minha escolha
não deveria ser baseada na existência ou não de bolsa.
Na opinião de papai, eu deveria, sobretudo, levar em conta o curso, a que eu
tivesse mais afinidade. Ele argumentou que esse fator seria determinante para meu
sucesso e realização profissional.
Apesar de bastante propensa ao Mestrado da Unicamp, tinha total conheci-
mento de que seria impossível cursá-lo e ter alguma atividade laboral simultaneamen-
te. Enfim, a realização do sonho tinha um forte empecilho: como fazê-lo sem o aporte
financeiro?
Como se estivesse lendo meus pensamentos, papai foi logo dizendo que, se eu
escolhesse o da Unicamp, não me preocupasse. Ele encontraria uma saída, mesmo que
fosse necessário algum sacrifício financeiro para a família.

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LUIZ, MAIS LUIZ!
Centenário de Nascimento de Luiz Carlos da Silva
Assim, me senti mais segura em optar por cursar o da Unicamp. Fui para lá
decidida a intensificar ainda mais minha dedicação aos estudos. A minha meta era
que, após a conclusão do Mestrado, pudesse trabalhar no setor de indústria ou prestar
consultoria na área, mais especificamente em Desenvolvimento de Processos.
Com a decisão tomada, passei a me preocupar com as providências necessá-
rias para essa nova fase de vida. Acreditava que, depois de tudo resolvido, meu sonho
em cursar o Mestrado e, por conseguinte, adquirir mais conhecimento para o exercício
profissional, transcorreria normalmente assim que chegasse a Campinas e iniciasse o
curso.
Ledo engano. Não cogitava que essa nova fase profissional também iria repre-
sentar fortes mudanças de vida, em especial, problemas de adaptação. Problemas esses
que me deixavam temerosa da minha capacidade em cursar o Mestrado, mantendo o
mesmo empenho, compromisso e êxito dedicados, por ocasião da Graduação em Enge-
nharia Química, na Universidade Federal do Ceará.
Nesse momento, era como se o meu sonho se configurasse como algo inatingí-
vel. O Mestrado em si, a nova moradia, a grande distância da família, enfim era tudo tão
difícil para mim. Receava não conseguir.
Felizmente, eu contava com o apoio incondicional do papai que, após ouvir as
minhas lamentações e medos, sempre dizia: “Você nasceu para vencer”, “não desista
nunca”. Tais conselhos me fortaleciam e, pouco a pouco, ia superando os obstáculos.
Assim, consegui fazer o curso. E, para minha surpresa, após concluir o Mes-
trado, os esforços da família e meu foram recompensados por receber o convite para
ingressar no corpo docente da Engenharia Química da Unicamp.
Ao saber do convite, papai vibrou bastante, dizendo que, no fundo, já esperava
que meu destino profissional seria a área acadêmica. O interessante é que realmente
a carreira do magistério não estava nos meus planos. Mas, a cada semestre letivo que
passava, fui me sentindo cada vez mais realizada no exercício da docência.
Em função da atividade docente, sentia a necessidade de prosseguir com a
minha qualificação profissional, ingressando assim no Programa de Doutorado. Dessa
feita, na área da Engenharia Mecânica. A conclusão do Doutorado representou mais
um momento de muita satisfação para o papai.
Atualmente, sinto que os mais de trinta anos dedicados à docência nos cursos
de Graduação e Pós-Graduação da Unicamp tiveram, com certeza, uma forte influência
direta do papai. Influência essa que se estendeu aos seus filhos e netos, que exerceram e
exercem o magistério, em consonância com outras carreiras profissionais.

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LUIZ, MAIS LUIZ!
Centenário de Nascimento de Luiz Carlos da Silva

REQUIESCAT IN PACE
Paulo Gurgel Carlos da Silva
Pneumologista e escritor
Luiz faleceu, aos 82 anos, no apartamento em que morou com a esposa Elda e
suas filhas Magna e Mirna, na rua José Marrocos, 407, no bairro Monte Castelo.
Portador de diabetes mellitus, há pelo menos uma década, o seu estado clínico
vinha-se agravando nos últimos tempos. Principalmente a partir de 1999 quando as
complicações cerebrovasculares, que são muito comuns nesta enfermidade de nature-
za metabólica, passaram a sobrevir de modo a comprometer a sua até então extraor-
dinária lucidez.
Contudo, tais sofrimentos foram heroicamente suportados por ele, sem lamú-
rias ou revoltas.
Era ele acompanhado por mim e por outros profissionais de saúde em sua re-
sidência. Nas intercorrências clínicas, um serviço de home care fazia-se presente em
seu quarto (transformado em enfermaria) e, nas situações consideradas mais críticas,
recorria-se a hospitalizações. À Luiz não faltaram as atenções e o desvelo da família em
todos os momentos que foram necessários.
O desfecho de seu difícil transe se deu na manhã do dia 20 de novembro de
2000, uma segunda-feira. Quando ele, cercado pelos cuidados de mamãe, das minhas
irmãs Magna e Mirna e de uma auxiliar de enfermagem, apresentou seu último alento.
Cumprira com galhardia a sua missão de pai, esposo, educador e cristão.
O seu corpo foi velado até o dia seguinte na Funerária Ternura, com a celebra-
ção de uma missa de exéquias em intenção de sua alma. E o sepultamento aconteceu
no Cemitério São João Batista, em Fortaleza, onde existe o mausoléu n.º 4811 da família
Carlos da Silva.

38
Tapeçaria Passeio no Rio antigo, de Elda Gurgel

19
Muitos são altaneiros e ilustres,
mas é aos humildes que ele revela seus mistérios.
20
Pois é grande o domínio do Senhor,
mas é pelos humildes que é glorificado.
(Eclo. 3: 19,20)

PARTE II
PRODUÇÕES ESCRITAS
LUIZ, MAIS LUIZ!
Centenário de Nascimento de Luiz Carlos da Silva

A VEIA LITERÁRIA DO PAPAI


Mirna Gurgel Carlos da Silva
Jornalista e educadora
As palavras escritas, em especial, ou verbalizadas sempre fizeram parte do en-
cantamento do nosso pai, Luiz Carlos da Silva, quer estivesse no exercício do magisté-
rio, ou mesmo na área advocatícia, em mais de 50 anos de atividade profissional.
Era interessante como costumávamos sentir seus encantamentos fluindo natu-
ralmente dia a dia. Bastava apenas prestarmos atenção na relação dialógica, intrínseca
e, muitas vezes, até intransponível que ele estabelecia com o mundo dos documentos
e nos papéis. Ao nosso pai, tudo lhe importava, desde os assuntos publicados em jor-
nais, folhetins e panfletos diários, perpassando pelas temáticas jurídicas e, em especial,
assuntos que abordavam acontecimentos históricos, feitos bíblicos, enfim tudo lhe dei-
xava com o olhar embevecido.
Na realidade, essa relação dialógica acabava se constituindo em fontes inesgo-
táveis, alimentando ainda mais a sua produção textual diária, já considerada bastante
profícua. À sua maneira, o papai se utilizava das palavras, melhor dizendo: do sistema
de escrita, para expor seus pensamentos, suas concepções de mundo e, assim, as tinha
como uma forma de agir e interagir, principalmente, com aqueles que se encontravam
em seu entorno.
Mas, ao retratar suas concepções e compreensões de mundo, papai fugiu um
pouco dos assuntos advocatícios e se enveredou para os gêneros literários, mostrando
uma certa afinidade e desenvoltura em expressar seus sentimentos, através da poesia,
do conto e da crônica. Enfim, uma produção literária que se notabilizou pelo seu estilo,
essência e qualidade, sobretudo junto aos leitores das décadas de 1930 e 1940, por oca-
sião de suas publicações.
A partir de uma busca cuidadosa por parte do nosso irmão Marcelo, foi-nos
possível encontrar alguns dos textos literários de papai que agora temos a grata satis-
fação de reapresentá-los, acompanhados de breves comentários a respeito dos temas
abordados e estilos adotados.

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Centenário de Nascimento de Luiz Carlos da Silva
ARTIGO EM HOMENAGEM AO ANTÔNIO LEITE
ANTONIO LEITE
Por Luiz Carlos da Silva *
Sete de Dezembro de 1938. Há já precisamente um ano que a morte
traiçoeira arrebatou de nosso convívio o inesquecível colega Antônio
Leite.
É verdade, amigo, partiste para o mundo do além.
A tua presença corporal em nosso meio, já não mais a temos. Todavia,
os teus colegas de turma ainda têm bem viva na memória a recorda-
ção imorredoura que deixaste. Ainda me recordo bem; enquanto nós,
alegres e despreocupados partíamos a gozar as férias. Tu, meu caro
Antonio, te preparavas, sem saber, para uma grande viagem. Dir-se-ia
que irias gozar as férias eternas após uma vida efêmera. Então foste
para não mais voltar. Os teus companheiros choraram a tua partida.
Era que eles viam na tua pessôa modesta, um amigo dedicado, um co-
lega exemplar. E eu, Antonio amigo, que me sentava diariamente ao teu
lado, - ainda te recordas?, fiquei compadecido ao saber que havias ido.
Não podia conceber a tua ausência. Não! Era doloroso para mim, pen-
sar que desaparecêras. Forte, cheio de vida, eras apenas um botão no
desabrochar da vida. O tempo se passava célere, como que a confirmar
a realidade intangível da nossa existência efêmera. Só então, foi que me
desiludi de tua volta. Convenci-me de que havias sido colhido no jardim
terrestre, para desabrochares no céu. Logo, fiquei pensando que fôras
mais feliz do que nós. Livre deste vale de lágrimas, gozarias na mansão
dos eleitos, o prêmio dos justos. Exalarias no trono da Mãe Imaculada,
o perfume dos lírios virginais.
Uma dolorosa recordação quase me aniquila a alma. Então, imaginei
que nos encontrávamos; era na eternidade, onde apenas me precederas
por poucos dias.
Quem sabe?
Adeus Antonio, até mais ....
RESQUIESCE IN PACE
* Publicado In: Verdes Mares, 21 de janeiro de 1939. Ano XVIII Num. 48 p.38.
Nota dos organizadores: Foi mantida a ortografia original do artigo.

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LUIZ, MAIS LUIZ!
Centenário de Nascimento de Luiz Carlos da Silva
Comentário: A partida final e a saudade de Antônio Leite, aluno do Colégio Marista,
com quem papai dividia a carteira nos horários de aula e, sobretudo, tinha uma forte
relação de amizade, foram expressas em uma espécie de desabafo que ora enaltecia as
qualidades do amigo, ora externalizava os sentimentos de pesar que eclodiriam em um
“imaginável encontro” na eternidade, superando os limites da dualidade corpo e alma.

ARTIGO COM REFLEXÃO SOBRE OS PRECEITOS DA REVOLUÇÃO FRANCESA


O ETERNO PROBLEMA
Por Luiz Carlos da Silva *
É angustiosa, sem dúvida, a situação da humanidade às voltas com os
preconceitos sociais, que pretendem dar novo rumo à vida do homem,
e, por conseguinte, da sociedade.
Estas idéias, que se apresentam sempre com capas douradas, pregando
a confraternização dos povos e a paz entre as nações, não passam de
repetições sucessivas de princípios em eterna decadência.
Isto é cousa tão velha!
Sabemos que no princípio da sociedade humana, o homem, este ilustre
decaído, esteve sempre em luta com os problemas sociais, sem nunca
resolvê-los; eis porque as idéias, acompanhando a evolução dos povos,
ocasionam as revoluções sociais.
Temos a trilogia: Liberdade, Igualdade e Fraternidade.
Estes três lindos nomes não passam de uma miragem que, iludindo a
vista do viajor contemplativo e enchendo a alma de alegria e esperança,
faz como que o homem se precipite no abismo do deserto árido, para
conhecer na vida, a dura realidade dos fatos.
Liberdade: - A mais nobre palavra que podemos pronunciar. É o anseio
máximo dos povos oprimidos e maior inimigo do opressor escravocrata.
Por ela, vemos na história dos povos, tantos heroísmos e sacrifícios;
pena é que somente poucos a compreendem. Uns acham que a liberda-
de é a livre locomoção do corpo, dos atos e palavras; enfim a destruição
de qualquer empecilho. Para outros, então, a liberdade é bem definida.
Contentam-se apenas com a liberdade do corpo, não indo ao extremo
de possuir a liberdade para tudo, porque seria libertar a matéria e escra-

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LUIZ, MAIS LUIZ!
Centenário de Nascimento de Luiz Carlos da Silva
vizar o espírito, seria a luta do homem com a própria liberdade aviltada
pelos seus excessos e abusos e, por conseguinte, não mais liberdade e
sim libertinagem.
Igualdade: - Palavra mágica que encerra o maior desejo do homem; e,
todavia, não passa de uma utopia. Para ela têm convergido muitos sá-
bios a fim de estudá-la minuciosamente para tirarem proveitos aplicá-
veis nas grandes questões sociais.
Debalde pesquisaram. Nada aproveitam tais processos.
E assim a humanidade continuará na velha desigualdade, pois não
se poderá igualar os homens materialmente, se eles permanecem de-
siguais espiritualmente; isto é: uns são puros de coração; outros, ver-
dadeira representação de Satanaz, negação de Deus. Deste modo, está
provada a ineficiência da igualdade, visto que ela não se realizará, en-
quanto existirem estas duas forças em choque.
Fraternidade: - A mais humana das palavras. Sem ela nada se consegue,
não obstante muito boa vontade; reina sempre o ódio, a indiferença, a
inveja, o egoísmo e vingança. Trava-se o duelo da discórdia com o amor
e em breve o sólo fica coberto de cadáveres. Tudo foi nulo; de nada va-
leram as conferências de paz.
E assim, a humanidade errante, como que parada errante, como que
parada e emudecida diante de uma esfinge, espera por um novo Édipo,
que venha decifrar o: “ou tu me decifras ou eu te devoro”.
Debalde esperarão. O novo Édipo já passou e decifrou o problema. Ele
não vira mais explicá-lo e sim pedir aos povos uma resposta. Será que os
novos filósofos e sociólogos são incapazes de resolver esse problema?
Não. Basta recorrer às fórmulas e práticas facílimas deste suposto Édi-
po, no melhor dos livros e aplicá-los a todos os homens, sem exceção;
e assim terão solucionado este eterno problema que o suposto Édipo,
Nosso Senhor Jesus Cristo, decifrou, apontando o caminho da luz da
verdade no melhor dos livros, o Evangelho.
* Publicado In: Verdes Mares, 21 de abril de 1937. Ano XVI Num. 43 p.4.
Nota dos organizadores: Foi mantida a ortografia original do artigo.

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Centenário de Nascimento de Luiz Carlos da Silva
Comentário: Na busca de uma explicação plausível para a tríade Liberdade, Igualdade
e Fraternidade ter sido a razão maior da Revolução Francesa (1789 – 1799), o autor
construiu uma espécie de duelo literário, mesclando questões pragmáticas quanto aos
possíveis significados de cada um dos termos, com reflexões religiosas e filosóficas.

POESIA “A FUGA”, EM ALUSÃO AO CAMINHO DE MARIA E JOSÉ


A FUGA
Por Luiz Carlos da Silva *
No silêncio da estrada erma e deserta
Rompendo a escuridão da noite descem
Três foragidos, que pousada incerta
Hão de encontrar lá no país de Géssen

Eram José e Maria, almas aflitas


A procurar no exílio solitário
Seguro abrigo, às pretensões malditas
De um rei infame, vil e sangüinário

Vencendo agruras de jornada ingente


Vão lentamente num cismar profundo
Cortando o Vale do Nilo plangente

E lá distante, no remoto Egito,


Fica Jesus no turbilhão de um mundo,
Indiferente aos deuses de granito.

* Publicada em informativo marista cearense (c.1939) e republicada em: FREIRE, T.M.


História do Colégio Cearense do Sagrado Coração. Vol. II.
Nota dos organizadores: Foi mantida a ortografia original do poema.

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Centenário de Nascimento de Luiz Carlos da Silva
Comentário: Com o poema “A Fuga”, o autor reverenciou a importância do caminho do
desterro, adotado por José, Maria e Jesus ao fugirem para o Egito a fim de escaparem das
garras tiranas do rei Herodes. Conforme descrito no Evangelho de São Mateus (2:13-23),
ao ordenar a matança de todos os recém-nascidos da região, Herodes buscava aniquilar
qualquer possibilidade de ameaça ao seu poder. No intuito de reverenciar o episódio
final da Natividade, papai adotou a estrutura básica do soneto perfeito, considerando
questões relativas a métrica, rima e o ritmo. Nesse caso, o poema está construído na
forma clássica tradicional do soneto, com duas quadras seguidas por duas tercetas e
conjugando as rimas ABAB/ABAB e CDC/CDC, respectivamente.

POESIA “REDENÇÃO”, EM HOMENAGEM À TERRA NATAL


REDENÇÃO
(Filial homenagem a minha terra natal)
Luiz Carlos da Silva - 4ª Série
Que grandeza se oculta ó Redenção,
No sacro escrinio de tua memória!
Tu es da pátria fulgido brazão,
E do progresso, a mágica vitória.

Maior que do Ipiranga é tua glória,


Pois extinguiste a negra servidão
Mácula infame nos anais da História,
E a sombra vil no nosso pavilhão.

Teu feito heróico, em laudas de ouro puro,


Qual reluzente espelho cristalino,
Fulge nas asas de imortal futuro!

Eu te amo, ó Redenção, terra bendita,


Arca sagrada, relicário fino,
Ó Verônica de uma raça aflita!
* Publicada In: Verdes Mares, 21 de abril de 1938. Ano XVII Num 47 p.43.
Nota dos organizadores: Foi mantida a ortografia original do poema.

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Centenário de Nascimento de Luiz Carlos da Silva
Comentário: No poema “Redenção”, o autor enaltece os feitos dos seus conterrâneos
que, em 1884, na Vila de Acarape, - cerca de 65 quilômetros distante da capital cearen-
se - libertaram os povos africanos da “negra servidão”, antecipando-se à abolição da
escravatura no país, decretada pela princesa Isabel, somente em 13 de maio de 1888. E,
ao mesmo tempo, ele declara seu amor pela sua terra Redenção. Todo esse sentimento
foi tecido harmoniosamente com a seleção de um léxico apropriado e a construção do
poema, através das regras básicas do soneto perfeito, ou seja, adotando os dois quarte-
tos e os dois tercetos, com as respectivas rimas ABAB/ABAB e CDC/CDC.

POESIA “TRANSVIADO”, REFLEXÃO DE UM SER EM TRANSFORMAÇÃO


TRANSVIADO
Por Luiz Carlos da Silva *
Ontem pequeno sêr que no regaço amigo
Da carinhosa mãe, sorrisos mil trazia;
É hoje indiferente a tudo e traz consigo
Uma tristeza imensa, uma feição sombria.

Já não sorri! Não mais co’aquele ardôr antigo


Quiz reviver feliz, a quadra em que sorria.
Agora vê-lo é triste. Exposto ante o perigo
Sofre o castigo atroz da negra rebeldia.

De gôzo, estranha fôrça o leva a infaustas lides


E nem siquer supõe em que mísera jornada
Encontre cêdo o abismo de volúpias idas.

Mas, inda assim, na dôr, n’angústia inacabada


O desgraçado tem recordações sentidas
Daquela infância dantes desprezada.

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Centenário de Nascimento de Luiz Carlos da Silva
* Publicada In: Memorial 6-VI-1940, p. 42. Editora Fortaleza. Revista organizada por
Martins Filho (Órgão Oficial da Congregação Mariana do Colégio Cearense).
Nota dos organizadores: Foi mantida a ortografia original do poema.

Comentário: O poema “Transviado” expôs uma nova vertente do autor que, de uma
forma mais pulsante, vai construindo uma história/reflexão de um ser em transforma-
ção, partindo da inocência da meninice para a incerteza da maturidade. Maturidade
essa já marcada pela tristeza, pelo castigo, pela dor, enfim pelo sofrimento da negra
rebeldia. Observa-se que o autor manteve a escolha cuidadosa do léxico e a utilização
das regras do soneto perfeito, demonstrando apenas uma pequena quebra na rima do
terceiro parágrafo (primeiro terceto), ao traçar uma rima imperfeita com os termos
“lides” e “idas”, que finalizam a primeira e a terceira linhas, respectivamente.

POESIA “EM LOUVOR À MÃE”, PARA REVERENCIAR O AMOR MATERNO


EM LOUVOR À MÃE
Por Luiz Carlos da Silva *
Há um ser sem par que nós amamos
Que sentimos em nós um coração a dois
As alegrias da vida em profusão
A repetir no peito o eco da ternura
Que sobre nós esparze o amor de mãe

Desde os vagidos primeiros da existência


O olhar, o doce olhar materno
Contempla-nos com o brilho da esperança
A derramar as bênçãos da bondade
Vendo no filho tenro, na criança amada
O sol que lhe ilumina a vida
Razão suprema de ser mãe feliz!

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Centenário de Nascimento de Luiz Carlos da Silva
Mas, eis que no passar dos anos
Os dias de ventura, os sonhos do porvir
Cruzam os caminhos da dor e da tristeza
A mão que tantas vezes afagara o filho
Os lábios que beijaram o pequenino ser
A voz sussurra cantigas de ninar
Sente o amargor das primeiras desditas
Os espinhos da longa caminhada

A Mãe que exulta é a mesma que sofre


São duas faces da vida – a hipóstase eterna –
Perpetuando a dor, a angustia, o prazer
Entrelaçando a vida nos braços da morte

A grandeza do amor de todas as mães


É bem maior, mais forte que o Universo
Mais bela, até, que a própria Natureza.
Guarda no escrínio do seu coração
O segredo da vida nas gerações que passam

Mulher, mãe, ser quase divino


Parcela de Deus na criação dos mundos
Tens o poder de transmitir o amor
Num gesto amigo, num sorriso, apenas

No murmúrio da voz meiga e sublime


No afago das mãos feito caricias,
No rolar de uma lágrima furtiva
Espelha-se a imagem de uma santa

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LUIZ, MAIS LUIZ!
Centenário de Nascimento de Luiz Carlos da Silva
Que fez da terra um trono, um paraíso
E de si mesma, bipartindo as células,
Transfundindo o sangue de seu próprio sangue
Deu-nos o maior dos bens: A Vida

* Essa poesia de nosso pai, feita em Fortaleza e datada de 7 de maio de 1971, certamente
que dedicada à nossa avó paterna Valdevina, foi encontrada em 2006 e lida em família,
por ocasião do Dia das Mães, em 14 de maio de 2006.
Nota dos organizadores: Foi mantida a ortografia original do poema.

Comentário: Na poesia “Em Louvor à Mãe”, Luiz Carlos apresenta-se independente


das regras e estruturas clássicas dos gêneros literários. Sente-se que o compromisso
do autor está em reverenciar o amor materno, o seu papel em procriar e criar os filhos,
dando-lhes vida. “Em Louvor à Mãe”, na realidade, constituiu-se na generalização dos
sentimentos fortes do autor por sua mãe, nossa avó Valdevina.

Mirna Gurgel e Andreas Heger na Alemanha.

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LUIZ, MAIS LUIZ!
Centenário de Nascimento de Luiz Carlos da Silva

APÓCRIFOS DE LUIZ CARLOS DA SILVA


Marcelo Gurgel Carlos da Silva
Médico, economista e professor universitário
Luiz Vaz de Camões, o grande vate lusitano, em Os Lusíadas (Canto III, 3) assim ver-
sejou: “Mandas-me, ó Rei, que conte declarando / De minha gente a grão genealogia; Não me
mandas contar estranha história, Mas mandas-me louvar dos meus a glória”. E foi imbuído desse
fervor camoniano que empreendemos uma série de publicações, contando os feitos familiares.
No curso do ano de 2007, a família Gurgel Carlos da Silva, descendência con-
jugal do casal Luiz Carlos da Silva e Elda Gurgel e Silva, esteve fortemente envolvida
com a elaboração coletiva da obra “Dos Canaviais aos Tribunais: a vida de Luiz Carlos
da Silva”, cujo lançamento, em 28 de janeiro de 2008, na sede da OAB-Ceará, marcou a
chegada dos noventa anos de nosso progenitor, caso ele estivesse vivo.
Nesse mesmo período, simultaneamente e sozinho, tocamos uma proposta de
recuperação da nossa trajetória familiar, focada no bairro Otávio Bonfim, resultando
na publicação do livro: “Otávio Bonfim, das Dores e dos Amores: sob o olhar de uma
família”, lançado no Centro de Formação Pastoral Santa Clara, da Paróquia de Nossa
Senhora das Dores, em 13 de março de 2008.
Devido à orientação desse último produto literário ao bairro com o qual ti-
vemos estrita conexão, por vários decênios, vários textos originais, tratando mais de
componentes intensamente familiares e/ou pessoais, foram, de pronto, excluídos, e,
não obstante, preservados para compor um terceiro livro, que veio à estampa, sob o
título: “Refazendo o caminho: passado e presente de uma família”.
O temário desse livro mais recente, escrito sob o molde de crônicas ou de bio-
grafias, centrou-se nos desdobramentos celulares do casal Luiz e Elda, com destaque
para a formação educacional e atributos pessoais dos membros dessa prole, estenden-
do-se às homenagens e reconhecimentos conferidos aos componentes da nossa grei.
O livro está distribuído em seis partes, assim denominadas: I - Per il capo de la
Famiglia; II - Educação Familiar; III - Predicados Familiares; IV - A Família em Livros;
V - Lembranças Familiares; e VI - Apêndices.
Os textos enfeixados na parte I - Per il Capo de la Famiglia, transbordando es-
critos apócrifos do patriarca Luiz, comportam a devida explicação ao leitor. Quando da
organização do livro “Dos Canaviais aos Tribunais”, deparamo-nos com uma esparsa

51
LUIZ, MAIS LUIZ!
Centenário de Nascimento de Luiz Carlos da Silva
produção literária de nosso progenitor, publicada por ele, à época de sua juventude.
Cada trabalho seu, garimpado em diferentes acervos bibliográficos, trazia incontido
encantamento e auspicioso contentamento aos seus descendentes. Quando o veio
aurífero exauriu, e das fontes nada mais brotava, para manter o élan do grupo aceso,
tomamos, pessoal e deliberadamente, a iniciativa de escrever, assumindo a autoria pa-
terna, como se fosse do nosso progenitor, repondo assim o manancial esgotado.
Atuar como ghost-writer, na situação aludida, era uma tarefa bem difícil, por-
que precisávamos preservar o seu estilo, esposar suas concepções e ambientá-las a
um tempo recuado de várias décadas. Os três primeiros textos: “Origens Familiares”,
“Relembrando 1932: a subsistência” e “Mensagem ao Paulo, meu primeiro filho”, foram
escritos em 2007, como se fossem manuscritos do pós-guerra, entre 1946 e 1948, só
agora digitados.
A leitura do primeiro texto apócrifo, mencionado como se encontrado entre as
páginas de um volume da coleção “A História dos Hebreus”, que nos coube como heran-
ça bibliográfica, sobre “Origens Familiares”, causou surpresa, principalmente, entre os
familiares, em que pese a fácil assimilação por parte de todos os ouvintes.
Quando da leitura do segundo texto, intitulado “Relembrando 1932: a subsis-
tência”, uma irmã desconfiou da sua autenticidade, porque, ao seu final, constava o
nosso nome, e não estava grafado Luiz Carlos da Silva. Retrucamos, na ocasião, que o
manuscrito estava em más condições físicas, passadas quase seis décadas de sua feitu-
ra, pelo que o seu manuseio requeria cuidados especiais, para que não se despedaçasse,
precisando, portanto, ser ditado por nós e digitado por uma secretária, a qual, ao con-
cluir o trabalho, achou que o referido texto era de nossa autoria, pondo, assim, o nosso
nome, no final. Essa versão “colou” e calou a todos presentes.
Não houve maiores dificuldades quanto à credulidade atribuída ao terceiro
pseudo-documento “Mensagem ao Paulo, meu primeiro filho”, pois a suposta vera-
cidade fora atestada nos dois produtos precedentes citados. D. Elda, a parturiente e
atual matriarca do clã, sequer notou qualquer discordância da narrativa em relação ao
seu primeiro parto, crendo-o como absolutamente verossímil; o primogênito, de tão
empolgado com o teor, postou em seu Blog “Linha do Tempo”, em 9/10/2007, com a
chamada “A crônica do meu nascimento”. Na verdade, nós perpetráramos um crasso
erro, naturalmente perceptível entre apurados hagiologistas ou estudiosos da ordem
marista, ao qualificar de beato o fundador da Irmandade Marista, Padre Marcelino

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LUIZ, MAIS LUIZ!
Centenário de Nascimento de Luiz Carlos da Silva
Champagnat, justo porque, em 1948, ele ainda era venerável, e sua beatificação, pela
Igreja Católica, só aconteceu em 1954, conformando um equívoco cronológico, imper-
doável se a autoria do documento fosse, de fato, do nosso progenitor.
A estratégia funcionou bem, uma vez que nossos entes queridos somente foram
advertidos do caráter apócrifo desses escritos, quando deram pela falta dos mesmos,
durante o processo de editoração do livro retromencionado, em honra ao nosso pai.
Dito de outra maneira, para não parecermos mitômanos, tivemos que revelar a farsa.
Quando Paulo Gurgel descobriu a minha real autoria da crônica da sua chegada
ao mundo, cancelou a postagem, deixando-a em rascunho, e somente a reabilitou, em
março de 2012, depois que a mesma foi publicada no livro “Refazendo o caminho”.
Os outros três textos também foram por nós elaborados, sob inspiração pa-
terna, em 2011. O primeiro deles, “Recordando os Tempos de Aluno Marista”, como
cenário temporal, pode corresponder à década de 1940; os dois últimos: “Perdas em
Família” e “Patrimônio Familiar” aduzem uma produção literária do ocaso vital, quando
o vergar da idade passou a pesar em nosso ascendente direto, ao ingressar na nona
década da vida.
Para algumas pessoas que admiram a doutrina kardecista, houve até uma falsa
compreensão de que as narrações seriam psicografadas, emanadas pelo espírito de nos-
so saudoso progenitor. A nossa prática católica rejeita tal interpretação, sendo melhor
aventar que a saudade de nosso pai, emulada pelo desiderato de render-lhe homena-
gem, induziu a uma escrita análoga, não com o recurso de pseudônimo, porém como se
fora um heterônimo do autor de nossos dias.
(Inédito)

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LUIZ, MAIS LUIZ!
Centenário de Nascimento de Luiz Carlos da Silva

Luiz Carlos da Silva na juventude

54
Tapeçaria Janelas floridas, de Elda Gurgel

25
Se não tens pupilas, vai faltar-te a luz;
da mesma forma, não tendo conhecimento,
nada anuncies!
(Eclo. 3: 25)

PARTE III
EDUCADOR DE GERAÇÕES
LUIZ, MAIS LUIZ!
Centenário de Nascimento de Luiz Carlos da Silva

O INSTITUTO PADRE ANCHIETA SOB O OLHAR DE


“LINHA DO TEMPO”
Paulo Gurgel Carlos da Silva
In: Blog “Linha do Tempo”

O INSTITUTO
Fundado e dirigido por meu pai, Professor Luiz Carlos da Silva, existia em Otá-
vio Bonfim o Instituto Padre Anchieta. Nas décadas de 1950 e 60, era a única escola
privada do bairro. E o imóvel em que funcionou, situado na Justiniano de Serpa, nº 53,
não mais existe por ter sido recentemente demolido para o alargamento da rua.
Vicente de Moraes, em duas passagens de seu livro “Anos Dourados em Otávio
Bonfim”, dá destaque ao papel do Instituto e homenageia o seu fundador:
“Moravam em Otávio Bonfim famílias de mais alta tradição, bem estru-
turadas e organizadas, fortalecidas com a presença da igreja formando
uma comunidade cristã sadia. A moral e o respeito, a educação e os bons
costumes, a hierarquia e os direitos eram bases fundamentais adotadas
por nossos pais, constituindo um lar unificado. Os jovens, rapazes e mo-
ças, a partir do catecismo, cruzada e guarda de honra, muito devem à
igreja, especialmente ao Frei Teodoro, a quem somos eternamente agra-
decidos. As escolas também tinham uma participação ativa junto à famí-
lia. Presto uma homenagem justa ao Instituto Padre Anchieta, na pessoa
de seu diretor, o professor Luiz Carlos da Silva, carinhosamente Seu Silva.
Todos que estudaram no Instituto Padre Anchieta, além de uma boa for-
mação, com certeza fizeram um ótimo primário e conseguiram brilhan-
temente chegar ao sucesso. No ensino, o Seu Silva se apresentava como
um verdadeiro substituto dos familiares de seus alunos. A ele, o nosso
reconhecimento.” Capítulo III – “O centro do bairro”. Páginas 30-31.
“INSTITUTO PADRE ANCHIETA: o Instituto Padre Anchieta era dirigi-
do por Seu Silva. Tinha como professores seus irmãos Zé Carlos, Rita e
Eugênia. A austeridade e a disciplina credenciavam nossa escola, que
contribuiu moral e civicamente para a formação dos jovens que lá estu-

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LUIZ, MAIS LUIZ!
Centenário de Nascimento de Luiz Carlos da Silva
daram. a abnegação e a seriedade adotadas pela família Silva tranqui-
lizavam as famílias do bairro. Faço questão de homenagear o Dr. Luiz
Carlos da Silva, brilhante advogado trabalhista e uma enciclopédia am-
bulante em conhecimentos gerais.” Capítulo XVI – “As ruas e as famílias
do bairro”. Páginas 226-229.

MORAES, Vicente de Paula Falcão. Anos Dourados em Otávio Bonfim: à memória de


Frei Teodoro. Fortaleza: IURIS, 1998. 320p.
http://gurgel-carlos.blogspot.com.br/2011/06/o-instituto-padre-anchieta.html

CATAVENTO
(para Fernando Gurgel Filho)
A casa de n.º 53 da rua Justiniano de Serpa não existe mais. Foi demolida nos
últimos anos em função de um alargamento do trecho da rua em que ela ficava. E nossa
família não conservou nenhuma imagem do imóvel que foi berço da família Gurgel
Carlos e sede do Instituto Padre Anchieta, educandário dirigido pelo nosso pai.
No livro “Anos Dourados em Otávio Bonfim”, de Vicente de Moraes, deparamo-
-nos com a foto do Posto Carneiro e Gentil, tendo ao fundo um belo catavento.
Pois esse catavento, como Vicente escreveu no livro, ficava realmente no quin-
tal de nossa casa. Puxava água de uma cacimba que dividíamos com a família do Sr.
Raul, a qual morava na casa seguinte.
Na falta de registros iconográficos da casa que se foi, fica convencionado que a
foto do catavento (da forma como foi postada no blog Fortaleza Nobre) passa a repre-
sentar essa casa para fins saudosistas.

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LUIZ, MAIS LUIZ!
Centenário de Nascimento de Luiz Carlos da Silva

Catavento do quintal da casa 53 da Rua Justiniano de Serpa - Arquivo Nirez


Comentário: Como no livro “O PEQUENO PRINCIPE”, olhando a foto do catavento você
verá a casa. (Auxiliadora Barroso, por e-mail)
http://gurgel-carlos.blogspot.com.br/2012/12/o-catavento.html

RUA JUSTINIANO DE SERPA, 53


Não preciso mais “olhar a foto do catavento para ver a casa” (como a colega
Auxiliadora, inspirada no livro “O Pequeno Príncipe”, me sugeriu fazer).
Meu irmão Marcelo enviou-me uma foto, na qual se pode ver a fachada do imó-
vel que foi o berço da família Gurgel Carlos, em Otávio Bonfim. Santa Leseira! A fotogra-
fia estava o tempo todo em álbum sob a guarda de dona Elda, a matriarca da família,
e até já foi publicada no livro “Dos canaviais aos tribunais” que contém a biografia de
nosso pai.
Por ter sido também a sede do Instituto Padre Anchieta, estão na fotografia da
casa: Luiz Carlos da Silva, o proprietário do instituto, tia Eugênia (Niná), que o auxiliava
nas aulas, e o alunado da época em que foto foi tirada.

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LUIZ, MAIS LUIZ!
Centenário de Nascimento de Luiz Carlos da Silva

Professores Luiz e Eugênia Carlos da Silva com seus alunos no Instituto Padre Anchieta
http://gurgel-carlos.blogspot.com.br/2013/05/rua-justiniano-de-serpa-53.html

O INSTITUTO (2)
“Seu Silva, o grande mestre educador, a enciclopédia ambulante do bairro de Otá-
vio Bonfim.” ~ Vicente Moraes (p.11).
Tarciso Moraes, em sua apresentação do livro “Anos Dourados em Otávio Bon-
fim”, em 2ª edição, e Vicente Moraes, o autor do livro, colocam em destaque o papel do
Instituto Padre Anchieta e homenageiam o seu fundador:
“Todos os acontecimentos textualizados na presente obra servirão de
exemplo, para nossos filhos e netos, como uma marca de vidas muito bem
vividas sob a orientação da igreja e de pequenas escolas primárias, como
o Instituto Padre Anchieta, tendo à frente o seu Silva, que tudo fizeram no
sentido de preservar a união familiar como uma base sólida de um futuro
promissor.” ~ Tarciso Moraes (p.25).
“Eis aí, caros leitores, o pequeno histórico de uma juventude cuja vivência
e formação educativa devemos à presença de uma família organizada
dentro dos princípios da Igreja e dos pequenos estabelecimentos escolares
- com destaque para o Instituto Padre Anchieta que tinha como educador
o Professor Luiz Carlos da Silva (seu SILVA) - que formavam uma base
cristã, cívica e moral para a posteridade.” ~ Vicente Moraes (p.28).
MORAES, Vicente de Paula Falcão. Anos Dourados em Otávio Bonfim: à memória de
Frei Teodoro (2ª edição): Fortaleza, IURIS, 2017. 320p.
http://gurgel-carlos.blogspot.com.br/2017/08/o-instituto-padre-anchieta-2.html

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LUIZ, MAIS LUIZ!
Centenário de Nascimento de Luiz Carlos da Silva

O MESTRE E ADVOGADO DO OTÁVIO BONFIM


Marlene Alexandre Rolim
Ex-aluna do Instituto Padre Anchieta.
Nosso querido bairro, Otávio Bonfim, destacou-se na área do saber pela ilustre
presença e dedicação do nosso querido mestre e advogado: LUIZ CARLOS DA SILVA.
“SEU SILVA”, como era chamado por todos nós, identificou-se como uma figura
ímpar, no que diz respeito à educação, à formação de jovens e por ser um verdadeiro
defensor jurídico dos que residiam no bairro.
Tornou-se um modelo para seus alunos, tendo em vista sua maneira de ensinar.
No magistério, ele foi uma pessoa estudiosa, honesta, competente e entusias-
mada com tudo que fazia.
Homem de vasta cultura, ele lecionava: Português, Matemática, História ou
qualquer outra matéria que fosse. Seu saber era quase que ilimitado.
Além de professor querido, SEU SILVA foi o meu mestre das primeiras letras
e meu patrão/diretor, pois cheguei a lecionar em seu INSTITUTO PADRE ANCHIETA.
Foi também meu orientador, quando da escolha da minha profissão, e um fiel
amigo de todas as horas.
Mostrando ser um verdadeiro nordestino, forte, batalhador e incansável, SEU
SILVA era aquele homem sério, dedicado ao ensino, além de ser um brilhante advogado,
atributos esses que se eternizaram na memória de todos nós.
Esse é o perfil do nosso querido professor Luiz Carlos da Silva, a quem rendo
minha homenagem por seu centenário que ora comemoramos.

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LUIZ, MAIS LUIZ!
Centenário de Nascimento de Luiz Carlos da Silva

PROFESSOR LUIZ CARLOS DA SILVA: o mestre


educador do Otávio Bonfim (*)
Vicente de Paula Falcão de Moraes
Gráfico e memorialista
No bairro de Otávio Bonfim moravam famílias de boas tradições, bem organi-
zadas estruturalmente e fortalecidas com a presença da Igreja formando uma comuni-
dade cristã sadia. A moral e o respeito, a educação e os bons costumes, a hierarquia e os
direitos fundamentavam uma base segura adotada pelas famílias. Os jovens – rapazes
e moças, a partir do Catecismo, Cruzada Infantil, Cruzada Juvenil e Guarda de Honra
muito devem à Igreja, especialmente ao Frei Teodoro, a quem somos eternamente agra-
decidos. As escolas também tinham participação junto às famílias.
Nesta ocasião é mais que um dever de justiça prestar uma homenagem ao Pro-
fessor Luiz Carlos da Silva – o Mestre educador de nosso bairro de Otávio Bonfim. Os
jovens – rapazes e moças que estudaram no Instituto Padre Anchieta, além de uma
boa formação moral, com certeza fizeram um brilhante Curso Primário, com muito
mais segurança para conseguir passar no Curso de Admissão para o Liceu ou outro
colégio. Na arte de educar o seu Silva se apresentava como um verdadeiro substituto
dos familiares do bairro.
Seu Silva, como era mais conhecido, foi para esta geração o “Mestre Educador”,
e este reconhecimento não é somente meu, e sim de todas as famílias que tiveram a
felicidade de ter um futuro garantido para seus filhos. Uma escolinha modesta, sem
luxo ou ostentação, porém cheia de sabedoria de seus professores. Cinco de seus irmãos
exerciam com dedicação a arte de ensinar cobrindo matérias diversas. O mais identi-
ficado com a alunada do Instituto Padre Anchieta era o seu irmão Professor Zé Carlos,
que se identificava com a “turma” de Otávio Bonfim e jogava futebol pelo Montese.
Por esta época prevaleciam nos bairros periféricos as escolinhas primárias e
tinham como finalidade a preparação para o exame de admissão e ingresso no curso
ginasial. Essas pequenas escolinhas – geralmente de âmbito familiar concorriam com
os Grupos Escolares que eram financiados pelo governo.
Outros estabelecimentos de ensino, por essa época já existiam, como: Instituto
Rui Barbosa, dirigido pelo Professor Clodomir Teófilo Girão, Ginásio 7 de Setembro, di-
rigido pelo Professor Edilson Brasil Soárez, Ginásio Farias Brito, dirigido pelos Professo-
res Ari de Sá Cavalcante e João Ramos de Vasconcelos Cesar, Colégio Cearense Sagrado
Coração, dirigido pelos Irmãos Maristas, Ginásio Lourenço Filho, dirigido pelo Profes-

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LUIZ, MAIS LUIZ!
Centenário de Nascimento de Luiz Carlos da Silva
sor Filgueiras Lima, Colégio São José, inicialmente dirigido pelo Professor Leopoldino
Neto e algum tempo depois passou a ser dirigido pelo Professor Lourival Amaral Ba-
nhos, ao lado, o Ginásio Fortaleza dirigido pelo Professor Colares, que maldosamente
era chamado de colégio PP (pagou, passou), Instituto Waldemar Falcão, Colégio Castelo
Branco, dirigido por padres.
Existiam outros tipos de estabelecimentos conhecidos como Educandários,
onde só estudavam as moças, como: Imaculada Conceição, Santa Isabel, Santa Cecília,
Doroteias. Alguns com internato. No âmbito estadual: Colégio Estadual do Ceará – Li-
ceu – só para o sexo masculino e Escola Normal Justiniano de Serpa – Escola Normal
– só para o sexo feminino.
No final dos anos cinquenta a expansão do ensino público, como não poderia
deixar de ser, levou ao fechamento muitas dessas pequenas escolas primárias. Nos-
so Instituto Padre Anchieta, apesar de sua notória qualidade de ensino, não escapou
dessa sina, entretanto nossa escolinha manteve seu funcionamento e sobreviveu com
autenticidade mais pelo intuito vocacional. Sendo Otávio Bonfim um bairro de famílias
de baixa renda, sem poder aquisitivo suficiente para manter os filhos em escolas par-
ticulares optaram pelas escolas do poder público, gratuito, fazendo com que a alunada
migrasse para outros educandários, daí vindo a surgir os Grupos escolares, a Campanha
Nacional de Educandários Gratuitos-CNEG, que tinha na direção geral o Professor Lú-
cio Melo, filho de Dª Rosélia da Farmácia São Sebastião, e, que logo chegou a ser Secre-
tário de Educação do Governo do Estado do Ceará. Os Grupos escolares mais antigos
foram reformados dando mais segurança aos professores e alunos.
Seu Silva como orientador educacional da juventude de Otávio Bonfim, assim
sendo torna-se perpetuado “ad vitam” como verdadeiro “ícone”, não somente para o
bairro, mas para toda a provinciana cidade de Fortaleza. E, esta é a forma de DIREITO
que deve, acima de qualquer suspeita ser respeitada, pelo valor e a dignidade do cida-
dão brasileiro, que dificilmente é vista pelo poder público.
A este grande “Mestre Educador”, que em boa hora mostrou o “caminho da vida”
aos seus alunos através de sua experiência de educador no modesto Instituto Padre
Anchieta, pode até não ser um ato oficial, entretanto torna-se mais significativo, por
ser uma homenagem de reconhecimento de alunos e alunas vencedores. Esta homena-
gem, afirmo com segurança é confirmada por toda a comunidade, inclusive pela Igreja
e moradores do bairro.
A este grande “Mestre Educador” que constituiu uma família organizada, a maio-
ria de seus filhos com atividades no magistério, onde ele se consagrou profissionalmente,
vêm mostrando para a desprovida classe política deste imenso país que a EDUCAÇÃO é a

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LUIZ, MAIS LUIZ!
Centenário de Nascimento de Luiz Carlos da Silva
mais eficaz forma apropriada para tirar o Brasil do caos. Este belíssimo exemplo de vida
que neste exato momento estou descrevendo me enche de orgulho e fortalece meu “ego
espiritual” que se alimenta com essa dádiva divina chamada educação.
A orientação educacional no Instituto Padre Anchieta era cobrada com muito
rigor, e assim sendo os alunos sentiam-se obrigados a cumprir as determinações e a es-
tudar no sentido de aprender com segurança total. Exigia que seus alunos tivessem um
comportamento exemplar no seio da família e dentro da escola. Primava pelo princípio
de respeito moral e cívico e exigia que todos se apresentassem sempre bem vestidos
e com asseio e aparência saudável. Caso algum aluno se apresentasse com as unhas
grandes ou sujas imediatamente era chamado a atenção, e exigido para se apresentar
no dia seguinte com mais dignidade. Estes pequenos detalhes também faziam parte da
orientação educacional daquela pequena escola. Os próprios alunos sentiam-se bem
com esse tipo de orientação e os pais se sentiam mais confiantes.
Determinado dia me encontrei com o Dr. Luiz Carlos da Silva (nessa época ele
já estava atuando como advogado trabalhista), nos corredores do Tribunal Regional do
Trabalho-TRT, e naquela ocasião, ele e outros advogados estavam discutindo sobre o
tema “oligarquia e nobiliarquia”. Naquele momento minha curiosidade foi despertada,
e eu tive o privilégio de assistir a uma aula sobre o tema referido, a partir do governo im-
perial. Valeu a pena. Minha presença naquele fórum se dava por dever, com a finalidade
de resolver um problema trabalhista, e de repente fui indagado pelo Dr. Luiz Carlos
se eu precisava de alguma orientação. Expus o caso e ele me orientou como proceder.
Assim era nosso querido Mestre (...).
Dr. Luiz Carlos da Silva devido a sua esmerada condição de religiosidade, sua
orientação Marista adquirida no Colégio Cearense, sempre comparecia à Igreja Nossa
Senhora das Dores para fazer suas preces. Finalizando, por dever circunstancial cumpre
a mim homenagear a sua fiel companheira, sua digníssima esposa Dª Elda Gurgel e
Silva, que, junto com seus filhos deram-lhe um suporte sentimental fincado no amor
e na união.
O grifo abaixo é do autor (V.P.F.M.):

“Seu Silva, o grande mestre educador, a enciclopédia ambulante do bairro de Otá-


vio Bonfim”.

* Transcrito de Instituto Padre Anchieta. In: MORAES, Vicente de Paula Falcão. Anos Dou-
rados em Otávio Bonfim: à memória de Frei Teodoro (2ª edição): Fortaleza, IURIS, 2017.
320p. p.39-43

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LUIZ, MAIS LUIZ!
Centenário de Nascimento de Luiz Carlos da Silva

EU E O INSTITUTO PADRE ANCHIETA (Memórias)


Jair Braga de Lima
75 anos, ex-aluno, início dos anos 1950
Eu morava na mesma rua do Instituto Padre Anchieta, no bairro Farias Brito
– o mesmo Otávio Bonfim -, cerca de três quarteirões (assim se dizia naquela época),
e foi justamente lá naquele educandário, onde iniciei os meus estudos propriamente
ditos, e também onde concluí o curso primário, como era assim chamado. Um ir-
mão, e mais duas irmãs também ali estudaram, não precisamente na mesma turma.
Antes, eu aprendera as primeiras letras, o “abc”, com professora em casa, como era
do costume.
Lá no Instituto, o diretor era o Prof. Luiz Carlos da Silva, o “seu Silva”, to-
dos assim o chamavam. Nessa mesma ocasião, ele já era formado pela Faculdade de
Direito do Ceará. Em vista disso, recebia a dedicada ajuda do seu irmão, Prof. José
Carlos, que foi meu mestre efetivo, e, por vezes, da carismática Profa. Eugênia, que
também era sua irmã.
As instalações do colégio eram simples, alocadas mesmo na própria casa,
que se dividia como moradia da família, oportunamente. Porém, quero enfatizar a
dedicação, o zelo e a responsabilidade do professor Silva perante aqueles que um dia
confiaram a si os seus pequenos filhos, no meritório afã da busca ao saber pedagó-
gico. Tudo se suplantava quanto a esse mister; a propósito, era comum nos vários
bairros da cidade, pontilharem estabelecimentos de ensino dessa natureza, porque
naquela época, eram assim como se fosse um padrão do que se dispunha.
Nossas atividades curriculares baseavam-se em exercícios de ditado, leitura
coletiva de textos, estes criteriosamente escolhidos do magistral livro da Crestoma-
tia, organizada por Radagásio Taborda. Aquele emblemático compêndio escolar era
constituído de preciosos artigos, ensaios, crônicas, poemas e sonetos de autores con-
sagrados nacionalmente, tais como Machado de Assis, Olavo Bilac, José de Alencar,
e de tantos e tantos outros, que nos deixaram imagens fabulosas e, subjetivamente,
nos estimularam ao hábito da boa leitura e também da escrita caprichada. Que re-
cordações de temas em prosa e verso... O Sineiro da Aldeia, O Intrépido, O Grumete,

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LUIZ, MAIS LUIZ!
Centenário de Nascimento de Luiz Carlos da Silva
Pelo Meu Netinho, Tarde Sertaneja, História de um Cão, A Primeira Missa, A Última
Corrida de Touros em Salvaterra... Ah! Como seria bom se os jovens de hoje se debru-
çassem bem mais sobre a leitura de livros...
Diariamente, fazíamos o que se chamava o “dever de casa”, que eram corri-
gidos atenciosamente pelo “seu” Silva, com comentários e observações posteriores;
tudo isso fazia parte do incentivo ao estudo. Daí um pouco de austeridade com que
“seu” Silva exigia primor a todos nós educandos.
Tinha ainda exercícios de escrita, no caderno de caligrafia, (1, 2 e 3), que era
um outro fator muito importante para o aprimoramento da letra cursiva de todos
nós alunos, e com resultados excepcionais... Ah! Se hoje em dia fosse exigida essa
prática no currículo estudantil... Recordo muito bem de como era enfatizado esse
exercício... E serviu bastante, tanto que nossa letra, a minha e a de minhas irmãs
ainda hoje são consideradas como “boas”.
Aos sábados, havia o exercício de descrição. Era colocado um painel, depen-
durado sobre a lousa – o quadro negro -, e daí nós redigíamos livremente, acerca
daquele desenho ali posto, geralmente paisagens campestres. Eu, particularmente,
gostava muito daquela atividade.
Além disso, a sala de aula era permanentemente adornada com atlas (mapa
mundi, ou da Europa, América do Norte ou do Brasil). Era uma oportunidade ímpar
para situarmo-nos geograficamente, ao ouvirmos falar sobre cidades e países pelo
mundo afora, coisa absolutamente inimaginável na cabeça infanto-juvenil, ainda
mais numa época de grandes eventos internacionais, que mexiam com o mundo
todo... Que fabuloso subsídio!
Nossas avaliações eram feitas através das provas mensais e, por consequ-
ência, havia a entrega dos “boletins”, os quais, inevitavelmente, chegariam às mãos
dos nossos pais ou responsáveis... Ufa! Era um verdadeiro suspense... nota rebaixada
significava limitações no lazer, nas folgas dos finais de semana. Era melhor mesmo
“puxar pela perna” (dito de então) e estudar as lições.
Minha classe de aula era mista. Recordo-me de alguns colegas, tais como do
irreverente Toinho Murilo, dos irmãos Ângelo e Marcelo Mota Miranda, do Jacinto,

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LUIZ, MAIS LUIZ!
Centenário de Nascimento de Luiz Carlos da Silva
do Epifânio, do João Firmino, das irmãs Geny e Edy, da Nércia, da Cleide, de outra
“bem bonitinha”, que eu deveria lembrar do nome...
Não havia “sabatina” metódica no Instituto Padre Anchieta. Apenas avalia-
ções de surpresa que “seu” Silva fazia, mas de forma amena, simples sondagem; daí
não sentíamos qualquer temor de punição, acaso não soubéssemos responder. Por
sinal, qualquer deslize cometido por algum de nós, em outras oportunidades, era
passível de uma “penitência”, cuja sentença era fazer determinado número de linhas
pautadas (geralmente 50 linhas). Ora... Sabedoria de mestre, que assim motivava o
educando a praticar ainda mais o ato da escrita...
Era assim, na minha óptica, o Instituto Padre Anchieta. Era assim o professor
Dr. Luiz Carlos da Silva, perseverante em todos os seus atos, na sua vida laboriosa e
de atividades múltiplas. O educador cônscio de sua missão, ansioso para que aqueles
infantes sob sua tutela conseguissem absorver de maneira plena e total o alimento
da sapiência. Aqui, méritos para seus irmãos, José Carlos e Eugênia, igualmente sá-
bios.
Decorridos já tão longos anos, expresso meu sentimento, nesse depoimento
feito de memória, acalentado em meu ser há mais de meio século, e que me faz
reviver o tempo maravilhoso da minha infância, dos meus irmãos e irmãs. Do edu-
candário simples, pequeno, mas gigante em nossos corações. Na figura saudosa do
nosso mentor – Prof. LUIZ CARLOS DA SILVA – a quem devemos muita coisa do que
somos (nos encontros familiares, vez por outra comentamos sobre isso).
Ao dedicado homem, que fez da própria vida um hino de amor ao bem fa-
zer, as nossas homenagens, e a minha eterna gratidão por ter me conduzido sempre
pelas veredas e caminhos largos, em busca da dignidade, do saber e da educação.
Saudades eternas do grande mestre!

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LUIZ, MAIS LUIZ!
Centenário de Nascimento de Luiz Carlos da Silva

AS PALAVRAS VOAM, OS ESCRITOS FICAM


Mauro Falcão Moraes
Ex-aluno, início dos anos 1940
“Verba volant, scripta manent.”
Pela bondade infinita do Criador da Vida, sinto-me hoje presente no Instituto
Pe. Anchieta, tal como estivesse vivendo há 74 anos dos 84 já vividos. Sou um perso-
nagem vivo, moldado nessa Oficina de Ciência que foi concebida para preparar gran-
des transformações sociais. Bendito seja, Santuário dos meus sonhos... Relicário da
gratidão e do reconhecimento do seu ex-aluno que, genuflexo, agradece a formação
primária dos estudos preparatórios para o Exame de Admissão ao Ensino Secundário,
prestado com êxito, no Colégio Cearense Sagrado Coração.
Sua localização fronteiriça à Praça do Otávio Bonfim gozava o privilégio da
vista da Igreja de Nossa Senhora das Dores e o de ouvir as horas pulsadas pelo seu
majestoso relógio.
Possuía, por ser divinal, uma Santa Alma materializada no seu diretor, Prof.
Luiz Carlos da Silva, autêntico Apóstolo destinado a disseminar a escolaridade com
paciência, prudência e sensatez. Destituído de vaidade, sua respeitável figura irradiava
confiança pela robustez da imensa bagagem de conhecimentos de que era detentor.
Um verdadeiro Mestre-Escola: Transmitia, como ninguém, formação política aos seus
“Alunos-Crianças” tornando-os, precocemente, em patriotas éticos.
Nutro pelo “Seu Silva” uma devoção filial. Sou-lhe grato pela formação cristã mi-
nistrada na escola, influenciada pela exemplar correção comportamental vivida com meus
pais, no âmbito familiar. Recebi do querido Mestre os preceitos básicos que formam o alicer-
ce da pirâmide representativa da minha vida e, graças a eles, se mantém vitoriosa. Credito
ao dedicado Mestre no centenário da vida interrompida aos 82 anos, as benesses advindas
da devoção extremada ao exercer com amor e dignidade o ofício de professor.
Em estado de graça contemplo, saudosamente, a Praça, o Relógio, a Igreja, e,
com os olhos marejando lágrimas tenho a visão do Seu Silva adentrando a Sala de Aula
do Instituto Padre Anchieta, Fonte Sagrada onde vivi o privilégio de chegar, sentar, ouvir
e praticar os sadios ensinamentos de um Santo-Professor.
Seu Silva, sou-lhe eternamente grato. Permaneça com Deus. Amém.
Fortaleza, 26 de agosto de 2017

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LUIZ, MAIS LUIZ!
Centenário de Nascimento de Luiz Carlos da Silva

LUIZ CARLOS DA SILVA E O INSTITUTO PE.


ANCHIETA
Edmar Gurgel Coelho
Contabilista e bancário aposentado
Lembro-me, com saudade, do Instituto Pe. Anchieta localizado no início da Rua
Justiniano de Serpa, no bairro de Otávio Bonfim, onde comecei, nos idos de 1945, jun-
tamente com meus irmãos, a alfabetização.
Era proprietário e diretor o professor Luís Carlos da Silva, conhecido por todos,
seu Silva. Com ele formava o corpo docente do Instituto seus irmãos José Carlos, cha-
mado Professor Zezinho e Da. Eugênia, conhecida carinhosamente por Da. Niná.
Foram meus primeiros professores o que representou muito em minha vida,
como para a de meus irmãos, menores, pois cedo perdemos nosso pai e que nos serviu
de referencia educacional.
O Professor Silva, ainda jovem, demonstrava: Vasta cultura – política; línguas;
história e geografia, inclusive universal, química e geometria, enfim qualquer assunto.
Mesmo sendo simpático, era um homem austero e disciplinador – não admitia atrasos
nas frequências; cobrava deveres de casa e examinava a higiene dos alunos, principal-
mente quanto ao asseio de unhas e orelhas. Excelente professor – as aulas de aritmética
e/ou matemática se tornavam de fácil aprendizagem. Religiosidade - de base sólida,
tanto que no currículo do colégio havia aula de religião dada pelo Frei Teodoro, pároco
da Igreja Nossa Senhora das Dores.
O Instituto era uma referência em termos de educação no Bairro de Otávio Bon-
fim. Não só para mim, mas para todos residentes no bairro e àqueles que residiam pró-
ximos à Av. Bezerra de Menezes e demais ruas adjacentes, assim como dos logradouros:
Cercado Zé Padre, Beco dos Pintos, Legião etc.
A disciplina aplicada era rígida, valendo narrar que naquele tempo era comum
em algumas escolas o castigo físico para os indisciplinados, tais como: puxão de ore-
lhas, palmatórias, ficar de joelho em cima de tamborete etc.
Lembro-me, de certa feita (à época, eu deveria ter oito a nove anos), num ato
de rebeldia (eu não era flor que se cheirasse) joguei contra meu professor, o Zé Carlos,
mesas, cadeiras e tudo o que estivesse ao meu alcance.

69
LUIZ, MAIS LUIZ!
Centenário de Nascimento de Luiz Carlos da Silva
Em razão disso, fui isolado num quarto fechado, de pouca iluminação e com
piso de tijolo de barro pesado (local este chamado de “Cafua”). Eta, meu Deus! O tempo
fechou! Revoltado, arrancava os tijolos e os jogava contra a porta, rebentando tudo.
Surtiu efeito. Logo me mandaram para casa e isso jamais se repetiu e, com ne-
nhum aluno. Mas quanto a mim surtiu bons efeitos, pois me dediquei aos estudos o que
me fez colher bons frutos.
Tem outra passagem e boa: em 1961: eu e meu primo Tarcísio Sindeuax Gurgel
estávamos na sala do Instituto, já desativado, preparando-nos para o concurso do Ban-
co do Brasil.
Do famoso livro de Fábio de Melo, tentávamos resolver mais ou menos os 1.100
problemas de matemática dos mais variados existentes. O Silva, ao adentrar, viu que
muitos exercícios não tínhamos resolvido.
Então, afirmou que se lembrava de seus estudos de álgebra ainda do ginásio do
Colégio Cearense. A partir desse momento, passou a resolver todos os que apresentáva-
mos. Que ensinamento! Tirei ótimo proveito, sendo aprovado no concurso e assumindo
no BB no ano seguinte.

D. Elda Gurgel e seus irmãos Edson, Edmar e Elza.

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LUIZ, MAIS LUIZ!
Centenário de Nascimento de Luiz Carlos da Silva

RELEMBRANÇAS: o Instituto Padre Anchieta


Zenaide Braga Marçal
Sócia Efetiva da AJEB-CE e UBT-Fortaleza.
Sócia Honorária da ALMECE e AFELCE.

Que Deus me traga à lembrança


o que quero transmitir
do meu tempo de estudante,
pois nada quero omitir
da minha escola adorada
que será sempre lembrada
enquanto eu existir.

No meu tempo de criança,


perto de casa estudar
era prática comum
às pessoas do lugar;
e, para o curso primário,
havia um educandário
pequeno, mas exemplar!

Na praça da nossa igreja,


na rua onde eu residia,
o Instituto Padre Anchieta
era o de melhor que havia:
um ensino consciente
ali, bem perto da gente,
junto ao nosso dia a dia.

71
LUIZ, MAIS LUIZ!
Centenário de Nascimento de Luiz Carlos da Silva
Dr. Luiz Carlos da Silva,
o “seu Silva”, assim chamado,
dirigia esse Instituto
com muito zelo e cuidado;
ele tinha “o pulso forte”
e, ao nos indicar o “norte”
era muito respeitado.

Que educandário exemplar!


Não dava só instrução,
porque, a todo momento
cuidava da educação.
Aula de Civilidade
era mesmo, na verdade,
preparo pra o cidadão...

Os nossos bons professores,


dois irmãos do Diretor:
o professor José Carlos
que reconheço o valor;
dona Eugênia, tão serena,
mantinha uma forma amena,
de ensinar com muito amor...

Além do Dever de Casa,


Ditado, Caligrafia,
Leitura compartilhada
por todos: enquanto um lia,
o seguinte continuava
pois, atento, já esperava
lendo na Crestomatia.

72
LUIZ, MAIS LUIZ!
Centenário de Nascimento de Luiz Carlos da Silva

Era, também, importante


o dia da Descrição:
um quadro bem colorido,
motivo da redação…
Cada aluno descrevia
o que na figura via…
Expressar-se era a lição!

Escola com Biblioteca


era difícil de ver,
mas, nossa escola era exemplo,
tinha livros pra valer.
A semana terminando,
o Diretor anotando
nome e data a devolver…

Ao terminar o Primário,
era a hora de escolher
um colégio e prosseguir
na busca pelo saber.
Saudosos, mas conscientes
de termos nas nossas mentes
o que foi dado aprender.

Para ingressar no ginásio,


era o Exame de Admissão
obrigatório; e preciso
era ter aprovação.
Do contrário, nem pensar

73
LUIZ, MAIS LUIZ!
Centenário de Nascimento de Luiz Carlos da Silva
no ginasial ingressar!
- Não havia outra opção.

Mas, alunos do “seu Silva”,


sendo por ele aprovados,
ao prestarem esse Exame
jamais eram reprovados.
Aprovação garantida,
Um passinho a mais na vida,
tudo bem equilibrado.

Minha irmã e dois irmãos,


também privilegiados
como eu, aí estudaram;
e foram, também, guiados
na construção do futuro,
com início bem seguro
nos primeiros passos dados.

Hoje vejo, claramente,


o quanto existiu de amor
do «seu Silva» à essa causa,
com devoção e labor.
Digo: não dá pra esquecer!
Sempre vou agradecer
e lhe dar todo Louvor!

74
Tapeçaria Cena Bucólica, de Elda Gurgel

4
Uns guiaram o povo com suas decisões,
compreendendo as usanças de sua gente,
e tendo palavras sábias para a sua instrução;
(Eclo. 44: 4)

PARTE IV
OPERADOR DO DIREITO
LUIZ, MAIS LUIZ!
Centenário de Nascimento de Luiz Carlos da Silva

LUIZ CARLOS DA SILVA: o legado jurídico na sua


descendência
Marcelo Gurgel Carlos da Silva
Médico, economista e professor universitário
Nascido em um lar cristão, tendo por progenitores pessoas simples, de módicas
posses, Luiz Carlos da Silva teve a felicidade de ver, nos seus pais, o descortino de cen-
trar esforços na educação da prole, quando esses tomaram a bem pensada decisão de
enviar seus filhos para continuarem os estudos em Fortaleza.
Luiz Carlos da Silva deu a seus pais duas enormes alegrias: em 1940, quando
se formou perito-contador; e, em 1947, ao receber o diploma de bacharel em Direito,
pela tradicional Faculdade de Direito do Ceará, integrando a Turma Sobral Pinto. Quase
todos os seus irmãos também obtiveram diplomas que possibilitaram a admissão no
magistério, confirmando a sábia atitude paterna em valorizar a educação formal da
família constituída.
Dos remanescentes da turma de bacharelandos de 1947, ao ensejo da celebra-
ção do jubileu de ouro de formatura, era ele ainda um dos poucos que permaneciam
atuando na advocacia, acumulando cinquenta anos de exercício profissional.
Foi professor do ensino primário e médio por longos anos; porém, recusou o
acesso à carreira do magistério superior, ao rechaçar o convite para compor o corpo
docente, quando da instalação da Universidade Federal do Ceará, porquanto ele privile-
giava a sua atuação como causídico, uma deliberação da qual não se arrependia.
Vários dos seus colegas dos bancos da vetusta Salamanca cearense foram bem-
-sucedidos materialmente, recolhendo um expressivo patrimônio, oriundo de recursos
próprios e/ou encorpados por heranças familiares. Não foi precisamente a sua situação,
pois seus genitores não transmitiram bens ou haveres, merecedores de um inventário
formal de partilha, posto que as suas atenções se direcionavam a que o produto do
trabalho fosse aplicado, quase que exclusivamente, na educação dos filhos.
Luiz Carlos da Silva exerceu a advocacia, com afinco e honradez, operando,
maiormente, no campo do Direito do Trabalho, com uma clara opção por assumir a
defesa do trabalhador, a parte dita mais vulnerável da relação trabalhista, o que lhe con-
feria, continuadamente, um contingente de centenas de questões trabalhistas ativas,

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LUIZ, MAIS LUIZ!
Centenário de Nascimento de Luiz Carlos da Silva
embora fossem elas, em sua maioria, causas de pouco valor pecuniário.
Não juntou tesouros cá na terra. Da sua labuta, começada na meninice, com a
dura faina de subjugar a terra inclemente, nos roçados e nos canaviais, e sequenciada
pelos exercícios de lecionar e de advogar, somou um patrimônio material bem modesto.
Trabalhou, diuturnamente, de forma incansável e sem férias, por mais de cinco
décadas, com o fito de garantir o sustento e educar uma prole de onze filhos vingados.
Com efeito, ele não legou aos seus descendentes bens materiais de monta; mas, dis-
so não tinha qualquer remorso ou complexo de culpa, dado que propiciou a eles um
patrimônio imaterial, intangível, refletido na educação, que os deixou aptos a vencer
na vida, com os próprios recursos intelectuais e, de forma livre, sem dependência de
apadrinhamentos de qualquer natureza.
Em 28/01/2016, quando completaria o nonagésimo oitavo aniversário, se vivo
fosse, Luiz Carlos da Silva estaria sobejamente orgulhoso por verificar que aos seus
quatro filhos formados em Ciências Jurídicas (Sérgio, Luciano, Magna e José) se agluti-
naram os seus netos operadores do Direito (Leonardo, Germana, Paolo, Marcela, André,
Natália e Serginho), coroando assim uma profícua existência.
Em tempo: a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) - Seção Ceará prestou-lhe
significativa homenagem no ano passado (2012), ao instituir, no Forum Autran Nunes,
um Centro de Estudos de Direito do Trabalho que recebeu seu nome; o reconhecimento
foi justo e o local apropriado, visto que nesse locus fora um dos mais atuantes advoga-
dos trabalhistas deste rincão cearense.
Um abraço, terno e eterno, do seu filho.
(Inédito)

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LUIZ, MAIS LUIZ!
Centenário de Nascimento de Luiz Carlos da Silva

SAUDADES DO VOVÔ LUIZ


Leonardo Gurgel Carlos Pires
Promotor de Justiça
Peço desculpas, de antemão, pela escrita sem conexão e com erros gramaticais
possíveis, mas de vez em quando estou enxugando as lágrimas de saudade enquanto
escrevo.
Do que me lembro após a morte de minha mãe, tive a oportunidade de morar
com o vovô Luiz e a vovó Elda durante a infância e nesse período tive a felicidade de
conviver com um homem de bem que de noite me deixava brincar com meus bonequi-
nhos na sala de seu escritório conjugado à residência da família. Posso confirmar que
ele era um avô “bem legal”, não porque me dava revistinha de quadrinhos do Batman
ou porque me levava para o supermercado e me deixava comprar o que eu quisesse (e
eu acabava comprando um monte de suco colorido com formatos de carro etc.), mas
por que na minha mente de criança se eu quisesse sair eu poderia pegar sua mão e ter a
certeza da segurança e outras pequenas coisas que palavras não descrevem.
Quando cresci tive a oportunidade de conviver com vovô Luiz novamente es-
tagiando com o mesmo em sua banca de advocacia e dirigindo pelo interior do Ceará
como seu motorista pois o mesmo estava com a visão já bastante cansada. No Fórum
Trabalhista, ele era conhecido pela sua moral e ética ímpar de não fazer acordos, pois
ele dizia que “só pedia na Justiça o que seu cliente tinha direito” e que desse direito que
foi pedido o seu cliente não deveria abrir mão de nada, o que, por sua vez, contrariava
uma prática comum de outros advogados de pedir valores absurdos para depois fechar
acordos por valores ínfimos, como sói acontecer até hoje na Justiça do Trabalho.
No interior do Ceará, aonde íamos, o vovô era sempre bem recebido e conversá-
vamos muito durante as viagens. Ele sabia muito e sobre muitas coisas. Aonde íamos,
as pessoas confiavam no vovô Luiz, desculpe a redundância, porque ele era uma pessoa
confiável e que gostava de trabalhar. Com a memória ainda sou capaz de escutar o
barulho da máquina de escrever com a qual ele batia com os dois dedos indicadores
apenas fazendo, outrossim, petições de direitos e cálculos trabalhistas complexos re-
duzidos a uma única folha frente e verso com a 2ª e 3ª vias em papel carbonado. No
Fórum com essas mesmas petições o vovô ganhava tudo ou quase tudo do que pedia,
provando, assim, que a simplicidade é mesmo o último grau de perfeição. Eu via os

79
LUIZ, MAIS LUIZ!
Centenário de Nascimento de Luiz Carlos da Silva
outros advogados com peças de 30 a 40 folhas de arrazoado perdendo suas causas para
o vovô e os juízes olhando para a cara desses mesmos advogados dizendo “não adianta
nem tentar acordo com o Dr. Luiz que todo mundo sabe que ele não faz acordo”.
Outro fato marcante que deve ser ressaltado é o de que o vovô investiu e se
preocupava muito com a educação dos filhos e netos e isto se confirmou numa aposta
certa pois todos ficaram bem na vida após atingirem a maioridade, talvez essa seja
a melhor lição do vovô Luiz: dar e investir para que os filhos adquiram educação é o
melhor que podemos fazer para ajudá-los ante o futuro incerto.
Lembro ainda que vovô gostava muito de trabalhar como advogado e que mes-
mo com a doença que lhe acometeu em estágio avançado ele “fugia” de seus cuidadores
e caminhava longas distâncias a pé para ir ao Fórum Trabalhista ver seus processos.
Acho que peguei seu jeito de caminhar, ou seja, caminhar muito. E aos poucos estou se-
guindo seu método de concisão o que tem se provado bastante útil. Mas eu não herdei
sua força para lidar com a morte. Sei que o vovô sofreu com vários episódios, um deles
a morte da minha mãe, mas ele soube seguir em frente e eu não sei como... quiçá pelos
vivos que precisavam dele.
Eu gostava tanto do vovô que dei o nome “Luiz” ao meu segundo filho. Sincera-
mente, um Luiz teria gostado de conhecer o outro.

Leozinho, Luiz Otávio e Martinha, filhos de Leonardo e bisnetos de Luiz Carlos da Silva.

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LUIZ, MAIS LUIZ!
Centenário de Nascimento de Luiz Carlos da Silva

O ADVOGADO LUIZ CARLOS DA SILVA


João Byron de Figueirêdo Frota
Desembargador Aposentado do Tribunal de Justiça do Ceará
O reconhecido médico e professor Marcelo Gurgel Carlos da Silva distingue-me
solicitando opine sobre seu valoroso pai, para integrar publicação a ser feita em home-
nagem ao centenário de nascimento deste.
Confesso que, no primeiro contato, vislumbrei dificuldade, pois, apesar de ter
convivido com o valoroso causídico nos quase sete anos de minha judicatura em Re-
denção, terra natal do homenageado e minha por gentileza do município, onde Luiz
Carlos comparecia, impreterivelmente, um dia por semana, nossos encontros, con-
quanto respeitosos e amáveis, cingiam-se a temas profissionais ou de assuntos que não
diziam respeito a particularidades profissionais ou familiares.
Devo dizer, contudo, que o Dr. Luiz Carlos, sempre pautou sua atuação pela cor-
reção profissional e convívio respeitoso, no que tinha a reciprocidade do então jovem
juiz, o que resultou num relacionamento ameno, mesmo em atividade que tem ínsita
o destrame de conflitos.
Com o gentil envio do livro “Dos Canaviais aos Tribunais”, a dificuldade passa a
ser o oposto, vez que, além das múltiplas facetas do ilustre advogado, como profissio-
nal, chefe de família e cidadão, emoldurado pela sua digna Família, tudo relatado em
escorreita prosa, torna, pela abrangência, difícil a análise. Nele tem-se o retrato nítido
de um lutador vitorioso a conduzir um clã venturoso e vencedor.
Ao lado de Elda, administradora doméstica, pedagoga e educadora, como eram
as esposas e mães de seu tempo, Luiz Carlos comemorou as bodas de ouro matrimo-
niais, tendo criado onze filhos, todos se graduando em nível superior, feito extraordi-
nário da habilidosa desenhista e pintora em parceria com o reconhecido bacharel em
Direito e poeta, que a publicação nos revela.
A leitura do compêndio, traz a lume não só as vitórias do talentoso bacharel
em Direito, contabilista, professor e chefe de Família, como a história de vida de uma
grei honrada e lutadora, com nuances que transcendem as merecidas conquistas pro-
fissionais, para entremostrar os vínculos mais nobres dos sentimentos humanos, entre
os quais ressaltam a solidariedade e fraternidade, tanto no núcleo, como no relaciona-
mento com os mais próximos.

81
LUIZ, MAIS LUIZ!
Centenário de Nascimento de Luiz Carlos da Silva
A vida, todos sabemos, nos traz surpresas e eu que esperava alinhavar algo so-
bre um advogado e conterrâneo, acabei descobrindo, além dos títulos já mencionados,
um ex-aluno do Colégio Cearense, onde tive a felicidade de concluir o ginásio e, para
maior surpresa e deleite, um versejador talentoso, que homenageou com pertinência a
mãe, a Sagrada Família e o torrão natal, fazendo-me lembrar minha genitora, de quem
tenho, manuscritos, cerca de trintas sonetos, e que em meu nome homenageou o bardo
inglês.
A existência é fugaz e mais de oitenta anos é um marco razoável para a vida
humana, embora um quase nada para a eternidade e, embora a do dr. Luiz Carlos tenha
ultrapassado o limite referido, o tempo e seus feitos, certamente amenizam a dor da
ausência e proporcionam alegria por ele ter existido.
No que respeita à publicação a que me refiro, pelos inúmeros méritos já referi-
dos, o dr. Marcelo poderia dizer, se assim o quisesse, como o fez o jesuíta Frota Gentil,
no frontispício de “Os Frotas”: “Fecit quod potuit, faciant meliora”. Em vernáculo: Eu fiz
o que pude, quem puder faça melhor, tal a completude da homenagem já prestada.
Todavia, a capacidade, o preparo e o amor filial, já sobejamente demonstrados, creden-
ciam-no à produção de obras de igual ou superior quilate.

Encontro de colegas nas comemorações de 25 anos de formatura de Direito.

82
Tapeçaria os Flamingos, de Elda Gurgel

7
Todos foram honrados por seus contemporâneos,
alvo de ufania ainda em vida.
8
Alguns deles deixaram um nome
que se proclama com louvores;
(Eclo. 44: 7)

PARTE V
PERFILADO EM LIVROS
LUIZ, MAIS LUIZ!
Centenário de Nascimento de Luiz Carlos da Silva

DOS CANAVIAIS AOS TRIBUNAIS: a vida de Luiz


Carlos da Silva
Marcelo Gurgel Carlos da Silva
Médico, economista e professor universitário
5 Quem honra o pai será alegrado pelos filhos e, no dia
em que orar, será atendido.
6 Quem glorifica o pai terá vida longa,e quem obedece ao
Senhor proporcionará repouso à sua mãe.
7 Quem teme o Senhor honrará seu pai e, como a
senhores, servirá seus genitores.
(Eclo. 3 5-7)
Em janeiro de 2007, em uma das costumeiras reuniões domingueiras do “clã”
familiar dos Gurgel, apresentamos, aos irmãos, uma proposta de organizar um livro
sobre o nosso pai, Luiz Carlos da Silva, a ser lançado em janeiro de 2008, por ocasião do
seu nonagésimo natalício, se vivo ele fosse.
A proposição estava lastreada em alguns artigos esparsos, escritos por nós so-
bre ele, e publicados na mídia cearense. A idéia seria, pois, facilmente germinada em
uma família repleta de fecundos escribas, com diferentes graus de visibilidade pública.
A convocação ganhou, de imediato, o beneplácito da “matriarca”, D. Elda Gurgel, e o
acolhimento fraterno dos demais filhos, que, solidariamente, decidiram apoiar a ini-
ciativa, concorrendo com suas contribuições literárias e, também, com subsídios para
montar o arcabouço da obra que engendráramos. A nossa irmã Márcia, que comparece
na obra com o prefácio e vários textos, aceitou, de pronto, ser a coorganizadora dessa
obra compartilhada.
Ao longo de 2007, nossos encontros dominicais eram, com regularidade, entre-
cortados pela leitura de algum novo texto, produzido por um familiar, ou por algum dos
convidados, instados a prestar um depoimento escrito sobre o nosso progenitor; por
vezes, trazia-se à baila, algo da própria lavra do personagem central do livro, sendo essa
situação a que nos aportava maior contentamento. Com efeito, nos poucos exemplares
remanescentes da Revista Verdes Mares, preciosa revista do Grêmio José de Alencar,
do Colégio Marista, Luiz Carlos da Silva surpreendeu-nos com uma produção literária

85
LUIZ, MAIS LUIZ!
Centenário de Nascimento de Luiz Carlos da Silva
de escol, por ele escrita, que, talvez, represente a ponta de um “iceberg”, visto que as
coleções dessa publicação, sob a custódia do Instituto Histórico, Geográfico e Antro-
pológico do Ceará (Instituto do Ceará) e da Biblioteca Pública Menezes Pimentel, estão
incompletas, e a busca adicional entre bibliófilos locais foi infrutífera.
Para conferir um tom acadêmico à proposta, elaboramos um projeto com o
fito de traçar a biografia de Luiz Carlos da Silva, a partir de pesquisa documental de-
senvolvida pelo autor, complementada por entrevista com familiar (esposa) e contatos
com informantes-chave, para fins de preparação e publicação de um livro sobre a vida
do perfilado; o projeto foi apreciado e aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da
Universidade Estadual do Ceará.
Esse foi, antes de tudo, um estudo investigativo descritivo, caracterizado como
pesquisa de natureza documental e histórica, que recorreu, de modo suplementar, às
seguintes fontes: Biblioteca Pública Menezes Pimentel, Instituto Histórico, Geográfico e
Antropológico do Ceará (Instituto do Ceará), Museu Cearense da Comunicação (Nirez),
Colégio Cearense do Sagrado Coração, Faculdade de Direito da UFC, Conselho Regional
de Contabilidade do Ceará, Ordem dos Advogados do Brasil - Secção do Ceará, Serviço
Nacional de Aprendizagem Comercial (SENAC), Academia Cearense de Letras e Assem-
bleia Legislativa do Ceará, dentre tantas.
Na busca dessas fontes, como já foi dito, deparamo-nos com alguns tesouros da
produção literária paterna, à época de sua juventude, em um trabalho de garimpagem,
que, por certo, mais não rendeu devido às lacunas impostas pela falta de conservação
dos acervos, públicos e privados, das instituições e das famílias cearenses, a nossa, in-
clusive. Tal fato entravou a feitura de uma coletânea mais completa, porquanto deixa-
ram de ser anexados outros tantos textos, em prosa ou em versos, inéditos ou publi-
cados em livros ou revistas que não foram preservados até os presentes dias; contudo,
a mostra do que aqui se exibe, neste livro, com segurança, expõe bem a capacidade de
escrever que nosso pai possuía.
Todavia, esse senão é incapaz de empalidecer o vigor da obra, cuja construção
foi enriquecida pelos depoimentos pessoais de tantos amigos, colegas, alunos, clientes,
que conviveram com Dr. Luiz Carlos da Silva, e expuseram, no papel, os bons predicados
que plasmaram a trajetória de vida do retratado, desde a sua infância, passada nos ca-
naviais, lavrando e domando a terra, até os últimos dias de sua existência, nos embates
dos tribunais, na defesa dos que têm sede de Justiça.

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LUIZ, MAIS LUIZ!
Centenário de Nascimento de Luiz Carlos da Silva
Não menor foi a nossa satisfação em contatar pessoas, que conheceram, de
perto, Luiz Carlos, em diferentes fases da sua vida, como aluno marista, estudante de
contabilidade, acadêmico de Direito, colega de magistério e de advocacia, ou benefici-
ário de suas lides profissionais, cobrindo um arco de mais de sete décadas de história
vivida, de sorte que o produto da lavra robusteceu, em nós, a convicção de que, efeti-
vamente, foi imenso o privilégio de termos sido gerados por ele, condição que, por seu
turno, aumenta a nossa responsabilidade social, como cidadão.
Participaram da construção coletiva deste livro, os familiares de Luiz, por
meio da viúva (Elda Gurgel), de todos os filhos (Paulo, Márcia, Marcelo, Sérgio, Meuris,
Germano, Luciano, Magna, José e Mirna) e de um genro (Fernando Adeodato Jr.), bem
como os colegas e amigos, aos quais muito agradecemos, e cujos nomes são a seguir
explicitados, por ordem alfabética: Adamir Peixoto de Alencar Fernandes, Antônio
Carvalho Sisnando de Lima, Artur Eduardo Benevides, Elsie Studart Gurgel de Oliveira,
Francisco de Assis Arruda Furtado, Francisco de Assis Camelo Parente, Geraldo Wilson
da Silveira Gonçalves, José Leopoldino da Silva Néto, Luiz Cruz Lima, Manuel Aguiar de
Arruda, Maria Alice Barros dos Santos Tamburini Porto, Mário Barbosa Cordeiro, Mar-
lene Alexandre Rolim, Mons. Mauro Herbster, Miryam Araújo, Nerina Falcão, Raimundo
Gomes da Silva, Raimundo Nonato Ximenes, Raimundo Silva Cavalcante e Rosilmar
Alves dos Santos.
Na oportunidade, registramos, também, os nossos sinceros agradecimentos a
todos os dirigentes e funcionários das fontes institucionais consultadas, que, de algu-
ma forma, ajudaram a materializar este trabalho, assim como ao Conselho Editorial
das Edições Uece, que o incluiu no rol de suas publicações, ao Comitê de Ética em Pes-
quisa da Uece, que aprovou o projeto de pesquisa, ao Instituto do Câncer do Ceará, pelo
apoio emprestado, à Expressão Gráfica, pelo primor técnico no acabamento do livro,
e à Ordem dos Advogados do Brasil - Secção do Ceará, pela cessão do espaço para o
lançamento desta obra.
A escolha da capa foi de uma felicidade ímpar, ao exibir a pintura “O Julgamento
de Salomão”, de Raffaello Sanzio, indicando que a Sabedoria, atributo inerente ao nosso
extinto genitor, deveria, por princípio, nortear a aplicação da Justiça, ideal que sempre
perseguiu, em vida.
São oito as vigas de sustentação deste livro: I - Em Família, II - Educação e For-
mação Profissional, III - Atuação Profissional, IV - Poesias e Prosas Paternas, V - Adeus

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LUIZ, MAIS LUIZ!
Centenário de Nascimento de Luiz Carlos da Silva
da Família, VI – Depoimentos, VII – Registros Iconográficos e VIII - Apêndices/Anexos.
Cada uma das partes está identificada por uma reprodução, em preto e branco, de uma
tapeçaria, manufaturada, carinhosamente, por Elda Gurgel; cópias de documentos e
de fotos de acervos, familiar e institucional, compõem o arranjo gráfico, especialmente
preparado para a ocasião; as epígrafes, em profusão, dispostas nas aberturas das partes,
extraídas da Bíblia Sagrada, do livro do Êxodo e principalmente do Eclesiástico, dão
uma conotação de reverência aos pais, honrados pelos filhos, cumprindo-lhes preser-
var sua memória.
Nas Tábuas da Lei, entregues por Deus a Moisés, no Monte Sinai, figura o quar-
to dos Dez Mandamentos, dispondo sobre a obrigação dos filhos de honrar os pais;
com esta obra, nós, os filhos de Luiz Carlos da Silva, seguimos os preceitos divinos,
respeitando nosso pai, resgatando o seu legado de Homem, provido de sabedoria e de
integridade, e proclamando, postumamente, a nossa profunda afeição àquele que nos
gerou e nos educou, com tanto empenho e à custa do sacrifício de suas próprias ações
e aspirações.
Espera-se que o exemplo dado pelo clã dos Gurgel Carlos da Silva ao enfeixar
em uma publicação comemorativa dos noventa anos de nascimento do patriarca da
família, não poucos testemunhos de uma vida intensamente produtiva, venha não só
ratificar a vocação escrevinhadora da prole, mas despertar também em muitas outras
constelações familiares, o interesse em tornar público os atributos de seus ascenden-
tes, valendo a iniciativa como uma forma de preservar os valores humanos dos seus
predecessores.
Que Deus o tenha sempre entre os Seus escolhidos, meu pai.
Muito obrigado.

* Discurso proferido por ocasião do lançamento do livro “Dos canaviais aos tribunais: a
vida de Luiz Carlos da Silva”, na Ordem dos Advogados do Brasil - Seção Ceará, em Forta-
leza, em 28 de janeiro de 2008. (Inédito)

88
LUIZ, MAIS LUIZ!
Centenário de Nascimento de Luiz Carlos da Silva

LUIZ CARLOS DA SILVA, O HOMEM E O LIVRO


Marcelo Gurgel Carlos da Silva
Médico, economista e professor universitário
Em janeiro de 2007, em uma das costumeiras reuniões de domingo, do nosso
clã familiar, apresentei uma proposta de organizar um livro sobre o nosso falecido pai,
Luiz Carlos da Silva, a ser lançado por ocasião do seu nonagésimo aniversário de nas-
cimento.
A convocação ganhou tanto a adesão da matriarca, D. Elda Gurgel, como dos
irmãos, todos dispostos a contribuir com idéias e peças literárias para a feitura da obra,
que teria, como co-organizadora, a jornalista Márcia, filha do homenageado.
No correr de 2007, os encontros dominicais passaram a ser entrecortados pela
leitura de textos novos, produzidos pelos manos ou por convidados, todos focando si-
tuações que tinham, como personagem central da trama, o nosso progenitor.
Esse foi também um trabalho de pesquisa histórica e documental, que levou às
seguintes fontes de consulta: Biblioteca Pública Menezes Pimentel, Instituto do Ceará
(Nirez), Colégio Cearense Sagrado Coração, Faculdade de Direito-UFC, CRC-CE, OAB-
-CE, SENAC, Academia Cearense de Letras e Assembleia Legislativa do Ceará.
Em meio a essa busca por informações, sobre o nosso pai, a surpresa veio com
achados preciosos, verdadeiros tesouros da produção literária paterna, à época de sua
juventude. O trabalho de garimpagem só não rendeu mais, em razão de falta de con-
servação dos acervos públicos e privados, incluindo os das instituições e das famílias
cearenses, a exemplo da nossa. Mesmo assim, o resultado foi muito positivo, pondo à
mostra a exuberante capacidade de escrever do nosso pai.
No seu todo, a obra saiu alentada, mercê dos depoimentos de amigos, colegas,
alunos, clientes, pessoas, enfim, que conviveram com Luiz Carlos da Silva, e de uma ma-
neira agradecida, transpuseram para o papel, fatos marcantes que vão da sua infância,
passada nos canaviais, lavrando e domando a terra, até seus derradeiros embates nos
tribunais, em que se colocava sempre na defesa daqueles com sede de justiça.
Grande foi, pois, a satisfação advinda do contato com seus companheiros, em
diferentes fases da sua vida, como aluno marista, estudante de Contabilidade, acadê-
mico de Direito, professor e advogado. Não faltaram os beneficiários de suas lides pro-
fissionais, para compor um arco de mais de sete décadas de uma história vivida com

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LUIZ, MAIS LUIZ!
Centenário de Nascimento de Luiz Carlos da Silva
lances de epopeia, deixando em cada filho o gosto do privilégio de ter sido gerado por
quem só soube se fazer respeitado, como homem e como cidadão.
Nas Tábuas da Lei, recebidas por Moisés, no Monte Sinai, está inscrito o man-
damento: “honrar pai e mãe”. Pois bem: é isso o que os filhos de Luiz Carlos da Silva,
procuraram fazer, convertendo em obra literária, as suas andanças na face da terra. A
primeira das intenções foi resgatar o legado de quem, provido de grande sabedoria e
de muita integridade, gerou e educou uma prole especial, à custa do sacrifício de suas
próprias ações e aspirações.
O que se espera é que esta demonstração de amor filial, condensada em páginas
que são também testemunhos de vida, enfeixados em publicação comemorativa dos 90
anos de Luiz Carlos da Silva, lançada em 28.01.2008, venha confirmar, não só a imagem
que se desenha do nosso pai, ornada de valores humanos incontestáveis, mas, também,
a vocação escrevinhadora da sua prole, ratificada pelo DNA, conseguindo despertar, em
outras famílias, um interesse igual ou parecido de tornar pública a figura do patriarca,
exemplo das gerações porvindouras.
Que Deus o tenha, meu Pai!
* Publicado In: O Povo, Jornal do Leitor, de julho de 2008.

Lançamento do livro Dos Canaviais aos Tribunais na sede da OAB-CE em janeiro de 2008.

90
LUIZ, MAIS LUIZ!
Centenário de Nascimento de Luiz Carlos da Silva

LUIZ CARLOS DA SILVA EM LIVRO


Marcelo Gurgel Carlos da Silva
Médico, economista e professor universitário
Em janeiro de 2007, em uma das costumeiras reuniões domingueiras de nosso
“clã” familiar, apresentei aos meus irmãos uma proposta de organizar um livro sobre o
nosso pai, Luiz Carlos da Silva, a ser lançado por ocasião do seu nonagésimo natalício,
se vivo ele fosse.
A convocação ganhou, de imediato, o beneplácito da “matriarca”, D. Elda Gur-
gel, e o acolhimento fraterno dos filhos, que decidiram apoiar a iniciativa, concorrendo
com suas contribuições literárias e, também, com idéias, que subsidiassem o arcabou-
ço da obra. A minha irmã Márcia aceitou ser a co-organizadora da obra em tela.
Ao longo de 2007, nossos encontros dominicais eram, com regularidade, en-
trecortados pela leitura de algum novo texto produzido por um familiar ou um dos
convidados, instados a prestar um depoimento escrito sobre o nosso progenitor, ou
ainda por algo da própria lavra do personagem central do livro; a última situação era a
que nos trazia maior contentamento.
Foi uma pesquisa de natureza documental e histórica, que recorreu, de modo
suplementar, às seguintes fontes: Biblioteca Pública Menezes Pimentel, Instituto do
Ceará, Museu Cearense da Comunicação (Nirez), Colégio Cearense do Sagrado Coração,
Faculdade de Direito-UFC, CRC-CE, OAB-CE, SENAC, Academia Cearense de Letras e
Assembleia Legislativa do Ceará, dentre tantas.
Na busca dessas fontes, deparamo-nos com alguns tesouros da produção li-
terária paterna, à época de sua juventude, em um trabalho de garimpagem, que, por
certo, mais não rendeu devido às lacunas impostas pela falta de conservação dos acer-
vos, públicos e privados, das instituições e das famílias cearenses, a nossa inclusive. A
mostra do que foi exibido no livro expõe bem a capacidade de escrever que nosso pai
possuía.
Todavia, esse senão, é incapaz de empalidecer o vigor da obra, cuja construção
foi enriquecida pelos depoimentos pessoais de tantos amigos, colegas, alunos, clientes,
que conviveram com Dr. Luiz Carlos da Silva, e expuseram, no papel, os bons predicados
que plasmaram a trajetória de vida do retratado, desde a sua infância, passada nos ca-
naviais, lavrando e domando a terra, até os últimos dias de sua existência, nos embates

91
LUIZ, MAIS LUIZ!
Centenário de Nascimento de Luiz Carlos da Silva
dos tribunais, na defesa dos que têm sede de Justiça.
Não menor foi a nossa satisfação em contatar pessoas, que conheceram, de
perto, Luiz Carlos, em diferentes fases da sua vida, como aluno marista, estudante de
contabilidade, acadêmico de Direito, colega de magistério e de advocacia, ou benefici-
ário de suas lides profissionais, cobrindo um arco de mais de sete décadas de história
vivida, de sorte que o recolhido robusteceu, em nós, a convicção de que, efetivamente,
foi imenso o privilégio de termos sido gerados por ele, condição que, por seu turno,
aumenta a nossa responsabilidade social, como cidadãos.
Das Tábuas da Lei, entregues a Moisés, no Monte Sinai, o quarto dos Dez Man-
damentos dispõe sobre a obrigação dos filhos de honrar os pais; com essa obra, nós,
os filhos de Luiz Carlos da Silva, que sempre o respeitamos, resgatamos o seu legado
de Homem, provido de sabedoria e de integridade, e proclamamos, postumamente, a
nossa profunda afeição àquele que nos gerou e nos educou, com tanto empenho e à
custa do sacrifício de suas próprias ações e aspirações.
Espera-se que o exemplo dado por nossa constelação familiar, ao enfeixar teste-
munhos de uma vida, em uma publicação comemorativa, lançada em 28/01/2008, além
de ratificar a vocação escrevinhadora da prole, desperte em muitas outras famílias o
interesse em tornar público os atributos de seus ascendentes, bem como sirva para
preservar os valores humanos dos seus predecessores.
Que Deus o tenha sempre entre os Seus escolhidos, meu pai.

* Apresentação do livro “Dos Canaviais aos Tribunais - A vida de Luiz Carlos da Silva”,
com pequenos ajustes.

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LUIZ, MAIS LUIZ!
Centenário de Nascimento de Luiz Carlos da Silva

LIVROS QUE FAZEM REFERÊNCIAS A LUIZ


(inclusive ficcionais)
Paulo Gurgel Carlos da Silva
Pneumologista e escritor
1 - MORAES, Vicente de Paula Falcão. Anos Dourados
em Otávio Bonfim: à memória de Frei Teodoro. Fortaleza: IU-
RIS. 1998. 320p.
Em 1999, o escritor Vicente Moraes publicou o seu
Anos Dourados em Otávio Bonfim, no qual, em “O Centro
do Bairro”, às páginas 30 e 31, “presta uma homenagem justa
ao Instituto Padre Anchieta, na pessoa de seu diretor, o profes-
sor Luiz Carlos da Silva, carinhosamente seu Silva”. No capítu-
lo “As ruas e as famílias do bairro”, o autor de Anos Doura-
dos… destacou, na página 226, “a austeridade e a disciplina que credenciavam nossa
escola para a formação moral e cívica dos jovens do bairro”, e, na página 229, “a abnega-
ção e a seriedade adotadas pela família Silva” (Luiz Carlos e irmãos) no Instituto Padre
Anchieta.
2 - SILVA, Marcelo Gurgel Carlos da (org.). ADEODATO,
Márcia Gurgel Carlos. Dos canaviais aos tribunais: a vida
de Luiz Carlos da Silva. Fortaleza: Edições UECE / Expressão,
2008. 192p. ISBN: 978-85-7826-003-3
Em janeiro de 2007, em uma das costumeiras reuni-
ões de domingo, do nosso clã familiar, Marcelo Gurgel apre-
sentou uma proposta de organizar um livro sobre o nosso fa-
lecido pai, Luiz Carlos da Silva, a ser lançado por ocasião do
seu nonagésimo aniversário de nascimento. A convocação ganhou tanto a adesão da
matriarca, D. Elda Gurgel, como dos irmãos, todos dispostos a contribuir com ideias e
peças literárias para a feitura da obra, que passou a ter como coorganizadora a jornalis-
ta Márcia, filha do homenageado. Este livro, Dos canaviais aos tribunais – A vida de
Luiz Carlos da Silva, foi também um trabalho de pesquisa histórica, que levou os or-
ganizadores às seguintes fontes de consulta: Biblioteca Pública Menezes Pimentel, Ins-
tituto do Ceará (Nirez), Colégio Cearense Sagrado Coração, Faculdade de Direito-UFC,

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LUIZ, MAIS LUIZ!
Centenário de Nascimento de Luiz Carlos da Silva
CRC-CE, OAB-CE, SENAC, Academia Cearense de Letras e Assembleia Legislativa do
Ceará. Em meio a essa busca por informações, sobre o nosso pai, a surpresa veio com
achados preciosos, verdadeiros tesouros da produção literária paterna. No seu todo, a
obra saiu alentada, mercê dos depoimentos de amigos, colegas, alunos, clientes, pesso-
as, enfim, que conviveram com Luiz Carlos da Silva e que, de uma maneira agradecida,
transpuseram para o papel fatos marcantes, que vão de sua infância passada nos cana-
viais, lavrando e domando a terra, até seus derradeiros embates nos tribunais, em que
se colocava sempre na defesa daqueles com sede de justiça. Em 28 de janeiro de 2008,
esse livro foi lançado, na sede da OAB-Ceará, assinalando a passagem dos noventa anos
de nosso genitor, se vivo ele fosse.
3 - SILVA, Marcelo Gurgel Carlos da. Otávio Bonfim,
das Dores e dos Amores: sob o olhar de uma família. Forta-
leza: EdUECE, 2008. 144p. ISBN: 978-85-7826-007-1
O bairro Otávio Bonfim e a família Gurgel Carlos man-
tiveram um consórcio que durou meio século. Com dores e
amores de permeio. Os treze filhos gerados por Elda e Luiz
nasceram todos em Otávio Bonfim. Em reconhecimento a este
bairro de Fortaleza que abrigou nossa família, Marcelo escre-
veu o livro Otávio Bonfim, das Dores e dos Amores, publicado em 2008. Referem-se
a nosso genitor os capítulos “Luiz Carlos da Silva: OAB-Ce nº 546” e “Professor Luiz
Carlos da Silva: educador de gerações”.
4 - SILVA, Marcelo Gurgel Carlos da. Maquis: Reden-
ção na França ocupada. Fortaleza: Editora da UECE, 2009.
500p. ISBN: 978-85-7826-030-9
A seguir, em 2009, veio a lume Maquis: Redenção na
França ocupada, um romance revestido do caráter epistolar.
Mas esta obra de Marcelo Gurgel não se enquadra totalmen-
te no gênero ficção. Muitas de suas passagens aconteceram,
realmente. Mesmo assim, os fatos, em grande parte, foram
trabalhados, à conta da inventividade do escritor, o qual narra uma longa história, com
personagens reais e fictícios, e que tem como pano de fundo a França, sob a ocupação
germânica, durante a II Guerra Mundial.

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LUIZ, MAIS LUIZ!
Centenário de Nascimento de Luiz Carlos da Silva

5 - SILVA, Marcelo Gurgel Carlos da. Revelações de


um Maquisard. Fortaleza: Expressão Gráfica e Editora, 2011.
112p. ISBN: 978-85-7563-687-9
Com o mesmo pano de fundo: a Resistência Francesa,
vivenciada por um cidadão cearense, quando a França se en-
contrava sob a ocupação nazista, Marcelo Gurgel criou a Re-
velações de um Maquisard, uma peça de teatro em dois
atos. Esta peça é construída com base em diálogos, envolven-
do apenas quatro personagens: Prof. Solón (82 anos, contador e professor universitá-
rio), D. Nilda (78 anos, dona de casa, esposa do Prof. Solón), Dr. Saulo (52 anos, médico,
primogênito do casal) e D. Mazé (empregada doméstica). Tem por cenário uma residên-
cia familiar situada em Fortaleza, com passagens em três cômodos (sala de estar /
quarto / gabinete). Com esta obra, Marcelo foi um dos ganhadores do Prêmio Eduardo
Campos, na categoria Dramaturgia, da SECULT. Revelações… foi publicada em 2011,
numa edição bilíngue, com a versão para o francês a cargo de Cristiene Ferreira da Silva.
6 - SILVA, Marcelo Gurgel Carlos da. Refazendo o ca-
minho: passado e presente de uma família. Fortaleza: Edição
do Autor, 2012. 144p. ISBN: 978-85-901655-8-3
Em Refazendo o caminho: passado e presente de
uma família, Marcelo Gurgel tomou a iniciativa de escrever
três textos, como se fossem de autoria de nosso progenitor:
“Origens familiares”, “Relembrando 1932: a subsistência” e
“Mensagem ao Paulo, meu primeiro filho”. Além disso, ela-
borou outros três textos a que atribuiu a inspiração paterna:
“Recordando os tempos de aluno marista”, “Perdas em família” e “Patrimônio familiar”.
Os seis textos em que Marcelo atuou como ghost-writer de Luiz integram a “Parte I - Per
il cappo de la famiglia” deste livro editado em 2012.
7 - OLIVEIRA, Elsie Studart Gurgel de. 20 Contos sem Réis. Fortaleza: Expres-
são Gráfica Editora, 2014. 104p. ISBN: 978-85-420-0427-4
No conto “A Lenda dos “Onze Estrelo”, em sua coletânea 20 Contos sem Réis
(páginas 19 a 21), de 2014, Elsie Studart G. de Oliveira escreveu: “Que essa é uma lenda,
ninguém duvida, mas há uma estória parecida que merece ser contada. Em um bairro

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LUIZ, MAIS LUIZ!
Centenário de Nascimento de Luiz Carlos da Silva
desta capital, residia um casal ainda jovem, mas já com uma prole bastante alentada:
11 filhos, de tamanhos bem diferentes, tanto que o último, ao
chegar, encontrou o primeiro na Faculdade. (...) O melhor de
tudo é que um a um da filharada foi formando o seu próprio
patrimônio intelectual e despontando no mundo das letras e
das ciências. Não ficou um só que não tinha dado certo. Todos,
sem distinção, encontraram o seu caminho, independente-
mente das pedras que dificultavam sua passagem. Nisso, pe-
saram muito a luz emanada da figura paterna (Luiz) e a mão
firme da matriarca, apontando as vias mais promissoras.”
8 - MORAES, Vicente de Paula Falcão. Anos Doura-
dos em Otávio Bonfim: À memória de Frei Teodoro. Fortale-
za: IURIS. 2017. 320p. Sem ISBN.
Em agosto de 2017, Vicente Moraes retornou com a
segunda edição revisada e ampliada de Anos Dourados em
Otávio Bonfim, em que novamente destacou a atuação do
nosso genitor, Dr. Luiz Carlos da Silva, como educador, e do
educandário que este dirigiu. Assim como Tarcísio? Moraes,
irmão do autor e que fez uma das apresentações do livro, que chamou a atenção para o
papel das “pequenas escolas primárias, como o Instituto Padre Anchieta, tendo à frente
o seu Silva, que tudo fizeram no sentido de preservar a união familiar como uma base
sólida de um futuro promissor”.
9 - SILVA, Marcelo Gurgel Carlos da; SILVA, Paulo
Gurgel Carlos da (org.). Luiz, mais Luiz! Centenário de nasci-
mento de Luiz Carlos da Silva. Fortaleza: Expressão Gráfica e
Editora, 2018. 136 p. ISBN: 978-85-915558-6-4
LUIZ, MAIS LUIZ!Dez após a publicação do livro Dos canaviais aos tri-
Centenário de Nascimento de Luiz Carlos da Silva

bunais, Marcelo e Paulo Gurgel organizam o Luiz, mais Luiz!


Marcelo Gurgel Carlos da Silva
Paulo Gurgel Carlos da Silva

Lançado em 24 de janeiro de 2018, com apoio da Academia


Organizadores
M
l G
lC l

Cearense de Direito, este livro integra os eventos comemorati-


d Sil

vos do centenário de nascimento de Luiz Carlos da Silva.

96
Tapeçaria Menina Moça, de Elda Gurgel

1
Filhos, escutai a advertência de um pai;
e assim agi, de maneira a serdes salvos.
2
Pois o Senhor glorifica o pai em seus filhos
e consolida a autoridade da mãe sobre a prole.
(Eclo. 3: 1,2)

PARTE VI
HOMENAGENS
LUIZ, MAIS LUIZ!
Centenário de Nascimento de Luiz Carlos da Silva

LUIZ CARLOS DA SILVA: patrono da cadeira 22 da


Academia Cearense de Direito
Marcelo Gurgel Carlos da Silva e Paulo Gurgel Carlos da Silva
HOMENAGEM DA ACADEMIA CEARENSE DE DIREITO
A LUIZ CARLOS DA SILVA

Luiz Carlos da Silva, patrono da cadeira Nº 22 da Academia Cearense de Direito


A Academia Cearense de Direito (ACED), por intermédio do seu presidente Ro-
berto Victor Ribeiro, divulga homenagem a LUIZ CARLOS DA SILVA ( foto), patrono da
cadeira 22 desse sodalício, no transcurso do seu genetlíaco.
Nosso pai, falecido em 20/11/2000, estaria completando hoje (28 de janeiro) 99
anos de idade, se vivo fosse.
Em nome da descendência e dos familiares de Luiz Carlos da Silva, agradece-
mos ao Dr. Roberto Victor Ribeiro, por sua expressão de reconhecimento ao nosso ge-
nitor, ele que teve quatro filhos formados em Direito, formação também abraçada por
sete dos seus netos.
Agora, seus herdeiros genéticos se preparam para a celebração do centenário de
nascimento a acontecer em janeiro do próximo ano.
Marcelo Gurgel
Filho do homenageado Luiz Carlos da Silva
e pai de Felipe (eng.) e André Gurgel (adv.)
(Transcrito do Blog do Marcelo Gurgel 28/01/2017)

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LUIZ, MAIS LUIZ!
Centenário de Nascimento de Luiz Carlos da Silva

INSTALAÇÃO DA ACADEMIA CEARENSE DE DIREITO

Ontem (15/04/17), à noite, no Theatro José de Alencar, em Fortaleza, aconte-


ceu a solenidade de instalação da Academia Cearense de Direito - ACED. Nesta data,
completavam-se os 139 anos da morte do romancista e jurista de escol José de Alencar,
escolhido pelos fundadores da Academia para ser o patrono perpétuo da nova entidade.
No referido evento, aconteceram também a posse de sua diretoria, a qual será
presidida nos próximos cinco anos por Roberto Victor Pereira Ribeiro, a posse e a di-
plomação de 36 acadêmicos, e a diplomação de 16 sócios correspondentes e seis sócios
honorários.
A nova arcádia traz em seus estatutos a importância de se cultuar a responsa-
bilidade social dos juristas que a compõem, fazendo com que uma vez por mês a ACED
vá a uma escola pública para ministrar noções de direito do consumidor, direito civil,
direito ambiental e direito do trabalho. Outra novidade e ponto de convergência da en-
tidade é o funcionamento da Escola Cearense de Direito no interior da Academia, fato
inovador em plagas bevilaquianas. A ACED ministrará cursos jurídicos mais distantes
das searas universitárias, como por exemplo, direito canônico, irradiando, assim, o en-
sino e o conhecimento jurídico em nossas terras.
A ACED, que será certamente motivo de orgulho para os cearenses, tem como
patrono da cadeira 22 o advogado LUIZ CARLOS DA SILVA, pai deste blogueiro (Paulo
Gurgel). O membro titular da Academia que ocupará esta cadeira é o advogado e mú-
sico Ricardo Bacelar, que aqui aparece, logo após o término da solenidade, ladeado por
vários membros de nossa família nos jardins do Theatro José de Alencar.
(Transcrito do Blog Linha do Tempo (16/03/2017))

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LUIZ, MAIS LUIZ!
Centenário de Nascimento de Luiz Carlos da Silva

O Ac. Ricardo Bacelar, primeiro ocupante da cadeira 22 da ACED, faz-se acompanhar dos
familiares do Patrono Luz Carlos da Silva. À sua direita, perfilam-se Luciano, Mirna, Paulo e
Marcelo; à sua esquerda, Dema, Magna e Elda. Foto feita nos jardins do Theatro José de Alencar.
https://gurgel-carlos.blogspot.com.br/2017/03/a-academia-cearense-de-direito.html

Divulgado na página da Academia Cearense de Direito.

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LUIZ, MAIS LUIZ!
Centenário de Nascimento de Luiz Carlos da Silva

ACRÓSTICO
Fernando Adeodato Junior
Jornalista aposentado e genro do perfilado
Lutador das causas trabalhistas
Um homem íntegro e culto
Incansável defensor dos menos favorecidos
Zeloso e atento aos interesses dos clientes

Contra injustiças, não se recusava a pugnar por seus ideais


Advogado número 1 do “eixo” Acarape-Redenção
Retidão era sempre a sua palavra de ordem
Livre no pensar e agir, aos poderosos jamais se curvava
O que lhe faltava em estatura física compensava em sabedoria
Soube criar e educar 11 filhos com a esposa Elda Gurgel

Dele ficaram bons exemplos: cultura, ética e firmeza de propósito


Avesso a conchavos e acordos amigáveis

Saindo de sua cidade natal, buscou novos horizontes


Inda que a saudade batesse, o ideal era mais forte
Lutar pela justiça, fosse nos tribunais ou na sala de aula
Valeu o combate e hoje é reconhecido pelos seus pares
Advogados o escolheram um dos patronos de sua Academia

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LUIZ, MAIS LUIZ!
Centenário de Nascimento de Luiz Carlos da Silva

HOMENAGENS AO VOVÔ LUIZ


Diana Cavalcante Gurgel Carlos (organizadora)
Psicóloga
E assim, para o capítulo referente aos netos de Luiz Carlos da Silva, nos uni-
mos para dar seguimento a tal empreitada. Dada à inviabilidade de todos estarmos
fisicamente próximos, nada mais contemporâneo do que reuniões via WhatsApp para
resgatar vivências passadas com o vovô. Assim, por ordem alfabética, passaremos em
revista uma breve biografia de cada neto, seguida da lembrança expressa pela segunda
geração dos descendentes de Luiz Carlos

ANDRÉ BASTOS GURGEL


André, filho de Marcelo Gurgel Carlos da Silva e
Maria de Fátima Araújo Bastos, nasceu em Fortaleza, em
22/09/1986. É advogado, com especialização em Direito Pre-
videnciário e em Direito Trabalhista, e cursa Doutorado em
Direito Constitucional na Universidade de Buenos Aires-Ar-
gentina. Professor, intérprete e tradutor autônomo de inglês,
italiano, francês, espanhol e alemão. Estudioso de idiomas
clássicos: latim, sânscrito e grego antigo. Colaborador da
home page e instrutor da Carmenta School, uma escola de latim sediada nos EUA. Bibli-
ófilo. Escreve ensaios jurídicos e contos.
LEMBRANÇA: Embora meu avô tenha falecido quando eu era ainda bastante jo-
vem, devo dizer que a convivência com ele, mesmo por tão pouco tempo, produziu uma
grande influência em minha formação pessoal e profissional. Lembro-me de que era um
homem de uma cultura ímpar e de uma memória extraordinária, capaz de memorizar
trechos de legislação e citações inspiradoras de grandes escritores e filósofos. Recordo-me
também de que o Doutor Luiz, além de um exímio advogado, tentara uma carreira na
política. Foi uma pena que não obteve êxito, pois tenho certeza de que seria um homem
tão íntegro na vida pública quanto em sua vida particular - algo bastante raro na política
brasileira! Portanto, espero que seu exemplo de vida seja seguido por todos os membros
de nossa família.

103
LUIZ, MAIS LUIZ!
Centenário de Nascimento de Luiz Carlos da Silva
DIANA CAVALCANTE GURGEL CARLOS
Diana, filha de Luciano Gurgel Carlos da Silva e Fran-
cisca Elsa Cavalcante, compartilhou o ventre com Marina
Cavalcante Gurgel Carlos e juntas começaram a conhecer o
mundo em 10 de outubro de 1986. Psicóloga pela Universi-
dade Federal do Ceará e Especialista em Saúde Pública. Atu-
almente, trabalha na área clínica sob a abordagem da terapia
cognitivo-comportamental, concede entrevistas sobre varia-
dos assuntos no campo da Psicologia em programas de rádio
e de televisão e ministra palestras em empresas sobre assun-
tos concernentes à seara de saúde mental e habilidades socioemocionais. Em 2010,
estreou como escritora participando de dois livros. No final de 2015, casou-se com João
Victor de Freitas Sales, médico.
LEMBRANÇA: Como os demais netos, tenho lembranças de vovô sério, vovô estu-
dioso, vovô sabe-tudo. Em tempos em que não existia Google, lembro de vovô sendo meu
herói na tarefa de casa da escola sobre o nome do bairro em que eu residia na época:
“Quem foi Dionísio Torres?”... Gostaria, entretanto, de enfatizar uma lembrança de outra
natureza que tenho dele. Até a data de publicação deste livro, memória somente minha,
por algum motivo não compartilhada com a família Gurgel, mas que agora será guarda-
da por todos.
Estávamos reunidos para uma confraternização em família e o cumprimentei na
minha chegada. Naquela época, julgávamos que o mal de Alzheimer já tinha lhe roubado
a personalidade e vovô não mais se comunicava direito. O cumprimentei por hábito, ao
passo que vovô Luiz me devolveu com a gentileza: “Você está linda. Linda como sempre”.
Aquelas foram as últimas palavras de vovô para mim - e as últimas também que o ouvi
falar com clareza.
ÉRICO DE MACEDO GURGEL
Érico, filho de Paulo Gurgel Carlos da Silva e Elba Ma-
ria Macedo, nascido em 2/08/85 na cidade de Fortaleza, e pai
de Matheus Noronha Gurgel nascido em 17/04/2006. Colou
grau em Engenharia Mecânica pela Universidade Federal do
Ceará (UFC), em dezembro de 2008. Trabalhou no setor au-
tomotivo junto à empresa Ford Motor Company como Enge-

104
LUIZ, MAIS LUIZ!
Centenário de Nascimento de Luiz Carlos da Silva
nheiro de Desenvolvimento do Produto e em 2012 assumiu seu atual emprego público
como Engenheiro Mecânico do Banco do Nordeste. Pós-Graduado em Gerência de Pro-
jetos pelo Centro Universitário Christus (Unichristus) no ano de 2013 e atualmente cur-
sando Especialização em Engenharia de Sistemas e Instalações Prediais pelo Instituto
Brasileiro de Educação Continuada (Inbec). Em 2016, casou-se com Aline Pessoa Viana,
Administradora e Consultora Educacional que atua com processos de implantação de
Instituições de Ensino Superior junto ao MEC.
LEMBRANÇA: Naquela cadeira de balanço, parafraseando a canção, está faltan-
do ele: vovô Luiz. A embalar o corpo todo gasto numa viagem a que chamamos vida. Sa-
bia como poucos intercalar os momentos de reflexão e introspecção com aqueles em que
nos surpreendia com suas finas tiradas humorísticas. Saudades vêm e não vão, vovô Luiz.

FELIPE BASTOS GURGEL SILVA


Felipe, filho de Marcelo Gurgel Carlos da Silva e Ma-
ria de Fátima Araújo Bastos, nasceu em Fortaleza no dia 11
de maio de 1983. É engenheiro aeronáutico pelo ITA (turma
de 2006) e trabalhou na indústria aeronáutica (Embraer) e
empresas de serviços financeiros (Itaú e Santander), antes
de emigrar para os EUA, onde cursou mestrado em financial
engineering na Cornell University e atualmente conclui PhD
em Finanças na Johnson School of Management, da Cornell
University. Reside em Ithaca-NY, com sua esposa Anna Paula
e o filho Eric.
LEMBRANÇA: Como todos os meus primos e primas, tenho excelentes lembranças
do vovô Luiz - sua atenção dedicada a todos da família, sua responsabilidade e dedicação
ao trabalho, sua inteligência e valorização do conhecimento, que inevitavelmente foram
passados para três gerações (e mais ainda por vir). Infelizmente, dias após meu vestibular
em 2000, perdemos o vovô Luiz. Seu legado continua, carregado por seus filhos, netos
e bisnetos, independente dos caminhos profissional e pessoal que eventualmente sigam.

105
LUIZ, MAIS LUIZ!
Centenário de Nascimento de Luiz Carlos da Silva
FRANCESCA GERMANA QUEZADO GURGEL SOARES
Germana, filha de Sérgio Gurgel Carlos da Silva e So-
lange Quezado, nasceu em Juazeiro do Norte-CE, Formou-se
em Direito na URCA e trabalha como analista judiciário no
Tribunal Regional do Tabalho (TRT) do Rio Grande do Norte.
Casada com Daniel Magalhães Soares, advogado, tem dois fi-
lhos: Gustavo Quezado Gurgel Magalhães (13 anos) e Marília
Quezado Gurgel Magalhães (12 anos).
LEMBRANÇA: Das poucas visitas que recebemos de
vovô em Juazeiro do Norte, ele já chegava dizendo que “mesmo
que Elda fique, eu vou embora amanhã”. E, de fato, vovó ficava e ele retornava para casa
no dia seguinte. De fato, um homem de palavra.

LARISSA GURGEL ADEODATO


Larissa, filha de Márcia Gurgel Carlos Adeodato e
Fernando Adeodato Junior, nasceu em Fortaleza em 3 de ju-
nho de 1986. É médica veterinária, com Especialização em
Fisioterapia e Reabilitação Veterinária no Instituto Bioethicus
em São Paulo. Atende cães e gatos em clínicas veterinárias de
Fortaleza e em domicílio.
LEMBRANÇA: Numa família de muitos advogados,
médicos e engenheiros, sou a única veterinária, profissão que
escolhi ainda criança. Por falar nisso, gostar de animais não era o forte do vovô Luiz. Ain-
da assim, ele surpreendeu a família “adotando” o “Sil Lu”, um gatinho sem raça definida
e que, por não ser castrado, vivia passeando pelo bairro e aparecia quando a fome batia.
O nome curioso do gato juntava o Silva, sobrenome do vovô Luiz, com Luciano (meu tio).
O que mais me recordo do vovô Luiz era a sua inteligência, sua memória prodi-
giosa, seu conhecimento das coisas do mundo, principalmente da história antiga. Vovô
era quase uma enciclopédia. Tanto é que foi professor durante muitos anos de sua vida.
Também me lembro da sua personalidade forte. Ele era um advogado que defen-
dia sempre o lado mais fraco e lutava até o fim para vencer as causas (muitas vezes, sem
receber os honorários devidos). O vovô era tão apaixonado pela profissão que inspirou
filhos e netos a seguirem a advocacia. Pessoas como ele fazem muita falta no mundo.

106
LUIZ, MAIS LUIZ!
Centenário de Nascimento de Luiz Carlos da Silva
LEONARDO GURGEL CARLOS PIRES
Leonardo, filho de Marta Gurgel Carlos da Silva e
João Evangelista Cunha Pires, nasceu em Campinas-SP, em 10
de julho de 1976. Na vida profissional foi diplomado em Direi-
to pela Universidade Federal do Ceará-UFC no ano 2000 e
exerceu a advocacia até 2002, quando passou para o cargo de
Defensor Público da União, exercendo tal função em Porto
Velho-RO, São Paulo-SP e Curitiba-PR, até tomar posse no
cargo de Promotor de Justiça do Ministério Público do Estado
do Ceará (MPCE) em 2005, órgão no qual continua trabalhando como Promotor até
hoje. Em 2007, obteve título de especialização em Direito Penal e Processual Penal pela
Escola Superior do MPCE. Como Promotor de Justiça já trabalhou nos seguintes locais
do Ceará: Aiuaba, Jati, Penaforte, Porteiras, Assaré, Antonina do Norte, Tarrafas, Cam-
pos Sales, Milagres, Missão Velha, Juazeiro do Norte, Crato, Barbalha, Pindoretama,
Aquiraz e Fortaleza. Foi Professor de Direito Penal e Processual Penal na Faculdade Pa-
raíso, em Juazeiro do Norte-CE, de 2011 a 2013. Casou-se com Liduína Façanha Gurgel
Carlos Pires em 2000, tendo três filhos desta união, a saber: Leonardo Gurgel Carlos
Pires Filho, nascido em 2/03/2001, Luiz Otavio Gurgel Carlos Pires, nascido em
31/03/2008, e Marta Gurgel Carlos Pires, nascida em 5/01/2015.
LEMBRANÇA: Lembro que vovô gostava muito de trabalhar como advogado e que
mesmo com a doença que lhe acometeu em estágio avançado, ele “fugia” de seus cuida-
dores e caminhava longas distâncias a pé para ir ao Fórum Trabalhista ver seus proces-
sos. Acho que peguei seu jeito de caminhar, ou seja, caminhar muito. E aos poucos estou
seguindo seu método de concisão o que tem se provado bastante útil. Mas eu não herdei
sua força para lidar com a morte. Sei que o vovô sofreu com vários episódios, um deles a
morte da minha mãe, mas ele soube seguir em frente e eu não
sei como... quiçá pelos vivos que precisavam dele.

LIA CAVALCANTE GURGEL CARLOS


Lia é a primogênita de Luciano Gurgel Carlos da Silva
e Francisca Elsa Cavalcante, nascida em 16 maio de 1985. For-
mada em Engenheira Mecânica-Aeronaútica pelo Instituto
Tecnológico de Aeronaútica (ITA) e com MBA, nos EUA, pela

107
LUIZ, MAIS LUIZ!
Centenário de Nascimento de Luiz Carlos da Silva
Harvard Business School (HBS) na Harvard University. Trabalhou em mercado finan-
ceiro, consultoria estratégica para várias empresas e em diversos países. Atualmente,
trabalha em São Paulo como Gerente Senior na empresa de educação Kroton, sendo
responsável pelo planejamento de receita. Casada desde 2007 com Odilon Camargo
Leal, que igualmente estudou no ITA e na HBS e hoje trabalha no mercado financeiro.
LEMBRANÇA: Minhas lembranças do vovô Luiz são muito mais acerca da figura
e do que ele representava do que sobre conversas específicas. O vovô era fruto de uma
geração que conversava pouco com crianças. Os poucos diálogos sempre envolviam sua
típica piadinha sobre meu nome (“Lia, mas não escrevia?”). Também lembro dos presen-
tes no dia do aniversário, que no caso eram envelopes com dinheiro (sempre devidamente
confiscados pelo meu pai Luciano).
A figura que me marcou era sempre de um homem sério, honesto, correto, traba-
lhador que sustentou onze filhos. Na casa do Otávio Bonfim, as crianças (Lia, Marina,
Diana, Lalá e mais algum primo que estivesse por lá) ficavam brincando pela casa “enor-
me” (segundo minha percepção de criança), enquanto os adultos conversavam na sala.
Sempre me chamaram a atenção o escritório e o par de óculos fundo de garrafa do vovô.
Anos depois, quando íamos ao apartamento das tias Magna e Mirna, costumávamos vê-
-lo, sem camisa (mas com calça de trabalho), comendo algo sentado à mesa da cozinha.
Embora fosse de uma geração conservadora, o vovô tinha umas particularidades
que me chamavam atenção. Uma delas é que não sabia dirigir. Meu pai Luciano frequen-
temente viajava com o vovô para o interior do Ceará, sempre para visitar seus clientes.
Inclusive, segundo contam, a vovó dirigia o carro da família, isto há décadas no Ceará, o
que sempre me pareceu vanguardista. A segunda particularidade era o fato dele sempre
ter incentivado os filhos a estudar, principalmente as filhas, uma dicotomia, afinal minha
avó sempre cuidou da casa. Sempre tive a percepção de que na família Gurgel Carlos eram
as mulheres que eram mais fortes e que corriam mais para alcançar seus objetivos, fato
que, com certeza, influenciou na minha personalidade também.
No final, antes da doença, ele foi algumas vezes tomar um copo de água no nosso
apartamento que era perto da OAB. Lembro de ficar encantada com ele já tão idoso ficar
andando no sol quente, com sua pastinha, sempre trabalhando. Esta imagem de homem
trabalhador é a que sempre guardarei.

108
LUIZ, MAIS LUIZ!
Centenário de Nascimento de Luiz Carlos da Silva
MARCELA LEOPOLDINA QUEZADO GURGEL E SILVA
Marcela, nascida em 2/04/1985, em Juazeiro do
Norte-CE, filha de Sérgio Gurgel Carlos da Silva e Solange
Quezado. Graduou-se em Direito pela Universidade de For-
taleza/UNIFOR, onde fez também Especialização em Direito
Processual Civil. Ao cursar Pós-graduação em Protecção de
Menores na Universidade de Coimbra/Portugal, conheceu o
seu marido, Ricardo Quezado de Figueiredo Cavalcante, tam-
bém advogado e professor de Direito do Centro Universitário
Estácio do Ceará. Milita em Fortaleza, sendo responsável pela
extensão do escritório da família (Gurgel e Quezado) na capital, e presta assessoria ju-
rídica a municípios do Estado do Ceará.
LEMBRANÇA: Tenho por lembrança mais marcante o compromisso do vovô com
a advocacia e seus clientes, já que trabalhou até o exaurimento de sua disposição física e
mental.

MARINA CAVALCANTE GURGEL CARLOS


Marina, filha de Luciano Gurgel Carlos da Silva e
Francisca Elsa Cavalcante, veio ao mundo em dose dupla,
com Diana Cavalcante Gurgel Carlos, em 10 de outubro de
1986. Separadas por oito minutos, Marina foi orgulhosamen-
te a segunda gemelar de parto vaginal, “puxada” pelos pés,
manobra antiga dos obstetras e pouco conhecida atualmente.
Formada em Medicina pela Universidade Federal do Ceara.
Fez Residência Médica em Ginecologia e Obstetrícia, por des-
tino e vocação, e cursa duplamente Pós-graduação em Ultras-
sonografia Medicina Fetal e Residência em Medicina Fetal, no Hospital Geral Dr. César
Cals. Atualmente, trabalha como ginecologista no interior, promove palestras na área e
é também plantonista obstetra.
LEMBRANÇA: Lembro-me bastante de vovô nas rodas de conversa com adultos
bebendo café, enquanto que as crianças brincavam na sala. Julgava o meu avô um ho-
mem rico, pois sempre presenteava com dinheiro, nas datas de aniversários e Natais.
A memória mais marcante aconteceu, entretanto, quando vovô já estava doente,

109
LUIZ, MAIS LUIZ!
Centenário de Nascimento de Luiz Carlos da Silva
com lapsos de memória. Estava ele sentado na cama, calado. Aproximei-me e disse-lhe
que queria conversar com ele. Ele respondeu: “Estou muito esquecido e você muito novi-
nha para lembrar do que falo, mas vou te dizer uma coisa. Você já sabe no que você vai
querer se formar? “Respondi: “Médica, vovô”. E ele, muito sério: “Você terá que ter um anel,
minha filha. Um anel é muito importante em qualquer profissão”. E aqui estou, 17 anos
após esta conversa, sempre com meu anel de formatura.

MARTA PORTANSKY GURGEL CARLOS


Marta, filha de Germano Gurgel Carlos da Silva e
Maysa Barbosa Portansky, nasceu no dia 9 de julho de 1982 na
cidade de Salvador/BA. Iniciou seus estudos acadêmicos no
ano de 2000 com o curso de Geografia (Bacharelado e Licen-
ciatura) na Universidade Federal da Bahia, porém graduou-se
pela Universidade Estadual do Ceará. No semestre seguinte,
entrou no curso de Turismo e Hotelaria na Universidade de
Fortaleza, área em que atuava. Formou-se em 2012 e foi con-
vocada para trabalhar na Caixa Econômica Federal, após aprovação no concurso públi-
co de 2011. De volta à sua cidade natal, especializou-se pela Universidade Jorge Amado
em Estudos Culturais, História e Linguagens em 2016. Atualmente, concilia a profissão
de bancária com os estudos de graduação em Nutrição.
LEMBRANÇA: Infelizmente não tive convivência durante a minha infância e ado-
lescência, com o meu avô, exceto por curtos períodos de férias em Fortaleza ou de suas
rápidas visitas a Salvador, e quando nos mudamos para Fortaleza ele já havia falecido.

MELISSA GURGEL ADEODATO VIEIRA


Melissa nasceu em Fortaleza-CE em 31 de março de
1979. Casada com Fernando Farina Nunes Vieira, engenheiro
eletricista, com quem tem os filhos Rafael, 8 anos, e Lucas,
4 anos. Filha de Márcia Gurgel Carlos Adeodato e Fernando
Adeodato Junior. Doutora, Mestre e Graduada em Engenharia
Química, é professora da Universidade Estadual de Campinas
(Unicamp) desde 2010. Morou na França de 2000 a 2001 du-
rante um intercâmbio acadêmico na École Centrale Paris e

110
LUIZ, MAIS LUIZ!
Centenário de Nascimento de Luiz Carlos da Silva
na Alemanha de 2006 a 2007, onde realizou um pós-doutoramento na UniStüttgart.
Atua na área de Engenharia de Processos e Tecnologias Ambientais.
LEMBRANÇA: Sou a neta mais velha do vovô Luiz, meu padrinho, e da vovó Elda.
Dos homens, é o Leo. Germana nasceu logo depois, mas como residia com os pais, os tios
Sérgio e Solange, em Juazeiro do Norte, e o Leo também não morava em Fortaleza, posso
dizer que desfrutei mais tempo dessa condição de neta única.
Do vovô, teria muito a dizer mas resumo falando da cultura sem par. Tinha uma
biblioteca na cabeça. Quantas vezes ele não me socorreu nas tarefas escolares. Ele citava
os fatos da História antiga como se tivesse vivido aqueles acontecimentos. E quando ía-
mos para a casa da Domingos Olímpio, não faltava iogurte para os netos. Ele fazia tudo
para nos agradar. Minha primeira Caloi foi ele quem me deu. Quando soube da morte
dele, eu estava estudando na França. Foi um dos dias mais tristes da minha vida.

NATÁLIA DE MACEDO GURGEL SOARES


Natália, nascida em 6 de junho de 1990 na cidade de
Fortaleza, é a caçula de Paulo Gurgel Carlos da Silva e Elba
Maria Macedo. Colou grau em Direito, pela Universidade de
Fortaleza (Unifor), em janeiro de 2013. Advogada e servidora
pública estadual no Pará. Pós-graduada em Direito Constitu-
cional pelo L.F.G. no ano de 2014. No final de 2013, casou -se
com Rodrigo Almeida Soares, contador e servidor público es-
tadual no Tribunal de Contas do Pará.
LEMBRANÇA: Recordo-me do dia em que vovô Luiz e eu estávamos na sala do
seu apartamento, quando ele, de uma forma gentil e carinhosa, me perguntou sobre o
curso superior que eu pretendia futuramente cursar (à época, eu tinha apenas dez anos
de idade). Respondi-lhe, então, que seria o mesmo que ele fizera: Direito. E sentei-me a seu
lado para ouvi-lo falar, com crescente empolgação, sobre a Advocacia, que, “mesmo com
todas as dificuldades existentes no Poder Judiciário do Estado do Ceará, ainda era uma
profissão bastante valorizada pela sociedade”.

111
LUIZ, MAIS LUIZ!
Centenário de Nascimento de Luiz Carlos da Silva
PAOLO GIORGIO QUEZADO GURGEL E SILVA
Paolo, filho de Sérgio Gurgel Carlos da Silva e Solange
Quezado, nasceu em 1981 na cidade de Juazeiro do Norte-CE,
onde ainda reside, filho de Sérgio Gurgel Carlos da Silva e So-
lange Maria Quezado dos Santos Gurgel. É pai das gêmeas (e
futuras advogadas) Laura Gomes Pedrosa Quezado Gurgel e
Beatriz Gomes Pedrosa Quezado Gurgel. Advogado com atua-
ção em diversas áreas e Professor Universitário.
LEMBRANÇA: Diferente de outros netos, a maioria por
sinal, não tive o prazer da companhia do vovô Luiz por muito
tempo, pois nasci e vivi (e ainda vivo) na cidade de Juazeiro do Norte que, apesar do
nome, fica ao sul do Estado, resumindo nosso contato quando de férias em Fortaleza que,
felizmente, eram regra de fim de ano.
Mesmo assim, considerando que meu pai (Sérgio Gurgel) trilhou os caminhos do
seu, sempre tive nele – Vovô Luiz – um referencial de trabalho e honestidade à causa.
De uma greve prolongada do Curso de Direito, logo nos primeiros semestres, tive
a impagável oportunidade de conversar com o advogado Luiz Carlos da Silva sobre o
Direito e sobre as perspectivas da Advocacia.
Nesta ocasião, além de um relato apaixonado e enriquecedor sobre sua profissão,
percebi que a confiança se conquista com transparência e abnegação.
Infelizmente, ainda nos bancos do Curso de Direito, perdi a companhia do vovô
Luiz, suas lições, todavia, não perderei jamais.
PEDRO VIEIRA GURGEL DA SILVA
Pedro, fruto do matrimônio entre José Gurgel Carlos
da Silva e Isabel de Fátima Vieira dos Santos, nasceu em
Juazeiro do Norte-CE em 2 de janeiro de 1990. Graduou-se
em Engenharia de Controle e Automação pela Universidade
de Fortaleza (Unifor). Realizou diversos cursos de atualização
na área pela empresa internacional HYDAC. Possui grandiosa
experiência em Eletrônica Industrial, Sistemas e Controles
Eletrônicos, além de publicações internacionais na área.

112
LUIZ, MAIS LUIZ!
Centenário de Nascimento de Luiz Carlos da Silva
Atualmente, cursa Master of Business Administration (MBA) em Gestão de Projetos na
Faculdade Getúlio Vargas.
LEMBRANÇA: Infelizmente tive pouco contato com meu avô Luiz devido à distân-
cia, pois morava em Juazeiro do Norte. Apesar disso, tenho algumas lembranças do nosso
convívio, como por exemplo, me chamava de Anjinho barroco por ter cabelos cacheados,
além de contar várias histórias. Vovô Luiz foi um grande exemplo de integridade e cultu-
ra.
RAFAEL VIEIRA GURGEL DA SILVA
Rafael, primogênito de José Gurgel Carlos da Silva e
Isabel de Fátima Vieira dos Santos, nasceu em Fortaleza-CE
em 9 de março de 1984. Formou-se em Fisioterapia pela Uni-
versidade Christus, tem Pós-graduação em Fisiologia do Exer-
cício, Mestrado em Fisioterapia Desportiva, pela Universidade
Fernando Pessoa, em Portugal; é doutorando em Osteopatia
pela Escuela de Osteopatia de Madrid. Leciona cursos na área
de Fisioterapia Esportiva, além de conceder entrevistas na rá-
dio e emissoras de TV, sendo fisioterapeuta de alguns atletas
internacionalmente conhecidos. Casou-se em 2016 com a também fisioterapeuta Lia-
na Almeida e juntos administram a Clínica Dinamic, localizada em Fortaleza.
LEMBRANÇA: Devido à distância das cidades em que morávamos, tive pouco
contato com o meu avô Luiz, porém lembro-me que era um avô muito atencioso e ligado
à família. Gostava de História e Geografia e sempre contava histórias fabulosas de alguns
lugares mesmo sem ter ido lá. Conhecia o mundo através dos livros.
SÉRGIO QUEZADO GURGEL E SILVA
Sérgio, filho de Sérgio Gurgel Carlos da Silva e Solange
Quezado, nascido em 23/07/1991, no município de Juazeiro
do Norte-CE, onde ainda reside. Formou-se em Direito. Espe-
cializado em Direito Empresarial (Universidade Estácio de Sá)
e em Direito ao Emprego Público (Universidade de Coimbra,
Portugal). Leciona no Curso de Direito da Faculdade Paraíso
em Juazeiro do Norte-CE.

113
LUIZ, MAIS LUIZ!
Centenário de Nascimento de Luiz Carlos da Silva
LEMBRANÇA: Os ensinamentos de vovô Luiz quanto à disciplina e à ética na vida
pessoal e profissional foram reverberados por meu pai, e hoje esses princípios me auxiliam
na condução de cada dia. Em que pese o pouco contato que tive com o meu avô, a imagem
de um homem firme, rígido e respeitável certamente é a representação que guardo de sua
personalidade.
TIAGO PORTANSKY GURGEL CARLOS
Tiago, filho de Germano Gurgel Carlos da Silva e May-
sa Barbosa Portansky, nasceu no dia 13 de novembro de 1984
na cidade de Salvador-BA. Formou-se em Física pela Universi-
dade Federal do Ceará e graduou-se também em Engenharia
Mecânica pela Universidade de Fortaleza. Trabalha atualmen-
te na multinacional Continental.
LEMBRANÇA: Tal como minha irmã Marta, não tive
verdadeiramente um convívio com vovô Luiz, de maneira que o
fato de residir em outro Estado prejudicou a construção e a sedimentação de memórias
de um neto com seu avô.
VANESSA GURGEL ADEODATO
Vanessa, filha de Márcia Gurgel Carlos Adeodato e
Fernando Adeodato Junior, nasceu em Fortaleza-CE em 21 de
setembro de 1981. Casada com José Orlando da Costa Filho,
cirurgião oncológico. Cumpriu Residência Médica em Clínica
Médica e em Nefrologia na Universidade Federal de São Paulo.
Nefrologista, trabalha principalmente com pacientes trans-
plantados renais. É mãe de João Victor, de 3 anos, e Lívia, de
1 ano.
LEMBRANÇA: Do meu avô Luiz, lembro-me das muitas vezes em que íamos
para a casa dele e da vovó Elda, em pleno domingo, e ele estava no escritório, atendendo
clientes. Muitos sequer tinham como pagar os honorários dele. Também recordo do vovô
passando o cafezinho, todos os dias, porque a vovó, sempre tão esperta, não gostava de
fazer café. Curioso era que, mesmo sendo um homem cristão, ia para a missa separado
dos outros. Chegava atrasado e saía logo após a comunhão.
Vovô era discreto, não falava tanto como os da família Gurgel, mas era uma pes-
soa extremamente culta, sabia conversar sobre todos os assuntos. Meu pai, também dis-
creto, batia longos papos com ele. Os dois se entendiam.
114
Tapeçaria as Garças, de Elda Gurgel

7
Quem teme o Senhor honrará seu pai e,
como a senhores, servirá seus genitores.
(Eclo. 3: 7)

PARTE VII
DEPOIMENTOS
LUIZ, MAIS LUIZ!
Centenário de Nascimento de Luiz Carlos da Silva

MISSIVA DE RECONHECIMENTO
Luiz Marques de Oliveira
Professor e ex-irmão marista
Fortaleza, março de 2008

Meu caro Dr. Marcelo,


Ao lamentar o meu atraso, venho agradecer seu convite para o lançamento do
seu precioso livro – “Dos canaviais aos tribunais”. Biografia de seu inesquecível pai –
Luiz Carlos da Silva.
Senti o sabor de sua sensibilidade. O texto vem porejando um filial carinho, nos
tempos de hoje... tão controvertidos.
A amostragem de uma família mimosamente criada revela a verdade de valores
imutáveis, de um dirigente inteligente, forte, persistente com singeleza e naturalidade
existenciais. Mostra ainda a consciência do dever de educar e orientar uma numerosa
prole.
Admiro nas páginas de sua autoria o perfume de uma fidelidade filial. Sensi-
bilidade nos fatos, nas lembranças e mesmo na saudade. O autor primou em mostrar
os valores de uma formação axiada nos valores fundamentais de um cristão autêntico.
Quando se apregoa que Deus está morto, negam sua existência, escrevem sobre os ma-
les de se ter uma religião, sobre milênios de inventivas que alimentam o mundo cristão,
eis que aparece um conceituado autor a proclamar exatamente o contrário. Grande
alegria me trouxe seu livro pelo surgimento de valores fundamentais.
Traz o testemunho de seu pai na autenticidade do seu viver. O desvio do pensar
filosófico vem de Prometeu até nossos dias, no insensato desejo de se fabricar um Deus.
Esses deuses de carne e osso foram enterrados com os seus autores. Com licença ou
sem licença moram na mesma cova.
Sua publicação, repito, foi um ato de fé numa vida iluminada por um Deus que
nos ama e nos quer ver felizes e em paz.
Profundamente comovido por estas e outras riquezas mostradas no seu aca-
lentoso livro.

117
LUIZ, MAIS LUIZ!
Centenário de Nascimento de Luiz Carlos da Silva
Termino com a citação do Eclo.. 44 10, 11, que você citou na página do Chaplin
onde fica patente a lisura da crença do velho patriarca, seu pai: “com a sua descendência
permanecem os seus bens, uma boa lembrança para os pósteros”. Dizer a você “para-
béns” é pouco. Trilhe este caminho que o mesmo se dirá de você.
Com a ajuda de Deus, Cristo, Maria e Champagnat, coragem e destemor.
Do amigo e criado
Prof. Luiz Marques de Oliveira

P.S. Apreciei seu estilo de convite e oferta aos convidados do livro. A capa não
fugiu ao padrão de sua concepção sobre “Capas de um livro”. Parabéns.
Desculpe o correr deste lápis nas mãos calejadas de um velho de 85 invernos. A
máquina não funcionou. Apresento, portanto, esses rabiscos.
O mesmo

Entrevista no Fórum Autran Nunes sobre as demissões na Prefeitura de Fortaleza,


para o jornal O Povo, em maio de 1987.

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LUIZ, MAIS LUIZ!
Centenário de Nascimento de Luiz Carlos da Silva

SILVA: um cunhado muito especial


Grasiela de Oliveira Carlos
Nutricionista e teóloga

Eu sou cunhada do Dr. Luiz Carlos da Silva, o Silva, como era conhecido. Era
um homem admirável em sua simplicidade e inteligência. Com esse parentesco, tive
oportunidade de conhecê-lo mais intimamente.
Na juventude, o seu irmão José Carlos Filho, que era quase seis anos mais novo,
frequentava a Igreja Nossa Senhora das Dores e participava da Guarda de Honra, do
convento dos franciscanos, onde costumava jogar futebol, enquanto Silva, como o pri-
mogênito dos homens, assumia a direção da família em Fortaleza, porque seus pais
ainda residiam no interior do Ceará.
Zezinho e Silva eram irmãos muito próximos, tanto por laços familiares como
profissionais. Ambos eram professores dedicados, tendo o meu marido iniciado a vida
no magistério lecionando no Instituto Pe. Anchieta, de propriedade do Silva, antes mes-
mo de obter a Licenciatura para ensino de Geografia e de História na Faculdade de
Filosofia do Ceará em 1952.
Os dois compartilhavam o gosto pela História e por conhecimentos gerais e
tiveram muito interesse pela atividade política como aspiração cidadã para realizar o
bem para o povo.
Quase todos os domingos, íamos eu e José Carlos Filho, o Zezinho, seu irmão, à
sua casa, levando nossos filhos, seus sobrinhos, para brincarem com os primos.
Nessas ocasiões, eu aproveitava para conversar com a Elda, sua esposa, faláva-
mos das coisas da época e fazíamos planos, pois nos sentíamos como irmãs.
Os anos passaram, as crianças cresceram, tornaram-se jovens e seguiram seus
caminhos na vida. O Silva e Zezinho se foram para o plano de Deus, e nós duas, eu
e Elda, continuamos relembrando o passado e acompanhando nossos filhos e netos,
graça à Deus, muito felizes.

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LUIZ, MAIS LUIZ!
Centenário de Nascimento de Luiz Carlos da Silva

UM SONHO REALIZADO
Ana Mary Silveira Weidmann
Enfermeira de Idosos na Alemanha

Os meus sonhos podiam ser realizados, mas precisavam de ajuda. Ajuda essa
que eu já havia procurado em familiares, amigos, enfim, muitas pessoas.
As negativas eram uma constante, ou porque não tinham dinheiro ou porque
realmente possuíam, mas preferiam desacreditar nessa realização. Sentia que muitos
consideravam meus sonhos impossíveis, sobretudo por minhas condições familiares e
financeiras.
Inclusive meus pais que, contagiados por essa ideia de uma viagem longa, para
outra realidade cultural, provavelmente com muitas dificuldades a serem enfrentadas,
tentaram também interferir na minha vontade dessa realização, alegando a situação
em que se encontrava a nossa família.
No entanto, nenhuma dessas negativas mudou meus pensamentos. Meus so-
nhos eram como uma certeza que havia dentro de mim. Almejava e, no fundo, sabia que
eu poderia realizá-los apesar de todos empecilhos. “Como?”, “De que forma?”, “Quem
me ajudaria?” Eram indagações constantes que alimentavam a minha procura.
Até que, em um determinado momento, me veio à mente pedir ajuda ao Dr.
Luiz Carlos, advogado bem-conceituado no bairro e que era pai da Mirna, amiga do
grupo de Jovens Amigos do Evangelho, da Igreja Nossa Senhora das Dores e colega de
classe do Colégio Capistrano de Abreu. Mas, os contatos com ele eram esporádicos,
restringindo-se praticamente a vê-lo trabalhando em seu escritório, que era logo na
entrada da casa, quando ia me encontrar com a Mirna.
Sabia que também poderia receber mais um “não”. Mas, a minha esperança era
maior.
Apesar do receio, fui ao seu escritório, levando todos meus documentos, a car-
ta-convite e as fotos da família alemã para que eu trabalhasse como Au-pair Mädchen
a fim de esclarecê-lo e, principalmente, dar uma melhor impressão do pedido que iria
fazer.
O temor de entrar no escritório e fazer meu pedido foi superado pela vontade

120
LUIZ, MAIS LUIZ!
Centenário de Nascimento de Luiz Carlos da Silva
que tinha em realizar meu objetivo. Inesperadamente, como se sentisse esse meu te-
mor, ele recebeu-me com simplicidade e rapidez, escutando-me sem me questionar
sobre os porquês do meu desejo de ir trabalhar na Alemanha.
Felizmente, para minha grande surpresa e alegria, o doutor Luiz prontificou-se
em me ajudar, até mesmo sem avaliar o tipo de pedido que estava sendo feito. Disse-me
apenas que o procurasse às 12 horas do outro dia no Fórum Autran Nunes, para juntos
irmos efetuar a compra das passagens.
Assim, o fizemos. No dia seguinte, nos encontramos no Fórum e de lá fomos ao
edifício Palácio Progresso, onde funcionava uma agência de viagens para voos interna-
cionais. Ao chegarmos, doutor Luiz tomou a frente e resolveu tudo que era necessário
para a aquisição das minhas passagens para a Alemanha.
Acertamos que eu pagaria diretamente a ele o valor de cada uma das 10 pres-
tações das passagens, tão logo fosse conseguindo o dinheiro. A minha ideia era de que
o dinheiro viria do pagamento dos meus serviços de Au-pair Mädchen, na Alemanha.
Com as passagens nas mãos, era uma felicidade imensa, pois estava prestes a
realizar meu grande sonho. E, pouco tempo depois, realizei meu sonho.
Karlsruhe, 11 de agosto de 2017.

Felipe, Anna Paula e Eric em Ithaca - USA

121
LUIZ, MAIS LUIZ!
Centenário de Nascimento de Luiz Carlos da Silva

Aniversário do bisneto João Victor, filho de José Orlando e Vanessa.

Batizado da bisneta Lívia, filha de José Orlando e Vanessa.

122
Tapeçaria Chácara Florida, de Elda Gurgel

21
Não procures o que é muito difícil para ti,
nem investigues o que ultrapassa tuas forças:
22
reflete apenas nas coisas que te forem ordenadas,
pois não necessitas das que estão ocultas.
(Eclo. 3: 21,22)

PARTE VIII
APÊNDICES/ANEXOS
LUIZ, MAIS LUIZ!
Centenário de Nascimento de Luiz Carlos da Silva

CRONOLOGIA FAMILIAR
Marcelo Gurgel Carlos da Silva
Médico, economista e professor universitário

ANOS MARCO FAMILIAR


1918 Nasce Luiz no Distrito de Acarape, em Redenção, em 28/01.
1930 Nasce Elda, em Senador Pompeu, em 11/09.
1931 Luiz conclui o curso Primário em Redenção.
1932-34 Luiz trabalha na lavra da terra, no Sítio Pau Branco, em Acarape.
1935-39 Luiz cursa o Seriado no Colégio Cearense.
1938-40 Luiz cursa Contabilidade na Escola de Comércio Pe. Champagnat.
1941-42 Luiz ensina Contabilidade na Escola de Comércio Pe. Champagnat.
1941-42 Luiz cursa o Pré-Jurídico no Liceu do Ceará.
1943 Luiz é aprovado no vestibular de Direito.
1943-47 Luiz cursa Direito na Faculdade de Direito do Ceará.
1947 Luiz e Elda casam-se, em Fortaleza, em 14/08.
1947 Luiz forma-se em Direito em 8/12.
1948 Nasce Paulo, o primogênito, em 6/06.
1949 Nasce Lúcia, a primogênita, em 23/07.
1950 Nasce Marta em 19/09.
1950 Morre Lúcia em setembro, com um ano e três meses de vida.
1952 Nasce Márcia em 18/01.
1953 Nasce Marcelo em 13/03.
1954 Nasce Sérgio em 3/05.
1955 Nasce Meuris em 19/09.
1957 Nascem Germano e Luciano em 15/08.
1959 Nasce Magna em 17/07.
1961 Nasce José em 5/11.
1965 Nasce Mirna em 18/04.

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LUIZ, MAIS LUIZ!
Centenário de Nascimento de Luiz Carlos da Silva
1971 Nasce Luiz (13/05) e falece (1º/06) aos 19 dias de vida.
1971 Paulo conclui Medicina na UFC.
1973 Márcia conclui Jornalismo na UFC.
1974 Marta conclui Engenharia Química na UFRJ.
1974 Márcia conclui Letras na UFC.
1976 Sérgio conclui Direito na UFC.
1977 Marcelo conclui Medicina na UFC.
1978 Meuris conclui Engenharia Química na UFC.
1978 Luciano conclui Economia na UFC.
1979 Marta falece (22/10) aos 29 anos de idade.
1979 Germano conclui Engenharia Química na UFBA.
1982 Magna conclui Agronomia na UFC.
1984 José conclui Direito na URCA.
1986 Marcelo conclui Economia na UFC.
1987 Mirna conclui Jornalismo na UFC.
1987 Mirna conclui Letras na UECE.
1990 Magna conclui Direito na UNIFOR.
1998 Luiz é homenageado no livro “Anos Dourados do Otávio Bonfim” – primeira
edição.
2000 Luiz falece (20/11) aos 82 anos de idade.
2002 Luiz dá o nome ao Centro de Estudos de Direito do Trabalho no Forum Au
tran Nunes.
2005 Luciano conclui Direito na UNIFOR.
2008 Lançamento de livro comemorativo dos 90 anos.
2015 Luiz é homenageado no I Encontro da Juventude do Otávio Bonfim.
2017 Luiz confere a Patronímica da Cadeira 22 da Academia Cearense de Direito.
2017 Luiz é homenageado no livro “Anos Dourados do Otávio Bonfim” – segunda
edição.
2018 Lançamento de livro comemorativo dos 100 anos de Luiz.

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LUIZ, MAIS LUIZ!
Centenário de Nascimento de Luiz Carlos da Silva

GENEALOGIA FAMILIAR
Paulo Gurgel Carlos da Silva

GENEARCAS: Elda Gurgel Coelho e Luiz Carlos da Silva


1. Elda Gurgel Coelho, n. 11 set 1930, Senador Pompeu-CE; de prendas do lar; Cc. Luiz
Carlos da Silva, n. 28 jan 1918, Acarape-CE; advogado, professor e contador; pais de:
2. Paulo Gurgel Carlos da Silva, n. 6 jun 1948, Fortaleza-CE; médico pneumolo-
gista e escritor; Cc. Elba Maria Macedo, médica pediatra; pais de:
3. Érico de Macedo Gurgel, n. 2 ago 1985, Fortaleza-CE; engenheiro mecâ-
nico e bancário (BNB); Cc. 1ª núp. Raíssa Noronha; pais de:
4. Matheus Noronha Gurgel, n. 17 abr 2006, Fortaleza-CE.
Cc. 2ª núp Aline Pessoa Viana; administradora e consultora educacional; s/
filhos.
3. Natália de Macedo Gurgel, n. 6 jun 1990, Fortaleza-CE; servidora pública
do Estado do Pará e advogada; Cc. Rodrigo Almeida Soares, contador e servidor público
do TCE (Pará); s/ filhos.
2. Lúcia Gurgel Carlos da Silva, n. 23 jul 1949, Fortaleza-CE; f. set 1950.
2. Marta Gurgel Carlos da Silva, n. 19 set 1950, Fortaleza-CE; engenheira quími-
ca; Cc. João Evangelista Cunha Pires, engenheiro químico e advogado; pais de:
3. Leonardo Gurgel Carlos Pires, n.10 jul 1976, Campinas-SP; promotor de
justiça do Ministério Público do Estado do Ceará; Cc. Liduína Façanha, bacharela em
Direito; pais de:
4. Leonardo Gurgel Carlos Pires Filho, n. 2 mar 2001, Fortaleza-CE.
4. Luiz Otávio Gurgel Carlos Pires, n. 31 mar 2008, Barbalha-CE.
4. Marta Gurgel Carlos Pires, n. 5 jan 2015, Fortaleza -CE
2. Márcia Gurgel Carlos da Silva, n.18 jan 1952, Fortaleza-CE; jornalista; Cc.
Fernando Adeodato Júnior, jornalista; pais de:
3. Melissa Gurgel Adeodato, n. 31 mar 1979, Fortaleza-CE; engenheira quí-
mica e professora (Unicamp); Cc. Fernando Farina Vieira, engenheiro eletricista; pais
de:

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LUIZ, MAIS LUIZ!
Centenário de Nascimento de Luiz Carlos da Silva
4. Rafael Adeodato Vieira, n. 3 jul 2009, Campinas-SP.
4. Lucas Adeodato Vieira, n. 2 ago 2013, Campinas-SP.
3. Vanessa Gurgel Adeodato, n. 21 set 1981, Fortaleza-CE; médica nefrolo-
gista; Cc. José Orlando da Costa Filho, médico cirurgião; pais de:
4. João Victor Adeodato da Costa. n. 12 ago 2014. Fortaleza-CE.
4. Lívia Adeodato da Costa, n. 4 mai 2016. Fortaleza-CE.
3. Larissa Gurgel Adeodato, n. 3 jun 1986, Fortaleza-CE; médica veterinária.
2. Marcelo Gurgel Carlos da Silva, n. 13 mar 1953, Fortaleza-CE; médico sa-
nitarista, economista, professor universitário (UECE) e polígrafo; Cc. Fátima Bastos,
médica; pais de:
3. Felipe Bastos Gurgel Silva, n. 11 mai 1983, Fortaleza-CE; engenheiro ae-
ronáutico (pelo ITA) e pós-graduado em economia (pela Cornell University); Cc. Anna
Paula Moraes Gurgel; pais de:
4. Eric Moraes Gurgel, n. 7 mar 2013, New York-USA.
3. André Bastos Gurgel, n. 22 set 1986, Fortaleza-CE; advogado, poliglota e
professor de línguas.
2. Sérgio Gurgel Carlos da Silva, n. 3 mai 1954, Fortaleza-CE; advogado e profes-
sor universitário (UECE, cedido à URCA); Cc. Solange Maria Quezado Santos, advogada;
pais de:
3. Francesca Germana Quezado Gurgel e Silva, n. 30 jun 1979, Juazeiro do
Norte-CE; analista da Justiça do Trabalho e advogada; Cc. Daniel Magalhães, advogado
e empresário; pais de:
4. Gustavo Quezado Gurgel Magalhães, n. 21 fev 2004, Barbalha-CE.
4. Marília Quezado Gurgel Magalhães, n. 13 out 2005, Juazeiro do
Norte-CE.
3. Paolo Giorgio Quezado Gurgel e Silva, n. 13 jan 1981, Juazeiro do Norte-
-CE; advogado e professor universitário; Cc. Mariana Gomes Pedrosa Bezerra, advoga-
da; pais de:
4. Laura Gomes Pedrosa Quezado Gurgel, n. 12 mai 2015, Fortaleza-
-CE.

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Centenário de Nascimento de Luiz Carlos da Silva
4. Beatriz Gomes Pedrosa Quezado Gurgel, n. 12 mai 2015, Fortale-
za-CE.
3. Marcela Leopoldina Quezado Gurgel e Silva, n. 2 abr 1985, Juazeiro do
Norte-CE; advogada; Cc. Ricardo Cavalcante, advogado e professor universitário; s/ fi-
lhos.
3. Sérgio Quezado Gurgel e Silva, n. 23 jul 1991, Juazeiro do Norte-CE; advo-
gado e professor universitário.
2. Meuris Gurgel Carlos da Silva, n. 19 set 1955, Fortaleza-CE; engenheira quí-
mica e professora universitária (Unicamp); Cc. Laerte Antônio José; s/ filhos.
2. Germano Gurgel Carlos da Silva, n. 15 ago 1957, Fortaleza-CE; engenheiro
químico (Petrobras); Cc. Maysa Portansky; pais de:
3. Marta Portansky Gurgel Carlos, n. 9 jul 1982, Salvador-BA; geógrafa,
turismóloga e bancária (CEF).
3. Tiago Portansky Gurgel Carlos, n. 13 nov 1984, Salvador-BA; físico e
engenheiro mecânico.
2. Luciano Gurgel Carlos da Silva, n. 15 ago 1957, Fortaleza-CE; economista e
bancário aposentado (BB); Cc. Francisca Elsa Cavalcante, professora e química; pais de:
3. Lia Cavalcante Gurgel Carlos, n. 16 mai 1985, Fortaleza-CE; engenheira
aeronáutica (pelo ITA) e consultora financeira; Cc. Odilon Camargo Leal, engenheiro
(pelo ITA) e consultor financeiro; s/ filhos.
3. Diana Cavalcante Gurgel Carlos, n. 10 out 1986, Fortaleza-CE; psicóloga.
Cc. João Victor Sales, médico; s/ filhos.
3. Marina Cavalcante Gurgel Carlos, n. 10 out 1986, Fortaleza-CE; médica
ginecologista/obstetra.
2. Magna Gurgel Carlos da Silva, n. 17 jul 1959, Fortaleza-CE; engenheira agrô-
noma (IBAMA) e advogada; Cc. Francisco Dermeval Pedrosa Martins, engenheiro de
pesca (aposentado do IBAMA) e pedagogo; s/ filhos.
2. José Gurgel Carlos da Silva, n. 5 nov 1960, Fortaleza-CE; advogado; Cc. Isabel
de Fátima Vieira, economista; pais de:
3. Rafael Vieira Gurgel da Silva, n. 9 mar 1984, Fortaleza-CE; fisioterapeuta.
Cc. Liana Almeida, fisioterapeuta; s/ filhos.

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Centenário de Nascimento de Luiz Carlos da Silva
3. Pedro Vieira Gurgel da Silva, n. 2 jan 1990, Juazeiro do Norte-CE; enge-
nheiro de controle e automação.
2. Mirna Gurgel Carlos da Silva, n. 18 abr 1965, Fortaleza-CE; jornalista e pro-
fessora universitária (SEDUC); Cc. 1ª. núp.. Federico Bergman, argentino, engenheiro
eletromecânico; s/ filhos. Cc. 2ª. núp. Andreas Heger, alemão, engenheiro ferroviário;
s/ filhos.
2. Luiz Gurgel Carlos da Silva, n. 13 mai 1971, Fortaleza-CE; f. 1 jun 1971.

Relação atualizada em 05/12/2017


Dados consolidados:
1. Pais; 2.
2. Filhos: 13 (vivos: 10);
3. Netos: 19;
4. Bisnetos: 13

Comemoração dos 83 anos de D. Elda em 2013. Da esquerda para direita: Sérgio, Paulo, Luciano,
Meuris, Magna, Elda (matriarca), Germano, Márcia, Mirna, José e Marcelo.

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LUIZ, MAIS LUIZ!
Centenário de Nascimento de Luiz Carlos da Silva

LEIA MAIS
Marcelo Gurgel Carlos da Silva
Médico, economista e professor universitário
Livros que falam do Otávio Bonfim e/ou Luiz Carlos da Silva
MORAES, Vicente. Anos Dourados em Otávio Bonfim: à memória de Frei Teodoro. For-
taleza: Edições Iuris, 1998.
MORAES, Vicente de Paula Falcão. Anos Dourados em Otávio Bonfim: à memória de Frei
Teodoro (2ª edição): Fortaleza, IURIS, 2017. 320p.
OLIVEIRA, E.S.G. Sacoletras: um sacolão de consoantes, vogais, pontos, vírgulas e .... .
Fortaleza: Expressão, 2010. 220p.
SILVA, M.G.C. da; OLIVEIRA, E.S.G. de (org.). Frei Lauro Schwarte e os anos iluminados do
Otávio Bonfim. Fortaleza: Expressão, 2004. 164p.
SILVA, M.G.C. da; ADEODATO, M.G.C. (org.). Dos canaviais aos tribunais: a vida de Luiz
Carlos da Silva. Fortaleza: Edições UECE, 2008. 192p.
SILVA, M.G.C. da. Otávio Bonfim, das dores e dos amores: sob o olhar de uma família.
Fortaleza: Edições UECE, 2008. 144p.
SILVA, M.G.C. da. Portal de memórias: Paulo Gurgel, um médico de letras. Fortaleza:
Edição do Autor, 2011. 200p.
SILVA, M.G.C. da. Tempos de guerra e de paz: ensaios da vida. Fortaleza: Editora da
UECE, 2010. 160p.
Artigos que falam do Otávio Bonfim e/ou Luiz Carlos da Silva
SILVA, M.G.C. da. Missiva ao meu pai, nos três anos de sua ausência. O Povo. Fortaleza, 11 de
janeiro de 2004. Jornal do Leitor. p.1. (Doc. Nº 8.2.37).
SILVA, M.G.C. da. Professor Luiz Carlos. O Povo. Fortaleza, 19 de novembro de 2006. Jornal do
Leitor. p.3. (Doc. Nº 8.2.138).
SILVA, M.G.C. da. O contador Luiz Carlos da Silva. O Povo. Fortaleza, 2 de agosto de 2008.
Jornal do Leitor. p.2. (Doc. Nº 8.2.206).
SILVA, M.G.C. da. Luiz Carlos da Silva: dez anos de saudades. O Povo. Fortaleza, 20 de novem-
bro de 2010. Jornal do Leitor. p.2. (Doc. Nº 8.2.289).
SILVA, M.G.C. da. Em honra aos pais. Boletim Informativo da Sociedade Médica São Lucas,
9(73): 4-5, agosto de 2013. (Doc. Nº 8.2.386).

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Netos de Luiz e Elda: Érico, Leonardo, Sérgio, Larissa, Marina, Diana, Tiago, Marta, Paolo,
Natália e Marcela. (da esq. para dir.)

Elda Gurgel com filhos, genros e noras em dezembro de 2017.

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REGISTROS ICONOGRÁFICOS

Filhos de Luiz e Elda: Germano, Paulo, José, Sérgio, Marcelo e Luciano. (da esq. para dir.)

Filhas de Luiz e Elda: Mirna, Meuris, Márcia e Magna. (da esq. para dir.)

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Netos de Luiz e Elda: Pedro, Sérgio, Léo, Marina, André, Larissa, Diana, Paolo, Melissa,
Marcela e Germana. (da esq. para dir.)

Bisnetos de Luiz e Elda: Gustavo, Luiz Otávio, Mateus, Marília e Leonardo. (da esq. para dir.)

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Noras de Luiz e Elda: Elsa, Elba, Solange e Isabel. (da esq. para dir.)

Genros de Luiz e Elda: Laerte, Fernando e Dema. (da esq. para dir.)

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Elda e seus netos: Larissa, Marina e Diana, Érico, Marta, Tiago, Natália e Marcela.
(da esq. para dir.)

Elda e seus familiares.

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