Tiveram lugar, em 1917, dois grandes grandes acontecimentos mundiais: a revolução
soviética, marxista-leninista; e as «aparições de Fátima». A revolução soviética, ocorrida na Rússia, originou um poderoso movimento internacional contra a «exploração do homem pelo homem»; procurou levar até às últimas consequências os ideais da revolução francesa e do próprio cristianismo, na dimensão social (cf. At 2, 44; e 4, 32-34), embora sem o reconhecer. Exerceu um poder totalitário, sob a forma de «ditadura do proletariado», e eliminou milhões de pessoas, analogamente ao totalitarismo nazi; mas deu origem a um exercício diferente do poder político, tendo como determinante a garantia, a toda a população, de condições de vida condigna. Alimentou a contestação universal contra o sistema capitalista e contra as «democracias burguesas»; e marcou, decisivamente, os universos político, sindical e cultural. Foi tão grande o efeito da sua influência que desacreditou e desencorajou a implementação de sistemas económicos não comunistas nem capitalistas; os católicos, em geral, talvez se tenham demitido perante esta questão fulcral, e não corresponderam às interpelações da doutrina social da Igreja que remontam, pelo menos, a João XXIII (cf. «Mater et Magistra», nºs. 59-67).
O sistema económico marxista-leninista, vulgo comunista, foi adjetivado, pelos seus
adversários, como «capitalismo de Estado», e «implodiu» no final do século passado. Contudo, os partidos comunistas e seus aliados entendem que a «implosão» se deveu a causas exteriores, e souberam capitalizá-la a seu favor: atualmente, a sua ideologia vem influenciando, e aproveitando a seu favor, inúmeros autores, forças e extremismos políticos, mesmo de direita; alimenta o sonho do «paraíso na terra», e contesta a generalidade dos governos. Até está a ser reconhecida como positiva, em contraste com as de extrema-direita (cf., por exemplo, os posicionamentos partidários e a nossa Constituição no artº. 46º., nº. 4). (Continua)
Acácio F. Catarino (in «Correio do Vouga» de 10.5.17)