Académique Documents
Professionnel Documents
Culture Documents
The aim of the Wheelwright Prize is to encourage field research with the
potential to have an impact on architectural production. Applicants should justify
the need for field research, correlating their investigations to their travel
itineraries. Applicants should explain the significance of their research for
architecture and architectural production. Those proposing urban or historic
topics are especially advised to note the relevance of their research on
contemporary architectural practice.
Parte superior do formulário
● Question number1.
Short Title for Research Proposal*
ALGO ENTRE:
● Question number2.
Summary of Research Proposal*
Please summarize your research proposal. The summary should convey clearly
and specifically the primary objective of the proposed research and potential
relevance to contemporary architectural practice.
RESPOSTA
O teatro é uma atividade “entre” os limites da
arquitetura e da arte. Está na margem da fronteira que
define o que é espaço e o que é prática. Pode não existir
teatro dentro do teatro, assim como atualmente existe
teatro sem teatro. A questão é: o teatral aparece quando
se estabelecem os rituais que consagram o vínculo entre a
vida cotidiana e o mundo invisível. O Teatro tem a função
de recriar o momento mítico, que é presentificado
novamente, num espaço/tempo específico. Esta é uma
pesquisa antropofágica de devoração dos momentos
místicos contemporâneos para fazer reexistir a arquitetura
teatral.
● Question number3.
Research Proposal*
Please describe your proposed research project. Applicants should articulate
the relevance of their proposed research to the contemporary discipline of
architecture. What are the consequences of this research project? How might
your research potentially impact practice? Strong proposals will address the
importance of travel in research. Describe your proposed methodology and
special insight, ability, and skill to execute your proposal.
RESPOSTA
Teatro e arquitetura se interligam na formação da
arquitetura cênica, no espaço da cena agindo no espaço
arquitetural, seja o edifício teatral ou não. Sendo o teatro o
reflexo da sociedade, contemporaneamente é de se
estranhar o delay da arquitetura teatral, estagnada em
uma relação palco-plateia recheada das hierarquias
renascentistas. Só em São Paulo nos últimos quatro anos,
12 novos teatros foram construídos, todos do modo
Italiano, mantendo a relação frontal entre público e atores;
mantendo a antidemocrática separação de lugares na
plateia definida pelo poder de consumo; mantendo bem
demarcada a separação entre palco e plateia, cuja quarta
parede, apesar de mais flexível por causa das encenações,
permanece reforçando o ponto de vista único do camarote
real. A quarta parede ergue-se na fronteira imaginária
entre o palco e plateia delimitada pela parede da boca de
cena, aprisionando a ação cênica no palco, colocando o
público à margem, o transformando em mero espectador,
estático, passivo, que quer ser hipnotizado pelo espetáculo
até o ponto de perder a consciência de que é uma pessoa,
vira um autômato.
Os arquitetos estão desvinculados do fazer artístico
teatral. No século XX muitos foram os encenadores que
buscaram a quebra dessa quarta parede com o objetivo de
despertar o indivíduo, atrás dela, de sua hipnose,
desvelação. No começo do século as tentativas ficaram
mais na teoria: Brecht e seu distanciamento, Meyerhold e
seu grotesco, Piscator e o teatro político, Artaud e o teatro
da crueldade, Grotowsik e o teatro pobre. Até Groupios
propôs o Teatro Total para Piscator criar seu teatro Político,
infelizmente não construído. Já na segunda metade do séc.
XX maiores foram os experimentos práticos vindo das
companhia teatrais, dos teatros de grupo surgidos a partir
de 1960 que exploravam novas linguagens como o
happening, a performance, o site-specific: Living Theater,
Performance Group, Teatro de Soleil, Peter Brook, Tadeusz
Kantor, o Teatro Oficina. Grupos que abandonaram o
edifício teatral. A separação entre a cena e o público
acerca-se a um limite fino, quase inexistente, ao ponto de
desmaterializar a noção de público como espectador para
criar um público atuador, participante de construção da
cena, que por sua vez poderia acontecer em qualquer
lugar. Também não existe mais a figura do palco, qualquer
lugar em que a cena aconteça, desvinculada do edifício
teatral, da caixa preta ( como os artistas se desvincularam
do “Cubo Branco”), e interligados às arquiteturas dos
espaços em que a ação acontece- à arquitetura e à
memória do lugar- viram cenografia para as encenações em
galpões, hospitais, igrejas, presídios, fábricas, museus,
galerias de arte, ... O lugar teatral expande-se,
configurando a cena híbrida, onde o espaço cênico torna-se
o espaço arquitetônico e vice-versa. O “Teatro sem Teatro”.
E aqui chega-se a um impasse, o teatro para
desconstruir a estrutura à Italiana, inerente à própria ideia
do que é teatro, cria um teatro sem teatro, dissolve o
edifício teatral.
O objetivo desse trabalho é pesquisar três campos de
atuação para o reexistir da arquitetura teatral: o
subjetivo-mágico-invisível, o relacional-teatral e o
tectônico-tecnológico, encontrar novas relações espaciais
de palco e plateia, atores e público: nos espaços sagrados
primitivos, onde a hierofania se manifesta sem a
necessidade de uma poderosa instituição, construídos na
precariedade radical; nos teatros tradicionais orientais,
Japonês, Chinês, Indiano, Balinês e Polinésio; e nos novos
estádios e ginásios construídos com as mais avançadas
tecnologias midiáticas para as atuais competições
esportivas. Busca utópica do Teatro de Estádio Antropófago
Oswaldiano onde se encenarão as Óperas de Carnaval
EletroCandomblaicas da Tragicomédiorgya. (Encenações
realizadas no Teat(r)o Oficina em São Paulo, um terreyro
eletrônico criado pelo arquiteto Lina bo Bardi e pelo diretor
José Celso Martinez Correa, eleito em 2015 pelo The
Guardian como o mais bonito e intenso teatro do Mundo).
Oswald de Andrade, o poeta da Antropofagia, fala de um
Teatro de Estádio: “ O caráter religioso do teatro, festa
coletiva, festa de massa, festa do povo... Está aí um teatro
para hoje, um teatro de estádio... participante dos debates
do homem”. Um teatro para a multidão, considerando a
multidão Copernicana, onde o homem deixa de ocupar o
centro, é a quinta parede a ser transpassada, um teatro
para a multidão de tudo o que existe, bichos, rios, terra,
plantas, coisas, genius loccis, encantados, deuses,
participam do rito teatral.
Etherno retorno.
O teatro voltando às suas raízes no ritual pagão de
culto aos deuses, ao primitivo, ao invisível, quando teatro e
deidades conviviam em uma celebração única e epifânica,
onde o edifício teatral estava integrado à rede, à paisagem
urbana e não trancafiado em shoppings centres com função
única e exclusiva de entreter. Não é uma busca
metodológica para se construir um Teatro de Estádio, mas
experimentar no corpo as arquiteturas visíveis ou não dos
Estádios já estabelecidos nas celebrações religiosas em
espaços primitivos, nos teatros tradicionais e nos rituais
tecnológicos e midiáticos dos cultos esportivos
contemporâneos. Segundo a concepção de Antonin Artaud,
o teatro tem a função de transmitir ao público a própria
energia vital e fazê-los vivenciar a máximo a realidade, em
contra-ponto ao simulacro de suas “vidas reais”.
Referências:
ARTAUD, Antonin. O teatro e seu duplo. São Paulo: Martins Fontes, 1991
BARDI, Lina Bo, ELITO, Edson e CORRÊA, José Celso. TEATRO OFICINA,
São Paulo:1980-1984. Lisboa: Ed. Blau, 1999
DE ANDRADE, Oswald. Do Teatro que é bom. In: Ponta de Lança. Rio de
janeiro: Civilização Brasileira, 1971. Pgs 85 a 92
● Question number4.
Please describe the anticipated or possible output of this project*
Wheelwright Prize winners are not obliged to produce any specific
documentation, but if you have ideas about publications, exhibitions,
documentary films, or other media, we would very much like to know.
RESPOSTA
Toda pesquisa será documentada em vídeos, desenhos
áudios, textos, sensações. A captação de narrativas orais,
visuais e táteis são parte essencial de todo o processo. Para
que ao fim seja criado um exercício etnopoético, conceito
apropriado antropofagicamente de Jerome Rothenberg, a
valorização da fala individual subjetiva, dentro de um
contexto de afastamento do logos hegemônico ocidental, e
a valorização de uma linguagem híbrida, miscigenada. A
presentificação de um tea-to imagético, que será composto
em forma de cena virtual. Uma ação cênica que criará uma
nova poesia material sobre o edifício teatral para a
multidão antropófaga.