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MOSSOROENSE
AS
S
SAMUEL DE O. PAIVA
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AS MOSSOROENSES
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As Mossoroenses
Contos
Copyright ® Samuel Paiva – 2015
Mossoró/RN
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PRÓLOGO
A
tendendo aos pedidos de alguns amigos de vida e de
Facebook, que de uma forma ou de outra acompanharam
a espaçada publicação dessas historietas, resolvi resgatar
os sete episódios do oceano virtual e compilar em e-book,
depois de uma rápida revisão, acrescidas deste prólogo,
sumário e um layout mais confortável para a leitura.
Samuel de O. Paiva
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“Basta ler meia página de certos escritores para
perceber que eles estão despontando para o
anonimato.”
SUMÁRIO
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A BONITINHA DA COBAL
..................................................................... 07
A UNIVERSITÁRIA DO ULRICK
GRAFF................................... 26
A COMISSIONADA DA PREFEITURA
.......................................... 28
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A Bonitinha da Cobal
G
iza acorda tão cedo, mais tão cedo, que quando ela se
levanta o Sol ainda está se espreguiçando. Giza não tem
irmãos, a mãe morreu de cirrose, de modo que sua única
herança é o pai velho e doente de cento e setenta quilos.
Com o tempo o aposento do velho não mais dera para cobrir sequer
as despesas com medicamento, foi aí que Giza decidiu buscar outra
fonte de renda. Sem vocação para babar ovo, não quis “fazer jogo”
com seu voto; recusou a oferta de emprego na secretaria de cultura
do município.
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Acostumada a cuidar do pai, Giza só trava relação com
velhos. Não há um em Mossoró que não seja seu cliente. É muito chá
pra pouco aposento...
Eu matava Lampião
Alejava Jesuíno
À buchada de Zé Leão
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— Isso é lá situação de comprar chá?! No meio da rua?! –
Bradou Giza, irritada.
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A Patricinha da Nova Betânia
C
omo toda moça da parte chique da Nova Betânia, Fernanda
Tanízio falava inglês e espanhol. Era bilíngue - beijava duas
línguas ao mesmo tempo... - e criava um animal exótico
trazido de uma de suas viagens feitas, por puro filantropismo, a um
país subdesenvolvido. Como toda patricinha que se preze, Fernanda
acordava tarde e gostava de se sentar com as pernas atrepadas em
algum de seus móveis planejados. E, como já foi dito, mesmo falando
Inglês e Espanhol, Fernanda, em verdade, não falava mesmo era
com ninguém. Exceto com seus amigos da mesma estirpe. Aliás,
patricinha é que nem Gafanhoto, só ataca de bando. À noite, com sua
turma, Fernanda, com looks trazidos, no mínimo, de Natal e Fortaleza
- já que patricinha nenhuma da Nova Betânia compra roupa nas lojas
“malhadas” de Mossoró... – saia à caça de rapazes de sobrenome no
Sélect Nouveau, Tenda Music Club e etc.
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Fernanda Tanízio é do tipo de patricinha que não se
preocupa em dissimular. Seu sonho, chegou a dizer a uma de suas
amigas mais íntimas, era ser sequestrada duas vezes que nem a filha
de Silvio Santos. Seu pai, enólogo e dono de empresa prestadora de
serviço à Petrobras, há cinco anos que já separara o dinheiro do
resgate.
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— Mossoró é tão carente de boas opções... – suspira
Fernandinha.
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A Sonsa do Santa Delmira
O
Santa Delmira é um bairro tão distante, mais tão distante,
que quando a notícia de uma morte chega até lá, é sinal de
que já estão celebrando a missa de trigésimo dia na Capela
de São Vicente. No Santa Delmira ninguém usa relógio, observa-se o
meridiano de Greenwich para saber o fuso horário. De modo que toda
mocinha do Santa Delmira sabe que se quiser arrumar namoro, tem
que ter o dobro das qualidades de uma mocinha de qualquer outro
bairro, pois ela precisa repassar para o namorado a sensação de que
a viagem valeu a pena...
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quando o dono pede a pata faz que não sabe, mas que quando é um
estranho que pede balança até o rabinho.
Em casa, Aline se virava. Sempre que seu pai pedia para ver
a página ela fingia que o sinal da internet havia caído e botava a
culpa na TCM...
— Por mim, não faço questão, seu pai é quem sabe... – disse
Dona Adélia.
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— Onde esse rapaz mora, Aline? – perguntou Seu Jonas,
que assim como qualquer morador do Santa Delmira a primeira coisa
que pergunta é pela distância.
— No 30 de Setembro, painho...
— Sábado.
— Tá bom, mainha.
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Deu sete horas, deu oito horas, e nada de Aline. Deu nove
horas, deu dez horas, e haja Aline demorar. Passou o domingo, a
segunda, a terça, e cadê Aline...
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Aline foi proibida pelos pais de sair de casa até mesmo para a
igreja. Segundo eles, não se deve alimentar a maledicência alheia...
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Ontem mesmo, ao passar num ônibus leste-oeste, avistei
Aline e Sarinha vindo da padaria. O rapaz que vinha ao meu lado no
ônibus, chamado de Adriano Maromba, cutucou-me no ombro:
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A Empresária do Alto do Sumaré
O
Sumaré fica na Zona Leste da grande - gigantesca! –
Mossoró. É um bairro alternativo: ou mora lá ou na rua. Dizer
onde acaba o Liberdade II e começa o Sumaré é algo tão
complexo quanto precisar onde termina a vida e começa a morte. Na
verdade a resolução dessa problemática se dá muito subjetivamente,
se o sujeito é metido a rico e a besta, mora no Liberdade II, se é
humilde, confessa que mora no Sumaré. Enfim, fica na saída para
quem vai pra Natal e na entrada para quem vem do alto oeste. Como
todo bairro, o Sumaré também tem seus pontos turísticos: Magno´s
bar, Pitom bar, Muela´s bar e etc. Sendo um bairro marginal – sem
trocadilhos... -, o Sumaré passa por uma fase de grandiosíssima
especulação imobiliária. De modo que a imbricação dos sumareenses
com “estrangeiros” que lá compram imóveis gerará muito em breve
uma miscigenação capaz de assombrar até antropólogos do quilate
de Darcy Ribeiro. Esse crescimento do Sumaré se dá de forma tão
acelerada que as máquinas, enquanto escrevo esse texto, já estão às
portas de Upanema, o que acarretará uma conurbação chamada
“Seriema”: Sumaré + Upanema.
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significando: terreno acidentado com muitos esconderijos para
animais procriarem longe dos predadores.
E Joaquim se foi.
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O importante mesmo foi a jura que Dauzileide fez logo que
ficou sabendo da traição:
— Você podendo ter feito jura numa coisa mais fácil, não
cortar mais o cabelo, usar só vermelho...
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— E qual é a função social da prostituição? – perguntou,
intrigado, o administrador.
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Dauzileide se desesperou:
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Ainda era cedo quando Bilica ouviu uma batida na porta,
seguida de um clamor angustiado...
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A Idealista do Alto de São Manoel
S
e Havana tem a Sierra Maestra, Pequim a Praça da Paz
Celestial e São Paulo a Praça da Sé, Mossoró tem o Alto de
São Manoel. Maior dos bairros em tamanho, fica na Zona
Leste da cidade, e tal qual ralo de banheiro de motel, tudo desce por
ele. Logo se vê que trata-se de um epicentro ideológico. Pelo Alto de
São Manoel sobe e desce: santo, viado, político... Não há um
mossoroense, por melhor que ele seja, que já não tenha sido besta
um dia, a ponto de descer o Alto de São Manoel com as alpercatas na
mão por um motivo ou por outro...
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Todas as noites, Tércia e suas duas amigas, e o doido,
aventuravam uma carona ao lado da Delegacia. Sempre que chegava
a vez do doido o carro enchia. E lá se iam as meninas, e o doido a pé.
Chegava na UERN suado, e nada do professor que, aliás, na UERN
só existe no mundo das ideias...
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Toda subversiva sonha em ter suas ideias transmitidas em
horário nobre...
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A Universitária do Ulrick Graff
Z
ona leste do país de Mossoró. O Ulrik Graff fica próximo talvez
dos dois maiores centros educacionais da Terra de Santa
Luzia, o IFRN e o cabaré do Birinight, permitindo assim como
poucos bairros a mais completa união do ensino com a pesquisa e a
extensão...
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— O que foi? Um calor desse...
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A Comissionada da Prefeitura
D
iferentemente de nossas outras musas, Marcely, “A
Comissionada da Prefeitura”, não será situada no espaço,
mas apenas no tempo. Ocorre, tal qual mata-pasto, que
Marcely dá em todo canto, na zona norte, sul, leste e oeste de
Mossoró. Marcely tem 31 anos de idade, é formada em Turismo pela
UERN e tem um filho, fruto de um conturbado relacionamento que
não deixou saudades, mas pelo menos deixou pensão. É o que vale.
Tem mais do que razão nesse ponto a Marcely.
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discussão qualquer esqueciam por um momento das urnas. Quando o
resultado saiu foi a mesma emoção do pênalti perdido por Roberto
Baggio, Marcely arrancou a roupa do corpo e desabou a pé para o
Alto de São Manoel como veio ao mundo. Foi a apoteose.
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Samuel de Oliveira Paiva
nasceu em 14/12/1992, é
natural de Rafael
Godeiro/RN. Bacharelando
em Direito pela UERN,
aprovado no XV Exame da
OAB. Participou da
coletânea “Poesia
Clandestina Vol. I (2012)”,
foi selecionado em
concurso de contos
promovido pela Big Time
Editora, além de já ter
contribuído com poesias,
resenhas e contos para os
AS jornais Clandestino, Gazeta
do Oeste, O Mossoroense e
revista Cruviana.
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